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Martinfay

A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

HISTÓRIA DA ESCOLA DE FRANKFURT

E DO INSTITUTO DE PESQUISAS SOCIAIS

1923-1950

TRADUÇÃO
Vera Ribeiro

REVISÃO DA TRADUÇÃO
César Benjamin

conTRllPOnTo

<
© by Martin Jay, 2008 AGHADECIMENTOS

Título original: The Dialectical lmagination: A History of the O autor agradece á permissão para fazer citações das seguintes obras con1 direítos autorais previarnente
Frankfurt School and the Institute of Social Research, 1923-1950 registrados:
The Authoritarian Personalíty, de T. W. Adorno et ai. Publicado pela Harper & Row, 1950. Reproduzido
Vedada, nos termos da lei, a reprodução total ou pardal deste livro,
mediante permissão da editora.
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Prisms, de Theodor W. Adorno. Publicado pela Neville Spearrnan Liinited, 1967, Londres. Reproduzido
Direitos adquiridos para a língua portuguesa por n1ediante pennissâo da editora.

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Publicado pela Harcourt Brace Jovanovich, Inc. Copyright© l 955 da Suhrkamp Verlag. Copyright da
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Social Science, IX 0941), revista anteriormente publicada pelo Instituto de Pesquisas Sedais. Os excer­
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Horkheimer.
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The Intel/ectual Migration: Europe and America, 1930-1960, organização de Donald Fleming e Bernard
Revisão tipográfica: Tereza da Rocha
Bailyn, Cambridge, Massachusetts: The Belknap Press of Harvard University Press, 1969. Reproduzido
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Escape from Preedom, de Erich Fron1n1. Publicado pela I-lolt, Rinehart and Winston, lnc., Nova York.
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Publicado cotno The Fear of Freedom pela Routledge and Kegan Paul Ltd., Londres, 1942. Copyright
J46i Jay, Martin, 1944­ 1941 © 1969 Erich From1n. Reproduzido mediante permissão das editoras.
A imaginação dialética.: história da Escola de Frankfurt e do Instituto
Diimmerung, de Max Horkheimer, sob o pseudônimo de Heinrich Regius. Publicado pela Oprecht and
de Pesquisas Sociais, 1923-1950 I Martin Jay; tradução Vera Ribeiro; re­
Helbling, Zurique, Suíça, em 1934. Reproduzido mediante permissão do autor.
visão da tradução César Benjamin. - Rio de Janeiro : Contraponto, 2008.
The Eclipse of Reason, de Max Horkheiiner. Publicado pela Oxford University Press. Copyright 1947
Tradução de: The dialectical imagination; a history of the Frankfurt Oxford University Press. Reproduzido 1nediante permissão da editora.
School and the Institute of Social Research, 1923-1950

Litemture and the Image of Man, de Leo Lõwenthal. Publicado pela Beacon Press. Copyright© 1957
Inclui bibliografia e índice

Leo Lõwenthal. Reproduzido rnediante permissão da editora.


ISBN 978-85-7866-008-6

Eros and Civilízation, de Herbert l\1arcuse. Publicado pela Beacon Press. Copyright© 1955 Beacon Press.
l. Institutt für Sozialforschung - História. 2. Pesquisa social - Estados Reproduzido mediante pennissão da editora.
Unidos. 3. Frankfurt School of Sociology. L Título.
Negations, de Herbert Marcuse. Publicado pela Beacon Press. Copyright© 1968 Herbert Marcuse. Re­
produzido mediante pennissão da editora.
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08-4229 cou,3 Reason and Revolution, de Herbert Marcuse. Publicado pela Beacon Press. Copyright 1941 Oxford
Univer~ity
Press, New York, Inc. Segunda edição, Copyright 19'.:i4 da Huinanities Press, lnc. Prefácio, ''A
Note on Dialectic'', Copyright © 1960 de Herbert Marcuse. Reproduzido inediante permissão da
Humanities Press, Inc.

Behemoth, de Franz Neumann. Publicado pela Octagon Books, subdivisão da Farrar, Straus & Giroux,
Inc. Copyright 1942, 1944 da Oxford University Press, New York, Inc. Reproduzido mediante pernüs­
são da editora.
The Democratic and the Authoritarian State, de Franz Neumann. Publicado por The Macmillan Com­
pany. Copyright© 19'.:i7 The Free Press, a Corporation. Reproduzido n1ediante permissão da editora.
Parte do segundo capítulo deste volume foi publicada eJn The Unknown Dimension: European Marxism
since Lenin, organizado por Dick Howard e Karl Klare. Publicado pela Basic Books. Copyright© 1972
Basic Books. O texto é reproduzido aqui mediante pernlissão da editora.

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Para meus pais,
Edward e Sari ]ay

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SUMÁRIO

Prefácio à edição de 1996 11

Prólogo 25

Introdução 27
Agradecimentos 33

1. A criação do Institut für Sozialforschung


e seus primeiros anos em Frankfurt 39
2. A gênese da teoria crítica 83
3. A integração da psicanálise 133
4. Os primeiros estudos do Instítut sobre a autoridade 163
5. A análise do nazismo feita pelo Institut 195
6. Teoria estética e crítica à cultura de massa 229
7. O trabalho empírico do lnstitut na década de 1940 281

8. Por uma filosofia da história: a crítica do Iluminismo 317

Epílogo 347

Notas 369
Bibliografia 427
índice remissivo 445
PREFÁCIO À EDIÇÃO DE 1996

Cheguei em Berkeley pela primeira vez em agosto de 1968, com 24 anos,


corno um estudante de pós-graduação, convidado por Leo Lõwenthal para
examinar seu vasto arquivo de material do Instituto de Pesquisas Sociais.
Enquanto eu passava longas horas consultando anos de cartas e manus­
critos inéditos, reunindo perguntas sobre números, acontecimentos e
idéias, às quais Lõwenthal respondia pacientemente, o mundo lá fora era
convulsionado por uma sucessão de eventos cataclísrnicos. No dia 21 de
agosto, tanques da União Soviética e de seus aliados entraram trovejando
em Praga e, de forma violenta, puseram fim à experiência do "marxismo
com face humana" que havia cativado a imaginação dos esquerdistas não
doutrinários no começo do ano. Poucos dias depois, enquanto "o mundo
inteiro observava", a convenção do Partido Democrata, em Chicago, foi
perturbada por manifestantes enfurecidos com a política do presidente
Johnson no Vietnã e com a possibilidade de que o candidato indicado pelo
partido, Hubert Humphrey, desse continuidade ao lamentável rumo se­
guido por seu predecessor.
Na caminhada diária de meu apartamento até o escritório de Lõwen­
thal, eu passava pela sede em Berkeley, já então abandonada e deserta, da
campanha de Robert Kennedy. Seu assassinato, dois meses antes, acabara
com muitas esperanças de que mudanças fundamentais fossem possíveis,
segundo o bordão da época, "trabalhando dentro do sistema". O próprio
campus de Berkeley era foco de uma escalada de confrontos entre estu­
dantes e autoridades, provocados por um governo estadual chefiado pelo
então governador Ronald Reagan. Na comunidade em torno, o Partido dos
Panteras Negras era urna presença insistente, testemunhando as tensões
raciais que tinham explodido em tumultos no gueto após o assassinato de
Martin Luther King Jr. na primavera.
Enquanto eu examinava o manancial de documentos generosamente
colocados à minha disposição por Lõwenthal, era impossível ignorar a
pressão das circunstâncias. A Escola de Frankfurt mal começara a despon­

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MARTIN JAY •A IMAGJNAÇAO DIALÉTICA PREFÁCIO DA EDIÇÁO DE 1996

tar na consciência das pessoas como uma inspiração teórica - ainda va­ Esses sentimentos se repetiam na Frankfurt em que me instalei no co­
gamente compreendida, é claro - da Nova Esquerda, nos Estados Uni­ meço de fevereiro. Vários prédios da universidade estavam ocupados por
dos e no exterior. Com efeito, seu impacto começava a se espalhar muito uma "greve ativa" permanente, com aulas improvisadas de teoria e prática
além dos confins do mundo acadêmico. 1 Quando cheguei a Berkeley, um marxistas. O Departamento de Sociologia fora rebatizado de "Departa­
dos principais protagonistas da história que eu esperava contar, Herbert mento Espártaco", em homenagem aos militantes espartaquistas dos pri­
Marcuse, estava ameaçado de morte e escondido na casa de campo de meiros anos da República de Weimar.* No dia 31 de janeiro, o próprio
Lõwenthal, no Vale de Carmel. Poucos meses antes, durante os eventos de lnstitut für Sozialforschung parecia ter sido tomado por estudantes radi­
maio em Paris, estudantes enragés [enfurecidos] haviam exibido cartazes cais - ou assim supuseram seus tensos diretores, Adorno e Ludwig von
com os nomes "Marx-Mao-Marcuse". Ridicularizado pela direita antico­ Friedeburg, que haviam chamado a polícia para esvaziar o prédio. Embo­
munista californiana, que exigia o fim de seu contrato de trabalho no ra depois se constatasse que isso fora apenas um mal-entendido constran­
campus de San Diego da Universidade da Califórnia, Marcuse também era gedor (os estudantes só estavam procurando um lugar para realizar um
alvo de ataques cada vez mais virulentos por parte da esquerda ortodoxa. debate), aprofundou-se o abismo entre a liderança da Escola de Frankfurt
Apesar do apoio, por princípio, que dera a Angela Davis, sua controverti­ e sua prole indesejada. Os efeitos ficaram óbvios quando Jürgen Haber­
da ex-aluna e líder do Partido Comunista, ele era acusado de ter abando­ mas, ainda sob fogo cerrado pela imprudente condenação que impôs ao
nado o proletariado como agente da revolução. Marcuse, como logo per­ "fascismo de esquerda", mostrou-me o cadeado no telefone de seu escri­
cebi, era também uma fonte de inquietação para a maioria de seus antigos tório, para impedir que alunos invasores fizessem ligações interurbanas ou
colegas do Jnstitut, que ficavam alarmados com sua militância política sem internacionais. Nervoso, Adorno também se recusou a me permitir gra­
papas na língua. var nossas conversas, com medo de deixar "impressões digitais verbais".
Passados alguns meses, depois de um semestre em que retornei a Har­ Parti de Frankfurt para a Suíça poucas semanas antes do infausto inci­
vard, eu me preparava para viajar à Europa e dar continuidade às pesquisas dente, em abril, no qual mulheres integrantes da organização Estudantes
em Frankfurt e em Montagnola, na Suíça. Pouco antes da partida, em por uma Sociedade Democrática interromperam uma palestra de Ador­
janeiro de 1969, estive em uma festa em Nova York na qual fui apresen­ no, correndo para o tablado e exibindo os seios, num ato simbólico de
tado a Mark Rudd, o inflamado líder do levante estudantil de Colúmbia patricídio que pode ser considerado uma prefiguração da morte do filó­
que logo viria a embarcar na aventura desesperada e autodestrutiva que sofo e sociólogo, em agosto de 1969, em decorrência de um infarto. A bela
recebeu o nome de Weather Underground. * Quando lhe contei sobre meu cidade de Montagnola, no cantão de Ticino, perto de Lugano, onde Hork­
projeto de dissertação, ele reagiu com desdém, dizendo que Adorno e heimer e Pollock viviam uma aposentadoria confortável, pareceu-me mui­
Horkheimer eram dois vendidos covardes que tinham traído a causa re­ to distante dos tumultos de Berkeley ou Frankfurt. Pude entrevistá-los lon­
volucionária; a própria mudança de sobrenome de Adorno, que abando­ gamente e trabalhar com o material deles em um clima muito menos
nara o Wiesengrund, de som judaico, disse Rudd com rispidez, era um carregado do que aquele em qL1e estivera antes. Entretanto, mesmo nesse
sín1bolo de covardia.
relativo isola1nento) a situação global parecia repleta de u1na curiosa n1is­
tura de promessas radicais e ameaças reacionárias. Um ano depois, quan­
*A Weather Underground Organization (WUO ), antes conhecida como Weathermen, foi um
grupo radical de esquerda nos Estados Unidos, composto por integrantes e líderes saídos
do Students for a Democratic Society [Estudantes por uma Sociedade Democrática], ou *A Liga Espartaquista (Spartaksbund, em alemão) foi um movimento revolucionário de es­
SDS, que se havia formado no campus da Universidade de Michigan na década de 1960. querda organizado na Alemanha depois da Primeira Guerra Mundial. O nome faz alusão
Em 6 de março de 1970, houve uma explosão nun1 esconderijo da WUO em Greenwich a Espártaco, líder da maior rebelião de escravos na Ro1na imperial. Os espartaquistas, cujos
Village, na qual .morreram três de seus integrantes. Depois disso, já na clandestinidade, o principais líderes foram Rosa Luxemburgo) Karl Liebknecht e Clara Zetkin, tentaram rea­
grupo realizou seqüestros, explodiu bombas (inclusive no -Pentágono) e redigiu e distri­ lizar uma insurreição em janeiro de 1919, mas foram derrotados. Rosa Luxemburgo e Karl
buiu milhares de cópias de um manifesto contra o imperialismo. [N.T.] Liebknecht foram presos e, em seguida, assassinados. [N.T.J

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO D!Ali'..TICA PREFÁCIO DA EDIÇÃO DE 1996

do eu já estava de volta aos Estados Unidos para concluir minha disserta­ guidores dessa teoria. 4 Inadequado por temperamento para o ativismo
ção, Pollock me escreveu: militante, sempre mantive certo distanciamento cético em relação às ten­
dências ma:ximalistas da Nova Esquerda e havia resistido a me filiar a qual­
Dessa distância, o que vem acontecendo nos Estados Unidos parece real­
mente patético. Todos esses sintomas de desintegração de uma ~'grande so­ quer facção especifica do "movimento''.
ciedade" (digo isso com seriedade, considerando os co1nponentes positivos Mas A imaginação dialética foi escrito com a esperança de transmitir a
da vida norte-americana, avaliados em comparação com outros países) não sensação palpável de empolgação e promessa que experimentei ao desen­
apontam para outra alternativa senão a perda das liberdades que restam e a cavar e tentar fazer a triagem de um corpus de trabalho tão radicalmente
dominação de uma classe média tacanhamente materialista, dirigida por um desconhecido e desafiador. Embora o momento histórico preciso das fi­
Führer implacável. 2
guras centrais da Escola realmente estivesse no passado (pois elas, clara­
Felizmente, essa visão apocalíptica nunca se materializou, mas recor­ mente, já haviam produzido sua obra principal, e muitas não estavam vi­
dar o alarme de Pollock, junto com os outros acontecimentos menciona­ vas), pareceu-me que o acolhimento e a compreensão de seu trabalho
dos acima, talvez ajude o leitor desta edição de A imaginação dialética a se ainda estavam no futuro. O livro foi escrito, pelo menos em parte, na es­
lembrar do contexto carregado em que o livro foi escrito e acolhido. Em­ perança de facilitar esse processo, mas sem convidar ao dogmatismo
bora os tempos talvez não tenham sido tão tempestuosos quanto durante acrítico que caracterizou tantas outras aproximações à teoria marxista.
a batalha de )ena de 1806, travada em torno de Hegel quando ele concluía Essa expectativa realizou-se muito além de minhas fantasias mais gran­
a Fenomenologia do espírito, decerto não me vi em um ambiente acadêmi­ diosas, pois a Escola de Frankfurt logo despontou como o foco de um in­
co contemplativo, afastado das pressões da época. tenso interesse contemporâneo e histórico. Acabando por ser traduzido em
Quando a dissertação foi publicada, em 1973, as esperanças e os temo­ oito línguas, com uma nona tradução - para o chinês - agora iminen­
res do fim da década de 1960 ainda eram potentes. A Guerra do Vietnã te, A imaginação dialética pôde desempenhar o modesto papel de apresen­
teria mais dois anos pela frente e a Nova Esquerda ainda não era uma for­ tar a Escola a um público internacional. Em particular, a tradução alemã
ça desgastada. A tradição intelectual que ficou conhecida como marxis­ de 1976 ajudou a estimular um sério interesse histórico, ali onde as con­
mo ocidental ainda era descrita, numa antologia norte-americana de 1972, trovérsias vigentes tinham sido acaloradas demais para permitir uma ex­
como uma "dimensão desconhecida" 3 capaz de fornecer idéias úteis para posição desapaixonada ou erudita (aliás, naquele momento, a Escola ser­
as lutas do presente e do futuro. As traduções de seus textos clássicos mal via de saco de pancada dos conservadores, que imputavam o terrorismo
começavam a se tornar disponíveis na época (por exemplo, História e cons­ da esquerda aos seus ensinamentos). Escrito por uma pessoa de fora, sem
ciência de classe, de Gyõrgy Lukács, em 1971, e Dialética do esclarecimento, nenhuma participação anterior em suas idéias nem dívidas pessoais para
de Horkheimer e Adorno, no ano seguinte), e era nítida a sensáção de que com seus membros,' o livro parece ter tido a virtude de uma certa ino­
havia um tesouro intelectual por ser escavado. Publicações como New Left cência. Amigos e inimigos da Escola extraíram dele lições diferentes. Ao
Review, Telas e New German Critique atropelavam-se na ânsia de apresen­ contrário de certas abordagens posteriores, que refletiram um clima mais
tar, explic<-1r e aplicar idéias que promcti11n 01.iudar a subverter o stntus quo. desiludido e desn1ascarador, ele teve a sorte de evit;:ir o que os alc111ãcs cha­
Não deve ser surpresa) port<:into, que alguns críticos de ;\ ilnaginaçâo n1an1 de Karrunerdienerperspcktive: a visão de baixo para cin1a do einpre­
dialética, envolvidos na política, tenham-se impacientado com o que vi­ gado que lava a roupa suja.
ram como um tom "lamentoso': destacado pela afirmação, na introdução,
de que o momento histórico da Escola estava "irrevogavelmente no pas­ Em termos significativos para o destino posterior de A imaginação dia­
sado". À parte o exemplo de extremistas ocasionais como Mark Rudd, eles lética, a acolhida dada à teoria crítica estendeu-se além do momento de
estavam convencidos de que a teoria critica continha recursos para as lu­ recuperação e absorção do marxismo ocidental na década de 1970. O tér­
tas práticas do presente e do futuro. Na verdade, eu nunca havia simpati­ mino desse momento pressagiou uma queda vertiginosa do interesse por
zado inteiramente com os argumentos mais questionáveis de alguns se­ outras figuras de sua história, como Karl Korsch, Louis Althusser ou

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÊTICA PREFACIO DA EDIÇÃO DE 1996

Lucien Goldmann. Porém, a Escola de Frankfurt conseguiu tornar-se um ção dialética foi originalmente lançada. Ocorre que 1973 foi mais do que
marco duradouro no panorama teórico do fim do século XX. Embora sua o ponto culminante da descoberta da teoria marxista ocidental européia
coerência como escola monolítica possa hoje parecer menos evidente do pela Nova Esquerda norte-americana, em seus esforços de questionar a
que quando procurei escrever esta história, os impulsos gerais da teoria sociedade burguesa; na verdade, pode-se dizer que esse ano teve uma im­
crítica ainda são identificáveis, decorrido 1/4 de século, ao mesmo tempo portância muito diferente para o início de uma outra narrativa, cujo fim
que seu trabalho tem sido hibridizado e amalgamado com outras tendên­ ainda não é visível.
cias teóricas. A recessão global de 1973 foi a primeira desde o término da Segunda
Uma das principais razões da relevância da Escola de Frankfurt é a pró­ Guerra Mundial. Sua imagem mais marcante talvez tenha sido a das lon­
pria riqueza e variedade do trabalho efetuado sob seus auspícios. Se algu­ gas filas nos postos de gasolina, provocadas pelo súbito aumento dos pre­
mas figuras, como Marcuse, Horkheimer e Fromm, parecem hoje presen­ ços do petróleo por parte da OPEP. O resultado, para simplificar um pro­
ças menos poderosas do que quando iniciei minha pesquisa, 6 outras, como cesso complexo, foi uma reestruturação radical do sistema econômico
Adorno e Benjamin, tornaram-se ainda mais importantes. À medida que mundial, que acabou levando à falência - ou, pelo menos, isso foi sinali­
surgem novas traduções de suas obras, elas parecem atingir um público zado por ela - do "socialismo real" do Leste, bem como ao abandono
paulatino das políticas keynesiano-fordistas no Ocidente. O que David
mais amplo. Integrantes da Escola antes tidos como de importância mar­
Harvey chamou de ascensão de um novo sistema de "acumulação flexí­
ginal, a exemplo de Franz Neumann e Otto Kirchheimer, ganharam uma
vel" significou a importância crescente do capital financeiro internacio­
nova audiência, na esteira da diminuição do interesse pelas questões
nal, em relação a Estados nacionais cada vez mais impotentes; a globaliza­
jurisprudenciais e legais da era da República de Weimar, interesse este que
ção dos mercados de trabalho, produzindo uma migração acelerada de
foi instigado, em parte, pela vigorosa recepção - à esquerda e à direita
mão-de-obra estrangeira barata e o enfraquecimento do movimento sin­
- dada ao controvertido jurista Carl Schmitt. 7
dical; a contração do tempo e do espaço, com as inovações tecnológicas; e
Outra fonte do poder duradouro da Escola foi a notável qualidade do
o enfraquecimento da tendência a uma acumulação excessiva de capital,
trabalho feito por seus muitos descendentes, e não apenas na Europa e nos
com o deslocamento temporal e espacial da demanda. 9 Embora não seja
Estados Unidos.8 Atualmente, na Alemanha, convencionou-se falar de uma estável nem tenha um funcionamento tranqüilo, o sistema que começou
segunda geração da Escola de Frankfurt, cujos membros mais notáveis são a se cristalizar em 1973 parece produzir crises que não são controláveis
Jürgen Habermas, Alfred Schmidt e Albrecht Wellmer, e também de uma por um mecanismo consciente (como a política fiscal e monetária do Es­
terceira geração, que incluiria Axel Honneth, Peter Bürger, Oskar Negt, tado) nem capazes de gerar um ator social coletivo, um herdeiro do pro­
Helmut Dubiel, Claus Offe, Alfons Sõllner, Hauke Brunkhorst, Detlev letariado marxista, apto a questioná-lo por dentro.
Claussen, W. Martin Lüdke e Christoph Menke. Embora, em seus últimos À primeira vista, esses desdobramentos pareceriam enfraquecer qual­
anos de vida, Lukács tenha gerado uma "Escola de Budapeste'~ e Galvano quer interesse contínuo pelo legado do Institut für Sozialforschung. Nem
della Volpe e Althusser tenham arrebanhado um grande número de segui­ a teoria n1<Jrxista tradicional da crise, defendida por Hcnryk Grossn1ann,
dores por algun1 ternpo, nenhun1a tradição con1parável de pensamento nern a concepção de Franz Neun1ann de un1a n1istura de capitalismo 1110­
conseguiu renovar-se com tanto vigor e tão pouca repetição dogmática nopolista e economia dirigida, tampouco a idéia de Frederick Pollock so­
quanto essa cuja história inicial este livro procura contar. bre um capitalismo de Estado e a "primazia do político" se coadunam com
Há, porém, mais uma explicação para a obstinada sobrevivência do in­ o novo paradigma. Até a tese posterior de Claus Offe sobre o "capitalismo
teresse pela teoria crítica, que lhe permitiu conservar sua força, mesmo desorganizado" talvez seja deficiente, se é que Harvey tem razão ao afir­
depois de o marxismo ocidental ter perdido o impulso: sua inesperada mar que "o capitalismo vem-se tornando cada vez mais estreitamente or­
compatibilidade com as apreensões e angústias de uma era cujos primór­ ganizado, por causa da dispersão, da mobilidade geográfica e das respos­
dios só eram vagamente perceptíveis, se é que o eram, quando A imagina­ tas flexíveis nos mercados de trabalho, nos processos do trabalho e nos

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MARTIN JAY • A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA PREFACIO DA EDIÇÃO DE 1996

mercados de consumo, tudo acompanhado de doses maciças de inovações posturas transcendentes como um principismo desacreditado e zomba do
institucionais, tecnológicas e produtivas". 10 utopismo como intrinsecamente falacioso. 16
No trabalho do Institut sobre questões econômicas, há pouca coisa que No entanto, em certos aspectos, pode-se dizer que a trajetória teórica
esclareça a reestruturação do capitalismo posterior a 1973.1' Entretanto, é geral de pelo menos vários membros da primeira geração da Escola pre­
no nível de seu correlato cultural que a ascensão do sistema pós-fordista parou o terreno para a guinada pós-moderna e, desse modo, encontrou
de acumulação flexível pode ajudar a explicar a permanência da Escola de um novo público. Em termos mais óbvios, o descarte relutante de uma
Frankfurt. Pois, se Harvey tem razão, o que ficou conhecido como pós­ idéia triunfalista da emancipação humana iminente, baseada numa histó­
modernismo é uma situação cultural que, de algum modo, expressa e re­ ria singular de progresso produzido pela luta de classes, tem ressonância
flete (ao mesmo tempo que às vezes lhes opõe resistência) as mudanças no típico abandono pós-modernista de qualquer metanarrativa, especial­
econômicas que podemos datar de, aproximadamente, 1973. Em contras­ mente de alguma que culmine na redenção. De fato, as temporalidades da
te com muitas outras variações do marxismo ocidental, a teoria crítica Escola de Frankfurt, as narrativas complexas de ascensão, queda e recor­
achou um novo clima relativamente hospitaleiro, mais nos Estados Uni­ rência que seus membros moldaram, muitas vezes foram tão confusas e
dos do que na Alemanha, onde as linhas de batalha entre os pós-moder­ contraditórias quanto as adotadas por muitos pensadores pós-modernis­
nistas e os teóricos críticos da segunda geração foram nitidamente traça­ tas. Do mesmo modo, a crítica radical à tradição ocidental da racionali­
das. À medida que as questões de economia política e práxis política foram dade instrumental e tecnológica, elaborada de maneira muito extensa na
marginalizadas, e que as de cultura e de estética ocuparam o centro do Dialética do esclarecimento, com suas ruminações sombrias sobre o entre­
palco, as explorações variadas e extensas desses campos pela Escola insti­ laçamento do mito com a razão, pode ser vista como potencialmente com­
garam uma renovação do interesse e das controvérsias. 12 patível com a desconfiança pós-moderna em todas as versões da razão. 17
Seria um equívoco, é claro, reduzir pura e simplesmente o legado da Aliás, em algumas ocasiões, ela foi tomada exatamente como tal por mem­
teoria crítica a prolegômenos do pós-modernismo, como quer que defi­ bros da segunda geração da Escola, como Habermas, que resistem preci­
namos esse termo aborrecido. A vigorosa defesa habermasiana do projeto samente a essa conclusão.1'
incompleto da modernidade,1 3 as últimas advertências de Lõwenthal con­ A "dialética negativa'' de Adorno e a desconstrução de Jacques Derrida
tra conceitos '(irracionais e neomitológicos,, como "pós-história" 14 e a in­ também despertaram comparações freqüentes, por sua rejeição comum
sistência de Adorno na distinção entre arte superior e inferior e na defesa das filosofias totalizantes da identidade, sua desconfiança dos princípios e
de modernistas como Beckett, Kafl<a e Schoenberg, em oposição ao im­ origens primordiais, sua suspeita das teorias idealistas da negação e sua
pacto nivelador da indústria cultural, tudo isso deixa claro ,que, em mui­ valorização dos modos de representação alegóricos, em vez dos simbóli­
tos aspectos importantes, a Escola de Frankfurt resiste a ser incluída, in­ cos. Embora Adorno, resolutamente utopista, tenba resistido a aceitar a
discriminadamente, entre os precursores do pós-modernismo. De fato, repetição sem resolução, tão bem aceita pelo temperamento desconstru­
como assinalou Fredric Jameson, é bem possível que se possa dizer que tivo, 19 sua "ciência da melancolia" pareceu) aos olhos de 8lguns, estar <i
fornrn os pastiches ecléticos de Stravinsky (que Adorno desprezava), e não apenas un1 pequeno passo da recusa do luto, por princípio 1 etn IJerrida.
as inovações progressistas de Schoenberg (que, em geral, ele admirava), A defesa multifacetada de uma certa idéia de mimese benigna, tanto na
que anteciparam um traço fundamental da cultura pós-modernista. 15 teoria crítica quanto na obra de Philippe Lacoue-Labarthe, também des­
Além disso, o papel central da "crítica da ideologia" na teoria crítica fica pertou atenção, assim como certas afinidades com a crítica de Lacan à psi­
relegado a uma posição secundária na maior parte da teoria pós-moder­ cologia do ego. 20
nista, a qual - exatamente porque não se interessa em realizá-la - não Do mesmo modo, em Michel Foucault, a história genealógica do cor­
oferece qualquer ponto de apoio para essa crítica. Em vez dela, prefere po, a hostilidade à normalização e à disciplina, a atenção micrológica aos
uma razão cética, se é que se trata mesmo de uma razão; ataca todas as detalhes e o fascínio pelas relações entre o saber e o poder foram vistos

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA PREFÁCIO DA EDIÇÃO DE 1996

corno próximos das preocupações da teoria crítica. Embora seja famosa a ção do pós-moderno em seu pensamento, embora esse componente ain­
crítica de Foucault, na História da sexualidade, ao marxismo freudiano de da seja basicamente reticente ou rejeitado". 27
Marcuse, por este haver presumido urna norma trans-histórica da reali­ Também se deve reconhecer que, para alguns, nesse novo contexto, a
zação libidinal, há paralelos significativos no questionamento que ambos teoria crítica serviu corno um baluarte contra o que pareciam ser as im­
fizeram das idéias dominantes de sexualidade normativa e na crítica à des­ plicações mais niilistas, relativistas e contra-iluministas de certas teorias
sublirnação repressora. 21 Aliás, o próprio Foucault admitiu: "Se eu tivesse pós-modernas. A recusa antecipatória de Adorno ao pós-modernismo
deparado com a Escola de Frankfurt quando era jovem, teria ficado se­ (à qual Lyotard alude nos comentários citados) decorreu de sua obstina­
duzido a ponto de não fazer mais nada na vida senão comentar seus tra­ da relutância em abrir mão das questões da justiça social e da verdade (en­
balhos. Em vez disso, sua influência sobre mim é retrospectiva - urna tendidas, em última instância, corno "a verdadeira sociedade"), ou em
contribuição que recebi quando já não estava na idade das 'descobertas' abandonar qualquer esperança de encontrar um meio político de realizá­
intelectuais." 22 las. Muitos expoentes atuais da teoria crítica, corno os editores da nova
Travou-se também urna animada batalha em torno do contestado le­ revista Constellations, Seyla Benhabib e Andrew Arato, seguem Haberrnas,
gado de Walter Benjamin. Desconstrucionistas corno Paul de Man, Samuel sustentando persistentemente a viabilidade do projeto da modernidade ­
Weber, Rainer Nãgele e Werner Harnrnacher procuraram interpretá-lo em despojado, é claro, de suas implicações redentoras ou utópicas - corno
seus próprios terrnos. 23 O próprio Derrida intrigou-se com os primeiros modo de atingir essas metas.
escritos de Benjamin, sobretudo com a Crítica da violência, com a evo­ Contudo, se aceitarmos a distinção entre um pós-modernismo de re­
cação ainda mística de urna idéia de justiça divina e o fascínio pela vio­ sistência e um de afirmação, é possível que o primeiro possa ser legiti­
lência primordial corno antídoto contra o igualitarismo nivelador. 24 As mamente visto corno um dos subprodutos plausíveis, se bem que inespe­
complicadas dívidas de Benjamin para com o surrealismo francês foram rados, da Escola de Frankfurt, desde que se jogue fora pelo menos sua
relembradas numa época em que a importância de surrealistas corno bagagem marxista mais ortodoxa. Até os pós-modernistas que se recusam
Georges Bataille para o pós-estruturalismo tinha sido largamente reconhe­ a ir além do horizonte do marxismo, corno Jarneson, julgaram pelo me­
cida.25 Embora o momento obstinadamente redentor do pensamento de nos Adorno - antes um "aliado indubitável, quando ainda existiam cor­
Benjamin, assim corno sua crença numa Ursprache [língua original] adâ­ rentes poderosas e opostas" - corno sendo agora "um modelo dialético
rnica, na qual o nome e a coisa seriam um só, sejam difíceis de conciliar para a década de 1990. Sua dialética introspectiva ou reflexiva harmo­
com a suspeita desconstrucionista em relação às origens plenas e aos pon­ niza-se com urna situação em que, por causa das dimensões e da desigual­
tos finais, há justificativas suficientes, no emaranhado de textos que ele dade da nova ordem mundial, a relação entre o indivíduo e o sistema
deixou, para pelo menos situá-lo numa constelação tensa com esses pen­ parece mal definida, se não instável ou até dissolvida". 28 Hoje, o que Ha­
sadores mais recentes. berrnas chamou de "estratégia de hibernação" de Adorno parece menos
Este não é o lugar para apresentar urna análise séria dos paralelos e urna covardia, corno a que os Mark Rudds de urna geração atrás descarta­
contrastes entre a teoria crítica e o pós-modernismo, em suas diversas for­ vam com tanto desdém, do que um modelo de sobrevivência intelectual
mas. Basta dizer que o contexto de recepção tem sido acolhedor, de modo radical em um interminável inverno político.
geral, com a apropriação contínua de pelo menos alguns legados da Es­ Ruminações corno essas se tornaram familiares, agora que o mundo
cola de Frankfurt, que se tornaram "astros" luminosos no que Richard acadêmico passou a ser praticamente o último refúgio do pensamento crí­
Bernstein chamou de "nova constelação" do pensamento conternporâ­ tico do tipo representado pela Escola de Frankfurt e que as oportunida­
neo.26 Corno reconheceu o próprio Jean-François Lyotard, "quando se lê des de sua realização prática, para todos os efeitos, desapareceram. O que
Adorno hoje - sobretudo textos corno Teoria estética, Dialética negativa foi esperançosamente proclamado corno "a longa marcha pelas insti­
e Minima moralia - , tendo em mente esses nomes [Derrida,, Serres, tuições", na década de 1960, estagnou nas décadas seguintes, transfor­
Foucault, Levinas e Deleuze], percebe-se o componente de urna antecipa­ mando-se numa temporada interminável, sem grande perspectiva ­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA PREFÁCIO DA EDIÇÃO DE 1996

e, muitas vezes, parece, já sem grande interesse - de encontrar uma saída. O mesmo se poderia dizer da história da própria Escola, que continuou
Talvez só a direita alarmista tenha levado a sério o "sucesso" paradoxal do a ser pesquisada e reescrita por estudiosos de muitos países. À medida que
projeto da "longa marcha': que ajudou a alimentar sua campanha, amiú­ novos materiais de arquivo foram vindo à luz e que os últimos membros
de histérica, contra o suposto fantasma da "correção política". No outro sobreviventes saíram de cena, a história que procurei narrar neste livro
extremo do espectro, a academização da Nova Esquerda tem igual proba­ ganhou complexidade e nuances. As pesquisas comparativas de outras di­
bilidade de ser deplorada como um emblema do esgotamento político. mensões da migração intelectual proveniente da Alemanha nazista, as cor­
Seja qual for a verdade dessas interpretações, 29 não se pode duvidar de que rentes rivais do marxismo ocidental e as tradições teóricas alternativas do
a teoria crítica atingiu um status inesperadamente seguro - talvez, ironi­ século XX puseram-na num relevo cada vez mais nítido. Estudiosos como
camente, até um status canônico - como um impulso teórico central na Susan Buck-Morss, Gillian Rose, David Held, Helmut Dubiel, Ulrike Mig­
vida acadêmica contemporânea. dal, Alfons Sõllner, Barry Katz, Russell Berman, Wolfgang BonB, Douglas
Quando fui solicitado por colegas de Osaka, recentemente, a organizar Kellner, Richard Wolin, Miriam Hansen, Rose Rosengard Subotnik, Willem
uma coleção em dois volumes com ensaios de seguidores norte-america­ van Reijen, Gunzelin Schmid Noerr e Stephen Eric Bronner - para men­
nos da Escola de Frankfurt, destinada ao público japonês, logo percebi até cionar apenas alguns dos mais destacados - expuseram muitos detalhes
que ponto ela realmente se tornara central. Em meio ao amplo leque de da história e acrescentaram novas perspectivas. Atualmente, existe até uma
possíveis colaboradores havia professores titulares dos departamentos de caprichada "fotobiografia" da Escola, que fornece imagens de todas as fi­
filosofia, ciência política, história, literatura alemã e sociologia das univer­ guras relevantes, junto com suas histórias pessoais. 31
sidades Harvard, Cornell, Stanford, Colúmbia, Rice, Northwestern, Texas, As linhas gerais da narrativa, entretanto, mantiveram-se basicamente
Chicago, da New School e de outras instituições de ponta. Apenas uma intactas, de modo que resisti à tentação de mexer no texto original deste
ou outra exceção ocasional, como Russell Jacoby, um independente críti­ livro, à parte umas poucas correções factuais, e de integrar todas as novas
co da cultura e instigador do mundo acadêmico, confirmou a regra. O iso­ informações descobertas recentemente, ou entrar em disputa com a tor­
lamento da Escola de Frankfurt em seu período inicial nos Estados Uni­ rente de novas interpretações sobre o legado da Escola. Embora uma sín­
dos, documentado neste livro, obviamente era coisa do passado. Essa tese histórica pormenorizada tenha saído em 1986 - a abordagem da his­
alienação peculiarmente fecunda, ainda que amiúde dolorosa, dos contex­ tória por Rolf Wiggershaus até a morte de Adorno, por sorte já disponível
tos institucionais tradicionais, cuja importância para o desenvolvimento em inglês 32 - , nem mesmo suas quase oitocentas páginas conseguem fa­
da teoria crítica tentei destacar em um ensaio escrito depois do lançamen­ zer justiça a todo o trabalho que foi e continua a ser feito sobre as figuras
to de A imaginação dialética, 30 já não prevalecia; a Flaschenppst de Ador­ e as idéias de que ela trata. Por ter eu mesmo tentado, em outros textos,
no, sua mensagem numa garrafa, lançada na "inundação de barbarismo abordar algumas lacunas de A imaginação dialética,_3 3 sei quanto essa tare­
que explode na Europa", chegou a muitas praias de nossos tempos, feliz­ fa é assustadora hoje em dia. Minha esperança é que a reedição do livro
mente menos bárbaros. Agora, a herança da Escola de Frankfurt - e a possa despertar tanto interesse, nos anos futuros, quanto fez a primeira
exploração contínua de suas possibilidades no presente - pode ser ava­ edição, há quase 1/4 de século. Isso porque, se a Escola de Frankfurt teve
liada sob a luz dessa esfera pública, de cuja existência vital, se bem que tanto sucesso em transcender seu contexto original e encontrar ressonân­
muitas vezes precária, Habermas nos tornou conscientes, ou, pelo menos, cia nas preocupações muito diferentes das décadas de 1960 e 1980, sobre­
da significativa subesfera do que chamamos de comunidade acadêmica. vivendo teimosamente e se tornando um dos esteios principais desse
Não se pode negar que esse "sucesso" possa ter que pagar um tributo ao amálgama incerto e atormentado que chamamos de socialismo fin-de­
poder domesticador do aparato cultural do capitalismo. Porém, só os que siêcle, é possível que ela ainda tenha coisas inesperadas a nos ensinar pelo
presumem que a marginalidade é, por si só e em todas as situações, uma século XXI afora.
virtude evidente poderiam deixar de reconhecer um certo benefício. Berkeley, julho de 1995

22
23
PRÓLOGO

Prezado Sr. Jay.


Fui solicitado a escrever um prefácio para seu livro sobre a história do
Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt. A leitura de seu interessante
trabalho não permite que eu recuse tal pedido, porém meu estado de saú­
de me limita à forma curta de urna carta, que agora deverá servir de pre­
fácio. Em primeiro lugar, devo agradecer-lhe pelo cuidado demonstrado
em todos os capítulos do livro. Sua descrição preservará muito do que, sem
ela, seria esquecido.
O trabalho a que o Institut se dedicou, antes de sua emigração da Ale­
manha - o que nos faz pensar no livro de Friedrich Pollock intitulado
Os experimentos de planejamento econômico na União Soviética, 1917-1927
ou no texto coletivo publicado depois, Autoridade e família-, represen­
tou algo novo, comparado ao que era então o sistema de ensino oficial.
Significou a possibilidade de realizar pesquisas que ainda não tinham lu­
gar na universidade. Essa empreitada só logrou êxito porque, graças ao
apoio de Hermann Weil e à intervenção de seu filho Felix, um grupo de
homens interessados na teoria social e com formações acadêmicas dife­
rentes veio a se reunir, com a convicção de que formular o negativo, em
urna época de transição, era mais importante do que construir carreiras
acadêmicas. O que os uniu foi a abordagem crítica da sociedade existente.
Já próximos do fim da década de 1920, e certamente no começo da de
1930, estávamos convencidos da probabilidade de uma vitória nacional­
socialista, bem corno do fato de que ela só poderia ser enfrentada com atos
_revolucionários. Nessa ocasião, ainda não contemplávamos a hipótese de
que isso viesse a necessitar de urna guerra mundial. Pensávamos numa re­
·volta em nosso próprio país e, por isso, o marxismo adquiriu um signifi­
cado decisivo em nosso pensamento. Após emigrarmos para os Estados
Unidos, via Genebra, a interpretação marxista dos acontecimentos sociais
continuou dominante, sem dúvida, o que de modo algum significou que
um materialismo dogmático se houvesse tornado o aspecto fundamental
de nossa posição. Refletir sobre sistemas políticos nos ensinou que era ne­

25
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA

cessário, como Adorno escreveu, "não pensar nos apelos ao Absoluto como
incontestáveis e, além disso, não deduzir nada a partir do apelo ao con­
ceito enfático de verdade".
No início, o apelo a um mundo inteiramente outro [ein ganz Anderes],
não este, teve um ímpeto social-filosófico. Acabou levando a uma avalia­ INTRODUÇÃO
ção mais positiva de certas tendências metafísicas, porque "o todo [empí­
rico] é o não-verdadeiro" (Adorno). Aesperançade que ohorrorterreno
não detenha a última palavra é, sem dú:;ida, um desejo nãodentífico,. ­ No mundo moderno, tornou-se lugar-comum ver o intelectual como alie­
Aqueles que um dia estiveram associados ao Institut, se ainda estive­ nado, desajustado e insatisfeito. Longe de sermos perturbados por essa
rem vivos, decerto lhe ficarão gratos, por reconhecerem em seu livro uma visão, acostumamo-nos cada vez mais a ver nossos intelectuais como
história de suas próprias idéias. Sinto-me também obrigado, em nome dos outsiders, provocadores, marginais e coisas parecidas. A palavra "alienação",
mortos, como Fred Pollock, Theodor W. Adorno, Walter Benjamin, Franz indiscriminadamente usada para expressar a mais banal das dispepsias ou
Neumann e Otto Kirchheimer, a lhe expressar, caro Sr. Jay, reconhecimento os mais profundos temores metafísicos, tornou-se o principal jargão da
e gratidão por seu trabalho. nossa época. Até os observadores mais argutos têm dificuldade para dis­
tinguir a realidade e a impostura. Para horror dos que podem afirmar, com
Cordialmente, autenticidade, que sofreram seus efeitos, a alienação revelou-se uma mer­
Max Horkheimer cadoria sumamente lucrativa no mercado cultural. Para tomar apenas um
Montagnola, Suíça exemplo, a arte modernista, com suas dissonâncias e tormentos, tornou­
Dezembro de 1971 se o prato principal de um exército de consumidores de cultura cada vez
mais vorazes, que sabem identificar um bom investimento quando o vêem.
A vanguarda, se ainda é possível usar esse termo, tornou-se um honrado
ornamento de nossa vida cultural, a ser menos temido do que festejado.
Para citar outro exemplo, a filosofia do existencialismo, que há menos de
uma geração parecia um sopro de ar puro, degenerou em uma série de cli­
chês de fácil manipulação e de gestos tristemente vazios. Esse declínio não
ocorreu porque filósofos analíticos tenham denunciado a insignificância
de suas categorias, mas como resultado da insólita capacidade de nossa
cultura de absorver e desarmar até os adversários mais intransigentes. Por
último, para mencionar um terceiro exemplo, é evidente, em 1972, poucos
anos depois do tão decantado nascimento de uma pretensa contracultura,
que esse novo bebê, se não foi estrangulado no berço, revelou-se fácil de
domesticar pelos costumes dos mais velhos. Também nesse caso, os meca­
nismos de absorção e cooptação mostraram-se imensamente eficazes.
O resultado é que os intelectuais que levam a sério sua função crítica
têm diante de si o desafio, cada vez mais rigoroso, de sobrepujar a capaci­
dade da cultura de amortecer o protesto. Uma das reações foi uma fuga
cada vez mais frenética para o extremismo cultural, o desejo de chocar e
provocar, indo além dos limites até então tolerados. Esses limites, porém,

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA INTRODUÇÃO

têm demonstrado uma elasticidade muito maior do que se previa, já que chamar de realidade. Paradoxalmente, ao tentarem transformar-se nos
as obscenidades de ontem são freqüentemente transformadas nas banali­ agentes que preencherão essa lacuna, eles correm o risco de abrir mão da
dades de hoje. Tendo em mente a insuficiência de urna solução puramente perspectiva crítica que ela proporciona. Geralmente, sofre com isso a qua­
cultural, muitos intelectuais críticos tentaram integrar seu protesto cultu­ lidade de seu trabalho, que degenera em propaganda. O intelectual crítico
ral a um equivalente político. Os movimentos políticos radicais, caracte­ é, em certo sentido, menos engagé ao ser acanhadarnente militante do que
risticamente de esquerda, continuaram a atrair intelectuais insatisfeitos, tal ao aderir às normas de integridade estipuladas por seu ofício. Corno nos
corno haviam feito, tradicionalmente, em épocas anteriores. Mas essa lembra Yeats: "O intelecto do homem é forçado a escolher entre / A per­
aliança raras vezes se revelou fácil, sobretudo quando as realidades dos feição da vida e a do trabalho." 1 Quando o intelectual radical identifica-se
movimentos esquerdistas no poder tornaram-se repulsivas demais para se­ muito de perto com as forças populares da mudança, no esforço de dei­
rem ignoradas. Por conseguinte, o flm:o e refluxo de intelectuais radicais xar para trás sua torre de marfim, ele põe em risco a conquista de qual­
que entram e saem de vários compromissos de fidelidade com a esquerda quer dessas formas de perfeição. Entre a Cila da solidariedade sem ques­
tornou-se um dos ternas recorrentes da história intelectual moderna. tionamento e a Caribde da independência voluntariosa, ele tem de cavar
Essa oscilação provém igualmente de um dilema mais básico, que só urna via intermediária ou fracassar. Até que ponto essa via intermediária
os intelectuais esquerdistas enfrentam. O elitismo dos que confinam o ex­ pode ser precária talvez seja uma elas principais lições a serem aprendidas
tremismo à esfera cultural, rejeitando seu correlato político, não gera ne­ com os intelectuais radicais que são o terna deste estudo.
cessariamente um sentimento particular de culpa. Para o intelectual radi­ A chamada Escola de Frankfurt, composta por alguns membros elo
cal que escolhe o envolvimento político, entretanto, o desejo de manter lnstitut für Sozialforschung [Instituto de Pesquisas Sociais],* de fato pode
urna distância crítica apresenta um problema especial. Manter-se afastado ser vista corno apresentando de forma quintessencial o dilema do inte­
não só da sociedade em geral, mas também do movimento cuja vitória ele lectual de esquerda no século XX. Poucos de seus equivalentes foram tão
antevê, cria urna tensão aguda, sempre presente na vida dos intelectuais sensíveis ao poder absorvente ela cultura dominante e de seus pretensos
sérios de esquerda. A autocrítica interminável que almeja exorcizar os re­ adversários. Durante toda a existência elo Institut, e especialmente no pe­
manescentes do elitismo, a qual tem caracterizado a Nova Esquerda nos ríodo de 1923 a 1950, o medo da cooptação e da integração inquietou pro­
últimos anos, é um testemunho de corno essa preocupação é persistente. fundamente seus membros. Embora as exigências da história os tenham
No que tem de pior, ela produz urna nostalgie de la boue* de caráter senti­ obrigado ao exílio, corno parte da migração intelectual da Europa Central
mental; no que tem de melhor, pode levar a um esforço sério de conciliar depois ele 1933, eles já eram exilados em relação ao mundo exterior desde
teoria e prática que leve em conta as possibilidades dessa união em um quando começaram a trabalhar juntos. Longe de ser fonte ele pesar, entre­
mundo imperfeito. tanto, esse status era aceito e até alimentado corno condição sine qua non
Mas o que muitas vezes se esquece, no desejo de expurgar da expres­ ele sua fertilidade intelectual.
são "intelectual ativista" suas conotações de oxirnoro, é que os intelectuais Pela recusa intransigente de comprometer sua integridade teórica, ao
já são agentes, embora em um sentido muito especial. De muitas manei­ mesmo tempo que procuravam encontrar um agente social capaz de rea­
ras, o intelectual está sempre engajado na ação simbólica, que envolve a
externalização de seu pensamento. Os "homens de idéias" só são dignos *A grafia ale.mã ."Institut" será usada ao longo de todo o texto, para distingui-lo de qual­
q,uer outro u~stltuto. Também será usada como equivalente a "Escola de Frankfurt" no pe­
de nota quando suas idéias são transmitidas a outros por algum meio. nodo postenor a 1933. Convém lembrar, todavia, que a idéia de uma escola específica só
A aresta crucial da vida intelectual provém sobretudo da lacuna existente se desenvolveu depois que o Institut foi obrigado a sair de Frankfurt (o termo em si só foi
entre o símbolo e aquilo que, na falta de urna palavra melhor, podemos usado quando ele voltou à Alemanha, em 1950). Como ficará claro no capítulo inicial o

Ins~itut Re~úbli~a de Weimar era pluralista demais, em seu marxisn10, pa1~a admitir q~e
o lustonador 1dentJficasse sua perspectiva teórica com a da Escola de Frankfurt> tal como
*"Saudade da sarjeta". [N.T.] esta emergiu em anos posteriores. 2

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA INTRODUÇÃO

lizar suas idéias, os adeptos da Escola de Frankfurt anteciparam muitos diante. Também descobri que, até mesmo onde surgiam conflitos em tor­
dos mesmos problemas que viriam a angustiar uma geração posterior de no de certas questões - como surgiram, por exemplo, entre Fromm e
intelectuais engajados. Basicamente por essa razão, o trabalho que fizeram Horkheimer, ou entre Pollock e Neumann - , eles eram articulados em
nos primeiros anos instigou a imaginação de novos esquerdistas na Euro­ um vocabulário comum e tinham, como pano de fundo, pressupostos
pa do após-guerra e, mais recentemente, também nos Estados Unidos. mais ou menos compartilhados. Assim, pareceu-me justificável buscar
Edições piratas de obras há muito esgotadas circularam em um impaciente uma visão geral do desenvolvimento do lnstitut, apesar da superficialida­
movimento estudantil alemão, cujo apetite fora despertado pelo contato de que poderia acarretar no exame de certas questões.
com o Institut depois que ele retornou a Frankfurt, em 1950. O clamor Além disso, a escolha do momento desse projeto pareceu-me crucial.
pela reedição dos ensaios publicados no órgão do Institut, o Zeitschrift für Embora alguns membros do lnstitut já não estivessem vivos - Franz
Sozialforschung [Revista de Pesquisas Sociais], levou, na década de 1960, Neumann, Walter Benjamin, Otto Kirchheimer e Henryk Grossmann, para
ao lançamento de coleções como as Negations, de Herbert Marcuse, 3 e a citar apenas os mais importantes - , muitos outros ainda viviam, cheios
Kritische Theorie, de Horkheimer, 4 que vieram somar-se a seletas já reedi­ de vigor, e estavam na etapa de suas carreiras em que era provável haver
tadas de escritos de outros membros do Institut, como Theodor W. Ador­ um interesse pelo registro histórico. Na totalidade dos casos, eles tiveram
no, Leo Lõwenthal, Walter Benjamin e Franz Neumann. 5 Embora eu não uma reação positiva à minha manifestação inicial de interesse pela histó­
pretenda tecer comentários extensos sobre a história do Institut após sua ria do Jnstitut. A ajuda que recebi ficará evidente na seção de agradeci­
volta à Alemanha, convém notar que grande parte da recente atenção que mentos que se segue.
ela recebeu foi despertada pelo ressurgimento de trabalhos realizados na Apesar do auxílio que me foi dado na reconstrução do passado do
relativa obscuridade de seu primeiro quarto de século. Jnstitut, de modo algum se devem interpretar os resultados como uma
Não é difícil discernir a razão de ninguém haver tentado fazer antes "história da corte". Em alguns momentos, os relatos conflitantes que rece­
uma história desse período. O trabalho da Escola de Frankfurt cobria tan­ bi com freqüência sobre vários incidentes, bem como as avaliações amiú­
tos campos diversificados, que a análise definitiva de cada um deles exigi­ de divergentes do trabalho uns dos outros, fornecidas por ex-colegas do
ria uma equipe de estudiosos especializada em tudo, de musicologia a si­ lnstitut, deixaram-me com a sensação do espectador da peça japonesa
nologia. Exigiria, em suma, uma outra Escola de Frankfurt. Os riscos Rashomon, que não sabe qual versão deve escolher como válida. Minhas
enfrentados pelo historiador isolado, portanto, eram óbvios. Eles foram escolhas não agradarão a todos os meus informantes, mas espero que eles
uma fonte de hesitação para mim antes de eu decidir iniciar o projeto. fiquem satisfeitos com minhas tentativas de verificar o maior número pos­
Entretanto, tomada a decisão, mergulhei no trabalho do .Irtstitut e desco­ sível de pontos controvertidos. Além disso, minha avaliação pessoal das
bri que a especialização que me faltava em disciplinas específicas era com­ realizações do lnstitut não deve ser confundida com as de seus membros.
pensada pela própria abrangência de minha abordagem. Compreendi que Não posso negar que admiro grande parte de seu trabalho, mas ficará cla­
havia uma coerência essencial no pensamento da Escola de Frankfurt, uma ro que não me abstive de críticas. Manter a fidelidade ao espírito crítico
coerência que afetou a quase-totalidade de seu trabalho em diferentes da Escola de Frankfurt me parece um tributo muito maior do que aceitar
áreas. Não tardei a saber que a discussão de Erich Fromm sobre o caráter tudo o que ela disse ou fez.
sadomasoquista e a abordagem de Leo Lõwenthal sobre o romancista no­ Minha única restrição foi ditada pela discrição. Meu acesso à corres­
rueguês Knut Hamsun esclareciam uma à outra; que a crítica a Stravinsky pondência extremamente valiosa entre Horkheimer e Lõwenthal foi limi­
feita por Theodor W. Adorno e o repúdio da antropologia filosófica de tado pela relutância compreensível, por parte dos correspondentes, em
Scheler por Max Horkheimer estavam intimamente relacionados; e que o constranger pessoas que estavam vivas. Esse tipo de controle, raramente
conceito de Herbert Marcuse de uma sociedade unidimensional baseava­ exercido, foi a única desvantagem que tive por escrever sobre homens vi­
se no modelo de capitalismo de Estado de Friedrich Pollock; e assim por vos. É raro um historiador poder dirigir perguntas, tão diretamente, aos

30 31
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALtTICA

sujeitos de seu estudo. Ao fazê-lo, não apenas aprendi coisas que o~ docu­
mentos não poderiam revelar, como também pude entrar na vida dos
membros do Institui e avaliar, de maneira mais imediata, o impacto de
suas experiências pessoais na condição de intelectuais exilados. Embora o
grosso de meu texto diga respeito às idéias da Escola de Frankfurt, espero AGRADECIMENTOS
que se evidenciem algumas dessas experiências e suas relações com as
idéias. Pois, sob muitos aspectos, por bem ou por mal, elas foram as expe­
riências singulares de uma geração extraordinária, cujo momento históri­ Um dos aspectos mais gratificantes da redação de A imaginação dialética
foi a oportunidade de conhecer muitas pessoas que desempenharam pa­
co está hoje irrevogavelmente no passado.
péis cruciais na história da Escola de Frankfurt. Entre elas se incluíram crí­
ticos e defensores de seu registro histórico e intelectual, um registro que
sempre foi um estímulo à controvérsia. Aprendi muito com ambos os la­
dos. Alegra-me poder reconhecer por escrito as minhas dívidas de grati­
dão. É igualmente bem-vinda a oportunidade de agradecer a amigos, pro­
fessores e colegas que ofereceram vários tipos de apoio durante todas as
etapas da preparação do livro.
Entre os ex-integrantes do Institui que tiveram a gentileza de me con­
ceder entrevistas estiveram Max Horkheimer, Herbert Marcuse, Theodor
W. Adorno (pouco antes de seu falecimento, no verão de 1969), Erich
Fromm, Karl August Wittfogel, Paul Massing, Ernst Schachtel, Olga Lang,
Gerhard Meyer, M. I. Finley e Joseph e Alice Maier. Horkheimer, Marcuse,
Fromm e Wittfogel também investiram tempo no comentário de partes
do manuscrito, depois de sua conclusão como dissertação de doutorado
em história em Harvard. Jürgen Habermas, Alfred Schmidt e Albrecht
Wellmer, da geração mais recente da Escola de Frankfurt, também aceita­
ram responder a minhas perguntas. Embora nunca nos tenhamos encon­
trado pessoalmente, Felix J. Weil e eu mantivemos uma correspondência
longa e animada a respeito de muitas facetas do Institui, em cuja criação
ele desempenhou um papel importantíssimo. Suas reações a trechos do
manuscrito foram de valor inestimável, embora nossas interpretações de
certas questões tenham permanecido um pouco discordantes. Gretei Ador­
no e Gladys Meyer também foram interlocutoras muito úteis.
Houve três participantes da história do Institut cuja cooperação foi
muito além de qualquer expectativa razoável que eu pudesse ter. Friedrich
Pollock passou horas incontáveis comigo em Montagnola, na Suíça, em
março de 1969, revivendo seus quase cinqüenta anos de relacionamento
com o Institui. Depois que voltei a Cambridge, mantivemos uma corres­
pondência freqüente sobre o progresso de meu trabalho. Ele comentou

33
32
MARTIN JAY •A IMAG!NAÇAO DIAL~T!CA AGRADECIMENTOS

com extremo cuidado os capítulos que pude submeter a seu escrutínio Michael Timo Gilmore, Paul Weissman e Lewis Wurgaft fizeram muito
antes de seu falecimento, em dezembro de 1970. O imenso orgulho que o mais para me apoiar durante minha carreira na pós-graduação do que ler
professor Pollock demonstrava pelas realizações do Institut era tal, que la­ com olho crítico os meus capítulos. Sou também muito grato pelos con­
mento profundamente não ter podido presenteá-lo com um manuscrito selhos dos amigos mais novos que passei a conhecer graças a nosso in­
completo. teresse comum pela Escola de Frankfurt: Matthias Becker, Edward Bres­
Leo Lõwenthal foi um dos primeiros membros da Escola de Frankfurt lin, Susan Buck, Sidney Lipshires, Jeremy J. Shapiro, Trent Shroyer, Gary
com quem falei, no começo de minha pesquisa. Em Berkeley, no verão de Ulmen e Shierry Weber. Da mesma forma, extraí um enorme benefício da
1968, ele concedeu generosamente seu tempo e seu material, explicando­ oportunidade de conversar com estudiosos mais velhos, interessados no
me pacientemente as referências de sua valiosa correspondência com trabalho da Escola de Frankfurt, entre eles Everett C. Hughes, George
Horkheimer que me haviam escapado. Em anos posteriores, seu interesse Lichtheim, Adolph Lowe e Kurt H. Wolff.
por meu trabalho permaneceu intenso e, tal como Pollock, ele comentou Meus novos colegas de Berkeiey me mostraram, no curto período que
com grande cuidado e sensibilidade os rascunhos iniciais ele meus capítu­ passei em sua companhia, que ainda é possível encontrar uma vitalidade
los. Embora nossas interpretações ele questões específicas divergissem oca­ considerável na velha noção de comunidade de estudiosos. Este livro foi
sionalmente, ele nunca tentou impor suas concepções às minhas. Desde aprimorado, em particular, pelos comentários de Fryar Calhoun, Gerald
minha chegada a Berkeley, continuou a me oferecer apoio e orientação so­ Feldman, Samuel Haber, Martin Malia, Nicholas Riasanovsky, Wolfgang
bre a conclusão cio manuscrito. Dentre todos os benefícios de minha pes­ Sauer e Jrwin Scheiner. Gostaria ainda de expressar meus agradecimentos
quisa, a amizade dele é um dos que mais valorizo. a William Phillips, da editora Little, Brown, cujo entusiasmo inabalável e
Por fim, Paul Lazarsfelcl ofereceu-me um incentivo constante e conse­ aguda visão editorial foram de enorme ajuda durante todo o tempo.
lhos sensatos ao longo ele todo o meu trabalho. Apesar de nunca ter sido Minhas excelentes datilógrafas, Annette Slocombe, de Lexington, Massa­
membro do círculo interno cio Institui, ele se interessou pelo trabalho des­ chusetts, e Boyano Ristích e sua equipe do Instituto de Estudos Interna­
te e teve um envolvimento periférico com seus assuntos a partir de mea­ cionais, em Berkeley, fizeram o inestimável trabalho de dar forma ao ma­
dos da década de 1930. Colocou à minha disposição, generosamente, os nuscrito para publicação, assim como Boris Frankel, que me ajudou no
documentos e cartas que preservou desse período. Além disso, seu distan­ índice remissivo. Por fim, é um prazer especial poder reconhecer o apoio
ciamento teórico da Escola de Frankfurt ajudou-me a ter uma perspecti­ da Fundação Danforth, tanto financeiro quanto de outra natureza, que me
va do trabalho dela que, de outro modo, talvez me houvesse faltado. sustentou durante minha pós-graduação.
Em suma, é considerável a minha dívida para com os membros sobre­ Espero que esta lista de agradecimentos não tenha parecido indevi­
viventes do Institui. Nada simboliza isso de maneira mais marcante do que damente longa. Desejo transmitir a que ponto A imaginação dialética
a disposição do professor Horkheimer de redigir alguns comentários, a tí­ aproximou-se de um projeto coletivo. Muitos dos aspectos fortes do texto
tulo de prefácio, a despeito de uma doença muito grave. decorrem disso; os aspectos fracos, infelizmente, são de minha respon­
sabilidade.
Não menor é a minha dívida de gratidão para com outras pessoas que
contribuíram para a criação deste livro. Entre meus antigos professores,
H. Stuart Hughes, que foi o orientador da tese, merece uma menção espe­
cial, por suas inúmeras gentilezas no decorrer de meu trabalho. Também
devo muito a Fritz K. Ringer, o. primeiro a despertar meu interesse pela·
história intelectual alemã, pelo cuidado e rigor com que criticou o ma­
nuscrito. A meus amigos de Cambridge, só posso repetir por escrito o que
espero que eles já saibam sobre minha profunda amizade. Paul Breines,

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A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

<
CAPÍTULO 1

A CRIAÇÃO DO iNSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

E SEUS PRIMEIROS ANOS EM FRANKFURT

.Uma.das mudanças mais importantes trazidas pela Primeira Guerra Mun­


dial, pelo menos em termos de seu impacto sobre os intelectuais, foi o
deslocamento do centro de gravidade socialista para o Leste Europeu.
O sucesso inesperado da Revolução Bolchevique - em contraste com o
fracasso dramático de seus imitadores da Europa Central - criou um sé­
rio dilema para aqueles que, até então, haviam ocupado o centro do mar,
'xismo europeu: os intelectuais de esquerda da Alemanha. Em linhas ge­
. rais, as escolha; que íhes restaram foram estas: .eles poderiam. apoiar os.
socialistas moderados e sua recém-criada República de .Weimar, evitar a
'fevol~ção e rec,;sar a experiência russa; ou poderiam aceitar a liderança
de Moscou, ligar-se ao recém-fundado Partido Comunista da Alemanha e
.tribalhar para solapar as col1ternporizações burguesas de Weimar. Essas
·alternativas estiveram no centro das controvérsias socialistas por décadas,
sob diversas formas, mas se tornaram mais imediatas por causa da guerra
e da ascensão dos socialistas moderados ao poder. Um terceiro curso. de
ação, entretanto, resultou quase inteiramente da rnpturaradicaldos pres­
súpostõ;g;;~~i~~~,--;,;~a rupt~1;~ ac~~r~tada pela guerrae por suas co~se­
_qüê.ncias. Esta última alternativa foi o reexame minucioso das bases da teo.­
ria marxista, na dupla esperança de explicar os erros do passado e preparar
a ação do futuro. Isso deu início a um processo que conduziu, inevitavel­
mente, às regiões mal iluminadas do passado filosófico de Marx.
Uma das questões cruciais levantadas na anális.e subseqüente foi a re­
lação dâ teoria com a prática, ou, mais precisamente, com o que se tor­
nou um termo conhecido no léxico marxista: a J!ráxis. Em urna definição
r-·' ·---·--·~-,

fronxa, apráxisfoi usada para_d~sig11arurna espécie de ação autocriadora,


que diferia-dÕ-collipÕrta;llento externamente motivado, produzido por
forças.cf1.li'esfavarr1Tôra do controle do ser humano. Ao ser usadapela Pric
me ira vez na Metafísica de AristÓteles, a. práxis foÍ~rig~~lrIJ.ent~ vista

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA
CAPITULO 1 ·A CRIAÇÃO DO INST!TUT FOR SOZIALFORSCHUNG

como o oposto da theoria contemplativa. No uso marxista, porém,Joi vista.


rante o período de exílio que se seguiu, a Escola de Frankfurt viria a se
em uma relâção dialética com a teoria. De fato,.uma das características da
;;;-;;;~; ~ma força importante na revitalização do marxismo da Europa
práxis, em contraste com a mera ação, era o fato de ela ser instruída por.
· Ocidental nos anos do após-guerra. Além disso, graças à súbita populari­
considerações teóricas. A atividade revolucionária deveria unificar a teo­
. dade de Herbert Marcuse nos Estados Unidos do fim da década de 1960,
~ia e a práxis, o que estaria em contraste direto com a situação vigente no
a teoria crítica [kritische Theorie] da Escola de Frankfurt também teve uma
capitalismo.
influência significativa na Nova Esquerda desse país.
. O tanto que esse objetivo era realmente problemático tornou-se cada
Desde seus primórdios, a independência foi entendida como um pré,
vez mais claro nos anos do após-guerra, quando, pela primeira vez, houve
requisito necessário à tarefa de in.ovação teórica e de pesquisa social ir­
. governos socialistas no p~der. A liderança soviética viu sua tarefa mais em
. resÍl:ita. Felizmente, os meios para garantir essas condições estavam dis­
termos de sobrevivência que de realização de metas socialistas - o que
·. poníveis. A idéia de uma estrutura institucional em que esses objetivos
não era uma avaliação irrealista, dadas as circunstâncias, mas dificilmente
pudessem ser perseguidos foi concebida porFelix J. Weil em 1922. 2 Weil
se prestaria a aplacar socialistas como Rosa Luxemburgo, que prefeririam
era filho único de um comerciante de cereais nascido na Alemanha, Her­
nenhuma revolução a uma revolução traída. Partindo de uma perspectiva
mann Weil, que tinha trocado o país pela Argentina, por volta de 1890, e
muito diferente, .a liderança socialista da República de Weimar também
acumulara considerável fortuna exportando cereais para a Europa. Nasci­
entendia que sua meta mais imperiosa era a sobrevivência do novo govt;r·
do em 1898 em Buenos Aires, Felix foi mandado para Frankfurt aos nove
no, e não a implementação do socialismo. A consciência sindical, que,
anos, a fim de freqüentar o Goethe Gymnasium e, mais tarde, a recém­
como mostrou Carl Schorske, 1 permeava suas fileiras bem antes do fim
criada universidade daquela cidade. Exceto por um ano importante pas­
do Segundo Reich, significou o desperdício das oportunidades que pu­
sado em Tübingen, em 1918-1919, onde se envolveu pela primeira vez em
dessem existir para revolucionar a sociedade alemã. A cisão que dividiu
causas esquerdistas na universidade, vveil permaneceu em Frankfurt até
o movimento operário na República de Weimar entre um Partido Co­
obter um doutorado magna cum laude em ciência polític~. Sua tese, sobre
munista bolchevizado (o KPD) e um Partido Socialista não revolucioná­
os problemas práticos da implementação do socialismo,' foi publicada
rio (o SPD) foi um espetáculo deplorável para os que ainda sustentavam a
numa série de monografias editadas por Karl Korsch, um dos primeiros a
pureza da teoria marxista. Alguns tentaram uma reaproximação com uma.
interessá-lo no marxismo. Usando recursos próprios, consideráveis, her­
facção ou outra. Contudo, como foi demonstrado pela história cie Gyõrgy
dados da mãe, e também a fortuna do pai, Wei] começo.u a apoiar diver­
Lukács - forçado a repudiar seu livro mais imaginativo, História e cons­
sas aventuras radicais na Alemanha .
. ciência de classe, pouco depois de seu lançamento em 1923 - , isso fre-..
A primeira delas foi a Erste Marxistische Arbeitswoche [EMA, Primeira
qüentemente significava sacrificar a integridade intelectual.no altar.da.so.-.
Semana Marxista do Trabalho], que se realizou no verão de 1923 em
lidariedade partidária .
Ilmenau, na Turíngia. "Seu objetivo", segundo Weil, era a "esperança de que
.Quando as inclinações pessoais levavam a um compromisso maior CO!l]
as diferentes tendências do marxismo, se lhes for concedida a oportu­
a teoria do que com o partido, mesmo que isso significasse suspendery()r
algum tempo a unificação da teoria e da práxis, os resultados, em ter.mo.s
-nid~de de discuti-lo em conjunto, rossam chegar a um marxismo 'ver­
dadeiro' o 'puro'." 4 Entre os participantes dessa sessão de uma semana
de inovação teórica, podiam ser sumamente fecundos. Uma das afirma­
estiveram Gyõrgy Lukács, Karl Korsch, Richard Sorge, Friedrich Pollock,
ções· centrais deste livro será a de que a relativa autonomia dos homens
Karl August Wittfogel, Bela Fogarasi, Karl Schmückle, Konstantin Zetkin
que compuseram a chamada Escola de Frankfurt do lnstitut für Sozialfor­
(o mais novo dos dois filhos da famosa líder socialista Clara Zetkin), Hede
schung, apesar de acarretar certas desvantagens, foi uma das razões pri­
Gumperz (então casada com Julien Gumperz, editor da publicação co­
mordiais das suas realizações teóricas. Mesmo não tendo exercido grnnde
munista Rote Fahne, depois com Gerhart Eisler e, mais tarde, com Paul
impacto na República de Weimar, e com um impacto menor ainda du­
Massing) 5 e diversas esposas, inclusive Hedda Korsch, Rose Wittfogel,
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CAPfTULO l ·A CRIAÇÃO DO INSTITUT FÜR SOZ!ALFORSCHUNG
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

ficará evidente quando discutirmos os componentes da teoria crítica no


Christiane Sorge e Kate Weil. Boa parte do tempo foi dedicada a debater
próximo capítulo. Em 1922, Horkheirner concluiu um doutorado summa
um manuscrito ainda inédito de Korsch, "Marxismo e filosofia". ''A EMA''.
cum laude sob a o;ient~Ção de Cornelius, com urna tese sobre Kant.' Foi
escreveu Weil,6 "foi inteiramente informal, composta apenas d~ intetec:..
"fiabilítado''* três anos depois, ~orn outra análise crítica do trabalho de
tuais", e "não teve a menor intenção ou resultados partidários". As expec­
tativas de urna Zweite Marxistische Arbeitswoche [Segunda Semana Mar­ Kant, e deu sua primeira aula como Privatdozent em maio de 1925, sobre
xista do Trabalho] malograram, pois urna alternativa mais ambiciosa Kant e Hegel. 8
tornou seu lugar.
~Com o incentivo de vários amigos da Universidade de Frankfurt,aidéia O relaci 01w111ento de Horkheirner com Pollock foiu111a das pedras an:
de Weil de um instituto mais permanente, que ele havia concebido duran­ .ll.lll~:es<Jo
l!lstitut e merece alguns comentários. Podemos ter um vislum­
- ' ' '.

te a EMA, tornou-se cada vez mais clara. Um desses amigos, Friedric.l:i bre dele numa passagem da autobiografia de Ludwig Marcuse. Ludwig,
Pollock, tinha participado das discussões em Ilrnenau. Nascido em Frei­ que não tinha parentesco com Herbert Marcuse, era o crítico teatral de
burg em 1894, filho de um negociante judeu assimilado, Pollock recebera um jornal de Frankfurt em meados da década de 1920, quando Cornelius
formação para seguir carreira no comércio antes de servir na guerra. De­ levou os dois jovens a seu escritório. Estes eram "um homem atraente, Max
pois do conflito, já sem interesse na carreira comercial, foi estudar econo­ Horkheirner, transbordante de simpatia, e seu amigo reservado e externa­
mia e política nas universidades de Munique, Freiburg e Frankfurt. Obte­ mente austero, Fritz Pollock; mas neste também se via um pouco do que
ve um doutorado summa cum laude do Departamento de Economia da
Universidade de Frankfurt em 1923, com urna tese sobre a teoria da moe­ *Agradeço ao Dr. VVeil por ter-111e dado urna explicação completa <lesse e de outros tennos
da de Marx. Antes da guerra, em 1911, Pollock tinha feito amizade cqm ale1nães correlatos (usados adiante) no sistema hierárquico acadêrnico, tal con10 ele exis­
MaxJ{orkheirner,que viria a ser a figura mais importante da histgriado.­ tia por volta de 1920. Em carta datada de 8 de junho de 1971, ele esclareceu: "O Privat­
dozent era o prin1eiro degrau da carreira acadêmica. Correspondia ao professor assistente
lnstitut e que, nessa ocasião, juntou sua voz à de Pollock para apoiªr o nos Estados Unidos. Para obter essa posição, o candidato, que e1n geral trabalhava, após
plano de Weil de criação de um instituto de pesquisas sociais. o doutorado, como assistente de um professor titular, ou do decano do departamento, ou
Horkheirner, nove meses mais novo que Pollock, nasceu em Stuttgart de um Senúnar (grupo de estudos [seminário:!), tinha de apresentar uma nova tese de ha­
bilitação, a Iíabilitationsschrift, patrocinada por dois titulares, e defendê-la numa Dis­
ern-Í895. Por insistência do pai, Moritz, um eminente industrial judeu, putation [debate] perante o departamento, na presença de todos os catedráticos. (Na Uni­
também ele havia recebido uma formação comercial antes de entrar no versidade de Frankfurt, havia cinco desses departa1nentos: Filosofia, Direito, Economia e
serviço militar. Horkheimer aceitou os conselhos do pai em questões corno Ciências Sociais, Medicina, e Ciências Naturais.) Quando o candidato era aprovado, o de­
partamento lhe concedia sua venia legendi, a 'pennissão para lecionar', a qual, no entanto,
viagens prolongadas a Bruxelas e Londres, as quais fez COJ11 Pollock em. era restrita a um campo específico. O Privatdozent não era funcionário póblico [Beamter]
1913-1914, para aprender francês e inglês. Mas seus interesses nunca nem recebia salário, apenas uma participação nas taxas de anuidade de seu curso. O de­
foram exclusivamente os de um aspirante ao mundo dos negócios. Há grau seguinte da escada era o do Ausserordentliche Professor, o professor adjunto. Este
era funcionário póblico, com estabilidade e salário, e também recebia uma participação
provas claras disso na série de romances que escreveu (mas deixou inédi­ nas anuidades. Podia orientar Doktoranden [doutorandos J e participar dos exames, mas
tos) durante essa fase da vida. Apósl918, buscou urna formação intelec, não tinha voto nas reuniões dos departamentos, embora pudesse falar nessas reuniões.
tua! mais disciplinada nas mesmas três universidades freqtieutil.~-ªs Íi_o)'. O Ordentliche Professor, ou professor titular, tinha todos os direitos do Ausserordentliche,
além de voto nas reuniões. Ao contrário do Ausserordentliçhe, no entanto, podia lecionar
Pollock, Trabalhando inicialmente em psicologia, sob a orientação do qualquer assunto que desejasse, mesmo fora de seu campo (por exe1nplo, o catedrático de
gestaltista Adhemar Gelb, foi desviado para outro campo, depois que che­ história da arte podia dar aulas de aerodinâmica, se quisesse). Naturalmente, era funcio­
gou a Frankfurt a notícia de que um projeto comparável ao que engajava nário póblico com estabilidade (em geral, com alto salário), tinha participação nas anui­
dades (geralmente, com um mínimo garantido) e contava com os serviços de urn assis­
sua atenção fora concluído pouco antes, em outro lugar. Esse outrq cam­ tente pago pela universidade. O juramento prestado pelo catedrático ao assurnir o cargo
po foi a filosofia, e seu novo mentor, Hans Cornelius. também lhe conferia cidadania alemã, caso ele fosse estrangeiro, a menos que apresentas­
Embora Cornelius nunca tenha tido urna ligação direta com o Institut, se previamente uma recusa (Grünberg optou por manter a cidadania austríaca e, mtiito
tempo depois, Horkheimer preferiu continuar a ser cidadão norte-americano)."
sua influência sobre Horkheirner e os amigos deste foi considerável, corno
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MARTIN JAY ·A JMAGINAÇÃO DIAL~T!CA CAPÍTULO 1 ·A CRIAÇÃO DO INST!TUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

era guardado por trás da reserva". 9 Entre as qualidades de Pollock a que rarn depois. Seja corno for, os donativos de Herrnann Weil, embora não
Ludwig Marcuse talvez estivesse fazendo referência estava a lealdade des­ tenham sido enormes, permitiram criar e manter urna instituição cuja in­
pretensiosa e irrestrita a Horkheimer, que marcou a amizade entre os dois dependência financeira revelou-se uma grande vantagem em toda a sua
durante cerca de sessenta anos, até a morte de Pollock, no inverno de 1970. história subseqüente ..
Com apenas breves interrupções, os dois se mantiveram em estreita pro­ . . Embora a independência, financeira e intelectual, fosse a meta dos
ximidade durante toda a vida adulta. Pollock assumiu o papel do realista fundadores, eles julgaram prudente buscar algum tipo de filiação à Uni­
pragmático e prudente, mt1itas vezes orga11i~a.11~oos detalhes corri~uei- . versidade de Frankfurt, ela mesma recém-criada em 1914. A idéia original
ros da vida de ambos, a fim de deixar Horkheimer com o máximode_t_ein: de chamar a instituição de Institut für Marxisrnus [Instituto para o Mar­
po para pesquisas. Quando menino, HorkheÚner fora sumamente prole­ xismo J foi abandonada corno provocadora demais, de modo que se bus­
. gido, e, durante os anos de maturidade, Pollock muitas vezes serviu de cou urna alternativa mais imaginativa (não pela última vez na história da
amortecedor entre ele e um mundo ríspido. HorkJ1eü11er, coino l~.rnbrou Escola de Frankfurt). A sugestão do Ministério da Educação, de denomi­
um observador, 10 era freqüentemente instável~ temperamental, PQ!!Qck, ná-lo Instituto Felix Weil de Pesquisas Sociais, foi rejeitada por Weil, que
em contraste, era estável e até obsessivo. A complementaridade de suas res­ "desejava que o Institut ficasse conhecido e talvez famoso por suas con­
pectivas personalidades foi uma das fontes do sucesso do lnstitut. O fato tribuições para o marxismo corno disciplina científica, não pelo dinheiro
de a carreira acadêmica de Pollock ter sofrido algum prejuízo foi um pre­ do fundador"." Decidiu-se chamá-lo simplesmente de Institut für Sozial­
ço que ele pareceu disposto a pagar. Na década de 1920, com certeza, esse forschung. Weiftambérn não quis se "habilitar'' e se tornar Privatdozent,
era um resultado difícil de prever. ·nern conside;ou a possibilidade _de urna nova promoção acàdêrnica que o
Os dois homens, e provavelmente também Weil, tinh<u11 t11d_op<11.:;1..es:. levasse à diretoria do lnstitut, pois "inúmeras pessoas achariam que eu
perar carreiras de sucesso nos respectivos campos. Entretanto, o ingresso havia 'comprado' a 'venia legendi' ou, posteriormente, a cátedra".13_Em
;.,o sistema universitário alemão, de extrema rigidez, exigiria confinar seus .acordo firmado com o Ministério da Educação, .a direção do Institut
amplos interesses a urna única disciplina. Além disso, g Jip_o de __sa]?.er deveria caber a um catedrático da universidade, um professor titular assa­
. radical, que lhes interessava, era pouco favorecido pela hiera.rgu_i<t. a@dê­ . lariàdo pelo governo. Weil propôs corno candidato Kurt Albert Gerlach,
rnica vigente, At_é Cornelius, não marxista. mas pouco convenciona_!, era um economista da Technische Hochschule [Escola Técnica Superior] em
visto pelos colegas como um pária, Por isso, a idéia deWeil de uminstitu­ Aachen, enquanto o próprio Weil passou a dirigir a Gesellschaft für Sozial­
.!()_ de pesquisas sociais com recursos independentes parecia urna excelçn­ forschung [Sociedade de Pesquisas Sociais), o órgão financeiro e adminis­
te maneira de contornar os canais normais da vida universitária .. Temas trativo do Institut
. co·~;-a história do movimento trabalhista e as origens do,anli:sernitis: Gerlach compartilhava com os fundadores do !nstitut a antipatia esté­
mo, que eram negligenciados no currículo-padrão do ensinQ.superior na tica e política pela sociedade burguesa. Cultivara a primeira por suas liga­
Alemanha, poderiam ser estudados .com um rigor nunca antes tentado." ções com o círculo de Stefan George, e a segunda, pela familiaridade com
Hermann Weil, pai de Felix, foi consultado sobre esse plano e concordou os membros da Sociedade Fabiana, adquirida ao longo de vários anos de
com uma doação inicial que fornecesse uma renda anual de 120 mil mar­ estudo na Inglaterra. Suas inclinações políticas eram firmemente esquer­
cos (o equivalente a 30 mil dólares, depois que a inflação terminou). Se­ _distas. Muitos anos depois, Pollock o descre.veu corno um socialista apax­
gundo Pollock, essa receita, na época, correspondia a quatro vezes o valor tidário,14 enquanto os historiadores britânicos F. W. Deakin e G. R Storry,
que teria em 1970. Eram necessários, aproximadamente, duzentos marcos 'em seu estudo sobre Richard Sorge, escreveram: "É provável que nessa
(ou cinqüenta dólares) por mês para sustentar um assistente solteiro no época, tal como Sorge, ele fosse membro do Partido Cornunista." 15 Qual­
Institut. Com o tempo, a verba inicial foi suplementada por outras doa­ quer que fosse a natureza exata da política de Gerlach, ao ser proposto por
ções de Weil e de outras fontes. Não há dados que indiquem contribui­ Weil, ele foi aceito pelo Departamento de Economia e Ciências Sociais
ções de algum político, ao contrário do que detratores do !nstitut disse­ corno catedrático e pelo Ministério da Educação corno primeiro diretor

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÂO DIALÉTICA CAPITULO 1 ·A CRIAÇÂO 00 INST!TUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

do Institut. No começo de 1922, Gerlach escreveu um "Memorando sobre uma união entre a teoria e a prática''. 20 A relativa indiferença de Grünberg
a fundação de um Instituto de Pesquisas Sociais", 16 no qual frisou os obje­ às questões teóricas parece haver persistido depois que ele chegou a Frank­
tivos do Institut. Pouco depois, anunciou-se que ele faria uma série de pa­ furt. Embora sua revista contivesse um ou outro artigo teórico ocasional
lestras inaugurais sobre o anarquismo, o socialismo e o marxismo. Mas · - como o importante "Marxismo e filosofia'', de Karl Korsch, em 1923, e
elas nunca chegaram a se realizar, pois, ~m outubro de 1922, GerjacJunor­ a crítica de Gyõrgy Lukács a Moses Hess, três anos depois 21 - , ela se de­
reu subitamente de um ataque de diabetes, aos 36 anos. Deixou sua bi­ dicou primordialmente a estudos históricos e empíricos, em geral basea­
blioteca de 8 mil volumes para Weil, que a transferiu para o lnstitut. dos em um marxismo mecanicista e não dialético, na tradição de Engels­
A busca de um sucessor concentrou-se em um homem mais velho, que Kautsky. Os interesses teóricos de Weil nunca foram muito diferentes disso.
pudesse funcionar como diretor interino até que um dos membros fun­ Grünberg certamente concordava com o objetivo de um instituto inter­
dadores mais jovens tivesse idade suficiente para chegar a uma cáte_dra n.a disciplinar, dedicado a uma dissecação radical da sociedade burgue~a. As­
universidade. A primeira possibilidade era Gustav Mayer, o destacado his­ sim, o problema do sucessor de Gerlach estava satisfatoriamente resolvi­
toriador do socialismo e biógrafo de Engels. Mas as negociações malogra­ do quando o Institut ficou pronto para começar a funcionar. Grünberg,
ram, segundo recordou Mayer, por causa da exigência de Weil - que podemos assinalar de passagem, foi o primeiro marxista confesso a ocu­
Mayer tratou posteriormente como um Edelkommunist [comunista aris­ par uma cátedra numa universidade alemã ..
tocrático] - de controlar totalmente a vida intelectual do lnstitut. 17 Se A criação oficial do Institut ocorreu em 3 de fevereiro de 1923.. por
isso foi verdade, a insistência de Weil certamente durou pouco, pois o can­ decreto do Ministério da Educação, após um acordo firmado com a Ge­
didato seguinte, que obteve o cargo, afirmou muito depressa a sua pró­ sellschaft für Sozialforschung. Depois de aceitar um convite do professor
pria ascendência. Não parece ter sido significativa a influência de Weil nas Drevermann, do Museu Senckenberg de Ciências Naturais, para usar os
questões intelectuais . salões do museu como sede temporária, o lnstitut começou a funcionar
. A escolha final do substituto de Gerlach recaiu sobre Carl Grün~~~g.'. imediatamente, como lembrou Weil, "em meio a caixas de mudança aber­
que foi convencido a deixar seu cargo de catedrático de direito e dê11cia tas, repletas de livros, em mesas improvisadas com tábuas, sob esqueletos
política na 1)niversidade de Viena e se transferir para Frankfurt.13 Grün­ gigantescos de uma baleia, um diplodoco e um ictiossauro". 22
berg nasceu em Focsani, na Romênia, em 1861, filho de pais judeus (mais Em março de 1923 teve início a construção de um prédio para abrigar
tarde converteu-se ao catolicismo, a fim de assumir a cátedra em Viena). o Institut, na Victoria-Alle nº 17., perto da esquina da Bockenheimer
Estudou jurisprudência de 1881 a 1885 na capital austríaca, onde, poste­ Landstrasse, no campus da universidade. Franz Rõckle, o arquiteto esco­
riormente, combinou a carreira jurídica com a acadêmica. Ei:n 1909, tor­ lhido por Weil, desenhou uma estrutura enxuta de cinco andares, em for­
nou-se catedrático em Viena e, no ano seguinte, começou a editar o Archiv ma de cubo, no estilo da Neue Sachlichkeit [Nova objetividade], que co­
für die Geschichte des Sozialismus und der Arbeiterbewegung [Arquivo de meçava a entrar em voga nos círculos de vanguarda de Weimar. Em anos
História do Socialismo e do Movimento Operário], popularmente conhe­ posteriores,_ a ironia de o lnstitut abrigar-se em um edifício cuja arquite­
cido como Grünbergs Archiv [Arquivo de Grünberg]. tura refletia o espírito de "objetividade" sóbria, tant.as vezes ridicularizado
No plano político, Grünbergera marxista confesso. Um observador pela teoria crítica, 23 não escapou a seus membros. Apesar disso, a sala de
-o
chegou a considerá-lo "pai do ái{siro~marxismo". 19 Essa caracterização, ·leitura com 36 lugares, as dezesseis pequenas salas de trabalho, os quatro
entretanto, foi questionada pelo historiador desse movimento, que escre­ salões para seminários com uma centena de lugares e a biblioteca com es­
veu que ela só se aplicava "à medida que os representantes do austro-mar­ paço para 75 mil volumes serviram bem ao jovem Institui.
xismo foram alunos dele na Universidade de Viena, mas não no sentido Em 22 de junho de 1924, o prédio rec.ém-.conduído do I11s_titt1J foi ofic .
de que o próprio Grünberg possa figurar entre os austro-marxistas, pois cialmente aberto. Grünberg fez o discurso de inauguração. 24 Logo no co­
sua obra teve caráter primordialmente histórico e não se dedicou a obter "l.neço de sua fala, frisou a necessidade de uma academia orientada para a

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÂO DIALÉTICA CAPITULO 1 ·A CRIAÇÃO DO INSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

pesquisa, em oposição à tendência, que prevalecia no ensino superior ale­ outros membros mais jovens do grupo. Mesmo assim, nos primeiros anos
mão, de ensinar em detrimento da busca do saber. Embora o Institut pre­ da história do Institut, prevaleceu a abordagem de Grünberg. O Archiv de
visse uma certa oferta de instrução, ele tentaria não se transformar em Grünberg continuou a enfatizar a história do movimento operário, às ve­
uma escola de formação de "mandarins" 25 preparados para servir o status zes publicando um trabalho teórico, como o estudo de Pollock sobre Wer­
quo. Ao apontar para a tendência das universidades alemãs de se torna­ ner Sombart e o artigo de Horkheimer sobre Karl Mannheim. 28
rem centros de instrução especializada - institutos para "mandarins"-, O tom dos anos de Grünberg, muito diferente do insraurado depois
Grünberg pôs o dedo em um problema recorrente da história àlemã. Mais que Horkheirner o substituiu como diretor, foi captado numa carta en­
de um século antes, Wilhelm von Humboldt havia tentado traçar uma dis­ viada por Oscar H. Swede, um aluno do Institut, ao marxista norte-ame­
tinção entre as "universidades", dedicadas à formação prática, e as "acade­ ricano Max Eastrnan, em 1927. A relativa ortodoxia do marxismo do
mias", que fomentariam a pesquisa pura. 26 Com o correr dos anos, porém, Institut era frustrante para o jovem Swede, que se queixou de passar
a "academia" crítica fora claramente posta de lado pela universidade orien­ [... ] horas em discussões exasperantes, num instituto marxista, com uma
tada para a adaptação, que se tornou o modelo do ensino superior na Ale­ geração mais jovem que se acomoda com uma religião ortodoxa e com o
manha. O Institut, desde a origem, se opôs a essa tendência. culto de uma literatura iconográfica) para não falar em quadros-negros
Grünberg continuou seu discurso tratando das diferenças administra­ cheios de malabarismos matemáticos, com blocos de J.000 k + 400 w de
divisões marxistas das funções do capital e coisas similares. Santo Deus!
tivas que distinguiriam o Institut e outras sociedades de pesquisa recém­
Quantas horas passei ouvindo o debate de seminários e círculos de estudan­
criadas. Em vez da direção por um colegiado, corno no caso do recém­ tes sobre a dialética hegeliana, sem que uma única voz assinalasse que os
fundado Instituto de Pesquisas de Ciências Sociais de Colônia, dirigido problemas já não podem ser resolvidos (se é que algum dia o foram) por
por Christian Eckert, Leopold von Wiese, Max Scheler e Hugo Lindemann, ineio de concepções «filosóficas" presas a minudências. Até o diretor [Grün­
o Institut de Frankfurt teria um único diretor, com controle "ditatorial''. berg], diante de uma platéia de jovens entusiásticos, convencidos de que a
relatividade é mais um produto da ideologia burguesa, que substitui o ma­
Seus membros teriam garantia de independência, mas a verdadeira dire­
terialismo absoluto de Newton por idéias flutuantes, que o freudis1no e o
ção seria exercida na distribuição dos recursos e na concentração das ener­ bergsonismo são ataques insidiosos pela retaguarda, e que a guerra pode ser
gias. Nos anos seguintes, a dominação de Max Horkheimer nos assuntos travada com a espada numa das mãos e a "Geschichte der Historiko-1na­
do Institut foi inconteste. Embora, em larga medida, isso possa ser atri­ terialismus" [História do materialismo histórico] na outra[ ... ], é constan­
buído à força de sua personalidade e à largueza de seu intelecto, seu po­ temente confrontado com as contradições inerentes a urna l.M.H. [interpre­
tação materialista da história] marxista e se vê forçado a conceber defesas
der também se enraizou na estrutura do Institut, tal como originalmente
contra a conclusão lógica de que todos podemos ficar sentados de braços
concebido. '· · cruzados, esperando que o milênio desabroche a partir do esterco da deca­
Grünberg concluiu o discurso de inauguração afirmando fidelidade ao dência capitalista. A verdade é que o determinismo ec[onôrnico] não pode
marxismo como metodologia científica. O liberalismo, o socialismo de produzir forças de luta ne1n forças criativas) e não haverá comunismo se
Estado e a escola histórica tinham sedes institucionais em outros lugares. tivermos de depender dos serviços do frio, da fome e dos baixos salários para
conseguir recrutas. 29
O marxismo seria o princípio regente do Institut. A concepção de análise
materialista de Grünberg não fazia rodeios. Ela era, em suas palavras, "emi­ Em última instância, a impaciência de Swede com o marxismo pouco
nentemente indutiva; seus resultados não reivindicavam validade no tem­ imaginativo dos anos de Grünberg seria compartilhada pelos dirigentes
po e no espaço", tendo "apenas um significado relativo, historicamente posteriores do Institui, que comporiam a Escola de Frankfurt; durante a
condicionado"." O verdadeiro marxismo, prosseguiu, não era dogmático, década de J 920, porém, ocorreram poucas inovações teóricas no que os
não buscava leis eternas. A teoria crítica, tal como desenvolvida depois, estudantes passariam a chamar de "Café Marx".
mostrou-se de acordo com essa última afirmação. A epistemologia indu­ Um sintoma de sua postura foram os laços estreitos que o órgão nw11-.
tiva de Grünberg, todavia, não recebeu a aprovação de Horkbeimer e dos teve com o Instituto MaEx-Engels, em Moscou, sob a direção de David

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALtT!CA CAPÍTULO 1 •A CRIAÇÃO DO INST!TUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

Ryazanov. 30 O Institut tirava cópias fotostáticas de manuscritos inéditos dessa versão. Korsch realmente participou de alguns seminários do Institut
de Mªrx eEngels, semanalmente trazidos por mensageiros da sede berli­ e escreveu críticas ocasionais para suas publicações, antes e depois da emi­
nense do SPD, e as enviava a Moscou, onde eram incluídas na obra com­ gração, mas nunca teve chance de se tornar membro pleno. 34 As razões de­
pleta, a famosa MEGA [Marx-Engels Historisch-Kritische Gesamtausgabe].'I vem ter sido complexas, sem dúvida, mas a ênfase de Korsch na práxis,
Ao 111çsmo temp_o,o lnstitut começou a reunir um grupo de jovens as­ que o levaria a se afastar cada vez mais da especulação filosófica nos anos
sistentes com origens e interesses múltiplos. O menos importante, em ter­ posteriores, certamente desempenhou um papel, junto com a instabilida­
mos do desenvolvimento posterior do Institut, porém um dos indivíduos de que outras pessoas viam em seu caráter. 35
mais fascinantes a se associar com ele em qualquer época, foi Richard _De tempos em tempos, tem-se levantado a questão da possível filiação
Sorge, apelidado de "Ika". A história admirável de sua espionagem para os de Horkheimer ao KPD. Não há provas para corroborar ess_a visão, e
russos no Extremo Oriente, antes e durante a Segunda Guerra Mundial, é _há muitas coisas nos escritos enos atos dele que tornam plau_sível sua
por demais conhecida para requerer uma recapitulação aqui. Socialista afirmação de que nunca ingressou no partido. Durante a época em que
independente e, a partir de 1918, comunista, Sorge foi também doutoran­ estudaram juntos em Munique, em 1919, Horkheimer e Pollock foram tes­
do de Gerlach em Aachen. Combinou atividades acadêmicas com traba­ temunhas não participantes das breves atividades revolucionárias dos li­
lhos para o partido, como a organização ilegal dos mineiros do Ruhr. Em teratos bávaros. Apesar de terem ajudado a esconder esquerdistas que eram
1921, casou-se com a mulher de quem Gerlach se divorciara, Christiane, vítimas do terrorismo branco que se seguiu, eles próprios não se junta­
o que, surpreendentemente, não lhe custou a amizade do professor. Quan­ ram à revolução, que consideraram prematura e inevitavelmente malfa­
do Gerlach foi para Frankfurt no ano seguinte, Sorge o acompanhou. De­ dada, em vista da falta de condições objetivas que favorecessem uma ver.­
pois da morte repentina daquele que seria o primeiro diretor do Institut, dadeira mudança social. 36 As primeiras simpatias políticas de Horkheimer
Sorge continuou com o grupo por um breve período e recebeu a incum­ foram para Rosa Luxemburgo, especialmente por sua crítica ao _centralis­
bência de organizar a biblioteca, um trabalho que não lhe dava prazer. mo bolchevique. 37_Depois do assassinato dela, em 1919, HorkJ:ieimernun­
Quando o partido lhe disse que fosse para Moscou, em 1924, não relutou ca encontrou outro líder socialista para seguir.
em sair de Frankfurt. De qualquer modo, sua ligação com o Institut, de J,\m uma das pouquíssimas análises políticas escritas por Horkheimer
acordo com Deakin e Storry, "devia ser formal, uma fachada" 32 para o tra­ no período que antecedeu a emigração,''A impotência da class_e _trabalha­
balho em prol do partido. Só quando ele foi publicamente denunciado _dora alemã'~, publicada em 1934 na coleção de aforismos e pequenos en­
como espião, na década de 1940, é que os outros souberam de sua notável saios conhecida como Diimmerung38 (palavra alemã que tanto significa
carreira secreta. 33 "aurora)) qua11to «crepúsculo»), ,el_~ exp~eS;sou as r~?:9.~s
- - -- 9:~ s~_u c~t_ici_$mO
- ..

Outros assistentes do Institut, no entanto, envolveram-se abertamente em relação aos diversos partidos dos trabalhadores. A existência de uma
com a política esquerdista, apesar da intenção oficial dos membros fun­ ~isão entre uma elite operária empregada e integrada, de um lado,. e as
dadores de mantê-lo livre de qualquer filiação partidária. Karl August massas de desempregados humilhados e frustrados, de outro, que eram
Wittfogel, Franz Borkenau e Julian Gumperz eram membros do Partido produzidas pelo capitalismo em sua forma atual, afirmou, tinha levado a
Comunista. Portanto, o ativismo político como tal, por si só, não era uma dicotomia correspondenteentre um Partido Socialdemocrata ao qual
motivo para rejeição por parte do grupo. Mas podia revelar-se um empe­ faltava motivação e um Partido Comunista manietado pela obtusidade.
cilho, como no caso de Karl Korsch, que fora ministro da Justiça no go­ teórica. O SPD tinha "razões" demais; os comunistas, que comumente re­
verno de coalizão entre o SPD e o KPD na Turíngia, em 1923, e continuou corriam à coação, tinham razões a menos. As perspectivas de conciliação
a ser uma figura destacada da oposição de esquerda no KPD até 1926. entre essas duas posições, concluiu Horkheimer em tom pessimista, de­
Wittfogel recordou o papel de Korsch no lnstitut como tendo sido central pendiam, "em última análise, do curso dos processos econômicos. [... ]
nos primeiros anos, mas os outros membros sobreviventes discordaram Ambos os partidos abrigam uma parte da força da qual depende o futuro

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIAL~T!CA CAPfTULO 1 ·A CRIAÇÃO DO INSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

da humanidade". 39 Em momento algum, portanto, quer sob a direção de pelos outros membros mais jovens do lnstitut, que questionavam a inter­
Grünberg, quer sob a de Horkheimer, o Jnstitut aliou-se com um partido pretação tradicional da teoria marxista. A abordagem de Wittfogel era
ou uma facção específicos da esquerda. Em 1931, um de seus membros francamente positivista, e o desdém era recíproco. Usando o pseudónimo
caracterizou a relação da instituição com o movimento operário nos se­ de Carl Peterson, ele teve de fazer a resenha crítica de um de seus pró­
guintes termos: prios livros, em 1932, pois ninguém mais se interessou pela tarefa.
É uma instituição neutra na universidade, acessível a todos. Sua importân­
· Em 1931, seu estudo Economia e sociedade na China foi publicado sob
cia reside no fato de que, pela primeira vez, reúne-se tudo o que concerne os auspícios do lnstitut, mas, àquela altura, ele havia transferido sua base
ao movimento operário nos países mais importantes do mundo. Acima de permanente de operações para Berlim. Ali, entre muitos outros interesses,
tudo, fontes (atas de congressos, programas partidários, estatutos) jornais e contribuiu para uma série de artigos sobre a teoria estética em Die Links­
revistas) [ ... ].Na Europa Ocidental, quem quiser escrever sobre as correntes kurve,* textos que foram classificados como "o primeiro esforço feito na
do movimento operário deve nos procurar, pois son1os o único ponto de
reunião para isso.40
Alemanha para expor fundamentos e princípios de uma estética mar­
xista''.43 Wittfogel, que, na casa dos 20 anos, escrevera algumas peças en­
Quando o lnstitut aceitava membros com engajamento político, era cenadas por Piscator** e outros, desenvolveu uma sofisticada estética de
excllliiv~;;;e~t~ po-r seu trab~lho não polítiço. o. ativista mais importante inspiração hegeliana, que antecipou muitas das posições posteriores de
de suas fileiras foi Karl August Wittfogel. 41 Filho. de um professor secun­ Lukács. Um sinal adicional de seu isolamento em relação aos colegas do
dário luterano, Wittfogel nasceu na cidadezinha de Woltersdorf, em Ha­ Institut foi que essa estética não parece ter exercido qualquer impacto so­
nôver, em 1896. Atuante no movimento da juventude alemã antes da guer­ bre Lõwenthal, Adorno ou Benjamin, os principais estetas da Escola de
ra, depois do conflito ele se envolveu cada vez mais na política radical. Em Frankfurt. Para Horkheimer e seus colegas, Wittfogel parecia um estudioso
novembro de 1918, filiou-se ao Partido Socialista Independente e, dois da sociedade chinesa, cujas análises do que depois chamou de "sociedade
anos depois, a seu sucessor comunista. Durante todo o período de Weimar, hidráulica" ou "despotismo oriental" eram incentivadas, porém era pouco
dedicou boa parte de sua considerável energia ao trabalho partidário, em­ mais do que isso. Na opinião desses colegas, a militância de Wittfogel era
bora se metesse em complicações freqüentes com Moscou por causa da meio embaraçosa, enquanto a neutralidade política deles despertava o
heterodoxia de suas posições.
mesmo desdém neste último.
Ao mesmo tempo que aprofundava sua participação na política comu­
Não se pode considerar Wittfogel integrante do círculo mais íntimo do
nista, Wittfogel conseguiu desenvolver uma vigorosa carreira acadêrn.ica.
Institut, antes ou depois da emigração. O mesmo se pode dizer, com ênfa­
Estudou em Leipzig, onde foi influenciado por Karl Lamprecht, depois em
se ainda maior, de Franz Borkenau. Nascido em Viena em 1900, Borkenau
BÚÜm e, finalmente, em Frankfurt, onde Carl Grünberg concordou em
foi atuante no Partido Comunista e no Komintern [Internacional Comu­
orientar sua tese. Wittfogel publicou estudos sobre a ciência e a sociedade
nista] desde 1921 até sua desilusão, em 1929. É difícil determinar como
burguesas antes de se voltar para o que viria a se converter em seu princi­
ele entrou no círculo do Institut, embora seja provável que tenha sido um
pal interesse nos anos seguintes - a sociedade asiática. 42 Já em 1922, foi
dos protegidos de Grünberg. Seu engajamento político parece ter sido tão
convidado por Gerlach e Weil a se ligar ao Institut que os dois planeja­
intenso quanto o de Wittfogel, e sua atividade erudita foi meio limitada.
vam inaugurar. Entretanto, só aceitou a oferta três anos depois, quando
A maior parte do tempo que passou no Institut foi gasta na investigação
sua mulher, Rose Schlesinger, já se tornara uma das bibliotecárias do
Institut. das mudanças ideológicas que acompanharam a ascensão do capitalismo.
Embora os novos colegas respeitassem as contribuições de Wittfogel
* O título da revista pode ser traduzido, aproximadamente) corno Guinada à esquerda, ou
para a compreensão do que Marx havia chamado de modo de produção Retorno à esquerda. [N.T.]
asiático, parece ter havido pouca integração real entre seu trabalho e o de­ "* Erwin Piscator ( 1893~ 1966), célebre diretor e produtor teatral alemão da década de 1920,
les. Nas questões teóricas, ele era considerado ingênuo por Horkheimer e que trabalhou ern estreita colaboração corn Bertold Brecht, entre outros. [N.T.]

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA
CAPITULO 1 •A CRlAÇAO DO INSTITUT FOR SOZ!ALFORSCHUNG

O resultado foi um volume da série de publicações lançadas pelo Institui,


conseguinte, mostrou-se avesso ao materialismo dialético neo-hegeliano
com certo atraso, em 1934, com o título de A transição da visão de mundo
dos integrantes mais jovens do Institui.
feudal para a burguesa. 44 Embora esteja hoje quase totalmente esquecido,
Contudo, não devemos enfatizar demais a insensibilidade de Gross­
o livro suscitou uma comparação favorável com um livro posterior de
mann ao trabalho de Horkheimer. Em 18 de julho de 1937, por exemplo,
Lucien Goldmann, O deus oculto. 45 A tese principal de Borkenau era de
ele escreveu a Paul Mattick:
que a emergência de uma filosofia mecanicista e abstrata, cujo melhor
exemplo era a obra de Descartes, estava intimamente ligada à ascensão do No último nú1nero do Zeitschrift, apareceu u1n ensaio especialmente be1n­
trabalho abstrato no sistema de produção capitalista. Essa ligação não de­ feito de Horkheimer, com uma crítica arguta e fundamental ao novo empi­
veria ser entendida como causal numa ou noutra direção, mas como um risn10 (lógico). É n1uito digno de ser lido, pois, em vários círculos socialis­
tas) o 1naterialismo marxista é confundido com o empirismo. I-fá simpatia
reforço mútuo. Pouco depois, saiu no Zeitschrift für Sozialforschung um
por esse empirismo co1no uma tendência supostamente antirnetafísica. 49
artigo criticando a tese central de Borkenau - o único reconhecimento
público de seu isolamento em relação aos demais. 46 Como a de Wittfogel e a de Borkenau, a política de Grossmann basea­
O próprio autor desse texto, Henryk Grossmann, apesar de ter partici­ va-se em um entusiasmo relativamente irrefletido pela União Soviética.
pado dos assuntos do Institui desde 1926 até a década de 1940, não exer­ Embora ele tivesse sido membro do Partido Comunista Polonês, é impro­
ceu grande influência em seu desenvolvimento intelectual. De idade e in­ vável que se tenha filiado a seu equivalente alemão depois de se transferir
clinações intelectuais mais próximas das de Grünberg que das de alguns para Frankfurt. Ao contrário dos outros, ele não vivenciou uma decepção
membros mais jovens, Grossmann nasceu em 1881 em Cracóvia, numa posterior com o comunismo, nem mesmo durante os cerca de dez anos
família abastada de judeus proprietários de minas. Antes da guerra, estu­ de exílio nos Estados Unidos, quando muitos outros de origem similar re­
dou economia em Cracóvia e em Viena, nesta última com Bõhm- Bawerk, pudiaram o passado.
e escreveu, entre outras coisas, um estudo histórico sobre as políticas co­ A briga de Grossmann com Borkenau, no artigo do Zeitschrift sobre o
merciais da Áustria no século XVIII." Depois de servir como oficial de ar­ livro deste último, dizia respeito ao momento da transição da ideologia
tilharia nos primeiros anos da guerra, exerceu diversos cargos no governo feudal para a burguesa, que ele situou 150 anos mais cedo do que Bor­
austríaco em Lublin até o colapso do império dos Habsburgo, em 1918. kenau, e à importância da tecnologia nessa mudança - Leonardo, e não
Depois da guerra, optando por permanecer na Polônia recém-reconstituí­ Descartes, era seu personagem paradigmático. Ainda assim, Grossmann
da, Grossmann foi convidado a supervisionar o primeiro levantamento nunca questionou a relação causal fundamental entre a subestrutura e a
estatístico da riqueza nacional e nomeado diretor do primeiro recensea­ superestrutura. Em seu artigo de 1935 no Zeitschrift, portanto, ele conti­
mento polonês, em 1921. No ano seguinte, tornou-se catedrático de eco­ nuou a expressar fidelidade às ortodoxias do marxismo, tal como as en­
nomia em Varsóvia, cargo que exerceu até que a antipatia do governo de tendia; mas isso não foi totalmente invariável, como ficou demonstrado
Pilsudski por seu socialismo o convenceu a ir embora, em 1925. Grünberg, por sua ênfase no impulso tecnológico da mudança, em oposição à ênfase
que o conhecera na Viena de antes da guerra, convidou-o a ir para Frank­ de Borkenau nas formas de produção capitalistas. Uma expressão muito
furt, onde o aguardavam um cargo de professor adjunto na universidade mais importante de sua adesão aos dogmas do marxismo ortodoxo apa­
e um de assistente no lnstitut, como auxiliar de Grünberg.
rece na série de palestras que fez no Institui em 1926-1927, reunidas em
Homem de imensa cultura, com um conhecimento prodigioso de his­
1929 como A lei da acumulação e o colapso do sistema capitalista,'º primeiro
tória .econômica, Grossmann é relembrado por muitos que o conhece­
volume dos Schriften do Institui.
ram48 como a encarnação do acadêmico da Europa Central: correto, me­
A questão do colapso inevitável do capitalismo a partir de dentro ti­
ticuloso e cavalheiresco. Entretanto, havia absorvido o marxismo nos anos
nha sido o centro da controvérsia nos círculos socialistas, desde a época
em que prevaleciam as idéias materialistas monistas de Engels e Kautsky.
em que os artigos de Eduard Bernstein no Die Neue Zeit [O novo tempo],
Manteve-se firmemente comprometido com essa interpretação e, por
na década de 1890, haviam levantado objeções empíricas à profecia da
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CAPITULO 1 ·A CRIAÇÃO DO !NSTITUT FÜR SOZ!ALFORSCHUNG
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÍ:T!CA

gum tempo em Frankfurt no início da década de 1920 e dera continuida­


pauperização crescente do proletariado. Nas três décadas seguintes, Rosa
de a esse relacionamento, contribuindo com um ou outro artigo ocasio­
Luxemburgo, Heinrich Cunow, Otto Bauer, M. J. Tugan-Baranovski, Ru­
nal para o Archiv de Grünberg. 55 Na União Soviética, apesar de admirado
dolf Hilferding e outros batalharam com essa questão, tanto do ponto de
por seu trabalho erudito como diretor do Instituto Marx-Engels, Ryazanov
vista teórico quanto do empírico. O imperialismo, de Fritz Sternberg, que
era visto, em termos políticos, como um retrocesso bastante excêntrico aos
modificou em um sentido mais pessimista a tese de Luxemburgo de que
tempos da socialdemocracia pré-bolchevique. Apesar de fazer críticas fre­
o imperialismo era apenas um fator de retardamento na destruição do ca­
pitalismo, foi a última grande contribuição que antecedeu a de Gross­ qüentes à política partidária, 56 ele sobreviveu até Stalin mandá-lo para o
mann. A lei da acumulação e o colapso do sistema capitalista começa com exílio com os alemães do Volga, alguns anos depois da visita de Pollock,
uma excelente análise da literatura anterior sobre o assunto. Depois, se­ num gesto que foi jocosamente descrito como a única verdadeira "contri­
guindo uma exposição das idéias do próprio Marx, coligidas de seus di­ buição" de Stalin para a erudição marxista. Por causa da amizade com
versos escritos, Grossmann tentou erigir sobre os modelos matemáticos Ryazanov, durante a viagem Pollock pôde conversar com membros da ten­
de Otto Bauer um sistema dedutivo destinado a provar que as previsões dência de oposição do Partido Bolchevique, cada vez menos influente,
de Marx estavam certas. A pauperização que apontou não foi a do prole­ além de fazer estudos de campo sobre o planejamento soviético. As im­
tariado, mas a dos capitalistas, cuja tendência à superacumulação produ­ pressões que levou de volta a Frankfurt, depois de vários meses, não fo­
ziria um inevitável declínio na taxa de lucro, em um período fixo de tem­ ram inteiramente favoráveis. Seu livro evitou cuidadosamente comentar
po. Embora admitisse tendências contrárias, como o uso mais eficiente do as conseqüências políticas da Revolução e as coletivizações forçadas da
capital, Grossmann afirmou em tom confiante que elas poderiam mitigar, década de 1920. Na questão central que abordou - a transição de uma
mas não impedir a crise terminal do sistema capitalista. As inúmeras ra­ economia de mercado para uma economia planejada - , Pollock foi me­
mificações de sua tese, cujas previsões obviamente não se materializaram, nos um defensor entusiasta do que um analista desapaixonado e pruden­
não precisam nos deter aqui. 51 Mas as implicações essencialmente quietis­ te, que não se dispunha a fazer julgamentos prematuros. Também nesse
tas de sua tese, semelhantes às de todas as interpretações marxistas que aspecto, ele e Grossmann tiveram motivos para discordar.
frisam as forças objetivas acima da práxis revolucionária subjetiva, não Mesmo assim, seria um engano caracterizar a atitude geral dos mem­
escaparam a alguns de seus contemporâneos. 52 bros do Institut para com o experimento soviético, em 1927, como mais
Pollock, o outro grande economista do lnstitut, não tardou a contestar próxima do ceticismo de Pollock que do entusiasmo de Grossmann. Witt­
Grossmann por outras razões. Frisando a inadequação do conceito mar­ fogel continuou a lhe dar o firme apoio de sempre, Borkenau ainda não
xista de trabalho produtivo, por seu desprezo pelo trabalho não manual, havia decidido repudiar o partido e até Horkheimer conservava a espe­
Pollock destacou as atividades de serviços, 53 que começavam a se tornar rança otimista de que o socialismo humanista ainda pudesse realizar-se
cada vez mais importantes no século XX. A mais-valia poderia ser extraí­ na Rússia pós-Lenin. Um dos aforismos publicados em Dêimmerung, al­
da de trabalhadores dessas atividades e das que produziam mercadorias, guns anos depois, expressou os sentimentos de Horkheimer durante esse
afirmou, o que prolongaria a vida do sistema. Mas a posição de Gross­ período:
mann se manteve basicamente inalterada. Ele e Pollock continuaram a dis­
Quem tem olhos para a injustiça absurda do mundo imperialista, que de
cordar em questões econômicas até o primeiro deixar o Institut, depois
modo algum pode ser explicada por uma impotência técnica, há de enca­
da Segunda Guerra Mundial. Cuidadosamente lido nas entrelinhas, o tex­ rar os acontecimentos da Rússia como a tentativa progressista e dolorosa
to Experiências de planejamento económico na União Soviética (1917­ de superar essa injustiça) ou) pelo menos, há de perguntar) com o coração
1927),54 de Pollock, segundo volume dos Schriften do Institut, fornece batendo) se essa tentativa ainda persiste. Se as aparências dizem algo em
outros indícios dessa disputa. contrário, ele se agarra à esperança 1 do mesmo modo que a vítima de cân­
Durante as comemorações do décimo aniversário da União Soviética, cer se apega à notícia questionável de que provavelmente se descobriu a cura
do mal. 57
David Ryazanov convidou Pollock a conhecer o país. Ryazanov passara al­

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CAPITULO 1 ·A CRIAÇÃO DO INSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

Houve acalorados debates confidenciais sobre as conclusões de Pollock, intelectuais judeus que cercavam o carismático rabino Neherniah A. No­
mas eles nunca chegaram ao texto impresso. Na verdade, depois que o li­ bel,59 que incluía figuras corno Martin Buber, Franz Rosenzweig, Siegfried
vro dele foi publicado, em 1929, o Institut manteve um silêncio oficial Kracauer e Ernst Simon. Foi corno integrante deste último grupo, que deu
quase completo sobre os acontecimentos na União Soviética, interrompi­ origem à célebre Freies Jüdischen Lehrhaus [Livre Casa Judaica do Saber]
do apenas por um levantamento da literatura recente, feito por Rudolf em 1920, que Lõwenthal tornou a entrar em contato com um amigo dos
Schlesinger, que fora um dos alunos de Grünberg na década de 1920. 58 tempos de escola, Erich Frornrn, que mais tarde se ligaria ao Institut.
Somente após uma década, depois dos processos de Moscou, Horkheimer A entrada de Lõwenthal nos assuntos do lnstitut ocorreu em 1926, embo­
e os demais, com a única exceção do obstinado Grossrnann, abandona­ ra alguns interesses externos limitassem seu envolvimento. Ele continuou
ram por completo a esperança em relação à União Soviética. Mesmo en­ a lecionar no sistema de ensino secundário prussiano e trabalhou corno
tão, preocupados com problemas que discutiremos adiante, eles nunca consultor artístico do Volksbühne [Teatro Popular], urna grande organi­
concentraram a atenção da teoria crítica no autoritarismo esquerdista da zação esquerdista e liberal. No fim da década de 1920, escreveu artigos crí­
Rússia de Stalin. A falta de dados disponíveis foi urna das razões, mas não ticos sobre questões estéticas e culturais para diversas publicações, em es­
devemos ignorar as dificuldades implícitas de realizar urna análise mar­ pecial as do Volksbühne, e continuou a contribuir com peças históricas
xista, por mais heterodoxa que fosse, das falhas do comunismo. sobre a filosofia judaica da religião para diversos periódicos. Além disso,
adquiriu urna experiência editorial que se revelou útil quando o Zeitschrift
Convém enfatizar que a teoria crítica, tal corno articulada por alguns für Sozialforschung substituiu o Grünbergs Archiv como órgão do lnstitut.
membros do Institut, continha importantes críticas implícitas à maneira Foi corno sociólogo da literatura e estudioso da cultura popular que
corno os soviéticos justificavam ideologicamente os seus atos. Embora a Lõwenthal contribuiu mais para o Institut, depois de se tornar membro
maioria das figuras já mencionadas da história inicial do Institut - Grün­ pleno em 1930 (seu título oficial, a princípio, foi o de Hauptassistent­
berg, Weil, Sorge, Borkenau, Wittfogel e Grossrnann - não se preocupas­ primeiro assistente-, que só era compartilhado por Grossrnann). Nos
se com o reexame dos fundamentos do marxismo, tarefa a que Hork­ primeiros anos, o Institut interessou-se primordialmente pela análise da
heirner se dedicava cada vez mais, ele não ficou inteiramente sem aliados. subestrutura socioeconôrnica da sociedade burguesa, mas nos anos pos­
Pollock estava mais interessado em economia, mas havia estudado filoso­ teriores a 1930 o interesse principal voltou-se para a superestrutura cul­
fia com Cornelius e compartilhava com o amigo a rejeição ao marxismo tural dessa sociedade. Corno veremos, a tradicional fórmula marxista a
ortodoxo. Mais e mais preso aos assuntos administrativos do Institut, de­ respeito da relação entre os dois níveis foi questionada pela teoria crítica.
pois que Grünberg sofreu um derrame no fim de 1927, Pollock ainda as­ Apesar de ter contribuído para essa mudança de ênfase, Lõwenthal foi
sim conseguiu sornar sua voz à de Horkheirner nos serniná!\Íos realizados. menos responsável pelo novo rumo teórico do que a outra aquisição
No fim da década de 1920, juntaram-se a ele dois intelectÚais mais jovens, importante ao círculo do Institut no final da década de 1920, Theodor
que viriam a exercer urna influência cada vez maior nos anos posteriores: Wiesengrund-Adorno.
Leo Lõwenthal e Theodor Wiesengrund-Adorno (que ficou conhecido ex­ Ao lado de Horkheirner, Adorno, corno o chamaremos daqui em dian­
clusivamente pelo sobrenome da mãe, Adorno, depois da emigração). te, tornou-se o homem que se identificou mais de perto com o destino do
Lõwenthal, nascido em 1900 em Frankfurt, filho de um médico judeu, Institut, ao qual se ligou oficialmente em 1938. No período anterior à emi­
serviu na guerra, corno os outros, antes de iniciar a carreira acadêmica. gração, todavia, suas energias, sempre enormes, dividiram-se entre dife­
Em Frankfurt, Heidelberg e Giessen, estudou literatura, história, filosofia rentes projetos, alguns dos quais o mantinham longe de Frankfurt. Mes­
e sociologia, recebendo o doutorado em filosofia com urna tese sobre mo após sua partida da Europa, quando o Institut se tornou a estrutura
Franz von Baader, em Frankfurt, em 1923. Na universidade, moveu-se nos institucional dominante em que ele trabalhava, Adorno não se restringiu
mesmos círculos estudantis radicais de Horkheirner, Pollock e Weil, que a nenhuma disciplina em particular. Durante os anos do curso secundá­
fora seu amigo na escola secundária. Também tinha laços com o grupo de rio, ele fizera amizade com Siegfried Kracauer, quatorze anos mais velho. 60

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Durante mais de um ano, havia passado regularmente as tardes de sábado Wozzeck, ainda inédita. 62 Resolveu acompanhá-lo a Viena e se tornar seu
com Kracauer, estudando a Crítica da razão pura, de Kant, e se lembraria aluno. Retardado apenas pelos estudos universitários em Frankfurt, che­
dessas lições como muito mais valiosas do que as recebidas na educação gou à capital austríaca em janeiro de 1925. A Viena para a qual ele se mu­
universitária formal. A abordagem de Kracauer combinava o interesse pe­ dou era menos a cidade de Otto Bauer e Karl Renner, Rudolf Hilferding e
las idéias em si com uma aguda sociologia do saber. A desconfiança que Max Adler (o meio que Grünberg deixara ao ir para Frankfurt) do que a
tinha dos sistemas fechados, bem como a ênfase no particular em oposi­ Viena apolítica, mas culturalmente radical, de Karl Kraus e do círculo de
ção ao universal, causaram uma impressão marcante em seu jovem ami­ Schõnberg. Lá chegando, ele convenceu Berg a aceitá-lo como estudante
go. O mesmo fizeram as inovadoras explorações de Kracauer sobre fenô­ de composição, duas vezes por semana, e procurou Eduard Steuermann
menos culturais como o cinema, que combinaram percepções filosóficas para instruí-lo na técnica do piano. Suas composições parecem ter sido
e sociológicas de um modo quase sem precedentes. Em anos posteriores, influenciadas pelos experimentos ele Schõnberg com a atonalidade, mas
tanto na Alemanha quanto nos Estados Unidos, depois da emigração, a não por seu sistema clodecafônico posterior. 63 Além dessa formação, Ador­
amizade se manteve firme. Para qualquer pessoa familiarizada com o cé­ no conseguiu escrever com freqüência para diversos jornais de vanguar­
lebre De Caligari a Hitler, 61 de Kracauer, é evidente a semelhança entre seu da, inclusive o Anbruch, cuja direção editorial assumiu em 1928, ano em
trabalho e alguns textos de Adorno que serão descritos adiante. que voltou para Frankfurt. Permaneceu à frente dessa publicação até 1931,
Entretanto, o jovem Adorno estava interessado em mais do que obje­ apesar de suas novas responsabilidades acadêmicas.
tivos intelectuais. Como Horkheimer, combinava uma rigorosa menta­ Os três anos que Adorno passou em Viena foram muito mais do que
lidade filosófica com uma sensibilidade mais estética do que científica. um interlúdio em sua carreira ele estudioso. Arthur Koestler - que, em
Enquanto as inclinações artísticas de Horkheimer levaram-no para a li­ 1925, ao chegar, hospedou-se por acaso na mesma pensão que ele - re­
teratura e para uma série de romances inéditos, Adorno sentiu-se mais cordou-o como "um rapaz tímido, aflito e esotérico, com um encanto su­
profundamente atraído pela música, num reflexo do ambiente sumamen­ til que eu, imaturo demais, não compreendi". 64 Para Koestler, igualmente
te musical em que estivera imerso desde o nascimento. Caçula dos lumi­ emotivo mas não tão culto, Adorno representou uma imagem ele condes­
nares da Escola de Frankfurt, Adorno nasceu em Frankfurt em 1903. Seu cendência magisterial. Até o professor de Adorno, Berg, achava desconcer­
pai era um bem-sucedido judeu assimilado que comercializava vinhos, e tante a capacidade intelectual do aluno. Como Adorno admitiu posterior­
dele o filho herdou o gosto pelas boas coisas da vida, mas pouco interesse mente, "meu lastro filosófico, em certos momentos, incluía-se segundo
pelo comércio. A mãe parece ter causado um efeito mais profundo em seus Berg na categoria do que ele chamava de modismo. [... ] Nessa época, com
interesses posteriores. Filha de uma cantora alemã e de um oficial do Exér­ certeza, eu era brutalmente sério, e isso pode dar nos nervos de um artista
cito francês (cujos ancestrais corsos e originalmente genoves~s responde­ maduro". 65 Os três anos em Viena parecem ter erradicado grande parte de
ram pelo sobrenome italiano, Adorno), ela teve uma carreira extremamen­ sua timidez, mas a nova confiança não significou uma redução expressiva
te bem-sucedida como cantora até se casar. Sua irmã solteira, que morava de sua extrema seriedade nem de sua fidelidade às formas culturais mais
na casa dos Wiesengrund, era uma pianista de considerável talento, que exigentes. O comparecimento freqüente a leituras feitas por Karl Kraus, o
tocava com a famosa cantora Adelina Patti. Com o incentivo delas, o pe­ mais implacável defensor elos padrões culturais, e a participação nas her­
queno "Teddie" aprendeu piano e estudou composição desde cedo, sob méticas discussões musicais da vanguarda vienense só fizeram reforçar sua
orientação de Bernhard Sekles. predisposição nessa direção. Pelo resto da viela, Adorno nunca abandonou
Mas Frankfurt pouco oferecia além da formação musical tradicional, seu elitismo cultural.
e Adorno sentia-se ansioso por mergulhar na música mais inovadora, Também de outra maneira os anos em Viena foram significativos para
que nessa época provinha de Viena. Na primavera ou verão de 1924, co­ seu desenvolvimento. Muito tempo depois, Adorno admitiria que um dos
nheceu Alban Berg no Festival ela Sociedade Universal de Música Alemã, atrativos elo círculo ele Schõnberg tinha sido seu exclusivismo, sua condi­
em Frankfurt, e ficou fascinado com três fragmentos ela ópera de Berg, ção de um grupo fechado, que o fez lembrar o círculo de Stefan George,

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 1 ·A CRIAÇÃO DO INSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

na Alemanha. 66 Uma de suas decepções nesses três anos de Áustria foi a nais ao Grünbergs Archiv,71 interessava-se mais por outras questões. Em
dissolução do círculo, depois que a nova esposa de Schõnberg o isolou de 1929, deixou o Institut e mudou-se para Berlim, onde trabalhou para duas
seus discípulos. Se isso não houvesse acontecido, podemos conjecturar, tal­ editoras a Malik Verlag, esquerdista, e a Soziologische Verlagsanstalt,
vez Adorno não tivesse optado por retornar a Frankfurt. Uma vez nessa mais acadêmica - , além de contribuir para o radical Teatro Piscator. Em
cidade, é claro, as mesmas características elitistas o atraíram para a órbita 1930, partiu da Alemanha para a Argentina, a fim de cuidar dos negócios
de Horkheimer e dos membros mais jovens do Institut. familiares, dos quais, como mais velho dos dois filhos de Hermann Weil,
Adorno conhecia Horkheimer desde 1922, quando eles tinham fre­ tornou-se o principal proprietário, depois da morte do pai em 1927. Acei­
qüentado juntos um seminário sobre Husserl, dirigido por Hans Corne­ tou essa responsabilidade com muita relutância. De qualquer modo, des­
lius. Ambos também haviam estudado com o psicólogo gestaltista Gelb. de 1923 Weil não estivera no centro do trabalho criativo do Institui, pois
Em 1924, sob a orientação de Cornelius, Adorno redigira sua tese de dou­ era mais atraído por questões práticas do que teóricas. Em anos posterio­
torado sobre a fenomenologia de Husserl. 67 Ao retornar de Viena, porém,' res, voltou em ocasiões esporádicas ao Institut e continuou a ajudá-lo fiel­
Cornelius se havia aposentado e fora substituído na cátedra de filosofia mente em termos financeiros, porém nunca foi nem pretendeu ser can­
por Paul Tillich, 68 após um breve interlúdio em que o cargo fora ocupado didato à direção.
por Max Scheler. Tillich era amigo íntimo de Horkheimer, Lõwenthal e Horkheimer foi a escolha evidente para suceder Grünberg. Embora
Pollock, e todos faziam parte de um grupo regular de debates que incluía não tivesse sido uma presença dominante nos primeiros anos do lnstitut,
Karl Mannheim, Kurt Riezler, Adolph Lõwe e Karl Mennicke. O Kranzchen, sua estrela entrou em ascensão durante a direção interina de seu amigo
como era chamado - uma palavra antiquada que tanto significa uma pe­ Pollock. Em 1929, com apoio de Tillich e de outros membros do Depar­
quena grinalda quanto uma reunião íntima-, continuou a existir durante tamento de Filosofia, criou-se uma nova cátedra de "filosofia social" para
vários anos em Nova York, depois que a maioria de seus membros foi for­ Horkheimer, a primeira do gênero numa universidade alemã. Weil tinha
çada a emigrar. Adorno, ao voltar para Frankfurt, foi bem recebido no gru­ convencido o Ministério da Educação a converter a cátedra de Grünberg
po. Com a ajuda de Tillich, tornou-se Privatdozent em 1931 e escreveu um em ciência política; seu pai fizera uma doação para esse novo objetivo.
estudo sobre a estética de Kierkegaard como sua Habilitationsschrift. 69 Como parte da negociação, ele havia prometido contribuir para outra
A essa altura, o Institut havia passado por mudanças significativas. cátedra de economia, entregue a Adolph Lõwe, amigo de infância de
A saúde de Grünberg, depois do derrame ocorrido em 1927, não teve uma Horkheimer, que veio de Kiel. As origens da filosofia burguesa da história, 72
melhora apreciável. Em 1929, aos 69 anos, ele renunciou ao cargo de di­ um estudo sobre Maquiavel, Hobbes, Vico e outros dos primeiros filóso­
retor. Ainda viveria até 1940, porém sem outro papel .nos assuntos do fos burgueses da história, serviu como credencial de erudição de Hork­
lnstitut. Agora, os três membros originais do grupo tinham idade suficien­ heimer para o novo cargo. Com a ascensão dele à direção, em julho de
te para ocupar uma cátedra na universidade, um pré-requisito para adi­ 1930, quando contava apenas 35 anos, o Institui für Sozialforschung en­
reção do Institut, tal como estava registrado nos estatutos. Antes da che­ trou em sua fase de maior produtividade, que é ainda mais impressionan­
gada de Grünberg e depois da doença deste, Pollock, que havia funcionado te quando vista no contexto da emigração e da desorientação cultural que
como diretor interino do Institut em tudo, exceto no nome, satisfez-se em veio logo a seguir.
continuar cuidando dos assuntos administrativos. Weil, como vimos, ha­
via permanecido como Privatgelehrter,* não tendo sido habilitado como Em janeiro de 1931, Horkheimer foi oficialmente empossado no novo
Privatdozentnem berufen [nomeado] catedrático.'º Embora continuasse a cargo. Nas cerimônias de posse, discursou sobre ''A situação atual da filo­
orientar os assuntos financeiros do Institut e a fazer contribuições ocasio­ sofia social e a tarefa de um Instituto de Pesquisas Sociais''.'13 As diferenças
entre sua abordagem e a de seu predecessor logo ficaram claras. Em vez
* Privatgelehrter é uma pessoa de reconhecída erudição, mas que não tern emprego oficial. de simplesmente se rotular como marxista, Horkheimer recorreu à histó­
[N.T] ria da filosofia social para obter uma perspectiva da situação presente. Par­

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lindo da teoria social no indivíduo, que havia caracterizado inicialmente blicado, vinte anos e quinze volumes após o lançamento, em 1910. O
o idealismo clássico alemão, ele traçou seu curso, passando pelo sacrifício Archiv tinha servido de veículo para uma multiplicidade de pontos de vista
hegeliano do indivíduo ao Estado e pelo colapso subseqüente da fé na to­ dentro e fora do Institui, ainda refletindo, em parte, as raízes de Grünberg
talidade objetiva, expressa por Schopenhauer. Depois, Horkheimer voltou­ no mundo do austro-marxismo. A necessidade de uma revista que fosse- a
se para teóricos sociais mais recentes, como os neokantianos da escola de voz do lnstitut foi considerada premente. Horkheimer, cuja preferência
Marburgo e os defensores do totalitarismo social, como Othmar Spann; pela concisão expressou-se no grande número de aforismos que escreveu
todos, em suas palavras, haviam tentado superar o sentimento de perda nesse período, não gostava dos volumes gigantescos que eram caracterís­
que havia acompanhado a quebra da síntese clássica. Scheler, Hartmann e ticos da intelectualidade alemã. Embora tenha sido lançado um terceiro
Heidegger, acrescentou, compartilhavam o anseio pelo retorno ao confor­ volume da série de publicações do Institut em 1931, Economia e sociedade
to das unidades significativas. A filosofia social, tal como Horkheimer a na China, de Wittfogel, 74 a ênfase foi deslocada para os ensaios. Na déca­
via, não seria uma única Wissenschaft [ciência] em busca da verdade imu­ da seguinte, o Institui apresentou ao mundo a maior parte de seu traba­
tável. Antes, deveria ser entendida como uma teoria materialista, enrique­ lho nos ensaios publicados no Zeitschrift für Sozialforschung, alguns quase
cida e complementada pelo trabalho empírico, do mesmo modo que a fi­ com a extensão de monografias. Exaustivamente avaliados e criticados pe­
losofia natural tinha uma relação dialética com disciplinas científicas los outros membros do lnstitut antes de serem publicados, muitos artigos
distintas. Assim, o Institut continuaria a diversificar suas energias, sem quase foram produções coletivas tanto quanto trabalhos individuais. O
perder de vista as metas sintéticas, interdisciplinares. Para isso, Hork­ Zeitschrift, nas palavras de Leo Lõwenthal, era "menos um fórum de pon­
heimer apoiava a manutenção da "ditadura do diretor'; ou seja, a estrutu­ tos de vista diferentes do que uma plataforma das convicções do lnstitut", 75
ração não colegiada iniciada por Grünberg. embora outros autores continuassem a contribuir com artigos ocasionais.
Ao concluir suas observações, Horkheimer delineou a primeira tarefa Em última instância, as decisões editoriais eram de Horkheimer, mas
do Institut sob sua liderança: um estudo das atitudes de operários e em­ Lõwenthal, com anos de experiência, funcionava como coordenador edi­
pregados para com uma variedade de problemas da Alemanha e do resto torial e tinha plena responsabilidade pela longa seção de resenhas. Uma
da Europa desenvolvida. Seus métodos deveriam incluir o uso de estatís­ das primeiras tarefas de Lõwenthal foi fazer uma viagem de avião para vi­
ticas públicas e de questionários, respaldados por uma interpretação so­ sitar Leopold von Wiese, o decano dos sociólogos alemães, a fim de lhe
assegurar que o Zeitschrift não competiria com sua Kolner Viertelsjahrs­
ciológica, psicológica e econômica dos dados. Para ajudar a compilar o
hefte für Soziologie [Revista trimestral de sociologia de Colônia].
material, anunciou, o Institut estabeleceria uma sucursal em Genebra, con­
Como explicou Horkheimer no prefácio à primeira edição, 76 a Sozial­
forme a oferta de Albert Thomas, diretor da Organização Internacional
forschung não era igual à sociologia praticada por von Wiese e outros aca­
do Trabalho. Foi a primeira de tais sucursais instaladas fora da Alemanha
dêmicos alemães mais tradicionais. Seguindo Gerlach e Grünberg, ele en­
nos anos seguintes. A decisão de aceitar a oferta de Thomas não decorreu
fatizou a natureza sinóptica e interdisciplinar do trabalho do Institui.
apenas do desejo de compilar dados; o funesto panorama político da Ale­
Frisou, em particular, o papel da psicologia social para cobrir a lacuna en­
manha já indicava que o exílio poderia ser uma necessidade futura. As­
tre o indivíduo e a sociedade. No primeiro artigo que se seguiu, "Obser­
sim, Pollock recebeu a incumbência de instalar um escritório permanente
vações sobre a ciência e a crise", 77 Horkheimer tratou da ligação entre a
em Genebra; Kurt Mandelbaum, seu assistente, acompanhou-o. Uma vez fragmentação vigente do saber e as condições sociais que ajudavam a pro­
firmemente estabelecido esse escritório em 1931, a maior parte das verbas duzi-la. Uma estrutura econômica monopolista e arcaica, afirmou, havia
do Institui foi transferida em surdina para uma empresa em um país neu­ promovido um saber confuso. A crise só seria superada quando se supe­
tro, a Holanda. rasse a fundamentação fetichista do conhecimento científico na consciên­
Outras mudanças seguiram-se à ascensão de Horkheimer à direção. cia pura e se reconhecessem as circunstâncias históricas concretas que
Com a incapacitação de seu líder, o Grünbergs Archiv deixou de ser pu­ condicionavam todo o pensamento. A ciência não devia ignorar seu papel

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social, pois só conscientizando-se de sua função crítica é que poderia con­ proletariado. Depois do fracasso da revolução alemã, Marcuse abandonou
tribuir para as forças que promoveriam as mudanças necessárias. por completo a política e foi estudar filosofia em Berlim e Freiburg, rece­
As contribuições para o primeiro número do Zeitschrift refletiram a bendo o grau de doutor na universidade desta cidade, em 1923, com uma
diversidade da Sozialforschung. Grossrnann tornou a escrever sobre Marx tese sobre o Künstlerroman (o gênero de romance em que o protagonista
e o problema do colapso do capitalisrno. 78 Pollock analisou a Grande De­ é um artista). Durante os seis anos seguintes, tentou vender e publicar
pressão e as possibilidades de uma economia planejada em urna estrutura livros em Berlim. Em 1929, voltou para Freiburg, onde estudou com
capitalista. 79 Lõwenthal delineou as tarefas de urna sociologia da literatu­ Husserl e Heidegger, que influenciaram consideravelmente o seu pensa­
ra, e Adorno fez o mesmo, no primeiro de dois artigos, em relação à mú­ mento. Nessa fase, Marcuse estreou no texto impresso, publicando artigos
sica.'º Os dois ensaios restantes versaram sobre a dimensão psicológica das nos Philosophische Hefte [Cadernos filosóficos], de Maximilian Beck, e em
pesquisas sociais: um do próprio Horkheirner, sobre "História e psicolo­ Die Gesellschaft [A sociedade], de Rudolf Hilferding. Seu primeiro livro,
gia",81 e o segundo de um novo membro do lnstitut, Erich Frornrn. 82 (Urna A ontologia de Hegel e a fundação de uma teoria da historicidade, 84 foi
abordagem completa da integração da psicanálise pelo Institut e de seu publicado em 1932, trazendo as marcas de seu orientador, Heidegger,
marxismo hegelianizado é apresentada no capítulo 3.) Lõwenthal, que era para quem o texto fora preparado como Habilitationsschrift. Antes que
amigo de Frornrn desde 1918, apresentou-o corno um dos três psicanalis­ Heidegger pudesse aceitar Marcuse como assistente, as relações entre os
tas introduzidos no círculo do Institut no começo da década de 1930. Os dois ficaram abaladas; as divergências políticas entre o aluno de orienta­
outros foram Karl Landauer, diretor do Instituto Psicanalítico de Frank­ ção marxista e o professor cada vez mais direitista contribuíram para
furt, e Heinrich Meng. As contribuições de Landauer para o Zeitschrift isso, sem dúvida. Sem perspectiva de emprego em Freiburg, Marcuse dei­
restringiram-se à seção de críticas. (No primeiro número, ele ficou em óti­ xou a cidade em 1932. O Kurator da Universidade de Frankfurt, Kurt
ma companhia: entre os outros críticos estavam Alexandre Koyré, Kurt Riezler, solicitado por Husserl a interceder por Marcuse, recomendou-o
Lewin, Karl Korsch e Wilhelrn Reich.) Meng, apesar de mais interessado a Horkheimer.
em higiene mental do que em psicologia social, ajudou a organizar semi­ No segundo número do Zeitschrift, Adorno fez urna crítica de A on­
nários e contribuiu com resenhas de assuntos relacionados com os inte­ tologia de Hegel e julgou promissor seu movimento de afastamento de
resses do Institut. Heidegger. Marcuse, escreveu, tendia a se distanciar de "'o significado
Com a introdução da psicanálise no !nstitut, a era Grünberg clara­ do ser', rumo a uma abertura para o ser-no-mundo [Seienden], saindo da
mente chegou ao fim. Em 1932, a publicação de um Festschrift, 83 prepara­ ontologia fundamental para a filosofia da história, e da historicidade
do por ocasião do septuagésimo aniversário de Grünberg no ,ano anterior, [Geschichtlichkeit] para a história". 85 Embora Adorno achasse que ainda
deu outros indícios dessa transição. Pollock, Horkheimer, Wittfogel e havia algum terreno a ser percorrido para que Marcuse se livrasse por
Grossmann contribuíram com artigos, mas a maioria dos trabalhos foi es­ completo do jugo de Heidegger, parecia boa a possibilidade de uma inte­
crita por amigos mais velhos dos tempos vienenses de Grünberg, como gração bem-sucedida de sua abordagem da filosofia com a do Institui.
Max Beer e Max Adler. A mudança, que isso simbolizava, recebeu um im­ Horkheimer concordou. Em 1933, Marcuse sornou-se aos integrantes
pulso adicional com a aceitação de um novo membro no fim de 1932 -­ do Institut que se comprometiam com uma compreensão dialética e não
Herbert Marcuse, que viria a se tornar um dos principais expoentes da teo­ mecanicista do marxismo. Foi imediatamente nomeado para o escritório
ria crítica. de Genebra.
Marcuse nasceu em 1898 em Berlim, numa família de prósperos judeus
assimilados, corno a maioria dos outros. Depois de concluir o serviço mi­ Com a tornada do poder pelos nazistas, em 30 de janeiro de 1933, o
litar durante a guerra, envolveu-se por um breve período na política, num futuro de urna organização confessadamente marxista, quase exclusi­
Conselho de Soldados em Berlim. Em 1919, deixou o Partido Socialderno­ vamente composta por homens de ascendência judaica - pelo menos
crata, ao qual se filiara dois anos antes, em protesto contra sua traição ao segundo os padrões nazistas-, era obviamente sombrio. Horkheirner ha­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 1 ·A CRIAÇÃO DO INSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

via passado a maior parte de J 932 em Genebra, onde adoecera com difte­ nale de Recherches Sociales [Sociedade Internacional de Pesquisas Sociais],
ria. Pouco antes de Hitler assumir o poder, ele retornou a Frankfurt e, com tendo Horkheimer e Pollock como "presidentes"; Lówenthal, Fromm e
a mulher, se mudou da casa em que moravam, no subúrbio de Kronberg, Sternheim foram nomeados seus sucessores no ano seguinte. 88 Nesse mo­
para um hotel próximo à estação ferroviária. Durante fevereiro, o último mento, a "Escola de Frankfurt" passou a ser não apenas suíça, mas tam­
mês do semestre de inverno, suspendeu as aulas de lógica para falar sobre bém francesa e inglesa, à medida que os oferecimentos de ajuda vindos de .
a questão da liberdade, que se tornava a cada dia mais duvidosa. Em mar­ amigos em Paris e em Londres levaram à fundação de pequenas sucursais
ço, ele escapuliu para a Suíça pela fronteira, no exato momento em que o nessas cidades, em 1933. Celestin Bouglé, ex-aluno de Durkheim e diretor
Institut era fechado, por suas "tendências hostis ao Estado''. A maior parte do Centro de Documentação da École Normale Supérieure desde 1920, su­
da biblioteca do Institut no prédio da Victoria-Allee, que então somava geriu a Horkheimer que seria possível encontrar algum espaço para o
mais de 60 mil volumes, foi confiscada pelo governo; a transferência dos Institut na Rue d'Ulm. Apesar de ter uma visão política proudhoniana (era
recursos, dois anos antes, impediu um confisco similar das finanças da adepto do Partido Socialista Radical) e, portanto, não simpatizar com a
organização. No dia 13 de abril, Horkheimer teve a honra de ser um dos feição marxista do trabalho do lnstitut, Bouglé dispôs-se a esquecer a po­
primeiros integrantes do corpo docente a ser formalmente demitido de lítica, ao considerar a situação aflitiva do Institut. Maurice Halbwachs,
Frankfurt, junto com Paul Tillich, Karl Mannheim e Hugo Sinzheimer. 86 outro durkheimiano ilustre, que na época estava em Estrasburgo, e Geor­
A essa altura, toda a equipe oficial do Institut havia deixado Frankfurt. ges Scelle, que lecionava direito em Paris, quando não estava em Haia
A única exceção foi Wittfogel, que voltou da Suíça para a Alemanha e, por como advogado francês no Tribunal Internacional, ligaram-se a Bouglé
suas atividades políticas, foi enviado a um campo de concentração em como co-patrocinadores da mudança. Outro apoio veio de Henri Bergson,
março. Sua segunda mulher, Olga Lang (nascida Olga )offé), que também que guardava uma boa impressão do trabalho do Institut. Em Londres,
viria a se tornar especialista em assuntos chineses e assistente do Institut, uma proposta semelhante foi feita por Alexander Farquharson, editor da
trabalhou pela libertação de Wittfogel, assim como fizeram amigos como Sociological Review, que pôde oferecer algnns cômodos no Le Play House.
R. H. Tawney, na Inglaterra, e Karl I-Iaushofer, na Alemanha. Wittfogel foi Sidney Webb, R. H. Tawney, Morris Ginsberg e Harold Laski, todos acres­
finalmente libertado em novembro de 1933, recebendo permissão para centaram suas vozes à de Farquharson. Montou-se um pequeno escritó­
emigrar para a Inglaterra. Pouco depois, uniu-se aos outros nos Estados rio, que durou até que a falta de verbas obrigon a fechá-lo, em 1936.
Unidos. Adorno, cuja ação política não era tão controvertida quanto a Entrementes, a editora do Zeitschrift em Leipzig, a C. L. Hirschfeld, in­
de Wittfogel, manteve residência na Alemanha, embora tenha ficado a formou a Horkheimer que não mais poderia arriscar-se a dar continuida­
maior parte dos quatro anos seguintes na Inglaterra, estudando no Merton de à publicação. Bouglé sugeriu como substituta a Librairie Felix Alcan,
College, em Oxford. Grossmann passou três anos refugiado em Paris e foi em Paris. Isso se revelou aceitável e foi estabelecida uma ligação que du­
passar mais um, muito infeliz, na Inglaterra em 1937, antes de finalmente rou até 1940, quando, mais uma vez, os nazistas conseguiram intimidar a
seguir para os Estados Unidos. Lówenthal só permaneceu em Frankfurt editora do Zeitschrift.
até o dia 2 de março, quando seguiu Marcuse, Horkheimer e outros inte­ Em setembro de 1933 foi publicado o primeiro número parisiense do
grantes do Institut rumo a Genebra; foi o último a partir antes do fecha­ Zeitschrift. O período inicial do Institut, na Alemanha, chegara ao fim. Na
mento da organização. Pollock já estava no exílio quando os nazistas che­ breve década decorrida desde a sua fundação, ele havia reunido um gru­
garam ao poder, embora não soubesse que isso duraria quase duas décadas po de jovens intelectuais com talentos variados, dispostos a coordená-los
e se estenderia a dois continentes. a serviço das pesquisas sociais, tais como concebidas pelo Institut. Como
Em fevereiro de 1933, a sucursal de Genebra, com um conselho de vimos, os primeiros anos em Frankfurt foram dominados pelas idéias de
21 membros," tornou-se o centro administrativo do Institut. Em reconhe­ Grünberg, mas, sob a direção dele, o lnstitut ganhou solidez estrutural e
cimento de seu caráter europeu, ele adotou o nome de Société Internatio­ se firmou na vida intelectual de Weimar. Apesar de se concentrar nas

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pesquisas, ele ajudou a formar estudantes do calibre de Paul Baran, 89 que, um dos pais era judeu). Embora este não seja o local para um debate sobre
em 1930, trabalhou no projeto de um segundo volume do estudo de os judeus radicais da República de Weimar, cabe tecer alguns comentários.
Pollock sobre a economia soviética. Hans Gerth, Gladys Meyer e Josef Como vimos, um dos argumentos empregados por Felix Weil e Pollock
Dünner foram outros estudantes dos anos anteriores à emigração que de­ para persuadir o Weil sênior a fazer uma doação para o Institut tinha sido
pois tiveram impacto nas ciências sociais norte-americanas. (Dünner, con­ a necessidade de estudar o anti-semitismo na Alemanha. No entanto, esse
vém assinalar de passagem, escreveu um roman à clefem 1937, intitulado trabalho só começou, de fato, na década de 1940. Se quiséssemos caracte- ·
Se eu te esquecer... , no qual aparecem figuras do Institut sob pseudôni­ rizar a atitude geral do Institut para com a questão judaica, seria preciso
mos.)90 Além disso, todos os integrantes do Institut participaram ativa­ vê-la como semelhante à expressa por outro judeu radical quase um sé­
mente das discussões sobre o futuro do socialismo, o que atraiu lumina­ culo antes: Karl Marx. Em ambos os casos, a questão religiosa ou étnica
res de Frankfurt, como Hendrik de Man e Paul Tillich. A independência ficou claramente subordinada à social. Em Diimmerung, Horkheimer ata­
proporcionada pela generosidade de Hermann Weil permitiu que a insti­ cou os capitalistas judeus que eram contra o anti-semitismo simplesmen­
tuição não fosse estorvada por obrigações políticas ou acadêmicas, mes­ te porque representava uma ameaça econômica. "A disposição de sacrifi­
mo depois da morte dele, em 1927. Garantiu também a continuação da car a vida e a propriedade em nome da fé'', escreveu, "fica para trás com a
identidade do Institut no exílio, numa época em que outros estudiosos ale­ base material do gueto. Para o judeu burguês, a hierarquia dos bens não é
mães refugiados foram submetidos à tensão de se restabelecerem em ter­ judaica nem cristã, mas burguesa. [... ] O revolucionário judeu, assim como
ras estrangeiras, sem respaldo financeiro. Outros 100 mil dólares de con­ o 'ariano', arrisca a própria vida em nome da liberdade da humanidade." 91
tribuição oferecidos por Felix Weil, quando ele se religou ao Institut em Outra prova de que a opressão específica contra os judeus não era enfati­
Nova York em 1935, ajudaram a manter a segurança financeira da insti­ zada, em contraste com a opressão social, foi a indiferença ao sionismo
tuição durante toda a década de 1930.
como solução para os problemas judaicos.92
O sentimento de um destino compartilhado e de um propósito co­
Na verdade, os membros do Institut ansiavam por negar qualquer im­
mum, que aparece ao observador como uma das principais característi­
portância a suas raízes étnicas, uma posição que, na maioria dos casos, não
cas do !nstitut - especialmente depois que Horkheimer se tornou dire­
se desgastou com o tempo. Weil, por exemplo, em extensa correspondên­
tor-, pôde transferir-se para suas novas sedes, em parte, graças à sorte
cia comigo, rejeitou ardorosamente qualquer sugestão de que a judeidade
financeira da entidade. A intenção dos membros fundadores fora criar
- definida em termos religiosos, étnicos ou culturais - tivesse tido a
uma comunidade de estudiosos cuja solidariedade servisse como uma
antevisão microcósmica da fraterna sociedade do futuro. O Zeitschrift, menor influência na escolha dos membros do Institut ou no desenvolvi­
como dissemos, ajudou a consolidar o sentimento de identidade grupal, e mento de suas idéias. Também insistiu em que a assimilação dos judeus
a experiência comum do exílio forçado e do reencontro no exterior con­ em Weimar tinha chegado a tal ponto que "a discriminação contra os ju­
tribuiu consideravelmente para isso. Dentro do lnstitut, um grupo ainda deus se retraíra inteiramente para o 'nível do clube social"'.93 Assim, odes­
menor se havia formado em torno de Horkheimer, composto por Pollock, caso do lnstitut pela questão judaica justificava-se pelo desaparecimento
Lõwenthal, Adorno, Marcuse e Fromm. O núcleo das realizações do lns­ do problema, na prática. O fato de o Institut ter sido fundado um ano de­
titut nasceu do trabalho deles, enraizado na tradição predominante da pois do assassinato de Walter Rathenau, ministro das Relações Exteriores
filosofia européia, aberto às técnicas empíricas contemporâneas e orien­ da Alemanha, basicamente por causa de suas raízes étnicas, não parece ter
tado para as questões sociais do momento. causado nenhum impacto pessoal nos judeus "assimilados" ligados ao
Institut. Wittfogel, um de seus integrantes gentios, confirmou essa cegueira
Quando se busca um fio comum que perpasse as biografias individuais geral afirmando ter sido, ele mesmo, uma das poucas exceções que reco­
do círculo interno, o que vem à mente de imediato é que nasceram em nheciam a precariedade da situação dos judeus, inclusive dos mais assi­
famílias judias de classe média ou média-alta (no caso de Adorno, apenas milados.94 O que impressiona o observador atual é a veemência com que

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muitos membros do lnstitut negaram - e, em alguns casos, ainda negam mos que nos voltar para explicações de cunho sociológico ou cultural mais
- que sua identidade judaica tenha tido qualquer significado. Os judeus amplo. Em seu recente estudo dos literatos predominantemente judeus e
alemães assimilados surpreenderam-se com a facilidade com que a socie­ esquerdistas que escreveram para o jornal berlinense Die Weltbühne [A tri­
dade alemã aceitou as medidas anti-semitas dos nazistas. Em alguns ca­ buna mundial], Istvan Deak teve que fazer perguntas similares às surgidas
sos, a ilusão a esse respeito foi uma característica que persistiu até a guer­ em um estudo sobre a Escola de Frankfurt. Ele assinalou, com acerto, que
ra. Até um realista obstinado como Franz Neumann pôde escrever, em a alta percentagem de judeus na esquerda da República de Weimar ­
Behemoth, que "o povo alemão é o menos anti-semita de todos".95 Essa ava­ 0 círculo do Weltbühne era muito maior que o do Institui, mas a mesma
liação da situação parece ter sido corroborada por quase todos os seus correlação existia - não foi mera coincidência. Deveu-se, em suas pala­
colegas do Institut. vras, "a um desdobramento específico: o reconhecimento de que as car­
Diante da veemente rejeição do significado da judeidade nas origens reiras comerciais, artísticas ou científicas não ajudavam a solucionar o pro­
de cada um, sô nos resta investigar de que formas indiretas essa caracte­ blema judaico e de que a Alemanha de Weimar tinha de passar por uma
rística pode ter desempenhado algum papel. O impacto geral do judaís­ tremenda transformação para que o anti-semitismo alemão chegasse ao
mo como sistema de crenças parece ter sido desprezível. As duas possíveis fim". 98 No entanto, os membros da Escola de Frankfurt negam ter reco­
exceções a isso foram Leo Lõwenthal e Erich Fromm, pois ambos tinham nhecido isso em algum momento. "Nenhum de nós", escreveu Pollock, "até
sido militantes do grupo que abrangia a Frankfurt Lehrhaus.' Lõwenthal os últimos anos antes de Hitler, tinha qualquer sentimento de inseguran­
fora um dos colaboradores que contribuíram para o Festschrift*' dedicado ça proveniente de nossa ascendência étnica. Alguns cargos no serviço pú­
ao rabino Nobel em 1921, escrevendo sobre o demoníaco na religião. 96 Ele blico e no mundo dos negócios nos eram vedados, a menos que nos dis­
continuou a encontrar meios de aparecer nas páginas de publicações como puséssemos a aceitar o batismo, mas isso nunca nos incomodou. Muitas
a Frankfurter Israelitisches Gemeindeblatt ainda em 1930, embora, nessa dessas barreiras tinham sido removidas na República de Weimar:' 99 Assim,
época, já tivesse deixado para trás sua fase realmente religiosa. Apesar é difícil atribuir o radicalismo deles a uma percepção consciente do socia­
disso, seria difícil, em qualquer ocasião, encontrar ecos do interesse de lismo como a única solução para um sentimento de opressão étnica.
Lowenthal pelo judaísmo no trabalho que realizou para o Institut. Fromm, Não obstante, apesar de todas as suas afirmações acerca da assimilação
por outro lado, foi muitas vezes caracterizado como alguém que preser­ total e da inexistência de discriminação em Weimar, não se pode evitar a
vou versões laicas de temas judaicos em sua obra, mesmo depois de ter sensação de que eles protestavam demais. Se a República de Weimar era
deixado a ortodoxia, em meados da década de 1920.97 Teceram-se compa­ mesmo um ambiente em que o anti-semitismo estava desaparecendo, o
rações freqüentes entre sua obra e as de outros membros do grupo da que em si parece questionável, convém lembrar que todos os membros do
Lehrhaus, particularmente Martin Buber. O que foram essas semelhanças Institui cresceram antes da Primeira Guerra Mundial, numa Alemanha
ficará mais claro no capítulo 3. Apenas Lõwenthal e Fromm (ao lado de muito diferente. Até os judeus mais assimilados da Alemanha guilhermi­
Walter Benjamin, que viria a escrever para o Zeitschrift em anos posterio­ na deviam sentir-se meio separados de seus conterrâneos gentios, e che­
res) mostraram em algum momento um interesse real pelas questões teo­ gar à maturidade nesse clima deve ter deixado alguma marca. O sentimen­
lôgicas judaicas. Para os outros, o judaísmo era um livro fechado. to de estar encenando um papel que os judeus, ansiosos por esquecer suas
Se o conteúdo intelectual manifesto do judaísmo não desempenhou origens, devem ter vivenciado só pode ter deixado um resíduo de amar­
nenhum papel no pensamento da maioria dos membros do Institui, te­ gura capaz de alimentar com facilidade uma crítica radical da sociedade
como um todo. Não queremos dizer com isso que o programa do Institui
* Instituição criada ern 1920 pelos pensadores judeus Franz Rosenzweig e Martin Buber,
pioneira na moderna educação de adultos. Os participantes ensinavam e aprendiam ao
possa ser atribuído em termos exclusivos, ou sequer predominantes, às raí­
mesmo tempo. [N.T.] zes étnicas de seus membros, mas apenas argumentar que ignorar com­
** Publicação comemorativa, feita em homenagem a alguém. [N.T.] pletamente tais raízes é perder de vista um dos fatores contributivos.

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALt.TICA CAPÍTULO 1 ·A CRIAÇÃO DO INSTJTUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

Uma vez nos Estados Unidos, podemos assinalar entre parênteses, os ganhar dinheiro-, e o pai se dispunha então a admitir que essa era uma
membros do lnstitut tornaram-se mais sensíveis à questão judaica. Ador­ desculpa válida para o filho não ganhar a vida." 103 Como em tantos ou­
no, por exemplo, foi solicitado por Pollock a abandonar o sobrenome tros aspectos, Benjamin foi uma exceção a essa regra e seu pai se recusou
Wiesengrund, pois havia um excesso de sobrenomes que pareciam ju­ a sustentá-lo, mas isso não aconteceu com os outros. Hermann Weil po­
daicos no roster do lnstitut. 100 Paul Massing, um dos poucos gentios do dia ser um comerciante bem-sucedido de cereais na Argentina, mais in­
grupo, disse que sna não-judeidade foi um fator pequeno, mas ainda as­ teressado nos lucros do que na revolução, porém se dispôs a sustentar o
sim significativo, que ajudou a mantê-lo separado dos colegas. 101 Parado­ radicalismo do filho com considerável generosidade. A relação de Hork­
xalmente, a assimilação foi mais difícil nos Estados Unidos do que tinha heimer com os pais também não parece ter sido permanentemente preju­
sido na Alemanha pré-nazista, pelo menos segundo o que sentiram mui­ dicada depois do atrito inicial decorrente da decisão de não seguir os pas­
tos membros do Institut. sos do pai na indústria. 104 O único período real de desavença ocorrido
Além da explicação sociológica do efeito de suas origens, há também entre eles veio depois que Horkheimer se apaixonou pela secretária do pai,
uma explicação cultural. Jürgen Habermas afirmou recentemente que exis­ gentia e oito anos mais velha. Os dois se casaram em março de 1926, mais
te uma semelhança notável entre algumas linhas da tradição cultural ju­ ou menos na mesma época em que ele começou a lecionar na universida­
daica e a do idealismo alemão, cujas raízes foram reconhecidas, muitas de. Como recordou Pollock, "os atritos entre Horkheimer e os pais foram
vezes, no pietismo protestante. 102 Uma semelhança importante, parti­ temporários. [... ] Passados alguns anos de distanciamento, houve uma re­
cularmente crucial para a compreensão da teoria crítica, é a antiga idéia conciliação completa. Maidon Horkheimer foi aceita com a mais sincera
cabalista de que a fala, e não as imagens, é a única maneira de nos apro­ cordialidade". 105 Foi muito mais difícil os pais de Horkheimer se acostu­
ximarmos de Deus. A distância entre o hebraico, a língua sagrada, e a fala marem com a idéia de ele se casar com uma gentia do que com o fato de
profana da Diáspora exercia um impacto sobre os judeus, que descon­ se tornar um revolucionário.
fiavam do universo corrente do discurso. Isso, afirmou Habermas, tem Com efeito, pode-se argumentar que o forte tom ético da teoria crítica
um paralelo na crítica idealista da realidade empírica, que atingiu o auge resultou da incorporação dos valores que tendiam a ser abraçados em uma
na dialética hegeliana. Embora não se possa traçar uma linha muito exa­ família judia unida. De qualquer modo, há poucas indicações de que os
ta dos antecedentes judaicos da Escola de Frankfurt até sua teoria dialéti­ integrantes do Institui tenham transferido a rejeição da mentalidade mer­
ca, talvez existisse de fato uma predisposição. O mesmo se poderia dizer cantil de seus pais para uma franca revolta pessoal. Apesar das fervorosas
da rápida aceitação da psicanálise, que se revelou especialmente simpática expressões de solidariedade com o proletariado, manifestas em todo o seu
aos intelectuais judeus assimilados. (Isso não quer dizer, é claro, que o trabalho na fase anterior à emigração, nenhum integrante do lnstitut ado­
freudismo tenha sido uma "psicologia judaica'; como disseram os nazis­ tou o estilo de vida da classe trabalhadora.
tas; apenas sugere uma filiação possível.) Em parte alguma os sentimentos revolucionários foram tão claramen­
Outro fator importante deve ser mencionado. Na própria comunidade te articulados quanto na obra de "Heinrich Regius", o nome que Hork­
judaica alemã, era comum travar-se uma batalha entre o pai e os filhos heimer tomou emprestado de um filósofo natural do século XVII para co­
varões em torno do conteúdo do judaísmo e do futuro do povo judeu. Às locar na página de rosto dos aforismos que publicou em Zurique, no
vezes, a solução aparecia de maneiras peculiares. Em seu ensaio sobre primeiro ano de exílio. Contudo, foi num dos textos do Diimrnerung,
Walter Benjamin, cujo conflito com o pai foi particularmente acirrado, "Uma fábula sobre a consistência", que ele justificou implicitamente a
Hannah Arendt escreveu: "Em geral, esses conflitos eram resolvidos pela combinação das crenças radicais com um padrão de vida burguês. Na fá­
alegação dos filhos varões de serem gênios, ou, no caso de numerosos co­ bula, dois poetas pobres são convidados a aceitar um estipêndio conside­
munistas de famílias abastadas, de serem dedicados ao bem-estar da hu­ rável de um rei tirânico que valoriza o trabalho deles. Um fica perturbado
manidade - ou, pelo menos, de aspirarem a coisas mais elevadas do que com a conspurcação trazida pelo dinheiro. "Você é incoerente", responde

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 1 ·A CRIAÇÂO DO INSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

o outro. "Se é nisso que acredita, deve continuar a passar fome. Quem se realizá-la concretamente. Nos capítulos seguintes veremos as vantagens e
sente identificado com os pobres deve viver como eles:"º' Concordando, desvantagens disso.
o primeiro poeta rejeita a oferta do rei e passa fome. Pouco depois, o ou­
tro se torna o poeta da corte. Horkheimer conclui seu "conto de fadas" A prudente transferência dos recursos do lnstitut para a Holanda, em
com uma advertência: "Ambos arcaram com as conseqüências, e ambas as 1931, permitiu continuar o trabalho sem muita interrupção. O prin1eiro
conseqüências favoreceram o tirano. Para a prescrição moral geral da coe­ ano em Genebra foi um período de adaptação, mas não de estagnação.
rência parece haver uma condição: ela é mais favorável aos tiranos do que O projeto sobre as atitudes dos operários e empregados não foi seriamen­
aos poetas pobres."' 07 Assim, os membros do Institui podem ter sido im­ te prejudicado. Andries Sternheim, um socialista holandês que tinha vín­
placáveis na hostilidade ao sistema capitalista, mas nunca abandonaram o culos com o movimento trabalhista, foi recomendado a Horkheimer por
estilo de vida da haute bourgeoisie. Seria fácil chamar esse comportamen­ alguém do escritório de Albert Thomas como um membro em potencial.
to de elitista ou "mandarínico" ·- dando ao termo de Grünberg nm sen­ Em Genebra, foi admitido como assistente e, após a partida de Pollock
tido ligeiramente diferente -, como fizeram alguns detratores do grupo. para os Estados Unidos, tornou-se o diretor da sucursal. Apesar de ter aju­
Mas parece improvável que o rejuvenescimento da teoria marxista, para o dado bastante na coleta de material para o projeto, fez poucas contribui­
qual eles contribuíram tão amplamente, pudesse ter sido promovido pela ções para o trabalho teórico do lnstitut, à parte algumas colaborações para
decisão de usar bonés de tecido. o estudo do lazer na sociedade moderna. 108
Pode-se argumentar que a teoria crítica teria sido enriquecida se os Ocasionalmente atrapalhado pelos problemas de adaptação a uma nova
integrantes do Institut se houvessem envolvido mais intimamente na editora, o Zeitschrift continuou a sair regularmente. Novos nomes foram
prática política. O exemplo de Lukács sugere, sem dúvida, que havia ar­ acrescentados ao roster dos colaboradores anteriores. George Rusche es­
madilhas no apego muito estreito a tal ou qual facção. Do outro lado da creveu sobre a relação entre o mercado de trabalho e a punição criminal,'ºº
balança, porém, temos o caso do marxista italiano Antonio Gramsci, cuja antecipando um livro que depois publicou, com a ajuda de Otto Kirch­
experiência política, antes de ser preso por Mussolini em 1926, sempre ser­ heimer, sob os auspícios do Institui. Kurt Mandelbaum (amiúde sob os
viu para conferir ao seu trabalho teórico uma qualidade concreta que em pseudônimos de Kurt ou Erich Baumann) e Gerhard Meyer acrescenta­
alguns casos faltou à Escola de Frankfurt. Em certo sentido, podemos di­ ram artigos sobre economia àqueles escritos por Pollock e Grossmann. 110
zer que o Institut começou a experimentar o exílio antes de ser efetiva­ Algumas contribuições periódicas vieram da sucursal de Paris, que atraiu
mente expulso pelos nazistas. Após o fracasso da revolução alemã, seus assistentes da competência de Raymond Aron e Georges Friedmann. Paul
membros, pelo menos os que cercavam Horkheimer, alienáram-se de to-· Ludwig Landsberg, um filósofo que despertou no Institut grandes espe­
das as facções políticas da esquerda. O SPD foi tratado com o desdém que ranças, destroçadas por seu assassinato pelos nazistas, escreveu sobre a
merecia por sua capitulação covarde diante do status quo - na verdade, ideologia e a pseudociência raciais.'" Algumas questões norte-americanas
poderíamos dizer que a traição do SPD [socialdemocratas] à classe traba­ foram abordadas por Julian Gumperz numa série de artigos. 112 Com isso,
lhadora coloriu a desconfiança posterior da Escola de Frankfurt em rela­ a expressão ('internacional", que aparecia na nova denominação do Institut,
ção a todas as soluções "moderadas". O KPD [comunistas] revelou-se igual­ ficou claramente evidenciada nas páginas do Zeitschrift.
mente reprovável por sua visível dependência de Moscou e por sua falência Esse caráter internacional logo passou a significar muito mais, à medi­
teórica. E as tentativas patéticas de intelectuais esquerdistas como Kurt da que o Institui começou a procurar uma nova sede em outro local. Ape­
Hiller e Carl von Ossietzk:y de transcender as diferenças dos dois partidos, sar de reconhecerem sua utilidade, Horkheimer e os outros nunca enca­
ou de oferecer uma alternativa viável, foram rejeitadas como projetos fan­ raram a sucursal de Genebra como um centro permanente dos assuntos
tasiosos, que logo comprovaram ser. O resultado foi que a Escola de Frank­ do Institui. Em maio de 1933, Grossmann havia expressado uma angústia
furt preferiu a pureza de sua teoria à filiação que seria exigida se tentasse que todos compartilhavam, ao escrever para Paul Mattick, nos Estados

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 1 ·A CRIAÇÃO DO INSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

Unidos, que "o fascismo também vem fazendo grande progresso na Suíça, nem mesmo por Grossmann, que fez uma viagem curta e malsucedida a
e os novos perigos ameaçam nosso Institut nesse país". 113 Pol!ock fez uma Moscou em meados da década de 1930, ou por Wittfogel. A única possi­
viagem a Londres em fevereiro de 1934, a fim de avaliar a possibilidade de bilidade séria que restou foram os Estados Unidos. Julian Gumperz foi
estabelecer o Institut na Inglaterra, mas as negociações com Sir William enviado a esse país em 1933, para sondar a situação. Gumperz era aluno
Beveridge, diretor da London School of Economics, e com Farquharson e de Pollock desde 1929 e, em certa época, fora membro do Partido Comu­
seus colegas do Instituto de Sociologia convenceram-no de que essa so­ nista, embora, posteriormente, tenha desistido de tudo, tornando-se cor­
lução era improvável. Estão bem registradas .as oportunidades restritas retor de ações e escrevendo um livro anticomunista na década de 1940; !la
que havia na Inglaterra para os estudiosos refugiados que começaram a ele havia nascido nos Estados Unidos e era fluente em inglês. Voltou da
fluir da Alemanha em 1933. n' Das pessoas associadas ao Institut, apenas viagem com um relatório favorável, assegurando a Horkheimer e aos ou­
Borkenau escolheu Londres como local de residência permanente no exí­ tros que os recursos do Institut, que ainda rendiam cerca de 30 mil dóla­
lio. Ele conseguiu um cargo em que lecionava política internacional no res por ano, seriam suficientes para garantir a sobrevivência em um país
setor de educação de adultos da Universidade de Londres. Anos depois, ainda mergulhado na depressão econômica.
licenciou-se para visitar a Espanha durante a Guerra Civil, o que confir­ Ao longo dos anos, o Institut havia feito vários contatos com figu­
mou sua já profunda antipatia pelo comunismo e produziu um dos estu­ ras proeminentes do mundo acadêmico norte-americano, como Charles
dos clássicos sobre a guerra, A rinha espanhola. 115 A essa altura, seus vín­ Beard, Robert Maclver, Wesley Mitchell, Reinhold Niebuhr e Robert Lynd.
culos com o Institut já tinham sido rompidos, exceto por um último Todos estavam na Universidade Colúmbia. Assim, quando Horkheimer fez
ensaio nos Studien über Autorítiit und Familie [Estudos sobre a autorida­ sua primeira viagem aos Estados Unidos, em maio de 1934, conseguiu ter
de e a família], em !936. 116 acesso a Nicholas Murray Butler, reitor de Colúmbia. Para sua grande sur­
Em Paris, onde o meio acadêmico era ainda mais impenetrável do que presa, Butler ofereceu ao Institut a filiação à universidade e uma sede em
na Inglaterra, as perspectivas pareciam igualmente limitadas. Paul Honig­ um de seus prédios, na Rua 117 Oeste, n° 429. Horkheimer, que não do­
sheim, que fugiu de Colônia e se tornou diretor da sucursal parisiense do minava bem o inglês, ficou temeroso de não ter compreendido Butler cor­
lnstitut, descreveu a fria recepção que costumava acolher os emigrados na retamente, e por isso lhe escreveu uma carta de quatro páginas pedindo
França: que ele esclarecesse e confirmasse a oferta. A resposta de Butler foi lacôni­
O intelectual francês típico, que queria segurança e um futuro previsível ca: "O senhor me entendeu perfeitamente!""' Assim, o Instituto Interna­
para si e sua família, achou que seu estilo de vida estava sendo ameaçado cional de Pesquisas Sociais, por mais revolucionário e marxista que se hou­
pelos malditos intelectuais alemães que não gastavam tempo tomap.do ape­ vesse afigurado na Frankfurt da década de 1920, veio a se estabelecer no
ritivos co1n os amigos e trabalhavam duas vezes mais que os franceses. Tra­ centro do mundo capitalista, a cidade de Nova York. Marcuse chegou em
balhavam em nome de Deus, ou, quando não eram devotos de urna reli­
gião, em nome do trabalho, o que, para o verdadeiro estudioso alemão, é
julho, Lõwenthal em agosto, Pollock em setembro e Wittfogel, pouco de­
quase a mesma coisa. Por conseguinte, en1 contraste coln a atitude solidária pois. Fromm estava desde 1932 nos Estados Unidos, para onde tinha ido
que havia nos Estados Unidos, os franceses não receberam de bom grado a atendendo a um convite para dar aulas no Instituto de Psicanálise de
no1neação de pesquisadores alemães em seu meio. Era preciso coragem para Chicago. Esses homens estiveram entre os primeiros a chegar na onda de
trabalhar abertamente a favor dos refugiados alemães. 117 intelectuais refugiados da Europa Central que tanto enriqueceram a vida
Bouglé, Halbwachs e seus colegas, frisou Honigsheim, tinham essa co­ cultural norte-americana nas décadas seguintes. 120
ragem, mas eram uma pequena minoria; por isso, a França foi excluída A transição não se deu sem dificuldades. Mesmo assim, em compara­
como possível nova sede do Institut. ção com os membros da "universidade no exílio" de Alvin Johnson, da
Apesar da imagem marxista do Institut, a idéia de um deslocamento Nova Escola de Pesquisas Sociais, que não dispunham de recursos finan­
para o leste, para a Rússia de Stalin, nunca foi seriamente contemplada, ceiros, ou que os tinham em pequena escala para facilitar a reinstalação,

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 1 ·A CRIAÇAO DO INST!TUT FÜR SOZIALFORSCHUNG

os integrantes do Institui foram afortunados. Aliás, as tensões surgidas Hitler. O único subproduto lamentável dessa decisão foi o isolamento
entre esses dois grupos de refugiados, embora parcialmente devidas a di­ parcial da comunidade acadêmica norte-americana, como seria inevitável.
vergências ideológicas, 121 foram exacerbadas pelas situações financeiras Embora o Institui tenha começado a lecionar na Divisão de Extensão de
contrastantes. Convém acrescentar, entretanto, que, em anos posteriores, Colúmbia em 1936, desenvolvendo aos poucos uma série de seminários
o Institui manteve um claro senso de responsabilidade para com refugia­ sobre diversos temas, 122 seu foco se manteve primordialmente na teoria
dos menos abastados. Quando surgiram problemas para os membros do e na pesquisa. Novamente reunido na segurança de sua nova sede em
Institui, relacionavam-se à língua e à adaptação cultural, que atormentam Morningside Heights - do círculo mais íntimo, apenas Adorno ainda
qualquer imigrante, mas não às finanças. A adaptação intelectual mais di­ permaneceu vários anos no exterior--, o Institut pôde retomar, sem gran­
fícil, como veremos, envolveu a compatibilização das pesquisas sociais pra­ de dificuldade, o trabalho que havia iniciado na Europa.
ticadas pelo Institui, fundamentadas filosoficamente, com o rigoroso viés Mesmo havendo adquirido uma circunspecção maior depois da vitó­
antiespeculativo das ciências sociais norte-americanas. O uso de técnicas ria do fascismo na Alemanha, Horkheimer e os outros continuaram rela­
empíricas norte-americanas, que os membros do Institui aprenderam no tivamente otimistas quanto ao futuro. "O ocaso do capitalismo", escreveu
exílio, foi uma importante lição levada de volta para a Alemanha depois "Heinrich Regius" [Horkheimer] em 1934, "não tem por que dar inicio à
da guerra, mas essas habilidades não foram adquiridas sem considerável noite da humanidade, a qual, sem dúvida, parece hoje constituir uma
hesitação. ameaça." 123 A intensificação de suas investigações sobre a crise do capi­
Em geral, o Institui não se mostrou particularmente ansioso por se des­ talismo, o colapso do liberalismo tradicional, a ascensão da ameaça auto­
fazer de seu passado e se tornar plenamente norte-americano. Essa relu­ ritária e outros temas correlatos pareceu ser a melhor contribuição para
tância pode ser aquilatada pela decisão de continuar a usar os serviços da derrotar o nazismo. Como sempre, seu trabalho fundamentou-se numa
editora Felix Alcan, mesmo depois de sair da Europa. O Institui achou que filosofia social cuja edificação, durante a década de 1930, foi a ocupação
teria mais facilidade para preservar o alemão como língua do Zeitschrift primordial de Horkheimer, Marcuse e, em menor grau, Adorno. Nesse
se resistisse às solicitações de seus novos colegas norte-americanos para momento, a reelaboração do marxismo tradicional tornou-se crucial. Por
publicar textos nos Estados Unidos. Embora alguns artigos saíssem oca­ isso, é para a gênese e o desenvolvimento da teoria crítica que devemos
sionalmente em inglês e francês, e houvesse resumos nessas línguas após nos voltar agora.
cada ensaio em alemão, a revista se manteve essencialmente alemã até a
guerra. Na verdade, foi o único periódico desse tipo que continuou a ser
publicado na língua que Hitler tanto vinha fazendo por degrad.ar. Nessas
condições, o Zeitschrift era visto por Horkheimer e os outros como uma
contribuição vital para preservar a tradição humanista na cultura alemã,
que estava sob ameaça de extinção. Um dos principais componentes da
auto-imagem do Institui foi esse sentimento de ser o derradeiro bastião
de uma cultura em extinção. Profundamente conscientes da relação entre
a linguagem e o pensamento, seus membros estavam convencidos de que
só continuando a escrever na língua pátria poderiam resistir à identi­
ficação do nazismo com tudo que era alemão. Ainda que a maior parte
do mundo de língua alemã não tivesse meios de obter exemplares do
Zeitschrift, o Institui se dispôs a sacrificar o público imediato em favor
de um público futuro, que, de fato, passou a existir depois da derrota de

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CAPÍTULO 2

A GÊNESE DA TEORIA CRÍTICA

Vista dos píncaros da razão, toda vida parece uma


doença maligna, e o mundo, um manicômio.
-Goethe

Desconfio de todos os sistematizadores e os evito.


A vontade de um sistema é falta de integridade.
- Nietzsche

~~da_twria_crfüq1.haviaumaaversão.aos.sisteroasJilosÇ>fjfosf~cha­
dos: Apresentá-la como um destes, portanto, distorceria seu caráter essen­

' ci~lmente aberto, investigativo e inacabado. _Nii(lfoi_ àtoa que .H.orkhei.mer

optou por articular idéias em ensaios e aforismos, e não nos volumes

-· pesãdoés qll.e eram tão característicos da filosofia alemã. Embora Adorno


eM,arcuserelutassem 111enosem falar por meio de livrouompl;;Í~s; t~m:
bém eles resistiam a transformar esses livros em exposições filosóficas po~
sitivas e sistemáticas. Em vez disso,3_t~oria crítica, como diz o nome, ex­
.Pressav_a~se por u111a série de críticas a ou_tros perisadores e tradições
fiJosóficas. Seu desenvolvimento deu-se pelo diálogo, Sua gênese foi tão
dialética quanto o método que ela propunha aplicar aos fenômenos so­
ciais. Só podemos compreendê-la plenamente se a confrontamos em seus
próprios termos, como uma crítica instigante de outros sistemas. Este ca­
pítulo tentará apresentar a teoria crític.a tal como foi inicialmente concebi.­
da na década de 1930, mediante uma interação, em contraponto, com ou­
-tras escolas de pensamento e com uma realidade social em transformação.
Levantar as origens da teoria crítica até sua verdadeira fonte exigiria
uma análise extensa da fermentação intelectual da década de 1840, talvez
a mais extraordinária da história intelectual alemã no século XIX. 1 Foi
nessa época que os sucessores de Hegel aplicaram pela primeira vez as
percepções filosóficas hegelianas aos fenômenos sociais e políticos da
Alemanha, que enveredava pelo caminho da rápida modernização. Os cha­

< 83
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA
. , , . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .CA·P·IT•UBL0
. .. 2.·A
.. l
G.tN•EBSE• .D.A•T•E•O•Rl•A•C•Rl•T•IC•A. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

mados hegelianos de esquerda logo foram eclipsados pelo mais talentoso também pelo método dialético concebido por Hegel e, tal como seus pre­
do grupo, Karl Marx. Com o tempo, a índole filosófica do pensamento de~essores, procuraram transformá-lo em direção ao materialismo...E, tal

deles, compartilhada pelo jovem Marx, foi superada por uma abordagem como n1U.itns hegelianos de esquerda, interessaram-se particularmente ell1
mais "científica" - às vezes positivista - da realidade social, tanto por explorar apossibilidade de a práxis humana transformar a ordem social.
marxistas quanto por não marxistas. 2 No fim do século XIX, a teoria so­ " --No entanto, o século decorrido desde então havia introduzido enormes
cial em geral deixara de ser "crítica" e "negativa", no sentido que explica­ mudanças, que tornaram muito diferentes as condições de sua teorização.
remos adiante. Os hegelianos de esquerda tinham sido os sucessores imediatos dos idea­
A recuperação das raízes heg~lianasdo peps_all1gn_l:~.deJl!larx.pelospró­ listas clássicos alemães. Mas a Escola de Frankfurt estava separada de Kant
priõsmarxistas foi adiada para depqis daPrill1eirn (;µerra Mundia.l, pelas e Hegel por Schopenhauer, Nietzsche, Dilthey, Bergson, Weber, Hussede
razões inicialmente explicitadas por Karl Korsch nas páginas do Grünbergs muitos outros, para não mencionar. a sistematização do próprio marxis­
Archiv em 1923. 3 ~~~-o.se form.t1laram sérias pei:guntas epistem9lógi­ mo. Como resultado, a teoria crítica teve de se afirmar contra uma profu­
cas e metodológicas sobre. a teoria marxista da sociedad~, a qual, apesar . são de concorrentes que haviam afastado Hegel desse campo. E, é claro,
· (ou talvez por causa) de suas pretensões cie~Úficas, havia degenerado em não. pôde deixar de sofrer a influência de algumas idéias deles. Mais im­
uma espécie de metafísica não muito diferente daquela que o próprio portante, porém, foi qu~_mudanças vitais nas condições sociais, econômi­
Marx se dispusera a desmantelar.. Ironicamente, a nova compreensão da cas e políticas. entre os _d()isjleríõâos tivera111
rep~ercussÕes inconfundíveis
. dívida de Marx para com Hegel, o mais metafísico dos pensadores, serviu 'lia-ressurgimento da teoria crítica. Aliás, de acordo com suas próprias pre­
para minar o outro tipo de metafísica que tinha entrado no "marxismo · - missas, isso~~ª inevitável. o~ hegelianos de esquerda escrev_er:am.em urna
vulgar" pela porta dos fundos do cientificismo.A ênfase de Hegel na cons: . Alemanha que mal começava a sentir os efeitos da modernização capita­
"l!Sia: li.~ éi)ü'Cã=-d~ í:is<:<lli'de:t:fiúlS!\iri~~º capüalismo oci<l~ 11 1a1, tendo na
- ,, , e ... - - " ' - " " - - •

ciência como constitutiva do mun_do questionou o materialismo _p_a,;;_siyQ .


dos teóricos da Segunda InternacionaL Nesse aspecto, pensadores não ·· ..Alemanha um de seus principais representantes, ha~i~ entrado em uma
marxistas, como Croce e Dilthey, haviam preparado o terreno, reatuali­ etapa qualitativamentenova,dominada por monopólios crescentes e por
zando, antes da guerra, o interesse filosófico em Hegel. Durante o mesmo ·uma intervenção governamental cad~ vez maior na
eco~omia. Os únicos
período,a ênfase de Sorel na espontaneidade e na subjetividade_tªmbém . exemplos reais de socialismo à disposição dos hegeiia~os de esquerda ti­
contribuiu para solapar o materialismo mecanicista dos adeptosortodo­ nham sido umas poucas comunidades utópicas isoladas. ~fücola..de
xos da Segunda Internacional.' No campo marxista, HiStóri~.e con~ciê~cia Frankfurt teve a ambígua experiência da União Soviética para exall1inar.
de classe, de Lukács, e Marxismoeftlosofia, deKa~l K~r~ch,f;~amos estí­ Por fim, e talvez em termos mais cruciais, os primeiros Í~óricos críticos
mulos mais influentes parn a recuperação da dimensão filosóficado mar­ viveram em uma época em que uma nova força "negativa" (isto é, revolu­
xismo no começo da década de 1920. 5.Grande parte do que eles argumen­ . cionária) na sociedade - o proletariado - começava a se agitar, uma for­
taram foi confirmado, dez anos depois, com as revelações produzidas pela ça quepodiã-se-;yista como o agente que realizada a su~ filosofia. Na <l\':
circulação dos manuscritos parisienses de Marx, desconhecidos durante ···cada de 1930, porém, os sinais da integração do proletariado à sociedade
muito tempo. quando, por essa ou aquela razão, seus esforços vacilm.m, ... . 'eram cada vez mais visíveis; para os membros do lnstitut, isso ficou ainda
a tarefa de revigorar a teoria marxista foi prÍmordiafm~J.Jt~ ;;;;;~;;:;ida pe­ . mais claro depois da emigração para os Estados Unidos. Portanto, _p,o<le:
, los jovens pensadores do Institut für Sozialforschün-g.~ .. ­ se dizer da primeirageração de teóricos crítkos da década ck l!l40 que a.
Até certo ponto, portanto, pode-se dizer que a Escola de Frankfur_L deles foi -~a crítica "imanente" da sociedade, baseada na existência de um
· reencontrou os interesses dos hêg~li~nqs de esqllel'd<lda década_<!e.}~![Q, ~ '"sujeito" histórico real. Quando de seu renascimento no século XX, a teo­
· Tal como aquela primeira geração de teóricos críticos, seusmembros se ria crítica foi cada vez mais forçada a uma posição de "transcend_ência';
interessaram pela integração
.. --- - - ---
'
da-· filosofia
' '-- -
à- análise
-,
soci~l. Inte~~aram~~~­
.. -- ·- --------.-·----- ------------ ------·
pelo enfraquecimento da classe trabalhadora revolucionária.

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 2 ·A G~NESE DA TEORIA CRITICA

Porém, os sinais ainda não estavamclaros na década de1920,9 pró­ amor antigo, e não uma apostasia de um marxismo hegelianizado de toda
prio Luk<Ícs frisou a função da classe trabalhadora.como ''s.ujeitocobjeto" a vida. Na verdade, o primeiro livro de filosofia efetivamente lido por
. da história, antes de decidir que o partido reaJm.e11t_e _r~pr,es_e_11t.axa__ .Qs Horl<lieÍm~rfZiTA.]o~ismôspara asabedària de vidCI, <leSchopenhaller, 8-qt;e
·verdadeiros I;rteressé~ dos trabalhadorçs. Como indica a passagem do -Pollock lhe dera quando os dois estudavam francês em
Bruxelas; antes da
Da;;;;;~~-;,;nidtarlâ no capítulo l, Horkheimer acreditav<lg_ll_e_<J_proleta::_ guerra. Ele e Lõwenthal tinham sido membros da Schopenhauer Gesell­
riado alemão,apesar de muito divÍdid(), não estava total111_e_11le._l11()1:Íl:i_ll!1:: schaft [Sociedade Schopenhauer] em Frankfurt, nos tempos de estudante.
do. Os membros mais jovens do Institut puderam compartilhar a convie­ l:!orkheimer também se interessava muitopor Kant nessa época; seu pri­
..ção de sua liderança, mais velha e mais ortodoxa, de que o socialismo meiro trabalho publicado foi uma análise da Crítica da faculdade clo}uiw,
ainda poderia constituir uma possibilidade verdadeira nos países avança­ d~ Kant, escrita para sua Habilitation sob a o;ientação de H~nsCornelills,
dos da Europa Ocidental. Isso se refletiu claramente no tom consistente em 1925.9
de exortação da maior parte do trabalho do Institut, no período anterior Se Horkheimer teve um mentor, foi Hans Cornelius. Como recordou
à emigração. Pollock, que també~ estudou com Cornelius, "édiÍÍcÍI ;uperestimar a in­
Depois da reinstalação do Institut na Universi~;l_de Colúmbi_a, entre, fluência [dele] em Horkheimer". 'º Isso parece ter sido verc!ac!e de l!rn
pon­
tanto, esse tom passou por uma mndapça sµtil, em uma.dirnçij9 p_çssiwis­ to de vista mais pessoal do que teórico. Embora seja difícil classificá-la, a
. ta. O,s artigos do Zeitschrift evita.raro escrupulosamente o uso d~ pal_avras 'visão filosófica de Cornelius era antidogmática, oposta ao idealismo kan­
,~om~ ({marxismo" ou {{comunismo", substituindo-as. por. '<mª_teriali.sni.9. .tiano e insistente ao destacar a importância da experiência. Seus primei­
dialético" ou "teoria materialista da sociedade". As;all_t_elaJ~QÍtot:iaLimpe-. ros escritos revelam influência de Avenarius e de Mach. Porém, em traba­
. <lLl!_a~~se__g<~sjn2pJiqç(íç_s revoltl('.i()~árias..<:le s_eu_E<!JlS_ª-.111ept_o. Na bi­ lhos posteriores, ele se afastou da crítica empírica destes e se aproximou
bliografia norte-americana do Jnstitut, 6 o título do livro de Grossmann foi mais de uma espécie de fenomenologia. 11 Quando Horkheimer se tornou
abreviado para A lei da acumulação na sociedade capita/is.ta, sem nenhu­ ~eu aluno, C:orneliu.s est~Yª 11oa11ge_da,cag~a, um "professor apaixona­
ma referência à "lei do colapso" que aparecera no originaL]l111~ do[ ... ] [que era,] sob muitos aspectos, o oposto da imagem atual do pro­
dúvida, essas mudanças se deveram à situação delicada eQ:l_'ll!.~._s_e_ylrfl!l:l fessor universitário alemão, e em forte oposição à maioria dos colegas". 12
osme;;:;b;;;dÕinstli:litem Colíimb!a.FÕrãmtambémi.!;;, reflexo c!a.aver, . Embora o jovem_ Horkheimer pareça ter absorvido a postura crí!ica_ d0
são ao tipo de marxism;q~;e o I~stit;-i\idéntific~va com a'o,Íodoida do professor, restou nele pouco da filos()fiade Cornelius, especialmente de­
campo soviético. Além disso, porém, expressaram a crescenteperda dª . -· pois que se interessou por Hegel e Marx. Mas as pieoc~p~ÇÕes cuitl1rais
confiança fundamental, tradicionalmente sentida pelos m'ª[_]{istas,r10 poc . :ht1111anistas de Cornelius parece!ll tê~lgimE<lS:ta<lo. Nascido em 1863 em
iencial revolucionário do proletariado. Munique, em uma família de compositores, pintores e atores, Cornelius
Tentando recriar uma perspectiva que pudessetomM intdigíveJªnova_ continuou a se dedicar a interesses estéticos dnrante toda a vida. Talento­
sit~~Ção, num contexto que ainda era fundamentalmente marxista, os so como escultor e pintor, fez viagens freqüentes à Itália, onde se tornou
·membros da Escola de Frankfurt tiveram a sorte de haver feito __ ~ua.fqr, perito em arte clássica e renascentista. Em 1908, publicou um estudo so­
-mação filosófica fora da tradição marxista:como -outros p~~;~dores do bre As leis elementares da arte pictórica" e, dnrante a guerra, dirigiu esco­
"século XX que contribuíram para a revitalização do marxismo - Lukács, las de arte em Munique.
Gnimsci, Bloch, Sartre, Merleau-Ponty --:-' e_J<es_ti_n_h_a_111sid.QLr1_fl_11e_ncias\.o~.. Horkheimer também foi atraído pelas tendênc_ia,s polJticas.progressisc
na etapa. inicial de suas carreiras, por filosofias !l1'1is subj~!b':i§!_a,~_g_ il.té. tas C!êCornelius, um internacionalista confesso, que se opusera ao esforço
ideaÜstas. Horkheimer, que deu o tom de todo o trabalho do Institut, in­ ae guerra alemão. Embora não fosse marxiita,~ra consideqdo UIJ1 g<i~-'11
..teressara-se por Schopenhauer e Kant, antes de ficar fascinado com Hegel 'sem meias palavras pelos membros mais conservadoresdo corpo docente
e Marx. Portanto, seu interesse por Schopenhauer na década de 1960,' ~c!~f~hf\lrtO-qÚe decerto també111- causou i!llpacio .e.!ll..fiorl<lli;irn,;r f()i . .
ao contrário do que muitas vezes se supõe, constituiu um retorno a um seu pessimismo._cultural, que ele combinava com a política progressist_a.

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 2 ·A G~NESE DA TEORIA CRÍTICA

Como relembrou Pollock, "Cornelius nunca hesitou em confessar aberta­ substantiva -, é tentador caracterizar a teoria crítica como um marxis­
mente suas convicções e sua desesperança em relação à civilização atual''. 14 mo hegelianizado. 17 No entanto, em várias questões fundamentais, Hork­
Uma amostra do tom quase apocalíptico que Cornelius adotou, compar­ heimer sempre manteve distância de Hegel. A mais básica foi sua rejeição
tilhado por muitos nos primórdios da República de Weimar, encontra-se das intenções metafísicas de Hegel e de sua afirmação de uma verdade
no esboço autobiográfico que escreveu em 1923: absoluta. "Não sei até onde os metafísicos estão certos", escreveu em
Dêimmerung. "Talvez haja em algum lugar um sistema ou fragmento me­
Os homens desaprenderam a capacidade de reconhecer o divino neles mes­
mos e nas coisas: a natureza e a arte, a fa1nília e o Estado só têm interesse tafísico particularmente arrebatador. Mas sei que os metafísicos só se
para eles co1no sensações. Por isso, sua vida flui sem sentido e sua cultura impressionam em ínfima escala com o sofrimento dos homens." 18 Além
compartilhada é vazia por dentro. Está fadada a desmoronar, pois merece disso, um sistema que tolerava todas as visões opostas como parte da "ver­
desmoronar. A nova religião) de que a humanidade necessita) emergirá ini­ dade total" tinha implicações inevitavelmente quietistas. 19 Um sistema
cialmente das ruínas dessa cultura. 15
abrangente, como o de Hegel, podia servir como uma teodicéia justifica­
O jovem Horkheimer estava menos ávido por abraçar um prognóstico dora do status quo. Na verdade, à medida que o marxismo se cristalizara
tão spengleriano, mas, com o tempo, a avaliação de Cornelius tornou-se em um sistema que afirmava ser a chave da verdade, também ele caíra
cada vez mais a sua. Na década de 1920, porém, ele ainda estava seduzido vítima da mesma doença. O verdadeiro objetivo do marxismo, argumen­
pelo potencial revolucionário da classe trabalhadora. Por isso, sua análise tava Horkheimer, 20 não era desvendar verdades imutáveis, mas fomentar
da Crítica da faculdade do juízo mostrou poucos indícios de resignação ou a mudança social.
desespero; ao contrário, demonstrou a convicção de que a práxis poderia Em outro texto, Horkheimer resumiu novas objeções à metafísica de
superar as contradições da ordem social e, ao mesmo tempo, levar a uma Hegel. 21 Sua crítica mais vigorosa foi reservada para o que talvez seja o es­
renovação cultural. De Kant, entretanto, ele retirou algumas convicções teio mais fundamental do pensamento de Hegel: a suposição de que todo
que jamais abandonaria. conhecimento é um autoconhecimento do sujeito infinito - em outras
A leitura de Kant levou Horkheimer a aumentar sua sensibilidade para palavras, de que existe uma identidade entre sujeito e objeto, mente e
a importância da individualidade, um valor que nunca deveria ficar intei­ matéria, baseada na primazia do sujeito absoluto. "O espírito", escreveu
ramente submerso às exigências do todo. Acentuou também sua aprecia­ Horkheimer, "não pode se reconhecer nem na natureza nem na história,
ção dos componentes ativos do conhecimento, o que o impediu de acei­ pois, mesmo que não seja uma abstração questionável, não será idêntico
tar a teoria da percepção como uma cópia, defendida pelos marxistas mais à realidade." 22 Na verdade, não há "pensamento" como tal, apenas o pen­
ortodoxos. O que ela não fez, porém, foi convencê-lo da inevitabilidade samento específico de homens concretos, arraigados em suas condições
dos dualismos - fenômeno e númeno, razão pura e razão prática, por socioeconômicas. Tampouco existe "ser" corno tal, e sim uma "multiplici­
exemplo-, que Kant havia postulado como intransponíveis. Ao concluir dade de seres no mundo". 23
seu estudo, Horkheimer deixou claro que, embora esses antagonismos ain­ Ao repudiar a teoria da identidade, Horkheimer também criticou im­
da não tivessem sido superados, ele não via por que não o pudessem ser. plicitamente seu reaparecimento em História e consciência de classe, de
A dualidade fundamental de Kant entre a vontade e o saber, a razão práti­ Lukács. Para este, o proletariado funcionava como sujeito e objeto da his­
ca e a razão pura, podia e devia ser conciliada. 16 Ao argumentar dessa ma­ tória, com isso atingindo a clássica meta idealista alemã de unificar a li­
neira, Horkheimer mostrou como a sua crítica de Kant havia sido influen­ berdade como realidade objetiva e como algo produzido pelo próprio ho­
ciada pela crítica feita por Hegel. Tal como Hegel, ele viu o conhecimento mem. Em anos posteriores, o próprio Lukács viria a detectar a premissa
cognitivo e os imperativos normativos) o ((é" e o ''deve ser", como insepa­ metafísica que estava subjacente no pressuposto de um sujeito-objeto
ráveis, em última instância. idêntico na história: "O proletariado, visto como sujeito-objeto idêntico
Por essa e outras semelhanças com Hegel - em questões como a na­ da história real da humanidade, é uma consumação não materialista que
tureza da razão, a importância da dialética e a existência de uma lógica supera as construções do idealismo. É uma tentativa de superar Hegel com

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 2 •A G~NESE DA TEORIA CRITICA

Hegel, um edifício ousadamente erigido acima de qualquer realidade pos­ leituras da filosofia não hegeliana e não marxista. O extremo ceticismo
sível. Com isso, tenta objetivamente suplantar o próprio Mestre." 24 Essas de Schopenhauer quanto à possibilidade de conciliar a razão com o mun­
palavras foram escritas em 1967, para a nova edição de um livro cujas te­ do da vontade certamente surtiu efeito. Ainda mais importante foi o
ses Lukács repudiara muito antes. Suas razões para essa autocrítica deram impacto de três pensadores do fim do século XIX - Nietzsche, Dilthey e
ensejo a especulações consideráveis e a um número não menor de críti­ Bergson - , os quais haviam enfatizado a relação do pensamento com a
cas. No entanto, ao apontar o núcleo metafísico no centro de sua argu­ vida humana.
mentação, ele não fez mais do que repetir o que Horkbeimer dissera so­ Para Horkheimer, 27 a Lebensphilosophie [filosofia da vida] que esses
bre a teoria da identidade, quase quatro décadas antes. autores ajudaram a criar havia expressado um protesto legítimo contra a
Para Horkbeimer, os absolutos e as teorias da identidade eram suspei­ crescente rigidez do racionalismo abstrato e contra a padronização con­
tos. Até o ideal de justiça absoluta, contido na religião, tinha um traço qui­ comitante da existência individual que caracterizava a vida no capitalis­
mérico, como ele afirmaria depois. 25 A imagem da justiça completa "nun­ mo avançado. Ela havia apontado um dedo acusador para a lacuna entre
ca pode realizar-se na história. Mesmo quando uma sociedade melhor as promessas da ideologia burguesa e a realidade da vida cotidiana na
substitui a desordem presente e se desenvolve, a miséria do passado não é sociedade burguesa. O desenvolvimento da Lebensphilosophie, afirmou,
corrigida, e o sofrimento da natureza circundante não é transcendido''. 26 correspondera a uma mudança fundamental no próprio capitalismo.
O resultado é que a filosofia, tal como ele a entendia, sempre expressa um A crença otimista, de alguns idealistas clássicos, na união da razão com a
toque inevitável de tristeza, mas sem sucumbir à resignação. realidade havia correspondido à aceitação, por parte do empresário in­
Embora Horkheimer tenha atacado a teoria da identidade de Hegel, ele dividual, da harmonia entre suas atividades e o funcionamento da eco­
considerou que a crítica oitocentista a uma natureza similar tinha ido lon­ nomia como um todo. O desgaste dessa convicção correspondera ao cres­
ge demais. Ao rejeitar as afirmações ontológicas feitas por Hegel em sua cimento do capitalismo monopolista no fim do século XIX, no qual o
filosofia do Espírito Absoluto, os positivistas haviam recusado ao intelec­ indivíduo estava mais oprimido pelo todo do que em harmonia com ele. 28
to o direito de julgar o real como verdadeiro ou falso.* Sua tendenciosi­ A Lebensphilosophie era, basicamente, um grito de indignação contra essa
dade exageradamente empirista levara à apoteose dos fatos, de um modo mudança. Em virtude de seu componente crítico, Horkbeimer tomou o
igualmente unilateral. Desde o começo, Horkheimer rejeitou sistematica­ cuidado de estabelecer uma distinção entre o "irracionalismo"" dos filó­
mente a escolha de Hobson entre a sistematização metafísica e o empiris­ sofos da vida e o de seus divulgadores no século XX.
mo antinómico. Em vez dela, defendeu a possibilidade de uma ciência so­ Na década de 1930, disse, os ataques à razão destinaram-se a conciliar
cial dialética que evitasse a teoria da identidade, mas preservasse o direito os homens com a irracionalidade da ordem vigente.'º A chamada visão
do observador de ir além dos dados de sua experiência. Em grande medi­ trágica da vida era uma justificação velada da aceitação do sofrimento des­
da, a eficácia da teoria crítica nasceu dessa recusa de sucumbir às tenta­ necessário. Leben [vida] e Dienst [serviço] haviam passado a ser sinóni­
ções das duas alternativas. mos. O que antes fora crítico tinha-se tornado ideológico. Isso também
se aplicava ao ataque à ciência. Nas mãos da primeira geração dos Lebens­
A hostilidade de Horkbeimer para com a metafísica foi, em parte, uma phi/osophen, tinha sido um corretivo justificado das pretensões do cien­
reação à esclerose do marxismo, que se transformara em um corpo de tificismo, mas, na década de 1930, havia degenerado num ataque indis­
verdades estabelecidas. Além disso, porém, refletiu a influência de suas criminado à. validade do pensamento científico como tal. "Descartar
filosoficamente a ciência", escreveu em 1937, "é um consolo na vida pri­
*Ao longo de sua história, o termo "positivismo" foi usado pela Escola de Frankfurt de for­ vada, mas urna mentira na sociedade.)' 31
ma frouxa, abarcando as correntes filosóficas que eran1 nominaHstas, fenomenistas (isto é,
antiessencialistas), empíricas e adeptas do chamado n1étodo científico. Muitos de seus ad­ Ao ver o irracionalismo da década de 1930, basicamente, como uma
versários agrupados nessa rubrica protestaram contra a aplicabilidade do termo, a exem­ ideologia da passividade, 32 Horkbeimer negligenciou seus aspectos dinâ­
plo de Karl Popper.
micos e destrutivos, que os nazistas souberam explorar. Esse foi um pon­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

to cego na análise horkheimiana. De outro modo, porém, ele enriqueceu A admiração de I-Iorkheimer por Nietzsche era igualmente dúbia. Em
a discussão sobre o desenvolvimento histórico do irracionalismo. Ao dis­ 1935, ele afirmou que Nietzsche era um autêntico filósofo burguês, como
tinguir seus diferentes tipos, Horkheimer rompen com a tradição de hos­ demonstrava sua ênfase exagerada no individualismo e sua cegueira para
tilidade à Lebensphilosophie mantida por quase todos os pensadores mar­ as questões sociais. 37 Ainda assim, Horkheimer apressou-se em defendê­
xistas, inclusive o Lukács da maturidade. 33 Além de aprovar seu impulso lo dos que procuravam identificá-lo com os irracionalistas da década de
38
anti-sistemático, Horkheimer elogiou, com ressalvas, a ênfase no indiví­ 1930. Numa longa resenha do estudo de Karl Jaspers sobre Nietzsche, ele
duo, presente na obra de Dilthey e de Nietzsche. Tal como esses pensado­ censurou duramente o autor por tentar "domesticar" Nietzsche para con­
res, ele confiava na importância da psicologia individual para a compreen­ sumo volkisch [populista, nacionalista] e religioso. O que ele mais valo­
são da história. 34 Embora o trabalho deles nessa área fosse menos sutil que rizava na obra nietzschiana era sua qualidade intransigentemente crítica.
a psicanálise, que Horkheimer tinha esperança de integrar à teoria crítica, Na questão do conhecimento positivo, por exemplo, ele aplaudiu a afir­
ele o considerou muito mais útil do que o utilitarismo falido que embasava mação de Nietzsche de que "uma grande verdade precisa ser criticada, não
o liberalismo e o marxismo ortodoxo. idolatrada". 39
Entretanto, na análise de Horkheimer sobre a metodologia de Dilthey35 Horkheimer também se impressionou com a crítica nietzschiana do
ficou claro que ele rejeitava uma abordagem puramente psicológica da caráter masoquista da moral ocidental tradicional. Nietzsche fora o pri­
explicação histórica. A idéia diltheyana de uma Verstehende Geisteswissen­ meiro a notar, comentou Horkheimer com aprovação,'º que o sofrimento
schaft (uma ciência social baseada em seus próprios métodos de com­ podia ser transformado numa norma social, como no caso do ascetismo,
preensão e verificação, e não nos métodos das ciências naturais) continha, e que essa norma havia permeado a cultura do Ocidente com a "moral do
sem dúvida, um reconhecimento da importância das estruturas histó­ escravo" da ética cristã. 41 Horkheimer tendeu a suavizar os aspectos mais
ricas, com o qual Horkheimer podia se identificar. O que ele rejeitou foi questionáveis do pensamento de Nietzsche. Explicou a glorificação ingê­
a suposição de que esse significado pudesse ser intuitivamente apreendi­ nua do "super-homem", chamando-a de preço do isolamento. Justificou a
do, se o historiador vivenciasse de novo, em sua própria mente, o objeto hostilidade nietzschiana à meta de uma sociedade sem classes sob a ale­
de seu estudo. Subjacente a essa idéia, argumentou, estava uma crença de gação de que seus únicos defensores, na época de Nietzsche, eram os so­
tipo hegeliano na identidade entre sujeito e objeto. Os dados da vida inte­ cialdemocratas, cuja mentalidade era tão rala e sem inspiração quanto
rio.r não bastavam para evidenciar a estrutura significativa do passado, Nietzsche havia afirmado. Com efeito, observou Horkheimer, Nietzsche
pms esse passado nem sempre fora conscientemente criado pelos homens. fora perspicaz ao se recusar a romancear as classes trabalhadoras, as quais,
Em geral, fora criado "pelas costas e contra a vontade" dos indivíduos, já em sua época, começavam a se afastar de qualquer papel revolucionário
como havia assinalado Marx. Nem sempre precisava ser assim, mas isso pela cultura de massa em desenvolvimento. Mas Nietzsche falhara em sua
era outra história. Vico, um dos primeiros heróis intelectuais de Hork­ crença anistórica de que a democratização significava, inevitavelmente, a
heimer,36 fora o primeiro a afirmar que os homens podiam compreender diluição da cultura verdadeira. Ele também pecara por compreender mal
melhor a história do que a natureza porque eles criavam a história, ao a natureza histórica do trabalho, a qual havia absolutizado como imutá­
passo que a natureza era criada por Deus. Mas essa era uma meta, não vel, a fim de justificar suas conclusões elitistas. Em suma, Horkheimer sus­
uma realidade. Horkheimer assinalou, em tom pessimista, que a tendên­ tentou que o próprio Nietzsche, que tanto fizera para revelar as raízes his­
cia da vida moderna era afastar-se de uma determinação consciente dos tóricas da moral burguesa, tornara-se presa de um pensamento anistórico.
eventos históricos, e não aproximar-se dela. Por isso a história não podia Horkheimer foi um pouco mais crítico em relação ao terceiro grande
ser simplesmente "compreendida", como, segundo ele, Dilthey desejava. expoente da Lebensphilosophie e um dos padrinhos do Institui em Paris,
Tinha de ser "explicada". Apesar disso, Horkheimer manteve certa es­ Henri Bergson. 42 Mesmo reconhecendo os argumentos decisivos da críti­
perança de se alcançarem as condições sociais que viabilizariam a visão ca bergsoniana ao racionalismo abstrato, ele questionou os anseios me­
metodológica de Dilthey. tafísicos que detectou em suas raízes. Horkheimer descartou como uma
1
F
92 l 93

!
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 2 ·A GÉNESE DA TEORIA CRÍTICA

ideologia a confiança de Bergson na intuição corno meio para descobrir a Comq__g 12ortRii'1-esperilf,_o i11teres_se 4e_ :tlor\<:heímer 11<' ql!e§tão _<lo ip­
força vital universal. ''A intuição'; escreveu, "na qual Bergson espera en­ divicT~.tlisrno burguês levou-o de volta a urna consideração de Kant e da;
contrar a salvação tanto na história quanto no conhecimento, tem um ob­ -- órigens da Innerlichkeit[liiieríoiidade] .45 Entre os elementos dualistas da
jeto unificado: vida, energia, duração, desenvolvimento criativo. Na reali­ ·filo-~ofia de Kant, assinalou, 46__ ~staya o hiato entre o _dever e o interesse, -­
dade, porém, a humanidade está cindida, e urna intuição que busque -A rnora!Tn<liviai.ial, descoberta pela razão prática, era internalizada e di­
penetrar nas contradições perde de vista o que é historicamente decisivo:'" ~orciada da ética pública. }{esse pg;to, a Sittlichkeít [ética]-de Hegel, com
A antipatia de Horkheimer pelo uso hão mediado da intuição, corno meio ~~a ênfase em construfr~rna ponte sobre a oposição público-privado, era
de abrir caminho para um nível subjacente de realidade, também se es­ - ~uperior à Moraliti:it [moral] de Kant, Apesar disso, a visão kantiana era_
tendia aos esforços similares de fenornenologistas corno Scheler e Husserl. -mais próxima de uma reflexão correta acerca da situação do início do sé~
Num artigo primordialmente dedicado à metafísica bergsoniana do -c:uloXIX: naqueb época, !'resumir que era possível existir 11rna harrnoniª
tempo, que o próprio Bergson chamava de "um sério aprofundamento de entre a moral pessoal e a ética pública, ou entre o interesse pessoal e um
meus trabalhos" e de "muito penetrante em termos filosóficos'; 44 Hork­ código moral universal, era ignorar a irracionalidade real da orc:le_mexter­
heirner apoiou a distinção bergsoniana entre o tempo "vivenciado" e o na. O erro de Kant, p_orérn, fora considerar imutáveis essas contradições.
tempo abstrato dos cientistas naturais. Entretanto, apressou-se em acres­ e
Ao ab;;lutizar a dlsti;;-Çã"ú~nt;~ indlvÍcl;_;o soci~clad~:~l~h~:;;ia ~ri;;d;
centar a ressalva de que Bergson se equivocara ao tentar escrever urna me­ urna condição natural a partir do que tinha validade apenas histórica, afir­
tafísica da temporalidade. Ao fazê-lo, fora levado à idéia do tempo corno mando assim, inadvertidamente, o status quo. Essa tarnbérnera u111a_falha
durée [duração], quase tão abstrata e vazia quanto a das ciências naturais. dos Lebensphilosophe11. Em_ anos posteriores; todavia, IJorlzh~i!Iler e os
Ver a realidade corno um fluxo ininterrupto era ignorar a realidade doso­ outros Ínte[lrailt~s da Es~;l~d~Frailkft;~Ípa~sararn a acreditargue o ver­
frimento, do envelhecimento e da morte. Era absolutizar o presente e, com dàdeiro perigonão estava naquelesgue exageravam a ênfase p_a_ Sl!J:ijetivi­
isso, repetir inadvertidamente os erros dos positivistas. A verdadeira ex­ .d_ade e na individualidade, e sim _nos que procuravam eliminá-las p_or
periência, argumentou Horkheirner, resistia a esse tipo de homogeneiza­ completo, sob a bandeira de urna falsa totalidade._ Esse medo levaria Ador­
ção. A tarefa do historiador era preservar a memória do sofrimento e fo­ -ií.o a escrever, em urna frase freqüentemente citadà de Mínima moralia, gue
mentar a exigência de mudanças históricas qualitativas. "o todo é o não~verdadeiro''. 47 Na década de 1930, porém, Horkheirner e
-seus colegas ainda estavam preocupados com a ênfase exagerada na indi­
Em tod()s os~scxi\os çle Horkheirner S()Qr~gs_I,ebe_ns]2hi(osop]1§!1~_três vidualidade, a qual detectavam nos pensadores burgueses, desde Kant até
gra-ndes críticas foram reiter~d~-;.-E~~rni~ando-as com certa minúcia, ;;;;::· os Lebensphilosophen.
demos compreender melhor os alicerces da teoria crítica._Primdro,srn­ _Horkheirner também ql!e_st_ignop o imperntiYo mornl postulado por
bora os filósofos da vida houvessem acertado em tentar resgatar o indiví­ KartMesrn_Õ_conco1:darÍdo em que existia um impulso moral distinto do
duo das ameaças da sociedade moderna, tinham ido longe demais ao interesse egoísta, ele afirmou que a expressão desse impulso havia muda­
enfatizar a su!Jjetividade _e a interioridade, Com isso, haviam minimizado do desde a época de Kant No começo do século XIX ela se manifestara
a importância da ação no mundo histórico. Segundo, com urna o_u ov.tra_ como dever, mas agora aparecia como piedade ou como interesse políti­
exceção, corno a crítica nietzschiana do ascetismo, eles tendiam a despre­ co. A piedade, afirmou Horkheirner, era produzida pelo reconhecimento
-- zar a _dimensão rnateriaJ da_ rea.lidade._ Terceiro, e talvez mais irnpo~tant~;­ de que o homem havia deixado de ser um sujeito livre e ficara redí.lzido a ­
, ao _c:rLticar a deg~neraçã 0_ do racionaliilrno burguês em seus aspectos
~·- ' ' " __ _, .-.. --,~-~-­
abs­ um objeto de forças que estavam fora do seu controle. 48 Isso não foi vi­
tratos e formais, às vezes eles. exageravam na defesa de sua posição
•' ' - -
e pare:
----------------­ venciado pelo próprio Kant, pois sua época proporcionava urna liberdade
- ciarn rejeitara razão em si. _Em última instância, iss() levava ao irracionf!­ individual maior, pelo menos para o livre empreendedor. A ação política
lisrno escancarado e irrefletido dos vulgarizadores no século XX. corno expressão da moral também foi desdenhada por Kant, que havia

94 95

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 2 ·A GtNESE DA TEORIA CRITICA

enfatizado em demasia a importância da consciência individual, reificando manipuladora e dominadora para com a natureza. 51 .9..t.e.II1<1._<l_a__~<J_111Í.nª:
o status quo. No século 2Q(2-no entanto, .a política tinha:_""__t()~J1.ª<:l()_() _ 5_ªº da n<!.tur.ez_a_p_eJ.o.homem,_po9.fmQ§ªgg_5cent;i.r. entre_p_arêE_tes_es, s.e_ria
campo apropríaÇo 4.u;çio_ !11()f'1l,Jl()iS, Eela primeira vez na hist9si~ 'uma preornpaç:ão. centralda .Escola de FrankfurJ__em.a.u.o.s postç.riQre~·
recursos d~ hu;;:1anidade tornaram-se suficientemente grandes parn.J.o.J;=. , Apesar da impossibilidade de atingir o conhecJ111ent() ;lbsoluto, !i"()rk­
nar a realização [da justiça] u~a t~r~f~ 1;j;1óri~a irnediata. A luta PºI.1'.U}l_ heimer afirmava que o mªteria)ism2 nã,o sleYi_ª Ç_óJlQUzir a uma resigna­
concretização caracteriza a nossa ép0 ça de transição". 49 Nem os primeiros . ção relativista. A epistemologia materialista monista do ma~xis!Ho vulgar
pensadores burgueses, como Kant, nem os posteriores, como os Lebens­ havia sido passiva demais. Fazendo eco à crítica de Marx a Feuerbach, qua­
philosophen, haviam reconhecido a necessidade da práxis política para rea­ se cem anos antes, 52 Horkheimer frisou ()componente ativo do conheci­
lizar suas visões morais. mento, que o idealismo havia afirmado acertadam_eJl!e. Os objel()~_c!a_p!r­
Como assinalamos, a segunda grande objeção de Horkheimer a
cepÇão,"-disse, resclt;;;:;;das ações do homem~~ora a ~elaÇão tende_sse.a
Nietzsche, Dilthey e Bergsonloí"que, na verdade, eles eram ideaJistas gis­ ·sér maséarada pela reificação. A própria natureza tinha um componente
. farçados. Em contraste, Horkheimer propôs uma teoi:ia materia)ista da histórico, no duplo sentido de que os homens a concebiam de maneiras
sociedade, porém uma teoria que se distinguia com muita clareza do diferentes em épocas diferentes e trabalhavam ativamente no sentido de
suposto materialismo do marxismo ortodoxo. Em um de seus ensaios mais modificá-la. Por isso, !i()J:kh!'.ÍID~uustmt9l!...~.'.'_verdadeiro materi11.~~=
importantes no Zeitschrift, "Materialismo e metafísica", 50 ele tratou de mo era dialético, eQVQlV_<:!l.d_o_.11!11_l'roçe§§9 çogtín11()Ç_ej11.teraçª-o__cje .s11j.l'i:
resgatar o materialismo daqueles que o viam como um simples antônimo 'to e _objeto, Nesse ponto, ele retornou mais uma vez às raízes hegelianas
do espiritualismo e como uma negação da existência imaterial. O verda­ do marxismo, que tinham ficado obscurecidas no século decorrido desde
deiro materialismo, argumentou Horkheimer, não significava um .novo então. Tal como Marx, mas ao contrário de muitos autoproclamados mar­
tipo de metafísica monista, baseada na primazia ontológica da matéria. xistas, l:forkheimer.se recusou a faz.er_ d.a dial~tica .u.m. fetiche,.. e.orno ...u m ..
Nesse ponto, os materialistas mecanicistas do século XIX, como Vogt e processo objetivo fora do controle humano. Também não a viu como um
... . -·--.----. ___
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~----·--'-------·- -·-.-­
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Haeckel, haviam errado, tal como ._os marxistas que tinham transfo_rJ11jlQO . cÕnstructo metodológico imposto - como um tipo ideal weberiano ou
em fetiche o mundo material supostamente "objetivo". Igualmente errônea ü.tri modefõ"sücial ~ientífico ' a uma realidade caótica e multifacetada ..
era a suposição da eterna primazia da subestrutura econômica da so5iec. _ f.. dialética sondava o "campo de forÇa", para usar uma expressão de Ador­
e
dade. A subestrutura a superestrutura interagiam emtodo_s os rnomen­ nÕ,53e11tre a consciência e o ser, o sujeito e o objeto, J::!_~g_jjnh_;i_~,_<lrigor,
. tos, emoora fosse verdade qúe, nó capitalismo, a base econômica desem­
não podia ter a pretensã_o <:leJliwer descoberto princípios ontológicos pri­
penhavà um papel crucial nesse processo. Mas era preciso-co111p__r_e~g<!er :morclíais."Elà rejeitàv~ os extremos do nominalismo e do realismo e con­
que essa condição era histórica e se modificaria com o tempo. lljn.Ldas
tinuava disposta a operar em um estado perpétuo de suspensão do juízo.
· características da sociedade do século XX era que a políticà começava a
Daí a importância crucial da mediação [Vermittlung] para uma teorja
afirmar-se como esfera autôno.ma, de um modo que ultrapassava qualquer
correta da sociedade. Nenhuma faceta da realidade social_p()qia§_ercom­
previsão feita por Marx..A prática leninista e a fascista demonstravam
preendida pelo observadõ-;:-;;~mõ~finalÕ~-com.P:í~t;em~i,Não havia "fa­
essa mudança. ·---~
'fos" socíâis, como acreditavam Ôs po~iÍivistas, que fossem o substrato de
' Horkheimer também criticava a tendência dos ma.rxistas vulgares g_e,
uma teoria social. Em vez disso,_Q<lvia uma interaçã()_<;()ns!ant_e_Q() E_ar1i.:
elévar o materialismo a uma teoria do conhecimento qL[e afünrnv.a.um;L
cular e do universal, o "momento"*-;:-;; tot~lidà<l"Zc~mo escrevera Lukács
certeza absoluta, tal como fizera o idealismo no passado. Dizer que uma_
epistemologia materialista era capaz de explicar exaustivamente a r_ealhl!l:
"em Hisíoríae cõ115Cii11Ciá de~la;se:
de equivalia a incentivar a ânsia de dominar o mundo, o que fora exibido
* Das Moment, etn alemão, significa uma fase ou aspecto de um processo dialético cumula­
claramente pelo idealismo de Fichte. Isso era corroborado pelo fato de que tivo. Não deve ser confundido com Der Moment, que significa um momento no tempo,
o materialismo monista, já desde a época de Hobbes, levara a uma atitude no sentido da língua inglesa. [N.T.]

96 97
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~-­ CAP(TULO 2 ·A Gt:NESE DA TEORIA CRITICA
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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

Deixar para trás a realidade empírica só pode significar que os objetos do A ênfase de Horkheimer na dialéti~a também se estendeu_à suaC()!ll­
inundo empírico devem ser entendidos como objetos de um todo, isto é) l'iêensão da lógica. Embora rejeitasse as_ afirm~ções ontológicas extrava­
como aspectos de uma situação social total, compreendida no processo de -gantes feitas por Hegel sobre as categorias lógicas, ele concordou com a
mudança histórica. Portanto, a_ categoria da mediação, _é UJUa _alavanc_a para necessidade de uma lógica substantiva, e não meramente formal. No
s~perar o_ lller~ imediatis_mo ~dõ_ illUildO _e_n:ipíf'fêO: ·sendo-ass1m,--iiã_õé_ã_1_g;---·
--(sübjetiVo) ·imp·osto-aOs _ob}eto·s :aé-tOi~-p-a_·r~ ~i~~t-~_o,_não é um j~Í~~ d~· va~--­
Dammerung, Horkheimer escreveu: "A lógica não independe do conteú­
__
··-Jor ou um "tem de_ser-,,; contrast~SiO-C0~-9 ((i~'. Trqta-:s~, _a_~tes, aa_;J;_ftflif~~;~~
do. Em face da realidade de que o que é barato para a parte favorecida da
· tação de SUfl autênti~a est:_ut1!;a_9_~j~_ti~q_/4_:L(,/k;.c._ '· --·
humanidade continua inatingível para as demais, uma lógica apartidária
57
seria tão neutra quanto um código de leis que fosse igual para todos."
Além disso, a relaçªQ Ç!ltre Q_todo_e,s_ens mQmentQs_era gçíp_rQfJ>.. Os O formalismo, característico do direit()])11_rg11~s (oideal do Rechtsstaat, que
marxistas ~uJgar~~ tinham errado ªº
afirmar, deforma.. red!lciçm!§~a,__q~1~ . 'significa a,~mi~~rsalidade_iu!ídka sem relacionar o direito com sua ori­
· os fenômenos culturais da superestrutura procedi'1111da ]:,as~ soc_io_e<;Qnúc. gem política), _da_mor~ burg!les)l (.o imperativo cjltegórico). ~d_aJó.gi_ç_ª­
· mica subestrutura!. A cultura, afirmaram Horkheimer e colegas, p_unca.era . burguesa, já fora progressista, mas a~ora seryi11ape!las_pjl_f~l'~~l'~tl!ll_r()
~·"-·-·.--·

epifenomênica,embora tampouco fosse inteiramente11ut(')119ma. Su<j_rela, - · stãiusqua. A vel'dadefra ió~ic;a,assim-rnmp o v-ercla<:lei~o racio11<ili~rn-".'
. Çãó s-o-m ãsubestruturarnaterial da sociecfode era.multidimensional. Todos aa·formae
·devia ir ilém incluirtambém elementossubstantivo,;.
os fenômenos culturais eram mediados pela totalidade social, e não apenas No eiifantq, era difícil dizer quais seriam exatamente esses elementos.
}efle_xos de interesses de classes. Isso significava que ~Jes também expressa­ Er~ mais fácil exigir que explicar a lógica substantiva. O agnosticismo da ­
vam as contradições do todo, inclusive as forças que negav:amg_s~afi;_,s__q.u_Q. concepção de materialismo dê HorkheilI!er ta.iTlJ:iémse estendeu a suas_
Nàda, ou pelo menos quase.nada,era exclusivamente ideológico. 55 a
'idéias sobre possibiHdade ele uma antropologia filosófica. Ele descartou
Ao formular essa argumentação, podemos acrescentar, Horkheimer
os esforços de seu ex-colega em Frankfurt, Max Scheler, ·para descobrir
aproximou-se mais do próprio Marx do que os autodenominados marxis­
uma natureza humana constante, vendo-os como nada além de uma bus­
tas ortodoxos. Ao discutir o Esta_do burguês, por exemplo, Marx i::tãQ_OJ1a-__
ca desesperada do sentido absoluto em um mundo relativista. 58 O anseio_
via interpretado exclusivamente como o "comitê executivo da clas_se.domi,_
dos fenomenologistas de obter segurança nas essências eternas era uma
nante", mas também como um sinal, embora distorcido, da reconçili;ição_
'fonte de auto-engano, aspecto que Adorno e Marcuse viriam a ecoar em
das contradições sociais que a vitória do. proletariado deveria_<lC~l[etar, 56
·· suas respectivas críticas de Husserl e de Scheler. 59
De modo similar, ao discutir o realismo na literatura, Engels havia mostra­
Por conseguinte, a teoria crítica negava a necessidade ou_111esmo a pos­
do que apreciava os componentes progressistas de autores aparentemente
sibllidade de formular uma descrição definitiva do "homem socialista".
reacionários, como Balzac, por sua capacidade de retratar a totalidade con­
Alcruns comentaristas atribuíram essa antipatia pela especµlação antropo-.
D . ­
creta, com todas as suas contradições. O vasto trabalho do Institut sobre
lógica à influência residual do soci~üismo científ;co. 60 Se entendermos
questões estéticas e culturais enraizou-se no mesmo pressuposto.
· "científico" apenas como antônimo de socialismo "utópico'; isso será ver­
__ Ao frisar o todo, Horkheimer criticou outros teóricoss()<:_i<i_is___P-or }e
dade. Mas, em vista da hostilidade da Escola de Frankfurt à redução da
concentrarem em uma faceta da realidade, excluindo as demais. Isso le­ filosofia à ciência, essa parece ser uma explicação parciaL9Ett:()_fatorpos- .
vou a ~ma das falácias metodológicas mais freqüentemente.ilt'!_çad_as..12efo___

1
sível, que o próprio Horkheimer viria a frisar_ a11os depois,' era a in-__
Escola de Frankfurt: a fetichização. Os marxistas mais ortodoxos do Ins­
-fluência subterrânea de um tema religios()_ nq materialismo ga__!O_sc;oJa <:le
titui, cÔ~; o econotiiista Henryk Grossmann, sempre foram criticados
Frankfurt. Com efeito, se;ia um erro tratar seus membros como ateus dog­
pela ênfase exagerada na subestrutura material ela sociedade. A composi­
máticos.Em quase tod;s as discussões da ieligião por Horkheimer, elé
ção do Institut, com sua diversificação deliberada de campos, refletia a
adotou uma postura dialética." No biimmerung, para citar um exemplo,
importância atribuída pela teoria crítica à totalidade das mediações dialé­
'díSse que a religião não deveria ser entendida exclusivamente como falsa
ticas, que tinha de ser apreendida no processo de análise da sociedade.
consciência, pois ajudavaa preservar a esperança em uma justiça futura, .

98 99
.. -------------------,

~'.
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALtTlCA e;-
tf'.
CAPÍTULO 2 ·A GtNESE DA TEORIA CRITICA

recusada pelo ateísmo burguês. 63 Por isso, é possível dar certo crédito a O mesmo se aplicava a Walter Benjamin e Theodor Adorno. Para Ben­
uma afirmação sua mais recente: a de que a proibição judaica tradicional ja!J:lin, a ênfase marxista vulgar.no trabalho "só ~econhe~~ o progresso d.a
Jeiiõinear ou descrev~r Deus e o paraíso se reproduzia na recusa J;)i~~ ·-·dominação da natureza,.nãn.o.retro.c.esso da sociedade; Ja exibe os traços
. ria crítica de dar substância à sua visão utópica. Como assif1~J()u Jürgen tecnocráticos que depois encontramos no fascismo. [... ] A nova concep­
Habermas, a relutância da filosofia idealista alemã em dar corpo a suas ção do trabalho equivale à exploração da natureza, a qual, com ingênua
idéias de utopia era muito semelhante à ênfase cabalista nas palavras, em complacência, se opõe à exploração do proletariado. Comparadas a essa
vez das imagens. 64 A decisão de Adorno de escolher a música - a menos . concepção positivista, as fantasias de Fourier, tantas vezes ridiculariza­
representativa das formas estéticas - como o meio primário pelo qual das, mostram-se surpreendentemente sensatas". 68 ~conversei ç_QQl
explorou a cultura burguesa e procurou sinais de sua negação indica o Adorno em Frankfurt, em março de 1969, eledisseque Marx queria trnm.­
poder persistente dessa proibição. Das grandes figuras ligadas ao Illstitut, · ''füí:mar o munclQ intefrO: numa gigantesca_oficina.
apenas Marcuse tentou articular uma antropologia positiva em algum · ·· -· O antagonismo d_e_J!orkjl_e_i_m~Là.foticbização._do..trab_a!ho._g)(pressm'-ª
momento de sua carreira. 65 É difícil determinar com segurança se-o tabu outradimensiÕ-d~-seu materialismo: a demanda de uma felicidade sen­
judaico foi realmente causal ou se foi uma simples racionalização post fac­ 'sÕrial, lmma_ri;i_,fjüill-deseus. ensai6s mais instigantes, "o egoísmo e o
to.. Qualquer que tenha sido a razão, a teoria crítica resistiu sistematica­ -~o;imento pela ~mancipação", 69 ele discutiu a hostilidade à gratificação
. mente à tentação de descrever o "reino da liberdade" a partir do "reino da pessôà1, queera_inererité a cultura burguesa. Apesar do utilitarismo de um .
necessidade". --.Belliham ou um Mandeville, a ideologia característica dos primórdios da
era burguesa era kantiana. 70 l'l~o vendo. união entre o int_er.es_se individu~l
_J'l.ã,()_glist_i!ntS',-1lli'Slll_(Lno_trahalho..deHorkheimer_parece11 haver_urna __ _e_JL!nº rnL1:21'.!hlicª,__I<:.i!I1_l_ ha_"_~_p()st1:11_a4()_\lll'l_a_<:i_istigção in_e.YitAY:~l~tI~--ª
espécie de antropologia n_egativa, l!l!lª p[§eD_Ç.iÜmplídta, rna~nda a§_- _ felicidade eQde.ver.Embora ele desse algum peso aos dois, guan4.o_o_ça.:_
sim;-põªe~os~-, Ap~sa;:-d~ ~n~;;:'j~~da em alguma medida em Freud,-;~ª~ -p-iÍ:;iisrn~ tor_11_ou-se suficientemente avan5ado, aJ_Jrecedência do dever
origens primárias podem ser encontradas na obra de Marx. Ao discutir a pàracom-o-todoem-re1açãóà s_a_i:[sfàçã91iessoalhavia crescido a tal pon:
tentativa de Feuerbach de construir uma imagem explícita da natureza fo, que esta última era q uas_e totalmente negligeni:jac!a. Par_ª...C:()!11_Pensar a
humana, Marx havia atacado suas premissas atemporais, abstratas e anti­ repressão da autêntica felicidade i!ldrvidual, conceberaní.~se diversões de
históricas. A única constante, afirmara, era a capacidade de o homem se 'massa, a fim de esva~iar a ins~tisfação. 71 Grande partedo traba]l:i_o._poste­
recriar. A antropogênese, para usar o termo de um comentarista poste­ . rior do Institut sobre a "indústria cultural"-pretendeu mostrar até que
rior, 66 era a única natureza humana admitida por Marx. Nesse aspecto, 'po!lto esses palfafivoserameficazes.
Horkheirnerestava de acordo: a boa sociedade era aquela em que o ho:_. ·· Porém, afirmou Horkheimer, até os movi111entos preteris_a_rn.~!lt_e_fe_'{o:
·mém tinha liberdade para agir como sujeito, em vez de agirem sobre-ele luCioiiárii:ís]iãviam-pe~petuadO' ~. Íípic~ho.stili4<1c!eburg\lesa à felici<lac!e. 12
como um predicado contingente, Os romanos do século XIV, liderados por Cola <li Rienzi, e os florentinos
Quando Marx pareceu ir além na definição das categorias da at1topro, da época de Savonarola eram dois exemplos claros de movimentos revo­
dução humana, nos Manuscritos econômico-filosóficos, Horkheimer recuou. lucionários que haviam terminado por se opor à felicidade individual, em
A posição central do trabalho na obra de Marx, assim como sua ê~fas~ · nome de um bem maior. De modo ainda mais notável, a Revolução Fran­
concomitante no problema do trabalho alienado na sociedade capitalista, cesa e especialmente o Terror ilustravam esse tema. Robespierre, tal como
desempenhou um papel r_elativamente pequeno nos textos de Horkhei111g. Rienzi e Savonarola, confundira o amor às pessoas com a implacável re­
No Diimmerung, ele escreveu: "Fazer do trabalho uma categoria.i:rans~en­ pressão delas. A igualdade trazida pela Revolução,destacou Horkhei!Ue~,
~ental &ai:i~i<lãé!éliüiiialla é uma ideofogia ascética.·[ ... ] Por-adérirem ã fora o nivela,,:;;; to negaÜvo-p~oduzido pela guilhoú!la - uma igualdade
esse conceito geral, os socialistas se transformam e!l:l portadores da pro­ 'na degradação, e não ela dignidade. ~~c,:u]o um fenômeno seme­
paganda capitalista." 67 lhante havia aparecido no fascismo, O Führer ou o Duce expressaram de

100 101
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 2 ·A GtNESE DA TEORIA CRÍTICA

forma extrema a típica combinação burguesa de sentimentalismo ro­


cou Marcuse, "oprazer na degradação do outro ena degradação desirnes­
mântico e suprema implacabilidade..Aj<leqlogia do dever e do servir ao
mo sob U!l1~V<l!lta<le..ID.ais.forte, .o prazer nos múÜiplossubstitutos <li$e:.
todo, em detrimento da felicidade individ_ual, havia atingido suà expressií9
-x:úãÜd~de, com sacrifici(ls sell1 sentido e como heroísmo da guerra, siío
máxima na retórica fascista .. As pretensões revolucionárias dos fascistas
·prazeres falsos, pois osJrnpulsos e necessidades, que~-~ie~~e_.re<JXii:?.rrr,!Q.r­
. não passavam de uma fraude destinada a perpetuar o poder das classes ·n.âm os homens menos livres, mais cegos e mais miseráveis do. qué eles
dominantes. Têm 4_y ser". 76
Em contraste com a ética burguesa da abnegação, HorkheimeL<:i.l'fonc_ ·· Mas, como se poderia ese.e_i:a_r,M;ªr~~!~e.<:l§!1Jl!1Q(ll!.<l_<:Ten5'1__anist0"ica

deu a dignidade do egoísmo. IÍunnte o Iluminismo, Helvetius e Sade ha­ de ·que .as.for~as s~r~fi9~es clt:fe!icida.de.. po!ieÚ!l.Ill s.ei: alcançadas nas

'viam expressado um protestr):;;lrid;;que-disio~êi<lü;é-;;;t°ra ~-~;~~;1~;;:,0 éôn<[iç<'ie.s vigentes. J>:!~verdac!e, afirm()u,arestrição he_donista_cl_a feliçi­

que falavâ em nome de uma IUoi:af§~~pe;i~;. í);~~;;ei;a-~i;;<l~·;;;i;;·~~- ­ ·;f,;«ie ao consumo e ao lazer, com a exclusão dotrabalh9 pr0 dutivo,ex­

suasiva, Nietzsche. havia exposto a ligação entre a abnegação .e.o_reâ.seJ:üh... pressaviíumjuízo válido sobre uma sociedade em que o trabalho conti;.
mento, implícita na n:iàior parte da cultura ocidental. Horkheimecdiferia . "nuava a!kua<:l0 . O que não era válido, entretanto, era a suposição de que
··;;55~ ;ociedade era eterna. J:l.ra. difícil prever de que modo viria a rnt1dançª
deles na ênfase no componente social da felicidade humana. Se_u.b;.diví­
· histórica, é claro, porque "parece que os indivíduos. criados para se inte:
duo egoísta, ao contrário do dos utilitaristas ou mesmo do de .Nietzsche
\:: - .- ~·"''''-"
' " ' '

. sempre obtinha a maior gratificação por meio da interação comunitária,.


)
~grar no processo amagonístico do trabalho não podem ser j!lízes c!e sua.·
'p~ópria felicidade".''. A consciência era incapaz de modificar a si mesma;
De fato, !:fo_r_!zheimer questionou constantemente a reificasã() do indiví­
duo e da sociedade como opostos polares, assim como negou o caráter ·a foi.peto teria de vir de fora:
mutuamente excludente do sujeito e do objeto na filosofia. À medida que a falta de liberdade já está presente nos desejos, e não apenas
A ênfase do!nstitut na.felicidade pessoal como elemento integrante go. em sua satisfação, eles devem ser os primeiros a ser liberados - não por
materialismo foi també_!l1 _<lesenvo)vjda p()r.Marc.use em ulTI.ir:Ü_gQ.~Krito
um ato de educação ou de renovação moral do ser humano, mas por um
processo econômico e político que envolva a disponibilidade dos meios de
para o Zeitschrift em 1938, '.'Sobre o hedonisrno". 73 Em contraste com produção por parte da comunidade, a reorientação do processo produtivo
·Hegel, que "lutou contra o eudemonisrno* a bem do progresso histórico",74 para as necessidades e os desejos de toda a sociedade, a redução da jornada
Marcuse defendeu as filosofias hedonistas J2_0rJlreservarern um "momen­ _,.de trabalho e a participação ativa dos indivíduos na administração do todo.n
··· tõ''<levef<lãcie..ê m.süa 6if"ase;:;a P-;ré~~!á~ i~~dici;;;,;1n;ent;
i'eíici<l;4e. (Nes$eponto,Marcuse.pareceu aproximar-se perigosamente de enfatizar
se equivocavaillªº a~eitar,~e~ q~~;!i(l;;~r, Óindl;;ídu-;;·~~~petitivo como.
o desenvolvimento social objetivo, tal corno havi<l!l1 sustentado .os mar­
. modelo dosupr:mo dese11volvimento pessoal. "O. aspecto apologétl~o do
xt<;fãsrnaTs ó~iücfo~C>s, mas que oinstitut atacara ao enfatiza_r o compo­
hedonismo", escreveu Marcuse, encontrava-se "na concepção hedonista
··nente subjetivo da práxis. Na verdade, fazendo uma digressão momentâ­
abstrata do lado subjetivo da felicidade, em sua incapacidade de distin­
·nea, o prob_l~fl1ª.:chaye_decon1oocorreria a mudança em uma sociedade
guir entre desejos e interesses verdadeiros e falsos, entre gozos verdadei­
que ~ontf°olavaa consciência de sem membros continuou aserum com­
ros e falsos." 75 Ao s!lstentara idéia de prazeres superiores e inferiores, Mar.::. -pol1érite perturbador· ele boa parte do. trabalho posterior. de Marcuse, es­
cuse aproximou:se mais do tipo epicu~i~ta de hedouisrn~-q~~-d:;-~;;;;;-;;-i~o,
-pecialmente A ideologia da sociedade industrial. 79
ambos os quais àbordou longamente no ensaio. (Ele támbém.ficoU:-;:;;;· Quaisquer que fossem os meios para chegar à verdadejra f~)\çi<:Jacie, ela .
companhia ele um aliado improvável, na pesso~· de John Stuart Mil!, que só poderia.seralcáiiÇãC!ã qüãndo também se ~ti~gisse a liberdade univer­
..m••---·- --·· ""'" .,_,-••-'-•-- • •• "_,_" '" • • •• '" •"'"
estabelecera uma distinção semelhante em seu Utilitarismo.) Como~­ ,,_...-~-····--···-'~~--·-

------- ---~­ sal. "A realidade da felicidade", escreveu Marcuse, "é a realidade da liber­
dade corno autodeterminação da humanidade livre, em sua luta comum
* Doutrina que considera a busca de uma vida fCliz, seja no âmbito individual, seja no cole­ com a natureza". Já que a liberdade era sinônimo de r~alizA<;.~9.claracio,
tivo, o princípio e fundamento dos valores morais, julgando eticamente positivas todas as
ações que conduzam o homem à felicidade. [N.T.] nalidade,
--- "em
.
sua fofmãcü';,pl~ta, ;;;nl:ias,·à-felicid~de
-------
e a razão,
......-----·-····- --·-····-----·-----
-------------------~-·---" ..... ____ ,,__
.._
coinci­ -·

102 103
MARTIN JAY •A IMAGINAÇAO DIALÉTICA CAPÍTULO 2 ·A Gf:NESE DA TEORIA CRÍTICA

dem". ªº O que Marcuse defendeu nessa passagem foi a convergência de


Nesse pont9,Jy!<1rcuS.!'.J'Ar~cia_def~der uma teoria da identidade, o que

interesses particulares e gerais que se costuma conhecer como "liberdade


co~trast_a;".i~iti4<Lmel)Jec:9_ll1 a ênfas.<: g~r-áT-ª.aE:s~:;l!ã.<leFra;;_kfü;:t'ii~-nãõ­

positiva". 81 A felicidade individual era um momento na totalidade da


TdeníI<la<le. Na verdade, a aversão à identidade era muito mais tênue nos

,C--~- ..--------··---· -­
liberdade põsltíva; iiazão era o oufro ..
escritos de Marcuse que nos de Horkheimer ou Adorno.84 .Apesar disso,
também na obra deles a santidade da razão e a reconciliação que ela im·
A ê:1f~~e_-~il_.Il~.<:Q!iu;ls:.ErankfurLna mz.ijg foi \l!lla.daL<:.fil:.arttrístiCiJ.s plicava sempre apareciam como um ideal utópico. Afinal, os judeus po­
mais importantes de seu trabalho. 82 Nisso se demonstrou mais claramen­ diam ser proibidos de nomear ou descrever Deus, mas não negavam Sua
. te à s~á <li;i(Eí.para-;;; Heg~l.A ttrfeirn.grande ohjs:çi\o deHorkheimer. existência. Em todos os textos do Institut, a,_11orma era umasociedadetorc
à Lebensphilosophie1 como estamos lembrados,,ern.qil.eare.aç.ã.Q ex:a~e.ntda nada racio;;_~f:n~ sentido em que a fiÍosofia alemã definira tradicional:
:. à deterioração da racionalidade levara à rejeição da razão comotaL Como mente esse termo. A razão, como indica a passagem acima, foi o "tribunal
Horkheimer repetiria insistentemente, a ra~ionalidack est_ay;i na n1i~ de .. · crítico" em que a teoria crítica baseou-se primordialmente_. A_irraci()na­
qualquer teoria social progressista. Porém, platéias não instruídas nas tra­ lidade da sociedade vigente semgi:e_fgj_.<J.uestimrnc:la,_pda.. poss.ibilida.d_ç
•<lições da filosofia clássica alemã nunca puderam apreender facilmente o · «;;_egativa" .de:;,;;_:;;;:;;:iter~~i~~;;ilin_enteracional.
que ele queria dizer com )31~_ã</'. \mpliçitfünen.te,Horkheimernã.o.J.?JQ_§.1'! Se Horkheimer relutava. em_afir111ill'.ÜQ~IJ.ti.<l<lcl~ .C()l11Pleta_<=n!!e sujei:
referia à distinçijg d()§ idea!is\as entre Verstand koIJ1pree11sã9lt;..\1§0li11ft to eofijefo;'mõsfrou:semàis.seguro ao rejeitar sua estrita oposiçii_o__dU.fl:
: [razão], _Por Verstand, Kant e Hegel haviam pretendido referir:.s_e a..\1.J11a.. 1ísfo,.legadà porbescãifesao fiei1Sãilleilíüillo<leri1ó~ 85 ES!ª~"i~p!í~i@no_
faculdade inferior da mente,_,q11e estrutun1va o mu.11do dos f~119~.4e. ·1egaâü ·cal"tesiaJ1(),_ilflriii9l1, .i:i~d!JÇá<:i ctiúzãoisl.lil<iL!llrns.ã.o. subjetiva.
acordo com o sensq comum; nesse caso, o mundo consistia em unidades !ieêra o.P':imeiro gassol'"E'.1:-9.~-"ciona_liQ_~e fo~s_e_~_<lda d_<J_~~­
'finitas, idênticas apenas a si mesmas e opostas a todas as outras coisas. As­ _ç!o e deslocada para a interiorid<1sk.<:Q.r:t!e.mpJ.f1.t:.iyª, Levava a uma eterna
sim, a Verstand não pel1etrªva no.ime4iatg_cle1nodq '1 apre~11der ;i_s_sf!ª: s~p~;~Çã~ enÚeessêndae.ápa;ência, que fomentava a aceitação acrítica
ções dialéticas abaixo da superfície,_ A Vernunft, por outro)a_Q<h.S:.rn..>1ma. do status quo. 86 CornqJ~§\lltado,aEaci911alidac:le pªss_o.t!_~-~_t=r mais e mais
'faculdade que ia além das meras aparências, chegando a essa realidade identificada c-;_;rÍl o senso comum da Verstand, em vez da v;~riurift, mais
mais profunda. Embora Kant, diferentemente de Hegel depois ·d~le: rê)éf: amDiCiosarrfente siií!étfca.Nãverdade, o ataq~~ dôs irrà.ê:lónalistas dô fi~
·tasse a possibilidade de conciliar o mundo dos fenômenos com a esfera .do século XIX à razão Únha visado principalmente a reduzi-la à Verstand
numenal transcendente das "coisas em si", ele afirmava a superioridade da analítica, formal e divisiva. Essa era uma crítica que Horkheimer podia
Vernunft em relação à Verstand, crença compartilhada por HegeL De to: __ _ compartilhar, embora não rejeitasse de pronto a racionalidade analítica.
dos os integrantes do lnstitut, talvez Marcuse tenha sido o mais atraído "Sem a clareza e a ordem dos conceitos, sem Verstancf', escreveu, "não há
pela concepção clássica da razão. Em 1937, tentou defini-la ê erÍc~mirÍhá~ ··· pensamento nem dialética:'" Ne111 mesmo a lógica dialética de Hegel,
·1a em uma direção materialista: abraçada pela teoria crítica, negava, pura e simplesme11te, a lógica formal.
. O aufheben hegeliano tanto sigrlificava preservar quanto transcender e .
A razão é a_ catego!i~- fundamen_tal ~o pensa_men,to filosófico, a _ úni~a po~
' meio da qual ele se ffgou aQ.Qestil)9 !:i11!llano. A ftlosofia queria descobdr ás· abolir. O que Horkheimer efetivamente rejeitou foi a identificação com·
1
bases úi-dmas e mais gerais do Ser. Sob o nome de 'razão", concebeu a idéia pleta da razão e da lógica_'10J2()cle.rJi111itado da Verstand.
de um Ser autêntico, no qual todas as antíteses significativas (sujeito e obje­ Ao longo de sua história, o lnstitut defendeu vigorosamente a razão em
to> essência e aparência, pensamento e ser) se reconciliariam. Ligada a essa , duas frentes., Além do a.taq11e perpetrado pelos irracionalist~s, o qual, no
idéia_ estava a _convicção de que () que existe não--~ _i!1:1~4i9:!~Pi~~!~iã-Ciój1jlf;:~·· século XX, havia degenerado numa irreflexão francamente obscurantista,
mas deve ser'!evado iÍ razã,o. [...] C:ómo o rrn.lndo dado estava ligado ao pen·
sarnento racional e, a rigor, dependia ontologicamente dele, tudo o que con­ outra ameaça, talvez ainda mais séria, vinha de um círculo diferente, Com
tradizia a razão ou não era racional foi postulado corno algo que devia ser o colapso da síntese hegdianana segu_Il4'1metade do século XI.X:.. e a cres~
superado. A razão foi estabeleci.4<:1 c:orno_ 1gn tribunal crítico_.-.83 ~ente dominação davidahÜmana.pclas ciências naturais, desenvolvera-se

104 105
CAPfTULO 2 •A G~NESE DA TEORIA CRITICA
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÊT!CA

umanova ênfase na ciência social de derivação empírica. O posigyismo


distanciamento do uso iluminista original do empirismo como uma arma
0-egãva a validade da idéiatradiClonalde razão como Vernunft, a qual des­
engajada contra as mistificações da superstição e da tradição. !\ própria
cartava como urna rn~t~fÍsi~~-;ati~~ N~-épo~a da Escola de F~ankfurt, os
sociedade, argumentou,95 podiaficar "possessa" e proc!uzir "fatos" que se­
proponentes mais significativos desse ponto de vista eram os positivistas
naiii"il1sanos''em si, Por não dispor de meios para avaliar essa possibili­
lógicos do Círculo de Viena, obrigados a emigrar para os Estados Unidos
-CÍade, o empiris_!ll() l11<l<le_r110, apesar de suas intenções, c:api!11l_<!_vª_g@nte
mais ou menos na mesma época. 88 Na América, seu impacto foi muito
da aut~ridac!se cio status.quo... Os integrantes do Círculo de Viena podiam
~;r progressistas na política, mas isso não tinha qualquer relação com sua
maior que o do Institut, graças à conformidade de suas idéias com as tra­

filosofia. Sua rendição à mística da realidade vigente não era arbitrária;


dições básicas da filosofia norte-americana. Em anos posteriores, Hork­

constituía, antes, uma expressão da contingência da existência em uma


heimer empenhou-se em estabelecer as semelhanças entre escolas nativas

sociedade que administrava e manipulava as vidas humanas. ""ssim_c()l11º


como o pragmatismo e o positivismo lógico. 89

0 homem precisava restabelecer a capacidade de __cl)_n~_rl)Jar_se_1:1 ~estino,


O primeiro grande ataque de Horkheimer ao positivismo lógico veio

em 1937, no Zeitschrift, 90 Mais uma vez, ele ressaltou como uma escola de

a
também razão tin&ãae ser -devolvida ;1õ·s~ufugarap_ropriaq9_<1.e4rbjifa
dos fins, e.não. ar:e;;,;; c1üs ~eigs: 1\Y.~~-;;~~ft precisa."a_i::c<lnguis~ar o c.ªl11:
·pensamento podia desempenhar diferentes papéis em contextos históri­
-podo q11-ªlf<lr<1e_lCp_\llsapelavitória da Versta11if .
cos diferentes. Originalmente, argumentou,oempirismo praticaci_q__p.QL__
O· que tornou pio_blemática a ênfasede !J()r_kheimer11ª razão foi sua
Locke e l:Il1111_~tilJFa.u~~o;;po~e~tedirlâmicoe~;;t(critíC:~;-~o-pei:c_eJ>~i:­ prói;ens-ão~ntimetafísica, igualmente forte. A. reali~a<)e tinha_ de ser jul- _
. o ill<llvíduo como fonte de conhecimento. Os empiristas do Iluminismo gada pelo "tribunal da razão", mas a razão não devia ser considerada um.
· tiriham usado suas observações pará mínar 'a ordem social vigente. Mas o --ideal transcendente que existisse fora da história. Horkheimer e seus co­
positivismo lógico contemporâneo perdera essa qualidade subversiva, ao · legãs sernpre insistiram que a verdade não era imutável. Não obstante,
afirma~q~e o conhecimento, apesar de inicialmente derivado_âàpe~c,;p:~_ _negar o caráter absoluto da verdade não equivalia .a.sncumbir_aorelati­
ção, dizia respeito, na verdade, a juízos formac!os sobre essaper_c_epçãg,_ 'vismo, fosse epistemológico, ético ou de outra natureza._11,_4icotomia entre
contidos nas chamadas "sentenças protocolares". 91 Ao restringir a realida­ ·absolutismo e relativismo, a rigor, era falsa. Cada período tem sua própria
de àquilo que podia ser expresso nessas sentenças>._º indizí'fel forae_x,clní-_ "verdade, afirrnou Horkheimer,96 mas não há nenhuma verdade acima do
do do domínio filosófico. Em termos ainda mais fundamentais, a ênfase tempo. y~rdad_ejr_()_é ()_'l11e fo1J1eritê..a..mndar,çAs.oc!alern_çfü-'.ç_ão___aull1a_
·empírica geral na percep~ão ignorava o componente ativo de todo conhe-. sociedade racional. Isso, é claro, levantou mais uma vez a questão do que
· cimento. Em última instância, todos os tipos ele positivismo eram urria re-· sé pretenclia dizer. com "razão'', 9ue a teoria crítica nunca tentou definir
· núncia à reflexão. 92 O resultado era a absolutização dos "fatos" e a reifica­ ~xplicitamente. A dialética era esplêndida para atacar as pretensões de ver­
ção da ordem .S'xistente:~-- - - - . - -····· . ··-· - -- - ....... --· ­
dade de outros sistemas, mas não se saía tão bem quando se tratava de
Além de seu desagrado ante o fetichismo dos fatos, Hork!iei_mçr__c.dti, articular os fundamentos de seus próprios pressupostos e valores. Tal
_cou a confiança que os positivistas lógicosdepo§i!_aval11 nalóg\gJmmal e_._ como sua confiança implícita numa antropologia negativa, a teoria crítica
a exclusão de uma alternativa substantiva. Ver a lógica como análoga à _tinha um ponto de vista basicamente não substancial da razão e daverda-.
'matemática, afirmou, era reduzi-la a uma série de tautologias sem signifi­ çle,-enraizado nas _conc!ições sociais mas externo a elas, ligado à práxis.mas
cação real no mundo histórico. Acreditar que todo conhecimento verda­ mantendo distância dela, Se é possível dizer quea teoria crítica tinh_auma
deiro aspirava à condição de uma conceituação matemática, científica, era ··teoria da verdade, esta aparecia em sua crítica-imal1s!'te:-isC,9edad~ bl!r:
retornar a uma metafísica tão ruim quanto aquela que os positivistas Jic guesa, que comparava aspretensões dàideo!Õgia burguesa com a realida­
-· nharn-se proposto refutar. 94 - ···· ---­ 'éle de suas condições sociais. A verdade não estava fora da sociedade, mas
Pior do que tudo, talvez, aos olhos de Horkheimer, era a pretensão dos contida em suas próprias reivindicações. Os homens tinham um interesse .
po;;iti;ista; <l~ hav~;em desvinculado fatos e va!ores ..Ele deteêtõli-ilisso-;;;­ ~mancipatório em realizar a Ídeologia.

106 107
<
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 2 ·A G~NESE DA TEORIA CRÍTICA

_Ao rejeitaras pretensões à verdade absoluta, a teoria crítica teve de


vamente dialétic()_dateoria crítica, embora a primazia da razão nu_nca te­
enfrentar m"uitos problemas que a sociologia do conhecirnento vinha
~ha sido-posta emdúvida. Como escreveu ~arcl).â.e em Razão e revolução,
tentando resolver na mesma época. Mas Horkheimer e os outros nunca
falando por toda a -E;cola de Frankfurt, "a teoriapreserva a verdade, mes­
· se dispuseram a ir tão longe quanto Karl Mannheim - que, por coinci­ mo que a prática revolucionária se desvie do ;;-;ll1inhõ c~rtõ: A.f>_iáúc~ se­
,..-------·-·--- -·- -- -__._
--"·--~·------· ~·--~ ;y ------;-- ---------.. -- ;-,------------· .----,---- ---- -- -,..-- ·;
----~----- -·--;·----;-"'
dência, compartilhara o espaço do escritório do Institut antes de 1933 ­ Jl_ll~<l._\Teiiask,__g_J1ãQ___()_l!l'7~r§O. 102 Ainda assim, a rmportanoa da at1v1da­
em seu '(desmascaramento" do marxismo como apenas mais uma ideolo­ de autodeterminada, da "antropogênese'; fora constantemente enfatizada
gia entre outras. Ao afirmar que todo conhecimento se enraizava em seu nos textos anteriores do Institut. Nesse aspecto,ª irrflµÇ_ncia daLebensphi­
a
contexto social [S~i~sie6u1'ldenCMannheim-parece;;-;~1~j:i;;:~ dlSi:illÇãü­ losoJ"1i_eem_f:i_orkheimer e seus colegas foi crucial, embora eles_se!llp_rete­
mabdsta- básica entre consciênçiave.raa<lefra efalsa,IRi!ªJiieoria críticª fl'ham .entendid'õ~a.veidadeira pi.íXis _(;()fiíõ-i.iinesfói:Ço coletivp. A ênfase
aderia._Como viria a escrever Marcuse, a teoria crítica "interessa-se pelo - - na práxis harmonizava-se bem com a rejeiçã() ~<lte_()r.ia_d<li<ie_n!i4ª':!.ehe,
teor de verdade dos conceitos e problemas filosóficos. A sociologia do co­ ~gel~~ pela Escola de Frankfurt. Nos espaços criados pelas mediações ir­
nhecimento, ao contrário, ocupa-se apenas das inverdades, e não das ver­ redutíveis entre sujeito e objeto, particular e universal, a liberdade huma­
dades, das filosofias anteriores." 97 Curio_same11te,J2<Ji:é1n, aoescrever sua na poderia sustentar-se. A rigor, o que tanto alarmou a Escola de Frankfurt
críticaa Mannheim nos anosanteriores-à emigração, 98lforkheXíiiel:_optou _ '1
._Il.QS_füJ._o_s _p_ost_e.rio_res foi ]iq_l)j<i_açií0 p_r9gre~§[v_<!g.f_ss.a~_<li:e_<l~_da_esp()pta­
por atacá-lo sobretudo pelas impÍicaÇÕ~s-ab~oh1Íi;t;s, e não relativistas,de geiqade hµm_ana na sodedf!c:le oçic:le_ntaL
-sua sociologia do conhecimento. Particularmente lameri'tá~~l n~s~~ asp~~--­ O outro antípoda da__te.oria.críticaMa_r_e_c_Qn_c.iliação.Jfüí_pj_ç_a_e_n!re sujei­
to, disse, era o "relácionismo" de Mannheim, que tentava resgatar a verda­ to e objeto, essên_cia e ªPi!I~!lcia,i2_articulªr e_ u11iYersal,tinhaconotações
de objetiva mediante a alegação de que todas as verdades parciais eram -;_~iÍ:o diferentes. ~e!nunft_ iITipl_i_c:_'lva_urna _razã() objetiva que não_ era
perspectivas do todo. Ao supor que essa verdade total existiria na síntese __sollii!iiiá4as~p_el25_ato_s_s_!lbietiv()s_de__~o_mens individuais:-:Mesmo tel1--­
de pontos de vista diferentes, Mannheim adotava um conceito gestaltista do-se transformado de ideal filosófico em ideal so«:iaréla ·aillda exibia ves­
simplificado do conhecimento. 99 Subjacente a tudo isso estava uma cren­ tígios de sua origem metafísica. O marxismo vulgar tinha permitido que
ça harmonizadora, quase hegeliana, em que era possível conciliar todas as essas tendências reemergissem no materialismo monista que o lnstitut
perspectivas. Para a mudança social, as implicações dessa crença eram nunca se cansou de atacar. No entanto, como vimos,__a_té na_teor~a-~rític_a
quietistas. Ao contrário de Marx, que mais havia buscado a transforma­ )lill'Ja___umametafísjc_a_ negafü'agmna_a11trop()l()gia_11eg<it~~ i!)1plícita;; ­
ção social do que a verdade, Mannheim retornara disfarçadamente a uma ,!lf~!i_v~ng_se11tidg é!e_ se r_ec_usar_i_l_ S~ d_efi11ir de uma forll1'1 f!X<:' COl!]_jss() _
busca metafísica do conhecimento puro. 100 !':_derindo ao aforis.mo.nktz.sçh_i'_!no_de_'lll_e_:11:n:ia gn_111C1e verd<id_eguer ser
Além disso, acusou Horkheimer, o conceito rnannheimiano do "Ser" criticada, não idolatrada".
que determinava a consciência era sumamente antidialético. Para Hork- -­ Como pensadores da tradição da "liberdade positiva'~ queincluia Pla­
heimer, sempre havia realimentação e mediação entre a base e a superes: Jão, Rousseau, Hegel e Marx, eles foram apanhados no dilema fundamen­
_trutura. 101 Mannheim, em contraste, revertera a uma espécie de dualismo .tal_que_ato_rment0_µ_g§@ tradição desde ...oinício. Como_ass\najou Ha11nàh
do sujeito e do objeto que hipostasiava ambos. Não havia realidade "obje­ ,_Arendt, io3 a idéia de liberdade positiva continha UJ11 connito intrínseco,
tiva" que as consciências individuais refletissem parcialmente. Afirmar que ~i_mbolizado pela tensão entre a experiência política grega e a_s tentativas_
ela existia era ignorar o papel desempenhado pela práxis na criação do _posteriores dos filósofos gregos de lhe conferir um sentid0.__l)aprirneira
mundo. veio a identificação dali]Jerd;ideco111 osatos humanos e a fala humana
Com efeito, a práxis e a razão eram os dois pólos da teoijiicrítica, tal _ =-em-slima~~om-~ p~áxis. Das últimas veio a equipai--àÇãõcom o serãi1­
comó tirihamsido para os ílegeTíanÕs de esquerda, cem anos antes, A, in::_. __tê11tico, que era a razã~~ Desde essa época-fiz~~àffi:se-teiíi:ãffvãs-de-íiíte­
teração e a tensão entre elas contribuíram muito para o caráte;~uge_sti­ - gração. A sutileza e a riqueza do esforço do Institut marcaram-no como

108 109
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 2 ·A Gt:NESE.DA TEORIA CRÍTICA

um dos mais fecundos, embora também ele, no fim das contas, tenha Aprirneira.grandeGrítiGa-filos<'.)fica <je_Adorno foi Kierkegaard: a cons­
fracassado. trução da estética, escrita em 1929-1930 e submctidacomow-.-Habiíit~~
tiõnssêhrijí a Paul Tillich, em 1931. Por ironia, ela foiJ>ubj\ç<lSi!!..i.u->!ªmen_­
Antes de P<1SSª-!'fil~à_s_i_l11j)!ic~_<?~s_Jtle!<?cl9J§gica_s, da teoria crítica, con­ te no dia em que Hitler assumiu o poder,-ém-l93i-Siegfried Kracauer, co~
. vém ~eix_~rclaras ascontribuiçõ_es ªºs Ql!tl'<?.S.fil~mbrQ;_~Q i~§tÍt1:1!J?.ara g:Wm Adornõ-hâVla-estl.!àa<lôK:ant,-fóTô-ílõüié~ageado na dedicatória; o
sua forn;n!!ª&.iiQ.. Lõwenthal. e Pollock estavam mais interessados em o~-:' impacto de outro amigo íntimo, Walter Benjamin, também se evidenciou
e
.. iros aSSUJ1t()S, i~ieÍectuais instft~~io'nais, mas participaram aÚ;_,~mente • nos argumentos de Adorno. Benjamin e Tillich estiveram entre os que fi­
zeram críticas favoráveis ao livro. 106 Mas Kierkegaard não foi um sucesso
· das discussões dos artigos submetidos a publicação no Zeitschrift. Mais
influentes fora_rri_j\ªor!lo e_J>v[_aEcuse, que escreveram longamente sobre de crítica nem de público. Embora se tenha devido parcialmente a seu es­
questões teóricàs em seu próprio nome. Examinando individualmente o tilo abstruso e a sua análise complexa, esse efeito mínimo também foi pro­
trabalho dos dois, talvez possamos esclarecer um pouco melhor a postura duzido pelo que Adorno chamaria, mais tarde, de seu "eclipse, desde o co­
meço, pela perversidade política". 1º7
filosófica do Institut. Vamos fazê-lo, entretanto, sem tecer comentários so­
Quaisquer que fossem as suas dificuldades - toda a obra de Adorno
bre a validade das análises que fizeram de outros pensadores; o objetivo é
foi de uma exigência intransigente, até mesmo para os leitores mais sofis­
iluminar a teoria crítica, e não esboçar uma interpretação alternativa.
ticados - , o livro continha muitos temas que viriam a ser característicos
MsirnQ_Q.çnpoy~se..q.u.a.sejnteirarnente_ da sociologia da música nas
da teoria c;ítl~~. Ã ~s~olha do tema cor~ o qual Adorno esperava explõrar
contribuições ql!e fez parn o Jn.stitut durant;~ <lé~~d~ d~-·1930:-Ii-;;; elo ­
'essas questões não foi de admirar, à luz de suas inclinações artísticas. < Des­
2:_eitschrift, Q9I~_m,_R.l!.Q\iç_qJL1Jm amplQ t;studo filosófico e. t~~blllhou-lon­ -­

de o _ç,om~ç9_g9Jivro, entretanto, ele deixou claro que, ao falar em estéti­


gamente em outro. 104 Em ambos, revelou claramente sua prQ](iJt!idacl~.com ,,---- --
,,. ,..~--~--·--~-----~~,.~---"-~"

ca, referia-S,E'_a_ mais do que uma simples. teoria da arte; para ele,
,.-------
assim_
___ ·-­
a posição de Horkheimer. Embora só na década de 1940 os dois viessem a ' ~·-----·-------·---~-,,----·--'·•·-- ----~-,,·--·-------- _,,,.,.. '•

como para He_gel,essa palavra signifi<:ªY<l t11115gto_tjpQQ.~_rtla_ç_ã.o_entre .o


· redigir textos conjuntamente, desde o começo houve uma notável seme­
sí.iJeito~e_o:_qpj~t 0 . Kierkeg~a~d-também a havia compreendido de um
lhança entre suas idéias. Temos prova disso numa carta escrita em Lon­ modo especificamente filosófico. Em Ou um, ou outro, ele havia definido
dres por Adorno para Lõwenthal, em 1934, comentando sua reação ao re­ a esfera estética como "aquela mediante a qual o homem é imediatamente
cém-publicado Dammerung. o que é; a ética é aquela mediante a qual ele se torna aquilo que se tor­
Li várias vezes o livro, com a maior atenção, e tive dele uma impressão ex­ na".1º' Mas, como observou Adorno na primeira de suas muitas críticas a
traordinária. Eu já conhecia a maioria dos textos; nesse formato, porém, Kierkegaard, "o ético, posteriormente, recolheu-se para trás de seus ensi­
tudo parece diferente; acima de tudo, uma certa largueza da apresentação, namentos dos paradoxos da religião. Em vista desse 'ato' de fé, o estético
que antes me aborrecera em aforis1nos isolados, agora parece óbvia como foi depreciativamente transformado, passando de uma etapa no processo
n1eio de expressão - perfeitamente apropriada ao desenvolvin1ento agoni­
dialético, a saber, aquele não decisivo, para uma simples imediaticidade
zante da situação capitalista total, cujos horrores existem, essencialmente,
própria da criatura [kreatürliche]". 109 Para Adorno, a imediaticidade, ou
na precisão do mecanis1no de mediação. [ ... J No que concerne à minha po­
sição, creio que posso me identificar quase completamente com ele - tão seja, a busca de verdades primárias, era-um anátem;,s;:u p;:nsa;;;:irtO,
completamente, que é difícil apontar as diferenças. Como algo novo e espe­ CO~O ~d~H.-;;ldi~~~~,-~;:~p°i;:seaJ";;;igoll- nll~~ espéCie clefronia ~ÓS­
cialmente essencial para mim, eu gostaria de mencionar a interpretação do IDlca: uma recÜsadepaiai;:ir} di~~r, flp_<1l~eºtr::;i:ql!i fiÇ~"
âig\llü 11.lgai;:
problema da contingência pessoal em contraste com a tese da justiça radi­ ·verdade. Ambos rejeitaram a premissa hegeliana básica da identidade en­
cal e, de modo geral, a crítica à antropologia estática em todos os textos. Um .:fré sujeito e objeto. . .. . . . - . . . . . . ..
ponto a discutir talvez seja a relação geral com o Iluminismo.105
Aparentemente, Kierkegaard também a havia rejeitado. Para Adsin1Q,_.
Nesse texto, talvez Adorno tenha antecipado a crítica mais abrangente
_entretailtõ;-a-fàmoSa·· cefobraÇão de Klerl<éga,lrd à-sub)etivlda<l;:-~ontinha_
ao Iluminismo, que ele e Horkheimer fariam juntos, muitos anos depois.
uma teoria da iclenticlade, sem que ele se desse conta. ''.A intenção da filo­

11 o 111
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 2 • A Gtf:J°ESE DA TEORIA CRITICA

sofia dele", escreveu Adorno, "não é determinar a subjetividade, mas a on­


Embora Adorno tenha escrito um ou outro artigo ocasional sobre
tologia; e a subjetividade não aparece corno seu conteúdo, mas corno seu
Kierkegaard em anos posteriores, 11 ' .Kierkezaard: a construção dae~t~ti~a.
cenário ou palco [Schauplatz] :' 110 Por trás do seu discurso sobre o indiví­
foi,na verdade, seu Abschied[adeus]1 18 ~o filósofodin<imaxqu_sls. Em 1934,
duo existencial concreto espreitav~t;maânsla ocilltª d<iverdade tra~~~en.­
··Ado;no partiu da Europa continental para a Inglaterra, onde estudou no
. dental. "Hegel volta-se para dentro; o q~e para ele é a história do mundo
Merton College, em Oxford. Exceto por viagens ocasionais à Alemanha,
é, para Kierkegaard, o homem individual:' 111 passou os três anos e meio seguintes na lnglaterra.~n.Qllil.ll.t() .ll1_1lntinh')
Além disso, __a_{)ntologi<!.l'S'_s_t~).ada !'.()lê. Kierkeg!!rcl_-:r.<1 a do jnferno, seu interess~J2.~l_ami'.1sica e produzia artigos para o Zeitschrift sobre ternas
nãÜadÕ-i:éu; Õjesesi:~,._l}.ã.Q_a.~~R§rfil1_Ç,;,ç.<;ta:í;;l11(). <;entr().Sk§tI"..Yi§ã_o, ~or;·eí;!~s, ~ncontrou te;:;;popara- inidãr um
lÕng~~~tu<lo sob~e E<iill_tlilél
Na verêlade,õ retraimento para a i11terioridade, cief_e11djg~t~ Hlisserl, por cuja obra se interessava desde sÚa tese de donto-;:;do e;;; 1924.
gaard,eraúrn retra~fl1~!1t()Q;tr<ll1fl1<1 repetição mftica e demoníaca, que.~ Qüalldo ~~Ecl.Q_foj_publicado,emJ<.)56, seu tom não era menos crític()
negavaãmÚclanÇa histórica: ''A interioridade", escreveu Adorno, "~tu:h_ ~a aborc!agem anterior(Íe_~er~e~'1ªfd:!ªrn~éril11esse trabalhopo-.
são histÓ~i~; <la l111m"11!cliciepré~hlsforlci." 112·1\õrefeTl:aro~undo histó­ . '<lemos encontrar muitas idéias que Horkhdmer e Adornovinham desen.­
rTc~~~~kega~;d se tornara cú~pli~~ c!~ reificação que tantas vezes de­ volvendo simultaneamente. Embora algumas partes do livro - o terceiro
nunciara; sua dialética não tinha um objeto material e, por isso, era um -capltlllo e a introdução - só tenham sido escritas na década de 1950, o
retorno ao idealismo que ele afirmava ter deixado para trás. Ao negar a
exame de Por uma metacrítica da epistemologia permite vislumbrar a ati­
história real, ele recuara para urna antropologia pura, baseada na "his­
tude da teoria crítica para com a fenomenologia na década de 1930.
toricidade [ Geschichtlichkeit]: a possibilidade abstrata da existência no
Em seu primeiro livro, Adorno havia destacado Husserl corno alguém
ternpo". 113 Com isso se relacionava seu conceito de Gleichzeitigkeit [sirnul­
qn~compartÚhava a ênfase d~i<:lerÍ<egaarcl no eÚ~!Tõpor conseguinte,IlÓ.
taneidade]:114 o tempo sem mudança, que era o correlato do eu absoluti­
novo traballioeie· se concentl"óü nós aspectos.epistemológico~ c[a_o[ira.cie.
zado. Nesse ponto, Adorno fez urna crítica semelhante à elaborada por
- Husser(espeClaímente os-·cÕnÜdos em suas primefras Investigações lógi­
Horkheimer, alguns anos depqis, contra a idéia de durée de Bergson, corno
já mencionamos.
cas, pubÚcadas em três volumes em 1900, 1901 e 19B. Adorno aplaudiu .
o desejo husserliano de ir além do psicologismo como explicação do
. lhlnt<LCQf!l s11_a aniÍlise. gªs implicações filosóficás d<J_.ii:t!eri.()Jid<ide, .
~conhecirnento,_mas, quandoHusserlfaloudo sÚjeito. transcendentáfA.âoi­
Adorno incluiu urna sondagem sociológica daquilo a que se referiu corno
. n~.l~t~ii:l .seude~ej()_de aniq~gar{) indlvíduo coii.tingente. No mesmo es­
. o intérieur burguês na época de Kierkegaard. A interioricl~cl~-snbJ~tiva,
afirrnou,não deixava de se relacionar com a posição do ren~i?r [rei:itista] .pírito que Kierkegaard, Husserl deixou transparecerümanseiQ funda111en~
g_ue.ficavªioi:a_ d9 process9 de produção - uma posição ocupada pelo tal de certeza ontológica. Ao atacar seu método "reducionista", que buscava
próprio Kierkegaard. Nesse papel, ele compartilhava o típico sentimento -essências ~xtern~s por rnek;d;-~ae~plo-;:~ão f~~-0;:;;~~ológica da cons­
pequeno-burguês de impotência, o qual levou ao extremo, ao rejeitar ciência, Adorno, tal corno Horkheimer, defendeu a importância da media­
asceticamente a totalidade do eu natural: "Seu rigor moral decorreu da 5ão [ Ver~itilung]. ·
afirmação absoluta da pessoa isolada. Ele criticou todo o eudernonisrno . A busca husserliaga cie prinçípios primários revelava urna teoria intrín­
corno contingente, em contraste com o eu anobjetal."llS Nã.Q.J'.'2!Jl~S()d!. se~a daidentidade, apesar de ter pretensões antiidealistas. A necessidade
sacrifício ~itt1ou,~_e_ n9_ç:e11,!r{)cle-51.lg_Jel11Qgia; o. homem absolutamente dà certezaintélect\;iCa.!?solUtà;. àrgÍJmeííirni.~dQrPQ~ tendia <l ser_Uf!1._IT.:­
"espi~itnalacab~va aniquilando seu eu natural:-,;õ~;pi~Ítn,tli~;o de Kierk~= . flexo da insegrl;anç~ pess§i!li "Ã liberdade nunca é dada, está sempre
.. gaard é, acima de tudo, 1.una hostilidade à llaúireza:' 116 Nesse eem ont~~s _.ameãçada. [... ] O absolU:tartlente certo, corno tal, é sempre a falta de liber­
pontos do livro, Adorno expressou o desejo de superar a hostilidade do dade. [... ] É equivocada a conclusão de que aquilo que perdura é mais ver­
vfoa
home!ll. ~ m1,tl[rez<i, .ierrii:\ií.iÇ ã <lés~mpenhar i:lffi I'ãpei-Za<la--.v;;; dadeiro do que aquilo que passa." 12º Urna verdadeira epistemologia deve­
. maior no trabalho posterior do Institut. ... . . . . . . . . -- -·-- . ria pôr fim ao fetiche do conhecimento comotal, o qual, cornoNietw:he
. . -- ------· ·-- " -~.-·---,,.......:------~- -------~~---~--,--­

112 113
MARTIN JAY •A IMAG!NAÇAO DIALÉTICA CAPÍTULO 2 ·A Gt:NESE DA TEORIA CRfTJCA

havia demonstrado, conduzia à sistematização abstrata. A verdade não era Adorn.o também criticou yiyamente uma teoria l!)i!l!étiça dªJ?eic~pçiio,
o que "sg_br"."_a»12' Sll!<1.11A-9_Qc9n:.i~Jlniar.eduçã0-do_s.újfitõiQoli.~ q~~- e~controu até na fenomenologia de Husserl, a despeito de sua ênfase
"vice-versa. Ao contrário, residia no "ca!I1QQ..d~f9_i:0' 122 entr.e..o_,5\lj~_ito e o na intencionalidad_e_:_Q_ loc'!~ da verdade,~_!ldo co_r_retal11_ente C()~ee.!l.~
~Q.\2{eto~~o-·reaTIS111o absoluto e--Õ-nÕ,;;inalismo absoluto, ambos os quais <lido, sustentou, "transforma-se _n<!..dePe.n9..~11ci.a. mút1w,__11A.!2I9.dl1Ç.ã.Q..d.o.
· podiam ser encontrados na obra de Husserl, levavam a reificações igual­ 's11j~!1Q~g_Q_()]:,jetO-ll.J11_l'_e]o_()l!tro [sich durcheinander Pruduzieren), e já
mente falaciosas. Como escreveu Adorno em outro artigo sobre Husserl, ~ão deve ser pensado como um acordo estático - como uma 'inten­
"quem tenta redu~iJ:D. rµú:U:do-ão factual ou à essência cbeg'b.4.e.lltllJI!.o.do.. ção'".131 Para Adorno,atentativa husserliana de desvendar a verdade es­
oud~ontro, àSituação del\1ünchbausen, que tentou arraQCjlJ::_Se do pân­ sencial -;ra i~~tli,q~~lciii~iü.~~fo~~~:õ m~Iõ::ii~ã<lü~"s;,-;n-.;nteilü-repuaw­
-tanÕ-pux~~clo as pr(lprÚ1s tranças". 123 Teiõ<lãs ~s ilusões desse tipo, na idéia da verdade sem imagem, é que a
---i\()·i;~;s~~r o imutável, Husserl aceitou implicitamente a realidade do mimese perdida é preservada e transcendida [aufgehoben], e não na pre­
"mundo administraclo". 124 Naü.JalavrasdeAé!oino~-Hui;seilJora~'õ:'peiisa­ servação dos rudimentos [da verdade]:''"
.,
mais estático <l~-- seu período"."'
····___dor-----·-··----------------- -- -------­
_,
Não bastava buscar o permanente no A tendência de Husserl a reificar o dado, afirm()l!.Acl9.fl1.Q,.xelaciona­
. transitório ou o arcako 110 pres<:_ll!e· A vef<lã<leTraaialéfica, afirmou A(!()f:: va-se com a d_e_st@!.<iª-'2:!f<Í-~rfuhrt.1~i[;.X:P~~Í~~Çj;i:fpela_§QcieQiJQe l:>.\lfK\le_sa
no, era "a tentativa de enxergar o novono-velnü;emvez é!e:§Iín.12TeSrriente­ ---;w;nçad;-Conc~itos administ~ados, sem vida, substituíam essa experiên­
-~o-velho_n"Q:U-c;.Y.Q''.126-H:~~-;-;r] 1;nto~.d~st~nir- () ,;;nnclo ~eif;cado por meio Cfa:-ó.• desaparecime!lt9.. da ex:p.eriêgçi_a Yerc!ac!eirn, . ql!e.!3e11ja_rniil_também
de seu método redutivo baseado na intuição [ Wesensschau), mas não con­ havi; frisado como característica da vida moderna, 133 correspondia ao de­
seguiu fazê- lo. Adorno adll.2i!ÜL5l!J&ajJ!!l!iÇ~() t;r!l l!ll1.il.P.!!E!Ué'.gí_t_iJP,.ii<1.a ~ampar;;. ~;~;~~~t~-<l;;J;;;~-;;!.ii~~2:J:é[~_ü:--í'ã~a Kdü~;;-o:p~~t;;;-1;;: a feno­
experiência,. mas não devia ser elevada a um método absoluto dé'.S.9!'h.e: -menologia representava o último esforço inútil do pensamento burguês
. dmeriio:Ao fazer isso, Husserl tinha êxpressàdo uma rejeíÇioin~onscien­ para se resgatar da impotência. "Com a fenomenologia", escreveu, "o pen­
. te-dõ'~'rnundo real", que para ele era "alheio ao ego". 127 O ser não podia _ samento burguês chegou ao fim, em afirmações dissociadas e fragmenta­
'"····----------~~

divorcj;t_r,sg.inte.iramente_(iQ~fatos da percepção nem equiparar-se a eles. das, cotejadas umas com as outras, e se resignou à simples reprodução da­
·---P;rtindo da episte!)1_o_lQ&a de Hu~etl:.Ador.rigp_a_s_soi.i a Çifücai;·s~iiea: quilo que é." 134 Com isso, voltou-se contra a ação no mundo:_"_1'e_l.i.<i_ilc_3!_a_
lism_Õ.matemático--eseu "absolutismo" lógico. A vitória do pensamento
--------------~·------"--~--_,.,---, < -­ práxis a um simples caso especi~I da .L11'.e_ll_<'_i().J1.<llid".de__é_a_'-:º_\l~"9.il_êncj_'l_

-matemátic.o_n.o..Qcidente, argumentou, tinha um compoll_en_tf_ mítico. lliãiSg_r9~~elrns:l.e.sillís..~mis§.f!§_I~.firn.d.<i§;' 1:.' Pior dq qµeJl!dQ, P9r~m,.a

-0-f~rlche dos .l1ÍlrnerQstinhalevado a ';Jffii-eil'li<lio~-;\-J;ã():i4i;rtti4ª<:l> ;;;-posição da iden!Ld!icle a~soluta _e__ci_<!.Uriediª-tifida(i_e_p9g_eriaJevar àgg­


_como Um<! e§p_écie de idealismo !ierll.}_étiç9. Do mesmo modo, 'LÇQJlfian.ça. =~mfo<Í\'.iop;;)ít;~~- de .uma id.eQ.Jslg§_ '!l>s_c>lu!ª·--A~(lr_ll()~jje_i:iu 3_ue _liavi_'l_

na lógica formal como absol11to mental continha vestígiosn1jti.cos. Essas uma ligação subterrânea entre a fenomenologia e o fascismo: ambos eram

formas de pensamento também não eram desprovidas de importância so­ ·eJ(pr~~s:ões. ~~crise-t-;;rmi;;-;Jji~_s_(lcle_ª~d~Q1:1ii~~;~:; 35 ··--- --- - - --.·-·
cial. ~ifiC.<lS_ã(l da_l<)g_i(;a,afirmou Adorno, "relaciona-se _<:()111_ª_forrna-. - Entre os membms'Cia Escola de Frankfurt, Adorno talvez tenha sido o

mercª9.o.[Íit, . cuja.. idmti.dfü:!e...e.:x:i.s.t!'..rw_'.eq1J.iY<1lê_nçi_a'..clo..YaloLde..trn.ca''. 1" qtie-expréssou de maneira mais consistente a aversão à onto!Ügia e à teo­
-Em vez da lógica formal, que perpetuava o falso dualismo de forma e con­ -rii\ili!..!i.l~iit!Cliíd~;.Aomesmo-tempo~Íambémiejefrou ci posiiivismo.il1gê­
teúdo:_MQ!:.,1'9_§11g_eriu_11ma_<1]té'.f.J1iltiy"crn.ªi§_<li11~l!!tc_a,__ql!<=-1:_emontava a c-··nuo como uma metafísica não reflexiva, contrastando-o com uma dialéti­
Hegel. "A
~--~--,~---
lógic:a':
..--------
,,. ___ escreveu, "não é o Ser, mas um- processo
--------------------------------··-·"--·---·
____________ _, _,

ser simple?mente. redl!~ido a() pólo ela 's11Qjetiviciage' ()IJ d"c~()Qj_e!iviciad"'.


--·- ··-----·
··-~-~- ­
que..---
não 12ode ca que não negava nem aceitava plenamente o mundo fenomêníco como
base da verdade. Opondo-se aos que fris_<fl!-'1.!lLUm indiYicl.Wlfü.m.o__gb_stra:
-kaúi:Õcrítica da lógica tem como resultado a dialética. [... ] Não há lógica _!o,e~__aponto11_p~!ª o compone!1te __so~~a!_q_u~__!I]e:_dia_v:~_a_s11~je_!iv,i~~_d_e.

sem frases, não há frases sem a função mental de síntese." 129 Alógica for­ Com igual vigor, resistiu à tentação deaquiescer na_Qi~s9l.1..1çií()Q()_j_n<:liyí,

mal, com suas leis da contraciição e da ici<;!lticl'14e,_ern l11)1a_espéci~ d~-~ duo co;;-tingente numatotalidaêfe,fosse ê1ãõ Volk[povo l ºl1~ claS.$.e· Nem

·· repressor que, em última instância,. levav11_àd,(l!)1)!1'1Çã()_clil_.ll_<l_~a. 1 'º -mesmowªh~iB;;;-;-;;~i;;:·;;~;r;iiü ~;;-m quem tailio ªi:i~~u'dera, ficou imu­

114 115
j
MARTIN JAY • A IMAGINAÇÃO DIAL~TJCA CAPITULO 2 •A GtNESE DA TEORIA CRÍTICA

ne a críticas nesse ponto. Em um ensaio que escreveu depois do trágico irreconciliáveis, anteciparam as tentativas similares feitas por Merleau­
suicídio de Benjamin em 1940, Adorno queixou-se: Ponty: e Sartre deQsiis da guerra. No p;:;;;;-~;~o-;;tlg~ q;e-puhlicou, "Con­
rtrlb~iÇõ~~-par::i:1m;fen~menologia do materialismo histórico'; 142 pode­
O alvo ~e Benj~min não é um su~jeti~~J?E~ten§QlffitÇ ampliadg_demais,
'e sim a própria idéia de uma dimensão_ subjetiva. Entre o mito e a concilia­ mos reconhecer o vocabulário especial de Heidegger - Sorge [cuidado],
ção1j)ólo_s_<l.<!_S\l."E!°-sqtf<1,_c)sujeif():~V:áj)()r~; Diante de seu olhar de Medu­ Geschichtlichkeit [historicidade], Entschlossenheit [decisão], Dasein [ser-aí]
~ ºhomem transforma-se no--pa1co em que se desdobra um processo ob­ etc. Para Marcuse, Ser etempo, a obracprima . de.Heid.egge.r,.e!JJjjQJ:gCég>_:
jetivo. Por essa razão, a fiL<!§.@_"c_cie Be'!iJ.rnin_não__~@~l<pte de terI_or publicada, era "o momento. em .que a filosofia.burguesa ..se__dissRlYe.pQI
137
~~O 9!!~Ji'!11_."S~~-de _ft,j_ici4~_<l!O. dentro e abre caminho para uma nova ciência ..'cgncreta"'. 143 Assim era,
EIU..§.mL~ª2e__p_<:r~ist~i:i:~e__!lª_!l.'lº-i_~l1tida~."__('~~~tingência, Ador­ segundo Marcuse, por três razões: primeiro, Heidegger havia mostrado
no desenvolveu uma filosofia tão "atonal" quanto a música que havia ab­ a importância ontológica da histór;-;;·edo wliiic:!Si his!\lri".2- como um
.!_()_i:_vic!o ele ~<;h,õn~e_rgY 8 - -------- - - - --------~-- Mitwelt, .l1ll1..rt1t1g_çl() s'!<:-i!ltmições.hum~. Seg11ndo1 a() _cle_111()!1Str_ai:._ggç
o homem tinha profundo -·
cui_d;içl()
..... ·-
[Sorge] com seu verdadeir.o_st.atfü!l.9
. -.. - .. -...................
~"-""'~"-"""""-""""-

Seria difícil dizer o mesmo do terceiro dos grandes teóricos do Institut, mundo, [IeideggerJevantara acertaçlamente _a questã() çlo que Ç()!lsJit_t1f_a()
Herbert Mar.c11§~. _Aresar da _~l)fase .consiste11te !lªJ'~g;i_!iyi__dade em sua "ser aljtêntico". Por último, ao afirmar que o homem podia chegar ao ser
~~~-"'"" ·· r ·-·-' " - e -..---~-·

ª
- ·

Obra e do pessimismo. comumente ati:ibuíçlg ela_,1_'9._Q§. escritos de Mar­


"-~-~-

'autêntico agindü'<li.forfüiC:.ãeCíSIY:<i:.üo..iiiiiu<lõ-(pÔrmeio da EntscÍ-lloss-;;~.


heit),-~le ]~_;;ra ~~~los()f!a_!Juri;~sa t~()!()ll_g~_q11a11!o~l_a_!'()c:li_aJr_ - à ne­
~-

cuse sempre contiveram uma confiança implidta!la r~ali.zA_ção possível da


Vernunft n.Qll1l!1!.<!9-5.Q(;iaL A Lebensphilosophie do fim do sé;;lo xi-xp;::-· cessidade da práxis. 144
rece haver exercido menos influência sobre ele do que sobre Horkheimer. Nesse ponto, Marcl!§ejulgou ~__e__f:I~<'.l_egg.<!_r_~l~<1r_<1~ql1~_()_11liJEJCÍSrn_()
Ç..Q!llQ_<lSSinalo_t1 Jürgen Habermas, 140 Marcuse era muito mais receptivo à ~!1_a:v_a_r~[e:va.n!e, O. mei() ~oc;_iaJ ç!e .Sfr_ ~ t~n_i_e()~!<l_ª~~tr_at()__~~E'ªis, _e_a __
filoso.fi.a-;i_;;·;~u.k;.::ü:iliLq_íi.~9.i:<_ltítrQ.S_i'.e._~s<l<lôi~sfÜosófi~~s <lo Institut. C<:JI!Cepção heideggeriana de historicidade era geraldemais para explicar
Suas experiências com Husserl e Heidegge;d~lXararnmarcãs, embora a .. .. .,,situações históricas verdadeiras_ que Íimitavam a aÇ~õ h;~ana. ,,,_
';;s
~-- '
O mar~____
influência dos dois tenha sido muito reduzida durante os anos em que tra­ ~-i:i;_s_p_9n_dia à ind~gação de Heidegger sobre a possibilic!ade do____:>Q
balhou no Institut. Além disso, seu estilo de filosofar sempre foi mais dis­ 'aut~ntico, ap___(lntando_p__a!_ª--'-'--"._a!()_radic.11''. Essa era a "situação básica" 145
cursivo que o d-"- HorklJ.eill1_<!!.2l! Ador!!Q, possivelmente por ele não com- . do marxismo, seu momento de auto-revelação e autocriação. Mas o que
pãrtilharosinteresses estéticos destes. Mas talvez seu estilR também tenha Marxrec<mheçera _e Heideggerignorara era a divisão dasociedade em
sido reflexo da
crença de que escre~er-de rriãilêi~<lsiSieJ;;ática, linear e não -cÍ~~~es. Naquele momento histórico, apenas ;~a cl~;~~ e~-;, ;~~Íment~ ~~--::
~fo;:ística era. ;;;;-;;;-~J~ efl~azde ~~ayfo:;i~-e-repi:ese11J_ai ;i _realid.ª-ç!_e. Mar­ paz de se engajar numa ação radical, transformando-se no verdadeiro
. cuse nunca frisou a intangibilidade bilderlos [sem imagem] do "outro" utó­ sujeito histórico: "O ato histórico só é possível hoje como ato do prole­
pico, como fizeram as outras grandes figuras da Escola de Frankfurt. tariado, pois [o proletariado] tem o único ser-aí [Dasein] com cuja exis­
Sem sugerir que Marcuse tenha continuado a ser o mesmo pensador tência o ato é necessariamente dado:' 146 Por causa de seu papel-chav~ no
que fora antes de 1932, é útil ~minar_~~.ll§.-~§çritQ.S..f'!.é.-lnstitut para ____processo d(!.P.!.()c:IU<j\Q,_Q_!lfOletariado tlnha O !'()len~ial de rraticar atos
..~ompreender sua contribuição para a teoria crítica1 e t<1ml:>~.!!l_§.<!U trab-a- ­ · ra<fu;ais. Só com a revolução se podia mudar o mundo histórico e mate­
lho posterior, às vezes visto ..como. umretorno.à fase .heiçle_gg~l<!.~· 141 rializar a possibilidade da universalização do ser autêntico, além da classe
Enquanto _ele esteve .em Freiburg, .seu pensamento foi ml1it_() ill1.Rf_~_K11_"f!9- trabalhadora .
.. de categoriasfenomenológicas, Ao mesmo tempo, ~le tinha um firme . Todavia, se Hei~ger tLnha...de..se.r_c.ompktn§lt.filk>_f'.Q!:.14arx,_()_!l1.ªI·
compJ:()!1lis_sQSQm.o.marxis!!lQ, embora sem qualquer filiação partidária __J[_ͧ_111_o_JêffilJé.IIl.4gyedaJQ[!l_<lr_:_s_<:_fe_ll_()_menol<,)~o~ A dialética, escreveu
específica. Os esforços para combin~!-~sses d_ois sistemas, aparentemente Marcuse, "deve investigar melhor se o dado se esgota ou não como tal,
~~ --~--~-

116 117
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~TJCA CAPÍTULO 2 ·A GtNESE DA TEOR!A CRÍTICA

ou se contém um significado que é certamente extra-histórico, mas ine­ degger, que ele reconheceu logo no início do trabalho, foi muito signifi­
rente a toda a historicidade". 147 O marxismo também deveria abandonar a cativa. É_mMcª!lte o co.ntrasteentre esse estudo e otratamentoposterior
crença tradicional de que a sup;;estrut;;~;Í<kÕ1ógíéã er~-l~;;;-~f]~~­ do me~o tem~ em Razão e re~olução. 153 Nele, Marcuse aceito~; ;;-;dêntl:
"$l!besif;_jilira~s.OC!oeco]i9_i:ü!câ:''Avelh;;-qu-;,~ do ~;;;prioridade dade entre sujeitoeõ5}etõqueestaváilo«:êíitto-àopensá-g;~;:!~-h~g~!Iá:-····
Õbjetivã;--;i~ que 'existiu primeiro', o espírito ou a matéria, a consciência ~~º s~r, s~gndQ__illlil.ll!~rpi:,!<lS:~() clef.i~gel, era ümá;;~idade negativa,
ou o ser, não pode ser decidida pela fenomenologia dialética e é desprovi­ uma unicid<tcle quepersistia em todo movim~~to ésepar~ção. Por isso,a
da de sentido na forma como é colocada." 148 Uma fenomenologia dialéti­ 'hístÓriaera a arena em qye o ser se revelava. Para Marcuse, a visão hege­
ca também não deveria tentar investigar a natureza tal como investigava a ··jj;~~cla histÓri~ fora uma antecipação da Geschichtlichkeit de Heidegger e
história. Nesse ponto, Engels havia errado. O ser natural era diferente do da Leben de Dilthey. Com efeito, a segunda metade do estudo procurou
ser histórico; a füica matemática, nã.Q.dja!é!i9\::er-av~iª~ e!1}"s11<;-:-pr,<ípÚ<Í__ ler a Leben em Hegel como a categoria ontológica fundamental de seus
'êsfera. ((A naturezan, escreveu Marcuse, "tem l!ID.9- histó,!"ia, m~!!~º é h~s­ primeiros escritos, entre os quais a Fenomenologia do espírito e a Lógica.
tórfa. o sei<aílLli:l5ernfiin1stóriá:"Pl'Em-o;_;t;o texto, um artigo ~obr~ a No fim da_A11Alis".,_l\1_arcuse discorreu sobrç"-!.e.fo_çi[Q ent!S'i!.f!1faseçle
'dialética, ele escreveu: ''A fro!lteira entre a historicidade e a não-historici­ DiÍth~y~a~:_G'eisteswissen;J;~ji~~ e~ ~cJncePÇ~()lleg~l_i<t11acle..Qeist [espíri­
dade r... J é uma frontef;; o~tológica.';150 Essa, coli\iéfu__..ác!:~§-ç~ 11 tãi,1oi :ii:;~ 'to f''Preci;-amente como histórica e em sua historicidade, ª unidade e to­
· posição defendida por Lukács em História e consciência de classe, como talidade interior da vida é uma unidade e totalidade do conhecimento';
· Marcuse reconheceu; ela demonst~ou a distância ~ntre·o-pensamé~to de­ escreveu, "e a ação da vida histórica é essencialmente determinada por esse
les, de um lado, e o marxismo mais "científico" de Engels e dos marxistas
conhecimento. Precisamente como histórica e em sua historicidade,. a vida
---------·---·--
-~----,--.-----·------- -~ ------~-,.~------ --~

ortodoxos da Segunda Internacional, de outro.


se traQsfQflllª .eJn_e1p1ri1Q. Foi assim que Dilthey escreveu a frase pela qual
r-~·-~­

~~ntrast:_t_ª~_é.111 revel()l!<!__dí~ida 9..5'.Max.rn"e..parn_çon1J:)ilfüey, expressou da maneira mais profunda a sua proximidade em relação às in­
que fizera uma distinção similar. A afirmação feita antes, de que Marcuse tenções de Hegel: 'O espírito é uma essência histórica':' 15~~sibiJi~.
foiinenos influenciado do que Horkheimer pela Lebensphilosophie oito­ de uma metodologia histórica satisfatória_e.!1Dli~ªYª:_ô.e.nª.JJ!l.ilío<:i.Q_c_onh.~­
centista, deve ser compreendida no sentido de que Marcuse foi menos re­ cimentoegi\ vÍ<Ía, <Yconheé:lmênt~-b-;,seava-se na identidade última en_­
ceptivo a seu ataque à metafísica tradicional. O que o atraiu em Dilthey '"h-e_s11j!Jto e objetQ._
foi precisamente a fusão diltheyana de histó;;;; e 0~1tÕii:ígia:-Nu;;; ~rtÍgo ' o que distinguiu AontOl()giade Hegel de}<a~ão ereyQl!JÇtJO,escr_i_tQde­
fotítl!!ado "Ô problema da real!dadehistÓrÍca';·rsr·escrfro em 1931, Mar­ poTu"de-Mai=-cl!~e haver passadq v4rios anos no Institut, foi sua in<:!iferença
cuse elogiou Dilthey por ter libertado as Geisteswissenschaften [ciências da .'.bâs"ka: aos componentes críticos da. filosofia hegeliªna ..Alnfase de Mar­
cultura] das Naturwissenschaften [ciências da natureza] e por ter restabe­ cuse na u11idade e rn1j<:l.e11.tidade levou a uma espécie.de.toodic~ia;:a::quaL
lecido sua fundamentação filosófica._Q_coru:eito dilth.ej'<IJ).o...de.Leben elênãõ tentou conciliar com o marxismo que exibia em outros escritos.
jv_igalrn1110_~ da reali~tórica fora ~spicaz~ali,mGu~u~2 ­ -o conceito de negação, que viria á desempenhar um papel tão crucíàlno
por sua ênfase no sentid_(l,__e_ não na causalidade. Já que os homens criam segundo livro sobre Hegel, foi tratado no primeiro como sendo apenas um
a própfiahi~tória;e1aé unificad-;peTôs-vãTõres que eles injetam nela. Fi­ momento na diferenciação histórica do ser. Além disso, _como se entendia­
caram fora desse artigo as críticas posteriores de Horkheimer a Dilthey a que a unidade subjacentedo ser persistia aolongo dotempo, a negação
respeito de seu idealismo e de sua teoria da identidade, ambos implícitos, a
-fóí1evada parecer qí1a;e ~m~ ilusão. Hew_não_fC>j_ tr.<l.ta<lü;.eID:nenh~:
pois, nessa época, MafCl1§..Ç_<\provaya a premissa ontológica dQSQPceito "ina parte dü' livro, como tendo precedido Marx no ataqqe à irracionalida:
diltheyano dahistói;ia. - - - - - ------·- -----­ · de da ordem eli:istente. Em parte alguma a n;jq,i<:l.en!i<lade "ntre oreal.e..Q.
-. J§§ofqi d.enwnstradodemaneira.ainda-mais dara-no-que-Ma.,cuse..ha, racional foi enfatizad<J, como~lriaas~~~ff1 Razão e revolyçãp. Em parte
~iap~eiendido que fosse a sua Habilúationss~h;ijt.-X ontçlg~q,~J.?Hegcls.=-. 'àlguma foi reconbécida a importância da mediação no conhecimento, algo
-ã fundamentação de uma teoria da historicidade..152 A influência de Hei­ que marcou o tratamento posterior de Husserl por Adorno.

118 119
MARTIN JAY • A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAP[TULO 2 ·A G!:.NESE DA TEORIA CRÍTICA

Se o Marcuse dos primeiros tempos, como o Lu15!9_ de História e Horkheimer e Adorno raras......vezes
-----.-----. .. ____________ ____
~---.--·•"""' ._ '" ------·-·· se--referiraill
·---- ... - -
' '
em..s.eJ.ls.esçritos. O traba,
'

consciénciCCde classe.aderiu a uma-teoria da identidade_gue Horkhe~ lho não alienado, súgériii~ implicava trabalharcom os outros, não contra
·e Adorno atacavam, ele também aceitou a possibiliçlafi_e de uma antro­ eles. Somente pela atividade so~ial é que c;-zz~~r ;~é;f;;;;-;;Tc~ti;.,-,.:;g:;;esen]
pologia filosófica q\le os dois desdenhavam. Aié;; de ~provãfa idéiã~ ...do homem podia realizar-se. ~o.rimp_gdir i§.S_(),_() caQi.\glismo era uma "ca­
·· heidéggeriana do "ser autêntico", que tinha implicações antropológicas, ele tástrofe da essência humaµa" e e.x:igia_!J.ffi.i\"re'1º111ção total''.16o- ~------- •
,~pr~()_l:l_\l_Il1_entus!_a:~~sideráv~~ém-resJJE!~-rados Manus­ --- ~~2'.:te M~i:c11~e_i:ia_(;~!ltrlllidage_9pt9!ógica_~~~tr~b~}_l1C) co11ti.nl1º:1
. critos econô111i~o_:fi.lo.sáficQs cJe.Marx. Num artigo com que contribuiu para a ser uma constante_e'l1.~11~_o~ra depois del933. ElQ__i{azão e reygb,1.ç;.ão,
·Die Gesefl;chaft [A sociedade] de Rudolph Hilferding em 1932, 155 Marcu­ eíe procurourelera concepção mãrxista do trabâlho em Hegel: ''.O CQl]­
se afirmou que seria um erro interpretar as preocupações filosóficas dos ceitode trabalho não é periférico no sistema de Hegel, e sim__ajc!Çi_a çg11::.
primeiros manuscritos de Marx como tendo sido "superadas" nos textos tralpela qual ele concebe o desenvolvimento da.sode<l~<l-;:> 161 Ao se con­
da maturidade. A revolução comunista, assinalou, prometia mais do gue .. c~~trar no Arbeit como a categoria básic~ cl~ ~~t~~;~~Úzação humana,
a mera mudança da~s~~-ª-"Zc\Qôiói~;..efilu;;:;rf~is ~mbiciQs_o,_ Marcuse de_senfat_izo11,_necessariamente,um meio alternativo de produção
'contemplãVa-umat~ansformação da existência básica do homem, com a de si111.e§1110 que pode sei'en~ontradunostextosC!eHegel, especialmente
-reafizaçaodesüa éssênCià-:-~~W:Yàlií~;L;,~à...hom~ Õs primeiros. Jürgen l:l:_abelJilg_s2~ünªl9_µ recenteme.nte_.i\jmportância
natureza potencialna história, o que pocJia ser entendido ç 0 mo~ igual dessa segunda modalidade deprodução de si mesmo - a "intera-
·· aeira-hísroriã iiatlir'11-crà liiíffieill';·''' Ção. sim bolicatrl_en~_i:11éªiada'~ i)_l!~Seiª' ~)}~gll~g~!íi e g_§g_~S1Qs .expressi:­
_Nesse ar!igo, MarcuSS0JlJ:~S~_l:1jllJ1i!Y@AmbJgua da reh1_s:ão ~ ~r6'}'A_fã-Marcuse, entretanto, Hegel acreditava que "a linguagem [ ... ]
mem com a'nafürêza.A certa altura da argumentação, 157 afir~1e possibilita ao indivíduo posicionar-se contra seus semelhante~ e afirmar
Marx buscara; unid'âde e11tie o!ióillêrn-e aríàturezâ Jm~-;;-nte_a_meta­ .-·Siias- necessidades e desêjos ó:infrá os'âõs'õütrosTúdi;[<l;:;;;;.-õs antago- .
que Adorno e Horkheimer viriam a enfatizarrposterio.rme11t~1 ~-~~ nismos resultantes são integrados pelo processo do trabalho, q~e também
ção a Marx. Ao mesmo tempo, o que lhes desagradava na visão marxista se-tórnâaforça de~isiva no Clesênvolvimento da cultura". 163 Ao atribuir as·
da natureza'ToieX]:iressaaop<lf:Màrcíliiiérn oi!troponto-<le seu artigo: 'contradições da sociedade a uni tipo específico de trabaÍho, Marcuse pôde
· "Toda a 'natureza' (no sentido mais amplo do ser extra-humano) é o meio falar de uma mudança "essencial': que seria produzida pela superação do
~daVIda hurnanà, o meio.vital [Lebensmittel, que tarnhÇmsign[fÚ:_;~ trabalho alienado (ou por sua abolição completa em favor do jogo, como
mentol doshomens. [...]O homem não pode ser subserviente ao mundo ele viria a defender em obras posteriores) .164 Por estarem rn.e_11Q$_$_e.ggr9s_
-,;-bJ~tÍv,;--~11 ~daptar-se a cie; mas deve apropriar-s~defo:tol°PJ:IQ''$e~.;,,53. da importância ontológica do trabalho, Horkheimer e Ad.:;;.n~ não se mo~­
--Ã{est~va claramente implícita a dominação danatureza,_e11ão ~-reconci:__, a
''lra~~íTltão_diSpo~t;;~ prever uma''iiltegraÇãü''Clearifagoii!Siíl9;~;;;;.;i;~~e
-- liaçãocom ela. fiíÍsul'~ração da alienação do trabalho",_ que implicava uma espécie de teo,
Essa aparente contradição talv~~~-e:><pli_g~_pela__s;onc_ordân_<:ia __<le_. r~ªaidentidade. Como sempre, r_elutaram em fazer especulações positi­
~s11§e cc:iilllVra~m q11e9 tra!lafüo [Ar/J?it]e~a_()_l11eio de o homem "vas sobre a natureza humana. ·· ..
~Teatizá:Ysaa-essêntta:-õ-tra:l5ãlb'o;-afirmôu _Marcuse,era a natureza do ho::­
. ·--memiérá uma categoria-Üntqiógi~~' ~~~º M~~~~ H~gel haviam com­ J)epgisque Marcuseseligqu ao lnstitut_,Jiqr!z!iejmnpªsso11akLgra11­
--i;;~e-;;_dido, embora o primeiro tivesse sido mais perspicaz, ao levá-lo além ~e influência em seu trabalho. Ilk.a!Janc!o!l()l1_()_V()_rn!;mlário-de..Heidegger,
159
do trabalho mental.,.......---
O homem, disse Marcuse, tinha de se objetivar; pre­ àr;1edida que o impacto da fenomenologia em seu pensamento começou
~-----.·-----··-------------- .............
cisava tornar:.s.e tanto an-sich. [e!l13iJ._qfü1J1t9fürcsif~ [parasi],ta11t() ob_: . Jí_d_i_tlli11uir. Descendo um pouco do nível da abstração filosófica, co;;~­
·Têio q~ailtc;~uj~jt.};cfho;;=;;-r d~- capitalismo era produ~ldo pelo tipo de çou a lidar com questões sociais e históricas mais concretas. 165 Parou de
"obfeiivação que ele fomentava. Nesse aspecto, }':1ar_c_useconcord911 C()ll1_ª ~sar o marxismo comouma filosof:la positiva que responderia àpe[gti'nta ­
análise do trabalho alienado nos Manuscritos econômico-filosóficos, à qual -" de Heidegger sobre o "ser autê11Jiço';ecÕmeÇou a ernpregfi~!~sQ:.Illo
--- ___ __ _ , _, _________ ,,
---·---.,,,.-,..~- ---~ .. --------~--- ..---- - " --"" ---·­

120 121
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 2 ·A GtNESE DA TEORIA CRfTICA

um~I1)&lQ4oJogia dia:Lética críticª_g~e_~a útil P'!Lª-~llP.!Lrnr.ªhjgória, nã<L.


meios mentais e materiais de produção, e a filosofia não pode superá-la.
'~istoricidade. Mesmo assim, Marcuse nunca se empenhou no tipo de
·O caráter abstrato do trabalho filosófico, no passado e no presente, enraí­
trabalho empírico que o Institut usou para complementar a teoria. De to­
za-se nas condições sociais da existência." 169 Por isso, disse, a teoria crítica
das as figuras da Escola de Frankfurt, ele se manteve como a mais e~
é !Il_e~os '1J1.lbiciosa doq_ue a filosofia tradicional. Não se consider; capaz
~mêntF!n1ereSS-<illa_e!I}_::,ques_t.;í_esTt9rlC:ªs; Sé1Káftígós nó Zeitschrift nà d; dar respostas_ perman~sãntiqÜíssi;;ãs~q~;estões sõhre<J :CondiÇãó
- ~i&:~dad~l930, por exemplo, incluíram análises do hedonismo, que foi humana. Em vez disso, "pretende mostrar ~penas as condições sociais ~s:
discutido acima, do conceito de essência e da relação entre a filosofia e a p~~Íficas que se acham na raiz da impossibilidade de a filosofia formular
teoria crítica. o problema de maneira mais abrangente, e indicar que qualquer outra so­
füi_5fü~1,1!ir._a fu_J1<;ã() ~()_Ç()J}c:_eito de essênci<I~n:i.-vários sistemas filosó::_--.__ lução [está] além das fronteiras dessa filosofia. A inverdade inerente a todo
ficos, Marcuse seguiu HorkheiII!er, s_i!11ando cada__~_11!rj_11~~III.. seu CQ_!l:__ _ tratamento transcendental do problema, portanto, chega à filosofia 'de fora
_te](to histórico: · -- ----- ··· para dentro', e por isso só pode ser superada fora da filosofia:' 17º
De acordo com a visão característica do alvorecer da era burguesa, a auto­ ..J'~Jtleoria c_rítiC<l_~ era igual_~ji_los<lfi<J:,~.!11!J.o_ra pre_servass_<e muita§
nomia crítica da subjetividade racional ia estabelecer e justificar as ver­ de suas perc~l'_çQe_Sdfü11.llém_ _g;;g_~_r_a equivalente a uma ciência, como
dades essenciais últimas das quais depende toda verdade teórica e prática. "tíãvi~m.. l'resumiciog§.}p._ªi:]([;;_t-ª§.:V:l!lgar~s~-objetivid-;;de-~ie;,tifiZa~-;;
.A.. essência do homem e das coisas está contida na liberdade do indivíduo "faF;snstentou Marcuse, "nunca é uma garantia suficiente da verdade, es­
pensante, do ego cogito. No fim dessa era, o conhecimento da essência tem, pecialmente em uma situação em que a verdade fala tão fortemente con­
priinordialmente, a função de atrelar a liberdade crítica do indivíduo a ne­
tra os fatos e está tão bem ocultada por eles. A previsibilidade científica
cessidades previamente dadas e incondicionalmente válidas. t66
não
~,--
coincide com
-···--·---· .
a modalidade
--~--·-·---· ---·--·-----··.. ______
-~"--··· ,_.
futurista
..
em
.....
_._._.,,.,,.,_
"g:lie"averdade
,,_"'"' .,,,.,_.
eriste."iii"J:l~-
----·--- -·-·.,-----·-··---·····-
-~.-- ~-

A fenomenologia de Husserl, argumentou Marcuse, era uma tentativa vez di~_c::._<1_~ori<1gftl"._~<:r.\ª~"'R.l!SS.."I.llill.i!ll~f!~OJ:§f2!:50 im_'-l_gi11<1t_i­

friCassada deresgata~ a t~90ã"burgu~;;:j~!;~j~~;·p-;;-;~~ci;~<l~[;~;-ú~ -­ vo, até_tit§pic_o, que transcenJ~sse os limites aiuais darealidade: "Sem a

'üm êssenCíãHsmo que era,. disfarçadamen--;::-W.iiií ide.Ofogia~í:!Q ã~t;:,"rúa:= _fai;t-;;jia,_ to.do c:_onhe~i~e;,to-filo~Ófi~~--p~~m~;~e~e~;;g~;@~:49-j,[~s~vt~·

rismo. A teoria materialista, em contraste, "colhe o conceito de essência ou do passado e cindido do futuro, que é o único elo entre a filosofia e a

onde a filosofia o tratou pela última. vez como um conce_it_o dialético ­ -nlstóri~ realda humanidade." 172------Assim, a ênfase na fantasia
·- .. '-......,.. ----· ,.,,.,__ .._...____
sobretudo

. -.-.2-·----------·­
na Lógica de Hegel". 167 Ela devia relacionar o conceito com a dinâmica, C()I11()_está encarnada nas grandes obras de arte, e a preoc"1pação com _<!_
com a práxis humana, como fizera Marx. Nesse ponto, o antigo Marcuse práxis eram as. duãs expressões caÍ:deals"êlarec:U:Sa da .te.oria çrfü~~:<le"ct;;..
heideggeriano havia claramente desaparecido. Em "O conceito de essên­ j1g_aro presegte e IJ.at:rfü a possipi_lidade de tm1Jut11ro trnnsfa.rm.'!<Jo. Nesse
cia'~ ele escreveu: aspecto, Marcuse, Horkheimer, Adorno e os outros membros do círculo
Desde Dilthey, as diversas tendências da Lebensphilosophie e do existencia­
interno do Institut estavam de pleno acordo. Com o tempo, isso viria a
lismo interessaram-se pela "historicidade" concreta da teoria. [... ] Todos es­ mudar, mas, _c:lurante adéc_4ç!a_de 1930,talve.z__Q_período mais fecundo da
ses esforços estavam fadados a fracassar, pois se ligava1n (a princípio incons­ Jii~!9.r_ia_ c!oJ11stitt1t,a i11!~!l!:ªS~<l.da_t~o_ri_<lc_i:aciona~;;:;:;;gi;;-açãoes!éti~ __
cientemente, depois conscientemente) aos próprios interesses e metas a cuja _c_<1__e_d<t ação hu!Ilana p<(recia p_elo m~f!O§ __um':'_~er-'11l0hllºr.mais}nçerta. ..
teoria se opunham. Eles não atacaram os pressupostos da abstração da filo­ e fr4gU..q uefosse..
sofia burguesa: a efetiva falta de liberdade e impotência do indivíduo em um
A sobrevivênc_i_<i_~essil.~W.~Im1.ç.a po.de.se.r.lida..nas.entrelinhas doJivi:o ..
processo de produção anárquico. 168
_ quêocupou ·Marcuse durante_ os últimos anos_ de atividade_ no Institut,
No ensaio "Filosofia e teoria crítica'', Marcuse esclareceu as razões de <J..­ Razão e revolução. 173 Escrito,_em larga medida,12~r_a,_re~&'.L'!iH:~ieLde.SÜ1L
filooofiiourguesaier ·ficado- tão h.ermeticamenteis-óíi_fj;,-,-"Ü.f!l9sQfo.~2~ -às:_ocia5~0 _com o_n_azismo na.menJedoS.JloI.te.c.americ.anos -._<J__g_J'Q_S!;() da__
podepàrtlCipardas lutas sociais à medidaqt;~~ãóéjil_<)_sofo prÓfissional. tese foi que a teoria poHtic_<l__g,f_H~el, inclusive sua controvertida ênfase
"lfasa 'díviSão-dÓ trabalho' também resulta da moderna separação entre os no Estado, era_Íg_ti:ig~~~i;;,eq);~~Jil.>'.bill.i!lista, enquanto os nazistas eram

122 123
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 2 ·A GtNESE DA TEORIA CRITICA

irracionalistas, seguindo a tradição do romantismo organicista-,~


Como Horkheimer e Adorno, Marcuse também rejeitou a suposição de
~-()j?rimeira longa apresentação da teoria crítica a Ul1L
que o s<?si_afü_ll1o_ei:a u!Ila__cl<:c:()rrência necessária do capltallsmO."faTcomo·
rúblico_de língua inglesa."' Como vimos, Razão~ revolução demonstrou
--~f~s:;;;anifestou ceticismo quant~-à-lig;;Ção entre a em;ncip;Ção humana
a distância que Marcuse havia percorrido nos dez anos transcorridos des­
e o progresso da tecnologia e do racionalismo instrumental. 177
de sua ruptura com Heidegger. Na maioria dos aspectos cruciais, o livro
Junto cO!llfS8ªalitu_de_vinha o.rern11hecimento da necessidade do
concordava com os princípios articulados nos ensaios de Horkheimer no
~ofü11tâil§lD()<: d~p_rá_ids. No entanto, tal como os outros membro~ d~ Es­
Zeítschrift. cola de FrankfurtLlv[arcuse achou que a parceira princjp_<!lnax~lªçiio ~I!:.
.J~L~_I1.'.:'.J:f()risJi~im~r,)v1arcuse~st""."ªnsioso por afirmar_<ÜI!lP~f!O tre teoria__t> práticà _~daram;;;_te:_a::_]Jrií.nei~ã:-''A-teo~iâ.preserva a verdade,
crítico e neg~!i"._o_dor~sionalisll1o h_egelia_~Çi='fàCcomo viria ~ fazer com ~que a prática revolucionária se desvie do caminho certo. A prática
Freud, muito tempo depois, ansiava p~;-~everter a imagem conservadora segue a verdade, e não o inverso:' 178 IJos anos__ p_()~es - quando, ao
de Hegel. Também se preocupava com o modo como esse componente contrário de Horkheimer e Adorno, ele veria com bons olhos os protestos
radical tinha sido eliminado da obra dos sucessores positivistas desse filó­ militantes - , ~ai:s:m.~1JIL!1Q_aj:i'!Il__do11ou sua confiança na primazia da
~eta. --- ··
sofo. Em críticas extensas, Marcuse denunciou as implicações políticas
conservadoras de Comte, Stahl e von Stein, tal como Horkheimer fizera Dessa e de outras maneiras,_ Razão fif.l'Q/.u.çã.o.foi,.da~amente,.um.pro.­
com os herdeiros do positivismo no século XX. Marcuse também enfocou duto _ela, Escglad(! ~l'_aJJ_J<fu_t"t,_Em alguns aspectos, todavia, Marcuse reve­
as ligações entre Marx e Hegel, continuando a análise anterior da unidade ··· !ou um g.r:au de independênci~--em -~eiãiãü à i;;:ftuêli.C'iã<le'Hõr1<heimé;:
entre a obra inicial e a da maturidade de Marx. Os componentes hegelia-_ "Ãdiferenç;nã atitud~dos perali.t-;:-a ~~;rt~ãü<lã<l~clot~~bãih; sfg;;:ifi:
dols
nos do rensam~nto de Marx não eram, para Ma-;:~~-s~,'!:fcln~mbara­ cou que Marcuse hesitou em envolver Marx em sua crítica da racionali­
--çó qu~!ii1ham sido para os marxistas mais "científicos'; p;;-is, r3r'U'k.-­ dade inst~U:ffieiltafao-môdo-cürli.ü ;;;1ãffi'ã tãzel"_.H:0rr<r1eim:ei;:A:aorno.e
. Hegel f()r'1.l1ll1 pensador progressista. "A concepção-subja~é~te ~;_ todo o
ã.lgu~-;;;:-émbros ;;:;;;;;;~~;;_t~sdâ"'fucolad~-Fr;-;;-kit;;;::;;~-Também se mos­
sistema [hegeliano]", escreveu, era que "a ordem social dada, baseada no trou mais__ge11_e[ü_S() C:()1Il_o_s ~i:c:i:ss_o_r~s (le!Vf~r.".cl2 91:1_~~: Só~ritl~o;;_ o..
sistema do trabalho abstrato e quantitativo e na integração dos desejos por -··revíSionismo de Bernstein; ::lggi()ll__ Plt!kli_<l!lC)Y e Lênin portentarem pre­
meio da troca de mercadorias, era incapaz de afirmar e estabelecer uma s_ervar a "importância crítica .cl.a.. doutrina mar~Ísta"; 180 praticamente igno­
comunidade racional''. 175 Em um sentido ainda mais central, como vimos, --rou Kautsky e a Segunda Internacional. Atém:<llsso, Ra_zE_o_e_rev_o]uf_il_~llão
trouxe um_a _cfü_tin<;ijo ~_ntre o "materialismo histórico" de Engels e oma­
~11::[~'-~l!~e considerou que~ ênt'ãsé dêM.irx no t)"ãb~l~()Jo-ra antecipada rg_
,()bra do próprio Hegel, ponto em que ele e os membrq~c!oJnstitllt.dis~­ --u;iafümg dialético.que e>taYª11ª base da teoriacl"TtiCa~P;r fi~:Mar~~se
. 'cordavam. -;;-ãüse interessou tanto quanto;-;;,~;~ i{C,;!<l,-;imer;
~~vários de seus pri­
meiros ensaios, pelos elementos de teodicéia, conformistas, da teoria da
Por outro lado, já ~nt'!()_MAr<:l}_se CQ!l~o_r.<l<l.\19.-Plenarn~!}te com Hork~ _
identidade de Hegel. Tal desinteresse talvez se relacionasse com sua relati­
heimer em que o impulso ontológico do pensamentode Heg~Í:p~~~;_ii;j
va indiferença às premissas teológicas do pensamento hegeliano, que vá­
ele olhara de maneira favorável durante seu período heideggé;i~~~, fora
súplahfádo pela abordagem mais histórica de Ma,x: ·· ·-·· -----~---­ rios de seus críticos se apressaram em assinalar. 181
--~º conjunto,po_:.~!ll, l_<(J"q_a_e!~\!ºl'!ção 0_i__u]11~Q~$J2.W.ÍQª-.l!.~!l.uada
0 todo em que se move a teoria marxista é diferente do todo da filosofia para Marcuse, ci:ija associação com o Institut se enfraqueceu na décadade
hegeli~na, e essa diferença indica a diferença decisiva entre as dialéticas de
1940, à medida que aumentou seu envoívime~t;-;;.õt;:a_b_alh_Õ:gp_yerllãmên­
Hegel e de Marx:-_ Par~ He.isel, o todo era o to~o da razão, um sistema onto­
·tal. Trabalhar no OSS* e no Departamento de Estado não era exat~--;;;_;­
lógico fechad,o, idêlltiCO,em última instâúÇ1ª:.lli>~.sisJ~ma racional da histó­ -...
~--· •"

___ri_a. [.. ,LMarx...des.Yjru:.ÚÍ.ou.a_dli!~i_c.a.dessa..b.aâ.e. ontológica. Em sua obra, a


negativi?ade da realidad~ torna-se uma condição histórica que nã~ode .ser * Iniciais de Office of Strategic Services [Escritório de Serviços Estratégicos], que depois veio
~11ipostasiada C01!.1.Q_~.1:!1__e.~~ado de CQl~~.~.~IéjJl~I@':-6"---~-----·- ----·--­ a se transformar na Agência Central de Inteligência (CIA). [N.T.]

124 125
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 2 •A Gt:NESE DA TEORIA CRITICA

o que a Escola de Frankfurt pretendera sugerir ao defender a práxis revo­


a ela. Além disso, reconhecia que a pe_~ql!isa_c~entífica des~nteressada era
lucionária, como viriam a frisar os detratores esquerdistas da instituição
l~possível em urna sociedadeem que osprópri2~!12.iií~li"s!i;:;~-;; 11ã(;~J..am
em anos posteriores. Apesar disso, como outros membros_ cl() Ins.titut que
"ãtítônornos; o pesqlÍisadór, afirmou Horkheimer, era semprepa[le çlo oh,
. trabalharam para o governo durailte a guerr:a~_Marcus.:_ foi fieli_QQs.eto.­
<feto social que tentava estudar. Como a sociedade .,que~le investigava ain­
vação de qu~ a união d;;.-teQriª !" daooptá°ti-;;;__era..apel'las...uma..e.sp_e.~
'aànão resultava da escolha humana racional e livre, o cientista não podia
ÜtÓpl~~. Aiuz das illt.~Eniltiyas exist~11tes, colaborar11()__esfo!SQ_de _gl1erra
evitar participar dessa heteronomia. Sua percepção era necessariamente
cont;:;;-l-Iit!er~-~-mesmo tempo mantendo a p~~~za dos compromissos mediada por categorias sociais acima dasqu~is-clenão _podia se-eTe:;;:ar.
teór!cõs;cffficlímente poderia ser chamatlQs:!lUJ.n1ª cQnc~-~ii.<l__ deso_nrosa_ Nu~;;~tárlo em-que ~~;-pondia a Marshall McLuhan, trinta a;;;;-;;;:;~
(Mais t~;d~",·é-~!a~Q;Úab<Jlha.r pªrª_Qggy~rno..norte,a;neric.!lno.tornou.-se tes da recente popularidade deste, Horkheimer escreveu: "Inverta-se a frase
c~da-~~zm~is problemático; Marcuse continuou a fazê~lo_a_t§~(;\1~1:!ª_d'1 que diz que as ferramentas são extensões dos órgãos dos homens, para que
Coi:éfa,) b papel do intélectuai, conio o Institui passou a crer com uma os órgãos também sejam extensões das ferramentas dos homens"'" ­
certeza crescente, era continuar a pensar no que estava se tornando cada uma injunção endereçada até mesmo ao cientista social "objetivo'; positi­
vez mais impensável no mundo moderno. vista ou intuicionista. Esse argumento tinha relação com a objeção de
Horkheimer à metodologia diltheyana das ciências culturais, já mencio­
E Separação entre o trabalhQ_mentill e o físico não podia ser supera~. nada. ~riador não podia experiinentar_cml.$l1ª _llJeJlte .aquilo que
d~ pela ;;çâc;düfiló;Jfu;aom;;~-;;s havia um t~abalho teórico proveitoso a )Jl1I1calinha sido f~ito{íela ação-~o;:;sciente e. pknarn_gnte. autônoma.
-~~; feitoparã ajudar a ;;~;;·111;;:;;:et·a~hegã(l:á:d9dia ~mql.iii! !l_~illça<;_~()~dós-· Ao discutir a possibilidade da previsão, Horkheirner usou o mesmo ar­
dois poderiâoçorre~ (~~ t~lvez pa;~ explicar por que ela não se dari;r··­ gumento. O cientista social só poderia prever o futuro quando a sociedade
El11bo;a ~ i~p~rtância da ação política nunca viesse a ser negada,-ª~()~~ª-­ "º7osse ma_is racional. A idéia de Vico sobre a capacidade de o homem com~
crí!_~c_a_J?a_ssou a_ter de se dedicar eJCÇl!lsiy<lmente.ao exame Q_a_re;iligªde .. ,.,.p~eender sua história, já que ele mesmo a fazia, ainda estava por se con­
s~cial e cultugl. cô;}üºffiétodo de pesquisa social, porém, ela teria de ser cretizar, pois em nossa época os homens não construíam sua história. Por
mu~dlf~;ente de seu equivalente tradicional. HorkJ:ieiin_er_ destacou isso isso, as chances da previsão científica eram tão determinadas socialmente
em 1937, em um de seus artigos mais significau:;;:os no Zeitschrift, '~ quanto metodologicamente."'
_tEa.<lic:.i.onaL~_teoria crítica". O obi_e!iy~dil~()!_Í_<l..t:_~lifii:iE.~
182
Na sociedade atual, portanto, seria um e_rrnver_os intelectuªj_s_ corno
_sempre fora. a Jor1_11y!<JS~.9-4e pri].1c_ípios11~r_a~s,_i11_ter!1!1E_1Ell.t.<:()~es;, freischwebend~ (liv~~;;;_ente flutµantes, ou descomprorneticlQ_s )~.para usar
. para çlescrever () rnll_!lc!_(), Isso era verdade para todos, quer tivessem sido o termo que Mailnheim havia retirado de Alfred Weber e popularizado .
gerados dedutivamente, como na teoria cartesiana, indutivamente, como O ideal do intelectual "descomprometido", acima das pelejas, era uma ill!c
na obra de John Stuart Mill, ou fenomenologicamente, como na filosofia ~fi;;;~ji~~~(j~e 1iYI~ ser descartada. Aomesmo tempo, seria igl!alm.!"'.n­
de Husserl. Até a_dênc.iiu111glo-saxônica, com sua ênfase no empi!"ismo_~-­ te errôneo ver o intelectual como inteiramente verll'uri:.dt,.arrajga_çlq_gm
.,,------------·----------~--·--------··-----­

na verificaçi\o, buscaxa pl"Q]2Q;;(Çij~:g~râ"isÍÍ~ratestar. x;:;;~ta-~_pesquisa sua cultura ou sua classe, como tinham__feito_.Q.s _pe_ns<J.çl0 g~_s_mi!xxistl!§
~t~~di~io~il tinha sido o conhecimento puro, nio ~ ~ção: Q~.:;1_1do 41.;;:P.on~: e
..Vilí11sçhJp_opµli~tasJ vulgií_r~~· ''' o;-c1-;;is extremosinterpretavam m<l_l__a_
tªya_nª.<cJire~ão di1?!ÍY.i4ª_ds,"t:0-!11üilücasüda dênd~ deB;;:c.;;, §_el19bje,. sub)~tividade, vendo-~c-;;~o total;n~nte-;;utô;;Qffiã~(,\lfi:ifª1mfi"iii);~Ü;:;tin­
tivo era ;;-Joiii{piQJecn.,<Jlógico do mundo, o que era muito diferente da gente. Apesar de, sem dlÍ:_,id~, ser pi!ili_9uocieda_<i_e,_<JJJC_iig~gr_não
a
--ij~á-xis. Em todas as épocas, teo.ria tradicional mantivera uma separação era incapaz de se elevar aciil}.<!.~)ll,_?m.cgrtoºs.momen.tQS. Na verdade, era
rigorosa entre pensamento e ação. seuºJeverºrevefârasfÕ~Çã_;~ ~epdências negil!iy<JS dª §(l~Í_ecJ~cJe, que ap;;·;;~º
A teoria_9:iligl dife_Jjª--f!iss~Il) vários aspectos. Antes de tudo,__re_c_us_a:­ "!avãmpãrãufüã-reáli<lade difere;;!-e.·ri;;:; síntese, manter o dualismo for­
0'.ª:.§.~ .aJ~iJçhigr 0 C()I1hE:<:irne.!l!o col11.<l<!lgo_ §epag_c!()_d-'1 ação _t:___~e_rioE malista de fatos e valores, que as teorias tradicionais de tipo weberiano

126 127
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALi:TICA CAPÍTULO 2 •A GtNESE DA TEORIA CRITICA

tanto enfatizavam, era agir a serviço do status quo. 186 Os valores do inves­ mediado', [... ] enquanto 'abstrato' significa 'unilateral, insuficientemente
tigador influenciavam necessariamente o seu trabalho; aliás, deviam fazê­ 'relacionaclg~=r~Ii\tl);iiffi~nt;niÕ.-:;;:t~<lfã:<lil'".189 M~diante um exa~-;de di-.
lo conscientemente. O conhecimen_tQ.J'-'JJnteLessl'., em última .insllincia,_. ·fu;:;:nt~~- fenômenos concretos dos dive~sos campos dominados pelos in­
. , . ,---­ tegrantes do Institut, esperava-se que fosse possível chegar a percepções
~.1.11separ<l~
Além de se contrapor à meta do conhecimento puro, que perpassava a
mutuamente fecundas, que ajudassem a esclarecer o todo.
teoria tradicional, Horkheimer
·-
~-·~~- ...... "' --"~'""
também rejeitou o ..ideal de princípios ge­
··--·--------------
----~---"---- --·---------------~'"'
Sub_ii!_Ç".f11.Ç.a.tl!.cl()1 poré@, e.stava o objetivo da mudança social. Ao re­
_, _ _,_,.
~ • •'•~•"•-•ro•-ro·-~"--'""'-""-'°'"'""''"""-----~·--··-•-·"-•--~
---­

rais e de comp_r:.().:'_<lções 0.11 refutaçQS!s.PQIIQeiod"-.~Kç_m.p_los. Ji:,;y~rdg_c;l_e.s_ ~ a pesCJ.1:1.1~ª com a_:p;:áxi;;,_Q Ins\itut teve o cuidado .Qe distin,gyir
gei:~~5.2ií.l_'l~<:.'1 te<-;ii~_crí_tLc_a li<i;l~ii_!lãO_Qodiam. ser comprovadas nem sua abordag_e_111_e_a__c!<:~<l.cle:Etos_sl.2..Pi:~.g!l!<lti..S1I1_'?· Isso foi o que Hork­
refutadas tendo como referência
~-- ' ' " ~------·--.
a ordem atual, pois implicavam
---------'"·""' ______
~-~-~- ~-----~---"-"'_______ a possi­ heimer e Adorno deixaram claro em várias críticas à tradição pragmatista,
biildade..de.ÜmaÕutra ordem.187 Devia haver sempre um momento dinâ­ fortemente arraigada, que o Institut encontrou nos Estados Unidos. 19º Sua
~i~ó-r{a cornp;;;~çã;;;,m-~omento que apontasse para os elementos antipatia pelo pragmatismo se manteve intensa por todo o resto da tem­
"negativos" latentes na realidade vigente. A pesquisa social sempre devia porada nesse país. Em 21 de dezembro de 1945, Horkheimer escreveu a
conter um componente histórico, não no sentido rígido-de. julgar osacón:­ Lõwenthal:
.-feCimenfos no.cõritéxfo de forÇas históricas "objetivas", mas de ~:].Qs.ill.llL Por minhas citações, você pode perceber que li um bom nú1nero desses pro­
das possibilidades hist.éJEiç;is. A pesquisa social dialética era receptiva às
dutos nativos. Agora tenho a sensação de ser um especialista neles. A coisa
percepÇÕes geradâs pela experiência pré-científica do homem; como vi­ toda faz parte, decididamente, do período anterior à Primeira Guerra Mun­
mos, ela reconhecia a validade da imaginação estética, da fantasia, como dial, e, de algum modo, segue os moldes do empiriocriticismo, só que é
repositório de aspirações humanas autênticas ..A,; experiências válidas para muito menos culta do que o nosso velho Cornelius.
o teórico social, dizia, não deveriam reduzir-se à2§:s~i'i:Y~5~<?ç6i:iiiõla<la:::
Q_ pragmatismo e o positivismo) escreveu em uma carta_p_osteQor, ''têm
·el1i1ãbü~ãió;iõ.
~ml!!!!.A idep.tifis.ª.ç_;;;g_fiç_fü2§.9fia _e__c:i_<:!ltificis.mp". 191 Embora os
· --,-Ãp~~;J'-de ter sempre em mente a totalidade das cgnt~~c!içõesprese_n_-_
pragmatistas estivessem certos em relacionar a verdade coro a atividade
tes e das possibilidades futuras, a teoria crítica se recugy;1 aje t9nrnr çl~
ínasfadamênte geral e abstrata. Muitas vezes,jenta.v:a_apreender o todo tal
_h_i}mãn~a CO.Ql.P!~en§ão dessa relação era simt?l;;;~-d~~~j;:p-;;;;;;·
dialética:
cõrí1Q:;l:P_a~i:.ill~gç~sio eniJia;t~11crç_tgs. ComóieibniZ,Via ;;­
universais presentes em fenômenos históricos específicos, que eram como O ensinamento episte1nológico de que a verdade é favorecedora da vida, ou
mõnadas, ao mesmo tempo universais e particulares. As vezes, seu méto­ melhor) de que todo pensamento "proveitoso" também deve ser verdadeiro)
do parecia enfatizar mais a analogia do que a causa e efeito, no sentido contém um engodo harmonizador, quando essa epistemologia não faz par­
te de um todo que contenha tendências que realmente leve1n a urna situa­
tradicional. Despojada de esteios teológicos, a observação de Benjamiiuk.­
ção melhor> promotora da vida. Separada de uma teoria clara da sociedade
que "o eternomaisparec_e_o aca~.<Jrg~nto de renda num ~9_.dJUJ!JS:­ inteira, toda episten1ologia se mantém formal e abstrata. 192
~l1mil3.déii?.188põ(fe:fi;i.ter s~;:yi_çl.Q.4t:1I1gdelo para a teoria crítica, nã.o_f.ok­
se pela insTStência igualmente forte na necessidade da explicação concei­ O pragmatismo ignorava o fato de que algumas teorias contradiziam~­
.1ll.~f Característica de gra~d; p~rt~ dÓ~-~scritos.do Institui, em especial os .E:.<!1idade yjg_e_gk_e.t:rnb.ª!!:@y!lm contra ela, mas não eram "falsas". Assim,
de Adorno, era uma justaposição ora brilhante, ora confusa de afirmações ~l!llPlic_aç(!ç§ c:l9.m:.ag!.llatj_s_ipo e!~mais conformistas do que crít.i_ç;J.;;-;;
sumamente abstratas e observações aparentemente triviais. Isso talvez se despeito de suas pretensões; tal como o positi_visf!19, el~-~~~~~i~·;ieJneiili
explique pelo fato de que, ao contrário da teoria tradicional, que equi­ .1'ª!:<l.i!.<1lé112_d9~~'.fa1os'.'._ç_iQ~~Ao fazer essa crítica, Horkheimer pres­
parava o "concreto)) ao «particular" e o ((abstrato)) ao ((universal))~ tou um serviço valioso, à medida que o marxismo fora inéorretamente re­
..çr!!~ca seguia Hegel, para guem) cgmo escreveu_George Klinet '''concreto'.::::,. duzido a uma variação do pragmatismo por Sidney Hook e outros, na dé­
'-si~11ifica'111t!l!i(aç~t<l4Q,__§_11flçienieme~complexamente cada de 1930. No entanto, como mais tarde __assinalariam Lii"(enthal e

128 129
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 2 ·A GÉ?.NESE DA TEORIA CRÍTICA

Habermas, ele deixou de perceber o potencial dialético de algumas linhas nuou a crescer, exceto por um momento dramático durante a guerra,
:d~ti~4lç:ãii?i;\~ªfü!i :' 1
u----- " quando Horkheimer voltou temporariamente ao otimismo de seus afo­
O materialismo dialético, afirmou Horkheimer, também tinha uma rismos no Diimmerung. 198
teoria da verificação baseada numa testagem histórica e prática: ''A ver­ Nesse ínterim<c2 Institui começou a dirigir a maior Jlilile_d.e....@a..ate.11.o.
dade é um momento da práxis c~_;__quem a identifica com o sucesso ção par~-~e_sf()i:ç()_<J<:_<;ompreender_Q_d~~P-ªI~<:.Lmentg__das for<;J1.s_gitirn~
salta sobre a histórià"e fãZ'àpOIÕgia da realidade dominante." 194 {l.qui, a ~negiítiva_~~_l!()_Jllll.1'.do. Na verdade~_ci_sig_~_t.UJrrLdistanciamento.das
expressão fundament<iU_"p_r~_§__<:_qmta';_9'1.~II1-ªis. uma vez indica a_il]l­ ~tJR'1S:ões ma:t:eriaj,s (no sentido de econômicas), embora elas não fos­
'portância<lã-teoria ~omo guia da ação no pensamento do Institut, bem sem inteiramente negligenciadas na obra de Pollock, Grossmann e outros.
Cõrnocertãcfrcu!aríâãdeâefaCiodiíiõ:)'forlilieínl'i!ãI~rto11:_11g_gǧ_t:i2-<!e_ §.'ll.Ye& clela§,_.QJn.§tituLc.onQ''llttQ!!-ª~-~-ge_r_gi'1s no .BE.~!Lmarxis.tas.tradi­
unificar teoria_~_ prática, .niio.s.e.deY:exia..<:.sSJ,uecer.. precipitàdams:_Q.te,,a,~ cionais hayi'1.111J:~~g.'1,cl()_ª_l!fü'1Jl()SjÇji_Q..§.!'S.tJILcl;ída -;'-ª-.§gp~ǧ_tr_11t.11ra<J'1 ..
~~-s~p_ara,. Essa distância aparecia da maneira mais clara na socie~o.d.erna. Isso significou concentrar-se P!:iwordialmente em
relação entre a filosofia e o proletariado. Para Marx e Engels, a classe
..----
dois problemas: a estrutura e o desenvolvimento da autoridade, e a emer­
--------­
~------------------··-------,·-------·
trabalhadora deveria ser o único catalisador da nova ordem. ''A cabeça des­ ~cl'1.~_a_p_rg)if~1:'11'.~º-dª_C.l1lt_l1I'l.<i..\'_massa. '.fodavia, para que e_ssª~-ª'11.fü­
saemancipaÇi\c;·é~-ftlosofia, seu coração é o proletariado. A filosofia não ses pudessem ser satisfatoi:_ia!11!_!l!:e.mns:ltJisl'1~E'1.P.i:~çi§.Q.Pf.!'~ncl!eL!.!ma
pode se tornar realidade sem a abolição do proletariado, e o proletariado Taéllíli~lí:o~:mo!l~l\i" 111.<ii:l\'.hta.dássico..<la.subes.tr.utmiLe.4ª s!o!J>,r.e.sJi:11ttJ!il·
não pode ser abolido sem que a filosofia se transforme em realidade:' As­ O clo que faJt~".'1 ~r.a_p_§i__colQgi".(), e a teoria que o Institut e;colheu para
sim escreveu Marx na Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel. "fõrneêê-io foi a de Freud. De que modo se deu a integração improvável
No sécul()2Çl(, Jl()rém,afirmo11JI_()r_J<h:ei111er, a~ condições materiais eram do marxismo com a psicanálise é o tema do próximo capítulo.
-ta!squ; as classes trabalh~doras das soc~e_<iªc!e_sindustriais avançadas já
-rrã1Ys·e-;i:ãeqúaVãm.aut
- - - - - ·-·--··"'_____ ·-'
0J;'~"tic;;~~~tea ;;:;~e papel. Se aceitasse servilmente
-ç­
:1ud_()_2_~-~-()_J?role_tªúª-dg_parecia de~_<OÍ<lr,__()J!:l!e!.e~~~bdicaria de sua
função verdadeira, que era ressaltar persistentemente as possibilidades de
·1rãnscendera.ordem vigente. Nesse momento, a tensão entre intelectuais
e t_r:_abalhadores. era J1t:cessária. para.. com!?ª!e..L'1§,Jw_dênçias ~onfor~
do proletariado, 195 Por isso, '1 teoria crj_tica_11'!_0 s_e y_@ simj>le~ como_
-~-expressão da consciência de uma classe, o que indicava a distância que
'mantinha em relação a marxistas mais.ortodoxos, como Lukács, que en­
fatizavam sistematicamente a consciência de classe, mesmo quando "tra­
zida" de fora. Ao contrário, a teorjª_çr.flifª.s.e d.i.s.I?ll.!1.ha a se ali~_ªJwlª~ a.~
forças "progressistas" que e';íiv,;sem dispostas a"<!izÇ[ ~-Y~f~~de",~ 96 ~
' · ~~_<!_c,onfir~-ão da teo.ria_critifa..§.<)_p_q_d_i-ª.Yir.J?.QL§.tJª.X!'lª_çfüi_çon1ª­
"práxis correta'', o que podiasignificarisso, quando a -~ni~'1 slM_5<ê.q~~
.. n~~rxismo declar~va. adequaga pMa a:ªção revolt!ci~~~ria_!11()§!J:'1Va :s.e.. i~:. __
· capaz de CUJ11E_r_i_r_s~Ll..P_apeLhi§!órko~ Na década de 1930, o Institut não

havia confrontado plenamente esse problema, embora começassem a sur­

gir dúvidas. "Hoje", escreveu Marcuse em 1934, "o destino do movimento

operário, no qual a herança dessa filosofia [o idealismo crítico] foi preser­

vada, está toldado pela incerteza:'"' Como veremos, essa incerteza conti­

130 131
CAPÍTULO 3

A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE

Na psicanálise) nada é verdade, exceto os exageros.


- Theodor W. Adorno

Se o medo e a destrutividade são as grandes fontes afetivas


do fascismo, Eros pertence sobretudo à democracia.
- Os autores de A personalidade autoritária

_!:Ioje, é difícil ayª!iJ!Lq.i!l!.<i<jd'! dos J'IiJ11.eiro.~ teóricos qu~PLQ1'1!§5Til!!L9


casame11to ilJ1ti11::1t11i:ªL4.e.J'~eud f M<J.LX:..Com o ressurgimento do inte·
rêSSeê~ Wilhelm Reich e o ;~pacto de Eros e civilização, muitos setores
da esquerda passaram a aceitar a idéia de que esses dois homens falavam
de questões similares, ainda que a partir de pontos de vista diferentes. En·
tretanto, uma geração atrás, o absui:d_(),<i_~sª_ic!éi1t,,rarªJ11.~I}!e e.rªqt!_e~t~():
nado em q11aJg11e.i:IaiíQC!ó':A.!Ii!i1.}(o. EmQ()ra Trotsky tivesse sim12atizado
Cõffi-;;-p~kanálise, sua vozjá não era ouvida nos círculos comunistas Qt:
tôdoxosd~;de 1923-,q~;;do u;·tabu-~aí~obre Freud e se~eguidores,
eobeh;~i~~;;;:;~ pavloviano se transformara na nova ortodoxia.]'!Q.]2LÓ.::.
grio_ :111.º.Yim_ent()_..P~i.ca11'11,í_tic9,_~i".gJr_i".<.iJ3"!.!l.f".ld,_Qtt9_.fen_içhe.Le..!'füJ.l.
-----·-
Fedem!inham ..., -..............
expressado i11teresse
.....----·-·
----~-'----"'-'""''
'"""""' ... ..na
~--- ,.,

com pouco sue~~()·' Reich, seu proponente mais vociferante a partir do


,.
integração.elos_ c!oj_s_§l§.temª§d!l.?§
.....------·· --------­

fim da década de 1920, caiu no ridículo geral, 2 sendo tocado sem cerimô·
nia para fora do Partido Comunista e do movimento psicanalítico em
meados da década de 1930. Conservadore§..eJ:.aslicais C.9_11..C:_<lr_<!<l_V<l.!l1.~ll1.<:!!le
o pessimismo básico de Freud acerca das !2.0ssibilidru:les..i:k...!IJJJdw.~Q,
"'élãfefãincompatível ~om '.'s-~sl'~E~_llSªS.L~v.<.>luc\o_g~i,ªª-®-unuzerdadei·
roriíafXistã:Afüda em 1959, Philip Rieff teve chance de escrever: "Para
'M'ãrX:,'ü''P'assado está prenhe do futuro e tem no proletariado o parteiro
da história. Para Freud, o futuro está prenhe do passado, um fardo do qual
somente o médico e a sorte podem nos livrar. [... ] A revolução só repeti­
ria a revolta prototípica contra o pai e, tal como esta, na totalidade dos
casos, estaria condenada ao fracasso.>' 3

133
MARTIN JAY ·A !MAGINAÇÁO DIALÉTICA CAP(TULO 3 ·A INTEGRAÇÁO DA PSICANÁLISE

A tentativ_a_<l,()Jt1stitt1! für Sozialforschung de introduzir JLQSicanálise 0 único problema que incomodava Horkheimer seriamente - sua inca­
en:lsü;téoria crítica neomarxista foCiiill pass~-~~~erouco conven­ pacidade de dar aulas sem um texto preparado' - fora resolvido, e a aná­
cional, que-assmalou o deseio.dõTnstitutde d~b;.~r para trás a tradicional lise, que, a rigor, mais tinha sido um exercício educacional do que tera­
camisa-de-força m~0is!~~-c-;;;;;--a'eii:o~a-·das divisões básicas entre a pêutico, chegou ao fim. Mas ~":'!E<l_U_,r_J9i_çonve11sido_ª-.Crifü·_g__[g~itq_\_o
geração Grünberg-Grossmann de membros do Institut e seus sucessores, Psicanalítico de Frankfurt, como uma ramificação do Grupo de Estudos
liderados por Horkheimer, foi o contraste em suas respectivas atitudes rsical)Jl.lí!ic(ls .<:lsi_~aj'~i§ie]ª'Aiiriii~llâ, qiie-era~ P"~ ;ti-a-~ez, ii.'ffiã:-Zri;;­
para com a psicologia. Em anos posteriores, como veremos, a indiferença Çã-;-~ecente em Heidelberg. 10 lnfil!.ê!_rado e_~_J_?_<!_e__f::"_e_rej_i:o_jej_()_2_9, o
_$_~de Eni_rg __"tl_~!lmªun.Pª'ª _co_Il1_!Ll'§.if91Qgia f()i_l_l!.'.1_j9}_f!!_tor~'LSl-lJL_ Instituto Psicanalítico de Frankfurt tomou-se a primeira organização C(lf!~
__oiippedir_;i_m de ser plenamente aceito pelo círculo íntimo do lns.l.i!ut. 7;;;~4ªm,e;;te-fre~dia;~as;11gar~~inda-queindiretâmente;- uiE'i~;ifr_er~ a
Quando Ne,_;:;;,-ann-finalmente se Ínter~;~~u por Freud, }áeSt;;,-;;-q~;se ~-;­ "7id~°4e alçmã. Manteve Íambém uma ligaÇãõ-frouxacom r:forkheimer e
fim da vida, tarde demais para integrar com êxito as duas tradições.' ··--;~~s colegas, que tinham ajudado o novo "instituto convidado", como o
~se_dgHorkheimei:_p_or_});.e.lld remontava à década de 1920. es­ chamavam, a obter aprovação universitária. O J_Jróprio Freud eséreveu
timúlado por Leo Lõwenthal, que fora analisado por Frieda Fromm­ duas_ cartas a HoE!<h~i111.eI.12'!Lª-eXPrgsgcfil!ll_gtatidão.ff · --·-------­
-.--.-------------·-- -.. .,.-.. -----~-·--- r-- - · · - - _ _ , . . . - - - - - - - - - - - - - - ­
Re!Chmann em meados ue_s_sa__igc_it:<fa. Além disso, a relação entre a psico­ --·-- .Llllª<los.. a.Landauer, como membros permanentes, estavam Heinrich
~logia e o-sõdàlismoera Ü-m tema freqüentemente discutido na Frankfurt Me_Ilg,_.EJ:i~li~i;,;fill.1l~~;;Ji~J:~a;;:J:i~üm~-P~i~i!ª!'r9iiiiii~~~{~1úii:ii;-,. 12
daqueles anos._~l!IJL.d_g_çerl;i\_Í!]1portânci!'___f!O_s_círcuJos universitá­ N~s primeiros meses de existência do Instituto Psicanalítico, luminares do
riosesquerdistas depois de 1929 f()L o s9cialista ])elgaJlfndrik de Ma~ movimento, como Hanns Sachs, Siegfried Bernfeld, Anna Freud e Paul
cujo livro Sobre a psicologia do socialismo,' de 1926, tentQn_súb.stitJJit..o._de.o_ Fedem, fizeram conferências. Georg Groddeck também era um visitante
terrnipismo eco_nômico por uma militância de fundamentação_mais_sub~ freqüente. Dos quatro membros permanentes, Fromm, que havia mais de
_jetiva_, De Man atacou a psicologia utilitarista e orientada para o interesse, dez anos era amigo de Lõwenthal e fora apresentado ao Institut por ele,
· que atribuiu a Marx, frisando, ao contrário, as raízes irracionais da ação não tardou a se estabelecer como a figura mais importante. Somente ele
radical. Na época, correu oboato d,e 'l_Ue de !vf.anfora cl:rn.mªdo aj.nt.eg]:<l.L se religou ao Institut für Sozialforschung depois de emigrar para os Esta­
o corpó docente da-Universidade de Frankfurt, como prgf~s.ioL de_l'siçg_, dos Unidos, onde logo se firmou como um dos mais proeminentes entre
!Ogíã social, para servir de contrapeso ao marxismo m.ais.-ºItQdoxo do ·os chamados revisionistas neofreudianos. Sua mulher também se trans­
- I_f!~ili:~t~ -Qu~lquer que tenha sido a razão,_su~_çgeg_it_slª-nªº-f9nYer.teJt
6
feriu para os Estados Unidos, mas teve pouca relação com o Institut.
Horkheimer e os outros a.uma postura irracionalista, que era claramente Landauer, ao contrário, foi para Amsterdã, onde resistiu insensatamente
incompatível com a teoria crítica; o flerte posterior de de Man com o fas­ aos apelos de seus ex-colegas para que deixasse a Europa, até ser tarde de­
cismo pareceu confirmar a desconfiança deles, Mas- osmembrosdOins-::-· mais; morreu em Belsen durante a guerra. Meng teve mais sorte: trocou
. Ütut compartilhavam com esse a~t~r~ -d~;~j; .de ir além do utilitarismo
Frankfurt pela Basiléia, onde se estabeleceu como especialista em higiene
instrumental que permeava o marxismo vulgar.
mental. Assim, o Institut fez sua p_i:im.~r.a_!ellJ.atiYª- de __çoncilii!!.l'xeu<!J!..
Já em 1927, com o incentivo de Horkheimer, Adorno escreveu um lon­
Marx, principalm~-;tl~{i'Q!iriel9_ç19_t_i:fj~alh_(l_d,_e
.... -.... . - -·-------·
Fromm.
go art~o_em_querelãcio11_{lii~jiit'i:ii!.l.;QIS~c§r_r;:ã'Íenomenologia ~c~

---~·""""'"' _. .,_

jjênlª1.de Çorneliüs.7-bestacou que~nfu~


Nascido em Frankfurt em 1900, Fromm foi criado em um meio muito
cionada e simbolicamente interligada do inconsciente, e compartilhavam
religioso. Durante a adolescência, sentiu forte atração pelas correntes
.uma tentativa comum de pai-ifr <lãs exp-;;iênci,;;--;-;ntemporâneas para messiânicas do pensamento judaico. "Mais do que qualquer outra coisa",
chegar às do passado. 8 -~º ~eguinte, J-Iorklujmer, cujo interesse pes­ escreveu tempos depois, "eu me emocionava com os textos proféticos,
soal na psicanálise não era recente~ decidiu rnlisar-se e esc.nl.heJ.1...c.om0-­ com Isaías, Amós e Oséias, não tanto por suas advertências e seus anún­
analista Karl Landauer, que tinha sido aluno de Freud. Decorrido um ano, cios de desgraça, mas por sua promessa do 'fim dos tempos'. [... J Quando
----·----~ -----··--------·--·---·
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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA
CAPITULO 3 ·A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE

eu tinha doze ou treze anos de idade, a visão da paz universal.e da har­


conceito de inconsciente, com suas manifestações na neurose, nos sonhos
monia entre as nações me comovia profundamente." 13 Aos vinte e poucos
etc. e na resistência, assim como seUconceTiõdlilâmicÔ-d~~-;: Esses e;~~~·­
anos, junto com Lõwenthal, Fromm ligou-se ao círculo do rabino Nobel.
Ce-itôS"êOOti;{;:~~;m··a ser fundarnen~od~o meu h;balh~~ Dizer que
Também contribuiu muito para a formação da Freies Jüdischen Lehrhaus
abandonei o freudismo, por ter abandonado a teoria da libido, é uma afir­
mação muito drástica, que só é possível do ponto de vista do freudismo or­
[Livre Casa Judaica do Saber], ao lado de Georg Salzberger e Franz Rosen­

todoxo. Seja como for, nunca desisti da psicanálise. Nunca desejei formar
zweig. Embora Fromm tenha perdido os atributos aparentes de sua orto­
minha própria escola. Fui afastado pela Associação Psicanalítica Internacio­
doxia em 1926, depois de submeter-se a análise pela primeira vez em Mu­
nal do quadro de seus membros, ao qual pertencia, e ainda sou [1971] mem­
nique, em toda a sua obra posterior persistiu uma atitude de religiosidade.
bro da Associação Psicanalítica de Washington, que é freudiana. Sempre cri­
..Dos seus antecedentes.judaic()~,J".1:()Ill_J11_~~sin;ülmt'llgo muito diferen­ tiquei a ortodoxia freudiana e os métodos burocráticos da organização
te do que ~ec~ te~ sido as"s"irJ:lilado por Horkheimer e Adorno dos deles. internacional freudiana, porém todo o meu trabalho teórico é baseado no.
-~-enfãti zar_.ü_cará.t.er nãorepres~niãdiw.al[,_ta..da verdade e._'lj.!!l:_ que considero terem sido as descobertas mais importantes de Freud, com
exceção da metapsicologia. 18
possibilidade dedefiniro homem essencial, Fro111.tr1..ªf1E!:11;()_ll._;l_J:!~.i;i.:J:_
umá-ãntropÕfogfa filosófic.a. Como Martin Buber e outros integrantes do Para outros observadores, o abandono da teoria da libido e ele outros
·-éírculOd~ L~hrll~us, ele entendia a nattir~zaht!lnana como algQ.giado_ componentes cruciai~çl() pensamev_°\Q_g.riginal dehe~Si_,~Çõ;;:,-Õ-ocomple~
pela rel'15~()~()l!l_O í:Q"u;;-d~~~-pela i;;-_!e,r_~Sã()cl~"..E~;~Ô~-;.··Í;;-;;;pareceria xo <lef\dipo,~gnffiZou que Fromm se afastara tanto dos elementos essen­
···maiS-nÍtidamente em trabalhos posteriores, depois que ele deixou o Ins­ cirusdã-te{ir1;·9;:i;;:d9~:;;, iil~~~;.:~:JlliiifiÇ4YeLçhJ1mJí~9=-4~~.Ievisiõ_gj§p;: ·
titut, mas grom~ sempre afirmo':'.31 realida4~1:'~~· í\distiiJÇão de Fromm entre as descobertas clinicas de Freud e sua me­
Contudo, essenão era um conceito fixo como a natura romana, e sim uma tapsicologia - com o que ele se referia não apenas às especulações re­
idéia da natureza potencial do ser humano, semelhante à physis grega. conhecidamente controvertidas ele Freud sobre as pulsões de vida e de
·p;.orJ:l-msempré-enfatizou as i!TlP-~<:<1,Ç(jes_~ntrop()l~gica_,;_ dos Manuscritos morte, mas também à teoria freudiana ela libido, ele aceitação mais geral
"económico-fiwsoficõs de'M~l;i. 14 Nesse aspecto, aproximou-se mais de Mar­ - não satisfez os que viam uma ligação mais íntima entre as duas, inclu­
. (;}$ê"(°pefo·-;;~nôs;nt~s da entrada deste nos assuntos do lnstitut) do que sive seus colegas do Institut.
de Horkheimer e Adorno. Dentre os conceitos associados à Escola de ~a Fro~f11_11_lll1"..ª-te11.h.'1..<l!!~is_ticl9_i1_1_g,iraw_enle__g_e..$~Us f$ÍQI<;9.§
f'rankrur.t,..Er_o_mm não raro· usÔU·o~oncertode alienação, de Marx, espe­ parà funclJ.r: _p~i_<:<i!lál~se e_1!1.ª.1:](isr,rig, .s_\l<l~ te_I!!<I.tiv_a~ p9~!.(efi9.I'§ Q<l.8-~ªrn_Il} ­
"'cialmente em s~obraposteriõraolilsfffiiV'i\õ tentar fundamentar na se menos em certos aspectos da obra freucliana e cada V<,'Z!Ilªi~ em afP.<l­
--;;:~tl;;;;;a ~~;;;-~i~l-d~-~e; h~~~;;,;--~ idéi;ãe um homem aperfeiçoado, ãos psícológiêõsqiie ó próprio· M~~x havia a11!~çipfül.Q, 19 Ao escrever sua
Fromm buscou vislumbres dessa natureza na obra ele pensadores como autüfüõgrafüi intelectual em 1962, Fromm considerou Marx uma figura
Spinoza 16 e Dewey. ~a_cle...l-'140_,_te_gl:Q..LLk.além da~logia, em_ muito mais importante em seu desenvolvimento: "Que Marx é uma figu­
direção a um sistema ético que também se basearia na natureza humana. ra de importância histórica mundial'; escreveu, "com a qual Freud nem
i~~~;;-itlum~nisti<:le__§g;l~Ü~a~ <j~~ ~p~receu dã rriâneira rriá1s pode ser comparado nesse aspecto, é algo que precisa ser dito." 20 A con- _
completa em Análise do homem (1947),g;p_~~turali~ ~i!_gpm{é.tka .de.]2fü'..l!DiYerniLq!!e..ele_haY.ia_.apLendiclo.na.j11Y.e11tu.de,
_gun.s críticos tiveram <lifu:1c1ld~<l.e ele.ss:>I!.()~ 17
· ;Na década..cle..i9Áo, Fromm...illuda deixado para trás não apel!!Lo
ª..
levou-o a apreciar idéia ~ef11el_h_a11t~J>IQP9§1.il p_QL.Maq~J.'.-ª-.~e-l!fo.§!'!.f­

dãsiffiplicaçÕes menosafir!:11;ati\''1§.<:l<lpçJ1§ll.fileJltQde Ete-l!Q,Apesai:_çl_ie_ele

Institut, m.as também o freudismo ortodoxo. Isso não significou, é claro,


'sêhàver mantido f1~Í a muitos conceitos freudian.o.s.

·que ti~~~~e ~b;~dÔ-nâ<lõTõdOs_Õ_s aspectos-de sua posição anterior. Ele es­ -~os ant~s, po~érn,qiÍ~;;-d~-F~~;;:;-;;·~~gou ao Institut, sua at~­

creveu depois:
~"-~~ii.<LaJ'i:e:w:Lei:a_muito_djferen..Ú'. Após estudos nasunÍve.rsi­

Nunca abandonei o freudismo, a menos que se identifique Freud com ateo­ dades de He1delberg, Frankfurt e Mumque, ele fizera sua formação ps!Ca­
ria da libido. [... ] ~i~e::r::o.:qo:u:.::e..:a..:r..:e::al::::iz=a~ça=·º:..::.:fu::n::d:.:a:::m:::e=n=ta::::l..:d:::e..:F:.:r.c.eu"'d"-"fo'-i_s_eu_ nalítica no Instituto Psicanalítico de Berlim. Ali, fora analisado por Hanns

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÊTICA CAPITULO 3 ·A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE

Sachs e tivera aulas com freudianos eminentes, como Theodor Reik. Em Assim, afirm()u, ~Il1Seril1os_p_si_"._()l<}_g_i<:o_s,_()_ql1e_l:í()f~ll~~~i:_elv!a_r~t1se,
1?2625~~".\.":':ª a ".}C".~~i:Jl.J21:<Í!iç;i_çlinlÇih_~!J1llora,.~omo..Sachs-g._muitos ~d~pÕÍs de-romper com Heidegger,..<!izi<i_m s()!Jr_e_<1_j8~ii1_ª.\:>§tratª-·çl_e_
âos primeiros analistas, nunca houvesse
-··-----···----·······-·--···--·--·--·······-· ........... estud.acclo.medicina
··- - . ..Conf,
. ut!lli:
"historicidade". Ele introduziu um. rnmponent.e.e.sp.eôfkameIIJ~_frn.l!.diil.­
~.s.çi:".'7".U_,_()C()n~ato '1l11'_cc_ifl1eÇ()_t:"ter_col11_P_aciente§teai:Lsempi:eini_um 'ííããülisarmecanismos psicanalíticos como conceitos mediadores entre__o
est!_fl11:11ode valor inesti!llávelr,ara seu trabalhoesp~c11lati\To, estímulo que indivíduo ~-~()C~_clª.<:!e - por exemplo, ao falar da hostilidade à autori­
faltava aos outros membros do Institut. 21 Pouco depois, seus primeiros ar­ dad~-;;-~ermos do ressentimento edipiano em relação ao pai. Esse foi o
tigos começaram a ser publicados em periódicos psicanalíticos ortodoxos, uso que o Institut veio a fazer de muitos conceitos de Freud. No primeiro
como o Zeitschrift für psychoanalytische Padagogilc, organizado por A. J. número do Zeitschrift, Borkenau foi escolhido para escrever uma crítica
Storfer, e o órgão da sociedade do próprio Freud, a revista Imago. sobre O desenvolvimento do dogma de Cristo, o qual chamou, em tom de
. _Ef11?ora seus temas refletissem com freqüência aJ()_r~o-Lcligios<i aprovação, de primeiro exemplo concreto da integração de Freud e Marx.
(por exemplo, um estudo sobre o sabá), 22 Fromm logo manifestou inte­ Nessa mesma edição, Fromm tentou explicitar ~s_p_riil1eiras_reg_r<1sJ1;k..
resse_r,r_t:~_ü<::f~lo_~:se_11_v()lvi1Ilento_d_e_111I1<t.. l'~i~()l()g_i<_l_§.Q~i~í::-uin a~tlgo sicas para uma psicologi;.- s~<;i;il, 2 ~Ç()me5ôl:lí)ôr ci:"i.!içªLª iclé!a c!~_qtte ª···.
que escreveu para a Psychoanalytische Bewegung em 1931, "Psicanálise e ~~õlõgia-só.se-aplicava.ao.individuo.~,pªrª defen.der_e~~e.p911t.o_e.:vista,
política': causou considerável controvérsia nos círculos analíticos. Ainda destacou os primeiros trabalhos de Wilhelm Reich.27 Mesmo atacando a
mais indicativo do desejo de enriquecer o freudismo com descobertas ldéíã de qualquer" t1põae·atíns·grupãCõü.dêffiãs5a, Fromm co_1_1_si_cl_er()11
marxistas foi seu primeiro estudo longo, O desenvolvimento do dogma que os. iJ1_djvíg11_QsJli\() ç:l(:isti2rrijgilad_()sdesu2 sitl!ªÇi\()sQÇial. A verda­
de Cristo, 23 estimulado pelo tratamento dado ao mesmo problema por delratarefa consistia em complementar e enriquecer o arcabouço marxis­
Theodor Reik. Para Fromm, Reik se equivocara ao tratar os primeiros cris­ ta básico, que ele aceitava como um dado. O marxismo, disse Fromm, fora
tãos como um grupo único, homogêneo, com uma realidade psíquica uni­ incorretamente acusado de ter uma psicologia simplista__çl_a_aquisitivcidade;
forme. Ao fazê-lo, repetira teólogos como Harnack: "[Reik] desconsidera nesse aspecto, ele apontou um dedo acusador para Bertrand RusseH e
o fato de que, aqui, o sujeito psicológico não é um homem, tampouco um Hendrik de Man, por terem visto erroneamente o egoísmo econômico
grupo que possua uma estrutura psíquica relativamente unificada e inal­ como a base da visão marxista do homem. Na y_erdade, afirl:11_ou,__<1.s_.l'!S.:
terável, mas se compõe, ao contrário, de grupos diferentes, com interesses ~s_psjc:ológicas de__ ~K..era.m12ousª§ -:-:: me.nos numerosas do que o ·
sociais e psíquicos diferentes." 24 Para Fromm, a transformação _funda!Ilfil1::.. ~.Pf.ó_prio. Er.om.m viria a ªfirfilar !<'.111.Pºs_clepois.. Pa_i:~_lv!'1:E.1':,__() h<lmemJi:
-~al~o ~Ogn:'._a_~r_is_t~()-:--: !'.'1!'§.'1!1cl-2.<:l2.iclii~.-ª<:!ºfi9.!Ü~t<l do século !, de um nha certo_s~puls()~_l:i..ís_iç()s (fome, amor e assim por diante) gue bus<:":
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homem transformado em Deus, para a idéia homoousi~;~;~t~ do século
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.~_")?_e_11s_trans_f()ri:n11.cl.o.em.home.m ~tt!!'"':.'1 da m~dança social. So- . Ma;··o marxismo necessitava de percepções psicológicas adicionais, as
~ente,." ~oru:ulação_anterior expres~va.'1_11,ostilidade rebelde dos prit;ei:__ quais marxistas como Kautsky e Bernstein, com sua crença ingênua e idea­
_l".°_s_ cns!a()s__a_a_ut()_'.:l_~a_c_l~_!!Y_llt()r_iclad_~.@JJ_aLA mudança doutrinária lista em instintos morais inatos, não haviam fornecido. 28 A psicarníJj~p_()_:
__c_o:respondera à aceitação da a_utoridade_5!~}:?!:1JS e a uma reorientação do ­ <leria fornecer o. elo qJlefoltaYª~ntre a superestrt1tt1rnidi0Jógica e a base
ressentimento para dentro, para os próprios cristãos. ''A causa desse des~-­ -so~iôê~-;;;,õ_;p~ª: E@ ~lima., p9derj_aconsubs.ta1.1ciªr ªi<:!~i.a..mª~Iifili§t;i <1ª
·aoorâmento", âfirmou Fromm~"rêsfde-;i;·~~dança-da situação socioeco­ ·~nãturêi;;·~~sencial do ser humano. 29
nômica, ou no retrocesso das forças econômicas e em suas conseqüências -·Frornfil:tinliª!1!!1Údéíãmuito clara do que constituía os aspectos mais
sociais. Os ideólogos das classes dominantes reforçaram e aceleraram esse fr.ç_~-~"-_psican~Iisep;;:.:~-;:;;;;;;psi~üíügiasõCTaCLõgõnõ-éõilleÇü do
desenvolvimento, ao sugerirem satisfações simbólicas para as massas, artigo,30 deixou claro quere)eTtâva·a:-feôrfa-fi'êüala~a_das p_µlsões .cl-". vida.~
orientando sua agressão para canais socialmente inofensivos:'" de morte, a qual descarto;:;-zo-;nõ-;;;;;:;:;ê;claTfil~!)sa.IB.Q&Riol()gj;Lt.P.~~
.. Em ve~.4~.i!_!rib_ui.J:_cl()_utriga.s i4~oJ_(\gi(;<JS _'1n_ece_s_si_cl_<1cl~sps_íql!icas uni- . cÕ!ogiª-.. .fl-;_n vez disso, .a<:l~rlll il diçQ\Qmiª fre.u.diana..a.Il!eriQr.l'.ntr-".J'.$-l'!IL.
_:v:r~a.is, Fromm ressaltoµ as difere11ças entre grl!PºS..§2Eia_i_s_~§12"çíficos_._ ~_;;__e_r_~tic~_e_9-"..aJ1.!.0pre§_e.rYaç.ão ..S:ºJ11ºªl'ri~~f_'l_Pºdia__ser d~slo_c~4a,

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIAltTICA CAPfTULO 3 • A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE

~da e satisfeita na fantasia (por exemplo, o sadismo podia ser gra­ a. Ele aceitou a maior par_te_g_<1_c_()gc_epção psican~c_~.<!<L<:<t.i:ªie.LC.Omo
tificado de diversas maneiras socialmente aceitáveis), o que não se dava ~ubfu!;.;;:çã;;-;;~-forlií_ãÇãõ ::_e~_'.l~l?l!lsÕ.eSliin:damen.tais_daJihido. Ba­
com a segunda (só o pão podia saciar a fome), a sexualidade era mais ~as idéias de Karl Abraham e de Ernest Jones, começou pelo es­
adaptável às condições sociais. 31 A tarefa de uma psicologia social analíti­ boço dos tipos de caráter oral, anal e !l".!li!~l.:_~nt~três, manifestou pre-_
~~,.J;:;~~O:~()tivadÕp~íQi;;~g_nscie_!l~ em ter­ Tefên-;;ia pelo-éaráfer-geiiifal;·o quaI· àssoci():t_à_~11_<:l_e.r_e11Mnda,.àJ1he.rdade
' mo,~ do_~feit() da subestrutura socioeconômica n_as p_tJ_lsõ~_psíqui.:;~~.s..l:>L 'eàãía@Iíi:íaa2'DeulndiC!osâe antipatia pelos tipos não genitais de ca­
~sicas... As experiências infantis, argumentou Fromm, eram especialmente rátef,ãlltipatiâ que marcou toda a sua obra posterior e o distinguiu de
importantes, pois a família era o agente da sociedade. (A ênfase de Fromm Marcuse, que ti_ri!ia id~ias muito diferentes sobr_e__'l_"peryersão..:polimorfa"
na família manteve-se ao longo de toda a sua carreira, embora, mais tar­ ~!aJ.- 36)'-le§_~e aspecto, convém assinalar, ~romfI1_fico_1:1~ais pró~­
de, ele viesse a modificar a ênfase freudiana ortodoxa na infância, argu­ )!!Q-d.s:-Wilhclm Reich, CUJO trabalho sobre a tipologia do carater estava
mentando que "o analista não deve ficar preso ao estudo das experiências em curso na mesma época. 37 _!'l~__t_ambé!!1_S().11.C.Clrd..911_c_()m R~c_h_guapJQ_
infantis, mas voltar a atenção para os processos inconscientes tal como ao efeito libertário da se](11ali_<i.a.4e.ge!1ital não_r.ep.dmid.a, apesar de nunca
existem no presente". 32 No começo da década de 1930, no entanto, ele ain­ ,-~ê-=1~~;;;;;;;, ;~1fici~;;-t;:·~~ si. Em anos posteriores,__c_o_11_tudo,_':1sr~~s_Qe
r-"-~'"----.--·"~•e•·•---;~---;­ O O

da estava suficientemente próximo da psicanálise ortodoxa para se con­ Fro!!lm sobre as co~~p_ç_ões ~h..§~ mten~f~9!L'1!:!1, .P.Cl!S os nazistas,
centrar nos anos de formação da criança.) ~u~Sõuacrer, demo~m .9.':1~.fi_l~(\_ad_~.§~](ll_ªJ__nã_()_~."!_!_e­
38
,.'foc[~ ..sosied.ade,prnsseg11i.l!,_tj_11h<1\l_rnª~~ti:utur<!_libidinal_JJ~c)Jlria,_\l~ tàva necessariamente liberdade política.
combina5ãode irnpulsoshurnanosbásic_ose fatores sociais. A psicologia -r5epÕlsd;-~st~bcl~c-~;;;1;:;;;;;;;tã;cia das raízes libidinais básicas dos ti­
scicialdeveria examinar de que modo essa estrutura libidinal agia como pos de caráter, l'!ºl11JE,,l'~-~-Qu.a.ell1ªti~!1LIDai§_\lm'1.Y.5'.Lª-IDi!l1~1l~if1<:\1:J§
cimento da sociedade e de que modo afetava a autoridade política. Nesse fatores sociais, mediad9_s,pela,fü,1pj\ia. À guisa de exemJ?!(), usou o im~
ponto, convém acrescentar, ele estava falando por experiência prática. tod;;~-~;;~t~;:;,;~~ ,~~;;~is excessivamente repressores, que Pod!am in:iJC<@ir
__ Q.pJ:oie_t_g_c:!f__examinar_o_s..padr.õ.es_de..autQridade. dos trabalhador.es,__ q.u.e.. , o desenvolviméíltõ-detima s;;:~alida-de ge11l~al_sf111<i~y~l,c_<Jmlss_QJomeD­
.. fora anunciado na al\la..inaugural de Borkheimer,,.es.tav.a.em.andamento, ""t~ndÕtip()s d~~~~áterj}:.f:g~~i!iJ§,NÕ-cÔmputo geral, porém, ele aderiu
e Fromm dirigia a maior parte do .trabalho. empírico. Nesse estudo, como __ã_íi_m fr~udismo bastante ortodoxo: "Uma vez que os traços de caráter se
ele explicou no artigo, estava_l?res_s_llposta_a,__aj~iç~o_~-;;;normasbur_gge­ enraízam na estrutura libidinal, eles também exibem uma relativa estabi­
sas_ que a maioria dos psiéófogos absolutizava, equivocadamente. Afirmou lidade."39 Na conclusão do ensaio, Fromm examinou a rei~~º en_t_r_e__()_"~­
que a tendênciadominante, de uni_ve.r:;;<1!i'.0r a experiência_da_sociedade . pírito c~~<l"._e."_3_na)id~<:le:- Usando ar~.'1.111_:11_~0,S_.'11:'.':..~sd.:__('_n_t~ci,_se
~~~eser!t~; ~pare~i~-d~ rr_i~i1_éT~a=~ai~cfar_~_Il_l\.9'.J~!1-são_ do complexo _dL.. tornaram cornque1ros, mas queerãm-ínooitos na época,_i:_elfit;i()l!()ll_a_ra:.
Edipo a todo o desenvolvimentohufI1ang, quando, na verdade, ele se res­ 'cion;;lid~d~~-;;-p;;;s-~ssividade e o puritanismo burgu~~e~ COII)_Q.L~9l.C<Jc
tringia apenas às sociedades "patriarcais"." Uma psicologia social válida --m:énto êa meticuTOsiâadé-anãíS4 º_E_ssi0rãços,afirmou, haviam persisti­
deveria reconhecer que, quando mudava a base soci;Jéconômica da socie­ do no sécíiTO xX:; sübieiudõ ;;:os círculos pequeno-burgueses e até em
:~c[~c[e;·;rril_lda~~ t_a:fí1"~1ll:í.~~fli.E.s:ã;;-~~I de 5ua_estt\ltJJ.Ia libidjnal. Qua~do certos círculos proletários, por causa do hiato entre a ideologia (no senti­
o índice de mudança entre as duas variava, afirmou Fromm no fim do ar­ do amplo, que incluía os tipos caracterológicos) e a mudança socioeco­
tigo, era bem possível que se criasse uma situação explosiva. Esse foi um nômica. A relação entre as duas foi um ponto a que Fromm retornou em
ponto que ele viria a desenvolver em seu grande livro seguinte, O medo à seu estudo posterior sobre a Reforma, em O medo à liberdade. Já então,
liberdade, dez anos depois. porém, sua atitude para com a analidade e a teoria freudiana da libido em
Para dar substância às_generalizações de seu primeiro ensaio no Zeit­ geral havia sofrido uma transformação muito acentuada.~­
-~i~rift, Fr()mm .:vol!()ll._a_!lteri_ç~.m...segui.da~pa.i:a..o__!llilblema da tipo~ crição clínica do tipo anal se mantivesse ina~t_e!3..cl.~11os _tr~.\:i.filho§_p-9_sJe.­
~~ª-~º _<:_arát~r.·" Também nisso, sua orientação básica se manteve freudia- ­ notes;ã-mrerjJrefação de Fromm sofreu UJ!l:ª mi:~;inç;is_i~11if1c;~tiY'l·
........... ·-·---,..,--~· ---------·~---~- -~

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Essa mudança, como mencionamos, deveu-se quase exclusivamente a tais entre os seres humanos. 9 amor, portanto, não dependia da sexuali­
sua~··obseriâÇõ~~sJfalc)15::[0.as_fi_ô1iVetambém;:;~ã-f~~!0ilteles.t~L~e:~ dade, C()IT1() s11pJ1S~@_faeJJd.J~la verdade, ?.~~::"º :st~~l~:i?~fa.<:.~~u~~Ji!~.

=~g_c,~·;;·'1ríi~!Jlau!lªl1º,,.ªP~i~Pe:Zti~-;.-E!U-;;:;~~dos da década de 1920, Íig~do ao ódio_:.. à ~estr_lJ.ÍS!<l)'romm também -eiogiou a sensibilidade de

Fromm havia deparado pela primeira vez com a obra antropológica de 'Briffault para os fatores sociais._A_.!11:".S.Cl1li11idage_e_a fe111iniliq.<J_<l..,_rgl_(l_

Johann Jacob Bachofen, um teórico suíço do século XIX. Os estudos de eram reflexos de diferenças sexuais "essenciais';.como haviam pensado os

Bachofen. sobre a cultura matriarca!, origi11aJ1115'!lt~pL1_il}ic;do;;;adécada 'rómi~ticos.. Decorriam, .. antes, de dif~r~nças . nas funções vliil!~,'·qu~, "r:rí
:ct:~I~ii:Q,h'1iiâro soifi5,fo: um reíativôésifose 11as..d.uas décadas subseqüentes ---parte, eram socialmente determinadas. Assim, a monogamia era econo­
à sua morte, em 1887, }\s especulações antropológicas de Freud, por exem­ _...Ínicamente fomentada pelo cuidado com os rebanhos, que exigia a mo­
--p[Õ,bãsea~am~s~ pri!UorcÍialmente nos estudos de _Sir ͪ111~s Prazer sobre vimentação e a hegemonia do pastor masculino. Fromm concluiu que

o tõteffiismô~Afités-des;; d~~lí;;i~, p~rém, Bachofen e outros teóricos do Briffault tinha ido além das meras preocupações etnológicas, entrando na

matriarcado, como Lewis Morgan,. tinham sido muito iniil!eníes.~~~~ tradição do próprio materialismo histórico, como ficava claro em seu ar­

culos-sC,dâ\istas; tanto A origem ela família, de Engels (1884), quanto A tigo no Zeitschrift sobre a importáncia dos fatores econômicos no desen­

mulher e o socialismo, de Bebe! (1883), por exemplo, deveram muito a eles. volvimento da família.

Na década de 1920, a teoria matriarca! voltou a despertar interesse. Na edição seguinte do Zeitschrift, From1Tl~iscorreu diretamente sobre
~osantímücí~iiis~saa socíe~adeO:ii~i11i!11ilgosjl djreitq,_ COID.ll_ 44
0 próprio Bachofen. Começou fazendo um resumo criterioso dos dife·
Alfred Bãumler e Ludwig Klages, sentiram-se atraídos por ela, por suas rentes elementos da teoria matriarca! que atraíam os críticos direitistas e
~impliê~õeS::í:omâut!~<is;:n~.t~râlistªs~ i\!1tiinteléúuãíS:-v:_ários ex-~ esqnerdistas da sociedade burguesa_.._~_noS!filgia c9_11fosa de Bach~~!.1-~If'.
los de...... Stefan George,
.. ....... - repudiando sua misoginia,e-deixarar;:;~~Í;:;;ulo­ desse relação ao passado evocou _l!ma.p.ostura.re.cep.tiv;;cr'ª_d.ireita._Q_me.fünQJ~? ~-­
poeta em busca do eterno feminino. Como assmalou E. M. Butler,41 essa sw;-;;isã~-r~;;:;;~J;,·<l~- natureza, à qual o homem devia submeter-se

· fÕiumarep-etição qliase e~ab~sca da "mãe mística" pelos sansimo­ Coffioü.FéEêà mãe. 45Tal como o;·româiltíCüS, masdlíererrtement~<l~

nianos franceses, quase setenta anos antes. Em círculos antropológicos ~ffu;_;-lt,ele ~b~;;iutizou as diferenças espirituais entre o homem e a mu­
lher (o qW.:; admiilü FromnÇreaJmente-exi!ressotl .umprotestokgUÍm-0

mais ort()QQxQS,nJ!l11glaterra, os estudos deBroriislaw Malinowski sobre..


·a cult~~a matriarca!, ~m ª~~~ ~;;p;e;;iiô ~;;-~9Çi~;fqdf~ffa'qggm, de 1927,
forâm usados para minar a universalidade do complex(l(_\§_g.Q.\P,ll fr~udia­
----
. contra a "liberação" iluminista das mulheres para a posição dos homens

burgueses). Bãumler, Klages e os outros teóricos viilkisch [populistas] rea­

J!o.Ao mesmo tempo, As mães: estudo da origem dos sentimentos e das ins­ giram apenas à metafísica naturalista de Bachofen, virando-a na direção

tituições, de Robert Briffault (1927), despertou um interesse considerável. da Schwiirmerei [exaltação sentimentalista] mística, mas ignoraram~

Nos círculos psicanalíticos, a teoria matriarca! também vinha recebeu­ descobertas psicossociais.

---~-- -·---- ---------- - ·-· - -~-------"••-----------·-------·--------·-----------~···-·----·---------........;;.;-­


· --ESias, póroutróT;<lo, atraíram a esq11~r:.ga. A sociedade matriarc.alfric

"'

do uma nova considera_ç.ãg. Wilhelm Reich esteve entre os primeiros a exa­


.. miná-la. Em_l93~-e~_fsic<J_logia de _mai;~_E_oJa~.cismo, el~ôde escre~ sava a solidariedade e a feli~id~d~-h~;,;_;nas. SeÜs ~ai.;~;d~~ln~~tes eram

que o matriarcado eraoúnico tipo familiar genuíno da "sociedade natU-~ J:>~i.IDo.r~li.i:ºôiµaIXãô;üãilJ;:Qi~<lQ~~-i~~\J()rd_i11a5ão,}~ prc1príêa~_9:é~jirl~

.... -ral"."·-----------·-------
FrÓÍ:rÍm.também. Üm foi dos·d~[;~;~~~~;;.;;is atuantes
---------.·""-"'" _____________________________
~-----~---. ----------==­da teoria vada e a sexualidade repressora estavam ausentes de sua ética social. A so­
,.,...-·-~--··-·-···-·-~~---~~---- ·-----"--~--·" "' ~"··-·~---··-"--------··-·-····------ -~--~--------­

matriarc~l. Em 1932, apresentou Briffault ao público alemão numa longa ciedade patriarcal, como Engels e Bebe! a tinham interpretado, relaciona-
'resenha de As mães, no Zeitschrift, à qual se seguiu um artigo em inglês va-se com a sociedade de classes: ambas punham o dever e a autoridade
do próprio Briffault, intitulado "Sentimentos familíares". 43 Fromm ficon acima do amor e da satisfação. Entendida de certa maneira, a filosofiada
---------
_tspeCÍ".~1.ll.':!1..\5'_.e_11s.;i.11tad2__<:Q.l11_". ~±.Í! d~~iffaul!__<!_e_~-~!()QQ~_os senti-_ história bachofiana era semelhante à de J:içgeLQ aQY~nt\i:-d.asod~<!aM ·
mentos de amor e altruísmo derivavam, em. últi111a. instância, do aJilo.L :rai:riarcal correspo.11<:lera. ~~pt~:;~··~~~.:~ esJ'.'ir:.i!Cl.~-~pat11rez~, à.. vitória

à
, !11<tterno exigido pel; i;~go perí~do da g~~t~Çã~~ d;~~;;id;dos-pÓs-na­ -~~-~obre_().9!.!~te.

142 143
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 3 • A INTEGRAÇÃO DA PS!CANÁUSE

ParaFromm, como se poderia esperar, a leitura socialista de Bachofen do paciente. Teoric'!J]leUte, é claro~_sl!Pl!t!~ª-:.SeSIL!eosanalistas fo~se111

as
foi mais simpáticAJ:'ara ele, ~ lmpof_\focill:!k_ est1lda~ S<)(ieda?es m_<l::__ neutros _em matfria de. valoresetole.rante.s N.rnÇ9.m.<l.Jl10raldos pacien­

triarcais não se limitava ao seu interesse histórico - aliás, sua existência íês~Ili.;~,_na verdade, argumentou Fro111J11, Q..ic\ea!c!<i_t()l"i,:ância,tiy<;ra; his­

reãlno-pãssãêlo ii.ão podia ser compr;vada ....•, ~as àyis'ío 9_lle elas ofere­ 'toii~amente, guas fa~".§·

ciam de uma realidade alternativa. Tal como Malinowski~Er~mm ;sou a­ A discussão de Fromm sobre a tolerância 49 merece ser examinada com

~t~üfiãmatrlarê~ip:a;a negar a uni~~rsalidade do complexo de·~dip~. Af~~­ ccttÕdeÍalh-~:p9i;~~pre;;;;;:;:;-;:;:,,~-~tit!l<l{;.c(i111p.a:i:,tiL~da__por outros_inte­


ça d~s;~cÕmplexo ~as sociedades patriarcais, afirmo~;:-;:;;ultava:;;m par­ grantes do Institut, o que depois viria ª~Eetir em um _dos ensaios mais

te, do papel do filho varãOZomo herdeiro da propriedade do pai e de sua t;;:;lrovertidos e influentes de M<JJ:Ç!lse. 50 De início, escreveu Fromm, a luta

posição de provedor do pai na velhice deste. Isso significava que a educa­ blíffiµes:J-í?ci~t;!e;â;~~-!igh<l·se_v()!t:Aç\º ç9Ji1ri~=orréssãõ-5ü<::f;,rN;·~:­
são inicial do filho era. menos YoJtadapara.afelicida(k.d~para~th__ -1;nto, quando _a_s!<i_~~-@.é.clJ.a_ s_e_!grnArAJi()E:Ülllllente doJl1~<l_ll.~,_~!CJ.lt;:_
,_lida<!~_e~<_)_l1ômi~a. _<) .ªIJ1ºr e11tr~ Pille fil)19 p()dia 1!1111!9 bem se trans­
râncíãtinh;.:-;e _tran§für.mªcl9.ern µwamásçantdolaiss~z-:faire.moral. Na
f()'2'1~_e_rr1_ódio, por causa dos temoresdo fracasso p()fparte do filho.
- realidade, 11;;:;~;-;·~ estendera a proteger ameaças sérias contra a ordem
A contingência do amor, assim produzida, podia levar à perda da segu­
vigente. ~pificago na obra d_e_~-~t, e!.":_::~111<liS_!JpJi_ça._<!_a39.l'_~S;l:
rança espiritual e ao reforço do dever como foco da vida.
~to-e.llfül!l;_ci.9.<IJ!ti_a.ç.ã.o..A.t01S'rân_çi!l.b.urgu.esa.erasempre.. Ç()Q.tr_a_<li:.
-~mocm.a!~IJ1Q,pQLQJJtrn.la_gQ,_t@i_ncondicional e menos sensível

tória:. n.º..p.!·a.no con..s..·ciente, e...ra re.l a..tiv.,_·_s_tª..· e neutra, mas, subc,9ris.cientemei:i:"\


. às pre§sões sociais._Na S()ciega,ge contempÕ-;â~e~,-;:;;t~!anta:·a:]gÍçª:ií;··­
~ destf!lava-._se apreserV-ã;:-Õ-~tat4s--quo. A psi~a;;:<Ílise, sugeriu Fromm,
mãe realestava desÚstªcl<l· Ela já não era vist~·~-;;mo a p~otetora, mas
'}Ompàriiihàv~o ará!er _hÍEócrita desse tip;det9ki:â~ªa; -ã fachada de
como alguém que precisava
----------··-----.----. .
-·-·"~·-~
~roteção_-I~~Õ~;:;;i;entou
_____..
--···r-~-~--··-
From~,
" tam­- .
- neutralidade servia, muitas vezes, para encobrir o que Fromm chamou
bém se aplic_av~_<l_()§_su.Qgitutos miiteLJ1Q.S,Ç.()!IlO o país ou o Volk [povo] .46 expressamente de sadismo implícito do médico. 51
à confianÇa e o calor humano maternais originais tinham sido substituí­ Mas Fromm não d~iLPª~~..Ji~int:_~LÇQIDQ_Qç_p_Q.\§.faria Marc_1:1~e.

dos pela culpa paterna, o recalcamento anal e a moral autoritária. O ad­ ("A tolerância libe_rtár_i_<i~~screveu Marcuse em 1965, "signiªcaria a in­

__\'_t_nto <Jg p_r9t~st<:.~O.~_tar_<13_ irl_~.\l~!l~i_a_d()p~i,__enguanto a~ tÕfo:ãn5ia. ~os .111oyimentos .da dir~ita-:e Üoleri\nc{ã aos~ffi(,yi@~!:l!9~4á

rança do catolicismo medieval, com sua Igreja semelhante.ao..ventr~e.-setr ~~;:da.") 52 Em vez disso, concentrou-se em denunciar outras facetas do

-···-------···-·-· -·­
ê~l\9:Ja Virgem Mãe?fora perdendo eficácia. 47 As bases psíquicas do ca­
·····----~-·-·-·---------··-·---·-~-··-.

patriarcalismo de Frt;ll.cJ, O objetivo aa psicanálise, disse, era a poss1fo­


pitalismo eram claramente patriarcai§,_ embora, parãdÕxa!mênte, éfe-hou:­ 'lidadede trabalhar, procriar e gozar. Mas Freud havia enfatizado os dois

·vesse-crlado.as"c:õndiç.Õe; para um retorno a uma cultura verdadeiramente


primeiros em relação ao terceiro, vendo uma contradição irreconciliável

matriarca!. Isso se devia à abundância de bens e serviços que ele propor­


entre civilização e satisfação. Sua atitude era persistentemente hostil em

cionava, o que poderia permitir um princípio de realidade menos orien­


relação aos extremistas que queriam construir uma sociedade em que a

tado para a realização. O socialismo, concluiu Fromm, deveria preservar a


satisfação fosse mais plenamente possível. Tudo o que eles faziam, pensa­

promessa desse retorno.


va Freud, era pôr em prática suas agressões edipianas em relação ao pai. 53

Com o interesse crescente de From por Bachofen veio uma diminui­ Na verdade,)i .net1r9se .tinlia....sido. de611ida P..OL!'r~_!!cl.e.m..te.rm..o:>.da.im,

ção de set1rntusias~o-pciã::freudismooi:todÕx9. Em 1935, ele externo;:;-· Jl.()Ssibilidade


....- .
" .........
'
de aceitar
_,~--. ·-· - --- '-··
as normas burgueg§,
.. .. ----·- Outr~PJ:QV_'!_cl-ª.in.rnpa~i­
..,..__
'"'•·---·~---""·-----· •,,.,~

'as t'õ!ltes de sua desilusão no Zeitschrift. 48 Freud, disse, era prisioneiro de dade de Freud de transcender suas origens egain§is~têgçiª_nopaga.rm~n:to,,
~.!lma.moraLb.urguesa.e.devalor.es.p.atriarcãls:·A:ênfase da psic~T "" monetário por qualquer terapia. Por último, Fromm _afi_i;mQg_que 0 __p_ró_­
:xperi~_<:i."::_infantis, continuou, servia para desv~!':!:..ª atenç~o da pessoa , --j5rio Freudetã um fu?9 patfiarcal ;Jás;j'"-º'~,;_;:;totlt~__cnm.o.s.disi;i!J1ilos t .

··na P!QPLÁ'1.-ª-11~)ig. Noscasüsemque-ÕanaTista compartilhava acritica­ os pacieilteS:54___

mente os valores da sociedade, e em que os desejos e necessidades dopa­ ~Como--alternativas superiores a Freud, Fromm sugeriu Georg Groddeck

ciente eram contrários a esses valores, ele tendia a despertar a resistência e Sándor Ferenczi. O _gue os_ii)i_ria.Y.a__J1li[Ji.QEes eii-aifio~aÇãQ' t-;;~-;,:pê!ltfca

-----------·-----·-----· --·-- . '"·~~-··---~-~--···--·-·--·"""_" ______-o.

< 144 145


MARTIN JAY ··A IMAGINAÇÃO DIALl:TICA CAPITULO 3 ·A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE

de colocar o analista de frente para o paciente, em uma relação mai§_f[ua­ morte. Nesse texto,eguiparou a pulsão de morte à necessidade de destruir,
jit~riª.-Õabãiidoiio.do éomplexüde-Ed-íj)ü-põrl'rõD:;-;.;;--sig~it1cou quLo_ uma interpr~!a_çãg__~~Mar~_ie_vJri~i~~tl~g~jj~.E_~S..~_§!S~ Enteii­
papel da transferência foi muito minimizado na_t:<é<:_n_ica g_~_JeJf__paSSQJl a__ _ ~essa maneira, Fromm escreveu: "Se as suposições de Freud esti­
~!'refé[1r. GroddecFeFerenczTiãmbémera;;-;.;;~~os rígidos quanto à ques­ vessem corretas, teríamos de presumir que o quantum de destrutividade
tão do pagamento, o qual às vezes dispensavam. Em contraste com a "to­ contra os outros ou contra si mesmo é mais ou menos constante. Mas o
lerância" patricêntrica,autoritária e desumana de Fre;;cI;--e1es 2.fe~~fl~m que observamos é o contrário. Não só o peso da destrutividade entre os
da
úinateraplaq;;e-ia-alé;.;;j;; ;;bj~tiv;; ·;pí;;pe. adapt;;-Çã;; ;,; 4~~1,11_1!!11_1i<k:__ indivíduos em nossa cultura varia enormemente, como a destrutividade
des morais da sociedade contemporâne'.1. Fromm manifestou grande pe­ tem um peso desigual em grupos sociais diferentes." 60
sar pela morte prematura de Ferenczi, que considerou uma perda para a Fromm também continuou a criticar a teoria freudiana da libido, em-
psicanálise. Em anos posteriores, procurou resgatar a reputação deste das bo;:-ã-~õ;:;$~;;;ãsse ãs<l~scriçõ;szíí;:;i~ã; <le-F~_ud~AD-fazê-lo, repudiou ex-::
distorções de Ernest )ones, que descreveu Ferenczi como se tendo torna­ prícitame-;i!e-a·partê interp-retati~-a<l~~própriÕ trabalhoem O dOgma
do psicótico no fim da vida. 55 Fromm e sua mulher também mantiveram de-Cristo6 1 eatipologia-ca~acterÕló-gica, calcada nã-libid~(jliehavia de~
a amizade com Groddeck, apesar da ingenuidade política deste - em certa TendidÕ~m 1932 no Zeitschrift. 62 Sua discussão do sadomasoquismo, um
época, ele tivera a esperança de fazer com que Hitler, de cujo anti-semitis­ <los~itos centrais de sua teõri~ d.~ ~~t";;;i<lãéie i~rãa;;;ãT!Jéõcurüü

~::~~;!ii~~~~11:it~;9h;~~~~~!:~f~;e~!:~~~~:~ª:~-~Eg~:ll.e:~
mo duvidava, patrocinasse parte de seu trabalho, apenas para se decep­
cionar quando Hitler chegou ao poder. 56
_.Aomesmo tempo que a decepção de Fromm com Freud a111_11e11JaYa,_;­ moldes muito diferentes. 63 Reconheceu pela primeira vez, num texto im­
cresceu também seu distanciamento dos oirtros membros d;; Jnstitut.---·
.,-·~-·
De­
--·-~
presso, as semelhanças entre seu pensamento e o de Karen Horney e Harry
pois de contri1:J11irco111_ug1a análi$e psicq!QgjÇ.l~çla <ll!tgx_i_<:l_ag~i:_~ Stack Sullivan, 64 que estavam revendo Freud de maneira similar. Mais uma
Studien über Autoritiit und_Familie [Estudos sobre a autoridade e a famí­ vez, apontou a influência dos fatores sociais, baseados nos imperativos
lia], um projeto conjunto de pesquisa da equipe do lnstitut, publicado em ines~apávei_s_ci9~~]il,11~;;-;<l-;~ut~~~vãÇão.$m-um. apêndice, Fromm
1936, ele só escreveu mais um artigo para o Zeítschrift: um estudo sobre o êf.;iãihõ~;--o conceito d;«~~;á\e~·;-;;Ziai;;-;~gerido em t~s anteriores,
senti~ento de impotênçiâ _11a sociéd'1demodernã:S7 E;.;{i939, i~--::­ coll.celto queviria ·;-~;;;;;d~~-a-;~~-"contribuição mais importante [... ]
peu súa Íig~ção_ç91110J11stit11Le passou a se dedicar ;;:;-aisao trabalho clí­ para o campo da psicologia social". 65 "O caráter social", escrev_e\l,_"a_bargt _
nico, segt;i~J; cada vez mais o rumo não freudiano de seu pensamento. apenas uma seleção de traços, o núcleo essencial da estrutura de caráter da
----------- ---·· ·-------~,~----------------~-"­

Dois anos depois, foi publicado O medo à liberdade, talvez o seu livro mais maioria dos membro_s__cj_ç_}l_IJJ_Q_UJ!(), desenvolvido como resultado das expe.­
lido. Apresentand;)Uffia !'.ic.Pliçgçãg dQfültoritaris~o®e os Estados Uni­ -~~i0.E.~2_iisicqs€_dg_es,tilo_c/§ v_id_t1__[()-;;;~~-;__~e_ss!_g~_ypo;'[grÍf~;-a;-p;;~~ ]:66
dos esta~;-;.;{p-;-estesa·~;;_mbaterna g_\JS:Ua, o te~to ~ec~b~~--;;;-;;;ideci;~l Em tudo isso, Fromm estava em um terreno conhecido, o qual havia
atenção e, com o tempo, tornou-se um clássico. Outros autores já analisa­ percorrido, de um modo ou de outro, em artigos anteriores._Q_<:Jl!t.QQ!l_\'_e
ram esse livro. 58 Aqui, só o discutiremos como uma prova do afastamento de novo em O 111edo à liberdad_e f()i o interesse !lla.isg~_i:~l_!l()-9~~2!:Jl.<l~~:
de Fromm em relação a Freud e ao lnstitut. rlà"çhamar
,,,·-··· " '
deconéiiÇão
·-
·-···~
"existencial" do ser humano. Para Fromm, "o tema
·-"·"" ''"'" "" ·~·-·""-·-·-·-,~-·-·--··---··~·--·-·~--'

Tal como em seus primeiros artigos no Zeitschrift, Fromm começou por principal deste livro" era "que o homem, quanto mais conquista a liber­
acusar ~r~g_<lde.estr!"ite~ª-çulturãl· ''.O rampo das re!aÇõeshumªn.ªª'-_!ig__ dade, no sentido de emergir da unicidade original entre homem e nature­

.- sentido freudiano, assemelha~seaq mercaclo ~ é\Jm_<l_tIOc\lq~_~atisf~ões za, e quanto mais se torna um 'indivíduo', menos alternativa tem senão a

J~Ji~Ç:_essldad€S.biologicamente 4aclas? na q\lal a relaçã() ~º.!!1-~\ltro indi­ de se unir com o mundo na espontaneidade do amor e do trabalho pro­

_víduo é sempre um meio para_lllll_firn..>.B!!ll<;.a_.l!.mfu em si." 59 Denun­ dutivo ou então buscar um tipo de segurança por meio de vínculos com

ciou vigorosamente o pessimismo de Freud e sua concepção de pulsão de o mundo que destroem sua liberdade e a integridade de seu eu indivi­

146 147
<
CAPITULO 3 ·A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

dual''. ~.icléia..cle_a_li':'.!lilSão1 que_FE()l111PÍul~wJ-'!1l1UiJ:QJ!u~tiva ~


67 no do Institut, que vinham abandonando suas esperanças hesita~_<:s_~as
rneiros escritos de Marx, encontrava-seclararnente. na. raiz dessa..11.0Ya.
abo~<la_~eJ1i. ~ isola_jE~iit.9~~,i iiéé~ssIª;,d! ele rel~Ei?~~~t~~-ª==­
---
'"(leêa(ias de 1920 e 1930, Frornrn defendia urna _ll9sição mais otimista.
--------~---------· ~ --­
-se_()~_cl_(li_sl'.<5-los de seu pensamento. A neurose pas§Q!!__a ser_rnais e mais Horkheimer e os outros haviam concordado, de modo geral, com as
~-defi11ida__e1!1_i~~i!í~i_];~~c:i~i(istipos·de relações interp_essoais;_Ql_~ contr~~lli<;Q_esj_11is:h1isde _Frª 1111IlP"ii:a () z;i~~hríft, inclusive com suãs pt:I:­
o masoquismo, por exernplo,cieixaram de s.eI fenômen.92 derivados da se­ tr1éirãs críticasa Freud. Aliás, Frornmserecordã<leque K.ãren Ho-~~y e
-xtíãlícf<i:atf~je.tra_nsfor1nararn em esforços que "tend<:'JI1YYJudar-õi;di­ --:Hõrkliêinier conviveram amistosamente durante os primeiros anos da
vídu() a fugir__Q()_~_sentirnentos insuportáveis de soliggg__ Limp_otência_",68 emigração em Nova York. 74 Al~m_cli_sso, o !nstitut abraçara as esper!lcll~­
Q_v<:'rçl_a_c[_eir<J_()?je(i\To_cl<:'_ªl11Q_<l§_t'E'1~~irnbiose" 69 __çQ__ip_ os outros, o qu~ de Frornrn de fundir psicanálise e marxismo, Em um artigo intitulado
_sig~fi~:1\T'1 '1!'<:'rci,l .da_ in!e_gric!acie_p(:'SS()a_l ~ (}a_ ingiyjciyalidade pela disso­ "História e psicologia", na primeira edição da nova revista do Institut,
JuçgQ dQ.e\I.!1Q.011tro, Horkheirner defendera a urgência de um complemento l'sicológico para
~---------·-------·----··---------------···-----~-----·-----·----- ----~-----------···"

Em O medo à liberdade, Fromm fez a distinção entre a atomização iso­ ateoria JI1<l,rJÇÍstª· As motivações dos homens na sociedade contemporâ­
__ la4ª .ci.e urna ''li\leidade de"-iiegãtíva é. a "atividade esP:ontinéa~da- perso-::: -~~~~~oni~J1di_cias_s()~q:'J~l~~as;',_11() sentido
de Marx~e_ç9rno _psicológka.s. Quanto mais racional se tornasse ·a socie­
J1alidacie integrada total", 70 característica da positiva«liberdade para''. Em­
bora se esforçasse para mencionar a mudança socioe~~;Ômiêâ-qíie seria ----
dade, é claro, menos necessárias seriam essas duas abordagens conceituais
para se compreender a realidade social. De momento, porém, ~ca­
necessária para acabar com a alienação da "liberdade de" e atingir a posi­
tiva "liberdade para", ele não enfatizou as dificuldades dessa transforma­ ~~p_si(:()l~gic~t;r.a _ 11eces~á_r\<lP'ifagntender..o...pQcier._de Permª11ê11da..das
ção. Passou a ver o p_r:oblernª-cia mudança em t~rrnos cada vez mais oti­ ª..
f()rlll_as ~()Eiajs,ll_IU_'!.Yezultrnpil.sgdª s uanecessidade objetiYa~­
rnista5;:;iié;;:;orai{~_tª$· Se não exi;t;~·,:;rr;·i~!Ji;J;~ i,:;~t:-;;-p;;a-destruir, entã-;; ~_psicol()~2<::}!1dividual, concordara Horkhei~o111 __F_r_<ll111!1:.
' o so,:;ho dos profetas hebraicos - aquela "visão da paz universal e da har­ Não existiam realmente urna alma das mãSSasnem-iima consciência gru­
monia entre as nações", que emocionara tão profundamente o jovem pal, embora os fatores sociais influenciassem a formação das psiques in­
Frornrn - poderia ser alcançado. Em seus escritos posteriores, Frornm dividuais: "Não apenas a satisfação, mas também a força das erupções do
enfatizou a integraçãq da ética c<iir} ª psi:CologiiEmAndliSedô homerrí, aparelho psíquico é economicamente condicionada." 75
chegou ao ponto de dizer: '.)oda 11eurnse representaurn problema moral. Durante os primeiros anos da emigração, Horkheirn~!C(l1!1Pilrtilhou a
.A impossibilidade de atingir a, rnatuEidade. e a_int~gr_a5~~]!í"~p.;rsonalida..,. ~!lilii;i_fü1 <ieJ'!QIJ1111Pe!ª_p_llJs.~ s!e_!ll§r_t~.·,;gr;~ª-~~}_2.3~,_:ii; ~o ~g()í2­
de inteira é um problema _J1l()r;11." 71 Em anos posteriores, ele veio a apre­ rno e o movimento pela ernancipação'', 76 ele atacou a resignação qúe esse
. ciar os ensinamentos espirituais do Oriente, especialmente dos mestres do Cõncei"tõ-impii~ava:A.-;;i;;:~an!ei-iüi<l"ê"Fl-~u<l:~ri;~--;;;:;Hõrkhêiffier,--erâ
zen-budismo, 72 bem corno os do Ocidente. -,:;;~is<li;!étiêã:·e-~posterior, mais biológica e positivista; sua gença numa
Para_s_(:'!:_J11_ü_(ij_usl()_s_c:()!I1_~rornrn, entretanto, convém J:<:'C2!)_!i_e_s:çx__q!l!;~ pulsão destr11tivg eraÇ()ffi() a atribuição medieval do mal-;;- um d~~ÔnÍo
essa foi UJI1ª1_1'.\l~ança de ênfase em S~~P'_e_i-ísimffi_i_Q,_~ nij.O..JJIDa transfor­ ~il)ítlco. Ao perder de vista o cornp~~ente histórico da opr~~;ão::F;e~d h~­
mação absoluta em sua p_qsiçi!_o. Reagindo à acusação de que se havia tor­ via absolutizado o status quo e se resignado à necessidade de urna elite per­
nado urna Poliana, Frornrn respondeu, enraivecido: "Sempre defendi a manente para manter sob controle as massas destrutivas.
mesma idéia de que a capacidade de liberdade, amor etc. do homem de­ No fim da década de 1930, todavia, Frornrn e os outros integrantes do
pende quase inteiramente das condições socioeconôrnicas dadas, e de que ~~-t começaram a trilhar caminhos separados. A distinção entre pa­
só em casos excepcionais se pode constatar, corno assinalei em A arte de triarcado e matriarcado, enfatizada por Frornrn, nunca foi totalmente acei­
amar, que existe amor numa sociedade cujo princípio é exatamente o l~ pe_los _J<;.rni\iLApenas Walter Benjamin, qu~ nunca havia conhe~ido
oposto:"' Mas é difícil ler seus últimos trabalhos sem chegar à conclusão Frornrn e não era ~ealrnente membro do círculo íntimo do Institut, ex­
de que, comparado a Horkheirner e aos outros membros do círculo inter-_, pressou grande interesse pela obra de Bachofen. 77 Os demais desconfiarãm
..··-·---. ,_ . __________________
·····~------ ------------------­ -""_....------·-·-····-----·"""'""""""-·-·····---·..---·----------------·-- .. -··--···"'--··"--"---------~-····-­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 3 ·A INTEGRAÇÃO DA PS!CANÁUSE

abandono de Freu_~_po_i: Fr()J11En,_§_Qb. .1ukgª-'ªQ_!ie.'lt1e Freud seria um<1: obra, mais ela se enraíza em uma situação histórica concreta. Se .YQ...Cê
um representant<ulo..pensamento..p.ªgi_ar.çfil. Ao relembrar essa ruptura, ~---- -~- -­ d;-.
"'~;tl;;-~r de pertg_~s.aJ_igª_çJiQ_s;n.tr_~JLYiena liberal e o método or~al
-·----.-···-----~-~'-·--·-·--··----

Fromm disse que Horkheimer teria descoberto -Üm"Fr~l.[.<l_filal5_!evQJu= _l'r"_LI_<Í1.l'.e.rc~er<\_Q


gi:a_g<f_e_p_ensad_'?J:..'1'1~_e_L"-.f9i: Com o declínio da vida fa­
<· miliar da classe média, sua teoria atingiu aquele novo estágio expresso em
cionário". 78 Pelo fato de Freud falar de sexualidade, Horkheimer o consi­
Além do princípio do prazer e nos escritos posteriores. Essa guinada de sua
derou um materialista mais real do que Fromm. Lõwenthal, por outro filosofia prova que, em seu trabalho, ele percebeu as mudanças assinaladas
lado,_r.e<:()E.~º11.'lccJsã()_<é()J11.()_!~.1lclºsic!<J.I'r9\!l1z.i<;l.<Wr~;;,udança d~ no capítulo do artigo sobre a Razão [provavelmente, parte de «Razão e au­
atitude de Frornlll> sill1bolizada pelas duaspartes c[_i.f~re!lte:'..cl.e_Q_~ topreservação'; de Horkheimer] dedicado ao declínio da família e do indi­
"liberdade, a social e. a "existencial". 79 Alé:i;; disso, é provável que as diferen­ víduo. A psicologia se1n libido, de certo modo, não é psicologia, e Freud teve
. ças pessoais também tenham tido algum efeito. A julgar apenas por seus a grandeza de se afastar da psicologia dentro de seu próprio âmbito. ~si­
escritos, parece evidente que a sensibilidade de Fromm era menos irônica
'"~_ia_p.i:2P_riari:i.ei:i!e_di_t.'!l.5-e.!llP.1:~1?§@1ºg!ª.9.9J!14iyíQ1!Q,.Q11<i_e_el~_é_ ne­

que a dos outros membros do círculo interno, e sua abordagem da vida,


-~~sE#~~t~~~;;j~~;J;f~~~~~~Õ';~~~!~~;9~~~:-~~fs:~ºJ~·e!~~~~r

menos colorida pelas nuances estéticas compartilhadas por Horkheimer e


são categorias antropológica~ (no sentido alemão d~ p~1;~ra): iviêsmonos
Adorno. ~a.d.a.plena_d.e.i\,dorno nas questõ~lnstitut, mais ou me­
z-2º~!?~~·--~~~- q~_e,,.z:1_~:2. --~9-~C~~4<l~()_S____co_II1: a inte_~_PF~!a_ç~-~ e o _uso dela~ por-­
nos na época em que Fromm estava indo embora, representou uma mu­ ~--J:Feud, cons_~atamos que sua intenç~o. _0:bjetiv~"é _pro~_n(j_~xnerit~.:ÇÇlf[Çt(l_;_-~!<!.s
. dança crucfaino füm c[õiriFalhri!iaf:ssõ1iaeJ:iiiiíiJ(fü"[!-, deixam transparecer a grande perspicácia de Freud acerca da situação. O de­
senvolvimento dele levou-o a conclusões não muito distantes das do outro
· Qualquer que tenha sido a causa da saída de Fromm,.sl1<i<Jbr_aJQrJ1.0.U=-..
grande pensador do mes1no período, Bergson. Freud retirou-se objetiva­
se ~mar!átemaparasê~1sêx~Z°q}"êg~s:i:;a([~c~.4~:;i_e}~1p. Depois da ruptu­ me_nte da _psicanálise,_ ~o _I?ctsso q11~ . Froillm _e HÕffi~y·yõltar_~-~--a'jJS~Cõfõg·la
ra, o Institut não gastou muito tempo discutindo em suas publicações os -~a:os-enso co~-úill _~---~h~-~~-~ ;t~--~ psÍcoio_giZ-~r a C~ít~ra-~ -á--~0Cie~ade.s1 · -· ­
problemas teóricos da psicanálise, Em um artigQ.sl.i:.12.3.2.!"Borkheimer
Nessa carta se expressaram diversas diferenças fundamentais de Qjlin.itLo
faYoreceu Fre.u\! 1111111ª. C()I11p<Jra5~0 C()I11.P.il.they~~-~em~1lhu.m.<uxo ____
plicação longa das razões de sua preferênc.ia. Embora se usassem catego­ em rela_ção_<t.fJ.Q!]lm. !'.rimeir_':':.!:_lorkheim~gQ!!_ª_~.31.S.il_Çií_o_<!_e_g11_e_g_s
rias psfc:a;.;alíticas em boa-parte-dQtrabalho do lnstitut durante e depois componen!".S _bui:gueses reç011.h~cidamente.presente.s 110 P~D~'Llllentofre.11­
da guerra,_l-!orkhei;ner e os demais não parecem ter fic<u:lq_ans_i()_s_(l~_por (íTano..fÕs.sem .inequivoca,menteJam;;ntáxeis. Como havia afirmado em
divulgar seu envolvimento com a teoria freudiana. Em outubro de 1942, ''Teó"~ia tradicional e teoria crítica", 82 ~enlmrn_~Jls.a.dor.podia.escapa.riri­
Lõwenthal foi procurado por Ernst Kris, um eminente psicólogo do ego, teiram!"J1te desua~9!ig_<::11.~soci<i_is,_"Quanto maior é uma obra, mais ela se
que lhe indagou sobre a atitude do lnstitut para com Freud. Lõwenthal enraíza na situação histórica concreta", escreveu a Lõwenthal. Portanto, a
escreveu para Horkheimer, pedindo orientação sobre como responder. co11cepçãof~e11c\1ªmul!i..p.ulsãq__g.5'_ morte tinha "uma in_1:e!1ção gj:ij~li.v:;Í'.'
Horkheimer, que na época se mudara para a Califórnia, respondeu de ma­ :'9.!!e. era "profondaniente corr~l<~'; ~~(lp;;;:correspol1d~r ª·um universal
neira extremamente esclarecedora. Vale a pena fazer uma citação razoa­ _biológico, mas por expressar a profundidade e a gravidade dos impulsos
velmente extensa de sua resposta: dest_rutivos do homem nigderno. ~~gundo, a supo;t~.c~gueira de Freud em
·:~~laçãoªº papel ela ta:n11Jiª~ºni()_<Ji.el_!t~_cl~j.9~i<lAQ.e, q~~ F~omm enfati­
Acho que você deve ser sünplesmente positivo. De f<;ito, temos uma pr9Jun.:: zou tão vivamente e que desempenhou um papel nos primeiros trabalhos
da dívida para com Freud e seus primeiros colaboradores'. S_eu pens_a~~nto do lnstitut sobre a autoridade, era, na verdade, um reflexo de sua sensibi­
é uma das Bildungsmqchte [pedras angulares! sem as qu,tlsanossa filosofll
lidade para o cl~s:li12i.<Jc\.-ª_famíli;~; yjÇj; ~gd~"úi;:·E;;~-~~-:i: ~-;:;:;;;;;~d;-;:;ç~
n_~_o_s~ri<:l: o que é. Apercebi-me novamente da grandeza dele nas últimas se­
-ffi;nas. Você deve estar lembrado de que muitas pessoas dizem que o méto­
queHorkb~imer viria a discutir extensamente em trabalhos posteriores.
do original dele era particularmente adequado à sofisticada classe média vie­
Porúlti_rri_()2 F_r:e11_cl.l'.t:r~.<::!J.".l:a que .<1__ESicologia era, necessari_<gnent~,_o estl;l­
nense. Isso, é claro, é totalmente falso como generalização, mas contém um
élo_ cl<l..i.Ilc:liv:íd.uo. Portanto, a libido, que i-;npli~a;i"";-ma camada daexis­
certo ceticismo que em nada prejudica a obra de Freud. .3_~.anto maior é
têl1cia humana guel:lcàvã:01~ti~~<l;;;;e~te foni doal~~ncê dócõnirol~;9,

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CAPÍTULO 3 ·A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

eia! total, era um conceito indispensável. Pela mesma razão, os revisionis­ mente dos traumas que afetavam muito intensamente o desenvolvimento
-·-tãs.estãvãm erraàõs"·em:·tentar"psiêofogizar a cultura e a sociedade",J'.QL. TajiersonaTiCíaC!e;os..reVisíorlistâs-tinlí.am.. cõnstrufa'ê)iiiiiãteõri;t~t-;;/Í ..
trás da recusa de l:f()Ekh_eimerdereduzira psicologia à sociologia, ou vice­ __;~~!e ã;;-~c~á!ç~.. 6s trãbalhõsdüs reviSionistas havia-;; apag~<lõ a sensi ~
versa~stavâa ênfas_e_!lª!l!íQ-iclentÍ_clªde,·_ql!~ ,~à cêritra[iia -teoria crític_a. bilidade de Freud para os choques traumáticos na formação da perso­
So-quãndo.âs~Õntradições fossem socialmente resolvidas é que se poderia nalidade desarticulada do homem moderno. 86 ''A ênfase na totalidade",
conciliá-las no plano metodológico, ponto crucial a que Adorno voltaria, escreveu Adorno, "em oposição aos impulsos singulares e fragmentados,
muito tempo depois, numa discussão acerca de "Sociologia e psicologia". 83 ~'se..!11.PE~..i!llflli_<:_a...ª-9:'.''S_a_h_ilrmoni~ no que poderíamos chamar de
Foi Adorno quemexplicitoue_IU p_ú~lico, pela p_r:i111eira vez:_~_cfurçr.­ unidade da personalidade, [uma unidade que] nunca se realiza em nossa
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_g~ns:iaL\lQJm!i!..l!U:QIU seu..ex-Jl1,I11bro revisjg_giga Em 26 de abril de sociedade. Um dos maiores méritos de Freud foi ter desbancadÕÕmTto..

1 ' dessa ~iª<lcl~:"" CTaSSínêãr tipos de caráter, cõffiõ fizera-FrÕmm, equiv~­

1946, ele apresentou em Los Angeles um artigo intitúlado "Ciência social


e as tendências sociológicas na psicanálise". 84 O texto é interessante, tanto lia a aceitar a existência de indivíduos com o caráter integrado, o que não

pelo que diz sobre a atração da Escola de Frankfurt por Freud quanto passava de "um disfarce ideológico para o status quo psicológico de cada

como antecipação da severa critica ao revisionismo, esta mais conhecida, indivíduo". 88


feita por Marcuse em Eros e civili;zação. Adorno abordou especificamente Em termos mais gerais, o tão ~cantado "aperfeiçoamento" sociológi­
Novos caminhos em psicanálise, de Karen Horney, e ''As limitações sociais co de Freud p_:_l_<J_~ revisionis_tas _c;.orrespondia a_pg~ais__g_t!!:_un:i_e..!)CO:_
da terapia psicanalítica", de Fromm, publicado no Zeitschrift onze anos an­ -~1:~1'."'_en(()_cl'1!i.C2!1tr'.1ciJ.1'.~".~_8._c>c:_ia~s"·~_I(Otirara_s rnÍZ§ l?ioJggjçªs_c!.ª!2§ica:
tes. Escrito logo depois da guerra, esse artigo revelava um tom de ressenti­ _!1;\lis..erele&.a--hav.iam_transformadu.numa....e.s.p!'.de_d.e_G.eísteswíssJ!..nscha.ft.
mento muito diferente do encontrado no trabalho do Institui no passado. [ciência da cultura]_e null! ineig_<ie_h.:i~iene social. Sua dessexualização era
_Ac!grnq_c<;i!11eçou_".)(ªmi11an_d()_() ataque dos revisionistas à teoria freu­ uma negação do conflito entre essência eàp.ãrêiiéia, do abismo entre asa­
di~na das puls<?~s:.2igsi:lntivl~I119..,5Íis§~,:l'.QQI:ájjgnlficar uma divisão @_ tisfação verdadeira e a pseudofelicidade da civilização contemporânea.
7;_;hu!Xla_n_a "m ins_timp..§ fi.J<;Q.~_Q.l!.Jill1ª._sJJbtração flexível da psique das Adorno afirmou que Fromm errava__muito -~_negilE_a__base sexual do sa­
--pulsões de pr.aier..e aJJtopreser.vação,_co_I!l.Yi!LÍi!S'.Ões quase infinita!i:.AYL dismo no exato_mom
----"---- ___ . . _......ento..em..que.o&_nazistas · ·
a vmham. --·--:---.------··--
eKlQJndo di! ma ···· _
-são freudiana das pulsões era deste último tipo. Os revisionistas, portan­ .,...11~i_r:a_majs_flagr_a11t,. Em última instância, as implicações do trab~lho d~s

to, estavam errados ao acusarFreu<f<le..rnecânicista, quando, na verdade, revisionistas eram conformistas, a despeito de seus desmentidos, o que

o que realmente merecia esse epíteto era a sua própria maneira de hipos­ se demonstrava especialmente por seu crescente moralismo. Não havia

tasiar os tipos de caráter. Apesar de toda a ênfase nas influências históri­ ;:J~!mLJ?ara a absolutização_ das normas morais, assinalou Adorno,
cas, eles estavam menos afinados do que Freud com a "história interna" . .. enraives;ido_;_elas estavam sob suspeição d~~c!Lcug: Nietzsche ªPQlltara..s.@s
da libido. Ao exagerarem a importância do ego, ignoravam sua interação raizeu~;;ic()lggicª§,
genética com o id: "Concretamente, a denúncia do chamado instintivismo Os revisionistas, prosseguiu, também eram ingênuos em suas exvlica­
de Freud equivale à negação de que a cultur_adloimp.Ü.r~êstriçÕ~l­ ções das fontes eia §-ª~~(l_c:1_ãl.Ei~}i:isen;;;i-;;;-firm;r que ~~omp~ti­

sões libidinais, e particularmente às pulsões <i~st:~~1ti_vas2 .p_roduz recalques, ~~vi~a_4eera_u!llil . c'111saJunclall!e11!al..1e_çQ;:;fiJiõsn~ socieda<le:hnrg\!~§.il,

sentimentos de culpa e necessidade de autopu11iç_~g,'.'" ~--~es fazia_IU, sobretudo diante do reconhecimento, em O medo à li­
·· Além disso, ao minimizarem o papel d~~ experiê_11cias infa~ berdade, de que o individuo espontâneo praticamente havia desaparecido.

Erlebnisse, que não eram a mesma coisa 9.1:1.e.J!LE.rfebru.ugJJ),*~ Na verdade, "a .C:2mJ?etição, em si,_!!unca foi a norma de funcionamep,to

~ - ­
da sociedade de classe lllédià'}9 0 verdadeir~-~f;-c-;;l~da~~ciedadebur:

*A Erfahrung implicava um tipo de experiência integrada que incluía o senso do passado e ,--guesa semprefor;i a a;iiaça da vÍ~lê~~ia c;;~r;;;;,;i, q;~ !';~~d h~~ia dls­

expectativas em relação ao futuro - em outras palavras, a experiência mediada pela cons­


ciência cultural. A distinção entre as Erlebnisse e as Erfahrungen teve um papel importante
··cérnido com mais clareza:-":Na·e~a dos cainp;;s
d~ concentração, a castra­

no trabalho do Institut sobre a cultura de massa, co1no veremos no capítulo 6. _ção é mais caractei:í~tic<I_<iã·r~a_li.<l_'!Sl~-social do QUe a competitividade:''º

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 3 •A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE

Freud, disse Adorno, pertencia à tradição hobbesiana dos teóricos burgue­ evidente. Depois que o lnstitut retornou à Alemanha, essa influência
ses, c11j~~;~;olutiiãÇãô-pessimIS!ã~<l.?-lli.-;;T-i};;.~;ª''1ieza h11w-ªíJ;fi1l;tia· continuou a desempenhar um papel significativo em seu trabalho teórico
muito melhor a realidade vigente do que o o_tijll(§filQ afir!lliltivo dos revi;. e empírico. 95 Em 1956, o Institut manifestou gratidão a Freud, por oca­
• ~_1óiilstª-i.-Frêua-não-diferla de Schopenh;uer ao identificar a civilização sião de seu centésimo aniversário de nascimento, com um volume espe­
com a fixação e a repetição.Qsr~visionistas, mais_llJ11il.~L~r_am otimis­
tas demais ao pe!lsar
-·-·~-·--~-----··-. ·- - "
gu_e uma verdadeira mudança poderia
"'' ' ' __

tinuum rep~titiv_o_g_a civilização ocidental.


,_ ' ... ____.
"'
demolir o con­
'

.---p(j-;:·;;i(Úno, Adorno criticou a ênfase no amo_r,jl_r_esente no trabalho dos


,.,._ _,,, __ cial na nova série dos Frankfurter Beitriige zur Soziologie [Contribuições
de Frankfurt à sociologia]. 96 Todavia, o membro do círc11lo .ii:i.~_r_n.9._<:l.Cl.
lnstitut que menos tivera a ver com as especulações psicológicas do pe­
Tíõdõnorté~aJ;;erlcano foi .fluemtento_ib mais uma vez, conciliar Freud e
~ ..
-·--·--·-~--~-~- ----~~-----------··--··'"'"""'"''"'"'''"'~­

revisíõrnSi:ãs. Fromm havia atacado Freud por sua falta autoritária de ca­ -M~;)(~~Y_rB§~~ii4~;tL~Jst;E;;:;E;~ e civili;~Ção,H~rb~rtM~rcuse p;:;;::
lor humano, mas, muitas vezes, os verdadeiros revolucionários eram cha­ Cii"z0U'~sg'l~r_g_"Freyd revQ!uci<_>náriõ;;·qu~]iromm~l).avíadescªdª9!>
mados de duros e frios. Era impossível eliminar os antagonismos sociais -~orno um mito, e que Horkheimer e Adorno haviam. transfo@iJdo nu.Il'c.
\.------·-·-·---···-···-·--·-· profetada desesperanç-;. Embora fique fora da estrutura cronológica des­
com base apenas no desejo; eles tinham de_,s.er S:Cl.ll~llmados, o que, inevi­
-1a;;;elmente, signifi~;~;sot'ri;.;;;;D.to-p~~~;-~ig11~111: "É bem possível que a t;est~do, E;;~;;;,- di;ii;;aÇão é uma continuação do interesse auterior da teo­
•· nossasôcTeJã<letenha:~e desenvo!~ido-~ .:il11 extremo tal em que a reali­ ria crítica por Freud e, como tal, merece uma breve digressão neste ponto
dade do amor só pode ser expressa, na verdade, pelo ódio ao existente, ao de nossa narrativa.
passo que qualquer prova direta de amor serve apenas para confirmar as
2
mesmíssimas condições que geram o ódio." 91 Adorno concluiu o artigo
Ao contrário dos outros integrantes do núcleo do Institut, Marcuse só
com uma frase que faz lembrar um comentário ffequenternenteeltado_
se interessou seriamentuela psicanális~_.depoi.u)e chegar a()_s E~fa'!.~f
do estu(jc) deWaiter Benfo!J)insoDieãsAfiiiidadesélétivas d_~ Goethe ­
.Q!iliios..Talve_3' o Marcuse~mciros temr-os fosse_racionalista del!lai§
"É somente em nome dos desesperançados que nos é<l~<l~ a esperança." 92
para en~a_i:.<11gum_g.Lande atrati.v_o_no_mundo obscur9 do i~_sóe'.'.1:_e.
"Desconfio'; e5crevéli A.dürri(), ''ifti~-<i:"<.1~.Pi<!Z~(je :F~eildpelo~.11.<:>.111!11.~ 'Enfatizando, conJJLfazia.,Jt..couciliação.p.o_tencial entre o sujeito e o objeto
·apenas a expressão desse amor.desesperançado, que "tâ!Vez se)~ a única ex­ ..............--- . ------·"·"

- de um modo que Horkheimer e Adorno, com sua ênfase na não-iden­


.. pressão de esperança qge~i;;<l~:r;;;;,iemoster:' 93____ _

tidade, nunca fizeram-, Marcuse estava. 111en9§.~".~e~e_ssa<:J2.I1ª-R?.i.C:.2.l<l:


Era essa a atitude do Institut em relação a Freud e Fromm na década
gia~~1.1.<J!_d_()(!Jl~-11.ª.tQ!<Jlij<J_cl.t..S.º.C:~ill. ,Ji".S()E~i0QggDez J2.ara.Q
<:Je,'[9_4,Cfl\fiôfôní·tôã.(jU:e-liillj)essf;n;i~!il_;__mai;~-qi:;~-;;-(; à possibilidade primeiro estudo do Institut sobre a autoridade, 97 ele evitou reconh.e.cer..o
de revoh1çãocaminhou de~ dadas com o re~o"nhecimento crescente papeCda.famill:~-coni.oagentê da sociedade, o que Fromm tinha clefendi­
C!â impo;tâ~ci~ cl~ Fr~ud. ~;,:;;-s~~iedacl~ ~;,:; que as co-;;_-tradições
E;,:; -dõ-·vivameii:te·eoifoutros-amda n-aonaviam questionado.
sociais pareciam intransponíveis, mas, paradoxalmente, vinham-se tornan­ Mesmo assim, como argumentou Paul Robinson, 98 grandep_artedo_tr_"_­
do mais obscuras, as antinomias do pensamento freudiano pareciam ser balho que ele escreveu nadécadade 1930 continha indicio~_§.utiuJ.e.seu
um baluarte necessário contra as ilusões harmonizadoras dos revisionistas. interesse.postenõr-porFre 11_çl.. Por -e~empío:aoreronhecer a validade do
Não só o pensamento de Freud: também os seus aspectos mais extremos . -m;~~~to h;d;-;;-;t;;:·;;:;;·t~talidade dialética da razão e da felicidade, Mar~­
e·escánàa}oso<5eí'ilíii._2s.!iiii.i.s ]Jl~!S.~-Ei:ii Jii[j_nFrii_a i"iOj!zJ!.~A:.dorno expres­ cuse havia pr_()~St~<:J()SQ.Utra asJendên~as ascéticas do id.l'.alismo~í.::
sou essa idéia ao escrever, numa de suas frasesmais céle_bre,s.ê_''Na r-sicaná­ ticaàexpt;;;ação incluía a rer-ressão sexual, cuja importância política, nes­
lise, nada é verdade, excetoo;·e)(~ge!:Q:s!'".. ········-· se caso, ultrapassava a dimensão meramente psicológica. Além disso,
Em grande parte do trabalho do lnstitut durante a década de 1940 ­ Marcuse havia criticado a ideologia burguesa do amor, w_rnlo.rnY.a_o..deo.
A personalidade autoritária, Dialética do esclarecimento, Os profetas do em­ ~r·e-ã][áéli.<J'1J_ejí_cfg1i:i!9jJí:ii~r. Ãi"~Ç~i;!;;nbé~a .~oncepçã_oj<kfili,sta
buste, de Lõwenthal - , a influência ponderada de Freud foi claramente <le;'p~~sonaliciªde"" de um modo que se antecipoli à denó!l(;"ia posterior

154 155
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPtTULO 3 •A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE

de Adorno da idéia de caráter dos revisionistas. Já em 1937, ele havia in­ Depois de descartar secamente Jung e a "ala direita" psicanalítica, Mar­
di~<io Q_ÇQffil'QDente ~~11.§!o!ªLe corporal. na felicidade verdadeir;-,-;~~dll ç_\!$;yqltÕU-°'se parã os neofo;udianqs. 1,:;iciou a discussão da obra deles
~'1:!':1'1.i§_extrem_~_t'i!is:.'1i㺠~c()_rpo ~mª"1eni;br;l;lçªan1~atóEia"~º-º.<i'l. com um elogio ao discernimento dos primeiros artigos de Fromm no
felifi.<i.'14~.m,i!~t_i'骷 Por último, Marcuse havia reconhecido, no artigo so­ Zeitschrift. Expressou sua concordância com a oposição de Fromm à so­
---b~e o hedonismo, 101 a relação entre a sexualidade recalcada e a agressão, cied~.,.P.il!rigçal (usou "'patriCêntrico-aquisitiva'; o termo posteri;;r de
que viria a exercer um papel crucial em Eros e civilização. Fr~mm para o mesmo fenómeno), Ç()!J1parand~_!l~~!1~\<_i~que
Entretanto, Marcuse só começou a ler Freud seriamente depois das im­ ao "princípio do desempenho'; .9.11t:.<i.<:fi!1~l1 C()_!ll.9 () pri!1.<'.1Pi.s> de_r-"!lclidad~
plicações perturbador_<l~<fiG-;!~[g=Çi:v}LJ<:spanhõia e dÕs-.;;p;;-~g-ll;··d~­ especifico da Soei~ª;i.ÇJ;e:itíi"a), sob cujo domínio "a sociedade é estratifica­
·-MoséOú.iõ2~insati$"façãg_g~llt~.fQI1l_ o ma~ri~~0 ..ªtémesmoê"~-;;;-~--­ .,&-de ãcordo com o desempenho económico competitivo de seus mem­
·_:-fc;lrmahm..Ú.ani_z:i~,Jev<Jl1:-º a,ÇJÇamillac!l§"Qh;_t~$:_u!oA.psicológicos às m...JJ= • bros".1º'. Todavia, na época em que Fromm deixou o Institut, disse Marcu­
'. danças_s()ciais. significativas, um caminho que já havia sido trilhado por se, o aspecto crítico de seu trabalho anterio,rs<;p~riJçr~. A mu<lã~ça~ríí.dai
· Horkheimer e Adorno. No caso dos dois últimos, isso reforçou o pessimis­ ';i;ra com a dedicação crescente à prática clínica, que tantas vezes Fromm
mo e ajudou a fomentar um recuo da militância política. No c!'so de Mar­ havia destacado como louvável. Ao promover uma terapia orientada para
St,!seLisS() lev()u a_ uma reafirm'!Ção. d.a 4i!l1ensã() utópiça"Ã9:.r~~ a felici<l.'1.<i~24'~~11Y.9lvi_çiª_pg_r_I'~l'1!9'1..e..GrQd..:;k_çk,l'commJ.:iS1Yia.§llrn111­
Quando, após um longo período de incubação, Eros e civilização foi lança­ 'íii<.loà ideologiª_<i~_que era possível alcançar a verdadeirafelicida<k_n~.§§a
do, em 1955, o livro foi_'-!1lli!QJllénL0os.esfo.r.ç.Õs~;l-~t~i_ores°4i_~()ri<1_g_í!i:
ca para fundir Freud e Marx. Diversamente de Horkheimer e Adorno, que
h~i~m ~s~dll ~~ des~ob~~t;s freudianas sobre as contradições profundas
do homem moderno para corroborar suas teses sobre a não-identidade,
-
Socied.üi~.Marcuse e~cr~;e~;"'Effi íí.ffi~ so~i~<lã<l~;~~;~~~I:,!,:;~fü~11ie

--
individual_~.<J ..<ie_se,11y2l:vim~.11J& . . P.rnsl!lt.i.Y.9.~~tãQ.._~ms.Pntrn.diç.ão ...mrrul
sociedade; quando são definidos como valores a se~ realizados nessa so­
ciedãd~, ~les mesmos se tornam rej2_ressõii$."iõ5_____ - ----~---------- .
-------~,.·-·~-----"·-·------~""""'""'-""-·°'----·-··'" ~-~---~
Marcuse encontrou em Freud - ainda por cima, no Freud posterior, o da
O que Marcuseestavadizendo sobre a teoria ea terapia psicanalíticas
~meiãpsicÕlogia=-um-p~~a__da J<!~121:icl<icl.". e .<i<t.!~C_()p.ciliação. Ao con­
eramuito·;~m~lha~t~ãoqueºe[êêosoutrõ~!:il'Çm\ir_O:S.,_,Jõ}!íiili:ü:tifo~
trário de Fromm, quebasicamente abandonara o Freud ortodoxo como
-ditomuit;s ;ezes ;obr~ ;teoria e a pJ:~is:-Nesse estágio da civilização oci­
inimigo de um novo princípio de realidade,_!vfarcuse tentoqdesy:ern:l_ªr na_
dmtal,-;~-<líí.ã;-íí.ão-po'°d:fãm r~~'ll~cilia;:se inteiramente, embora não fos­
psicanálise os elementos que olhavam para além do sistema hodierno.
sem plenamente independentes uma da outra. _Reduzir totalme_11te ª-!~c:>_­
. Ultrapassaria o-iünbito deste teXto discorrer exausti~~~~nt~-~llb~~ Ero~ ...
_ria à práxis (ou à terapia) equivalia a perder sua qualidade negativa crítica.
-·~-ç!xili.~g_ção, um livro de grande complexidade e riqueza. Apesar disso,
Ao assimilar a imaginaçãoespeculativa à ~tica terapêutica, os revisionis­
é possível tecer algumas observações sobre sua relação com o trabalho
anterior do lnstitut. AJ>!i111eii:<i PJlrte dele - publicada separadamente na
_I~--§cãv:al1J ll1uito pareCldos c~Ei:2iirng~atistas e os positivis~_as tão
antipatizados pela teoria crítica; faziam o que os sucessores de Hegel ti­
revista Dissent, no ~~~ão de 1955 - foi um ataque aos revisionistas. Mar:
cuse retomou o fio da meada onde Adorno o deixara, de~ ~nll;·~ntes. nham feito com ele, tal como descrito por Marcuse na segunda parte de
Começou por reconhecer a obra de Wilhel~ R~l~h-~Q;;")Q p~;cu;; 0 r;;-da Razão e revolução. Realizavam essa assimilação em duas frentes. frimeirQ, ....
sua, mas assinalou prontamente as deficiências dela. ~Mar.SJJ.s~dL., descarta\'a_IX_l__'ls_h!pótes,~_rl1Jlͧ.Q!lSl!.clas__e_.111~tiv~_s._<ie Fr~ud: a pulsão d~­
incapacidade de Reiçll de disti11guir entre tipos d_if~r-"I1te,s cie~epressã_Q__ morie, á horda prime_v:a__<:_QJl~infilQ.d.9.l'.ai.primiliY_o. Em seu principal
'e recalcament90Jll1Pedir<l_d~ ver .a "dinâ!l1icª bistQÚca__d_as_p.uls.,õ.es.seo­ texto;-Ma~cuSêesZr;veu: a herança arcaica, da qual os revisionistas zom­
~uais e de sua fusão com gs i!11Pl1ls2sA~!EUt~y9s". 103 Como resultado, bavam, era significativa por seu "valor simbóÍico. 0,;-;;~~tos arcaicos que-a
· Reich foi levado a defender de forma simplista a liberação sexual como
ºhipÓt'ês·ê-êstàbeie-~~-pod;;;;·~st~;~;;-~e;;ftfôra do âmbito da verifica­
um fim em si, o que acabou degenerando nos delírios primitivos de seus
ção antropológica, mas as supostas conseqüências desses acontecimentos
últimos anos.
são fatos lústóricos. [... ] Se a hipótese desafia o senso comum, ela reivin­

<
156 157
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 3 ·A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE

dica, em seu d~~fio, lima verdade que o senso C<:'l_l1Um foi treinado p_~r~ simból_i_c~_cl9. problema mais profundo desta sociedade, seria mascarar os
esguecer". 10' ségundo, Cúillõ.arguillê.iíiiràA:<lü~;º em 1946, os revisionis- . 'anta[()!lis111_osf~04~~~g~is i~~~!~J~_reJ,r.ig-.-------- .
tas aplanavam os conflitos entre o indivíduo e a sociedade e entre os dese­ ~inda mais importante para a argJJrn~ntação_sk Marcuse foi o protes­
jos pulsionais e a consciência. Tornavam-se conformistas, a despeito de si to -;=ont~_t:~j~iS~.<?J!elos_ revisirulistas.,._da_outra pttl~o<lü' período i:n.~­
mesmos, ao regredirem para a psicologia pré-freudiana da consciência. _tapsic?l~~-~~o_~_e-~i:eud 'C:Jânat()S,a :rylsã() ~~-!tl()rl~·}'lesse ponto, Mar­
Marcuse !."1t1~.,é,111_r~~ti UJJ.ll:!il.<llle cl!'J:\s!QI!loà idéia_sl!U'_ers2ll.'!!Ldad.e CüSétarnbérn foi além de Adorno e de Horkheirner e, mais urna vez, ...­
---~--·-'" ~~--·----------·--~-------·--"'~----->--.-·-·-·--4-,··--··-··~----~·-···~-----~---~--··»··~·-···---·-

integrada, proposta pelos ~evisionistas. Na sociedade contemporâ~ ar-_ buscou urna integração .. .•.,.. ____
utópica entre Freud e Marx. Eles haviam com­
a
·gumentou: possibilidade de~iJ1<Ji;idualismo autêntico er~_p_[J!(icl;
---"·~·-·-----~ ~ ··-··-'-'"'-'·'"·····-~·•"'_, ~--·"-'-"'·•------·--""-·'"'-"-· ---·~-·-·""""'-'""'

preendido a pulsão de morte corno urna representação simbólica da sen­


e-----------.·---~-----·-----·---···--- -·---­
-~!lt1l_a: "As situações individuais dependem do destino geral e, como sibilidade de Freud para a profundeza dos impulsos destrutivos da socie­
· mostrou Freud, este último contém a chave do destino do indivíduo." 107 dade moderna. Marcuse aceitou essa interpretação, apontando para a
Isso mostrava a inadequação do moralismo dos revisionistas: Tu_ud d.es-­ persistência e até para a intensificação da atividade destrutiva que acom­
trói as ilusões da ética idealista: a 'personalidade' não passa de.um indiví­ panhava a civilização, o que os revisionistas tendiam a minimizar. A pulsão
dllo 'cindido'que.in:ternalizoue.utilizo;;-~;~-;~~~;~;;-c;-;:;;ca!~arne!ltn..e..a.... de morte freudiana captava a natureza ambígua do homem moderno de
.. agre~sãq_.:'_ 1_ 0s--·· ----·-v~~-------~------·------------~----·-- ---------·­ '\----··--·---w. . -•w--•W""-" ­ ,_,,__"-"•""""'~ ""'" •~·-··-·~" .._.,- """" •"• ""' '"•""""• •- ,_, .- • • " " " • ·.-~ ,.,,,~"•>r••• ••-.•·-·«•••'-••·---·--'•••-'•••-"" _,_, •••••"•

maneira muito mais perspicaz do que


""•-'""""""'" •-.. '"""""" """
,~-.~--·~·~·rn--···"--r·--·
a confiança
- ••• """"
implícita dos",,_,,___.,,.,,_,,___.
revisio­ "~"'" •~·•-•·-•••,•••--•~•-'•-••••--·--"'"-"''"

~cus~_a_t_a_<'.()11.\'e~n::iegJ:.e!J:le!lt~ a 111utila5~0, pe!~s re.\'~Í'.'!l~~tas, Qª t_('.Q::. nisJ:as_no prqgress<.i,.


ria freudiana das pulsões. A direção interna original da teoria, afirmou, ia ~l!§e não -~!l<:~II(ll!_sua !lrgl!t:l}§Qtªção_!)()p~s.si_!Ilisgi(),c_q_motiPhi!m
consciência para o inconsciente, da personalidade adulta para as expe­ feito Ado.rn.Q_i;.Borkheirner. Apulsijq cie rnorte,tal corno ele. a enkmlia,
riências infantis, do ego para o ide do indivíduo para o gênero. Ao enfati­ ·não siw-ificaya uma ânsia iriata de agredlr, c;i;J;_i-ª..;}1ªi~~~~~-forn.<:Q!)§i­
zar a libido, Freud desenvolvera um conceito materialista da satisfação gui; :der'!_d;l,m Freud "não presumiu que vivamos para destruir;.. ~.. puls~o.cie
!~_()pu_11.h~A~ ic!éfâ$$sí?Irii:\.l;;;ü~i~;-.=~-;-~-;;:;·;;_ytima análise, repressoras ­ _des_t_t:l!i5ã() pode funcionarcgntr<i as pulsões de vida ou aserviço delas;
dos revisionistas. Ao retornar às raízes sexuais da teoria freudiana, Mar­ além disso,() objetivo da pulsão de morte não é adesti:uição ernsi, mas a
cuse teve de ree:x:~Ili_fü;ÍJ:~Õ=~O:-~};f~~;-de.~dip~~que Frornrn havia censura­ _:_li111inação da necessidade .de destrnir". 113 Em Eros e civilização, Marcus~
-dõcfu~;;;m~nt~ depqis <:!e seusp;:{m~i;:o;t~IDPQs D.oÍllititut. Em Eros e cí­ mostrou corno compreendia a verdadeira natureza de Tânatos.,Q.<l.l>r(). .r~al.
··vlTizãÇã~:-Marcuse mencionou o complexo de Édipo com pouca freqüência da pulsão de morte não era a agressão, mas o tér!Ilinoda tensão que era a
e sem lhe atribuir grande irnportância. 109 No entanto, no artigo publicado -visl~jlaseaya-se no charn~d; p;i~~Ípi;-d;Nir~a~;, 11 4 q~e expr~ss~va o
na Dissent, que serviu corno epílogo, adotou outra atitude. A tentativa de jp~eio..p_tlaJ.rnDqüilidade da natureza inorgân~se ~êlTeraSiíf:
Frornrn de "traduzi-lo da esfera do sexo para a das relações interpes­ preendenternente semelhante à pulsão de vida: ambas buscavam a satisfa­
soais"110 constituía urna inversão do impulso crítico do pensamento freu­ ção e o fim do desejo. â.<:..!'~illi_pul~ãQ_de morte era reduzir a tensão,
diano. ~ara_F_i:~ud, o desejo edipiano não era um mero protesto contra a_ .ela perderia força quando a tensão d~ ','i~-~~i~~~~;~;~: Ê~~e· f~] o !)ressu­
separação da mãe e a lil?.<0r<:l.<i<i~_clolorosa, aliena<!'h..9.'1e decorria daí, como __ 1 posto crucial que permitiu a Marcuse atribuir às conclusões aparentemen­
Fi:omn1 e;;tef;<li~=ExpressavaJªm~~~~1g;:p~~Jti11do anseio por satisfa@ te pessimistas do Freud da maturidade urna direção utópica. Corno argu­
sexual,pela libertação da carência e pela mãe corno mulher, não corno mentou, resumindo esse ponto, "se9 objetivo básico da pulsâ_o ri(lo é q
.. mera protetor~.~ye~<l~Sl_~;àl:lrmô:üj\,iq.r~u;~;~~:q '@sei9_gxual' ~­
. rnãe-rnulher . que primeiro ameaçaª_g_ast;.psiq\!i.ç_a_ga civilização; é o
1 térm.:i_no _da viga, mas da. <lor =·a ausêriciadetensão ~, então, parad();
X:~frnente, em termos da pulsão, o cogf]it() entre yida e morte redl!z;se .
... 'anseio sexual' que fa~ dq~~qfüto edipiano.o..protótiR9:fifi~-~onfli~ !Il!l_i~_à_!Ile~ida g'1,e LY.i.cia_~~~rnxi.!J:l<l <ic:i.est'lcl<l.<!e. sati~façãg. O prin::.
pulSionais entre o indivíduo e a§qçie.<lade':. 111 Ignorar as raíze§Jjgjdinais _
cípio do p_ra~eLe QJ?.rindpJQ..QQ_Nirvana então conv~_gii:ri'', 115 Ao racio­
do complexo de Édipo, fosse ele universal ou urna simples expressão
-Cinar déssa maneira, de um modo que a maioria dos adeptos ortodoxos
,,.,.., -.---------------·---~--~-~---··-~---------- " ... ~--- ----------- ···--~"----·- ·-­
158 159
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAP[TULO 3 ·A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLJSE

de Freud concordaria, Marcuse foi tão revisionista quanto Fromm ou


riu Fromm, ~ar. que algumas l'.':!.yersões sexuais incluídas na defesa
Horney, porém em uma direção diferente.
mãrC'~ da "perversão polim()i:fo'' jlµdessem compatibilizar-se com
_Portanto,_ Jv[arcyse .tentou historici~ar Tânatos na melll2.i:.tradiç~~
qüalqüefCivil!ZãÇãü r~ãí:sãdisl1.;ó e coprofilia, para citar duas, eram doen­
teoria crítica. A morte não precisaria predqminaJ,SeaYidL(Qsse lj]:igtada. 'tíüs'"êrrtqüaiquer circunstância. A meta da satisfação com_Eleta e imediata,
'_pé_fareé~ôi~~ç:ãQ:!í~9:repres~ora das relações do h()111e111f.91ll a natureza: ~l'QE.Marcu~ transformaria o indivíduo num sist~desejos
·· Isso exfgiria, disse Jv[arcyse, uma desartic~laçJo datiratü9'. ~e.K!lªl çl9s Óf::_ ê esti111l!1'1S_<:'~_s__fác~~1>__.':!"..!:!l<l.ll_Ípuhg,_ como no Admirável mundo novo de
'gã~·gel1.itais ~ u~ r~torno à "perversão polimorfa" 116 da criança. N~sse ~s Huxley. 12~.Q..".!l1()r,_dis_ti.nfil1ig9_gg §~Jǵªli.dªd~,_J1ª() ~r.<1s_i111ples­
ponto, ele foi nitidamente além de Freud e de Reich, para não falar em mente ideológico, como havia sugerido Marcuse (e também Adorno),
todos os seus três ex-colegas do Institut. Só se todo o corpo fq~ reeroti­ emborã s~u apãr;cimento na sociedade contemporânea fosse reconheci­
;~..4-~çlarQIJ.Mar.cl!se, seri.a.!'Q§SÍveJsl!perar citr_'.l~ª!l"<.?..alien<:_do, qu~~ damente raro. As implicaçges negativas do pensamento marcusiano C01_'.­
fundamentava na reificação das áreas não genitais do corpo. lJ.111.a_s().sk:... duzia1!1..'l.lll_l1~~-ei_ç~_() niilist<l_do_mugdo.
da<lé"!i:i'Q-d[f[cad;;:,que não mais se baseasseno ''prill.êípfogo c!"sempenho", -Como tantas vezes acontece com as controvérsias intelectuais entre ex­
repressivo e antiquado, poria fim à "rep~sS'!Q..fxce.dente".hi!;~nk amigos e colegas, o debate atravessou mais uma série de réplicas e contra­
enraizada é,corri-íssü;Tíbertaria ·;;indivíduo do trabalho alienado e gera­ réplicas.121 Como é freqüente suceder, pequenos pontos de divergência
dor de tensão. O jogo estetizado substituiria a labuta; o princípi2-0L assumiram uma importância maior do que as áreas mais amplas de con­
Nirvana .~d.e.struição.p.ro.cedente.desuajni.bj_çjj() deQi:ariam de dom~

~ cordância. Marcuse aceitou a acusação de Fromm d~.s-~r nij\istª,__afirman~


a vida humana. O resultado seria a "pacifica~ão da existência", 117 o corre­ do qtI."...9.!'~ da ~grnu:d;J:~ci8ª~í 2~ia!;~ fosse o .únko humil111sm9 ..
------- ~------·-- --·-·-- ----··-·
lato psicológico da teoria_ga ide_gtidag,,_ que, como vimos no último ca­
--~--­

vercladeirn..P.S:rrnitido no mundo atual. Isso o levou novamente para mais


•pítulo, encontravà':sê na raiz da filosofia marcusiana.
-p;rto.de Horkh~Ímer-e AdornÕ.-M~ma análise, o ímpeto funda­
Como se poderia esperar, '.:_()_ll_s_ada -~ativa_<!". M_a_rc\lse de l_~_Fr(e_ll_d_
mental de Eros e civilização con3uzia clara~1~.!i uma direç.[_o afirmati­
-·---~·~·--------------·----­
como um utopista.revolucionário nãofqj bem ac.,_j!a por.,g.ll_s~x-cole­ va. A interpretação marcusiana do princípio do Nirvana não ficou tão dis­
·· gas.11'À.dorno e Horkheimer mantiveram_ um silêncio diplomáticO,filJlS­
ta;te, a rigor, do sentimento expresso por Fromm, anos antes, em O medo
From~ tentou refut;\:fol)~;~4iÇÕ~s poste;i9rc:sdeQÚs.(u.t. l 1 9Suali~ha de à liberdade, onde ele escrevera: "A pulsão de vida e a pulsão de destruição
.ataque deu-se em dois níveis. Primeiro, ele tentou mostrar que Marcuse não são fatores mutuamente independentes, mas têm uma interdependên­
compreendera Freud de forma -;;q~i,;.~cãda_e.lhefàltava qualquer experiên­ cia inversa. Quanto mais se frustra o impulso para a vida, mais forte é o
.__ eia práti~a·;;;;:;;_-apSicanálise."ComÕ já havia afirmado antes, FromrrÍ-ale~ impulso para a destruição; quanto mais a vida se realiza, menor é a força
gÔuq~-;-;;·Freud tinha sidom~ito mais um prisioneiro do materialismo não da destrutividade. A destrutividade é o resultado da vida não vivida." 123
dialético burguês do século XIX do que alguém que protestasse contra ele. Marcuse decerto acreditava que as duas pulsões poderiam acabar por se
Fromm também procurou desacreditar a maneira como Marcuse com­ reduzir a uma só, ao passo que Fromm se manteve um dualista mais cau­
..preendia os revi~ionistas, rejeitando sua telic!êncfa dêfuntá:rosn_u.!Il TI:i~i~ teloso. Entretanto, no dualismo de Fromm, a pulsão de morte, ou neces­
-mÕsaco, sem distinguir as dffe~~;_;ç,;:;bá~ica;·;;-;:,tr~!!~~~ Por ~mplo, ale­ sidade de destruir, foi entendida exclusivamente como produto da frus­
,_goü que suanoÇã()de "~arátet-procl~Ú~o;; ~r~ m.uito mais desafiadora da tração da pulsão de vida. Mais tarde, em O coração do homem, Fromm
sociedade atual do que Marcuse admitia._§_!epreend~u Ma~e por não formularia sua posição da seguinte maneira:
/(t'.Lsid.o..dialétko..J!() insistir gue, n_'.l_s__<:()~~S:~es vigentes, era impossível
, produzir personalidades integradas. ----------·--·-­ Essa dualidade [... ) não é uma de duas pulsões biologicamente intrínsecas)
relativamente constantes e sempre em luta uma com a outra, até a vitória
·-·asegundo nível da reful<15ão de Fromm foi mais fundamental. Neste,

final da pulsão de morte, mas uma dualidade entre a tendência primária e


elefentou-;:êsta[J~l~Zer o conflit;inevit~el entre a satisfação sexual e a cl.=­ mais fundamental da vida - perseverar na vida - e sua contradição, que
·::ViliiaÇã~, que o prÓpriô Freu<ltaliias-vezes..e11btiZ<1Ú. Era absurdo, suge­ passa a existir quando o homem fracas·sa nesse objetivo. 124
, - -- ' - - -- "·---------------·--·--·"'·--·-~·---- --~-~--­ --
160 161
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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

.. Assim,. apesar d~insistência de ª!Il~()Se!11'lu.e_~!l!!§.-!2USiçõ~


._!éguas de distância, eles pareceram convergir pelo menosna questão da
.. JºI.çª o
~:4~<i~~a])l}i(f~~eª~:íliii:!!íii.1\ílso iJãra arríoí-te~ li~~º m~is utópi­
co de Marcuse terminou com um toque po.sitivõ;temperado apenas por
uma tese defendida por Horkheimer décadas antes, a respeito da impossi­ CAPÍTULO 4
bilidade de redimir o sofrimento dos que já haviam morrido. 125 Afora isso,
ele expressou uma confiança otimista muito distante das ironias sombrias OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INSTITUT

dos outros mestres da teoria crítica. SOBRE A AUTORIDADE

A família em crise produz as atitudes que predispõem


os homens à submissão cega.
- Max Horkheimer

Embora o Institut desfrutasse desde 1934 da generosidade de Nicholas


Murray Butler, seu coração permaneceu na Europa por vários anos. Isso
ficou claro de diversas maneiras. Apesar de s~r_gl:i:v.Íil_ll1.e11te.ill1JJQ~síy.el r.e-.
tornar à Alemanha depois que os n~;ista~- tomaram o poder, o rest9 elo
contirienteeuropêuaíiidaficouacessível ãteaguerra::L~ç;~pês~;~is e pro­
fissioíiais-ãtraif'ãill'~m;iõ~i-;;-c!;:~ ·i~t~gr;nt~~ <lõ Institut para regressos
ocasionais em visita. O viajante mais freqüente foi Pollock, que fez diver­
sas viagens para cuidar de assuntos do lnstitut O escritório de Genebra,
que ele havia dirigido até a mudança para Nova York, continuou aberto,
primeiro sob a direção administrativa de Andries Sternheim e, em segui­
da, após o retorno deste à Holanda, de Juliette Favez. A filial de Londres,
dirigida por Jay Rumney, sobreviveu apenas até 1936, mas sua equivalente
parisiense, chefiada por Paul Honigsheim e Hans Klaus Brill, durou até a
guerra. Uma de suas principais funções foi servir de ligação entre o es­
critório central de Nova York e a Librairie Felix Alcan, que continuou a
publicar o Zeitschrift. Paris também era importante como parada tempo­
rária para os membros do lnstitut que relutavam em deixar a Europa.
Grossmann passou um ano lá e outro em Londres, antes de se transferir
para Nova York em 1937. Otto Kirchheimer, um estudioso de política e
direito cuja contribnição para o trabalho do Institut será discutida no pró­
ximo capítulo, juntou-se por três anos ao escritório de Paris, a partir de
1934. Gerhard Meyer, o economista, ficou lá de 1933 a 1935; Hans Mayer,
o crítico literário marxista, lá esteve por vários anos a partir de 1934J:\dor:_
no, embora tenha 12assad.Q. a. J:!l'1l9IJ2i!Lte.. dot_e_111po_11~J11g1ªteUª d1Jra11_t,e
---.,.-...-··-­ ""

< 162 163


MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DlAU:TICA CAPITULO 4 •OS PRIMEIROS ESTUDOS DO !NST!TUT SOBRE A AUTORIDADE

meados da década_Qci33_Q,i;! de féria2. com_freq_illilc.ia a l:'.m:i~,_()filk.po­


tuições norte-americanas. O caso dos refugiados alemães mais jovens é
.çlia.re.v.~ um_y_~.llig__ ~IJ2igQ._g_ys:..hi!Yi entado stitut - Walter
bem diferente. É sobretudo com eles que o !nstitut tem-se preocupado."'
Benjamin. Este, como veremos, escolhera Paris como local de exílio e
Embon1_-ªs V5'[Q<!S_d..<JjD§!i.t:llição fQ§g_J!ll!lcenos fartas do que imaginayªm.
"çoIDQJ:l'.lci-áf:QJ; orjglili1:._~~ra d~-9~!ª~NoS-seis anos que passou lá, de­
"'ãíg~~~de _s5'_us s9liçitantes ingtisf_eitos, cer~a de duzentos emigrados~
senvolveu pela cidade uma afeição que veio a se revelar fatal.
-beram -ªP.Qio. Apesar de ainda não ter sido divulgada uma lista completa,
~~--­

Além de laços pessoais e institucionais contínuos com a Europa,_Q_. .sabe-se que nomes como Fritz Sternberg, Hans Mayer, Ernst Bloch, Paul

)!is~e__l!ÇJ!So1u1..altetaJ:.A..idéia original do pQblico Pª@ o qual esc_i:e­ Lazarsfeld, Fritz Karsen, Gerhard Meyer e A. R. L. Gurland estariam nela.

. via. ComofoLmeuciorn!dono primeiro capítulo, o alemão continuou a


Nos dez anos subseqüentes a_ 1934, aproximadamente 200 mil dólares fo­
ser a língua prinçipaLdo ZeÚsch;iJt~;;!ê:lgueriíi.·Ai~<l;;-;~)940-;-Ho~k­ . ram~aístribtúdos e!ltre í J6 ~i~did~tos~;;-dü-;;t;J;;mentÕ e 14 alunos-de

heimer repreendeu outros refugiados por sua rápida americanização:


pÓs:-do'i~to:t-'a<l,;_si)~-~~~;<lü~~:;.;;-P~Ílo~k,6 as inclinaç&;~etodológic_;is 0-;;:

"O fato de os intelectuais alemães não precisarem de muito tempo para


Eíiicascl_o_~~~r_ie!'C:!~ríos=~~õ tinª~~-~JJ1JJ:à§.slg~ffcãfiionaãet~:._m_i~.

passar para uma língua estrangeira, tão logo a deles os impede de atingir
' nação das subvenções. O único crité_riq. sc)liq() ~r<l_ a oposição ao nazismo.
um público leitor considerável, provém de que a língua já lhes serve mais
Até -po;iúvi~ta~. co~o Edgar Zilsel, receberam apÕlõ-:Sêlli'(]iie-sefues;e
na luta para sobreviver do que como uma expressão da verdade." 1 Graças
qualquer tentativa de coagi-los a adotar o modo de pensar do lnstitut.
à independência finauceira do Institut, Horkheimer e seus colegas pu­
Isso não quer dizer que ele aceitasse trabalhos indiscriminadamente.
deram colocar-se acima da "luta pela vida" imposta a muitos outros emi­
Ludwig Marcuse, por exemplo, recebeu em 1938 a incumbência de es­
crever sobre o "pai" Jahn, * o romântico patrocinador das sociedades de
grados. Mas ._o__d~sej_<:>_<!i;_Ho.rkheill!er de manter o Institut formalmmte..

ginástica do início do século XIX. Os resultados de seu texto não foram


alemão também -- .
se enraizou..--------------­
num sério reconhecimento da necessidade de

-·---·'"·------""··--~~
satisfatórios, relembrou em sua autobiografia, por razões ideológicas:
preservar 11.m vín<:,l!lo.ç0_rn o passado humanis1a...ale..l)Jjg, vínculo que
.poderia~ont~ib;;Jr para a fut-;;-~~~~~o~st~uÇã;de uma cultura alemã pós­ [Horkheimer] era hegeliano e um sociólogo militante, que acreditava no es­
nazista. Com esse propósito em mente, osmembros do Institut mantive­ pírito objetivo e havia esperado que eu apresentasse o estudo sobre Jahn
como uma ilustração da ciência social produzida pela esquerda hegeliana .
.ram-se impermeáveis aos àpêÍÔsdeseusno.Vos:~gÍfgasda Colúmbia pa;a
Eu, por outro lado, já em tenra idade fazia parte de uma oposição diversa:
que integrassem sel! trabalho à corrente pri11~ipaLc\a:;;_iê~Çi<0()<:ia[ggrte­ os primeiros românticos) Stirner, Schopenhauer, Kierkegaard e Nietzsche.
americana. [... ]Inclinava-me calorosamente para Pollock e Horkheimer, tinha extremo
Vez por outra, é claro, as páginas do ZeiJschr:ift.se abriam para estudio­ respeito por seu Zeitschrift e seu livro coletivo, Autoridade e família, que o
sos norte-americanos de destaque, entre eles Margaret Mead, Charles Institui havia publicado - e fiquei triste por não poder trabalhar com eles. 7
Beard e Harold Lasswell. 2 EJ.T!_~ral, porém,_~Ç~() __cont_inl!Qlli!..:lS:L ~r.efugia.d~ coll).Q__Henr_y.J'achter,8._gu_affiarnm _UJJl.<Lkmbrança.
-1:1~--P~ idéias do lnsi-ílllt e para as desco ertas feitas e seu mais ªlil~Efl.ª g_qs_çdt~r_i()S_ dgh1s_tit11t para selecionar <iqude§~J4!.1e.reçebe­
trabalho empírico. Quando surgiam novas figuras, costumavam ser cole­ -í-l'am apoio,_ $~gugc\(l eles, algumaspromessas feitas a solicita_11t,,sJqralJ1
gas refugiados a quem o Institut estendera a mão. Em pelo menos um caso, (jl!êbr_áJas. O Institµt negaisso<le formar~iü_l,;t;;;:~~~i~co~o nega as acu­
o de Ferdinand Tõnnies, 3 isso foi feito para ajudar um estudioso ilustre °'SãÇÕ~s, lançadas nos últimos anos, a respeito da influência supostamente
que enfrentava dificuldades no fim de uma longa carreira. Grosso modo, exercida sobre o beneficiário de um estipêndio, Walter Benjamin.' A vali­
entretanto, o Institut seguiu a política expressa numa de suas histórias dade dessas alegações será abordada num capítulo posterior.
mimeografadas em 1938. Irônica à luz dos acontecimentos posteriores, a Paralelamente aos laços institucionais e pessoais contínuos do Institut
declaração afirmava: "Pode-se dizer que o lnstitut não tem 'nomes desta­ com a Europa, à sua relutância em publicar em inglês e ao seu interesse
cados' em sua equipe. A razão disso está em sua convicção de que estu­
diosos alemães famosos teriam facilidade para obter colocações em insti­ 'Friederich Ludwig Jahn (1778-1825). [N.T.]

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO OJALtT!CA CAPITULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO lNSTlTUT SOBRE A AUTORIDADE

por outros estudiosos refugiados, havia o intenso desejo de manter sua lógi~_t;ocieda~c.Por con~egtünte, _<:l\l:.~md()~Ss~miu ~s rédeas QQ
_.i~".'.'ti.<!_a.cJe_s_e.12.ll!êªdª_~estrutura ;:;;(íênti~-a-<lãUúiversi<l;decohlmbi~ '.§illtll_L~I)1 __12_30,_L!ll1JUiali..J2.rlmelras t.m::.e.fu.s que anuncwu f01 um estudo
~"ª"da~_slia.\nd~pendên~rankfurt Depois êlê ~p:ico.da m~nJ~ª1idac\ç_dot_traba_!hadoreui-a ~p_ú~a.d~imar. 13 •
1936, o lnstitut deu aulas na divisão de extensão e patrocinou palestras de Embora nunca tenha sido concluído de maneira sat1sfatona, esse fo~.2._
estudiosos europeus convidados, como Harold Laski, Morris Ginsberg e primeiro esforço real de aplicarateoriac!!!i~<l.a_U.!11.Jl!.21Jl~IJ1ªÇSmçr_e_t_o~.
Celestin Bouglé, abertas à comunidade universitária. Ainda assim, em seu empfríÇiii:ierlfeveiifíCáveL Erich Fromm foi o diretor do projeto; em anos
. prédio_~a Rua l_l]~recido p~l-~<:;a.l~rnb_i.a,,..Q.lnstitut 12Ôdet~~ -post~~iores, Anua Hartock, Herta Herzog, Paul Lazarsfeld e Ernst Schachtel
nénbuma pressão_ do departame11to _a que__se associava mais naturalm.;;:::-­ contribuíram para a tentativa de concluir o estudo. _:'\proximadamente.
. te, o de Sociologiª, Por isso, apesar d~ ma~te;T.;ç;;;-J;;rn:izadecom-o;
3 mil questionários foram distribuídos aos trabalha&:ir~, pediJlSl.2...§llJL
sociólogos da Colúmbia, ele não se envolveu seriamente na controvérsia
op;ajliQ.§9.b:.~.<m~~!i)es f.Q!!lQ_a_~duc_a_ç!()_.c!<i~ crianças,..ª racionalizaçã_() da
entre os partidários de Robert Maclver e os de Robert Lynd, que cindiu
illdústria, a possibifülad~.ci~§~~yit'![_µma nova guerra e o locus do poder
o departamento no fim da década de 1930. 10 Depois da guerra, quando 'realdoEstaçlo. Adolf Levenstein tinha sido o primeiro a usar um questio­
houve propostas para integrar o lnstitut ao Departamento de Sociologia -iíárió i;.,:t~;pretativo, em 1912, 14 mas a formação psicanalítica de Fromm
ou à recém-criada Diretoria de Pesquisas Sociais Aplicadas, de Paul Lazars­ permitiu-lhe elaborar uma caracterologia mais sofisticada, baseada nos ti­
feld, todas foram polidamente recusadas. Como escreveu Horkheimer a pos freudianos modificados que ele havia desenvolvido no Zeitschrift. 15
Lõwenthal em 1942, "as instituições científicas daqui exercem uma pres­ Talvez a inovação fundamental desse estudo tenha sido o mo4() C.º!llº
são constante sobre os membros mais jovens, que não pode ser minima­ o questio"llári.O foi c;ndi;~iaü: As"-~~~po~t~si~~!p=ã;i~i:a<ia~:~a[~t<]ra r.e~
mente comparada à liberdade que tem imperado em nosso instituto. [... ] -ros entrevistadores e depois i\nalisadas.,JaLcomo.llllLpSicanalista..escuta.as
As pessoas não querem entender que pode haver um grupo de estudiosos .-·associações_<l~..llIJ1_paciente. Al.s_umas palavras-ch_<!:V~_ou padrões recorreu­
~-~-- . ~' ......,...... . .
~ ,~~ -~-.---7---;. . . ;
trabalhando sob um diretor que não tem de prestar contas às grandes tes <cl~~Jg)!_~~õe~ foram_ll!!i:rl?f.~!<lQQ.~_ÇQIJ10 l~lC!_~.<.fa _r!ahdade ps1~0!9~
empresas nem à publicidade da cultura de massa".11 gka subjacente por trás do conteúdo manifesto das ~~stas. :§ssa técnic
-çâ;poâémosãssinaíã.r ãé-pâssàgem,~oimuíto..dif:~:~~e-~"..e11:1~ada__ no
O mais importante, é claro, é que~ eur.op.i'iª-.42ln.ê!i!'dUIªl1~Pª· projeto colaborativo do Institut, A per§~~~-li~qr!!_l!!!~ºri!g.riq, como vere­
__r_es.j;i_.<:!11__s~Jr.abalb.o. Como se poderia esperar, _<!~i<l_c;i:_ític_a.f<.Jjapli~~=-­ -mós ao examinar esse trabalho no capítulo 7. O próprio Fromm, porém,
.dª·ªº problçm_a mais .P.I~rnenteda ~oca: a ascensão do fascismo na Eu­ retornou a ela na análise de Caráter social de um vilarejo mexicano,1 6 con­
. rop;-co,;o assinalou He~;yPa;ht~r,12;~itos.eilligrados se;;;.·fÓ~mação . duzida por ele e Michael Maccoby no fim da década de 1950 e no começo
nem interesses políticos anteriores foram obrigados pelos acontecimentos
da seguinte.
a estudar o novo totalitarismo. Psicólogos como Ernst Kris examinaram a
Em geral, as entrevistas revehtraJl1_\l_illa, gr<i.IJ<:le 4isfI.e!lli!lfi!!..~!lJ.r~ as
propaganda nazista, filósofos como Ernst Cassirer e Hannah Arendt in­
f
ctençasadmítiaas ê os traços de pers9qalidade. proi?Jt1ª4~1ll_eqt~JQ')"o_
vestigaram o mito do Estado e as origens do totalitarismo, e romancistas
dos S~teêentOS respondentes exibiram.<'...'!Ue foi chamado de caráter "anbF-­
como Thomas Mann escreveram alegorias da desintegração alemã. Nesse
~a sínarome_4~J'~.r:.~Q!1Jl!i.<iaci_i;_.qyç..Qf!!l'.flria bºª-J;!arte..do..tem·
aspecto'. 2J..~tit1JJ_~ava singglarn::itnte eguipado_para fa;;:er uma contri- .
po e da energia do Institut no f'_erjg.c:l<?!i~gill.11te. _()utros !S_'f'o_eig:~~ssaram
_l:m1ção importante. Começa~<l:."..estudar os problemas da autoridade mui­ um cõíi:iprciffilssõpsíêolójili;.Q__\;Qm.!lleíaS.antiautoritál:ias, e por isso foram
• to antt;s__~a__t;!Eigf!lS_~<?.f<?FS.~.d.'.1: A teoria ~ica -fora desenvolvida, em·p~r~­ CoííSiderãdos propensos a satisfazer as expectativas da retórica revolucio­
te, em resposta ao fracasso da teoria marxista tradicional para explicar a nária da esquerda, caso as circunstâncias o exigissem. A vasta maioria,_p.Q
relutância do proletariado em cumprir seu papel histórico,..lima..ciA§J.<!::._ ~ foi ext~m~t.e_amhlyalente. ~ltl?.t:.es11I!;igQ,_QJn~tituLcon­
zões primordiais do interesse inicial de Horkheimer na psicanálise tinha cluiu que ª.classe. trabalhadora alemã ºI'?~ia_U1uit.o.!!l~!lQLr.e.sls1ência.a.
'siaoaa}ucra queelap()~fia fõfrtecêY para dar éontãdó'~iffie;{l<Fp;i~-;;=::::­ '"úffiat().tl1ªdad911~der_ri~la cli.i;~!a. dÓ..que.SJl~XÍA§.!!~ ideol9~ militante"
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA
CAPÍTULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO !NSTlTUT SOBRE A AUTORIDADE

.~e~ªEAA presc_iên~~_e_:1:•:~.E2!~.clusões_~ de fato, a classe trabalh~ do Jnstitut uma subestimação da esfera política, o que tinha sido um mar­
dora alemã viria a aceitar o nazismo sem nenhuma resistência real ~ co de quase todo o pensamento oitocentista, de Marx até os economistas
·;;_:~t;í_49nííP.'~afoi-public~~p:~j(J]'Diti!~iAinda em 1939, continuavam clássicos. 23 Só !1º fimda_<i_é_ça_~__cl_e 12'.J02 'l':!":I1clC>.P__ollockc!esen.:'.()~Vt;1lll_ltl~
de pé os planos para lançá-lo sob o título de Os trabalhadores alemães na
concepção"de "~~pit~Íismo de Estac!o'' g_lle__e_n_f~!i10.a\'i()l'~l'~lE()cCC>J1t!o~
República de Weimar. 17 Porém, com a saída de Fromm do _lnstitut, perdeu- govêfriariieritaI,o ·rnstitüt _come~()11~_iI!ve_s_t~ga_r_{)S.C>!:111'.9I1~n-~.PQl.í.ti.çg_~
se uma grande razão para publicá-IÕ.Anos..depÕis, Pollo~G-. economia política. Gràsso..iií.ó(fo, porém, como Marcuse escreveria mais
tiãíí;;J.líô-nlíilca-fõi pu-6licãdo pÕrqííe-ii'~- ~;:;,:;;;:;;;õ-ex~~ssivo de_gg~stio~ tarde,-''se-há u~ assunto sobre o qual o autor desses ensaios [Negações] e
na , füi;ã
nários se perdeu -··--·· dã .Aie;;;:~;}líã7
- -·"- ---
8 'Frõffiíii.~todáViã:Z-Õn.testou essa.
---·- -------.....-.:.---­ seus amigos não se sentiam inseguros, é a compreensão de que o Estado
afi.rmª~-deClaro.u_q.ue Ho.i:~~r...<'_el.0i..n.J:.<JEl_diver~i:i_ao...
_ _,

fascista era a sociedade fascista, e de que a violência totalitária e a razão


valor_<io trabalho; esse desentendimento teria contribuído para o rompi­ totalitária provinham da estrutura da sociedade existente, que estava a ca­
mento entre os dois. 19 Algunsresultados do projeto, contudo,~ inse­ minho de superar seu passado liberal e incorporar sua negação históri­
ridos em estudos posteriÕres sobre o autoritarismo,· como O medo à liber­ cà'.24 Dado que o lnstitutyjJJ.,a"s_o.ciedad_~ 25 como a realidade fun_damen:
. dade. 20 E o questionáriÓ~~se~;:91Yi2fQ._p~lQ-=:-JiI.õIÇ_ío foÍi-;;~~Q;;d.Q ao_ tal, eíe ;}ão dÍs;:-e~~i~ ur~a necessidade de elaborar uma teoria distinta da_
·grande trabalho seguinte do lnstitut, os Studien über Autoritãt und Familie
[Estudos sobre a autoridade e a família]. -···----- ­
cm
ãútÕri<l.;;k'p;;iitic_a_ da obrjgaç.ão. Quando efetivamente examinava es­
sas'féô'riãs, como no caso da análise marcusiana de Carl Schmitt, 26 ele o
Antes de iniciarmos uma análise desse trabalho gigantesco, fruto dos fazia sobretudo para lhes desmascarar o caráter ideológico0:1,ma das irQ.::
primeiros cinco anos de Horkheimer como diretor, é preciso .ç!_eiJ(_a_r~!aroL nias da demora do Institut em reconhecer a nova primazia da política foi
alguns pressup()S!OS t~<)ricos do_ Institut quanto à__ql!~.!'\..2.s!'!.-ªutoridade. qt;ê;)\_;stament~_.11.e_ssa _ocasião, a ortodoxi~ própria União Soviética der<l_
Primelrü~iSão holistâesliíciéíicà <lá:ieofia-crítica impedia q1~ umaguinãd;\nesse. sentido, enfatizan<:l<:J.lll_ais_g_voluntarismo_.PQlítico d()
-~S.':'._~~pecific~_ente_l:!~il_!<i'_Qi1ª-<lª-.autm:@'1]<:..EOIítica~.=lo imp.lic. 'qlleâ$~(-;_g<liç(je;ofüeti~~~- Stafin~-O-;.esponsável por essa mudança teóri­
caria uma fetichização da políti.ca como algo distinto da totalidade social .._ ..êã;-r~tificava assim a realidade da prática soviética."
·"Um; definição ger~lcl~a~to;idade", escre;;;_; Ho~kl;eime-;::7'8~;_:-j~~eces­
Mas a teoria crítica tinha uma teoria implícita da autoridade__polítiçª,
sariamente vazia, como todas as definições conceituais que tentam definir
que se radi;:-~~:-~~-~Tt~a ;~ili;; ~;;~5~iJspr~S'$1igQ§~õs]í[{)S§_fiços. Como
momentos isolados da vida social de um modo que abarque toda a histó­
vimos no capitulo 2, a idéia hegeliana da identidade entre suj_eitoe objet(),
ria. [... ] Os conceitos gerais, que compõem a base da teoria social, só po­
particular e universal, essência e aparência dese_1t1pe_n_~C>.1l..1lrn_~_ti-ch;J::'.e
dem ser compreendidos em seu sentido correto se ligados aos outros con­
11agênese da teoria crítica. A razão, princípio nortead9r(lo pe11sa!lle11lc}<:l()
ceitos gerais e específicos da teoria, ou seja, como momentos de uma
'Tnstitut, significava, essencialmente, a síntes':'_c!_ess_e§_Op(),S_lQ§,__a_<::Q_!1_çilja_çii9
estrutura teórica específica:'"
dos,a~t~gonismos sociais e políticos. No trabalho de Marcuse, a teoria da
- Num reflexo de suas raízes no marxismo, a teoria crítica tendia a ver a
----------- ---..,;:...
política como mals.s:pifon,Qf11cênJs~A<:>..9.'1-.e_aê~-~~!~utura socioeconômica.

·íifentidade desempenhou um papel maior que no de Horkheimer~r.Q2_


ficog__no outro.extremo do espectro emreli!ção ª.MJJ.rçm_©~Jllªi.ªiI!9A.<i!'!E:
Errihõfãa.ÊscÕÍ~ de FrankfurÍ-já tivesseç0_@e_s:<):do ~-questionar a n~e_­
trode _um arcabouço hegeliano,_baseac!()Il~_conciliaçii2_\l!é>Pi_ça.c_h1sc()n: .
za derivativa da cultura, tal como presumida pelos mârx!SfaiiínéCãnicis­ traaíÇões:frâ<luzgõ_~;n ieríti(is.r2Jític;Qs., is_s9 .~.ignifiçªYa.a.i<:!~iªçlá.s.>ifAQª··
, tas, demorou a fazei:_QJlli'Sm.2_ COl1}__~c_a. Mesmo com a chegada de
4ioérda<le_positiva", que combina\'a()fimcla. ali~11_aç~_() polítiC::'1C::Q!JL'1.ª<i~­
cientistàs políticos~omo Franz Neumann e Otto Kirchheimer ao lnstitut,
sio a leis racionais universalmente válidas. "O Estado democrático", escre­
houve pouco impulso para a elaboração de uma teoria autônoma da po­
veu Horkheimer em 1942, "deveria ser como o ideal da pólis grega sem os
lítica. _~~dade, só depois de saírem do lnstitut foi~~-":~ escravos." 28 Por conseguinte, a idéia alternativa da "liberdade negativa",
..K.i_t:c~heifi1_er.deseil.Y.Q!Y~rAm. uma sensibili<:lade ~'primazia do polí:... quase sempre identificada com os teóricos cristãos e liberais, era um aná­
tico" no século XX'. 2~ Até então, compartilharam com os outros membros tema para o Institut. A liberd<tde2 C()J110ar~umentou Fromm ~-9_!11~-­
<
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 4 •OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INST!TUT SOBRE A AUTORIDADE

liber4a4e,'' .~igE_ificava
-·-~·- ···-... --- ..
"liberdade
. ... ..
-"--·---·-.-•••-.
para'', e não meramente "liberdade de''.
- --·---~ --------·~---~-----~··---·---------­
Ern Economia e s()_c~e.4cW.r,35.W.~P.ex .\iirtii1~Lapgx.<1<:lsU.tJAfam.os.a..tip.oiogiª
~tite ela co:O~denação imperativa (ou autoridade legítima): dornin..ªcçii_o
" ., .,

Nas palavras de .Mª!f\lSe,-.'.'.sabernos que liberdade é um conceito eminente­


mente político. ~ven:lad_eira)j!Jg<:i.acle_P.<11'1ª--':içi_sJ~nçl.a individual (e não
-a.'físmáticá, 'dorninaçã9_trªg]f!Qg;iJ..e.4c:J!:i:ijn<!.Çli..9Bfio1g!,_l~ga.l.. Grosso
apenas no sentido liberal) _só é possívelnurna.páfü.~~pecificarnente estru­ ~iííódÕ, .dê via_· a.asc~nd~ncia 4a ~utoridªderncio1IBH~gaLc..o.rno..aÍe11dÇn­
. turada, I!UIDa sociedaçk'.racion.alIDellte'.org<lflizacla''. 3o cia sec~tÍãrda civilização do Ocidente. Contudo, o que vveber d~J1()!11iJ1ªc
_!:[i!>'ia, portanto, 11rn.tipo.de..autoric!ac!e p<)lític.<1 qlli'_p_odia ser chama­
-v-a''raciória!iiaÇâo" era''iriU1foaiférerrte 'cf()glle pi:~t"li4i'1. ~i~~i:.9.lrr§.\itllt.
d() dd,g!!jrµ_g;_aJl\l.t()!idade çla rnz.ãg. De pa:ssagern, poderÍãí.tlõSassinalar
']:{;;;síntese, para Weber, a autoridade racional-legal significava a obediên­
que, à medida que Frornm concordava com essa idéia, a crítica de John
cia a urn sistema de regras coerente e abstrato, estabelecido mediante acor­
Schaar ao trabalho dele, chamada O medo da autoridade, equivocou -se em
do ou imposição e implementado por urna equipe burocrática. f> obtig.a­
seu título. ~\lr;1..Sist~1)Ja I?.91.ítico ideal, oiI!c!ivíduo obedeceria ao governo
rão se dava para com as leis, não os homens. A burocracia compunha-se
porque este r_el'_re_s~rüaria, d_e_fato, os seus interesses:-corn e~a d1s;
d~-fundonários éscÕlhidos pó';
procedimentos regulares, com base na
-f1nÇãô-eritregovernª<ló$ê-g9verno teíl4~-~iaª-I~sªpax:;;f_Çw;.rnisso. Jor.:­ competência administrativa. A calculabilidade,_a_ef_i~i~11.c:i.<t.e_.'!.i1P.Pess.o-ª:
. nando real a visão de Marx do fim do Estado como ..ap<txeJbo..~Kt~J.l!Q.çk !idade eram as característicashásicas desse padrão c!Ll.ut.Q.tida~
· coação dos homens, A democracia perfeita, ou a isonomia, que fora de­ a
......A· Escola .dé-Frankfn~t- não'rlegava tendên9_ã.. IJ.rnci9.nalidAdel:mro­
fendida por Rousseau, entre outros, seria realizada quando os homens se­ crática eililfo.r.maJisID~-escre,_;endo·d;;~;;nte a fase de ascensão do
guissem a própria razão. B_~~- rno_~~-ais utópi<:Qs, Hor.klli:imrr.. fascismo, ela reconhecia, corno não fez Weber, a fragilidade deste último.
chegou...<l.().ll.Onto de questionar toçlg_e qualquer poder político. Durante a O que seus membros co_n.~iderav;uninade.qlJ.a.dn.~.ra a rec!.llÇãO da racio­
glie';;;, escreve~-,; que;tã~ d~ qu;;;dev~;;~ f~zer co;;:;·opoder "pres­ nalidade a seu aspecto formal, instrument'll. Mais he~Ji..a..rr.9:â'do.q;;e
supõe a condição que deve desaparecer: o poder de dispor sobre o traba­ wébei"forma<lõ·-~~·:;;,-;,.;ka:;;,ti~~o,·~1~;S1aendiªm.m:nJJido.nalim19_subs:
lho alienado". 31
tantl~o, que envolvesse fins e meios. Apesar de ter reconhecido a distinção
Nesse ínterirn2 _contudo, ele e os outros membros do Institut tomaxam._
"êntre a racionalidade formal e a substantiva, 36 Weber não achava, corno o
~j~ advertir conÚ~j_j}S_;ü!~~i)iÇlüiiiiti~dã auJ.ill'.id.a<ie..polh. Institut, que o socialismo resolveria o coni:lit.o:.:enttt.eias.-Jnlga~a que,
_tica,_ Em mais de uma ocasião, atacaram a impaciência dos anarquistas. 32 ·q_üándomuitÕ,ÕsoCíaHsmoãperia~ia·o;parafusos da "jaula de ferro" da
Frisaram anec~ss.icl<!9e..deumªautoridade i:acion<ll., semelhante à exercida I· racionalização. Além disso, ao apontar para a incursão freqüente do caris­
por um educador sobre sel!S al~~os,-âté que oc;r~-;,ss~-,_;erdadeira.-=:­ •. ma, inclusive nos sistemas de autoridade mais racionalizados, Weber Qe.­
·transformação social. Todavia, isso tinha sido ull1~ ·possibilidad~·ll1aior monstrou grande sensibilidade para os perig9_s cl<1_C.Qnr\linaç'!_c_Gfo.. m~i!1s.
durante a era liberal do que no momento em que se encontravarn. 33 Na­ ·radoilali~ã<ló's~-fi:;;_s ir;~~iõ;:;ãi~;;:;;;:;j!9-c;~;;~terística.do.fascisrno.
quele período_, o do capitalismo monopolista, tanto o agente da livr;hti-' .. .. · A Escofa.de..Frânkfurt poderia concordar com esta última observação,
--..-- -----·--.,--
---·-·-·~·- ----·----·--------.............. - ... _

--·-----·-·------·-----··-·-------.-----~··---.--

.ci.<1tivaj·llª!ltO.D.fili~l\.{)j){)lfüco aiifôno~avam.:.i!w~0.\lQ'~Q_e extill=~~ mas não comaanterior. Outro ponto em que Weber errava, a seu ver, era

..J.ã(), Por isso, o decantado pluralismo das democracias liberais do Ocidente em hipo;t~i~r ~di;tinção eiltrernei()s~figs uma dicotôrnla que se re­

havia degenerado em pouco mais do que uma ideologia. "O verdadeiro . fletia também e~ snà -~~e;:;Ça na possibilidade de uma ciência social "isen­
plural~s_nro~;_escreve.1Ll!9!:kb.ei111er, "pertence ao conceito deumasoci~~ ta de valores". Além disso, o Institut rejeJtQ!l.. ".."fi!rnªÇão weberiana de que

j[é.:fut1!t:a.:'34 A autoridade polític;qnê'(JõmTiíãViõliomem mode~'rl;t~;:-­ o capitalismo era a mais elevada forrn'1..d~.w..do.n11!idade sociill:çonômic.a.

nava-se cadàvezmalíiTrràcíónà[ . . .. - .....- ....-... -­ ·coiiiô marxistas, seus membros repudiavam a idéia de que uma e<:_Q.!l().:.
Ao argumentã~-dêssã.ffiãD.e(rã, convém notar, o Jnstitut havia adotado míã'n"ão'prane)a<la; séíií!llel9s4.é.Pi9:JüÇão:sociãJEi:düs,__r-u<lesSê"ser ra­
~J22.SlUr<!..!11ll.Ü.Q.clite_r:e!lk.. c!i1 . f'~U.11J.jclapor Max VV~~;12_"._l!Í..ª.. ~~é~-;;­ êiõnaf Portanto, a autoridade política,__n11rnA._§.Q.c;içdade capitgjist'!_,_J}A()
racionali~;lÇãQ ..da autc:Jridªcle passou a dominar grande partedo pensa,.. pÓd~ria ser racio;:;-al:;;_o sentido substantivo de conciliar interesses parti~
~i<i~~asciências sociaisgorte~arnericanas mais ou menos nessa époc,;,
cul~;:eS'e ~~i:.ai~" ---~ __.. . ... . . . . . . . . . . . . . . . . . -·-··----·..-·-····-·-····· .

170 171
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INST!TUT SOBRE A AUTORIDADE

,Çom efeito, eks estavalll conve11cid9sdequ~ocapit'11.ismo avançado e ênfase_!iberaJ11a i11~rigi:i<i~cle,_11<1 "privatização da razão"" e 11ª redução
. monopolista redµzia a racionalidade da auto_ridacle p()lítica. A racionali­ Afberd~de à SUa dimensão "~ de;;:e;;~ei9~~:;,~;;a~e;si!Q..U.UÍ.ver~
dade formal e legal, que Weber descrevera, correspondia mais de perto às salista na qual o todo - na Alemanha, o Volk =-t()1:f1º\l=se_s11p_eri<.l_r_j!Q
condições existentes durante a fase liberal da sociedade burguesa, caracte­ in<l1Ví<luó-:-Assím;·sobre a base de um continuado domínio de classe dos
rizadas pela confiança no Rechtsstaat [Estado constitucionalLjl;_ medida ~apTiaff~t;s erigiu-se a Volksgemeinschaft [comunidade popular], com a fa­
que o capitalismo evoluía em uma direção 111.º11.91'.Q.Jista, as.J.nstitu.i.ç.Q_es_ chada de uma sociedade sem classes. .
ºjiõlftícãSefuri<líc~as:liberais. eraITi-cada vez·;;.;~is_sµl:J_§titµí!i<is.p.o.dnstituk. A apoteose totalitária da natureza foi iwlllll'!1te E!ll.ª r.:a~ão .ª~.:

·Ções tot~litárias./1:8_ql!~..J:".5t<l::r'.1_.111.f!:ª-.lll.fili.llcº-mais.do.qug umª-.f".c~ ..ra!isrnoet!!ll-ª..ÇOntinuação _c!~_ll!!L<Í.' se.u2.J'EE'ssup_osto3. J\. eC()E'.()_mi~~i~_::

para noyp5 tipgs_df.ªJiJo.rifiAg~ !!racional. A racionalidade, em si, estava ral, assinalou Marcuse, sempre
~----------
se baseara na premissa das "leis naturais''.

_,_ --·-----·---·-•
•" ----··-.•-••--~·-• -"-'""'"'-"""'--•.-"'"'""''""'••

seriamente ameaçada. ''A ordem fasdsi:a'; escreveu Horkheimer durante a ''Aqui''. escreveu, "no centro do sistema liberal, a sociedade é interpretada
guerra) ((é a razão na qual a razão se revela irracional.>) 38 por meio de sua redução à 'natureza', em sua função harmonizadora: como
A transformação do liberalismo em totalitarismo era mais orgânica do justificação evasiva de uma ordem social contraditória!'" Q qi.i~ havia de
---~--------··----c------"'--­
que admitiam os teóricos libf.nüs. Como escreveu Marcuse em seu primei­ n()V()..llO...tQt.afü~is!ll.'.l_~ª.'1C()ll1l:i!1.''S.~Eº _naturalisrp(),~()_ll}Q ir;~SiQP~=
. ro ensãlÕ.nÕ..Zeitschrift, "a passagem do Estado liberal para o Estado to­ íisll).o. No pensamento volkisch [populistaCa natureza fora elevada a um
tal-autoritário ocorre no contexto da mesma ordem social. Com respeito ··;tatus mítico; o Volk se transformara na realidade natural central. A natu­
à unidade dessa base econômica, podemos dizer que é o liberalismo que reza, c_om toda a sua brutalidade e incomJ>reensibilidade, transfo~;;ara:se .
'produz' o Estado total-autoritário a partir de si mesmo, como sua consu­ -~a-"sif!~de a~t~gü;;i;\;<l;_hii!~rj~', 44 ab-sohttizando as irracionalidade~d~
mação numa etapa mais avançada de desenvolvimento". 39 Em suma, o fas­ ordem vig~li.te. uillde ~e;;; resultados foi a ética do sacrifício pessoal e d!!.. _
~o.esta.Y.iLÍD.!Íill.41Jlente rela~o ~<?.. capitalis!Ilº· Numa de suas f~ negação ascétic;;gue caracterizava o realismo heróico.
ses citadas com mais freqüência, J!orkhei!llef_.~.§<I~"':.l!:c.e_m_~ -~"-~ª§e.l!l~tifi~~_!.~~a." situaç_ã.Qj'~~Y~..8.ªLª ~eori~ !ota]i!ªIiª,..tal
não quer falar de capitalismo t<tmll.ém deve silenciar sobre o fascismo." 40 como demonstrada na obra de Carl Schmitt, só podi_i!_()fere_çer_llJ!l'-1.§.Q\l!:..
:como veremoS,entretanto, ao discuti;o Behemoth de Fi:anz.~~, o Ç~(): "Haver um estado de coi~as gue, pºE..5.ll~-~l~~~iil~l'r~~~nça, fique
_l~~~tutn!l~<l_..cll_~gc:rt1~...ll..l11.'.'."Qrdo_pjen9_~9bre em que realmente consis= é;
isentg_de _qualquer justificação, isto uma situação 'existencial', 'ontoló·
tia essa relação. --gi~a' - a justificação pela mera existência." 45 A discussão incisiva de Mar·
---OártÍgo.-d~-Marcuse intitulado ''A luta contra o liberalismo na visão
••,.- e•_, __ ' •" .- , • • • ,_,_.,.,,_,, __ , •• ---.-•-••-••-••••"'•-"'' ' " ' " - ' " • • • - - _ ,.... ----~·-,-·-~·--·•­
cuse_ill&rç.a..di:u:xis.te.ncialismo políticQ evidenciou a dist.â.ncia-q~ha­
totalitária doEstado'' merece ser examinado em detalhe, por adiantar yia_J>~r_c:_onido desde que se ligara ao Institut, em 1932. Ele passou a
idéi~s ·desenvoJv[da; depois .e.rn. 9\ltrosJrnl?A!hQ~<Í.<Llilllin!!. Esse ~ns~i~é argument~~ qti;;--apÕsturã_áe.HeKfegger antes-de Ser e tempo era "o maior
·também um modelo de pensamento dialético; trata o totªlitari§Jl.1..9. CO_!ll.9. avanço da filosofia"" para resgatar o sujeito concreto negado pelo racio­
1:':J1}.<l.1:5'.~Ç~_üª te.119ências d.o_!igeralismo e a() mesmo tempo uma COJttic. nalismo abstrato, de Descartes a Husserl. O que se seguiu, porém, foi uma
'
nuação delas. Originalmente, disse Marcuse, a visão demi°i;;do tot~litária
'-''"' ,_,._y-.,,,v•""v""''"''-'''•"••.-~.~-ª
reação em que a antropologia abstrata substituiu a história concreta, para
começou como uma respostaà racionalização sisteJ1latizadora da vida_~A­ justificar a ideologia naturalista do realismo heróico. Assim, Marcuse fez
esterilizante.. intelectualizáção do pensarnent() nosécl!!õ_&~: x«;;;;,nià' rl!.1!1<lc citaçã<:ido.E':'.t<)rio discurso inaugural pró.:.f!<lZ.ista d~_Heidegger,_egi
da vida burguesa opôs-se uma ideologia do vitalismo heróico O caráter
<..........

193 3..::- ''.i\,A_uto·ªfi.r.If!aǪ2ilitll.11iversiq-ªçl.f.J1!elllií."_=,p.ar:a.m.o.s.tr.a.r..a_que


árido e frio da filosofia oitocentista, que era materialista e idealista, pro­ J:>.oÊ!.O.Q_e:i;;i.s.umciafümQjµ_11til!:il_~;gas forças ao natJ.!Ill.lifilno irracional,_glo­
duziu seu corretivo na Lebensphilosophie. N().~éculo XX, porém, as.i;>ewm.:.­ rificando a terra e o sangue como as verdadeiras fo~ da his_tória.
­ ------·----------­
ções válidas ele Dilthey e)'Jj_~tzsch~.ha.viam..de.g~~;.ado num i;racionalis­
~~~,--~~

!>:.variação mais conscientemente.P..olitiçª dg~zj§té'.11çiaji_$.rno.,_exempli·


.mo insensato,_~;;j;l;;~ção, como Horkheimer assiniÍõ;Jr;:;;;;;;~~e~es,41 _~r!J..-­ Jiçaç!~pÕrSchffii.tt,~~~ai;)<l~m~l~sinistra para Marcuse. Ao reduzir a po­
)ustiffc~ros-tatus_q_uo. Da mesma forma, afirmou Marcuse, a_tr<l~~ lítica a relações existenciais não estor~adas pm. n.ormás éticas, Schmitt
,-----------..· -·-· ------------·· e
172 173
<
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO !NST!TUT SOBRE A AUTORIDADE

outros tinham levado ao extremo a idéia de soberania. "Soberano'; escre­ logia fa~~rno pouco mais que u!Tl':'ªfirmas:ão do .~Eatus q_!J:>__e_r<J_Qe_[:
;~hmitt~"é_aquele_g_ue deci9_e sobr~~-E~tado~le-emergfncia." 47 Por­ <(!erde vista oscomponentes desse_,status q!J()__ as salvaguardas legais for­
'ianto, a soberania-estaria enraizada-no-direíto<le.iü;:;;:~ae-dsões, âlgo que máis,-is liberdades civis etc . ..:.... que vinham sendo questionados pelo aban­
era concedido ao Estado. O indivíduo, antes resgatad()__Peia Lebenspjzi­ dono da raci0I_1-ªli'1ad_e, Q fascismo eoTíberalismÕ-pÕdiamestar"iio
losophie,tornava-se subseivi~n_te_ª2_!'~"l:af!Q".''Com-; realização do Estad;;­ âmbito-d~~;ª única ordem social''; mas êsse ân1_bit(,s~_r~y~la~~ s~fiÇien:
total-autoritário'; escreveu Marcuse, "o existencialismo abole a si mesmo temente grande para abra~g_::_s!stem:s ~o~ticos_e_le~ais~:iit~-~~fe:::_ntes.
- ou melhor, sofre uma abolição:' 48 Assim, o que se iniciara filosofiQt:__
mente cO!Il()_U!'_lJ'_rotesto terminou,~--;;} te~m2.~políti.i:m~na capjtul_ação Tendo em _1Tl"111e.J~_e.s..prs:_:t~1,1gQ.~!:9L_;;_()_~e_J1_11_aturs:za__4!_ autor.@.ad_,
Cíiãllte~dãsf()rças donÍÍn-,;;;tes<la~ü~iedac!,,. J'.()ffiiCa,podemos.QgQIª-di!i.c.utiLD.S._S'.t.u.dk11._@ec.fl.u_tori.tijL_itnq Familie.
Havia um-pequenoconsoÍo"ili~~o~°S\o politizar conscientemente o con­ Embora, como I-LQ_ds.heime.r__deiJ>Sl.!l_~o na introdução, .o_pr.oblema da_
53
.
ceito de existência, e ao desprivatizar e des-internalizar a concepção libe­ · a;;torldade e da faffiíTfa não estivesse no centro de uma teoriá da socie­
ral e idealista do homem, a visão totalitária do Estado representa um pro­ aaàoo pji~í~ crucia"i
dade ' de.m€reciã:um esti:i(!õ:se!'iõ;---- - ---·-
<la: fa-;;;-íÍia
~-
na me­
.­ ,,,

gresso - um progresso que conduz além da base do Estado totalitário, _gi~ç-ªo entre a subestrutura ll"l<lt_eJi':'l e_a_stip~r_es_ti:_u!_ura ideológ_i_ça. Com
impulsionando a teoria para além da ordem social que ela afirma:'" Ape­ efeito;-não-Tdeactrnírar que o marxismo neo-hegeliano do Instituto te­
sar disso, frisou Marcuse,_era preciso reconhecerquea_c_onciliação ideo­ nha levado a um exame das relações familiares. Para Hegel, a família era a
lógica de interesses do Estado v_olkischnão devia ser confundida com a instituição ética central em .'111~-s~_b':'seava a comunida:<le~- e; ú_lti~<li~s:
verdadeira conciliação prometida po~_Mil-~~~c;;;;~-H0 ;kh-;,~ersll'.i~Jeilo __ --tfoC!ã:5•iVi-:i;x, é clarO,fi;er-a uma avaíiaÇão multo êílfel:eilte-da-família, tal
·_crever düfã_fiíea gue;:ra-;;i_ye~Í~atlichung [pacionalgaçAcüJasci~!ª--Ç@_<)­ -~~;;ü~st~ecia c;-;;~reta;;en!-;;-;:;;;s"Ocie<la<lej_üe-eiaillíii_óü:Afamiíia
oposto da Vergesellschaftlichung [socialização] marxista. 50 Era também burguesa;-Marx escreveu n"OMa~ifesiõ comunista, era um monumento de
_uma traição à idéia he~elfana. dó EStado ~ün1órec§"I1c_iy~~-() de ~ontr~-<lf.: alienação desumanizada. fl.o COl}trário de H,,~ ele achava que uma__;;_():
ções. De fato, argumentou Marêuse·, ·alltecipando a análise mais extensa .fif.4.'1de...civj]_f9_m~nta_d_':'!ª de m9!~':'_~Çil_e_,;_e_g_()ͧ\ªS,_d()!J1\1l<l_~S__ ~j()._Xi1_l()r
.em Razão e revolução, os naz1sta§:-g__Hige! eram fundamentalmente incom.: 1. de tro<Jhinvadiraa.famíli'\.e_distm·ç_e_rn.ÂrnJªdo'.:.~tif.9'.'. A realidade da fa­
patíveis, apesarda sopo;iÇão popular el11 contrário. N;
;;;Íid~de,;;/<l;;-a­ ! -;;:;jli;burg_uesa, dizia Marx, .ern.<1 sua natureza de mercad0 i:ia; a ·da-famí[ia
· 1isrno crítico. e o éti~tenci~lis-moeram pólos opostos. rrcletá;ia ;r~ a sua dissolução pela ~;pÍ~~~Ç~9 ~~t~r_na. A abordag~ill do
De qualquer modo, a implicação mais dara do ensªio _de Marcus_e, in,s_\I1l!t, COillO veremos, ficou e11tre e~sas_duas per>peçtivas, ~QCJ.i:<l te!l:
compartilhada por outros memb~o~ "<lórn~tlt~!;si foi que Q_lib.e.tafü!J:l.Q, ciesse cada vez mais para a visão mais pessimista de Marx. Ela também
junto com a base ecoil6illlca que o havia sl1s1:entado, esta;a irremediavel­ combinou as preocupaçÕ~s g~néticas ... ca~~cteristicas da maioria dos es­
-mente illol:to. o futu~o só admitiria o autorit~ri;;;.;otot;ÚÍário <l-:i·-diréíi:~ tudiosos oitocentistas da família, como Le Play, Maine e Bachofen - rnm
ou o coletivismo libertário da esquerda. Nos anos anteriores à guerra, a os interesses da atual função da familia, exibidos por seus sucessores do
}déia..cie._qi+e... uma.t~rc~ira possibilidade ......•...que. Mªrç11_s.e.. .m.ais~tird.eS:.fí:_i;:­ século XX. 55
maria de S()ckdq.de. "unidimensional"-=.viess.e a.emex.giL\:1ª.P.O.larização Os§ty_cjienf9r~11:1 prgc!ttt()_~~-~il:co. anos ~~!E.':~_a!1_19__r_eal~"-~º
da décad<l_de 1930 só foi percebida de for!Tl~.tê11u~pelo_I11_s_t.i!11_t. A Esc;;ia· conjunto_skeqµipe clQ Institut, com ex_<:e_ç_ií()_ de GJ::9.S§.fJl<l_nn e.AclQW.O (que
-aeFrankfurt tampouco admitia que o mundo pós-economia de mercado
--~Ós~tornou membro oficial após a ·;;;nclusão do estudo). Na dedicatória,
poderia reter alguns elementos da sociedade liberal. Ao enfatizar as conti­ o texto relembrou o grande benfeitor do lnstitut, Felix Weil, que ajudara
__11_1_1~ªclese_nti:e<J]ip~r.a!is.111oe o fascismo. - as quaÍstf~Ji-;;;j<l-;;·ig;;Qra:­
a persuadir seu pai a fazer uma doação para a organização no início da
das pelos que viam este último como um movimento direitista reacioná­
década de 1920. O _liv.r.o_f()igprim_ejxQ..fr.!lj.()~2JiliU.!.O de ~nrig_l[_e.cer__a_
rio, e não como o extremismo de classe média - , 52 o Institut tendeu a
perspectivaJe9rIÇ_~,.com.in.Yes!jg.a<;.êi.e.s__ empíriC<i~ anuncia_do na ef~tiv_<l_@()
minimizar as diferença_sg11e9ssejl_ar_'!Ya.m. Ver o irra~l;;;;;-·da ideo~
"'de Horkheimer
-~.~--
como-···-·.catedrático em Frankfurt. Embora todas as infor­
--·- ·-" --· -··-·--- ·----~--' ---··-·- ­
.--·---~----·~~·---- .. -··- .. ----· "'"'" ·····" --.----··--··------.. -~.

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CAPÍTULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO !NST!TUT SOBRE A AUTORIDADE
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

mações usadas, com uma ou duas exceções, tivessem sido colhidas na Eu­
Contra esse pano <kfündo, Horkheimer voltou-se para a função d-:_fa-
ropa, sob a orientação de Andries Sternheim, os Studien reconheceram a
rní1TâllõprÕ~~s;;;-·c1e . soci~Ú~;çãÓ. I~~ç;;J~rl:~:: dis!In~trLJ farli.ília.
influência de um precursor norte-americano, o Middletown de Robert
na]!ã~Cl.<?J!:~riiliS.rll<:i ~~gllês-~::i11_à_~ciuiva_Je.nte contemporânea. ,tia_pri.::
Lynd, publicado em 1929.. Horkheimer organizou a primeiraparte, com­
t;;eira, o pai g~aYª eia autoriciacie qg_e_acgn}p(ln_ha".~_s!ll_P_ap~J_gl:JieJ:iYo
. posta de ensaios teóricos, Fromm cuidou da segunda, dedi~ada estudo;·
a aeprÕvedo·r-~~onômic9, além de suas outras fontes de autoridade, como
;;-superioridade física em relação aos filhos.!Jessa medida,_er.'1.9Sll~fe 11'1­
~fl1J?1r.icos,e L.õ"':enthal da terceira, composta ele invesÚgaÇôessepãraâas

,de yários problemas correlatos. As partes eram seguidas -clee;:tensÓs e~:


tural e racionalshd:amília. Com o solapamento de seu poder social obje­
saios e resumos bibliográficos em inglês e francês. ílVÕm:-~~italis_!<l_r~<;t;;:;t,,~sn'1_aut9ric\'1.<:l&_§e tornara~da vez rn:;;is
. Co11y~ni_e_n_t~fl1_e11!e, efl1_v~s!'1 <i'1'1cJeSã()_cl2l11~tit11t.'10Ertmado da teo­ lcfêõl<:\~@-~ irraaõ!lal. Afainília proletária era l?'1!t~<1_1'_1'.1."..l1!'-slli..c;_e_tíY:el
ria, aseção iniçiaLdos $tyciim foLdedicada a três. longos ensaios esgecuf;t::­ --;;-essa muda!lÇa crucial, por causa da situãÇãO-econômica precária. _C:().111 º..
. tivos de Horkheimer, Fror1J}l} e Marrns~ .. O quarto ensaio, preparado por dec!Íií'io da ant{j_i;!i_i~iil.9 ~i vinlE!. a trans_ferêncLa,_<ie §1!;1_.'lll.Gl.".TI:!e.taJísi­
Pollock sobre a economia das relações de autoridade, não foi concluído a ca" \Jarafn$tfr~jções_ª9_çjfils.e.J<:!erna§_ à família. A_gora, es.gsjnstituições
tempo, em virtude das obrigações administrativas que ele havia assumi­ ·crésf;utavam de imunidade às críticas que, até certo ponto,_o paiburgl[ês
do. Horkheimer deu o tom do volumeinteiro em sua:S~@__geral". Co­ 'Afrterlor hávlãconqü!Stad.o.'cõffi fasõ:-ar~sponsabilidade pelo infortúnio
meÇou'esfa&efe,cei1(!~-aT§gJ('aq(Jê~:X.i?fu;ilya-Üme~im~Ji9JiW:Q;Ó clÓ-,;.:­ "eril'affi15úída ainad-eqüâÇão pessoal ou a causas naturais, e não sociais.
pecto. cultural da sociedade moderna, Apesar de não rejeitar -;ê;[;;­ ~c!;Jtt_ção da impotência, e não_<:~~fumação.a1iYll·"
marxista na centralidáde da subestrutura material, ele defendeu a intera­ Essa parte da análise de Horkheimer seguiu o mesmo espírito da críti­
ca de Marx à família burguesa, embora fosse enriquecida por uma me­
!.ãcJ_r:_cí~()_c_"_ que. existia, in,e;r_i!ª"el!ll~l)te2.,_l!tr~ ..<lli:~ a:suPerestrUtur\i.
Usando como 'éiernpios Ô-culto chinês aos ancestrais e o sistema de castas lhor compreensão psicológica das relações interpessoais. Horkheimer não
indiano, Horkheimer e_"Plorou a "defasag~J:l1 cµltural'" 6 que freqüente­ rejeitou inteiramente a idéia hegeli-:_n_a alternat~"._~íliasomo_r.e_seJ:::.
_mente preváleaádepois do desaparecimento da ;~nsa-~ó'dÕecÕnômi~a 'va defeSIStência ética à desumanização social. O ponto em que criticou ..
originaLÁs idéias e os pa<Jrões d"_~ºml?_<2.r:!<!.ill.eU-1º.p~pe;clfclÕ~na
-tt~~lfóT;;;;;~;i;;-p6st;;;;;;;íog_:J_i~P'o_;;i_ç~_o_<:11tre_ll:_f<:_mJlia_e__a. sQfi_eçla,­
. justificação obj~ti.va - isto é, material -: mas p'.rfil.sti!lm, pois os homens des:iYiL A relação de Antígona com o irmão, que Hegel havia interpreta­
tinham um COl!lP!º!1liS§.Q .su!;ijetivQ.e..afe.tivÕ..cÓm.ela.s.. sõ;;:;e;rt~~'ó-~-Zom­ do como símbolo do antagonismo inevitável entre a família e a socieda­ 59
preender isso era possível apreciar adequadamente as sutilezas das rela­ de, era, para Horkheimer, uma antevisão da sociedade racional do futuro.
ções de autoridade. Entretanto, ~le concordou com a observaçãoAe!ltfll:rx_cle. 9-l!e .Q_imp_vho
.!\ segt1_nda parte do ensaio de Horkheimer versou sobre o desenvol­ crític_g_'.'negati_i;_<í"::da_yi_<;l.il]ªmíi!ir:::~ao_i!!i2_r__c()_nj_1:'g<1L!~rih<1_s_i_c!g_s~i;.iam&n:
vimento histÓrl~Ó·· cl;~ntÕridacle-;Ó-~~;cióJ_;rl'~g~ê~: Nela~-oaút;;;;~ ~_sgastado na soci~<la<ie_bt1_rguesa, maisdoque Hegel. havia apreendi­
estendeu sobre muitas idéias abordadas em outros textos do Institut. En­ -do. No sécui~ Xx, ~ssa tendência era áinda mais proíi1.lnélada. Por éxem­
fatizou, em especial,_a disparidade entre a ideologia burguesa do antiâuto~­ j;ÍÓ, simplesmente opor um princípio matriarca!, no sentido de Bachofen,
ritarism_o e a crescente submissão-do indivídúõàauto-ridã<lereificada de. à sociedade patriarcal vigente seria ignorar a sutil transformação do papel
uma ordem soc2oec()gõ_mica irra_cignaL Mas teve o cnÍclà:'dodé;~gu-;n;;t;;; da mulher na vida moderna. Como Strindberg e Ib_sen_h<1\'ialJ1..IJl:C>Str:a.<J:()
contra o antiautoritarismo de Bakunin e outros anarquistas, que enten­ em s11i'.S-~as,.arg1.m1en_t:{)t1_ll2.!hli_riins:r~a.em;;:;;;cipação.dasmulb..eresrnl ....
diam mal as precondições materiais necessárias para a verdadeira liberda­ sociedade burguesa revelara-se UIJl:ali\Jertaça:()rn~l)_()r cl()9.ll_e ~n,tes._se ?a­
de. Somente quando os interesses gerais e particulares fossem conciliados via presgmid9. Na mai?ria dos casos, as mulheres tinham-seadaptado ao
é que a oposição formalista à autoridade e à razão hipostasiada, feita pelos sistema e se tornàdo úlll.árc)iÇa c()t1servadofa,,:p_9r.c_a_lisá~_(fj.__Cl_ep~ii<:l:<'n<'ia
anarquistas, seria finalmente superada. "O_ anarquismo", escreveu I-!.9.r!<:::.­ fmre!aÇaüaos miri..dos. l'la verdade, os filhos aprendiam a obedecer à or­
h.,jiner, "e o estatismo autoritário pertenc~m à mesma era~ultu;tl;,5, dem vigente no colo da mãe, apesar do potencial de um sistema social al­
-----~ ----~------·~"----~--~-~---.. ~-·-----------------­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INSTITUT SOBRE A AUTORIDADE

ternativo implícito na tradicional ética matriarca! do calor humano, da Com efeit()~óprio progresso da sociedade er~~:11;1-W1:Dd.e.inf!Qêl1_­
aceitação e do amor. cia na for5_a..i:<clª!i\la_do eg_~_g_o_~!ll'erego para repnmlf os impulsos so­
~E~ma, Horkheimer reconheceu um<U~O dialética entre a famí­ ~II1__eg!~-~sigososdo..id. Com o dese;;võlvimento das forças prodlii:ivás
lia e a sociedade, a um tempo reforçadora e contraditória, mas com o co;;;::-" da humanidade, havia crescido o controle humano da natureza, dentro e
.ponente.negaÚvà ém declínio. Por isso, o ensaio terminou com uma nota · fora do homem. Isso significava um aumento da C'.'f'.acid~de d()I10m_e_in
pessiJ;;'iSi:ã: "A edü;:;ção dos-indivíduos de caráter autoritário [... ] não é para cri<J.ru!11a§Q_ci.e.dac1e racio_nal d()pi!]a@__ p_o_u~µ~gg, __<:_Jl_ã_() p_()r_s.e11.
uma aparência transitória, mas uma condição relativamente duradoura. -rup~J formado tradicionalmente. Mas Freud havia neglig:_n_ci~d_()_()_ ..
[... ] Agora, a totalidade dialética da generalidade, da particularidade e da 7sPe<;!Q.._a!iYº-Qº.. de§el]Y_ülYLmg11t1L.i;l_o.:.ego_e..enfag~eíll]e!I!asia__sfu_
individualidade revela-se como a união de forças mutuamente reforçado­ Cãfáter adaptati11_9. 63 _Q2n:Lt~o.ioxtale.çjdo, ç2gti_I1_!1_0.l':._F..1:2!11.JD,_.aJihero
ras:'60 ~cação principal de seu ensaio, bem como a dos Studien como tâÇãoéf~áng~;tia irracio11.a.l. -~-eria. . maximizª.c!acf_a_autori.c1ad~.4ef2.!E!!t"
-~ a transformação do papel da família no grocesso de sociali_-~
zação. flil.Y~t;i_do_4eclínio __cl_i_fu;;Çã(,-:_:-~-2()cial "negativa" da famíli7,"
·---·~·-·-· ..
---•-""" --·'-•• -------­
-d~ superegose reduziria . .fu:, por outro lado, as condiç_ões sociais esti;
...• -- ...
vessem dessincronizadas das forças produtivas, o desenvolvimento de um
. º?.i!ldi_ví<l.l!ºs e.rªm.mªi§...<:ii_r_eta_1.11:e_11t_E'__5()S.f\!iza.<;los.P.9_rj_2_g.a_s in__s!ituições • eiü·t~ê~~~1~=i?!~iií'ªi~~?9;)~~-;;<l0~=~~!E~:I~ii~s.Sií'Q::Pá'iii i~iüiiª~~e.
sociªis. Como veremos ao examinar a discussão da cultura de massa pelo irrãcionªl,..enraizada .nQ superegQ. Como Ferenczi havia demonstrado, a
Institut, ~es agentes alternativos de sgç.ia!ização..auxi.J.iayan:uia..çriação de -perda do ego nas situações de hipnose levava a uma relação de autoridade
um tip9~sonalidade..aut.Qriliíria': mais sutil e resistente à mudança claramente irracional entre o terapeuta e o paciente.
do que qualquer outra nas sociedades pré-modernas. A crise da família !:'?..<!avia, !J"Q_m__illJ!i\Q.J[çQ.u_ ple_1:1'1.!11.e11!~_sa_ttsfe.i.to..l:Qll1-<i-perda . do.ego
foi um tema que viria a aparecer repetidamente em trabalhos posteriores comoe]{pJiç'1.<;li9_do_ardor.c()rngue_a]gurnas pessga_sahraç.aYfül.Lª autori,
dos integrantes do Institut e de outros estudiosos, como o psicólogo Ale­ "<la<lê: Também não se dispós a aceitar um impulso inato de subordinação,
xander Mitscherlich,61 que foram influenciados por ele. -~;;;;ºfora apontado por McDougall ou Vierkandt. 6"1Em vez disso,~­
~undo e.:i:saio j~-1'.'.'!!~_teórica dos S_t:~~logia integrar sua causação histórica a_ conceitos psicossexu~is deri.Ya<i()S pre­
~§º'cial", ~m,_!;!_!J1béll1~~V:".. c~rável repercussão~- ­ 'aornmantefüfoté-dê FTeu<l.A.íii'éCípándo slla-árguD:;:eíitáção posterior em
_l)al~s d<J__l_11sti~~· ~rn meados dad~~ª<:i;i_<i~!J].Q, como foi explicado nõ "ornedo:i-li'b~--rd~de: FrCJ_~..r_opôs g11e o caráter sadomasoquista era º·
capítulo 3,_a_<:t~tl!~e_d_e_~rcl!l11ll:EªE.'1.. C()!fl.'1 psi<3~áli§e ortodoxa.s:.stava em núcle()_<ia.J:>.eLsonalida_d_e autoritária._E~::.Q_Q!imordialmente,
~f.8:I1_<!et.i:_aI12f()!~8:<;1í(): Em conseqüência disso, seu ensaio_expres~__l:l_mJt_ ila-~exualidade, ao passo que, em sua formulação posterior, baseou-o nas
C.'.'.i:t.'1.ambivalência em relação a Freud. Começou pelo reconhecimento de categorias ''existe~i!§SliLali~M.çli_Q~~-~gr~1i~:&üi.iiiói~~~5 ·---·--·
-que a teoria freudiana da psicolÕgi~das massas e do superego era o me­
.--;::;----·~---­

!!~II'..':':'.[lC:.º1:.cl()ll_SQ.Ip_f.r~.l!.cl.,Jll gy~-- o .!Ilªs9'll!i<;_J11.Cl .e_Qg_gis.mo.ia,


lhor ponto de partida para uma análise psicológica geral da autoridade. ziam parte de uma. síndrome .l!nifirnc;la c;lq rnráter,.i!.ÇI."§fÇ!!!ªX'sl.o_gy_ç~"ks
Dito isso, porém, ~rº!Tll11ªP-1:e.S~()ll_:se_e.ll1_.ªpg!l):a~_a_~~_via ·tenderiam a aparecer mais freqüentemente e!f! soçieçlª<;le$ilJJJ:Qritárias,
na teOJ:ÍllJ?Sicanalítica. Freud, diss~, ()ra _i\![ibuía o princípio de realidade bas~a~a§.!1.i!.bigªr'lui'1 ~1:1'1.~~.11<1-ê11çia. Nessas sociedades, disse, o ma­
. ªº_"..g? raciona1:~E:i:.<i!'.i.~lÍ~gg;i() pas_s()_q11_e?E:~íll_!!_ociedade~ soqli'ismo se manifestava na aceitação passiva do "destino", da força dos
devena pertencer apenas ª-º primeiro. Freud também era simplista demais "fatos)', do "dever': da ((vontade de Deusn e assim por diante. 66 Embora
em sua idéia da identificação como fonte primordial do superego, embo­ fossem difíceis de e](plicar plç11ame.11!e, 9ê..maz:s.r.e.> cl.a..i11fey~o-~i~;i_de-~e: ·
ra a identificação fosse uma ferramenta analítica útil. 62 El~ especial­ .<''.1~ria111,_r:e~~_Í"..~11?~!l!e,~<;l_çt)!l_Jipçrtar.Qi.I1<!i.'14ll()_cja_angús!i<:t..>..~?..P.().Siti:
,---- --------~
.mente,prosse~l1iu_l'r()l11_11!>.'19. hªs~_ar_a_i<!e11tificação ~a_ criança com o pai
vamente, de seu sentimento de participar cl9. p_0 .;:\er. Também se r~laçioc
exclusivamente noc:;omplexo <i_e Éçlipo e no ll1edo -cla castração.,9.utros fa~
navam, árgumentou Frorl1Jl1,C0\11 ~1@e~fraq11ecimgm;:-(!a=sex~alidade
tores especificamente socioeconómicos,
'---~·~·---·-·-·-·---' --------·-- ........
sustentou, também afetavam
.. --.-- ---------- ---,.~---------" --- -- ,,,,..- ... ---.. -- -- -
'"---""---. '' ___
a re­
- -·- -·-·· -- ... __ ,.,..

_genital h~fÇ[g§§Ç]{l!i\1 e_ç\l\1i11ma_regi:e§s~q .a J'1$<;§ liJ:ii<ii!lais pré.cgenjtaj_s,


lação de autoridade. -­ ~<;.Í1!)1Jlente.à..a.11al. A identificação ho!1:1()S_S::u_a!._<:9!1LP.O.deLes..sui;ieri.Q:
-~ "

178 179
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALtT!CA CAPITULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INSTITUT SOBRE A AUTORIDADE

re>,.mªi~~um~_espiri~ll~l__<!<J..'lll~.~()rporal, era outra característi9._ gráfico que também escreveu para o livro 67 demonstraram não apenas sua
do autoritarismosadomas 0 quist<1. Este último aspecto da síndrome era es­ indiferença à psicologia, mas também seu não-envolvimento com o tra­
. p~~ial~~nte acentuado em cttlt~ras patriarcais, nas quais se presumia que balho empírico do Institut, baseado em categorias psicológicas. De todos
os homens eram intrinsecamente superiores às mulheres e, por isso, eles os integrantes da Escola de Frankfurt, Marcuse foi o de menor inclinação
~-------------- .. ----·----·-···~---~ --- -- ·------·--­

---· --
eram transformados em objeto de um amor masoquista.
Fromm concluiu o ensaio discutindo os tipos de reago à autoridade,
----~
_Nes5g_ªsl'.~CJQ,_fst.ªJ?glefeJ.L,Uma..dis.tinção e~~as';_.\l.Y&Jii.!JJpk.~
·m~nte substituíam uma autoridade irracional por o!:!!,ra, sem que provo­
empírica, o3ue seus críticos Eoge_1:i2r~§:ng11cii..§.~ç3nsaram de repisar. 68
...---Err18\;;"s~Çã()histórÍc~ i~t;lectual'; Marcuse des~~;h,~;:;--r;:;;:;ilaSidéias
presentesem-outrõsartigos<lüz'êlíscliriff cõmeçou porenfatlzar-illa!s
-~ma vez a ligação iµtríll.s~i:a~ntreJil:)~~ªª-4.~~--ª;:;t9ri<li<l~;q'Ueõs teóricos
, cassem urri:~;ef'4ic.lf~rRii4ª.!lS.il.JlQ.Sªráter_,<;ubi;!çgnJ:;; e;i''rev.oJii:~ burgueses tanto haviam deixado de reconhecer. Em vez disso, assinalou,
·que refletiam essa mudança. Estas-· .liltirnas, muito menos freqüentes ­
...
-~· --<·--~--.,
eles postulavam a idéia da liberdade negativa, mais caracteristicamente
Fromm admitiu-, implicavamum ego suficientemente forte para supor­ formulada por Kant, que significava a separação entre o eu interno e o ex­
tar as adulações da àutorÍdade sa<l9Qi~sogg_Ísta irracional. Nas sociedades terno. A autonomia interna era preservada à custa da heteronomia exter­
·democráticas racionais, emergiam líderes que gozavam de uma autorida­ na. As pretensões au.!iau.t.ru:itál:i.au!JLle.~ mascaravam o apoio
de baseada na capacidade, na experiência e na imparcialidade, e não numa metafísico que ela_ dava A_ord~.'.1.1_ soc_i_al vigente,Jo ~Ob()c~pit_a_Jism(),_e_ss!l
superioridade inata e metafísica. Portanto, nem todos os impulsos a_r:i:iat~::_ Õiaem se mantinha inevitavelmente irrãcio;al. 69
toritário~am justtfü:.'1qos.. A_s_~r::'<JlYi~~!:<lllJ~~i~~rta59es_ e~g1:1,~'­ ~~"Y.C1Eh~_l_ii_,<;0"i}c9_s_ in.t.'-1~_<;!.\lil~~_q\1.çg_§.~g_uiu, .,M_<ll'.~ .
.• na verdade, o indivídt10.b11sçay'l .l1.Jl15l.. nci:vª,;1µ_!Q_~id_ad~)rx_a~i()J1<lll'ara... cuse resumiu as fo~ma1_clás~_ic_~s__ç!A.1i.b~rdad.e...negativa, tais como apare­
.. amar,~esm~ guindo l'arecia se ºEºr a qualq1:1~T'1.l!.\2Ú.d.<Lde. O anarquis­ ciãID'llõPensãmento da Reforma e de Kant. Mas faltaram teóricos inter­
. ta ressentido e o autoritário rígido não eram tão distantes quanto pare­ mediários, como Hobbes, Locke, Hume e Rousseau, cujo pensamento
ciam à primeira vista. J.sso explicava ª. sl!l'Jmissão repe11.t.il1'1..L~t_()fici_acie,,_ raramente aparecia nas discussões do Institut sobre a teoria "burguesa''. 70
que muitas vezes caracterizava o anarquista ªP'!E~I1-~':'.!11:',ll!e)il'i~r!.'ii:i.9, .. O que veio em seguida, ao contrário,.fo.ram.seçõgs çledicadasaos questio­
7,· contribuição c:Íe Fromm piria-pãrte.téÓrica dos Studíen teve um 10=... naâ()rêsªii_jdéia~_[,urgllesa de liberªade, tanto àesquerda guanto àdireit.a:
"
-,_,
qu;otimista, ao resp~idadê::a.e..concíTiação de um egujnd!:.,
.
viâuàíTorte
. ,•··
-------­
.. ·---·
e ____
uma ...
sexualidade genital heterossexual madura com uma
-··------~-~----------- ~
Tre&el, 13urke, Bonald,. D_eiviaistre, Stahle o p~óprio M~rx. Ma~Ç~~~ ter­
·"minouyoltando-se para a transformaÇão das idéias lib~ràis de liberdade e
sociedádedemocrática racional. Como vimos no capítulo anterior, sua autoridade em suas sucessoras totajitAriªs. Nesse ponto, concentrou-se na
adesão a es~~- posTÇão;;;·;;;-;:,-;-·seguintes, combinada com a diminuição Soref
'õl.i'ra <lê e'Parêtci;êll.j~s teorias do elitismo, em sua opinião, anteci­
da importância da sexualidade, distanciou-o cada vez mais dos outros in­ param o "princípio do líder" no fascismo e a concepção leninista do par­
tegrantes do Institut. Horkheimer e Adorno, como veremos, começaram tido. O núcleo c.laJNria totalitária, prosseguiu Marcuse, era o formaliSillo
a questionar (). egg g_çjgnal_<ô__qom~'1.~llf.eza, que Fromm ta_!ili)..., .irracioni1I A fonte da autoridade já não se baseava na lei universal ou na
havia dçfendido. E Marcuse, como vimos, rejeitou a idéia da genital~ preeminência social, mas era tida como derivada de um direito "natural"
'heterossexualcomo norma da saúde~quica mais c_Q.mpatíyel Qll!l]Lboa ou racial. A s~ncia da teoria to_~~i~ária e:a inteiramente desprovida de
·5(l~\ed~de.N~ d.éc~d~-ck-1930,p;;;:ém, t~dos os membros do Institut actl;_, ':,_!ll.. c..QntS'JÍsl2,pg_sfüy2;,.to.d..o..s...os.. s.e.us..conceito...s..~ral!l_co_!1!!:ª-C:2J1ceito.§.>
taram coih p.;\icãs"ressalvas os coutornos gerãis <la' utopia psicoss_o_ci<lj_ como_()_a11_tiliberalismo e o antimarxismo.,f.,_r~sei:..vaJ:mrg]Iesa da liber:
<l-;: Froffiffi. --- ·· -- ---------------------------------- ... dade "negativ;;''in..terna fgr~ liq~.i_d_;;_&i:A.cixand.o..aµenas...a_~.djência_à
- ~fci1~9ue se tornaria o adversário mais eloqüent~()!!l~..'.1~ ,ª1,1torida.dS' h.S'.fo.'_ônofilt\:-..
década de 1950, ainda não era um estudioso sério de Freud. O ensaio com ,9strês_~nsaios da. parte t_ei)r\ç_ª_farnm.PI..í'J2<!Ja.do~ggman~irn_c:o(lr.cle­
-q~;e-contribuíll-pãr;-;p;rt~t~Órica d._~;Studien foi uma hi~ó;;;;i;tel~_s­ nada. Todos afirmaram a irracionalidade crescente da ordem social e o
t;;;~Jb~stante.di~ela'..<li~ teo-;:ias da autoridade. Esse texto e o ensaio biblio­ dec!íni()c()ncomitª~t; <l~ ~ut~ri<l;J;;·_;~~i~;;;;rf';~;;;;;I;;-p;;-ü(i~;;;~·<l;-,;-~ ­

180 181
<
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INSTITUT SOBRE A AUTORIDADE

tra natureza. '.I:odos expressar~T' por outro lado, <J'.Ila confiança na pos­ generalização quantitativa desse material nem houve uma tentativa de
_s_iJli1L<:!Açlec:le_ uma ordem sooa _em que fosse possívç)SQ.udliar a_!_lJ1!ori::­ correlacioná-lo com o desempenho posterior da classe trabalhadora ale­
dade geraLe;;]nteré_sse parii~t~i~r. Po;?Jii~-o, toc!os<:_ç!I]l'al!!l.haram 7 mã, quando os nazistas chegaram ao poder.
__c:qw;ternação, enunciad~-clá maneira mais eloqÜ;;;_t~-no ensaio de Hork­ Outros estudos foram igualmente modestos em suas conclusões. Uma
heimer, com o fato de a família estar deixando rapidamente de ser um pesquisa sobre as atitudes dos médicos alemães para com a moral sexual,
ag_e~_c:l~g;ª--P-ilisil:>iliQ_ade. - - - - ­ realizada em 1932, obteve apenas 1/3 das respostas. Assim, apesar de terem
.. --·· _Para~tar peso a ~~~s_c:si11clusões_,_us..$_t_1:1,d_íe_l_lB?res~_"..lll. sido obtidos exemplos representativos, seguidos de algumas observações
_5çguida um_ re_kt_tóno_sobxÇ9 tra_b_alllg_EP-jJ_í_rj_c_o__cl()).12stitut. Embora fos­ feitas por Karl Landauer na Holanda, não houve urna tentativa degenera­
sem uma fonte de reforço e avaliação, essas investigações nunca constituí­ lizar esse material. Também houve cautela ao analisar um estudo duplo
ram, de fato, a justificação essencial das especulações teóricas do lnstitut. sobre os padrões de autoridade na juventude, embora, nesse caso, os da­
.A t~()!ia _crí!~~, como explicamos~rn.P!!:~istentemente hostil à metodo­ dos fossem mais numerosos. Houve pesquisas com adolescentes e com es­
)?gJ"..<:i--'1. in~':'ç!9-P-1lfª· "Além disso", explicaram Horkheimer e os outros, pecialistas em jovens em vários países. Elas foram resumidas por Andries
"como nossa experiência nesse campo era limitada e a prática de respon­ Sternheim e por um novo membro da equipe iniciante do lnstitut, Ernst
der a questionários depara com dificuldades especiais na Europa, essas in­ Schachtel, que era amigo de Frornrn desde os tempos de estudante em
vestigações empíricas assumiram sobretudo o caráter de um experimen­ Heidelberg. 73 Jay Rumney acrescentou uma breve descrição de um estudo
to. Os resultados nunca foram generalizados. Os questionários não foram separado de especialistas ingleses, conduzido pela filial do Institut em Lon­
considerados suficientemente numerosos para serem conclusivos em ter­ dres e ainda em andamento. A esses se seguiram relatórios sobre adoles­
mos estatísticos. Pretenderam apenas nos manter em contato com as rea­ centes na Suíça, França e Inglaterra. Kãthe Leichter dirigiu as investigações
lidades da vida cotidiana e destinaram-se a servir primordialmente de ma­ suíças, com a orientação metodológica de um refugiado vienense que logo
terial para conclusões tipológicas." 71 Fromm, é claro, tinha um sentimento se envolveria mais a fundo nos assuntos do Institut, Paul Lazarsfeld. Me­
mais positivo sobre a validade deles, 72 mas prevaleceram as idéias de nos completas foram as investigações feitas em Paris, relatadas por Jeanne
Horkheimer. Bouglé e Anne Weil, e em Londres, novamente descritas por Rumney. As
Embora fragmentados, os estudos empíricos proporcionaram uma ex­ últimas contribuições para a parte empírica dos Studien foram relatórios
periência metodÕlógiCa valiosa;Cí_ü_'e<ljÜacfü 0·1nsfífüí emto~:­ de estudos preliminares sobre os efeitos do desemprego na França e nos
.-vestig~Ções posíêí'ioresda autorldade.có;Ji excei;ao Cfê-umlrteveréfatório Estados Unidos, que anteciparam um trabalho posterior de Mirra Koma­
prelíminar sobre o estado psíquiCo dos desempregados dos Estados Uni­ rovsky, ao qual voltaremos em seguida.
dos, todo o trabalho empírico discutido nos Studien tinha sido feito na Partindo deseu préJprio projeto sobri;() autori!ar_is!Ilodos traba[hado­
Europa, pouco antes da expulsão da Alemanha ou imediatamente depois ,res';iiromm póde extrair algumas conclusões met()A()lógicas. 74__"':!'Ef~:i~~­
dela, em outros países. O mais extenso baseara-se nos questionários ela­ foi a necessidade de tratar a totalidade das_r':SP_()_S,t_a_E_,Jlã_':'._a~_]1as resp!L§tas
borados por Fromm para avaliar a situação psicológica dos trabalhadores iSoladas:-;;-;;-m_õ--baseaaãnáííS-é:oobjeÚvo, como vimos, era descobrir os
e dos empregados de escritórios. Embora, como mencionamos;.."I'eJ1_aS_se:_ tÍposd~--za;.átérs~b]a~e~i;;;<lós _ respondentes, q_ue_séJ.:Se.:se_:-ve,4yª:i:rúP-~-;
tecentes qos 3_milquestio11ári9s origin~is!ivessem >ic!o salvos,_J>arecelL âía!l!e-;;-:.:;~[u'~~~~;n_p1etõ-_ 4esuas!:esiJ_()st«i~ielI1__c:()_111p_ar.a<r~.E()J1:1_,m.:
haver uma variação suficiente para çorrob 0 rar ll.J:P<l..c!ivisão tripartite_ç!Qs_ ''fios conjunt()S. Isso exigia algo mais do que a generalização indutiva. Nas
tipos psicológicos: autoritário, revolucionoirio e ambivalm!ç. (De _fç_rma ·palavrasde-Fromm,4'or mais que a formação dos tipos seja influenciada
significativa, a antítese do tipo "autoritário" foi o chamado "rewÍ~cioná­ e deva ser permanentemente diferenciada pelo material da investigação,
-~io":-Ql.1ãnaéÍ--d;p~hll;;-a_çj9"]i__{\~n;;Íiiiilg_(JJJt~ri1/J.rjg,_ ele_fQi tr;i_~ os tipos não pode~e.r.4.ç.Qm:_j_çl9§_~;l(_cll!S.iv.!.l~epte_<;_pi![J:Í1'i!a.fl'l.~§iflç_a:.
- formadÕ e~...........
-~--·-··-"""•.,,
"dern;crático",
,
uma ..muc!an@_
.. _____ ..•..•. -··--·-·""'"""""-
"., " . .,. _______
"
~ refletiu a dirninui<;íi_o··-­d.Q..
----------~-
'Ção,-mas-pressupõ~m u_rna teoria psic()_l_ógi_ça_d~2_C.llYQlvi_c!_a~·'' O caráter
fervor revolucionário doJp_stitut.) Entretanto, não se extraiu nenhuma sadornasoquista, que ele descrevera antes, fora produto de urna teoria

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'
CAPITULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INSTlTUT SOBRE A AUTORIDADE
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO D!ALtTICA

dessa natureza. Fromm admitiu que correlacionar os dados dos questio­ 0 preconceito, parcialmente orientados pelo Institut na década de 1940, vá­
nários e um modelo teórico exigia habilidade interpretativa, mas, se fosse rios dos quais discorreram sobre o problema do anti-semitismo. Portan­
feito com suficiente cuidado, não precisaria levar a distorções do mate­ to, o objetivo usado pelos fundadores do lnstitut para ajudar a convencer
rial. Poderiam ser acrescentados outros dados corroborativos, inclusive a Hermann Weil a fazer uma doação para ele, no começo da década de 1920,
grafologia, que Schachtel tentou usar, com resultados dúbios. só foi efetivamente atingido duas décadas mais tarde, muito depois de o
_Um;tY~b.elecidas_!!§_correlações entre certas re~
Institut ter feito a primeira tentativa de examinar o autoritarismo nos
_e__os_!i]:i<_>s.lll.ª.iU?erais de C.i1I~!l'!.i._<;).as_12.Q.deriam ser relacionadas com ou-~
Studien. Todavia, sem a experiência proporcionada por esse primeiro es­
forço coletivo, é improvável que o trabalho posterior do lnstitut sobre a
.. tr{)sc[;iQ()_~, ':°-:r'-º~ª-cJ~Si~_?9fiaLoJ!...Q.cre.dó-i.iJii!Q§P:-Q~i:Únt4.Po- ­
_ré'!l,.i:.ra-q.ue houvesse_ uma.te.o.Ú.i! global por trás clas_ap_exações empíric_ questão, bem como sobre outras, tivesse ocorrido do mesmo modo.
.cas,.A mais fecunda, como Fromm deixou implícito, era a teoria crítica, é
claro. Com efeito, como Schachtel afirmaria mais ou menos longamente
Embora os Studie~um elojmportante no desenvolvimen­
~
to do próprio Institut, seu impacto no mundo exterior foi duvidoso. So­
--
em um artigo posterior do Zeitschrift, 76 os testes de personalidade norte­ bretúdopefó'1ãtode O'~ ter sido lançado em alemão, a comÜnidade
americanos eram inadequados, justamente por sua base antiteórica. Além acadêmica norte-americana demorou a assimilar seus resultados e sua me­
dessa conclusão mais geral, seguiram-se outras mais específicas. Porém, todologia. Esse processo não foi facilitado pela reação extremamente hos­
ficou claro que os esforços empíricos do lnstitut ainda estavam em um til que ele provocou na revista da New School, a Social Research, nas mãos
nível relativamente primitivo, pelo menos em comparação com seu tra­ de Hans Speier. 80 ~oraçã 0 _mm:xis.ta..do.JnsJ:it.llt.e.se1untusiasmo-por
balho posterior, no qual foram introduzidos com grande proveito a análi­ Freud despertaram a ira da New SchD.oL.Max Wertheimer, o fundador da
se do conteúdo e os testes projetivos. psiCoíog;;da~t, foi;- decano dos psicólogos da New School desde
A terceira parte dos Studien, organizada por Lõwenthal, incluiu dezes­ 1934 até sua morte, em 1943. Seu desprezo pela psicanálise encontrou eco
. seis estud()_s?. vários atingindo quase a extensão de uma monografiã."Po~ na crítica depreciativa de Speier. Como foi assinalado no capítulo ante­
faltá de espaÇõ no livro em si - que, mesmo assim, somou mais de nove­ rior, a integração de Marx e Freud ainda era ridicularizada na década de
centas páginas - , muitos foram apresentados como resumos e, por uma 1930, e não apenas na New SchoÓL Por isso, a acolhid~-d;da ;;;;Studi;~
razão similar, não podem ser abordados separadamente aqui. Diversos 'fõíp;:ejudicada.
ensaios versaram especificamente sobre os efeitos da economia na famí­
lia, que tinham sido negligenciados na parte teórica. Outros trataram de Jvfas_Q.ipteres§e.9o.!mti11Jt pe\;1 qµestão do ·ª\itori~ari§mo_n_ãg_çliminuju
questões legais que envolviam as relações familiares em vários países._N.o.=.. após_a,c:_onclusão dos ~3Ai9J,_À !l}!'dig<lque .C-15'.S.C~-ª-ªlll~~<l_!lilZista, 51~~­
.tavelmente_ausegt:_e__<!."52.a..~ª-<?>..assim..c::_om_g_ do§..)tudien como um todo, mento11_.a__d_ete~l!li~~Ç,ão <!o lf)§_titu_t cl.e.. comp.x.e..e_n~_Ja. Os resultados fo­
. esteve. ;,m estu.do ..do. <tnti~s.emitismo e de sua relação com o autoritaris-­ ramsuficientemente ricos para justificar uma discussão separada, que nos
mo. T'alvez isso__t_e_n.li~ si_do11m.r~f1exo dá minimizaiã~-g~~~L<iQ::prÕblem;l. ocupará no próximo capítulo. Antes de focalizarmos o caso alemão, é pre­
.fod<!ico pelo Institut, j~, a~sinalada. ~ci_se~ ques_tionad~jt_{J, ciso esclarecer toda a gama das explorações do autoritarismo pelo lnstitut.
Pollock respondeu que nmguém queria alardear isso". 78 .I~b..ém.... Na _verdade,um_c\Q.§ _ÇoillJ;>Q.]1emes princii;>ais..de g1a _interpr~tação_cl_o_llª.~.
~eSiadn..p.r:esmte.a.yon_t_ad~ Institut de não chámar atenção para ª-· _:~f()ia_cQ.nYicç~o.9e.CJ...u.e_e$5~.f~.n.Q.111..e.n9.1liliU10.dia..sê" Í$-ºla9.<1.ili\§_ten:
·-·------·-·------------ =-­ ~ências gerais da civilização ocide11tajc9mo-:um..todo .
. origem.PXecloJlljg_<lpte!l}!_I_l.t<:j_:!Q.ªic.'!_de __seus membros. Qualqilerque te­
nha sido a causa, esse descaso durou poum.F.Jii.::~t:kh.e.~li.:­ De maneira ainda mais ambiciosa, o Institut tentou situar a crise da
cou um ensaio sobre Os judeus e a Europa, 79 um d~~an.ç_ados civITEiãÇãôdôücl4~f\t.~=el'I!J.lm ~Çi_illg~tÕglólJárN'esse j:lónt~ZôntõnZc;~
seus espe~ em assuntos não europeus para ampliar o alcance do tra­
_ q~~§creye..u...e-oln§!itut__<:<lll1_eçou a fazer planos para um grande e~t_udo
_ ..
sobre_Q_ªnticsemitismo.
._ Apesar de-nuncãter sido.éonélu'idot;!-;;;;;;o f~
___ _____
,,.,

inicialmente projetado, o plano serviu de precursor para os Estudos sobre


balho. Porém, a metodologia tendeu a divergir da que era usada nos
Studien. Isso se aplica particularmente ao trabalho de Karl August Witt­

<

184
185
MARf!N JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO !NSTITUT SOBRE A AUTORIDADE

foge!, cuja distância da teoria crítica já foi enfatizada. Apesar da defasa­


Em termos substantivos, o.. estudo_y-"E~. sob_re_Q.jrnpac(o__dg_c!esf'Jll:.
gem entre sua abordagem e a de Horkheimer, seus estudos sobre a China preg5'__e_r:i_s9J31;111íli~ Ie.C.Ol11~!1clªAils p_elilAd111_\11).§.trn.<;íi.Q..F1"!Jf'L.<lLde.Ajuda
foram publicados no Zeitschrift com certa regularidade durante a década '(f;-Emergência:. Diversos membros das famílias foram submetidos a en­
de 1930. 81 Enriquecido por quase três anos de pesquisas no Extremo treVfstas co,:;~~bidas para revelar mudanças nas relações familiares. De

Oriente depois de 1935, o trabalho de Wittfogel continuou a se basear em · modo geral, os resultados confirmaram a tese _ci~s. Stu~_;.,.n_~()l.J.~_o_<!_ec;!í:

premissas marxistas mais ortodoxas que as do círculo interno do Institut. nio da autoridade fumiliarronte~()râ~_si. Tarrrl:JéIU clei:JC31;r<t_r:ii111pJí.citaa

Embora patrocinado por este em suas pesquisas, ele também recebeu CrêSéênte-ato'ffiE;;Çã~<l~-h~·~~·~ na -;~ciecÍ<i.cl.ecl.e ..111a.s.s.a.,r>o.is,c()Il19es.:.

apoio da Fundação Rockefeller e do Instituto de Relações Pacíficas. Na


áeveu a Srt~; KÔmarovsky,"o 11;;-;;,;;:~:<l.e.Se!l11'rega.c:l9. . e.s!l'!!IU:ilh.er...não
década de 1940, Wittfogel tornou-se cada vez mais independente do Ins­ têmvida socialfora da famíli~. O grau de isolamento S()Cial da família é
titut, tanto em termos ideológicos quanto financeiros. No entanto, nos ~.sion~". 86 Ainda assim,· ~ua_interpi:<:ta_ção das_i!Il_Plic~ÕeS'·ci~~sas
vários anos subseqüentes a seu regresso da China, sua ligação foi valori­ mudanças foi..mef\Os sombria 9\1_~_'1§..c:!.Q.s f'stuç\9.}_p_9st.en9!~.§.c!..Q Jg~tltl!t
zada como um vínculo com o mundo acadêmico norte-americano. Os íí;<lécada de 1940. A Srta. Komarovsky e11l!11<::i()u seu próprio ponto de
breves relatos históricos do Institut sobre esses anos sempre incluíram uma · vista, mais que o de H:orkhei~er e das ü;;'\ras figuras centrais do Institut,
referência extensa a seu trabalho, e ele apareceu com destaque na série de ao escrever: "Até uma ruptura parcial da autoridaded_os pais nªJa111ília,
palestras do Institut na divisão de extensão da Universidade Colúmbia. como efeito da Grande Depressão, pode aumel}tara_gjsposiç.ão.4<:\sge_r<1_­
Contudo, após o terceiro casamento de Wittfogel, em 1940, com Esther çõis.futuras para aceitar a mudança sqcial:' 87 Quanto mais permaneceu
Goldfrank, seu papel no Institut diminuiu aos poucos, até desaparecer por ·-~os Estados Unidos, mais o Institut se convenceu de que a verdade era
completo em 1947. 'Inverso. Quer ele ou a Srta. Komarovsky viessem a comprovar sua corre­
O outro grande colaborador dos estudos não europeus do Institut so­ 'Ção em longo prazo, a crise das relações familiares, recentemente popula­
bre a autoridade foi um de seus fundadores, Felix Weil. Embora nunca te­ rizada como "conflito de gerações", tornou-se um objeto crescente de es­
nha rompido com o grupo de Horkheimer em questões ideológicas ou tudos acadêmicos e de preocupação popular. Nesse como em muitos
políticas, Weil também foi pouco afetado pela teoria crítica. Em 1944, seu outros casos, a Escola de Frankfurt se antecipou a questões posteriores de
livro O enigma argentino, 82 uma análise do país que ele conhecia desde o grande interesse geral.
nascimento, foi publicado em Nova York, mas não sob os auspícios do
Institut. Como nos estudos mais impressionantes de Wittfogel sobre a his­
tória chinesa, o livro trouxe poucos indícios do efeito da metodologia dos
l
Antes. de di_"~l!!ir!l1_9~.0.J.r.ill:Jalh9_e_f!1píric()j_'1_d~_il<:\.ª.<:le_1940 guecor:
roborÓ;_; Ópessimismo crescente do l_l_l:;!i_tut, o que faremos no capítulo 7,
outras deslli!~jifiQ'i.dagl'JlS d.ã-;j'_\i!Qiidade, com uma perspectiva~os
Studien.
O primeiro estudo norte-americano a mostrar a influência metodo- .. 1
empíri~~' devem ser mencionadas. Partict1lilr.I11e11test1ge§°füi_s[os.<J1lLª8
lógicaduI11stitúffoi um livro.de Mirra.Komaiôvsky;Q-_Aq_m-:.rn jg~~~:
análises de fenômenÓs culturªi§.foitas.pox_Ad=o,.B.wjaJTiin e_Lõwepthal,
J!.1!.IJ.ªdo es11afa111fliq,'~~!Il _l.2!0. Decorrente de pesquisas con­
publicadas l1Q Zeitschrift.na décad.<J ele 1930._Qas três, <:de Lõw~foi
duzidas em Newark em 1935-1936, ele foi um esforço de colaboração com
a que se relacio.11ou_.'11.'1jscle_per!o.c<Jm.9§_.$t1J4i~rz~ em parte por ele ter-se
o Centro de Pesquisas da Universidade de Newark,84 dirigido por Paul envolvidoe~sua preparação, o que não aconteceu com os outros. !I111.i.<l.:
Lazarsfeld. Este, que havia recebido apoio do Institut para patrocinar o ra surjam ecos_c!'1~Eº.!1clus.Qe§ c:!ªqi1ekJrn!?.alho im>..artig().§..de Beajan:Un.e.
projeto, escreveu a introdução e ajudou nas classificações tipológicas, as MÓr;;o =·por exempl;; na discussão de Adorno sobre Wag11er88 - , as
quais havia resumido anteriormente no Zeitschrift. 85 .0 projeto usoU_IIl.Jliá..-· !e()iTãs estéticas que embasaram seus textos são st1jicfe!lteJ1:1e.11tej_4LÔs­
t~c_nicas_gll"'_litativ'3.s do que quanti!_ati\'~.!'.ª!ª investigar os efeitos d~. sincrátÍcas para merecer um exaille S(;Pª-'ª<ͺ em umsªPit1,1!0..poste!ior.
Grande._])epr:_~s_ã~ida_§_miliar.- O t~-~balhó de Lii_"'.enthál, por outro lado,l'_a_u,!QJ.1-se Jl()E Uif!~oci<Jlof2i.'1.
-~-.---~--------·--"-·--- ' ­

186 187
<
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 4 ·OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INSTITUT SOBRE A AUTORIDADE

mais__clireta da ~ite_r'1_tl!Iª' que lhe permitiu discernir traços de muitos dos inserção materialista do artista em seu meio socioeconómico. Ao mesmo
~padrões c\i:.illltori<i.a<l.~ explora<ios ngs $t11difn..·· ···---·--·--~ tempo, a. crític<1_lit_e~~_ria válida <!.evia,_§g~J?.tiv;!_ à ~ogia do artista,
De 1928 a 1_931, LõV17erith.al ~stiye_ra en_ipe.11_}1a_<i.()_~m !lillW.MQ~~o corno fatÓr mediador entre a sociedade e a obra de arte acabada. Nesse
sobre a literatura narrativa alem~__oitocenti~ta, intitulado .AJ!I2klf111átic;:: ãSpêCiõ~àpsiéan.áliSe, apesar de 5;;
~;t~do ;~l~ti~;~e;;-te ~;di;Jl~ntar, ti­
social da líterirt_~raalen:ã do século'!(JJ<.. 89 Os escritos de Levin Schücking 94
nha algo a oferecer. Empregando como exemplo escritores como Balzac,
'sobre a sociologia do gosto, a crítica de Georg Brandes e, mais importan­ Zola, Stendhal e Gutzkow, Lõwenthal procurou demonstrar a utilidade dé
te, o livro de Gyõrgy Lukács intitulado A teoria do romance estiveram en­ Seúméto<lorara~nálisà;·;y0;rn.-;;1i"t~;ári~;;;~~Õti:Vos·;~~(.);;e;u;-;~·º··~(.);=··
tre os poucos modelos que Lõwenthal optou por imitar. O estu.<:\g..in.d.uiu_ teúdo temátiéo espêCíficoJ)ártigo terminõu com~ ;;~~Çã<.l"<l~-~-;;;;·;;-;;~
~~~"._Q~the,_2~.IQ..mânti.<:()S, a Jove_l.11.@EnanJi~ (~~pecialmente "árêá a ser-investigada pelo crítico materialista: o efeito social das obras li­
Gutzkow),_EduardMõrike,Gustav Frey.iag, Friedrich Spielhagen, Conrad terárias. 9tel!la geral de l,õ;ve11thf1LC()ll_lO_s.e p()<Í_eria_esQ"!ilcr, foi.<J.!l.e...~
l'erdinand Meyer e Gottfríed Keller. Críticas te~t~;~i~;igÕrÕs~~~lt;-~;;~ própria sociologia da lite_rat11ra.<!~".eJ.ia.Ser..par:J;e_<l.e uma teoria crítica~
se com ~nális.êS<lisinfiúên.Cíasp;;icológicas e sociológicas recebidas pelos fãfdô iódo socfaf. ··

vários autores. M_~mo evitan<l...~uma abordagem reducionista, Lõwenthal --·Ê;numa sériede artigos emediçõe_s subseqüentes do Zeitschrifi,

tento11~~uar a literatura-eu; seu"ConfeXtõlíistóric,;,-As;im, por exempk\ ~~~-t~f11J?.9.S..Sl1~...i4~ia~_e_0~.-~o-ocorreu com grande ~~

õScÕÍnponentes âa.fovem Ãiemanha· fof;"r~1 int.;;:P,etados como os pri­ te _cloJr.abalh2 ..d.<eQ.llt.r:.o~..rne!!1\:.r.<!5..:f.<JJ.Il~!i.lll!.>.ele~de111on2trar".ll_l_.".g\lfl_­

..iiíii~?~~~-cl_a<l.e_i_ro~r.el'~~~~nta,µJ:~i<ia c9.ilS:d~i~là~~·d~ bu~~~r2r_ -iidade ..integrada


------~-
do pensamento da Escola de Frankfurt. A primeira críti·
·---·- ----· _________ ____
"" ---------·----~-"----··----~-----­

te,r.~]11tadg_pelQequJYale:I1te211te\~ctl[(l_l_d_'lL;(Jllv_e_r:efr1 [ co11füd-"!.'.ação_ ca de Lõwenthal tratou da visão heróica da história na ficção de Conrad


aduaneira], com sua liberação da concorrê.nci~. 90 Em oposição a seus pre­ Ferdinand Meyer. 95 Nela foram demonstrados, em um contexto diferente,
.. decessores românticos, eles escreveram.Íivros em que os homens sentiam- muitos temas que seriam desenvolvidos no ano seguinte, no artigo de
se seguros e à vontade no mundo, tendência que se intensificaria nos ro­ Marcuse intitulado "A luta contra o liberalismo na visão totalitária do Es­
mances dos realistas de meados do século e culminaria em Débito e crédito, tado''. Nos rom.a11ces de Meyer, arnnil1e11tot1 Lõwenthal,.f! lli§tória_~rª_rec
de Freytag, o "livro menos idealista e menos romântico do século XIX". 91 <luzida . etapa .dos feitos }le_rgiç()§, ThL<;.Q.If1~1.. co_rnpatriot;i_ suíço,_p
Mas Lõwenthal considerou que o livro não estava acabado e, com a ruStõriãci\l:i:I;ié"~b B~~ckhardt, Mf)'erhusca:v:a.heróisJ10.passa(iPcomo@c
pressão de seus novos deveres como coordenador editorial do Zeitschríft, tecip~s dos gr~~des ho~e~~ do presente. Além disso, ~ao~rade Meyer,
não pôde prepará-lo para publicação imediata. Em vez disso, várias sele­ anãtureza funcionava como continuação da história por 0_11trgs ..If!~ios;
tas da obra foram incluídas em coleções posteriores. 92 O ensaio de aber- . 1ã1iiliem êíá--servia de cênáilopara-atos hé-ióTCõs~]0..<'.s.I!ÍQ.~nfatiza11do o
_tura, llm .estudo sobre a metodologia que usou, fqi pÚbli~_lla eciiÇã;" individualismo, as histórias de Meyer careciam de um sentido psicológico
inicial do Zeitschrift. 93 Nesse texto, ele resumiu as taref~~.<i.~_,!JJ!§QC:iolóil"õ__ cresên~o!~ido. s~us heróis, em última fostância, eram iiiefáveis; ü !Ileio em
""ifa literatura.
-------·----- · que'hinclona~am afigurava-se mítico e irracional. O resl!l!itdo er.a...u ma
­
'""-" ·--,_,,,

AgJazê-lo,
,.--
,, ----"-------------
___ ______ ., ..-
procurou encontrar um.m.e.io-termo entre a crítica literária
~--------·-----·-------~

..de rnarzjstas or_to<!_o~.§ como Franz Mehring, e a alternajjy_aiileafü.ta.Ínais.


ideologif1i111pJ!ç.i!;:ic!qhom~m f9ge, que não .deQ<:aÚJe se relaciona!cqm
ÕCiiTto a Bisll1arck, que floresceu na mesma época e que, de fato, Meyer
recenteme11te formulada pela Nova Crítica. E;;:;bora
<.l·~rítico não devesse apolõúeD:i. seus escritos expositivos.
·reduzir a arte ~-~m--simpl;;·;~fl~xo-cfàs.Tendências -;ociais, argumentou Lõwenthal. pr()sseguiu afirll111ndo qu~,ap~s..ar_dg_;;_çQmpqp..filt~s.ªI[$,
Lõwenthal, ele podjJ!Jí;gítimamen.t~Y.eL!la arte o reflexo indireto de uma ~()~~~fí":õ_s~_ii~~-orifl~ÍÍs. (!e.. Meyer, .ele se aP.rQzjl!l ªY<l.I!l~i~'-<:l11.<:e.r:.t.o..s.3s:
----- ~---------------­
--------
·--
sociedade. Tratar as obras de arte como.Ji;nômenos extra-sociais isolados
·-·· ---~---- ~~
êeria_çQmpreendê-las em termos poético§, não críticos. , A
··------~"'"'·---

g,.por outro lado, precisay;i _se_r_gnrigueci~por uma 1le:rs.tghen [com·


análise históri­
_________ ,.-- ..
-----·-·~-----­
pectos, da mentalidade dos magnatas nacional-liberai5..5hi_inÇlfu.tr:ia. Em
seus-eséiiios, a mescla nofaeza-büiguesia espelhava-;;:· aliança efetiva das
classes dominantes alemãs no Segundo Reich. "Na Alemanha", esg_<::Y:\:.ll
preensão] _~iltheyana do propó_sit() .<i.<l..".r'tista, embora limitada por uma Lõwenthal, "m1nça J:io11y_e !lll11iberaJisJ:!10 <i.e faj:ô;cqll1() ~J\N;;~~~()ç!a .
188 189
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~T!CA CAPITULO 4 •OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INSTITUT SOBRE A AUTORIDADE

__<:()E.S~ência ~'C cl~~<l_class~g~gi_<gite, -1l'ªs sim uma u11i~o_:ntr~la_!i: ~!ltril:>ll.í<Jpar~ es~<ll_eeit_ll_r-ª_c!~~eu_s_!om~~ ~ ~11fase no_ a111or_~_I1_a IJ.i": .
fundiários, empresários e militares oriundos-ae-certas condições econô­ ~-(;()!11'1.C!ll'1lele sul:>s_tituiu a_111ilitância políti.c'1,J1ã()_cliferi_a__cl_<t_<cfüt()r:_
' micas e políticas, e extraordi;ariarrieg_t§.sJJKeptíY~S 'lJlJ!! irracionalismo.
Ção volkisch da teoria matriarca!, leYando noYamente à passiYidade e à
-dependência. .. .. -···- . - ­
-heróico." Em sunlã~iõ;~;th~Í tentou
96
..,-- ..desmascarar
____ -----
--.,•""'_ _,,,
uma
.. .... filosofia
.. _
histó­
-,, -"'--._.,."~---------"---~

riâlbãSêada na dominação por grandes homens, q11e rnrrespm14.iª"uma_ Ao contrário de Meyer, D_<i.St()i_éYski of~r:ci<l11111'1 el{P9êis~o-~_<"l1.8.Í\fel_4ª_
certa fase do deseUYolYimento da Alemanha. realidade psicológica interna. Paradoxalmente, contudo, esse se reYelou um
___..__ ·-· _________,,,..... _ - "___ .. ,.-...---·-·--·---- ·--·- i::------··--- -------~·-··---.--~--------··---------·----·­

~.ll.h.istó_i:_j,,_ti_iili<i sic:!.o_@gficª_cl_a__l'<l.9~.E'- Mey!'r, era ainda mais de seus principaiscitr;itiyos numaépoca de ind.,ci~<!Q .d.a his!<\.riª_-ª1.e.mii,
_graYen~e11te d_i§tQr_ç.i;:lg_11ofe11_~1~_llº-.ÇUltL!.f_<l_~..<lt~i:_~ado em seguida por 'entre-osperiüdos de ascensão e dedí11io do rocl_er b11rg1:1ês. Na interpre­
. Lõwe11tpal:_ a _a5~itaçª() __ de_])ost()i~Y_sti . .l1<1.Al~I1-~'1.~~~­ ·iação de sua obra na Alemanha de antes da guerra, a Innerlichkeit [inte­
Guerra Mundial. 97 Examinando os cerca de oitocentos textos de litera­ rioridade] substituiu a interação social como foco crucial da Yida cultu­
turà crfríca sÕhre DostoiéYski em alemão, l,_õwenthal tentou realizar o ral. O fascínio pelas mentes perturbadas e criminosas, DostoiéYski
~i, na Yerdade,_g!'l_estudo piondr.o._soht:e..as_i:e_'l&_ões dos leitores.98
~~------ .. ··-,-~---··--·•-'"'----·-·-.----·--------­

retratou com tant.?. habilida;:le, expresso.u .um inter~sse.gen1lígÕp_êj;l <ili~:


Anos depois, ele admitiria que a metodologia ainda era relatiYamente ~naÇão,"tlas_11m iqt~resse i;:ieologiç<immte distorcido p~l<l cegl!~ig paraas
rudimentar: ..origens sociais dessa situação. 100 A enorme popularidade dos romances d~
Se, na época, eu conhecesse os métodos avançados de pesquisa de opi­ i5ÕstoiéYski em certos setores da população alemã, disse Lõwenthal, indi­
nião e da psicologia projetiva, provavelmente nunca teria concebido esse caYa uma fuga crescente de uma realidade difícil e uma aceitação crescen­
estudo, pois, de maneira primitiva, ele tentou atingir os 1nesmos objetivos te da autoridade irracional. Por isso, não era de admirar que, depois da
dessas metodologias. Presumiu que as obras de um escritor serviam de re­
guerra, DostoiéYski tiYesse sido comparado com Kierkegaard como pro­
cursos projetivos para a exibição, em comentários fartamente publicados, feta daresignação social. · · · · - ·· · · · ······ ······· ·
de traços e tendências ocultos, típicos de camadas mais amplas da popula­
ção. Em outras palavras, estudou indiretamente as reações dos leitores por --·Mas haYia exceções
.,----·------,.... às imnlicações
_ _ -·--.. ---------.-~- ... r___.... _,......,..ide.ológicas
··---· · ......_.. ~-.•da literatura do neríodo
·w-•··-·---···----"-------~--·-.t::---·-·-· ---··-· .

meio do material impresso, as quais inferiu que representavam reações burguês mais recente; al@ns escritores, reconheceu Lõwenthal conse­
-"'- ----~--- ..-- ., .•• ··-·-- -·-- ·~ .,.---. ·------~ < '~-·---·-·-­
grupais típicas. 99 ~p_en"1f_<1_r.9fü<:.!J.ªc[a_d~_fals~c_()l}f!lia_~()PtQmeticl_a_p.E'!asu!tura.buro
_Pgr.mai.:;Q_riftli!!".'-:~..!iY.<'.S.S~..sld_~_()_E:l_é_~~d9_,_9§_Lçsultados tenderam
guesa e expor a realidade menos atraente por trás dela. Um desses autores
. a confirrn'1U! análi~ec1_03t1t().Ii!..ar.is~f~i~Pelo_Ins!)!_l!LEnquanto o pú­ foio objeto ·de seu estudo seguinte no Zeitschrift: .Henrik_!l?_s_en,~º' Para
blico leitor de Meyer se compusera, primordialmente, de membros mo­ L~_'.".en_t_ha~J\lsen ~ra ym Yerdadeiro. _l_iberal ~ u!!lcl_o_s ~ríti~()§ i:ii.ajê co'[ªj'Q~
deradamente prósperos da classe média, Dostoiévski tinha um número. Sõs do fim da era liberal. "- -•
,----:-----·-·-·-·-----~~-m·-·---­
Embora não escreYesse "dramas sociais" cons­
maior de leitores na peq11enaburgu~_:;i_a,~J;no;=be~--ruc.e_J_i(k~ ~.-,11_atrati-­ cientes, !l:tsen sondaYa o declínio doJiberalism_o 911;:le.ele.parecia.ser.mais
vo para esse
segmento-~umam~;te confuso e amecl_ro.llJ:acdo_ da_12.0121üa<;--ão . J11V1ll!l~I~Yel: _na esfera da Yida priYada e da família. Ao retratar com mui­
. alemã, afirmou Lõwenthal, de.corria soQJ;~tl!Q-9 do ç9_n§Qlo Q.ue s,11.:;JiY[Q§_ ta YiYidez a promessa inatingíye] da auto-r~alização indiYidual, em uma
lhe ofereciam. Além disso, a mitifica'2o de sua Yida pessoal contribuía
~--·. ------ --·------------·
~Ç'!Q_geral_cl_CJ__sofr!.1:1el1t() p_~ssoal_t:º!11º.. ~Jl..o_br.e.~e!cl_()re_~A=­
­ era de competição destrutiYa, Ibsen fazia explodir o mito liberal da felici­
dade pessoal, ''A competição'; ·~screYeu Lõwenthal, "revela-se não apenas
.\TS:l. J"c)rico.§_11.iill<isç[iJ_p()pJ1ligAs J, como Arthur Moeller Yan den Bruck, limãi~ta pelo sucesso social e econômico entre indiYíduos, mas também
_:;_eg!jªm.:.se particularmente atraídos .. ., pela
~----·------····--.­.... ___
con_çiliaç_füi_espiritual~kft.ns!ida
_i:tessa obra, p()rsua trans<:endê11cia n_<!.<:.Í.9n.'1lista do conflito entre as clas­
uma luta interna em que o indivíduo tem de cercear drasticamente alguns
aspectos de seu próprio ser, de sua personalidade, para realizar ambições
ses e por sua ideologia do amor uniYersal._Eor J).ãQ..Gese1wolYer.uma.S.JJ:I!· pessoais." 102
x<l_!l!l.Jl.9.§§i\>\lidad~;:l.a.felicidade.te.cr.ena - o que também se refletia em Além disso,. ao retratar o declí.nio da família, Ibsen .expunha como .a_
sua .hostilidade .-ª.C!.!~~12.9lítico~~()-~ial - ,-~própric:._J2<!~t()i~V:.s_l<L_ ..sociedade P':lle!t:~."E.esfeE<lJ'Ei'>'adamediante a especialização dos 2a­

190 191
<
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 4 •OS PRIMEIROS ESTUDOS DO lNSTITUT SOBRE A AUTORIDADE

.J'~is: ''A pQsiçã() d~rn_arido~E1_ul~i;- arnig(l~~eu Lõwen­ na Noruega.* Essa confirmação explícita das tendências que Lõwenthal
__ t~_al, "é vist<J,CQrnQ_u_@a,J(lfE1!,~e,_v~<J<: qu~tQiLdJ!Ll'.rerrogativas ~ havia discernido sob a superfície dos romances de Harnsun foi um dos
indivíduo erri_sie_da!>_dosoutrns, membros da farnília." 103 As famílias das êxitos mais inequívocos do programa do Institut.
,peÇas de Íb~en corroboravam as c~~clusõ.;;; qu;;;;;Studien haviam che­ Na verdade, Lõwenthal
--~--~---- ~ _____ ____visto anteciIJaÇ.Q"'§...Q()_ilJllQJ:.itarisrno
... .... tinha
,_,. .., --
~"~·--'"'"_____ ,.
de
...- ...........

gado sobre a função decrescente da família corno reserva de interação hu­ Hamsun na forma co.m9__e~te abo~a'éiUU},iltureza. Em anos posteriores,
mana: _<IS (!njça_s relações ver_<:l<1c:leira_rnente humanas das peças pareciam ífo;kh~LiTI'e[~ji,~Q;I10 \TÍI~II1~condarnar a uma re~~~ilia0'Qcl~};:Q~~~
gco1:rt;r_ I1Q_rnom..;;:;tÕ::d~m9rte_. d~_\llP p~~s~~&e:;Ti;:-_5i11andq o~~ :CO-~ natuJga, ~' corno vere;:,.,os; d~;:;~~2~.Qi:;!itl!9:diferente do-~~­
. ciais era!llfi!l<1lrn.e11St:.!r_<1E§S&ndidos. Em vez do otimismo que caracteri­ . tratado nos romances de Harnsun. Ao contrár~(l__cl<l_ idéia__r_o.rnâ_nti_c_a_cj~
zara a arte numa era burguesa anterior, _os ___dramas ...
de lbsen
·­ irradiavam
,,...._~

desespero e desilusão. Para Lõwenthal, o dramaturgo não deixava saída:


,_.,--~-- ­ natureza, muito persuasivamente expressa na obra de Rousseau,_,,...,,.,.._.
.---------~··-·
a de ____
Harnsun já não tinha um cu11b,o_críticoe prQg!essist~. Em seus roman.s;.e.h
'''Dqis'.t~~aspa~',;t;;!;;
,----- "' .. .-
perpassam toda a obra de Ibsen: urnJllostra o es­.,._
...... ---··----··---'"··-----·-
----------··----··----~--"'·----·--·---------

forço de ficar à altura dos valores e ideais soc\ais_~stabelecidos,.ap_ena~J;>'!r~


\,. ___ o h~~~ ~ãü'se' reco-;;~ill;va com a natureza; ao contrário, rendia-se ao
seu poder e-jilis!é~0~Ab~~do~~~~:~~-~~~t~ liberal tradicional de domi:­
· déparár corT!a d~rrota, e o outro Jl1ostra a derrota dos que rejeitam esse; nar a natureza (que Horkheirner e Adorno viriam a questionar na Dialé­
-;,;~1o~es ~~ão têm nada p~rapôrnoE.i'gar:;1°4 ----­ tica do esclarecimento, mas que Lõwenthal não criticou nesse texto), em
.Aiirü.rn e_xceção, .êo_clÍI1_!ti\Ll,,ôw.011:!úl!,talvez aparecesse nas caracteriza­
favor de urna capitulação passiva. "Para Hamsun'', e,sc!~\Te,11_1C?!\'e.!lth.aJ,
ções f'!.mini11as.de IbSe!l· Nestas, disse, h;;-;;ia ecos J;alt;;;:~-,;t;;,;~-matriarc;l
"natureza significa paz, mas urna paiqlieperdeú srui~spontaneidade e sua
.·-~_ErnrnmJlo Zeitsç}:filf!.. "O choque ent~unàO!nferesséi­ vontadedeé!l:nhe!:e!-=Ç~Ç"ciiiti-olªr~,írªíª~se . de ,:;Q}ªp~~b~~~aéiª"nãsub-mls~
ro dos homens e o amor e a humanidade, representados pelas mulheres, é Sâo~-q~~q~er poder arbitrário, d~ ufil p~~telsmoque proporcigna \!fia
crucial nos dramas de Ibsen." 105 O egoísmo feminino, çomg retr<l.tªd,OJ'Q! 'ruga do arcabouço sombrio da história. A natureza passa a significar o alí­
Ibsen, expressava_ uma <ignª-12<1~,kgitirna d.e.JS'.!i_cidade materiaLao.ül!lo_
trárTõ<lõI<leaü's~o
- .. - ·-----
'"
vazio
' .
de muitos
_____ ______ ., _____ ...... ____
,, ._,,,
de _______
seus personagens masculinos. Mas
____ ........... -............-._ ...
,,

a rea\i<l~de da vida'ferninina no fim do século XIX, que as peças de Ibsen


--­ viO do imutável e daquilo que tudo perrneia:' 108 o orgulho caracteristirn:
mente Js<!,rjJiª_llQ_p.e.1ª ª!!JQDQ.miªlrnrnana_ern_>_µQ§!it11í<:!Q J;>.e.!ª aceitaçijg_!ia
~lQAQe_natur_al. Na o_l:1ra d_: Ha~sun~sentirn~_!alisrn~uelda­
-também mostravam:-traf~~O~pl-ig.flRIQ§_4~f;;;l'dip_gs !'Or seus personagens de combinavam-se de uma forma que era tíJ:lica do naz~IUº (Goering, por
femininos, !:_ne_gaç!(l.~~-~ealidade .C()J1!i11uaya.intd~ai:ilê!ii;;:d_eÃ!2r_o_Y.iciad~ exemj)Iõ;Toidiretor da v;;;;,"Q·;1e,;;;\'<lª ASPCA-) .**o; ritmos intemporais
·.conseqüências. ------- ,. e repetitivos da natureza su~st_it_1=1:íal!l_<\_pos~b_i!i~~~-~~_É~sJ1ll_ri_;:~~ª'
O mesmo se poderia dizer, assinalou Lõwenthal, de outra das rnetáfo­ n~rl_i féiíôíneno que o Instil.lll viri4d;;pqisa_chillfü'f_4<!.'.'1!1i~~''., ''.9 equi­
-----· ... ... - ......... - .. .-. - ~........... ,,,_._,_._.~..--~···----··--------------­
ras de protesto freqüentemente encontrad.ªs. naJiter.atura_do_fun..do. séG~ ~alente social da lei do ritmo natural", Lõwenthal escreveu, "era a discipli­
lo XIX'e início do século xx:.a natureza.como.umaiÜternatiYiLê_uJ2eri()r.l__ na cega." 109 Em tudo is~o,,çgnçlui.u,.Q.avia3rnplos indício_s_dsLtipo de ca~iÍ:.
sociedade. No que talvez tenha sido seu ensaio mais perspicaz, Lõwenthal ter sadornasÕqciS'ta de,sçritQ por Frommnos St11di~n
_ vcilt()Ucse p_~ra adi~()rção ~e§sa ima~JILnQUQmanc'§ do nor~~g~ês ~ -- Outr-as ;;:;ªllifestaçõ.es_do_autoritarismo de Hamsun incluíram o culto
Hal!lS"lj]'l, 106 Quando, ~rr;--1934, Lõwenthal afirmara pela primeira vez que do herói:i&_i9;ifica\ãü_Q<!,.Y\<l~-c~p~p~;~-~tr~ilici;;-;:;;i~-;~<l-;Çãüci;;-1
os livros de Harnsun continham apenas urna pseudonegação do status quo, -m,:;f~~~s_apen~~~~=fl.i.I1Ç2~si:el'r(lcil!!ÍY<l§_.e._s,e.xJ!ais. Todos esses sintomas,

ele. havia deparado com o ceticismo de outros membros do Institut. 107 convém acrescentar, também eram encontrados na literatura volkisch ale­
Fome, Pã, Os frutos da terra e outros livros de Hamsun foram entendidos
como protestos autênticos contra a alienação e o vazio da vida moderna. * Vidkun Quisling ( 1887-1945 ), oficial da Marinha da Noruega, liderou a colaboração com
os ocupantes alemães em seu país durante a Segunda Guerra Mundial. [N.T.]
Mas Lõwenthal teve a satisfação de ver seu argumento "comprovado" al­
** Sigla de Sociedade Norte-Americana de Prevenção da Crueldade contra os Animais.
guns anos depois, quando Harnsun se aliou aos colaboradores de Quisling [N.T,]

192 193
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

mã, 110 junto com a negação da vida urbana e o antiintelectualismo raivo­

so da obra de Hamsun. Já em 1890 e em Fome, Hamsun havia mostrado a

vulgarização da Lebensphilosophie a que Horkheimer tantas vezes aludira

no Zeitschrift. O que se iniciara como um protesto transformara-se clara­

mente em uma defesa do status quo. Tal como na recepção dada a Dos-
CAPÍTULO 5
. toiévski na Alemanha, o consolo pelo sofriment 0 .g.r_a_JL~~Àg~:;;J.-<lüs..r.<lo.- .
mances1e_Jia.111sun,r!Ja.s um consolo qite ''se voJta contra os consolados" A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT
·que"devem aceitar a vidatal COl1J()é,comsuas relações de dominasão e
Em
rsi:JJ)()l"d!E:ã_Çiil,~ªe::corna11d2s s,ç_t:yfügnQ". i il Hamsun, o esgotam~
O capitalismo de Estado é o Estado autoritário do pre­
do liberalismo europeu era completo, a capitulação ao totalitarismo, fla­
sente [...) um novo espaço para a dominação respirar.
grantemente manifesta. Na última parte de seu ensaio, omitida na versão - Max Horkheimer
publicada em A literatura e a imagem do homem, Lõwenthal discutiu a
aceitação da obra de Hamsun na Europa depois da guerra. Antes dessa A própria expressão ('capitalismo de Estado" é uma con­
tradictio in adiecto.
época, comentaristas socialistas e até alguns críticos burgueses haviam cri­
- Franz Neumann
ticado sua resignação; depois dela, porém, o escritor foi universalmente
aclamado. Tanto a revista Die Neue Zeit [O novo tempo] quanto a bíblia
nazista de Alfred Rosenberg, O mito do século XX, entoaram-lhe louvores
"Es§Y~!11Cl§_4Q!1linad.os, por assim dizer, pela
__.... ________
idéia de ________
, . que_ tÍ!lÀfil!lQLqJlL
der~<g Hitler e_o.ias.cismo,_eJ.Qi isso que no_s fez fiq1x._jµn1;gs. Sent!ª!flQs
depois de 1918, numa evidência da crescente paralisia do comportamen­
que tínhamo5_11!!1ª missão. Isso incluía todas as secretárias e todos os que
to autoritário.
chegavam ao Instih.;t °i).ara-trabalhar. Essa missão nos deu um sentimento
de lealdade e união." 1 fQiAs.sjrngue,\lic5'Jv!~iei:,§'°'cretáriadel:fo.rkheirne.r
Como destacamos antes, os principais interesses do Jnstitut na década

~]:JovaY()rl<,descreve\LO interess5'P.!".!'()11clerante do In_stitt1tno_fim. da.


de 1930 foram a denúncia e a análise da ameaça fascista, bem como o

década _de.1_930 e no início da segui11te. O objetivo comum não significa­


combate dela. Apesar de situados no contexto da investigação mais geral

.va, neê~ssariarnente, uma co.mpleta concordância analítica, como veremos


do autoritarismo discutida neste capítulo, os esforços do Institut concen­

traram-se especialmente na variante alemã que seus integrantes haviam


neste capítulo. ,Q afluxo contínuo derefugiasl()S d'1Jô11r()JJ~<l.ra o Institut
experimentado em primeira mão. O fascismo italiano, convém assinalar
_tro_\lKe Perspectivas !loYi'.s.e,. às y~es, co_gflita11tes;,Em algu11s casos, corno.
entre parênteses, foi praticamente ignorado no Zeitschrift e nos Studien.
~~~~or.110, _qu~~~Q1L_rnernbIQ.Pleno..em.l.2l8., ..i=eil.a.Ltend~ncias
Embora Paolo Treves ocasionalmente fizesse a crítica de livros italianos em
_111ª~-"ntigas c:!o _tr<1.b~l}i()_c!2J_!1§1J!ut .fO.r:<l.m refor_çad_a§. ,~il __c_Q.1.ll_O
Milão, nenhum estudioso italiano emigrado jamais escreveu para as pu­
Adorno abordou o fascism~a!'()iQti:senos meS1TI()S.P!essup_o~t9spsic9-
blicações do Institut, o que evidencia a falta de comunicação entre as duas
lógicos que tinham embas~do os Studien über Autoritiit und Familie, No
comunidades de refugiados. A preocupação do Institut era claramente
planõ têórlco, ele sé apfoxirfoivà. muito de Horkheimer, como vimos no
com o nazismo, considerado a manifestação mais significativa e assusta­
capítulo. 2. Jôntr~1anto, com os no~_rnernbros _que ingressaram !1_<!...Y!Q;L.
\_---·- -.-~

dora do colapso da civilização ocidental. A riqueza e a variedade de suas


d9fast1tut, essa abordagem uniforme deixou de existj.x, Os três acréscimos
contribuições para a análise do nazismo requerem urna discussão à parte,
· ~ümii9.itiilt~§.~((;~;;111=F;:'"n;-N,;-,;~~:;;:_QtJo.Xir.chheimer.:eA.rbdirR.
que será conduzida no próximo capítulo.
..!'.:_9l!!l~J1c:!· Um quarto acréscimo, Paul Massing, surtiu pouco impacto
·direto no debate, embora seu lugar nos assuntos do lnstitut, depois de
1941, tenha sido importante em outros aspectos. _A presença desses ho­

194
- men~m t:J3va York contribuiu para enrique~..r:.'15J11:v:estigaçõe8 do iiã~is:
-----··-~-·~----· -- ·----------·------------
195
-----.. -----·-..·----·-·­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTlTUT

~~1ª-Escol~.de Frankfurt, m!!_8_tafll~E1.lev()l!."_Lt1:'1<llll_Udança su~ !iados a ele, além de escrever para diversos periódicos acadêmicos e polí­
premissas fundamentais dat~oria crítica. ticos.' Ao mesmo tempo, Neumann lecionou naf.".:UºS<'.. Escola_~i,1p_e_r.\QI.
Dos três acréscimos, Neumann foÍo-maisintlu_e11Je, so.?retudo gra<;M_ Alemã d_e_ Poltt~<:ª' que mali.OOUõufros·esTudíosos, como Arnold Wolfers,
ao· iirip~ê!õ d~-~eiff9~~.i_c;:;:~sti.ic!O: s.ü§r<=,_()!1<l~is1110, §rhgmath' - ~ '1TafiS..Slmon, Ernst Jaeckh e Sigmund Neumann (sem parentesco), para
que, como veremos, discordou do trabalho dos membros_l!l:lis a!ljjgQ.s.da._ universidades norte-americanas após 1933 ..!:<_e1:1.i:ri3_rmtamb~ll1.E1'1nti111la
~ ,,,...---------~--·-·--- ~-~--- ·--·-- .. --·-·----- .. ---· --·­
Escola de Frankfurt em diversos pontos. Neumann chegou ao Institut em um escritório de advo~ªçja__e111 J3erlirt1_,_ o qual, em algumas oportunidades,
T936por recÕmendaÇão deHarol<lLã;ki, um dos patrocinadores da or­ íêvôu:·õa ser inti;;:;~<l~ a compar~~~r perante o Supremo Tribunal Federal
ganização em Londres e professor de Neumann na London School of do Trabalho. Como se poderia esperar, s~.11 conhecimento especializado elo
Economics. Mas ele não era totalmente desconhecido na instituição, já ª.
direitoalemiío.. rev~lot1.·sein!'tü!.mJDg!;i1"r.r.<1=~~i.i:r'!sob orlen~() de ..
havendo encontrado Lõwenthal em Frankfurt em 1918, quando ambos r:;;;ki, ele c9me,ç9u a fazeru111a novafürmll<do..e,m..cli.o.dil.:.P.õllii.ca. Em
ajudaram a fundar a Sociedade Socialista Estudantil. Londres, seu local 1936, an~ em que se ligou ao Institut, obteve o grau de doutor, concedido
inicial de exílio, não se mostrara receptiva, apesar dos esforços de Laski pela London School of Economics.
para ajudá-lo a se estabelecer. Como escreveu Neumann posteriormente, ~~QJQ.111~do:~.e, d<i _te()f~ªJ'Olí~':_ª_.":_P_<1rtir ~<l fornrnção em .. direito,
"a sociedade [inglesa] era homogênea e sólida demais, suas oportunida­ Neumann tinha uma perspectiva diferente.dadetl.Qd<hei111g e dos ou­
des (particularmente na situação de desemprego), restritas demais, e sua TroS";.;;~;;bros do círculo interno do Institut, que sempre acharam que
política, não muito agradável. O indivíduo não conseguia, pelo que senti, seu marxismo era menos dialético e mais mecanicista do que a teoria crí­
tornar-se propriamente inglês.'" Os Estados Unidos ofereceram uma re­ tica. ~!e ta_mbém s"ln_t:eressJ!Ya_l!luito..menos do gue Horkheimer, Fromll)
cepção mais hospitaleira, e Neumann optou por passar o resto da vida des­ ou Adorno pela dim~n§.~.o ps_ico]óJli.<=<1__cla reali'!_a_c!e soci<i!, o que serviu
se lado do Atlântico. 'ígilãírnente-para.distanciar seu trabalho do deles. Ernsuma, embora este­
Antes da emigração, ele levara uma vida de militante político e de aca- ja claro que Neumann possuía um intelecto voltado para a investigação
dê'!llico. Era ela mesmã·ii~~~Çã() <ló drcu!õ ílitirnó dü-rnsiTiilt::;;t~rno de analítica, fato que os outros reconheciam, em geral era considerado mais
1{Õrkheimer. Nascera em 1900, numa família judia assimilada da cidade próximo, em muitos aspectos, de Grossmann e Wittfogel, apesar da anti·
de Kattowitz, perto da fronteira polonesa. Tal como Marcuse, teve seu patia que demonstrava pelo stalinismo destes.
primeiro envolvimento político nos Conselhos de Soldados, no fim da Pri­ A primeira colaboração de Neumann para o Zeitschrift, em 12~2,L"·
meira Guerra Mundial. Durante a República de Weimar, comprometeu­ tletil7Seus interessesjurícli<;()s.ºNel'1;-õ autor debateu;:;s mudanÇas da fun­
se cada vez mais com o marxismo moderado do Partido Socialdemocrata, ção da teoria jurícliCa· na sociedade burguesa, com ênfase em eventos sig­
embora se colocasse à esquerda da liderança deste, cujas posições ques-. nificativos do século XX. Entre outras coisas, concentrou-se na decantada
tionava com freqüência. Suas atividades políticas tiveram magnitude sufi­ idéia liberal de igualdade perante uma lei impessoal, a qual, segundo ele,
ciente para levá-lo à prisão em abril de 1933; depois de um mês detido, servia de disfarce ideológico para a dominação da burguesia e de auxiliar
fugiu para Londres.' no funcionamento de um sistema de livre iniciativa que dependia de con­
A formação acadêmica deNeumann diferia da de quase todos os ou­ fiabilidade legal. O chamado Estado de direito, sugeriu Neumann, conti­
trós membros do fostitut sei:i;~~~dos unive"Cs!tários~~it~~~i~u, nha um embuste, em sua recusa de admitir que por trás das leis sempre
Leipzig, Rostock e Frankfurt,concerlliram p~~d~;;;;~~~tem("nli'.!lo.<:lire!:o~ havia homens, ou, em termos mais exatos, grupos sociais.'
o
'to, não à filosofia. Em Frankfurt,~le .;tt;dou com ilust;.; jurista Hugo Ao mesmo tempo, contudo, ele a1JOntou o lado positivo da teoria li.:.
· Sinzheimer, que tinha como alunos outros futuros refugiados, como Hans bera], com sua garantia de piel(l_~n~; um mínimo de igualdade legfil.
Morgenthau e Ernst Fraenkel. Na meia década que antecedeu o colapso ·-''Ã igualdade perante a lei. é certamente 'formal', isto é, negativa [lembran­
da República de Weimar, ele morou em Berlim, onde deu assessoria jurí­ do a distinção entre liberdade positiva e negativa feita no capítulo ante­
dica ao Partido Socialdemocrata Alemão (SPD) e a um dos sindicatos fi. rior]. Mas Hegel, que percebia com clareza a natureza purai:ri_ente formal-
r-- . -·-· ---·---··­
196 197

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

n~.ativ:ªAªJfligxcl<ide,jáJ:rnYi<lªlernd9_para-ªJi_cog~çgüêl!fÍfilJ!.<;'._c!_e.sçaJ:tL do Institt;t:_ª..ra.zão.de:llia.ser a. fonte. G(). dire_it_.o, be111.comQ abase.dJ'_to<las


·ya:' 8 Ao desenvolver esse raciocínio, Neumann repetia as teses de Hork­ a;;:;;Jações sociais. Todas as doutrinas do direito natural, examinadas no
--h~imer e Marcuse sobre o lugar da lógica formal: \émhorainsuficiCJ1k_ern_ ârtigo, enraizavªm·se, afirmou, na concepção do homem corno um ser
si,· o i2wrnlis1110 pr.QIJ()IÇlQ!!l!Ya um.a_ salvagua.i:gª_viti'J,. que era perigosa­ racional. Neumann expressou Sl!f!_C()_J1~ºrdância C{)J!l.l:legel, que ha'[~a_<!l..a:...
mente ignorada p~la racionalidade subst;~ti;a,Jegal ou ÍÓgíÇ?:·ofo.t!Uâ: cado as _f()rmas-á!l.i:eriores~dódireitQ nii~wa[mas.nãp ªi_{l§[<l:~<l§_iirtlto_
lisl11o, em sum;, era um rnorn~nto. á~tênÚco da totalidád~ dialética. Não 'ííãíural.em-si,-Mostrando a influência de Horkheimer, escreveu: "Não de­
devia ser simplesmente negado. ~-; ser levados ao extremo do positivismo e do pragmatismo, e talvez,
Em seguida, Neurnann voltou-se para urna análise da função do for­ mais ainda, a um relativismo niilista. [... ] A ve!'dade de uma doutrina de­
malismo jurídiç9:«Lrn êt!faseespeéíalríã 1"4.éfi<la~ral\c!-ªc!.i<la ki,_ na pende da medida em que ela incorpora a libe!'dade concreta e a dignidade
--Reí)~füifiJe Weima;:_~.c:Jgiois <lé1á: Ség;;ndo ele, após um breve eclipse humana, na capacidade de proporcionar o mais pleno desenvolvimento
-Iíá-"virada do século, o respaldo à generalidade ressurgira recentemente de todas as potencialidades humanas. É no desenvolvimento histórico e
entre os teóricos do direito. Agora, porém, com urna função muito dife­ no contexto concreto das doutrinas do direito natural que a verdade delas
rente da que existira no auge do liberalismo no século XIX. A mudança deve ser dete!'minada." 15
tinha origem econômica: .''O postulado de que o Estad.o só c!eV:'Õ..governar Todas as variedades do direito natural, prosseguiu, emaizavam-se na
por meio de leis gerais torna~seabsuraóii«i-êsfera econôtl1ica..>..cop~ideran- convicção de ~-;, os princípios do direito-podiam ser derivã°d~a~·,:;;;
·--aô:se-qí.ieõlegisfâdõrii(fa.-Iíã0:~õID:.C:.Cincorrentes igualtl1~!1t5'_fori{:j·:_~ ~i!Jl~~-l!c'!'ª l~gitf!llii:!ade CQ!PJ?.<l:r_!~~.'1:.':!.~..P..C.~(l
con1osmóriõpólioSq~nver_terr_i9J2ri11cípio do liv:~~Il:l~rrado." 9 Em ou­ próprio h_(l!11~.!!1 Por isso, elas eram incompatíveis com uma política ra­
a
trãs pafa~~ás~ geiiera11aad;já não servia à rn~sma fun.c;ão igualadora de
---~-----~-- --····--·-----~---- - dicalmente historicista, como a de Aristóteles, que definia o homem ape­
ªntes. Sua obsolescência foi efetivamente reconhecida pelo sucessor au­ nas em termos de sua existência sociopolítica. Devia haver urna doutrin.a.
toritário da República de Weimar, que a substituiu por um decisionisrno A~a subjacente do homem, argumentou Neumannº mostrandoJJL.
arbitrário e não igualitário. A tesiria.Jwídica fascista_afürna_va ter intro~ gum grau de divergência com a ''a11tJ::oQO)ogia_11.ega_tivf!'.~c!.aJ.~.Üa_gfü~.
zido o ''institucionalismo': ·q~ substittiiá_ô_TncliYJ_d_11Qjµ.ridico.pOLinstj.:._. "HOuvera,-é da~o, muitas idéias diferentes da natureza humana, desde o
tuiÇóes oü e-mpresas. Más, affrií1ou Ne_irli;,nn,essaern.tuna_fa.chada.idm:_ otimismo de Locke, Hooker e os anarquistas até o pessimismo de Epicuro,
Tóg1ca-aõd.ecisiõiíismo, pois a instittiiçi\oel'a"diy0_rciada do_s:Q.11.t~t()~ Spinoza e Hobbes. Em contraste com esses dois extremos, Neumann ma­
l'elações de poder, sem as quais !' init1teligíy~C10 ..... ---· ~ simpatia pelo que cha~agnosticismo, que çaxactel'izava o
··· ir~i.lmánl1. _ç9.ncl.i,ii u _ql!e_<:>_ªir_eitQ.J:J.!!_il~i:i:'º r::'~ªJ.~es fascigas.~ '.hoJXlem.no ..esta<1o...<1e .t!atmei!l_com.o.Jli\Q_~DJl9_Qorn.J1.C.!!1~· Nesse
lhe faltava a_g~eralidade da lei liberal e positiva, sem que se fundamen­ ponto, ele destacou Rousseau corno o porta-voz mais eloqüente de sua
~--- ----·---------·-' .,,_______ ~- '~------------------~-----
. tasse11ªs.Jia§_e.>.r.<JciQllfil.s.~<fo- dirrj.to nª1!Jral. 11 Além disso, ele deixou im­ posição: "A visão agnóstica [de Rousseau] acredita que somente na socie­
plícito que a tendência dos países não fascistas seguia a mesma dil'eção: dade civil os direitos originais do homem podem fundir-se com os de seus
"No capitalismo monopolista, a propriedade privada ªºs meios de .e.ro­ concidadãos em um dfreito coletivo:' 16 As teorias ª()_Siirei1Q.10.!.l!f.~h_~!_.
dução é preser~ada, mas a lei geral e o contrato desap~~~~e~;~-;e;J-;;-~ubS:: basead~~-~YE1~_v:i_sã()_()tilllis_g.Qa .!1ª1!.lr.eza.Jnata...d.Q..hom~w_,_le.YJ!YiillL
tituídos p<)rirl_~ªi-ªá_síndividua_is por parte (]o sol:>exa:~;7'-1 'E:m-ouifas~pa- ]Qg~c.'1111e11te ·ªº.a11arq11is1110;__.s~. J?.~.S.Silll.i§.t.ª.sJ...irnpJIC~".ª!11-º ªhs.olµtifüno,
.,1àvras, o existencialismo político, que Marcuse havia discutido em um ~Q;;Jica, por outro lado,yo_d_ia_l~var_'1.JJJ11_fat!ldo de@.Qf!:illico
trabalho anterior no Zeitschrift, 13 tinha pe!'meado a esfera legal fascista e ~~'9....EQ.der soberano d~ixa de ser soberano~_já lliio é um poder ex_:
ameaçava fazer o mesmo em todas as outras sociedades dominadas pelo terno que c_onfronta .9.i súdit().S. ~, at!tes, '1.PIQI'ܪ_so<:i.e.<!'Lcl.C..9.\1~--s!'J>Q:
capital monopolista. --ve;nae~~-ad~inistra." 11_ .. · ·· ,...

·-llJ!l_S_eL1~11sllio_seguin.te_llQ.{:ei1,1ç.b.rif1:,1_ Ne}l~.rnati=....
4
·--E;;~~:r;;~;-d.;~d~s as teorias do direito
-., --- ··--- --··- --·"··--·----····-
,., --· -
"''" --
natural-
..
e Neumann discu­
'".,.,,. ""'"

va. jurídica_ql!t.prcd'.e.i:ia. ~e_s~jl()_t!.\92__<'.:_º.llSQrdo.•LC.QIB..QDi_utros.membros­ tiu várias outras, como a tomista e a constitucionalista -,~ui-

< 198 199


MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULOS· A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO JNST!TUT

-----------
gou mais sLrnpática era a corrt'!~l'oJ1<i_epg_àjsiJPQ..I!lia"9.<i
-·~-·---·"·"-·-----·--·-~ ­ -·------
liberdade positi­
Va, que ill)plicaya a identidade <;!ltr_e_g()y_e.r11antes_e gov,ernados. Por con­
O mais contundente
-----~ .....-------" ....
--.-.--. ""
de seus escritos,
'"" ",_ , , --
durante esse períoc:!Q,_[oj ulll!I..
___ ... .....
--.---.-·-.----~·-·--·-­

análise da constítuição de \,\Teirn~r,i11til\llaclªJ11~imar - e depois, o quê!2~ 1­


. segul~t~;!T~ rejeito;:;~~t~se-~Stllf.Ql'()derpoÍíticQe a autoridade do Es­ quê.combínouidéias-dê Marx e de Schmitt. No fim da.década.de-1920,
tado eram..l;:;t,:i;;;~ame;:;te nocivos,.pelo menos no período que antecedia Kirchheimer demonstrou pouca simpatia pela ala reformista do Partido
" a identidade perfeita entre os interesses particulares e os universais. 18 Nesse Socialdemocrata, mas se mostrou igualmente relutante em abraçar a idéia
ponto, concordou com o pressuposto geral_da_t~<lrLa__g:í!i_c2 de gue a (mi­ jacobina de partido, defendida pelos leninistas situados mais à esquerda.
ca autoridade, tanto jurícEca quanto _polltic!l,_que os homens deveriam se­ Tal como Schmitt, afirmou que a verdadeira democracia só poderia exis­
-·- ·-. -~.,"··~-·\e~·---·--·---. - -------.-·-··- --~
guir era a da razão. Em consonância com isso, como as teorias do direito tir.com base"nU!fl.P2VO t{nido, livre de contradições sociais. Rompeu."Zoui~­
·naforalênraizavãm-se numa racionalidade normativa, elas eram necessa­ se;:;·;~~p;:;;-fessor ao r~eitar a idéia de que a naçãOJ:acialfo&Se_.;-.S::,.a_comu­
riamente críticas em relação às condições legais vigentes. -nTdade-liQTI:iJ;"gê~~a.-Pa~; Kirchheimer, como marxista, a verdadeira l!!liã.Q
.Adisíânciag~~l!!Il<l!ll1_en:i. rel.'.l~_a_f!~kh_e_\!ner e aos outros mem­ -·;eservada par;;;-;;O"ciedad~-;mcla;ses do futuro. . "...
bros não teve origem nessa conclusão, mas n<i_a_bordag~m legalista que ele No período ã;:;-t~~iC:;r-à"!omada do ]J9der pelos nazistas, Kirchheimer,
:e-- ------------·---­
·"usou para deduzi:f,;:·surglu ;:~;.;;:bé;;;·::i~--;~a caracteriz~<WJ.skoloilic.a=. tal como os membros do Institut que na época estavam em Frankfurt,~

~te_pre_c:~j"i~.'. d~ homem como_::1.J11. se1j~_~()!~do de ra~'!_o, qu~j_gnora-. servou uma esperança discreta de que o proletariado ainda pudesse vir a

.Y.'1 todas asconstatações dos Studien sobre a .L!ltluênçi;i__c:!~JC>I.cas ir9_çi0::._ cumprir ,s~~~!slónco. Em 1932~ opôs::SeTidéia.de q;:;~-~ desen;ol_­

naiS-;:;o ~o;.;;:portamentÕ.dÕ-f;ÕmeU:.- rn_;;d~;no. Apesar disso, em muitos Virilê;:;tõ da cultura de massa era uma.explicação sunciente f<irnà:Iefü­

"" aspectos; os ensãiüs<lê Neumann-ríõ.Zeit:S"cl:;;ift sobre a teoria do direito tanc1aTa classé-trabalhado~ã~;;:; ~e,;iizã;~~u P"ot~;;C"iãi ~e;õ1;:;~ionário. Nis­

demonstraram a influência de suas discussões no Institut e das sugestões "$(), é cÍarÕ, foi ;;;;i~ oti;;;is1:a dÕq ;:;~ "s~;:;s futuros col~g~s; ;,cõ;;;õ-q;:;~r que

editoriais de Horkheimer._9 verdadeiro desentendimen::_o veio com a pu­ se avalie o processo que Ortega y Gassett chamou de A rebelião das mas­
blicação de Behemoth, em 1942. sas, parece claro que a situação interpretada como uma autolimitação ou

-------------------~-­

Antes de embarcarmos na discussão desse livro portentoso, convém


apresentar 9s outros dois novos membros do !~ que contribuíram
i
uma submissão das massas, dependendo da postura ideológica de cada

um, pertence ao passado:' 22 O otimismo de Kirchheimer levou-o a afir­

mar que o Estado corporativo-in;;Útuciónarque Sch;;:;itt.hãvia-~"ii-ãft.;;-i(i(;"


por transcenâer os anfagõnis!ii()s-sõêíais;-naverdade"os vlnha-acentZian~
para a análise do nazismo. E!Il. mui!PS.!2Q!ltOs, com efeito, Behemoth reve­
la a i11.íl~.ru:i<t da colaboraçjj_o_~~" Dos dois, Otto Kirchheimer 19 foi o do. Por sua cÕ;fiã;;ç~-nÕ potenci;J ;~volucÍonáriÕdos-t~ãhaTh;<lü~~s,
.partkipante ~;-ati~;;-r:c;s assuntos d6fustihrt. Sua formação assem-;;::-­ Kir"chheimer pôde argumentar que o SPD não devia apoiar o governo pre­
...
ihavá~se, em diversos aspecfos~de Neumann. Cinco anos mais moço, sidencial de Brüning, a despeito das teses contrárias de socialistas mais
Kirchheimer nasceu em 1905 em Heilbronn, também em uma família ju­ moderados. 23 Para Kirchheimer, o "EstadoacLIJlll dos J;2.aLti.<iQs:'~de c;Iráter"
dia. De 1924 a 1928, estudou direito e política em Münster, Colônia, Ber· autoritário, m~;;:os"~(ID~tjt";;f~=um~;hst<\>:l!l9. .d9 _q\l.<é..l!Ill prelJí:.Qig_a_<Lfas"
lim e Bonn. ~f~s-"-ü_l!lü Max Scheler, Rudolf Smend, Hermann "3.srno. 24 A maneira de impedir o colapso da República de Weimar ante a
Heller e, talvez o mais importante, Carl Schmitt. A tese de doutorado ~ "(Jfr;it~ era acelerar seu potencial para a esquerda.
Kirchheimer em Bonn estabeleceu ;;;-contras\;; ~;t;.;;-~s conceitos sacia· Em 1933, é claro, o otimismo de Kirchheimer revelou-se falho e, como
~~"-·----·---·--·-------~-- .. ----.
lista eJ;!olchevlque..dQ_Esta!io, fortemente influenciado pelo decisionismo tantos outr;~, ele foi obrígado arugJr. Em Pans, sua primeira parada, pôde
de Schmitt e por sua idéia de "situação de emergência". 20 Durante os anos Ug~;~~~àfiü~!<lõ"instltut em.1934, como pesquisador associado. Durante
de..d.ediillD..da.Rep.ública_<ie_W.eim..m:,__Kirchh~imer, tal como Neumann e a temporada na capital francesa, começou a escrever para periódicos jurí­
\:;;!lda(lcl,..PNJidpJlU das.Jlti_vidades do SPD, lecionando em escolas de sin­ dicos locais 25 e trabalhou numa crítica ao Terceiro Reich, que foi publica­
dicatos e escrevendo para periódicos como Die Gesellschaft [A sociedade]. da na Alemanha sob pseudônimo e, aparentemente, sob os auspícios de

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rl

MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÊTICA CAPITULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

Carl Schrnitt, então conselheiro de Estado. 26 j\mJ.9élL.ek se ingalou ~~ Kirchheirner. O terceir_()_l!9YQ.J]lelll.bn:La..es.creYer._iQ.ngamente sobre o_
Jqova York corno_E5'2_quisador_~o do_f_scritóJiosentral do Ins~ut nazismo foi A;kãJITR. L. Gurlan.d. Mas sua associação com o Institut foi
.. Ero Nmla.Y-0r.k,&rçJ1heimer.foiincumbido .de.. com;1niLo.~lho_i!1i­ roãísclirtà"'que as de Neurnann ou Kirchheimer - duraram de 1940 a
.ciado por George Rusche em 1931 sobre a re!açíloen~re_~spr~tic:_a~p.e~ 1945 - , e sua influência foi correspondentemente menor. Nascido em
e as tendências sociais. O resultado, Punição e estrutura social, publicado J904 em Moscou, filho de um engenheiro, Gnrland freqüentou ginásios
em 1939, fo·i·-~ pri~~iro dos grandes livros do Instítut a ser lançado em em Moscou e Sebastopol antes de ir para a Alemanha em 1922. Ali estu­
inglês." Rusche havia concluído a primeira parte, que versava sobre o pe­ dou economia, filosofia e sociologia em Berlim e Leipzig; sua tese de dou­
ríodo anterior a 1900; Kirchheirner retornou o trabalho onde ele o havia torado, defendida nesta última universidade, versou sobre o conceito de
deixado, escreveu um capítulo final sobre o fascismo e, com a ajuda de ditadura na teoria materialista da história. 31 No fim da década de 1920,
Moses I. Finkelstein, traduziu o manuscrito para o inglês.~e~.hio Gurland tornou-se atuante no SPD, contribuindo para publicações filiadas
sica desse estudo foi que "a punição deve ser compreendida corno um fe­ ao partido, como Der Klassenkampf[A luta de classes], que ficava à esquer­
';.}ô!nen'í; so~iaCTivreâ~]§_ç()nê~1tgjnrí~fins sociais. [...] da da liderança partidária.
'1'6dÕ-~istemad~pn:xÍução tende ~<!e.S.<::()J:>riLpEniç_õ~que correspondem
-----·---~-' ·---,.....---... ... ...~-·-
, ,_ '

.:JLlJ!ª2.i:<tl<JS.éil!§A_ep_r_oAllçã_o:"8 Examinando modelos de punição como a


­ Muitas posiç_õ.!'.Ll!S_S_l!JEÍ_das por Gurland na época foraE:15emelhª11tes
às <l~fe.t1<:JLda_sin<lepende11te;;\ente i)ciü.!"Ustiilii~-Por-e;:-e~plo, ele atacou
prisão, as multas, o confinamento solitário, a deportação e os trabalhos êõm vigor o materialismo mecanicista de. KarÍ Kautsky, em favor de um
forçados, ~r conseguiram demonstrar uma correlação marxismo que reconhecesse suas raízes na dialética hegeliana. 32 Também
grosseira e~_Y.ªDJÍ..Y~~-~()}!1()_() ll)ers~<!g_sl~_n~ll_<\!!;,()_e_-ª.S.il:üllação da_ censurou o Partido Comunista pela subserviência a Moscou e a falta de
.·tn9~!li:J2:9r . !lmJa<i()1 ~Jorrn~~J'enais esp;~-~fi-~.S.,_P~;..".~-º..:.No capítulo disposição de pôr em risco a estrutura partidária para fazer a revolução. 33
sobre as mudanças nos regimes autorHários do século XX, _Kjrchheimer Tal corno Kirchheirner e Neumann, ele era membro da ala esqt1er.<:Ji_st:_;u:l.Q
@()!l!()1l_P_ªrª g_çol":fl.~()_g!'ral da legal~de no período do capitalismo~ SPDe-Ímpforoua-seusintegrantes·q~1e-se
~-----~---------.·--·-
eng~j~sse~. uu!ll~ práxis
- -·--·--"-----·--"·-· _______ ____ ... _.,., .. ___ .. ,,,_____
,. ,
ativa,
--··- ·-· -·--­ .
rnonopg)i§!;l, que Nenmann havia assinalado e que o próprio Kirchheimer em vez de esperarem
<----- --
o capfralisrno desmoronar sob () p<es9 <k.s\la_s p_r9.-.
·--.' ____________,, __.__,_,, ..........-------·------- - -------------·-----­
~iria a explorar em um ensaio posterior no Zeitschrift. 29 "A separa_s:ão ~ _.P~S,C_<;l!}l@dições. Tal corno os dois, foi impelido para o exílio pelos acon­
tre o direito e a moral", tecimentos de 1933. Em Paris, teve dificuldades para trabalhar no jorna­
~ - escreveu, "corno um axioma do período do capi­
talisrno _ çQrnpetitiv.o,-fui-sub&t-í-ru,i~J22!..~~~g~ irnediata­ lismo político. Começou, então, a refazer sua formação corno estudioso
rnent~- derivada da consciência racial:''º O resultado, afirmou, foi uma
da economia nazista. Quando chegou a Nova York e ao Institut, em 1940,
·p.Qlítl~;-p-;;;,.ru_~,,;1;;:,:~s..rig_o_rgsa, ~ar~t;:;izad~p;;ia;eintrodução da
já escrevia quase exclusivamente sobre esse assunto. Apesar de seu inte­
pena capital e pela redução do uso de rnultas)'9.rt112,_a,~~tísticas da Ale­
resse anterior na filosofia, não fez nenhuma contribuição teórica para as
manha, l:>ern co.rnp da.frn!lǪ e da Inglaterra, não dernon_stravail11l_lllA
publicações do lnstitut. Seu trabalho para o Zeitschrift mostrou uma afi­
. gação entre essas medidas f;:~[;;f5-e_:93~_C[i~~:d~~ªri}i~~li~~e. Somente a
nidade maior com a abordagem dos ex-colegas do SPD do que com a da
mudança social, concluiu, poderia diminuir o índice de delitos criminais.
teoria crítica.
A contribuição de Kirchheirner para a análise do nazismo, feita no âm­
bito do Institut, veio numa série de artigos que ele escreveu para o Zeit­ Nel!rnann, Kirc~~eirner e Gnrland trouxeram consigo idéias um poli_­
--"'-· -- ------ - ··--··--·--·------··-·-·- .... . ... .. ..
.. . ----- --·-·-------- --- -------­
.

schrift e para seu sucessor no fim de 1939, a revista Studies in Philosophy co uiferentes das alimentadas ··-----·----·----
em Frankfurt
__;__.,------"·---·~·-·-------··-··"·- .......
e amadurecidas em Nova York
- --------·- ....
'"' -·----·-------··-----~-""·-····,,--~--~­

and Social Science [Estudos de filosofia e ciências sociais]. Antes de passar pelo círculo interno do Instlt\lt, mas não foram os primeiros na história
a eles, o que faremos adiante ao discutir Behemoth, devemos concluir a (iã~ÕrganlzaÇã.ô adivergir cÍa abordagem de Horkheirner. Já discutimos o
descrição dos novos membros do Institut. Também é preciso dar atenção marxismo mais ortodoxo de Wittfogel, cuja associação com a Escola de
ao trabalho dos personagens mais antigos da organização, cujas análises. Frankfurt se tornou cada vez mais tênue. Henryk Grossmann, o último
do nazismo contrastaram, em certos aspectos, com as de Neurnann e membro da geração Grünberg de integrantes do Institut a permanecer na

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA CAPfTULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

equipe, também era um crítico marxista mais ortodoxo da teoria crítica. 34 A inflexihilidadeidl".91Qgica de Grossmann impediu-o de exercer gran­
Após vários anos em Londres e Paris, Grossmann emigrou para Nova _@__jgí)µ~nçia_na análise _clQ_n-;;·;;;;;;;Te;;;·p;;1;;rn;,1;ti:i~ouem-rnuitas
York em 1937, mas sua ligação com os outros estudiosos de Morningside outras áreas do trabalho deste. Mas seria um erro -p~°'esumir que faltou
Heights tornou-se cada vez menor na década seguinte. Sua última contri­
buição significativa para o Zeitschrift foi uma longa crítica à obra A transi­
completamente
,-- uma dimensão econômica---·-à.- ........
"- ·-·--·- ---·· .. -----·- ---........ -... ____ - ________ ___ -.-"'- -----
,_ _, ,._,__ --·----~--· "' ,.,_
análise
,. __da Escola
·----· ----___ .. ___

de Frank:··
~-------------·-----··

fur!_s()l:ire a <:risec!a soçigc!ad'-!11.0.c!e~l1ª· q_uase todas as .<:~jç_síes gQ_,2eit­


ção da visão de mundo feudal para a burguesa, de Borkenau, publicada em 5Ehrift.JLverª-m _a!g.i:1.lll_artigo sobre um problema econômico. Gerhard
1934. A partir daí, a não ser por críticas ocasionais, seu trabalho deixou de ÍV!eyer analisou as medida"S<le emeigê-ncia d~s de~o~racia7o~identais e
ser divulgado pelo Institut. No fim da década de 1930 ele trabalhou em sua relação com a economia verdadeiramente planejada.'º Kurt Mandel­
casa, evitando ficar no prédio da organização, na Rua 117. A extinção do baum escreveu de Londres sobre o desemprego tecnológico e a teoria do
Zeitschrift durante a guerra impediu que seu estudo sobre a relação de planejamento econômico.4 1 Críticas a modelos econômicos não marxis­
Marx com os economistas clássicos fosse publicado. 35 Ele gastara a maior tas foram feitas por "Erich Baumann" e "Paul Sering" (pseudônimos de
parte de seu tempo preparando esse trabalho, com o objetivo principal de Richard Lõwenthal).' 2 Joseph Soudeck, que ajudava Pollock nos assuntos
frisar o repúdio de Marx ao trabalho deles. Na década de 1940, vários tex­
administrativos em Nova York, contribuiu com críticas ocasionais. Até
tos de Grossmann saíram em periódicos não ligados ao Institut. 36
Felix Weil escreveu ensaios sobre temas correlatos.'' Marcuse e Gurland
A fase mais produtiva de Grossmann tinha sido o de!±nio anterior a
acrescentaram outras análises sobre a relação entre a economia e a tecno­
1933~iTiiil.ãra com set! tratado sobre o colapso do capitalismo.
logia.'4 Em síntese, embora o Institut fizesse críticas duras e freqüentes ao
A perturbação daYtdaintilecttiãTell["ôp~i~~!l~<l!ret~~.<lJ:l<=1os nazistas,_<:?.r:t__
.~eter111inis1110 econômico dos l!larx~!~"!!!g~E~S.,_~J~j~c()_iifíeceucõrrúi
trili.i!Ti_!>ªrª impedir que o trabalho recebesse. ª-ª'tenǪ-º-SJ_~~ria des­
J<:gítima a idé_i;i de Marx sobre o crucial da economia na sociedade
pertado em tempos menos turbulentos. A partir daí, a vida pes~Oã!de
Grõssmanncõiltrl.Flii~ p~~~<liffiinU.ir-;;ª produtividade. Nos Estados Uni­ ,ca1ú.talista,.
dos, levou uma existência solitária e isolada, depois de deixar a mulher e P()r .QUtro,Jado,_secia.J.mt errn. diz_er..si~.!.§.§!1§ ..'!.llálises econômicas se
os filhos na Europa. Em Nova York, não estabeleceu nenhuma ligação ofi­ inte~ara1'.1.._a_ci~g_g_e__cfoJ~9.riL<Iítifa ...!:lg.1:J<Ji_tj_rrie.r_~~Ã~9J11.o, po;·m~i~;
cial com a Colúmbia ou qualquer outra universidade e manteve pouco 1 que fosse o âmbito de seus interesses e de seus conhecimentos>...111:!.!l~ª-f()~ ..
mais do que um vínculo formal com o Institut. Há também indícios de ram estudiQsos realmente sériQs de economia, fosse ela marxista ou de
que, no início da década de 1940, suas divergências intelectuais com ou­ olitr~-~atureza.}B t~nta1Jx~s.de_B~rl<li~.im~~<le discutir teoria econômica
tros membros do Jnstitut tenham sido agravadas por atritos nas relações ~lll.1:.es:e.bidas...co.ll}...f()_gS.ic!_e_r:;iyel ceticismo pelos marxistas mais ru:to.do­
pessoais. 37 O apoi.o_.çontí_m10 de Grossmann à Rússia stalinista pouco fez ~_çlQ.Jps_Jjtut.'5 Até os economistas não marxistas, como Gerhard Meyer,
para torná'.Jo querido pelos-~;t;:;s,38 Além disso, segundo Alice-Maíei/9 lembram-se de como era difícil a relação entre os líderes do Institut e os
.ele começou atemer qt1e sei:i~ex-conterrâneos poloneses estivessem deci­ analistas econômicos. 46 l'_arece ter havido um resíduo da antiga antipatia
didos a prejudicá-lo. A saúde precária, provocada por um derrame, agra­ ~-s__fi[ós9fos .. alemãe.s.. P.eJQ:;:n.;;-~d:~:;;a;;µ~0s;i~ºdoganiiú~Q.{íg~sj:âr. ·
vou sua infelicidade. Por último, terminada a guerra, ele resolveu tentar Q_~cto etr1_9ll"._ª~()ria crítica desbravou um campo novo foi em
restabelecer-se na Europa. Ao contrário de outros membros do Institui que 2~..!_ese_.cl:"..~-9....P.<tE<:l da economia havia sofrido uma mudança sig­
regressaram a Frankfurt, foi para Leipzig, onde o governo da Alemanha ~ativa no século XX~Dentro. do 'fils~fü.1!;0-debate-;;;b-;~ a nat~za
Oriental lhe ofereceu uma cátedra em 1949. O Instituto ajudou a despa­ do fascisrt1<'(;e11tr()l!~S".J)fedornin<111temente no ~!l~~t_".r_ dessa _t:Il.Ud~_~ç:a.
char seus pertences, mas, àquela altura, o ressentimento de Grossmann le­ ~ih compartilhou com marxistas ortodoxos, como Grossmann,
vara a um rompimento completo. Foi por uma via indireta, a Sra. Meier, muitos pressupostos sobre a natureza do capitalismo monopolista. Os
que os ex-colegas souberam da decepção dele com Leipzig no curto perío­ membros ll2'!iLYe.lhos...dJ:Lcirculginterno do Institut, por outro lado;­
do que antecedeu sua morte, aos 69 anos, em novembro de 1950. .iig~ir<trri a2rieutaçª2._cl_e_s_~'1 c!i_re!QLª.§$(;~i~do, Fsi;drich .Polloçk"·9'1-"~
204 205
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

apesar de seus deveres administrativos, encontrou tempo para se dedicar consumidor, por intermédio do mercado. Em vez disso, ()S individuos_c0 n:.
a interesses acadêmicos. fronta~mm-se uns com os ou.tros como comandantes e comandados. Em·
A peça central _cl_Cl,tr.ahaJhoJk..EoJhck.fois.uaJ:.eQria_Qg qpitalism.o-.de b~;~ não s_e ]1ouvesse.perdido.. pQ~-~o~pÍetQ:;;;;-:;n;;i:f~çãq~_<:lo~bJY.o:.ªr:
~@, com a qual ele descreveu as tendências predominantes das gicie-::­ gurr;entou, fora superada pda "motivação<!gp_()<!~r". 50 Um dos reflexos
_dades.!P.~$~~-ªs~Ernlarga rí:íe<li<la~ .;~s;;-1.;;-~i;;roi~~~-~xtrapolação de sua ~disso: prosseguiu em um estilo qtíé fazia lembrar James Burnham, 51 era a
análise anterior do experimento econômico soviético.4 7 Pollock, convém perda da direção das empresas pelos acionistas. Os caJ.>italistas tradicio­
lembrar, não achava que a Rússia houvesse logrado êxit;;-;;-~ intrº®zir nais _vi!ll1ªº1:".s.e_transfor!11a.11<:i.<J.el!l.J2.0JLco..m<!.iá..a9:iJ).;e ITmis.!.as.=~1.1.e vi~·
.uma econorpli\.?Qi:!~®Ifüi.ê.il.lménté~pl~mi)ií.ià..\i!ri~:das razões do relativo "Víáí:ndeJucvos-men-0res. ··· · ·
silêncio do Institut a respeito das questões soviéticas..folâ·c~~nÇ~-;;;nqu~ .,.-9 prognóstico geral de colap20.foi.ab.an.do!lado.na análise de Pollo.ck.
a~con()mia russã, àpesar dê suas qualidades sfügiilãrês; eí:;~i:i-m.~~il!iª-\:.ãn. .9 pleng~mp.rrn0o_bti<!oà.f().fÇa,J?9Il!leio.d.eo_~f.as..PQ])Jtca~.~fil:ª'1:ª-·~1i­
. do capitalisil1o de. Jlstago. Já na primeira edição do Zeitschrift, em 1932, j2.tJ.sil<iO. pe[Q_c::.a.rit<l]i~_rrio__cle__Est;i<!_o_p_a.r<l.Iel<lr:.cl.ar.:._U'_f1!:1P~YE!Ç~o..<!o
Pollock analisara as perspectivas de se chegar a uma economia capitalista ...J.l!.Ole_t<iriado, prevista por Marx. Os problemas de distribuição eram re·
estável, a despeito da Grande Depressão. 48 Suas conclusões opuseram-se solvidos pela administração dos preços e pela previsão das necessidades.

diretamente às de teóricos críticos, como Grossmann, que predisseram a A superacumulação, àqual Grossmann dera ênfase especial, seria solucio·

derrocada do sistema em um prazo relativamente curto. Pollock, ao con­ )13:êfiiper.;:e~pª!ls1\(i-c{)n.il.n:u~ ª~~~fo~~;;:iliíá~dáecÕnomia. Em suma~ eJ<ÍS.:....

trário, ip_()l)_tgu_ par_a__')_L1.S_ô c.r~ce11te do p):mejarpe,11to e_c_o_nômico, por tia agora um novo sistema de capitalisl!lodirjgido, que tenderia a durar
orientação dos governos, como uma maneira de refrear ind~f;~idarrÍent;° -aÍgum tempo. · ··
. as contradições capltalista5. Ja111J:>ém discutiu fatores adlcig_l}ais, c9m~ lvlªs. a posiçãoAe Pollock f_c:iL(;_uidac!osaipe11te Jel11P~A<:lac91llJeSS.f1l·
incentivo deliberado às inovações tecnoíóglcasé"~.;feitos de uma indús­ vas. As contradições do capitalismo - a luta de classes, a diminuição da
tria de defesa cá<là vez maio;, que ~õ"~trib~í~;n·2;.;isi pQd~;de permã-'. illãrgern de lucro etc. - não estavam rea!nw!lte.I~s.ol:vi<Jas, como o esta­
· nência do capitalismo. . -·-·······--­ riam numa sociedade socialista. Além disso, Q_próprio.Estado, que havia
assumido o controle da economia, er.a_dJrigido.por.um.gr.upo.dominante
---·
Eil1.12:!.l, sob a forma de uma teoria geral
..____ do capitalismo
·-~~-·--~-·~"~"-~~·-----·-···---···-~ ,_,,,
de Estado'
------
.. ·-····-·---·-·
misto, feito de burocratas, comagd<il}tes militares, fundon;\JÍQ.I partidários
Pollock ampliou suas ()Q§eryªç!?es sollKe.'1 c!t1ral:Jjl.id<!.çl.S'_c:!.Q..siste.ma. 49
-~-~~9!2.(irfíi~]§~aI~ola_issezJaire,?firll1ou,_ fora.. ~t1P!ª11!füia.r.t1ºrnpita; e grallil:~·s.empresários (os mesmos componentes da análise de Neumann).
. lis!D()I!lonopolista. ~' por sua vez, tinha sido substituído r_o_r u~.fur=... .Q.J;.o.nflito.~nt_re ele~_çgib_oraJI!iJJimizad.o.ue.s.sJC.~to, não era im·
..
rn~ <Jll~l~tativalllerite n_(l_v~<le C_<ll'.~t_alis.II1o, ,c.a.ra.cteüz.a.d.a_pela interven窺­ possível. Outras fontes de possível instabilidade do sistem;;;;;:cluíarnasli:
..govern<imenta!. Embora os regimes autoritários da Europa tivessem sido -mitaçÕes de recursos e de capacidades, bem como o atrito que poderia
os primeiros a introduzir amplos controles, as democracias ocidentais, in· surgir entre as demandas populares por um padrão de vida melhor, de um
clusive os Estados Unidos, tenderiam a seguir o mesmo curso. Ao contrá· lado, e as necessidades de uma perene economia de guerra, de outro. Ain·
rio das duas etapas anteriores,_().ca!'it.alismo.<:le Esta<!g_sl1.SP~ndia o livre, da assim, a te11c:Iênciageral vista por Pollock apontava para a prol.iferaçijo
mercado, em fa:vor do controle de preços ~ .sªl.áxios.. Buscava também a ra· e o fortalecimento das ééonomias capitalistas de Estado. Ele concluiu o
_cio11aji30ªç;I9 ..<:la...ecoI1omiA.com.o polí!ka.<:le.!füe.i:<l<:i~: ;s;~;n;ª-;;--zo~trok ·ãfügo fazendo perguntas sobre. a viabilidade dé ÜJ}i(:ãpifalism<? Cfe E~tado
dos investimentos para flf!S poJ.íti!:os.e.restringiaaP.IQ~~-~() de mercado· 'c:Iemocrático, em contraste com um autoritário. As respostas, disse, só. po­
.rias.().~ierita<J;_i§.pª.rª. ()<;() 1lS.t1111.i<l2r, deriam ser dadas pela história.
Segundo J?ollock, a nova fas.e distingl1ia:se <:las fase.s ariteri.ogs..<J.o.cª=.. Jº.rl1.5.eu ensaio segl!i!l!e.lloE§!U.4i~s_i11.l'hflospf!~1'.~'1_tf2o_ci0:_§_cji:nce,_in·

yitalismo, especialillen(e, pda subordinação <Jos lucros indiyigµªi§ou ç0_r::., titulado "Onacfonaf~socialismo é uma nova ordem?'; Pollock concentrou·

porativos às necessidades do planejamento gera). As relações sociais já não ·;.; ~~vari;tÇãü·n.a2;;t;;<l; ~~ri!~ii;~~ <l~·;E;!<!4~:E~ oposiçãoª c;~~la~<l e

se baseavam em uma interação de patrão e empregado ou de produtor e Neumann,-áfirmol! que quase todas as características essenciais da pro·

206 207
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

priedade privada tinham sido destruídas pelos nazistas. O investimento em cendo. A dominação tornava-se mais flagrante na "economia dirigida" dos
...
~ ------·---~.~·-~, _,_~.-- .. -~-·--··~·""""'"""-·-·--·--·---------------·-----------·
busca da maximização do lucro já não era uma prerrogativa inalienável sistemas àutoritários de capitalismo de Estado. Ao raciocinar dessa ma­
das grandes empresas. Embora o planejamento nazista ainda fosse desor­ "nêi;a, PoÍlock sêillôvil!l~ntava d~nt:;ü<l;t;~<liÇão marxista: Marx sempre
ganizado, o governo introduzira uma política deliberada, em geral bem­ havia compreendido a economia como "economia política". Era inerente
sucedida, de pleno emprego, de produção de bens de capital (e não de con- · a todos os escritos econômicos de Marx, inclusive O capital, o pressupos­
sumo), de controle de preços e de relativa autarquia econômica. A posição_ to subjacente de que as relações econômicas eram, basicamente, interações
do indivíduo na sociedade nazista, contjnuou Pollock, dependia agora de humanas, as quais, no capitalismo, constituíam variações do que Hegel
SelistãiüSii.ãnlefafquia so~i,,j_,_ não_~~-s_u_a_~flf'_acidade empresarial ou da denominara relação "senhor e escravo".5 8
propriedade privada. 52 Grosso modo, a racionalidade técnica havia subs_tk_ Ao criar seu modelo de capitalismo de Estado, Pollock falou por Hork­
-'--e+--::--~--·-·-· ~
tuído o formalismo legal como princípio norteador da sociedade. heil!le;e~provavelmente, tamoem por Lõwenthãle-Ãêforno. (Muito ~s
-·--E;;;~;;;;;;;o, Pollock r~§roJlc:!.eu afirmativamente à pergunta formulJ!:. próxiillôd.eNeumailil;!V!arcuseadotouuma-po;iÇão semeÜiante a ele em
da no título dó"artigo. O_fat.0<!~_()!1."..':i~()S~E_f_ealrnente uma "nova or­ Razão e revolução: "Os grupos industriais mais poderosos tenderam a as­
--aem;-ãtir~õ;;;~~co.rfiri:do_aQ.s
....·-···
r~,-----·~·-··"·"·"·'·-~··
..est11.d.Qs.doJnstituLs.obre a autoridade.~ª­ sumir o controle político direto, a fim de organizar a produção monopo­
família, ficava demonstrado pela te.ntativadeli~!rfilla dç_apres§!_;L<,le­ lista, destruir a oposição socialista e retomar a expansão imperialista.") 59
·51n:tegração da família tradicional, 53 um baluarte da sociedade burguesa. Pas~_I:I'.'.i:lslie_im&r., todavia, ()_ __ca.P.it:ª1iim.Q <J.S'.Es.ta<J.Q.e.rn. "9 RHaào..an!ori.­
··xantigá or_dern_<:.ªP~~alist;i, mesmo na fase monopolista, _fora uma econo­ tário do presente [... ] um novo espaço para a dominação respirar''.'º Em
mia de troca; sua sucessora ~DLo_q.u.e-º-1eóJico_e.co.n.ô.mlm_na;cista WillL toda a sua obra do fim da década de 1936 ecomeÇo-dá·d~l94o~ Hork­
--NeulingTiavia chamado ·de "~conomia dirigida". 54 Portanto, os nazistas ti­ heimer frisou o fim .das m~diações li\)erais, eç0_11<?.111irns,p_())ttiç.i!s ejnrj- ·
'íifíamcÕns;;~~<lõ·;-:p;;;;~i~-dapoTitici'Sob-re a economia. 5 ~nos. dicas, que antes haviam impedido a realização da dominação _jgiplícitª
· que perdessem a guerra, concluiu com um pessimismo característico_,~~~. no capitalismo '(que-;'mãís'târ<lê; eíéeipandi~iâ para"iô<lá 'áir;dição "ilu­
·sistema não tender!ãã desmoronar a Jlartir de si mesmo. milliStá;;-oêidental). No prefácio de um número especial dos Studies in
-- -~()-;;-nfut_~~:i:ioÍiÚ~ª~-;_1;·e_~Õ;Õr)iL~:ro!iÕck foi coerente com a_cQI: Philosophy and Social Science, dedicado à transição do liberalismo para o
rent~J>.i:~I1<:ir'1lda teoria crítis_a. A Escola de_Frankfurt se recusav.<!Jl de:_ autoritarismo, escreveu: "Com o advento do fascismo, os dualismos típi­
. §envolver urn'1~egrhir<Jlitiç;1<!is,tiri.ta, como afirmamos no capítulo~~­ cos da era liberal, como iil<li,;.j<lri.ü ~;;~i~d~d~; ~;<l;_p;·ivadã ev@üiti.í?I[:
_!al11_bém rejeita\'~urri.a..<ibor_<.i(l_g_~m Pl!E~fllÇ.1.1.t~J'fon.Qmif-ª da \~iil.â9.d.<l}. cã; lei e moral, economia e política, nãofo~~;;;:t;~nsc;~didÕs; rr1as obscu­
No artigo "Filosofia e teoria crítica'; publicado juntamente com um en­ 'recTdos."61 A essência da so~i~dad;;;-;;-dern--,;fô~á-;:;;\;eia<la-éomo- uma
saio de Marcuse com o mesmo título, .!:!Qtlz~avia.deixa<!o_~L'!E.o__qll_S.. ::ª()gifoação 11or_'.'handi.d.o_s". 62 A proteção às negociatas, afirmou Hork-::­
con~i<lerava a domina~<àa3.co.n.omia.urnJe_llQ!Xle.nn.pmarn<>Bt.eJlistóc: heimer, usando uma das categorias favoritas de Benjamin, era o Urphe­
rico. Seriaum erro~ declarou, julgar a sociedade do fut\l_f':'.~.Jl<l_f_tir d-=-sl1~­ nomenon [fenômeno primário] da dominação moderna. A idéia de nego­
forma econômica: "Isso se aplica ao período de transição, em que a políti­ ciatas fraudulentas, convém acrescentar, também se destacou na análise do
' ca alcança ;;l!la nova independência em relação à economia." 56 A fetichi-_ nazismo feita por Horkheimer. 63
~z.ação_da..eco.n.o.nüa ficou__e_!!!r..<:_g.\l~..2.. m_~J(_i~~.Ltnais. ortodoxos, comg_ Horkheimer afirmou aser\'i5od<1..<!<Jmin.~_9º,__os gr_upos di!ig~11­
Gros__srnann. As rehiÇões--~conômicas sem_pre__forafll_egt~.r1sfü:iaLç_().J:!1-()~ _!es ell12!~_g_f'.Vªf!l.\lrn.ª racionalidade tecnológica q11_e,_c:_o_Il!.O ele assin;11()_1;!
presentando relaÇões ent~~}i._9@~ns, e!)1J()<J.a asuacompJexidac!e, e111J:>.~a. vá.rias vezes, era11,111<i_t!~ão à y~_rda_~~frae~sênCia~ razã<J. Ligando isso,
fossem, reconhe~idal!l~nte, a for111a reifisªda re.\agiJgI.9.§J:tom~..!!§J.en.diam "fo<lliei:àmeni:e,-~ uma de suas bües noires filosóficas, escreveu: "Os fascis­
·a se relacionar uns com os 9ntrns no _çapitalisrno. A motivação do lucro, tas aprenderam uma co~sa__<:Q__rn_9_12r~gmatism.Q,_f\_!~ su<g;Jtaseü~:;;·ãojffi.í
-enfatizou Pollock, sempre fora uma variação da motivação do poder. 57
Agora, poré~_~JI!ed_ia.çi\Q.l'f()J'__()~C:i.()_n_<tcl_a.J':~~-1:1~~c~~~- vinha desapare;

208
---
seiifiaO,têffiape;;as ob~!jYQ:~,64 Em "Estado autoritário';__tl~ elaborou uma
critícaàracionalidade t~cnol~_gi~a,_ijue se aplicava igualmente bem a seus
·-·-·-~-~-····~---·--

209
.. ---...... __________ ~·----·----· ..···-·'"' ... ~
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALtT!CA CAPITULO 5 •A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

praticantes socialistas, antecipando muitas teses que viria a desenvolver continuava um pouco mais otimista que Pollock. "9__e~er_i::(l_~§~~!!'<l..Sl'-.
-comAdornÔ eird5ialética do esclarecimento. O locus de sua análise do fas­ Estados autoritários", escreveu, "apesar de terrivelmente ameaçador, _1!~2.~
..·-·-·-·--·-··-·---·-·--•--"-··---
cismo, portanto, aff!st_o11~se da concepc;ão marxista0:ri9<lõ!C':'~1o~~jj:­
----~---------·----~- -~-----·-·-·----- -"'"'""'""-·

mais real do que a eterna ha_rrn<m_ia _<ia_ecor1gmia__<!~_ip!_r~~<:\o,A ~_<J_c:<t de


.n~Í do capitalismo monopolista epassoupara UII1_ª'111álise.111f!is geral da... "ê~f~ajfiil:?.i~r~. ~;;:~_:s~~la _g_\"_g~gw_aJgªg~, mªsc1pla!!()foêçi§ta é ~~-­
têeilúTõgiã-:-ISsú.5e í-dãCiüll.üu com a crítica à ênfase exagerada <lo próprio ~~~bo.;s.ca11sa_rag(). [... ] A possibilidade não é menor que o desespero." 69
Mãrx-nÕ processo de produção e na fetichização do trabalho, a que nos ~ntQ <!() fasci~ri::i<_l,_.disse, D]:o erl!.a_filern ag,iiesc_êJ1cia_psíquica da per:
referimos no capítulo 2, ao examinar as bases da teoria crítica. Quando sonalidade autoritária, embora isso fosse muito importante. Baseava-se
Horkheimer, em Os judeus e a Europa, escreveu que "quem não quer falar també~nâ apifciÇã,; ~onstante e persiste11te _doterr()r e _dac;;erçã~:io. Os
de capitalismo também deve silenciar sobre o fascismo';" devemos enten­ diversos compÓf;"entesda~J~sse dÕmif;"inte, eles próprios, SÓ Se uniam pelo~
der que ele se referia ao capitalismo de Estado, não a seus predecessores
liberais ou monopolistas.
'medo comum aãs mãSsas, sem-o guãl se_<l_~a_rti01~iiam:~um ba-;:,do ª"'
facíll.oras emdisputa.* 71
Aantipatia de_H()f.l~ei.lll<':LP.C!<l_ raci<maliz.f!Ç~Q_tecnológica do capita=. ~--Alérn-éíissó:~fi~t11o~ Horkheimer, as condições materiais para a reali­
lis~o ~~ançado _le':'()l1:()_il_"JCJ'!~ss_ar sé.t:i':'s.<i(!Y.i.<i'\Uobre um movimenJ:Q_ zação da liberdade finalmente haviam sido conquistadas. Tal como Mar­
"SõCía!lsti.gt!~- s-e·:~ia como rncess.or.do ..capitalismO· Engels e outros que
cuse, que desenvolveu essa idéia no artigo sobre tecnologia nos Studies in
equiparavam a socialização dos meios de produção e o fim da dominação
Philosophy and Social Science, ele sustentou que a disseminação do ethos
eram os verdadeiros utópicos, afirmou Horkheimer. 66 Na verdade, a ex:.
tecnológico poderia resultar no fim da escassez ou em novas formas de
p(e_çtªliva ingênua da liberdade, como resultado<fe.~S..<!.§.Qf:Í<!)ização, anteci:_
dominação. Agora, a ruptura com o passado dependia, exclusivamente, da
. pava o Estado autoritário do prese11!e. A aliança perversa entre Lasalle e
vontade dos homens. Na expressão mais direta do que se poderia chamar
-Bismarck era úma expréssão simbólica desse fato. ~-v~<!a<leira liberdade,
de corrente "luxemburguiana" ou sindicalista da teoria crítica, ele escre­
sustentou Horkh~r:rieii.".QJJQQerll!$e!Jll~'!!J:Ça<i<t.ªÕ se escapau.!aJ;g_misa-o
veu: "As modalidades da nova sociedade devem ser encontradas, pri­
··éíe:::-tõ"~Ç-;1;~;;::;;I~gisa.CJ.ll-'-()...f.3P.itªl~!ll.C> ~~ Jô~t<l.<!() havia forjado e que o
meiramente, no decorrer de sua transformação. A concepção teórica, o sis­
··soCiallsmÕ, pelo menos tal como encarnado na União Soviética, havia per­
tema de conselhos que, de acordo com seus pioneiros, deve apontar o
petuado. Apropriadamente incluído em um volume de ensaios dedicado
caminho para a nova sociedade, decorre da práxis. Essa concepção remon­
à memória de Walter Benjamin, que compartilhava a crença em que a rea­
ta a 1871, a 1905 e a outros acontecimentos. A revolução tem uma tradi­
lização da liberdade só adviria de uma ruptura do continuum da história,67
"O Estado autoritário" ecoou as correntes mais radicais da teoria crítica. ção de cuja continuidade depende a teoria." 72 Portanto, em vez de uma <li- .
~----~--------··-··------··--"-·--------.,
Em uma de suas declarações mais importantes, Horkheimer escreveu: t~<!_u_r.<l.!eninista de transição, Hor~~!ll~'l'-ª':.~ia apoia':..'.1_~()_mª~_'.1_<Íjrt;_t_':_

Dialética não é idêntica a desenvolvimento. Dois momentos antagônicos) a


tomada do controle do Estado e a libertação dele, estão simultaneamente * Como mostra a peça A resistível ascensão de Arturo Ui, de Brecht) muitos refugiados viam
os nazistas como bandidos, ao n1enos metaforicamente. Mas não todos. 1-Iannah Arendt)
contidos no conceito de revolução sociaLJAxevQ)ys;.ã.o.social].pm'lo.ca..o..!.jlle-. por exemplo, em Origens do totalitarismo, escreveu: "A forma totalitária de governo tem
acontece sem espontaneidade: a socialização dos meios de produção, a pouco a ver com a ânsia de poder) ou mesmo com o desejo de uma máquina geradora de
· direção planejada da produçãÓ e a dominação da natureza em geraL].fU:<b--, poder.[... ] O governo totalitário) a despeito das aparências, não é a dominação por uma
voca aquilo que) sem u111.~__ !_~_s!.~!.~pcja,.,at.bta_e_umª".l!J.t?~S:Q}l,S~ntemente re­ claque ou uma gangue. [... ] O isolamento dos indivíduos atomizados não apenas fornece
novada pda libêrdáde,j~111ais aparec_er~:()fil)"lgª_"!'pl9raçgp. Tal_o!>jet~ a base do governo totalitário nas massas, como é levado até o topo da estrutura inteira»
[a revolução S()C_ialJnã()_~-~-ªS~krnçi\Q_qg_prggrJ"~~Q, ma_~_9_~~to para for<L.. (p. 407). Em uma nota de rodapé> Hannah Arendt destacou que Behemoth, nesse sentido,
era passível de críticas. Mais tarde, no aforismo "Massengesellschaff' [sociedade de massa])
'â"Õprog;esso [der Sprung aus dem Fortschritt heraus]-"
~. '"' '" ~~u,Sdar.eci-,.nento,~ M0rkheimer_e..._.t\.domLLtrun.,l?_~P1 abandonaram a compara:­

Em 1942, quando otexto foi escrito, Horkheimer não perdera a esl:"'.::. ção com os facínoras e Efl-tt2Jª11!!!l~Slll§_Q_~Jj.~s fascis_!?S eram basicamente idênticos às
~ma-ssá·s-que-Cõnduziã;;. Assinalaram que em O grande ditador, de Chaplin) o ditador e o
rànÇad~(júe essa "resistência ativa''. ai11<,!~-p~ªesse_c)~if_Íj~ NesSe' aspecto, ~barbe'iro·-erãm.-o·mesmo11·omem.

210 211
..,,,,
... ··.
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MARTIN JAY · A !MAG!NAÇAO DIALÉTICA CAPÍTULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INST!TUT

do controle pelo .r_ovo. A es<:()l~aera clag_ escreveu: "Um retrocesso à_bar,:: gais distintas - substituiu o sistema unificado do direito penal que pre­
'bárie ou o come.ÇQ.da_liLtÓ.rla:'" valecera antes de 1933. Em suma, o Judiciário foi trangQ!'.mfülQ..ein.uma
,--.- Contudo, a despeito do tom de exortação em trechos de "O Estado au­ burocracia ~clrninistnüiva--;;a-avez-ínaTssubordf;;~da às exigências id~;=
toritário", Horkheimer convenceu-se
__ ,_. ···-------·' .. ........de
'' ,. _..___que
,, ------------------­
as probabilidades da barbárie
________ ··--·---·---"-·····---·--..

eram maiores. No mesnig_;irtigo, talvez pela primeira vez,_expressou a tese ·


lógicas do Éstado. ·· ·· - -- - ·-- · --- ·- -- -- · --·
~Uma das principais asserções da escola fenomenológica, e da teoria
-deq;_;;~ vi_~ ;;~t;i-~Ínha-se tornand()__()_úl!il!lQJeDí__gi~ da 11rá;>is...re.vo, ... polí!if~i§.ta.f.m . gê:ªt ~ª-~1ªli:á.Yfa_re~~ido a~fer~:..4;k1~;­
Jucionár{ª, tese qt1e\2ria ã ser cada veZ::mais freqüente no trabalho poste, ~aj_,__ÇJ.\!ea jurJsprudên~ia1ibernl.ha.via_sepJ1J:ado. Em um ensaioposte-­
rior da Esc~la de Frankfurt. "é:Ypr6prio pensameritd',eséreveu~ "já é um rior, Kirchheimer procurou expressar a natureza ideológica dessa afirma­
" sinal<lê rêslstêncíâ, do esforço do indivíduo para não mais se deixar en­ ção, revelando o caráter subjacente do direito nazista. Dos antigos pilares
ganar."74 Urna vez derrotada a "barbárie"> ou, pelo menos, a sua encarna­ do direito liberal - a propriedade privada e a liberdadé.<l(!_~ontr~t~.:::_;··
ção fascista, sem que isso levasse ao "começo da história" - que parecia · Kirchheimer argumentou que o primeiro, apesar de ainda existir, estava
ser a única alternativa - , a teor_ia crítiça CO!UeÇ().ll.ª_9.ll.e.~!i()g<l!:.'1.P.Q§§ib_i::._. "maciçamente comprometido com :a rrÍ~qÚina política':" enquanto o se- "
!idade dapr,<)pria práxis no ;;undo mod~~no. gundo se tornara praticamente.desprovi.do dese11ti_clg,P9rtanto, sob certo ­
põrifi:)"de vista, ~_dgytrinaJegal.nazista..haYi~!imi.11ªcl9 ()_ ari_tigo hiato li­
Discutir agora esse desdobramento, em detalhe, equivaleria a abando­ beral entre as áreas pri~ada e pública, mas somente à cust~ da 1\9.~ld~ção
nar o nosso interesse central: a abordagem do nazismo pelo Institut.__NQ_ da primeira.AsaffrínàÇôesnári~í-;\:i<l~ún;:ápÕ!Íticá-,,~-;;-~c;.:ta';tinh~;~se
tocante a questões..fQ!ILQ.J!JJ.aJur.ez.a..da- econDmia.nazista, como vimos, "!êaíizado êií':i certas áreas, como a legislação anti-semita e as medidas fa­
NeumanU:-Kfrchheimer e GJlfland. trouxeram con_filgQ_J?.()!ltos de vistA_di::._ voráveis ao aumento da população (por exemplo, reduzir as sanções con­
ferentes dos de Horkheimer, Pollock e .muitas figuras mais velhas do tra filhos ilegítimos e apoiar famílias maiores). Na maioria das outras
Institut. Eiifrê() três,-Kfr~hheimer talv:eztenhasidoo de e§Pírito mais pró­ áreas, porém, como a agricultura, na qual a ideologia do "sangue e solo"
ximo da teoria crítica, apes~rd;;ua inclin<Ição me;taCm~i-s-p-;;iti;ista~ fora sacrificada às exigências da modernização, isso não ocorria . .Q.illlc­
··da base legalista de sua formação. 75 Seu- primeiro a~tigo -nos-Siuazes ;-,;· pulso_l?<í~i<:() da legislaçãonazista se dava em direção à racionalidade tec­
Philosophy and Social Science, depois da publicação de Punição e estrutura __ÍÍÕhlgica
, ....
.-'
que
- Horkbeimer --, ,
havia"
-- . ._._ ...-... __ ______ ~nfatizado.
....... - --- .. "Racion~lid~d~: ~~~;~ ~~;~"'

_,. ,--~--~

social, mostrou um interesse contínuo pela criminologia. 76 Ao analisar.o~ escreveu Kirchheimer, "não significa que existam regras universãimen­
·----------­
~i\!Lp.ei:ial-na-Alem.arill~. 11.azi51a, estabeleceµ_ ,U!ll;l_c!1S.!illç~Q.c=_Il_tJ:e_dµ<i~
teil)]j"(:Ivéis,éi.ijàsconseqüêii.ciãspossamser cafêtíía<l~;r;;i~;q~~- sã~-;ie­
fases do dçsenvolvünento da teoriaJegalapós.19.~}:_a al!_t()ri1.ªri~e__a__r'1çi§;:_
tados por elas. Raci2Tl:.<1lida.~_e_,__aqui,_.§.ign_lfiça.aprnasq11_~todo.Q!lp_agto
ta.._Na primeira, que durou pouco tempo depois dato!lla<l_a_do po.der, pre.o­ l~g_al_e de implementação da lei fica a serviço dos govemantes." 79 Mas
. valécêilac,:;~~epÇão -volitiva do direit(), defendida por Roland Freisler,A__
.Kirchheimêr não foi tão fonge qúál1to Pollock:; q;:;e cfe~-cr~~~;~ a nova or­
qual enfatizava as motivações subjetiyas _d()s_r~us, e !lã() seusaJQ§_..obji:.ti=.
dem como um capitalismo pós-privado; nas palavras de Kirchheimer:
_vos. f!!<i1Qi..r_apida~e___st1_p:rada pela teoria jurídjc::a__<1_l_1tino~matiyf!,_.

--.-
antigeneralista e "concreta" do direito "fenomenológico", defendida pela

.. ,-~-----.~-~--~-- . ----------- ~­
cnàrnãai[Escola.de.Kiel.77 N~iD..t_lliç_ã_o_clgjEi~.sob_r_e_a_E_a_l!'_r.<"?.ª "es­
.
A concentração do poder econômico> que caracteriza o desenvolvimento
social e político do regime nazista, cristaliza-se na tendência a preservar a
instituição da propriedade privada na produção industrial e agrícola) ao
s~ncial;, do réu su_~stituiu Ôjulgamento de seus at()_5_E~l~· J\..Illpliararn-5.<"
mesmo tempo que abole o correlativo da propriedade privada a liberda­
' ()~ c~illi"êscÕmeúdC>S:j)<.rr:oiriissã:oi"C>s "sentimentos sociais do povo", con­ de de contrato. Em lugar do contrato> agora a sanção administrativa tornou­
____
..___, ~_.,_,_,.--~---- ------------~--·---­

forme revelados pelos pronunciamentos de seus líderes e pelas decisões da


se o alter ego da propriedade."°

burocracia judiciária, infigm~iar.am.as.deGisões judiciais..a p.ogtQ <kJ9!'.::. Entretanto, mais do que Neumann ou Gurland, Kirchheimer conside­
'
nar a legislaçãq__r.etro<!ti.v;i. A departamentalização de jurisdições - por rouque-o pôâer(JQ~gifad_Q =·;;-;;_;-p~!o-;;:;~;;;s, d; g~;:;po dÕmTnãnte qÜe
exemplo, as-SS, o Serviço Trabalhista e o partido tinham hierarquias le­ ·cercavaHítler - basicamente nunca era questionado. Numa discussão
-~--.-- .. ---~ ..--- ~·--·· - - - •"•-'·-·· ·----~"•><•• • ··-····-~- •'

212 213
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~T!CA CAPfTULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

mais ampla das mudanças políticas ocorridas sob a dominação nazista, _Studies in Philosopjty_ anif SodaLSúeJ"lce, 85 •.<:J:1Jrlil.n_<l_çQ11c.e.ntmU.ose.n.a.in1::.
nos Studies in Philosophy and Social Science, ele expôs suas razões." Dis­ por_t~11cia<l'1_expªm.i\o ..<0J:onômic.a..como.. mdo_p_ªI.ª-Prevenir conflitos no,
___ti!lguiu três fases de compromi~gs_p()!í!iC()sJJa_hJstQI:i'1. recente da Euro::­ sistema nazista. Mesmo admitindo que o setor governamental tivera um
_paQ<:ide_mal. i:;ra_eE<lJi!JS'raLpI~\'<tleçeni_urn "cornpkxo.<le~()~_fun­ -crescime~to significativo, ~-~-2P-~1Lt.es~<:le_J:'()füic_k sobie<l.cfrá§ti<:ª re­
cionais entre os represeAl<l!'te§ parlamentarese entre estes e_.Q_go~o". 82 _cll!.ç_ão do poder das gr<i11des__ell1p.resas. O governo, afirmou, represent~;
· Alnfluência do dinheiro na política fora particularmente acentuada .•Por 0Jfss.entimento..antimo11Qpolista da gequena burguesia, mas sem real­
' -.-------------..~~-··-· -- ·--------··----··-----·--·----.- ......,__ -·-···-------~--.'"
~olta~9lo, entretantÕ,àmealaaqué-aera democracia aem;ls;;as se na .m.eJrte_q.uesti.o.nar.. ils. Prt:rr()g'1ti.YAs_.<:!9§_i_!)~f~sses ell'.r~~s_a_Jj_ajt; _;ir.i:<iiê<!9s.
desenvolvia,. os elementos de compr<JrriissQ s_é'._ If10clifiç'1Y'1m. As 2.l]_aniza­ Na verdade, a insatisfeita Mittelstand (trabalhad~~~ -de colarinho branco,
~QQ_ trabalho.Jêf~ªndes pai:ticipantes da lu~ microempresários e pequenos burocratas) sempre mostrara menos dese­
~.Qa:uisJ:>ªf1".os.c~ll~~\§_füÜ!lQQ___ c()J11()_!llecii;ici 0_res_"_[lt~il.s.í:liferas jo de destruir as grandes empresas do que de participar de sua prosperi­
~~'1e..p.olítica. Os monopólios tinham substituído os indivíduos na dade. Com a expansão imperialista, esse desejo foi realizado tanto em be­
política e na economia.J-,lo-terceir.o.Peiio_do,jniciado com a ascensão do nefício do governo quanto das grandes empresas. Em oposição a Pollock,
fascismo" a influência dos fatores econômicos sofrera um drástico declínio. Gurlan~claro11 gui:_"a expan~ão.R'!r.~!lk.ílS.!2<!ÍÍZ.açãQ..dàm.otIYilÇi;;:<l;;
-Os go;~r~;~-[~;;;~;;;;·;;;:;;~ f~rt~s d~~~;; para quefo~~;;~-d~;~~b;d~~-p;;;:· li,íCro, e_'.'..ll1.?_tiva«_1\o-49.!11.cro. e§!im11.lª·ª-·el>P-ª11sio''. 86
um ataque de investidores ou outras manifestações de pressão da eco­ ,9l!rland c911c 0 rd_~_a_g_tJe_':l_l"_':jl_i_~..flitZÍSta _!2fomovera a racionalizac_ão
nomia privada. Jim.\mr<i,g.J?.yiªm-"nte, ainda existissem monQEólios em tecnológica, mas não achava que issor~pxes.ent<ls§.e. of!m do capitalismo
áreas como o tr~b_aJho(cQ[ltJ:()l~<!~Q.~l{):gêJYerno), a indÚstri?_(aindaprh­ pfivádo.
~~-- -- ,
Nà vérdâ<le, a oüIQ.gill.iZ-ii_çjQ__e
---,,-----~~ '
a centra!izarã~-<l;econÕÍnia.ha­
----·--::::::::.l'---·-·--·---·----­
vad~)ea-d;-~~ada .Corp()t:il.Çiío A!iment<iJ (também_J;lliYJ1da},_o_gQYerno viam começado dentro e entre as em)Jresas privadas, muito antes de os
.
havia assumido
...-",..,'-.,,__.,. o controle.
-- _,-
A.úgm, o Partido Nazista passou a se envolver
--·-....______ -----~
·nazistasass\lffiite~ó po<lei..Essescó-;:;8J;;~er-:l<los privadõs~afirmo-;_;,ain­
<la-eraffi rnuitÓ ~~is poderosos do que os competidores nazistas, como as
__ "'''-

..f1il9"i~5_ão de seu pró]?-rio aparelho ef.9nQ"füiÇ{)éo.mp.etili.Y.9.JL~..'1:Í~


a ªl1Ql"!ltar..ª-·l?.11.i:2_crfilizaÇj!g_,_ Mas isso significou trair promessas nazistas Usinas Siderúrgicas Hermann Gõring. As inovações tecnológicas destaca­
anteriores: "O partido não demonstrou apoio à classe média indepen­ das por Pollock eram obra mais dessas empresas, sobretudo na indústria
dente que lutava pela sobrevivência. Ao contrário, mais do que qualquer química, do que do governo. Além disso, embora a administração tivesse
outro fator isolado na história moderna da Alemanha, apressou seu declí­ crescido, também isso não significava a transformação do capitalismo, pois
nio final." 83 "os que controlam os meios de produção são os verdadeiros capitalistas,
~<!.ik.f.omprom~í_ticos que resultou de tudo isso como quer que sejam chamados". 87 Os dirigentes continuavam a extrair
passou a depe_l1.cl."-1:E.9Xi!hXeLe9e..se.u grupo..de.colaborado.res. ~
sua renda dos lucros (embora não de dividendos, como acontecia com
.· nh~ffQ__Q_~líc_aEgQ_<lçser _µma..expressão. real.de..µQçlg_soç.ial,..'!~]de_i:ançj_'._
acionistas tradicionais). Em suma, tal co_rn_(l Gurl'1.I1<!.<l_çompreendia, o sis­
"iôrnou-se o.árbitro dos conflitos entre.grupos, Estes só ficavam relativa­
temaco11tinuava a ser um cagrtãI!5_g;:õ111gQ()p_gJis_t;i,_eml:J9ra baseado no
mente livres de atrito graças à natureza expansionista do imperialismo fas­
-condomínio da burocraciagolítica e em administradores ec~~Ô~ico; ;;;:;;:
cista, que permitia a divisão do espólio entre todos os componentes que
. aõsnaFiiseã<l;·é~p~~sãü imperi~ú;t"a-:- --------·
- .--···-··· , .. --.-.-~·-·--··-·" .--- . ·­ --······------­
competiam entre si na coalizão governante. "Essa interdependência entre

a autoridade inquestionável do grupo dominante e o programa de expan­


A relutância de Gurland em abreviar a existência do capitalismo mo­
são proporciona o fenômeno característico da estrutura de compromis­
nopolístã1õicompartilhada·p()r_1'/~11.l_ll<ll]!1_, Agora, finalmente, podemos·
sos da ordem fascista, orienta seu curso posterior e decidirá sobre seu des­
"nos voitar para o"sé\l" Behemoth. Destinado a se tornar um clássico, apesar
tino últirno." 84 de ter sofrido um relativo eclipse durante a Guerra Fria, Behemoth foi um
j\__ dil1!ll1.ica imperialist_a__cl(}ll<tliS!Il()ta111béll1 des_e_llljlenho_u_urn.pap,;!,,., livro de imensa e minuciosa erudição, ainda mais notável se levarmos em
. chave
.
nas a;;:áfises.deG1.uland_e]'Jeurna11.i1.
·---.- "·--
No----primeit()_artigo
,,
--·-·····--'"'""'"-'•'"""' -.._____,_.____.P'11:.'L<l.!­
''
conta a distância entre Neumann e suas fontes. Em diversas áreas, como a

214 215
<
CAPfTULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO !NSTITUT
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

história do movimento operário alemão, Neumann pôde basear-se em sua do livro (incluindo-se o apêndice acrescentado em 1944), não há UJl1A_<;la­
experiência pessoal antes de 1933. Tudo isso foi reconhecido por Hork­ ia referência de que Neumann aceitasse a idéia do caráter sadomasoquista,
heimer e pelos outros membros do círculo interno do Institut. Porém,as eií iinêiada por p;:;;;;;µ;:PJén;<li'S'~ü;-;;;;;;;:;;í~rofr~;;ss-º da-classetrafi-;, _
conclusões de Neumann e a metodologia <J.lle usou para_ extra~_fu.ram-. '!fiadora durante a República de Weimar,95 Neumann descm1he.c.<=.U.O-€stu­
'sll"fiéient~;;;-~~te ;[hci~àt~;;;;;~;Ític}~2ª~; i!11p_eciJi:si11_e_Qsírcul9_ i11_te.r.ni:L do de Fr_oJl1m sobre a mentalidade ª!llQ!Yiilent.e_çlg Pr.<:!L~!!'riado ~k!!!ilº·
.• Air{da mai~ ~enti;;Íf;C$ua efi§fQ;::;ii\ncia da idéia de capitalismo de Es­
·êonsÍde~ass~··Behemoth uma verclª~jr;.1 expJessiío <:l.ª1ii<:Jii.!s do_InstLt1i,t. 88
tado, formUl~<!<!P"L!'oÜ~~k.- Para Ne~;:;.,;;ii;:;-,:il2;:6Qif~~pÍ:es§~Q:'Ç?.I.iLc
' Havia sel1)ciha~~' é dar;;, e12tre.iU!.lillcni<igs;rrLde.Neumann e a deJe§.
~ Estado'é umacontfadictioin adiecto". Citando Hilferding, ele
Por ex~plo, elg111igimizou a i111P9I!~I1<:i3_ind<:P_e_l!Qel}tg do_anti-semitis::__
-prosseguiu: "Depois que ;; E~taclo·;~i.orna_(;_,i;Íco detentor dos meios de
mo e do racf;mo em-gerai:s'é(;mo fizera Horkheimer nos seus escritos,
produção, isso impossibilita o funcionamento de uma economia capita­
.. desdeõ Diimmerung-att-~g~;~~r~~Ch~~~~;:~~2~~~ se refefir..ao-povG­
lista, destrói o mecanismo que mantém a existência ativa dos processos
alemão comg '.'o mrnosanti-semita de todos';'° co11_vis:_0l9_curiosamente_
da circulação econômica:'" Examhrnndoempirica111e11t,_a_,_C()f1Q!lÜAaJ.e;
~;;;pa~tiÍhada pelos 011i~9;mem6úís-.i0Jn~tit~t.* ~~Mm mã, Neum_an11_sedispós a prov~q~e a"pri111azia<!apqlítica''.ea.rev9Jl1­
·concordou que faltava ao fasc_j§mo ll.1!1ª ve_rda_deira teoria polítirn,em vis- ­
·çãú administrativa ainda não tinham sido alça11çaciª.S· Ao fazê-lo, também
.~ta de seu irn:cionalismo, po~to que "uma teoria política não pode ser ir­
âei:X:ou claro que~_<:ompartil!J.;,".~-~p~~si111is_n:i_o_ger,a!.ik-Eollod< ares­
'racio~aÍ''."r;;-r·1IftiJ;;;:~ julgou que o sistema não sofreria um colaJ?_SQ_ peito da invulnerabilidade do sistema: "Não aceito essa visão profunda­
inevitável de dentro para_ fo~sg_l]1_um_ft_J?.1.:_áxis política consciente: "Nem ~·---­

mente pessimista. Acredito que os antagonismos do capitalismo agem na


,;s faTilãs~-Í~c~~as cl.;si~t~--;;a nem sequer ade~~;ta militar da Alemanha Alemanha num nível mais alto e, por conseguinte, mais perigoso, ainda
levarão a um colapso automático do regime. Ele só pode ser derrubado que tais antagonismos sejam encobertos por um aparato burocrático e
pela ação política consciente das massas oprimidas, que utilizarão as bre­ pela ideologia da comunidade popular:'"
chas do sistema:'" Como primeira prova, citou o testemunho dos p~ios líderes_11a.zis­
No entanto, de modo geral, as diferenças foram mais signific;_ativE.c­
~·----·-~-~--~---.-.---- ­
~-------··- ' '
tas:-tlenhum dos quais parecialndicar uma política deliberada de contro­
Mencionamos, mais de uma vez;:<.i=<:l.esprezo de.Neumann.pêfa.psi.c_oJo.gia. 41:esratã}:9"-Em.seguida,·Neumann-ãpr~tÕ:íLdado:S:Zsl.nsidirá.Yei~:;;_:rê;.
Como o historiador esquerdista Eckart Kehr, cuja influência em Neumann pei to-·da crescente cartelizaçª()-~_.r.'1.9º11.!!liz_a<Jc.Q..f\a.§_grn11ci~ê .e.11mr.e_s.as
foi considerável,94 ele achava_qge . . a..psic_anális.e..era_pQJ!ÇQ_Jllais que u~­ durãnte;;:-~eg[;,:;i~~ mim-;~~ _gsse processo, afirmou, havia .criado lll:na si­
ideologia burgu_çs;.-Behe;;~th continha uma pequena seção sobre a psi­ tuaÇã;-;"Dstável, 11ª q11aLa ecooomia vinha-setornª114o Jl1<Jis_rígiga, mais
c;Iogi;<l;;~;~isma, porém ignorou por completo o trabalho anterior do . Síiscêptivel a muclanças cíclicas (O. mais .".ull1.eráy~!..JL12rts_sQe~.d.a.~füªssas
Institut sobre a personalidade autoritária. ~as .!ll!l.is_d.e.seisEimtas.páginas__ descontent~s. Como resultac!Q, o Estido t.inb.a.deJnt.e.r.vir.11ai:a.rQ!l1]2.eL!IID
.impássé. cada vez malse~plQsiYQ .. Sua alternativa era clara: "O Estado de­
* Quando mencionei a Lõwenthal o comentário de Neumann, ele 1ne disse que muitos in­ --;;eriâ esmagar as posses monopolistas, restringi-las em favor das massas,
tegrantes do Institut consideravam os alemães menos anti-semitas do que os norte-ameri­
ou usar a interferência para fortalecer a posição monopolista, para auxi­
canos que eles haviam conhecido depois de emigrar para os Estados Unidos. A discrilni­
nação a que se referiam não era política, mas social, a qual era praticamente desconhecida liar na incorporação completa de todas as atividades empresariais à rede
na República de Weitnar:__T<?.491!"9.§,l!lemb_r.Q~ do.. In~itut ~5?.!!!.9l~~-~~:1~~~~~~.-:~.f~!~~~~~.!Jl­ de organizações industriais?"" Para Neumann, a resposta era óbvia: os
9-ºão cop1plet?m~n_te ass.irril~gq_~..§~--h~~!-~.111.s.:.~-~id? .na_ Alemanha, an~:.:.~~;>!_!~Q~_QQx!z~~ nazistas haviam seguido este último curso, a despeito da propaganda em
dos a emigra.r. Essa postura em relação ao graú ae·an:H.:.semitrSfüõeX:istente na Alemanha
apareceu no prospecto preparado pelo Institut nos Studies sobre esse problema geral. Hoje, sentido contrário. Não obstante, a análise de)\!e11.mªn.n.foi..111~i~_ç_o11111lç­
a seguinte afirmação, incluída no ,prospecto, soa mais do que ingênua: «Enquanto a franca xa do que a posiçãÕ.mariisfaõffõ(j():{ã;Cia;;ica111e11te express_a por Geor,.
repulsa pelo anti-semitisrno do governo se revela nas massas alemãs, as promessas do anti­
'ge. Dimitrov no VII Congresso Mundi~l do Komintern: a de que o fascis­
semitisrno são avidamente devoradas em países onde nunca houve uma tentativa de go­
verno fascista." 91 -rnó era"afrantaâifaduratêirorista dos éiemeiifos riiais l'eãdô-üáfiôs,.,.,:_ ­

216 217
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇAO DIALÉTICA CAPITULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTJTUT

chauvinistas e mais imperialistas do capital financeiro". ' 00 Para Neumann, ;rampouco estavam cert()S_alg_u_n_s__t:_<)_ricos da Nova Esc_<,>la, co1I12 Emil
"a economia alemã de hoje terri<lliã;-;;~~terísticas geraisemâréantes. _he_c\e_rer,_ u_in velho iill1X1igo_d2JnsütuJ,3Q_cha.!Il~rn a Alemanh-ª.ilazisJ:~
,--------~·~-~·------------ ' - ~
Ê u~Q!!Q_miª_rnj)_llQPi?lJsta - _!'_U_!lliLJõ.mnomia dirigida. E uma eco:_ -~e _11.I!1'1§()Cieciacliocl.emAS.Sa§oamDrfa,_ss;m.qifort;__n_<:_iaçiio de_s~~es.l'Ja.Yer:
- riomia capitalistam:ivad_ªr~gl'Lani_egtada por um EstaillLtotaJitário. Como dade, a atomização nazista das massas tinha-se detido antes da auto­
-;:;rr)adêSign;ção melhor para descrevê-la, sugerimos 'capitalismo mollQ::._ ~~l()Jl1iza<;ã_() ela. dite. Se fal1fo,aigl.lmeritó11 Ne11mãr1~;«;:;;~ê;ciad;}?_q]j~
JJ.Olista tm.alitário'". 101 tica n~5ion_a}_sQçiª1llita.consiste.na..ac~ilaç.ão_e_no_fünakc.imento._do_c.aráter
Isso ficava claro, continuou, em as~_s:jos_çi:uno.a.legislação.comp.ulsóc Te~fasse_<JYe J>IeYalece.na.socie<:!.ade.alemã". 106 Neu~ann concordou que
riasõbrémõiíõí)ólios. Os go".e0:;í:r1t;;s ebenfeitores dos !l<l".ºsl11º!1º.P2.::_ a solidariedade de classe na classe baixa e na baixa classe média sofrera
ífos, ãigu_!ll~I1tQU N~t1iTiann, não era1!J_()s_p<)võs_(1Eig~~t~§_ na maioria dos mudanças. Os nazistas haviam introduzido uma nova hierarquia, mais
-~~sos: eram os antigos indi~íd~o; ou famílias empresariais. Qs_rrnzistas, b_ase_<ld_'!._n~ que_J)a _çla~e tradicio!IB1.inverte'Ildoassi;;_:;:-~-fÓ~~ul~
assinalou, tinham-se abstido de ll<lcioJ:1.aliz1'LV!l.ªÜ?L12-ª.rte das indústrias: ~~lássica de Sir Henry Maine da transição do status para a classe.10'jiQJ.Jye_
"Ao coiltrá~iõ, há·;;:;;-;; cl;r-;; tendência de se afastar da nacionalização." 102 ~_<1_~e_ntativa_ç!eJili_era<:!ª <:kA,to_l_lli2'._ªr_i1s.JI!.a§.fil!~Ne11!11Ann.<:içpJQ.ro1!_<!_s_m:.
Nem mesmo a construção da estrutura econômica alternativa, ligada ao ..111J.f!c<1_çil_es des2_e__proçesso. ern.:1náli.s_<;.s_da.propagandª,_do Jie.rrm:ismo~da
partid(), -;;uu'ci;; ó_fim <lo ~~pÍt~lis~ú~"refO-cül1ií:áriõ;·éia sl:irge corno _jlQ.!i.tirn.trabalhista e salarial e da legislação n_ªzfata (baseando-se, predo­
'uma afirmaçãô 'dafôrça vital da sociedade capitalista, pois prova que, até minantemente, nos artigos anteriores dele e de Kirchheimer no Zeitschrift
mesmo em um Estado unipartidário, que se gaba da supremacia da polí­ e nos Studies).
tica em relação à economia, o poder político, sem o poder econômico, sem "':_análise _~todox_Lcliu;Las.s.e_,.feita_p_o.x.J:~!S'.l!ffifilln, impedi!J:Q.__4.e.
um lugar sólido na produção industrial, é precário." 103 Em suma, embora '!f_a_~o__111ina5ão eJ11_!e.'.J11_(}_S_!e.<:.tl()_lógi_s()_S, como começava a fazer o grupo
estivesse sendo criada uma ~Quomia_.dirigid!h.de mgç!g_ª1ggm ela es!a_IT;l__ que cercava Horkheimer. Tal como Gl!rland, ele _<!_Çh_()_~~-.<l raci()Q<lli~a­
substitui~(ÍQ o-;E!igQ~~~pit~ligµ() IDQ!lQPOli!ltil· Na verdade, afirmou Neu­ ção ea centralização da economia não eram incompatíveis com o cagi\a­
inann, concordando com Gurland, os dois poderiam sobreviver lado a ]!Ifit<J.Jii.!Y;l:Cl_o:Na-verda<le;·;;-revoi;,-Çã~-t~~~olÓgica ;e t;~;i~;;~~igi;;ado
lado, desde que a expansão imperialista permitisse satisfazer as reivindi­ dentro do próprio mecanismo da produção capitalista, refutando a cren­
cações dos vários grupos da elite dominante. ça dos que sustentam que o capitalismo perdeu dinamismo". 108 Mas Neu­
O fato de Neumann estabelecer distinções entre os gr11p()s_c_ompo~ '.1:1ª_!1_n_:'_(l]1_5I~~f()l1 possível_gt1e, a loi:igo prazo, ªl1illentasse atéiisªQ.~1.nl:!;.
nenies<lessã êHie = õs -g~;n<les empresários, o partido, os militares e a _;i_f?gic,; da racionalização tecnológica e as"](igências de . maximização.do
burocracia - mostrou que.ele.não propunha um<1visã() sirnplistado .lllS.r(),_ O antagonismo entre o engenheiro, por quem entendemos todos
fascismo._comO-crCaçã~~~~~1~SIVa"-~IOS -~º~9P9.Í.i.o.s. ':illn não signific·an:­ os técnicos e contramestres, e o capitalismo monopolista totalitário é uma
escreveu, "que o n;cio~_;1:so_<:i<1li_s_111~ mero i!l~tr.llmento sub~ das falhas decisivas do regime:"º'
viente da ;;dústria~fimll~_s!g.Ilifica que, no tocante à. expans_ão imp~Qª..:_. 9_tl2'1If9.prindpaldatese.de Net1mann fo.i qye, <19 mi:itrário.do que
lista, a indústria e o partido t~@:;)i;fri.i~üiiilêntic9s!'rn' Ainda as-sim,ao dizia PoHock, o nazismo_'!r.<l Urn.<l <:<J11!i!l_l1~Ç_ã<:J_sf()_çªpi!ªfüJI1.QJllO.ll.QP_oli!i.c
contrário das análises de Pollock e Horkheimer, a de Neumann fundamen­ ~:_!':?ro~tros m§io~:. Mas ~.atlu.amb_é.rn.tinh.a..uma_te>.~ §ernndária,
tou-se em categorias marxistas mais tradicionais. Pollock escrever;:t S()lll!­ ~ ae certo modo,_corr~spc:mç!iilmai~çlep_el.tl:ULal.gmna.$_i4~iªs_ggçír­
a motivação do poder. fü:!' re~p_()~ta, Neumar1n_~~~~:-"cr~rnºS}!r_ .clllo interno d.o Institut. -Essa tese refletiu-se no título do livro, que se re­
mostradõqiie-é"a-r;:;;;!iy_<!_çã_~}o lucr0 que~~~stent_a.<i SO_"Sã() ~~-111~31:1!~'-­ feriu ao estudo hobbesiano do caos da guerra civil inglesa do século XV!I.
~tudo, em um sistema moncípólista, 03 lucros não 1;1.Qdem ser p~ Para Neumann, "o nacional-socialismo é - ou tende a se tornar - um
zi4_()s_e çQ_ns_e_~y~_c§ sem_Q_poder_rolit_i.SQ..!.()~io, o traço distintivo do ;ra:():§ffi[ó;liiJí~c<lo~,.t_t1IliiiiJ:i~ri;J::<!~_d~;~rdem e da anarqµia''. 110 Não só
.nacional-socialismo." 105 Afinal, a nova ordem, descrita por Pollock, não era 'capitalis~<l_(le Estado" era uma denominação equivocada como a pró­
tão nova assim. pria existência de um~si:.<l_di;::em~q~~~".'.- sentídg_}rãaícíonal, ef;l__gu-;;:­

218 219
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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO D!ALtTlCA CAPÍTULOS· A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

tionávd_ Ao contrário, a dominação vinha perdendo as mediações, o


cada vez mais atenção na racionali~<!_ção tecnológica, como força insti,__
amortecedor, por mais imperfeito que fosse, proporcionado pelo Estado
~o""ll'al, e na.raciüllali<l;;dei~me1~;;;,;;mp.er~ da cultura.
liberal.
Com mais ênfase do que Neumann ou outros, ~xpl()r_<!Y<l_'?~)'!l<"E<:t.!li~!ll()S,
'.Tal como Horkhei~os O!JJ:r.Q.S..._tf~~ achava que as mediações psicossociais da obediência e asfogte_s,_cl<lYi().l~ncia. Ao apontar os vários
~:~!.-:.li.1:'1!1.<l~- do .r_a~~.".cl_(l__"i'.1!1:'1..f!l.s-"-ndo_rapidamente desgastadas no~ modos pelos quais O Caf>~t<J_li_s_rrio'1Y.<l!IǪucl9eVÍ!atails prrY\siie$.Q.e.i:QJilJÍ.fül.
.Est!'Aos ªl!t()r_itá,rios. ~~scordavam ao descreverem a na reza da -reffã_fpor]\ilãix; essa ÇQirente revelou um ceticismo mais Im>fundo acerca
_dominação ni'í9 mediada. Para Neumann, ela continuava a seguir os mol­ das possibilida~es. de mu~~;~q~ajª-u_g;~~t_:i[j~!l~_ªl.1-Qs;.~g_-;;_in.te.~.---·
.,..--.-----'."'f' _,....----------~-,..,,-~--­
des do capita]_i~a- que__clCl.111:11:1.a._() tra_~~naaor explorado, sem que o Estado ~-::c~mo a abordagem.de Horkheimer-Pollock ultrapassara a economia,
ãg~::P~l:'1 élimi!:mir.. a.destruti.tldade..do.conflito_d.e._çfa~s~.s. Por isso, ain­ ondes~:o_ri~e__n_tra\T<l_()_mai:JCi.sm_o ortodoxo, el'U'.Qde ser aplicada com mais
da .pôde escrever que "existe, objetivamente, um profundo antagonismo facqiclade_aosfenll_Il1e!l()S~()~i<liS,_ll<_lrte-am_i:_~j~anos depois da guerra. Afi­
entre as duas classes. Não sabemos se explodirá ou não".11 1 Para Hork­ . iial, a economia dos Estados Unidos podia ser caracterizada como um
heim<:_r, a domina5ão vinha-se tornando cada vez mais psicossocial, s~I!L<L capitalismo monopolista, mas sua sociedade, ainda assim, tinha-se mos­
'-a;;;;rte~in.;ento tra~ido pelo me;caci;;--z~Q"it.ãfüi;)~ S~guindo . Polloc]s,_ ele trado resistente ao fascismo. No após-guerra, Neumann e seus amigos
afirmoü'J.~e o Estado era o prÍ~~ipai ~;;;-;(rutor da d()g;i!l<lÇi()~ üci.~J~==-­ reconheceram essa realidade, o que nos ajuda a entender a transformação
bém illcluía a aplicação deliberãdã-<lõ-te;rorismo ~ cla çfrnçãç, Em sua deles em liberais constrangido~, O grupp ero torn,o c!e.JI()rkheiroer, por
análise, entretanto, ii_pape1 do Estado. di,;,"~;.;i;i; Cj)J11,Q. t~mpo,à..m.edi.d.Q~ outro lado, cgmpartilhava. o pessimism9 q\l!!J:itQ ªº. ftt!UJ".O..clª. .!:e_y()ll!Ç~()
que a dominação se tornasse uma espécie de_sit~1.ação q!Je.P..S'Xmeaim_L, l'!.?}_et~ria, mas não se t9rnou libern! !19. .ill~filo_§.\'..11tido..mi~Nel!_mJl.Il.n,
sociedade como .um todo. Nesse_ppgto, os ªfl;\U!De!l!()S<i_e_I:I()Ekheilll_i:_r:.__ ]<irchheiinere ç;urland. No caso~Jyfoxrnse, como.Yerem.o.sJ_9gdicalismo
sobre o papel crescente do espírito tecnológico exerceram Ul11J'.'1P.\'LC:E!!­ se intensificou. Nos caso'S<lêHorkheimer e Adorno a caut~la [;J";;;~·ito
~---~··-·"'-----,--~- _.,.- '"-·•·-·-•• •-,--•"''- ,.,,.,-- ·--•-••• ··~·---·•'"_"_"..,_,,_,,_'"~ ··--·--·..1----·-~-·-•~w••" ___.,___._'"

. eia!.. Como vêreméís ao examinar os trabalhos posteÇfü;es da Escola d;;­ .J.11."ior, porép:l a anális~~ási~lllll1~~-se tornou realmente.lib.ex.al_ill!_p.\J.i·
Frankfurt, especialmente em relação às análises da sociedade norte-ame­ ralista em seus pressupostcis. Contudo, falar dos desdobramentos do após­
ricana, ~ação, no qu:}{ai:_<:_u,se viria a popularizar como a socieda­
~ - - ..
guerra neste momento sena antecipar a nossa narrativa. Isso só poderá ser
de "unidimensional'; parecia existir sem a orientação consciente.42§._clg::_ feito depois de discutirmos, nos próximos caj:>ítulos, como o Institut con­
minadores, fosse~ econômicos ou políticos. Ela parecia mais sinistra centrou sua atenção nos Estados Unidos.
emvulneráveCA.s possibilidadesde uma aç!o efetiv~ara rep1::1_cliá-la t~
____________________
""_,
navam-se aincf,1m-ais reill'Õtas: ....... ····-- ­ Antes de passarmos à análise que o Institut fez da sociedade norte-ame­
Em resumo, pode-se dizer que o Institut_<:.tl1_1l!:<:.g()1l.ili'-ª2--ªbor4ª!;rn"' ricana, precisamos atualizar sua história durante a guerra. Com a expan­
gerais em sua análise do nazismo, Uma, _as_s_qciaçli1J!.N~J1m&!l!l>. Gurlanc.l__ ~~?._Poder fascist<l:..11ª Ell_f()P-"-"--~ a entrada dos Estados·u;;;dos
e .K:frê!íhêimer;concenfiQ'~:i~n:as.mudanças.haid,dasnªs..insJ:.i.t!liçõe~j!!::.. na guerra, houve uma reorganização geral .da estrutu;:;;-i;;;titucÍon~ld"õ
rídicas, políticas e ec;~ôrnic_'ls, olhando só de passagem a psicologia so­ Tilsti!\ii~e~•mãi:eava!l~çãõ de-selisüb!_e!i~~s~ filian;a;;ç~;;; ú;lico p·ó;iü ·x
·cía:foü a é;_;ji,i;;,: deumã:"s;a. Seus pressupostos fundamentais eram çs de avançado da Escola.de Frá.iílàüri remanescente na Europa quando da eclo­
um marxismo mais ortodo'.CQ,~"li.<i..::"d.e.sti!.9tvaa ~rttralidade do capitafu­ são do conflito, foi fechada com a ocupação de Paris, em 1940. Dura.ntea
-mo ri:ionopofiSfa",-é"iiibora com um refinamento considerável. ~ ~~ada de 1930, o escritório ~e-~<l:f_i2_for~não__apenas Ull)~Çã~ ~~lll -~
grande.abordag-;;m, ~ada j:>el()__g~':ll'..º .el!J torno de Horkhcil)ler, id!L'L ..C~it()ra dos textos clo_I_n_st_itt1t<:_l1l11.ªf()g!~_clf_çlados para os Studien über
nazismo como o e.JC_emp~e_](!f~ino de uma tendência geral para a <!_o.!!1i.::._ Autoritéit und Familif, ma~ .t.a111]:)é111um elo de ligação com a comunidade
-ii;<lS:.i!Qjrracronaln_o.üciden.te. Embora concordasse que isso havia ocorri­ }C_ag~rpica e cult_ural francesa. Walter Benjamin não era."OÓnicôCõlabora ·
..do como um subproduto do capitalismo avançado,~ não considerava dor do Zeitschrift a residir em Paris. Outros textos foram escritos por
a subestrutura econômica como o locus crucial do todo social. Prestav~ Celestin Bouglé, Raymond Aron, Alexandre Koyré, Jeanne Duprat, Paul

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 5 ·A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

Honigsheim, Maxime Leroy, Bernard Groethuysen e A. Demangeon. Em Europa. Alguns associados do Institut - Karl Landauer, Andries Stern­
1938, Bouglé foi um de dois ilustres estudiosos europeus a fazer uma sé­ heim e, com destaque ainda maior, Walter Benjamin - resistiram aos
rie de palestras públicas no ramo nova-iorquino do Institui (o outro foi apelos de que emigrassem até ser tarde demais. Em muitos outros casos,
Morris Ginsberg). porém, a fuga foi bem-sucedida. Por ocasião da guerra, entre os novos
. Mas o elo fora rompido. Além disso, a Libr:airief'e.llx.6L~~() pQgS'_, "pesquisadores associados" do Institui, que muitas vezes tinham apenas
. mais continuar apublícar o Zeitschrifí. 6 iii~titut res9lyt'.ll_J?.u2li.cacl}.QL uma ligação periférica com ele, incluíam-se Karl Wilhelm Kapp (econo­
Estados Unidos a tercel~a partedo.yÓJÜm~-de!939~que saiu no verão de mia),!. Graebner (anti-semitismo), Fritz Karsen (educação),u 4 Olga Lang
· 1940. Isso exigiu que o Institui S"1J?erasse Sl!lLmá_xontade..para_5'fü:.rçyer (sinologia), Wilhelm Mackauer (história), Alois Schardt (arte), Joseph
_errririglêS: ÇP:mo ;;;{plicou H;~khei~~;;~~-;ebatizados Studíes in Phil<liQ~- Soudek (economia), Edgar Zilsel (sociologia), Paul Lazarsfeld (sociologia),
i>!lY-Jlilii.ªocíal S~í",;~c~; ........ ·--·----------------~-
__ ., ____ --··--..----···--· Maximilian Beck (filosofia), Kurt Pinthus (literatura) e Hans Fried (socio­
,. A_f1_!~s9_fl'.:•__ª arte _e a ciência perderam sua pátria na m-ªiQr parte da Europa. logia). Muitos deles, além de outros que recebiam verbas do Institut, como
Hoje, a Ingliiterrâ.Tuia·desesperadamente.éontr~·;;-dominação dos Estaoos Joseph Maier, o marido de Alice Maier, não mais puderam ser mantidos
totalitários. A, América, especialmente os Estados Unidos,. é o..úni€0.conti· pelo orçamento reduzido da organização.
nente em qlle _é-_P~~Si~el_ ~ãfCó~tinuidade à v~cla cie_ntífica. No arcabouço
O mesmo problema existiu entre os membros mais graduados da equi­
das insiitu!Ções democráticas deste país, a cuÍtura.ainda gozaA'! liberdade
sem a qual, acreditamos, é incapaz de e:Xistir. Ao -publiéar ·n:õs~a revista em pe. Em 1939, como ximos, Fromm foi cuidar de sua clínica particular,
sua nova forma, desejamos expressar essa convicção. 112 Gumperz dedicou-se a suas atividades de corretor de valores e Wittfogel
encontrou novas fontes de renda. Adorno foi contratado em regime de
J3.ntt:.etanto,_J2.Yblicar na América era mais caro do que tinha sido !}a
----~--~·--·~----~ ­ meio expedi~~tep~ío l'~~j~io<le PesquisasR-;,<liofônicas de Lizâf8íe)4, em
Ewopa,.e.osrecursos do Institui já não eram os mesmos. No fim da déca­
·rrinceton:e d~poi;peíãcôló;il}bj~, qué também.foiuma font~de pesqui­
da de 1930, sua re;~r~; <l~-cãpitãTilãVi~·;;;'[;i<l~-;:;;;ezes de certa gravidade.
sas e de apoio a Lówenthal. A _'1§.§.e§§()_riaprestada ao g()verno foi 1l!Il modo
Alguns investimentos malsucedidos no mercado em baixa, uma transação
imobiliária desastrosa no norte do estado de Nova York e a distribuição de complementar a renda, -;;o mesmo te~po.faze~do um trabalho útil.
de recursos consideráveis a outros refugiados da equipe aumentada do Nenmann foió ·primeiro a ir para Washington a fim de auxiliar no esfor­
Institui, tudo isso limitou as opções financeiras. Assim, em 1941, quando ç;-J;: g~1e~~a. EITI 1942, ligou-se à Diretoriª de <:il!erraEconô!Ilica co.mo
ele trouxe para os Estados Unidos o que restara de seu capital na Suíça seupri11cir.al~onsultor e, em. seguida, ao Escritório de Ser~iço~ Éstratégi ·
e na Holanda, onde era administrado pela Fundação Memorial Kurt Ger­ êos [ OSS] ,C:Q!Il(). vicec4ir!".tor da.seção da.Europa Central da Divisão de
lach, pela Fundação Memorial Hermann Weil e pela Associação de Estu­ Pesquisas e Análise. A saída de Neumann do Institnt, que se revelou per­
dos Sociais, 113 o valor transferido não foi suficiente para permitir a conti­ manente, foi apressada por divergências pessoais e teóricas entre integran­
nuação de todos os programas da organização..Uma da§ptil:11_eiras vítimas tes mais antigos do Institut, 115 tal como acontecera com outros, a exemplo
, f9rnm.2s_§tuifirs. ín lj'hilosophy and Social Science, i11ici,ilme~t~trã·rí§~ de Fromm e Wittfogel. Horkheimer ficou insatisfeito com a forma sumá·
.. mados el).l uma publicaçãg anual. ~Ç9..dii.J.9A2, com a terceira edi­ _da como as teses de Pollo~k foram tratadas em Behemoth.Além disso, pa­
ção do volume IX (oficialmente lançado em 1941),_;u~yista.f9l.suspensa rece ter havido uma rivalidade entre eles no tocante à escolha de um pro­
pelo resto da guerra:__Nl!J)..ca.'lQltati~are_<:~EBª forma original, com isso fessor, entre os membros do Institut, para lecionar na Colúmbia. As figuras
pondo fim a um periódico de distinção e realizações notáveis. Olhando mais antigas, do período de Frankfurt, afligiram-se com a perspectiva de .
para trás, pode-se dizer que o breve decênio de sua existência foi a verda­ que Neumariri, com suas opiniões divergentes, viesse a representaro !n.s.·..
deira Blütezeit [florescência] do Institut, seu período de maior criatividade. titut no corpo docente regular da universidade. Com efeito, depois da
Os problemas financeiros da organização também exigiram uma re­ ·guerra, o cargo foi oferecido a Neumann, que o aceitou. Já então, o Institui
dução da equipe, que fora inchada pelo afluxo de novos refugiados da havia decidido romper os vínculos com a Colúmbia.

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··"
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 5 •A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

Outros membros. do Institut passaram uma parte considerável de seu outubro de 1943,_~qu_e_o Institut pôde dedicarsuas energias coletivas a
tempo em Washington durante a guerra. Kirchheimer_tarnbém se ligou ao um "prójéto grande e dispendioso. A série resultante, S,tudies in Prefudice
oss, assim como Marcuse, depois de conêluir Ra~ao e ;;~oluÇáo, suii. Ülti­ -[Estudos sobre o preconceito], será objeto do capítulo 7. ·
. ma publicação extensa em mais c:Ie ci~z-~ÊQ.s~Nü-oss; elesintegraram u~-;
Houve um caso em que a recuperação financeira do Institutfüe per:
· no!ávttlc()munidacl~JkJ.ntelectgais, entre os quãis li.av!ãesfüdfosos llus:- ·
mi'iiu reverter a tendência para a redução da equipe. Paul Massing, que
'úes, como H~jo Holborn, Norman O. Brown, Carl Schorske, H. Stuart
-passara a integrá-lo como pesquisador associado em 1941, tornou-se um
Hughes, Leonard Krieger, Crane Brinton e Franklin Ford. Marcuse fez bre­ de seus colaboradores mais importantes nos anos seguintes. Mas não era
. ves trabalhos para o Serviço de Informações de G~erra [Ówl]*-ªnt~s_;i;
um completo novato nos assuntos do Institut, pois havia iniciado sua tese
se ligar ao OSS. Q__QwJtambém foi o foco d() trabalho governamental de
sob a orientação de Grünberg em 1927. ' 19 Em um aspecto, porém, Massing
.-.Lõwenthal depois de 19!13. Embora continnasse a passar parted~t~p;­ foi um acréscimo singular. Ao contrário da maioria dos outros persona­
no escritório nova-iorquino do Institut, ele trabalhou por um período gens importantes da história do Institut, ele era de origem gentia (mais
como chefe de seção no OWI. Pollock foi consultor ocasional da divisão tarde, considerou que isso impedira que fosse plenamente aceito pelo cír­
antitruste do Ministério da Jmtlça e da Pk~t<l~iª<l~-G11errªIlciil<'imic~~ culo interno). Na década de 1920, Massing fora amigo íntimo de Karl
· Quanto a Gurland, apesar de perm~n·e~er predominantemente em Nova Wittfogel, por razões pessoais e políticas. Como Wittfogel, ele tinha sido
York, encontrou tempo para colaborar com Kirchheimer e Neumann em um dos vários membros do Partido Comunista associados ao !nstitut an­
um estudo intitulado O destino das pequenas empresas na Alemanha na­ tes da emigração. Ingressara no partido em 1927. Assim como seu amigo
zista, 116 preparado para uma subcomissão especial do senado, chefiada por mais velho - Massing nascera em um pequeno vilarejo próximo de
Claude Pepper. Koblenz em 1902, seis anos depois de Wittfogel - , quando Hitler assu­
Apesar da redução do orç<irt1ento_<i0In_sti!l1te.cl<idisp~rsãoparcial ga_ miu o poder ele foi aprisionado em um campo de concentração por cau­
equipe, o esforço para da~~QMinuidade ao trabalho científico não esmo~ sa de suas opiniões políticas. Ambos foram libertados mais ou menos na
· receu. Mas, pela primeira vez, houve necessidade de verbas complemen.ta= mesma época e deixaram a Alemanha em 1934. Escreveram sobre suas
.res para viabilizar os projetos. Estas nem sempre foram concedidas. Em experiências no campo de concentração em romances publicados sob
·fevereiro de 1941, divulgou-se um prospecto denominado "Aspectos cul­ pseudônimos: o de Wittfogel, escrito sob o nome de Klaus Hinrichs, cha­
turais do nacional-socialismo", 117 sob a orientação conjunta de Hork­ mou-se Staatliches Konzentrationslager VII; o de Massing intitulou-se
heimer e Eugene N. Anderson, da American University, em Washington. Schutzhaftling 880 e foi publicado sob o nome de Karl Billinger, capricho­
Eram as seguintes as responsabilidades previstas para cada seção: Pollock samente escolhido para combinar John Dillinger, o grande criminoso, com
deveria estudar a burocracia; Lõwenthal, a literatura e a cultura de massa; Richard Billinger, um poeta alemão encarcerado pelos nazistasYº Acom­
Horkheimer, o anticristianismo; Neumann, a penetração da ideologia no panhado por uma introdução pró-soviética, escrita por Lincoln Steffens,
proletariado e na nova classe média; Marcuse, a guerra e a geração do o romance de Massing foi traduzido como Fatherland [Pátria] em 1935.
após-guerra; e Adorno, arte e música. Grossmann foi descrito como "con­ Sua publicação em inglês custou ao autor um preço alto, retardando sua
sultor de história econômica, estatística e economia para todas as seções naturalização até o fim da década de 1940.
em que tais problemas possam ocorrer''. 118 Mas o projeto não pôde ser ini­ Outro paralelo entre os dois foi o desencanto crescente com o comu­
ciado, por falta de uma fundação que o co-patrocinasse. Também não nismo. Wittfogel desligara-se do partido, como membro pagante de con­
houve dinheiro para continuar os Studies in Philosophy and Social Science tribuições, ao trocar o continente europeu pela Inglaterra em 1934, oito
sob a forma de anuário. Nª verdade, some1lte f()lILQAp()i() da Comissão_ meses antes de emigrar para os Estados Unidos. Seu rompimento defini­
Judaica Norte-Americana e da Comissão Judaica do Trabalho, obtido em. tivo com o passado comunista, entretanto, só veio no verão de 1939, após
suas experiências na China em meados da década de 1930. 121 A apostasia
*Sigla de Office ofWar Information. [N.T.] de Massing foi consideravelmente mais dramática. Apesar de ter feito uma

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 5 •A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT

rápida viagem aos Estados Unidos depois de ser libertado do campo de encerrada. Na verdade, os textos que escreveu na década de 1940 mostra­
concentração, ele e a mulher, Hede, regressaram à Europa a fim de traba­ ram pouca influência do marxismo, que ele havia adotado tão ativamente
lhar para 0 partido. Em 1937, foi chamado a Moscou para discutir ques­ em épocas anteriores. Nesse aspecto, ele espelhou o retraimento gradual
tões com os superiores. Na ocasião, os julgamentos dos expurgos encon­ do Institut de uma postura agressivamente marxista, cujos efeitos abor­
travam-se em pleno auge e, como muitos outros, Massing estava ficando damos em parte neste capítulo. Durante a guerra e nos anos imediatamen­
desencantado com as práticas stalinistas. Mesmo desestimulado pela mu­ te posteriores, vá.rios fatores contribuíram para essa mudança na atitude
lher, resolveu ir à União Soviética, segundo recordou, movido por um. sen­ da Escola de Frankfurt para com o marxismo. Eles se evidenciarão em
timento de honra, a fim de anunciar seu rompimento com o comumsmo. nossas discussões posteriores de seu trabalho na década de 1940.
O que se iniciara como uma visita de duas semanas terminou como um A evolução da saúde de Horkheimer talvez tenha produzido a mudan­
122
pesadelo de oito meses, sem nenhuma garantia de sobrevivência. .Por ça mais importante na história do Institut durante a guerra. Em decorrên­
fim, em 1938, Massing obteve permissão para deixar Moscou e o partido, cia de um ligeiro problema cardíaco, os médicos recomendaram que ele
mas seu envolvimento com o comunismo nunca terminou completamen­ trocasse Nova York por um clima mais temperado. Como resultado, Hork­
te. Ao regressar, iniciou uma comparação da política externa de Hitler com heimer, acompanhado por Adorno, que o seguiu basicamente por lealdade
as intenções anunciadas em Mein Kampf, na esperança de produzir um pessoal,1 24 mudou-se para Pacific Palisades, perto de Santa Mónica, na Ca­
livro comercializável. Hitler não é bobo, título final do livro, foi publicado lifórnia, no começo de 1941. Sem o estímulo pessoal de Horkheimer, o es­
em 1940 pela editora Modem Age, na época secretamente controlada por critório nova-iorquino do Jnstitut perdeu parte de sua vitalidade. Lõ­
editores comunistas. A afirmação de "Karl Billinger" de que a guerra no wenthal e Pollock permaneceram na direção, e Marcuse, Kirchheimer,
Ocidente era uma simples preliminar para um impulso em direção ao Les­ Gurland, Massing e Felix Weil continuaram a trabalhar lá. Ainda assim, o
te contrariou a nova orientação partidária, que então seguia o pacto nazi­ volume das pesquisas, pelas razões mencionadas, sofreu um dedínio geral
soviético. Em conseqüência disso, o livro foi suspenso pela própria edito­ durante a guerra. Em junho de 1944, o prédio da Rua 117 foi entregue à
ra e os exemplares já impressos foram recuperados sempre que isso se Marinha norte-americana para cursos de treinamento, e o Institut se mu­
revelou possível. dou para instalações mais modestas, na Biblioteca Memorial Low* e em
A perda do livro de Massing encontrou um paralelo na perda de sua outro edifício em Morningside Heights. Ficou claro que o período do
amizade com Wittfogel, embora por razões inversas. Como já foi assina­ Institut na Universidade Colúmbia estava chegando ao fim quando, em
lado, Wittfogel começara a pender para a direita depois de regressar da 1944, ele distribuiu uma apresentação de suas realizações, intitulada "Dez
China. Sua terceira esposa, Esther Goldfrank, era conservadora e parece anos em Morningside Heights''. 125
ter influenciado a intensidade da mudança ocorrida no marido. Além de Ao se mudarem para a Califórnia, no oeste, Horkheimer e Adorno con­
abandonar o partido, Wittfogel começou a desconfiar de qualquer um que firmaram simbolicamente o maior distanciamento entre o lnstitute suas
já houvesse mantido algum tipo de ligação com ele. Massing induía-:e origens européias. Em fevereiro de 1940, enquanto ainda estavam em Nova
nessa categoria, e suas relações com Wittfogel sofreram uma detenoraçao Yo~k, Horkheimer, PoHock, Marcuse e Lõwen.thal haviam solicitado docu­
progressiva. O rompimento veio em 1948, segundo recordou Massing, por _ihentos de naturalização ..No fim da guerra, quase todos os !llembros do
sua recusa de respaldar sem reservas as alegações de Ruth Fischer em seu Institut tinham-se tornado cidadãos norte-americanos. O fim do Zeit­
livro Alemanha stalinista. Segundo o relato de Wittfogel, o rompimento schrift significou, para a instituição, a aproximação com um novo público
entre os dois teve razões mais pessoais. 123 O que fica dara é que Massing, de língua inglesa. A partir de Punição e estrutura socig), em 1939, todos os
que já não era membro do partido, mas não se dispunha a compartilhar~ t;aba!hos da Escóla de Fra~kfurt foram publicados na língu~ a<ioÜva. Na
anticomunismo raivoso de Wittfogel, havia chegado a uma postura poh­
tica não muito diferente da dos líderes do Institut. Em 1941, quando se *Centro administrativo da Universidade Colúmbia, construído em 1895 pelo então reitor
juntou às fileiras da instituição, sua carreira política estava daramente Seth Low, em memória de seu pai, Abiel Abbot Low. [N.T.]

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

década de 1940, os Estudos sobre o preconceito retornaram o assunto no


ponto em que os Studien über AutorÜiiLund famiH_i-g hayiarg_J;ldxado:~
-_mas o foco passou a incidir nas forrna_s_!l()Lt~arnfricanas de autmj_taris_Ill(),_
Com a mudança da temática veio urna alteração sutil no centro do tra­
balho do Institut. Nos Estados Unidos, o autoritarismo aparecia sob dis­ CAPÍTULO 6
farces diferentes dÓs âe seus equiyak11teseurop~11_s, El11 vez do terrorismo
ou da coação, tinham-se desenvolvido formas mais delicadas de imposi­ TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA
ção do conformismo. Talvez a mais eficaz estivesse no campo cultural. As~
sim, a cultura de massa norte-americana passou a ser umdosJ!lt(ef_esses
centrais da Escola de Frankfurt na décad:a de-1946. Para co;;;preend~;-õ
Não há documento da civilização que não seja, ao mesmo
tempo, um documento da barbárie.
-- seu trabalho, devemos agora retornar à nossa disc~ssão, muito adiada, das - Walter Benjamin
análises de fenômenos culturais realizadas pelo lnstitut. Já abordamos a
contribuição de Lõwenthal para essas análises. No próximo capítulo, exa­ Não é que o mascar chicletes solape a metafísica, mas sim
que ele é metafísico - é isso que precisa ficar claro.
minaremos a obra extensa e penetrante de Adorno e Benjamin no con­ - Max Horkheimer
texto do tratamento dado pelo lnstitut ao que Horkheirner chamou de
'(cultura afirmativa". 126 A cultura de massa é a psicanálise às avessas.
- Leo Lõwenthal

Tradicionalmente, a crítica estética marxista, como afirmou George


~u<liiascorreiiTés]Istirifas. A,ptfuiéífa,deriv3_c!_ª-.Pfincipal:
m_ente dos escritos de Lênl~ e_sQ_difü;a_dapor-ZhdanovnQIS::ongi:_e_s_§.Qge
Êsc;ftü~es Soviéticos,em Í934, só viar;néritonas obi:as_qu_ee_xihim11 um_
-l!ancÓpartidarismo político. A exigência de Lênin de uma Tendenzliteratur
-Tiite;~tura partidárià], ~on~ebida no combate ao formalismo estético, mais
ou menos na virada do século XX, acabara culminando na ortodoxia esté­
ril do realismo socialista stalinista. A segunda corrente, que Steiner, entre
outros, considerava mais fecunda, y~gulã-a odent<JÇii:o de. E11geJs, que__Y!!_c _
__lorizava a arte menos pelas intenções políticas de seu criado_r_~()_q\leP.C>r_
sua importância social intrínseca.Q_5()11t;:ú_d_C>social objetivo de uma obra,
-afirmava Engels, podia ser contrário aos desejos-confessosd-CÍ-ar-Ú~taéex~
·p-ressar mais do que suas origens de cl<l.sse. Essa segundaabotdag~;-;;-füi
'adotada pelos críticos do bloco não-soviético que Michel Crouzet chamou
de paramarxistas. Entre os mais destacados estiveram, em momentos va­
riáveis de suas carreiras, Jean-Paul Sartre e Lucien Goldmann, na França,
Edmund Wilson e Sidney Finkelstein, nos Estados Unidos, e integrantes
da Escola de Frankfurt na Alemanha.
lara Steiner, assim como_ para outrc>s çpmentaristas, Gyõrgy_L'-1)ç~qi:e:
~
presenta um caso complexo, com características- --
que----- o situam nos do_j_s_
~·----------~-------------

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRfTICA À CULTURA DE MASSA

campos. Certamente o crítico mais talentoso a permanecer na órbita so­ a admitir Benjamin, por exemplo. 6 Como também reconheceu Adorno
'-v!éiíca,-Lukács procurou encurtar a distância entreJlS_µosições de Têmn-e... num texto muito posterior sobre Lukács, de tom geralmente crítico, esse
r-----~--- ~----~-~--------------·­
de Engels. Aoaesenvolver a já famosa dicotomia de Engels entre realismo
fora o primeiro estudo a enfocar o problema crucial da reificação, chave
-e nat~~aiis;,,O - -:_O prim\:ifQ exernplifiÇa.clQ_ll_<li~rai~Kqpeare~
de uma análise marxista ou neomarxista da cultura. 7 Além disso, a Esco­
ª
_Goethe e Balzac,_recQncilia11d0 Q mup._dQ.Qh}eti.'lOl'__ iwig!_~.Ç-~j~­
la de Fran_k_fl!r__l, como outros paramarxistas, compartilhava a di;!inçã-;;
. va, o segundo predof!l:iJ1ªl1terne_11!e_i~u_st!<ido p;:IQs _e~çi,:it()s_de ,3'.()1;12 q~
-<céiigefs!iina" entre reajismo e I1ªtl1ra!ismo,.queTUkics:.tánto..fez=p~.dec.
refletem mecanicamente o ambiente fenomênico não assimilado do artista
senvolver, embora ela tendesse a concordar !Il<li~ <:_Oma çl_efülJ_ç_ã_QqJ,!e.fk.
-==;-LUI<ác_s_vüitõ-ú~;~i;~ii~ ,,;;n., iiiiP'ºrtan~iliS.tin.çaõ.:.lli'.gligrnruiiliúi~üil 'déra ao segundo do que ao primeir9,8 Quaisquer que tenham sido as
zhdaripyi§1as ortodoxos. Apesar de sua simpatia pelos oprimidos, afirmou -discordâncias que os separaram e1n anos posteriores - foram sérias - ,
-L~kács, ZohL~r~~~~ti;ticamente inferior ao r~alista Balzac, cuj_a imi!,g!.11ª-:., o Jnstitut e Lukács abordaram questões similares a partir de uma tradição
. --· .............. -.... .. ----- .. ----·-·--·----·-""--··-- ....... ..

ção artísti;a lhe periri.itfrã ~etratar-ci,;:fo~~-;; 111aisfl~L'!.!9Jaliçl_askhi.:>t:.ó.r\:._


~-·--·-··~----·,,-----·-----·-·----
-- - " --·-·-·----~--.-"""'"·--··----

comum.
ca. Considerações similaresTe~~~~;;; ao inesperado elogio de Lukács, em O objetivo deste capítulo é <lPJ:l:§~t<lLO§._e!_ementQ!>SJUeJQtllª-Dl!ILll-cri;
'ó romance histórico, à obra de Sir Walter Scott. 2 tica estética da Escola de Frankfurt diferente da
---·---·~----~-------·--
de ;eus concorrentes bur­
--·-----------------·-··.,
No entanto, Lukács, o homem q~~diou_~__ELÓJ2.fia História e gu~~-t_rnc;!iúm:iais.edaquela.dos.maIKifil-ª.s.QrtoJ:!QJ<:QS. Prestaremos espe­
con~ciência de ~i~~~~-po~ -z,;;;:;;a-das ~~íticasf~~ta_s_p~lª'hi."!<lrq~lia do pàrti­ "cial atenção às contribuições de Adorno e Benjamin, olhando de relance
do, nunca se libertou verdadeframenteda ca_misa:cl.EO~farç<1[e_n!Ii}§i:a-:-tSsü para Horkheimer, Marcuse e Lõwenthal, cujas análises da cultura de mas­
se evidenciou de várias maneiras. _Uma das rriais conhecida§ foi_ a hos!fü­ sa também serão consideradas. O capítulo termina com um exame de
dade, praticamente inflexível, a qualquer tipo de moderni_sg1g artí_s_ticç.3 como o Institut integrou sua crítica da arte à análise mais geral da socie­
· i,ukács meriosprezoli escritores côm\lI'ioust,.lo:ycee-Kafka, .pQr.s.e.u.pre­ dade moderna.
t~;:;so formalismo e sÚbjetividade. Asso_ciou gran~e pªrte _cl"._a_rte_cl()s~çl_l;: ,Desde o começo, a g_era_çãgpQ.!b__G r.ünberg.demembros__do.Tnstitut ti­
- lo XX ao suposto irracionalismo dos escritos de Dostoiévski, Nietzsche e nha-se
,__ interessadÕpÔr -- -
fenômenos
- ·-
estéticos
- - . - "
e culturais.··---Hans Cornelius a
·--·- ·-- ··-· --
" "" " """"-" )

· Kierkegaard. 4 Paralelamente a essa atitude, havi<111ma prediles_iío basta~. p-rTii'CipáTinflüênéia acadêmica em diversas figuras do Institut, fora um
conservadora pelas obras-primas da cultura burguesa e_urn_a_clefer:ê11_cj_<J, artista manqué [frustrado] e escrevera longamente sobre a filosofia da
que estava longe de ser crítica, aos produtos do realismo socialist~. Este arte. 9 As incursões de Horkheimer na ficção, que prosseguiram até a dé­
último aspecto de seu trabalho talvez se devesse a umá-aprec{ação dema­ cada de 1940, 10 já foram mencionadas, assim como os interesses musicais
siadamente otimista da conciliação das contradições já alcançada nos paí­ mais substanciais de Adorno. O estudo de AdornQ.sobre Kierkegaard, no
ses socialistas.' Outra man.ife_s!ação de sua adesão aos padrõesleninistas qual a estética desempenhou iím papelceíítrâGambém foi citado, assim
transpareceu em sua rel~tivaindife-;.~çá aos ef~i_t.ôs_]'iilri_@Çõ.eÚ~~ como a crítica estética e teatral de WittfogeL Por último, já atentamos para
· lógicas na arte;oconfl_itQ de clªsses corrtil11.rouaser ()(inico motor da his- -· os numerosos ensaios de Lõwenthal no Zeitschrift sobre temas literários.
tória subjacente à sua crítiç.Çt. Apesar do discernimento contido no vasfô" O que resta fazer é uma _ exposição mais completa dos outros compo­
corpo da ob;a crítica de Lukács, seu compromisso com a autoridade polí­ nentes da extensa análise que o Institut fez detçmas c11lturais,_em parti--·
tica e sua insensibilidade quase temperamental à arte modernista impedi­ --cular o trabalho de Adorno e Benjarpin. As dificuldades dessa tarefa são
ram que ele atingisse o tipo de flexibilidade crítica que os paramarxistas glgãntescalCOímpulsôantí:si~tetr1ático da teoria crítica estendeu-se à cri­
ocidentais, como os ligados à Escola de Frankfurt, conseguiram alcançar. .tica, culturalque ela f()01e_11J9u. o reslllt~cÍo 1;.~~~f~~;:;;a-os--resú'rilos~;:;; i:;-;:;;
Cop.yé_rp_r!'.>'.ol1hec~_gE-ª.llde_Jl_~te___c:l_()~e os paramarxistas__~~­ projeto difícil, se não impossível. Além disso, a forma como essa çxítica
. . . .
cre~,;am não teria sido o que foi sem_E"1:!.Cl_St_eJC_t_~__ de Luká~s. História e
~--------------- ... _,_,.,,..,.,
'

~urgm fo1uma parte essencial de seu efeito tot~I. A textura singular de um


·consciê~cia de cldsse, independenternel1te do que seu autor possa ter pen­ ensaio de Adorno ou Benjamin, assim como a complexidade deliberada
sado dele mais tarde, foi um livro seminal para esses críticos, como viria de sua prosa, desafiam a tradução, 11 para não falar na redução a seus pon­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO D!Al~TICA CAPfTULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRITICA À CULTURA DE MASSA

tos fundamentais. Sua forma de raciocínio raramente era in_duti.Y..a_ou_de~ recentes disputas sobre a autenticidade de alguns de seus textos e da dis­
dutiva, num reflexo'd~suainsi;lênci;;;mque cada frase devia ser mediada tância que ele sempre manteve da teoria crítica, torna especialmente difí­
j)eià-tot-ali<lã<le~cl()en_sãi();_a .ffüPifsér .cürnir:~iciici;~;~~~· f,1~;i!~~~ cil uma avaliação de sua contribuição para o trabalho do Institui.
Aleitura de um texto de Adorno ou Benjamin faz pensar num comentá::---­ Mesmo assim, tendo em mente essas ressalvas, é possível discernir os
rio que o cineasta Jean-Luc Godard teria feito, em certa ocasião, quando _s>E.t()[l}Qsger.aisd_ª.."?~i:_d~~".!11.~ª-"s.!é!ica pe!_a E.sccla·d.e}ii:~!lkfurhfQ~­
lhe perguntaram se seus filmes tinham começo, meio e fim. "Sim'', respon­ partilhada por Adornoe, >i.té_c5Jl()Jl<)tl!()d'Qt".!lep.j~mill. Se, corno vimos,
deu, "mas não necessariamente nessa ordem:' .QJ:>rincí.Ri_Q_que Ad.QlJl..Q..__ '2 j~stit.ut_se.rernsou a fetichizar a economia ou a polític~.ele_tª1111;iém.re,
atribuí.a a22.§iJ!lPQ.\i$til.S1l_mbé!l1Qe!l'<lsso11.().!E~ho_c!tie~.."PesafiarJL,. ~utou_eJU.-tratar.a..cultura_corno_Qm campo à.parte na sociedade. Vez por
"so~Í~dade inclui desafiar sua linguagern.~ 12 Assim0~difirnldàdes-resultay­ outra, isso pareceu significar uma análise da arte que quase a reduziu a
. tes para o leitor médio foram menos produto do capricho ºt!-4i.lª1ta_<k_ um refl'exo das tendências soÇfais;·comÕ quari.do o In;titut, em uma d~
-suas hlstÓrias oficiais, escreveu: "Interpretamos [a arte] colllo uma ~spé:
<0- - - • " - ---~---- .,-~·---·-----~~-----·-------~~--------­
-•-,_w,-• ____ .,,.--,'"-- •

•fluência cl() q11el!m de.>.aflO..dir.e.to a gueg kito.r responde.s~e con:_umas.e­


. riedade à altura. O_próprio Adoi;no indicou seu propósito, indiretamente, de de linguagem codificada de pro2l.,s5Õs que Õcorrem.ÍÍa so~iedade: a ser
ao escrever, a respeito d;l míisic.a. çje ~~.h?.11]:,e.rg: '.'Ela re.<J.l!§L®Ç_o_oJJY.inte_ ~de~ifracla por melo de uma au~~fi.se~~rÍtlea.," 20 Aillila que, em geral, fosse
· cómponha··~spontarn~amente seu moviment9jpte_r110 e exige dele não a -menos-direto, o Institut certamente se situou no pólo oposto ao da tradi­
simpl~s co~ternplação, mas .a pr<aj_s." 13 Outros artista~ como Kafka,1 4 cuja ção c\ªsQeis_tes~issen;Cliã]t~11-[êiências Jã. cultura] da-Ã!e~aÍÍha, qu-;,te;=
· obra Adorno enaltecia particularmente, parecem ter sido norteados pela
~;fi;;m a tratar a históri; Íntelectual dentro deum vªÚQ sQçj;1.J. Os mern­
<bfos do lnstitut nunca se cansaram de. atacar. a oposição entre a cultura~
mesma consideração.
wmo-·eifeiã§~l!P~~io7ciàs rea1riàções 11üillàD.a:s,-e-àexistêiléia.m:a!~ri;;i,
.A preocupação de Benjami11 com a linguagem e. o estilo 11ão ."Eª me.­
~,;~;-;specto. inferior. da colldiÇãohürnãnã:1amanfíã.era-a·1n.te~~relaÇão
nor.Na ~e~dade, coino c~ita~ez sug~riu Adorno, 15. Benjami!l sg viaJ:Qrno.
.,~ÍÍt~~cultura e sociedade, que a primeira nunc; conseguiaJranscen<:\er pk:
o veículo para a expressão de tendêpçias culturais.objetiva~,.uma convic­
'namente as insuficiências da segunda. Assim, Adorno elogiou Spengler por
ção que tornava a forma de expressão particularmente crucial._.!lrrrn..daL
-ter demonstrado "o modo como a própria cultura, como forma e ordem,
.!I@Jif~t<tções_clisso joi sua. esJ;l.eLança de exck1i.LJ:le..s.ua..obra todos os ele.:
se acumplicia com a dominação cega''. 21 E Benjamin afirmou, sem rodeio,
.mento,; .st1.bjetiYQ>,.§K[e~ um ensaio. .<'9IJ}P.Jls_t.o...s..óJk.J.itaç~ ­ que "não há documento da civilização que não seja, ao mesmo tempo, um
tr:ls .fo_rtt;~. 16 Embora isso nunca tenha acont."~cl()2 _l3enj<1111in ..55'.J'sforç.Qll documento da barbárie". 22
.po; conferir às suaspalâvrãs'umariquez~-~ü11"1..~res~QJ1âl}fl'L<J1l~ialtavam Igualmente estranha ao pensamento do Institut era a avaliação dos fe­
. à prosa no~mal. EpossÍ~~(qÜe seuintei=:.;;;epelo.Talmude e a cabala o te­ nômenos-ar!TstTêos-~;mo-;:;;:e;:ãs-~xpressões de criatividade illdi~idud
nha levado à convicção de que existem níveis múltiplos de significação em ~Ifõ~kheime.r~como. eStã~~le;;:br~dos~ es~r~;;~;;-s':aHabilitation-;schrift
todas as frases. 17 _?e o estilo de Benjamin diferia do de outros m~os cio sobre a Crítica do juízo, de Kant. Quase duas décadas depois,voltou à.tese
. Institut~isso...;l.e.v.e~"se_ª_sua l;>usca da forma ~-~ressãõln;is collc~ kantiana ~~ qu.e.t()_~() at<l.e.st~1:iS_9.§Sl<JY<i impr~gnado de um compon~\e
. po§§.ív~. Como seu pensamento era rri_ais .a11<il~gic~que o deles, era me.::_ de humanidade comum, de esperança compartilhada no potencial da hu­
, nor sua pm.pensãQ..a.usar.o.jargão..fi1º.s.9.fi~().\rn.di.d.P.nal, que ele descarta­ ill.ãnidade~23 o··sú)eTiosí.ipra::ína!viillíaI;j)i)í-ém, nã-oera- abstratarnenté
va como uma linguagem de alcoviteiros.18 Ali.ás, J.3.l']}jªf11i_11,,ç__!i9~imer transcerniental, co~~·us~i:,ÍKànt,t; sim iiistóili9.24_Q:~l~i!<L~(í;~~~
...tIQgJ:anLCartas.em-que..s:!,!&diferentes apreciações do valor da linguagem em
$.rn, certo ;entido, social-e incii~iduaTJ5Q;:-;;5c,, as obras de arJe_gxpr~~­
,fi]osófica-vieram.JUQJ1ª· 1' Ne~~do~-dõis-cü;;:;;,;;;~~-;;~utr;;:;;;stiío savam tendências soéiais objetivas, não previstas por s~us criadores. Em
de Benjamin continuou mais próximo da prosa capaz de evocar a ij_tera­ certos aspectos, ~ s11p()~t~Jiberclade_qiad9ra clQ.. ªr!i~!<\~~@jfa~.§J:i~: "Tal
turaariístlca que.dalingua~_m.denotativ.a:cta..filosofia..te.órica. _Isso, além como a vida dos artistas'', escreveu Adorno em seu ensaio sobre Valéry e
do estado fragmentado de boa parte de sua obra tardia, bem como das Proust, "sua obra só parece 'livre' quando vista de fora. A obra não é refie­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA

xo da alma nem encarnação de uma Idéia platônica .. Jião é o Ser puro, mas carava as mudanças na aceitação daarte como um campo válido para sua
um'c_arnpo de forças' entre o ~ujeito e o.objeto." 25 -· -------­
investigaçã(í:--- - --- - ---·-·-· ···· · ·· - ­
. - - Assim, p_ara a Escola de Frankfurt, a lógica estética do expressionismo, ' Mas o que distinguiu a sociologia da arte adotada pela §_s__<:ola_4e FrlLnk­
particularmente popular na Alemanha de sua juventude, er_a falsa, em úI> furte seusprogenftõrernrxistãs-maisortodoxosJÓi _$_L@__r_e_C~!Sa de r_edu­
tima instância. Num artigo escrito sobre Kafka na década de 1940, Ador=­ ·z;;:·OS fenômenos cu!iurálSi-um-reflexo-ldeolÓgko de interesses de classe.
. no voltou a um argumento que havia usado antes, em sua crítica a Kierke~
J\fas palavras de A.domo, "a tarefa da críticallãü<levé ser
propriarne;-ite
'gaard: "A subjetividade absoluta é também desprovida de sujeito. [... ]
buscar os grupos de interesse particulares a que os fenômenos culturais
Quanto mais o eu do expressionismo é devolvido a simesmo, mais.se.to.~- devem ser atribuídos, mas decifrar as tendências sociais gerais que se ex­
.·na parecido com o mundo excluído das coisas. [... ] A ;~bj~ti~id~de pura,
pressam nesses fenômenos e por meio das quais se realizam os interesses
necessariamente alienada dela mesma, além..de ter-se tornado uma (()isâ
mais poderosos. A crítica cultural deve converter-se na avaliação da fisio­
. - . - .J
assume as dimensões de uma objetividade que se expressa porsl[a Pr<í­ nomia social:"º Uma das fontes de discordância entreAdorno e Benjamin
_pria alienação." 26 Eml:1ºr!!-1U'_spantaneid<L~iatividade subjetiva fosse foi a -~!ldê!JÔadest~~ftJtirno ;bllscar-correS!'Ondências- máis_ ~~p~cífJqÍs.
__ um C:ºl11RCl_lle_n_~_ll_~Àar.te_,'lll~ p;;diã~e pe_l_~ -;;;;!te grupos sociais e fenô-;;;e;:;os cuitl!rai;,3í -·

·objetivação. E ____ -a _objetivação


,. - -""-
significava,
____ .,_ .. _______
-.,_,_"_,_
inevitavelmente,_traballiãr:.Com
________ .. ______ ,, ________ '"·-------------­
"' ____ ._,__,
· A ênfase da teoria críticana dialética e na neg."_Ç_ão il!lpedi!L.Çllli'_á\!.a§

análises da_ a~t~set9;l!~s~;;; ;;;;;pie"i~xerçiçlQ~~cle cJ_e_ç_oç\ifica_ç_ãQA~r.~fo-


~

. materiais já filtradgs pel_a_matrizso_cial e](istente. I~~ignilicava_a.J"leç_es.:.


-~~E.'.<l:.~~ão. Em sua crítica a Aldous Huxley, Ado_i:_1_1Q_~_:: 'rências de classe, embora isso não estivesse totalmente ausente do traba­
creveu que "a humanidade inclui tant_o a reifi<:_a_cJí_o_ÇJ_JJi1c!l!:Q_§_e_µ_gp9sto, não --Thô do lnstitut. Não só a arte era expressão e reflexo de tendências sociais
_-apenas como õ estado âõ qual a libertação é possíyçJ,rna§_ta_lll~trD.~em existentes, como também - e foi nesse ponto ql!e Ó. insÜtnt divergÍÚ Il1âis
termos positivos, como a forma pela qual,pQLmªi§.Jr-ªl!;i.!_~_irracl_e<J.\!<l.Qª nitidamente da crítica leninista, assim como de Lukács -_a_ªrtg'1_11têntica
que seja, os impulsos subjetivos se realizam,rnas so!Il~I)_te_p()rS~_t:l'.!Il __9Q­ funcionava como a derradeira reserva de anseios human()_s_p_e)<t "Qµt~a;'
jetivados", 27 O uso adorniano de reificação como sinôriimo _deobjetivação, · sociedade, que. esfarla além -da ailiáL''A arfo"; escreve~; Horkheimer, "des­
nessa passagem, indica seu pessimismo acerca dacornpleta d~s-reif!cação -de que se tornou autônoma; preservou a utopia que evapÓ;ou ela reli­
da vida. Nesse ponto, evidencia-se particularm~nte a sua -ê~fase na não­ 'gião."32 ;'\idéiª__l<anliill:hl___do c~er: __ci~~interessaclo da.bdeza, portanto, es­
identidade, que já examinamos. Nas grandes obras de arte, seria p_ossív~_l _ -ia.Yª-St:r.fü;l_a:
'<: .
a verdadeira
., ' '
arte "era uma expressão do interess_e- - .........
- . ...
legítimo do
- .. -.,_,, __ ,, __ ,, __

nos aproximarmos da conciliação completa entre a imaginação _subjetiva _ home_ll:ll'~--s~1afe[icidade fl_ltura. A arte, para usar uma expressão de
e os materiais objetivos, mas sem jamais consegui-la plenamente. Por isso, ~Stendhal que o Institut gostava particularmente de citar, trazia "une pro­
mesmo ao analisar escritores como Valéry, Proust, George e Hoffman­ messe de bonheur" [uma promessa de felicidade]." P_o_rtanto, ÇJl1RQrn fal­
stahl,28 pelos quais sentia profundo respeito, Adorno optou por discuti­ sas em certo sentido, as reivindicações_Qils:.11lt.w:a,.de.transcender..a_socie:
los em pares dialéticos, a fim de transcender a insuficiência intrínseca das daae,er-,1mveroaCiefrase;;.;-üL1t;o: --··-··
realizações individuais. - Nem toda cultura era um embuste burguês, comoàs vezes pareciam
_Se a_c_riatividade artística era lirnita_d_<J__p2!.fatores sociais, o mesmo pensar Ósmarxistas vulgares:'' Ne;;;toda arte-érauma si!Tiples'í:'a\S?CQllS­
. ocorria com a aweciaçãQ_subj.etiv.a.d<L-ª-!:~:- ~.rai.dQ"gQ_stQ'_'.in_dj;_ .ciência ou uma ide 0l_ogi~_:Uma crítica dialética ou "imanente" d~ afi_i:­
. mou Adorno, "leva a sério o-i1rilléTpiooeque nâõETTúeología em si que

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yidJ!!ll, assinalaram Adorno e Lõwenthal com freqüência,2 9 tinha..sid0--mi­
E.a_Cia pela lig_':!i..d-ª-';ii_Q.gradativa do sujeito autônomo na sociedade moder­
Jlk.;'\S_~ic:"ç_Qes dS§.~~éiais para acompreensãodã
.ct1lt_l!ra de_massa, na qual a manipulação das preferências era quase com­
·-----~~ .. --·-~---- é mentirosa,mas sim a sua pretensão decôriespônder à reâffdâdí? 35Ãarte
podia oferecer uma "verdadeira" antevisão da sociedade do fytnro ;;;:;:,-~ua
· conciliação harmoniosa entre forma e conteúdo, função e expressão, ele­
pleta. Como vimos no capítulo 4, ao discutir o ensaio de Lõwenthal sobre mentos subjetivos e objetivos. Alguns artistas, como Beethoven ou Goethe,
o público de Dostoiévski na Alemanha de antes da guerra, _o Instit':'!_:~ eram capazes de atingir momentos dessa realização em suas obras, embo­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA

ra "a utopia da arte [transcendesse] toda obra individual". 36 Na verdade, no sobre Thorstein Veblen, publicado nos Studies in Philosophy and Social
de acordo com a desconfiança da teoria crítica em relação a qualguerre­ sdrnce ~~-00 J\jdéiiule.«co.nsurno .comJ;2irn.o",deVeblen,que pgc!er!a
presentàção-po~~Itiva dareconciliaÇã.ôde.êonfràd!Çõe_s,~sJiarmqniasq;; ser considerada parte integrar1tec!.e_g11algl1.e.r agfili.§LQa_>:JJ!tma de ma.>g,
. ela mais admirava se111precontinham o reconhecime11tq c!e que urna.Je::_ foiatac~d;por Ãdo~no p.;; ~ua superfiçiª)ic!iide a11tidiillétic,i!. ''A felicida­
·conciliação apenas estética era insuficiente: "A obra bem-sucedida, de acor­ de que o homem efetivamente encontra", escreveu, "não pode ser separa­
do com a crítica imanente, não é a qu~· resolve as contradições objetivas da do consumo conspícuo. Não há felicidade que não prometa realizar um
em uma harmonia espúria, mas a que expressa negativamente a idéia de desejo socialmente constituído, mas também não há nenhuma que não
harmonia, incorporando as contradições em sua pureza, de forma infle­ prometa algo qualitativamente diferente nessa realização:''° Dito de outra
xível, conforme sua estrutura mais íntima." 37 ~m outras palavras,~.<Lqti<:_ maneira, até o desejo distorcido de reconhecimento de status continha m11
.~()."!rad~ç(J_~~~<)(:i<ti.sse__w11.c:i!La25el11_11.a realic!a<f'?_.ah_ar.l11()!Ü~l1~ elemento ~rítico, qtie apareci~, em_r_rimeir2Ju@.r:,_ na_c!.@.ill1'1!!.de l!Ill-ª.Íe­
daarte teria de preservar um elemento de protesto. "Aarte'; escrevel!Ador­ licic;lade real e, em segunc!o, !)() rec911_heçimrnw_de q11~..tal condição-in­
.. 110,"ta~to a_chal!l~cl."_ªrt~ cl~s~i(:<tCJ~~~~~-si;ãs~~l't.es.sQ_e_s f!lª~i!nárqaj~
,.~l~ía necessariam~nt~ ~m componente so<}al._9 consumo, por mais cons­
cas, sempre foi e continua a ser uma força de protesto do humano contra
'pí~~~ ql!e_f2$.§.e,:~J11.4i.fê}iréseJit~vi2Jiil'protest() ~()~t]'~ o~:iJ~c~t~s.111_0-fâ_o_
·a pressão das instituições dominadoras, religiosàs e outras, aomes-;noterrí::­
antipático_à Escolil cleFra~furt .
. po que reflete a substância objetiva delas.".38 Em suma, a esfera estética ~;~·
,--Entr;as características. destacadas da "cultura afirf!1.a.tiY<i'' "§.tl!Ya.."ss.e
também, inevitavelmente, política. Tal percepção, como assinalou Marcu­ ;
moment.; ~;~éti~~. c;.;;;;~~;;;;:;s· ~,;-~~~ii;~~ ~a;;~e~a do materialismo
se,39 se expressava da maneira mais clara nas Cartas sobre a educação esté­ ·ª
··do. Institut, _c!.e..mwd<t.JlºXJ~lis:i<ol_ad_e~ra_µ_m.elemento_fünc!l!m.rntª! !ll!
tica do homem, de Schiller. ~.Q.ria.c;1füca.-O que Adorno disse depois sobre Benjamin bem poderia
~<!.o~-~p.Qr arte, porém, continh~esse mome~e.:. e· servir para descrever a Escola de Frankfurt como um todo: "Tudo o que

gati>'().:.ÇQ.rrufeito,.no__ç_eme.da.s.t:.lti.i:.a do Institut à flill1mLde.JJJ..as.sa es­ Benjamin disse, ou escreveu, soou como se o pensamento, em vez de re­
·:taYil..sl!as.rgiç_a..eID_que_a_~J!rolJl§S~e_qe_kiJn/J.1;ur:~.a visão da outra socie­ jeitar as promessas dos contos de fadas e dos livros infantis, com sua ha­
dade, t~idoE.5te.l11ªt~:<1m~e_r.r_adJ.ç~da_.dQ_qgs; era,_9!c!a_yç.z.ll1_ai5, bitual 'maturidade' vergonhosa, as encarasse tão literalmente que a pró­
uma "culturaafirmativa".* Ainda neste capítulo veremos com que serie­ pria realização real estivesse agora no campo do possível. Na topografia
'dade a Escola de Fra~:kfi:irt acolheu esse desdobramento. Agora, em nossa filosófica de Benjamin, a renúncia é totalmente repudiada." 41 Além disso,
discussão mais geral da abordagem da cultura pelo lnstitut, devemos des­ aidéia de felicidade verdadeira do Institut ia muito além de sua equipara­
tacar que,~sgiQ_em.se-YS..1U.omel11QS__g ismo acerca dª­ Ção ao bem-estar econômico, que caracterizava o raciocínio li111itadq de
.el~~~atividade, em_&era! apareceu uma ressalva dia!~. muitos marxistas ortodoxos. Com efeito, a própria separação entre cultu-_
(O mesmo se poderia dizer da popularização posterior dessa análise por ra e satisfação material era um dos indícios que.o Institut via como dei:
Marcuse em A ideologia da sociedade industrial, embora, nesse texto, as res­ xando transparecer a incapacidade do marxismo ortodoxo de transcen,
salvas tenham sido poucas e espaçadas.) lLfll.!JQm.e_~ern2lo_ç!_e_ssilXel1!tln­ der a cultura afirmativa. A dicotomia entre subestrutura e superestrutura,
-~----·---------"---~·----·-------- .. --------------
cia em fechar a possibilidade da negatividade apareceu no artigo de Ador­
------------~
'por mais exata que pudesse ter sido para descrever um certo momento da
história burguesa, não devia ser eternizada. Na sociedade do futuro, essas
* "Por cultura afirmativa", escreveu Marcuse, "faz-se referência à cultura da época burguesa duas esferas se integrariam de forma saudável. Como afirmou Marcuse em
que conduziu, no curso de seu desenvolvimento, a segregar da civilização o mundo men­
tal e espiritual, como um reino de valor independente que também é considerado supe­
sua discussão do hedonismo, a separação contínua entre produção e con­
rior à civilização. Sua característica decisiva é a afirmação de u1n mundo universalmente sumo fazia parte da sociedade sem liberdade.42
obrigatório, eternarnente melhor e mais valioso, que tem de ser incondicionalmente afir­ Essa integração, todavia, ainda era uma esperançaut_~pica. Naquele
mado: um mundo essencialmente diferente do mundo factual da luta cotidiana pela vida,
mo~ento, a maior ameaça provinha das tendências culturais qpe re.aliza­
mas passível de ser realizado para si mesmo por todo indivíduo, 'de dentro para fora', sem
nenhu1na transformação da situação de fato" (Negações, p. 95). vam uma reconciliação prematura elas contradições na consciência popu:

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTJCA CAPÍTULO 6 ·TEORIA EST~T!CA E CRITICA A CULTURA DE MASSA

lar. O reducionismo sociológico do marxismo vulgar era uma manifesta­ talvez fosse a mªis adequada-para expressar esse "outro" sem imagemc1l!.e.
ção dessa tendência. Tal como 11ª teoria crítica em g<0L'l.!LiUJ:1!ica estética ; teoria crítica se recusava a definirpositivart1ente. Além disso, as comple­
da Escola_ de Frankf~1rt~~~t~~e-umãêD.fase déCi;iva naimporifu;:cia_da, ··xidades de suas mediações - o compositor, o músico, o instrumento, a
"mediação 4 ~ e da não-identidade. Uma vez que.~c!gg10, como outros inte­ reprodução técnica - faziam da música um campo particularmente rico
grantes do Institut, negava a existência de princípios filosóficos primários, para o funcionamento da imaginação dialética de Adorno. ~ria dos
ele semprejnterpretou até os artefatos mais reificados dact1ltl!ra afirma: ritmos e rituais da vida cotidiana, fazia muito tempo que ela havia trans­
tiva como algo mais que reflexos oriundos de uma realidade mais- funda­ ~,:):<ll~~§'~l! l?ªp_Ç[p:m::.imiute .fm1_c:.!QnãfAssin}, a música tanto est_a:'_ali:
-__mental. "Quanto menos o método dialético é capaz de pressupor a identi­ gada às_C()J1<.liçõ_e,s_111ate_riais g_l!an_t:()__~!<lva acj_rnJLdeh1s;_era_r~ç_ep!hrn_~s
dade hegeliana entre sujeito e objeto, mais ele é obrigado a atentar para a • mudançaspasrealidades sociais, mas também era111ais do que u111_111ero

dualidade dos momentos:'" .l.J.rt1_~](~f!1pl() cl<l_C_()_!J_fian5a .PJ'J_sis.terrt_e__de_ refle;;:; dest~~. -- ... - ----- . ..

Adornono ªnti-reducionismo dialé.tico apareceu no tratamento que deu Já ~~--dé~~da de 1920 e em seus anos em Viena,49 Adorno começara a
a mna .das categorias marxistas mais. fundamentais, o feti(b.ismo da nief­ d:plorar todos os aspectos da expressão musicaf~ll[s~órI~- dá--composl~
. cadoria (com o qual Marx se referia ao processo de alienar as mercado:­ ção clássica, a produção recente da música de vanguarda, a reprodução e
rias de suas origens humanas, transformando-as em objetos misteriosos, aceitação das formas musicais e a composição e função psicossocial da
opacos e distantes, e não na encarnação transparente das relações sociais). música popular."'__Nos c!_ois primeiros número~ do Zeitschrift,__e__If!J932,ele
Nesse ponto, Adorno c!isc 0r4.Ql!4J:.._jjen_1ª_@in, ª_quern~g;_revt;Jl,_em2 de. resumiu os prin~íplos subjàcêntesàsua abord;ge~dà~(;_5ic<l:' 1 Desde o
___ agosto deJ~35,---~do que "() carátei:_def~tic:hecl_~ ~_er_<:;lclOLia não é um­ -éí:ímeço, deix:ou claro que não era um musicólogo comum.]L_l]}_(1$_i@, ªfir: ­
.. dado _da consciência, mas é di<iléti~ f!() sellti~()-~_I!l_if1~11t~ ~e_que_12rocl\JZ.- mou, continha contradições sociais em sua própria estrutura, embora sua
. ª co11sciência". Em outras palavras, tratava,se de uma_realidade social, e ·relãÇão com a ~~aÚdade social fosse problemática. Tal como ocorria com

_J1ã()_.@~n!_rrr;,11te_p_~~gica~Falar. da. f :qi~ad~ri; an sich [e;;,.!i.iJ, ­


<lima tódos os fenômenos culturais, ela nem era plenamente um reflexo nem

comoparecia fazer Benjamin, era c2-11fu_ix.:~_um sentido metafísic~ '" plenamente autônoma. Mesmo assim, na era atual, sua autonomlà estava

·não históric_ci. 45 Em Õutiõ texiõ;-tíJ; ensaio sobr;'Veb!~n, Adorno argu­ .. seriamente ameaçada. A maior parte da música exibia as características

mentou de maneira similar: "As mercadorias-fetiche não são agenaS.AJ>rQ­ ---de uma mercadoria, dominada mais pelo valor de troca que pelo de uso.
jeção de relações humanas Õpaéas no mundo d___as coisas. são
---- ,. --"'<· --
também
---~-~- -
as
____......___......,
-~.
A verdadeira dicotomia, sustentou Adorno, não se dava entre amúsica
divindades quiméricas que representam o que não pode esgotar-se naJm-=-­ "Íigeira" e a "séria" - ele nunca foi defensor dos pad~Ões-~t~lt~rais tra­
ca, embora devam sua existência à primazia da tmca."46 Ão"""Zriti~;rO-utros dicionais por si mesmos-, porém entre a música orientada para o mer­
críticos da cultura, como Lukács ou Veblen, Adorno sempre tomou o cui­ cado e a que não o era. Se, na atualidade, esta última tendia a ser incom­
dado de destacar qualquer vestígio de reducionismo que detectasse no tra­ .. preensível para a maioria dos ouvintes, isso não significava que fosse
balho deles. Uma das manifestações freqüentes desse reducionismo era objetivamente reacionária. A m~si<;_'1,(al __com':'__a teoria, tinha deiy_alégi.
descartar as aparências como totalmente insubstanciais, uma falácia que da consciência vigente das Iliassa~, 52 ------------ ----­

ele também assinalou na fenomenologia. "Como_i:~ll--".Xo..di! y~gl;icie", es­ Na primeira parte do ensaio, Adorno concentrou-senas terrdência_s gri­
creveu, "as aparências são dialéticas;rejeitar qualguer aparência é cair marias da composição contemporânea. Seu foco principal incidiu na opa_­
_completamente sob sua dominação,pois a verdade é abandonada junta~ - sição entre a música de Schõnberg e a de Stravinsky. Entendidos mais
mente _com os escombros_ sell1 0 s q_l!ªis ela não pode aparecer."'' éomo a encarnação de certos princípios estéticos do que como personali­
--~~Qi!i_cig_cl_'0)e Adorno à mediação dialéti~~ ~-p;;;~~~-d~ maneira dades, esses dois compositores viriam aclesempenhar os papéis centrais
.. mài1_claqt_gQ§__estu..c!9s de m~, aos quais ele dedicou uma parcela sig­ em seu tr;balhopü";terior sobre a Filosofia da música rriod_ecna, 53 Cómó se
nificativa de sua energia intelectual durante a vida inteira. !'ii_ra Adorno, a pódeüaêsperai,-si.í'ass!mpatias li.carntr! C:QJ1:1 () homem
em cuja escola ele
_música polifônica, a meI!Qs_r_epresentac;~o11_aLcla_s_i:riQdaliç!~e:5._tst~ti_ças,4'... se formara em vi~:Ua. O desenvolvimento das -p;~;füiiidades -da-àtÕna!idã="'

238 239
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~T!CA CAP(TULO 6 •TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA

de por Schõnberg, afirmou Adorno, expressava a recusa de fazer conces­ moc!~r:ll.ª~~-<Na...a..fQrmas tonais ];11:.é.::huxgue;;as, cQIIl() a c:lª11ça. Ao
. sões às dissonâncias não resolvidas da-soci~dad~ ~ontemp~ÕZ~;::­ ~ntrário dos românticos, que usavam o passado como uma negação do
teúdo de seu período expressionista iiiíCiaJse afastava das fa!Sãsºconcilia­ presente, qs objetivistas aliavam-se _aos fornec:edqres_çl~_rnlt11rn..119l~.i§çh
ções. Com a desenvoltura do verdadeiro artista, Schõnberg permitira que [populista], que, de uma forma não dialétic;1,_aci<1p_tavam formas antigas
seus impulsos inconscientes expressassem suas contradições. Tociavia, ·às necessidades atuais. Embora fosse difícil ilustrar satisfatoriarnente~lÍ­
- '
C()!11º a atona!idfü:le procurava evit<tr a t0 nalid<icl~ a gualqu_~rpr~s~-~La§~­ 1! gação mediadora, ,\c!o_g1gshegQ!L'l.]29Jlto. ..de..sugerir..que-o.objeticv:ismo
'áfastava da arbitrariedade pura e conduzia.a um;tnova ordem, baseac\a!l~ ' era,. eil).C!!rto
·----~- "" ' ·-
sentido, cor.relato
,_ ,
do fascismo.
... - ·-·-· ... .. ..... ____ ..
_, , -, ,,, ..........:--.
____ _. \
Seu uso de ritmos- neoprimi­
' - '-----·· ·--­
· escala dodecafônica, que proibia a repetição de qualq11er nota e~g~ªll!º
'tivos corres2ondia aos choques da ErZ,,bnisJel(~Ú~llÇ.~'!LllªQ.i.!ltegr:<!.c!~,
'todas as doze não houvessem soad 0. Ao progredir dessa maneira,_Schiin:
."'f9.mentados pela sociedade fascista. A irracionalidade dos princí2ios de
· J;i.~_gl!i!YÍaJibjetivado
\
seu_s_i.r!1P.!!lsos
------.------·"
subjetivos de u!TI rri_odo
------------·---------- ....---.----
que o--------
------·- -·
punha
--·---­
· compo3_!ío dos obi_<:.tivist<l§..::- Q«gÕsw.'.'d1LcQmRQsi19L~<! deçisiv..Q,.!;.l!)
em contato com a tr;lciiç_ã()_cl:!§_s_i9.A articulação da nova ordem dodeca- ­ 'Vêz'Jã <l!<ll~tiç<I)!flane11teda música .. sugeria O(:()!l!r()le_<lrPitrário..do
. fónica era li~ produto dialético de sua música anterior, e não a imposi­ ...FÜhrer fascista. 56 Stravinsky podia ser a.ta~~do pelos fascistas por sua
ção, de fora para dentro, de uma ordem fechada. Ao se recolher àJ<igica '"destrutividade", mas, soubessem eles ou não, sua música expressava a
Aa_111úsica,..Schõnl;ierg_p11cl~ra pro~ege!::s_e_~ pÓUêO-da.prç_ssão~lC_telI1ª.~ ideologia que defendiam.
,das forÇils_sociai.s,.
_______________ _ ·--­ Talvez ainda mais "reacionária" fosse a música de um dos mais ce­
_Entrntanto, ao..recorrer a uma forma musical em que a alienação e as
_c;ntradições eram supe~;d-;;s·,·;~J; !J()~~~j"ªj~~5lll~]~!l.il~fug§~b.ª-Y\[C
1 lebradõüühoüfe_frankfurt,__ Pau1 Hinde~ith7i~g~~cid~de,~ "h-;,;;or
-~~~.d~vel''''~ ()_!!g:i!Q'111ti~if1L~-de.Hinde;;;ül1_am~i<iy~_111_.aiÃc!ªfil~G~()
. reconciliado. com a perpetuaçãoda alierntç_ã()_ na esfera social. No nível :í111~to icjeqlógico da mÓsica objeÜ~isi-:1:-o<lesespero expresso ocasional­
mais profundo, o ideal da obra de a~t;:c~mplet;~,;t~aídodaa~te clássica, mente por Stravinsky em obiâs.ééiiii() A história do soldado estava ausente
talvez n_ãofoss~comJ?-;rÚ~~L~~;os:;:~:;:~u_ç_ele_ç_sç~a para realizá­ do trabalho de Hindemith, que se assemelhava às fachadas falsas da ar­
.!ª· A,_criaçãocle urnamús_irn."P!l!.a'; semelhante à idéia de discurso "puro" quitetura da Neue Sachlichkeit [nova objetividade J e à comunhão ilusória
de Karl Kraus, talvez fosseinatingí.v:el...enLúltima instância. 54 Mas o esfor­ dos propagandistas volkisch. Similarmente, algunstipos de música prole­
ço de Schõnb~rg para alcanÇA-la repres.<'.J:l!<l;<l.!lill-::P~º ~ol!stal!ie=c(iro tária, como a _c()mJl.OS.t_a_pg_r -:H:_inn~ Eisler, sof~lam do ..me_s1119 p.r9J:ikrna,
_o qual era possível_rn_ec\i!_~_re~Jicl~~l~.cl:~!<)Ci~dade bur~a. apesar de seu valor de agitprop TagltàÇão é ·propàgandaL_O realismo so­
Emanos_posteriores, podemos acrescentar entre parênteses, a valori­ cialista namúsica, como em todas as artes, era quase tão reacionário, insi­
zação ad;rniana d; ~l~rrÍema islti.m:.·efilgfilL~-;;-do tipo-de m_!Í_ska <l; nuou Adorno,qttanto Õ-Óbjetivismo neoclássico. Ambos.s_onstruíam.har­
Schõ11berg viria a declinar, especialmente depois que a escala dodecafô­ -~;_;-11ia~pre_'!ia.!_u_r~~ig11oranI~-,;-persTStência-dâs~adições soc!ais de.
nica se tornou um imperativo mais rígido de composição para seus se­ ~u_m modo que.$çb.9nberg11ª9IggQi.ÍÍY:a.g_resL1lta_clg_ei:a u~p_é_c:i_~~
guidores. "Não é o método em si que é falso", escreveu Adorno em 1952, -Gebrauçb.w111tikJ121.tí~i01...U.tili_t~ri~~J_gll~ dep_en_clia.de um rt\Q1:klod.e.ra­
"- ninguém mais pode compor sem ter sentido com os próprios ouvi­ ··. cionalidade tecnológica e, desse modo, men()sseryiapa~a_e~c_l~r:e~~r_çl_ogge
dos a atração gravitacional da técnica dodecafônica - , mas sua transfor­ -P.arª distrair. Só ocasionalmente, como na música de Kurt Weill, é que a
mação em hipóstase. [... ] Ser fiel a Schõnberg é alertar contra todas as es­ Gebrauchsmusik se voltava para uma direção crítica. O estilo fragmentado
colas dodecafônicas:' 55 Na Q~Jld.a-.d~) 930, porém, Adorno identificou ess.e
.,.-~"­
de m()ntªgw__dJ'..'Neil!, que em2regava os_çlJQ!W!'.S..ik um modo d_ife~ep._t~
compositor com tudo o que havia de progressista na música moderna.
..
r----"---,~--~- ------~----.-----,-~---~-------~---. -
de Stravinsky, foi considerag9pQr_Adorno como a música popular m~is
Deµ,seg opostocom Stravinsky, o compositor cuja obra Adorno ana­ · progressista e crítica da época. . ... ·· ·· -----···-------·---·

\
. !Ísou após
-
uma l:i;ev~ ~l:J;rCfagem
·--· - - -
de Bef°g e Webern, d1scípU!os ãe5êl1õn­
--------.--------------·-~------~·-~
]'Ja segunda. 2arte_çlo_artigornaggL<jiQ_~eg.llil1te_dg_?'._eiJs.chrif1,.Ac:lorno
berg. Para Adorno, Stravinsky representava um "objetivismo" neoclássico passou da análise da compg~jçjigpara_<ic\i~l~tic_a h_istórica da repr(lcll!são,
e
antipsicológico, que ignorava a alienação as confradiÇõesda-sociecfade­
-- - ------------------------·
~~eÍ0111ediador entre o pxodutore o consumidqr,. Nesse ponto, fez a di~­

240 241
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 6 ·TEORIA EST~TICA E CRITICA A CULTURA DE MASSA

tinção entre a música pré-capitalista, na qual existia um continuum d!JlfQ: zombava da aristocr_acia, ag()ra. s~v:i.a_JlA!a ÇQI]çiJiilLQ hom~111s.om,sg11.
C!ução;-ieprÕClução- e improvisação, e a música da era capitalista, ~a qual
-de.stfn~ ...A
_}ri_!i~~ªJ2..<Jp~§já n_!o__er_a.Yiya, P_()is () \fol/c~pont_â_!l~f9Iª
·~~~· ;~1~Çãü não erisüa:Néstãú.lfimã;ácomposiçã;;-;ss~m~lha~a-se~-~~~
-consumido num proces;;2que..a._deiJf.a.Ych.ll§tlm.SQ.!IlQ!Q<:[A.!LCUltura pQ·
m~_r~;i~···is~~':~ª;=;~~a~~!~~ll~flte,_~~~­ ·pular, como criação da;;:anip\llac;:ão_e.c:!a irn.P2.sição.\Tir:t<!".s <:[e cirn-'1.· Ador­
-Üva era sumamente circunscrita. No século XIX, houvera executantes "irra­ ' no encerrou o artigo.assinal;;ndo a função ideológica de várias formas de
cionais" cujo indi~iduaÍis;-o~or;~on(lera fpersistê~ia d~á;~~s d~ sub:
música popular, antecipando o projeto a que se dedicaria nos ensaios se­
'jetividade na sociedade liberal, No século XX,
porém, corn
a as~ensão do_
guintes no Zeitschrift.
capitalismo monopolista, seus equivalentes ficavam efetivamente aprisio­
O primeiro deles, ''.~_0Ji!e.ojazz'; 61 foi_e_sc_ritopr!!]cipalmente.durantea
nados na tirania do texto. Nesse ponto, mais uma vez, Adorno meneio­ te!Uporada na Inglaterra. Foi~Jic~do S()~().J'~eudô.nJl!l.°__~~-1:-Iek!<JE
. nou a imposição do "gosto" do próprio Stravinsky ao executante, embora
_É.9ttvv~kr,JJ.Q.Üi..Õ,qQ[!lQ..<linda reto!nava à A,lei:i:w1ha.em..viagel)s QC:<l§io 1
temesse que a música de Schõnberg não pudesse evitar problemas simila­
!]ais~ Grande parte de seu conteúdo veio de conversas que ele teve com o
res ao ser executada. 58
···~specialista em jazz do conservatório de Frankfurt, Mátyás Seiber, antes
de 1933. QP!<ÍI'!iCl. A<i<:JE!lº aiflS!ª..não visit.i!g_()~_gs!ilQ()S._lI!1lc!o§.eJ2Qr_
62
.t-Jg.roundo racionalizado e administrado do presente, o público ai11<:!<1.

ansiava pela "alma" do artista oitocentista. O orgânico era glorificado em


js§Q l]ãoJivera wna experiência do JC1zz_e111 primeir<l .Il1~º" f:ssa distância
· comparação com o mecânico, a personaÍidade, com o anoni~;;:io,~·ª i~ , elo tema.facultou uma .ampla predominância de s.l1ª.i!Uaginaç~<:J_dialéti~a.
terioridade, com o vazio. O ()bjefivíSmo ·prooirava captar esses traços em Prg_<:[_uziu.iam~~m um ensaio com afin11<lçõ_eso_casionalmentç t1ltrajantes,
sua composição, mas sem êxito, pois, por razões que Adorno não expli­ .feitas de um modo intranslgeilt(;; ;;;nos destinado a, persuadir do q11e '!
cou, eles deviam ser atributos mais da reprodução do que da produção acabrunhar. Os outros membros do Institut não concordaram inteiramen­
em si. Os esforços l'!!Lª corrigir essa situação, declarou Adorno, eram um
'-.--,~--~---~---- ---­ -Tecõn:; ;s conclusões de Adorno. 63
"Lembro-me com clareza'; admitiu Adorno tempos depois, "de !er ft1
--
--fracasso:
-- -.. _____
o maestm "cheio de alma", com seu gesto imperioso de coman­
-------·-----~·-----~­

,do, era um substituto precário da espontan~i<:[_ªd~!!!êntica ..Na verdade, cado horroflzado ao ler a palavra 'jazz' pela primeira "";. .Épl~~~Í~el que
. representav~ o ~qU:i~alenternU:;i~~r<loditador autoritárlo~ - •.. Ti:ninha associação negativa] tenha vindo da palavra alemã Hatz [matilha],
-. Em seguida, Adorno voltgu,se para a popúlaridade de certas formas_ ·que evocava cães de caça perseguindo alguma coisa mais lenta." 64 é)lial­
ID!lsic<iisesuaj!nportância
--
"
no contexto histórico.A--- ópera,
...---­
------~---,.~-.,-,,~-----~- ~~--~~----------------
dis~~,futy[a_,. quer que tenha sido a associação verbal inicial, o jazz continuou a ser, para
perdido. se\1§ '1trª1:iY9Jj\!nJQ..à..classe.mt<ij!!.Jll!:.a, el1:1Q()Gl a pequena_~ Adorno, uma fonte de horror contínllo. Ele inki~;e;-;;J:tigo re}eita-íJd(;
guesia continuasse aser atr<lí<i!l.. porseus.~J~.!!l..".11!9.s..r_epi:~ssQ!!S. Ao con­ ·enfaticamente qiiáfqüer tipo d~ ~náii~e puramente estética do jazz, em f~­
trário, a alt~ cli!s_s_e.Q1édiafavorec~~ ca~<l..."e.z. m~_c_g~tos, qu_e.pr<l:__ . vor de uma crítica psicossocial. Nesse aspecto, seu veredicto foi inflexivel­
porcionavam um falso sentimento de interioridade subjetiva e sugeriam mente desfavorável. O jazz, escreveu, "não transcende a alienação, mas a
· uma falsa conciliação entre a propriedade e a instruÇiiü.59~J\cJius_Ç;;4ªyÚ;:_ fortalece. O jazz é a ~ercadoria no .sentido mais estri\9." 65 Todas as afir:
. <ladeira interioridade,Jloré1I1.iá..n'19e[a_r~!!)lz.4.ye.Lrr~s.Qfie_<fad"'. moder_Ila, mações de que o jazz expressava alguma libertação foram desdenhosamen­
..füçhard._S.tIª-1.!§.S,tinha sido o último compositor "burguês" .s,.ig1)ifü;.ativo. te rejeitadas por Adorno. ?_11<1..fu1i_ção social_p;:i_rnárlb..afu:m.Q1!,_era dimi­
Porém, até em sua ;;:l'.isica, como ·êerfa vez assinalo;;·Er:Ust Bloch,toda nuir a distância entre o indivíduo alienado e sua cultura afirmativa, porém
\
;~gação s~perder~. Do-modo. como ele .os .u.\ilizava, -
o. cromatis~o.----·--------~·~
~~
àmaneira represSiva da-ídeolog1a viJTkisch. Por isso ele servia para inverter
, dissonância tinham perdido s.e.u poder crítiç9 e se tornaral1:l_e.111ble!J1'1§.~­ o qlié Bréch.tíí.aviacllarnadõ deVerfremdungseffekt [efeito-ae distancia.:-:
mobilidade econômica no mundo. 60 meiítõfêlã verdádéiiaarte naet.ã-riiõ<:l~fila: AÕmesmot~;:;;po, 2i0:zz d;;..'1 __
Q que.>e.seguira a Strauss, com exceç~o_d.'1111-IÍ.sica atonal de vang~~.':: 'úma.falsa sensação de retorno à natureza, quando, na verdade, era intei­
1
ª
_ da, fora a Kunstgewerb.e, arte co111()!J1er~a(Íoria. A música leve, que antes ;:;;-~ent~~~-produto d;;-artiflcio ~-;;~iai. Além disso,p:a-ps.ei.tdo.demo.­

242 243
MARTIN JAY • A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAP[TULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRITICA A CULTURA DE MASSA

crático ao substituir a~_fontasias individuais pelas coletivas. E[j1__ígualme11­ que sugeria uma i:elaçãqj_ll}_Rlíçita com o autDJ:it:u:i_!i_fD_o~a.pesau:le.ele..ser
- -.
~---- - - -- -----· - ~---------"··--------------------------~

te pseudo-individualis!ilo .Pois todas <tS Pie!e!lS_'l§_imRrQ\'is<1_ç_ií~_S__9:<1_tp._r_e­ _rroiQi<:i9 n<ÍA!t:manh<J. O jazz conhecido como cool era semelhante ao
peiiçõês-dec.;;:1.;~f<ii:Ill_as básicas._ As_ varieda_cles)e11suais" c!ojazz repr.;::-­ impressionismo musical de Debussy e de Delius, só que aguado e con­
'senfâvam-;;mª emancipação SeXU<\l ilusórfa_. J'~_tan!_o,_a_Jlle_~a_ge:n Sexl:iãJ vencionalista. Seu..c_o_u;iponente subjetiy_()__çlçrivaY-ª__da __música_ck__filllã.o~
do jazz_ era a castração, combinando a pr()Ill_essª_.:l_<l___\il;ler.ta_Çfill_(;Q!!Lsui · m~er_cl~r<l_<l_!E'_<Jnta_n:~ade fazia__ _i:tlllito_J_<mJ_p_Q. J':;!_ªyercl_ade~g_ualgu_e_!:_
-~egação ascética,_ 'tentativa de reintroduzir elementos de verdadeira espontaneidade era
- Sua função ideológica era confirmada pelo mito da orige~ Na~ pr;;ntame'iit~<l_bsqr~i<l-ª-RºL~.CJLsisJ_e_mli-reifkado-.- ''A-pseudo-_;o;:-~lização­
verdide,_afirmP~Ác:l:;;rn9,~'apefe__(_l9__ nêgnbt'1Lçom(Lo_pr-ªteado_go__~o--=­ d-;;-ja;i; escreveu Adorno em mais uma abordagem do tema, "correspon­
, foue,e.r_QJl!:!Lefeito colorista". 66 $e os negros tinham_feito algm_'.'._<1__C_QntQ: de à eliminação do piano, o instrumento 'privado' da classe média na
--b~ição para o J~z;:-fora menos s'tiarea_ção_le_!:i~-ÇÍ~ à~s~~ do_qu_e_s_ua era do fonógrafo e do rádio." 69 O piano, nem precisamos acrescentar, era
. s~1bnüssão meio ressentida e meio obediente a ela. Em um ensaio poste­ o instrumento do próprio Adorno, e sua tendenciosidade em favor dele
\ior s;b~~ ; m~s~; as~~1~to; Âclorn;;<l-;;i;c:;;;;-;~~; ainda mais claro: "Por era flagrante.
menor-qu@--Seja.a_dúvida__qua.uto.JlQ~ementos africanos i()igzz, é iguãJ?' De modo aLncla n:i<ti§_signifiçª!iyQ,2jazz_!llais_t!'_n<lLa a !'_S_p_acializar do
-;;e~e certo que tudo o que_l1_~de reb~lde nele foi integra_c!o~_d_es_<l_e{)_<:Q:. ql.1e ateill"po~aliza~-o movimento musical. Nesse aspecto~Adorn~~po-;:;::
_-meç9-;-~um~~sti.ii~a_ rígQ~o§2.seu~gestos~rebeldes são ac()!Ilp_~___li~_d~J'el~ --tou para l!l11ª das características principais da culturade massa, ta] como
tendência a uma obediência cega, exatamente como o tipo sadomasoquista 'o Instit~t a compreendia: a substituição do d~s~nvolvim-;,nto-hi;t_óxirn rel;i
· descrito pela psicologia ana!ítiCa!'": · - - --- ---- -- -­
jepetição__ 111ítica, "No jazz, substitui-se o tempo pela imobilidade de 11m
Ao depreciar a c2ntr_ibuiç1(0.negrn para ojqzz, po_de_:se ªEg11mentar que
movime11t{)_S~ml'rejcl~!l!!cQ."1 ºQ~<Íê~~ll_i2:'da te;;;_PQL~liÇl_ª-ÇÍ~!i:';t;,Y<l_lWpli_­
Adorno exibiu um típico etnocentrismo europeu. Aliás, havia emsuaper-=--·
-Cltaménte ligado à liquidação_ do indivídug_ aut{>g9_rp.o~_Como Kant afir­
- sonalidade um traço provinciano que se destacav~ da maneira_ mãi~:3:§'à ---illara;õ desenvolvime~tÓ te-;,,por~lera ~;;, atributo crucial da individua­
em seu desinteresse pelas formas musicais não ocidentais.J-!ans Mayer, que lidade. Uma prova adicional_cl<1_cl_estn1içã_o dosujeito individual no jazz,
conhecia Adorno desde 1934, comentou esse traço de sua personalidade: afirmou-Ãdorno-ernum-cO-~plemento ao artigo que escreveu em 1937,7 1
"Ao que eu saiba, Adorno nunca fez uma viagem pelo simples desejo de
.era o fato de ele ser mais comume11te usado como dança ou música de
conhecer. A Europa lhe bastava inteiramente. Nada de Índia nem China,
_fyndo <loque diretamente.ouvido. Isso significava que ele não exigia uma
nem Terceiro Mundo, nem das democracias populares ou de movimentos
unidade sintética de apercepção, no sentidokantiªno, O ouvinte, em vez
de trabalhadores. Até em suas necessidades de experiências de vida, ele se
manteve como um cidadão - soberano - de um pequeno Estado:'" Ain­
· aese~ obrigado a se engajar numa espécie de pr<Íxis, ~omo_aco_nteçja C::º!ll
à música atonal de Schõnberg, ficava reduzido_à_passividacl_eE!1<1Soq11is~a.
da assim, também convém lembrar que o jazzpelo qual ele_ maisse_ ~nJ&~.
Se havia___um momento negativo no jazz - e Adorno relutava, apesar
ressou foi a variedade comerCfalprodiiitdª~~ g~~nde quantic!ade eIJ1_ 'fin_ ----·~- . ·---'-.---... - .. --·-··---·--·-··- -··--·­
-.~-·--~--~

1 de suas intenções dialéticas, em admitir essa existência-, ele existia em


Pan Alley,* e não a variedade menos conhecida, enraizada na própria.çlli:::___ ----·--···
suas implicas:i)es sex_11ajs_l'otencialmente ªEn~ígt1as. [zwischengeschlecht-
tura negra. Grande parte de sua aparente insensibilidade proveio de ele 1 lichÚ].72 Antecipando-se ao elogio posterior da perversão polimorfa por
. não conseguir estabelecer uma distinção apropriada entre as duas.

parte de M;;~~~se,ÃdÓrnÕ-escreveu que a repressão-do ~ujeito genitocên­


Do ponto dç_v_~!ª p_l!!-ª!ILeJJJe--ml!sical, afirmou AdornQ,_Qjf!?.Ztil!llP.ém~

trico, embora possivelmente sugerisse a regressão ao saclism~ ()~]\}i_Q_filQ:§~


es~_fáfüfo. S"1:1_Ji_t_~,t:\l_-sinçQ12<l_cl_o derivav~___d__!LmaE<:!'i-'~ mili_!<l_lj_L

- ·~ ~~~------~--------­ sexualidade, também podia proporcionar uma antevisão da ordem S(l"i~l.


para além do autoritarismo patriarcal. O saxofone, o instrumento mais
".Como nome próprio, Tin Pan Alley refere-se a um bairro nova-iorquino em que havia uma

abundância de compositores e editores de música popular; como substantivo, o termo se


característico do jazz, dava indícios dessa libertação sexual, por ser um ins­
popularizou como designativo do mundo desses compositores e editores. [N.T.]
trumento metálico tocado como um instrumento de sopro de madeira. 73

244 245
<
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 6 •TEOR( A ESTÉTICA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA

Contudo, em qu.a.se__t()_cl9§..os Ql.ltr9s awe.ctos, 9jiig;ufpre§~J1Ja_va uma _ primeiras impressões do recém-chegado, em um memorando dirigido a
-cápitul~Ção~~t;; asforça,s cio sta,tus quq. .. ­ dois de seus colegas no projeto, Hadley Cantril e Frank Stanton:
Essa avaliaçiio.do..jn;:,z, pode111os acrescentar,.l1ão se mo.difirnµ. depoi;;,
Ele parece exatamente o que vocês imaginariam ser um catedrático alemão
qu;Ador;;:;;-;,migrou para os Estados Unidos ..Em 1953, ele escreveu ou­ muito distraído. Tem uma conduta tão distante que eu me sinto como u1n
• tro ensaio, "Moda perene: jazz", 74 que exibiu a hostilidade de sempre. membro da Sociedade do Mayflower. No entanto, quando começa a con­
E, pouco antes de morrer, cqnsid~Q_l!~.1:1_texgi~iginal, assinado com o versar, tem uma enorme quantidade de idéias interessantes. Como todo re­
'pseudônimo de_!:feJ<1:CJI_I3:ottweiler, como te.n_® sido otimista demais_~ cém-chegado, tentou reformar tudo, mas, se vocês o escutarem, verão que a
maior parte do que diz faz sentido. 79
·sua avaliação do_caráter:espon,tâne.o..dojgzz. 75 É difícil determinar o que
·;fe~clíot!.da ;;;_úsica popular e de sua ligação com o movimento estudan­ Em anos posteriores, ª3f.hl4'ª dej\.d()gl~s.': americanizar m_illlteve­

til da década de 1960, já que, ao que eu saiba, nunca o discutiu em algum


se fixmf,Jc $l!a.d.i$.ti!ncia crítica da
cultura local não diminuiµ_substan.-­
,-~i~lmente~ . ----------·---.~···---··-----···- ·
texto publicado. O provável é que, ao contrário de Marcuse, 76 tenha-se

impressionado mais com seus aspectos pseudolibertários do que com os


.._.~~~ d~.C»()l! talvez_por causa disso, sua produção erudita co!)tjnµ9_u
genuínos.
a ser prodigiosa. Op;{;;:;eir; t~~toe8éÇi1:ü n()s.Es"i:a<los y;i~Q~,-S<Jkrfgcg­
Após a publicação de "Sobre o jazi' no Zeitschrift, Adorno não teve de
"Yáteràé}etiche da miISiêii é ii regressaõ da audição, foi publicado no Zeit­
.eipGrar.muito..p~ra. terumáamostta:empt:imeífa:m.ãQcfa c_ul~
·séhrift em 1938.80 Dando continuidade à sua avaliação geralmente crítica
_norte-amer.icana..Sua temporada em Oxford, durante a qual ele escrevera
da músic~s211tempbrânea, Óartlf;o.se~~i~-de réplica à análise mais oti­
sobre Husserl e iniciara estudos sobre Beethoven e Wagner (somente o se­ ·místã d~-importân~i;~Q"ciáí<le- outra ffi()dal!dã<le de culiura popula~, o ci~
gundo dos quais chegou a ser concluído), estava chegando ao fim. Voltar ··riema, com a quaLBenjarnin havia contribuído para uma edição anteriorª'
à Alemanha, como ficou cada vez mais claro, tornava-se praticamente im­ 'e à qual retornaremos em seguida. Mai; uma vez, Adorno
----'-~----,--.e·--
atacou
'"-"' '
a falsa
'" '' ---,.,' ••
possível. Além disso, Horkheimer e seus colegas em Nova York estavam harmonia de grande parte da músic;tcontemporânea. Em vez dela, defen­
ansiosos por levá -lo para o outro lado do Atlântico. Em meados da déca­ deu um novo âsc~ti;mo que implicasse a promesse de bonheur [promessa
da de 1930, a importância de Adorno para o !nstitut havia aumentado a ··de felicidade] como a negação da felicidade fraudulenta da art~ afirmati­
ponto de Horkheimer escrever a Lõwenthal, em 13 de julho de 1936, ra­ va. Também cómo antes, enfatizou o fim da verdadeira subjetividade ria
diante, dizendo que Adorno agora "pertence realmente a nós". Mas o or­ 'sociedade e na arte que ela produzia. ''A liquidação d.o indivíduo'', escre­
çamento reduzido do Institut tornava difícil um convite direto para que veu, "é a assinatura particular da nova situação musical." 82 •

ele se tornasse membro pleno. Ainda assim, ~~e a insistênciacle .J:l.~ a


. ,_Cl <;]~_J:oll".~_5le nffV'? Ilesse ~rti~o foi exploração dos conceit~_de
heimer, Adorno fez sua primeira visita a N_ovayork ~m j!!n.ho .QscJ33.L 77 fetichismo e de "regressão" da audiç~o. cüilló.assiila!am"Os, a t()tâffçiade eg
Suas impressões fo;am favo~áveis, de ill~clo geral, e. ek resolveu .!!1':1d_a~:~ lima das categorias centrais da t~oria socialda Escola de Frankfurt. Para o
para lá, caso surgisse uma oportunidade. Não teve que esperar muito ..f'.J11_ fosiltí.ít, uma das características· fundamentais de uma teoria não ideo­
·fevereiro de1938 o Escritório de Pesquisas Radiofônicas de Princet()J12 9k lógica era_a,re~~pt~idad~às. int~~~;~laçõe;-da-hlstÓrÍ~~~;;;-as ~~~lid-;;d~
~lgido po~ P~ttl L~iarsfei<l, ofe;~~~;;:lhe ~m •cargo~ei;-E~g_iElelí~.:.mdoSX=­ · presentes e as potencialidades do futuro, com toc\~s-~s:;;~~Çõ~;:~.con­

. pediente, como chefe dos estudos de mósica. 78 . - ~ tradições concomitantes. Concentrar-se em ~pe11a.~_!!I!Lª~pect2.s.!das ­
. o perío_do deA.do~no no Ji~~~E:?>ETü 4i~fie_sqt1i§il.S~<1cli<Jfônicas foi di- .. ., como tinham feito os positivistas, por exemplo, ao hipostasiar os "fatos"

fíéif; principalmên~púi"·r.ãzÕes·de metodologias, que discutiremos no atuais como a única realidade -.era transformar em fetichçi1maparte

próximo capítulo. Além disso, ele enfrentou toclo_s ()SJ)[Oblerms d"'..adap,­ ..cJotodo, A fetichização, entretanto, não era apenas uma falha metodoló­
. tação que havia;n atormentado os outros membros do)nstitut_<)g_eini~
_fl!s.a. ,C'?!J2~Íist~ara Mai:.x, ela era pa;t~ da cultura c~rTt.a:l0_i.~~D~~~~

. grarem, alguns anos antes. Em março, Lazarsfeld escreveu sobre suas


~':1.111ª cultura em _que os ho~ns veneravam ceganiente()ss_el!~_prQprios

246 247

....

MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 6. TEORIA ESTi:TICA E CRITICA A CULTURA DE MASSA

pr~01ILo__gQjetos reificadQ.s.1\_.fetichizasi!_o à maneira marxista, ar­ ~~orn_CJ_ n.ão ~"-mostrou otimista guanto..J_p_QssiQiliçl-ªde d,_s_olocax..e~.a

g;.1mentou Adorno, não era apenas uma categoria psicológica: era também raiva repnmúia_as_eQ'~.o_de..pm.p.ó.sitos c~os. Mostrou~se também

uma categoria econômica, enraizada nª_co.riQkií.osl~_mercadoria em uma _muito !11_e!l()E_()tjmista do que Benjamin quanto ao potencial revoluci;;::­

sociedade dominada pelo váfcíid~~ti-oca, e n_ã_<J pel9__y<iJ<rr.de )±S0.~ 3 nário da arte popular, peTomenósnaforma afifmati~iv!g_é!ite~"üspod~~

-. Como a música fora invadida J;!.diu.spiti!:o capitalista, sua fetichizaç_ã__ó · res cóletivos também liquidam a füdivíéfüâlldade..Írresgatável ·na música':

eraquaseeomp!ela:Em u;; d_<t~..O_J1Í".~'- <l_-ª<l.PI:ºdll_Ǫ-Q,jsso transwreci<l:__ ·escreveu, "mas só os indivíduos ainda são capazes dereé~;~-;;-tar·d~f;r­
·no fõco desproporcional nos arranjos, erri vez;_dªsomp_ofilçiin,.na.l_tttm­ ma consciente e negativa os interesses da coletividade:'" Ad~·;-;;;:;,·~~-;;.;;·
)ução freqüente de efeitos coloristas e na ress_11_r~eição__ 11_os!<\!gJc<1_cl~!l.ti; ·se poderia esperar, avaliava o seu papel e o dos outros integrantes do
los musicais ultrapassados, por seu valor evocatório. Em outro, o da_i:_e:­ lnstitut à luz disso. Sua temporada no Projeto de Pesquisas Radiofônicas
cepção da música, manifestav~Jl'l-~r1J'<1~~!1i_s_"~s!'i\ªs", tanto na música de Princeton, apesar de complicada por divergências metodológicas com
cláSslca"" (con1oTÕscanini, por exemplo) quanto na música popular; no Lazarsfeld, cuja orientação era mais empírica, não foi improdutiva. Com
culto de instrumentos, como os violinos Stradivarius e Amati;_nª__ÜJ1c_ a "assistência editorial" de George Simpson, 86 escreveu quatro trabalhos
port~i,:cia _de__ ir ~-~----CQ~ç_es!9 ___~_'ç~r-~º~-'1.. ~!P:,. '!~~~-9~i!_9~~~~~_.ml!?.i.~~_!!l_§É----~---­ para o projeto. O primeiro, "Uma crítica social da música de rádio': foi
no êxtase ~~zfó"-dos entusiastas do jazz, que o ouviam simplesmente P.QL entregue em 1940, embora só tenha sido publicado em 1945." Nele, Ador­
ouvir. Entretanto, era impossível confirmar a feti~h}:Z~Ç~o medianietécni­ no pautou-se pelo trabalho feito por Ernst Krének, outro ex-aluno de
cas científicas sociais normais - aí estava o centro de seu conflito com Schõnberg, com quem fizera amizade desde os tempos de Viena.
Lazarsfeld. Os questionários ou entrevistas eram insuficientes, pois.as pró_,___ __IYJ11.;:l<;j_á_ hav~~l1_tr_i~11ído para o Zeitsc~~ift.~SO.!Il 11m estudo sobre a
prias opiniÕes dos ouvinteseraJI1 indignas_cle C()Jlf:i~l}_Ç_ª. '~~ _música radiofônica _el!!.].238}8 Suas conclusões tinham-se baseado num
·capazes de superar a conf9.i:_rnJdag~_gas..normasrnlturais.,rorno..tarnbéJ:ll,___ ,!~_ªI!1<!lX!ent9_<le.ZZ.esta.Ç.Qs:.s.de.ci.i:lio~c:!e C,11.I~.r.~íses~Amai<ltiidd~s, o!)_
"aíndamals_fun-damentalmente, sua p2.9mia_capa_cida<!é <!_e_si_u_yir tinh.aose. servara Krenek, _!<:lcava pouquíssi111~.ll1lÍS_ica atonal rnode.i:iia, g_Q..tipo.da
... degen;;ado. Ha.Yia.regredido., não em termos fisiológicos, mas psicoló­ sue e)e J1leSJl1() rnmpünlia'.Suaexplicação .foi q-;_e;;::-funÇâo central do rá­
:fli~es,-A re~Jj~.o..s.~a_1:1_11'.'1.~~ª_91illcal anterior, mas~ es, __cli_o a transmissão de informações - havia per!Ilead9 também as traris­
_tad9 in_fantiLem_q_uLQ_Qu.Yinte. .era..dóôl e temiª-Slualguer _c.oisa no'0 ­ illiss_õ_~_rnl!sic~is. Além disso, a informação que ele tr_ansmitia-com a mú­
um estado semelhante à dependência passiva que Fromm havia descrito r.§irnera.<1.. ri_ec~~si~~~~Qnformldadii:-Ã.~miisic~: dlsse~~-Kré~~_k--{~~a
no artigo "O sentimento de impotência". __C omo___crianças que só pediam /eduz~cl<l.l't'L~icliQ_a_um or11ªm~11_t;L~a ;ida cotidian.a~Afém diss;, por
. os pratos ~ue haviam gostado no.passado, o ouvinte cuja audição ha­ ser um meio reprodutor de segunda ordem, posterior à execução real em
~ido só co11s.ei,wia ~receptivo <l~p.etição do gue j~~ si, ? rádio havia acarretado uma ll1!±da11ça crucial _I!~_e]Cl'<eriência estética
. antes._ Como as ~;ian~D~.\!Úsa"Cõi-es vivas, ele ficavaJ~~<:i11ado ~ ,clº ouvirite, JC()r_&iIX}ula_l"agrisaçij_adQ ÇQJJJPareçimgn19.p.e$_;9~al.'1.iim_ç9_1_1_,
.() uso de recursos coloristas que c!avalll a in;,pr~s.ªo cie_e_111p_<ilga~~() __e in­ _certo, o r~dio podia p[e$ervaro nunc, ou "agora», . de uma apre§~IJ!a.Çã.Q,
dividualidade. ··················· - - · - · . - -­
._111as não seu hic,011 ''agui": ~~m50,_g~.§.\[l1~.ll1I.1._clo_s~_s]:J_t_cto~ cruciais
~--_QQ1:1~Tr;t~regre_d~c!o,.<lfirl11()_!)~dor_no, -~J>.~iJ:igia a UfI!ª-.flas~e cl.2..'1.t1"-_Benj_amin havia chamado de "aura" da obra de arte: sua auréÕla
l(~p_ç_cífka. 84 O .!ll.(l.rt1"."t()_~~L~e__~_pr~~~~o era o do .bzer ritua~, e culta. ~.".i°l'enciar ª-112.tͧÍC<l.CO!fi S\Ja~-q~::ilidadeLi.l!reQ:
s~s.entido..dos.dese:mpregados. Embora momentaneamente despoht1za­ ~clª§_lJ1.tAÇ\as,9_0_11v111te c[g.ráç:ljq a. e.$@1ava.l!.m..urria forma desperson<1=
·da e passiva, abnegaç.ão.mas;;_quista_qJ!e ele "...~odia desenvolver-se
a __hzada, coletiva e objetivada,_q)±e_retira-"ª-dei'!_ª fun_ção negativa.
numa_nliva__çle$t!l.l!i.Ya,:v:oltada para fora. ~~a.dJ' frustrada do dan­ O estudo do próprio Adorno sobre a música radiofônica concordava
~enétlcQ.j0itterbu_g* expr~ssava éssa hostili_ciade_reprimida. Mas ç_~~nclusões de Krének. _Ele iniciou oartig~ enu~ci~nd; ~ig~;;·,;;;;
...-.....
-~---- ~-··-------··--- " -----~----~­

rnas\)á_sic9s:_ª_prç<:l9minâricia da mercadoria na sodedade moclernai";ten­


*Nome de um tipo de dança de salão. [N.T.] dência para O monopólio elJ1J.(lclOS OS setores ela socled~cleinciusJ~~;:;;S
------ --,, --------~- -, - --" _____ .. ~--- - '----~----··-··-,-~-., __ " ____________.._'______~-----~----~

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA

com~iC<J.Ç~':'.§_a_reaçª-(lcla_s_oci~d_ac.Ie._<1..9.1,!Jllq!!S'l-'!Jl!~aç.a . it.sua.pr.eseu~ das sinfonias radiofônicas -


' apresenta
- - .--·,.- -
'
l!!JlJnteresse maior. 93 J:al coll}_o.
----------·­
c-Ção, com a acentua_ção de_s_euE_~.".Il1~11tc:_s_c.:_onf()f!l1ista_s;,-e...a_existência de ~.(elt,eftrmo,l!.queooQ1lVWte..c:!e rá4io pe_rdia_~"presença" da música
o
,antagonismos sociais na es~r"._c1:1~t_u~11l-8' que decorreu dessas premis­ _,,.t1,111_t()-C()rn eliÇp~i:dm_tarnbém_Pe~r_te_.9_0~11_Ça_!1!_o~a_tir~oG<lõ"d-;;-;;ósi~;;:­
. sasfoilJasfante.semeTfíante à análise feita no artigo de Krének, e o traba­ O volume real_c:!a.execução também se perdia, bem comÕoser'itiillento de
lho de Adorno acima descrito não precisa ser recapitulado aqui._S_en.s.três coml!nhão criadQpQJsefazerpartede uma platéia ao vi~().A,o is;la~oin­
ensaios subseqüentes 110 Projeto de Pesquisas Racli()fé)_11icas_ci_e_c!i_car~~ .: ·divíduo, o rádio..senda.para .destruir o "espaço" sinfônico que, como o de
a exames da música popular, da "Music Appreciation Hou( [Hora de uma catedral, cercava o ouvinte em um concerto de 'lerdade. Servia tam~
apreciação da música] da rádio NBC e da sinfonia radiofôni~~ 'º liémparn cl.ev:<ll.ELo ouYint~ a_ttJ11J:e.J1lP() ~eqüencial, em vez d.elmergl=lü
O primeiro deles, "Sobre a m_úsica_popular'; foi publicado em um nú­ _11a "suspensão da consciência.temporal"" que caraÇterizava as g;:a;.;des sin,·
meroespeclal dos-StudiesÍnPhllosophy and Social Science, dedicado às co­ fonias, como as de Beethoven. (Com essa suspensão, Adorno queria dizer
municações de massa e produzido em colaboração com o Projeto de Pes­ · algodiferente da intemporalidade repetitiva da cultura afirmativa. O tem-
r----·
quisas Radiofônicas.9 1 O~_continuidade à avaliação hostil do ÍCIE. po normal era efetivamente Sl!sp_e11so pelas gra11c:!eso!:>ras ge arte, mas em
que Adorno havia iniciado quando ainda estava na Europa. Aos olhos do seu lugar havia um tipo de desenvolvimento coerente qtt~ Q<l__ll_ll1_anteg_Q­
autor, a~Ili_zaçã(l-".ª.P~e_g_c!():if!giyi~ui)liclad_e_~!ªY~-l!!.':'.!1tr~_Q2_1:~<1Ç~S­ 'zo
. da ordem temporal da "outra" sociedade. . Benjamin gostava particular­
sal!_e11_t:e~JiJLmúsicapopular. o..reconhec1mento do.. fatJ11\ll.aJ..§.ta_a_ess.encia mente de distinguir entre o tempo "homogêneo e vazio" e o tempo "preen­
d~ audiência em massa, mais.servi!1c:!ocomo.umflmem sic!Q_quecomo..... chido pela presença do agora".) 95 Q tempo seqüencial correspondia à
~m meio para chegar a uma apreciação_11111is_i11telige_11te. Umav_e_z_~e__ll_!!!ll ruptura da verdadeira individualidade, que, como vímos, sigrl\flq1va o ge­
dada fórmula obtivesse sucesso, a indústria a Eomoviª-e divulgava repe­ se_nvolvimento significativo e a relação com a totalidade. f'ara Adorno,
tfd~;;;énte-:l'me~isa. õ--;:;;;;-ltado era transformar-----
----------~---~--- -~---·-·
a música emuma
.., . ....,._....,_
···--~-~-
"a tendência para a escuta .atomiZ3da"- era)-"iãive·z~·a:cará'~t-~.ti_;tJÇ~-~.~~i~··­
espéCie decfffientõsôCíaique füncionava !'()r~i()_cl<J._cli~!r_açã()~..!"_<lli­ .· universal [da] consciência music.al de.hoje''.'6 r~i~;d~de~~~~nidade como
zação de desejo deslocada e da intenslf1_c'1S_ão da p_assi_vicl<l.cle. Todavia, totalidade estética, a;;infsmia deg~J1er~a_rmma série de citações reificadas,
como no caso do jazz1 Adorno comi4ero11 qu_e_ri_"__!ll~ª popular aind! _Jet<illios de _melodia retirados de seu contexto, sem ressonância negativ:a.
podeJia.haY.er U!Jlelerrie_!11:()_iso~a<l.9..cl~~g'l.çjj.Q. Viu esse elemento, poten­ ,Na segunda p-;,-;_:tê°do m~nuscrito origiml, Ad~rno continuo~~ ~~Íticar
cialmente, no ressentimento diante da passividade, que ficava implícito na os efeitos deletérios do rádio, assinalando o estímlll() à p_aclrof1iZ<[5~º· Ape­
pseudo-atividade do jitterbug. A energia expressa dessa maneira, afirmou sar de relacionar isso com a ética de troca do capitalismo, ele também
de um modo que fez lembrar a análise nietzschiana do religioso asceta, ~11iu UJ1la lig~m '!..rns:jonalidade téruica_em_si,_d.e..illQ.d_\í.:~:
pelo menos expressava um vestígio de vontade não extinta. "Para se trans­ .JlgQte.à.análise de Horkheimer.sobr.e_as..te.ndêndas..d_o_E.stado.autoritário.
formar em um inseto'; escreveu, fazendo um trocadilho com o nome da "É certo que, de um modo ou de outro, sua padronização básica preva­
dança,* "o homem necessita da mesma energia que poderia lograr sua lece nas formas não capitalistas de produção''. escreveu. "A paclrnnizaçã_o
transformação num homein.'' 92 técnica leva ao governo centralizado," 97 Mais uma vez, ele indicou clara­
Oterc.e.iro estudo de Adorno para Lazarsfeld foi uma análise do c~.::. mente a disiâl'lcúl qu~ ~ separa~a da corrente leJJinista Ili! crítica ~st_é!iça
!_e(;\,j~ do pr;gr~~;~"Büracfe <1pr_e~~ação_d~música";_-:9~_rá]i2}1Jíc,. q11e_
tria_rxista, com sua indiferença às. inovações tecl)gl<'.ígicas. Publicado em
, niostrou que ele difundia um falso conhecimentO__lll_llSical. Esse projet()__
forma abreviada no volume de 1941 de Radio Research, o ensaio enfren­
'·nunca foi publicado e não.tardou a_f'ícaxoll°§ol~N:AiíJ1irnªco11trib11i):~
tou considerável op9siçã9 c:!os .comentaristas norte,amerÍ~anos. Em. anos ·
de Adorno para o Escritório de Pesquisas Radig_fônicas - uma análise
-posteriores, Adorno admitiria que um de seus argum:e~tos tinha-se to;,_
·nado obsoleto: "O de que a sinfonia radiofônica não tinha nada de sinfo­
*Traduzido ao pé da letra, o non1e da dança acelerada, jitterbug, poderia ser "dança do bi­ .._nia,tese decorrentedas alteraçõe_stecnologicamente produzidas no s~m:,
cho-carpinteiro" - um inseto, portanto . .[N.T.] [... ] que desde então foram superadas pelas técnicas da alta fi<lelicfade e ·

250 251

'
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA A CULTURA DE MASSA

da estereofonia." 98 Em geral, porém, é lícito dizer que a crítica musical de be_u


- um tra<;Q dis_f!!!_o_de-----
.....
nega5ão
- até mesmo nos J>rodutos culturais mais
---·----·""-----~----···- ---~----" ·---------~

Adorno encontr~u um público pouco receptivo nos Estados Unidos, o que afirmativos.
------"--··---··---·
apenas em parte se deveu ao fato de ter sido predominantemente escrita 9 manuscrito sobre _W-ªgner não_Joi_publicado,_!lli!§_ circulou entre os
em alemão. ___a__11_1ig()s _dt Adrn:no na__ C:OJ:nl!nidade de e](Íl_a_<!()s_<:Ja__r~gi,1.o__dei9.LJ\.ni;i;~.
Embora Nova York fosse claramente a área de concentração da maioria
A muda11ǪJ'<lra Los Angeles, em 1941, pôs fimit_çQla\J()raçãQjnter~_
dos refugiados, certo número de exilados emigrara para a Califórnia, al­
mitentede Adorno com Lazarsfeld. Levou também a um redir.eÚQilllll!~,
guns deles atraídos por Hollywood e pelo trabalho na indústria cinema­
-tõaesua-ãte!iÇi\(),(_jÇSYJ:<\~4-o~a, ~ªi~uma_y~;.:d.Q z9;;_;;~0 ~~ tográfica. Entre os mais célebres estavam Heinrich Mann, Alfred Polgar,
da músicapara a sua prnduçã.o. Discutir em detalhe as complexidades de Bertolt Brecht, Alfred Dõblin e William Dieterle. Em 1941, Horkheimer e
·-seu- estudo nessa área, além do que foi feito até aqui - e, mais ainda, ana­ Adorno foram prontamente aceitos nessa comunidade de exilados. 100 Um
lisá-lo criticamente - extrapolaria a minha capacidade. Não obstante, é dos mais ilustres deles era Thomas Mann, sobre quem Horkheimer escre­
possível assinalar alguns pontos que o relacionam com outros trabalhos vera de forma não inteiramente favorável. A célebre ironia de Mann, afir­
do Institut.
mara Horkheimer em 1938, 101 tinha implicações passivas, e seu apoio à
Em Nova York, Adorno República de Weimar fora impensado. Apesar disso, ele reconheceu que 0
____ ..dera
-,---~" ----------~· -----~~-- ,.
os - retoques finais em um estudo sobre
_________ ---------------------~-------:-- --

--~--,.---·--·-­

Wagner, em parte divulgado pelo Zeitschrift em 1939.99 A publicação do repúdio de Mann aos nazistas o tinha conduzido a uma direção mais pro­
manuscrito completo foi adiada até seu regresso à Alemanha, na década gressista e previu que ele teria um futuro cada vez mais radical.
de 1950. Muitas categorias que usou, entretanto, demonstraram até que Quando os dois chegaram à Califórnia, as discordâncias anteriores ha­
ponto o trabalho estava próximo do espírito de outros exemplos do pen­ viam desaparecido, de modo que Mann tornou-se amigo íntimo dos con­
samento do Institut na década de 1930. Por exemplo, Adorno usou o con­ terrâneos emigrados. Durante a década de 1940, Mann participou ocasio­
ceito de "car_áter social", _çk.l'r_Q..mm,_J2_flra5ompatibilizar o anti-semitismo nalmente de seminários patrocinados pelo Institut e emprestou seu nome
-de-Wagner-c~_aJ:l()§!\lr_a _a11_ti_~\1'8lli'füLe a pseudo-rebeldia em certos a um estudo feito pela instituição sobre a ajuda fornecida por gentios ale­
-aspectos-de s~a J11lÍSica, Nesse estudo,~duzi_11__lt;!m°.s__<:()_l)lQ:'c_()gip().­ mães a judeus perseguidos. 102 O estudo foi realizado primordialmente em
- sitor-regeríte''e "tipo gestual"de comp()sição, af!__l!l_de_e,s_çlar~~i:__()__c_()ll:: 1943 com um levantamento no Aufbau, o principal jornal dos emigrados.
teúdo social da música. Outro novo conceito foi o de "fantasmag()[iª'.',_q!lt Cada vez m_ais abs_gx:vido natentativa de dar à experiência nazista e suas
· indic0g <t tendência de w~mas~~ar-agêii~esôci~p~icológicac!_'~ ongens uma forma ficcion~l, Mariri<le:p;;;;;;_,e:éíi-íiêir~~~ifil?~:ile.usaiavid~
sua música, fazencro-parecer: qÜeefa derivava <l<l9nt~~~-ªtQ~~is" __:__:_ um -e::_a-obra de um compositor como o equivalente
' _!____________________________________ ' - simbólico do declínio cu!­
-----------------­
'.$!1_g_<ld()~ístico -d~ grande_j~<lo=rens:;;ento autoritário, como tura _da Alemanha. Sentiu-se atraídopor Adorno, com sua formação-sfn-­
vimos na obra de Marcuse e Lõwenthal. Ess~--lJma §<1c_terística ela gu!aí: em música efilosofia, como fonte de inform~çÕ_~;.-Opri~~ii9~;;;;_
ideoJ9_gi!_~gn@g;Lq_'-!_e Ad<Jrp_Q_!i_~a aos elemeg!Q!UníJ:kQs_do.s_dra­ -pio do trabalho de Adorno a chamar sua atenção foi o manuscrito sobre
. m~s-mu:;ic~Ls__ci(l_ CO!fil'OSitor, elementos que procuravam interpretar o Wagner. Mann o reconheceu como um "tratado extremamente perspicaz
inconsciente e, ao mesmo tempo, nele dissolver a realidade. Adorno tam­ [... ] que nunca passa inteiramente para o lado negativo [... ] e tem certo
bém discutiu O anel dos ~Qi.<;m termos da traição do~;;Q"!ilciüiiá­ parentesco com meu ensaio 'Os sofrimentos e a grandeza de Richard
.~íoj_>elo "re_bifdt:'~:;t_,Q~~nte us=d0-conceito_s desenvolvidos_por _Frq_i:rim Wagner>".103
_e!ll s_e_u ensaio Je<)riço_ nos-Studiev_ü.b.er.fiytoritii_t und Familie. No último O trabalho sl1~següente d~j\d_o~nocausou uma impressão ainda mais
fragmento publicado no Zeitschrift_,-,Adorno analiso~essimismo e o forte em Mann, quando este o receb~u-~m)ulhodel943~JÇ]2_iii!lii.!m::-~~­
tade do qu~depois v_iriaase_cli_arnarfi[()Sojlq___c!a músic~ moderna era t1m
..
--·-------··~~--­

_niilismo que Wag_11er~<!()~flr:<l~_!l<:_~p_e~er. Nesse texto,~ljlll~__.


havia-Ümaêertãmedida de protesto utópico na visão de Wagner, na ma­ .. ensãio:s{)b~e Schi:\nberg que desenvol:vi~ alg_L!n~-;~;;:;-as i~ici~Iment~cÍi;­
_;ei~a como sua abordagem dialética sempre, ou qu;;;-~"tnpré;jí~t_ǧ:. cutidos por Adorno no Zeitschrift, em 1932. ~-déc~<l;d;-194(); ~~~o

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA

mencionamos, Adorno t()_rnar~ mais ~ítico a resP.~~l<?_i<l:S_l12\l<:l<lnÇaL_ Na década de 1940, Adorno também colaborou com outro refugiado
,ocorridas n<1,IJ11ÍS.ica de Se\l a11tig<;> ídolo, especialme_llK!l<i..ac.eitaÇ.ãQ,_pQJ:. resiaente na CaÜfórni~, o compositorHangs_]Oi~~r,efiiu~lfrl'_q_~t;a;
garte deste 1 _da_~ip_.?.s~_<i<J_si~!~a _cf9_<l~sifôniZo por seus discípulos.~ -t;;_-vada mlÍsÍc; J1o~ÍJ1en;;\. Entretã~t~:-p~; sua relutância em se assoclar a
acordo com Mann, Schõnberg, g\le 11a éJ;Joca tarriJ:i~J12.ItlQl.<JY<l no sul-~ El;le~, que tinha um envolvimento político maior, seu nome não constou
Califórnia, "sentiu o toque crítico no respeito de seu discjpµJo'; 1º~2.gue da página de rosto quando o livro foi publicado, em 1947.11".-Na Cal_ifói::
, tornou tensas as relações entre os dois. Mann, por outro lado, ficou ent~-:-' nia, Adorno também encontrou tempo para escrever e11sa_ios so!ireJ:Iµxley
siasmado com o que leu e tratou de incorporá-lo ao romance que estava e Kafka e crÍti~~scultt;;áisêmgerá[ãs qua!sTo~a'ill il1cluídas ell1 um livro
escrevendo. chamado Prismas, publicado na Alemanha após seu retorno. No verão de
Na discussão posterior sobre esse romance, Doutor Fausto, Mann ex­ 1948, imediatamente após a conclusão de Filosofia da música moderna, ele
pr~;~o-~ gratidã;;p_~fi.i\jii]à".Ck.Ãdo;n;;:''A àii"álise do sistema dodecafônico voltou a atenção para a música no bloco soviético, O resultado foi um en­
e à critica a eÍe, traduzidas sob a forma de diálogo no capítulo XXII do saio sumamente crítico, intitulado Gegangelte Musik 111 (giingeln significa,
Fausto, basearam-se inteiramente no ensaio de Adorno. O mesmo acon­ aproximadamente, acorrentar ou conduzir pelo nariz),* no qual Adorno
teceu com algumas observações sobre a linguagem tonal do Beethoven atacou a promoção de uma arte "sadia" por parte dos defensores do rea­
da maturidade, como aparecem no início do livro, nas divagações de lismo socialista,
Kretschmar: a estranha relação que a morte estabelece entre o gênio e a Além do trabalho sobre temas culturais, Adorno manteve seus inte­
convenção:' 105 Ao long() deJQ<:l<l.11.l'~<:l<lS~Q-~()__liyro" Ma;m.m~u à o.rien,,_ resses. t~Ó;i~~~,q~e..fevararr1à Diã[Ji[cã·a-;;&J~;~~i;;;;;;;~~~ª·-~~~-ii~~9
lação de Adorno:__ Em outubro de 1943, ouviu-o tocar "toda a Sonata Opus ·.de aforismos, Mínima moraliq; 112 ,também gastou alg11m tempo tentando
111 [de Beethoven], de maneira sumamente instrutiva". Sentiu-se impac­ empregar as técnicas empíricas n()rte-aroeticanas ..em seu.trabalho.sobre
tado, "Eu nunca tinha ficado tão atento", recordou Mann. "Levantei cedo
" ·,fpersonalidade autoritária e em um estudo sobre um demagogo norte­
na manhã seguinte e, nos três dias subseqüentes, revi e ampliei minucio­
. americano, 113 Ele.YQ.ltr>u à..Ale!l1<1Jl.ll.<1..S:()_m H_orJs.l:leimer_t:_m l 9_'.f2, f!l<l.S..§§U
samente a audição e a palestra, o que enriqueceu e embelezou grandemen­
trabalho na Califórnia ainda não havia terminado. No inverno de 1952­
te o capítulo e, a rigor, do livro inteiro. Nas frasezinhas poéticas ilustrativas
....Í<J53, retorno~ por alguns meses, prilllp~di~l~~~te__FAraSQ!l.§et'mLa ci.c!a­
que escrevi para o tema da arieta, introduzi o sobrenome de Adorno,
dania norte-americana, Por meio de contatos que estabelecera enquanto
Wiesengrund [prado ou campina], como forma de demonstrar minha
trabalhava em A personalidade autoritária, obteve o cargo de diretor cien­
gratidão." 106 Em dezembro de 1945, Mann enviou a Adorno uma carta de ------·-~- ------~-~·-~-·--·-·~·

dez páginas,J2~<:lin42:'d_e§<:~Ípâs po~-serneJ;p~éstir;;;;«:esc;:-up~!;;;;~~~t~·-' tífico c!a Fun<:lação Hqç{ser, ell1 jjeve!'!y J-Iills, Alifon11t1regigi_dos 5eµsc!ois
- últimos trabalhos sobre a cultura de massa nos Estados Unidos. O primei­
· inescrupulosos"10 ' do trabaÍho-deie~e-pedlu-;J}a!S-afü(Iá-;-(iii~.Dj.;-!à~ê!Q.íJ:;L::.
chega e Quando o romance foi publirndo, em 194 7~ A<:l9W.Q r".çebe\!,.Uill­ ";c) foi um estudo, es~rito com Bernice T. Eid11s'O-n, sob;;-º ~Q'v():in.~i9 dé
' exempll·; com ur;{a dedicatóriâ de Maniipara~o ~co~selheiro s~(reto", 1 º' cornún!CaÇao de massa,
a televisão, no q\laJeks_a!1iifü.arRm Q cQllteJJdQ
}Is relações de Mann com Schõnberg, podemos assina!~i:..4~pas~.<'ft1,_fo­ de roteiros, procurando descobrir as mensagens sublimin-ª.[es dos progra­
xam seriamente prejudicadaspda acusaçfi()(l9_çorgposi_t()_ul~gg_~ sua;' ·_ mas, 1.1' O seg\lndo foi um estudo mais longoe, em certos aspectos~ mai.s
idéias tinham sido roubadas, sem indicação da fonte; Mann acrescentou original da coluna de astrologia do Los Angeles Times. 115 Adorno já escre­
uma explicação em todas as edições p;;ste~iores do;omance. 109 A Eilospfia, vera diversas páginas sobre ocultismo em Mínima moralía, 116 Visto que já
da música moderna foi lançada no ano seg[lin~_c_<?.lll,..]lll)ilParte sgbr_e...... tinha concluído o trabalho adicional sobre A personalidade autoritária,
Stravinsky escrita düráiit~ã-guerra, a fim çle contral:>alançar os capítul9s .. pôde ampliar consideravelmente sua crítica,
sobre Schõ11bexg, Mais tarde, em Dialética do esclarecimento, que exami­
naremos no capítulo 8, Adorno viria a chamar toda essa obra de uma lon­ ~Uma possível tradução do título do artigo seria "Música tutelada" ou "Música supervi­
ga digressão, sionada''. [N,T,]

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA A CULTURA DE MASSA

Em As estrelas na Terra, título desse estudo,_Adorno tff!tQ!l_<I_astrologia no que viria a ser o último encontro entre os dois, ·-~"njamin rejeitou o
como uma superstição "secundária'; no sentido de ela afe_t<jr_gn:tt'2§__s;­ apelo urgente de A,j9r_11g,sl_izf!ldo__ g_t!~ ''aiI1_cl'1.ll<\__pg§içéjesª_c:l~fellcl.<!Lna
cundários, como .as classes, e não primários, como a famílfa.. Por isso,. ape­ 'Êur.CJPa". 121 Uma vez.invadi~<jSJ:§.fils fl()siçêj_<!S,_ç__gl1an_ç!o a perJ!l_a_nê11c;i,<'ern_.
~ar de ele haver usado idéias psicanalíticas - com a ajuda do Dr. Frederick.. -p;;;:is &ixou de serpossív~J - a Gestapo ocupou o apartamento de Ben­
Hacker, que era analista por formação -,_tais conceitos nãos_e_'\loltara'.1:! ---;;~i~ no verão de 1940 - , ,ªemigração para os Estados Unidos tor.no:u­
primordialmente para os indivíduos, mas para os gnw.os. Mais exatamen­ se cada vez mais difíciL Os refugiados alemães que já tinham fugido para
te, foram usados para explorar a camada p~jcossocial entre a psique indi­ '"'a França corriam o risco de ser devolvidos aos nazistas pelo governo de
vid;.J"afe a~o_11sciê11cia sup()§~lllente individual.-QJ:_r_el!.<l..Pelo gual Ador­ Vichy.* _l_lt:11Ia_min foi posto1111111 c'1111pg___ck_p.risi9.P~r<:is ~m.Neire.rs,..a!l_~­
no mais-se interessou nesse trabalho foi o de .Psicologia das massas e análise cipand~ exata:;;_;ente-· Ísso.- O__ I1_1stitut11~ssou e11tã()_<l fozer..tudo-po<-.ele.
'do eu. 117* Como resultado, o estudo mostrou a con_v~~a da -Mauric~_Halbwachs. e .Geor__g.,s___Sc.eJl_e:i11~ryigªm_p_<l~<l_'l_ut;.elef()s_s__e lib__e_r­
cultura de massa feita pelo Institut com sua an~li~e ~~_1:1.t<JrJ!_axis!llo, o c;~d; do ca~p~iii"fí~",,i~ ;:;m pequ"nonú111er(J devJstQsç!e errie_rg~!_l__çiªs.lls­
que examinaremos no próximo capítulo. A a_stro\Qgg,_s.011s!!.!ÍJJ_AdQ!QQ, <p()nív:e_i~J2<l~_os _E;tadosl.Jnidos:_!'rincipal111e_11~ p"l()~esforç()_s __d:l'()Jl()c~, _
era uma "ideologia da dependêJ1cià' 11 ~q_t1.<!..ªterigia a muitas necessidades__ 'um deJes foi concedido ao refugiado relutante. _Mas Be!_ljamiu te.Yerne)}QS
"irradõtiais daquele tipo de pessoas que "obtinham marcas elevadas" l'lª-. · sucesso_na obtenção de um vist() desaíd<1_.ciaFra11ça. Embora isso fosse
-'.'Escala F" de A personalidade au.toritária. - - -- ­ Úm obstáculo, não chegava a representar um problema insuperável, já que
Os anos passados por Adorno na Califórnia foram muito produtivos. uma estrada geralmente não vigiada, que cruzava os Pireneus até a fron­
_No ensaio sobre Huxley, ele escreveu: "Ficou in~_guiy()ca_mente claro, pa_i:<t_. teira espanhola, em Port Bou, era considerada uma alternativa segura.
o intelectual vindo do exterior,q_ue el~.;-se !liminª_L~()!IIQ_§iLªV.tô.­ Benjamin, na época adoentado por um problema cardíaco, fez parte de
'-noITio, se tjy~~A~p~r;;ç~ d~ conquistar_algmxrn ÇQͧ.ª_()\l ser ace_itQSQ!llO um grupo de refugiados que rumou para a fronteira em 26 de setembro
-empregado.do.supertrus.tes:m q\le a.Y.i_da_secQJldeJh1QJJ." 119 Adorno nunca de 1940. Em sua bagagem levava quinze comprimidos de um composto
buscou nem recebeu essa aceitação, mas seu êxito foi no mínimo fortale­ de morfina que, como dissera a Arthur Koestler em Marselha, dias antes,
cido por ele ter-se mantido obstinadamente do lado de fora. J'm vez de __ "eram suficientes para matar um cavalo".12 3 Quis o acaso que o governQ
sucumbir às exigências do "su.pertruste" cultural norte-american__Q,__cle.­
.. " - - -- ----- "'" -' "' -- -"" °'"'"•'··----·..··---.,·--·--·--·-­ espanhol tivesse fechado a fronteira pouco antes ela _cJiega_cla_clg_ grnpo.
pôde escrever, como quase sempre fizera o !n;;.t_itut,p<1ra um público mais • Cansado da viagem, aflito com a perspectiva de voltar e ser preso pela
ideal do que real - com exceção do trabalho do lnstit~t ;Õbre·o·,;-;;:;:;;rita­ Gestapo e pouco entusiasmado com o futuro nos Estados Unidos, Benja­
rismo'. Ironicamente, depois deregressªt1-..Alemªrih_ay__cri{)1J:_s_e _1i_n1.p!Jb)j_-__ min tornou os comprimidos durante a noite. !'ecusan_d9~se.. <1_permitirqt1,e_
~~_fi_c_ie_nte111~_1:t:~l<J para_t~:insf~".:'!1_á- lo_el11___11__112.ª ç!~s p_aJof~;;_flg_t!::.__:. lhe fizessem uma _l<1vage_!ll (eStOI11<\C_a,lJla.lllªUQãiiegJJJnte,.morreu.em ago_,
ra~Jntele_c~_ll!!iS. e11fQp_éias çle s_ua__é_po_c_a. ·;-;;;Pãs~~dos poucos meses-de seu quadragésirn9 Qitª11º a!_livers~rig. No
-dia seguinte, abalados pelo suicídio, os guardas da fronteira espanhola dei­
_A sensibilidade para as pressões dayida cultural norte-americana de­
xaram o restante do grupo cruzá-la em segurança. Como uma sombria
se~pe~hou um grandepapéTii:~~~ d_~W:a~J1jam~gora poae­
nota de rodapé nessa história, Koestler, ao saber da notícia, tomou alguns
mos nos voltar para su~ contribuição à história do Institut._ Dui:_ante todi!_
dos mesmos comprimidos, que Benjamin lhe dera em Marselha. "Mas",
a. década de 1930, Benjamin resistiu aos apelos da organização para que

escreveu posteriormente, "Benjamin parece ter tido um estômago melhor


;e juntasse a sei:i; oi:it;ü-;rrie~~Eo__s~ii-i-~__élva yofK.TI'l Em janeiro de-1938,

que o meu; vomitei tudo." 124

* Traduzido no Brasil com o título equivocado de Psicologia de grupo e análise do ego na Edi~

ção standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud ( 1ª ed. Rio de Ja~
* Cidade em que se estabeleceu a sede do governo francês colaboracionista com a ocupação
neiro: Imago, 1973). [N.T.] alemã durante a Segunda Guerra Mundial. [N.T.]

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA

Jamais saberemos, é claro, o que a emigração de Benjamin para Nova rante o período de afiliação, chegou à presidência da Livre Associação Es­
York teria significado para o Institut ou mesmo para a vida intelectual tudantil de Berlim e fez contribuições freqüentes para o periódico Der
norte-americana. Só podemos conjecturar até que ponto ele teria somado Anfang [O começo], de Wyneken, sob o pseudônimo ''Ardor". Du~e_a
seus talentos aos dos demais componentes da organização. Horkheimer e guerra, interessado em buscar outra forma para es~ap<Jr_à opressão da vida,
Adorno esperavam conquistá-lo para a teoria crítica, como já haviam ten- · ·burguesa, àfiistõu=se ·ào ·Mõvíménto da Juventude. O sionismo. torno.uos.e
tado fazê-lo a distância. Até que ponto ele continuaria a resistir, isso é · a.§.1EL.P_<IÍX_il()domi~te_n_2§_<lno_s_§.".guintes. A partir de 1915, seu interes­
matéria de especulação. O que se pode dizer com certeza é que o JngjtlJ.L -;e por esse movimento foi reforçado pela estreita amizade com Gershom
ficou dol()~~e dec~9º.._Il!l_g.Q_~a_füto.J:Qm sua mort~RITIDªtt!J:a. Nos ~"..111, que também_despert()U sua curiosidade pela teologia e o misti­
,....---- . .---~­
. anos pos!er1()res, procl!rQJLÇQAferiLa ele.o. reconhecimento e a aclamação _.í;ígr!()_judaiç9s. A mulher de Benjamin, Dora, com quem se casou em
---que lh~Jinham sido negados em vida. A primeiramanifêStaçfuídi;so foi 1917, era filha de um sionista ilustre, Leon Kellner. Ocomproll1issode .
·um livro comemorativo, com uma edição restrita (por causa dos proble­ Benjamin colll osionism()? entJ'~ta11to, 11unc:a foi _i.11!~Jl_J"~_Em 1922, ele.
mas financeiros do Institut), em 1942. O volume incluiu ensaios de Ador­ resistiu aos apelos de Scholem para que o acompanhasse à Palestina,
no, Horkheimer e do próprio Benjamin. 125 De~. regresso do Institut embora suas cartas posteriores tenham indicado um interesse permanen­
WellliUlha,.A.dorno, com_a ajuda de Gershom Schole~hoãílligo
te nessa mudança. 132 Com ocolar.so do casa_l11_~11.!.º ..lla_clécad;!_çleJ~~ ­
geBenjfüX1in,.p.ublico_U-<ldições..de_si,u:;.g.Krít.os_.e..cartas~a­ 0 divórcio ocorreu en;:-1930::.-<~esap~~~~~u o que talvez tivesse sid() um
. dearam um interesse ge11ernH:z:a<:lopeli! obqhe.Dj.<l_miniana. Os críticos_d~
estímulo para o seu sionismo. 133
seram muita coisa sobre como Ad.o_mq-i~teJ:pr_e1olL.~.s.Jdci;;;_QQ_J!illÍgQ,
Não obstante, o impacto dos estud()S_s_o])re 0 jgQ;!_Ísfilo,..fo.ito.S so]?._aj!)­
•Deffi como sobre aimage_rn de Benjamin qu.e.ele.fome11toih.IDas__1mnc~· fluência. de S~hok;;:;~ manteve::Se forte pelo resJo clª-yjçfo_.de..BÇ.!IÍ'lmin,
puderam negar que sópçlos esforços dele, em cola[)<J_ra<;illl__cgmSçh.okLll, embora, depois de 1922 - ano da partida de Scholem e do fracasso de
é que Benjamin chegou a se tornar objeto de controvérsia . uma planejada revista literária com uma perspectiva religiosa, que se cha­
.. ···•· AgQ.rrJ9-n!lnÇ!l.llego119u~ aperspé~tiva <.l~li~'DI~~~~:;:~mbinando de maria Angelus Novus -, nunca mais tenha sido tão decisivo)ª discuti e
__forma smgular elementos teológicos .e. materiaJ.ist'ls,ei:a.inteiramen.t~.1'!:2­ mos a influência de algumas corre.ntes judaiças no trnb.<1lho.do.Jnstitu.t:
/ pria. Explorá-Ia de maneira adequada exigiria um outro estudo, que aliás
a h~i!<1.~ll1 no~~crever o "outro", qu~est"::'.a no__c:_e;:l}S!_ da
já foi feito por Rolf Tiedemann 126 e, portanto, não precisa ser tentado aqui.
-teÕria crític\l, e o interesse .de Emmm_em._uma..ant.r.opQ\Qg.ig filo.si!DsiLse:
Uma simples triagem da controvérsia que cercou o nome de Benjamin na
·n;:e!ha-;;t~ à de Marti.n Buper e de seµs colegas da Le.hr_haP:s"_de..Ernn.kfu.rt
última década seria uma tarefa de proporções consideráveis. 127 Tentaremos
Aio'il~ê~cia do pensamento e dos costumes judaicos em Benjamin foi .uni
analisar as relações específicas de Benjamin com o Institut e sua contri­
'pouco diferente. Seu interesse mais marcante eraacabafa;a111<1is_enigll).á­
buição para o trabalho deste, sobretudo na análise da cultura de massa.
. tíca das obras místicas judaicas; nesse aspecto, a amizade com Scholem foi
Benjamin nasceu em Berlim em 1892. Como a maioria dos outros in­ ..crucial. Quando Max Rychner, editor da Schweizer Rundschau,_12~tou­
tegrantes do lnstitut, cresceu em uma família de judeus assimilados e abas­ lhe a respeitoCiãlntrÕ<l~Ção-particularmente herméti~_a_deseuJLvr9so:líié
tados. Seu pai era um antiquário e marchand, de quem ele herdou o fascí­ odran;:-,;t,al:r(;co: A origemcfo dramabarrõêõ alemão, Beni<tmin remeteu º
nio dos colecionadores por livros e artefatos do passado. 128 As relações com àcaba!a.13 4 Ü q~~ atraía Benjamin para a cabala era a habilidade e:xe.gé_ti_c;a
a família, porém, nunca foram fáceis. Embora Benjamin tenha retornado necessária para perscrutar diferentes níveis de significaçã_o. Em carta es­
seguidamente à infância na obra que deixou, 129 esse parece ter sido, para a
crita R.yéhne~ em 193í, bem depois de ter-se interessado pelo marxis­
ele, um período de grande tristeza. 130__Como ou.tros adolescentesJmrnue: mo, Benjamin ainda pôde comentar: "Nunca pude fazer pesq11Jsas_.!1.".!tl.
...ses. alemães.insatisfeitos, .ele.seJígg_JJ_<l.llJies c1ª_g11er_rª-!Jo Mgyjmento9_a_Jµ-­ pensar de outro mod9que rião e.m.umTentiaõ:teológ1Cõ;~se.:is§im ..12oo;;o.
,ventude, liderado por Gust<Jv Wyneken, tornando-se membro de sua afa rne-expressãf,-ou-seja, de acordo com o ensinar;ientotallllúc[icodos:Jo9 ni:
·mais radical, predominantemente compostaporestud;o\ntJi)J.id.~;:i3i!);.[::-· veis de significado de todas as passagens da TÕrá:' 135 Como já se assinalou

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DJALÉTICA CAP(TULO 6 ·TEORIA ESTtTJCA E CRITICA À CULTURA DE MASSA

muitas vezes, 136 ()_~dos f~ômenos culturais por Benjamin asseme­ outros, esse pensador chegara ao materialismo dialético depois do perío­
lhava:se ao_c[S'_1Jmer11dito bíblico ~tud~11d~~t~~ sagr'!!!o. ,Na~~ do heróico deste, nos primeiros anos do após-guerra, 142 apesar de sua
rança de escrev~ um livrsi_~!J_DíJ22~t()_~ó de citações, Benjamin expressou curiosidade ter sido despertada já em 1918, quando ele conheceu Ernst
o desejÕquase religj()~()-~~J9_r_11ar_Q_pmta-voz transparente de uma rea­ Bloch em Berna. 143 • O trabalho inicial de Lukács funcionou como uma
fi<ladé§úpe:rior. Sua teoria da linguagem enraizava~se, similarmente, na su::­ ponte adicionalp_a0.M~.rx: sob~etudo HTstó-;:ia e consciência de classe e
posiÇã0 de uma re~lldad;~;;-;;:t;al, que-pode~iã-ser~evelada, ainda ~;d; "ÃteÕria do romance. 1"_0s conhecimento,s_p_(!~52!ll~~ém tiveram um
'[or111a i!lC()rr1p!ç~,_p,eJo_p,0 d.er_Q.:i.ex~g!;_ç. 137 ________ - - ---- ...._
~Lfu.ndamc;,rnal. gl1':.l2-24,_clte_ fér_ias _e111Capri, Benjamin C()l1_~~ceq a
Benjamin foi receptivo aoSC(lmp0 nep,t~s ~~vel<tdor_(!§ do judal'illJ.n,.mas diretora e atriz russa Asja Lacis, que estava em turnê com uma compa­
mÓ~trou-se igualmente sensíyela s11as corr~!ltes..IT~4~nto_ras. A corrente nhla-t~atraf'q;;(:apreseritava .Eduardo II, de Brecht. É possível que_l3_'.'_llja­
~111essifu:iic:<UJiJ?ensamento judaiço, apropriada sob forma laica pelo mar­ min,,_çujo casamento com Dora Kellner andava com problemas;~.r'.~.<l:.2~
xismo,,e..,tá p.resenle.em_§.E;!l~.~sc:ri!g§_ dos_omeço ao fim. Um dos últimos ~,;p;ixona_c;!()ReJªS.rtª,Lllcis. Como quer que tenha sido, ~J~si_;ip_r~~~tQL1.
ensaios que escreveu e que foi publicado postumamente, "Sobre o concei­ "ã seu-drculo de amigos marxistas e _ajlld()Ua CQ!1Jt~gl,liI .il 'ÚAge!ll.Jj.Ue._ele,
to de história",* deixou isso patente ...Foi nesse_te](t<:>.q11e_l}t;[lj<tl11iD__a.i:ticu­ a
"fez Moscou no i~~er~o de .1926-1927._Na capital soviética, Benjamin co­
lou da maneira mais clara a distinção entre ot.E;_mpo l:Lom_0 g~neQ..e.Y.ilziP-;; ' nheceu Maiakóvski e Byeli. Começou a redigir, mas não concluiu, um ar­
o Jetztzeit [tempo present~ realizaçl9J..111e.ssi~I1iC:(), 138 que deveria ser intro­ tigo sobre Goethe para a Enciclopédia Soviética. .~!Il 1929, _Asja Lacisg ..
duzido pela revolução. :rambém nesse. g115ªio ele..deixog_çl.ilf..P_o_ç.QffipJ=D.,;;,­ apresentou ao homem que viria a desempenhar opaf>elmais importante
misso da vida inteira com .uma forma-teológicaQ.eR~!:l~<tmentQ,ll!LPªrá­ nó desenvõivíríie!lfamârxistadeJlenjaôliI!: llerto.ltJ?rncht­
bola de abertura das "Teses": ·-·­ ,...Ã r~Íação de Brecht com Benjamin tem sido uma das principais fontes
,_,,____________ . ----·---------·------d
Um boneco de roupa turca e com um narguilé na boca sentou-se diante de da controvérsia recente-:-SÇhofen}e Adorno consideraram a influência e
um tabuleiro de xadrez colocado em uma mesa grande. [... ] Na verdade, um Brecht mais destrutiva q~;b~~éf!c~.;~-R9.if:u~.d.s:mª-~~l1,1129~<li:b,dor­
pequeno corcunda, que era exímio enxadrista, sentava-se dentro do boneco
e guiava sua mão por meio de cordas. Podemos imaginar um equivalente
no, afiiôlou que esse relacignameri,to_<:leyf_§~Le_nten~r:riengs_e_111Jer­
. mos intelectuais do que psicoJógicos,_effiYjf,tl,lde .42...111.e_g_ü_']_U_ef.l~[lj,am.Ín
filosófico desse dispositivo. O boneco chamado "materialismo histórico" te1n
de vencer se1npre. Pode enfrentar qualquer um, desde que recrute os servi­
tinha de Brecht. 146 Especialmente nocivo, concordaram toQos,Joi o Jato
ços da teologia, que hoje, como sabemos, está diminuída e te1n de se man­ 'de Benjamin ter ac~itado o materialismo grosseiro e até vulgar de Brecht.
ter oculta. 139 Quase igualôlmtelastirnável, pelorri_e!los a9s_9Jllo§...c:ieAdQ.II10,foi__B_~[lj_a­
min ter adotado. a atitude ~~~&e;adarnente oti!lli_sta QQ_amigo em..tela<;ªo
Convém acrescentar que. ojnstitut, longe de encorajar os elementos
·---~ ~·-----·---.---~..--..----- -----------
teológicos d() pensamento de Benjamin,_CQJ!!O.~lgllll~ ..c~ítícos insinuaram,
.. -~----·­ ãó potencial revolucioná~lod~a~tepopuiai~-das inovações tecnológicas.
Nãohá dúvida de que a desconfiança pessoal que eles tinham de Brecht
~-procurÓu iiifluenciá-lo em uma diréçãomajs seclll3:r. Ã--;~ão-g~r~Jàs"
contribuiu para a antipatia à influência que este exercia sobre Benjamin.
"Teses" não foi especialmente favorável na Escola de Frankfurt. 140 A cor:_.
respondência de Adorno também mostr_a_reprovação aos resíduos judai­ A Escola de Frankfurt se_fllE.1:"_r_~sp_ei\ou_,a5..r.e.ªJizaçQ_~~!i.!<'.t:.~s_de Breç\l_h
éos no pensamento benjarniniano.~41 .......... _ _ _ __
-';nasllun:Cacõ'rnp;,:tifh'P'u suas idéias .rolíticas. A recíproca era verdadeiEª·
yor outro lado,_()_In_stitut.11ªº-~~-e_gtusiaslllilli..C:<?TI:LQ tipo de mar]<Jsmo_ '&-;;:;- dePolSâ.ã-rnõrteâeBen)alli:in: q~-;;n<lo Brecht j<Ís~ h~~i~ôlli<lado
para a Califórnia, ele, Horkheimer e Adorno se encontravam socialmente,
ad~~dÔ-por
' .. Benjamin e;;meados da- década de 1920. Diferentemente dos
.... ___ .. ____
-' ''"""''-• ,_ _.
mas, corno demonstra o diário brechtiano, 147 as antigas animosidades
mantiveram-se inalteradas. Para Brecht, o Instituts.o.mpunha-se_de_"inte.­
* O ensaio, cujo título original é "über den Begriff der Geschichte': é citado por Martin Jay

conforme a edição inglesa, "Theses on the Philosophy of History" [Teses sobre a filosofia
lectuais de Tui" que se pros_titui_a!ll.t:m _ti:_()c:_a__<i.o_~p(liQ.~.'1~ fu11dações nor:­
da história]. [N.T.] te:_".me1i9...w.s, (ülli' proposto romance de Brecht, ambientado no reino

260 261
MARTIN JAY • A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAP[TULO 6 ·TEORIA ESTl.'..TICA ECRITICA À CULTURA DE MASSA

chinês fictício dos tuis, nunca chegou a ser concluído.) p9r ..s!JaYe-Z,_9_L_ não significava, de modo algum, a relação entre duas entidades metafísi­
membros do Institut viam-no como um poseurJesno.b.eJ.JJe<:Lu.eno-burgy.ês_ cas:'157 Ao.defender essa tese ele estava,~dani,e111tun !erreng_@nhe.dd.Q
_e um apologista do s.taHnisrno. de Horkhelmer,Marcuse.e Adorpo.-Mas se afastava_cieles n() impacto com­
Para Benjamin, por outro lado, Brecht era muito mais atraente. "Mi­ pa~~tiv~~e;;tepeqne;}Q:de:fi;:seliin_se-;,_p.;:~aJll_e!l.!2· Em geral, procura­
nh:_<'~J1(;ºrdância com a produção brechtiana'', ~;~~~~eu:;:-mi'133,'~~p~~; . va livrar-se do fardo do jargão filosófico, que descartava como conversa
·senta um dos pontos mais importantes e mais reforçad()s de toda a mi­ de alcoviteiros [Zuhiiltersprache]. 158 Nesse ponto, como revela a correspon­
nha IJO§içã:o." 148 Hannah Arendt, que conheceu Benjamin em Pa~;; ~~ dência entre os dois, ele e Horkheimer discordavam. 159
década de 1930, comentou que a atração estava no. "pensamell!o_g!()s;~i~ Outra fonte de. atrito entre Benjamin e Adorno era a relativa indife­
.ro" de Brecht, 149 na rejeição, que Adorno abominava, das sutilezas dialéti­ re;;ça .do primei~() à;;.t\;i~a,. ;obret-;:;do-côm() mdé)pote;;~ia1;;;:;;;;_t;o::;:;.iti-
cas. llenjamin, prosseguiu, via no materialismo sem mediação de Brecht ~ç(í";segundo Adorno,i 60 ele ~riara na juventude uma animosici<tdenunca
"menos um direcionamento para a prática do que para a realidade. Para §pperadáeni:IelaçâõTrnú$icà.Emum erisa!o-importaiite,"Õ autor como
ele, essa realidade se manifestava mais diretamente em provérbios e mo­ produt()r~, 161 escrito quando a influência de Brecht estava no auge,_B_e.11)'1:
dismos da linguagem cotidiana." 15º A1>.Ddt não foj a única a apontar 0 -m:rr;·;ugerit! qt!eera preciso acrescent<lr_letrª··ª 111tÍsicapa.ra.!he ..<:l<ir.c9n.­
zf~sc:í!li().q\le·-·----·-·-·-·
Brecht exercia sobre Benjamin. Outros detratores do
..··--·-·-·"-·----·---.. -... -----·~-·-· ---·-·-
Inst~. '
. teúd_o..129lític0 . O modefo que escolheu foi a colaboração entre Brecht e
· situados mais à esquerda, chegaram a acusar Adorno-e Scholerode ~ici-
.
-H;ns Eisler em A medida.*_ H~p9.\l_çªin,dicação2..':'.I11~-traj:ialhQ,.Qe.g\1e
rnizar deliberadamente a.import~~Çia de 13;~cht:ísíM~~;;:il.~par~ ele compartilhasse a predileção deAdorno pelas formas mais exigentes
~§§e ()_(:<1§.Q,.P.()is_ Tied~mann, qu.~S.QsJ.\!!!1.<l:_~r_ iden ti.ficado corn..o..gr:up.o
)i-ª-1lliÍS.ka~<ld_êrü.~:e asrenc;.~4.e.s.ieºii~ºifiií)ortâi)cíaº(faººquã!ída~-
represen.tacio.11al da música .
•de ~dQrJ1Q_.e.S.d1olem,mganizounma <::9letâne.a .c:le ;1xtig.o.s_dg!knjami!Le
- . Além disso 1 ()pensãmenÍo de Benjamin serripre foirn:li~JlIL<iLó_g_!<:()__gy_e.
. resenhas de Bre<:l:ttem 1966. 152 Ninguém nega que eles consideravam no­
o de Horkheime~-()fi.Õde Adôrno,nwis ÚÍJeie§s.adonounL'lersaLqne.está
civa a relação. Apesar de respeitar Brecht, Benjamin, provavelmente, via
ºimpfiCito no particular. Apesar de todo o interesse da teoria crítica.11.sLin­
. essa amizade co;;., cautela, pois se recusou a saír.d~:is.rara enc<g1~
t~ração da totalidade com o momento, é improvável que ~Iorkheimer e
· amigo no exílio em Svendborg, na Dinarriarca. 153 Brecht, por outro lado,
ôs o-ut~os aceita;sem sem restrições a aflrmaÇã.;-b-;;njaÍi1lniana de~gy~
foi fiel até o fim. Escreveu dois poemas comoventes sobre a morte de Ben­

''.9 materialista histórico só aborda nm temahistóriê()~t:i<l.2_=~~;_;SºJlJI~


jamin, em 1940. 154

como uma mônada". 162 O modo de pensar desses autores sempre foi mais
. Adorno detectou uma t.r.aço..nãocçlial~tiC..()_11-'1._acei1ªs:ií-o__Q9_.materia­ ·explicativo que o dele, ·mais interessado em désveridar as descontinuida­
. !ismo vulgar de Brecht por Benjamin0 .cuja formação intelectual tinha sido "<les e as mediações entre vários.fenôrnenos sociais. Para Benjamin, a im­
diferente da dos outros membros do lnstitut. Benjamin fizera sua for- · portância da não-identidade não era tão grande quanto afirmavam seus
mação nniversitária em Berlim, Freiburg e Berna, onde, durante a guerra, colegas. Como resultado, ele .1.1ªº se Jlr_e_()Ç\!j2aYa-1antQ_quanto__o_s_outms
recebeu o grau de doutor com uma tese sobre os românticos alemães. 155
A influência filosófica mais importante em seu pensamento tinha sido
ª
c9rn salvação da Sl!bjetividade. Sua "dialética em suspensão" 163 era mui­
to mais estática e direta do que a teoria crítica. No entanto, AdornQ._~111-
neokantiana. Perto do fim da vida, escreveu a Adorno dizendo que Hein­ penhou-se em evitar misturar Benjamin C()ill o"S::fe~~n.ologi;-~,-cuja
rich Rickert fora seu professor mais influente. 156 Desde o come.ç.o, porém, falta de ironia dialética ele subÜnhà~a cotr1 freqí,i~.11çi.a: ..
~_ljenja1.11:Íl1_parec.<:J:e_i:. ficado.Jnsatk;tei.to..co.m o dualisID~ico de Kant, Interpretar sua falta de s'istema e de uma base teórica fechada como razão
SoQl_ sua d~iQ<;.ãQ.entre .Q_númeno e os fenómenos. Em um ensaio inicial, suficiente para alinhá-lo com os representantes da "intuição", eidética ou de
·-·-·-· ·-;( ~ -------·-·-·--------·--·------·~,
escreveu: E tarefa da futura teoria do conhecimento encontrar a esfera
outra natureza, [... ] é perder de vista o que há de melhor nele. Não é o seu
de neutralidade total em relação aos conceitos de objeto e sujeito; em ou­

tras palavras, determinar a esfera original autónoma em que esse conceito


*A peça também é conhecida como A decisão. [N.T.]

262 263
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CR[TICA À CULTURA DE MASSA

olhar) como tal, que reivindica a posse não mediada do absoluto; antes 1 com metáfora central. Intitulada Passagenarbeif' (urna referência às Passagens,
sua maneira de ver, toda a perspectiva se altera. A técnica de ampliação põe
ou arcadas parisienses), ela viria a ocupar Benjamin pelo resto da vida.
o rígido em movimento e o dinâmico em repouso. 164
Apesar de haver somado milhares de páginas, apenas algumas de suas par­
~e a per~pei;t~v<l_singular de Benjamin o distanciou da teoria crític.a. tes chegaram a ser concluídas de um modo que o satisfizesse.
sirvi1:1_tambéni_J2~~ajolap~<ltsi!.:a§g!iwtnnhl~deSde uma carreira aca­ O papel do Institut na elaboração desse projeto tem sido objeto de con­
-.• dê;Jl'ica bem-sucedida. Seu estudo crítico sobre as -Afinid~a;;-;z;;iva; trovérsíã.OprincipàleSteio de Benjai1}}ii=em.Pa.:n§:-Ji!l2.S-2'1lm-:c!e-191~;
- - ' - ..........-..... ____ .. --------·- .. ....
"';:·---·~--.--'- ~- ______ ,, _, _ ___ . ----·---'-­
de Goethe, escrito em 1924-1925, foi lançado com patrocínio de Hugo foi o estipêndio do. Institut. Outros projetos, corno a coleção de cartas que
von Hofmannsthal. 165 Mas o trabalho criticou explicitamente a ideologia -;;i~--publicou corno "Detlef Holz" na Suíça,1 72 podem ter trazido alguma
predominante no poderoso círculo que havia ao redor de Stefan George, renda, mas, corno indica sua correspondência, não muita.Benjamin co­
de modo que Benjamin foi banido do mundo acadêmico ao qual se es­ ~ Ado.r.n_o._d_e§_c:lg_ l 92.l,_q1rnnd_o__.os__dois..se..ha:v:iam--enromrado:.:em
tendia a influência desse círculo. 166 As tentativas posteriores de receber sua Frankfurt. 173 Em 1934, depois de Benjamin fugir da Alemanha, Adorno
Habilitation na Universidade de Frankfurt foram igualmente infrutíferas. ·<cõnvenceüTiõrT<hefoiei a ·aceitar alg1lnsde .. stiilst1ih~ih_9§ ~~9_?_~t~ch-;lft.
O trabalho que Benjamin submeteu como credencial foi um estudo do .,Seu prin1.~i~o ensaio, um estudo da posição social de escritores fr,;~;;-~;~;
drama barroco alemão, no qual ele procurou "resgatar" a categoria da ale­ da época, foi publicado no primeiro número daquele ano. 174 Em seguida
goria. Mas a tese revelou-se obscura demais para os examinadores, entre saiu urna pesquisa sobre a sociologia lingüística, na qual Benjamin reve­
os quais estavam o diretor da faculdade de literatura, Franz Schultz, e 0 lou seu interesse de toda a vida pela linguagem e por suas implicações mais
especialista em estética da universidade, o mesmo Hans Cornelius que fora amplas. Pouco depois, l:forkheirner lhe estencl_eµ u111 co_11vite pªi:ª..ss;Jigªr
professor de diversos integrantes do lnstitut. 167 Apesar de publicada em ao Institut nos Estados Unidos. Embora, em abril de 1935, ele.tenha.es,
1928, A origem do drama barroco alemão não granjeou para Benjamin um ---etilo riuma carta que "não há náda mais urgente para mim c:lo_qµ_e_vincu­
lugar na hierarquia acadêmica. Essa derrota foi acompanhada pela recusa ·1ar meu trabalho ao Institut, da. maneira mais firme e pro<lµt_~v:ª_poss_í:
de seu pai de continuar a sustentá-lo. Benjamin foi forçado a ganhar a vida 'vel", 175 declinou a oferta. No fim do ano, entretanto, tornou-se l'_e_§Qgisador
corno crítico e tradutor ocasional de escritores corno Proust. 168 Nas déca­ associado clª filial .parisieiiSeeCOill.eç_ou. a recebe;:-i:;;;:;_e_stip~l1_c!io .. reg~Já~.
das de 1920 e 1930, escreveu para periódicos corno a Literarische Welt e (fqual, embora nunca tenha sido muito grande, permitiu-lhe diie~ q;_;e
jornais corno o Frankfurter Zeitung. Também fez críticas para urna esta­ "trouxe um alívio imediato 176 11

ção de rádio de Frankfurt, dirigida pelo amigo Ernst Schoen.169 Seu tra­ Em virtµc:!e da r.~conhecida dependê11cia financeirade Benjamin em
balho recebeu relativamente pouca atenção, embora fosse da mais alta reláçãQ_JlD_Ln.stitll1,_n__ciLçulo da re:'-'.ista _Alternativ~.'1-\!~_s_~ü traba­
qualidade - suas memórias evocativas da infância, posteriormente pu­ lho foi alterado em aspectos fun_darn~ntais, ou até censurado, ptlQLe_dito,
blicadas corno Infância em Berlim por volta de 1900, 170 foram lançadas em resll_gv;J.:~fo[quinÕs.da-i-;:;stituiÇ'ã9. se;;-;;;rt~à-;:nasquestÕ-.;textuais, bas­
série no Frankfurter Zeitung. Tánte complexas, parece exato dizer que, ocasionalmente, o enunciado dos
A ascensão dos nazistas ao _poder_ f<'p_r~sen_tou ~§_Qoug_Ll_ono ensaios de Benjamin foi modificado numa direção menos radical. Um
tes de renda de que Benjamin dispunha na Alemanh_a. Depois de fracas­ claro exemplo disso foi seu artigo ''A obra de arte na era de sua reproduti­
sarem suas tentativas de esc-rever sob os pseudônimos "Detlef Holz" e bilidade técnica", que terminava, no texto original, com estas palavras:
"C. Conrad'~ ele admitiu a necessidade de emigrar. Paris, cidade -~mqtl.e' "Este é o esteticismo da política que o fascismo defende. O comunismo
/-e~~_tii:_a à_'_'_(l_i:t:_8;c1e.SQ1._v_is_i_~~nteriores, foi escolhida corno refúgio. Q_e___ responde politizando a arte." Também são essas as palavras que aparecem
muitas manei_ras,ascidadesm_()dernas êf:~rn umCIOsfõcos centrais de seu
• trabalho, 171 e Paris era a rnetróp9J~:~~!:<Péi;p-;-;~~~elên-;:ia~-Já-~rn 1927-;-­ *O título, Passagenarbeit ou Das Pas~agen-Werk, poderia traduzir-se por ''A obra das arca­
das': Ver a edição brasileira, Passagens, org. Willi Bolle trad. do alemão Irene Aron, trad.
• ele havia começado a escrever urna grand~-;;;.;ális;;facultura burguesa, 1

do francês Cleonice P. B. Mourão (Belo Horizonte: Ed. UFMG; São Paulo: Imprensa Ofi~
uma Urgeschichte [pré-história] do século XIX, que usava Paris corno eia! do Estado, 2006). [N.T.]

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA CAPITULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRfTICA A CULTURA DE MASSA

na tradução para o inglês, em Illuminations (p. 244). No Zeitschrift, entre­ comple!Q_fil'.on:lo. --,,...os textos "A obrad_e_a_r:t_e_I)a_~-~~_a_r!p!()~l1tibi- .
tanto, a versão impressa substituiu "o fascismo" por "a doutrina totalitá­ ,_Íldade técnica" e "Eduard Fuchs, colecionador e historiador",1 79 que, em
ria" e "o comunismo" por "as forças construtivas da humanidade" (p. 66). certos aspectos, eram radicais demais para o gosto deles. Não se sabe ao
Na mesma página, o original "guerra imperialista" foi substituído por certo até que ponto as versões publicadas foram alteradas.":_Parte <!_<:i__tra_­
((guerra rnoderna''. 177
balho. de..Benjamil>----""1:1ma-seçã0-imp0r-tante._dç fassaggiqrl;_eiJ ..-::::_(<l_i
Mas essas mudanças cost.umavam ser feitas na. corr~SJl()J:lQ~ncía_com. completamente recusada, e.m_pri!lle_ir() l()gar,_<1_(l_'ll1!!'.~~~e,_p_<_Jr:_c~__das_
Benjamin,. e . não depois .de..ele.. haver_.submetido.as.versõesJinais._a_o-.ramo__ reservas de Adorno, Em Í 936, Benjamin ficara muito impressionado com
.!1()va_~io;qt1i110 doJnstitut. ~:..11-~()jgram feitas especificamente~ as especulações cosmológicas pouco conhecidas de Auguste Blanqui, ore­
,,'11inhá-Jo COlJLlUlli!_teoria_çr_ítica dogmática, mas co_ru;_tituíram um r.eflexn
------
da linguagem_t12ª4ª.Relo_Zeitscb.rift.para s.e.12i:.oít_ger de_~se_guições polí­
volucionário francês do século XIX, divulgadas num livro de Blanqui inti­
tulado A eternidade pelos astros. 181 Para Benjamin, a visão mecanicista da
_ti_<:~s:Já'mencionamos as acusações de outros refugiados da Nova Escola,

natureza, enunciada por Blanqui, tinha relação com uma ordem social
a relutância posterior de Adorno em se associar a Hanns Eisler e a mu­

dominada por uma espécie de eterno retorno_,_Q_g_tt.:J!~."_Iriin_t~_g_u


dança sutil na tradução inglesa do título do livro de Grossmann. É visível

fazer em seu egs_ajg,j_ll_\itulasl.Q_"A Par~__ç!9_~e_g_l!]lliQ_lmp_é.rfo__e_m Bal1.cJ1':


que o Ins_titut sentia-se inseguro nos Estados Unidos e queri;;fazer o

':::- ----------
' -------·---~-~-~---------~----··-·-·-------­
laire'', foi desenvolvs_i:_a_r~;lÇã()_ci<:!ll!a_egg:.:J3l'!f1.9.l1L.t:_9..QQrt'!_qy_e_era.a
mínimo possível para arriscar sua posição. Muito antes da emigração,

figura central de. todf1 a ob~a _be_!'j<i_I11!n1ª.nA:::- B'1l!sl~lªi_r_e. O ensaio foi pla­
Íforkheimer escrevera, no Dtiiiimer'i,i;;g; "Mais cedo ou mais tarde, o di­

nejado como a segunda parte de um estudo tripartite, uma versão mais


reito de exílio dos refugiados políticos será abolido na prática. [... ] . Assim

concentrada de Passagenarbeit e uma provisoriamente chamada de Paris,


que deixar de afetar emigrados da Rússia ou terroristas volkisch [populis­

tas], o direito de exílio desaparecerá dos interesses comuns da classe capi­


a capital do século XIX A primeira parte deveria analisar Baudelaire como
talista internacional." 178Já.te_gç!g__sido_QQ.rtgados a fugir de um continente,
alegorista; a segunda, que mencionamos acima, deveria ser a antítese des­
ele e seu~c:_Qkgª-Ulií.Q_ ansiaV.llffi. PQ!:Ji!:Eiscar um destil_l<)_siaj1ªi:,_
ta, uma interpretação social do poeta; a terceira parte deveria sintetizar as
Ess-;,· medo transparece claramente_ na corre.spondência Lõwenthal­ duas primeiras, analisando a mercadoria como objeto poético. 182
'----- - -- --- --------·----------------=----­ Ao ler pela primeira vez o manuscrito de "A Paris do Segt11lQQ Império
.Horkheimer...Por exemplo, em 30 de julho de 1939, Lõwenthal escreveu a
Horkheimer sobre uma nova lei de deportação que estava sendo exami­ eni Baudelaire'', Adorno mostrou-se crítiçq,J)llrante suas férias em Horn­
nada no Senado, com um alcance muito amplo. Assim, recomendou que berg, na Floresta Negra, no verão de 1935 - ele retornou algumas vezes à
Horkheimer acrescentasse "europeu" a "liberalismo" no artigo que estava Alemanha após a ascensão dos nazistas-,~~ es_c:~11_u_r:i:i_<!.l<?l1K'!
preparando. Mais tarde, em 30 de julho e 4 de agosto de 1940, mencionou carta a Benjamin exp()ndo_s_ll<l_sgl;>jeç.Qes/ 83 Sua crítica mais geral foi ao
visitas policiais feitas ao Institut, as quais, apesar de rotineiras, pareceram uso benjaminiano, supostamçnte antidialétiçg, de categorias como ofeti­
sinistras o bastante para ser relatadas. Mesmo em 26 de julho de 1944, . chismo da mercadoria. Como vimos, Adorno considerava que uma certa
_<ll!ando_oJ!JStiLuLvin.bAg_sJ:l!<::!m1doo.. a.Q(~emitis~~· na ~j~~~~-;;-p~rá;i;:Si:Q; reificação era um componente necessário de todas as objetivações huma­
,Estados.Unidos,HnrkheimeLainda.s.e_pi:ç_Q_CQJ?()l!_.(;().J:ll.itI~;JS_"':'_1<_>~ direi­ nas. Por conseguinte, criticou o fato de Benj_anlin equip~rar a lll_erç;iç!9r_jJl
)istas norte,amedcanos a "um bando de intelectuais nascidos no exterior, ao "arc~ic_Q,,_ co_mo _tal.
metendo o nariz nos assuntos dos trabalhadores americanos''. ~enti­ Ligada à ~uaçríti~~ estava a insatisfação de Adorno com o uso de "ima­
mento de inseguran_ç-ª,_ç_o.mb.inaclo.com..o.Jradicional desejo do lnstitut de
.r-~----~------- - ­
gens dialéticas" [dialektische Bilder] l'ºF l:Jeniarnin, vistas_ç9rn9gi_sta~z-'1:
$e manter c9m.Q.uma-instituiçã9_'j:ientífica", e não política, resultou em · ções obJe!i\1~__49:prncess0-histói;icÓ.,Na carta, Adorno argumentou~·
_ele risc~ras passag"11s maisintlan:rnl~-;;;;!J~;-textos de Ben)ãli1ln.-:---­ -i:al cómoconcebidas por Benjamin, elas retletia_lll e](cessiYamente de per­
.E'.i~5'l!(r!llado,-tamb.é111.fic.a_clai:o.nt1'-º-Zei_t~hrj~ou _aj_guns enc, tc;·;, reahdaaesõC!al. A.ó conti-áríÜ,suste;:,tou, "as imageris dialéticas_nã.Q_
saios de Benjamin com os_quais_Horkheimer e Adorno não !'!Slar.am em são modelos de produtos sociais, mas constel;ções objetiv;; em que a si­
"::;:---..--~~~
------------ . - ..______ -- ----------- -.. - '""- ·---,------.,--- " ' -- --- ..,..---·-..-----.. ~·-------·

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 6 ·TEORIA ESTÊTICA E CRÍTICA A CULTURA DE MASSA

tµaS~()ilQS:iaJ se representa. Conseqüentemente, nunca se pode esperar que Ainda assim, Adorno não se convence\1_ do mérito dialético d<:>J'.IlS<!iO,
a imagem dialética seja um 'produto' social ideológico, ou que o seja de qm~'rrunca f2ip11bli.c<t<:l(lP~()Jns\itqt, 191 ~rrespo_f'.dência_.s11.~~giie.l!:
modo geral". 184.J\Jém _qisso, reduzir as imagens dialéticas a uma espécie te, os dois homens continuaram a debater o progresso da "prot()_-hist_ória"
Benfãmfo: Pôr
-.-.--.- "-~---~~--·-~-------~-----·--~----~~---­

de ipÇQfücim1e éol~tivo junguiano, como Benjamin às vezes parecia faz~r, .dÓ séciilo XLX,dé fim, na primeira edição do Zeitschrift de
· era ignorar a importância c;ntí:;.;n;]õ.fodi~frl~;~:~4~~~-.; ~~~~~~~::- - ... T939, foi publicado ;;Sobre algu11~_moti\'2.~.S'ill_ Baudelaire'', uma parte de
Paris, a capital do século XIX que Benjamin havia pretendido redigir como
__ Quan_Q9.__r~j_eit0- 0-u-so"'d.o...ins:nugient~--coleJ_iy_Q_t,_11ª-turalment_ç_,__~~­
permit,i! que o "indivícl_1:1-º. _b11_rgu_~~'~...ªpª'r_c;_ça .como. _q §).!bstrato real. É para sua "tese". Nesse ensaio, Benjamin introduziu mqitQ§!<:]'flaS básicos do es­
·- torn~~ tra~Spartllte á -fullÇã~- ;~cial do intérieur [ter~Ü:-~~TIO-estamos tudo intei~o~á~Gs-dos-quai~já ;;:;;;;:;~;;;:;~~.;:;Um dele;foÍadistinção
lembrados, que ele usara no estudo sobre Kierkegaard] e revelar seu caráter ..enfre-·dois típüsêle experifocias-:ãsBrfahrungen integraâaSe-<fÇEríebnisse
inclusivo como uma ilusão. Mas uma ilusão não em oposição a um incons­ atorl1Eãc.las. Bãsean<lõ«:-s;;-;;-;naesc;;b~~tas de Proust, Bergson e Freud,
Ileaj;nin defendeu o lugar da tradição na experiê_ncia.<L.1:1~11-ti<:<t; '.!}expg,
ciente coletivo hipostasiado, e sim ao processo social real em si. O "indiví­
duo'» portanto, é um instrumento dialético de transição [ Durchgangsins­
trument] que não deve ser eliminado pela mitificação, 1nas só pode ser
·~iência é realménieumaquestão de tia(ffçãõ, tanto na existência coletiva
superado [aufgehoben] .185 :Cüi'11ltQJ:\ií::Y.1Qij5.lJyada.-1[f11eil~s]irod~!Q':<13JatÕ~s9lidafii:tnte ancora.<;\.Qs
na memória do que de uma conver.gê11c.ia, na mem<?ria, de dados acu:
Em carta posterior a Benjamin_, eUL.!lOY.embro,..AdQI!!Q.disse_gtie esta­ ·muiaCfos e ÍreqÜe!lteU)ente foconsdentes:' 192 Adorno também frisava a im­
vàdeeepcionãc!o como r~g_r~;;Q_do~jo sobre Baudelaire e Paris~ 86 portân~ia da tr~dição, a qual considerava v~aÊaí:ií~s!cã(íe Sch§11])~Í:g,
'Nessa ç;;J.(à, expÍiéit~u ~tias objeçi)es à_<!b.9.r<i.<igserri _1.e2.I<J.gica e filo~~gi3l de apesar da óbvia novidade desta. ,Ele e Benjamf.11.Y.iªm A..S'.i:O..São_d_a eiç,
Benjamin, consideran.cfg:a.11ã2.<iii1lé1iça. "Podemos expr~ssá~-lo da seguirili;~ ..periência verdadeira [Erfahrung] como característica da vida_111_Cl.'.!e..i:~:­
maneira", escreveu:-"./\ motivação teológica de chamar as coisas por seus ~úm êxemplof~~n~cido .12or_l1t:!1j!~n-=arubstituição da narração coe­
nomes tende a se transformar na apresentação assombrosa da simples fac­ iente por informações dissociadas, como forma de comunicação do­
ticidade. Se quiséssemos falar em termos drásticos, poderíamos dizer que minante - ta!ll])é111JC>i Lts<:t.d()_l".'r__Er_f'.st__Kre11t'l<..e!TI _u.111.~iQ§.QPH'. . <l_
o tr.;ibalho instalou-se em uma encruzilhada entr~ a magÜLLQ_.p_o.filtjyj.s­ música radió(<'.}nirn. Outro, o aumento.dos choques.traµmáticos como.es.
JgQ._]Ossl'_é71~~\tiç_a_<lo. Só-~t;~~ia pode quebrar o feitiço: ateo­ ~l~- na vida mode~na, 193 também encontrou eco nosyários estudos
ria boa, especulativa e implacável." 187 Por causa de suas reservas, Adorno psicÕssociais do Institut. ym te~~eiro, o papel d~ -;,;assa na obra de Bau­
desaconselhou que o ensaio fosse aceito. Lõwenthal defendera uma pu­ . delaire, foi um tema freqüente nos trabalhos do Institut sobrea.cultura
blicação parcial, pois o texto "não o representa da maneira como esse -dernassa. Benjamin, convém assinalar, faZ!a uma certacrítica à compreen­
trabalho deveria representá-lo". 188 -são b~~del~iriana da multidão: "Baudelaire julgou apropriado equiparar
E~re!'..f!dido,~_pã()._~.il ceder por completo, Benjamin res­ o homem da massa [... ] ao flâneur. É difícil aceitar essa visão. O homem
pondeu.189 Seu argumento principal de.fendia.il.a.bQrdagem filológica usada da massa não é um flâneur." 194
~"_§:--· -- ~--·---,- ----· ·-·-· -·-.-··-·-------·------·-~--.­
O fascínio de Benjamin pelo flâneur, o desoc11pªdo que.passeava.ocio­
A,aparência de facticidade fechada, que adere à investigação filológica e lan· samente pelas galeriasl:le Paris, an\;}}Üu o~~omentaristas q\le enJatiza.rn()
o
Ça ·um felffço sobre· pesqmsaâor, desapareceraaITlealãaijUeü]!íféiõ fÕr ~omponente estático de seu trabalho. 195 1lQ1._Le§pa!<:l_o_.<Lil1~<:...ma~ mar:c~n­
.construído .em perspectiva-hlStó;ica.-AS=linhaS=~bàS-êdêSSa~rução ro;: te dessa posiÇão.foCõ!l1te~~-de~-;;nstrado, no ensaio de BenjailJ~n, r.ela.
·vE'.rgem em p.ossa própria _c;xper,iência .hi~tóri.ça_:-fQ~?'_!~tó~·O':õbJetOSe-zo·~;­ tentativa de Baudelaire de iweservar as-c{)r_resiíQ:i:t]Eiidãs~l:e;,;éíadas pg!a
.trói como uma mônada. Na rµôna9._a, tuçlo_ 9_ q11e_ é mitiC-ãffiellt_e_ fi~a_dõOO
a;te. Be;:;f~~in ;~pÍi~o~, de n:;ü<lü-;;-~-t;~to obscuro:
.texto ganhará vida.[ ... ] Se você recordar outro trabalho meu, verá·q~~-;~a::
tica à postura filológica é um assunto antigo para mim ~ e inatamente O que Baudel~~~~- . . q~~.~4}?_~!...com .~_<?!!~~P.<?..!J4fl-1J.çf;;?_P-9.4.~ __ §..q-_4.~crito~Q
idêntica à do mito. 190 i._:iE~. -~~~riêQçJ(l_ _ qy_~_ pr:ocµra s~ e~~~~~l-~Ç~L qç_J.lJl1.<1.J9IIl~-ª,,~ PK.Q~Y.ª __9§.'"çxi::

268 269
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRfTICA A CULTURA DE MASSA

~·~e.s.-_Is_so
só_é . P()SSíve_l_ n~___â_~Q!_!o cto..ri.tµal. Quando transcende esse campo) era o halo singular que cercava a obra de arte originaLJ':ra()se_ntido espe­
apresellta=se·
-- - éàill-o -o b-~1_o:_.No
. -·
belo, -o va1o?i=it~;J(f<i~_ar:te~aµa:t~~Z-A~~cô·rre~
\ .... --- ........ ----' - ---
"""-~---------·~·

-~iãf<l()hf?et nunc [aqui e agora] que conferia aµtenticidacle àlíhrn. Bên­


pandan_ces são os dados da rememoração - não os da_do_s ~ist?ricos, mas . jamin sugeriu que ~la também ~xistia na natureza, onde era "a manifesta·
- os-dados da pré-história. 196 -- -~-----"'-~ ----~--·­
ção única de uma distância, por mais próxima que seja". 205 Também na
Em outro texto, BeqjilllliRr<:Yelo_u.umJasdnio_s.@ilar pelo que Goethe arte, esse caráter de inacessibilidade era um elemento essenci<JJ da aura da
. havia chamado de Urphiinomene, as formas eternasque persistem ao.lo;;;;-­ obra, não desvinculado cf() contexto mágico e ritnalístico no qual aarte
}º detoda a história. 1". Em tudo isso, parecem··~~identes as raízes teológi,__ .. ~~~üiürlgínrumentê:Essa~ foi!2llülaalítêiitif:i\=QGm<l~:ist~ n.ã.o..PQ;
cas d.~..s.~11p.ensa1Uent 0 . ·dia ser preservada qua;:;:;IQ'1...ª.t".t~_er.<'Xep[o_cl!1.1'i4.<'i é claro que Benjamin se
, .... .:'.f~via,..tamhémLRfeciso ~~en~Q1]1elllo histórico..~
··;e'feiia'"ffi;;J"s às ;;rt;;Spiásticas do que à música ou ao teatro, embora, como
vimos nas discussões de Adorno e Krenek sobre o rádio, a música tam·
pensamento, que foi reforçado por sua.J'.§farm:ngça com o marxismo. No

bém pudesse ter uma aura.


-mesmo éi:ísaiosoorel3aiídeÍai~~J3e;jamin censurou Bergson por haver re­

~Qu~q\l~r..9\1..e_fosse agualidadepré-histórica e ritual ligad:i_àaura, J3e11·


tirag()_<!.Il1Qr!e.de sua concepç-ª.~.duraÇão~]J§(;lü-um argumento sem;;::­

jamin também reconhecia seu componente hist(Írico, 'l!leia al~ITI clª$


Jhante ao de H"ü-;:k:li"éiffi~~ ~m seu própri~ en~;;:;~·-Sõt.~~ Bergsõi2''

··cgfufspg.rzqance>. ''A autenticidade deuma coisa", sustentou, "é o segr~clo


)\. durle da ql!al a rriorte foi eÍimlnada tem a i!lfinit\.lde deploráveÍd~ um

de tudo o que, ciésde a origem, ela pode transmitir, desde a st1<1duraçã.o


arabesco. A tradição é eliminada. Trata-se da quintessêncla de um ~Q~

-material até seu testemunho da história, que vivenciou." 206 Mais adiante,
· menta passageiro [Erlebnis] que desfila com a roupa emprestada da ex­ . no mesmo ensaio: "A singularidade da obra de arte é inseparável de sua
periência."199 Além disso, como assinalou Tiedemann,200 os Urphiinome~; inserçãg_no tecido <la..tr<icHÇãõ:'2iÍ7PorisSõ,.. üfimclaarte."aureo!ãâa" na
foram transferidos da natu'reza, ernGoeth·e;
paraa história, em Benjamin" . . ê;:;da reprodução em massa significava não apenas a perda das .corr?s·
O Passagenarbeit deveria ser uma "proto-história" do século XIX, não de pondances artísticas, mas também o fim da Erfahrung, a experiência en,
toda a história humana. Nem mesmo a simpatia de Benjami~ pela fr",;'s~ ' raiZada na tradição. Os colegas çle Benjamig noin..stitutconcordavamwm
de Karl Kraus, ''A origem é a meta", que citou nas "Teses sobre a filosofia . ésse aspecto dac;risg·Í:~lt..ural da.sociedade moderna. Eles também tende·
da história", 2º1 deveria ser necessariamente entendida como significando fam a'aceitar a conclusão que Benjamin extraiu da perdâdãanra: "Nolns­
um desejo de retornar a uma forma primeva platônica ou goethiana. . tante em que o critério da autenticidade deixa de ser aplicável à produção
A origem [ Ursprung] também podia significar novidade. 2º2J'ara Benja!Uin,. artística, toda a função da arte se inverte. Em vez de se basear no ritual,
um dos aspectos primordiais do mito era sua mesmice repetitiva e não­ ela começa a ter por base uma outra prática - a política:"08 Com O .acl·
cifativa; o immergleiche [sempre o-mesmo]
era l.nnã da.5
i:aráéterísti~~;· vento da reprodutibilidade técnica, o valor de culto da obra de arte.foi
marcantes da sensibilidade mltica produzi<la pelãs(jcí~(Jacfe-~~pit;li;t;~-­ -suostlmíd"õ por seu valor de exibição. O melhor exemplo disso, afirmou
.alienada. ·· Benjamin, era o cinema.
_Para sermos ju~t?S_C,O.!ll..().S q_u_eêlJ!!tizam o co.mp~e_está1:_igL.dib Qs outros membros do Institui, especialmente Adorno, discordavam de
pensa111_e!l.!.9.de.B.enja.roin,..rn.!)yém3.cE§f.w!ill:_~ito .d..9..~J'.!i.: BenjamilJ. n~ avaliaÇã()·d~s repercussões-dess.ã mudãnÇ~. _Para (orneÇãí-; éiês
'"creveu deixou transparecer um<!_.5'.~PScie Q.e nostalgia pelo.. YiJ.Jm:.ri:tualís.tiCTL. ·sempre haviam consideradoque a arte Ünha uma função polític.a:...-ª·ª!1"
que associ<l:Y'ài~:c<JITe5p~~fie1-;;fes. 2 º 3 Isso fi~1 ev:Tde~t~·;o final de "Sobre •tecipação da "outra" socit'.claclenegacl~P.elas condiÇões.vigl,'11t.e~: Agor~,
jllg11ns.motiv:os e1111.hrudelaire", onde ~;;;;;;;;;:~~-; «c;.i.se ga _r~j;;odutibi-=:­ .. temia~ que a arte de. massa tivesse uma nova função políti~, diametral·
lidade artística",204 p.orém foi ai'uda mais óbvio.no .ensaio anteria"L!llihlL· ~ente~post:l" à s~ÚunÇão"n~gãt!va" tradídonafinã'erã"Já"reprodutibili·
. cado no Zeitschrift, "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técni· dade, a arte serviria parn conciliar a massa do p(tblic.(). ~()111__() stat1_1~_q_i1g.
. ca". Foi neste que ele desenvolveu sua idéia da "aura'; usada com Í;~t~ Benja~ín disçordaya. Embora lamentasse a perda d~ aura, mantinha, pa·
freqüência nas análises culturais doinstitµt. Como ~~;;:~i~-;;:~mo~'"_Ü.~a __ ~~doxalmente, a esperança no potencial progressista da arte politizada e

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<
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 6 •TEORIA ESTt.T!CA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA

coletiva. Nesse aspecto, seguia mais. uma:vez.a..m:i<:nta.çlo de B~ht, <J!:le l)>f<! <!~rnçla. de..l94Q,_djyers_os_111ernbros <i()__II!st~tut cl_e~i<:_;1r-:_111 sel1 t~m­
continuava otimista sobre a função revolucionária do cinema, apesar d~ po à iI1vi:stig_'1C,:.â()i'1<:1:1l_lll.I'1.!'2P_ular noi:_l_','::.<1.!n.e.ric.aJ!-ª,.Em 1941, os Studies
suas decepcionantes experiências pessoais.com-;T~d;ist;Ta cinemato­ inP/zilosophy and Social Science lançaram um número especial sobre as
gráfica.'09 Nas palavras de Benjamin: comunicações de massa, em cooperação com o Escritório de Pesquisas
A reprodutibilidade da arte modifica a reação das massas a ela. A atitude Radiofônicas dirigido por Lazarsfeld, então na Colúmbia. Horkheimer foi
reacionária diante de um quadro de Picasso transforma-se na reação pro­ 0 primeiro, com "Notas sobre as atividades do Institut", que trouxe a rea­
gressista a um filme de Chaplin. A reação progressista caracteriza-se porque firmação mais concisa dos princípios da teoria crítica a ser publicada em
o gosto de ver e de viver funde-se nela com a mesma atitude daquele que inglês. Lazarsfeld contribuiu com uma comparação das "Pesquisas das co­
opina como especialista. [... ] No público do cinema, a crítica e a fruição
municações governamentais e críticas'; que frisou seus traços compatíveis.
coincidern. 21 º
Seguiram-se artigos de Herta Herzog, Harold Lasswell, William Dieterle,
Além disso,,~to Adorno sempre exigia a concentração no pai'& Charles A. Siepmann e Adorno. 215 Na edição seguinte, a última dos Studies
_do espectador ou do õúvinte -·Já mencionamos sua ênfase na práxis da
----- ....----·
recepção eStéticãautêntica -,_ fü~I]Ü!!I1i1lE:<:_ mais simpático com as im­
a ser publicada, Horkheimer usou Arte e prudência, de Mortimer Adler,
como pretexto para fazer uma denúncia geral da cultura de massa,2 16 da
plicações positivas da distração: "As tarefas enfrentadas pelo aparelho hu­ qual já apresentamos muitos pontos em nossa abordagem do trabalho do
• rnanoaãpercepÇãô-n00-;:;;0n;entos decisivos da história não podem ser Institut nessa área.
solucionadas [... ] só pela contemplação. Elas são gradativamente domina­ O membro do lnstitut que se engajou mais extensamente na análise da
das pelo hábito. [... ] A capacidade de dominar certas tarefas em estado de cu1í-;i';a d<: !Il~s§J!Joi l:,eo !ll:'<Y~ntb.aL Jã"Trnf9-i(~l~-~screvera ~~iú~a~ ;~:
distração prova que sua solução tornou-se uma questão de hábito." 211 Foi ·gÜlares sobre o teatro e artigos sobre problemas estéticos para o Volks­
com base nesse pressuposto que Benjamin pôde concluir o artigo concla­
bühne, tanto em Berlim quanto em Frankfurt. Embora seus primeiros ar­
mando à politização comunista da arte, em resposta ao que chamou de
tigos no Zeitschriftversassem primordialmente sobre figuras da literatura,
"estetização [fascista] da política". 212
como Ibsen e Meyer, ê~_t<u,~b~II1..§' !I]teressaya pela recepção popular da
_A.<Jor110, como vimos, era muito meno_s ()!Í.JTii§.1~: Respondeu a Benja­
cultura_s_uperigr, como foi ilustrado em seu ensafo sobre o pÍlblico de
min no artigo .''Sobre o éâfáter(\e fetich.e d~ miísi<:fl ~-a-~gí:e5Sã.<Ld.'1all<ii·
-Ôostoiévski na Alemanha de antes da guerra. Na década de 1940, ele vol:
. ção''. Benjamin tentou ajeitar as coisas: "No meu trabalho, procurei arti­
tou a atenção 2ara ~:x;emplos.mais..dire.tos__çlà aúe populªr. Com a ajuda
.cular os. momentos ~ositivou:oma mesma.c!arnza~cornque::Võcê.trou~e
·aoprojeto deLazarsfeld, que lhe forneceu assistência, conduziu análises
.os negativos para o primeir() pla119, Por conseguinte, vejo em seu trabalho
de comentaristas de notícias e de programas de notícias na Filadélfia, as
uma força onde havia uma fraqueza no meu." 213 Em seguida~s..s..l.l&'.IÍR
quais permaneceram sob a forma de manuscrito. Em textos publicados,
•.2.~-~mes falado§.~'01.lL".:1i~anci().QJ:i_o_~~~oJ!Ícionário.do.
cinema e. propôs aAdomo um estudo,emçol'lbm;t_ção,~0 br','_c>§.g~ muitos anos depois, num Festschrift para Marcuse, também analisou o
tos. Isso nunca aconteceu, por causa da morte de Benjamin. O trabalho conteúdo das biografias populares na Alemanha depois da Primeira Guer­
· posterior do Institut sobre a cultura de massa, na década de 1940, para ra Mundial. 217 Seu tratamento similar das biografias lançadas nas revistas
o qual nos voltaremos agora, careceu do impulso otimista de sua análise. norte-americanas foi publicado em um livro de Lazarsfeld, Pesquisas ra­
O espírito daquele trabalho estava muito mais próximo do expressado no diofônicas: 1942-1943.2 18 I,~halta_!!lbém contribuii,iJ>ara os debates
já famoso comentário tecido por Benjamin numa fase anterior, e que foi que levaram ao ensaio sobre a Kulturindustrie [indústria d-;;c-Uifurãre~
usado, muito tempo depois, para encerrar A ideologia da sociedade in· Diàlética do esClareciminto.Comefeito:du~~nt~ toda a década de 1940-;·
dustria~ de Marcuse: "Só por amor aos desesperados ainda conservamos no perÍo(fo'quese·s-~g-;;:1..; ~ se;;desliga~ent-;;·<l-;; In;;:;;:~t:Lõ~~mh~Í cgn.-·
a esperança." 214 fltmou a ·exp1orár..a.cultura de ma_ssa, culminando na sua col~Únea de
e;saios publicada em 1961, Liter:i:t_ui:ClcC~lturapopular ?59'f1?.dgefe.~-­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALtTICA CAPITULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRITICA A CULTURA DE MASSA

.~guns fragrnentos da con:esponc1ê11c;í_a_ç11trn..Horkheimet:e.Lõwenthal, e regida pelo que ele obtém, não pelo que faz. A verdade, porém, é que fa­
depois da mudança do primeiro para a Califórnia, merecem ser examina­ 'Cz.eJJ.._QJ?1er tQJJ1axani:..$~icJ.ênti.cos,_n_est:i-:o~@Gaàe~_Os. mecan_i_smQ§__q~
4e
dos aqui, pela luz que lançarn sobre a co11cepçií()_ <:nltµra_de_ massa qQt{_ -<( g~m Q .homem nas horas d~ lazer _s_g,.9_ J.4~-~~os q~c: o regem enquanto

caracterizava o Institut Em 3 de fevereiro de 1942, a propósito de seu en­ ~J@~~Ih~~-Eu chegaria a dizer que, ainda hojet..U.h~y~_J?.~.~. .~~--~.<?.~P!~-~-:1?:9.er
.ç.9$__ padro_es. de .compo.rtamento.. . na...esfera...d-G--eons11mo_..é....a...situaç.ão do hÚ­
saio a ser publicado sobre as biografias divulgadas em revistas, Lõwenthal ,_~:rp.<;J!L. n_a)nclú.stria, seu l_ior~r~o na . f~b~i.<::'! 1 __~_ o_rga_ni~ação do escritório e do
escreveu: __local de trabalho. o consumo tende a desaparecer .::::õ,;se~á-que--de~o--(Ji_
Enquanto) por um lado, a informação histórica para as massas torna-se uma zer que comer, beber, olhar, amar ou dormir transformam-se em ((consu­
rede de mentiras e um acúmulo ridículo de fatos e números os mais insig­ mo", pois consumo já significa que o homem se tornou uma máquina, tan­
to fora quanto dentro da oficina? ­
nificantes, as mesmas massas exibem, por sua própria ocupação com essas
pessoas e com suas formas de ('consumo>', o anseio por uma vida de inocên­ Você deve se lembrar daquelas cenas terríveis dos filmes em que alguns
cia. Da minha vida interior, posso deduzir cada vez mais como deve tornar­ anos da vida do herói são retratados em uma série de tomadas que levam
se odiosa para a vida inconsciente) e até para a vida consciente da maioria, cerca de um ou dois minutos, só para mostrar que ele cresceu ou envelhe­
toda a idéia de produção, no sentido de mudanças permanentes, transfor­ ceu, que uma guerra começou e acabou, e assim por diante. Esse corte de
mações, tratamento incessante do homem e da natureza por máquinas e uma vida em alguns momentos fúteis, que podem ser esquematicamente
organizações._~~~I!@~-3.~. JE~grafias~911~ts_que_es.tll.dei manos
caracterizados, simboliza a dissolução da humanidade e.m elementos de ad­
ante~iores..e~~~erial norte:~ericano apr9:x.i112_am :~E.'!:~~o._b.~~~
ministração. ,A _Ç,JJ.l.tur_a,,...d_e,...m;i._§$_~,_SQ!_,~_1;1-~___ difere~tes_~ficaçõe_§, refl_~~-º
la~'1!Il-il___l1is_t()_r~ com___u_ma reileseciut_oraae profundas fantasmagorias , _f~to .de:.._que o ser.humano_é_~ngaJJ.-9$.am~:u.1~1-~!jrado kê.!:!~-~~~ia~p.­
_"Il1et~f~?iça_$~-~-II!~-ªl?§içQlóg~__g_Ieg_ulld0-.é...exatamente-0-inve_-t$0: em.. vez , eia, ~-9-1!ª~.KgSQfl __çha111911_!ª?...'!P!QJ2!i.ªQ.-ªp:teE!_e de ((d!!rf?))· .L;;so se aplica
.de _levar a histó~i-~ ___a__ ~_ér_~g?_J~ya:_<:1:_!:.~--~Ei.~~~s.!~iEP· M3!§_ amQ9.$-l,.~J2Le~~µ;--­ "aoi.hm\_ͧ_da§ !i_i_ograf\<!'>e_à_:;_!flfülS.il-5· [...) A_contrate~dência da cultura d~:
utopias distorcidas de um conceito__slg_h_pmerri.dlante_dQ__qual nos coloca­ • massa é representada pelª füga_Q~la. já'que, atualmente, o estado de vigília
~-ti3-~~.~~E~-~!iV~Qi~rite-:. -iriíbOS-4ffiRF.~~-t:r1. _ªl_Illl?.ort@.9a in~~~~al dO"lll­ do homem é regulado em todos os detalhes, a verdadeira fuga pass~~-0.
__ d_iYÍ<:\u_()_rJ:al,_YiYP_e_existeme; dignidade, felicidade. ,-._so ~-º- 9-:U. ~ .19JJ..Ç_\1I#-J. Q1h.. ,PÇ,_lQ_ ·-1P~!_l.?S, algum tipg-4~. sl~_[çj_ê.JJJ~iª---_ç_ ftf!qJJi::za."'.
O protesto contra_o~_f)Jm~s não se encontra propriamente nas críticas du­
___ Mesg.s _çl('.pQis., Hm!<h_e_i_!Ile_r_men$:\Q[l{)U o ensaio em uma carta a Lõ­ -~_.._!as)__ rnas_ no fato de que ·..aS"pe·sSõãs·~-~t:t~J!í~[JiQ·_·c_1p.~~~I~.- . a9rill.~m)._9JtJ;­
- wenthaL Em 2 de junho, referindo-se ao t~~b~h"a---Ua D1alüfrãdoesc1ãii:-­ zem amor umas com as outras.,

cimento,__escreveu; · _Lõwenthal respondeu aos argumentos deHorkheimer em uma carta


de 22 de outubro: - - -- - -- ----------------------- -------------­
,J.~.iquei.patticular.rne-nteweneantad0-.com~0.2.Jhl~.§~.2bre a '(repetição)).
_;§.§.füi,~gori~_~semgenhará u:i;n .R'!E.~decisivo no livro it'rtêTrõ.,_oqu-e-vo·cê­
Seu comentário sobre a montagem de urna história de vida nos filmes é es­

-: ~:!_1~m~~ falta__de.reheldia_c_QJ.Jtra ~~Q~tiçã~ete!na na vi~ art~ª-Jiôll­


pecialmente revelador para mim, pois lança mais luz sobre minha observa­

~-~ ]>_?!])1 ~~-s-~_gg_a,ç_ª-.q..n_ç_ç!y_<:J;_~_Q,.h.Q!P.:~rri_.moder!}Q, que é, por assim dizer, o


tema principal de suas entrelinhas e o que se tornará um dos conceitos fun­ ção da seqüência isolada e fragmentada das vicissitudes e rupturas da in­

damentais do nosso livro.[ ..:] Não podem_os culp?r.éls_p_essoas p()_r_ se_ i~t-~­ fância e da vida adulta:]udo__ is~o_1ani!i_~m..pare_ceest-'1.L!!gadoag__c_<l!JÇei_to

ressarem mais pela esfera da privacidadee do consumá 40-qc1eJpela] -dá de ~es_a!Uor, poiso critério _do amor éa _co11ti11uidag~,í11sta!ll_~!lte 0_fen_ó_ ­
. prodtj_Ç}ío. Es_se,.traço_contém lllll. elementO_ titó]?íC?;·_~~-u~opia,__'!_R!:Q.dução_ -· =~1?.~?5?"q~~ nunca se ad~ite. 0- ~Ul~µra de mass.<:.~. -~~~--~~~~Pl~ª·ç~os,:_orople­

. não exerc_e um papel decisivo. É a terra do lei~~ e dO ~ineL PCilSô que é muito -~~ontr~.JllPOt.~-º-~~xo. Creio que você acfilOll na mosca ao ob.s.er:Y.:ar

significativo que a arté e a poeSiã'"S·empre.. têflh3ffi n1ost,~Jrõ:;:finidade-con1_. _9.~,§..êE~~.!~49J_~~º~- meio de truciues ~ádicos, são contint'.anlente traí­

~-
o co_p_sum9.
-<­
- -­ ..'dos_~rnµbados do_yerdadeirQ:Qii~~í-,§5s~s~;Íisgíõ!é!ü~afilnçãüisr~ci~!<l~

,unp~cl1r, noplan_opsicol~gic()_e_fis_~ol_ó__g~(),_<'-\f~r!'.'E_~_o_i:_o_a11t~c_i)J_'lçloj_ PeQc.

Em 1_<j__<ie__ Ql1t\l_Qr()2 Jforkheimer usou grande parte da carta a Lõ­ , se, por exemplo,_!l~_cena_~_e_balé de Holiday Inn, * na qual um casal começa

, wenthafpara debater o artigo: ------------- -- - -- --­ a dançar um minueto) mas, assrrn.-qüeesSerríinueto passa para urna situa­

~-YQ,_Ç,~_d.e.p_QSit.a..~!!_fª-~·-9~1?2ª1~ na ati\ri_da_de versus passividade, na esfera da >1· O filme, dirigido por Mark Sandrich e lançado em 1942, recebeu no Brasil o título Duas
' produção versus esfera doco:;;-sumo: füz-q;:;:ea-vi.:lã-do-leit0r-Tprogramada semanas de prazer. [N.T. J
'
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 6 ·TEORIA ESTtT!CA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA

ção mais amorosa} n~. qual _s: . P<?4~ .!IE_~$~-~~: __q_~:. .~:J:_~~~~~?-~ .acabarão__~-­ Outra coisa que as cartas demonstram é o efeito das exl":'r~T)Çͪ'--2!'.S:
' beijando) a música suave e melodiosa é ;.;µ_bi~ári\ent~_.i~!~!-~2Qll?.~ª--~--~!-!h~_g­ sOalsilã ail;l1ise da EscôTade,_F;:-ankfllrt. Qie-existii'e~s~Üg~Ção, a teoria
, tuída por um jazz, que_ cq._str_a_g_u_as~Ji~erªlmg_12~~-º-s __<;i_an~rino$.Js_sq_~e __co_a~---.
'duna bem com os comentários esclarecedores que Teddie [Adorno] ~scre­ -crítka não negaria. Como escreveu Horkheime.rgrru__ua CJlila.. sohr_eJ:'.r~
veu} certa v~zi sobre a liga_ção_ e{l_tr_e _{!_Ç_?str<!ç_ã~ _f!,__~ jç:~z. _"quanto1naior é uma obra, mais ela se enraí:za.11a_s_itu.ilç_ãQ_histórica con­
creta''.221 Na condição de re[ugi<1dosda _E__ur.op<!Çmtrn1Js.mnaJ'.l2JL\'.nu.1niª
Diversas características da crítica do lnstitut à cultura de mas~_içjen::
'r-iéa heranÇa ct1Itµ~al, era inevitável que eles se se!lti§~,C,ll1J)()t1co à _yontade
ciam:se u"~s~~ ;;;t:ercâmbiõ:"Em·:malsâeum momeilto;põrexemplo, fica
no- Clima menos elevado do novo meio onde estavam. Vez por outra, essa
visí~el a preocupac;ão_ com_a feli(;ida~ª-l!_~I!!b;a .• A,o ÇQn![<Í_r_iQ_QQ§__criti-­ ·, ~lienação significava uma falta de receptividade-;;;-;, elementos espontâ­
CÕsmais conserv;;dores da cultura popular, aJ~s<:;olª_de Franj<furt S~J:e­ neos da cultura popular norte-americana - a hostilidade inflexível de
' cusava a defender a cultura superior corg9 i!:r:ri fim em si, separada das Adorno ao jazz, por exemplo, sofria de uma certa insensibilidade a priori.
' preocupações mate;iais. Tal cÕmÕ 'Nietzsche, cuja contribuição seminal
Ao me§!U_ü__tempo, contudo, a alienaçi!o__!2IQporçilln;1y~1.uma_i!lestimt,•~I
para a análise da cultura de massa o Institui reconhecia com freqüência, distância crítica da cultura, o que impedia o Institui de ~qµip_arnLª cul­
Horkheimer_jés_e_us__çolegas <fü5g_llj_ªm uma lig3ão subterrânea entre a :tuq de-massa à veraaàeiJ:a d~ir)9(;1-,,'c_i;l. A c~Íegoria de- "dessublim~Çã~
··1déi~ <l~Q;'Üura.transcendente,Aµe fingiª estar_acim-ª.d.a_yida materi<!k repressiva';2 22 que Marcuse viria a elaborar, anos depois, para caracterizar
o ascetismo psicolõgjço. Eles atacavam constantemente comentarista~ a pseudolibertação da cultura moderna, existira embrionariamente na ex­
· como A]dousJ-Iµ;<leypdotraço-puritano des_eu,,pmt_esto contra a cultui:'1
periência pessoal dos membros do Institui. _Tendo conhecido um meio
''de massa. 219 CoIT1ig11aJJ<~D'.or,denunciavam os.,anseios_n2.ât;í_lgicos d~~rí­
cultural alternativo, eles não se dispunham .a_trgc~r .a_s_u:J,,Prom,!'_sse d§
- ticos elitistas"tÕmo,JosêOrtega.yGasset. "O direito à nostalgia, ao saber
"'bonhe~r pela moeda degradada que a indústria <l<i<:_11lt110_()_~"Çia.
. tran;ce;,dental, a uma vida perigosa, não deve ser fortalecido'; escreveu
- Como depois explicou Adorno,2 23 a expressão "indústria da cultura" foi
"<::'."·~-,___ ~----"-""·---~--~--.---·--""
Horkheimer. "A bta contra a cultura d,<'_:r:ria~sª s<)f>()~eso11~s~ir.".".'.~E<:'l1:.
' ' .... ------·'' -- - """ ...
,.----> ··----·- - - " ....... _' "'""'"""" -·----........ ----·-·- _______,_,__

escolhida por Horkheimer e por ele, em Dialética do esclarecimento, por


tar sua ligação com a persistêncl~da)11i11~tiça ~~ci<i!:" 2 º S:orllii.;rrgumeq­ .., s'uas conotações antipopulistas. A Escola de Frankfurl:crll:lç;ly(l iCC;iilt:µ;::;
tara Marcuse em 1937, a sel'aração entre a vida cultural e sua base mate­ de massa não por ela ser democrática, mas justamente por não sê-lo.
-ria! ~~-r'Via P<!Ó_harmo~i~a;-;;- ho;mrncom as_desig_11ald_'1des iml'!!_cj_tas A concepção de cultura "popular", afirmavam, era ideo!Ógica; a indósúia
nesta última; ness~ sentic:fô~iicUlfüfii"l5urgtíesaid~a_lista era "afirmativa". da cultura oferecia µma cultura falsa, não espontânea e reific:ci~,-emvez
O que as cartas tambéil1 !11ºstram é co;,;:;Õ Instltnt, a despeito de!()·o -aa«:o!Sãvêr<la<lefrâ.A anüga·a1SfiiiÇã0en:rrecU!füra'super1or e-inferígr
das as suás-tendências 'll;.ãriQ$\i[sJ va}orizâvaã ti:adiÇão:·Aâi:íiiiô-analisou - nâvia praticamente desaparecido na "barbárie estilizada"'" (Ji'Ç],ií~r; ç\e
'o c_o_rp_ionerrt~:!r~<iisióii~111a11_1_úsic~-;;!'.'1ieniimerl'te revõílicio-;;;\ri;~ 'massa. Até os exemplos mais "negativos" da arte clássica tinham sido ab­
--S~hõnberg,eJ\enjamin considern~af!uê'a t_ra_di_ç!() fazia !'arte da aurá,c!_a_ . sorvidos pelo que Marcuse chamaria, posteriormente, de sua fachada
obra de arte. Em carta de 22 de outubro, Lõwenthal referiu-se -ª-c;_ontin_qi:_ "unidimensional". A tragédia, que um dia havia significado protesto, ago­

dade como o "critéri9__do.amor", observiÇã(; que acompanhou de perto a ra significava consolo. ~.e..tudo_que_5_e_fazia_.passai:_poi:.a:i:t~ra.zia--mna

âfil'm~Çãü de Üo~kheimer,
~~----­
na carta anterior, de que a cultur_<l__d~11_1_a_ss!ll'rL~ mensagem subliminar de conformidad_e ~ r,<'gg!l_<IÇÃQ,,

vava o homem de su_a duri[e.J'orém, épreciso compreender que, por ~a­ '' Tal como em muitas outras áreas, o Institut acreditava que, ror causa

-~dição;üfn~tit~t-s~ ;eferia' a aÍ~o b~~~dif:re11~~~â c'Õn~~uãÇãodo"p:_~ da mudança social, os lugares-comuns liberais sobre a pre~ervaç!<Ulo in:

gressd; tal como entendido pelo pensamento iJµminista. Isso ficoµ claro ·aivíduo autônomo tinhani.-se toinaaüooSõietü-s-:Kant definira a arte
~;o ensaio ((Estado autoritário") que examinamos no capítulo anterior> e em ·c0mó üma "finalidade sem fim", mas, no rn1lndo rnod_erno,_ela.se_trans­
Dialética do esclarecimento, que abordaremos a seguir. 4tra_diçãost:r_eJ.,rL<!_ ·formara numa "finalidade com fins" -fins dit~d0 spelo mercado. 225 Ador­
0
_a_Q_Jil'() <Je_ e](f>~ri_êg~i_ª int,<'gE~d_a_':ll:l".,')_S__!TI~bros_~() lnstitUt cham:~a!J1 nô e Horkheimer consideravam suspeita até mesmo a desculpa da arte
de Erfahrung, a qml vinha sendo destrnída pelo chamado "progresso . popular como diversão, que Benjamin havia defendido:_ o lazer era a con­
-, - - ,, ---. ---- .. ---,.,__, -.-----·"--~-.~--~--------­ ~,.- --~--~ " " • .--~W'">•• --.,--.,••

276 277
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 6 ·TEORIA ESTÉTICA E CRITICA À CULTURA DE MASSA

~l<!Ç_~()-~O_Jr'1~ª1h2Jl()r()_\ltf()S__ ~i9-~· O único riso permitido pela in­ pni.ll!!.Yida _i_ri_tel_ectual doU'sta_cl9s_Unidos..o-=aiodmp.actQ_dg_to_d_Q_ç
dústria da cultura era a derrisão da Schadenfreude, o rir das desgraças trabal_l:ig__que ela realizou nesse paJs/ 28 Uma razão óbvia foi que, ao con­
alheias, A repressão substituía a subl_igl_aç_~2 _Cl___ deseio era desp~rJ<1do (;.\;io dos ensaios teóricos da década de 1930, grande parte desse material
. apenas para ser negado; a cultura de massa, em suma, seguia o ritual -d~ foi escrita em inglês. O mais importante, porém, é que ele veio numa épo­
Tântalo. *2.26 -----------------~
ca em que os próprios norte:americanos tinham começado a temer a rea-
Cada vez mais, o lf!stitut passou a sentir que a indústria da cultura Ji~ação das'.P;:;fe~faúfoistrasqueüs visitantes- e5t~ai-igeiros, <l~s<l~r~~q~e,
eséravizava os homens de rnan~ir~s rnuit~ ~ai;-;-;;_tis-~-efi~-que ·vil!e, tinham forrnnlado s",;bre os efeitos da democracia de massa. 229..Antes
os métodos crus de dominação praticádós em eras anterf~~i.Sob c~to;' fa_$_ggyn_da_GJJ_e_r_rn.M.!!!l<li~J,sociól()~O-s_co1110 Robert Par_k e se~ discípu­
·aspectos, ;Jiilsi'hªE~~()_{'.arti<;l!~U'...QQ universal.J'.ra nrni§.sinistta~ lo na Universidade de Chicago, Herbert Blumer,_tinhamcse dedicado __a..es,
~o que o choque das_ contradições S()Ciais, pors11a_c_<1p_;içigªge d"jndu­ _t1:1dos_ru_dimentares. SQbre_.<l__socieda<!e cl_e111_assa,_p()_r~rn,_e!Il _ geraJ, .ern.Ís9:.
. zir as vítimas a urna aceitação passiva. º2m.9_ degínkuiasJDrças media­ )aJ11_e_nj()__e _çom conclusões mais espera!lço_sas. Em meados da década de
doras da sociedade - e, nesse ponto, o !nstitut recorreu a seus estudos 1940 o interesse por esse tipo de análise havia crescido, dentro e fora da
anteriores sobre a diminuição do papel da família no processo de socia­ comunidade acadêmica. 9_('_ll1'1lt (Jreenberg e I)wight MacDonald, este
lização - , as Jlr()ba!iilidades de desenv9l_vim~!f_1:_Q de_Jlma_resjJ;_tênciai1­ §!timo por.meio de seu influente periódico, Politics, CQrneç_ara!T)_a cfü~e­
_cavarn seri~rnente reduzidas. Alé~ di~so, a difusão da tecnologia servia à minar a crítica à cultura de massa para um público mais amj)I(),§()ció.!o­
indústria da cultura nos Estadosünidos d<i-mêsmõmõdo que ajudava a .gos corno David Riesmanampliararn a C()I!sci~Iiti~~çjod~~ ~~SJ11aS ques~
·--int~~;Jfi(a!' o coilffõfedosgõvernosa\ltoritár_iQ.s gaÊur<!llª· o rádio, tões por parte dos estudiosos: 230 Richard Hoggart fez o mesmo pelos
argumentaram 1-rórl<heimer é .A<lór!ló, est~~~ para o f;"Sci~-;.º como esti­ . leitores de língua inglesa do outro lado do Atlântico. 231_Pela primeira vez,
vera a imprensa para a Reforma. o ataque à cultura popular veio de uma direção radical e nãoconserya­
Em suma, todo o célebre pessimismo de A ideologia da sociedade in­ ' dora. Nesse aspecto, a influência do Institut e de ex-int~g;ant~;:~omo
-----"- --~-­
dustrial, de Marcuse, foi antecipado no ensaio sobre a indústria da cultu­ ~ From~, desempenhou um papel significativo, acrescentando ;ubstân~i~ ~
~ra-eii:JjTiJJé.fJf.iª~recliiieritõ:o(ffiic~- indício de negação preservad_~ profundidade ao ataque, e foi reconhecida co111freqüênciá. · ...
na cultura de massa, conforme iLd.ii-iJ!ifünBorkheirneLe AdoLl!D.,.e.s.ta'la.na__ · - O que houve de crucial na crítica radical foram suas nuances políticas
~ --~---------,.­

.. arte corporal, enã() if!lelec_tll_al:_por exemplo, f!() artíst!! d~irçg,_giio_g>[:: implícitas. Seria um erro interpretar a mudança de foco do Instittl!,.da
_po plename_fl_\eJeif!_c~d()_p_rometi!Ltrnnsçe.nder o caráter <k_merçadQJ:ia da _:base para fsupere§"fiútura, Çomõuin abandõifo de seu cQrnpromis~o com
artede massa, levando a objetivação ao extremo e, com isso, denunciando os ideais de sua fase anterior. O declínio da cultura "negativa" tradicional
-o ~e ;té então [;~;r;~;;lad~}ii Âfo~; i~;;:;-I~stÍtut temia ;[~;;;;t;; . não foi um assunto apenas para intelectuais. A cultura dernassaera-o-;;~~
d~ todas as possibilidades de um futuro tr~;sfo;;;:;~;J~;-~~ão ser pela "ex­ }~i~~~ototalitarism_()__J20líti(;(). A~elhorfor;p;·deco;;~~gder os !1J1;ca­
. pÍosiió do~Õ~(;;~;_;;.;;-d;-hi~tó~i-;;»g_~-e-os~~;~;;_;~-~volume em memória nismos de mediação entre a cultura e a política, na visão de Horkheimer
de Benjamin ainda haviam citado como uma possibilidade. é dÓs que ó cercavam,era em termos psicossociais. Assi:Il;,~üs~~tDdQ; qge
Em muitos sentidos, a crítica da Escola de Frankfurt à cultura de mas­ 'fiZerãm da~ultura popular ligaram-se às investigações do p:;;-tencial auto­
e
_sa sua análise correfaia<lüiJõienciaTautõríiárionõrie:americano surti­
'"···~·--~·-·----·--·---------­
-ritário norte-am:edcanó, que haviam coI!di1zido na década-del94o:E;~as
-.investigações assumiam primordialmente a forma de análises psicoÍÓgicas:
* Na mitologia grega, Tântalo ofendeu gravemente os deuses e, como castigo, foi condena­ mas sempre baseadas nos pressupostos mais amplos da teori~ ~;íti~~. En~
do a não conseguir saciar a fome e a sede, mesmo vivendo em um vale com vegetação e tretanto, como essas premissas teóricas raramente eram compreendidas
água abundantes. Ao aproximar-se dos frutos, eles se afastavam, levados pelo vento; ao ten­
pelos comentaristas norte-americanos, os Estudos sobre o preconceito fo­
tar beber água, ela escoava para longe. Assim, os objetos do desejo de Tântalo existian1
muito próximos dele, mas erain inalcançáveis. [N.T.] ram comumente entendidos como estritamente psicológicos. Como ve­

278 279
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

remos no próximo capítulo, não era esse o caso. Segundo a explicação


de Adorno a Benjamin em 1935, o indivíduo burguês era apenas um
Durchgangsinstrument [instrumento de transição] dialético; a totalidade
continuava a ser a realidade central. Se, em seus estudos_s()b_~e a cultura
de massa e o autoritarismo psicológico, o lnstitut pareceu recair no indi­ CAPÍTULO 7
víduo enfileirado, foi apenas porque a_alter!lati~ã:~t_Ópica que buscava só
·continuava a existir nas "vidas estragadas"2' 2 dos o~ts_icl_ers_~.ª cultura. O TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT

NA DÉ<!:A.DA DE 1940

(
O tema central do trabalho é um conceito relativamen­
te novo - a ascensão de uma espécie "antropológica" a
que chamamos o tipo autoritário de homem.
- Max Horkheimer

. Os _<lnos de guerra trouxeram uma séria reavaliação dos objetivos do


. InstitW::~iedefinição gr!!l:!ªtiYlLQ~.s.ga_estrutura institucignaf,]:<lo~n­
ça circulatória de Horkheimer, que o levou a morar na Califórnia, e o en­
volvimento crescente de outros membros do Institut em trabalhos a ser­
viço do governo significaram que o tipo de ligação desfrutado com a
Universidade Colúmbia desde 1934 deixou de ser possível. Além disso, um
·novo fat~; interno no departamento de sociologia da universidade indi.
con problemas potenciais no futnro. A luta pelo controle entre a ala mai.s
especulativa, liderada por Robert Maclver,.e sua equivalente de orienta­
. çãó empírica, em torno de Robert Lynd, foi resolvida a favor desta últirna.
· Pelo menos, foi o que Lõwenthal informou a Horkheimer em uma.carta
de .23 <;!e jªn-"iro qel 942. Como não é de admirar, Horkheimer dispôs,se
a permitir o afrouxamento dos!aç()s do Institu!5'()!11_'1 Cglúmbia, iniciado
pela guerra epoislia<l~eüÇa. Já em maio <l~l941, antes do fim do confli­
to Lynd-Maclver, ele manifestara a Lõwenthal suas dúvidas sobre as con­
seqüências de um relacionamento prolongado com a Colúmbia ..'A lide.e
rança do Institut, embora ciente da necessidade de manter uma identidad.e
institucional, se preocupara com a possível esclerose que a institucionali­
zação excessiva poderia provocar.
. Ainda assim, com o fim da guerra, houve uma tentativa de manter o
Institut em Morningside Heights. A doença de Horkheimer tornara-se
uma preocupação menos imediata, o que lhe permitiu retornar a Nova
York por longos períodos em 1944 e 1945. Embora alguns integrantes do
Institut, como Marcuse, optassem por permanecer junto ao governo, ou­

280 281
<
MARTJN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 7 ·O TRABALHO EMPÍRICO DO INST!TUT NA DÉCADA DE 1940

tros estavam ansiosos por voltar à vida acadêmica plena.J''1AC0J_(1_11_1_~ia ':'in­ mente por razões financeiras. A situação ficou tão crítica que, em carta a
da existiam vivas esperanças de conservar o Institut. Iron~ca111ente, O_jJrii:- · Lõwenthal, Horkheimer chegou a especular sobre a possível dissolução do
. cipal esforço para reavivar aJigáÇão com efé veio das fileirns dos SQdÓJo:· lnst1tut, caso não se encontrasse um patrocinador. Era preciso obter ver­
· gos empiristas ..Paul Lazarsfelçl,_9ue havia Jransformaçl_q se_t:! ~<:r:i!~r~?__<l_e_ bas, escreveu Horkheimer, "caso contrário, o trabalho para o qual vivemos
Pesquisas Radiofônicas num recém~criado Serviço de !'.:s_g}lisa2§0_9;!js · e .que: suponho, tanto é o seu objetivo quanto o meu - não apenas nossa
Aplicadas,' sugeriu a integração do lnstitut a esse órgão. A despeito do fra­ vida mtelectual, mas também a base material de nossa vida - será des­
6
. casso de sua colaboração com Adorno antes da guerra,_~i\"-acs.frkl.Yia com trm'do ". D urante o verão de 1942, entretanto, houve um contato com a
0tirnismo lli11ter.ação çl4 teoria_ crítica C()ll1 sg<!_fQimªcie~J:ie§.q.uis.a.admi/ Comissão Judaica Norte-Americana [AJC]* e, em outubro do mesmo ano,
-~istrativa". 3 Numa série de cartas a outros integrantes do departamento, Horkheimer t"-ve uma entrevista bem-sucedida com John Slawson, vice­
como Theodore Abel e Robert Merton,J_azarsfel enalteceu as realizações presidente executivo da entidade. Já em 1939 o Institut havia preparado
do Institut. Em 5 de fevereiro de 1946, escreveu a Abel dizen o que o de­ um prospecto para um estudo sobre o anti-semitismo, divulgado no pe­
-p~rt~~erÍto havia cometido uma injustiça com o Institut, mas não por sua núltimo número de seu periódico.' A AJC manifestou interesse pelo pro­
própria miopia: jeto, na esperança de impedir que ocorresse nos Estados Unidos _0 que
Toda a confo!i_ão se d".)'.e_à_isl.iQti~..do grupo do_.lQHitll!º'--!'assei an()J.diz:enc_ estava em curso na Europa. O resultado foi uma verba considerável, que
d;~]!l~;q;;~-pubika;-em alemão-aca\)ari~p__o_r__destruí:_l 0 s. Mas eles tinham a ajudou o Inst1tut a se manter e a financiar o mais exaustivo estudo sobre
''idéià fixa-de que sua contfibllição para os Estados Unidos seria maior se eles o preconceito que já se havia empreendido até então. Em maio de 1944
preservassem neste país a derradeira ilha da cultura alemã. Isso se aplica par­ re~lizou-se em Nova York uma conferência de dois dias sobre o precon~
ticularmente a seu Zeitschrift. Pedi a Lõwenthal, ex-editor da revista, que fi­ certo, na qual foram apresentadas as linhas gerais de um ambicioso pro­
zesse uma breve análise do conteúdo dos dez volumes lançados neste país.
Todos ficarão surpresos com a quantidade de textos valiosos enterrada ali.4 grama de pesquisas para o futuro. Ao mesmo tempo, a AJC criou um De­
part.amento de Pesquisas Científicas, com Horkheimer à frente. Ele lançou
À guisa de solução, ele prop_~s a filiação da ala em_pirista do InstJWt a0 ofic1~lme?te os Estudos sobre o preconceito, que viriam a empregar uma
__ ~e~viç_o de !'es.QliiS.as~Süci~iu\pJka.Qas, Lõwenthal, Massing e Marcuse mult1phc1dade de abordagens metodológicas no estudo do preconceito
· deveriam ser membros em tempo integral; Pollock e Neumann, em horá­ social. Assim se iniciou a mais ampla e contínua concentração do Institut
rio parcial.,fapernva-se gii_e Hor~ime_i:Jpor causa da sa(1_cleJ_(!___AQor_11g em pesquisas empíricas.
per_manec.essem na __ Çfilii<.íI11Jib__JlQ._qug_pxesumivelm.en.tg__ sgJ:ig_ 0 ]2rn.ço _ Na mesma época, Horkheimer e Adorno estavam empenhados em sé­
-e~pecuJa!i'Co çl0 JD.stittJt. Lazarsfeld deixou as portas abertas para o retor­ r~os trabalh~s especulativos'. que produziram novas e importantes exposi­
no de Horkheimer, caso seu estado de saúde melhorasse. ~~-ele::..... çoes da teona cnt1ca. As mais destacadas dessas exposições foram Dialéti­
partamento-de so_cioJogia te11J:i<:t_seg_!ljd0 _ªs__re,;_gm_mdações ·de L1_za_i:sfel<!._ ca do esclarecimento, de ambos, Eclipse da razão, de Horkheimer, e Mínima
e tenha feito um convi1.eao Institut, Horkheimer citou sua saúde como a moralia, de Adorno. Elas serão objeto do próximo capítulo, que trata da
. razão para declinar. 5 De todos os 111embros do Iíí:sfifüt; aJ'_e~::!'l_~;~_<:;;-n mu.dança da visão teórica do Institut em sua última década nos Estados
· optou porvoltar para a Universidadetõlíímbia-depoTsdo período im,_e_­ U_mdos. Em certos momentos, porém, algumas das novas idéias aparece­
;Íiatamente p;~t.;~iol' à-g~e~ra:·---------------------~-------
rao nesta nossa análise do trabalho empírico. Também faremos referên­
, _Q_I_nstitut recusou a ~y_<1velmente J;LOtque sua situação__fui.alli
cia, em alguns pontos, à crítica do Institut à cultura de massa, que consta
ceira havia ;;}eJhorado. Em 1938, como vimos, investimentos malsucedidos
do último capítulo.
· e a mu!Úp!i~açãÕ d~-apoios a novos refugiados haviam reduzido seriamen­
Antes de embarcarmos em uma análise pormenorizada dos Estudos so­
te os recursos disponíveis. Nos anos seguintes, o patrocínio de fundações
bre o preconceito, é preciso deixar claras, mais uma vez, certas atitudes
para um projetado estudo sobre a cultura alemã não se materializou, e os

Studies in Philosophy and Social Science foram descontinuados, principal­ *Sigla da designação original, American Jewish Committee. [N.T.]

282 283
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 7 ·O TRABALHO EMPIRICO DO INSTJTUT NA DÉCADA DE 1940

fundamentais do Institut em relação ao papel das pesquisas empíricas. acultura seria precisamente a_<:<:Jildição que exclui ..\Ll1liU!l~utalidade.ca­

Desde o começo, a Escola de Frank[urtc~~ti_~ou_ as tendências reducioni§_tas~ pa~_di:!Il~<lEi_,;-.;;o·Ess~ fol~m pres;~-;-s(;;q;_~~desde o início, tornou im­

lrnpÜcitasnas ~lê~cia_s~~~[íí_~gu_~tinh_a_~~ão indutiva ee~~ provável o êxito de sua colaboração com Lazarsfeld, cuja "pesquisa admi­

•Ao explorar os fenômenos sociais, ela priorizava a teoria e não a compila­ nistrativa" baseava-se no emprego rigoroso de métodos quantitativos. No

ção de "fatos'~ do mesmo modo que, na política, punha a teoria à frente verão de 1939, essa improbabilidade ficou clara para ambos.

da práxis. Ao mesmo tempo, é claro,-ª-E~c_ol~ 11i:_n<:_a d~pensou arrog,<t_f!l;t~ Lazarsfeld enviou a Adorno uma carta de cinco páginas, manifestando
mente a pesquisa empíric<J,jndusnce ...rnnu:1cuamifiç_<!.Ç_ãJ>_dQs.r~gilta_<!os, .seuael;ap()rit)liiíentOCOIDO resuiiaclo
qa ?SS()Ci<iÇ;1oentr~ O; dois. 1º Ü t~m
.que carncterizava aíg~~s escolas .mai§glJ~Cl1E<l.n!~s~as_da__s()_cio!?_gia !le­ foi contundente, até ríspido, em certos momentos. Claramente, Lazarsfeld

mã. Como demonstraram o estudo de Fromm sobre os trabalhadores ale? achava que o tempo dos eufemismos havia passado. Referindo-se a um dos

.mãe~ e os Studien über Autoritiit und Familie, <ijôscola de !'13!11fu~i.L memorandos de Adorno, escreveu:

va por gsªr métod()s ~J11Jlíricos P~.!.ª-mriqll~J:,..m%llilca~§palcl_ar


(embora nu~~ª prÓp~lamente-verificar) suas hipóteses.esp.~~s. Ape­ . Y9.f-~.J~ 9xgu_lha d~ ~tacar outras pessoas como neuróticas e fetichistas, mas

_,não lhe ocorre até que ponto você mesmo él'assível desses ataques. [.:.f Ni~-·

sar de admitir que as técnicas que usava antes da emigração eram primi­
_~eh~ _que é _um perf~i_to _fetichi_sfl:lo . ~ _s~ª-- maneira de ~sar _palavrás e1UTâ:tiill ·-·

tivas, 0 Institut ansiava por torná-las mais sofisticadas com o correr do _ao longo de todo o texto? [, .. ] Etí llie impforéi repeÍidas vezes que usasse

tempo. Assim, patrocinou de bom grado estudos como O homem desem­ uma linguagem mais responsável, e é óbvio que você foi psicologicamente

pregado e sua família, de Mirra Komarovsky, e procurou aplicar técnicas incapaz de seguir meu conselho.

norte-americanas ao estudo da cultura de massa.


~':1.lE<l.S..RQillQS.da.car.ta,.Lazai:sfeld_foL<Jlém_d.as__çríticas _pessoais e
As dificuldades, contudo, muitas vezes se revelaram maiores do que se
a_i_ac_o_ll as "(lraves deficiências de procedimentos lógicos elementares" em
esperava, como demonstrou a experiência de Adorno com o Escritório de
_}domo. Quàndo comentou as técnicãs-<le·ve;ifi~ação, também o acusou
Pesquisas Radiofônicas. As idéias desse autor sobre as mudanças nas ma­
de arrogância e ingenuidade: ".Q_seu desrespeito por possil?_fü!lade.iuilter.:
neiras padronizadas de ouvir música, descritas no capítulo anterior, não
_nativas a suas próprias idéias torna-se ai11(Ia__,;;~i~-Í~q~i;tante q~o
podiam gerar hipóteses passíveis de verificação. As razões disso, supôs
seu texto permite suspeitar que voçê _nem sequer sabe.corno ..se..de.i;:e_Jaz.er
Adorno, não eram meramente técnicas. Três décadas depois, ele escreveu:
a verificação empírica de uma hipótese." Por último, ele expressou um pro­
Pareceu-me, e ainda estou convencido disso até hoje, que, na esfera cultu­ ..furido desencanto com as deficiências estilísticas dos textos de Adorno,
ral, o qüe é visto pela psicologia da percepção como mero "estímulo" é, na ainda mais perturbadoras porque este declarava freqüentemente que dava
verdade, qualitativamente determinado, uma questão de •<espírito objetivo", grande importância à linguagem correta.
e é cognoscível em sua objetividade. Oponho-me a afirmar e medir efeitos
sem relacioná-los com esses "estímulos", ou seja, com o conteúdo objetivo a O último parágrafo de Lazarsfeld merece ser citado na íntegra, não só

que reagem os consumidores da indústria cultural, os ouvintes de rádio.( ... ] pela luz que lança sobre esse conflito entre dois estudiosos resolutos e su­

Partir das reações dos sujeitos, como se eles fossem a fonte primária e final mamente inteligentes, com idéias diferentes, mas também pelo discerni­

do conhecimento sociológico) pareceu-me totalmente superficial e mal mento que fornece sobre o caráter complexo de um dos homens que de­

orientado. 8 sempenharam um papel central na história do lnstitut. Poucos dos que

Ç) que causou uma aflição espec~~Adm:no foi a maneira não ~­ conheciam Adorno duvidavam de seu brilhantismo intelectual e de sua

. dia(l~ pela (jüaros-f~i19menõjêült1:1r:_ais eram transfor~~dQL,.,. capacidade imaginativa; menos numerosos ainda - e, nesse aspecto,

, quantitativos p()r seus _!19Y9s .colega_s_p.Q!t'ê:_american<)_~· J\ própria equipilc:.­ Horkheimer foi a grande exceção - eram os que o consideravam um co­

, ração da cultura a quanti~des ll1e11suráveis lhe pareceu um exe!llplgsu~ laborador fácil. "Não foi agradável escrever esta carta" concluiu Lazarsfeld:

2remo da reificação car.acterística <la. culbira:d.~ massa. "C?,t:la.11c:!o m_e con­ Eu não teria g31g<i_dQi§.s!ias.inteirns.de.trabalh_Q..p.ara.. elabo.riJa,senão.con.­
frontei com a exigência de 'medir a cultura"', recordou depois~);~fl~ti_'ll!_e"' --·s1Gerasse Vltal para o nosso projeto fazer com que você pense em toda a si­
. . -- ----- -- ·- - " -- ..
--·~----~------~---

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'
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 7 •O TRABALHO EMPfRICO DO INST!TUT NA DÉCADA DE 1940

tuação. Você e. e~_ 5:'.~~~.C:-~-~~t~_Jil-2.~-~?t<?.J~--.~~periQE!~~s.ls: ___~~ --~!KuI?as_ partes dos projetos foi uma investigação do padrão da ajuda oferecida por gen­
creseutraoaniõ.intelectual, mas você acha__ _que_, pqr.:_~st_ax_bas~caqi_~i!~--ç~_rtp· tios alemães a vítimas judias de Hitler. Com o prestigioso co-patrocínio
\ em algum ponto, está certo em tudo. Já eu acredito que, por e~tar certo em.
-'algurri ponto, você desconsidera o fato de _que é te-i!íVé_f ein--oUt-iOS-asp~-c'fôS-:· de Thomas Mann, compilaram-se dados, por exemplo, em anúncios no
· O leitor final achará qu'e, sendo você 3frontoso em uffi~ Par-tedo seu trãl)à: Aufbau, o principal jornal dos refugiados em língua alemã. Apesar de nun­
lho, na qual ele pode facilmente alcançá-lo, então é insuportável no conjun: ca ter sido publicado, o estudo mostrou que católicos e conservadores ti­
to. Por isso, tenho certeza de que o que fiz nesta carta acabará por lhe bene­ nham dado mais assistência do que protestantes e liberais. De acordo com
ficiar. [... ] Permita-me assegurar-lhe, mais uma vez> meu respeito, amizade Paul Massing, essa conclusão foi posteriormente usada por Horkbeimer
e lealdade inabaláveis.
para respaldar a tese de que, muitas vezes, os conservadores preservavam
Quando a Fundação Rockefeller reexaminou sua verba para o Projeto melhor os ideais críticos do que os liberais. 13
de Pesquisas Radiofônicas, no outono de 1939, o projeto sobre a música ~uito mais ambiciosofoi um estudo m<J:c_iç_o__s()_b_re_()__grau de anti-se­
foi excluído. Posteriormente, em um estado de espírito mais brando, mitismo exisreme na Clãsseoperariã noite-americana, qu~oiíi:Stitut Cõ­
Lazarsfeld ruminou o fracasso de sua colaboração com Adorno. u_Q_füJ::... ª
; me<;ou organizar em 1943 e realizou no~ <lõls a.r.;;5 seiiifoi~~~-M:ai~ ~u
cesso de A personalidade autoritária havia deJ11.<:J.t1S_~i:?_do que a teoria críti­ menos na mesma época em que a Comissão Judaica Norte-Americana fi­
ca e a quantificação não eram tão irreconcili~veisqt1i~to_9~p;.ojetoS:-obr~ zera sua oferta de apoio, a Comissão Judaica do Trabalho [JLC], * chefiada
·a música fizera parecer. "Tenho a incômoda sensação", escreveu Lazarsfeld, por Adolph Held, colocou uma verba de proporções um pouco mais mo­
· com generosidade, "de que meus deveres nas várias divisões do projeto de destas à disposição das pesquisas em sua própria área especial de interes­
Princeton talvez me hajam impedido de dedicar o tempo e a atenção ne­ se. A JLC havia criado uma Comissão de Combate ao Anti-Semitismo, sob
cessários para atingir o objetivo para o qual eu havia contratado Adorno a chefia de Charles S. Zimmerman, e estava ansiosa por partir de uma aná­
originalmente:' 12 lise científica do problema. Seus contatos com a Federação Norte-Ameri­
cana do Trabalho [APL], com o Congresso de Organizações Industriais
C{~i~<;J;!.l.!'.Lillle_!m!iam_§id9_a,s __"<;Edadeiras razões, <:>.JmijetQ s~
.~~si9 malogro11,_e11qyanto. Apersonal~á~tQLitárjqJggQ_§!LlQQl<:J.•LllID
[CIO]** e com vários sindicatos não filiados facilitaram a compilação de
dados, que foi feita em Nova York, na Califórnia e em Detroit.
.. clássico das ciências sociais. A explicação dessa mudança não pode ser bus­
O volume de dados acumulados foi tão esmagador, que o Jnstitut teve
cada apenas no desenvolvimento do próprio_A_do_r11<:>.,. pois ele foi um de
-~ifrcul.êlãâê dê organizá'lõs pará publicação. Um reliltóiiO de 1.300 pá.gi­
um grande número de colaboradores no segundo projeto. Mas, com o
-nas e quatro volumes foi entregue à JLC em 1944, mas os esforços subse­
tempo, ele ~etiv.'l111<:r1teg~_11!io.1:1_ UfJ1_ª-._valiosa experiência 11ll;l()çlol§gica
qüentes de reduzi-lo a dimensões publicáveis não lograram êxito. Gurland,
que 'lherou stuLhostiJidade inicial às téc11.ica~1191te_,_<Unerirnmi.s.._No fim
'é",,_ -"' "º""-"'""'"~""•----- "
Massing, Lõwenthal, Pollock e Weil participaram da compilação e análise
da década, por exemplo, diminuíra a sua ênfase em apreender o "espírito
originais do material. Obteve-se a ajuda adicional de Herta Herzog, do
objetivo", em vez de medir as reações subjetivas a ele. Como veremos, a
Serviço de Pesquisas Sociais Aplicadas, para quantificar os dados, e Ador­
dimensão "objetiva" do preconceito não foi ignorada, mas nunca foi ple­
no escreveu memorandos freqüentes, metodológicos e substantivos, ao
namente integrada às análises subjetivas do trabalho dele e do Institut so­
longo de todo o trabalho. Mas os problemas de organização e editoração
bre esse problema. A cultura podia não ser merisurável, mas o preconcei­
--.,-·--~~-~-------....---r- ­ continuaram insuperáveis. Depois de deixar o estudo parado por vários
to talvez pudesse sê-lo com mais facilidade.
anos, fizeram-se esforços renovados em 1949. Paul Lazarsfeld e Allen
---.Aéfõrno;e- dara, -na:_õ-fcíio-_ú_nicoaãdquirir experiência metQçlológica Barton foram recrutados para escrever uma introdução metodológica.
__no éomeço da década de 1940. 0-~~rrl.; ~;~~=;;;;g_~;i~"Od~I~~Íitut,-;pe;a;
·,
--------~ --~------~·------------·-----~~--

de reduzir suas atividades durante a guerra, não parou de funcionar. De­


* Sigla da designação original, Jewish Labor Committee. [N.T.]
pois da suspensão dos Studies in Philosophy and Social Science, vários de
*"' AFL e CIO são as siglas, respectivamente, da American Federation of Labor e do Congress
seus membros passaram a investir mais tempo no trabalho empírico. Um ofindustrial Organizations. [N.T.]

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'
MARTIN JAY ·A lMAG!NAÇAO DIALÉTICA CAPITULO 7 ·O TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT NA DÉCADA DE 1940

Em 1953, a editora Free Press, de Glencoe, anunciou sua publicação, com Ainda assim, o objetivo expresso por Adorno em seu memorando foi
uma descrição do conteúdo, que era predominantemente dedicado a uma atingido em medida significativa. O lnstitut aprendeu a abordar o anti­
análise qualitativa dos padrões de crenças anti-semitas. Contudo, persis­ • semitismo d;:t.ma_11~iramai$índire\ªp_ossível. Amostra; d~p;)puhções das
tiram as discordâncias dentro do Institut quanto ao valor de apresentar ·costas leste e oeste, assim como do meio-oeste, foram examinadas basica­
um estudo feito quase dez anos antes, 14 de modo que o livro nunca foi mente da mesma forma, Em vez de distribuir questionários ou conduzir
-~n'.revistas diretas,. elaboraram-se entrevistas "disfarç.ad<ls'',nas quais o.oh,
para o prelo.
_Jetiv~ do projeto foi tão escondido quanto possível. l§so significou que 270
Em virtude -~~_JJlllllicação dos Estudos sobre o preconceito, nesse ínte­
rím, os. resiiltados do pro)êto-sobre a classe operária passaram a parecer ·operanos foram selecionados como agentes do projeto, sendo instruídos
redundantes. Por isso, seu objetivo foi alterado, como escreveu Adorno em a decorar um conjunto de perguntas voltadas para sondar as reações dos
trabalhadores quando ocorriam incidentes anti-semitas ou correlatos.
um memorando._Tratava-se agora de "descobrir como estudar.Q ªntic§.".­
Houve 566 entrevistas, e os resultados foram divididos por categorias
mitismo, e não obter resultados finais". 15 Nesse aspecto, porém, mais uma
como origem étnica, operário sindicalizado ou não sindicalizado, da APL
vez, as realizações metodológicas dos vários volumes dos Estudos sobre o
preconceito ofuscaram as técnicas mais primitivas usadas no relatório an­ ou do CIO:._~ºª·~ca:te_do_1:11a_terial recolhido_e al~l!rnª§das perguntas fo,
.r~.ll1usados depois nas entrevistâsfeaTiiâéfas para o livro A personalidade
terior.1!()l!~_()l1!@..Iil_~ÍÍ-Q_para a relutância ~131-~ut em l'!l_blicar o
autoritária. 21 Além disso, a, estruturação conceituai dos resultados con­
_11JlbJ!]b_o. Çomole!llQIOU !'ollo.c.k, 16 as conclusões do estudo e.ram tão de.;;.:_,
favoráveis à classe operária n.21:-t~:.il_rgericana, que c:iJnst.it11t,fQfil_S\la_çªu­
:tri~~_i.:1.~ aprimorar_~s.tipokigg~- desenvolvi<:lit.5_11() trabalho pos~.;;:ior.
tela car~cterística, hesitoiiem diVl!Jg~;;s:(~;ult~:dos. Já em julho de 1944-:'
"~or_isso_'._alleS'1L.d~11atimorto em c.er.to sentido, o projetP-s~ ~ev~fou:-\im
.importante campo de testes para o trabalho mais ambicioso do ]nstitut
como mencionamos, Horkbeimer se preocupara com a reação da opinião para a AJC. ··
pública norte-americana a "um bando de intelectuais nascidos no exterior,
·. .:Arítes de nos voltarmos para os textos dos Estudos sobre o preconceito,
metendo o nariz nos assuntos particulares dos trabalhadores norte-ame­
convém ~ecer alguns comentários sobre sua relação com a visão geral do
ricanos".17 1".b'\is..de.metade dos trabalhadores pesquisados haviam dem()nS­
lnstrtut. ~.primeira vist"'..si~st.1:1~ssinalaram um desvio radical de al­
_trad.o_Jl!g~ tipo d~..Q!!SQ!lf~i~ti-s~mita, 18 mas, em i9s3, a Ud~ranç-;­
--~ll.n.S..<.i()g_ill."SJi:gí(i'frg~11tais ..da.teoriacrítJcá•..Di.~ffí(Ífiiodo,Ts-sofoTv~~~
do lnstitut quis minimizar isso. Ademais, as tentativas de abreviar o ma­
~,4<1-de.-A cautela que vimos exibida pelo Institut nos Estados Unido;, e1~
nuscrito haviam produzido algumas simplificações exageradas. Massing
diversas ocasiões, tornou-se evidente em seu trabalho empírico da década
escreveu para Lówenthal, falando de sua indignação com as mudanças:
de 1940. Por exemplo, o oposto da "pçrsonalidade autoritá,ria" deixou de
Faço as mais sérias objeções a essas "conclusões". Essas páginas mostram a _ser o "revolucionário'', como havia ocorrido nos Studien überA~toritiit ;;~d
transformação do estudo, que passou de sociopolítico a puramente psico­ _[!~nygtii; ]'~s~~~a sij_::-oti)2()_ "si~ri!o~.r:atiCo''. os_v~~.i~;;p;e~~~~-~105
e __
lógico. Na versão atual, não pode haver comentários ultrapassados, como
vanos autores ligados ª.º·~Estudos, especialmente os que eram es.iiiíJhos
'(sinais de perigo' e necessidade de educação, e qualquer referência à "classe
1

operária norte-an1ericana" é francamente ridícula. A classe operária norte­


às maneiras de pensar d.o Institµt, foram in~aria~el~ente os liberais.e_os
americana que aparece na Parte Ido atual estudo é anti-semita. do New Deal, * e não marxistas ou radicais. f'.._ educaÇio. jl~;;-;t;lerância,
em lugar da.práxis para à nrndança revolucionáriª,Joi oob)etivo exp!Í~i.
As revisões da primeira parte do estudo, acusou, tinham-no estragado: ~o da pesquisa, o que despertou o desdém de marxistas mais ortodoxos,
"Ao lê-lo, ele soa como uma tentativa ginasiana medíocre, opera com dois como Brecht. 22 "Nossa meta não é meramente descrever o preconceito",
ou três conceitos psicológicos genéricos, usados à exaustão, é repetitivo até
o enésimo grau [... ]." 19 Aparentemente, Barton, que deveria escrever com *~regrama impl.ementado nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, durante o governo do preM
20
Lazarsfeld a introdução metodológica, manifestou a mesma opinião. Por s1dente Franklin Roosevelt, com o objetivo de recuperar a economia depois da Grande
todos esses motivos, Horkbeimer decidiu não publicar o livro. Depressão iniciada em 1929. [N.T.]

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 7 •O TRABALHO EMPIRICO DO !NST!TUT NA DÉCADA DE 1940

escreveram Horkheimer e Samuel Flowerman na Introdução dos Estudos, Isso poderia <:§clal!s:rr-º-usg.._c:l_e__11ll:!"._tipg]()gi~_Q.ª.I'l.f'l<:Plif_;ir as_].ill:.SQ:_
"mas explicá-lo, a fim de contribuir para sua erradicação. É esse o desafio naliaades reificadas, mas não as queainda preservavall1.'1!1J.a sl!l:>je_tiriQ.a­
que queremos enfrentar. Erradicação significa reeducação, cientificamente de ~utêntica. Estas, ao que se p~de~ia p~esúi:riir, seri~;;; as mais toler~_rites,
planejada com base na compreensão em termos científicos. E a educação, 'mas Adorno também.usou uil)a ti]Jologi_<i]J_ara descr~V:ê~1~;.---- ­
no sentido estrito, é pessoal e psicológica por natureza." 23 Os volumes não Em geral, a situação era consideravelmente mais complicada do que
faziam nenhuma crítica à tolerância em si mesma, tal como aparecera ini­ sugeriria uma leitura superficial dos Estudos--·-·-sobre ·- preconceitô. o
.... ____ .......
.,,
Antes de
_,,.,,

cialmente no trabalho de Fromm sobre Freud e depois fora repetida por ··tudo, ~s origens marxistas.do..Institut, apesar de alteradas de um modo que
Adorno e Marcuse. examinaremos no próximo capítulo, n_ão ti!lllª1:fl §ic:!g_i.11t~rall1_en~_g~li­
Q que p_are_ceu.11!".is<:_"E""~:!!tico da mudança de ênfase_.fQj_2_r<:fils:e_, teradas. A prova de sua persistência apareceu de várias maneiras fora do
~---·--­

inusitado...às explicaçfíçspsi~ológ~as, e_:g~ociológJE~2:_d(l_IJreco.~eito,_ trabalho em si. Vez por outra, por exemplo, um membro do Institut tecia
uma escolha feitade forma deliberada, deacordo corn_o.s_ obie!i\'9~- peda­ um comentário que mostrava o quanto ele relutava em tomar partido na
gógicos do projeto. 24 Yssofõíiãü-acentúa<loque<lüii dos críticos m;;; sé­ incipiente Guerra Fria. Assim é que, em 1946,_.Horkheimer .escreveu, em
rios de A personalidade autoritária, Herbert H. Hyman e Paul B. Sheatsley, termos que depois pareceriam ingênuos, que, "no momento, o único país
puderam afirmar que os autores "retiram a irracionalidade da ordem onde não parece haver nenhum tipo de anti-semitismo é a Rússia. Isso tem
social e a imputam aos entrevistados; por meio dessa substituição, fica uma razão muito óbvia. Não apenas a Rússia aprovou leis contra o anti­
decidido que os entrevistados preconceituosos formam seus juízos de semitismo como realmente as faz cumprir; e as penalidades são muito
maneira irracional''. 25 Se fosse verdade, a teoria crítica teria avançado severas". 29 Mais ou menos na mesma época, ele definiu para Lõwenthal
muito em direção ao abandono de sua postura original. Outro indício da "a tarefa da teoria neste período histórico" de um modo que deixou claras
diluição de seu componente radical podia ser encontrado no tipo de aná­ as suas prioridades:
lise psicológica usado nos diversos estudos. Embora a perspectiva básica
P_or. IT!~~~-~ig_l}.Q5:l1JC __S.t:!i~ _ a_ssinalar os ho_rro..re~ do desp()tismo ~lemão ou.. rus­
fosse freudiana, uma certa dose de psicologia do ego foi acrescentada ao Só;-ô.. esforço _do,. Rensam~~to·conc-eTt~âr; em-·míiíhâ" óP"iU,li{()," ~líi1da-·t~~~-~4~.
arcabouço analítico - a mesma psicologia do ego de Hartmann e Kris, concétiíifaü"dese~~~i~i~e-nto social da socíedftdé-in..dustfiaüzáda como um
cujas implicações conformistas Adorno havia criticado em outro texto. 26 iodo. Conc'eber o hürror é tãü- terrível .quanto enxergar a_ noite. Ó horror, ·
Similarmente, o uso de uma tipologia do caráter em A personalidade rio inUiido humallo, deveria sei- entendido co~o o veredicto con.tra fàrm~s
autoritária parecia, à primeira vista, contradizer a crítica de Adorno à esp,ç:c.ífic4s d~ autop~~~~r~aç_ãQ . ~~~-iai. i-Íoje, OJ!J.~t..:t. ~<!Q. Jornou-se-por demais
uma totalidade Para justificar o isolamento de. u_rn .bloco de poder, a fim de
tipologia de Fromm." _Ao descrever os tipos de caráter integrados, ele e -;;pe,:Jo-ao resto da civilização como bom ou mau: l11elhorou pior. Tal pro­
s.eus colegas pareceram'abandonar a insistên_9;i_na não-identidade, um dos cedimento se justifica em aspectos práticos) mas não quando se trata da re­
,;_--'-,.- .. ~~------ -----­
dogmas centrais da__tS'Qܪ fF.í_tic_a. AdotQQ, é claro,_t_entou__rJ'2:'()!1_~e_r_de flexão teórica. Nesta, devo dizer que o princípio do mal menor é ainda mais
antemão a essa crítica, defendendo o_ w;o de g_ma tipologia com base
_alegações hisióríéàs: - - -- .. -------····---------- . -­
ém perigoso do que na política.'º

Em suma, embora o lnstitut se recusasse a desculpar Q_§_t_al_i,!lis!JlO ­


A razão da persistente plausibilidade da abordagem tipológica, no entanto, o que não era uma atitude nova em sua história-, ele também se recu­
não é biológica e estática, mas exatamente o inverso: dinâ1nica e social. [... ] sou ase juntar ao coro de ex-marxistas apóstatasq11_e_eJ(eçraval1Jo ' "cj.;:_us
fil__Jl)gcas.da.rep_ressãq social ~-ua_alma__do.indoo:d_uo. [... ] Q.i!!.: que falhou". ~.crítica estendia-se à "sociedade industrielizada .como um
_dividualismo, oposto .ilrnmpart[me11Hfü_açfíp_do_humanQ,_J:>ode vir a se re­
todo''. o que incluía os EstaQ()S Ynidgs.
__;e1a4.ern...(~lti-ma~i:~~tâHcia,-~~m~o~ id~_ológim_ en_l.JJJil_a~s.o.c~da~e
,é efetivamente_d_e$_1,!_I!l.ª.n~. [... ] Em outras palavras, a crítica à tipologia não - Mais importante, do ponto de vista metodológico, é que"ª ênfase psi,
deve desprezar Ofato de que inúmeras pessoas já não são, ou melhor, nun­ cológica nos Estudos sabre o preconceito não representou uma ruptura tã9
ca foram "indivíduos" no sentido da filosofia tradicional do século XIX-" 'grande com a teoria. -.
críÚ~~-· quanto
.. ____ ...supuseram
--"~­
algiins''ci-íiícosde-~squer-
_____ ____ ______________ .. ----------------·-··
, ,,

290 291
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 7 ·O TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT NA DÉCADA DE 1940

da. Na verdade, advertências freqüentes perpassaram os volumes, sobre­ ~~:~nci~-~ fat<:.res ~~9nômicos óbvio~ raci~nai~."~ed.~~~9ÉE~;:__
t;;<loas_s.e.ç.õéii"edjgi<!a~porAslQrno, _dizendo qµe_QJ2.t:<'.fQ!1S:.e~ mo~ __ o eleme_n_to_ social__ b_ell1 _n_? fundo d?:l.§ c_~!.e:g_o~__1:~~. _P.§.t.~l~fil9_t_.!D~~.-~S'
;;;,r coml'!.e~did2,_e~iv:el!l1aisQ~sic;2,_c9mo_llm ..PrOblema sociaLe_ ~·pela. i~t_r~4-~ç·~·? P.i~·~~!-~~â--~~-~~~-~~~Ç~~~- ~~Qri5J_r,P~Ç!1§. S__ §_Q,ç_iQJQgl<~.as . suµer­
)"1ClaiS. ali onde temos de lidar com o _in_consc:i~nte_, _que__ s.e. xelaciona.. c.Qm ..~
-·- nãÕ-lndividuaUºor
-· . --------· -- ----' ----- --· ­
exemplo, ao discutir a personalização na política, ele ~ -s~ciedade de maneira muito mais indireta e com:plex_a. 32
escreveu: "Processos sociais cada vez mais anônimos e opacos tornam mais
e mais difÍ~ii integrar a esfer-alimÜi<l~~x-pe-r-i&ncia-pes~de vid~ ~Exnb.Q.ra _a_equ_ação ba_stag_te_§imR.li.>t(l_g9__rnciQ!lal_c2m.Q_>_ocio_e_co_:
-cada um à dinârniê~-social objetiva. Aali~!lilÇ-ª9 .5.Q_cial é ocultada por um nômico e do irracional COf!l_Q_ psicoló_giJ:Q-11\J.!lJ;_a.tenhª sido realme_nte
.........,.-~-·~"----"----~----~

'fenômeno superficial emque_se ~nfatiza_j11§!<i1J1ent_~ o inverso: a persOJ!R­ atuante nas análises_ d()Jnstitµt, a .dic(ltomia entre.as.duas.aboroag~ns-me~
,Jização de atitudes e hábitosp_g_lí\i_ç_g_§___Qfo.!!"S:S:.Ulli.LÇQ_:rg~nsação pela de­ tod;Iógic~s,~!Tl geral, o era:
· Por-~onseguinte, o Institut de fato articulou urna i!lterp_r~!açê:.Q_rn_ai:5__
.. sumanização da esfera. social, que--está.nLbase_ da maioria das ~as
sociológica dos probl~mas do anti-semitismQ.e do_pr.econce.ito.,.intS'..t:PI~_:
. atuais_." 31 Apesar da afirmação de Hyman e Sheatsley, a__§scola <!e frnnk­
taçãô que os tratou como parte do "espírito Qbjetivo", e não como meros
- furt continuava a ver a ordem social como intrinse.camenteirracional Por
delírios individuais e subjetivos. Uma das seções da Dialética do esclareci­
-isso, em nenhum momento se sugeriu que uma abordagem psicológica
mento intitulou-se "Elementos do anti-semitismo". Infelizmente, ela só saiu
seria suficiente. Q que houve de problemático, entretanto, e que causou
em alemão, o que contribuiu para que o trabalho do Institut sobre o pre­
muita confusão, foram os papéis da socio!Ôgia e da _Esicologia na análise
conceito fosse compreendido nos Estados Unidos de maneira desequili­
do fenômeno d~ preconceito. Embora isso n~nc~--t~nha sido enunciado
brada. A apreciação completa do ensaio só será possível depois de uma
explicitamente nos Estudos, o Institut, se não seus colaboradores, tinha
análise da tese geral do livro em que ele aparece, o que terá de esperar até
uma opinião formada sobre a relação correta entre os dois níveis de inter­
o próximo capítulo. Mesmo assim, alguns de seus pontos devem ser men­
pretação. Fromm fora criticado pelo que o Institut havia considerado ser
cionados agora, a fim de realçar a abordagem do trabalho mais psicológi­
uma conciliação prematura da psicologia com a sociologia em seu traba­
co que se segue.
lho da década de 1940. Ao fazer tal conciliação, afirmaram Adorno e os
Em "Elementos do anti-semitismo", Horkheimer e Adorno foram além
outros, Fromm havia atenuado os vestígios de não-identidade que o "bio­
das reações dos anti-semitas eanalisararnafu11çã() do própriojl14iu~a
logismo" intransigente de Freud tinha preservado. Por isso, do mesmo
civilização ocidental. Tal como Marx em seus ensaios sobre a g11estãoju­
modo que_Q_lnstitl!t_guestionava a unidade da teoria e da práxis, de um daica,33 eles rejeitaram o pressuposto liberal de que os judeus só diferiam
lado, e a da teoria e da verificação empírica, de outro, ele desconsiderava aos outros homens pelareligião. A ju<!eid__ade, afirmaram, \')"J!J.ª--mhém
.'1J'()SSibili_d_<1de <is_11~E a sociologia e a psicologia em urr:~U:~ üma categoria socioeco-;,ô;;,i~~: ai~da que se tratasse de uma categoria
tra. Isso ficou claro em um dos memorandos queAaõfríÜescreveu para o · Ímpmt~ à fõ;:-ç; aos }-;;deus no passado e perpetuada nos dias atuais so­
projeto sobre a classe operária em 1944, no qual ele sugeriu a inclusão de bretudo por necessidades irracionais. "O anti-semitismo burgu_ês'',e_~çre­
certos axiomas metodológicos no relatório final: veram os autores, "tem uma base econ-Ômica específica: o encobriment()
a) Não chamamos de__p.~i__çg1Qgjçª-ª -~_g.f!_l!~ncia . dos_fato.r.e_s_socioec::onômi.,.____ _ da dominação na produção." 34 O anti-semitismo, em certo sentido, era ()
cos, fâ-..qu·e_eieS'"·Sê--d1ro-·Çm um ní.vel 111.ais_ ou.. menos.. raciQ.Q<JJ._,Eles mais são ódio da Q_llrguesia_a si.mesma,pro)etadO::!íosjudeus~(l~qu_;isera_m r~!atj­
· idéias motivadoras do que forças psicológicas compulsórias. vám~IJ.~ i~po_t_enteS,_ll_!ll_il_V_".Z C()!lfi_n_a~OSS()_bre_tl[<lg_A~furas_la_.dÚt.ribJJ.ic
b) O ter1no «~ico" deve ser reservado 122ra os traços que são pk -Ção~ com pouca participação naprodução. Dada a persistência das con­
ma facie irracionais. Essa dicotomia significa que não aprovamos uma abor­
.tradlções do-capitalismo, os judeus, ou um grupo como eles, eram uma
--dagem soc.ÍÜpsiCó1Ógica à maneira de Fromm, mas ~os, antes, em ter-:.
I!!P-S-de.-motivaç.õ. .es.raciona-is-e..in:acio_I)._çlifu_Qll.e_é_essenÇ_ial manter separadas._ válvula de escape necessária para frustrações e agressões reprimida:5.:.J\..e:5_-:_
c) Iss() signifi,c,a, rr:i_etocf()logicam~nt_e,_ q_ue nos_sas ~nálises psicológicas le­ ,perança liberal de _êcSSi~!;_ão..er<J.1lmªfi:<l_ude,_~_'.1.d_o~2e11 pr~_q_~to _<l~
a
YªID:-noS-tãÕ-ffiãiS fuúdO 'no-- SentidO. so·ciaI q~á~tº~·!ii:;i~:~~i.~~~~~i:g-~~g~~~-­ qt1e a humanidade, potencialmente, era uma unidade nas condições SQ;­
____ ---- '----·"'-·-~-----. ·- --·--- .-.- --·· ·---· ...­

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 7 ·O TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT NA Ot.CADA DE 1940

cioeccmilrnicas yigentes. O liberalismo, assinalaram Horkheimer e Ador­ zes que os dois tinham em mente remontavam a uma vaga pré-história
w~havia prometido aos judeus e às massas a felicidade sem o poder. Mas 'do homem ocidental. Em um artig;-;;édit~ito..eml94o}8A.J;;n~
as massas, ao lhes serem negados o poder e a felicidade, voltavam sua fú­ ·havia formulado uma de suas hipóteses mais especulativas, parte históri­
ria contra os judeus, pela crença equivocada de que o que lhes fora nega­ ca, parte meta-histórica. Os judeus que viveram antes da Diáspora, afir­
do tinha sido dado a eles. mou, tinham sido um povo nômade, andarilho, "os ciganos secretos da
' .Essa parte da .análise ficou
., .
dentro da.......
......... -
tradü;:ão
...
marxista, mas Horlc­
. ..................... ··"·--~-­
história". 39 O abandono desse estilo de vida em favor de uma existência
helmer e Adorno também foram além de Marx em vários sentidos. Na sedentária, que viera com o desenvolvimento da agricultura, fora conquis­
análise do "espírito objetivo" do anti-semifüfrio;e!f1\:Jregaramêãtegoríâs tado a um preço terrível. Q§_~eitos Q.Çidfntai~_c:!9 trabalh<J.."...c!Jl...~reS:-.
·_psicológicas, como a paranóia e a projeção, eIT1_U_!11.fQDteitoeplsiemOI&. ,sã_o_t_i:11.hª.!11:s_e_e11tre:l<1ç<1c!o~com_Q_aJ'~gg_cloJ1()_rJ1."1P.~ .ter,i:<l,.C.afil_cterí§.tiço
gico e sociológico. Afirmaram, por exemplo, que '1.l2a!al1.0.a..l1.ão .~ra.uIT1 _c:l'-!,J2.c)s.::1_1om<içlisrno.yorém, persisti_'.ª n~çq!turn.ocidgntfilJ.!malemhrn11­
5im12ks gelírio. Ao negar.()IT;eramente dado,-a~-mediar o imedi;to, iU'.a:. ça sub1~r.r~nea do indel!.errnru:e._Essaim<lgem do judeu, afürl10.l!M2.rno,
ranóia transcendia uma ingênua compreensão positivista do mundo. 35 Por )epresenta uma condição da humanidade que 11_ão conhecia o trabalh;: e
..todos os ataques posteriores ao caráter p~r;sitári_;~e~on§~'11.\~!<i~.9,ij~:­
".----·-·~--·------ ~
isso, \()_cl_Q._!lensameJ1!0 ve[dadeir().C()!1tiJ1~.a_Q_~~e poderia chamar..ik,
um n\.omento dCJ'ªX~J1_Qia. AQ !lf()j~!lu: sel!s.meciQ_s e desejQs.intewos ein deus são simples racionalizações".'° Em outras palavras, o judeu encarna­
"ulTI Óbjei:oéxte;no, o pensaménto paranóico expressava l!!llR[Qte§t()_<fü.:; - va o_sonh_o.cl.<1 ~ratificação sem e~fo{ço. Com a frustração desse sonhg par.ii
t~rcido contra a snp~-;;ss~Ó da ;ecÓnCiliaÇãó ent~é o pa~Ü~ular e o univer­ ·-;;s demais, a f(1;i~ 'ié'desÍÓcavã'para os que pareciáÍn tê-lo concretizad9.
. ~al, uma supressão que a sociedade burguesa perpetuava por trás de;ua -..EmcartaenvladãatõwenthaTem 1944,41\" Horkheim~deu ---.. " -"• ""­
uma
fachada de universalidade. idéia parecida, com referência especial ao curioso entrelaçamento dos des­
Horl<h~imer e ;\domo, é claro, n_ão negavªmg_distorçã.o.ng,&e_l:lroteL tinos judaico e alemão. Nessa carta, a referência histórica não foi ao judeu
to.·A paranóia era fundamentalmente.um delírio, mDa"s()!llbra çl~S()1:1.~'-'· como homem errante anterior à Diáspora, mas ao morador em terras es­
cimento". 36 O conhecimento verdadeiro, sustentaram, significava a capa­ trangeiras, depois do exilio.
cidade de distinguir entre as projeções intelectuais e as afetivas.1' paranóia ""?~!!l]:es ~judeus _!Xibe~a espA~~-<!.t:.~i'2..!i~~-~-l!!ilitan.t_e.,._p_P-~:­
era o si~t.E'.miLdouenJi,ig§_tn1íd()~,__q_ue só iam ~ do imediati;;:;w !:lar; !riotismo dos judeus se cara_ct.~,riza_p~l.~--~~1:!4ª4~çi<!.J~rn,LperdjQ.#,_ª9_passo
red-;_;ri~ a realidade a. . umafórmula reificada. Incapaz de suportar a dico­ que os alemães querem conquista,r.o solo que.I1Y.P:<:<:'l_P_ossu_ír(l-m.. O incons­
. to mia entre vld;lnterio;::~..e~~;:;-;~~-,;pai:ência.;;~ênZii:<fistn;;;jndiiti­ Ci_e11~e_ é semelhan_te, à medi~a <iue eles_ sonham obt_er os _frútõS-d~ terra .se~
irabal!lá~la pessoalmente. A teri=-a- do ieite~<l;;;:;,:u ~epreseníãda; lla-;hria
-dtial er~;;Údade social, o µaran9ico '1lc<lJ1çava_~li_al'.1!1()I1bi à .:.11ga de__~
·a:reffiii;i>e!a 110sú1glã dü sul.
. própria antonomia. No capitalismo tardio, disseram, essa doença se havia ..
·generalizado. PrC>feç95'§_ÇQktjx;i_s, co'!1_o o anti-semitistrul~tomavam_g ll!­ ~i>al-ck'.'E!emento.s.dg_~nti:_s.e111itisrng';;:ssa .idéia.ge.raLfoi.atu;ili­
gar das individuais, e o resultado era 'lll."O..Siê!~l!lª-dºs.semi-instruíd()~ zada. Os judeus eram odiados, argumentaram Horkheimer e Adorno,por
_tornava-se ü'esplrito-()bjetivo. 37 1'19. f~scisri:i_o, finalmente, ~~lêlI!()~<!. ·serem secretamente invejados. Tendo perdido até mesmo a fünção econô­
~ra inteiramente destruído p~dorninªçiío cl!!S 2r()jeções co15'_t,iy,<1§. /i_ to~ míCã'Cfe'íiitermediáriÓs, êíes. pareçiarn . encarnar qualidades . invejáveis,
tàlida..d.e-~Írante paranóico corresponcílã -ãototalitarismo da como a riqueza sem trabJ'ho, a sorte se~ p~d~~,-~;,,~-pátri~ seU1fi9-P!Çi,
Sõci~da~fascista. ras e urna-religião Sem lllitQ.S."
_Horl<hei!l1e.l'_E'_l\d_()rn<J_!_ambém foram além de Marx ao sugerir q~ Porum lado, portanto, os judeus representavam UU1 cl_~afio oculto à
anti-semitismo tinha. algumas..rniee~-ªrcaj_ç,;g;,_que remontavam a tempos ética dotràbalho e à racionalidade instnnT!ental, quê tinham sido elem.;;:
anteriores ao capitalismo e ao liberalismo. Isso significava mais do que to; importaii!e:i.Ji9J~$Q~ ~.)::rJ0Tl!Ii:ísmo:-Det1rr1moC:fó{)ecu11ar, encarna­
origens religiosas, apesar de eles terem dedicado uma atenção considerável, -~am a reação da natureza à do~i-;.,-;;çãQque estava implícita no projeto ilu­
em seu ensaio, à contribuição dos cristãos para o anti-semitismo. As raí­ minista, o qual, como veremos no próximo capítulo, foi um dos temas

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA
CAPÍTULO 7 ·O TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT NA DÉCADA DE 1940

principais da Dialética do esclarecimento. Nesse aspecto, eles foram a Ge­ nicamente, o mais alto valor da religiii__ojudaica. 45 As soluções parciais,
genrasse43 [anti-raça] dos nazistas, cujo pseudonaturalismo foi um reflexo como o sionismo 46 e a assimilação, estavam fadadas ao fracasso.
distorcido, em parte até uma imitação, da aparente encarnação, por parte Horkheimer e Adorno extraíram Q()_l!f.QSQnsnlo_d.a..'.'..clett.oJa"...do.anti­
dos judeus, da natureza não reprimida. Na ideologia nazista, Gegenrasse .semiíismo.,_çQma_yitóij_a d()_s_@ia_~<)i;_sobre I:litler. O antagonismo explícito
significava uma espécie de raça mal concebida e inferior. No texto, Hork­ aos judeus fora extirpado, mas sua causa subjacente fora preservada no
heimer e Adorno usaram o termo ironicamente, para indicar o reflexo das que se poderia chamar de "mentalidade de rótulos'; que ameaçava destruir
qualidades pervertidas dos próprios nazistas. todos os vestígios de individualidade na cultura ocidental. ''A psicologia
. • )) (( • . e: -­
J~OLO.Utto Jado,osjudeustambém eram identificados com o Ilumi­ ;arit_1::_s_em1ta, escreveram, ~01 bas1.camente substituída_QQ_i:_ll_fl1.~ro 'sim'

.nismo e com suas tr~dições li~er~i~~~~i§J1:,;IJ8faS,comc;H:õrkb.eimer-ha~"G ..ao p.rograma fascista,_àJista _ge_ slogans da beligerante indústria p_esada."47

~firmado em "Os judeus e ~ Europa'; a emancipação dos judeus estivera Implicitamente, é claro, isso se~píiêa;,ã_ã_t~dàs~;;;;;;;d~de~-;nd~striais

intimamente ligada à emergência da sociedade burguesa. Por conseguin­ :~Yãn_çfilfas§o75c1ifont_e;·illclli8i;;eãüsí:lsta<los-Urii<l();:H:od;.11êiffie-;:-esê~e-


te, com o declínio dessa sociedade no século XX, a posição dos judeus se vera a Lõwenthal: na especulação teórica, "o princípio do mal menor é ain­

tornara extremamente vulnerável. A identificação era mais do que exter­ da mais perigoso do que na política". Os_que haviam derr0tadqJ-Iit!er_pJl.-.

na ou fortuita. Apesar da imagem do judeu "natural", que mencionamos, <liam ter eliminado os efeitos mais Ób;,iosdo~ªiltf_se_iilft!§mg, mªs p911ço

os judeus haviam contribuído significativamente, ao longo dos séculos, __t inham feito para destruir suas causas fundamentais. A Dialética do escla­
para o "desencantamento do mundo" e a manipulação da natureza que recimento, como veremos no próximo capítulo, foi, em larga medida, uma

isso implicava. Em carta escrita a Lõwenthal em julho de 1946, l;fork­ fenomenologia dos deslocamentos alternativos provenientes dessas causas.

~= falou do papel desempenhado pelos judeus em um aspectodesse


processo, a instrumentalização da linguagem: Essa foi a análise8"!<Il.<:la_slilJ!en_;;~g__oJ?ieti".". do ant\:semitis_mo. que
.. perpassou o pensamento do In§titgt rnql!ant_o ele_çcm.c!mi_a_suas ;()~<lã~
,f'< raiz da ~git"cç_ã9fascis~~- está_n.2._fato de que há algo de podre na_própria gens empíricas do aspecto subjetivo.do problema.Entrnta_nto:~la.sÓ foi
linguagem. A podridão que tenho em megteéJ ... ] !lmfe_11(\_!lleno_Sl11e s.e.
expressa na Íeligião judaica pelo vered_icJo_ ç_on_t.rár.i&.à_t,entJ!!i~~4L~g~~ay:
expressa em alemão ou em cartas particulares. Como result~d;J; um as­
Deus por Seu nome, e pela história d_atorre _de..Bahel.A corrupção da pecto da divisão metodológica de Adorno permaneceu oculto do público,
linguagem também parece expressar-se na lenda da expulsão do Paraíso, deixando em seu lugar q que pareceu a alguns como um reducionismo
onde todas as criaturas tinham sido nomeadas por Adão.J2tv~_~os toma psicológico e um aba11do~ p();:-part~-a-;~\~oil!isrít)c;;-a;;-~;;_fa~i:~~totaÚ-
c_uidado com a idéia de gue o uso fascista da linguagem é algo radicalmente J'.a<le. Anos depois, Adorno remeteria o leitor curioso aos "Elementos do
,!)9vo em nossa sociedad.e. [... ]A desconfiança do camponês em relação ao anti-semitismo'; 48 mas, na época em que foram lançados os Estudos sobre
cidadão urbano, que domina a linguagem, é parcialmente justificada. Essa opreconceito, poucos leitores sabiam o bastante para prever essa recomen­
desconfiança é um con1ponente do próprio anti-semitismo, e o judeu que
dação. Essa foi uma das desvantagens da cautela do Institut em revelar o
manipula a linguagem com muita facilidade não está isento de culpa na
pré-história do que você explica como o manejo fascista da linguagem. Tan1­ seu lado mais radical para o público norte-americano.
bém nesse aspecto, o judeu é o pioneiro do capitalisino.44 Ia111bj!Il se deve ter em mente que, desde o começo, a sériec_omo u111 .
)odo, inclusive a.obra~em que o Instituthavia trabªlh<ido JTli!ÍS _<Jmplamen­
Jl.is~ em suma, o dilema do judeu: ele era identificado tanto com o Ilu­ te, A personalidade autoritária, foi um esforço colaborativo. Os. quenão
minis~o-q;;~((;ê;;-,;:;-~ s~uÕpostõ. s~ckira ell_lancipa"ª_o como --eram membros do Institut provavelment~ tJ;;ha;:;;f()~;n~Ção p;J~~n~líti~~'
homem só poderia vir quando a p;ópria dominação - a do capitalismo mas, na maioria dos casos: não estavam faillilürriz;l~O_s_com a perspectiva
--;,-;;;;; termos mais fundamentais, a do Iluminismo, em suas formas mais mais ampla da teoria crítica. Assim, apesar de ser o direto-r-geral doprÕje­
instrumentais e manipuladoras -._(;h_çga~s.e_30. 1JJ21._Q_ a_l1,ti_-semitismo só to, Horkheimer não pôde exercer a influência norteadora que havia exer­
poderia acabar quando se r_e;ali2;a_ss~.na_esfera-social a concilia1ão -::::. iro­ cido no Institut em épocas anteriores. Isso se acentuou depois que sua

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO OIAL~TICA CAPÍTULO 7 ·O TRABALHO EMPfR!CO DO INSTITUT NA DfCADA DE 1940

saúde obrigou-o a retornar à Califórnia e Samuel Flowerman o substituiu pesquisadora associada da AJC. Apesar de sua formação como psicóloga
como diretor, em 1946. A correspondência Lõwenthal-Horkheimer con­ social, fizera análise e estava familiarizada com a teoria freudiana.
tém amplos indícios de que as relações com os representantes da AJC eram ~~a de d,<1~p_ªi:ªg_estudoç9~ÇQU no fim de 1945. Vinte e cin­
tudo, menos tranqüilas. Os atritos pessoais tiveram seu papel, embora de­ co analist~s, principalmente d-;, r~giãode No~~-York, furam~-;;ITcitadôS'a
certo também tenham existido discordâncias teóricas. -o'f~;ec:.;; material de:s~arr~1is~'1sÜ.11iç~. ospa<lrõ.es-revela<lõs.nos quã~
QsJ!:studosJ!ll comçig1:Jginalmente_çgg_cebi~a.r.ealiza­ ta estudos de casos que acabaram sendo fornecidos foram então resumi­
da em Nova York em 1944, deveriam compor-se
c····-----·--.--- ..
··----~---------·--·------"·-·---·---- ..,..__
de dois tipos de pesqui­ dos, sem qualquer tentativa de quantificação. Também houve um cuida­
sas. O primeiro devexfaset maisre:>trit.oe y~J:áiii§oore ~çiplemas ~: do consider#:veL<!.o i:elac:ionar distúrbios afetivos específicÕscom:füios-de
· cíficos enfr~ntac\Qs_p_elas.agênciase4t1.ca..cit.in<l!s,_()s~gt:!I1.<l.ºie.":.ria.terui:n_ _preç911çeÍÍ:Ô. Na verdade, poucas conclusões generaÍizáveis emergiram des­
âmbito maior epropQr_perg1mt.a,LmaiS.AQr_ang~nJ:ê, Estudos de curto e se estudo, embora seu conteúdo descritivo fosse, muitas vezes, sumamen­
· longo prazo.deveriam ser conduzidos, com o uso de métodos interdisci­ te sugestivo. O texto não teceu considerações sociológicas.
plinares.]'odavia,qu~n.<lo os Est~do~.f9ram finalmente publicados, no fim~ T_<!_mb~nraiza_çlo na teoria freu_dian.",.<.J~_gu11.<!_03_stJJ.do.d.a._çljm.e11­
_da década, seu. formato foi um ponco diferente. Três dos cinc()_)IQlumes são subjetiv:ado preconceito soei~!, A dinâmic;qAotrecor1ceito, foi !llé_llldo
. . ~SJl~.J~~~m fenômeno basicamente sub~: fivrÕ.de Ack;erman eJahoda na .disposição dt:j11troduzir análises estatí$l.i­
.A dznâmica do preconceito" esty_rJ.~jJSicológico e socio]Qgico
e··--~-~~-----·~~-
de veteranos, de
------------~··­
,c~s e considerações sociológicas. B;uno Bettelh~i~;«J.t~e ainda não ~scre­
9
. Bruno Bettelheim e Morris.lan9J1'it_z;4 Anti.:s.f!!litismo e distúrQios aft:Jivos:. vera os livros que o transformariam em um dos psicólogos mais célebres
'um~ i~terp~~t~Ça-;psÍ~n--;,lítica, de Nathan W. Ackern;-an e Marie Ja!i9d~so dos Estados Unidos, 54 havia emigrado de Viena em 1939. Na ocasião de
eApersonalid_t1:di!~ã'Yio-rfa]rià,]et}',r:~A,~óiJiô:i1se.heillze!Jfrun~.lls.. seu trabalho para a AJC, ele pertencia ao corpo docente da Universidade
J5ãniel'f Le;i~son e R. Nevitt Sanford. O_g_;,;artovôli.{ine, Profetas do em­ de Chicago, primeiro como professor assistente, depois como professor
. /Juste, de Leo Lõwenthal e Norbert G~term~;:si-;;~-;;i~Q;.;-;~té·~;;-;~;~ dÔs-­ adjunto de psicologia educacional. Morris Janowitz, seu colaborador, era
d~g.;g.;~Oúltimo,Ê~~~Í~p-;;;~ -~ ·ae5trii!Çà0, 52_<le_p;;;JM~;s~m2r~-­ sociólogo da mesma universidade, com um interesse especial pela socio­
sentÔu uma descrição histÓ-ri~f;C!!retaaoai:it!-Seillitisrno nillmanha-:­ logia política.
. ~rês estudos de orientaª'ósub)eti~~:Af,~~~Tid~d~~ária é _.fls _concJiisõ~de .!l.:linârniça do preconcei_to__i)asearam-~e--~111.,Q.\Le.vis~
.o m_ais pertine11t_e_à_n2ssa_al1fili~_do gaiJalho e_mpíriç~t. Mes­ tas COITlduração de qµatro a sete hogs,feitas CQm 150 veteranQs c\Q Sel[O
mo a;;;;:n-;-Zab~ tecer um breve comentário sobre os outros dois volumes. m'1;culino em Chicago. Os veteranos foram escolhidos.pú'rq;; seus equi­
Destes, .C! mais estritamente psicanalítíco_fuj o estudo de Ackerman e . va1<,11tes 11ª Europa, depois da Pri111eÍf!l (:;_ii~j:i:<~MiindlãI;ll;í'Yia.fü:~el!i~E
_.Jahoda. _b.ckerman exercia a psicanálise e era associado à Clínica Psicana­ trado muito susceptíveis aos atrativos ..do.Jas.Q>.010. ,l3~ttelheim e Ja11owitz
lítica de Formação e Pesquisa da Universidade Colúmbia. Sua orientação ~queriam verificar se condições semellwntes _4e_.t:_ei_11t~gi:35_ão falha il sQci~­
profissional era freudiana, embora a psicologia do ego tivesse modificado •dade prevaleciam ou não nos Estadps Unidos, '1ePQi§.g;t§eg1,111çla Gugra
sua ortodoxia. Antes da fundação do Departamento de Pesquisas Cientí­ .Mundial. Eles exploraram hipóteses psicológicas como a projeção de frus­
ficas da AJC, ele havia consultado John Slawson sobre a possibilidade de trações passadas e angústias quanto ao futuro, em decorrência de uma for­
fazer um estudo freudiano do anti-semitismo. Quando os Estudos foram ça insuficiente do ego. Também tentaram descobrirrelaçê)es entre ..a in!Q.:
lançados, sua sugestão proporcionou a base para um dos projetos da obra. lerância étnica e a dinâmica social dos indivíduos, e buscara111c2rre)<içõe~
Sua colaboradora, Marie Jahoda, fora trabalhar com ele, inicialmente, por erifre os sentimentos anti-semitas e. a disairninação contra os.n.eg!os.
uma ligação indireta com o lnstitut. Ela fora colega de Paul Lazarsfeld, -Porém, não esperavam desvendar uma slndroine geral da p~~sonalidade
co-autora de Os desempregados de Marienthal 53 e, por algum tempo, es­ intolerante, objetivo primordial de seus equivalentes em Berkeley.
posa dele em Viena, antes da guerra. Após um exílio de oito anos na Entre as conclusões de Bettelheim e Janowitz estavam as seguintes.
Inglaterra, havia emigrado para os Estados Unidos em 1945 e se tornado ~JOlerã11ci'l.. .tm.dfa.a .. ªJm~s.GnJar. . t1!11!l... çorrda.ç.ão . pD~itlYª ~QJJ:LY~xji~Gb
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALtT!CA CAPÍTULO 7 ·O TRABALHO EMPfR!CO DO INSTITUT NA DÉCADA DE 1940

. cº!TIº ai()rç<J,c:loegg eª·ªçgitaç.ão.da.antoridade externa (a ac_eitação,çqn:: _yrecon_c~t<i_e conforrnid<lcl~ c!_e_s_cg])erta. pelgs pernui>aclmes..caJ.iforniaJ1(:)S.
vém assinalar, foi apontada como diferente da submissão, mas, qualquer Essa diferença, como Nathan Glazer viria a destacar,57 talvez se devesse à
que fossê ó termo, essa foi uma conclusão muito. discordarÍt;4'1ii!:ii\Ç~~~ disparidade das amostras usadas nos dois projetos. O estudo de Chic_ªgQ..
. da em A personalidade autoritária). Havia relação entre o preconceito con­ _havia testado, pre_dominant.ernrnte, sµjeit0s da.. classe haiJi:ilg clª.Q'!..ÍJ9..Q<!S­
tra os judeus e o preconceito contra Ôs negros, masostra_çosalíenadosé!-;) _se média, ao passo que o projeto de Berkeley serestringiraàclasse111éclia.
superego tendiam a seprojetar nos jucleus (por~;~J;,-~s judeus-~n~ Por isso, faltava à Dinâmica do preconceito a crítica implícita da totalidade
!rolariam o país)~ ao passo que .<is carncterísticas aljenada.s...do id eram.p.r.Q­ social que estava presente em A personalidade autoritária.
jetadas nos negros (por exemplo, os negros eram sujos e sexualmente pro­ Com() se poderia esperar, Profet(ls..<f.o_g111_/zi1ste,.em cuja re.<!ação Le9
míscuos). ]Osta última constatação, .convém acrescentar, foi muito diferente Lõ~entha1:t.~~~-;,_Il1l'~tl--OC'é5ti~i,·'1P.1:()X,:i_1110\l~Se muito rn<lis das tra_<iiçi')es
do que haviaexistido na Europa, onde os judeus Ünham-·síc!o obJeto-dos da teoria qfüçJl. Em seu trabalho anterior para o Institut, a análise de
'.dois t_iposdeprojeção. -·- . . . --­ · conteúdo - técnica fundamental qne ele e Norbert Guterman usaram
As correlações entre a intolerância e as condições socioeconômicas, in­ - , tinha sido aplicada à literatura e às biografias populares._Q_ÇQ[ltei<to
,çh1sive a5~.ges f<lmiliai:es..foram_menos simples de estabelecer. Emer~ l:listmcico.s!e.l"~l.~cia _cl<:)J'studo, explicaram os autores,5'Joi a_'1!1áli:;e.ci;,
gill<l_".ºncl_lliii_O d;gii_e_a_rápidª mq.Qilidade sqcial,_:;9bretudq_g_11and~ ..~itado.1:".s_<l..Q_Qa~do, como Cola di Rienzi, Savonarola e Robespierre, no
'cendeJ1Je, estava muitas vezes relacionada de maneira positiva com o ·artigo de Horkheimer intitulado "O egoísmo e o movimento pela eman­
p;~conceito ..o d~t~~i'rÍante·P;.;~~ip~),. cont;:;2[o, Ú~ !Tl;;:;;;;·~~;;r~·iê;~i~-­ cipação". .Afém disso, o _rr_essupostoJ>Jifil.ço do liYJ.O -:::..O_cle.ciu.ea111anip11­
. obj_etiva d(). indi-;;iduodo gue sentimentos subjetivos d~-prjva<;.ãQ: ,:\s·;xi~ lação, .e 11'10. a.. liv:i:e escolha,.fr.ª-aJloirn..a. na.s2çi~cl.ª9.~J.11<l<:leg1a -:::- tinhª
gên.<:!~~3'.~~si~i~-_m"u~~~~ so~ial~~~~ram manej~as de;:;;;:-;;:;;;­ servido par_<1 fort.'!lecer o trabalho do Instit.u..LsD.lm:JLcultµra de massa. Tal
. m~is ina<Jeqi.@h.110§_~.s.em_que....a~peri~ncias infantis haviãillírii'.c
como-o~~rrera com a maior parte do trabalho anterior da Escola de Frank­
pedido o desegv:olvir:nmto.91'. .l'm ~gs: forte: "Çtuan!Q.J)JJ!is fraca a .µei.:­ furt, ele procurou ir além das aparências e desvendar o conteúdo "objeti­
§Q!lali_dad~o..rnais-forte.se..t0m1uu.!Jlh!.ência dÓ campo social." 55 Essa,
vo" do fenômeno estudado. Por isso, Lõwenthal e Guterman puderam es­
convém lembrar, .foi uma co11cl!lsã().P~óJ(iil1'LQª..Obti<!.a_nos }.tudien über
crever que "ó agitador deve ser estudado à luz de sua eficácia potencial no
Autoriti.it und Fan;i(ie, com a diferença de que, no estudo anterior, o de­
contexto da sociedade atual e de sua dinâmica, e não em termos de sua
. clínio da família fora visto como a fonte do ego mais fraco; esse declínio
eficácia imediata". 5 ~Estava em jog9 mais. qg qn.e."_.S,!$c_epJ:.ibilidade..do_in.­
situava-se no contexto mais amplo da liquidação dos canais de mediação
divídu? à demagogia;também eramJ111por~a11~~:>.-'lsJ.en9.ên.cias.latentes.lla
na sociedade capitalista avançada. Bettelheim e Janowitz abstiveram-se de
sociedade como "Um toclo: ..........

especulações nesse nível mais cósmico. Similarmente, as recomendações


~-A~~~~;~~~~~~-;_;-;;:;;;-fenomenologia da agitação política, Lõwenthal e
feitas no fim de A dinâmica do preconceito cabiam bem em um arcabouço
Guterman puderam basear-se em estudos inéditos, como os de Massing
liberal. Incluíam a melhor formação dos pais, para criar personalidades
sobre Joseph E. McWilliams, de Adorno sobre Martin Luther Thomas e
mais integradas; o fortalecimento do sistema judicial, entendido como o
do próprio Lõwenthal sobre George Allison Phelps. Também se benefi­
símbolo básico do controle social externo; e um maior treinamento pré­
ciaram do trabalho que vinha sendo feito simultaneamente pelos outros
escolar para a tolerância.
autores dos Estudos sobre os componentes subjetivos do preconceito.
Como Bettelheim e Janowitz viriam a assinalar posteriormente, 56 seu .Enquanto os outro~_e.s.ti,i.dos ~nfocª-'1_~.r..e.aç.õ.es..d.as-p@S.soos.ma~ç.es.:.
traoãlho diferiu em vários oiltros aspectos ....... efetuado_pe_IQ_gf':'l'() 4~ier- ­ síveis à-prÔpaga;;da c!~mag<)giç<b_frofetas do embuste examinou os vários
keley. Em termos mais significativos, A dinâmica a;·preconceito constatou ··recursos usad"Os p~ra provocar essas ~eações-:-A,i!fig.uagem cio agita~
····q11e_ajptolerância era mais prep.onderante__eJ}_t~e_<:J~-:g_~,~~]":;:~;;liafil:~:;-~:.­ ·m.aram
,.-" - -
os -autores, tinha de ser.decJi;<l;
---- pÕr ~1ma espÇ_çi.u:Je_c.ódig.éí.MQrne
-- ---- ... ..
~ .,-~-----·

~i~<lacl_e e rej"jJ.a'lamseusxalores,. o que era o inverso~a co~r_el~ão en;.r_e_ psicgJ.ó.gkg. 'º Como se poderia esperar, a principal fonte desse código era

300 301
<
MARTIN JAY ·A JMAGINAÇÂO DIALÉTICA CAPÍTULO 7 • 0 TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT NA DÉCADA DE 1940

a psicanálise, que também serviu de base para uma análise mais teórica Adorno -· ..e Sanford ----.-,-- foram
,., ___ .. _____ escolhido§_como..co.c.dir.<'.to.r.s:s___d_o
________________ ..
,_,,,,.,, ,_
__proj.eto,

-
-
-
,
~
~
­
-
·
~
-
~
·
da propaganda fascista, feita por Adorno em um artigo escrito dois anos tendo Levinson e a Sra. Frenkel-Brunswik como principaisassociados.
depois. 61 -~ml:>_of_a_()~uatro dirigentes_da _equipe ~ooperassem nas vá1-'fa; p~rtes
Para suplementar as desc(lp_ert<is se111J11a,i,;_c]~fE1'llcI 1Lõ~.Le-Gu­ __do_p_rnteto,_s\Jas prígçipais respQ_l)_s_aj:ljfülades fo_ram divididas~_:J;a_nfor~
terman também apresentaram o trabalho deErik EriJ<sgg,gµJro refugia­ concen!rou-se sobretudo nas técnicas__<le,__p_es_q_uisa__(!__Il_(l!;__<Í_':'Íc~~~tu~~-de
.Jo. Um estudo de Erikson, "A irnagística de Hitler e a j1,1venJ\ldS'. alemã",62 ,Ç<!S_?, que foram apresentados com todos OS detalhes.,Aclg_rno fiCOl!f_C§lJOn­
. havia
afirmado que Hitler tinha sido a encarnação doin11.i'io...mais velh_g
·-- ··-­ -sáv_e_jpeladiseosição dos dados_ 11u.01a estr_~itura sociológica mais geral,
,rebelde, bem como de uma figura paterna autoritária. Isso facilitara o pa­ com especial ênfase no ço11teúcl-0 ideológico__das_entre.Yistas. A Sra. Frenkel­
radoxo da busca e_d<J:re.ie.jç_i[_(l_daJill.l9_ri.cl_ad~ue caracterizava o fascismQ. -Brunswik _t_~~il!lwu _el11ªlgu111asyariáveis_de personalidad;efico-iieJicar­
A percepçãoerH~;oniana da rebeldia confusa da personalidade fascista cor­ ----;=eg,;-<la da categorização e quantificação do m~terial das e~trevistas. Por
respondia muito bem ao "rebelde" desenvolvido por Fromm nos Studien: , fim,_Levi11son assumi~ responsabilidadê pelas-escalas doprojeto, pela a
Além disso, S_1:Ja observação clf que 0 _p!li ªlem;'i()_sofria de uma "falta es­ J11terp_I~tação psicológica dos dados das entrevistas e das perguntas proje­
s~ncial de verd~deira a~1toridade interna - a a11torld~de que resi,ílta de_ tivas, e pelos métodos estatísticos globais.,
uma integração do ideal cultural e do método educacional" 63 --e:- coml:>i:_ Pollock, que no final da guerra se mudara para a Costa Oeste, foi esco­
nava com a observação dos Studien a respeito do colapso dª $(lli_<l_a_riedª<k_
lhidoPMa organizar ., _______ ---
uma
.....
equipe_s_ecµ11clária de p_e__s__q11i_si!_e111J&s Angeks,
familiar. A primeira vista, no entanto, a idéia eriksoniana da família alemã -----·------,--~----- -, ,.,,_, -------.----~­

_que_incluiuC, ]?. Brown e_Çarol Çre_eclo.D.,L_(j>y_e_Qthal, apesar de ocupado


·parece!l contradizer a tese sobre a estrutura familiar que mais se adequa­
com suas próprias pesquisas, contribui_up_ara a aI!álise deco11t_e~clo _d_o_s
va ao cultivo do potencial autoritário, tal como surgida em A personalida­
cªpitulos .de Adorno, na versã() final do.s. resultados -· .......
do... pr()jeto.
. -----··------- - ........
Além dis­
de autoritária, pelo menos como a compreendiam alguns comentaristas. 64 ,--~ "­

so, -~hegaram estudos monográficos individuais de vários membros dg


_ Grupo de Estudos de Berkeley sobre. a . Opinião. Pública: de Betty Aron,
Antes de analisarmos se essa contradição realmente existiu, devemos
sobre o Teste de Apercepção Temática [1i\T]; de Maria Hertz Levinson,
esclarecer as origens e a metodologia do__IJ~_ç!Q_que I2-!Q_duziu o Yol\!llle
sobre pacientes clínicos psiquiátricos; e de William R. Morrow, sobre
rnalsiffiPõrtaiíte dos Estudos-sobre o'f~econceito. Como em grande parte
presidiários.
do trabalho ~ealizado p~lo -Instltut, a. infl1:1c~~-~jji,_çkHorkheimer foima.r­
O objetivo fundamental de toda a pesquisa foi explorar um "noyg_tip_o
- cante. 65 Seu nome não apareceu entre os co-autores porque ele não parti­
_a11troeológico':" a personalidade autoritári~. Tal co~() ]2!).>l!Jla_das,_@_as
cipou da redação efetiva do livro . ]_l111 _1_944, _!:Io_r!<Jteimer.havia esta.belffi::.
_do contato com um grupo de psicólogos-sociais em.B.erkeley,_o_quaLincl11fª­ características assemelhavam-se às do tipo de caráter sadomasoquista
R. Nevitt Sanford, Daniel Levinson e Else Frenkel-Brunswik. 66 Seu inte­ ~construído por :Fromm nos Studi~n. fa_iiibé.mhavfa:semahanÇàs com- o
-resse inicial pelo trabalho deles fora despertado por -um estudo sobre o ',;Fíamado tipo J, desenvolvido pelo psicólogo nazista E. R, Jaensch em
pessimismo, orientado por Sanford. 67 A irracionalidade básica do ee.ssi­
mismo, assim estudada,. sugeriu que havia nele um traço ou uma conste­
laçãode traços de personalidade subjacentes. As clescobêr!as Ã11terj0f_~s_ d_g___
-I!lstitiit tarnbém apontavam nessa _clliiç}io~Â~m, com os recursos recém-
! _1938,7° embora as simpatias dos autores, é claro, fossem muito diferentes
das dele. Q lÜ-?9_Lde Jaen§.çh_e__r-ª-.defini_<!_<2.__p_()_~_:.L1_a_rigid~z_i11f1eJável,i2~
oposto foi chamado de tipo S, de sinestesia, a capacj_<l_<i_cle__cl~ __çg_11fu_ndir
~;s.:,r;tidos, qiiefaensclleql!iP-ªiiAiº;eg~ra11ç_a_de_ci!_cl_e_n_~e.__y-"cjl-ªn.te
0 obtidos da AJC, Horkh~imer pôd~ sugerir uma relação de trabalho entre_ ~entalicfa([~:d~rnoçrática.
---
_______ .,, ________
--·-·- ,Houve també~ uma semelhança notável
­

o Institui e os cientistas sociais do grupo de Sanford, que se denomina­ com o retrato de um anti-semita delineado por Jean-Paul Sartre no livro
vam Grupo de Estudos de Berkeley sobre Opinião Pública. Sua proposta A questão judaica, lançado depois que os trabalhos para A personali­
foi aceita e, no ano seguinte, iniciou-se o trabalho sobre o que viria a se dade autoritária já estavam bem adiantados. 71 Wilhelm Reich e Abraham
tornar A personalidade autoritária. Maslow também foram precursores reconhecidos na construção da sín­

302 303

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 7 ·O TRABALHO EMPfRICO DO INSTITUT NA DÊCADA DE 1940

drome. 72 Tal como finalmente compreendido, o caráter autoritário, nas tos do que como particulares semelhantes a mónadas, que encarnavam
palavras d~- Horkheimer,tinha as seguinte; ~aracte;Ísticas:- ------- --­ iinive;~ais~ E~ cert~-se~tidü;-éJ;;~ão-dife~;;,m-;;;-~ito dos "tip~s id;.;_is"
·weberianos, com sua ênfase na individualidade e seu desprezo pelas leis
Suj.eição m~c~ni.ca aos ",(ll.9re_s,_ç9nvencionais; submiss_?.o__ (~gª ~ . autoridade,
a
aHà:êíá-;--uiJ;. ódiü,Ce-Só todos os oponentes e pessoas <le.. fQ.n!i~ªy~~ii~rirt·..,
abstratas.
~ _tyospecção; pensamento rigidamente estereotipado; pe.P<!2IJ?.~Iª_ il,.§lJ.}!ersti­ . _GraE~--ª-p§_ríçia_<iQ_gr;ipq_qye_ç~rc_av~. _S~nforsl,in!rndJJúr.anL§S'..110
çãoi desapreço, em parte moralista, em parte cética, pela .Il.~t.u~e;:~a...hY.!11.?:.~a; _p_t:Qj~to_aperfeiçoamentos esta_tMic_os. que. foram muito além de_qig!qner
:~endência à projeção. 73 __ , · coisa que o lnstitut houvesse feito nopgss<1d_o. Como nos Studien e no
·trãbàlho de Sanford sobre o pessimismo,_() J>i:_es_s_11_p()s_toliásic_o_foi_"_e_x:i~:
.Nãp e"1:axa em_questão
'-
determinarse_~sse_____
... ------.--------·-----
tipo realmente existia. Como
_____________ ~,,~--------­
" "• ,,
tência de níveis de pers211ali<Jade ciifere11tes,_t.aJ1.t9_n:g11_ifesto1ql1<lnto
admitiu Adorno, tempos depois:

")aterrtes:o Õbjeti~ü-<l(;"- projeto foi expor a dinâmica psicológica que se


Nunca encaramos a teoria como um simples conjunto de hipóteses, mas expressava, na superfície, em uma.ideologia preconceituosa.ou.inciic_aya o
como algo que, em certo sentido, se sustentava por si. Por isso, ~p_:r__eJen­ - poteqcial para sua adoção no futuro. Os questionários de opinião públi­
demos p~r.eftJ1_ar__a.Je..o_riª. -con_i,nossos r~ltados, !llª~enas dedll­
' ca, baseados na articulação consciente das crenças, foram descartados
z1r deiã-que~~C?~_s_ p~J~_.aj_nve,s,tig;:)._ção_,_as..quais___d_~129l~-~yeriam ser julgada§_
"por seu--Própri.o mérito. e dev.eriam demons.trar__c_e.r~s estrutl!!:.<!§__SOciopsi- -~ como inadequados, por duas razões. Primeiro, não revelavam um conjun­
' \_~lógicas pr_eval.e.nt_e_$.7: to coerente de opinião; segundo, eram incapazes de sondar as predisposi­
ções psicológicas que corresponderiam ao conjunto. 76 1hlY..e.z_g_Q];ütliY_o
_1:_ de_sp_~it.Q. de_~i:..t-"91i_q§~_':ica~-">s.tl.tis!Lcas norte-americanas, Jlltlodolúgk.0--pr-imári0Ao_J2_r!J_jeto_f.o§§§_ckgJLYPlver um di§];>9siti\'o_.r.e1'1.:
,o lnstíiut não ha:"iª3~-~!1cl()~a_<i,()__~-~to~~ê.<l__da teoria crítica. Em ge­ tivamenJ.~.:Simp.les, para.te_s.t<ir__a ~xistência_d_a__e_s_tr_utura ou das estrutµrªs
ràl, continu·o;_;·fi~l aos dogmas dessa metodologia, tal como resumidos em
'j)s[Zóíó&icas_subjacentes às .:.r~llÇ_<\~_~!O_ritária~_possivelmente, o com­
''Teoria tradicional e teoria crítica''. mas com a importante ressalva de que - por!amento autoritárip.
a práxis deixou de ser enfatizada como a base de verifi_çação da teoria. Mas
"--
.a_críti_@_ci()_l!l"1:Í!JJLaQJll~-hiJ;>ótese-v~ificação-condusão em pesq11i::.
-­ ·· A pesquisa começou pela cl_i?_!rJ_buiç~'?~e__gt1_estionári_ci~_gl1.<:_co11_tiJ11l;i_m
pergun:tã8Tactua1s, eséãlãs--de opi11ião e pergugtas p_rQj_etiy_a§,de respost_a
__sas
- ...... __ ... ---­tªLç__omo normalmente _com:
sociais continuou em..--·v_igQJ:.-,'\, _i_ndlJÇ_ão,
·------~-~-.,·~·----··--~--.-· ' · em aberto, a um grupo de setecentos estuda~tes ~11iversitários. Algumas
_preendicia,Jll'íQ_e_r_!!_ª-ç~itáveL Como escreveu Horkhei_IJl','r nos Studies in perguntas já tinham sido usadas nos Studien e no projeto sobre a classe
Philosophy and Social Science, em 1941: -~--­ trabalhadora. -6-s es_c_alas d~ 0!2inilio_fo_i:a_111 c_ci_ll_c_e_bidasp_<lra_rev~lar ..estima­
<:~~.. 5..~.!~ggri~s__ tê~..de ~~-~~Ema_das por um PE9~_sso de ind~Q_gue <i__o_in.­
tivas quantitativas de anti-semitismo (escala A-S), etnocentrismo(escala-B)
verso do m~t9..~o indutivo _tr~-~-i~~_?E1al, .9.g!_veriqcava suas hipóteses pela · e conservadorismo político e econômico (escafa:gE). As ·;.;;;las foram
,-compilação de experiências individuai~~- a.t~---~!~~.:9-!!~gj_i_::_~I}L9__J?eso de lej_~ aprimoradas com a prática, de modo que itens específicos de cada uma
·_versais. Ná teoria social, ao contrário).-~}!ldução de~e busca~ _o universal no tornaram-se indicadores confiáveis de uma configuração mais geral de
·particular, não. acima ou além dele. E"in v~zde$_e~íl:ú19cãrde tlll1Qarticul~r­ opiniões: "O procedimento consistia em reunir, em uma escala, itens que,
,::para outro, e depoúi para os Píi~Cã.ros da ahstração~~~~ye 1ne.:_g];tlhar cada v~z
por hipé>ti~u_ c::Qnf9r111e a experiência clínica, pudessem ser considerados
mais fundo no particular e descobrir a lei universal que existe nele. 75
'- ---·-----------·-- ----~~------------­ ~reveladores' de tendências relativamente arraigadas na personalidade,_ e
Por conseguinte, A personalidade autoritária considerou as entrevistas
individuais como complementos de extrema importância para os levan­
-._,_____~-------------
lamentos
-- -- ---- ---- .. ·--
·" "---~
.
---·-
estª-\ísticos. A reproduçjío detalhada­ de duas dessas ent~
-­ que constituíssem uma predisposição a expressar espontaneamente (ou em
Ócasiões propícias) idéias fascistas ou a se deixar influenciar por elas." 77
A exj;>eriência envolveu 2.099 l'_es.sg_a_§,_Qi_vidi.da.s__em.. grnp_o_s-Qnase.to:
- uma com um respondente muito preconceituoso, chamado Mack, e dos os interrogaaõs,entret~t"C;~ram norte-americanos brancos, naturais
outra com um respondente de pontuações baixas nas escalas, chamado dopaís;gêiiiiOs e de classe média. Para esclarecer os dados estatísticos re­
Larry- pretendeu_apr_esent!id9_§____me_11os como exemplos de tipos abstra­ ;;:;Jtantes-dos questionários, fizeram-se entrevistas clínicas e se aplicou o
-· ~_, ----------------------------- ·----·-----­
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇAO DIALÉTICA CAPiTULO 7 •O TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT NA DÉCADA DE 1940

Teste de Apercepção Temática a um número seleto dos que se incluíram contribuiu para a construção da escala. Ela procurou testar nove variáveis
no quartil superior e no quartil inferior da curva;_fic5 entrevistas, d!'.t~. básicas de per~()!laJi_<!_ad~: · ----··--­
~------·-- -··---.--··
hora e meia, eram divididas em uma parte ideológica e uma~arte clínico­
<..:., .-.---- ·------------------ -- --- -- --- ,. ------·-- ·-_.... _____,____ ...---.. ­
-~-~~--
CONVENCIONALISMO. Adesão rígida a valores convencionais da classe média.
genética. Jal como no projeto sobre os trabalhador(!s, QS.<Cn!reYiii!ados.!l;í.Q ------------------~

SUBMISSÃO A AUT9RI[)ADE. !\ti_tud~. ~ubmiss~. e ·ªç_r_í_t,iça perante_ªs <illtor_i_dac_1_e$_.


eram informados do tema exato a respeito do qualest;nra!Yl_sen_do in~r:
_mo;~rs-I<reãlíiâd~S- <la· grup-Q. ­
rogados.Sob a direção da Sra. Frenkel-Brunswik, concebeu-se um manual
de pontuação com noventa categorias e subcategorias, para ajudar os nove ..~9_g;E_$.~!Y~e_ORITÁRIA.~1:!dên_~E!_-~- Se-!!!2Jg__p_[QÇ!!L~r.1J~~!Il ÇQffiQ...ª-_Ç_QJl­
entrevistadores a decifrar os resultados. Perguntas "subjacentes" e "mani­ .._.~:nar) rej~_itar e. pui1ir, _aS.. J?._e_:?§9<l$__qµ~_y_i9J.<1~..g.~ __yfil2~.§-~º-P:~~!lSÍO!l'!is.
festas" foram formuladas a quarenta homens e quarenta mulheres esco­ ANTIINTROSPECÇÃO. ()pos_ição -~9---~~~i~thro, ao imag_i~-~~-iv?_ e_ à ffiCl]~.~iciª.<fe
, terna e sensível. · -·""-- ... ··--· ··--- ....___ ·-· ·· ----- - - ·· ·-- --·-~-­
lhidos para as entrevistas. O TAT foi aplicado aproximadamente aos mes­
mos sujeitos. Em ambos os casos, tentou-se quantificar os resultados. SUPE!(STIÇÃO E. ESTEREOTIPJA.. Crença elll. dete_!rni.r:ta11tes U1ístiços dg_Qestino.
-~º d,,coner. da pesquisª'auliveJsas1:ê.9:'.icas utilizadas eram tanto "ex­ !~dividua_l; predisposição a pensar mediante cate~ori~_s ríg!~ª~:,
. pandidas" quanto "contraídas":
PODER E"DUREZA». Pr_eocupação c0m_a dim,ensão de domipaç_ãQ":"sub111iss.ã_o,
A expansão era a tentativa de introduzir !Uais e_m<!is asP._ectos_da i?eo~_gia _ com o forte-fraco, o líder-seguidor; identificação com as figuras de pqder;
antidemocrática no quadro que ia tornando fo~m~, e a tentativa de ÇJ;p!Qnu: ênfase excessiva nos atributos convencionais do ego; afirmaç_ão ex~g_eraç:la
_aspectos suficientes da personalidade potençialrn~f1!e_<1i:i!ideino.c'~~."."..E~l3-­ ·!=la força e da dureza.
que houvesse ·uma apreensão_ do todo. A C()ntraçgQ _ocorria.contitllJ.4-lTti;tJ.te.,_
DESTRUTIVIDADE E CINISMO. Hostilidade generalizada, desaprec;o_ pelo hu­
nos procedimentos quantitativos, à mêdida _que ..a_ çre$_Çt:_D_t~ __ _ç_l1'1.r.!ez~tJe. Qrlça..
mano.
"--p·ermitia· uma redução, a fim ·de-que as mesmas re!açõ~-~ crtifi_a~~ .P!:lsl.t:?Se!l!..
ser demonstradas com técnicas mais sucintas. 78 PROJETIVIDADE. Pr~osição a acreditar m1e acontçg;Dl-c.ois.a,s_d~.fil@iradas
----e-per~ no Q1µl}g9i..P.r_?jeção de_ im_eulsos afetivos inconscientes para o
~ · ··· ·--·--··----- -~~--------~--·---- ----"-·
Os méto.c!os _t1~_a<i_()~_para criar escalas tin~ sido desenvolvidos por mulldo-e~tern~.

Rensis Likert em 1932, como modificação de uma técnica anterior, criada


-. por L: L.-Th~~tone. 79 &111~_111~os~~-~as9;:~penn~~~..Yariáx.eis.
de concordância ou discordância da perg1111ta, Qll_~ala mie ia de +3.JL {J~_c1'r~o..11.~1ller()ªe·l'~~gun tas ]Jrete11<Jiarevelar,..d.a mane.ir.a ma,is_in ­
_:3. Üzero neutro foi excluído das respostas possíveis. O aperfeiçoamento .direta possível, a posição do sujeito em cada variável. Em momento algum
.d~ escala consistiu em retirar os. itens ·q;e -~ão se. c~rrelacionavam com a se mencionou explicitamente qualquer grupo minoritário.r·-·Com o aumen·
-- ----- .. - . - .
pontuação geral ou não tinham um claro poder de discriminação. Havia~ to dos testes, a correlaEC>. entre~ escala F e a escala E atingiu aprnxim"ª-da­
uma grande desvantagem_p<i_"'§f'11'1_<!e_Likert: padrões diferentes de res-, , mente. Õ)5,oq;:eToiconsiderado um sinal de sucesso. Mais questionável,
pôsiapoolam· produzi~~· mesma pontuaçã-;;-fina[ 80ÃsentteviSiàs1~llii ·porém, foi a cÓrrelaçãü<l-;:o,s?~;;:;;-;;~s.f.alasEcCPi.~a.rnexplicar e~;ª
~oncebidas, em parte, para superar esse proble111a p9tencial, reyeJal)d()_a_s__ JaJha, introduziu-se uma distinção entre os conservadores autênticos e os
~onfigurações específicas das crenças nos caso$ indivigµ;;i» pseudoconservad_()res;considerandocse apenas estes últimos corno p"r­
~A CO_ll~~·ªológica mais valiosa do projeto foi a condensação sonalidad~s ~erdadeiramente autoritárias~Não se.fez ~enhuma tentativa
_çlas três escalas originais, referentes à atitude, em um Sóconjunto de pei (oú, pelo menos, nenhuma foi relatada nos resultados finais) de correla­
guntas, capai:dem~:() 12º1mc1ªLa.!J1o.rit~.rill no nível w;Jc~ cionar a escala F com a escala A-S. As correlações mais específicas dentro
_te. O novo dispositivo <ie_111en§LJ!''1Ç.ã.()_f()La s<tl~1'-~~-"~_s91]il...E"1 1 A análise dos subgrupos da amostra apontaram uma coerência considerável entre
de conteúdo dos recursos dos debatedores, a experiência prévia com o tra­ os diferentes grupos. Como vimos, as entrevistas clinicas foram usadas
balho empírico nos Studien über Autoritiit und Familie e os estudos feitos para corroborar os resultados da escala. Os exames dos resultados parece­
em Nova York sobre o anti-semitismo na classe trabalhadora, tudo isso ram confirmar a exatidão da escala F.

306 307
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 7 ·O TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT NA D~CADA DE 1940

Nos a112,s_sl1bseqüentes, entretanto, o sucesso da escala F como indica­ específicas foram levantadas por outros comentaristas quanto às expli­
dora dopotenci~f~;_;\oritá;iü foi objétódeacirrada coil!rovir~Ía~}:9:mca... cações genéticas do autoritarismo._Todos oi. dadq§.S;oncernentes à s...o:rige.us
mais exaustiva à sua ~fiSJ?Jlga foifg_itip~.!Le She,Ítsley em um li­ infantis dos.!il'2.s_ci'-~!i9Jlª1i4ª.deg11ex_allleJ>fQvi!lharruie lembran­
~ii_~ifi\dn::eiiTu~tv:ame.nt.e_AQjmpactQQQ.-S'.filudo.83 Eles foram muito ça~cie..1tdultos,._e__não_daohser\TªÇii() ciireta degia12Ças. A Sra. Frenkel­

· ;everos e, em alguns casos, as críticas foram convincentes:..Pal!l Lazarsfeld .. 'l.lrunswik abordou esse problema em um estudo posterior, o qual, lamen­
- que, ao colaborar com Adorno, demonstrara grande ceticismo em rela­ tavelmente, não foi concluído antes de sua morte prematura, em 1958.9º
Conforme revelado pelas entrevistas disponíveis, as personalidades au­
ção à aplicação irrestrita da teoria crítica a problemas empíricos - mos,.
toritárias tiilílafiiQl'afü_elJ.!Jêiiíia.a_(õ.iií)a;:;;-~~fünliiiau_iií.qilea~
trou-se bem mais positivo. Os indicadores individuais da escala5, _ess.re_~­
jiJ2lina era rigorosa mas ami(lqe arbitrá_ria. Os valores parentais, com
veu em 1959, desempenhavam "um papel expressiyo em_relação..ao.Jr_aç.o_
freqüência, eram muito convencionais, rígidos e exteriorizados. Como
' subjacente, e um papel preditivo em relação à observação orii;in__<lria que o
resultado, havia uma probabilidade de esses valores permanecerem alie­
traço pretende explicar". 84 Roger Brown, um crítico mais severo d§irõ~:::­
nados do ego também nas crianças, o que impedia o desenvolvimento de
. to, concluiu sua análise ad~itindo que "há uma substanciaLp0§si]JilidadL
uma personalidade integrada._Q r('!ssentim~l1_~º-C:()l_ll._a rigj_dez_J:laren!alsx.a
'de que a principal conclusão do trabalho de que.stion§rioes_~ej_"._(_~_ta_"."
.. co_11111merrte .d."-S_lg_ç_a_dgpa_rJ! ou_tr_ªs.PeSsoi\s,._el}gga!lto .a_imagem..externa
A avaliação crítica d9 materi;1J_da_s eri!l!Yi§t<l_Lrevel~i:§_ejg~!g1_el1~
_d()J'.~-"-cl~ mãese mostrava. sumament."jQ.e_o..liz:ada. O pai "severo e dis­
dilbia. Os- ~ntrevistado;es partirall1Ae p_~rgY!ltí!sS:s~ífiqs_ em seis.J.r~as - " ' .. " • • 1---· ----------­
,tante ,91 des_cwo. com ft:equenc1a J1ªS entrev1s~as C:.2fl!P9D1l!ai;.QS'seleyi!_gas
gerais - profissão, renda;rêfigião, dados clínicos, p.olítica e minorias,
..p;1.escala F, muitas vezes parecia promover.nos filholLUmiLp_ªsfilyj_ç!ade
e "raça" --;- e continuarama fazer abordage!ls_in_d_ii:etas até julg'1Xfll)
,com.PiDada com agressividade eJiostilidader.eprimidas.. Essas, convém
que as perguntas tinham sido respondi<fo.s. Alguns críticos gz_ei:.am 9llie.­ lembrar, eram características evidentes no tipo sadomasoquista elaborado
·ções ao fato de que os entrevistadores "tinhàm um conhecimento__ exces~i::_ por Fromm nos Studien über Autoritiit und Familie. Em contraste, os pais
" vo", 86 em virtude de informações an,tedpi<JasS:@it'.Ji_pontlli,.ção de c'iÇ!Jl dos respondente2_.dr..pon!gJ1Ção baixa eram lernbrad~s conio me11os co~~
· entrevistado nas escalas. Outras críticas diziam respeito à codifi_ç_<1_<JiQ__dos "fÕrmTsta~enos preocupad-;;$~;)~ o ;t~tus e- ~~-;;;~ ~;t;;;:;;;~ia111~11te
. resultados. Apesar do m-;;;;-;-;;tl«i~ p~rrt~;Ção p;eparado pela Sra. Frenkel­ ~eXlg~nt~~. Em vez -disso, eram. maisambivalentes, afetuosos e capazes de·
Brun~;;_;;k, ê__lib_ei:_d_a_de dd!l.t.,rt>I<"-tªçii_o__Q_ü§_codificadores continuou a ser ]efü()nstrii'em()çoes. Pór 'conseguÍnte, a imagem que os filhos tinhám de­
considerável. Em algun~_molllentos, argumentou-se, 87 um c_erto racio~ les era menos idealizada· e mais realista. E, o que talvez fosse mais impor­
'Cínio circular p~rêZe';insinuar-s~ J1ªsi!1t~~P.r_e!~~S'.~-Po;exemplo, a ri­ •·fante,,a aliena~. do ego em relação às normas morais era menos prQ!l.l!n­
-gidez foi equiparada a uma intolerância à ambigüidade, ao passo que a ciada,indica;;do ;pf°obabilldade'd~ ;,;-;;a--P::~r'SP.nalid~de -~-~~-integ~ada.
intolerância em si foi explicada pela rigidez. Og!BUJ:iticas foram dirilll: ··· ·. Uma..das que.s..tões le.vantªdas_.P9rç2mrnta..rist.as_pQsteriorçs_foiA_c0 rrr­
das à escolha de entrevista49§_<:Q!D...pOntuações altas e baix~~' _patibilidade dessa visão da família autoritária com a_afü:mªÇiÍQ..QQ.lm.tü_ut,
g-;:;_;poslntermedlário;:.Afirmou-s~ue esse RI.9~."_~()_se destinava a. feita tantas vezes em outros trabalhos, de que a família havia declinado na
cÕrro5õfãros-dadÕ..s e -;;ão a:buscar um corte representatiyoda_amostra '._sociedade moderna. Leon Bramson, o crítico mais i~sist~11te ~~sse.po~t~,
~opulâeiõ-;;;;1. ______________......._-----·--·-------------- ..--------- --­
88 afirmou que a tese referente ao declínio (a qual ele atribuiu erroneamente
. - · As_crítica~,__comCJ_t;"..!'~§P_e_rar,__11_ãg__§."...1!.S_tringiram apenas _À. apenas a Eros e civilizaçiio, de Marcuse, sem perceber seus antecedentes nos
metodologi_a. As conclusões substanti_'l<l_S do prQj."to também receberam Studien) "contradizia diretamente o trabalho inicial de Fromm e do gru­
'siti~qginhiío. Pa~1f~e111eti, por exem pio, . ques.tionou-0-pi:ess.upostQ.. po de Berkeley".", Seg_t:Jndo a visão de Bramson, e~sies e_~!lldoS _J:>§lr_eciJ!.lJJ.­
...implícito..de.que..o_px<".co.nceito.ern_g_eral_(C()~ti-s<C~º-em_particular judi0ar-a-for.ya.,germ<t11ie11_t_e_ da família autoritária. Examinando mais de
p.t<".!l_l!!l.cia'lam. uma ..d errubada..compkt_it_ .do .sistema democrático. Essa _:~;i1õ;;ntret<tnto, percebe-se-q!le as -<l;.;ãl; int~r'Pr~tàÇoes nao eram tão ir­
"perspectiva catastrófica", afirmou, era alarmista demais. 89 Questões mais reconciliáveis quanto supôs Bramsi:>.f!..
""~-,--~,--~ .....,_,, _____ ~_ ... ______ ---µ-" --..--.. - - - ------·

308 309
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÊTICA CAPfTULO 7 ·O TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT NA DÉCADA DE 1940

Primeiro, como já foi mencionado, o Institut ficou impressionado com Dos dados de entrevistas emergiu uma família autoritária que, por sua
a i;;,;gem da família alemã f()~necidãpor Eriks-o~:;;-p~_q~<i!~~~.fil,_pai,_ yei;·;,r;;-;_;m r§flex9_de e~~<;êí~s --;,_!ter1.l-;;s_<:i:esC:éí_lies. Pí~Úpad;;-;:o;;:;:--Se~
'Ú,;a-~nto~idade-il1terna verdad~ira. A pseucfo_::rs:volt!\:c:l9 que Fromm h_<i.:. status, aderindo rigidamente a valores que já não sustentava de forma
~ia ~1i.;;;;;dü-de ,;o~~belde"era, l1a ver<lã~ busca de uma nova autori­ espontânea, ~ famílü1 autoritária. obv§111_ente ___s_lillercompen~ava o vazi9
d~<i~,~~.r;;-;[~p~od~zic:I; pela falta de um model() positivo de autõ;;4;;-d-~­ ,9_11,<'_"](ÍStia_I!()__S§!l~I!~erior. A, autori~a_c!_e_ql!e_ela_!e_r_l_t~yª_tão freq_e_ticª1!!_en!e
, ~rn casa: Es~a- e~~ urna síndrome que A personalidade autoriyí!_ia certamen­ _protegerjá.não.tmESio_!lfil,_na__y_ex.c:l!'.<:!e. Como afirmou Horkheimer num
te reconhecel1,dando=I!1eum1ugarâe-destaqt1e-na~náÜ~e de Adorno so­ ensaio escrito em 1949,97 . q1ianto mais as.Junções econômicas e_sociais da
b;;;~tiPüs"eÍevados" de caráter. .J.iJ._mília eram liquidadas, mais desesperadªme!lte e!a_gnfa.tiza"a suas.fo.i;­
Mesmo nos casos em que a n_orma era ilidentific_a<;~<.l__,C_Cl_m .l1111_P3:L °'mas convencionais ultrapassadas. Até a mãe, cujo calor humano e pro­
aparenterneil'teforte, e não-~~~~olt~-~011!;~ ele - o que se admitia ser teção antes haviam servido de amortecedores contra a dureza arbitrária
a síndrome mais freqüente - , Q__co11tras_tecorn a análi~e ~_ll_te_r_i_()r QQ_s do mundo patriarcal - as restrições de Fromm ao maternalismo fizeram
, Studien não era tão acent_uado. assim. tJ<:..'\'~_r_c!a<!"1.'l.o. .c:le_s_çr_eveJ.JL"síndro~ eco nesse ponto - , já não era capaz de funcionar do mesmo modo.
me_ autoritária", 93 Adorno rernete_u o leitor ao caráter sadomaso_<J~e ·~'mamãe": escreveu Horkheirner, "é a máscara mortuária da mãe." 98 ((Em
Fromm e lançou mão das idéias de Freud sobre o co111E_1~í{'o(jiEdifLO..pai:a contraste'', revelou A personalidade autoritária, "a família do homem que
explicar suas origens. 94 !:Jos ca_,;_qii_e111_q_l!e_()Honflitos edipianQs eIªrn mill tipican:ie_I1te.obJém__lJJJ.la_p_ontuação\:laixª--parece centrar,sg_e!l) _ umamãç ­
resolvidos na infância,a agressividade contra o pai se transfon;naYa em Ci;jafünção primordial é dar amor, e Il.'19 d~;;:;;;~~;:~_qg~_ni)Q ~Jrarn!l~~L
'Obediência masogl!ista e deslocamento_ dahostilidac:le s;ídiq. O que liga­ ~}~~~issa.>' 99
- va essa explicação puramente psicológica à perspectiva mais sociológica N?oera de surpreender, portanto, que a personalidade autodtáriaJlão­
dos Studien en1__'l__teoria_de_H_orkheimer..deq!J~."..a__repressão_s_Qcial ext!'_l;~ c;stumasse ~entirpiedade, queé uma il.laÜdad~·;-;;;;:~~;;. Üsclapamento
é concomitante ao recalcamento interno das pulsões, Para chegar à 'inter­ da família pelos nazistas, apesar de su; p-;:op~g-;-nd~m cÜÍ.ÍtrÚio,-não
J1~ii;Ção'docÕÍÜrole so~i;1, q-1;;;-;~11ca dá t~nto-~o-ind~;rtotira '.ôc~rfêra:-p:õf:ãeaso;A:família-âutOritáffa não produzia filhos autorÜá~ios
cl~le, a atitude deste últimQ p~_r_<i_SQ111..ª-ª-lJt.Qri.c:lic:ls:_e__s_l!!Ü!lstância psico­ só !'.elo que fazia - fornecer um modelo de dominação arbitrária -,J!las
_lÓgica, o superego, assume u111 aspectoirrac_i_onal". 95 Adorno concluiu que -!~111~.ém pelo que não podiafa~~r ~proteger o indivíduo das exigênc~~
essa era ul1:ia sind~om~ que prevafoCla amplamente na baixa classe média p_ar_âa sua socializ~çiÍ<Í,Jeitas por agentes extrafamiliar:es. Assim, embora
da Europa e devia existir nos Estados Unidos "entre pessoas cujo status real A personalidade autoritária tenha-se concentrado nas origens intrafami­
difere daquele a que elas efetivamente aspiram". 96 Em suma, ~--sí_nc:lro_!l)_e liares do "novo tipo antropológico'', as implicações de sua análise aponta­
_a_utoritária. clássica não significava__a_simples_identifi~ão com umaAip: ram para fora, para a sociedade em geral.. A ênfase anterior do Institut no
·. ra paterna forte, mas implicava, ao contrário, ambivalência e co_!1fl.i_tCl__çQQ:: _de~línio_da f_a_rnl!ia1 ~_<!e_sp_"Í!_Cl_<ÍQ.<llle_<ii_ss~ Bramson elll_ÇggtrárÍo, foi pre_­
siderávds quanto a essa relaÇão. _AJ:epi:e$sã()'~ic!ernª;jí\iãnd<l:ints:ruüflca­ .§eXYJ!.d_a nQretrato da família autoritária gue ele desenhou em seu traba­
lho posterior. --·· - -- - -.-.. - --------- - ----·--------·· ----­
da, servia para ativar as tensões latentes da situação edipiana mal _i:~S_()lvj~.
- Adcíl'.ifo ·eSl5õÇoü õút~~s shidrornes-qlieexpressavarn~-;;iras pelas -.A .;:m!Jigi}i<fa_d_e terminológica podeter prodnzit:lp parte da .confusão
quais essa ambivalência podiaSer posta em_prática. Entre elas se inc~ ~m torno dess~ql!estão. Como assinalaramalgl!nscornentaristas, 100 deve­
;iiiP:~«;e_;;:,;;-(;do SllPfrfici~C "maníaco~~manipÚl;dor". 9utra síndro­ se fazer. uma importante~ distinção entre autoritarismo_ e_ totalitarismo.
ç ~e encontrada
... __________. entre _Q<u;.uj.eito.s__c_om_p.oníJJ.ilção
. _.. ________"'_'"""" ' elevada n~-escafa·er:a o
------------~------·­
~ÃÃ.leil1~~11; g;:;-Ühermi;;:ianae -a ;;:~;i;ta: po~ -.;~~;;;-pJo:ro~arnfündamen­
tipo "convencional", que se aproximavª_tl1_aj_s de perto de uma in!er11aJ~z-".:: talmente dessemelhantes em seus padrões de obediência. O ~<l.1'.€1'.>.0.::._
. ção sem conflitos das normas. parentais e s_oc[aIB::'J:lra-esfe(,Jifo}g tipg 9_11e Jlfl]jdq_de autQritária..rn.alm_errte estudou foi o tipo de caráter ele uma socie­
mais parecia combinar com. uma es_trutura familiar_ gatriarcal em_~a __c!a_<ie. totalitária,_ e nãg. de_ !Jma~§:Q4~"d~:k ;;;:;(o~i!á~i~.-iü;l§so _nã:o_ck.~:;:~
autoridade paterna ainda estava relativamente intacta. ".'.ª.l1Hl"._5_ll!1'_resa ~ssa nova síndr9_rn_e_ fosse foil1entada por uma crise_
-- ··----~-~~-- ----~·-------­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 7 ·O TRABALHO EMPfRICO DO INSTITUT NA Dí'..CAOA DE 1940

familiar em..<;J1!!C a autoridade paterna tradicional ficava scib fogo cerrado.


de Frankfurt. Houve uma ironia adicional na afirmação de Shils de que a
Muito dessa dificuldade - e talvez parte dela tenha sido conceituai, além
antiga dicotomiacil_r_ei§i:--=esgúerdá-esiãvàúltl"apassada._Ç9mo j;Í ob~[vá~
de lingüística - poderia ter sido evitado, se essa distinção tivesse sido ar­
.. mos, Horl<heimer enfatizou a necessidade de desmascarar a dominação em
ticulada com clareza.
qualquer forma política, fosse ela fascista, oste11siv<lmente socialista o~ de
Outra crítica ao estudo, talvez mais substancial, foi feita por Edward outra natureza_: Desde os primeiros anos em Frankfurt, o Institui mostra­
Shils e ecoada pQLvá~io:>_o11frgs~rorEtifrl.(j~~Sii~de política_do§._gjrige11­ ra-se cético em relação ao experimento soviético. Com o tempo, o ceticis­
-t~s:cJiJi:;Jj~t"a2 afin11ararn, influ!u ngs.xesultados.fü-,<iue, ii}da_gJ!g.nLes:. mo se transformara em franca decepção. Como afirmara Pollock, a União
-~es_ comentaris_t'1§>..9.'1_l!t_oritarismo foi aSS()(;)adQ__só ao fascismo e_ não ao _So.viét~ passava de um sistema capltajjs[;;<l~Síado:com.p.illi.Cã:_coisi
cÔmuni;~o? Por qµe a e§çªlaJ:' não.er.aª_"~c_a_la e", ou, ~lo menos, a "e~­ _que o distinguisse desis_t~fl1-ª~ sirnila_i:es ng OcidtDJ~~incipal diferen­
~calaA"? Por que o conservadorismo políticQ_~_rn_v:ist()_ÇQQ1_0 ligad() aci_a_l!­ ç_a__<!_ej_fifu;_e_ outros pensadores norte-americanos era que o Institui sg.E;­
toritarislíJ:O,enquanto a demanda pelo socialism()__cle _]l~_ado ~~g_]lm ~~a_va a Q]:?or.o.totalili!J.:i>.ill.i_a_11m~2J~J;;;;:;;;·;-;,~;;-;i;-sta,Jib,r_t.;!üo.i;
a
suma, por que" se sustentava antigadfStií.1Çiô entre esquerda e~' ~~o ideológico! colll() se est_ef()SS.fO.~!l Ç()_f1tJ:"1:i(). Como vimos ao exa­
quando a verdadeira oposição se dava entre a democracia liberal e_Q_Jo_ta-: minar sua abordagem da cultura de massa no Ocidente, o Institui via a
"Ilta;,isÚ1o <:l9s<l_oi~ic_t_~~Q.§f ­ }omi11,_:;s:~g .a_tu".!lcl() de _ lll.a11eiras 11()\fª.5.. esutis para.. e! estrajfJiuestlgiOs
jl: grande ironjac!esse ataque residiu no fato ge_g_!Qstitt!!_h_gyex..aban­
_<!_ay,rc!adeira individualidade, m1mtendo uma fachada de diye;sjdade.
donadõ muitas de suas idéias-rnai§rií(!iÇiiifnÕtrab.ilho.Pfilaa_N_Ç. Como
A Dialética do esclarecimento estend_e11sua_ sombria análise das tendências
vimos, os pressupo_§_tos fundamentais_JJ_()_r_ trás__doâ_Estudos_>QQ[f.-9.PJ:ff!'_rl_:.
, v_i_ge_Qt-".§'1_ toda§illLfü:is:iedªde§.moden:liz_ad~s. A~~i!ll,cl~ ~~~t~;;,,od~, ~­
ceito fÓram liberais e democrátiç_os. Até um critico tão hostil desse traba­
,<:()_~Frankfurt concoi:d.aY1LeJ1l.!1Ue a dicotomia esquerda-direita, pelo
iho quantô"Pat;!J<:~~;k~;:;;;:!i-~hegou a escrever: "O liberalismo dos pró­ _111e110s_tal com? e_11~a.rnacia !)ª§ esti;11t_t!ii~ políticas em vigo~:}á não er~
.
_prios
' . ' .
~~--------·
autores é francamente conservador, ___nCl__Clue
....... "'"'·"~·----~--·--"·-···--·--·-·~~-------·---
,constitµcionaL nortecam&ri9_11a." 102 A tolerância nunca tinha sido um fim
---..::._._,,
concerne à tradicão
__________,.­ rel_ev.a:11te. Onde em
ela discordava, é claro, era no nÍveidateoria:
·-simpatias continuavam a ser basicamente as mesmas de antes.
que-suas

em si para a Escola de Frankfurt. No entanto, '1 perS()Il_a]i<:l__ade não autori­ .41'.§rsonalidad_f'__fluJPritáaa dgu_p.9.l1<::.~_ m()S!r_a2__cl_ireJas-desse-pessimi§:
tária, à medi.da que cheg0 t1 a.secde.finida,ioj_pQ_!i_tl!iada como sendo a <!.'L :__mo. {\~E!e_v.E'_:se.c!e extrapolar sua li111itada amostrª para oferecer conclu­
pessoa com uma tolerância não dog111ática_~_.c!iversidade. Q que o lrrsJ:itut­ _sões _sobre a prevalência do.. atiio;itarismo..11a _;;0 ciedade com<ltu11 tQgo.
sempre temeu foi a fetichização datolerância como um fim, em vez ~11m. Nem sequer chegou, como no trabalho inédito sobre a classe trabalhado­
~~sso~eí"nbora indiretõ;·;n~ontra-se no livro Mu­ ra, a apresentar percentagens de sujeitos com pontuações altas e baixas na
dança social epreconceito, qe___l?ettclhe_i;:n e Janowitz, no qual o caráter µão­ amostra. Em vez disso, §Ó ap_r~se11.to11 uma tipologia descritiva do caráter
conformista e antiautoritário;-Vãforizado pela ~quipe de pesquisa de Ber­ ~Ut()rit_Jli:io_e do não autorit-<\Ji.o,.senu~~i~ n,;:cia._$0fu:~i:i<a respectiva
keley, foi criticado da seguinte maneira: ;'.Se.algtmsnão.,_confonn.~ ..frt:qiiência.· Em alguns momentos, porém, ofereceu indícios do ~úme~o-cle
exibem um alto nível de tolerância, talvez isso resulte_gg__u_ma_ionui!Çi!o personalidades autoritárias na amostra. Assim, por exemplo, Adornoes­
re<:1~iva ou de um deslocamento e!~ !i':l~íilid~de,g~~~<l-;;:, por relaç~~ creveu que "um. dos resultados desagr.idáveisc!'ô Il_Q_§§Q§_ǧ!i±JQ§,·q~~~p~t:_
tisfatórias com a autoridade. N.ã'?~é exagero êhamar essas pe~soas de fal­ Cis,lserenffeiitáclo cõrn frâng!lez.a, é que esse processo de aceitaçã()_§Q_Çjal
sos tolerantes, pois, ainda que elas ·p;)§s<lmsl;r:t:Ql~X:ante~ às ~o_rias.J_ ~coÍ-Íse~~a~orismo já avanÇó~ii_i-ultoe·a;~·;;~;_,;;--;;;,;i;;disct;,tÍ:
cÔnmm serem intolerantes aos estilos aceitos <:k.vida_so_cial." 103 ___"."~~~ •104 .Grosso 171odo, entreta11_t(), ()liV[(l!l.fil!Steutoµ!lyisã<j
A democracia polític_a, em §11ª-.forrga_r_<:Eresentativa, também não ti­ de qu_e "a !11ªi0 ria.da população não é ex:tremada, mas, em nossa termi­
nha_sj<jo_ O(lpje_ti_yg (J\rjmo do_J!)stitut. J'i1~tO~Á.J2el-SOna/idade auto­
'llOiogia, ·~ediana>>'. 105 , - · , - , · -~-~--------- ______,

rjtária forneceu poucos indíci~tradicional crítica marxista à "demo­ ·---A crítica de Shils à tendenciosidade política latente talvez tenha sido
-;;:aciáburguesa", que havia impregnàdo os trabalhos anteriores da Escola maiscerteira" a<Lse 'lOlt~ntr-;;--;;;uposJç;i:õ,_jr:llpli-;:-;;:;-noest~do, (l;q-~;e
:------·-·" - -- ' -· "--------..... ------------.~---·--·---·-·---~

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA CAPÍTULO 7 ·O TRABALHO EMPÍRICO DO INSTJTUT NA DÉCADA DE 1940

_s:c:>nservadorismo e autoritarismo se relacionavam de algum modo. A não­ próprio objetivo d()~()jeto, que era__i:iesenv()!v_er um dispo~_t_ivo_ Pª!<l_ m.":._
confiabilidade d;\êscala CPE para estabelecer uma correlação significativa 'dir aexistência do potencial autoriti~~l'.()_r_t1Js__iq níyel _Q.a.J.deolo_gia
com a escala F levara à tentativa de se fazer uma !)istinção e11tr:.,S9.!l>-erv.a­ ·consc~nte.
'"- ' -- '
Cfaramente:-eni:-px_ç_çiSQ.clf.S.ef!V:Olver
"i
um trabalho maior sobre
____,,.. ------.----··-·----·-------------·---­

,dores autênticos e pseudoconservadores. Qs primeirosJor<i111 de_finidos .. o autorita_rigno da_esg_1,!_er_da; nos anos seguintes, ele foi realizado por ou­
como pessoas, "sejam quais forem os méritos de [suas] opiniõe2J>olíticas'; tros pesquisadores nos Estados Unidos. 110
. _gue se mostravam "seriamente interessadas em fome;,tar o-·q;;-~ há -d~-;-~is Poderíamos mencionar outras dificuldades da metodologia e das con­
.
vital na tradição democrática norte-americana".'º' .os últi;-üs eram con­ ~l.~1s~e_,;_ de _fl_J>.frs onalida_cl_e_~ittírit;i,_ m_<l_SM'..!l.2s _estendêg;el11.()S i11sl.<êv:i­
servadores apenas na aparência, mas sua personalidade subjacente Ôs da m en_te nelas perderíamos de vista a tremenda reali~aç~() cle§§etr.:;i_])_<l!_ho
marcava como. potenciais candidatos ao fascismo. Embora-e;s-a <llstinÇã() -çom;_um.todo. Como· o próprio -~__<_!orno· admitln- posteriormente,~
"se destinasse a suplantar a simples equação entre a ideologia direitista­ A personalidadeggtg_rÍJ:(Íriq.trouxe . àlguma.conttibuição, esta não deve ser
esquerdista e a estrutura de personalidade autoritária, a associação persis­ bus-c°id; na validade absoluta dos achados positivos, menos ainda nas es­
tiu no subconsciente, pois não houve esforços comparáveis para desenvol­ tatísticas, e sim, acima de tudo, na enunciaçã9_do_s_p_r9_~le__rna~...<Il!t;_.f_ci_i_
ver uma tipologia do pseudoliberalismo ou do autoritarismo radical. Na motivada por uma autêntica preocupação social e se relacionou com uma
verdade, !!_ií9_li.Q!!Y.e.11i;.n!:um1ªJ_enta~ de distinguir as ideologias teõf;a qüê;até-er}!ã~~ não fofa traduzida eminv~$tigiJÇ~~:Sq!!antitativas
neOCCJ!ls."f.Y_<l_clOras_, O_lfü,ral prototípico, que "busca ativamente a muaan­ ·desse tip()". 111 Apesar de ter quase mil páginas, o volume final foi conside­
-çaso~ial progresSist;, que pod~serum-crlticomilitante do status '1.1:1õ(êm­ ·;.àdo p.elos autores como apenas um "estudo-piloto". Se esse era o verda­
-bora sem necess~riame!lte rejeJt,{.:fo-por-éompÍeto),~qjlt;_ se Q.P.Qf~e.: deiro propósito, não há dúvida de que teve sucesso. Um dos primeiros co­
rosos valores e crenças conservadores,ou retira a ~11fase deles, [ ... J ~_gue mentaristas de todos os volumes dos Estudos sobre o preconceito acertou
ªªs:;
_gostaria dedimfui:i-ir o poder empresarial, ;,-,:;;:;:,-;;-;·;1a_n_d9_<2Jl_<l_<_i_er 1ª em chamá-los de "um acontecimento memorável na ciência social". 112 Nos
operária e as funções econômicas do governo", 107 foi visto como o .op.osto anos seguintes, o estímulo fornecido por eles e, em particular, pelo estudo
· primordial do conservador autêntico ou do pseudoconservador. A que de Berkeley resultou em uma enxurrada de pesquisas. 113
ponto essa caracterização era problemática evidéndoll-se na geração se­ Como observação final, podemos acrescentar qu_eo im__p<icto_nãg_ seres­
guinte, quando o próprio liberalismo do New Deal foi vivamente atacado tringiu aos_lls!ados Unidos. Quando o lnstitut retornou à Alemanha, no
como uma ideologia orientada para o status quo. !rúcio <lã-década de i95o, levouconsigo as técnicas científicas que havia
je.. A personalidade autoritária tentou dar conta do autoritarismo da adquirido:e111 Nova York e na Califórnia. O primeiro esforço colaborativo;
esquerda, o fez construindo uma categoria vagâmente defim<lade:-"e-~U:-e­ após-restabelecer-se, foi um estudo sobre a interação de grupos, publica­
vistados rígidos com pontuação baixa". 10'_fi1i:urng_s__llQsterio~ruo. do com a assinatura de Pollock em 1955. O propósito era apresentar a
viria a se referir a esse subtipo como umaje_SJl()st_<l a críticos como i'_hils. 109 metodologia norte-americana ao público alemão. 114 De fato, até..Adorno
· Õbservàl1<lo mais àtentamente,-porém, essa se revelou uma resposta_q11~. viu-se na inusitada posição de promover técnicas empíricas para se con­
não chegou a ser satisfatória. Enquanto, _gç___ç_a_gula__escala Ç!'Jô~JLd.i.>-cre_­ trapor à tradicional hostilidade alemã a qualquer coisa que cheirasse a
pânClã entre as opiniões- c<_insci~n!~-~ e ~- es~r.t!!!!rn de ps;_r_s.011ali!fa.d_e.s!!l:>: positivismo anglo-saxão. Em_,-,_-- uma
·------­ conferência de sociólogos realizada em
--collS'~iente pO:dl~~~-;:~ns~da para expl_icªr-ªSQtre1ª-çlíg__insuficiente~ÇQ1D__lL
'"''' --..,

Colôni_<l_elll l 92~,,~le__ci_~Jarouq11~ ;_t s9ci()lggia não mais de\'~~i~ ser çop­

escala F, tal c\iscrepâpcia não podia eJCisti.'._1_~-~ªlª_F em si, pois ela fora siderada uma Geisteswissenschaft [ciência da cultura], pois o mundq, do_­

explicitamente concebida para medir tendências na p~r§OI)<lli_d<i.<:l_e__§_ub~­ minado pela reificação, dificilmente poderia ser. entendido.mmo';dgpd_o

.'copsciente. P.Q_r~_I1to'._<:l~ze_~gg_e_()s __egt_r_e_v:ig_ª9.Qs_m.11L.pontua'ião-bai,;;:;_ · de sentido". ''A tão aviltada desumanidade dos métodos empíricos", disse,

eram rígidos equivalia a dizer que a escala não tinha copseguido medir_ "é sempre mais humana do que a humanização do desumano." 115 Por con­

'sua rigidez, "estereotipia" e conformismo, ·osqgaJ:s er;Il1 traços fundamenc seguinte, os métodos da pesquisa administrativa deveriam ser usados, den­

·_tais da síndrome dos que tinham t1ma pÓntuação alta. Isso seria negar o tro de um arcabouço crítico, para explorar os fenômenos sociais. Embora

314 315
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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

a teoria não pudesse ser comprovada nem refutada pela verificação empí­
rica - esse era um dogma da teoria crítica que Adorno não se dispunha
a abandonar - , as idéias teóricas, quando traduzidas em indagações de
pesquisa, podiam ser imensamente enriquecidas. Assim, por exemplo, a
psicanálise fora significativamente aprimorada quando traduzida em in­ CAPÍTULO 8

dagações empíricas, embora, é claro, sua formulação inicial tivesse sido


POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA:

tudo, menos indutiva.


A CRÍTICA DO ILUMINISMO

Ao final da década de 1950, todavia, a atitude do Institut para com o


empmsmõ-passou porurna séffaliiVersão de ênfãSe:=osmétodos nor­
- ú<lmericàn9s tTverarnu!:ii. ExTfo exce~Slvo-funto aos cientisTaS-soc~ Se _po_r esclar~c~!!leI?:tC?:: e _p~5?S~.e~so j_r:~~Je<:,~g_al :r,ef~drn_o­
mães~ As~im, mais uma vez, a sensibilid;d~ d~a de Franl<fürtãõabli= ri6s a iibéttar o ho_mem _da _crençª__sJ,!p~r_sJ_icio,sª_e.m _for­
.. so reducionista da metodologia empírica~~i;)pªf.ªQQifü}~~i:(}j)_la~N; ças maléficas, em demônic)S é_.fadas, no 4estino ceg? ­
década seguinte, para sair por um momento da nossa cronologia, a socio­ ·em suma, se nos referimos· à -émancipaçãó -dO-ille"do :_,
·então a denúncia dO que é hoje __Ghª-.inado·de·razª.9.-é o
logia alemã dividiu-se em campos de metodologistas dialéticos e empíri­ \maior serviç,o q1:1e a.~~zão p9de prestar.
cos, em guerra entre si, e suas polêmicas evocaram comparações com a - · - Max Horkheimer
grande Methodenstreit [disputa metodológica] da era guilhermina. 117 Em­
bora o Institut e aliados - como Jürgen Habermas, da Universidade de _o.problema da descontinuidade talvez te_ri~.<i:si_<f.o_ci_<iil~ma ]!i_t_em_o çen­
Frankfurt - fossem os grandes expoentes da postura dialética, eles toma­ tral d_a teoria çrítica na é[éca<ladef§'4(f'ô lnstitut, convém lembrar, fora
ram o cuidado de evitar o repúdio generalizado às técnicas que o Institut · cri~do com a intenção de sintetizar um amplo espectro de disciplinas. Seus
havia manejado com tamanho efeito nos Estados Unidos. fundadores também haviam esperado integrar a especulação e as pesqui­
o verdadeiropro]Jl~lllª era como produzir a interação dessas técnicas sas empíricas. E, por último, tinham procurado superar o isolamento aca­
com uma abordagem realmente nÍÍica, giie ~nf.;:íi~i;;~_ o primado da teo­ dêmico existente entre a teoria tradicional e suas implicações práticas, sem
. ria: Já vimos que ess.e era mais do que \lP1.!ll~r9 d_il_ellla m~!()sJ9J{lglf();_.re_:_ por isso reduzir o pensamento especulativo a um instrumento utilitário
fletia divisões e contradições reais na sociedade como um todo. O sucesso de interesses polêmicos. Em suma, embora criticassem a in_suficiência do
dos Estudos sobre o preconceito, seria possível argumen-t;r: h;;;~ resultado, marxismo ortodoxo, eles não haviam rejt;itad.Q_Q ªm_]J_içioso proj.eto de
em parte, de terem evitado esse problema. Ílê análises do anti-s.emitismn . oiígem: a un_iãofil'laldàteoriacritlca corT;api:átic<i_r1'volu_ci<mária. Na dé­
em A p_et>Q1J_tJlidade_aut.o.rif4rw.~_em "Elementos do anti-semiti,sll,10" ­ 'cada de 1940, entretanto, a Escqla de Frankfurt começqu a ter sérias dúvi­
uma versando sobre a dimensão s~bj;;t;:;;;-;;-;;_;tra, ;;;-ais sobre o lado ob­ das sobre a viabilidade dessas sínteses. Seus interesses continuaram inter­
jetivo - nunca se reconciliaram realmente. Aliás, uma das razões de o . disciplinares, mas as mediações entre sua teoria, as pesquisas empíricas e
_projeto dêBe;k~i~;-~~r 1;g;<l;;-êJç(t-;;,:e11\J11:;!1t9:!i ~~j;~.Q~;ã~ de Ad~IJ1.~ a práxis política tornaram-se cada vez
mais problemáticas.
com Lazarsfeld fracassou, foi que o primeiro não se interessou pelo "espí­ Como vimos no capítulo anterior, os Estudos sobre o preconceito, até
rito objetivo" da sociedade moderna co~o-fe~ o ~~gii;:)<lü~~Quand-;;-a Es­ mesmo as partes mais maciçamente influenciadas pelos membros do
~~_de F~11_k_~spec~sobre essas_te1~dêncEs o~jetivas,--s~g;:. Institut, afastaram-se com freqüência dos _cl()g_Illas dateoria crítica, tal
Jl(\~t;_ico...era..efetiY!l,ill~!l_te__t;(_Jmbrio. Até que ponto, é o que veremos no
próximo capítulo, dedicado 'á.õ tf~balho teórico do Institut na última dé­ * O termo Aujklitrung pode traduzir-se por Iluminismo, esclarecimento, racionalismo ou
cada em que permaneceu nos Estados Unidos. explicação. Dialética do esclarecimento, porém, não se refere apenas a um período históri­
co específico, co1no o século XVIII, o chamado Século das Luzes, mas designa o processo
pelo qual o ser humano se liberta das forças míticas da natureza no decorrer da história
- o racionalismo que passa a prevalecer na filosofia e na ciência. [N.T.]

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MARTIN JAY •A IMAG!NAÇAO DIALÉTICA CAPÍTULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

como tinham sido articulados no Zeitschrift. De maneira mais_<)Q_'Ô1h.iL esperada revisão teórica. Sendo Adorno O((lfl1p_anheiro il1aisfreq~.nte.d.e.
análise do anti-semitismo em A personalidade autoritária díferiu signifi­ Horkheimer na Califórnia, o pensamento dos dois fundiu-se .,ai!lc:l-'1.ID<li>
cativarn~ll_te<:le sua equivalente na Dialéticaefo escla~~d;;,~mP~Asdi;~;e­ ao queantes. Emboraapenas;:,m-cle~seus-trãfiaThQ'steóricós da década de
pân~ias podem ser parcialmente atribuídas ao papel que estudiosos nã; -1940 _:_ a Dialética do esclarecimento - tenha levado o nome de ambos,
pertencentes ao Institut desempenharam no projeto de Berkeley, mas tam­ _os outros dois, Eclipse da razão e Mínima moralia, foram fortemente i~­
bém refletiram desdobramentos mais fu!ldame!l!ais nJLJ2.LQpJ'.ia-teQ~ fluenciados por essa colaboração.
O mesmo se deu com as novas incertezas na atitude do Institut perante 0 Ao contrário do amigo, Horkheimer nunca fora um escritgr psolífi~o
ativismo político. A medida que a realidade socialm11dalla, argumentaram e, nesse mÕmentÓ,pareceilsent!rdificnÍd;d~;ai;;da ~~l~res. Em 20 de
Horkheimer e seus colegas, .também deveriam. alterarc_SLos_sunstructos janeiro de 1942, escreveu a Lõwenthal que "a argumentação filosófica,
..teóricos gerados para c0 fl1preenAê-la. Com o término da guerra e a der, _ que perdeu sua base com a abolição da esfera da circulação, agora me
rota do fascismo, emergira uma nov~ realidade social que eidgi;J t1111anova-. parece impossível''. Embora, ao dizer isso, talvez estivesse distinguindo a
'resposta teórica. Foi essa a tarefa que se apresentou à Escola de Frankfurt filosofia tradicional e a teoria crítica, esta última também vinha se tor­
em sua última década nos Estados Unidos. Examinando as mudanças que nando cada vez mais árdua. "Estou começando a trabalhar novamente",
seus integrantes fizeram no trabalho teórico do grupo, poderemos com­ escreveu Horkheimer a Lõwenthal em 27 de novembro, "e isso nunca foi
preender melhor as fontes das descontinuidades que alguns observadores tão difícil quanto agora. Sinto que essa empreitada é quase grande demais
posteriores consideraram tão perturbadoras. para as minhas forças e, em minha carta de hoje ao P[ollock], relembrei­
Nossa discussão seguirá o seguinte procedimento. Começaremos por lhe o (ato de que até Husserl precisou de uns dez anos para suas Logische
explorar a mudança básica da teoria crítica, a nova ênfuSe~a-relaçãó sub::-· Untersuchungen [Investigações lógicas] e de uns treze anos até a publica­
·· jacente entre o homem e a natureza, A primeira pª.rte de
nossa apresenta­ ção de 'Ideen' [... ]:'Em 2 de fevereiro do ano seguinte, ele prosseguiu no
ção se centrará na crítica da Escola de Frankfurt ao que ela considerava mesmo espírito, acrescentando uma expressão comovente de sua sensa­
ser a relação predÓmina!lte durante a maiorparte da história_g_çiqe_i::1tal. ção de isolamento:
A isso se seguirá uma discussão da alternativa que.à Escokp;Ópós, inclu­
A filosofia é esmagadoramente complicada, e o processo é de uma lentidão
sive de seus componentes mais problemáticos. Depois nos voltaremos para
~-aepriüiêilte~-A-i~iéi~·-de- que-vo~Cê~~~~f~~-~~~~Pr~Ç~f§Jiii\. ci~ii~~-de -s11-à -r~zãC; <le
as ligações entre essa alternativa e a ênfase contínua d() Institut na racio~ _ser, pelq men~s com a meSma clarei? _qµ~ eu,_ s_~f.1:1PX~ §_igµiflço_u mais do qt~e
nalidade e no pensamento filosófico em geral. _Por último, exarrünaremo~ -um incentivQ: reforçou em mim o senthnento_de _~gl_~cf_axi_edade que Ça__ pr6:­
as _implicações da mudança da teoria para a atitude do Jnstitt1t.J?.erante_
práxis, a subjetividade e o utopismo. ... ·· ·· .
ª pria base do que estou fazendo; além de nós três ou quatro, certamente exis­
tem outros corações e mentes que sentem algo parecido com o que sentem
Embora a articulação dos noyo_s_e~mentos_<la_t"'®a.J:rítiqu_ó~te.nha os nossos, mas não podemos vê-los, e talvez eles estejam impedidos de se
expressar.
ocorrido no final da déca<;la deJ940, nos anos que antecederama gu~FEª
já Horkheimer havia. reconheçicl0 .a necessidadede.reQe11s_aralgumaSidéias A p reocµp_ação de JJo_tkbl'im_eLÇ,QEI1_~jso!_<!mento.de seu. pensamento
básicas da Esc.ola de Fra11kflirt. .Uma das causas de sua vontade-de.deixãr era justificada. O trabalho teórico que ele enfim publicm1 no_ final da d.é­

Nova York foi a impaciência com as responsabilidades institucionais que .. cada de 1940 ex:'e;~~uum imp~t(;mÍnimo, c()Jilparado ao dos Estudos so-.

assumira, as quais tinham impedido a assimilação e a interpretação do )re"à prec;~ceito. Escrito durante a guerra, Dialética do esclarecimento só

imenso volume de trabalho feito pelo Institut nos anos subseqüentes à sua foi publicado em 1947 e, mesmo assim, em alemão, lançado por uma edi­

posse como diretor, Já em 1938, ele lrnvi<Lexpr_e~s.ad.D• .s.u.a..il!l§ia,9~..C:.Cl_I!lec tora holandesa. 2 Eclipse da razão, que Oxford publicou no mesmo ano,

çar a trabalhar em um livro sobre a dialética _dp esclarecimento. 1 O dis­ apesar de acessív~l ao púbÍico de língua inglesa, foi recebido com pouco

. túrbio circulatório que lhe tornou necessário sair d~·N;;~-:Yó;í( também entusiasmo da crítica, 3 e o sucesso comercial foi ainda menor. Só na déca­

lhe possibilitou deixar de lado seus deveres administrativos e iniciar a tão da de 1960, quando a Dialética tornou-se um clássico da vanguarda e da

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

resistência na Alemanha - o texto circulou amplamerge_s;nu!mf! v:ersão_ massa, a Escola de fr.ankfu.rJ peg:o_rreg_Q último_trecho <ie_sualon_gª--mar,_
pirata até a republicação oficial, em 1970 - _e 0 ]]elipse foi traduzido_ p<\f<!_ "'cha de distanciamento do marxismo o~tgcJQi;:o._
ó alemão, como parte da Crítica da razão instrumental, de H 0 rkheimer,' é A expressão mais clariâessa mudança foi a substituição que o lnst_itut
.que esses livros alcançaram o público que mere_ciarn. Minima mor~lia, d.~ fez do conflito entre classes1 pedra angular de qualq11er teoria verdadeira­
· Adorno, não foi traduzido para o inglês e não teve nenhum impacto na - mente marxista, por um novo motor da história. 9 foco JlaSSOl.l_il. incidi_r
América do Norte. sobre o conflito maior entre ohomem e a na_turez<}, tanto externa quanto
f\ mudança crucial ocorrida naper:spectiva da Escola de Frankfurt e internamente - um co;,flito cuja origem remontava a uma época ante­
expressa nesses livros foi produto da última década de per111~rl_ênciª-. no~-= rior ao capitalismo e cuja continuação, ou até intensificação, parecia pro­
Estados Unidos. Por isso, ela é uma conclusão apropriada para o nosso es­ vável depois que o capitalismo chegasse ao fim. Alguns sinais dessa !lºVª-·
tudo sobre a experiência norte-americana do lnstitut. Seria injusto dizer ênfasetinham aparecido no debate de membrÕsdo Instítut so])re o fás-.
que, depois de retornarem à Alemanha, Horkheimer e Adorno pouco fi­ -~i;m;, durante a guerra. Par~ HorkheimerJ~_Qj)gck, Adorno e Lõwenthal,
zeram além de elaborar as implicações desses livros - o que seria espe­ :a dominação vinha assumindo formas não. econó~Í~~s, ca<l<i "vez m~is <li~
cialmente enganoso com respeito a Adorno, que continuou a escrever fu­ _retas. O modo capitalista de exploração passou a ser visto, em um contex­
riosamente, como sempre. Mas há um toque de verdade nessa observação. to mais amplo, como a forma histórica específica de dominação que ca­
pialética do esclarecimento, Eclipse da razão e Minima moralia apresenta­ racterizava a era burguesa da história ocidental. Q_qipitªlismQ.dJ' Estado
. ram uma crítica tijo rªdicªl e a~pl~~<láioci_edadee do pensaménto oO::­ e o Estado autoritário represe11tavarn o fim ou, pelomenos,.atransforma­
. dentais, que qualquer coisa que viesse clep_ois~§S\-pÕderia_ser uma es~cie . ção radíCà!des-sa erá. A dominação, argumentaram, era agora mais direta
_ele aclarnçã:g_<tdJc;jonal. Nem mesmo o trabalho posterior de Marcuse nos e virulenta, sem as mediações características da sociedade burguesa. Em
Estados Unidos, que está fora do âmbito deste livro, representou realmente certo sentido, era a vingança da natureza pela crueldade e exploração que
um desbravamento de novos campos, ainda que, muitas vezes, as nuances o homem ocidental lhe impuserà du~ante gerações. - - -­
tenham sido diferentes. Como vimos em diversas ocasiões, muitos dos . Olhando para trás, é possível vermos indícios desse tema em numero­
argumentos que ele desenvolveu em Eros e civilização, A ideologia da so­ sos pontos do trabalho.ânterior do Instftut, 5 ainda qúe em papel secun­
ciedade industrial e em trabalhos menores estavam contidos, em forma dário. Açlorno o havia empregado em seu _estudo sobre Kierkegaard, 6 bem
embrionária, em seus artigos e nos de outros autores publicados no Zeit­ como em alguns de seus escritos pré-Institut sobre a música. 7 _Vári()sªf9­
schrift. E outros mais apareceram nas obras de seus colegas que estamos rismos do Diimmerung' tinham atacado a cruel<lade contra os animais e
examinando neste momento. às premissas âscéticas d~ ética do trabalho, de um modo que antecipava a
_Ao chamar de "radical" a crítica deHorkheimer e Adorno, é preciso . Dialética. Lõwenthal mencionara a idéia liberal da dominação da nature­
entender essa palavra em seu s~ntido etirri()lóg:i:;:~~~Çbeg°ir}Eiz-(Losjí!_Q_::­ . za ao criticar o protesto distorcido de Knut Hamsun contra ela. 9 A discus­
blemas. Compreender isso é de especial importância, à luz da--crescente são de Fromm sobre a cultura matriarcal _co11.tivern..i!..füic!ª§_e:X:Plí.c_ita.s
desconfiança da Escola de Frankfurt em relação ao que se fez passar por quanto-à dominação exercida sobre as mulheres na sociedade patriarql,
política "radical" em anos posteriores. Paradoxalmente, à medida_ q11e a que era facilitada pela équiparação da feminilidade à irracionalidade
teoria se tornou mais radical, o Institui~~ viu eada yez menos capaz de_. natural. 10
encontrar uma ligação com a práxis radical. As desalentadas esperanças Talvezda maneiramais cla.ra,_esse tema viera à tona na Habilitations­
de Horkheimer em um ensaio escrito durante a guerra, "O Estado autori­ schrift de Horkheimer, As origens da filosofia burguesa da história. 11 Nesse
tário': logo deram lugar a um desânimo mais e mais profundo quanto às texto, Horkheimer havia relacionado diretamente a visão renascentista da
possibilidades de mudanças significativas. D_<,'Siludida com a União Sovi~­ ciência e da tecnologia com a comunidade política. A nova concepção do
tica, já nem sequer rn<trgi11!l!m_e_nte otimi{ta_;l"_espeli:odas clas:~;~:lr;;J;a, mundo natural como um campo de manipulação e controle humanos,
. _lhadoras do Ocidente e estarrecida com o poder integrador.da culturade. afirmara, correspondia a uma idéia similar do próprio homem como ob­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

jeto de dominação. O_el']Joente mais claro dessa visão'-a se\lver, era M.a> legado do dualismo cartesiano no pensamento ocidental.A ênfa~_e__d~.t~()­
quiavel, cujo instrum"êlltalis;n(}põTífic()fóra Ü~~dQ pàra.a ascensãQ c!oJOs~­ riacríticana não-identidade nunca significou umaseparação absoluta en­
'tado
'
burguês. Por trás·-----.---
~,
da política
··-' --- -
de Maquiavel,
. ' -·
sustentara Horkheimer
... ---·-----..-·-·--·----- --- "- .. ------·-----··----t
e
tre s~JeÍto Õbjéfü:-tal separação, ,;-ri;;;~; ~ Es~ol-;; cl~ Frankfn;:t~estava
estavam a separação não dialética entre o homem e a natureza e a hipós­ ligada às necessidade~ da ordem capitalista em ascensão. "Descle.De;~ar~
tase da distinção entre eles. Com efeito, argumentara, opondo-se a Ma~-­ 'tes': escreveu Horkheimer em "Razão e aütopreservação", "a filosofia bur­
quiavel, a "natureza" dependia do homem em dois se11tidos: a civilizaçto guesa tem sido uma tentativa contínua de fazer o conhecimento servir aos
.. a modificava, e o próprio conceito que o homem fa:zja_<lel;u;g4\terava. Po;~· meios de produção dominantes, interrompida apenas por Hegel e outros
isso, a.história e a natureza não se. opunham de_for111a ----
iri:e<:Q!lciliáyel,_ ---
como ele:' 12 Antes da guerra, esse tipo de ligação entre subestrutura e su­
Mas não eram inteiramente idênticas. ]-[obbes e ()S_E_e_!l~~~-ores pos­ perestrutura· foT;;m 1r.;çõ ifÇqÜ~11te dotr'1l}afho da f'~(:c))ª:di !iiilllk:fü;i.
~
teriores do Iluminismo
. haviam
--- -- - assemelhado
. . o homem). natÜÍ:e-za.dê
__ .,.----·----.. __,_ .. ___
,. ., ' - -
~--­
· Mesmo nessa época, porém, a relação exata nunca foi esclarecida. 13 Fazê­
um modo que transformavao ser_~umanoem_obj_eto, do mesmo modo lo era especialmente difícil porque, em diferentes épocas, racionalistas ma­
que a natureza tinha sido objetificada na nova ciência. Aos olbos deles, o terialistas como Hobbes, empiristas como Hume e idealistas como Kant
homem e a natureza não passavam de máquinas. Como resultado, a s~-::­ foram vistos, todos eles, como servindo ao sistema capitalista de um modo
. posição de que a natureza se repetia eter11ar;:;~!1te fora projetada sobre 0 ou de outro. Em meados da década de 1940, a teoria marxista tradicional
homem, cuja capacidade histórica de desenvolvimento, tão estreitamente da ideologiafolãplicãdademándra ainda mais tênne no trabalho c!Õ
ligada à sua subjetividade, fora negada. Ap_e_sar de todas as S:tJ3s_i11_~e115éi_eL 'Iristitul.Comõ)á assin-aiamos, o ~apítulo sobre o anti-semitismo na Dia­
progressistas, essa visão "científica" do homem implicava o eterno retor­ . /ética discutiu suas raízes pré-càpitalistas arcaicas de um modo que Marx
no do presente:- - ----·- ----------- -· · -·- ... - .. · ·· ......--~------··--- -~­
teria rejeitado. Na verdade, a idéia de Iluminismo sofreu uma mudança
_Isso gão..<!contecia,~.ll.tret_<!Jit()JSQQI..'1 fig_l!~.a_l'sco lhida .por Horkheimer fUnclamentaI na década de 1940. Em vez de ser o correlato cultural da bur­
para encerrar seu estudo das modernas filosofias da histórla:GTambattis- · ··guesia ascendente, ela foi ampliada de maneira a abarcar todo o espectro
_·ia Vico. O ataque de Vico à metaÍísicà·c~;tesi~;,;~ à idolatri~-~;;;c~nt~d~­ ·do pensamento ocidental. "Iluminismo, aqui, é idêntico a pensamento
matemática o distinguira de seus contemporâneos.__() mesm0 fi:;oera sll<l.
burguês, ou melhor, pensamento em geral, uma vez que não há outro pen­
. compreensão de que o homem,_criadorda história, godia_conhe<:ê-la Ill~
samento, propriamente dito, senão nas cidades", escreveu Horkheimer a
lhor do que o mundo natural. Vico também havia transcendido as limita­
Lõwenthal em 1942. 14 Erf\ Eclipse da..ra;!:aQ, ele chegou ao ponto de dizer
ções da interpretação iluminista da origem dos mitos, os quais via menos
_que "essa mentalidade-clÕ homem como senhor [que era a essência da vi­
como truques sacerdotais do que como a projeção de necessidades huma­
são iluminista] remonta aos primeiros capítulos do Gênesis". 15
nas na natureza. Ao defender essa tese,_Vico se antecipara à visão marxista..
Portanto, embora Horkheimer e Adorno ainda usassem uma lingua­
posterior da ideologia. Assim, apesar de sua teoria cíclica da ascensão e
gem.rei:nillisceriie do marxismo _:_ expressões como o "princípio da tro­
queda das civilizações, que se assemelhava à de Maquiavel, ele ~--~_11g_t1la~
ca"" desempenharam um papel fundamental em sua análise-, eles já não
_rizara por ver que "aJiYiclade~ll_rn<l!lª ~ra"Sh'1\!epag_sg_c0Q1Pi:<'ellc:lero __ buscavam respostas para as perguntas culturais na subestrutuÍ:amaterial
. desenvolvime11t9 lli~t.él~ic(). Vico havia entendido que a práxis e a domi­ da sociedade. Na verdade, sua análise do princípio da troca como chave
nação da natureza não eram a mesma coisa. Embora§eparasse 9..hm:nem. para a collipree.nsão .da sociedade ocidental lembrou tanto a discussão de
• e a naturez<h.tel<=..OJ'~eera de um moclQ_gue
----·~---
evitava colocar um_.ªcim;Ldo ..
·---~---------~--­
Nietzsche na Genealogia da mora/17 quanto a de Mar_x em O capital.
outro. Ao insistir na subjetividade do homem, preservara a potencialida­ Além disso, a Escola de Frankfurt não só deixou para trás os vestígios
de da subjetividade também na natureza.
de uma teoria marxista ortüdoxaclaicleologia como tarnbéITi, implicit~,
Em escritos posteriores, _Horkheimer gastou pouco tempo com Vico,
'mente, incluiu Marx na tradição iluminista. 18 A ênfase exagerada de Maq:
mas continuou a partilhar a crítica qÜeoteói:ig,},~l[.;;;;fe'z Il~minis­
elo na centralidade do trabalho como modQ dLá.Üt.o~i:eaJiiaÇão d9 homem,
rng. Em seus ensaios no Zeitschrift, muitas vezes ele criticou duramente o
que Ho;khelrllérjá Fiãvlãqüesti;J;;ilc!;;-~~ Dammerung, fçiiª razãoprimor- .

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MARTJN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 8 •POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

dia! dessa argumentação. Implícita na rsdl!ÇiÍ() d<)J1C)mem 1Lrnnsliç.?_o_g~ tinomia. A tarefa da filosofia não é jogar obstinadamente um contra o ou­
·animal laborans, 19 acusou', estava a reificaçãod;1 natl!Ie~ c()rn() ǪrnPo _da tro, mas fomentar uma crítica recíproca e, com isso, se possível, preparar
·exploração humana. Se as coisas foss~m cÕ~o q~~ria Marx, o mundo i~--­ no âmbito intelectual a conciliação dos dois na realidade."
teiro seria transformado numa "gigantesca oficina". 20 Qs pesadelos tecno­ Essa era uma esperança que Weber, corn s.rns~jjcisrt)o !leQKª-ntiano ª­
lógicos repressores perpetrados por seus. autoprodamad9~§~ggid°C>r':S-;J.õ respeito do caráter irreconciliável que marca a ~~ª()_p_r~!i~_e_ai:_ª~~o teó_:­
;éculo XX não podiam ser inteifamente dissociados da lógica intrí11;ca 'rica, não poderia sustentar. Mesmo reconhecendo a substituição do que
·do trabalho do próprio Marx. chamava de razão "substantiva" por seu equivalente formal, .,Weber não
podia contemplar a possibilidade de sua restauração._A "racionalização"
Marx, é claro, de modo algum foi o alvo principal da Dialética. Hork­ ·ao mundo rriodefnà pretendia SCf entendida UUicalliente em Urt)_Sentido
.h~imer e Adorno eram muito mais ambícfosos. foc!a-atrac!íção iJJ.l~ni;~ . não-substantivo. Ao contrário de alguns de seus contemporâneos mais ro­
. ta - o processo de desmistificação supostamente libertário que Mâx mânticos, Weber não tinha a esperança de fazer retroceder o relógio, mas
Weber havia chamado de die Entzauberung der Welt [o desencantamento
era evidente que acolhia o desencantamento do mundo com pouco entu­
do mundo] -_era o verdad_eiro alvo. )'Jesse ponto, eles segl1iram Lnká_ç§
·siasmo.
em História e consciência de classe, onde a idéia weberiana de racionaliza­
E o mesmo se aplicayª, é__cl<mi,à Escola de FnmkfurtNa verdade, ela
-ção recebera uma crítica mais incisiva ao ser vinculada ao conceito <Íer~~i:
estava ansiÜsa por mostrar quão pouco "racional" o mundo realmente se
ficação. 21 _Horlg)~.ime.csempre fora um interessado leitor de Weber. Em
-tornara. A razão, como frídicava o título do livro de Horkheimer, estava
"Razão e autopreservação", adotara para seus próprios fins a análise bási­
em pr~~esso de eclipse. o próprio Iluminismo, a despeito de todas as suas
ca de Weber em A ética protestante e o espírito do capitalismo. "O prot_es­
alegações de haver superado a confusão mitopoética pela introdução da
_tantismo", escreveu, "foi aforça maisvigorosa na ampliação da individua­ análise racional, tornara-se vítima de um novo mito. Esse foi um dos te­
.::r
.· li<lâdé&iâ-e raciül.la!.[ JiillIUgar dotralJaili.ü émprõi<l~ sâl~ação 81.lrgi;:, _
Na rafr
mas principa.is dà f)íál'ética. doprojetÕ de do;;;in;ção ilu111i11ista,
o trabalho pelo próprio trabalho, o lucro pelo lucro; o mundo inteiro tor: . . acusaram Horkheimer e Adorno, havia uma versão laicl:Zadada crença
nou-se simplesmente material. [... ] De Leonardo a Henry Ford, não há iiJigi 0 $f;_d~ queDeus ZontroÍ~va o ;;;undo. Como resultado, o sujeito
outro caminho senão o da introversão religiosa:'" O irracionalisnw. teo.: humano co~fr.-01.ltava o objeto natural como um outro, externo e inferior.
lógico de Calvino, acusou, continha "a argúcia da razão tecnocrática"." 'O animismo primitivo, apesar de toda a sua falta de consciência de si,
Enquanto Weber enfre.!lJ~vaessep_i<)Ç_~S§.9 com est_óica resignação, ª-· havia ao menos expressado uma consciência da interpenetração das duas
. Escola de Frankfurt ail1da mantinha <i~J;>ê'_an'21_ de uma interrupção n_Q_ esferas. Isso se perdera por completo no pensamento esclarecido, no qual
continu_urn da história. Isso ficou ffiâis evident; nÕs-primeir~â~Õs da dé­ o mundo era visto como composto de átomos fungíveis e inertes: "O ani­
-cad~ de 1940 - mais uma vez, o "Estado autoritário" deve ser menciona­
mismo havia espiritualizado os objetos; o industrialismo havia ob)etivado
do como seu ponto culminante-, mas não esteve totalmente ausente de­
Os espíritoS~" 25
pois da guerra_. Talvez a principaLfonte.desse. .oJimismo_precavido.fosse.a
. O pensamento conceitua!, pelo menos no sentido hegeliano, havia pre­

. crença residual na validade_ ú)tima __da-Vemunft-[razã_oJ,_(jlle persistiaJ1;1_


servado a sensibÜicl~cle p~illiitiva às mediações entre s1ljeit<)egbjeto.

. teori<icríti~~. ~'!"1iífcQ!ILQ.já foi_;issi@ladg,_significava a conciliação das­


A palavra alemã Begriff[conceito] estava ligada ao verbo greifen [apreen­

c~tradições, inclusive da que cindia o homem·~-~-;;-:it;:;reza.Ape-sar de


der]. Portanto, os Begriffe eram conceitos que tinham uma apreensão ela­

desconfiar das teorias da ideníi<lâ<le absolu!a;Bü~khei~e~~e seus coleg~s


. ra de seu conteúdo, incluindo momentos negativos e positivos. Uma das

_enfatizavam~ impor_tância__ d_<1"rª;::_ªo.objeti'1'a"çgrri9m1tídQto.à.asc~11dê11­ grandes distinções entre os homens e os animais era a capacidade de os

cia unilateral da "razão svbjetiva''jnstrum.~ntalizada. "Os dois conceitos primeiros pensarem conceitualmente, ao passo que os últimos não podiam

de razão", escreveu Horkheimer, 24 "não repres~ntam dois caminhos sepa­ ir além das percepções sensoriais imediatas. O sentimento humano do eu,

rados e independentes da mente, embora sua oposição expresse uma an­ de uma identidade ao longo do tempo, era produto de_ssa capacidade~çon1

324 325
CAPITULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

_ce~,':'abql!e,;l~.<lrc~va_tanto.o_p()te11<:ial q[l_illlt()()f~l J\j)rin~iJ:lil.l tendência fala divina. Para Benjamin, a lógica f()i:mal era_a barrei,raq11e§"R·'1!:ª-"ª·ª
.epistelllol<)gica d()}l!l!Ilit1isJ1lO,_".ntr~!<J:11t(), era a substituição de. co~ língua do Paraíso e sua corres2011d_e11teht1mana. Q. ho111em t~nd1: .ª dar
por fórmulas, as quais não conseguia!tl ir além<:!() iinedi.<ifü.ill() 11_ã9 ~ às coisas nomes em demasia, por meio de abstrações e gen~a]1zaçoes, Nª
tico. "Os conceitos, diante do esclarecimento'; escreveram Horkh;i~-;-; -~erdade, era "tarefa do tradutor libertar, em sua.própria língu_a, alíngua
Adorno, "são como rentistas diante de grandes monopólios: nenhum de­ ·pura que estava enfeitiçada por outro, libertar a língua aprisionaga_e111
urna obra, em sua recriação dessa. obra". Similarmente,-~ fünçãodo
29
les pode sentir-se seguro." 26 Ademais, a ênfase exagerada do Iluminismo
no formalismo lógico e a suposição .de que todo.. pensamento ;~~<lã<l,;J-;.0 ·crítico da culturaera recuperar a dimensão perd~~a <:l.'1J<>.l<!.sl~.P_e11_ª,
· ~endia para a condição das matemáticas significavaquea r,;petição e~tári: -m.ediàrÍt~ a decodificação hermenêuiicã ·das.várlás- aproximações inferio­
ca do tempo mítico fora preservada, frustrando a possibilidade dinâmica ­ res do homem.
de desenvolvimento histórico. ··-······­ A busca de uma linguagem pura por B~n)all1in tinJi<i!<liz_es, Cº!Ilº Qbc
_O que havia de particularmente desaSlrQSQ era() e.fei~()_<:l~_<:l<l.Illil1.<l.Ção seivamos, em sua imersão rÍomisticlSmo j_l14ajc_o. Talvez também refletis­
iluminista da natureza sobre as interações dos homens. Ao elaborar essa se a influência da poesia simboíista fr.áncesa, que ele conhecia bem._ No
. tese, Horkheimer e Adorno deram contin~idaCf~:à~!irÍhad;p~~;a~~~!;;­ ensaio. de. Benjami11 sobre a. tradrn,:ão, ele. citou as palav_r~~ de.Jvlall_ar_rné
~xpressa num artigo deMarcuse, ''A hita contra o liberalismo na visão to­ ao .ãfirmar- q~e "a diversidade de idiomas na Terra impede que todos enun­
talitária do Estado"." O totalitarismo era menos o repúdio do .l.iberalismo ciem as palavras que, de outro modo, de um só golpe materializariam a
• 31 'd
e dos valores iluministas do que o resultado da dinâ~ic; i~~rín~~~a-des- ­ - verdade".'º Por fim, como afirmaram alguns comentanstas, o res1 uo
tes. _O pri11<:ípio da troç<l,_subjacente à idéia iluminista da nature;a· co~-;­ ·subterrâneo do pietismo suabiano na tradição idealista alemã talvez tenha
átomos intercambiáveis, encontrava um paralelo n~ atornizaçãQ cr.e§f.".Il!.~. surtido efeito em suas teorias lingüístícas. Quaisguer que tenham sid~_as
. do homem moderno, processo que culminava na igu_aldade repressora do . origens, é importante coinpree11?er que Benjamin eshva muito r:1~isjn­
. totalitarismo. A manipulação instrumental da natureza pelo homem le~-· , têiessadõ iiãs-:f1~fávras...do_que na estrutura da frase como texto d1vmo, o
'que-toi~~-difícil chamá-lo de "estruturalista avant la lettre", como o ro­
32
vava, inevitavelmente, a uma relação de mesmo tipo entre os homens. Na
visão iluminista de mundo, a distância intransponível entre§l1ieitQ eQR.~.. tularam algumas vezes.
jeto correspondia .à situação relativa de domina<fqre§ LQQminados nos Adorno e Horkheimer, embora evitando os alicerces conscientemente
. Estados autoritários mod~rf1()S.A objetificação do mundo ha-,;i~ p~~d;;;~­ te~lógicos da teoria benjaminiana da linguagem, aceitaram a idéi.a de que
do um efeito similar nas relações humanas. Como assinalara Marx, ainda a fala "pura" fora corrompida. 33 "A 'filosofia",_ escreveu Horkhe1mer ei:i
que restringindo isso a um efeito do capitalismo, o passado morto domi­ Eclipse da razão, "é o esforço consciente de tecerctodo o nosso conhec'.­
nava o presente vivo. '·:rnento e discernimento em uma estrutura lingüística em que todas as co1­
.sas sejam chamadas pelos nomes corretos:'":'!11to_cla~los()fja_~lltêI1tic~,
.Tbdas essas mudanças se refletiam m mais básica das criacõe.s culturais, · prosseguiu, o conceito de verdade é "a adequação entre os nomes e asco'.­
. a linguagem. Como vimos, Walter.Benjamin sempre tivera ~m agudo in--­ sas"." Mais uma vez, o tema da conciliação da Vernunft achava-se na raiz
. teresse pelas dimensões teológicas da faj_a. 28 .Na rniz de sua !e-;) ria da-Jií.1: ºdo impulso utópico da teoria crítica. .. .
guagem estava a cr~nça de que ómu;dQ fQrncriadg pela p11l~v;~ g~~D;u§. · Porém, ao enfatizá-lo em seus textos da década de 1940, HorJ<l:ie1m.~r e.
P_ara Benja!tlin, "no começo era o Verbo" significava que o ato de criação. Adorno não estavam abandonando a recusa de nomear ou gescrever o
de Deus consistia, em parte, na atiíbuição de:Uomes. Essesnomes, éd?JQ,_ "outro", a qual, como vimos, foi uma das premissas centrais da teoria crí­
. eram a expressão perfeita de seus objetos. Mas o homem, criado àima,:_ tica desde o começo. Na verdade, sua relutância em fazê-lo foi coerent_e
gem de Deus, também tinha o singular dom denomear. Só que ~~~1s no­ com o tabu judaico c~ntra a enunciação do sagrãáo. Os judeus nãochac
mes e os de Deus não eram os mesmos. Como resultado, desenvolvera-se mam Deus por Seu nome correto porql1e fazê-lo seria premat11ro: a era
um abismo entre o nome e a coisa, e se perdera a adequação absoluta da . ºmessiânica ainda não chegou. De modo similar, a má vontade da Escola

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326
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALt.TICA CAPÍTULO 8 •POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

de Frankfurt em esboçar urna visão utópica refletia a convicção de seus


Também de outras maneiras, a epopéia de Homero - ou, mais cor­

membros de que a verdadeira reconciliação jamais poderia ser alcançada


retamente, mêt;;<l~- ~popéia mítica: ~;tade prÕto~-rÕrnance racional ­
apenas pela filosofia. Corno argumentara Marx, o "reino da liberdade" não
havia antecipado os grandes ternas do Iluminismo. E](~pl()_d_i_~foi _Q

podia ser contemplado por homens que ainda não eram livres. Até que as
c;éCõnh~cirr;éD.tO'd~ que a abnegação e a renúncia eram o preçQ <!<lraciq­
condições sociais sofressem urna alteração drástica, a filosofia teria um
-naHdâ<leS'ubj~tiya:-como observamos no capítulo 2, ao discutir "O egoís­
papel limitado a desempenhar: "Ã medida que sujei_t()_e()]tieI~J'alavra e
-nio e o ~Õ~imento pela emancipação'', de Horkheirner, "Sobre o hedonis­
...coisa não podem integrar-se nas condições atuais, sornos]e_y~dos~
mo'', de Marcuse, e outros exemplos do trabalho anterior do Institu.t, ()
. princípio da negação, a tegJaues.gatilr verdades relittJyas do nauf_nígio.clas.
ascetismo, em todas as suas formas, era u_rn alvo freqi,iente c:k..crític_as. Na
. falsas verdades últirnas." 36 Adorno, na realidade, havia criticado Benjamin
~bialéiiéa, à áíticatoíampíia<la.: "A história da civilização é a história das .
por sua tentativa teológica de chamar as coisas pelos nomes verdadeiros,
-ÍntroversÕes do sacrifício; em outras palavras, a história da reriúncia:''º De
encarando-a corno urna combinação de magia e positivismo. "J:~fJ'.LQ!IlÍ­ -fato, a negação inieial da unidade do homem com a natureza. estava na
. tulo referente à indústriil cul_tu_ral naj)ialétim,ele e Horkli<;ime.rJ.csaram
raiz de todas as inadequações posteriores da civilização. _J\_Q_~~s~ª-~.11~~
. a mesma combinação de opostos aparentes par~ :d_~!l.~~-~~~-aÜDgu~g~IB­ 'urna profusão de exernl'_los claros da relação intrínseca entre a abnegação
ideológica e instrumental produzida pela cultura de rnassa. 38 A negação, e
é aãntopreservaçã;;-~o ie~;~~e~to ocidental: a recusa de Ulisses de co­
não a busca prematura de soluções, era o verdadeiro refiigio da verdade.
. rner as sementes de lótus ou os bois de Hélios, o fato de ele só se deitar
De fato, a maior falha da mentalidade iluminista nãoera a incapacida­
com Circe depois de lhe arrancar a promessa de não transformá-lo em
de de criarc;~di-çõ~;~oci~ls em que o nome e a c~is~pµd~~;~~e~l;gi:_
porco, ou o de _se amarrar ao mastro do navio para evitar a sedução do
· . tirnarnente unidos, mas a eliminação sist~ni.áticada negação na linguagem. ­ canto das sereias.
_Era essa a razão por que sua substituição de fórmulas por conceitos aca­ '.. Para Horkheirner e Adorno,_ este _i'.il_ti!11Q ~pisódio esta;:_aespecial!llente
. bava sendo tão destrutiva. A filosofia do Ilurriigis111g_fi;:;Lm:~PJ2llderant;~­
car;~g-;;:do.4S~~ntf<ÍO filrob_óüÇó:,-, Os .Q.ll_\'~do.srnarinheiros de Ulisses
rnente nominalista, em ve-~ de.realista; no se_ntic!o.. de Benjamin,__elaJ.ecP_:_
{Õ~arn tap_a~dos__C()lll_cera, parairnpedHgs de ouvir as sereias. Tal corno os .
nhecia apenas a fala do homem, ignorando a de Deus. O homem era o
· trabalhádores modernos, eles recalcaram a sati_sfação pa_ra continuar a la,
·único doador de nomes, num papel comensurá~~! co1TI sua dominação da
· buta. Ulisses, por sua vez, não era trabalhador e, por isso, podia ouvir o
natureza. _Com isso, a linguagem se tornava unidimensional, para usar o
'~a~o, mas em condições que o impedissem de responder à tentação dele.
termo posterior de Marcuse. 39 Incapaz _de expressar. a negação, .ela. i;Ln;íQ.
Para os privilegiados, a cultura continuava a ser "une promesse de bonheur"
conseguia verbalizar o protesto dos oprirnid0 s. Em vez de revelar senti­
[urna promessa de felicidade] sem possibilidade de realização. Nesse pon­
dos, a fala pass_a.r.ª-ª nã_o ser nitdª.filém_d_e_JJniin§!EJE!!ento das.fur.çaLdP.::.
to, Ulisses vivenciou a separaçãoentre a esfera ideal ea esfera material que
, minantes da sociedade.
era característica do q~e o Institut é:hãmavade "culturà ãfüínativà". . .
·• Ãsantecípa~õ_es_<lês_s~_c1eclí_nio da__ liJ1guag_eEJ1e.\ficleI1ciayª·!1l-:Se 11g<:!Q::._
ª
De maneira ainda mais fundamental, versãode_ raci()nalida_de_c:if..
curnento cultural que Horkheirner e Ador11:0 optar_.i111 po_r~~tJJdau19_pri-_
Ulisses foi um prenúncio agourento do <:!115'.~sta.y_a_p.Qr:Yir, Ao lutar coritra_
. rneiro de seus dois excursos na Diaül;J'a- a Odisséiq de Horn~ro. }\_peça
a dominação nütica do destino, ele foi forçado a negar Sl(a união cow o
. p_refl_ada por Ulisses11oc_i_~~º2~'ªº chamar asi 111es'!1o(!e ''J'iiI1_fll1érn''., foL
focfõ.}>()rnecessI<lâ<le, teve de desenvolver urna racionalidade subjetiva
também urna negação de sua identidade, o que, para a mente primitiva e
·particularista, a fim de garantir a autopreservação. Tal C()!l}O_RobinsPn.
·pré-esclarecida do gigante, era igual a seu nome. Em última instância,
Crusoé, ele era um indivíduo atomizado e isolado, vivendo_de seus recur­
contudo, a peça foi pregada em Ulisses, já que o homem ocidental efeti:
sos mentàis em um meio hostil. Sua racionalidade, portanto, baseou-se na
. varnente perdeu sua identidade, pois a linguagem capaz de conceituação . e 1
trapaça na instrurnentalidade. Para Horkheirner e Adorno,Ulis~es era o .
e negação foi substituída por urna ling11a.gen1 capaz apen~s ~e agir coll'Q~~~ protótipo de um modelo dos valores ilurnínista.s - o moderno home:rn
instrumento do status quo. econômico". Sua jornada traiçoeira antecipou a ideologia burguesa do ns­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA CAPfTULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

p!ícita a tíj)ica.dorni11aç~g_i1~1rninista_d.a.!1'1~~.i:~z~_,_ _D.as.111ulJ:ieres, J:Ç?\!Zic.


43
co como justificação moral do lucro. Até seu casamen.to com Penélope
envolveu o princípio da troca- a fidelidade e a renúncia dalllulhera§eu; -aâsà sua função biológica, roubou-se a sub1et1v1clade. O culto eclesiast1co
pretendentes durante a ausência de Ulisses, em troca do ..retorno dek · ·~ 'da Virgem Ma~ia, que f~r~ {1ma concessão parcial ao calor e à reconcilia­
· Todavia, apesar das importantes prefigurações do Iluminismo na epo­ . ção matriarcais, era, em última análise, um fracas~o ..os j,ulgªJI1"1Jt(l§PsS
péia de Homero, ela também continha um forte elemento de nostalgia«:!() bruxas no início da era moderna foram muit~)J1!<US S!!IIQ.9\lC:()§ c:la atitude
lar, de desejo de reconciliação. O lar a que Ulisses tentava retornar, eu:···~ -Üuministaimplícit~ perante asill"ll!heres,,\ç!espeito de seu apoio aparente
tretanto, ainda estava alienado da natureza, ao passo ql1~ ª· Ye.rclad~~~­ à emancipaÇão dela~:,kbrutalidade flagrante de Sade foi apenas o exem­
nostalgia só se justificava, como sabia Novalis, quando "lar" significava n~= .plo mais óbvio do que era um fenômeno muito mais difundido. Na ver­
tureza. No excurso seguinte da Dialética, "Juliette, ou esclarecimento e mo­ dade, o sadismoiluminista em relaçãoao ''sexo fraco~'.":!ltecipgu a eles~
. ral", Ho~l<hciffie; e Ádoiii·o-exãminaramos''reiornÕs"distorcÍdos ànatU­ truição posterior dosjudeus _: a mulher e~ JUdeu eram identificados C_()m
·reza, que fluíam como uma corrente subjacente por todo o ÜuITiinism;;:-­ a natureza como objetos de dominação,
.Nesse pon!o,..ret.o.r.r!(). s.iB11ififAYj].,.ffi.\1Í!.<!LY.ezes, A.Yingança da natureza A vontade de_,poder, de Nietzs.;;he, !liilii.r:n como_ojmp_eratiyo cat~órico,
.embrutecida, fenôme!lo g!1Krnlwinar<1..rnL1?.arbáriuio..sé.culu.XX.. O tra.:­ de K~nt,°pr~figurara;;;~s:;~_d_e~~o!Jr~rn."llt:.o,. aoJJQ.stularem ": im!e_l'enciê_n_­
balho anterior do Institut sobre o pseudonaturalismo fascista - especial­ cia d~ hofl1.e~- effi"relação às forçasexternas. Sua arrogância antropocên­
mente o ensaio incisivo de Lõwenthal sobre Knut Hamsun - proporcio­ trica também esteve n~ base da.idéia kantiana de "maturidade", que era
nou um pano de fundo para essa discussão. uma das metas primordiais do Iluminismo, tal como Kant o entendia.
Mais urna vez, Horkheimer e Adorno frisaram a continuidade entre 0 O homem como medida de todas as coisas sig!1ificava,_!g_1rim~ç.ame11te,o
liberalismo·burgu"ês, nesse caso ;i~bollzadopor I<?11t, .~ ototalÚarismg,~­ ·homem co-;:;.,o senhor da nat;;~~~a.~Pa;;<loxalmente, .~.ênfase exage!ada na
aqui prefigurado por Sade e, em certa medida, por Nietzsche. Q esforçQ.. autonomia humana levara à. sllbmissãõdo1iomeiil; à medida que o desti­
kantiano de alicerçar <l ética uni.camenK.na..racionalidade.p.rátíca,.~ ~º da natu;e~~ ;~t~r-n~~; o dele próprio. O fascismo, na verdade, usara a
maram, redundava em fracasso. O tratamento iluminista da natureza ­ revolta da natureza reprimida contra a dominação humana com o sinis­
e, por extensão, dos homens como objeto estava fundamentalmente de tro propósito de alcançar essa mesma dominação.44 A do_inlnação ern l!ill
acordo com o extremo formalismo do imperativo categórico, apesar da sentido bem podiavirar-se no sentido inverso; o verdadeiro "retorno" .à
injunção kantiana de considerar os homens como fins, não como meios. natureza era muito diferente do pseudonaturalismo fascista ..
Levada ao extremo lógico, a razão calculista,.instnimental e formal con- .. Ao desenfatizar a autonomia completa do homem, poderíamos aqes­
duzia aos horrores da barbárie do século lQC Sade fQi_lllll<l c!;is paradas centar érifre pafênteses, Horkheimer ~ Adorno foram fiéis à recusa de
temporárias no caminho. Sua História defuliefte (oi o modelo da raciona· definir uma antropologia positiva, recusa que havia caracteüzado.a.teoria
Üdade funcional_: ~enhum órgão ocioso:~~nh.um orificio-desdenh;&. crítica desde o começo. Esse projeto, eles pareceram dizer, implicava a acei­
"Juliette faz da ciência seu credo. [... ] Opera com a semântica e a sintaxe . tação da centralidade do homem, o que, por sua vez, diminuía o mundo
lógica como o mais moderno positivismo; contudo, diferentemente dos natural. A teoria crítica, a despeito de toda a insistência num padrão pelo
empregados da administração mais recente, que dirigem sua crítica lin· qual fos~e possível medir as irracionalidades do mundo, não era realmente
güística sobretudo contra o pensamento e a filosofia, ela é filha da luta es­ um humanismo radkal. 45 Portanto, o interesse de Horkheimer pela re­
clarecida contra a religião."42 Os outros livros de Sade, como Osl20dias ligião, que veio à tona em anos posteriores, não foi um desvio tão fun­
de Sodoma, foram a cínica i~agemlnvertida do ;Is.i~mi:;ixquit~.Ô~ic; d~· damental das premissas de sua obra anterior quanto poderia parecer à
Kant. Outros, como Justine, foram a epopéia homérica, retirando-se dela primeira vista.
·.os últimos vestígios da mit9logia. Ao sepàrartãoimpj;;:c~-;;-~lment~Õ·Jadõ
espiritual e o lado carnal do amor, Sade elaborou as implicações do dua­ No restante da Dialética do esclarecimento, Horkheimer e Adorno exa­
lismo cartesiano. Além disso, na subjuga@() cru~L<ia.§.11!.Ufüeres estava imc minaram o desenvolvimento do espírito iluminista na indústria cultural e

330 331

'
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPfTULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

_no anti-semitismo moderno, assuntos discutidos em capítulos anteriores. Horkheimer e Adorno deixaram claro que, em si,a natureza não era
No fim do livro, incluír~m algl111saforis111_')_sso~etemas tão díspares . b()~ .neiPmá~Àlém dis~;~-ii'~a re;,-0ndli~ção~c~r11pI~taj:~111il~ii_~i~~ti~
'
quanto a história oculta do coq:io
- - e a teoria
' ' '•' -~-
dos fantasmas.
. --.. ---.. -----.. ----· Em
---~~-~-- ~--- .
todo o tex-· do de uma identidade total, só poderia significara,regi:es_sãci_.acun_i__i:s!ado
to, como tivemos oportunidade de assinalar diversas vezes, o tomfOi de impotência não mediada. A teoria críti<:.ª.C()11ti1111ava.a e.11fatiz<1r a não­
pessimista e o prognóstico, sombrio. A alienação do homem em relaçã~-à identidade de um modo que impedia a redução do sujeito ao objeto, e
natureza, tão central para a crise da civilização do Ocidente, parecia ser vic~:,;~;;~~ Nesse P9!HO,, s.e11s criacl()r"s_clifer_iam de Benjamin e defü11st
uma tendência quase irreversível. Num aforismo dedicado à filosofia da Bloch, c~1ja filosofia da esperança falava da re~;,:-ç;;ÇãQ de um sujeito na-.
história, Horkheimer e Ad9rno rejeh:ir;rn:-~~pli~ilarn:~~t~~$_p;;~~~s_;tC tural de uma forma que parecia obliterar a distinção entre sujeito e obje­
'mistas do cristianismo, do idealismo hegeliano e do materialismo históri­ to.48 A utopia da reconciliação não seria preservada na unidade do objeto
. co. A esperança de condições melhores, se não inteiramente -iiu-sÓ~ia; e da percepção, mas sim na oposição reflexiva entre eles, afirmaram Hork­
apoiava-se menos na garantia de que elas fossem atingidas do que na ne 0 . heimer e Adorno. 49 Em outro ponto, deixaramclaro_que_ a me171ória da
. gação resoluta da situação existente. Mas não havia qualquer práxis clara, natureza, e não a 11awreza em si, erainimiÚda dorni11açã_o.'º
sugerida pela razão; que pudesse ajudar nessa luta. 46 •. .A memória desempenhou um papel-chave na _Ç_O_U1J>I~Çll$i\Q_ ga çrise da
Cada vez mais, a Escola de Frankfurt tra_tol!_C[_ualq\le[ tentativa de
civilização moderna por parte da Escola de. Fra_nk_ftgt. Aqui,() C()!Uponente
.. realizaras promes§as cfa fifosofia--comou~. instrumentalização.. N~~~
freudiano da teoria crítica veio para o primeiroplano. 51 Um dos maiores
aforismo sobre a propaganda, .Horkheimer e Adorno execraram o uso
custos do progresso, escreveram Horkheim'~r e AcÍorno e~ um d~ seus afo­
instrumental da filosofia e da li~guagem p;~~ p;:-o-;:;;o~e~~a-~~da~Ç'i:§:o:
rismos, era o recalcarnento .da dor e .do sofrirne11to causados pela domi­
eia!. Em Eclipse da razão, Horkheimer fez uma observaçãÕsemelhante:
nação d~ natureza. A natureza deveria ser entendida nãoapenas como algo
/'Será então que o ativismo, especialmente o ativismo político, é o único
~xterno ao homem, ~as também como uma reaHdac:l"!IIterna. "Toda rei­
meio de realização, como acabamos de defini-lo? Hesito em dizer que sim.
fi~~çãon) assinalaram, ((é um esquecimento." 52...C~~o observam~$) a busca
.. A era não necessita de um estímulo adicional para a ação.A filosofia não
de um'~ liberdade futura no ;~sgáte integiado do passado tinha sido um
deve ser transformada em propagand~,nem mesrn9:!.2ãráCÍ me!hor obje,~
tivo possível.>) 47 dos principais temas do trabalho de Walter Benjamin. Sua teoria da expe­
Como resultado, na década de 1940, nenhum trabalho da Escola de riência e sua preocupação com as lembranças infantis53 eram um reflexo
Frankfurt trouxe uma oiiênüiÇão programá.tica. sobre métodos para mo­ desse interesse. De fato, foi numa carta escrita para Benjamin em 1940 que
.dificar a sociedade. (Essa orientação não estivera presente antes, mas a Adorno usou pela primeira vez a frase "toda reificação é um esqueci­
convocação à práxis fora um elemento freqüente nos trabalhos anteriores mento".54 O estímulo foi o artigo de Benjamin no Zeitschríft a respeito de
do Institut.) f\Le_conciliação com_an'!!\1JezAS'1ªQ.._O,Qietivo óbvio, mas o Baudelaire, no qual ele discutiu a Erfahrung [experiência integrada] e a
que isso significava nunca fórpl~namente explicitado. o qu;decertÕ-nãO­ mémoire involuntaire [memória involuntária] proustiana.
. significava, é claro, a submissão do homem a forç~s naturais hipostasiadas. _O processo de emancipação era entendido, ern parte, como o desen­
A Escola de Frankfurt não q\l_eria_ resst1_5citaratosca _düi.létjç_a_daJlatureza-­ volvimento da consciência de si e a r~~surreição do passado perdido. Nis­
de Engels. Seus membros tampouco desejavam sucumbir à. versão direi­ so, as raízes hegelianas da teoria crítica eram evidentes. Para He~el~_o_pro­
tÚta da apoteose da natureza, que Lõwenthal havia desm:ascarado de for~ ­ cesso histórico era a jornada do espíritoque s~ conscientizava de s_uas
· ma tão devastadora em seu ensaio sobre Knut Hamsun. Por último, eles Õbjetivações alienadas. O ponto em que Horkheimer e Adorno se afasta­
pretendiam distinguir-se das freqüentíssimas críticas ao Ilunünisrno q.11e_ ram de Hegel foi em sua recusa, primeiro, de hipostasiar a subjetividade
·perpassavam toda a história intelectual alemã, as quais, ~ão raro, eram como uma realidade transceJI!;l_mtLJt~dos indivíduos e, segundo, _de
· pouco mais do que um anseio nostálgico por um idealizado "estado de '· 1.~atá~lacomoã ú;ica i~~te da realicl.'lcl<e_<ll:JjçJiY:a. A Esc~la de Frankfurt
natureza)). nunca retornou à noção idealista do mundo como uma criação da cons­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA CAP(TULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

ciência. Co!11() ()b~er_".()~J:Jl\Le!Jl~Çi!rta.~enjami_l1~m.29_d.Lfoy_e_reitQ no a uma visão "científica" da história - o que coube a marxistas poste­
de 194d, alggm esqµe_çimento é i11eYitªYde,J>or extensão, alguma reifica­ riores, como Louis Althusser 60 e seus seguidores - , mas)mplicou uma
'ção. A identidade completa e11trLo sujeito q~~-~efl.;:\~:~~o.objeto:"d~illa-­ modificação da dicotomia rigorosa entre as Geisteswissenschaft.en [ciências
reflex~() era impossível. 55 'das cultura J.e as Naturwissenschaften [ciências da natureza J. Falar_~e uma
Corno sep()d_t=~ia esper~r,a Escgla d" frankfurt desC()ll_fiava do ü11 pµj, necessidade de reconciliação entre ohomem ea natureza, mesmo que ela
_so antropocêntrico gue identificava na ênfase dos idealistas sobre a cons­ 'não implicasse a identidade, cornbin~;,a. ;i{ajcü;.Q a crençjl 11ª "frqnteira
ciência,, mesmo quando essa c_onsciência era teoricamente "objeti~a''. E;;.; ,ontológica" entre a historicidade_ea llilúchistoricidade. Entretanto, o
1945, !Jorl<_hei~~r_voltou à _Universidade Colúmbia para fazer uma série fostitut nunca explicitou com clareza () que isso significaria para uma fu­
de palestras sobre o conteúdo de se~s livr(;;.' Numa delas, 56 acusou a fiJ. 0 , tura ciência do homem.
sÓfia clássica alemã de querer superar o dualismo entre o homem e Deus:
desejo que levava à inclusão do demoníaco em seus sisternª_s, Isso produzia Igualment_e problemático era o nível psicológico em que deveria ocor­
teodicéias como as de Leibniz e Hegel, com suas implicações quietistas. E~ _r5r~à_reconçiliação. !'.'lesse _ponto,a. E;~;;-~~~~e,Fr_~;;~f~~~i~t~od11~i~ '1.1'0;;9vo
todo o trabalho dos filósofos clássicos, a idéia de graça estava ausente, uma termo em seuvocabulário: mimese. A imitação como explicação do com­
indicação de sua arrogância intrínseca. l_'ar~l!'1Lis>.o, dizia a Escola de portamento só'~i~ltlnha sid.'0'1.lili ~t~r~o favorito de alguns teóricos sociais.
Frankfurt, ,a in~e(lricl_ade ..autônoma do objeto nat11r"!_~i1_1~_a cl_ese_rprese_i:­ Durkheim, por exemplo, dedicai'á urri ·capífúfo inteiro de seu livro O sui­
_vada, ainda que não a ponto de ignorar sua interação _mediada com o su­ cídio à demolição de predecessores como Gabriel Tarde, por seu uso da
jeito humano. O que Marx havia chamado de "humaniza\:ã~ da natu·r~za" mimese. 61 Freud, em Psicologia de grupo e análise do ego, também dis_cutiu
·e de "naturalização do homem" 57 era necessário, mas não ao preço de o trabalhá' de Tarde, mas incluiu aÍmit~Ç[o 1.lacat;;goriamais geral da
obliterar as diferenças inerentes às duas. "sugestão", que Le Bon havia empregado. 62 . Mas o uso que esses ~óüc_os
"';-----------··----------·---·-~--­

.NaturalfJlente, nª década de 1940, a ênfase do Institut foi maior na deram à. mimes e fo_is()_\)retud_o__si_D1_o_~]{Pjica<;_;\_o .d_e. _ajgµ_ll.§tip 0 s çle_ç9111­
_necessidade cl~ reco11.:ili_asi~~g\ie_11a_4;ma~e.r:_ as~<ljstinções.Estava im: 'portal.li.ento. gr~pal, especialmente oc9_ll1f'.ºItatr1ellt_o_dªs massas on das

plícita em seu projeto a superação do abismo entre~ias naturais e . rnl.lltid.Ões. ó'ínsÚtut tall-ibém a _usou para esse fim, mas.t.ambém desen-.

,ciências sociais, que Dilthey e seus seguidores tanto haviam contribuído .voÍveu o conceito em outro contexto.
para estabelecer no fim do século XIX. Essa, podemos acrescentar, foi uma. Em 1941, no prospecto do lnstitut para um projeto sobre o anti-semi­
dicotomia que se introduzira na teoria marxista mais ou menos na déca­ tismo, a importância <li mimese infantil íoi introduzida para refutar as
da de 1920. 58 Lukács a havia aceitado, em sua luta contra a reduçiÍ~ ci;­ . teorias.nazistas das características raciais hereditárias. 63 Em conferências
marxismo a uma ciência natural por Engels, Kautsky e seus seguidores da posteriores na Colúmbia e em Eclipse da razão, Horkheimer estendeu-se
Segunda InternacionaLO jovem Marcuse, no período anterior à sua. vin-.. sobre essa sugestão inicial. A imitação, afirmou, e~a um dos meios primá­
culação ao Institut, havia enfatizado a distância intransponível entre a _ rios de aprendizagem na pri;:;:;eira infância. Asocializaçãoposterior, con­
história e a natureza. "A fronteira entre a histor'icidade e a não~histo;i~i­ tudo, ~nsll1avaa crianÇ!'ª ahandonar a imitaçiio emJavo!' do comporta­
dade", escrevera em 1930, "é ontológica." 59 Até Horkheimer, em seu.;.o.n;;... fJ1ento racional, orientado para objetivos. O correlato filogenético desse
. traste entre Vico e Descartes, favorável ao primeÍ~o, havia apoJ~cig ~ Yisão. _ padrão ontogenético foi um dos temas centrais do Iluminismo._A''çivj_,
de que o estudo do homem e o estudo da naturéza i{ã(; eram exatamente . _lizaç~o''ocidentalcgmeçgu pela .mime§e, .m~sas;a\)0111'().r transcendê-la.
idênticos. "A adaptãção consciente e, mais tarde, a dominação substituem as várias
_Apesar de nunca haver repudiado explicitamente essa visão, a Escola
formas de mimese. O progresso da ciência é a manifestação teórica dessa
de Frankfurt a questionou na década de 1940, ;itacando a permanência da
mudança: a fórmula suplanta a imagem, a máquina calculadora suplanta
distinção entre homem e natureza. Isso não significou, é claro, um reter-­ as danças ritualísticas. Adaptar-se significa tornar-se semelhante ao mun­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

do dos objetos em nome da autopreservação." 64.Mas a nÜll:lf.§fJJ.ãoJoi ple­ egóicos alienados em bodes expiatórios minoritários, eles ligaram o de­
namente superada na civilização ocidental. Horkheimer advertiu: senvolvimento e_góic9_A_d()rn_Í_!1'1s:.ª-Q_d<1_11_aj:_g_I~l'ª· E~.E~lip;e-if;;;:::;;,y;,
·Horklieime;-~firmou: -- -­
_Se a renúnc:ia __f1_~~~.~~-)~12uls~_~i_U]~t~_ç9 __~~g_ promete levar à realização das

.. Potencialidades do hortle_m, ~~_s_e impulso fie~ Sempreà eSpe~

Co1no p~i_n~_!Pi.9...~S!'"_~.~ .-9..~-~--~---~~f()_~ç-~ _ p_~.~~ __:>_~ir v_~i:ic~9~! . . ~-ª-}~~~~- -~9_ntr_~-­ ~- _


irromper como uma forç_a destrui:_iv~. Em outras-p-á:hiVràS;--·qU:ãiidõ--Ilil'O há
·natureza em geral, ~ontra outras pes_soas em particular e contra seus pró­
·outra norma senão o stãtus q!lo).__ql!ªA49 __\0_4_~ _E'._sp_E'.fª!!_Ǫ·'ª-~--fuJ_tçi_çl;ª4~ qu~ ~---"
·p·rios ilnpulsos) percebe-se que o ego se relaciona com as funções de domi­
·razão é capaz de oferecer consi_s_te el11 p~ese_rv:ar o _qll,e.. _e_x,j_~te _tal __c:om_o _é,_e
- nação, comando e organização. [... ] Seu predomínio é patente na era patriar­
-até em aumentar sua pressão, o irnrulso_ rnimétic9 Ill;l~Ç~ é_ i;~J1~~~'te-__s~Pe;::.-­ cal. [...] A história da civili:z;açã()_oc;ident_al 12oderia ser escrita em termos do
:ado. Qs homens retornam a el~ de urna forma regres~i:'~__e__ ~!§!Qr_ç_if_ͪ".~_: crescimeí-ito ciõ' ego, ~Orno o subalterno que ~ublima, ist() é, -i.ntE:rri~Ji:i.<I. a_§
._os perseguidores modernos freqüentemente_ i_miS:1!1..9S _gesto~ p_<!_tm­ ·ordens de seu senhor, qúe O precedêü na âutodiscipli11a. [... ] Em mOlll.erito
~algum a idéia de__~g_Q_J!YIQll::_S~_.4.~~-i:gip_E'.!feições de sua origem nO-sistema
cos de suas vítimas; os demagogos freqüentem_ente ai'~!ll_c:gin.o.cark de- dOrriiiúiÇã'O.. S.ócial. 6~ - ·
caturas de seus alvos. 66 Até as formas menos virulentas da cultura de mas­
sa expressam um certo componente sádico em sua rep~tÍção do status quo, Além disso, a luta do ego subjetivamente racional _contra_<l_!lªtl1l'_e:z_a,
.. ..--- -- '
,--·---~ -~ ""'"''____ - ·--------·-··-<"'-....----
---·--·----------~--•-"'. " -(
observação de Adorno em seu estudo sobre o jazz. tanto éxterna qlli~nto interna,tornara-se co11trarroduc~11tç_. 'A moral é ela­
)\,ias amimese, por si só, não era uma fonte do---- mal.
--- "---------·" ------.. ·------.------.. ---·-·-------- ...... ., ....... ··- ·--·-
___ ---- --
Ao contrário )

. râ'; cónCTliiUHôrkfiêímer: ''À apoteose elo ego e.o princípio de_ autopre,
-~or.kh_eimer.deix()u i111plícito queela era_sa_udável quando significava a servação como' tal cull11inam na profunda insegurança do indivíduo, em
,-, . _imitação dos aspectos da natureza que afirmam a vida, ou seja, o calor e a sua completa negação." 70
proteção maternos. Era tarefa da filosofia, sugeriu em uma de suas confe­ - Aqui, o ego era vist<l,__e_IT!.rar_t~,_e!ll~rmos filosóficos -: o ego cogitans,
rências na Colúmbia, 67 despertar de novo a le!llbra11çada mimes_e infan­ de -D~~rtes· a Huss~;l, fora um dos alvos do Institui desde o começo, 71
til, obscurecida pela socialização posterior. O declínio dafomilia.precisa­ mas é claro que tambélll_!i11li_ajmportilnJ.'.ia_p,<;i.çQlc)gLca. O conceito mar­
_va ser revertido, ou, no mínimo, o impulso imitativo da crianç<i, que _se. q:;s;;;~~j,;Q~~ri,()r_d~''P::Ci11c;ípio do desempenho'~ C()!llO princípio de rea­
havia fixado em agências extrafamiliares, devia ser de~olvido ªº 5e_µ objeo lidãde--;:specífico da sociedade-ocfdenti[enra!Zõu-se nessa crítica anterior
_J ,_, to original na família. Essa me~a,_podç_rnos açie_sçerriªx, iinhaestreitªJjgª' ao ego como instrumento de dominação. Em Eros e civilização, todavia,
ção com a unidade da· palavra e da coisa vivenciada_nª lingmgerg_pur_a. ele procurou desenhar os contornos de um novo princípio de realidade,
Como afirmou Horkhei1ner, ''alinguagen1 reflet~ .9§ anseios dos oprinü. ao passo que.Horkheimer e Adorno se contentaram em solapar o ego tra­
dos e as agruras da natureza; ela libera o impulso mimético. A transfor­ dicional sem ;f~recer uma alternativà plenamente elaborada - uma omis­
mação desse impulso no meio universal· da linguage~, e não numa ação ·são que viria a preocupar adeptos posteriores da Escola de. Frankfurt,
destrutiva, significa que energias potencialmente niilistas trabalham em _como Jürgen Habermas. 72
prol da reconciliação." Em termos Qutogs;J;1.étk0Jl, essa,__~ll!ªÇ-ªQ._e_xjgia 1lª-.
68
Apesar das implicações potencialmente primitivistas de seus argumen·
.consciência da criança de dois anos,.par.a.;i _g_ual todosos nomes, em certo tos, Horkheimer e Adorno tomaram o cuidado de rejeitar tudo que Ím·
_sentido, eram nóJl1es próprios. - - - ·- ·· ·plicasse um retorn~ à simplicidade natural. A nostalgia, como vimos, era
. Se o objetivoera restabelec~_ esse estágio do desepyolyimento hum_a­ duramente crTtléada q~ando aparecia entre críticos culturais conservado­
no, ou, pelo me_11os, algumas desuas melhores características, entã() o que_ res; de modo semelhante, a saudade da juventude perdida da humanida­
aconteceria com o ego, que, segundo Freud, se desenvolvia em uma épgca ­ de não era o sentimento dominante na Esó::iia Friu:í.kfürC!SsO'fi~o~-;;­ de
posterior? Em-· seus
---.---
trabalhos
-.--~~
espe<iitatívos da década de- 1940 H~;ld~~im~~­
"' '" ' " ' )
monstrado com clareza na complexa discuss-ão de-Horkheimer sobre a
e Adorno assumiram um_tommuitõdilerente([o~q\.;e~S'~~videnciara nos relação erifre razão e natureza em Eclipse da razão. Como observamos com
_Estudos sobre o preconceito ao-dlScutlrem o .:g_ci, Ag()[;!, <:tg.Y-".~·_ç\_~ fri~are~ freqüência, o Institut era sumamente crítico quanto ao que se fazia passar
. ~-nece~si<l<i_de de um ego integrado para combater as projeções de traços por razão no mundo moderno, A razão instrumental, subjetiva e mani­
~-------­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAP(TULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

puladora, diziam os integrantes da Escola de Frankfurt, era serva da do­ ~mo..s.o.cialtinhainYertid.o.9 _p9tel)ciaJc!e_reconc~liaç_ã(l_i11ere.11_te_ã__~es~
_i;ninação tecnológica .. Sem m,e_t_a~i:a;cioilais, toda interaçãC>, ãc~b~~:;-_redu~ ~aberta darwiniana inicial da unicidade do homem com a natureza. Em
.zi<i.":.'IE~las.õ~s dep.Qde_r:, O desencantamento do mundo tinha ido longe vez dele, "o conceito de sobrevivência dÔ mais apto fÓÍa rnera tràdução
demais, e a própria razão fora despojada de seu conteúdo original. dos conceitos da razão formalizada para o vernáculo da história natural". 78
Ao fazer tais afirmações, Horkheimer e seus colegas não estavam sozi­ Previsivelmente, ele apontou o pragmatismo, uma de suas bêtes noires sis­
nhos.Aproximavam-se de llrriãampfa varl~dad~~d~,P~~;-~;{q~,esc~;:;;· temáticas, corno uma decorrência do darwinisrno. 79 Benjamin, em seu ar­
. quais raras vezes concordavam em outras questões. Como mostrou Fritz tigo sobre Eduard Fuchs, já havia estabelecido a relação entre o evolucio­
Ringer, ()S "mandarins" acadêmicos cl()S_<l'lQ.0~:Weimar eram obcecado_s nismo darwinista e o otimismo superficial dos socialistas bernsteinianos. 80
pela racionalização do mundo e suas conseq(iê!lc§.$. 73 M_a](_Sch_eler, por fssetipo de conciliação da razão com anatureza, que na ver~ade reduzia a
exemplo, já em 1926 criticaraa dorninação_r'1.cio11.'119.a.natureza. 74 Senti­ prim~ira al.lmÓrgão dasegun<la; 11ã.<Jérúcr:iia siiiu..ª9,b....r.iiir.~slo. ao_"!la.:
.. mentos similares fluf~m dàp~1l:a <l~Si~li-_~~11tago11is!a, Martin Heidegger, ·· turalismo;;..pré:iÍuminis,5L(,'.I!l..llma (aljçíiil'i!J&nJ:e, ,de. rest1ltad9s§i.nistr9s.
cuja influência inicial em Marcuse foi citada com freqüência corno respon­ "'A. ·;··...........
-_ __ ~p_t,Ç.a_ ~-:---d ·1· · at reza" suger1'u Horkheim•r "é desacor­
man~-~r-~..-....ç__aux1 lar a_ n _,i1__ _---~- __,_ ___ -· _·---------~----------~--,,_ ______________.. -..­

sável pelo preconceito antitecnológico supostamente presente na ohra de rentar o pensamento m . depen dente, aparentemente oposto a_e_a:.. 1 "81
seu ex-aluno. 75 Na década de 19!(0,_a\l.!Q~e_s__co_nservadores, de tradiçõ~
totalmente diversas, t.ambém lançaram ataques acãlo~ac:lgs.f.o_11.t.r:<l.ªJ~.cio, "Pensamento independente" não sigl)ifaava, .é dal'O.>. um retorno a
nalidade instrumental e seus efeitos. Um influente ensaio de Michael idéias pi:_é-marxistas de uma espec11lação totalmente autôn()l11ª· Em Eclipse
Oakeshott, intitulado "O racionalismo na política", 76 foi lançado no mes­ · da razão, Horkheimer rejeitou explicitamente as tentativas de ressuscitar
mo ano que Dialética do esclarecimento e Eclipse da razão. antigos sistemas metafísicos. O neotomismo, que no fim da década de
Corno vimos, o quedistanEiava a g~9laAeftfill.kfl.!!Lde a!guns_<:Je,_s_s_,es__ 1940 era objeto de um interesse renovado, serviu como alvo principal de
autores era a insistência de seus integrantes nas variedades da razão, uma seu ataque. _E_le_c!esc:_a_r_!Ql1.. '1lJll~_il__!l~()t().ll.1~ta.c!~.d_o_gma~ab_;;()lU!QS _ co1110
.·das quais poderia evitar o choque com a n~turez_a, O que distinguia sua: sendo urna tentªtiva de superar o n;l?!ivismo por .c!ecretg._E ridicularizou
. visão de outras era a recusa de aceitar a possibilidade de _qtie_,e~se_!iJJ.Q..c:l~ .. 'como conformista e afirmativo o desejo deseus defensores de tornar os
. razão substantivafosse imed.iatamente realizável em termos sociais. Ara­ ensinamentos de Santo Tomás de Aquino relev~;;tes pa~a .o mundo mo­
zão não antagônica era sempre uma esperança, mas uma esperança cuja derno. Para Horkheimer, o neotomismo era fundamenta\mellte .aparenta­
existência, ainda que pela negação do status quo, impedia a apoteose . do corri o pr~gmatisrno, em seu descas~·pel~ ;;e;,-;;:ç·ã~. "A falha do tornis-
acrítica da natureza, Em Eclipse da razão, I:forkheimer !led.ic.ou..um..c.aµb mo",' acusou, "reside em sua pronta aquiescência â objetivos pragmáticos,
tulo a demonstrar a estreita relação existente en_tre prete.nsos.."re.l.QrQo.!i"..à. e não em sua falta de viabilidade prática. Quando uma doutrina hipostasia
natureza e a racionalidade instrumental. Nesse ponto, a argumentação as­ um princípio isolado que exclui a negação, ela se predispõe, paradoxal­
semelhou-se à desenvolvida na discussão sobre Sade na Dialética. Para mente, ao conformisrno." 82 O defeito inato ..do tornisrno, como de todos. ' '•

Horkheimer: os sÊtema~.P.O,Sitiyistas,_"reside_em ele tornar a verdade e a l:io11dadçiMD­


A revolta do ho1nem natural - no sentido das camadas atrasadas da popu­ iicas à realidade". 83
lação - contra o crescimento da racionalidade tem, na verdade, fomenta­ ·- ·o;:;tr; t~;;t~ti;a popular de "pensam~nto i11d.e2en<ie.llle"s11rgi!la depois
do a formalização da razão e servido mais para acorrentar do que para li­ d; guerra foi o movimento existencialista. Bem antes de ele se tornar uma
bertar a natureza. À luz disso, poderíamos descrever o fasc_islllo _como uma rnod~, o r;;stltut ha;i~ criticado pensadores que depois seriam ccmsider~­
_síntese satânica ~a_ ra_z~o co~ a_11ªtgrç.iª·-- o oposto _diàmetfal a:~·-reCO?C_i: dos seus mais ilust;es porta-vozes. A crítica de ÀdÕrrio a Kierkegaard foi
liaçãà Üós'dóiS pÓlÓs (o-;;J'qüe"afilosofia sempre sonhou.77 . .. . . · - - · ......
o ataquemais extenso, porém Horkheimer havia escrito sem simpatia
Sintomático dessa ligação entre a revolta da natureza e a dorninaçã9_;;r.a.. sobre jaspers,84 e Marcuse, depois de se ligar ao Institut, passara a criticar
o darwinismo, pelo menos em sua teíÇão$'õCiii. Para H~rkheimer, o darc... a obra de Heidegger, 85 assim como o existencialismo político de Carl

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

Schmitt. 86 pepois da guerra, a afirmaçãomais importante dess~nlQYimm­ Para Marcuse, todo o projet9 Qe.l.!fil<J.f!losofia "existencialista'',.sem.uma
to foi O ser e o nada, de Sartre. Q~a~dÓ este ~h~g;;;!; ~t~;,Ção de Hork­ idéia a priori da essê11~ia, era. impp_ss!Yel. Isso era algo que o próprio tra­
heimer, em 1946, ele escreveu a Lõwenthal: 'balho de Sartre demonstrava, contrariando suas intenções: o pour soi, com
Depois de ter tido urna boa prova de Sartre) estou profundamente conven­ sua liberdade perfeita, era uma descrição normativa do homem em esta­
cido de que devemos publicar nosso livro o mais depressa possível. Apesar do genérico, não em sua situação empírica. Ao absorver a negação em sua
de minha resistência íntima, li uma grande parte de Sartre. [... ]Trata-se de concepção afirmativa da natureza humana-:-siiti-~Jlai{a re(dido à.íen-&ão
um novo tipo de literatura filosófica de massa. [... ] Do ponto de vista filo­ dialética das Iilõsofiãs esséndalistas:Nà.verdade, seu conceito do pour sai
sófico, o fenômeno mais espantoso é, com certeza, a reificação ingênua dos como ação e autocriação constantes tinha umafunção especiflca111eiife
conceitos dialéticos.[ ...] O refinamento e a complexidade de pensamento da
;;Jj;_:-ffi;;::tl_:~ na soê:fodadeliurguesa. "Mais além da ling~~gem niilista do
dialética foram transformados numa reluzente máquina de metal. Palavras
como "l'être en soí" [o ser em si] e "l'être pour sai'' (o ser para si] funcionam existencialismo'', acusou Marcuse, "espreita a ideologia da livre concorrên­
co1no u1na espécie de pistões. O manejo fetichista das categorias aparece até cia, da livre iniciativa e da igualdade de oportunidades." 91 _O sujeito sar­
no formato da impressão, com um irritante e intolerável uso de grifos. To­ triano, que se assemelhava ao ego anarq11ist.a_deStir_n~r, estava em grande
dos os conceitos são terminí technici, no sentido literal da expressão. 87 medida inserido na tradição iluminista da dominação da natureza. 92
Eclipse da razão, todavia, não menciona o existencüt!ilimO. A tarefa de O único elemento de O ser e o nada queivÍarcu;~ ~provou, de modo .
demolição co_ube a Marcuse, 110 lÍni.co. artigo queele Pl!bliçoudmant~~­ relutanie;íõTa-dfaclissãõ sartrfana·da· sexu.alidade. Como assinalou Paul
. período em que trabalhou para o Departamento dé Estado após a guer,_ Robinson, 93 o interesse de Marcuse por essa questão foi uma etapa inter­
ra. 88 A avaliação de O ser e o nada feita por Marcuse nã0 Joi menos crítica !llediária no caminho para seu envolvimento po~terior co;;,Fre11<l· E tam­
que a de Horkheirri..er. Em vários aspect~s, seus a;g;;mentos se antecipa­ bém remeteu a teses que ele defendera dez anos antes no Zeitschrift. 94
ram à própria autocrítica posterior de Sartre. 89 Para Marcuse, Sartre havia O que impressionou Marcuse na abordagem sartiiªna ga sexualidade foi
transformado o absurdo, erroneamente, em utr!à cõiid.J.Çãó o:;,t2 L~líJ:Ç~J:~m:. . a "negação da negaÇão;, implícita ;,; d~~ej9§~x~'1!, a qual, quar1<l~ l~vad~
vez de histórica, Como resultado, re~aÍ~a- numa internalização idealista da ao extremo, negava â·atlvid~de do pour soi. N_a_§çxu.alid.açl~,ocorpo. ten­
liberdade como algo oposto ao mundo externo e heterônomo. A despeito dia a se tornar um objeto passivo e completamente reificado, contrnlado
_de SUaS intençõ~S. revol\1CÍQJJáÚªS-~CQ..'l_fessa~_SU!i.J20lítica e SU-;-filõsofi~­ apenas pelo princípio do prazer, e não pelo princípio dominante__da reali­
eram totalmente disco.rda!ltes ~BITS' si, Ao situar a liberdade no pour-soi dade. Já em 193 7, Marcuse escrevera:
-(o ser para si, uma ve;são do für-sich hegeliano), e ao negar que o pour soi I)epois de se transformar completa1nente em um objeto, em uma coisa bela,
poderia tornar-se en soi (o ser em si, ou an-sich), ~.axtreJi.ax.ht_çiri<füiQ.JL o corpo pode prenunciar uma nova felicidade. Ao sofrer a mais extrema das
. subj etivi4"'de. e a o_bje!i'/icia<Lecie 11.m rrmdo .9.11<:.neg_'!V.<13.t:econciliaçjiQa_tL reificações, o horne1n triunfa sobre a reificação.)\_qy.ªljçl(lde ?+tístic_a do.c_oi:­
mesmo como possibilidade utópica. Além disso, ao exagerar a ênfase na po boni~o)_sua agilidade e relaxaI1lenJo sem esfotço, que.hoje _~Q_p9_4em ser
exibidos no circo, no vaudevílle e no burlesco, anunciam a alegria que os ho­
liberdade do sujeito e ignorar as restrições produzidas por suas condições
mens alcançarão ao serem libertados do ideal, quando a humanidade, trans­
históricas, Sartre se convertera, inadvertidamente, em um apologista do formada em um verdadeiro sujeito, houver logrado dominar a matéria. 95
' - " -- "'" .
status quo. Afirmarque os ho!Ilens escolhi31m o seu destino, ainda..qJJ.i:...es_g,
.fosse terrível, era mor"lst~~oso: ····· ···-·· Apesar de já não falar em termos de "dominaçã_o_siªm.a.t~r.i;L.Mai:c.us.e
continuou a achar que a liberdade passi,;a d~~ompl~tªJS'i.f.is:.açilo sexual
Quando a filosofia, em virtude de seus conceitos existenciais e ontológicos
·negava a redução existenci.alista <l'!Ji\>~rd<i<:l~ à ativid_ade <:lo agKe.~siy9p0ur
do homem ou da liberdade, é capaz de demonstrar que o judeu perseguido
e a vítima do carrasco são e continuam a ser absolutamente livres e senho­
soi.Isso proporcionava um discernimento maior da transformação poten­
res de uma escolha responsável, esses conceitos filosóficos declinam para o cial da sociedade do que as tentativas canhestras de Sartre de derivar de
nível de mera ideologia, que se oferece como urna justificação extremamente sua filosofia uma política radical. 96 A negação do pour soi - que parecia
conveniente para os perseguidores e os carrascos. 90 funcionar de acordo com o que MãrctíSeaepÕÍs chamaria de "princípio

340 341
<
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPITULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

de desernpenho" 97 - sugeria umª espécie de reconciliação coIT1_a_natUc: cruel do sonho de liberdade positiva. Ironicamente, o Jlurnini§_!llQ,_<;J_lle
_reza, embora constituísse, é claro, apenas um passo parcial nes_s_açfüeç'!o. proc_llrara)ibertar o homeil1, tinha servicÍ;;-para eÚ:raY-izá_:-1;;-.::Qm meios ­
A reificação completa significava a negação não apenas.dos_aspecto§_cl_2_­ muito mais eficazes. Sem urna orientação clara de ação, o único rumo ao
rninantes do ego, mas também dos não dominantes. Essafoi urnarealida­ àlcance dos que ainda podiam escapar do poder entorpecedor da indús­
de que preocupou Horkheirner e Adorno em sua próp~ia ~b-~;dagern d~ tria cultural era preservar e cultivar os vestígios de negação que ainda res­
reificação do corpo na Dialética do esclarecimento." tavam. "Por si Ul_e_sma, a teoria filosófica não_pode fazerCOJII que AteJJ:
dência bar~a._rizante ou aperspectlvahurn~nística prevaleçam no futuro''.
Poderíamos dizer que o temor rnaisprernente da Escola de Frankfurt ~lértQi:i_ l:fQrlzl1;;i111êr: "Entretanto, ao fazer justiçai\si111a_ge11s ejc!é~s que
no após-guerra era justa~ente a obliteração cÍ~ssêseh:rn~iitos·cÍ;s~;bj~ti~--­ em determinados rnoil1e_ntos dominaram arealid_ade, no papel de absolu­
-vidade. Como vimos ao examinar o traiaD;~;;-to-dad;-re!o"i;;;;:;tlíEà ~u!=­
-tQs :::___por exemplo, a idéia do indivíduo, tal co!11-o dominou a era bur­
guesa - , e que foram relegadas no decorrer da histór.i\J,_ a filosofia pode
tura de massa e seu trabalho empírico sobre as personalidades autoritá­
funcionar corno moderadora da história, por assim dizer.;1101
rias, a existência da individualidade __ .... _______________
______autêntica vinha declinando
.. __ ,__ ,______ - ­ em.urna
Foiessa a tarefa a que AdornQ~;;cÍ~cÍi~ou em seu livro mais pessoal e
,__,. ,, --~-~

velocidade alarmante. Obviamente, o Institut não queria ressuscitar o ve­

idlossincráticQ, ·111;;:;;~;~~idiid,'e~~lto-paul;tin-:irnente ao longo da dé­


lho indivíduo burguês, com seu ego dornfoador, mas pe_rcebia que, em ç~r_:

cada de 1940 e publicado em !'ÍSLSel]~Stilo fn1g.111_e11_tll:_clOe_<i_forísticonão


tos aspectos, sua substituição por homens-massa manipulados rrp_rns_en:

foi acidental: para Adorno, a negação e <J verdade que ela precariarnente
· tava urna perda de liberdade. Corno escreve11__Ad()_rl1_2__;!_BenjarniQ,99_()
preservava só jÍodia!U sÚ e]Cpressas de Jilªlleira~ p~o-;;lsÓrÍas e inco!llple­
"indivíduo" era um Durchgangsinstrumeri_t,__11..m instrurnento_Q_e__trª11si5_ã(),---­
ta§, Esse texto levou ao extremo a desconfiança fundamental da teoria crí­
que não podia ser eliminado corno uiri' mito, mas tinhª_fle_ser PiieseXY.ªclQ tica em relação à sistematização. ~ CQJI1pre_e11,s_ãq Jjlqsófica já não_ $e_ en_­
em urna síntese si1perior. O indivíduo burguês, definido em oposição ao contraria em sistemas arquitetônicos abstratose coerentes, corno nos
todo, não era inteiramente livre. Corno assinalamos em ocasiões anterio­ tempo;d~Heg~C mas na reflexãosu_bfoü:Y.lii~i;~a;.N;int~Qdução, Ador­
res, a meta da liberdade positiva, implicitamente sustentada pela Escola_de no enfatizou até onde achava que a filosofia chegara desde Hegel, o qual,
Fraiikfurt, baseava~se na unificação dos int~~~;;ǧ~filtic;;h~e~~e~dÚsnni~­ em seus momentos mais generosos, havia tolerado os aforismos corno
versais. Por outro lado, entretanto, a liberdade negathra eraurn !llO!lle_nt()_ "conversa". 1º2 Hegel, ao atacar consistentemente o für-sich sein [ser para si]
da totalidade dialética. Assim, o sujeito burguês_er_aJiyf!:_r __niíoJiyre ao clª-2l1bjeti_vic!'1c!e,poi~C:~;}siderá:loinadeq11_'14Q,_h~vi~-~Qmetido um gran­
mesmo te_Il1!'º· Na identificação forçada do homem-massa com a totali­ _cJe_~rrn. Tingagipgst<1sia_doo indivíduo!J11rg11_ês,a_t;_()_~i_e_cl_ade_civil de sua
dade social, contudo, não havia liberdade alguma. A sociedade burguesa época corno realidades irredutíveis. Isso lhe permitira prestar muita aten­
_anterior pelo menos abrigar;ic':'ll~Eªcliç_õ_es_~~".e:i~que pr~s~r_ÚYaID a&: 'Çao-ao iô-dô. Desde sua época, porém, sua vulnerabilidade tinha sido
_negações de suas tendências dominª11tfs. O egoísmo, convém lembrar, fora amplamente demonstrada. Em meados d0 _....século XX, as forças do todo
---~--·-------~ .. -·-- -­
·-----··-~-··-

defendido por Horkheirner, por reconhecer o momento de felicidade in­ social eram tão grandes que a subjetividade, burg_QeJ,a_Qll_Qií_<>,_<:QJ:ܪ.l'~ri­
dividual preservado na conciliação genuína das contradições.____ ,. ..
Marc11s_e
-~ ex­­ go de vida. "Diante da unic!<1cie\-;;ta\iiirüi';_escreveu Ador110, "que clama
_pusera argumentos sernelhantes_quandocle_fe11deu, com restrições, a§ filo--­ -diretamente pela eliminação das diferença~~Qrno sentido [welche die
sofias hedonistas. -­ Ausmerzung der Differenz unmittelbar ais Sinn ausschreit], é até IJOSSÍvel
Agora, <Jpr_<)pria existência de _(;()__n!_@s;!i@_~,_QQ_pelo NffiQ§_jlcoll§_Cgn_: que algo das forças sociais lib~rt~rias tenhaco11':'ergi_c!Cl_p.<li~-'!_e_t;f'!'1_<io
, eia de sua exis_tê11cia,pªr_icl'1:~sj:_ar eIJ1_f'e_r_ig_o_,__~1n_!>()ra o capitalismo não indivíduo. A teoria críticadetérn-se aí, sem ficar com a consciência pe­
_tivesse.sido suplantado pelo socialisrno. 100 No que d;;pQls-Ma~~usetorna_:-· ·sada.''103 Em suma, corno escreveu Adorno em um de seus epigramas ci­
ria famoso corno a sociedade "unidimensional", _o poder redentor da ne~ tados com mais freqüência, ___.._ Das Ganze ist das Unwahre, 1º' "o todo ___ é a
---------------·--0~---·~~---_., _,~

gação estava quase totalil1_ente_ans_e_n_te. Restava em seu lugar urna paródia inverdade".
. -··-···-·-,.-·--""--·-·---~------···-··~---~

342 343
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA CAPÍTULO 8 ·POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA

O grosso de _]}f_i_nirr13 moralia consistiu em destilações oblíquas das aqueks911ho da alienação que retorna sobre si mesma, que havia motiva­
experiências do pr<íRrio_AdQrnc!:x~ilexos, como ele disse no subtítulo do do Hegel e Marx, estava fadada a con!in_uâ_rJrusJra<la. A dialética, como
livro, de uma "vida danificada''. éo~;;-~~ todo o trabalho da Escola de indiciou o título de um de seus livros posteriores,_só podia ser riegatíva.1 11
Frankfurt, -;;ig~-:iswmp;rti;;:,entalizações filosóficas tradicionais, como b interesse posteifor de Horkheimer por Schopenhauer confirmou essa
a epistemologia ou a ética, foram transcendidas. ''A iJ:!teligên_cja~;_e~_ll_ guinada no foco da teoria crítica. Quando Horkheimer escreveu que
o autor em outro texto, mais ou.mel19§_!1~E1.e~I11-ª _ép()sa~_''.(l!r:i:t_":_(;<lt5:goria "defender o temporal contra a eternidade implacável é a moralidade em
moral. A separação entre o sentimento e a- compreensão, que possibi!Íta­ sentido schopenhaueriano", 112 estava apenas apoiando a observação de
ao imbecil falar, livre e ditosamente, hipostasia a separação historicamen­ Adorno, em Mínima moralia, de que as exigências da totalidade não po­
te criada entre os homens conforme uma função:' 105 Por isso, a filosofia deriam ser atendidas sem a destruição do finito e do contingente.
_deveria retornar à sua inte11xão original: ".Q e11sino..d.a. Yida co.rleta)' 10 '..Nas:__ Ao mesmo tef!l12_0, é claro, a Escola de Frankfurt continuou a afirm_'!I.
condições vigentes, C()!l!Qdo~_S'l.a.eg obrigada a se manter como uma "ciên­ qu;as _e.sIJ_eranças utóp~ças~mesrnog-\!<:__nj.fr1_ca fQ§~Ç_m p)_e_n;;;:;~nt;:;:;;;;li-­
·cia mela_nc()fü;;( - e não "alegre", como havia esperado Nietzsche -;:,_p...o.r__ záveis, _c:l_';'_yi<l_J11~~-!ll.i!lti<lªs. _Paradoxalmente]__~ó çssas "8R§r.'!ll<;!l§._~~rü1ll1
~ausac!as cha11ce.s precárias de êxito. Acima de tudo, ela mais deveria in­ _cap;l~ÇLd.LimR~clirq_ue ;ihi~i~rift_r_~9~n-;;sse! _!ll~l912fila. Horkheimer es­
quietar do que consol~r: ·"cf
cisco no olho é a melhor lente de aumento creveu a Lõwenthal, em 1943, falando do senso histórico dos nazistas:
que há.',101
O conceito que eles têm de história resume-se à veneração de monumen­
No final de seu esforço, no últ.imo__aforismodo livro, Adorno mostrou . tos. Não ~xis~_e ~ist?r~a _ se111 _aq~~!~~ ~J~ip.~pto_ u_~{>p_ico que, C()Jn? voc_ê__assi­
.quanto se bavia _c!~tanci~ª<i__c!~!lS:<.lÉ~ pq§síy,~l i:~<!llz:-;;~ão. da..esperanÇ~­ nalôu, CStá áUsente neres:-_o fàScismo) por sua própria e~àltaçãà- dÚ passad9,
de reconciliação final. Nesse momento, escolheu conscientemente termos é anti-~is,t,órico. As referências dos nazistas~ história_s,igpjfiç:;ª;rg _ap~nas que
)eológicgs. A.filo.s.oiia poderia voltar a s~ t~r!1~;-;.~~p;-J1~á~i, ~-;;g~;i~:~~~ -os poderosos deverri 4_ominar e que não há emancipação das leis etern.as q·üe
diante o '.'e_sforç() ci~_ç0mjdernL!Q<!a.s as_c()isas .t.a! como sea_pi:,sentariall!"­ g~iaffi a humanidade. Quaildo eles diz_~~-~'_hLª.!~.!_ia"~...9!:!~~~-.4izer ex~!~t:.
mente o seu oposto: mi!OiOgfa:ro--·-·--~~ ------­
do ponto de vista da. re<k_nç1iQ [Erliisung]. O conhecimento não tem outra .-----· ·-------·---- ' " -­ ­

luz senão a que lança redenção sobre o mundo; tudo o mais se esgota na Ao defender essa tese, a Escola de Frankfurt se inseriu em uma longa
interpretação retroativa e se mantém como parte da tecnologia".ID8 Ador­ linh;;de p~nsadOresci!jãs-vÍsões . utópicas c<;)nSfifii(ãm-menos planos .de
. no se absteve de sugerirq11e i1 salvação ou redenção poderia realmente ser ação do que fonÍes deurri-éüsi~~ciamento crítico em relação à atração gra­
alcançada. Em outras palavras, negou a possibilidade derealização do ab- ­ -. vitacional da realidade vigente. 114
.soluto, sem 11egar, ao mesmo te~po;i reãlidacle do fil1ito~ do c~nting~l1-=­ . Essa transformação sutil, porém crucial, nas intenções teóricas do
_te. _Q Rensame!lto,_<1_fir111ou, para<Joxalmente, devia abarcar essa imRo~§I,_ Institut, ocorrida durante a década de 1940, constituiu a grande razão da
bilidade, em nome do que fosse efetivanÍenteposSi~el-:''No -c<rt;;Jo com o .segunda descontinuidade, já mencionada. Com o deslocamento da ênfase
desafio que emana dessa realização, a questão da realidade ou irrealidade
· do Institut da lüta«ie classes para o conflito entre o homem e a natureza,·
da própria redenção é quase irrelevante." 109
a possibilidade de um sujeito histórico capaz de introd~iLaépocarevo­
.1:º_lJC:_o_ante~_<ie_l1_1<lrrer, J?~!1L'1crnin_e§<:_~<:".eril_Cj_Ue "nossa im_agem 4a_ fe- _ luçi2n~Iia .QieS'1Rª~c~u. Aquele imper:<'!iyQ..da..p.r.áxis, marca do que alguns
.li cidade estájndiss_<JLn_velme11te ligadª-ª- ima_gem dasedêilÇão. [... LÇo_rno_ -;;hamariam de período heróico do-il1stitut, deixou de se_rp.arte.integg1nte
todas as geraçõesque nos precederam, fomos dotados de um poder mes­ de seu pensa!ll~nto._ A t;!g citad'1__9_g§~JY!!.Ç1\Q de Kdo~11.s» feita pouco antes
º
_-siânico fraco". 11 Éin Mí;;ima moralia,j:..;J_orno pareceu coricord~~-Co;;;~ de sua morte, em 1969, de que .'.'quando cr_ki_l!le11modelo teórico, não
vínculo entre a redenção e a felicidade, mas negou que sua época tivesse podia imaginar que as pessoas tentariam re\llizá-lo com
foquetêis J\'ro­
até mesmo um poder messiânico fraco. A liberdade positiva e a reconci:.. lotov", não foio lamento .de um J:igmern queüvesse avalíado mala,~
115

!iação autêntica que ela pn;m;ietia, acrescehtou, eram esperanças perpetµa- _ implicações práticas de seu pensamento. Refletiu, ãntes,-l!maconcll!são
mente utópicas, incapazes de realização terrena. A negação da negação,
.-~ ---- - - - - - ----------­ ~-
.fundamental da próprjateoria:---' '
ª-negação nunca poâerla
"""'" '
realmente- _,
sér
344 345
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA

_nega<!_a. Com Minima moralia, e talvez antes, Adorno havia aceitado a rea­
J,ic!ade melancóHca de que "a filosofia, que um dia pareceu fora. de mod~,
hoje está viva porque o momento de sua realização se perdeu". 116 • ·

· Não ficou dara o tipo de práxis que ainda pgderia scr.r_e_rseguic!o.


Como alertara Horkheimer em Eclipse da razão, a racionalidade--;;:ã.;f-0 r­ EPÍLOGO
necia norm_as para a atividade política. A radicalização da te;~la ~;ític;­
havia aumentado sua distância em relasão_aoque_<i;~ltne!lte_a~clt~
.• como práxis radical. No entanto, a Escola de Frankfurt nunca ~ecuÕ~-r"(;",;J_­ Na primavera de 1946, Lõwenthal transmitiu a Horkheimer algumas no­
mente para o liberalismo ou o conservadorismo como alternativa convin­ tícias animadoras vindas da Alemanha:
cente. _fre~_a_não-i~4ª\k_<;J!~~g_<1Ção J?.'lfecia implicar o pluralis­ Em carta para a esposa, JosefMaier [ex-aluno do Institut e marido de Alice
.mo liberal,.mas o Institut c!esÇQ11fiava da realidad,;a;gruios concorrent~;­ Maier, então na chefia administrativa da filial de Nova York] escreveu que
. na sociedade de massa. Também em outros aspectos; siíapostura d.,;;t-;;~­ os melhores estudiosos e intelectuais da Alemanha andam mais interessados
va do liberalismo, o fruto do Iluminismo. O progresso crescente, o domí­ em obter nossos textos do que em conseguir comida. Você sabe o que isso
significa. Ele acha que todas as universidades gostariam de ter o Zeitschrift,
nio técnico sob~e<l_natu_rezª'ª \Qlerância.co,;:ofimemsí, to(ÍÕ~~lespro­
se pudessem.'
fissões de fé liberais, eram ii:aceitáveis P'1~ J:l()rl<~~i!11~~ ~ s~~;~i~g~;: 1
Também o eram as premissas irracionais do conservado~ismo burkia;:;-Õ a Começava a se materializar o público para o qual, durante tanto tem­
despeito <le ~lguns ae·:seüsexpoente~ moder~o~-~Õmo Micllãeíõakesho;t, po, a Escola de Frankfurt havia insistido em escrever em alemão. Meses
atacarem o racionalismo instrumental com fervor similar. Tampouç0 eram depois da carta de Maier, o Institut foi procurado por integrantes da co­
muito atraentes as banalidadesafirmatiyas d 0 s conservác!ores hegelianos munidade de Frankfurt - o assessor ministerial Klingelhõfer, o reitor da
de direita, com sua crença na racionalidac!.: intrlnsecado.mundoexi;te-n: Universidade, Hallstein, e Dean Sauermann - com a primeira oferta para
_te. Na verdade, a te()ria_c;rítica ficol!imp()_s_si_?iJ!tada_cl.e_s11g<:riJ:.u_111_~Qr~;_ que a Escola de Frankfurt retornasse à cidade de origem.'
_crítica. Í\ tensãoinereritç ao c9nceitode)i!Jerd<ic!eE()§itivª torp_ax&se.fsi.r.te Horkheimer relutou em dar uma resposta positiva. Os Estudos sobre o
_ demais para ser ignorad_a, A união da liberdade como razão e como ação preconceito ainda não estavam concluídos, e os compromissos do Institut
auto-realizadora cindiu-se. A Escola de Frankfurt, seg11indo seus.insJi_QÍQs nos Estados Unidos para os anos seguintes eram suficientes para adiar
. iniciais, só poderia escolher a razão, mesmo na forma emudecida e ne­ uma decisão imediata. Em abril de 1947, entretanto, houve sinais de que
. gativa em que se poderia encontrá-la no pesadelo administradO dó. séC:·u~-­ Horkheimer começava a ceder. Se fosse possível promover um estudo so­
_lo XX. A teoria, pareceram dizer Horkheimer e osoutros, era a única for: bre os efeitos que os programas norte-americanos contra o preconceito
·_ ma de práxis ainda ao alcance dos homens decentes.i_i_i surtiriam nos alemães, escreveu a Lõwenthal, 3 uma filial em Frankfurt po­
deria ser útil. Além disso, o Institut poderia ensinar as técnicas america­
nas em ciências sociais a estudantes alemães, combatendo o viés excessi­
vamente especulativo do mundo acadêmico germânico tradicional. Nessa
ocasião, não se mencionou uma mudança da sede principal do Institut
para lá. Em agosto de 1947 ainda estavam sendo consideradas possíveis
filiações com universidades da região de Los Angeles. 4
Na primavera do ano seguinte, Horkheimer visitou a Alemanha pela
primeira vez desde a partida apressada em 1933. Convidado a participar
das cerimônias comemorativas do centésimo aniversário do Parlamento
de Frankfurt, foi calorosamente recebido como hóspede da cidade e fez

346 347
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA EPfLOGO

urna série de conferências bem acolhidas na universidade. As autoridades apesar do tom sumamente crítico dos textos do lnstitut sobre os Estados
de Frankfurt estavam empenhadas em recuperar a eminência intelectual Unidos, as experiências pessoais de seus membros nesse país, em geral, ti­
que a cidade tivera antes do nazismo, e o retorno do Institut contribuiria nham sido satisfatórias. Desde Nicholas Murray Butler, em 1934,9 até John
para isso. Os esforços acabaram por lograr êxito. Com o incentivo dos fun­ Slawson, dez anos depois, a Escola de Frankfurt havia recebido apoio e in­
cionários de ocupação norte-americanos, inclusive do alto comissário centivo em uma ampla variedade de círculos norte-americanos. Como
John). McCloy, a cidade pôde fazer urna oferta que Horkheimer conside­ muitos outros refugiados, os membros do lnstitut ficaram agradavelmen­
rou irrecusável. Em setembro, decidido a voltar, comunicou sua decisão a te surpresos com o número de "homens de boa vontade" 10 que encontra­
Klingelhõfer, que a aceitou prontamente. Em 13 de julho de 1949 foi res­ ram nos Estados Unidos. Durante a guerra, em várias ocasiões, eles se li­
tabelecida a cátedra universitária que lhe fora retirada dezesseis anos an­ garam voluntariamente a serviços do governo, por um sentimento de
tes, com a pequena diferença de que agora seria de sociologia e filosofia, e solidariedade com a luta comum contra Hitler. Em conseqüência disso,
não de filosofia social. Com Horkheirner, é claro, seguiu o própri_o Institut, Horkheirner e os outros relutaram em romper os laços com a nação que
com sua dotação e sua biblioteca. A reinstalação do lnstitut, ele recordou lhes acolhera durante cerca de quinze anos. Aliás, Horkheirner só concor­
depois,' não deveria ser entendida corno urna Wiedergutmachung [repa­ dou em permanecer na Alemanha depois de certificar-se de que poderia
ração] por parte de um governo arrependido, pois nada poderia corrigir conservar sua cidadania americana. Por meio de um projeto especial, pa­
o que a Alemanha fizera. Pretendia ser, ao contrário, um gesto de home­ trocinado por McCloy e transformado em lei pelo presidente Trurnan em
nagem aos alemães que haviam resistido a Hitler, ajudando os judeus. julho de 1952, ele pôde manter a cidadania americana, apesar de ter re­
Colocado novamente diante dos estudantes alemães, Horkheirner logo tornado ao país de origern. 11
percebeu o acerto da sua decisão. "É espantoso", escreveu a Lõwenthal em Mais aflitivo do que os rigores de um novo traslado foi a perspectiva
fevereiro, "ver quão profunda e duradoura tinha sido a experiência [do de que nem todos os membros do Institut o acompanhassem no retorno
Institut] na mente de muitos intelectuais europeus até 1933. Essa expe­ para a Alemanha. Só Adorno estava realmente ansioso por partir. Anos
riência não foi desacreditada ao longo de todo o período do Terceiro depois, ele explicaria seu desejo nos seguintes termos:
Reich. Agora, é nosso dever confirmá-la e aprofundá-la no futuro:'' A avi­
A decisão de retornar à Alemanha não foi motivada por simples necessida­
dez dos estudantes despertou nele urna resposta entusiástica. "Trabalhei des subjetivas ou pela saudade, por menos que eu possa negá-las. Houve
literalmente dia e noite nos últimos dois meses", escreveu Horkheirner em também uma razão objetiva. Foi a língua. Não se trata, apenas, de que nun­
abril. "O mais bonito ainda é o ensino. Mesmo durante as férias, não per­ ca se possa expressar numa nova língua> com a mesma exatidão que na lín­
demos o contato com os estudantes." 7 Seu virtuosismo no magistério gua materna, o que se pretende dizer, com todas as nuances e ritmos do flu­
Everett Hughes, que foi professor visitante em Frankfurt durante esses xo de pensamento. I-iá também a questão de que a língua alemã tem uma
afinidade eletiva [ Wahlverwandtschaft] especial com a filosofia e, com cer­
anos, lembra dele corno o melhor orador alemão que conheceu' -- e sua
teza) com seu momento especulativo. 12
simpatia pessoal nos seminários granjearam-lhe rapidamente um núme­
ro considerável de seguidores entre os estudantes. Uma vez estabelecidos, Pollock também se dispôs a ir, principalmente por lealdade a Hork­
Horkheirner e aqueles que o acompanharam nunca se arrependeram de heirner e ao Institut, e não por não gostar dos Estados Unidos.
terem decidido retornar, opção compartilhada por poucos emigrados. Mas não foi esse o caso de outros membros do círculo interno do
Não é difícil compreender por que Horkheimer hesitou vários anos Institut, especialmente quando ficou claro que não seria possível garantir
antes de tornar uma decisão que teve tanto sucesso. Os homens raramente cátedras na universidade. Em 8 de fevereiro de 1946, Lõwenthal tinha es­
se apressam a voltar para um lugar em que tenham sofrido ostracismo crito a Horkheirner: "Eu me encontro numa curiosa posição dialética. Em
e perseguição. Além disso, após o retorno, a situação exata do Institut 1938, fui o mais vigoroso defensor, entre todos nós, da recomendação de
permaneceu obscura por um tempo considerável; a tentativa de obter pa­ dissolver nossa estrutura organizacional. Hoje, vejo com mais clareza do
trocínio da Unesco naufragou num mar de vinganças pessoais. Ademais, que nunca os riscos possíveis." Mas, quando chegou a hora de pôr em

348 349
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA EPfLOGO

prática esse sentimento, Lõwenthal não conseguiu comprometer-se. O ca­ passou vários anos infelizes em Leipzig, até falecer em 1950. Gurland tam­
samento iminente com uma norte-americana, a psicóloga Marjorie Fiske, bém voltou à Alemanha em 1950, para lecionar na Hochschule für Politik
certamente contribuiu para sua hesitação. Em 1949, ele aceitou o cargo [Escola Superior de Política], em Berlim, depois na Technische Hochschule
de diretor da divisão de pesquisas da Voz da América, com isso encerran­ [Escola Técnica Superior], em Darrnstadt.
do uma permanência de 23 anos no exercício de um cargo no Institut. Sete A carreira de Wittfogel sofreu urna guinada importante nessa época,
anos depois, tornou-se professor de sociologia no campus de Berkeley da que merece alguns comentários. Em 1947, ele havia criado o Projeto de
Universidade da Califórnia. História Chinesa, patrocinado pelas universidades de Washington e Co­
Marcuse, cuja ligação com o Institut foi-se tornando cada vez mais tê­ lúmbia, o que constituíra o último passo em seu desligamento do Institut.
nue durante a década de 1940, optou por permanecer no Departamento Quatro anos depois, durante o crescente furor em torno da suposta in­
de Estado até 1950, quando retornou à Colúmbia como professor de so­ filtração comunista em instituições governamentais e acadêmicas, ele foi
ciologia e membro sênior do Instituto Russo. Durante os dois .anos seguin­ intimado a comparecer perante a Subcomissão de Segurança Interna da
tes, também trabalhou no Centro de Pesquisas Russas de Harvard, o que Comissão Judiciária do Senado, chefiada pelo senador Pat McCarran. 14
gerou seu livro Soviet Marxism [O marxismo soviético]." Em 1954, ligou­ Tempos depois, Wittfogel afirmou ter comparecido com grande relutância
se ao projeto de história das idéias da Universidade Brandeis, lá perma­ e disse que o depoimento, prestado em 7 de agosto de 1951, foi sua única
necendo por onze anos, durante os quais sua reputação cresceu conti­ contribuição para a histeria anticomunista daqueles anos. 15 O Institut foi
nuamente entre os grupos contestadores, por causa de Eros e civilização e mencionado corno tendo realizado o contato inicial com o Instituto de
de A ideologia da sociedade industrial. Quando ele trocou a cidade de Relações Pacíficas, cuja infiltração por supostos comunistas ele comentou
Waltham,* em Massachusetts, pela Universidade da Califórnia em San com alguma minúcia. Julian Gurnperz, que tinha sido citado corno mem­
Diego, em 1965, estava prestes a se tornar um inspirador internacional da bro do Partido Comunista no depoimento de Hede Massing, cinco dias
nascente Nova Esquerda. antes, foi identificado corno o intermediário. A única outra figura perife­
Otto Kirchheimer também continuou a trabalhar no governo depois ricarnente associada ao Institut cujo nome surgiu nos comentários de
da guerra, primeiro como analista da Divisão de Pesquisas sobre a Euro­ Wittfogel foi M. !. Finley, cuja decisão subseqüente de deixar os Estados
pa, no Departamento de Estado, e depois, de 1950 a 1955, como chefe da Unidos e partir para a Inglaterra certamente foi influenciada pelas reper­
Divisão da Europa Central. Nos sete anos seguintes, integrou o corpo cussões desse depoimento. A decisão de Finley, podemos assinalar entre
docente da pós-graduação da antiga concorrente do Institut, a Nova Es­ parênteses, acabou por se revelar bastante acertada, pois no fim da déca­
cola de Pesquisas Sociais, na cidade de Nova York. Em 1961, publicou seu da de 1960 ele assumiu a cátedra de literatura clássica em Cambridge.
volumoso livro Political Justice [Justiça política]. No ano seguinte, ingres­ Wittfogel também introduziu urna nota queixosa em seu depoimento,
sou no Departamento de Ciência Política na Universidade Colúmbia, onde ao declarar que seus contatos acadêmicos haviam-se extinguido quando
lecionou até morrer, em 1965, dias depois de completar sessenta anos. Ou­ ele se tornara anticomunista confesso. Não há dúvida de que seus ex-co­
tros ex-integrantes do lnstitut também assumiram cargos em universida­ legas do lnstitut consideraram sua nova postura um anátema, especial­
des norte-americanas: Neumann na Colúmbia, Gerhard Meyer na Univer­ mente por causa de suas revelações pessoais sobre ligações políticas ante­
sidade de Chicago e Massing na Rutgers, onde Joseph Maier e M. !. Finley riores. Eles tinham a firme convicção de que a colaboração dele com os
também trabalharam. Kurt Mandelbaum, que trocou seu sobrenome por caçadores de bruxas fora muito além daquele único dia perante a Comis­
Martin, acabou por se tornar economista em Manchester, na Inglaterra. são de McCarran, a despeito de suas reiteradas negativas. Seja qual for a
Henryk Grossmann, corno dissemos, retornou à Alemanha, mas não com verdade, Wittfogel tornou-se persona non grata para a Escola de Frankfurt
o Institut. Em vez disso, foi para a zona controlada pelos soviéticos, onde daquele momento em diante, assim como para muitos outros acadêmicos
de orientação liberal nos Estados Unidos. Embora Horkheimer tenha-se
*Onde se situa a Universidade Brandeis. [N.T.] decepcionado com as decisões de alguns membros do Institut de perrna­

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<
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA EPÍLOGO

necer na América do Norte, não sentiu nenhum pesar pela escolha feita conceito para o alemão. Embora o Zeitschrift não tenha sido ressuscitado,
por Wittfogel. o Institut logo começou a publicar a série Frankfurter Beitrage zur Sozio­
O lnstitut voltou para Frankfurt com uma equipe muito diminuída. logie [Contribuições de Frankfurt para a Sociologia], cujo primeiro volu­
Mesmo assim, o apoio que recebeu foi considerável. Em junho de 1949, me foi uma Festschrift [edição comemorativa J para Horkheimer, em seu
circulou uma petição para que fosse reaberto. A lista de signatários foi das sexagésimo aniversário. 19
mais impressionantes, numa indicação da estima de muitos acadêmicos Durante os primeiros anos do retorno, Horkheimer ocupou-se predo­
pelo !nstitut. Entre os nomes estavam os de Gordon Allport, Raymond minantemente da reorganização do Institut e de assuntos acadêmicos na
Aron, G. D. H. Cole, G. P. Gooch, Morris Ginsberg, Eugen Kogon, Paul universidade.'º Em 1950, foi eleito decano do Departamento de Filosofia
La~arsfeld, Robert Lynd, Talcott Parsons, Paul Tillich, Robert Maclver e e, em novembro do ano seguinte, aos 56 anos, foi escolhido reitor da uni­
James T. Shotwell. "A função da sede renascida de Frankfurt", dizia a peti­ versidade.21 Werner Richter, que se tornara reitor da Universidade de Bonn
ção, "seria dupla: o planejamento e a condução de projetos de pesquisa e, uma semana antes, foi o primeiro cidadão naturalizado norte-americano
talvez mais significativo, a instrução oferecida a uma nova geração de es­ a assumir a reitoria de uma universidade alemã; Horkheimer foi o segun­
tudantes alemães sobre os modernos desenvolvimentos das ciências so­ do. Houve, então, algo ainda mais simbólico: o diretor do lnstitut foi o
ciais." 16 O apoio financeiro veio de diversas fontes. O Fundo McCloy for­ primeiro judeu a chegar a esse cargo na história alemã. Em 1952, foi elei­
neceu 236 mil marcos, metade do total necessário para a reinstalação. to para outro período de doze meses. Terminado o mandato, recebeu o
A Gesellschaft für Sozialforschung [Sociedade de Pesquisa Social], guardiã Prêmio Goethe, a mais alta honraria conferida pela cidade de Frankfurt.
dos recursos do Institut, doou tudo o que lhe restava, o que correspondeu Sete anos depois, já aposentado, morando na Suíça, a cidade o elegeu ci­
a 1/3 a mais que o necessário. O restante veio da cidade de Frankfurt e de dadão honorário vitalício.
doadores particulares. Felix Weil, podemos acrescentar entre parênteses, Os laços de Horkheimer com os Estados Unidos continuaram sólidos.
não pôde mais oferecer apoio, por causa da inflação na Argentina. 17 A filial do Institut em Nova York, apesar de inativa nas duas décadas se­
Em agosto de 1950, tendo Adorno como diretor assistente - cinco guintes, foi mantida sob os cuidados de Alice Maier. O próprio Hork­
anos depois, ele foi promovido ao cargo de co-diretor, ficando no mesm_o heimer prestou serviços como consultor estrangeiro à Biblioteca do Con­
nível que Horkheimer - , o !nstitut iniciou seus trabalhos, instalado em gresso, para a qual preparou um Levantamento das ciências sociais na
salas do Kuratorium, na Senckenberganlage, e nos restos recuperados do Alemanha Ocidental. 22 Em 1954, ele voltou por um curto período aos
prédio vizinho bombardeado, que tinha sido a sede original do lnstitut. 18 Estados Unidos, passando a integrar em regime parcial o corpo docente
Em 14 de novembro do ano seguinte, um novo prédio lhe foi entregue, da Universidade de Chicago, à qual retornou periodicamente nos cinco
na mesma rua, não muito longe do local onde ficava o anterior. Alois anos seguintes. Adorno, entretanto, permaneceu em Frankfurt e nunca
Geifer, o arquiteto, projetou um edifício despojado e funcional, que fazia mais voltou aos Estados Unidos, após seu breve período com a Fundação
lembrar o esforço anterior do estilo Neue Sachlichkeit [nova objetividade], Hacker, em Los Angeles, em 1953. Quando Horkheimer e Pollock se apo­
de Franz Rockle. Os ilustres sociólogos René Kónig e Leopold von Wiese sentaram, em 1958, na cidade suíça de Montagnola, onde construíram ca­
discursaram na cerimônia de inauguração, assim como Felix Weil. Apro­ sas vizinhas com vista para o lago Lugano, Adorno assumiu a direção do
priadamente, a música que deu início aos trabalhos foi de Schõnberg. lnstitut. Horkheimer e Po!lock continuaram a ter um interesse ativo nas
O "Café Max", como o Institut passou a ser conhecido entre os novos alu­ questões da instituição durante a década de 1960, mesmo depois que no­
nos, voltou a funcionar plenamente. O novo nome era uma referência não vos integrantes, como Rudolf Gunzert, que chefiava o serviço de estatísti­
apenas a Max Horkheimer, mas também ao apelido do Institut antes da cas do lnstitut, e Ludwig von Friedeburg, que dirigia o trabalho empírico,
guerra, "Café Marx". A queda do "r" simbolizou o afastamento do radica­ começaram a assumir uma parcela maior dos deveres administrativos.
lismo durante o período norte-americano do lnstitut. Significativamente, Horkheimer também continuou a escrever, embora em ritmo um pouco
uma das primeiras tarefas foi a tradução de vários dos Estudos sobre o pre­ mais lento que antes. Seus ensaios mais novos foram incluídos na Crítica

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MARTIN JAY • A IMAGINAÇÃO DIAL~TJCA EP{LOGO

da razão instrume~tal, lançada em 1967, junto com a tradução alemã de anterior de outsider. O sentimento de uma nítida "Escola de Frankfurt",
Eclipse. da razão, feit~ por Alfred Schmidt. Os esforços para convencê-lo. a com toda a rigidez intrínseca implicada nisso, começou a se cristalizar.
republicar seus ensaios do Zeitschrift inicialmente malograram. Em junho "Quem quiser ser fiel a Schõnberg", escrevera Adorno, "deve se precaver
de 1965, escreveu uma carta à S. Fischer Verlag, explicando que sua rel _ contra todas as escolas dodecafônicas." 28 Ser fiel ao espírito original da
tância decorria da modificação das circunstâncias em que os ensaios hu _ teoria crítica, diriam os críticos do Institut, 29 era precaver-se contra a rei­
viam sido escritos; argumentou que o conteúdo deles talvez fosse mal e~­ ficação da "Escola de Frankfurt". Além disso, o que desanimou ai~da .mais
tendido no novo momento. 23 Mas, em 1968, finalmente cedeu, e a tão os adeptos mais jovens e radicais do lnstitut foram as repercussoes ideo­
esperada reedição foi publicada em dois volumes, intitulados Teoria críti­ lógicas da mudança. O espírito da Guerra Fria, que Horkheim~r e os ou­
ca. Seu lançamento foi um estímulo para o interesse pela história d 0 tros tanto haviam lutado para combater na década de 1940, foi aos pou­
30
lnstitut, entre cujos resultados encontra-se o presente estudo. cos se infiltrando em seus pronunciamentos nas décadas de l 950 e l 960.
Um abismo cada vez maior começou a separar Horkheimer e Adorno, de
Neste momento, ~ão é possível apresentar mais do que esta sinopse um lado, e Marcuse, cujas inclinações políticas se mantiveram firmemen­
sumamente esquemática da história do Institut e da de seu principal inte­ te à esquerda. Não houve um reconhecimento público dessa cisão, por
grante, após o retorno à Alemanha. Do mesmo modo, uma discussão sé­ causa dos laços pessoais que ainda prevaleciam, mas as discordâncias pri­
ria do amplo corpus de trabalhos publicado por Adorno desde o início d vadas foram agudas. Quando Marcuse ganhou destaque, não foi como di­
década de 1950 até sua morte, no verão de 1969, precisará esperar outr: rigente de uma grande universidade norte-americana. E o .rec~n.hecimen­
24
ocasião. O mesmo se aplica a uma análise da influente transmissão do to público de sua ligação com a Escola de Frankfurt. foi mmn~o. Sem
trabalho da Escola de Frankfurt a um novo público norte-americano, fei­ qualquer vínculo institucional além do de docente de diversas umversida­
ta por Marcuse na década de 1960.25 Por nos limitarmos ao período ante­ des, ele não foi afetado pela necessidade de apresentar uma face "respon­
rior a 1950, não abordaremos a época de maior impacto do Institut. Em sável" perante um público que se mantinha na expectativa. Seria um exa­
vez dela, optamos por nos concentrar em seus anos de maior criatividade gero atribuir a esse fator a divergência entre Marcuse e seus ex-colegas, em
os vividos no exílio nos Estados Unidos. . ' caráter exclusivo ou mesmo primordial, mas é provável que ele tenha sur­
Seria possível argumentar que uma das condições dessa fecundidade tido algum efeito. .
criativa foi, precisamente, o relativo isolamento da Escola de Frankfurt Destacar a coerência institucional da Escola de Frankfurt depois de
durante aqueles anos. Após reinstalar-se na Alemanha no início da déca­ 1950 não significa dizer que essa coerência lhe houvesse faltado ao longo
da de 1950, Horkbeimer foi tratado como celebridade por uma comuni­ de sua história. Como assinalou Edward Shils, 31 um dos principais fatores
dade frankfurtiana que se sentia grata pelo resgate de pelo menos um so­ que promoveram sua influência, pelo menos em c~mparaçã~ com figuras
brevivente da cultura de Weimar. Ele se igualou a Konrad Adenauer,* mais isoladas, como Karl Mannheim, foi a contmmdade mstituc10nal
aparecendo freqüentemente no rádio, na televisão e na imprensa." Ha­ ininterrupta por quase meio século. Horkbeimer, a despeito de sua d~­
viam ficado para trás os tempos em que escrevera a Lõwenthal para dizer clarada antipatia pelas tarefas prosaicas da administração, foi um orgam­
que, "além de três ou quatro de nós, certamente existem outros corações zador sagaz de homens e um hábil articulador de apoios financeiros.
e mentes que sentem algo parecido com os nossos, mas não podemos vê­ Pollock, economista por formação, era considerado menos habilidoso na
los, e talvez eles estejam impedidos de se expressar''." administração de recursos do que Horkbeimer, o filósofo." Um ex-asso­
Com o reconhecimento e a aclamação pública começou um desgaste ciado, Paul Lazarsfeld, ele próprio um "executivo
' acadAemico
' »33 altamente
gradativo da acuidade crítica do lnstitut, que fora reforçada pela condição qualificado, reconheceu que Horkheimer possuía qualidades. similares,
embora não tão explícitas. 34 A manutenção obstinada da identidade cole­
* Político democrata-cristão que foi o primeiro chanceler da República Federal da Alema­ tiva do Institut, por meio de uma série de deslocamentos sucessivos, deve
nha, exercendo a chefia do governo entre 1949 e 1963. ser atribuída, em larga medida, à personalidade complexa de Horkbeimer,

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DJALÊTICA EPfLOGO

à sua cil\acidade intelectual e ao seu instinto organizacional prático. "Você permitiu que o público norte-americano formasse opiniões dúbias sobre
não faz iêléia':~sunentou Pollock certa vez, "de quantas coisas vindas de seu trabalho, com base nas amostras publicadas em inglês.
Horkheimer ficaram na história do Institut e nos escritos de seus mem­ São complexas as razões pelas quais o Institut rejeitou a assimilação que
bros. Sem ele, é provável que tivéssemos evoluído de maneira diferente:'" outros refugiados buscavam ansiosamente. Originalmente, ele tinha uma
Quando a persuasão falhava, como nos casos de Fromm e Neumann, equipe formada por homens que estavam politicamente ligados, em graus
Horkheimer se dispunha a providenciar para que o adversário intransi­ diferentes, ao radicalismo de Weimar. Apesar da filiação partidária de al­
gente fosse delicadamente desvinculado dos assuntos do lnstitut, em vez guns de seus primeiros adeptos, o Institut como um todo estava livre de
de permitir uma divergência prolongada de opiniões. Paul Massing, ao qualquer vínculo com organizações políticas formais. Além disso, desde o
descrever a lealdade de outro membro do Institut a Horkheimer, chegou começo manteve-se distante da hierarquia acadêmica normal da Alema­
a citar versos do Wallenstein, de Schiller: "Como não me era dado ser seu nha, apesar de conservar laços frouxos com a Universidade de Frankfurt.
igual, resolvi amá-lo incondicionalmente." 36 Embora fosse injusto reduzir Por último, apesar de seus membros provirem em geral de famílias judias
os outros componentes do círculo interno do Institut a satélites de assimiladas - nesse aspecto, Fromm, com seus antecedentes mais orto­
Horkheimer, a predominância dele não costumava ser questionada. Den­ doxos, foi a grande exceção - , mesmo assim eram judeus, cuja margina­
tre todos os seus colegas, apenas Adorno pareceu exercer tanta influência lidade na sociedade alemã nunca fora plenamente superada. Em suma, ao
sobre ele quanto a que recebia dele. contrário de muitos outros exilados que se instalaram nos Estados Uni­
O que distinguiu o Institut nos Estados Unidos e o Institut na segunda dos, a Escola de Frankfurt já era uma espécie de grupo outsider antes de
encarnação em Frankfurt não foi sua coerência organizacional em si. Foi, ser obrigada a deixar a Alemanha.
antes, o papel que a organização desempenhou na interação do Institut Como não é de admirar, o trauma da tomada do poder pelos nazistas
com seu meio social e intelectual. Nos Estados Unidos, ela funcionou no serviu para reforçar o status do lnstitut. Em um ou outro momento, mui­
sentido de manter Horkheimer e seus colegas significativamente isolados tos de seus membros foram forçados a usar pseudônimos: Horkheimer foi
do mundo exterior. Financeiramente independente, pelo menos no que "Heinrich Regius"; Adorno, "Hektor Rottweiler"; Benjamin, "Detlef Holz"
concernia a seu trabalho teórico, e sozinho no prédio da Rua 117, o Ins­ e "C. Conrad"; Wittfogel, "Klaus Hinrichs" ou "Carl Peterson"; Kirch­
titut pôde continuar a produzir com poucas pressões ou interferências ex­ heimer, "Heinrich Seitz"; Massing, "Karl Billinger"; Borkenau, "Fritz Jung­
ternas. Sua decisão de escrever em alemão significou, entre outras coisas, mann"; e Kurt Mandelbaum, "Kurt Baumann". Mais grave que isso, os
a impossibilidade de conquistar um grande número de seguidores norte­ nazistas mataram alguns homens ligados ao lnstitut. Entre as baixas fi­
americanos. Embora alguns estudantes naturais do país, como Benjamin guraram Andries Sternheim, Karl Landauer, Paul Ludwig Landsberg e,
Nelson e M. !. Finley, tenham sido formados pelo Institut em Morningside indiretamente, Walter Benjamin. Outros, como Wittfogel e Massing, co­
Heights, não se desenvolveu uma verdadeira "Escola de Frankfurt" nos nheceram campos de concentração, embora tenham tido a sorte de ser
Estados Unidos. Com isso, ficou assegurada a condição de outsider do libertados antes que esses campos se transformassem em centros de ex­
Institut, a despeito de suas ligações com benfeitores prestigiosos como a termínio. Há poucos motivos para questionar a origem da incerteza per­
Universidade Colúmbia e a Comissão Judaica Norte-Americana. manente dos membros do lnstitut quanto à sua segurança, mesmo depois
Os custos foram óbvios. Apesar de manter contato freqüente com os da emigração para a América do Norte. E com essa insegurança veio o
docentes regulares da Colúmbia, a Escola de Frankfurt, de modo geral, recolhimento do Institut. Ainda em 1946, Horkheimer incluiu a seguinte
permaneceu fora da corrente central da vida acadêmica norte-americana. citação de Edgar Allan Poe em uma carta a Lõwenthal:
Isso lhe permitiu fazer suposições, como a equiparação do pragmatismo
O espírito muito generoso - que verdadeiramente sente o que todos ape­
ao positivismo, que não eram completamente válidas. Também isolou o nas professam - está fadado, inevitavelmente, a perceber que é mal enten­
Institut de aliados potenciais na tradição intelectual norte-americana, dido em toda parte e que seus motivos são mal interpretados. Tal como a
como George Herbert Mead. 37 Por último, inadvertidamente, a entidade inteligência extrema tende a ser considerada uma vaidade, o excesso de ca­

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA EPILOGO

valheirismo não pode deixar de ser visto como mesquinharia em último conclusões. Minima moralia de Adorno, com sua redução da filosofia a
grau - e assim sucessivamente, em relação às outras virtudes. É um assun­ "reflexões a partir da vida danificada", foi urna inequívoca expressão dis­
to doloroso. A existência de indivíduos que se elevaram dessa maneira aci­
so. O lnstitut nunca aceitou a glorificação rnannheirniana da "intelec­
ma do plano de sua raça dificilmente poderia ser questionada; no entanto,
ao voltarmos os olhos para a história pregressa em busca de vestígios dessa tualidade autônoma''.* "A resposta à reverência de Mannheirn pela inte­
existência, devemos deixar de lado todas as biografias "dos bons e dos gran­ lectualidade corno 'autônoma'", escreveu Adorno, "deve ser buscada não
des" para vasculhar cuidadosamente os escassos registros dos infelizes que no postulado reacionário de seu 'enraizamento no ser', mas no fato de que
morreram na prisão, no manicômio ou nas galês. a própria intelectualidade que pretende circular sem compromisso se
Horkheirner acrescentou: "Nos últimos anos, nunca li frases que mais enraíza justamente no ser que precisa ser transformado, e cuja crítica
se aproximassem de nossas idéias do que essas.'' 38 aquela inteligência finge fazer.'' 40
Após a volta para Frankfurt, isso mudou. Urna das motivações do re­ A zelosa preservação da condição de outsider por parte do Institut en­
torno tinha sido o efeito que o lnstitut poderia exercer em urna nova ge­ raizou-se no reconhecimento de que tal posição, de certo modo, era urna
ração de estudantes alemães. Isso significaria urna participação muito precondição para manter urna postura realmente crítica no trabalho teó­
maior na vida normal da comunidade universitária. Em vez de se desen­ rico. Isso, entretanto, significava autonomia não só em relação à política
volver em relativo isolamento, a Escola de Frankfurt passou a ser urna das normal, às instituições acadêmicas e à cultura de massa, mas a quaisquer
grandes correntes do pensamento sociológico e filosófico alemão. Em vez forças sociais que alegassem encarnar a negação. Ao contrário de marxis­
de ignorado, seu trabalho tornou-se fonte de intensa disputa, cuja magni­ tas mais ortodoxos, a Escola de Frankfurt nunca achou que a interação
tude, corno já mencionamos, rivalizou com a Methodenstreit [disputa me­ pessoal de trabalhadores com intelectuais fosse benéfica para qualquer dos
todológica] que havia cindido o pensamento social alemão meio século dois. Já em "Teoria tradicional e teoria crítica'', em 1937, Horkheirner ha­
antes. Sem a barreira lingüística, as idéias do lnstitut se disseminaram via negado o vínculo necessário entre a teoria radical e o proletariado, de­
corno nunca. Até a mais conservadora das ciências sociais, a história, foi fendendo, em vez disso, urna aliança com todas as forças "progressistas"
influenciada pela teoria crítica. 39 Em contraste com a árida paisagem in­ dispostas "a dizer a verdade''. 41 Em 1951, Adorno descartara a possibilida­
telectual da Alemanha do após-guerra, a Escola de Frankfurt destacou-se de de que qualquer coletividade estivesse do lado da verdade e situara o
ainda mais do que teria feito se as condições fossem semelhantes às que resíduo dessas forças sociais progressistas no indivíduo crítico. Em anos
tinham vigorado na República de Weimar. Em suma, depois de 1950, a posteriores, isso levou a urna negação de que os estudantes radicais, ou
existência institucional da Escola de Frankfurt serviu de mediadora posi­ outros grupos "negativos" nascentes, fossem forças sociais legítimas em
tiva entre as idéias de seus componentes e a sociedade corno um todo. Em defesa de mudanças verdadeiras. Depois de 1950, o Institut pode ter-se
vez de isolamento, isso proporcionou urna plataforma para a propagação reintegrado, mas não com os grupos com os quais seus membros se ha­
da teoria crítica, tal corno ela se desenvolvia no novo contexto. viam identificado em períodos anteriores nem com seus autodenomina­
Não é nosso propósito discorrer sobre a reintegração parcial do lnstitut dos sucessores. Apesar do desdém pelas idéias de Mannheirn sobre os in­
após seu retorno a Frankfurt, mas enfatizar o contraste representado por telectuais autônomos, os integrantes da Escola de Frankfurt tornaram-se
essa situação com o isolamento dos anos norte-americanos. Mesmo sem cada vez mais parecidos com esse modelo.
estabelecermos ligações diretas demais entre o teor da teoria crítica e as
experiências de seus criadores, podemos assinalar que a ênfase da Escola Explicar o trabalho do lnstitut a partir das experiências pessoais de
de Frankfurt na negação, na não-identidade e na necessidade de nicht isolamento de seus membros seria insuficiente. Se a Escola de Frankfurt
mitzumachen [não se integrar], segundo urna expressão freqüentemente estava separada de seu entorno cultural, ela continuava a ter laços vitais
usada, foi compatível com essas experiências. com urna tradição histórica específica. Em 1938, Benjamin tinha escrito:
Contudo, sugerir isso a fim de fazê-la descer do pedestal seria um exer­
cício inútil, pois a Escola de Frankfurt parece haver chegado às mesmas '"Ou "intelectualidade descomprometida': [N.T.j

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA EPILOGO

"Os trabalhadores do Institut für Sozialforschung convergem na crítica à ráveis. Com efeito, havia algumas semelhanças marcantes entre sua pos­
consciência burguesa. Essa crítica não ocorre de fora para dentro, mas tura e a da elite culta alemã, descrita por Fritz Ringer em O declínio dos
como uma autocrítica:'" Apesar do entusiasmo inicial de Horkheimer e mandarins alemães. 44 O Institut, é claro, fora fundado para se contrapor
seus amigos pelo socialismo, eles eram filhos de famílias da alta burguesia. aos efeitos do que Grünberg chamava de Mandarinanstalten. 45 Entretan­
Em certo sentido, compartilhavam os sentimentos antiburgueses de mui­ to, ele e Ringer definiam "mandarins" de modo muito diferente. Para
tos de seus contemporâneos da classe média. Contudo, em vez de segui­ Grünberg, estes eram os intelectuais técnicos alemães que colocavam sua
rem a linhagem clássica, expressa com extrema clareza em Os Budden­ habilidade a serviço do status quo; para Ringer, eram semelhantes aos lite­
brooks, de Mann * - a primeira geração ganha o dinheiro, a segunda ratos chineses que Max Weber havia estudado: "Uma elite social e cultu­
consolida a posição social, e a terceira se retrai num mal-estar estético_ ral que deve seu status sobretudo às qualificações educacionais, e não aos
'
eles seguiram um padrão um pouco diferente. No seu caso, a iconoclastia direitos hereditários ou à riqueza."46 No fim do século XIX, os "manda­
intelectual, combinada com um senso de responsabilidade social, sucedeu rins" de Ringer haviam alcançado uma ascendência de curta duração du­
diretamente a aquisição da riqueza. Sem a geração intermediária da res­ rante o período de equilíbrio produzido pelo declínio da elite latifundiá­
peitabilidade social, eles foram menos compelidos a afirmar sua
ria e a ascensão ainda incompleta da burguesia industrial. Mais ou menos
independência por meio de estilos de vida rebeldes do que outros filhos
em 1890, entretanto, eles se viram ameaçados pela vitória iminente desta
antiburgueses da burguesia. Evitando as extravagâncias da geração expres­
última sobre a primeira, à medida que o Industriestaat [Estado industrial]
sionista, cujo momento na história antecedera imediatamente o deles,
começou a suplantar o Agrarstaat [Estado agrário]. Como resultado, as­
Horkheimer e os outros canalizaram todas as energias críticas para o cam­
sumiram uma postura cada vez mais defensiva e rígida contra a ascensão
po relativamente impessoal da reflexão social. A não ser pela perda de uma
da modernidade e da sociedade de massa.
religiosidade inicial por parte de Fromm e Lõwentbal, eles parecem haver
De certa maneira, a Escola de Frankfurt poderia ser comparada ao
escapado do que depois se viria a chamar de crise de identidade. A típica
Wandlung [transformação J expressionista, demonstrada da maneira mais modelo de Ringer. Tal como os mandarins e ao contrário de socialistas
clara na peça de Ernst Toller que leva o mesmo nome, não foi uma fase mais ortodoxos, seus trabalhos escritos eram mais permeados por um sen­
pela qual eles tenham passado. Mantendo distância dos absurdos cotidia­ timento de perda e declínio do que por expectativa e esperança. Eles tam­
nos da República de Weimar e, posteriormente, da vida norte-americana, bém partilhavam a antipatia dos mandarins pela sociedade de massa e pe­
eles também souberam evitar a amargura e o mau humor que caracteriza­ los valores utilitaristas e positivistas que ela fomentava. Similarmente,
ram outros intelectuais de esquerda mais próximos dessas ocorrências, opunham-se ao espírito de especialização que parecia perpassar a vida in­
como Kurt Tucholsky. Apesar de outsiders, eles viveram em relativo con­ telectual moderna. "O que realmente os inquietava", escreveu Ringer so­
forto durante todas as peregrinações. Benjamin, o personagem do Institut bre os mandarins, numa frase que poderia facilmente aplicar-se ao lnstitut,
cuja vida mais foi marcada pelo infortúnio, bem poderia ter expressado "não era o isolamento das disciplinas entre si, mas a separação crescente,
ressentimento em seus escritos, não fosse a rigorosa dissociação entre a dentro das disciplinas, entre a erudição e certo tipo de filosofia."" A des­
vida e o trabalho, um estranho componente de sua personalidade." Os confiança manifestada pela Escola de Frankfurt em relação ao Iluminis­
outros reagiram a suas inseguranças acentuando seu controle do estilo de mo também era um componente essencial da defesa da Kultur tradicional
vida da alta burguesia em que tinham estado imersos desde o nascimento. alemã pelos mandarins. No exílio, eles se viam como combativos Kultur­
Os membros do Institut não só conservaram esse estilo de vida como triiger [portadores de cultura], uma auto-imagem com a qual os manda­
também se mantiveram fiéis, até certo ponto, a valores culturais campa­ rins certamente teriam se identificado. Por último, sua atitude intrinseca­
mente apolítica, mesmo no período em que a práxis era um imperativo
~· Thomas Mann, Os Buddenbrooks: decadência de uma família, trad. Herbert Caro. 3a ed. Rio em seus textos, suscita comparações com o desdém condescendente dos
de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. [N.T.] mandarins pelas disputas mesquinhas da política de interesses.

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~~--.~~--MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO OIALtT!CA EPÍLOGO

No entanto, apesar dessas semelhanças, os membros da Escola de sociedade moderna. Em vez de tratar com sentimentalismo a comunida­
Frankfurt desafiam urna classificação simplista corno modernos manda­ de e o "povo", o Institui procurava expor os perigos inerentes a essas con­
rins no exílio. Para começar, os mandarins de Ringer eram, basicamente, ciliações prematuras. Tanto a Volksgemeinschaft [comunidade popular J
integrantes do mundo acadêmico, líderes da elite intelectual estabelecida. nazista quanto a "sociedade unidimensional" dos Estados Unidos do após­
Corno assinalamos em muitas ocasiões, o Institut procurava dissociar-se guerra significavam a eliminação da subjetividade em nome de um con­
da comunidade universitária tradicional, cuja arrogância e elitismo criti­ senso ilegítimo e ideológico.
cava severamente. Em segundo lugar, o locus histórico de seus valores não Em suma, por mais que os membros do Institut pudessem ter absorvi­
era exatamente o mesmo dos mandarins. Corno observou Ringer, "os ele­ do a tradição rnandarínica em que nasceram, o impacto de sua exposição
mentos formais mais importantes da herança erudita dos mandarins eram precoce a Freud e, mais importante, a Marx continuou forte. O papel do
a crítica kantiana, as teorias do idealismo e a tradição histórica alemã"." próprio Institut na história do marxismo do século XX foi problemático,
A Escola de Frankfurt, por outro lado, tinha urna visão muito mais próxi­ sem dúvida. Apesar de seu abandono final de muitos dogmas essenciais
ma da dos hegelianos de esquerda da década de 1840. Por isso, ao contrá­ da teoria marxista - o potencial revolucionário da classe trabalhadora, a
rio de muitos mandarins, seus membros se recusavam a defender o idea­ luta de classes corno motor da história, 51 a subestrutura econômica corno
lismo vulgar corno antídoto ao materialismo vulgar. Corno vimos, a teoria centro de qualquer análise social - , a Escola de Frankfurt prestou um
crítica pretendia realizar urna superação dialética da tradicional dicotomia
idealismo-materialismo. Materialismo e positivismo não precisam ser si­
nônimos, corno presumiam muitos mandarins. Em terceiro lugar, a defe­
sa de valores culturais mais antigos pela Escola de Frankfurt nunca signi­
l
i
grande serviço ao marxismo nos primeiros anos. Ao ajudar a preservar a
integridade do impulso libertário de Marx numa época em que o stalinis­
rno campeava, Horkheirner e seus colegas tiveram um papel crucial na re­
cuperação desse impulso pelos radicais pós-stalinistas de anos posterio­
ficou hipostasiar esses valores corno algo distinto dos interesses materiais res. Ao questionar com persistência os pressupostos teóricos da teoria
e corno superior a eles. Era justamente essa separação que o Institut criti­ marxista, eles elevaram significativamente o nível das discussões nos cír­
cava duramente corno "cultura afirmativa". A preocupação com a felicida­ culos marxistas e, fora deles, ajudaram a fazer do marxismo um objeto le­
de corporal, sensual, raras vezes era compartilhada pelos mandarins, cujo gítimo de investigação. Ao empregar consistentemente o materialismo his­
idealismo tinha um lado ascético. Corno não é de admirar, os mandarins tórico corno urna crítica aberta, e não um corpo de verdades aceitas,
não viam nenhuma serventia na psicanálise, que Horkheirner e seus cole­ ajudaram a devolver vitalidade ao que ameaçava tornar-se um dogmatis­
gas queriam integrar à teoria crítica. 49 mo esclerosado. Disposto a desbravar novos campos, o lnstitut possibili­
O que diferenciava a crítica da sociedade moderna feita pela Escola de tou a interpenetração fecunda de sistemas aparentemente incompatíveis,
Frankfurt era que, sem descartar de imediato os valores dos mandarins, corno a psicanálise e o marxismo. Por último, ao aplicar aos fenômenos
Horkheirner e os outros demonstraram que absolutizar esses valores leva­ culturais, com habilidade e imaginação, argumentos que estavam implíci­
va, inevitavelmente, à traição deles. Corno afirmou Adorno: tos em Marx, a Escola de Frankfurt ajudou a resgatar a crítica cultural
Se a crítica cultural, mesmo no que tem de melhor, com Valéry, alia-se ao
materialista das literatices estéreis do realismo socialista.
conservadorismo, é pela adesão inconsciente a uma idéia de cultura que, No fim, porém, o lnstitut apresentou urna revisão tão substancial do
durante a era do capitalismo avançado, almeja uma forma de propriedade marxismo, que renunciou ao direito de ser incluído entre suas muitas ra­
que seja estável e independente das oscilações do mercado. Essa idéia de cul­ mificações. Ao contestar a existência real ou mesmo potencial de um su­
tura afirma sua distância do sistema como que para oferecer segurança uni­ jeito histórico capaz de implementar urna sociedade racional, o lnstitut
versal em meio a uma dinâmica universal. 5º
acabou por descartar a premissa central da obra de Marx - a união entre
Por fim, a Escola de Frankfurt se distinguia dos mandarins pela recusa a teoria e a práxis. Os choques que seus membros tiveram com a Nova
de seus membros de buscar panacéias imediatas para as contradições da Esquerda alemã na década de 1960 foram um desdobramento dessa trans­

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'
MARTIN JAY ·A JMAG!NAÇÃO D!AltTICA EPILOGO

formação anterior. Para muitos marxistas mais ortodoxos, até a "grande sociedade norte-americana parecia sugerir que não havia uma distinção
recusa" de Marcuse pareceria um incentivo vago e impreciso à ação polí­ real entre a coerção nazista e a "indústria cultural". Na verdade, como acu­
tica, assim como a "negação indeterminada" do status quo na tradição sariam alguns de seus críticos, a experiência nazista tinha sido tão trau­
anarquista." Em 1962, Lukács expressou seu desdém e o de outros mar­ mática para os membros do Institut que eles só conseguiam julgar a so­
xistas pela Escola de Frankfurt, ao chamá-la de "grande hotel Abgrund" ciedade norte-americana em termos de seu potencial fascista." Pelo fato
[abismo]. 53 Com o aumento da popularidade de Marcuse em anos poste­ de se isolarem da vida norte-americana ao ponto que se isolaram, perde­
riores, até essa variante mais radical da teoria crítica foi alvo de ofensas ram de vista os fatores históricos singulares que tornavam o capitalismo
por parte dos marxistas ortodoxos. Isso, é claro, não tinha nada de novo. avançado e a sociedade de massa norte-americanos diferentes de seus
Felix Weil, por exemplo, lembrou-se de um incidente ocorrido em 1929. equivalentes europeus. O totalitarismo, como sempre insistiu o Institut,
Ele fizera algo que ocasionou esta réplica de um membro do comitê cen­ era um subproduto do liberalismo, e não seu avesso. Nos Estados Unidos,
tral do KPD [Partido Comunista da Alemanha]: "Que pena você nunca se porém, havia uma sociedade burguesa liberal que resistia à transforma­
haver filiado ao partido, Felix. Caso contrário, agora poderíamos expulsá­ ção. O Institut nunca investigou profundamente por que isso ocorria. Seus
!o."54 (Foram as mesmas p alavras, assma . 1emos entre parênteses, ouvidas membros tornaram claras as semelhanças entre a Europa e os Estados
55
por Kurt Tucholsky em 1932.) O que houve de novo foi a visibilidade Unidos, mas não enfatizaram as diferenças.
crescente da Escola de Frankfurt depois de 1950, a qual tornou seu mate­ Sugerir isso implica que o sucesso dúbio do trabalho teórico do Institut
rialismo insurgente uma ameaça maior para os marxistas mais convencio­ nos Estados Unidos foi sobretudo responsabilidade dele próprio. Mas a
nais e, como resultado, um objeto maior de desprezo. realidade era um pouco mais complexa. O que também se deve compreen­
Igualmente problemático foi o papel do Institut na migração intelec­ der é a magnitude do desafio da Escola de Frankfurt ao saber convencio­
tual que teve imenso impacto nos Estados Unidos. Seus esforços para aju­ nal do pensamento social norte-americano. Como afirmei em outro tra­
dar os refugiados que chegavam à América do Norte parecem ter sido balho,59 na recepção dada pela América do Norte aos refugiados da Europa
substanciais, mas as dimensões exatas só poderão ser conhecidas quando Central pode-se discernir um padrão seletivo de aceitação. Embora não
o Institut divulgar os nomes daqueles a quem apoiou. Por suas portas pas­ tenha deixado de haver exceções, as recepções mais calorosas ficaram re­
saram aproximadamente cinqüenta estudantes mais jovens, que depois vi­ servadas aos recém-chegados cujo pensamento se aproximava mais does­
riam a ser catedráticos norte-americanos, 56 incluindo figuras como Paul pírito da Neue Sachlichkeit [nova objetividade] que prevalecera nos anos
Honigsheim, Hans Gerth e Paul Baran. A colaboração com outras pessoas, intermediários da República de Weimar. Fosse na arquitetura, com a
como as do Grupo de Estudos de Berkeley sobre Opinião Pública, sem Bauhaus, na filosofia, com o Círculo de Viena, ou na sociologia, com o
dúvida também teve desdobramentos. tipo de pesquisa quantitativa de Paul Lazarsfeld, a ética de sóbria objeti­
Mas o impacto intelectual do Institut deve ser considerado desigual, na vidade e o progresso tecnológico sensibilizaram a vida intelectual norte­
melhor das hipóteses. Já assinalamos a influência considerável de seus es­ americana. O Institut, apesar do projeto de seu prédio original, havia cri­
tudos empíricos na década de 1940, assim como a de sua crítica à cultura ticado a Neue Sachlichkeit desde o princípio.'º Para Horkheimer e os
de massa. Em geral, porém, seu trabalho teórico não encontrou público. outros, ela representava o correlato estilístico da liquidação da subjetivi­
O esforço do Institut para impedir que a filosofia decaísse numa ciência dade, com a superação prematura das contradições da vida moderna.
social positivista não obteve um sucesso real. Em parte, isso refletiu sua Embora já não discorressem sobre o estilo como tal, eles continuaram a
tendência a formular críticas teóricas nos termos mais extremados. "Na criticar duramente os que trabalhavam conforme o espírito desse estilo.
psicanálise'; escrevera Adorno, "nada é verdade, exceto os exageros." 57 Na Nas décadas de 1930 e 1940, foram claramente contra a corrente. Só mais
teoria crítica, ao que às vezes parecia, seguia-se o mesmo princípio. Com tarde é que suas restrições às vantagens da modernidade começariam a
isso, por exemplo, em certos momentos, a crítica da Escola de Frankfurt à fazer sentido para o público norte-americano. Passaram-se décadas antes

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EPÍLOGO
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

que enfatizamos, nunca passou de um processo parcial e incompleto.


que surgisse um interesse generalizado por questões como a ecologia, a
racionalidade instrumental e a liberação das mulheres - questões de que "Escrever poesia depois de Auschwitz", registrou Adorno num de seus mo­
mentos mais amargos, "é um ato de barbárie:'" Escrever teoria social e
a Escola de Frankfurt havia tratado, com sofisticação, uma geração antes.
conduzir pesquisas científicas só seria mais tolerável se seu impulso críti­
Portanto, é discutível se o Institut teria ou não logrado êxito em setor­
nar uma grande força na vida intelectual norte-americana, se houvesse co negativo fosse mantido. Isso porque, como sempre insistiu a Escola de
Frankfurt, somente pela recusa de celebrar o presente é que se pode pre­
permanecido no país. Os membros que optaram por ficar acharam que
servar a possibilidade de um futuro em que escrever poesia deixe de ser
sim." A súbita popularidade de Marcuse na década de 1960, baseada so­
bretudo em escritos cuja direção geral fora prenunciada no trabalho an­ um ato de barbárie.
terior da Escola de Frankfurt, sugere que eles bem poderiam ter razão. Mas
o que aconteceu foi que figuras menos centrais na história do lnstitut,
como Fromm, Neumann e Wittfogel, adquiriram um impressionante nú­
mero de seguidores, enquanto Horkheimer continuou a ser um persona­
gem geralmente desconhecido nos Estados Unidos do após-guerra.
Especular sobre o que poderia ter ocorrido constitui muito menos a
tarefa do historiador, é claro, do que tentar compreender o que de fato
aconteceu. O lnstitut foi um componente singular de um acontecimento
ímpar na história ocidental recente. Nos tempos modernos, foi a única
aglomeração interdisciplinar de estudiosos que trabalhavam em diferen­
tes problemas a partir de uma base teórica comum. Além disso, embora a
dispersão fosse a norma no exílio, o Institut conseguiu manter-se unido.
Foi também o único representante coletivo da cultura de Weimar a sobre­
viver ao exílio e retornar para servir de ponte entre o passado cultural da
Alemanha e o presente pós-nazista. Ao se reinstalar em Frankfurt, ele pôde
não apenas ensinar técnicas metodológicas aprendidas na América do
Norte como também restabelecer a continuidade da rica herança que
Hitler tanto fizera por obliterar. Depois de ajudar a introduzir a cultur~
alemã nos Estados Unidos, ele passou a ajudar a levá-la de volta para a
Alemanha. Com estudiosos como Jürgen Habermas, Alfred Schmidt (que
foi nomeado sucessor de Adorno como diretor do lnstitut), Oskar Negt e
Albrecht Wellmer, seu impacto contínuo promete ser significativo, ainda
que sua sobrevivência institucional na década de 1970 pareça ameaçada
pela morte de vários de seus líderes mais velhos e pelo crescente tumulto
radical em suas fileiras estudantis.
Uma metáfora forçada, sugerida pela idéia hegeliana do retorno do es­
pírito para si mesmo, talvez parecesse apropriada neste ponto, não fosse
pelo fato crucial de que a verdadeira alienação da Escola de Frankfurt não
terminou com sua volta geográfica para casa. A reintegração do lnstitut,
367
366
NOTAS

Foram utilizadas as seguintes abreviaturas:


Grünbergs Archiv: Archiv für die Geschichte des Sozialismus und der Arbeiterbewegung
SPSS: Studies in Philosophy and Social Science
ZfS: Zeitschrift für Sozialforschung

PREFÁCIO À EDIÇÃO DE 1966

1. Constatou-se que até a realeza ficou curiosa. Quando estudava em Can1bridge, o


príncipe Charles foi instruído por seu tutor, Peter Lazlett> a ler One-Dimensional
man [A ideologia da sociedade industrial], de Marcuse. De acordo com um relato,
"Charles lhe disse que o tinha lido 'com o papai' numa viagem da família real pela
Austrália. Eles haviam inspecionado a tropa durante o dia e lido sobre a mistifica­
ção burguesa à noite [ ... ] Charles não comentou o que tinha aprendido". Bryan
Appleyard, "King of a Fragile New Europe?", The Sunday Times, Londres, 22 jul.
1990, p. 6.
2. De Friedrich Pollock para Martin Jay, Montagnola, 13 maio 1970.
3. Dick Howard e Karl E. Klare (orgs.), The Unknown Díntension: European Marxism
Since Lenin (Nova York, 1972).
4. Na V Conferência Anual de Estudiosos Socialistas, em setembro de 1969, fiz uma
palestra intitulada "The Metapolitics of Utopianism", que foi publicada, com uma
variedade de títulos escolhidos pelos editores, em Radical America, 4, 3 (abr. 1970);
Dissent, 17, 4 (jul.-ago. 1970); e George Fischer (org.), The Reviva! ofAmerican So­
cialism: Selected Papers ofthe Socialist Scholars Conference (Nova York, 1971). Ela
foi reproduzida em minha coletânea Permanent Exiles: Essays on the Intellectual
Migration Prom Germany to Ameríca (Nova York, 1986). Nesse texto, critiquei a
idéia totalizante de Marcuse sobre a "grande recusa" como uma espécie de metapo­
lítica estética que subestimava a importância do pluralismo.
5. Ele foi escrito antes de eu me ligar a Lõwenthal no corpo docente de Berkeley e
de ter o privilégio de travar com ele uma amizade calorosa e íntin1a. Sobre as mi­
nhas reflexões a respeito de seu legado, ver minha introdução na Festschríft de seu
octogésimo aniversário, na revista Te,los, 45 (outono 1980), e "Leo Lõwenthal: ln
Memoriam", Telas, 93 (outono 1992).
6. Mas de modo algum elas são inteiramente negligenciadas. Ver, por exe1nplo, as re­
centes coletâneas Erich Fromm und díe Frankfurter Schule, org. Michael Kessler e
Rainer Funk (Tübingen, 1992); On Max Horkheimer: New Perspectives, org. Seyla
Benhabib, Wolfgang Boníl e John McCole (Cambridge, Mass., 1993); Marcuse:
From the New Left to the Next Left, org. John Bokina e Timothy). Lukes (Kansas,
1994).

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

7. V;r, en1 particular, William E. Scheuerman, Between the Norm and the Exception: Wolin que a crítica habermasiana da Dialética do esclarecimento e do momento
lhe Frankfurt School and the Rule of Law (Cambridge, Mass., 1994). Um debate protopós-estruturalista "nietzschiano" da teoria crítica foi mais ela?ora~a ..ver
sobre as re~açõ,;s de Schm~tt com a teoria crítica foi la~çado por Ellen Kennedy, seu livro The Terrns of Cultural Criticism: The Frankfurt School, Existentzaltsm,
Ver seu artigo Carl Schmrtt and the Frankfurt School e as respostas de Martin Poststructuralism (Nova York) 1992). Uma defesa vigorosa de Adorno contra Ha­
)ay, "Reconciling the Irreconcilable? A Rejoinder to Kennedy", Alfons Sõllner bermas foi desenvolvida pelo filósofo inglês J. M. Bernstein. Ver, de sua autoria,
"Beyond Carl Schmitt: Political Theory in the Frankfurt School", e Ulrich K, The Fate ofArt: Aesthetíc Alienation Jrorn Kant to Derrida and Adorno (University
Preuss, "The Critique of German Liberalism: A Reply to Kennedy''. todos em Tela~ Park, Pensilvânia, 1992) e Recovering Ethical Life: Jürgen Habermas and the Future
71 (primavera 1987). Quanto à resposta da autora, ver Ellen Kennedy, "Carl ofCritícal Theory (Londres, 1995).
Schmitt and the Frankfurt Schoor: Telas, 73 (outono 1987). 19. Para uma comparação investigativa, ver Bernstein, The Fate ofArt.
8. Ver, por exemplo, a discussão de sua importância na América Latina em Martin 20. Sobre a questão da mimese1 ver meu ensaio "Mimesis und Mimetology: Adorno
Traine, "Die Sehnsucht nach dem ganz Anderen" Die Frankfurter Schule und Latei­ und Lacoue-Labarthe", em Gertrud Koch (org.), Auge und Affekt: Wahrnehmung
namerika (Colônia, 1994). Na Austrália, apesar de inspirar-se nos membros da Es­ und Jnteraktion (Frankfurt, 1995). Sobre a comparação com Lacan, ver Peter Dews,
cola de Budapeste que emigraram para lá na década de 1970, a revista Thesis Eleven The Logics of Disintegration: Post-Structuralist Thought and the Claims of Criticai
também mostra um vivo interesse pelo legado da teoria crítica. No Japão, uma re­ Theory (Londres, 1987); para uma reavaliação recente, ver Joel Whitebook, Per­
vista recém-lançada, Ba-Topos, desempenha um papel similar. version and Utopia: A Study in Psychoanalysis and Crítical Theory (Cambridge)
9. David Harvey, The Condition of Postmodernity: An Enquiry into the Origins ofCul­ Mass., 1995).
tural Change (Oxford, 1989). 21. Ver, por exemplo, Paul Breines, "Revisiting Marcuse with Foucault: An Essay
10. Ibid., p. 159. A tese de Offe pode ser encontrada em seu livro Disorganized Capi­ on Líberation meets The J-Iistory of Sexuality", em Marcuse, org. Bokina e Lukes.
talism: C'ontemporary Transformations ofWork and Politics, org. John Keane (Cam­ Vários outros ensaios dessa coleção tentam ressituar Marcuse no debate sobre o
bridge, Mass., 1985). pós-modernismo.
11. Para uma crítica global, ver Moishe Postone, Time, Labor, and Social Domination: 22. Foucault, ''Adorno, Horkheimer, and Marcuse: Who is a 'Negator of History'?",
A Reinterpretation ofMarx's Criticai Theory (Cambridge, 1993), cap. 3. Remarks on Marx: Conversatíons with Duccio Trombadori, trad. R. James Goldstein
12. Para um levantamento geral da aceitação recente da teoria crítica e de suas com­ e James Cascaito (Nova York, 1991), p. 119-120. Foucault disse ao autor, certa vez,
plexas relações com outras escolas de pensamento, ver Peter Uwe Hohendahl, que a tradução francesa de The Dialectical Imagination, em 1977, fora a primeira
Reappraisals: Shifting Alignments in Postwar Criticai Theory (Jthaca, 1991). Para a alertá-lo para essas semelhanças. Comparar Foucault com a Escola de Frankfurt
uma análise que situa a obra de Benjamin e Adorno na história da estética, hoje tornou-se um passatempo freqüente; ver, por exemplo, Axel Honneth, Critique of
sumamente contestada, ver Terry Eagleton, The ldeology of the Aesthetic (Cam­ Power: Reflective Stages in a Critical Social Theory, trad. Kenneth Baynes (Cam­
bridge, Mass., 1990). bridge, Mass., 1991), e Michael Kelley (org.), Critique and Power: Recasting the
13. Quanto à minha tentativa de discutir essa postura) ver os ensaios "Habermas and Foucault!Habermas Debate (Cambridge, Mass., 1994).
Modernism" e "Habermas and Postmodernism" em Fin-de-Siecle Socialism and 23. Ver, por exemplo, os ensaios de Benjamin's Ground: New Readings ofWalter Benja­
Other Essays (Nova York, 1988). min, org. Rainer Nagele (Detroit, 1988).
14. Leo Lõwenthal) ''Against Postmodernisrn", entrevista com Emilio Galli Zugaro, em 24. Derrída, "Force of Law: The 'Mystical Foundation of Authority'", em Decon­
An Unmastered Past: The Autobiographical Reflections of Leo Ldwentha4 org. Mar­ struction and the Possibility ofJustice, org. Drucilla Cornell et aL (Nova York, 1992).
tin Jay (Berkeley, 1987), p. 262. Para outras informações sobre a resistência de 25. Ver, por exemplo, Margaret Cohen, Profane Illuminatíon: Walter Benjamin and the
Lõwenthal ao pós-modernismo, ver meu artigo "Erfahrungen und/oder Experi­ Paris of the Surrealist Revolution (Berkeley, 1993 ).
mentieren: Lõwenthal und die Herausfordung der Postmoderne", em Geschichte 26. Richard J. Bernstein, The New Constellation: The Ethical/Political Horizons of
Denken: Ein Notízbuch Jür Leo Ldwentha4 org. Frithjof Hager (Leipzig, 1992).
15. Fredric Jameson, Postmodernism: Or, The Cultural Logic of Late Capítalism 1
l
Modemity/Postmodernity (Cambridge, 1991).
27. Jean-François Lyotard, "A Svelte Appendix to the Postmodern Question", em
(Durham, 1991), p. 17. Political Writíngs, trad. Bill Readings e Kevin Paul (Mineápolis, 1993), p. 28.
16. Para um debate animado sobre essas questões, ver David Couzens Hoy e Thomas 28. Fredric Jameson, Late Marxism: Adorno, Or, The Persistence of the Dialectic (Nova
McCarthy, Criticai Theory (Cambridge, Mass., 1994). York, 1990), p. 249-252.
17. Para discussões dessas questões, ver os ensaios de Andrew Benjamin (org.), The 29. Quanto às minhas reflexões pessoais sobre essa questão, ver "Class Struggle in
Problems ofModernity: Adorno and Benjamin (Londres, 1989), e Harry Kunneman the Classroom? The Myth of American 'Seminarmarxism"', Salmagundi, 85-86
e Hent de Vries (orgs.), Enlightenments: Encounters between Critica[ Theory and (inverno-primavera 1990). Stephen T. Leonard também argumentou que) apesar
Contemporary French Thought (Kampen, Holanda, 1993). de tudo, a teoria crítica conseguiu produzir efeitos práticos significativos em áreas
18. A crítica mais sistemática de Habermas à Dialética do esclarecimento veio em como a pedagogia crítica, o feminismo e a teologia da libertação. Ver sua Criticai
The Philosophical Discourse ofModernity: Twelve Lectures, trad. Frederick Lawrence Theory in Political Practice (Princeton) 1990). Ver ta1nbém a coleção anterior,
(Cambridge, Mass., 1987). Nos Estados Unidos, talvez seja no trabalho de Richard Criticai Theory and Public Life, org. John Forester (Cambridge, Mass., 1985).

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-~IN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

30. "Urban Flights: The lnstitute of Social Research between Frankfurt and New York" 3. Felix Weil, Sozialisierung: Versuch einer begri.fflichen Grundlegung (Nebst einer Kritik
em Force Fields: Between Intellectual History and Cultural Critique (Berkeley, 1993), der Sozialisierungspliine) (Berlim-Fichtenau, 1921 ).
31. Willem_ van Reijen e Gunzelin Schmid Noerr (orgs.), Grand Hotel Abgrund: Ei~ 4. ()riginalmente, acompanhei Felix Weil na afirmação de que a semana ocorreu no
Photobtographie der Krzttschen Theorie (Hamburgo, 1988). verão de 1922, data que foi contestada por Ulrike Migdal em Die Frühgeschichte
32. RolfWiggersh_aus, The Frankfurt School: Jts History, Theories, and Political Signifi­ des Frankfurter Instituis für Sozialforschung (Frankfurt, 1981), p. 34, onde ela diz
cance, trad. M!Chae] Robertson (Cambridge, Mass., 1994). que o evento deve ter-se realizado na primavera. Essa afirmação, por sua vez, foi
33. Adorno (Cambridge> Mass., 1984) tentou fornecer uma visão geral de sua carreir corrigida por Michael Buckmiller em sua extensa reconstrução do acontecimento,
Marxism and Totality: The Adventures ofa Concept from Lukács to Habermas (Be:~ "Die 'Marxistische Arbeitswoche' 1923 und die Gründung des 'Instituts für Sozi­
keley, 1984) tentou situar as ruminações da teoria crítica sobre o conceito d alforschung", in Willem van Reijen e Gunzelin Schmid Noerr (orgs.), Grand Hotel
totalidade na história mais longa do marxismo ocidental como um todo. Penna~ Abgund: Eine Photobiographie der Frankfurter Schule (Hamburgo, 1988), p. 144 et
nent Exiles: Essays on the Intellectual Migration from Germany to America (Nov seq. Atualmente, aceito esta última data como a correta.
York, 1985) compilou meus ensaios dispersos sobre aspectos da história do Institutª 5. Tempos depois, Hede Massing tornou-se agente de espionagem da União Soviéti­
bem como sobre outros emigrantes, como Siegfried Kracauer. An Unmastered Past: ca, mas repudiou essa ligação no fim da década de 1930. Ela prestou depoimento
The ~utobiographical Reflections of Leo Lowenthal (Berkeley, 1987) foi uma orga~ no julgamento de Alger Hiss, em 1948> e escreveu um livro sobre suas experiên­
n1zaçao de textos e entrevistas feita por Lõwenthal. cias, intitulado This Deception (Nova York, 1951). Além de reminiscências fasci­
nantes sobre o que significou espionar para os russos, o livro contém diversos re­
INTRODUÇÃO tratos detalhados, se bem que às vezes romanceados, de várias figuras do Institut,
inclusive Julian Gumperz, Paul Massing e Richard Sorge. A própria Sra. Massing
!. William ButlerYeats, "The Choice" (1932).
fez algumas entrevistas para o Institut e1n 1944-1945, quando ele estava empenha­
2. O ~ão-estabelecimento de uma distinção suficiente entre o Institut da época de
do em um estudo sobre o anti-semitismo na força de trabalho norte-americana.
We1mar e a Escola de Frankfurt prejudicou algumas abordagens da história desta.
6. Carta de Weil para Breines, 10 jan. 1971.
Ver, por exemplo, Peter Gay, Weimar (,Ulture: The Outsider as Insider (Nova York
7. Max }Iorkheimer, "Zur Antinomie der teleologischen Urteilskraft" (inédito, 1922).
1968), onde o Instítut é erroneamente descrito como ('hegeliano-esquerdista até~
8. A Habilitationsschrift de Horkheimer intitulou-se Kants Kritik der Urteilskraft ais
medula" durante o período da República de Weimar (p. 41).
Bindeglied zwischen theoretischer und praktischer Philosophie (Stuttgart, 1925).
3. }Ierbert Marcuse, Negations: Essays in Critical Theory, trad. Jeremy J. Shapiro (Bos­
Pode-se encontrar uma descrição de sua prüneira aula em Madlen Lerei e Richard
ton, 1968), que contém muitos dos ensaios reeditados em alemão com o título
Kirn, Frankfurt und die goldenen zwanziger Jahre (Frankfurt, 1966), p. 97.
Kultur und Gesellschaft, 2 v. (Frankfurt, 1965).
9. Ludwig Marcuse, Mein zwanzigstes Jahrhundert (Munique, 1960), p. 114.
4. Max Horkbeimer, Kritische Theorie, org. Alfred Schmidt, 2 v. (Frankfurt, 1968).
10. Conversa com Gerhard Meyer, Meredith, New Hampshire, 19 jul. 1971.
5. Walter Benjamin, Schriften, org. Theodor W. Adorno e Gershom Scholem, 2 v.
11. Esses foram projetos sugeridos a Hermann Weil para ajudar a persuadi-lo a fazer
(Frankfurt, 1955); Theodor W. Adorno, Prismen (Frankfurt, 1955), publicado em
doações para o Institut (entrevista com Friedrich Pollock, Montagnola, Suíça) mar.
inglês co1n o título Prisms, trad. Samuel e Shierry Weber (Londres, 1967); Versuch
1969).
über Wagner (Frankfurt, 1952) e Dissonanzen: Musik der verwalteten Welt (Frank­
12. Carta de Weil para mim, 31jan.1971.
furt, 1956); l.eo Lõwenthal, Literature and the Image of Man (Boston, 1957) e
13. Jbid.
Literature, Popular Culture, and Society (Englewood Cliffs, Nova Jersey, 1961);
14. Conversa com Pollock, mar. 1969.
Franz Neumann, The Democratic and the Authoritarian State, org. l~Ierbert Marcuse
15. F. W. Deakin e G. R. Storry, The Case ofRichard Sorge (Londres, 1966), p. 32.
(Nova York, 1957). Outras coleções mais recentes do trabalho feito por personali­
16. Institut für Sozialforschung an der Universitiit Frankfurt am Main (Frankfurt, 1925),
dades do lnstítut incluem Erich Fromm, The Crisis of Psychoanalysis (Nova York,
p. 13.
1970); Otto Kirchheimer, Politics, Law, and Social C'hange, org. Frederic S. Burin e
17. Gustav Mayer, Erinnerungen (Zurique e Viena, 1949), p. 340-34!.
Kurt L. Shell (Nova York, 1969); e Leo Lõwenthal, Erziihlkunst und Gesellschaft: Die
18. Para dados sobre a vida de Grünberg, ver ôsterreiches Biographisches Lexicon, 1915­
Gesellschaftsproblematik in der deutschen Literature des 19. fnhrhunderts (Neuwied
e Berlim, 1971). 1950, v.11(Graz-Colónia,1957-1959).
19. Gustav Nenning, Carl Grünberg und die Anfiinge des Austromarxismus (Graz) 1968 ),
p. 94.
1. A CRIAÇÃO DO INSTITUT FÜR SOZIALFORSCHUNG
20. Norbert Leser, Zwischen Reformismus und Bolshewismus: Der Austromarxismus als
E SEUS PRIMEIROS ANOS EM FRANKFURT
Theorie und Praxis (Viena, Frankfurt e Zurique, 1968), p. 177.
!. Carl Schorske, German Social Democracy, 1905-1917 (Cambridge, Mass., 1955). 21. Gyõrgy Lukács, "Moses Hess und die Probleme der idealistíschen Dialektik", Grün­
2. As informações biográficas sobre Weil provêm de uma série de cartas que ele me bergs Archiv XII (1926).
escreveu em 1970-1971. 22. Carta de Weil para mim, 8 jun. 1971.

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

23. Ver, por exemplo, I-leinrich Regius, "Die neue Sachlichkeit': Dii.mmerung (Zurique 43. Helga Gallas, Marxistische Literaturtheorie (Neuwied e Berlim, 1971), p. 111.
1934), p. 216. Heinrich Regius era um pseudônimo de Horkheüner, que foi neces~ 44. Franz Borkenau, Der Übergang vom feudalen zum bürgerlichen Weltbild (Paris>
sário para permitir a distribuição do livro na Alemanha. 1934).
24. Carl Grünberg, '~Festrede gehalten zur Einweihung des Instituts für Sozialfor­ 45. Nova York, 1964. Quanto à comparação, ver George Lichtheim, The Concept of
schung an der Universitãt Frankfurt a.M. am 22 Juni 1924", Frankfurter Univer­ Ideology (Nova York, 1967), p. 279. Lichtheim, durante nossa conversa de 16 de
sitats-Reden XX (Frankfurt, 1924). fevereiro de 1969) enfatizou o brilhantismo de Borkenau e afirmou que ele fora
25. Entre parênteses, podemos assinalar que o uso que Grünberg fez do termo foi exa­ tratado de forma injusta pelo Institut.
tamente o inverso do que Fritz R.inger empregou no livro The Decline of the Ger­ 46. H. Grossmann, ''Die gesellschaftlichen Grundlagen der mechanistischen Phi­
man Mandarins (Cambridge, Mass., 1969). losophie'', ZfS IV, 2 (1935).
26. Wilhelm von Humboldt, Schriften, selecionados por W. Flemmer (Munique, 1964), 47. Grossmann, ôsterreichs Handelspolitik, 1772-1790 (Viena, 1916).
p. 307.
48. Entrevistas com Pollock, em Montagnola (mar. 1969), Leo Lõwenthal, em Berke­
27. Grünberg, "Festrede", p. 1 L
ley (ago. 1968), e Alice Maier, ex-secretária da filial do Institut em Nova York, em
28. Friedrich Pollock, Sombarts "Widerlegung" des Marxismus (Leipzig, 1926), um dos
Nova York (maio 1969).
Beiheft [números] do Grünbergs Archiv; Max Horkheimer, "Ein neuer Ideologie
49. Citado em Grossmann, Marx, die klassische Nationa!Okonomie und das Problem der
Begriff?", Grünbergs Archiv XV ( 1930). ·
Dynamik, p. 113.
29. Carta de Oscar H. Swede para Max Eastman, 1° out. 1927, Coleção Eastman,
50. Grossmann, Das Akkumulations-und Zusammenbruchsgesetz des kapitalistischen
Departamento de Manuscritos, Biblioteca Lilly, Universidade de Indiana. Agrade­
Systems (Leipzig, 1929).
ço a Jack Diggins, da Universidade da Califórnia, em Irvine, por ter-me chamado
a atenção para essa carta. 51. Para uma abordagem recente do livro) ver Martin Trottinan, Zur Interpretation und
30. Em 1930, Franz Schiller escreveu um longo artigo laudatório, intitulado "Das
Kritik der Zusammensbruchstheorie von Henryk Grossmann (Zurique, 1956). A aná­
Marx-Engels Institut in Moskau", GrünbergsArchiv XV. lise de Mattick, no posfácio de Marx, die klassische NationalOkonomie und das
31. Esse aspecto do trabalho do Institut foi levado adiante, depois da emigração, por Problem der Dynamík, é uma avaliação mais simpática.
Hilde Rigaudias-Weiss, que descobriu um questionário de Marx, até então desco­ 52. Ver) por exemplo, Alfred Braunthal, "Der Zusammenbruch der Zusammenbruchs­
nhecido, sobre a situação dos trabalhadores franceses de 1830 a 1848 (Les Enquêtes theorie", Die GesellschaftVI, 10 (out. 1929). Mattick atacou vigorosamente esse tipo
ouvrieres en France entre 1830 et 1848; Paris, 1936). de crítica em seu Nachwort to Marx, die klassische Nationalokonomie, etc. (p. 127).
32. Deakin e Storry, Richard Satge, p. 32. 53. Para uma discussão sobre o descaso para com as indústrias de serviços por parte
33. Conversa com Pollock, Montagnola, mar. 1969. do próprio Marx, bem como de sua ênfase na produção, ver George Kline, "Some
34. Na história inédita do Institut escrita em 1944) "Ten Years on Morningside Critica! Comments on Marx's Philosophy", em Nicholas Lobkowicz (org.), Marx
Heights'; Korsch ainda foi arrolado como "Fellow" [membro], mas isso parecia ser and the Western World (Notre Dame, Indiana, 1967). As observações de Pollock
pouco significativo. A história encontra-se na coleção pessoal de Lõwenthal. nunca foram publicadas.
35. Weil charnou-o de "u1n solitário típico, incapaz de trabalhar em equipe>• (carta para 54. F. Pollock, Die planwirtschaftlichen Versuche in der Sowjetunion (1917-1927) (Leip­
mim, 5 jun. 1971). zig, 1929).
36. Conversa com Pollock, mar. 1969. 55. D. B. Ryazanov, "Siebzig )abre 'Zur Kritik der politischen ôkonomie"', Grünbergs
37. Carta de Matthias Becker para mim, 7 jun. 1971. Becker é o guardião) designado J\rchivXV (1930).
por Horkheimer> dos arquivos do Institut, que são mantidos em Montagnola e ain~ 56. Para uma descrição de seu comportamento dissidente no XI Congresso do Parti­
da não forarn abertos ao público. do, em 1922, ver Adam Ulam, The Bolsheviks (Nova York, 1965), p. 544-546.
38. H. Regius, Dammerung, p. 122-130. 57. Regius, Dammerung, p. 152-153.
39. Ibid., p. 130. 58. Rudo1f Schlesinger> "Neue Sowjetrussiche Literatur zur Sozialforschung", ZfS VII,
40. De Henryk Grossmann para Paul Mattick, carta incluída no apêndice de Marx, 1 (1938), e VIII, 1 (1939).
die klassische Nationalõkonomie und das Problern der Dynamik, de Grossmann 59. Para uma descrição do rabino Nobel, ver Nahum Glatzer, Franz Rosenzweig: His
(Frankfurt, 1969), com posfácio de Mattick, p. 85-86 (grifo do original). Life and Thought (Nova York, 1953 ), passim.
41. As informações biográficas sobre Wittfogel provieram de uma conversa com ele 60. Para uma descrição da relação entre os dois, ver 1'heodor W. Adorno, "Der wun­
em Nova York, em 21 de junho de 1971, e da biografia escrita por G. L. Ulmen, derliche Realist. über Siegfried Kracauer", Noten zur Literatur III (Frankfurt, 1965).
Karl August Wittfogel: Toward an Understanding of His Life and Work, que o autor 61. Siegfried Kracauer, From Caligari to Hitler (Princeton, 1947).
teve a gentileza de me deixar ver antes de sua publicação. 62. Adorno, Alban Berg: Der Meister des kleinsten Übergangs (Viena, 1968), p. 20.
42. Karl August Wittfogel, Die Wissenschaft der bürgerlichen Gesellschaft (Berlim, 1922), 63. René Leibowitz) "Der Komponist Theodor W. Adorno", em Max Horkheimer
e Geschichte der bürgerlichen Gesellschaft (Viena, 1924); seu primeiro livro sobre a (org.), Zeugnisse: Theodor W Adorno zum sechzigsten Geburtstag (Frankfurt, 1963).
China foi Das erwachende China (Viena, 1926). 64. Arthur Koestler, Arrow in the Blue (Nova York, 1952), p. 131.

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

65. Adorno, Alban Berg, p. 37. Review, XVI, 11, mar. 1965, p. 32). A amizade de Baran com membros do Institut
66. Ibid. continuou depois que ele foi para os Estados Unidos em 1939. Sua morte prema­
67. Adorno, Die 1'ranszendenz des Dinglichen und Noematischen in I-Iusserls Phi:ino­ tura, em 1964, ocorreu na casa de Leo Lõwenthal, em San Francisco.
menologie (Frankfurt, 19~4) 90. Josef Dünner, Ifl Forget Thee... (Washington, 1937).
68. Para uma discussão da rel< ão de Tillich com o Institut e da interação de sua teo­ 91. Horkheimer [Regius], Dammerung, p. 80.
logia com a teoria critie , ver as reminiscências de Horkheimer e Adorno em Werk 92. Só depois da guerra Horkheimer chegou à melancólica conclusão de que o sionis­
und Wirken Paul Tillichs: Ein Gedenkbuch (Stuttgart, 1967). mo tinha sido a única saída para os judeus da Europa. Ver seu artigo "Über die
69. Adorno, Kierkegaard: Konstruktion des Aesthetischen (Tübingen, 1933, ed. rev., deutschen Juden", em seu livro Zur Kritik der instrumentellen Vernunft (Frankfurt,
Frankfurt, 1966). 1967), p. 309.
70. Ver a nota de rodapé da p. 43 para uma explicação desses termos. 93. Carta de Weil para mim, 1° jun. 1969.
71. F. Weil) "Rosa Luxeinburg über die Russische Revolution", Grünbergs Archiv XIII 94. Conversa com Wittfogel, Nova York, 21jun.1971.
(1928), e "Die Arbeiterbewegung in Argentinien'; ibid., XI (1925). 95. Franz Neumann, Behemoth: The Structure and Practice of National Socialism 1933­
72. Horkheimer, Die Anfiinge der bürgerlichen Geschichtsphilosophie (Stuttgart, 1930). 1944 (Nova York, ed. rev. 1944), p. 121.
73. "Die gegenwãrtige Lage der Sozialphilosophie und die Aufgaben eineslnstituts für 96. L. Lõwenthal, "Das Dãmonische", em Gabe Herrn Rabbiner Dr. Nobel zum fünf­
Sozialforschung", Frankfurter Universitiitsreden, XXVII (Frankfurt, 1931). zigsten Geburtstag (Frankfurt, 1921).
74. K. A. Wittfogel, Wirtschaft und Gesellschaft Chinas (Leipzig, 1931). Para uma ava­ 97. Ver, por exemplo, Edgar Friedenberg, "Neo-Freudianism and Erich Fromm': Com­
liação recente do trabalho de Wittfogel, ver Irving Fetscher, '~sien im Lichte des mentary XXXlV, 4 (out. 1962), ou Maurice S. Friedman, Martin Buber, the Life of
Marxismus: Zu Karl Wittfogels Forschungen über die orientalischen Despotie': Dialogue (Nova York, 1960), p. 184-185.
Merkur, XX, 3 (mar. 1966). 98. Istvan Deak, Weimar Germany's Left-Wing Intellectuals (Berkeley e Los Angeles,
75. Conversa com Lõwenthal) ago. 1968. 1968), p. 29.
76. Horkheimer, "Vorwort", ZJS ], 1/2 (1932). 99. Carta de Pollock para mim, 24 mar. 1970.
77. Horkheimer, "Bemerkungen über Wissenschaft und Krise", ZfS !, 1/2 (1932). 100. Entrevista com Pollock, mar. 1969. Muitos anos depois, Adorno defendeu indire­
78. Grossmann, "Die Wert-Preis-Transformation hei Marx und das Krisisproblem", ZfS tamente sua mudança de sobrenome em um memorando que escreveu para o pro­
], 1/2 (1932). jeto do Institut sobre o anti-semitismo na inão-de-obra. "A idéia de que os judeus
79. Pollock, "Die gegenwãrtige Lage des Kapitalismus und die Aussichten einer plan­ devem demonstrar mais orgulho por se aterem a seus sobrenomes não passa de
wirtschaftlichen Neuordnung", ZfS I, 1/2 (1932). uma pífia racionalização do desejo de que eles apareçam abertamente, para que se
80. Leo Lõwenthal, "Zur gesellschaftlichen Lage der Literatur'', e Adorno, "Zur gesell­ possa reconhecê-los e persegui-los com mais facilidade" (3 nov. 1944) 1nemoran­
schaftlichen Lage der Musik'; ZfS I, 1/2 (1932). do em poder de Paul Lazarsfeld).
81. Horkheimer, "Geschichte und Psychologie'', ZfS !, 1/2 (1932). 101. Entrevista com Paul Massing1 Nova York) 25 nov. 1970.
82. Erich Fromm, "Über Methode und Aufgabe einer analytischen Sozialpsychologie'; 102. Jürgen Habermas, «Der deutsche Idealismus der jüdischen Philosophen", Philoso­
ZfS !, 1/2 (1932). phisch-politische Profile (Frankfurt, 1971).
83. Festschrift für Carl Grünberg: Zum 70. Geburtstag (Leipzig, 1932). 103. I-Iannah Arendt) introdução de Illuminations, de Walter Benjamin, trad. Harry
84. Herbert Marcuse, Hegels Ontologie und die Grundlegung einer 1'heorie der Ge­ Zohn (Nova York, 1968), p. 29.
schichtlichkeit (Frankfurt, 1932). 104. Adolph Lowe, um amigo de infância de Stuttgart, relembrou que Horkheímer e
85. Adorno, crítica a Hegels Ontologie, ZfS I, 3 (1932), p. 410. Pollock deram um ultimato a seus respectivos pais quando estavam na Inglaterra:
86. Para uma lista de catedráticos "expurgados" de universidades alemãs, ver Donald ou teriam permissão de voltar à Alemanha para iniciar os estudos, ou emigrariam.
Fleming e Bernard Bailyn (orgs.), The Intellectual Migration: Europe and America, 1-Iorkheimer pai e Pollock pai parecem ter cedido se111 muita resistência (conversa
1930-1960 (Cambridge, Mass., 1969), p. 234. com Lowe, Nova York, 28 dez. 1971).
87. Charles Beard, Celestin Bouglé, Alexander Farquharson, Henryk Grossmann, Paul 105. Carta de Pollock para mim, 16 jul. 1970. Embora nunca tenha sido uma intelec­
Guggenheim, Maurice Halbwachs, Jean de la Harpe, Max I-Iorkheitner, Karl Lan­ tual como a mulher de Adorno, Gretel, a Sra. Horkheimer foi uma fonte constan­
dauer, Lewis L. Lorwin, Robert S. Lynd, Robert M. Maclver, Sidney Webb (lorde te de apoio até seu falecimento, no outono de 1969. Quando os vi juntos em mar­
Passfield), Jean Piaget, Friedrich Pollock (presidente), Raymond de Saussure, ço daquele ano, na época de seu 43° e último aniversário de casamento, fiquei
Georges Scelle, Ernst Schachtel, Andries Sternheim, R. H. Tawney e Paul Tillich. comovido com a afeição calorosa que eles demonstravam um pelo outro.
88. Carta de Horkheimer para Lõwenthal, 17 abr. 1934. 106. Regius [Horkheimer], Diimmerung, p. 165.
89. De acordo com Paul Sweezy, "não há dúvida de que o desenvolvimento intelectual 107. Ibid.
de Paul foi influenciado de maneira profunda e permanente por suas experiências 108. Andries Sternheim, "Zum Problem der Freizeitgestaltung'', ZfS I, 3 (1932). Ele tam­
e associações em Frankfurt" C<Paul Alexander Baran: a Personal Memoir': Monthly bém contribuiu co1n uma monografia sobre a economia e a família para o projeto

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MARTIN JAY. A IMAGINAÇÃO D!Au:r1cA NOTAS

colaborativo do Institut, os Studien über Autoritiit und Familie (Paris, 1936), e es­ pelas atitudes sorelianas de Ervin Szabó, o mestre espiritual da oposição esquer­
creveu com regularidade na seção de críticas do Zeitschrift. dista dos socialdemocratas húngaros. Ver o prefácio de Lukács, datado de 1967,
109. George Rusche, "Arbeitsmarkt und Stra!Vollzug", ZfS II, 1 (1933). em History and Class C'onsciousness, trad. Rodney Livingstone (Cambridge, Mass.,
110. Kurt Baumann, "Autarkie und Planwirtschaft", ZJS 11, 1 (1933); Gerhard Meyer 1971), p. X.
"Neue Englische Literatur zur Planwirtschaft", ZfS II, 2 ( 1933). ' 5. Para uma discussão sobre o impacto desses manuscritos, ver Furio Cerutti, "Hegel)
111. Paul Ludwig Landsberg, "Rassenideologie und Rassenwissenschaft", ZJS II, 3 Lukács, Korsch. Zum dialektischen Selbstverstiindnis des kritischen Marxismus",
(1933). em Oskar Negt (org.), Aktualitiit und Folgen der Philosophie Hegels (Frankfurt,
112. Julian Gumperz, "Zur Soziologie des amerikanischen Parteiensystems", ZfS I, 3 1970).
(1932), e "Recent Social Trends in the U.S.A.", ZfS II, 2 (1933). 6. International Jnstitute of Social Research: Report on Its History and Activities, 1933~

113. Grossmann, Marx, die klassische Nationalõkonomie und das Proble1n der Dynamik, 1938 (Nova York, 1938), p. 28.

p. 97. 7. Ver, por exemplo, Max Horkheimer, "Schopenhauer Today", em Kurt H. Wolff e
114. Ver Franz Neumann et al., The Cultural Migration (Filadélfia, 1953). Barrington Moore Jr. (orgs.), The Criticai Spirit: Essays in Honor of Herbert Mar­
115. The Spanish Cockpit, publicado em Londres, 1937. cuse (Boston, 1967).
116. Esse artigo foi escrito sob o pseudônimo de Fritz Jungmann e intitulado "Autoritãt 8. Conversa com Horkheímer, Montagnola, mar. 1969.
und Sexualmoral in der freien bürgerlichen Jugendbewegung", em Studien über 9. Horkheimer) Kants Kritík der Urteilskraft ais Bindeglied zwischen theoretischer und
Autoritiit und Familie (Paris, 1936). praktischer Philosophie (Stuttgart, 1925).
117. Paul Honigsheim, "Reminiscences of the Durkheim School", em Kurt H. Wolff 10. Carta de Pollock para mim, 24 mar. 1970.
(org.), Emile Durkheim, 1858-1917 (Columbus, Ohio, 1960), p. 313-314. 11. Hans Cornelius, "Leben und Lehre", em Raymund Schmidt (org.), Die Philosophie
118. J. Gumperz, Pattern for World Revolution, com Robert Rindl, sob o pseudônimo der Gegenwart in Selbstdarstellungen, v. II (Leipzig, 1923), p. 6.
duplo de "Ypsilon" (Chicago e Nova York, 1947). 12. Carta de Pollock para mim, 24 mar. 1970.
119. Entrevista com Horkheimer, Montagnola, mar.1969. 13. Cornelius, Die Elementargesetze der bildenden Kunst (Leipzig, 1908).
120. Ver Fleming e Bailyn, The Intellectual Migratíon; Laura Fermi, Illustrious Immi­ 14. Carta de Pollock para mim, 24 mar. 1970.
grants (Chicago, 1968); The Legacy ofthe German Refugee Intellectuals (Salmagundi, 15. Cornelius, "Leben und Lehre», p. 19.
1011 !, outono 1969-inverno 1970); e Helge Pross, Die deutsche akademische Emi­ 16. Jbid., p. 65. Curiosamente, quando Horkheimer escreveu sobre Kant em 1962
gration nach den Vereinigten Staaten 1933-1941(Berlim,1955). ("Kants Philosophie und die Aufklãrung", em Zur Kritik der instru·mentellen Ver­
121. O renomado classicista M. I. Finley, tradutor e assistente editorial do Institut na nunft, Frankfurt, 1967, p. 210), ele elogiou Kant pelos componentes críticos anti­
década de 1930, enfatizou a antipatia da Nova Escola pelo marxismo do Institut harmônicos de sua filosofia.
(entrevista em Berkeley, 31jan.1972). 17. Foi essa a interpretação que lhe foi dada num artigo anônimo publicado no Times
122. Para uma listagem completa dos seminários e palestras públicos feitos pelo Institut Literary Supplement, "From Historicism to Marxist Humanism" (5 jun. 1969),
de 1936 a 1938, ver International Institute of Social Research: A Report on Its His­ p. 598. O artigo é de George Lichtheim. Para uma análise da importância de Hegel
tory, Aims, and Activities 1933-1938 (Nova York, 1938), p. 35-36. para a teoria crítica, ver Friedrich W. Schmidt, '(Hegel in der Kritischen Theorie
123. Horkheimer [Regius], Diimmerung, p. 8. der Frankfurter Schule", em Aktualitat und Folgen der Philosophie Hegels.
18. Horkheimer [Heinrich Regius], Diimmerung (Zurique, 1934), p. 86.
2. A G~NESE DA TEORIA CRÍTICA 19. Horkheimer, "Zum Problem der Wahrheit'', ZfS lV, 3 (1935), p. 333.
!. Ver George Lichtheim, The Origins ofSocialism (Nova York, 1969) e Marxism: An 20. Horkheimer, "Ein neuer !deologiebegriff?'', Grünbergs Archiv XV, I ( 1930), p. 34.
Historical and Criticai Study (Nova York e Londres, 1961); Shlomo Avineri, The 21. Horkheimer, "Hegel und die Metaphysik"> em Festschrift für Carl Grünberg: Zum
Social and Political Thought ofKarl Marx (Cambridge, 1968); e Karl Lõwith, From 70. Geburtstag (Leipzig, 1932).
Hegel to Nietzsche (Nova York, 1964), para discussões sobre os hegelianos de es­ 22. Ibid., p. 197.
querda. 23. Ibid., p. 192.
2. Ver Herbert Marcuse, Reason and Revolution (ed. rev., Nova York, 1960) e Jürgen 24. G. Lukács, History and Class Consciousness, p. XXII!.
Habermas, Knowledge and Human Interests, trad. Jeremy ). Shapiro (Boston, 1971), 25. Horkheimer, "Gedanke zur Religion", em Alfred Schmidt (org.), Kritische Theorie
para uma compreensão da transição da teoria social negativa para a positiva. (Frankfurt, 1968), 2 v., originalmente "Nachbemerkung", ZfS IV, 1 (1935).
3. Em seu Marxismus und Philosophie (Frankfurt, 1966), cujo ensaio foi originalmen­ 26. Jbid., p. 375. Ver também Horkheimer [Regius], Diimmerung, p. 55.
te publicado no Grünbergs Archiv em 1923, Korsch discutiu a ligação entre a polí­ 27. Horkheimer, "Zum Rationalismusstreit in der gegenwartigen Philosophie'', ZfS 111,
tica reformista da Segunda Internacional e o materialismo mecanicista e não dia­ l (1934), p. 9.
lético que ela identificava com o marxismo. 28. Horkheimer, "Materialismus und Metaphysik'', ZfS II, 1 (1933), p. 3-4.
4. Ver H. Stuart Hughes, Consciousness and Society (Nova York, 1958), p. 161-229, 29. "Zum H.ationalismusstreit", p. 36.
para uma discussão de Dilthey, Croce e Sorel. Lukács foi fortemente influenciado 30. Ibid.

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO D!Ali;_TICA NOTAS

31. Horkheimer, "Der neueste Angriff auf die Metaphysik", ZfS VI, 1 (1937), p. 9. 59. Adorno, Zur Metakritik der Erkenntnistheorie; Marcuse, "The Concept of Essence)),
32. Karl Mannheim escreveu o mesmo no ensaio "Conservative Thought", em Kurt Negations: Essays in Criticai Theory, trad. jeremy J. Shapiro (Boston, 1968) (origi­
H. Wolff (org.), From Karl Mannheim (Nova York, 1971), p. 213 et seq. Entretanto nalmente ZfSV, 1, 1936).
esse texto foi escrito em 1925, muito antes da ascensão dos nazistas ao poder. ' 60. Anónimo, "From Historicism to Marxist Humanism", p. 598.
33. Ver Lukács, Die Zerstiirung der Vernunft, em Werke, v. IX (Neuwied, 1961). Nesse 61. Ver entrevista com Horkheimer em Der Spiegel (5 jan. 1970), intitulada "Auf das
texto, Lukács repudiou suas origens em Dilthey, Simmel e outros, sobretudo tal Andere Hoffen''.
como haviam aparecido em História e consciência de classe. 62. Ver, por exemplo, "Montaigne und die Funktion der Skepsis", p. 21, 45, e "Zum
34. Horkheimer, "Geschichte und Psychologie", ZfS !, 1/2 (1932), passim. Problem der Wahrheit'', p. 363.
35. Horkheimer, "The Relation between Psychology and Sociology in the Work of 63. Dammerung, p. 116.
Wilhelm Dilthey", SPSSVIII, 3 (1939), passim. 64. Jürgen Habermas, "Der deutsche Idealismus der jüdischen Philosophen", Fhiloso­
36. Ver Horkheimer, Anfange der bürgerlichen Geschichtsphilosophie (Stuttgart, 1930), phisch-politische Profile (Frankfurt, 1971), p. 41. Horkheimer fez uma colocação
para u1na discussão sobre Vico. semelhante em "über die deutschen Juden", Zur Kritík der instrumentellen Vernunft,
37. "Zum Problem der Wahrheit'', p. 361. p. 311.
38. Horkheimer, "Bemerkungen zu Jaspers' 'Nietzsche"', ZfS VI, 2 (1937). 65. Ver H. Marcuse, An Essay on Liberation (Boston, 1969), p. 6 et seq.
39. "Zum Problem der Wahrheit", p. 357. 66. Avineri, Social and Political Thought of Marx, p. 85.
40. "Zum Ilationalismusstreit", p. 44. 67. Dammerung, p. 181.
41. Theodor Adorno, em uma crítica à biografia de Wagner escrita por Ernest 68. Walter Benjamin, Illuminations, trad. Harry Zohn, com introdução de Hannah
Newman (Kenyon Review, v. IX, 1, inverno 1947), fez uma afirmação similar. Arendt (Nova York, 1968), p. 261.
O negativismo de Nietzsche, diz ele, "expressou o humano em um mundo em que 69. Horkheimer, "Egoismus und Freiheitsbewegung'', ZfSV, 2 (1936).
a humanidade se tornara uma farsa'~ Sua "demonstração singular do caráter re­ 70. Marcuse viria a frisar o mesmo ponto no artigo "The Affirmative Character of
pressor da cultura ocidental" foi o que o distinguiu de Wagner (p. 161). Culture", Negations, p.119 (originalmente ZfSVI, 1, 1937).
42. Ver Horkheimer, "Zu Bergsons Metaphysik der Zeit'', ZfSIII, 3 (1934), e sua crítica 71. Horkheimer, "Egoismus und Freiheitsbewegung", p. 171. Mais tarde, Marcuse am­
de Bergson, Les Deux sources de la morale et de la religion, em ZfS II, 2 (1933). pliaria essa idéia em termos psicanalíticos com seu conceito de "dessublimaç.ão re­
43. Crítica a Les Deux sources, p. 106. pressiva'~
44. Citado em Horkheimer, Kritische Theorie, v. I, p. 175, de uma carta a Celestin 72. Ibid., p. 174-215, passim.
Bouglé (24 jan. 1935). 73. Marcuse, "On Hedonism", Negations (originalmente "Zur Kritik der Hedonismus",
45. Mas ele não desconhecia suas origens na Reforma. Ver, por exe1nplo, sua discus­ ZfSVI, l, 1938).
são sobre Lutero em Horkheimer, "Montaigne und die Funktion der Skepsis'', ZfS 74. Ibid., p. 160.
Vll, 1 (1938),p.10-13. 75. Ibid., p. 168.
46. Horkheimer, "Materialismus und Moral'; ZfS JI, 2 (1933), p. 165. 76. Ibid., p. 190.
47. Adorno, Minima moralia (Frankfurt, 1951), p. 80. 77. Ibid., p. 191.
48. "Materialismus und Moral", p. 183-184. 78. Ibid., p. 193.
49. Ibid., p. 186. 79. One-Dimensional Man (Boston, 1964).
50. Horkheimer, "Materialismus und Metaphysik''. ZfS li, l (1933). 80. Ibid., p. 199.
51. Ibid., p. 14. 81. Para uma discussão sobre a "liberdade positiva", ver Franz Neumann, "The Con­
52. Karl Marx, "Theses on Feuerbach''. em Lewis S. Feuer (org.), Marx and Enge~, Basic cept of Political Freedom", em Herbert Marcuse (org.), The Democratic and the
Writings on Politics and Fhilosophy (Nova York, 1959), p. 243. Authoritarian State (Nova York, 1957), e lsaiah Berlin, Four Essays on Liberty (Ox­
53. Adorno, Zur Metakritik der Erkenntnistheorie (Stuttgart, 1956), p. 82. ford, 1969).
54. Lukács, History and Class Consciousness, p. 162 (grifo do original). 82. Ver, por exemplo, Horkheimer, Eclipse ofReason (Nova York, 1947).
55. Para um exemplo dessa consideração no trabalho do Institut, ver Adorno, "Veblen's 83. Marcuse, "Philosophy and Critica] Theory'', Negations, p. 135-136 (originalmente
Attack on Culture", Prisms, trad. Samuel e Shierry Weber (Londres, 1967), onde ZfS VI, 3, 1937). Uma distinção mais ampliada entre os dois tipos de razão pode
ele discute o conceito de "consumo conspícuo" (p. 87). ser encontrada em seu livro Reason and Revolution, p. 44-46.
56. Para uma discussão da atitude de Marx em relação ao Estado) que frisa esse pon­ 84. Para uma discussão da importância da teoria da identidade na obra de Marcuse,
to, ver Avineri, Social and Political Thought of Marx, p. 202 et seq. ver meu artigo "The Metapolitics ofUtopianism", DissentXVII, 4 (jul.-ago. 1970).
57. Dammerung, p. 18. 85. "Zum Rationalismusstreit", p. l; "Der neueste Angriff auf die Metaphysik'~
58. Horkheimer, "Bemerkungen zur philosophischen Anthropologie''. ZfS IV, 1 (1935), 86. "Zum Problem der Wahrheit", p. 354.
p. 5. 87. Ibid., p. 357.

380 381
NOTAS

88. Para uma discussão da emigração do Círculo de Viena para os Estados Unidos 117. Em SSPS, Vlll, 3 (1939-1940),Adorno escreveu um artigo intitulado "On Kierke­
ver Herbert Feigl, ''1'he Wiener Kreis in A.merica': em Donald Fleming e Bernard gaard's Doctrine of Love'>.
Bailyn (orgs.), The Intellectual Migration: Europe and America, 1930-1960 (Cam­ 118. Essa foi a palavra usada por Adorno quando conversei com ele em Frankfurt, em
bridge, Mass., 1969). março de 1969.
89. Ver Eclipse of Reason, passim. 119. Kierkegaard, p. 137.
90. "Der neueste Angriff auf die Metaphysik", ZfS VI, 1 (1937). 120. Adorno, Zur Metakritik der Erkenntnistheorie, p. 24-25.
91. Ibid., p. 13. 121. Ibid., p. 79.
92. Para uma ampliação desse ponto por um pensador da segunda geração da Escola 122. Ibid., p. 82.
de Frankfurt, ver Habermas, Knowledge and Human Interests, passim. 123. Adorno, "Husserl and the Problem of Idealism", fournal of Philosophy X.XVII, 1
93. "Der neueste Angriff auf die Metaphysik", p. 27. (4jan.1940),p. ll.
94. Ibid., p. 49. 124. Zur Metakritik, p. 43.
95. Ibid., p. 29. 125. "Husserl and the Problem of Jdealism", p. 7.
96. "Zum Problem der Wahrheit': p. 337-338. 126. Zur Metakritik, p. 47.
97. "Philosophy and Critica! Theory", Negations, p. 147-148. 127. Ibid., p. 55.
98. Em "Ein neuer !deologiebegriff?''. 128. Ibid., p. 84.
99. Ibid., p. 58. 129, Ibid., p. 90.
100. Ibid., p. 56. 130. Jbid., p. 146.
101. Ibid., p. 55. Em seu artigo sobre Mannheim ("Zur Wahrheitsproblematik der 131. Ibid., p. 154.
soziologischen Methode", Die GesellschaftVI, out. 1929), Marcuse expôs a mesma 132. Ibid., p. 151.
idéia (p. 361-362). Foi um pouco mais generoso com Mannheim do que Hork­ 133. Em seu artigo sobre o declínio do contar histórias ("The Storyteller: Reflections
heimer, afirmando que a redução mannheimiana do marxismo à consciência de on the Works of Nikolai Leskov'', Iluminations), Benjamin escreveu: "A experiên­
uma classe específica apontava para urna conexão válida entre a teoria e a práxis. cia perdeu valor.[ ... ] Nunca houve contradição mais rigorosa da experiência que
Contudo> ele criticou Mannheim por perder de vista ''o n1omento intencional a da experiência estratégica pela guerra tática, a da experiência econômica pela in­
de todas as ocorrências" (p. 362) e por seu relacionismo> com suas implicações flação, a da experiência corporal pela guerra mecânica, a da experiência moral pe­
quietistas. Adorno, ao escrever sobre a sociologia do conhecimento, foi ainda los detentores do poder" (p. 83-84).
mais duro; ver, de sua autoria, "The Sociology of Knowledge and Its Conscious­ 134. Zur Metakritik, p. 221.
ness", Prisms. 135. Ibid., p. 180.
102. Reason and Revolution, p. 322. 136. Ibid., p. 28-29. Marcuse faria essa afirmação de maneira ainda mais vigorosa em
103. Hannah A.rendt, "What is Authority?': Between Past and Future (Cleveland e Nova seu artigo 1'The Concept of Essence'', Negations.
York, 1961). 137. Adorno, ''A Portrait ofWalter Benjamin", Prisms> p. 235.
104. Adorno, Kierkegaard: Konstruktion des Aesthetischen (Tübingen, 1933), e Zur 138. Georg Picht intitulou seu artigo sobre a morte de Adorno "Atonale Philosophie"
Metakritik der Erkenntnistheorie (Stuttgart, 1956). (Merkur,XXlll, 10,out.1969).
105. Carta de Adorno para Lõwenthal, 6 jul. 1934. 139. Para um exemplo recente, ver Jerry Cohen, "The Philosophy ofMarcuse", New Left
106. Quanto à crítica de Benjamin, ver Vossische Zeitung (2 abr. 1933). Tillich, recém, Review (set.-out. 1969).
nomeado para o corpo docente do Union Theological Serninary, e1n Nova York, 140. Habermas, "Zum Geleit'', em Jürgen Habermas (org.), Antworten aufHerbert Mar­
escreveu uma resenha no fournal ofPhilosophy, XXXI, 23 (8 nov. 1934). Karl Lõwith cuse (Frankfurt, 1968), p. 11-12.
escreveu outra no Deutsche Literatur~Zeitung, V) 3F, 5 (1934). 141. Ver) por exemplo, Alfred Schmidt, "Existentíal-Ontologie und historischer Mate­
107. "Notiz>: na terceira edição de Kierkegaard: Konstruktion des Aesthetischen (Frank­ rialismus bei Herbert Marcuse'» Antworten auf Herbert Marcuse; e Paul Piccone e
furt, 1966), p. 321. Alex Delfini, "Marcuse's Heideggerian Marxísrn'', Telas (outono 1970).
108. Citado em Kierkegaard (ed. de 1966), p. 29. 142. Marcuse, ''Beitrãge zu einer Phãnomenologie des historischen Materialismus»,
109. Ibid., p. 29. Philosophische Hefte !, 1 ( 1928).
110. Ibid., p. 46. 143. Ibid., p. 52.
111. Ibid., p. 35. 144. Ibid., p. 55. De acordo com Schmidt ("Existential-Ontologie'', p. 28-29), houve em
112. Ibid., p. 111. tudo isso elementos de uma ação expressionista pela própria ação. Em geral,
113. Ibid., p. 62. Schmidt critica muito os esforços de Marcuse para combinar o marxismo e a fe­
114. Ibid., p. 67. nomenologia.
115. Ibid., p. 90 145. Marcuse, «Beitrãge'» p. 46.
116. Ibid., p. 97. 146. Ibid., p. 68.

382 383
\
MARTIN JAY. A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

147. Ibid., p. 59. 180. Reason and Revolution, p. 400.


148. Ibid., p. 65. 181. Isso foi assinalado numa crítica geralmente favorável de Paul Tillich nos SPSS IX,
149. Ibid., p. 60. 3 (1941), e numa resenha mais crítica de Karl Lõwith em Philosophy and Phenome­
150. ;:rarcuse, "Zum Problem der Dialektik", Die GesellschaftVII, 1 (jan. 1930), 2 nological Research II, 4 (1942). Trata-se de um tema que continua a ressurgir nas
Das P~oblem der geschichtlichen Wirklichkeit", Die Gesellschaft Vlll, 4 (ab,Pi ~· 9 avaliações do livro; por exemplo, Lucio Colletti, "Von Hegel zu Marcuse", Alterna­
151.
152. Marcuse, Regeis Ontologie und dre Grundlegung einer Theorie der Geschi ht/" hkl). tive 72173 (jun.-ago. 1970).
(Frankfurt, 1932). e zc ert 182. Horkheimer, "Traditionelle und kritische Theorie", ZfS Vl, 2 (1937).
153. Para uma discussão dos dois livros sobre I-Iegel, ver Alain de Libera "La e · · 183. Jbid., p. 257.
de Hegel'; La Nef(jan.-mar. 1969). ' ntzque 184. Horkbeimer, "Zum Problem der Voraussage in den Sozialwissenschaften'', ZfS II, 3
154. Regeis Ontologie, p. 368. (1933).
185. "Traditionelle und kritische Theorie", p. 276.
155. Marcuse, "Neue Quellen zur Grundlegung des Historischen Materialism ,,, D'
Gesellschaft!X, 8 (1932). us, re 186. Ibid., p. 275.
156. Ibid., p. 151. 187. Ibid., p. 277.
157. Ibid., p. 167. 188. Citado em Adorno, Prisms, p. 231.
189. George Kline, ''Some Criticai Comments on Marx's Philosophy", em Nicholas

158. Ibid., p. 147. Lobkowicz (org.), Marx and the Western World (Notre Dame, Indiana, 1967),

159. Ibid., P·. 173. Marcuse t~,~bém escreveu um artigo inteiro sobre a centralidade
p. 431.
ontológica d~ trabalho:. Uber .di~ philosophischen Grundlagen des Wirtschafts­ 190. Ver, por exemplo, Horkbeimer, "Zum Problem der Wahrheit", p. 340-343, e "Tra­
w1ssenschafthchen Arbe1tsbegr1ff , Archtv für Sozialwissenschaft und Soz · lp 0 [' ·k ditionelle und kritische Theorie", p. 252. O Institut tendia a assemelhar o prag­
LX!X, 3 (jun. 1933). 'ª
rtr
matismo norte-americano ao positivismo.
160. "Neue Quellen", p. 158. 191. Carta de Horkbeimer para Lõwenthal, 14 jan. 1946 (coleção de Lõwenthal).
161. Reason and Revolution, p. 78. 192. "Zum Problem der Wahrheit", p. 343.
162. Habermas, Technik und Wissenschaft ais "Jdeologie" (Frankfurt, 1968). 193. Conversas com Lõwenthal em Berkeley (ago. 1968) e com Habermas em Frank­
163. Reason and Revolution, p. 75. furt (fev. 1969). Quanto à discussão do pragmatismo por Habermas, ver sua abor­
164. Ver Marcuse, Eros and Civilization (Boston, 1955), p. 170-179 para sua anál' dagem de C. S. Pierce em Knowledge and Human lnterests.
bre a "pulsão de jogo': ' rse so­ 194. "Zum Problem des Wahrheit;' p. 345.
165. Ver, por
,, 11.r exemplo,
. Marcuse,
( . . ""fhe Struggle aoainst
o Liberalism in the ·r0 t l't ·
.1.• a t anan
195. "Traditionelle und kritische Theorie", p. 269.
St
"ate, "egatzons ongmalmente ZfS III, 1, 1934). 196. Ibid., p. 269.
166. The Concept of Essence", p. 44. 197. Marcuse, "The Struggle against Liberalism in the Tota1itarian State'', Negations,
167. Ibid., p. 69. p. 42.
168. Ibid., p. 78. 198. I-Iorkheimer, "Autoritãrer Staat", em "Walter Benjamin zum Gedãchtnis" (inédito,
169. Marcuse, "Philosophy and Critica! Theory" Negations p 147 1942), na coleção de Pollock.
170. Ibid., p. 149-150. , , . .
171. Ibid.,p.156. 3. A INTEGRAÇÃO DA PSICANÁLISE
172. Ibid.) P· 155. ~arcuse vi~ia a desenvolver a importância da fantasia em seus tra­ 1. Para uma discussão sobre as primeiras tentativas de fundir Freud e Marx, ver
balhos posteriores, especialmente em Eros e civilização. "When Dogma Bites Dogma, or The Difficult Marriage of Marx and Freud'', The
173. Nova York, 1941. Parte do livro apareceu nos SPSS con10 Marcuse "An Jnt d Times Literary Supplement (8 jan. 1971).
. to H egel's Ph'li osophy'',
t wn vm, 3 (1939). , ro uc­
2. Para uma descrição das agruras de Reich, ver Paul A. Robinson, The Freudian Left
174. Ironicai:iente, à lt~z de sua_posiçã~ posterior, Marcuse lisonjeou seu público nor­ (Nova York, 1969), p. 28-59.
te-amencano, na i~troduç~o, ao citar a crença de Hegel em que 0 espírito racio­ 3. Philip Rieff, Freud: The Mind of the Moralist (Nova York, 1959), p. 237-239.
nal dos Estados Unidos fazia desse país "a terra do futuro" (Reason and Rev 1 ,; 4. Ver Franz Neumann) "Anxiety and Politics'', em seu livro The Democratic and the
p. xv). o""º"' Authoritarian State, org. Herbert Marcuse (Nova York, 1957), e H. Stuart Hughes,
175. Ibid., p. 60. "Franz Neumann between Marxism and Liberal Democracy", em Donald Fleming
176. Ibid., p. 313-314. e Bernard Bailyn (orgs. ), The Intellectual Migration: Europe and America, 1930-1960
177. Ibid., p. 256. (Cambridge, Mass., 1969).
178. Ibid., p. 322. 5. Zur Psychologie des Sozialismus, traduzido para o inglês com o título The Psychology
179. Ver, por exemplo, Habermas, Knowledge and Human Jnterests e Technik und Wis­ of Socialism (Nova York e Londres, 1928). Para uma discussão sobre de Man, ver
senschaft ais Ideologie, e Albrecht Wellmer, Criticai Theory of Society (Nova York Peter Dodge, Beyond Marxism: The Paith and Works of Rendrik de Man (Haia,
1971). , 1966).

384 385
MARTIN JAY • A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

6. Foi o que sugeriu a professora Gladys Meyer, do Barnard College, em carta en­ 22. Fromm, "Der Sabbath", Imago, XIII, n. 2, 3, 4 (1927).
dereçada a mim. Meyer, que foi estudante do Institut no período pré-emigração 23. Originalmente publicado em Viena em 1931, ele saiu em inglês com o título The
escreveu um romance, The Magic Circle (Nova York, 1944), no qual de Mané te~ Dogma ofChrist and Other Essays on Religion, Psychology, and Culture, trad. James
nuemente disfarçado como Adriaan de Barenne, um dos personagens centrais. Luther Adams (Nova York, 1963).
~ollock, _quand~ conversamos em março de I 969, negou a idéia de que de Man 24. Ibid., p. 9 !.
l!vesse Sido deliberadamente levado a Frankfurt para a finalidade alegada pela 25. Ibid., p. 94. . . . . ,, .
professora. 26. Fromm, "über Methode und Aufgabe emer analyt!Schen Sozialpsycholog1e , ZfS I,
7. Theodor Wiesengrund, "Der Begriff des Unbewussten in der Transzendentalen l/2 (1932). Traduzido em The Crisis of Psychoanalysis. ,.
Seelenlehre" (tese inédita, Universidade de Frankfurt, 1927). 27. Jbid., p. 32. O livro mais recente de Reich foi aprovado por ele. Ver sua cntica de
8. Jbid., p. 318. Der Einbruch der Sexualmoral, de Reich, em ZfS II, l (1933).
9. Entrevista com Horkheimer em Montagnola, Suíça, mar. 1969. 28. Fromm, "Über Methode", p. 48. Ver também Fromm, The Dogma of Christ, p. 47.
10. Ele emergiu de uma cisão entre facções do movimento psicanalítico alemão. Ver 29. "Über Methode", p. 45.
Carl M. Grossman e Sylvia Grossman, The Wild Analyst (Nova York, 1965), p. 178. 30. Ibid., p. 28.
11. Entrevista com Horkheimer, mar. 1969. 3 !. Jbid., p. 30.
12. Meng lecionava uma cadeira intitulada "Einführung in die Psychoanalyse'', Land­ 32. Carta de Fromm para mim, 14 maio 1971.
au~r, "Psy:hoanalytisc(~e _Klinik", Frieda Fromm-Reichmann, "Psychoanalytische 33. "Über Methode", p. 38. .
Tr'.ebleh:e, e Fromm, D1e Anwendung der Psychoanalyse auf Soziologie und Re­ 34. Fromm, "Die psychoanalytische Charakterologie und ihre Bedeutung für die
hg10nsw1ssenschaft''. Ver a edição de maio-jun. 1929 de Die psychoanalytische Be­ Sozialpsychologie", ZfS I, 3 (1932). Traduzido em The Crisis of Psychoanalysts.
wegung (I, 1), para uma descrição da inauguração do Instituto. Ver também Adolf 35. Ibid., p. 265. . " . _ .
Friedmann, ('Heinrich Meng, Psychoanalysis and Mental Hygiene", em Franz Alex­ 36. Em Eros and Cívilization (Boston, 1955), Marcuse escreveria: A reat1vaçao da se~
ander, Samuel Eisenstein e Martin Grotjahn (orgs.), Psychoanalytic Píoneers (Nova xualidade polimorfa e narcísica deixa de ser uma ameaça à cultura e ~ode, por si
York e Londres, 1966). só levar a um vínculo cultural, caso o organismo exista não como um instrumen­
13. Erich Fromm, Beyond the Chains ofIllusion (Nova York, 1962), p. 5. to)do trabalho alienado) mas como sujeito da auto-realização" (p. 191-192). "Per­
14. Ver, por exemplo, Fromm, Marx's Concept ofMan (Nova York, 1961). versão polimorfa" foi uma expressão popularizada por Norman O. Brown em seu
15. Em Fear ofPreedom (Londres, .1942), Fromm reconheceu a importância de Hegel livro Life against Death (Nova York, 1959). " ,, .
e Marx para seu conceito de alienação (p. 103). 37. Reich divergiu de Fromm ao afirmar que todas as formas de armadura do cara-
16. Fromm, Beyond the Chains ofJllusion, p. 28. ter eram perniciosas e repressivas. Ver Robinson> The Freudian Left, p. 23.
17. John Schaar, em Escape from Authority: The Perspectives of Erich Fromm (Nova 38. Entrevista com Fromm 1 Nova York, dez. 1968.
York, 1961), afirmou que Fromm não respondeu às críticas de G. E. Moore e David 39. Fromm, "Die psychoanalytische Charakterologie", p. 268.
I-Iume contra a falácia naturalista, não compreendeu que a sociedade era mais do 40. Ibid., p. 273.
que a naturez_a, que era preciso ter pleno conhecimento da natureza para julgar o 41. E. M. Butler, The Tyranny ofGreece over Germany (Cambridge, 1935), p. 327. Para
que era ou nao era natural, e que, se o mal existia, também devia fazer parte da uma bibliografia dos artigos escritos sobre Bachofen na década.de 1920, ver Adr1en
natureza (p. 20-24). Turel, Bachofen-Freud, Zur En1anzipation des Mannes vom Reich der Mutter (Ber­
18. Carta de Fromm para mim, 14 maio 1971. na, 1939), p. 209-210.
19. Ver em Marx's Concept of Man, de Fromm, a prova de seu respeito pela capacida­ 42. Citado em Robinson, The Freudian Left, p. 50.
de de _Ma~x como psicólogo. Urna afirmação mais extensa aparece em "Marx's 43. "Family Sentiments", ZfS III, 1 (1934). . ,,
Contnbut10n to the Knowledge of Man", The Crisis of Psychoanalysis (Nova York 44. Fromm, "Die sozialpsychologische Bedeutung der Mntterrechtstheone , ZfS III, 2
1970). ' ( 1934). Traduzido em The Crisis of Psychoanalysis.
20. Dcyond t!ic Ch11i11s of I!l11sio11, p. 12. Na cart<J que 1ne e~creveu 1.:n 1 !4 de inaio de 45. A idéia da natureza co1no uina força do111inadora, à qual o hon1cn1 tcn1 de ;:;e
197 l, o f)r. Fron1n1 di.sse laniento:r essa con1paraçüo, porque era bobagein situar subinetcr passivan1cnte, dcsernpenhou uni grande papel na an<ílisc ~lo fas~isn10
um gra?de ho~em acima ou abaixo de outro, mas a avaliação que ele fez de seus pelo Institut. Ver, por exemplo, Marcuse, "Der Kampf gegen ~~n Liberal,~smus
respectivos méntos manteve-se inalterada. in der totalitaren Staatsauffassung", ZfS III, 2 (1934); e Leo Lowenthal, Knut
21. Be?'o~d the Chains of Illusíon, p. 10: '(Não há uma única conclusão teórica sobre o Hamsun. Zur Vorgeschichte der autoritiiren Ideologie", ZfSVI, 2 (193.7~;
ps1qu1smo humano, neste ou em meus outros escritos, que não se baseie na ob­ 46. Fromm, "Die sozialpsychologische Bedeutung der Mutterrechtstheor1e, p. 221.
serva?~º ~~ítica do comportamento humano realizada ao longo do trabalho psi­ 47. À luz da religiosidade inicial de Fromm 1 sua discussão do judaísmo nesse contex­
canaht1co. Para uma refutação dessa afirmativa, ver J. A. C. Brown, Freud and the to é digna de nota. Apesar de reconhecer o Deus patriarcal em seu cerne, ele tam­
Post-Freudians (Londres, 1961), p. 205. bém apontou para elementos do pensamento judaico como a visão da terra do
1
386
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387

NOTAS
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIAL~TJCA

leite e do mel, que era claramente matriarcal. Os hassides, afirmou (mais uma vez 71. Man for Himself, p. 225-22d6. h l . . m D T Suzuki e R. de Martino (Nova
72. Fromm, Zen Buddhism an Psyc oana ysis, co . . ~
como faria Buber)) tinham um caráter especialmente matriarca! (ibid., p. 223). '
48. Fromm, "Die gesellschaftliche Bedingtheit der psychoanalytischen Therapie'; ZfS York, 1960). .
73. Carta de Fromm para mim, 14 maio 1971.
IV, 3 (1935).
49. Ibid., p. 371-375. ;~: ~~~kheimer, "Geschicbte und Psychologie", ZfS ~; ;12 (19 32), P· 14 \ 25 _226.
76. Horkbeimer, "Egoismus und Freb1he1Btsbehw;gu~~, ;:;4v~e;:i~:~~ i'Nouvelle revue
50. Marcuse, "Repressive Tolerance", A Critique of Pure Tolerance, com Robert Paul
Wolff e Barrington Moore Jr. (Boston, 1965). Similarmente, Adorno escreveu: . , reveu um artigo so re ac o1en . L
"O burguês é tolerante. Seu amor pelos homens, tais como são, brota do ódio ao 77. BenJam1n esc . . balh , foi publicado em 1954, quando saiu em es

française, que o rejeitou, o tra o so Sh l e Theodor W

homem correto" (Minima mora/ia, Frankfurt, 1951, p. 27). Horkheimer fez uma
Lettres nouvelles; Walter Benjamin, Briefe, org. G~rs~om·a~i~ :;reveu uma bre~

afirmação semelhante em The Eclipse ofReason (Nova York, 1947), p.19.


Adorno (Frankfurt, 1966), v.11, P: 614-6;5. Quan~ en~ass und Wert, em 1938
51. "Die gesellschaftliche Bedingtheit", p. 393.
ve história do Institut para a re:1sta de !hom~s b ~~:·de Fromm sobre a teoria
52. "Repressive Tolerance", p. 109. (I, 5, maio-jun.), prestou especial atençao ao ra a
53. Sobre a atitude de Fromm em relação aos radicais, ver "The Revolutionary Charac­
matriareal.
ter': incluído em The Dogma ofChrist and Other Essays on Religion, Psychology and 78. Entrevista com Fromm, Nova York, dez. 1968.
Culture (Nova York, 1966). Horkheimer expressou dúvidas similares sobre a visão 79. Entrevista com Lõwentbal, Berkeley, ago. 1968. d S . 1 ·n the Work of
freudiana dos revolucionários já em 1934 (Heinrich Regius [pseudônimo], Dii.m­ 80. Horkheimer, "The Relation between Psychology an oc10 ogy '
Wilhelm Dilthey'~ SPSSVlll, H 1939h\
merung, Zurique, 1934, p. 256).
t de Pacific Palisades, na Cali­
54. "Die gesellschaftliche Bedingtheit", p. 384-385. 81. c:arta de Horkhe1mer para Lowent a' 31 ou . 1942 '

55. Ernest Jorres, The Life and Work ofSigmund Freud (Nova York, 1963), p. 400. Jones fórnia (coleção de Lõwenthal). . ,, , ( 1937 ) 276

também acusou Otto Rank de insanidade. Fromm tentou explicar melhor a ques­ 82 Horkheimer "Traditionelle und kritische Theone 'ZJS.VI, 2 'P· . 'd t
tão em Sigmund Freud's Mission (Nova York, 1959). . '. .. M H kh . er zum sechztgsten Geburtstag gewi me
83. Em Sociologica: Aufsatze, ax or eim d 1967) e 47 (jan.-fev.1968).
56. Grossman e Grossman, The Wild Analyst, p. 195. Frieda Fromm-Reíchmann era 1fu t 1955) e New Left Review, 46 (nov.- ez.
(Fra~<
muito íntüna de Groddeck e foi uma das últimas pessoas a vê-lo antes de sua mor­ r' ~, Lõwenthal por ter colocado esse artigo à minha disposição.
84. Agra eço ao pro _essor 1 - Max Horkbeimer e Theodor W. Adorno (orgs.),
te, em 1934. Ela o incluiu na dedicatória de seu primeiro livro, Principies of Ele tem uma versao em a emao em
lntensive Psychotherapy (Chicago, 1950).
57. Fromm, "Zum Gefühl der Ohnmacht", ZfSVI, 1 (1937). Esse artigo e a contribui­ SS. ~;~~~~'.~,~~:=~~:i~~~ev:~:ªf~c~~;~~:~~r~:::~~~ies in Psychoanalysis", 27 abr.
ção de Fromm para os Studien über Autoritêi.t und Familie (Paris, 1936) serão abor­ !946 (inédito), p. 4 (coleção de Lõwenthal). . 'd _
dados no cap. 4. . . . . l ente sobre a importância dos choques na v1 a mo
86. Ben1amm tinha escnto ongamb . B d 1 . "Z"'ºVlll 1/2 (1939), que foi tradu­
58. Ver Schaar, Escape from Authority, e Guyton Hammond, Man in Estrangement d "Über e1n1ge Motive ei au e aire ' 'l') '

(Nashville, 1965) 1 para duas discussões do livro. z~l~:~~lluminations. Ele usou idéias explicitan1ente freudianas para respaldar sua

59. Fromm, Fear of Freedom, p. 9. interpretação. h l ·" 6


60. lbid., p. 157. 87. ('Social Science and Sociological Tendencies in Psyc oana ys1s ) p. .
61. Ibid., p. 251. 88. Ibid., p. 6-7.
62. Ibid., p. 249. 89. Ibid., p. 14.
63. Fromm, Man for Himse/f(Nova York, 1947). Fromm dividiu os tipos de caráter 90. Jbid., p. 15.
segundo sua orientação "produtiva" ou "ünprodutiva". Os deste último tipo foram 91. Ibid., p. 22. . S holem e Theodor W. Adorno (Frank­
subdivididos nos subtipos receptivo, explorador, acumulador e mercantil (p. 120). 92. Walter Benja1nin, Schriften, org. Gershorn c
64. Fear of Freedom) p. 7. Em The Sane Society (Nova York, 1955), entretanto, Fromrn furt,!955!,v.T,p.140. - _·.·. _ 1 . · " . , 1 1 __ )~

;1l,\l'(ilt ci C(\11Cl.'P\"tlo de ;111Hn ,k Su!li\-~t!l co:110 .dic11,1d;i q). 193 i'J'J 1 • 1;L'>. ")ocial '.':icicncc and ::iocio!ugica! Jç11d.:ncH..':. !!1 P::iychO<\J1,t;} :.1", ~-. -- -­
ú3. C;1rta de Fronun para n1in1, 14111;1io 1971. 94. Aiini11u1 11wn1!io, P· 78. , . 't' da segunda geração, ver
. . .· d Fd por nm teorice cri ic0
66. Fear of Freedom, p. 239. 95. p.~ra umHubso 1maasg1~~~1:~edgee :~~ Human Interests, trad. Jeremy J. Shapiro (Boston,
67. Ibid., p. 18. Jurgen a erro' , d · d · ação usaram-se
68. Ibid., p. 130. 197 1) · Numa
.
fase anterior da história do lnstitut epo1s a em:gr,
. · t' · como
' .
0 Gruppenexpenmen ,
t
. analíticas em estudos emp1ncos, ais .
69. Ibid., p. 136. Esse foi um conceito que Fromm não havia usado em sua discussão
do sadomasoquismo no artigo que publicou nos Studien über Autoritiit und Fa­ Frankfurter ~:~g~;i:~rf:~cPollock,
zur v. Beitrii~e s;ziol~gie, l~;~~:~~~~t;t'.~~~~).
milie, "Sozialpsichologischer Teil': 96. Freud in der Gegenwart, Frankfurter ~ezt~age zu: 1::~~:!:~ ~rankfurt por diversos
70. Fear of Freedom, p. 222. O livro compôs-se de palestras e artigos apres I

389
388
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

p:icólogos ilustres, entre eles Erik Erikson, Franz Alexander> René Spitz e Ludwi 120. «The Human Implications of Instinctive 'Radicalism"', p. 346.
B1nswanger. g 121. Marcuse, "A Reply to Erich Fromrn'', Dissent!II, 1 (inverno 1956). Em The Crisis of
97. ~arcuse> '1:-~toritãt un~ ~amilie in der deutschen Soziologie bis 1933>: em Studien Psychoanalysis, Fromm retomou o debate no ponto em que o havia deixado quin­
~ber Aut?ntat und F~m!lt.e. ~arcuse também contribuiu com um longo ensaio in­ ze anos antes (p. 14-20).
trodutóno sobre a h1stona intelectual da idéia de autoridade. 122. fbid., p. 81. Esse foi um termo que Marcuse usou fartamente em One-Dimensio­
98. Robinson, The Freudian Left, p. 188-191. nal Man e em seus trabalhos posteriores. Nicht Mitmachen tinha sido um ~'lema»
99. Marcuse, ('The Affirrnative .Character of Culture>>, Negations: Essays in Criticai favorito do Institut desde os primeiros tempos em Frankfurt) segundo me disse
Theory, trad. Jeremy ). Shapiro (Boston, 1968), p. 122-123 (originalmente ZfS VI Lõwenthal (carta de 15 de agosto de 1970).
I, 1937). , 123. Fear of Freedom, p. 158 (grifo do original).
100. lbid.) p. 1_16. N_esse texto, Marcuse expressou uma atitude perante a tentativa de 124. Fromm, The Heart ofMan (Nova York, 1964), p. 53-54.
levar a ,~e1~caça~ ª.º extremo que mais tarde admiraria em L'Être et le néant, de 125. Horkheimer, "Gedanke zur Religion", Kritische die Theorie, v. I (Frankfurt, 1968),
Sartre ( Existentlahsm: Remarks on Jean-Paul Sartre)s L'Etre et le néant> Philosoph p. 375.
and Phenomenological Research VIIJ, 3, mar. 1948, p. 327). ' y
101. Marcuse, '(On Hedonism", Negatíons, p. 190. 4. OS PRIMEIROS ESTUDOS DO INSTITUT SOBRE A AUTORIDADE
102. Robinson, The Freudian Left; p. 179. 1. Max Horkheimer) "Autoritãrer Staaf', em "Walter Benjamin zum Gedachtnis» (iné­
103. Eros and Civilization, p. 218.
dito, 1942; Coleção Friedrich Pollock em Montagnola, Suíça), p. 152.
104. Ibid., p. 41.
2. Margaret Mead, «On the Institutionalized Role of Women and Character For­
105. Ibid., p. 223.
mation", ZfSV, 1 (1936); Charles Beard, "The Social Sciences in the United States'',
106. Ibid., p. 54-55.
ZjS IV, 1 (1935); Harold Lasswell, "Collective Autism as a Consequence of Culture
107. Ibid., p. 231.
108. Ibid., p. 235. Contact", ZJS IV, 2 (1935).
3. Em 1935, o artigo nada excepcional de Tõnnies sobre o direito ao trabalho foi pu­
109. "O con:plexo de Édipo) apesar de ser a fonte primordial e o modelo dos conflitos blicado por deferência a sua posição e sua reputação; Ferdinand Tónnies, "Das
neur~t1cos) certamente não é a causa central do mal-estar na civilização nem 0
Recht auf Arbeit", ZjS IV, 1 (1935).
ob~taculo central à sua eliminação" (.ibid.) p. ~04). Robinson) em The Freudian Left,
4. História mimeografada inédita do Institut, escrita em 1938, na coleção de Friedrich
assina}~ e~sa passagem, mas desconsidera a discussão de Marcuse sobre o comple­
xo de Edtpo em seu epílogo, onde ele lhe confere uma importância n1aior. Para Pollock em Montagnola, p. 13.
5. "Ten Years on Morningside Heights: A Report on the lnstitute's History 1934 to
u:na exc:Ien~e cr~~ica da atitude de Marcuse perante o complexo de Édipo) ver 1944" (inédito, 1944), na coleção de Lõwenthal. Pagar honorários por artigos e re­
Sidney L1psh1r~s, J:ferbert Marcuse: From Marx to Freud and Beyond" (tese de
senhas) publicados ou não publicados no Zeitschrift, era um recurso usado com
doutorado, Un1vers1dade de Connecticut) 1971).
freqüência para tornar o apoio ('mais respeitável" (carta de Lõwenthal para mim)
110. Citado por Marcuse) Eros and Civilization) p. 246, com base em Fromm, Psycho­
analysis and Religion (New Haven, 1950), p. 79 et seq. 15 ago. 1970).
6. Entrevista com Friedrich Pollock, Montagnola, Suíça, mar. 1969.
111. Eros and Civilization, p. 247.
7. Ludwig Marcuse, Mein zwanzigstes Jahrhundert (Munique, 1960), p. 239-240.
112. Ver, por exemplo, Fromm, Man for Himself, p. 215.
113. Eros and Civilization, p. 248. 8. Conversa com o professor Pachter) Nova York, 13 out. 1971.
9. Elas foram feitas em duas edições especiais de uma revista berlinense chamada Al­
114. Sigmund Freud, Beyond the Pleasure Principie (Nova York, 1950), p. 76.
115. Eros and Civilization, p. 214-215. ternative, 56157 (out.-dez. 1967) e 59/60 (abr.-jun. 1968).
10. Para uma discussão desse período na Columbia, ver a autobiografia de Robert
116. Nesse ponto, Marc~se ~ão foi tão longe quanto Norman O. Brown na afirmação
Maclver, As a Tale That Is Told (Chicago, 1968). De acordo com seu relato, Maclver
de que toda organ1zaçao sexual era repressora; ver Brown, Life Against Death,
queria um departamento mais amplo e de orientação mais teórica do que Lynd>
P·. 122 e'. scq. !vf;1rcu;.>t' recu;.;ou-se <1 aceitar o coh1pso con1pleto de toda sorte de
que cnf~1Líza\·a uina abordagcn1 profission<ll utilitarista. A ruptura final veio por
~liter:'ncia~·ões, tal co:110 1.,'.efondido por Bnnvn. "A unidade entre o sujeito e o ob­
conta de u1na resenha hostil que tv1aclver escreveu sobre K1101v!edge for ~Vhal, de
JCLo e urn rnarco do idealtsn10 absoluto; entretanto, até I-legel preservou a tensão
entre os dois> a distinção. Brown vai além da idéia absoiuta: 'Fusão mística parti­ Lynd (p. 137-141).
cipação"' (Negations, p. 138). ' ' 11. Carta de Horkheimer para Lõwenthal, 8 nov. 1942 (coleção de Lõwenthal).
12. Henry Pachter, "A Memoir", em The Legacy of the German Refugee Intellectuals
117. O termo apar~ce em Marcuse, One-Dimensional ]Yían (Boston) 1964), p. 16.
118. T~nto Horkhe1mer quanto Adorno expressaram dúvidas sobre alguns aspectos da (Salmagundi, 10/11, outono 1969-inverno 1970), p. 18.
leitura de Fr_eud por Marcuse, quando conversei com eles no inverno de 1968-1969. 13. Horkheimer, "Die gegenwartige Lage der Sozialphilosophie und die Aufgaben
119. Fromm, "The Human Implications of Instinctive 'Radicalism'», Dissent II 4 (ou­ eines Instituts für Sozialforschung", Frankfurt Universitittsreden (Frankfurt, 1931),
tono 1955), e "A Counter-Rebuttal", DissentIII, 1(inverno1956). ' p. 14-15.

391
390
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

14. Adolf Levenstein, Die Arbeiterfrage (Munique, 1912). Paul Lazarsfeld foi o primei­ 35. A parte relevante desse livro apareceu em in~lês pela.pri~eira vez em 1947, em
ro a me chamar a atenção para a importância desse predecessor. Um aluno seu Max Weber, The Theory ofSocial and Economic Orgamzation, trad. A. M. Hender­
Anthony Oberschall, escreveu sobre o trabalho de Levenstein em Empirical Social son e Talcott Parsons (Nova York, 1947).
Research in Germany, 1846-1914 (Paris, Haia, 1965), p. 94 et seq. Fromm nega a 36. Ibid., p. 185.
importância do modelo de Levenstein (carta de Fromm para mim, 14 maio 1971). 37. Horkheimer, "Allgemeiner Teil", p. 48-49.
15. Fromm, .'<Die psychoanalytische Charakterologie und ihre Bedeutung für die 38. Horkheimer, "Vernunft und Selbsterhaltung", p. 56.
Sozialpsychologie", ZfS I, 3 (1932). 39. Marcuse, Negatíons, p. 19.
16. Fromm, Social Character in a Mexican Vil/age, com Michael Maccoby (Englewood 40. Horkheimer, "Die )uden und Europa", ZfSVlll, 1/2 (1939), p.115.
Cliffs, N.J., 1970). 41. J:-Iorkheimer, ('Zum H.ationalismusstreit in der gegenwãrtigen Philosophie", ZfS III,
17. Foi esse o nome que ele recebeu no International Institute of Social Research: A 1 (!934), p. 36.
Report on Its History and Activities, 1933-1938 (Nova York, 1938), p. 14-15. 42. Marcuse, Negations, p. 18.
18. Carta de Pollock para mim, 24 mar. 1970. Paul Massing, que foi aluno do Institut 43. Ibid., p. 13.
nos tempos de Frankfurt, sugeriu-me que esse estudo, na verdade, não foi tão con­ 44. Ibid., p. 23.
clusivo, pois as revoluções podiam muito bem ser feitas por tipos a:utoritários, em 45. Ibid., p. 30-3 l.
certas condições (entrevista com Massing, Nova York, 25 nov. 1970). 46. Ibid., p. 32.
19. Carta de Fromm para mim, 14 maio 1971. 47. Ibid., p. 36.
20. Fromm, Fear of Freedom (Londres, 1942), p. 183. 48. Ibid., p. 38.
21. Horkheimer, ("Allgemeiner Teil", em Studien über Autoritiit und Familie (Paris, 49. Ibid., p. 39.
1936), p. 23-24. 50. Horkheimer, "Die Juden und Europa", p. 125.
22. Ver, por exemplo, Franz Neumann, "Economics and Politics in the Twentieth 51. Ibid., p. 121. , . , .
Century", em Herbert Marcuse (org.), 11ie Democratic and the Authoritarian State 52. Para uma análise do fascismo como extremismo da classe media, por um teonco
(Nova York, 1957), originalmente escrito em 1951. Nesse texto, ele escreveu: ''Ateo­ muito diferente dos da Escola de Frankfurt, ver Seymour Martin Lipset, Political
ria marxista sofre de um mal-entendido: a confusão da análise sociológica com a Man (Nova York, 1960).
teoria da ação política" (p. 273). Em um artigo publicado postumamente, inti­ 53. Horkheimer, "Vorwort", Studien über Autoritiit und Familie, p. xii.
tulado "Confining Conditions and Revolutionary Breakthroughs", em Frederic 54. ). N. Findlay, em seu livro Hegel: A Reexamination (Nova York, 1958), escreveu:
S. Burin e Kurt L. Shell (orgs.), Politics, Law, and Social Change: Selected Essays of "Único entre os filósofos modernos, Hegel tem uma percepção quase freudiana
Otto Kirchheimer (Nova York e Londres, 1969), Kirchheimer defendeu uma idéia das bases sexuais e familiares simples da vida grupal organizada" (p. 116).
semelhante. 55. Para uma discussão recente da literatura sobre a família no último século, ver René
23. Para nma discussão recente dessa questão, ver Sheldon Wolin, Politics and Visíon Kõnig, "Soziologie der Familie", em Handbuch der empirischen Sozialforschung, v.
(Boston, 1960). II (Stuttgart, 1969).
24. Marcuse, Negations: Essays in Criticai Theory, trad. Jeremy J, Shapiro (Boston, 56. Horkheimer, "Allgemeiner Teil", p. 19.
1968), p. xi-xii. 57. Ibid., p. 49.
25. Para uma reafirmação recente da ênfase do Institut na sociedade, ver Adorno, 58. Em artigo posterior, em ZfS VI, 1 ( 1937), intitulado "Zum Gefühl der Ohnmacht",
"Society'', em The Legacy ofthe German Refugee lntellectuals (Salmagundi, 10/11, Fromm explorou as conseqüências e as causas do sentimento crescente de impo­
outono 1969-inverno 1970). tência.
26. Marcuse, Negations, p. 31 et seq. 59. Hork.heimer, ''Allgemeiner 1'eil", p. 66.
27. Para uma discussão dessa mudança, ver Robert V. Daniels, "Fate and Will in the 60. Ibid., p. 75-76. .
Marxian Philosophy ofHistory", em W. Warren Wager (org.), European Intel/ectual 61. Mitscherlich) um psicanalista ligado à Universidade de Frankfurt e diretor do Ins­
Flistory Sincc Dnn1·i11 (1/11! ,\·ftirx (!°'\U\'<l York, 1966). tituto Siginund Freud, foi 1nuito influenciado pelo lnstitut ~lr. Sozialforschung de­
28. Horkheilner, "Vernunft und Se!bsterhaltung'~ ern "\,Valter ílenjan1in zuni c;edacht­ pois da guerra. Seu livro Society ivithout the Fc1the:·, .tr.a~i. En~, i\ilosbachcr (Nova
nis", p. 25. York, 1970), mostra quanto ele deveu aos estudos in1c1a1s da Escola de Frankfurt
29. Fromm, Fear of Freedom, p. 26, 232. sobre a psicologia social.
30. Marcuse, Negations, p. 39 (grifo do original). 62. Fromm, "Sozialpsychologischer Teil", p. 84.
31. Horkheimer, "Autoritãrer Staat", p. 153. 63. Ibid., p. 101.
32. Horkheimer, ''Allgemeiner Teil'', p. 48-49. 64. Ibid., p. 110.
33. Fromm, "Sozialpsychologischer 'feil", em Studien über Autoritiit und Familie, 65. Ver cap. 3, p. 147. . . .
p. 132-133. 66. Ele discorreu longamente sobre esses sintomas de pass1v1dade masoquista em
34. Horkheimer, "Vernunft und Selbsterhaltung", p. 29. "Zum Gefühl der Ohnmacht", p. 117.

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

67. Marcuse, ''Autoritãt und Pamilie in der deutschen Soziologie bis 1933", em Studien Gesellschaft", ZfS VII, 1 (1938). Em grande parte de seu trabalho, ele recebeu a aju­
über Autoritii.t und Familie. da de sua segunda mulher, Olga Lang, cujo livro Chinese Family and Society (New
68. Ver, por exemplo, a crítica duríssima de Alasdair Maclntyre a seu trabalho, J-ler­ Haven, 1946) foi lançado sob os auspícios do Instituto de Relações Pacificas e do
bert Marcuse: An Exposition anda Polemic (Nova York, 1970). Instituto de Pesquisas Sociais, ambos norte-americanos. Tal como o trabalho de
69. Marcuse, "ldeen?eschichtlicher Teil", em Studien über Autoritii.t und 1'àmilie, p. 140. Wittfogel, o livro não empregou realmente a metodologia da teoria crítica, como
70. Em geral, o Instltut concordava com a filosofia acadêmica alemã em sua concen­ a professora Lang admitiu em conversa comigo (Nova York, jun. 1970).
tração nos gregos, em Descartes, Kant e Hegel, nos vários adeptos da filosofia da 82. Felix Weil, The Argentine Riddle (Nova York, 1944).
vida e nos fenomenologistas modernos. A maior parte da filosofia medieval era 83. Mirra Komarovsky, The Unemployed Man and His Family (Nova York, 1940). Ori­
ignorada, e a tradição empirista costumava ser discutida como um todo, a fim de ginalmente, esse trabalho deveria fazer parte de um estudo comparativo sobre o
ser descartada. Marcuse, entretanto, discutiu Hobbes, Locke e Rousseau em aulas desemprego e a família também nas cidades européias, mas todas as filiais euro­
dadas na Universidade Colúmbia (carta de Lõwenthal para mim, 15 ago. 1970). péias do Institut já estavam fechadas em 19~8. , "
71. Essa citação foi extraída do resumo em inglês no final dos Studien über Autoritãt 84. Para uma análise sobre o Centro de Pesquisas de Lazarsfeld, ver seu artigo An
und Familie, p. 901. Episode in the History of Social Research: A Memoir", em Donald Fleming e Ber­
72. Carta de Fromm para mim, 14 maio 1971. nard Bailyn (orgs.), The Intellectual Migration: Europe and America, 1930-1960
73. Entrevista com Ernst Schachtel, Nova York, jun. 1970. (Cambridge, Mass., 1969), p. 285 et seq.
74. Fromm, "Geschichte und Methoden der Erhebungen': em Studien über Autoritiit 85. Paul Lazarsfeld, "Some Remarks on the Typological Procedures in Social Research",
und Familie, p. 235-238. ZfSVI, 1 (1937).
75. Ibid., p. 235. 86. Komarovsky, The Unemployed Man and His Family, p. 122.
76. Ernst Schachtel, "Zum Begriff und zur Diagnose der Persõnlichkeit in den 'Per­ 87. Ibid., p. 3.
sonality Tests"', ZfS VI, 3 (1937). 88. Adorno, "Fragmente über Wagner", ZfS Vlll, 112 (1939). Esse artigo foi uma con­
77. Entre eles. se incluíram: Karl A. Wittfogel, "Wirtschaftsgeschichtliche Grundlagen densação de vários capítulos do livro que ele publicou posteriormente, intitulado
der Entw1cklung der Familien Autoritãt"; Ernst Manheim, "Beitrãge zu einer Versuch über Wagner (Frankfurt, 1952). . .
Geschichte der autoritãren Familie"; Andries Sternheim, "Materialen zur Wirksam­ 89. Leo Lõwenthal, Erziihlkunst und Gesellschaft; Die Gesellschaftsproblematzk tn der
keit õkonomischer Faktoren in der gegenwãrtigen FamilÍe"; Hilde Weiss, "Mate­ deutschen Literatur des 19. ]ahrhunderts, com introdução de Frederic C. Tubach
rialen zum Verhãltnis von Konjunktur und Familie"; Gottfried Salomon, "Bemer­ (Neuwied e Berlim, 197!).
kungen zur Geschichte der franzõsischen Familie"; Willi Strelewicz, ''Aus den 90. Ibid., p. 83.
familienpolitischen Debatten der deutschen Nationalversammlung 1919"; Ernst 91. Ibid., p. 132.
Schachtel, "Das Recht der Gegenwart und die Autoritãt in der Familie"; Harald 92. Além do ensaio de abertura e do texto sobre Meyer, que foram publicados no
Mankiewics, "Die Entwicklung des franzõsischen Scheídungsrechts"; Harald Zeitschrift, uma versão abreviada do ensaio sobre Goethe saiu em Lõwenthal,
Mankiewics, "Die Rechtslage der in nichtlegalisierten Ehen lebendenden Personen Literature and the Image ofMan (Boston, 1957), e uma versão similarmente abre­
in Frankreich"; Zoltán Ronai, "Die Familie in der franzõsischen und belgischen viada do capítulo sobre Freytag foi incluída em um Festschriftpara Gyõrgy Lukács,
Sozialpolitik"; Hubert Abrahamsohn, "Die Familie in der deutschen Sozialpolitik'" em Frank Benseler (org.), George Lukács zum achtzigsten Geburtstag (Neuwied,
Paul Honigsheim, "Materialen zur Beziehung zwischen Familie und Asozialitãt vo~ 1965).
J~gendl.iche~"; Kurt ~oldstein, "Bemerkungen über die Bedeutung der Bielogie füi 93. Lõwenthal, "Zur gesellschaftlichen Lage der Literatur'', ZfS !, 1 (1932).
d1e Soz1olog1e anlãsshch des Autoritãtsproblems"; Fritz Jungmann, ''Autoritãt und 94. Ibid., p. 90.
s:x~almoral in der freien bürgerlichen Jugendbewegung" (Jungmann era o pseu­ 95. Lõwenthal, "Conrad Ferdinand Meyers heroische Geschichtsauffassung", ZfS II, 1
don1mo de Franz Borkenau, que estava morando e1n Londres na época. Essa foi (1933).
sua última contribuição para o Institut); Marie Jahoda-Lazarsfeld, ''Autoritãt und 96. Ibid., p. 61.
Err.iehung in der Fainilie, Schule und Jugendbe\vegung"; Curl \'Vonnann, "Autorí­ 97. Lüwenthal, "I)ic :\uffassung l)osto.ic,vskis im \'orkriegsdeutschland", Zf,._<; !TT, 3
tãt und Familie in der deutschen Belletristik nach dem Weltkrieg': ( 1934). Uma versão desse artigo em inglês encontra-se em Robert N. Wilson (org.),
78. Entrevista com Pollock, mar. 1969. The Arts in Society (Englewood Cliffs, N.)., 1964). .
79. Horkheimer, "Die Juden und Europa". 98. Benjamin escreveu-lhe uma carta muito elogiosa, enviada de Paris em 1º de Julho
80. Hans Speier, resenha de "Studien über Autoritãt und Familie': Social Research 111 1 de 1934, na qual chamou o trabalho de um avanço inovador nos estudos desse
4 (nov. 1936), p. 501-504. tipo (coleção de Lõwenthal).
81. Entre os artigos de Wittfogel da década de 1930, os quais integraram parte de 99. Lõwenthal, em TheArts in Society, p. !25.
seu projeto mais ambicioso de escrever uma série de livros sobre a história e a so­ 100. Ibid., p. 368.
cie~ade chinesas~ inc.luíram-se os seguintes: "The Foundations and Stages of 101. Lõwenthal, "Das Individuum in der índividualistischen Gesellschaft. Bemerkungen
Chmese Econom1c Hrstory", ZfS IV, 1 (!935) e "Die Theorie der orientalischen über Jbsen", ZfS V, 3 (1936). O artigo foi publicado, com pequenas mudanças na

394 395
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA NOTAS

tradução, em Lõwenthal, Literature and the Image of Man. 1'odas as citações refe­ 15. Ibid., p. 72.
rem-se à versão em inglês. 16. Jbid., p. 75. Tempos depois, Neumann mudaria de opinião sobre Rousseau e a li­
102. lbid., p. 170. berdade positiva em geral.
103. lbid., p. 175. 17. lbid., p. 79.
104. Jbid.,p.179. 18. Mesmo em seu período posterior, mais liberal, Neumann escreveu: "Não posso
105. lbid., p. 184. concordar que o Estado seja sempre inimigo da liberdade" ("Intellectual and
106. Lõwenthal, "Knut Hamsu~. zu: Vorgeschichte der autoritãren Ideologie': ZfS VI, Political Freedom", The Democratic and the Authoritarian State, p. 201).
3 (1937). Esse texto tambem foi republicado, com algumas mudanças, em Litera­ 19. Para um material biográfico sobre Kirchheimer, ver John H. Herz e Erich Hula,
tu~e and the Im~ge ofMan, do qual foram extraídas as citações que se seguem. ''Otto Kirchheimer: An Introduction to His Life and Work", em Otto Kirchheimer,
107. Foi o que me disse Lôwenthal em conversa em Berkeley, Califórnia, ago. 1968. Politics, Law, and Social Change, org. Frederic S. Burin e Kurt L. Shell (Nova York,
108. Literature and the lmage ofMan, p. 198. 1969).
109. Ibid., p. 202. 20. Otto Kirchheimer, "The Socialist and Bolshevik Theory of the State", reproduzido
110. Os sintomas também eram encontrados, como acrescentou Adorno em uma nota em Politics, Law, and Social Change, p. 15. Mais tarde, Kirchheimer abandonou as
de rodapé (escrita sob o pseudônimo de Hektor Rottweiler), na música de Jan idéias de Schmitt sobre as situações de emergência. Ver "In Quest of Sovereignty",
Sibelius (p. 338 do artigo original do ZfS, omitida na versão em inglês de Literature reproduzido em Politics, I.aw, and Social Change, p. 191.
and the lmage ofMan). 21. Kirchheimer, Weimar- und Was Dann? (Berlim, 1930), reproduzido em Politics,
111. Ibid., p. 218. Law, and Social Change.
22. Kirchheimer, "Constitutional Reaction in 1932", originalmente publicado em Die
5. A ANÁLISE DO NAZISMO FEITA PELO INSTITUT Gesellschaft!X (1932), reproduzido em Politics, Law, and Social Change, p. 79.
1. Entrevista com Alice Maier, Nova York, maio 1969. 23. Em sua introdução, Herz e Hula observaram: "Nesse aspecto, é claro que Kirch­
2. Franz Neumann, Behemoth: 11ze Structure and Practice of National Socialism, 1933­ heimer subestimou as vantagens trazidas até mesmo por um governo autoritário
1944 (ed. rev., Nova York, 1944). de funcionários públicos e militares, em contraste com o que estava por vir: o
3. Neumann et al., The Cultural Migratíon: The European Scholar in America (Fila~ totalitarismo nazista" (Politics, Law, and Social Change, p. XVI). Mesmo não que­
délfia, 1953), p. 18. rendo embarcar numa discussão em larga escala sobre esse ponto, creio que a
4. Herbert Marcuse, prefácio de Franz Neumann, The Democratic and the Authori­ posição de Kirchheimer teve mais mérito do que eles reconheceram. Tentei de­
tarian State: Essays in Political and Legal Theory (Nova York, 1957), p. VII. Ver senvolver as razões disso numa crítica a Istvan Deak, Weimar Germany's Left-Wíng
também H. Stuart I-Iughes, "Franz Neumann between Marxism and Liberal De­ Intellectuals, em CommentaryXLIV, 4 (out. 1969).
mocracy", em Donald Fleming e Bernard Bailyn (orgs.), The lntellectual Migration: 24. Kirchheimer também escreveu uma análise das tentativas francesas de estabelecer
Europe and America, 1930-1960 (Cambridge, Mass., 1969). um governo autoritário acima da política em ('Decree Powers and Constitutional
5. Seus textos foram publicados com mais freqüência em Die Arbeit e Die Gesellschaft. Law in France under the Third Republic'', originalmente publicado na American
6. Franz Neumann, "Der Funktionswandel des Gesetzes im Recht der bürgerlichen Political Science Review XXXIV (1940), e reproduzido em Politics, Law, and Social
Gesellsch~ft", ZfS VI'. 3 (1937), reeditado em inglês com o título "The Change in Change. Nesse texto, ele escreveu: "O exe1nplo francês, vindo oito anos depois do
the Function of Law In Modern Society", em The Democratic and the Authoritarian Priisídialregierung alemão de Brüning e Papen, mostra que a dominação ilimitada,
State, do qual foram extraídas as citações que se seguem. mediante decretos de um governo constitucional com uma base popular ou par­
7. Ibid., p. 39. lamentar dúbia, serve apenas de parada intermediária no caminho para o com­
8. lbid., p. 42. pleto autoritarismo" (p. 130).
9. Ibid., p. 52. 25. Kirchheimer publicou artigos nos Archíves de Philosophie du droit et de Sociologie
10. lbid., p. 65. juridique IV (1934) e na Revue de Science crirninelle et de Droit penal comparé 1
11. Neumann fez a mesma afirmação em Behemoth, p. 451. (1936).
12. The Dernocratic and the Authoritarían State, p. 66. 26. StaatsgejUge und Recht des Dritten Reiches (Hamburgo, 1935), escrito sob o no1ne
13. Herbert Marcuse, "The Struggle against Liberalism in the 1btalitarian State", do Dr. Hermann Seitz e clandestinamente introduzido na Alemanha como litera­
Negations: Essays in Criticai Theory, trad. jeremy ). Shapiro (Boston, 1968) (origi­ tura da resistência.
nalmente ZfS Ili, 1, 1934). 27. Kirchheimer e George Husche, Punishment and Social Structure (Nova York) 1939).
14. Neumann, "Types of Natural Law''. SPSS VIII, 3 (1939). Os Studies in Philosophy 28. lbid., p. 5.
a~d Social Science foram uma continuação do Zeitschrift für Sozialforschung. Esse 29. Kirchheimer, "The Legal Order of National Socialism", SPSS IX, 2 (1941).
foi s~u primeiro número. O artigo de Neumann foi reproduzido em 1'he Demo­ 30. Punishment and Social Structure, p. 179.
crattc and the Authoritarian State, do qual foram extraídas as citações que se 31. A. R. L. Gurland, Produktionsweise-Staat-Klassendiktatur (Leipzig, 1929). O orien­
seguem. tador da tese foi Hans Freyer, da Faculdade de Filosofia.

396 397
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

32, Gurland, "Die Dialektik der Geschichte und die Geschichtsauffassung Karl 47, Friedrich Pollock, Die planwirtschaftlichen Versuche in der Sowjetunion (1917-1927)
Kautskys': Klassenkampf(Berlim, 1° set 1929), (Leipzig, 1929).
33, Gurland, "Die K.P.D. und die rechte Gefahr': Klassenkampf(Berlim, 1° dez. 1928), 48. Pollock, ''Die gegenwãrtige Lage des Kapitalismus und die Aussichten einer plan­
Gurland também escreveu uma discussão sobre a situação do SPD, enfatizando a wirtschaftlichen Neuordnung", ZfS I, 1/2 (1932), No ano seguinte, ele deu con­
necessidade da práxis) intitulada Das 1-Ieute der proletarischen Aktion (Berlim, tinuidade à sua discussão a respeito da Depressão em "Bemerkungen zur Wirt­
1931 ), schaftskrise", ZfS 11, 3 (1933),
34. Para uma discussão da carreira de Grossmann) ver Walter Braeuer) "Henryk Gross­ 49, Pollock, "State Capitalism: Its Possibilities and Limitations'', SPSS IX, 2 (1941),
mann als Nationalõkonom'; Arbeít und Wissenschaft, v, VIII (1954), 50. Ibid,, p. 207.
35. Henryk Grossmann) "MarX:, die klassische Nationalõkonomie und das Problem der 51. James Burnham, The Manageríal Revolution (Nova York, 1941), Originalmente,
Dynamik" (texto mimeografado, 1940). Braeuer refere-se a um manuscrito inti­ Burnham tinha sido trotskista. En1bora o próprio Trotsky tenha rejeitado a idéia
tulado «Marx Ricardiensis?", que Pollock acredita ter sido outro título do mesmo do capitalismo de Estado, ao menos tal como aplicada à União Soviética, vários
trabalho, embora) de acordo com Braeuer, ele tivesse mais de trezentas páginas, ao de seus seguidores não a rejeitaram. Mas não há provas de que Pollock tenha ex­
contrário das 113 do texto em poder de Pollock (carta de Friedrich Pollock para traído a idéia dessa fonte.
mim, 16 abr. 1970), O trabalho foi finalmente publicado com um posfácio de Paul 52, Pollock, "Is National Socialism a New Order?': SPSS lX, 3(1941), p. 447,
Mattick em Frankfurt, em 1969, 53. Ibid,, p. 449.
36. Henryk Grossmann, •<rhe Evolutionist Revolt against Classical Economics", fournal 54. Ibid., p. 450. Neumann viria a usar a mesma expressão em Behemoth; Willí Neu­
of Political Economy LI, 5 (1943); "W, Playfair, the Earliest Theorist of Capitalist ling a havia cunhado em "Wettbewerb, Monopol und Befehl in der heutigen Wirt­
Developmenr>: Econo1nic History Review XVIIli l (1948). schaft", Zeítschríft für die gesamte Staatswissenschaft, LXXXXIX ( 1939),
37. Em nossas conversas, tanto Lõwenthal quanto Pollock e Marcuse mencionaram a 55. Para uma discussão recente do mesmo tema, ver T. W. Mason, «The Pdmacy of
desconfiança crescente de Grossmann em relação aos integrantes do Institut du­ Politics: Politics and Economics in National Socialist Germany", em S. J. Woolf
rante a década de 1940. A correspondência Lõwenthal-Horkheimer confirma as (org.), The Nature ofFascism (Nova York, 1968),
declarações deles em diversas cartas. 56, Max Horkheimer, "Philosophie und Kritische Theorie", ZjSVl, 3 (1937), p, 629.
38. O mesmo se poderia dizer de outro velho conhecido do Institut, Ernst Bloch, a 57. Pollock, "State Capitalism", p. 207,
quem a organização recusou apoio financeiro) em função da posição política que 58. Para uma discussão desse ponto) ver H.obert C. Tucker, "Marx As a Political Theo­
ele adotou (conversa com Leo Lõwenthal, Berkeley, Califórnia, ago. 1968). rist"i em Nicholas Lobkowicz (org.), Marx and the Western World (Notre Dame>
39. Entrevista, Nova York, maio 1969. Indiana, 1967),
40. Gerhard Meyer, "Krisenpolitik und Planwirtschaft", ZfS IV, 3 (1935); Meyer tam­ 59. Marcuse, Reason and Revolution (ed. rev., Boston, 1960), p. 410. Anteriormente,
bém contribuiu com diversos ensaios bibliográficos) entre eles "Neuere Literatur em seu artigo sobre "Der Kampf gegen den Liberalismus in der totalitãren Staat­
über Planwirtschaft", ZfS I) 3 (1932), e «Neue englische Literatur zur Planwirt­ sauffassung", ZfS III, 1 (1934), Marcuse também falara exclusivamente em "capi­
schaft'', ZjS 11, 2 (1933), Com Kurt Mandelbaum, escreveu "Zur Theorie der Plan­ talismo monopolista)). Nessa fase inicial, entretanto, os outros membros do Insti­
wirtschaft", ZjS lll, 2 (1934), tut concordaram.
41. Sob o pseudônimo Kurt Baumann, Mandelbaum escreveu ''Autarkie und Planwirt­ 60. Horkheimer, "Autoritãrer Staat", em "Walter Benjamin zum Gedãchtnis)) (inédito,
schaft", ZfS !I, 1 (1933), Usando seu próprio nome, escreveu "Neuere Literatur zur 1942), p. 124-125 (coleção de Pollock),
Planwirtschaft", ZjS IV, 3 ( 1935), e "Neuere Literatur über technologische Arbeits­ 61. Horkheimer, Prefácio de SPSS IX, 2 (1941), p, 195.
losigkeit", ZfSv, 1 (1936), 62. Horkheimer, "Vernunft und Selbsterhaltung", em "Walter Benjamin zum Gedacht­
42. Erich Baumann também foi um pseudônimo usado por Mandelbaum. O artigo nis'', p. 66.
publicado sob seu nome foi "Keynes) Revision der liberalistischen Nationalõko­ 63, Kirchheimer, "ln Quest of Sovereignty", p, 178-180, Nesse texto, Kirchheimer re­
nomie", ZfS V, 3 (1936), O artigo de "Sering" intitulou-se "Zu Marshalls neu­ lacionou as formas de negociata com o espírito tecnológico da sociedade moder­
klassischer ôkonomie': ZjS VI, 3 ( I937), na: ''A negociata parece corresponder a u1na fase da sociedade em que o sucesso
43. Felix Weil, "Neuere Literatur zum 'New Deal'", ZfS V, 3 (1936); "Neuere Literatur depende da organização e do acesso ao equipamento técnico apropriado, e não de
zur deutschen Wehrwirtschaft'; ZjSVll, 1/2 (1938), habilidades especiais" (p, 179),
44, Marcuse, "Some Social Implications of Modern Technology", SPSS IX, 3 (1941), 64. Horkheimer, prefácio de SPSS IX, 2 (1941), p. 198,
Nesse texto, Marcuse expressou pela primeira vez algumas idéias que viria a 65, Horkheimer, "Die Juden und Europa", ZfSVlil, 1/2 (1939), p, 115. Esse ensaio foi
desenvolver em One-Dimensional Man. Gurland, ''Technological Trends and Eco­ um dos últimos textos predominantemente marxistas escritos por Horkheimer.
nomic Structure under National Socialism'', SPSS IX, 2 (1941), Não é insignificante que tenha sido excluído da coletânea de sua obra publicada
45, Conversa com Karl August Wittfogel, Nova York, 21jun.1971. com o título Kritísche Theoríe, 2 v,, org, Alfred Schmidt (Frankfurt, 1968),
46, Conversa com Gerhard Meyer, Meredith, New Hampshire, 19 juL 1971. 66. "Autoritãrer Staat", p. 151.

398 399
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

67. Walter Benjamin, Illuminations, org. I-Iannah Arendt, trad. Harry Zohn (Nova 90. Behemoth, p. 121.
York, 1968), p. 263. 91. Studies IX, 1 ( 1941), p. 141. O prospecto foi datado de 1939.
68. "Autoritãrer Staat", p. 143. 92. Behemoth, p. 465.
69. lbid., p. 148-149. 93. Ibid., p. 476.
70. Para uma discussão mais séria da função do terrorismo e da coação, escrita por 94. Em Behemoth, Kehr é mencionado várias vezes e chamado de "extremamente ta­
um integrante do Institut, ver Leo Lõwenthal, "Terror's Atomization of Man", lentoso" (p. 203). A avaliação da psicanálise por Kehr encontra-se em seu ensaio
CommentaryI, 3 (jan. 1946). Num artigo posterior sobre "The Lessons of Fascism'~ "Neuere deutsche Geschichtsschreibung", em Hans-Ulrich Wehler (org.), Der
em Hadley Cantril (org.), Tensions That Cause Wars (Urbana, Illinois, 1950), Hork­ Primat der lnnenpolitik (Berlim, 1965).
heimer afirmou que o caráter autoritário não era tão disseminado até os nazistas 95. Behemoth, p. 403-413.
começarem a usar o terrorismo e a propaganda maciça para atomizar a popula­ 96. Ibid., p. 224.
ção (p. 223). 97. Ibid., p. 227.
71. "Die Juden und Europá', p. 125. 98. lbid., p. 228-234.
72. ''Autoritãrer Staat'» p. 138. 99. Ibid., p. 260.
73. "Vernunft und Selbsterhaltung", p. 59. 100. Citado por John M. Cammett, '(Communist Theories of Fascism, 1920-1935",
74. ''Autoritãrer Staat", p. 160. Science and Society XXXI, 2 (primavera 1967).

75. Foi o que me disse Lõwenthal numa de nossas conversas em Berkeley, ago. 1968. 1O!. Behemoth, p. 261.

76. Kirchheimer, "Criminal Law in National Socialist Germany'', SPSS VIII, 3 (1939). 102. lbid., p. 298.
Kirchheimer também publicou outro artigo sobre a prática judicial alemã, intitu­ 103. lbid., p. 305.
lado "Recent Trends in Germa.'n Treatment of Juvenile Delinquency", fournal ofCri­ 104. lbid., p. 185.
minal Law and CriminologyXXIX (1938).
77. Compare-se a crítica de Kirchheimer ao direito fenomenológico com o artigo de
1! 105. lbid., p. 354.
106. lbid., p. 366.
Marcuse "The Concept of Essence", em Negations, e com o ataque mais extenso de 107. Ibid.) p. 449. A ''revisão" de Neumann feita por David Schoenbaum em Hitler's So­
Adorno a Husserl em seu Zur Metakritik der Erkenntnistheoríe (Stuttgart, 1956). cial Revolution (Garden City, Nova York, 1966), que se baseou na importância da
A fonte da fenomenologia da Escola de Kiel era a eidética materialista de Scheler, revolução nazista do status, foi parcialmente antecipada, portanto, pelo próprio
mais do que a variedade idealista de Husserl. Neumann.
78. Kirchheimer, "The Legal Order ofNational Socialism", SPSS IX, 3 (1941), reprodu­ 108. Behemoth, p. 278.
zido em Politics, Law, and Social Change, de onde foram retiradas as citações se­ 109. lbid., p. 472.
guintes (p. 93). ! 110. lbid.,. p. xii.
79. lbid., p. 99. 111. lbid., p. 471.
80. lbid., p. 108.
i* 112. Horkheimer, prefácio de SPSSVIII, 3 (1939), p. 321. Esse texto data, na verdade, de
!
81. Kirchheimer, "C~hanges in the Structure of Political Compromise'', SPSS IX, 2 julho de 1940.
(! 941 ), também reproduzido em Politics, Law, and Social Change, de onde foram
extraídas as citações que se seguem.
1 113. Na diretoria da Associação de Estudos Sociais estavam Charles Beard, Robert
Maclver, Robert Lynd, Morris Cohen e Paul Tillich, todos velhos amigos do lnstitut
82. Ibid., p. 131. C'Supplementary Memorandum on the Activities of the Institute fro1n 1939 to
83. Ibid., p. 155. 1 1941", texto mimeografado; coleção de Friedrich Pollock, Montagnola, Suíça).
84. Jbid.,p. !58-159. ~ 114. Dentre os novos pesquisadores associados, Karsen era quem mais havia con­
85. Gurland, "Technological Trends and Economic Structure under National So­ ! tribuído para o Zeitschrift, com dois textos bibliográficos: "Neue Literatur über
cialism", SPSS IX, 2 (1941).
86. Ibid., p. 248.
1j Gesel!schaft und Erziehung", ZfS III, 1 (1934), e "Neue amerikanische Literatur
über Gesel!schaft und Erziehung'', ZfS VIII, 1 ( 1939).
87. Ibid., p. 261. 115. Entrevistas com Marcuse, em Cambridge, Mass. (maio 1968), e com Lõwenthal
88. As conversas com Marcuse e Lõwenthal foram a fonte principal dessa observação. (ago. 1968). Não devemos dar grande importância ao atrito de Neumann com
Quando Behemoth foi publicado ein alemão, não foi incluído na série dos Frank­ outros membros do Institut. Pollock, de quem ele discordava mais claramente nas
furter Beitriige zur Soziologie do Institut. questões teóricas, prestou-lhe uma homenagem em seu funeral) na Suíça, em de­
89. Ao discutir o livro de Ernil Lederer, State of the Masses: The Threat of the Classless zembro de 1954.
Society (Nova York, 1940), Neumann escreveu: "Se a análise de Lederer fosse cor­ 116. Gurland, Neumann e Kirchheimer, The Fate of Small Business in Nazy Germany
reta, nossa discussão anterior estaria completamente errada [...].O racismo não (Washington, D.C., 1943). Esse trabalho foi parcialmente financiado por uma ver­
seria apenas uma preocupação de pequenos grupos, mas estaria profundamente ba da Fundação Carnegie. A subcomissão de Pepper foi concebida para estudar os
arraigado nas massas" (Behemoth, p. 366). problemas das pequenas empresas norte-americanas. A conclusão do livro, no

400 401
NOTAS
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

9. Para uma descrição da formação artistica de Cornelius, ver seu ensaio "Leben und

s~ntid? de que. as pequenas empresas da República de Weimar e da Alemanha na­


Lebre'', em Raymund Schmidt (org.), Die Philosophie der Gegenwart in Selbstdar­
zista tinham sido apanhadas no conflito entre as grandes empresas e a forç d
stellungen (Leipzig, 1923), v. II. Entre seus text?s sobre ~stética._figur~ram_ El~­

trabalho, foi coerente com os objetivos da subcomissão. a e


mentargesetze der bildenden Kunst: Grundlagen einer praktJschen Asthettk (.Le1pz1g

117. "Cultural Aspects of National Socialism" (coleção de Lõwenthal em Berkele)


o utro proJeto
. ma1ogrado para o qual o Instltut . y.
tentou obter patrocínio foi um
e Berlim, 1911) e Kunstpadagogik (Erlenbach-Zurique, 1920).
10. Em carta a Horkheimer (27 out. 1942), Lõwenthal referiu-se a um romance que
estudo sobre a reconstrução da sociedade alemã no após-guerra.
Horkheimer tinha começado a escrever (coleção de Lõwenthal).
118. Ibid,, p. 51. .
11. Samuel e Shierry Weber escreveram um ensaio interessante sobre as dificuldades
119. Ess~ dissertação tinh_a sido ur:i estudo da situação agrária da França depois da Pri­
de traduzir Adorno, no começo de Prisms.
meira Gt~erra Mundial. Masstng fizera boa parte das pesquisas na Sorbonne e pas­
sou dezoito meses em Moscou, no Instituto Agrícola, depois da conclusão do tra­ 12. Adorno, Prisms, p. 225.
balho'. em 1929. (Esta e as informações biográficas seguintes provêm de uma 13. Ibid., p. 150.
entrevista com o Dr. Massing, Nova York, 25 nov. 1970). 14. Ibid., p. 246.
120. Massing [com o pseudônimo Karl Billinger], Schutzhaftling 880 (Paris, 1955)· 15. Ibid., p. 229. .
16. Isso foi semelhante à tarefa a que Norman O. Brown parece haver-se dedicado
Wittfogel [com o pseudônimo Klaus Hinrichs], Staatliches Konzentratíonslagerv1i em Love's Body (Nova York, 1966), cujo texto, em grande parte, compõe-se de
(Londres, 1936). As informações sobre os pseudônimos provêm de minha entre­
citações.
vista com Massing em Nova York. 17. Ver sua carta a Max Rychner em Benjamin, Briefe, v. II, p. 524.
121. Ver o dep.oimento de Wittfogel .de 7 de ag?sto de 1951, na Interna! Security
18. Citado em Adorno, Prisms, p. 232.
Subcommittee of the Senate Jud1c1ary Comm1ttee [Subcomissão.de Se<rurança In­
19. Benjamin, Briefe, v. ll, p. 726-727.
terna da Comissão Judiciária do Senado], 82"' Congress, 1951-1952, v~III, p. 276. 20. "Ten Years on Morningside Heights: A Report on the Institute's History, 1934­
122. Para uma descrição da viagem, ver Hede Massing, This Deception (Nova York, 1944" (inédito, 1944, coleção de Lõwenthal).

1951), p. 244.
21. Prisms, p. 71.
123. Conversa com Wittfogel, Nova York, 21jun.1971. 22. Benjamin, Illuminations, org. e introd. Hannah Arendt, trad. Harry Zohn (Nova
124. Foi essa a razão mencionada por Marcuse em nossa conversa.
York, 1968), p. 258.
125. "Ten Years on Morningside Heights" (inédito, 1944, coleção de Lõwenthal). 23. Max Horkheimer, "Art and Mass Culture", SPSS !X, 2 (1941), p. 291.
126. Horkheimer, "Egoismus und Freiheitsbewegung", ZfS V, 1 (1936), p. 219. Marcuse 24. Essa foi uma transição que o jovem Lukács também fez. Ver Lucien Goldmann,
escreveu um artigo intitulado ''über den affirmativen Charakter der Kultur'', ZfS "The Early Writings of Georg Lukács", Tri-Quarterly IX (primavera 1967). .
VI) 1 (1937), que examinaremos no cap. 6. 25. Prisms, p. 184. "Campo de força" [Kraftfeld], como estamos lembrados, f01 tam­
bém a expressão usada por Adorno em sua crítica a Husserl.
6. TEORIA ESTÉTICA E CRÍTICA À CULTURA DE MASSA
26. Ibid., p. 262.
1. George Steiner, "Marxism and the Literary Critic", Language and Silence (Nova 27. Ibid., p. 262.
York, 1967). 28. Esse aspecto foi salientado por llse Müller-Strõmsdõrfer em "Die 'helfende Kraft
2. Gyõrgy Lukács, The Historical Novel, trad. Hannah e Stanley Mitchell (Boston, bestimmter Negation"', Philosophische Rundschau VII!, 2/3 (1an. 1961), p. 98.
1963), p. 30-63. 29. Adorno, "über den Fetischcharakter in der Musik und die Regression des Hõrens",
3. Com seu Wider den missverstandenen Realismus (Hamburgo, 1958), depois da ZfS VII, 3 (1938), p. 321; Leo Lõwenthal, Literature, Popular Culture, and Society
morte de Stalin, Lukács ~iminuiu um pouco sua hostilidade. Ver o ensaio de Roy (Englewood Cliffs, N.J., 1961), p. 12.
Pascal em G. H. R. Parkmson (org.), Georg Lukács: The Man, His Work, and His 30. Prisms, p. 30.

Ideas (Nova York, 1970). 3 L Benjamin, Briefe, v. II, p. 785; Adorno, Prisms, p. 236.

4. Ver sua longa polê1nica contra o "irracionalismo" em Lukács, Die ZerstOrung der 32. Horkheimer, ''Art and Mass Culture'), p. 292. Para uma ampliação do vínculo en­
Vernunft (Berlim, 1954). tre a religião e a arte, ver Adorno, "Theses upon Art and Religion 'lüday", Kenyon
5. A crítica de Herbert Marcuse ao realismo socialista, em seu livro Soviet Marxism: ReviewVII, 4 (outono 1945).
A CriticalAnalysis (Nova York, 1958), destaca essa falácia. 33. Nietzsche foi o primeiro a se apossar dessa expressão e usá-la contra a definição
6. Walter Benjamin, Briefe, org. Gershom Scholem e Theodor W. Adorno (Frankfurt, kantiana da beleza como objeto de um desejo desinteressado. Marcuse usou-a pela
primeira vez em "The Affirmative Character of Culture", Negations: Essays in
1966), V. l, p. 350, 355.
7. Theodor Adorno, "Erpresste Versõhnung'; Noten zur Literatur II (Frankfurt 1961), Criticai Theory, trad. )eremy ). Shapiro (Boston, 1968), p. 115.
34. Foi o que afirmaram Horkheimer (com o pseudônimo Heinrich Regius ), em
p. 152. '
8. Ver Adorno, "The George-Hofmannsthal Correspondence, 1891-1906", Prisms, Dammerung (Zurique, 1934), p. 60, e Adorno, em Prisms, p. 32.
trad. Samuel e Shierry Weber (Londres, 1967), p. 217. 35. Prisms, p. 32.

403
402
MARTIN JAY • A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

36. Ibid.,p.171. 64. Adorno, "Oxford Nachtrãge))) Dissonanzen: Musik in der verwalteten Welt (Frank­
37. Ibid., p. 32. furt) 1956), p. 117. Esse texto foi originalmente escrito em 1937) durante a tempo­
38. Adorno, "Theses on Art and Religion Today", p. 678. rada que Adorno passou no Merton College, em Oxford.
39. Marcuse, "The Affirmative Character of Culture», p. 117. Esse viria a ser um gran­ 65. Adorno [Rottwei!er], "über Jazz", p. 238.
de tema de seu livro Eros and Civilization (Boston, 1955). 66. Ibid., p. 242.
40. Prisms, p. 87. 67. "Perennial Fashion - Jazz", Prisms, p. 122.
41. Ibid., p. 230. 68. Hans Mayer, Der Reprasentant und der Martyrer (Frankfurt, 1971), p. 156-157.
42. Marcuse, "On Hedonism") Negations, p. 198. 69. Resenha de Wilder Hobson, American Jazz Music, e de Winthrop Sargeant) Jazz Hot
43. Num dos últimos artigos que escreveu) Adorno retornou à centralidade da me­ and Hybrid, escrita com a ajuda de Eunice Cooper, SPSS lX, 1 (1941), p. 169. Ador­
diação para uma teoria estética verdadeira. Ao criticar a idéia das comunicações no entusiasmou-se com a interpretação de Sargeant sobre o jazz, a qual entendeu
na obra do sociólogo da música Alphons Silbermann, Adorno escreveu: "A me­ como uma confirmação local de suas próprias idéias. Por outro lado) criticou
diação está[... ] no objeto em si, não sendo algo entre o objeto e aquilo a que ele é Hobson por haver tentado abstrair a música de seu caráter de mercadoria.
levado. O que está contido nas comunicações, entretanto, é apenas a relação entre 70. Ibid., p. 177.
o produtor e o consumidor" ('('fhesen zur Kunstsoziologie", Kõlner Zeitschrift für 71. "Oxford Nachtriige", p. 119.
Soziologie und Sozialpsychologie XIX, l, mar. 1967, p. 92). 72. Ibid., p. 123.
44. Prisms, p. 33.
73. Ibid., p. 123.
45. Benjamin, Briefe, v. II, p. 672, 676. Várias cartas de Adorno para Benjamin foram
74. Prisms, p. 199 et seq.
incluídas nesse volume.
75. Adorno, ((Scientific Experiences of a European Scholar in America)), em Donald
46. Prisms) p. 85.
Fleming e Bernard Bailyn (orgs.), The Intellectual Migration: Europe and America,
47. Ibid., p. 84.
1930-1960 (Cambridge, Mass., 1969), p. 341. Curiosamente, escreveu Adorno, "na
48. (~ música não 'representava) nada fora dela mesma; era da ordem do orar e do
verdade eu ainda considerava o jazz uma forma de expressão espontânea)), o que
brincar) não do pintar e escrever. A decadência dessa realidade da música) por sua
não parece ter sido o caso.
transformação numa imagem dela mesma) tendeu a quebrar o encanto)) (Adorno,
76. O entusiasmo de Marcuse pela ((contracultura" em meados da década de 1960, to­
"Currents of Music: Elements of a Radio 1'heory" [prospecto inédito para o
Princeton Radio Research Project, 1939], p. 72). Agradeço ao professor Lazarsfeld davia) começou a diminuir na seguinte; ver, por exemplo) sua critica a Charles
Reich, The Greening of America (The New York Times, 6 nov. 1970, p. 41), e seu
por ter colocado esse texto à minha disposição.
49. Muitos de seus primeiros artigos saíram no periódico que ele editou, Anbruch, e livro Counterrevolution and Revolt(Boston, 1972).
em outros como Musík, Pult und Taktstock, Scheinwerfer, e em 23. 77. Adorno, "Scientific Experiences of a European Scholar in America", p. 340.
50. Vários desses artigos foram reproduzidos em Adorno) Moments musicaux (Frank­ 78. Ibid., p. 341, e Paul Lazarsfeld, "An Episode in the History of Social Research:
furt, 1964). A Memoir", em The Intellectual Migration, p. 322 et seq.
51. Adorno, "Zur gese!lschaftlichen Lage der Musik", ZjS J, 1/2, e!, 3 (! 932). 79. Lazarsfeld, ''An Episode in the History of Social Research'', p. 301.
52. Ibid., 1/2, p. 106. 80. "über den Fetischcharakter in der Musik und die Regression des Hõrens", ZfS Vll,
53. Adorno, Philosophie der neuen Musik (Frankfurt, 1949). 3 (1938).
54. Adorno, "Zur gesellschaftlichen Lage der Musik", 1/2, p. 112. 81. Benjamin) ('L'Oeuvre de l'art à l'époque desa reproduction mécanisée': ZfS V, 1
55. Prísms, p. 166. (1936).
56. Adorno, "Zur gesellschaftlichen Lage der Musik", 1/2, p. 116. A relação entre o 82. Adorno, "Über den Fetischcharakter'', p. 327.
objetivismo neoclássico e o fascismo não é tão absurda assim. Stephen Spender 83. Ibid., p. 330.
sugeriu uma ligação semelhante na obra de T. E. Hulme; ver seu T'he Struggle of 84. Os críticos marxistas mais ortodoxos sempre se apressaram em apontar isso como
the Modem (Berkeley e Los Angeles. 1963), p. 49. un1a insuficiência do trabalho de Adorno. Ver, por exemplo, Konrad Boehmer,
57. Adorno) "Zur gesellschaftlichen Lage der Musik") 1/2, p.119. ";\dorno) Nlusik1 (;esellschaft': en1 Wilfried F. Schoe!ler (org.), Die neue Linke nach
58. Ibid., 3, p. 359. Adorno (Munique, 1969), p. 123.
59. Ibid., p. 365. 85. "über den Fetischcharakter'', p. 355.
60. Ibid., p. 368. 86. Adorno reconheceu a importância da ajuda de Simpson em seu ensaio '(Scientific
61. Adorno [Hektor Rottweiler], "über Jazz'', ZjS V, 2 (1936). Experiences))) em The Intellectual Migration, p. 350-351. Simpson tinha sido aluno
62. Adorno, Moments musicaux, p. 9. de Robert Maciver. Sua obra principal foi como tradutor e crítico da sociologia de
63. Em seu Essay on Liberation (Boston) 1969)) Marcuse viria a incluir o blues e o jazz Durkheim.
entre os artefatos da "nova sensibilidade" que ele via como uma crítica à cultura 87. Adorno, ''A Social Critique of Radio Music", Kenyon Review VII) 2 (primavera
afirmativa predominante (p. 38). 1945).

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MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO D!AL~TICA NOTAS

88. Ernst Kreneks, "Bemerkungen zur Rundfunkmusik", ZJS VII, 1/2 (1938). Mais tar­ 116. Adorno, ''Thesen gegen den Okkultismus'', Minima moralia, p. 462 et seq.
de, Adorno escreveu um tributo a Krenek em Moments musicaux, intitulado "Zur 117. Adorno usou esse trabalho como base para sua discussão num artigo que escre­
Physiognomik Kreneks''. veu aproximadamente na mesma época> "Freudian Theory and the Pattern of
89. Adorno, "A Social Critique of Radio Music", p. 210-211. Fascist Propaganda") em Geza Roheim (org.), Psychoanalysis and the Social Sciences
90. Ver sua discussão da gênese da música popular em The Intellectual Migration, (Nova York, 1951).
p. 351. 118. Adorno, "The Stars Down to Earth", p. 82.
91. Adorno, "On Popular Music''. SPSS lX, 1 (1941). 119. Prisms, p. 98.
92. Ibid., p. 48. 120. Ver, por exemplo, a carta que ele enviou a 1-Iorkheimer no outono de 1934 (Ben­
93. O professor Lazarsfeld teve a gentileza de colocar o manuscrito original à minha jamin, Briefe, v. II> p. 625 et seq.). Benjamin também resistiu aos convites para que
disposição. Ele se intitulava <(Currents of Music: Elements of a Radio Theory': Uma se mudasse para a Dinamarca, a Palestina e a União Soviética.
versão abreviada saiu com o título "1'he Radio Symphony" em Paul Lazarsfeld e 121. Adorno, "Interimbescheid", Über Walter Benjamin (Frankfurt, 1970), p. 95.
Frank Stanton (orgs.), Radio Research 1941 (Nova York, 1941). 122. Benjamin) Briefe, v. II, p. 834. O restante da história da vida de Benjamin veio da
94. Ibid., p. 14. introdução de Illuminations, da autoria de Hannah Arendt) e do resumo biográfi­
95. Benjamin, "Theses on the Philosophy of History", Illuminations, p. 262. co escrito por Friedrich Pollock nos Schriften de Benjamin, org. Theodor W. Ador­
96. Adorno, "Currents of Music''i p. 26. no e Gershom Scholem, v. II (Frankfurt, 1955).
97. Ibid., p. 79. 123. Arthur Koestler, The Invisible Writing (Londres, 1954), p. 512.
98. "Scientific Experiences", p. 352. 124. Ibid., p. 513.
99. Adorno, "Fragmente tiber Wagner''. ZfSVJII, 1/2 (1939). 125. Horkheimer, "Autoritãrer Staaf' e "Vernunft und Selbsterhaltung)); Adorno, "Geor­
100. Numa carta a Lõwenthal, em junho de 1941, Horkheimer falou entusiasticamente ge und Hofmannsthal"; e Benjamin, "Thesen zur Geschichtsphilosophie'', em
de sua nova amizade com os grandes nomes do passado das letras alemãs. "Walter Benjamin zum Gedãchtnis)) (inédito, 1942, coleção de Friedrích Pollock
101. Horkheimer, "Die philosophie der absoluten Konzentration''. ZfSVJJ, 3 (1938). em Montagnola).
102. Entrevista com Pollock, Montagnola, mar. 1969. Os resultados do estudo, que in­ 126. RolfTiedemann, Studien zur Philosophie Walter Benjamins (Frankfurt, 1965).
dicavam que os conservadores e os católicos tinham feito mais pelos judeus do 127. Ver, especialmente, Alternative, 5617 (out.-dez. 1967) e 59/60 (abr.-jun. 1968), e
que qualquer outro grupo da sociedade, nunca foram publicados. Hannah Arendt> introdução de Illuminations. Outras contribuições para o debate
103. Thomas Mann, The Story ofa Novel: The Genesis of Doctor Faustus, trad. Richard e incluem Siegfried Unseld, "Zur Kritik an den Editionen Walter Benjamins»1 Frank­
Clara Winston (Nova York, 1961), p. 94-95. furter Rundschau (24 jan. 1968); Rolf Tiedemann, "Zur 'Beschlagnahme' Walter
104. Jbid., p. 103.
Benjamins, oder Wie Man mit der Philologie Schlitten fahrt", Das Argument X, 1/2
105. Ibid., p. 46.
(mar. 1968); Friedrich Pollock, "Zu dem Aufsatz von Hannah Arendt tiber Walter
106. Ibid., p. 48.
Benjamin))) Merkur) XXII, 6 (1968); Hannah Arendt, «Walter Benjamin und das In­
107. Ibid., p. 150.
stitut fur Sozialforschung - noch einmal'', Merkur, XXII, 10 (1968); e Hildegaard
108. Ibid., p. 222.
Brenner, "Theodor W. Adorno als Sachwalter des Benjaminschen Werkes): em Die
109. Ver Letters of Thomas Mann, 1889-1955, org. e trad. Richard e Clara Winston,
neue Linke nach Adorno. A resposta do próprio Adorno, intitulada "Interim­
íntrod. Richard Winston (Nova York, 1971), p. 546-547, 587-588.
bescheid") foi reproduzida em seu Über Walter Benjamin. Para um resumo do
110. Hanns Eisler, Composition for the Film (Nova York> 1947). Para uma discussão so- .
bre o papel de Adorno na criação desse livro, ver Helmut Lück, ''Anmerkungen zu debate, ver "Marxistisch Rabbi", Der Spiegel, XXII, 16 (15 abr. 1968).
Theodor W. Adornos Zusammenarbeit mit Hanns Eisler", em Die neue Linke nach 128. Ver o artigo de Benjamin) uUnpacking My Library': Illuminations.
Adorno. Gerhart, irn1ão de Eisler, estava sendo seriamente atacado 1 na época, por 129. Benjamin, Berliner Kindheit um Neunzehnhundert (Frankfurt, 1950), passim. Em
seu envolvimento em atividades comunistas, e Adorno não queria participar da 1940, Benjamin escreveu a Adorno: "Por que eu deveria esconder de você que en­
associação que o livro pudesse sugerir. contro a raiz de minha 'Teoria da experiência) numa lembrança infantil?" (Briefe,
11 L Adorno, "Gegãngelte Musik", em Dissonanzen. v. li, p. 848).
112. Adorno, Minima moralia (Frankfurt, 1951 ); e Adorno e Horkheimer, Dialektik der 130. Foi o que sugeriu Gershom Scholem em "Walter Benjamin", Leo Baeck Institute
Aufklarung (Amsterdã, 1947). Yearbook (Nova York, 1965).
113. Adorno et aL, The Authoritarian Personality (Nova York, 1950). O ensaio de Ador­ 131. Adorno, Über Walter Benjamin, p. 97.
no sobre Martin Luther Thomas nunca foi publicado. 132. Benjamin, Briefe, v. II, p. 655.
114. Adorno e Bernice T. Eiduson, ''How to Look at 1'elevision" (artigo lido na Funda­ 133. Gretel Adorno negou que o fracasso do casamento tivesse surtido o efeito de fazê­
!,i.1 ção Hacker, em Los Angeles, 13 abr. 1953, coleção de Lõwenthal). lo afastar-se do sionismo (carta para mim, 4 nov. 1970), mas Hannah Arendt su­
115. Adornoi ''The Stars Down to Earth: 1'he Los Angeles 'Times Astrology Column: geriu o inverso em sua introdução de Illuminations) p. 36.
i1 A Study in Secondary Superstition", Jahrbuch für Amerikastudien, v. II (Heidelberg, 134. Max Rychner, "Erinnerungen an Walter Benjamin") Der Monat, XVIII, 216 (set.
1957). 1966), p. 42. Ursprung des deutschen Trauerspielsfoi publicado em Berlim em 1928.

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

135. Briefe, v. II, p. 524. em sua discussão do Dreigrosehenroman de Brecht (Benjamin, Versuche über Brecht,
136. Adorno, "A Portrait ofWalter Benjamin", Prisms, p. 234. org. Rolf Tiedemann, Frankfurt, 1966, p. 90).
137. Ver Benjamin, "The Task of the Translator", Illuminations; Hans Heinz I-Iolz, 150. Introdução de Illumínations, p. 15.
"Philosophie ais Interpretation", Alternative, 56157 (out.-dez. 1967); e "Walter Ben­ 151. Ver, por exemplo, o ensaio de Hildegaard Brenner em Die neue Linke nach Ador­
jamin: Towards a Philosophy of Language", The Times Literary Supplement (Lon­ no, passim.
dres, 22 ago. 1968). Apesar de anônimo, é quase certo que este último artigo seja 152. Benjamin, Versuche über Brecht.
de George Steiner. 153. Briefe, v. II, p. 657. Benjamin citou a Bibliothêque Nationale como sua razão de
138. Illuminations, p. 263. A Srta. Arendt acrescentou à tradução para o inglês uma nota não poder trocar Paris por Svendborg em caráter permanente.
de rodapé em que afirma que Benjamin se referia a um nunc stans místico, e não 154. Bertolt Brecht, "An Walter Benjamin, der sich auf der Flucht vor Hitler Entleibte"
ao Gegenwart mais prosaico (palavra alemã usual para designar o presente, a atua­ e "Zum Freitod der Flüchtlings W.B.", GedíchteVI (Frankfurt, 1964).
lidade). Ernst Bloch, em suas ('Erinnerungen an Walter Benjamin", Der Monat) 155. Benjamin, Der Begriffder Kunstkritik in der deutschen Romantik (Berna, 1920).
XVIII) 216 (set. 1966), sugeriu que fetztzeit significava a ruptura na continuidade 156. Briefe, v. II, p. 857.
1
do fluxo temporal, na qual o passado subitamente se torna presente (p. 40). 157. Benjamin, 'über das Programm der kommenden Philosophie", Zur Kritik der
139. "Theses on the Philosophy of History", Illuminations, p. 255. Gewalt und andere Aufsiitze (Frankfurt, 1965), p. 15-16.
140. Carta de Lõwenthal para Horkheimer, 18 jun. 1942. 158. Citado em Adorno, Prisms, p. 232.
141. Benjamin, Briefe, v. II, p. 786. Isso parece contradizer a afirmação de Hildegaard 159. Bríefe, v. II, p. 726-727.
Brenner de que Adorno procurou incentivar os componentes teológicos do traba­ 160. Adorno, Alban Berg: Der Meister des kleinsten übergangs (Viena, 1968), p. 32.
lho de Benjamin; ver seu artigo "Die Lesbarkeit der Bilder: Skizzen zum Passagen­ 161. Benjamin, "The Author as Producer", New Left Review, 62 (jul.-ago. 1970).
entwurf", Alternative, 59/60 (abr.-jun. 1968), p. 56. 162. Illuminations, p. 265. Numa carta para mim, Gretel Adorno negou enfatica1nente
142. Uma possível razão do afastamento de Benjamin do marxismo, logo depois da um momento analógico no pensamento de seu falecido marído (27 jan. 1970).
guerra, foi que este era freqüentemente ligado a uma estética expressionista, com 163. Citado em Adorno, Prisms, p. 234.
a qual ele antipatizava profundamente. A respeito da fusão entre radicalismo e ex­ 164. Jbíd., p. 240.
pressionismo, ver Lewis D. Wurgaft, «•rhe Activist Movement: Cultural Politics on 165. Publicado em Hofmannsthal, Neue Deutsche Beitriige, II, 1 (abr. 1924).
the German Left, 1914-1933" (tese de doutorado, Universidade de Harvard, 1970). 166. Ver a discussão de I-Iannah Arendt em sua introdução de Illuminations, p. 8-9.
Sobre a antipatia de Benjamin pelo expressionismo, ver Adorno, über Walter Ben­ 167. Bríefe, v. !, p. 379.
jamin, p. 96-97. 168. Com Franz Hessel, Benjamin traduziu À l'ombre des jeunes filies en fleurs e dois
143. Bloch, "Erinnerungen an Walter Benjamin", p. 38. Segundo Adorno, a consciência volumes de Le Côté de Guermantes durante a década de 1920.
social de Benjamin também foi despertada, nesse mesmo ano, pelo começo da in­
flação ( Über Walter Benjamin, p. 57).
144. Benjamin fez citações de The Theory of the Novel (Berlim, 1920) em seu ensaio so­
1 169. Carta de Gretel Adorno para mim, 4 nov. 1970.
170. Benjamin, Berliner Kindheit um Neunzehnhundert (Frankfurt, 1950).
171. O que Benjamin escreveu sobre Kafka, certa vez, poderia aplicar-se a ele mesmo:
bre Nikolai Leskov, "The Storyteller'; Illuminations, p. 99. "A obra de Kafka é uma elipse de focos muito distantes, determinados, por um
145. Scholem, em seu artigo "Walter Benjamin" (p. 18), chamou a influência de Brecht lado, pela experiência mística (em particular, a experiência da tradição) e, por ou­
de "funesta e, em alguns aspectos, desastrosa". Adorno alertou Benjamin com fre­ tro, pela experiência do habitante das grandes cidades modernas" (Illurninations,
qüência contra Brecht; ver, por exemplo, sua carta nas Briefe de Benjamin, v. 1J; p. 144-145).
p. 676. 172. Benjamin [Detlef Holz], Deutsche Menschen: Eine Folge von Briefen (Lucerna,
146. Tiedemann, Studien zur Philosophie Walter Benjamins, p. 89. 1936).
147. Ver os excertos de Iring Fetscher, "Bertolt Brecht and America", em The Legacy of 173. Segundo rememorou Adorno, eles se conheceran1 por intennédio de Siegfried
lhe Gennon Refugee Intellertual:: ( Solrnag11ndi, l 0/11, outono 1969-inverno 1970). Kracauer, ou ntim se1ninário de sociologia conduzido por Gottfried Sa!omon­
Por exe1nplo, e1n 12 de rnaio de 1942, l3recht escreveu en1 seu diário: "Alinoço co1n Uelatour e111 l;rankfurt. Ver "Erinnerungen an Walter Benja1nin': Der A'fonat, XVIII,
Eisler na casa de Horkheimer. Depois disso, Eisler sugeriu para o romance de Tui: 216 (set. 1966). Benjamin também era muito amigo de Marguerite (Gretel) Kar­
a história do Instituto de Pesquisas Sociais de Frankfurt. Um ancião idoso morre, plus, mais tarde esposa de Adorno, que conheceu em 1928. Muitas de suas cartas
preocupado com o sofrimento do mundo, e deixa em seu testamento uma soma das Briefe são endereçadas a "Felizítas", como ele a chamava. Em 19281 escreveu
substancial para criar um instituto que pesquise a fonte do sofrimento - que era Adorno ( über Walter Benjamín, p. 98), Benjamin tornou-se parte do círculo do
ele mesmo, é claro" (p. 264). Institut. Se é assim, ele com certeza não era un1 membro muito íntimo. Na verda­
148. Briefe, v. II, p. 594. de, só veio a conhecer Horkheimer pessoalmente em 1938.
149. Introdução de Illuminations, p. 15. A expressão das plumpe Denken é a maneira 174. Benjamin, "Zum gegenwãrtigen gesellschaftlichen Standort des franzõsischen
como o próprio Brecht descreve seu estilo de pensamento. Benjamin a retomou Schriftstellers'', ZfS IJI, 1 (1934). Em sua discussão dos escritores franceses, de

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MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

Barres a Gide, Benjamin mostrou até que ponto se distanciava da corrente leni­ 202. Sobre o interesse de Kraus pelas origens, ver I-lans Mayer> Der Repri:i.sentant und
nista da estética marxista. Por exemplo, afirmou que o surrealismo, apesar de seu der Martyrer, p. 5 I-52.
início apolítico com Apollinaire, vinha caminhando para uma reconciliação com 203. Frederic Jameson deu a seu artigo em The Legacy of the German Refugee In­
a práxis política na obra de Breton e Aragon (p. 73). tellectuals (Salmagundi, 10/ 11, outono 1969-inverno 1970) o título de "Walter Ben­
175. Briefe, v. II, p. 652. jamin, or Nostalgia': e Peter Szondi escreveu um artigo chamado "Hoffnung im
176. Ibid., p. 689. Vergangenen'', em Zeugnisse: Theodor W Adorno zum Sechzigsten Geburtstag
177. Essas e outras mudanças foram assinaladas por Helga Gallas, "Wie es zu den (Frankfurt, 1963), no qual sugeriu que Benjamin procurava sua utopia no passado.
Eingriffen in Benjamins Texte kam oder über die Herstellbarkeit von Einstãndnis': 204. '(On Certain Motifs in Baudelaire", Illuminations, p. 189.
Alternative, 59/60, p. 80. 205. Ibid., p. 224.
178. Horkheimer [Regius], Diimmerung, p. 178. 206. Ibid., p. 223.
179. Benjamin, "Eduard Fuchs, der Sammler 11nd der Historiker", ZfS VI, 2 (1937), e 207. Ibid., p. 225.
'TOeuvre de l'art à l'époque desa reproduction mécanisée'; ZfSV, I (1936). 208. Ibid., p. 226.
180. Hildegaard Brenner declarou que as mudanças foram substanciais, de acordo com 209. Brecht se decepcionara, em 1931, com a versão cinexnatográfica de Dreigroschen­
o exemplar original que se encontra no Potsdam Zentralarchiv na Alemanha Orien­ oper. Com base nessa experiência, afirmou que os próprios intelectuais se haviam
tal; ver seu artigo em Die neue Linke nach Adorno, p. 162. proletarizado, tema que Benjamin retomou em "Der Autor als Produzent", escrito
181. Briefe, v. li, p. 742. em 1934 e publicado em seu Versuche über Brecht. Neste último, Benjamin atacou
182. Esse foi, pelo menos, um possível projeto do trabalho; ver Briefe, v. II, p. 774. como reacionária a idéia de uma Logokratie [logocracia] intelectual independente,
183. Briefe, v. II, p. 671-683. do tipo proposto por Kurt Hiller e pelos ativistas. Por implicação, Benjamin
184. Ibid., p. 678. tan1bém questionou a tendência da estética de Adorno de contrastar a arte de
185. Ibid., p. 681-682. O desinteresse de Benjamin pelo indivíduo subjetivo foi assina­ vanguarda com a cultura popular da classe trabalhadora. <'A luta revolucionária",
lado com freqüência. Certa vez, ele confidenciou a Adorno: "não me interesso pe­ escreveu no fim do ensaio, «não ocorre entre o capitalismo e o Geist [que era a
los homens, apenas pelas coisas" (Adorno, introdução aos Schriften de Benjamin, palavra-chave dos ativistas], mas entre o capitalismo e o proletariado" (Versuche
V. I, p. 17). über Brecht, p. 116).
I86. Briefe, v. II, p. 782-790. 210. Illuminations, p. 236.
187. Ibid., p. 786. 211. Ibid., p. 242.
188. Ibid., p. 788. 212. Ibid., p. 244.
189. Ibid., p. 790-799. 213. Briefe, v. II, p. 798. Adorno continuou cético a respeito da validade da.posição de
I90. Ibid., p. 794-795. Benjamin, chamando-a de «identificação coxn o agressor" em sua introdução às
I91. Uma tradução foi publicada com o título "Paris: Capital of the Nineteenth Cen­ Briefe, v. I, p. 16. «Identificação com o agressor" era um dos clássicos mecanismos
tury", na revista Dissent, XVII, 5 (set.-out. 1970). Uma versão mais completa de defesa psicanalíticos. Ver Anna Freud, The Ego and the 1\1echanisms of Defense
finalmente saiu em 1969, em alemão, intitulada Charles Baudelaire: Ein Lyriker im (ed. rev., Nova York, I 966), p. 109 et seq.
Zeitalter des Hochkapitalismus (Frankfurt, 1969). 214. Essa observação foi feita no estudo de Benja1nin sobre o Wahlverwandtschaften de
192. "über einige Motive bei Baudelaire", ZfS VIII, 1/2 (1939). Traduzido em Illumi­ Goethe, em Neue Deutsche Beitriige, II, 1(abr.1924), e é citada em One-Dimensio­
nations, p. 159. nal Man (Boston, 1964), p. 257.
193. Para Baudelaire, argumentou Benjamin, o processo de criação assemelhava-se a 215. Herta 1-Ierzog, «On Borrowed Experience: An Analysis of Listening to Daytime
um duelo com os traumas dos choques, no qual o artista procurava repelir os gol­ Sketches"; 1-Iarold Lasswell, "Radio as an Instrument of Reducing Personal lnse­
pes com todas as suas forças (Illuminations, p. 165). curity"; Charles A. Siepmann, "Radio and Education"; e Adorno, com a cola­
194. Ibid., p. 174. boração de George Simpson, "On Popular Music", todos em SPSS, IX, 1 (1941).
19'.'i ..\ introduç·Jo da Srt;.1. Arcndt c1n Tll11núnotions, por exen•.p1o, enraíza··SE' nessa vi­ 216. Horkheirner, "Art and Mass Culture': SPSS, IX, 1 (1941 ).
são de Benjarnin. 217. Leo Ló\-venthal, ''(;cn11a11 Popular l3íographics: Cuiture's Bargain Counter'; c:n1
196. Illuminations, p. 184. Kurt H. Wolff e Barrington Moore Jr. (orgs.), The Critica[ Spírít: Essays in Honor
197. Ver Benjamin, Ursprung des deutschen Trauerspiels. Tiedemann comentou longa­ ofHerbert Marcuse (Boston, 1967).
mente a Umfunktíonierung (mudança de função) benjaminiana dos Urphiinomene 218. Lõwenthal, «Biographies in Popular Magazines", em Paul F. Lazarsfeld e Frank
de Goethe em seus Studien zur Philosophie YValter Benjamins, p. 59 et seq. Stanton (orgs.), Radio Research: 1942-1943 (Nova Yotk, 1944), posteriormente re­
198. Horkheimer, "Zu Bergsons Metaphysik der Zeit", ZfS lll, 3 (1934). produzido, em Lõwenthal, Literature, Popular Culture, and Society, com o título
199. llluminations, p. 187. "The Triumph of Mass Idols''.
200. Studien zur Philosophie Walter Benjamins, p. 69. 219. Adorno, Prisms, p. 103~104. Isso serve para contradizer a análise de críticos como
201. Illuminations, p. 263. Edward Shils ("Daydreams and Nightmares: Reflections on the Criticism of Mass

410 411
NOTAS
MARTIN JAY. A IMAGINAÇÃO D!ALi:ncA

16
Livros 91
Culture", Sewanee Review LXV, 4, outono 1957), que chamam o lnstitut de purita­
Artigos e monografias 38
no por seu ataque ao escapismo. Manuscritos usados como base de conferências e seminários
220. Citado em Prisms, p. 109.
2
Relatórios de pesquisas
221. Ver cap. 3, p. 150-151. 147
TOTAL
222. Marcuse) Eros and Civilization, p. ix. PERCENTAGEM
NÚMERO DE
223. Adorno, "Resumé über Kulturíndustríe", Ohne Leitbild (Frankfurt, 1967), p. 60. PUBLICAÇÕES POR DO TOTAL
PUBLICAÇÕES
224. Or1g1nalmente, a expressão era de Nietzsche. Foi citada em Adorno e Horkheimer CAMPO DE INTERESSE 40
76
Dialektik der Aufkliirung (Amsterdã, 1947), p. 153. ' Estudos sobre autoridade 22
43
225. Jbid., p. 187. Filosofia 18
Estudos sobre literatura, música e arte 38
226. Jbid., p. 166-167. 17 9
227. Ibid., p. 170. Marcuse tinha usado o mesmo exemplo em seu artigo sobre a cultu­ Estudos sobre preconceitos sociais li
22
ra afirmativa, em Negations, p. 116, onde diz que "ao sofrer a mais extrema reifi­ Miscelânea
100
196
cação, o homem vence a reificação''. Essa é uma idéia que ele também encontrou TOTAL
em Sartre, como indica seu artigo «Existentialism: Remarks on Jean-Paul Sartre's 5. Carta de Horkheimer para Lazarsfeld, 10 jun. 1946 (coleção de Lowenthal).
L'Être et le néant", Philosophy and Phenomenological Research Vlll, 3 (mar. 1948). 6. Carta de Horkheimer para Lowentbal, 31out.1942 (coleção de Lowenthal).
228. Para uma discussão mais ampla desse ponto, ver meu artigo "The Frankfurt School 7. SPSSIX, 1 (1941). O prospecto era datado de dois anos antes.
in Exile", Perspectives in American History, v. VI (Cambridge, 1972). s. Theodor W. Adorno, "Scientific Experiences of a European Scholar in America",
229. Para uma história da crítica à cultura de massa, ver Leon Bramson, 1'he Political em The Intellectual Migration, p. 343.
Context of Sociology (Pdnceton, 1961); William Kornhauser, The Politics of Mass
9. Jbid., p. 347.
Society (Glencoe, Ilhno1s, 1959); Bernard Rosenberg e David Manning White, Mass 10. Carta de Lazarsfeld para Adorno, sem data (coleção de Lazarsfeld). Lazarsfeld lem­
Culture: The Popular Arts in America (Londres, 1957); e os ensaios de Lõwenthal bra-se de ela ter sido escrita em algum momento do verão de 1939. Todas as cita~
em Literature, Popular Culture, and Society. ções posteriores são dessa carta.
230. Ver, por exemplo, David lliesman, The Lonely Crowd, escrito em colaboração com ] L Lazarsfeld, "An Episode in the History of Social Research: A Memoir", p. 325.
Reuel Denny e Nathan Glazer (New Haven, 1950). Os autores reconheceram ex­
12. Ibid.
plicitamente o impacto do estudo de Lõwenthal sobre as biografias populares 13. Entrevista com Massing, Nova York, 25 nov. 1970.
(p. 239). 14. Carta de Paul Massing para Leo Lowenthal, 31maio1953 (coleção de Lõwenthal).
231. Richard Hoggart, The Uses of Literacy (Londres, 1957). Vários ensaios de Dwight 15. Memorando de 1° de dezembro de 1944. Agradeço a Paul Lazarsfeld por ter co­
Macdonald sobre a cultura de massa foram coligidos em seu livro Against the locado à minha disposição esse e outros memorandos do projeto sobre o pro­
American Grain (Nova York, 1962). letariado.
232. Adorno chamou sua própria vida de existência" beschiidigten" no subtítulo de Mi­ 16. Entrevista com Friedrich Pollock, Montagnola, Suíça, 28 mar. 1969.
nima mora/ia. 17. Carta de Horkheimer para Lõwentbal, 26 jul. 1944 (coleção de Lõwenthal).
18. Entrevista com Massing em Nova York, 25 nov. 1970.
7.0 TRABALHO EMPÍRICO DO INSTITUT NA DÉCADA DE 1940 19. De Massing para Lowenthal, 31maio1953.
20. Memorando anexado à carta de Massing, rubricado por Alice Maier.
1. Os anos passados em Nova York, escreveu ele, de modo algum foram inteiramen­
21. Adorno et al., The Authoritarian Personality, v. II, p. 605.
te negativos) mas forçaram o Institut a se transformar numa Betrieb [uma e1npre­ 22. Ver lring Fetscher, "Bertolt Brecht and America", The Legacy of the German Refugee
sa de pesquisas], com todos os problemas concomitantes (carta de Horkheimer
Intellectuals, Salmagundi, 10/11 (outono 1969-inverno 1970).
para Lowenthal, 3 maio 1941, coleção de Lõwenthal). 23. 'fhe Authoritarian Personality, v. I, p. vii. Esse trecho deve ser comparado com a
2. Para u1na avaliação sobre sua criação, ver Paul F. Lazarsfeld, ''.An Episode in the discussão de Adorno sobre a síndrome da "educação ern vez <la 1nudança social",
History of Social Research: A Memoir", em Donald Fleming e Bernard Bailyn característica de alguns sujeitos experimentais com pontuações altas na escala F
(orgs.), The Intellectual Migration: Europe and America, 1930-1960 (Cambridge,
(v. II, p. 700 et seq.).
Mass., 1969).
24. Ibid., v. !, p. vii.
3. No número da SPSS dedicado à comunicação de massa (IX,!, 1941), Lazarsfeld 25. Herbert H. Hyman e Paul B. Sheatsley, "The Authoritarian Personality- A Method­
co1:trib~iu com un1a avaliação muito otimista da futura fertilização recíproca dos ological Critique", em Richard Chrístie e Marie Jahoda (orgs.), Studies in the Scope
dois estilos de pesquisa. and Method of"The Authoritarian Personality" (Glencoe, Illinois, !954), p. 109.
4. ()s resultados da análise de conteúdo, que incluíram todas as publicações do 26. A disseminação da psicologia do ego, como sugeriu Adorno num ensaio posterior,
lnstitut) foram comunicados num memorando que os aco1npanhou e merece1n foi reflexo de uma sociedade em que os indivíduos espelhavam as tendências ob­
ser repetidos aqui:
413
412
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALtTICA NOTAS

jetivas como autômatos; Adorno, "Sociology and Psychology", Parte 2, New Left 57. Nathan Glazer, '' The Authoritarian Personality in Profile: Report on a Major Study
Review, 47 (jan.-fev. 1968), p. 95. ofRace Hatred", Commentary, IV, 6 (jun. 1950).
27. Quanto a essa crítica, ver cap. 3. 58. Lõwenthal e Guterman, Prophets of Deceit, p. xvi. Horkheimer, «Egoismus und
28. The Authoritarian Personality, v. II, p. 747. Freíheítsbewegung'; ZfS, V, 2 (1936).
29. Horkheirner, "Sociological Background of the Psychoanalytic Approach", em E. 59. Ibid., p. xii.
Simmel (org.), Anti-Semitism: A Social Disease (Nova York, 1946), p. 3. 60. Ibid., p. 140.
30. Carta de Horkheimer para Lõwenthal, 2 out. 1946. 61. Adorno, "Freudian Theory and the Pattern of Fascist Propaganda))' em Geza
3 l. The Authoritarian Personality, v. II, p. 671. Roheim (org.), Psychoanalysis and the Social Sciences (Nova York, 1951). O texto
32. Memorando de Adorno a respeito do projeto sobre o proletariado, 3 nov. 1944, freudiano em que Adorno fundamentou primordialmente sua tese foi Psicologia
p. 43-44 (coleção de Lazarsfeld). de grupo e análise do ego. Ele também se referiu ao trabalho de Erikson sobre o
33. Marx, "On the Jewish Question", Karl Marx: Early Writings, trad. e org. T. Botto­ fascismo (ver a nota seguinte).
more, prefácio de Erich Fromm (Nova York, 1964). 62. Erik Erikson, ('Hitler's Imagery and German Youth': Psychiatry V, 4 (nov. 1942);
34. Horkheimer e Adorno, Dialektik der Aufklarung (Amsterdã, 1947), p. 204. reproduzido em Childhood and Society (Nova York, 1950), de onde foi extraída a
35. Ibid., p. 228. citação seguinte.
36. Ibid., p. 230. 63. Ibid., p. 332-333.
37. Ibid., p. 233. 64. Leon Bramson, The Political Context ofSociology (Princeton, 1961).
38. Adorno, "Note on Anti.Semitism", 30 set. 1940 (coleção de Lõwenthal). 65. ~ o que Adorno relata em «Scientific Experiences of a European Scholar in
39. Ibid., p. 1. Nesse ponto, Adorno teria projetado a situação dos judeus depois da America", p. 358.
Diáspora num período anterior. Ele não forneceu nenhuma prova concreta de sua 66. A própria Sra. Frenkel-Brunswik era uma refugiada de Viena, casada com o ilus­
hipótese como realidade histórica. tre psicólogo Egon Brunswik. Para maiores informações sobre a contribuição de
40. Ibid., p. !. ambos para a psicologia norte-americana, ver Jean Matter Mandler e George
41. De Horkheimer para Lõwenthal, 24 jul. 1944 (coleção de Lõwenthal). Mandler, "The Diaspora of Experimentalist Psychology: The Gestaltists and
42. Horkheimer e Adorno, Dialektik der Aufkliirung, p. 234. Others", em The Intellectual Migration, p. 411-413. Tempos depois, Levinson tor­
43. Ibid.,p.199. nou-se catedrático de psicologia na Faculdade de Medicina de Yale, e Sanford se­
44. De Horkheimer para Lõwenthal, 5 jul. 1946 (coleção de Lõwenthal). guiu para Stanford como catedrático de psicologia e educação.
45. Em inglês, a palavra "expiação" [atonement] capta parte disso, no sentido de que 67. R. Nevitt Sanford e H. S. Conrad, "Some Personality Correlates of Morale", Journal
pode ser entendida como ((at-one-men(' [o "estar de acordo", "estar em uníssono"]. of Abnormal and Social Psychology XX:XVIII, !, jan. 1943.
O Yom Kippur, é claro, é conhecido como "Dia da Expiação" [ou "Dia do Perdão"]. 68. The Authoritarian Personality, p. xii.
46. Nu1na carta escrita a Lõwenthal em 17 de novembro de 1945, Horkheimer defen­ 69. Ibid., p. ix.
deu alternativas à criação de Israel, "para ünpedir que o judaísmo como um todo 70. Roger Brown assinalou essa semelhança em Social Psychology (Nova York e Lon­
seja moralmente responsabilizado pelas falácias do sionismo''. dres, 1965).
47. Dialektik der Aufkliirung, p. 236. 71. Parte de Anti-Semite and few fOi publicada em The Partisan Review em 1946, mas
48. Adorno, ((Scientific Experiences of a European Scholar in A1nerica", p. 356. o texto só foi traduzido na íntegra para o inglês em 1948, por G. J. Becker.
49. Bruno Bettelheim e Morris Janowitz, Dynamics of Prejudice: A Psychological and 72. Wilhelm Reich, The Mass Psychology of Fascism (Nova York, 1946), e Abraham H.
Sociological Study ofVeterans (Nova York, 1950). Maslow, "The Authoritarian Character Structure", Journal of Social Psychology 18
50. Nathan W. Ackerman e Marie Jahoda, Anti-Semitisrn and Emotional Disorder: (1943).
A Psychoanalytic Interpretation (Nova York, 1950). 73. Horkheimer, "The Lessons of Fascism': Tensions That Cause War (Urbana, Illinois,
51. Leo Lõwenthal e Norbert Guterman, Prophets of Deceit (Nova York, 1949). 1950), p. 230.
52. Paul l'viassing, Rehearsol for Deslruction (Nova York, 1949). 74. Adorno, «Scientific Experienccs of <i European Scholar in Atnerica", p. 363.
53. Die Arbeitlosen von Marienthal (Leipzig, 1932). 75. Horkheimer, "Notes on Institute Activities", SPSS IX, 1 (1941), p. 123.
54. Entre seus livros mais conhecidos encontram-se Love Is Not Enough (Glen coe, 76. Ernst Schachtel, convém lembrar, criticou os testes de personalidade no Zeitschrift
Illinois, 1950), Symbolic Wounds (Glencoe, Illinois, 1954), The Empty Fortress por razões similares C'Zum Begriff und zur Diagnose der Persõnlichkeit in den
(Nova York, 1967), The Informed Heart (Glencoe, Illinois, 1968), e The Children of 'Personality Tests"', ZfS VI, 3, 1937).
the Dream (Nova York, 1969). 77. The Authoritarian Personality, p. 15.
55. Bettelheim e janowitz, Dynamics of Prejudice, p. 171. 78. Ibid., p. 18.
56. Bruno Bettelheim e Morris Janowitz, Social Change and Prejudice (Nova York, 79. Para uma discussão das duas escalas, ver Marie Jahoda, Morton Deutsch e Stuart
1964), p. 74 et seq. Esse livro foi uma reedição de Dynamics of Prejudice, com um W. Cook, Research Methods in Social Relations, v. J (Nova York, 1951), p. 190-197.
acréscimo considerável de material novo. 80. Ibid., p. 196.

414 415
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA NOTAS

81. The Authoritarian Personality) v. I) cap. 7. 107. The Authoritarian Personality, p. 176.
82. Ibid., p. 228. 108. Ibid., p. 771.
83. Herbert H. Hyman e Paul B. Sheatsley, "The Authoritarian Personality-A Meth­ 109. Entrevista com Adorno, Prankfurt, 7 mar. 1969.
odological Critique". 110. M. Rokeach, The Open and Closed Mind (Nova York, 1960). Rokeach tentou de­
84. Lazarsfeld, "Problems in Methodology", em Robert K. Merton, Leonard Broom e senvolver uma "escala do dogmatismo" (D) para medir o autoritarismo de esquer­
Leonard S. Cottrell, Jr. (orgs.), Sociology Today (Nova York, 1959), p. 50. da. Com base nesse e em outros estudos, Seymour Martin Lipset afirmou que o
85. Brown, Social Psychology, p. 523. autoritarismo e a neurose bem poderiam ter uma relação inversa na classe operá­
86. Ibid., p. 515. ria; Lipset, Political Man (Nova York, 1960), p. 96.
87. Ibid., p. 506. 111. Adorno, "Scientífic Experiences of a European Scholar in América", p. 361.
88. Hyman e Sheatsley, "The Authoritarian Personality", p. 65. 112. Resenha de J. F. Brown sobre Studies in Prejudice, em Annals of the American
89. Paul Kecskemeti, "The Study of Man: Prejudice in the Catastrophic Perspective'; Academy of Political and Social Science, CCVXX (jul. 1950), p. 178.
Commentaryll, 3 (mar.1951). 113. Para um resumo dos esforços anteriores, ver Richard Christie, "Authoritarianism
90. Parte dele foi publicada como Bise Frenkel-Brunswik, "A Study of Prejudice in Reexamined", Studies in the Scope and Method of "The Authoritarian Personality".
Children", Human Relations l, 3 (1948). Uma das conclusões do projeto modifi­ Para acréscimos posteriores, ver a bibliografia de Roger Brown em Social Psy­
cou os resultados indicados em The Authoritarian Personality, como Adorno viria chology.
a admitir em "Scientific Experiences of a European Scholar in America") p. 364. 114. Friedrich Pollock (org.), Gruppenexperiment: ein Studienbericht (Frankfurt, 1955).
Os resultados do trabalho da Sra. Frenkel-Brunswik) escreveu) "aprimoraram a Esse texto foi publicado como o v. II das Frankfurter Beitrage zur Soziologie do
concepção da distinção entre o convencionalismo e o temperamento autoritário. lnstitut, org. T. W. Adorno e Walter Dirks.
Constatou-se que precisamente as crianças 1boazinhas), isto é) as convencionais) são 115. Adorno, "Zur gegenwãrtigen Stellung der empirischen Sozialforschung in Deutsch­
1nais isentas de agressividade e, portanto, de um dos aspectos fundamentais da land", Empirische Sozialforschung (Frankfurt, 1952), p. 31.
personalidade autoritária, e vice-versa". Isso pareceria indicar uma confirmação 116. Ver, por exemplo, o artigo de Adorno intitulado "Contemporary German Sociol­
empírica da tese de Bettelheim e Janowitz, mais que da exposta pelo grupo de Ber­ ogy'; 1Tansactions of the Fourth World Congress ofSociology, v. 1(Londres,1959).
keley, pelo menos se os padrões comportamentais do adulto fossem entendidos 117. Para uma amostra das idéias defendidas pelos participantes do debate, ver Ernst
do mesmo modo que os das crianças. Topitsch (org.), Logik der Sozialwíssenschaften (Colônia e Berlim, 1965). As con­
91. TheAuthoritarian Personality, p. 359. tribuições de Adorno foram postumamente compiladas em Aufsiitze zur Gesell­
92. Bramson, The Political Context ofSociology, p.137. schaftstheorie und Methodologie (Frankfurt, 1970). Um resumo da bibliografia
93. The Authoritarian Personality, p. 759 et seq. disponível em inglês foi publicado em "Dialectical Methodology: Marx or Weber",
94. O próprio Fromm abandonou a interpretação sexual do caráter sadomasoquista, The Times Literary Supplement (Londres, 12 mar. 1970), anonimamente publicado,
que havia usado nos Studien, em troca de uma abordagem mais "existencial". Ver porém efetivamente escrito por George Lichtheim.
cap. 3.
95. The Authoritarian Personality, p. 759. 8. POR UMA FILOSOFIA DA HISTÓRIA: A CRÍTICA DO ILUMtNISMO
96. Ibid., p. 760.
1. Foi o que Adorno informou a Benjamin numa carta de 10 de novembro de 1939;
97. Horkheimer, "Authoritarianism and the Family Today''i em Ruth Nanda Anshen
Theodor W. Adorno, Über Walter Benjamin (Frankfurt, 1970), p. 143.
(org.), The Family: Its Function and Destiny (Nova York, 1949).
2. Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, Dialektik der Aufklarung (Amsterdã,
98. Ibid., p. 367.
99. The Authoritarian Personality, p. 371. 1947). A editora foi a Querido.
3. Consegui localizar duas resenhas etn periódicos especializados: J. D. Mabbott em
100. Ralf Dahrendorf, Society and Democracy in Germany (Londres, 1968), p. 371; e
Hannah Arendt, Between Past and Future (Cleveland, 1963), p. 97. Philosophy, ]()(Ili, 87 (out. !948), que foi favorável ao livro, de modo geral, e John
lü.l. Edward Shiis, "1\uthoritarianisn1: 'Right' and 'Lcft"', cn1 Stlldic:,; in lhe Scope anrf R. Everett no Journal of Philosophy, XLV. 22 (21 out. 1948), que foi menos en­
Method of "The Authoritarian Personality". Bramson repetiu essa crítica em The tusiástico. Lõwenthal me disse, numa de nossas conversas, que as vendas do livro
Political Context ofSociology, p. 122 et seq. foram decepcionantes.
102. Kecskemeti,- "The Study of Man: Prejudice in the Catastrophic Perspective'; p. 290. 4. Horkheimer, Kritik der instrumentellen Vernunft, trad. Alfred Schmidt (Frankfurt,
103. Bettelheim e janowitz, Social Change and Prejudice, p. 75. 1967).
!04. The Authoritarian Personality, p. 676. 5. A afirmação de Gôran Therborn em contrário me parece claramente equivocada.
105. Ibíd., p. 976. Ver seu artigo "Frankfurt Marxism: A Critique", New Left Review, 63 (set.-out.
106. Ibid., p. 182. A idéia de ''pseudoconservadorismo" foi retomada por outros estu­ 1970), p. 76) onde ele escreve que a não-dominação da natureza "não esteve pre­
diosos na década de 1950. Ver, por exemplo, Richard Hofstadter, "The Pseudo­ sente no pensamento de Frankfurt desde o início. Além disso, é compartilhada por
Conservative Revolt'; em Daniel Bell (org.) The Radical Right (Nova York, 1963). seu arquiinimigo, Heidegger':

416 417
MARTJN JAY •A IMAGINAÇÃO DIAL~TICA NOTAS

6. Adorno) Kierkegaard: Konstruktion des Aesthetischen (ed. rev., Frankfurt, 1966), 28. Ver seu artigo "Über Sprache überhaupt und über die Sprache des Menschen': em
p. 97. Walter Benjamin> Schriften, org. Theodor W. Adorno e Gers?om ~cholem, v. II
7 · Num ensaio anterior na revista Der Freischütz, Adorno disse que a salva ­ (Frankfurt) 1955). Podemos encontrar análises sobre sua teoria da linguagem em
( Rett ung) so, po d ena
. çao
ser encontrada na reconciliação com a natureza; ver seu li­ Hans Heinz I-Iolz) "Philosophie als Interpretation))1 Alternative, 56/57 (out.-dez.
vro Moments Musicaux (Frankfurt, 1964), p. 46. 1967), e anônimo, "Walter Benjamin: Towards a Philosophy of Language", The Ti­
8. Horkheimer [Heinrich Regius], Diimmerung (Zurique, 1934), p. 185 et seq., sobre mes Literary Supplement (Londres, 23 ago. 1968).
os _ammaIS, e p. 181, sobre a étICa do trabalho. Na Dialektik der Aufkliirung, Hork­ 29. Benjamin, ~'The Task of the Translator)), Illuminations, org. e introd. Hannah
he1mer e Adorno incluíram um longo aforismo sobre "Mensch und Tier", p. 295 Arendt, trad. Harry Zohn (Nova York, 1968), p. 80.
et seq. 30. Ibid., p. 77.
9. Leo Lõwenthal, Literature and the Image ofMan (Boston, 1957), p. 197. 31. Foi o que me frisou Jürgen Habermas numa entrevista em Frankfurt, 7 mar. 1969.
1O. Erich Fromm, "Die sozialpsychologische Bedeutung der Mutterrechtstheorie", ZfS 32. Anônimo, "Walter Benjamin: Towards a Philosophy ofLangu~ge", ~sa e~sa expres­
III,_2 (1934), p. 206. Nesse texto, Fromm cit~u o suposto dito de Bachofen de que são para descrever Benjami~. Em "The Task of th~ T~anslat.or , Ben1am1n e~;re:eu
a v1tór1a. da .sociedade patnarcal correspondia à ruptura entre o espírito e a natu­ que seria possível nos aproximarmos da transparenc1a da linguagem pura, a~1ma
reza, a v1tór1a de Roma sobre o Oriente. de tudo, por uma tradução literal da sintaxe, que prova que as palavras, e nao as
11. Horkheimer, ~ie Anfiinge der bürgerlichen Geschichtsphilosophie (Stuttgart, 1930). frases, são o elemento primordial do tradutor" (p. 79).
12. ~~rkh~1,~~r,, :rernunft und Selbsterhaltung", em "Walter Benjamin zum Ge­ 33. Ver a carta de Horkheimer para Lõwenthal citada no cap. 7.
dachtms (medito, 1942), p. 43 (coleção de Friedrich Pollock em Montagnola). 34. Eclipse of Reason, p. 179.
13. S~ em raras ocasiões o Institut tentou relacionar a obra de um.pensador com sua 35. Ibid., p. 180.
vida: Um exen_iplo foi a discussão de Adorno sobre o papel de Kierkegaard como 36. Ibid., p. 183. ,
rentista, em Kzerkegaard: Konstruktion des Aesthetischen, p. 88. 37. Walter Benjamin, Briefe, org. Theodor W. Adorno e Gershom Scholem (Frankfurt,
14. Carta de Horkheimer para Lõwenthal, 23 maio 1942 (coleção de Lõwenthal). 1966), V. II, p. 786.
15. Horkheimer, Eclipse ofReason (Nova York, 1947), p. 104. 38. Dialektik der Aufklarung, p. 195. .
16. Therborn_ fe~ a arguta observação de que, enquanto Lukács enfatizava a reificação 39. I-Ierbert Marcuse fez uma longa discussão sobre o "fechamento do Universo do
co~o o s1gn1ficado ~ssencial do capitalismo, e outros, como o Marcuse dos pri­ Discurso" em One-Dimensional Man (Boston, 1964), p. 85 et seq.
meiros tempos, enfatizavam a alienação (Fromm também poderia ser incluído nis­ 40. Dialektik der Aufklitrung, p. 71. Em Eros and Civilization, Marcuse escreveu que "o
so); Horkheimer e Adorno viam o princípio da troca como sua essência. Ver seu herói cultural predominante é o trapaceiro e rebelde (sofredor) que se volta con­
artigo "Frankfurt Marxism: A Critique", p. 79. tra os deuses, e cria a cultura ao preço do perpétuo sofrimento" (p. 146). Ele usou
17. Friedrich Nietzsche, Genealogy ofMorais, trad. Francis Golffing (Nova York, 1956), como seu protótipo Prometeu, e não Ulisses.
p. 202. 41. Dialektik der Aufkliirung, p. 76 et seq.
18. Muito tempo depois, um dos membros mais jovens da segunda geração da Escola 42. Ibid.,p.117-118. . " . ,, ..
de Frankfurt ampliou consideravelmente essa tese; ver Albrecht Wellmer, Critical 43. Esse ponto foi desenvolvido no aforismo sobre Mensch und T1er , tbtd., p. 297 et
Theory ofSociety (Nova York, 1971). seq. . . .
19. Essa expressão foi usada por Hannah Arendt em sua crítica a Marx em The Human 44. Dialektik der Aufklarung, p. 218. Horkheirner d1scutm maIS longamente essa ques­
Condition (Chicago, 1958). Ela traçou uma distinção, que a Escola de Frankfurt tão em Eclipse ofReason> p. 121 et seq. " . ,,
não fazia, entre o homem como animal laborans e como homo faber (o homem 45. Alfred Schmidt procurou distinguir entre Adorno como h~man~sta real ~ o~­
criador). tros humanistas convencionais. A expressão "humanista real surgiu pela pr1me1­
20. Essa foi a expressão usada por Adorno durante nossa entrevista em Frankfurt, 15 ra vez em Marx> A sagrada família, em 1845, em oposição ao humanismo ab;,trat?
mar. 1969. e anistórico de Feuerbach. Pessoalmente, Adorno gostava de ser chamado de ant1­
21. Ern 1913-1914, Lukács tinha feito parte do círculo de Weber em Heidelberg. Para humanista" não só pela razão citada por Schmidt - sua antipatia pelas conotações
uma discussão sobre seu relacionamento com Weber, ver George Lichtheirn, George positivas d; qualquer definição estática da natureza humana-:-' m~s também por
Lukács (Nova York, 1970), passim. seu medo de que o antropocentrismo viesse a ~ignificar o den~gre:;1mento conc~­
22. Horkheimer, "Vernunft und Selbsterhaltung'; p. 33. mitante da natureza. Sobre a tese de Schm1dt, ver seu artigo Adorno - e1n
23. Ibid., p. 34. Philosoph des realen Humanismus", Neue Rundschau, LXXX, 4 (1969). Ver tam­
24. Horkheirner, Eclipse of Reason, p. 174. bém meu artigo ''The Frankfurt School's Critique of Marxist Humanism", Social
25. Horkheimer e Adorno, Dialektik der Aufklarung, p. 41. Research XXXIX, 2 (verão 1972).
26. Ibid., p. 35. 46. Dialektik der Aufklarung, p. 267.
27. Marcuse, Negations, trad. Jeremy ). Shapiro (Boston, 1968). 47. Eclipse of Reason, p. 184.

418 419

___ _]
NOTAS
MARTIN JAY •A JMAG!NAÇÁO DIALÉTICA

67. Em 24 abr. 1945 (coleção de Lõwenthal).


48. Há uma bibliografia crítica considerável sobre Bloch que enfatiza esse ponto.
Como exemplo, ver Jürgen Habermas, "Ernst Bloch - A Marxist Romantic", em 68. Eclipse ofReason, p. 179.
The Legacy ofthe German Refugee Jntellectuals, Salmagundi, 10111(outono1969­ 69. Ibid., p. 105-107.
inverno 1970). 70. Jbid., p.122. . · · z Th t d J
1. Ver, por exemplo, Marcuse, Negatíons: Essays ln Crtttca eory, ra . eremy
49. Dialektik der Aufklarung, p. 223. 7
50. Ibid., p. 305. Shapiro (Boston, 1968), p. 32, 47.
51. Em Eros and Civilization, Marcuse escreveu que "restabelecer os direitos da me­ 72 Entrevista com Habermas, Frankfurt, mar.1969. .
mória como veículo de libertação é uma das mais nobres tarefas do pensamento.
73: Fritz Ringer, The Decline ofthe German Mandarins (Ca';'b'.idge, Mass., 1969).
74 Max Scheler, Die Wissensformen und die Gesellschaft (Leipzig, 1926), P· 234-235;,
Nessa função, a lembrança [ErinnerungJ aparece na conclusão da Fenomenologia
do espírito, de Hegel; nessa função, ela aparece na teoria de Freud" (p. 212). Na 75~ As mais longas defesas recentes dessa postura encontram-s~ em Rolf ~lers, Is
obra de Marcuse, a importância de "re-memorar1' o que foi cindido relacionava­ Technology Intrinsically Repressive?", Continuum VIII, 112 (pr1mavera-.ver:o 1970 ),
se estreitamente com a teoria da identidade, que ele nunca abandonou por com­ e Paul Piccone e Alexander Delfini, "Marcuse's Heideggerian Marxtsm , Telas 6
pleto. Habermas também enfatizou a função libertária da memória em seus bri­ (outono 1970). . . . n z· · d Oth
lhantes capítulos sobre a psicanálise em Erkenntnis und Interesse (Frankfurt, 1968), 76. o ensaio foi reproduzido em Michael Oakeshott, Ra~lona!zsm ln ro tttcs ~n . er

p. 262 et seq. Essays (Londres, 1962). Oakeshott equiparou o ractonahsmo à su~ .variante ins­

52. Dialektik der Aufklarung, p. 274. trumental e, desse modo, pôde escrever: "Essa assemelhação da ~~ht1ca ~om ~ en,~

53. Benjamin, Berliner Kindheit um Neunzehnhundert (Frankfurt, 1950). · , e 't


genhar1a e, com eie1 o, 0
que se pode chamar de mito da polttica racionalista
54. Carta de Adorno para Benjamin, 29 fev. 1940, em Adorno, Über Walter Benjamin, (p. 4).
p. 159. 77. Eclipse ofReason, p. 122-123.
55. A defesa de Adorno de uma certa dose de reificação, como componente necessá­ 78. Jbid., p. 125. lh d S'd H k Jh
rio de todas as culturas) apareceu em seu artig6 sobre Huxley; ver cap. 6. Num ou­ 79. Ibid., p. 123. o livro continha uma longa crítica ao traba o e 1 ney oo e o n
tro contexto) Horkheimer havia criticado Dilthey e seus seguidores por reduzirem
a história à Nacherleben [revivescência] de acontecimentos passados. Seu raciocí­ . ~:~:;;,in, "Eduard Fuchs, der Sammler und der Historiker", ZfS VI, 2 (1937),
80
nio era semelhante: a completa identidade entre o historiador como sujeito e o p. 364.
evento histórico como objeto era inatingível; ver cap. 2. 81. Eclipse of Reason, p. 127.
56. Conferência na Universidade Colúmbia, 17 abr. 1945. Houve outras três conferên­ 82. Ibid., p. 87.
cias nas semanas seguintes. Elas foram semelhantes, mas não idênticas às de 1944,
83. Jbid., p. 90. ,,, ., 2 (1937) N t
nas quais se baseou o livro Eclipse da razão (coleção de Lõwenthal). 84. Horkheimer, ''Bemerkungen zu Jaspers 'Nietzsche , 2.JS VI, ·. uma ca~ ª
57. Karl Marx: Early Writings, trad. e org. T. B. Bottomore (Nova York, 1963), p. 155. a Lõwenthal datada de 2 de maio de 1946, ele teceu outros comentários deprecia­
58. O próprio Marx tivera esperança de uma ciência única: "Um dia, a ciência natural tivos sobre Jaspers (coleção de Lõwenthal).
incorporará a ciência do homem, assim como a ciência do homem incorporará a 85. Marcuse) Negations, p. 41.
ciência natural; haverá uma única ciência» (Early Writings, p. 164). Seus seguido~
86. Jbid., p. 31-42. . d L" ha!)
res haviam esquecido a segunda parte da frase, assim como ignoraram que Marx 87. Carta de Horkheimer para Lõwenthal, 19 ago. 1946 (c7le?ªº e ow~nt, ·.
dissera que "um dia" haveria uma ciência unificada da natureza e do homem. . Marcuse, "Existentialism: Remarks on Jean-Paul Sartre s L Etre et le neant', Phzloso­
88
59. Marcuse, "Zum Problem der Dialektik'; Die GesellschaftVII, 1(jan.1930), p. 26.
phy and Phenomenological Research Vlll, 3 (mar. 1948). ..
· gran de parte de O ser e o nada e1n sua Critique
.
60. Ver, por exemplo, Louis Althusser, For Marx, trad. Ben Brewster (Nova York, 1969). 89. Sartre viria· a repudiar . . de la. ratson
Gõran Therborn, cujo artigo sobre a Escola de Frankfurt foi mencionado acima, é dialectique (Paris, 1960). A avaliação dessa obra por Marcuse foi mmto mais favo­
althusseriano. rável; ver 0 parágrafo que ele acrescentou à versão ale.mã de seu ensaio sobre O ser
61. Emile Durkheim, Suicide, trad. John A. Spaulding e George Simpson (Nova York, e 0 nada em Kultur und Gesellschaft, v. II (Frankfurt, 1965), P· 83-84.
1951), p. 123-142. O livro principal de Tarde foi Les Lois de l'imitation (Paris, 1890).
90. Marcuse, "Existentialism", p. 322.
62. Sigmund Freud, Group Psychology and the Analysis ofthe Ego, trad. James Strachey
(Nova York, 1960), p. 27. 91. Jbid., p. 323. . . l' t
. · osteri'or da alienação da natureza nos existenc1a is as, ver
92 Para uma d IScussao p . . .
63. "Research Project on Anti-Semitism", SPSS IX, I (1941), p. 139. · Albert William Levi, "The Concept of Nature", em John Weiss (org.), The Ongins
64. Horkheimer, Eclipse ofReason, p. 115. of Modern Consciousness (Detroit, 1965), p. 57 et seq.
65. Jbid., p. 116. 93. Paul Robinson, The Freudian Left (Nova ~ork, l'.,69), p. 192 et seq.
66. Leo Lõwenthal e Norbert Guterman, em Prophets of Deceit (Nova York, 1949), 94. Marcuse, ('The Affirmative Character of Culture, Negattons, p. 116.
mencionaram a freqüência com que os agitadores anti-semitas imitam os judeus
(p. 79). 95. Ibid.

421
420
NOTAS
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA

96lsso-t·t·
. . ~ao o1 e~to e~ ~,ser e o nada, mas num artigo separado, intitulado "M 9. Em sua primeira carta para mim, em 22 nov. 1968, Horkheimer escreveu sobre a
"grande gentileza e compreensão" de Butler, acrescentando: "Encontrei-o pela pri­
ténahsme
t t · revolut1on. , Les Temps modernes r' 1 e 1' 2 ( 1946) · No artigo
· et · Sarta-
en ou ~eJe~t~r as premissas materialistas do marxismo, porém contin re d meira vez semanas depois de minha chegada a Nova York, e jamais esquecerei o
revoluc1onar10. uan o a ser que lhe devo:'
97. M~rcus~, Eros and Civilization, p. 40 et seq. 10. Essa foi uma expressão usada por Pollock durante uma conversa em Lugano, mar.
98. Dialekttk der Aufklarung, p. 280-281. 1969.
99. Benjamin, Briefe, v. li, p. 681-682. 11. Essa permissão também foi estendida a Werner Richter. Há uma descrição do de­
100. <?s c_ríticos mais ortodoxos da Escola de Frankfurt sempre apontaram para a creto numa notícia de jornal de um dos livros de recortes de Horkheimer, que ele
~~mdade contra,~ições
das no capitalismo. Ver, por exemplo, Paul Mattick '~~~- teve a gentileza de me deixar examinar durante minha estada em Montagnola.
1mits ?fintegratlon, em Kurt H. Wolff e Barrington Moore Jr., The Criticaz's . -~ 12. Theodor W. Adorno, ''Auf die Frage: Was ist deutsch", Stichworte: Kritische Modelle
Essays m Honor ofHerbert Marcuse (Boston 1967) pmt. 2 (Frankfurt, 1969), p. llO. Em outro ponto do artigo, Adorno escreveu: "Em
101. EclipseofReason,p.186. ' · momento algum do período de emigração abandonei a esperança de retornar"
102. Adorno, Minima moralia, p. 10. (p. 107).
103. Ibid., p. 13. 13. Herbert Marcuse, Soviet Marxism (Nova York, 1958).
104. l~id., p. 80. No mesmo espírito, ele escreveu que "a tarefa da arte hoj·e é,· t d 14. Records of the Senate Judiciary Committee, 82"' Congress [Atas da Comissão Ju­
zir o caos na ordem" (p. 428). ' , n ro u­ diciária do Senado, 82' Sessão do Congresso], 1951-1952, v. Ili.

105. Adorno, "Reflexionen", Aufklarung IV, I (jun. 1951), p. 86. 15. Conversa com Wittfogel em Nova York, 21 jun. 1971.
106. Mmtma mora/ta, p. 7. 16. A petição encontra-se na coleção de Lõwenthal.
107. Ibid., p. 80. 17. Carta de Weil para mim, 30 mar. 1971.
108. Ibid., p. 480. 18. A descrição da volta do Institut está baseada no material dos álbuns de recortes de
109. Ibid., p. 481. Horkheimer.
110. Benjamin, Illuminations, p. 256. 19. Sociologica I (Frankfurt, 1955).
111. Adorno, Negative Dialektik (Frankfurt, 1966). 20. Seus discursos sobre assuntos acadêmicos foram publicados como Horkheimer,
112. Horkheimer, "Schopenhauer Today", em The Criticai Spirit, p. 70. "Gegenwârtige Probleme der Universitât'» Frankfurt Universitâtsreden VIII (Frank­
::!·Carta de Horkheimer para Lõwe~thal, 2 dez. 1943 (coleção de Lõwenthal). furt, 1953).
· Uma estudiosa recente das utopias e de Rousseau, Judith N Shkl . e 21. O discurso de Horkheimer ao assumir o cargo de reitor intitulou-se "Zum Begriff
mação e M d e· . · ar, iez essa afir­
969) m en an tttzens: A Study of Rousseau's Social Theory (Cambridge der Vernunft", Frankfurt Universitatsreden VII (Frankfurt, 1952).
1 ) p. 2. , 22. Horkheimer, Survey of the Social Sciences in Western Germany (Washington, D.C->
115. Citada em Die Süddeutsche Zeitung (26-27 abr. 1969), . 10. 1952).
116. Adorno, Negative Dialektik, p. 13. p 23. Essa missiva, que foi uma carta aberta também publicada na imprensa alemã, foi
117· 0 s críticos recentes de Adorno discutiram longamente esse teina. Ver por exe _ incluída em Alfred Schmidt (org.), Horkheimer, Kritische Theorie (Frankfurt, 1968),
P1o, Manfred Clemenz > "Theorie · ª15 p raxis.
· ,,,• 1"veue po 1itische
.. ' 2 (1968).
Literatur XIII, m
v. II.
24. Uma edição da obra de Adorno em 21 volumes vem sendo planejada pela editora
EPILOGO Suhrkamp Verlag. Durante a redação deste livro, o volume VII, um fragn1ento pos­
tumamente publicado sobre a Asthetische Theorie, foi lançado (Frankfurt, 1970),
Carta de Leo
1. wenthal). Lõwenthal para Max Horkheimer, 12 maio 1946 (coleção de Lõ­
assim como o volume V, Zur Metakritik der Erkenntnistheorie (Frankfurt, 1971),
2· o . . contat? foi feito por meio de cartas endereçadas a Felix Weil e Friedrich
p frruneIIo
25. Para uma abordagem dessa questão, ver Paul Breines, "Marcuse and the New Left
in America", em Jürgen Habermas (org.), Antworten auf Herbert Marcuse (Frank­
ob ock, segundo informou Lõwenthal a Horkheimer em uma carta de 19 de ou
tu rode 1946 (coleção de Lõwenthal). ­ furt, 1968). Tentei fazer uma análise mais extensa da influência do Institut nos Es­
!· Carta de Horkheimer para Lõwenthal, 12 abr. 1947 (coieção de Lõwentha]).
. ~uma carta a Paul Lazarsfeld, escrita em 4 de agosto de 1947 H ·!·'- .
tados Unidos depois de 1950 em "The Frankfurt School in Exile», Perspectives in
American History, v. VI (Cambridge, 1972).
c1onou l 'bil'd d , 01 u1e1mer men­ 26. Os álbuns de recortes de Horkheimer contêm n1uitos artigos sobre suas aparições
. ,~ gumas ~oss1 1 ~ es ~a Universidade da Califórnia en1 Los Angeles, na
~mver~1dade do Sul da Cahfórma e no Occidental College (coleção de Lõwenthal) nos meios de comunicação de massa.
5. ntrev1sta com 1-!orkheimer, Montagnola, Suíça, 12 mar. 1969. . 27. Carta de Horkheimer para Lõwenthal, 2 fev. 1943 (coleção de Lõwenthal).
;· 2arta de Horkhe:mer para Lõwenthal, 18 fev. 1950 (coleção de Lõwenthal).
28. Adorno, Prisms, trad. Samuel e Shierry Weber (Londres, 1967), p. 166.
. arta de Horkhe1mer para Lõwenthal, 8 abr. 1950 (colecão de Lõwenthal)
29. Ver, por exemplo, Claus Grossner, "Frankfurter Schule am Ende", Die Zeit (Ham­
8. Conversa com Everett Hughes, Cambridge, Mass" 21 juÍ. 1971. . burgo, 12 maio 1970), p. 5.

422 423
MARTIN JAY. A IMAGINAÇÃO DlAu:.ncA NOTAS

30. Em 1966, Horkheimer mostrou-se alarmado com a ameaça comunista chinesa di­ 51. Isso não significa que a Escola de Frankfurt negasse por completo a existênc~a
zendo que a advertê~cia do Kaiser Guilherme II sobre "a ameaça da raça am;rela permanente da luta de classes. "A socied~de conti?~ª a ~~ruma luta de c~asses, ho3e
de_ve ser levada ~u1to a sério nos dias atuais"; "On the Concept of Freedom", como no período em que esse conceito se or1g1nou , escreveu Adot no poste-.
Diogenes, 53 (Pari~, 1966). No ano s:guinte) ele compareceu a uma comemoração riormente; ((Society'>, The Legacy of the German Refugee Intellectuals, Salmagund1
da Semana da Amizade Teuto-Americana, na Romerplatz, em Frankfurt, o que le­ 10111(outono1969-inverno 1970), p. 149. Entretanto, esse já não era o ponto fo­
vou os estudantes que se opunham à Guerra do Vietnã a gritare1n "Horkheim cal da análise feita por seus integrantes. .. ..
Raus!" [Fora, i:orkheimer!J, no esforço de convencê-lo a se desvincular da polít~~ 52. Ver, por exemplo, Hans Heinz Holz, Utopie und Anarchismus: Zur Krtttk der knti­
ca norte-americana. Não conseguiram. schen Theorie Herbert Marcuses (Colônia, 1968), p. 60 et seq.
31. Edward Shils, "Tradition, Ecology, and Institution in the History of Sociology" 53. Esse comentário é mencionado num dos papéis dos álbuns de recortes de Hork­
DaedalusLXXXX!X,4 (outono 1970). ' heimer.
32. Entrevista com Marcuse) Cambridge, Mass., 18 jun. 1968. 54. Citado numa carta de Weil para mim, 31jan.1971.
33. O t~rmo foi usado por L~zarsfeld. Ver seu artigo ''An Episode in the History of 55. Harold Poor, Kurt Tucholsky and the Ordeal of Germany, 1914-1955 (Nova York,
Social Research: A. Memoir", em Donald Fleming e Bernard Bailyn (orgs.), The 1968), p. 137.
lntellectual M1grat1on: Europe and America, 1930-1960 (Cambridge, Mass., 1969) 56. Esse foi o número que Pollock mencionou durante uma de nossas conversas em
~™· , Montagnola, em março de 1969.
34. Conversa com Lazarsfeld, Nova York, 3 jan. 1971. 57. Adorno, Minima mora/ia (Frankfurt, 1951), p. 98. .
35. Entrevista com Pollock, Montagnola, Suíça) 14 mar. 1969. 58. Gõran Therborn escreveu que '~como é compreensível, o fasc1s1no tor~ou-s~ ~1:1ª
36. Entrevista com Paul Massing, Nova York, 25 nov. 1970. cabeça de Medusa para a Escola de Frankfurt. O resultado foi ~ue ~ at1:ude tn1c1al
37. Em 12 de novembro de 1943, Lõwenthal escreveu a Horkheimer dizendo que, «se de repugnância cristalizou-se, em vez de evoluir para uma análise _cientifica.e_ par:
você consultar a Enciclopédia de Ciências Sociais, verá que esse [George Herbert] a participação na prática política revolucionária"; "!'~ankfurt Marx1sm: .A ~~1tlque,
Mead parece ter sido um filósofo e sociólogo com problemas autênticos': Mas essa New Left Review, 63 (set.-out. de 1970), p. 94. A cntica de Therb~rn foi feita a par­
é a única referência a Mead que consegui encontrar nos escritos do Institut, na tir da esquerda, n1as alguns liberais também destacaram~ ?bsessao do Instltu: com
0 fascismo. Ver, por exemplo, Leon Bramson, The Political Con~ext of Soczology
coleção de Lõwenthal.
38. Carta de Horkheimer para Lõwenthal, 17 jul. 1946 (coleção de Lõwenthal). Parte (Princeton, 1961), p. 129, e David Riesman, Individualism Reconsidered and Other
dessa citação reaparece em Horkheimer, Eclipse of Reason (Nova York, 1970), Essays (Glencoe, Illinois, 1954), p. 477. .
p. 160. 59. Martin Jay, resenha de Donald Fleming e Bernard Bailyn (orgs.), The Intellectual
39. Hans Mommsen) "Historical Scholarship in Transition: The Situation in the Fede­ Migration, e de 1-lans Wingler, The Bauhaus, em Commentary) XXXXIX, 3 (mar.
ral Republic of Germany'', Daedalus, C, 2 (primavera 1971 ), p. 498. 1970).
40. Adorno, Prisms, p. 48. 60. Horkheimer [Heinrich Regius], Dammerung (Zurique, 1934), p. 216. .
41. Horkheimer, "Traditionelle und kritische Theorie'', ZfS VJ, 2 (1937), p. 269. 61. Marcuse indicou isso durante nossa entrevista em Cambridge, Mass., 18 JUn. 1968.
42. Walter Benjamin) ~'Zeitschrift fur Sozialforschung", Mass und Wert I, 5 (maio-jun.
62. Adorno, Prisms, p. 34.
1938), p. 820.

43. Ad~r~o d~stacou isso num de seus ensaios sobre Benjamin: "A predominância do
e~p1nto alienou extremamente sua vida espiritual e até psicológica. [... J Ele con­
siderava ta,~u .? calor animal;_ os ~migos mal podiam atrever-se a pôr a mão em
seu ombro ; Uber Walter Ben;amm (Frankfurt, 1970), p. 50.
44. Fntz Rmger, The Decline of the German Mandarins (Cambridge, Mass., 1969).
45. Carl Grünberg, "Festrede gehalten zur Einweihung des Instituts für Sozialfor­
schung an der Universitãt Frankfurt a.M. am 22 Juni 1924 n) Frankfurter Universi­
tatsreden, XX (Frankfurt, 1924), p. 4.
46. Ringer, Decline ofthe German Mandarins, p. 5.
47: Ibid., p. 106.
48. Ibid., p. 90.
49. "Só encontrei um comentário favorável sobre a obra de Freud na literatura acadê­
~i~a da época) e ele foi escrito pelo crítico radical Ernst von Aster'~ escreveu Ringer
(tbtd., p. 383).
50. Adorno, Prisms, p. 22.

424 425
BIBLIOGRAFIA

Foram utilizadas as seguintes abreviaturas:


Grünbergs Archiv: Archiv für die Geschichte des Sozialismus und der Arbeiterbewegung
SPSS: Studies in Philosophy and Social Science
ZfS: Zeitschrift für Sozialforschung

PUBLICAÇÕES DO INSTITUT

O Institut associou-se aos seguintes periódicos ou os publicou:


Archiv für die Geschichte des Sozialismus und der Arbeiterbewegung, v. !-XV (1910-1930).

Zeitschrift für Sozialforschung, v. !-V!!I, 2 (1932-1939).

Studies in Philosophy and Social Sciences, v. VIII, 3-!X, 3 (1939-1941).

Os textos individuais nos Beihefte do Grünbergs Archiv são listados abaixo, junto aos

nomes de seus autores.


Os trabalhos coletivos do Institut incluíram os seguintes:
Studien über Autoritiit und Familie (Paris, 1936).

"Anti-Semitism within American Labor: A Report to the Jewish Labor Committee'', 4 v.,

inédito, 1945; na coleção de Pollock.


As obras referentes à história do Institut incluíram:
Institut für Sozialforschung an der Universitiit Frankfurt am Main (Frankfurt, 1925).
International Institute of Social Research: A Short Description of Its History and Aims
(Nova York, 1935).
International Institute of Social Research: A Report on Its Hístory and Activities, 1933­
1938 (Nova York, 1938).
"lnstitute of Social Research (Columbia University), Supplementary Memorandum on
the Activities of the Institute from 1939 to 1941", inédito, 1941; na coleção de
Pollock.
"Supplement to the History of the lnstitute of Social Research", inédito, 1942; na cole­
ção de Pollock.
"Ten Years on Morningside Heights: A Report on the lnstitute's History, 1934 to 1944",
inédito, 1944; na coleção de Lõwenthal e na de Pollock.
Institut für Sozialforschung an der ]ohann Wolfgang Goethe-Universitiit Frankfurt am
Main; Ein Bericht über die Feier seiner WiederOffnung, seiner Geschichte, und seine
Arbeiten (Frankfurt, 1952).
Também foram utilizadas coleções de documentos) cartas) artigos inéditos, memoran­
dos e conferências em poder de Leo Lõwenthal, Friedrich Pollock e Paul Lazarsfeld.
O mesmo se deu com diversos recortes dos álbuns de recortes de Max Hork.heimer)

427
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO D!ALtTICA BIBLIOGRAFIA

colecionados principalmente depois de 1950. Desde a ocasião em que as examinei as Ohne Leitbild (Frankfurt, 1967).
cartas pertencentes à coleção de Lõwenthal foram depositadas na Biblioteca Hought~n "On Kierkegaard's Doctrine of Love'', SPSS VIU, 3 (1939).
em Harvard. '
"On Popular Music", com a colaboração de George Simpson, SPSSJX, 1 (1941).
Philosophie der neuen Musik (Frankfurt, 1949).
ESCRITOS DE CADA FIGURA INDIVIDUAL NA HISTÓRIA DO INSTITUT Prismen (Frankfurt, 1955); em inglês, Prisms. Trad. Samuel e Shierry Weber (Londres,
1967) [Prismas: crítica cultural e sociedade. Trad. Augustin Wernet e Jorge M. B. Al­
NATHAN W. ACKERMAN E MARIE JAHODA
meida. São Paulo: Atica, 1998].
Anti-Semitism and Emotional Disorder: A Psychoanalytic Jnterpretation (Nova y 0 k "Reflexionen", Aufkliirung!V, 1(jun.1951).
1950). r , ''Scientific Experiences of a European Scholar in America". In: Donald Fleming e Ber­
nard Bailyn (orgs.). The Intellectual Migration: Europe and America, 1930-1960
THEODOR W. ADORNO (Cambridge, Mass., 1969).
"A Social Critique of Radio Music", Kenyon Review VII, 2 (primavera 1945).
No p~ríodo de redação deste livro, os Gesammelte Schriften de Adorno estavam sendo
"Social Science and Sociological Tendencies in Psychoanalysis'', inédito. Los Angeles,
compilados pela Suhrkamp_Verlag. O volume VII, Asthetische Theorie (Frankfurt, 1970),
27 abr. 1946; na coleção de Lõwenthal.
e o volume~· Zur Metakritrk der Erken~tnistheorie (Frankfurt, 1971), já foram publica­
"Sociology and Psychology", New Left Review, 46 (nov.-dez. 1967) e 47 (jan.-fev. 1968).
dos. (A vers_ao anterior de Zur Metakritrk [Stuttgart, 1956] foi a citada no texto). Eis as
obras especificas consultadas: "The Stars Down to Earth: The Los Angeles Times Astrology Column: A Study in
Secondary Superstition'', Jahrbuch für Amerikastudien, v. II (Heidelberg, 1957).
~lban Berg: Der Meister des kleinsten Übergangs (Viena, 1968). "Thesen zur Kunstsoziologie", Kolner Zeitschrift für Soziologie und Sozialpsychologie, XIX,
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442 443
ÍNDICE REMISSIVO

Abel, Theodore, 282 Avenarius, Richard, 87


Abraham, Karl, 141 Baader, Franz von, 58
Ackerman, Nathan W., 298-299 Bachofen, Johann Jacob, 142-143, 149,
Adenauer, Konrad, 354 175, 177
Adler, Max, 61, 66 Bakunin, Mikhail, 176
Adler, Mortimer, 273 Balzac) Honoré, de, 98, 187, 230
Adorno, Grete!, 33, 377, 408-410 Baran, Paul, 70) 364
Adorno, TheodorWiesengrund, 5, 12-14, Barres, Maurice, 410
16, 18-23, 26, 30, 33, 53, 58-62, 66-68, Barrington, Moore Jr., 379, 388, 412, 422,
70,74,81,83,95,97,99-101, 105, 432, 434-435, 441
110-116, 119-123, 125, 128-129, 133- Barton, Allen, 287
134, 136, 150, 152-156,158-161, 163, Baudelaire, Charles, 267-270, 333
169, 175, 180, 187,193, 195, 197,205, Bauer, Otto, 56, 61
209- 211, 221, 223-224, 227-228, 231- Biiumler, Alfred, 142-143
258, 260-263, 265-269, 271-273, 276- Beard, Charles, 78, 164
278,280,282-298,301-304,308,310, Bebe!, August, 142-143
313-316, 319-321, 323-334, 336-337, Beck, Maximilian, 67, 223
339,342-346,349,352'357,359,362, Beer, Max, 66
364,366-367,370-372,375-377,380- Beethoven, Ludwig von, 235, 246, 251,
383,385,388-389,391-392,395-396, 254
400,403-420,422-426,428-430,432, Behemoth, 6, 72, 172, 196, 200, 202, 205,
437-441 211,215-216,219,223,377,396-397,
AJC ver Comissão Judaica Norte- 399,401,436
Americana Benjamin, Walter, 5, 16, 20, 26, 30-31, 53,
Allport, Gordon, 352 72, 74, 75, 101, 111, 115-116, 128,
Althusser, Louis, 335 149, 154, 164,165,187,209-211,223,
Anderson, Eugene N., 224 228-229, 231-233, 235, 237-238, 247,
Antígona, 177 249,256-272,276-278,280,326-328,
Apollinaire, Guillaume, 410 333-334,339,342,344,356-357,359­
Aragon, Louis, 410 360,370-372,377,381-383,385,389,
Archív für die Geschichte des Sozialismus 391-392,396,399-400,403-411,418­
und der Arbeiterbewegung ver 420,422-423,425,429,432,436-441
Grünberg Archiv Bentham, Jeremy, 101
Arendt, Hannah, 74, 109, 166, 157, 262 Berg, Alban, 60-61, 240
Aristóteles, 39, 199 Bergson, Henri, 49, 69, 85, 91, 93-94, 96,
Aron, Betty, 303 112, 269-270
Aron,Raymond,77,221,352 Bernfeld, Siegfried, 133, 135
Aster, Ernst von, 425 Bernstein, Eduard, 20, 55, 125, 139, 339,
Aufbau, 253, 287 371

445

<
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA ÍNDICE REMISSIVO

Diimmerung, 6, 51, 57, 71, 75, 86, 89-100, Esclarecimento, 14, 19, 154, 193, 210- Prazer, Sir James, 142
Bettelheim, Bruno, 298-300, 312
110, 131,216,266,321,323,374-375, 211, 254-255, 273-278, 283, 293, 296- Freisler, Roland, 212
Beveridge, Sir William, 78
377-381,388,404,410,418,426,432 297,313,317-320,326,330-331,338, Frenkel-Brunswik, Else, 298, 302-303,
Blanqui, Auguste, 267
Darwinismo, 338-339
342,370,428,432 306,308-309,415-416,428
Bloch,Ernst,86, 165,242,261,333,398,
Deak, Istvan, 73, 337, 397, 441
Escola de Marburgo, 64 Freud, Anna, 135, 411
408,420,437
Deakin, F. W., 45, 50, 373- 374, 437
Escola de Kiel, 212, 400 Freud Sigmund, 20, 49, 74, 100, 124, 131­
Blumer, Herbert, 279
Debussy, Claude, 245
Escritório de Serviços Estratégicos 160, 167, 178-180, 185,256,259,290,
Borkenau, Franz) 50) 53-55, 57-58) 78)
Delius, 245
[Office of Strategic Services (OSS) ], 292,298-299,310,333,335-336,341,
139, 204 357
de Maistre, Joseph, 181
125,223 363, 377, 385-391, 393, 407, 411, 415,
Bouglé, Celestin, 69, 78, 166, 221-22
de Man, Hendrik, 386, 441, 70, 134, 139
Estudos sobre o preconceito, 225, 228, 279, 420-422,425,428,430,434,438,440­
Bouglé, Jeanne, 183
Demangeon, A., 222
283,288-289,291,297,302,312,315­ 441
Bramson, Leon, 309, 311
Descartes, René, 54-55, 105, 173, 323,
317, 319, 336, 347 Freytag, Gustav, 188, 395
Brandes, Georg, 188
334,337,394
Existencialismo, 27, 122, 173, 174, 179, Fried, Hans, 223
Brecht, Bertolt, 53, 211, 243, 253, 261­
Dewey, John, 136, 422
198, 339-341, 422 Friedeburg, Ludwig von, 13, 353
263, 272, 289
Dialética do esclarecimento, 14, 19, 154,
Expressionismo, 234) 408 Friedmann, Georges, 77
Breton, André, 410
193,210-211,254-255,273-274,276­ Farquharson, Alexander, 69, 78,·376 Frornm, Erich, 5, 6, 16, 30-31, 33, 59,
Briffault, Robert, 142-143
278,283,293,296,297,313,317-320, Fascismo, 13, 78, 81, 96, 101-102, 115, 66,69, 70, 72, 79, 134-158, 160-161,
Brill, Hans Klaus, 163
331,338,342,370,428,432 133-134, 142, 166, 169, 171-172, 174­ 16~1~17~1~18~1~19~1~
Brinton, Crane, 224
Dialética negativa, 19-20
175, 181, 194-195, 198,201-202,205, 197,217,223,248,252,259,279,284,
Brown, C. F., 303
Die Gesellschaft, 67, 120, 200, 375, 382,
209-212, 214, 216, 218, 221, 241, 265­ 290, 292, 302-303, 309-311, 321, 356,
Brown, Norman O., 224
384,388,396-397,421,435,437,443 266, 272, 278, 294, 296-297, 299, 302, 357,360,366,369,372,376-377,
Brown, Roger, 308
Die Weltbühne, 73, 441 305, 312-314, 318, 321, 330-331, 338, 386-394,414,417-418,430,435,438,
Buber, Martin, 59, 72, 136, 259
Dieterle, William, 253, 273 345,365,387,393,399-401,404,407, 440
Buddenbrooks, 360

Dilthey, Wilhelm, 188, 334, 379-380, 389, 415-416,425-426,428,432,442-443 Fromm-Reichmann, Frieda, 134-135,
Burckhardt, Jacob, 189

420,432 Favez, Juliette, 163 386,388


Burke, Edmund, 181

Dimitrov, George, 217 Federn, Paul, 133, 135 Fundação Hacker, 255, 428
Burnham, James, 207

Dõblin, Alfred, 253 Peniche!, Otto, 133 Fundação Rockefeller, 186, 286
Butler, E. M., 142

Dostoiévski, Fyodor, 190-191, 194, 230, Fenomenologia, 62, 87, 113, 115, 117-118, Geifer, Aleis, 352
Butler, Nicholas Murray, 79, 163, 349

234,273 121-122,134,238,297,301,383,400 Gelb, Adhemar, 42, 62


Calvino, 324

Doutor Fausto, 254, 439 Fenomelogia do espírito, 14, 119, 420 George, Stefan, 45, 62, 142, 264
Cantril, Hadley, 247

Dünner, Josef, 70, 377 Ferenczi, Sándor, 145-146, 157, 179 Gerlach, Kurt Albert, 45-47, 50, 52, 65,
Cassirer, Ernst, 166

Duprat, Jeanne, 221 Feuerbach,Ludwig,97, 100,380,420 222


Chaplin, Charlie, 211, 272

Durkheim, Emile, 69, 335, 378, 406, 421, Fichte, J. B., 96 Gerth, Hans, 70, 364
Círculo de Viena, 106-107, 365, 382

442 Filosofia e teoria critica, 122, 208 Gesellschaft für Sozialforschung ver
Cole, G. D. H., 352

Eastman, Max, 49, 374 Findlay, J. N., 393, 441 Sociedade de Pesquisas Sociais
Comissão Judaica Norte-Americana

Eckert, Christian, 48 Finkelstein, Moses !. (M. !. Finley), 202, Gide, André, 41 O


[American Jewish Committee, AJC],
Eiduson, Bernice T., 255, 407, 428 333,350,351,356,378 Ginsberg, Morris, 69, 166, 222, 352
224,283,287,298-299,302,312,
Eisler, Gerhart, 41 Finkelstein, Sidnéy, 229 Glazer, Nathan, 301, 412, 115, 438, 440
356
Eisler, Hanns, 241, 255, 263, 266, 406, Finley M. !. ver Finkelstein, Moses L Godard, Jean-Luc, 232
Comte, Augustei 124

409,439 Fischer, Ruth, 226 Goethe, 41, 83, 154, 188, 230, 235, 261,
Cornelius, Hans, 42-44, 58, 62, 87-88,

Empirismo, 55, 90, 106-107, 126, 316 Fiske, Marjorie, 350 264,270,353,395,411,427
134, 231, 284
Engels, Friedrich, 46-47, 49-50, 54, 57, Fogarasi, Bela, 41 Goldfrank, Esther, 186, 226
Creedon, Carol, 303
98, 118, 125,130,142-143,210,229­ Ford, Franklin, 224 Goldmann, Lucien, 16, 54, 229, 403, 438,
Crítica da razão instrumental, 320
231,332,334,374,380 Fourier, Charles, 1O1 441

Crítica da razão dialética, 422


Epicuro, 199 Flowerman, Samuel, 290, 298 Gooch, G. P., 352

Croce, Benedetto, 84
Erikson, Erik, 302, 310, 390, 415, 441 Fraenkel, Ernst, 196 Graebner, 1., 223

Crouzet, Michel, 229


Comissão Judaica do Trabalho, 224, 287 Eros e civilização, 133, 152, 155-156, 158­ Frankfurter Beitriige zur Soziologie, 155, Gramsci, Antonio, 76, 86

159, 161, 309, 320, 337, 350, 384, 434 353,390,401,417,436 Greenberg, Clement, 279

Cunow) Heinrich, 56

446 447
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA INDICE REMISSIVO

Groddeck, Georg, 135, 145-146, 157, 388, 394,420,432,434-435,437,439,441­ Humboldt, Wilhelm von, 48, 374 Kehr, Eckhart, 216, 401
441 443 Hume, David, 106, 181, 323, 386 Keller, Gottfried, 188
Groethuysen, Bernard, 222 Heidegger, Martin, 64, 67, 116-124, 139, Husserl, Edmund, 113-116, 119, 122, 126, Kellner, Dora, 261
Grossmann, Henryk, 17, 31, 54-59, 66, 173,338-339,383,418,421,439 173,246,319,376-337,383,400,403, Kellner, Leon, 259
68, 77,79,86,98, 131, 134,163, 175, Held, Adolf, 287 428 Kierkegaard,S0ren,62, 111-113, 165,
197,203,204-208,224,266,350,374­ Heller, Hermann, 200 Huxley, Aldous, 161, 234, 255-256, 276, 191,230-231,234,268,321,339,376,
378,398,431,437,441 Helvétius, Charles, 102 420 382-383,418,428-429
Grünberg, Carl, 43, 46-49, 52-54, 57-59, Herzog, Herta, 167, 273, 287, 412 Hyman, Herbert H., 290, 292, 308, 414, Kirchheimer, Otto, 5, 16, 26, 31, 77, 163,
61-66,69, 76,84, 134,203,225,231, Hess) Moses, 47, 373 416 168, 195, 200-203, 212-213, 219-221,
361,369,373-379,425,427,431-432, Hilferding, Rudolf, 56, 61, 67, 120, 217 Ibsen, Henrik,177, 191-192, 273, 396 224, 227, 350, 357, 372, 392, 397-400,
436 Hiller, Kurt, 76, 411 Idealismo, 64, 74, 87, 89, 96, 97, 112, 114, 402,431,433,436,438
Grünbergs Archiv, 46, 59, 63-64, 84, 369, Hindemith, Paul, 241 118, 130, 155, 174, 192, 332, 362, 390 Klages, Ludwig, 142-143
373-379,427,432 Hirschfeld, C. L., 69 Ideologia da sociedade industrial, A, 103, Kline, George, 128, 375, 385
Gumperz, Hede, 41 Hiss, Alger, 373 236,272,278,320,350,369,399,411, Koestler, Arthur, 61, 257, 376, 407, 439
Gumperz, Julian, 41, 50, 77, 79, 223, 351, História e consciência de classe) 14, 40, 84, 419,435 Kogon)Eugen,352
373,378,431 89,97,118, 120,230,261,324,380, Iluminismo, 9, 102, 106, 110, 295-296, Komarovsky, Mirra, 183, 186-187, 284,
Gunzert, Rudolf, 353 442 317,322-332,335,343,346,361,418 395, 433
Gurland, Arkadií R. L., 165, 195, 200, Hobbes, Thomas, 63, 96, 154, 181, 199, Iluminista, 21, 107, 143, 209, 276, 295, Komintern, 217
203,205,207,212-215,218-221,224, 219, 322-323, 394 322-326, 329-331, 339, 341 Kõnig,René,352,393,439
227,287,351,398-400,402,431,433, Hofrnannsthal, Hugo von, 264, 403, 407, Infância em Berlim por volta de 1900, 264, Korsch, Hedda, 41
436 409 429 Korsch, Karl, 15, 41-42, 47, 50-51, 66, 84,
Guterman, Norbert, 298, 301-302, 415, Hoggart, Richard, 279, 412, 441 Instituto de Pesquisas de Ciências Sociais 374,378-379,442
421 Holborn, Hajo, 224 de Colônia, 48 Koyré, Alexander, 66, 221
Gutzkow, Karl, 188-189 Homero, 328-330 Instituto Marx-Engels, 49, 57 KPD ver Partido Comunista da Alema­
Grupo de Estudos de Berkeley sobre Honigsheim, Paul, 78, 163, 222, 364, 378, Instituto Psicanalítico de Frankfurt, 66, nha
Opinião Pública [Berkeley Public 394,442 135 Kracauer, Siegfried, 59, 60, 111, 372, 375,
Opinion Study Group], 302-303, 309, Hook, Sidney, 129, 421 Jaeckh, Ernst, 197 410, 442
312, 316, 364 Hooker, Richard, 199 Jaensch, E. R., 303 Kraus, Karl, 61, 240, 270, 411
Habermas, Jürgen, 13, 16, 18-22, 33, 74, Horkheimer, Maidon, 75 Jahn, padre, 165 Krenek, Ernst, 249, 269, 406, 433
100, 116, 121, 130,316,337,366,370­ Horkheimer, Max, 5, 6, 9, 12-14, 16, 26, Jahoda, Marie, 298-299, 394, 414-416, Krieger, Leonard> 224
372, 377-378, 381-385, 389, 419-421, 30-31, 33-34, 42-44, 48-49, 51-53, 55, 428,473,442 Kris, Ernst, 150, 166, 290
424,438,442 57-60,62-71, 75-77, 79-81,83,86-102, Janowitz, Morris, 298-300, 312, 415-417, Lacis, Asja, 261
Hacker, Frederick, 256, 353, 407 104-113, 116, 118, 120-131, 134-136, 430 Lamprecht, Karl, 52
Haeckel, Ernst, 96 139-140, 148-151, 155-156, 159-166, Jaspers, Karl, 93, 339, 380, 422, 432 Landauer, Karl, 66, 134-135, 183, 223,
Halbwachs) Maurice, 69, 78, 257) 376 16~1~17217~1~1~1~1~ Johnson, Alvin, 79 357,376,386
Hamsun, Knut) 30, 192-194, 321) 330) 186-187, 193-200, 203, 205, 208-213, Jones, Ernest, 141, 146, 388 Landsberg, Paul Ludwig, 77, 357, 378
332,387,396 216,218-224,227-229,231-233,235, Joyce, James, 230 Lang, Olga, 33, 68, 223, 395, 433
Harnack, Adolf von, 138 246,251,253,255,258,261,263,265­ Jung, Carl, 157, 268 Lasalle, Ferdinand, 21 O
I-lartn1ann, Heinz, 290 266,270,273-279,281-283,285,287­ Kafka,Franz,18,230,232,234,255,409 Laski, Harold, 69, 166, 196-197
Hartmann, Nicolai, 64 288, 290-291, 293-298, 301-302, 304, Kant, Immanuel, 43, 60, 64, 85-88, 95-96, Lasswell, Harold, 164, 273, 412
Hartock, Anna, 167 310-311, 313, 317- 340, 342-343, 345­ 101, 104, 111, 145, 171, 181, 193, 233, Lazarsfeld, Paul, 34, 165-167, 183, 186,
Hegel, G. W. F., 14, 43, 49, 53, 55, 64, 66­ 349, 351-360 362-363, 365-366, 369, 235,245,262,277,323,325,330-331, 223,246,248-250,252,273,282,285­
67, 74,83-92,95,97,99, 102-105, 371-382, 385-386, 388-389, 391-393, 362,371,373,379,394,404,432 288, 298, 308, 316, 352, 355, 365, 377,
108-114, 118-125, 128, 130, 143, 156­ 395,398-404,406-426,428,431,437 Kapp, Karl Wilhelm, 223 392,394-395,404-406,412-414,416,
157, 165, 169, 171, 174-175, 177, 181, Horney, Karen, 147, 149, 151, 152, 160 Karsen, Fritz, 165, 223, 401 423-424,428,433,442
197, 199,203,209,238,263,323,325, Hughes, Everett, 348, 423 Kautsky, Karl, 47, 54, 125, 139, 203, 334, Le Bon) Gustav, 335
332-334,340,343,345-346,362,366, Hughes, H. Stuart, 34, 379, 385-396, 438, 398,431 Lebensphilosophie, 91-96, 104, 109, 116,
372,376,378-379,384-386,390,393­ 442 Kecskemeti, Paul, 308, 312, 416, 417, 439 118, 122, 172, 174,194

448 449

J
MARTIN JAY •A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA fNDlCE REMISSIVO

Lederer, Emil, 219, 401 Maclver, Robert, 79, 166, 281, 352, 376, Maslow, Abraham, 303, 416, 442 Niebuhr, Reinhold, 79
Leibniz, 128, 334 391,401,406,442 Massing, Hede, 351, 373, 402 Nietzsche, Friedrich, 83, 85, 91-93, 96,
Leichter, Kathe, 183 Mackauer, Wilhelm, 223 Massing, Paul, 33, 41, 74, 195, 225, 287, 102, 113, 153, 165, 172, 230, 276, 323,
Lenin,6,57,96,191,201,211,230,235, Maiakovski, Vladimir, 261 298,356,373,377,392,413,415,424, 330,331,344,378,380,404,412,419,
251,369,410,438 Maier, Alice, 33, 195, 204, 223, 347, 353, 435 422,429,432,442
Leonardo da Vinci, 55, 324 375,396,414 Mattick, Paul, 55, 77, 374, 375, 398, 422 Nobel, Nehemiah A., 59, 72, 136, 375
Le Play, Frédéric, 69, 175 Maier, Joseph, 223, 350 Mayer, Gustav, 46, 373 Nova Escola de Pesquisas Sociais [New
Leroy, Maxime, 222 Maine, Sir Henry, 175, 219 Mayer, Hans, 163, 165, 244, 405, 411 School for Social Research], 79, 350
Levenstein,Adolf, 167, 392 Malik Verlag, 63 McCarran, Pat, 351 Nova Esquerda, 12, 14-15, 17, 22, 28, 41,
Levinson, Daniel J., 298, 302-303, 415, Malinowski, Bronislaw, 142, 144 McCloy, John J., 348-349, 352 350,363
428 Mallarmé, Stefan, 327 McDougall, W., 179 Nova Objetividade, 47, 241, 352, 365
Levinson, Maria Hertz, 303 Man, Hendrik de, 70 McLuhan, Marshall, 127 Novalis, 330
Lewin, Kurt, 66 Mandelbaum, Kurt, 64, 77, 205, 350, 357, McWilliams, Joseph E., 301 Oakeshott, Michael, 338, 346, 421, 443
Librairie Félix Alcan, 69, 163, 222 398, 434-435 Mead, George Herbert, 356, 424 Obra de arte na época de sua reprodutibi-
Lichtheim, George, 35, 375, 378-379, Mandeville, Bernard de, 1O1 Mead, Margaret, 164, 391 lidade técnica, A, 267, 270-271
418-419,439,442 Mann, Heinrich, 253 Mehring, Franz, 188 Ontologia de Hegel e a fundação de uma
Likert, Rensis, 306 Mann, Thomas, 166, 253-254, 287, 360, Meng, Heinrich, 66, 135, 396, 441 teoria da historicidade, A) 67
Lindemann, Hugo, 48 389,406,439,442 Mennicke, Karl, 62 Organização Internacional do Trabalho,
Lipset, S. M., 393, 417, 442 Mannheim, Karl, 49, 62, 68, 108, 127, Merleau-Ponty, Maurice, 86, 117 64
Livre Casa Judaica do Saber, 59, 136 355,359,380,382 Merton College, 68, 113, 405 Origem da família, A, 142
Locke, John, 106, 181, 199, 394 Manuscritos econômico-filosóficos, 100, Merton, Robert, 282, 416, 433, 442 Ortega y Gassett, José, 201, 276
Lõwe, Adolph, 62-63 120, 136 Meyer, Conrad Ferdinand, 188, 189, 395, OSS ver Escritório de Serviços Estratégi­
Lõwenthal, Leo, 6, 11-12, 18, 30-31, 34, Maquiavel, Nicolau, 63, 322 433 cos
52, 58-59, 62, 65-66, 68-70, 72, 79, 87, Marcuse, Herbert, 6, 12, 16, 20, 30, 33, Meyer, Gerhard, 33, 77, 163, 165, 205, Ossietzky, Carl von, 76
110, 129, 134-136, 150-151, 154, 166, 41,43,66-68,70, 79,81,83,99-100, 350,373,378,398-399,434-435 Pachter, Henry, 165-166, 391-392
176, 184, 187, 188-194, 196, 205, 209, 102-105, 108-110, 116-126, 130, 136, Meyer, Gladys, 33, 70, 386 Pareto, Vilfredo, 181
216,223-224,227-229,231,234,246, 139, 141, 145, 147, 152, 155-162, 165, Mill, John Stuart, 102, 126 Paris, a capital do século XIX, 267, 269
252,266,268,273-276,281-283,287, 169-170, 172-174, 176, 180-181, 189, Minima moralia, 20, 95, 154, 225, 255, Park, Robert, 279
288, 291, 295-298, 301-303, 319, 321, 196, 198,205,208-209,211,220-221, 283,319-320,343-346,359,380,388- Partido Comunista da Alemanha, 40i 76,
323,330,332,340,345,347,348-350, 224,227,231,236-237,245-246,252, 389,407,412,422,425,428-429 364
354,357,360,369-370,372,374-377, 263, 272-273, 277-278, 281-282, 290, Mitchell, Wesley, 79 Partido Socialdemocrata da Alemanha,
382, 385, 387, 389, 391-392, 394-396, 309,320,326,328,329,334,338-342, Mitscherlich, Alexander, 178, 393, 443 40,50-51, 76, 196,200-201,203,398
398, 400-403, 406-408, 412- 415, 418· 350,354-355,364,366,369,371-373, Moeller van den Bruck, Arthur, 190 Parsons, Talcott, 352, 393, 443
419,421-425,427-429,433-434 376, 378-379, 381-385, 387-388, 390, Moore, G. E., 386 Patti, Adelina, 60
Lõwenthal, Richard, 205, 434 391-394,396-406,412,418-426,432, Morgan, Lewis, 142 Pepper, Claude, 224, 402
Lukács, Georg, 14, 16, 40-41, 47, 53, 76, 434, 436-439, 441 Morgenthau, Hans, 196 Personalidade autoritária, A, 133, 154,
84,86,89-90,92,97, 118, 120, 130, Marcuse, Ludwig, 43, 165, 373, 391 Mõrike, Eduard, 188 167, 178-179, 182, 21l,216, 255-256,
188,229-231,235,238,261, 324,334, Marx, Karl, 12, 39, 42, 49-50, 52, 56-57, Morrow, William R., 303 286,289-290,297-298,300-304,310­
364,372,373,379-380,395,402-403, 66, 71, 84,86-87,92,96-98, 100-101, Negt, Oskar, 16, 316, 366, 379, 443 316, 318, 416
418-419, 439, 441-443 108-109, 117, 119-120, 122, 124-125, Nelson, Benjamin, 356 Phelps, George Allison, 301
Luta contra o liberalismo na visão 130, 133-137, 139, 148-149, 155-156, Neue Sachlichkeit ver Nova Objetividade Philosophische Hefte, 67, 383
totalitária do Estado, A, 172, 189, 326 159, 169-170, 174-175, 177, 181, 185, Neuling, Willi, 208, 399 Picasso, Pablo, 272
Luxemburgo, Rosa, 13, 40, 51, 56 201, 204-205, 207, 209-210, 221, 238, Neumann, Franz, 6, 16-17, 26, 30-31, 72, Pinthus, Kurt, 223
Lynd, Robert, 79, 166, 176, 281, 352, 376, 247,261,293-294,323-324,326,328, 134, 168, 172, 195-200,202-203,207, Piscator, Erwin, 53, 63
391,401 334,345,352,363,371,374-376,378, 209-224, 282, 356, 366, 372, 377-378, Platão, 109
Maccoby, Michael, 167, 392, 431 380-381, 385-386, 390, 392, 398-399, 381,385,392,396-397,399,401-402, Plekhanov, George, 125
MacDonald, Dwight, 279, 412, 442 414,417,419-421,430-431,435,437, 431, 433, 436, 438 Poe,EdgarAllan,357
Mach, Ernst, 87 439, 441-443 Neumann, Sigmund, 197 Polgar, Alfred, 253

450 451
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIALÉTICA ÍNDICE REMISSIVO

Pollock, Friedrich, 13-14, 17, 25-26, 30­ Riezler, Kurt, 62, 67 Schõnberg, Arnold, 61-62, 116, 232, 239­ Stanton, Frank, 247, 406, 412
31, 33-34, 41-45, 49, 51, 56-58, 62- 64, Rigaudias-Weiss, Hilde, 374 242, 245, 249, 253-254, 269, 276, 252, Steffens, Lincoln, 225, 435
66,68-71,73-75,77-79,87-88, 110, Ringer, Fritz, 338, 361-362, 374, 421, 425, 355 Steiner, George, 229, 402, 408, 443
131, 163, 165, 168-169, 176, 184, 205­ 443 Schopenhauer, Arthur, 64, 85-86, 87, 91, Stendhal, 189, 235
209, 211-213, 215, 217-221, 223-224, Robespierre, 101, 301, 435 154, 165,252,345,379,423,432 Sternberg, Fritz, 56, 165
227, 257, 282, 287-288, 303, 313, 315, Robinson, Paul, 155, 341, 385, 387, 390, Schorske, Carl, 40, 224, 3 72 Sternheim,Andries, 69, 77, 163, 176, 183,
321,349,353,355-356,369,373-377, 422,440 Schücking, Levin, 188 223,357,376-377,394,436
379,385-386,390-392,395,398-399, Rõckle, Franz, 47, 352 Schultz, Franz, 264 Steuermann, Eduard, 61
401-402,406-407,413,417-418,423­ Rokeach, Milton, 417, 443 Scott, Walter, 230 Stirner, Max, 165, 341
425,427-428,432,436 Romance histórico, O, 230 Segunda Internacional, 84, 118, 125, 334, Storfer, A.)., 138
Popper, Karl, 90, 443 Rosenberg, Alfred, 194 378 Storry, G. R., 45, 50, 373-374, 437
Positivismo, 53, 84, 90, 94, 97, 101, 106, Rosenzweig, Franz, 59, 72, 136, 375 Seiber, Mátyás, 243 Strauss, Richard, 242
115, 124, 127, 129, 149, 157, 165, 199, Rousseau, 109, 170, 181, 193, 199, 394, Sekles, Bernhard, 60 Stravinsky, Igor, 18, 30, 239-242, 254
212,247,268,294,315,328,330,339, 397,423,443 Ser e o nada, O, 340-341, 390, 422 Strindberg, August, 177
356,361,362,364,385 Rumney, )ay, 163, 183 Serviço de Pesquisas Sociais Aplicadas, Studien über Autoritiit und .Familie, 78,
Pragmatismo, 106, 129, 199, 209, 339, Rusche,George,77,202,378,398,428, 282,287 146, 168, 175-176, 178, 180, 182-188,
356,385 433 Sheatsley, Paul B., 290, 292, 308, 414, 416 192-195,200,221,228,252,284,289,
Prismas: crítica cultural e sociedade, 255, Russell, Bertrand, 139 Shils, Edward, 312-314, 355, 412, 417, 300,302-303,305-306,309-310,378,
429 Ryazanov,David,50,56-57,375 424,440 388-390,392-395,417,427,431,434
Projeto de Pesquisas Radiofônicas, 22, Rychne~Max,259,403,408,440 Shotwell, James T., 352 Studies in Philosophy and Social Science,
249,240,286 Sachs, Hanns, 135, 138 Siepmann, Charles A., 273, 412 5, 212, 207, 209, 211-212, 214-216,
Proust, Marcel, 230, 233-234, 264, 269, Sade, marquês de, 102, 330-331, 338 Simon, Ernst, 59 219,222,224,237,250,273,282,286,
333 Salomon-Delatour, Gottfried, 394, 410 Simon, Hans, 197 304,369,397,401,414,427
Punição e estrutura social, 202, 212, 227, Salzberger, Georg, 136 Simpson, George, 249, 406, 412, 421, 429 Sullivan, Harry Stack, 147, 388
433 Sanford, R. Nevitt, 298, 302, 303, 305, Sinzheimer, Hugo, 68, 196 Swede, Oscar H., 49, 374
Questão judaica, A, 303, 416 415,428,443 Sionismo, 71, 259, 297, 377, 408, 414 Sweezy, Paul, 376, 440
Rathenau> Walter, 71 Sartre, jean-Paul, 86, 117, 229, 303, 340­ Slawson, John, 283, 298, 349 Szabo, Ervin, 379
Razão e revolução, 109, 119, 121, 123-125, 341, 390, 412, 416, 422, 434 Smend, Rudolf, 200 1arde, Gabriel, 335
157,174,209,224,435 Savonarola, 101, 301 Sobre o hedonismo, 102, 156, 329 Tawney, R. H., 68-69, 376
Regius [pseudônimo de Horkheimer], 6, Scelle, Georges, 69, 257, 376 Socialdemocracia, 51, 57, 66, 76, 93, 196, Teoria do romance, 188, 261
75,81,357,374-375,377-379,388, Schaar, John, 170, 386, 388, 440 201, 379 Teoria tradicional e teoria crítica, 126,
404,410,418,426,432 Schachtel, Ernst, 33, 167, 183-184, 376, Sociedade de Pesquisas Sociais, 45, 47, 352 151,304,359
Reich,Wilhelm,66, 133, 139, 141-142, 394,416,436 Sociedade Fabiana, 45 Therborn, Goran, 418, 421, 425, 440
156,303,416 Schardt, Alois, 223 Sombart, Werner, 49, 374, 436 Thomas, Albert, 64, 77
Reik, Theodor, 138 Scheler, Max, 30, 48, 62, 64, 94, 99, 122, Sorel, Georges, 84, 181, 379 Thomas, Martin Luther, 301, 407
Renner, Kart 61 200,338,400,421,443 Sorge, Christiane, 42 Thurstone, L. L., 306
República de Weimar, 13, 16, 29, 39-40, Schiller, 236, 356, 374 Sorge, Richard, 41, 45, 50, 58, 373-374, Tiedemann, Rolf, 258, 261, 262, 270, 407­
47, 52, 69, 71, 73, 88, 167-168, 196, Schlesinger, Rose (Sra. K. A. Wittfogel), 52 437 409, 4 l l, 430, 440
198,200-201,216-217,253,258,338, Schlesinger, Rudolf, 58, 375 Soudek, Joseph, 223 Tillich, Paul, 62-63, 68, 70, 111, 352, 376,
354,357,360,365-366,372,377,397, Schmidt, Alfred, 16, 33, 354, 366, 372, Soziologische Verlagsanstalt [editora], 63 382,385,401,436,443
402,438,441 379,383,400,418,420,424,431,440, Spann, Othmar, 64 Tocqueville, Alexis de, 279
Revista Trimestral de Sociologia de 443 SPD ver Partido Socialdemocrata da Toller, Ernst, 360
Colônia> 65 Schmitt, Carl, 16, 169, 173-174, 200-201, Alemanha Tomismo> 199, 339
Richter, Werner, 353, 423 340, 369-370, 397 Speier, Hans, 185, 395, 443 Tõnnies, Ferdinand, 164, 391
Rickert, Heinrich, 262 Schmückle, Karl, 41 Spengler, Oswald, 88, 233 Toscanini, Arturo, 248
Rieff, Philip, 133, 385, 443 Schoen, Ernst, 264 Spielhagen, Friedrich, 188 Treves, Paolo, 194
Rienzi, Cola di, 1Ol, 301 Scholem, Gershom, 258-259, 261-262, 3 72, Spinoza, 136, 199 Trotsky, Leon, 133, 399
Riesman, David, 279, 412, 426, 440 389,403,407-408,419,429-430,440 Stahl, Friedrich Julius, 124, 181 Tucholsky, Kurt, 360, 364, 425

452 453
MARTIN JAY ·A IMAGINAÇÃO DIAU:T!CA

Tugan-Baranovski, M. J., 56
Wertheimer, Max, 185

Universidade de Frankfurt, 42-43, 45, 67,


Wiese, Leopold von, 48, 65, 352

134,264,316,357,386,393,428
Wilson, Edmund, 229

Valéry, Paul, 233-234, 362


Wittfogel, Karl August, 33, 41, 50, 52-53,

Veblen, Thorstein, 237-238, 380, 429


55,57-58,65-66,68,71,79, 186, 197,

Vico, Giambattista, 63, 92, 127, 322, 334,


203,223,225-226,231,351-352,357,

380
366,374,376-377,394-395,399,402,

Vierkandt, Alfred, J 79
423,436,438

Vogt, Karl, 96
Wolfers, Arnold, 197

Von Stein, Lorenz, 124


Wyneken, Gustav, 258-259

Wagne~Richard,187,246,252-253,372, Zeitschrift für Sozialforschung, 30, 54-55,

380,395,406,428-429
59, 65-67, 69, 71-72, 77, 80, 86, 96,

Webb, Sidney, 69, 376


102, 106, 110, 113, 122, 124, 126, 138,

Weber, Alfred, 127


139-140, 142-144, 146-147, 149, 152,

Weber,lvfax,85,97, 127, 170-172,305,


157, 163-165, 167, 172, 181,184, 186­
324-325,361,417,419,434,437,443
189, 191-192, 194, 197,198,200,202­
Webern, Anton von, 240
206,219,221-222,227,231,239,241,

Weil, Anne, 183


243,246-247,249,252-253,265-266,

Weil, Felix )., 33, 41-42, 44-47, 52, 58, 62­ 269,270,273,282,318,320,322,333,

63, 70-71, 75,175,186,205,227,287,


341,347,353-354,369,378,391,395,

352,364,373-374,376-377,395,399,
397,399,401,404,416,425,427,429,

423,.425, 436
430-431,440,442-443

Weil, Hermann, 25, 41, 44, 63, 70, 75,


Zetkin, Klara, 13, 41

185,222,373
Zetkin, Konstantin, 41

Weil, Kate, 42
Zhdanov, Andrei, 229, 230

Weill, Kurt, 241


Zilsel, Edgar, 165, 223

Wellmer, Albrecht, 16, 33, 366, 384, 419,


Zimmerman, Charles, 287

441
Zola, Emile, 189, 230

l ª edição, outubro de 2008

Impressão e acabamento: Sol Gráfica, RJ

Papel da capa: Cartão supremo 250g/m~

Papel do miolo: Pólen bold 70ghn 2

Tipografia: Minion 11/14

454

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