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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA E ORIENTAÇÃO

CONFLITOS NO PROCESSAMENTO DE INFORMAÇÕES: FORÇAS DE


VONTADE, EMOÇÕES, ESQUEMAS E CRENÇAS DISFUNCIONAIS

ALEXIS GOMES DOS SANTOS DRUMOND


ANDRESA DE OLIVEIRA DA CUNHA
EDUARDA FERREIRA DA SILVA
EMANUELLE FELIX DE LIRA
GABRIELA TEIXEIRA DOS SANTOS SILVA

SEROPÉDICA, RIO DE JANEIRO


2022
A noção de (ir)racionalidade humana e o processamento de informações:
características, falhas, suas origens, consequências e confronto entre os
processamentos T1 e T2
Assim como afirma Rex Stout, renomado escritor americano, ‘‘dizer que o homem
é um animal racional é muito diferente de dizer que a maioria das suas decisões são
baseadas em seu processo racional; nisso eu não posso mesmo acreditar’’. Hoje,
com todo o aparato que a neurociência nos proporciona acerca do processamento
de informações, podemos enfaticamente considerar que a capacidade racional
humana é limitada, ainda que muito significativa e característica marcante da
espécie. Dentro disso, o cérebro é uma estrutura incapaz de assimilar todas as
informações presentes no meio, tendo em vista o desgaste energético que tal
atividade demandaria. Logo, os estímulos do cotidiano são processados
majoritariamente sem o uso da consciência, ou seja, o processamento inconsciente
(que se utiliza do sistema 1) é mais presente enquanto prática do que o consciente.
Para que a consciência atue, os gastos energéticos são maiores e portanto
destinados a circunstâncias mais complexas e que necessitam de maior análise.
Entretanto, para aprofundarmos na questão, é preciso focar nos processos
atencionais: estes, bases do processamento cognitivo (juntamente com a percepção
e memória), dão início a todo processo perceptivo e portanto fundamentais para seu
êxito. Influenciam e são influenciados, neste caso, por fatores internos e externos:
● Internos: a motivação e a experiência, ou seja, a motivação que perpassa a
percepção do estímulo e sua observação e a história de vida, base para
nossas interpretações e inferências;
● Externos: o contraste, movimento, intensidade e incongruência dos estímulos.
Com isso, a depender do estímulo, a atenção poderá permanecer até mesmo
quando o mesmo se ausentar, produzindo interpretações ligadas diretamente às
emoções.
Para além disso, possuímos estratégias que podem nos induzir ao erro, como a
heurística e o uso de atalhos mentais: a heurística, estratégia filtradora das
informações em prol de uma tomada de decisão mais rápida, pode causar
consequências ruins e comportamentos nocivos para o indivíduo; já o uso de atalhos
mentais, como os vieses cognitivos, rompem com a lógica que estrutura todo o
processo de racionalização, tornando as decisões menos racionais e possivelmente
mais danosas.
Outros fatores agravantes para a possibilidade de processamentos falhos são:
● A sobrecarga de informação, já que tantos estímulos e informações podem
sobrecarregar o sistema de modo a fazê-lo buscar por uma economia
energética (neuroeconomia);
● A urgência no agir, já que nem todo comportamento poderá ser precedido por
um processo de análise longo, tendo em vista o dinamismo da vida e a
necessidade de tomar decisões rápidas;
● A compactação da informação, já que é responsável por um enfoque dado
anterior ao armazenamento da mesma;
● Ausência de significado, que se configura nos seguintes aspectos: a crença
de saber identificar o que o outro está pensando (advém da teoria da mente),
o fato de o pensamento ser moldado pelas experiências passadas e
projeções para o futuro, a capacidade cerebral de construção de padrões e
histórias que refletem no comportamento dentro de novas experiências, a
busca cerebral por simplificar probabilidades e cálculos, o fato do cérebro
preencher, no caso de situações novas ou na falta de informações, a lacuna
com generalizações e estereótipos e sua habilidade de fornecer maior
valoração ao que lhe é familiar (produtor de afeto).
Finalmente, há uma influência inerente aos sistemas: seu caráter confrontativo.
Disputam entre si, gerando o problema da força de vontade, que diz respeito a
capacidade de autocontrole. O T1, enquanto um processamento mais imediato,
produz comportamentos mais intuitivos e automáticos e, quando utilizado no
momento equivocado, pode produzir consequências negativas e disfuncionais. Já o
T2, enquanto um processamento mais demorado e que requer maior gasto de
energia, produz condutas mais racionais e que visam (e na maioria das vezes
produzem) bem estar e satisfação a longo prazo e, quando usado no momento
equivocado, pode produzir sofrimento psíquico a partir do pensar demasiadamente e
perder-se tanto no processo de análise a ponto de não produzir comportamento
algum, possivelmente pela indecisão e pelo receio das consequências.

Força de vontade
A força de vontade, ou capacidade de autocontrole, está diretamente ligada aos
comportamentos autorreguladores e à motivação do indivíduo. Seu funcionamento
diz respeito a uma disputa entre duas forças contrárias. Uma indica que a ação na
qual o sujeito realizará é coerente com seus objetivos e valores, enquanto a outra
leva o indivíduo ao encontro com uma satisfação instantânea, mesmo que não lhe
proporcione benefícios futuramente.
Então, para que o sujeito tenha maior controle de seus desejos, é imprescindível
que seu autocontrole esteja bem desenvolvido. Tal aspecto refere-se à capacidade
de conter comportamentos disfuncionais em determinados contextos, que trarão
consequências desagradáveis a longo prazo. Para isso, o indivíduo deve realizar um
esforço e estar atento, com a finalidade de não agir impulsivamente e se arrepender
posteriormente.
Além disso, as regiões do encéfalo responsáveis pela reflexão das consequências
geradas por uma atitude são as áreas pré-frontais, que analisam as possibilidades,
com o intuito de que o sujeito possa alcançar seu objetivo tendo refletido sobre as
consequências, ou seja, para não agir impulsivamente.
Ademais, o processo competitivo dos circuitos cerebrais irá definir qual ação será
executada, e fatores externos e internos vão influenciar a ativação de um dos
processamentos, para poder definir qual está sendo o processamento dominante.
Então, o processamento das informações vai depender das circunstâncias para
notar qual a tendência de escolha do sujeito: ir para um lado mais deliberativo ou
para um lado mais impulsivo.
Outro aspecto a ser levado em consideração é a tendência que o ser humano tem
de valorizar gratificações imediatas. As atitudes que trarão uma recompensa no
presente atraem mais os indivíduos, quando comparadas com recompensas que
demandam mais tempo. Sendo assim, essa inclinação que o sujeito tem a optar por
escolhas que o satisfaça no aqui e agora, evidencia um comportamento impulsivo.
A procrastinação também é um aspecto importante dentro desta temática, que
refere-se a uma tendência do sujeito a postergar tarefas que deveriam ser
executadas em um futuro próximo. O sujeito as negligencia pois essas atividades
são vistas como desinteressantes e complexas, então não as realiza, focando em
alguma outra atividade que o proporcione gratificação imediata.
Em condições de sobrecarga, esgotamento de recursos cognitivos, emoções
negativas e pressão temporal, os impulsos, ou seja, os processamentos T1, são
predominantes. Fatores como estresse, ansiedade, raiva, depressão e doenças
crônicas também podem gerar comportamentos impulsivos. Sendo assim, o
indivíduo não consegue resistir a tentações fortes, podendo apresentar problemas
na sua força de vontade quando apresenta questões como a própria impulsividade e
carência de habilidades autorreguladoras.
No processamento T2, há um maior gasto de energia, o que indica a necessidade
de fonte energética para sua manutenção. Logo, para o indivíduo exercer seu
autocontrole, ele precisa ter um bom nível de energia disponível circulante, que seria
a glicose. Tal fato indica que, quanto mais baixo é o nível de glicose circulando no
cérebro, mais esgotamento cognitivo e fadiga de decisão o sujeito apresentará.
Portanto, com baixa energia, o cérebro ativará o modo autônomo, fazendo com que
o indivíduo cometa atos impulsivos.

Crenças
Crenças são ideias e conceitos rígidos, absolutistas e resistentes a mudanças,
formadas principalmente durante a infância e adolescência que ditam a forma de
enxergar a si, as outras pessoas e ao mundo. Elas são responsáveis por
fundamentar opiniões, pensamentos, comportamentos e estilo de vida das pessoas,
podendo ser divididas, segundo a TCC, em crenças centrais e intermediárias. A
abordagem psicoterápica que se propõe a analisar e trabalhar diretamente com
esses conceitos é a terapia cognitivo-comportamental, para ela, as crenças
produzem pensamentos automáticos que são a base de transtornos, logo
modificando-se a crença o paciente consegue lidar melhor com suas questões.
As crenças nucleares vão fundamentar um conjunto intermediário de crenças:
atitudes, regras e pressupostos. Exemplo de como elas se articulam:
● Atitude: "É perigoso interagir com as pessoas pois elas não vão gostar de
mim."
● Regras: "Não vou interagir com as pessoas."
● Pressuposto: "Se eu interagir com as pessoas elas não vão gostar de mim,
logo vou me afastar para que elas não me machuquem."
Além de influenciarem nas crenças intermediárias, as crenças centrais
produzem pensamentos automáticos e são retroalimentadas por eles.
A partir disso, é possível entender que o processamento de um informação será
diretamente influenciado pelas crenças de um indivíduo uma vez que, quando
disfuncionais, os pensamentos podem passar por filtros irreais chamados de Erros
Cognitivos, como o da catastrofização, supergeneralização e pensamento
absolutista. Esses erros impedem que se faça uma avaliação real das experiências,
sempre supondo o pior. Desta forma, com uma lente distorcida a informação é
traduzida para cada pessoa de uma forma diferente, justificando diversos
comportamentos possíveis.
Os pensamentos automáticos são oriundos do processamento T1, primitivo,
impulsivo e automático e por isso está mais suscetível a erros por demandar menor
esforço de racionalização. Já no processo terapêutico da terapia
cognitivo-comportamental, o paciente é estimulado a exercitar o T2, que conta com
uma execução mais consciente e respostas menos tendenciosas.
Esquemas
Os esquemas são os conhecimentos generalizados que possuímos sobre
algo ou alguém. Como características, podemos destacar seu caráter evocativo,
uma vez que podem evocar uma memória, uma expectativa, uma regra etc, e
funcional, uma vez que economizam processamento, sendo uma via rápida e prática
de organização. Assim, a principal função dos esquemas é de nos ajudar a significar
a nossa experiência e a compreender o meio que estamos inseridos.
O psicólogo estadunidense Jeffrey Young, em meados dos anos 80, criou a
Terapia do Esquema, que objetivou aprofundar os estudos sobre esquemas e sobre
a personalidade. Em sua teoria, Jeffrey quis realizar uma extensão da Terapia
Cognitivo-Comportamental utilizando referências da Psicanálise, da Gestalt, das
teorias psicodinâmicas, da Teoria do Apego etc.
De forma resumida, Jeffrey passou a defender que os esquemas iniciais
desadaptativos que criamos em nossa infância e adolescência podem trazer
impactos negativos e sofrimento ao longo de nossas vidas. Os esquemas iniciais
desadaptativos (EIDs) são “padrões cognitivos e emocionais relacionados a
representações de si e dos outros que se desenvolvem cedo na vida e se repetem
ao longo dela, trazendo sofrimento e prejuízo em diversos contextos” (Halperin &
Carneiro, 2016, p. 39). Esses esquemas são originados a partir de três fatores: das
necessidades emocionais básicas, ou seja, se o indivíduo recebeu condições
emocionais suficientes (como estabelecimento de vínculo, apego seguro, afeto,
autonomia); experiências de vida precoces, ou seja, se a pessoa passou por alguma
situação adversa quando criança, como violência ou maus-tratos; e temperamento
emocional, que está ligado à um fator genético que determina o quanto de
necessidades básicas emocionais a pessoa vai necessitar.
Existem cinco tipos de domínio de Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIDs).
O de desconexão e rejeição diz respeito a sentimentos de incapacidade de receber
o que precisa para satisfazer necessidades relacionadas à segurança, carinho,
estabilidade e aceitação. As famílias de origem deste domínio são pertencentes de
ambientes solitários, abusivos, frios e de pouco ou nenhum vínculo. Esse domínio
engloba os esquemas de abandono, desconfiança/abuso, privação emocional,
defectividade/vergonha e isolamento social/alienação.
O domínio de autonomia e desempenho prejudicados referem-se às
expectativas e dificuldades que o indivíduo tem em funcionar independentemente de
pais, amigos ou pessoas próximas. Está relacionado com famílias intrusivas,
protetoras excessivamente e que não estimulam autonomia. Inclui esquemas de
dependência/incompetência, vulnerabilidade ao dano ou à doença,
emaranhamento/self subdesenvolvido e fracasso.
O domínio de limites prejudicados consiste na ausência de limites adequados
e realistas em relação à autodisciplina e respeito aos direitos de terceiros. É
marcado por famílias típicas indulgentes e permissivas, preconizando-se o senso de
cooperação e respeito ao próximo, tal como carência de comprometimento com
metas e objetivos. Engloba esquemas de arrogo/grandiosidade e
autocontrole/autodisciplina insuficientes.
No domínio de orientação para o outro enfatiza-se em excesso às
necessidades do outro, por vezes, deixando de suprir as suas próprias. Segundo
Seixas (2014), com famílias de origem na aceitação condicional, necessidades
emocionais dos cuidadores e status são sinônimos de aprovação e afeto, sendo
negligenciado as necessidades e sentimentos da criança. Esquemas característicos
são de subjugação, autossacrifício e busca de aprovação/reconhecimento.
O domínio de supervigilância e inibição diz respeito a supressão dos
sentimentos e emoções, do bloqueio das autoexpressões e do relaxamento. Envolve
realizar esforço exacerbado, seguindo regras rígidas autoimpostas com o objetivo de
alcançar um alto desempenho, podendo causar prejuízo na própria saúde. A família
nesse domínio é caracterizada pela supressão e dominação dos sentimentos onde
os padrões de desempenho têm prioridade em atividades lúdicas ou momentos de
prazer. Inclui esquemas de negativismo/pessimismo, inibição emocional, padrões
inflexíveis/postura crítica exagerada e postura punitiva.
Por fim, conclui-se que os esquemas de uma pessoa vão definir a forma como
ela processa informações e interpreta o mundo, estabelecendo como se dará sua
relação consigo mesma e com o ambiente que vive.
Por isso, a Terapia do Esquema é muito importante uma vez que busca ajudar
o paciente a ter suas necessidades emocionais básicas supridas e a identificar seus
esquemas desadaptativos, se libertar deles e substituí-los por esquemas mais
funcionais.

Emoções
A palavra emoção é derivada do latim emovere - mover, pôr em movimento;
mover de dentro para fora. Entretanto, para além do conceito etimológico, a emoção
carrega outras características que ajudam a compreender melhor todo seu
significado. Antes de encarar alguns fatos sobre a emoção, é importante afirmar que,
apesar de toda bagagem evolutiva, as nossas emoções nos representam como
pessoas; quando uma emoção é invalidada ou repreendida, o indivíduo se sente
invalidado.
Dentro da perspectiva evolucionista, a emoção é resultado de um comportamento
que tem sido repetido ao longo de inúmeras gerações para auxiliar,
fundamentalmente, na adaptação e sobrevivência das espécies. Essa definição não
deve ser descartada, até porque as emoções são processos fisiológicos, se
manifestam no corpo e são incontroláveis. Além disso, apresentam duas funções
básicas: fornecer estratégias de manutenção da vida e adaptação ao meio ambiente.
Sendo assim, é fácil notar sua objetividade; emoções tem início e fim, são originárias
em uma causa, em um objeto. Por isso, são de curta duração.
Tendo em vista seu fator regulador, buscando adaptação e sobrevivência, as
emoções básicas - ou inatas - apresentam também funções básicas. O medo:
preservação de vida; a tristeza: reflexão e ativação do processo metacognição,
indica necessidade de cuidado e atenção. O nojo: necessidade de evitarmos
contaminação ou danos à saúde, pode gerar comportamentos de rejeição/repulsa; A
raiva: preservação do self, estabelecimento de limites. A alegria: expressa
acontecimentos desejáveis ao sujeito. O amor: manutenção de vínculos afetivos,
responsável pelo surgimento de empatia e ligado ao apego (importante nos
primeiros anos de vida).
As emoções inatas, ou até mesmo aquelas aprendidas graças ao contato e
interação com o meio, não são consideradas positivas ou negativas. Cada uma
expressa uma função, e buscamos regularizar, normatizar e validar, logo, a
necessidade de rotular como negativo ou positivo vai contra a tentativa de
entendimento e validação emocional.
Se as emoções representam funções específicas, envolvendo cognitividade,
expressão social, inatismo, então qual é a diferença entre emoção e sentimento?
Enquanto emoção são observáveis e universais, o sentimento é a representação
específica de cada emoção básica. Ou seja, envolve subjetividade, não são
observáveis e nem se associam a nenhuma causa imediata. Os sentimentos surgem
quando tomamos consciência da nossa emoção.
Enquanto os sentimentos são de menor intensidade de expressão, uma das
características das emoções é o fato da amplificação ou energização de
comportamentos. Outra qualidade de expressão é o leque de opções; as emoções
são expressadas de inúmeras formas (esportes, músicas, poesia, arte). Assim,
podem ser enxergadas como agentes motivadores: pessoas emocionadas se
comportam de maneira altamente eficaz em direção a fonte de emoção ou em
direção oposta, indo contra a mesma, e isso depende da emoção. Nesse sentido, é
importante destacar que os mecanismos de defesa e proteção podem esconder a
emoção que a pessoa experimenta, e isso acontece por vários fatores, incluindo o
não entendimento daquela emoção específica.
Ante ao exposto é de extrema importância tentar entender os componentes das
emoções, ou seja, seus aspectos (fisiológicos, comportamentais, subjetivos e
cognitivos). Os aspectos fisiológicos dizem que as emoções expressam-se
fisicamente no corpo através de atividade motora interna (batimento cardíacos mais
rápidos, pupilas dilatadas, arrepios, etc); objetivo de permitir que as reações
comportamentais possam se despertar de forma adequada; há envolvimento neural
(eixo HPA) e hormonal; as respostas fisiológicas são excelentes indicadores da
intensidade de uma emoção, e quanto mais intensa for uma emoção, maior será a
atividade do sistema nervoso simpático e também do eixo HPA.
Os aspectos comportamentais são públicos, ou seja, todos podem observar.
Expressões faciais são vistas como principal componente comportamental de uma
emoção. O aumento de atividade locomotora pode ser positiva (em direção ao
estímulo emocional; aproximação) ou negativa (em direção oposta ao estímulo
emocional; fuga). Há também a ausência de atividade locomotora (congelamento).
Faz parte a comunicação, incluindo a paralinguagem, e comunicação não-verbal. A
paralinguagem remete a uma série de ocorrências na linguagem que não faz parte
da língua; variações de volume da fala e intensidade, as pausas, risos, suspiros,
pigarrear. A comunicação não-verbal envolve posturas corporais e padrões culturais
diversos para expressar luto, cumprimento, etc. Os aspectos comportamentais junta
o corpo, a aparência, a face e a paralinguagem. A percepção da atitude de uma
pessoa seria influenciada em 7% pelo conteúdo verbal, 38% pelo tom de voz e 55%
pela face.
Os aspectos subjetivos envolvem sentimentos - conceito mais subjetivo da
emoção, que consiste na vivência particular ou individual da emoção. É de difícil
quantificação. Os aspectos cognitivos contribuem para a tomada de decisões e
escolhas, além de auxiliar no processo de aprendizagem. O aspecto subjetivo
aciona o cognitivo.
Os componentes das emoções não somente ajudam a entender todo o processo
emocional, pois algumas teorias sobre o processo de consciência e da reação e um
estímulo emocional também tentam embasar todo o conceito de emoção. A teoria do
senso comum afirma que a reação a um estímulo emocional ocorre após a pessoa
tomar consciência da emoção que está sentindo. Acontece o seguinte: estímulo
emocional → sentimento da emoção → reação emocional. Já a teoria de James e
Lange declara que primeiro reagimos (fisiologicamente e comportamentalmente) ao
estímulo emocional. O sentimento dessa emoção se dá porque tomamos
consciência dessas respostas emocionais. Estímulo emocional → reação emocional
→ sentimento da emoção. Entretanto, a existência de relações fisiológicos parecidas
ou iguais, a possível ausência de respostas comportamentais (alguém tetraplégico
não pode correr ao vivenciar uma situação de perigo, logo, não sentiria medo) e a
presença de comportamentos associados a uma emoção não produzem
necessariamente a emoção (não ficamos tristes ao cortamos uma cebola, por
exemplo) foram críticas feitas a essa teoria.
A teoria de Cannon e Bard diz que a consciência da emoção e as reações
emocionais ocorrem ao mesmo tempo. Ou seja, não existe relação de causa e efeito
entre razão emocional e a consciência da emoção entre esses dois eventos, uma
vez que elas correm em paralelo e ao mesmo tempo.
A teoria da avaliação, de Richard Lazarus, afirma que a interpretação de uma
situação constitui uma influência marcante para a emoção vivenciada. A avaliação
seria a apreciação mental do dano ou benefício potencial de uma situação. As
pessoas muito intensas emocionalmente o são por causa de suas interpretações. A
cognição é uma condição necessária e suficiente da emoção. As emoções podem
ser deflagradas consciente ou inconscientemente, mas é ressaltado o papel dos
processos da consciência. Admite que o cérebro processa e reage a grandes
quantidades de informação sem nossa percepção consciente.
A teoria do inconsciente cognitivo, por Robert Zajonc, acredita que a emoção tem
primazia e é independente da cognição. Assim, contraria a teoria da avaliação.
Argumenta ainda que nossas reações emocionais são mais rápidas que as
avaliações que processamos. A simples exposição a um estímulo é suficiente para
criar preferências (informações subliminares).
A teoria do novo inconsciente diz que a maior parte do processamento realizado
pelo cérebro humano é inconsciente e só temos acesso consciente a um resumo
editado e nada fidedigno dessas informações. Escanear o cérebro de sujeitos, medir
variações a ondas cerebrais, registrar resposta eletrogalvancia de pele ou expor
estímulos durante centésimos de segundos é possível para estudar seus efeitos no
comportamento. Essa expressão foi lançada pelo psicólogo John Kihlstrom, em
1987. Em 2005 foi lançada a principal publicação que cunhou o termo. A ideia
central de que o cérebro efetua muitas operações complexas cujo resultado pode se
transformar em conteúdo consciente, embora não tenhamos acesso às operações
que originam o conteúdo. Envolve uma quantidade imensa de circuitos neurais que
se encarregam do trabalho rotineiro pesado, deixando o consciente livre para focar
em problemas. O insight implícito participa desse processo, e consiste na extração
de regras ou padrões mais elevados que relacionam dois ou mais eventos ou
objetos. Ocorre sem intenção ou experiência por parte do sujeito e é manifestado no
comportamento, de forma observável e sem seu conhecimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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psicoterapia. 1 ed. Sinopsys Editora, 2018.

COSENZA, R. M. Porque não somos racionais. Ed. Artmed. Cap 4, 2016.

BECK, Judith S. Terapia cognitivo-comportamental: teoria e prática. 2 ed. Porto


Alegre: Artmed, 2013.
KORTELING, J.E. (Hans) & Brouwer, Anne-Marie & Toet, Alexander. (2018). A
Neural Network Framework for Cognitive Bias. Frontiers in Psychology. 9. 1561.
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YOUNG, J. E., KLOSKO, J. S., & WEISHAAR, M. E. (2008). Terapia do Esquemas:


guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed.

REIS, Marina. Aprendendo Terapia do Esquema com This is Us. [S. l.], 25 abr. 2021.
Disponível em: Rollo Camargo dos Reis. Acesso em: 30 ago. 2022.

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