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VIOLENCIAS CONTRA PERSONAGENS TRAVESTIS NA LITERATURA BRASILEIRA DO SECULO XX VIOLENCES AGAINST TRANSVESTITE CHARACTERS IN BRAZILIAN LITERATURE OF THE TWENTIETH CENTURY Carlos Eduardo Albuquerque Fernandes * Restrmo: O presente trabalho discute sobre a representacto da violéncia na canstrucho de personagens centrais travestis na literatura brasileira do século XX. Faremos mencdo a alatins contos ¢ romances brasleiros do século XX. para diseutira condicao de subalter~ niidade ¢ abjegao dessas protagonist a pasts das violéucias que sofiem, Nos bascams cu pelo menos tues verteatesteoricas para a andlise em questio: estudos antropologicos sobre a experiencia da travesilidade no Brasil sobretudo em Silva (2007), Benedetti (2007) e Kulick (2008), os estudos culturais e de genero, a partir de Butler (2010) e Spivak (2010), bem como a partir dos estudos litearios de Femandes (2015) e Silva (2010). O objetive & chegar a um argimento critica sobre a recorrente sitiagao de subalter- nidade das protagonistas travestis na literatura brasileira, corroborando uma possivel relacto de mimetizacao ou de realismo nessa faceta da literatura homoer6tica com o que se veifica no amago de sociedades patriarcais e heteronormativas Palavras-chave: Personagens travestis: discriminacAo: literatura brasileira; realismo. Abstract: This paper argues about the representation of violence in the construction of transvestite central characters in brazilian literature of the twentieth century. We will mention some brazilian tales and novels of the twentieth century to discuss the condition of subordination and abjection ofthese protagonists from the violence they suffer. We based on at leas tree theoretical aspects for the analysis in question: anthropological studies on the experience of transvestite in Brazil, especially in Silva (2007), Benedetti (2007) and Kulick (2008). eultural and gender studies from Butler (2010) and Spivak (2010). as well as from the literary studies of Fernandes (2015) and Silva (2010). This study aims at pointing out a critical argument ou a recurrent situation of abjection and subaltemity in Brazilian literature transvestite characters, which corroborates ether a mimetization or a realistic relation in homoc~ rotic literature. In addition, these very likely relations before mentioned are verified in the core of patriarchal and heteronormative society Keywords: Transvestite characters; Discrimination; Brazilian literanare: Realism, 1 Doutor em Levas pela Universidade Federal da Paraiba. Mestre em Literatura pelo Programa de PSs-Graduagdo em Literatura @ Interultualidade da Universidade Estadoa do Paraiba, Graduado em Letras pela mesma instuio, Professor Adjunto da Universidade Federal ‘Rural de Pernambuco. Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 134 Introdugao A temitica da violéneia contra as minorias sexuais deve ser tratada de forma interdiseiplinar, dado que uma problematica social e cultural ampla e relevante. No ambito dos estudos literaios, tomou-se costumeiro encontrar o aspecto de deniincia e de revelagao de agruras softidas contra essas minorias, seja no ambito da construgao das personagens, seja muma reflexo mais ampla do mercado editorial envolvendo autoria, oportunidades, espaco de divulgacao e resgate dos textos. Parece ser um. consenso que a subalternidade de determinados grupos niio-hegeménicos tenha sido configurada nas literaturas, como um modo de registrar as dores, as injustigas e as desigualdades das subjetividades margem, Nese sentido relacionamos a condigao sociocultural das travestis com a nogao de subaltemni- dade, apontada por Spivak (2010), e de abjecao, apontada por Butler (2010). Segundo Spivak (2010) © sujeito subalterno é aquele pertencente aos grupos dominados e marginalizados que dificilmente tem direito 4 fala, numa visao pés-colonial ¢ feminista: “Se num contexto de produgio colonial, o subaltemo carece de historia endo pode falar, o subalterno feminino est muito mais numa situagdo ruim, [...] Ademais, o fato de ser pobre, negra e mulher merece um triplo castigo” (SPIVAK, 2010 p, 76). A reflexao da critica indiana elucida a auséneia de uma historia escrita pelos subaltenos, indicando uma obscuridade social, econdmica e cultural dos povos subaltemos devido aos efeitos marginalizadores das colonizagdes, sendo ai sugerida também uma relago perversa entre niveis de preconceito sobrepostos - de raga, de sexo e social. O sujeito subaltemo softe pela opressio e impedimento de desfrutar de direitos devido a im- posigdes de um sistema politico, cultural vigente que os exclu, Se levarmos em conta que as relagdes de género e de sexualidade criam identidades de género e corpos subalternos por nao se enquadrarem nas normas binarias de “homem” ¢ “mulher”, “heterossexuais”, “reprodudores”, as travestis encon- tram-se em posigo deveras subalterna, pois sofreram o rechaco cultural ao longo da histéria Spivak (1994) reivindica, inclusive, a recuperagao de vozes suprimidas e obliteradas dos su- baltemos, uma vez que a alteridade deve ser reclamada para que histérias alternativas sejam contadas eos siléncios minimizados no ambito da cultura. E 0 que tentamos também evidenciar por meio desta discussdo: trazer a tona as personagens travestis de nossa literatura, analisando seus modos de cons- trugio ficcional e as relagdes ideolégicas assim instauradas Butler (2010: 2013), por sua vez, constréi uma reflexio a respeito da inteligibilidade dos gé- neros ¢ da abjegiio causada pelo nao reconhecimento do género ou transgresstio do papel tradicional Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 135 dele. Segundo a teorica feminista, antes de nascermos, somos identificados como pertencentes a um. género e essa identificagao com carater de imposigao é também o que define nossa legitimidade de ser considerado humano, Tanto é assim que 0 corpo nao tem uma existéncia significavel anterior 4 marca do sen género, como afirma Le Breton (2008, p. 24): “nunea se viu um corpo: 0 que se vé so homens e mulheres”. Isso ¢ tao forte que apenas nos referimos a alguém por meio da palavra “corpo”, quando esta pessoa ja no possui vida, algo muito comum na linguagem jornalistica ao se referir a cadaveres, encontrados nos casos de noticias e reportagens policiais Por essa légica, quando a genitilia de um feto ou recém-nascido nao apresenta regularida- de binaria (pénis ou vagina), como ocorre com os intersexuais, é preciso intervir para que 0 corpo comesponda a um género inteligivel. Assim, tal correspondéncia obedece ao esquema vagina-mu- Iher-feminino versus pénis-homem-masculino que toma a heterossexualidade como eixo norteador a fornecer certo grau dle coeréncia final naturalizagao ¢ binarismo do género. O caso de Herculine Barbin, divulgado por Foucault (1982), também ¢ tomado como exemplo por Butler (2010), sobre as consequéncias de se adotar ou ser um género nio inteligivel E, assim, verificamos claramente a construgao de uma “ideologia de género”, também evocada por Lauretis (1994), que seria uma imposigao, uma regulamentagao para a formagao de corpos nor mais ou, no dizer de Butler (2013), corpos que importam. E é nesse ponto que a autora investi em discussdes que possibilitem pensar “os corpos que nao importam” para a logica patriarcal, os corpos excluidos, corpos indéceis ou, como ela nomeia, “os corpos abjetos” Esta matriz exchndente pela qual os stijeitos sao formados exige, pois. a produgao sinmulténea de um dominio de seres abjetos, aqueles que ainda nao sao “sujeitos”, mas que formam 0 exterior constitutive relativamente ao dominio do sujeito. O abjeto designa aqui precisamente aquelas zonas “indspitas” e “inabitiveis” da vida social, que so, nao obstante, densamente povoadas por aqueles que nao gozam do status de sujeito [...] (BUTLER, 2013, p. 155) Dessa maneira, os sujeitos que compdem o rol das dissidéncias sexuais, como gays, lésbicas, travestis, transexmais, drag queens, drag kings, bissexuais e muitas outras formas de dizer e ser dife- rentes no campo do género e da sexualidade tém seus corpos considerados como abjetos, evidente- mente com graus e niveis de abjegaio diferenciados, segundo a cultura e as relagdes socioecondmicas que cada subjetividade enfrenta, bem como as subversdes que cada uma evoca Butler (2013) os pereebe como seres abjetos, tendo em vista que eles nao reproduzem a inteli- gibilidade da norma heterosexual e binéria, Assim, mareados pela abjecao, tanto atraem como hor- Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 136 rorizam muitos dos que os cercam, trazendo & tona rejeigdes: “se certas vidas nao se qualificam como vidas, ou, desde o principio nao so concebidas como vida, dentro de certos marcos epistemolégicos, entio, tais vidas nunca se consideraro vividas ou perdidas no sentido pleno de ambas as palavras.” (BUTLER. 2013, p. 63) Vale ressaltar que as visées desconstrucionistas dos binarismos e essencialismos, formuladas por Butler (2010;2013), tornaram-se motores para as pesquisas nos estudos de género e de sexuali- dades. As etnografias que se propuseram a estudar as travestis no Brasil, e as quais recorremos como base tedrica, sempre tomam como ponto de encontro essas mesmas criticas em toro do corpo, do género, do sexo e da abjegtio. Nosso estudo, nesse mesmo panorama, procura observar como esse sistema excludente chega ao espaco literatio, por meio da configuragao das personagens. Nao que as ideias de Judith Butler estejam dissociadas disso, pelo contririo, como aponta Salil (2012, p. 208) “as criticas de Butler (2010) sobre a natureza excludente das categorias de identidade sao titeis na analise da construgao dos estudos literdrios feministas” Dessa maneira, parece ser bastante produtiva a andlise da relagio estabelecida entre a expe- rigncia da travestilidade como subalterna e abjeta na cultura brasileira, Embora em pequena propor go, as travestis encontram um “lugar” na produgao literaria brasileira (FERNANDES & SCHNEI- DER, 2017) — como personagens de romances, novelas e contos ~ motivando discussdes, como a que ora propomos, que buscam investigar quais os fatores determinantes na maneira como as personagens travestis foram configuradas, como as ideologias machistas se perpetuam na cristalizagaio de precon- ceitos inerustados na criagao dessas personagens ¢ também quais as saidas e subversdes que essas promovem na barreira discursiva que insiste em tornar o tema tabu e nefando A literatura homoerstica* no Brasil, segundo Silva (2010) e Fernandes (2015), tem mantido uma relagao de proximidade estilistica com 0 Realismo do século XIX e com a Geragio de 30 do século XX, quando o Regionalismo, apoderando-se de uma vertente Neo-realista, problematizou os conflitos do povo nordestino principalmente. E preciso contextualizar que a definigao de literatura ho- moerdtica que adotamos aqui é a de textos literdtios que centralizam a tematica da diversidade sexual, na mais varindas facetas, ineluindo a manifestagao das travestilidades como subjetividade associada a0 rol das miiltiplas experigncias de modos de vida homoeréticos. Talvez por essa perspectiva (neo)realista, as narrativas brasileiras que possem protagonistas travestis tém representado muitos dos conffitos vividos por esses sujeitos na “vida real”, como a vio~ léncia ea discriminagao, os espancamentos por parte de terceiros que nao aceitam as transformagoes ‘pasar de polémica, estamos empregando ess expresso e ouas -litertura gay, 1sbica,homoeritca,homoaferva~ como forma de ‘grupar textos iteririos que centraizam as relagdes intima, afetivas ou o desejo entre pessoas do mesmo sexo. Sobre caracteizagao da literatura omoerotica, vera discussao promovida por Silva (2010) ¢ Barcells (2006). Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 137 de seus corpos A proposta desse artigo: objetiva analisar a condigao de subalteridade e de abjegao de sujeitos ficcionais travestis na literatura brasileira do século XX, a partir de um recorte de narrativas em que tais personagens aparecem e refletir sobre ou, nos termos de Spivak (2010). “medir os siléncios”. evidenciar a “obscuridade” a que essas personagens esto submetidas. Fazemos mengao a contos ¢ romances brasileiros do século XX, para discutir a violencia softida por essas protagonistas,. Personagens Travestis e Violéncias Um dos aspecto mais comum as personagens travestis de nossa literatura ¢ a aproximagao dessas com a violéncia. Sem excegao, todas as personagens catalogadas por Fernandes & Schneider (2017) sofrem agressao seja fisica ou verbal e, costumeiramente, mortem pelas mios de seus agres- sores ou ainda por suicidio atrelado a tais tensdes. Em sociedade a experiéncia de vida das travestis tem a violéncia como relagao constante, como assegura Kulick (2008) A violéncia o etemo pano de fundo de suas vidas. Apesar de viverem habitualmente em. trajes femininos, usarem cortes de cabelos, maquiagem, acess6rios femininos, a maioria das travestis nao passa por mulher, é evidente, sobretudo, quando se apresentam a luz do dia [..] Elas sabem que, a qualquer momento, podem tomar-se alvo de agressio verbal e/ou violén- cia fisica por parte daqueles que se sentem ofendidos pela simples presenga de travesti [...] (KULICK, 2008. p. 47) A afirmagao de Kulick (2008) enfatiza a recepgao negativa que muitas pessoas possuem das travestis, como se apenas sua presenga incomodasse. E também histérica, no Brasil, a violgncia pra- ticada por policiais contra travestis: torturas, prises coletivas, espancamentos até a morte € tiros & queima roupa sfo apenas algumas das estratégias de repressiio contra as travestis em grandes centros urbanos. Assim como a prostituigdo, a violéncia é tio marcadamente associada as travestis que a literatura brasileira também incorporou ao seu imaginario, na construgao das personagens travestis, desfechos tragicos e situagées de violencia, como veremos mais A frente. As personagens travestis da literatura brasileira refletem esses dados sociais. talvez mais pela evidente recorréncia do elo entre elas ¢ a prostituiggio em nossa sociedade, do que por uma relagao de poder transposta do mundo extemo para o literario. Dai acreditarmos na investida (neo)realista da literatura homoerética. Talvez 3 "Este atigo é um recort e aprofundamento da tese de doutorado Un percurso pelas confieuracées do corpo de personagens rravestis em narrativas brasiletras co sécula xx: 1960-1950, de Fernandes (2016), Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 138 por essa perspectiva, as narrativas brasileiras que possuem protagonistas travestis tém representado 08 conflitos vividos por esses sujeitos na “vida real”, como a violéncia e a discriminagao, os espanca- mentos por parte de terceiros que nao aceitam as transformagées de seus corpos. E essa representacao, a nosso ver, nfo incide, de uma maneira geral, numa postura negativa e mantenedora de estereétipos, mas numa postura tipica do realismo literario, que plasma e problematiza a realidade, nos fazendo refletir sobre ela. ‘Nesse Ambito, podemos citar, como um dos principais exemplos, o romance O travesti, de 1980, de Adelaide Carraro. Nele. encontramos a estéria de Rubens Moraes Barros que se transforma, na travesti Jaqueline e penetra no mundo da prostituigio de rua, Um dos aspectos mais mareantes da narrativa de Carraro (s.d) é a violencia softida contra travestis, por parte de policiais e civis opresso- res, quase sempre resultando em mortes As agressdes so resultantes do profundo preconceito enraizado e das agdes do estado, especial- mente no periodo da ditadura civil e militar ocorrida no Brasil, entre 1964 e 1985, para exterminar as travestis, como prisdes fiutivas sob a desculpa e vadiagem e comportamento imoral. Logo no inicio do romance, Jaqueline é presa e estuprada por um colega de cela. O motivo da pristo, segundo 0 policial esclarece, é o que segue: “[...] Lembre-se que vocé foi detida por vadiagem e em flagrante!” (CARRARO, s.d, p. 20). Essas passagens da obra recordam os relatos de Trevisan (2000), Green (2000) ¢ do Relatério da Comissio Nacional da Verdade (2014) sobre as titicas de regulagao dos corpos travestis que se prostituiam nas ruas paulistas, acusando-os por vadiagem e atentado ao pudor. A morte das personagens travestis no romance também esti associada 4 AIDS e a devastagao de vidas que tal doenga causou direta ¢ indiretamente: direta devido ao contigio ¢ complicagdes da doenga ¢ indireta porque ao associar a figura dos sujeitos homoeréticos 4 AIDS, formaram-se gru- pos de exterminio de gays e travestis, conforme expde Trevisan (2000). Ao todo, oito personagens travestis morrem ao longo do romance, por varias causas. Para sintetizar os dados sobre esse tema, apresentamos o seguinte quadro. Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 139 QUADRO 1 - Personagens travestis e mortes em 0 travesti, de Adelaide Carraro (s.d) Personagens ‘Contexto Gitasae mortas Simone, Marae | Assassinato— | [..] eles apontaram quatro revelveres e atiraram gritando: - Abaixo os Patricia | armas de fogo— | homossextuais, abaixo os travesti € a Aids! [..] Simone tinha levado qua- porcivis | trotiros na barriga. Mara, um tiro na garganta, ¢ Patricia, um na cabesa.e ‘trés no peito, Estava morta com os belos eabelos empapados de sangue. @.25), Rafiela ‘Agressio por | “Vi quando ela enfion a cabega para dentro do carro e o homem abracou civis seu pescogo e gritou: - Corra! O carro sai em toda velocidade arrastando as pemas da Rafacla pelos paralelepipedos [..]” (p.28) Carla AIDS |*= Oque houve coma carla? = Morren, a Aids # engoliu.” (p. 40) Gringa Enforeamento | °[..J i dois homens encapugados arrastarem a Gringa para a igreja aban- poreivis | donada [..] E 0 sino batia. Batia sem parat [..] levando amanrado pelo pescogo em suas cordas o cadaver [..]” (p.68-69) Xuxa Espancamento | “Xuxa com dezoito anos estava morta, a socos. Ela estava nua ¢ no meio porcivis | das peas escancaradas, aquele buraco [.] viem sua mao direita [..J um pedago de qualquer coisa. Peguei naquele pedago de came e vi que era 0 pinto da Xuxa.” (p. 86) ‘Marion Espancamento | “[... cercada por um monte de policiais, foi violentamente espancada a por policiais | pontaspes e chutada por todos os ladas. [..] No fim. dois policiais joga- ram Marion dentro do carro, ja inconsciente.” (p. 104) Fonte: Fernandes & Schneider (2017, p. 129) vasto panorama de personagens mortas no romance, bem como a variagao da causa de morte delas, demonstra uma clara intengao de registro na fiegao do que acontecia na realidade e de sensibi- lizagao do leitor para com o softimento da minoria travesti, Embora citemos o romance de Carraro (1980) como exemplo principal, niio podemos deixar de mencionar outras protagonistas que seguem por caminhos tragicos, como se essa fosse a condigao minimamente natural e esperada para todas elas: Ana Maria, de Uma mulher diferente (2005) é assassinada de um s6 golpe na agressiio; Monique, de O fantasma travesti (1988) é estuprada e agredida até a morte na cadeia: e Joselin, de “O Milagre” € atropelada por um caminhao. A morte também acomete as personagens Lina, do conto “Amor grego” (1975), de Aguinaldo Silva, assassinada em um incéndio, ¢ Georgette (1956), que comete suicidio se jogando em frente ao trem apés fuugir de casa e ser ameacada por seu amante. Vale considerar aqui que Spivak (2010), a0 comentar sobre o papel do suicidio no que se refere aos sujeitos subaltemos indianos, afirma que Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 140 culturalmente, apesar de ser repreensivel, em determinados contextos, 0 “sujeito compreende a in- substancialidade [...] de sua identidade” (p. 99) e comete snicidio como forma de admisséo da prépria subalternidade e por reconhecer que nao ha mais sentido no espaco sociocultural em que esta inseri- do, uma forma evidente de internalizagao da abjegao, no dizer de Butler (2010) Mesmo quando nao foram mortas pelas suas maos ou de terceiros, muitas personagens tra vestis de obras brasileiras do século XX sofrem violéncias fisicas e psicologicas. Um caso especifico dessa representacao se da com a primeira protagonista travesti em narrativa brasileira, que é 0 conto “A grande atragao”, de Raimundo Magalhaes Jr., publicado em 1936. Magalhaes Jr. problematiza os conflitos do protagonista Luigi Bianchi, que, apesar do nome masculino, tem outras identificagdes: “Tudo néle era feminino. A voz, os gestos [...]” (MAGALHAES JR., 1967, p. 206), inclusive a forma de se vestir. Ao desmudar o passado da protagonista, explica-se que ela estudara em Milo e sonhava em ocupar a posigao de soprano em alguma famosa companhia de épera Mas nas éperas quase s6 havia papéis de tenor, de baritono e de baixo. S6.no “Orfeu”, de Glu- ck, havia um bom papel masculino, mas para contralto, sempre representado por mulheres. [Bianchi] Quis interpreti-lo. Nao Ihe deram 0 papel. E o professor declarou — Isso seria uma confissdo vergonhosa para voo8... Mude de vida Pode ser que um dia venhia ser tenor Bianchi, porém, preferiu o travesti. Andou primeiro na varieté. Depois no cit (MAGALHAES JUNIOR, 1967, p. 207-208) A ideia de fiacasso se toma evidente pelo sonho fiustrado de Bianchi, causado pela ordem rigida dos papéis de género em uma sociedade pattiarcal. A organizagao de uma pera, assim como a sociedade, também impée limites baseados na identidade sexual dos individuos de acordo com suas vozes. Destarte, contralto e soprano s4o vozes femininas e, portanto, exclusivamente mulheres deviam executar esses papéis, por suas vozes suaves, agudas, como era a de Bianchi. Este, por ser homem, tinha como opgées cantar como baixo, baritono ou tenor, Contudo, 0 protagonista no se “enquadra” em nenhum dos “moldes pré-estabelecidos” dos papéis mmusicais para as vozes de homens e mulheres: era homem, mas sua voz e seu agir eram femininos e, por isso, o rejeitaram, por ser um sujeito estranho e, portanto, destinado a exclusio naquele contexto de rigidas normas quanto as po- sigdes de sujeitos de suas identidades de género, interferindo na identidade profissional. Passada a violencia psicolégica da rejeigdo por nao ser aceita, passa a integrar a equipe de um circo decadente. onde conhece é se relaciona com o levantador de peso Ramon Betanzo; além de cantar, Luigi também: adestrava cfies que se apresentavam no circo Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * ut Era éle quem dirigia o trabalho dos cachorros, saltando obsticulos, dangando valsas lentas, vestidos como se fossem gente. — Salta, Marieta... Salta! A Cadelinha ladrava e obedecia. Os outros também, Eram Abelardo, Heloisa, Paulo. Virginia e Francesca, Sugestio de leituras roménticas, Bianchi amava-os a todos, como colaboradores, como companheiros de trabalho, como modestos artistas que o ajudavam a ganhar vida. Ganhar a vida e a ter, junto de si, o orgulhoso Ramén Betanzo, 0 Betanzo dos miisculos de ago, de térax de gigante, 0 Ramén do seu amor decadente ¢ desgragado. o Betanzo das bofetadas e dos pedidos inesperados de dinheito... (MAGALHAES JUNIOR, 1967, p. 208). O circo, os cdes e Betanzo constituiam, nesse contexto, o lar e a familia da personagem, mas 0 maior orgulho era ter ao seu lado o atleta. Devemos, a partir desse fragmento, retomar a problematica relagao entre os dois, concebida pelo narrador como decadente, porque imoral e desgragada, porque infeliz e mal sucedida. Enquanto Bianchi se desfazia em carinhos e atengdes pelo outro, este buseava apenas aproveitar, 0 maximo que pudesse, as economias do seu mantenedor: “Ramén Betanzo, inti- mamente, tinha nojo daquilo” (MAGALHAES JR, 1967, p. 206), porém os favores mantinham-no proximo do soprano. E necessario também precisar a maneira de agir do musculoso homem: © jogo era a perdigao do atleta, Andava por tudo quanto era bodega, farejando joguinhos de poquer, de bisca, de solo [..] E saia liso, dizendo desaforos, rogando pragas, ameacando os outros, que se apressavam a togar 0 cabo das facas e das pistolas. Era endo que éle voltava para Bianchi. [Bianchi] — Queridito, que te passa? [Betanzo] — Que passa vagabundo? Entao no sabes? Te fazes de engracado? Perdi tudo o que tina, seu descarado! (MAGALHAES JUNIOR, 1967. p. 208). Humilhagoes e agressdes fisicas eram as atitudes de Betanzo enderecadas a Bianchi. Sem di- nheiro para fazer apostas. a tenda do soprano era morada acolhedora para o atleta. As falas, presentes nesse trecho, so as tinicas, em toda narrativa, em que os personagens dialogam diretamente, haja vis- ta o discurso indireto predominar na estruturacao do texto, a restringir a atuacao dos personagens, em detrimento da manipulagao exagerada dos fatos pelo “eu” narrante. Através das falas, vemos, mais uma vez, a estereotipia da dicotomia bicha/machio, o que pode ser notado pelos adjetivos presentes nas fiases ditas por cada um dos personagens: na fala do soprano, a palavra ‘queridito’, adjetivo ca- rinhoso, demonstrando a preocupagao e atengao para com o amado: por outro lado, na fala do atleta, ‘vagabundo’ e ‘descarado’ compoem 0 vocabubirio de um discurso agressivo e repressor, o sinal de exclamagao ao final do enunciado denuncia a forga da promincia expressivamente de raiva, de into- lerancia e aversao. Dessa forma, a afirmagao de Kulick (2008) de que a violéneia ¢ 0 pano de fundo Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 142 da vida das travestis em uma sociedade excludente e, na literatura, podemos enxergar esse pano de findo de maneira muito evidente no enredo das narrativas. Preparamos outro quadro, restmindo as situagdes de violéncias sofridas em diferentes obras publicadas durante o século XX. QUADRO 2 - Sintese de narrativas brasileiras com protagonistas travestis que sofreram violéncias ‘Resumo da situagio de violencia sofvida ‘Titmlo da obra Autor Ano | Género ‘Agrande atragao | Raimundo Maga- | 1936 | Conto | Sofie violencia fisica de sen parceio e vio- Inges Je lencia da sociedade em gral por nao se en- ‘quadrar nos papéis tadicionais de género. ‘Georserte Cassandra Rios | 1956 | Romance | Sofie violéncia psicolbzica, resultando no suicidio da protagonista, Uma mulher dife- | CassandiaRios | 1968 | Romance | Soffe violEncia fisica de seus parceiros rene alem dle ser assassinada, Tas ‘Walmic Ayala | 1966 | Conto Sofie Dia dos Namorados | RubemFonseca [ 1975 | Conto ‘Aaredida por parte de policiais ‘AmorGrego | Aguinaldo Silva | 1975 | Conto | E assassinada em incéndio provocado. Ruiva Julio César | 1978 | Conto | Sofie violéncia verbal por parte de tran Moreira Martins seuntes e por parte de outra travesti que a hostiliza OMilagie Roberto Ficue | 1978 | Novela | Auredida fisica e psicologicameate pelo pai ‘e capangas dele. Noites de Rasali | Darcy penteado | 1979 | Contos | Agredida fisica e psicologicamente por colegas de trabalho OTravesti__| Adelaide Carraro [sd _| Romance ‘Ver quadro 1 (© fantasma travesti | Silvia Ortho? | 1988 | Romance | Sofie violéncia por parte de militares até chegar a sbito Esse quadro revela o quao recorrente foi a representagao da violéncia em narrativas com pro- tagonistas travestis publicadas durante 0 século XX. Por um lado, podemos enxergar esses dados como um modo de sensibilizar o/a leitor(a) para um problema social enfrentado por essa minoria, Se- gundo 0 Relatério de violéncia homofébica no Brasil (2016), documento produzido pelo Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, temos 0 maior niimero de assassinatos de pessoas transgénero do mundo, mais de 600 mortes entre 2008 e 2014. Essa dura realidade se faz presente também na literatura, com desfechos trigicos e enredos dolorosos para essas personagens ¢ seus destinos. Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 143 Consideragées Finais Diante dessas consideragdes a respeito da construgao de protagonistas travestis em narrativas brasileiras, acreditamos existir uma forca de denincia nessas construgées literarias. E preciso consi- derar que escrever e publicar obras tidas como marginais ou imorais e subversivas sempre foi uma atividade dificil. Se pensarmos nos textos com protagonistas travestis veremos a resisténcia emprega- da pelos escritores e escritoras, a exemplo de Cassandra Rios e Roberto Freire que tiveram suas obras censuradas, sofreram persegnicdes e até torturas. Nos parece, afinal, que criar personagens travestis, 6 como esforgo para retratar 0 proibido, especialmente no periodo da ditadura militar, produzir sub- versdo no discurso, evocar a liberdade contra a normatizagao, apontando para um Realismo literati sensivel problematizador das formas como lidamos com essa diferenca. E preciso considerar que escrever e publicar obras tidas como marginais ou imorais ¢ subversivas sempre foi uma atividade dificil. Se lembrarmos que quando Bom-Crioulo — segundo de Adolfo Caminha, foi apresentado 4 sociedade, causou escindalo e, mesmo sendo permeado pelo pensamento decadentista romance brasileiro a abordar o amor e sexo entre dois homens em 18: do naturalismo, apresentando a relagao homoerstica como doentia, segundo Carvalho (2006), impac- tou 0s criticos, o que atrapalhou a recepgao do livro. A obra de Caminha s6 volton a ser estudada em 195 quando estudiosos brasileiros resgataram as obras do autor. A questo da morte e dos desfechos trigicos envolvendo sujeitos ficcionais travestis nao deve ser vista apenas como um aspecto negativo dessa construgao, evidenciando um tom de punicao ou mesmo, positivo, sendo enxergado pelo viés da deniincia e da sensibilizagao Nesse plano, queremos evocar Prado (2007) quando afirma que, ao se analisar uma persona- gem, preciso levar em considetagdo varios angulos de observagdo sobre ela: (a) o que a personagem revela sobre si: (b) as agdes dela; e (c) 0 que os outros sujeitos ficcionais dizem sobre ela, fazem com ela, Essa tensdo entre as v -s do texto parece ser particular em cada obra, exigindo atengao aos elementos narrativos e as falas das personagens e dos narradores, Por exemplo, quando uma persona- gem travesti é assassinada, como acontece com Ana Maria (RIOS. 2005) e com Monique (ORTHOF. 1988), tal experiéncia demonstra que personagens secundarias configuram uma parcela da sociedade discriminatoria ¢ intolerante quanto a nao-inteligibilidade de género desses seres de papel. Na esfera fiecional, essas vozes repressoras tentam ofuscar a subversao construida pela personagem travesti; no entanto, o fato de as matarem nao exclui a convencionalizagdo do que elas revelam por si mesmas Se isolarmos a postura dessas protagonistas, veremos qudo transgressoras e inovadoras elas podem ser quanto As questdes de corpo, de género e de sexualidade, especialmente se levarmos em conta 0 periodo em que foram construidas. Revista Crioula - n® 24 - Dissidéncias de Género e Sexualidade nas Literaturas de Lingua Portuguesa 2° Semestre 2019 * 144 Referencias Bibliograficas BARCELLOS, J.C. Literatura ¢ homoerotisimo em questéio. Rio de Janeiro: Dialogarts, 2006. BENEDETTI. Marcos R. Toda feita: 0 corpo ¢ o género das travestis. Rio de Janeiro. Garamond. 2005. BRASIL. Comissio Nacional da Verdade. Relatorio: textos teméticos / Comissio Nacional da Verdade. ~ Brasilia CNV, 2014, BUTLER, Judith. Problemas de género: feminismo e subversio da identidace. Trad. Renato Aguiar. 3 ed. 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