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TRANSGREDIR: não cumprir, não observar (ordem, lei, regulamento etc.); infringir, violar.

Para Judith Buther o ser mulher e o ser homem não são entidades preexistentes, a-históricos,
naturais, ou imanentes dos sujeitos, por conseguinte, é apontado pela autora que a construção
desse ser homem e mulher se dar a partir de atos performativos que constroem os gêneros a
partir do poder reiterativo promovido pelos discursos, atos, gestos, rituais, representações que
promovem ao “mesmo tempo uma reatuação e uma reexperimentação de um conjunto de
significados socialmente estabelecidos” (BUTLER, 2018, p.11). Basicamente, travestis e
mulheres transexuais performam o gênero que se identificam, atribuindo para si os
comportamentos e atributos físicos socialmente esperados para mulheres.
Aí residi a transgressão, o crime (instância jurídica) não segundo a Lei Penal mas a associação,
o pecado (instância religiosa), a doença (instância médica), o desvio (instância familiar) na não
conformação a cisgeneridade, do binarismo e da heteronormatividade.
COLONIALIDADE DO SER: desqualificando e excluindo outras formas de ser, sentir, saber
e desejar. A colonialidade do ser (gênero e sexualidade) pode ser definida como uma realidade
do mundo contemporâneo, que faz com que se inferiorizem pessoas, logo, uma forma de se
destituir a existência humana. Aos não brancos, cisgêneros, heterossexuais e cristãos (padrão
universal).
Gera-se o medo da e “infecção anômica”: se deixar tocar pelos “transgressores”, se influenciar.
Que gera a falta de empatia e a estigmatizarão grupal.
Este é o caso das pessoas e comunidades chamadas de Queer. Denominadas como estranhas,
indesejáveis, ridículas e excêntrica, colocados no campo da abjeção, rejeição e discriminação.
Corpo abjeto, segundo Judith Butler (1999), é “um outro” rejeitado e desqualificado, pois
ininteligível dentro da cultura normativa. Seres abjetos são vidas precárias, vulneráveis, reduzidas
à não vida, à não existência e à invisibilidade social, como o são, muitas vezes, as vidas de pessoas
transgêneras, pobres, de pacientes psiquiátricos, deficientes físicos e refugiada(o)s.
TRANSGREDIR REQUER PUNIÇÃO: para o crime há a castigo numa lógica punitiva, os
modos de castigá-las por sua transgressão foram muitos, a criação de comentários jocosos,
fofocas e escárnio na família; a discriminação, o bullying e a exclusão na escola e em espaços
públicos; o desrespeito ao seu nome social; os ataques morais por meio de estereótipos que as
objetificam; os discursos e práticas de ódio que legitimam a transfobia; a violência física; e, no
extremo, a necropolítica e o extermínio.
OUTRIDADE ESCOLAR: A outridade refere-se a uma parte do corpo social que não é a nossa,
é o dessemelhante, que desrespeita a alteridade, o outro que é inferior a mim.
No bullying escolar (meu caso) “Se você deixasse de ser viadinho e menos fresco, apanharia
menos na escola”.
Ali eu me senti culpado e cai no “assujeitamento”, nesse processo de submissão ao poder
disciplinar. Tentativa de imprimir um controle sobre os corpos infantis e adolescentes.
Um elemento necropolitico, apagamento, invisibilização: A falta do reconhecimento de suas
existências nas narrativas históricas (nos livros e nas aulas de História, por exemplo).
O próprio poder primário masculino de escrita da história, de forma androcêntrica, O apagamento
de mulheres, homens e mulheres negros como subalternos.
No Brasil, a população transgênero sempre foi historicamente perseguida e marginalizada a partir
de uma crença da sua anormalidade diante das pessoas cis. A partir do século XVI, surgiram
novas leis que buscavam ditar as condutas, normas sociais e até o modo correto de se vestir.

Porém, uma denúncia feita aos Tribunais do Santo Ofício em 1591 tornou Xica Manicongo a
primeira travesti da história do Brasil.

Historiadores afirmam que Xica possuía uma grande resistência em se vestir com roupas
masculinas, pois isso ia contra as tradições de sua origem, onde ela assumia sua identidade
feminina.
Sendo penalizada e vigiada pelo Tribunal do Santo Ofício. Negando sua identidade de gênero,
imperativamente colocada como homossexual.
A linguagem na Escola a começar pelo uso da língua hegemonicamente no masculino, o que
remete as próprias relações de poder.
O heteroterrorismo cotidiano na escola: processo de controle higienizador das múltiplas
performatividades. A presença do heteroterrorismo nas mídias, na política e na religião a
demonização dos necessários debates sobre sexualidade, gênero, racismo e machismo. O
movimento Escola Sem Partido foi criado em 2004, com apoio de setores religiosos ultra-
conservadores.
PRODUÇÃO DE SUBJETIVIDADES: “os corpos não se conformam, nunca, completamente,
às normas pelas quais sua materialização é imposta..”
As mulheridades e feminilidades mostram como mulheres trans e travestis se refizeram;
desafiaram e abriram brechas nas normas.
EXPRESSÕES DE GÊNERO QUE RESISTEM: Expressão de gênero é o modo como uma
pessoa manifesta publicamente o seu gênero por meio de tecnologias e gestualidades, como
roupas, acessórios, cabelo, comportamentos, linguagem corporal, modificações corporais e
formas de falar.
UM CAMPO DE DISPUTAS E TENCIONAMENTOS: A retificação do nome lhes aproxima
da norma binária e cisgênera; permite também que tenham maior acesso a formas de trabalho que
não a prostituição e a oportunidade de estudar, por exemplo, sem que necessitem informar sobre
sua trans/travestilidade.

A IMPORTÂNCIA DO CONCEITO DE MULHERIDADES E FEMINILIDADES: As


experiências narradas pelas entrevistadas expressam subjetividades negociadas e interpretadas
sobre o masculino e o feminino. uma vez que recorrentemente queremos colonizar as identidades
de gênero, coloca-las como estanques, estáveis, engessadas, pois, são complexas e estão num
campo de disputas e relações de poder disciplinadoras.
O entendimento é de que o gênero feminino de mulheres transexuais e travestis é resultado
de sua liberdade de autodeterminação, independentemente de laudos médicos, cirurgias de
transgenitalização, mudanças corporais e estéticas, processos de harmonização.

BIOTECNOLOGIAS E ARTIFICIALIDADES: As tecnologias de comunicação e as


biotecnologias são ferramentas cruciais no processo de remodelação de nossos corpos. Não
apenas de pessoas transgeneras, principalmente cisgeneras! ARTIFICIALIDADE
CORPORAL? CORPO CIBORGUE? Uma crítica ao determinismo biológico, todos os corpos são
construções.

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