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R168-12 Ecoloia Urbana PDF
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criminalidade
Sumário
Introdução. I – Urbanismo e Direito Urba-
nístico: normas cogentes garantidoras do bem-
estar dos habitantes. 1) Cidade, Urbanismo e
Direito Urbanístico: preocupação com o coleti-
vo. 2) Patologias das cidades e análise da cri-
minalidade. 3) Ecologia humana e a análise da
criminalidade urbana pela Escola de Chicago e
pelo comportamentalismo. II – Novo substra-
to biológico da violência urbana: a desordem
urbana. 1) Aspectos biogenéticos da violência:
o nascimento da criminologia. 2) Aspectos
bioambientais da violência: a desordem urba-
na e a criminologia oriunda da Ecologia Hu-
mana. 3) Desordem urbana como agressão às
funções urbanísticas garantidoras da qualida-
de de vida na cidade. III – Crimes cometidos no
ambiente urbano: tipologia segundo a teoria
das atividades rotineiras. 1) Teoria das ativida-
des rotineiras: explicação socioambiental con-
temporânea da violência. 2) Pressupostos da
teoria da atividade rotineira para a ocorrência
de um delito urbano. 3) Relação entre os espa-
ços urbanos utilizados pelo cidadão (vítima) e
as taxas de crimes. IV – políticas públicas pro-
tetivas das funções urbanísticas e minimizan-
tes dos delitos urbanos. 1) O mapeamento da
violência em Belo Horizonte: exemplo concre-
to de aplicação da ecologia humana e da teoria
Paulo José Leite Farias é Promotor de Justi- da atividade rotineira no Brasil para preven-
ça da Ordem Urbanística do MPDFT. Doutor ção de crimes. 2) O planejamento urbano como
em Direito pela UFPE, Mestre em Direito e Es- política eficaz no combate à criminalidade ur-
tado pela Universidade de Brasília. Professor bana. 3) O lazer e a recreação: exemplo de res-
de Pós-Graduação na Universidade Católica de peito à função urbanística eficaz no combate à
Brasília, UniUDF e IDP. Examinador do Con- violência urbana sofrida e praticada por jovens.
curso de Promotor de Justiça do MPDFT. Visi- 4) Garantia de trabalho e de moradia digna:
ting Scholar na Boston University School of políticas públicas sociais eficazes para o com-
Law. bate da violência. Conclusão.
Brasília a. 42 n. 168 out./dez. 2005 167
“Se em uma rua escura se cometem mais atosminologia tradicional, nas obras de Ferri,
violentos do que em uma rua clara, bastaria iluminá-
Garófalo e Lombroso) e das causas exóge-
la e isso se tornaria mais eficaz do que construir
nas (fruto de características do ambiente
prisões (...)” urbano, enfatizadas no presente trabalho
Enrico Ferri
por meio da “ecologia humana”), constitui
objeto de conflitos no âmbito acadêmico
(quais são as verdadeiras causas da violên-
Introdução cia na sociedade citadina?) e político (qual
a melhor política pública para combater a
O estudo da violência urbana apresen- violência urbana?).
ta-se como desafio constante nas socieda- Na diagnose da violência urbana e na
des mundial e brasileira. Em futuro próxi- busca de soluções para o combate, o urba-
mo, praticamente todo o crescimento da po- nismo, ao contrário do que vem ocorren-
pulação mundial ocorrerá em áreas urba- do atualmente, terá importante papel, con-
nas. Entre 2000 e 2030, há expectativa de forme se almeja demonstrar no presente
que a população mundial urbana aumente trabalho.
em 2,1 bilhões de habitantes, aproximada- Os romanos já possuíam sistema de pla-
mente, praticamente o mesmo que será acres- nejamento urbano, desenvolvido para a de-
cida toda a população mundial (2,2 bilhões fesa militar e para a facilidade de garantir espa-
de habitantes em áreas urbanas e rurais) ço público para o exercício da cidadania em suas
(BRENNAN-GALVIN, 2002)1. cidades. O plano básico compunha-se de
Em médio prazo, toda a população hu- uma praça central (centro da cidade) com a
mana se concentrará no ambiente urbano. É administração da cidade e com a sede do
possível e necessário correlacionar o plane- poder governante, que se envolvia por uma
jamento urbano com a violência urbana, nes- grade de ruas que, por outro lado, eram cer-
se contexto. cadas por muros para a garantia de defesa
A Constituição Federal, ao tratar da fun- contra ataques externos. Com algumas mo-
ção social das cidades, estabelece o impera- dificações, os valores urbanos de seguran-
tivo do estabelecimento de plano diretor nas ça, cada vez mais queridos atualmente, fo-
urbes brasileiras com mais de vinte mil ha- ram mantidos nas cidades da Idade Média.
bitantes, objetivando, assim, ordenar o ple- Le Goff (1998, p. 71) ensina:
no desenvolvimento das funções sociais “A cidade da Idade Média é um espa-
da cidade e garantir o bem-estar de seus ço fechado. A muralha a define. Pene-
habitantes (art. 182 da Constituição tra-se nela por portas e nela se cami-
Federal). nha por ruas infernais que, felizmen-
Sobre esse tema, dispõe Ricardo Lira te, desembocam em praças paradisía-
(1997, p. 10) que: cas. Ela é guarnecida de torres, torres
“a Constituição de 1988 avançou mui- das igrejas, das casas dos ricos e da
to e pela primeira vez a Cidade foi al- muralha que a cerca. Lugar de cobiça,
çada ao patamar constitucional, pre- a cidade aspira à segurança. Seus habi-
vendo-se que as cidades com mais de tantes fecham suas casas à chave, cui-
vinte mil habitantes tenham um pla- dadosamente, e o roubo é severamen-
no diretor obrigatório, aprovado pela te reprimido” (grifo nosso).
Câmara Municipal”. Não seria, ainda, o momento de uma con-
A busca das causas endógenas (oriun- cepção de planejamento urbano que visas-
das do próprio ser humano (características se à diminuição da violência na cidade para
internas), objeto de estudo da psicologia e garantir o valor constitucional do bem-estar
das ciências criminais, em especial da cri- de seus habitantes.
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