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Máquinas Eléctricas I: Apontamentos
Máquinas Eléctricas I: Apontamentos
Máquinas Eléctricas I
APONTAMENTOS
Fa c u ld a d e d e En g e n h a r ia
Un iv e r s id a d e d o Po r to
2003
LICENCIATURA EM ENGENHARIA ELECTROTÉCNICA E DE COMPUTADORES
FICHA DE DISCIPLINA
DOCENTES
AULAS TEÓRICAS Manuel Vaz Guedes CATEGORIA Professor Associado com Agregação
AULAS PRÁTICAS Manuel Vaz Guedes CATEGORIA Professor Associado com Agregação
OBJECTIVOS DA DISCIPLINA
Na disciplina de Máquinas Eléctricas I (E) estudam-se os aspectos gerais das máquinas eléctricas e
faz-se o estudo do transformador. Nas aulas práticas executam-se trabalhos de laboratório (montagem
+ experimentação + registo e relatório).
CONTEÚDO DA DISCIPLINA
Do programa da disciplina de Máquinas Eléctricas I (E) faz parte o estudo global das máquinas
eléctricas rotativas como Sistemas Electromecânicos de Conversão de Energia e também faz parte o
estudo do transformador — aspectos construtivos e de aplicação, análise do funcionamento, transformador
trifásico, transformadores especiais e fenómenos transitórios.
Nas aulas práticas são feitos trabalhos de laboratório experimentais sobre os aspectos gerais dos
diversos tipos de máquinas eléctricas e trabalhos de laboratório experimentais de apoio ao estudo do
transformador.
METODOLOGIA DA DISCIPLINA
Aulas Teóricas — exposição dos assuntos do programa da disciplina pelo docente com análise de problemas ou com
discussão de casos de índole prática
Aulas Práticas — exposição da matéria pelo docente com discussão de casos de índole prática
Aulas Práticas de Laboratório — execução de um trabalho de laboratório, registo do trabalho e elaboração do
respectivo relatório por um grupo de três alunos
Visita de Estudo — … (ob.)
TEMPO DE ESTUDO
Para além do tempo aplicado no estudo individual das matérias do programa da disciplina é necessário cerca de uma
hora por semana para realização do relatório do trabalho de laboratório dentro do método de trabalho de grupo
livremente adoptado pelos seus elementos
BIBLIOGRAFIA
Manuel Vaz Guedes; Sistemas Electromecânicos de Conversão de Energia, FEUP 2001
Manuel Vaz Guedes, Grandezas Periódicas Não Sinusoidais, FEUP 2001
Manuel Vaz Guedes; Máquinas Eléctricas I — apontamentos, FEUP 2003
Carlos Castro Carvalho; Transformadores, AEFEUP 1983
Manuel Vaz Guedes; Máquinas Eléctricas I — trabalhos de laboratório, FEUP 2003
Nestes textos pedagógicos é feita referência a uma extensa bibliografia disponível
I m p o r t â n c i a do T r a n s f o r m a do r
Transformadores
B— Materiais Amorfos
A aplicação dos conceitos da utilização racional de obter uma mesma indução magnética. Mas, as ligas de
energia traduzem-se na distribuição de energia eléctrica por materiais amorfos têm uma dureza cinco vezes superior à
uma aplicação de transformadores com baixas perdas. do aço silicioso, o que dificulta a sua maquinagem, têm
Desta forma, entre outras vantagens, diminuem-se os um valor para a indução de saturação que é inferior ao dos
custos de exploração das redes de distribuição de energia aços siliciosos e são muito susceptíveis à acção dos
eléctrica. Tem sido grande, por isso, a experimentação e a ambientes corrosivos sobre a sua superfície.
inovação realizada no projecto e no fabrico de Outra característica destes materiais é que são obtidos,
transformadores de distribuição. exclusivamente, sob a forma de bandas, ou faixas, que,
As perdas de energia dos transformadores de actualmente, já têm uma largura de vinte centímetros, mas
distribuição, como em qualquer outra máquina eléctrica, que têm pequena espessura (0,03 mm). Por isso, o tipo de
dividem-se em perdas constantes com a carga e perdas núcleo utilizado nos transformadores de distribuição com
variáveis. Se as perdas variáveis são de difícil ligas de metal amorfas é de construção diferente do
quantificação porque dependem do diagrama de cargas da habitual; toroidal, cruciforme, enrolada, etc…
rede, que não é, normalmente, conhecido, já as perdas Apesar de já terem entrado em produção industrial, as
constante, essencialmente ligadas à magnetização do ligas de metal amorfas para o núcleo de transformadores
material ferromagnético, podem ser contabilizadas para ainda têm um preço elevado. Assim, um transformador
toda a vida útil da máquina. com estes novo material tem um custo 25% a 50%
Atendendo a que uma rede de distribuição possui, superior ao custo de um transformador tradicional. A
sempre, um número elevado de transformadores, uma utilização destes transformadores, só pode, por isso, ser
pequena diminuição das perdas de energia constantes feita num reduzido número de casos em que a poupança de
naquelas máquinas eléctricas, traduz-se por substanciais energia obtida justifica um elevado investimento inicial.
economias na exploração de toda a rede eléctrica. Por isso, Apesar dessas desvantagens, este novo tipo de
é uma agradável notícia o anúncio da utilização de transformadores de distribuição já é utilizado em número
materiais ferromagnéticos em ligas amorfas na construção significativo, e sem problemas especiais, em algumas
dos núcleos dos transformadores de distribuição, e a redes eléctricas na gama média de potência.
consequente diminuição das perdas magnéticas de 50 % a A diferentes dificuldades, inerentes a uma tecnologia
70 %, relativamente aos núcleos em chapa de aço emergente, que são apresentadas pela actual utilização dos
silicioso. Isto, sem alterar a fiabilidade ou as transformadores de distribuição com núcleo de materiais
características de funcionamento do transformador. amorfos, prenunciam uma maior investigação da qual há a
Resultantes de uma investigação, cujos primórdios se esperar: melhoria das propriedades magnéticas, que
estenderam dos anos cinquenta até aos anos setenta, as resultará de uma melhor compreensão dos problemas de
ligas de metais amorfos com propriedades ferromagnéticas física de estado sólido inerentes às novas ligas; melhoria
são essencialmente formadas por ferro, boro e silício, dos aspectos produtivos, possibilitando uma menor
mas, apesar de já estarem comercializadas, a sua estrutura espessura das bandas obtidas e um melhor coeficiente de
atómica e o seu comportamento ferromagnético empacotamento do núcleo; melhoria das condições de
necessitam, ainda, de um maior conhecimento e de uma construção por superação das dificuldades de maquinagem
maior compreensão. devidas ao valor elevado da dureza.
Estas ligas metálicas, sem estrutura cristalina, Perante as perspectivas que a utilização dos materiais
apresentam boas propriedades magnéticas, quando amorfos na construção do núcleo dos transformadores de
comparadas com o aço silicioso de estrutura cristalina: distribuição criam, é de esperar que as dificuldades agora
têm menores perdas por histerese; têm menores perdas por detectadas sejam rapidamente ultrapassadas, surgindo,
correntes de Foucault devido à resistividade elevada e à então, uma máquina eléctrica capaz de melhor contribuir
pequena espessura das bandas produzidas; necessitam de para uma distribuição racional da energia eléctrica.
uma corrente eléctrica de magnetização menor para se
I n du ç ã o M a g n é t i c a
Reprodução de uma página do diário de Faraday descrevendo experiências do dia 29 de Agosto de 1831
A experiência fundamental sobre a produção being as with the former coils; this side call B.
de Electricidade a partir do Magnetismo, Charged battery of 10 pr plates 4 inches square. Made
encontra-se descrita no diário de Michael the coil on B side one coil and connected its extremeties
Faraday. Considera-se, também, que aqui foi by a copper wire passing to a distance and just over a
descrito o transformador eléctrico pela primeira magnetic needle (3 feet from iron ring). Then connected
vez. the ends of one of the pieces on A side with battery;
“Aug. 29 th, 1831. Expts. on the production of immediatialy a sensible effect on needle. It oscillated and
Electricty from Magnetism, etc, etc. settled at last in original position. On breaking
connection of A side Battery again a disturbance of the
Have had an iron ring made (soft iron), iron round
needle.
and 7/8 inches thick and ring 6 inches in external
diameter. Wound many coils of copper wire round one Made all the wires on A side one coil and sent current
half, the coils being separated by twine and from battery through the whole. Effect on needle much
calico—there were 3 lenghths of wire each about 24 feet stronger than before. The effect on the needle then but a
long and they could be connected as one lenght or used very small part of that which the wire communicating
as separate lenghts. By trial with a trough (battery cell) directly with the battery could produce”.
each was insulated from the other. Will call this side of A interrupção do circuito A provocou a
the ring A. On the other side but separated by an indução de uma força electromotriz no circuito
interval was wound wire in two pieces together B; como o circuito estava fechado circulou uma
amounting to about 60 feet in lenght, the direction corrente eléctrica que foi detectada pelo
movimento da agulha magnética. •
© Manuel Vaz Guedes, 1995
16 C omportamento dos T ransformadores Trifásicos
Transformadores
0— Capacidade
Capacidade Serv. Ligação Observações
Transformadores
100 kVA Dist. D yn Isolamento seco; 17,5/0,4 kV
24,6 MVA Prod. — Central de Alto de Mira; 11,5/60 kV; (instalado 1975)
170 MVA Tr./Int YNynd Subestação de Riba d’Ave; 400/60/20 kV (instalado em 1989)
360 MVA Tr./Int YNa d Subestação de Riba d’Ave; 400/150/20 kV (inst. em 1987)
A pêndic e A
Fluxo T ot a li z a do
Nas máquinas eléctricas existem circuitos de material condutor, percorridos por uma intensidade
de corrente eléctrica (de valor instantâneo i) e formando bobinas com várias espiras (N).
A passagem da corrente eléctrica na bobina com N espiras
produz uma força magnetomotriz F = N·i, que, devido ao
comprimento do circuito magnético l, é responsável pelo
aparecimento de um campo magnético de intensidade H ;
F = N·i = H·l. Considerando que o circuito magnético tem
uma permeabilidade magnética constante µ = const., resulta
que o circuito magnético vai ser sede de uma indução
magnética B, tal que B = µ·H. Num ponto qualquer do
circuito magnético existirá um fluxo de indução magnética
φp = B·S, em que S é a área da secção recta do circuito
magnético nesse ponto.
Mas numa bobina de N espiras é natural que o fluxo de
indução magnética não seja o mesmo para cada espira (devido à variação da secção recta no ponto do
circuito magnético onde está a espira); surge, por isso, a consideração de um fluxo médio por espira φ.
Existe, no entanto, uma quantidade que representa todo o fluxo que envolve (liga ou encadeia) todas
as espiras: é o fluxo totalizado, ψ = N·φ .
A variação do fluxo totalizado é responsável pelo aparecimento de uma força electromotriz,
segundo a equação,
dψ
e = – dt
onde estão representadas duas leis do Electromagnetismo:
– Lei de Faraday — que estabelece que quando há uma variação do fluxo totalizado
que envolve um circuito eléctrico, gera-se uma força electromotriz proporcional a
essa variação (esta Lei foi formulada por Neumann em 1845, mas continua a designar-se Lei
de Faraday);
– Lei de Lenz — que estabelece que o sentido da força electromotriz gerada é tal que
o efeito de qualquer corrente eléctrica por ela produzida no circuito eléctrico tende
a opor-se à variação do fluxo indutor.
Quando se considera um circuito eléctrico percorrido por um corrente
eléctrica com uma intensidade que varia no tempo, verifica-se que essa
variação é contrariada por uma força electromotriz gerada no próprio
circuito. Denomina-se este fenómeno auto-indução; eL = – (dψL/dt).
O fluxo magnético responsável por essa força electromotriz é criado pela
própria corrente eléctrica variável no tempo.
Considerando o meio magnético com propriedades lineares é possível
definir um coeficiente entre o fluxo totalizado ψL que envolve a bobina e
a intensidade da corrente eléctrica que o cria i:
é o coeficiente de auto-indução L = ψ L/i.
Assim, eL = –L·(di/dt).
Quando se consideram dois circuito eléctricos próximos, tal que o fluxo totalizado criado pela
corrente eléctrica que percorre um circuito envolve o outro circuito, verifica-se que a uma variação
da intensidade de corrente eléctrica num dos circuitos corresponde o aparecimento de uma força
electromotriz induzida no outro circuito. Denomina-se este fenómeno indução-mútua: e21 =
1996 © Manuel Vaz Guedes
O Alternador Síncrono Trifásico — modelização 71
= – dψ21/dt.
O fluxo magnético totalizado ψ21 responsável pela força
electromotriz induzida no segundo circuito e21 é criado pela
corrente eléctrica que percorre o primeiro circuito i1.
Considerando que o meio magnético, onde se distribui o fluxo
de indução magnética tem propriedades lineares, é possível
definir um coeficiente entre o fluxo totalizado que envolve a
segunda bobina ψ21 e a intensidade da corrente eléctrica que o
cria i1 :
— .a —
N úcleo do T r a n s f o r m a do r
M a nue l V a z G ue de s
(Prof. Associado Agregado)
Devido ao carácter não linear das propriedades magnéticas do circuito magnético do transformador,
a forma de onda da corrente eléctrica de magnetização é não sinusoidal. Por isso, é não linear o circuito
eléctrico equivalente, capaz de modelizar os correspondentes fenómenos físicos, como o modelo que,
actualmente, é utilizado nos estudos do funcionamento em regime transitório de um transformador
aplicado em circuitos de medida, ou de protecção. Os conceitos envolvidos nesse tipo de modelização
analógica, servem, também, para o desenvolvimento de um modelo matemático programável para
integrar na simulação computacional dos regimes transitórios nos sistemas eléctricos.
Apesar dos problemas com a excitação do transformador, com a corrente de magnetização e com
as perdas no ferro já terem sido apresentados em diversos textos, [1] [2] [3], de uma forma que se tornou
clássica, actualmente, torna-se necessário a sua apresentação de uma forma que realce os problemas de
não linearidade, inerentes às necessidades de estudo do funcionamento de um transformador real nos
sistemas eléctricos contemporâneos.
i F H B ψ
O núcleo do transformador é construído com materiais ferromagnéticos, isto é, com materiais que
adquirem uma magnetização elevada quando são submetidos a um campo magnético externo. Quando,
esses materiais são submetidos a uma primeira magnetização, para valores crescentes do campo
magnético H, a indução magnética B assume valores que se podem relacionar através de uma curva de
magnetização inicial, ou, simplesmente, curva de magnetização.
Assim, para uma magnetização alternada simétrica a relação entre os valores da indução magnética
e o valor do campo magnético que os cria B(H) é um ciclo fechado — o ciclo histerético.
No volume do material que constitui o núcleo magnético, esta energia é dissipada, sob a forma de
calor: constitui a energia de perdas por histerese. Quando o campo magnético indutor da magnetização
é variável no tempo, periódico com uma frequência f, existem f ciclos de magnetização em cada segundo
e, consequentemente, haverá uma dissipação de energia devida à histerese magnética, com uma
densidade volúmica f·wm; isto é, as perdas por histerese são proporcionais à frequência de
A Corrente Eléctrica de Magnetização e A Formação do Circuito Equivalente 4
magnetização.
Mas, devido à variação, no tempo, do campo magnético existem, também, perdas de energia
motivadas pelas correntes de Foucault.
Correntes de Foucault
electromotriz; o que se consegue com a divisão da área transversa
(Laminagem) em diversas pequenas áreas, por utilização de um material laminado.
O valor da corrente eléctrica também é diminuído, através do
aumento do valor da resistência do circuito fechado, por um aumento da resistividade do material ρ, o que
se consegue com a adição de substâncias (silício) ao ferro em fusão.
Como consequência do efeito magnético das correntes de Foucault, surge o efeito pelicular, que
provoca a alteração da distribuição da indução magnética, perto do centro da lâmina de material
ferromagnético, por acção do campo magnético de reacção criado por aquelas correntes parasitas. Este
efeito é pronunciado quando o campo magnético indutor tem uma frequência elevada (> 950 Hz;
19º harmónico).
À soma das perdas de energia, num transformador, motivadas pelo acção de um campo magnético
variável no tempo, devidas à histerese magnética do material ferromagnético e às correntes de Foucault
que circulam nesse material, chama-se perdas no ferro. A densidade volúmica destas perdas de energia
é dada por uma fórmula do tipo,
wFe = WFe/v = wh + wcF = k1·f·Bm2 + k2 ·f2·Bm2
Quando se procuram reduzir as perdas por correntes de Foucault, por utilização de um núcleo
formado por um empacotamento de lâminas de material ferromagnético, surge um outro problema que
tem influência no valor da corrente eléctrica de magnetização. Devido à forma como é realizado o
empacotamento da chapa, essencialmente, devido à impossibilidade de se obter um ajuste perfeito
entre a chapa das colunas e das travessas, surgem pequenos entreferros nos percursos do fluxo
magnético. São zonas de permeabilidade magnética constante, mas baixa, µo = 4π·10–7 H/m, o que cria a
necessidade de uma corrente eléctrica de magnetização maior, para que nesses percursos o fluxo
A Corrente Eléctrica de Magnetização e A Formação do Circuito Equivalente 5
magnético permaneça com o mesmo valor constante, que tem nos percursos feitos no interior do material
ferromagnético. Para além deste, existem, ainda, outros fenómenos com efeitos cumulativos, como o
desenvolvimento de correntes de Foucault entre lâminas, que ocorrem devido à execução do
empacotamento do núcleo. O valor do acréscimo da corrente eléctrica de magnetização depende de
muitos parâmetros construtivos: pressão do empacotamento, tolerâncias no corte da chapa, aspectos de
montagem do núcleo, etc…
Como a relação entre o fluxo magnético totalizado e a corrente eléctrica que o cria — a corrente
eléctrica magnetizante [4, 05.25.115] — tem uma forma peculiar, um ciclo histerético, para o fluxo
magnético ter uma variação sinusoidal no tempo, a corrente eléctrica de magnetização apresenta uma
variação não sinusoidal.
φ
ψ1
φ
i1
ψ1 i
i1 i
0 t1 t
Construção Gráfica
A forma de onda da corrente magnetizante pode ser obtida através de uma construção gráfica, em
que nas respectivas escalas, são representadas as curvas de variação no tempo do fluxo totalizado ψ(t) e
a curva de variação do fluxo com a corrente ψ(i) para o material ferromagnético do núcleo. Fazendo
corresponder, para um dado instante t1, o valor do fluxo indutor ψ1 e o valor corrente magnetizante
necessária para o criar iψ1, obtém-se um ponto (iψ1, t1) da curva de variação no tempo da corrente
magnetizante consumida para manter um determinado valor de fluxo no núcleo magnético, iψ. De uma
A Corrente Eléctrica de Magnetização e A Formação do Circuito Equivalente 6
forma análoga podem ser determinados os pontos, da curva de variação da corrente eléctrica
magnetizante, correspondentes ao ciclo negativo do fluxo magnético.
Esta construção gráfica, com um carácter pedagógico notável, é actualmente substituída pela
determinação numérica da curva de variação da corrente magnetizante no tempo iψ(t), a partir da
expressão da variação no tempo do fluxo totalizado, ψ = ψm·cos(ωt), e da representação analítica do ciclo
histerético, através de funções exponenciais ψ = kr·(1–exp(–ks·iψ)), ou através de expressões
fraccionárias, ou através de séries de potências fraccionárias iψ = ∑r kr·ψαr, com αr < 1 . Normalmente, o
ciclo histerético encontra-se globalmente definido por várias expressões analíticas, válidas apenas para
uma gama de valores da corrente eléctrica magnetizante. Obtém-se, por cálculo, uma amostragem dos
valores da forma de onda da corrente eléctrica magnetizante, iψk(tk).
A forma de onda da corrente magnetizante, tem um andamento não sinusoidal. Devido à simetria
do ciclo histerético a forma de onda é constituída por duas semi-ondas com igual andamento, mas de
sinal contrário. Uma análise harmónica desta onda [5], permite verificar que devido à semi-onda positiva
ter andamento igual à semi-onda negativa, ela não possui termo contínuo, e apenas possui termos
harmónicos de ordem ímpar, e, na situação em estudo em que há simetria da onda da corrente eléctrica
relativamente ao eixo das ordenadas, essa onda apenas possui termos com variação em cosseno.
Verifica-se, ainda que a forma de onda da corrente eléctrica magnetizante possui um valor de pico
elevado, e que existe um ângulo de esfasamento entre a corrente eléctrica e o fluxo magnético: o ângulo
de atraso magnético. Também os termos harmónicos além da amplitude decrescente com a ordem do
harmónico, possuem um esfasamento (phase) próprio ϕh.
h 1 3 5 7 9 11 13
Quando, por simplificação, se considera que o ciclo histerético de um material ferromagnético tem
um andamento esbelto, em que o valor da força coerciva Hc é muito inferior ao valor do campo magnético
de saturação Hs, e, apenas, se considera representada pela curva de magnetização a variação do fluxo
magnético com a corrente eléctrica ψ(i), pode-se determinar a forma de onda da corrente magnetizante
A Corrente Eléctrica de Magnetização e A Formação do Circuito Equivalente 7
por uma construção gráfica análoga à anterior, ou por meio de determinação numérica, a partir das
expressões representativas das relações entre as grandezas envolvidas, t, ψ, iψ.
Nesta aproximação à realidade, a curva de magnetização ainda possui termos harmónicos, com
importância nas aplicações do transformador tanto para potências elevadas, como no domínio do sinal.
Uma última hipótese de estudo, consiste em considerar que durante todo o regime de
funcionamento do transformador não ocorre saturação magnética, ou que o seu ponto de
funcionamento está sempre colocado na parte rectilínea da característica de magnetização (zona II).
Nessa hipótese de estudo, a característica de magnetização é linear, e consequentemente a forma de
onda da corrente magnetizante é sinusoidal. Tal pode ser verificado por construção gráfica, ou por um
simples programa de computador…. Esta situação de estudo, que não corresponde à realidade do
funcionamento do transformador, pode ser necessária para aplicação de métodos de tratamento
analítico, como o método simbólico de representação de grandezas sinusoidais, ou para permitir a
representação das relações do fluxo magnético com a corrente eléctrica que o cria, através de parâmetros
(indutâncias) constantes, como ocorre em certas aplicações da Teoria Generalizada das Máquinas
Eléctricas.
Para que exista um determinado fluxo magnético ψ(t), com variação sinusoidal no tempo, no núcleo
do transformador é necessário que seja fornecido ao transformador uma corrente eléctrica magnetizante
iψ(t), que tem uma variação no tempo não sinusoidal. Mas a presença do fluxo magnético variável no
tempo, no núcleo ferromagnético do transformador, provoca o aparecimento de correntes de Foucault,
com um valor proporcional à variação do fluxo no tempo, mas com um sentido tal que cria uma força
magnetomotriz com um sentido, que se opõe ao da variação do fluxo magnético ψ. Essa acção tem de
ser contrariada por uma componente sinusoidal da força magnetomotriz, criada por uma corrente eléctrica
sinusoidal, com a mesma frequência que o fluxo magnético, que tem de ser fornecida ao transformador.
Só desta forma o fluxo magnético permanece no valor necessário para criar uma força electromotriz, e(t) =
= – dψ/dt, no enrolamento indutor, que verifique a equação eléctrica do enrolamento: u = Ri – e. Existe,
por isso, uma componente sinusoidal da corrente eléctrica de magnetização icF(t) que está em fase com a
A Corrente Eléctrica de Magnetização e A Formação do Circuito Equivalente 8
força electromotriz induzida e(t), e em quadratura avanço sobre o fluxo magnético ψ(t). Desta forma
verifica-se para a corrente de magnetização i(t) que: i(t) = iψ(t) + icF(t). Por isso, a corrente final mantem-se
distorcida, e aumenta o ângulo de atraso magnético.
Mas devido à construção laminada do núcleo do transformador, mesmo quando efectuada com a
melhor tecnologia (step-lap joint) e cuidado, existe a necessidade de fornecer uma corrente eléctrica de
magnetização superior ao valor necessário para contrariar a acção das correntes de Foucault e para criar
uma determinada onda sinusoidal de fluxo. Esse valor que depende do tipo, e modo, de construção do
núcleo, pode ser determinado por curvas de magnetização para os entreferros (joint), próprias para o tipo
de construção do núcleo utilizado, [1, p. 10]. Assim, o valor da corrente de magnetização, é:
i(t) = iψ(t) + icF(t) + nj·iψj(t)
não ultrapassando um valor de 5 % do valor da corrente do enrolamento, quando está alimentado pela
respectiva tensão nominal. Por exemplo, para um transformador de distribuição trifásico actual com
isolamento seco, (500 kVA, 15 000/400 V, Dy11, 50 Hz), verifica-se que a corrente de magnetização
i ≅ Io2 = 10,47 A (1,45 %). Para um transformador com uma capacidade inferior a 1 kVA, aquela relação
entre correntes eléctricas pode ser bastante diferente.
Em todo este estudo considerou-se que o fluxo magnético tinha uma variação sinusoidal no
tempo. Actualmente, devido à poluição harmónica introduzida nas redes eléctricas por cargas não
lineares, sucede que a tensão de alimentação do transformador, e, portanto, o fluxo magnético são não
sinusoidais. Nessa situação, todos os fenómenos descritos vêm agravados, e as Normas [6, § 8.4]
prevêem a redução da corrente eléctrica de magnetização a uma base de tensão sinusoidal.
responsável pelas perdas no circuito magnético, Ia. A corrente de perdas está em fase com a força
electromotriz e em quadratura avanço sobre a componente magnetizante da corrente de magnetização,
que nesta situação está em fase com o fluxo magnético.
3 Conclusão
Devido às características não lineares das propriedades magnéticas dos materiais ferromagnéticos
utilizados nos núcleos dos transformadores a corrente eléctrica de magnetização necessária à criação e
manutenção do fluxo magnético, é não sinusoidal e existem perdas magnéticas, por histerese e por
correntes de Foucault.
A consideração destas correntes eléctricas não sinusoidais, e das perdas de energia permite o
desenvolvimento de modelos do fenómeno de magnetização do núcleo do transformador, que
representam integralmente as reais condições de magnetização. Abandonando considerações
simplificativas usuais, surgem novos modelos, baseados em circuitos eléctricos equivalentes de
parâmetros concentrados, mas não lineares, que podem representar os fenómenos principais. Surgem,
também, modelos computacionais que apenas estabelecem relações entre expressões analíticas, de
difícil determinação…
Referências Bibliográficas
[1] E. E. Staff MI T; Magnetic Circuits and Transformers, MIT Press 1943
[2] L. F. Blume A. Boyajian G. Camilli; Transformer Engineering, John Wiley & Sons 1958
[3] Carlos Castro Carvalho; Transformadores, AEFEUP 1983
[4] CEI–05; Vocabulaire Electrotechnique Internationale — Définitions Fondamentales, CE I 1954
[5] Manuel Vaz Guedes; Grandezas Periódicas Não Sinusoidais, NE ME 1992
[6] ANSI/IEEE C57.12.90; IEEE Standard Test Code for Liquid–Immersed Distribution, Power, and Regulating
Transformers and…, IEEE 1987
[7] Manuel Vaz Guedes; Métodos Numéricos Para Análise do Campo Magnético das Máquinas Eléctricas,
dissertação de doutoramento, FEUP 1983
A Corrente Eléctrica de Magnetização e A Formação do Circuito Equivalente 11
Apêndice
∂F
= 2·∑ α ψr + β ψr2m+1 – ir · ψr2m+1 = 0
∂β r
A solução deste sistema de equações pode ser, rapidamente, determinada recorrendo à regra de Cramer. Com o
auxílio de um pequeno programa de computador, onde se considera que a amostragem foi feita em np pontos,
determina-se os valores dos parâmetros {α, ß} que ficarão no vector {a}.
– MVG.92 –
Máquinas Eléctricas 13 Resenha Histórica
T r a n s f o r m a do r Trifásico
(Prof. Associado)
DEEC-FEUP
No s ú l t i m o s an o s t e m au m e n t ad o a a p l i c aç ão d o s t r an s f o r m ad o r e s c o m
i so l am e n t o se c o n as i n st a l aç õ e s d e d i st r i b u i ç ão d e e n e r g i a e l é c t r i c a. Est e s
t r a n sf o r m ad o r e s o f e r e c e m m e l h o r e s c o n d i ç õ e s d e i n st al aç ão e m p o st o s d e
t r a n sf o r m aç ão i n t e r i o r e s: o c u p am u m m e n o r v o l u m e , são m ai s l e v e s, r e d u z e m o
p r e ç o g l o b al d o p o st o d e t r an sf o r m aç ã o e , ac t u al m e n t e , são c o n st r u íd o s d e
f o r m a a n ão al i m e n t ar e m , o u a n ão ag r av ar e m , u m a si t u a ç ão d e i n c ê n d i o .
De v i d o às su as c ar ac t e r íst i c as c o n st r u t i v as, e m q u e o n ú c l e o e o s
e n r o l am e n t o s e st ão env olv ido s por um meio i so l an t e se c o , e st e s
t r a n sf o r m ad o r e s t ê m c ar ac t e r íst i c as d e f u n c i o n am e n t o , asp e c t o s d e m o n t ag e m
e c u i d ad o s d e m an u t e n ç ã o q u e l h e são p r ó p r i o s.
A utilização dos transformadores com isolamento seco, por entidades públicas e privadas,
tem aumentado, apesar do seu preço ser superior ao dos transformadores imersos em óleo. Já
há alguns anos que os transformadores com isolamento seco são fabricados pela Indústria
Nacional.
1. Asp e ct os Const r ut iv os
Como não existe invólucro os terminais de ligação dos enrolamentos não necessitam de,
através de isoladores de travessia, serem colocados na parte superior da cuba. Os terminais
podem estar colocados dos lados do transformador, na parte superior ou na parte inferior, e
assim introduzirem uma maior versatilidade no projecto global do posto de transformação.
Para além do aspecto que já foi apresentado, cada uma das partes constituintes deste tipo
de transformadores tem aspectos construtivos que lhe são próprios, [ 5 ] .
Como são maiores os espaços entre enrolamentos estes núcleos são cortados com janelas
maiores do que as dos núcleos dos correspondentes transformadores imersos em óleo. Também
a superfície transversal das colunas do núcleo dos transformadores com isolamento seco é maior
porque a indução magnética nas colunas é menor e porque a tensão por espira é normalmente
maior, para diminuir a reactância do circuito eléctrico.
As características térmicas do material devem ser tais que permitam uma boa condução do
calor do enrolamento, onde é gerado por efeito Joule, para o ar envolvente. Isto reforça a
necessidade de umas boas características dieléctricas para ser possível obter um bom nível de
isolamento eléctrico com uma pequena espessura de material isolante. Também as propriedades
termo–mecânicas do material devem ser tais que, numa situação de curto–circuito, possam ser
fácilmente absorvidas as tensões mecânicas de origem térmica.
Para satisfazer todo este conjunto de restrições utiliza-se um material compósito formado
por: uma resina epoxi, um endurecedor e uma carga pulverulenta, que se destina a dar as
características mecânicas e térmicas requeridas pelo produto final. Esta pasta é normalmente
formada e vazada sob vácuo e a baixa temperatura. As características finais são obtidas por
polimerização a uma temperatura alta e, eventualmente, sob pressão. O material isolante assim
obtido apresenta características que o permitem classificar como pertencente à classe F —
admite um aquecimento de 100° K.
– Condutor revestido
– I solamento entre
camadas concêntricas
AT
Uma outra forma de realizar este enrolamento, de alta tensão, consiste em formar a bobina
com fio, ou barra de cobre esmaltado, sem qualquer revestimento, mas distribuído ao longo da
altura do transformador de uma forma estudada. Eventualmente esta bobina de alta tensão pode
P a r ti c u l a ri d a d e s d o s T ra n s fo rm a d o re s c o m I s o l a m e n to S e c o 5
ser imediatamente enrolada sobre o enrolamento de baixa tensão, com as diferentes camadas
separadas por um isolante à base de fibra de vidro. O conjunto é imediatamente envolvido e
moldado, sob vácuo, numa resina epoxi. O enrolamento de alta tensão fica, assim, com boas
características de comportamento à onda de tensão normalizada, consegue-se uma distribuição
de tensão ao longo do enrolamento com um gradiente linear, e também fica com uma estrutura
homogénea favorável à ausência de descargas parciais, a uma boa condução do calor, e ao não
aparecimento de rachaduras nas situações de choque térmico.
0,8 0,8
0,4 0,4
α=5
0,2 0,2
α=5
α = 10 α = 10
x/L 0,0 0,0
x/L
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
L2 L1 L2 L1
Atendendo à figura 4 pode-se verificar que a capacidade parcial entre espiras C'e depende
da permitividade relativa do material isolante εr , e da distância entre espiras d. Utilizando um
material com maior permitividade relativa εr , e diminuindo, por construção, a distância entre
espiras d, pode-se aumentar o valor da capacidade parcial entre espiras C'e. Na realidade, a
resina epoxi t em uma maior permitividade do que os materiais imersos em óleo de transformador
e a distância entre espiras pode ser diminuída pela utilização de um material isolante de boa
qualidade. São estas preocupações com a construção do enrolamento que levaram alguns
fabricantes a adoptar um enrolamento de alta tensão directamente montado sobre o
enrolamento de baixa tensão e isolado apenas pelo esmalte do cobre e pela resina epoxi que
molda o enrolamento.
P a r ti c u l a ri d a d e s d o s T ra n s fo rm a d o re s c o m I s o l a m e n to S e c o 6
L1
cm
' C'e
εr S
C' e ∝ d
d
L2
O valor da capacidade parcial entre espira e a massa C'm pode ser diminuído por um
aumento da espessura do dieléctrico (di+1 - di), como se demonstra atendendo à fórmula para o
cálculo dos condensadores cilíndricos com várias camadas de dieléctrico. No entanto, o valor da
espessura da camada dieléctrica está condicionado pela necessidade de uma condução rápida,
para o ambiente, do calor desenvolvido no enrolamento.
1 1 di+1
∝ ∑i ln ( )
c 'm εi r
di
di
di+1
Fig. 5 - Forma de alterar o valor da capacidade parcial entre espira e massa C'm
– Condutor
– Isolamento entre
camadas
BT
– Calço
– Reforço do isolamento
Os enrolamentos em banda, que são mais baratos que os outros enrolamentos, devido à
sua construção, apresentam uma boa resistência mecânica. Não se deformam fácilmente, mesmo
quando submetidos às tensões mecânicas provocadas por um curto-circuito. Mas, estes
enrolamentos apresentam problemas que condicionam a sua utilização em transformadores para
potências elevadas. A distribuição da corrente eléctrica ao longo da altura do enrolamento não é
constante [6], f igura 8, devido a fenómenos provocados pelas correntes de Foucault. Como a
distribuição da corrente não é uniforme, as perdas Joule também não se distribuem igualmente
por todo o enrolamento, e consequentemente o aquecimento do enrolamento não é uniforme.
J (A/m^2)
2,50
2,25
2,00
CC
1,75
1,50 CA
1,25
Como os transformadores com isolamento seco são, essencialmente, utilizados nas redes
de distribuição de energia eléctrica, são transformadores trifásicos. Por isso, existe um problema
construtivo relacionado com a ligação entre os enrolamentos das diferentes fases.
Na maioria dos casos essa ligação é feita por barras colocadas ao longo da parte lateral do
transformador. Mas quando o transformador tem o primário ligado em triângulo, é possível
estabelecer as ligações de um modo permanente, moldando o conjunto com a resina de
P a r ti c u l a ri d a d e s d o s T ra n s fo rm a d o re s c o m I s o l a m e n to S e c o 8
isolamento e dando-lhe a forma de uma barra que se coloca ao longo da superfície lateral do
transformador.
No enrolamento de alta tensão podem existir terminais que permitem efectuar a regulação
da tensão, por exemplo ± 5 %, com o transformador fora de carga.
Como o núcleo magnético dos transformadores com isolamento seco está protegido por
verniz, e os enrolamentos se encontram moldados na resina de isolamento, não é necessário
qualquer invólucro que o proteja das agressões físicas e químicas do meio ambiente exterior. É
até necessário que exista a possibilidade de o ar circular livremente nas proximidades do
transformador.
Mas, para certas aplicações, o transformador é colocado num invólucro metálico, tipo
armário, não desmontável, e com uma tampa para acesso aos terminais. Este invólucro possui
ranhuras para promover a circulação do ar, e, eventualmente, pode possuir ventiladores que
provocando uma maior circulação do ar e uma ventilação forçada do transformador permitam um
regime de funcionamento com uma maior sobrecarga temporária.
Os materiais utilizados como isolantes, resinas epoxi e tecidos de fibra de vidro, são caros.
Por isso o preço de um transformador com isolamento seco é aproximadamente 1,5 vezes
superior ao preço de um transformador equivalente imerso em óleo.
X2 R2
I 12 I o2 I
2 U 12 = U + Z I
2 2 2
U 12 U
R o2 X o2 2
I 12 = I o2 + I 2
O aumento das perdas em vazio traduz-se por uma diminuição relativa do valor da
resistência de magnetização, reduzida ao secundário Ro 2 .
8
U1n = 15 kV
(%)
6
c.c.
4
de
Tensão
2
Tr. seco
Tr. óleo
0
Potência nominal
100 250 400 800 1600
(kVA)
I II
Note-se, finalmente, que devido a um valor menor das perdas constantes, devido a um
maior valor das perdas por efeito Joule, e ao maior custo dos transformadores de isolamento
seco, a justificação para a sua utilização, em substituição de um transformador imerso em óleo,
carece de um cuidadoso estudo económico.
4. Conclusõe s
Os transformadores com isolamento seco têm particularidades construtivas que lhes dão
características de funcionamento próprias. É, por isso, muito importante os seu conhecimento
quando se torna necessária a utilização deste tipo de transformadores nas instalações de
distribuição de energia eléctrica.
[2] MIT E. E. Staff, " Magnetic Circuits and Transformers", MIT Press, 1 9 4 3
P a r ti c u l a ri d a d e s d o s T ra n s fo rm a d o re s c o m I s o l a m e n to S e c o 12
[3] R. Feinberg, " Modern Power Transformer Practice", MacMillan Press, 1 9 7 9
[4] A. Fernandes Costa, " Utilização do Método dos Elementos Finitos na Análise em Regime Transitório
do Campo Térmico de Máquinas Eléctricas Estáticas", Congresso 89 da Ordem dos Engenheiros,
1989
[5] Comissão Electrotécnica Internacional - 726, " Transformateurs de Puissance de Type Sec" ,
Publicação CEI-726, 1 9 8 2
[6] Crepaz S., Cirino A., Sommaruga E., " Behaviour of Foil Windings for Inductors and Transformers" ,
ICEM' 88, 1988
– MVG 90 –
Máquinas Eléctricas 12 Resenha Histórica
O T r a n s f o r m a do r G a n z
Transformadores em SF6
Eng. Manuel Vaz Guedes
Aplicação de T r a n s f o r m a d o r e s
sem
Manutenção
1
absorção pelo terreno circundante e a contaminação regeneração da rigidez dieléctrica, depois de
da camada freática. submetido a ruptura pelo arco eléctrico. Este gás,
Para evitar alguns destes inconvenientes um como condutor térmico, apresenta um elevado calor
transformador imerso em óleo possui um específico, o que facilita o transporte do calor dos
conservador, onde existe uma certa quantidade de enrolamentos onde se desenvolve para a superfície
óleo, capaz de compensar qualquer pequena da cuba onde se dissipa. O SF6 não é solúvel em
variação do volume de óleo. Na instalação de um água nem aquecido liberta elementos tóxicos ou
transformador imerso em óleo é recomendada a perigosos, pelo que não apresenta agressividade
existência de canalização condutora para uma fossa ambiental.
de dimensões suficientes, evitando-se assim o Todo o gás utilizado no transformador está
derrame do óleo no terreno, num caso de avaria. contido na cuba, com um valor de pressão pequeno
Estas medidas, aplicadas aos transformadores (1 bar a 4 bar). Por isso, a cuba não necessita de
imersos em óleo, obrigam a que a instalação — respeitar as normas construtivas para recipientes
interior exterior ou protegida — requeira para a sua submetidos a elevadas pressões, registando-se
construção uma superfície maior de terreno. Nas mesmo casos de utilização do alumínio na
cidades densamente habitadas e em grande construção dessa cuba.
expansão tornou-se difícil reabilitar, com aumento de Como o gás tem um dupla função de isolante
potência, antigas subestações de transformação eléctrico e de condutor térmico, através do valor da
porque o terreno adjacente, quando disponível, é respectiva pressão e do método de refrigeração
excessivamente caro. Também a inserção da consegue-se uma grande variedade de soluções
subestação numa área habitacional exige que ela construtivas e características nominais: um aumento
tenha um carácter “não inflamável”. da pressão do gás pode traduzir-se por uma maior
Esta situação levou ao desenvolvimento de potência nominal ou por um menor atravancamento
transformadores com isolamento seco para zonas do transformador.
habitacionais e com grande densidade energética: O arrefecimento do transformador pode ser
transformadores encapsulados em resina e feito por convexão natural do gás ou por circulação
transformadores imersos em gás. forçada de um outro líquido refrigerante, que pode
estar ou não estar em contacto directo com o
hexafluoreto de enxofre.
O Transformador Devido à utilização do hexafluoreto de enxofre
e de lâminas de isolantes sintéticos no isolamento
Os transformadores imersos em hexafluoreto
dos enrolamentos do transformador, que são
de enxofre (SF6), que, na actualidade, foram
materiais isolantes com constantes dialéctricas
desenvolvidos por investigadores japoneses, diferentes das habituais, as distâncias entre
apresentam aspectos construtivos próprios. O enrolamentos e entre subenrolamentos e as
núcleo magnético é formado pelo empacotamento dimensões dos calços de separação dos
de chapa magnética, sem pernos de aperto e
enrolamentos vêm alteradas, o que, sendo uma
sustentado por uma estrutura de perfilado de ferro.
particularidade construtiva, não chega a influenciar o
Os enrolamentos são isolados com materiais
valor das dimensões globais do transformador.
sintéticos e podem ser do tipo bobina ou do tipo em
banda de cobre, conforme a intensidade da corrente
eléctrica que os atravessa.
As Vantagens
Estes orgãos, que formam a parte activa do
transformador, encontram-se encerrados no interior Os transformadores em SF6 apresentam um
de uma cuba hermética. conjunto de vantagens e alguns inconvenientes.
O material isolante eléctrico e condutor do calor Como vantagens deste tipo de
utilizado para promover o isolamento eléctrico e o transformadores salienta-se que são seguros quanto
arrefecimento do transformador é um gás: o ao contacto acidental porque têm as partes activas
hexafluoreto de enxofre (SF6). Trata-se de um gás protegidas por uma cuba. O material isolante, o SF6,
que, como isolante eléctrico, tem um valor da rigidez é autoregenerador quanto à ruptura pelo arco
dieléctrica duas vezes e meia superior à rigidez do ar eléctrico. Apresentam materiais isolantes
à pressão atmosférica, e que apresenta uma boa quimicamente estáveis e sem problemas de
2
envelhecimento. verificar o comportamento dos circuitos de terra (artº.
O comportamento destes transformadores 60), e a obrigatoriedade de inspecções periódicas
quanto ao impacto ambiental é bom porque no fim da (artº. 102) por pessoal especializado (artº. 103), que
vida útil os seus materiais são recicláveis, não terá de trabalhar segundo certos procedimentos
apresentam agressividade ambiental durante o regulamentados (artº. 105; artº. 106; artº. 107),
fabrico e durante o funcionamento, e funcionam formam a base para o estabelecimento de um
bem tanto protegidos do meio ambiente em programa de manutenção daquelas instalações
instalações interiores como expostos em instalações eléctricas.
exteriores. Existindo sessões de manutenção de uma
Quanto à aplicação destes transformadores subestação ou posto de transformação, no caso da
imersos em gás verifica-se que apresentam uma boa aplicação do transformador em SF6, essas sessões
capacidade de sobrecarga, que não necessitam de terão uma duração menor porque o transformador
fossa na sua instalação, o que reduz as não necessitará dos actos de prevenção que
necessidades de espaço para construção das consistem na análise física e química feita ao óleo
subestações ou postos de transformação. mineral, pelo menos uma vez em cada decénio. Mas,
Verifica-se que um transformador em SF6 são sempre de aproveitar as sessões de vistoria e
manutenção para efectuar a medida da resistência
ocupa menos 30% de espaço e apresenta-se como
de isolamento, do valor das tensões e da razão de
valor típico na sua aplicação uma redução de 15% no
transformação, verificar o estado dos isoladores de
custo global de uma subestação, apesar deste tipo
travessia e dos dispositivos de protecção como a
de transformador ser mais caro que o tradicional
válvula de sobrepressão, e verificar o circuito de
transformador imerso em óleo. O preço constitui o
arrefecimento secundário, quando exista.
seu maior inconveniente…
Trata-se de actos de manutenção preventiva
comuns aos transformadores imersos em óleo, que
A Manutenção devem ser executados nos transformadores em
SF6. Como são procedimentos simples, alguns
Os transformadores em SF6 são aplicados deles de mera inspecção visual, pode-se considerar
numa vasta gama de potência de 100 kVA a 10 kV que a manutenção destes transformadores é,
até 63 MVA a 110 kV, podendo ter arrefecimento praticamente, inexistente.
por convexão natural ou por circulação forçada
através de um líquido refrigerante. Aconselha-se a
aplicação destes transformadores em aéreas Conclusão
densamente povoadas e com pouco espaço
disponível, na reabilitação com aumento da potência Os transformadores imersos em hexafluoreto
de instalações existentes, em instalações que exijam de enxofre (SF6) devido aos seus aspectos
uma boa capacidade de sobrecarga, em ambientes construtivos e às características daquele gás
agressivos (indústria química e metalúrgica), em requerem um conjunto pequeno de actos de
instalações com manutenção reduzida. manutenção, essencialmente no cumprimento do
Quando aplicados os transformadores em SF6 disposto no Regulamento de Segurança. Por isso,
podem-se aproveitar as sessões de manutenção da
integram-se numa instalação eléctrica — subestação
instalação para efectuar as poucas, e simples,
ou posto de transformação — que, devido á
acções necessárias à manutenção dos
imposição legal consagrada no Regulamento de transformadores em SF6.
Segurança de Subestações e Postos de
Transformação e Seccionamento (RSSPTS) tem, MVG
necessariamente de estar submetida a um programa
de manutenção preventiva. A necessidade de
verificar as ligações à terra de protecção (artº. 52), de
3
MÁQUINAS ELÉCTRICAS ELECTRICAL MACHINES
1/2
Bobinas Derivação
Eng. Manuel Vaz Guedes
As colunas do núcleo magnético são ligadas por travessas, como nos transformadores
2/2
de potência. No caso das bobinas trifásicas, para além do tipo de montagem típico do
núcleo de colunas com duas janelas, existe uma outra forma em que as três colunas são
ligadas nos topos por travessas cilindrícas, formando um núcleo em templo, com a forma
construtiva dos primeiros transformadores trifásicos (1891).
As bobinas derivação são uma máquina eléctrica com um fabrico condicionado por
um mercado reduzido, o que justifica um reduzido número mundial de fabricantes.
MV G
3/2
Bobinas Derivação
MV G
O Posto de T r a n s f o r m a ç ã o
Transformadores
CORRENTE ELÉCTRICA DE LIGAÇÃO EM VAZIO
Para se estudar este fenómeno considera-se que são válidas todas as condições de estudo da Teoria
Generalizada [MVG-4]. Assim, a equação matemática que traduz o funcionamento do circuito eléctrico
primário do transformador é:
u1 = r1 i1 + (dψ1/dt)
TRANSFORMADORES - regime transitório A.2
Como se considera que é linear a relação entre o fluxo magnético e a corrente eléctrica que o cria, é
possível escrever,
em que L é uma indutância constante correspondente ao fluxo principal e ao fluxo de fugas criado pelo
enrolamento primário. A equação da tensão para o circuito da figura 1 passa a ser:
A equação (A-2) poderia ser integrada numericamente, mas como é uma equação diferencial de
primeira ordem com segundo membro e coeficientes constantes será integrada analiticamente. A solução é
constituída por um termo referente ao regime permanente e outro referente ao regime transitório.
ψ1 = ψp + ψt (A-3)
ψt = C exp((- r1/L)t)
e
C = √2 ψ cos θ + ψ1o
Analisando a expressão (A-6) da variação do fluxo ψ1 no tempo verifica-se que o momento mais
favorável para a ligação do transformador corresponde a θ = /2, ou seja no máximo da tensão.
A componente transitória tem um valor pequeno e o fluxo total no enrolamento primário ψ1 converge para
o valor do fluxo em regime permanente ψ1 = √2 ψ sen(ωt+θ).
A situação óptima de ligação do transformador corresponde à não existência de fluxo remanente, ψ1o = 0.
Meio período após a ligação (ωt = ), o valor de ψ1 terá quase duplicado porque
para t = /ω é r1 « Lω e exp(-r1t/L) ≈ 1.
ψ1 ≈ √2 ψ [ 2 ] + ψ1o (A-9)
Exemplo de aplicação
Se fosse possível continuar a admitir que o circuito magnético tem propriedades lineares, poder-
se-ia aplicar o princípio da sobreposição no estudo do fenómeno. Integrava-se a equação (A-2) para cada
um dos harmónicos e sobrepunham-se os resultados.
Uma outra condição de estudo da Teoria Generalizada estabelece que os parâmetros do circuito
eléctrico são constantes. É preciso notar, no entanto, que o valor da resistência medido em corrente
alternada (50 Hz) é diferente do valor da resistência medido em corrente contínua e que esse valor altera-se
com a variação da temperatura. Daí que seja necessário definir muito bem as condições em que se efectua a
ligação do transformador para uma melhor caracterização do modelo físico equivalente.
ψ1 = √2 ψ [ 2 ] + ψrem ou ψ1 = √2 ψ [ 2 ] - ψrem
O fenómeno poderia ser melhor descrito, para cada termo harmónico da tensão de alimentação,
pela equação diferencial não linear (A-10) com a condição inicial (A-11).
Este conjunto de equações, de difícil integração analítica, poderia ser integrado numericamente.
— MVG —
√-87
Referências Bibliográficas
Capacidades em derivação
Núcleo
terra
Concêntrico
Transformador de Colunas
Cs pequeno
onda Cd grande
(enrolamentos
Núcleo
concêntricos)
√.96
TLME