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Capítulo IX

PREPARAÇÃO
1. Põe-te na presença de Deus.
2. Pede a Deus que te inspire.

CONSIDERAÇÃO
1. Considera que se passaram tantos e tantos anos antes que viesses ao mundo, sendo
teu ser um puro nada. Onde estávamos nós, minha alma, durante este tempo? O
mundo já existia desde uma longa série de séculos e nada havia de tudo aquilo que
nós somos.
2. Pensa que Deus te tirou do nada para te fazer o que és, sem que tu lhe fosses
necessária, mas unicamente por sua bondade.
3. Forma uma ideia elevada do ser que Deus te deu, porque é o primeiro e o mais
perfeito de todos os seres deste mundo visível, criado para uma vida e felicidade
eternas e capaz de unir-se perfeitamente a Majestade divina.

AFETOS E RESOLUÇÕES
1. Humilha-te profundamente diante de Deus, dizendo com o salmista:
Oh! Minha alma, sabe que o Senhor é teu Deus e que foi ele que te fez e
não tu que te fizeste a ti mesma. Ó Deus, sou uma obra de vossas mãos. Ó
Senhor, toda a minha substância é um puro nada diante de vós; e quem sou
eu, para que me queiras fazer este bem?

— Ah! Minha alma, tu estavas mergulhada no abismo do nada e aí estarias ainda, se


Deus não te tivesse tirado.
2. Agradece a Deus. Ó meu Criador, vós, cuja beleza iguala a grandeza infinita,
quanto vos devo, porque me tendes feito por vossa misericórdia tudo isso que eu sou.
Que farei eu para bendizer condignamente o vosso santo nome e para agradecer a
vossa infinita bondade?
3. Confunde-te. Mas, ah! Meu Criador, em vez de me unir convosco pelo amor e por
meus serviços, minhas paixões revoltaram meu coração contra vós, separaram e
afastaram minha alma de vós e ela entregou-se ao pecado e devotou-se a injustiça.
Respeitei e amei tão pouco a vossa bondade, como se não tivésseis sido meu Criador.
Eis aqui, pois, as boas resoluções que vossa graça me faz tomar! Renuncio a estas vãs
complacências que, desde há tanto, tem ocupado o meu espírito e o meu coração
unicamente comigo mesmo, que sou nada. De que te glorificas, pó e cinza! Ou
melhor, que tens em ti, verdadeiro e miserável nada, em que te possas comprazer?
Quero humilhar-me, e por isso farei isto ou aquilo, sofrerei este ou aquele desprezo;
quero absolutamente mudar de vida; seguirei dora em diante o movimento desta
inclinação que meu Criador me deu para ele; honrarei em mim esta qualidade de
criatura de Deus e como tal me considerarei unicamente: consagrarei todo o ser que
recebi dele a obediência que lhe devo, com todos os meios que tenho e sobre os quais
pedirei conselhos a meu pai espiritual.

CONCLUSÃO
1. Agradece a Deus. Bendizei, ó minha alma, ao Senhor e todas as coisas que há
dentro de mim bendigam o seu santo nome!
2. Oferece-te a Deus. Ó meu Deus, eu vos ofereço o meu ser, que vós me destes com
todo o meu coração; eu vô-lo consagro.
3. Ora humildemente a Deus. Ó meu Deus, eu vos suplico que me conserveis, pelo
vosso poder, nestas resoluções e sentimentos. Ó Virgem Santíssima, eu vos peço que
as recomendeis ao vosso Filho divino, com todos aqueles por quem tenho obrigação
de rezar. Pai-Nosso, Ave-Maria.
Depois da meditação, colhe daí o assim chamado fruto, isto é, uma verdade qualquer
que te produziu maior impressão e comoveu mais o teu coração; durante o dia
recorda-te dela de vez em quando, para te conservares nas boas resoluções. É o que
costumo chamar de ramalhete espiritual. Comparo esta prática ao costume daquelas
pessoas que tomam consigo pela manhã um ramalhete de flores e o cheira muitas
vezes durante o dia, para em seu suave odor deleitar e fortificar o coração.
Este aviso que te dou aqui servirá também para as meditações seguintes.

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