si09/2022 14:49 Derrida a inguagem - Revista Cut
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Derrida e a linguagem
ULT
n9
Arelagdo do filésofo com o texto, a palavra e o signo
Silvia Faustino
hitpsfrevistacul.uoL.com.brhomelderrda-e-aJinguagem! 218esronr0z2 14:49 Derrida ea inquagem- Revista Cut
‘Ao afirmar que “nao existe o fora texto”, Derrida assume que a linguagem é o habitat
natural de toda sua atividade filosdfica e literaria. E nao é para menos: a operacao de
desconstrucao que o tornou célebre seria impensdavel sem os textos, os verdadeiros
objetos da desconstrucao. A quase totalidade de seu trabalho se da sobre textos
escritos por outros, sobre os quais ele se debruca para efetuar a caracteristica
desmontagem da estrutura e o conseqiiente descentramento de sentidos ja
consolidados. Nesses textos, a identificagao de esquemas conceituais armados pela
linguagem classica da filosofia é sé um primeiro passo, pois o que Ihe importa é
escrutinar as dobras do tecido da escrita para encontrar textos que Id se escondem e
desvendar feixes de significados pressupostos que de algum modo teriam
permanecido implicitos e ocultos. Os textos esto, portanto, no ponto de partida, em
toda a travessia e na chegada (sempre proviséria) das empreitadas analiticas de
Derrida. Com ele cabe perfeitamente dizer que “no inicio era 0 signo”. Nao por acaso,
é precisamente pelo signo que sua proposta de desconstrugao da metafisica
logocéntrica comega, e a vantagem de comecar pelo signo é precisamente a de
comecar pelo que essa tradigo sempre considerou como secundario. Comecar por ai é
colocar-se, de saida, j no desvio. Como nao poderia deixar de ser para quem, no
fundo, respeita a tradicéio, Derrida opera a desconstrucao do signo tomando a
terminologia de Saussure como ponto de partida.
signo lingilistico constitui uma combinacio entre o significante (a forma tomada
como imagem actistica) e o significado (0 contetido tomado como conceito), como se
fossem dois lados de uma moeda. A funcdo do signo é representar uma coisa, um
referente, durante a sua auséncia. Derrida, no entanto, além de se recusar a tomar 0
significado como uma unidade ou entidade separavel do seu significante, considera
que o significado nao é mais que o significante posto em determinada relagao com
outros significantes. A conseqiiéncia disso é que o significante, nao mais se esgotando
em sua materialidade, chega a absorver certa idealidade antes conferida somente ao
significado. Esse alargamento do significant esboroa a diferenga entre os dois lados
do signo. Derrida chega a dizer que a diferenca entre significante e significado nao é
nada e, conseqiientemente, problematiza a sua propria unidade. Que nao nos
enganemos, porém, tomando a desconstrucao como uma destruigao. Pois, longe de ser
destruido, o signo sera (sob nova interpretacao) mantido como prioritario ao
referente, e o significante como prioritario ao significado, de modo que nao existira
mais a coisa em si fora das redes de remissdes dos signos.
Essa nova visao do signo esta na raiz da generalizacao da “escritura”, que a tradig3o
metafisica também relegou ao plano secundario por nao té-la considerado como
diretamente ligada a um significado ou referéncia, mas como mera transcrigio
fonética, grafica ou alfabética. Para Derrida, no entanto, a palavra escrita estende
vertiginosamente o alcance da linguagem no espaco e no tempo e assegura a
comunicacao do pensamento de alguém mesmo depois de sua morte (nao sem exp6-lo
a riscos). A escritura e seus “tracos” de presenca sera a condicao de possibilidade da
repeti¢ao do signo e da concepcao do texto como um evento.
hitpsfrevistacul.uoL.com.brhomelderrda-e-aJinguagem! aieosrosr0z2 14:49 Derrida ea inquagem- Revista Cut
O enunciado segundo o qual nao existe fora texto certamente nao pretende confinar
ninguém a uma prisio lingiifstica, mas abrir para as multiplas possibilidades de
entendimento pela linguagem. Aos olhos de Derrida, um texto nunca esta fechado em
si mesmo, permanecendo essencialmente aberto a leitura do outro. Nenhum texto
prescreve uma leitura inevitavel, ja que a “assinatura” da autoria nunca esta
completa: toda assinatura é uma contra-assinatura que retine todos os momentos da
enunciacao no momento tinico em que o escritor fecha o livro jé escrito e o abre para o
Jeitor.
Embora tenha se dedicado a conceitos filoséficos, procurando desfazer dicotomias
classicas que enclausuram o pensamento ocidental, a escritura de Derrida dificilmente
se inscreve no género de uma linguagem classica da filosofia. Isso ocorre sobretudo
por duas razées: em primeiro lugar, porque Derrida parece jogar a metafora contra o
conceito; em segundo lugar, porque suas anlises produzem enunciados
tradicionalmente inadmissiveis ao bom senso filosdfico, por exemplo, quando ele fala
de um passado absoluto que nunca existiu, de uma repeti¢ao originaria, de um infinito
finito, de um nome préprio que nao é préprio etc. Em sua caracteristica busca por
clareza, o texto filoséfico, quando usa uma metafora, sempre a explora como
ferramenta de esclarecimento do conceito. Mas em Derrida, as metaforas sao
mantidas precisamente para dar lugar a fala obliqua, que explora conotacées laterais
ou sugere contetidos sem explicit4-los. Talvez seja por isso que a escritura de Derrida
tenha encontrado maior receptividade no campo da literatura que no campo da
reflexao filoséfica classica.
Silvia Faustino
& professora de filosofia na UFBA
(1) COMENTARIO
‘Suely Zacarias Pinto
7 jlo de 201 0 npasreviacutuolcom brhome(dersae- inguagem/tcommens 79]
Amei seu artigo! E usei como referéncia par a minha dissertaco
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