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Caso 2

Estamos perante uma relação jurídica tributária, sendo caracterizada por ser de direito público,
entre sujeito ativo e passivo, conferindo-lhes direitos e deveres. O sujeito ativo é o titular do
crédito tributário, como previsto no 18º, nº1 da LGT. O sujeito passivo é aquele sujeito ao
cumprimento da obrigação tributária, como previsto no 18º, nº3 da LGT. Em termos mais
amplos é aquele sujeito ao cumprimento de uma prestação tributária. O artigo 18º, nº4 procede à
exclusão de certas pessoas do conceito de sujeito passivo.

O sujeito ativo no caso é o Estado (18º, nº1 LGT). São categorias de sujeitos passivos, o
contribuinte, o substituto, o substituído e o responsável tributário. O contribuinte é a pessoa em
relação à qual se verifica o facto tributário - facto gerador de imposto - , o titular da capacidade
contributiva que a lei visa atingir. Neste caso, o contribuinte serão os trabalhadores da empresa.
Já o substituto tributário é um sujeito passivo que, por imposição legal, está obrigado a cumprir
prestações formais e materiais da obrigação tributária em lugar do contribuinte (substituído).
Assim, neste caso, a empresa é o substituto tributário obrigada ao cumprimento de prestações
tributárias em lugar dos trabalhadores, nos termos do 20º, nº1 da LGT. A substituição é
fundamentalmente efetivada pelo dever de retenção na fonte, nos termos do 20º, nº2 da LGT.

Apenas um acrescento: quanto ao pagamento das multas efetuadas pela empresa, são encargos
não fiscalmente dedutíveis, uma vez que não estão conexos com a atividade da empresa (23ºA,
nºe).

Estando nós perante uma relação de substituição tributária, institui-se uma relação triangular
entre administração tributária, o devedor originário (substituto - empresa) e um devedor
subsidiário (substituído - trabalhadores). O fisco recorre a uma entidade privada, devedora de
rendimentos e de contabilidade organizada, para o auxiliar a cobrar e liquidar receitas fiscais
(entende-se que o exercício destas funções no interesse público, não restringe
desproporcionalmente, o direito de exercício de atividades privadas, não sendo
inconstitucional).

Responsabilidade da empresa: não tendo retido na fonte os salários dos trabalhadores, e não
tendo entregue as quotizações para a Segurança Social, a empresa pode ser suscetível de
responsabilidade na substituição tributária, nos termos do 28º da LGT. O responsável tributário
é o sujeito passivo que violou deveres legais e a quem é exigido, na sequência dessa violação, o
pagamento de uma dívida tributária de outrem, não atempadamente paga. É uma
responsabilidade pela dívida de outrem. No que respeita à não retenção na fonte estamos
perante o caso previsto no 28º, nº2, sendo que quando a lei não preveja em contrário, em regra,
a responsabilidade é subsidiária (22º, nº4 e 23º), tendo primeiro de se executar o património do
responsável primário. Aqui, a responsabilidade do pagamento do tributo cabe aos trabalhadores,
e, subsidiariamente, à empresa, uma vez que o trabalhador recebeu o seu rendimento bruto. Há
responsabilidade subsidiária da empresa porque esta violou um dever de retenção. Se o
património dos trabalhadores for insuficiente ou inexistente, aplica-se a reversão do processo
fiscal contra a empresa (23º, nº2 da LGT e 153º, nº2 do CPPT).

Responsabilidade dos corpos sociais: verifica-se que a empresa se encontra em más condições
financeiras, devido ao pagamento de multas e ao elevado valor de juros. Assim, a ser
responsabilizada nos termos anteriores, poderá ocorrer que a empresa não terá património
suficiente para a efetivação da responsabilidade. Assim, poderá ser aplicável o disposto no 24º
da LGT, ou seja, a responsabilidade dos corpos sociais, a qual é subsidiária da empresa e
solidária entre si. Quanto ao departamento financeiro, ele é integrado por técnicos oficiais de
contas. Neste sentido, havendo violação dos deveres, haverá responsabilidade tributária, com
base no 24º, nº3. Isto ocorrerá através da reversão da execução fiscal, com base na insuficiência
de bens penhoráveis da empresa (23º, nº 1 e nº2 e 22º, nº4 da LGT, e 153º, nº2 CPPT). De igual
modo, os gestores da empresa podem ser responsabilizados através da reversão da execução
fiscal, com base na insuficiência de bens penhoráveis da empresa (23º, nº 1 e nº2 e 22º, nº4 da
LGT, e 153º, nº2 CPPT).

Não há dados específicos no caso quanto aos prazos, pelo que se se aplicar o 24º, nº1, alínea a),
o ónus funciona a favor da gestora, pelo que a Administração terá de provar a sua culpa, o que é
inverso do disposto na alínea b), em que há uma presunção de culpa que recai sobre a gestora,
visto que neste caso o prazo legal de pagamento ou entrega terminou no período de exercício
do seu cargo. Esta culpa é funcional, porque deriva do incumprimento das funções de gestora
(haverá culpa logo que for cometido um crime ou contraordenação ou de falta de entrega da
prestação tributária, 114º do RGIT). Segundo Ana Paula Dourado, terá que se ter em conta uma
série de pressupostos como: a identificação do responsável pela decisão de não cumprir o dever
tributário de retenção - poderá não ser ela, mas outrém do departamento financeiro -, bem como
deveres de diligência, tendo em conta a relação entre o presumível responsável; terá de se ter em
conta a relação entre a gestora e o sujeito passivo originário (trabalhador).

No que respeita às quotizações, os empregadores são responsáveis pelo pagamento de


quotizações dos trabalhadores, tendo falhado o dever de entrega. As quotizações são
contribuições especiais (4º, nº3 LGT) de carácter unilateral e não sancionatório, mas divergem
dos impostos porque há consignação de receitas (visto que nos impostos vigora o princípio da
não consignação). Tendo sido violado o dever de entrega, é aplicável o artigo 28º, nº1, pelo que
a empresa é a única responsável, ficando o substituído (trabalhadores), exonerado de qualquer
responsabilidade, visto que o trabalhador não tem modo de saber que não foi entregue, e, por
outro lado, a empresa tem em mãos valores que não são da sua propriedade.

Notas: a) sabendo que o 28º, nº2 da LGT é aplicável apenas a retenções por conta de imposto
devido a final, a doutrina diverge quanto a saber onde se deverá enquadrar as retenções a título
definitivo. A maioria da doutrina e da jurisprudência entendem que se aplica o 28º, nº3. Outra
doutrina entende que se enquadra no 28º, nº1, abrangendo este preceito, quer a violação do
dever de entrega das importâncias retidas, quer as retenções a título definitivo. Assistente
salientou que parece não ser aplicável o 28º, nº3 da LGT, à retenção a título definitivo, visto que
esse preceito assume que houveram importâncias deduzidas e outras que não o foram. Nesse
sentido, aplicaria o 28º, nº1.

d) Há retenção a título definitivo no caso dos juros, mais em situações em que uma empresa
residente em Portugal, contrata com outra residente no estrangeiro, sendo que a retenção das
importâncias devidas pela segunda, efetuada pela empresa residente em Portugal, é a título
definitivo, para facilitar a aplicação da responsabilidade tributária. De outro modo, poderia
haver uma fuga ao pagamento, sendo difícil encontrar esta entidade não residente num outro
país e exigir-lhe o pagamento. Assim, garante-se sempre que há um responsável. Isto tem
interesse para efeitos da aplicação do artigo 28º.

c) O 24º, nº1, b) é subsidiária face à a).


Caso 3

A criação de cada taxa não se encontra na reserva relativa da competência da AR, salvo o
regime geral de taxas (165º, nº1, i CRP). As taxas são um tributo bilateral e, portanto, exigem a
existência de uma contrapartida específica como a utilização de um bom público, de um serviço
público e a remoção de um obstáculo jurídico (4º, nº2 LGT). Podemos considerar uma de duas:
ou entendemos que se pode divisar uma contrapartida específica pois o contribuinte terá acesso
a um serviço e qualidade que não teria normalmente, ou entendemos que não há contrapartida
específica. Adotando este último ponto de vista, não estaríamos perante uma verdadeira taxa
mas um imposto oculto1.

Os impostos são matéria da reserva relativa da competência da AR, havendo uma


inconstitucionalidade orgânica, pois não há lei de autorização legislativa nos termos do 165º,
nº2, contendo os elementos aí previstos. O imposto é um tributo unilateral, de carácter
pecuniário e não sancionatório, que tem por fim essencial a obtenção de receitas (4º, nº1 LGT).
Ora, foi violado o princípio da legalidade em termos formais - devido à desconsideração da
reserva de lei por inexistência de lei de autorização legislativa.

O princípio da legalidade em sentido material, ou princípio da tipicidade como designado por


APD, exige que os elementos essenciais do imposto sejam definidos e densificados por lei
formal - aqueles que constam do 103º, nº2 da CRP, isto é, incidência subjetiva e objetiva, a taxa,
os benefícios e as garantias dos contribuintes. Ou seja, quer a lei da AR, quer a lei de
autorização legislativa nunca podem ser um cheque em branco, tendo de densificar os elementos
mencionados no 103º, nº2 e 165º, nº2 da CRP, respetivamente. Assim, a Portaria nunca poderia
vir a densificar tais elementos, mas apenas critérios técnicos. Vejamos: a definição de critérios
de determinação de quais são os estabelecimentos de luxo faz parte da incidência objetiva
( tempo, espaço, quantitativo e matéria), já que está em causa a determinação da matéria
tributável, sendo um elemento essencial de imposto e, portanto, a constar de lei da AR. Assim,
temos nova inconstitucionalidade orgânica e material. Por outro lado, os benefícios fiscais
podem traduzir-se em isenções, e constituem um desagravamento que introduz uma exceção à
incidência tributária, pelo que violam o princípio da igualdade. Assim, têm de ser justificados
por um princípio que se sobreponha à igualdade - princípio do bem estar social, princípio da
proporcionalidade e princípio do ganho. Tendo a Portaria definido uma isenção é patente que
existe nova violação do princípio da tipicidade e consequente inconstitucionalidade material e
orgânica, pois é ainda elemento essencial do imposto (103º, nº2).

Note-se: os benefícios fiscais estão SEMPRE na reserva de lei, e portanto, sujeitos ao princípio
da tipicidade ou legalidade em sentido material, pelo que o Governo não pode criar benefícios
fiscais. Porquê? Porque garante o legítimo afastamento de princípios constitucionais materiais
do Estado Fiscal e a observância dos princípios materiais a que os benefícios fiscais estão
submetidos. O único desvio à competência exclusiva da Assembleia da República para criar
benefícios fiscais, é os casos excecionais em que a Lei das Finanças Locais (artigo 16º), confere
às Autarquias Locais o poder de os criar quanto às taxas por elas criadas.

Caso 4
1
Eu acrescentei que a própria taxa não assentava no princípio de cobertura de custos, mas em critério ad
valorem, ou seja, sobre a capacidade contributiva, o que é um princípio dos impostos. Não obedece à
cobertura de custos, pois este obriga a uma correspondência entre os custos do bem utilizado, do serviço
prestado ou remoção do obstáculo jurídico e o benefício auferido pelo particular. Mas tal não foi
mencionado na resolução do caso.
Estamos perante um caso de princípio da legalidade, previsto no 165º, nº1, i) e 103º, nº2 da
CRP, respetivamente determinando a sujeição a reserva de lei formal (em sentido formal), e a
densificação dos elementos essenciais do imposto (sentido material). A AR outorgou uma lei de
autorização legislativa, nos termos do 165º, nº1, i) e 165º, nº2 da CRP. Está em causa uma lei de
autorização que incide sobre o IRS, ou seja, um imposto (tributo unilateral de carácter não
sancionatório que tem como fim principal a obtenção de receitas fiscais, obedecendo ao
princípio da capacidade contributiva). Está, então, sujeito ao princípio da legalidade em cima
enunciado. Correremos os elementos de densificação da autorização previstos no 165º, nº2. É
uma autorização legislativa vaga, mas temos uma indicação do objeto e da extensão. Não temos
indicação da duração, nem do sentido da autorização (referência ao 103º, nº2). O que desde logo
parece incompatível com o princípio da legalidade, sendo um cheque em branco.

Quanto à primeira alínea, verifica-se que o decreto-lei tributa as despesas, o que está fora do
objeto determinado, isto é, "rendimentos", embora algumas despesas sejam "rendimento",
olhando ao artigo 2º do CIRS, como comissões ou subsídios. Esta despesa não é rendimento da
Categoria A, sendo uma mera despesa que não faz parte da "remuneração", como se retira do 2º
A. Assim, está fora do objeto, nos termos do 165º, nº2, sendo por isso inconstitucional. Por
outro lado, há violação do princípio da capacidade contributiva porque deve ser aferida não em
função da despesa, mas em função do rendimento. Para além disso temos um conteúdo
demasiado vago que viola o princípio da tipicidade, que vem exigir detalhe suficiente para que
haja previsibilidade e certeza jurídica - "predominante interesse" do trabalhador é um conceito
indeterminado, que no caso nem parece determinável.

Na segunda alínea parece estar em causa um aspeto de quantificação (sujeito ao principio da


tipicidade -103º, nº2), sendo que se estipula que se terá em conta, na falta de valor nominal, o
valor mais próximo das condições normais de mercado. Verifica-se que teremos de distinguir
se, dentro das regras de quantificação, estas são materiais/substantivas ou
procedimentais/processuais. As primeiras estão sujeitas a reserva de lei fiscal e são aquelas - de
acordo com o TC - cujo conteúdo tenha haver com a modelação normativa dos elementos
constitutivos do tipo tributário de cuja concretização factual deriva a obrigação de imposto e o
seu montante. Ora, estamos perante uma violação da reserva de lei, na medida em que a
remissão do DL para o valor mais próximo das condições de mercado, implica que não é
possível conhecer com previsibilidade e segurança jurídica, os termos quantitativos do facto
tributário. A técnica remissiva tornou a norma inconstitucional. A quantificação faz parte da
incidência em sentido amplo (103º, nº2 da CRP), devendo ser especificada no 165º, nº2, porque
esta tem por referência o 103º, nº2. A técnica remissiva não preenche as necessidades de
tipicidade fiscal.. Na aula só foi mencionado que as condições de mercado é um conceito vago e
indeterminado, sendo que Casalta Nabais admite conceitos indeterminados, mas terá que se
fazer uma análise casuística. Este conceito viola o princípio da tipicidade.

Na alínea três, está em causa a determinação do lucro tributável em sede de IRC (17º, nº1 CIRC
e 20º, 23º CIRC), sendo que nos termos do 23º, nº2, f), os impostos suportados pelas empresas
são gastos para efeitos do IRC e , portanto, releva para a determinação do lucro tributável, sendo
dedutíveis em princípio. Por outro lado, a tributação autónoma ocorre como método indireto e
subsidiário de determinação da matéria tributável, quando não é possível determinar com
fiabilidade o rendimento real ou quando o sujeito escolhe ser tributado com base no regime
simplificado (87º da LGT e 88º do CIRC). Não pode legislar sobre esta matéria de IRC, mas
apenas sobre o IRS, estando fora do objeto da lei de autorização legislativa, sendo
inconstitucional. Assim, o DL autorizado viola o princípio da legalidade em sentido formal. Um
acrescento: a não dedutibilidade de despesas tem de ser justificada. De outro modo, há violação
do princípio da tributação real. No DL confere à administração o poder de aplicar uma taxa
quando considere excessiva, portanto, a norma tem um conceito indeterminado que atribui
poderes discricionários à administração, proibido pelo princípio da legalidade. Tem de
quantificar os critérios de apuramento de valor. Há violação da legalidade em sentido material,
por violação da incidência em sentido amplo. Por outro lado, a lei da autorização da legislativa
tinha de prever a criação desta taxa.

Quanto à quarta alínea, parece estar em causa a incidência em sentido amplo, ou seja,
abrangendo as regras de determinação da matéria tributável e quantificação. Ora, em princípio
sujeitas ao princípio da reserva de lei fiscal, cabe determinar - de acordo com a orientação do
TC - se se trata de regras materiais/substantivas ou de regras técnicas/procedimentais. Quer as
prestações em concreto, quer os critérios de apuramento do seu valor, parecem fazer parte de
normas materiais, que determinam a base tributável e quantificação visto que estão dentro dos
elementos do tipo tributário que de que deriva a obrigação de imposto e o seu montante. As
prestações já estavam definidas no decreto-lei. Em relação a elas não há problema. Mas os
critérios de apuramento de valor têm de estar concretamente enunciados, o que não ocorre, pelo
que o decreto-lei autorizado viola o princípio da tipicidade, não havendo densificação do valor.

Quanto à quinta alínea, estamos perante uma isenção (benefício fiscal - constituem um
desagravamento que introduz uma exceção à incidência tributária, pelo que violam o princípio
da igualdade. Assim, têm de ser justificados por um princípio que se sobreponha à igualdade -
princípio do bem estar social, princípio da proporcionalidade e princípio do ganho). Verifica-se
que os benefícios fiscais são elementos essenciais do imposto (103º, nº2) sujeitos a reserva de
lei fiscal, sendo que há inconstitucionalidade, na medida em que a lei de autorização legislativa
não previa a concessão de isenções. Por outro lado, este benefício não está justificado por
princípios que se sobreponham à igualdade - daí que por esta via também não seria admissível.

Caso 4-A

O IMT é o imposto sobre transmissão de imóveis. Assim sendo está sujeito à reserva relativa da
AR (165º, nº1, i), sendo que para que o Governo possa legislar sobre a matéria, é necessária
uma lei de autorização legislativa, a qual não ocorreu, que densificasse os elementos do 165º,
nº2. Assim, a alteração de imposto é inconstitucional, havendo a violação do princípio da
legalidade na vertente formal. De qualquer modo, nos termos do 165º, nº2 tem de determinar o
objeto, extensão, duração e sentido. O sentido da autorização passa pela determinação dos
elementos do 103º, nº2 da CRP.

Verifica-se que o imposto é calculado em função do valor objetivo de cada imóvel, dando
alguns critérios. Estamos perante uma matéria que faz parte da incidência em sentido amplo, na
medida em que estamos perante aspetos de quantificação do imposto. Nesse sentido, serão
regras materiais/substantivas porque são elementos constitutivos do tipo tributário de cuja
concretização factual deriva a obrigação de imposto e o seu montante. Assim, a determinação
dos restantes por portaria bem como o peso relativo de cada um, faz parte da incidência em
sentido amplo. A indeterminação presente na definição de critérios determina a violação do
princípio da legalidade na vertente material. A falta de densificação de um elemento de
quantificação confere à administração uma ampla discricionariedade para determinação dos
critérios, sendo que nenhum ato regulamentar pode definir critérios que não sejam meramente
técnicos - tal implica que o conteúdo substantivo esteja no decreto-lei autorizado.
Quanto às taxas: a taxa é elemento essencial do imposto, nos termos do 103º, nº2 da CRP,
devendo constar do decreto-lei autorizado. No entanto, o artigo 238º, nº4 da CRP admite que os
Municípios disponham de poderes tributários, sendo que as autarquias locais não têm poder em
matéria de impostos, seja de criação seja de adaptação. A LFL atribui alguns poderes em
matéria fiscal, como a fixação das taxas do IMI, (acórdão 57/95) embora com moldura fixada
por lei. Não está em causa o IMI mas o IMT. Nesse sentido, a taxa não poderia ser concretizada
pelos Municípios. DL devia determinar as taxas, havendo violação do princípio da legalidade
em sentido material. A autonomia financia é concedido nos estritos termos da CRP que remete
para a LFL, que não concede a criação de impostos, nem a definição de elementos essenciais. O
importante a reter é que as balizas da taxa têm que constar de lei formal.

Taxas 0.5% a 5%: os Municípios não têm poderes em matérias de impostos, e nesse sentido, a
taxa ou moldura só pode ser definida por lei (decreto-lei autorizado), sob pena de
inconstitucionalidade por violação do princípio da legalidade; no caso esta moldura é demasiado
larga - leva a inconstitucionalidade porque a baliza da taxa não pode ser demasiado ampla,
porque põe em causa o princípio da proporcionalidade

Quanto aos benefícios: é verdade que os Municípios podem conceder benefícios fiscais
relativamente a impostos próprios como o IMT, mas tem de obedecer aos requisitos previstos no
artigo 16º da LFL, não podendo ter duração superior a 5 anos, devendo ser devidamente
justificados e fundamentados e ter em vista a tutela de interesses públicos. Isto não ocorreu.

Caso 5

A regra no Direito Fiscal é a de que o lei nova só se aplica para o futuro, sendo proibida a
aplicação a factos passados (103º, nº3 CRP). Apenas as normas fiscais oneradoras é que estão
sujeitas ao princípio da proibição da retroatividade. No caso de leis fiscais substantivas novas é
preciso distinguir entre impostos de obrigação única - o facto tributário nasce e extingue-se num
único momento - e impostos de obrigação periódica - o facto tributário tem normalmente início
no primeiro dia do ano ou período fiscal e apenas está concluído no último dia do ano ou desse
período.

1. Quanto ao IVA, o sujeito passivo não coincide com o consumidor final. Para este é imposto
de obrigação única e para o sujeito passivo é um facto tributário de formação sucessiva. Como é
suportado pelo consumidor final considera-se que a lei nova no tempo não pode colocar em
causa o imposto já pago pelo consumidor final. Assim, o aumento do IVA no caso, que é uma
norma oneradora, apenas se pode aplicar aos factos tributários futuros, portanto, a partir de 1 de
Maio. Não há problema de retroatividade porque se aplica apenas a partir de Maio.

2. Quanto ao IRS, verifica-se que é considerado como imposto periódico, constatando-se um


aumento da taxa aplicada, sendo então uma norma oneradora. Verifica-se que apenas a
retrospetividade ou retroatividade inautêntica é admissível, na visão do TC, face ao 103º, nº3
CRP, sendo proibida a retroatividade autêntica - como afirmado pelo TC. Neste caso,
estaríamos perante a aplicação relativamente a factos passados cujos efeitos ainda perduram no
presente, porque a lei nova é aprovada antes do final do ano a que corresponde o imposto, ainda
que se aplique a todo o ano de 2015 (acórdão 399/2010). Assim, teremos de analisar se esta
retrospetividade é admissível (baseia-se no princípio da anualidade), cabendo saber se as
expectativas quanto à não entrada em vigor de que leis novas mais gravosas durante o ano
fiscal, não são violadas à luz do princípio da segurança jurídica, na vertente positiva de
princípio da tutela da confiança.
Segundo a jurisprudência constitucional (acórdão 128/2009 e 85/2012), para a determinação da
inconstitucionalidade desta norma, teremos de recorrer a dois pressupostos: a afetação de
expectativas em sentido desfavorável terá que ser inadmissível, constituindo uma mutação da
ordem jurídica com a qual os destinatários razoavelmente não possam contar e a alteração não
for ditada por direitos ou interesses prevalecentes constitucionalmente protegidos (18º, nº2 CRP
proporcionalidade) Estes dois critérios são concretizados por 4 testes: é necessário que o Estado
tenha encetado comportamentos capazes de gerar expectativas de continuidade; tais
expectativas devem ser legítimas, justificadas e fundadas em boas razões; os privados devem ter
feito planos de vida tendo em conta a continuidade do comportamento estadual; não podem
ocorrer razões de interesse público que justifiquem a não continuidade do comportamento que
gerou situações de expetativa - aqui havia o interesse público de estabilidade financeira do
Estado, pelo que não teria de haver uma continuidade do comportamento. Assim, a medida não
viola o princípio da proteção da confiança, não sendo inconstitucional esta retrospetividade,
sendo que pode abranger todo o período de 2015.

3. Quanto ao IRC, é um imposto de obrigação periódica, havendo um aumento de taxa e,


portanto, uma medida onerosa, sendo aplicáveis as considerações previstas quanto ao IRS,
havendo uma retrospetividade que não viola o princípio da proteção da confiança. Assim, será
de aplicar os 4 testes enunciados pelo TC: é necessário que o Estado tenha encetado
comportamentos capazes de gerar expetativas de continuidade; tais expetativas devem ser
legítimas, justificadas e fundadas em boas razões; os privados devem ter feito planos de vida
tendo em conta a continuidade do comportamento estadual; não podem ocorrer razões de
interesse público que justifiquem a não continuidade do comportamento que gerou situações de
expetativa - aqui havia o interesse público de estabilidade financeira do Estado, pelo que não
teria de haver uma continuidade do comportamento. Assim, a medida não viola o princípio da
proteção da confiança, não sendo inconstitucional esta retrospetividade, sendo que pode
abranger todo o período de 2015. O TC nega a aplicação do 12º, nº2 da LGT, havendo aqui uma
concretização do princípio da autorreversibilidade das leis. Mais uma vez, prevalece a
interpretação que o TC faz do 103º, nº3 da CRP e não a própria CRP.

Quanto, porém, à tributação autónoma das despesas prevista no artigo 88º do CIRC, teremos de
analisar se esta se trata de uma obrigação única. De facto, o facto tributário é de obrigação
única, pelo que não é relevante o ano ou período fiscal, mas sim o dia em que ocorreu a
obrigação de imposto, porque o facto incide sobre despesas avulsas, e não sobre o rendimento
cuja formação se vai dando ao longo do ano. Só pode, a lei nova, ser aplicada a factos
tributários que ocorram após a sua entrada em vigor, sob pena de retroatividade proibida.
Assim, o agravamento para 60% com efeitos para todo o ano de 2015, é inconstitucional. Só se
poderá aplicar este agravamento de taxa para o futuro (acórdão 21/3/2012 do STA). O facto
gerador de imposto é a própria realização da despesa. O acórdão 18/11 do TC havia considerado
esta tributação como tributação de rendimento, o que se deixou de verificar no acórdão
310/2012, que julgou inconstitucional o agravamento das taxas da tributação autónoma por
violação do 103º, nº3 da CRP.

4. Quanto ao adicional de 6% do IRS: verifica-se que é considerado como imposto periódico,


constatando-se um aumento de 6% do valor já aplicado em 2014, sendo então uma norma
oneradora. Verifica-se que apenas a retrospetividade ou retroatividade inautêntica é admissível,
na visão do TC, face ao 103º, nº3 CRP, sendo proibida a retroatividade autêntica - como
afirmado pelo TC. Como já esgotou todos os efeitos no ano de 2014 estamos perante uma
retroatividade autêntica que viola a Constituição.
5. Quanto à eliminação dos benefícios fiscais: verifica-se que estes benefícios já estavam
esgotados no ano anterior. Nesse sentido, a retroatividade aqui aplicada apenas poderá ser a
retroatividade autêntica, proibida pela CRP, no seu artigo 103º, nº3 da CRP, sendo este o
entendimento do TC. Assim, a medida será inconstitucional. A doutrina entende que quando
estão em causa benefícios fiscais balizados no tempo (duração definida) atua o princípio da
segurança jurídica. Os benefícios de duração indeterminada são menos protegidos pela
segurança jurídica.

6. Quanto às mais-valias em sede de IRS: matéria tributável resulta da diferença entre as mais e
as menos-valias no ano fiscal, apesar de as mais-valias não serem englobadas e de a taxa de
imposto ser proporcional. O regime das mais-valias confere-lhes natureza de periocidade típica
do IRS. Por isso, pode-se argumentar que de acordo com o artigo 10º nº1, b) e 10º, nº4 do CIRS,
o apuramento entre mais-valias e menos-valias é feito no final do ano; esta tributação apenas é
autónoma no sentido de "especial". O apuramento é feito, como enunciado, no final do ano
fiscal e não no momento da alienação de cada ação. Se assim considerássemos, que é a opinião
da assistente, então estaríamos perante uma retroatividade inautêntica. Para a sua
admissibilidade não se pode violar o princípio da confiança. Cabe aplicar os 4 testes, sendo que
no último temos um interesse público prevalecente que torna esta retrospetividade admissível,
porque não violadora do princípio da confiança.

Pelo contrário, na posição do TC, como são tributadas "autonomamente", em relação a cada
ganho realizado, não se tributa o rendimento acréscimo num determinado ano fiscal, o que
significa que se trata de uma obrigação única - o facto tributário nasce e extingue-se com cada
alienação. Daí apenas se poder aplicar esta medida aos factos tributários ocorridos em data
posterior à sua entrada em vigor, o que significa que a sua tributação independentemente do
momento da aquisição de ações e período de detenção é inconstitucional, sendo uma
retroatividade autêntica proibida pelo 103º, nº3 CRP. A norma que prevê a tributação do saldo
positivo entre as mais e menos-valias em face de todos os atos de alienação é uma norma de
determinação da matéria tributável. Acórdão 5/2017

Caso 6

A AR tem competência para a criação de impostos -165º, nº1, i) da CRP- , tendo também de
densificar os seus elementos essenciais como resulta do 103º, nº2 da CRP, à luz do princípio da
legalidade (sentido formal) e do princípio da tipicidade (princípio da legalidade em sentido
material). Assim, teria competência para as alterações propostas.

Quanto à tributação das empresas: o artigo 104º, nº2 da CRP e 17º do CIRC determinam a
tributação do rendimento real, princípio regra, o que surge como reação à tributação do lucro
presumido. O rendimento real é um conceito normativo que se traduz em métodos diretos e na
tributação do rendimento líquido. Este tipo de tributação ocorre quando há contabilidade
organizada. Visa atingir a matéria coletável realmente auferida pelo sujeito passivo. Resulta da
diferença entre proveitos e gastos - 83º, nº1 LGT. Nos termos do 17º do CIRC é o lucro
contabilístico adaptado aos princípios e finalidades jurídico-fiscais. Assim, em princípio, não se
poderia tributar "lucro presumido" como indicado pela AR. A tributação do rendimento real é
uma expressão do princípio da capacidade contributiva e do princípio da propriedade privada. A
tributação do rendimento bruto ou, como no caso, do rendimento presumido, pode levar a
tributos confiscatórios da propriedade privada. Precisamente, a tributação do rendimento real
visa o equilíbrio com direito de propriedade e iniciativa privada.

Daí que o apuramento do rendimento líquido seja essencial, com a dedução dos gastos, em regra
dedutíveis, embora tendo de se ter em conta o princípio do abuso fiscal. Neste caso, sempre que
os gastos possam ser utilizados abusivamente pelos sujeitos passivos, provocando a erosão de
bases tributárias, é legítimo ao legislador impedir ou limitar a dedução desses gastos. Na
realidade, se se pretende uma política antiabuso, poderemos concentrar-nos nas normas
antiabuso como o 23ºA do CIRC que determina quais os encargos não dedutíveis, bem como o
67º do CIRC que determina limitações à dedutibilidade de gastos de financiamento. Em caso de
violação de obrigações formais ou acréscimos patrimoniais não justificados, os sujeitos passivos
poderão ser tributados por métodos indiretos (87º da LGT e 90º da LGT), os quais só podem ser
aplicados na impossibilidade de apuramento do rendimento real. Assim, a tributação segundo
métodos indiretos só pode ser aceite no caso de a administração não pudesse aplicar o método
direto, ou seja, a tributação do rendimento real com base nos deveres de contabilidade e
declarativos do sujeito passivo. Concluindo, a medida proposta não parece aceitável não
passando por nenhuma destas medidas, mas apenas por uma pura tributação do rendimento
presumido aplicável às empresas em qualquer circunstância. A coleta mínima é uma violação do
princípio da igualdade vertical, no sentido de que diferentes entidades deverão ter uma distinta
tributação.

Quanto à questão da aplicação ao ano em curso, o IRC é um imposto de formação sucessiva, e,


portanto, uma obrigação periódica. De acordo com a jurisprudência do TC, o artigo 103º, nº3 da
CRP apenas proíbe a retroatividade autêntica e não a retrospetividade. Estaríamos perante uma
retrospetividade porque a lei nova seria aplicável a situações que se mantêm no ano em curso.
Só é admissível desde que não viole o princípio da tutela da confiança (vertente positiva do
princípio da segurança jurídica).

Quanto aos benefícios fiscais: os benefícios estão na reserva relativa da competência da AR,
sendo um elemento essencial de um imposto (103º, nº2 e 165º, nº1 i) CRP) - a sua criação e
extinção são da competência da AR. Em princípio, sendo violadores do princípio da capacidade
contributiva, tem de ser justificados por um outro princípio. Esta é uma norma oneradora, mas
não se coloca nenhum problema de retroatividade, porque apenas aplicável para o futuro - 103º,
nº3 da CRP. Note-se que os benefícios de associações, cooperativas e fundações de utilidade
pública nunca foram extintos, segundo o professor Sérgio, e têm ser atribuídos pelo Ministério
responsável pela área.
Quanto ao IRS: A tributação de IRS sobre o rendimento presumido, à partida, para atentar
contra o princípio da capacidade contributiva (104º da CRP), que é a concretização do princípio
da igualdade nos impostos. Mesmo que o princípio da tributação do rendimento real seja
associado às empresas, a professora Paula Pereira entende que tem relevância transversal a toda
a tributação do rendimento, ao nível das várias categorias do IRS. A capacidade contributiva
contém a medida de comparabilidade entre o objeto da tributação, por um lado e a medida de
comparabilidade entre sujeitos passivos do outro. É a medida de igualdade económica que rege
a tributação nos impostos. Nos impostos pessoais está relacionada com a ligação da pessoa ao
território da tributação. Nesse sentido, a tributação do rendimento presumido é, em princípio,
violação do princípio da capacidade contributiva. Estaria em causa a aplicação de um método
indireto.

O rendimento apurado pela tabela é rendimento de categoria G (incrementos patrimoniais) - 1º,


nº1 e 9º CIRS, estando em causa um acréscimo não patrimonial não justificado, previsto no 9º,
nº1, d) do CIRS, que nos remete para o 87º, 88º e 89º-A LGT. Há lugar à aplicação de método
indireto, nos termos do 87º, nº1, d) e 89º A, nº1, nº3 e nº4, quando o sujeito passivo não
comprovar que correspondem à realidade os instrumentos declarados e de que é outra a fonte
das manifestações de fortuna. Os critérios do 90º são aplicáveis por remissão do 89º-A, nº4.
Temos uma presunção ilidível. De acordo com o 89º A, nº7, da decisão de avaliação da matéria
coletável nestes termos cabe recurso para o tribunal, com efeito suspensivo. A tributação das
manifestações de fortuna tem como fim o combate à fraude e evasão fiscais, sendo um
mecanismo de aplicação "automática" a tributação de rendimentos omitidos pelo contribuinte. A
medida era admissível. A regra é, porém, que tributação recaia sobre o rendimento líquido
global, porque reflete de forma mais rigorosa a capacidade contributiva. Já o rendimento
líquido, é feito pela determinação do rendimento líquido de cada categoria que é dado pelas
deduções específicas nessa mesma categoria 2.

Quanto aos rendimentos: as práticas ilícitas ficam sujeitas a uma taxa agravada de IRS e IRC de
60%, sendo que são proibidos os impostos confiscatórios, que limitam de forma
desproporcionada a propriedade privada e a iniciativa económica privada. Como refere APD, a
aplicação do princípio da igualdade fiscal com os limites dos princípios enunciados levaria à
conclusão que impostos acima de 50% limitados a uma categoria de contribuintes, e sem
prosseguir finalidades extrafiscais, são discriminatórios e confiscatórios. O artigo 10º LGT
determina que o carácter ilícito da obtenção dos rendimentos não obsta à sua tributação,
seguindo-se a capacidade contributiva - 9º, nº1, d) e 72º, nº11. Os acréscimos patrimoniais não
justificados são tributados à taxa de 60%, visto que as finalidades sancionatórias justificam esta
tributação. Quanto às despesas: o princípio é a dedutibilidade dos gastos, o que obedece ao
princípio da tributação do rendimento real, sendo este o que resulta da diferença entre proveitos
e gastos e é apurado, em regra, segundo métodos diretos (contabilidade e outros deveres de
declaração) - 17º LGT e 104º, nº2 da CRP. É legítimo impedir a dedução dos gastos com
práticas ilícitas. Está patente no 23º do CIRC, nº1, nº2, nº3, que determina os gastos dedutíveis,
e no 23º-A que nos determina os gastos não dedutíveis, sendo relevante a alínea d): as despesas
2
Quanto à presunção ilidível já mencionada, está em consonância com o artigo 73º da LGT, que
conjugado com o 104º, nº1 e nº2 da CRP, implica que as tipificações legais devem evitar as presunções
inilidíveis, de forma a que a tributação incida sobre a capacidade contributiva e fundamentalmente, sobre
o rendimento real: não se pode presumir a existência em si de rendimentos porque dessa forma prescindir-
se-ia em absoluto do princípio da capacidade contributiva.
ilícitas, designadamente as que decorram de comportamentos que fundamentalmente indiciem a
violação da legislação penal portuguesa, não são dedutíveis. A medida é admissível. Conclui-se:
certos gastos podem não ser dedutíveis sempre que haja outros princípios fiscais que
recomendem o oposto. Não são dedutíveis os encargos com finalidades sancionatórias, como
ocorre no caso. Está em causa o princípio do abuso fiscal que impede que os gastos possam ser
utilizados de modo abusivo, provocando a erosão de receitas tributárias.

Caso 7

Estamos perante o Imposto sobre o Rendimento Pessoal, que por exigência da CRP, deve ser
um imposto pessoal, único, progressivo e com objetivos redistributivos, estes últimos satisfeitos
com a unidade e progressividade, bem como com as deduções à coleta de despesas sociais.
Deve recair sobre o rendimento líquido global porque este reflete de forma mais rigorosa a
capacidade contributiva do sujeito. A tributação global não discrimina categorias de
rendimentos, sendo então mais justa e mais neutra por não interferir nas opções dos
contribuintes. O IRS na realidade não é imposto único, mas dual, porque temos rendimentos
sujeitos a englobamento (22º CIRS) e progressividade, e uma tributação não sujeita a
englobamento (taxas liberatórias e especiais -71º e 72º CIRS).

A tributação em IRS é organizada por categorias, as quais correspondem a diferentes tipos de


rendimentos. Tanto A como M são sujeitos passivos residentes (13º, nº1 e 16º, nº1 CIRS).
Quanto ao salário de António, estão em causa os rendimentos do trabalho dependente, pelo que
será integrado na categoria A, definida no 1º, nº1 e 2º, nº1 do CIRS, alínea a) porque prestado
por conta de outrem ao abrigo de contrato individual. Nos termos do 2º, nº2 CIRS, as
remunerações da categoria compreendem salários, que seria o que estava em causa. Este
rendimento não é excluído pela delimitação negativa de incidência do 2º-A do CIRS. O
apuramento líquido de cada categoria é dado pelas deduções específicas de cada categoria, pois
os gastos dedutíveis não são comunicáveis, para evitar erosão da matéria tributável. No caso de
António, com rendimentos de categoria A, a dedução é fixa. Quanto aos rendimentos do
trabalho, são dedutíveis o montante previsto no 25º, nº1, sendo que em princípio só se verificava
a alínea a). Na fase seguinte, após apuramento do rendimento líquido de cada categoria,
deveremos determinar se se faz um englobamento (22º), ou se, pelo contrário, teremos uma
tributação às taxas liberatórias ou especiais (71º e 72º), nas quais não se encontram elementos
personalizantes. Através do englobando (22º), apura-se o rendimento global líquido dos sujeitos
passivos residentes, mediante a adição dos rendimentos líquidos das várias categorias, com
aplicação das taxas gerais do 68º, prevendo-se, porém, um mínimo de existência (70º). Os
rendimentos do trabalho dependente estão sujeitos a este regime. Nos termos do 98º e 99º, nº1,
a) os rendimentos de trabalho dependente estão sujeitos a retenção na fonte como imposto
devido a final.

Já quanto aos rendimentos de Maria, sendo advogada, poderiam ser enquadrados na categoria B,
prevista no artigo 1º, nº1 e artigo 3º, nº1, b) do CIRS, tratando-se de um rendimento auferido
por conta própria, de qualquer atividade de prestação de serviços, neste caso técnico. Nos
rendimentos de categoria B, há dois regimes: o regime simplificado, para sujeitos passivos que
não tenham optado pela contabilidade organizada e não tenham ultrapassado, no período
imediatamente anterior, um determinado montante anual ilíquido (28º, nº1, a), nº2, nº3 CIRS e
31º); já no regime de contabilidade organizada são aplicadas as regras do IRC para determinar
o lucro tributável, mas com adaptações (28º, nº1, b) e 32º). Como não optou aplica-se o regime
simplificado. Neste caso, não são dedutíveis os encargos previstos no 33º e de referir o 29º, nº1.
Nesta categoria, há dedução de despesas relacionadas com a atividade. Na fase seguinte, após
apuramento do rendimento líquido de cada categoria, deveremos far-se-á um englobamento -
22º - apura-se o rendimento global líquido dos sujeitos passivos residentes, mediante a adição
dos rendimentos líquidos das várias categorias, com aplicação das taxas gerais do 68º,
prevendo-se, porém, um mínimo de existência (70º). Quanto às formas de pagamento, temos o
98º, nº1 e o 101º CIRS que determinam que a entidade que dispõem de contabilidade organizada
deve proceder à retenção na fonte. O 101º, nº1, b) remete para o 151º que remete para uma
portaria 1011/2001, que no ponto 6 engloba os advogados.

Quanto aos juros do depósito a prazo, enquadram-se na definição de rendimentos de capitais -


categoria E - , definidos no artigo1º, nº1 e artigo 5º do CIRS, nº1 como frutos e demais
vantagens económicas procedentes de elementos patrimoniais, bens, direitos ou situações
jurídicas, sendo os juros de depósito expressamente referidos no 5º, nº2, b). Para rendimentos
de capitais, a lei não prevê deduções específicas - 25 e ss. Na fase seguinte, após apuramento do
rendimento líquido de cada categoria - no caso o rendimento bruto coincide com o tributável -,
deveremos determinar se se faz um englobamento (22º), ou se, pelo contrário, teremos uma
tributação às taxas liberatórias ou especiais (71º e 72º), nas quais não se encontram elementos
personalizantes. Aos rendimentos de capitais pagos por entidades que tenham sede efetiva em
Portugal ou estabelecimento estável, aplica-se a taxa liberatória do 71º, nº1, a) de 28%. António
e Maria podem optar por sujeitar ao regime de englobamento, nos termos do 71º, nº6 do CIRS e
22º. O 98º e 101º, nº2, a) prevêem que há retenção na fonte pelas entidades devedoras dos
rendimento auferidos nos termos do 71º, nº1.

Quanto aos dividendos de ações são rendimentos derivados de direitos mobiliários. Para se
enquadrarem na categoria E, não podem ser tributados noutra categoria. Os rendimentos de
capitais no geral são entendidos como rendimento periódico que não prejudica a substância do
que está subjacente à origem do rendimento. Ou seja, havendo perda da fonte, através de
alienação por exemplo, será uma mais-valia (APD, Paula Pereira e Rui Duarte Morais). A
obtenção de dividendos não pressupõe a renúncia a ganhos futuros, porque não está em causa a
alienação das ações da PT. Assim, enquadra-se no 1º, nº1 , 5º, nº1 e 5º, nº2, h)- categoria E -, até
porque são rendimentos passivos, que o titular aufere sem recorrer a uma atividade destinada à
sua obtenção, não decorrendo de atividade profissional ou empresarial (senão seriam categoria
B). Não há deduções específicas à categoria de rendimentos de capitais, pelo que o rendimento
bruto corresponde ao rendimento tributável - o legislador entende que sendo de obtenção
passiva, o titular não incorreu em despesas para o obter. Também não há lugar a dedução de
perdas (55º CIRS). Aos rendimentos de capitais pagos por entidades que tenham sede efetiva
em Portugal ou estabelecimento estável, aplica-se a taxa liberatória do 71º, nº1, a) de 28%.
António e Maria podem optar por sujeitar ao regime de englobamento, nos termos do 71º, nº6
do CIRS e 22º . O 98º e 101º, nº2, a) prevêem que há retenção na fonte pelas entidades
devedoras dos rendimento auferidos nos termos do 71º, nº1.

Quanto às mais-valias decorrentes de venda de ações, estamos perante a categoria G de


incrementos patrimoniais, prevista no artigo 1º, nº1 e 9º do CIRS. Estão em causa as mais-valias
(9º, nº1, a)), definidas no artigo 10º como ganhos obtidos que não sejam considerados
rendimentos empresariais e profissionais, de capitais ou prediais, e o qual prevê um elenco
taxativo de ganhos que constituem mais-valias. Tem carácter residual, sendo incrementos
patrimoniais que não resultem de outras categorias. As mais-valias são definidas como ganhos
ou rendimentos de carácter ocasional ou fortuito, e que não decorrem de uma atividade do
sujeito passivo destinada à sua obtenção, decorrentes de atos, contratos ou operações e
resultantes de atos de gestão patrimonial privada. A obtenção de mais-valias prejudica o bem,
direito ou situação jurídica que lhe está subjacente implicando a renúncia a ganhos futuros e,
portanto, uma operação de alienação. Está em causa o 10º, nº1, b) ou seja, alienação onerosa de
partes sociais ou outros VM. Nos termos do 42º, não são feitas deduções a esta categoria. O
ganho sujeito a IRS corresponde ao saldo apurado entre mais-valias e menos-valias, resultando
da diferença, no caso, entre o valor da transmissão e o valor pago aquando da aquisição das
ações (43º, nº1 CIRS). O 43º, nº3 prevê uma regra específica para microempresas e pequenas
empresas. Nos termos do 55º, d), temos o regime de dedução de perdas desta situação concreta.
Às mais-valias é aplicável é a taxa especial de 28%, aplicando-se ao caso o 72º, nº1, c) que
menciona o saldo positivo entre mais e menos valias que deriva do 10º, b). Não está sujeito a
englobamento, salvo se for essa a opção dos titulares - 72º, nº8.
O IRS é apurado individualmente em relação a cada cônjuge, exceto quando for exercida a
opção pela tributação conjunta (13º, nº2 do CIRS). Nesse caso, aplicar-se-á o quociente familiar
do 69º. Por último, as deduções à coleta são efetuadas nos termos do 78º. O 78º, nº1, a) e 78º A
afiram que são efetuadas deduções relativas a despesas com dependentes do agregado familiar e
aos ascendentes que vivam em comunhão de habitação com o sujeito passivo. As despesas de
saúde e educação estão previstas no 78º, c) e d), 78º C e 78º D.

NOTAS: os ganhos que derivados de alienação de imóveis só ficam sujeitos ao regime das
mais-valias se a alienação tiver sido efetuada a partir de 1/1/1989 (CIRS regime transitório,
artigo 5º, nº1 parte final). Por outro lado, as mais-valias decorrentes da transmissão onerosa de
imóveis destinados a habitação própria ou permanente são excluídas de tributação desde que
sejam utilizadas para a aquisição de outro imóvel de habitação (10º, nº5 CIRS). Quanto ao 43º,
nº3 o saldo é considerado em 50% do seu valor, o que significa que não há taxa específica, mas
uma divisão por dois. Em terceiro lugar, às mais-valias mobiliárias é sempre aplicável o 72º,
nº1, c) tributadas à taxa especial de 28%. Quanto a estas taxas, os não residentes nunca podem
exercer a opção por englobamento (72º, nº8 CIRS).

Caso 8

Estamos perante o Imposto sobre o Rendimento Pessoal, que por exigência da CRP, deve ser
um imposto pessoal, único, progressivo e com objetivos redistributivos, estes últimos satisfeitos
com a unidade e progressividade, bem como com as deduções à coleta de despesas sociais.
Deve recair sobre o rendimento líquido global porque este reflete de forma mais rigorosa a
capacidade contributiva do sujeito. A tributação global não discrimina categorias de
rendimentos, sendo então mais justa e mais neutra por não interferir nas opções dos
contribuintes. O IRS na realidade não é imposto único, mas dual, porque temos rendimentos
sujeitos a englobamento (22º CIRS) e progressividade, e uma tributação não sujeita a
englobamento (taxas liberatórias e especiais -71º e 72º CIRS).

A tributação em IRS é organizada por categorias, as quais correspondem a diferentes tipos de


rendimentos. Joaquim é sujeito passivo residente (13º, nº1 e 16º, nº1 CIRS). Quanto ao uso
pessoal do carro: é um rendimento de categoria A, isto é, de trabalho dependente (1º, nº1, 2º,
nº1, a)), fazendo parte das remunerações acessórias, isto é, direitos, benefícios ou regalias
auferidos devido à prestação de trabalho ou em conexão com esta, constituindo para o
beneficiário uma vantagem económica (2º, nº3, b), 9)). Trata-se da utilização pessoal pela
trabalhador de viatura automóvel que gera encargos para a entidade patronal. É um rendimento
em espécie (24º, nº5), sendo que temos regras específicas para determinação do rendimento
coletável. Quanto ao modo de pagamento não haverá retenção na fonte de rendimentos de
categoria A que respeitem a rendimentos em espécie (98º, nº1, 99º, nº1, a), parte final que
introduz a exceção). Quanto ao subsídio de almoço: é um rendimento de categoria A, isto é, de
trabalho dependente (1º, nº1, 2º, nº1, a)), fazendo parte das remunerações acessórias, isto é,
direitos, benefícios ou regalias auferidos devido à prestação de trabalho ou em conexão com
esta, constituindo para o beneficiário uma vantagem económica (2º, nº3, b) 2)) Tem de exceder
o limite legal estabelecido ou tem que exceder em 60% sempre que o respetivo subsídio seja
atribuído através valores de refeição. Tem uma retenção na fonte (98º, nº1, 99º, nº1, a)), visto
que o subsídio é em dinheiro. Quanto ao subsídio de residência: é um rendimento de categoria
A, isto é, de trabalho dependente (1º, nº1, 2º, nº1, a)), fazendo parte das remunerações
acessórias, isto é, direitos, benefícios ou regalias auferidos devido à prestação de trabalho ou em
conexão com esta, constituindo para o beneficiário uma vantagem económica (2º, nº3, b), 4)),
sendo que este valor se soma ao salário mensal (98º, nº1, 99º, nº1, a)). Quanto à viagem paga a
Joaquim: é um rendimento de categoria A, portanto, de trabalho dependente (1º, nº1, 2º, nº1,º a))
as viagens despendidas pela entidade patronal, não conexas com a função do trabalhador (2º,
nº3, 6)). É um rendimento em espécie (24º), sendo que temos regras específicas para
determinação do rendimento coletável. Quanto ao modo de pagamento não haverá retenção na
fonte de rendimentos de categoria A que respeitem a rendimentos em espécie (98º, nº1, 99º, nº1,
a), parte final que introduz a exceção), pelo que este valor se vai juntar aos rendimentos no final
do ano. Viagem à família: é um rendimento de categoria A (2º, nº11), pois engloba os benefícios
ou regalias atribuídos a qualquer pessoa do agregado familiar. Se a viagem é um rendimento da
perspetiva dos beneficiários, teremos de determinar em função da empresa. O lucro tributável
das pessoas coletivas corresponde ao resultado líquido do período e das variações patrimoniais
positivas e negativas (17º CIRC). Os ganhos estão no 20º CIRC. Os gastos dedutíveis no 23º e
não dedutíveis no 23º-A. O 23ºA é taxativo pelo que, não constando as despesas com viagens
neste artigo, teremos de ir ao 23º que não é taxativo. Assim, se partirmos do 23º poderemos
retirar a dedutibilidade desta despesa. Só poderemos considerar uma despesa de natureza
administrativa (23º, nº1, d) - vai na linha das remunerações), se considerássemos que é
essencial, ou seja, que a empresa promove uma política deste género. Se considerarmos que não
é essencial para a empresa, então não será dedutível: nesse caso, não vamos ao 23A porque é
taxativo, mas aplicamos o 23º a contrario. Quanto à taxa aplicável, está incluído na tributação
autónoma (88º, nº7 do CIRC), sendo que estão aí incluídos à taxa de 10% os encargos com
despesas de representação que inclui viagens a qualquer pessoa. Responsabilidade tributária:
estamos perante uma relação de substituição tributária. Havendo retenção e não entrega é de
aplicar o 28º, nº1 LGT, ficando o trabalhador desonerado de qualquer responsabilidade, que
recai unicamente sobre a entidade empregadora. Se a empresa não tiver meios financeiros
suficientes para proceder ao pagamento, então beneficiada primeiramente com o benefício da
excussão prévia, haverá a reversão da execução fiscal contra o responsável subsidiário por
insuficiência dos bens penhoráveis (23º, nº2 LGT e 153º, nº3 CPPT). Assim, os administradores
ou gestores serão responsáveis subsidiários, sendo de aplicar a alínea a) ou b) conforme do 24º
LGT. Faremos um juízo de culpa funcional.

CASO 9

Está em causa o IRC. São sujeitos passivos de IRC as sociedades civis e comerciais com sede
em território português -2º, nº1,a). No caso dos residentes que desenvolvam atividades
empresariais, o objeto do IRC é o lucro tributável -1º CIRC. Tributa-se, em regra, o rendimento
real que ocorre quando há contabilidade organizada. Cabe ao sujeito passivo fazer a liquidação
na declaração periódica de rendimentos (autoliquidação), com base na matéria coletável aí
apresentada. O 3º, nº1, a) determina que o IRC incide sobre o lucro das sociedades comerciais e
civis sob forma comercial, que exerçam uma atividade de natureza comercial. Nos termos do 3º,
nº4 são consideradas de natureza comercial todas as atividades que consistam na realização de
operações económicas de carácter empresarial. Assim, enquadra-se nas vendas de automóveis.
Não se tratando de atividade não empresarial exclui-se a aplicação do 3º, nº1, b) em que se
aplica o regime de tributação pelo rendimento global (soma algébrica das categorias do IRS).
Nos termos do 3º, nº2 o lucro consiste na diferença entre os valores do património líquido no
fim e no início do período de tributação, apresentando a sociedade um valor líquido de 10 000
milhões e um valor bruto de 100 000 milhões. Nos termos do 4º, nº1, as pessoas coletivas com
sede em território português, o IRC incide sobre a totalidade dos rendimentos, incluídos os
obtidos fora do território. O IRC é devido por cada período de tributação que coincide com o
ano civil, nos termos do 8º, nº1. Se assim não coincidir, deve coincidir com o período social de
prestação de contas - 8º, nº2. A sociedade não está isenta do pagamento - 9º e ss. A matéria
coletável obtém-se pela dedução ao lucro tributável, determinado nos termos do 17º e ss. dos
prejuízos fiscais e dos benefícios fiscais (15º nº1, a), 1) e 2)). O lucro tributável desta sociedade
é constituído pela soma algébrica do resultado líquido do período e das variações patrimoniais
positivas e negativas verificadas no mesmo período, determinados com base na contabilidade e
corrigidos nos termos do CIRC - 17º, nº1. Tributa-se o rendimento real - 17º, nº1 e 104º, nº2
CRP - fazendo-se, em regra, o apuramento por métodos diretos. Consideram-se rendimentos e
ganhos os previstos no 20º e gastos e perdas os previstos no 23º. Para apurarmos os rendimentos
e gastos é necessário proceder à mensuração dos inventários, às depreciações e amortizações e
às imparidades e provisões (26º- 40º). Após ser apurado, nestes termos, o resultado
contabilístico é preciso apurar o lucro tributável. Tem por base o resultado contabilístico,
adotando-se o modelo da dependência parcial, porque este é aferido em função de normas e
princípios de direito fiscal, procedendo-se a correções: os gastos e rendimentos contabilísticos
não correspondem necessariamente aos fiscais (variações patrimoniais positivas e negativas -
21º e 24º, embora estes art. não definam quais são, daí a importância do 22º, estando previstas
noutros artigos no geral).

Multas: não são gastos dedutíveis para efeitos fiscais as multas pela prática de infração de
qualquer natureza (23º A, nº1, e) do CIRC). Não há tributação autónoma.

Rendas: aplica-se o 23º, nº2, d). Vê-se que o 23º, nº3 determina que os gastos dedutíveis devem
estar comprovados documentalmente, independentemente da natureza ou suporte dos
documentos utilizados para esse efeito. Assim, o facto de apenas ter recibo não afetaria a
dedutibilidade deste gasto com rendas, considerando-se que a documentação cumpre o 23º, nº3.
Tem de obedecer aos requisitos do 23º, nº4. Assim, as rendas são um gasto dedutível, 23º, nº2,
d). O que comprova o pagamento de qualquer modo é o recibo. A fatura é a notificação de
pagamento. O senhorio, porque não é uma entidade com contabilidade organizada, não está
obrigado a emitir fatura - 23º, nº6. Se não fosse cumprido o 23º, nº6 e o 23º, nº3 então aí é que
se ia para a tributação autónoma do 88º, nº1.

Talão: trata-se de uma despesa ilícita não sendo dedutível (23º A, nº1, d)). Tributação
autónoma: Tendencialmente as despesas ilícitas não são documentalmente comprovadas nos
termos do 23º, nº3, pelo que é-lhes aplicável a taxa de tributação da autónoma e tal é compatível
em termos de interpretação extensiva da norma e com os próprios valores de direito. Não é
compatível com a coerência do sistema a não tributação autónoma das despesas ilícitas, de
comportamentos censuráveis penalmente. Aplica-se o 88º, nº1. Aplica-se uma taxa de 50% só a
esta despesa. Pagaria 500 000 (do 1 milhão). Aplica-se o 88º, nº1, a) direto.
Despesas de representação: não estão expressamente previstas no 23º, nem no 23º A. Temos de
adotar a orientação doutrinária e jurisprudencial do business purpose para discutir a
dedutibilidade. Se considerarmos que era indispensável ou essencial para a empresa,
considerado que leva à celebração de contratos e contribui para a empresa e especificamente
para a sua atividade, então era dedutível. Para a determinação do lucro tributável podemos
considerar as despesas de representação como despesas administrativas dedutíveis -23º, nº2, d).
São tributadas autonomamente à taxa de 10% as despesas de representação, considerando-se
como tal as despesas suportadas com receções e refeições -88º, nº7.

Apurado o lucro tributável, há lugar a diversas deduções, de modo a obter a matéria coletável
(51º e ss., mais 52º e 71º e mais benefícios fiscais - essencialmente 41º B do EBF). As entidades
competentes para a liquidação encontram-se no 89º - sujeito passivo ou AT. Quanto a
liquidação deva ser feita pelo sujeito passivo as declarações a que se referem o 120º e 122º, tem
por base a matéria coletável que delas conste (até dia 1 de Maio). O montante de imposto a
pagar não coincide com a coleta apurada na operação de liquidação, uma vez que há lugar a
deduções à coleta (90º, nº2, 91º, 91º A, 93º a 98º).

A regra é que a matéria coletável é determinada com base em declaração do sujeito passivo -
16º, nº1. Na falta de declaração compete à AT a determinação da matéria coletável (16º, nº2). A
determinação da matéria coletável é competência do diretor das finanças da área da sede (16º,
nº3). A determinação do lucro tributável por métodos indiretos só pode efetuar-se nas condições
referidas no 57º e ss. - 16º, nº4. O 57º, nº1, remete para a LGT. Nos termos do 87º, nº1, b) LDT
a tributação indireta pode efetuar-se na impossibilidade de comprovação e quantificação direta e
exata dos elementos indispensáveis à correta determinação da matéria tributável. Nos termos do
88º da LGT, essa impossibilidade resulta de, essencialmente, inexistência ou insuficiência de
elementos de contabilidade ou declaração (a)). Os métodos indiretos só podem ser aplicados
como última ratio, sendo uma exceção ao 104º, nº2 da CRP. Aplica-se o 87º, nº1, c) e o 88º, nº1,
d) para justificar os motivos pelos quais a AT decidiu aplicar estes métodos. Quanto aos
critérios de determinação aplica-se o 90º, nº1, a).

NOTAS: o 88º, nº1, a) funciona como uma punição. As despesas indevidamente documentadas
não estão sujeitas ao 88º, nº1, a). As despesas documentadas, bem como as confidenciais,
porque entendidas como não documentadas, mas que diferem destas porque não se consegue
determinar a sua origem, estão sujeitas ao 88º, nº1, a).

CASO 10

Estamos perante um caso de IRC. São sujeitos passivos de IRC as sociedades civis e comerciais
com sede em território português -2º, nº1,a). No caso dos residentes que desenvolvam atividades
empresariais, o objeto do IRC é o lucro tributável -1º CIRC. Tributa-se, em regra, o rendimento
real que ocorre quando há contabilidade organizada. Cabe ao sujeito passivo fazer a liquidação
na declaração periódica de rendimentos (autoliquidação), com base na matéria coletável aí
apresentada. O 3º, nº1, a) determina que o IRC incide sobre o lucro das sociedades comerciais e
civis sob forma comercial, que exerçam uma atividade de natureza comercial. Nos termos do 3º,
nº4 são consideradas de natureza comercial todas as atividades que consistam na realização de
operações económicas de carácter empresarial. Não se tratando de atividade não empresarial
exclui-se a aplicação do 3º, nº1, b) em que se aplica o regime de tributação pelo rendimento
global (soma algébrica das categorias do IRS). Nos termos do 3º, nº2 o lucro consiste na
diferença entre os valores do património líquido no fim e no início do período de tributação,
Nos termos do 4º, nº1, as pessoas coletivas com sede em território português, o IRC incide sobre
a totalidade dos rendimentos, incluídos os obtidos fora do território. O IRC é devido por cada
período de tributação que coincide com o ano civil, nos termos do 8º, nº1. Se assim não
coincidir, deve coincidir com o período social de prestação de contas - 8º, nº2. A sociedade não
está isenta do pagamento - 9º e ss. A matéria coletável obtém-se pela dedução ao lucro
tributável, determinado nos termos do 17º e ss. dos prejuízos fiscais e dos benefícios fiscais (15º
nº1, a), 1) e 2)). O lucro tributável desta sociedade é constituído pela soma algébrica do
resultado líquido do período e das variações patrimoniais positivas e negativas verificadas no
mesmo período, determinados com base na contabilidade e corrigidos nos termos do CIRC -
17º, nº1. Tributa-se o rendimento real - 17º, nº1 e 104º, nº2 CRP - fazendo-se, em regra, o
apuramento por métodos diretos. Consideram-se rendimentos e ganhos os previstos no 20º e
gastos e perdas os previstos no 23º. Primeiramente, a taxa geral é de 21% e não de 23% - 87º
CIRC.

Vão distribuir o máximo de lucro possível aos sócios. Vamos assumir que são pessoas
singulares. É da categoria E, a ocorrer como um dividendo.

Quanto aos dividendos dos sócios, estes são tributados em sede de IRS, sendo da categoria E -
1º, nº1 e 5º, nº1 e nº2, h) do CIRS. Verifica-se que não estão sujeitos ao regime de
englobamento, mas sim à taxa liberatória de 28%, nos termos do 71º, nº1, a), sendo que se
forem residentes, podem, em alternativa, optar pelo regime de englobamento - 71º, nº6 e 22º do
CIRS.

Ponto 1: no CIRC surge o 23º-A que se refere à não dedutibilidade de certas despesas, sendo
que as importâncias pagas a pessoas não residentes, submetidas ao regime fiscal previsto na
Portaria 150/2004 são não dedutíveis, salvo se for ilidida a presunção, comprovando-se que os
encargos correspondem a operações efetivamente realizadas e que não têm um carácter anormal
ou montante exagerado - 23º, nº1, r). Ora, a sociedade da República do Vanuatu é uma entidade
não residente, situada num país que consta do ponto 80 da Portaria 150/2004. Assim, a
sociedade anónima X terá de ilidir a presunção que consta da parte final do 23º A, nº1, r). A AT
notifica o sujeito para a produção da prova referida no 23ºA, nº1, r) de acordo com 23A, nº8.
Visto que a operação de prestação de serviços de consultadoria é fictícia ou artificial, a
sociedade X, não conseguirá ilidir a presunção. Deste modo, recai sobre o sujeito passivo a
tributação autónoma à taxa de 35%, como determinado pelo 88º, nº8, referente a pagamentos
feitos a pessoas não residentes e aí submetidas a um regime mais favorável.

Sub hipótese: Uma sociedade portuguesa paga a uma sociedade do Mónaco 10 000 pelo serviço
de catering, mas o serviço não é prestado. Quid iuris? A prestação tem que ser realizada

Ponto 2: não seria de aplicar o 103º. Estava em causa a cláusula geral antiabuso do 38º, nº2
LGT. Tratando-se de uma prática de elisão fiscal ou abuso fiscal, em que se situam negócios
jurídicos que assumem formas jurídicas não abrangidas pelas normas de incidência ou que
evitam certas normas de determinação da matéria coletável. O negócio jurídico era artificial,
visando contornar a lei. Ocorre elisão porque a substância desses atos ou negócios não é
conforme com o fim/espírito da lei. Resolve-se por interpretação da lei (11º LGT) ou por meio
de cláusulas antiabuso. Temos a cláusula geral antiabuso do 38º, nº2 LGT que seria, aqui, a
aplicável. Pressupostos: obtenção de uma vantagem (elemento resultado), que é contrária à lei
(no caso tinha em vista a redução de impostos devidos - elemento normativo); a obtenção dessa
vantagem é a finalidade essencial da transação (elemento finalidade ou intenção - objetiva e não
subjetiva); utilização de esquemas artificiosos e fraudulentos (neste caso o negócio era artificial
- elemento meio). Assim, a consequência é a ineficácia para efeitos fiscais, não se produzindo as
vantagens fiscais visadas, pelo que não se têm em conta as menos-valias geradas.

este contrato está apenas a ser celebrado que de outra forma não se alcançaria. Por isso, aplica-
se o 38º/2. Têm que referir estes 4 elementos, sendo o mais relevante um dos critérios que é o
animus.

Ponto 3: aplicação do 63º relativo a preços de transferência que visa evitar transferências de
resultados entre entidades que mantenham entre si relações especiais, e, bem assim,
transferências internas de resultados entre setores da mesma entidade sujeitos a diferentes
regimes fiscais. O 63º, nº1 determina que nas operações devem ser contratadas, aceites e
praticados termos e condições idênticos aos que normalmente seriam contratados, aceites e
praticados entre entidades independentes - 63º, nº1. Claro está que a compra por dobro do preço
não corresponde às condições normais de mercado. Para determinar os termos e condições
normalmente praticados o sujeito passivo deve adotar métodos que permitem assegurar o mais
elevado grau de comparabilidade entre as operações que efetua em situações normais de
mercado ou na ausência dessas relações especiais - 63º, nº2. Os métodos devem ser os do 63º,
nº3. Nos termos do 63º, nº4 a sociedade X tinha influência significativa sobre a sociedade Z.
Nos termos do 63º, nº11 a AT poderá proceder às correções necessárias para determinação do
lucro tributável em virtude de relações especiais com outro sujeito passivo. Devem ser
efetuados os ajustamentos adequados.

A sociedade Z é detida em 55% pela entidade X. Nas relações especiais, uma entidade tem uma
influência significativa (quando os sócios são as mesmas pessoas sou estão ligados por contratos
de subordinação). Não só para evitar abusos à concorrência, mas o abuso fiscal (a sociedade
utilizar isso para garantir lucros). Nesse sentido, fala-se do princípio da plena concorrência,
previsto no artigo 63º/1. Sempre que a AT se aperceba, é fazer uma correção, de acordo com o
nº9. O método mais utilizável é o preço do mercado, em que se compara o preço de mercado do
preço que foi praticado.

Cláusulas anti abuso no IRC: 23º-A, 63º, 66º e 67º. Mas aqui só se aplicava o 63º.

Ponto 4: no que se refere à compra das jóias, verifica-se que não está expressamente previsto
nem no 23º, nem no 23ºA, não sendo, à primeira vista, dedutível, nem não dedutível. Nestes
casos, devemos partir do 23º, no qual constam os gastos dedutíveis, e efetuar o business
purpose test, analisando o que é essencial ou promove a atividade da empresa. Verifica-se que
as jóias não são indispensáveis para a atividade da empresa. Deste modo, recorrendo ao 23º a
contrario, poderemos concluir pela não dedutibilidade destes gastos. Por outro lado, quando à
tributação dos administradores, esta ocorre em sede de IRS. Nos termos do 1º, nº1, 2º, nº2 e nº3,
b) do CIRS trata-se de rendimentos da categoria A, sendo que estamos perante benefícios não
incluídos na remuneração principal, sendo uma vantagem económica. Não obstante, as jóias não
eram para os administradores em si, mas para os familiares. Não haverá problema porque o 2º,
nº11 considera rendimentos do trabalho, os benefícios ou regalias atribuídos pela entidade
patronal a qualquer pessoa do agregado familiar. Deste modo, estando dentro dos rendimentos
dos administradores e sendo bens em espécie, aplica-se as regras do 24º do CIRS. Assim, os
administradores seriam tributados por esta via de qualquer modo. 88º/7: há tributação autónoma.

Ponto 5: é uma prática de elisão fiscal ou abuso fiscal, em que se situam negócios jurídicos que
assumem formas jurídicas não abrangidas pelas normas de incidência ou que evitam certas
normas de determinação da matéria coletável. Ocorre elisão porque a substância desses atos ou
negócios não é conforme com o fim/espírito da lei, sendo que no caso o negócio é claramente
artificial porque é uma compra seguida da devolução aos sócios dos montantes pagos. Resolve-
se por interpretação da lei (11º LGT) ou por meio de cláusulas antiabuso. Temos a cláusula
geral antiabuso do 38º, nº2 LGT, que é a única que pode funcionar. Pressupostos: obtenção de
uma vantagem (elemento resultado), que é contrária à lei (no caso tinha em vista a redução de
impostos devidos - elemento normativo); a obtenção dessa vantagem é a finalidade essencial da
transação (elemento finalidade ou intenção - objetiva e não subjetiva); utilização de esquemas
artificiosos e fraudulentos (neste caso o negócio era artificial - elemento meio). Assim, a
consequência é a ineficácia para efeitos fiscais, não se produzindo as vantagens fiscais visadas.

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