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História do futebol em Belo Horizonte

Primórdios

Diz a história oficial que o futebol desembarcou no Brasil na mala do estudante


paulista Charles Willian Miller. Filho de um escocês e de uma brasileira de ascendência
inglesa, foi enviado para a Europa aos 10 anos para estudar. Ele retornaria em 1894,
aos 19 anos, para trabalhar na Companhia Ferroviária de São Paulo (São Paulo Railway)
e, na bagagem, trazia duas bolas, alguns uniformes, um par de chuteiras e um livro de
regras do futebol, esporte que aprendera na escola, em Londres.

Carente de registros históricos mais precisos e estudos acadêmicos mais abrangentes,


o que resta é a versão oficial. Mas há relatos de partidas de futebol praticadas no Brasil
em 1875, quando Charles Miller ainda era um bebê. O jogo foi em Curitiba e disputado
por operários britânicos e brasileiros responsáveis pela construção de uma estrada de
ferro que cortava o Paraná. Três anos depois, no Rio de Janeiro, uma partida entre
marinheiros ingleses teria contado com a presença ilustre da Princesa Isabel na plateia.

Ainda que prevaleça a versão oficial, o fato é que, por décadas, o futebol não passava
de uma atividade esportiva como outra qualquer, disputando espaço com o remo, o
críquete e o turfe. Foi assim em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde ele se desenvolveu
mais rapidamente, e não seria diferente em Minas Gerais.

Ainda que existam registros de uma incipiente movimentação em torno do futebol em


Uberaba no início do Século XX, quando padres maristas adeptos de atividades
esportivas assumiram a direção do Ginásio Diocesano local, foi mesmo na recém-
fundada capital que o esporte teve seu início oficial em Minas Gerais. Mais
precisamente em 1904, quando a cidade ainda não havia comemorado sequer uma
década de sua fundação, em dezembro de 1897.

Se o futebol brasileiro em geral tem em Charles Miller seu pai fundador, em Belo
Horizonte esse desbravador atende por Victor Serpa. Carioca, veio da Suíça para Minas
Gerais com o objetivo de estudar na antiga Faculdade Livre de Direito, criada em Ouro
Preto em 1892 e, posteriormente, transferida para a nova capital. Sua chega ao Estado
ocorreu em 1903 e, assim como Miller em São Paulo e Oscar Cox no Rio de Janeiro,
teria sido o responsável por difundir a prática futebolística entre os jovens mineiros.

No dia 10 de julho de 1904, junto de outros jovens belo-horizontinos, Serpa fundou o


Sport Club Foot-Ball1, que ficou para a história como o primeiro time oficial de Minas
Gerais. Seu campo de jogo foi criado na Praça Rui Barbosa, a hoje conhecida Praça da
Estação, que naquele mesmo ano viu iniciar sua urbanização 2. A sede ficava em uma
loja na Rua dos Caetés e os treinos eram feitos no Parque Municipal, à época com uma
área três vezes maior que a de hoje.

1
Vide foto em anexo
2
Há registros que indicam a Rua Sapucaí, na Floresta, como local exato do campo do Sport
A despeito de fundador, Victor não assumiu nenhum posto na diretoria – era
“somente” o capitão da equipe no campo. A presidência coube a Oscar Americano,
que tinha como vice Augusto Pereira Serpa. O tesoureiro era José Gonçalves 3 e o
secretário, Avelino de Souza Reis. Seu estatuto, aprovado no dia 23 de agosto, teve
que ser visado pelo Chefe de Polícia da cidade, Cristiano Brasil.

O primeiro jogo disputado na cidade envolveu dois times formados por atletas do
próprio Sport: um comandado pelo capitão, Victor Serpa, e outro pelo presidente,
Oscar Americano. No dia 2 de outubro de 1904, o time de Serpa venceu por 2x1, com
um gol seu e outro de José Mariano de Sales. Para o time do presidente, marcou
Joaquim Brasil. Não há registros de quem anotou o primeiro gol.

Ainda em 1904, teve início o primeiro torneio envolvendo equipes mineiras. Assim
como na partida inicial, o Sport dividiu-se em dois times, o Vespúcio e o Colombo.
Fundado também naquele ano e com Victor Serpa como presidente, o Athletico-BH
(não o atual Galo) fez a mesma coisa e inscreveu duas equipes, Atlético e Mineiro.
Completou a liga a equipe do Plínio Foot-Ball Club. O período chuvoso do verão belo-
horizontino e o retorno dos jogadores, a maioria estudantes, para suas casas devido às
férias, interrompeu a competição, mas o título foi dado ao Vespúcio, fazendo do Sport
o primeiro campeão mineiro da história.

Em 1905, uma tragédia se abateu sobre o noviço futebol mineiro: a precoce morte de
Victor Serpa devido a uma gripe. A ausência do “pai fundador” diminuiu o interesse
pelo novo esporte na cidade: ele era a mola propulsora, não apenas entre os
jogadores, mas na imprensa local. Pelos dois anos seguintes, pouco se falou – ou jogou
– de futebol na cidade. Até que um grupo de rapazes se uniu para criar um novo time –
e entrarem para a história.

1908 – Surge o Galo

A morte de Serpa impactou o futebol de Belo Horizonte, mas ele conseguiu


sobreviver. Foram criadas outras equipes, como o Estrada Futebol Clube, Brasil Futebol
Clube, Juvenil Futebol Clube e o Viserpa – uma homenagem a Victor. Mas poucos jogos
eram disputados, e sempre amistosos.

A história começou a ser reescrita a partir da iniciativa de quatro jovens,


inconformados com o ocaso do futebol e a preferência dos belo-horizontinos pelo
modorrento footing no Parque Municipal. Margival Mendes Leal, Mário Toledo, Raul
Fracarolli e Augusto Soares convocaram amigos e conhecidos para uma reunião no
próprio parque. E, no dia 25 de março, o grupo, formado por estudantes e funcionários
públicos decidiu criar uma nova equipe na cidade: o Atlético Mineiro Futebol Clube.

As dificuldades, entretanto, eram muitas. A mais importante: o novo clube tinha


jogadores, mas não tinha bola. Que teve de ser importada da França, enviada por um
amigo de um dos fundadores, Ninico Antunes. Era uma de número 3 e custou, à época,
onze mil réis.
3
Vide foto em anexo
Apesar de fundado em 1908, o primeiro jogo do Atlético só foi ocorrer em 1909. No dia
21 de março, a equipe comandada pelo técnico Chico Neto entrou em campo para
encarar o pioneiro Sport, e não fez feio: venceu por 3x0, gols de Aníbal Machado (que
depois ficaria famoso como escritor), Zeca Alves e Mário Neves. O jogo foi disputado
no campo do Sport, localizado no centro de Belo Horizonte, em uma região onde hoje
ficam a Rodoviária, a Avenida Paraná e a Rua Guarani.

Ainda em 1909, Atlético e Sport se enfrentaram mais duas vezes, com outras duas
vitórias do novo time, 2x0 e 4x0. Foi o suficiente para que o Sport encerrasse suas
atividades, com boa parte de seu escrete migrando para o algoz, o que fortaleceu
ainda mais o Atlético. Que permaneceu invicto na cidade até 1912, quando perderam
por 5x1 do Granbery, de Juiz de Fora.

Em 1913, os sócios do time resolveram mudar seu nome para aquele que é conhecido
até hoje: Clube Atlético Mineiro. No ano seguinte, o Atlético venceu seu primeiro
campeonato. Organizada pela recém-fundada Liga de Futebol de Belo Horizonte, a
Taça Bueno Brandão reuniu o Yale e o América. O Atlético venceu quatro jogos e
empatou um, ficando com o título.

Garotos decidem que querem jogar futebol e fundam o América

Enquanto o Atlético dava seus primeiros passos para construir uma história que
perdura até hoje, um grupo de garotos, apaixonados por futebol, se uniram para criar
um novo clube. A maioria era de alunos do antigo colégio “Gymnasium Anglo-Mineiro”
e, por serem mais novos (muitos entre 11 e 13 anos), não conseguiam vaga nos outros
times da cidade.

No dia 30 de abril de 1912, no porão da casa do então Secretário de Estado da


Agricultura, José Gonçalves – primeiro tesoureiro do Sport –, os jovens decidiram pela
fundação do América Football Club. O anfitrião e organizador do encontro foi Adhemar
de Meira, sobrinho de José Gonçalves. Entre os nomes sugeridos na época, estavam
Guarani, Timbiras, Riachuelo e Arlequim. Ficou América.

O primeiro presidente da nova equipe foi Affonso Silviano Brandão – filho do ex-
governador de Minas, Francisco Silviano Brandão e, anos mais tarde, um dos
fundadores da Faculdade de Ciências Médicas de Belo Horizonte. Entre os fundadores,
destaque para Otacílio Negrão de Lima, duas vezes prefeito da capital – e o primeiro a
ser eleito pelo voto direto, em 1947.

O América não tem registro do primeiro jogo oficial da equipe. Por ser formada por
garotos – o primeiro estatuto do clube proibia a entrada de jogadores com mais de 14
anos –, as partidas eram disputadas apenas contra equipes juvenis dos demais times
da cidade. Muitos dos jogos tinham como palco um campo da Prefeitura de Belo
Horizonte localizado entre as ruas Espírito Santo e Timbiras e a Avenida Álvares Cabral.
Em 1913, o América comprou o que sobrara do extinto clube Minas Gerais, formado
por adultos. Além dos jogadores, veio junto o campo do Prado Mineiro, primeiro
grande palco do futebol de Belo Horizonte, que fica onde hoje é o Mercado Central.
Também mudou o presidente, assumindo o então prefeito da capital, Olyntho
Meyrelles. Com a mudança, o América passou a disputar jogos contra equipes oficiais,
de adultos. E o primeiro foi logo contra o Atlético, empatado em 1x1. No ano seguinte,
a primeira vitória naquele que ficou conhecido como o “Clássico das Multidões”: 1x0,
gol de Júlio Cunha.

Primeiro Campeonato Mineiro e o Deca do América

Em 1915, a Liga Mineira de Desportos Terrestres 4, fundada no dia 5 de março daquele


ano, organizou uma competição que acabou entrando para a história como a primeira
edição do Campeonato Mineiro – mesmo reunindo, na ocasião, somente equipes da
capital. A entidade, embrião da Federação Mineira de Futebol, teve como primeira
sede um velho prédio na Rua dos Guajajaras, 671.

O Campeonato da Cidade de Belo Horizonte contou com a participação de cinco


equipes: Atlético, América, Sport Club Christovam Colombo 5, Club de Sports
Hygienicos6 e Yale Athletic Club7. Todos os jogos foram disputados no campo do Prado
Mineiro, então de propriedade do América.

O primeiro jogo foi disputado no dia 4 de julho, com vitória do América por 2x1 contra
o Hygienicos – Montes marcou os dois gols dos vencedores e Chagas descontou. Ao
todo, foram disputadas 20 partidas, com os times se enfrentando duas vezes cada um.
Após quatro meses – os jogos eram sempre aos domingos, com apenas uma partida
por semana –, o Atlético ficou com o título.

A campanha alvinegra foi quase perfeita: oito jogos, seis vitórias, um empate e apenas
uma derrota – para o Christovam Colombo por 1x0, gol de Bretas. Foram 20 gols
marcados e apenas 5 sofridos. O artilheiro da equipe foi Meirelles, com 7 gols, seguido
por Mattos, também atleticano, com 5. O vice-campeonato ficou com o Yale.

Se o título empolgou os torcedores atleticanos, a euforia durou pouco. E ficou


confinada por muito tempo. Nos dez anos seguintes, o América dominou o futebol
mineiro. De 1916 a 1925, foi um título atrás do outro, culminando em uma palavra que
se tornou famosa na história do esporte em Minas Gerais: decacampeão 8.

Mas a façanha do América não se resumiu somente a vencer, mas no modo como as
vitórias vieram. Sete dos dez títulos foram de forma invicta. Durante a hegemonia,

4
Inicialmente batizada de Liga Mineira de Esportes Atléticos. Vide foto do distintivo da entidade no
anexo.
5
Clube fundado em 1915 no bairro Funcionários e que existiu até 1924.
6
Fundado em 1913. Em 1916, fundiu-se com o Atlético.
7
Fundado em 1910, no Barro Preto. Foi extinto em 1930.
8
A façanha do América nunca foi superada no futebol brasileiro, somente igualada. Entre 1932 e 1941, o
ABC de Natal repetiu o feito do Coelho e se tornou decacampeão potiguar.
foram somente quatro derrotas em dez anos, além de 23 vitórias consecutivas,
registradas entre 1916 e 1919.

Curiosamente, o primeiro jogo da campanha de 1916 terminou com derrota americana


para o Yale por 1x0, gol de Domingos. Daí em diante, só triunfos, inclusive uma
impiedosa goleada contra o Sete de Setembro por 8x1. O artilheiro do time no
primeiro título do deca foi Britto, com oito gols (cinco deles em confrontos contra o
Atlético).

Talvez a campanha mais emblemática do deca do América tenha sido a do segundo


título, em 1917. Foram oito jogos, com oito vitórias, 19 gols marcados e nenhum
sofrido. Novamente o artilheiro foi Britto, desta vez com 6 gols. Os jogos seguiam
sendo disputados no campo do Prado Mineiro, que só foi completamente gramado e
transformado em estádio em 1922, com capacidade para receber cinco mil torcedores.

Nos anos do Deca, o América não soube o que era perder para seu maior rival, o
Atlético. Em dez jogos, foram 9 vitórias e um empate, com direito a uma goleada por
5x0 em 1919. A única derrota em clássicos foi por W.O., quando o América não entrou
em campo contra o Palestra Itália. Em outros nove jogos contra o time da colônia
italiana, foram oito vitórias e um empate. O maior domínio já visto na história do
futebol mineiro.

Nasce um grande time na cidade

Enquanto o América coleciona a primeira metade de seus dez títulos consecutivos, um


grupo de esportistas oriundos da grande colônia italiana de Belo Horizonte decidiu se
juntar e criar um clube de futebol onde pudessem atuar. Adotando o verde, o
vermelho e o branco da bandeira italiana, fundaram a Societá Sportiva Palestra Italia
no dia 2 de janeiro de 1921. Que, duas décadas depois, se tornaria o Cruzeiro, um dos
três gigantes de Minas.

A identificação com a Itália levou ao time jogadores que atuavam em outras equipes,
mas eram descendentes da Bota, a maioria deles vindo do Yale – que acabou fechando
as portas em 1925. A primeira partida foi contra um combinado entre dois times de
Nova Lima, o Villa Nova e o Palmeiras, com vitória do Palestra por 2x0, gols de Nani. O
jogo foi disputado no dia 3 de abril, no Prado Mineiro. Duas semanas depois, foi
disputada a primeira partida daquele que se tornaria não apenas o maior clássico do
futebol mineiro, mas um dos maiores do futebol mundial: Palestra e Atlético entraram
em campo no dia 17 de abril, com vitória palestrina por 3x0 – dois gols de Attilio e um
de Nani.

O Palestra disputou seu primeiro Campeonato Mineiro já em 1921, terminando na


sexta colocação (três vitórias, dois empates e sete derrotas). Em 1922 e 1924, foi vice
para o América. O primeiro título só veio em 1928, em uma campanha sensacional. O
time disputou 16 jogos, com 13 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota. Marcou
incríveis 91 gols, 43 deles do atacante João Fantoni, o Ninão 9, artilheiro do torneio com
9
Vide foto em anexo
43 gols e, até hoje, o jogador que mais gols marcou em uma única edição do Mineiro.
No título de 28, o Palestra registrou também a maior goleada da história da
competição: 14x010 contra o Alves Nogueira11, quando Ninão marcou incríveis 10
tentos.

Ninão também entrou para a história do Palestra por marcar o primeiro gol da equipe
em um jogo oficial no Estádio do Barro Preto, erguido pelo clube em um terreno
adquirido no final de 1922. A inauguração ocorreu no dia 27 de setembro de 1923, em
um empate entre o time mineiro e o Flamengo (RJ) por 3x3. Em 1945, o estádio passou
por uma reforma e teve sua capacidade de público ampliada para 15 mil torcedores,
tornando-se o maior estádio de Minas Gerais até 1950, quando o Independência foi
inaugurado. Foi demolido em 1986 para a construção do Clube Campestre do Barro
Preto.

Seleção Mineira entra em campo

Enquanto os clubes de Belo Horizonte se estruturavam – seguindo os passos das


equipes do Rio de Janeiro e São Paulo –, tinha início uma tentativa de nacionalizar o
futebol brasileiro. Começavam a surgir as primeiras competições interestaduais, mas
não entre clubes, mas entre seleções estaduais.

Um dos torneios que ajudaram a culminar no Campeonato Brasileiro de Seleções


Estaduais foi a Taça Delfin Moreira, disputada entre um combinado do Distrito Federal
e de Minas Gerais. A peleja durou apenas três anos, entre 1918 e 1920, com ampla
vantagem do selecionado do Rio de Janeiro: foram cinco vitórias e um empate, com
direito a duas goleadas históricas: 13x0 em 1918 e 15x0 na última partida disputada,
em 192012.

Em 1922, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD) organizou o primeiro


Campeonato Brasileiro de Seleções. Disputaram o torneio combinados de São Paulo,
Rio de Janeiro, Distrito Federal 13, Rio Grande do Sul, Pará, Pernambuco, Bahia, Paraná
e Minas Gerais. A fórmula de disputa colocou o time da Seleção Mineira contra os
paulistas, que venceram por acachapantes 13x014 no dia 23 de julho, na Chácara da
Floresta. Neco, considerado o primeiro ídolo do Corinthians, marcou seis gols, seguido
por Rodrigo e pelo então maior craque do futebol brasileiro, Arthur Friedenreich, com
três gols cada.

A bem da verdade, Minas Gerais sempre foi coadjuvante no torneio de seleções


estaduais. A supremacia nacional estava mesmo com São Paulo e Distrito Federal, que
10
A vitória do Palestra ocorreu no dia 17 de junho. Pouco mais de um mês depois, no dia 29 de julho, o
América repetiu o placar, vencendo o Palmeiras de Nova Lima também por 14x0. O atacante Satyro
Taboada marcou 9 gols.
11
O Alves Nogueira Foot-Ball Club foi fundado em 1917, na cidade de Sabará, e extinto na década de
1930.
12
A Seleção Mineira jogou desfalcada dos atletas do América, que dominava o futebol de Belo Horizonte
naqueles anos. Em represália a uma recusa da Liga Metropolitana em ceder uma data para um amistoso
contra o xará América-RJ, o decacampeão não liberou seu plantel.
13
À época, o que é hoje o município do Rio de Janeiro
14
Vide foto em anexo.
se alternavam como campeões. A melhor colocação da Seleção Mineira foi o terceiro
lugar, obtido pela primeira vez em 1933 e repisado em 1938, 1950, 1952 e 1956. O
único título veio justamente na última vez que o campeonato foi disputado, em 1962 15
– o que será contado adiante.

O futebol mineiro começa a se profissionalizar

Em 1931, houve um verdadeiro racha entre as equipes de futebol de Belo Horizonte,


inconformadas com as decisões da Liga Mineira de Desportos Terrestres, acusada de
beneficiar o Atlético. No ano seguinte, por influência do América, é fundada a
Associação Mineira de Esportes (AMEG), que reuniu, além do Coelho, Palestra Itália,
Villa Nova, Sete de Setembro, Grêmio Ludopédio16 e Vespasiano17.

O ano de 1932 ficou marcado pela disputa de dois campeonatos, um organizado pela
AMEG, que teve como campeão o Villa Nova, e o tradicional, que seguiu sob a batuta
da LMDT. O vencedor foi o Atlético que, sem ter rivais de peso 18, ganhou o torneio de
forma invicta – 12 vitórias e 2 empates.

No campeonato da AMEG, manteve-se a fórmula de disputa habitual na época, com os


times se enfrentando em turno e returno. O Villa Nova, fundado em Nova Lima em
1908 por trabalhadores ingleses da Saint John Del Rey Mining Company Limited19,
conquistou o torneio de forma invicta: 10 jogos, 8 vitórias e 2 empates. Destaque para
as vitórias contra o Palestra (3x0) e América (3x1 e 4x0). Bengala, do Palestra, foi o
artilheiro do certame, com 12 gols.

A cisão entre os clubes e o torneio dividido aproximou o futebol mineiro do


profissionalismo, tema que já vinha causando polêmica em São Paulo e no Distrito
Federal. Grande entusiasta da profissionalização, o presidente do Atlético, Thomas
Naves, comandou as discussões sobre o assunto, escudado pelo presidente do
Palestra, Miguel Perrela, do Villa Nova, Castor Cifuentes, e da LMDT, Heitor de Souza.

É importante que se diga que o profissionalismo já engatinhava em Belo Horizonte,


embora de forma velada – o chamado profissionalismo marrom. Era comum entre os
clubes gratificar seus atletas, seja com dinheiro, seja no custeio de moradia,
alimentação, vestuário, etc. Somente o América, entre os grandes, permanecia
resoluto na defesa do amadorismo.

15
Houve uma tentativa tumultuada de retomar a competição em 1987, que acabou fracassando. Minas
Gerais foi representada pela equipe do Villa Nova, de Nova Lima.
16
Grêmio Ludopédio Calafate, fundado em 1920 e extinto em 1933, após se fundir com o Sport, do
Prado.
17
Vespasiano Esporte Clube, fundado em 1916.
18
Disputaram a competição o Alves Nogueira, Sport Club Calafate (fundado em 1922 e extinto em 1933),
Spor Club Carlos Prates (fundado em 1925 e extinto na década de 1950), Fluminense-BH (fundado em
1922 no bairro da Lagoinha, e extinto em 1948), Guarany (também da Lagoinha, foi fundado em 1919 e
extinto no final da década de 1930), Retiro (equipe de Nova Lima fundada em 1916 e extinta em 1937) e
Santa Cruz (equipe do bairro de Santa Tereza, fundada em 1925 e extinta em 1936).
19
Atualmente é a AngloGold Ashanti Brasil.
Era preciso mudar, sob pena de ver o futebol mineiro enfraquecer ainda mais. O
Palestra já sentia na pele os efeitos do profissionalismo em outros centros: em 1931,
dois de seus principais atletas, Ninão e Nininho, embarcaram para a Itália para
defender a Lazio. Em 1932, outro craque do time, Niginho, também deixou Belo
Horizonte para defender o clube italiano. O Fluminense tentou tirar pelo menos cinco
jogadores do Atlético: Brant, Said, Nariz, Mário de Castro e Mário Gomes.

Pressionado pelos dirigentes dos outros times e pela imprensa, o América, enfim, se
rendeu. Já em junho de 1933, o Jornal dos Sports, do Rio de Janeiro, noticiou que
“também Minas implantou o profissionalismo” após “vencida finalmente a oposição do
América”.20

No dia 18 de junho de 1933, foram disputados os primeiros jogos do Campeonato


Mineiro unificado, já sob a égide do profissionalismo. No Estádio Presidente Antônio
Carlos, inaugurado pelo Atlético em 1929 e demolido em 1994 para a construção do
Shopping Diamond Mall, o Galo venceu o América por 3x2 (com dois gols de Orlando
Vaz e um de Jaime, e Alencar marcou os dois do Coelho). Mas quem acabou com o
título ao final seria o Villa Nova, que também venceu em 1934 e 1935, conquistando o
tetra.

Em 1937, outra equipe de fora da capital venceu o Campeonato Mineiro. Fundado em


31 de maio de 1930, o Siderúrgica, de Sabará, deixou os rivais para trás e ficou com o
título. A equipe, que já havia sido vice em 1936, terminou empatada em pontos com o
Villa Nova (14, com seis vitórias, 2 empates e 2 derrotas para cada um). Foram
disputados três jogos entre os times para definir o campeão. No terceiro e último, o
Siderúrgica venceu por 1x0, gol de Arlindo, artilheiro da competição com 9 tentos. A
equipe só voltaria a vencer o Campeonato Mineiro em 1964, sob o comando do
lendário técnico Yustrich, até se licenciar da Federação Mineira em 1967.

As mascotes dos gigantes de BH

Em algumas passagens acima, já foram mencionados Galo e Coelho. Faltou a Raposa.


Nada mais comum, já que esses simpáticos bichinhos se tornaram sinônimo dos
grandes times de Belo Horizonte: Atlético é Galo, América é Coelho e Cruzeiro é
Raposa.

Sim, Cruzeiro. Em 1942, o então presidente Getúlio Vargas, que já havia levado o Brasil
a declarar guerra à Itália, Alemanha e Japão, proibiu o uso de qualquer termo ou
denominação que remetesse aos países do Eixo, inimigos da nação brasileira na
Segunda Guerra Mundial. O que obrigou os dirigentes do Palestra Italia a alterar o
nome e as cores do clube, primeiro para Ypiranga, que durou apenas alguns meses, e
finalmente para Cruzeiro Esporte Clube, assim batizado no dia 7 de outubro.

Mas porque e como surgiram as mascotes? A ideia partiu do jornal Folha de Minas,
que contratou o professor, jornalista, desenhista e pintor Fernando Pierucetti, o

20
Vide foto em anexo.
Mangabeira, para desenvolver desenhos que simbolizassem os principais times da
cidade21, em uma tentativa de destacar a cordialidade entre os rivais.

De acordo com entrevistas da época, a inspiração para simbolizar o Atlético com o


Galo veio das cores da equipe, preto e branca, e da valentia do animal nas rinhas que
eram populares na capital nos anos 1940. A valentia de um galo carijó, várias vezes
vencedor em seus duelos, deu ao time o epíteto “forte e vingador”.

A raposa cruzeirense remete à astúcia. De acordo com Mangabeira, o Cruzeiro era


sempre mais ágil que os rivais na hora de fechar negócios, principalmente quando o
assunto era a contratação de jovens talentos. Quem ficou célebre na época pelas
artimanhas e agilidade foi o ex-presidente cruzeirense, Mário Grosso.

Para retratar o América, seu time do coração, Mangabeira também optou por
prestigiar a esperteza, para ele bem representada no Coelho. “O coelho é um bicho
que dorme de olho aberto, assim como o time do América dentro de campo e alguns
dirigentes que o clube tinha e que mudaram a história da equipe”.

Mangabeira também criou mascotes para outros times mineiros, sempre usando
bichos como referência. De sua prancheta saíram o Zebu (Uberaba), Tartaruga
(Siderúrgica), Leão (Villa Nova), Jacaré (Democrata de Sete Lagoas), Periquito
(Uberlândia), Elefante (Nacional de Uberaba), Araponga (Valério) e Urubu
(Renascença), além da Águia, criada para simbolizar a Federação Mineira de Futebol. O
cartunista também foi o primeiro a desenhar o canarinho como símbolo da seleção
brasileira e retratado em vários jornais do país na Copa de 1950.

A Copa de 1950 e a construção do Independência

Belo Horizonte era uma cidade provinciana até a década de 1950, principalmente se
comparada aos grandes centros do Brasil. No início de 1940, a cidade tinha pouco mais
de 200 mil habitantes22, contra 1,7 milhão do Rio de Janeiro e 1,3 milhão em São Paulo.
A capital mineira ficava atrás, ainda, de Recife, Salvador e Porto Alegre.

Essa discrepância influenciava diretamente no futebol. São Paulo e Rio, então capital
federal, dominavam o cenário do esporte no país. A partir do profissionalismo, era
difícil para os times de Belo Horizonte segurar por aqui jovens jogadores,
principalmente os que surgiam nas pequenas equipes do interior. Um exemplo disso
foi Perácio, várias vezes campeão com a camisa do Villa Nova, mas que se transferiu
para o Botafogo em 1940 e se consagrou com a camisa do Flamengo, onde atuou de
1941 a 1949.

Quem também perdeu uma jovem promessa para o futebol carioca foi o Atlético. Em
1943, o lateral-esquerdo João Ferreira, mais conhecido como Bigode, deixou Belo
Horizonte para vestir a camisa do Fluminense, onde foi campeão estadual em 1946 e

21
Vide foto em anexo.
22
Dados do Censo de 1940
da Copa Rio em 1952. O atleta conquistou a Copa América em 1949 e foi titular da
Copa de 1950 com a Seleção Brasileira.

Da equipe brasileira que disputou a Copa do Mundo de 1938, na França, quatro


jogadores haviam começado suas carreiras em times de Minas Gerais, mas estavam
em clubes do Rio de Janeiro quando foram convocados: o lateral-direito Zezé Procópio
(ex-Villa Nova e Atlético, então no Botafogo), o zagueiro Nariz (ex-Atlético, então no
Botafogo), Niginho (ex-Palestra, então no Vasco) e Perácio. Da equipe atleticana que
venceu o Torneio dos Campeões em 1937, pelo menos quatro jogadores deixaram o
clube após a conquista: o meio-campista Lola 23, vendido ao São Paulo em 1940;
Alfredo Bernardino e o zagueiro Florindo, que foram jogar no Vasco; e o já citado Zezé
Procópio.

Os primeiros anos do profissionalismo ainda geraram desorganização para todo canto


em Belo Horizonte. Com dezenas de equipes amadoras que se recusavam a pagar seus
atletas, os principais times sofriam a concorrência de torneios menores, árbitros
despreparados e dirigentes que ainda não entendiam bem os rumos do novo futebol.
Somente a partir de 1939, com a unificação de várias entidades, é que a Federação
Mineira de Futebol pode atuar com mais força – e apoio do poder público – no
desenvolvimento do futebol da capital.

Mas ainda havia um problema: os estádios dos três grandes da cidade eram
acanhados. O Estádio Otacílio Negrão de Lima24 (também conhecido como Estádio da
Alameda), do América, tinha capacidade para 12 mil torcedores. O Antônio Carlos, do
Atlético, só comportava 5 mil pessoas. O do Barro Preto, do Cruzeiro, foi reformado
em 1945, mas sua capacidade não passava de 15 mil pessoas. Somados, os três
principais estádios mineiros recebiam menos gente que o Pacaembu, em São Paulo,
que teve 50 mil pessoas em sua inauguração, em 1940, ou São Januário, estádio do
Vasco, que chegou a ter público superior a 40 mil pessoas.

A história começou a mudar em 1947, quando o prefeito de Belo Horizonte, Otacílio


Negrão de Lima – um dos fundadores do América e que batizada o Estádio da Alameda
– escolheu um terreno onde hoje se localiza o bairro Horto para erguer um novo
estádio na capital. Tudo para cumprir a determinação da Confederação Brasileira de
Desportos (CBD), que queria um palco mineiro como uma das sedes da Copa do
Mundo de 1950, que seria realizada no Brasil.

A despeito do atraso – a obra só ficou pronta às vésperas da competição –, o Estádio


Independência25 ficou pronto a tempo e sediou três partidas na Copa do Mundo:

23
Luiz Bazzoni. Não confundir com o atacante Raimundo José Correa, também conhecido como Lola,
campeão brasileiro com o Galo em 1971 e autor do milésimo gol no Mineirão.
24
Vendido da década de 1970 para o Grupo Pão de Açúcar. Localizado na Região Hospitalar, abrigou por
muitos anos o Hipermercado Extra, até ser incorporado pelo Grupo Assaí em 2022.
25
Até a construção do Mineirão, o Independência ficou sob a responsabilidade do Sete de Setembro,
único time da capital que não possuía um campo para mandar seus jogos e que ficava no mesmo bairro
do novo campo, o Horto. O próprio apelido remete ao nome do clube. Mas o nome oficial do estádio é
Raimundo Sampaio, ex-presidente do Sete e, curiosamente, torcedor do América, que assumiu o estádio
em 1988.
Iugoslávia 3x0 Suíça (que marcou a inauguração do novo templo do futebol), Estados
Unidos 1x0 Inglaterra26 (considerada a maior zebra da história das Copas) 27 e Uruguai
8x0 Bolívia. Os mineiros puderam ver de perto aquela que seria a seleção campeã do
mundo. Quem fechou o placar foi o atacante Alcides Ghiggia, carrasco do Brasil na
decisão do título, no Maracanã.

Se para a Copa do Mundo o Independência não recebeu grandes públicos – o recorde


foram os 10.151 pagantes no jogo entre EUA e Inglaterra –, após a competição, com o
término das obras, Belo Horizonte tinha, enfim, um estádio de grande porte (para os
padrões da época). Não rivalizava com o Pacaembu, tampouco com o novíssimo
Maracanã (construído para receber 200 mil pessoas), mas ao menos era um palco mais
adequado28 para os jogos de Atlético, América e Cruzeiro.

Campeão do Gelo: o início das conquistas mineiras

A chegada do Independência veio em boa hora. O ano de 1950 marcou o início das
grandes conquistas dos clubes mineiros, e não foi sequer no Brasil, mas na Europa. Ok,
não se trata de uma competição específica, mas uma série de vitórias do Atlético em
uma excursão por Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e França. Como um dos
principais adversários do Galo foi o frio, a equipe voltou a Belo Horizonte intitulada
“campeã do gelo”.

Ao todo, foram dez jogos, entre 1º de novembro e 7 de dezembro, com vitórias sobre
o Munich 1860 (4x3), Hamburgo SV (4x0), Schalke 04 (3x1), Saarbrücken (2x0),
Anderlech (2x1) e Stade Français29 (2x1), duas derrotas – para o Werder Bremen (3x1)
e Rapid Viena (3x0) e dois empates, contra o Eintracht Braunschweig (3x3) e um
combinado de jogadores de times de Luxemburgo (3x3).

Alguns jogadores da delegação figuram até hoje entre os principais ídolos da história
atleticana, como os goleiros Kafunga e Mão de Onça, os meias Barbatana, Lauro e Zé
do Monte e os atacantes Lucas, Nívio e Vaguinho – artilheiros do Galo na excursão,
cada um com 6 gols.

Ser “campeão do Gelo”, contudo, não foi a primeira glória de um time mineiro fora de
Belo Horizonte. O próprio Atlético já havia conseguido uma conquista notável 13 anos
antes, quando venceu o “Torneio dos Campeões”, competição organizada pela recém-
criada Federação Brasileira de Futebol, entidade fundada para reunir os clubes
brasileiros que já haviam se rendido ao profissionalismo.
26
Vide foto em anexo.
27
Após ignorar os torneios de 1930, 1934 e 1938, a Inglaterra, considerada a criadora do futebol, se
dignou a disputar uma Copa do Mundo e desembarcou no Brasil como favorita. A derrota para os
americanos, que não tinham nenhuma tradição no esporte, chocou o mundo. Como a comunicação
entre continentes era bastante precária, os jornais britânicos se recusaram a acreditar no resultado:
imaginaram que o placar havia sido 10x1 para a Inglaterra e que havia ocorrido algum erro na
transmissão do placar final.
28
A projeção da época apontava que o Independência comportava cerca de 30 mil torcedores. Seu
maior público, contudo, foi superior a isso: 32.721 pagantes na vitória da Seleção Mineira contra um
combinado carioca em 1973.
29
Atual Paris Saint German
O Torneio dos Campeões reuniu, além do Galo, o Fluminense (RJ), Rio Branco (ES),
Portuguesa de Desportos (SP), Aliança (RJ) e uma equipe da Liga de Sports da Marinha.
Os jogos foram disputados em Vitória (ES), São Paulo, Belo Horizonte, Campos dos
Goytacazes (RJ) e no Rio de Janeiro, no histórico Estádio das Laranjeiras.

A campanha do Atlético foi espetacular. A única derrota foi na estreia, para o


Fluminense, por 6x0. O time carioca, campeão estadual em 1936, 1937 e 1938, tinha
em seu escrete craques como Batatais, Machado, Romeu, Tim e Hércules, além de
Preguinho, um dos maiores artilheiros do Tricolor e o primeiro brasileiro a marcar gols
em uma Copa do Mundo, em 1930.

O revés não incomodou os atleticanos. O time empatou o jogo seguinte, contra o Rio
Branco, mas depois disso deslanchou a vencer. Goleou a Portuguesa, então campeã
paulista, por 5x0, e o próprio Fluminense, por 4x1. Na última partida, disputada em
São Paulo, nova vitória contra a Lusa, por 3x2 – dois gols de Guará, o Perigo Loiro, e um
de Paulista, artilheiro da competição com 8 gols.

As duas glórias foram imortalizadas no Hino do Atlético, composto em 1969 por


Vicente Mota. “Nós somos campeões do Gelo, o nosso time é imortal. Nós somos
campeões dos campeões, somos o orgulho do esporte nacional”, diz a canção. Apenas
um jogador participou das duas façanhas: o goleiro Kafunga.

Vem aí o Mineirão

A finalização do Independência não sossegou os mineiros. Era preciso um estádio


maior, à altura do futebol praticado em Belo Horizonte, que pudesse receber com
conforto um maior número de torcedores. A imprensa cobrava, em letras garrafais:
“Só um estádio emancipará o futebol mineiro”. Começava a nascer o sonho do
Mineirão.

Ainda como governador, Juscelino Kubitschek criou, em 1954, uma comissão especial
para avaliar a construção de um novo estádio, mas as conversas não evoluíram. As
primeiras movimentações levavam o novo estádio para uma área ainda inóspita de
Belo Horizonte, na saída para Nova Lima, onde hoje está localizado o BH Shopping. A
ideia foi rechaçada pelo então presidente do Conselho Regional de Desportos e ex-
presidente da Federação Mineira de Futebol, Antônio Abrahão Caram 30, ávido por
levar o novo estádio para um dos bairros que haviam nascido na cidade há pouco
tempo e que despontava pela beleza e arrojo em sua arquitetura: a Pampulha.

Articulado com o jornalista Benedicto Adami, Caram conseguiu o apoio político


necessário para o surgimento do novo estádio. A proposta chegou às portas da
Assembleia Legislativa de Minas Gerais por intermédio do deputado estadual Jorge
Carone Filho. No dia 13 de agosto de 1959, foi sancionada pelo governador José

30
Por sua participação fundamental na construção do estádio, a avenida que hoje leva ao Mineirão foi
batizada de Avenida Abrahão Caram. Morto em 1965, ele não viu a inauguração de seu sonho.
Francisco Bias Fortes a Lei Estadual 1947 31, que “dispõe sobre a construção de um
estádio em Belo Horizonte para a prática do futebol e atletismo, com capacidade para
cem mil espectadores”.

A legislação previa que 4% de cada bilhete vendido pela Loteria do Estado de Minas
Gerais seria destinado para a construção do novo estádio. Outros 6% destinados para
construir a nova sede do parlamento mineiro e apoiar outras entidades também
seriam revertidos para a obra do Mineirão.

A escolha de onde seria erguido o novo estádio recaiu, enfim, sobre a Pampulha. A
articulação foi feita entre Pedro Paulo Penido, reitor da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG), que doaria o terreno, o Ministério da Educação – à época comandado
pelo mineiro Clóvis Salgado – e a AEMG (Administração do Estádio Minas Gerais),
autarquia criada pela Lei 1947 para gerenciar as obras e a gestão do novo
empreendimento. O comodato entre a UFMG e a AEMG foi assinado no dia 25 de
fevereiro de 1960.

Além do dinheiro que entraria com a Loteria Esportiva, a obra contou com um
financiamento junto ao Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais S.A. na
ordem de 100 milhões de cruzeiros. O projeto inicial previa a construção de um estádio
para 100 mil pessoas, conforme estava na Lei 1947, assim dividido: 50 mil nas
arquibancadas, 30 mil na geral e 20 mil nas cadeiras. Coube a administração no
período das obras ao engenheiro Gil César Moreira de Abreu.

O valor amealhado, entretanto, se mostrou insuficiente. Os primeiros milhões mal


foram capazes de cuidar dos primeiros serviços de fundação. Foi preciso um novo
aporte de verbas do Governo de Minas, já sob o comando do novo governador,
Magalhães Pinto, para que as obras não fossem interrompidas.

Matéria publicada no jornal Diário da Tarde no dia 14 de julho de 1962 revela uma
apresentação feita por Gil César a representantes dos clubes mineiros e do governo. A
reunião sensibilizou Magalhães Pinto, que aprovou uma mudança nos repasses da
Loteria Mineira: ao invés dos 10%, cerca de 70% seriam repassados para a obra, o que
aumentaria o orçamento em 500% - pulando de 3 milhões para 15 milhões de
cruzeiros mensais. Isso garantiria a conclusão do estádio em dois anos. A essa altura, já
orçado em 500 milhões de cruzeiros.

Ainda de acordo com a imprensa da época, a conquista do Campeonato Brasileiro de


Seleções pelo time de Minas Gerais em 1962 empolgou Magalhães Pinto. Foi a
primeira conquista mineira no torneio desde sua criação, em 1922 – e seria a última, já
que aquela seria a derradeira edição do campeonato. Mal sabia o governador que o
time do Rio de Janeiro estava desfalcado de seus principais jogadores 32...
31
Vide íntegra em anexo.
32
Minas Gerais derrotou a Seleção da Guanabara por 1x0 na primeira partida (gol de Ari), disputada no
Independência, e por 2x1 (gols de Luís Carlos e Marco Antônio para os mineiros, com Dida descontando
para os cariocas) no segundo jogo, no Maracanã. Dentre outros desfalques, a Seleção Carioca não tinha
em campo atletas como Zózimo (Bangu), Nílton Santos, Didi, Garrincha, Amarildo e Zagallo (Botafogo),
todos titulares na conquista da Copa do Mundo de 1962. Ainda assim, era um grande time, com vários
Com as obras aceleradas, restava contar ao mundo que o novo estádio estava por
nascer. Para isso, foram convidados dois bicampeões mundiais, Zito e Pelé, para
conhecer as obras. O Governo de Minas também custeou a viagem de uma verdadeira
delegação de jornalistas do Rio de Janeiro para acompanhar os trabalhos, já perto de
serem concluídos, em agosto de 1963.

Em junho de 1964, o Mineirão ganha um novo aporte de verbas estatais. A essa altura,
o Brasil vivia os primeiros meses da Ditadura Militar, que chegaram ao poder com forte
apoio de Magalhães Pinto. No dia 6 de junho, o governador mineiro assinou um
expediente liberando mais 450 milhões de cruzeiros para a obra, fruto de mais um
financiamento junto aos bancos de Crédito Rural, Mineiro da Produção e Hipotecário e
Agrícola. Mas nem esse volume gigantesco de dinheiro seria capaz de fazer com que a
inauguração ocorresse em dezembro de 1964, como queria o governador.

Enfim, a inauguração

Para acelerar a finalização das obras, Gil César apelou: três mil operários trabalhavam
24 horas por dia, divididos em três turnos. Um dado positivo é que apenas um
trabalhador morreu nos cinco anos de construção. No início de setembro de 1965, o
Mineirão estava pronto para ser inaugurado. E não para 100 mil, mas para 130 mil
espectadores – pouco menos de 20% da população total de Belo Horizonte, calculada
em quase 700 mil pessoas33.

Os primeiros torcedores chegaram ao Mineirão por volta das 6h do dia 5 de setembro


de 1965 para assistir ao jogo de estreia do novo estádio. Os portões foram abertos às
10h. De acordo com o extinto jornal Diário de Minas, o primeiro torcedor a entrar foi
Antonio Gomes da Silva, morador da Cidade Industrial. Dezoito alunos da Escola de
Educação Física da UFMG e 22 funcionários da ADEMG (que viria a substituir a AEMG)
trabalhavam para auxiliar a entrada do povo. O ingresso de arquibancada custava mil
cruzeiros, mas era vendido por cambistas por 2 mil no Centro de BH e 1,5 mil nas
imediações do estádio.

Às 13h45, foi descerrada a placa de inauguração. Às 14h18, Magalhães Pinto inicia seu
discurso de entrega do estádio. Nas cadeiras e arquibancadas espalham-se 73.201
pessoas34. Às 14h20, o arcebispo Coadjutor de Belo Horizonte, D. Serafim Fernandes de
Araújo, procede a benção do “Estádio Minas Gerais”, citando o Salmo 138. Às 14h30,
alunas dos Colégios Frei Orlando, Sandoval de Azevedo e do Instituto de Educação
desfilam no campo. Juntas, entram no gramado as equipes da Seleção Mineira e do
River Plate (Argentina)35, acompanhadas do governador e do gestor do estádio, Gil
César. A Banda da Polícia Militar executa os Hinos Nacionais do Brasil e da Argentina,
assistida pelo governador, agora ladeado, também, pelo capitão da seleção brasileira,

campeões de 58 e 62, como Castilho, Jair Marinho e Altair, do Fluminense, e Moacir, Joel e Dida, do
Flamengo. Além do jovem Gerson, campeão do mundo em 1970.
33
Dados do Censo Demográfico de 1960.
34
Vide foto em anexo.
35
Vide foto em anexo
Bellini36, que deu uma volta olímpiada e acendeu a pira olímpica. Magalhães Pinto
volta ao campo e recebe do zagueiro Bueno, do time mineiro, um troféu ofertado pela
FMF. Às 15h, uma bola foi atirada de um helicóptero da Força Aérea Brasileira. Às
15h30, rolou pela primeira vez.

A Seleção Mineira entrou em campo com Fábio (Cruzeiro), Canindé (Uberaba), Grapete
(Atlético), Bueno (Atlético) e Décio Teixeira (Atlético); Buglê (Atlético), Dirceu Lopes
(Cruzeiro) e Tostão (Cruzeiro); Wilson Almeida (Cruzeiro), Silvestre (Siderúrgica) e Tião
(Siderúrgica). O técnico era Gérson Santos. A arbitragem ficou por conta do carioca
Antonio Viug, auxiliado pelos mineiros Luiz Pereira e Joaquim Gonçalves.

A saída foi dada pelo meia Tostão, do Cruzeiro, que tocou para seu companheiro de
equipe, Dirceu Lopes. Mas quem chega com perigo pela primeira vez é o River Plate.
Logo aos cinco minutos, o zagueiro Canindé intercepta com a mão um chute de Cubilla.
Pênalti! Sarnari bate pra fora, longe do gol. Aos 24 minutos, Wilson Almeida deixou o
campo, machucado, para a entrada de Geraldo. Aos 34 minutos, após uma confusão,
Tião e Sarnari são expulsos. O primeiro chute mineiro com perigo só saiu aos 39
minutos, com Dirceu Lopes, que bateu pra fora.

O empate em 0x0 deve ter desanimado Magalhães Pinto, que deixou o estádio no
intervalo. Um vacilo, já que logo aos dois minutos de segundo tempo, Bueno carregou
a bola pelo meio e tocou para Dirceu Lopes. O meia cruzeirense passou para Buglê,
que cortou o goleiro argentino Gatti e tocou para os fundos da rede. Primeiro gol da
história do Mineirão37!

No segundo tempo, Gerson Santos fez mais duas substituições, colocando o ídolo
americano Jair Bala no lugar de Silvestre, aos 18 minutos, e o atacante Noventa no
lugar de Geraldo, aos 37 minutos. As mudanças não surtiram efeito, mas a equipe
argentina também não conseguiu reagir: final de jogo com vitória da Seleção Mineira
por 1x0.

Outras estreias

Dois dias depois, 7 de setembro, novo jogo no novo estádio. A Seleção Brasileira, na
ocasião representada pela equipe do Palmeiras 38, venceu o Uruguai por 3x0, gols de
Rinaldo, Tupãzinho e Germano. A decisão de ver o time paulista jogar com a camisa
amarela de forma oficial partiu da CBD, então entidade máxima do futebol brasileiro. A
vitória valeu o título do Troféu da Independência, o primeiro a ser erguido no
Mineirão.

O primeiro clássico entre Atlético e Cruzeiro só foi disputado no novo estádio no dia 24
de outubro de 1965, com vitória do time celeste por 1x0, gol de Tostão aos 35 minutos
do primeiro tempo. O jogo, contudo, não chegou a terminar. Aos 34 do segundo
tempo, o juiz Juan de la Pásion Artez marcou pênalti de Décio Teixeira em Wilson

36
Vide foto em anexo.
37
Vide foto em anexo.
38
Vide foto em anexo.
Almeida. Os atleticanos alegaram que a falta havia ocorrido fora da área e partiram pra
cima do árbitro argentino, que encerrou a partida por falta de segurança.

No dia 12 de fevereiro de 1966, o Cruzeiro deu a primeira volta olímpica em uma


comemoração de título estadual no novo Mineirão. A equipe azul venceu o Uberlândia
por 6x0 (três gols de Dirceu Lopes, dois de Piazza e um de Marco Antônio) e
conquistou o Campeonato Mineiro de 1965 com uma rodada de antecipação. Quatro
dias depois, já campeão, o time voltou a campo e goleou novamente, desta vez o
Siderúrgica, por 8x3 (Natal e Tostão marcaram três vezes cada, com mais um gol de
Dirceu Lopes e outro de Marco Antônio). Ao final, a equipe somou 39 pontos (18
vitórias, 3 empates e somente uma derrota), três a mais que o América, vice-campeão.

Nem o Santos de Pelé encara

A inauguração do Mineirão deu mesmo uma nova cara para o futebol mineiro. A maior
prova disso veio pouco mais de um ano da primeira partida no Gigante da Pampulha,
quando o Cruzeiro superou o Santos de Pelé e conquistou a oitava edição da Taça
Brasil, o campeonato brasileiro da época. Foi o maior título de uma equipe mineira até
então.

Para chegar ao título, o Cruzeiro superou o Americano (RJ) com duas vitórias (4x0 e
6x1), o Grêmio (empate por 0x0 no Sul e vitória por 2x1 em casa) e o Fluminense (duas
vitórias, 1x0 e 3x1). Na decisão, o todo-poderoso Santos, que havia conquistado as
últimas cinco edições do torneio. E que tinha, além de Pelé, craques como Gilmar dos
Santos Neves, Carlos Alberto Torres, Mauro, Zito, Lima e Pepe, todos campeões
mundiais.

O Mineirão foi o grande palco do primeiro jogo da final, realizado no dia 30 de


novembro de 1966. Que terminou como um massacre do Cruzeiro: vitória por 6x2. Zé
Carlos, contra, abriu o placar para a equipe mineira. Natal, Dirceu Lopes (duas vezes) e
Tostão levam o Cruzeiro para o intervalo vencendo por 5x0. No segundo tempo,
Toninho Guerreiro marcou duas vezes para o Santos, mas não assustou. Ainda deu
tempo de Dirceu Lopes fazer seu hat-trick e sacramentar a goleada.

A confirmação do título veio na semana seguinte. No dia 7 de dezembro, o Cruzeiro foi


a São Paulo e bateu novamente a equipe santista, desta vez por 3x2, de virada. Pelé e
Toninho marcaram no primeiro tempo. No segundo, o Cruzeiro descontou com Tostão,
empatou com Dirceu Lopes e virou com Natal, aos 44 minutos.

O título da Taça Brasil marcou uma geração do Cruzeiro que, em termos regionais,
conquistou a maior hegemonia da história do clube. Foram cinco campeonatos
mineiros seguidos, de 1965 a 1969. Além de Tostão e Dirceu Lopes, os grandes craques
daquele esquadrão, figuram até hoje no coração dos torcedores nomes como Raul,
Procópio, Neco, Zé Carlos, Evaldo, Fontana e Natal.

Galo pelo Brasil – e Brasil contra o Galo


Depois do amistoso contra o Uruguai em 1965, quando o Palmeiras vestiu a camisa
amarela, a Seleção Brasileira voltou ao Mineirão mais quatro vezes, sempre para
amistosos. Em 1966, venceu o País de Gales (1x0) e a Polônia (4x1). Em 1968, bateu a
Argentina (3x2) e o México (2x1). Mas foi justamente em 1968 que uma partida do
Brasil entrou para a história do estádio.

Do Brasil ou do Galo? Ou dos dois? Sim, dos dois. No dia 19 de dezembro, a Seleção
Brasileira foi representada pela equipe atleticana 39 em um amistoso internacional. O
jogo foi contra a Iugoslávia, vice-campeã europeia naquele mesmo ano. O time dos
Balcãs saiu na frente e abriu 2x0 com apenas nove minutos de jogo (gols de Musemic e
Bjekovic), mas a “SeleGalo” começou a virada ainda no primeiro tempo. Aos 32
minutos, Vaguinho diminuiu. Aos 46, Amauri empatou. E aos nove minutos do segundo
tempo, Ronaldo Drummond (que oito anos depois seria campeão da Libertadores pelo
Cruzeiro) fez 3x2 e garantiu a vitória. Ah, um detalhe: dois dias antes, aquela mesma
Iugoslávia havia jogado contra a Seleção Brasileira “tradicional” – com Tostão, Pelé,
Gerson e Rivellino em campo – e empatou em 3x3.

No ano seguinte, o Brasil perdeu seu primeiro jogo no Mineirão. Mas boa parte da
torcida presente não se importou. Afinal, a derrota foi justamente para o Atlético. A
seleção brasileira, então dirigida por João Saldanha, acabara de carimbar seu
passaporte para a Copa do México vencendo seus seis jogos nas Eliminatórias Sul-
Americanas. O jogo serviu para comemorar o 147º aniversário da Independência e
festejar a classificação para o Mundial. Mas quem comemorou foi a torcida atleticana.

O Brasil entrou em campo com seus principais jogadores. Do time que encantaria o
mundo no México, as diferenças eram sutis: Piazza era volante (na Copa jogou de
zagueiro, com Clodoaldo assumindo o posto de titular no meio), a zaga tinha Djalma
Dias e Joel (que perderam a posição para Brito e Piazza) e Rildo era o lateral-esquerdo
(Everaldo jogou na Copa). E no ataque, Edu estava na ponta-esquerda, mas no Mundial
Rivellino foi improvisado na posição por Zagallo. O resto do time todos conhecem:
Félix, Carlos Alberto, Gérson, Pelé, Jairzinho e Tostão.

O Atlético saiu na frente com Amauri no finalzinho do primeiro tempo. Logo na volta
do intervalo, Pelé empatou de cabeça. Mas Dadá Maravilha – que acabaria indo para a
Copa – colocou o Galo de novo na frente em um “sem-pulo” de fora da área aos 20 do
segundo tempo. O lateral Carlos Alberto, capitão no México, foi expulso. De pouco
adiantaram as mudanças de Saldanha, que colocou Zé Maria, Everaldo, Rivellino e
Paulo César Caju em campo: a vitória foi mesmo do Galo – que não jogou de preto e
branco, mas com a camisa da FMF 40. Após a derrota, a CBD proibiu que a seleção
encarasse equipes brasileiras em jogos amistosos 41.

39
Vide foto em anexo.
40
Vide foto em anexo.
41
O jogo de 1969 não foi o primeiro entre Brasil e Atlético, mas o quinto. O primeiro amistoso entre a
equipe e a seleção foi disputado no dia 25 de março de 1956, no Independência, para comemorar o
aniversário de 48 anos do Galo. O Brasil, que tinha em campo craques como Djalma Santos, De Sordi,
Nílton Santos, Zózimo, Didi e Canhoteiro, venceu por 1x0, gol de Álvaro.
Antes de embarcar para o México, a Seleção Brasileira fez uma última parada no
Mineirão. No dia 19 de abril de 1970, a equipe, já comandada por Zagallo, disputou
seu último amistoso no país visando a busca pelo tricampeonato mundial e venceu a
Seleção Mineira por 3x1 – só que com dois gols de um atleticano, Dario, que fez um de
seus poucos jogos como titular do Brasil. Gérson também marcou para o Brasil e Natal
descontou para os mineiros.

A Seleção Mineira foi comandada por Telê Santana, técnico do Atlético, que não pode
colocar em campo o que de melhor havia no Estado. Afinal, além de Dario, a equipe de
Zagallo tinha os cruzeirenses Tostão, Fontana e Piazza, que foram campeões no
México, além de Zé Carlos e Dirceu Lopes, que acabaram cortados. A equipe foi para
campo com Raul, Humberto Monteiro, Grapete, Darci Menezes e Neco; Wanderley,
Amauri e Lola (depois Natal); Vaguinho, Evaldo (depois Lacy) e Tião.

O Brasil é do Galo

Os torcedores do Atlético deviam ter um pé atrás com o Mineirão. Após a inauguração


do Gigante da Pampulha, o time ficou anos sem conquistar um título – o último havia
sido o Campeonato Mineiro de 1963. Pra piorar, viu seu maior rival conquistar a Taça
Brasil e um inédito pentacampeonato. Mas uma hora a história haveria de mudar.

Mudou em 1970 com a chegada de um mineiro de Itabirito que, como jogador, fizera
história com a camisa do Fluminense: Telê Santana. Aposentado como atleta desde
1962, iniciou sua carreira como técnico nos juvenis do Tricolor carioca, assumindo a
equipe profissional em 1969 e formando a base do time que viria a ser campeão
nacional no ano seguinte.

A primeira missão de Telê era impedir o hexa do Cruzeiro no Campeonato Mineiro. O


objetivo foi cumprido com extremo sucesso. Em 22 jogos, a equipe venceu 20 e perdeu
apenas um, para o Sport de Juiz de Fora. O único empate veio na última partida da
competição, no dia 20 de setembro de 1970, contra o Cruzeiro, quando o título já
estava sacramentado. O tabu com o Mineirão estava quebrado.

Mas faltava a glória maior, que veio no ano seguinte: a conquista do Campeonato
Brasileiro. Por muitos anos, o Galo foi considerado o primeiro campeão da competição,
já que nos anos anteriores ela era disputada com outros nomes – Taça Brasil, Torneio
Roberto Gomes Pedrosa e Taça de Prata. Somente em 2010 a CBF unificou as
competições, transformando a edição de 1959 da Taça Brasil na primeira do
Brasileirão.

Vinte equipes disputaram o campeonato, divididas em duas chaves, cada uma com dez
times, que jogavam todos contra todos em turno único. Os seis primeiros colocados de
cada chave avançaram para a segunda fase. O Atlético terminou em segundo lugar no
Grupo B, com os mesmos 23 pontos do Grêmio, mas uma vitória a menos – primeiro
critério de desempate. O time mineiro venceu 7 jogos, empatou nove e perdeu 3.
Na segunda fase, os doze classificados foram divididos em três grupos, avançando para
a fase final somente o primeiro colocado de cada grupo. O Galo ficou em primeiro no
Grupo B, com 7 pontos (3 vitórias, 1 empate e 2 derrotas), mesma campanha do
Internacional. A equipe de Telê avançou graças ao saldo de gols – 4, contra 0 dos
gaúchos.

Na fase final, o Atlético tinha a companhia de São Paulo e Botafogo. As equipes se


enfrentariam uma vez e quem pontuasse mais ficaria com o título. No primeiro jogo,
no dia 12 de dezembro, o Galo bateu o Tricolor Paulista por 1x0, gol do lateral-
esquerdo Oldair. Três dias depois, os paulistas golearam o Botafogo por 4x1. Faltava o
confronto entre mineiros e cariocas.

A partida foi realizada no dia 19 de dezembro, no Maracanã. Do lado carioca, craques


como Djalma Dias, Roberto Miranda e Jairzinho, o Furacão da Copa de 1970. Mas isso
não intimidou o Atlético. O Botafogo precisava ganhar por seis gols de diferença, mas a
primeira chance foi atleticana, com Dario, aos 27 minutos do primeiro tempo. Jairzinho
quase fez de bicicleta, Zequinha chutou na trave, mas o placar ficou inalterado no final
do primeiro tempo.

O gol do título veio aos 16 minutos do segundo tempo, quando o meia Humberto
Ramos passou por três botafoguenses e cruzou de dentro da área. A bola passou pela
zaga e chegou até Dario no segundo pau. O centroavante, campeão do mundo em
1970, subiu mais que todo mundo e cabeceou certeiro no canto esquerdo de Wendel
para fazer seu 15º gol no campeonato – foi o artilheiro – e garantir a taça para o Galo.

A equipe de Telê não se mostrou superior apenas no talento – foi o melhor ataque da
competição, com 39 gols –, mas pelo fair play. Em toda a competição, o time recebeu
apenas dois cartões amarelos e nenhum vermelho. Além de Dario – já imortalizado
pela torcida como Dadá Maravilha – e Telê, ficaram para a história nomes como
Grapete, Oldair, Vantuir, Humberto Ramos e Lola.

Copa América no Mineirão

Foi preciso passar 10 anos da inauguração para que a Seleção Brasileira, enfim, fizesse
uma partida oficial no Mineirão. A equipe canarinho já havia visitado o estádio nove
vezes, mas sempre em amistosos. Até que chegou a Copa América de 1975, a primeira
realizada sem um país específico como sede. Os jogos da primeira fase e das semifinais
foram disputados em sistema de ida e volta, um em cada país.

Após o fracasso na Copa da Alemanha, Zagallo deixou o comando da seleção, que


passou a ser comandada por Oswaldo Brandão. Para a Copa América, o técnico decidiu
usar uma base mineira na equipe, já que todos os jogos do Brasil em casa seriam no
Mineirão. A convocação era feita jogo a jogo e, dos 31 jogadores utilizados nos
confrontos, 24 atuavam em Minas42. Dentre os poucos reforços, destaque para Luís

42
No Cruzeiro: Raul, Vanderlei, Morais, Nelinho, Roberto Batata, Darci, Zé Carlos, Eduardo Amorim,
Piazza, Joãozinho, Palhinha e Dirceu Lopes. No Atlético: Careca, Wanderlei Paiva, Angelo, Romeu,
Modesto, Danival, Vantuir, Getúlio, Campos, Reinaldo e Marcelo. E na Caldense, o zagueiro Neto.
Pereira (Atlético de Madri), Amaral (Guarani), Waldir Peres (São Paulo), Geraldo
Assobiador (Flamengo) e Roberto Dinamite (Vasco).

O primeiro jogo no Mineirão foi contra a Argentina, no dia 6 de agosto. O Brasil saiu
atrás (gol de Asad, ao 10), mas virou com dois gols de Nelinho: o primeiro de falta, aos
31 do primeiro tempo, e o segundo de pênalti, aos 10 da segunda etapa. Os 71.718
pagantes puderam ver em campo a base da equipe portenha que, três anos depois,
conquistaria seu primeiro mundial, com Gallego, Ardiles, Luque e Kempes.

Uma semana depois, diante de um público modesto – pouco mais de 30 mil torcedores
–, o Brasil voltou a campo e massacrou a Venezuela por 6x0. Destaque para Roberto
Batata, que fez dois gols (o primeiro e o último). Nelinho marcou seu terceiro gol no
torneio (novamente de falta) e Danival, Campos e Palhinha fecharam a goleada. Com
vitórias fora de casa por 4x0 (contra a própria Venezuela) e 1x0 (contra a Argentina), a
seleção terminou em primeiro lugar no seu grupo.

O adversário na semifinal seria o Peru, com o primeiro jogo do mata-mata disputado


novamente no Mineirão. E parece que os mineiros sabiam o que estava por vir, porque
apenas 22.412 torcedores compraram ingresso para a partida. Irreconhecível, o Brasil
perdeu por 3x1. Os peruanos abriram o placar com Casaretto, aos 19 do primeiro
tempo. Roberto Batata empatou aos 9 do segundo, mas o craque Cubillas, de falta,
recolou o visitante na frente aos 37 e Casaretto fechou o placar aos 43.

No jogo de volta, o Brasil se recuperou. Venceu por 2x0, gols de Meléndez (contra) e
do centroavante atleticano Campos. No placar agregado, 3x3. Como desempatar?
Prorrogação? Pênaltis? Não, a sorte. O árbitro Arthur Ithurralde, da Argentina, chamou
os capitães no centro do gramado e jogou a moedinha pra cima: deu Peru. Que na final
venceu a Colômbia em uma melhor de três jogos e conquistou seu segundo título na
história da competição – o primeiro havia sido em 1939.

A América é azul

Após a vitória do Atlético no Mineiro de 70 e no Brasileirão de 1971, os torcedores


poderiam pensar que uma nova hegemonia alvinegra iria nascer, mas a história foi
outra. Começando no Mineiro de 1971, vencido pelo América de forma invicta,
comandado pelo craque Jair Bala. Mas, nos anos seguintes, só deu Cruzeiro.

Um Cruzeiro que teve de aprender a jogar sem Tostão. O craque que comandou o time
na década de 60 e foi um dos destaques do tricampeonato do Brasil no México deixou
o clube em abril de 1972 rumo ao Vasco, na maior transação envolvendo clubes
brasileiros até então.

O time ainda contava com uma espinha dorsal remanescente do título da Taça Brasil
de 1966, com Raul, Piazza, Zé Carlos, Pedro Paulo e o craque Dirceu Lopes. Mas viu
surgir uma nova safra de talentos que garantiram não apenas o título de 1972, mas o
tetracampeonato até 1976: Palhinha, Roberto Batata, Vanderlei e Eduardo Amorim,
além de Nelinho e Joãozinho (a partir de 1973).
Se em Minas as coisas corriam bem, no cenário nacional a juventude da equipe acabou
pesando nos dois vice-campeonatos brasileiros seguidos: em 1974, após perder para o
Vasco, e em 1975, com derrota para o Internacional. Mas que serviriam de
ensinamento para aquela que, por décadas, seria a maior glória da equipe: o título da
Taça Libertadores de 1976.

Criada em 1960 pela Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol), a


competição reunia os dois melhores times de cada ano dos principais países da
América do Sul. O campeão era automaticamente conduzido para a disputa do
Mundial Interclubes contra o vencedor da Liga dos Campeões da UEFA. O que, no
Brasil, só o Santos havia conseguido vencer, em 1962 e 1963 – com Pelé em campo.

Coube ao Cruzeiro mudar a escrita. Garantido no torneio de 1976 após o vice brasileiro
no ano anterior, a equipe celeste disputou a Libertadores sem seu maior craque,
Dirceu Lopes, contundido seriamente desde o ano anterior. Para compensar, repatriou
o campeão do mundo Jairzinho, de volta ao Brasil após uma rápida passagem pelo
Olympique de Marseille.

Logo na estreia, no dia 7 de março, a equipe se vingou da derrota para o Inter no


Brasileirão de 1975 e venceu por 5x4, com o gol decisivo sendo marcado somente aos
43 minutos do segundo tempo por Nelinho, de pênalti. Três semanas depois, nova
vitória mineira contra os gaúchos, desta vez em Porto Alegre, por 2x0. A primeira fase
foi encerrada no Mineirão, com goleada contra o Olimpia, do Paraguai, por 4x1.

O regulamento previa confrontos contra LDU (Paraguai) e Alianza Lima (Peru) na


segunda fase. Logo após a vitória contra os peruanos fora de casa por 4x0, uma
tragédia. Chegando em Belo Horizonte, o ponta Roberto Batata pegou seu carro rumo
a Três Corações, no Sul do Estado, para rever sua família. Mas não chegou ao destino.
O jogador morreu em um acidente após bater em um caminhão na BR-381, próximo à
cidade de Oliveira.

Mesmo abalado, o Cruzeiro voltou a campo oito dias depois e conseguiu sua maior
goleada na campanha: 7x1 contra o Alianza Lima (quatro gols de Jairzinho e três de
Joãozinho). Uma nova goleada contra a LDU por 4x1 e estava garantida a presença da
equipe na final, contra o River Plate, base da seleção argentina que, dois anos depois,
seria campeã do mundo.

No dia 21 de julho de 1976, a equipe convidada para a partida de estreia do Mineirão


voltou ao Gigante da Pampulha após 11 anos. E tomou uma surra: 4x1, gols de
Nelinho, Palhinha (2) e Valdo – Oscar Más descontou. Uma semana depois, em um
jogo marcado pela violência argentina, o Cruzeiro conheceu sua primeira e única
derrota na competição: 2x1, o que forçaria um jogo extra, em campo neutro.

A partida decisiva foi disputada apenas dois dias depois, em 30 de julho, no Estádio
Nacional de Santiago, no Chile. O Cruzeiro saiu na frente com Nelinho batendo pênalti
aos 24 do primeiro tempo. Logo no início da segunda etapa, ampliou com Eduardo.
Mas permitiu o empate do River, primeiro com Más, aos 12, e depois com Urquiza, aos
17. A vitória só viria no finzinho da peleja. Aos 41 minutos, Palhinha sofreu falta. Na
meta do River, Landaburu esperava um chute de Nelinho. Mas o ponta Joãozinho
surpreendeu a todos no estádio, se antecipou e chutou no ângulo: a América era azul
pela primeira vez.

A campanha do Cruzeiro foi irretocável: 13 jogos, com 11 vitórias, um empate e uma


derrota. A equipe marcou 46 gols e sofreu 17. Quatro jogadores marcaram presença
em todas as partidas: Raul, Nelinho, Moraes e Eduardo Amorim. Palhinha, com 13 gols,
foi o artilheiro do time e do torneio, seguido por Jairzinho, com 11.

Em 1976, a disputa do Campeonato Mundial era feita em dois jogos. O Cruzeiro foi até
a Alemanha Ocidental encarar o Bayern de Munique, base da seleção alemã campeã
do mundo em 1974 e tricampeão europeu. No dia 23 de novembro, mesmo reforçado
por Dirceu Lopes, que entrou no segundo tempo, o time celeste sucumbiu diante da
neve43 e da equipe de Sepp Maier, Beckembauer, Rummenigge e Gerd Müller e perdeu
por 2x0, com o adversário marcando somente no finalzinho da partida, primeiro com
Kapellmann, aos 35 do segundo tempo, e logo depois com Müller, aos 37.

No jogo de volta, no dia 21 de dezembro, mesmo diante de 113.715 torcedores, o


Cruzeiro não conseguiu transpor a defesa bávara. Mesmo com uma formação mais
ofensiva – Dirceu Lopes começou como titular no lugar de Eduardo Amorim –, a equipe
não marcou. No lance de maior perigo, Jairzinho cabeceou no travessão. O jogo
terminou em 0x0, dando o título ao Bayern.

Vice-campeão invicto – e um time para a história

Após a derrota para o Bayern, a equipe cruzeirense foi desmontada. Jairzinho foi ser
campeão venezuelano pela Portuguesa de Acarigua. Palhinha se transferiu para o
Corinthians. Dirceu Lopes, trocado por Erivelto, foi parar no Fluminense. Ronaldo
Drummond e Piazza se encaminhavam para a aposentadoria. Mas, ainda assim, o time
conseguiu ser campeão mineiro em 1977, comandado pelo meia/atacante Eli Carlos,
recém-contratado junto ao Guarani de Campinas. Foi o último título de uma geração
histórica. Mas Belo Horizonte veria nascer, no ano seguinte, outro esquadrão imortal –
só que alvinegro.

De 1978 a 1983, quem cantou mais alto em Minas foi o Galo. Os seis títulos seguidos
de campeão mineiro representam a segunda maior hegemonia da história no Estado,
atrás apenas do deca do América. Mas tudo começou mesmo no final de 1975, quando
João Lacerda Filho, o Barbatana, chegou para comandar a equipe44.

43
O frio em Munique era tão intenso que o Bayern teve que ceder agasalhos apropriados para os
cruzeirenses. O goleiro Maier, titular da Alemanha nas Copas de 1970 e 1974, presenteou Raul com
luvas adequadas para jogar na neve.
44
Barbatana havia sido jogador do Atlético na década de 1950. Meio-campista, atuou em oito dos dez
jogos do time na Europa que entraram para a história como o “campeonato do gelo”. Depois de
passagens por América e Bangu (RJ), retornou ao Galo em 1958. Ao todo, disputou 37 jogos pelo
alvinegro e marcou cinco gols.
No Mineiro de 1976, o Atlético foi colecionando uma vitória atrás da outra na primeira
fase – que envolvia uma série de pequenos torneios e um regulamento esdrúxulo. A
competição começou em março e se estendeu até julho, mas teve que ser paralisada
por falta de datas, já que o Brasileirão iria começar. As finais só foram disputadas no
ano seguinte. E deu Galo, com duas vitórias contra o maior rival, ambas por 2x0. Nas
duas partidas, os gols saíram dos pés de Reinaldo e Marcelo 45, uma dupla que entraria
para a história do clube. O título veio de forma invicta: 31 jogos, com 26 vitórias e 5
empates.

Reinaldo, de Ponte Nova, tinha 20 anos. Marcelo, de Pedro Leopoldo, 21. A eles se
juntavam outros jovens talentos que brotaram nas categorias de base do Atlético,
como Toninho Cerezo (21), Danival (24), Paulo Isidoro (23), Getúlio (23) e Marinho
(20). Que, junto com atletas mais experientes, como o zagueiro Vantuir e o goleiro
uruguaio Ortiz, formariam a espinha-dorsal da equipe por muitos anos.

Cinco meses após conquistar o Campeonato Mineiro, era hora de brigar pelo bi do
Brasil. A competição nacional, inchada, com 62 clubes participantes, começou em
outubro e só foi terminar em março do ano seguinte. Na equipe, uma mudança
significativa: no gol já não estava mais o folclórico Ortiz, mas outro jovem vindo da
base, João Leite.

A campanha do Atlético foi praticamente perfeita. Até a decisão, foram 20 jogos, com
17 vitórias e apenas 3 empates. 55 gols a favor e apenas 17 contra. Reinaldo marcou
28 – por vinte anos foi o maior artilheiro da competição, e até hoje é o maior em
média de gols por partida em uma única edição. Ao longo do caminho, duas vitórias
contra o Cruzeiro (1x0 e 2x1) e uma contra o América (3x1). Até chegar à decisão, em
jogo único, contra o São Paulo, marcada para o dia 5 de março.

Por uma manobra da CBD, o Galo entrou em campo sem Reinaldo – suspenso devido a
uma expulsão contra o Fast Club, de Manaus, partida realizada um mês antes da
decisão. O atacante fez quatro jogos após o cartão vermelho, mas o julgamento só saiu
às vésperas da final. E Reinaldo fez falta. Mesmo empurrado pelos 102.974 torcedores
que lotaram o Mineirão, o Atlético não conseguiu superar a defesa são-paulina. Nos
pênaltis, João Leite fez sua parte, defendendo as cobranças de Getúlio e Chicão, mas
Cerezo, Joãozinho Paulista e Márcio bateram pra fora, sepultando o sonho do título.

Se o Brasileiro não veio, a partir dali, foram seis anos seguidos de vitórias em Minas.
Entre 1978 e 1983, o Estado não conheceu outro campeão que não o Galo. Somando
as seis edições, foram 198 jogos, com 132 vitórias, 38 empates e 28 derrotas – um
aproveitamento de 76,26%. O time marcou 366 gols e tomou 111. O grande artilheiro
no período, claro, foi Reinaldo (mesmo ficando fora de vários jogos por seguidas
contusões), com 47 gols, seguido por Éder Aleixo, com 35.

Éder faz parte da segunda leva de jogadores que entraram na equipe ao longo da saga
do hexa e ficaram na história do clube. Revelado pelo América, passou pelo Grêmio e

45
Que, anos mais tarde, voltaria a fazer história no futebol de Minas, mas como técnico, atendendo por
Marcelo Oliveira.
chegou ao Galo em 1980. Além dele, vieram Luizinho (revelado pelo Villa Nova),
Palhinha (que havia sido campeão da Libertadores pelo Cruzeiro e estava no
Corinthians), Chicão (algoz da equipe na final de 77) e Osmar (ex-Botafogo). A base do
time que foi novamente vice, desta vez contra o Flamengo, em 1980.

A equipe carioca tinha duas similaridades com o Atlético: uma grande torcida e uma
equipe formada, em sua maioria, por jogadores vindos da base. Mas que, ao contrário
do Galo, ainda não tinha conquistado nenhum título relevante. Os times chegaram à
decisão com o mesmo número de pontos conquistados, 32, mas por ter tido um
retrospecto melhor na semifinal, o Flamengo jogaria por dois resultados iguais.

No primeiro jogo, dia 28 de maio, diante de mais de 90 mil torcedores, o Atlético


venceu por 1x0 (gol de Reinaldo, artilheiro do time no campeonato, com 11) e foi para
a decisão podendo empatar para ser campeão. E foi por pouco. Logo aos 7 minutos,
Nunes abriu o placar para o Flamengo, mas Reinaldo empatou no minuto seguinte.
Zico colocou o rubro-negro na frente aos 44, mas o Rei do Galo empatou de novo, aos
21 do segundo tempo. A arbitragem, polêmica, colocou mais fogo no jogo, após o juiz
expulsar o próprio Reinaldo por fazer cera. A saída do craque desestabilizou o Atlético,
que viu Nunes marcar aos 37. O Atlético tentou reagir, mas Chicão e Palhinha também
foram expulsos. Final de jogo, 3x2, e o primeiro título nacional do Flamengo.

Foi uma decisão de craques. Juntas, as equipes poderiam formar, facilmente, uma
Seleção Brasileira. Dos jogadores que estiveram em campo no Mineirão e no
Maracanã, cinco foram para a Copa de 1982: Zico e Júnior, pelo Flamengo, e Luizinho,
Éder e Cerezo, pelo Galo. Leandro, lateral do Flamengo, também estava no Mundial,
mas não participou na decisão. E Reinaldo só não foi titular do time por estar
machucado.

Em 1980, o Atlético se vingou da derrota no Brasileiro nos adversários do Campeonato


Mineiro. Dos seis títulos seguidos, o daquele ano foi o que o Galo registrou sua melhor
campanha: 18 vitórias, 1 empate e apenas uma derrota (para o Alfenense) – incríveis
92,5% de aproveitamento –, com 55 gols a favor e míseros 8 contra. Aliás, foi no
Campeonato Mineiro de 80 que o Mineirão viu a maior goleada de sua história – só
que não foi do Galo. No dia 9 de outubro, o Cruzeiro encarou o Flamengo de Varginha
e enfiou 11x046 – cinco gols de Roberto César e quatro de Mauro, artilheiro da
competição. E só não foi maior porque o goleiro rubro-negro, Pascoal, defendeu um
pênalti batido pelo próprio Mauro.

A volta dos títulos

Os anos 80 não foram felizes para o futebol de Belo Horizonte. Pela primeira vez na
história, uma equipe mineira não chegava sequer à final das principais competições
nacionais e sul-americanas. Os melhores resultados no período foram as terceiras
colocações de Atlético, em 1983 e 1986, e do Cruzeiro, em 1989.

46
Vide foto em anexo.
A equipe celeste voltou a comemorar vitórias somente em 1991, com a conquista da
Supercopa dos Campeões da Libertadores, torneio criado três anos antes 47. O feito
voltaria a se repetir no ano seguinte. Mas foi a partir de 1992 que as equipes mineiras
puderam, de fato, festejar novamente grandes conquistas.

Primeiro foi o Atlético. Como na época somente dois times de cada país disputavam a
Taça Libertadores, a Confederação Sul-Americana decidiu criar um segundo torneio
para reunir outros destaques nacionais, aos moldes do que era a Copa da Uefa – hoje
rebatizada de Europa League. Atualmente, a Copa Conmebol equivale à Copa Sul-
Americana. E o Galo, terceiro colocado no Brasileirão de 1991, levou a primeira edição
do torneio, disputado no ano seguinte.

O Galo estreou no torneio no dia 9 de agosto perdendo para o Fluminense por 2x1, em
partida disputada em Juiz de Fora. No jogo de volta, no Mineirão, goleada atleticana
por 5x1. Nas quartas-de-final, o rival foi o Atlético Júnior (Colômbia). Em Barranquilla,
empate em 2x2. Na volta, nova goleada, desta vez por 3x0. Na semifinal, o Galo
começou atrás e perdeu o primeiro jogo para o El Nacional (Equador) por 1x0, mas se
garantiu na decisão ao vencer no Mineirão por 2x1.

Ao contrário do que havia ocorrido nos jogos anteriores, o Atlético iniciou a fase
decisiva diante de sua torcida contra o Olímpia (Paraguai). Os 60 mil torcedores
presentes no Mineirão na noite de 16 de setembro viram o meia Negrini marcar duas
vezes, uma em cada tempo, e dar uma boa vantagem para o time mineiro no jogo de
volta. A equipe paraguaia levou a partida para o acanhado estádio Manuel Ferreira,
que se tornou um verdadeiro alçapão. O Galo conseguiu segurar o ímpeto do rival
durante praticamente toda a partida, mas Caballero marcou aos 44 do segundo tempo.
A derrota por 1x0, contudo, garantia o título para o Atlético, a primeira conquista
internacional oficial de sua história.

No elenco do Galo, o grande destaque foi o atacante Aílton, artilheiro do time e do


torneio com 6 gols. Moacir, Negrini e o experiente ponta Sérgio Araújo fizeram dois
cada um. Outro destaque era o veterano goleiro João Leite, remanescente do
esquadrão dos anos 1980. O técnico era Procópio Cardoso, que havia sido campeão
mineiro com o Atlético como jogador (1962 e 1963) e como técnico (1979 e 1980).

Em 1993 foi a vez do Cruzeiro, na Copa do Brasil. A competição foi criada em 1989 pela
CBF nos mesmos moldes da Copa do Rei da Espanha e da Taça da Inglaterra e reunia
campeões e vices dos estaduais, além de dar uma vaga direta na Libertadores para o
vencedor. Na edição de 1993, participaram 32 clubes de 24 Estados do país. O sistema
era – e segue até hoje – o “mata-mata”.

Na primeira fase, o Cruzeiro bateu a Desportiva (ES). Na primeira partida, empate em


1x1. No jogo de volta, goleada por 5x0. Um dos gols foi do ponta Éder Aleixo 48, ídolo
47
E extinto em 1997.
48
O “Bomba” integra uma seleta lista de jogadores que vestiram as camisas dos três maiores de Minas,
América, Atlético e Cruzeiro. Além dele, estão Patric, Alex Mineiro, Fred, Guilherme, Evanílson, Fábio
Júnior, Alessandro, Juninho, Valdir, Marco Antônio Boiadeiro, Geraldo Fonseca, Toninho Cerezo,
Palhinha, Spencer, Hélio e Mussula.
atleticano que chegara ao Cruzeiro no início do ano. Nas oitavas, começou perdendo
para o Náutico, por 1x0, mas se recuperou em casa, venceu por 2x0 e avançou para as
quartas-de-final. O confronto seguinte seria contra o São Paulo. No Morumbi, vitória
celeste por 2x1, que empatou o jogo de volta por 2x2 e se garantiu nas semifinais. O
derradeiro duelo antes da final foi contra o Vasco. No Mineirão, vitória por 3x1. No
jogo de volta, em São Januário, o Cruzeiro segurou o empate em 1x1 e selou sua
presença na decisão.

O primeiro jogo foi no Olímpico. No time gremista, destaque para o jovem


meia/atacante Dener, revelado pela Portuguesa de Desportos. Mas nem as arrancadas
do craque superaram a defesa cruzeirense. O time comandado por Pinheiro segurou o
empate em 0x0 e foi para o jogo de volta, no Mineirão, com a vantagem de atuar
empurrado por sua torcida.

E que torcida! Mais de 70 mil cruzeirenses encheram as arquibancadas do Gigante da


Pampulha na noite de 3 de junho de 1993. E o time não decepcionou. Aos 12 minutos,
o ponta Roberto Gaúcho abriu o placar chutando de longe. O empate gremista veio
aos 25 minutos, com Pingo marcando de cabeça após escanteio cobrado por Carlos
Miguel. Mas logo no primeiro minuto da segunda etapa, Cleison, também de cabeça,
marcou o gol do título celeste.

Os grandes destaques daquela equipe foram Cleison, artilheiro do time com 6 gols,
Edenílson, Éder, Nonato, Boiadeiro e o goleiro Paulo César Borges. No banco, um
jovem centroavante conquistou seu primeiro título como profissional, mas não entrou
em campo durante a campanha: Ronaldo. Que, no futuro, se tornaria um dos maiores
jogadores da história do país.

O Cruzeiro voltaria a conquistar a Copa do Brasil outras cinco vezes: 1996, 2000, 2003,
2017 e 2018. O Galo venceria a Copa Conmebol novamente em 1997. Mostrando que
o jejum de títulos de Minas na década anterior era coisa do passado.

O Brasil volta a Minas

Depois da fatídica derrota para o Peru por 3x1 na Copa América de 1975, a Seleção
Brasileira passou quase 20 anos sem disputar uma partida oficial no Mineirão. Nesse
intervalo, foram quatro amistosos49, até que a CBF definiu o estádio como uma das
sedes da equipe nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1994.

No dia 5 de setembro de 1993 – aniversário de 28 anos do estádio, o Brasil entrou em


campo para encarar a Venezuela. E entrou pressionado. Na primeira fase da disputa, a
equipe havia empatado com Equador e Uruguai e perdido para a Bolívia. Um tropeço
contra o time mais fraco da chave colocaria em risco a classificação para o Mundial.

Nos seis primeiros jogos, o técnico Parreira ainda não havia encontrado sua equipe
ideal, principalmente no meio-campo e no ataque. Na partida no Mineirão, os

49
Em 1977, 0x0 com a Iugoslávia. Em 1980, vitória por 2x1 contra o Chile. Em 1985, vitória por 2x1
contra a Colômbia. E em 1987, vitória por 1x0 contra o Uruguai.
principais jogadores de frente acabariam ficando de fora da Copa: os meias Palhinha
(revelado pelo América, mas jogador do São Paulo) e Luiz Henrique (Monaco) e os
atacantes Valdeir (Bordeaux) e Evair (Palmeiras).

A partida, no entanto, foi tranquila. O Brasil abriu o placar com um gol do zagueiro
Ricardo Gomes aos 27 minutos, de cabeça, após cobrança de escanteio. Um minuto
depois, Palhinha aumentou50. Aos 31, também de cabeça, Evair ampliou. No finalzinho
do segundo tempo, após novo escanteio, Ricardo Gomes marcou de novo e fechou o
placar: 4x0.

A despeito da goleada, o Brasil não jogou bem – dois de seus gols saíram de escanteios
e um contou com a falha do goleiro Gomez. A equipe chegou a ser vaiada pela torcida
(72.489 pagantes), que esperava uma exibição melhor. Quem mais sofreu foi o técnico
Parreira, que resistia em convocar o melhor jogador brasileiro em atividade na época,
o atacante Romário, do Barcelona. Que só foi chamado para a partida derradeira das
Eliminatórias, contra o Uruguai, duas semanas depois, e não decepcionou: marcou os
dois gols da vitória e garantiu o Brasil na Copa. Copa esta, aliás, em que Romário se
destacaria. Foi o melhor jogador, artilheiro do Brasil com cinco gols e o principal
responsável pelo tetracampeonato da Seleção.

Bi da América

Foi por meio da Copa do Brasil que o Cruzeiro chegou ao seu segundo título da Taça
Libertadores da América, conquistada em 1997. A equipe celeste venceu a competição
nacional novamente em 1996 e garantiu sua vaga na principal disputa sul-americana.
Mas para chegar ao bicampeonato51, foi preciso se reforçar.

Uma base da equipe vinha jogando junta desde o início da década, como o lateral-
esquerdo Nonato, o zagueiro Célio Lúcio e o meia-atacante Cleison. Para o título
nacional chegaram Vítor, Gelson Baresi, Fabinho, Ricardinho, Marcelo Ramos e o
grande cérebro do time, o meia Palhinha52. Para a Libertadores, mais dois reforços: o
experiente zagueiro Wilson Gottardo, campeão brasileiro por Flamengo e Botafogo, e
o polivalente Elivélton, mineiro de Areado mas que iniciou sua carreira profissional no
São Paulo.

O início da competição foi difícil. O Cruzeiro se classificou por pouco. Com três vitórias
e três derrotas, ficou em segundo lugar no Grupo 4, atrás do Grêmio e apenas um
ponto à frente do Sporting Cristal (Peru). A vaga só veio na última rodada, com uma
vitória no confronto direto contra os peruanos por 2x1, no Mineirão.

50
Vide foto em anexo.
51
Vide foto em anexo.
52
O meia Jorge Ferreira da Silva foi o segundo “Palhinha” a brilhar com a camisa azul. Em 1976, a estrela
foi Vanderlei Eustáquio de Oliveira, que saiu das categorias de base da Toca da Raposa. Em 1997,
Palhinha chegou ao Cruzeiro após quatro temporadas de sucesso no São Paulo, onde conquistou duas
Libertadores e dois Mundiais Interclubes. Natural de Carangola (MG), o craque foi revelado pelo
América, onde seria campeão da Taça Sul-Minas em 2000.
Nas oitavas-de-final, mais sufoco. A equipe mineira foi até o Equador e perdeu para o
El Nacional por 1x0. No jogo de volta, chegou a fazer 2x0, mas deixou que os
adversários diminuíssem e levassem a partida para os pênaltis. Foi quando brilhou a
estrela do jovem goleiro Dida, que defendeu a cobrança de Kleber Chalá e garantiu a
vaga celeste. Nas quartas-de-final, o duelo foi caseiro, contra o Grêmio. Na primeira
partida, vitória tranquila por 2x0, gols de Elivélton e Alex Mineiro, outro jovem
revelado pelo Coelho. Na volta, agora no Olímpico, o Cruzeiro saiu na frente com um
golaço do volante Fabinho, mas permitiu a virada dos gaúchos. A derrota por 2x1
classificou o Cruzeiro.

Pausa. Antes das semifinais, o Cruzeiro teve que se preocupar com outro campeonato,
o Mineiro. Envolvida em duas competições, a equipe não fez uma boa primeira fase,
terminando apenas com o terceiro lugar. Mas daí em diante, deslanchou. Bateu o
Montes Claros nas quartas-de-final e o América nas semi. A decisão seria contra o Villa
Nova, surpresa da competição, que havia eliminado o Atlético. A equipe de Nova Lima
voltava a decidir um Estadual depois de um longo jejum – a última vez havia sido em
1953. E fez bonito, ganhando o primeiro jogo no Castor Cifuentes por 2x1 (gols de
Alemão e Milton). Mas no jogo de volta, no dia 22 de junho, quem brilhou foi a torcida
do Cruzeiro. Incríveis 132.83453 torcedores marcaram o recorde absoluto 54 de público
do estádio. No gramado, a Raposa venceu por 1x0, gol de Marcelo Ramos aos 9 do
primeiro tempo e, por poder jogar por dois resultados iguais, ficou com o título.

A disputa na semifinal seria contra o Colo-Colo, do Chile. Vitória por 1x0, gol de
Marcelo Ramos. E mais sufoco na partida de volta. A equipe andina chegou a abrir 3x1
e ficou perto da vaga, mas Cleison diminuiu e levou o jogo para as penalidades. Dida
brilhou de novo, pegou os chutes de Basay e Espina e colocou o Cruzeiro na final.

E quem seria o adversário? O mesmo Sporting Cristal que quase eliminou o Cruzeiro na
primeira fase e se classificou como melhor terceiro colocado. A equipe peruana vinha
de uma campanha surpreendente, após eliminar os argentinos Vélez Sarsfield nas
oitavas e Racing na semifinal. O time era o atual tricampeão peruano e jogava com a
mesma base desde 1994.

No primeiro jogo, no Peru, sobrou garra e faltou inspiração para os dois times. Muito
truncado, o duelo terminou sem que o placar se alterasse. A decisão seria mesmo no
Mineirão, no dia 13 de agosto. Para vencer, o Cruzeiro sabia que precisava de sua
torcida. Mesmo com tantos reforços, o time fazia, até então, a campanha mais sofrida
de uma equipe que queria o título, com seis derrotas até ali.

A China Azul não decepcionou. Os quase 100 mil torcedores empurraram o time de
Paulo Autuori durante os 90 minutos. E que sofrimento. A melhor chance do jogo havia
sido do Sporting Cristal, com Dida fazendo duas defesas seguidas, primeiro na
cobrança de falta de Solano e depois no chute de Julinho, que ficara com o rebote.
Mas aos 30 minutos do segundo tempo, o grito de gol saiu forte das gargantas
53
Foram 74.857 pagantes. Devido a uma promoção do Cruzeiro e da Ademg, mulheres e crianças
(52.950 no total) não pagaram ingresso. De acordo com reportagens da época, mais 20 mil torcedores
não conseguiram entrar no estádio.
54
Vide foto em anexo.
estreladas. Após cobrança de escanteio, a zaga peruana afastou, mas Elivélton bateu
de fora da área e marcou o gol do título.

A conquista garantiu o Cruzeiro em mais um Mundial Interclubes. Só que, ao contrário


da decisão de 1976, a de 1997 seria jogada em uma partida única, no Japão. O
adversário seria outro time alemão, o Borussia Dortmund. Mas se na primeira vez o
frio europeu e as contusões atrapalharam o Cruzeiro, desta vez foram as trapalhadas
dos dirigentes que impediram o título.

Após a Libertadores, Palhinha deixou o time, negociado com o mediano Mallorca. O


técnico Paulo Autuori também foi embora, após uma série de desgastes com a
diretoria. Mas o principal erro foi a contratação de quatro reforços somente para a
disputa no Japão: o lateral Alberto, o zagueiro Gonçalves e os atacantes Donizete e
Bebeto. A chegada dos atletas, que vieram com um salário mais alto que a média do
resto do clube, desestabilizou o elenco, que já vinha abalado após quase ser rebaixado
no Brasileirão.

No jogo contra o Borussia, realizado no dia 2 de dezembro, o técnico Nelsinho Baptista


também abusou dos erros. Alberto, que teoricamente veio para jogar, acabou
perdendo a posição para Vítor. Gottardo, capitão do bi da Libertadores, sequer viajou
para Tóquio, embora o que se imaginasse é que ele e Gonçalves formariam a zaga,
repetindo a dupla que havia sido campeã brasileira com o Botafogo dois anos antes.
Como não havia como barrar Elivélton, autor do gol do título contra o Sporting Cristal,
a “solução” foi improvisar o meia na lateral-esquerda, barrando um dos pilares do
time, Nonato. Marcelo Ramos, outro destaque, também foi para o banco, já que os
titulares tinham que ser os “importados” Bebeto e Donizete.

O “Pantera” ainda teve uma oportunidade clara de abrir o placar para o Cruzeiro.
Depois de tabelar com Bebeto, o atacante ficou cara a cara com Klos, mas chutou em
cima do goleiro. Logo em seguida o Borussia marcou. Chapuisat, craque do time,
cruzou para a pequena área. Elivélton, perdido em uma posição que não conhecia,
falhou e a bola sobrou para Zorc, que abriu o placar. No segundo tempo, o meia
português Paulo Sousa roubou a bola de Elivélton e cruzou para Herrlich fazer 2x0. A
fragilidade emocional do Cruzeiro era tão nítida que após o segundo gol alemão,
mesmo com algum tempo de jogo pela frente, o volante Fabinho já estava às lágrimas.
Assim como boa parte da torcida em Belo Horizonte.

Campeão do Centenário

Em meio à disputa pelo bicampeonato da Taça Libertadores, o Cruzeiro se viu diante


de outra competição internacional. Só que, ao contrário do torneio sul-americano, esta
seria jogada toda em Belo Horizonte: a Copa Centenário, criada como uma das
inúmeras ações realizadas naquele ano para festejar o aniversário de 100 anos de Belo
Horizonte.

E que festa! Além de Atlético, Cruzeiro e América, os três grandes da capital mineira, a
Federação Mineira de Futebol caprichou nos convites. Da Europa vieram o Milan,
campeão italiano um ano antes, e o Benfica. Da América do Sul o convidado foi o
Olimpia, do Paraguai. Para fechar, os dois clubes mais populares do país, Flamengo e
Corinthians.

As equipes foram divididas em dois grupos. De um lado Atlético, América, Milan e


Corinthians. Do outro Cruzeiro, Benfica, Flamengo e Olimpia. Todos os jogos foram no
Mineirão, com exceção das partidas do Coelho. Os primeiros colocados de cada grupo
fariam a final.

E quis o destino que a decisão envolvesse os dois maiores rivais do Estado. No Grupo
A, o Atlético ficou com a vaga em uma campanha apertada: empatou com o Milan 55
(2x2) e com o América (1x1) e só garantiu a vaga na última rodada goleando o
Corinthians por 4x2. O Cruzeiro, por sua vez, brilhou. Mesmo envolvido com a final da
Libertadores, venceu seus três jogos (4x1 no Benfica 56, 1x0 no Olimpia e 2x1 no
Flamengo) e chegou à decisão com 100% de aproveitamento.

No dia 9 de agosto, a grande decisão. O Cruzeiro mandou a campo uma equipe mista já
que, quatro dias depois, entraria em campo para tentar o bi da Libertadores. Mas com
duas referências do time, o meia Cleison e o ponta Roberto Gaúcho, além de uma série
de revelações das categorias de base, como o zagueiro João Carlos, o volante Marcos
Paulo, o meia Giovanni e o atacante Fábio Júnior.

Se do outro lado havia um time de jovens, o Galo tinha um sério desfalque: o goleiro
Taffarel, campeão do mundo em 1994, que havia se desentendido com o técnico Leão.
Mas nem isso abalou o Galo. O time dominou todo o primeiro tempo, perdeu uma
série de chances, mas abriu o placar aos 47 minutos em um chute mascado do meia
Leandro Tavares, numa falha do goleiro Rodrigo Posso. Na volta do intervalo, o
Cruzeiro ainda empatou aos 27 minutos com o zagueiro Odair, que cabeceou de
dentro da pequena área. A vitória veio sete minutos depois com Valdir Bigode, que
empurrou de carrinho no segundo pau após desvio de cabeça.

Além do título atleticano, a Copa Centenário ficou na história do futebol mineiro por
ter servido de despedida para um dos maiores craques que já passaram pelo Estado: o
meia Toninho Cerezo. Ídolo atleticano nos anos 70 e 80, titular da Seleção Brasileira,
Cerezo fez uma bela carreira na Itália, onde foi campeão na Roma e na Sampdoria.
Voltou ao Brasil para encantar no São Paulo de Telê Santana, onde foi duas vezes
campeão do mundo. Em 1994, surpreendeu ao assinar com o Cruzeiro, onde
conquistou um Campeonato Mineiro. Teve uma rápida passagem pelo América, mas
retornou ao Atlético no meio de 1996. A despedida foi na partida de estreia da Copa
Centenário, contra o Milan, que tanto sofreu com o craque nos anos 80 e 90. Cerezo,

55
A equipe italiana veio com força máxima para o torneio, com os craques Costacurta, Maldini, Boban,
Ba, Savicevic, Ziege e Weah, além do brasileiro André Cruz, que seria convocado por Zagallo para a Copa
do Mundo de 1998.
56
O time de Portugal também trouxe seus principais atletas para a disputa. Destaque para o zagueiro
paraguaio Gamarra, que no ano seguinte seria eleito um dos melhores de sua posição na Copa do
Mundo, o boliviano Erwin Sánchez e o português Nuno Gomes, além dos brasileiros Paulo Nunes
(campeão por Flamengo e Grêmio) e Ronaldo Guiaro (ex-jogador do Atlético e que havia sido titular da
Seleção Brasileira nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996).
que completava naquele dia 400 jogos pelo Atlético, entrou em campo com a camisa
100. Saiu com 20 minutos para a entrada de Almir, ovacionado pela torcida e escoltado
por outro grande craque, o italiano Paolo Maldini57, capitão da equipe rubro-negra.

América volta a vencer

Se as glórias do América escassearam a partir da década de 1960, os anos 90 voltaram


a ser pródigos para o Coelho. Celeiro de craques no período, o time voltou a ganhar o
Campeonato Mineiro em 1993 após um incômodo jejum de 21 anos, comandado pelo
meia Flávio Lopes e os atacantes Hamilton e Euller. Mas a principal glória da década
viria em 1997, quando a equipe faturou a Série B do Campeonato Brasileiro 58, seu
primeiro título nacional.

A bem da verdade, a queda para a segunda divisão fora injusta. No Campeonato


Brasileiro de 1993, o Coelho terminou na 16º posição, mas a CBF definiu que clubes de
grandes torcidas não poderiam ser rebaixados – beneficiando Atlético, Botafogo e
Fluminense. O América buscou reparação na Justiça Comum, sendo afastado de
competições nacionais até 1996, quando o então presidente, Marcos Salum, desistiu
da ação.

Para conseguir o título, o Coelho mesclou talentos de sua base com atletas
experientes. Dentre os jovens, destaque para o volante Gilberto Silva, que cinco anos
depois seria campeão do mundo com a Seleção Brasileira, e o atacante Rinaldo. Já nos
reforços, brilharam o volante Pintado, o meia Marco Antônio Boiadeiro e o
meia/atacante Tupãzinho, ídolo no Corinthians.

Na primeira fase da disputa, o Coelho terminou em segundo lugar no Grupo C, com o


mesmo número de pontos (13) do CRB de Alagoas, mas atrás no saldo de gols. Na
segunda fase, a equipe venceu quatro partidas, empatou uma e perdeu uma,
terminando na primeira colocação do Grupo G, à frente de Vila Nova (GO), Joinville
(SC) e Tuna Luso (PA).

No quadrangular final, o Coelho voltaria a encarar o Vila Nova, além de Ponte Preta
(SP) e Náutico (PE). As equipes jogariam entre si em turno e returno e os dois primeiros
garantiriam o acesso à primeira divisão. No primeiro jogo, o América calou o Serra
Dourada e venceu a equipe goiana por 2x0. Em seguida, duas partidas no
Independência: 2x0 no Náutico e um empate em 0x0 com a Ponte.

No returno, o América começou perdendo, ao ser derrotado em Campinas para a


equipe paulista por 1x0. A subida para a Série A estava em risco. Seria preciso vencer o
Náutico fora de casa, nos Aflitos. Mas o Coelho não tremeu. Fez 1x0 com Rinaldo aos
35 do primeiro tempo e, cinco minutos depois, ampliou o placar com um chute de fora
da área do meia Irênio. Vitória por 2x0 e classificação garantida.

57
Vide foto em anexo.
58
Vide foto em anexo.
O título veio na última rodada, na partida contra o Vila Nova. Mais de 15 mil
torcedores lotaram o Independência no dia 7 de dezembro para ver o Coelho ficar com
a taça. O placar foi magro, 1x0, mas suficiente para fazer explodir a parte verde de
Belo Horizonte. O autor do gol foi o centroavante Celso, que marcou em uma falta
dentro da área cobrada em dois lances.

Três anos depois, o Coelho voltaria a encher sua torcida de orgulho ao conquistar a
primeira edição da Copa Sul-Minas. O torneio foi criado no ano 2000 59 e reunia equipes
de Minas Gerais (além do Coelho jogaram Atlético e Cruzeiro), Paraná (Atlético-PR,
Coritiba e Paraná Clube), Santa Catarina (Avaí, Figueirense e Grêmio Maringá) e Rio
Grande do Sul (Grêmio, Internacional e Juventude).

Na primeira fase, o América fez uma bela campanha, com três vitórias, dois empates e
uma derrota, terminando na primeira colocação de seu grupo. Nas semifinais, encarou
novamente o Atlético-PR, que já havia enfrentado na fase de classificação. A equipe
paranaense, já com a base do time que seria campeão brasileiro em 2001, entrou no
mata-mata por ter sido o melhor segundo colocado. Mas deu Coelho de novo. Foram
dois empates por 2x2 e, na decisão por pênaltis, o time do Horto venceu por 4x2.

A finalíssima colocou o América diante do Cruzeiro, novamente comandado por Paulo


Autuori, o técnico do bi da Libertadores. Os dois jogos foram disputados no Mineirão.
No primeiro, o América tirou a vantagem cruzeirense de jogar por dois empates e
venceu por 1x0, gol do volante Pintado – um dos remanescentes da conquista da Série
B em 1997.

Na segunda partida, disputada no dia 1º de março, o Cruzeiro saiu na frente com um


gol do lateral-direito Zé Maria, de pênalti, aos 40 minutos. O placar do primeiro tempo
só não foi maior graças às defesas do goleiro americano Milagres, um dos ídolos da
história recente do clube. No segundo tempo, o Cruzeiro voltou a pressionar, primeiro
com o tetracampeão do mundo Müller e depois com o colombiano Viveros, mas parou
novamente no arqueiro americano.

O empate veio aos oito minutos. Palhinha, que já veterano voltou a vestir a camisa do
time que o revelou para o futebol, achou Zé Antônio na entrada da área e o artilheiro
não vacilou, chutando forte no ângulo do gol de André. O América teve a chance da
virada com Pintado, que bateu pênalti pra fora. Mas ela veio com um golaço. Álvaro,
que entrada no lugar de Rinaldo para ajudar o time a segurar o empate, interceptou
um passe de Marcelo Ramos na intermediária da defesa americana e arrancou, passou
pelo zagueiro Cris, cortou Ricardinho na entrada da área e bateu cruzado no canto
direito de André. Dois a um e mais um título para o América!

A série de conquistas do Coelho continuou em 2001, quando a equipe voltou a vencer


o Campeonato Mineiro. Na série final, goleou o Atlético por 4x1 (gols de Wellington
Paulo, Tucho e dois de Rodrigo, com Gilberto Silva descontando) no primeiro jogo. Na

59
A competição foi criada para ampliar o calendário das equipes dos quatro Estados, uma vez que as
federações paulista e carioca reativaram o Torneio Rio-São Paulo em 1997 e a Copa do Nordeste foi
criada em 1994.
segunda partida, o Galo chegou a fazer 3x0, o que lhe garantiria a taça, mas o atacante
Alessandro saiu do banco e, aos 32 do segundo tempo, fez o gol que deu a taça para o
Coelho. Três títulos em quatro anos, para a alegria dos torcedores do Coelho.

Tríplice Coroa

A primeira década do novo século começou acerelada para o Cruzeiro. Em 2001 e


2002, o time celeste conquistou a Copa Sul-Minas. Mas, em 2003, o calendário do
futebol brasileiro iria mudar. As competições regionais foram encerradas, com exceção
da Copa do Nordeste. Finalmente, após décadas de cobranças, o Campeonato
Brasileiro seria jogado em turno e returno, como as principais competições nacionais
do mundo. E o primeiro título foi do Cruzeiro, 37 anos após a conquista da Taça Brasil
de 1966.

Mas o ano da Raposa não foi só o Brasileiro. Pelo contrário. O time, comandado por
Vanderlei Luxemburgo e conduzido em campo pelo craque Alex, conquistou também o
Campeonato Mineiro e a Copa do Brasil 60, fechando 2003 com a “Tríplice Coroa”,
apelido carinhoso da torcida para o grande feito.

O tetra da Copa do Brasil veio de forma invicta (oito vitórias e três empates). Na
decisão, o time bateu o Flamengo por 3x1 no Mineirão após empatar o jogo de ida no
Maracanã por 1x1 (com um golaço de letra de Alex, na pequena área rubro-negra). O
artilheiro do time foi o atacante Deivid, com 7 gols, um a menos que Nonato, do Bahia,
principal goleador do torneio. No Campeonato Mineiro, o time também não perdeu:
foram 10 vitórias e 2 empates, em um sistema de pontos corridos. Na partida mais
importante, contra o arquirrival Atlético, goleada por 4x2 (dois de Alex, um de Deivid e
um de Marcelo Ramos).

A arrancada para o título brasileiro começou no dia 30 de março com um empate em


2x2 com o São Caetano. Até a nona rodada, o time emendou uma série de seis vitórias
e outros dois empates, deixando claro que brigaria pelo título. No primeiro turno, a
equipe só perdeu a liderança na 16º rodada para o Santos, retomando a ponta dois
jogos depois. Na quinta rodada do returno, novo tropeço, mas foi o último. Nos 18
jogos restantes, o Cruzeiro venceu 16 e deixou todo mundo pra trás. O título veio no
dia 30 de novembro, com duas rodadas de antecedência, quando a equipe bateu o
Paysandu no Mineirão por 2x1. Curiosamente, sem Alex, suspenso. Mas o primeiro gol
do time foi de seu substituto, o veterano Zinho, de falta. O segundo foi do até então
desconhecido Mota. Alex, que acompanhava a partida nas tribunas, desceu para o
gramado e, após o apito final do juiz Héber Roberto Lopes, comandou a festa. No final
do campeonato, o Cruzeiro atingiu a marca, até hoje imbatível, de 100 pontos (13 a
mais que o Santos, segundo colocado) e 102 gols marcados.

Alex foi o artilheiro do time na competição, com 23 gols. Aristizábal fez 21, com Deivid
e o até então desconhecido Mota marcando 15 cada um. Mas aquela equipe é
lembrada não apenas por seus jogadores de frente: outros destaques foram o goleiro
Gomes, o zagueiro Cris, o volante Maldonado e os laterais Maurinho e Leandro. Nem
60
Foi a primeira vez que uma equipe conquistava os dois principais torneios nacionais no mesmo ano.
as perdas do zagueiro Luisão e dos atacantes Deivid e Marcelo Ramos, que deixaram a
equipe no meio do ano para defenderem Benfica, Bourdeaux e Sanfrecce Hiroshima
(Japão), respectivamente, abalaram o time.

Se há um ano que o torcedor cruzeirense nunca vai se esquecer, de fato, é 2003. Não
apenas pelos títulos, mas pela forma como a equipe jogava. Foram 73 partidas, com 52
vitórias, 13 empates e 8 derrotas. O time marcou 179 gols, uma média de 2,45 por
partida, e sofreu apenas 70. Alex foi o grande maestro e também o principal artilheiro,
com 39 gols, seguido por Deivid e Aristizábal, com 28 cada um. Um ano para a história.

Ronaldo volta a brilhar no Mineirão

Onze anos após a vitória contra a Venezuela por 4x0, o Brasil retornou ao Mineirão em
uma partida de Eliminatórias da Copa. Mas ao contrário de 1993, quando a equipe
chegou pressionada não apenas pela possibilidade de desclassificação, mas também
pelo jejum de 23 anos sem ganhar uma Copa do Mundo, desta vez o time
desembarcou em Belo Horizonte com o status de atual campeão do mundo e bem
posicionado na tabela.

O jogo contra a Argentina, marcado para o dia 2 de junho, teve um sabor especial.
Marcou o reencontro de Ronaldo com o Mineirão, estádio que o viu nascer para o
futebol. Mas quem entrou em campo não foi o menino franzino, de aparelho nos
dentes, que deixou o Cruzeiro ainda com 17 anos rumo ao PSV da Holanda. Era o
craque consagrado, escolhido pela Fifa como melhor do mundo em 1996, 1997 e 2002,
bicampeão mundial e artilheiro da última Copa.

Se antes da partida havia desconfiança quanto ao desempenho do atacante – criticado


por aparentar excesso de peso –, dentro de campo ele calou todos os críticos. O Brasil
venceu por 3x1 com três gols dele. Todos de pênalti. E todos os pênaltis sofridos pelo
atacante. O primeiro, logo aos 16 minutos, teve que ser cobrado duas vezes – na
primeira, o juiz Oscar Ruiz mandou voltar, apontando invasão brasileira. Ronaldo bateu
de novo, no mesmo lugar, sem chances para Caballero. O segundo veio após uma
jogada sensacional, em que passou por dois adversários até ser derrubado por
Mascherano. A cobrança, aos 22 do segundo tempo, foi no canto direito do arqueiro
portenho, que pulou para o outro lado. O terceiro veio já nos acréscimos. Após belo
passe de Alex na direita, o atacante ia tirando do goleiro, mas Caballero o derrubou. A
cobrança foi idêntica à do primeiro gol, bem no meio. O gol argentino foi aos 34 do
segundo tempo, marcado por Sorín61, outro ex-cruzeirense que revia o Mineirão.

A exibição de Ronaldo não se resumiu aos gols. O atacante teve uma noite de glória no
Mineirão, com dribles de letra, arrancadas, chutes fortes e gingadas que só foram
61
Juan Pablo Sorín é um dos estrangeiros mais identificados com o Cruzeiro. O lateral-esquerdo vestiu a
camisa celeste em três ocasiões. Na primeira passagem, entre 2000 e 2002, venceu uma Copa do Brasil e
duas Copas Sul-Minas. Voltou em 2004, mas ficou por somente nove jogos. Retornou ao clube em 2008,
mas só foi estrear no ano seguinte, devido a uma série de lesões. Em 2009, cansado de passar tanto
tempo no departamento médico se recuperando, decidiu encerrar a carreira, apesar de só ter 33 anos.
Sua partida de despedida foi no Mineirão, no dia 4 de novembro, em um amistoso entre Cruzeiro e
Argentinos Juniors, sua primeira equipe. O craque jogou em ambos os lados na festa.
paradas com falta pelos argentinos. Nas arquibancadas, a torcida vibrava com a
atuação de um dos maiores ídolos do futebol brasileiro: “Ê, ô, ê, ô, o Ronaldo é terror”,
gritava.

Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima

Palco de tantas glórias, o Mineirão também foi o estádio da maior tristeza da torcida
atleticana. No dia 27 de novembro de 2005, a equipe empatou com o Vasco em 0x0 e
teve confirmado seu rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro
pela primeira vez em sua história.

A campanha foi sofrível. Em 42 jogos, foram apenas 13 vitórias, 8 empates e sofridas


21 derrotas, terminando na 20º posição – eram 22 os clubes participantes. O artilheiro
da equipe – que só marcou 54 gols em todo o campeonato – foi o ídolo Marques, autor
de 10. A equipe teve três técnicos ao longo do Brasileirão: Tite, Marco Aurélio e Lori
Sandri.

Era preciso se reerguer. E a retomada veio logo no ano seguinte. No dia 11 de


novembro de 2006, com duas rodadas de antecipação, o Galo venceu o Coritiba fora
de casa por 3x2 e garantiu, matematicamente, seu retorno para a principal divisão do
futebol nacional. A equipe paranaense chegou a abrir 2x0 (gols de Caio e Ricardinho),
mas o Atlético virou, com dois gols de Marinho e um de Marcinho. Era a volta para a
elite.

Uma semana depois, o título. Também fora de casa, contra o Ceará. E de novo com
Marinho, que com apenas um minuto marcou o único gol do jogo. Galo 1x0 e campeão
brasileiro da Série B. A última partida da competição, no Mineirão, foi só de festa. Os
quase 75 mil torcedores que encheram o estádio viram a equipe empatar com o
América de Natal em 2x2, mas todos só queriam mesmo que o juiz Wallace
Nascimento Valente apitasse o final do jogo, o último do time na Série B. E que viesse a
festa, regida pela cantora Beth Carvalho, idolatrada pela torcida atleticana 62.

Apesar de ter garantido seu retorno à Série A com duas rodadas de frente, a campanha
do Galo no Brasileirão de 2006 não foi fácil, principalmente na segunda metade do
primeiro turno. A equipe chegou a figurar em 14º lugar e, por 12 rodadas, ficou fora da
zona de classificação. O retorno ao G4 veio na primeira rodada do returno, em uma
vitória contra o Marília (SP) no Mineirão. Daí em diante, o time se equilibrou. Nos
últimos 18 jogos, perdeu apenas três. Terminou o campeonato com 71 pontos, sete a
mais que o segundo colocado, o Sport (PE). Marinho foi o artilheiro do time com 17
gols, quatro atrás de Vanderlei, do Gama, o principal marcador da competição. Roni
veio logo atrás, com 14. A equipe comandada por Levir Culpi também teve como
destaques o goleiro Diego Alves, o zagueiro Lima, o volante Márcio Araújo, o meia
Danilinho e o atacante Éder Luís – todos vindos das categorias de base ou que
chegaram ao Galo ainda muito jovens, mantendo a antiga tradição de vencer graças ao
talento de formar seus jogadores.

62
Vide foto em anexo.
Mineirão e Independência fecham as portas. Vem aí a Copa do Mundo

Trinta de outubro de 2007: em Zurique, na Suíça, a Fifa anuncia o Brasil como sede da
Copa do Mundo de 2014. O que causou enorme impacto para o futebol mineiro.

Pouco mais de um ano depois, o Governo de Minas Gerais celebrou um convênio com
o América para a reforma do Independência. As obras, contudo, começaram somente
no dia 22 de janeiro de 2010, com um ano de atraso. Em junho do mesmo ano, foi a
vez do Mineirão começar a ser reformado, já que o estádio seria uma das sedes do
Mundial63.

A bagunça dos dirigentes e do Governo de Minas fez com que Belo Horizonte ficasse
sem futebol por quase dois anos. O estádio do Horto só foi reinaugurado no dia 25 de
abril de 201264. O Mineirão, por sua vez, foi reaberto no dia 21 de dezembro com um
show do Jota Quest, mas a primeira partida oficial no novo estádio só foi realizada no
ano seguinte, em vitória do Cruzeiro contra o Atlético por 2x1.

Sem lugar para mandar seus jogos na capital, as equipes mineiras tiveram que se virar
com os estádios do interior. Arena do Jacaré (Sete Lagoas), Ipatingão (Ipatinga), Melão
(Varginha) e Parque do Sabiá (Uberlândia) se tornaram os destinos mais recorrentes.
Prejuízo financeiro e no gramado. Em 2010, por exemplo, o Cruzeiro poderia ter sido
campeão brasileiro – terminou em segundo lugar, somente dois pontos atrás do
Corinthians. Os 14 pontos que perdeu como mandate certamente fizeram diferença.
Em 2011, o América foi rebaixado para a Série B, enquanto Galo e Raposa escaparam
por pouco – o Atlético na penúltima rodada e o Cruzeiro na última 65. Em 2012, foi a vez
do Galo desperdiçar a chance de ser bicampeão brasileiro. Apesar de já contar com o
Independência, a equipe terminou em segundo lugar, cinco pontos atrás do
Fluminense. Os 10 pontos que perdeu como mandante também fizeram falta.

Se faltou planejamento, ao menos a paralisação serviu para que atualmente Belo


Horizonte tenha dois dos melhores estádios do país. O Independência ganhou novos
vestiários, cadeiras, cabines de imprensa, camarotes, implantação de cobertura e
iluminação moderna, além de mais segurança para a entrada de torcedores e no
trabalho dos profissionais nos dias de jogo. Antes da reforma, a capacidade de público
do estádio havia sido reduzida para pouco mais de 10 mil torcedores. Com a mudança,
o agora Arena Independência tem capacidade para abrigar 23 mil pessoas.

As mudanças no Mineirão também foram profundas, a começar pelo gramado,


rebaixado em 3,4 metros. Foram instalados 166 novos amortecedores sob a parte
superior da estrutura, em substituição do antigo modelo, feito por meio de hastes
verticais – o que dava a impressão de que o estádio “tremia” com a agitação das
torcidas. A geral deixou de existir, com a instalação de novas cadeiras – que ocupam
63
O anúncio foi feito pela Fifa no dia 31 de maio de 2009.
64
Em jogo amistoso, o América venceu o Argentinos Juniors por 2x1. Quem deu o pontapé inicial foi o
ex-jogador do Coelho, Jair Bala, considerado um dos melhores da história do clube. A partida também
marcou a despedida do atacante Euller dos gramados.
65
No jogo disputado na Arena do Jacaré, o Cruzeiro venceu justamente o Atlético. Além de escapar do
rebaixamento, registrou sua maior goleada em clássicos: 6x1.
todo o estádio. O estacionamento foi ampliado e, do lado de fora, foi erguida uma
esplanada com cerca de 80 mil m², que chega a receber mais de 60 mil pessoas em
eventos. Se a capacidade foi reduzida – hoje o estádio comporta menos da metade de
seu recorde de público, de 132 mil pessoas –, o público ganhou em conforto e
visibilidade. Foram instalados 80 camarotes, restaurante panorâmico, novos banheiros
e uma tribuna de imprensa para três mil jornalistas. A iluminação também foi trocada,
com a instalação de telões de alta definição. Sem falar no Museu Brasileiro do Futebol,
inaugurado em 2013.

Com a bola rolando, um teste antes da Copa do Mundo: a Copa das Confederações de
2013, pela primeira vez disputada no Brasil 66. O Mineirão recebeu três partidas: no dia
17 de junho, a Nigéria goleou o Taiti por 6x1. No dia 22 de junho, o México venceu o
Japão por 2x1. E no dia 26 de junho, a partida mais esperada pelos mineiros: na
semifinal, o Brasil bateu o Uruguai por 2x1 e garantiu vaga na decisão.

O público que encheu o estádio – foram 57.483 pagantes, quase a lotação máxima do
novo Gigante da Pampulha – viu o Uruguai ficar perto de abrir o marcador em uma
cobrança de pênalti logo aos 12 minutos, mas Júlio César defendeu a cobrança de
Forlán67. Aos 41, o mineiro Fred abriu o placar. No início da segunda etapa, Cavani
empatou para a Celeste Olímpica. Mas também aos 41 minutos, só que da etapa final,
Paulinho marcou de cabeça após escanteio cobrado por Neymar e deu a vitória ao
Brasil. Na decisão, no Maracanã, o time de Felipão bateu a Espanha por 3x0 e
conquistou seu quarto título do torneio68. Estava tudo pronto para a Copa.

A Libertadores é do Galo

Após retornar à Série A em 2006, os atleticanos pensavam que os dias de glória


também voltariam depressa, mas demorou um pouco. A equipe ganhou alguns
Campeonatos Mineiros, mas patinava em competições maiores. Para piorar, viu o
Cruzeiro quase conquistar o tri da Libertadores, em 2009 69. As coisas só iriam mudar a
partir de 2012 com a chegada de um craque a Belo Horizonte: Ronaldinho Gaúcho.

O meia-atacante foi repatriado em 2011 pelo Flamengo, mas, um ano e meio depois, a
relação entre o jogador e a diretoria estava desgastada, principalmente devido a
atrasos de salários. A torcida, incomodada com a vida noturna do atleta, também
começou a criticá-lo. Em maio de 2012, Ronaldinho entrou na Justiça e conseguiu ter
seu contrato rescindido. Pouco tempo depois, foi anunciado pelo Atlético no dia 4 de
junho.

A chegada do Gaúcho deu o poder de fogo e o espírito vencedor que faltavam ao time
do Galo. Que já contava com vários jogadores experientes, rodados, como o goleiro
Victor, os zagueiros Réver e Leonardo Silva, o volante Pierre e o atacante Jô, além de
66
Competição realizada esporadicamente desde 1960, mas que só foi assumida pela Fifa em 1997.
Passou a ser disputada de quatro em quatro anos, reunindo os campeões continentais, o atual campeão
mundial e o país-sede da Copa seguinte.
67
Vide foto em anexo.
68
O Brasil já havia vencido em 1997, 2005 e 2009.
69
A Raposa chegou na decisão, mas acabou derrotada pelo Estudiantes, da Argentina.
uma jovem promessa, o meia/atacante Bernard. Contrariando a estatística, o técnico
Cuca vinha no comando da equipe desde o ano anterior.

O Brasileirão de 2012 foi um aperitivo e serviu para mostrar a capacidade da equipe. O


Atlético terminou em segundo lugar, apenas cinco pontos atrás do Fluminense. E isso
porque não pode contar com o Mineirão, em reforma para a Copa do Mundo. Mesmo
com um bom retrospecto no Independência, a equipe perdeu 10 pontos como
mandante, que poderiam ter mudado a história do torneio.

O vice-campeonato, contudo, garantiu o Galo na Libertadores. A equipe não disputava


a principal competição do continente desde o ano 2000, quando caiu nas quartas-de-
final70. Para reforçar o elenco, o presidente Alexandre Kalil trouxe de volta dois ídolos
da torcida: o atacante Diego Tardelli, artilheiro da equipe entre 2009 e 2011, e o
volante Gilberto Silva, já veterano. Também chegaram o experiente volante Josué 71,
campeão do mundo com o São Paulo em 2005, e o jovem atacante Luan, destaque da
Ponte Preta no ano anterior.

Na primeira fase da Libertadores, o time brilhou. Em seis jogos, venceu cinco e perdeu
apenas um, para o São Paulo. Com 15 pontos, o Galo terminou a fase de grupos com o
primeiro lugar geral, o que lhe deu o direito de decidir todos os confrontos de mata-
mata em casa.

E o primeiro, pelas oitavas-de-final, foi justamente contra o São Paulo. Mas, desta vez,
não teve derrota. No primeiro jogo, no Morumbi, vitória por 2x1. Na partida de volta,
uma impiedosa goleada por 4x1, em uma noite inspirada do centroavante Jô, que
marcou três gols – o outro foi de Tardelli.

Nas quartas-de-final, o rival era o Tijuana, do México. Na primeira partida, a equipe


mexicana chegou a abrir 2x0, mas permitiu a reação atleticana. Primeiro com Tardelli,
aos 20 minutos do segundo tempo. O empate veio já nos acréscimos, aos 46, com
Luan. Em casa, o Galo saiu atrás quando Riascos marcou aos 25 do primeiro tempo. O
capitão Réver empatou aos 40, também da primeira etapa. O resultado de 1x1
classificava o Atlético, que havia feito dois gols na casa do adversário. Até que, aos 47
do segundo tempo, Leonardo Silva cometeu pênalti em Márquez. Se fizesse o gol, o
Tijuana se classificaria – não havia tempo para uma reação. Riascos, autor do primeiro
gol, foi para a bola. Ele conseguiu deslocar Victor, mas o arqueiro, que a partir daquela
noite entrou para a história do Atlético, esticou o pé direito 72 e defendeu. Galo
classificado.

Na semifinal, mais sufoco. O Galo foi até a Argentina encarar o Newell’s Old Boys e
acabou derrotado por 2x0, gols de Maxi Rodríguez e Scocco. Na partida de volta,
Bernard marcou 1x0 logo no comecinho, aos 3 minutos. Foram mais de 90 de aflição,
até que Guilherme marcou aos 50 da segunda etapa 73 em um chutaço de fora da área
e levou a decisão para as penalidades.
70
O Galo caiu para o Corinthians no mata-mata, com um empate em 1x1 e uma derrota por 2x1.
71
Inscrito no final da primeira fase da Libertadores, no lugar do jovem Nikão.
72
Vide foto em anexo.
73
A partida ficou paralisada por 11 minutos devido a uma queda de luz no estádio.
Nas cobranças, o Galo saiu na frente com Alecsandro. O Newell’s empatou com
Scocco. O time mineiro fez 2x1 com Guilherme, para novo empate argentino, com
Vergini. As duas equipes desperdiçaram as cobranças seguintes: pelo Atlético, Jô e
Richarlyson chutaram pra fora. Pelo Newell’s, Casco chutou, a bola bateu no travessão
e saiu. Cruzado isolou. Seguia tudo igual, até que Ronaldinho, na quinta cobrança,
deslocou o goleiro Guzmán e recolocou o Galo em vantagem. Foi a vez de Victor
brilhar. O arqueiro alvinegro pulou no canto certo, se esticou todo e pegou o chute de
Maxi Rodríguez, garantindo a classificação.

A final seria contra o Olimpia, do Paraguai. O mesmo adversário no primeiro título


internacional do Atlético, a Copa Conmebol, 21 anos antes. Jogando no Defensores Del
Chaco, os paraguaios não se curvaram ao favoritismo atleticano e venceram por 2x0,
gols de Alejandro Silva, aos 22 do primeiro tempo, e de Pittoni, aos 48 do segundo. O
gol nos acréscimos fez suar frio a torcida atleticana, por deixar mais ampla a vantagem
do rival.

Até a decisão, todos os jogos do Atlético em casa foram no Independência. A partida


final, contudo, foi no Mineirão, por um capricho do regulamento, que exigia estádios
com mais de 40 mil lugares para as finais 74. O que levaria o Galo de volta ao seu velho e
conhecido palco, de tanta tradição.

Na noite de 24 de julho de 2013, Belo Horizonte parou. No Mineirão, recém-reaberto


após dois anos e meio de reformas para a Copa do Mundo, 58.620 pagantes – o que
gerou uma renda de mais de 14 milhões de reais. Tudo pronto para a festa – só
dependia do time. Mas como tudo naquela Libertadores, a vitória foi sofrida, custosa.

O primeiro tempo terminou empatado em 0x0. O Atlético tinha mais 45 minutos para
fazer dois gols e levar a decisão para os pênaltis. E marcou logo no primeiro minuto da
segunda etapa, com Jô chutando de voleio após erro da zaga paraguaia. O segundo gol
demorou. Até que, após cruzamento de Bernard pela direita, o zagueiro Leonardo Silva
– a essa altura jogando como centroavante – marcou de cabeça, aos 41 minutos. Tudo
igual. Na prorrogação, exaustos, os times pouco arriscaram – o Olimpia jogava com
dez, após a expulsão de Manzur, aos 39 do segundo tempo. Pênaltis.

Desta vez, contudo, o sofrimento foi um pouquinho menor. Logo na primeira


cobrança, Miranda parou no pé esquerdo de Victor – de novo o pé esquerdo.
Alecsandro, Guilherme, Jô e Leonardo Silva converteram, assim como Candia e Aranda.
Até que Giménez acertou a trave e deu o título para o Galo, campeão da América. Que
teve Jô como seu artilheiro (e da competição), com 7 gols, seguido por Tardelli, com 6,
e Bernard e Ronaldinho, cada um com 4.

O título levou o Atlético para o Marrocos no final do ano para disputar o Mundial de
Clubes. Foi a primeira participação de uma equipe mineira na competição desde que a

74
Palco da primeira partida, o Defensores Del Chaco tinha capacidade para apenas 36 mil torcedores. A
Conmebol, contudo, permitiu que o jogo fosse realizado ali, já que o Paraguai não possuía estádios
maiores.
Fifa assumiu sua organização, em 2005. Ao invés de representantes apenas da América
do Sul e da Europa, a competição passou a contar com times da África, da
Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf), da Ásia e
da Oceania.

A disputa, contudo, não é de boa memória para os atleticanos. A equipe foi eliminada
já em seu primeiro jogo, na semifinal. No dia 18 de dezembro, caiu diante do Raja
Casablanca, time da casa, por 3x1. Os gols saíram no segundo tempo: Iajour marcou
para os marroquinos aos 6, Ronaldinho empatou aos 18, mas Moutaouali, aos 39, e
Mabide, aos 49, colocaram fim no sonho do Galo. A ausência de Bernard, vendido em
agosto para o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, e a decisão de Cuca em não renovar seu
contrato – o que só foi anunciado oficialmente após a derrota para o Raja, mas já era
de conhecimento da diretoria e dos atletas – mexeu com o grupo, que não conseguiu
repetir no Marrocos a mística apresentada na Libertadores. Na decisão, o Bayern de
Munique, que provavelmente esperava encarar um desafio mais forte, não encontrou
dificuldades na partida: venceu o Raja por 2x0 e levou para a Alemanha seu terceiro
título mundial.

Cruzeiro domina o Brasil

O lado azul de Belo Horizonte começou 2013 apreensivo. A equipe vinha de dois anos
ruins no Campeonato Brasileiro – quase foi rebaixado em 2011 e não passou do nono
lugar em 2012 – e, para piorar, seu maior rival montara um timaço com Ronaldinho,
Victor, Jô, Tardelli e Bernard, que conquistou os Campeonatos Mineiros de 2012 e
2013 e, pela primeira vez, a Taça Libertadores. Era preciso mudar.

A principal mudança foi a saída do meia argentino Walter Montillo, principal destaque
da equipe nos três anos anteriores. Com ele também saíram os atacantes Wellington
Paulista e Wallyson, o lateral-esquerdo Diego Renan, o meia-atacante Alisson, o meia
Roger, os volantes Charles e Marcelo Oliveira e os zagueiros Amaral e Thiago Carvalho,
além do técnico Celso Roth.

Para comandar a equipe, um velho conhecido: Marcelo Oliveira. Conhecido como rival,
já que se tratava do antigo ídolo atleticano, companheiro de ataque de Reinaldo na
década de 1970 e que dava seus primeiros passos como treinador. Marcelo tinha
apenas quatro anos de experiência como técnico de equipes profissionais 75 e somente
um trabalho de relativo sucesso, no Coritiba, onde foi bicampeão paranaense e vice da
Copa do Brasil em 2012.

Do Coritiba também veio aquele que se tornaria o grande nome da equipe nos anos
seguintes: o meia Éverton Ribeiro. Revelado pelo Corinthians em 2007, onde jogava
como lateral, só foi se firmar no Paraná. E se a barca que saiu em 2012 era grande, o
pacotão de reforços para a nova temporada também era: 12, com destaque para o
lateral Egídio (Goiás), o zagueiro Bruno Rodrigo (Santos), o atacante Dagoberto
(Internacional), o volante Henrique (estava no Santos e faria sua segunda passagem na

75
Nas categorias de base, ganhou destaque no comando da equipe Sub-20 do Atlético entre 2001 e
2007
equipe cruzeirense) e Nilton (Vasco) e os meias Ricardo Goulart (Goiás) e Diego Souza
(Al-Ittihad). Este último acabou não se firmando e, no meio do ano, se transferiu para o
Metalist Kharkiv, da Ucrânia – que enviou o atacante Willian para o time celeste. Para
fechar a leva, em abril chegou o zagueiro Dedé, um dos principais nomes da posição no
Brasil. Comprado junto ao Vasco por R$ 14 milhões, foi a maior transferência na
história da equipe até então.

Além dos novatos, havia uma boa base remanescente dos anos anteriores, como o
ídolo Fábio, o lateral Ceará, o zagueiro Léo, o volante Tinga e o atacante Borges, além
de três jovens revelados na Toca da Raposa: o volante Lucas Silva, o lateral Mayke e o
atacante Vinicius Araújo. No meio do ano, a Raposa ainda repatriou o meia Júlio
Baptista, na Europa há dez anos (com passagens por Real Madrid, Arsenal e Roma),
para o lugar de Diego Souza.

Com tantas peças à disposição, Marcelo Oliveira conseguiu construir uma equipe
consistente, que rotacionava os atletas sem perder competitividade, o que foi
fundamental para a conquista do Brasileirão. Dos 38 jogos, apenas seis jogadores
começaram mais de 30 partidas como titulares: Fábio (36), Egídio (35), Éverton Ribeiro
(35), Dedé (31), Bruno Rodrigo (31) e Nilton (30). Mayke, por exemplo, só iniciou 15
partidas da competição (entrou em outras sete) e, ainda assim, foi escolhido como
melhor lateral-direito do torneio no tradicional Troféu Bola de Prata.

O retorno do Mineirão – fechado por dois anos e meio para reforma visando a Copa do
Mundo – foi fundamental para o Cruzeiro. O aproveitamento geral da equipe na
competição foi de 66,67%, mas subia para 78,95% quando o time foi mandante. Em
casa, a Raposa só perdeu dois jogos, um deles quando já havia conquistado o título, na
penúltima rodada.

Aliás, o aproveitamento geral do time só não foi maior devido ao relaxamento após a
conquista, que veio na 34º rodada76, na vitória fora de casa contra o Vitória (BA) por
3x1. Sacramentado o caneco, o Cruzeiro não venceu mais: perdeu dois jogos e
empatou outros dois. No geral, a equipe marcou 76 pontos (11 a mais que o Grêmio,
segundo colocado), com 23 vitórias, 7 empates e 8 derrotas. Marcou 77 gols e sofreu
37. A tabela de artilheiros da equipe evidencia a rotatividade proposta por Marcelo
Oliveira: Borges, que só começou 21 jogos como titular, marcou 10 gols, mesmo
número de Ricardo Goulart. Éverton Ribeiro, Nilton, Willian e Vinícius Araújo vieram a
seguir, com 7. Ao todo, o Cruzeiro utilizou 31 jogadores no torneio, 29 começando
como titular em pelo menos uma partida.

Em time que está ganhando não se mexe. Para conquistar o Brasileirão pela segunda
vez seguida – e o tetracampeonato nacional –, o Cruzeiro mexeu pouco. Do time de
2013, apenas duas peças importantes deixaram a equipe: o volante Leandro Guerreiro
e o atacante Vinícius Araújo. Para seu lugar, mas principalmente para suprir as
seguidas ausências do veterano Borges, que passou boa parte do ano no
departamento médico, a Raposa trouxe de volta um velho ídolo: o atacante Marcelo

76
Igualando o feito do São Paulo de 2007 e se tornando o campeão com a maior antecipação na história
dos pontos corridos até então.
Moreno, destaque do time no título do Campeonato Mineiro de 2008. Quem também
retornou ao time foi o meia Alisson, que havia sido emprestado ao Vasco no ano
anterior, envolvido na negociação de Dedé.

Após voltar a vencer o Estadual, o técnico Marcelo Oliveira repetiu a fórmula do ano
anterior no Brasileirão: mexeu constantemente na equipe. Se no ano anterior ele usou
31 atletas, em 2014 foram 37 – 32 começaram pelo menos um jogo como titular. E
com exceção de Fábio (36), Marcelo Moreno (32), Éverton Ribeiro (31), Egídio (31),
Mayke (30) e Henrique (30), nenhum outro entrou em campo mais do que 30 vezes.

Se a conquista de 2014 demorou mais tempo para ser confirmada – desta vez,
“apenas” na 36º rodada –, a campanha, entretanto, foi mais consistente. O Cruzeiro
assumiu a ponta da tabela na sexta rodada do primeiro turno e de lá não saiu até o
final, liderando a competição por incríveis 32 rodadas, recorde até hoje não superado.
No total, o time conquistou 80 pontos 77, com um aproveitamento melhor que o de
2013: 70,18% no geral e 82,46% como mandante.

Em 2014, a conquista foi no Mineirão, diante de sua torcida. No dia 23 de novembro,


com mais de 57 mil torcedores acompanhando a equipe, a Raposa bateu o Goiás por
2x1 e sacramentou o bicampeonato seguido. Ricardo Goulart e Marcelo Moreno foram
os artilheiros da equipe, cada um com 15 gols, seguidos por Éverton Ribeiro, com 6.

Copa do Mundo – da euforia ao vexame

Depois de sete longos anos de espera, desde o anúncio de 2007, em Zurique, enfim a
Copa do Mundo no Brasil iria começar. Do dia 12 de junho ao dia 13 de julho, o país
seria o centro das atenções. Milhares de torcedores de todo o mundo desembarcaram
por aqui para acompanhar aquele que, junto com os Jogos Olímpicos, é considerado o
maior evento esportivo do planeta.

Belo Horizonte (e seu entorno) teve um papel fundamental na Copa. Não apenas
porque o Mineirão era um dos estádios oficiais, mas porque aqui ficaram algumas das
seleções que disputaram a competição. A Toca da Raposa foi a casa do Chile, enquanto
a Argentina se baseou na Cidade do Galo, em Vespasiano, e o Uruguai se acolheu em
Sete Lagoas, na Arena do Jacaré.

Dois dias após a abertura, marcada pela vitória do Brasil sobre a Croácia por 3x1, o
Mineirão recebeu seu primeiro jogo no torneio. Pelo Grupo C, a Colômbia venceu a
Grécia por 3x0. O primeiro gol marcado no estádio na competição foi do lateral Pablo
Armero, que já havia jogado no Brasil entre 2009 e 2010, no Palmeiras 78. Gutiérrez e
James Rodríguez79 completaram o placar.

77
Recorde até então no campeonato por pontos corridos com 20 clubes e 38 rodadas.
78
Após a Copa, o atleta voltaria a defender equipes brasileiras: Flamengo (2015), Bahia (2017), CSA e
Guarani (2019).
79
Artilheiro da Copa, com 6 gols, e escolhido como melhor jogador da fase de grupos da competição.
Nas oitavas-de-final, contra o Uruguai, marcou um golaço de fora da área, que acabou sendo escolhido o
mais bonito da Copa.
Três dias depois, ainda pela primeira rodada, mas agora do Grupo H, a Bélgica
derrotou a Argélia por 2x1. Feghoulli marcou primeiro, aos 25 do primeiro tempo, mas
no segundo tempo, Fellaini, aos 25, e Mertens, aos 35, viraram para os europeus.
Curiosamente, os dois jogadores estariam na Seleção Belga que, quatro anos depois,
eliminaria o Brasil nas quartas-de-final da Copa da Rússia.

O terceiro jogo no Mineirão foi pela segunda rodada do Grupo F. O gol só saiu nos
acréscimos do segundo tempo, com Lionel Messi chutando forte de fora da área. Por
fim, no dia 24 de junho, pela terceira rodada do Grupo D, Inglaterra e Costa Rica
empataram em 0x080.

O jogo seguinte no estádio teve sabor especial: o Brasil estaria em campo. A seleção
terminou em primeiro lugar no Grupo A, com 7 pontos (duas vitórias e um empate) e
enfrentaria o Chile, segundo colocado do Grupo B, com 6 pontos, atrás apenas da
Holanda. Na lista de convocados, vários conhecidos dos torcedores de Belo Horizonte.
O goleiro Victor e o atacante Jô eram jogadores do Atlético. O meia-atacante Bernard,
então no Shakhtar Donetsk (Ucrânia), havia conquistado a Libertadores também pelo
Galo menos de um ano antes. Fred, centroavante titular, foi revelado no América e
despontou no Cruzeiro. Os laterais Maicon (Roma) e Maxwell (Paris Saint German) e o
goleiro Jefferson (Botafogo) saíram das categorias de base da Raposa. E o meia
Ramires foi destaque no Cruzeiro antes de brilhar na Europa. No banco, o técnico Luiz
Felipe Scolari, o Felipão, dirigira o Cruzeiro entre 2000 e 2001, quando conquistou a
Copa Sul-Minas.

O jogo foi mais duro do que a torcida – 57.714 pessoas – esperava. No início do
primeiro tempo, aos 18 minutos, o zagueiro David Luiz disputou na área com o
zagueiro Jara e marcou 1x0. Pouco tempo depois, em uma bobeada de Hulk e Marcelo,
o Chile empatou, com Alexis Sanchez, um dos destaques da equipe. No segundo
tempo, as duas equipes tiveram chances de marcar. Primeiro o Chile, com Aránguiz
(então jogador do Internacional), que parou na defesa de Júlio César, e depois o Brasil,
com Hulk, graças a um milagre de Bravo. A partida foi para a prorrogação. No final do
segundo tempo da etapa complementar, um susto: o atacante Pinilla recebeu do
goleiro Bravo, tabelou e, já dentro da grande área, mandou uma bomba: a bola
explodiu na trave, para alívio dos brasileiros. Nas cobranças de pênaltis, o Brasil
venceu por 3x2, com gols de David Luiz, Marcelo e Neymar (Willian e Hulk perderam) e
duas defesas de Júlio César, nos chutes do próprio Pinilla e de Sanchez. Na última
cobrança, Jara mandou na trave, o que garantiu a classificação brasileira.

Nas quartas-de-final, o Brasil foi até Fortaleza e venceu a Colômbia por 2x1, gols dos
zagueiros Thiago Silva e David Luiz. Com a vitória, o time iria voltar a Belo Horizonte
para encarar a Alemanha pelas semifinais. Mas com dois desfalques importantes. O
80
Certamente a Inglaterra não guarda boas recordações de Belo Horizonte quando o assunto é Copa do
Mundo. Em 1950, jogando no Independência, a equipe britânica perdeu para os Estados Unidos por 1x0
naquela que é considerada a maior zebra da história das Copas. Em 2014, o empate com a Costa Rica
selou uma das piores campanhas inglesas na competição, com apenas um ponto – justamente o do
empate no Mineirão. A Costa Rica, por sua vez, foi uma das maiores surpresas daquele ano: terminou a
primeira fase na primeira colocação de sua chave, com 7 pontos, à frente de Uruguai, Itália e da própria
Inglaterra – todos países com títulos mundiais.
capitão Thiago Silva tomou seu segundo cartão amarelo na Copa (o primeiro foi no
empate em 0x0 com o México) e foi suspenso. E o atacante Neymar, principal jogador
da equipe, que se lesionou no final da partida após receber uma joelhada nas costas
do lateral Juan Camilo Zuñiga.

Para o lugar de Thiago Silva, o zagueiro Dante foi uma escolha tranquila. Mas e para a
vaga de Neymar? Depois de muita especulação, Felipão optou por Bernard. Os 58.141
torcedores que foram ao Mineirão naquele dia 8 de julho, ainda que receosos pelas
ausências, não poderiam imaginar o que estaria por vir. Simplesmente a maior derrota
já sofrida pelo Brasil, humilhado pela Alemanha – que sequer fazia uma Copa
excepcional: empatou com Gana na primeira fase e vinha de duas vitórias magras no
mata-mata: 2x1 contra a Argélia e 1x0 contra a França. Contra os donos da casa,
sobrou em campo: 7x1. Thomas Müller marcou aos 11, Klose 81 fez aos 23, Kroos
ampliou aos 24 e 26 e Khedira levou o time para o intervalo vencendo por 5x0. Na
segunda etapa, Schürrle marcou mais dois. No último minuto, Oscar anotou o gol do
Brasil. Tristeza em todo o país, mas principalmente em Belo Horizonte, que se tornou
palco do maior vexame na história da Seleção Brasileira. Que não teve forças para
brigar pelo pódio: foi derrotada pela Holanda (3x0) na disputa do terceiro lugar. Na
decisão, no dia 13 de julho, no Maracanã, a Alemanha bateu a Argentina por 1x0, gol
de Götze no segundo tempo da prorrogação, e conquistou seu quarto título mundial –
já havia vencido em 1954, 1974 e 1990.

Mineiros decidem a Copa do Brasil

Poucos meses após o vexame da Seleção Brasileira no Mineirão, o Gigante da


Pampulha seria palco de um novo momento histórico. Pela primeira vez em mais de
100 anos de futebol em Minas Gerais, dois clubes do Estado decidiram um título
brasileiro82. Atlético, campeão da Libertadores, e Cruzeiro, bicampeão brasileiro,
chegaram na final da Copa do Brasil. E deu Galo, em uma conquista inédita.

Os dois times só entraram na competição nas oitavas-de-final e tiveram confrontos


bem distintos. O Cruzeiro passou fácil pelo modesto Santa Rita, de Alagoas, enquanto
o Atlético teve que encarar o Palmeiras. Nas quartas-de-final, a Raposa tomou um
susto contra o ABC (RN), mas conseguiu a vaga. O Galo, por sua vez, conseguiu uma
virada histórica contra o Corinthians. No primeiro jogo, em São Paulo, perdeu por 2x0.
Na partida de volta, no Independência, os paulistas saíram na frente, com Guerrero,
com apenas quatro minutos de partida. O gol fora de casa ampliava a vantagem do
Timão e obrigava o Atlético a vencer por três gols de diferença. Missão dada, missão
cumprida: Luan marcou aos 23 e Guilherme fez o da virada aos 31 do primeiro tempo.
Na volta do intervalo, Guilherme fez novamente aos 29 e, aos 42, o zagueiro Edcarlos
garantiu o placar que o time precisava para avançar: 4x1.

81
Com o tento anotado contra o Brasil, o alemão Miroslav Klose ultrapassou Ronaldo e se tornou o
maior artilheiro da história das Copas, com 16 gols. Foram cinco em 2002 (quando a Alemanha perdeu
para o Brasil na final), cinco em 2006 (jogando em casa), 4 em 2010 e 2 em 2014 – o primeiro havia sido
no empate contra Gana, na primeira fase, por 2x2.
82
Vide foto em anexo.
Nas semifinais, o Cruzeiro pegou o Santos, com quem já havia disputado a ponta da
tabela no Brasileirão de 2013. No primeiro jogo, no Mineirão, vitória celeste por 1x0.
Na partida de volta, a equipe paulista chegou a ficar perto da vaga. Marcou 3x1 (gols
de Robinho, Gabigol e Rildo), mas o Cruzeiro, que já havia feito um gol no primeiro
tempo com Marcelo Moreno, conseguiu o empate. Willian “do bigode” marcou aos 36
do segundo tempo – o que já garantia a classificação estrelada – e novamente aos 50
da etapa final.

O Galo, por sua vez, viu a história se repetir no confronto contra o Flamengo. No
primeiro jogo, no Rio de Janeiro, derrota por 2x0. Na partida de volta, no Mineirão, o
rubro-negro abriu o placar aos 34 do primeiro tempo, com Everton. Para chegar à
decisão, novamente seria preciso vencer por três gols de diferença. E novamente o
Galo virou, fez 4x1 em seu maior rival fora de Minas Gerais e conseguiu a classificação.
Carlos empatou a partida aos 41 do primeiro tempo. No segundo, Maicosuel aos 12,
Dátolo aos 35 e Luan aos 39 fizeram para o Galo, enlouquecendo os mais de 40 mil
torcedores presentes no estádio.

O Atlético chegou à decisão com alguns remanescentes da conquista da Libertadores


no ano anterior: o goleiro Victor, o lateral-direito Marcos Rocha, o zagueiro Leonardo
Silva, os volantes Leandro Donizete e Josué e os atacantes Luan e Diego Tardelli.
Ronaldinho Gaúcho havia deixado o clube em julho, logo após a conquista da Recopa
Sul-Americana83. Bernard fora vendido para o Shakhtar, da Ucrânia. E Jô foi afastado
pela diretoria poucos dias antes da decisão por atos de indisciplina em Curitiba,
juntamente com o atacante André e o lateral Emerson Conceição.

Para remodelar o elenco, o Atlético trouxe o lateral Douglas Santos, que estava na
Udinese (Itália), e o meia argentino Dátolo. Para o lugar de Jô, uma cria das categorias
de base do clube, o centroavante Carlos. Na zaga, outra revelação atleticana, o baiano
Jemerson, assumiu a posição de titular no lugar de Réver. No banco, um velho
conhecido da torcida: Levir Culpi, que voltou ao time no meio do ano para substituir
Paulo Autuori.

A primeira partida da decisão foi disputada no Independência. Após os sustos nas


quartas e nas semifinais, o Atlético conseguiu uma vitória tranquila por 2x0, gols de
Luan – efetivado como titular em 2014 – e Dátolo. A equipe iria para a partida final
podendo perder por até um gol de diferença.

O Cruzeiro chegou para o segundo jogo, realizado no dia 26 de novembro, embalado


pela conquista do Campeonato Brasileiro. Três dias antes, a equipe havia vencido o
Goiás e garantido seu segundo título seguido, com duas rodadas de antecedência.
Ainda de “ressaca”, não conseguiu fazer frente ao maior rival. O Atlético venceu por
1x0, gol do ídolo Diego Tardelli aos 46 do primeiro tempo, e conquistou a Copa do
Brasil pela primeira vez. Luan foi o artilheiro do time no torneio, com 5 gols.

83
A competição foi criada pela Conmebol em 1989 e, até 1998, reunia o campeão da Libertadores e o
campeão da Supercopa da Libertadores. A partir de 2003, é disputada entre o campeão da Libertadores
e o campeão da Copa Sul-Americana. Em 1998, o título ficou com o Cruzeiro.
Triplete alvinegro. E o Galo ganhou.

Após vencer a Copa Libertadores em 2013 e a Copa do Brasil em 2014, a torcida


atleticana passou a ter uma obsessão: o bicampeonato brasileiro. Campeão da
primeira edição, em 1971 – a CBF só iria unificar os torneios disputados desde 1959
anos depois –, o Galo bateu na trave várias vezes, mas o bi não vinha. Foi vice em 1977
(invicto), 1980, 1999, 2012 e 2015 e terceiro colocado em 1976, 1983, 1986, 1991,
1996 e 2020. Já estava na hora de mudar essa escrita.

A história mudou em 2021, e de forma magnifica. Se em 2003 o Cruzeiro entrou para a


história ao conquistar a “Tríplice Coroa”, o Galo repetiu o feito do maior rival. Venceu
o Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Brasileirão, mas mudou o nome do feito:
nada de tríplice coroa: era a vez do “triplete84 alvinegro”.

Para levar o time à conquista histórica, um campeão de outras épocas: Cuca, que após
a derrota para o Raja Casablanca, no Mundial de Clubes de 2013, passou pelo
Shandong Luneng (China), Palmeiras (onde venceu o Campeonato Brasileiro de 2016),
Santos (vice-campeão da Libertadores em 2020) e São Paulo. O treinador assumiu no
dia 5 de março e, pouco mais de dois meses depois, conquistou o primeiro título do
ano. Com dois empates em 0x0 com o América, o Galo, que havia feito melhor
campanha na primeira fase, ficou com o título estadual.

Se em 2013 a estrela atleticana era Ronaldinho Gaúcho, em 2021 a diretoria foi buscar
outro craque para ser o símbolo da equipe. No dia 29 de janeiro, foi anunciada a
contratação do atacante Hulk, que não atuava por uma equipe brasileira há 16 anos 85.
Outros reforços importantes do time foram o lateral Guilherme Arana (revelado pelo
Corinthians, estava no Sevilla, da Espanha), o centroavante brasileiro naturalizado
espanhol Diego Costa (do Atlético de Madri), os meias argentinos Nacho Fernández e
Matías Zaracho, o zagueiro paraguaio Júnior Alonso, o atacante Keno, o goleiro
Everson e os atacantes Keno, Eduardo Sasha e Vargas (Chile).

A chegada de alguns reforços somente com o Campeonato Brasileiro em andamento,


como Arana e Diego Costa, fizeram com que o Atlético demorasse para embalar na
competição. A liderança só veio na 15º rodada, com a vitória fora de casa contra o
Juventude, em Caxias do Sul, por 2x1. Mas, daí em diante, o time não conheceu outra
posição na tabela.

O Galo somou 84 pontos – atualmente, o terceiro melhor retrospecto da história do


Brasileirão desde que que o campeonato passou a ser disputado por 20 equipes. Nos
38 jogos, o time venceu 26, empatou 6 e perdeu 6, um aproveitamento de 73%.
Dentro de casa, só perdeu uma partida, a da estreia, contra o Fortaleza. Hulk,
84
A expressão é comumente usada em Portugal e na Espanha.
85
Revelado pelo Vitória (BA), o sergipano foi para o futebol japonês em 2005. Passou por Kawasaki
Frontale, Consadole Sapporo e Verdy Tóquio até se transferir para o Porto, de Portugal, em 2008. Na
Europa, foi tetracampeão português, campeão da Liga Europa em 2011 e campeão russo em 2015, pelo
Zenit. Pela Seleção Brasileira, foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2012 e campeão da Copa das
Confederações de 2013, além de integrar a equipe na Copa de 2014.
escolhido craque do ano, também foi o artilheiro, com 19 gols. O atacante também foi
o líder de assistências do Galo, com 6. Zaracho foi o segundo que mais marcou pelo
Atlético, com 7 gols, seguido por Nacho Fernández, Keno e o venezuelano Savarino,
cada um com 5 gols.

O domínio do Atlético ficou nítido quando foram reveladas as seleções do


campeonato. Na Bola de Prata, tradicional troféu criado pela revista Placar na década
de 1970 e assumindo pela ESPN Brasil, foram sete integrantes: Everson, Mariano
(lateral-direito), Alonso, Arana, Jair, Nacho e Hulk. Cuca foi o melhor técnico e Hulk
ficou com a Bola de Ouro. No Prêmio Craques do Brasileirão, da CBF, foram cinco
atleticanos: Alonso, Arana, Jair, Nacho e Hulk.

A conquista do Brasileirão veio no dia 2 de dezembro, com duas rodadas de


antecedência, na vitória contra o Bahia, fora de casa. A equipe perdia por 2x0, mas
virou para 3x2 com um gol de Hulk e dois de Keno. A caminhada para o Triplete viria
dez dias depois, contra o Atlético Paranaense.

Ate chegar na decisão contra seu xará do Sul, o Galo teve uma longa caminhada na
Copa do Brasil. O time estreou na terceira fase da competição, no dia 2 de junho, com
uma vitória fora de casa contra o Remo (PA) por 2x0. No jogo de volta, em Belo
Horizonte, nova vitória, desta vez por 2x1. Na fase seguinte, derrotou o Bahia no
Mineirão por 2x0 e, apesar da derrota em Salvador por 2x1, avançou para as quartas-
de-final.

O adversário foi o Fluminense. Desta vez, o Galo passou sem derrota: bateu os cariocas
no Engenhão por 2x1, no jogo de ida, e confirmou a classificação em casa com o
triunfo por 1x0. Para chegar na decisão, passou pelo Fortaleza também com duas
vitórias, primeiro por 4x0 e, na capital cearense, por 2x1.

Diante de 53.181 torcedores presentes no Mineirão, o Galo praticamente garantiu o bi


no primeiro jogo. Impiedoso, goleou os paranaenses por 4x0 e ficou bem perto da
conquista. Hulk, aos 23, e Keno, aos 34, marcaram no primeiro tempo. Na segunda
etapa, o chileno Vargas marcou aos 10 e aos 23, em uma das melhores exibições da
equipe na temporada. Na Arena da Baixada, Keno e Hulk voltaram a marcar. Jaderson
ainda descontou para os donos da casa, mas o título tinha dono: o Galo. Para
confirmar um bordão que tomou conta de Belo Horizonte em 2021: “E o Galo? O Galo
ganhou”.

Assim como no Brasileiro, Hulk foi o artilheiro do time e da competição, com 8 gols.
Mesmo com 35 anos, o atacante esbanjou técnica e força física durante a temporada,
entrando para a galeria de ídolos imortais do Atlético. O jogador chegou a ser
convocado por Tite para a Seleção Brasileira após um hiato de cinco anos, mas acabou
ficando de fora da lista para a Copa do Mundo.

A saga do Cruzeiro para voltar à elite


Pode um time ser bicampeão seguido da Copa do Brasil, segundo maior torneio do país
e, no ano seguinte, ser rebaixado para a segunda divisão pela primeira vez em sua
história?

Pode.

Quando problemas financeiros e atitudes controversas de alguns jogadores se


misturam, pode. O Cruzeiro provou isso em 2019.

A equipe celeste vinha de dois títulos daquela que era sua especialidade, a Copa do
Brasil. O penta, em 2017, foi contra o Flamengo, nos pênaltis. E o hexa em 2018,
contra o Corinthians, com duas vitórias seguidas, 1x0 e 2x1. No início de 2019, a
equipe ainda conquistou o Campeonato Mineiro, batendo o rival Atlético na decisão.
Mas nos meses seguintes, o mundo veio abaixo para a China Azul.

Quem analisa o time que disputou o último jogo do campeonato 86, quando o Cruzeiro
foi derrotado em casa para o Palmeiras por 2x0, pode pensar que o problema era um
elenco desconhecido. Mas não. A Raposa disputou o Brasileirão com uma equipe
experiente, repleta de jogadores que, no passado, ganharam títulos importantes pelo
clube, como o zagueiro Dedé, os laterais Edílson e Egídio, o volante Lucas Silva, os
meias Robinho, Rodriguinho e Thiago Neves e o atacante Fred.

A equipe entrou na zona de rebaixamento pela primeira vez na nona rodada do


primeiro turno. Daí em diante, a ameaça da queda esteve sempre presente – a melhor
colocação do time foi a 16º posição, a última antes da degola. O time ainda conseguiu
ficar fora do Z4 por cinco rodadas seguidas no segundo turno – da 29º até a 33º. Mas
perdeu os cinco jogos seguintes – para Santos (4x1), CSA (1x0), Vasco (1x0), Grêmio
(2x0) e Palmeiras (2x0) – e sacramentou a queda.

Em toda a competição, o Cruzeiro teve cinco treinadores. Iniciou com Mano Menezes –
comandante das conquistas da Copa do Brasil em 2017 e 2018 –, demitido na 13º
rodada, após derrota no clássico para o Atlético por 2x0. Ricardo Resense assumiu
interinamente até a chegada de Rogério Ceni, que só durou sete jogos. Abel Braga
ficou à frente do time por 14 partidas e até conseguiu um retrospecto razoável – foram
11 jogos sem perder, mas apenas 3 vitórias. Os últimos três jogos foram comandados
por Adílson Batista, ídolo da equipe como jogador, na década de 90, e depois como
técnico. Mas nem a ligação do ex-volante com o clube foi suficiente para salvar a
Raposa.

Os problemas externos afetaram muito a equipe. No meio do ano, o Cruzeiro passou a


ser investigado pela Polícia Civil devido a irregularidades financeiras para pagamentos
de dívidas e suspeita de lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e falsificação de
documentos. Em outubro, o ex-presidente e então vice-presidente de futebol, Itair
Machado, deixa o clube. Quem assumiu o comando foi o também ex-presidente Zezé
Perrella, à época presidente do Conselho Deliberativo. Uma reunião chegou a ser

86
O Cruzeiro entrou em campo com Fábio; Orejuela, Cacá, Léo e Dodô; Henrique, Jadson e Éderson;
Marquinhos Gabriel, Ezequiel e Pedro Rocha. Sassá, Weverton e Maurício entraram no segundo tempo.
marcada para votar o afastamento do então presidente Wagner Pires de Sá, mas
acabou cancelada. O dirigente só deixou o clube no final do ano, após o rebaixamento,
quando renunciou ao seu mandato.

Desde o início dos anos 2000, quando as viradas de mesa deixaram de ser um costume
do futebol brasileiro, tem sido comum o rebaixamento de grandes equipes. Aconteceu
com Grêmio, Atlético, Corinthians, Internacional, Vasco, Palmeiras, Fluminense e
Botafogo – alguns mais de uma vez. As equipes caem, se planejam, há uma união da
torcida e, no ano seguinte, conseguem retornar à elite. Mas não foi assim com o
Cruzeiro.

Repleto de dívidas e problemas políticos, o clube amargou três anos na segunda


divisão. Sem dinheiro para se reforçar, e tendo que jogar diversas partidas sem o apoio
de seus torcedores, em função da pandemia de Covid-19, além de sofrer com punições
da Fifa devido à falta de pagamento de atletas, o que resultou na perda de pontos, o
time fez uma campanha pífia no Brasileirão de 2020 – terminou apenas na 11º
colocação. Da 13º até a 18º rodada, chegou a ficar na zona de rebaixamento para a
Série C. Os poucos destaques do time foram os veteranos Fábio, Manoel e Rafael
Sóbis, além do atacante Marcelo Moreno, contratado para tentar levar a equipe de
volta à elite, em sua terceira passagem pela Toca da Raposa. Em 38 jogos, foram
apenas 14 vitórias, com 13 empates e 11 derrotas.

Em 2021, o resultado foi ainda pior. Se as chances de cair para a terceira divisão foram
menores, a equipe se acostumou a ficar sempre na parte intermediária da tabela.
Terminou a competição em 14º lugar, longe do acesso, com 48 pontos (10 vitórias, 18
empates e 10 derrotas).

Foi preciso que um velho ídolo entrasse em cena para salvar o Cruzeiro. Mas não
dentro de campo. Para contornar os problemas financeiros, renegociar as dívidas e
voltar a ter capital para se reforçar, o Cruzeiro se tornou uma Sociedade Anônima do
Futebol (SAF) – uma empresa. E quem assumiu a SAF Cruzeiro, com um investimento
de R$ 400 milhões, foi o ex-jogador Ronaldo, revelado pela Raposa no início dos anos
90.

Entrou um ídolo, saiu outro. Logo no início de 2022, insatisfeito com algumas decisões
dos novos dirigentes do clube, envolvendo, principalmente, a renovação de seu
contrato e o novo teto salarial adotado, o goleiro Fábio deixou o Cruzeiro no dia 6 de
janeiro. Foram 17 anos de clube e 976 jogos, com 12 títulos conquistados – dentre eles
dois brasileiros e três Copas do Brasil.

O escolhido por Ronaldo para comandar o Cruzeiro de volta à elite foi o uruguaio Paulo
Pezzolano, até então desconhecido dos torcedores e com um retrospecto modesto
como treinador. Com apenas cinco anos de carreira, iniciada tão logo pendurou as
chuteiras, em 2016, o ex-meio-campista, que teve uma rápida passagem como jogador
pelo Atlético Paranaense em 2005, só havia dirigido três equipes antes de
desembarcar em Minas Gerais: os pequenos Torque e Liverpool, do Uruguai, e o
Pachuca, do México.
A aposta deu certo. Usando o Campeonato Mineiro como laboratório, o Cruzeiro se
concentrou no Brasileirão. Já na quinta rodada, chegou na terceira colocação e uma
vaga entre os quatro. Duas rodadas depois, assumiu a ponta da tabela e não largou
mais: liderou a competição por 32 rodadas, do dia 15 de maio até o último jogo, dia 6
de novembro.

Mesmo naquela que foi considerada a disputa mais difícil da história da segunda
divisão pelo número de grandes times na briga – além de Cruzeiro, Grêmio, Vasco,
Bahia, Sport e Guarani –, a Raposa sobrou. Marcou 78 pontos, 13 a mais que o Grêmio,
segundo colocado. Venceu 23 jogos, empatou 9 e perdeu apenas 6, com 57 gols
marcados (melhor ataque da competição) e somente 26 sofridos (melhor defesa,
empatado com o Grêmio). Em casa, o time teve um aproveitamento de 84,21% -
apenas uma derrota, para o Guarani, por 1x0.

A torcida deu um show à parte. A média de público nos 19 jogos em casa 87 foi de
41.042 pessoas. Destaque para o duelo contra o Vasco, no dia 21 de setembro, quando
59.204 torcedores empurraram o time na vitória por 3x0 que garantiu a equipe
matematicamente de volta à Série A, com sete rodadas de antecedência. Na última
partida do torneio, contra o CSA, 61.291 cruzeirenses lotaram o Mineirão para a
despedida da segunda divisão e a festa de retorno à elite.

Cronologia

1894 – Esse é o ano em que “oficialmente” o futebol chegou ao Brasil, pelas mãos do
estudante paulista Charles Miller, que desembarcou no país trazendo duas bolas
usadas, um par de chuteiras, um livro de regras do futebol, uma bomba de encher e
alguns uniformes.

1895 – É disputado o primeiro jogo considerado “oficial” no país. A equipe da


Companhia Ferroviária de São Paulo (São Paulo Railway Company), com Charles Miller
no ataque, venceu o time dos funcionários da Companhia de Gás de São Paulo (São
Paulo Gaz Company) por 4x2. A partida foi disputada em um campo onde hoje fica o
bairro do Brás, na capital paulista.

1903 – Victor Serpa, carioca que estudava Direito em Belo Horizonte, começa a
difundir o futebol na cidade.

1904 – No dia 10 de julho é fundado o Sport Club Foot-Ball, considerado o primeiro


time de futebol da história de Minas Gerais. Nesse mesmo ano, é disputado o primeiro
jogo no Estado, entre um combinado de jogadores do Sport. O time de Victor Serpa
venceu por 2x1.

1908 – É fundado o Atlético Mineiro Foot-ball Club no dia 25 de março, que teve seu
nome mudado para Clube Atlético Mineiro em 1913.

87
Foram 16 jogos no Mineirão, dois no Independência (contra Grêmio e Náutico) e um no Mané
Garrincha, em Brasília, contra a Chapecoense.
1912 – No dia 30 de abril de 1912 é fundado o América Futebol Clube.

1914 – É formada pela primeira vez uma equipe nacional. A seleção brasileira faz seu
primeiro jogo na história e vence a equipe inglesa Exeter City por 2x0, no Rio de
Janeiro.

1915 – É disputada a primeira edição do Campeonato Mineiro, com o Atlético


sagrando-se campeão.

1916 – América conquista seu primeiro título mineiro e dá início à campanha do


decacampeonato, com dez triunfos seguidos até 1925.

1921 – No dia 2 de janeiro é fundada a Societá Sportiva Palestra Italia, primeiro nome
do Cruzeiro Esporte Clube, rebatizado somente em 1942.

1922 – A Seleção Mineira disputa a primeira edição do Campeonato Brasileiro de


Seleções, mas é humilhada pela Seleção de São Paulo e perde por 13x0.

1930 – Mário de Castro e Carlos Brant, respectivamente atacante e meio-campista do


Atlético, são os primeiros jogadores de uma equipe mineira convocados para integrar a
Seleção Brasileira. O primeiro recusou o convite, mas Brant chegou a treinar com a
equipe que disputou a Copa do Mundo de 1930. O atleta, contudo, não chegou a
disputar uma partida oficial pelo Brasil.

1932 – São disputados dois campeonatos mineiros: um, organizado pela Liga Municipal
de Desportos Terrestres, teve o Atlético como campeão. O outro, organizado pela
Associação Mineira de Esportes (AMEG), dissidência da entidade principal criada pelo
América, foi vencido pelo Villa Nova.

1933 – Tem início a era profissional do futebol em Minas Gerais.

1934 – Heitor Canalli, natural de Juiz de Fora e meia do América (RJ), é o primeiro
jogador nascido em Minas Gerais a disputar uma Copa do Mundo. O atleta nunca
chegou a vestir uma camisa de um time mineiro.

1936 – Niginho é convocado pelo técnico Ademar Pimenta e se torna o primeiro


jogador de uma equipe mineira a disputar uma partida oficial pela Seleção Brasileira. O
atacante do então Palestra Itália, que depois se tornaria Cruzeiro, vestiu a camisa do
Brasil cinco vezes e marcou dois gols.

1937 – Atlético conquista o Torneio dos Campões, primeiro campeonato nacional


vencido por uma equipe mineira.

1940 – No dia 23 de outubro nasce na cidade mineira de Três Corações Edson Arantes
do Nascimento, Pelé, consagrado como maior jogador de futebol de todos os tempos.
1942 – No dia 7 de outubro, o Palestra Italia passa a se chamar, oficialmente, Cruzeiro
Esporte Clube.

1950 – No dia 25 de junho, é inaugurado o Estádio Raimundo Sampaio, o


Independência, com a partida entre Iugoslávia e Suíça, válida pela Copa do Mundo de
1950. O estádio recebeu outros dois jogos, marcando a presença de Belo Horizonte na
principal competição de futebol do planeta.

1959 – O governador José Francisco Bias Fortes sanciona, no dia 13 de agosto, a Lei
1947, que dispõe sobre a criação de um estádio de futebol em Belo Horizonte para 100
mil espectadores. É o início do surgimento do Mineirão.

1965 – Inaugurado o Mineirão. Na primeira partida, no dia 5 de setembro, a Seleção


Mineira vence o River Plate, da Argentina, por 1x0, gol de Buglê (Atlético).

1966 – No dia 11 de janeiro, o Mineirão recebe seu nome atual: Estádio Governador
Magalhães Pinto.

1966 – Tostão, meia do Cruzeiro, é o primeiro jogador de uma equipe mineira


convocado para disputar uma Copa do Mundo. Quatro anos depois, no Mundial do
México, jogando como atacante, ele se tornaria uma das lendas da equipe que
conquistou o tricampeonato mundial.

1966 – No dia 30 de novembro, o Cruzeiro goleia o Santos por 6x2 no Mineirão e vence
o primeiro jogo da decisão da Taça Brasil. Oito dias depois, confirma o título com nova
vitória, desta vez por 3x2, em São Paulo.

1968 – O Atlético representa a seleção brasileira e vence a Iugoslávia por 3x2 no


Mineirão. O jogo foi disputado no dia 19 de dezembro.

1970 – Tostão, Fontana e Piazza (Cruzeiro) e Dario (Atlético) são os primeiros


jogadores de equipes mineiras a conquistar um título da Copa do Mundo.

1971 – No dia 12 de dezembro, o Atlético vence o São Paulo por 1x0 e pavimenta o
caminho para o título de campeão brasileiro. A taça foi confirmada uma semana
depois, no Maracanã, com a vitória de 1x0 contra o Botafogo.

1975 – A Seleção Brasileira disputa seu primeiro jogo oficial no Mineirão. No dia 6 de
agosto, bate a Argentina por 2x1, em partida válida pela Copa América.

1976 – O Cruzeiro sagra-se campeão da Libertadores da América pela primeira vez. No


primeiro jogo, no Mineirão, vitória contra o River Plate por 4x1. Na segunda partida,
em Buenos Aires, os rivais venceram por 2x1 e forçaram um jogo extra, em campo
neutro. No dia 30 de julho, no Estádio Nacional de Santiago, no Chile, o Cruzeiro
venceu por 3x2 e ficou com o título.
1980 – No dia 9 de outubro é registrada a maior goleada da história do Mineirão. O
Cruzeiro venceu o Flamengo de Varginha por 11x0.

1992 – O Atlético bate o Olimpia (Paraguai) e conquista seu primeiro título


internacional oficial, a Copa Conmebol. No primeiro jogo, no Mineirão, vitória por 2x0.
Na volta, a derrota por um gol de diferença garantiu a taça para o Galo.

1993 – No dia 3 de junho, o Cruzeiro vence o Grêmio por 2x1 e conquista seu primeiro
título da Copa do Brasil.

1993 – Brasil goleia a Venezuela por 4x0 e fica perto de uma vaga para a Copa do
Mundo dos Estados Unidos. A partida foi realizada no dia do aniversário do Mineirão, 5
de setembro.

1997 – O Mineirão registra seu recorde de público, quando 132.834 pessoas assistiram
a vitória do Cruzeiro sobre o Villa Nova por 1x0, que garantiu o título de campeão
mineiro à Raposa.

1997 – No dia 9 de agosto, o Atlético vence o Cruzeiro por 2x1 e ganha a Copa
Centenário, criada para festejar o aniversário de 100 anos de Belo Horizonte.

1997 – O Cruzeiro garante o bicampeonato da Taça Libertadores ao bater o Sporting


Cristal, do Peru, por 1x0. A vitória foi no dia 13 de agosto, no Mineirão.

1997 – O América vence o Vila Nova (GO) no dia 7 de dezembro e conquista a Série B.
É o primeiro título nacional do Coelho.

2003 – No dia 30 de novembro, o Cruzeiro vence o Paysandu por 2x1 no Mineirão e


garante matematicamente o título de campeão brasileiro com duas rodadas de
antecedência.

2004 – O Brasil vence a Argentina no Mineirão na noite de 2 de junho por 3x1, pelas
Eliminatórias da Copa do Mundo. Ronaldo, de volta ao estádio onde foi revelado,
marcou os três gols.

2005 – Atlético empata com o Vasco por 0x0 e, no dia 27 de novembro, cai para a Série
B do Brasileirão.

2006 – Menos de um ano depois, no dia 11 de novembro, o Atlético vence o Coritiba


fora de casa por 3x2 e garante, matematicamente, o retorno à Série A. Uma semana
depois, a equipe vence o Ceará, também fora de casa, por 1x0, e conquista o título do
Brasileirão da Série B.

2009 – A Fifa anuncia, no dia 31 de maio, que o Mineirão será um dos estádios da Copa
do Mundo de 2014. A escolha do Brasil como país-sede havia sido feita no dia 30 de
outubro de 2007, em Zurique (Suíça).
2010 – No dia 6 de junho, o Atlético perde para o Ceará por 1x0, partida válida pelo
Campeonato Brasileiro. Treze dias depois, a banda Skank faz um show gratuito no
Mineirão para gravar seu DVD ao vivo. São os últimos eventos no estádio, que entraria
em reforma para a Copa do Mundo.

2012 – No dia 25 de abril, em um amistoso entre América e Argentinos Juniors, o


Independência é reaberto. O estádio ficou dois anos em reformas. Mais de oito meses
depois, no dia 21 de dezembro, foi a vez do Mineirão ser reaberto, com um show da
banda Jota Quest. A primeira partida no novo estádio, contudo, só foi realizada em
fevereiro de 2013, com um clássico entre Atlético e Cruzeiro.

2013 – O Mineirão recebe três partidas da Copa das Confederações. Duas foram pela
primeira fase: no dia 17 de junho, a Nigéria goleou Taiti por 6x1. No dia 22, o México
bateu o Japão por 2x1. E no dia 26, a Seleção Brasileira derrotou o Uruguai por 2x1 na
semifinal e se classificou para a decisão.

2013 – O Galo bate o Olimpia nos pênaltis e conquista seu primeiro título da
Libertadores. O jogo foi disputado no dia 24 de julho, no Mineirão. Cinco meses
depois, no dia 18 de dezembro, a equipe perde para o Raja Casablanca, do Marrocos, e
fica fora da final do Mundial de Clubes.

2013 – O Cruzeiro vence o Vitória (BA) por 3x1 no Barradão e, com quatro rodadas de
antecedência, conquista seu terceiro título do Campeonato Brasileiro.

2014 – No dia 23 de novembro, o Cruzeiro vence o Goiás no Mineirão e fica com o


bicampeonato seguido do Brasileirão.

2014 – No dia 14 de junho, o Mineirão recebe sua primeira partida na Copa do Mundo,
a vitória da Colômbia por 3x0 sobre a Grécia. Ainda na primeira fase, foram mais três
jogos: Bélgica 2x1 Argélia (17/06), Argentina 1x0 Irã (21/06) e Costa Rica 0x0 Inglaterra
(24/06). O estádio ainda seria palco de mais dois jogos: a vitória do Brasil nos pênaltis
(3x2) sobre o Chile (após empate no tempo normal e na prorrogação por 1x1), pelas
oitavas-de-final, e o massacre da Alemanha sobre a Seleção Brasileira nas semifinais,
no dia 8 de julho: o histórico 7x1.

2014 – Pela primeira vez na história, Atlético e Cruzeiro decidiram uma competição
nacional, a Copa do Brasil. No dia 26 de novembro, no Mineirão, o Galo venceu por 1x0
e ficou com o título. A equipe já havia vencido o primeiro jogo por 2x0, no
Independência.

2019 – No dia 8 de dezembro, o Cruzeiro perde para o Palmeiras e é rebaixado para a


Série B.

2021 – O Atlético repete o feito de 2003 do Cruzeiro e conquista, no mesmo ano, o


Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Brasileirão – o Triplete Alvinegro. O bi do
Brasileiro veio no dia 2 de dezembro, com duas rodadas de antecedência, na vitória
por 3x2 contra o Bahia. O da Copa do Brasil aconteceu 13 dias depois, quando o Galo
bateu o Atlético Paranaense por 2x1, fora de casa, após vencer o primeiro jogo da
decisão no Mineirão por 4x0.

2022 – Após três anos na segunda divisão, o Cruzeiro retorna à elite do futebol
brasileiro. O acesso foi garantido no dia 21 de setembro, na vitória de 3x0 sobre o
Vasco, com sete rodadas de antecedência.

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