Juiz de Instrução Criminal do Tribunal Judicial da
Comarca do Porto
Processo nº 572/22.9PIPRT – URGENTE – Violência Doméstica
XXXXXXXXXXXXXX, residente xxxxxxxxx, denunciado nos autos à
margem referenciado, vem requerer a Vª Exª se digne a promover a alteração e aplicação da medida de coação, nos termos do artigo 219.º, nº 1 do C.P.P, que é a de Termo de Identidade e Residência cumulado com a proibição dos contactos do denunciado, por qualquer meio e em qualquer circunstância, com a ofendida, acrescido dos meios técnicos de controle à distância, com os seguintes fundamentos: 1. Por despacho judicial de 07/12/2022 foi aplicado ao arguido a medida de coação de TIR cumulada com a proibição dos contactos por qualquer meio e em qualquer circunstância com a ofendida, acrescida dos meios técnicos de controle à distância, por se afigurar como manifestamente imprescindível à proteção da vítima. 2. As medidas de coação são, na definição de GERMANO MARQUES DA SILVA “(...) meios processuais de limitação da liberdade pessoal (...) dos arguidos (...) que têm por fim acautelar a eficácia do procedimento, quer quanto ao seu desenvolvimento, quer quanto à execução das decisões condenatórias”. 3. As medidas de coação estão sujeitas à condição rebus sic stantibus, o que significa que devem manter a sua validade e eficácia enquanto permanecerem inalterados os pressupostos em que assentam. 4. Deste modo, devem as medidas de coação ser necessárias e adequadas às exigências cautelares que o caso requer. 5. A este respeito consagra expressamente o artigo 18º da C.R.P. a obrigação de respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, apenas podendo ser restringindo em situações que a mesma Constituição preveja e, na estrita medida do necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses constitucionalmente protegidos. 6. Do juízo de prognose quanto ao comportamento futuro do arguido, com base na gravidade dos factos indiciados, considerámos prescindível para acautelar o concreto receio de prosseguimento da indiciada atividade criminosa, a medida de coação de permanência na habitação com recurso a meios técnicos de controle à distância. 7. Isto porque, 8. Consideramos existir uma diminuição das exigências cautelares que foram tidas em consideração aquando da fixação das medidas de coação, e que estas serviram de fundamento. 9. Não existe perigo de fuga do arguido, o qual sempre prestou toda a colaboração necessária ao processo, 10.O arguido não tem antecedentes criminais. 11.O arguido encontra-se bem inserido socialmente. 12.O arguido mostrou-se ordeiro, cumpridor, obediente e zeloso dos seus deveres desde a aplicação das anteriores medidas de coação. 13.O arguido apenas terá abordado a ofendida, em data não concretamente apurada, mas que se situará em julho de 2022 para lhe imputar a falta de atendimento das chamadas do ofendido com o seu advogado, não mais tendo tentado qualquer contacto. 14. O receio persistente da ofendida de ser perturbada pelo arguido e o medo de o encontrar serão, deste modo, infundados, e encontram-se acautelados pelas medidas de coação anteriormente estipuladas. 15.Deste modo, atendendo ao crime em causa e aos perigos latentes é suficiente impor ao arguido a obrigação de proibição de contactos por qualquer meio bem como o TIR, de forma a satisfazer (sempre) as necessidades cautelares que determinam a aplicação da medida de coação e bem como as exigências gerais e especiais. 16.O artigo 193, nº 1 do CPP consagra que as medidas de coação devem ser necessárias e adequadas às exigências cautelares que o caso requerer e proporcionais à gravidade do crime e às sanções que previsivelmente venham a ser aplicadas. 17.Daqui advém que a a aplicação de cada uma das medidas só se justifica quando todos os outros meios se revelam ineficazes para tutelar os interesses subjacentes. 18.Neste sentido, da análise, in casu, da necessidade, da adequação, da proporcionalidade e da subsidiariedade da aplicação das medidas de coação acima referenciadas, consideramos que a medida de coação aplicada viola o Princípio da proporcionalidade. 19.Os perigos apontados pelo Mmo. JIC podem ser perfeitamente acautelados com as medidas propostas pela ora arguida, 20.A medida privativa da liberdade, sendo subsidiária não pode ser aplicada porquanto outras medidas de coação menos gravosas mostram-se suficientes e cumprem as necessidades cautelas sentidas no caso em apreço, 21.Pelo que, não existindo alterações relevantes ou significativas das circunstâncias que contribuíram para fixar as medidas de coação anteriores acrescidas dos meios técnicos de controle à distância, não pode o tribunal reformar tal decisão, sob pena de, fazendo-o, provocar a instabilidade jurídica decorrente de julgados contraditórios, com inevitáveis reflexos negativos no prestígio dos tribunais e nos valores de certeza e segurança que constituem os verdadeiros fundamentos do caso julgado. 22.O douto despacho recorrido fez incorreta apreciação dos factos e violou o artigo 32, nº 2, 27º e 28º da CRP e 204º, 213º do CPP, pelo que deve ser revogado.