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Aula 02 - Olhares Críticos Sobre A Colonização e A Descolonização
Aula 02 - Olhares Críticos Sobre A Colonização e A Descolonização
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
1 OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
2 COMEÇANDO A HISTÓRIA
Na aula anterior, caro aluno, iniciamos nossa viagem ao universo das Literaturas
Africanas de Língua Portuguesa. Discutimos sobre as imagens que construímos
da África e dos africanos. Vimos que as primeiras imagens e pensamentos que
nos acometem, quando pensamos na África, estão relacionados à pobreza, à
fome, às doenças, à vida selvagem, entre outros. Dessa forma, a África não é
vista como um continente, com diferentes paisagens, modos de vida, religiões e
línguas distintas. Os nossos objetivos foram conhecer um pouco da história dos
países africanos de Língua Portuguesa; também discutir e desconstruir visões
estereotipadas sobre a África e os africanos; e, ainda, promover o diálogo entre
as experiências de vida e de memória de escritores africanos e os diferentes
caminhos seguidos pelas literaturas africanas durante e depois da colonização
portuguesa.
3 TECENDO CONHECIMENTO
de ‘tempo de força’, pois é pela força, pela coação e a violência física que se
instaurou o regime europeu”. Em outros países do continente africano não foi
muito diferente, mas não constitui objetivo tratar da colonização no sentido
mais amplo, pois teríamos, também, o continente americano e o asiático nas
nossas reflexões, o que, para o propósito desta aula, seria por demais extenso.
Há, ainda, uma vertente perversa no regime colonial: o racismo. A cor da pele não
é tudo, mas condiciona a relação colonizador/colonizado para além de interferir
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Olhares críticos sobre a colonização e a descolonização
Edward Said (1935-2003), em seu livro Orientalismo (2003), livro fundamental para
a compreensão da complexa e desigual relação colonizador/colonizado, discute
a questão do império britânico e sua dominação, levantando o problema da
oposição ocidentalismo/orientalismo. Na visão imperialista, os orientais careciam
de qualidades fundamentais a um governante, por exemplo, como espírito
analítico, características de liderança, entre outras “carências” descobertas pelo
branco imperialista, possuidor das credenciais para submeter, subalternizar.
Mas como não foi por mágica e os bons propósitos do calor da luta às vezes
transformam-se em ganância, ainda hoje se luta tentando corrigir os danos de
um possível colonialismo das mentes, ranço do sistema antigo ainda não de
todo expurgado.
Recorremos, neste momento, à escritora Ana Mafalda Leite (2012, p. 12), que
discorre com grande propriedade sobre o tópico. Vejamos:
Depois da Segunda Guerra Mundial, o termo postcolonial
state, uasado pelos historiadores, designa os países recém-
independentes, com um claro sentido cronológico. No
entanto, postcolonial, a partir dos anos setenta, é termo
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AULA 2
POSSE
Nos compêndios escolares não se falava da pequena ilha solitária
e perdida nos mares do Sul.
Não passavam por lá os barcos dos brancos e o povo seguia a
sua própria lei
que no entanto não estava escrita em livro algum.
Homens e mulheres viviam nus e amavam-se sem complicações
e comiam peixes que pescavam em canoas feitas com troncos
de árvores e carne de animais caçados com setas certeiras.
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AULA 2
Pois é. Não foi fácil, não foi tranquilo. Portugal perseverou com o sistema colonial,
ancorado no ditador Oliveira Salazar (presidente de Portugal no período de 1932 a
1968) que, apesar da reprovação da Inglaterra, colonizadora histórica, recusou-se
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Olhares críticos sobre a colonização e a descolonização
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AULA 2
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Figura 2
Olhares críticos sobre a colonização e a descolonização
Banir o colonialismo tem se revelado tarefa das menos fáceis. Lidar com a ambição
do homem que foi explorado e não aprendeu com o seu sofrimento a poupar o
outro é resultado de uma história de ressentimento e abandono difícil de apagar.
O crítico pós-colonial precisa conhecer bem a ação colonizadora e sua extensão,
para melhor desarticulá-la e sanear um terreno tão minado.
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AULA 2
O fragmento fala por si. O chefe subtrai bens, atrasa salários e conclui ser melhor
que os outros. Afinal, chega ao cúmulo de comparar-se ao colonizador, sugerindo
ter havido, apenas, a substituição do tirano branco pelo negro. A igualdade
e a justiça por que muitos deram a própria vida, o cínico David transfere a
responsabilidade para Deus.
Exercitando
Partindo dos elementos apresentados nesta aula, faça uma análise dos conceitos
de colonização e pós-colonização, tentando estabelecer relações com exemplos
de continuidade de mão de obra escrava e ranços da colonização nas relações
de poder. Leia atentamente o material para detectar pontos que precisam de
aprofundamento ou sobre os quais tem alguma dúvida.
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Olhares críticos sobre a colonização e a descolonização
Portugal Colonial
Nada te devo
nem o sítio
onde nasci
nem a morte
que depois comi
nem a vida
repartida
p’los cães
nem a notícia
curta
a dizer-te
que morri
nada te devo
Portugal
colonial
cicatriz
doutra pele
apertada
Figura 3
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AULA 2
5 TROCANDO EM MIÚDOS
Vimos, por fim, que os escritores têm denunciado os vícios colonialistas e que
apontar essas mazelas e propor novos modelos e novas dicções é, também, tarefa
de criadores e críticos diante de um cenário que não se configura justo, promissor
e empreendedor na direção da plena independência econômica e cultural.
Esperamos, caro colega, futuro professor, que seu interesse pela cultura africana
o acompanhe na vida acadêmica e profissional.
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6 AUTOAVALIANDO
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REFERÊNCIAS
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Cia. das Letras, 1992.
LEITE, Ana Mafalda. Oralidades & escritas pós-coloniais: estudos sobre literaturas
africanas. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012.
RUI, Manuel. “Eu e o outro, o invasor”. (Ou em três poucas linhas uma maneira
de pensar o texto). Comunicação apresentada no Encontro Perfil da Literatura
Negra. São Paulo: Centro Cultural, 1985.
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