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Medicina Transfusional

INTRODUÇÃO
 A medicina transfusional aborda desde a escolha do doador de sangue até a transfusão sanguínea
efetiva e controle.
 Sempre deve-se avaliar os riscos e benefícios da transfusão.
o Determinar se há sinais clínicos causados pela anemia e se é um paciente de alto risco
(cirurgia, anestesia etc.).
o Obter histórico de transfusões sanguíneas.
o Determinar a quantidade e o tipo de perda ou hemólise.
o Determinar qual componente sanguíneo é necessário.
 Como é o paciente receptor?
o Fase terminal ou gravemente acometido.
o Imunossuprimido.
o Risco de morte eminente.
 Como é o doador?

Perfil do doador Cão Gato


Idade 2+ anos 2+ anos
Peso 28+ kg 4,5+ kg
VG ou Ht% ↑ 40% ↑ 36%
Vacinação Em dia Em dia
Ectoparasitas Ausentes Ausentes
Temperamento Dócil/tranquilo Dócil
Necessidade de Não Sim
sedação
Exames periódicos Hemograma + plaquetas Hemograma + plaquetas
Bioquímica sérica Esfregaço sanguíneo – procura de
PCR/sorologias: Erlichia, Micoplasma Haemofelis
Babesia, brucelose, dirofilariose Bioquímica sérica
e leishmaniose Sorologia FIV e FeLV

COLHEITA DE SANGUE
 Recomendações pré-colheita:
o Evitar estresse.
o Evitar exercícios.
o Evitar alimentação rica em gorduras.

 Técnica:
o Deve ser asséptica.
o Contenção.
o Tricotomia local.
o Antissepsia.
o Colheita.
 Tempo máximo de 15 minutos.
 Mínimo 300ml, máximo 450ml.
o Compressão local.
 Evitar sangramento e hematomas.

 Cuidados:
o Manter o animal calmo.
o Sistema fechado: não deixar entrar ar no equipo.
 Fazer um nó no equipo da colheita.
 Fechar o nó antes de retirar a agulha após doação.
 Presença de ar no equipo reduz a viabilidade da bolsa para apenas 24h.

 Gatos:
o Sistema aberto: duração de 24h.
o Colheita:
 Seringa com CPDA1, CPD.
 1ml de anticoagulante p/ cada 7-8ml de sangue.
 Scalp nº 19 + seringa.
o Total de sangue colhido: 7-9ml/kg.
o Doação a cada 4 meses.
o Sedação facilita a contenção e rapidez na colheita.
 Animal canulado.
o Pós-colheita:
 Reposição de fluido.
 75-100ml de ringer lactato/solução fisiológica IV por 30-60 minutos para prevenir
hipotensão.

COMPONENTES SANGUÍNEOS

 Hemocomponentes: passam por procedimento físico (centrifugação).


 Hemoderivados: passam por procedimento industrial para separação.

ARMAZENAMENTO
 Concentrado de hemácias:
o Conservação 1-6°C, 4°C ideal.
o Tempo de armazenamento: 28-35 dias.
 Plasma:
o Conservação -30°C.
o Tempo de armazenamento: 1-2 anos.

GRUPOS SANGUÍNEOS
 Definidos por antígenos (glicoproteínas ou glicolipídios) na superfície das hemácias.
 Reações determinadas por anticorpos anti-eritrocitários.
 Acarretam reações transfusionais:
o Hemólise severa.
o Diminuição da sobrevida das hemácias transfundidas.

 Gatos:
o Sistema de grupo AB (A, B e AB).
 Sangue tipo A – 87-90% dos gatos.
 95% em gatos SRD.
 Sangue tipo B:
 Gatos SRD – menos de 5%.
 Raças puras – 18+%
 British shorthair – 60%.
o Tipificação sanguínea:
 Possuem anticorpos naturais.
 Gatos tipo B recebendo sangue tipo A:
 Meia vida das hemácias transfundidas é de 1h.
 Hemólise aguda, choque e óbito.
 Reação independente do volume transfundido.
 Gatos tipo A recebendo sangue tipo B:
 Transfusão ineficiente.
 Hemólise mais lenta (média de 10h).
o NÃO SE TRANSFUNDE SANGUE DE TIPOS DIFERENTES EM GATOS!
o Obrigatório fazer tipificação e/ou prova de reação cruzada antes de qualquer transfusão.

 Cães:
o Sistema de grupo DEA (antígeno eritrocitário canino).
 DEA 3, 4, 5 e 7:
 Possuem anticorpos naturais.
 A presença de anticorpos naturais em cães causa diminuição do tempo de
sobrevida das hemácias transfundidas para 3-10 dias.
 Reação transfusional hemolítica tardia.
 DEA 1:
 Formação de anticorpos por sensibilização prévia.
 Altamente antigênico.
 Reação transfusional imunomediada hemolítica aguda severa.
 Dependente do volume transfundido.

O sangue DEA I não causará reação na primeira transfusão pelo organismo não possuir anticorpos
naturais contra seu antígeno, porém, por ser altamente antigênico, após o receptor ter uma sensibilização
prévia, a segunda transfusão terá reação transfusional severa. Já para os sangues DEA 3, 4, 5 e 7, o
organismo possui anticorpos naturais.

TIPIFICAÇÃO SANGUÍNEA E REAÇÃO CRUZADA


 Prevenção de reações transfusionais hemolíticas imunomediadas.

Doador Receptor
Maior Hemácias Plasma
Menor Plasma Hemácias
Controle Hemácias/plasma Hemácias/plasma
Maior: avalia se no plasma do receptor há anticorpos contra as hemácias transfundidas – se +, não fazer a
transfusão.
Menor: avalia se no plasma do doador há anticorpos contra as hemácias do receptor – se +, não fazer a
transfusão.

Formação de Rouleax pode ocorrer em pacientes com grande nível de inflamação sistêmica.
Ficou em dúvida com o Rouleax? Coloca solução fisiológica na amostra, lava, coloca na centrifuga, joga
sobrenadante fora, pega uma gota do fundo do tubo e coloca novamente na lâmina – se for Rouleax, a
amostra ficará como a aglutinação negativa.

 Cão:
o Tipificação sanguínea: ↑ custo e poucos locais.
o Opta-se pela prova de reação cruzada.
o Deve-se fazer antes da 1ª transfusão sanguínea e em todas as seguintes.
o Após 1ª transfusão:
 ↑ risco de reações devido a sensibilização prévia.
o Ideal: doadores DEA 1 negativos.

REPOSIÇÃO DE HEMÁCIAS
 Sangue total possui VG 36-40%.
o Desvantagens:
 Raramente é necessário o uso de todos os componentes sanguíneos.
 ↑ risco de sobrecarga circulatória.
 ↑ risco de reações adversas.
 ↑ uso dos doadores.
 Concentrado de hemácias possui VG 75-90%.
 Concentrada de hemácias com manitol possui VG 60-60%.

 Objetivos:
o Melhora clínica do paciente enquanto outras providências são tomadas.
o Aumentar sobrevida com qualidade de vida em animais sem tratamento possível ou em fase
terminal.
o Aumentar o VG e diminuir a hipóxia tecidual.

Não se deve aumentar o VG% para os valores fisiológicos para não desestimular a produção de hemácias
pelo organismo. O objetivo é aumentar até 25-30% nos cães e 15-20% nos gatos.
 Quando se faz?
o Avaliar e classificar a anemia.
 VG inferior a 21% - risco de lesões por hipóxia.
 VG 17-12% - avaliar o estado clínico e grau de anemia.
 VG 12% = transfusão.
o Doenças concomitantes:
 Cardiopatias.
 Doenças pulmonares.

TRANSFUSÃO DE PLASMA
 Para que é utilizado?
o Reposição de fatores de coagulação.
o Reposição de proteínas e albumina.
o Reposição de anticorpos maternos.

 Reposição de fatores de coagulação:


o Plasma fresco ou plasma fresco congelado.
o Indicações:
 Deficiências múltiplas de fatores de coagulação:
 Intoxicação por antagonistas da vitamina K.
 Hepatopatias graves com sangramento.
 Coagulação intravascular disseminada.
 Coagulopatias hereditárias.
 Necessidade de procedimentos invasivos e/ou cirúrgicos.
 Doença de von Willebrand.

 Dose e administração:
o Procedimentos invasivos em animais com coagulopatia:
 10-15ml/kg, aguardar 1h para a realização do procedimento.
o Hepatopatas com sangramento:
 10-20ml/kg.
o Intoxicação por antagonistas da vitamina K e hemofilias:
 10ml/kg, repetido a cada 8-12h até o término do sangramento.

 Cuidados:
o Reações alérgicas urticariformes.
o Ideal: prova de compatibilidade menor.

 Reposição de proteínas e albumina:


o Plasma congelado ou plasma fresco congelado.
o Hipoalbuminemias:
 Agudas e reversíveis:
 Queimaduras, dose 20-40ml/kg.
 Crônicas:
 Efeito transitório, utilizado em emergências.

 Reposição de imunoglobulinas:
o Neonatos que não ingeriram colostro.
o Dose única, 6-10ml/kg.

REPOSIÇÃO DE PLAQUETAS
 NÃO usar sangue fresco total para repor plaquetas!
 Concentrado de plaquetas:
o 1 unidade corresponde a 50-70ml de uma bolsa de sangue total.
o Sobrevida plaquetária após transfusão média de 24-72h.
o Meia vida de 8h.

 Indicações:
o Trombocitopenias por insuficiência medular.
o Procedimentos invasivos em pacientes com plaqueta abaixo de 40.000/mm3.
o Profilático em pacientes com plaqueta abaixo de 50.000/mm3 (?)
o Pacientes com sangramento espontâneo com plaqueta abaixo de 40.000/mm3.

A reposição de plaquetas é ineficaz em pacientes com trombocitopenia imunomediada, trombocitopenia por


destruição periférica e coagulação intravascular disseminada. Somente utilizar se apresentar sangramento
com risco de vida.

 Reações:
o Febre.
o Reações alérgicas.
o Contaminação bacteriana.

 Concentrado de plaquetas:
o Armazenamento:
 3-5 dias a 20-24°C.
 Movimentação constante.
 Alto risco de contaminação bacteriana.
o Dose:
 Transfusões terapêuticas (paciente em sangramento):
 Contagem desejada superior a 40.000
 1 unidade/5kg.
 Transfusões profiláticas (paciente pode sangrar a qualquer momento):
 Contagem desejada superior a 25.000.
 1 unidade/10kg.

PREPARAÇÃO DE COMPONENTE SANGUÍNEO E ACESSO VASCULAR


 Controle de qualidade:
o Verificar:
 Data da colheita e vencimento.
 Ht% e Hb do doador e da bolsa.
 Responsável pela colheita.
 Temperatura da geladeira.
 Coloração do sangue.
o Testes laboratoriais:
 Ht% e Hb da bolsa.
 Microbiológico.
 Presença ou não de hemólise no plasma.

 Aquecimento dos componentes sanguíneos:


o Hemácias:
 Não aquecer.
 Exceção: paciente anestesiado com hemorragia, necessitando de transfusão
+ rápido.
 Não permanecer a temperatura ambiente por mais de 4h.
 Sempre usar o equipo de transfusão com filtro.
o Plasma:
 Descongelamento a 37°C protegido da exposição da água no banho-maria.
 Não permanecer a temperatura ambiente por mais de 2h.
 Sempre usar o equipo de transfusão com filtro.

 Vias de administração:
o Intravenosa ou intraóssea.
o O sangue só pode ser infundido com solução salina.
 Solução contendo dextrose causa aglomeração de hemácias.
 Solução contendo cálcio causa coágulos por depleção do citrato.

 Velocidade de infusão:
o Sangue total ou concentrado de hemácias:
 Velocidade inicial: 0,25-0,5ml/kg por 30 minutos.
 Hemorragia maciça: 22ml/kg/h.
 Cardiopatas, nefropatas e filhotes: 1ml/kg/h.
 Animais normais: 4-5ml/kg/h.
o Plasma fresco congelado, plasma congelado e concentrado de plaquetas:
 Velocidade geral: 2-3ml/kg/h – ideal reposição em 2h.
 Depende:
 Caso clínico.
 Necessidade imediata da expansão de volume (choque hipovolêmico).
 Reposição de proteínas e imunoglobulinas.
o Animal hidratado.
o Risco de sobrecarga circulatória.

 Outros cuidados:
o Tempo máximo de exposição da bolsa de plasma a T°C ambiente = 2 horas.
o Tempo máximo de exposição da bolsa com hemácias a T°C ambiente = 4 horas.
 E se o cálculo de transfusão ultrapassar 4h?
 Dividir a bolsa de sangue em bolsas satélites ou bolsas de transferência.

MONITORAÇÃO DA TRANSFUSÃO SANGUÍNEA


 Antes da transfusão:
o T°C, pulso, frequência cardíaca.
o Frequência respiratória.
o Coloração de mucosas.
o Tempo de preenchimento capilar.

 Durante a transfusão:
o T°C, pulso, FR, FC, coloração de mucosas e TPC – a cada 15 minutos até o término da
transfusão.
o Ht% em caso de suspeita de reação.

 Após a transfusão:
o Ht% 1h, 24h e 48h após a transfusão.

REAÇÕES TRANSFUSIONAIS
 Classificação:
o Imediata: ocorrência da reação transfusional durante ou até 24h após o início da transfusão.
o Tardia: ocorrência da reação transfusional após 24h do início da transfusão.

Aguda
Hemolítica
Imunomedia Tardia
da
Não
Aguda
Reação hemolítica
Transfusiona
l
Hemolítica Aguda
Não
imunomedia
da Aguda
Não
hemolítica
Tardia

 Reações imunomediadas:
o Hemolítica:
 Presença de anticorpos contra as hemácias.
 Aguda:
 Hemólise aguda: choque e óbito do animal.
 Tardia:
 Hemólise extravascular: 3-21 dias após a transfusão, febre, icterícia, rápida
baixa no Ht%.
o Não hemolítica:
 Aguda:
 Hipersensibilidade.
 Anafilática ou alérgica:
o Proteínas plasmáticas.
o Urticária, prurido, hipotensão, vômito, edema de glote, dispneia,
óbito.
 Hipertermia:
o Sensibilidade a leucócitos/plaquetas.
o Início 30min-8h de transfusão.
o Vômito, tremores, choque.
o Tendência a baixa da temperatura logo após a interrupção da
transfusão.
 TRALI:
o Síndrome respiratória aguda durante transfusão de plasma e/ou
concentrado de plaquetas.

 Reações não imunomediadas:


o Hemolítica:
 Aguda:
 Hemólise: mecânica, térmica e/ou osmótica.
o Não hemolítica:
 Aguda:
 Sobrecarga circulatória.
 Contaminação bacteriana.
o Paciente apresenta hipertermia.
o Deve-se fazer hemocultura.
o Entrar com antibiótico e achar fonte de infecção.
 Toxicidade pelo citrato.
o Hipocalcemia.
 Hiperamonemia.
o Bolsas armazenadas após 15 dias, em pacientes hepatopatas.
 Hipotermia.
o Transfusão em velocidade rápida sem aquecimento dos
componentes.
 Tardia:
 Transmissão de doenças.

A sobrecarga circulatória é fácil de prevenir, basta respeitar o cálculo de volume e velocidade transfusional
e não utilizar sangue total, utilize o componente sanguíneo que é necessário repor.

 Tratamento geral:
o Parar a transfusão imediatamente!
o Avaliar o paciente, exame clínico geral.
o Exames complementares:
 Hemograma.
 Coloração do plasma.
 Urinálise.
o Medicar segundo o quadro clínico.
 Em caso de hemólise aguda, tratamento para choque!
o Reavaliações do paciente.
o Retomar a transfusão?
 Possível, caso:
 Sobrecarga de volume.
o Tratar com furosemida 2-4mg/kg/IV, avalia se desapareceram os
sinais de edema.
o Oxigenoterapia.
o Retornar a transfusão reduzindo pela metade a velocidade de
transfusão.
 Reação urticariforme.
o Anti-histamínicos: prometazina 0,2-1mg/kg/SC.
o Corticoide: hidrocortisona 50-150mg/kg/IV ou metilprednisolona
15-30mg/kg/IV lento ou dexametasona 4-6mg/kg/IV.
 Reação febril.
o Descartar contaminação bacteriana.

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