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Acórdão Do Tribunal Da Relação de Lisboa
Acórdão Do Tribunal Da Relação de Lisboa
1. RELATÓRIO
RM, intentou ação declarativa de condenação, com processo
comum contra FUNDO DE RESOLUÇÃO pedindo:
a) - O reconhecimento da responsabilidade civil dos réus[1],
enquanto intermediários financeiros, por violação dos deveres de
informação, diligência e lealdade, nos termos do disposto no
artigo 304º-A do CVM, devendo ser solidariamente condenados a
pagarem a quantia de € 765 707,66, acrescida de € 130 331,70 de
juros de mora vencidos e nos vincendos;
Subsidiariamente,
b) - A nulidade do contrato de intermediação financeira, por vício
de forma, devendo os réus serem, solidariamente, condenados a
restituírem a quantia de € 765 707,66, acrescida de € 130 331,70
de juros de mora vencidos e nos vincendos;
Em qualquer dos casos:
c) Requereu ainda:
i) - a declaração de nulidade do contrato de mútuo bancário
realizado entre o autor e o 1.º réu por inobservância de forma
legalmente exigida;
Ou, caso assim não se entenda,
ii) - a declaração de anulabilidade do contrato de mútuo bancário
realizado entre o autor e o 1.º réu, por ocorrência de erro na
declaração do autor.
d) Mais requereu:
1) – a condenação dos réus a ressarcir solidariamente ao autor os
danos não patrimoniais que lhe foram causados, em valor a ser
calculado em sede de liquidação de sentença.
Foi proferido saneador-sentença que julgou improcedente, por
não provada a ação e, consequentemente, absolveu o réu, Fundo
de Resolução, dos pedidos contra o mesmo formulados.
Inconformado, veio o autor apelar do saneador-sentença, tendo
extraído das alegações[2],[3] que apresentou as seguintes
CONCLUSÕES[4]:
A. Vem o Recorrente apresentar as suas alegações de recurso da
decisão proferida nos presentes autos de processo comum, com a
explanação a este Tribunal Superior do sentido com que, no
entender do Recorrente, as normas jurídicas adequadas ao caso
deveriam ter sido aplicadas pelo Tribunal a quo, tudo em
cumprimento do disposto no artigo 639.º do Código de Processo
Civil.
B. A douta sentença recorrida julgou totalmente improcedente a
pretensão do Recorrente contra o Recorrido Fundo de Resolução,
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OBJETO DO RECURSO[6],[7]
Emerge das conclusões de recurso apresentadas por RM, ora
apelante, que o seu objeto está circunscrito às seguintes questões:
1.) Saber se o Fundo de Resolução deverá ser responsabilizado
por ser detentor único do capital social do Novo Banco, S.A e,
como tal, responsável pelas dívidas deste.
2.) Saber se o Fundo de Resolução deve ser responsabilizado por
violação do princípio previsto no art. 145.º D, n.º 1, al. c), do
RGICSF, isto é, se por via da resolução, o crédito do autor ficaria
em pior situação do que ficaria numa insolvência hipotética.
2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1. O DIREITO
Importa conhecer o objeto do recurso, circunscrito pelas
respetivas conclusões, salvas as questões cuja decisão esteja
prejudicada pela solução dada a outras, e as que sejam de
conhecimento oficioso[8] (não havendo questões de conhecimento
oficioso são as conclusões de recurso que delimitam o seu objeto).
1.) SABER SE O FUNDO DE RESOLUÇÃO DEVERÁ SER
RESPONSABILIZADO POR SER DETENTOR ÚNICO DO
CAPITAL SOCIAL DO NOVO BANCO E, COMO TAL,
RESPONSÁVEL PELAS DÍVIDAS DESTE.
O apelante alegou que “o Recorrido Fundo de Resolução vem
demandado com base na detenção de 100% do capital social do
Novo Banco, tendo essa titularidade origem na medida de resolução
bancária decretada pelo Banco de Portugal”.
Mais alegou que “no respeitante à aplicação das normas do CSC,
veja-se que nada na lei impede ou ressalva a aplicação do regime de
responsabilidade nele previsto ao Fundo de Resolução”.
Assim, concluiu que “na qualidade de único detentor do capital
social do Novo Banco, deverá necessariamente ser chamado à
(ilegal) relação bancária constituída entre o Recorrente, o R. BES,
o R. Novo Banco S.A. e a R. LP, com a sua consequente
responsabilização a esse título”.
Vejamos a questão.
Sem prejuízo da aplicação do disposto no artigo anterior e também
do disposto quanto a sociedades coligadas, se for declarada falida
uma sociedade reduzida a um único sócio, este responde
ilimitadamente pelas obrigações sociais contraídas no período
posterior à concentração das quotas ou das ações, contanto que se
prove que nesse período não foram observados os preceitos da lei
que estabelecem a afetação do património da sociedade ao
cumprimento das respetivas obrigações – art. 84º, nº 1, do
CSComerciais.
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RGICSF.
Conforme entendeu o tribunal a quo, “de acordo com o artº 139º
do RGICSF, o Banco de Portugal pode adotar medidas de
intervenção corretiva, administração provisória e de resolução,
tendo em vista salvaguardar a solidez financeira da instituição de
crédito, os interesses dos depositantes ou a estabilidade do sistema
financeiro. Medidas essas que estão sujeitas aos princípios da
adequação e da
proporcionalidade, tendo em conta o risco ou o grau de
incumprimento por parte da instituição de crédito e a gravidade das
respetivas consequências”.
Tendo em conta a necessidade de salvaguarda do sistema
financeiro, dos interesses dos depositantes e da própria
instituição de crédito, podia a entidade de supervisão, adotar
qualquer das medidas que considerasse mais adequadas ao caso,
nomeadamente a medida de “Resolução”[22],[23],[24], conforme
previsto no art. 144.º b) do RGICSF, atribuindo-se assim plena
liberdade à entidade de supervisão, de forma a atribuir maior
eficácia a esta medida, dispensando-se inclusive qualquer ato de
audiência prévia dos interessados/visados pela referida
medida[25].
Ao Banco de Portugal, enquanto entidade de supervisão, incumbe
expressamente a adoção das medidas necessárias à salvaguarda
da instituição de crédito, dos depositantes e do sistema financeiro,
aplicando medidas consideradas adequadas e proporcionais,
sendo-lhe dada ampla liberdade de decisão na escolha das
medidas mais adequadas e eficazes e, adotando a medida de
resolução, a faculdade de selecionar os ativos, passivos, elementos
extrapatrimoniais e ativos sob gestão a transferir para o banco de
transição no momento da sua constituição, conforme o disposto
no artº 145-H nº1 do RGICSF, bem como a faculdade de
posteriormente retransmitir estes ativos e passivos para a
instituição originária (nº 5)[26].
Nos termos do artigo 139º, nº1, do RGICSF, pode ser adotada,
tendo em vista a solidez financeira de uma instituição de crédito,
os interesses dos depositantes e a estabilidade do sistema
financeiro, uma de três medidas: intervenção corretiva,
administração provisória ou resolução[27].
A transferência de encargos ocorrida com a medida de resolução
foi efetuada sem comprometer o cumprimento do princípio no
creditor worse-off, isto é os credores para os quais são transferidas
as perdas nesta situação, não veem com isso a sofrer perdas mais
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Lisboa, 2022-05-26[33],[34]
Nelson Borges Carneiro
Paulo Fernandes da Silva
Pedro Martins
_______________________________________________________
[1] - Relativamente ao réu, BANCO ESPÍRITO SANTO, S.A., foi proferida decisão que
julgou extinta a instância, por inutilidade superveniente da lide.
- Quanto aos réus, CMVM e BANCO DE PORTUGAL, foi proferida decisão que julgou
procedente a exceção dilatória de incompetência absoluta em razão da matéria e, declarou
competente a jurisdição administrativa para conhecer dos pedidos contra os mesmos
formulados.
- No que concerne aos réus, NOVO BANCO, S.A. e LP, foi proferida decisão que julgou
improcedente a ação contra os mesmos e, consequentemente, absolveu-os dos pedidos.
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[2] Para além do dever de apresentar a sua alegação, impende sobre o recorrente o ónus de
nela concluir, de forma sintética, pela indicação dos fundamentos por que pede a alteração
ou anulação da decisão – ónus de formular conclusões (art. 639º, nº 1) – FERREIRA DE
ALMEIDA, Direito Processual Civil, volume II, 2ª edição, p. 503.
[3] As conclusões exercem ainda a importante função de delimitação do objeto do recurso,
como clara e inequivocamente resulta do art. 639º, nº 3. Conforme ocorre com o pedido
formulado na petição inicial, as conclusões devem corresponder à identificação clara e
rigorosa daquilo que o recorrente pretende obter do tribunal superior, em contraposição
com aquilo que foi decidido pelo tribunal a quo – ABRANTES GERALDES – PAULO
PIMENTA – PIRES DE SOUSA, Código de Processo Civil Anotado, volume 1º, 2ª ed., p.
795.
[4] O recorrente deve apresentar a sua alegação, na qual conclui, de forma sintética, pela
indicação dos fundamentos por que pede a alteração ou anulação da decisão. Versando o
recurso sobre matéria de direito, as conclusões devem indicar, as normas jurídicas
violadas; o sentido com que, no entender do recorrente, as normas que constituem
fundamento jurídico da decisão deviam ter sido interpretadas e aplicadas, e invocando-se
erro na determinação da norma aplicável, a norma jurídica que, no entendimento do
recorrente, devia ter sido aplicada – art. 639º, nºs 1 e 2, do CPCivil.
[5] Na sessão anterior ao julgamento do recurso, o processo, acompanhado com o projeto
de acórdão, vai com vista simultânea, por meios eletrónicos, aos dois juízes-adjuntos, pelo
prazo de cinco dias, ou, quando tal não for tecnicamente possível, o relator ordena a
extração de cópias do projeto de acórdão e das peças processuais relevantes para a
apreciação do objeto da apelação – art. 657º, n.º 2, do CPCivil.
[6] Todas as questões de mérito que tenham sido objeto de julgamento na sentença
recorrida e que não sejam abordadas nas conclusões do recorrente, mostrando-se objetiva
e materialmente excluídas dessas conclusões, têm de se considerar decididas, não podendo
de elas conhecer o tribunal de recurso.
[7] Vem sendo entendido que o vocábulo “questões” não abrange os argumentos, motivos
ou razões jurídicas invocadas pelas partes, antes se reportando às pretensões deduzidas ou
aos elementos integradores do pedido e da causa de pedir, ou seja, entendendo-se por
“questões” as concretas controvérsias centrais a dirimir.
[8] Relativamente a questões de conhecimento oficioso e que, por isso mesmo, não foram
suscitadas anteriormente, a Relação deve assegurar o contraditório, nos termos gerais do
art. 3º, nº 3. A Relação não pode surpreender as partes com uma decisão que venha contra
a corrente do processo, impondo-se que as ouça previamente – ABRANTES GERALDES –
PAULO PIMENTA – PIRES DE SOUSA, Código de Processo Civil Anotado, volume 1º, 2ª
ed., p. 829.
[9] Saneador-sentença de 2018-12-28.
[10] Ac. Relação de Lisboa de 2019-12-11
[11] Ac. Relação de Lisboa de 2019-12-11
[12] Ac. Tribunal da Relação de Lisboa de 2021-11-18, Relator: ARLINDO CRUA,
http://www.dgsi.pt/jtrl.
[13] Face ao teor das deliberações do Banco de Portugal no que respeita à delimitação dos
passivos que transitaram ou não para o Novo Banco, uma eventual obrigação de
indemnização a favor dos autores que se tenha constituído na esfera do BES, S.A, não pode
considerar-se transferida para o Novo Banco – Ac. Tribunal da Relação de Évora de 2018-
02-22, Relator: MANUEL BARGADO, http://www.dgsi.pt/jtre.
[14] Com a medida de resolução aplicada pelo Banco de Portugal ao BES, em que ocorre a
transferência parcial da atividade deste para o Novo Banco, o qual sucedeu ex lege nas
relações jurídicas transmitidas, excluiu dessa transferência o produto financeiro adquirido
pelo A.. O Fundo de Resolução não titula qualquer vinculação originária ou superveniente
com a relação contratual exarada entre o A. e o BES – Ac. Tribunal da Relação de
Guimarães de 2017-06-08, Relator: JOSÉ CRAVO, http://www.dgsi.pt/jtrg.
[15] Face às deliberações relevantes do Banco de Portugal produzidas no âmbito da
resolução decidida no caso BES, qualquer responsabilidade suscetível de ser imputada a
esta instituição de crédito e que se tenha constituído a favor dos recorrentes, enquanto
titulares de ações preferenciais através dela adquiridas, não foi transferida para o Novo
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