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Topologia Fanti Izar
Topologia Fanti Izar
TOPOLOGIA GERAL
Notas de Aula - no. 5
Introdução vi
2 Espaços Topológicos 17
2.1 Topologias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1.1 Topologia usual de um Espaço Métrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.2 Subespaço Topológico e comparação de topologias . . . . . . . . . . . . . . 21
2.1.3 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
i
2.2 Fecho, Interior, Derivado e Fronteira de um Subconjunto . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.3 Sequências em Espaços Topológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.4 Bases e Sub-bases . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.4.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.5 Sistemas de Vizinhanças/Base Local e Axiomas de Enume-rabilidade . . . . . . . . 35
2.6 Espaços Separável e de Lindelof . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.7 Propriedades Hereditárias e Transferı́veis para o Produto . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.8 Exercı́cios Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3 Continuidade 45
3.1 Aplicações Contı́nuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.1.1 Continuidade em Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.1.2 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.2 Continuidade em Espaços e1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
3.2.1 Exercı́cio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.3 Aplicações Abertas, Aplicações Fechadas e Homeomorfismos . . . . . . . . . . . . 50
3.3.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.4 Propriedades Topológicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.5 Topologia Induzida por uma Famı́lia de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
3.5.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.6 Topologias Coinduzida e Quociente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.7 Exercı́cios Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4 Compacidade 64
4.1 Espaços Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.1.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
4.2 Produtos Infinitos e Teorema de Tychonoff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
4.2.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
4.3 Espaços Sequencialmente e Enumeravelmente Compactos . . . . . . . . . . . . . . 78
4.3.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.4 Compacidade em Espaços Métricos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
4.4.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
4.5 Espaços Localmente Compactos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
4.5.1 Compactificação - Compactificação de Alexandroff . . . . . . . . . . . . . . 90
4.6 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
ii
5 Conexão 94
5.1 Espaços Conexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
5.1.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
5.2 Componentes Conexas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
5.2.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.3 Espaços Localmente Conexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
5.3.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
5.4 Espaços Conexos por Caminhos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
5.5 Exercı́cios Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
5.6 Espaços Totalmente Desconexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
5.6.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
iii
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Bibliografia 167
v
(Santo Agostinho)
Este texto tem por objetivo, numa primeira aproximação, introduzir as noções fundamentais da
Topologia Geral, as técnicas utilizadas em seu desenvolvimento e certos tipos de questões de seu
interesse.
Seu fim é duplo: o de servir como material auxiliar nos cursos de Topologia do bacharelado
em Matemática e no de pós-graduação em Matemática em nı́vel de mestrado, do Departamento
de Matemática do IBILCE-UNESP. Para o curso de pós-graduação propomos o texto integral,
eventualmente com algum tópico adicional (por exemplo grupos topológicos, homotopia e
revestimentos, grupo fundamental, entre outros) e no curso de graduação algumas omissões podem ser
feitas, que ficam a critério do professor. Não é feito aqui um estudo especı́fico dos Espaços Métricos
(que são exemplos de espaços topológicos). Uma referência básica para o estudo de Espaços Métricos
é o livro de Domingues [4]. Uma outra referência interessante é Lima [15]. Contudo, Espaços
Métricos não se constitui num pré-requisito para o que propomos. O presente texto está edificado
na Teoria dos Conjuntos, de modo que alguma familiaridade com a Teoria dos Conjuntos se faz
necessária para que se consiga algum resultado aqui.
O texto contém um desenvolvimento detalhado dos tópicos, muitos exemplos e contraexemplos e
um grande número de exercı́cios. Os exemplos/contraexemplos devem ser aprendidos, pois com eles
é que a intuição é adquirida e os exercı́cios fornecem o treinamento adequado ao estudante, além de
em alguns casos serem utilizados para introduzir algum assunto que não foi por nós abordado.
O conteúdo do texto é o seguinte, no Capı́tulo 1: Elementos da Teoria dos Conjuntos, se
faz um apanhado de toda a Teoria dos Conjuntos que se utiliza neste trabalho, é um resumo dos
pré-requisitos. A proposta é que esse capı́tulo não seja desenvolvido num curso de topologia, a
menos de seu final que trata dos produtos infinitos, do axioma da escolha e do Lema de Zorn, caso
seja necessário. No Capı́tulo 2: Espaços Topológicos, tem o seu inı́cio com a noção de topologia
sobre um conjunto e espaços topológicos, inclue exemplos de espaços topológicos, os conceitos
de interior, fecho, fronteira, as noções de base e sub-base para uma topologia, os axiomas de
enumerabilidade, espaços Separável e de Lindelof, e propriedades hereditária e transferı́vel para
o produto. No Capı́tulo 3: Continuidade, se estuda as aplicações contı́nuas, aplicações abertas,
aplicações fechadas, homeomorfismos. Também, a topologia induzida por uma famı́lia de funções,
a topologia coinduzida por uma função e a topologia quociente são consideradas. No Capı́tulo 4:
Compacidade, são estudados os vários tipos de compacidade: espaços compactos, pré-compactos,
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vii
A Topologia Geral compreende tudo o que se pode dizer de um modo geral sobre os conceitos
relacionados com proximidade, vizinhança e convergência.
O nome Topologia provém do grego: topos significa lugar e logos significa estudo, de modo que
Topologia é o estudo do lugar. Analisis situs é o nome adotado para esta disciplina em latim.
O surgimento de um novo conceito matemático é quase sempre fonte de um longo e complexo
percurso. As noções de limite e continuidade remontam à antiguidade, de modo que não se pode
fazer uma história completa sem estudar sistematicamente deste ponto de vista e não somente os
matemáticos, mas também os filósofos gregos (vide Bourbaki [1]).
Contudo a reunião destes temas no contexto da disciplina matemática “Topologia”, ou o
surgimento da Topologia como uma disciplina matemática onde os conceitos acima encontram o
seu lugar, é relativamente recente.
George Friederich Bernard Riemann (1826-1866) é considerado o criador da Topologia, por ser
o primeiro a considerar a noção intrı́nseca (abstrata, fora do espaço euclidiano) de espaço topológico,
estabelecendo uma teoria autônoma destes espaços. Definiu invariantes topológicos (os número de
Betti) que mais tarde teriam um grande papel no desenvolvimento da Topologia e fez as primeiras
aplicações à Análise Matemática com as integrais abelianas. Isto ocorreu por volta de 1851.
O primeiro livro de Topologia foi escrito por um astrônomo alemão Johann Benedict Listing
(1808-1882), publicado em 1847 por sugestão de Karl Friederich Gauss (1777-1855). O livro
continha resultados muito curiosos de pesquisa sobre as superfı́cies de “um lado só” (a faixa de
Möbius, o espaço projetivo, a garrafa de Klein são superfı́cies de um lado só). Os resultados de
Listing também foram obtidos simultaneamente por August Ferdinand Möbius (1790-1863).
A Topologia pode ser definida como o estudo de certas transformações (aplicações) chamadas
homeomorfismos que são as transformação bijetoras, contı́nuas e com inversa contı́nua entre dois
espaços topológicos. Não se permite que pontos distintos sejam identificados e também não se permite
cortes. Espaços homeomorfos podem ser deformados continuamente um no outro.
A Topologia estuda as propriedades dos espaços topológicos que ficam invariantes, isto é, são
preservadas por estas transformações e seu objetivo principal é encontrar invariantes em quantidade
suficiente para que se possa decidir se dois espaços topológicos dados “a priori” possam ou não ser
transformados um no outro do modo permitido. Este objetivo é análogo ao de qualquer outro ramo
da geometria.
viii
ix
Em seu “Programa Erlanger”, Felix Klein (1849-1925) observou que os diferentes ramos da
geometria se diferenciavam pelas espécies de transformações bijetoras que adotavam: movimentos
rı́gidos na Geometria Euclidiana, colineações na Geometria Projetiva, etc...
Na formulação geral de Klein, uma geometria é um estudo da forma:
Dados um conjunto X, um subconjunto X0 e um subgrupo G do grupo de todas as bijeções de X
em X, achar um conjunto completo S de propriedades (G-invariantes) tais que:
Isto define a geometria com relação à G de X0 em X (vide Griffths e Hilton [7], Cap. 17 - §11 e
Cap. 25).
Até agora se considerou as propriedades das figuras que se estuda em Topologia. Nada se falou
sobre os tipos de figuras estudadas em Topologia. Pode-se considerar, a priori, como uma figura,
um conjunto qualquer de pontos. A topologia obtida desta forma é a Topologia Conjuntista ou a
Topologia Geral, que é baseada na Teoria dos Conjuntos introduzida por Georg Cantor (1845-1918)
por volta de 1879. Como as figuras estudadas na Topologia Conjuntista são conjuntos de pontos
extremamente gerais, é natural que os resultados obtidos neste contexto escapem à intuição e, muitas
vezes, entram em contradição com ela. Isto pode nos proporcionar uma oportunidade de corrigir
nossa intuição, que muitas vezes falha e também nos apresentar fatos patológicos inerentes à nossa
área. Apesar de sua extrema generalidade, a topologia conjuntista encontra numerosas aplicações em
Análise Matemática. Cantor definiu no espaço euclidiano n-dimensional os conceitos fundamentais
da Topologia e obteve resultados essenciais sobre a estrutura topológica da reta e do plano.
Em 1914, Felix Hausdorff em seu livro “Grundzüge der Mengenlehre” dedicado à Georg Cantor,
começa a Topologia Geral tal qual a entendemos hoje. No Capı́tulo 7 deste livro são definidos os
conceitos mais importantes da topologia dos conjuntos de pontos.
Capı́tulo 1
1.1 Introdução
As noções de conjunto, elemento e relação de pertinência não são definidas. Num
desenvolvimento axiomático da teoria, estas noções são consideradas primitivas e os axiomas têm
a finalidade de estabelecer propriedades cruciais destes elementos que não são definidos.
Neste capı́tulo faremos um apanhado, de um ponto de vista bastante informal, da parte
elementar da Teoria dos Conjuntos que é da maior importância para o desenvolvimento dos capı́tulos
subsequentes. Para maiores detalhes sugerimos os livros: Halmos [8], Izar e Tadini [10], Lipschultz
[16], Sims [23] e Spanier [26], da bibliografia apresentada no final do texto.
Definição 1.2.1. Diz-se que um conjunto X é subconjunto de um conjunto Y ou que X está contido
1
2
X ⊆ Y ⇔ (∀ x, x ∈ X ⇒ x ∈ Y ).
Quando X ⊆ Y mas X ̸= Y , ou seja, existe y ∈ Y tal que y ̸∈ X dizemos que X está contido estritamente
em Y . Neste caso, se quer destacar que a inclusão é estrita, a notação X ⊂ Y é mais indicada. Usa-se
também a notação X Y .
Um conjunto fica determinado pelos seus elementos. Existem duas maneiras de se descrever um
conjunto: a primeira é dar a lista completa de seus elementos, e na segunda, um conjunto é constituı́do
pelos elementos de um dado conjunto que satisfazem a uma dada propriedade. O princı́pio acima é o
seguinte:
Dado um conjunto X e uma propriedade P, existe um único subconjunto de X cujos elementos
satisfazem a propriedade P.
Notações:
(i) Lista dos elementos entre chaves: A = {1, 2, 3}, B = {a, b, c, d, e, f , g, h}.
P representa uma propriedade que deve ser ou não satisfeita pelos elementos de X e deve ser
verdadeira para todos os elementos de A.
Propriedades da Inclusão:
A relação de inclusão entre conjuntos é:
(ii) Antissimétrica, A ⊆ B e B ⊆ A ⇒ A = B, ∀ A, B.
Neste ponto observamos que somente uma propriedade não determina um conjunto, é necessário
um conjunto (universo) que contém os elementos que a propriedade deve selecionar. A ilustração
abaixo mostra isso claramente.
Seja A = {A : A ̸∈ A}. A é o conjunto de todos os conjuntos que não se tem como elemento.
A é um conjunto, assim dado um objeto qualquer, deve ser possı́vel decidir se este objeto é ou não
elemento de A . Seja dado o próprio A . Então, se A ∈ A , vem que A ̸∈ A pois A satisfaz a propriedade
que define A , o que é um absurdo, e se A ̸∈ A , então A ∈ A , pois A não satisfaz a propriedade que
define A e tem-se, novamente, uma contradição. A conclusão é que A não existe.
O argumento acima é conhecido como paradoxo de Russel. Paradoxo porque no inı́cio da Teoria
dos Conjuntos adotava-se o princı́pio de que toda propriedade determinava um conjunto.
3
0/ = {x ∈ A : x ̸= x}.
O conjunto vazio é definido como o conjunto dos elementos que deixam de satisfazer uma propriedade
que é satisfeita por todos os elementos do universo. Assim, como é usual, para demonstrar que o
conjunto vazio tem uma determinada propriedade, demonstra-se que ele não pode deixar de tê-la. O
conjunto vazio é considerado um conjunto finito (com zero elementos).
Conjunto das Partes: Se X é um conjunto, denotamos por 2X ou P (X) o conjunto de todos os
subconjuntos de X. Tal conjunto é denominado conjunto das partes de X.
P (X) = {A : A ⊆ X}.
Conjuntos Numéricos
1.2.2 Exercı́cios
1) Mostre que, se X é um conjunto então 0/ ⊆ X.
4
2) Demonstre as propriedades de inclusão de conjuntos, isto é, que a inclusão de conjuntos satisfaz
as propriedades reflexiva, anti-simétrica e transitiva.
A ∪ B = {x ∈ U : x ∈ A ou x ∈ B}.
A ∩ B = {x ∈ U : x ∈ A e x ∈ B}.
A − B = {x ∈ U : x ∈ A e x ̸∈ B}.
A △ B = (A − B) ∪ (B − A).
5
Ac = U − A = {x ∈ U : x ̸∈ A}.
Observação 1.3.1. Por indução define-se a reunião e a interseção de uma coleção finita de conjuntos:
A1 ∪ A2 ∪ · · · ∪ An = (A1 ∪ · · · ∪ An−1 ) ∪ An ,
A1 ∩ A2 ∩ · · · ∩ An = (A1 ∩ · · · ∩ An−1 ) ∩ An .
/ A − 0/ = A, 0/ − A = 0;
(i) A − A = 0, /
(ii) A ∪ A = A, A ∩ A = A;
(iii) A ∪ B = B ∪ A, A ∩ B = B ∩ A;
(iv) A ⊆ B ⇔ A ∪ B = B ⇔ A ∩ B = A;
(v) A ⊆ A ∪ B, A ∩ B ⊆ A;
(vi) A ⊆ C e B ⊆ C ⇔ A ∪ B ⊆ C, C ⊆ A e C ⊆ B ⇔ C ⊆ A ∩ B;
(x) A ⊆ Y ⇔ Ac ⊇ Bc , A ∩ B = 0/ ⇔ A ⊆ Bc ⇔ B ⊆ Ac , A ∪ B = U ⇔ Bc ⊆ A ⇔ Ac ⊆ B.
A × B = {(a, b) : a ∈ A e b ∈ B}.
Propriedades:
(iii) (A × B) ∪ (C × B) = (A ∪C) × B;
(iv) (A × B) ∩ (C × B) = (A ∩C) × B.
A noção de produto cartesiano, definida para dois conjuntos estende-se de maneira natural a
qualquer número finito n > 2 de conjuntos. Assim, o produto cartesiano de n conjuntos A1 , A2 , . . . , An
representado por A1 ×A2 ×· · ·×An ou ∏ni=1 Ai consiste de todas as n-uplas (x1 , x2 , . . . , xn ) ordenadas,
onde xi ∈ Ai , para cada i. No caso particular em que A1 = A2 = · · · = An = A, o produto cartesiano é
representado por An . Na Seção 1.9 apresentamos a noção geral de produto cartesiano de uma famı́lia
de conjuntos.
Observação 1.4.1. i) Definindo-se (a, b) = {{a}, {a, b}} vem que (a, b) = (c, d) se, e somente se,
a = c e (b = d).
ii) A definição de par ordenado acima foi dada pelo matemático polonês K. Kuratowski. A vantagem
da definição de Kuratowski é que ela introduz a noção de par ordenado não como uma noção
primitiva, mas define-a em função de objetos já considerados.
Uma relação binária entre dois conjuntos é um subconjunto de seu produto cartesiano, isto é, R é
uma relação entre A e B se, e somente se, R ⊆ A × B. Escrevemos x R y para indicar que (x, y) ∈ R .
Se A = B dizemos que R é uma relação sobre A.
Propriedades:
As propriedades mais consideradas de uma relação R sobre um conjunto A são as seguintes:
(i) Reflexiva, ∀ x ∈ A, x R x;
(ii) Simétrica, ∀ x, y ∈ A, x R y ⇒ y R x;
(iii) Transitiva, ∀ x, y, z ∈ A, x R y e y R z ⇒ x R z;
(iv) Antissimétrica, ∀ x, y ∈ A, x R y e y R x ⇒ x = y.
7
Uma relação sobre A que satisfaz os ı́tens (i), (ii) e (iii) acima é denominada relação de
equivalência, e uma relação que satisfaz (i), (ii) e (iv) é denominada uma relação de ordem parcial
sobre A. Um conjunto A munido de uma ordem parcial é dito parcialmente ordenado. Quando R
for uma relação de ordem parcial sobre A e quaisquer dois elementos x, y ∈ A estão relacionados por
R (isto é, x R y ou y R x), dizemos que a relação de ordem é total e que o conjunto A é totalmente
ordenado por R .
O termo função é, reservado, às vezes, apenas para o caso em que B é um conjunto numérico.
O conjunto A é o domı́nio da função f e B é o contradomı́nio de f . O único y associado a x pela
aplicação f é a imagem de x por f e é denotado por f (x).
A condição (1) da definição acima diz que o domı́nio da relação é o conjunto A e condição
(2) exige que o elemento associado a cada x ∈ A por f é único. Uma aplicação f é usualmente
representada assim:
f :A → B
x 7→ y = f (x).
O conjunto
Im( f ) = {y ∈ B : ∃ x ∈ A com y = f (x)}
2) São aplicações
p1 : X ×Y → X e p2 : X ×Y → Y
.
(x, y) 7→ x (x, y) 7→ y
Elas são denominadas projeções do produto nas primeira e segunda coordenadas, respectivamente.
Duas aplicações f e g são iguais se, e somente se, têm o mesmo domı́nio, o mesmo contradomı́nio
e para cada x no domı́nio de f e g, tem-se f (x) = g(x).
f |C : C → B
x 7→ f (x)
é a restrição de f ao subconjunto C de A.
Observação 1.5.3. Apresentamos, neste ponto, uma formulação do Axioma da Escolha (existem
outras formulações, vide Seção 1.9). O Axioma da Escolha é um princı́pio da Teoria dos Conjuntos
que sob determinadas condições garante a existência de uma aplicação/função escolha:
/ para todo x ∈ X, existe uma aplicação
Dada uma aplicação F : X → P (Y ) tal que F(x) ̸= 0,
f : X → Y tal que f (x) ∈ F(x), para todo x ∈ X.
O Axioma da Escolha garante a existência de uma aplicação sob as condições mais gerais
possı́veis. Em alguns casos uma função escolha pode ser efetivamente definida. O axioma se faz
necessário quando não existe um critério para “escolher” um elemento f (x) em cada subconjunto
não vazio F(x) de Y .
Exemplo 1.5.4. Dada uma aplicação F : N → P (R) tal que F(n) ̸= 0, / para todo n ∈ N, o Axioma
da Escolha garante a existência de uma função f : N → R tal que f (n) ∈ F(n), para todo n ∈ N.
Exemplo 1.5.5. Dada uma aplicação F : N → P (Z), uma função escolha pode ser definida assim:
dê a Z a ordem 0, −1, 1, −2, 2, −3, 3, −4, 4, . . . Relativamente a esta ordem, todo subconjunto não
vazio de Z tem primeiro elemento. Defina f : N → Z, f (n) = primeiro elemento de F(n). Neste caso
não é necessário utilizar o Axioma da Escolha.
9
Propriedades
(ii) A ̸= 0/ ⇔ f (A) ̸= 0;
/
f −1 (B) = {x ∈ X : f (x) ∈ B}
Propriedades:
(iii) f −1 (0)
/ = 0;
/
(x) p−1 −1
1 (A) = A ×Y e p2 (B) = X × B;
Observação 1.5.6. Dada uma aplicação f : X → Y , as imagens direta e inversa por f de subconjuntos
induzem
ϕ : P (X) → P (Y ) e µ : P (Y ) → P (X)
.
A 7→ f (A) B 7→ f −1 (B)
Estas aplicações são denominadas aplicações imagem direta e imagem inversa por f ,
respectivamente e, como veremos no Capı́tulo 3, são importantes para mostrar porque as aplicações
abertas e as aplicações contı́nuas são as aplicações consideradas e estudadas em Topologia.
Exemplo 1.5.8. 1) Se A ⊆ X, então a inclusão iA : A → X dada por iA (x) = x é injetora. E temos que
iA é sobrejetora se, e somente se, A = X.
2) Seja f : X → Y uma aplicação. Então a aplicação F : X → X ×Y , dada por F(x) = (x, f (x)) é
injetora.
3) As projeções p1 e p2 são sobrejetoras.
4) c : P (X) → P (X), c(A) = X − A = Ac é bijetora.
Aplicação Inversa: Seja f : X → Y uma aplicação bijetora. Então, dado y ∈ Y , existe um único x ∈ X
tal que y = f (x). Definimos f −1 : Y → X por f −1 (y) = x. Nessas condições, f −1 é uma aplicação,
chamada aplicação inversa de f .
Propriedades:
(ii) ( f ◦ g) ◦ h = f ◦ (g ◦ h);
(iii) se f : X → Y , então f ◦ iX = iY ◦ f = f ;
(iv) se f : X → Y , então f ◦ f −1 = iY e f −1 ◦ f = iX ;
1.6 Famı́lias
Algumas vezes o domı́nio de uma aplicação é usado como um conjunto de ı́ndices e a aplicação
procede a indexação de elementos de seu contradomı́nio.
Uma famı́lia de elementos de um conjunto B com ı́ndices num conjunto A é uma aplicação
f : A → B. A aplicação ou a famı́lia é representada por {ba }a∈A onde ba = f (a).
Uma sequência de elementos de X é uma famı́lia de elementos de X indexada por N∗ . f : N∗ → X
que é representada por (x1 , x2 , . . . , xn , . . .) ou simplesmente (xn )n∈N∗ .
Seja {Ak }k∈L uma famı́lia de subconjuntos de um conjunto X indexada pelo conjunto L. A reunião
dessa famı́lia é o conjunto
∪
Ak = {x ∈ X : x ∈ Ak , para algum k ∈ L},
k∈L
Exemplo 1.6.1. Considere a famı́lia An = ] − 1/n, 1/n[ , n ∈ N∗ de intervalos abertos da reta. É fácil
∪ ∩
verificar que n∈N∗ An = ] − 1, 1[ e n∈N∗ An = {0}.
Propriedades:
∪ c ∩ c
(i) ( k∈K Ak ) = k∈K Ak ;
∩ c ∪ c
(ii) ( k∈K Ak ) = k∈K Ak ;
12
∪ ∪ ∪
(iii) ( k∈K Ak ) ∩ ( m∈M Bm ) = (k,m)∈K×M (Ak ∩ Bm );
∩ ∩ ∩
(iv) ( k∈K Ak ) ∩ ( m∈M Bm ) = (k,m)∈K×M (Ak ∩ Bm );
∪ ∪
(v) f ( k∈KAk ) = k∈K f (Ak );
∩ ∩
(vi) f ( k∈KAk ) ⊆ k∈K f (Ak );
∩ ∩
(vii) f −1 ( m∈M Bm ) = m∈M f −1 (Bm );
∪ ∪
(viii) f −1 ( m∈M Bm ) = m∈M f −1 (Bm ).
1.6.1 Exercı́cio
1) Prove que o conjunto dos números naturais pode ser representado como uma reunião infinita de
subconjuntos infinitos, dois a dois disjuntos.
Proposição 1.7.2. As classes de equivalência distintas formam uma partição de X e dada uma
partição de X, existe uma relação de equivalência sobre X cujas classes de equivalência são os
conjuntos da partição.
Demonstração. Exercı́cio.
1.7.1 Exercı́cio
1) Seja f : X → Y uma aplicação. Considere a relação em X
x ∼ x′ ⇔ f (x) = f (x′ ).
Prove que ∼ é uma relação de equivalência sobre X e determine suas classes de equivalência.
13
Proposição 1.7.3. Seja f : X → Y uma aplicação. Considerando a relação sobre X dada por x ∼ x′
se, e somente se, f (x) = f (x′ ), existe uma única aplicação α : X/ ∼ → Y tal que α ◦ q = f , que é
injetora. Se f é sobrejetora, então α é bijetora.
(iii) Dados X, Y e Z, X ∼
=Y eY ∼
=Z ⇒X ∼
= Z.
Logo, equipotência é uma relação de equivalência.
1.8.1 Exercı́cio
1) Prove que A e P (A) não são equipotentes (Teorema de Cantor). (Sugestão: Se f : A → P (A) é
uma bijeção, considere A0 = {a ∈ A : a ̸∈ f (a)}. Existe a0 ∈ A tal que f (a0 ) = A0 . Verifique
que a existência de a0 produz uma contradição.)
Um elemento f ∈ ∏k∈L Ak será denotado por f = ( f (k))k∈L , ou ainda, f = (xk )k∈L , considerando
xk = f (k), k ∈ L.
∪ ∪
Note que ∏k∈L Ak ⊆ F(L, k∈L Ak ) := { f : L → k∈L Ak ; f aplicação}, mas estes dois
conjuntos, em geral, não são iguais.
Exemplo 1.9.2. Caso finito. No caso em que a famı́lia L é finita, digamos L = {1, . . . , n}, podemos
identificar o produto cartesiano ∏k=1,...,n Ak definido acima, com o produto cartesiano (finito)
A1 × A2 × · · · × An apresentado na Seção 1.3, pois:
• a cada aplicação f : {1, 2, . . . , n} → A1 ∪ A2 · · · ∪ An tal que f (k) ∈ Ak , ∀ k = 1, . . . , n, pode-se
associar uma n-upla ( f (1), . . . , f (n)) ∈ A1 × A2 × · · · × An e, reciprocamente,
• toda n-upla (x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ A1 × A2 × · · · × An pode ser vista como uma aplicação
f : {1, 2, . . . , n} → A1 ∪ A2 · · · ∪ An tal que f (k) = xk ∈ Ak , k = 1, 2, . . . , n.
que a ≤ x, para todo x ∈ A, diz-se que ≤ é uma boa ordem ou uma boa ordenação para X e que que
X é bem ordenado.
Lema 1.9.8 (Zorn). Seja X um conjunto não vazio parcialmente ordenado. Se toda cadeia de X tem
um limite superior, então X tem um elemento maximal.
O Lema de Zorn é muito usado na Matemática. Faremos uso do Lema de Zorn (no Cap. 4) para
demonstrar o Teorema de Alexander que dá uma condição necessária e suficiente para a compacidade
de um espaço a partir de uma sub-base para a topologia do espaço.
Damos a seguir uma ilustração do uso do Lema de Zorn, demonstrando um teorema importante
da Álgebra Linear.
Espaços Topológicos
2.1 Topologias
Iniciamos com a definição da estrutura matemática de topologia sobre um conjunto, e definimos
espaço topológico como um conjunto munido de uma estrutura topológica. Alguns exemplos são
dados, dentre os quais o mais importante: a topologia natural de um espaço métrico, ou seja, a
topologia definida sobre um espaço métrico a partir de sua métrica.
Num curso de Topologia Geral, exemplos de espaços topológicos são de fundamental importância.
É uma tarefa às vezes muito difı́cil exibir um espaço topológico que tem determinadas propriedades e
deixa de ter outras propriedades consideradas, de modo que quanto maior o número de exemplos
conhecidos, mais interessantes serão as ilustrações para os conceitos introduzidos e maior é a
probabilidade de se exibir contraexemplos para mostrar que uma determinada propriedade não é
verdadeira, não é implicada, ou não implica em outra.
(1) 0/ ∈ σ e S ∈ σ;
(2) se Gi ∈ σ, i = 1, 2, então G1 ∩ G2 ∈ σ;
∪
(3) se Gλ ∈ σ, λ ∈ L, então λ∈L Gλ ∈ σ;
então dizemos que σ é uma topologia em S. O par (S, σ) é denominado um espaço topológico e os
elementos de σ são chamados conjuntos abertos do espaço S.
17
18
Exemplo 2.1.3. 1) Seja S = {a, b, c} e considere os seguintes subconjuntos de P (S): σ1 = {0,/ S},
/ {a}, S}, σ3 = {0,
σ2 = {0, / {a}, {b, c}, S}, σ4 = {0,
/ {a}, {a, b}, {a, c}, S}, σ5 = P (S). Todos eles
determinam topologias em S.
/ S} e σ2 = P (S) são topologias em S (com σ1 ̸= σ2
2) Para qualquer conjunto não vazio S, σ1 = {0,
se S possui mais de um elemento). σ1 é denominada topologia caótica ou indiscreta e σ2 é chamada
de topologia discreta. Em geral usaremos σcao e σdis para denotar as topologias caótica e discreta,
respectivamente.
3) Sejam S um conjunto infinito e
/ ∪ {G ⊆ S : S − G é finito}.
σco f := {0}
Dados uma métrica d sobre M, e x, y ∈ M, o número real d(x, y) é chamado a distância entre x e y
na métrica d.
Se r > 0 e x0 ∈ M, a bola aberta de centro x0 e raio r é o conjunto
Este conjunto é denotado também, às vezes, por Br (x0 ), ou ainda Bd (x0 , r), se queremos destacar a
métrica d usada. Dizemos que um subconjunto G de um espaço métrico (M, d) é aberto se, para todo
x ∈ G, existe r > 0, de modo que B(x0 , r) ⊆ G.
Dado (M, d) um espaço métrico, vamos denotar σd = {G ⊆ M : G é aberto}.
(2) Sejam G1 , G2 ∈ σd e p ∈ G1 ∩G2 . Como G1 e G2 são abertos, existem r1 , r2 > 0 tais que B(p, r1 ) ⊆
G1 e B(p, r2 ) ⊆ G2 . Seja r = min{r1 , r2 }. Então, r > 0 e B(p, r1 ) ⊆ Gi , i = 1, 2. Logo B(p, r) ⊆
G1 ∩ G2 e portanto G1 ∩ G2 ⊆ σd .
∪
(3) Sejam Gλ ∈ σd , λ ∈ L. Se p ∈ λ∈L Gλ , então p ∈ Gλ0 , para algum λ0 ∈ L. Como Gλ0 ∈ σd , existe
∪ ∪
r > 0 tal que B(p, r) ⊆ Gλ0 ⊆ λ∈L Gλ , e portanto λ∈L Gλ ∈ σd .
d(x, y) = |x − y|.
Nesta topologia, um conjunto A é aberto se, para cada a ∈ A, existe ε > 0 de modo que (a − ε, a + ε) ⊆
A.
A topologia usual do plano R2 é a induzida pela métrica euclidiana
√
d(x, y) = (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 ,
Ainda, se (M1 , d1 ), ..., (Mn , dn ) são espaços métricos podemos falar no produto de espaços
métricos (e consequentemente nas topologias induzidas no produto) por considerar em M = M1 ×
... × Mn métricas similares às definidas acima em Rn , mais precisamente, as aplicações/métricas
(verifique!) D, D1 , D2 : M → R+ , definidas por
√
D(x, y) = d1 (x1 , y1 )2 + · · · + dn (xn , yn )2 ,
para todos x, y ∈ M.
Definição 2.1.6. Dizemos que duas métricas d e d ′ sobre um conjunto não vazio M são equivalentes
se para cada p ∈ M, dada uma bola qualquer Bd (p, ε), existe λ > 0 de modo que Bd ′ (p, λ) ⊆ Bd (p, ε)
e, também, para qualquer bola Bd ′ (p, ε), existe γ > 0 de modo que Bd (p, γ) ⊆ Bd ′ (p, ε).
Observação 2.1.7. Duas métricas d e d ′ sobre M são equivalentes se, e somente se, determinam a
mesma topologia sobre M (isto é, σd = σ′d , verifique!) Pode-se mostrar que as três métricas para Rn
e para M = M1 × ... × Mn definidas anteriormente são equivalentes, assim determinam os mesmos
abertos fornecendo a mesma estrutura topológica para Rn e M, respectivamente. (Domingues [4], p.
58-59.)
Definição 2.1.8. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) é metrizável se existe uma métrica
d : S × S → R tal que σ = σd (isto é, a topologia do espaço é a topologia induzida de uma alguma
métrica).
Exemplo 2.1.9. 1) (Rn , σusual ) é metrizável (pela forma que foi definida a topologia).
2) Para todo conjunto S não vazio, (S, σ = P (S)) é metrizável pois σ = σd01 , onde a métrica “zero-
um” sobre S, d01 : S × S → R, é assim definida:
d(x, x) = 0, para todo x ∈ S e d(x, y) = 1, sempre que x ̸= y.
Definição 2.1.10. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) é de Hausdorff se, dados x, y ∈ S, x ̸= y,
existem abertos G1 e G2 tais que x ∈ G1 , y ∈ G2 e G1 ∩ G2 = 0. /
21
Corolário 2.1.13. Se um espaço topológico (S, σ) não é de Hausdorff então (S, σ) não é metrizável.
Exemplo 2.1.17. 1) A topologia usual do plano R2 induz a topologia usual na reta R, quando
identificamos R com o subconjunto {(x, 0) : x ∈ R} de R2 .
2) A topologia usual da reta real induz a topologia discreta no conjunto dos números inteiros.
R − N = ] − ∞, 0[ ∪ ]0, 1[ ∪ ]1, 2[ ∪ · · ·
Observação 2.1.21. É possı́vel definir uma topologia para S partindo dos “subconjuntos fechados”.
Seja F uma famı́lia de subconjuntos de S satisfazendo as três condições da Proposição 2.1.20, isto é,
/ S∈F;
(i) 0,
(ii) se F1 , F2 ∈ F , então F1 ∪ F2 ∈ F ;
∩
(iii) se Fλ ∈ F , para todo λ ∈ L, então λ∈L Fλ ∈F.
Exemplo 2.1.23. Seja (S, σ) um espaço topológico qualquer. Claramente σ é mais fina que a
topologia caótica e menos fina que a topologia discreta em S.
2.1.3 Exercı́cios
∩
1) Prove que se {σλ }λ∈L é uma famı́lia de topologias em S, então σ = λ∈L σλ é topologia em S.
5) Considere em R as topologias usual e cofinita. Mostre que a topologia usual de R é mais fina
que a topologia cofinita.
6) Sobre R defina σ = {G ⊆ R : ∀ p ∈ G, ∃ ε > 0 tal que [p, p + ε[ ⊆ G}. Mostre que σ é uma
topologia em R e compare σ com a topologia usual em R.
7) Dê um exemplo para que mostrar que, se (S1 , σ1 ) e (S2 , σ2 ) são espaços métricos, σ1 × σ2 =
{A × B : A ∈ σ1 , B ∈ σ2 } não é em geral uma topologia para S = S1 × S2 .
(i) A é fechado;
(ii) A ⊆ A;
/
(iii) x ∈ A se, e somente se, para todo G ∈ σ tal que x ∈ G tem-se G ∩ A ̸= 0;
(v) A ⊆ B ⇒ A ⊆ B.
Observação 2.2.3. i) A é o menor (com relação a inclusão) subconjunto fechado de S que contém A.
De fato, se F é um fechado que contém A, então F será um dos fechados da interseção que define A,
de modo que A ⊆ F.
ii) Segue da Proposição 2.2.2 (iii), que, um ponto x ∈ S é ponto aderente de A se, e somente se, para
todo G ∈ σ com x ∈ G tem-se G ∩ A ̸= 0. / Alguns autores definem A como o conjunto dos pontos que
tem essa propriedade, isto é, são aderentes.
Exemplo 2.2.4. No espaço topológico (R, σusual ), Q = R, já que todo intervalo aberto da reta real
contém um número racional, assim todo ponto real é ponto aderente. Q não é fechado uma vez que
Q ̸= Q,
(i) 0/ = 0;
/
(ii) A ⊆ A;
(iii) (A) = A;
(iv) A ∪ B = A ∪ B.
Observação 2.2.6. É possı́vel definir uma topologia sobre S a partir da noção primitiva de fecho de
um conjunto. Mais precisamente, seja f : P (S) → P (S) uma aplicação. Vamos denotar f (A) por
A e suponhamos que os quatro axiomas de Kuratowski estejam satisfeitos (ou seja, (i) f (0) / = 0,
/
(ii) A ⊆ f (A), (iii) f ( f (A)) = f (A) e (iv) f (A ∪ B) = f (A) ∪ f (B)). Dizemos que um subconjunto F
de S é “fechado” se f (F) = F, e os abertos são os complementos dos fechados. Podemos facilmente
verificar que
σ = {G ⊆ S : G é aberto} = {G ⊆ S : f (S − G) = S − G}
é uma topologia sobre S, na qual f (A) é exatamente o fecho de A. Inicialmente justificaremos o
seguinte fato:
A ⊆ B ⇒ A ⊆ B, mais precisamente, que A ⊆ B ⇒ f (A) ⊆ f (B).
Para concluir isso, observemos que:
B = A ∪ (B − A)) ⇒ B = A ∪ (B − A) ⇒ B = A ∪ (B − A) ⇒ A ⊆ B,
onde, na penúltima implicação, usou-se o axima (iv).
• Para mostrar que σ é topologia verificaremos as condições para os fechados, de acordo com a
Observação 2.1.21:
(i) 0/ e S são fechados, pois, 0/ = 0/ (axioma (i)), e S ⊆ S, por axioma (ii), donde S = S (claramente
S ⊆ S, visto que f (S) ∈ P (S));
(ii) que a reunião de dois fechados é um fechado, segue diretamente do axioma (iv);
∩ ∩
(iii) seja agora {Fλ , λ ∈ L} uma famı́lia qualquer de fechados de S. Temos Fλ ⊆ Fλ (∗), pelo
∩ ∩
axioma (ii). Como Fλ ⊆ Fµ , para todo µ ∈ L, segue, do fato justificado acima, que Fλ ⊆ Fµ = Fµ ,
∩ ∩ ∩ ∩ ∩
donde Fλ ⊆ Fµ = Fλ (∗∗). De (∗) e (∗∗), vem Fλ = Fλ e a interseção de fechados é um
fechado.
• Resta a verificação de que, nesta topologia, f (A) é o fecho de A. Para maior clareza, nesta parte
não usaremos a notação A para representar f (A). Sejam A ⊆ S e F um fechado que contém A. Vem,
de A ⊆ F, que f (A) ⊆ f (F) = F. Assim f (A) está contido em todo fechado que contém A, de modo
que f (A) está contido na interseção de todos os fechados que contêm A, ou seja f (A) ⊆ A. Agora,
f (A) é fechado de acordo com a definição considerada, pois f ( f (A)) = f (A) (axioma (iii)) e, por
(ii), A ⊆ f (A). De onde segue, claramente, que f (A) contém a interseção de todos os fechados que
contêm A e assim, f (A) é o fecho de A.
Exemplo 2.2.8. 1) Com a topologia usual, o conjunto os números racionais é denso no conjunto dos
números reais.
2) Na topologia cofinita, um subconjunto é denso se e somente se é infinito.
26
Notemos que:
p ∈ A◦ ⇔ ∃ G ∈ σ, p ∈ G : G ⊆ A.
(iv) S◦ = S, 0/ ◦ = 0;
/
(v) (A◦ )◦ = A◦ ;
(vi) (A ∩ B)◦ = A◦ ∩ B◦ .
(vii) Se A ⊆ B então A◦ ⊆ B◦ .
(iii) A = A◦ implica que A é aberto. Se A é aberto, então é o maior aberto contido em A, logo A = A◦ .
(iv) S e 0/ são conjuntos abertos.
(v) Como A◦ é aberto, por (iii), A◦ coincide com o seu interior.
(vi) O aberto (A ∩ B)◦ é tal que (A ∩ B)◦ ⊆ A e (A ∩ B)◦ ⊆ B. Assim, (A ∩ B)◦ ⊆ A◦ e (A ∩ B)◦ ⊆ B◦ ,
donde (A ∩ B)◦ ⊆ A◦ ∩ B◦ . Por outro lado, A◦ ∩ B◦ é um aberto contido em A ∩ B. Em consequência,
A◦ ∩ B◦ ⊆ (A ∩ B)◦ . Das duas inclusões, resulta a igualdade (A ∩ B)◦ = A◦ ∩ B◦ .
(vii) (Exercı́cio).
(1) Um ponto a ∈ A é ponto isolado em A se {a} ∈ σA . Dizemos que A é um espaço discreto quando
todo ponto de A é ponto isolado.
(2) Um ponto x ∈ S é ponto de acumulação ou ponto limite de A se, para todo G ∈ σ, com x ∈ G,
/
tem-se (G − {x}) ∩ A ̸= 0.
(3) O conjunto derivado de A, denotado por A′ , é o conjunto dos pontos de acumulação de A, isto
é, A′ = {x ∈ S : x é ponto acumulação de A}.
Observação 2.2.13. i) Se (S, σ) é um espaço topológico com a propriedade de que {p} é fechado
em S para todo p ∈ S (os “T1 espaços” - Definição 6.2.3), em particular se S é de Hausdorff ou
metrizável, então
x ∈ A′ ⇔ x é um ω - ponto de acumulação de A . (∗)
Para ver isso, seja x ∈ A′ e suponhamos que exista um aberto G contendo x tal que G ∩ A e portanto
também (G − {x}) ∩ A seja finito, digamos (G − {x}) ∩ A = {p1 , p2 , ..., pr }. Como {pi }c =
S − {pi } é um aberto de S contendo x, existe um aberto Vi ⊆ {pi }c , com x ∈ Vi , i = 1, ..., r. Tome
V = (V1 ∩...∩Vr )∩G. Então x ∈ V e (V −{x})∩A = 0, / o que é uma contradição. A outra implicação
é óbvia.
ii) A equivalência (∗) acima não ocorre para espaços topológicos gerais. Por exemplo, para o espaço
/ {1}, S}) e A = {1, 3}, temos que 2 ∈ A′ e, claramente, para o
topológico finito (S = {1, 2, 3}, τ = {0,
(único) aberto G = S, que contém 2, G ∩ A não é infinito.
/
iii) Se x ∈ S não é ponto de acumulação de A então existe G ∈ σ com x ∈ G tal que (G − {x}) ∩ A = 0.
Assim, se x ∈ A, então G ∩ A = {x}, ou seja, {x} = G ∩ A ∈ σA . Portanto, se x ∈ A não é ponto de
acumulação de A, segue que x é ponto isolado. E, claramente, todo ponto x ∈ A isolado não é ponto
de acumulação de A. Assim, se x ∈ A ⊆ S, então x é ponto de acumulação ou ponto isolado de A, não
podendo ocorrer as duas coisas.
iv) Se (S, σ) é um espaço finito em que todo subconjunto unitário é fechado então σ = P (S) e
necessariamente, A′ = 0,
/ para todo subconjunto A de S.
∀ G ∈ σ, x ∈ G, tem-se G ∩ (A − {x}) = G ∩ A ̸= 0/ ⇒ x ∈ A′ .
Fr(A) = A ∩ Ac .
x ∈ Fr(A) ⇔ ∀ G ∈ σ, x ∈ G, tem-se G ∩ A ̸= 0/ e G ∩ Ac = G ∩ (S − A) ̸= 0.
/
2.2.1 Exercı́cios
1) Seja N = {0, 1, 2, 3, . . .} o conjunto dos números naturais e σ = {0,/ N, {0}, {0, 1}, {0, 1, 2},
{0, 1, 2, 3}, . . .}. Prove que σ é uma topologia para N. Calcular An = {0, 1, 2, . . . , n}, n ∈ N.
Determine os subconjuntos densos de (N, σ).
29
2) Prove que um subconjunto de um espaço topológico é denso se, e somente se, ele intersecta
todo aberto não vazio do espaço.
5) Mostrar que A◦ ∪ B◦ ⊆ (A ∪ B)◦ e dar um exemplo para mostrar que em geral não vale a
igualdade (A ∪ B)◦ = A◦ ∪ B◦ .
9) (Conjunto de Cantor) O conjunto de Cantor é o que resta do intervalo [0, 1] depois da seguinte
] [
operação: retira-se primeiramente o terço médio aberto 31 , 23 do intervalo [0, 1]. Retira-se
[ ] [ ]
depois o terço médio aberto de cada um dos intervalos restantes, 1, 31 e 23 , 1 . Sobra então
[ 1] [2 1] [2 7] [8 ]
0, 9 ∪ 9 , 3 ∪ 3 , 9 ∪ 9 , 1 . Em seguida, retira-se o terço médio aberto de cada um desses
intervalos, e repete-se o processo indefinidamente. O conjunto K dos pontos de [0, 1] não
retirados é o conjunto de Cantor. Com a topologia usual induzida da reta, mostre que:
a) K = K.
b) K ◦ = 0.
/
12) Verificar que, em geral, A′ ̸= Fr(A) e Fr(A) * A′ . (Sugestão: considere em (R, σusual ) o
conjunto A = {0, 1, 1/2, 1/3, . . .} dado no Exercı́cio 6 - c, acima.)
13) Seja (S, σ) um espaço topológico. Dizemos que A ⊆ S é denso em lugar nenhum ou nunca
denso (nowhere dense) se (A)◦ = 0. /
a) Verifique se Q, Z e o conjunto de Cantor K são subconjuntos nunca densos em (R, σusual ).
b) O conjunto dos números pares é nunca denso em N com a topologia cofinita?
Definição 2.3.1. Sejam (S, σ) um espaço topológico e (xn )n∈N∗ uma sequência de pontos de S.
Dizemos que a sequência (xn )n∈N∗ converge para x (ou que x é limite da sequência (xn )) e indicamos
xn → x ou x = lim xn se, para todo G ∈ σ com x ∈ G, existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica xn ∈ G.
Uma sequência em um espaço topológico pode não ter nenhum limite, ter um único limite, ou
vários limites, dependendo da topologia.
Demonstração. (i) Como xn → x, para todo G ∈ σ com x ∈ G, existe n0 ∈ N tal que xn ∈ G, para todo
/ Portanto x ∈ A.
n > n0 . Logo, para todo G ∈ σ com x ∈ G tem-se G ∩ A ̸= 0.
(ii) Se a sequência tem os pontos dois a dois distintos, então para todo aberto G, com x ∈ G,
/ de modo que x ∈ A′ .
(G − {x}) ∩ A ̸= 0,
Na Seção 2.5 veremos uma recı́proca (parcial) do item (i) da proposição anterior.
2.3.1 Exercı́cios
1) Determine as sequências convergentes de R com a topologia:
a) discreta.
b) caótica (ou indiscreta).
c) cofinita. (Sugestão: analise, separadamente, as sequências (xn ) sem subsequência constante;
com uma única subsequência constante (i. é, existe um único elemento c ∈ R tal que xn = c,
para infinitos n); com duas ou mais subsequências constante. Mostre que que no primeiro caso
(xn ) converge para qualquer x ∈ R, no segundo caso converge apenas para x = c e que no
último a sequência não converge.)
/
d) coenumerável (σcoen = {0}∪{A ⊆ R : R−A é enumerável}). (Sugestão: mostre que xn → p
⇔ (xn ) é estacionária em p.)
Definição 2.4.1. (Base) Seja (S, σ) um espaço topológico. Uma famı́lia B de abertos de S é uma base
para σ se todo elemento de σ é uma reunião de elementos de uma subfamı́lia de B. Os elementos
de B são chamados abertos básicos. Mais precisamente, dado G ∈ σ, existe B′ ⊆ B tal que
∪
G = B∈B′ B.
Exemplo 2.4.2. 1) A famı́lia das bolas abertas de um espaço métrico é uma base para sua topologia
usual (induzida da métrica).
2) Para S = {1, 2, 3} com σ = P (S) então B = {{1}, {2}, {3}} é uma base para σ.
Observação 2.4.3. Se B é uma base para uma topologia σ de S então qualquer famı́lia de conjuntos
abertos que contém B é também base para σ.
Proposição 2.4.4. Sejam (S, σ) um espaço topológico e B ⊆ σ. B é base de σ se, e somente se, para
todo G ∈ σ com x ∈ G, existe B ∈ B tal que x ∈ B ⊆ G.
∪
Demonstração. B é base para σ se, e somente se, para todo G ∈ σ, G = λ∈L Bλ , Bλ ∈ B, ou
equivalentemente, para todo G ∈ σ, qualquer que seja x ∈ G, existe B ∈ B tal que x ∈ B ⊆ G.
se B fosse uma base de uma topologia σ em R, então para a < b, ]a, b[ = ] − ∞, b[ ∩ ]a, +∞[ ∈ σ e
portanto seria reunião de elementos de B, o que é um absurdo.
A proposição seguinte nos dá uma condição para que B seja base de uma topologia para S.
∪
(2) Sejam G1 , G2 ∈ σ. Então G1 e G2 são reuniões de membros de B, isto é, G1 = i∈I B1,i ,
∪
G2 = j∈J B2, j . Assim, pelas leis distributivas,
( ) ( )
∪ ∪ ∪
G1 ∩ G2 = B1,i ∩ B2, j = (B1,i ∩ B2, j ).
i j i, j
Exemplo 2.4.8. (Topologia produto para dois espaços topológicos) Sejam (S1 , σ1 ), (S2 , σ2 ) espaços
topológicos. Então,
B = {G1 × G2 : G1 ∈ σ1 , G2 ∈ σ2 }
é base para uma topologia em S1 × S2 . Tal topologia é denominada topologia produto para S1 × S2 .
Por simplicidade denotaremos essa topologia por σ prod ou σ = σ1 × σ2 . Note que, em geral, o
conjunto {G1 × G2 : G1 ∈ σ1 , G2 ∈ σ2 } não é uma topologia para S1 × S2 (Exemplifique!).
Mais geralmente, pode-se definir a topologia produto para qualquer produto finito S1 ×· · ·×Sn de
espaços topológicos (S1 , σ1 ), . . . , (Sn , σn ), a partir de B = {G1 × G2 × · · · × Gn : Gi ∈ σi , i = 1, . . . n}.
Observação 2.4.9. i) A proposição anterior nos diz que a definição de base apresentada aqui é
equivalente à dada em Munkres [20] (Cap. 2, §13, p. 78).
ii) Dados (M1 , d1 ), . . . , (Mn , dn ) espaços métricos, usando a métrica D2 do máximo no espaço produto
M = M1 × · · · × Mn é fácil ver que para x = (x1 , . . . , xn ) ∈ M,
BD2 (x, ε) = Bd1 (x1 , ε) × · · · × Bdn (xn , ε) (1).
Denotemos por σi a topologia em Mi induzida pela métricas di , i = 1, . . . , n, respectivamente. Seja
σD2 a métrica em M induzida por D2 e σ prod a topologia produto em M. Da igualdade (1) segue
facilmente que a topologia produto em M coincide com a topologia induzida por D2 , isto é, σ prod =
σD2 (e consequentemente, a topologia em M obtida por qualquer uma das 3 métricas equivalentes
D, D1 , D2 coincide com a topologia produto).
Definição 2.4.10. (Sub-base) Seja (S, σ) um espaço topológico. Uma sub-base para σ é uma famı́lia
S de abertos de S cujo conjunto B das interseções finitas de elementos de S forma uma base para
σ. A base B é denominada base gerada pela sub-base S e os abertos da sub-base são chamados
abertos sub-básicos. Diz-se também que a topologia σ é gerada pela sub-base S.
Observação 2.4.11. Seja S um conjunto não vazio. Claramente, qualquer famı́lia S de subconjuntos
de S cuja reunião é igual a S dá origem a uma topologia σ para S (dada pela reunião de todas as
interseções finitas de elementos de S - ou seja que tem o subconjunto B de todas as interseções
finitas de elemento de S como base). Tal topologia tem S como sub-base, de modo que a definição
acima está de acordo com a definição de sub-base apresentada em Munkres [20] (Cap. 2, §13,
p. 82). O conjunto B de todas as interseções finitas de elemento de S será uma base para a
topologia σ.
Exemplo 2.4.12. 1) A famı́lia dos intervalos infinitos de R, ] − ∞, a[, ]b, +∞[, a, b ∈ R, é uma
sub-base para a topologia usual de R.
2) Sejam (S1 , σ1 ), . . . , (Sn , σn ) espaços topológicos. Então,
2.4.1 Exercı́cios
1) Sejam B1 = { ]a, b[ : a, b ∈ R, a < b} e B2 = { [a, b[ : a, b ∈ R, a < b}. Mostre que B1 e
B2 são bases para topologias em R. A topologia em R que tem B2 como base é denominada
topologia do limite inferior (lower limit topology) . O espaço R com tal topologia é conhecido
como reta de Sorgenfrey (devido ao matemático americano Robert Sorgenfrey). Note que as
topologias dadas por essas duas bases são, respectivamente, a usual e a referida no Exercı́cio
2.1.3 - 6.
b) Mostre que a K− topologia (τK ) é mais fina que a topologia usual (τusual ) em R e que a K−
topologia e a topologia do limite inferior (τl ) não são comparáveis. (Sugestão: [0, 1[ ∈ τl , mas
[0, 1[ ̸∈ τK ; ] − 12 , 1[−K ∈ τK , porém ] − 12 , 1[−K ̸∈ τl .)
Definição 2.5.2. Uma famı́lia B p de vizinhanças de p é chamada uma base para o sistema de
vizinhanças de p, ou uma base local em p, se qualquer vizinhança de p contém um elemento desta
famı́lia.
Observação 2.5.3. i) Seja (S, σ) um espaço topológico. Todo ponto p ∈ S possui pelo menos uma
base local, a saber B p = {G ∈ σ : p ∈ G}.
ii) Se B p é uma base local em p, então Bop = {B◦ : B ∈ B p } é também uma base local em p, além
disso Bop é formada por elementos da topologia σ. Em função disso podemos supor, na definição,
que a base local B p em p seja tal que B p ⊆ σ, isto é, que os elementos de B p sejam abertos.
iii) Alguns autores, definem vizinhança de um ponto p como um subconjunto aberto que contém p.
Exemplo 2.5.4. Num espaço métrico (M, d), B p = {Bd (p, ε) : ε ∈ R∗+ } é uma base local. Também
B′ p = {Bd (p, r); r ∈ Q∗+ } é uma base local em p.
Definição 2.5.5. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) satisfaz o primeiro axioma de
enumerabilidade, ou é e1 espaço, se todo ponto de S tem uma base local enumerável.
Lema 2.5.7 (Base Local Encaixada). Sejam (S, σ) um espaço topológico e1 , p ∈ S e V = {V1 ,V2 , . . .}
uma base local enumerável em p. Então existe uma base local em p, U = {U1 ,U2 , . . .}, tal que
U1 ⊇ U2 ⊇ U3 ⊇ · · · , e Ui ⊆ Vi , para todo i = 1, 2, . . . Neste caso dizemos que U é uma base local (em
p) encaixada.
Demonstração. Definimos a base local U por recorrência: tome U1 := V1 e defina Un := Un−1 ∩Vn ,
para todo n ≥ 2. Deste modo, temos Ui+1 ⊆ Ui e Ui ⊆ Vi , para todo i ≥ 1. Além disso, U = {Un : n ∈
N∗ } é uma base local em p. De fato, dado G ∈ σ com p ∈ G, como V é base local em p, existe Vk ∈ V
tal que p ∈ Vk ⊆ G. Daı́, Uk = Uk−1 ∩Vk ⊆ Vk ⊆ G, com p ∈ Uk ∈ U . O que conclui a prova.
Proposição 2.5.8. Sejam (S, σ) um e1 espaço e A ⊆ S. Então, x ∈ A se, e somente se, existe uma
sequência (xn ) de pontos de A tal que xn → x.
Demonstração. (⇒) Seja x ∈ A. Como S é e1 , pelo Lema 2.5.7, existe uma base local em x
(enumerável) encaixada, digamos U = {Un : n ∈ N∗ }. Como x ∈ A, todo G ∈ σ com x ∈ G, temos
/ logo, para todo n ∈ N∗ , temos Un ∩ A ̸= 0.
G ∩ A ̸= 0, / Agora, para cada n ∈ N∗ , escolha xn ∈ Un ∩ A.
A sequência (xn ) é formada por elementos de A. Mostremos que xn → x. De fato, dado G ∈ σ com
x ∈ G, existe n0 ∈ N∗ tal que x ∈ Un0 ⊆ G. Então, para todo n ≥ n0 , xn ∈ Un ⊆ Un0 ⊆ G. Portanto
xn → x.
(⇐) Vale para qualquer espaço topológico (ver Proposição 2.3.3).
Corolário 2.5.9. Em um espaço métrico M, dado A ⊆ M, x ∈ A se, e somente se, existe uma sequência
(xn ) de pontos de A tal que xn → x.
Observação 2.5.10. i) Se um espaço topológico (S, σ) não for e1 , não vale, em geral, que se x ∈ A
(A ⊆ S), então existe uma sequência de pontos de A convergindo para x. Por exemplo, considere o
espaço (R, σcoen ), onde σcoen = {0,/ R} ∪ {G ⊆ R : Gc é enumerável}. Temos que (R, σcoen ) não é e1
(verifique!). Os conjuntos fechados são 0,/ R e F ⊆ R com F enumerável. Considere A = [0, 1] ⊂ R.
Então o menor fechado que contém A é R (o único). Logo, A = R. Deste modo, 2 ∈ A, mas não
existe sequência de pontos de A que converge para 2, pois se existisse, deveria haver n0 ∈ N∗ tal que
xn = 2, para todo n ≥ n0 , o que não ocorre, pois 2 ̸∈ A (lembre-se que as sequências convergentes em
(R, σcoen ) são as estacionárias).
ii) No Cap. 6, Exercı́cio 6.2.1 - 6, é apresentada uma condição necessária e suficiente, em termos de
sequência, para que x pertença a A′ (com A ⊆ S, S espaço topológico).
Definição 2.5.11. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) satisfaz o segundo axioma de enume-
rabilidade ou que (S, σ) é e2 espaço se existe uma base enumerável para a topologia σ de S.
2) (S, σdis ) é e2 se, e somente se, S é enumerável. Em particular, (R, σdis ) (ou, equivalentemente, o
espaço métrico R com a métrica d01 ) não é e2 .
3) (R, σco f ) não é e2 .
Observação 2.5.14. i) Ser e1 não implica em e2 . Por exemplo, (R, σdis ) é e1 mas não é e2 .
ii) Também ser métrico não implica em ser e2 espaço, como vimos no exemplo anterior, item 2.
Demonstração. Sejam (S, σ) um espaço topológico e {Bn }n∈J uma base enumerável de S. Para cada
n ∈ J, tomemos xn ∈ Bn . Então o conjunto D = {xn ∈ S : n ∈ J} é denso em S, pois se x ∈ S e G é um
aberto contendo x, então existe um aberto básico Bn tal que x ∈ Bn ⊆ G (Proposição 2.4.4), de modo
/ já que xn ∈ G ∩ D, e em consequência, x ∈ D.
que G ∩ D ̸= 0,
Observação 2.6.4. A recı́proca da proposição anterior em geral não é válida, isto é, ser separável
não implica em ser e2 (vide Munkres [20], Cap. 4, §30, Exemplo 3, p. 192). Em espaços métricos a
recı́proca é verdadeira, como mostra o resultado seguinte.
Definição 2.6.8. Um espaço topológico (S, σ) é denominado espaço de Lindelöf quando toda
cobertura aberta de S admite uma subcobertura enumerável.
/
Exemplo 2.6.9. 1) (S, σcao ) é de Lindelöf (e também separável), para todo S ̸= 0.
2) (R, σco f ) é um espaço de Lindelöf.
Demonstração. Sejam B = {B1 , B2 , B3 , . . .} uma base enumerável para σ e {Gi }i∈I uma cobertura
∪
aberta para G (não necessariamente enumerável), i. é, G = i∈I Gi , Gi ∈ σ. Seja N = {n ∈ N∗ : Bn ⊆
∪
Gi , para algum i ∈ I}. Para cada n ∈ N escolha um Gin tal que Bn ⊆ Gin . Então G = n∈N Gin
(cobertura enumerável) , pois se x ∈ G então x ∈ Gi , para algum i. Pela Proposição 2.4.4, existe
∪
Bm ∈ N de modo que x ∈ Bm ⊆ Gi . Logo m ∈ N e pela escolha dos Gim , x ∈ Bm ⊆ Gim ⊆ n∈N Gin ,
o que completa a prova.
Proposição 2.6.11. Seja (S, σ) um espaço e2 . Então qualquer base de S contém uma subfamı́lia
enumerável que é também uma base para a topologia de S.
Demonstração. Sejam {Bn }n∈I⊆N∗ uma base enumerável para σ e {Cλ }λ∈Λ uma base qualquer para
∪
σ. Dado que Bn = λ∈Λ′n Cλ , Λ′n ⊆ Λ, para cada n ∈ I, segue do Teorema de Lindelöf, que Bn =
∪ ′
λi ∈Λn Cλi , com Λn enumerável, Λn ⊆ Λn . Então, {Cλi : λi ∈ Λn , n ∈ I} é enumerável e constitui uma
base para a topologia σ de S.
∪
Logo S = ( λ∈L Uλ ) ∪ F c é uma cobertura aberta de S. Como S é de Lindelöf, tal cobertura
∪
admite subcobertura enumerável, digamos S = ( i∈J Uλi ) ∪ F c , com J enumerável. Deste modo,
∪ ∪
F ⊆ i∈J Uλi , donde segue que F = i∈J Gλi (cobertura enumerável), e portanto F é de Lindelöf.
(i) M é e2 espaço.
(iii) M é separável.
Demonstração. Falta provar apenas que (ii) ⇒ (iii). Para cada m ∈ N∗ , considere a cobertura de
M por bolas abertas C = {B(x, 1/m), x ∈ M} de M. Como M é Lindelof, existe uma subcobertura
enumerável C ′ = {Bm1 , Bm2 , ...} de M, onde Bmk = B(xmk , 1/m). Tome X = {xmk ; m, k ∈ N∗ }. X é
enumerável e X = M. Assim M é separável.
Definição 2.7.2. Dizemos que uma propriedade é transferı́vel para o produto cartesiano se, o produto
cartesiano de espaços topológicos que satisfazem a propriedade, também verifica a propriedade.
Exemplo 2.7.3. Metrizabilidade é uma propriedade hereditária e é uma propriedade que se transfere
para o produto finito.
Mostremos a hereditariedade. Seja (S, σ) um espaço metrizável (assim, existe uma métrica d tal
que σ = σd e todo aberto de S é reunião de bolas abertas). Dado A ⊆ S, queremos mostrar que o
subespaço (A, σA ) é metrizável, ou equivalentemente, que todo aberto de A é reunião de bolas abertas
∪
em A. Temos que U ∈ σA se, e somente se, existe G ∈ σ tal que U = G ∩ A. Logo, G = x∈G B(x, εx ),
∪ ∪
pois (S, σ) é metrizável. Assim, U = ( x∈G B(x, εx )) ∩ A = x∈G (B(x, εx ) ∩ A), de modo que U é
aberto em A se, e somente se, U é aberto na topologia de A como subespaço métrico de S.
Que a propriedade se transfere para o produto finito, isto é, se (M1 , σ1 ), . . . , (Mn , σn ) são espaços
metrizáveis (em que σi é a topologia proveniente de uma métrica di , i = 1, . . . , n) então M = M1 ×
· · · × Mn com σ prod é metrizável, segue do fato que σ prod = σD2 (a topologia produto coincide
com a topologia induzida pela métrica do máximo em M, e portanto pelas outras métricas D e D1
equivalente a D2 ) como já mencionado na Observação 2.4.9 - ii.
Exemplo 2.7.6. Seja (R, σ), onde σ é a topologia em R gerada pelos intervalos [a, b[ , a, b ∈ R
(topologia do limite inferior - Exercı́cio 2.4.1 - 1). Então:
1) (R, σ) é separável.
2) (R, σ) é um espaço de Lindelöf.
3) (R2 , σ prod = σ × σ) não é um espaço de Lindelöf.
4) (R2 , σ prod ) é separável, mas A = {(x, y) ∈ R2 : x + y = 0} ⊆ R2 não é separável.
Com efeito: 1) (R, σ) é separável, pois o conjunto dos números racionais Q é enumerável e denso
em R com essa topologia.
2) É suficiente mostrar que toda cobertura de R por elementos básicos admite uma subcobertura
enumerável. (Exercı́cio !) Seja C = { [aλ , bλ [ }λ∈L uma coleção de abertos em σ tal que R =
∪
λ∈L [aλ , bλ [ . Queremos encontrar uma subcoleção enumerável de A que também cobre R. Considere
∪
o subconjunto de R, W := λ∈L ]aλ , bλ [. Afirmamos que R −W é um subconjunto enumerável. De
fato, seja x ∈ R − W . Então x ̸∈ ]aλ , bλ [, para todo λ ∈ L (já que x ̸∈ W ). Logo devemos ter
x = aλ0 , para algum λ0 ∈ L. Escolha qx ∈ Q, com qx ∈ ]aλ0 , bλ0 [ ⊆ W . Temos assim uma função
de R −W em Q, x 7→ qx , e essa função é injetora, pois se x, y ∈ R −W , com x < y, então qx < qy
(caso contrário, terı́amos x < y < qy < qx , e assim y ∈ W ). Logo R −W é enumerável. Portanto
existe uma subfamı́lia enumerável C ′ de C que cobre R − W . Mostremos que existe também
uma subfamı́lia enumerável de C que cobre W . Com efeito, considere agora R com a topologia
σusual , com essa topologia, W é um aberto de R. Pelo Teorema de Lindelöf (Proposição 2.6.10), W
admite uma subcobertura enumerável, digamos C′′ . Consequentemente, C ′ ∪ C ′′ é uma subfamı́lia
enumerável de C que cobre R e assim (R, σ) é de Lindelöf.
3) Considere A = {(x, y) ∈ R2 : x + y = 0} ⊆ R2 . A é fechado em (R2 , σ prod ) e a topologia induzida
em A é a topologia discreta. Em consequência, A não é espaço de Lindelöf, pois A é discreto e não
enumerável. Logo (R2 , σ prod ) não é de Lindelöf, pois se fosse, como A é um subespaço fechado,
pela Proposição 2.6.12, A também seria de Lindelöf, o que não ocorre.
41
7) Seja f : E → F uma função. Admitindo que exista uma topologia ξ sobre F, mostre que σ =
{ f −1 (G) : G ∈ σ} é uma topologia sobre E.
∩
8) Seja {σi }i∈I uma coleção de topologias num conjunto X. Prove que σ = i∈I σi é também uma
topologia sobre X. Em particular, se σ1 e σ2 são topologias, então σ1 ∩ σ2 é topologia em X. A
reunião σ1 ∪ σ2 é uma topologia em X?
10) Seja S um conjunto totalmente ordenado com a topologia da ordem. Mostre que ]a, b[ ⊆ [a, b].
Sobre quais condições vale igualdade?
15) Sejam R := R ∪ {−∞, +∞} com relação de ordem usual entre os elementos de R e com
−∞ < x < +∞, se x ∈ R. Considere sobre R a topologia da ordem. Mostre que:
a) R é aberto em R e R não é fechado em R;
b) R é separável, isto é, tem um subconjunto denso enumerável.
43
17) Sejam B uma base para a topologia σ em S e (xn ) uma sequência em S. Mostre que xn → x se,
e somente se, para todo B ∈ B com x ∈ B, existe n0 ∈ N tal que n > n0 implica xn ∈ B.
18) Mostre que se B é uma base para a topologia σ em S, então σ é a interseção de todas as
topologias em S que contêm B . O mesmo ocorre se B é uma sub-base.
20) Prove que um espaço topológico S é de Hausdorff se, e somente se, a diagonal △ = {(x, x) : x ∈
S} é fechada no produto S × S.
21) Sobre o conjunto S = [0, 1] × [0, 1] considere a ordem lexicográfica, isto é, (a, b) ≤ (c, d) se e
somente se a < c ou a = c e b ≤ d. Determine os fechos dos seguinte conjuntos em S com a
topologia da ordem:
a) {( 1n , 0) : n ∈ N∗ }.
b) {(1 − 1n , 12 ) : n ∈ N∗ }.
c) {(x, 0) : 0 < x < 1}.
d) {(x, 12 ) : 0 < x < 1}.
e) {( 12 , y) : 0 < y < 1}.
22) Seja (S, σ) um espaço topológico. Uma vizinhança fechada de x ∈ S é um subconjunto fechado
de S cujo interior contém x. Mostre que um espaço topológico (S, σ) é de Hausdorff se, e
somente se, a interseção de todas as vizinhanças fechadas de x ∈ S se reduz a {x}, para todo
x ∈ S.
23) Seja S um conjunto e, para cada x ∈ S, considere uma classe Vx ⊆ P (S), tal que:
(i) x ∈ V, ∀ V ∈ Vx ;
(ii) V1 ,V2 ∈ Vx ⇒ ∃ V3 ∈ Vx tal que V3 ⊆ V1 ∩V2 ;
(iii) V ∈ Vx ⇒ ∃ U ∈ Vx , U ⊆ V tal que V ∈ Vy , ∀ y ∈ U.
Demonstre que existe uma única topologia em S tal que, para todo x ∈ S, Vx é o sistema
fundamental de vizinhanças de x nesta topologia. (Sugestão: defina σ = {G ∈ P (S) : ∀ x ∈
G, ∃ V ∈ Vx com V ⊆ G}.)
44
24) Determine as sequências convergentes de R com a topologia que têm como base a famı́lia dos
intervalos da forma [a, +∞[ , a ∈ R.
25) Prove que o conjunto dos pontos isolados de um espaço que satisfaz o segundo axioma de
enumerabilidade é enumerável.
26) Prove que a famı́lia de todos os semiplanos abertos constitui uma sub-base para a topologia
usual do plano R2 .
27) Seja S um conjunto infinito. Mostre que a topologia em S gerada pelos subconjuntos infinitos
de S é a topologia discreta.
28) Seja d uma métrica qualquer em M ̸= 0. / Prove que d(x, y) := min{1, d(x, y)} e d ′ (x, y) :=
d(x, y)
são também métricas sobre M e que d é equivalente a d e a d ′ . Conclua que
1 + d(x, y)
as topologias correspondentes (induzidas por essas métricas) são iguais. (Sugestão: vide
Observação 2.1.7.) A métrica d é chamada métrica limitada padrão correspondente a d.
29) Demonstre que G é aberto em um espaço S se, e somente se, G ∩ X = G ∩ X, para todo X ⊆ S.
32) Prove que e1 e e2 são propriedades hereditárias e que se transferem para o produto cartesiano
finito de espaços topológicos.
Capı́tulo 3
Continuidade
“A Matemática oferece às ciências exatas um certo grau de segurança
que sem ela não poderiam alcançar.”
(A. Einstein)
Definição 3.1.1. Dizemos que f : (S, σ) → (T, ξ) é contı́nua num ponto p ∈ S se, dado U ∈ ξ com
f (p) ∈ U, então existe G ∈ σ, tal que p ∈ G e f (G) ⊆ U.
Dizemos que f é contı́nua em S se for contı́nua em todos os pontos de S.
45
46
Proposição 3.1.4. Seja f : (S, σ) → (T, ξ) uma aplicação. São equivalentes as seguintes afirmações:
(i) f é contı́nua;
Observação 3.1.5. Seja f : (S, σ) → (T, ξ) uma aplicação. Então podemos definir a “aplicação
imagem inversa” f−1 : P (T ) → P (S) que associa a cada U ∈ P (T ) o conjunto f −1 (U) = {x ∈ S :
f (x) ∈ U} ∈ P (S), isto é, que a cada subconjunto de T , associa-se a sua imagem inversa por f , que
é um subconjunto de S (lembramos que σ ⊆ P (S) e que ξ ⊆ P (T )).
A Proposição 3.1.4 afirma, entre outras coisas, que f é contı́nua se, e somente se, f−1 (ξ) ⊆ σ,
isto é, f−1 aplica a topologia de T na topologia de S. De outro modo, f é contı́nua se, e somente se, a
aplicação (imagem inversa) f−1 restrita à ξ é uma aplicação entre as topologias, isto é, f−1 |ξ : ξ → σ
47
é uma aplicação. Esta é a razão principal pela qual as aplicações contı́nuas são as aplicações
consideradas em topologia.
Proposição 3.1.6. Se f : (S, σ) → (T, ξ) e g : (T, ξ) → (X, µ) são aplicação contı́nuas, então g ◦ f :
(S, σ) → (X, µ) é contı́nua.
Proposição 3.1.7. Seja f : (S, σ) → (T, ξ) uma aplicação. Então f é contı́nua se, e somente se,
f (A) ⊆ f (A), para todo A ⊆ S.
Demonstração. (⇒) Seja y = f (x) com x ∈ A. Vamos mostrar que y ∈ f (A). Seja U ∈ ξ, com
y = f (x) ∈ U. Como f é contı́nua, existe G ∈ σ, x ∈ G tal que f (G) ⊆ U. Agora, x ∈ A e x ∈ G ∈ σ,
/ isto é, existe z ∈ G ∩ A. Daı́, f (z) ∈ f (G) ∩ f (A) ⊆ U ∩ f (A). Portanto U ∩ f (A) ̸= 0/
logo G ∩ A ̸= 0,
e assim y ∈ f (A). Em consequência, f (A) ⊆ f (A), para todo A ⊆ S.
(⇐) Seja F ⊆ T um fechado. Mostraremos que A = f −1 (F) é fechado, isto é, A ⊆ A. De fato, por
hipótese, f (A) ⊆ f (A), de modo que, A ⊆ f −1 ( f (A)), donde segue, substituindo A e usando que F é
fechado, que
A proposição seguinte reduz a verificação da continuidade aos aberto básicos, ou mais ainda, aos
abertos sub-básicos.
Proposição 3.1.8. Sejam f : (S, σ) → (T, ξ) uma aplicação, B = {Uλ : λ ∈ L} uma base para ξ e
S = {Vµ : µ ∈ M} uma sub-base para ξ. Então:
Como, por hipótese cada f −1 (Vik ) é aberto, segue que f −1 (U) é aberto, donde f é contı́nua.
48
∀ U ∈ σ′ , f (p) ∈ U, ∃ G ∈ σ, p ∈ G : f (G) ⊆ U ⇔
3.1.2 Exercı́cios
1) Justifique as equivalências apresentadas acima em 3.1.1
2) Sejam (M, d) e (N, d ′ ) dois espaços métricos. Uma aplicação f : M → N é uma imersão
isométrica se d ′ ( f (x), f (y)) = d(x, y), para todos x, y ∈ M. Uma imersão isométrica é sempre
injetora (porque?). Uma imersão isométrica sobrejetora (e portanto bijetora) é denominada
isometria (assim, se f : M → N é uma imersão isométrica então f : M → f (M) é uma isometria).
Mostre que toda imersão isométrica (e portanto toda isometria) é uma aplicação contı́nua.
6) Mostre que f : X → Y é contı́nua se, e somente se, f : X → f (X) é contı́nua ( f (X) tem a
topologia induzida de Y ).
/
10) Determinar todas as funções contı́nuas f : (R, σ) → (R, σ), com σ = {R, 0}∪{ ]a, +∞[ : a ∈ R}.
Proposição 3.2.1. Se f : (S, σ) → (T, ξ) é uma aplicação contı́nua em x ∈ S e (xn ) é uma sequência
de pontos de S tal que xn → x, então a sequência ( f (xn )) converge para f (x) em T .
Demonstração. Suponha que f : S → T é contı́nua e seja (xn ) uma sequência em S convergindo para
x. Mostremos que f (xn ) → f (x). Para isso, seja U ∈ ξ tal que f (x) ∈ U. Como f é contı́nua em x,
existe G ∈ σ, com x ∈ G, tal que f (G) ⊆ U. Como xn → x, e x ∈ G, existe n0 ∈ N∗ tal que xn ∈ G, para
todo n ≥ n0 . Nestas condições, para n ≥ n0 , como xn ∈ G, segue que f (xn ) ∈ f (G) ⊆ U. Portanto
f (xn ) → f (x).
Definição 3.2.2. Dizemos que f : (S, σ) → (T, ξ) é sequencialmente contı́nua se f (xn ) → f (x),
quando xn → x, para toda sequência (xn ) e x ∈ S.
Proposição 3.2.4. Seja (S, σ) um espaço satisfazendo o primeiro axioma de enumerabilidade. Então
f : (S, σ) → (T, ξ) é contı́nua se, e somente se, f é sequencialmente contı́nua.
Demonstração. (⇒) É verdadeira mesmo que (S, σ) não seja e1 (Proposição 3.2.1).
(⇐) Suponhamos f sequêncialmente contı́nua. Se f não fosse contı́nua em algum x ∈ S, terı́amos
um aberto U ∈ ξ contendo f (x) tal que, para todo aberto G de S contendo x, tem-se f (G) * U.
Em particular, se U x = {Ui }i∈N∗ é uma base local encaixada em x (que existe pois S é e1 ), então
f (Ui ) * U, para todo i ∈ N∗ . Seja xi ∈ Ui com f (xi ) ̸∈ U. A sequência (xi ) converge para x, mas f (xi )
não converge para f (x), contrariando a hipótese. Desta forma, f é contı́nua em x, para todo x ∈ S,
logo f é contı́nua.
3.2.1 Exercı́cio
1) Prove que se X e Y são espaços métricos então f : X → Y é contı́nua se, e somente se, f é
sequêncialmente contı́nua (corolário anterior). O resultado vale se X é um espaço métrico e
Y é um espaço topológico qualquer? E se X é um espaço topológico qualquer e Y um espaço
métrico? Justifique.
Exemplo 3.3.2. 1) Seja A ⊆ S. A inclusão i : (A, σA ) → (S, σ); i(x) = x, é uma aplicação aberta
(aplicação fechada) se, e somente se, A é um subconjunto aberto (subconjunto fechado) de S.
2) As projeções p1 : S1 × S2 → S1 e p2 : S1 × S2 → S2 , dadas por p1 (x, y) = x e p2 (x, y) = y são
aplicações abertas (S1 × S2 com a topologia produto).
3) Uma aplicação pode não ser aberta nem fechada. Sejam S = T = {a, b, c}, σ = {0, / {a}, S} e
/ {a, b}, {c}, T }. A aplicação identidade id : (S, σ) → (T, ξ) não é aberta e nem fechada.
ξ = {0,
51
Notemos que a relação “ser homeomorfos” é uma relação de equivalência entre espaços
topológico. Se f : (S, σ) → (T, ξ) é um homeomorfismo, então aplicação imagem inversa (já
referida na Observação 3.1.5) f−1 : P (T ) → P (S) que associa a cada U ∈ P (T ) o conjunto
f −1 (U) = {x ∈ S : f (x) ∈ U} ∈ P (S) é bijetora e satisfaz f−1 (ξ) = σ (e existe uma correspondência
entre os abertos de S e T ). Assim, homeomorfismo é a equivalência topológica:
“no estudo das propriedades topológicas não se distingue dois espaços homeomorfos”.
Exemplo 3.3.4.
1) Sejam S = T = R, σ = {0, / {a}, R} topologia em S e ξ = {0, / {b}, R}. A aplicação f : S → T dada
por f (a) = b, f (b) = a e f (x) = x para x ̸= a e x ̸= b é um homeomorfismo.
2) A reta real com a topologia usual é homeomorfa ao subespaço A = {(x, 0) ∈ R2 : x ∈ R} com a
topologia induzida do plano, através da aplicação f : R → A definida por f (x) = (x, 0).
3) (Projeção estereográfica) Considere S1 = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 = 1}, com a topologia de
subespaço de R2 (usual). S1 − {(0, 1)} e R com a topologia usual são espaços homeomorfos,
uma vez que a aplicação ρ : S1 − {(0, 1)} → R; ρ((x, y) = x/(1 − y) é um homeomorfismo.
Mais geralmente, considerando Sn = {(x1 , ..., xn+1 ) ∈ Rn+1 : x12 + ... + xn+1 2 = 1}, a esfera n-
dimensional, com a topologia (usual) de subespaço. S − {(0, ..., 1)} e R são espaços homeomorfos
n n
com ρ(x1 , ..., xn , xn+1 ) = (x1 /(1 − xn+1 ), ..., xn /(1 − xn+1 )) = [1/(1 − xn+1 )].(x1 , ..., xn ) sendo um
homeomorfismo.
4) (R, σusual ) não é homeomorfo à (R, σdis ).
5) Todo espaço métrico (M, d) é homeomorfo a um espaço métrico limitado. Para ver isso tome,
por exemplo, a métrica d = min{1, d(x, y)}, d e d são equivalentes (vide Exercı́cio 2.8 - 28), logo as
topologias σd = σd e assim id : (M, d) → (M, d) é um homeomorfismo.
Proposição 3.3.5. Se h : (S, σ) → (T, ξ) é bijetora, então são equivalentes as seguintes afirmações:
(i) h é um homeomorfismo.
(ii) ⇒ (iii) Se F ⊆ S é fechado de S, então Sc é aberto em S. Assim, como h é aberta, segue que
h(F c ) = (h(F))c é aberto de T . Logo h(F) é fechado. Portanto h é fechada.
(iii) ⇒ (iv) Como h é contı́nua, pela Proposição 3.1.7, temos h(A) ⊆ h(A). Agora, como h(A) é um
fechado que contém h(A), temos h(A) ⊆ h(A), e assim segue a tese.
(iv) ⇒ (i) Como h(A) = h(A), pela Proposição 3.1.7, h é contı́nua. Agora, dado B ⊆ T , seja A =
h−1 (B). Temos
h(h−1 (B)) = h(h−1 (B)) = B,
consequêntemente, h−1 (B) = h−1 (B) e h−1 é contı́nua, novamente pela Proposição 3.1.7.
Definição 3.3.6. Uma aplicação f : (S, σ) → (T, ξ) é um homeomorfismo local se, para todo x ∈ S,
existe G ⊆ S, G ∈ σ com x ∈ G, tal que f (G) = H, H ∈ ξ e a restrição f|G : G → H é homeomorfismo.
Observação 3.3.10. Uma aplicação pode ser contı́nua, bijetora e não ser homeomorfismo (vide
Exercı́cio 3.3.1 - 1). Isto não acontece quando o domı́nio e o contradomı́nio é o espaço R com a
topologia usual (Exercı́cio 3.3.1 - 2).
53
3.3.1 Exercı́cios
1) Dê um exemplo para mostrar que uma aplicação bijetora e contı́nua entre dois espaços
topológicos pode não ser um homeomorfismo. (Sugestão: considere a aplicação f : [0, 1[ → S1
dada por f (t) = (cos2πt, sen2πt).)
4) Seja M um conjunto não vazio munido de duas métricas: d e d ′ . Demonstre que as métricas
d e d ′ são equivalentes se, e somente se, a aplicação identidade id : (M, d) → (M, d ′ ) é um
homeomorfismo.
Exemplo 3.4.2. Seja (S, σ) um espaço topológico onde todo subconjunto unitário é fechado. A
propriedade de que todo subconjunto unitário é fechado é uma propriedade topológica, pois, se
f : S → T é um homeomorfismo e y ∈ T , então existe x ∈ S tal que y = f (x); assim f ({x}) = {y} e
{y} é fechado por ser imagem de um fechado por um homeomorfismo.
Exemplo 3.4.3. Metrizabilidade é uma propriedade topológica. De fato, sejam (S, σ) um espaço
topológico metrizável e (T, ξ) um espaço homeomorfo à (S, σ). Se d : S × S → R é a métrica que
induz a topologia σ e f : (T, ξ) → (S, σ) é um homeomorfismo. Definimos e : T × T → R por e(x, y) =
d( f (x), f (y)). É fácil ver que e é uma métrica sobre T . Além disso, se U ∈ ξ, então f (U) ∈ σ, de
∪
modo que f (U) = x∈ f (U) B(x, rx ), rx > 0. Assim,
∪ ∪ (∗) ∪
U = f −1 B(x, rx ) = f −1 (B(x, rx )) = B( f −1 (x), rx ).
x∈ f (U) x∈ f (U)
Justificativa de (∗):
Logo, U é uma união de bolas abertas relativamente à métrica e, de modo que U é aberto na
topologia de T como espaço métrico com a métrica e.
∪
Por outro lado, se U é aberto de T relativamente à métrica e, então U = x∈U B(x, rx ), rx > 0.
∪ ∪
Assim f (U) = f ( B(x, rx )) = B( f (x), rx ) ∈ σ, de modo que U = f −1 ( f (U)) ∈ ξ pois f é um
homeomorfismo. Portanto ξ coincide com a topologia induzida pela métrica e, e consequentemente,
(T, ξ) é metrizável.
Exemplo 3.4.4. Separabilidade é uma propriedade topológica. De fato, suponhamos que f : (S, σ) →
(T, τ) seja um homeomorfismo e que exista A = {x1 , x2 , . . .} tal que A = S. Então T = f (S) = f (A) =
f (A) = { f (x1 ), f (x2 ), . . .}.
Note que a propriedade de ser limitado (em espaços metrizáveis) não é propriedade topológica,
pois, por exemplo, X = ] − 1, 1[ e R são espaços homeomorfos (com a métrica usual), X é limitado,
enquanto que R não é.
Proposição 3.5.1. Sejam S um conjunto não vazio, (T, ξ) um espaço topológico e f : S → (T, ξ) uma
aplicação. Então, σ = { f −1 (U) : U ∈ ξ} é uma topologia em S e f : (S, σ) → (T, ξ) é contı́nua. Além
disso, σ é a topologia menos fina (menor topologia com relação a inclusão) com esta propriedade.
Mais geralmente, se (Ti , ξi ), i ∈ I são espaços topológicos e fi : S → (Ti , ξi ) são aplicações, então
T = { fi−1 (U) : U ∈ ξi , i ∈ I} é uma sub-base para uma topologia σ em S (dada pelas reuniões de
interseções finitas de elementos de T ), relativamente à qual as aplicações fi da famı́lia { fi }i∈I são
todas contı́nuas, e σ é a topologia menos fina em S com esta propriedade.
Demonstração. O caso de uma única aplicação f : S → (T, ξ) é bem simples. Para o caso de uma
famı́lia de aplicações fi : S → (Ti , ξi ), notemos que T = { fi−1 (U) : U ∈ ξi , i ∈ I} é uma sub-base
55
para uma topologia σ em S (pois S é reunião de elementos de T ). E σ é a menos fina que torna todas
as fi contı́nuas porque qualquer topologia τ em S que torna todas as fi contı́nuas, necessariamente
deve conter T .
Definição 3.5.2. A topologia em S obtida como na Proposição 3.5.1 é chamada topologia induzida
sobre S pela aplicação f e topologia ξ, ou pela famı́lia de aplicações { fi }i∈I e topologias ξi ’s.
3.5.1 Exercı́cios
1) Mostre que para qualquer aplicação constante f : S → (T, ξ); x 7→ c (c ∈ T ), a topologia
/ S}.
induzida em S é a caótica σ = {0,
5) Considere em R a topologia do limite inferior gerada pelos intervalos [a, b[, a, b ∈ R, a < b.
Mostre que a topologia induzida em R por todas as aplicações lineares f : R → (R, σusual )
é a topologia discreta. (Sugestão: para cada u ∈ R, {u} = f1−1 ([0, 1[) ∩ f2−1 ([0, 1[), sendo
f1 (x) = x − u e f2 (x) = −x + u.)
(ou seja se ξ é uma solução) e θ é menos fina que ξ, então f : (S, σ) → (T, θ) é contı́nua. Nestas
condições, queremos agora obter a topologia mais fina (“maior”) em T que tem esta propriedade.
Obviamente ela vai ter que depender de f e (S, σ).
(ii) f : (S, σ) → (T, ξ) é contı́nua, pois se U ∈ ξ então f −1 (U) ∈ σ (pela definição de ξ).
(iii) Se θ é uma topologia em T tal que f : (S, σ) → (T, θ) é contı́nua, então, dado V ∈ θ, tem-se
f −1 (V ) ∈ σ, e assim V ∈ ξ (pela definição de ξ). Logo θ ⊆ ξ, isto é, ξ é mais fina do que θ.
/ A
Definição 3.6.2. Seja f : (S, σ) → T uma aplicação, com (S, σ) espaço topológico e T ̸= 0.
topologia em T como na Proposição 3.6.1 é chamada topologia em T coinduzida pela aplicação
f e é denotada, às vezes, por σ f .
Exemplo 3.6.3. 1) Considere S = {1, 2, 3} com a topologia σ = {0, / {1}, S}, T = {a, b}, e f : S → T
dada por f (1) = f (3) = a e f (2) = b. Então a topologia σ f em T , coinduzida por f , é a caótica.
2) Sejam (S1 , σ1 ), (S2 , σ2 ), espaços topológicos. Considere em S = S1 × S2 a topologia produto
σ = σ1 × σ2 e sejam pi : (S, σ) → Si , i = 1, 2 as projeções, então a topologia em Si coinduzida por pi ,
σ pi , coincide com σi , i = 1, 2.
Observação 3.6.4. Sejam (S, σ) um espaço topológico, T um conjunto não vazio, f : S → T uma
aplicação e σ f a topologia coinduzida em T . Se f : S → T não é sobrejetora e y ∈ T − f (S), então
{y} ∈ σ f , pois f −1 ({y}) = 0/ ∈ σ. Assim, a topologia coinduzida σ f definida em T é discreta fora
da imagem de S. Por esta razão quando se considera em T a topologia coinduzida por f : S → T ,
não se perde muito em trabalhar com f : S → f (S), de modo que podemos supor que f : S → T é
sobrejetora.
Definição 3.6.5. Seja (S, σ) um espaço topológico munido de uma relação de equivalência R
e considere S/R = {[x]; x ∈ S} o conjunto das classes de equivalência (conjunto quociente).
Então podemos considerar em S/R a topologia coinduzida pela aplicação q : S → S/R ;
x 7→ q(x) := [x] (aplicação canônica). Nesse caso a topologia (coinduzida) em S/R é chamada de
topologia quociente e o espaço topológico S/R é chamado espaço quociente de S pela relação R .
Exemplo 3.6.8. Em [0, 1] consideremos a topologia induzida da reta real e seja f : [0, 1] → {0, 1} a
[ ] [ ] [ [
função caracterı́stica de 21 , 1 , isto é, f (x) = 1, se x ∈ 12 , 1 , e f (x) = 0, se x ∈ 0, 12 . A topologia
coinduzida sobre {0, 1} é a topologia ξ = {0, / {0}, {0, 1}}. Tem -se que:
( ]2 3[ )
f não é aberta, pois f 3 , 4 = {1} não é aberto em {0, 1}, e
([ ])
f não é fechada, pois f 0, 13 = {0} não é fechado.
S = {0, 1} com a topologia {0, / {0}, {0, 1}} é chamado Espaço de Sierpinski.
Proposição 3.6.9. Sejam (X, σ) e (Y, θ) espaços topológicos e f : (X, σ) → (Y, θ) uma aplicação.
Se f é sobrejetora, contı́nua e aberta (ou fechada), então θ = σ f , isto é, a topologia θ de Y é a
coinduzida.
Proposição 3.6.10. Seja f : (X, σ) → (Y, ξ) uma aplicação sobrejetora e contı́nua. Então:
(iii) Se ainda f for aberta, então g é um homeomorfismo, e podemos considerar (Y, ξ) = (X/R , σq ),
a menos de homeomorfismo.
(X/R , σq )
8
q rrrr
rrr
rrr
(X, σ) g
LLL
LLL
L
f LLL&
(Y, ξ)
Vejamos que g é contı́nua. Seja U ∈ ξ. Como f é contı́nua f −1 (U) ∈ σ. Queremos concluir que
g−1 (U) ∈ σq , ou equivalentemente (pela definição de σq ), que q−1 (g−1 (U)) ∈ σ. Mas q−1 (g−1 (U)) =
(g ◦ q)−1 (U) = f −1 (U) ∈ σ.
Para mostrar a unicidade de g, suponhamos que g1 e g2 são tais que g1 ◦ q = g2 ◦ q = f . Então
(X/R , σq )
8 O
q rrrr
r
rr
rrr
(X, σ) g−1
LLL
LLL
L
f LLL&
(Y, ξ)
Sabemos, pela Proposição 3.6.9, que se f : (X, σ) → (Y, ξ) é contı́nua, sobrejetora e aberta então
ξ = σ f , a topologia coinduzida por f . Seja V ∈ σq (logo q−1 (V ) ∈ σ). Temos que verificar que
g(V ) = (g−1 )−1 (V ) ∈ ξ = σ f , ou seja, que f −1 (g(V )) ∈ σ. Mas isso é verdade, uma vez que
f −1 (g(V )) = (g−1 ◦ f )−1 (V ) = q−1 (V ) ∈ σ.
com a topologia quociente (Exemplo 3.6.6). Então R/Z é homeomorfo a S1 com a topologia usual.
De fato, considere a aplicação (exponencial) f : R → S1 ; x 7→ (cos2πx, sen2πx) ≡ e2πix e a
relação xR y ⇔ f (x) = f (y) ⇔ x − y ∈ Z. Então f é contı́nua, sobrejetora, e xR y ⇔ x − y ∈ Z.
Assim R/Z = R/R . Pela proposição anterior existe g : R/Z → S1 ; [x] 7→ f (x) tal que g é contı́nua
e bijetora. Além disso, como f é um homeomorfismo local e portanto aberta (Exemplo 3.3.9), g é um
homeomorfismo entre R/Z e S1 .
Demonstração. (⇒) Esta implicação é imediata, pois f : (X, σ) → (Y, σ f ) é sempre contı́nua e
composta de aplicações contı́nuas é contı́nua.
(⇐) Suponha que g : (Y, σ f ) → (Z, θ) é tal que g ◦ f é contı́nua. Se U ⊆ Z é um aberto, então
(g ◦ f )−1 (U) = f −1 (g−1 (U)) é aberto em X. Como σ f é a topologia coinduzida e f −1 (g−1 (U)) é
aberto em X, segue que g−1 (U) ∈ σ f . Assim g é contı́nua, pois g−1 (U) é aberto em Y quando U é
aberto em Z.
Proposição 3.6.13. Seja f : (X, σ) → (Y, ξ) uma aplicação contı́nua e sobrejetora. Então, ξ = σ f
(a topologia em Y é a coinduzida por f ) se, e somente se, para todo espaço topológico (Z, θ) e toda
aplicação g : (Y, ξ) → (Z, θ), a continuidade de g ◦ f implica a continuidade de g.
Demonstração. (⇒) Se ξ = σ f , dados (Z, θ) e g : (Y, σ f ) → (Z, θ) tal que g ◦ f é contı́nua segue, da
Proposição 3.6.12, que g é contı́nua.
(⇐) Por hipótese, para qualquer espaço (Z, θ) e g : (Y, ξ) → (Z, θ), a continuidade de g ◦ f implica a
continuidade de g. Seja σ f a topologia em Y coinduzida pela aplicação f de (X, σ) em Y , e considere
(Z, θ) := (Y, σ f ) e g = id : (Y, ξ) → (Y, σ f ) = (Z, θ). Dado que f ′ = id ◦ f = f : (X, σ) → (Y, σ f ) é
60
Da mesma forma, id −1 ◦ f ′ = f : (X, σ) → (Y, ξ) é contı́nua, sendo id −1 = id : (Y, σ f ) → (Y, ξ). Logo,
como a topologia coinduzida por f ′ é igual a σ f , obtemos, da proposição anterior, que id −1 é contı́nua.
Assim id : (Y, ξ) → (Y, σ f ) é um homeomorfismo e portanto devemos ter ξ = σ f . Deste modo, ξ é a
topologia coinduzida por f em Y .
2) Considere o espaço de Sierpinski (S, τ) = ({0, 1}; {0, / {0}, S}). Verifique que a aplicação
identidade f : ({0, 1}, τ) → ({0, 1}, P({0, 1}); f (x) = x, não é contı́nua, mas que f −1 é contı́nua.
7) Prove que f : (S, σ) → (T, ξ) é contı́nua se, e somente se, f −1 (A◦ ) ⊆ ( f −1 (A))◦ , para todo
A ⊆ T.
8) Seja f : (S, σ) → (T, ξ) contı́nua. Mostre que f : (S, σ) → ( f (S), ξ f (S) ) também é contı́nua.
9) Seja f : (S, σ) → (T, σdis ) uma aplicação. Prove que f é contı́nua se, e somente se, S é uma
reunião de abertos dois a dois disjuntos, sobre cada um dos quais f é constante.
10) Seja f uma função de um espaço topológico X no intervalo unitário [0, 1] com a topologia usual
induzida de R. Mostre que se f −1 ( ]a, 1]) e f −1 ([0, b[ ) são abertos de X, para todos a, b ∈ ]0, 1[ ,
então f é contı́nua.
11) Sejam A e B conjuntos ambos abertos ou ambos fechados em um espaço X e f uma função
definida em A ∪ B. Mostre que se f é contı́nua em A e f é contı́nua em B, então f é contı́nua
em A ∪ B.
∪
12) Seja f uma função definida num espaço X. Se X = ∞ n=1 An , onde An ⊆ An+1 e a função é
contı́nua em cada um dos conjuntos An , então f é contı́nua no espaço X.
17) Verifique que uma aplicação f : X → Y é aberta se, e somente se, f −1 (Fr(B)) ⊆ Fr( f −1 (B)),
para todo B ⊆ Y . (Sugestão: (⇒) Dado x ∈ f −1 (Fr(B)), então f (x) ∈ B ∩ Bc = Fr(B), e dado
U aberto tal que x ∈ U, como f é aberta, para o aberto f (U), tem-se f (U) ∩ B e f (U) ∩ Bc não
vazios, e assim U ∩ f −1 (B) e U ∩ f −1 (Bc ) são não vazios. Disso segue que x ∈ Fr( f −1 (B)).
(⇐) Sejam U aberto de X e B = f (U). Mostrar que B é aberto é equivalente a mostrar (vide
Exercı́cio 2.8 - 13) que B ∩ Fr(B) = 0./ Note que se existir y = f (x) ∈ B ∩ Fr(B), com x ∈ U,
então x ∈ f (Fr(B)) ⊆ Fr( f (B)) (pela hipótese). Logo, U ∩ f −1 (Bc ) ̸= 0,
−1 −1 / e assim existiria
u ∈ U; f (u) ∈ B ∩ Bc , o que é uma contradição.)
18) Seja f : X → Y uma aplicação fechada e sobrejetora. Prove que se U ⊆ X é aberto, então
Fr( f (U)) ⊆ f (U) ∩ f (U c ).
62
19) Prove que, em R2 com a topologia usual, a bola fechada unitária de centro na origem é
homeomorfa a [0, 1] × [0, 1].
20) Sejam f : X → Y uma aplicação e G( f ) = {(x, f (x)) : x ∈ X}. Mostre que a aplicação g : X →
G( f ), dada por g(x) = (x, f (x)), é um homeomorfismo se, e somente se, f é contı́nua.
24) Verifique que o intervalo fechado [a, b] é homeomorfo ao intervalo unitário [0, 1], com as
topologias induzidas pela topologia usual de R.
26) O conjunto de todas as sequências de números naturais forma um espaço métrico tomando
como distância entre as sequências distintas x = (x1 , x2 , . . .) e y = (y1 , y2 , . . .) o número 1/r,
onde r é o primeiro ı́ndice tal que xr ̸= yr . Mostre que este espaço métrico é homeomorfo ao
conjunto dos números irracionais do intervalo [0, 1] com a topologia induzida pela topologia
1
usual de R. (Sugestão: Associe a fração contı́nua à sequência de números
n1 + n + 1 1
2
n3 + 1
..
.
naturais x = (n1 , n2 , . . .).)
27) Mostre que a área de uma região plana não é uma propriedade topológica, ou seja, a área não é
preservada por homeomorfismos (entre subespaços de R2 ).
28) Mostre que a topologia em R induzida pela famı́lia composta de todas as funções lineares
f : R → (R, σusual ), tal que f (x) = ax + b, a, b ∈ R, a ̸= 0, é a topologia usual.
30) Seja f : S → T uma aplicação sobrejetora. Se (T, ξ) é um espaço de Lindelof prove que S, com
a topologia induzida por f , é também um espaço de Lindelöf.
32) Mostre que o espaço quociente obtido de I = [0, 1] identificando-se 0 com 1 é homeomorfo
a S1 .
34) O espaço quociente obtido de I × I identificando-se (0,t) com (1,t) e (t, 0) com (t, 1), para
todo t ∈ [0, 1], é o toro T . Verifique que T é homeomorfo a S1 × S1 .
35) Seja S um espaço topológico. Prove que se A é um espaço quociente de S, isto é, A = S/R , onde
R é uma relação de equivalência em S, e B é um espaço quociente de A, então B é homeomorfo
a um espaço quociente de S.
36) Mostre que a projeção ao quociente em geral não é uma aplicação aberta. (Sugestão: particione
R (com a topologia usual) em duas classes de equivalência ] − ∞, 0] e ]0, +∞[ e verifique que a
imagem do aberto ] − ∞, 0[ não será um aberto de R/ ∼.)
Capı́tulo 4
Compacidade
“Não devo imaginar que não concebo o infinito por uma verdadeira
idéia, mas somente pela negação do que é finito.”
Definição 4.1.1. Um espaço topológico (S, σ) é compacto se toda cobertura aberta de S admite uma
∪
subcobertura finita, isto é, se S = λ∈L Gλ , com Gλ ∈ σ, então existem ı́ndices λ1 , λ2 , . . . , λm tais que
S = Gλ1 ∪ · · · ∪ Gλm .
Observação 4.1.3. i) Um espaço topológico (S, σ) é compacto se, e somente se, para toda famı́lia
A = {Gλ }λ∈L de abertos de S que não possui uma subfamı́lia finita que cobre S, necessariamente A
também não cobre S.
ii) K ⊆ S é compacto se, e somente se, toda cobertura aberta de K por abertos de S admite
∪
subcobertura finita. Isto é, se K ⊆ λ∈L Gλ com Gλ ∈ σ, então existem ı́ndices λ1 , λ2 , . . . , λn tais
que K ⊆ Gλ1 ∪ · · · ∪ Gλn .
A justificativa é deixada como exercı́cio.
64
65
Observação 4.1.5.
i) Todo espaço compacto (S, σ) é, claramente, um espaço de Lindelöf (Definição 2.6.8).
ii) (Z, σdis ) é de Lindelöf, mas não é compacto.
Observação 4.1.7. i) Sejam (S, σ) um espaço topológico compacto e (T, ξ) um espaço topológico
tal que S ⊆ T e σ = ξS . Então S é compacto como subconjunto de T . Isto segue diretamente da
definição.
ii) Podemos ter K ⊆ S, com K compacto e não fechado. Tome, por exemplo, K = ]0, 1] em (R, σco f ).
Proposição 4.1.10 (Teorema de Heine-Borel). Todo subconjunto fechado e limitado de (R, σusual ) é
compacto.
Demonstração. Primeiro mostraremos que [a, b], a < b, a, b ∈ R é compacto. De fato, seja C uma
cobertura aberta de [a, b]. Podemos supor que a cobertura é formada por intervalos abertos (abertos
básicos). Considere
A = {x ∈ [a, b], tal que uma subcobertura finita de C cobre [a, x]}.
Deste modo a ∈ A e b é um limite superior de A. Assim existe c = sup A, a ≤ c ≤ b. Ainda, se x ∈ A,
a < x′ < x, então x′ ∈ A. Logo A é um intervalo da forma [a, c[ ou [a, c]. Mostremos que c ∈ A (de
modo que A = [a, c]) e depois que c = b. Com efeito, seja G ∈ C tal que c ∈ G. Tome x0 ∈ G com
a < x0 < c. Então x0 ∈ A visto que c = sup A, assim existe uma subcobertura finita C ′ de C que
cobre [a, x0 ], e então a subcobertura finita C ′ ∪ {G} cobre [a, c] e c ∈ A. Vejamos que c = b. Se
c < b, existe x1 ∈ G (mesmo G) tal que c < x1 < b e [c, x1 ] ⊆ G. Daı́, C ′ ∪ {G} cobre [a, x1 ]. Isto
implica que x1 ∈ A x1 > c, contradizendo o fato que c = sup A . Portanto c = b, A = [a, b] e [a, b] é
compacto.
Para concluir a prova da proposição, seja F ⊆ R, F fechado e limitado. Então existem a, b ∈ R
tais que F ⊆ [a, b]. Como visto anteriormente, [a, b] é compacto, daı́ F é compacto, pois fechado num
compacto é compacto (Proposição 4.1.6).
Proposição 4.1.11. Um subconjunto K ⊆ R (com a topologia σusual ) é compacto se, e somente se, é
fechado e limitado.
Proposição 4.1.12. Imagem contı́nua de um compacto é compacto, isto é, se f : (S, σ) → (T, ξ) é
contı́nua e (S, σ) é compacto, então ( f (S), ξ f (S) ) é compacto.
Demonstração. Sem perda de generalidade podemos supor que f é sobrejetora. Nestas condições,
∪ ∪ ∪
seja T = λ∈L Vλ uma cobertura aberta de T . Então S = f −1 (T ) = f −1 ( λ∈L Vλ ) = λ∈L f −1 (Vλ )
e { f −1 (Vλ )}λ∈L é uma cobertura aberta de S que é compacto, logo admite uma subcobertura finita,
∪ ∪
digamos S = ni=1 f −1 (Vλi ). Assim T = f (S) = ni=1 Vλi . Portanto T é compacto.
Corolário 4.1.14. Quociente de um compacto é compacto, isto é, se (S, σ) é compacto e R é uma
relação de equivalência sobre S, então (S/R , σq ) é compacto.
Proposição 4.1.16. Em um espaço topológico compacto todo subconjunto infinito tem um ponto de
acumulação. Ou seja, espaços compactos tem a Propriedade de Bolzano-Weierstrass.
Definição 4.1.17. Seja S um conjunto não vazio. Dizemos que uma famı́lia F = {Vλ , λ ∈ L} de
subconjuntos de S tem a Propriedade da Interseção Finita (PIF) se toda subfamı́lia finita dela tem
interseção não vazia.
Exemplo 4.1.18. Em ]0, 1], a famı́lia F = {Fn , n ∈ N∗ }, com Fn = ]0, 1/n], tem a PIF (Propriedade
de Interseção Finita).
Proposição 4.1.19. Um espaço topológico (S, σ) é compacto se, e somente se, toda famı́lia de
fechados de S com a PIF tem interseção não vazia.
Demonstração. (⇒) Suponhamos por absurdo que F = {Fλ }λ∈L seja uma famı́lia de fechados de
∩ ∩ ∪
S com a PIF tal que λ∈L Fλ = 0. / Então S = 0/ c = ( λ∈L Fλ )c = λ∈L Fλc . Assim {Fλc }λ∈L é uma
∪
cobertura aberta de S, e como S é compacto, admite uma subcobertura finita, ou seja, S = ni=1 Fλci =
(∩n )c ∩
i=1 Fλi e em consequência, ni=1 Fλi = 0. / Logo a subfamı́lia finita {Fλi }ni=1 tem interseção
vazia, e assim a famı́lia {Fλ }λ∈L não tem a PIF, absurdo! Desta forma, toda famı́lia de fechados num
espaço compacto com a PIF tem interseção não vazia.
(⇐) Suponhamos agora que toda famı́lia de fechados de S com a PIF tem interseção não vazia. Seja
∪ ∩
{Gλ }λ∈L uma cobertura aberta de S. Então 0/ = Sc = ( λ∈L Gλ )c = λ∈L Gcλ , e {Gcλ }λ∈L é uma
famı́lia de fechados com interseção vazia. Consequentemente, segue da hipótese que esta famı́lia
{Gcλ }λ∈L de fechados em S não tem a PIF, logo existe uma subfamı́lia finita com interseção vazia,
∩n ∪
digamos c / Assim, S = ni=1 Gλi e, em consequência, a cobertura aberta {Gλ }λ∈L
i=1 Gλi = 0.
admite uma subcobertura finita. Portanto (S, σ) é compacto.
Exemplo 4.1.20. Em ]0, 1] com a topologia usual, a famı́lia de fechados F = {Fn , n ∈ N∗ } com
∩
Fn = ]0, 1/n] tem a PIF (exemplo anterior), mas / e assim ]0, 1] não é compacto.
n∈N∗ Fn = 0
∗
Similarmente, F = {Fn , n ∈ N } com Fn := [1 − (1/n), 1[ é uma classe de fechados em [0, 1[, que
∩
tem a PIF, mas n∈N∗ Fn = 0./ Logo [0, 1[ não é compacto.
68
Corolário 4.1.21. Um espaço topológico (S, σ) é compacto se, e somente se, toda famı́lia de fechados
de S com interseção vazia tem uma subfamı́lia finita com interseção vazia.
Demonstração. Segue da proposição anterior, visto que um espaço topológico (S, σ) é compacto se,
e somente se, toda famı́lia de fechados de S com interseção vazia não pode satisfazer PIF, o que é
equivalente a ter uma subfamı́lia finita com interseção vazia.
Proposição 4.1.22. Um espaço topológico (S, σ) é compacto se, e somente se, toda cobertura aberta
de S por abertos de uma base para a topologia σ tem uma subcobertura finita.
é uma cobertura aberta de S por abertos básicos. Por hipótese, tal cobertura admite uma subcobertura
finita, de modo que
∪
n ∪
n ∪
n
S= Bµ(xi ) ⊆ Gλi ⇒ S = Gλi ,
i=1 i=1 i=1
onde cada Gλi é tal que é tal que Bµ(xi ) ⊆ Gλi (podendo ter λi = λ j , com i ̸= j). Logo a cobertura
{Gλ }λ de S admite subcobertura finita. Portanto (S, σ) é compacto.
Para a prova do próximo resultado usaremos, como já observado anteriormente, o Lema de Zorn
(Lema 1.9.8).
Proposição 4.1.23 (Teorema de Alexander). Seja (S, σ) um espaço topológico. Então (S, σ) é
compacto se, e somente se, toda cobertura aberta de S por abertos de uma sub-base de σ admite
uma subcobertura finita.
M1 ∪ M2 ∪ · · · ∪ Mn ∪ {M}
Proposição 4.1.24. O produto cartesiano de dois espaços topológicos compactos (com a topologia
produto) é compacto.
S = {Aλ × T : Aλ ∈ σS } ∪ {S × Bµ : Bµ ∈ σT }
∪
n
S ⊆ Aλ1 ∪ Aλ2 ∪ · · · ∪ Aλn , Aλi ∈ FS ⇒ S × T ⊆ (Aλi × T ), Aλi × T ∈ F ,
i=1
Lema 4.1.25. Seja S × T o produto cartesiano de um espaço topológico S por um espaço compacto
T e considere em S × T a topologia produto.
Demonstração.
(i) Temos que {x0 } × T é compacto, pois {x0 } × T é homeomorfo a T e T é compacto. Como W é um
aberto contendo {x0 } × T , para cada y ∈ T , existe um aberto básico Ay × By de S × T com (x0 , y) ∈
∪
Ay × By ⊆ W e então, da compacidade de {x0 } × T , segue que {x0 } × T ⊆ i=1,...,n Ayi × Byi .
∩ ∪
Tome o aberto U = i=1,..., n Ay i contendo x0 . Então U × T ⊆ i=1,...,n Ay i × By i ⊆ W , pois dado
(u, y) ∈ U × T, u ∈ Ay i , para todo i. Por outro lado, (x0 , y) ∈ Ay j × By j para algum j = 1, · · · , n e
assim, (u, y) ∈ Ay j × By j ⊆ W .
(ii) Seja F ⊆ S × T um fechado, temos que provar que p1 (F) é um fechado de S. Tome um elemento
qualquer x ∈ p1 (F) c = S − p1 (F). Então (x, y) ∈
/ F, para todo y ∈ T . Assim {x} × T ⊆ W := F c , que
é um aberto em S × T . Por (i), existe um aberto U ⊆ S tal que x ∈ U e U × T ⊆ W = F c e, portanto,
/ Disto segue que U ∩ p1 (F) = 0/ (pois a ∈ U e a ∈ p1 (F) implica (a, y) ∈ (U × T ) ∩ F
(U × T ) ∩ F = 0.
para algum y, o que nos dá uma contradição), em consequência, x ∈ U ⊆ p1 (F)c . Logo p1 (F)c é
aberto em S e p1 é uma aplicação fechada.
2a Demonstração (da Proposição 4.1.24). Seja F = {Fλ }λ∈L uma famı́lia qualquer de fechados em
S × T com a PIF. Mostremos que
∩
/
Fλ ̸= 0.
λ∈L
Note que podemos acrescentar à famı́lia F todas as interseções finitas Fλ1 ∩ · · · ∩ Fλn , onde
{λ1 , λ2 , . . . , λn } são subconjuntos finitos de L, de modo a obter uma nova famı́lia {Fk′ : k ∈ L′ } que
ainda tem a PIF e, obviamente,
∩ ∩
Fk′ ̸= 0/ ⇒ /
Fk ̸= 0.
k∈L′ k∈L
Assim podemos supor que F = {Fλ }λ∈L é “fechada com relação a interseção finita”, isto é, se
Fλ1 , ..., Fλk ∈ F então Fλ1 ∩ · · · ∩ Fλn = Fλ ∈ F, para algum λ. Considerando a projeção p1 : S × T → S,
como T é compacto, segue do lema anterior, que {p1 (Fλ )}λ∈L é uma famı́lia de fechados em S, e que
tem a PIF, pois
/
p1 (Fλ1 ) ∩ p1 (Fλ2 ) ∩ · · · ∩ p1 (Fλn ) ⊇ p1 (Fλ1 ∩ · · · ∩ Fλn ) ̸= 0.
72
∩
Como S também é compacto, existe x0 ∈ λ∈L p1 (Fλ ). Logo x0 ∈ p1 (Fλ ), para cada λ ∈ L, e então
/
Fλ ∩ ({x0 } × T ) ̸= 0,
pois, para cada λ existirá um yλ ∈ T tal que (x0 , yλ ) ∈ Fλ . A famı́lia {Fλ ∩ ({x0 } × T )}λ∈L é uma
famı́lia de fechados em {x0 } × T , com a PIF. Esta última afirmação segue do fato que
/
(Fλ1 ∩ ({x0 } × T )) ∩ · · · ∩ (Fλm ∩ ({x0 } × T )) = 0/ ⇒ (Fλ1 ∩ · · · ∩ Fλm ) ∩ ({x0 } × T ) = 0,
o que é um absurdo, visto que Fλ1 ∩ · · · ∩ Fλm = Fλ0 para algum λ0 ∈ L (porque a famı́lia {Fλ }λ∈L é
/ para todo λ.
fechada em relação a interseção finita) e Fλ ∩ ({x0 } × T ) ̸= 0,
Como {x0 } × T é compacto (pois por hipótese T é compacto) existe, pela Proposição 4.1.19,
∩ ∩
/
(x0 , y0 ) ∈ λ∈L (Fλ ∩({x0 }×T )). Deste modo (x0 , y0 ) ∈ Fλ , para todo λ ∈ L, e portanto λ∈L Fλ ̸= 0,
como querı́amos mostrar.
Daı́, tomando m = max{n1 , . . . , nr }, temos que K ⊆ B(0, m), donde segue que K é limitado.
(⇐) Suponhamos K ⊆ Rn fechado e limitado. Como K é limitado, existe c > 0 tal que
K ⊆ [−c, c] × · · · × [−c, c] ⊆ Rn .
Logo, pelo Teorema de Heine-Borel (Teorema 4.1.10) e pelo Corolário 4.1.26, [−c, c] × · · · × [−c, c] é
compacto, assim K é fechado em um compacto. Portanto, pela Proposição 4.1.6, K é compacto.
Observação 4.1.28. Em um espaço métrico (M,d) não vale, em geral, que K ⊆ M é compacto se, e
somente se, K é fechado e limitado. Por exemplo, considerando (R, d01 ), K = R é fechado e limitado,
73
∪
mas não é compacto, pois R = x∈R {x} é uma cobertura aberta de R que não admite subcobertura
finita. Mas a implicação “compacto em espaço métrico é fechado e limitado”, é sempre válida
conforme veremos adiante, no Corolário 4.4.5.
4.1.1 Exercı́cios
1) Prove que um subconjunto compacto de um espaço métrico é fechado (Corolário 4.1.9).
2) Mostre que, se σ1 , σ2 são topologias em S tais que σ1 ⊆ σ2 e (S, σ2 ) é compacto, então (S, σ1 )
é compacto.
8) Prove que todo espaço métrico (M, d) compacto é separável. (Sugestão: para cada n ∈ N∗ ,
existe uma subcobertura finita Fn = {B(xni , 1/n), xni ∈ M, i = 1, ..., kn } que cobre M. Tome
∪
D = n∈N∗ {xni ∈ M, i = 1, ..., kn }.)
74
9) Demonstre que toda aplicação bijetora e contı́nua de um espaço topológico compacto sobre um
espaço de Hausdorff é um homeomorfismo. (Sugestão: mostre que f é fechada.)
10) Sejam S um espaço topológico compacto e F a famı́lia das funções reais contı́nuas (com
domı́nio S) tais que: (a) se f , g ∈ F então o produto f · g ∈ F , e, (b) para cada y ∈ S existe
uma vizinhança V (y) e uma função f ∈ F que se anula identicamente sobre V. Prove que F
contém a função nula. (Dugundji [5], Cap. 11, Exerc. 3 da Seção 1, p. 251.)
12) Mostre, usando a Propriedade de Interseção Finita, que S = [4, 7[ com a topologia induzida de
R não é compacto.
13) Dizemos que um espaço de Hausdorff S é um k-espaço se: dado F ⊆ S, F é fechado de S se, e
somente se, para todo compacto K ⊆ S, K ∩ F é fechado. Mostre que:
a) Todo espaço compacto Hausdorff S é um k-espaço.
b) Todo espaço Hausdorff S que satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade é um k - espaço.
(Sugestão: Suponhamos que S seja um e1 espaço Hausdorff e que K ∩ F é fechado, para todo
compacto K de S. Se F não é fechado existe x ∈ F − F. Com S é e1 , existe (xn ), xn ∈ F,
convergindo para x. Tome K = {x} ∪ {xn : n ∈ N ∗ }, então K é um compacto, mas K ∩ F não é
fechado em S.)
Observação: Na definição de k- espaço dada em Lima [14] (Cap. 7, §6, Exerc. 39, p. 214) não
é exigido que S seja Hausdorff, e K ∩ F deve ser fechado em K, ao invés de ser fechado em S.
Note que supondo S Hausdorff, a implicação “F fechado implica K ∩ F fechado (em S)”, sendo
K compacto, é sempre válida. Na referência citada tal espaço é também denominado de espaço
“compactamente gerado”. Espaço compactamente gerado será abordado no Exercı́cio 4.6-9.
14) Sejam S um k-espaço e T um espaço topológico. Mostre que uma aplicação f : S → T é contı́nua
se, e somente se, sua restrição a todo compacto K ⊆ S é contı́nua. (Sugestão: ( f |K )−1 (Y ) =
f −1 (Y ) ∩ K, para todo Y fechado em T .)
75
15) Dê uma demonstração da Proposição 4.1.24 (de que o produto S × T de dois espaços
topológicos compactos é compacto com a topologia produto) usando a definição inicial de
∪
espaço compacto. (Sugestão: suponha S × T = i∈L (Gi × Hi ), uma cobertura aberta de S × T
∪
por abertos básicos. Para cada x ∈ S, como {x}×T é homeomorfo à T , {x}×T ⊆ i∈L (Gi ×Hi )
∪
e T é compacto, existe Lx ⊆ L, Lx finito tal que {x} × T ⊆ i∈Lx (Gi × Hi ). Podemos supor
que x ∈ Gi , para todo i ∈ Lx , uma vez que os Gi × Hi com x ∈ / Gi podem ser desprezados.
∩ ∪
Tome Gx = i∈Lx Gi e observe que Gx × T ⊆ i∈Lx (Gi × Hi ) (pois, dado (a, b) ∈ Gx × T , como
(x, b) ∈ {x} × T , existe i0 ∈ Lx de modo que (x, b) ∈ Gi0 × Hi0 . Daı́, (a, b) ∈ Gi0 × Hi0 ). Agora
∪
S ⊆ x∈S Gx e S é compacto, logo S = Gx1 ∪ Gx2 ∪ · · · ∪ Gxn . Seja J = Lx1 ∪ · · · ∪ Lxn ⊆ L. Então
∪
J é finito e S × T ⊆ j∈J (G j × H j ) (visto que (u,t) ∈ S × T ⇒ u ∈ Gxk , para algum k. Daı́
(u,t) ∈ Gxk × T , e entao existe algum j0 ∈ Lxk tal que (u,t) ∈ G j0 × H j0 ), o que mostra que
S × T é compacto.)
Seja {(Sλ , σλ )}λ∈L uma famı́lia não vazia de espaços topológicos e considere o produto S =
∏λ∈L Sλ , definido no Cap.1, Definição 1.9.1. Como mencionado, queremos dar a S uma topologia
que estende a topologia produto dada no caso em que L é finito. Apresentamos as duas topologias
(que são naturais).
Definição 4.2.1. Dado S = ∏λ∈L Sλ , seja B = {∏λ∈L Gλ : Gλ ∈ σλ , para todo λ ∈ L}. Então B é
base para uma topologia em S (verifique). Tal topologia é chamada topologia box e iremos denotar
por σbox . Claramente esta topologia estende a topologia produto no caso em que L é um conjunto
finito.
A segunda topologia que vamos definir para o produto S = ∏λ∈L Sλ é menos fina que a topologia
box e preserva propriedades interessantes no produto, como a compacidade.
Considere, para cada α ∈ L, a “projeção sobre o α-ésimo fator”
Definição 4.2.2. Seja {(Sλ , σλ )}λ∈L uma famı́lia não vazia de espaços topológicos. A topologia
produto ou topologia de Tychonoff sobre o produto cartesiano ∏λ∈L Sλ é a topologia que tem para
sub-base a famı́lia
S = {p−1
α (Gα ) : α ∈ L, Gα ∈ σα },
Proposição 4.2.3. Seja {(Sλ , σλ )}λ∈L uma famı́lia não vazia de espaços topológicos e considere em
S = ∏λ∈L Sλ a topologia produto. Então:
Gα1 × · · · × Gαr × ∏ Sλ ,
λ∈L, λ̸=αi
(iv) Dados (X, σ) um espaço topológico e f : X → ∏λ∈L Sλ uma aplicação. Então f é contı́nua se,
e somente se, pα ◦ f : X → Sα é contı́nua, para todo α ∈ L.
Demonstração. Demonstraremos o item (iv). As demonstrações dos itens (i), (ii) e (iii) são deixadas
como exercı́cios. (⇒) Se f é contı́nua, então pα ◦ f é contı́nua, pois é composta de funções contı́nuas.
(⇐) Suponhamos que pα ◦ f : X → Sα é contı́nua para todo α ∈ L. Seja U um aberto básico de
∏λ∈L Sλ . Temos
∩
n
U = Gα1 × · · · × Gαn × ∏ Sλ = p−1
αi (Gαi ).
λ∈L, λ̸=αi i=1
Assim, ( )
∩
n ∩
n ∩
n
f −1 (U) = f −1 p−1
αi (Gαi ) = f −1 (p−1
αi (Gαi )) = (pαi ◦ f )−1 (Gαi ),
i=1 i=1 i=1
Observação 4.2.4. O item (iv) da proposição anterior não vale se consideramos no produto S =
∏λ∈L Sλ a topologia box. Tome, por exemplo (vide Exemplo 1.9.4), R com a topologia usual, S =
Rω = F(N∗ , R) = ∏n∈N∗ (R)n com a topologia box, X = R e f : R → Rω ; a 7→ f (a) = (a, a, ...).
Então, pn ◦ f = id : R → R é contı́nua para todo n ∈ N∗ , mas f não é contı́nua em a = 0, pois para
o aberto da topologia box, V = ] − 1, 1[ × ] − 1/2, 1/2[ × · · · × ] − 1/n, 1/n[ × · · · , V contém f (0)
e não existe aberto G em X = R contendo 0 tal que f (G) ⊆ V , uma vez que, para cada G, existe
ε > 0, tal que 0 ∈ ] − ε, ε[ ⊆ G, mas f (] − ε, ε[) não está contido em V . Obviamente, a implicação
“se f é contı́nua então pα ◦ f : X → Sα é contı́nua, para todo α ∈ L” é verdadeira.
Teorema 4.2.5 (Teorema de Tychonoff). Se (Sλ , σλ ) é compacto, para todo λ ∈ L, então (S, σ) =
(∏λ∈L Sλ , ∏ σλ ) é compacto.
Demonstração. Nessa prova vamos usar o Teorema de Alexander, e é análoga à apresentada para
dois espaços topológicos. Ou seja, vamos mostrar que toda cobertura de S por abertos sub-básicos
admite uma subcobertura finita, ou equivalentemente, se uma famı́lia de abertos sub-básicos é tal
que nenhuma subfamı́lia finita cobre S, então tal famı́lia não cobre S (Observação 4.1.3 - i).
Seja S = {p−1 α (Gα ) : α ∈ L, Gα ∈ σα } a sub-base que define a topologia produto e suponhamos
que F ⊆ S é tal que nenhuma subfamı́lia finita de F cobre S. Para cada α ∈ L, seja
Fα = {Gα ∈ σα : pα −1 (Gα ) ∈ F }.
Então nenhuma subfamı́lia finita de Fα cobre Sα , pois caso contrário, Sα = G1 α ∪ ... ∪ Gr α com
G j α ∈ Fα e daı́ S = p−1 −1 −1 −1
α (Sα ) = pα (G α ∪ ... ∪ G α ) = pα (G α ) ∪ ... ∪ pα (G α ), e assim uma
1 r 1 r
subfamı́lia finita de F cobriria S, contradizendo a suposição inicial. Como cada Sα é compacto, segue
∪
que Fα não é cobertura de Sα , para cada α ∈ L. Portanto existe xα ∈ Sα − Gα ∈Fα Gα , para cada
α ∈ L. Isso dá origem a um elemento
78
Claramente a recı́proca do teorema anterior é verdadeira, uma vez que as projeções são contı́nuas
e a imagem de compacto por uma aplicação contı́nua é um espaço compacto. Assim, tem-se:
Corolário 4.2.6. Dada uma famı́lia de espaços topológicos (Sλ , σλ ), λ ∈ L. O produto S = ∏λ∈L Sλ ,
com a topologia produto, é compacto se, e somente se, cada fator (Sλ , σλ ) é compacto.
Observação 4.2.7. i) O Teorema 4.2.5 não vale se consideramos no produto S = ∏λ∈L Sλ a topologia
box, que é a topologia gerada pela base formada pelos produtos cartesianos dos abertos de cada
fator. Tome, por exemplo, a famı́lia de espaços compactos Sn = ({0, 1}, σdisc ). A topologia box
∗
em S = ∏n∈N∗ ({0, 1})n = F(N∗ , {0, 1}) (vide Exemplo 1.9.3), também denotado por {0, 1}N , é a
topologia discreta e assim S não é compacto (pois o espaço produto é infinito).
ii) O Teorema de Tychonoff pode ser provando usando PIF ver, por exemplo, Lima [14] (Cap. 9,
Prop. 11, p. 255-257). No entanto para tal prova também é necessário o Lema de Zorn (que foi
usado no Teorema de Alexander).
4.2.1 Exercı́cios
1) Considere em [0, 1] a topologia usual induzida de R. Justifique porque o conjunto das funções
F(R, [0, 1]), visto como um espaço topológico com a topologia produto, é compacto. (Sugestão:
lembrar que F(R, [0, 1]) = ∏λ∈R ([0, 1])λ e usar o Teorema de Tychonoff.)
3) Mostre que uma sequência (wn )n no espaço produto S = ∏λ∈L Sλ converge para w ∈ S se, e
somente se, para cada λ ∈ L, a sequência (pλ (wn ))n converge para pλ (w), para cada λ ∈ L.
(Munkres [20], Cap. 2, §19, Exerc. 6, p. 118 ou Lima [14], Cap. 9, Prop. 3, p. 245.)
Definição 4.3.1. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) é sequencialmente compacto se toda
sequência em (S, σ) admite uma subsequência convergente.
Exemplo 4.3.2. Todo espaço topológico finito (S, σ) é sequencialmente compacto, pois para toda
sequência (xn ) de S, o conjunto {xn , n ≥ 1} é finito, de modo que a sequência (xn ) possui uma
subsequência constante, que obviamente é convergente.
Observação 4.3.3. Compacidade não implica compacidade sequencial. De fato, sejam I = [0, 1] ⊆ R,
σ a topologia usual sobre I e S = F(R, [0, 1]) = ∏λ∈R Iλ , onde Iλ = I, para todo λ ∈ R,
com a topologia produto ξ. Pelo Teorema de Tychonoff, (S, ξ) é compacto. Vejamos que S não
é sequencialmente compacto. Considere T o conjunto de todas as subsequências da sequência
(1, 2, 3, 4, . . .). Então T tem a mesma cardinalidade de R (que é igual a cardinalidade de P (N)),
de modo que existe uma aplicação bijetora f : R → T . Seja r ∈ R e denotemos f (r) = (nr1 , nr2 , . . .).
Definamos agora uma sequência (xn )n , de funções em S, da seguinte forma:
• xn (r) = 0, se n = nri e i é ı́mpar (i. é, xn (r) = 0, sempre que n aparece na sequência f (r) e
em uma posição ı́mpar), e
• xn (r) = 1, caso contrário.
Então xn : R → I é uma função e (xn )n∈N∗ é uma sequência em (S, ξ) que não tem
subsequência convergente. De fato, se (xni )i∈N∗ fosse uma subsequência convergente, tomando
r = f −1 (n1 , n2 , n3 , . . .) terı́amos (fixando esse r), que a subsequência (xni (r))i∈N∗ = pr ((xni )i )
converge em Ir = I, mas (xni (r))i∈N∗ = (0, 1, 0, 1, 0, 1, . . .) que não converge em I, obtendo assim
uma contradição. Então (xn ) não tem subsequência convergente.
Portanto (S, ξ) é compacto, mas não é sequencialmente compacto. (Um exemplo similar é dado
em Lima [14], Cap. 7, §4, Exemplo 26, p. 193-194.)
Também, compacidade sequencial não implica em compacto (vide Bourbaki [1], Cap. 1, §10,
Exerc. 22 e Cap. 9, §2, Exerc. 15, apud Lima [14], p. 193).
Demonstração. Seja (xn ) uma sequência em F ⊂ S. Como S é sequencialmente compacto, existe uma
subsequência (xnk ) convergindo para um ponto x ∈ S. Como (xnk ) é uma sequência em F, x ∈ F = F,
de modo que (xnk ) converge em F.
Demonstração. Exercı́cio.
Exemplo 4.3.8. 1) Todo espaço compacto é enumeravelmente compacto (em particular todo
espaço finito é enumeravelmente compacto). A recı́proca não é verdadeira. Um exemplo de
espaço enumeravelmente compacto que não é compacto pode ser visto em Steen e SeeBach
[27] (Contraexemplo 42 - Open Ordinal Space [0, Ω[, p. 68). De fato esse espaço é também
sequencialmente compacto (e não compacto). Na próxima proposição é apresentada uma recı́proca
parcial.
2) (R, σusual ) não é enumeravelmente compacto, pois, por exemplo, a cobertura enumerável R =
∪
n∈N∗ ] − n, n[ não admite subcobertura finita.
Proposição 4.3.9. Se (S, σ) é um espaço e2 , então (S, σ) é enumeravelmente compacto se, e somente
se, (S, σ) é compacto.
Demonstração. Exercı́cio.
Demonstração. (i) Suponhamos que exista A ⊆ S, com A infinito e A′ = 0. / Podemos supor, sem perda
de generalidade, que A é enumerável, A = {a1 , a2 , ...} (com ai distintos). Notemos que todo B ⊆ A é
fechado (pois p ∈ B−B ⇒ p ∈ B′ ⊆ A′ = 0, / já que B = B∪B′ ). Defina Gn = S−{an , an+1 , ...}, n =
1, 2, .... Temos então que os Gn são subconjuntos abertos de S e G1 = S − A ⊆ G2 ⊆ .... Se x ∈ A,
digamos x = am , então x ∈ Gm+1 , e se x ∈ S − A então pertence a G1 (de fato a todo Gn ).
Assim {Gn }n é uma cobertura aberta enumerável de S que não possui subcobertura finita, visto que
Gn1 ∪ ... ∪ Gnr = Gmax{n1 ,...,nr } ̸= S.
(ii) Vamos supor que S não seja enumerávelmente compacto. Assim existe uma cobertura aberta
{Un }n de S que não admite subcobertura finita. Para cada n, existe xn ∈ S − (U1 ∪U2 ∪ ... ∪Un ). Note
que podemos tomar xn ∈ / {x1 , ..., xn−1 }. Considere (o conjunto infinito) A = {x1 , x2 , ...}. Mostremos
′
que A = 0, / o que é uma contradição. Seja p ∈ S, então p ∈ Um para algum m. Pela escolha dos xn′ s,
Um pode conter somente xi , para i < m. Assim Um ∩ A (e também Um ∩ (A − {p}) é um conjunto
finito e portanto p ̸∈ A′ , pois, da hipótese, de que todo subconjunto unitário de S é fechado, segue
(vide Observação 2.2.13 - i) que deverı́amos ter que Um ∩ A infinito (se p ∈ A′ ).
Demonstração. Segue da proposição anterior, uma vez num espaço Hausdorff todo conjunto unitário
é fechado.
Demonstração. Seja (xn )n∈N ∗ uma sequência em S. Se o conjunto dos pontos A = {xn : n ∈ N∗ } é
finito, então (xn ) tem uma subsequência constante, logo convergente. Suponhamos A infinito. Pela
proposição anterior, item (i), A tem um ponto de acumulação x ∈ S. Como (S, σ) é e1 , existe uma
base local enumerável encaixada em x, suponhamos Bx = {U1 , U2 , . . .}. Como todo subconjunto
unitário é fechado de S, x ∈ A′ implica que A ∩Ui é infinito, para todo i ∈ N ∗ (Observação 2.2.13 -i).
Então, para cada i, seja xni ∈ A ∩ Ui com xni ̸∈ {xn1 , . . . , xni−1 } e ni > ni−1 . Assim, obtemos um
subsequência (xni )i∈N∗ de (xn ) converge para x (verifique!), o que conclui a prova.
A proposição seguinte nos dá uma equivalência para espaços enumeravelmente compactos em
termos de sequências, para tanto vamos introduzir um novo conceito.
Definição 4.3.16. Sejam (S, σ) um espaço topológico e (xn )n∈N∗ uma sequência de pontos de S.
Dizemos que p ∈ S é um ponto limite (cluster point) da sequência (xn )n∈N∗ se, dado G ∈ σ, com
p ∈ G, para todo N ∈ N, tem-se G ∩ {xn : n ≥ N} = / (Sims [23], Cap. 3, Definição 3-8, p. 68.)
̸ 0.
Observação 4.3.17. Dada uma sequência (xn )n∈N∗ em um espaço topológico, temos vários conceitos
distintos associados: limite da sequência, ponto limite da sequência, ponto de acumulação do
conjunto A = {xn : n ∈ N∗ } e ω - ponto de acumulação do conjunto A.
82
i) Sabemos que em espaços topológicos em que todo subconjunto unitário é fechado (o que inclui
espaços de Hausdorff ) os dois últimos conceitos são equivalentes (Observação 2.2.13 - i).
ii) Se x é um limite da sequência (xn ) (i. é, xn → x), ou de uma subsequência de (xn ), então x é um
ponto limite da sequência.
iii) Todo ω - ponto de acumulação de A é um ponto limite de (xn ). Logo, em espaço em que todo
subconjunto unitário é fechado, se x ∈ A′ então x é um ponto limite da sequência (xn ).
iv) Em geral, x ser ponto limite de (xn ) não implica que x ∈ A′ e nem que x é limite de (xn ). Por
exemplo, tome em (R, τusual ), (xn ) = (0, 4, 0, 8, 0, ...), em que xn = 0, se n é impar, e xn = 2n,
se n é par. Tem-se que 0 é um ponto limite de (xn ), mas 0 ∈ / A′ e (xn ) não converge para 0.
Ou, considere S = N∗ , τ = {0, / N∗ , {1}, N∗ − {1}} e (xn ) = (1, 2, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 4, 1, ...). Todo
elemento de N∗ é ponto limite da sequência, nenhum ponto de N∗ é limite da sequência (a sequência
não converge), ainda A′ = N∗ − {1}, de modo que 1 é ponto limite, não é limite de (xn ), e 1 ̸∈ A′ .
v) Podemos ter um elemento x em A′ e x não ser limite da sequência (xn ) e nem ponto limite. Tome,
por exemplo, S = {1, 2, 3} com τ = {0, / S, {1}, {2, 3}} e (xn ) = (2, 3, 1, 1, ...). Então A′ = {2, 3},
porém (xn ) não converge para 2 e nem para 3 e, ainda, 2 e 3 não são pontos limites da sequência.
Observe também que xn → 1 (de modo que 1 é limite e ponto limite), mas 1 ̸∈ A′ .
Proposição 4.3.18. Um espaço topológico (S, σ) é enumeravelmente compacto se, e somente se, toda
sequência em (S, σ) tem um ponto limite.
Demonstração. (⇒) Suponhamos, por absurdo, que alguma sequência (xn )n∈N∗ em S não tem ponto
limite. Então, para todo x ∈ S, existe Gx ∈ σ e N ∈ N∗ tal que x ∈ Gx e Gx ∩ {xN+1 , xN+2 , . . .} = 0/ (ou
seja, xk ∈
/ Gx , se k > N). Note que podemos ter o mesmo N para elementos x ̸= y em S. Para cada
∗ / e considere
n ∈ N , seja Fn = {Gx ∈ σ : Gx ∩ {xn+1 , xn+2 , . . .} = 0}
∪
Un = Gx
Gx ∈Fn
Então {Un }n∈N∗ é uma cobertura aberta e enumerável de (S, σ) que não admite subcobertura finita
(uma vez que para todo V = Un1 ∪ ... ∪ Unr , tomando m > max{n1 , ...nr }, xm ̸∈ V ), donde (S, σ)
não é enumeravelmente compacto, uma contradição!
(⇐) Suponhamos agora que S não é enumeravelmente compacto. Assim, existe uma cobertura aberta
enumerável {Gn , n ∈ N∗ } de S que não possui subcobertura finita. (Note que podemos supor o
conjunto de ı́ndices da cobertura igual a N∗ , pois se for finito, a cobertura já seria finita). Considere
V1 = G1 e denote por V2 o primeiro Gi da cobertura que não está contido em V1 = G1 , por V3 o
primeiro Gi que não está contido em V1 ∪V2 , e assim por diante, de modo que Vn denotará o primeiro
∪ ∗
Gi que não está contido em n−1 i=1 Vi . Claramente {Vn , n ∈ N } é também uma cobertura aberta
∪n−1
de S. Seja xn ∈ Vn − i=1 Vi . Observe que xm+1 ∈ Vm+1 e não pertence a Vn , de fato, xn+k
não pertence a Vn , para todo k ≥ 1. Então (xn ) não tem ponto limite, pois para todo x ∈ S, existe um
83
Demonstração. (⇒) Segue da Proposição 4.3.15, uma vez um espaço métrico é um e1 espaço e num
espaço métrico todo subconjunto unitário é fechado.
(⇐) Vale para qualquer espaço topológico (corolário anterior).
Proposição 4.3.21. Se (S, σ) é enumeravelmente compacto e f : (S, σ) → (R, σusual ) é contı́nua, então
f assume um valor máximo e um mı́nimo sobre S.
1
c− < f (xn ) < c.
n
Como (S, σ) é enumeravelmente compacto, pela Proposição 4.3.18, toda sequência em S tem um
ponto limite, de modo que a sequência (xn )n∈N∗ tem um ponto limite x ∈ S, e f (x) será um ponto
limite da sequência ( f (xn )). Mas ( f (xn )) converge para c, logo f (x) = c e f assume o seu valor
máximo.
A prova de que f assume um mı́nimo é análoga.
4.3.1 Exercı́cios
1) Encontre um espaço topológico no qual todo subconjunto não enumerável tem um ponto de
acumulação, enquanto nenhum subconjunto enumerável tem.
84
2) Prove que S é enumeravelmente compacto se, e somente se, toda famı́lia de fechados tendo a
propriedade da interseção finita tem a propriedade da interseção enumerável.
3) Mostre que S é enumeravelmente compacto se, e somente se, quando {Fn }n∈N∗ é uma sequência
∩
/
decrescente de fechados não vazios, então n∈N∗ Fn ̸= 0.
Definição 4.4.1. Sejam (M, d) um espaço métrico e ε > 0. Uma ε-rede para (M, d) é um subconjunto
finito F = {x1 , ..., xr } de M tal que, para todo x ∈ M, existe xi ∈ F com d(x, xi ) < ε, ou seja M =
B(x1 , ε) ∪ ... ∪ B(xr , ε).
Definição 4.4.2. Um espaço métrico (M, d) é totalmente limitado ou pré-compacto se, para todo ε >
0, existe uma ε-rede para (M, d), i.é, ∀ ε > 0, ∃{x1 , ..., xrε } ⊆ M tal que M = B(x1 , ε) ∪ ... ∪ B(xrε , ε).
Observação 4.4.3. Todo espaço métrico totalmente limitado é limitado. Pois, por exemplo, para
ε = 1, existe {x1 , ..., xr } ⊆ M tal que M = B(x1 , 1) ∪ ... ∪ B(xr , 1). Tome c = max{d(xi , x j ), i ̸= j,
i, j = 1, ..., r}. Então, d(M) ≤ 2 + c.
Demonstração. Suponhamos que (M, d) não seja totalmente limitado. Então, existe ε > 0 tal que
(M, d) não tem uma ε-rede. Seja x1 ∈ M. Como {x1 } não é uma ε-rede, existe x2 ∈ M tal que
d(x1 , x2 ) > ε. Como {x1 , x2 } não é uma ε-rede, existe x3 ∈ M com d(x1 , x3 ) ≥ ε e d(x2 , x3 ) ≥ ε.
Deste modo, define-se {x1 , x2 , . . . , xn , . . .} tal que d(xn , xi ) ≥ ε, para todo i = 1, 2, . . . , n − 1. Temos
assim uma sequência (xn )n∈N que não admite subsequência convergente, dado que d(xi , x j ) ≥ ε, para
todo i, j, logo (M, d) não pode ser sequencialmente compacto, o que contradiz a hipótese.
Corolário 4.4.7. Todo espaço métrico M sequencialmente compacto é separável, isto é, existe X ⊆ M
tal que X é enumerável e denso em M.
Demonstração. Pela Proposição 4.4.6, (M, d) é totalmente limitado, logo, para todo n ∈ N∗ , (M, d)
tem uma 1n - rede Xn . O subconjunto
∪
X := Xn
n∈N∗
Definição 4.4.8. Sejam (M, d) um espaço métrico e {Gi }i∈I uma cobertura de M. Dizemos que um
número real a > 0 é um número de Lebesgue para a cobertura {Gi }i∈I de (M, d) se cada subconjunto
X de M com diâmetro menor que a está contido em algum Gi da cobertura.
Note que se a é um número de Lebesgue de uma cobertura então b também é, para todo 0 < b < a.
Demonstração. Seja {Gi }i∈I uma cobertura aberta de M. Diremos que um subconjunto B ⊆ M é
grande se não existe i ∈ I tal que B ⊆ Gi . Temos duas situações a considerar:
1a ) M não possui subconjuntos grandes, neste caso qualquer número real serve como número de
Lebesgue da cobertura (pois, ∀ X ⊆ M, ∃i ∈ I tal que X ⊆ Gi , independente do valor do diâmetro
d(X)).
2a ) Existem conjuntos grandes em M. Neste caso considere a′ = in f {d(B) : B ⊆ M e B é grande}
(o ı́nfimo do conjunto dos diâmetros dos subconjuntos grandes de M), temos 0 ≤ a′ ≤ +∞.
• Se a′ = +∞, então qualquer número real a serve como número de Lebesgue (visto que, neste
caso d(B) = +∞, para todo B grande, e assim, se d(X) < a então X não é grande).
• Se 0 < a′ < ∞, então podemos tomar a = a′ como número de Lebesgue.
• Afirmamos que o caso a′ = 0 não ocorre. De fato, suponhamos a′ = 0. Note que todo
subconjunto grande B tem pelo menos dois pontos e portanto d(B) = sup{d(x, y) : x, y ∈ B} > 0.
Se a′ = 0, segue que para todo n ∈ N∗ , existe Bn grande tal que 0 < d(Bn ) < 1/n. Para cada n ≥ 1,
escolha xn ∈ Bn e considere a sequência (xn ). Como M é sequencialmente compacto, existe x ∈ M e
86
uma subsequência (xni ) de (xn ), tal que (xni ) → x. Visto que {Gi }i∈I é cobertura aberta de M, x ∈ Gi0
para algum i0 ∈ I. Sendo Gi0 um aberto, existe δ > 0 tal que B(x, δ) ⊆ Gi0 . Como (xni ) → x, existe
nt ∈ N∗ tal que xni ∈ B(x, 2δ ), para todo ni > nt . Escolha xnk0 ∈ B(x, 2δ ), com nk0 > max{nt , 2/δ}.
Do fato de d(Bnk0 ) < 1/nk0 , vem que ∀ y ∈ Bnk0 ,
δ 1
d(x, y) ≤ d(x, xnk0 ) + d(xnk0 , y) < + < δ.
2 n0
Assim Bnk0 ⊆ B(x, δ) ⊆ Gi0 , o que nos dá uma contradição, pois Bnk0 é grande. Portanto a′ ̸= 0.
Assim, em qualquer situação existe número de Lebesgue para a cobertura.
Demonstração. Sejam (M, d) um espaço métrico sequencialmente compacto e {Gi }i∈I um cobertura
aberta de M. Seja a um número de Lebesgue para {Gi }i∈I e tome ε = a/3. Como vimos,
M sequencialmente compacto implica que M é totalmente limitado, logo existe uma ε-rede A =
{x1 , x2 , . . . , xm } para M, e, para todo k = 1, 2, . . . , m. Temos que
2a
d(B(xk , ε)) ≤ 2ε = < a,
3
logo, como a é um número de Lebesgue da cobertura, para todo k, existe Gik com B(xk , ε) ⊆ Gik .
Como
∪
m
M= B(xi , ε),
i=1
a classe finita {Gi , Gi2 , . . . , Gim } é uma subcobertura finita de {Gi }, donde M é compacto.
Proposição 4.4.11. Seja (M, d) um espaço métrico. São equivalentes as seguintes afirmações:
(ii) M é compacto;
Demonstração. Que (i) implica (ii) segue da proposição anterior. Que (ii) implica (iii) foi
provado na Proposição 4.1.16. Para ver que (iii) implica (i), seja (xn )n∈N∗ uma sequência em M e
considere A = {x1 , x2 , . . . , xm , . . .}. Se A é finito, então claramente (xn )n∈N∗ tem uma subsequência
convergente. Se A é infinito, segue da hipótese, que existe x ∈ A′ e ainda, x é um w - ponto de
acumulação (i. é, as vizinhanças de x possuem infinitos pontos de A, pois o espaço é métrico).
Para cada k ∈ N∗ , tome xnk ∈ (B(x, 1/k) − {x}) ∩ A, com nk > nk−1 . Então xnk → x. Assim M é
sequencialmente compacto.
Corolário 4.4.12. Um espaço métrico é compacto se, e somente se, é enumeravelmente compacto.
87
Definição 4.4.13. Uma aplicação f : (M, d) → (N, d ′ ) é uniformemente contı́nua se, para todo
ε > 0, existe δ > 0 tal que para todos x, y ∈ M, com d(x, y) < δ tem-se d( f (x), f (y)) < ε. Um
homeomorfismo uniforme de M em N é um homeomorfismo f : M → N tal que f e f −1 são
uniformemente contı́nuas. Chamamos propriedade uniforme a toda propriedade que é preservada
por homeomorfismo uniforme.
Proposição 4.4.14. Toda aplicação contı́nua de um espaço métrico compacto em um espaço métrico
qualquer é uniformemente contı́nua.
Definição 4.4.15. Sejam M um conjunto não vazio e d1 , d2 duas métricas sobre M. Dizemos que
as métricas d1 e d2 são uniformemente equivalentes se, e somente se, a identidade id : (M, d1 ) →
(M, d2 ) for um homeomorfismo uniforme.
4.4.1 Exercı́cios
1) Sejam X um espaço métrico e f : X → X uma aplicação tal que d(x, y) = d( f (x), f (y)),
para todo x, y ∈ X ( f é uma imersão isométrica de X em X - vide Exercı́cio 3.1.2-2). Se
X é compacto prove que f é um homeomorfismo. (Sugestão: claramente f é continua, se
mostrar que f é sobrejetora então f será bijetora e, como f −1 também será imersão isométrica,
f −1 será continua. Para ver que f é sobrejetora, tome y ∈ X e considere a sequência
(y, f (y), f ( f (y)), f ( f ( f (y))), . . ., isto é, y1 = y, yn = f (yn−1 ), n ≥ 2. Como X é compacto,
existe uma subsequência convergente de (yn ). Tal subsequência será de Cauchy, assim, dado
ε > 0, existe n0 ∈ N∗ tal que d(yn , ym ) < ε, ∀ n, m ≥ n0 . Daı́, d(y, f (X)) ≤ d(y, f (y)) =
d(y1 , y2 ) = d( f (y1 ), f (y2 )) = d(y2 , y3 ) = · · · = d(yn0 , yn0 +1 ) < ε. Logo, d(y, f (X)) = 0 e
como f (X) é fechado y ∈ f (X).)
88
2) Um espaço métrico M é compacto se, e somente se, toda função real contı́nua f : M → R é
limitada.
5) a) Se d é uma métrica sobre M mostre que as métricas d(x, y) = min{1, d(x, y)} e d ′ (x, y) =
d(x, y)
são uniformemente equivalentes a d (Lima [14], Cap. 5, Exemplo 10, p. 139). Que
1 + d(x, y)
são equivalentes, vide Exercı́cio 2.8 - 28.
b) Se existirem m, k > 0 tais que md1 (x, y) ≤ d2 (x, y) ≤ kd1 (x, y), ∀x, y ∈ M, onde então d1
e d2 são métricas sobre M, mostre que d1 e d2 são métricas uniformemente equivalentes.
c) Considere as métricas em R, d(x, y) = |x − y| (métrica usual) e d1 (x, y) = |x3 − y3 |. Mostre
que d e d1 são equivalentes, mas não são uniformemente equivalentes.
Definição 4.5.1. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) é localmente compacto se, para todo
x ∈ S, existem G ∈ σ e um subconjunto compacto K de S tal que x ∈ G ⊆ K (ou equivalentemente,
existe K compacto, tal que x ∈ K o ⊆ K).
A Definição 4.5.1 diz que um espaço topológico é localmente compacto se, e somente se, todo
ponto tem uma vizinhança compacta. Existe uma outra formulação para compacidade local que é
equivalente a apresentada aqui quando o espaço é de Hausdorff (vide Exercı́cio 4.6 - 5).
Notemos que (Q, σ), com σ induzida da topologia usual de R, não é localmente compacto, pois
dado x ∈ Q, se existisse G ∈ σ e um subconjunto compacto K de Q tal que x ∈ G ⊆ K ⊆ Q, podemos
supor G básico da forma ]a, b[ ∩ Q. Tomando y ∈ R − Q, com y ∈ ]a, b[, existe sequência (yn ), com
yn ∈ ]a, b[ ∩ Q ⊆ K e (yn ) → y. Daı́, y ∈ K = K (pois K é fechado visto que K é compacto em Q,
que é de Hausdorff), o que é uma contradição, pois y ̸∈ Q.
Nas proposições seguintes são descritas algumas propriedades dos espaços localmente compactos.
Proposição 4.5.3. (i) Todo espaço compacto é localmente compacto. (A recı́proca é falsa vide
Exemplo 4.5.2 - 1).
(ii) Subespaço fechado de um espaço localmente compacto é localmente compacto, isto é, se (S, σ)
é localmente compacto, e F ⊆ S é fechado, então (F, σF ) é localmente compacto.
(iii) Se para todo ponto x ∈ S existe um aberto Gx contendo x tal que Gx é compacto, então (S, σ)
é localmente compacto. Em espaços de Hausdorff vale a recı́proca.
(v) O produto finito de espaços topológicos (com a topologia produto) é um espaço localmente
compacto se, e somente se, cada um dos fatores é um espaço localmente compacto.
Proposição 4.5.4. O produto infinito de espaços topológicos S = ∏λ∈L Sλ (com a topologia produto)
é localmente compacto se, e somente se, cada Sλ é localmente compacto e Sλ é compacto para quase
todo λ ∈ L, isto é, exceto um número finito de elementos.
Demonstração. (⇒) Se S é localmente compacto, para ver que cada Sλ é localmente compacto, use
que as projeções pα : ∏λ∈L Sλ → Sα são aplicações continuas, sobrejetoras e abertas. Para concluir
que somente um número finito dos Sλ são não compactos, seja p = (xλ )λ∈L ∈ ∏λ∈L Sλ . Por hipótese
existe G ∈ σ prod e K ⊆ ∏λ∈L Sλ , K compacto, tal que p ∈ G ⊆ K. Podemos supor G aberto
básico, G = Gλ1 × Gλ2 × ... ×Gλr × ∏λ̸=λi Sλ . Temos que para cada λ ̸= λi , i = 1, ..., r, pλ (G) = Sλ ,
e visto que Sλ = pλ (G) ⊆ pλ (K) ⊆ Sλ , segue que Sλ = pλ (K) e assim Sλ é compacto, se λ ̸= λi .
(⇐) Agora suponhamos que cada Sλ é localmente compacto. Se todos os Sλ forem compactos, pelo
Teorema de Tychonoff S = ∏λ∈L Sλ é compacto e portanto localmente compacto. Sejam então
Sλ1 , Sλ2 , ..., Sλr os espaços não compactos. Tome p = (pλ )λ∈L ∈ ∏λ∈L Sλ . Como pλi ∈ Sλi que é
localmente compacto, i = 1, ..., r, existem Gλi ∈ σλi e Kλi compacto tais que pλi ∈ Gλi ⊆ Kλi .
Então p ∈ G := Gλ1 × Gλ2 × ... ×Gλr × ∏λ̸=λi Sλ ⊆ K := Kλ1 × Kλ2 × ... ×Kλr × ∏λ̸=λi Sλ , com
G aberto e K compacto (pelo Teorema de de Tychonoff).
90
Observação 4.5.5. i) Produto infinito de espaços localmente compactos não é, necessariamente,
localmente compacto. Por exemplo (vide Exercı́cio 4.6 -10), considerando R com a topologia usual,
Rω = ∏n∈N∗ (R)n com a topologia produto não é localmente compacto (Munkres [20], Cap. 3, §29,
Exemplo 2, p. 182).
ii) Se f : (S, σ) → (T, τ) é contı́nua, sobrejetora e (S, σ) é localmente compacto não é verdade, em
geral, que (T, τ) é localmente compacto. Tome, por exemplo, id : (Q, P (Q)) → (Q, τusual ). Tem-se
que f é contı́nua, sobrejetora, (Q, P (Q)) é localmente compacto, mas (Q, τusual ) não é.
Observação 4.5.7. A definição acima está de acordo com a apresentada em Sims [23], porém há
autores que não exigem que o espaço seja de Hausdorff como, por exemplo, em Lima [14].
Exemplo 4.5.8. Se (S, σ) é compacto (e de Hausdorff ) então ((S, σ), id) é uma compactificação de
S. Assim, compactificação é interessante para espaços não compactos.
Exemplo 4.5.9. 1) Considere S = ]0, 3[ com a topologia usual, uma compactificação de S é o par
((Ŝ = [0, 3], σ̂ = τusual ), h =inclusão). Note que Ŝ − h(S) = {0, 3}. Agora se consideramos S = ]0, 3],
Ŝ = [0, 3] é uma compactificação de ]0, 3] e Ŝ − h(S) = {0}.
x
2) O par ([−1, 1], τusual ), h), em que h : R → [−1, 1] é tal que h(x) := , é uma compactificação
1 + |x|
de R (com a topologia usual) com h(R) = ] − 1, 1[ e [−1, 1] − h(R) = {−1, 1}. Similarmente Dn =
x
{x ∈ Rn ; ||x|| ≤ 1} (com a topologia usual) e h : Rn → Dn ; h(x) = , é uma compactificação
1 + ||x||
de Rn (e tem-se Dn − h(Rn ) = Sn−1 ).
3) S1 é uma compactificação de R (com a topologia usual). Mais precisamente, considere o
x
homeomorfismo dado pela projeção estereográfica ρ : S1 − {(0, 1)} → R; (x, y) → eh=
1−y
j ◦ ρ−1 : R → S1 − {(0, 1)} → S1 , sendo j a inclusão de S1 − {(0, 1)} em S1 (Exemplo 3.3.4 −3).
Verifica-se que ((S1 , τusual ), h) é uma compactificação de R e tem-se S1 − h(R) = {(0, 1)}.
Exemplo 4.5.12. S1 é uma compactificação de Alexandroff de R (exemplo anterior, item 3). Mais
geralmente, Sn é uma compactificação de Alexandroff de Rn .
Proposição 4.5.13. Todo espaço localmente compacto e de Hausdorff possui uma compactificação
de Alexandroff.
Observação 4.5.14. Pode-se mostrar que os subconjuntos abertos de uma espaço localmente
compacto e de Hausdorff são localmente compactos (vide Exercı́cio 4.6 - 2, abaixo). Disto segue que:
“se um espaço (S, σ) tem uma compactificação de Alexandroff então, necessariamente, tal espaço é
de Hausdorff e localmente compacto” (Exercı́cio 4.6 - 11).
Proposição 4.5.15. (Unicidade a menos de homeomorfismo) Dado um espaço topológico (S, σ),
se ((S∗ , σ∗ ), h) e ((S~ , σ~ ), h′ ) são duas compactificações de Alexandroff de (S, σ), com
S∗ = h(S) ∪ {p} e S~ = h′ (S) ∪ {p′ } então a aplicação Φ : S∗ → S~ ; Φ(h(s)) = h′ (s), se s ∈ S
92
(ou equivalentemente, Φ(x) = (h′ ◦ h−1 )(x), se x ∈ h(S)) e Φ(p) = p′ , está bem definida e é um
homeomorfismo.
Demonstração. Note que em h(S), tem-se que a aplicação Φ é o homeomorfismo sobre h′ (S),
h′ ◦ h−1 : h(S) → h′ (S). Para ver que Φ é continua em p, seja V um aberto em S~ que contém
p′ = Φ(p). O complementar S~ − V é um fechado em S~ e portanto compacto contido em h′ (S).
Assim existe um compacto K ⊆ h(S) tal que Φ(K) = S~ −V . Como S∗ é de Hausdorff, K é fechado
em S∗ , e assim U = S∗ − K = K c é um aberto de S∗ , com p ∈ A. Agora, S~ −V = Φ(K) = Φ(X ∗ −U).
Como Φ é uma bijeção entre X ∗ e X ~ , Φ(X ∗ − U) = X ~ − Φ(U), e então S~ − V = X ~ − Φ(U),
donde segue que V = Φ(U) e portanto Φ é continua em p. Que Φ é um homeomorfismo segue do
Exercı́cio 4.1.1 - 8, observando que Φ é uma aplicação contı́nua e bijetora do espaço compacto X ∗ no
espaço Hausdorff X ~ .
(O resultado anterior é apresentado em Lima [14], Cap. 7, §5, Prop. 22, p. 206.)
4.6 Exercı́cios
1) Prove que um espaço topológico Hausdorff é localmente compacto se, e somente se, cada ponto
possui uma base local de abertos que tem fechos compactos. Ou seja, se S é Hausdorff, então
S é localmente compacto se, e somente se, dado x em S, para todo aberto U de S contendo x,
existe um aberto V , contendo x, tal que V ⊆ U e V é compacto. (Munkres [20], Cap. 3, §29,
Teor. 29.2, p. 185.)
4) Prove que se S é de Hausdorff e localmente compacto então para todo ponto x ∈ S existe
um aberto Gx , contendo x, tal que Gx é compacto (Proposição 4.5.3, item (iii) - recı́proca).
(Sugestão: observe que x ∈ G ⊆ K, com G aberto e K compacto, implica G ⊆ K = K, visto que
compacto em Hausdorff é fechado. Disto segue que o fechado G é compacto.)
5) Prove que se f : (S, σ) → (T, τ) é contı́nua, sobrejetora e aberta, e (S, σ) é localmente compacto,
então (T, τ) é localmente compacto. Conclua que compacidade local é propriedade topológica.
(Proposição 4.5.3, item (iv)).
6) Prove que o produto S1 × S2 é localmente compacto se, e somente se, cada um dos fatores S1 ,
S2 é localmente compacto. Estenda o resultado para um número finito de espaços. (Proposição
4.5.3, item (v)).
93
10) Considere em R a topologia usual. Mostre que Rω , com a topologia produto, não é localmente
compacto (Observação 4.5.5- i). (Sugestão: Suponha Rω localmente compacto então, para
x = (0, 0, ...) ∈ Rω existe um aberto, que podemos supor básico (em que na posição k, k ≥ n+1
tenhamos sempre R) G = ]a1 , b1 [× · · · × ]an , bn [ × R × R × · · · e um compacto K de Rω tal
que x ∈ G ⊆ K. Observe que a restrição da projeção, pn+1 |K : K → R, é contı́nua e sobrejetora,
o que nos dá uma contradição, uma vez que R não é compacto.)
11) Prove que se (S, σ) tem uma compactificação de Alexandroff ((S∗ , σ∗ ), h) então (S, σ) é de
Hausdorff e localmente compacto. (Sugestão: se S∗ = h(S) ∪ {p}, como S∗ é de Hausdorff
então {p} é fechado em S∗ e assim h(S) = S∗ − {p} é um aberto de S∗ . Agora S∗ é um espaço
de Hausdorff e localmente compacto (pois é compacto) e, portanto, h(S) será de Hausdorff
e localmente compacto (pelo Exercı́cio 2 anterior). Assim S é homeomorfo a h(S) que é de
Hausdorff e localmente compacto.)
Capı́tulo 5
Conexão
“A matemática nasce quando uma pessoa abstrai todas as
caracterı́sticas individuais da dualidade que resulta em consequência
do aumento no tempo. A forma vazia que permanece, que é comum a
todas essas dualidades, é a intuição primária da matemática. Ela é
repetida sem fim e dá origem a novos objetos matemáticos.”
(Luitzen E. J. Brouwer)
Um espaço topológico é conexo se, a grosso modo, é constituı́do de uma única “peça-componente”
relativamente a topologia dada. Neste capı́tulo introduzimos a noção de conexão e consideramos os
vários tipos de conexão. Mostramos que conexão é uma propriedade topológica e demonstramos que
os subconjuntos conexos da reta real são os intervalos. Uma consequência deste fato é o Teorema do
Valor Intermediário para funções contı́nuas f : X → R, que afirma que uma função contı́nua de um
espaço conexo na reta real tem como imagem um intervalo.
Observação 5.1.2. i) Da definição dada segue que (S, σ) é conexo se, e somente se, para todos
G, H ∈ σ com S = G ∪ H e G ∩ H = 0, / tem-se G = 0/ ou H = 0.
/ Ainda, (S, σ) é desconexo se existem
G, H ∈ σ − {0}/ tais que G ∩ H = 0/ e S = G ∪ H. Neste caso dizemos que G e H proporcionam uma
desconexão de S e denota-se, às vezes, S = G ∪
˙ H ou S = G | H.
94
95
/ S} a topologia caótica.
Exemplo 5.1.3. 1) (S, σcao ) é conexo, sendo S não vazio e σcao = {0,
2) Seja S um conjunto infinito e considere em S a topologia cofinita σco f . Então (S, σco f ) é um espaço
topológico conexo.
3) Se S tem pelos menos dois pontos então (S, σdis ) é desconexo, onde σdis denota a topologia discreta.
4) Todo subconjunto unitário de um espaço topológico é conexo. Também, 0/ é conexo, pois não
contradiz a definição.
Proposição 5.1.4. (i) A propriedade de um subespaço ser conexo é intrı́nseca, isto é, se (A, τ) é
conexo e (S, σ) é qualquer espaço topológico tal que A ⊆ S e τ = σA , então A é um subconjunto
conexo de (S, σ).
Demonstração. Exercı́cio.
Demonstração. Sejam (S, σ) um espaço conexo e f : (S, σ) → (T, τ) uma aplicação contı́nua. Sem
perda de generalidade podemos supor f sobrejetora, pois f (S) ⊆ T é conexo se, e somente se,
( f (S), σ f (S) ) é conexo. Isto posto, se T = f (S) fosse desconexo, existiriam G e H abertos disjuntos e
não vazios tais que T = G ∪ H, e assim
S = f −1 (T ) = f −1 (G ∪ H) = f −1 (G) ∪ f −1 (H),
onde f −1 (G) e f −1 (H) são abertos disjuntos não vazios em S. Logo S seria desconexo, o que nos dá
uma contradição.
Proposição 5.1.8. Em R com a topologia usual, um subconjunto não vazio e não unitário A ⊆ R é
conexo se, e somente se, A é um intervalo.
Demonstração. (⇒) Mostraremos que se A não é um intervalo, então A não é conexo. De fato,
se A não é um intervalo, existem x, y ∈ A e z ∈ R − A tais que x < z < y. Assim, os conjuntos
G = ] − ∞, z[ ∩ A e H = A ∩ ]z, +∞[ são abertos em A, não vazios, disjuntos e A = G ∪ H. Logo A é
desconexo.
(⇐) Seja A um intervalo e suponhamos, por absurdo, que A = G ∪ H, com G e H abertos em A,
disjuntos, e G ̸= 0/ ̸= H. Então existem x, y ∈ A com x ∈ G e y ∈ H. Podemos supor x < y já que x ̸= y.
Como A é um intervalo, [x, y] ⊆ A, de modo que, se a ∈ [x, y], tem-se a ∈ A e assim a ∈ G ou a ∈ H.
Seja z = sup([x, y] ∩ G). Segue que x ≤ z ≤ y, e portanto z ∈ A. Como G é também fechado em A,
z ∈ G e, em consequência, z não pertence a H (já que G ∩ H = 0) / e então z ̸= y, logo z < y. Assim,
pela definição de z, z + ε ∈ H, para todo ε > 0 tal que z + ε ≤ y. Como H é fechado em A, segue que
z ∈ H, o que nos dá uma contradição (pois z não pertence a H). Portanto A é conexo.
Proposição 5.1.9 (Teorema do Valor Intermediário). Sejam (S, σ) um espaço topológico conexo e
f : (S, σ) → (R, σusual ) uma função contı́nua. Então
(ii) Se u, v ∈ f (S) e w ∈ R é tal que u < w < v, então existe x ∈ S tal que f (x) = w.
Corolário 5.1.10. (Teorema do Ponto Fixo de Brower em R) Se f : [a, b] → [a, b] é contı́nua então
existe c ∈ [a, b] tal que f (c) = c.
Demonstração. Note que se f (a) = a ou f (b) = b, então não há nada a demonstrar. Suponhamos
f (a) ̸= a e f (b) ̸= b. Considere g : [a, b] → R, definida por g(x) = x − f (x). Tem-se que g é
contı́nua, e g(a) < 0 < g(b). O resultado segue então da proposição anterior.
Proposição 5.1.11. Um espaço topológico (S, σ) é desconexo se, e somente se, existe uma função
f : S → {0, 1} contı́nua e sobrejetora (considerando {0, 1} com a topologia discreta).
Demonstração. (⇒) Suponhamos S desconexo. Então existem abertos disjuntos e não vazios G e H
tais que S = G ∪ H. Neste caso, a função f : S → {0, 1} dada por
{
0, se x ∈ G,
f (x) =
1, se x ∈ H,
é contı́nua e sobrejetora.
97
5.1.1 Exercı́cios
1) Mostre que um espaço topológico é conexo se, e somente se, não pode ser descrito como a
reunião de dois conjuntos fechados, disjuntos e não vazios.
2) Prove que (S, σ) é conexo se, e somente se, para todo G ∈ σ, G ̸= 0/ e G ̸= S tem-se Fr(G) ̸= 0.
/
3) Mostre que a reunião de dois conexos com um ponto em comum é conexo. (Sugestão: usar o
Corolário 5.1.12.) Generalize este resultado (ou seja, prove a Proposição 5.1.13).
4) Seja S = G ∪ H, onde G e H são abertos disjuntos e não vazios, uma desconexão de um espaço
topológico S. Mostre que para todo subconjunto conexo A de S, teremos A∩G = 0/ ou A∩H = 0, /
e assim A ⊆ G ou A ⊆ H.
5) Mostre que (S, σ) é conexo se, e somente se, para todos p, q ∈ S, existe um subespaço conexo
de S contendo p e q.
6) Diz-se que dois subconjuntos não vazios A e B de um espaço topológico S são conjuntos
separados em S se A e B são disjuntos e A ∩ B = 0/ = A ∩ B. Seja S um espaço topológico.
a) Se A e B são subconjuntos não vazios de S, separados, prove que A ∪ B é desconexo.
(Sugestão: A ∪ B = [(A ∪ B) ∩ (B)c )] ∪ [(A ∪ B) ∩ (A)c ].)
b) Se A ∪ B é uma desconexão de X ⊂ S, sendo A = G ∩ X e B = H ∩ X, G e H abertos de S,
prove que A e B são separados.
c) Mostre que X ⊆ S é desconexo se, e somente se, X é a reunião de dois conjuntos não vazios
separados.
7) Demonstre que o gráfico de uma função real contı́nua definida sobre um intervalo é um
subconjunto conexo do plano.
8) Seja S um espaço topológico conexo. Se existe uma função real contı́nua e não constante
f : S → R, prove que S é infinito e não enumerável.
11) Prove que os espaços abaixo não são homeomorfos. (Sugestão: usar o fato que f : S → T
homeomorfismo implica que f : S − {p} → T − { f (p)} também é homeomorfismo.)
a) Um intervalo aberto e um intervalo fechado na reta real.
b) A circunferência S1 = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 = 1} com a topologia usual induzida do plano e
um intervalo da reta real.
99
12) Se {(Sλ , σλ ), λ ∈ L} é uma famı́lia de espaços conexos então (∏λ∈L Sλ , σ prod ) é um espaço
conexo. (Sugestão: considere um ponto arbitrário p = (pλ )λ∈L ∈ S. Para cada subconjunto finito
F = {λ1 , ..., λn } de L, seja SF = Sλ1 × ...Sλn × ∏λ̸=λi {pλ }. Então p ∈ SF , SF é conexo e W =
∪
F⊆ L; F f inito SF é conexo. Agora, S = W , pois todo aberto elementar Uλ1 ×...Uλn × ∏λ̸=λi {Sλ }
contém algum ponto de W .)
Definição 5.2.1. Seja S um espaço topológico. Um subespaço conexo e maximal de S, isto é,
um subespaço conexo que não está contido propriamente em nenhum subconjunto conexo de S, é
chamado uma componente conexa de S.
(iii) Cada ponto p de S pertence a exatamente uma componente conexa de S, que denotaremos por
C p , e nos referimos como a componente conexa de p.
(v) Um subconjunto não vazio de S, conexo, que é aberto e fechado é uma componente conexa
de S.
(iv) O fecho de um subconjunto conexo A ⊆ S é conexo (Proposição 5.1.7), de modo que se A é uma
componente conexa de S, então A = A, pois A é maximal e A ⊆ A. Portanto A é fechado.
(v) Seja A ⊆ S aberto, fechado, conexo e não vazio. Vamos mostrar que A é uma componente conexa.
Seja B ⊆ S, B conexo, tal que A ⊆ B. Como A é aberto e fechado, B = A ∪ (B − A) é reunião disjunta
dos abertos A e B − A de B. Como B é conexo, devemos ter A = 0/ ou B − A = 0,
/ logo B − A = 0,/ visto
que A é não vazio, e assim B = A. Portanto A é uma componente conexa, pois é um conexo que não
está contido propriamente em nenhum outro subconjunto conexo B de S.
Observação 5.2.4. i) A condição (iii) da proposição anterior nos diz que o conjunto das componentes
conexas de S forma uma partição do conjunto S.
ii) Uma componente conexa não é necessariamente um conjunto aberto. Por exemplo, no espaço
topológico (Q, σusual ), as componentes conexas são conjuntos unitários, que não são conjuntos
abertos.
5.2.1 Exercı́cios
1) Seja S é um espaço topológico. Defina em S uma relação R por:
Prove que R é uma relação de equivalência. Mostre que a classe de equivalência de um elemento
qualquer p de S é a componente conexa C p de S (a componente conexa que contém p).
3) Se um espaço topológico S tem um número finito de componentes conexas, mostre que essas
componentes conexas são conjuntos abertos do espaço S. Em particular, se S é finito toda
componente conexa de S é um aberto de S.
Observação 5.3.2. Um espaço topológico S é localmente conexo se todo ponto de S tem uma base
local de abertos conexos.
Exemplo 5.3.3. (R, σusual ) e, mais geralmente, (Rn , σusual ) são espaços localmente conexos.
101
Observação 5.3.4. i) Localmente conexo não implica conexo. Por exemplo, S = [0, 1] ∪ [2, 3] ⊆ R,
com a topologia usual, é localmente conexo e não é conexo.
ii) Conexo não implica localmente conexo. Considere, por exemplo, S = A ∪ B, onde A = {(x, y) ∈
R2 : x = 0 e − 1 ≤ y ≤ 1} e B = {(x, y) ∈ R2 : y = sen 1x , x > 0}, com a topologia usual. Temos
que S é conexo, pois S = B e B é conexo, mas S não é localmente conexo já que (0, 0) não tem
vizinhança conexa em X.
5.3.1 Exercı́cios
1) Mostre que todo subconjunto conexo de (R, σusual ) é localmente conexo.
4) Ser localmente conexo é uma propriedade hereditária? Justifique. (Sugestão: tome (R, τusual ) e
Q ⊆ R.)
5) Prove que um espaço compacto e localmente conexo tem um número finito de componentes
conexas.
102
6) Prove que o produto S = ∏λ∈L Sλ (com a topologia produto) é localmente conexo se, e somente
se todos os fatores Sλ são localmente conexos e, com exceção de um número finito deles, todos
são conexos. (Sugestão: Para a prova da implicação (⇐) use que o produto de espaços conexos
é conexo, Exercı́cio 5.1.1 -12. (Lima [14], Cap. 9, Corol. 2, p. 254).)
Observação 5.4.2. Se γ é um caminho de p a q, isto é, com ponto inicial p e final q, então ρ : I → S,
tal que ρ(t) = γ(1 − t) é um caminho de q a p e tem a orientação oposta da de γ. ρ é chamado o
caminho inverso do caminho γ, e é denotado por γ−1 .
Definição 5.4.3. Dados dois caminhos α : I → S e β : I → S, com α(1) = β(0), podemos definir o
{
caminho γ : I → S; α(2t), se 0 ≤ t ≤ 1/2,
γ(t) =
β(2t − 1), se 1/2 ≤ t ≤ 1.
Tal caminho é chamado caminho produto (ou justaposto) dos caminhos α e β e é usualmente
denotado por α ∗ β ou α ∨ β.
Definição 5.4.4. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) é conexo por caminhos (abreviadamente,
c.p.c.), se quaisquer que sejam p, q ∈ S, existe um caminho γ : I → S tal que p = γ(0) e q = γ(1).
Observação 5.4.5. Sejam S um espaço topológico e y0 ∈ S. Então S é c.p.c. se, e somente se, para
todo y ∈ S, existe um caminho de y0 a y. Isto é justificado usando caminho inverso e produto de
caminhos.
Exemplo 5.4.6. 1) (Rn , σusual ) é c.p.c., pois dados p e q em Rn existe, por exemplo, o caminho
“segmento de reta” γ(t) = (1 − t)p + tq, t ∈ [0, 1], tal que γ(0) = p e γ(1) = q.
2) O espaço de Sierpinski ({0, 1}, σ), onde σ = {0, / {0}, {0, 1}} é conexo por caminhos. (Por
exemplo, α : I → {0, 1}; α(t) = 0, se 0 ≤ t < 1/2, e α(t) = 1, se 1/2 ≤ t ≤ 1, é um caminho ligando
0 a 1).
3) A esfera Sn = {x ∈ Rn+1 : ||x|| = 1} é c.p.c. (com a topologia induzida de Rn+1 ).
103
Proposição 5.4.7. Se (S, σ) é um espaço topológico conexo por caminhos, então (S, σ) é conexo.
Observação 5.4.8. Conexo não implica conexo por caminhos. Por exemplo, o espaço S = A ∪ B,
onde A = {(x, y) ∈ R2 : x = 0 e − 1 ≤ y ≤ 1} e B = {(x, y) ∈ R2 : y = sen 1x , x > 0}, com a
topologia usual do plano R2 , é conexo (vide Observação 5.3.4 - ii) e não é conexo por caminhos,
pois, por exemplo, o ponto (0, 1) não pode ser ligado a nenhum ponto de B.
A proposição seguinte nos dá as propriedades principais dos espaços topológicos conexos por
caminhos.
Proposição 5.4.9. (i) A imagem de um espaço conexo por caminhos por uma aplicação contı́nua é
um espaço conexo por caminhos.
Demonstração. (i) Seja f : (S, σ) → (T, τ) contı́nua com (S, σ) conexo por caminhos. Dados p, q ∈
f (S), existem x, y ∈ S tais que p = f (x) e q = f (y). Como S é c.p.c., existe um caminho γ : I → S,
com γ(0) = x e γ(1) = y. Então, f ◦ γ : I → T é um caminho de p a q contido em f (S). Logo f (S) é
c.p.c.
(ii) Se R é uma relação de equivalência sobre S, a aplicação quociente q : S → S/R é contı́nua e
sobrejetora, assim o resultado segue do item (i).
(iii) Sejam (S, σ) e (T, τ) espaços topológicos conexos por caminhos. Dados (p1 , q1 ), (p2 , q2 ) ∈ S ×T ,
com a topologia produto, existem caminhos γ1 : I → S e γ2 : I → T tais que γ1 (0) = p1 , γ1 (1) = p2 ,
γ2 (0) = q1 e γ2 (1) = q2 . A aplicação γ : I → S × T , dada por γ(t) = (γ1 (t), γ2 (t)) define um caminho
em S × T de (p1 , q1 ) a (p2 , q2 ), como é fácil ver.
Observação 5.4.10. De forma similar prova-se o resultado mais geral: “se (Sλ , σλ ), λ ∈ L, é uma
famı́lia de espaços conexos por caminhos então (∏λ∈L Sλ , σ prod ) é um espaço conexo por caminhos”
(Exercı́cio 5.5 - 17).
Definição 5.4.11. Uma componente conexa por caminhos de um espaço topológico (S, σ) é um
subconjunto de S que é conexo por caminhos e maximal.
104
Observação 5.4.12. Componentes conexas por caminhos não são necessariamente fechadas.
Também, o fecho de um conjunto conexo por caminhos não é, necessariamente conexo por caminhos.
De fato, considere X = A ∪ B, onde A = {(x, y) ∈ R2 : x = 0 e − 1 ≤ y ≤ 1} e B = {(x, y) ∈ R2 :
y = sen 1x , x > 0}, com a topologia usual. Temos que B é c.p.c., mas B = X não o é (observação
anterior). Também B não é fechado pois B ̸= B. Note que B é uma componente, pois B é c.p.c. e é
maximal.
Demonstração. (i) ⇒ (ii) Seja p ∈ S. Por hipótese a componente conexa por caminhos que contém p
é aberta, logo é uma vizinhança de p conexa por caminhos.
(ii) ⇒ (i) Sejam A ⊆ S uma componente conexa por caminhos e p ∈ A. Por hipótese o ponto p tem
uma vizinhança U conexa por caminhos, de modo que, por ser A a componente c.p.c. de p, tem-se
que p ∈ U ⊆ A, e assim, A é aberto.
Proposição 5.4.14. Um espaço topológico (S, σ) é c.p.c. se, e somente se, S é conexo e todo y ∈ S
tem uma vizinhança c.p.c.
Demonstração. (⇒) S é conexo, pois como vimos, c.p.c. implica conexo. E todo ponto y ∈ S tem
uma vizinhança c.p.c. (tome, por exemplo, o próprio S).
(⇐) Seja y0 ∈ S. Mostremos que a componente conexa por caminhos de y0 é S. De fato, seja
A = {y ∈ S : existe caminho de y a y0 }. Claramente A é c.p. c. e y0 ∈ A.
Ainda, A é aberto, pois dado y ∈ A, existe um caminho γ1 de y a y0 , assim se G é uma vizinhança
c.p.c. de y, qualquer que seja z ∈ G, existe um caminho γ2 de z a y, logo o caminho produto (ou
justaposto) γ2 ∗ γ1 é um caminho de z a y0 , ou seja, z ∈ A, deste modo y ∈ G ⊆ A.
A é fechado, pois dado y ∈ S − A = Ac , por hipótese existe uma vizinhança G de y em S que é
c.p.c.. Então G ∩ A = 0/ já que a existência de z ∈ G ∩ A proporcionaria um caminho de y0 a y, e y
pertenceria a A. Logo G ⊆ Ac e portanto Ac é aberto.
Assim, A é aberto, fechado e não vazio. Como S é conexo, segue que S = A e portanto S é conexo
por caminhos (maximal contendo y0 ).
Corolário 5.4.15. Um aberto A do Rn com a topologia usual é conexo se, e somente se, é conexo
por caminhos.
Demonstração. (⇒) Seja A um subconjunto aberto e conexo do Rn . Então, para todo ponto p de
A existe uma bola aberta de centro p e raio r contida em A, e essa é uma vizinhança conexa por
caminhos. Logo A é c.p.c. pela proposição anterior.
105
Definição 5.4.16. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) é localmente conexo por caminhos se,
para todo p ∈ S e todo aberto G ∈ σ com p ∈ G, existe U ∈ σ, conexo por caminhos, tal que
p ∈ U ⊆ G.
Corolário 5.4.17. Seja (S, σ) um espaço topológico localmente conexo por caminhos. Então S é
conexo por caminhos se, e somente se, S é conexo.
Demonstração. Já vimos que conexo por caminhos implica em conexo. Suponhamos S conexo e
localmente conexo por caminhos. Se S é localmente conexo por caminhos então todo ponto p ∈ G = S
tem uma vizinhança conexa por caminhos e assim o resultado segue da proposição anterior.
Observação 5.4.18. i) Localmente conexo por caminhos não implica em conexo por caminhos. Por
exemplo, S = [0, 3[ ∪ ]5, 9[ é localmente conexo por caminhos mas não é conexo por caminhos.
ii) Também, conexo por caminhos não implica em localmente conexo por caminhos. O espaço
(usualmente referido como “pente”) S = X (em R2 ), em que X := {( 1n , y); 0 ≤ y ≤ 1; n ∈ N∗ } ∪
{((x, 0); 0 < x ≤ 1} ⊆ R2 é um exemplo de espaço conexo por caminhos que não é localmente
conexo por caminhos, pois, por exemplo, para p = (0, 1) e G = B(p, 1/2) ∩ S, não existe
U ⊆ G; p ∈ U e U é c.p.c.
(ii) as componentes conexas por caminhos de qualquer conjunto aberto do espaço S são conjuntos
abertos;
(iii) os conjuntos abertos conexos por caminhos de S formam uma base para a topologia de S.
Demonstração. Exercı́cio.
2) Mostre que as letras X e Y vistas como subespaços do plano (figuras/desenhos em R2 ) não são
espaços homeomorfos. Idem para as letras A e B.
4) Seja E um subconjunto aberto de um intervalo ]a, b[ ⊆ R, com a topologia usual. Mostre que
as componentes conexas de E são intervalos abertos. Além disso, se existe um número infinito
dessas componentes, seus diâmetros tendem a zero.
5) Mostre que um espaço métrico M é localmente conexo num ponto p ∈ M se, e somente se, para
todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, se d(x, p) < δ então existe C ⊆ M, C conexo com x, p ∈ C e o
diâmetro d(C) < ε.
6) Mostre que se p ∈ A∩B e A e B são localmente conexos em p, então A∩B não necessariamente
é localmente conexo em p. (Sugestão: tome A = {(x, 0) : x ∈ R, x ≥ 0} e B = {(0, 0)} ∪
{(x, x sen(1/x)) : x > 0}, ambos são localmente conexos em p = (0, 0), mas a interseção
não é.)
7) Prove que se um espaço localmente conexo X pode ser representado como a reunião de dois
conjuntos fechados A e B, com interseção localmente conexa, então os conjuntos A e B são
localmente conexos. (Sugestão: Tome p ∈ A e analise os casos p ∈ A \ B = X \ B (um aberto)
e p ∈ A ∩ B.)
10) Sejam Y compacto e conexo e A ⊆ Y fechado. Prove que existe um conjunto fechado e conexo
B ⊇ A tal que nenhum subconjunto conexo próprio de B contém A.
11) Prove que não existe bijeção contı́nua entre S1 = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 = 1} e qualquer
subconjunto de R, e que não existe função contı́nua e sobrejetora de S1 em R.
12) Seja S compacto. Defina uma relação de equivalência R sobre S como se segue
1
x R y ⇔ ∀ f : S → R contı́nua com f (x) = 0 e f (y) = 1, ∃ u ∈ S com f (u) = .
2
13) Sejam Y compacto e f : Y → Y contı́nua. Prove que existe um subconjunto não vazio e fechado
A de Y tal que A = f (A).
14) Prove que se um conjunto conexo C num espaço X intersecta um conjunto E e o seu
complementar X − E, então C intersecta a fronteira de E.
107
15) Prove que se f : X → Y é uma aplicação fechada de um espaço localmente conexo X sobre um
espaço Y , então Y é localmente conexo. Em consequência, toda imagem contı́nua do intervalo
unitário I = [0, 1] num espaço de Hausdorff é localmente conexa.
16) Demonstre a recı́proca do item (iii) da Proposição 5.4.9, isto é, se S × T é conexo por caminhos,
então S e T são conexos por caminhos.
17) Seja (Sλ , σλ ), λ ∈ L, uma famı́lia de espaços topológicos. Prove que o espaço produto
(∏λ∈L Sλ , σ prod ) é conexo por caminhos, se e somente, (Sλ , σλ ) é conexo por caminho, para
todo λ ∈ L.
18) Prove que todo espaço localmente conexo por caminhos é localmente conexo.
19) A reunião de uma famı́lia de subespaços c.p.c. com interseção não vazia é c.p.c.? Justifique.
20) Se as componentes conexas de todos os subespaços abertos de um espaço (S, σ) são conjuntos
abertos, mostre que S é localmente conexo.
21) Se X1 , X2 , . . . , Xn , . . . é uma sequência de conjuntos conexos num espaço topológico S, tais que
∪
Xi ∩ Xi+1 ̸= 0, / para todo i ∈ N∗ , mostre que X = ∞ i=1 Xi é conexo.
Proposição 5.6.3. Seja S um espaço de Hausdorff. Se S tem uma base de abertos cujos conjuntos são
também fechados, então S é totalmente desconexo.
Demonstração. Seja B = {Bλ : λ ∈ L} uma base para σ, com Bλ aberto e fechado, para todo λ ∈ L.
Considere A uma componente conexa de S e suponhamos p, q ∈ A, com p ̸= q. Como S é de
Hausdorff, existem abertos básicos (e fechados) B1 e B2 , com B1 ∩ B2 = 0, / p ∈ B1 e q ∈ B2 .
Daı́ A = (A ∩ B1 ) ∪ (A ∩ B1 ) é reunião disjunta de abertos (de A) não vazios, pois p ∈ A ∩ B1 e
c
q ∈ A ∩ B2 ⊆ A ∩ B1c , o que implica que A é desconexo. Portanto, se A é conexo, então A não pode
conter mais de um ponto, o que conclui a prova.
108
Observação 5.6.4. Um espaço totalmente desconexo pode não ser de Hausdorff, como no exemplo
seguinte.
Definição 5.6.6. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) é totalmente separado se dois pontos
quaisquer de S podem ser separados por uma desconexão de S, isto é,
/ p ∈ U, q ∈ V.
∀ p, q ∈ S, ∃ U,V ∈ σ com S = U ∪V, U ∩V = 0,
Proposição 5.6.7. As componentes conexas de um espaço totalmente separado são seus conjuntos
unitários e assim todo espaço totalmente separado é totalmente desconexo.
Demonstração. Seja C uma componente conexa num espaço totalmente separado (S, σ). Queremos
mostrar que C tem um único ponto. Suponhamos que a e b sejam pontos de C. Se a ̸= b, existem
U, V ∈ σ com S = U ∪ V ; a ∈ U, b ∈ V e U ∩ V = 0. / Então obtemos uma desconexão de C =
(U ∩C) ∪ (V ∩C), o que contradiz o fato de C ser conexo.
5.6.1 Exercı́cios
1) Se S é um espaço de Hausdorff, finito, mostre que S é totalmente desconexo.
6.1 Introdução
As propriedades de um espaço topológico dependem primeiro, é claro, de sua topologia. A
cardinalidade da topologia desempenha um papel fundamental: (S, σ) separável, e1 ou e2 . Por
outro lado, quanto maior é a topologia σ, mais provável é de f : (S, σ) → (T, τ) ser contı́nua, e
quanto menor for τ, a chance de f ser contı́nua é também maior. Uma questão interessante é: quais
propriedades um espaço topológico deve satisfazer para ser metrizável. Nessa direção, os axiomas de
separação desempenham papel importante. Um dos principais resultados deste capı́tulo é o Teorema
de Metrização de Urysohn.
Os axiomas de separação tratam da “separação” de pontos e de conjuntos fechados de um espaço
topológico, no sentido que: dois subconjuntos de um espaço topológico estão separados se admitem
vizinhanças disjuntas.
Os axiomas de separação são divididos em três grupos: axiomas de separação de pontos, axiomas
de separação de ponto e conjunto fechado e axiomas de separação de conjuntos fechados. Os
axiomas são sempre representados pela letra T com um ı́ndice i: Ti . T é a letra inicial da palavra
trennungsaxiom que significa axioma de separação em alemão e i não é necessariamente um inteiro!
A nomenclatura usada é a dos matemáticos Alexandroff e Hopf.
109
110
Exemplo 6.2.4. Sejam S = {a, b, c}, σdis = P (S) e σ = {0, / {a}, {b}, {a, b}, S} (como no exemplo
anterior). Então (S, σdis ) satisfaz o axioma T1 , no entanto (S, σ) não satisfaz T1 , pois o único aberto
que contém c é S, de modo que a e c não estarão separados.
Observação 6.2.5. Se um espaço topológico (S, σ) satisfaz T1 , então S satisfaz T0 . A recı́proca não é
verdadeira. De fato, como vimos, tomando S = {a, b, c} com a topologia σ = {0, / {a}, {b}, {a, b}, S}
(S, σ) satisfaz T0 , mas não satisfaz T1 .
Proposição 6.2.6. Um espaço topológico (S, σ) é T1 se, e somente se, {x} = {x}, para todo x ∈ S.
Demonstração. (⇒) Suponhamos que exista y ∈ {x} − {x}. Como S é T1 , existem abertos U e V tais
que x ∈ U, y ∈ U c = S −U, y ∈ V e x ∈ V c . Agora, como y ∈ {x}, todo aberto que contém y intersecta
/ isto é,
{x}, logo V ∩ {x} ̸= 0/ e assim, x ∈ V , o que é absurdo, pois x ∈ V c . Portanto {x} − {x} = 0,
{x} = {x}.
(⇐) Dados x, y ∈ S, x ̸= y, temos, pela hipótese, que {x} e {y} são fechados, logo os abertos U = {y}c
e V = {x}c verificam o axioma T1 .
Definição 6.2.9. Um espaço topológico (S, σ) satisfaz o axioma T 5 ou é um T 5 espaço se, para todos
2 2
x, y ∈ S, x ̸= y, existem abertos U e V com x ∈ U, y ∈ V e U ∩ V = 0. / Um espaço que satisfaz o
axioma T5 é também chamado espaço de Urysohn.
2
Observação 6.2.11. T5 ⇒ T2 ⇒ T1 ⇒ T0 .
2
111
Exemplo 6.2.12 (Bing). Vejamos um exemplo de espaço que é T2 , mas não é T5 . Seja S = {(x, y) ∈
2
Q × Q : y ≥ 0}. Dados (a, b) ∈ S e ε > 0, considere
{ ( ) ( ) }
b b
Vε (a, b) = (r, 0) ∈ S : r − a + √ < ε ou r − a − √ < ε ∪ {(a, b)},
3 3
Vε (a, b) é uma ε-vizinhança de (a, b). Se b = 0, a ε-vizinhança de (a, 0) é o conjunto dos números
racionais entre a − ε e a + ε. O conjunto de todas estas vizinhanças é base para uma topologia
σ sobre S (σ é formada por todos subconjuntos U de S satisfazendo a condição de que para cada
(a, b) ∈ U existe um número ε > 0 tal que Vε (a, b) ⊆ U). Com essa topologia S satisfaz o axioma T2 ,
/ é
mas não satisfaz o axioma T5 , pois a interseção dos fechos de dois elementos quaisquer de σ − {0}
2
um conjunto não vazio.
(Na figura seguinte apresentamos um esboço de como obter uma vizinhança e seu fecho, lembrando
que temos que considerar a interseção com Q × Q.)
{Wε (a, b) : (a, b) ∈ S, ε > 0} é base para uma topologia σ sobre S. Se p, q ∈ S, p ̸= q, então
/ de modo
d(p, q) = ∥p − q∥ = 3ε, para algum ε > 0 (ε = 31 d(p, q)) e, para tal ε, Wε (p) ∩Wε (q) = 0,
que (S, σ) satisfaz T5 . Ilustramos a seguir algumas vizinhanças.
2
112
Algumas Vizinhanças
6.2.1 Exercı́cios
1) Mostre que ser T5 espaço implica ser T2 espaço.
2
3) Verifique que o limite de uma sequência em um T2 espaço (Hausdorff) quando existe é único.
Em particular isso vale para espaços métricos.
5) Prove que se (S, σ) é um espaço finito que satisfaz o axioma T1 então a topologia σ em S é
necessariamente a topologia discreta (afirmação feita na Observação 2.2.13 - iv).
7) Seja (S, σ) um espaço topológico e1 no qual o limite de uma sequência quando existe é único.
Prove que (S, σ) é T2 . (Sugestão: tome x ̸= y, Bx = {U1 ,U2 , ...} e By = {V1 ,V2 , ...} bases locais
encaixadas. Se não for T2 , existe zn ∈ Un ∩Vn , para cada n. Mostre que zn → x e zn → y.)
8) Seja f : (S, σ) → (T, τ) sobrejetora e fechada, onde (S, σ) satisfaz o axioma T1 . Mostre que
(T, τ) também é um espaço T1 . (Sugestão: dado p = f (x0 ) em T , {x0 } é fechado em S.)
9) Dizemos que um espaço topológico (S, σ) satisfaz o axioma TD se o conjunto derivado {x}′ é
fechado, para todo x ∈ S. Mostre que TD é uma propriedade hereditária, que implica T0 e que é
implicada por T1 . (Sugestão: para ver que é T0 note que x ̸∈ {x}′ e analise os casos y ∈ {x}′ e
y ̸∈ {x}′ , x ̸= y.)
113
Então B = {Vε (a, b) : (a, b) ∈ S e ε > 0} é base para uma topologia σ sobre S. Note que a topologia
de S assim obtida é diferente da dada no Exemplo de Moore, pois as vizinhanças do tipo Vε (a, 0) e
Wε (a, 0) não coincidem. Afirmamos que (S, σ) é regular. De fato, como no Exemplo de Moore, o
único problema que aparece é separar (0, 0) de F = L − {(0, 0)}, onde L = {(a, 0) : a ∈ R}. Seja
/
ε > 0 e considere U = Vε (0, 0). Para cada (a, 0) ∈ F, tome εa > 0 tal que Vεa (a, 0) ∩ Vε (0, 0) = 0.
∪
Então V = a∈R−{0} Vεa (a, 0) ⊇ F e U ∩V = 0. / Portanto (S, σ) é regular.
Algumas Vizinhanças
114
Proposição 6.3.9. (S, σ) é regular se, e somente se, para todo p ∈ S e todo U ∈ σ, com p ∈ U, existe
V ∈ σ tal que p ∈ V ⊆ V ⊆ U.
p ∈ G1 ⊆ G1 ⊆ Gc2 ⊆ F c = U.
Definição 6.3.11. Dizemos que um espaço topológico (S, σ) é completamente regular se, dados p ∈ S
e F ⊆ S − {p} fechado, existe f : S → [0, 1] contı́nua com f (p) = 0 e f (F) = {1}.
Exemplo 6.3.12. Os espaços métricos são completamente regulares. Dado (M, d) um espaço
métrico, se F é um fechado em M e p ̸∈ F, então d(p, F) > 0. Tome f : M → [0, 1]; f (x) =
1 − [d(x, F)/(d(x, p) + d(x, F))].
115
Observação 6.3.13. i) Um espaço (S, σ) é completamente regular se, e somente se, dados p ∈ S e
F ⊆ S − {p} fechado, existe g : S → [0, 1] contı́nua com g(p) = 1 e g(F) = {0}. Basta considerar o
homeomorfismo ψ : [0, 1] → [0, 1], tal que ψ(t) = 1 − t.
ii) Na definição de completamente regular apresentada em Munkres [20] (Cap. 4, §33, Def., p. 211)
exige-se também que o espaço seja T1 .
Observação 6.3.15. Todo espaço completamente regular é regular (Exercı́cio 7 abaixo), de modo
que todo espaço de Tychonoff (ou T7 ) é T3 . Um exemplo de espaço regular que não é completamente
2
regular é apresentado em Munkres [20], Cap. 4, §33, Exerc. 11, p. 214.
6.3.1 Exercı́cios
1) Prove que todo espaço T0 e regular é T3 espaço. (Sugestão: mostre que é T2 espaço e assim T1 .
Dados x ̸= y, como o espaço é T0 , existe, sem perda de generalidade, um aberto G tal que x ∈ G
e y ̸∈ G. Use a regularidade para o fechado F = Gc que não contém x.)
2) Prove que todo espaço métrico M é regular e T3 . (Sugestão: use que se F é fechado em M e p
não pertence a F então d(p, F) > 0 e tome ε = d(p, F)/3, U = B(p, ε) e V = ∪x∈F B(x, ε).)
4) Se (Sλ , σλ ), λ ∈ L, são espaços regulares, mostre que S = ∏λ∈L Sλ , com a topologia produto
σ prod é regular. (Sugestão: usar a Proposição 6.3.9, o fato que dado p ∈ U com U ∈ σ prod , existe
um aberto básico B, com p ∈ B ⊆ U, e ainda que, dados Aλ ⊆ Sλ , tem-se ∏λ∈L Aλ = ∏λ∈L Aλ .)
para cada i = 1, ..., n, existe fi : Sαi → {0, 1} contı́nua tal que fi (yαi ) = 1 e fi (Gcαi ) = {0}. Tome
f : S = ∏λ∈L Sλ → {0, 1}; para cada x = (xλ )λ , f (x) = f1 (pα1 (x)). f2 (pα2 (x)). . . . . fn (pαn (x)) =
f1 (xα1 ). f2 (xα2 ). . . . . fn (xαn ). Então f (y) = 1 e f (U c ) = {0} (já que x ̸∈ U ⇔ xα j ̸∈ Gα j para
algum j), e assim f (F) = 0 visto que F ⊆ U c .)
116
7) Mostre que se (S, σ) é completamente regular, então (S, σ) é regular. (Lipschutz [17], Cap.10,
Prop. 10.10, p. 189 e 196.)
8) Mostre que todo espaço topológico compacto e de Hausdorff é regular. Isto é, prove a
Proposição 6.3.10 acima. (Sugestão: usar o fato que todo fechado num compacto é compacto e
o Exercı́cio 4.1.1 - 4.)
9) Mostre que todo espaço (S, σ) de Hausdorff e localmente compacto é regular e T3 espaço.
(Sugestão: use a Proposição 6.3.9 e o Exercı́cio 4.6 - 1.)
Proposição 6.4.5. Todo espaço topológico compacto e Hausdorff é normal e portanto T4 espaço.
Exemplo 6.4.7. Seja (S, σ) o espaço dado no Exemplo 6.3.5 (de Moore). Vimos que (S, σ) é regular.
Mostremos que (S, σ) não é normal. De fato, os conjuntos F1 = {(a, 0) : a ∈ Q} e F2 = {(a, 0) : a ∈
R − Q} são fechados, disjuntos e não existem vizinhanças abertas disjuntas G1 e G2 contendo F1 e
F2 , respectivamente, pois não se pode usar para cobrir F1 (F2 ) vizinhanças do tipo Vε (p, q), porque
elas não separam F1 e F2 . Assim, tem-se que cobrir F1 (F2 ) com vizinhanças Vε (a, 0) com a racional
(irracional, respectivamente). Mas, um disco tangente ao eixo Ox em um ponto irracional b deve
intersectar infinitos discos tangentes em pontos racionais.
Proposição 6.4.8. (S, σ) um espaço topológico. Se S é T3 espaço (ou seja, T2 espaço e regular) e e2 ,
então S é normal (e portanto T4 ).
Demonstração. Seja (S, σ) um espaço regular com base B enumerável (e2 espaço). Sejam F1 e
F2 subconjuntos de S fechados e disjuntos.
118
• Vejamos inicialmente que existe uma famı́lia {Gi , i ∈ N∗ } ⊆ B que cobre F1 e é tal que Gi ∩ F2 =
/ para todo i ∈ N∗ . De fato, da regularidade de S, para cada x ∈ F1 , existem abertos Ux e WxF2 tais
0,
que x ∈ Ux (i. é, Ux é vizinhança aberta de x), F2 ⊆ WxF2 e Ux ∩WxF2 = 0/ e, portanto, Ux ∩ F2 = 0.
/
Usando a Proposição 6.3.9, para x ∈ Ux existe Vx ∈ σ tal que x ∈ Vx ⊆ Vx ⊆ Ux . Como B é
base, existe Gx ∈ B, tal que x ∈ Gx ⊆ Vx e Gx ∩ F2 = 0/ (pois Gx ⊆ Vx ⊆ Ux ⊆ F2c ). Temos
∪
que F1 ⊆ x∈F1 Gx e FF1 := {Gx , x ∈ F1 } é um conjunto enumerável, visto que FF1 ⊆ B que é
∪
enumerável. Reindexando, temos FF1 = {Gi , i ∈ N∗ } ⊆ B, F1 ⊆ i∈N∗ Gi , e Gi ∩ B = 0, / ∀i ∈ N∗ .
• Analogamente, trabalhando com os elementos y ∈ F2 , o fechado F1 e usando a regularidade de S,
∪
obtemos uma famı́lia FF2 = {H j , j ∈ N∗ } de abertos básicos, tal que F2 ⊆ j∈N∗ H j e H j ∩ F1 = 0,
/
para todo j.
∪ ∪
• Considere os conjuntos G = i∈N∗ Gi e H = j∈N∗ H j . Temos que G e H são abertos, F1 ⊆ G,
F2 ⊆ H, mas G e H não são necessariamente disjuntos. Precisamos obter conjuntos abertos disjuntos
e e H
G e (contendo F1 e F2 , respectivamente). Para isto procede-se do seguinte modo: dado n, defina
∪
fn := Gn −
G Hk = Gn − (H1 ∪ ... ∪ Hn ),
k=1,...,n
∪
fn := Hn −
H Gk = Hn − (G1 ∪ ... ∪ Gn ),
k=1,...,n
e tome
∪ ∪
e=
G fn
G e e=
H fn .
H
n∈N∗ n∈N∗
•GeeH e são abertos, e F1 ⊆ G, e F2 ⊆ H e (F1 ⊆ G, e pois x ∈ F1 implica que existe n tal que x ∈ Gn e,
como H j ∩ F1 = 0,/ segue que x ∈ / H j , ∀ j ∈ N∗ , logo x ∈ Gfn ⊆ G.e Similarmente, tem-se F2 ⊆ H). e
• Ainda, G e e He são disjuntos, pois se z ∈ G e ∩ H,
e então existem n, m ∈ N∗ tais que z ∈ G fn e
z∈H fm . Suponhamos n ≤ m. Segue da definição de G fn que z ∈ Gn e, visto que n ≤ m, segue da
fm que z ∈
definição de H / Gn (pois z ̸∈ G1 ∪ ... ∪ Gn ∪ ... ∪ Gm ), o que nos dá uma contradição. O caso
n ≥ m é similar.
Assim, G eeH e são abertos disjuntos, contendo F1 e F2 , respectivamente, e portanto S é normal.
6.4.1 Exercı́cios
1) Prove que subespaço fechado de um espaço normal é normal.
3) Mostre que todo espaço compacto e de Hausdorf é normal e T4 espaço, ou seja, prove a
Proposição 6.4.5. (Sugestão: usar o fato que todo fechado num compacto é compacto e o
Exercı́cio 4.1.1 - 4.)
separa pontos se para qualquer par de pontos distintos a, b em S existe uma aplicação f ∈ U tal
que f (a) ̸= f (b). Se (S, σ) é T7 (completamente regular e T1 ) mostre que o conjunto C (S, R)
2
de todas as aplicações continuas de S em R separa pontos. (Lipschultz [17], Cap. 10, Teor.
10.11, p. 189.)
5) Prove que o fecho de um conjunto compacto K num espaço regular (S, σ) é compacto.
∪
(Sugestão: suponha K ⊆ λ∈J Uλ , Uλ ∈ σ. Para cada x ∈ K, x ∈ Uλ , para algum λ e pela
regularidade existe Vλx ∈ σ; x ∈ Vλx ⊆ Vλx ⊆ Uλ . Então a cobertura {Vλx , x ∈ K, λ ∈ J} do
compacto K tem uma subcobertura finita, em seguida tome o fecho dessa cobertura.)
8) Dê um exemplo de um espaço normal que não é completamente normal. (Sugestão: use o item
a, do exercı́cio anterior, e o fato que normalidade não é propriedade hereditária - Observação
6.4.6 - v).
A função será então definida a partir desses abertos. Seja G = Bc . Como B é fechado, G ∈ σ, e
A ⊆ G, pois A ∩ B = 0. / Sendo S normal, pela Proposição 6.4.4 (para o fechado A e o aberto G),
existe U 1 ∈ σ de modo que
2
A ⊆ U 1 ⊆ U 1 ⊆ Bc .
2 2
Usando novamente a Proposição 6.4.4, agora para A ⊆ U 1 e U 1 ⊆ Bc , segue que existem abertos
2 2
U 1 e U 3 tais que
4 4
A ⊆ U 1 ⊆ U 1 ⊆ U 1 ⊆ U 1 ⊆ U 3 ⊆ U 3 ⊆ Bc .
4 4 2 2 4 4
Claramente f (S) ⊆ [0, 1], f (A) = {0}, pois x ∈ A implica x ∈ Ut , para todo t ∈ D, e in f D = 0, e
f (B) = {1}, visto que B ⊆ Ut c , ∀t ∈ D.
Resta provar que f é contı́nua. Como os intervalos da forma [0, b[ e ]a, 1], 0 < a, b < 1,
constituem uma sub-base para a topologia usual de [0, 1], é suficiente mostrar que f −1 ([0, b[) e
f −1 (]a, 1]) são abertos de S. Mas, para 0 < a, b < 1, tem-se
∪
(i) f −1 (]a, 1]) =
c
Ut ,
t>a, t∈ D
∪
(ii) f −1 ([0, b[) = Ut ,
t<b, t∈D
Seja x ∈ f −1 (]a, 1]), então f (x) ∈ ]a, 1]. Como D é denso em [0, 1], existem t1 ,t2 ∈ D, tais que
a < t1 < t2 < f (x). Daı́, x ̸∈ Ut2 , pois [x ∈ Ut2 ⇒ f (x) = inf{t ∈ D; x ∈ Ut } ≤ t2 ]. Temos também
c ∪ c
que x ̸∈ Ut1 , visto que t1 < t2 ⇒ Ut1 ⊆ Ut2 . Logo x ∈ Ut1 e assim x ∈ t>a U t , pois t1 > a.
∪
Portanto f −1 (]a, 1]) ⊆ t>a, t∈D U t .
c
∪ c c
Para a inclusão contrária, considere z ∈ t>a, t∈D U t . Então existe tz ∈ D, tz > a, tal que z ∈ U tz .
Consequentemente, z ̸∈ Ut , ∀t ≤ tz , porque Ut ⊆ Utz (assim, se existir t ∈ D tal que z ∈ Ut , devemos
ter t > tz ). Se f (z) = 1, então claramente z ∈ f −1 (]a, 1]). Caso contrário, f (z) = inf{t ∈ D; z ∈
Ut } ≥ tz > a, de modo que f (z) ∈ ]a, 1] e z ∈ f −1 (]a, 1]).
A verificação de (ii) é similar, o que conclui a prova do lema.
Definição 6.5.2. Uma função f : S → [0, 1], como no lema anterior, é chamada função de Urysohn
do par (A, B).
Proposição 6.5.3. Um espaço (S, σ) é normal se, e somente se, para todos A e B fechados disjuntos
de S, existe f : S → [a, b] contı́nua tal que f (A) = {a} e f (B) = {b}.
Definição 6.5.4. Sejam X um conjunto não vazio, Y um espaço topológico, ( fn )n∈N∗ uma sequência
de aplicações fn : X → Y , e f : X → Y uma aplicação.
Dizemos que a sequência ( fn )n∈N∗ converge simplesmente ou pontualmente para f se, para cada
x ∈ X, a sequência, de pontos de Y, ( fn (x))n converge para f (x), em Y . Em particular, quando (Y, d)
é um espaço métrico, a sequência ( fn )n∈N∗ converge simplesmente para f se, para todo ε > 0, e cada
x ∈ X, existe n0 ∈ N tal que n > n0 ⇒ d( fn (x), f (x)) < ε.
Se (Y, d) é um espaço métrico, dizemos que a sequência ( fn )n∈N∗ de aplicações de X em Y converge
uniformemente para f : X → Y se, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N tal que
u
Neste caso denotaremos fn → f .
u
Observação 6.5.5. Se fn → f , então fn → f simplesmente, mas a recı́proca não é verdadeira. Por
exemplo, a sequência de funções ( fn )n , com fn : [0, 1] → [0, 1]; x 7→ xn , converge simplesmente para
a função f : [0, 1] → [0, 1] definida por f (x) = 0, se 0 ≤ x < 1, e f (1) = 1, mas não converge
uniformemente para f . (Verifique!).
Proposição 6.5.6. Sejam X um espaço topológico, Y um espaço métrico, ( fn )n∈N∗ uma sequência de
u
aplicações de X em Y e f : X → Y uma aplicação. Se fn é contı́nua para todo n ∈ N∗ e fn → f ,
então f é contı́nua.
122
u
Demonstração. Seja x0 ∈ X. Dado ε > 0, como fn → f , existe n0 ∈ N∗ tal que n > n0 implica
d( fn (x), f (x)) < 3ε , para todo x ∈ X. Seja m um inteiro (fixado), com m > n0 . Como fm é contı́nua
em x0 , existe um aberto G de X, com x0 ∈ G tal que para todo x ∈ G, tem-se d( fm (x), fm (x0 )) < 3ε .
Assim, para todo x ∈ G, f (x) ∈ B( f (x0 ), ε), pois
ε ε ε
d( f (x), f (x0 )) ≤ d( f (x), fm (x)) + d( fm (x), fm (x0 )) + d( fm (x0 ), f (x0 )) < + + = ε.
3 3 3
Demonstração. Se f é uma aplicação constante, ou seja, f (x) = c, para todo x em F, tome φ como a
aplicação constante φ(x) = c, para todo x em S.
Suponhamos f não constante e que [a, b] é o menor (com relação a inclusão) intervalo fechado
que contém a imagem de f . Podemos supor, sem perda de generalidade, que a = −1 e b = 1.
A idéia da prova é definir uma sequência de funções contı́nuas sn : S → [−1, 1] que converge
uniformemente para uma função φ : S → [−1, 1] que restrita a F coincide com f .
Para tanto vamos inicialmente definir uma sequência de funções contı́nuas ( fi ) definidas em F e
uma sequência de funções contı́nuas (gi ) definidas em S (i ∈ N∗ ), da seguinte forma:
• Tome f0 = f : F → [−1, 1] e considere
{ } { }
1 −1 1 1 1
A0 = x ∈ F : f0 (x) ≤ − = f ([−1, − ]); B0 = x ∈ F : f0 (x) ≥ = f −1 ([ , 1]).
3 3 3 3
Temos A0 ∩ B0 = 0/ e A0 , B0 são fechados não vazios em S, pois são fechados em F (visto que f é
contı́nua) e F é fechado de S. Pelo Lema de Urysohn (e Proposição 6.5.3) existe
[ ] { } { }
1 1 1 1
g0 : S → − , ⊆ [−1, 1], contı́nua, tal que g0 (A0 ) = − e g0 (B0 ) =
3 3 3 3
Assim obtemos, como antes, A1 e B1 , subconjuntos fechados de S disjuntos e não vazios. Pelo Lema
123
de Urysohn existe
[ ] { } { }
1 2 1 2 1 2 1 2
g1 : S → − · , · ⊆ [−1, 1] contı́nua, com g1 (A1 ) = − · e g1 (B1 ) = · ,
3 3 3 3 3 3 3 3
segue que a série infinita de funções ∑∞ i=0 gi (x) converge (uniformemente), pois seus termos são
( 2 )n
limitados pelos termos da série numérica/geométrica convergente ∑∞ n=0 3 · 3
1
que converge para
1 1
3 ( 1− 2 ) = 1 (Critério de Weierstrass).
3
Tome φ(x) := lim sn (x). Temos que φ(x) = lim sn (x) = ∑∞ i=0 gi (x) define uma função contı́nua
(visto que sn converge uniformemente para φ), e |φ(x)| ≤ 1.
Vejamos que φ = f em F, isto é φ|F = f , e assim φ é extensão contı́nua de f ao espaço S. Da
construção (e do fato que f0 = f ) temos que, para todo x ∈ F,
2
| f (x) − sn (x)| = | f (x) − (g0 + g1 + g2 + · · · + gn−1 )(x)| = | fn (x)| ≤ ( )n .
3
Observação 6.5.9. O Teorema da Extensão de Tietze não é verdadeiro se a hipótese de fechado for
suprimida. Por exemplo, a função f : ]0, 1[ → R, dada por f (x) = sen 1x não admite extensão
124
é um subespaço de H (exercı́cio). Tal espaço (métrico) é denominado Cubo de Hilbert. (Note que H
é um espaço vetorial por considerar (an ) + (bn ) := (an + bn ) e λ(an ) := (λan ).)
Observação 6.5.11. Em geral, chama-se espaço de Hilbert a todo espaço vetorial E, munido de um
produto interno < x, y > e “completo” (vide capı́tulo seguinte) relativamente a métrica que provém
√
da norma ∥x∥ = < x, x >. Pode-se mostrar (Lima [14], Cap. 6, Exemplo 11, p. 154), que o ℓ2 -
espaço (vetorial) H é um espaço completo, de modo que H é um espaço de Hilbert.
Teorema 6.5.12 (Teorema da Imersão ou Metrização de Urysohn). Seja (S, σ) um espaço topológico.
Se S é e2 , T2 e normal, então S é metrizável, de fato existe um homeomorfismo f de S em um
subespaço (metrizável) do ℓ2 - espaço H, mais especificamente em um subespaço do cubo de
Hilbert I.
Demonstração. Se S é finito a afirmação é verdadeira, pois todo T2 espaço finito S = {x1 , x2 , ..., xk }
é discreto já que {xk } é um conjunto aberto porque é o complementar de {x1 , x2 , ..., xk−1 } que é
fechado. O mesmo vale para os demais xi , i = 1, ..., k − 1, e se S é discreto então S é metrizável (com
a métrica d01 ). Ainda, S é homeomorfo a qualquer subconjunto finito de I com número equivalente
de pontos.
Suponhamos S infinito. Como S é e2 , existe G = {G1 , G2 , G3 , . . .} base enumerável de abertos
para a topologia de S. Dados G j e x ∈ G j , como S é regular (pois T2 e normal implica em regular),
existe Gi ∈ G tal que x ∈ Gi ⊆ Gi ⊆ G j .
O conjunto dos pares (Gi , G j ) tais que Gi ⊆ G j é enumerável, infinito e pode ser escrito
como uma sequência P1 , P2 , P3 , . . .. Notemos que Gi ⊆ G j implica que Gi e S − G j = (G j )c são
fechados disjuntos. Pelo Lema de Urysohn, para cada par ordenado Pn = (Gi , G j ), existe uma função
real contı́nua fn : S → [0, 1] tal que fn (Gi ) = {0} e fn (S − G j ) = {1}. Para cada x ∈ S, definimos
2
Como ∑ n12 converge, e [ fnn(x) ]2 ≤ n12 (já que Im fn ⊆ [0, 1]), segue que a série de funções ∑∞ fn (x)
n=1 n2
converge (uniformemente) e portanto f (x) ∈ H, para cada x ∈ S. Notemos que f (x) ∈ I visto que
fn (x)
n ≤ n , e assim temos bem definida uma função f : S → I ⊆ H.
1
∞ n0
| fn (x) − fn (x0 )|2 | fn (x) − fn (x0 )|2 | fn (x) − fn (x0 )|2
∥ f (x) − f (x0 )∥2 = ∑ n2
= ∑ n2
+ ∑ n2
n=1 n=1 n>n0
n0
| fn (x) − fn (x0 )|2 ε2
< ∑ n2
+
2
.
n=1
Pela continuidade das funções fn : S → [0, 1], para cada n = 1, 2, . . . , n0 , existe uma vizinhança Wn
de x0 tal que
| fn (x) − fn (x0 )| 2 ε2
x ∈ Wn ⇒ < .
n 2n0
∩n0
Tomando W = n=1 Wn , tem-se
ε2 ε2
x ∈ W ⇒ ∥ f (x) − f (x0 )∥2 < n0 . + = ε2 ,
2n0 2
∞ ( )2
| fn (x) − fn (x0 )|2 1
∥y − y0 ∥ = ∥ f (x) − f (x0 )∥ < δ ⇒ ∑ 2
= ∥ f (x) − f (x0 )∥2 < δ2 < ⇒
n=1 n 2n0
( )2
| fn0 (x) − fn0 (x0 )|2 1 1
⇒ < ⇒ | fn0 (x) − fn0 (x0 )| < .
n0 2 2n0 2
126
Dado que x0 ∈ Gi , fn0 (x0 ) = 0 e então | fn0 (x)| < 12 . Visto que fn0 (Gcj ) = {1}, concluimos que
/ Gcj , logo x = f −1 (y) ∈ G j , como desejado. Assim f −1 : f (S) → S é contı́nua.
x∈
Portanto temos um homeomorfismo de S num subespaço de I que é um espaço metrizável, de
modo que S é metrizável, o que conclui a prova.
6.5.1 Exercı́cios
1) Demonstre o Lema de Urysohn admitindo o Teorema de Tietze.
2) Mostre que um espaço (S, σ) é normal se, e somente se, para todos A e B fechados disjuntos de
S, existe f : S → [a, b] contı́nua tal que f (A) = {a} e f (B) = {b}.
4) Seja (S, σ) um espaço topológico normal. Mostre que, neste caso, (S, σ) é regular se, e somente
se, é completamente regular. (Lipschutz [17], Cap.10, Exerc. 37, p. 198.) Recordemos
que a afirmação “completamente regular implica regular” é verdadeira para qualquer espaço
topológico - vide Exercı́cio 6.3.1 -7. (Sugestão: (⇒) Dado p ∈
/ F, existem abertos disjuntos G1
c
e G2 tais que p ∈ G1 e F ⊆ G2 . Use o Lema de Urysohn para os fechados U2 e F.)
5) Seja X um espaço compacto e Hausdorff. Prove que X é metrizável se, e somente se, X é
e2 espaço. (Sugestão: (⇒) use que “espaço métrico compacto é separável” e que “métrico
separável é e2 ”. (⇐) use que “espaço topológico compacto e de Hausdorff é normal” e o
Teorema de Metrização de Urysohn.)
6) Sabemos que todo espaço métrico é normal e também que um espaço normal e de Hausdorff
com base enumerável é metrizável. Dê um exemplo de um espaço normal que não é metrizável.
/ {1, 2}, {3, 4}, S}.)
(Sugestão: S = {1, 2, 3, 4}; τ = {0,
7) Verifique que a sequência de funções fn : [0, 1] → [0, 1], fn (x) = xn converge simplesmente para
f : [0, 1] → [0, 1], definida por f (x) = 0, se 0 ≤ x < 1, e f (1) = 1, mas que a convergência não
é uniforme (Observação 6.5.5).
127
Observação 6.6.2.
i) Claramente toda famı́lia finita F de subconjuntos de um espaço topológico S é localmente finita.
ii) Uma cobertura qualquer {Ai }i∈I de S é localmente finita se para todo p ∈ S, existe um aberto Vp
de S (contendo p) tal que Vp ∩ Ai ̸= 0/ para um número finito de i ∈ I.
iii) Em R, F = {]n, n + 3[: n ∈ Z} é uma famı́lia que é uma cobertura localmente finita de R.
iv) Em (R, σco f ) a famı́lia de todos os conjuntos abertos não é localmente finita.
v) Se B = {B1 , B2 , ...} é uma base enumerável então B é enumeravelmente localmente finita, pois
∪
B = n∈N∗ Fn , com Fn = {Bn } localmente finita (unitária).
Como sabemos, um espaço métrico pode não ter base enumerável (não ser e2 espaço), mas todo
espaço métrico tem uma base enumeravelmente localmente finita, como afirmado no resultado abaixo.
Demonstração. Vide Munkres [20], Cap. 6, Teorema 40.3, §40, p. 250. Lembrar que em Munkres,
‘regular’ significa ‘regular e T1 espaço (todo subconjunto unitário é fechado)’.
128
Definição 6.6.4. Seja (S, σ) um espaço topológico. Considere F = {Ai }i∈I e F ′ = {B j } j∈J duas
famı́lias de subconjuntos de S. Diz-se que F ′ é um refinamento de F se: ∀ B ∈ F′ , ∃ A ∈ F tal
que B ⊆ A. Se os elementos de F ′ são conjuntos abertos, F ′ é chamado um refinamento aberto de
F (idem para fechados).
Exemplo 6.6.5. Se uma famı́lia F = {Ai }i∈I é uma cobertura de um espaço topológico S então,
claramente, F ′ = {{p}, p ∈ S} é um refinamento de F (não necessariamente aberto).
Definição 6.6.9. Um espaço topológico (S, τ) é localmente metrizável se cada ponto p ∈ S tem uma
vizinhança Wp que (considerada como subespaço topológico de S) é um espaço metrizável.
Teorema 6.6.11. (Teorema de Metrização de Smirnov) Um espaço topológico (S, τ) é metrizável se,
e somente se, (S, τ) é paracompacto, Hausdorff e localmente metrizável.
Demonstração. A referência aqui também é Munkres [20], vide Cap. 6, §42, Teorema 42.1, p. 261.
(⇒) Se (S, τ) é metrizável então (S, τ) é de Hausdorff e localmente metrizável, como já observamos.
Agora, “se (S, τ) é metrizável então (S, τ) é paracompacto” ([20], Cap. 6, §41, Teorema 41.4, p. 257).
(⇐) Supondo X paracompacto de Hausdorff e localmente metrizável prova-se que X tem uma base
enumeravelmente localmente finita. Tem-se também que todo espaço paracompacto de Hausdorff é
normal/regular ([20], Cap. 6, §41, Teorema 41.1, p. 253). Daı́ o espaço é regular, T1 (visto que é
Hausdorff) e tem uma base enumeravelmente localmente finita, logo é metrizável pelo Teorema de
Metrização de Nagata-Smirnov.
Capı́tulo 7
“Um matemático que não tenha também algo de poeta, jamais será um
matemático completo.”
(Weierstrass)
7.1 Introdução
Neste capı́tulo os espaços considerados serão sempre espaços métricos (M, d), e se for
mencionado apenas “M um espaço métrico” subentende-se que sobre M está sendo considerada uma
métrica d.
Exemplo 7.2.2. A sequência (xn )n = (1/n)n é de Cauchy em R com a métrica usual. Se Consideramos
o subespaço M = ]0, 1], essa sequência também é de Cauchy em M.
(i) Uma sequência (xn )n∈N∗ em M é uma sequência de Cauchy se, e somente se, lim d(Xn ) = 0,
n→∞
onde d(Xn ) indica o diâmetro de Xn = {xn , xn+1 , xn+2 , . . .} .
(iv) Se uma subsequência de uma sequência de Cauchy em M converge para um ponto, então a
sequência converge para este ponto.
130
131
(vi) Seja N um espaço métrico. A imagem de uma sequência de Cauchy em M por uma aplicação
uniformemente contı́nua f : M → N é uma sequência de Cauchy em N.
Demonstração. (i) Suponhamos que (xn )n∈N∗ seja uma sequência de Cauchy. Então, para todo ε > 0,
existe n0 ∈ N∗ , tal que m, n > n0 implica d(xn , xm ) < ε. Assim, se n > n0 , então d(Xn ) = sup{d(xi , x j ) :
xi , x j ∈ Xn } < ε, de modo que lim d(Xn ) = 0. Reciprocamente, se lim d(Xn ) = 0, dado ε > 0, existe
n0 ∈ N∗ tal que n > n0 implica d(Xn ) = sup{d(xi , x j ) : xi , x j ∈ Xn } < ε, ou seja, para m, n > n0 ,
d(xm , xn ) ≤ d(Xn ) < ε e a sequência (xn ) é uma sequência de Cauchy.
(ii) Para ε = 1, existe n0 ∈ N∗ tal que d(xm , xn ) < 1 se m, n > n0 . Sejam a = sup{d(xn , xm ), n, m ≤ n0 },
b = d(xn0 , xn0 +1 ), e k = a + b + 1. Então, dados n, m ≥ 1, se n, m ≤ n0 , d(xn , xm ) ≤ a ≤ k; se
m, n > n0 , d(xn , xm ) < 1 ≤ k e, para n ≤ n0 e m > n0 , tem-se
Portanto, d(X) ≤ k, para X = {x1 , x2 , ...}, e assim a sequência (xn )n∈N∗ é limitada.
(iii) Imediata.
(iv) Sejam (xn ) uma sequência de Cauchy em M e (xnk ) uma subsequência de (xn ) que converge para
x ∈ M. Então, dado ε > 0, existe n1 ∈ N∗ tal que m, n > n1 implica d(xm , xn ) < 2ε e existe n2 ∈ N∗
tal que nk > n2 implica d(xnk , x) < 2ε . Considere n0 = max{n1 , n2 } e um elemento nk , com nk > n0 .
Então, para todo n > n0 , temos
ε ε
d(xn , x) < d(xn , xnk ) + d(xk , x) < + = ε.
2 2
Portanto lim xn = x.
(v) Se (xn ) converge para x ∈ M, então, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N∗ tal que n > n0 implica
d(xn , x) < 2ε . Assim, para todo ε > 0, existe n0 ∈ N∗ tal que se m, n > n0 , então
ε ε
d(xm , xn ) ≤ d(xm , x) + d(x, xn ) < + = ε.
2 2
Observação 7.2.4. Se f : M → N é uma aplicação continua entre dois espaços métricos e (xn )n é
uma sequência de Cauchy em M não podemos garantir que ( f (xn ))n seja uma sequência de Cauchy
em N. Tome, por exemplo, f : R − {0} → R; f (x) = 1/x e (xn )n = (1/n)n . Tem-se que f é contı́nua,
(xn )n é de Cauchy, mas ( f (xn ))n = (n)n não é de Cauchy.
Demonstração. Se (xn ) é uma sequência de Cauchy em M, com M compacto, então (xn ) admite uma
subsequência convergente para um ponto de M (pois um espaço métrico M é compacto se, e somente
se, é sequencialmente compacto). Deste modo, pelo item (iv) da Proposição 7.2.3, (xn ) é convergente
e portanto (M, d) é completo.
Observação 7.3.4. A recı́proca do resultado anterior obviamente não é verdadeira. Como veremos
abaixo, R é completo, mas não é compacto. No Exercı́cio 7.3.1-1, ao final desta seção, é dada uma
recı́proca parcial (considera-se M completo e “totalmente limitado”).
Demonstração. Seja (xn ) uma sequência de Cauchy em R. Mostremos que (xn ) tem uma
subsequência convergente e, com isso, a própria sequência será convergente. De fato, se (xn ) é de
Cauchy, então (xn ) é limitada. Se o conjunto dos termos da sequência A = {xn : n ∈ N∗ } é finito,
a sequência contém uma subsequência constante, que é convergente.
[ Suponhamos
] A infinito.
[ Como]
a1 +b1 a1 +b1
A é limitado, A ⊆ [a1 , b1 ] = I1 . Como A é infinito, A ∩ a1 , 2 ou A ∩ 2 , b 1 é
infinito. Seja[ I2 = [a2], b2 ] um dos
[ dois intervalos
] que contenha infinitos pontos de A. Da mesma
a2 +b2 a2 +b2
forma, A ∩ a2 , 2 ou A ∩ 2 , b2 é infinito. Denotamos por I3 um destes intervalos que
contém infinitos pontos de A. Desta maneira, obtemos uma sequência I1 ⊇ I2 ⊇ I3 ⊇ · · · ⊇ In ⊇ · · ·
decrescente de intervalos fechados tais que cada In contém infinitos pontos de A e lim d(In ) = 0
(diâmetro de In ).
133
Pelo Princı́pio dos Intervalos Encaixados (cuja demonstração será dada abaixo), existe x ∈
∩
n∈N∗ In e x é ponto de acumulação de A, pois dado qualquer conjunto aberto G contendo x, existe
∩
ε > 0 tal que ]x − ε, x + ε[ ⊆ G. Por outro lado, como lim d(In ) = 0 e x ∈ n∈N∗ In , existe n0 ∈ N∗
tal que d(In0 ) < ε e In0 ⊆ ]x − ε, x + ε[ ⊆ G, de modo que G contém infinitos pontos de A, visto que
In0 tem infinitos pontos de A. O ponto x será limite de uma subsequência de (xn ) e, consequentemente,
a sequência (xn ) (que é de Cauchy) converge.
Resta a verificação do Princı́pio dos Intervalos Encaixados, isto é: se In = [an , bn ], n ∈ N∗ , são
intervalos fechados não vazios de R tais que tais que I1 ⊇ I2 ⊇ I3 ⊇ · · · ⊇ In ⊇ · · · e lim d(In ) = 0,
∩
então n∈N∗ In ̸= 0. / Com efeito, como I1 ⊇ I2 ⊇ I3 ⊇ · · · ⊇ In ⊇ · · · , devemos ter a1 ≤ a2 ≤ · · · ,
b1 ≥ b2 ≥ · · · , e an ≤ bm , para todos n, m ∈ N∗ (pois fixado m, se n ≤ m, an ≤ am ≤ bm , e se m ≤ n,
an ≤ bn ≤ bm ). Seja x = sup{ai : i ∈ N∗ }. Temos an ≤ x e x ≤ bn , para todo n ∈ N∗ , de modo que
∩
x ∈ In , para todo n ∈ N∗ . Assim x ∈ n∈N∗ In .
Observação 7.3.6. De fato pode-se provar que um espaço métrico M é completo se, e e somente
se, toda sequência encaixada de conjuntos fechados não vazios, cujo diâmetros tendem a zero, tem
interseção não vazia. (Vide Lipschutz [17], Cap. 14, Teor. 14.2, p. 254.)
Proposição 7.3.7. O produto finito de espaços métricos M = M1 ×· · ·×Mm é completo se, e somente
se, cada um dos fatores Mi é completo. Em consequência Rm , m ≥ 2, é completo.
Demonstração. Um sequência no produto cartesiano é uma sequência de Cauchy se, e somente se,
cada coordenada é uma sequência de Cauchy. Também, uma sequência no produto é convergente
se, e somente se, a sequência em cada coordenada é convergente. O resultado segue dessas duas
afirmações.
Proposição 7.3.8. Seja F um subespaço de um espaço métrico completo M. Então F é completo se,
e somente se, F é fechado.
Demonstração. Suponhamos F completo. Seja x ∈ F. Então existe uma sequência (xn ) em F que
converge para um ponto x ∈ F ⊆ M. Como (xn ) é convergente, (xn ) é de Cauchy em M e portanto,
também de Cauchy em F. Logo essa sequência converge para um ponto a ∈ F, visto que por hipótese
F é completo. Pela unicidade do limite (em espaços métricos), temos a = x, logo x ∈ F e portanto
F = F é fechado.
Reciprocamente, se F é fechado, seja (xn ) uma sequência de Cauchy em F. Em particular, (xn )
é de Cauchy em M, e como M é completo, (xn ) converge para x ∈ M. Assim x ∈ F = F, pois F é
fechado. Portanto F é completo.
Observação 7.3.9. i) Ser completo não é propriedade topológica. Por exemplo, os espaços
] − 1, 1[ e R com métricas usuais são homeomorfos, R é completo, porém ] − 1, 1[ não é.
ii) Se f : M → N é um homeomorfismo uniforme e M completo então N é completo, ou seja ser
completo é propriedade uniforme (vide Exercı́cio 7.3.1-3). Em particular, se duas métricas d1 e d2
134
em M são uniformemente equivalentes, (M, d1 ) é completo se, e somente se, (M, d2 ) é completo. Isto
ocorre, por exemplo, para d uma métrica qualquer em M e d(x, y) = min {d(x, y); 1}.
iii) Um produto qualquer de espaços métricos completos não é necessariamente um espaço métrico
completo, de fato o produto qualquer de espaço métricos pode nem ser um espaço métrico (vide
Munkres [20], Cap. 2, §21, Exemplo 2, p. 133). A metrizabilidade para o caso de produto finito
de espaços métricos foi tratada no Exemplo 2.7.3, e para um produto enumerável vide Lima [14]
(Cap. 9, §3, Prop. 6, p. 247).
7.3.1 Exercı́cios
1) Seja (M, d) um espaço métrico. Mostre que M é compacto se, e somente se, M é completo
e totalmente limitado. (Sugestão: (⇐) mostre que M é sequencialmente compacto e assim
compacto. Para tanto mostre primeiro que se (xn ) é uma sequência em um espaço métrico
totalmente limitado então ela possui uma subsequência de Cauchy, depois use que M é
completo. Para obter uma tal subsequência (no caso em que A = {xn , n ∈ N∗ } é infinito) note
que para ε = 1, existe uma bola B1 = Bd (pi , 1) da 1 − rede (do conjunto totalmente limitado M)
que contém infinitos elementos de A. Considere o conjunto infinito N1 = {n ∈ N∗ : xn ∈ B1 },
observe que para ε = 1/2, existirá uma bola B2 = Bd (q j , 1/2) da 1/2 − rede que contém
infinitos elementos de N1 , seja N2 = {n ∈ N1 : xn ∈ B2 }, continue assim para obter Nk para cada
1/k. Tome então xnk , com nk ∈ Nk , e nk−1 < nk ). (Lipschutz [17], Cap. 14, Exerc. 20, p. 264.)
2) Seja A um subespaço de um espaço métrico completo. Mostre que A é compacto se, e somente
se A é fechado e totalmente limitado. Em particular, A é compacto se, e somente se, A é
totalmente limitado. (Lipschutz [17], Cap. 14, Exerc. 21, p. 265.)
4) Seja M um espaço métrico completo e f : M → M uma contração (i. é, f satisfaz d( f (x), f (y))
≤ c.d(x, y), ∀ x, y ∈ M, com 0 < c < 1). Então f admite um único ponto fixo p (ou seja,
existe p ∈ M tal que f (p) = p). Esse ponto pode ser obtido como o limite da sequência
(x0 , f (x0 ), f ( f (x0 )), ...), para qualquer ponto x0 em M. (Domingues [4], Cap. VII, §4, Teor.
2, p. 154.)
Tal construção quando aplicada ao conjunto dos números racionais com a métrica usual, fornece
o conjunto dos números reais, de modo que se obtém uma construção do conjunto dos números reais
a partir do conjunto dos números racionais.
Observação 7.4.1. É fácil ver que toda imersão isométrica f : M → N é uma aplicação injetora
e uniformemente contı́nua. Consequentemente, f : M → f (M) será um homeomorfismo uniforme
(uma vez que a inversa também será uma imersão isométrica). Em particular toda isometria é um
homeomorfismo uniforme.
b db ), f ), também
Definição 7.4.2. Um completamento de um espaço métrico (M, d) é um par ((M,
b f ), tal que:
denotado simplesmente por (M,
b é um espaço métrico completo,
b d)
(1) (M,
b é uma imersão isométrica e,
(2) f : M → M
b
(3) f (M) é um subconjunto denso de M.
b = [0, 1] com f : M → M
Exemplo 7.4.3. 1) Se M = ]0, 1[ com a métrica usual, então M b a inclusão e
db a métrica usual é um completamento de M.
2) Considere Q com a métrica usual. Tomando f : Q → R como sendo a inclusão, obtemos o
b = R de Q.
completamento Q
b := M e f : M → M
3) Se M é completo, então M b a identidade é um completamento de M.
b f ) e (M,
Proposição 7.4.5. Sejam (M, e g) completamentos de um espaço métrico. Então existe uma
b→M
única isometria φ : M e tal que φ ◦ f = g.
Demonstração. Seja x ∈ M. b Como f (M) é denso em M, b existe uma sequência (yn ) em f (M) tal
que yn → x, e yn = f (xn ), com xn ∈ M, cada n. Como f é imersão isométrica, e f (xn ) → y, a
sequência (xn ) de M é de Cauchy. Definimos φ(x) = lim g(xn ). O limite existe, pois, como (xn ) é
de Cauchy e g é imersão isométrica, segue que g(xn ) é uma sequência de Cauchy em M e e, por ser
Me completo, a sequência converge. Para a unicidade, observe que se φ e ψ são isometrias (de M b
e tais que φ ◦ f = g e ψ ◦ f = g então as restrições φ| f (M) = ψ| f (M) e, como f (M) é denso
em M)
em M,b segue-se que φ = ψ.
136
/ A = M e toda
Proposição 7.4.6. Seja (M, d) um espaço métrico. Se existe A ⊆ M tal que A ̸= 0,
sequência de Cauchy de A converge em M, então M é completo.
Demonstração. Seja (xn ) uma sequência de Cauchy em M. Vamos obter uma sequência de Cauchy
em A “próxima” de (xn ). Para todo ε > 0, existe n0 , tal que m, n ≥ n0 implica d(xm , xn ) <
ε/3. Como A é denso em M, xk ∈ A, para cada k, e portanto, B(xk , 1/k) ∩ A ̸= 0, / assim existe
ak ∈ A; d(xk , ak ) < 1/k. Daı́ existe k0 (k0 > max{n0 , 3/ε}), tal que m, n ≥ k0 implica d(am , an ) ≤
d(am , xm )+d(xm , xn )+d(xn , an ) < ε. Por hipótese (an ) converge para um ponto p ∈ M e, facilmente,
prova-se que (xn ) também converge para p.
Demonstração. • Construção de M b
b e d.
Sejam (M, d) um espaço métrico e C o conjunto de todas as sequências de Cauchy de M. Em C
definimos a relação: duas sequências (xn ) e (yn ) estão relacionadas, e escrevemos (xn ) R (yn ), se
lim d(xn , yn ) = 0. Essa relação resulta numa relação de equivalência sobre C. Seja M b = C/R o
n→∞
conjunto quociente e denote (xn ) a classe de equivalência de um elemento (xn ) de C. Assim, dados
b podemos definir
α = (xn ) e β = (yn ) em M,
db: M
b ×M b β) = d((x
b → R; d(α, b n ), (yn )) := lim d(xn , yn ).
n→∞
Essa aplicação está bem definida e é uma métrica no conjunto M b (exercı́cio). Para concluir que a
sequência (dn )n := (d(xn , yn ))n converge use o fato que: (xn )n e (yn )n sequências de Cauchy
em M implica (dn )n sequência de Cauchy em R (visto que |dn − dm | = |d(xn , yn ) − d(xm , yn ) +
d(xm , yn ) − d(xm , ym )| ≤ |d(xn , yn ) − d(xm , yn )| + |d(xm , yn ) − d(xm , ym )| ≤ d(xn , xm ) + d(yn , ym )),
e que R é completo. Ainda, d(xn , yn ) ≥ 0 para todo n, implica que o limite também é maior ou
igual a zero. A definição não depende dos representantes das classes, pois se α = (xn ) = (xn′ ) e
β = (yn ) = (y′n ), então lim d(xn , xn′ ) = 0 e lim d(yn , y′n ) = 0, donde segue que d((x b ′ ), (y′ )) =
n n
′ ′ ′ ′ ′ ′ b
limn→∞ d(xn , yn ) = limn→∞ [d(xn , xn ) + d(xn , yn ) + d(yn , yn )] ≥ lim d(xn , yn ) = d((xn ), (yn )), e, de
maneira análoga, d((xb n ), (yn )) ≥ d((x
b ′ ), (y′ )), e assim obtém-se a igualdade.
n n
b
Agora, pode-se verificar que d é uma métrica sobre M b (exercı́cio), assim, (M, b é um espaço métrico.
b d)
Corolário 7.4.8. Todo espaço métrico possui um único completamento, a menos de isometria.
Proposição 7.5.2. Sejam (S, σ) um espaço topológico e A ⊆ S. Então A é magro em S se, e somente
∪
se, A ⊂ n∈N∗ Fn , com Fn fechado e (Fn )◦ = 0,
/ para todo n ∈ N∗ .
∪
Demonstração. (⇒) Por hipótese A é magro em S. Assim, A = n∈N∗ An , com (An )◦ = 0,
/ para todo
∗ ∪ ∪
n ∈ N . Daı́, A = n∈N∗ An ⊂ n∈N∗ An , e portanto basta tomar Fn = An .
∪
(⇐) Suponhamos agora A ⊂ n∈N∗ Fn , com Fn fechado e (Fn )◦ = 0, / para todo n ∈ N∗ . Tome An = Fn ∩
o ∪
A. Então (An )◦ = 0,
/ para todo n ∈ N∗ , (pois (An )◦ ⊆ (Fn ∩ A)o = (Fn )◦ ∩ A = 0)
/ e A = n∈N∗ An .
Exemplo 7.5.3. 1) Todo subconjunto enumerável A = {a1 , a2 , ....} num espaço de Hausdorff S, sem
∪
pontos isolados é magro. Isto segue do fato que A = n {an } com {an } = {an } e ({an })◦ = 0,
/ uma
vez que S é Hausdorff e os pontos an não são isolados. Assim, Q é magro em R (Q também é
magro em Q).
2) No plano R2 o conjunto Q × Q (dos pontos de coordenadas racionais) é magro. Também é magro
em R2 o conjunto (não enumerável) A = {(x, y) ∈ R2 : x ∈ Q} = Q × R.
3) O conjunto de Cantor é magro em R (Lima [14], Cap. 6, Exemplo 21, p. 162).
4) A fronteira de todo subconjunto aberto de um espaço topológico é magro. De fato, dado um aberto
U de um espaço topológico, considere A1 = Fr(U) = U ∩U c . Então, usando que U = (U c )◦ e que
c
Definição 7.5.4. Um espaço topológico (S, σ) é um espaço de Baire se todo subconjunto magro de S
∪
tem interior vazio. Isto é, para toda reunião n∈N∗ An ⊆ S, com (An )◦ = 0, / para todo n ∈ N∗ , tem-se
∪
( n∈N∗ An )o = 0/
138
Observação 7.5.5. Notemos que um espaço (S, σ) não é um espaço de Baire se existe A ⊂ S, A magro
∪
tal que A◦ ̸= 0/ (i.é existe A ⊆ S tal que A = n∈N∗ An com (An )◦ = 0,
/ para todo n ∈ N∗ , mas A◦ é não
vazio).
Exemplo 7.5.6. 1) O espaço S = Z com a topologia induzida da reta é um espaço de Baire, pois não
contradiz a definição, já que Z não contém subconjuntos magros.
2) O espaço Q dos racionais com a topologia induzida de R não é um espaço de Baire, pois A = Q é
um subconjunto magro em Q e, em Q, Q◦ = Q ̸= 0. /
O resultado seguinte nos dá uma forma (equivalente) de definir espaço de Baire. Essa é a definição
de espaço de Baire apresentada em Munkres [20] (Cap. 8, §48, p. 295).
Proposição 7.5.7. Um espaço topológico (S, σ) é um espaço de Baire se, e somente se, toda reunião
enumerável de subconjuntos fechados de S com interior vazio, tem interior vazio.
Demonstração. (⇒) Sejam {Fn , n ∈ N∗ } uma famı́lia enumerável de fechados de S com interior vazio
∪
e A = n∈N∗ Fn . Então A é magro, pois (F n )◦ = (Fn )◦ = 0.
/ Agora, como (S, σ) é um espaço de Baire,
A◦ = 0.
/
∪
(⇐) Seja A ⊆ S, A um conjunto magro. Então A = n∈N∗ An , com (An )◦ = 0.
/ Por hipótese
(∪ )◦
n∈N∗ An / Assim,
= 0.
( )◦
∪ ∪ ∪
A= An ⊆ An ⇒ A◦ ⊆ An /
= 0.
n∈N∗ n∈N∗ n∈N∗
Proposição 7.5.8. Seja (S, σ) um espaço topológico. Então S é um espaço de Baire se, e somente se,
toda interseção enumerável de abertos densos em S é denso em S.
Teorema 7.5.9 (Teorema de Baire para Espaços Métricos). Todo espaço métrico completo é um
espaço de Baire.
139
Corolário 7.5.10. (i) R com a métrica usual é um espaço de Baire. Também são espaços de Baire
Rn , n ≥ 2.
(ii) Todo espaço métrico completo M contendo apenas uma quantidade enumerável de pontos deve
possuir um ponto isolado.
Proposição 7.5.11. (i) Sejam (S, σ) um espaço de Baire e U ⊆ S um subconjunto aberto. Então
(U, σU ) é um espaço de Baire.
(ii) Se todo ponto de um espaço topológico (S, σ) tem uma vizinhança que é um espaço de Baire,
então S é um espaço de Baire.
Demonstração. (i) Sejam (S, σ) um espaço de Baire e U ⊆ S um subconjunto aberto. Mostremos que
∩
U é um espaço de Baire. Pela proposição anterior basta mostrar que toda interseção X = Un de
uma famı́lia enumerável de subconjuntos Un ⊆ U, abertos e densos em U é um subconjunto denso em
140
∩
U. Considere, para cada n = 1, 2, ..., Bn := Un ∪ (S −U) = Un ∪ (U)c , e seja T = Bn . Observemos
∩ ∩ ∩
que T ∩ U = ( Bn ) ∩ U= ( (Un ∪ (S − U))) ∩ U= (( Un ) ∪ (S − U)) ∩ U = (X ∪ (S − U)) ∩ U =
(X ∩U) ∪ ((S −U) ∩U) = X ∪ 0/ = X. Logo devemos mostrar que X = T ∩U é denso em U. A prova
consistirá em provar: (1o ) que T é denso em S, e (2o ) que T ∩U = X é denso em U.
(1o ) Vejamos que T é denso em S. Como S é de Baire é suficiente mostrar, pela Proposição 7.5.8,
que cada Bn é aberto e denso em S.
(1.1) Bn é aberto de S: Temos que Un é aberto de U e U é aberto de S, então Un é aberto de S.
Além disso, S −U é aberto de S. Logo Bn = Un ∪ (S −U) é aberto de S.
(1.2) Bn é denso em S: Seja x ∈ S um ponto qualquer. Mostremos que G ∩ Bn ̸= 0, / para todo
aberto G de S contendo x. Temos S = U ∪ Fr(U) ∪ (S −U). Assim, x ∈ S ⇒ x ∈ U ou x ∈ Fr(U)
ou x ∈ S − U. Se x ∈ U, então x ∈ G ∩ U. Logo G ∩ U é aberto de U contendo x e portanto
G ∩Un = G ∩ (U ∩Un ) = (G ∩U) ∩Un ̸= 0/ pois Un é denso em U. Assim, G ∩ (Un ∪ (S −U)) ̸= 0, /
/ Se x ∈ Fr(U), então por definição de fronteira, como G é aberto e x ∈ G,
isto é, G ∩ Bn ̸= 0.
G∩U ̸= 0. / Logo G∩U é um aberto não vazio de U. Como na situação anterior, podemos concluir que
G ∩ Bn ̸= 0./ Se x ∈ (S −U), então x ∈ G ∩ (S −U), e deste modo, G ∩ Bn = G ∩ (Un ∪ (S −U)) ̸= 0. /
Logo em qualquer uma das três situações, concluı́mos que G ∩ Bn ̸= 0/ e assim, Bn é denso em S.
∩
De (1.1) e (1.2) e do fato que S é Baire, obtemos que T = Bn é denso em S, como afirmado.
(2o ) Mostremos que que X = T ∩U é denso em U. Como U é aberto de S, T denso em S implica
X = T ∩ U denso em U, pois se p ∈ U e G é um aberto de U contendo p, então G ∩ U é aberto de
S (já que U é aberto de S) que contém p. Da densidade de T em S obtemos que (G ∩ U) ∩ T ̸= 0,/
assim G ∩ (T ∩U) ̸= 0, / e portanto p ∈ (T ∩U) (fecho em U). Logo X = T ∩U é denso em U, o
que conclui a prova de (i).
∪
(ii) Usaremos a caracterização de espaço de Baire por reunião de fechados. Seja A = n∈N∗ An
uma reunião enumerável de fechados de S com interior vazio. Queremos mostrar que A◦ = 0. /
◦ ◦
Suponhamos, por absurdo, que A ̸= 0/ e seja p ∈ A . Por hipótese existe uma vizinhança V de p
que é um espaço de Baire. Como aberto num espaço de Baire é um espaço de Baire (item (i)), a
vizinhança pode ser tomada aberta e contida em A (pois podemos substituir uma vizinhança inicial
(de Baire) W de p que existe por hipótese, por V = A◦ ∩W ◦ ⊂ A, de modo que p ∈ V ◦ = V ). Temos
então
∪
V = A ∩V = (An ∩V )
n∈N∗
é uma reunião enumerável de fechados de V com interior vazio (pois (An ∩ V )◦ = (An )◦ ∩ V ◦ =
0/ ∩V ◦ = 0),
/ e como V é um espaço de Baire, esta reunião tem interior vazio, ou seja, V ◦ = 0,
/ absurdo!
◦ ◦ /
Logo não existe p ∈ A , ou seja, A = 0.
(iii) Sejam S um espaço de Baire e A ⊆ S, A um conjunto magro. Queremos provar que o
complementar Ac = S − A é um espaço de Baire. Como A é um conjunto magro num espaço de
∪
Baire, então A◦ = 0/ em S. Seja B ⊆ Ac = S − A, tal que B = n∈N∗ Fn , onde os conjuntos Fn são
141
S (S−A)
Vp ∩ (S − A) ⊆ F ∩ (S − A) = F = F.
e num espaço de Baire a reunião enumerável de fechados com interior vazio tem interior vazio. Logo
∪
( n∈N∗ F n )◦ = 0/ (em S) e portanto o interior de B é vazio em S e, com maior razão, é vazio em
S
S − A.
Observação 7.5.13. Vimos que todo espaço métrico completo, e consequentemente todo espaço
métrico compacto, é de Baire. Veremos a seguir que todo espaço topológico compacto e de Hausdorff
é um espaço de Baire.
Teorema 7.5.14 (Teorema de Baire para Espaços Compactos e de Hausdorff). Se (S, σ) é um espaço
topológico compacto e de Hausdorff então (S, σ) é um espaço de Baire.
Demonstração. Dada uma famı́lia {Fn }n∈N∗ de fechados de S tal que (Fn )◦ = 0,
/ vamos provar
∪ ∪
que ( n∈N∗ Fn )◦ = 0.
/ Para tanto, basta mostrar que ( n∈N∗ Fn )◦ não contém nenhum aberto não
142
vazio. Seja então U0 um aberto não vazio qualquer em S. Como (Fn )◦ = 0/ para todo n, segue que
U0 * Fn para todo n, em particular U0 * F1 . Assim existe y0 ∈ U0 , com y0 ̸∈ F1 . Agora, S
compacto e de Hausdorff implica S regular (Proposição 6.3.10). Assim, para y0 ̸∈ F1 , F1 fechado
em S existem abertos G1 , H1 em S tais que y0 ∈ G1 , F1 ⊆ H1 e G1 ∩ H1 = 0. / Ainda, usando
que S é regular, y0 ∈ U0 ∩ G1 implica (por Proposição 6.3.9) que existe U1 , aberto de S, tal que
y0 ∈ U1 ⊆ U1 ⊆ U0 ∩ G1 . Temos U1 ∩ F1 = 0, / pois U1 ∩ F1 ⊆ (U0 ∩ G1 ) ∩ F1 = U0 ∩ (G1 ∩ F1 ) = 0.
/
Também U1 ⊆ U0 ⊆ U0 . Uma vez que U1 * F2 , existe y1 ∈ U1 , com y1 ̸∈ F2 . De modo
geral, repetindo o processo, dado Un−1 existe yn−1 ∈ Un−1 tal que yn−1 ̸∈ Fn (pois (Fn )◦ = 0) /
obteremos (usando Gn e Hn , como no caso n = 1) um aberto Un em S, não vazio, com Un ∩ Fn = 0/ e
Un ⊆ Un−1 ⊆ Un−1 . Temos então
∩
Como S é compacto e a famı́lia de fechados {Un }n satisfaz a PIF, segue que existe x ∈ n Un .
∪ ∪
Agora, Un ∩ Fn = 0/ e x ∈ Un ⇒ x ̸∈ Fn , ∀n ⇒ x ̸∈ Fn . Obtemos então x ∈ U0 , com x ̸∈ Fn .
∪ ∪
Assim U0 * Fn . Como U0 é um aberto qualquer de S, segue que ( Fn )◦ = 0/ e portanto S é
Baire.
Observação 7.5.15. Pode-se mostrar também que se (S, σ) é um espaço topológico localmente
compacto e de Hausdorff então (S, σ) é um espaço de Baire. (Vide Lima [14], Cap. 7, Pro. 20,
p. 202.)
7.6 Exercı́cios
1) Demonstre que todo subconjunto perfeito X de um espaço métrico completo contém um
conjunto sequencialmente compacto.
2) Sejam (xn ) e (yn ) sequências em um espaço métrico M tais que lim d(xn , yn ) = 0. Mostre que
(xn ) é de Cauchy se, e somente se, (yn ) é de Cauchy.
3) Seja X ⊆ R limitado. Mostre que se p : X → R é uma função polinomial, então existe lim p(x),
x→a
para todo a ∈ X ′ .
4) Sejam M e N espaços métricos e f : M → N uma aplicação tal que d( f (x), f (y)) = kd(x, y),
para todo x, y ∈ M, onde k > 0 (f aplicação lipschitziana). Prove que se M é completo, então
f (M) é completo.
{ }
5) Seja M = 1, 12 , 13 , 14 , . . . . Mostre que:
1 1
a) Se d(x, y) = x − y , então (M, d) é completo.
b) Se d1 (x, y) = |x − y|, então (M, d1 ) não é completo.
143
10) Prove que um subconjunto A é magro em um espaço topológico S se, e somente se, S − A é
denso em S.
Espaços de Funções
(Nicolas Bourbaki)
8.1 Introdução
Neste capı́tulo introduzimos as topologias da convergência pontual ou simples (denominada
também topologia aberto-pontual), da convergência uniforme, da convergência uniforme nas partes
compactas e a topologia compacta-aberta em espaço de funções.
A topologia da convergência pontual no conjunto de todas as aplicações de X em Y , denotado
por F(X,Y ) = Y X , onde X é um conjunto e Y é um espaço topológico, é a topologia produto já
vista. Para a topologia da convergência uniforme é necessário que Y seja um espaço métrico e, neste
texto, a topologia é definida (inicialmente) sobre o espaço B (X,Y ) das funções limitadas, pois nesse
conjunto está bem definida a “métrica do sup”. No conjunto F(X,Y ), com (Y, d) espaço métrico,
não podemos considerar a métrica do sup (para obter a topologia da convergência uniforme), pois
a mesma não fica bem definida. No entanto, conforme observamos abaixo (Observação 8.3.4), este
problema pode ser contornado por considerar em F(X,Y ) uma métrica (usualmente referida como
métrica uniforme), que restrita a B (X,Y ) é uniformemente equivalente a métrica do sup. A topologia
da convergência uniforme nas partes compactas é dada sobre F(X,Y ), onde X é um espaço topológico
e Y é um espaço métrico, e a topologia compacto-aberta é definida em F(X,Y ), para X e Y espaços
topológicos quaisquer.
144
145
∪
∏ Yx = { f : X → Yx = Y ; f (x) ∈ Yx = Y } = F(X, Y ).
x∈X
Exemplo 8.2.1. Sejam X = Y = R e f , g, h ∈ F(R, R), dadas por f (x) = x2 + x, g(x) = cos πx e
h(x) = x21+1 . Então tem-se, por exemplo, e1 ( f ) = f (1) = 2, e1 (g) = −1 e e0 (h) = 1.
Sejam X um conjunto qualquer e (Y, σ) um espaço topológico. Recordemos que uma sub-base
para a topologia produto em F(X,Y ) = ∏x∈X Yx é a famı́lia
S = {p−1
x (Gx ) : x ∈ X, Gx aberto de Yx = Y, ∀x ∈ X},
V (x0 , G) = p−1
x0 (G) = { f ∈ F(X,Y ) : f (x0 ) ∈ G},
onde px0 = ex0 . Assim, o aberto sub-básico V (x0 , G) = { f ∈ F(X,Y ) : f (x0 ) ∈ G} consiste de todas
as aplicações em que a imagem de x0 é um elemento de G.
A topologia produto, neste caso, é chamada de topologia aberto-pontual.
Um aberto básico será do tipo
G = p−1 −1 −1
x1 (G1 ) ∩ px2 (G2 ) ∩ ... ∩ pxr (Gr ) =
Demonstração. (⇒) Suponhamos que ( fn )n∈N∗ converge para f em F(X,Y ) na topologia aberto-
pontual. Dados x ∈ X e G um aberto de Y tal que f (x) ∈ G ⊆ Y = Yx temos que mostrar que existe
n0 de modo que fn (x) ∈ G, para todo n > n0 . Considere o aberto sub-básico p−1
x (G) de F(X,Y ).
Como ( fn )n∈N∗ converge para f em F(X,Y ) = ∏x∈X Yx e f ∈ p−1x (G), visto que px ( f ) = f (x) ∈ G,
−1
existe n0 de modo que fn ∈ px (G), para todo n > n0 . Assim, fn (x) = px ( fn ) ∈ G, para todo
n > n0 , como desejado.
146
(⇐) Suponhamos agora que, para cada x ∈ X, a sequência ( fn (x))n∈N∗ converge para f (x). Temos
que provar que a sequência ( fn ) converge para f em F(X,Y ) (com a topologia aberto-pontual, isto
é, na topologia produto). Seja V um aberto de F(X,Y ) com f ∈ V . Existe um elemento básico
B = p−1 −1 −1
x1 (G1 ) ∩ px2 (G2 ) ∩ ... ∩ pxr (Gr ) tal que f ∈ B ⊆ V. Para cada i = 1, ..., r, como f n (xi ) converge
para f (xi ) ∈ Gi , existe ni tal que fn (xi ) ∈ Gi , para todo n > ni . Tome n0 = max{n1 , ..., nr }. Então,
para todo n ≥ n0 , fn (xi ) ∈ Gi , para i = 1, ..., r. Logo fn ∈ B = p−1 −1 −1
x1 (G1 ) ∩ px2 (G2 ) ∩ ... ∩ pxr (Gr )
⊆ V, ∀n > n0 .
(i) U é fechado, e
Pelo Teorema de Tychonoff, ∏x∈X { f (x) : f ∈ U} é compacto, dado que { f (x) : f ∈ U} é compacto,
para cada x ∈ X. Como U é fechado num compacto, segue que U é compacto.
Suponhamos agora que Y seja um espaço de Hausdorff e que U ⊆ F(X,Y ) seja compacto.
Provemos que (i) e (ii) ocorre. Temos que F(X,Y ) é um espaço de Hausdorff, pois a propriedade
de ser de Hausdorff é transferı́vel para o produto. Logo U ⊆ F(X,Y ) é um subconjunto compacto de
um espaço de Hausdorff, assim é fechado. Também, para cada x ∈ X, a função ex : F(X,Y ) → Y é
contı́nua, donde segue que ex (U) = { f (x) : f ∈ U} é compacto em Y, e como Y é de de Hausdorff,
ex (U) é fechado em Y . Logo ex (U) = ex (U) é compacto, o que conclui a prova.
147
e a função
ρ : B (X,Y ) × B (X,Y ) → R;
( f , g) 7→ ρ( f , g) := sup{d( f (x), g(x)) : x ∈ X}.
Demonstração. Exercı́cio.
Proposição 8.3.2. No espaço métrico (B (X,Y ), ρ) uma sequência ( fn )n∈N∗ converge para f se, e
somente se, a sequência ( fn )n∈N∗ converge uniformemente para f .
Demonstração. Se ( fn ) converge para f em B (X,Y ), dado ε > 0, existe n0 ∈ N∗ tal que n > n0
implica ρ( fn , f ) < ε. Mas,
ε
n > n0 ⇒ sup{d( fn (x), f (x)) : x ∈ X} ≤ < ε ⇒ ρ( fn , f ) < ε
2
Definição 8.3.3. Em vista da Proposição 8.3.2, a topologia dada pela métrica ρ sobre B (X,Y ) é
chamada topologia da convergência uniforme e será denotada por σu .
Observação 8.3.4. Em F(X,Y ), com X ̸= 0/ e (Y, d) um espaço métrico, não podemos, em geral,
considerar a métrica do sup, pois ela não está bem definida, já que dados f e g em F(X,Y ),
sup{d( f (x), g(x)) : x ∈ X} pode não existir. Uma forma de contornar este problema é considerar
em F(X,Y ) a métrica
e
ρ( f , g) := sup{d( f (x), g(x)) : x ∈ X},
O espaço das aplicações contı́nuas: Sejam X e Y espaços topológicos e C (X,Y ) o conjunto das
aplicações continuas de X em Y . Se X é compacto e (Y, d) é um espaço métrico então C (X,Y ) está
contido em B (X,Y ) (uma vez que a imagem de um compacto por uma aplicação contı́nua será um
compacto no espaço métrico Y e, consequentemente, um conjunto limitado), assim para X compacto
e Y um espaço métrico C (X,Y ) pode ser visto como um subespaço do espaço métrico (B (X,Y ), ρ) e
podemos considerar em C (X,Y ) a topologia da convergência uniforme.
Na sequência vamos apresentar alguns resultados relativos ao espaço C ([0, 1], R), usualmente
denotado por C ([0, 1]) (dentre eles o Teorema de Ascoli) e finalizamos com o Teorema de Ascoli em
C (X, Rn ), para X um espaço topológico compacto (Teorema de Ascoli - Versão Clássica). O leitor
interessado, mais especificamente nesse último resultado, pode ir direto para o mesmo, uma vez que
o anterior é um caso particular.
C ([0, 1], R) é um espaço vetorial normado com a norma
que induz em C ([0, 1], R) a métrica ρ do sup, referida acima, considerando d a métrica usual em R
ρ( f , g) = sup{d( f (x), g(x)) : x ∈ [0, 1]} = sup{| f (x) − g(x)| : x ∈ [0, 1]} = ∥ f − g∥.
Demonstração. Seja ( fn ) uma sequência de Cauchy em C ([0, 1], R). Para cada x ∈ [0, 1], temos
d( fm (x), fn (x)) ≤ ρ( fm , fn ) e portanto, ( f1 (x), f2 (x), ..., fn (x), ...) é uma sequência de Cauchy
em R. Como R é completo existe, para cada x ∈ [0, 1], o limite f (x) = lim fn (x) ∈ R.
Provemos que fn converge para f (em B ([0, 1], R)). Dado ε > 0 arbitrário, como ( fn ) é de
Cauchy, existe n0 ∈ N∗ tal que m, n > n0 implica ρ( fm , fn ) < ε/2 e portanto d( fm (x), fn (x)) <
ε/2, para todo x ∈ [0, 1]. Assim, se n > n0 , ρ( f , fn ) = lim ρ( fm , fn )) ≤ ε/2, para qualquer
149
x ∈ [0, 1]. Logo ρ( f , fn ) < ε, para todo n > n0 , ou seja fn converge para f (e portanto converge
uniformemente). Agora, como cada fn é contı́nua, segue da Proposição 6.5.6, que f é contı́nua,
assim f ∈ C ([0, 1], R) e fn converge para f em C ([0, 1], R), como querı́amos provar.
Observação 8.3.6. De maneira similar ao que foi feito na proposição anterior pode-se mostrar o
seguinte resultado: “Se X é um espaço topológico compacto e Y é um espaço métrico completo
então C (X,Y ) é completo (com a métrica ρ)”.
Definição 8.3.7. Seja X um conjunto. Um subconjunto U do conjunto F(X, R), das funções reais
definidas sobre X, é uniformemente limitado se existe um número real positivo k tal que | f (x)| ≤ k,
para toda função f ∈ U e todo x ∈ X.
Proposição 8.3.8. Seja U ⊆ C ([0, 1], R). São equivalentes as seguintes afirmações:
(ii) existe k ∈ R tal que ∥ f ∥ = sup{| f (x)| : x ∈ [0, 1]} ≤ k, para todo f ∈ U;
Proposição 8.3.11. (Teorema de Ascoli - em C ([0, 1], R)) Seja U um subconjunto do espaço
C ([0, 1], R) das funções continuas. Então U é compacto se, e somente se, U é fechado,
uniformemente limitado e equicontı́nuo.
150
Demonstração. (⇒) Como U ⊆ C ([0, 1], R) é compacto, então (vide Corolário 4.4.5) U é um
subconjunto fechado e limitado do espaço métrico (C ([0, 1], R), ρ) e assim, pela proposição anterior,
U é uniformemente limitado. Resta provar que U é equicontı́nuo. Dado ε > 0, como U é totalmente
limitado (uma vez que compacto implica em totalmente limitado, Proposição 4.4.4) existe uma 3ε -
rede finita, B = { f1 , f2 , . . . , fn } em U e então, para cada f ∈ U, existe fi0 ∈ B (i0 = 1, 2, ..., n) tal
que f ∈ Bρ ( fi0 , 3ε ), ou seja
ε
∥ f − fi0 ∥ = sup{| f (x) − fi0 (x)| : x ∈ [0, 1]} < .
3
2ε ε 2ε
|x − x ′ | < δ ⇒ | f (x) − f (x ′ )| ≤ | fi0 (x) − fi0 (x ′ )| + < + = ε.
3 3 3
Portanto U é equicontı́nuo.
(⇐) Dado que U é fechado do espaço completo C ([0, 1], R), U é completo, e para concluir que U
é compacto basta demonstrar (vide Exercı́cio 7.3.1-1) que U é totalmente limitado. Vamos provar
então que U é totalmente limitado. Seja ε > 0, como U é equicontı́nuo, existe δ > 0, e portanto,
n0 ∈ N∗ com n10 < δ, tal que
1 ε
|a − b| < ⇒ | f (a) − f (b)| < , ∀ f ∈ U.
n0 5
f∈ ∗ e pontos p = (x , y ), i = 0, 1, ..., n ,
Asserção: Dados
( ) C ([0, 1], R)
( e ε >)0, existem n(0 ∈ N
ε.k
) i i i 0
ε.k0 i ε.ki n0
dados por p0 = 0, 5 , . . . , pi = n0 , 5 , . . . , pn0 = 1, 5 , com k0 , k1 , . . . , kn0 inteiros, tais
que se g : [0, 1] → R é a poligonal ligando os pontos pi (isto é, g restrita a cada intervalo [xi , xi+1 ]
é uma função afim com g(xi ) = yi e g(xi+1 ) = yi+1 ) então ∥ f − g∥ < ε.
Prova da Asserção: Como toda f ∈ C ([0, 1], R) é uniformemente contı́nua, existe n0 ∈ N∗ tal
que |a − b| 6 n10 implica | f (a) − f (b)| < 5ε . Seja
{ }
i kε
A = (x, y) ∈ I × R : x = , y = onde i = 0, 1, . . . , n0 e k ∈ Z .
n0 5
151
Escolha pi = (xi , yi ) ∈ A (xi = ni0 , yi = k5i ε ) tal que yi ≤ f (xi ) ≤ yi + 5ε , i = 0, 1, ..., n0 . Considere
g : [0, 1] → R a poligonal ligando os pontos pi (logo g(xi ) = yi ). Então | f (xi ) − g(xi )| = | f (xi ) −
yi | < 5ε e | f (xi ) − f (xi+1 )| < 5ε , pois |xi − xi+1 | = n10 . Também
3ε
|g(xi ) − g(xi+1 )| ≤ |g(xi ) − f (xi )| + | f (xi ) − f (xi+1 )| + | f (xi+1 ) − g(xi+1 )| < .
5
3ε
xi ≤ z ≤ xi+1 ⇒ |g(xi ) − g(z)| ≤ |g(xi ) − g(xi+1 )| < .
5
Assim, como para todo z ∈ I existe xr tal que xr ≤ z ≤ xr+1 , segue que
ε ε 3ε
| f (z) − g(z)| ≤ | f (z) − f (xr )| + | f (xr ) − g(xr )| + |g(xr ) − g(z)| < + + = ε ⇒ ∥ f − g∥ < ε,
5 5 5
Observação 8.3.12. i) O Teorema de Ascoli é também referido, às vezes, como Teorema de Arzela -
Ascoli.
ii) Na sequência apresentamos o Teorema de Ascoli em C (X, Rn ), para X um espaço topológico
compacto (e C (X, Rn ) com a métrica ρ do supremo), referido como “Teorema de Ascoli - versão
clássica”. Para tanto apresentamos, inicialmente, a definição de conjunto equicontı́nuo para espaços
mais gerais, ou seja para subconjuntos de F(X,Y ), com X um espaço topológico qualquer e Y um
espaço métrico. Notemos que a definição seguinte está de acordo com Munkres (a first course) [19]
(Cap. 7, §7 − 3, p. 276), Munkres [20] (Cap. 7, §45, p. 276) e Lima [14] (Cap. 9, §6, p. 263), e
é coerente com a apresentada anteriormente se consideramos X um espaço métrico compacto (vide
Observação 8.3.10).
152
Para a prova do Teorema de Ascoli - versão clássica, precisamos de dois lemas (cujas provas serão
apresentadas posteriormente). O enunciado do teorema e a prova apresentada aqui seguem Munkres
(a first course) [19] (Cap. 7, §7-3, Teor. 3.3, p. 277). Em Munkres [20], o teorema é apresentado com
enunciado um pouco diferente.
Lema 8.3.15. (Lema 1) Seja X um espaço topológico compacto e (Y, d) um espaço métrico compacto.
Então U ⊆ C(X,Y ) é equicontı́nuo se, e somente se U é totalmente limitado na métrica ρ do supremo.
Teorema 8.3.17. (Teorema de Ascoli - Versão Clássica): Seja X um espaço topológico compacto
e considere C (X, Rn ) ⊆ B (X, Rn ) com a métrica ρ do sup. Um subconjunto U de C (X, Rn ) é
compacto se, e somente se é fechado, limitado e equicontı́nuo.
Demonstração. (⇒) Por hipótese U é um compacto do espaço métrico (C (X, Rn ), ρ) com a métrica
ρ do supremo. Logo U é fechado e limitado. Pelo Lema 2, existe Y ⊆ Rn , Y (métrico) compacto
tal que U ⊆ C (X,Y ) ⊆ C (X, Rn ). Ainda, como U é compacto, segue que U é totalmente limitado.
Logo, usando que U é totalmente limitado e, X e Y são compactos conclui-se, do Lema 1, que U
é equicontı́nuo. Assim, U é fechado, limitado e equicontı́nuo.
(⇐) Pela hipótese U ⊆ C (X, Rn ) é fechado, limitado e equicontı́nuo. Como X é compacto e Rn é
completo, tem-se (vide Observação 8.3.6) que C (X, Rn ) é completo (com a métrica ρ). Logo U é
completo, visto que fechado em completo é completo. Agora, U ⊆ C (X, Rn ) limitado implica, pelo
Lema 2, que existe Y ⊆ Rn , Y compacto tal que U ⊆ C (X,Y ). Usando que U é equicontı́nuo
(hipótese) segue, do Lema 1, que U é totalmente limitado. Finalmente, usando que um espaço
métrico é compacto se, e somente se é completo e totalmente limitado (Exercı́cio 7.3.1 - 1) obtém-se
que U é compacto.
Demonstração. (Lema 8.3.15 - Lema 1) (⇒) A prova desta implicação é a mais longa. Considere
U ⊆ C (X,Y ) equicontı́nuo. Então, dado ε > 0, para cada x0 ∈ X existe Vx0 ⊆ X aberto tal que
x0 ∈ Vx0 e d( f (x), f (x0 )) < 3ε , para todo x ∈ Vx0 e toda f ∈ U. Logo {Vx0 , x0 ∈ X} é uma
cobertura aberta de X e, uma vez que X é compacto, segue que existem x1 , · · · , xn ∈ X tais que
X = Vx1 ∪ · · · ∪Vxn e d( f (x), f (xi )) < 3ε , ∀x ∈ Vxi e ∀ f ∈ U.
Como (Y, d) é métrico compacto, (Y, d) é totalmente limitado. Assim, para 6ε existem y1 , . . . , yr ∈
Y tais que Y = B(y1 , 6ε ) ∪ · · · ∪ B(yr , 6ε ). Considere
J = {φ : {1, · · · , n} → {1, · · · , r}; φ é uma aplicação}.
Para φ ∈ J, se existir alguma aplicação f ∈ U tal que f (xi ) ∈ Bφ(i) := B(yφ(i) , ε6 ) escolhemos uma
destas aplicações e a rotulamos de fφ . Assim, fφ (xi ) ∈ Bφ(i) e portanto d( fφ (xi ), yφ(i) ) < ε6 . A
famı́lia fφ ⊆ U anteriormente obtida está indexada em um subconjunto J1 ⊆ J e é finita visto que
∪
J é finito (#J = rn ). Mostremos que U ⊆ φ∈J1 Bρ ( fφ , ε) e portanto U é totalmente limitado. De
∪
fato, dado f ∈ U, f (xi ) ∈ Y = rk=1 B(yk , 6ε ), para i = 1, · · · n. Assim, f (x1 ) ∈ B(yk1 , 6ε ), para
algum k1 ∈ {1, · · · , r}; · · · ; f (xn ) ∈ B(ykn , 6ε ), para algum kn ∈ {1, · · · , r}. Tome
φ : {1, 2, ..., n} → {1, 2, ..., r}, definida por φ(i) = ki .
Então f (xi ) ∈ Bφ(i) e φ ∈ J1 . Seja fφ ∈ U a aplicação associada a φ (que foi escolhida/fixada
e que não necessariamente é a f ). Verifiquemos que f ∈ Bρ ( fφ , ε), isto é, ρ( f , fφ ) < ε. Para
cada x ∈ X, x ∈ Vxi para algum i, e como f e fφ pertencem a U, tem-se d( f (x), f (xi )) < 3ε e
d( fφ (x), fφ (xi )) < 3ε . Por outro lado, uma vez que f (xi ) e fφ (xi ) pertencem a Bφ(i) obtemos que
d( f (xi ), fφ (xi )) ≤ d( f (xi ), yφ(i) ) + d(yφ(i) , fφ (xi )) < 6ε + 6ε = 3ε .
Logo
d( f (x), fφ (x)) ≤ d( f (x), f (xi )) + d( f (xi ), fφ (xi )) + d( fφ (xi ), fφ (x)) < ε, ∀x ∈ X.
Daı́,
ρ( f , fφ ) = sup{d( f (x), fφ (x)), x ∈ X} = max{d( f (x), fφ (x)), x ∈ X} < ε
e f ∈ Bρ ( fφ , ε), como querı́amos provar.
(⇐) Suponhamos U totalmente limitado. Dado x0 ∈ X mostraremos que U é equicontı́nuo em
x0 , ∀x0 ∈ X. Seja ε > 0. Como U é totalmente limitado existem f1 , · · · , fn ∈ C (X,Y ) tais
que
∪
U ⊆ i=1, ..., n Bρ ( fi , 3ε ) (1)
Uma vez que cada fi é contı́nua (em x0 ) existe um aberto V de X tal que x0 ∈ V e d( fi (x), fi (x0 ) <
ε ε
3 , para quaisquer x ∈ V e i = 1, · · · , n. Dado f ∈ U, segue de (1) que f ∈ Bρ ( f i , 3 ) para algum
i. Tem então que
d( f (x), f (x0 )) ≤ d( f (x), fi (x)) + d( fi (x), fi (x0 )) + d( fi (x0 ), f (x0 )) < ε, ∀x ∈ V .
Como tomamos uma aplicação qualquer f ∈ U, segue que d( f (x), f (x0 )) < ε, ∀x ∈ V e ∀ f ∈ U,
e assim U é equicontı́nuo.
Demonstração. (Lema 8.3.16 - Lema 2) Seja f0 ∈ U ⊆ C (X, Rn ). Como por hipótese U é limitado
com a métrica ρ, existe c ∈ R, c > 0 tal que ρ( f0 , f ) < c, ∀ f ∈ U. Uma vez que X é compacto,
154
f0 (X) ⊆ Rn também é compacto, logo limitado. Assim existe k > 0 tal que f0 (X) ⊆ Bd (0, k), sendo
d a métrica usual em Rn . Consequentemente, dados f ∈ U e x ∈ X,
d( f (x), 0) ≤ d( f (x), f0 (x)) + d( f0 (x), 0) ≤ ρ( f , f0 ) + k < c + k,
de modo que f (X) ⊆ B(0, c + k) ⊆ Rn . Tome então Y = B(0, c + k) ⊆ Rn . Então Y é compacto (pois
é fechado e limitado no Rn ) e f (x) ∈ Y , para todos x ∈ X e f ∈ U.
8.3.1 Exercı́cios
1) Mostre que a sequência ( fn ) em F(R, R), tal que
{
1 − 1n |x|, se |x| ≤ n
fn (x) =
0, se |x| ≥ n,
3) Seja m ∈ N∗ e considere Am ⊆ C ([0, 1], R), constituido das funções f : [0, 1] → R tais que existe
[ ]
x0 ∈ 0, 1 − m1 com ] [
f (x0 + h) − f (x0 )
≤ m, ∀ h ∈ 0, 1 .
h m
Mostre que:
a) Am é subconjunto fechado de C ([0, 1]).
b) Am é magro em C ([0, 1], R).
∪∞
c) C ([0, 1], R) ̸= m=1 Am .
155
d) Existe uma função contı́nua f : [0, 1] → R que não é diferenciável em ponto algum de [0, 1].
(Lipschutz [17], Cap. 15, Probl. 13 a 16, p. 279-280.)
4) No espaço C ([0, 1], R) das funções contı́nuas (e limitadas) de [0, 1] em R com a métrica do sup,
ρ( f , g) = supx∈[0,1] | f (x) − g(x)|, considere a sequência ( fn ) dada por fn (x) = xn .
a) Mostre que para todo x ∈ ]0, 1[, lim fn (x) = 0.
n→∞
b) Mostre que a sequência ( fn )n∈N ∗ não converge para a função nula.
c) Conclua que ( fn ) não é uma sequência de Cauchy.
d) Mostre que o conjunto F = { f ∈ C ([0, 1], R) : ∥ f ∥ ≤ 1} é fechado e limitado mas não é
compacto.
5) Dê um exemplo de uma sequência de funções contı́nuas fn : [0, 1] → R tal que, para cada
x ∈ [0, 1] se tenha lim fn (x) = 0 e fn não converge para a função nula em C ([0, 1], R). A
sequência ( fn ) obtida é de Cauchy em C ([0, 1], R)? Justifique. (Sugestão: Lipschutz [17], Cap.
15, Problemas, p. 274.)
6) Considerando a sequência de funções em C ([0, 1], R), definida por fn (x) = nx para 0 ≤ x ≤ 1n
e fn (x) = 1 para n1 ≤ x ≤ 1, mostre que C ([0, 1], R) não é localmente compacto. (Simmons
[22], Cap. 4, §25, Probl. 4, p. 128.)
(v) Dado h ∈ BK1 ( f , ε1 ) ∩ BK2 (g, ε2 ), existe δ > 0 e K = K1 ∪ K2 compacto, tal que
BK (h, δ) ⊆ BK1 ( f , ε1 ) ∩ BK2 (g, ε2 ).
(vi) O conjunto B = {BK ( f , ε) : f ∈ F(X,Y ), K ⊆ X, K compacto e ε > 0} forma uma base para
uma topologia em F(X,Y ).
Demonstração. Exercı́cio.
Definição 8.4.3. Seja ( fn )n∈N∗ uma sequência de aplicações de um espaço topológico (X, σ) em um
espaço métrico (Y, d). Diz-se que a sequência converge uniformemente nas partes compactas para
uma aplicação f : X → Y se, para todo conjunto compacto K ⊆ X e para todo ε > 0, existe n0 ∈ N
tal que n > n0 implica d( fn (x), f (x)) < ε, para todo x ∈ K. Em outras palavras, ( fn )n∈N∗ converge
uniformemente nas partes compactas para f se, e somente se, para todo subconjunto compacto
K ⊆ X a sequência das restrições de fn a K converge uniformemente para a restrição de f a K, i.é,
u
( fn|K ) → f|K .
Proposição 8.4.4. Sejam ( fn )n∈N∗ uma sequência de aplicações de um espaço topológico (X, σ)
em um espaço métrico (Y, d) e f : X → Y uma aplicação. Então ( fn ) → f em (F(X,Y ), σc ), se e
somente se, a sequência ( fn )n∈N∗ converge uniformemente nas partes compactas para f .
u
Demonstração. (⇒) Suponhamos que ( fn ) → f em (F(X,Y ), σc ). Queremos mostrar que ( fn|K ) →
f|K , para todo compacto K em X. Sejam ε > 0 e K um compacto em X. Como f ∈ BK ( f , ε) ∈ σc
e ( fn ) → f , existe n0 ∈ N∗ , tal que fn ∈ BK ( f , ε), para todo n ≥ n0 . Daı́ d( f (x), fn (x)) ≤
u
sup{d( f (x′ ), fn (x′ )) : x′ ∈ K} < ε, ∀x ∈ K e n ≥ n0 ∈ N∗ , e portanto ( fn|K ) → f|K .
u
(⇐) Suponhamos agora que ( fn|K ) → f|K , para todo compacto K ⊆ X. Seja G ∈ σc com
u
f ∈ G , existe um aberto básico BK1 ( f , ε) ⊆ G . Como ( fn|K1 ) → f|K1 , existe n0 ∈ N∗ tal que
d( f (x), fn (x)) < ε/2, para todo x ∈ K1 e n ≥ n0 , donde segue que fn ∈ BK1 ( f , ε) ⊆ G , para todo
n ≥ n0 , e assim, ( fn ) converge para f em (F(X,Y ), σc ).
σs ⊆ σc ⊆ σu .
8.4.1 Exercı́cio
1) Mostre que, em F(X,Y ), com X um espaço topológico e (Y, d) um espaço métrico, tem-se
σc = σu se X é compacto. (Sugestão: falta mostrar que σu ⊆ σc . Dados G ∈ σu e f ∈
Beρ ( f , ε) ⊆ G tome K = X e mostre que BK ( f , ε1 ) ⊆ Beρ ( f , ε), para ε1 = min{ε, 1}.)
3) Mostre que a sequência ( fn ) em F(R, R) (dada no Exercı́cio 8.3.1 - 1), definida por fn (x) =
1 − 1n |x|, se |x| ≤ n e fn (x) = 0, se |x| ≥ n, converge uniformemente nas partes compactas
para a função constante g(x) ≡ 1.
Definição 8.5.1. Sejam (X, τ) e (Y, ξ) espaços topológicos e K a famı́lia formada por todos os
subconjuntos compactos de X. Então
S = {S(K,U) : K ∈ K e U ∈ ξ}
é uma sub-base para uma topologia em F(X,Y ), chamada topologia compacto-aberta. Vamos
denotar tal topologia por σca .
(i) Em F(X,Y ) a topologia da convergência simples é menos fina que a topologia compacto-aberta
(isto é, σs ⊆ σca ).
Demonstração. (i) Basta mostrar que todo aberto sub-básico de F(X,Y ) com a topologia da
convergência simples σs (= σ prod ) é um aberto de F(X,Y ) relativamente a topologia compacto
aberta. Um aberto sub-básico de F(X,Y ) com a topologia σs , é do tipo V (x,U) = p−1
x (U), com
159
Teorema 8.5.4. Sejam X um espaço topológico e (Y, d) um espaço métrico. Então em C (X,Y ) as
topologias compacto aberta e da convergência compacta coincidem, i.é, σc = σca .
portanto, σca ⊆ σc .
(2) σc ⊆ σca . Seja G ∈ σc , um aberto em C (X,Y ) com a topologia da convergência compacta.
Dado f ∈ G , pela definição de σc (e propriedades), existe um aberto básico BC
K ( f , ε) := [BK ( f , ε) ∩
C (X,Y )] tal que BCK ( f , ε) ⊆ G , com K compacto de X e ε > 0.
160
x ∈ Kxi , i = 1, 2..., n. Agora, como K ⊆ Vx1 ∪ ... ∪Vxn , segue que K = (Vx1 ∩ K) ∪ ... ∪ (Vxn ∩ K)
= Kx1 ∪ ... ∪ Kxn . Daı́, para todo x ∈ K, x ∈ Kx j para algum j, e f (x) ∈ f (Vx j ) ⊆ Ux j . Como
g ∈ W , se x ∈ Kx j , g(x) ∈ Ux j , e assim d( f (x), g(x)) ≤ d(Ux j ) ≤ 2ε/3, para todo x ∈ Kx j . Logo
sup{d( f (x), g(x)), x ∈ K} ≤ 2ε/3 < ε e então g ∈ BC K ( f , ε). Portanto, W ⊆ BK ( f , ε) ⊆ G . Assim,
C
Proposição 8.5.5. Sejam X um espaço topológico, (Y, d) um espaço métrico e C (X,Y ) o conjunto
das aplicações contı́nuas de X em Y . Então uma sequência ( fn )n∈N∗ em C (X,Y ) converge para
f ∈ C (X,Y ) na topologia compacto-aberta se, e somente se, ( fn )n∈N∗ converge uniformemente nas
partes compactas para f .
Demonstração. Pelo teorema anterior σc = σca em C (X,Y ) ⊆ F(X,Y ). Daı́ o resultado segue da
Proposição 8.4.4.
Definição 8.5.6. Em vista dos resultados anteriores a topologia compacto-aberta é também referida,
às vezes, como topologia da convergência compacta.
8.6 Exercı́cios
1) Considere F(X,Y ) com a topologia da convergência compacta.
a) Mostre que F(X,Y ) é regular. É normal? Justifique. (Sugestão: para a regularidade, observe
que para f ∈ BK ( f , ε), existe V = BK ( f , ε/3) tal que f ∈ V ⊆ V ⊆ BK ( f , ε). Para o caso
normal note, por exemplo, que RJ = F(J, R) (com a topologia da convergência simples τs )
não é normal se J não é enumerável (Munkres [20], Cap. 4, §32, Exemplo 1, p. 203). Agora,
161
se consideramos o espaço topológico discreto (J, P (J)) temos (pelo Exercı́cio 8.4.1 - 2) que
σc = σs , de modo que F(J, R) com σc não será normal.)
b) Mostre que se X é a reunião enumerável de abertos com fecho compacto, então F(X,Y )
satisfaz o primeiro axioma de enumerabilidade.
5) Supondo que X seja um espaço topológico compacto, Haudorff, completamente regular e que,
em consequência C (X, R) separa pontos (vide Exercı́cio 6.4.1 - 4), prove que a topologia
sobre X gerada/induzida pela famı́lia C (X, R), ou seja que tem como sub-base o conjunto
∪ −1 (G), G aberto de R}, coincide com a topologia de X. (Dugundji [5], Cap.
f ∈C (X,R) { f
VII, Probl. Sec.7, Exerc. 4, p. 159.)
que C (X,Y ) = C (X,Y ) ∪ C (X,Y )′ , mostre que f ∈ C (X,Y )′ ⇒ f ∈ C (X,Y ). Para tanto, para
cada K compacto, considere uma sequência fn ∈ (BK ( f , 1/n) − { f }) ∩ C (X,Y ) e use que
( fn |K ) converge uniformemente para f |K de modo que f |K é contı́nua para todo compacto K e
assim f é contı́nua pelo item anterior. Logo C (X,Y ) = C (X,Y ) em F(X,Y ), σc .) (Munkres
[20], Cap. 7, §46, Teor. 46.5, p. 284.)
7) Sejam X um espaço topológico e (Y, d) um espaço métrico. Em C (X,Y ) defina uma topologia
como segue: Dados f ∈ C (X,Y ) e uma função contı́nua positiva δ : X → R+ , seja B( f , δ) =
{g ∈ C (X,Y ); d( f (x), g(x)) < δ(x), ∀x ∈ X}. Mostre que:
a) O conjunto {B( f , δ) : f ∈ C (X,Y ) e δ é uma função contı́nua positiva} forma uma base
para uma topologia sobre C (X,Y ) (chamada topologia fina), que denotaremos por σ f ina .
b) σu ⊆ σ f ina .
c) Se X é compacto, então σu = σ f ina .
(Sugestão: para ver que é base note que h ∈ B( f , δ) ⇒ B(h, δ1 ) ⊆ B( f , δ), para δ1 (x) =
δ(x) − d(h(x), f (x)). Agora, h ∈ B( f , δ) ∩ B(g, γ) ⇒ B(h, η) ⊆ B( f , δ) ∩ B(g, γ), para η(x) =
min{δ1 (x), γ1 (x)} (com δ1 (x) e γ1 (x) como antes). Para σu ⊆ σ f ina , note que dada Beρ ( f , ε),
considerando a função constante δ(x) = r, com 0 < r < min{1, ε}, tem-se B( f , δ) ⊆ Beρ ( f , ε).
Finalmente, para o caso X compacto, use que dado B( f , δ), tem que Beρ ( f , ε) ⊆ B( f , δ), para
ε = min{1, min{δ(x), x ∈ X}}.)
Índice
Aplicação Cobertura, 38
aberta, 50 aberta, 38
bijetora, 10 enumerável, 38
composta, 10 finita, 38
contı́nua, 45 Compactificação de Alexandroff, 90
fechada, 50 Compactificação de um espaço topológico, 90
função, ou transformação, 7 Complementar de um conjunto, 5
injetora, 10 Completamento de um espaço métrico, 135
inversa, 10 Componente conexa, 99
quociente, 13 Componente conexa por caminhos, 103
sequencialmente contı́nua, 49 Congruência módulo m, 6
sobrejetora, 10 Conjunto
uniformemente contı́nua, 87 aberto, 17
Axioma da Escolha, 8, 15 aberto num espaço métrico, 18
Axioma de separação bem ordenado, 16
T0 ( ou T0 espaço), 109 das partes, 3
T1 (ou T1 espaço), 110 de Cantor, 29
T2 (ou T2 espaço), 110 denso, 25
T3 (ou T3 espaço), 114 derivado, 27
T4 (ou T4 espaço), 116 enumerável, 14
TD (ou TD espaço, 112 equicontı́nuo em C (X, R), 149
T5 (ou T5 espaço), 110 equicontı́nuo em C (X,Y ), 152
2 2
Axiomas de Kuratowski, 24 equicontı́nuo em um ponto, 149, 152
fechado, 21
Base, 32
finito, 13
local, 35
grande, 85
local encaixada, 36
limitado, 21
para um sistema de vizinhas de um ponto, 35
magro ou de primeira categoria, 137
Bola aberta, 18
nunca denso (nowhere dense), 30
Cadeia, 16 parcialmente ordenado, 7
Caminho inverso, 102 perfeito, 29
Caminho ou curva, 102
163
164
quociente, 13 métrico, 18
totalmente ordenado, 7 métrico completo, 132
Uniformemente Limitado, 149 métrico totalmente limitado ou pré-compacto,
vazio, 3 84
Conjuntos equipotentes, 13 metrizável, 20
Conjuntos separados, 98, 119 normal, 116
Convergência paracompacto, 128
simples ou pontual, 121 primeiro enumerável ou e1 , 35
uniforme de sequências nas partes com- quociente, 57
pactas, 156 regular, 113
Convergência uniforme, 121 segundo enumerável ou e2 , 36
Cubo de Hilbert, 124 separável, 37
sequencialmente compacto, 79
Desconexão, 94
topológico, 17
Diâmetro de um conjunto num espaço métrico, 21
totalmente desconexo, 107
Diagonal de A × A, 6
totalmente separado, 108
Diferença entre conjuntos, 4
Exemplo de Bing, 111
Diferença simétrica entre dois conjuntos, 4
Exemplo de Moore, 111
Elemento maximal, 16 Extensão de função, 8
Espaço
Fecho, 23
compactamente gerado, 93, 161
Fronteira, 28
compacto, 64
Função de Urysohn, 121
completamente normal, 119
Função caracterı́stica, 49
completamente regular, 114
Função escolha, 8
conexo, 94
Função escolha para uma famı́lia, 15
conexo por caminhos, 102
de Baire, 137 Gráfico de uma aplicação, 8
de Hausdorff, 20, 110 Homeomorfismo, 51
de Lindelöf, 38 uniforme, 87
de Sierpinsk, 57 Homeomorfismo local, 52
de Tychonoff ou T7 , 115
2
de Urysohn, 110 Imagem direta, 9
desconexo, 94 Imagem inversa, 9
discreto, 27 Imersão Isométrica, 48
enumeravelmente compacto, 79 Interior de um conjunto, 26
localmente compacto, 88 Interseção de conjuntos, 4
localmente conexo, 100 Isometria, 48
localmente conexo por caminhos, 105 k-espaço, 74, 93
165
Vizinhança de um ponto, 35
Vizinhança fechada, 43
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