Você está na página 1de 18

Demanda x Suprimento de oxigênio:

Como mencionado anteriormente, deve haver o fornecimento (suprimento) adequado de O 2 (pela TM)
para garantir que a demanda requerida pelas células seja atendida.

Assim, podemos realizar uma análise crítica e definir condições de processo e porexemplo, definir a
condição requerida de mistura nas situações mais críticas.

Podemos fazer a seguinte análise: Em uma dada situação, teremos que a taxa de suprimento é igual a
taxa de consumo de O2:

Essa expressão é útil para


especificarmos o (kla)crítico para
o projeto de reatores

kL.a: Parâmetro característico do fermentador


para a TM de oxigênio

Se kLa te valore baixo  há limitações de TM e portanto há limitações de fornecimento de O2 para as


células.

Demanda x suprimento de O2
no Caldo de Fermentação
Quando a transferência de O2 é a etapa limitante, a taxa de consumo
de O2 é igual à taxa de transferência de O2:

r(O2) = f (microrganismo, reator)

OUR = X qO2 = kLa (C*AL - CAL)

onde:
OUR: taxa de consumo de O2
qO2: taxa específica de consumo de O2
X: concentração de células
kLa: coeficiente volumétrico de transferência de O2
C*AL: concentração de O2 de saturação
CAL: concentração de O2 no seio do líquido
kLa= f (reator, meio fermentativo)

1
Suprimento x Demanda de O2
no Caldo de Fermentação

Se o requerimento de O2 para a manutenção é desprezível


comparado ao do crescimento:

X
 k L a (C *AL C AL )
YX/O 2

dX
 YX/O 2 k La (C *AL CAL )
dt

Para um determinado reator, onde o valore de kL.a é conhecido, é possível encontrar a concentração
máxima de células que o biorreator permite suprir oxigênio. A fase onde haverá a maior demanda por
oxigênio é o final da fase exponencial. Assim, no final desta fase de crescimento, se considerarmos que o
biorreator está suprindo todo o oxigênio que as células precisam, a concentração de oxigênio dissolvido
será praticamente nula (CAL0). Neste caso, a concentração de células será máxima (XMAX).

Voltando para a equação:

Assim, uma análise crítica permite concluir que se pretendemos aumentar o XMAX, uma alternativa é
elevar o valor de .

De qualquer forma, uma pergunta que todo engenheiro de bioprocessos que trabalha com biorreatores
faz é ... o que pode ser feito para melhorar o suprimento de O2?

2
O que fazer para para eliminar as limitações de oxigênio?

Transferência de Oxigênio em fermentadores


𝐴 = 𝐿 ( 𝐴𝐿 𝐴𝐿 )

Coeficiente local
de TM da fase Área interfacial Força motriz para TM
líquida

Alterando o diâmetro da bolha,


Altera-se a área interfacial

O que fazer para elevar a taxa de transferência de massa?


Quais são os principais aspectos que influenciam?

Essa pergunta é a mesma que pensar em o que fazer para elevar a taxa de transferência de massa.

Para responder essa questão, é necessário voltar para os principais aspectos que influenciam a
transferência de massa.

Resposta:

1. Elevar a área interfacial de TM

2. Alterar kLa: Sistemas de agitação – significa alterar a fluidodinâmica. Como exemplo: aumentar a
velocidade de agitação.

3. Diminuir a temperatura para aumentar a solubilidade do oxigênio no meio (Elevar CLA*)... mas por
consequência, pode limitar a cinética de crescimento celular.

Vamos fazer uma análise para cada um destes itens levantados:

3
1. Elevar a área interfacial de TM Significa alterar o tamanho das bolhas. O diâmetro ideal é de
cerca de 3 mm)

O fornecimento de oxigênio ocorre normalmente pela aspersão de ar, logo abaixo do impelidor
(agitador), que dispersa o ar pelo reator.

Até um certo limite!! Se as bolhas forem muito pequenas ( < 1 mm), pode ocorrer:
 Rápido equilíbrio de O2 com o fluido (isso significa que acaba o suprimento de O2);
 Para o caso de fluidos viscosos: haverá longos períodos de permanência das bolhas no
reator;
 Elevam a área interfacial, porém diminuem kL. Como a (bolhas se comportam como
esferas rígidas, pois o fenômeno de tensão interfacial predomina, limitando a
movimentação do gás no interior das bolhas)

Entramos aqui com o conceito de gás hold up (ideal 0,01 a 0,2):

2. Sistemas de agitação

A aeração ocorre normalmente por borbulhamento de gás no fundo do biorreator:

4
Aeração por Borbulhamento

transferência de limitada pela transferência de O2 através


O2 até as células do filme de líquido que circunda as bolhas

Desintegração das bolhas

Ascensão das bolhas

Formação das bolhas

Pode haver coalescência das bolhas (colisão e junção das bolhas). Isso não é desejado, pois diminui a
área interfacial. A coalescência depende das propriedades dos líquidos. Deve haver um balanço entre
velocidade de agitação do impelidor e fluxo de gás. Dependendo da vazão de gás e da velocidade de
agitação, a distribuição das bolhas pode ser comprometida:

Distribuição das bolhas de gás em um biorreator aerado


em função da velocidade de agitação do impelidor (Ni)
e do fluxo de gás (Fg)

Aqui a
mistura é
melhor!

Uma forma de exemplificar a dependência de kL.a com a agitação é na figura abaixo:

5
Dependência de kLa pela velocidade
de agitação de um biorreator

Alteração da
Fluxo de gás constante fluidodinâmica do
sistema que
favorece a TM

Melhorando a agitação, aumenta kL.a e por consequência, a taxa de transferência de massa (de O2) é
elevada.

Existem outras alternativas para a dispersão do ar nos biorreatores:

Difusão por tubos de silicone

6
Perfusão de Meio Aerado

Aeração externa, com câmara de


oxigenação separada do biorreator:

Sistema de separação
de células
Biorreator

Unidade de
oxigenação

Aeração Superficial

Sistemas para cultivo estático

Sistemas para cultivo agitado


com circulação de ar

Sistemas para cultivo agitado Saída Entrada


de gás de O2

7
Cuidado!! Muitas culturas geram espuma com a agitação. Neste caso, o uso de antiespumantes pode
diminuir kL, por mudanças nas propriedades de superfície das bolhas e limitar a transferência de massa.

Formação de Espuma em Reatores Aerados

 Ocorre freqüentemente em reatores


aerados por borbulhamento;

 Normalmente consiste em um problema,


causando entupimento em válvulas e
filtros e depósitos em eletrodos,
dificultando a operação do biorreator;

 Pode ser controlada pela adição de


agentes tensoativos ou pelo uso de
quebradores de bolhas mecânicos.

À medida que a dispersão das bolhas é melhorada, pode ocorrer a formação de espuma  muitas
células produzem substâncias que estabilizam a espuma (proteínas, polissacarídeos).

Os tensoativos afetam a superfície da bolha e sua tendência a coalescer. No entanto, podem afetar a
TM. Eles abaixam a tensão superficial, tendem a diminuir o diâmetro da bolha, aumenta a área
superficial. Mas as bolhas podem se comportar como esferas rígidas e abaixar kL. De modo geral, kLa
diminui.

A alternativa ao uso de tensoativos é a utilização de “quebra espuma” – uma barreira mecânica


localizada na parte superior do líquido. O acúmulo de espuma pode favorecer a contaminação. Sempre é
necessário avaliar as consequências e definir ações no processo que minimizem os riscos.

3. Temperatura – afeta a solubilidade do O2 e kl:


a. Elevação de T:
i. diminui CAL* (solubilidade de oxigênio no líquido), diminuindo a força motriz
para TM (CAL*- CAL);
ii. Aumenta a difusividade do Oxigênio na interface, elevando kL.
iii. A elevação dependerá da resultante destes dois fatores e da faixa de
temperatura utilizada

8
Efeito da temperatura na transferência de oxigênio

Elevação de Temperatura:
-Diminui CAL* (solubilidade de oxigênio no líquido),
diminuindo a força motriz para TM (CAL*- CAL);
- Aumenta a difusividade do Oxigênio na interface,
elevando kL.

O efeito da elevação da temperatura dependerá da


resultante destes dois fatores

Temperaturas
10 a 40oC  Vantagens difusionais prevalencem
Acima de 40oC  Efeito da diminuição de solubilidade do O2 prevalece

4. Pressão parcial do Oxigênio:


a. Enriquecimento do gás a ser borbulhado com O2  Afetará diretamente a solubilidade
do Oxigênio. Mas o custo aumentará!
b. Elevação da pressão total do sistema (pT)

Solubilidade de
O2 no líquido

pAG: Pressão parcial yAG: Fração


pT: Pressão total do H: constant de Henry
do O2 molar de O2 (função da temperatura)
gás
no gás

Como :

Elevando o valor de , eleva-se a


foraça motriz para TM
Dependerá da viabilidade do custo!!

9
5. Presença de células:

O aumento da concentração de células pode levar a um aumento de viscosidade do meio. Isso pode
levar a alterações nas propriedades reológicas ao longo de um processo conduzido em regime
batelada. Assim, o valor de kLa é modificado ao longo do tempo de fermentação. Nessas
circunstâncias, é interessante realizar a análise do kLa nas condições críticas.

Assim, meios mais complexos podem levar a uma menor taxa de TM  alteram kLa

Veja o exemplo abaixo, que apresenta o valor de kLa em diversos tempos do processo batelada:

Estimativa de kLa
Uma etapa importante é quantificar adequadamente o valor de kL.a:

Como obter o kLa?

- obtidas a partir de publicações


- baixa precisão para sistemas biológicos
Correlações empíricas
- TM influenciada pelos compostos
presentes no meio de cultivo

Medidas experimentais Método dinâmico

10
Exemplos de correlações:

Como obter o kLa?

Correlação empírica típica para kLa:

kLa = k (Pg/V)0,4 Vs0,5 N 0,5

k: constante empírica
Pg: potência requerida (HP)
V: volume do biorreator (m3)
Vs: velocidade de saída do gás (cm/min)
N: taxa de agitação (rpm)

Pg = A [(Pu2 N Di3)/Q0,56]0,45

A: constante baseada na geometria do reator


Pu: potência requerida pelo fermentador não aerado (HP)
Di: diâmetro do elemento de agitação (cm)
Q: taxa de aeração (volume de gás por minuto por volume de líquido no reator)

Procedimento experimental:

O experimento consiste em desligar o fornecimento de ar por um determinado período. O gás


nitrogênio pode ser fornecido na mesma pressão que o ar estava sendo suprido (para não alterar a
fluidodinâmica).

Após este período, iniciar novamente o fornecimento de ar.

CAL deve estar o tempo todo acima de Ccrítico  para que a taxa de consumo de O2 seja independente do
nível de oxigenação.

A hipótese aqui é que em um período curto de tempo a concentração de células não é alterada (não
aumenta), mas a demanda de O2 se mantém (as células estão vivas!!).

O seguinte comportamento da concentração de oxigênio dissolvido é encontrado:

11
Como obter o kLa?

Medidas experimentais  Método dinâmico


Baseado no balanço de oxigênio em regime não estacionário

CAL
Ar desligado
Ar ligado
CAL: : conc. de O2 no
CAL2 estado estacionário

CAL1 CAL – CAL1


ln
CAL – CAL2
k La =
t2 – t1
Ccrítico

t0 t1 t2 Tempo

O procedimento agora requer que seja realizado um balanço material, envolvendo as taxas de
suprimento e de consumo de O2:

=0
(foi desligado o suprimento de O2
É uma análise em
regime transiente.
Portante, existe
acúmulo!

Depende da célula!
Ainda tem O2 dissolvido no meio
(lembre-se, durante todo o experimento, a concentração de
O2 não caiu abaixo do valor crítico!)

V= volume do reator

NA = Taxa de transferência de massa (suprimento de oxigênio – lembre-se que existe


oxigênio dissolvido no meio)

QO = = taxa de consumo de oxigênio pelas células

t = tempo

12
Toda a análise ocorre durante a reoxigenação do sistema, que não está em regime estacionário (em
termos de fornecimento de oxigênio).

Assim, podemos escrever:

Para o termo de consumo de oxigênio :

Aqui fazemos a seguinte análise:

Estimativa baseada quando se atinge o regime estacionário novamente (isso significa que no período de
tempo em que fazemos a análise, volta a um valor constante.

Nesse caso:

Aplicando o balanço material para a nova condição de regime estacionário:

Não há mais mudança de CAL com o tempo: CAL = (veja a imagem do gráfico!)

Assim,

Tx de suprimento O2 = tx de consumo de O2 pelas células:

Voltando para a equação principal e substituindo o último termo:

Tem-se:

13
Como a análise ocorre por um período curto de tempo, podemos assumir que kLa será constante. Assim,
é possível integrar a equação acima entre os tempos t1 e t2:

Experimentalmente, durante o experimento, antes de se alcançar o valor da concentração de oxigênio


dissolvido no novo estado estacionário ( , realizam-se várias medidas de CAL em diversos tempos
(durante o regime transiente):

Várias medidas
de tempo e CAL Coef. Angular é o
Plotar: próprio kLa

tempo

14
Como obter o kLa?

Método dinâmico:
 Durante a re-oxigenação o sistema não está em estado estacionário.
 A taxa de variação na DO neste período é igual à taxa de fornecimento
de O2 ao meio menos a taxa de consumo de O2 pelas células:
dCAL
 kLa (C * AL CAL ) - qO2 X
dt
 Pode-se determinar a expressão qO2X considerando-se a DO final em
estado estacionário CAL.
Quando CAL = CAL dCAL/dt = 0 (CAL não varia com o tempo)

kLa (C * AL CAL )  qO2 X


CAL – CAL1
ln
CAL – CAL2
dCAL k La =
 kLa (CAL  CAL ) t2 – t1
dt

Limitações:

- O sensor de oxigênio dissolvido deve ter tempo de resposta rápido o suficiente para a medida de CAL

- tempo de residência elevado do gás no reator. Inapropriado para caldos de fermentação viscosos.

Existe uma interação entre a transferência de oxigênio e transferência de calor!

As células possuem atividade metabólica, que gera calor.

A taxa de calor gerado em culturas aeróbicas e proporcional a taxa de consumo de oxigênio.

A fase final do crescimento exponencial é o momento de maior consumo de oxigênio e também onde há
maior geração de calor. Assim, em grandes fermentadores, é necessário projetar um bom sistema de
troca térmica.

Uma estimativa é: ΔHR metabolismo aeróbico  -460kJ/mol O2 consumido

Lembre-se, em um sistema batelada há variações dos parâmetros ao longo do tempo. O mesmo ocorre
para a geração de calor. Assim, o projeto deve atender as situações mais críticas!

15
Exercícios:

1. Considerando que um fermentador está em estado


estacionário em termos do suprimento e consumo
de O2, calcule a máxima concentração de células
passível de ser obtida no sistema.

2. O que se poderia fazer para diminuir as limitações


de O2?

3. O que fazer para elevar a taxa de transferência de


massa? Quais são os principais aspectos que a
influenciam?

1. Cálculo da máxima concentração de células


passível de ser obtida

Suprimento de O2 (leva em consideração as condições de TM):

NA = kL a (C*AL – CAL)
Consumo de O2:
OUR = X
qO2
No regime estacionário:

NA = OUR X qO2 = kLa (C*AL - CAL)

A máxima concentração de células (Xmax) é decorrente da


maior taxa de O2.

1. Cálculo da máxima concentração de células


passível de ser obtida

Como kL.a é característico do sistema, a máxima taxa se dará


quando a força motriz for a maior possível.

Maior força motriz neste caso CAL = 0

(C*AL - CAL) = (C*AL - 0)

kLa C*AL
Assim: Xmax qO2 = kLa (C*AL - 0) Xmax = qO2
Se:
• Xmax estimado é menor que o necessário para o seu
processo, a alternativa é elevar kLa.
• Xmax estimado é maior que o desejado para o processo, a
transferência de massa está adequada.

16
2. O que se poderia fazer para diminuir as limitações de O2?

Melhorar a transferência de massa.

3. O que fazer para elevar a taxa de transferência de massa?


Quais são os principais aspectos que a influenciam?

- Elevar a área interfacial de TM: menor diâmetro, maior área


interfacial global.

- Alterar kLa: mudar o sistema de agitação

- Alterar a temperatura

- Elevar C*AL: aumentar a fração de O2 na alimentação


(trabalhar com ar enriquecido)

Resposta:

Suprimento de O2 (leva em consideração as condições de TM):

Consumo de O2:

No regime estacionário:

Máxima concentração de células que um fermentador pode suportar em termos de transferência de


massa de O2:

O máximo X (Xmax) será decorrente da maior taxa de consumo de O2. Como kL.a é característico do
sistema, a máxima taxa se dará quando a força motriz for a maior.

Neste caso, CAL = 0:

Maior força motriz:  Situação em que todo oxigênio fornecido está sendo
consumido.

Assim:

17
Se

- Xmax estimado é menor que o necessário para o seu processo, a alternativa é elevar kLa (isso significa
reavaliar o sistema de transferência de massa.

- Xmax estimado é maior que o desejado para o processo, a transferência de massa está adequada.

Assim, podemos também especificar kla que garanta CAL > CAcrítico:

Isso permite o ajuste do projeto do reator!

Bibliografia recomendada

Doran, P. M. - Bioprocess Engineering Principles, 2a edição, Editora


Academic Press Ltd., London, 2013. Capítulo 10

Shuler, M. L. e Kargi, F. - Bioprocess Engineering Basic Concepts, Editora


Prentice-Hall International Inc., Englewood Cliffs, 1992. Capítulo 6

18

Você também pode gostar