O CLUBE DO BANG BANG (Greg Marinovich e João Silva)
- Você sabe como eu consegui me firmar como fotógrafo? Eu estava a
postos para documentar a prisão de um homem. Depois de um tempo, a porta se abriu com um puxão e de lá saiu um homem alto, com um cachecol enrolado na cabeça como um turbante, e empunhando uma vassoura. Saiu correndo. Tinha os olhos arregalados, desvairados, cravados nos meus... Os caras e eu disparamos atrás dele, uma matilha caçando a presa aterrorizada. Depois de uma dezena de passos, ele caiu. Não vi porque nem como. Na mesma hora os agressores o fecharam num circulo compacto e silencioso, esfaqueando, cortando, batendo. Meus ouvidos registraram o som escorregadio e sussurrante de aço penetrando na carne, o baque sólido dos pesados bastões de combate esmagando os ossos do crânio. ...Eu estava no círculo de assassinos, disparando com uma grande angular a um braço de distância... conferia o tempo todo as indicações de luz, trocava de câmera e avançava o filme, um fotograma atrás do outro. Eu tinha consciência tanto do que fazia como fotógrafo, quanto do cheiro forte de sangue fresco e do suor fedorento dos homens a meu lado. ... Embora chocado, eu sabia da importância das fotos. Palavra alguma poderia descrever tão claramente o que estava acontecendo.... Também estava ciente do seu valor comercial, claro... Era a chance de eu deixar minha marca no mundo do fotojornalismo e, esperava, de abandonar as fileiras dos freelancers perpetuamente sem dinheiro. ... Pude fazer isso por causa da morte selvagem de um homem.