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Sobre o autor

Foto: Flávio Charchar



Meu nome é Marco Túlio Costa de Araújo, mas todos me conhecem por Túlio Araújo. Sou
mineiro, nascido em Passos na data de 22 de novembro de 1978. Sou formado em
Percussão, Produção Musical e Engenharia de Áudio pela renomada Bituca Universidade
de Música Popular, onde estudei de 2010 e 2015, com mestres como o húngaro Ian Guest
e o brasileiro Felipe Moreira. Estudei também, de forma particular, com o percussionista
cubano Santiago Reyther e ainda hoje estudo Konnakol com o mestre português Ricardo
Passos.


A música não chegou até mim de maneira natural, como é de costume nas tantas histórias
dos músicos brasileiros. Sou o primeiro músico da família. O primeiro a levar esta arte
como ofício de vida. Isso me obrigou a estudar muito, já que a vontade de fazer música não
era saciada dentro de casa. Conheci o trabalho de Milton Nascimento aos 25 anos. Me
apaixonei por Elis aos 28. Me encontrei no Jazz contemporâneo de Shai Maestro, Tigran
Hamasyan e Brad Mehldau aos 30. Tudo aconteceu muito tarde e, por isso, sempre senti a
necessidade de devorar estudos, metodologias e referências de mestres únicos, como
Jorginho do Pandeiro e Marcos Suzano. Inspirado pela ousadia dessas duas referências
pude criar a minha própria idéia de colocar o Pandeiro como personagem principal de
formações jazzísticas, dialogando com a liberdade de expressão e a improvisação que o
estilo permite. A esta idéia dei o nome de Projeto Dobradura.

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Agradecimentos

Existem algumas pessoas especiais, com as quais contei e conto até hoje para
engrandecerem o meu conhecimento, minha humildade em saber dizer “não sei, vou
pesquisar” e para ter a força necessária para romper meus próprios limites. São os anjos
que Deus sempre coloca em meu caminho e me sinto na obrigação de mencioná-los e
agradecê-los.

Primeiramente agradeço à minha amada esposa, Noele Karime, que sorri, chora, sofre e
alegra-se junto comigo a cada conquista, a cada derrota, dia após dia. Minha companheira,
minha eterna namorada, meu chão e meu céu, meu amor. Ao meu grande amigo e parceiro
de tantas gigs, Lucas Telles, a quem atribuo uma grande parte da minha evolução musical e
que é o responsável pela revisão deste método. Ao incrível pandeirista Gustavo Bali, outro
grande amigo, que me colocou na direção correta dos estudos polirrítmicos no Pandeiro,
compartilhando informações e exercícios importantíssimos. E finalmente, mas não menos
importante, ao meu pai José Rafael e à minha irmã Lívia Mara, que me apoiam
incondicionalmente a lutar todos os dias para vencer este desafio que é viver de arte num
mundo sem delicadeza.

Este pedaço de mim é em homenagem a todo(a) aquele(a) que acredita na força do estudo,
na disciplina e que ainda se emociona diante de uma verdadeira obra de arte.


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Introdução

Segundo o livro “Music at your fingertips: Advice For The Artist And Amateur On Playing The
Piano (Da Capo Paperback)”, publicado em 1976 por Ruth Slenczynska, a definição de
polirritmia é o emprego simultâneo de duas ou mais estruturas rítmicas diferentes em sua
constituição. Eu acabei adaptando esta excelente definição para o uso no Pandeiro, em a
soma de dois ou mais ciclos que compartilham alguma unidade rítmica.

Partindo deste entendimento, é importante evidenciar, que ao tocar um Pandeiro nossas


duas mãos estarão ocupadas, portanto fica assim a dúvida de qual será o segundo ciclo
que compartilhará de nossa unidade rítmica. Em uma bateria, por exemplo, ficam-se os
diversos ciclos muito mais evidentes. É possível separar os ciclos rítmicos do symbal, da
caixa, ou do bumbo e entender os agrupamentos de cada um. Já no Pandeiro, pelo fato de
usarmos as duas mãos, o segundo ciclo será executado pelo click do metrônomo, ou seja, a
pulsação da música. Aprenderemos a, primeiramente, identificar os pulsos e sermos
capazes de subdividi-los de diferentes formas, para depois aplicarmos diferentes ciclos
rítmicos.

É possível notar a polirritmia sendo aplicada de maneira magistral em algumas


manifestações culturais latino-americanas, como o Boi (Bumbá) e o Congado do Brasil, a
Chacarera da Argentina e o Candombe do Uruguai, entre muitas outras. São grandes
exemplos de somatórias de ciclos rítmicos que eu lhe aconselho a conhecer.

É importante ressaltar que os exercícios que serão apresentados neste método devem ser
praticadas diversas vezes. São exercícios diários que necessitam ser realizados
gradualmente e constantemente, para que seu cérebro processe as inúmeras informações
rítmicas-matemáticas de maneira organizada, clara e disciplinada. O fato de compreender
intelectualmente os exercícios propostos pode ser insuficiente para a aplicação desses
conceitos em música, por isso é importante vivenciar intensamente cada uma das etapas
aqui apresentadas, para que o corpo sinta as fórmulas rítmicas e seja capaz de executá-las
com propriedade. Existe uma grande diferença entre entender, aprender e assimilar. Confie
no método, dê tempo ao tempo, siga a ordem apresentada e bons estudos.

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Notações
A dinâmica de leitura dos exercícios é de extrema importância para uma boa assimilação.
Eu escolhi a notação rítmica adotada por Luiz Roberto Sampaio, no livro-método “Pandeiro
Brasileiro - Volumes 1 e 2”, que ao meu ver é de fácil assimilação e dialoga perfeitamente
com as partituras para instrumentos harmônicos, melódicos e rítmicos.

Nota grave em baixo (tum): Nota grave em cima (tum):

Nota média em baixo (pá): Nota média em cima (pá):

Nota aguda em baixo (ti): Nota aguda em cima (ti):

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A idéia principal é a de ser capaz de extrair os 3 tipos de notas (grave, média e aguda) na
parte de cima e de baixo do Pandeiro. Treine cada uma das notas separadamente e
diariamente para atingir um nível cada vez melhor de sonoridade, até que em ambas as
partes do Pandeiro (cima e baixo) você seja capaz de extrair os timbres corretos (tum para
notas graves, pá para notas médias e ti para notas agudas).

Feito isso, o próximo passo será memorizar as representações na partitura para cada nota,
sempre observando em que parte do Pandeiro (cima ou baixo) será necessário extraí-la.
Acompanhe o quadro abaixo e memorize-o:

Nota grave em baixo (tum): Nota grave em cima (tum):

1 œ
/4 œ

Nota média em baixo (pá): Nota média em cima (pá):


1 ¿
/4 ¿

Nota aguda em baixo (ti): Nota aguda em cima (ti):


1
/4

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Subdivisão do Pulso
Para adentrarmos o universo polirrítmico e sermos capazes de executar diferentes ciclos
rítmicos, devemos começar exercitando com precisão diferentes subdivisões do pulso.
Acompanhe o exercício abaixo:

q = 60
q q q q

4 w w w w
/4
Exercício 1

Subdividimos cada pulso em 2 notas (agudas), acentuando as cabeças. Este e os próximos


exercícios deverão ser repetidos diariamente, toda vez que for pegar no Pandeiro. São
ótimos a título de aquecimento e refinamento da compreensão de diferentes subdivisões do
pulso. Agora vamos aplicar a mesma lógica para pulsos subdivididos em 3, 4 e 5 notas
agudas.

q = 60
q q q q
3 3 3 3
4 w w w w
/4
Exercício 2

q = 60
q q q q

4 w w w w
/4
Exercício 3

q = 60
q q q q
5 5 5 5
4 w w w w
/4
Exercício 4

Repare que as subdivisões ímpares (exercícios 2 e 4) nos obrigam a alterar as acentuações,


ora em baixo, ora em cima. É importante entender que isso se dá pelo fato de não haver
nota repetida na mesma parte do Pandeiro.

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Acentuações
Após praticar as subdivisões do pulso, é hora de exercitarmos o que eu chamo de
compreensão espacial dentro destas subdivisões propostas. Você deve ter o claro
entendimento de todas as notas tocadas no Pandeiro e a capacidade de acentuá-las com
precisão e sem o comprometimento da pulsação. Dentro de um pulso subdividido em 5
notas (quintinas), por exemplo, você deve ser capaz de acentuar qualquer uma delas (1a, 2a,
3a, 4a ou 5a) com qualquer timbre (grave, médio ou agudo). Repare o exercício abaixo, com
pulso em 2 notas (colcheias):

q = 60
q q q q q q q q

4 œ œ œ œ
/4œ œ œ œ
q q q q q q q q

/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
Exercício 1

Repare que o 1o. compasso do exercício acima propõe acentuarmos as primeiras notas de
cada pulso com grave (embaixo), enquanto no 2o. compasso, alternamos o acento para as
segundas notas, também com o grave (em cima). Seguindo o mesmo raciocínio, no 3o. e
4o. compassos, apenas trocamos o acento grave por médio. Agora vamos aplicar a mesma
lógica para pulsos em 3 (tercinas), 4 (semicolcheias) e 5 (quintinas) notas:

q = 60
q q q q q q q q q q q q
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
4 œ œ œ œ œ œ
/4œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q q q q q
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3

/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
Exercício 2

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q = 60
q q q q q q q q

4 œ œ œ œ
/4œ œ œ œ
q q q q q q q q

/ œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q

/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
q q q q q q q q

/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
Exercício 3

q = 60
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5
4 œ œ œ œ
/4œ œ œ œ
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5

/ œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5

/ œ œ œ œ ¿ ¿ ¿ ¿
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5

/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
q q q q q q q q
5 5 5 5 5 5 5 5

/ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿ ¿
Exercício 4

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Reagrupamento Métrico
Após praticar as diferentes acentuações e suas variações, preparamos nossas mãos (e
cérebro) para diferentes possibilidades de toques de notas. Isso cria um sentido de
independência no subconsciente, que é primordial para qualquer compreensão e execução
de ciclos polirritmicos.

Pensando nesta distribuição de notas e acentos, criei uma sequência de exercícios de


Reagrupamento Métrico. Continuaremos executando diferentes subdivisões propostas para
um pulso (colcheias, tercinas, semicolcheias e quintinas) e, em cada uma delas,
reagruparemos as figuras em ciclos de 2, 3, 4 ou 5 notas. Repare o exercício abaixo:

q = 60
q q q q

4 x4™™ ™™ 46
/4 œ œ œ œ
q q q q q q

6 x4
œ œ ™™ 48
/ 4 ™™ œ œ
q q q q q q q q

8 x3™™ ™™ 10
/4 œ œ œ œ 4
q q q q q q q q q q

10 x3™™ œ œ
/ 4 œ œ ™™
Exercício 1

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A proposta do exercício acima é, em pulsos subdivididos em 2 notas (colcheias),


agruparmos tais notas em ciclos de 2, 3, 4 e 5. Repare que a nota grave é dada a cada início
de ciclo. Sugiro que o exercício também seja executado com o ciclo iniciando na nota
média. Ao praticar acompanhando o vídeo, é importante ficar atento ao número de vezes
que estão propostas cada repetição (ritornelo). A primeira e segunda linha são executadas 4
vezes (x4) enquanto a terceira e quarta são executadas 3 vezes (x3). Agora vamos aplicar a
mesma lógica para pulsos subdivididos em 3 (tercinas), 4 (semicolcheias) e 5 (quintinas)
notas:

q = 60
q q q q
3 3 3 3
4 x2
™™ 44
/ 4 ™™ œ œ œ œ œ œ
q q q q
3 3 3 3
4 x4
œ œ ™™ 44
/ 4 ™™ œ œ
q q q q
3 3 3 3
4 x4™™ ™™ 10
/4 œ œ œ 4
q q q q q q q q q q
3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
10 x4™™ œ œ œ
/ 4 œ œ œ ™™
Exercício 2

q = 60
q q q q

4 x4™™ ™™ 43
/4 œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q

3 x4™™ œ œ ™™ 44
/4 œ œ
q q q q

4 x4 5
/ 4 ™™ œ œ œ œ 4
q q q q q

5 x4™™ œ œ
/4 œ œ ™™
Exercício 3

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q = 60
q q q q
5 5 5 5
4 x2
™™ 46
/ 4 ™™ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q
5 5 5 5 5 5
6 x4 œ œ œ œ œ 4
/ 4 ™™ œ œ œ œ œ 4
q q q q
5 5 5 5
4 x4™™ ™™ 44
/4 œ œ œ œ œ
q q q q
5 5 5 5
4 x2™™ œ œ
/4 œ œ ™™

Exercício 4

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Modulação Métrica
É muito comum encontrar a definição de andamento como o grau de velocidade de um
compasso. Eu, particularmente, gosto de deixar claro que velocidade não tem relação direta
com o andamento, simplesmente pelo fato de o andamento depender da relação entre o
número de bpms e a figura rítmica adotada. A meu ver, se o andamento indicasse apenas a
velocidade, bastariam os BPM (beats per minute) para defini-lo.

Segundo o baterista americano Ari Hoenig, define-se como Modulação Métrica mudar o
tempo de uma parte de modo que um novo tempo tenha algum tipo de relação matemática
com o tempo original. Isso é possível por criar o valor de uma nota do primeiro tempo
equivalente ao valor de uma nota no segundo. Vejamos o exercício abaixo:

q = 60
q q q q

4
/4œ œ œ œ
q q q q

/ œ œ œ œ
q q q q
3 3 3 3

/ œ œ œ œ
q q q q

/ œ œ œ œ
q q q q
5 5 5 5

/ œ œ œ œ
q q q q
6 6 6 6

/ œ œ œ œ
q q q q
7 7 7 7

/ œ œ œ œ
q q q q

/ œ œ œ œ
Exercício 1

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Este é um exercício preparatório para, posteriormente, executarmos uma modulação


métrica. A cada compasso, acompanhamos o metrônomo usando diferentes subdivisões
do pulso (figuras rítmicas), atacando suas cabeças com a nota grave. Começamos com
pulso subdivido em 1 nota (semínima), aceleramos para 2 notas (colcheia), depois 3
(tercina), 4 (semicolcheia), 5 (quintina), 6 (sextina), 7 (septina), 8 (fusa) e logo após já
descemos de novo para 7 e seguimos o mesmo padrão de desaceleração, até atingirmos 1
nota por pulso (semínima) novamente.

Agora vamos aplicar a compreensão modular sobre um padrão rítmico. O ciclo de 4 notas
regulares será transformado em diferentes possibilidades. Iniciando com conjuntos de 4
semicolcheias, transformaremos a noção de pulso aplicando o mesmo agrupamento de 4,
porém a outras figuras, às colcheias, tercinas e quintinas. O resultado será a sensação de
mudança momentânea de pulso, devido ao deslocamento do início de cada ciclo em
relação à pulsação inicial. Confira o exercício abaixo:

q = 60
q q q q q q q q
4
/4œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q

/ œ œ œ œ
q q q q q q q q

/ œ œ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q

/ œ œ œ œ œ œ œ œ
q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5

/ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5 q 5

/ œ œ œ œ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q

/ œ œ œ œ œ œ œ œ
Exercício 2

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Realidades Paralelas
Repare o seguinte exercício:

q = 60
q q q q q q q q
4
/4œ œ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6

/ œ œ œ œ œ œ
q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6 q 6

/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q

/ œ œ œ œ œ œ œ œ
Exercício 1

Vamos analisá-lo, parte por parte. Existe uma célula-motivo, que consiste em uma nota
grave a cada 4 notas (chamaremos de “samba”). Começamos em semicolcheias e
modulamos o ciclo para tercinas, mantendo o motivo, denominado samba. No sétimo
compasso acontece algo novo e extraordinário, o qual chamei de realidade paralela.

Pense comigo. Se temos um motivo-base (samba) e o modulamos, alterando sua


velocidade de forma métrica, a sensação criada é de um “mergulho” em uma pulsação
paralela à inicial. A modulação está atrelada a realidade inicial (ou seja, ao bpm do
metrônomo), mas assim que o mergulho é executado, é possível assumir aquele novo ciclo
com sua nova velocidade (com nossa realidade momentânea), que ignorando por hora a
inicial, gera uma sensação diferente e sobreposta de uma nova pulsação.

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Agora retomemos o sétimo compasso. Estamos vindo de uma realidade paralela com o
motivo-base (samba) em tercinas. Assumamos isto como a única realidade no momento. E
se re-aplicarmos uma modulação em cima desta nova realidade? É o que acontece.
Simplesmente dobramos as figuras rítmicas deste novo samba. Estávamos em tercinas e
dobramos para sextinas (similar a sensação de colcheias se transformando em
semicolcheias), mas mantendo o agrupamento (notas graves) em múltiplos de 4. Isso cria
uma sensação de uma terceira realidade aplicada em cima das outras. É como se, na nova
realidade, as notas se tornassem ”fusas” em relação às “semicolcheias” anteriores. É um
exercício muito interessante, que quando atingido, nos abre um mundo novo de
possibilidades modulatórias.

Seguindo o mesmo raciocínio do exercício anterior, vamos agora mergulhar novamente,


assumindo o motivo-base (samba) em tercinas e, ao executarmos o segundo mergulho
(realidade paralela), o faremos em uma sensação de sextina, e não mais de fusa. Reparem
que já não estou mais me referindo às figuras rítmicas reais, ou seja, em relação à
primeira realidade, mas sim à sensação a partir do mergulho e ressignificação de todo o
processo. No primeiro exercício, a realidade paralela era sob uma sensação de fusas, agora
é sob uma sensação de sextinas, que na verdade resulta em um reagrupamento de 6 em 6
notas de quiálteras de 9 colcheias.

q = 60
q q q q q q q q
4
/4œ œ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q 9 q 9 q 9 q 9

/ œ œ œ œ œ œ
q 9 q 9 q 9 q 9

/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3 q 3

/ œ œ œ œ œ œ
q q q q q q q q

/ œ œ œ œ œ œ œ œ
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Exercício 2

Considerações Finais

O estudo polirrítmico é algo intenso, complexo e que demanda MUITA disciplina. Decidi
iniciar o meu método de Pandeiro por ele, por refletir 100% da minha forma de tocar, da
minha forma de pensar e, explicitamente, de quem eu sou. A matemática sempre fez parte
de minha vida de uma maneira fluida e natural. Os números sempre foram meus melhores
amigos.

Eu entendo que você poderá chegar até aqui e não ter entendido tudo que viu acima, mas é
importante dar tempo ao tempo e não tentar executar todos os exercícios de uma vez só.
Existe uma lógica para a ordem das informações aqui dispostas. Você encontra aqui o
resumo dos últimos 10 anos de estudos da minha vida, portanto, não procure resumir
milhares de horas de estudos em alguns minutos de insistência. Mas, para aqueles que
lerem e relerem as informações que preparei cuidadosamente, estudarem os exercícios de
maneira calma e disciplinada, prometo que existirá um “antes do método” e um “depois do
método”.

Assim como vários ensinamentos que me foram passados ficaram guardados em algum
lugar do meu cérebro durante anos, até que finalmente começassem a fazer sentido à
medida que eu ia me aperfeiçoando na arte de tocar esse tamborzinho milenar, eu lhe
prometo que esse momento também chegará para você.

Me despeço com uma frase que um dia me foi dita pelo mestre Marcos Suzano e que me
marcou profundamente:

“É um instrumento muito generoso para quem se dedica verdadeiramente a ele.”

Contatos

Para entrar em contato comigo, escolha uma das formas abaixo:

• Meu site oficial: www.tulioaraujo.com


• Meu Facebook: www.facebook.com/dobradura
• Meu Instagram: www.instagram.com/marcotuliocostadearaujo
• Meu Youtube Channel: www.youtube.com/mtaraujo
• Meu telefone: +55 (31) 99898-2459 - Whatsapp

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