Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
92 p.
ISBN: 978-65-992987-5-2
CDU 821.134.3(81)-1
Henrique Veber
→ Editor Executivo Entreverbo
Adeneri Nogueira de Borba 76
Adson Leonardo 40 48
André Galvão 52
Armando Martinelli 34
Benette Bacellar 09 24 50 61 77
Carla Marinho 10
Carlos Vilarinho 11 38 78
Charlene França 42 62
Cláudia Sotello 43
Cris Tavares 63
Daniel Morine 12 57
Delma Gonçalves 32 64
Elisa Ribeiro 80
Elroucian Motta 36
Flavio Machado 28 54 65 81
Gelbart S. Silva 83
Giovanni Alecrim 66
Helena da Rosa 33
James Berwaldt 84
Jorge Abreu 55
Lecy Sousa 41 85
Léo Cruz 86
Luccas Samtos 87
Luís Amorim 45
Malú Bortoletto 31 46
Marlene de Fáveri 69
Marlon Nunes Silva 27
Matheus Bueno 88
Maurício Simionato 70
Neli Germano 25
Noélia Ribeiro 60
Plínio Mósca 17
Roger Gregory 47
Ronaldo Junior 58
Rubermária Sperandio 18 89
Sabrina Dalbelo 19
Sigridi Borges 91
William Weber 22
9
tive problemas
quando acreditei
em final feliz
num mergulho louco
em águas profundas
sem dublê
súbito, lembro
de um peixe
fora d'água
vida mesmo
é ilusão desmanchada
em longos segundos
após confusão
e tontura
vida mesmo
é dificuldade de escolher
o melhor caminho
vida mesmo
é tirar os sapatos
e ir em frente
descalça
O meu abraço
Tão completamente seu
Tão completamente espaço
O meu braço
Tão completamente rede
Tão completamente quarto
Meu braço no teu braço
Sem entrave
Quebra-cabeça montado:
abraço-chave
vida de haijin
um haicai bom
pra cada cem ruim
Ainda bem
me dei por conta a tempo
as palavras ficaram presas na garganta
a areia
cega os olhos
escapa
infinita
a sede de saber
café com pão, café com pão, café com pão, de 1936 e de Manuel
Bandeira.
Do Pernambuco para o mundo.
Nos balcões das padarias, vamos começar a revolução moderna
para mais e mais Manuel Bandeirar-nos, porém os balcões
desaparecem, o café cada vez mais falso,
amancebou-se com salgados cada vez mais artificiais,
enquimiquizados e assassinos .
Verdadeira legalização de armas de fogo e de munição, que
enchem de cruzes as casas dos pobres e dos famintos. Crimes
análogos ao crime da falta das vacinas.
O café inventado na cafeteira é falso. De plástico. Feito para durar
o mesmo tempo absurdo dos salgados e doces artificiais. Morreu a
possibilidade de tomar
um café com pão, café com pão, café com pão, assim, na hora
inventada pela necessidade e pelo prazer. Morreu o imprevisto.
Morreu o improviso. Morreu o que fica fora das caixinhas plásticas
congeladas e previsíveis.
Que triste esta completa ausência de espontaneidade, de gana e
gula de último minuto.
Morte ao reino da boia aromatizada, pintada, cheia de
conservantes e de conservadores, saborizados apenas para
disfarçarem-se de bons moços, de bons cafés e de bons pães.
Isquemia mesentérica, degeneração intestinal, inflamação do
pâncreas, ruína do fígado, horror no estômago. Pressa?
Insensatez? Crime deliberado disfarçado?
Falta café com pão, café com pão, café com pão, falta Manuel
Bandeira, falta boa vontade e falta o tesão de correr o risco de
encontrar o Manuel, o amor de sua vida sentado na padaria.
o segredo do mundo
não é segredo
: nasci do colo da minha mãe
para ensinar esperanto
aos filhos dos filhos dos meus filhos e
divertir os vizinhos
que me cuidam pela fresta da janela
o fio de cabelo branco da minha cabeça
o fio de pelo no meu sovaco
mulherificados
saúdam o fio do teu bigode
penteado
Um dia me disseram,
Que as nuvens
Não eram de algodão
Em tantos instantes,
De realidade cruel,
Quase acreditei,
Que realmente não.
Um dia me disseram,
Que as nuvens
Não eram de algodão,
Mas nos corações das crianças,
E dos poetas, elas ainda são.
enquanto homens
habituados a miséria
adormecem no asfalto
os espertos continuam
com bolsos cheios de cédulas
deixa-me exausta
a realidade nua e crua
deixa-me exausta
viver sem devaneios
Essa confidência
íntima,
olhos mudos
A sede desperta
nas nascentes,
do Oiapoque ao Chuí
As sílabas que
ardem em cada
palavra
Movimento de
quereres em diversão
contínua
A doçura do
tempo guiada
pelo deus do amor
Ah! O segredo
de cada chegada,
o aroma que vibra
O eu-te-amo
na graça
de beijos tontos
O mundo é
leve quando
se vive em estado
de graça.
É tanta inveja
que se fez amarelo;
meio rubro nas pontas
de vergonha;
verde de raiva...
Mas não perde a majestade:
empina o nariz
e cresce
acima das demais plantas do jardim.
No entanto,
a soberba desaparece
à noite,
quando não mais sente o calor;
dobra-se,
sente o abandono do astro inatingível.
Nessa hora
não é mais sol
nem gira...
Nessa hora
vem-lhe a triste percepção:
não pode ser seu próprio Deus.
Quiçá fosse mais perfeito
se deixasse de ser imitação...
Nada sei
Nada vejo
Nada escuto.
Apenas o suficiente,
para ficar no mais ensurdecedor silêncio...
… e assim,
Permanecer prostrado
Diante daquele que me atormenta:
O [temido] segredo
Que alma afugenta
O portador de histórias
Das rupturas sofridas.
apraz-me rasuras
roupas surradas
rasgos no peito
pequenos defeitos
tudo o que nos faz
inteiros em partes
ao me espalhar em
caminhos, não sou nem és:
subtraem-nos estigmas
multiplicam-se pés d'aço
de pedaço em pedaço
porém, despedaçamo-nos
ou somamos os passos?
A minha fragilidade…
Sinto-a esvair-se…
Pulverizada…
Chama azul...
Esverdeada...
Elemento Telúrio...
Estável...
Raro...
Vidro colorido...
Prateado perecendo
Mas...
Existe a resistência…
Estado sólido…
Energia solar!
Fogo!
Calor!
Presença no ar...
Explosiva!
Anulando vestígios...
Marcas...
Folhas de relva...
Aço inoxidável
Resistindo no tempo
Cerâmica queimada
Do meu envelhecimento!
Liquefeito poema
cantará o riso e
verterá a lágrima:
Na transparência
de ondas que se propagam
surgirá a alma do poeta.
Um índio nu
peguem
pelado não!
coloquem a tanga
a tarja preta
a folha de bananeira
escondam o pênis
pelas nossas crianças
Ouço
um suave
“flop”
Depois:
Vazio.
estenda a manta
oh! bela infanta
tenho um mantra
na garganta
estenda a manta
a pélvis se encanta
tenho um mantra
na garganta
estenda a manta
o prazer imanta
tenho um mantra
na garganta
estenda a manta
o verbo se agiganta
tenho um mantra
na garganta
Então
o mundo entristece
com os esquecidos de uma vida inteira
aqueles que deixamos para trás
sem o mínimo de conforto
esperança ou dignidade
os invisíveis agarrados à miséria
as mãos frias que ninguém afaga
empurrando suas histórias
em carrinhos de supermercado vazios
então o sol avista
e aquece os solitários
os que comem sanduíches
sentados nos bancos das praças
o sanduíche acaba
a miséria não
os corpos
eram encaixe perfeito
passariam à eternidade
encantados
O poder ostenta
Inventa inverdades
Comete crueldades
Contra quem prefere
Andar na contramão
pensar sobre si
é carregar no bolso
um caco de espelho
para consultar a cada dia
- feito bússola
cujo norte é outro -
a imagem
reside
em olhar o
agora
pensar sobre si
é carregar no bolso
um caco de espelho
para consultar a cada dia
- feito bússola
cujo norte é outro -
a imagem
reside
em olhar o
agora
de quem se empenha
contando seus naufrágios
e punhais cravados
no entanto, a coragem
salta do prédio mais alto
nem enfrenta o árido
Há impermanências no ar
Da desvalorização do teu eu
Do porquê de estar aqui
Sejas tu na essência do ser pra ti
Nos teus resumos
Viver é trabalhar futuros
Os posicionamentos invasivos
São recursos nulos
Dos muros intransponíveis
Reaja digno - dê o pulo
Mudar os conceitos de quem te anula
Sempre é necessário
O espaço no mundo é pra todos
Siga acredite nos teus recursos
Pise sem medo nos buracos
Eles já não são mais obstáculos
Teu salto foi suado foi fundo
O asfalto é teu espelho permanente
Siga o rumo
Do que foi... Do que és...
Em suma...
Do que podes ser no fluxo
De tudo!
companheira invisível
tenta tocar-lhe o ombro
como se fosse possível a amizade entre eles
contradição eterna
como se houvesse possibilidade de consciência
estado diferenciado
impossibilidade de comunicação entre desiguais:
qual a língua dos mortos?
Silencioso...
Para. E observa.
Para... e observa...
Para e observa... aquilo
que vai se revelar.
Saiba, isso requer paciência
A paciência dos dias,
dos meses,
dos anos.
Cuida! Não apresses o tempo natural!
Ele é justo!
Por favor, não o apresses ao criares,
apenas por impaciência, conceitos,
julgamentos Infinitos,
condenando o que não tocaste.
Ainda não se revelou a oportunidade
para que descubras, conheças,
para que possas ver desabrochar,
Se revelar!
Na vida, milagres acontecem!
Não nos fechemos em dogmas pessoais!
Não seria sábio se eu o fizesse
Tampouco seria se o fizesses tu!
mioleira de veredas
castas profanas vastas
no que mais
me basta
escolho a que me arrasta
e caminho descalço
no afã do fato
no elã do laço
a fugir do frio
com iansã pelo braço
no traço largo
do céu tardio rosáceo
Alheia e estática
o olhar fixo em um ponto impreciso
concentra-se
a menina-lenta
apreende tudo em que se demora.
Esmera-se em tudo
que não importa —
o detalhe que ninguém vê
a perfeição dos avessos
o que está e não se nota.
Elástica
dobra-se a qualquer vento
dançarina
a menina-lenta inspira
e evapora.
Caiçara de São Sebastião que veio para o interior de São Paulo onde
o mar é o céu, Gelbart sempre foi apaixonado por ouvir histórias e
descobriu que amava (re)contá-las. Doutorando em Letras e
pesquisador na área das Clássicas, arrisca-se em escrever um tanto
de prosa e alguns versos.
84
clara, obscura
singela, dura
menina, madura
pensada, imatura
ofensa, candura
rudeza, ternura
repete, inaugura
esconde, apura
colagem, ranhura
informa, censura
acordo, ruptura
concorda, atura
declama, murmura
delícia, tortura
afaga, dedura
doa, fatura
escassez, fartura
violência, brandura
lisa, fissura
esconde, figura
carinho, secura
deleite, amargura
acidez, doçura
covardia, bravura
Melado, rapadura
Uma poesia
Ainda sangra
bem mais que
um iate em Angra.
estás aqui.
Professa-te em sussurros.
vozes ecoam
num ritmo audaz
entoam clementes
num doce encanto
de sons inefáveis
solfejo em notas
num canto solene
vozes brilham
na tela em cores
de flores e amores
firmados num céu
como num troféu
de estrelas cadentes
como viver
num mundo em silêncio
sem canto, nem ritmo
num canto qualquer
sem som, nem ruído
sem laço, sem dó
facebook.com/entreverbo
@entreverbo
youtube.com/c/Entreverbo
issuu.com/entreverbo