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Aula 5 - Medicina Transfusional
Aula 5 - Medicina Transfusional
INTRODUÇÃO
A medicina transfusional aborda desde a escolha do doador de sangue até a transfusão sanguínea
efetiva e controle.
Sempre deve-se avaliar os riscos e benefícios da transfusão.
o Determinar se há sinais clínicos causados pela anemia e se é um paciente de alto risco
(cirurgia, anestesia etc.).
o Obter histórico de transfusões sanguíneas.
o Determinar a quantidade e o tipo de perda ou hemólise.
o Determinar qual componente sanguíneo é necessário.
Como é o paciente receptor?
o Fase terminal ou gravemente acometido.
o Imunossuprimido.
o Risco de morte eminente.
Como é o doador?
COLHEITA DE SANGUE
Recomendações pré-colheita:
o Evitar estresse.
o Evitar exercícios.
o Evitar alimentação rica em gorduras.
Técnica:
o Deve ser asséptica.
o Contenção.
o Tricotomia local.
o Antissepsia.
o Colheita.
Tempo máximo de 15 minutos.
Mínimo 300ml, máximo 450ml.
o Compressão local.
Evitar sangramento e hematomas.
Cuidados:
o Manter o animal calmo.
o Sistema fechado: não deixar entrar ar no equipo.
Fazer um nó no equipo da colheita.
Fechar o nó antes de retirar a agulha após doação.
Presença de ar no equipo reduz a viabilidade da bolsa para apenas 24h.
Gatos:
o Sistema aberto: duração de 24h.
o Colheita:
Seringa com CPDA1, CPD.
1ml de anticoagulante p/ cada 7-8ml de sangue.
Scalp nº 19 + seringa.
o Total de sangue colhido: 7-9ml/kg.
o Doação a cada 4 meses.
o Sedação facilita a contenção e rapidez na colheita.
Animal canulado.
o Pós-colheita:
Reposição de fluido.
75-100ml de ringer lactato/solução fisiológica IV por 30-60 minutos para prevenir
hipotensão.
COMPONENTES SANGUÍNEOS
ARMAZENAMENTO
Concentrado de hemácias:
o Conservação 1-6°C, 4°C ideal.
o Tempo de armazenamento: 28-35 dias.
Plasma:
o Conservação -30°C.
o Tempo de armazenamento: 1-2 anos.
GRUPOS SANGUÍNEOS
Definidos por antígenos (glicoproteínas ou glicolipídios) na superfície das hemácias.
Reações determinadas por anticorpos anti-eritrocitários.
Acarretam reações transfusionais:
o Hemólise severa.
o Diminuição da sobrevida das hemácias transfundidas.
Gatos:
o Sistema de grupo AB (A, B e AB).
Sangue tipo A – 87-90% dos gatos.
95% em gatos SRD.
Sangue tipo B:
Gatos SRD – menos de 5%.
Raças puras – 18+%
British shorthair – 60%.
o Tipificação sanguínea:
Possuem anticorpos naturais.
Gatos tipo B recebendo sangue tipo A:
Meia vida das hemácias transfundidas é de 1h.
Hemólise aguda, choque e óbito.
Reação independente do volume transfundido.
Gatos tipo A recebendo sangue tipo B:
Transfusão ineficiente.
Hemólise mais lenta (média de 10h).
o NÃO SE TRANSFUNDE SANGUE DE TIPOS DIFERENTES EM GATOS!
o Obrigatório fazer tipificação e/ou prova de reação cruzada antes de qualquer transfusão.
Cães:
o Sistema de grupo DEA (antígeno eritrocitário canino).
DEA 3, 4, 5 e 7:
Possuem anticorpos naturais.
A presença de anticorpos naturais em cães causa diminuição do tempo de
sobrevida das hemácias transfundidas para 3-10 dias.
Reação transfusional hemolítica tardia.
DEA 1:
Formação de anticorpos por sensibilização prévia.
Altamente antigênico.
Reação transfusional imunomediada hemolítica aguda severa.
Dependente do volume transfundido.
O sangue DEA I não causará reação na primeira transfusão pelo organismo não possuir anticorpos
naturais contra seu antígeno, porém, por ser altamente antigênico, após o receptor ter uma sensibilização
prévia, a segunda transfusão terá reação transfusional severa. Já para os sangues DEA 3, 4, 5 e 7, o
organismo possui anticorpos naturais.
Doador Receptor
Maior Hemácias Plasma
Menor Plasma Hemácias
Controle Hemácias/plasma Hemácias/plasma
Maior: avalia se no plasma do receptor há anticorpos contra as hemácias transfundidas – se +, não fazer a
transfusão.
Menor: avalia se no plasma do doador há anticorpos contra as hemácias do receptor – se +, não fazer a
transfusão.
Formação de Rouleax pode ocorrer em pacientes com grande nível de inflamação sistêmica.
Ficou em dúvida com o Rouleax? Coloca solução fisiológica na amostra, lava, coloca na centrifuga, joga
sobrenadante fora, pega uma gota do fundo do tubo e coloca novamente na lâmina – se for Rouleax, a
amostra ficará como a aglutinação negativa.
Cão:
o Tipificação sanguínea: ↑ custo e poucos locais.
o Opta-se pela prova de reação cruzada.
o Deve-se fazer antes da 1ª transfusão sanguínea e em todas as seguintes.
o Após 1ª transfusão:
↑ risco de reações devido a sensibilização prévia.
o Ideal: doadores DEA 1 negativos.
REPOSIÇÃO DE HEMÁCIAS
Sangue total possui VG 36-40%.
o Desvantagens:
Raramente é necessário o uso de todos os componentes sanguíneos.
↑ risco de sobrecarga circulatória.
↑ risco de reações adversas.
↑ uso dos doadores.
Concentrado de hemácias possui VG 75-90%.
Concentrada de hemácias com manitol possui VG 60-60%.
Objetivos:
o Melhora clínica do paciente enquanto outras providências são tomadas.
o Aumentar sobrevida com qualidade de vida em animais sem tratamento possível ou em fase
terminal.
o Aumentar o VG e diminuir a hipóxia tecidual.
Não se deve aumentar o VG% para os valores fisiológicos para não desestimular a produção de hemácias
pelo organismo. O objetivo é aumentar até 25-30% nos cães e 15-20% nos gatos.
Quando se faz?
o Avaliar e classificar a anemia.
VG inferior a 21% - risco de lesões por hipóxia.
VG 17-12% - avaliar o estado clínico e grau de anemia.
VG 12% = transfusão.
o Doenças concomitantes:
Cardiopatias.
Doenças pulmonares.
TRANSFUSÃO DE PLASMA
Para que é utilizado?
o Reposição de fatores de coagulação.
o Reposição de proteínas e albumina.
o Reposição de anticorpos maternos.
Dose e administração:
o Procedimentos invasivos em animais com coagulopatia:
10-15ml/kg, aguardar 1h para a realização do procedimento.
o Hepatopatas com sangramento:
10-20ml/kg.
o Intoxicação por antagonistas da vitamina K e hemofilias:
10ml/kg, repetido a cada 8-12h até o término do sangramento.
Cuidados:
o Reações alérgicas urticariformes.
o Ideal: prova de compatibilidade menor.
Reposição de imunoglobulinas:
o Neonatos que não ingeriram colostro.
o Dose única, 6-10ml/kg.
REPOSIÇÃO DE PLAQUETAS
NÃO usar sangue fresco total para repor plaquetas!
Concentrado de plaquetas:
o 1 unidade corresponde a 50-70ml de uma bolsa de sangue total.
o Sobrevida plaquetária após transfusão média de 24-72h.
o Meia vida de 8h.
Indicações:
o Trombocitopenias por insuficiência medular.
o Procedimentos invasivos em pacientes com plaqueta abaixo de 40.000/mm3.
o Profilático em pacientes com plaqueta abaixo de 50.000/mm3 (?)
o Pacientes com sangramento espontâneo com plaqueta abaixo de 40.000/mm3.
Reações:
o Febre.
o Reações alérgicas.
o Contaminação bacteriana.
Concentrado de plaquetas:
o Armazenamento:
3-5 dias a 20-24°C.
Movimentação constante.
Alto risco de contaminação bacteriana.
o Dose:
Transfusões terapêuticas (paciente em sangramento):
Contagem desejada superior a 40.000
1 unidade/5kg.
Transfusões profiláticas (paciente pode sangrar a qualquer momento):
Contagem desejada superior a 25.000.
1 unidade/10kg.
Vias de administração:
o Intravenosa ou intraóssea.
o O sangue só pode ser infundido com solução salina.
Solução contendo dextrose causa aglomeração de hemácias.
Solução contendo cálcio causa coágulos por depleção do citrato.
Velocidade de infusão:
o Sangue total ou concentrado de hemácias:
Velocidade inicial: 0,25-0,5ml/kg por 30 minutos.
Hemorragia maciça: 22ml/kg/h.
Cardiopatas, nefropatas e filhotes: 1ml/kg/h.
Animais normais: 4-5ml/kg/h.
o Plasma fresco congelado, plasma congelado e concentrado de plaquetas:
Velocidade geral: 2-3ml/kg/h – ideal reposição em 2h.
Depende:
Caso clínico.
Necessidade imediata da expansão de volume (choque hipovolêmico).
Reposição de proteínas e imunoglobulinas.
o Animal hidratado.
o Risco de sobrecarga circulatória.
Outros cuidados:
o Tempo máximo de exposição da bolsa de plasma a T°C ambiente = 2 horas.
o Tempo máximo de exposição da bolsa com hemácias a T°C ambiente = 4 horas.
E se o cálculo de transfusão ultrapassar 4h?
Dividir a bolsa de sangue em bolsas satélites ou bolsas de transferência.
Durante a transfusão:
o T°C, pulso, FR, FC, coloração de mucosas e TPC – a cada 15 minutos até o término da
transfusão.
o Ht% em caso de suspeita de reação.
Após a transfusão:
o Ht% 1h, 24h e 48h após a transfusão.
REAÇÕES TRANSFUSIONAIS
Classificação:
o Imediata: ocorrência da reação transfusional durante ou até 24h após o início da transfusão.
o Tardia: ocorrência da reação transfusional após 24h do início da transfusão.
Aguda
Hemolítica
Imunomedia Tardia
da
Não
Aguda
Reação hemolítica
Transfusiona
l
Hemolítica Aguda
Não
imunomedia
da Aguda
Não
hemolítica
Tardia
Reações imunomediadas:
o Hemolítica:
Presença de anticorpos contra as hemácias.
Aguda:
Hemólise aguda: choque e óbito do animal.
Tardia:
Hemólise extravascular: 3-21 dias após a transfusão, febre, icterícia, rápida
baixa no Ht%.
o Não hemolítica:
Aguda:
Hipersensibilidade.
Anafilática ou alérgica:
o Proteínas plasmáticas.
o Urticária, prurido, hipotensão, vômito, edema de glote, dispneia,
óbito.
Hipertermia:
o Sensibilidade a leucócitos/plaquetas.
o Início 30min-8h de transfusão.
o Vômito, tremores, choque.
o Tendência a baixa da temperatura logo após a interrupção da
transfusão.
TRALI:
o Síndrome respiratória aguda durante transfusão de plasma e/ou
concentrado de plaquetas.
A sobrecarga circulatória é fácil de prevenir, basta respeitar o cálculo de volume e velocidade transfusional
e não utilizar sangue total, utilize o componente sanguíneo que é necessário repor.
Tratamento geral:
o Parar a transfusão imediatamente!
o Avaliar o paciente, exame clínico geral.
o Exames complementares:
Hemograma.
Coloração do plasma.
Urinálise.
o Medicar segundo o quadro clínico.
Em caso de hemólise aguda, tratamento para choque!
o Reavaliações do paciente.
o Retomar a transfusão?
Possível, caso:
Sobrecarga de volume.
o Tratar com furosemida 2-4mg/kg/IV, avalia se desapareceram os
sinais de edema.
o Oxigenoterapia.
o Retornar a transfusão reduzindo pela metade a velocidade de
transfusão.
Reação urticariforme.
o Anti-histamínicos: prometazina 0,2-1mg/kg/SC.
o Corticoide: hidrocortisona 50-150mg/kg/IV ou metilprednisolona
15-30mg/kg/IV lento ou dexametasona 4-6mg/kg/IV.
Reação febril.
o Descartar contaminação bacteriana.