EXPOSIÇÃO SOBRE A MULHER AMADA NA LÍRICA CAMONIANA
A representação da figura feminina na lírica camoniana revela-se e assume
diferentes formas, tendo em conta as vertentes e as diversas partes que integram a sua obra. Assim, por um lado, nos sonetos, Camões retrata uma mulher de beleza física e psicológica inimagináveis, de olhos azuis, cabelos louros e pele clara, atribuindo-lhe, para além disso, uma superioridade moral, correspondendo assim ao ideal de Petrarca, o grande humanista italiano, de que é exemplo o poema “Um mover d’olhos brando e piedoso”. Por outro lado, em “Aquela cativa”, composição que exemplifica marcas da corrente tradicional, o poeta afasta-se desse ideal feminino, na medida em que confessa o seu amor por uma mulher de pele negra, olhos e cabelos escuros, mas que considera igualmente bela e distinta de todas as outras mulheres: “Pretos os cabelos, onde o povo vão perde opinião que os louros são belos” e “Pretidão de Amor, tão doce a figura, que a neve lhe jura que trocara a cor”. Em ambas as situações, no entanto, o poeta reconhece o poder da figura feminina em determinar a felicidade ou, pelo contrário, o sofrimento do amante.