Você está na página 1de 2

Crátilo: sobre a “correteza” dos nomes

Epistemologia: conhecimento das coisas

A linguagem, nesse primeiro momento da filosofia (até Agostinho) será analisada como
instrumento para o conhecimento da realidade, da natureza das coisas (physis).

Temos, no diálogo Crátilo, uma tentativa de analisar se os nomes são realmente capazes de
indicar a natureza das coisas.

Questionavam-se os gregos se a linguagem é natural ou convenção.

Naturalista: propunha que a linguagem é capaz de dizer com correteza a natureza das coisas
(pensamento de Crátilo, no diálogo).

Convencionalista: propunha que o nome não é capaz de dizer a natureza do objeto, pois é fruto
de uma convenção entre um determinado grupo de falantes. Os homens chegaram a um
acordo e, a partir desse acordo, foi dado o nome ao objeto (pensamento de Hermógenes, no
diálogo).

Ser natural significa ter origem em princípios eternos e imutáveis fora do próprio homem, e por
isso invioláveis.

Ser convencional é ser resultado do costume e da tradição, advindos de um acordo tácito, ou


de um contrato social, praticado por membros da comunidade. Acordo que, se uma vez feito
pelos homens, poderia ser modificado, violado.

No diálogo, há uma discussão se há uma relação entre nome e objeto, porque os sofistas se
utilizavam do discurso para manipular os objetos com os fins desejados. Hermógenes era um
sofista.

Além de Crátilo e de Hermógenes, Sócrates também se faz presente no diálogo, surgindo como
um mediador entre as posições naturalista e convencionalista.

P/ Hermógenes:

1. Os nomes são pacto-consenso, i. e., não há pertença do nome à natureza, pois é uma
convenção.
2. O nome é posto a alguém. Ele é algo que vem de um acordo. Alguém impõe o nome.
3. Pode haver mudança. Isso ocorre porque não diz respeito à essência e, por isso, mudar
o nome não muda a essência. Se o nome fosse uma questão de natureza, mudar o
nome significaria mudar a natureza da coisa, e isso é algo que não se observa.

A linguagem não pode dar algum tipo de conhecimento, pois não nos dá a natureza das coisas.
Ela nos favorece uma opinião a respeito das coisas (uma Doxa). Ela nos favorece aquilo que um
grupo de falantes pensava a respeito da coisa. O grupo de falantes é uma parte de um todo e,
portanto, não é algo universal. É um particular “x” dentro de um grupo maior.

Pela linguagem nos temos acesso ao que um particular pensa a respeito de uma determinada
coisa, e o que um particular pensa a respeito de determinada coisa não pode ser ciência, ou
seja, não pode ser conhecimento. Conhecimento é saber o que é, é ter o domínio da coisa, e
tudo aquilo que não é conhecimento é doxa (opinião).

Isso denota uma visão muito pejorativa da linguagem por parte dos convencionalistas.

Convencionalismo:

1. Não há pretensão de conhecimento (há apenas Doxa).


2. É arbitrário – é algo que decidimos e acabou. Nós somos o parâmetro. Não há norma.
Favorece o relativismo.

O problema de Platão com os sofistas é justamente o de eles mudarem o discurso de acordo


com o interesse de quem paga.

Platão formula a sua teoria das ideias motivado justamente pelo problema do uno e do
múltiplo: ele queria mostrar que, apesar da diferença das coisas, há algo que permanece.
Apesar da diferença dos nomes, há algo que permanece. A linguagem não pode implicar em
relativismo.

Ao mesmo tempo, Platão ainda não dará uma solução satisfatória para essa relação entre
conhecimento e linguagem.

A objeção fundamental de Sócrates à tese de Hermógenes é, basicamente, ontológica. A


convencionalidade da relação entre nome e coisa não é capaz de dar conta da permanência
das coisas, e consequentemente nem da estabilidade do conhecimento. Cairíamos no
relativismo.

Você também pode gostar