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Filosofia Da Linguagem - 04
Filosofia Da Linguagem - 04
Objeção mais forte aos convencionistas: para estabelecer uma convenção, é necessário que
haja uma linguagem para a comunicação.
Como seria possível fazer uma convenção sobre a linguagem sem ter antes uma linguagem
para a comunicação?
A linguagem não pode ser um fruto da convenção, porque tem de ser anterior a ela. É um
pressuposto para a convenção.
Nesse contexto entra Crátilo. No entanto, os argumentos sustentados por Crátilo também são
fracos. Vimos por exemplo ontem o caso das onomatopeias que existem em número reduzido
para indicar as coisas do mundo; além disso, palavras que possuem mais de um significado no
idioma; a questão da linguagem ideal da qual derivam as linguagens mais variadas, e onde se
verificam, no entanto, mais dessemelhanças do que semelhanças entre as linguagens; a
questão da variação diacrônica numa mesma língua
Aristóteles: linguagem não nos permite um conhecimento direto das coisas, porém nos
permite um conhecimento indireto das coisas.
Aristóteles vai admitir que a linguagem é convencional, mas essa convencionalidade não vai
me impedir de conhecer a natureza das coisas, pois a linguagem vai me permitir conhecer as
afecções da alma, e são estas afecções, sim, que conhecem as coisas.
Alma
Simboliza Se refere a
Linguagem/nome - - - - - - - - - - - - Coisa/objeto
A linguagem é o espelho da alma/do intelecto, e este é o espelho da razão, que possui relação
direta com a linguagem e com a coisa.
A relação direta que ocorrerá é entre a alma e a coisa e entre a alma e a linguagem.
1) As coisas na voz são os símbolos das afecções na alma, as coisas escritas são os
símbolos das coisas na voz (1,16 a 3-4).
•Ex.: os falantes de língua portuguesa, para explicar o sentimento provocado pelo
contato com o animalzinho (sentimento que é universal), entraram em acordo para
expressar esse sentimento dando o nome de “gato”.
•Quando eu falo “bola”, essa palavra não exprime o objeto bola, mas o significado que
aquele objeto teve para mim, o sentimento que ele provocou na minha alma.
•Aristóteles já parte do posicionamento de que o nome não expressa a natureza da
coisa, mas um sentimento, uma afecção da alma, e para expressar essa afecção da
alma tudo isso é feito em termos de convenção.
2) Nenhum nome é tal por natureza, mas apenas quando ele se torna símbolo. (1, 16 a
28).
•A linguagem não diz o que é. O que diz é a razão.
3) As afirmações e as negações na voz são os símbolos daquela na alma.
Alma
Simboliza Se refere a
Linguagem/nome - - - - - - - - - - - - Coisa/objeto
A alma se refere sempre a um objeto. É a relação primeira e é sempre uma relação natural. A
relação natural não é a relação palavra-coisa, mas sim entre o homem e a coisa. É a relação
alma-coisa.
De que modo o homem se refere à realidade para conhecer? Por meio da abstração. Por meio
da abstração, a alma abstrai os acidentes para chegar à essência da coisa.
Ao existir esse processo de separação dos acidentes da substância e abstraindo a essência da
realidade da coisa, o homem chega ao conceito (objeto mental), a um sentido, uma referência.
Chega a uma afecção da alma.
Essa representação mental será conhecida de que maneira? Aí sim, através de um significante,
de uma imagem acústica, um nome, um símbolo: gato, bola, macaco etc.
As coisas na voz são símbolos das afecções da alma. É por isso que há um processo de
simbolização, mas o que se simboliza através da palavra, o que a palavra expressa não é a
realidade, mas o conteúdo mental. Quando digo gato não expresso o animal, mas aquilo que
eu conceitualizei/signifiquei, por meio de um processo de abstração da coisa “gato”.
Aí sim haverá o terceiro processo, que não é direto, mas sim indireto (por isso a terceira linha é
pontilhada), pois é mediado pelas afecções da alma. Ou seja, o nome que dou é um nome para
uma realidade universal. Todos nós diante do animal gato teremos o mesmo sentimento. No
entanto, cada povo de cada língua chega a acordos diferentes para exprimir o sentimento que
tem diante do animal, e isso nos permite a possibilidade de conhecer o sentimento, de
conhecer a língua dos outros. Isso explica a possibilidade de tradução. Se não houvesse essa
possibilidade de, através do nome, conhecer um sentimento que é universal, não seria possível
traduzir.
É importante salientar que Aristóteles não tem uma preocupação de demonstrar a ligação da
linguagem com o ser, mas da linguagem com a alma e desta com o objeto. As palavras não são
significantes por elas mesmas.
Entre a alma e o ser há uma relação de correspondência, mas da linguagem com o ser, não.
Se as palavras fossem naturais, haveria somente uma língua para todos os homens, devido a
uma relação universal.