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Física Quântica

Aula 03

A Física Quântica dos Átomos:


Ideias Precursoras à Fundamentação
Teórica da Mecânica Quântica

Alex Gomes Dias

2 de março de 2016

Física Quântica
• A análise da luz emitida e absorvida pelos átomos fornece uma prova determi-

nante para o entendimento de que a dinâmica dos sistemas atômicos não pode

ser descrita pela física clássica. Os espectros atômicos mostram a existência de

níveis de energia quantizados para átomos.

O hidrogênio tem o seguinte espectro de emissão na região do visível:

Essas linhas correspondem a série de Balmer, e são devidas a transições de

estados com números quânticos ni = 3, 4, 5, 6 para um estado com nf = 2 .

A absorção no espectro ocorre somente nos comprimentos de onda em que

também há emissão.

Física Quântica 1
Isso evidencia o fato de que os estados de energia do hidrogênio são discretos.

A explicação das linhas espectrais do hidrogênio levou a um passo decisivo na

fundamentação da física quântica.

• Cada elemento tem seu espectro característico.

Física Quântica 2
Física Quântica 3
• No caso do hidrogênio a expressão empírica que dá as linhas espectrais no

visível foi encontrada por J. Balmer (1885).

 
1 1 1
= RH − 2 , n = 3, 4, 5, ...
λn,2 22 n
onde
7 −1
RH = 1, 096776 × 10 m
é a constante de Rydberg para o hidrogênio.

• Outras séries foram descobertas em seguida para o hidrogênio.

No ultravioleta, descoberta por T. Lyman (1906),

 
1 1
= RH 1 − 2 , n = 2, 3, 4, ...
λn,1 n

No infravermelho, descoberta por F. Pashen (1908),

 
1 1 1
= RH − 2 , n = 4, 5, 6, ...
λn,3 32 n
Outras séries nomeadas para o hidrogênio são a de Brackett λm,4 e de Pfund λm,5

Física Quântica 4
• A expressão geral englobando todas essas séries é (J. R. Rydberg e W. Ritz)

 
1 1 1
= RH − 2 , m < n.
λn,m m2 n

Nessa notação tem-se 1/λn,2 para a série de Balmer, 1/λn,1 para a série de

Lymam, e 1/λn,3 para a série de Pashen, por exemplo.

• Essas fórmulas são empíricas e fornecem uma aproximação para as linhas

espectrais do H.

• O fato dos átomos a emitirem e absorverem radiação em comprimentos de

onda especícos só é explicado pela física quântica (classicamente a emissão e

absorção de radiação pelos átomos deveria ocorrer de forma contínua).

• A observação das linhas no espectro do hidrogênio indica que a absorção e

emissão de luz decorre da transição entre estados de energia do átomo

Assim, a transição atômica de um estado de maior energia, En, para o estado


de menor energia, Em , resulta na emissão de um fóton com energia

Física Quântica 5
hνnm = En − Em
 
hc 1 1
= = hcRH − 2
λn,m m2 n

Os En são os estados quânticos de energia do sistema atômico. De forma mais

precisa, na emissão há de se considerar a energia cinética, K, de recuo do átomo

de modo que

En = Em + Ef óton + K
⇒ Ef óton = En − Em − K
≈ En − Em para K  En − Em

• A massa do átomo é essencialmente aquela concentrada em seu núcleo, que

contém carga positiva (o elétron tem massa muito menor do que a do próton).

−31 −27
me  mátomo, me ≈ 9.11 × 10 kg, mp ≈ 1, 67 × 10 kg

• A dimensão dos átomos está na escala de 10−10m. Como estimativa tome-

mos, por exemplo, o cloreto de sódio supondo que que o tamanho da moléculas

e dos átomos são da mesma ordem

MN aCl = 58, 44 g/mol


3
ρN aCl = 2, 16 g/cm
MN aCl 3
VN aCl ≈ = 27 cm /mol
ρN aCl
VN aCl −22 3
Vátomo ≈ Vmolécula ≈ ≈ 0, 45 × 10 cm
NA

E a estimativa para o tamanho do átomo é

Física Quântica 6
o
1/3 −7
R ≈ (Vátomo) ≈ 0, 3 × 10 cm = 3A

• A estrutura atômica foi investigada por meio do espalhamento de partículas α


pelos átomos. A partícula α é o núcleo do hélio ( 2 prótons e 2 nêutrons). O

experimento realizado foi o bombardeio de partículas α, provenientes de uma

fonte radiativa (tipo urânio ou polônio), em uma na folha de ouro.

• O experimento revelou que a carga positiva do átomo esta concentrada numa

região muito pequena em relação ao tamanho típico dos átomos.

o o
−4
Rnúcleo ∼ 10 A  1 A (dimensão atômica)

O núcleo deve ser, aproximadamente, 104 vezes menor do que o tamanho típico

de um átomo.

Física Quântica 7
• Modelo atômico: carga positiva concentrada em um núcleo, cujo tamanho é

bem menor do que o tamanho do átomo.

• No entanto, o modelo de Rutherford é previsto ser instável pela física clássica.

Clssicamente os elétrons em órbita têm movimento acelerado.

⇒ emissão de radiação contínua

Um sistema assim não é estável!

Fig. de Tipler.

De acordo com a eletrodinâmica clássica elétrons orbitando o núcleo atômico

devem emitir radiação eletromagnética, continuamente, até que o sistema

elétrons- núcleo colapse.

Porém, observamos átomos estáveis!

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• Observa-se que a radiação emitida e absorvida pelos elementos químicos ocorre

apenas em comprimentos de onda característicos.

• Trabalho de Neils Bohr: elaboração de um modelo atômico que explicasse as

linhas espectrais do átomo mais simples, o hidrogênio, considerando estrutura

nuclear proposta por Rutherford e que fosse estável.

O modelo de Bohr é uma construção que explica aproximadamente as linhas

espectrais do hidrogênio. Tal construção leva em conta a dinâmica clássica do

sistema elétron- núcleo, combinada com certos postulados para fundamentar a

existência do conjunto discreto de estados de energia do átomo de hidrogênio.

• A observação das linhas no espectro de emissão e absorção dos elementos deu

Física Quântica 9
luz a ideia de que os estados de energia do hidrogênio formam um conjunto

discreto

{En} ≡ {E1, E2, E3, ...}

n≡ número quântico associado ao estado de energia.

Absorção e emissão de luz → transição entre os estados de energia do átomo

com a energia da fóton sendo, para o caso da emissão (n > m),

hνnm = En − Em
 
hc 1 1
= = hcRH − 2
λnm m2 n

Os En são as energias dos estados quânticos do sistema atômico.

• Um único fóton é envolvido na transição;


• νnm são as frequências associadas as transições (frequências de Bohr).

Física Quântica 10
• Postulados de Bohr.

- Primeiro postulado

Os elétrons permanecem em certas órbitas sem irradiar energia.

Tais órbitas estão associadas aos possíveis estados de energia do sistema, os

estados estacionários.

Estados estacionários são aqueles nos quais o sistema permanece sem emitir

radiação.

As energias dos estados formam um conjunto discreto {En} ≡


{E1, E2, E3, ...}.

- Segundo postulado

Os átomos irradiam quando um elétron sofre uma transição de um estado

estacionário para outro. Um fóton é emitido em cada transição. A energia do

fóton emitido se relaciona com a energia do estado estacionário inicial, En, e do

estado estacionário nal, Em, conforme

(f óton)
Enm = hνnm = En − Em

Física Quântica 11
Fig. de Tipler.

As transições sempre se dão de forma completa.

• Em certos limites, os resultados da teoria quântica devem corresponder aos que

se obtém com teoria clássica. Isso foi sintetizado por Bohr em um terceiro
postulado conhecido como princípio da correspondência. A ideia nesse
princípio é que:

Os resultados de processos envolvendo grandes números quânticos devem

recobrir aqueles que se obtém a partir da física clássica.

Assim, no limite de transições quânticas entre grandes órbitas os resultados

coincidem com os obtidos a partir da física clássica.

n −→ m levam aos mesmos resultados


da fı́sica clássica quando n e m são grandes
En −Em
Quando n e m são muito grandes | En | 1.

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• Construção do modelo de Bohr.

Seja Z o número de unidades de cargas positivas do núcleo, a energia potencial

de interação elétron-núcleo é (carga do núcleo é Z e, a carga do elétron é −e)

1 Ze2
V =−
4π0 r

Mas seria somente o potencial de Coulomb acima o único envolvido na interação

elétron-núcleo? A resposta é não. Porém, o potencial de Coulomb é o

dominante.

Sistema elétron-núcleo


r→ é o vetor de posição do núcleo,
N



re é o vetor de posição do elétron.



O vetor R que que dá a posição do centro de massa é


− mN −r→ →

N + me r e
R = ,
mN + me
onde mN é a massa do núcleo e me a massa do elétron.

Física Quântica 13
Fixando um referencial no centro de massa temos

mN −
r→ →

N + m e re = 0 ,

o que resulta em

p→ →

N + pe = 0 .
A energia total é a soma da cinética mais a potencial

E = T +V
|−
p→ |2
N |→

pe |2 1 Ze2
= + −
2mN 2me 4π0 r
1 Ze2
 
1 1 1 →
− 2
= + | pe | −
2 mN me 4π0 r
|→−
pe |2 1 Ze2
= − ,
2µ 4π0 r

onde µ é a massa reduzida do sistema núclo elétron denida como

1 1 1
= +
µ mN me
!
memN 1
µ= = me me .
me + mN 1+m
N

Física Quântica 14
Com a denotação rN =| −
r→
N | e re =| →

re | temos que, com o a origem do

sistema de referência no CM,

r = rN + re .


A condição R = mN −
r→ →

N + me r e = 0 conduz a

me
⇒ rN = re
mN
 
me me
⇒r = 1+ re = re
mN µ

Para o momento angular total do sistema, com o CM na origem, é


− −
L = p→ −
→ → −
N × r N + p e × re

|−
p→ →
− →


= N | r N + | p e | r e ẑ = (rN + re ) | pe | ẑ

= |→

p | r ẑ
e

Do equilíbrio da força elétrica com a força centrípeta

meve2 1 Ze2
=
re 4π0 r 2

|→

pe |2 1 Ze2
=
m e re 4π0 r 2
|→
− 2 µ
p |2
e 1 Ze2re 1 Ze me
⇒ = =
2me 8π0 r 2 8π0 r
|→

p |2
e 1 Ze2
⇒ =
2µ 8π0 r

Física Quântica 15
Com isso, a energia é escrita como

|→

pe |2 1 Ze2 1 Ze2
E= − =−
2µ 4π0 r 8π0 r

• Considerando as órbitas dos estados estacionários,

1 Ze2
En = − .
8π0 rn

Através da comparação direta com as fórmulas empíricas pode-se supor que

1
En ∝
n2
e
2
rn ∝ n
O momento angular total do sistema, com o CM na origem, é


− →

L = pn × →

rn + → −
pe × →−
re
|→

pn | r n + | →
− 
= pe | re ẑ
= |→

p | r ẑ
e

• A quantização das órbitas no modelo de Bohr resulta da suposição elementar

de que o momento angular é quantizado. A hipótese (regra) de quantização

do momento angular é realizada com a admição de que somente valores

discretizados para o momento angular são permitidos



| L | = L =| →

pe | r
nh
L → Ln = = n~ ,

Física Quântica 16
onde os valores possíveis para n são números inteiros, isto é, n = 1, 2, 3, ....
Deniu-se, por conveniência, a constante (h-cortado)

h
~=

A regra conduz a raios quantizados |→

pe | rn = n~
n~
rn =
|→

pe |
2 n2~2 n2~2
rn = =
|→

pe |2 µ Ze2
4π0 rn

Portanto, os raios das órbitas quantizadas são

2 2 4π0 2 2 4π0
rn = n ~ ≈ n ~ ,
µZe2 meZe2
onde se usou a aproximação µ ≈ me .

No hidrogênio Z = 1, e o raio da primeira órbita é ( n = 1)

2 4π0
o
r1 = ~ ≈ 0.529 A .
mee2
o
Esse é o raio de Bohr, que é denotado por a0 = 0.529 A, isto é a0 ≡ r1.

As energias dos estados estacionários são

!2
2 2
1 Ze me Ze 1
En = − ≈− , n = 1, 2, 3, ...
8π0 rn 2 4π0~ n2

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A energia do fóton emitido na transição do elétron no estado En para o estado
de energia menor Em é, portanto,

!2 
2 
me Ze 1 1
hνnm = En − Em = −
2 4π0~ m2 n2

No caso particular do hidrogênio, Z = 1, esse resultado se aproxima bastante


do que se obtém a partir da observação das linhas espectrais (a dependência com

os números inteiros m e n).

!2
2
me e 1 13, 6
En = − 2
≈ − 2
eV
2 4π0~ n n

A teoria de Bohr dá, com certa precisão, o valor da constante RH na fórmula

empírica que fornece o comprimento de onda λnm da luz emitida pelo átomo de

hidrogênio, ao realizar uma transição do estado de energia n para o estado de

energia m. De fato, com o uso da fórmula empírica tem-se

Física Quântica 18
 
hc 1 1
hνnm = = hc RH − 2
λnm m2 n

Por comparação desta última fórmula com a expressão anterior proveniente do

modelo de Bohr
!2
2
me e
hc RH =
2 4π0~
ou seja

!2
2
me e
RH =
2c h 4π0~
!2
2
me e
=
4πc ~3 4π0

Com os valores das constantes físicas

−29
me = 9, 109381880 × 10 kg
−19
e = 1, 602176460 × 10 C
c = 299792458 m/s
−34
~ = 1, 053571475 × 10 J ·s
−12
0 = 8, 854187818 × 10 F/m

tem-se
7 −1
RH = 1, 097373528 × 10 m

O valor medido para o hidrogênio é (Nussenzveig, Curso de Física Básica, v4)

7 −1
(RH )exp = 1, 096776 × 10 m .

Física Quântica 19
A correção de massa reduzida faz RH se aproximar do valor medido.

• Estado fundamental do átomo de hidrogênio

!2
2
me e
E1 = − ≈ −13, 6 eV
2 4π0~
−18
= −2, 18 × 10 J

• Transições entre níveis de energia

(gura de http://hyperphysics.phy-astr.gsu.edu/hbase/hframe.html)

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(guras livro P. A. Tipler, R.A. Llewellyn, Física Moderna)

- Lyman

En − E1
 
1 1
= = RH 1 − 2 , n>1
λn,1 hc n

- Balmer

En − E2
 
1 1 1
= = RH − 2 , n>2
λn,2 hc 22 n

Física Quântica 21
- Paschen

En − E3
 
1 1 1
= = RH 2
− 2 , n>3
λn,3 hc 3 n

(mostre simulador)

• Massa reduzida

Ao se reintroduzir a massa reduzida no lugar da aproximação µ ≈ me , i. e.,

me
me → µ = me ,
1+m n
na expressão de RH

!2
2
µ e
RH →
4πc ~3 4π0

e, considerando o núcleo do hidrogênio, que tem a massa do núcleo como sendo a

massa do próton, i. e.,

mp = 1, 672621580 × 10−27kg , me = 9, 10938188 × 10−31kg

me
µ= me ≈ 0, 99946 me
1 + mn

7 −1
RH → 0, 99946 × 1, 097373528 × 10 m
7 −1
≈ 1, 096781 × 10 m

Física Quântica 22
o valor de RH se aproxima do que é medido para o hidrogênio

7 −1
(RH )exp = 1, 096776 × 10 m

Se constata, experimentalmente, que para os núcleos mais pesados que o valor

da constante se aproxima de

!2
2
me e 7 −1
R∞ = = 1, 097373528 × 10 m
4πc ~3 4π0

Tal valor corresponde de fato ao limite mn → ∞ .

• Aplicação do princípio da correspondência.

As transições n −→ m levam aos mesmos resultados da


fı́sica clássica quando n e m
são grandes

A exemplicação desse princípio pode ser feita com o exame de transições

envolvendo grandes números quânticos n (i. e., grandes rn). Para uma transições

de ∆n = 1, i. e., n → n − 1,

Física Quântica 23
!2 " #
2
En − En−1 me Ze 1 1
νn,n−1 = = 2

h 4π~3 4π0 (n − 1) n2
!2 !2
2 2
me Ze 2 me Ze
≈ =
4π~3 4π0 n3 2πL3n 4π0
!2
2
Ln meZe Ln
= =
2πme 4π0L2n 2πmern2
ve
νn,n−1 ≈
2πrn

De fato, conforme a teoria clássica isso corresponde a frequência de revolução

do elétron é

ve
ν=
2πr

Física Quântica 24
Adendo
• Na desintegração de núcleos atômicos pesados há a emissão de partículas

carregadas. Dois tipos comuns dessa radiação são a α e a β.

• Radiação β: elétron ( β −), β +).


pósitron (

• Partículas α com grande energia cinética (∼ M eV ) são emitidas por materiais


radiativos. No caso do urânio

Diversos núcleos pesados emitem partículas α.

• A partícula α é cerca de 8000 vezes mais pesada que um elétron. Assim, a

trajetória das partículas quase não é afetada ao colidir com elétrons dos átomos.

Física Quântica 25
• As partículas α foram utilizadas na investigação da estrutura atômica num

experimento realizado por H. W. Geiger e E. Marsden (ambos estudantes de

Rutherford). Tal experimento tinha o propósito de vericar um modelo atômico

proposto por Rutherford.

• O experimento consistia no bombardeio de partículas α, provenientes de uma

fonte radiativa (tipo urânio ou polônio), em uma na folha de ouro.

238 234 4
92 U −→ 90 U + 2He (4.2 M eV )
210 206 4
84 P o −→ 82 P b + 2He (5.3M eV )

onde 1 M eV = 106eV

• A observação de um número signicante de partículas α espalhadas a grandes

Física Quântica 26
ângulos não tem explicação no modelo de Thomson porque levaria ao resultado

de que o número de eventos observados a grandes ângulo (que se daria via

múltiplos espalhamento) seria extremamente pequeno. A partícula α poderia,

nesse modelo penetrar no interior do átomo sem que no geral tenha grande

impacto em sua trajetória. Uma estimativa para o que se pode esperar para

o espalhamento, conforme o modelo de Thomson pode ser visto em P. Tipler,

Modern Physics; e R. Eisberg, R. Resnick, Quantum Physics.

• A distribuição angular das partículas α é explicada se a carga positiva estiver

concentrada em uma região bem menor que o tamanho do átomo. Só assim se

pode ter espalhamento a grandes ângulos como observado.

Física Quântica 27
• Um limite superior para o raio do núcleo do ouro (Z = 79) se obtém consi-
derando o espalhamento para ângulo próximo de 180o. Nessa circunstância a
partícula α tem aproximação máxima

1 2 1 qαQAu 1 158e2
mv = =
2 4π0 R 4π0 R

qα = 2 e, QAu = 79 e
1 9 2 2 −19
= 9 × 10 N · m /C , e = 1.6 × 10 C
4π0
Assim, para a partícula α de 5.3 M eV = 5.3 × 106 × 1.6 × 10−19J ,

1 qαQAu
R =
4π0 mv2
2
! 2
9N ·m 2
158 1.6 × 10−19C
= 9 × 10
C2 5.3 × 106 × 1.6 × 10−19J
o
−14 −4
= 4.3 × 10 m = 4.3 × 10 A

Ou seja o núcleo deve ser menor do que 10−4 vezes o tamanho típico de um

átomo.

• Rutherford propõe um modelo atômico onde a carga positiva esta concentrada

em um núcleo, cujo tamanho é bem menor do que o tamanho do átomo.

Física Quântica 28
• Com sua proposta teórica Rutherford mostrou que, num experimento de bom-

bardeamento de partículas α em átomos de elementos pesados, o espalhamento


se dá devido a força de repulsão entre o núcleo e a partícula α. Rutherford

determinou assim a fração de partículas α em função do ângulo de espalha-

mento. Detalhes desse cálculo podem ser encontrados em P. Tipler, Modern

Physics; e R. Eisberg, R. Resnick, Quantum Physics.

• A consideração é que o núcleo se mantém xo durante o processo, o que

é razoável de se supor numa colisão com núcleos pesados e presos na rede

cristalina de um sólido. O espalhamento se daria conforme a gura

Fig. de Tipler

A força que atua na partícula é

Física Quântica 29
1 qαQAu
F =
4πε0 r 2

• Uma quantidade resultante do cálculo desse processo de espalhamento é o

parâmetro de impacto, denotado por b

1 qαQAu θ
b= cot
4π0 mαv 2 2

Sendo qα a carga da partícula α, QAu = ZAu a carga do núcleo, r a

distância entre a partícula α e o núcleo, e θ o ângulo de espalhamento

Fig. de Tipler

Partículas com b menor se espalham a ângulos maiores do que θ.

• Se I0 é a intensidade do feixe de partículas α, i. e., número de partículas por

centímetro quadrado por segundo que atravessam a seção transversal do feixe,

num. partı́culas
I0 =
cm2 · seg

Física Quântica 30
o número de partículas espalhadas pelo núcleo por segundo a ângulos maiores do

que θ é

2
πb I0
A quantidade
2
σ = πb ≡ seção de choque
com dimensão de área, é chamada seção de choque. Ao se multiplicar πb2I0 pelo

número de núcleos na folha de ouro atingida pelo feixe tem-se o número total de

partículas espalhadas por segundo.

Fig. de Tipler

Com a área denotada por A por onde passa o feixe o número de núcleos na

folha de espessura t é

NAu = nAt
onde n é a densidade de núcleos

ρAu ρAuNA
n= =
mátomo Mmolar

• Número total de espalhamentos por segundo a ângulos maiores do que θ

Física Quântica 31
2
πb I0nAt
Dividindo por pelo número de partículas α que atravessam a área A por segundo,

i. e., I0A, tem-se a fração espalhada a ângulos maiores que θ

2
f = πb nt
A fração espalhada entre o ângulo θ e θ + dθ é

df = 2πb db nt = n t dσ
Nessa relação db deve ser negativo pois a medida que o ângulo aumenta f diminui.


A seção de choque diferencial
dΩ é denida como


I0 dΩ = N úmero de espalhamentos entre ângulo sólido
dΩ
Ω e Ω + dΩ por unidade de tempo

dΩ = 2π sinθdθ
O número de partículas espalhadas deve ser tal que


I0 dΩ = 2πI0b | db |
dΩ
O módulo é tomado para que se integre do ângulo mínimo até o ângulo máximo.

Repare que ao se diminuir b o ângulo θ cresce.

Agora

1 qαQAu 1
db = − 2 θ

2
8π0 mαv sin 2

Física Quântica 32
dσ = 2πb | db |
1 qαQAu 2 cot θ2
 
4π dθ
8π0 mαv 2 sin2 θ2
1 qαQAu 2 1
 
= 2π sinθdθ
8π0 mαv 2 sin4 θ2
1 qαQAu 2 1
 
= 2 θ
dΩ
8π0 mαv 4
sin 2

= dΩ
dΩ
 
cos θ2 = 1 sinθ
2 sin θ com dΩ = 2πsinθdθ . Disso temos
2

 2
dσ 1 qαQAu 1
=
dΩ 8π0 mαv 2 sin4 θ2
Integrando essa seção de choque diferencial e multiplicando por I tem-se o número

de partículas α espalhadas por segundo, por núcleo, no ângulo sólido.

Fig. de Tipler

Física Quântica 33
• Em termos da fração

df dσ
dΩ = nt dΩ
dΩ dΩ
 2
1 qαQAu nt
= dΩ
8π0 mαv 2 sin4 θ2
e  2
df dσ 1 qαQAu nt
= nt =
dΩ dΩ 8π0 mαv 2 sin4 θ2

• O número de partículas espalhadas entre θ e θ + dθ por segundo é

df dσ dσ
I0 A = I0Ant = I0NAu
dΩ dΩ dΩ
 2
1 qαQAu I0NAu
= 2 θ
=N
8π0 mαv 4
sin 2

Essas partículas atravessam a região anular maior na gura acima por unidade

de tempo. Se dividirmos pela área da região anular maior temos o número de

partículas espalhadas entre θ e θ + dθ por segundo por unidade de área.

2
N

1 1 qαQAu I0NAu
=
Área Área 8π0 mαv 2 sin4 θ2

Isso é o que um detetor colocado em um ângulo θ pode medir. Para a folha

de um metal diferente, com Q = Z | e |, se sendo qα = 2 | e | tem-se

Física Quântica 34
!2
2
N 1 1 Ze I0NAu
=
Área Área 4π0 mαv 2 sin4 θ2

• Os resultados obtidos por Geiger e Marsden são mostrados no gráco abaixo e

concordam com a teoria proposta por Rutherford.

Fig. de Tipler

• Geiger e Marsden vericaram além da dependência com sin−4 θ2 , a dependência


com Z 2, v2 e espessura da folha, conrmando o modelo de Rutherford.

• No entanto, o modelo de Rutherford é previsto ser instável pela física clássica.

A emissão de radiação contínua impede a estabilidade de um sistema clássico

assim.

Física Quântica 35
• Aplicação do uso dos espectros: cada elemento tem seu espectro característico.

Isso é utilizado para se saber a composição de substâncias por meio da

espectroscopia. Outra aplicação é a medida de afastamento ou aproximação

de estrelas através do deslocamento da linhas espectrais em razão do efeito

Doppler.

• Aproximação maior do núcleo atômico requer partículas α mais energéticas

Física Quântica 36
ou núcleos alvo com número atômico menor (o que faz diminuir a força de

Coulomb), como o alumínio por exemplo. Al tem Z = 13 e na situação em

que a partícula α tem energia suciente para penetrar no núcleo o tratamento

de Rutherford não é mais válido.

• Uma experiência tipo a de Rutherford realizada na década de 70 mostrou que

o próton não é elementar.

• Os experimentos de colisão como o de Rutherford continuam sendo reali-

zados até hoje na investigação de partículas subatômicas e suas interações

fundamentais.

Física Quântica 37
• 1232 magnetos dipolares de 16 metros cada um com B ≈ 8 Tesla (150000 ×
BT erra).

• 1 G = 10−4T , BT erra ∼ 0.5 G = 0.5 × 10−4T

O LHC realiza colisões próton-próton em energia de 13 TeV (13 trilhões de

eletronvolts) no centro de massa.

→Estados
Estado inicial nais

Física Quântica 38
Adendo

A regra de quantização de Wilson-Sommerfeld considera que para duas variáveis

canonicamente conjugadas, q e p, (ex. x e px ; ϕ e pϕ = L) tem-se que

˛
p dq = n h
onde n é um número inteiro. Para a variável angular ϕ e seu momento canonica-

mente conjugado pϕ = L, quando o momento angular é constante

˛
L dϕ = L 2π = nh

No caso do oscilador harmônico unidimensional tem-se


˛
px dx = n h

Tal regra conduz a seguinte quantização para a energia para o oscilador de

frequência angular w
E = n~w
usando que

x = A sin wt
onde A é a amplitude.

Essas regras foram superadas pela formulação da mecânica quântica que se

seguiu.

Física Quântica 39

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