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Medo do presente

Talvez seja muito mais comum pensar na expressão medo do futuro do que
relacionar esta emoção com o presente. Porém é possível entender este sentimento
aversivo como associado ao que está acontecendo agora, ao quadro no qual está
inserida sua vida. Sempre vão haver dificuldades, tribulações, apertos, angústias em
toda e qualquer fase da existência humana e isso, obviamente, tem forte potencial de
produzir medo.

Note as palavras de Paulo quando diz: “Porque, quando chegamos à


Macedônia, não tivemos nenhum alívio. Pelo contrário, em tudo fomos atribulados:
lutas por fora, temores por dentro.” (2Co7:5). O apóstolo se refere a um sentimento
gerado pelo que estava acontecendo naquele momento de sua vida, as lutas que
estavam ocorrendo em meio ao cumprimento de sua missão geravam nele esses
temores os quais ele não tem vergonha nenhuma em expressar, não há aqui uma
intenção de mostrar-se forte ou superior, mas sim uma expressão sincera de sua
condição, que não tem a ver com falta de fé e sim com nossa condição neste mundo,
como ovelhas no meio de lobos.

Essa atitude já começa a apontar um caminho para lidar com esta adversidade,
precisamos expressá-la, admitir que está em nós, não enganarmos a nós mesmos ou
aos que estão ao nosso redor nos mostrando como imunes a este tipo de dificuldade,
tentando demonstrar uma condição sobre-humana como se fossemos uma espécie de
super-herói com uma coragem e intrepidez inabaláveis.

Na continuação do texto Paulo diz ainda: “Porém Deus, que consola os


abatidos, nos consolou com a chegada de Tito”. Veja que revelação maravilhosa da
vulnerabilidade do grande apóstolo, que não tem o menor constrangimento de
demonstrar que estava precisando da presença de um irmão, de um amigo para apoia-
lo e dar suporte naquele momento de tensão pelo qual passava. No verso seguinte
ainda há algo de grande poder na luta contra o medo. Ele diz aos coríntios que ouviu
de Tito acerca da saudade, do pranto e do zelo que aquela comunidade tinha por sua
pessoa, o que aumentou a sua alegria!
Vemos então uma situação que começa com uma realidade de tensão
constante e sem alivio por conta de lutas constantes, gerando um medo intenso
instalado no interior da mente, seguida pela chegada de um irmão que traz
companhia, apoio e suporte e ainda a noticia sobre o amor e o zelo de uma igreja local
por aquele servo de Deus, o que faz com que a situação passe de um quadro
preocupante para um sentimento de profunda alegria.

Isto nos aponta claramente para a importância de amizades espirituais, pessoas


que levem a sério a caminhada com Deus e que por isso, podem ser usadas pelo
Senhor para trazer este suporte em tempos de aflição. É preciso, portanto ser
criterioso com aqueles com quem nos relacionamos. Não se trata aqui de estimular um
preconceito ou uma segregação daqueles que consideramos “mundanos”. Ora, Jesus
andava com pecadores.

O ponto aqui é que Ele não os tinha como conselheiros, ou como suporte em
momentos de aflição. É aí que mora o perigo, ter amizades que estão longe da
comunhão com Deus e nelas buscar ajuda em momentos de angustia, é correr um
risco terrível de cair num poço sem fundo. Não despreze seus conhecidos por não
serem discípulos de Cristo, ajude-os, aconselhe-os, aponte pra eles o caminho para o
Pai, mas jamais siga suas orientações. Nos seus momentos de medo procure seus
irmãos na fé.

Importante lembrarmos nesse momento também das palavras do apostolo


Paulo em sua carta aos Efésios, quando fala acerca da armadura de Deus. O apóstolo
descreve as peças que precisamos ter em nós de maneira espiritual, tal qual os
soldados usavam de maneira literal nos momentos de batalha. Devemos manter em
mente a salvação operada por Deus em nós como um capacete protetor de nossos
pensamentos e sentimentos, nos cingirmos com o cinto da verdade que nos dá
estabilidade para encarar os pesos dessa vida, vestirmos a couraça da justiça que é
uma espécie de colete à prova das falsas acusações do inimigo de nossas almas,
calçarmos as sandálias da preparação do evangelho que nos dão base e firmeza em
nossa caminhada, embraçando sobretudo o escudo da fé para neutralizar as investidas
do maligno e ainda empunharmos a espada do Espírito que é a Palavra de Deus.
Paulo diz que todas estas coisas nos fazem permanecer de pé, ou seja, sermos
vitoriosos no dia mal. A principio, ele parece estar falando do futuro, sobre um dia
terrível que ainda virá, mas lembremos das palavras de Jesus quando disse que basta a
cada dia seu próprio mal, dando a entender que todo dia tem seu mal a ser enfrentado
e é isto que traz o medo do presente. Portanto, a assim denominada armadura de
Deus se faz necessária no enfrentamento desse medo e na obtenção da vitória sobre
tal sentimento.

Na sequencia desse mesmo texto quando Paulo parece encerrar a lista de


pecas desta armadura surge um novo recurso em forma de mandamento, a saber, a
oração. Observemos a passagem: “Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda
oração e súplica; tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por
todos os santos” (Efésios 6:18). Aqui o apóstolo parece falar de algo que poderíamos
comparar com um equipamento que ainda não existia em sua época, o rádio de
comunicação usado pelos soldados no ambiente da batalha. A oração é esse meio de
comunicação com o Pai, que está a todo tempo acessível aos seus filhos. Veja o que diz
a Palavra na carta aos Hebreus: “Assim sendo, aproximemo-nos do trono da graça com
toda a confiança, a fim de recebermos misericórdia e encontrarmos graça que nos
ajude no momento da necessidade” (Hb 4:16).

Por fim, pensemos naquilo que está dito na palavra de Deus sobre o fato de
que o verdadeiro amor lança fora todo medo e que o Senhor não nos deu espírito de
covardia, mas de amor, poder e moderação. Firmado nesta verdade, Paulo declarou
que nada teria o poder de separá-lo deste amor. Nem a morte, nem a vida,
principados, potestades, fome, tribulação, perigo espada, coisas do presente ou do
porvir. Ou seja, temos bastante fundamento bíblico para nos ampararmos, crendo e
vivendo verdadeiramente estas verdades e sabendo que em todas estas coisas somos
mais que vencedores em Cristo Jesus.

Que em nossas vidas haja o cultivo diário de uma relação íntima com o Pai ,
meditando sempre em suas palavras , pois sem isso nossa fé vai desfalecendo e vamos
nos esquecendo de suas ricas e preciosas promessas, que são fundamentais para o
fortalecimento do nosso ser no enfrentamento do cotidiano e nos dão a condição
suficiente para vencermos o mal de cada dia.

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