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5.1 Introdução
Os reatores biológicos funcionam de forma não adiabática pelo que o seu projeto deve ter em conta
a troca de calor com o exterior. A necessidade de remover calor surge, nomeadamente:
Por outro lado, o calor produzido pela reação biológica não é por vezes suficiente para manter a
cultura à temperatura ótima. Entre os casos em que é necessário adicionar calor refira-se os reatores
de pequena escala onde a razão área de parede por volume útil é elevada e ainda os digestores
anaeróbios (ver Capítulo 14) cuja temperatura de operação se aproxima, em certos casos, dos 60°C.
dE
= Ḣ met +∆ Ḣ + Ẇ ag+ Ẇ gas + Q̇trans
dt
dE/dt – acumulação de energia no sistema
Os termos assumem valor negativo quando correspondem a perda de energia por parte do sistema.
Os reatores biológicos são normalmente projetados para trabalhar a temperatura constantes; sendo
o volume também constante, dE/dt = 0
O calor libertado devido à atividade metabólica está relacionado com a utilização da fonte de
carbono e energia. Na fase de crescimento, quando a fonte de carbono é ativamente incorporada na
massa celular cerca de 40% a 50% da entalpia disponível no substrato é conservada na biomassa,
sendo a restante libertada na forma de calor. Quando a fonte de carbono é catabolizada para
fornecer energia para manutenção (ver secção 1.3.2), toda a entalpia associada à oxidação do
substrato é libertada na forma de calor.
Ḣ met =R ¿)
onde:
Roels (1980) apresenta entalpias de formação padrão para os compostos biológicos mais frequentes,
que podem ser também determinadas através das entalpias de combustão (Smith e colaboradores,
1996).
Na maioria das situações a reação expressa pela equação 5.2 não está estabelecida e é necessário
recorrer a valores estimados ou a valores experimentais. No caso de culturas aeróbias o consumo de
oxigénio fornece uma medida do grau de oxidação, pelo que, a taxa de produção de energia pode
ser correlacionada com a taxa de consumo de oxigénio.
A correlação seguinte permite estimar a taxa de libertação de calor em função da taxa volumétrica
de consumo de oxigénio (ver Capítulo 4), para uma gama alargada de condições experimentais, bem
como para a maioria das fermentações em que ocorre a formação de produtos.
3
Ḣ met =460× 10 OUR ∙ V
Onde, OUR é a taxa volumétrica de consumo de oxigénio (mol m -3 s-1) e V o volume útil do bioreator
(m3).
No caso de processos anaeróbios não existe uma relação tão geral. Para aplicação na indústria é
frequente relacionar a libertação de calor com a taxa de consumo do substrato utilizado como fonte
de carbono.
Tabela 5.1 Influência do Substrato e Rendimento no consumo de oxigénio e calor libertado
Consumo de
Rendimento observado Calor Libertado
Microrganismo Substrato oxigénio
(gcélulas/gsubstrato) (kJ/gcélulas)
(gO2/gcélulas)
Bactérias n-Alcanos 1 1.72 32.66
Leveduras Carbohidratos 0.5 0.67 15.91
Leveduras n-Alcanos 1 1.97 33.45
H – entalpia específica
N – caudal molar, os índices i e o dizem respeito às correntes de entrada e de saída; os índices L e G
identificam as correntes líquida e gasosa, respetivamente.
Para a gama de temperaturas a que estes reatores trabalham, a variação de calor sensível entre as
correntes de entrada e saída não é significativa, quando comparada com os outros termos do
balanço de energia, podendo como tal ser desprezada. No entanto, o arejamento do meio reacional
conduz à evaporação de elevadas quantidades de água (10 a 20% do volume útil do reator), sendo
esta a principal causa de variação de entalpia entre as correntes, assim:
∆ Ḣ ≅ Ḣ vap=F ∆Ψ H vap
Onde:
É usual aceitar que o ar está saturado. Nas condições em que o ar à entrada está seco, ou por outro
lado, saturado, o cálculo de ∆Ψ é simplificado. Nos casos em que não seja possível admitir tais
simplificações é necessário recorrer a balanços de energia combinados com balanços de massa ou a
cartas psicométricas.
Em alguns casos poderá ser importante contabilizar o calor de dissolução de sólidos ou de diluição
de soluções líquidas concentradas, adicionados no decurso da bioreação.
Estes dados poderão ser encontrados em textos com tabelas de propriedades físico-químicas por
exemplo, Liley e colaboradores (1984), Atkinson e Mavituna (1991).
O trabalho realizado no meio de cultura pela agitação mecânica e arejamento aparece de acordo
com a lei de Joule como calor. No capítulo 3 apresenta-se o cálculo da potência de agitação para
sistemas com e sem arejamento. Os fermentadores comerciais utilizam potências de agitação
compreendidas entre 0,5 e 5 kWm-3.
pi
Ẇ gas =NRTln
p0
Onde:
Em reatores de pequena escala (laboratorial) a perda de calor através das paredes é elevada,
quando comparada com os termos de produção de calor que aparecem na equação (5.1), pelo que
pode ser necessário proceder ao aquecimento. Para reatores de maior volume, o aumento da área
externa disponível para a transferência de calor é inferior ao aumento do volume útil do vaso
reacional. Então, a situação inverte-se: o calor total produzido passa a ser superior ao calor perdido
através das paredes. Para manter a temperatura na gama adequada ao crescimento biológico, é
necessário proceder à remoção de calor através de equipamento de permuta de calor. Esta é a
situação mais frequente na indústria. No caso dos digestores anaeróbios, em que as temperaturas
ótimas de operação estão na gama de 55 a 60°C, é necessário fornecer calor, mesmo em grande
escala.
[FOTO]
A forma mais simples da equação que representa esta operação de transferência de calor pode
escrever-se:
Q̇trans=UA ∆T
Em que:
Na maioria das aplicações industriais a diferença de temperaturas ∆T varia de ponto para ponto da
superfície de transferência de calor, pelo que se terá de utilizar uma diferença média de
temperaturas.
No caso de a temperatura de um dos lados ser constante, como acontece nos fermentadores
agitados, e a temperatura do fluído de arrefecimento aumentar na direção do seu escoamento no
interior da serpentina, a média aritmética das diferenças de temperatura ∆Ta pode ser utilizada:
( T −T i ) +(T −T o )
∆ T a=
2
Onde T é a temperatura em globo dentro do reator e T i e To são as temperaturas do fluído à entrada
e à saída, respetivamente.