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A origem da ansiedade

Do ponto de vista biológico, a EMOÇÃO pode ser definida como o final de


um processamento bem orquestrado de todo o nosso organismo, que ocorre
sem que tenhamos consciência disso. Trata-se de um fenômeno que pode ser
explicado por dezenas de milhares de anos de evolução.

Imaginemos uma situação:

Um de nossos ancestrais primitivos, com fome, depara com uma árvore cheia
de frutos, mas, não muito distante dali, identifica um predador capaz de matá-
lo. Com essas duas percepções simultâneas, ele tem que tomar uma decisão:
pode correr e tentar pegar o alimento na árvore, ou optar pela segurança,
escondendo-se.

O dilema de tentar pegar o alimento ou não engloba uma série de decisões,


que são tomadas em uma fração de tempo bastante curta. Nossos ancestrais
avaliavam, sem ter consciência disso, várias coisas simultaneamente: o quanto
se tem fome, se aquela quantidade de alimento é grande, que risco vale a pena
ser corrido.

Duas escolhas então são possíveis e cada uma delas coloca uma emoção
em primeiro plano:

Caso se conclua que a chance de comer o alimento é maior do que ser


devorado pelo predador, surge a emoção CORAGEM.
Se a probabilidade de ser comido pelo predador for maior do que a de alcançar
o alimento, nasce a emoção MEDO.

Foi assim, aliás, que o medo se tornou um elemento protetor da


espécie: avaliar perigos e evitar riscos desnecessários aumenta nossa
segurança e, por extensão, nossa chance de sobrevivência.
Nós, seres humanos, compartilhamos essa capacidade de sentir medo com
todas as espécies, até mesmo com as bactérias. Tais microrganismos
apresentam movimento de retração quando, por exemplo, uma superfície
pontiaguda se aproxima deles. Note que as bactérias são seres unicelulares que
não apresentam um sistema nervoso estruturado. Isso mostra que o medo é
uma entidade que pode acontecer independentemente da consciência que
temos do que está ocorrendo.

Sentimento e emoção são a mesma coisa?

A EMOÇÃO é resultado de processos bioquímicos que acontecem no interior


de nosso organismo – e também no de outras espécies – e que permitem
analisar uma situação como uma ameaça à sobrevivência ou como uma
oportunidade. Assim, as emoções acontecem independentemente de nossa
percepção racional e clara das coisas.
Uma vez que tomamos consciência de nossas emoções também passamos a
chamá-las, sob rigor técnico, de SENTIMENTOS. Assim, retomando a
situação que apresentamos no item anterior, se nosso ancestral compreende
que está sentindo medo, a emoção se torna sentimento.
Quando nomeamos o que estamos sentindo, contamos histórias sobre o porquê
de as coisas estarem acontecendo e nos tornamos capazes de criar memória. A
ciência hoje nos mostra que o cérebro, ao longo da evolução humana, adquiriu
a capacidade de transformar a emoção, algo mais primitivo, em histórias que
podem ser armazenadas.

Mas, afinal, existe alguma vantagem nesse processo?

Sim, e é simples compreendê-lo: com a memória, nós nos tornamos capazes


de planejar, de projetar, de esboçar, de delinear, de esquematizar,
diferenciando aquilo que é perigoso daquilo que é seguro. Essa capacidade
deu aos seres humanos uma fantástica vantagem evolutiva: a possibilidade de
planejamento e de execução de nossos atos.

A mente mente
A preocupação não é, necessariamente, algo ruim. Muitas vezes, ela pode ser
boa, sobretudo se nos ajuda a antever situações que podem causar problemas.
Mas a preocupação também pode nos atrapalhar, tornando-nos improdutivos.
Isso ocorre quando não podemos fazer nada para eliminar o que está nos
preocupando.

Ter preocupação com deslizamento de terras para quem mora numa encosta
de morro é aceitável. Aliás, esse sentimento pode ser protetor. Agora, um
morador de um edifício numa grande capital brasileira temer um terremoto de
alta magnitude não é plausível. O problema é que nem sempre é fácil regular
essas preocupações.
Uma boa maneira de lidar com isso é lembrar que o que estamos sentindo está
sendo estruturado a partir de histórias que contamos para nós mesmos.

Por exemplo...

Em uma situação em que teremos que falar em público, podemos pensar:


“Estão todos me olhando” ou “Vai me dar branco”. Esses pensamentos
estruturam e reforçam a preocupação, ampliando as dificuldades.

Este é o problema: a mente mente.

Não é raro que as histórias que contamos e que os sentimentos que decorrem
daí não sejam coerentes com o que está acontecendo. Não é porque estamos
pensando “Vai me dar branco” que isso efetivamente vai ocorrer.

Se nos tornamos capaz de identificar as histórias que estamos nos contando,


podemos verificar se elas são compatíveis ou não com a realidade. Esse pode
ser um caminho bastante interessante para redefinir não só nossos
sentimentos, mas também nosso comportamento.

Parabéns. Você terminou esta aula!

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