Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
VISSUNGO - KILOMBOLOKO
1 edição
Rio de Janeiro
2019
Crônica do pré Vissungo 5
Zé Maria Nunes Pereira 9
Sararamiolo, o pré vissungo 13
Vissungo recém-nascido 17
Aniceto e Clementina, cadê vocês? 31
Dançando no UNO Center, Wien 35
Vissungo afro beat 39
O Vissungo seminal 41
Vissungo num Kilombo real 43
Na Lapa de Makemba 45
Chico Rei, o filme 47
KILOMBOLOKO! 59
KILOMBOLOKO! full álbum 63
Vissungo - Kilomboloko
Crônica do pré Vissungo
E o ego do artista solo se desfaz
Eu, Spirito Santo, quem sabe talvez, sem querer, o pai
(ou a mãe) criador (a) do filho sem mãe (ou sem pai) é
que vos diz:
A cabeça lembra, vagamente que foi como a visão de um
portão de ferro rangendo e se abrindo, num dia de sol
forte: um primeiro passo do pós-prisão, o medo de olhar
para trás e virar estátua de sal. Bem isso: Olhar para trás,
sem óculos escuros, sem filtros solares? Nunca mais.
Dos anos trancafiado como preso político da Ditadura
Militar lembro apenas vagamente. Flashs esparsos, to-
dos sem som. Nessa saída de brisa quente na cara, cha-
pada no sol a bordo da traineira que me levava da Ilha
Grande para o continente, brilhava de ofuscar a decisão
de nunca mais cair em arapucas de militância política, eu
quase ex terrorista regenerado (quase fui assassinado!)
ainda aos 23 anos.
_”Eu era um artista, porra! Já fazia música, teatro, pinta-
va, desenhava! Por que não assumir isso?”
Antes da prisão em 10 de janeiro e 1969 um curtíssimo,
embora muito bem-sucedido início de carreira envolvia
importantes prêmios num festival estudantil da TV Glo-
bo, já um gigante da mídia no período. Cantor da melhor
performance, ganhei também o prêmio de melhor intér-
prete masculino, cantando com grande orquestra, com
arranjo do grande Lyrio Panicali, regida pelo “fera” Ma-
rio Tavares.
5
Spirito Santo
6
Vissungo - Kilomboloko
7
Spirito Santo
8
Vissungo - Kilomboloko
9
Spirito Santo
Mas ele será sempre reconhecido por todos pelo seu in-
cansável trabalho de intelectual militante pela descoloni-
zação e a libertação da África, ainda envolta em sangren-
tas guerras naquela época em que tive o enorme prazer
de conhecê-lo
Sem nenhuma dúvida, tudo que sou hoje, esta ligação
com a pesquisa da cultura do negro no Brasil, a escrita,
a música, tudo dessas mesmas coisas, o kissange e a ma-
rimba dos quais me tornei mestre fazedor e ensinador,
10
Vissungo - Kilomboloko
Minha mãe
tu me ensinaste a esperar
como esperaste paciente nas horas difíceis
Mas em mim, a vida matou esta mística espe-
rança
Eu não espero. Sou aquele por quem se esperar
5 José Maria Nunes Pereira Conceição foi um dos fundadores, em 1973,
do Centro de Estudos Afro-Asiáticos (CEAA) da Faculdade Candido Mendes,
no Rio de Janeiro, uma instituição de referência para assuntos ligados à África e
suas relações com o Brasil. Nascido em São Luis do Maranhão (1937), estudou
em Portugal (1947-1962) te participou dos movimentos de libertação das colô-
nias portuguesas na África.
11
Spirito Santo
12
Vissungo - Kilomboloko
13
Spirito Santo
14
Vissungo - Kilomboloko
Sararamiolo
15
Vissungo - Kilomboloko
Vissungo recém-nascido
Música Brasileira Negra, MPB branca7
Em 1975, em plenos anos de chumbo, foi criado no Rio de
Janeiro o grupo musical batizado como Vissungo.
Em 1974, ainda sem nome definido, o grupo teve como
antecedentes o trabalho do trio formado por Spirito San-
to (composição, vocais, violão e percussão), seu irmão
Lula Espírito Santo (contrabaixo, vocais, bandolim, cava-
quinho e vocal) e Roosevelt da Silva (Violão).
É já desta fase a adoção do principal elemento da proposta
do grupo, aquele que o caracteriza definitivamente:
a pesquisa da cultura negra do Brasil, e a tentativa de
construir, a partir desta pesquisa, um conceito de música
negra brasileiro novo, moderno. Pura pretensão de
crioulos suburbanos a proposta tinha um jeito de para-
doxo: Como assim “construir um conceito de música ne-
gra “novo”... logo no Brasil? 8
Contada assim, sem nuances, parecia ser uma história,
absolutamente banal: Um grupo de jovens decide fazer
música em grupo e elege um estilo, inspirado no que lhes
parecia ser uma novidade curiosa, um nicho inusitado no
mercado.
17
Spirito Santo
18
Vissungo - Kilomboloko
19
Spirito Santo
10 “A Praia do Pinto foi uma das mais conhecidas favelas de sua épo-
ca. Próxima à Lagoa Rodrigo de Freitas e ao Clube de Regatas do Flamengo,
surgiu no início da década de 1940, com o arrendamento do terreno da Chá-
cara do Céu, na Gávea. Com esse arrendamento, os moradores desse local
migraram para o núcleo que se tornaria a favela, que chegou a ser uma das
maiores do Rio de Janeiro.
11 Nessa exceção, estamos nos referindo, diretamente á Johnny Alf,
por exemplo.
20
Vissungo - Kilomboloko
21
Spirito Santo
22
Vissungo - Kilomboloko
23
Spirito Santo
24
Vissungo - Kilomboloko
25
Spirito Santo
26
Vissungo - Kilomboloko
27
Spirito Santo
28
Vissungo - Kilomboloko
29
Spirito Santo
30
Vissungo - Kilomboloko
31
Spirito Santo
32
Vissungo - Kilomboloko
33
Spirito Santo
34
Vissungo - Kilomboloko
35
Spirito Santo
36
Vissungo - Kilomboloko
37
Spirito Santo
38
Vissungo - Kilomboloko
39
Spirito Santo
40
Vissungo - Kilomboloko
O Vissungo seminal.
A adolescência da banda, livro do Aires da Mata, a peça
teatral, os shows em São Paulo
O Vissungo, propriamente não nasceu, diretamente do
Sararamiôlo.
A leitura apaixonada do clássico da etnologia “O Negro
no Garimpo em Minas Gerais”, Inspiração fundamental
do gosto pessoal pela pesquisa etnomusicologica, en-
sejando o projeto de fazer uma adaptação teatral (meu
primeiro texto no ramo, escrito à duas mãos com o ator
Eugênio Santos), é que foi o start de tudo.
41
Spirito Santo
42
Vissungo - Kilomboloko
43
Spirito Santo
44
Vissungo - Kilomboloko
Na Lapa de Makemba
A pesquisa-mãe
Janeiro de 2009. Diamantina. Roteiro parcial entre São
João da Chapada, Milho Verde e Quartel de Indaiá, Minas
Gerais.
Inesquecível viagem da - por enquanto – última coleta
de campo deste autor em sua eterna pesquisa sobre os
Vissungos do Tijuco, contexto e repertório de música
africana, angolana trazida por pessoas sequestradas, de
etnias em geral ovimbundo e Kimbundo para a região, a
partir da descoberta de ouro (no Serro Frio) e, posterior-
mente diamantes (em Diamantina), no século 18.
A pesquisa, iniciada no campo em 1981 (apenas 2 anos
após a coleta no local feita pelo etnomusicólogo austría-
co Gerhard Kubik) já conta com quase 40 anos de mate-
rial, com imagens e áudios colhidos no local - acrescido
de material recolhido por Luiz Heitor C. De Azevedo em
1944, gentilmente cedido pela Escola Nacional de Mú-
sica/UFRJ (gratidão à Andrea Albuquerque Adour e Sa-
muel Araújo)
A pesquisa em curso sugere, além de dados transatlân-
ticos fundamentais, a coleta suplementar de elementos
resilientes da cultura angolana muito diversos, além
da música, preservados na memória da população,
na arquitetura do século 18 e até mesmo na geografia
(grutas de suporte à habitação e mineração clandestina
de quilombolas desde o século 18) e na estética de
manifestações culturais locais.
45
Spirito Santo
46
Vissungo - Kilomboloko
No que respondo:
“O filme foi uma saga, mas foi concluído sim e chegou a
ser lançado na íntegra aqui na internet! Tinha aqui comi-
go uma cópia em CD, mas nunca tive coragem de com-
partilhar. É que este filme para mim é sagrado. É um dos
meus ritos de passagem para me tornar o que sou. Sei
quase tudo sobre a história deste filme.
É que no intervalo entre o ‘sequestro‘ do filme, citado e a
sua finalização fui convocado pela última vez pelo Walter
Lima Júnior, eu e meu parceiro de Vissungo, o Samuka.
Walter estava completamente só com seu sonhado fil-
47
Spirito Santo
48
Vissungo - Kilomboloko
49
Spirito Santo
50
Vissungo - Kilomboloko
51
Spirito Santo
52
Vissungo - Kilomboloko
53
Spirito Santo
54
Vissungo - Kilomboloko
55
Spirito Santo
56
Vissungo - Kilomboloko
57
Spirito Santo
58
Vissungo - Kilomboloko
KILOMBOLOKO!
O álbum, o disco, o CD, o ingresso na Matrix sonora
O Vissungo é, pois, um projeto musical que concebeu
seu som a partir de muita pesquisa e experimentalismo,
como você viu por aqui, em muitos links abaixo e acima,
caso nunca tenha ouvido falar de nós.
Fomos assim, com o tempo nos especializando na mú-
sica africana que julgamos dizer mais respeito à cultura
brasileira geral, a música da Diáspora africana no Brasil25,
fazendo sempre alguma releitura que torne esta músi-
ca adequada à realidade dos sons do que chamamos de
música popular (pop), moderna, urbana, a música das
mídias do mundo inteiro ou seja: sem concessões ao fol-
clorismo vão, ansiando a modernidade.
O resultado, na linguagem simples do Mercado, pode
ser caracterizado como algo entre o Afro-beat e a Black
Music, só que avançamos sem grandes compromissos
com os modismos do mercado, construindo uma música
muito particular e original, que nunca se adequou muito
bem aos caixotinhos desse pragmático shopping center
em que se transformou à indústria da música no Brasil.
Acreditamos à esta altura que esta é, para o bem e para
o mal, a nossa marca e legado
Entre outras, esta talvez seja a razão de, por mais incrível
que pareça, com uma carreira que já dura 44 anos (1975
a 2019) com uma rica estada na Europa, nunca tenhamos
59
Spirito Santo
60
Vissungo - Kilomboloko
61
Spirito Santo
62
Vissungo - Kilomboloko
KILOMBOLOKO!
Full álbum VISSUNGO
Em KILOMBOLOKO! gravamos ou remasterizamos 11
exemplos da nossa extensa e impressionante trajetória
musical, expressando a modernidade estranha de nossa
proposta que, agora registrada, por certo se eternizará:
Músicas e performances
63
Spirito Santo
64
Vissungo - Kilomboloko
65
Spirito Santo
7- KILOMBOLOKO – Funk/Samba
Autor: Spirito Santo
(Introdução) Cavaquinho e voz: Lula Espirito Santo
Vozes: Spirito Santo e Samuel de Jesus
Base/programação: Brenno Dub Rezende
Baixo: Joaco Vaccari (artista convidado)
Guitarra :Reinaldo Amâncio
Côro “Feminino”: Lula Espirito Santo, Spirito Santo e
Samuel de Jesus
66
Vissungo - Kilomboloko
67
Spirito Santo
68
Vissungo - Kilomboloko
69