Você está na página 1de 71

WBA0152_v2.

SANEAMENTO AMBIENTAL E
SAÚDE PÚBLICA
Eliana Menezes dos Santos

SANEAMENTO AMBIENTAL E SAÚDE PÚBLICA


1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de
sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização,
por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.

Presidente
Rodrigo Galindo

Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada


Paulo de Tarso Pires de Moraes

Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Giani Vendramel de Oliveira
Henrique Salustiano Silva
Juliana Caramigo Gennarini
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo

Coordenador
Mariana Gerardi Mello

Revisor
Barbara Almeida Souza

Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
__________________________________________________________________________________________
Santos, Eliana Menezes dos.
S237s Saneamento ambiental e saúde pública/ Eliana
Menezes dos Santos, – Londrina: Editora e Distribuidora
Educacional S.A., 2020.
43 p.

ISBN 978-65-5903-046-0

1.. Saneamento ambiental 2. Saúde pública 3. Meio ambiente I. Título.

CDD 500
____________________________________________________________________________________________
Raquel Torres – CRB 6/2786

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

3
SANEAMENTO AMBIENTAL E SAÚDE PÚBLICA

SUMÁRIO
Noções básicas de saneamento ambiental e saúde pública__________ 05

Sistemas de tratamento de esgotos e manejo de águas pluviais _____ 24

Ecologia, educação ambiental e saúde _______________________________ 41

Panorama da Gestão do Saneamento Básico no Brasil ______________ 56

4
Noções básicas de saneamento
ambiental e saúde pública.
Autoria: Eliana Menezes dos Santos
Leitura crítica: Barbara Almeida Souza

Objetivos

• Abordar conceitos básicos de saneamento ambiental


e sua relação com saúde pública.

• Compreender o ciclo da água e a relação com a


humanidade.

• Entender o funcionamento dos sistemas de


abastecimento de água, do manejo das águas
pluviais adotado no Brasil e do tratamento de
esgoto.

• Apresentar algumas das normas relevantes do


ordenamento jurídico brasileiro no âmbito de
saneamento ambiental.

5
1. Introdução

Neste tema, você estudará sobre temas introdutórios a respeito dos


recursos hídricos e sua importância para a humanidade, a poluição
dos recursos hídricos e as consequências para a saúde da população,
a importância do saneamento ambiental, além dos aspectos legais
que regem a sociedade brasileira. A humanidade, ao longo do seu
desenvolvimento econômico e na busca por garantir a manutenção da
vida em sociedade, promoveu grandes alterações no meio ambiente.
Essas alterações ocorrem por meio da alteração do ambiente físico,
geração e descarte incorreto de resíduos e efluentes, remoção de
vegetação acima da capacidade de suporte do meio ambiente ou, até
mesmo, a retificação e o sentido do curso de um rio, como é o caso do
Rio Pinheiros, localizado na cidade de São Paulo, que sofreu a retificação
do seu canal e alteração do sentido do curso de água, em períodos
de cheia desagua na Represa Billings e em período normal segue em
direção ao Rio Tietê.

2. Recursos hídricos

Os recursos hídricos são utilizados de diferentes formas pela sociedade,


sendo que as dificuldades encontradas pela humanidade podem ser de
ordens econômicas e tecnológicas, como a dessalinização da água do
mar e físicas, como as águas subterrâneas que limitam o acesso direto
ao recurso (diferentemente da captação das águas superficiais utilizadas
como fonte de abastecimento, geração de energia, diluição de esgotos,
entre outras funções). Segundo Braga (2005), os corpos hídricos são
formados por rios, lagos, oceanos, águas subterrâneas ou geleiras.

6
2.1 A água na natureza

A água é encontrada na natureza sob a forma líquida, gasosa e sólida,


entretanto, a quantidade de água disponível para consumo imediato é
muito inferior ao total existente no planeta. De acordo com Braga (2005,
p. 74):

[...] apesar de existir em abundância, nem toda água é diretamente


aproveitada pelo homem. Por exemplo, a água salgada dos oceanos
não pode ser diretamente utilizada para abastecimento humano, pois
as tecnologias atualmente disponíveis para a dessalinização são ainda
um processo bastante caro quando comparado com os processos
normalmente utilizados para o tratamento de água para uso doméstico.

Considerada como um recurso natural renovável, a água é um elemento


da natureza com a capacidade de se renovar por meio do ciclo
hidrológico. Normalmente conhecido como ciclo da água, trata-se de um
movimento contínuo que a água realiza dentro do planeta, circulação
que ocorre por meio dos seguintes processos:

• Precipitação: água que cai do céu em forma de chuva, neve ou


chuva de granizo.

• Escoamento superficial: água que, após se precipitar, escorre


sobre a superfície do solo em direção às regiões mais baixas, é
comumente conhecido como fluxo da água.

• Infiltração: água ultrapassa as camadas do solo saturando-o


(torna-o cheio de água) e escoando para diferentes direções.

• Escoamento subterrâneo: parcela da água precipitada na


superfície que infiltra no solo e irá se acumular nele ou compor
aquíferos, lençóis freáticos e rios subterrâneos.

7
• Evapotranspiração: parcela de água que se desprende do solo
em forma de vapor e perda de água das plantas por meio da
transpiração.

• Evaporação: água que retorna à atmosfera em forma de vapor.

• Condensação: transformação do estado gasoso para o líquido.

Figura 1 – Ciclo hidrológico

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ciclo_da_%C3%A1gua.jpg. Acesso em: 20


out. 2020.

8
2.2 A importância da água para a humanidade

A água é um recurso natural utilizado por todos os seres vivos, por meio
do consumo direto ou indireto em diversos outros fins, como navegação,
geração de energia, irrigação na agricultura, diluição de resíduos ou
recreação. Os diferentes usos da água podem gerar conflito de interesse
na utilização e captação do recurso, diante disso, a legislação brasileira,
por meio da Lei Federal nº 9.433/1997 (BRASIL, 1997, art. 1º) estabelece:
“III - em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos
é o consumo humano e a dessedentação de animais; IV - a gestão dos
recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas”.

Em todo o planeta, registram-se conflitos de interesse que envolvem


o uso da água. Na maioria das vezes, essa situação é marcada pela
escassez, devido a distribuição irregular do recurso, períodos longos de
estiagens, pela degradação do entorno de rios e represas e pela poluição
hídrica proveniente dos despejos irregulares de efluentes ou descarte
indevido de resíduos.

No intuito de mediar esses conflitos, o Brasil criou os comitês de bacias


hidrográficas que, segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH), na Lei nº 9.433/1997 define-se como o fórum em que um grupo
de pessoas, com diferentes visões e atuações, se reúne para discutir
sobre um interesse comum – o uso d’água na bacia. Assim, os comitês
de bacias são importantes para a gestão do melhor uso da água.

3. Poluição ambiental

A poluição hídrica, ou poluição das águas, tem como característica a


contaminação por disposição irregular de resíduos ou efluentes que
alteram as características físico-químicas do corpo hídrico. Atualmente,
gerenciar um corpo hídrico contaminado impacta economicamente

9
nos custos de tratamento, independentemente do uso ao qual se
destina, como no processo de captação para geração de energia ou
abastecimento público. Além disso, a contaminação colabora para o
cenário de escassez do recurso. Nesse sentido, compreender que água
é vital para a manutenção da vida do planeta significa entender que
precisamos valorizar esse recurso renovável e essencial a todos os seres
vivos.

3.1 O saneamento e a sociedade

O saneamento básico tem um papel fundamental na sociedade, pois sua


ausência pode acarretar impactos significativos na saúde da população
que se encontra desprovida do serviço. O conceito de saneamento, de
acordo com o Instituto Trata Brasil (2020), se relaciona ao:

[...] conjunto de medidas que visa preservar ou modificar as condições do


meio ambiente com a finalidade de prevenir doenças e promover a saúde,
melhorar a qualidade de vida da população e à produtividade do indivíduo
e facilitar a atividade econômica. (TRATA BRASIL, 2020, [s.p.])

As ações implantadas no intuito de prover o acesso ao saneamento


básico, em boa parte dos casos pelo Estado, contribuem na melhoria
da qualidade de vida da sociedade evitando a proliferação de
doenças, além de colaborar com a preservação dos recursos naturais.
Atualmente, é possível observar os resquícios das construções antigas,
como os aquedutos, poços, fossas sépticas, chafarizes, termas, entre
outras obras de engenharia construídas para atender às necessidades
de uma população com carência do abastecimento de água.

10
Figura 2 – Arcos da Lapa: aqueduto localizado na cidade do Rio de
Janeiro

Fonte: dabldy/iStock.com.

No Brasil, os primeiros indícios de saneamento ocorreram no período


colonial, diante da necessidade de estruturas que fornecessem água
para os processos da agricultura, segundo a Fundação Nacional de
Saúde (FUNASA, 2006, p. 12):

Os engenhos de moagem da cana de açúcar, pela necessidade de água fez


surgir os primeiros aquedutos rurais. As plantações de café, por sua vez,
exigiam a instalação de canalizações de água para a lavagem dos grãos.

O sistema de abastecimento de água promove melhorias nos aspectos


sanitários, sociais e econômicos, bem como o atendimento aos preceitos
estabelecidos na legislação brasileira. As estruturas implantadas em um
sistema de abastecimento convencional compreendem a captação de

11
água do manancial, tubulações, estação de tratamento, reservatório da
água tratada e uma rede de distribuição. O tratamento da água residual,
após a utilização pela sociedade, carece de uma estrutura similar ao
do abastecimento de água com captação do efluente, tratamento,
desinfecção e posterior descarte em corpos hídricos.

Entretanto, observam-se diversos fatores que influenciaram nos avanços


do desenvolvimento de atividades voltadas para o saneamento básico
no Brasil, entre eles a ausência de priorização do assunto na agenda dos
governos, mesmo diante do crescimento da população e dos centros
urbanos. É preciso ressaltar que existe uma diferença entre saneamento
básico e saneamento ambiental, o primeiro retrata aspectos inerentes
a preservação e qualidade da saúde do ser humano em termos de
abastecimento de água, coleta e tratamento de resíduos e efluentes
e o manejo de águas pluviais; já o saneamento ambiental possui o
escopo mais amplo, pois engloba a saúde e a proteção dos recursos
hídricos com a implantação de políticas públicas voltadas à preservação
ambiental e ações impeditivas à degradação das áreas de mananciais.

3.2 Fontes de poluição hídrica

As diversas atividades industriais, domésticas e agrícolas desenvolvidas


pela sociedade podem impactar negativamente a qualidade dos corpos
hídricos. Desse modo, essas atividades introduzem diferentes poluentes
e, consequentemente, geram efeitos negativos no meio aquático. A
identificação da fonte de poluição responsável pela contaminação
pode ser considerada um dos elementos fundamentais no combate da
contaminação, principalmente quando os poluentes estão diluídos e não
se consegue delimitar a origem do lançamento, o que é conhecido como
fonte difusa. Segundo Braga (2005), quando o poluente é inserido no
corpo hídrico de maneira individualizada, como no caso do lançamento
de efluente de uma indústria, denomina-se fonte pontual.

12
O lançamento de efluente sem tratamento, por exemplo, em um
rio ou lago de ecossistema lêntico (água parada), pode causar grave
contaminação. A eutrofização é um processo de proliferação de plantas
aquáticas que se alimentam de nutrientes, especialmente fósforo e
nitrogênio presente no esgoto doméstico. Esse crescimento elevado
compromete a qualidade da água, pois o excesso de plantas impedirá
a entrada de luz na água, reduzindo a fonte de oxigênio para os demais
seres vivos do meio aquático. Por consequência, esse processo altera a
cor e a turbidez da água, diminui a concentração de oxigênio dissolvido,
impactando em todo o equilíbrio do meio hídrico e provocando danos
em diversos segmentos que dependem deste recurso.

Figura 3 – Lago com processo de eutrofização

Fonte: Josef Mohyla/iStock.com.

Os corpos hídricos que se encontram em processo de eutrofização


podem ser recuperados dependendo da magnitude do impacto

13
ocorrido, dos recursos financeiros a serem investidos e tecnologias
disponíveis para aplicação. Assim, é possível também a adoção de
medidas preventivas que tratem o lançamento de esgoto doméstico ou
industrial, reduzindo a carga de nutrientes no meio aquático.

3.3 Resíduos sólidos e saúde

No contexto do saneamento básico, o descarte de resíduos oriundos


das diferentes atividades realizadas pela sociedade precisa receber
tratamento adequado para evitar proliferação de doenças e
contaminação do meio ambiente. O processo de tratamento de resíduos
dependerá tanto da adoção de ações que ocorrem na fonte geradora,
podendo ser uma residência, indústria, comércio, serviços de saúde,
entre outros, como também do percurso entre a fonte de geração e o
descarte final, conforme a figura a seguir:

Figura 4 - Trajetória dos resíduos

Fonte: elaborada pela autora.

14
O resíduo sólido pode apresentar um valor econômico e ser
encaminhado para a reciclagem ou ser reutilizado em outros processos
industriais e outros setores da cadeia produtiva. No entanto, os rejeitos
são os materiais que não possuem, atualmente, nenhuma aplicação de
reaproveitamento a não ser a disposição final, como o aterro sanitário.

Os resíduos podem ser oriundos das diferentes atividades humanas,


como: a varrição de rua e a poda de árvores, as atividades comerciais,
industriais, agrícolas, hospitalares e os serviços de saúde, construção
civil, as atividades de portos, aeroportos, terminais ferroviários e
terminais rodoviários. Assim, para cada origem e geração existe uma
destinação adequada, pautada em requisitos legais e normas técnicas.

A escolha a ser dada à destinação dos resíduos gerados levará em


conta diversos fatores, dentre eles a origem, as características físicas,
químicas e biológicas que vão indicar a classificação do material
analisado. O laboratório credenciado avaliará o material e determinará
sua periculosidade e risco a saúde pública, de acordo com a NBR 10.004
(ABNT, 2004), entre as características analisadas temos:

1. Características físicas:

• Teor de umidade: é a quantidade de água presente nos resíduos.

• Compressividade: o quanto é possível reduzir o volume do


material, sem que ele volte ao volume anterior à compactação.

• Peso específico: quanto de volume o material ocupa, em relação à


massa.

2. Características químicas:

• Poder calorífico: capacidade potencial do material ser queimado e


ter seu volume reduzido.

15
• Teor de matéria orgânica: determina o quanto ele poderá ser
biodegradável.

• Relação do carbono/nitrogênio: que indicará o grau de


decomposição.

• Potencial hidrogeniônico: pH indica o teor de acidez ou alcalinidade


que o material pode reagir com o meio que será depositado.

3. Características biológicas:

• População microbiana e agentes patogênicos existentes no


material.

O descarte incorreto de rejeitos pode promover graves riscos ao meio


ambiente e à saúde pública. Devido às características específicas
que cada resíduo possui, é preciso avaliar a melhor forma de
armazenamento ou disposição, já que ações inadequadas podem atrair
diversos vetores como os ratos, moscas, mosquitos, baratas, que são
transmissores de doenças, como a peste bubônica, a febre amarela, a
malária, entre outras.

16
Figura 5 – Presença de pessoas e animais em área de disposição
inadequada de resíduos

Fonte: Joa_Souza/iStock.com.

4. Aspectos legais

O conhecimento dos aspectos legais na temática de saneamento


ambiental que regem um país é de extrema importância para a atuação
dos profissionais da área ambiental. Além disso, é dever de cada cidadão
no desempenho do seu papel no sistema jurídico conhecer as leis, pois
devemos lembrar que as normas jurídicas são limitadoras das atividades
humanas, dessa maneira se faz necessário serem conhecidas.

17
4.1 Princípios legais e constitucionais

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988) é um conjunto de leis


fundamentais que servem para organizar o funcionamento de um país.
No Brasil, nenhuma lei pode ser criada em desacordo com o previsto na
Constituição Federal Brasileira.

Entretanto, o conteúdo da Constituição Federal brasileira permite a


possibilidade de sofrer alterações ou reformas em seu texto, com o
objetivo de atender as necessidades demandadas pela sociedade. Essas
alterações precisam ser aprovadas por um processo legislativo, e são
conhecidas como Emendas Constitucionais. As Emendas Constitucionais,
quando aprovadas, farão parte do ordenamento jurídico e terão o
peso da Constituição. Desse modo, é importante a compreensão da
hierarquia das leis e normas, pois mudanças na legislação implicam,
muitas vezes, em alterações no cotidiano do profissional da área de
saneamento ambiental, na sequência dessa pirâmide temos abaixo das
Emendas as Leis Complementares.

Em matéria ambiental, a Lei Complementar nº 140 (BRASIL, 2011)


trouxe significativas mudanças, dentre outros dispositivos, relacionadas
a questão do licenciamento ambiental e a cooperação comum entre
os entes federativos composto por União, Estados, Distrito Federal
e Municípios em termos de preservação ambiental e o combate à
poluição.

Seguindo a pirâmide da legislação brasileira, a seguir listamos as


leis complementares, as leis ordinárias e medidas provisórias, nas
quais se estabelecem a maior parte das leis em matéria ambiental
e de saneamento. Na sequência, temos os atos normativos que são
compostos por decretos, resoluções, portarias e instruções. Entre as
diversas normas vigentes, destacam-se:

18
Lei Federal nº 6.938/1981: Política Nacional de Meio Ambiente,
responsável pela criação do Sistema Nacional de Meio Ambiente
(SISNAMA), é considerada a estrutura da gestão de meio ambiente do
Brasil, sendo composta por vários órgãos e instituições ambientais dos
diversos entes da federação.

Lei Federal nº 9.433/1997: Política Nacional de Recursos Hídricos, ou


popularmente Lei das Águas, estabeleceu o instrumento de gestão o
Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH) que é
a base de informações sobre água no país.

Lei Federal nº 9.782/1999: criação da Agência de Vigilância Sanitária


(ANVISA) com a finalidade de proteger a saúde da população brasileira,
através do controle sanitário dos processos que envolvem produtos
sujeitos à Vigilância Sanitária.

Lei Federal nº 9.984/2000: dispõem sobre a criação da Agência Nacional


de Águas (ANA).

Resolução CONAMA nº 357/2005: estabelece padrão de lançamento de


efluente e o enquadramento dos corpos hídricos superficiais.

Lei Federal nº 11.445/2007: estabelece as diretrizes do saneamento


básico no Brasil.

Resolução CONAMA nº 396/2008: classifica estabelece diretrizes


ambientais de enquadramento das águas subterrâneas.

Lei Federal nº 12.305/2010: Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Portaria nº 2.914/2011: estabelece os procedimentos de controle e de


vigilância da qualidade da água para consumo humano e seu padrão de
potabilidade.

19
Rede Nacional de Monitoramento de qualidade da água RN: criado
em 2013 pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)
estabelece uma padronização das águas em nível nacional, incentivando
a cooperação entre os operadores de prestação de serviço.

Portaria de consolidação nº 5/2017: consolidação das normas sobre as


ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS).

Lei Federal nº 14.026/2020: atualiza o marco legal do saneamento


básico e atribui ANA a competência para editar normas de referência do
saneamento.

4.2 Órgãos fiscalizadores

O Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) surgiu em 1981,


com advento da Lei nº 6.938, conhecida como Política Nacional de
Meio Ambiente (BRASIL, 1981), com o objetivo de estruturar a gestão
ambiental no Brasil. O SISNAMA é composto por órgãos e entidades em
diferentes níveis do governo, que envolvem a União, Estado, Distrito
federal e os municípios, cada um sendo responsável, dentro das suas
competências, pela proteção do meio ambiente. A composição do
sistema é dada por:

• Órgão superior, que compreende o conselho de governo.

• Órgão consultivo e deliberativo, compreendido pelo Conselho


Nacional do Meio Ambiente (CONAMA).

• Órgão central, que compreende o ministério do meio ambiente.

• Órgãos executores, compostos pelo Instituto Brasileiro do Meio


Ambiente e dos Recursos Renováveis (IBAMA) e Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

• Órgãos seccionais, compostos por órgãos de cada estado.

20
• Órgãos locais, compreendidos pelos órgãos da esfera dos
municípios.

No contexto em que o SISNAMA foi criado, a gestão dos recursos


hídricos brasileiros foi detalhada em 1997, por meio da Lei nº 9.433,
relativa ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SINGREH (BRASIL, 1997). O SINGREH é integrado pelos seguintes órgãos:

• Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH).

• Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade Ambiental (SRQA).

• Agência Nacional de Águas (ANA).

• Conselhos Estaduais de Recursos Hídricos (CERH).

• Órgãos gestores de recursos hídricos estaduais (Entidades


Estaduais).

• Comitês de Bacia Hidrográfica.

• Agências de Águas.

Por sua vez, os órgãos fiscalizadores possuem papel fundamental para a


garantia do cumprimento das diretrizes e parâmetros estabelecidos em
normas, decretos e leis, e contribuindo na gestão dos recursos naturais
em território brasileiro.

Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 10.004: Resíduos
sólidos - Classificação. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.
BRAGA, B. Introdução à engenharia ambiental: o desafio do desenvolvimento
sustentável. São Paulo: Pearson, 2005.

21
BRASIL. Agência Nacional de Águas. Comitês de Bacia Hidrográfica. Disponível em:
https://www.ana.gov.br/aguas-no-brasil/sistema-de-gerenciamento-de-recursos-
hidricos/comites-de-bacia-hidrografica/comite-de-bacia-hidrografica-interestaduais.
Acesso em: 20 jul. 2020.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 13 out. 2020.
BRASIL. Lei complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011. Fixa normas,
nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da
Constituição Federal, para a cooperação entre a União [...]. Brasília, DF: Presidência
da República, 2011. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/
lcp140.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1981. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal [...]. Brasília, DF:
Presidência da República, 1997. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l9433.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.782, de 26 de janeiro de 1999. Define o Sistema Nacional de
Vigilância Sanitária, cria a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1999. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9782.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000. Dispõe sobre a criação da Agência
Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), entidade federal de implementação
da Política Nacional de Recursos Hídricos, integrante do Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (Singreh) e responsável pela instituição de
normas de referência para a regulação dos serviços públicos de saneamento básico.
Brasília, DF: Presidência da República, 2000. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/leis/l9984.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece as diretrizes nacionais
para o saneamento básico; cria o Comitê Interministerial de Saneamento Básico;
altera as [...]. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm. Acesso em: 20
out. 2020.
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2010. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm. Acesso em: 20
out. 2020.

22
BRASIL. Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o marco legal do
saneamento básico e altera a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, para atribuir à
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) [...]. Brasília, DF: Presidência
da República, 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2020/lei/L14026.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Portaria nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Dispõe sobre os
procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo
humano e seu padrão de potabilidade. Brasília, DF: Ministério da Saúde,
2011. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/
prt2914_12_12_2011.html. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Portaria de consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017. Consolidação
das normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde.
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/saudelegis/gm/2017/prc0005_03_10_2017.html. Acesso em: 28 jul. 2020.
BRASIL. Lex: Coletânea: legislação de Direito Ambiental. 6. ed. São Paulo: Saraiva,
2013.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução nº 357, de 17
de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições
e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Brasília:
CONAMA, 2005. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.
cfm?codlegi=459. Acesso em: 28 jul. 2020.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução nº 396, de
3 de abril de 2008. Dispõe sobre a classificação e diretrizes ambientais para
o enquadramento das águas subterrâneas e dá outras providências. Brasília:
CONAMA, 2008.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA. Manual de Saneamento. 4. ed.
Brasília: FUNASA, 2006.
TRATA BRASIL (BRASIL). O que é Saneamento? Disponível em: http://www.
tratabrasil.org.br/saneamento/o-que-e-saneamento. Acesso em: 22 ago. 2020.

23
Sistemas de tratamento de
esgotos e manejo de águas
pluviais
Autoria: Eliana Menezes dos Santos
Leitura crítica: Barbara Almeida Souza

Objetivos

• Conhecer os controles de qualidade e sua relação


com as principais normas e requisitos legais
aplicáveis vigentes.

• Compreender o processo de esgotamento sanitário.

• Apresentar os aspetos e os modelos que envolvem o


fornecimento de água.

24
1. Introdução

Nesta leitura, você estudará o sistema de abastecimento de água


para consumo humano, o esgotamento sanitário, a drenagem e o
manejo das águas pluviais e o controle e padrões de qualidade da
água em atendimento às normas. O saneamento, a saúde e o meio
ambiente, embora sejam assuntos amplos que envolvem diversos
interesses, profissionais e órgãos gestores distintos, estão interligados,
intrinsicamente, e sua gestão deve considerar uma macro visão em
detrimento aos impactos que ações individualizadas possam gerar no
meio ambiente ou na saúde da população.

2. Fornecimento e tratamento de água

A água é caracterizada como um elemento essencial à manutenção


da vida no planeta, embora no passado acreditássemos que os
recursos hídricos eram infinitos em quantidade e que estariam sempre
disponíveis para utilização independentemente das nossas ações ou
intervenções. No entanto, atualmente sabemos que a realidade é muito
diferente. Segundo Philippi Jr. e Galvão Jr. (2011, p. 177):

[...] o crescimento das cidades aumentou de tal forma a quantidade


de esgotos lançados nos córregos, rios, represas e lagos próximos às
aglomerações, que a capacidade de autodepuração desses corpos
receptores foi superada pela carga poluidora dos efluentes.

Desse modo, observa-se que não apenas a qualidade do recurso é um


fator relevante no cenário de escassez ou, até mesmo, em situações de
conflitos de interesse de uso, mas também a distribuição em volume de
água potável nos continentes ou em um país é desigual. Dessa forma,
esses fatores são extremamente relevantes para a gestão do recurso
hídrico e para a distribuição de água de qualidade e de forma igualitária.

25
Assim, um sistema de abastecimento de água é fundamental para
garantir saúde e qualidade de vida à população. De acordo com Funasa
(2006, p. 66), a prestação de serviço de abastecimento de água é:

[...] um importante investimento em benefício da saúde pública que se


amplia com a implantação e melhoria dos sistemas de esgotos sanitários.
Tem sido constatado também que a implantação de sistemas adequados
de abastecimento de água e de destino dos dejetos, a par da diminuição
das doenças transmissíveis pela água, contribuem, também, para a
diminuição da incidência de outras doenças, não relacionadas diretamente
aos excretos ou à falta de abastecimento de água.

Nesse sentido, o consumo da água diretamente no manancial para


fins de consumo doméstico não é o recomendável, considerando que
a água bruta pode possuir elementos prejudiciais à saúde. Portanto,
os corpos hídricos passiveis de aproveitamento para fins de consumo
devem passar por tratamento antes da distribuição para a população.
Há dois grupos de manancial de captação, o manancial subterrâneo e o
manancial superficial, como descrevemos a seguir.

Manancial subterrâneo: composto por água localizada abaixo da


superfície, podendo estar confinada ou aflorando na superfície, como as
nascentes de rios. Em determinadas situações, em que a água confinada
não possui pressão suficiente para aflorar, haverá a necessidade de
utilização de bombas para a captação da água, após a perfuração de
poços semi artesianos. Deve-se lembrar que a água subterrânea está
passível de contaminação, existem atividades humanas que são graves
fontes de contaminação, dentre elas temos a instalação de postos de
combustíveis e a disposição incorreta de resíduos, atividade exercidas
sem o atendimento da legislação vigente.

Manancial superficial: formado por cursos de água como os rios,


lagos, barramentos em represas etc. Por sua vez, esses corpos
hídricos são superficiais e requerem baixa tecnologia de captação.
No entanto, é importante atentar-se ao potencial de poluição difusa,

26
como a contaminação por fertilizantes e defensivos agrícolas e áreas
inadequadas de descarte de resíduos sólidos, bem como poluição
pontual, como o lançamento de esgotos doméstico ou industrial.

Existem dois tipos de abastecimento de água: o individual e o


coletivo. As fontes de abastecimento, na maioria das vezes, provêm
da captação de água por meio da perfuração de poços ou através do
reaproveitamento da água da chuva. Outra fonte de abastecimento é
a implantação de sistemas de tratamento e abastecimento coletivo de
água potável.

O sistema de abastecimento de água é um mecanismo complexo de


infraestrutura que executa e monitora a captação, o tratamento e a
distribuição da água tratada de uma comunidade para diversos fins,
como o uso doméstico, industrial, serviços públicos, entre outras
atividades. Esse sistema garante que a quantidade e a qualidade do
recurso captado sejam distribuídas em atendimento aos parâmetros
físicos, químicos e biológicos determinados pela legislação. O sistema de
abastecimento é composto por um conjunto de etapas que compreende:

• Captação: é a tomada de água do manancial, que pode ser


subterrâneo ou superficial.

• Adução: é o conjunto de tubulações que são utilizados para


conduzir a água captada até a estação de tratamento de água
(ETA).

• Tratamento: processo responsável por eliminar características


indesejáveis da água. A escolha do tipo de tratamento a ser
adotado dependerá das características e da qualidade água que
se encontra no manancial. Há diversas tecnologias que podem ser
adotadas para a desinfecção da água e atenda os parâmetros de
potabilidade exigidos em norma, a exemplo do uso de radiação
ultravioleta. Em um tratamento convencional, a água passará pelas
seguintes etapas:

27
• Coagulação e floculação: processo de adição de produtos
químicos que promovem a aglomeração das impurezas na
forma de flocos.

• Decantação é a etapa em que os flocos decantam no fundo do


tanque de tratamento, para serem removidos da água.

• Filtração: fase em que a água passa por processo de


purificação através de meios filtrantes, como areia e carvão, e
assim ocorre a remoção de impurezas.

• Desinfecção adição de produtos, o cloro, por exemplo, para a


remoção de micro-organismos causadores de doenças.

• Fluoretação adição de flúor para prevenir cáries.

• Reservação: armazenamento da água tratada, antes de ser


distribuída, com objetivo de garantir o abastecimento mesmo
diante das variações de consumo ao longo do dia. Segundo Netto
e Fernandez (2018, p. 430), os reservatórios de distribuição “tem a
função de compensar as variações horárias de vazão.”

• Distribuição: conjunto de tubulações que garante a distribuição


da água para população a ser abastecida.

• Estações elevatórias ou recalque: conjunto de bombas


instaladas que permitem captar água em diferentes altitudes em
que se encontra a estação de tratamento e a regiões a serem
abastecidas.

3. Tratamento das águas residuais

As águas residuais ou efluentes, que quando são de origem doméstica


podem ser denominados de esgoto, são águas descartadas após a

28
utilização em atividades humanas, como em banhos, refeitórios e
descargas dos sanitários. Esse recurso tem suas características físicas
ou químicas alteradas e necessitam de tratamento antes de serem
devolvidas à natureza.

3.1 Sistema de tratamento de esgoto

Existem diversas terminologias utilizadas para os efluentes quando se


trata do sistema de esgoto sanitário. Dentre essas terminologias, temos
o esgoto doméstico oriundo de limpezas e higiene que podem ser
gerados nas residências, comércios e banheiros de indústria, as águas
imundas, águas servidas e esgoto industrial (NETTO; FERNANDEZ, 2018,
p. 445).

Os efluentes podem ser subdivididos em águas cinzas e águas negras. As


águas cinzas são geradas nas atividades que não possuem contribuição
dos vasos sanitários com características de elevada turbidez e sólidos
totais, enquanto as águas negras são originárias das instalações
sanitárias dos dejetos humanos e com alto grau de patogenicidade.

Além disso, há diversos tipos de tratamentos de esgoto que podem


ser implantados, de acordo com as características sociais e tecnologias
adotadas. Em áreas urbanas, o sistema mais convencional é composto
por coleta, afastamento, tratamento em estação de tratamento
de efluente (ETE) e lançamento final das águas tratadas. Em áreas
rurais, observa-se a utilização de fossas sépticas, sistemas que
são considerados unidades de tratamento primário dos efluentes
domésticos com posterior infiltração no solo.

Os sistemas de tratamento convencionais são compostos por diversos


elementos, entre eles temos:

• Dutos e coletores: tubulações que conduzem o efluente gerado


pelas cidades para a estação de tratamento.

29
• Pré-tratamento: é composto por gradeamento que remove
grandes sólidos, em seguida, o efluente é direcionado para a etapa
de desarenação, ou popularmente conhecida como etapa de caixa
de areia, que tem a função de remover os sólidos que não foram
retidos na etapa anterior.

• Primário: processo de inserção de químicos que promove o


agrupamento das partículas em forma de flocos, permitindo a
separação dos sólidos e dos líquidos, em seguida, o efluente é
conduzido para a decantação, nesta etapa, os flocos se depositarão
no fundo do tanque de tratamento.

• Secundário: nessa etapa se utiliza o tratamento bioquímico,


que pode ser a inserção de bactérias aeróbicas ou anaeróbicas
para decompor a matéria orgânica dissolvida ou em suspensão,
ainda presente no efluente. O efluente é então conduzido para o
processo de decantação e clarificação.

• Desinfecção: tratamento da parte líquida, com objetivo de remover


micro-organismos e patógenos, antes do lançamento do efluente
um em corpo hídrico.

O lodo produzido ao longo do tratamento do efluente é a matéria


orgânica removida da água, porém, ainda, o líquido precisará passar
por processo de eliminação e/ou redução da umidade. Esse processo
é conhecido como desidratação e estabilização para reduzir a
patogenicidade, o odor, processos que antecedem a disposição final
em aterro sanitário. A ausência de sistema de esgotamento sanitário
tem potencial para promover impactos ambientais negativos como a
degradação da qualidade do solo e corpos hídricos, mortalidade de
ictiofauna, além de impactos sociais já pontuados, como: o aumento
de doenças transmitidas pela água, a proliferação de vetores e a
degradação dos espaços públicos. A Figura 1 apresenta o lançamento
indevido de esgoto no leito do Rio Negro na cidade de Manaus.

30
Figura 1 – Lançamento de efluente e resíduos no Rio Negro –
Manaus/AM

Fonte: Shakzu/iStock.com.

Nesse sentido, pressupõe-se que o planejamento urbano considere


a inclusão de sistemas de saneamento, conforme predispõe a Lei nº
14.026/2020, o marco do saneamento básico (BRASIL, 2020). Desse
modo, a condição ideal é que a instalação do sistema de tratamento de
efluente seja feita antes da constituição da ocupação urbana. Porém, em
função do histórico de ocupação das cidades brasileiras, o sistema de
esgotamento sanitário não acompanhou o crescimento populacional e o
ordenamento da cidade, o que levou à degradação dos corpos hídricos
urbanos, devido às diferentes fontes de poluição, como o lançamento do
esgoto bruto.

Além dos esgotos domésticos, os efluentes gerados pelas atividades


humanas podem possuir como fonte as atividades industriais,

31
denominado efluente industrial, cuja composição e características físico-
químicas variam conforme o tipo de atividade desenvolvida.

Diante deste cenário, a implantação de sistemas de tratamento de


esgoto é fundamental no planejamento de expansão urbana e em
centros urbanos já consolidados. Cabe ressaltar que, para atingir os
compromissos estabelecidos no Marco legal do saneamento brasileiro e
nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas
(ONU), são necessários investimentos financeiros que garantam não
somente os sistemas de abastecimento de água, mas também sistemas
de esgotamento sanitário adequados. Assim, garante-se o direito
fundamental de acesso à água e evita-se a disseminação de doenças de
veiculação hídrica e poluição das águas.

3.2 Noções sobre tecnologias de tratamento

Há diversos tipos de tecnologias em tratamento para os efluentes


domésticos, no entanto, o método a ser implantado dependerá de
vários fatores com vantagens e desvantagens em cada tecnologia a ser
analisada pelo gestor. Segundo Von Sperling (2005), entre os tipos de
tratamento, destacam-se:

• Lodo ativado: tratamento biológico aplicado ao efluente, que


consiste em uma técnica mundialmente utilizada por representar
uma alta eficiência na remoção de matéria orgânica. O tratamento
ocorre pela decomposição da matéria orgânica pelo metabolismo
das bactérias presentes em tanques de aeração. São indicados
em situações em que são necessários uma elevada qualidade do
efluente e reduzidos requisitos de área.

• Reator anaeróbico de fluxo ascendente (RAFA): tratamento


baseada na decomposição anaeróbia da matéria orgânica.
Consiste em uma coluna de escoamento ascendente, composta de

32
uma zona de digestão e sedimentação, e um separador de fases
gás-sólido-líquido. É utilizado para a estabilização do efluente.

• Lagoa facultativa: é um sistema que combina condições anaeróbica


e aeróbica para realização da decomposição de matéria orgânica

• Lagoa anaeróbia: lagoas construídas com grande profundidade


com o objetivo de impedir a fotossíntese e, ao mesmo tempo,
proporcionar um ambiente ideal para fermentação anaeróbia da
matéria orgânica.

• Lagoas de aeradas: é realizada a decomposição de material por


processo aeróbio em que se adiciona artificialmente oxigênio no
tanque ou lagoa que contém o efluente.

• Vala de infiltração ou sumidouro: é o processo de percolação do


efluente em filtro instalado no solo.

Existem diversas alternativas para o tratamento de esgoto, seja ele


individual ou aplicado a um ambiente rural, sendo considerado, em
alguns casos, mais viável economicamente, devido a fonte de geração
estar muito distante de cidades ou redes de tratamento de esgoto.
Para tanto, adotam-se alternativas como a utilização de fossas sépticas,
biodigestor, sistema de tratamento por zonas de raízes, combinação
de fossa séptica, filtro anaeróbico e sumidouro ou, até mesmo, um
biodigestor, comum em locais com criação de suínos.

O desenvolvimento de pesquisas realizadas para essa temática permite


o surgimento de novos métodos para tratar os efluentes de diferentes
origens e, dessa forma, garante a não contaminação de corpos hídricos
com efluentes sem tratamento.

33
4. Drenagem de águas pluviais

A urbanização da paisagem alterou consideravelmente as condições


ambientais e relações sociais. Entre as alterações, pode-se citar a
impermeabilização de áreas, calçamento de ruas, ocupação densa
do solo, resultando em redução de áreas verdes e espaços públicos
ajardinados, tendo como consequência a diminuição das taxas de
infiltração da água pluvial no solo e o aumento de escoamento
superficial da chuva precipitada. O resultado dessa ação pode ser
observado nas inundações que ocorrem com maior frequência e
intensidade, levando a perdas de vidas e prejuízos econômicos.

Esses impactos negativos levaram ao desenvolvimento de métodos


construtivos e a instalação de infraestruturas capazes de conduzir a
água da chuva, a fim de evitar inundações, umidade em edificações e o
contato direto da população com a água pluvial. Segundo Funasa (2006,
p. 288):

Na conceituação atual de manejo de águas pluviais urbanas, o controle e


a minimização dos efeitos adversos das enchentes urbanas [...] agregam
um conjunto de ações e soluções de caráter estrutural e estruturante,
envolvendo execução de grandes e pequenas obras e de planejamento
e gestão de ocupação do espaço urbano, com legislação e fiscalização
eficientes quanto à geração dos escoamentos superficiais.

De acordo com Miguez et al. (2016), o manejo de águas pluviais é um


sistema de drenagem composto por um conjunto de elementos que
podem ser divididos em dois subsistemas:

• Microdrenagem: formado por estruturas que recebem a água


pluvial dos lotes urbanos, como guias, sarjetas, bocas de lobo,
canais, galerias e poço de inspeção. Impedindo o acúmulo de água
da chuva em determinada região, em escala local.

34
• Macrodrenagem: está diretamente ligada a drenagem natural
da região anterior à ocupação humana e a instalação de
cidades. A instalação de obras de infraestrutura no âmbito
da macrodrenagem permite um melhor escoamento da água
precipitada, evitando a erosão do solo e o assoreamento em fundo
de vales.

5. Padrões de qualidade e lançamento

O padrão de qualidade em saneamento pode ser entendido como


um conjunto de requisitos e diretrizes a serem seguidas e atendidas
conforme normas e legislação. Dessa forma, acredita-se minimizar
os impactos negativos em termos de proteção ambiental e saúde da
população. Segundo Philip Jr. (2005, p. 130):

[...] atingir os padrões de potabilidade são utilizados vários processos que


dependem da qualidade e da quantidade da água a ser tratada, bem como
das circunstâncias em que se fará o uso da água.

Na busca por garantir a qualidade das águas, foram estabelecidos


parâmetros de qualidade para a água captada, água tratada para
distribuição e padrões de lançamento do efluente.

5.1 Tipos de padrões de qualidade

Em âmbito federal, o padrão de qualidade da água potável será


regrado pela Portaria de Consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017,
estabelecido pelo Ministério da Saúde, que apresenta os padrões que
deverão ser atendidos quanto as características físicas, químicas e
microbiológica que a água deve possuir para ser disposta para consumo
humano (BRASIL, 2017).

35
O padrão de lançamento de efluentes será regido pela Resolução nº
430/2011, que complementa a Resolução nº 357/2005 e deverá ser
considerado as legislações estaduais, diante da qualificação dos corpos
hídricos e diretrizes estabelecida em cada região (CONAMA, 2011;
2005). Esses parâmetros de âmbito federal, em conjunto os requisitos
estaduais, definem as condições de lançamento dos efluentes para
qualquer fonte poluidora em corpos hídricos, de acordo com sua
classificação. Alguns dos parâmetros exigidos são: pH, temperatura,
materiais sedimentáveis, óleos e graxas e diversos elementos solúveis
em água.

O padrão de qualidade de água superficial está relacionado com a


finalidade a que se destina a utilização do recurso, considerando seu
enquadramento e classificação, conforme estabelecido nas resoluções
citadas no parágrafo anterior. Esse enquadramento e classificação
servem de norteador por possuir relação direta com as atividades
humanas (BRASIL, 2005).

As águas doces superficiais do território brasileiro recebem maior


influência das ações e atividades humanas, segundo o art. 4 da
Resolução nº 357/2005, os rios, por exemplo, são fontes diretas de
abastecimento de consumo humano, porém, podem ter classificação
diferente:

• Classe especial: sua destinação ao abastecimento de consumo


humano, com desinfecção.

• Classe 1: pode ser destinada ao abastecimento humano após


tratamento simplificado.

• Classe 2: também pode ser destinada ao abastecimento humano,


após tratamento convencional.

• Classe 3: pode ser destinada ao abastecimento humano, após


tratamento convencional ou avançado.

36
• Classe 4: águas destinadas a navegação e harmonia paisagística.

5.2 Índice de Qualidade da Água (IQA)

A água possui propriedades, características e influências intrínsecas


que dependem do entorno em que ela se encontra, resultando em
diferentes condições de água bruta e efluentes, cujo tratamento precisa
ser orientado pela adoção de parâmetros comparativos que atendam
normas e regulamentos aplicáveis.

O objetivo da adoção de parâmetros é determinar a qualidade da água


captada e distribuída para determinada população, o que requer o
atendimento de critérios de potabilidade, que garantam que a água está
própria para o consumo após o devido tratamento e que está ausente
de impurezas da fonte de captação, além de critérios de lançamento nos
corpos d’água ou solo.

Dessa maneira, é importante a utilização de parâmetros que


determinem as características da água. A partir da adoção desses
índices, é possível agrupá-los de maneira que sirvam para análises
quanto a qualidade da água potável, do lançamento de efluente e
da água superficial segundo a legislação vigente. Dentre os diversos
indicadores, temos:

• Indicadores físicos: cor, turbidez e odor.

• Indicadores químicos: salinidade, dureza, alcalinidade,


corrosividade, ferro e manganês, nitrogênio e cloretos,
e compostos tóxicos, fenóis, detergentes, agrotóxicos e
radioatividade.

• Indicadores biológicos: algas e micro-organismos patogênicos.

37
Em virtude da quantidade de indicadores, a National Sanitation
Foundation (NSF), em 1970, nos Estados Unidos, desenvolveu o Indicador
de Qualidade da Água (IQA), que atribui uma nota para a qualidade
da água analisada. O mesmo indicador foi adotado pela Companhia
Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e, na sequência, pelos
demais estados brasileiros. Segundo os Indicadores de Qualidade
(BRASIL, 2020, [s.p.]), o IQA tem por objetivo:

[...] avaliar a qualidade da água bruta visando seu uso para o


abastecimento público, após tratamento. Os parâmetros utilizados no
cálculo do IQA são em sua maioria indicadores de contaminação causada
pelo lançamento de esgotos domésticos.

O IQA é composto por nove parâmetros sendo eles o oxigênio


dissolvido, os coliformes termotolerantes, o potencial hidrogênico (pH),
a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), a temperatura da água, o
nitrogênio total, o fosforo total, a turbidez e o resíduo total.

5.3 Noções de controle de micro-organismos

O controle de micro-organismos sempre foi um tema de bastante


interesse, principalmente no que diz respeito ao crescimento da
população microbiana que se desenvolve em corpos hídricos ou na
decomposição de matéria orgânica.

Desse modo, controlar a população microbiana significa prevenir a


transmissão de doenças e evitar a contaminação do ambiente. No
aspecto ambiental, a população microbiana é utilizada em processos
de tratamento de efluentes e de resíduos sólidos e, nessas condições,
a microbiologia é aliada para o desenvolvimento de tecnologias em
tratamento de efluentes.

Os tratamentos de efluentes baseados em crescimento bacteriano


anaeróbico e aeróbico são formas eficientes de decompor a matéria

38
orgânica presente em um efluente, por exemplo. Outra aplicação é
utilizar o controle do crescimento microbiológico na decomposição de
matéria orgânica em processos de compostagem.

O controle do crescimento microbiano pode ser realizado por agente


químico ou físico, que atuam na eliminação total ou parcial do
crescimento dos microrganismos presentes em superfície de objetos,
alimentos, da pele humana e no meio ambiente.

Nesse sentido, os agentes comumente utilizados tanto para a prevenção


de saúde como no meio ambiente são:

• Métodos físicos: controle de crescimento por calor, esterilização


por filtração, esterilização por radiação, vibração ultrassônica,
remoção de oxigênio, ozônio e dessecação. No tratamento
de resíduos sólidos é muito comum a utilização do calor
(temperatura), como forma de esterilização do material,
entretanto, é preciso analisar previamente a composição do
resíduo.

• Métodos químicos: desinfetantes e antissépticos, como álcool,


ácidos e agentes oxidantes, esterilizantes como óxidos e peróxidos.

• A ausência de controles efetivos da qualidade da água fornecida à


população, de atendimento aos padrões pré-estabelecidos pelos
órgãos competentes e do atendimento às normas legais expõem
a população a situações de contaminação por meio de ingestão
direta, higiene pessoal, produção de alimentos ou atividades de
lazer em um recurso hídrico contaminado.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Indicadores de Qualidade - Índice de Qualidade das Águas (IQA). Disponível
em: http://pnqa.ana.gov.br/indicadores-indice-aguas.aspx. Acesso em: 21 jul. 2020.

39
BRASIL. Portaria de consolidação nº 5, de 28 de setembro de 2017. Consolidação
das normas sobre as ações e os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde.
Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2017. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/
bvs/saudelegis/gm/2017/prc0005_03_10_2017.html. Acesso em: 28 jul. 2020.
BRASIL. Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o marco legal do
saneamento básico e altera a Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000, para atribuir à
Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) competência para editar
normas de referência sobre o serviço de saneamento, a Lei nº 10.768, de 19 de
novembro de 2003 [...]. Brasília, DF: Presidência da República, [2020]. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14026.htm. Acesso
em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lex: Coletânea: legislação de Direito Ambiental: Resolução Conama 357. 6.
ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução nº 357, de 17
de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições
e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Brasília:
CONAMA, 2005. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.
cfm?codlegi=459. Acesso em: 28 jul. 2020.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução nº 430, de 13 de
maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes,
complementa e altera a Resolução nº 357, de 17 de março de 2005, do Conselho
Nacional do Meio Ambiente-CONAMA. Brasília: CONAMA, 2011. Disponível em:
http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646. Acesso em: 28 jul.
2020.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE - FUNASA. Manual de saneamento. 4. ed.
Brasília: FUNASA, 2006.
MIGUEZ, M. G.; VERÓL, A. P.; REZENDE, O. M. Drenagem urbana: do projeto
tradicional à sustentabilidade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016.
PHILIPPI JR., A. Saneamento, saúde e ambiente. São Paulo: Manole, 2005.
PHILIPPI JR., A.; GALVÃO JR., A. C. Gestão do saneamento básico: abastecimento de
água e esgotamento sanitário. São Paulo: Manole, 2011.
VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de
esgotos: princípios do tratamento biológico de águas residuárias. 3. ed. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2005.
NETTO, J. M. de A.; FERNANDEZ, M. F. Manual de hidráulica. 9. ed. São Paulo:
Blucher, 2018.

40
Ecologia, educação ambiental e
saúde
Autoria: Eliana Menezes dos Santos
Leitura crítica: Barbara Almeida Souza

Objetivos
• Abordar os conceitos básicos das inter-relações
entre os seres vivos e o meio ambiente.

• Compreender a importância dos ciclos


biogeoquímicos e a relação com os fluxos de
energia.

• Conhecer os impactos socioambientais e a


importância da saúde ambiental para a sociedade.

• Apresentar a importância da educação ambiental


para o desenvolvimento do indivíduo.

41
1. Introdução

O entendimento das relações entre saneamento, saúde pública e meio


ambiente revela um pressuposto fundamental para o planejamento
de sistemas de saneamento. Assim, nesta leitura digital, abordaremos
sobre as noções básicas de ecologia, que fornecerão bases para a
compreensão das inter-relações entre os seres vivos e o meio ambiente,
bem como o processo de reciclagem dos nutrientes e sua importância
para a manutenção da vida. A compreensão dos conceitos de ecologia e
saúde ambiental é essencial para a formação do profissional da área de
saneamento.

A aplicação do conhecimento adquirido estimula a adoção de práticas


sustentáveis e permite-nos entender a relação das ações humanas
e os impactos negativos provocados no meio ambiente e como eles
interferem na saúde da população.

2. Noções de ecologia

A ecologia é a ciência do ramo da biologia que estuda as relações


entre os seres vivos, incluindo seres humanos e o meio ambiente no
qual vivem. O termo ecologia foi definido em 1866 pelo biólogo Ernest
Haeckel, em sua obra Generelle Morphologie der Organismen (Morfologia
Geral dos Organismos).

Por sua vez, o estudo da ecologia é composto por uma interação


complexa e ampla entre diversas áreas. Nesse contexto, estabeleceu-
se níveis de organização, como população, comunidade, ecossistema e
biosfera, desse modo hierarquizado pode-se compreender melhor as
interações. Segundo Odum e Barrettt (2020, p.4):

42
[...] o melhor modo de delimitar a ecologia moderna seja considerar o
conceito de níveis de organização, visto como um espectro ecológico [...] e
como uma hierarquia ecológica estendida.

Desse modo, compreender a classificação do ambiente em diferentes


níveis é um pré-requisito básico para o entendimento de ecologia,
partindo-se do nível menor complexidade para o mais complexo, ou
seja, um organismo individual para biosfera terrestre. Dessa forma,
temos:

• População: organismos da mesma espécie que interagem entre


si, anteriormente, o termo população era utilizado apenas para
grupos de pessoas, depois foi ampliado para qualquer grupo de
organismos.

• Comunidade: um conjunto de populações de diferentes espécies


que interagem entre si e habitam uma mesma região.

• Ecossistemas: é a interação de comunidades com o meio em que


vivem.

• Biosfera: é o nível mais amplo e complexo por ser composto de


todos os ecossistemas existentes no planeta interagindo do local
onde residem.

O estudo da ecologia tem como alicerce alguns conceitos fundamentais,


como o conceito de espécie, caracterizado por grupo de indivíduos
com caraterísticas semelhantes, habitat que compreende o meio
que as espécies vivem, onde encontram alimentos, reproduzem e
interagem, como as florestas e o nicho ecológico, que é a maneira como
determinada espécie vive. A riqueza e diversidade das espécies que
interagem com o meio ambiente é definida como biodiversidade ou
diversidade biológica.

43
O Brasil, devido à sua extensão territorial, possui uma grande variação
climática, desde climas frios e úmidos até climas mais quentes e
secos. Essa variação climática contribui para uma grande diversidade
de biomas e das espécies, o que torna o Brasil o país com a mais alta
biodiversidade do mundo (MITTERMEIER et al., 1997). Desse modo, a
conservação da biodiversidade é fundamental para manutenção dos
ecossistemas e suas interações. Os ciclos biogeoquímicos são essenciais
para a ciclagem dos compostos químicos que interagem com os
ecossistemas e, dependendo do elemento, pode ser armazenado na
atmosfera, litosfera, hidrosfera e biosfera da Terra. Esses reservatórios
naturais de elementos químicos existentes no planeta são importantes
para o seu equilíbrio.

2.1 Ciclos biogeoquímicos e fluxo de energia

Os ciclos de matéria ou ciclos biogeoquímicos consistem no fluxo de


determinados elementos químicos que se deslocam entre seres vivos e
o meio ambiente na ciclagem de nutrientes. Esses compostos circulam
na biosfera e são armazenados na atmosfera ou na crosta terrestre.
Assim, temos dois tipos de ciclo, os gasosos e os sedimentares. Os ciclos
biogeoquímicos são importantes para a manutenção da vida no planeta
e, entre eles, destacam-se:

• Ciclo da água: encontrada em três estados (sólido, líquido e


gasoso), possui mais de um reservatório na natureza, na atmosfera
e na crosta terrestre, como as geleiras, mares, rios, lagos de forma
superficial ou subterrânea.

• Ciclo do oxigênio: elemento presente na respiração dos serres


vivos, seu ciclo é composto pela transição desse elemento entre
seus reservatórios na natureza, entre a atmosfera, biosfera e
litosfera.

44
• Ciclo do nitrogênio: é um elemento muito importante para o
crescimento de vegetação. O maior reservatório está localizado na
atmosfera, encontrado sob a forma gasosa N2, porém, a absorção
pelas plantas ocorre através das formas (NH4+, NO2–e NO3 –) e para
tanto é necessário a participação de bactérias com característica de
fixação e decomposição do nitrogênio. Nesse processo, ocorrem as
etapas de fixação, amonificação, nitrificação e desnitrtificação. Os
animais irão absorver nitrogênio por meio da alimentação (BRAGA,
2005).

• Ciclo do fósforo: está presente em dentes e ossos, além de compor


as moléculas dos ácidos ribonucleico (RNA) e desoxirribonucleico
(DNA). Seu ciclo não passa pela atmosfera, ocorrendo apenas
na crosta terrestre por meio de desgaste de rochas. As rochas
fosfatadas que sofrem processo erosivo liberam o elemento para o
solo e parte deles é carreado para o mar por meio do processo de
lixiviação, havendo uma perda de reposição para o ciclo (BRAGA,
2005).

• Ciclo do carbono: considerado um elemento muito abundante no


planeta, presente na atmosfera na forma de dióxido de carbono
e metano, tem participação na fotossíntese e no processo de
respiração dos animais. A matéria orgânica é constituída em
grande parte por carbono e a humanidade, a partir da revolução
industrial, tem consumido um volume considerável. Isso ocorre
por meio do consumo de combustíveis fosseis e do desmatamento
por processo de queimadas de florestas.

A ecologia também estuda a energia e matéria transferida entre


organismos pertencentes a um ecossistema no denominado estudo
de nível trófico de uma cadeia alimentar. O nível trófico é outro modo
encontrado pela ecologia para organizar os seres vivos de acordo com
sua alimentação e transferência de energia.

45
A luz solar é uma excelente fonte de energia natural. Nesse sentido,
alguns organismos como plantas e algas utilizam essa energia natural,
transformando-a em energia química no processo de fotossíntese,
sendo organismos conhecidos como autótrofos ou produtores do
próprio alimento. Há os organismos que produzem alimento por meio
da oxidação de compostos inorgânicos, ou seja, sem a utilização de luz
solar em um processo denominado quimiossíntese.

Outro grande grupo de seres vivos que necessitam de energia para se


movimentar e se desenvolver são os chamados heterótrofos, que não
possuem a capacidade de produzir seu próprio alimento e precisam
se alimentar dos autótrofos. Entro do grupo dos heterótrofos, há
os decompositores que são responsáveis pela ciclagem da matéria
orgânica. A decomposição é um processo em que ocorre a absorção de
apenas parte da matéria orgânica, sendo o restante devolvido para o
meio ambiente, mantendo assim o equilíbrio ecológico.

3. Noções de impacto socioambiental

Sob a perspectiva dos conceitos de ecologia apresentados, é comum


encontrar o termo “capacidade de suporte” no estudo da relação
entre ambientes e populações. De acordo Grisi (2000), o conceito pode
ser entendido como um indicador para estimativa da quantidade de
determinado elemento ou de organismos que podem ser mantidos
em um dado espaço ou ambiente, sem deteriorar ou modificar
significativamente as características elementares desse ambiente.

Diante dessa abordagem, em uma perspectiva de ecologia humana,


desde a década de 1970, a comunidade científica e organismos
internacionais tem discutido os limites do crescimento econômico
em relação à capacidade de suporte dos ecossistemas. Esses debates
foram motivados pela percepção da degradação ambiental decorrente

46
das atividades antrópicas, que estimulou o surgimento da Avaliação de
Impacto Ambiental (AIA), vinculada ao processo de exame dos impactos
ambientais, em que Sánchez (2013, p. 34) descreve como: “[...] alteração
da qualidade ambiental que resulta da modificação de processos
naturais ou sociais provocada por ação humana”.

O processo de avaliação do impacto ambiental é um instrumento


regido pela legislação de cada país e seu resultado pode, por exemplo,
influenciar na tomada de decisão do gestor sobre a viabilidade ou não
de determinado projeto, repensando as alternativas de localização
da atividade, contribuir na etapa de planejamento e pode servir de
negociação social com a comunidade potencialmente impactada.

No Brasil, os impactos ambientais decorrentes de atividades


potencialmente degradadoras da qualidade ambiental são regidos pelo
licenciamento ambiental, um instrumento criado pela Política Nacional
de Meio Ambiente (Lei Federal nº 6.938/1981), utilizado pelos órgãos
competentes para avaliação do impacto ambiental e da emissão de
licenças e autorizações.

A consideração da dimensão social na avaliação de impacto ambiental


é empregada para a compreensão de como uma atividade pode
potencialmente afetar as condições de saúde, modo de vida e
organização social das comunidades. Assim, a inadequada gestão dos
impactos socioambientais traz prejuízos à saúde, à qualidade de vida e à
economia de determinada região.

3.1 Saúde ambiental e a sociedade

Em diversos momentos da história, é possível observar a ocorrência de


epidemias nas populações humanas, o que demandam ações específicas
a serem adotadas pelo poder público e profissionais da saúde. Uma
das medidas mais frequentes adotadas é o isolamento dos doentes
ou suspeitos de estarem contaminados, com o objetivo de evitar a

47
propagação da doença e a observação do quadro clínico frente aos
tratamentos e medicamentos, como é possível observar na figura a
seguir.

Figura 1 – Isolamento de pacientes acometidos por uma doença

Fonte: duncan1890/iStock.com.

Os registros históricos brasileiros referentes ao controle de doenças e


ações voltadas à estruturação administrativa da área da saúde remetem
ao período do Brasil colônia, com a chegada da família real em 1808.
Entretanto, o Ministério da Saúde foi fundado em 25 de julho de 1953
e, ao longo da história, vários outros órgãos foram criados, como o
Instituto Oswaldo Cruz em 1900, a criação do Sistema Único de Saúde
(SUS) com a promulgação da Constituição Federal de 1988, a Fundação
Nacional de Saúde (FUNASA) em 1991 e a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) em 1999, entre outros.

48
A saúde ambiental é um conceito que está diretamente ligado aos
fatores ambientais que podem influenciar de forma negativa a saúde
das pessoas. O órgão responsável pela atuação em saúde ambiental e
controles epidemiológicos, resultantes da poluição do meio ambiente, é
a Vigilância em Saúde Ambiental (VSA). Segundo o Ministério da Saúde
(2017), a VSA é definida como:

[...] um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção


de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio
ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de identificar
as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco ambientais
relacionados às doenças ou a outros agravos à saúde.

A VSA desempenha um importante papel na prevenção, controle e


erradicação de doenças, tendo o suporte da área da epidemiologia
uma função essencial. Nesse contexto, a epidemiologia é fundamental
para medir a frequência de uma enfermidade em uma população. Essa
ciência é capaz de utilizar instrumentos para a descrição das condições
de saúde, identificar os fatores determinantes ou impactos de doenças
ou, até mesmo, contribuir na qualidade da saúde de uma sociedade.

No Brasil, a vigilância sanitária atua diretamente sobre o ambiente,


tendo o saneamento como principal frente de atuação. Dessa forma,
a problemática ambiental deve ser compreendida como parte das
condições de saúde e objeto das políticas públicas.

Os impactos ambientais podem desencadear problemas na saúde da


população exposta às fontes de poluição. Logo, é importante identificar
os poluentes lançados no meio ambiente e correlacioná-los às questões
de saúde pública são, de modo geral, situações complexas que
necessitam de correlação de diversos atributos e pesquisas. A poluição
do ar demonstrado na figura a seguir é um exemplo da dificuldade de
identificar as fontes de poluição responsáveis pela densa camada de
poluentes sobre a cidade.

49
Figura 2 – Densa camada de poluição sobre uma cidade

Fonte: Daniel Stein/iStock.com.

As fontes de poluição são provenientes das diversas atividades


humanas, podendo ser classificadas como pontuais ou difusas. O
lançamento do efluente de uma indústria diretamente em um corpo
hídrico é um exemplo de fonte pontual de poluição, entretanto, os
poluentes lançados na atmosfera, solo ou água são denominados fonte
difusa, quando não é possível identificar a fonte específica da geração,
como é o caso do descarte de resíduos em um rio.

Há diversas formas da população ser exposta aos poluentes dispersos


no meio ambiente, processos de exposição que podem ocorrer por
inalação, ingestão, como beber água imprópria para consumo, ou
absorção através do contato da pele com material contaminado.

50
A inalação de ar com concentrações de poluentes acima dos limites
aceitos pela legislação, devido aos gases ou material particulado, pode
comprometer o sistema respiratório e cardiovascular. Isso depende
do poluente envolvido e do tempo de exposição, que podem afetar de
maneira diferente cada faixa etária da população. Alguns dos principais
poluentes atmosféricos são o material particulado, ozônio (O3), dióxido
de enxofre (SO2), aerossóis, monóxido de carbono (CO) e o óxidos de
nitrogênio (NOX). Nesse sentido, segundo Philippi Jr. (2005, p. 90):

O ar contaminado pode entrar no corpo humano por inalação dos


poluentes, mas pode também ser absorvido por meio de contato dérmico.
[...] o material particulado e o dióxido de enxofre (SO2) podem levar à
constrição brônquica, bronquite crônica ou doença pulmonar obstrutiva
crônica.

A ingestão de água contaminada pode acarretar o desenvolvimento de


doenças provocadas por patógenos ou comprometer o funcionamento
de órgãos. Além disso, há doenças que afetam a população atendida
pela rede de abastecimento de água e esgotamento sanitário chamadas
de doenças de veiculação hídrica, como a cólera, febre tifoide,
leptospirose, gastroenterite, disenteria, giardíase, hepatites, entre outras
enfermidades.

Outra maneira da população sofrer com os impactos ambientais é o


desenvolvimento de doenças por ingestão de alimentos contaminados,
seja por agrotóxicos ou outros compostos clorados e/ou metais
pesados, como a ingestão de peixe contaminado por metais pesados
ou alimentos cultivados em solo contaminado com chumbo, em ambos
os casos o elemento poluidor pode ser ingerido pelos ser humano e
animais.

51
4. Educação ambiental para a saúde pública

O debate sobre questões ambientais na mídia se tornou cada vez mais


intenso, após diversos acidentes ambientais e seus impactos observados
na sociedade. A primeira Conferência Internacional das Nações Unidas,
no ano de 1972, na cidade de Estocolmo, é considerada um marco
importante por ter reunido chefes de diferentes países para discutirem
soluções para as questões de degradação ambiental ao redor do
mundo.

Em 1977 foi realizada a primeira Conferência Intergovernamental


de Educação Ambiental em Tbilisi, que foi realizada pela Unesco
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura),
com o propósito de definir aspectos importantes para educação
ambiental. Nesse período, o Brasil adotou a obrigatoriedade do curso de
ciências ambientais nos cursos de engenharia (BRASIL, 2020).

No Brasil, a educação ambiental foi proposta pela Lei nº 9.795, de 27


de abril de 1999, a Política Nacional de Educação Ambiental que trouxe
atribuições a diferentes partes interessadas, entre elas, a própria
sociedade civil incumbida na formulação de valores, as empresas com
a responsabilidade de capacitar seus funcionários, as instituições no
dever de integrar a educação ambiental em seus programas de ensino e
os entes federativos com a promoção da educação ambiental de forma
transversal em todos os níveis de aprendizado. Desse modo, a lei define
a educação ambiental como:

[…] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade


constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem
de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua
sustentabilidade. (BRASIL,1999, art. 1º)

52
O mecanismo de educação em saúde ambiental tem como uma
das características primordiais a possibilidade de transformação do
indivíduo, proporcionando-lhe a consciência de ser o protagonista da
sua própria história. Assim, com o conhecimento adquirido, ele tem a
possibilidade de aplicá-lo em seu cotidiano de maneira que impacte
positivamente a sua própria saúde e qualidade de vida.

Segundo a Funasa (2006), implantar projetos de educação em saúde


ambiental traz grandes benefícios à comunidade e à sociedade de
modo geral, sendo importante no planejamento considerar alguns itens
essenciais como o foco na atuação do território de produção da saúde,
envolver um grupo diversificado de agentes da população, garantir a
interação do meio ambiente, economia e comunidades, envolver as
pessoas como protagonistas em ações que objetive a promoção da
saúde, respeitar e considerar as diferenças culturais da comunidade
envolvida, promover a permeabilidade de discussões entre o
conhecimento acadêmico e o popular com o propósito de compartilhar
saberes, utilizar de maneira estratégica a educação em saúde ambiental.

As questões que envolvem os cuidados referentes à saúde pública e à


temática ambiental precisam ser incorporadas em todos os níveis da
sociedade, considerando as experiências vividas de cada indivíduo e
suas dificuldades enfrentadas em seu próprio território, seja ele rural
ou urbano. Segundo Philippi Jr. (2005, p. 596), a educação ambiental é
entendida como:

[…] um processo de mudança e de formação de valores, bem como de


preparo de exercício da cidadania, constitui-se em um conjunto de ideias
contrárias às ideias prevalentes no sistema social atual, contrárias às ideias
de egoísmo e de individualismo, a favor da transformação social com ética,
com justiça social e com democracia.

Portanto, a educação ambiental é mais ampla que ações pontuais


aplicadas a determinado grupo de pessoas, por exemplo, em programas
de implantação de coleta seletiva, redução no desperdício da água

53
ou recusa ao uso de embalagens plástica. Esses são mecanismos que
contribuem para o processo de transformação, mas não modificam um
indivíduo em um ser crítico e consciente com capacidade de desenvolver
mudança no meio em que reside.

Referências Bibliográficas
BRAGA, B. Introdução à engenharia ambiental: o desafio do desenvolvimento
sustentável. São Paulo: Pearson, 2005.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 13 out. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Vigilância ambiental. 2017. Disponível em: http://
saude.gov.br/vigilancia-em-saude/vigilancia-ambiental. Acesso em: 8 ago. 2020.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Histórico Brasileiro. 2020. Disponível em:
https://www.mma.gov.br/educacao-ambiental/pol%C3%ADtica-nacional-de-
educa%C3%A7%C3%A3o-ambiental/historico-brasileiro.html. Acesso em: 11 ago.
2020.
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, [1981]. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental,
institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília,
DF: Presidência da República, [1999]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/L9795.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE–FUNASA. Manual de saneamento. 4. ed. Brasília:
FUNASA, 2006.
GRISI, B. M. Glossário de ecologia e ciências ambientais. João Pessoa: Editora
Universitária da UFPB, 2000.
MITTERMEIER, R. et al. Biodiversity hotspots and major tropical wilderness areas:
approaches to setting conservation priorities. Conservation Biology, [S. l.], v. 12, n.
3, p. 516-520, 1998.
ODUM, E. P.; BARRETTT, G. W. Fundamentos de ecologia. São Paulo: Cengage
Learning, 2020.
PHILIPPI JR, A. Saneamento, saúde e ambiente. São Paulo: Manole, 2005.

54
SÁNCHEZ, L. E. Avaliação de impacto ambiental: conceitos e métodos. 2. ed. São
Paulo: Oficina de Texto, 2013.

55
Panorama da Gestão do
Saneamento Básico no Brasil
Autoria: Eliana Menezes dos Santos
Leitura crítica: Barbara Almeida Souza

Objetivos
• Conhecer o panorama das políticas e os programas
governamentais sobre saneamento básico no Brasil.

• Compreender o papel das entidades reguladoras.

• Entender a importância da adoção de instrumentos


e da apresentação do diagnóstico do saneamento
básico no país.

• Apresentar alguns modelos de prestação de serviços


públicos de saneamento básico.

56
1. Introdução

Nesta leitura, você estudará o panorama do saneamento básico e suas


interações com as normas legais brasileiras, com os entes responsáveis
pela fiscalização e/ou regulamentação e as diferentes formas de arranjos
na implantação de modelos de prestação de serviço. As políticas públicas
têm um importante papel na resolução de questões que acometem a
sociedade, que Dias (2008, p. 102) define como: “definição, elaboração
e implantação de estratégias de ação por parte dos governos no qual
há identificação e seleção de determinados problemas sociais que, na
visão dos gestores públicos, merecem ser enfrentados”, bem como pode
auxiliar a fiscalização dos empreendimentos mediante o atendimento
das métricas e padrões estabelecidos em legislação e que devam ser
atendidos, a fim de garantir uma qualidade efetiva e a satisfação do
cliente beneficiário do serviço. A gestão eficiente do saneamento básico
torna-se cada vez mais importante para toda a sociedade, promovendo
a melhoria da qualidade de vida da população.

2. Políticas e programas governamentais sobre


saneamento básico

A implantação e/ou ampliação dos serviços de saneamento que


incluem o abastecimento de água, tratamento de esgoto, tratamento
de resíduos e o manejo das águas pluviais, medidas que contribuem na
prevenção de doenças e, por consequência, melhoram a qualidade de
vida da população. Entretanto, universalizar o acesso aos serviços de
saneamento e garantir a efetividade dos serviços são grandes desafios,
que, de maneira geral, demandam planejamento adequado e de logo
prazo e a participação de diversos atores da sociedade e investimentos
financeiros no setor, por exemplo.

57
A elaboração e implementação de políticas públicas voltadas para
o saneamento sinalizam uma resposta do Estado na correção da
ineficiência na prestação de serviço de saneamento básico e em regiões
que por muitos anos se eximiram da responsabilidade de eliminar
situações de esgotamento sanitário ao ar livre. O conceito de política
pública possui diversas definições, segundo Souza (2006, p. 26), diante
dos diversos conceitos existentes é possível resumi-lo como:

[...] campo do conhecimento que busca, ao mesmo tempo, “colocar o


governo em ação” e/ou analisar essa ação (variável independente) e,
quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessas ações
(variável dependente). A formulação de políticas públicas constitui-se no
estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos e
plataformas eleitorais em programas e ações que produzirão resultados
ou mudanças no mundo real.

No âmbito das normas brasileiras acerca do saneamento ambiental e


saúde pública, a Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela
Lei nº 9.433/1997, apresentou a necessidade de integrar as políticas
locais de saneamento básico com a implantação das políticas estaduais e
federais de recursos hídricos. As ações para a implementação de política
pública envolvem todas as esferas de governo (municipal, estadual e
federal) e algumas ações do governo tornaram-se leis especificas, como:

• Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA): estabelecida


pela Lei nº 6.938/1981, ela inseriu na política brasileira a
importância da preservação, melhoria e recuperação da qualidade
ambiental propícia à vida. A instituição da PNMA contribuiu
na ampla discussão sobre a temática da gestão ambiental no
país correlacionando poluição ao meio ambiente com a saúde
da população, conforme expresso seu art. 3º, a poluição é “a
degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que
direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o
bem-estar da população.” (BRASIL, 1981, art. 3º)

58
• A PNMA apresenta em seu texto aspectos importantes e
objetivos a serem atingidos, entre eles temos a harmonia do
desenvolvimento econômico com a preservação ambiental,
definição de áreas prioritárias de atuação governamental, o
estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental,
o estímulo ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias
para o uso racional de recursos ambientais e instituiu o princípio
de poluidor-pagador, atribuindo-lhe a obrigação da reparação e/
ou indenização aos danos causados decorrentes da sua atividade
(BRASIL, 1981).

• Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB): foi instituída


pela Lei nº 11.445/2007, sendo responsável pelo estabelecimento
das diretrizes de saneamento básico, mas não contemplando
questões relacionadas à gestão dos recursos hídricos. Somente em
2020, com a instituição da Lei nº 14.026/2007, a gestão de recursos
hídricos foi anexada ao saneamento básico, essa atualização da
PNSB promoveu outras alterações em leis importantes e que
interage com o saneamento como se observa na Figura 1.

A Política Nacional de Saneamento Básico (PNSB) dialoga e interage


com outras normas e sua atualização promoveu a correção na Política
Nacional de Resíduos Sólidos PNRS, na lei de criação da Agência Nacional

59
das águas e no Estatuto da Metrópole, conforme demonstrado na figura
a seguir. N

Figura 1 – Novo marco regulatório do Saneamento e requisitos


legais atualizados

Fonte: elaborada pela autora.

A PNSB é fundamentada em princípios que articulam com diferentes


áreas, tendo como objetivo a promoção da qualidade de vida de toda a
população, conforme previsto em alguns de seus parágrafos:

60
I–Universalização do acesso e efetiva prestação de serviço; IV–articulação
com as políticas [...] de proteção ambiental, de promoção da saúde, de
recursos hídricos e outras de interesse social relevante, destinadas à
melhoria da qualidade de vida, para as quais o saneamento básico seja
fator determinante. (BRASIL, 2020, art. 4-A, § 1º)

Nesse sentido, existem políticas de saneamento ambiental e saúde


pública que não receberam regulamentação específica em forma de lei,
sendo criadas, por exemplo, por meio de portarias, entretanto, esses são
importantes mecanismos que articulam com questões ambientais e de
saúde, como:

• Plano Nacional de Saneamento (Planasa): instituído na década


de 1970, ele estabelecia normas gerais de tarifação. Entre os
objetivos a que se propunha, estava a eliminação do déficit da
demanda por abastecimento de água, o tratamento de esgoto,
a autossustentação financeira do setor, adequação tarifária, o
desenvolvimento institucional das companhias estaduais e a
realização de programas de pesquisas tecnológicas no campo de
saneamento básico, conforme previsto posteriormente por meio
do Decreto Federal nº 81.587/1978.

• O Planasa sugeria uma ampliação na oferta e na demanda dos


serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário,
entretanto, não contemplava serviços de manejo das águas
pluviais, limpeza urbana, tratamento dos resíduos sólidos e não
incluía nas discussões de decisão a participação da sociedade. O
plano perdurou por aproximadamente 10 anos, sendo extinto após
o encerramento das atividades das entidades que fomentavam
seu funcionamento, como o Banco Nacional de Habitação (BNH)
(PHILIPPI JR; GALVÃO JR., 2011, p. 86).

• Política Nacional da Promoção à Saúde (PNPS): norma criada


pelo Gabinete do Ministro (GM) e consolidada pelo Ministério
da Saúde (MS), instituindo a Portaria do MS/GM nº 687 de 30
de março de 2006 e revisada pela Portaria nº 2.446, de 11 de

61
novembro de 2014, redefinida com o intuito de promover “à
equidade, à melhoria das condições e dos modos de viver e à
afirmação do direito à vida e à saúde, dialogando com as reflexões
dos movimentos no âmbito da promoção da saúde” (BRASIL, 2018,
p. 6).

A PNPS aborda um conceito amplo de saúde não se limitando apenas


em fatores biológicos, traz no seu texto elementos que sugerem a
necessidade de considerar fatores sociais que podem influenciar na
qualidade de vida da população. Na PNPS, observa-se a apresentação de
estratégias elencadas com o objetivo de concretizar ações de promoção
à saúde por meio da apresentação eixos operacionais no campo da
territorialização, articulação e cooperação intrassetorial e intersetorial,
rede de atenção à saúde, participação e controle social, gestão,
educação e formação, vigilância, monitoramento e avaliação, produção e
disseminação de conhecimento e saberes, comunicação e mídia.

A PNPS pode ser considerada uma norma de natureza multidisciplinar


não se restringindo somente ao território da saúde, mas também
contemplando diversos temas prioritários, entre eles a formação e
educação permanente, a alimentação adequada e saudável, práticas
corporais e atividades físicas, promoção da cultura da paz e dos direitos
humanos e a promoção do desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2017).

3. Entidades reguladoras

No setor de saneamento básico, leis, planos, programas ou portarias


desempenham esse papel de regulação que pode ocorrer nas diferentes
esferas de governo. O Plano Nacional de Saneamento (Planasa) instigou
a criação de empresas pelos estados da federação para que os serviços
fossem prestadores à sociedade (PHILIPPI JR.; GALVÃO JR., 2011. p.85).

62
A fiscalização e a regulamentação em matéria de saneamento são
normalmente exercidas por entidades ou agências reguladoras, criadas
pelos entes federativos para essa e outras atribuições, conforme
previsto na Lei Federal nº 13.848/2019, que dispõe sobre a gestão,
a organização, o processo decisório e o controle social das agências
reguladoras. É possível encontrar agências reguladoras e fiscalizadoras
nos três níveis governamentais. Na esfera federal, temos a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a Agência Nacional de Águas e
Saneamento Básico (ANA) e a Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS). No âmbito estadual, temos a Agência Reguladora de Saneamento
e Energia do estado de São Paulo (ARSESP) e a Agência Reguladora de
águas, Energia e Saneamento do Distrito Federal (ADASA), e na esfera
municipal, temos a Agência Reguladora de Serviços Públicos (ARSEP) do
município de Mauá, conforme observado na figura a seguir.

Figura 2 – Exemplos de agências reguladoras nos três níveis de


governo

Fonte: elaborada pela autora.

63
4. Modelos de prestação de serviço

A prestação do serviço público de saneamento básico regido pela Lei


nº 11.445/2007 não demandava licitação contratual do prestador de
serviço e previa sua execução através de órgãos, autarquias, fundações,
consórcio, empresas públicas ou sociedade de economia mista. Com
a promulgação da Lei nº 14.026/2020, houve a atualização do marco
regulatório de saneamento que exigiu a licitação contratual e incluiu a
modalidade público-privado para os novos contratos. Os acordos são
ofertados em diversos tipos de gestão e arranjos legais distintos, sendo
possível destacar alguns dos diversos modelos existentes:

• Companhias Estaduais de Saneamento Básico: foram empresas


criadas por cada estado do país para atenderem as demandas de
prestação dos serviços de abastecimento de água e tratamento de
esgoto das regiões urbanas, sendo responsáveis pela operação,
execução de obras de manutenção e com vigência de contrato em
torno de 30 anos. São exemplos desse modelo: a companhia de
Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), Empresa
Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA), companhia de
Saneamento do Paraná (SANEPAR), Companhia de Água e Esgoto
do Ceará (CAGECE), Companhia Espírito-santense de Saneamento
(CESAN) e Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA),
entre outras.

• Gestão associada a Consórcios públicos e/ou convênio de


cooperação na esfera municipal: em situação de insuficiência
financeira e/ou técnica para gerir sozinho a prestação de serviço
de saneamento básico alguns municípios, na sua maioria
pequenos, se unem a fim de compartilharem a prestação do
serviço à população. Nesse modelo de gestão associado à
execução do serviço, pode ocorrer por meio de consórcio público
ou de convênios de cooperação. Essas atividades são previstas no

64
ordenamento jurídico, conforme art. 241 da Constituição Federal
de 1988:

A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios disciplinarão por


meio de lei os consórcios públicos e os convênios de cooperação entre os
entes federados, autorizando a gestão associada de serviços públicos, bem
como a transferência total ou parcial de encargos, serviços, pessoal e bens
essenciais à continuidade dos serviços transferidos. (BRASIL, 1988, art. 241)

A regulamentação para esse tipo de prestação de serviço foi


estabelecida com a instituição da Lei Federal nº 11.107/2005 e Decreto
Federal nº 6.017/2007.

Segundo Peixoto (2008), a partir do planejamento, a implantação de


consórcios públicos de saneamento é composta por várias etapas, a
ratificação do protocolo de intenções e depois é encaminhada para
aprovação no legislativo. De maneira sucinta, é possível listar as etapas
que envolvem o processo de constituição dos consórcios públicos, que
pode ser observado na figura a seguir.

Figura 3 – Etapas para constituição de consórcios públicos

Fonte: adaptada de Peixoto (2008, p. 30-36).

65
5. Melhoria da qualidade: instrumentos e
diagnóstico da prestação de serviço de
saneamento

A empresas, ou entidades que executam a prestação dos serviços


públicos de saneamento básico, precisam atender determinadas regras
imposta pelas normas jurídicas, a fim de garantir a qualidade do serviço
prestado comparado a determinado padrão pré-estabelecido em norma.

5.1 Sistema de Informações em Saneamento Básico


(SNIS)

A Lei Federal nº 11.445/2007 estabeleceu diretrizes nacionais para o


saneamento básico e instituiu o Sistema Nacional de Informações em
Saneamento Básico, conforme consta em seu art. 53 que foi mantido na
atualização do marco regulatório em 2020. Os objetivos elencados no
texto da norma demonstram com clareza a necessidade de:

[...] coletar e sistematizar dados relativos às condições prestação dos


serviços públicos de saneamento básico; disponibilizar estatísticas
indicadores e outras informações relevantes para a caracterização da
demanda e da oferta de serviços públicos do saneamento básico; permitir
e facilitar o monitoramento e avaliação da eficiência e da eficácia da
prestação de serviços de saneamento básico. (BRASIL, 2007, art. 53)

A própria lei em seu texto também traz a importância da implementação


de um sistema que trabalhe em conjunto com o Sistema Nacional de
Informações de Recursos Hídricos (SNIRH) e o Sistema Nacional de
Informações em meio ambiente (SNIMA), no âmbito do Sistema Nacional
do Meio Ambiente (SISNAMA).

As informações coletadas anualmente, junto aos municípios e


prestadores de serviço em todo o território nacional, alimentam a

66
plataforma de informações do SINIS, resultando em relatórios de
diagnóstico sobre a situação do país em termos de abastecimento de
água, tratamento de esgoto, tratamento de resíduos e manejo de águas
pluviais, informações disponíveis a todos os cidadãos (SNIS, 2020).

5.2 Combate as perdas nos sistemas de abastecimento


de água

O aumento da população e das atividades econômicas que demandam


por água, atrelado aos fatores em torno das situações de escassez desse
recurso, impõem aos gestores de recursos hídricos a preocupação com
as perdas inerentes à prestação do serviço público de abastecimento.

As diversas formas de desperdício de água podem representam


prejuízos financeiros e do próprio recurso, afetando a disponibilidade da
água. Nesse sentido, existem basicamente dois tipos de perdas: as reais
e as aparentes. As perdas reais podem ser entendidas como o volume
de água tratada e disponibilizado para o uso, porém, parte se perde ao
longo da distribuição e parte não é utilizada pelo consumidor. No caso
das perdas aparentes, existe a utilização da água sem a cobrança ou
faturamento pelo uso do recurso. Os cenários mais comuns registrados
destas perdas podem ser observados na figura a seguir.

67
Figura 4 – Situações que apresentam os tipos de perdas mais
comuns na distribuição de água

Fonte: adaptada de Philippi Jr. e Galvão Jr. (2011, p. 360-361).

Considerando os tipos de perdas, podemos entender que a


concessionária responsável pela prestação de serviço de abastecimento
não consegue sozinha eliminar o problema, é preciso envolver toda
a sociedade em uma gestão integrada para redução dos índices de
desperdícios do recurso natural.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.
Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 13 out. 2020.
BRASIL. Decreto nº 6.017, de 17 de janeiro de 2007. Regulamenta a Lei no 11.107,
de 6 de abril de 2005, que dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios
públicos. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: https://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/decreto/d6017.htm. Acesso em: 20
out. 2020.

68
BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional
do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1981. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de
Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos,
regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei
nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro
de 1989. Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005. Dispõe sobre normas gerais
de contratação de consórcios públicos e dá outras providências. Brasília, DF:
Presidência da República, 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11107.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007. Estabelece as diretrizes nacionais
para o saneamento básico; cria o Comitê Interministerial de Saneamento Básico;
altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.666, de 21 de junho de 1993,
e 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; e revoga a Lei nº 6.528, de 11 de maio de 1978.
Brasília, DF: Presidência da República, 2007. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 13.848, de 25 de junho de 2019. Dispõe sobre a gestão, a
organização, o processo decisório e o controle social das agências reguladoras,
altera a Lei nº 9.427, de 26 de dezembro de 1996, a Lei nº 9.472, de 16 de julho
de 1997, a Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997 [...]. Brasília, DF: Presidência da
República, 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/lei/L13848.htm. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Lei nº 14.026, de 15 de julho de 2020. Atualiza o marco de saneamento
básico e altera diversas leis. Brasília, DF: Presidência da República, 2020. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L14026.htm.
Acesso em: 24 ago. 2020.
BRASIL. Portaria nº 2.446, de 11 de novembro de 2014. Redefine a Política
Nacional de Promoção da Saúde (PNPS). Brasília, DF: Presidência da República,
2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/
prt2446_11_11_2014.html. Acesso em: 20 out. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de
Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde: PNPS: Anexo I da
Portaria de Consolidação nº 2, de 28 de setembro de 2017, que consolida as normas
sobre as políticas nacionais de saúde do SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.
Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_
promocao_saude.pdf. Acesso em: 20 ago. 2020.
DIAS, M. M. Políticas pública de extensão rural e inovações conceituais: limites e
potencialidades. Perspectivas em Políticas Públicas, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, p.

69
101-114, jun. 2008. Disponível em: http://revista.uemg.br/index.php/revistappp/
issue/view/84/showToc. Acesso em: 16 set. 2020
SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO–SINIS. O que é? SINIS
[on-line], 2020. Disponível em: http://www.snis.gov.br/o-que-e. Acesso em: 26 ago.
2020.
SOUZA, C. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre,
n. 16, p. 20-45, dez. 2006. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1517-45222006000200003&lng=pt&nrm=iso . Acesso em: 19 ago.
2020.
PEIXOTO, J. B. Fundação Nacional de Saúde. Manual de implantação de
consórcios públicos de saneamento. Brasília: Assemae, 2008. 110 p. Disponível
em: https://pesquisa.bvsalud.org/bvsms/resource/pt/mis-23567 . Acesso em: 25
ago. 2020.
PHILIPPI JR., A.; GALVÃO JR., A. C. Gestão do Saneamento Básico: Abastecimento
de Água e Esgotamento Sanitário. São Paulo: Manole. 2011.

70
Bons estudos!

71

Você também pode gostar