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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Alunas: Vitória Leticia Santos Dias

10 SUGESTÕES DE MUDANÇAS NO PROJETO DE NOVO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL


PL8045/2010 PARA REAL IMPLANTAÇÃO DO SISTEMA ACUSATÓRIO NO BRASIL:

1- Inserir as diligencias em andamento no artigo 11:

Art. 11. É garantido ao investigado e ao investigado e ao seu


defensor o acesso a todo material já produzido na investigação
criminal, salvo no que concerne, estritamente, às diligências em
andamento.

Consideram-se diligências em andamento todas aquelas cujo acesso ensejará, de


forma clara e inevitável, na ineficácia da medida. A vedação injustificada de acesso, à luz do
caput e do presente parágrafo, importará na nulidade dos atos até então praticados.

O emprego do termo "diligencias em andamento" não deve ser razão para restringir
o direito da defesa ao inquérito policial, a menos que seja absolutamente imprescindível.
Nesse contexto, não basta meramente afirmar a necessidade; é essencial apresentar uma
justificativa substancial (sem comprometer a integridade da investigação), sob pena de
invalidação do procedimento.

2- Alterações nos artigos 739 e seguintes: habeas corpus:

Refere-se ao habeas corpus. É viável a sua adaptação ao projeto do Código de


Processo Constitucional, uma vez que o texto inserido no substitutivo não abarca diversos
avanços fundamentais para este remédio heroico, devendo ser regulamentado o habeas
corpus coletivo.

3- Alterações nos artigos. 187 e 191:

Art. 187. A decretação de nulidade e a invalidação de ato


irregular dependerão de manifestação especifica e oportuna do
interessado, sempre que houver necessidade de demonstração
de prejuízo ao pleno exercício de direito ou de garantia
processual da parte, observadas as seguintes disposições:

Art. 191. As nulidades que dependam de provocação devem ser


arguidas na primeira oportunidade que couber à parte falar nos
autos, sob pena de preclusão.
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Há dois aspectos problemáticos aqui: a formalização da imprecisão para invalidar


algo e a restrição caso não ocorra. A sugestão é eliminar por completo esses dispositivos
porque, primeiramente, não se pode alegar restrição quando há invalidade e, em segundo
lugar, devido à ambiguidade do termo "prejuízo", especialmente porque é mais prejudicial
ser condenado fora dos limites legais.

4- Alterações no art. 282:

Art. 282. Em nenhuma hipótese poderão ser utilizadas para fins


de investigação ou instrução processual as informações
resultantes de conversas telefônicas entre o investigado ou
acusado e seu defensor, quando este estiver no exercício da
atividade profissional, ressalvados os casos em que o exercício
da atividade profissional represente ou se preste a encobrir
atuação delituosa.

Esses apontamentos são sempre arriscados, afinal uma exceção quase


invariavelmente se transforma na norma. Se, por meio de vigilância, a autoridade policial se
depara com diálogo entre advogado e cliente — devidamente reconhecidos — ela não deve
seguir com a escuta, sob risco de contaminação. Se o Delegado de Polícia toma
conhecimento de informações reconhecidas como confidenciais pela sua natureza e, ainda
que não as utilize, as emprega em sua estratégia investigativa, isso já representa um
completo desrespeito ao sigilo necessário nas comunicações entre advogado e cliente.

5- Alterações no artigo 372:

Art. 372. Nenhum ato será adiado, determinando o juiz,


quando imprescindível, a condução coercitiva de quem deva
comparecer.

É proibido condução coercitiva de réu não pode. Então, é preciso colocar uma ressalva
nesse dispositivo à vedação da condução para interrogatório.

6- Oitiva de Crianças e adolescentes:

Sugere-se a remoção dos trechos referentes ao interrogatório de crianças ou


adolescentes como vítimas ou testemunhas, conforme estabelecido nos artigos 227 a 230.
Este assunto já é adequadamente regulamentado pela Lei 13.431/17, a qual aborda o
sistema de proteção dos direitos de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de
violência.

Com o intuito de evitar a revitalização, é essencial que crianças ou adolescentes sejam


ouvidos apenas uma vez. Nesse sentido, propõe-se a modificação.
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7- Exclusão do poder de requisição do Ministro da Justiça:

Art. 52. A ação penal é pública, salvo quando a lei


expressamente a declara privativa do ofendido.

§ 1º. A ação pública é promovida pelo Ministério Público,


dependendo, quando a lei o exige, de representação do
ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.

Propõe-se, neste aspecto, a exclusão da exigência do Ministro da Justiça para o início


do processo penal. Apesar dessa solicitação não estar diretamente vinculada ao Ministério
Público - que mantém sua autonomia -, essa disposição evoca a nostalgia de um período
excepcional e, como observado recentemente, tem sido empregada como ferramenta de
repressão e intimidação contra opositores do governo.

8- Alterações no artigo 198:

Art. 198. As declarações do coautor ou participe na mesma infração


penal necessitam ser confirmadas por outros elementos de prova,
colhidos em juízo, que atestem a sua credibilidade.

Parágrafo único. O corréu que, a pretexto de eximir-se de


responsabilidade, imputar a prática da infração penal a terceiro,
assume a posição de testemunha, sujeitando-se ao dever de dizer a
verdade.

Essa disposição é contrária à Constituição, a menos que esteja acordada no contexto da


delação premiada. Não há menção a essa exceção no texto. Portanto, é inviável legalizar
algo nesse sentido. Se o acusado é um corréu - e durante seu interrogatório pode expressar-
se livremente para exercer seu direito de defesa -, não é aconselhável exigir que assuma o
compromisso de falar a verdade.

9- Alteração no artigo 220:

Parágrafo segundo. Constatando o juiz que a ausência injustificada da


testemunha deve-se a medida protelatória da defesa, a multa poderá
ser aplicada ao acusado ou ao seu defensor, conforme as
circunstâncias indicarem de quem é a responsabilidade.

Esse parágrafo prejudica a prática advocatícia. Pois persiste fortemente a noção de


que é o advogado o responsável pela demora na entrega da justiça, devido às chamadas
"manobras processuais". Vivemos numa era de intensa interconexão entre pessoas e de uma
ampla exposição de todos nas redes sociais e meios semelhantes. Não encontrar uma pessoa
nos dias atuais é cada vez mais complicado. No entanto, os processos criminais continuam a
se prolongar por anos. A responsabilidade não recai sobre o advogado. De qualquer modo,
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esse profissional não tem controle sobre a testemunha, portanto não pode ser
responsabilizado por sua negligência.

10- Alteração nos artigos 477 e 546:

Art. 477. Em seguida, o presidente, dispensando o relatório, proferirá


sentença que: (…)

(e) – determinará o início do cumprimento da pena.

Art. 546. Concluído o julgamento colegiado, do qual não caiba recurso


ordinário de decisão condenatória ou de confirmação de condenação,
o escrivão ou o chefe de secretaria, independentemente de despacho,
providenciar o início da execução penal.

Os artigos são inconstitucionais pois ferem a presunção de inocência. O STF, nesse


sentido, reconheceu isso nas ADCs 43 e 44.

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