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Copyright© 2022 JESSICA D.

SANTOS
Revisão: Andrea Moreira
Capa: Jessica D. Santos
Diagramação: Jessica D. Santos
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Dados internacionais de catalogação (CIP)
CARTER – HERDEIROS DA MÁFIA – LIVRO 4
1ª Edição
1. Literatura Brasileira. 2. Literatura Erótica. 3. Romance.
Título I.
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É proibida a reprodução total e parcial desta obra, de qualquer
forma ou por qualquer meio eletrônico, mecânico, inclusive por meio
de processos xerográficos, incluindo ainda o uso da internet, sem
permissão de seu editor (Lei 9.610 de 19/02/1998). Esta é uma obra
de ficção, nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos
são produtos da imaginação do autor, qualquer semelhança com
acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos desta edição são reservados pela autora.
Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico
da Língua Portuguesa (1990), em vigor desde 1º de janeiro de 2009.
Nota da autora
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Sobre a autora
Herdeiros da máfia
Outras obras
Máfia é uma organização criminosa cujas atividades estão
submetidas a uma direção de membros, que sempre ocorre de
forma oculta e que repousa numa estratégia de infiltração da

sociedade civil e das instituições. Os membros são chamados


mafiosos.

Quando se fala de máfia, as pessoas relacionam o tema com a


Cosa Nostra, a máfia Italiana que se desenvolveu na Sicília e, mais

tarde, surgiu nos Estados Unidos. Com o tempo, o termo deixou de

se relacionar apenas com a estrutura da máfia siciliana e passou a


abranger qualquer organização ou associação criminosa que usa

métodos inescrupulosos para fazer prevalecer seus interesses ou

para controlar uma atividade.

Desta forma, a série Herdeiros da Máfia aborda sua própria

máfia, com leis, códigos e condutas próprias, criadas por mim,

utilizando-me de licença poética. Não espere ler este livro e ver nele
qualquer estrutura verídica, real ou influenciada pela Cosa Nostra,

Yakuza ou qualquer outra organização mafiosa conhecida.


Carter James Knight é reservado, observador e intimidador.
Após quatro anos da sua partida de Londres, longe da sua família,
ele continua focado em si mesmo e em sua vida caótica, depois da
perda do seu grande amor.
Muriel Scott é uma das coisas em que ele está focado. Mesmo
odiando estar.
Ela foi entregue a ele como forma de pagamento de uma
dívida. Ele poderia não aceitar, mas o seu odioso senso de justiça
resolveu dar as caras. Ela era uma vítima e ele jamais deixaria uma
inocente nas mãos de pessoas sanguinárias.
Agora ele tem que proteger a pequena ruiva e tentar manter
suas mãos longe. Mas ficarem tão próximos é como estar em frente
ao penhasco sabendo que irão cair em algum momento. É
inevitável.
Eles sabem disso e se questionam se a queda é realmente tão
dolorosa.
Estamos quase todos prontos para arrancar a cabeça de

Lucke, apesar de eu continuar achando que fazer um evento de


fachada não é uma boa ideia. Ele não irá gostar de saber que foi

enganado, no entanto, não temos tempo para discutir sobre isso e o

foco no momento é acabar com o nosso inimigo.

— Carter, é muito arriscado, não vá! Aquele... monstro é sujo.


Provavelmente, ele deve ter arquitetado para prejudicar você e seus

irmãos — minha namorada fala, com os olhos marejados. Lana

tenta me convencer a não seguir com o plano de ir até Lucke

Ivanov, mas, por mais que eu odeie que ela chore, vou ter que negar

esse pedido.

— Me peça o mundo que eu te dou, Svetlana, mas não me

peça para trair meus irmãos. — Olho bem em seus olhos

assustados.
— Amor, eu não disse que é para você trair a sua família!
Jamais te pediria isso. Só estou falando para não cometer a loucura

de ir atrás daquele homem! — Lana acaricia o meu rosto e eu fecho

os olhos ao sentir seu toque macio.

— Eu já tomei a minha decisão, não volto atrás da minha

palavra. — Tiro sua mão do meu rosto e abro os olhos.

— Por favor, Carter, por mim — implora, soluçando.

— Você não sabe o quanto estou arrependido por ter contado

meus planos para você. Se eu soubesse que agiria assim, teria

ficado com a boca fechada — urro, desviando o olhar para não ver

suas lágrimas.

— Jamais te perdoaria se me abandonasse nessa casa para ir

ao encontro da morte — grita, chorando alto.

Levo as mãos à cabeça, estou puto com essa situação. Minha

garota é teimosa e pensa que vai me convencer, porém, não vai.

— Nada vai acontecer comigo, minha morena, não precisa

chorar. — Eu me aproximo dela e a puxo pela cintura, passando os

braços ao seu redor. Ela encosta o rosto molhado no meu peito e

chora sem parar.— Shhh... Não faça isso, você não é assim. Não

me recordo de você ser tão chorona. Onde está a Svetlana


destemida? — falo no seu ouvido, mas ela não responde, apenas

me abraça com mais força.

— Eu não quero te perder. Jamais me perdoaria se algo

acontecesse, a você, amor — diz, gaguejando. Fico confuso com o


caminho da nossa conversa. — Já que não vai desistir desse
suicídio, me leve com você, me deixe ir também. Eu posso ser útil.

Por favor, só me leve. — Ela levanta o rosto e me encara.

— Não. Eu já disse não, porra! Você vai ficar aqui, na nossa


casa. Vai ficar aqui no caralho dessa casa me esperando voltar. —
Minha voz sai dura.

Lana não se abala, me enfrenta com seu olhar decidido.

— Não vou ficar de braços cruzados como uma boa mulher


submissa! — exclama, furiosa, cruzando os braços. — Escute aqui,

Carter James Knight, você é meu homem, mas não é meu pai. Está
entendendo? Somos parceiros para todas as horas. Eu vou com
você. Está decidido.

— Aqui dentro você está em desvantagem, Lana. Pode até


tentar, mas não vai conseguir nada de mim. — Passo por ela e me

deito na nossa cama, colocando os braços debaixo da cabeça e


fingindo uma tranquilidade inexistente, enquanto estou sob seu olhar
furioso. — Ainda temos algumas horas juntos, querida, venha se

deitar comigo — convido-a só para provocar.

— Quando quer, você é tão... tão... irritante, Carter. — Ela

explode, mas eu continuo com a minha falsa serenidade.

— Qualquer ideia suja que esteja tendo neste momento pode

descartar. Se encostar nas janelas do quarto vai parecer que a casa


está cheia de homens armados, e se tentar atravessar essa porta

vai ver dois homens com o dobro do seu tamanho para te impedir de
sair — aviso, com o semblante fechado.

— Se me deixar te acompanhar, vou ficar mais tranquila —


insiste, se aproximando.

— Não é não, Svetlana! — Fico irritado com a sua teimosia. —


Você sabe o que penso sobre a sua insistência de merda. Não teste

os meus limites. — Irado, eu me levanto e saio do quarto, batendo a


porta com força em seguida. Não demora muito para que eu ouça
seus passos atrás de mim.

Caralho de mulher teimosa! Enquanto ando pelo corredor,


ouço as fungadas de Svetlana, mas finjo indiferença. Se eu ceder a

ela, serei a porra de um bundão. Sigo até uma das salas que tem no
corredor e entro, em seguida, Lana entra também. Dou de ombros e
vou até a mesa de madeira, abrindo a gaveta e pegando a minha
pistola Taurus 380 e jogando para Lana, que se assusta com minha
ação e deixa o objeto cair.

— Um presentinho para você enquanto eu estiver fora, assim


você não se sente desprotegida.

Ela semicerra os olhos.

— Você realmente não vai me dar ouvidos? — pergunta,

contrariada, mas me mantenho calado. — Odeio o seu silêncio,


odeio quando decide colocar uma venda nos olhos e fingir que nada

está acontecendo. Carter, estou falando com você.

— O que quer ouvir? Eu te amo, porra, acha que vou te levar

para o local onde está o homem mais fodido do mundo, só para te


colocar em perigo? Não sou nenhum idiota, Svetlana, não vou

arriscar a sua vida por um capricho seu. Essa guerra é minha e dos
meus irmãos, não sua. E se alguém tiver que morrer hoje, terá que
ser eu, não você! — Bato as mãos abertas na mesa, causando um

estrondo. Lana salta para trás, meio assustada.— Não tente me


convencer de algo que está fora do seu alcance. Killz estará aqui,

nada irá acontecer com vocês enquanto ele estiver fazendo a


segurança, o.k.? Agora, por favor, vamos acabar com essa
discussão. Odeio ter que ficar repetindo a mesma coisa, para mim,
poucas palavras bastam. E você não é nenhuma criança, sabe que
se entrar em território inimigo sem ter experiência é pedir para levar

uma bala na cabeça! Você é apenas uma piloto, não uma sniper.

Ela não diz mais nada, apenas abaixa a cabeça, então eu me

levanto disposto a me reunir com meus irmãos na sala. Spencer

está certo, não deveria ter contado para ela os nossos planos. Eu já
deveria ter imaginado que Lana agiria dessa maneira. Hoje não

estou indo comandar uma corrida com a minha equipe, mas sim

matar alguns inimigos, ou, talvez, morrer.

Saio da sala, e conforme vou me aproximando, ouço a voz de


Hailey perguntando por mim. Nem preciso de muito para saber que

a minha cunhada desconfia da nossa merda.

― Me procurando? ― pergunto, surgindo com Lana ao meu


lado. Eu me recrimino mentalmente quando percebo que a loira nos

avalia por estarmos tão informais.

Minha morena passa as mãos nos cabelos e, em seguida, no

rosto, dando a entender que estava chorando.

― Boa noite, Carter. Parece que só eu vim toda produzida. O

que está acontecendo aqui? ― questiona Hailey com seriedade.


Svetlana olha para mim com rancor, mas eu finjo que nada

está acontecendo.

― É, amor, fala para ela o que está acontecendo. ― Lana

soluça.

Hailey arregala os olhos, sem entender.

Não fode comigo, minha gata. Olho para Svetlana, que está
com os olhos avermelhados.

― Contenha a sua mulher, caralho! Não temos tempo para

isso agora ― Ezra se manifesta, enfurecido, dando um passo para a

frente, mas Hailey segura em seu braço.

― Não posso sair um minuto e vocês já fazem a festa? Que

porra está acontecendo? ― Killz se manifesta, ele está bem irado.

― Com licença, não suporto hipocrisia ― fala minha morena,

e me empurra quanto tento segurá-la. ― Não venha atrás de mim!


Se você não confia em mim me fale, mas não tente me fazer de

boba, o.k.? ― grita, apontando o dedo para mim.

― Lana, me entenda. Não posso te levar para a morte, porra!


Se quiser podemos terminar, mas não tente me convencer a te levar

para o território do nosso inimigo ― grito, já sem paciência.


Ela me ignora e me dá as costas. Furioso, vou atrás dela e a

pego pela cintura, encostando seu corpo no meu.

— Prometo que quando voltar vamos fazer uma viagem até a


Irlanda. Podemos passar alguns dias na casa que comprei, vamos

aproveitar bastante. Se quiser, eu te levo para aquele lugar — falo

em seu ouvido enquanto beijo seu pescoço, mas Lana não diz nada,

somente começa a chorar mais alto. ― Prometo que vou te


recompensar. Só fique, por favor. Não posso te perder, meu amor.

― Solto um suspiro de alívio ao perceber que a convenci.

Ela se vira e me abraça, então sussurra no meu ouvido que

me ama muito e segue novamente para o corredor, enquanto me


preparo para sair com meus irmãos.

"Prometo que vou te recompensar. Só fique, por favor. Não

posso te perder, meu amor." Foram as últimas palavras que eu

disse a Svetlana. Seus olhos tristes e assustados não saem da


minha mente.
À medida que avançamos na casa onde o lixo tóxico está se

escondendo, tenho mais certeza de que esse desgraçado precisa


morrer.

Afasto a Lana dos meus pensamentos para ouvir a ladainha

no rádio comunicador. Pouca ação e muito falatório, isso não me


agrada porra nenhuma, só atrapalha a concentração na hora da

ação.

― Ezra, na casa tem um bom número de homens, mas eles

continuam em desvantagem. Precisamos eliminar o máximo desses


vermes aqui e agora. Carter, você está acompanhando o que eu

falo? ― O falatório de Spencer me incomoda.

— Estou dentro da casa, não posso falar agora. Meus homens

e eu estamos no segundo andar, sejam rápidos e pare de conversar


nessa porra. ― Solto um rugido. Meus irmãos parecem

adolescentes passando cola em dia de prova, eu sou o mais

centrado e preocupado com nossa segurança.

Conforme vou andando, ouço um vozerio meio distante, talvez


uma voz feminina familiar. Levanto a mão com o punho fechado

indicando que meus homens devem parar e fazer silêncio total.


Estamos em terreno inimigo, a escalada até aqui não foi fácil

para colocarmos tudo a perder com um breve deslize.

Me aproximo sozinho da porta no corredor próximo a uma

escada com acesso ao que imagino ser uma sala.

― Não posso mais fazer isso, Maison ― a mulher fala e meu

desespero é completo. Meu coração acelera, mas não posso perder

o controle. ― Eu amo a minha família, mas não posso viver sob

essa ameaça pra sempre, não posso mais trair quem amo. Carter e
os irmãos não merecem isso, eu não... sou capaz de viver nessa

vida dupla como você planeja.

― Não perguntei nada, eu ordenei. E quando ordeno todos


obedecem, não existe opção. Quando seus pais quiseram cem mil

para quitar outra dívida, ninguém pensou em discutir o pagamento,

sendo assim, você será a forma de pagamento ― sombrio, ríspido e

egocêntrico, o homem replica.

É nítido que ela está sendo chantageada. Svetlana não

aprendeu porra nenhuma com o que aconteceu a Hailey.

― Mas, Maison... ― com a voz trêmula, ela tenta argumentar,

mas é massacrada por Lucke.


― Sem mais, Svetlana. Eu mando e você obedece, isso é

tudo. Além do mais, minha casa já está tomada por invasores, você
ouviu meus homens avisando. Suponho que sejam seus

amiguinhos, então você tem que sair daqui se não quiser morrer

agora. ― Babaca como sempre, ele dá um ultimato a Lana, me

fazendo temer por sua vida.

― Maison, pode me matar. Não farei nada do que você

ordenar, minha dívida com você está paga, o meu serviço foi feito.

Eu me infiltrei, enganei, mas agora é diferente, eu me apaixonei pela


minha missão e não vou mais trair meu coração, meu homem e

minha família, para atender aos seus caprichos. Fiz o que você me

pediu esses anos todos, esse foi o último trabalho sujo que fiz.
― Lana reúne todas as forças que parece ter e fala de uma única

vez o que está pensando.

Lucke solta uma gargalhada diabólica, certamente ele tem

tudo planejado. Resta saber quais são seus planos para a minha
mulher.

― Eu esperava que fosse mais fácil, mas você não me deixa

outra alternativa. Tenho certeza de que a sua traição não será vista

com bons olhos pelo meu irmãozinho e a corja dos Knight. Venha
comigo, traidora, vou levá-la para frente de casa e jogar você e eles
para o espaço. Minha casa está cercada por minas terrestres.

Imagina como vai ser prazeroso ver vários corpos explodindo no

ar ― Lucke finaliza sua fala e gargalha.

Ouço Lana gemendo de dor, antes do som de uma porta

sendo aberta capturar a minha atenção.

Verifico o local e parece vazio, então indico para os homens o

vasculharem. Eliminamos todos os soldados inimigos que estão na


casa e, sorrateiramente, sigo em busca da minha morena, que corre

risco no momento.

Ouço burburinhos vindos da porta e vejo o filho da puta


apontando uma arma para a cabeça de Lana. Meu corpo gela, mas

preciso agir com cautela ou ela morre. Me aproximo lentamente do

maldito que está discutindo algo com Ezra.

― Largue sua arma e a minha mulher agora ― profiro as

palavras com raiva, apontando uma submetralhadora para a cabeça


de Lucke.

Ele solta uma gargalhada, parece não me levar a sério.

― Você pretende viver ou morrer, Carter? A opção é sua. O

plano de vocês em me matar poderia ter dado certo se a sua


cadelinha não tivesse vindo junto ― o maldito provoca, mas não
deixa de estar certo. Tudo teria saído como planejado se não fosse
por Lana estar aqui.

― Você brinca muito com a verdade, Lucke. Solte a minha


mulher, caralho! ― gritando, forço o cano da arma na cabeça do

verme.

― Carter, pare, por favor. Ele vai matar todos nós, isso é parte

do plano dele. Estamos em um terreno minado, qualquer movimento


da mão dele fará essa propriedade explodir ― Lana pede aos
prantos, apavorada com a situação.

Svetlana não merece isso, mas, por que ela não foi sincera

comigo? Medo? Não sei, mas preciso que ela continue viva para
tirar a limpo essa história. Agora é questão de honra salvá-la.

― Bem, acho que a Svetlana é a mais sensata aqui. Deve ser

por conta da criação, afinal, seus pais são de família tradicional, não
é mesmo, gostosa? ― Lucke fala e lambe o lóbulo da orelha de
Lana, me fazendo rosnar com raiva e pular no pescoço do filho da

puta.

Lana cai enquanto eu rolo com Lucke no chão, socando a cara


do bosta. Lucke consegue se afastar e capturar a arma caída no
chão, então atira em minha direção. Mas não sinto o tiro, somente
vejo Lana se jogando na minha frente e sendo atingida, o impacto
empurrando nossos corpos para o chão.

Ouço outro disparo e tento proteger o corpo da minha garota.

― Por que você fez isso? O que eu faço agora se te perder?


Você não devia, não tinha esse direito, Svetlana. Não tinha a porra

do direito de dar a sua vida pela minha! ― digo algumas palavras a


Lana, até ouvir Ezra dando ordem aos seus homens.

Estou perdendo a mulher que amo, meu primeiro e único


amor. Estou perdendo-a para o nosso inimigo.

― Rapazes, peguem esse verme agora e joguem na van.


Temos muito a fazer com ele ainda ― fala Ezra.

Os homens seguem as ordens dele enquanto o desgraçado ri


ao ser levado para longe.

Estou atordoado. Não tenho forças para me levantar e deixar


a mulher que amo morrer para ir atrás do miserável que causou nela
essa dor sem fim. Só quero ficar com ela até seu último suspiro,

porque sei que não a verei mais com vida. Essa é a nossa
despedida. Por mais que eu tente levar as coisas para o caralho do
lado positivo, sei que Lana não irá resistir.
― Lana, fique comigo, por favor... Resista, querida... Eu vou te
levar daqui e vou te salvar. Vai ficar tudo bem ― imploro, com a voz

falha. Aproximo mais seu corpo do meu e sinto que estou perdendo-
a. Minha visão está turva com lágrimas brotando em meus olhos.
Pressiono seu abdômen para tentar conter o sangramento, mas sei

que é inútil.

― Não... dá tempo... acho que levei... muitos tiros, né? ― Sua


voz está arrastada. ― Você é o homem mais incrível do mundo...
amo você, Carter. Meu amor. ― Svetlana vai ficando mole e seu

corpo vai se desconectando do meu lentamente.

Meu coração está sendo esmagado pelo sentimento fodido de

perda. O vazio vai me consumindo aos poucos, então percebo o


quanto é real o que está diante dos meus olhos e me sinto
dilacerado.

Fecho os olhos e as lembranças de nós dois vêm em minha


mente. Eu choro e grito de desespero, a impotência vem por não ter

tido a capacidade de salvá-la. Ezra se senta ao nosso lado e


acaricia o cabelo de Lana antes de nos abraçar.

Esmurro o chão com ódio e abraço forte o corpo do amor da


minha vida. Sinto o cheiro do seu cabelo, um aroma floral que ela
sempre amou. Quando noto que o calor da sua pele está se

esvaindo, o pavor me toma por completo, não poderei fazer nada


para vingar sua morte. Minha mente está muito perturbada, não
ouço uma só palavra que falam ao meu redor, até Axl tocar meu

ombro.

― Precisamos levá-la. Vamos, cara, se levante ― fala meu


irmão, mas eu o ignoro, continuo com Svetlana.

Depois de um bom tempo olhando a minha namorada morta

em meus braços, tomo coragem e encaro os meus irmãos com a


expressão séria.

― Vão vocês, me deixem aqui ― falo, me sentindo quebrado.


― Preciso avisar aos pais dela que matei a filha deles. Levem-na e

não me esperem voltar ― concluo, me levantando e indo em


direção ao meu carro.

― Aonde você vai, Carter? ― Spencer questiona.

Mas eu não respondo nada, somente entro no meu carro e

dou a partida, cantando pneu e deixando apenas poeira para trás.


Completamente desequilibrado, vago pelas ruas sem rumo,
percorrendo por horas até que o esgotamento me consome por

inteiro, me obrigando a parar em um bar. Entro e peço um uísque


duplo para a atendente, que me serve e sorri. Ignoro sua
sensualidade exagerada e sorvo o líquido de uma vez só. Depois de
tomar mais quatro doses, já não sou capaz de responder por mim.

Nunca me permiti chegar a esse ponto, mas hoje eu mereço

essa libertação. Perder Svetlana é como perder minha própria vida,


e não sei se serei capaz de me recuperar. Será uma luta árdua
superar isso. Mesmo que ela tenha traído a minha família e a mim,

eu a entendo. Eu coloco a minha família em primeiro lugar, e ela só


fez o mesmo – priorizar a família. Se eu a julgasse seria um filho da
puta.

Com a cabeça latejando e a visão ficando turva, sinto meu


celular vibrar no bolso. Sem conseguir identificar quem está me
ligando, aceito a ligação e espero que a pessoa fale.

— Knight, o prazo de espera acabou. Meu pai o espera na

Irlanda, caso contrário, passará o pagamento para outra pessoa —


diz Tyron Lynch antes de desligar, sem me dar tempo de responder.

Porra. Maldição. Não quero ser babá de uma garotinha que o

próprio pai deu para quitar uma dívida comigo. Por outro lado, não
posso deixar mais uma vida inocente nas mãos de pessoas podres,

a família dela é a própria personificação do diabo.


Quatro anos antes...+

Nem mesmo meus irmãos me obrigam a fazer o que eu não


quero, ninguém me obriga a fazer nada, mas, porra, aqui estou eu,
dirigindo meu SF90 Stradale, até o aeroporto particular para pegar

um jato, para chegar a tempo na Irlanda, de impedir que os filhos da


puta deem um fim na garota.

A coitada nem deve saber que foi dada como forma de

pagamento de uma dívida. Nunca vi a menina pessoalmente, só por

foto. Nem sei direito a idade que ela tem, me falaram por alto na
maldita reunião, que o serviço que fiz para os Lynch foi pago com

uma porcaria de uma menininha. Eles estão tentando me dar a

garota como pagamento de uma dívida há um bom tempo. Ainda


acho um absurdo o próprio pai entregar a filha para um completo

estranho, mas não sei por que me espanto, se é normal que esses

lixos façam esse tipo de coisa só para manter os negócios em dia.


Acabei de perder a mulher da minha vida, minha parceira de

todas as horas, mas nem mesmo em um momento de merda como


este tenho paz. Era para eu estar em um bar me embriagando até o

amanhecer para ver se a dor que estou sentindo no peito vai para o

inferno, porém, uns imbecis ousaram acabar com os meus planos


ao me fazerem uma ligação bem atrevida. Eles são uns fodidos

corajosos, tenho pena deles se pensam que podem me controlar,

mas vou deixar que continuem pensando assim.

Agradeço ao meu irmão mais velho, que está me apoiando

nessa minha decisão, mesmo podendo prejudicá-lo futuramente.

Ainda que esteja abalado com a perda de Svetlana, enviei uma


mensagem a Killz avisando que sairia de Londres por um tempo e

não sabia quando voltaria. Ele não me questionou e nem proibiu,


apenas desejou boa sorte na minha jornada e me ofereceu apoio,

disse que na hora que precisasse era só ligar. Admiro muito o

primogênito dos Knight, embora sejamos unidos e saibamos quase

tudo um do outro, meu irmão respeitou meu luto. Ele é o chefe da

máfia inglesa e eu devo respeitá-lo, pois além da nossa ligação de

sangue, ele é o meu chefe e, independentemente da situação, seja


boa ou ruim, tenho que colocar o meu dever de herdeiro dentro da

organização acima de tudo. Mesmo podendo me proibir de deixar o


nosso lar, Killz não o fez, apenas me deixou partir sabendo que eu
posso nunca mais voltar. Ele está passando por cima de todas as

suas regras para me dar a minha doce e amarga liberdade.

Há sete anos faço negócios com os irlandeses, devo admitir

que são bons negociantes, mas, às vezes, me fazem perder a

paciência. Eles querem estar sempre à minha frente e eu não sou o

cara que faz escada para ninguém subir. Aprendi que se é para
alguém estar lá em cima, essa pessoa tem que ser eu, e não um

oportunista que pode se virar contra mim e me descartar dos

negócios. Trabalho com eles confiando e desconfiando, prova disso

é ter comprado uma mansão no território dos meus sócios e levado

meus próprios soldados, homens de confiança que foram treinados

com os Knight.

Sou um cara esperto. Tenho a minha própria fortaleza, e se

depender de mim ninguém a derrubará. Não sou inabalável, muito

menos Deus, longe disso, sou um ser humano imperfeito como

todos os outros, mas me considero um homem muito inteligente. E

enquanto usar a minha inteligência a meu favor, ninguém será


capaz de me aniquilar, porque sempre estou um passo à frente dos

meus inimigos.
— Sr. Carter, boa noite — me cumprimentam assim que saio

do meu carro e jogo as chaves nas mãos do meu funcionário.

— Sr. Knight, boa noite, estamos prontos — diz o piloto

quando me aproximo do jato.

— Tenho poucas horas para estar naquele inferno, vamos logo

— falo, sentindo que as doses que tomei não estão mais fazendo
efeito, a leve embriaguez foi substituída pelo sentimento de repulsa.

Que se fodam todos os Lynch, principalmente Sinead Lynch,


aquele velho porco que acha que é dono do mundo. Minha vontade
é pegar todos aqueles merdas que ele chama de soldados e trancar

em um galpão, então atear fogo para queimarem até a morte, mas


sou astuto demais para deixar claras as minhas intenções. Confesso

que de vez em quando me sinto a porra de um sádico ao imaginar


as várias maneiras de matá-los com minhas próprias mãos.

Só estou indo até a casa de Sinead por culpa daquela ruiva,


mas o que não me faltará será a oportunidade de acertar as contas

com ele, que ousou ter culhões para me obrigar a largar meu luto
para buscar o meu pagamento.

Durante todos esses anos negociando com mafiosos, nunca


recebi um pagamento como esse, apesar de muitos chefes já terem
oferecido a boceta das suas esposas para eu comer. Se eu fosse

outro tipo de cara, com certeza aceitaria foder bocetas fáceis, mas
jamais o fiz, nunca vi necessidade de me envolver com mulheres

casadas, especialmente as que os bundões dos seus maridos me


ofereciam para tentar me bajular.

Sinto meu celular vibrar no bolso, e quando verifico me


arrependo – Tyron. Endureço a expressão ao olhar para o
dispositivo que toca sem parar. A raiva cresce dentro de mim

quando percebo que o inútil não vai desistir até que eu o atenda.

— Espero que tenha me ligado para falar algo importante. —


Minhas narinas dilatam quando ouço a risada provocante do outro
lado.

— Só liguei para dizer que o seu prazo está acabando.

É a minha vez de soltar uma gargalhada.

— Não sei se você se lembra, mas quem me deve são vocês.


Quem tem que exigir aqui sou eu, então pare de soltar merda pela

boca e não me ligue mais. Vou chegar quando eu achar melhor —


aviso friamente, em seguida, desligo sem paciência para ouvir

tolices.
Penso em desligar o celular, mas mudo de ideia quando meus
olhos batem no papel de parede dele – Lana está de pé, encostada
no meu carro e sorrindo para a câmera –, ainda me lembro de

quando tiramos essa foto, há seis meses. Um sentimento de raiva e


desejo de vingança cresce dentro de mim por ter descoberto a

aliança de Svetlana e Lucke tarde demais, na noite da sua morte.


Se eu tivesse conhecimento das ameaças dele antes, talvez minha
mulher estivesse neste momento comigo, celebrando a morte

daquele miserável.

Meus planos foram jogados no lixo, o Ivanov está morto. Mas

o que isso significa para mim? Nada. Nada mais tem sentido sem
ela ao meu lado. Minha companheira partiu, e com ela levou uma

parte do meu coração.

Minutos depois meu celular volta a tocar, e sem interesse

algum em perder o resto da paciência que me resta, eu o guardo no


bolso. Em poucas horas chego à Irlanda.

Física e mentalmente cansado, eu fecho os olhos, mas o


arrependimento vem de imediato, porque meus pensamentos só me
levam a Svetlana dando o último suspiro nos meus braços.
Mesmo que seja doloroso e inaceitável saber que nunca mais
a terei comigo, tenho que me acostumar com a ideia. Svetlana lutou
bravamente pelas pessoas que amava, deu a vida para que eles

vivessem.

Se alguém disser que tenho raiva por ela ter traído a minha

família e a minha confiança estará mentindo, e sei que qualquer um

dos Knight dirá o mesmo, não é à toa que fazemos de tudo pela
família.

Enfim chegamos a Dublin. Após uma hora e alguns minutos

de voo, meu piloto pousa o jato na minha pista particular.

— Obrigado, Richard. Está dispensado, pode tirar o dia para

descansar — digo.

Saio do jato e sigo para a casa. De cara, sou recebido pelos

soldados que fazem a segurança do local, todos com armas

potentes nas mãos. Entro disposto a tomar um banho e tirar o cheiro


de álcool do meu corpo.
Esse lugar, que antes era meu paraíso com Lana quando

vínhamos a negócios, agora será meu refúgio por algum tempo.


Passeio meus olhos pela decoração feita por Svetlana e sinto meu

peito ser esmagado a cada segundo que penso nela, parece que

vou sufocar e surtar a qualquer momento.

Levo as mãos ao meu cabelo e começo a chorar

desesperadamente. Parece que um peso cai sobre meus ombros e

toda a minha estrutura é quebrada. Aquele homem forte de algumas

horas atrás não existe mais, não agora, sozinho com pensamentos
perturbadores.

Não sei se sou capaz de juntar todos os estilhaços que sobrou

de mim. O choro que estava segurando é liberado, meus olhos

ardem como fogo, minha cabeça lateja como se fosse explodir e


meu corpo treme.

Dor.

Sofrimento.

Frio.

Um vazio angustiante.
Tudo que eu não sentia desde que meus pais foram

assassinados por Conan.

Caio de joelhos em frente ao sofá e deixo que meu luto seja


sentido com mais intensidade.

A dor me engole como um monstro que estava adormecido há

muito tempo e que precisa desesperadamente ser alimentado para

se manter de pé. Enquanto sou preenchido pela minha desgraça e

solidão, penso o quanto a vida foi filha da puta mais uma vez
comigo. Na primeira, levou as pessoas que eu mais amava; na

segunda, levou a mulher com quem eu pretendia me casar e ter

meus herdeiros.

Estou em um túnel sem saída, onde sou o meu próprio algoz.

O tempo passa e só percebo quando amanhece. Sem

lágrimas para derramar, sento-me no sofá e passo alguns minutos

ali, até que tomo a iniciativa de ir para o meu quarto.

Entro e me deparo com tudo organizado, provavelmente a

diarista continua vindo mesmo na minha ausência. Preciso me

lembrar de agradecer ao Dominic, meu braço direito aqui na Irlanda,


por cuidar das minhas coisas quando estou longe.
Fecho a porta, tiro minhas roupas, jogo meu celular na cama e

sigo para o banheiro.

Depois de alguns minutos debaixo do chuveiro, saio e logo

ouço uma gritaria lá fora. Me aproximo da janela e vejo alguns

homens dos Lynch em seus carros, na minha propriedade. Todos


armados e com expressão assassina, como sempre.

Dou mais uma conferida e noto que meus homens estão

prontos para qualquer ação se for necessária, basta uma ordem

minha, mas hoje não estou a fim de sujar meu gramado com sangue
de vermes.

— Filho da puta corajoso — rosno quando vejo Tyron surgir. O

miserável fala algo para um dos meus e aponta o dedo na cara dele,

que não gosta muito e avança para cima do filho do meu sócio. O
idiota solta uma gargalhada afrontosa.

Um dia eu mato esse imbecil.

Jogo a toalha na cama e sigo para o meu closet para me

vestir. Pego uma das pistolas só por precaução – a minha preferida


é a Glock –, então a coloco no cós da minha calça nas minhas

costas e saio do quarto em passos largos, pronto para uma boa

conversa com um certo invasor.


— Aí está ele! O homem mais difícil de ser encontrado — fala

Tyron, assim que me vê saindo da casa.

Assim que meus homens me veem, formam uma fileira ao

meu redor como se fossem a minha fortaleza, e os do cuzão fazem


o mesmo. Ficamos frente a frente, então o filho de Sinead me

encara furioso enquanto fico o observando com a expressão

relaxada. Não há nada para temer, ele não é páreo para mim, mas
acha que é.

Cruzo os braços e percebo que o homem me analisa dos pés

à cabeça.

— Veio aqui para ficar secando o meu corpo? — pergunto


com seriedade, então ouço risos de ambos os lados, mas

os inimigos se calam quando recebem um olhar mortal do Lynch.

— Vá se foder, Knight — grunhe.

Eu permaneço calado, esperando que ele me diga o que


pretende vindo até o meu território.

— Diga logo de uma vez o que veio fazer aqui sem que eu

solicitasse sua presença. — Semicerro os olhos. — Não gosto de

surpresas, principalmente quando vêm de pessoas que não tolero.


— Por que não atendeu as minhas ligações? — pergunta,

revoltado. O príncipe não gosta de ser contrariado. Pobre menininho


rico. — O seu prazo acabou quando decidiu me ignorar.

— Por acaso sou suas putas para te dar satisfação? Saia da

minha propriedade. Não tenho acordo nenhum com você, somente

com o seu pai. — Minha voz sai fria e controlada.

— Escute aqui, seu merda, você está no meu território, seja

menos atrevido com as suas palavras. — Ele coloca o dedo em riste

diante do meu nariz, enquanto permaneço como estou, somente o

observando.

— Já acabou? Agora suma! Pense duas vezes antes de vir

aqui encher o meu saco. Está maluco se pensa que vou deitar e

rolar para você só porque estou no seu país. — Quebro o silêncio


de uma maneira que ele não esperava, talvez achasse que eu cairia

no seu joguinho.

Dou as costas para Tyron, mas sou impedido de entrar na

casa ao ouvir um choro feminino.

— Já que você não quis buscar o seu pagamento, eu o trouxe.

Continuo como estou, de costas, pronto para entrar, mas mais

uma vez a desconhecida tem a minha atenção.


— Me solte, seu imbecil, está me machucando! — A voz é
doce e angelical.

Sou obrigado a me virar assim que noto que a estão

machucando. Mas que porra tenho a ver com isso? Carter James
Knight sempre sendo o salvador. Estou com tantos problemas, que

nem me lembrava dessa garota.

No momento em que busco pela paz, encontro o inferno, mas

eu sabia que encontraria isso ao vir até aqui. Fixo meus olhos nela e
vejo seus cabelos ruivos, quase alcançando os quadris, como tinha

visto na foto há um tempo. Os olhos da garota estão raiados de

sangue enquanto o choro deixa seu rosto redondo e salpicado com


sardas ainda mais vermelho, e suas pálpebras inchadas. Parece

que alguém chorou a noite toda.

Sem muito interesse, passeio meus olhos pela menina – a


porra de uma adolescente. Estão me dando uma garota que não

tem mais que dezessete anos como forma de pagamento. E o que


mais me revolta é saber que o próprio pai, sangue do seu sangue, e
o fodido do irmão, a trouxe como se não significasse nada para ele.

— Fique quieta, cadela! — o monte de merda do Tyron rosna


para a irmã. Fecho os punhos, indignado com a cena. Ele vai até
ela, que se encolhe, e pega em seu rosto, apertando e a fazendo o
encarar, então fica ao seu lado e segura no pescoço da menina,
obrigando-a a olhar para mim. — Olhe para o seu mais novo dono.

Aquele é o Carter James Knight, o papai te deu para ele. — O


desgraçado dá um sorriso diabólico.

— Largue a garota e dê o fora daqui — me manifesto depois


de um bom tempo.

Muriel arregala os olhos e meneia a cabeça, se negando a vir


para mim quando o seu irmão a empurra em minha direção. Ela olha
desesperada para Tyron assim que seus olhos encontram as

tatuagens tribais em meus braços e meu peito.

— Não... não faça isso, por favor... Prometo que vou me


comportar. Fale para o papai que vou me comportar, mas não me
deixe aqui. — Ela soluça e recua, mas Tyron a pega pelo cabelo e a

arrasta até mim.

Fico puto com a sua violência, mas permaneço inabalável.

Talvez ela ache que sou um monstro, mas se soubesse que os


monstros habitam em lugares que menos esperamos, não estaria

me olhando com tanto pavor.


— Pare de chorar, pirralha. Fique grata por não ter sido dada
para aquele velho do Henry. Ao menos vai ser fodida por um cara
mais apresentável — o porco fala, me fazendo ficar nauseado com

suas palavras.

O filho de Sinead joga a irmã na minha direção. Por sorte


tenho um bom reflexo e consigo amparar uma possível queda.
Caralho, a menina está tremendo como um graveto. Sinto o cheiro

do seu medo.

— Entre e não saia de lá — ordeno no ouvido dela, que

assente, trêmula e gelada. Muriel segue minhas ordens ao se dirigir


para a casa.

— Sempre soube que você seria a pessoa certa para colocar


essa putinha bastarda no lugar dela. — O ruivo passa a mão na
barba e dá um sorriso malicioso.

— Dê o fora daqui. A dívida de vocês foi quitada — declaro.

Por fim, ele assente. Parece conformado.

Olho para os meus homens e eles entendem o recado, então

voltam para seus lugares e eu entro na casa, fechando a porta na


cara do Lynch e dos cães dele. Não demoro para ouvir os pneus
cantando para fora da minha propriedade.
— Se continuar assim vai ficar desidratada — falo ao fixar
meus olhos na ruiva encolhida no meu sofá, com as mãos nos

joelhos. — Engula esse choro. Ninguém aqui vai te machucar. —


Estou prestes a deixar a sala quando ouço sua voz quase inaudível.

— Você vai me fazer sua mulher e vai me dividir com seus


homens? — indaga, nitidamente atormentada.

— O que você disse? — pergunto, não querendo acreditar em


suas palavras.

— Meu irmão disse que você é um sádico, que vai me comer


e depois me dar como...

— Escuta aqui, menina — eu a interrompo, enraivecido. A veia


em meu pescoço lateja. — Não sei que tipo de monstro o seu irmão
me pintou, mas saiba que nunca faria isso com uma adolescente. —

Olho para seu corpo magro e sem curvas. Não tenho interesse
algum nela, nenhuma mulher me interessa, e não será uma pirralha

que irá me fazer mudar de ideia.

Então noto que minhas palavras a deixam mais tranquila,

porque neste momento seus olhos avermelhados não estão tão


assustados quanto antes.
— Senhor, já que disse que... que não vai me machucar,

posso pedir um favor?

Era só o que me faltava.

— Depende.

— Posso trazer a minha babá para morar comigo? Ela é a


única pessoa que me ama de verdade e...

— Contanto que respeitem o meu espaço — interrompo a


garota.

Pela primeira vez, ela sorri. Seu sorriso não é completo, há


uma sombra de medo e eu a entendo. Até que ela está sendo forte,

para quem foi dada a um desconhecido.

— Obrigada, sr. Knight.

A garota me agradece por ter deixado trazer a babá. Eu que


deveria agradecer a ela por ter uma, a última coisa que está em

meus planos é tomar conta de uma adolescente.

— Vamos às regras para termos uma boa convivência. —


Levanto o dedo indicador e ela fica atenta. — Fique longe do

corredor do meu quarto, não saia sem a minha permissão, não fale
comigo mais que o necessário, não invada a minha privacidade.
Amanhã vou buscar a sua babá.

Muriel assente e eu agradeço mentalmente por isso.

— Sim, senhor. — Ela arruma uma mecha ruiva que cai sobre

seu rosto.

— Procure algum quarto para ficar, não fique passeando pelos

cantos da casa — aviso e saio, sem esperar que ela diga mais
alguma coisa.

Fiz um serviço para os Lynch em uma das corridas que


organizei para o carregamento de algumas mercadorias, uma
grande quantidade de drogas – trezentos quilos de cocaína.

Naquele dia, levei meus melhores pilotos, foi um trabalho arriscado.


Os Knight não fazem esse tipo de serviço, mas abri uma exceção e
me arrependo disso até hoje. Ter a filha do velho como pagamento

não era o que eu esperava.

Assim que entro no meu quarto ligo para Dominic, que me


atende no primeiro toque.

— Dom, já estou em Dublin, tenho um serviço para você... —

Então peço para que ele busque a babá de Muriel ainda hoje.
Nos despedimos e eu me jogo na cama. Cansado, deito de
bruços e fecho os olhos, minhas pálpebras pesam no mesmo

instante, mas me recuso a dormir. Levanto-me e abro uma porta do


meu closet, me deparando com uma garrafa de Johnnie
Walker. Abro a embalagem e levo a bebida à boca.

Sozinho e sem ninguém para amar e me amar. Jamais


imaginei que esse fosse o final que eu teria.
Dominic me contou que os Lynch estavam a ponto de jogar a
velha na rua quando ele estava chegando para buscá-la, parece que
sem a garota por lá a babá não valia mais nada para eles.

Ele chegou há algumas horas com uma senhora baixinha e

robusta, supostamente a babá da Muriel. Me pergunto como alguém


de dezessete anos ainda tenha uma, enfim, é vantagem para mim,
mal tenho tempo de me cuidar, imagina se terei para uma menina.

O nome da mulher é Rose, mas por algum motivo Muriel a

chama de nana. Quando a pequena sereia viu a babá, só faltou se


jogar nos braços dela de tanta emoção que estava sentindo. Eu vi a

cena pela janela do meu quarto, e, de imediato, fiquei furioso pela

menina ter esquecido uma das regras – nada de sair sem minha
permissão. Me fiz de desentendido e voltei a beber o Johnnie

Walker moderadamente para não ficar bêbado, já que agora sou

responsável por uma certa ruiva também.


— Por que aceitou a garota como pagamento, sendo que

poderia ter rejeitado? — pergunta Dom, assim que entramos no meu


escritório.

— Ainda não sei, estou tentando descobrir o verdadeiro

motivo — falo, pensativo, deixando meu braço direito perplexo.

— Se eu não te conhecesse, diria que só pode estar


apaixonado por aceitar essa loucura. — Ele ri.— Sabe que a garota

irá te dar trabalho, não é? Vai ter que deixá-la afastada de muitas

coisas, principalmente dos homens lá fora.

— Se me disser que estou sentindo algo por aquela

adolescente, com certeza o louco aqui é você — falo com amargura.

— Já que ela é minha agora, vou lhe dar todo suporte que precisa
até atingir a maioridade. E quando puder se virar sozinha, ela vai ser

livre para partir. Não que Muriel não seja livre agora, mas sei que na

idade dela não deve saber nada da vida. E com os monstros que ela

chama de família de olho em mim, não posso deixar essa inocente

por aí.

Eu vi como aquele escroto do irmão, se é que posso chamá-lo

assim, a tratou. Nem gosto de imaginar o que ela passou dentro da

casa que os Lynch chamam de lar.


— A cada dia você consegue mais a minha admiração, Carter
Knight — fala, sendo verdadeiro. — Sei que não é um bom

momento, mas como você está? — Sei que se refere a minha perda

recente.

— Estou bem. — Olho para ele, que assente. — Podemos

falar de negócios? — Arqueio a sobrancelha, sério.

— Claro que sim, chefe, o senhor que manda. — Ele bate

continência.

— Preciso que contrate três funcionárias para o serviço da

casa — falo.

— Certo, pode deixar, amanhã mesmo trarei algumas

candidatas.

— Confio na sua escolha, deixo esse trabalho para você. —

Não estou a fim de ver ninguém, muito menos entrevistar pessoas

que não me servirão. Elas serão contratadas exclusivamente para

servir Muriel e a Nana dela, enquanto estiverem sob meu teto.

Dominic e eu passamos algumas horas conversando e ele me

atualiza dos negócios de Dublin. Quando percebemos já é noite,

então ele vai embora e eu saio do escritório disposto a voltar para

meu quarto e não sair de lá pelas próximas horas.


Paro na metade do corredor quando ouço vozes femininas

quase abafadas.

— Acha que esse homem vai te maltratar como a sua família

fazia, minha filha? — É a voz da mais velha, da babá.

— Não sei, nana... O Tyron, quando me arrastou do meu

quarto, me disse que eu ia ser levada para o meu dono. Ele veio o
caminho todo até aqui rindo com os homens, dizendo que eu seria

estuprada todos os dias pelo Knight e pelos homens dele só para


que eu aprendesse a me comportar.

Ela diz isso mais uma vez, fico perplexo e furioso. O grande

fodido filho de Sinead me pintou como monstro para a irmã, sendo


que os monstros são eles.

— Não se preocupe, minha pequena, não vou deixar que

ninguém te machuque. Nem que para isso eu tenha que enfrentar


esse homem. E se ele me matar, morrerei feliz por saber que tentei
te salvar — diz a senhora.

Admiro a sua coragem e lealdade, mas não tenho motivos


para machucar Muriel.

— Não fale besteira, nana. Ele me garantiu que não me fará


mal — a menina diz, porém, sinto a insegurança em sua voz. É a
mesma de quem está acostumada a ouvir promessas que não são

cumpridas.

Quem é Muriel Scott?

— Como é mesmo o nome desse homem, querida?

Antes que ela tenha a resposta, eu saio da sombra do

corredor.

— Carter James Knight. — Aproximo-me delas em passos


lentos. Elas ficam assustadas ao ouvirem a minha voz, que sai
quase em um tom baixo, controlado.

Muriel se põe atrás da babá, aparentemente com medo, talvez


tenha notado que eu as ouvi e agora está se escondendo como se

eu fosse fazer algo com ela. Olho para a senhora baixinha e de


cabelo branco que me encara, pálida e com os olhos arregalados.

— Eu sou o motivo do silêncio de vocês? Podem continuar a


conversa, não quero atrapalhar. — Minha expressão é séria

enquanto as observo tremerem de pavor.

— O... senhor... ouviu? — A menina sai de trás da mais velha,

mas não ousa me encarar, fica cabisbaixa e submissa.


— Olhe para mim quando eu estiver falando, Muriel — brado,
quase perdendo o controle. Rapidamente a garota me obedece. —
Não sou nenhum monstro como Tyron disse. Não fui eu que dei a

minha irmã para um desconhecido. Me escute bem, você é uma


adolescente, não tenho interesse algum em você, menina. — Vejo

os dois rostos suavizarem quando assimilam minhas palavras. Até


mesmo a postura das mulheres relaxa, como se tivesse tirado um
peso dos seus ombros.

— Então, por que a aceitou como pagamento? — Rose se


encoraja ao perguntar. Ela é firme, como qualquer mãe deveria ser

para proteger um filho, apesar de não ser.

Decido ignorar a sua pergunta.

— Quero que saibam que não pretendo tocar em um fio de


cabelo da sua pequena. — Lembro-me de ouvi-la chamando assim.

— Eu só permiti que a senhora viesse para cá para ficar


responsável por ela, cuidar dela. Assim que Muriel atingir a

maioridade, vocês podem ir para bem longe, se quiserem. Daqui a


um ano podem partir, mas enquanto estiverem sob a minha
proteção, podem ficar tranquilas que os Lynch não irão chegar perto

de vocês.
— Mas como... como eles não vão poder me fazer mal, se o
senhor está... no território deles? — pergunta Muriel, com doçura.

— Apenas confiem em mim, o resto eu faço — falo e dou as

costas para elas.

Outro dia. Outro dia sem ela, sem a minha morena, sem Lana

ao meu lado. Em um sobressalto, eu me levanto da cama, todo

suado e com os olhos ardendo, após ter um sonho ruim. Com um nó

na garganta, passo a mão no meu pescoço.

— Por que condenou a minha alma ao inferno, Svetlana... Te

amo tanto, porra... Você prometeu que iríamos construir uma família,

e na primeira oportunidade me deixou, partiu para sempre — urro,

levando as mãos à cabeça.

Vinte e quatro horas.

Vinte e quatro horas que ela morreu. Todas as vezes que olho

para o maldito relógio, penso que vou perder o juízo. Tenho vontade

de tirar de Lucke o que ele nem mais tem – sua vida.


Estou louco? Sim. Talvez isso amenize minha dor. Ver o corpo

daquele desgraçado estirado para comprovar que morreu mesmo,


mas tenho certeza de que meu irmão deu a ele o pior na hora da

sua morte.

Por que o tempo está passando tão rápido para mim? Por que
a minha dor continua aqui? Não que eu vá esquecê-la, foi meu

primeiro e único amor, mas viver com o coração esmagado é

péssimo. Como se você estivesse morrendo asfixiado aos poucos,

lenta e dolorosamente, sinto que estou indo por esse caminho.

— Sr. Knight, preciso falar com o senhor.

Uma voz doce e tímida do outro lado me tira dos meus

devaneios. Muriel.

O que essa menina quer? E por que veio para o meu lado do
corredor, quebrando mais uma regra?

Puto, eu a ignoro e entro no banheiro. Ela vai ter que aprender

que não deve quebrar as minhas regras. Só porque a deixei trazer a

babá, não quer dizer que pode sair por aí fazendo o que bem
entende. Estou sem paciência alguma, e agora essa pirralha vem a

uma hora dessas querendo sabe-se lá o quê.


Passo bons minutos no banheiro antes de sair, mas me

arrependo quando ouço algumas batidas insistentes. Enrolado na

toalha, sigo até a porta e a abro, me deparando com a ruiva sentada


no chão, com as costas apoiadas na parede, o cabelo preso em um

coque, cantarolando alguma música do seu país. Fico irritado

quando a menina levanta os olhos e me vê só de toalha, com os

pingos de água deslizando por minha pele e rosto.

— Pretende passar a manhã toda aí? — pergunto e percebo

que ela cora ao passear os olhos pelo meu peitoral.

— Eu... eu... quero pedir um favor ao senhor — diz e se

levanta quase tropeçando, mas eu seguro seu braço fino, impedindo


que caia.

— De novo? Acha que é assim? Vem aqui e invade a minha

privacidade para pedir um mero favor? — Arqueio a sobrancelha,


sério, antes de cruzar os braços.

Muriel abaixa a cabeça, em submissão, com medo.

— Me perdoe, senhor... eu pensei que... — gagueja e tenta se

afastar, mas eu não permito.

— Me fale de uma vez o que precisa. Se estiver ao meu


alcance, posso tentar te ajudar — falo, ainda a segurando para que
não fuja. Quando a ruiva olha em meus olhos, noto que seus olhos

têm um tom esverdeado intenso. — Não vou te machucar, nunca,


então pare de abaixar a cabeça quando estiver falando comigo. Não

sei o que seu pai e seu irmão faziam com você, mas saiba que não

sou eles. Não quero mais repetir isso para você. E me chame de
Carter, não sou tão velho assim. — Eu a solto.

— Mas... o sen.. você é meu dono agora, então devo respeitá-

lo — declara.

Fico sem acreditar. Que tipo de lavagem fizeram com essa


menina?

— Não, não, eu não sou o dono de ninguém. Quem fala tantas

besteiras para você, garota? — Balanço a cabeça, perplexo.

— Meu irmão disse... — começa e me olha nos olhos. Se


realmente existe um demônio na Terra, ele se chama Tyron Lynch, e

eu farei questão de mandá-lo para o inferno.

— Seu irmão é um lunático, não bate bem das ideias. Não

leve em consideração o que ele falou. Agora me diga de uma vez o


que você precisa para ter vindo até o meu quarto tirar a minha paz

— falo, deixando-a boquiaberta.


— Sim... sim — ela assente, meio atordoada. — Preciso das

minhas roupas... não tenho nenhuma e quer... — gagueja.

— Esqueça as coisas que deixou naquela casa — eu a

interrompo. — Vou pedir a um dos meus homens que leve a Rose


para comprar roupas e o que você precisar — falo e ela arregala os

olhos. — Agora volte para o seu quarto, não quero ver você se

esgueirando pela minha casa. E quando precisar de algo, mande a


sua babá falar comigo, porque ela é a responsável por você.

— Sim, senh... Carter. Com licença.

Quando a menina se vai, eu fecho a porta e vou até o closet

me vestir. Inferno, não posso nem mesmo sentir o meu luto em paz,
cada hora é uma coisa.
Tenho um jantar de negócios com alguns membros da máfia
irlandesa, mas tinha caído no esquecimento até receber a ligação
do próprio Sinead para me lembrar. O encontro foi marcado há

cerca de dois meses, Lana e eu iríamos juntos, mas agora tenho


que fazer isso sozinho. Negócios são negócios, por mais que eu não
esteja interessado em me reunir com aqueles homens, tenho que ir.

— Sr. Carter, o carro já está pronto — avisa um dos meus

homens quando saio da casa. Ele me entrega as chaves e eu

meneio a cabeça.

Hoje, pela tarde, Dom me comunicou que as funcionárias que

pedi já estão trabalhando na casa. Elas irão auxiliar Muriel e Rose

assim como ordenei. Não quero a garota nem a babá fazendo o


trabalho doméstico. Aliás, Muriel irá começar os treinos para

aprender a se defender e terá aulas de direção, está na cara que a

menina não sabe muita coisa. O que pude perceber nela é que
entende muito bem de violência, já que me olha como se eu fosse

quebrar a cara dela a qualquer momento.

— Daniel, certo? — pergunto e ele confirma com um aceno. —

Estamos com funcionárias novas na casa, e apesar do Dominic ser

meu homem de confiança e as ter contratado, quero que fique de


olho nelas. E na Rose, a babá. Se vir alguma coisa estranha me

avise imediatamente — falo enquanto Daniel me escuta

atentamente.

— Sim, chefe, pode deixar — diz, e eu fico satisfeito com a


sua lealdade.

Sigo em direção a minha Lamborghini Sian Roadster azul,

uma máquina rara, que comprei quando corri há alguns anos, na


Itália. O modelo é o mais potente e um dos mais raros da marca já

produzidos, há apenas sessenta e três unidades e eu sou um dos

sortudos que conseguiu ter o automóvel.

Antes de entrar no carro, viro-me ao lembrar que esqueci de

um detalhe importante.

— Daniel, onde estão os outros? — Me refiro aos caras que

ficam ao redor da casa, fazendo a segurança.


— Estão nos fundos, senhor, jantando — diz, meio inseguro,
noto em seu tom de voz.

Arqueio a sobrancelha e comprimo os lábios.

— Não pago a eles para deixarem a minha casa desprotegida.

Vocês foram treinados para serem os melhores, não tolero outro


deslize como este — repreendo e ele abaixa a cabeça. — Quando

voltarem para seus postos, dê o meu recado.

— Sim, sr. Carter. — Daniel dessa vez me olha nos olhos.

Eles sabem que precisam revezar, não sair todos ao mesmo

tempo. Ainda bem que eu vi o que eles fazem agora, imagine se só


descobrisse isso quando alguém tentasse invadir a minha casa?

Meus soldados seriam facilmente abatidos por estarem jantando

todos ao mesmo tempo, como se estivessem na porra de um

restaurante.

Entro no carro e solto um palavrão ao lembrar de outra coisa,

que deveria ter falado desde o início. Abaixo o vidro da janela e olho
para Daniel, que está perto da porta de entrada.

— Daniel— minha voz sai autoritária e ele fica em alerta —,

quero você e os outros longe da garota. Não quero que nem mesmo
olhem na direção dela enquanto ela estiver por aqui — aviso e

coloco o carro em movimento.

Dirijo por poucos minutos em alta velocidade até chegar ao

território dos Lynch. Ainda dentro do veículo, eu observo a


movimentação do local – muitos carros passando e algumas
pessoas entrando. Olho para os muros altos e vejo mais ou menos

uns quinze homens com armas potentes e mais alguns embaixo, na


entrada, no enorme portão por onde entram alguns convidados, que

são revistados antes de conseguirem a passagem para a porta do


inferno. Os miseráveis sabem intimidar os frouxos, não é à toa que

Tyron acha que é um semideus. É uma pena que ele não me


intimida como faz com os outros.

Passo alguns minutos estudando os soldados dos Lynch e o


revezamento que fazem até sentir que estou sendo observado,

então decido continuar como se nada estivesse acontecendo.


Arrumo minhas duas Glocks no coldre e olho para o retrovisor,
percebendo que um deles se aproxima.

Sem esperar ser surpreendido, pego as chaves, abro a porta e


saio, dando de cara com um cara forte e alto, quase dois metros de

altura, vestido com roupas formais e armado. Ele tem uma cicatriz
horrível, que parece uma queimadura, no lado esquerdo do rosto.

Sua expressão é de quem mata sorrindo.

— Boa noite, senhor. Está com algum problema no carro? —

Avalia-me, desconfiado.

— Não. Por que pergunta? — Relaxado, ajeito o botão do meu

blazer, deixando-o irritado.

— O senhor ficou muito tempo parado desde que chegou,

achei que precisasse de ajuda — diz, soberbo.

— Fico grato por estar preocupado com a minha máquina. —

Olho para trás e depois foco no homem que está quase infartando
de fúria. — Mas ela está em boas condições. Fico lisonjeado com

tamanha preocupação com um mero convidado. — Notando a sua


ira, estendo a mão na direção e o cãozinho ruge os dentes, mas não

se move.

— O que está fazendo? — Seus músculos se enrijecem.

— Da próxima vez, aprenda a tratar bem os convidados do


seu chefe, principalmente eu, o convidado mais importante dessa

bosta de evento. — Sorrindo, passo a mão na lapela do seu terno


como se estivesse tirando poeira e depois lanço a ele um olhar
perverso. — Se eu o vir novamente, irá se arrepender de ter
cruzado o meu caminho. — Depois de dizer isso, saio em direção à
entrada.

Aproximo-me dos homens que estão fazendo a vistoria dos

convidados do lado de fora. O soldado de confiança de Sinead me


reconhece e me cumprimenta com um meneio de cabeça, então

prontamente faço o mesmo.

— Boa noite, sr. Knight, seja bem-vindo.

Me esforço um pouco para me recordar do seu nome – Kael.

— Boa noite, Kael. Obrigado — falo, com a expressão séria,


quando ele começa a me revistar.

— Me desculpe, mas é uma regra dos patrões. Temos que

segui-la ou sobra pra gente — diz.

Eu fico impassível, porque sei como é, ainda mais vindo dos


Lynch.

Kael me revista para ver se acha algo, mas o que ele encontra

são minhas Glocks. Por um instante penso que o homem vai falar
algo, mas ele apenas faz um sinal para que os dois homens parados

no portal preto de ferro saiam do meu caminho. Algum dia esse


soldado irá me servir, ele não parece tão fiel aos Lynch e nem se dar
bem com o Tyron. Nunca se sabe quando um soldado responsável
por uma boa quantidade de soldados me será útil.

Entro na propriedade e, mesmo com uma distância razoável

do evento em si, ouço o som alto. A mansão de Sinead é de pura


ostentação, a maior parte das paredes é de vidro, então consigo ver

o que acontece lá dentro.

Uma péssima ideia ter vindo. Olho para algumas putas


dançando no pole enquanto outras se esfregam nos sócios dos

Lynch. Impaciente, atravesso o enorme jardim e logo estou parado

perto das duas portas duplas de vidro da casa. No mesmo instante

que passeio meus olhos pelo local cheio, o som é desligado e as


vozes altas de repente viram murmúrios.

Quer dizer que sou a atração do lugar. Todos me olham dos

pés à cabeça.

— Por que pararam a porra da música? — A voz de Tyron sai


irada. Só assim para eu avistar o imbecil. — Liguem esse caralho e

voltem a comer as cadelas e usar drogas. Aproveitem que hoje é de

graça — fala, com os olhos fixos em mim.

Em poucos segundos a música volta, mas não tão alta como

antes. Logo as pessoas tiram seus olhos de mim e eu fico aliviado,


odeio ser o centro das atenções.

O principezinho está sentado em um dos sofás, com uma loira


platinada no colo só de calcinha. Ele tem os olhos avermelhados e

um sorriso provocante. A loira olha na minha direção e eu não fico

surpreso ao ver seus seios e a barriga plana suja de cocaína, o filho


da puta é viciado em coca e faz questão de dar shows nos eventos

que faz.

Olho para todos os cantos e não vejo o velho Sinead.

Estranhando, fico parado e analiso o tal jantar, que parece mais um


puteiro – tem mais mulheres peladas do que vestidas. Os velhos

estão enlouquecidos, principalmente com as que dançam e

deslizam a boceta no ferro do pole.

— Venha até aqui, Carter, podemos dividir a minha puta esta


noite. Ela ama ter dois paus enfiados na boceta arrombada dela. —

Tyron esmaga a bunda da loira com as mãos e depois curva o corpo

dela e lambe a cocaína da sua pele. — Não me diga que o seu pau
broxou depois que a sua amada russa morreu? — Dá um sorriso

maldoso por cima do ombro da puta.

Com raiva, respiro fundo e permaneço calado, a veia do meu

pescoço latejando. Olho mais uma vez ao meu redor e noto muitos
homens armados. Aqui, na casa deles, estou em desvantagem,

claro. Levo a mão ao meu blazer e o arrumo, então repito o ato,

louco para sacar minhas Glocks e estourar os miolos podres de


Tyron. Mas não faço nada disso, somente sorrio para ele, que me

encara de maneira desafiadora, ele sabe da minha sede de sangue.

— Ao contrário de você, não enfio o meu pau em qualquer

boceta — retruco e dou as costas para ele, que gargalha e é


acompanhado pelos outros idiotas.

— Ah, mas com certeza vai enfiar na bocetinha virgem da

minha irmãzinha bastarda — grita com desprezo.

Fico enojado com suas palavras. Porco. Merece ter os miolos


estourados.

Sigo o meu caminho e decido ignorar Tyron. Bom, ao menos

sei que aquela menina não foi violentada sexualmente por esses

imundos.

Onde está aquele velho de merda.

Passeio pela casa para questionar o motivo do Sinead ter

mentido para mim. Esse pedaço de merda sabe do meu luto e

mesmo assim faz questão de me desrespeitar. Depois de bons


minutos, eu o encontro em uma sala, onde o som não a alcança. Ele
está com alguns homens da mesma faixa etária dele, jogando

xadrez e rindo. Fico surpreso por não ver mulheres ao redor deles.

— Sinead — eu o chamo.

Ele se vira e sorri amigavelmente, como se eu acreditasse

nessa ternura dele.

— Carter James Knight, meu amigo. Venha, sente-se conosco


— me cumprimenta.

Seus amigos sorriem para mim como se me conhecessem há

anos.

Decidido a jogar o jogo dele, pego a cadeira e a arrasto até a


mesa sob os olhos dos homens. Fico encarando o velho de cabelo

grisalho e semblante cansado. Sinead pega um charuto e o acende,

em seguida, me oferece com um sorriso.

— Não fumo — recuso.

Ele gargalha e fuma a porcaria dele, depois sopra a fumaça.

— Meus queridos, me deixem sozinho com o Carter — pede

educadamente.

Então percebo que as coisas só pioram. Os amigos o


obedecem e logo estamos só eu e ele.
— Fez tanta questão de me lembrar do jantar, e quando chego

aqui me deparo com aquilo lá fora — falo e apoio meus cotovelos na

mesa, com Sinead acompanhando meus movimentos.

— Era para ser algo mais íntimo, mas meu filho é impossível.
— Ele ri e volta a fumar o charuto.

— Pensei que você mandasse aqui, pelo visto estou

enganado. — Eu o encaro, com meus olhos frios.

— E mando. Só estou deixando o garoto se divertir, você


deveria fazer o mesmo — diz, divertido. A raiva cresce dentro de

mim, queima como um vulcão em erupção prestes a explodir. —

Não me diga que desistiu do amor por causa da namorada — ousa


especular, sorrindo.

— Não, eu não desisti. Só que eu sei o significado da palavra

respeito — respondo e levanto-me. — Já que não temos nenhum

assunto importante para tratar, vou embora. — Pronto para deixar a


sala, travo ao ouvir sua voz.

— Carter, como está a minha filha?

Sem acreditar em sua pergunta, eu me viro para ele sem

demonstrar nada.
— Bem longe de você e do seu filho maníaco — respondo e

não lhe dou mais chance de falar nada.

Saio pelos fundos e chego ao portão, percebendo que a

movimentação está bem menor. Sentindo uma agonia no peito,

desabotoo meu colete e passo pelos homens dos Lynch, indo em

direção a Lamborghini.

Porra de vida. Bato minha cabeça no volante algumas vezes e

respiro fundo, até a fodida casa do velho me lembra a ela. Passo

quase meia hora tentando me recuperar da sensação ruim no meu

peito. Meu celular começa a tocar no bolso, então, impaciente com o


toque, pego o dispositivo e vejo o nome de Hailey na tela.

Preocupado, acabo atendendo, afinal, a esposa do meu irmão não é

de me ligar.

— Alguma emergência, cunhada? — pergunto, sem nem

mesmo esperar que ela se manifeste.

— Oi, Carter, como está? — pergunta gentilmente, ignorando

as minhas palavras.

— Vivo, mas morrendo aos poucos — digo, demonstrando

impaciência. — Aconteceu algo?


— Ah, não... estamos todos bem... Despachei algo para você
hoje cedo — diz, meio receosa.

— O quê? Não me diga que é o Spencer, dispenso a visita —

falo, confuso e desconfiado, fazendo Hailey rir do outro lado.

— Não, não se preocupe que não é uma visita. É só uma


carta. — Sua voz sai quase em um sussurro.

— Carta? — Meu coração erra a batida e minha boca fica

seca.

— A Svetlana te deixou uma carta. Nós a encontramos na


cômoda, no quarto de vocês. Ela está lacrada, não se preocupe,

não a lemos. Ela está endereçada a você — revela a esposa de

Ezra, me deixando sem reação.

— Hailey, eu... — Fico sem voz, sem ação.

— Shhh... Não fale nada, viva o seu luto, logo a carta chegará
a suas mãos. Fique bem e se cuide — diz, gentilmente.

Antes que eu pergunte o motivo de ter me enviado a tal carta e


não ter me pedido para buscar, Hailey desliga a ligação e eu jogo a

cabeça para trás, soltando um ofego.

Até quando Svetlana vai foder o meu juízo?


Dias atuais

— Acho que devíamos recusar a proposta do Lucke, não

podemos trair a minha família, Lana. — Olho para a minha morena


que tem os olhos avermelhados, está chorando.

— Carter, ele vai me matar se não aceitarmos o que está


impondo. — Svetlana encosta o corpo no Mustang Shelby GT500

preto e soluça. Ela está desesperada, mas eu não posso colocá-la


acima dos meus irmãos, mesmo que eu a ame muito.

— Podemos pensar em outra saída, Lana — grito, com raiva.

A minha namorada se assusta e se encolhe.

— Vocês não terão mais chance de pensar em nada. O seu


tempo acabou, russa.

Uma voz conhecida surge atrás da gente. Lana e eu nos

viramos ao mesmo tempo, e quando penso em tentar nos defender,


Lucke Ivanov saca a arma e atira várias vezes na cabeça da minha
namorada.

— , , . — Acordo assustado, suado e com os

olhos cheios de lágrimas. Ofegante, sento-me na beirada da cama e


abaixo a cabeça, afundando meus dedos em meu cabelo.

Mais uma vez sonhei com ela. É assim desde que li a carta

que Hailey me enviou. Há quatro anos tenho o mesmo sonho. Lucke


aparece e mata a Lana, esse sonho se repete sempre, raramente
não acordo assustado com o maldito pesadelo.

Há quatro anos deixei Londres.

Há quatro anos perdi Svetlana.

Há quatro anos a minha vida mudou.

Já um pouco mais calmo, arrasto-me até a cômoda ao lado da


cama e pego a carta que vem me assombrando por tantos anos.

Olho para o papel que está quase apagado e volto a jogar na


gaveta. Não quero mais viver como um masoquista. Todos os dias
releio a carta assim que acordo. Mas hoje decidi que não quero

mais, chega de me martirizar.


Vivi o luto por Svetlana durante esses anos, claro que durante

esse tempo me envolvi com algumas mulheres, mas nada sério.


Nunca trouxe uma sequer para a minha casa, todas as minhas
transas foram longe daqui. Não por respeito a Lana, porque já

passou muito tempo, mas por Muriel, que ainda mora sob meu teto.

É uma longa história. Muriel Scott não partiu daqui quando


completou dezoito anos. A menina, que hoje é uma mulher de vinte
e um anos, me pediu para que eu a deixasse ficar quando

completou a maioridade. Ainda me lembro do dia em que ela estava


completando dezoito anos e eu estava em uma reunião. A garota
me interrompeu aos prantos, pensei que algo tivesse acontecido a

ela.

— Vocês são meus melhores pilotos, não aceito falhas nesse

carregamento! — Olho para meus pilotos, que assentem. — A


mercadoria estará em um container no porto. Assim que chegarem
lá, um conhecido vai facilitar o acesso para vocês. Não quero falhas,

esse é o nosso melhor negócio — falo a eles o plano do início para


que entendam.

Passamos algumas horas elaborando a entrada e a fuga


deles, que terão o apoio de um dos irmãos Benk, o Marlon. Ele está
de passagem na Irlanda para essa nossa parceria. O cara é muito
bom nos negócios e eu tenho certeza de que mais uma vez vou
conseguir ter as mercadorias sem sermos pegos.

— Dominic auxiliará vocês nesse serviço — por fim aviso e

eles assentem. Levanto-me para entregar a eles as comissões, mas


logo ouço batidas à porta. Estranhando, faço um sinal para que um
deles vá ver quem é.

Enquanto entrego o dinheiro a cada um deles, um dos meus


pilotos abre a porta. Automaticamente levo meus olhos na mesma
direção, me deparando com a ruiva com os olhos avermelhados e

as pálpebras inchadas. Fico preocupado ao ver que ela está com os


lábios trêmulos.

Fico por alguns instantes encarando Muriel, que apenas chora.


Preocupado, faço um sinal para que todos saiam, então peço para

ela entrar e fechar a porta.

— Posso saber o motivo do seu choro? Alguém fez algo a


você? — Sinto meu sangue esquentar e minha pulsação ficar

acelerada.

Olho para a pequena sereia, que nega soluçando. Fecho os


punhos por me sentir confuso. Depois de um ano convivendo com a
garota, começamos a nos aproximar mais do que eu queria. Nos
primeiros meses com ela aqui, foi meio tenso porque às vezes

ficava insegura em relação a mim e às mentiras que o irmão dela


plantou em sua cabeça, porém, com o tempo, ela foi vendo que eu
jamais faria mal a ela e acabou se sentindo em casa. Aproveitei que

a menina não tinha mais medo de mim e tratei de prepará-la para o


futuro, mais especificamente, para quando completasse seus
dezoito anos e fosse livre para ir embora da minha casa para

sempre.

Em um ano, Muriel aprendeu tudo o que pôde; teve aulas de


defesa pessoal, aprendeu a manusear armas e, por fim, para que
seu treinamento ficasse completo, aprendeu a ser uma boa piloto. A

garota, apesar de ser baixinha e ter um ar de inocente, sabe se


defender muito bem. Eu a preparei para as dificuldades da vida.
Hoje é o seu último dia aqui, já é livre para seguir o seu caminho

com a babá.

— Hoje eu faço dezoito anos. — Ela me encara com seus


olhos esverdeados, que estão mais claros por causa do choro.

Assinto, sério, ainda sem entender aonde quer chegar. Cruzo

os braços e analiso a sua postura ereta.


— Eu... eu... Carter, é o meu último dia aqui — gagueja e
desvia o olhar para os pés, parece envergonhada.

— Seja direta, Muriel, com esse seu rodeio não consigo

entender aonde quer chegar. — Acabo sendo grosseiro, mas ela


entende o que quero dizer.

— Agora que tenho dezoito anos posso tomar minhas próprias

decisões, não é? — pergunta, aproximando-se de mim. Ela já não


chora mais como antes.

Muriel passa a mão no seu longo cabelo ruivo e dá um


pequeno sorriso para mim, mas não deixo de notar um traço de

tristeza ali.

— Claro que sim. Eu sempre disse a você que assim que

completasse seus dezoito, poderia ser livre e eu lhe daria todo


auxílio quando fosse partir — falo e calo-me ao vê-la tocar em meu
ombro e ficar próxima demais.

— E se eu não quiser partir? E se eu quiser ficar, Carter? —


Umedece os lábios naturalmente avermelhados, sem querer

acompanho seu movimento. — Você me ouviu? — indaga, um


pouco chateada.
— O que você disse? — Balanço a cabeça e tiro suas mãos

dos meus ombros, meio atordoado.

— Eu disse que quero ficar. Aqui é o meu lar. Se você permitir,


é claro, gostaria de ficar aqui. — Sua voz sai embargada. Fico sem
ação ao ouvi-la dizer que possivelmente deseja ficar. — Nem tenho

para onde ir, e mesmo que tivesse não me acostumaria. — Me dá


um sorriso bonito dessa vez.

— Não sei se a sua babá vai gostar dessa decisão — digo e

dou as costas para ela, começando a juntar os papéis da mesa e


guardar na gaveta.

— Você deveria parar de me tratar como uma criança, Carter


— resmunga.

Dou um sorriso ainda de costas, grato por ela não ver isso.

— E não é o que você é? — provoco-a, sabendo que vai ficar


arisca.

— Já tenho dezoito anos, sou uma mulher. E a nana não é a

minha babá, é como uma mãe para mim — diz, com a voz firme.

Reprimo a gargalhada que está querendo sair.


— Você pode ficar. — Viro-me para Muriel, e me surpreendo
com a minha decisão tão rápida e espontânea. Confesso que
também me acostumei com a presença dela nesta casa.

Antes que eu imponha minhas condições, a garota corre na

minha direção e pula no meu colo, enrolando as pernas ao meu


redor. Automaticamente, eu a seguro para que não caia. A ruiva
envolve os braços no meu pescoço e sorri abertamente, seus olhos

já não estão mais tristes, há brilho neles.

— Obrigada... por tudo. Você é um grande homem —


agradece com doçura.

Engulo em seco quando ela afunda as unhas no meu cabelo e

faz um carinho, então me olha fixamente.

Tire essa menina do seu colo, Carter!

— Não precisava se jogar em meus braços para me agradecer


— falo, mas em momento algum a afasto.

— Mas você não me impediu e ainda está me segurando —


retruca, com o pequeno nariz arrebitado.

Arqueio a sobrancelha com a sua ousadia.


— Você é uma diaba, menina. Se eu quiser, posso agora
mesmo te jogar no chão — ameaço.

Ela joga a cabeça para trás e ri, me deixando furioso.

— Você jamais me machucaria, Carter — fala, convicta. Eu me


pergunto de onde ela tirou essa segurança.

Para não dar corda para Muriel, eu a desço do meu colo


abruptamente. A menina não desiste de me perseguir, então me
olha da cabeça aos pés, nem sei o que se passa em sua cabeça.

— Não se engane comigo, menina, não confunda a minha


caridade com outra coisa. Saiba que o seu lugar na minha casa é

bem longe de mim. — Acabo a magoando com minhas palavras,


porque ela fica com os olhos marejados.

— Eu sei onde é o meu lugar, sr. Knight. Agradeço por ter me


deixado ficar, e não se preocupe que nunca mais faço o que fiz

agora há pouco — fala, com a postura firme, então me dá as costas.

— Muriel. — Minha garganta queima, um nó se forma. A ruiva


não se vira para mim, continua como está. — Vou pedir ao Dom

para cancelar a sua ida, eu havia pedido a ele para...


— Não se preocupe, Carter, já estive com o Dom, ele já

cancelou todos os seus planos para mim — diz, íntima demais. Não
gosto da ideia disso, meu amigo não me disse nada.

— E como sabia que eu a deixaria ficar? — pergunto, sem


conter a curiosidade.

— Eu sabia, simples assim. Por mais que tente se esconder


atrás dessa máscara de homem solitário, eu o conheço mais do que
você pode imaginar — fala e por fim sai, me deixando sem palavras.

Isso não é bom. Será que criei um monstro?

Não faz nem vinte e quatro horas que Muriel Scott completou
dezoito anos e age como uma mulher adulta. Essa menina me
surpreende cada vez mais. A última mulher que chegou a me

conhecer tão bem morreu, e saber que a ruiva em tão pouco tempo
tem esse poder me deixa atormentado.

Sou tirado da minha lembrança ao ouvir batidas à minha porta,


em seguida, escuto meu nome ser chamado. A pessoa do outro

lado fala algo sobre Muriel, mas não entendo muito, sempre que
sonho com a falecida fico atordoado.

— O que aconteceu? — pergunto assim que abro a porta e me

deparo com a ajudante da casa, pálida, me encarando.


Ao perceber que estou só de cueca, ela fica vermelha e abaixa

a cabeça.

— Sr. Knight, um dos rapazes pediu para avisar que a


senhorita Muriel se machucou no treino — ela diz.

Eu me viro rapidamente e sigo para o meu armário para me

vestir, saindo em disparada para fora da casa logo em seguida.

Em passos largos, vou até o galpão que é dividido por alas.


Chego ao local e me deparo com meus homens cabisbaixos, nem
os cumprimento, passo como um raio para a encontrar.

Olho na direção da sala de treino e vejo a ruiva sentada no


chão, passando as mãos no tornozelo avermelhado e mordendo os

lábios. Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo bem firme no


alto da cabeça, ela veste um top de malha e uma calça preta,
deixando a sua pele branquinha à mostra.

— Muriel. — Seu nome sai como um rosnado da minha boca.

Só então ela percebe a minha presença. Seus olhos estão


levemente avermelhados, ela parece querer chorar, mas como gosta
de dar uma de durona, não derrama uma lágrima sequer. Ela

sempre quer provar que é forte o suficiente para se virar sozinha.


Muriel faz isso desde que chegou aqui. Mas o que essa pequena
sereia não sabe é que eu a conheço muito bem, todas as manias
dela, e uma delas é esconder sua dor. Acho que temos algo em
comum.

— O que faz aqui? — pergunta, incrédula, como se eu tivesse

sete cabeças.

Puto, aproximo-me dela e me agacho, pegando seu tornozelo


e vendo que machucou um pouco. Furioso, eu a ignoro e olho para
os homens da sala que sequer me olham. Acho bom mesmo. Meu
sangue está fervendo de ódio, sou capaz de arrancar a cabeça de
cada imbecil que deixou essa merda acontecer com ela. Eles já
foram avisados, mas insistem em cair nos encantos dessa maldita

sereia.

Basta Muriel sorrir para eles, que os babacas deitam no chão


para ela passar. E é assim desde que a garota começou a ter
curvas. Eles pensam que eu não sei que ficam babando por ela

pelos cantos, mas estão enganados, estou por dentro de tudo.

— Quem estava treinando com ela? — pergunto e ergo meu


olhar gélido para cada um deles, que recuam com medo da minha
reação.
— Carter — Muriel me repreende, tocando na minha mão e
tentando evitar o inevitável. Mas eu a ignoro, fecho os punhos ao
continuar ver que os bundões irão ficar calados.

— Calada! — falo com o dedo em riste e ela me olha feio.


Muriel tenta se levantar, mas eu seguro firme em sua perna,
impedindo-a de fazer qualquer movimento. — Não vou perguntar de
novo. — Minha voz sai dura.

— Sr. Knight, era eu. Mas não foi a minha intenção machucá-
la, estava fazend...

— O que aconteceu aqui? — somos interrompidos por Dom.


Os olhos do meu amigo fixam na ruiva, e ele, sem ao menos me
cumprimentar, se agacha ao lado dela e toca em seu rosto. Muriel

sorri para ele, que retribui rapidamente.

— O que aconteceu com você, ruivinha? — pergunta meu


braço direito, preocupado.

— Foi só um machucado, dei um mau jeito, nada de mais. Mas

o seu amigo turrão insiste em me manter aqui — diz, irritada,


fazendo Dominic gargalhar.

Que porra de intimidade é essa? Desde quando estão tão


próximos? Com raiva, eu me levanto e vou na direção do homem
que acabou com a minha manhã.

Hoje estou tão mal-humorado, que sou capaz de decapitar um.

— Qual o seu nome? — pergunto ao meu soldado, que me


olha trêmulo, apavorado.

— Ian, senhor — diz, quase sai inaudível.

— Da próxima vez que a Muriel se machucar por um descuido


seu, ou de qualquer um aqui dentro — aponto para cada um deles
— vou matar um por um sem dó. Não importa se foi Fulano ou

Sicrano o culpado. A regra, a partir de hoje, será que todos pagam


mesmo que a culpa seja de um. Estamos entendidos, Ian? — Sinto
a veia do meu pescoço latejar.

— Sim, chefe — diz ele, cabisbaixo.

— Saia da minha frente antes que eu mude de ideia e te mate


agora mesmo — falo, em um tom baixo, controlado, em uma falsa
calma que até o assusta.

Sem pensar duas vezes, Ian sai em passos largos. Lanço um

olhar frio para os outros, que fazem o mesmo caminho que ele. Viro-
me e me deparo com Muriel nos braços de Dominic. Ela está com a
cabeça encostada no ombro dele. Arqueio a sobrancelha com a
cena, sem acreditar, e fico calado por alguns segundos.

Grande filho da puta é o Dom.

— Desça Muriel agora. — Minha voz sai em um tom de


revolta. Há poucos minutos a diaba disse que estava bem, agora
está toda derretida nos braços do meu amigo, que ama tirar uma

casquinha.

— Ela está sentindo dor, Carter. Vou levá-la ao quarto, não se


preocupe — diz Dom, mas eu balanço a cabeça negando. A maldita
nem olha para mim, está com os olhos fechados e os braços ao

redor do pescoço dele.

— O que você está fazendo tão cedo na minha casa? —


pergunto, cruzando os braços.

— Se você se esqueceu, eu trabalho aqui — diz ele, bem-

humorado.

Logo ouço a risada de Muriel.

— Por um momento, sim — falo e me aproximo deles.—


Coloque-a no chão, ela está ótima para caminhar sozinha. — Olho
para o meu amigo sério. Ele assente e me obedece, mesmo sob
protesto dela.

— Aiii... meu pé está doendo. — Muriel faz careta.

Dominic ameaça pegá-lo novamente no colo, mas eu lhe lanço


um olhar de ameaça, então ele sorri de lado e recua.

— Você sabe o caminho de casa. Agora vai cuidar desse

machucado. Coloque gelo, logo a dor não existirá mais — falo.

Ela me ignora ao me dar as costas e caminhar normalmente


para fora do galpão.

Dominic me analisa em silêncio, já sei o que está pensando.

Meu amigo meneia a cabeça e dá um sorriso irritante.

— Até quando vai negar? — pergunta, e eu me faço de


desentendido.

— Hoje não preciso de você, pode tirar o dia de folga. E

quando eu te disser algo na frente da Muriel é bom me ouvir. — Dou


as costas para ele, não dando a oportunidade de me tirar o resto de
paz que ainda tenho.

Entro na casa e dou de cara com a ruiva sentada no sofá, com


uma bolsa de gelo no tornozelo. Penso em me aproximar, mas me
recuso a me estressar mais uma vez. A garota vive me tirando do
sério.

— Carter, poderia me ajudar a subir para o meu quarto? —


pede com a voz doce, até demais, batendo os longos cílios e
sorrindo de lado.

— Vá pedir ao Dominic. Ah, esqueci, ele não está mais aqui.


— Olho para ela por alguns segundos e noto que está vermelha de
raiva. — Você sabe o caminho do seu quarto, se vira.

Dou as costas para Muriel, mas paro ao ouvir seu choramingo,

então volto do corredor e me aproximo dela, que tem os olhos


lacrimejados.

— Não sei por que é tão duro comigo. É tão jovem, mas
parece um vovô, vive mal-humorado — diz, sem querer me olhar.

— Não mandei você abrir a boca. Agora ande logo, tenho mais
o que fazer — falo e a pego no colo de repente, fazendo com que
solte um gritinho surpreso.

— Meu pé, seu troglodita! — reclama, e esconde o rosto na


curva do meu pescoço, em seguida, inspira fundo. — Você é tão

cheiroso e quentinho, Carter... ao menos tem algo de bom em você,


fora as tatuagens, claro. — Ela passeia os dedos na tatuagem do
meu ombro, quase fico ereto.

— Estou a ponto de costurar a sua boca. Você fala demais,


Muriel — afirmo e sigo com ela para o seu quarto.

— E você deveria arrumar uma namorada para dar um jeito


nesse mau humor, sr. Knight — sugere e passa os braços em volta

do meu pescoço.

Eu a deixo falando sozinha até chegar ao seu quarto e a


colocar na cama. Quando estou prestes a sair, ela me para ao se
sentar na cama e ficar de frente para mim.

— Carter, o Ian não teve culpa de nada. Não faça nada com
ele, eu que fui descuidada. Ele me avisou, mas você sabe como eu
sou — fala, calma, olhando em meus olhos, então desce seu olhar
para o meu corpo e cora.

— Está proibida de ir ao galpão nas próximas semanas —

aviso, deixando-a revoltada.

— Você não pode fazer isso. Aquele lugar é a minha distração,


já que você não me deixa trabalhar como os outros — acusa,
chateada, mas eu não ligo.
Sem ter o que falar a ela, saio do quarto e sigo para o meu.
Sei o quanto fica com raiva quando a ignoro. Se fosse para fazer
algo com Ian, eu já teria feito, o que não falta naquele galpão são
armas para estourar os miolos dele e dos demais.

Assim que entro no meu quarto, olho para a cômoda e não


aguento a tentação, pego o maldito envelope e me sento na cama.
Então eu o abro e começo a ler, parece que é a primeira vez que
estou lendo a carta dela. Lembro-me de quando a carta chegou,
enviada por Hailey.

Se você está lendo esta carta é porque eu realmente morri,


meu amor. Morri por causa da minha teimosia, do meu medo de
perder você para sempre quando descobrisse a minha traição.

Carter, você sempre foi um homem cheio de virtudes, quando

te conheci fiquei até com medo de me aproximar, mas eu tinha que


engolir meu medo e cumprir o acordo que tinha feito com Lucke
Ivanov, o famoso monstro da Rússia, o irmão de Arlyne Ivanov. Sim,
é isso o que você está pensando. Eu conheci Arlyne, mas não
éramos tão próximas como fui do irmão dela. Após a morte dela,

Lucke decidiu que cobraria a dívida dos meus pais através de mim.
Eu sei que talvez ainda esteja confuso, sem saber aonde quero

chegar. Mas você irá me entender... Ou não.

Carter, meus pais fizeram uma dívida muito grande com Arlyne
Ivanov quando eu ainda era uma adolescente. Eles sempre
pagavam a ela os juros, uma vez que não tinham o valor total para

quitar a dívida. Os anos foram passando, eu fui crescendo e os


meus pais envelhecendo. Em certo momento, eles não tinham mais
trabalho para poder pagar os Ivanov, foi assim que eles chegaram a
mim, então tive que me responsabilizar pela dívida dos meus pais.
Eu teria que pagar a dívida deles ou eles morreriam, assim como
eu.

Passei um bom tempo aprendendo defesa pessoal e outras


coisas que um membro de uma máfia sempre aprende. Sim, amor,
me perdoe, mas é isso o que você está pensando. Eu fui recrutada
para ser um membro da máfia russa. Lucke não queria que eu fosse
uma deles, o alvo dele sempre foi a sua e eu era a pessoa certa

para me infiltrar no meio de vocês e passar todas as informações


importantes... De tudo, de todos os seus negócios. Por meses fiquei
passando informações para aquele homem, era isso ou meus pais
morreriam nas mãos daqueles malditos. Sei que o que fiz não tem
perdão. Eu poderia ter dito a verdade, ter confiado em você, mas no
início eu era só uma pessoa apavorada fazendo tudo que me era
ordenado, com medo de acordar a qualquer momento e receber a
notícia da morte daqueles que são tão importantes para mim – meus

pais.

Amor, eu errei, mas foi pela minha família, pelo amor que sinto
por eles. No começo, Lucke me disse que o meu trabalho seria me
aproximar de você e fazer com que se apaixonasse por mim. Ele

tinha um dossiê completo de você, da sua vida. Tudo o que eu


precisava saber para te conquistar. Em poucos meses, consegui me
aproximar de você, naquela corrida na Itália. O nosso encontro não
foi por acaso, desde o nosso primeiro beijo até a nossa noite de
sexo.

Eu aprendi a te manipular, e fiz isso por meses, mas quando

percebi já estava te amando. Completamente louca por você, fui


incapaz de fazer qualquer coisa contra você e a sua família.

Lucke havia me dito que eu deveria sabotar os carros na


corrida que fizemos para pegar a carga dos venezuelanos, mas eu

me recusei e ele me castigou cruelmente. Os homens dele


invadiram a casa dos meus pais e espancaram meu pai, por pouco
ele não morreu. Quando fui falar com Lucke sobre o meu pai, aquele
homem me disse que as coisas funcionavam assim com ele.
Obediência cega ou haveria consequências, e da próxima vez seria
bem pior.

Naquele momento, eu compreendi que não poderia brincar

com Lucke Ivanov. Ele queria informações da Hailey, de cara notei a


obsessão dele por ela, e mais uma vez, mesmo com medo, me
neguei a falar qualquer coisa sobre ela. Lucke ficou tão furioso, que
mandou arrancar dedos da minha mãe e do meu pai, mais uma vez
minha família pagou pelo que eu não fiz. Eu poderia ter feito o que

ele ordenou, mas não consegui. O meu amor por você era tão
grande que eu não conseguia fazer nada que pudesse prejudicar
você e a sua família. Eu seria um monstro se fizesse isso com
vocês.

Há tantas coisas que eu gostaria de dizer, mas infelizmente


não vou poder, porque o meu último trabalho para ter a minha

liberdade e dos meus pais era que eu falasse o paradeiro de vocês


para Lucke, contasse todos os seus planos para que ele não fosse
pego. E, como sempre, o irmão de Arlyne tinha planos cruéis para
mim – era a vida dos meus pais ou a da sua família. Naquele
momento eu soube que tinha que tomar uma decisão. Só tinha uma

forma dessa maldita chantagem acabar de uma vez – ir atrás de


vocês, dar a localização e todos os seus planos para capturá-lo para

que pensasse que eu estava do lado dele, até que chegasse o


momento em que você e seus irmãos dessem um fim àquele
bastardo. E se você estiver mesmo lendo essa carta é porque eu
morri e consegui salvar a sua vida, a dos seus irmãos e dos meus
pais.

Carter, por anos fui coagida por Lucke, por anos tive que fazer
tudo o que ele queria, mas chegou o momento em que tive que
escolher entre a vida dos meus pais e do homem que eu amo.
Escolher as pessoas que me deram a vida ou me ensinou o que era
ser amada mesmo sem merecer... eu preferi dar a minha vida em

troca da de vocês. E foi assim que cometi a loucura de ir atrás de


Lucke e me entregar de uma vez para a morte, que só estava
esperando um deslize meu para me levar para a escuridão.

Antes de me despedir, quero que saiba que estou indo embora


com o coração aliviado. Sei que em algum lugar desse mundo há
uma mulher que irá te amar, que vai cuidar de você com todo amor

e carinho, como você merece.

Amor, mesmo que esteja sofrendo com a minha partida, peço


que não feche o seu coração para o amor. Você precisa amar
novamente, precisa ser feliz e ser amado. Você merece. Desejo que
você se apaixone tão intensamente, meu amor, que mal vai
perceber quando irá acontecer. Quando essa mulher aparecer na

sua vida, você saberá que é ela, que é a mulher da sua vida, a que
vai te amar incondicionalmente sem querer nada em troca. Eu não
fui merecedora do seu amor, mas tenho certeza de que você irá
encontrar uma pessoa que será.

Por último, te peço perdão por não ter sido forte o suficiente

para contar a verdade sobre Lucke. Mas eu não podia arriscar, não
quis arriscar.
Depois de tantas dores por conta da minha imprudência, aprendi
que eu já não poderia mais brincar com a sorte, ainda mais em se
tratando de Lucke Ivanov.

Espero que algum dia me perdoe, Carter James Knight.

Com amor,

Svetlana.

Termino de ler a carta, mas não sinto nada, não é como antes.
Nas primeiras vezes eu ficava com o coração apertado e com
vontade de chorar, mas agora... Nada. Faz tantos anos que leio
essa carta, mas nos últimos dias comecei a perceber que não me
sinto mais tão afetado.

Jogo a carta dentro da gaveta e a tranco, em seguida, pego


meu celular e envio uma mensagem para Dominic avisando que

hoje vamos nos divertir na casa de swing. Não vou lá há um tempo


e ele vive me convidando, mas eu sempre recuso, só que hoje
pretendo mudar isso. O convidado dessa noite será ele, não eu.
Aos dezessete anos, fui dada pelo meu próprio pai para um
desconhecido, um dos herdeiros da máfia inglesa, chamado Carter
James Knight. O que esse desconhecido fez por mim durante esses

anos, Sinead não fez a metade.

Desde a minha infância, cresci ouvindo aquele homem dizer


que eu era uma bastarda, filha de uma puta, que só me criou porque
em algum momento eu seria útil para os negócios dele. E os meus

irmãos, assim como Sinead, nunca tiveram afeto por mim, todos

sempre foram cruéis.

Não tenho muitas lembranças de quando era pequena, o

pouco que me recordo se resume a nunca ter me sentado à mesa

com eles, nunca ter sido reconhecida como filha, nem mesmo sei de
onde vim. Não conheço a minha mãe, nem ao menos sei de onde

ela veio, qual o seu nome, se está viva ou está morta. Nem mesmo

sei por que meu sobrenome é Scott.


Tenho somente a nana. Mesmo que eu insista em perguntar a

ela sobre a mulher que me deu a vida, ela desconversa e diz que
um dia vou saber toda a verdade, que só preciso ter calma que as

coisas irão se encaixar em algum momento.

Sempre me perguntei o que tinha feito de tão ruim para nunca


ser bem-vinda à mesa dos Lynch. Ao mesmo tempo que eram

estranhos para mim, eram a minha família, a única que eu conhecia.

Eu não tinha para onde ir, eles sempre foram a minha única opção
de lar, mesmo que fosse podre e distorcido.

Minhas refeições foram sempre feitas na cozinha, com os

criados; as roupas que eu usava já tinham sido da minha irmã,

sempre tive que ficar com os restos dela, servindo ou não. Às vezes,
nana comprava algo novo para mim, foi ela quem me criou desde o

meu nascimento. Ela fazia tudo por mim naquela casa. Mesmo com

pouca idade, eu sabia que era injusto a minha babá fazer algo que

era obrigação do meu pai, o homem que me colocou nesse mundo

cruel, porém, ele nunca demonstrou interesse em mim. Eu nem


mesmo dormia dentro da mansão, eu tinha um quarto na casa dos

empregados e era tratada como eles, como um nada. Foi esse um

dos motivos por eu nunca ter visto Carter.


Eu nunca fui apresentada à sociedade da máfia como uma das
herdeiras do meu pai, somente os seus filhos queridos, os legítimos,

como costumava dizer. Tudo o que eu sabia sobre os negócios de

Sinead era o básico. Tanto, que quando recebi a notícia de que seria

dada como forma de pagamento de uma dívida para um mafioso de

Londres, entrei em desespero.

— Levanta daí, pirralha, tenho uma novidade para você.

Acordo sobressaltada ao ser arremessada do meu colchão.

Arregalo os olhos ao ver Tyron me encarando, com um sorriso

perverso. Com medo, eu me arrasto pelo chão em direção à parede

e me encolho. Quando meu irmão me analisa com um olhar cheio

de malícia, fico com nojo, e meu estômago embrulha assim que ele
toca o meu rosto e me obriga a encará-lo.

— É, o velho tinha razão. Você em algum momento dessa sua

vidinha seria útil para a nossa família — diz, maldoso. Ele gargalha

ao passar o polegar nos meus lábios. — Infelizmente, vamos ter que

te manter virgem para que o imundo do Knight se interesse por sua

bocetinha. — Tyron dá dois tapinhas no meu rosto.

— O... o que está falando, meu irmão? — pergunto, com

medo, massageando meu rosto.


— Não me chame de irmão, sua putinha bastarda — fala e

começa a desafivelar o cinto.

Rapidamente levanto-me, mas ele me segura pelo cabelo e

me joga de volta no chão.

— O que... vai fazer? — Meus olhos ardem e eu fico trêmula.

— Ia te dar uma boa surra para aprender a não abrir a boca


sem que eu mande, mas não vale a pena. Hoje vai ser levada para

casa do filho da puta do Knight — fala e ri com perversidade.

Engulo em seco ao perceber que ele repete o mesmo

sobrenome duas vezes. Quem será esse tal Knight?

— Quem é esse homem? — Começo a chorar, apavorada.

Será que é um dos velhos amigos de Sinead? O único homem


que conheci que faz parte da máfia e negocia com o meu pai é o sr.

Henry, um velho nojento que me lança olhares lascivos. Uma vez,


eu o ouvi dizendo ao Tyron que daria uma boa grana a ele se o

deixasse me comer. Meu irmão só riu em resposta e disse que papai


já tinha planos para mim.

— Ele será seu novo dono. É tão cruel e sádico como eu,
aliás, é pior. Ele vai violar cada buraco do seu corpo e depois vai te
dar para os homens dele até que você aprenda a se comportar —

fala, de uma maneira assustadora.

Meu pai me deu para um desconhecido? O que eu fiz para

merecer isso? Sempre me comportei, nunca infringi as regras dele.

— Por que eu? A Kira é mais velha, mais bonita... — Soluço

ao mencionar a nossa irmã.

— Acha que eu daria a minha princesa para aquele pedaço de

merda? Você só está sendo dada porque é uma bastarda, um lixo


que não serve para nada. — Tyron se aproxima de mim e eu tremo.

— O que eu fiz de errado? Sempre faço o que me pedem,


nunca entro na casa de vocês. — Choro enquanto meu irmão

gargalha.

— Você nasceu, ratinha. E nos últimos dias tem me enchido a

paciência... Assim, do nada. Então convenci o velho que já está na


hora de pressionar o seu dono a te pegar e te levar para longe. Mas
aquele imbecil está acabando com a minha paciência — diz,

sombrio. — Você será dada como um nada, para um homem que


vai foder até o seu juízo, ou talvez ele nem queira te comer. Apesar

de você ser gostosa, o Knight vai te matar e depois jogar o seu


corpo em algum esgoto, porque lá que é o seu lugar.
— Saia daqui, seu... monstro! — grito.

— Nem precisa arrumar os seus trapos, você não tem nada


mesmo. — Ele olha com nojo para o cubículo onde durmo e chamo

de quarto. Tudo nesse lugar fede a bolor. — Basta ir com a roupa do


corpo. Quando for a hora venho te chamar. — Tyron olha as horas

no relógio que tem no pulso.

— Por favor... Não faça isso. Eu prometo que vou me

comportar melhor, faço o que me pedirem, só não me dê para um


estranho, meu irmão. — Ajoelho-me aos pés dele, que agarra o meu

cabelo e o puxa para trás, fazendo com que eu erga o meu rosto.

— Nem se você me pagar um boquete eu te livro dessa,


bastardinha — fala, puxando ainda mais meu cabelo, causando

mais dor. — E mesmo que eu quisesse... É uma pena que papai


tenha um pouquinho de afeto por você e não me deixe te comer

como eu sempre quis. — Ele passa a língua nos lábios e eu sinto


um bolo quente subir na minha garganta. A vontade de vomitar me

invade, mas antes que isso aconteça, Tyron me solta e sai do meu
quarto, fechando a porta com força.

Não aguento por muito tempo e vomito, jogo para fora tudo o
que tinha no estômago. Limpo a boca e volto a chorar ao me
lembrar das palavras duras do meu irmão. Monstro.

Deitada na minha cama após um banho relaxante na banheira,


vejo nana entrar no meu quarto com uma bandeja. Ela me encara

com um sorriso enorme, mas não sou capaz de retribuir, hoje fui
tomada por lembranças ruins e o meu coração está apertado.

— Você está bem, minha querida? Por que seus olhinhos

lindos estão tristes? O sr. Carter fez algo? Você sempre fica assim
quando se desentendem — diz, me analisando com cuidado

enquanto põe a bandeja com algumas gostosuras na minha cama.

— Estava pensando no dia em que o Tyron me deu a notícia

de que eu seria dada para o Carter... Foi o pior dia da minha vida,
nana. Fico imaginando se eu não tivesse tido a sorte de ser dada ao

Carter. Ele não é o monstro como meu irmão dizia — confesso,

sentindo meus olhos arderem. — Prova disso é que até hoje tenho a
minha virgindade intacta e nenhum dos homens dele se aproxima

de mim para me machucar.

— Eu já disse que é para deixar esses pensamentos ruins no

passado, minha filha. Eu sei que é doloroso, mas se você ficar se


lembrando das coisas ruins que aqueles monstros fizeram, você

nunca terá paz. — Ela me conforta ao se sentar ao meu lado.


— Está certa. Mas foi inevitável não me lembrar disso hoje. —

Sinto minha garganta queimar.

— Eu sei, minha princesa — fala e me abraça. — Coma um

pouco, trouxe o seu jantar porque não a vi aparecer para comer. —

Nana me olha com carinho. Fico grata por ela estar em minha vida.

— Estou com um pouco de dor no tornozelo, não quis sair —


minto.

Ela arregala os olhos, preocupada.

— Quer que eu peça ao sr. Knight para chamar um médico? —

pergunta, quase pálida. Fico sentida por tê-la deixado assim.

— Não precisa, estou bem. É só uma dorzinha, nada sério —

falo e ela fica mais aliviada.

— Tudo bem, Muriel. Mas coma agora, não é bom ficar com o

estômago vazio por muito tempo — diz e coloca a bandeja no meu


colo, em seguida, se levanta e sai do quarto.

A verdade é que não quero ver a cara do Carter pelas

próximas horas. Ele não perde a mania de me tratar como uma


criança, a mesma que ele conheceu há quatro anos. Ele me vê

como uma filha que não tem, já comprovei isso várias vezes quando
tenta disfarçar o ciúme que tem de Dominic ou quando estou

conversando com seus soldados. Carter, querendo ou não, sente

algo por mim dentro daquele coração de aço que ele se nega a
admitir, mas não preciso que ele faça isso, já que suas ações o

entregam.

Nos primeiros meses, fiquei com medo de conviver com

Carter, eu era apenas uma menina que nunca teve afeto da família,
somente da babá. Quando cheguei à casa do famoso Knight, pensei

que morreria do coração ao vê-lo pela primeira vez. Fiquei

assustada com seu corpo todo tatuado, o olhar triste e vazio, e o


pouco que ouvi da conversa com meu irmão, pude perceber a sua

personalidade, pelo menos um pouco dela, e por um momento

pensei que Tyron tivesse razão. Ser dada a Carter James Knight

seria meu fim, mas, na verdade, foi o meu recomeço.

Desde que saí da casa dos Lynch, aprendi que família não

precisa ser de sangue, Carter me mostrou isso em pouco tempo na

casa dele, mesmo que tentasse me manter afastada da sua vida

sempre que podia. Ele até conseguiu isso por pouco tempo, mas
quando percebeu já estávamos próximos e ele cuidava

indiretamente de mim como se me conhecesse a vida toda. Carter

me ensinou a ser independente, sou o que sou graças a ele.


Na casa de Sinead, eu nem sabia como me defender, e em

menos de um ano, Carter fez com que eu aprendesse defesa


pessoal, manusear uma arma e até a dirigir. Com ele, consegui

amadurecer e me tornar a mulher que sou hoje.

Termino de fazer a minha refeição e logo me levanto para


colocar a bandeja na cozinha e lavar o que sujei. Antes de sair do

quarto, dou uma breve olhada para minha camisola curta azul. Até

penso em trocar, mas mudo de ideia quando me lembro que Carter

deve estar trancado em seu quarto a uma hora dessas, ou na rua.

Ando em passos lentos pelo corredor, mas paro quando ouço

a voz dele, parece falar com o Dom, porque ele diz o nome do seu

braço direito. Carter parece muito animado agora para quem esteve

tão mal-humorado pela manhã. Pelo jeito, a noite vai render, daqui
sinto a fragrância do seu perfume caro e cheiroso. Na casa há dois

corredores, o proibido, que é o dele, e o meu, onde ficam os quartos

de hóspedes. Acho uma grande besteira isso, mas Carter me


mantém longe do corredor dele, e algum dia vou descobrir o motivo

disso.

Carter caminha pelo corredor dele, mas não nota a minha

presença, já que continuo parada o avaliando em silêncio. O que


tem de lindo, gostoso, maravilhoso, cheiroso e tudo de bom, tem de

troglodita. Se eu o acho um pedaço de mau caminho? É lógico que

sim, que mulher não repararia em um homem tão lindo? Por quatro

anos, seco cada pedaço do corpo dele, e o desgraçado fica ainda


mais bonito com o passar do tempo.

Não sou cega, desde os meus dezoito anos comecei a reparar

nele, e quando ele quebrou de uma vez a nossa distância, meus


pensamentos inocentes foram para o ralo. Eram sonhos eróticos um

atrás do outro, mas, infelizmente, só ficou nisso, porque Carter

nunca me olhou com interesse.

Ainda me lembro do dia em que estava completando a


maioridade e pulei no colo dele, quase me derreti quando meu

protetor me segurou com firmeza com medo de que eu caísse. Só

queria que ele me desse de presente um beijo, seria meu primeiro

beijo, mas isso nunca chegou a acontecer, continuo sem ter beijado
ninguém.

E se continuo virgem, é por opção. Homens é o que não faltam

por aqui, e eles vivem me dando mole, mas o que eu posso fazer se
o homem que eu quero é muito lento para os meus planos? Talvez

ele não seja tão lento quanto imagino, basta um empurrãozinho para
que Carter seja meu. Ou não. Mas não tenho como saber se eu não

me arriscar.

Imagina passar quatro malditos anos admirando e desejando

um homem que você não pode tocar? É uma verdadeira tortura.

Carter é o meu inferno deliciosamente pessoal.

— Vai sair esta noite? — pergunto, me aproximando da sala.

Ele enfim nota a minha presença quando quebro o silêncio.

Carter me olha por alguns segundos, mas não diz nada, somente

olha para o relógio no pulso impacientemente. Fico puta com a

arrogância dele. Odeio quando ele me provoca com seu silêncio.

— Vou sim. Por quê? Quer ser convidada? — pergunta, com a

sobrancelha arqueada.

Engulo meu ciúme ao vê-lo tão bem-vestido, com um uma

calça jeans cinza, uma camisa preta e uma jaqueta de couro da


mesma cor. Ao invés da roupa deixá-lo bonito, é ele quem a deixa.

Meu Deus, esse homem é uma tentação divina.

— Não seria uma má ideia. Mas não quero segurar vela

enquanto você fode alguma puta. — Acabo soltando o veneno que


estava preso. — Quer dizer, curtindo a noite com alguma mulher. —
Percebendo a merda que acabo de falar, dou um sorriso inocente
para ele, que fecha a expressão e me olha desconfiado.

— Vou lavar a sua boca com sabão — ameaça, mas vejo a

sombra do seu sorriso. Ele gosta quando sou ousada. Tenho


vontade de responder que poderia lavar com outra coisa, mas

mordo a língua.

— Vai sair com o Dom? — pergunto, colocando a bandeja no

sofá e me sentando e cruzando as pernas. Nem que tenha sido por


míseros segundos, ele dá uma boa olhada nos meus movimentos.

— Alguém falou o meu nome?

Assusto-me ao ouvir a voz de Dominic vinda da porta.

Acho que morri e estou no céu. Será que é pecado achar


esses dois homens incrivelmente atraentes? Acho que não. Olhar

não tira pedaço, e é isso que faço quando o amigo de Carter entra
na sala vestido no mesmo estilo do chefe. Me pergunto o que vão
aprontar esta noite, estão bem animados.

— Parece que a noite de vocês promete. — Olho para um e


depois para outro, que trocam olhares estranhos. Já sabendo a
resposta de Carter, olho para ele e dou um pequeno sorriso, de

como quem não quer nada, e depois me viro para Dominic. — Dom,
o Carter disse que eu poderia ir com vocês... Será que pode esperar
eu me arrumar?

No mesmo instante, ouço o rosnado de Carter e seguro a


risada.

Dominic fica pálido e passa a mão na cabeça, então olha para


Carter sem entender o que está acontecendo.

— Vai mesmo levá-la, irmão? — pergunta Dom, perplexo.

E é aí que percebo que vão mesmo aprontar, provavelmente

terão uma noite regada a sexo com putas.

— Está louco, é claro que não! Essa pequena diab... Muriel

ouviu errado, só nós iremos — fala Carter ao passar por mim, sem
nem mesmo me olhar. — Vamos logo antes que eu mude de ideia
— conclui e puxa Dominic para fora de casa.

Jogo a cabeça para trás e fecho os olhos, de repente, uma


ideia louca aparece em minha mente. E se eu seguir os dois para

saber o que vão fazer? Não seria uma má ideia, estou muito curiosa
para saber o que vão aprontar. Se eles podem se divertir, por que eu
não posso? Sou adulta, posso tomar minhas próprias decisões,

Carter me diz isso há anos.


Decidida a segui-los, eu corro para a cozinha e coloco a
bandeja, depois vou para o meu quarto separar o meu melhor
vestido e par de sapato. Não sei com o que vou me deparar, só que

quero ser a mulher mais bonita do lugar.

Me arrumei tão rápido, que quando vi o resultado fiquei


assustada. Pergunto-me até onde eu seria capaz de ir por Carter

James Knight, aquele que sequer ousa me olhar ou tocar como uma
mulher, apenas como a garotinha que cuida por anos. Antes de sair
do quarto, vejo se não tem ninguém no corredor me espionando.

Pelo horário, nana está dormindo, então será fácil sair sem que ela
perceba.

Hoje você vai descobrir que tipo de diversão é essa do Carter,


Muriel. Mordo os lábios, mas me arrependo ao me lembrar que

coloquei um batom vermelho lindo, que provavelmente o estraguei


um pouco.
Seguro a bolsa com firmeza enquanto caminho
cuidadosamente em direção à sala. Olho para todos os cantos do

corredor mal iluminado, e por um momento fico receosa. A sala está


completamente escura, não há luz alguma e normalmente ela está
com uma ou duas ligadas.

Sem paranoia, Scott, você está assim porque vai fazer algo

que não deveria. Meu subconsciente me condena mais uma vez.


Respiro fundo e tiro meu celular da bolsa e ligo a lanterna dele para
iluminar o meu caminho, não quero correr o risco de sair batendo

nos móveis.

Na ponta dos pés, eu chego à porta. Quando estou prestes a

abri-la, sinto alguém me segurando com força, puxando minhas


costas contra o corpo dele, que parece uma parede de músculos.
Estremeço ao semicerrar os olhos e reconhecer o seu perfume. Meu

sangue congela no mesmo instante e todo o ar do meu pulmão


some quando ouço a voz rouca e diabólica.

— Indo a algum lugar? — pergunta Carter, apertando os


dedos em torno da minha cintura. A força dele me faz soltar um

gemido baixo e excitante.


Deixo a bolsa cair no chão, por pouco meu celular não vai

também. Será que ele não tem noção de como o seu toque pode ser
letal para mim? Com as mãos trêmulas, tento mexer no meu celular,
mas ele me impede ao tirá-lo da minha mão. Carter não foi para a

sua noitada porque já desconfiava o que eu iria fazer.

— Eu te fiz uma pergunta — rosna no meu ouvido e eu ofego.


Carter me segura com tanta possessividade que até perco a
capacidade de raciocinar por um tempo.

Ele se afasta de mim com a mesma rapidez com que me


surpreendeu. Ouço seus passos pesados e logo as luzes da sala
estão acesas, no entanto, continuo de costas e sem coragem de o

encarar.

— Odeio ser injusto com as pessoas, Muriel, mas às vezes


acho que você gosta de me ver perder o controle e com sangue nos
olhos — diz, com tanta calma, que qualquer pessoa que não o

conhecesse bem se irritaria.

Ele tem essa mania, gosta de usar esse tom de voz calmo,

mas sempre com uma faísca de ameaça. É apenas um pano de


fundo para mostrar quem é de verdade. Carter James Knight gosta
de chegar de mansinho, como quem não quer nada, e quando você
percebe, ele já virou o jogo. E é exatamente isso que ele está
fazendo agora - me nocauteando. Em hipótese alguma passou pela
minha cabeça que ele abandonaria a ideia de sair com seu melhor

amigo para ver até onde eu iria.

— Isso não é hora de criança sair, pode ser perigoso — fala,


ácido.

Sua provocação é suficiente para que eu me vire e o encare

com raiva, com os olhos fulminantes. Engulo minha ira e o observo


sentado no sofá, meu celular jogado ao lado. Ele apoia os braços
abertos no encosto do móvel e arqueia a sobrancelha, me

devolvendo um olhar desafiador. Carter lambe os lábios levemente


avermelhados e mantém seus olhos azuis em mim.

— Eu não sou criança, você sabe disso há muito tempo —


digo, com as narinas infladas.

— Eu sei que não, porra. Como eu sei. É por isso que eu não
quero você na rua, e ainda por cima, sozinha! — fala, com a
expressão dura.

Quase perco o fôlego ao notar que ele, pela primeira vez, me

nota e nem mesmo se esforça para esconder a cobiça. Seu olhar


começa pelos meus pés, avaliando as sandálias pretas de salto
agulha, e depois vai subindo lentamente até a fenda do vestido
vermelho de seda na minha coxa, em seguida sobe até o decote

generoso entre o vale dos meus seios e fica fixo ali.

— Sabe e continua me tratando como uma criança, Carter —

me manifesto, com a voz embargada.

— Não me culpe pela sua falta de maturidade, Muriel. Os anos

passaram, mas saiba que o Tyron continua sendo o mesmo fodido.


E se antes, quando ainda era adolescente, uma menina, ele te
cobiçava... Imagine agora! Não me faça entrar em uma guerra por

sua falta de compreensão — me repreende, seus olhos se estreitam


e a sua mandíbula fica enrijecida.

— Mas eu não posso me esconder para sempre por medo de


que meu maldito irmão me veja. Não quero ter que viver sempre

trancada aqui — exclamo, querendo chorar.

Eu sei que essa foi a minha escolha, mas não é essa resposta
que quero dele. Preciso saber se Carter me vê além da amizade,

preciso ter certeza.

— Você teve a sua chance de ir embora, não foi porque não


quis. E agora é tarde demais, porque quem não vai te deixar partir
sou eu — diz, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como
se não pudesse me afetar com suas palavras.

Com os olhos arregalados e sem saber como reagir, dou um

sorriso fraco para ele, que se levanta e vem na minha direção.

— E por que não? O que eu significo para você, para não


poder ir embora da sua vida? — eu o desafio, com o nariz empinado

quando ele se aproxima de mim.

— Você é a minha família agora, tenho a obrigação de te


manter segura. — Toca em meu braço com uma mão e o meu rosto
com a outra. — Mesmo que você seja uma diaba na maioria das

vezes, sinto que meu dever é te proteger para que aqueles merdas
não se aproximem para te machucar.

— Eu entendi, Carter, mas quero saber o que significo para


você — eu o pressiono. Ele meneia a cabeça, como se quisesse
fugir das minhas perguntas. — Sou a sua família em que sentido?

Você me vê como uma irmã? Uma prima? — Levo a mão até a que
está tocando o meu rosto com carinho e a seguro, impedindo-o do
ato.

— Não faça perguntas que você sabe que não terá as

respostas. — Tenta se afastar, mas eu não deixo ao segurá-lo pelos


braços, minhas unhas cravando em sua pele branca.

— Por que você é tão fechado assim? Não demonstra

sentimentos, é um verdadeiro mistério... Estou morando com você


há tanto tempo, e sei pouco da sua vida. A única coisa que sei é que
você é um dos herdeiros da máfia inglesa e que eu fui dada como a

porcaria de uma forma de pagamento. — Carter fica ereto com o


que falo. — Às vezes, você é um completo estranho para mim.
Quando quero me aproximar você me afasta, e quando estou

distante você me quer por perto. Eu não entendo. O que sou para
você? — Lambo os lábios e ele observa o movimento que a minha
língua faz.

— É mais saudável para você que não saiba muito de mim,


sereia — diz gentilmente. É a primeira vez que sereia não vem

acompanhada da palavra pequena. — O importante é que estou


aqui com você e não vou deixar que nada te aconteça. O resto é
detalhe. — Carter me surpreende ao desfazer o meu penteado e

soltar meu cabelo.

Quando estou prestes a conseguir algo dele, ele desvia como


se fosse alguma doença contagiosa. Desmotivada, solto os braços
nas laterais do meu corpo e respiro fundo.
— Odeio quando faz isso. Tenha uma boa noite, sr. Knight —
digo, afastando-me dele, disposta a voltar para o meu quarto.

Quando dou as costas para Carter, não consigo me mover ao


ser puxada para perto dele de uma maneira inesperada,

aproximando nossos corpos tão rapidamente que meu nariz roça no


dele, me deixando completamente ofegante e com o coração
batendo descompassado. Ele segura um punhado do meu cabelo

na nuca com força e eu entreabro a boca, soltando um gemido de


dor e satisfação.

— Você não vai querer seguir por esse caminho, baby, é uma

passagem sem volta. Você não sabe o que passa nessa minha
cabeça... são muitas coisas sujas, ruivinha. — Carter James Knight

parece ter reunido todo o calor do inferno em seus olhos azuis,


porque agora eles têm fogo e impetuosidade.

— Estou disposta a saber... a te conhecer melhor. — Mordo os


lábios. Com a respiração falhando e com os peitos subindo e
descendo, estou prestes a entrar em combustão.

Carter continua segurando meu cabelo com força, me


obrigando a manter contato visual com ele, e é uma porra
extremamente sexy. Ele nunca chegou tão perto de mim, não dessa
forma, e para mim já é um progresso.

— Princesa, eu não estou procurando alguém com quem me


relacionar. — Um sorriso perverso aparece, contudo, ele parece se

lembrar de algo, pois some o brilho de provocação dos seus olhos,


sendo substituído por algo sombrio e distante. — Você é importante

para mim, Muriel, e eu jamais me perdoaria por te machucar. Eu sou


um caralho de um homem que amou muito uma pessoa e ela
acabou comigo, fodeu com a minha vida. E eu não desejo nada

disso para você.

— Por que acha que pode decidir por mim? Não vai me dizer
que é aquele tipo de homem que já se decepcionou e agora foge do

amor, que não está mais disposto a deixar ser amado ou amar outra
pessoa. Saiba que essa maldita distância e o seu desprezo me
machucam, Carter. — Meus olhos inundam, meus lábios tremem. —

Nunca tivemos a oportunidade dessa interação, mas cansei de


guardar para mim os meus sentimentos... eu... — Me perco em

minhas próprias palavras, porque ele toca o meu rosto e fica


próximo demais. Quando seus lábios roçam os meus, eu sinto o
formigamento neles.
— Eu não fujo do amor, pequena, ele que foge de mim. Então

decidi não querer isso por um tempo — diz contra meus lábios.
Mentalmente imploro para que me beije. Eu poderia tomar a
iniciativa, mas não quero ser precipitada, primeiro vou ouvir o que

tem para me falar, foi assim que ele me ensinou. — Mas se algum
dia, em algum momento, eu decidir escolher amar e ser amado por
alguma mulher, pode ter certeza de que ela será você. — Carter me

quebra por inteira ao me dizer essas palavras. Para me destruir por


completo, ele pega uma das minhas mãos e entrelaça na dele.

— Carter. — Fico atordoada, porque ele não é de se


expressar tanto.

Mas agora ele está mais uma vez distante, novamente levanta
uma muralha entre nós.

— Vá dormir, meu anjo. Amanhã vou treinar com você no


galpão, será um longo dia, então é bom que tenha uma boa noite de

sono — diz, com a voz cheia de ternura.

Assentindo e me sentindo derrotada, desvio meu olhar do dele


assim que me solta.

Como fui me apaixonar pelo homem que parece ter o coração

trancado e várias camadas de aço ao redor? Eu o amo sem nem


mesmo o conhecer direito. Moro com ele há anos, mas não sei

quase nada da sua vida, e o pouco que Carter me deixa saber não é
o suficiente para que eu consiga entrar em seu coração.

Dou as costas para ele e pego minhas coisas antes de deixar


a sala. Em passos lentos, caminho pelo corredor escuro, deixando

as lágrimas e soluços tomarem conta de mim.

Eu quero ser dele.

Quero que Carter James Knight seja meu.

Ele me fez uma promessa, e em algum momento vou cobrar.


— Dominic — chamo meu amigo, que para de andar em

direção ao seu carro e se vira para mim.

Dom arqueia a sobrancelha, esperando que eu me manifeste.


Olho na direção da casa que está rodeada de homens armados

antes de fixar meus olhos no meu braço direito, que parece

impaciente.

— Não vou com você, não essa noite — falo, passando a mão

no pescoço.

Convivo com Muriel há um bom tempo e a conheço o


suficiente para saber que ela pretende nos seguir. Não quero a ruiva

naquele lugar.

— É por causa da Muriel? — Ele vem em minha direção com

um sorrisinho de merda.
— Apenas vá — falo, mas Dominic começa a gargalhar. Eu
fico puto, só não demonstro.

— Por que a menina não pode ir com a gente? Ela não é

nenhuma criança, Carter. Não sei se percebeu, mas Muriel Scott é

uma mulher, não uma garotinha de dezessete anos que você não

pode olhar ou tocar — diz, em um tom sério.

— Eu sei que não, Dominic, esse é o problema — rosno,

dando as costas para ele e seguindo até meu carro.

— Eu sempre tive razão, você sente algo por...

— Claro que não, Dom, não fode as coisas. — Viro-me para


ele, furioso, não querendo que ultrapasse o limite. Passo a mão em

meu cabelo e respiro fundo. — Eu só não confio naquele olhar de

anjo dela. Por trás daquela carinha de santa tem uma verdadeira

diaba. Ela é a única mulher e pessoa que conseguiu me

desestabilizar durante todos esses anos — falo demais, então me

calo, arrependido das baboseiras que solto na frente dele.

— Meu amigo, quer um conselho? — Dom toca no meu ombro

e me olha com a mesma seriedade que eu. — Siga o seu coração.

Se você não quer Muriel lá, então volte para a casa e cuide do

machucado dela, e pare de ser um babaca de merda, deixe claro


para aquela diaba, como você diz, que tem sentimentos por ela. —

Ele dá dois tapas no meu ombro e sorri de lado. — Não é todo dia
que se tem uma ruiva, baixinha, gostosa e virgem em casa, Carter

James Knight. A garota gosta de você, todos já perceberam isso. E


faz um bom tempo. Mas como você não gosta de conselhos, faça o
que achar melhor, porque essa noite vou me esbaldar no Lux. —

Pisca para mim ao mencionar a casa de swing.

Dominic entra em seu carro e eu fico o observando sair da

minha propriedade, com a cabeça perturbada por pensamentos


insanos. Dom só pode estar louco por achar que eu tenho

sentimentos por Muriel. O que nós temos é amizade, somente isso.


Confesso que já notei que ela me vê com outros olhos, posso
afirmar que não é nada fraternal.

Faço um sinal para um dos meus homens, então aperto as

chaves do carro com força na minha mão e solto um palavrão por


não parar de pensar nas palavras do meu amigo.

Que se foda Muriel Scott. Maldita seja aquela ruiva dos

infernos que se acha no direito de foder com a minha cabeça.

— Chefe. — O homem me cumprimenta com um aceno de


cabeça.
— Leve o carro para os fundos e diga aos outros para ficarem

atentos a noite toda. Talvez Muriel tente sair sem a minha


permissão, não deixe que isso aconteça. — Sob o olhar confuso do

meu soldado, jogo as chaves do carro para ele.

— Sim, senhor. — Assente, entendendo o meu recado.

Em silêncio, sigo para a casa, mas antes de entrar faço um


aceno para meus soldados, que me cumprimentam. Na sala,

encontro as luzes acesas, como de costume, no entanto, para que


eu possa confirmar a minha suspeita, apago todas e fico à espera

dela, que em algum momento vai tentar enrolar meus homens para
me seguir.

Fiz uma promessa a Muriel e sei que mais cedo ou mais tarde
ela vai cobrar, mas eu me pergunto se serei capaz de cumprir.

Não gosto de fazer promessas e não cumprir, todavia, ao ver


seus lindos olhos desesperados e implorando por atenção, me vi em

um fogo cruzado. Eu estou muito fodido, pude ver essa noite o


quanto Muriel gosta de mim, posso até me arriscar dizendo que ela
me ama.

Dominic me avisou.

Mas eu também já sabia, sempre soube, não sou tão idiota

assim.

Meu melhor amigo sempre me disse que não daria certo ter a
menina, que hoje é uma mulher linda e muito atraente, na minha

casa. Os anos de convivência com Muriel fizeram com que ela


criasse sentimentos por mim, talvez tenha confundido a minha

bondade, a minha proteção e a nossa amizade com amor, afinal,


durante esse tempo, nana e eu fomos os únicos a dar a ela o que
nunca encontrou nos Lynch – uma família.

É a primeira vez que vou dormir com ela na minha cabeça

sem vê-la como aquela garotinha indefesa de anos atrás.

É a primeira vez que Svetlana não é dona dos meus


pensamentos, mas sim a ruiva encrenqueira que insiste em ter meu

coração para ela.

Muriel Scott cresceu há muito tempo, não que eu não tenha


notado, vejo tudo, sou um bom observador, entretanto, hoje fui
capaz de apreciá-la de perto e ver realmente a bela mulher que se
tornou.

Algumas vezes, mesmo que fosse por alguns segundos, me

perdia em suas curvas quando estávamos treinando. Cacete,


ninguém precisa me dizer o que está diante dos meus olhos.

Semicerro meus olhos e enfio as mãos no meu cabelo.

Caralho, o que está acontecendo comigo? Vim para o meu quarto


assim que ela me deu as costas e seguiu para o dela, aos prantos.

Quando ouvi seus soluços, tive vontade de correr até ela, abraçá-la

e dizer que tudo vai ficar bem, mas meu orgulho de merda falou

mais alto.

Eu não deveria ser um homem orgulhoso. O orgulho sabe

como foder com os Knight, é a porra do nosso maior defeito. Eu

afirmo que é, porque Ezra quase perdeu a minha cunhada por


causa dele. A vida do meu irmão ficou destruída, por sorte,

encontrou uma brecha para a felicidade e hoje está casado e com

dois filhos. Dos filhos do meu irmão, eu só conheço o Dylan, ainda

não vi a garotinha dele. Sim, soube que Hailey havia dado à luz a
uma menina e que Ezra tinha ficado radiante com a ideia de ser pai

de uma princesinha. Hailey sempre me ligava, mas no último ano


isso não aconteceu mais, acredito que só o tenha feito uma ou duas

vezes.

Estou sentado na minha cama na mesma posição e me

sentindo frustrado há algumas horas. A única coisa que fui capaz de

fazer ao entrar no quarto foi tirar minha camisa. Olho para o relógio
pendurado na parede e percebo que já é quase meia-noite e eu

ainda não consegui parar de pensar nela.

Há anos não penso tanto em uma mulher. Todas as minhas

transas foram sem sentido ao longo desses anos, nenhuma foi


capaz de invadir meus pensamentos, por mais que uma ou outra

fosse intensa no sexo e fizesse de tudo para ter a minha atenção

por mais de uma noite.

— Porra, Muriel — rosno, fechando os olhos.

Se eu não fosse inteligente, com certeza sujaria minhas mãos

de sangue por ela com muito prazer, pela diaba que estava disposta

a me seguir até o meu local de diversão. Só de imaginar quantos

babacas a olhariam com cobiça e tentariam tocá-la me deixa puto.

Se Muriel conseguisse passar por meus homens e chegasse

até a casa de swing, eles pagariam por terem sido tão desatentos.

Pela primeira vez, ela seria punida por ser tão linda e gostosa.
Aquela pequena sereia ganharia algumas palmadas. Eu a colocaria

no meu colo e lhe daria belas palmadas naquela bunda arrebitada

só para que soubesse quem é que manda. Depois arrancaria aquele


vestido vermelho provocante do seu corpo curvilíneo e passaria

algum tempo apreciando cada pedacinho da sua pele macia e cheia

de sardas.

Eu já disse o quanto estou arruinado? É como se eu tivesse


despertado algum monstro do meu interior.

Deito-me na cama de barriga para cima e fecho os olhos,

tentando dormir, mas isso não acontece. Levanto-me e pego uma

bebida, a mais forte que tenho. Encho meu copo quatro vezes,
porém, preciso de mais para tentar esquecer algo que nem mesmo

com mil garrafas de uísque serei capaz de fazer.

Com o copo na mão, ando de um lado ao outro, passando a


mão por meu cabelo e olhando em direção à porta. Se eu passar

por ela será um caminho sem volta.

Se controle, Carter, amanhã é outro dia.

Meu celular começa a tocar e eu fico desconfiado, mas relaxo


ao ver que é Dom. O que ele quer uma hora dessas? Espero que

não esteja me ligando para falar besteira.


— Espero que seja importante, Dominic — falo, deixando o

copo vazio na cômoda.

— Não sei se vai ser para você, meu amigo, mas Brends

Ivanov está na Irlanda. E sabe quem é a sua companhia? Tyron

Lynch. — Dom solta a bomba do outro lado da linha, sequer consigo


abrir a boca. — Os dois parecem amigos de longa data. Eles estão

aqui no Lux, dividindo algumas mulheres. Acho que você fez bem

não ter vindo, esse lugar ficaria pequeno.

Há quatro anos estou fugindo do meu passado, e do nada ele


vem à tona, ainda em companhia de um dos meus inimigos, o

homem que mais desprezo – Tyron Lynch.

Brends Ivanov na Irlanda.

Tyron e ele são amigos. Isso é novidade.

O que traz o neto de Viktoria Ivanov aqui?

Ainda não sei, mas vou descobrir.


Após saber que Brends está aqui, não consegui pregar os
olhos, passei a madrugada passando instruções para meus
homens, ordenei que se espalhassem e ficassem atentos a qualquer

movimento suspeito. Não confio naquele moleque, que hoje deve


estar com seus vinte e seis anos, muito menos agora, que está em
companhia do Tyron.

Esses dois merdas juntos podem ser um problema, mas antes

que eles pensem em tentar algo contra mim, quero estar preparado

para revidar à altura. Só que primeiro eu os deixarei mostrar suas


cartas antes de começarmos o jogo. Ainda não sei o que o projeto

de psicopata quer na Irlanda, mas estou certo de que coisa boa não

é.

São quase cinco da madrugada e eu já estou no meu

escritório à espera do meu braço direito para que possamos


conversar. Preciso saber dos detalhes da noite passada, pode ser

importante.

— Carter — Dominic me chama do outro lado da porta.

— Entre, Dom — peço.

Faço um sinal para que Dominic se acomode em uma das

cadeiras. Meu amigo logo está sentado em frente à minha mesa,


esperando que eu me manifeste, tenho certeza de que está

estranhando ter sido chamado tão cedo.

— Você está com a cara péssima. Está acordado desde

ontem? — pergunta, tirando o seu casaco de frio.

— Preciso que me diga exatamente o que você viu ontem. —

Passo a mão na minha barba e encaro meu amigo, que assente, ao

notar que ignoro a sua pergunta.

— Quando cheguei ao Lux eles já estavam lá. Assim que

reconheci o Tyron, eu me esgueirei pra outra ala para não

cumprimentar aquele pedaço de merda. O que me deixou

desconfiado foi ver o filho do Sinead apresentando o amigo russo

para alguns sócios do Lux — diz, demonstrando preocupação,

assim como eu.


Dominic sabe quase tudo sobre a minha família,
principalmente que a rivalidade entre os Ivanov e os Knight vem de

anos. Mas após da morte de Lucke Ivanov e Arlyne Ivanov,

finalmente essa rixa ficou de lado. Ao menos é o que eu penso,

afinal, passaram-se anos e eu não recebi uma ligação sequer dos

meus irmãos, ou das suas mulheres mencionando alguma guerra

com os nossos inimigos.

Dom me conta que subornou um dos seguranças da casa

para lhe passar informações. Segundo o funcionário do Lux, os dois

homens estavam ali para falar de negócios e que depois iam curtir a

noite. Saber que Brends e Tyron têm negócios não é confiável, nem

um pouco. Que tipo de negócios traz aquele russo até a Irlanda? O

que é tão importante para o neto de Viktoria surgir assim, do nada?


É um mistério que estou disposto a desvendar.

— Há uma maneira de descobrir o que eles estão negociando

— fala Dom, pensativo. Ele olha para mim por alguns segundos, até

que sorri com maldade. — Tem muito tempo que você não faz uma

visita ao seu velho amigo, não é? Você poderia visitar o Sinead


Lynch, enquanto eu aproveito para tirar algumas informações dos

homens dele. Esqueceu que eles são meus velhos amigos também?

— Pisca para mim.


— Você é um filho da puta esperto, Dominic Walker. Não foi à

toa que te escolhi para ser meu braço direito. — Abro um sorriso, no
entanto, desfaço ao me lembrar que prometi a Muriel que

trenaríamos juntos essa manhã. — A minha visita aos Lynch vai


ficar para mais tarde. Daqui a pouco vou treinar com a Muriel e
quero levá-la a um lugar depois.

— Eu estava certo o tempo todo, não é? A ruivinha te pegou


de jeito mesmo antes de você pegá-la. — O desgraçado gargalha e

eu faço uma carranca.

— Tome conta do seu próprio rabo, Dominic. Eu não te chamei

para falarmos da minha vida pessoal. — Meu tom sai em ameaça.

— Mas quem está falando sobre a sua vida é você, não eu, sr.

Knight. — Debocha. É isso que acontece quando damos liberdade


demais aos amigos.

— Está dispensado. Só volte aqui se eu te chamar. — Aponto


em direção à porta e o filho da mãe continua rindo alto.

Dom sai e eu fico sozinho, lidando com as minhas teorias.


Pensando bem, não é seguro ir até Sinead, será suspeito demais ir

à casa dele como quem não quer nada. Além do mais, o lixo do filho
dele sabe que mesmo eu estando no território deles, tenho
influência e posso conseguir as informações que quero. Depois de

um bom tempo perturbado com a vinda de Brends, consigo juntar os


pontos. Se Tyron levou o amigo ao Lux é porque quer que eu saiba,

por algum motivo. Se fosse para fazerem negócios às escuras, nem


mesmo teriam aparecido em público. Eu só preciso descobrir quais

as intenções dele ao querer que eu saiba que o herdeiro da máfia


russa está aqui.

Brends Ivanov não é nenhum santo, ele já foi aliado do tio em

Londres. Talvez o moleque tenha esquecido o que causou aos


Knight, mas eu não, eu nunca me esqueço daqueles que mexem

com a minha família e pensam que de alguma forma vão sair ilesos.

— Bom dia, senhoras. — Entro na cozinha, assustando as


mulheres, que me encaram de olhos arregalados. Passeio meus
olhos pelo local e não encontro quem eu quero. Decepcionado,

disfarço com um sorriso gentil.

— Bom dia, sr. Knight — elas respondem juntas.


A surpresa delas não é à toa, raramente entro aqui.

Depois de ter ficado um tempo trancado no meu escritório,


segui para o meu quarto para me aprontar para o dia. Decidi que

primeiro vou levar Muriel a um lugar, somente na volta iremos


treinar.

— Sra. Rose, cadê a Muriel? — pergunto para a ex-babá da


ruiva, que agora me olha com curiosidade.

— Minha menina saiu para treinar há alguns minutos, senhor


— fala nana, e eu assinto.

— O.k., obrigado. Com licença. — Dou as costas para elas e


saio da cozinha.

Entro no galpão sob o olhar atento de alguns homens. Eles me


desejam um bom dia e eu os cumprimento educadamente. Paro no

meio do caminho ao ouvir risadas altas, é de alguém que eu


conheço muito bem e ela parece estar se divertindo, porque sua
risada é leve, pura, contagiante. Muriel Scott tem o dom de arrancar

um sorriso com simples gestos, até mesmo com um sorriso.

— Sra. Scott, não acho apropriado. Pode sair machucada e o


chefe dessa vez não vai nos deixar sair ilesos — um dos meus

soldados fala, a voz dele é de puro medo.


— Tudo bem. Você está certo, Ryan, me perdoe pela
insistência. Não quero que nenhum de vocês pague por algo que
não fez — diz, me surpreendendo com o nível de maturidade.

Escondendo o sorriso idiota de orgulho, entro na sala onde ficam os


equipamentos para os treinos de autodefesa. — Carter é um bom

chefe, mas também pode ser impiedoso quando quer. — Muriel está
sentada no tatame preto, de costas para mim. Ela ainda não notou a
minha presença, somente Ryan, que estava treinando-a. Constato

ao ver que ele também está suado e de pé em frente a ela. Faço um

sinal para meu soldado não denunciar a minha presença.

— Obrigado por me entender, senhora — ele diz,

envergonhado.

Ela balança a cabeça.

Em passos lentos me aproximo dela, que está tão distraída


que não percebe a minha presença.

— Me ajude a levantar, por favor. — Seu cabelo longo está

preso em um rabo de cavalo firme. Sua blusa azul está molhada e

grudada em seu corpo, as gotas de suor deslizam por sua pele


branquinha de porcelana.
— Acho que posso fazer isso. — Me inclino um pouco e

deposito um beijo na curva do seu pescoço suado. Como eu havia


previsto, a ruiva se derrete com meu toque, mas se esquiva em

seguida, se levantando tão rápido que tropeça nos próprios pés, por

sorte consigo evitar a sua queda.

— Ryan, nos deixe sozinhos. Peça aos outros que saiam

também, fiquem do lado de fora até que eu os chame de volta —

ordeno para o homem, que assente e sai em seguida.

— O que faz aqui? — ela pergunta com grosseria, tentando


sair dos meus braços.

Mas não permito, simplesmente eu a perto contra meu corpo.

Eu também sei domar feras, baixinha.

— Tomou café? Dormiu bem, princesa? — pergunto no seu


ouvido.

Ela solta um suspiro, sentindo-se derrotada antes da hora. É

impressionante como fica quando estou próximo demais.

— Deveria parar com isso. Se não quer nada comigo, deveria


parar com esses gestos — resmunga, estapeando meus braços.
— Você é a criaturinha mais teimosa que eu já vi, Muriel. Eu

não disse que iríamos treinar juntos? — falo, virando-a bruscamente

de frente para mim.

— Disse. Mas estou acostumada a treinar sem a sua

companhia, e não seria hoje que mudaria isso, sr. Knight — fala,

atrevida, arrebitando o nariz afilado. — Portanto, estou dispensando

a sua ajuda — desafia-me, colocando as mãos em meu peito,


tentando me empurrar.

Com um sorriso provocante, eu a seguro firmemente pela

cintura e aproximo meu rosto do dela. Roço nossos lábios e a ruiva

ofega, desestabilizada com a minha atitude. Desço uma mão até


sua bunda deliciosa e apalpo com vontade, sem tirar meus olhos

dos dela. O short que usa é tão curto que parece uma cueca boxer,

o tecido aperta a sua carne.

— Quem manda aqui sou eu, mas se você não quer, não vou

te obrigar a nada.

Ela arfa quando mordisco seu lábio e me afasto antes que

tente me beijar.

— Deveria existir uma lei em que vocês seriam punidos

severamente por serem tão... — pragueja, furiosa, me fazendo rir.


— Que cena digna de um filme, queridos.

Ouvimos aplausos vindos da entrada. Com Muriel ainda em


meus braços, eu a sinto estremecer, ela quase solta um soluço ao

reconhecer a voz.

— Meu Deus. — A ruiva me abraça com medo e eu a envolvo

com meus braços.

Olho para Tyron, que lança um olhar porco de cobiça para a

irmã. Ele demora tanto a avaliando com desejo, que eu a coloco

atrás de mim. Muriel está tremendo tanto que me agarra por trás e
encosta o rosto nas minhas costas.

— Como você entrou na porra da minha casa? — pergunto,

enraivecido não só pelo fato de ele ficar cobiçando a própria irmã,

mas por ter entrado no meu território sem a minha permissão. Há


anos ele não vem aqui.

— Sem estresse, meu amigo. Eu só troquei algumas palavras

com um dos seus homens e ele liberou a minha passagem no

portão. E o resto você já sabe. — O miserável sorri com maldade,


olhando para os braços da ruiva ao meu redor. — Se não tivesse tão

ocupado tentando comer a boceta da minha irmãzinha bastarda,

talvez tivesse ouvido meus homens e eu entrando no seu território.


Fico preocupado ao sentir Muriel amolecer atrás de mim. A

sua respiração está tão fraca, que meu sangue ferve de ódio só de

imaginar o que a presença podre de Tyron pode causar a ela. Dei

ordens expressas para que não deixassem esse homem entrar na


minha casa. E se ele está aqui é porque há um traidor.

— Saia da minha casa antes que eu te envie em pedacinhos

dentro de uma caixinha para o seu pai, Tyron. Já te poupei muito,


não tente brincar comigo. Você não me conhece e não vai querer

me ver perdendo a paciência — ameaço, entredentes, com sangue

nos olhos.

— Calma, amigo. — O imbecil ri, provocando. — Vim em


missão de paz. Vamos falar de negócios e deixar as nossas

diferenças de lado. — Ele levanta as mãos.

— Não tenho interesse em trabalhar com você. Agora saia da

minha casa antes que eu mesmo te tire. — Aponto para a porta,


mas o filho de Sinead nega ao me lançar um sorrisinho.

Um dia arranco seus dentes, desgraçado, um por um.

— Quero Muriel de volta, Carter James Knight — diz, com

prepotência. Seu olhar é malicioso e cheio de maldade. — Encontrei


um negócio melhor com Brends Ivanov, um velho amigo. Ele vai me
pagar o dobro pela minha irmãzinha, e quanto ao que te devemos,

eu trouxe três maletas de euros, o dobro do que pagou pela


cadelinha. Caso você ainda não tenha deflorado a vadia, será

melhor ainda para mim. — Gargalha com escárnio.

Ele quer dar a minha... a Muriel para Brends. Filhos da puta!

Que se foda o meu autocontrole. Eu sou um Knight, sou a


porra do herdeiro da máfia inglesa. Se alguma porra der errado

tenho meus irmãos, juntos nos tornamos mais fortes.

— Muriel, me solte — peço, com carinho, tocando suas mãos

geladas. Estou queimando de raiva por dentro. Ela, mesmo


amedrontada, confia em mim e se afasta, ganhando logo um

assovio do irmão escroto.

— Carter, você soube dar leitinho para a putinha, ela está mais

gostosa. Mulherão do caralho. Farei um bom negócio com o Brends.


— Tyron sabe como me irritar.

Mandando a paciência para o inferno, eu avanço no filho de

Sinead e esmurro a cara dele várias vezes. Tyron tenta pegar a sua
arma, mas sou mais rápido e o impeço disso, segurando na gola da

sua camisa. O filho da puta é tão psicopata que gargalha.


— Essa é a última vez que você menciona o nome da Muriel,
está me ouvido? Só estou te poupando por causa do seu pai. —

Cuspo na cara dele e seguro em sua mandíbula e aperto com força,

fazendo-o gemer. — Você me ouviu, seu merda? Não ouse vir à


minha casa novamente me dizer que vai dar a sua irmã para o

Brends Ivanov. Saiba que não haverá uma próxima vez para você.

Vou quebrar as suas pernas para que possa aprender que não é
certo invadir o território dos outros sem ser convidado — grito,

dando um soco e mais outro, sujando meus dedos com o seu

sangue podre.

— Sim... porra... agora me solte! — Geme, tentando me bater.


Ele me olha assustado e com os olhos arregalados. Tyron não

esperava que eu fosse reagir às suas provocações, mas chega uma


hora que a pessoa cansa.

— Me escute bem e olhe bem para a sua irmã. — Seguro em


seu pescoço e fico atrás dele, sufocando-o, obrigando-o a ver a irmã

encolhida no tatame, tremendo. — Você e o seu pai tentaram


destruir a vida dessa menina quando me entregaram ela como
forma de pagamento. Talvez achassem que eu seria como vocês, ou

pior, para terminar o que começaram, mas se enganaram. Sabe por


quê? A Muriel cresceu, se tornou uma mulher forte. Não pense que
ela está ali encolhida por medo de você, aquilo ali é nojo, ela tem
repulsa ao te encarar, seu merda! Vocês a trouxeram até mim, e
agora ela é minha. E sou um cara bem possessivo, Tyron. Você

sabe o que eu faço quando tentam tomar o que é meu? — pergunto


no seu ouvido, minha voz sai ameaçadora e sombria.

— Não. — Ele é obrigado a responder, porque torço o seu


braço e aperto ainda mais o seu pescoço.

— Mato lentamente, arrancando os órgãos, e depois dou para


meus cães. — Termino de falar e o empurro para longe, jogando-o
no chão. — Dê o fora daqui antes que eu mude de ideia e te mande

para o inferno de uma vez por todas.

Rastejando e gemendo, Tyron Lynch tenta pegar sua arma,


mas eu chuto o objeto para longe e depois me agacho, pegando-o
pela camisa e o arrastando para fora. Fico surpreso ao encontrar

meus homens e os dele apontando as armas uns para os outros.


Furioso com a ousadia dos malditos, jogo o chefe deles na terra,
nenhum deles ousa me enfrentar.

— Levem-no daqui. E se voltarem novamente, caço um por


um e mato sem piedade. Nem mesmo Sinead Lynch será capaz de
me parar. Confiem seus rabos a esse moleque e verão mais cedo o
que é a morte — advirto, apontando para eles, que me olham
apavorados.

Os cachorrinhos de Tyron o pegam e saem para longe,


entrando em seus carros. Eles não demoram muito para sumirem da

minha propriedade.

Muriel. Preciso vê-la, abraçá-la, colocá-la no meu colo e dizer

que ninguém irá se aproximar dela. Para chegarem a ela terão que
me matar primeiro, e essa é uma missão impossível.

Então o negócio de Brends Ivanov esse tempo todo é a Muriel.


Miseráveis. Vou acabar com a raça de cada um deles.

Não imaginava que a vinda daquele bastardo até aqui seria


isso – ter a irmã de volta para dar em troca de alguma coisa para o
seu mais novo aliado. Sabendo da sua intenção, as coisas mudam

de rota, completamente. Nenhum fodido irá tocar em um fio de


cabelo da pequena sereia.

Eu faço de tudo para não entrar em uma guerra, mas quando


entro não é para perder.
Pergunto-me se é possível me apaixonar ainda mais por

Carter James Knight. A maneira como ele me defendeu de Tyron – o


monstro que infelizmente é meu irmão – fez com que meu coração

bobo batesse descompassado por cada soco e palavra dita pelo

meu protetor.

Carter sabe que eu tenho medo de Tyron, e mesmo me vendo


encolhida no canto da sala de treino, não deixou que aquele ser

desprezível se aproximasse de mim ou me humilhasse, como

costumava fazer quando eu morava com os Lynch.

Com as pernas encolhidas, apoio minha testa em meus

joelhos e deixo as lágrimas caírem. Uma das coisas que mais odeio
em mim é como me permito que aquela família me deixe fraca.

Mesmo depois de tantos anos longe daquela casa, ainda me sinto

violada por eles. A vida toda, meu irmão me machucou física e

verbalmente por eu permitir que se aproximasse de mim sem que eu


tivesse coragem para reagir às suas provocações. Odeio ter
nascido. Odeio tanto Tyron que chego a desejar que sua morte seja

lenta e de forma bem cruel.

Será que meus pensamentos ruins me levaram para o inferno?

Se bem que já estive nele e não morri, afinal, sou uma sobrevivente.

— Essas lágrimas não combinam com você. Gosto mais

quando você está tentando tirar a minha paz ou me seduzir — fala

Carter, depois de ter jogado a escória para fora do galpão. Ele está

de bom humor, sei que quer aliviar a tensão.

Os passos dele se aproximam e eu começo a limpar meu rosto

molhado. Respirando fundo, levanto meu rosto e o encaro. Mesmo

que ele queira mostrar para mim que tudo vai ficar bem, posso ver
através dos seus olhos a cólera contida para não me assustar mais

do que já estou com essa visita inesperada do meu irmão.

Procuro nele algum rastro de sangue ou machucado, e fico

aliviada ao não encontrar nada. Fico admirada por Carter, mesmo


longe de casa, ter tanto poder sobre Tyron e com qualquer um que

tente o enfrentar.

— Ele já foi? — pergunto. Estou pronta para me levantar, mas

mudo de ideia quando meu salvador se agacha na minha frente e dá


um sorriso.

— Os moribundos dele o levaram — diz, com os olhos fixos


nos meus. — Você está bem, pequena? — pergunta, carinhoso

demais, como nunca o vi.

— Estou sim. Obrigada por sempre me defender. —

Estremeço quando ele toca o meu rosto e o acaricia. Sensibilizada


com o seu toque, fecho os olhos e solto um suspiro.

— Depois que perdi uma pessoa que significou muito para


mim, me tornei muito protetor. Eu já era um pouco, mas o meu lado
protetor passou a ser o meu projeto de vida — confessa, como se

fosse um segredo que guardava a sete chaves.

— Essa pessoa é a mulher que você ama? A que não permite


que você entregue seu coração para mim? — ouso perguntar ao

fixar meus olhos nos dele.

— Hoje não é um bom dia para falarmos sobre a minha vida.


— Carter roça o polegar nos meus lábios e sorri de lado.

— Um dia você vai me contar cada detalhe, sr. Knight. E por

livre e espontânea vontade. — Pisco para ele, que joga a cabeça


para trás e gargalha. Aproveito seu momento de distração para
morder seu dedo, então ele solta um gemido e faz careta.
— Criei um monstro, não é possível. — Finge lamentar e me

pega desprevenida ao me agarrar pela cintura e me tirar do chão,


me colocando no seu ombro.

— Carter, me coloque no chão! — exclamo, sorrindo. Ele


conseguiu me fazer sorrir e o medo desaparecer. Por que ao lado

dele me sinto tão protegida? Carter consegue fazer com que meus
dias sombrios se tornem claros.

— Vamos a um lugar e você vai amar, garotinha — provoca-


me e bate na minha bunda. Vermelha de raiva, mordo as costas

dele, mas ele nem se abala. — De sereia passou a ser uma cadela
descontrolada que sai mordendo qualquer parte do meu corpo? —
pergunta, caminhando para fora do galpão.

Alguns homens nos observam pelo canto do olho, mas


continuam com a postura séria, contudo, não passa despercebido

que um ou outro sorri com o nosso show. É a primeira vez que o


chefe deles age assim comigo.

— Filho da p...

Antes que eu tenha chance de xingar Carter, ele me põe no

chão e tapa a minha boca.


— Mais respeito com a minha mãe. Respeite os mortos — diz,
com a expressão fechada e se afastando de mim.

Sinto-me péssima por quase ter xingado a pobre falecida.

Quando estou para pedir desculpas, o rosto dele relaxa e um sorriso


aparece.

— Vai me levar para onde? — pergunto, ruborizada e


retribuindo o seu sorriso. — Estou suada, preciso de um banho. —

Olho para meu corpo.

— Vamos ao lago.

A propriedade do Carter é enorme, tem até um lago na perto


da mata. É um lugar muito bonito. O terreno parece uma fortaleza,

com muros altos e um portão preto enorme na entrada. A poucos


metros tem árvores espalhadas com um gramado muito bem

cuidado. Posso dizer que é um pequeno paraíso.

— Daqui a pouco vai chover. — Mordo o lábio ao olhar para o


céu nublado. — Poderíamos deixar para... — Calo-me quando ele

me pede silêncio com um gesto de mão.

— Antes da chuva chegar já estaremos lá. Me espere aqui —


assegura, se afastando e indo em direção ao galpão onde ficam os

carros de corrida.
Deus, ele está tão atencioso.

Eu gosto desse Carter, corrigindo, eu amo.

Particularmente, sou louca pelas duas versões do Knight – ora


arrogante, ora um verdadeiro príncipe. O bom disso tudo é que já

me acostumei com as suas mudanças de humor.

Ele está tentando iluminar o meu dia que há pouco estava

nebuloso, mas nem precisa de tanto, só o modo como me defendeu


do Lynch é satisfatório.

Boba e sonhadora, sorrio olhando as nuvens carregadas no

céu. Espero que a chuva não caia tão cedo, senão estragará meu

passeio.

Ao ouvir o ronco da Lamborghini Sian Roadster, levo as mãos

à boca, ainda sem acreditar no que estou vendo. Carter para na

minha frente com um dos seus carros preferidos e sorri para mim e,

em seguida pisca, causando aquele famoso friozinho na barriga.

— A cavalaria chegou, princesa — diz. Eu me surpreendo

quando ele tira algo do banco do passageiro e joga pela janela.

Assustada, pego no ar e noto que é uma blusa dele. — Vista, está

começando a esfriar.
Olho para a peça de roupa preta com gola de pele branca.

— Obrigada — murmuro. Antes de vestir a blusa, levo a peça


ao nariz e inalo o seu cheiro, o perfume dele está impregnado no

tecido.

Só então percebo a besteira que acabei de fazer.

Envergonhada, visto a blusa e brinco com meus dedos sem saber


como reagir após ter sido pega no flagra.

— Entre. — Seu olhar é intenso. Ele tenta disfarçar ao virar o

rosto para frente e focar no volante. — Coloque o cinto — ordena,


sequer me olha.

Notando a sua mudança de humor, eu o obedeço.

— Senhor. — Ryan se aproxima ofegante do automóvel.

— Algum problema, Ryan? — pergunta o chefe, com a

expressão séria, fitando o soldado com uma certa arrogância.

— Já preparamos o que pediu. Se quiser, podemos...

— Estou de saída, na volta eu resolvo isso. Não façam nada

até eu voltar — ordena, interrompendo o pobre homem que parece

nervoso. — Avise aos outros que mais tarde quero todos reunidos.

— Sim, sr. Knight. — Ryan assente, cabisbaixo.


De longe, sinto o cheiro do medo emanando.

Carter odeia falhas e é bom em punir quando as descobre,

tenho dó desses homens por ter despertado o seu pior lado.

Não demora muito para que Carter pise fundo no acelerador,


fazendo a máquina roncar ferozmente. Com a janela aberta, sinto o

vento bater contra meu rosto e cabelo. Sorrindo, eu viro o rosto e

encaro o motorista que também sorri abertamente.

— Que paraíso, Senhor! — grito, rindo e jogando a cabeça

para trás.

Carter corre como se estivesse em uma das suas corridas, eu

adoro a sensação do perigo que corre nas minhas veias. Se fosse

para morrer assim ao lado dele, eu o faria.

— Solte o cabelo — pede alto e bom tom.

— O que disse? — pergunto, como se não tivesse entendido.

Ele reduz a velocidade e conduz o volante com uma mão só.

Meus olhos fixam em seus braços fortes e tatuados. Fascinada, vou


descendo o olhar até chegar a sua mão máscula e tatuada, com

algumas veias salientes.


— Agora sim é o paraíso — fala, rouco, então leva uma mão

ao meu rabo de cavalo, puxando o elástico do meu cabelo,


desfazendo o meu penteado.

Em momento algum o sorriso abandona a minha boca ao

sentir meu cabelo ser solto.

Puta que pariu!

— Você é louco, sr. Knight. — Gargalho, esquecendo-me de

todos os problemas de mais cedo.

— Às vezes a loucura é necessária para dar um pouco de cor

para a nossa vida quando ela se torna sem graça. — Soa galante,
fazendo a minha barriga se contorcer.

Nem tenho a oportunidade de responder nada, pois Carter

pisa fundo mais uma vez, fazendo um barulho sensacional na sua


Lamborghini. As folhas das árvores se movimentam conforme o

vento violento bate nelas, assim como meu cabelo, que caí na frente

dos meus olhos.

Passo longos minutos curtindo o nosso passeio, mas não por


estar com um piloto digno de ser considerado um deus grego por

sua beleza. O que me faz sorrir e dar gritinhos, o que faz meu

coração bater descompassado é o sorriso sincero dele, seus olhares


de soslaio, o carinho e cuidado comigo como se eu fosse a coisa

mais preciosa da vida dele.

Mesmo eufórica, foco em Carter e noto que está com o

semblante suave. Pergunto-me o quanto estou me iludindo em


pensar que algum dia ele irá se entregar para mim por completo. Na

vida dele já houve uma mulher que ele amou muito, e o meu medo

não é saber que ele a amou, e sim descobrir que ainda a ama.
— Amo este lugar, apesar de ter vindo só uma vez — digo,
saindo do carro assim que Carter desliga o motor.

— Podemos vir mais vezes — ele diz, com a voz distante,


encarando o lago.

— É uma proposta tentadora, sr. Knight. Acho que vou aceitar


de bom grado — falo ao me aproximar dele com um sorriso imenso.

— Sempre que me chamam de sr. Knight eu me lembro do

meu irmão mais velho, Killz, mesmo que todos os irmãos carreguem
o sobrenome — diz, pensativo, me deixando curiosa. Ele nunca fala

deles, é como se fosse um assunto proibido.

— Você nunca fala da sua família, Carter, é como se eles nem

existissem. Vocês se dão bem? — Demonstro uma certa

insegurança ao perguntar, mas me arrependo de ter sido tão curiosa


assim que vejo seu corpo enrijecer e sua expressão se fechar.
— Eu a trouxe aqui para que pudesse se distrair um pouco,

Muriel, então aproveite e não faça perguntas difíceis. — Ele desce a


pequena trilha de pedrinhas do lago, me deixando para trás.

Eu o sigo em silêncio e me coloco ao seu lado, cruzando os

braços e encarando a água, assim como ele. Fico calada por longos
minutos depois de ter cutucado a fera.

— Essa é a sua distração, ficar olhando para o nada? —

pergunto, desgostosa, tentando quebrar o muro que ele tenta pôr

entre a gente.

— E o que Vossa Alteza sugere? — Sua voz soa ríspida.

— Não precisa me tratar assim só por que perguntei da sua

família — digo, com a voz fria e pronta para me afastar dele. Carter

me impede de fazer isso ao fechar seus dedos ao redor do meu

braço.

— Me perdoe, só não gosto de falar deles. Lembrar dos meus


irmãos é o mesmo que lembrar da minha casa em Londres. —

Enfim me olha, então vejo um misto de sentimentos passando por

seus olhos. Neles há muita dor e algo que não sei direito o que é.

Ao ver que não vou a lugar algum, ele me solta e me avalia


por alguns segundos. Adoraria poder ler mentes e saber o que ele
pensa de mim.

— Será que um dia saberei o que aconteceu com você no

passado? — É inevitável a minha pergunta. — Me desculpe. — Dou

um sorriso fraco.

Ele assente com seriedade, mas não retribui o meu gesto.

— Você sempre quer saber sobre mim, mas nunca me fala de

você, srta. Scott — diz, como se falar sobre mim fosse algo

produtivo. Antes de morar com Carter, eu nem sabia o que era ter

uma vida.

— Não tenho muito para falar, e o que tenho você já sabe. —


Dou de ombros. — Se a minha vida fosse um livro, ela se encaixaria

no gênero terror. Tenho um irmão psicopata que me deseja

sexualmente, um pai que nunca me amou e só me criou para que

em algum momento eu fosse útil para os seus negócios... E uma

irmã que me odeia como se eu tivesse tomado o lugar dela, sendo

que ela é a princesinha do papai e tem todos os benefícios que eu


nunca pude ter, mesmo sendo uma das herdeiras de Sinead. A

minha família é uma merda, eles me odeiam sem que eu tivesse

dado motivo para isso. — Minha voz sai embargada.


— Eles não são dignos de ter a sua consideração, Muriel. —

Carter me envolve em seus braços sem que eu tenha tempo para


raciocinar direito. Ele afunda o rosto na curva do meu pescoço, me

causando cócegas com a sua barba por fazer.

— A vida toda mendiguei amor, atenção e um espaço na vida


deles, até que eu soube que o meu pai tinha me dado para um

desconhecido como se eu não significasse nada para ele. —


Soluço, com os olhos marejados. — Eu era boba, sabe? Mesmo

com os maus-tratos, achava que em algum momento os Lynch iriam


me ver como um membro da família. Mas me enganei, eles nunca

me deram uma chance de ser um deles. Quando Tyron me trouxe à


força para você, pensei que meu mundo tivesse acabado de vez,
mas mais uma vez me enganei. Eu te julguei sim, não tinha como

não o fazer, não é? Você era um desconhecido para mim e eu era


só uma garotinha assustada. O meu destino ter cruzado com o seu

foi a melhor coisa que me aconteceu, Carter. Em quatro anos você


me deu muito mais do que recebi deles durante dezessete anos.
Muito obrigada por sempre florescer meus dias. Depois de tantos

anos, compreendi que eu nunca poderia ser considerada a princesa,


como a minha irmã Kira. — Entrelaço minha mão na dele e me

surpreendo por ele não tentar fugir.


— A sua irmã será sempre considerada uma princesa, mas o

que ela nunca poderá ser é uma rainha, porque esse título já está
reservado para você, Muriel Scott. Ser uma princesa dentro da

realeza da máfia nunca se encaixou em você, porque rainhas


nasceram para comandar, e princesas para cumprir ordens. —

Carter encosta a sua boca perto do meu ouvido. Seu hálito quente
sobre a minha pele faz meu coração disparar como louco. —
Princesa é só uma forma carinhosa de como eu a chamo, você será

uma rainha. Mas saiba que não está perdendo nada dos Lynch...
Você é boa demais para eles e não o contrário, sempre se lembre

disso, ruiva.

Se eu não estivesse em seus braços agora, com certeza teria


parado no chão com as suas palavras. Ainda desorientada depois

de ter sido enaltecida, solto meus braços ao longo do corpo e me


viro de frente para ele, completamente afetada.

— A mulher que tem o seu coração é uma sortuda, Carter

James Knight. Eu a invejo por ter o seu amor. — Sorrio com


lágrimas descendo por minhas bochechas.

— Shhh... Não te trouxe aqui para chorar. — Ele enxuga meu

rosto com ternura.


— Eu acho que te amo, e não venha me dizer que estou
confundindo as coisas por você ser tão incrível comigo. Não é —
declaro-me, mordendo os lábios e o encarando com intensidade.

Com o semblante pálido, Carter leva as mãos ao meu rosto e


o acaricia, sorrindo de lado. Ele me desarma por inteira, o seu

sorriso é tão sincero e tão perfeito.

— Muriel. — Seu sorriso aumenta e ele dá uma leve

gargalhada, balançando a cabeça como se não acreditasse nas


minhas palavras.

Meu coração fraqueja quando nossos olhares se encontram.


Carter tenta mostrar resistência, me encara calado e surpreso com a
minha atitude.

— Por que não me leva a sério? — Em momento algum ele se

afasta ou tira suas mãos do meu rosto.

— Você não pode me amar, garota. — O seu sorriso some e é


substituído por uma expressão dura e fria.

— Por que não? — Levo minhas mãos às suas e as tiro do

meu rosto.

Mostre a ele que você também é capaz de ser forte.


— Ser a minha amiga é muito diferente de ter um
relacionamento comigo, muito diferente — diz, como se fosse o
verdadeiro motivo.

— Por que não posso te amar, Carter? Me dê uma resposta


convincente e eu te deixo em paz. — Minha voz soa firme, enquanto

aperto minhas mãos nas dele.

Carter semicerra os olhos ao notar que não vou desistir tão


fácil de ter a resposta.

— Porra... Porra... — rosna, revoltado, se afastando de mim.

Carter passa a mão no cabelo e fica de costas para mim para não

me encarar. — Eu te machucaria, e esse não é o meu desejo.

Por um instante olho para o céu nublado e ouço o som dos

trovões violentos. No final das contas, o nosso passeio foi um

desastre.

— Você me disse que não fugia do amor, mas quando se trata


de mim sempre está fugindo — acuso, aproximando-me dele e

tocando em seu ombro.

Ele se vira bruscamente e me olha com fogo nos olhos como

nunca vi.
— Não estou pronto para amar outra pessoa. E você é

importante demais para mim para que seja apenas mais uma,
Muriel. É assim que trato as mulheres com que me envolvo, como a

porra de um nada! Agora entende o que quero dizer? Você é uma

menina e está descobrindo a vida agora, não sabe o que quer, só


está confusa — brada friamente, entredentes. — O que você quer

de mim eu não posso te dar, não para você. Para ninguém. — Seu

tom sai mais suave.

Ele me fez uma promessa e neste momento está quebrando-a


sem dó e piedade.

— Quando você parar de me tratar como aquela garotinha de

anos atrás e me começar a me ver como uma mulher, vai descobrir

que posso ser capaz de te amar e ser amada por você. Mas
enquanto isso não acontece, escute bem o que vou te dizer. —

Aponto o dedo em seu rosto e engulo minhas lágrimas. Encorajada,

ergo o rosto e lanço um olhar de desafio para ele. — Rainhas


nasceram para comandar, e como você disse, eu sou uma. Então

ninguém poderá mandar em meu coração, porque quem manda

nele sou eu. Ninguém, nem mesmo você, Carter James Knight, vai
conseguir me fazer parar de te amar. E quando perceber que a sua

amada, a mulher que você ama não te merece, vai ser tarde
demais! Se ela te merecesse, vocês estariam juntos e eu não

estaria aqui, como uma boba me declarando para você. Parabéns,

você conseguiu o que queria, sr. Knight. — Dou as costas para ele e
corro para longe, sem olhar para trás, em direção ao carro.

Com raiva, me aproximo do carro e tiro meu capuz, então levo

as mãos ao meu cabelo e o prendo. Viro meu rosto para o lado

oposto ao ver que ele se aproxima, mas não antes de perceber que
ele está com os punhos fechados.

O seu perfume marcante me inebria cruelmente.

— Muriel — chama, com a voz grossa e rouca.

— Vamos embora? Começou a chover. — Por fim, eu o encaro

e sinto o vento ficar mais forte e os pingos da chuva me atingem.

— Não vamos a lugar algum.

Solto um gritinho surpreso ao ser levantada pelas pernas por

ele, que me encaixa em seu quadril ao inclinar o corpo contra o

meu. Minha vagina fricciona em seu pau e eu fico molhada com o


contato tão íntimo.

Com a pupilas dilatadas, Carter me encara como se me

estudasse, até que a sua boca se transforma em uma linha dura.


— O que você quer de mim? — indaga severamente.

Ofego quando ele fecha uma mão ao redor do meu pescoço,


enquanto a outra segura com firmeza a minha coxa e deita meu

corpo sobre o capô. No começo, fico assustada e com os olhos

arregalados, mas me tranquilizo assim que Carter aproxima seu


rosto do meu.

— Eu quero você — falo baixinho.

Ele roça os lábios nos meus e passa a língua sobre eles

sensualmente. Carter me provoca, com os olhos fixos nos meus.


Quando penso que vai me beijar, ele se afasta um pouco.

Determinada, uno nossas bocas e enfio uma mão no seu cabelo

macio enquanto a outra deslizo até o seu braço musculoso,

acabando com a distância que tem entre a gente. O primeiro contato


da minha língua na dele nos faz gemer.

A chuva fica mais intensa, nos molhando, deixando nossos

corpos encharcados, mas mesmo assim não paramos. Carter solta

a minha perna e segura a minha bunda com a sua mão grande e


quente, em seguida, afunda a língua na minha boca e me beija com

desejo, ansiedade e gula.


Nosso beijo é desesperado e erótico. A sua boca procura pela

minha com ganância e intensidade, nossos gemidos e entrega

comprovam isso. Passamos longos minutos ali, à mercê de uma

atração sem fim - eu dando tudo de mim, e ele, tudo dele.

Para me enlouquecer, vez ou outra ele mordisca meus lábios.

A mão de Carter agora está no meu cabelo, deixando-o solto, como

gosta.

Ofego e me esfrego descaradamente nele ao sentir que o pau


está ficando ereto com o nosso contato. Meus mamilos ficam duros

e doloridos quando Carter me dá um tapa na bunda, me causando

uma ardência gostosa no local.

— Carter — chamo-o em um gemido quando ele para o nosso

beijo. Com a boca entreaberta e a respiração ofegante, eu o

observo.

— Eu te foderia em cima desse capô se você não fosse


virgem, pequena sereia. Eu te faria gozar e gritar o meu nome. E só

essa mata seria testemunha das sacanagens que faríamos —

pragueja, dolorosamente.

Os olhos azul-claros são substituídos por uma cor carregada


de luxúria.
— Isso não te impede de me fazer sua, Carter. — Toco em seu

rosto molhado com carinho.

— Levante-se. Não quero que pegue um resfriado por minha

causa.

Ele me decepciona ao tirar minhas mãos do seu rosto

bruscamente e me dar as costas. Nem tenho forças para protestar


tamanha a sua frieza.

— Seja rápida, tenho negócios para resolver ainda hoje —

conclui antes de entrar no carro e bater a porta com força,

provocando um estrondo tão alto que até pulo para trás assustada.
— Muriel! — chamo-a assim que a vejo sair do carro e entrar
na casa sem olhar para trás.

Puto, saio também e jogo as chaves para um dos meus


homens, seguindo em passos largos até a casa para tentar alcançá-

la.

Viemos o caminho todo em silêncio. Reconheço que fui um


merda com ela, mas foi inevitável. Sabe quando a gente não quer

magoar uma pessoa, só que mesmo sem intenção fazemos isso

sem perceber? Pois é, quando vi já estava feito.

Mas, porra, eu não seria louco de tirar a virgindade dela ali, no


meio do nada, só porque estávamos sedentos um pelo outro

naquele momento. Seria irracional da minha parte deixar que minha

libido falasse mais alto.


Por pouco eu não a tomei nos meus braços e a fiz a minha

mulher ali mesmo, em cima daquele carro. Mas o meu autocontrole


me salvou no momento certo. Sei que Muriel acha que estou fugindo

da atração desenfreada que sinto por ela, mas não é o caso.

Se ela souber o quanto me segurei para não fazer besteira,


para não colocar em prática toda putaria que encobriu a minha

mente enquanto estávamos como dois animais enjaulados nos

beijando, ficaria perplexa e talvez até com medo de mim.

Não quero comparar as duas, contudo, Muriel não é Svetlana.


Lana era diferente, ela era experiente, não fui o seu primeiro

homem. Quando nos conhecemos e fizemos sexo pela primeira vez,

eu soube que a minha namorada não era virgem, já conhecia a vida.


Era vivida e sabia dos meus gostos, com ela eu não precisava me

segurar ou ter receio em mostrar o que realmente me agrada.

— Muriel, vamos conversar — peço, batendo à porta do seu

quarto. — Muriel! — Esmurro a madeira com raiva quando percebo

que está trancada.

— Conversaremos quando você decidir o que quer de

verdade, Carter — responde alto e bom tom.


— Volto mais tarde, você vai ter que me ouvir — aviso,
recebendo o seu silêncio como resposta.

O que me resta agora é tomar um banho bem gelado e esfriar

a cabeça antes que eu cometa uma loucura e dê a um certo alguém

o que tanto deseja de mim.

Depois de horas trancafiado no meu escritório, com os

pensamentos longe na pessoa que está do outro lado do corredor

me ignorando, decido tomar uma atitude. Mas quando vou sair, meu
celular começa a tocar irritantemente.

Visualizo o visor e reconheço o número de Sinead brilhando

na tela. Espero alguns minutos para ver se desiste, mas o velho é

um maldito insistente. Eu até já desconfio o que quer falar comigo,

presumo que o filho foi reclamar para o papai que o escorracei daqui
na porrada.

— Senhor Lynch, a que devo a honra? — pergunto assim que

o atendo.
— Soube do pequeno desentendimento que teve com o meu

filho mais cedo. — Ele não demonstra ira, ótimo, uma vez que o
único errado é Tyron.

— Mais uma vez o seu filho foi poupado por sua causa,
Sinead. Essa é mais uma de várias vezes que ele invadiu a minha
propriedade tentando dar um de sabichão de merda. O Tyron tem

que entender que você e eu somos sócios, ele não vai me tratar
como um Zé Bostinha, porque eu não sou e você sabe disso —

digo, em tom ameaçador, com os punhos fechados.

— Se acalme, Carter, eu sei que o meu filho às vezes pode

ser impossível. Mas eu te liguei para fazermos um acordo de paz. O


Tyron errou, eu reconheço, prometo a você que ele não vai mais

fazer isso. E se acontecer novamente vou dar um jeito nele. Você e


eu temos negócios há onze anos, não onze meses ou dias, Knight,

não vai ser o meu filho irresponsável que vai destruir essa aliança,
não é? Escute o que tenho para te propor e me dê a sua resposta —
diz tão calmo que estranho o seu comportamento.

— Me diga no que posso ser útil — falo secamente,


encarando a parede do meu escritório.
— Sei que a minha querida filha foi o motivo de você e Tyron

terem se desentendido. Então acho melhor eu te fazer a proposta,


Carter.

Mordo os lábios com tanta força que sangram, sinto o gosto


metálico.

Como esse rato escroto tem a coragem de mencionar Muriel


como filha? Ele não tem esse direito, nunca teve. Sinead nunca vai

merecer ter uma filha como a ruiva, ela é boa demais para esse
velho podre.

— Sem rodeios, sr. Lynch, me diga o que quer de mim. —


Controlo meu tom raivoso.

— Quero minha filha de volta, quero reverter o nosso acordo


— fala tão decidido, que se eu estivesse na frente dele, arrancaria a

sua língua por dizer tanta merda.

Fico alguns segundos em silêncio, meditando e tentando


expulsar a raiva que está enraizada nas minhas veias como se

fosse a porra de um veneno. Eu odeio tanto os Lynch, que os


mataria sem dó e piedade, mas o problema é que as coisas não

funcionam assim. Eu não posso chegar e matar todos sem ter um


bom motivo. Se eu o fizer é guerra na certa, e o que não desejo no
momento é reencontrar meus irmãos depois de tantos anos, por
conta de desentendimentos com meus inimigos.

Sim, se tornaram meus inimigos a partir do momento em que

desrespeitaram o meu luto e fizeram da vida de Muriel um inferno


enquanto ela estava sob o teto deles.

— Sinead, você deveria honrar as suas calças. Você e o seu


moleque me obrigaram a aceitar a Muriel como pagamento quando

era apenas uma menina, no mesmo dia em que eu estava tentando


lidar com o luto da minha namorada —acuso-o, não deixando a fúria

transparecer na minha voz. Falo tão calmamente, que ele deve se


preocupar com isso se for esperto, mas eu duvido muito.

— Eu sei, Carter, mas isso é passado, meu caro. Só quero

que reconsidere o nosso acordo, quero a minha filha de volta —


ousa dizer.

— Muriel nunca foi a sua filha, Lynch. Pais de verdade não


fazem isso com seus filhos, e você fez muito mais. Eu te proibido de

dizer que ela é a sua filha. Desde o dia em que a deixaram sob os
meus cuidados ela é minha, está me ouvindo? Estou pouco me

fodendo para os seus planos sujos, mas se quiser dar continuidade


a ele, descarte Muriel, porque nem você e nem o Tyron tocarão em
um fio do cabelo dela. Depois de quatro anos decidem mudar de
ideia? — Minha repulsa fica travada na garganta.

— Estamos fazendo negócios com Brends Ivanov, por acaso

Tyron comentou com ele sobre Muriel, e ao ver a foto dela o rapaz
ficou interessado — explica-se.

— Em levá-la para um puteiro na Rússia? Esse é o negócio de

vocês? Porque esse garotinho nem saiu das fraldas e está tentando
dar continuidade à linhagem de psicopata da família dele — rosno,

impaciente.

— Não é nada disso, meu filho. Brends Ivanov está

procurando uma esposa, então sugeri que fosse a Kira, mas ele não
a quer. O jovem quer se casar com Muriel, ele disse que só faremos

uma aliança se for com a minha filha mais nova — confessa.

Tudo parece girar ao meu redor.

Brends fodido Ivanov que se casar com a minha ruiva?

Que tipo de afronta é essa? Que se dane! Ele que arrume

outra, ele não toca nela, e se fizer isso arrancarei suas mãos e

enviarei de presente para os avós dele. Eu já deveria ter feito isso

desde o episódio monstruoso com Hailey.


— Felizmente, eu não sou uma pessoa que se curva às suas

vontades, só faço o que quero e quando quero, então trate de


esquecer que Muriel é sua filha, porque ela morreu para você. E

nem tentem dar uma de esperto para passar a perna em mim.

Vocês deverão matar toda a minha família, porque se algo


acontecer comigo, ela vai atrás de cada membro da sua família. Ela

faz esse lugar ficar pequeno. E a única chuva que verão nos seus

malditos últimos dias serão de sangue. Eu posso estar aqui, Sinead

Lynch, mas o sangue que corre nas minhas veias continua sendo de
um Knight, e você sabe que os meus irmãos fazem tudo pela

família. Sempre. — Sem dar chances de ele responder, desligo a

ligação e jogo o celular contra a parede, fazendo-o cair espatifado


no chão.

Levo as mãos ao meu cabelo e jogo a cabeça para trás,

soltando alguns palavrões enquanto fecho os olhos. Eles que ousem


levá-la... não sou impulsivo como os meus irmãos, mas quando

tentam tirar a minha paz, eu mostro a minha verdadeira face. E

assim que começo ninguém consegue me parar até que eu esteja

satisfeito.

Dominado pela raiva, esmurro a madeira da mesa,

machucando meus dedos, que acabam latejando e ardendo, antes


de jogar todos os objetos dela no chão e a chutar para longe.

Eu sempre respeitei Sinead, nunca ultrapassei os limites, mas

se tentar ultrapassar o meu, o preço por essa imprudência será alto.


E eu sei cobrar na hora certa.

Com meu punho doendo e sangrando, saio do escritório e sigo

em direção ao corredor do quarto de Muriel. Teremos a nossa

conversa agora.

Deitada na cama apenas de lingerie, que por sinal é muito

linda, termino de ler o trecho do livro de um romance muito quente.


A autora descreve tão bem as cenas que parecem reais, fiquei até

com a respiração ofegante e a vagina melada de tanta excitação.


Quando não estou ocupada treinando no galpão, estou com um livro

nas mãos, de preferência eróticos.

Estou evitando Carter desde cedo. Mesmo que ele tenha

insistido para que eu abrisse a porta, não o fiz. Estava louca para

me jogar nos seus braços e esquecer a maneira grosseira como me


tratou, porém, fui firme e o deixei ir. Quem sabe assim aquele

arrogante não aprende que eu até posso gostar dele, mas que nem

sempre estarei disposta a ceder quando ele quer.

São quase sete da noite e até agora ele não apareceu. Mas
isso não me impediu de tomar um belo banho, me depilar e vestir a

lingerie mais sexy do meu armário. Carter pode até tentar lutar

contra o que sente por mim, mas sei que não será por muito tempo.

Ele é um homem viril, exala desejo pelos poros.

Há algumas horas estive com nana e eu pedi que não me

chamasse para jantar, mais tarde irei comer alguma coisa. Minha

ex-babá não me questionou, só me desejou boa sorte. Ela sabe dos


meus sentimentos por Carter.

— Muriel, abra. Preciso falar com você.

Salto da cama ao ouvir a voz levemente rouca de Carter do

outro lado da porta.


Finalmente vou fazer jus ao apelido que ele colocou em mim –

diaba. Sorrindo de lado, pego o robe supercurto e quase

transparente e vermelho e o visto. Mordendo os lábios vou até a

porta e seguro a maçaneta.

— Vai continuar me ignorando? — ele pergunta e solta um

gemido de dor.

Fico preocupada e acabo abrindo a porta rapidamente.

— O que você tem? — pergunto, analisando-o e me


deparando com a sua mão direita sangrando. — Meu Deus, o que

aconteceu? — Nem sei de onde acho força para o puxar para dentro

do meu quarto e segurar a sua mão machucada para olhar. Ao notar


que não tenho resposta, eu o encaro com a sobrancelha arqueada e

só encontro aquele sorriso de lado e sexy que fode com meus

neurônios.

— Um pequeno acidente, nada de mais — diz, fazendo careta


quando toco o local.

— Esteve esmurrando alguém, ou algo? Isto aqui está feio.

Vou limpar e colocar um curativo. — Solto um suspiro.

Sem questionar, Carter aceita que eu o conduza até a minha


cama, então nos sentamos um de frente para o outro.
— Você dorme assim? — pergunta, finalmente me notando.

Talvez o tenha feito desde que abri a porta, mas como é um ogro
não demonstrou.

— Assim como? — Dou de ombros, me fazendo de

desentendida.

— Gostosa — fala algo que eu certamente não esperava,


porque arregalo os olhos e o maldito percebe que me atingiu. Cristo,

eu não estou preparada para encarar as várias versões desse

homem.

— Não, só quando estou lendo algum livro erótico. Gosto de


estar bem-vestida para o evento, eu me sinto em cena. — Lambo os

lábios de maneira provocante e ele acompanha meus movimentos.

— Evento? Livro? E que cena? — pergunta, confuso, mas não

tira os olhos de mim.

Tenho vontade de dizer que são livros de romance com putaria

e muita safadeza que chegam a fazer o leitor gozar, mas contenho

meu impulso e sorrio para ele.

— Não é da sua conta, sr. Knight. Agora vou cuidar desse


machucado. — Pisco para ele, que semicerra os olhos.
— Não vim aqui para que você cuidasse de mim, quero
conversar — fala, mostrando o seu lado arrogante. Ele tira a minha

mão da sua e se afasta um pouco, porém não se levanta. — O

Sinead me ligou. Ele quer você de volta, quer te casar com um


herdeiro da máfia russa. — Carter solta a bomba com tanta

tranquilidade que me assusta.

Será que ele está disposto a me devolver? Afinal, ele e o meu


genitor são sócios há anos, muitos anos, e eu sou estou na vida

dele há poucos.

E que história é essa que Sinead me quer de volta para me

casar com um herdeiro de outra máfia? Eu nunca fui importante


para ele, mas agora, do nada, sou a sua primeira opção para um

casamento sem amor? E desde quando isso importa, já que o meu


próprio pai me deu para Carter sem nem mesmo eu o conhecer.

— O que você disse? Vai me deixar casar com outro, Carter?

— Meus olhos ardem, mas eu não demonstro medo na minha voz,


ela sai firme, mesmo que por dentro meu coração esteja sendo
esmagado pelo medo e meu corpo esteja gelado como um cadáver.

Eu não aceito, não mais, ser um objeto na vida dos Lynch. Se


eles pensam que sou aquela garotinha boba de dezessete anos
estão equivocados. Eu cresci e sou a única dona do meu destino.

— Acha que eu vou permitir que tenham você de novo,

coração? — diz, carinhoso. Ele pega na minha mão e vê o quanto


estou gelada. — Não tenha medo, enquanto eu estiver vivo,
ninguém toca em um fio do seu cabelo — declara com seriedade.

Como ele ousa falar sobre morrer e me deixar? Odeio como


fala sobre a morte com tanta naturalidade. Mas o que posso fazer se

é isso que homens que vivem do crime fazem? Eles já estão


acostumados com a ideia de morrer a qualquer momento, então é
um assunto tão fácil de lidar.

— Não fale assim. Você não vai perder a sua vida por minha

causa. Antes que isso aconteça, saio dela para que você não
desgrace... — Acabo soluçando ao pensar na possibilidade do meu
irmão traiçoeiro tentar algo contra a vida de Carter. Tyron é podre,

não mede as suas maldades.

— Nunca pense em me deixar, Muriel Scott. — Carter toca em


meu rosto e segura o meu queixo, me fazendo o encarar. — Se

você fugir de mim, eu vou te procurar até no inferno e te trago de


volta. — Seu tom é suave.
— Por que você me traria de volta, sr. Knight? — Sorrio,
fitando-o.

— Porque o seu lugar é ao meu lado, você sabe disso. — A


firmeza das suas palavras tira meus pés do chão.

Fico calada por um tempo, até que tomo coragem de falar sem
que note o quanto me afeta.

— Era essa a nossa conversa? Eu já sei que os Lynch só


querem o meu pior, Carter, já me acostumei com a ideia, mas não

quer dizer que eu vá aceitar — digo de maneira firme.

— Não. A nossa conversa ainda nem começou — fala e leva a

mão ao meu cabelo solto e o joga para trás, deixando minha orelha
à mostra.

— Vou vestir uma roupa mais adequada — digo. Ao me


levantar, fico surpresa quando ele me puxa para o seu colo. Sem
reação, eu o encaro, esperando que se manifeste.

— O que vamos fazer não precisa de roupas, Muriel. — Me


engasgo no mesmo instante com a sua sinceridade. Quando Carter

me acomoda melhor em seu colo, sinto o seu pau ganhar vida sob a
minha bunda. — Mais cedo, eu queria ter uma conversa civilizada,
só que você fugiu de mim. — Toca no meu rosto com a mão ferida,
o sangue sujando a minha pele.

O cheiro metálico impregna nas minhas narinas.

— O que...

Antes que eu consiga perguntar o que pretende fazer, ele me


beija e afunda a mão no meu cabelo com força, me arrancando um
gemido de dor e prazer.

É tão rápido como ele toma o controle de tudo, principalmente


das minhas forças. Carter me deita na cama em um piscar de olhos
e fica por cima de mim. Instintivamente, abro as pernas para Carter,

que se encaixa perfeitamente em mim.

Entrelaço minhas pernas ao seu redor enquanto ele enfia a


língua na minha boca e eu solto um gemido abafado. Levo as mãos
ao seu cabelo e enfio meus dedos nele, massageando

carinhosamente ao mesmo tempo em que nossas línguas se tocam


com fome.

Carter sabe o que faz, me beija como se estivesse fodendo a

minha boca. Ele suga meus lábios, depois a minha língua e eu


retribuo na mesma intensidade até que as coisas começam a

esquentar. Ele desfaz o laço do meu robe, mas não para o nosso
beijo. Desce uma mão em minha barriga até chegar à minha

calcinha, então nossos dentes se chocam quando ele enfia dois


dedos na minha boceta e esfrega, eu acabo gemendo alto com o
seu toque.

Carter para o nosso beijo e leva os lábios ao meu ouvido, me

fazendo estremecer. Apenas com um beijo já estou molhada, pronta


para ele, imagina quando ele decidir me fazer sua, como vou estar?
Só de pensar em ser dele fico com as pernas bambas.

— Eu só estou antecipando o que iria acontecer, ruiva — diz


no meu ouvido, massageando a minha vagina molhada. Ele brinca
com meu clitóris com seus dedos quentes e beija minha orelha e

depois meu pescoço, antes de falar novamente, mas dessa vez


olhando em meus olhos. — Como me conheço, sei que mais cedo

ou mais tarde cairia na tentação e comeria essa boceta. — Ele dá


um sorriso perverso ao ouvir meus gemidos e ver a minha boca
entreaberta.

Ai meu Deus. Meu coração dispara loucamente.

— E o que está esperando... para... me comer? — pergunto,


indecente, entre os gemidos que ele me proporciona ao movimentar
seus dedos em meu sexo.
— Eu não trouxe camisinha, princesa, não vamos transar sem
— diz com seriedade, mas logo dá um sorriso safado. — Mas nada
nos impede de aproveitar de outras formas, não é? — Ele tira seus

dedos de dentro de mim, me impedindo de gozar. Quase perco a


sanidade quando Carter James Knight leva um dedo à boca, e
depois o outro, lambendo e chupando meu néctar, com os olhos

fixos nos meus. Sexy pra caralho.

Quando ele morrer, com certeza vai para o inferno por ser tão
maldoso e gostoso.

— Um dia você me paga por me torturar tanto — ameaço,

envolvendo meus braços em seu pescoço, mas ele não leva a sério,
porque sorri.

— O que você estava lendo nesse tal livro? O que acha de me


dizer detalhadamente para que eu possa colocar em prática com

você? Mas, pensando bem, o que iremos fazer será mais real do
que qualquer coisa que você já tenha lido. — Ele sai de cima de
mim, me frustrando, então fica de joelhos entre minhas pernas

arreganhadas e passeia os olhos por cada pedacinho do meu corpo


coberto pela lingerie. — Essa porra está te deixando ainda mais
gostosa, diaba, mas nenhuma peça de roupa pode competir com o
seu corpo nu sob o meu olhar. — Carter leva aos mãos à cinta-liga e
brinca com o elástico. Ofegante, eu o observo escrutinar cada parte

da minha peça íntima em sua cabeça.

— Carter. — O nome dele sai arrastado da minha boca.

Ele desliza os dedos por minha pele, aperta a carne da minha


coxa com vontade e vai subindo, até que inclina o seu corpo

novamente para o meu.

— Não vamos transar hoje, mas eu posso te dar prazer sem

precisar usar o meu pau. — Seu tom é sério e excitante. — Meus


dedos e minha boca fazem um bom trabalho também — diz e me dá
um selinho.

— E o que está esperando para fazer isso? — ouso, sem


fraquejar.

— Só você me dizer que está pronta — zomba e pisca para


mim.

— Eu sempre estive, você que nunca percebeu — retruco e


ele assente.

— Se livre desse robe e do sutiã. A calcinha e a outra peça eu

tiro no momento certo — ordena, assumindo uma postura de


mandão.

Assinto para ele, que me assiste ajeitar o meu corpo. Tento me


sentar para me livrar da peça de cima, mas Carter não deixa, faz um

sinal para que eu fique como estou. Inclino um pouco meu corpo
para o lado e consigo tirar o robe, em seguida o sutiã.

Descanso minhas costas no colchão, sem dar uma palavra

sequer. Lambo os lábios, louca para saber qual será o próximo


passo, mas ele não permite abrir a boca antes de me puxar pelas

pernas, fazendo com que nossa intimidade se choque. Louca para


tê-lo, seja lá de qual forma for, fricciono minha boceta em seu pau
ereto e grosso.

— O que você quer primeiro, Muriel? A minha boca ou os


meus dedos em você? — pergunta, levando a mão machucada a

um dos meus seios e o apertando, enquanto a outra descansa na


minha coxa.

Penso em perguntar se não quer fazer um curativo antes, mas


pela determinação no seu olhar, a última coisa que ele está
pensando no momento é em cuidar do machucado.

— A sua boca. Eu quero a sua boca em cada parte do meu

corpo — digo, decidida, com o ventre queimando de tesão.


Carter começa a beijar o meu pescoço, mordisca a minha pele

e acaricia com a língua deliciosa, fazendo uma trilha de beijos até


chegar ao vale entre meus seios e depositar um beijo demorado.

Mordo os lábios quando ele segura meu mamilo direito e


morde de leve, depois o esquerdo, em seguida, chupa o bico de

cada seio como uma criança esfomeada.

Carter passa um bom tempo dando atenção aos meus


mamilos, até que faz uma trilha com a boca até meu abdômen e

umbigo. Ele beija, cheira a minha pele e marca com os seus dentes,
como se quisesse gravar em sua memória, me levando à loucura a

cada segundo.

Em resposta aos meus gemidos, ele enfim chega à minha

parte mais sensível, que está encharcada. Antes de abaixar a


cabeça, Carter me olha e através dos seus olhos azuis intensos
consigo ver que está disposto a cumprir o que me prometeu.

Ele raspa o nariz na minha vulva por cima do tecido rendado,


então solto um grito surpreso ao senti-lo morder a minha boceta e

passar a língua molhada para cima e para baixo e fazer movimentos


circulares.

— A sua boceta é cheirosa, amor.


Ofereço-me para ele, me abro ainda mais com o seu elogio.

Carter coloca a peça para o lado e solta um gemido


animalesco, então diz “vermelhinha, gostosa e pronta para mim”.
Todo meu corpo sente o significado desse seu manifesto.

Com os seus polegares, ele abre meus lábios vaginais e


coloca a língua lá dentro, instintivamente e solto um gemido alto
quando Carter enfia um dedo em mim. Ele me fode com o dedo e a

boca, e vai aumentando o ritmo e a sensação do meu ventre vai


subindo com fervor.

Aperto os olhos e jogo a cabeça para trás, fechando meu


punho no lençol da cama com uma mão enquanto a outra segura o

cabelo de Carter com força. A cada segundo, as suas investidas se


tornam mais intensas. Quando nota que estou prestes a gozar, ele
começa a me chupar com mais vigor, sugando meu clitóris, me

enchendo de tesão, me deixando rendida e mais entregue a ele. Me


contorço, quase cruzando as pernas, mas sou impedida por sua
mão forte e quente na minha coxa direita.

— Oh céus, Carter — grito, aos gemidos.

Ele beija a minha boceta e lambe como se estivéssemos


dando um beijo de língua feroz, fazendo movimentos circulares
gostosos e quentes.

Carter segura a minha bunda quando arqueio as costas e a


levanta, me chupando com gula naquela posição. E mesmo que não
esteja confortável, o prazer que está me proporcionando é maior do

que qualquer coisa.

Reviro os olhos, mordo os lábios e levo as mãos aos meus

seios, apertando-os ao perceber que estou chegando ao meu limite,


com lágrimas inundando meus olhos. Nenhum homem nunca me
tocou, as vezes que tive um orgasmo eu mesma os provoquei, mas

não chegou aos pés do que Carter está me proporcionando.

Meu corpo inteiro treme e minha boceta lateja quando recebo


um tapa na bunda, me causando uma ardência deliciosa. O seu
gesto é essencial para que eu goze em sua boca. Ele bebe cada

gota do meu gozo, e mesmo vendo que já me satisfez, continua


lambendo lentamente e eu vou relaxando meu corpo e gemendo
baixinho.

Com o coração batendo disparado e a respiração


descontrolada, solto o cabelo dele. Tentando me recompor, fecho os
olhos e sorrio.
Ainda é inacreditável, mas Carter James Knight se rendeu a

mim. Nem tudo está perdido.


A diaba ruiva tem a minha alma, é oficial. Depois do que
aconteceu, nem se eu quisesse fugir dela, da maldita tentação que
me faz passar, eu conseguiria. Já estava feito. Nem mesmo precisei

foder a sua boceta para ficar como a porra de um cachorrinho


abanando o rabo para a dona. Ao contrário de Muriel Scott, o único
que foi fodido nessa história fui eu.

Estou completamente fodido desde o momento em que tive o

prazer de passear a minha boca, a minha língua e minhas mãos em

cada pedacinho do seu corpo pequeno e quente como o caralho do


inferno que habita nela. Essa garota sabe como mexer com meus

neurônios, nem precisa fazer muito para que me deixe louco.

Agora que me permiti experimentar, sinto-me que cada vez


mais me encontro à beira do precipício. É inevitável, eu sei. Eu

sinto, e ela também.


Esse sentimento não é novidade, ele vem de muitos anos, eu

só estava tentando destruí-lo antes que me destruísse primeiro.


Mas, no fim, falhei na missão de manter as mãos longe de Muriel.

Ao invés de me afastar de uma vez por todas e dar um basta nas

provocações ao ver o nome “perdição” estampado no rosto da


pequena sereia, fiquei ainda mais atraído pela porra do perigo. Eu

não seria um Knight se não ficasse, temos muitos defeitos e um

deles é gostar de viver perigosamente.

Evitei Muriel durante esses anos tentando não a enxergar

como mulher para mim, apenas como a menina desprotegida para

quem dei um lar, mas não adiantou nada. Acabo de confirmar que
não tenho vontade própria, não importa o quão centrado eu seja e

me reprima em algumas coisas para o meu próprio bem, porém, o


destino sempre faz questão de dar um chute no meu rabo e dizer

que está no controle e tenta me desafiar, mostrando quem

realmente manda.

Nunca estive à beira de um penhasco antes, não um como


este, que tem nome e sobrenome. Muriel Scott é a única culpada

por me fazer querer, pela primeira vez na vida, me jogar de um

penhasco sem me importar com a queda.


É um caminho sem volta, mas estou disposto a desafiar os
meus limites e ver até onde posso ir com a mulher que está nos

meus braços, me lançando olhares apaixonados e sorrisos bobos,

esses que me fazem sentir um merda de um maricas.

— Já se cansou, coroa? Aquelas promessas foram vazias? —

pergunta, despretensiosamente e meio ofegante, tentando se

recompor depois de ter gozado.

— Coroa, é? — Gargalho, relaxado, então ela assente e ri

alto.

— Uhum, mas o importante é que você é gostoso... Viril... —

Olho para ela, que arqueia a sobrancelha e morde os lábios.

Inesperadamente, ela se senta em cima de mim, exatamente no


meu pau, que há poucos minutos estava explodindo.

— Temos apenas dez anos de diferença, garotinha. — Levo

as mãos aos seus quadris e aperto com força quando a diaba rebola

em mim, soltando um gemido.

— Idade é só um número quando gostamos de alguém,

Carter. — Inclina o seu corpo sobre o meu e me beija. Retribuo o

seu beijo com fervor, engolindo sua boca e gemidos, que me

enlouquecem. — Você deveria tirar as suas roupas ou me deixar


fazer isso, e depois... Tiraríamos a minha lingerie... — diz, roçando

os lábios nos meus.

— Hoje não se trata de mim, mas de você. Não vou tirar a sua

virgindade, não hoje. Mas isso não quer dizer que eu não serei o
seu primeiro e único homem — digo, deslizando minhas mãos em
cada lado da sua bunda e a apertando, tenho certeza de que a sua

pele branquinha está avermelhada.

Meu pau endurece com o meu pensamento. Imagino o quanto


será delicioso ter Muriel de costas para mim, com a bunda
empinada e vermelha pelos tapas que vai ganhar enquanto me

afundo nela, segurando o seu cabelo ruivo com firmeza.

Olhando para Muriel agora, tenho certeza da decisão de que

estou prestes a tomar. Preciso fazer isso antes que seja tarde
demais. Mesmo que eu tenha alguns homens ao meu lado, ainda

continuo em desvantagem, afinal, estou em um território que não é


meu.

Limpo a garganta e noto que a ruiva está em choque com as


minhas palavras. Acho que fui intenso demais em dizer que serei o

seu primeiro e único homem. Foda-se, eu sou possessivo quando


se trata de alguém que gosto muito.
— A nossa diversão vai ficar para outro dia, preciso te contar

algo.

Ela engole em seco e assente.

O clima quente entre nós esfria, ambos ficamos sérios,


principalmente ela. Levo as mãos aos seus quadris e os acaricio.

Muriel se afasta, voltando para a sua posição de antes.

— Estou voltando para casa, Muriel — falo e vejo seus olhos

ficarem nublados, seus lábios tremerem e ela ficar pálida.

Sim, já está na hora de fazer uma visita para a minha família.

— C... Como assim? Mas a sua casa não é aqui? — gagueja,


com a voz embargada.

— Dublin nunca foi o meu lar, pequena sereia. Tenho alguns

negócios pendentes em Londres que preciso resolver e eu não


posso adiar mais. — Toco nos fios ruivos do seu cabelo.

— Uau, o.k. Quando você vai? — Seus olhos ficam

avermelhados.

— Estou partindo na madrugada. — Ela tenta disfarçar a


tristeza que a invade com um sorriso, mas falha miseravelmente ao
deixar uma lágrima cair.
— Tão rápido assim? Por que essa pressa toda? Está fugindo
de mim? — Morde os lábios, chorosa.

— Venha aqui — eu a chamo carinhosamente. Ela se inclina

um pouco e eu aproveito para inverter as nossas posições. Encosto


a minha boca em sua orelha e falo quase em um sussurro: — Se eu

estivesse fugindo de você não a levaria comigo, ruivinha. Vou viajar,


mas você vai comigo, não sou louco de te abandonar — confesso,
beijando a sua pele.

— Meu Deus, Carter! — exclama, surpresa.

Muriel me abraça com força e eu sei o motivo, ela estava com


medo de ser deixada para trás. Mas a minha ida a Londres não é
apenas para ver meus irmãos, também se trata dela, preciso saber

o que Brends faz na Irlanda. E o único que pode me aconselhar é


meu irmão mais velho, Killz.

Não pensei que tão cedo voltaria para a casa, porém, preciso
me precaver antes que tentem algo contra mim, Muriel e as pessoas

que estão ao meu redor. Tenho que ser mais ardiloso do que os
meus inimigos, e os meus irmãos são os meus melhores amigos, a

união faz a força e a minha força está com os outros Knight.


Diferente dos meus irmãos, eu sei o momento certo para pedir
ajuda, e isso não me torna fraco, pelo contrário, me torna ainda mais
forte.

— Arrume as suas coisas. Vou avisar ao meu piloto a hora da

nossa partida — digo, recebendo um meneio de cabeça.

Preciso avisar ao Killz que em breve farei uma visitinha. Tenho


que saber o que o neto de Viktoria quer com Muriel e o verdadeiro

motivo da sua ida até Tyron. Tenho certeza de que aqueles dois
estão tramando.

— Carter, a nana vai poder ir? — pergunta, soando

preocupada.

— Ela fica, preciso de alguém de confiança na casa — falo.

Ela leva a mão ao meu rosto e desliza os dedos por minha

barba por fazer.

— Eu fico preocupada com ela sozinha aqui, ainda mais com

o Tyron rondando a propriedade — diz, receosa.

— Não se preocupe, o Dom vai ficar. Vou pedir a ele para ficar

aqui até que eu retorne, ele é a única pessoa em que confio para

cuidar dos meus negócios por aqui. — Eu a tranquilizo, pego a sua

mão e beijo a palma.


— O.k., eu sei que Dominic é uma boa pessoa, ele não vai

deixar que nada aconteça com a nana... Eu só vou ficar com muita
saudade dela, já que nunca nos separamos por tanto tempo — fala,

mais relaxada.

— Avise-a que você vai viajar comigo. Se despeça dela,


passem o tempo que for necessário juntas — peço, procurando

seus lábios para beijar.

Não posso levar Rose com a gente. Sei que Muriel confia de

olhos fechados na mulher, que é como uma mãe para ela, mas o
que tenho para tratar é muito sério e não preciso de muitos ouvidos

ao redor. Quando aceitei que Rose viesse morar nesta casa, foi para

que Muriel não se sentisse sozinha, mas tenho certas

desconfianças. Uma vez perguntei à mulher se conhecia a mãe da


ruiva, ela gaguejou e disse que não, demorou demais para

responder. Depois disso nunca mais toquei no assunto. Eu poderia

descobrir quem é a mãe de Muriel, no entanto, só posso fazer isso


com o consentimento dela.

— E quem disse que você ou eu sairemos deste quarto antes

de dar um jeito no seu machucado? — diz ela, olhando para o meu


punho.
Eu nem me lembrava mais da maldita dor até Muriel falar

sobre isso.

É incrível como até das minhas dores eu esqueço quando


estou ao lado dela.

— Eu sou todo seu, minha enfermeira gostosa — digo,

quando ela me empurra pelo ombro e se levanta da cama, me

dando uma visão do caralho das suas costas e sua bunda

empinada.

Porra! Estou fodido. Eu quero muito Muriel Scott debaixo de

mim, em cima de mim, em todas as posições possíveis, gemendo o

meu nome.

Deixei o quarto de Muriel tem algumas horas, então juntei


meus pertences mais importantes e arrumei a minha mala. Já deixei

o meu piloto informado da minha volta para Londres, está tudo

encaminhado, só preciso fazer a ligação para o meu irmão.


Sentado na minha cama, eu olho para a gaveta onde guardo a

carta que me persegue por anos. Penso em abrir e tirá-la de lá, mas
acabo desistindo da ideia. Desviando o meu olhar para o meu

celular ao meu lado, eu o pego. Olho a minha agenda e vejo o

número do Knight mais velho, então decido ligar para ele de uma
vez por todas.

— Irmão — eu o cumprimento antes que ele sequer diga alô.

— Há quanto tempo, Carter? Estava esperando a sua ligação.

— Sua voz é grave, naturalmente autoritária.

— E eu procurando coragem para fazê-la. — Passo a mão no

meu cabelo, nervoso.

— Está com problemas, irmão? Presumo que sim, você não

ligaria se não houvesse. Me diga, o que está acontecendo? —


pergunta, com aquele tom manso que muitos têm medo.

— Estou voltando para casa, Killz — digo de uma vez. Ouço

mais vozes do outro lado da linha, reconheço de longe a de

Spencer, que solta um palavrão, logo em seguida é a vez do Axl,


que manda nosso caçula calar a boca porque vai acordar o filho

dele.
Sinto-me péssimo por só descobrir agora que o meu irmão é

pai de um menino e está sendo um babão como sempre imaginei

que seria.

— Você o quê? — pergunta Killz, agora não ouço mais nada


ao fundo, parece que todos ficaram em silêncio.

— Estou voltando para Londres, irmão — reafirmo, tenso.

— Não pode me dizer o que tem de errado? Te conheço,

Carter, cada um dos meus irmãos. Tem alguma merda acontecendo


aí — fala ele, e eu dou risada, por concordar com o que diz.

— É muito sério para ser tratado por telefone — afirmo.

— O.k., seja bem-vindo de volta, irmão. A sua família está te

esperando de braços abertos — diz Killz.

Sorrio por sentir que ele está fazendo o mesmo.

— Obrigado e até logo — agradeço-o e nos despedimos.

Apesar de eu ter deixado a minha família para trás para fugir

dos meus demônios, meus irmãos nunca me deram as costas, e


nunca me darão. Sempre estiveram ali esperando um o meu

retorno, e é isso que admiro neles – a fidelidade. Os anos podem

passar, mas continuamos fiéis uns aos outros.


A minha família irá se surpreender quando me vir chegando

com Muriel, tenho certeza de que não estão esperando isso. E


ficarão ainda mais perplexos ao saberem quem é a pessoa.
— Eu queria tanto que você fosse comigo, nana. — Abraço a

senhora que cuidou de mim desde meus primeiros dias de vida.

Emocionada, choro por saber que ficaremos longe uma da


outra por um bom tempo. É a primeira vez que saio sem ter Rose ao

meu lado, é a primeira vez de muitas coisas na minha vida. Nunca

saí da Irlanda, e saber que em algumas horas vou estar em Londres


faz com que meu coração bata desenfreadamente.

Não sei quando Carter volta para cá, ou se volta, mas eu o

amo e quero estar onde ele estiver. Só o fato de ele dizer que me

levaria acabou com aquela agonia que estava em meu coração, juro

que pensei que ele me deixaria aqui, afinal, segundo ele, está indo
para resolver alguns negócios.

— Filha, você nasceu para ser livre, para voar, e agora que

está tendo essa oportunidade, voe alto, minha pequena. — Nana


toca no meu rosto e limpa minhas lágrimas. Sorrindo, eu assinto
para ela. — Esse homem entrou na sua vida de uma maneira

errada, mas, no final, é ele que está sendo o seu salvador. Ele te

livrou das garras daqueles monstros e agora que quer te levar para

longe daqui, me deixa ainda mais aliviada — confessa, com a voz

embargada.

— Está querendo se livrar de mim, Rose? — Finjo estar brava


e ela dá uma risada gostosa.

— Sabe que não, filha, eu te amo. A sua mãe, antes de partir,

confiou você a mim — diz.

Um sentimento de abandono me bate com força. Minha mãe.

Cresci sem conhecer o rosto dela, o nome, nem mesmo nana tem
permissão de me dizer o que eu sempre quis saber. A minha ex-

babá diz que para a minha segurança, que na hora certa saberei de

tudo. Mas por que tanto mistério se ela já morreu? Meneio a cabeça

e foco na senhora que tanto quer me ver bem, e nem que para isso

se sacrifique, como fez a vida toda.

— Não sei quando volto, nana. Mas saiba que nunca vou te

esquecer, pode passar o tempo que for, você vai morar sempre no
meu coração. A distância entre nós não significa nada, está me

ouvindo? Eu te amo muito. — Beijo seu rosto e a abraço fortemente.

Antes de eu dizer a nana que viajaria sem ela, Carter a

chamou no escritório e tiveram uma breve conversa, só depois de


ela sair que eu soube do que se tratava. Ele pediu a ela que
cuidasse da casa e o mantivesse informado de tudo, principalmente

se Tyron viesse para cá. O meu irmão não pode saber que estamos
indo para Londres, essa foi a ordem expressa deixada por Carter.

Temo pelo que está por vir, sei que Carter é um homem difícil
de desvendar. Ele costuma ser muito quieto, ouve mais do que fala,

e se está planejando algo não tenho como saber, ninguém tem.


Carter James Knight é fechado demais para me deixar saber o que

está acontecendo.

— Eu sei, filha, também te amo muito — declara-se, saindo do

meu abraço. — Mas precisamos conversar. — Suas mãos geladas


tocam as minhas.

— O que é? — indago, preocupada, ao vê-la me conduzir até


a cama. Nos sentamos e ficamos uma de frente para a outra.

— Prometi à sua mãe que cuidaria de você quando ela se foi.


E também que só te contaria sobre ela quando você completasse
vinte e um anos, idade suficiente para entender as coisas — diz, me

causando um frio na barriga.

— Nana...

Tento falar, mas ela me interrompe ao me pedir silêncio com


um gesto de mão.

— Muriel, sabemos quem é o Tyron... Quando ele quer algo


não se importa com as consequências, ele apenas faz — fala.

Eu assinto, mesmo que não esteja entendendo muito aonde


quer chegar.

— Você está falando comigo de uma maneira estranha, parece


até uma despedida — falo, fazendo uma careta ao vê-la me dar um

pequeno sorriso e me repreender com o olhar.

— Ninguém sabe o que está por vir, não é? Eu sei o que seu
irmão tem em mente, querida, aquele demônio nunca gostou de
você, e eu sei o motivo — diz e toca no meu rosto. — Por que você

é especial, filha, sempre foi, mais do que eles... do que todos


naquela casa. E eles sabem disso, por isso te odeiam tanto —

completa, sorridente.
O que ela sabe que eu não sei? Talvez muitas coisas, nana
fala com tanta propriedade, mas não a questiono, somente a deixo
falar.

— Muriel, tenho algo para te dar, foi um presente da sua mãe.


E nesse presente tem o primeiro nome dela e uma carta que foi

destinada a você. Era para essa carta chegar a suas mãos no dia do
seu aniversário, mas não achei que fosse o momento certo. Só que
agora é — revela.

Eu tomo um baque com a sua revelação, eu não esperava por

isso, não mesmo.

Nana se vira e abre uma gaveta da cômoda, e de lá tira uma


caixinha e me entrega. Com as mãos trêmulas, olho para o objeto.

Eu nunca o vi entre as coisas de nana. Sem ação, olho para a


mulher que cuidou de mim a vida inteira e ela nota a minha

confusão.

— Eu conheci os seus avós, a família da sua mãe, querida, vi

a sua mãe quando ainda era uma criança — confessa, me deixando


perplexa. — Nessa caixa você vai encontrar um colar que ela deixou

para você e uma carta.


Abismada, olho para o objeto atenciosamente e vejo umas
iniciais nela – . . .

— Uau, eu nem sei o que dizer — murmuro, ainda sem

acreditar. Passei anos no escuro, sem saber nada da minha mãe. —


Essas siglas... são dela?

Nana assente.

— Peço que abra a carta e leia quando estiver confortável,


Muriel — diz, e eu sinto o ar me faltar.

Com o corpo tremendo, abro a caixa e encontro a tal carta. Eu

a tiro de lá antes dos meus olhos se fixarem no colar elegante, de

ouro, assim como o pingente da letra . Acredito que essa letra seja
a inicial do nome ou sobrenome dela.

— O nome da sua mãe era Lidewij, Muriel, esse era o nome

dela. — Nana acaba com o segredo que guardou por tantos anos.

Lidewij. Gravo o nome na minha cabeça. Esperei tanto por


esse momento, que a emoção toma conta de mim. Choro ao passar

os dedos pelo colar e fico imaginando como seria ter uma mãe. Eu

sinto falta de algo que nunca tive, é estranho, doloroso.


— E o sobrenome? — pergunto, chorosa, encarando dessa

vez a mais velha.

— No momento, só posso te dizer isso, filha. — Toca no meu

ombro. — É para o seu bem, confie em mim. Uma hora você saberá

o porquê.

Mesmo que a curiosidade esteja me corroendo, assinto,


conformada com o pouco que ela me deu. Ao menos agora sei o

nome da minha mãe.

— Lidewij... É um nome diferente, eu gosto. Gostaria de ter


conhecido a minha mãe. — Sorrio entre as lágrimas. — Você tem

alguma foto dela? — indago, emocionada, mas ela nega.

Será que devo abrir a carta e ler o que a minha mãe escreveu

agora? Estou curiosa, muito, mas algo em meu coração não me


permite fazer tal coisa no momento. Dentro de mim há uma certa

insegurança em saber qual a intenção da minha mãe ao me deixar

essa carta.

— Vire-se, vou te ajudar a colocar o colar — fala nana,


sorridente.

Antes de me virar, dou o colar para ela, que analisa a peça por

um tempo, meio pensativa, mas logo trata de disfarçar. Rose põe o


colar em mim, então me viro e ela toca no meu rosto com as duas

mãos. A sua seriedade me faz engolir em seco.

— Quero que prometa que nunca mais vai tirar esse colar do
seu pescoço — pede, com doçura e preocupação.

— Claro... É uma lembrança da minha mãe, vou carregar

comigo sempre que eu puder. — Meu sorriso vacila quando noto

que ela está chorando.

— Minha filha, não posso te dizer tudo sobre a sua origem,

mas sei que uma hora você saberá, só que não será da minha boca.

A pessoa que vai te contar é muito especial, e quando a encontrar,

peço que seja paciente e a escute com o coração limpo e com a


mente aberta. — A profundidade das suas palavras me deixa

arrepiada, então balanço a cabeça concordando mesmo que não

esteja entendendo nada.

— É alguém que conheço? Quem é essa pessoa? — Os


Lynch que não são, todos me odeiam.

— Shhh... Tudo tem o seu tempo, sei que a sua cabeça está

fervendo de perguntas, mas saiba que tudo acontece na hora certa


— diz e levanta-se, e eu faço o mesmo.
— Nana, não é justo que me deixe tão curiosa — resmungo,

com o coração apertado.

— Eu sei que você e o Carter estão se envolvendo, minha

menina, ele é um bom homem, e será ele a ponte para todas as

coisas boas que irão acontecer na sua vida — fala, com um ar de


mistério.

Sem resposta, vou até ela e a abraço fortemente, ambas

choramos com a nossa despedida. Não sei por quê, mas sinto que

este é nosso último abraço. Essa sensação estranha toma conta de


mim e eu tento jogar para longe o meu pensamento ruim. Nada vai

acontecer com a nana, é apenas saudade antes da hora, afinal, é a

primeira vez que ficaremos longe uma da outra, que vou começar a

caminhar com meus próprios pés.

Ficamos ali por um bom tempo até que ouvimos alguém bater

à porta.

— Muriel. — É Carter.

Afasto-me de nana, que fica com a postura ereta ao


reconhecer o dono da voz. Ela se senta na cama e eu vou até a

porta e a abro.
Deparo-me com Carter, seu semblante relaxado. Antes que eu

fale alguma coisa, ele me puxa para um abraço e depois beija meus

lábios.

Mesmo sabendo que nana está no meu quarto, eu retribuo o


beijo e aproveito cada segundo ao lado desse homem intenso. Ele

decidiu se entregar a mim, então vou fazer de tudo para que valha à

pena cada momento juntos.

— Já estou com tudo arrumado, não se preocupe — digo,


meio ofegante, assim que paramos de nos beijar. Carter leva as

mãos aos meus quadris e os massageia levemente.

Amo vê-lo tão à vontade comigo, sem aquela armadura que


me impedia de me aproximar e demonstrar os meus sentimentos

por medo da sua rejeição.

— O.k. — Sorri e roça seus lábios nos meus.

Como não amar o Carter? É impossível. A sua intensidade me


deixa com as pernas bambas.

— Estou ansiosa para conhecer a sua família, Carter —

confesso, passando os braços ao redor do seu pescoço. Nesse

momento, acho que ele nota o colar no meu pescoço, porque franze
o cenho.
— Nunca vi esse colar, quem te deu? — pergunta, observando

a peça. Ele leva a mão ao pingente e enruga a testa.

— Depois eu te falo, pode ser? Estou com a nana no quarto —

falo, quase em um sussurro.

Ele assente, sério demais, mas não parece surpreso.

— Leve o tempo que quiser, sei que são apegadas e que a


Rose é muito importante para você — diz e me dá um selinho rápido

antes de sair.

Levo uma mão ao meu colar, um pouco pensativa, então fecho

a porta do quarto.
A minha decisão em voltar para Londres pegou Dominic de
surpresa. O meu amigo não esperava que eu retornasse agora, mas
por me conhecer tão bem não fez perguntas. E mesmo que fizesse

não teria resposta, ele apenas desejou que eu e Muriel fizéssemos


uma boa viagem.

Por mais que tenhamos anos de amizade e confiança um no


outro, gosto de guardar os meus planos para mim, nunca se sabe o

que pode acontecer. Há métodos sujos, como tortura e outras

coisas, para que pessoas como os Lynch, ou qualquer outro inimigo,


consigam o que querem, então, se algo do tipo vier a acontecer,

Dom não terá nada para dizer, porque eu não contei o que tenho em

mente.

Antes que eu e a ruiva saíssemos de casa, meu amigo se

despediu pessoalmente. Eu disse ao Dom, que se Tyron ou Sinead


me procurassem, que ele cuidasse do homem que permitiu a

entrada do minipsicopata na minha casa.

Estou viajando, no entanto, com a cabeça fervendo de teorias

em relação a muitas coisas, a muitos acontecimentos.

Sei que tomei a decisão de voltar em cima da hora, porém, foi

o certo a se fazer. Muitas vezes meus irmãos colocaram as suas


mulheres em perigo por tentarem ser os sabichões, os filhos da puta

são orgulhosos, todos os Knight são, é uma porra de um dos nossos

defeitos, mas quando sinto que o perigo me rodeia, prefiro ser mais
astuto e deixar que meus inimigos pensem que poderão sempre

estar a um passo à minha frente.

Ao longo dos anos, aprendi que o orgulho não nos leva a


nada, aliás, pode levar à destruição. Essa merda já causou muitos

danos à minha família, foram tantas vezes que nem que seu

quisesse poderia contar nos dedos. Então, se eu sinto que Muriel

está em perigo em Dublin, tenho por obrigação tirar a minha garota

de lá, e é o que estou fazendo. Quero-a longe daquela cidade antes


que a merda atinja o ventilador e seja tarde demais.

Neste momento, estamos voando no meu jato, a cabeça da

ruiva encostada no meu peito, com seus olhos fechados.


Instintivamente, levo a minha mão ao seu rosto e o acaricio,
então fico um tempo a admirando. Eu amo as suas sardas, elas dão

um charme a mais em sua beleza. Me pego sorrindo ao notar que o

tempo todo Dominic esteve certo, eu estava gostando dela, quer

dizer, estou gostando.

Tem algo diferente nela que me atrai, na verdade, tudo é

diferente em Muriel Scott, a minha sereia. E sei que se agisse com


ela como um verdadeiro babaca eu me arrependeria, essa

menina/mulher realmente me ama. E a maneira como se entrega

para mim, sem reservas, me enlouquece em um nível muito alto.

Por mais que o meu relacionamento com Svetlana tenha sido

absurdamente intenso, eu jamais me senti como quando Muriel está


em meus braços. É inexplicável.

— Você deveria ter continuado com o curativo, seu teimoso —

diz Muriel, pegando a minha mão que antes estava enfaixada. Ela

fez um curativo improvisado, mas eu o tirei pouco tempo depois,

para o seu desagrado.

— Estou bem assim, sereia, não se preocupe — digo,

carinhosamente.
— Eu gosto quando me chama assim. Soa sexy saindo dos

seus lábios. — Muriel morde os lábios, atraindo a minha atenção


para a sua boca deliciosa.

— É bom saber disso. Vou me lembrar de te chamar mais


vezes assim — prometo e dou um breve selinho em seus lábios.

A ruiva se aconchega mais a mim e eu gosto disso, de tê-la


tão perto.

Fecho os olhos e sorrio.

— Carter? — me chama, com doçura.

— Hum? — Fixo meu olhar nela, que não me encara. Muriel


leva a mão ao pingente do colar que Rose deu a ela.

— A nana me disse finalmente o nome da minha mãe. Eu


cresci sem saber o nome da mulher que me deu a vida, a única

coisa que eu sabia era que a minha mãe havia morrido quando
nasci, somente isso. — Dá uma risada amarga, então respira

profundamente. — Então vem a Rose depois de vinte um anos e me


dá este colar, dizendo que a minha mãe o deixou junto a uma carta

para que eu pudesse ler quando completasse vinte e um. Mas, não
sei, sinto que há algo de errado aí, tanto que estou insegura em
saber o que...
Meu celular começa a tocar, interrompendo Muriel e me

lembrando que esqueci de desligá-lo. Tiro-o do bolso e reconheço o


número de Spencer. O que o meu irmão caçula quer comigo? Há

um tempo não nos falamos, na verdade, não falo com nenhum dos
meus irmãos. Contudo, eles só me deram o espaço que precisei

durante esses anos, então não posso reclamar de nada.

— Spencer — cumprimento.

— Irmão, soube que está voltando — diz do outro lado da


ligação.

— É, estou sim — confirmo, observando Muriel bocejar e


fechar os olhos lentamente.

— Você está bem atrasado, mas eu te perdoo, porque você


precisava se reencontrar. Espero que esses quatro anos tenham

sido suficientes para que entenda que a nossa família nunca estará
completa se um Knight estiver faltando — discursa.

Fico impressionado com o seu amadurecimento. Se bem que

ele já estava mostrando isso desde a época da irmã de Hailey.

Scarlett havia sido a chave para a mudança de Spencer. A


mulher era uma cadela, mas foi a única a conseguir, destilando o
seu veneno, que o mais novo dos Knight tomasse jeito. Ao menos
antes de morrer a vagabunda fez algo de bom, mesmo que a sua
intenção fosse o contrário.

— Foram sim, meu irmão, mas estou voltando por outro

motivo, um que me pegou desprevenido — confesso, fitando a ruiva


dormindo ao meu lado.

Conversar com os meus irmãos depois de tanto tempo pelo


celular é como se os anos nunca tivessem passado. É estranho,

mas é assim que me sinto, próximo a eles mesmo que eu tenha ido
embora.

— Eu poderia dizer que te conheço muito bem, Carter, mas


estou curioso para saber o que te traz novamente para casa na
madrugada. Vai ficar em qual casa? — pergunta, em um sério tom.

— Logo vocês saberão do que se trata. Vou ficar na casa de

Chelsea — falo, umedecendo os lábios secos.

— O.k., venha para casa, irmão. Estamos ansiosos por sua


presença. Só liguei para tentar arrancar alguma coisa de você, mas

sei que é o Knight mais filho da puta da família, guarda os melhores


segredos. — Ele dá uma risadinha provocante e eu acabo rindo

também, sabendo que ele tem razão.


— Estou achando que me ligou só para ouvir a minha voz,
Spen. Eu sempre soube que era o Knight preferido, mas só tive a
confirmação agora, depois dessa sua ligação em plena madrugada

— retruco e ele gargalha.

— Não seja tão cuzão, seu pedaço de merda, apenas chegue

logo. Temos muito para conversar, foram quatro anos longe, porra

— diz, divertido.

— Em algumas horas nos veremos. Não seja tão sentimental,

não combina com você, brother.

— Vá se foder, Carter! — resmunga, mas a sua voz é alegre.

— Até mais, Spencer. E vá dormir, seu cuzão. — Encerro a


ligação com uma merda de um sorriso, sem dar chance de ele

responder.

Ajeito Muriel em meus braços, que dorme tranquilamente.

Passo alguns minutos a observando e imaginando qual será a


reação dos meus irmãos, e do restante da família, quando

souberem a principal causa da minha volta.

Muriel foi interrompida pela ligação que recebi, mas o pouco

que ouvi pude refletir e ter certeza das minhas desconfianças de


que Rose sempre soube mais do que dizia. Agora basta saber se

ela é de confiança mesmo, se a ruiva não corre perigo ao lado dela.

— Sr. Carter, chegamos.


Desperto quando ouço uma voz ao longe, então me dou conta
de que é Richard, meu piloto.
Um pouco confuso, olho para a linda garota dormindo nos
meus braços. Eu dormi e nem mesmo percebi quando aconteceu,
só sei que eu estava velando o sono de Muriel, talvez tenha sido
naquele momento que me rendi ao cansaço.
Olho ao redor e noto que o meu funcionário pousou no
aeroporto particular que fica próximo da casa de Ezra. Eu nunca
trouxe nenhuma mulher para Chelsea, Muriel será a primeira mulher
a entrar nela. Assim como algumas pessoas têm seus vícios, eu
tenho os meus, minha paixão são os carros e casas.
— Obrigado, Richard — agradeço-o, falando baixo para não
acordar um certo alguém.
Ainda é madrugada e eu não quero acordá-la. Com cuidado,
saio do jato com Muriel nos meus braços. Ela resmunga algo que
não entendo, mas não acorda, dou risada como a porra de um
idiota. Digo a Richard para levar as nossas bagagens, então sigo
em direção à casa cor creme de dois andares.
Richard passa na minha frente e verifica se a chave reserva
está no esconderijo onde costumo mandar meus funcionários
deixarem.
— Senhor, não está aqui.
Estranho.
Desconfiado, afasto-me e olho para dentro do cômodo através
da vidraça. As luzes estão apagadas, não é possível que alguém
tenha encontrado a chave.
— Richard, tente abrir a porta — peço.
Ele assente e a empurra, no mesmo instante as luzes
acendem.
Por estar com Muriel no colo, sinalizo que Richard deve entrar
para verificar o que está acontecendo. Caralho, a minha arma está
na mala. Fiquei anos fora, não sei como as coisas estão
funcionando por aqui agora.
— ! — Ouço os gritos vindos de dentro, logo meus
irmãos e suas esposas aparecem.
Espantado, quase derrubo a ruiva. Meu movimento brusco a
assusta e ela acorda. Perplexo com a presença inesperada da
minha família, engulo o nó que se forma na minha garganta. Sem
entender o que está acontecendo, a ruiva olha para mim, então para
os meus irmãos e minhas cunhadas, que nos encaram curiosos e
calados.
— Quem são eles? — ela pergunta, saindo do meu colo.
Fico calado, sem reação.
Minha família se aproxima e eu percebo que eles estão um
pouco diferentes. Parecem mais maduros, mas a aparência do Killz
que me faz sorrir, o mais velho dos Knight está virando um coroa,
seu cabelo negro tem alguns fios grisalhos.
— Porra, Carter, quem é essa deusa tímida? Ela é a irlandesa
que... cacete. Por que uma dessas não cai na minha vida? Você
está dando o que para el... — Spencer se manifesta quando
percebe que estamos em silêncio, mas logo se cala ao ver que está
falando demais.
O apelido que o bastardo dá a Muriel me faz fechar a
expressão. O filho da mãe percebe e sorri de lado, jogando charme.
— ! — O imbecil ganha tapas das meninas enquanto
meus irmãos riem com nostalgia.
Sorrio abertamente, sendo retribuído. Olho para a minha
família e respiro fundo, pronto para apresentar Muriel Scott, a garota
que recebi como pagamento há quatro anos e que de alguma
maneira mudou a minha vida.
— Essa é a Muriel — por fim me manifesto, meio tenso por
saber que vão me atropelar com perguntas.
— Meu Deus! — As garotas ofegam e a ruiva se encolhe ao
meu lado, está envergonhada com tantos olhos curiosos em cima
dela.
— Sem perguntas bobas. Vamos para a sala, conversamos lá.
Richard, pode ir, está dispensado — Killz ordena.
— Seja bem-vindo de volta, irmão! — diz Axl e Ezra ao
mesmo tempo, fazendo todos rirem.
Calorosos, meus irmãos vêm e me abraçam, já as garotas se
aproximam de Muriel e a abraçam também, como se ela fosse da
família, mas ela é. A partir do momento em que permiti que a ruiva
vivesse comigo, eu a considero como um membro dos Knight.
— Te ver pessoalmente me faz questionar a minha
masculinidade, Carter. Porra, você está ótimo, filho da puta. Ficar
longe dessa merda melhorou até a sua aparência... Não que você
seja feio, mas... — O caçula nem termina de falar, ele leva um tapa
de Ezra na cabeça.
— Cala a boca, Spencer — os três resmungam e mais risadas
são ouvidas.
Nada mudou. E nem poderia, nosso sangue sempre falará
mais alto. Muriel e eu somos arrastados para dentro entre risadas e
gargalhadas, até que Axl pede para falarem baixo por causa do seu
filho, sendo alvo de provocações como “pai babão”. Eu não
esperava por eles, achei que eu os surpreenderia, mas foi o
contrário, eu que fui surpreendido.
Sem que eu tivesse tempo para intervir no sequestro que as

esposas dos meus irmãos fazem com Muriel, eu as vejo sumir nos
últimos degraus da escada, mas antes a ruiva me encara como se
estivesse pedindo socorro.

— Como conseguiram entrar? — pergunto, analisando os


quatro Knight sentados no sofá de frente para mim. Eles me

encaram calados, como se eu fosse um alienígena, sei que estão


querendo saber mais sobre a minha acompanhante.

— Isso é detalhe, Carter. Nos fale mais sobre a menina que

você trouxe — pede nosso irmão mais velho, passando a mão na


sua barba grisalha.

Desvio o olhar para a escada, então passo a mão no pescoço


e respiro fundo. Sinto-me pressionado com tantos olhares em mim.

— Não queremos te pressionar e nem nada, mas quando


soubemos que você estaria de volta, ficamos um tanto surpresos,
irmão — diz Ezra, tão sério quanto Killz.

Meneio a cabeça concordando. É a vez de Axl se manifestar,

ele passa a mão pelos fios do seu cabelo e limpa a garganta, depois

sorri.

— Eu não tenho nada para falar, Carter, a vida é sua, você já


tem trinta e dois anos, sabe o que está fazendo. Só quero dizer que

sempre estaremos aqui quando você precisar, então seja bem-

vindo, cara. — Axl, se aproxima e me dá um soco no ombro. Rio do


seu gesto.

Meus irmãos olham para Spencer, que está estirado no meu


sofá e com a cabeça jogada para trás. Assim como eu, eles ficam

impressionados por não ter sido ele o primeiro a se manifestar

quando ficamos sozinhos.

— Sei que sou o mais gostoso dessa família, mas não

precisam ficar me olhando desse jeito. — O tom do loiro é bem-

humorado, o filho da mãe dá uma risadinha quando houve um

resmungo vindo de Killz.

— E você, como sempre, nunca perde a gracinha, Spencer —

Killz o repreende, mas noto o sorriso no canto da sua boca antes de


me encarar. — Carter, depois conversamos, teremos muito tempo
para isso.

Assinto, no fundo, estou aliviado.

— De amarga já basta a vida, mano — retruca o loiro depois

de um tempo, meio pensativo, sério.

— Dessa vez tenho que concordar com o Spencer — fala Axl,

sorrindo.

Ao seu lado, Ezra concorda e dá uma risada ao notar que Killz

bufa. O Knight mais velho nunca muda no quesito de ser rabugento.

Revirando os olhos, Spencer se ajeita no sofá e tira de dentro

do bolso da sua jaqueta preta de couro um cigarro e um isqueiro.

Ele acende o cigarro e traga, em seguida, solta a fumaça no ar e

nos lança um olhar malicioso.

— Obrigado por sair em minha defesa, Axl. Depois que você

se tornou pai ficou mais legal. Irmãos, o momento em família está

lindo, mas tem uma gostosa me esperando no meu apartamento e

eu não vou trocar uma boa foda e um boquete por quatro

marmanjos que estão com a vida ganha. — Com o seu jeito de bad
boy, ele ajeita a jaqueta e faz um gesto obsceno com a língua para
provocar o Killz, que mostra para ele o dedo do meio. É inevitável

não rirmos, não esperávamos por isso.

— Até quando vai ficar sendo um puto, Spen? Cada dia é uma

mulher diferente, está na hora de sossegar. Cara, você já trintou há


tempos, precisa encontrar alguém que te ame — diz Axl com

seriedade ao ver o nosso caçula tragar o cigarro e dar de ombros


como se não se importasse. Ele joga a cabeça para trás, dá uma
risada e solta a fumaça pelo nariz e boca.

— Enquanto a garota certa não aparece, eu me esbaldo com


a minha coleção de erradas. — Spencer se levanta. — Até logo,

Carter, foi bom ver você. Diga à sua ruivinha que mandei boas-
vindas, é sempre bom ver meus irmãos sendo domados por
bocetas. — Ele pisca para mim, depois se despede e sai porta

afora, com aquele seu jeito de dono do mundo.

Ficamos calados como se não tivéssemos assuntos para

tratar, mas temos, no entanto, Killz quer que tenhamos uma


conversa em particular. Não que Axl e Ezra sejam um empecilho,

contudo, as garotas estão na casa e o que temos para tratar deve


ser sigiloso.

— Por que não nos disse que traria alguém com você, Carter?
Eu sei que não devemos te pressionar, você acabou de voltar
depois de tanto tempo, mas saiba que estamos aqui para o que der

e vier. — Ezra quebra o silêncio, soando preocupado.

— Sim, eu sei, por esse motivo que voltei. Estou com

problemas. — Suspiro e encaro meus irmãos mais velhos.

— Porra, eu sabia — diz Axl, preocupado também.

Ao contrário de Axl e Ezra, Killz me analisa por alguns


minutos, pensa, pensa, até que se pronuncia.

— O que te trouxe a Londres nessa madrugada, Carter? —


Quem está falando agora não é meu irmão, mas sim o homem que

lidera a família. O seu olhar está duro, assim como a sua voz.

— Brends Ivanov e os Lynch. Eles estão tramando algo contra

mim, e Muriel, de certa forma, é o alvo. Acham que ela é a minha


fraqueza. — Decido por fim me abrir com eles.

Ezra, por sua vez, solta um palavrão e demonstra indignação.

— E ela não é? — Killz me pega de surpresa com a sua


pergunta.

De repente, o silêncio retorna. Olho de relance para a escada


onde minhas cunhadas a levaram e fico cabisbaixo sem conseguir

responder ao meu irmão. Eu nem preciso dizer uma palavra sequer,


ter saído da Irlanda às pressas na madrugada diz tudo.
— Passei anos tentando não ter sentimentos por uma mulher
outra vez. Depois que perdi Svetlana meu mundo ruiu, passei anos
lendo e relendo aquela maldita carta que ela deixou para mim,

tentando de uma forma boba substituir a ausência dela com aquele


pedaço de papel... Me torturei a cada fodido dia, me sentindo

culpado pelo fato de eu ter perdido a única mulher que achei que
amaria, que seria a minha esposa, mãe dos meus filhos. Mas
também surgiu aquela menina ruiva amedrontada na minha casa,

sendo obrigada pelo rato do irmão a ficar comigo como forma de


pagamento da dívida da família... A minha vida mudou, é claro que

Lana demorou para sair do meu coração, mas quando notei que
todas as mulheres com quem eu saía eram vazias e que eu não

levava nenhuma delas para a minha casa por respeito a Muriel,


percebi que já estava louco por ela... E por mais que eu tentasse me
controlar, chegou uma hora que foi mais forte do que eu, então

compreendi que não poderia fugir dos meus sentimentos, irmãos.


Eu estou completamente rendido a essa menina e não vou deixar

que mais uma vez me tirem a minha felicidade. Dessa vez estou
disposto a tudo para proteger quem eu amo. — Faço um longo
desabafo sem ao menos reparar. Essa é a primeira vez que falo

tanto da minha vida para meus irmãos.


— Ela é mais do que importante, agora te entendo. — Killz
sorri. Vejo uma faísca de emoção nele, que sabe disfarçar muito
bem com a sua postura séria.

— O que o neto da Viktoria quer na Irlanda, Carter? —


pergunta Axl, procurando por uma resposta que também estou

querendo encontrar.

— Faz poucos dias que descobri que Tyron e ele são


melhores amigos e sócios — respondo, com os punhos fechados,

lembrando-me da proposta do lixo do filho de Sinead. Só naquela

mente doentia dele que o neto da Viktoria vai tocar na minha sereia.
Antes que tente, eu arranco as mãos dos dois.

— Como é possível? O filho da puta estava em Chicago à

negócios com o avô. Ele tem sorte de não ter morrido como o tio

dele. Eu deveria ter mandado aquele moleque para o inferno no


mesmo dia que mandei Lucke, assim nossos problemas não

existiriam mais com os Ivanov, com os Ivanov psicopatas — diz

Ezra, revoltado, com sangue nos olhos.

A sua informação me surpreende. É, temos muitos assuntos


pendentes.
— Você e a Viktoria estão se falando? — pergunto, curioso, e

Ezra assente.

— Há três anos. Esse é o tempo que estamos em trégua. Eu e

Alessa decidimos dar uma chance a ela, desde então a nossa mãe

tem contato com os meus filhos e com o da minha irmã — revela


Ezra, pigarreando.

Sorrio com a informação.

— Uau, muitas coisas mudaram mesmo — digo, perplexo.

— É, mudaram — Killz concorda, então se levanta e caminha


de um lado para outro. — Ezra, ligue para a Viktoria, temos que

descobrir o que o bosta do Brends está fazendo em Dublin. Aquele

merda é problemático demais para que possamos deixá-lo solto.

Axl, cheque as meninas e as crianças, tente fazer com que elas não
nos procurem pelas próximas horas. E você, Carter, venha comigo.

— O mais velho faz um gesto com a mão para que eu o siga.

Afastamo-nos dos nossos irmãos e seguimos para outra sala.


— Você fez bem ter voltado para casa, Carter. Alguém nessa

família tem que agir diferente pelo menos uma vez na vida — fala

Killz, assim que entramos no escritório.

Ele faz um sinal para que eu me sente.

— Apesar de eu ter meus homens lá e todos serem treinados,

eles não seriam páreos para a quantidade de soldados que os

Lynch têm. Não se comparam aos que temos aqui, então seria uma
loucura que eu entrasse em uma guerra sem condições de lidar com

os meus inimigos. — Cerro os punhos com força, sentindo a raiva

correr por minhas veias.

— Fez o certo, Carter, mas preciso que me diga o motivo de


considerar o filho do seu sócio de tantos anos o seu inimigo. E o que

faz o Brends se tornar o seu inimigo. Antes que possamos agir

contra eles, preciso de um motivo muito forte, querendo ou não,


ambos são herdeiros e têm poder, mesmo que seja um poder

indireto. — Ele faz uma pausa e passa a mão no queixo. — Me

conte tudo do início, detalhadamente. De alguma maneira, Tyron

Lynch e Brends Ivanov terão que cair, ninguém mexe com um Knight
e fica por isso mesmo. — Um vislumbre de frieza atravessa os seus

olhos azuis.

Assinto com a cabeça e sinto um nó nas minhas entranhas.


Passo a mão por meu cabelo, respiro fundo e só depois de um

tempo começo a contar a ele como iniciou a minha desavença, que

não foi de agora, aquele moleque sempre gostou de me desafiar.

Tyron se acha o rei, mas não passa de um bundão que faz merdas
se garantindo na proteção do papai dele, Sinead. E Brends é uma

escória que poupamos da morte por causa de Viktoria Ivanov. Se eu

soubesse que esse imbecil iria me dar trabalho futuramente, teria


enfiado uma bala na cabeça dele no dia que encontrei Hailey

naquele cativeiro com ele e Lucke. Maldito seja aquele dia.

— É isso, Killz. E para completar, o neto de Viktoria

supostamente quer uma aliança com Sinead, mas em troca Muriel


tem que se casar com ele. O velho insiste em querer que eu desista

dela e aceite o dinheiro podre dele. — Solto uma risada amarga. —

Sinead e eu fizemos um acordo, ele não tem esse direito, não vou
permitir que me tire a ruiva por causa da fodida ambição. O caralho

que vou!

— Não vou fazer rodeios, Carter. — Ele faz uma breve pausa,

parece pensar direito, até que me encara sério demais. — Eu tenho

uma solução para você, só não sei se estará ao seu alcance e se o

seu sentimento por essa menina é tão forte assim para aceitar a
minha sugestão.

— O que é? — Engulo o nó que se forma na minha garganta.

Killz olha a nossa volta como se estivesse à procura de algo.

Ele se levanta e me olha uma ou duas vezes sem dizer uma palavra
sequer. Fico ainda mais apreensivo para ter a sua resposta.

O silêncio dele se torna cruel com o fato de eu estar tão

curioso para saber o que meu irmão mais velho tem como solução

para mim, pelo menos para a metade dos meus problemas.

— Você deve se casar com a Muriel. É isso que devem fazer

se realmente querem ficar juntos.

A minha expressão no momento deve ser de surpresa.

Abalado, passo a mão no meu cabelo, bagunçando alguns fios.


— Acho que não ouvi direito. — Limpo a garganta, ainda em
choque.

Ele ri com cinismo e balança a cabeça.

— Em outra ocasião, eu diria para você que mataríamos um

por um, mas no momento é o que tenho para você, Carter. — Seu
tom é frio. — Se case com a garota. Casados, Sinead não terá

ninguém para oferecer, aliás, terá sim, ele tem outra filha, certo?

Assinto, concordando.

— Temos que agir com sabedoria. Você e Muriel se casando e


consumando o casamento, o velho não poderá exigir nada. Mesmo

que ele tenha pedido amigavelmente para que você aceitasse o

dinheiro e devolvesse a filha dele, nada vai poder ser feito, porque
Muriel será uma Knight e não mais uma Lynch. Na verdade, ela

nunca foi — fala Killz, sendo calculista.

Pensei em muitas coisas, mas nunca passou pela minha


cabeça um casamento. Eu e a ruiva nos casando assim, em cima da

hora, sem planos, sem termos pensado tão longe. Estamos


começando agora a nos envolvermos. Soa a ser insana a sugestão
de Killz, no entanto, ele não ousaria a sugerir algo se tivesse certeza

de que não daria certo, mas o problema não é esse. Apesar de


Muriel dizer que me ama, será difícil dizer que teremos que nos
casar.

— Nos casando, Tyron e Brends não terão uma aliança. —


Compreendo o raciocínio do meu irmão.

— Eles podem até ter. Sabemos que o alvo é você, ou talvez


todos os Knight. O neto de Viktoria ainda tem raiva por termos
matado Arlyne, a mãe psicopata dele — acrescenta Killz,

desdenhoso. — Proponha a Muriel o casamento, se ela aceitar,


vocês se casarão o mais rápido possível, e a família da noiva
saberá da união logo em seguida. Dessa forma, saberemos o que

mais os Lynch pretendem fazer, mesmo sabendo que a filha


bastarda de Sinead se tornou esposa de um Knight.

De acordo com o meu irmão, levanto-me e vou até ele, então


toco no seu ombro e o encaro.

— Eu nunca achei que voltaria para casa e teria que me casar


tão rápido. — Dou uma risada e balanço a cabeça.

— Quem mandou se apaixonar, Carter? — retruca, depois ri


também.

— Não fode, Killz. — Afasto-me dele e ouço a sua gargalhada.


— Irmão, após a morte de Svetlana, mandei puxar a ficha
dela, o que era para ter sido feito antes. Eu descobri coisas sobre
ela, sei que depois de tantos anos já não importa mais, mas... Fiquei

pendente com você, me escute ao menos... Eu te ligaria para contar,


mas te dei liberdade para se encontrar novamente, e trazer

assuntos sobre a pessoa que era a causadora da sua dor não seria
uma boa ideia. — Assinto. O Knight mais velho me fala exatamente
as coisas que Svetlana confessou na carta – sobre os seus pais, as

coisas que teve que fazer para Lucke Ivanov.

Meu irmão termina de detalhar o que sei desde que decidi ler

a carta enviada por nossa cunhada.

— Lana deu a vida dela por mim, Killz, mas poderia ter sido

diferente se tivesse confiado a sua vida em nós. — Encaro-o, sem


expressão alguma, e solto um suspiro. — Agradeço a intenção e
tudo o que fez por mim, me permitindo que eu partisse sem cobrar

as minhas obrigações na família. Mas agora, Svetlana não é mais


importante, não como antes. Ela se foi e há outra pessoa em minha
vida que precisa muito mais de mim. — Penso na Muriel, que confia

em mim de olhos fechados. Sei que quando está comigo se sente


protegida.
— Tem razão, Carter, estou orgulhoso de você. — Sorri,
sincero.

— Não mais do que eu tenho de você. — Devolvo o sorriso.

Tudo é tão mais fácil quando não gostamos de alguém,


quando não temos nada a perder. Mas se eu quero ter a Muriel
comigo e segura, então farei o necessário, e se o casamento é a

opção mais viável, me casarei com a minha sereia. Mas antes vou
mostrar a ela um pouco do meu mundo.

— Vamos, quero que venha rever os seus sobrinhos. Mas não


pense que meus planos terminaram aqui, ainda temos que

conversar com Ezra para saber o que Viktoria disse sobre Brends.
Só que isso ficará para mais tarde — fala, então sai porta afora e eu
o sigo em silêncio.

Tyron não perde por esperar, quando se der conta vai comer
terra na cova que ele mesmo cavou ao se meter comigo, achando

que poderia me fazer curvar às suas vontades.

Enquanto o imbecil tenta chamar atenção metendo terror nas

pessoas ao seu redor, querendo mostrar que é o fodão, eu planejo


cautelosamente o dia e a hora certa para o nosso acerto de contas.
Eu o farei chorar como a porra de uma menininha assustada. Ele vai
pagar muito caro pelo que fez Muriel passar quando ainda morava

com eles, e isso será só o começo até alcançar o que lhe é de


direito – a morte. Darei a ele uma das piores mortes por pensar que
pode ser superior a mim e trazer Brends Ivanov para entrar em uma

guerra que nunca foi dele.

Tyron Lynch jogou sujo ao envolver a minha pequena sereia


em seus planos perversos. Ele está jogando um jogo perigoso com
o Knight errado. Eu sou mais inteligente do que pensa, ou nem deve

pensar, já que é um inútil de cérebro pequeno. Ele só almeja poder,


foder as putas e tentar ser superior.

Killz e eu passamos pela sala e não encontramos Axl e nem


Ezra, então seguimos para o andar de cima. O meu irmão indica o
quarto em que as crianças e as minhas cunhadas estão. Penso em
perguntar se não quer deixar os meninos dormirem pelo horário,
mas conforme nos aproximamos, ouvimos vozes de crianças e das
garotas. Abro um sorriso ao ouvir a risada doce e alta de Muriel.
— Parece que a sua garota já fez amizade, ela é mais
sociável do que você — diz e empurra a porta cinza onde estão
todos. Ao menos é o que imagino, só confirmo quando entramos e
meu irmão a fecha.
— Pai, o Austen falou para a tia Muriel que faço xixi na cama.
É mentira dele!
Arregalo os olhos ao ver a garota de cabelo quase escuro.
Kath, a filha de Killz, que quando fui embora era uma garotinha,
agora deu um salto e está uma mocinha, parece que puxou à altura
do pai e dos tios.
Meus olhos focam agora em Austen. Com um sorriso bobo,
encaro meu sobrinho e noto o seu olhar soberbo como o do pai, tem
uma postura de mandão. Tenho dó de Katherine. Os gêmeos estão
lindos, meu sobrinho e a minha sobrinha estão mudados
fisicamente, estão bem desenvolvidos, afinal, passaram-se quatro
anos. Eles devem ter por volta de nove, dez anos. Muito em breve
meu irmão e a minha cunhada terão dor de cabeça com esses dois.
— Calem a boca, Austen e Kath. Vocês nunca param de
brigar. O tio Killz deveria dar uma boa lição nos dois.
Boquiaberto, vejo um garoto maior do que os filhos do Killz,
sentado no chão, encostado na parede e revirando os olhos.
Ele tem os olhos claros e cabelo bem negro, com um corte
bem-feito, assim como Austen – curto nas laterais e o cabelo mais
longo acima. Suspeito que Spencer tenha influenciado no penteado
dos sobrinhos. A sua pele é pálida de tão branca, o seu olhar me
lembra alguém e eu sei bem quem é – Ezra. Esse é o Dylan, pelo
visto, tem o mesmo gênio do pai.
— Katherine e Austen, hoje o treino de vocês será dobrado.
Sairão daquele galpão mais tarde, e enquanto discutem, o primo de
vocês avança no treino — diz Killz, autoritário, ignorando a briga dos
filhos.
A menina corre na direção da mãe enquanto Austen se
mantém no seu lugar, como se o que o pai falasse não o afetasse.
Limpo a garganta, depois volto a minha atenção para as
mulheres espalhadas no quarto. Não tive tempo de observá-las
direito mais cedo. Todas me olham com expectativa, diferente de
Muriel, que sorri timidamente ao notar Killz ao meu lado.
Alessa está com seu cabelo curto, na altura do pescoço. Seu
rosto está mais maduro, assim como o olhar que antes era de
menina. Agora é de uma mulher mais forte do que já era. A minha
cunhada segura um menino no colo, ele está dormindo e agarra
uma fralda de pano, é o filho dela e de Axl. Ela o segura com amor,
e a maneira como o olha é impossível não perceber o carinho ali.
Na cama, está a loira, a minha amiga, que sorri para mim. A
emoção nos seus olhos é evidente, ela pisca para mim e eu retribuo.
A esposa de Ezra continua tão linda quanto antes, ela é a mais
velha das minhas cunhadas e não deixa de ser tão bonita quanto as
outras. Pelas minhas contas, ela está com seus trinta e dois ou trinta
quatro, não sei ao certo.
— Vai ficar nos admirando, cunhado? Venha conhecer os seus
sobrinhos.
Só então noto Aubrey, que gargalha e ela é acompanhada por
Lessa e Hailey. Brey, assim como as outras, está linda e muito
madura, os anos fizeram bem para todas.
Quase todas as crianças estão aqui, sinto falta da menina de
Hailey, e assim que vou perguntar a porta é aberta.
— Amor, a Amy dormiu — Ezra informa, então me viro e o
vejo com uma menina loirinha dormindo em seus braços.
Nem a vi nascer, mas já a amo.
— Me dê ela aqui — pede Hailey, levantando-se.
— Não precisa, loira, já vamos para a casa, está na hora. Eu a
levo para não a acordar, e você também está cansada — fala Ezra,
carinhosamente, e Hailey assente.
Dylan se levanta e vai até o pai, que o puxa para mais perto e
passa a mão no seu cabelo, bagunçando-o de leve.
Logo Axl entra no quarto com uma mamadeira na mão. Pelo
visto, a minha conversa com Killz no escritório rendeu, porque meus
irmãos tiveram tempo de fazer muitas coisas.
— Alessa, a mamadeira do Christopher está pronta. Demorei
um pouco porque esquentei demais a primeira que fiz, e talvez
tenha feito o mesmo com essa. — Axl passa a mão na cabeça e
encara todos, ao notar que estamos olhando para ele, sua postura
muda e fica mais sério.
Christopher e Amy, só assim para saber o nome dos meus
sobrinhos mais novos.
— Meu Senhor. — Alessa se levanta e vai até o marido. — Já
vimos o seu irmão e ele está bem, mas agora vamos para a casa,
estou com muito sono e o seu filho já acorda pedindo mamadeira.
— Vamos sim, é melhor. — Axl vem até mim e nos
despedimos antes de ele sair com Alessa.
Pela maneira como meus irmãos estão se comportando, eles
não querem mencionar o que conversamos na frente das garotas.
— Dylan, Katherine e Austen, não vão falar com o tio de
vocês? — pergunta Killz, e Ezra o apoia ao dizer o mesmo para o
filho.
Desde que entrei no quarto, notei que meus sobrinhos mais
velhos não se importaram muito com a minha presença, eles não
devem se lembrar muito de mim.
Os três se aproximam e ficam de frente para mim, me
encarando com curiosidade.
— Olá, sou Carter James Knight, irmão dos seus pais. —
Pego na mão de cada um, que me cumprimentam sorridentes e
mais atenciosos.
— Você é aquele tio que cuidava das corridas clandestinas?
— pergunta Austen, com os olhos brilhando. Ao seu lado Dylan está
do mesmo jeito.
— É ele sim, Austen, o tio Spencer disse que ele viria hoje,
por isso estamos aqui — fala Dylan, com um certo orgulho do meu
irmão caçula.
— Hum, seja bem-vindo, tio Carter. A sua namorada estava
certa, o senhor é muito bonito. — Kath entrega Muriel, que parece
se engasgar.
A ruiva fica vermelha e Aubrey começa a dar tapinhas em
suas costas. Muriel agradece a minha cunhada e logo se recompõe.
Katherine é repreendida pela mãe, mas a menina só dá de ombros,
como se dissesse que não fez nada de errado.
— Vamos embora, nem era para os três estarem acordados —
fala Killz.
Brey concorda, então os gêmeos passam na sua frente e
depois o meu irmão, que acena para mim e sai do quarto com a
mulher.
Ezra permanece decidido a levar Amy no seu colo. Hailey
pega a mão do filho e o leva para fora, restando somente Ezra,
Muriel e eu.
— Eu consegui falar com Viktoria, mas depois conversamos,
Carter — diz e, em seguida, sai do quarto.
Solto um suspiro cansado e vou até ela, então eu abraço e
ouço o seu bocejo.
— As suas cunhadas são incríveis. Mas estou com tanto sono
que não pude aproveitar muito da companhia delas. Adoraria
conhecê-las melhor um outro dia — murmura, sonolenta.
— Não achei que estariam aqui, mas foi bom ver que todos
estão bem — digo, levando-a para a cama de casal. — Vamos
dormir por aqui mesmo. Quando acordarmos conversamos melhor.
— Hum... Estou curiosa, Carter. — Nos deitamos e ela
encosta a cabeça no meu peito, então eu a puxo mais para mim.
— Durma, sereia, não vou a lugar algum — falo. Beijo a sua
testa, passo o braço ao redor da sua cintura e fecho os olhos.
Nem se eu quisesse poderia ficar muito tempo longe de você.
Mesmo com os olhos pesados e quase me rendendo ao
cansaço, não deixo de velar o sono de Muriel, que dorme primeiro e
agarrada a mim.
Ter conhecido a família do homem que amo foi tudo para mim.
E quando as cunhadas dele sem nem mesmo me conhecer me
arrastaram para apresentar os seus filhos fiquei muito mais

encantada. O pouco que vi fez meu coração se encher de felicidade,


nunca tive uma família, então sentir o quanto os Knight são
calorosos me fez ter mais vontade de fazer parte da vida de Carter,

pertencer a ele e ser um deles.

A forma como são unidos é de fato de dar inveja. Apesar de

serem do submundo, é evidente a lealdade. A ligação que eles têm


um com o outro é tão forte, que qualquer um gostaria de ser um

membro da família.

Ontem, depois que as esposas dos outros Knight terem me


levado para longe de Carter, elas me deram uma prévia de como é

viver dentro dessa família. Elas não me fizeram perguntas invasivas,


foram educadas, apenas me recepcionaram bem como se me

conhecessem há anos.

Até agora não me decepcionei em nada com a família dele e,

pelo visto, isso não irá acontecer. São todos calorosos, amei o

acolhimento que recebi, apesar de terem ficado surpresos quando


me viram nos braços de Carter. Supus que não sabiam da minha

vinda e tentaram disfarçar, contudo, isso ficou evidente.

Não deu tempo de conhecer todos direito, mas logo isso irá

acontecer. Quero saber mais da família de Carter, das suas manias,


do seu trabalho por aqui. Desejo conhecer além daquele homem

que vivia na Irlanda cheio de mistério, tenho certeza de que aqui,

em seu verdadeiro lar, vou conseguir ter mais dele.

Não sou nenhuma boba, sei que a vinda de Carter para cá

não foi só por negócios, ele veio porque se sentiu na obrigação de

me proteger e sozinho não pode fazer isso, ainda mais em um

território que não é dele.

A insanidade do meu pai e do Tyron em me querer de volta

para que eu me case com um desconhecido atingiu Carter com

força, pude ver em seus olhos a revolta e a fúria.


Ainda não sei o que o impede de matar o meu irmão, Tyron já
abusou da paciência de Carter, no entanto, tenho certeza de que

quando esse dia chegar, todos os demônios que vagam pela Terra

irão se reunir ao redor do seu corpo sem vida, para levar a sua alma

diretamente para o inferno. Nesse dia, nem mesmo se Tyron pedir

por clemência ele terá. Um homem com a sua índole não merece

sequer uma primeira chance, quanto mais uma segunda.

Agradeço ao Sinead por ter mantido a minha virgindade

intacta, mesmo que nunca tenha sido um bom pai, ele impediu que

Tyron abusasse de mim dessa maneira. Se fosse pela vontade da

besta diabólica, ele já teria cometido um incesto. Já cheguei a

imaginar que nunca tivemos um laço de sangue, porque mesmo que

eu supostamente seja uma bastarda, como um irmão pode ver a


irmã com malícia e dizer atrocidades a ela.

Eu sabia que me manter virgem era importante para os planos

que Sinead tinha para mim, sempre agradeci a ele por isso,

contudo, mesmo que no início tenha sido aterrorizante, ter sido dada

ao Carter foi a minha salvação. Nem gosto de imaginar como seria a


minha vida se Tyron convencesse o nosso pai a me dar para um

velho babão que praticamente me viu crescer, mas que estava louco
para me levar para a sua casa e me tornar a sua escrava sexual. Só

de pensar naquele velho imundo o meu estômago embrulha.

Estou acordada há um tempo, nem sei que horas são.

Gostaria de me levantar e ver o dia lá fora, porém, o braço


possessivo de Carter ao redor do meu corpo me impede de fazer tal
coisa.

Deslizo meus dedos na pele da mão tatuada de Carter

enquanto sinto a sua respiração quente no meu pescoço. Essa é a


primeira vez que dormimos juntos e não pude aproveitar muito da
sua companhia. O cansaço nos venceu e os meus planos de

aproveitar um pouco do meu ogro delicioso foi por água abaixo,


porque fui a primeira a cair no sono.

Cuidadosamente, viro-me para ele, que se remexe e


resmunga, mas não acorda e nem deixa de ser possessivo. A

maneira como me abraça pela cintura é como se eu fosse fugir a


qualquer momento.

Sorridente, analiso o seu semblante calmo, o seu rosto bonito


e cada detalhe minuciosamente. Apaixonada, solto um suspiro e

levo a mão ao seu rosto sereno e ao seu cabelo castanho quase


escuro, o acariciando até que Carter abre os olhos lentamente e me

lança um sorriso que aquece cada partícula do meu corpo.

— Assim volto a dormir de novo, sereia. — Sua voz sai rouca.

Além de ele ser o meu primeiro amor, será meu primeiro tudo,
e se depender de mim, será o último homem da minha vida também.

Eu o amo demais, e esse amor não é de meses, e sim, anos.


Eu o guardei há tanto tempo, e agora que estou tendo a chance de

vivê-lo, vou aproveitar cada segundo, vou me agarrar a qualquer


oportunidade que aparecer. Soa até desesperado, entretanto, não é.

Isso se chamar amor, e quando amamos alguém somos capazes de


tudo para vivê-lo, senti-lo e outras coisas mais.

— Sinto falta de quando me chamava de pequena sereia. —


Pisco para ele, que gargalha. Carter fica mais lindo quando está

relaxado.

— Sou um homem criativo, coração, e quando se trata de


você há vários apelidos carinhosos... Posso usá-los nas ocasiões

certas — diz.

O meu coração bate descompassado com a intensidade das


suas palavras e o seu olhar sobre mim.
— Gostei disso, sr. Knight. — Sorrio, abobalhada. — O que
vamos fazer hoje? Estou ansiosa para reencontrar a sua família...
Quero conversar direito com as suas cunhadas, elas são tão

acolhedoras.

Ele pigarreia, meio inquieto, como se algo o incomodasse

naquele momento.

— Muriel, ontem conversei com o Killz, ele me aconselhou

sobre a sua situação e concordo com ele. O que recomendou é o


melhor caminho para nós. — A sua seriedade chega a me quebrar.

Os olhos brilhantes de antes e o sorriso são substituídos por um


clima pesado.

Mesclo uma falsa confiança no rosto e espero que ele dê

continuidade, porém, fica em silêncio até que me tira do calor dos


seus braços, então me sento na cama. Tensa, observo os seus

movimentos, ele parece estar como eu.

— Antes de te dizer o que é, preciso te mostrar o meu mundo,

Muriel Scott. — Carter volta a se aproximar e toca no meu rosto.

O que é tão importante que ele não pode me falar sem que eu

conheça o mundo dele, como ele mesmo diz? Preocupada e sem


reação, só consigo fazer um meneio de cabeça. Carter não diz mais
nada, somente sai da cama e segue para o banheiro.

Angustiada, levanto-me, ajeito meu cabelo e olho para a porta

por onde Carter passou. Fico esperando-o sair, mas acabo


desistindo.

Com os pensamentos a mil, vou para a varanda e olho para

baixo ao ouvir vozes masculinas. Arregalo os olhos ao ver muitos


homens com armas pesadas nas mãos. Pelas roupas que usam, dá

para saber que são soldados da família.

Um loiro alto e muito bonito, todo tatuado até o pescoço e com

o semblante fechado, se aproxima deles e dá ordens, apontando


para o terreno. É o Spencer, me recordo do nome dele rapidamente.

Ele entrega pontos eletrônicos e os homens os colocam no ouvido,

não demora muito para que se espalhem ao redor da casa,


enquanto o irmão do Carter caminha, sumindo do meu campo de

visão.

Ouço a porta ser aberta, mas não me viro, porque sei que é

ele. Me decepciono ao ouvir a porta do quarto sendo aberta e seus


passos se afastando para fora do quarto.
Frustrada, abaixo a cabeça e passo a mão no meu cabelo,

ficando longos minutos pensativa e amedrontada por não saber o


significado do que ouvi sobre conhecer o mundo dele. O modo como

falou me assustou absurdamente.

A porta é aberta e eu me viro esperançosa.

— Muriel, vamos sair essa noite. Daqui a algumas horas


Hailey virá trazer um vestido adequado e vai te ajudar no que for

necessário. — Ele é seco, a frieza está na sua voz e em seus olhos

azuis-glaciais. O pior de tudo é que Carter não faz questão de


esconder que há algo errado.

— Carter, está tudo bem? De uma hora para outra você...

— Levei a sua mala para o outro quarto, deixei a porta aberta.

Este não é bom o bastante. Fique à vontade, vou estar no escritório


com o Spencer, precisando de mim é só chamar — me interrompe

intencionalmente. — O meu irmão trouxe comida, está na cozinha.

— Mais uma vez me dá as costas e me deixa sem respostas.

A frieza repentina de Carter está me intrigando a ponto de me


fazer perder a fome.

Parece que a versão bipolar de Carter James Knight está de

volta. Acho que sou a única que não entendeu como as coisas
funcionam por aqui.
— Vai com calma, cara. Que bicho te mordeu? — pergunta

Spencer, ao me ver entrar no escritório e bater a porta com força.

Porra. Que merda estou fazendo? Eu não sou assim, não


desconto minhas frustrações nas pessoas, muito menos nas que

são importantes para mim. Mas foi inevitável, quando percebi já

tinha ferrado com tudo.

Spencer e eu já conversamos hoje. Acordei bem cedinho e saí


do quarto para ligar ao meu irmão pedindo que trouxesse alguns

homens para fazer a segurança da casa, e comida para a ruiva,

porque sabia que quando acordasse sentiria fome. Logo depois


voltei para a cama e acabei adormecendo novamente ao sentir o

calor do seu corpo e o cheiro gostoso do seu cabelo.

Estava tudo bem, mas quando Muriel mencionou que quer

conhecer melhor as minhas cunhadas, o meu humor mudou.


Naquele instante me veio uma lembrança de Svetlana, a minha

assombração. Eu a apresentei para a minha família, confiei nela

cegamente a ponto de trazê-la para perto deles.

Lana foi a primeira garota que levei a sério para um


compromisso, e quando vi era tarde demais, ela tinha me traído. O

seu medo foi maior do que o amor que dizia sentir por mim. Ela

entregou as pessoas que eu amava para o nosso inimigo, faltou


pouco para que Lucke acabasse para sempre com a felicidade de

Hailey e Ezra, usando Lana como ponte.

Pensar em Svetlana acabou com o bom humor. Fui tão duro

com a minha sereia que fiquei puto com o meu comportamento. Sei
que errei, ela não tem culpa do meu passado, a ruiva sequer sabe

da existência de Lana. Ela não sabe da minha história com a mulher

para quem entreguei meu coração fodido que depois de anos de

confiança estragou tudo o que tínhamos de bom.

Por respeito a ela e por não desejar mais me apegar o que

quase me destruiu, abandonei a carta de Svetlana na gaveta, em

Dublin, determinado a dar um fim às recordações que me


perseguem.
Ao acordar e ver que, pela primeira vez em anos, dormi com

alguém ao meu lado sem ter pesadelos com a minha namorada


morta, mexeu profundamente com os meus pensamentos, tanto que

cheguei a fugir como um frouxo, da garota que tinha sido a

causadora da minha paz.

Despretensiosamente, Muriel Scott está apagando os rastros


do meu passado. E se eu sei disso, por que não confio totalmente

nela? Em suas intenções? É um absurdo que eu tenha descontado

na minha sereia a minha ira por ter tido meus pensamentos


sórdidos. Muriel não é Lana, nunca poderia ser, elas são

completamente diferentes. Não posso permitir que algo do meu

passado interfira no meu presente.

— Fiz merda. — Sento-me na cadeira e passo a mão no


cabelo.

— Normal. Se não fizesse, não seria um Knight. — Dá de

ombros e me encara com diversão ao ver a minha expressão


fechada. — Deixe-me adivinhar... magoou a sua garota? — Ele

arqueia a sobrancelha.

— Estávamos bem, mas Lana veio... eu me lembrei dela,

caralho... e acabei sendo grosseiro com Muriel. — Fecho os punhos.


Meu irmão percebe, o seu olhar é de uma pessoa muito
preocupada.

Fiz o que mais odeio. Agi por impulso. Me tornei por um

instante na pessoa que mais temo – impulsiva. Não sou assim, não
aceito ser assim.

— Seja sincero, meu irmão. Você ainda ama Svetlana e só

trouxe essa menina por sentir pena dela? Aquele seu discurso sobre

Muriel soou sincero, mas quero saber de você. O que sente por
Muriel Scott de verdade?

A pergunta de Spencer me pega de surpresa. Meu irmão

caçula me encara ansioso, então desvio meu olhar.

— Desculpe mencionar a Lana, Carter, sei que não voltou para


que ficássemos falando dela, mas...

— Svetlana é passado, Spencer — respondo, por fim. Respiro


fundo e finalmente volto a encará-lo. — Gosto de Muriel, somente
dela. Não é um capricho, uma aventura.

Não vou julgá-lo por falar de Svetlana, não posso impedir a


minha família de falar dela por achar que de alguma maneira não
vou gostar, que me lembrarei do dia em que ela deu o último

suspiro, nos meus braços.


— Gostar é uma coisa, Carter, amar é outra. Gostar a gente
gosta de todos e todas. Tipo eu, que gosto de todas as mulheres
com quem saio. — Ele sorri de lado.

— Verdade. — Fico pensativo.

— Admita de uma vez que ama a Muriel, seja mais direto. Eu


conheço os meus irmãos, sei quando a merda está feita. Todos já
notaram que a ruiva amarrou o seu pau e o seu coração. Você

precisava ter visto como a sua cara ficou quando nos viu assim que
chegou. Você quase derrubou a menina de tão assustado que
estava. — O filho da puta dá risada.

Eu a amo? Sim. Foda-se. Eu não aceitaria me casar com ela

se não fosse por isso.

Eu amo Muriel Scott. Um sorriso fodido aparece, então jogo a


cabeça para trás e dou uma gargalhada. Reconhecer os meus

sentimentos é como se tirasse um peso dos meus ombros. Está


mais do que claro. Se voltei para casa pela segurança dela,
temendo que o pior pudesse acontecer, é mais do que uma prova do

meu amor.

— Pois você está certo. Eu a amo e não vou permitir que


ninguém a tire de mim — confesso, me recompondo e ficando sério.
— Antes que tentem, mato um por um.

— Esse é o meu irmão! É uma pena que Killz quer fazer a


coisa certa. Se dependesse de mim, já teríamos dado um jeito
neles. — O seu sorriso é perverso.

— Vou me casar com Muriel, Spencer, vamos seguir com o


plano do nosso irmão. Ele está certo.

O seu espanto me faz acreditar que Killz ainda não contou a


novidade.

— Cacete, Carter, eu disse para admitir os seus sentimentos e


não dar um passo tão... rápido e importante como esse. — Ele

arregala os olhos e, de repente, tem uma crise de tosse.

Spencer fica vermelho de tanto tossir. Ignoro a crise do meu

irmão e dou de ombros.

Ele se recompõe, mas não deixa de me encarar perplexo.

— Você está certo disso? — pergunta, preocupado.

Balanço a cabeça afirmando.

— Hoje vou levá-la para aquele lugar. — Passo a mão na

minha barba.
— Não fode, Carter. — Spencer se engasga.

— Pedi a Hailey para trazer um vestido para ela e que a ajude


no que for necessário — confesso, sob o olhar acusador do loiro.

— Só não se esqueça de que Muriel não é Svetlana, que


topava tudo com você. Lana era uma mulher experiente, conhecia
os seus gostos... e não foi a primeira vez dela lá. A ruiva não parece

ser do tipo que se sujeitaria a esse tipo de coisa — avisa.

— Eu sei, Spencer, mas preciso fazer isso. — Solto um


suspiro.

— Faça o que achar que é certo, só não apague o brilho nos

olhos daquela garota. Ela te ama, e se você a magoar, pode


acreditar, irmão, eu corto as suas bolas e ainda te faço comê-las —
ameaça, com o dedo em riste.

— Acho que já a magoei, mesmo sem querer. — Bufo, irritado.

— Pois trate de consertar a sua cagada. Eu te trouxe os


homens, agora preciso ir. Tenho alguns negócios para tratar fora da
cidade, com meus pilotos. — Ele se levanta e passa as mãos na

jaqueta.
— Quem diria... Spencer James Knight me dando conselhos.

— Sorrio, orgulhoso.

— Fazer o quê? Alguém nessa família tem que ser o sensato,


e essa pessoa sou eu. — Se gaba, com um sorrisinho provocante.

— Não posso discordar. — Levanto-me também.

— Vá ver a sua ruivinha. Você não é um cara orgulhoso, sei

que é melhor do que isso. — Spencer se aproxima de mim e dá dois


tapas no meu ombro. — Não deixe de expressar os seus
sentimentos, você pode acabar perdendo essa chance — aconselha

e sai.

Não demoro para sair do escritório. Subo a escada e corro


para o quarto onde levei suas coisas. Quando entro e não a

encontro, sigo para o que dormimos. Eu abro a porta e a encontro


sentada na cama, com a cabeça baixa e as mãos entremeando os
fios avermelhados.

Ela percebe a minha presença, porém, continua como está.

Aproximo-me dela e toco em seu cabelo, afastando-o do seu rosto,


então noto que tentou limpar os vestígios das lágrimas.

Ela chorou por minha causa. Eu a fiz chorar.


— Olhe para mim — peço, sentindo-me miserável.

Muriel me ignora. Ajoelho-me ao lado da cama e pego as suas

mãos, ela tenta se afastar, mas não deixo. Está arisca, com raiva.

— Por favor, olhe para mim, sereia — peço, carinhosamente.

— O que quer, Carter? Veio verificar se eu já fui para o quarto


que decidiu ser melhor para mim? Me desculpe, mas não imaginei

que iria te incomodar se eu ficasse no seu quarto por mais algumas


horas — diz de maneira firme.

Muriel por fim me encara, seus olhos estão avermelhados e


suas pálpebras inchadas.

Eu facilmente fodi o nosso momento bom com as minhas


paranoias.

— Não, não é isso. Você está pensando que vamos dormir em


quartos separados? — Eu a observo, confuso.

— E não é? Por que levou as minhas coisas para outro quarto


e foi grosseiro comigo? O que eu fiz de errado? — indaga, curiosa,

me dando espaço para me explicar.

— Claro que não! Vamos dormir no mesmo quarto, coração,


me perdoe se me expressei errado. — Toco no seu rosto e sorrio. —
Nunca mais quero dormir sem você ao lado, sereia. E me perdoe
por eu ter sido um idiota mais cedo, não foi a minha intenção.

Ela não diz nada, apenas assente e me dá o que mais gosto


nela – o seu lindo sorriso.

— Estou perdoado? — pergunto, esperançoso.

— Só se me contar para que lugar vamos hoje à noite. —


Pisca para mim e eu dou risada com a sua jogada.

— Então você só vai me perdoar mais tarde, porque é segredo


por enquanto — digo, sorridente.

— Acho que vou abrir uma exceção, mesmo que não mereça.
— Seus olhos brilham. Ela se inclina e tenta beijar meu rosto, mas
sou mais rápido e beijo a sua boca.

Muriel envolve os braços no meu pescoço e eu a deito na


cama. Com a sua ajuda tiro a minha camisa e ela beija e morde meu

peitoral, me deixando doido.

Fico entre suas pernas e acaricio a sua coxa por baixo do

vestido, em seguida ataco a sua boca novamente. A ruiva geme


contra os meus lábios ao sentir minha mão subir até a sua virilha.

Deslizo meus dedos para dentro da sua calcinha quando ela se abre
mais para mim, em pouco tempo estou masturbando-a e engolindo
os seus gemidos.
“Quero enfiar minha cabeça em algum buraco.” Foi a frase de

Muriel quando a minha cunhada Hailey quase nos flagrou dentro do


quarto, por pouco ela não nos pegou em uma situação

constrangedora. Assim que ouvimos os passos se aproximando e

sua voz, nós nos afastamos e eu corri para vestir a minha camisa. A
ruiva quase se jogou pela janela quando a loira entrou no quarto.

Mesmo que não tenhamos sido pegos, o rosto vermelho da

sereia, os cabelos desgrenhados e seus lábios inchados, sem falar

da minha puta ereção, nos entregou. Hailey soube disfarçar bem,

agiu como se nada estivesse acontecendo. Fiquei grato por minha

amiga ser sempre discreta.

Não demorou muito para que eu saísse do quarto e as

deixasse a sós, encontrando os soldados de Ezra no corredor.

Mesmo após a morte do Lucke, a minha cunhada só anda com eles

em sua cola, quer ter certeza de que nada de ruim aconteça.


Faz algumas horas que deixei as garotas, e mesmo sabendo
que a ruiva está em boas mãos, a cada segundo que passa fico

mais ansioso para mostrar para a minha futura esposa um dos meus

gostos.

O que Spencer disse sobre Lana e Muriel é verdade, elas são

totalmente diferentes e eu sou muito possessivo, não sei se serei

capaz de agir da mesma maneira que o fazia com a minha antiga


namorada.

Querer levar Muriel a uma casa de swing não quer dizer que

eu quero ter a mesma relação que tive com Svetlana, seria ridículo.

De fato, soa estranho da minha parte trazer algo que eu costumava

fazer para o presente, no entanto, preciso ser honesto com a mulher


com quem vou me casar. Ela precisa saber o que me levou a me

refugiar na Irlanda, a viver em Dublin por quatro longos anos longe

de casa. Eu tenho os meus motivos, por mais que soem distorcidos,

como pensarão Spencer e toda a família quando souberem.

Sentado na cadeira do meu escritório, olho para a tela do meu

celular quando o nome de Sinead aparece. Ele já me ligou duas


vezes. Eu sei o motivo das suas ligações, e ele sabe o motivo de eu

não atender, por isso está sendo tão insistente.


Ignoro o velho e ligo para Dominic, que me atende no segundo

toque.

— Estava esperando a sua ligação.

— Alguma novidade? — pergunto, tamborilando os dedos na


mesa.

— Sim, você estava certo, Carter. Fez bem não levar essa
senhora com vocês. Ela está escondendo algo, ou alguém — revela.

Eu fico tenso. Mesmo que eu não tenha dito ao meu amigo


dos meus planos em Londres, eu pedi que fizesse alguns favores na

minha ausência, e um deles é vigiar a Rose, a mulher sabe muito


mais do que demonstra.

Quando soube que ela tinha dito o nome da mãe da Muriel e


que deu um colar a pedido da sua genitora, um alerta soou. Mesmo

conhecendo a pessoa a vida toda, nunca devemos depositar cem


por cento da nossa confiança nela.

— Me explique direito, Dominic. — Esfrego as têmporas e


semicerro os olhos. Eu sempre tenho um sexto sentido.

— Hoje, mais cedo, eu a ouvi falando com alguém no celular.


Só sei que Rose está em contato com uma pessoa que procura
saber sobre Muriel, e ela só fala em código. Mas deu para perceber

que a mulher passa informações de tudo o que acontece com a


garota.

O seu relato de certa forma me preocupa. Fecho os punhos e


respiro fundo. É muito estranho, após tantos anos, Rose só falar da

mãe de Muriel quando soube da nossa viagem. E a ruiva ter


ganhado o colar é suspeito demais.

— Ela viu que você a ouviu? — pergunto, depois de um


tempo.

Preciso conversar com essa senhora. Se ela realmente ama


Muriel, será sincera comigo, irá abrir o jogo.

— Não. Saí da cozinha a tempo de não ser visto.

Fico aliviado com isso.

Não acho que pode ser o Tyron ou o Sinead querendo saber


da Muriel, nenhum deles se dá bem com Rose. Talvez eu esteja

enganado, mas aquela senhora não se sujeitaria a tanto. A pessoa


com quem ela mantém contato deve ter algo a ver com a genitora

da ruiva, não foi por acaso que ela deu o colar. Há algo muito
importante por trás de todo esse mistério.
— O.k., fique de olho nela e peça que os outros façam o
mesmo. Em algum momento ela vai se distrair e deixar escapar algo
que pode ser útil. — Suspiro, imaginando que mais um problema

está surgindo. Penso no quanto Killz se saiu um ótimo conselheiro


sugerindo que eu me case.

A vida gosta de nos foder na maioria das vezes, quando


estamos prestes a resolver um problema, vem outro e bate à porta.

— Pode deixar, Carter.

— Dom — chamo-o, quando meus pensamentos são levados

aos Lynch e o Ivanov.

— Sim?

— Tome cuidado. Se algum dos Lynch te procurar, ou se você


se sentir ameaçado de alguma maneira, me ligue, o.k.? Além de

você ser o meu braço direito, é o meu amigo. Tenho os meus


problemas, mas não posso arriscar a sua cabeça para salvar a
minha. Então, se houver algo que te coloque em risco, me avise —

digo.

O filho da mãe gargalha do outro lado.


— Alguma vez me viu fugindo de uma boa briga, meu amigo?
— Seu tom é divertido, mas o que acabo de falar a ele é muito sério
e Dominic sabe disso.

— Ela não é sua, nunca foi, lembre-se disso, Dom. — Levanto-


me e passo a mão no pescoço.

— Não se preocupe, Carter, a morte ainda não me quer —

retruca, soando relaxado.

— Pessoas inocentes não precisam morrer para que eu

alcance os meus objetivos, Dominic. — Meu tom é sério.

— A minha lealdade por meu amigo, meu chefe, pode custar a

minha vida, Carter, você sabe disso. E eu não estou brincando, se


for preciso...

— Faça o que te pedi e se mantenha longe de problemas. Eu

estou tentando resolver alguns assuntos pendentes por aqui, mas

em breve te retorno — eu o interrompo.

— Sim, senhor. E como está a Muriel? — pergunta, fazendo

um sorriso aparecer em meus lábios.

— Está bem, estamos bem. — Sorrio ainda mais.


— Hum, finalmente você deixou de ser um fujão! Felicidades,

cara, vocês merecem. Só voltem aqui com algumas crianças


ruivinhas. — Faz graça e eu gargalho.

— Spencer, é você? — Finjo um resmungo.

— Vá se foder, Carter! — Ele dá risada.

— Até mais, Dominic.

De repente, a nostalgia me bate quando desligo a ligação.

Balanço a cabeça e afasto os pensamentos ruins. Saio do escritório

e sigo para fora da casa para dar algumas ordens aos soldados,

enquanto as duas mulheres fazem sabe-se lá o quê trancadas


naquele quarto há tanto tempo. Como conheço a minha cunhada,

ela e Muriel já se tornaram melhores amigas.

As horas passaram rapidamente, a tarde voou. Me arrumei e

fiquei na sala esperando ansiosamente a minha acompanhante. A


minha aflição em vê-la depois de tantas horas longe é gritante, eu

não me lembro de ter sentido nada parecido antes.


Ficar perto de Muriel, vê-la, tocá-la, acabou se tornando uma

necessidade absurda, não tenho mais controle sobre isso. Não sou

mais dono das minhas vontades há um tempo. Uma certa ruiva de


sardas e sexy e sorriso travesso se tornou a minha prioridade.

— Vai acabar quebrando o pescoço de tanto olhar para cima,

mano. — Os passos se aproximam atrás de mim, nem preciso me

virar para saber quem é.

—Você não disse que tinha negócios a fazer? Esqueceu


alguma coisa aqui? — pergunto, por fim olhando para Spencer, que

já se esparrama no sofá como se fosse o dono da casa.

Olho mais uma vez para o meu irmão com mais atenção e me
arrependo no mesmo instante. Os seus olhos estão avermelhados e

marejados. Ele toca no nariz como se o estivesse limpando, mas

não há nada ali.

— Já fiz e voltei. — Spencer funga.

Eu me aproximo dele, sem acreditar.

— Você usou coca, Spencer? — Seguro-o pelo pescoço com

uma mão e o faço me encarar. Confirmo as minhas suspeitas

quando ele finalmente me olha e vejo suas pupilas dilatadas. —


Desde quando voltou a usar?
Ele bufa e gargalha assim que termino de falar.

— Qual é, Carter? Vai me dar sermão também? Se for, estou


de saída! Não sou nenhuma criança para que vocês fiquem

controlando o meu rabo! — Revira os olhos e me empurra com

brusquidão.

— Antes fosse, Spencer. Tem noção de que essa merda te


prejudica? Há quanto tempo está nessa? — insisto, passando a

mão no meu cabelo.

Spencer ri e balança a cabeça, indignado.

— Há um ano, Carter. Voltei a usar em uma festa que fui,


depois de uma corrida na Itália. Mesmo depois de anos limpo,

acabei caindo na tentação. Não resisti, foi mais forte do que eu. —

Sua voz de antes não se compara com a de agora, que é mansa,


triste, como se pedisse socorro. Mas o meu irmão não é do tipo que

aceita ser socorrido quando se trata das drogas. — Não foi fácil,

irmão, tentei lutar contra essa merda toda, mas quando vi já estava

rendido ao vício.

— Os outros sabem? — pergunto, sentindo a minha cabeça

latejar.
— Não, nenhum deles. E não conte. Todos estão felizes,

construíram as suas vidas, tem também os nossos sobrinhos que se

orgulham do tio que tem... — Spencer não consegue terminar a fala,

ele funga com frequência.

Sento-me ao seu lado e toco no seu ombro.

— Você não quer decepcioná-los — acrescento, e ele

assente, cabisbaixo.

— Exatamente, Carter. Eles pensam que está tudo bem,


afinal, não mudei o meu jeito de ser. Sei disfarçar bem, mas hoje

peguei pesado e não quero que me vejam. Posso ficar por aqui?

Não quero ir para casa. Vim até você porque sei que vai me ajudar
sem me julgar. — Spencer nem me olha, está envergonhado.

— Pode ficar, Spencer, não se preocupe. — Dou dois tapas no

seu ombro.

— Obrigado, irmão — agradece, virando o rosto para qualquer


canto, menos para mim.

Ouvimos as vozes das meninas e o som dos seus saltos,

então fico em alerta.


— Vá para o escritório e só saia de lá quando Hailey, Muriel e

eu tivermos saído. Não quero que elas te vejam assim — peço.

Observo meu irmão se afastar, então olho para a escada e

respiro profundamente, tentando suavizar a minha expressão com

um sorriso.

Mesmo que os meus pensamentos estejam em Spencer, fico


sem reação ao ver a minha futura esposa descendo os degraus,

com Hailey ao seu lado. Arregalo os olhos, não reconhecendo a

garota que está diante de mim. Minha cunhada conseguiu trazer à

tona um mulherão que eu já sabia que existia ali. Essa noite ela não
é a minha princesa, mas sim a verdadeira dona da porra toda.

Se Muriel Scott já me tinha em suas mãos, agora me tem aos

seus pés, completamente rendido e apaixonado.


Hailey e eu passamos a tarde conversando e eu pude

perceber que todos temos uma ferida, e mesmo que passe muito
tempo, ela pode se tornar incurável. Ao ouvir um pouco da história

dela, pude perceber que o que passei desde muito pequena não se

compara ao que a mulher viveu. No entanto, me serviu de lição para


entender que nem todas as feridas podem ser iguais, mas que

devemos respeitar a dor do outro, afinal, cada um sabe das suas


dores e só quem as vive sabe o que passa.

Hailey Slobodin é uma mulher guerreira, ela superou todos os

obstáculos, até mesmo os mais dolorosos. Ela dançou descalça

sobre os espinhos que trilhavam o seu caminho e hoje está aqui,


feliz, forte, bem-casada e com filhos lindos e um marido que a ama

muito. Conhecer essa mulher me faz querer ser forte como ela.

A cunhada de Carter foi gentil, não me forçou a me abrir com

ela, mas por mais que não nos conheçamos tão bem, eu senti
necessidade de desabafar com alguém. A minha vida toda só tive
nana, e ter uma pessoa mais jovem com experiências dolorosas me

fez ver a vida de outra forma.

Assim como eu chorei ouvindo Hailey, ela também chorou

quando me ouviu falar como vivi ao lado dos Lynch, até Carter me

resgatar. Mesmo que ambos não desejássemos que isso

acontecesse naquela época, sei que foi o melhor para nós dois.

Depois da nossa longa conversa de desabafos, limpamos

nossas lágrimas, pegamos nas mãos uma da outra e sorrimos. Foi

naquele momento que eu soube que tinha encontrado uma amiga.

Tínhamos dividido não só as nossas dores, mas as nossas lutas

para conseguirmos sobreviver. Conversar com Hailey me fez


entender o porquê de Carter e ela serem melhores amigos. Ela é

uma pessoa incrível.

— Carter te ama, Muriel. Aproveite tudo o que ele está te

oferecendo. Há muito tempo não o vejo assim, depois de tudo o que

aconteceu — sussurra, mas logo se cala ao notar que estamos sob

o olhar do cunhado.

A loira me faz um pedido inusitado. Ela me diz para viver o

meu amor com Carter intensamente, mas que devo cuidar do meu
coração, que sempre devo me colocar em primeiro lugar.

Os olhos de Carter me seguem desde o momento em que ele


me viu descendo os degraus da escada. A cada passo que dou na

sua direção, ele tenta manter aquela postura de durão como se


nada o abalasse, porém, a sua pose dura muito pouco. Ele sorri
para mim e não consegue desviar o seu olhar em momento algum

de mim. Retribuo o seu lindo sorriso com outro.

Em passos lentos e um andar sensual, eu me aproximo dele o


suficiente para sentir o quanto está cheiroso. Carter está arrumado,
a forma como está vestido me faz perceber que o local aonde

iremos não será um restaurante chique.

Segundo Hailey, quando o cunhado dela ligou pedindo ajuda,

ele soube passar o tamanho que visto e o número do meu calçado.


Fiquei surpresa e orgulhosa, não imaginava que ele se atentava

tanto a pequenos detalhes.

— Jamais imaginei que você pudesse ficar ainda mais bonita.

— Carter estende a mão para mim e eu a pego.

Antes que eu possa responder ao seu elogio, um pigarreio

vem de Hailey.
— Carter, Muriel, me perdoem por interromper o momento de

vocês, mas estou indo para casa — diz a loira, meio envergonhada
quando nós olhamos em sua direção. — Tenham uma ótima noite.

— Se despede e nem nos dá a oportunidade de agradecer, porque


sai porta afora às pressas.

Carter leva uma mão ao meu pescoço e vai subindo


lentamente, acariciando a minha pele, até que chega ao meu cabelo
que está preso em um coque alto, com uma suave ondulação e

mechas soltas. Ele me analisa sem pressa, com os seus olhos


ferozes, como se quisesse gravar cada detalhe.

— Eu nunca soube o verdadeiro significado de paraíso até


colocar os meus olhos em você. — Sua voz sai rouca. Ele se inclina

e move os seus lábios em direção ao meu pescoço, beijando-o


suavemente.

— Quero te agradecer pelos elogios, mas assim você não


colabora. — Fecho os olhos, sentindo-me entorpecida. Mordisco o
meu lábio inferior com medo de estragar o batom vermelho-sangue

que estou usando.

— Posso estar parecendo a porra de um egoísta agora, mas


você está tão bonita, gostosa, que eu não quero te deixar passar por
aquela porta para que nenhum fodido olhar masculino caia sobre
você — diz num tom possessivo no meu ouvido ao parar de beijar o
meu pescoço. — E te ver vestida assim — o seu olhar caí no vestido

curto e preto, modelo tubinho com alças finas e um decote em


profundo — aumenta ainda mais o meu ciúme. Não quero que

olhem com cobiça para o que é meu. E você é minha, somente


minha, Muriel. Não quero nenhum filho da puta admirando as suas
pernas, os seus seios, essa bunda deliciosa. Nada, nada do que me

pertence. — Carter segura a minha nuca e dá um sorriso safado,


perverso.

O meu coração vacila com as suas palavras. Pode parecer


loucura, mas a maneira tão possessiva e direta mexe demais

comigo.

— E para onde iremos para despertar tanto ciúme? — arrisco

perguntar ao levar as mãos aos seus ombros e os massagear.

— Para um lugar que nunca foi e nunca imaginaria ir — diz

enigmaticamente.

Eu assinto, notando que ele não vai dizer nada além disso.

O máximo que Hailey me disse é que serei levada a um lugar


diferente, que não precisaria me vestir muito formal. Eu perguntei se
não seria melhor levar uma bolsa para guardar as coisas básicas,
mas ela disse que não irei precisar, nem mesmo o celular. Outra
pessoa ficaria com medo, mas a confiança que tenho nele me faz

querer segui-lo de olhos fechados.

— O.k., já podemos ir? Estou ansiosa para saber como será a

nossa noite — digo, dando um selinho nele.

— Será surpreendente, sereia. Vamos. — Por um instante ele


parece hesitar, mas logo me puxa para fora da casa.

Ao sairmos no carro de Carter, que eu ainda não conhecia,

alguns soldados nos seguem em dois carros pretos. Os homens

estão armados por baixo das roupas formais. Quem não é desse

mundo acha que são simples seguranças.

Já estamos na estrada há alguns minutos, todo o nosso trajeto

é feito em silêncio. Vez ou outra Carter me olha estranhamente,

porém, disfarça com um sorriso e toca na minha coxa e a acaricia.

Balanço a cabeça de leve e dou uma risada.


— O que é tão engraçado que não pode dividir comigo? —

pergunta, com a sobrancelha arqueada.

— Por que eu dividiria se você está fazendo tanto mistério e

não quer me dizer para onde vamos? — retruco, sorridente.

Ele gargalha e aperta a minha coxa.

— Sinto cheiro de chantagem, Muriel. Assim você não irá


conseguir nada — diz bem-humorado, conduzindo o carro com uma

mão só.

Olho para a sua mão tatuada que descansa na minha coxa e

acho sexy o seu gesto, principalmente o fato das suas veias serem
tão saltadas.

— Só acho injusto me levar para um lugar e não me dizer...

Não vou ser hipócrita, confesso que bem no fundo tenho medo

de conhecer o mundo do Carter e não gostar do que vou encontrar.


Apesar de sermos duas pessoas distintas e eu o amar muito, não

sei se consigo passar por cima dos meus limites e aceitar de bom

grado os seus gostos, que por enquanto são desconhecidos para


mim.
— Falta pouco, sereia, prometo que não vai durar muito —

promete.

Carter pisa fundo no acelerador, aumentando a velocidade da


LaFerrari vermelha. O ronco dela é adrenalina pura, e o dono torna

tudo mais excitante. Em qualquer lugar essa máquina atrai olhares,

principalmente com um piloto que costura no trânsito, fazendo meu

sangue ferver. Adoro a sensação do perigo. Os homens do Spencer


tentam nos acompanhar, mas é um pouco difícil. Carter só reduz a

velocidade quando entramos em uma rua cheia de carros de luxo.

Atenta, observo algumas pessoas serem revistadas antes de

entrarem no local com uma fachada enorme de neon, com o nome


“Stricty”.

— Chegamos. — Carter estaciona o carro do outro lado da

calçada.

Por que ele fez tanto mistério para me trazer a um barzinho?


O que deve ter de especial lá dentro? Quando as portas da

LaFerrari se abrem, Carter pega uma Glock de dentro do porta-luvas

e a coloca nas costas, só então sai do carro. Assim que coloco


meus pés na calçada, Carter está ao meu lado, passando o braço

ao redor da minha cintura.


Que tipo de lugar é esse que ele pode entrar armado? Essa

rua não parece ser muito movimentada, a única coisa que vejo são
as pessoas entrando no local.

— É um barzinho? — pergunto, ao atravessarmos a rua.

— Você verá, venha. — Ele me conduz na direção da entrada

do local. As pessoas que estavam do lado de fora quando


chegamos já entraram.

Olho para o lado e vejo os nossos seguranças já a postos.

— Boa noite, senhores — Carter cumprimenta os seguranças

do local antes de tirar do bolso um cartão com a sua identificação e


entregar para um deles.

— Carter James Knight... Um momento, por favor. — Os dois

homens se afastam e falam algo em um rádio comunicador antes de


se aproximarem novamente.

— Algum problema? — pergunta Carter.

— Não, senhor. É que a casa mudou a identificação dos

clientes vips há alguns anos, mas checamos agora que o senhor é


um sócio que esteve ausente nos últimos tempos. Iremos abrir uma
exceção para o senhor — diz o homem negro e alto, muito bonito,

entregando o cartão ao Carter.

— Precisamos revistá-los, faz parte das regras. — Agora o

homem loiro, tão alto quanto o outro, toma a frente e se aproxima de


mim, pronto para tocar no meu corpo.

— Eu sei das regras — diz Carter, me puxando para ele.

— Senhor, regras são regras, temos que revistar os dois —

fala um dos seguranças.

— Eu sei que tem, mas você vai abrir mais uma exceção,

certo? — insinua Carter, com um sorriso arrogante e diabólico.

Os dois seguranças se entreolham e acabam acenando em

concordância.

— Carter, o que é isso tudo? O seu silêncio está me matando

— reclamo.

Ele simplesmente ignora a minha pergunta enquanto é

revistado. Assim que os seguranças terminam o serviço, Carter me


guia para dentro do local.

Stricty não é um barzinho, parece mais uma casa noturna

muito elegante, com muitas pessoas espalhadas que curtem o som


na voz sensual de uma cantora que nunca ouvi.

— Que tipo de lugar é esse? — Olho para cada detalhe do


lugar. Há uma pista de dança, luz negra, sofás espaçosos, um bar

com dois postes de dança e muitas outras coisas. É um ambiente

bem diversificado. Passeio meus olhos por alguns corredores

escuros, com pessoas entrando e saindo. Arqueio a sobrancelha


quando Carter me abraça por trás. Aqui é muito mais espaçoso do

que imaginei.

— Seja bem-vinda a Stricty. Aqui é uma casa de swing. Não é

qualquer um que pode frequentar o local, ela foi feita para pessoas
apenas do submundo.

Arregalo os olhos, espantada com a sua confissão.

— Por Deus, Carter! — exclamo, muito assustada, ao notar

que neste momento estou sendo alvo de olhares de cobiça, tanto de


homens como de mulheres. Presto mais atenção ao local e percebo

que ele diz a verdade.

Uma mulher passa por nós com um homem andando de


quatro, com algum tipo de coleira no pescoço. Abismada, levo as

mãos à boca quando os vejo seguirem para um corredor escuro e

sumir do nosso campo de visão.


Meus olhos se enchem de lágrimas e tento sair dos seus
braços, mas ele não permite, me segura firme pela cintura e encosta

a boca no meu ouvido.

— Se eu dissesse que estávamos vindo para cá você


recusaria, sereia — fala, depois beija a minha nuca.

— Você... O que você é? E o que acha que eu sou, Carter? —

Minha voz falha, lembrando-me o motivo de não poder trazer o meu

celular.

Já li sobre lugares assim, mas nunca imaginei que estaria em

um algum dia. Quando Carter me disse que eu precisava conhecer

o seu mundo, jamais pensei que ele frequentasse uma casa de


swing.

O que ele pretende? Me dividir com outros homens, ou me

fazer dividi-lo com outras mulheres? Confusa, deixo as lágrimas


caírem. Ele sabe que sou virgem, não ousaria fazer isso comigo.

— Se acalme, Muriel, não precisa chorar — pede, me virando

de frente para ele e tocando o meu rosto molhado.

— O que pretende me trazendo aqui? — questiono, com a voz


embargada.
Eu o vejo fechar os punhos, parece com raiva de si mesmo.

— Vamos a um lugar mais reservado. Você vai entender quais

são as minhas intenções, sereia — diz, gentilmente.

— Não, Carter. Como você disse, esse é o seu mundo, não o

meu. — Balanço a cabeça, negando.

Spencer tinha razão, Hailey tinha razão. Muriel me encara,


pálida, assustada, e eu me sinto péssimo por ter passado a
impressão errada para ela. Muriel não deveria ficar com medo de

mim, e mesmo que negue com palavras, os seus olhos demonstram


o pavor que está sentindo.
— Confie em mim, por favor. Há outras salas na casa, vou te
levar a uma mais reservada. Seremos só nós dois — imploro,
decepcionado com as minhas próprias atitudes.

— Posso ser inexperiente, Carter, mas não sou boba — diz,

mas acaba me seguindo mesmo assim.

Algumas pessoas no corredor nos olham com cobiça, loucos

para serem convidados para a festinha particular que não vai


acontecer, enquanto seguimos para um local mais reservado.

Um homem dá um passo para a frente ao passear os olhos


maliciosamente pelo corpo de Muriel, mas eu o ameaço com um
olhar e ele recua, entendendo o meu recado.

— Apesar de ser uma casa de swing, a troca não precisa rolar,


sereia. Ninguém é obrigado a nada. Você pode vir aqui só para

observar, beber um drinque, curtir a noite... Pode tudo, mas nada é


obrigatório — começo a explicar assim que entramos na sala.
Quando ouvimos um gemido, a ruiva ruboriza, acho lindo ver o seu

rosto corado.

— E... por que me trouxe aqui? Você quer me dividir? —

gagueja, envergonhada, quando os gemidos ficam mais altos.

Sorrindo, eu a encosto na parede.


— Vou te contar a minha história, e esse lugar é ideal para
termos essa conversa. Eu sei que você está estranhando, mas

confie em mim — digo e encosto a minha testa na dela. — Há


alguns anos, conheci uma mulher, uma russa linda, experiente,
piloto de corridas clandestinas.

Muriel me encara sem expressão, a sua respiração está quase

ofegante.

— Ela se chamava Svetlana. Tinha os mesmos gostos que eu,


éramos perfeitos juntos, frequentávamos casas de swing em todos

os lugares que íamos. Assim como eu, ela também gostava da


prática do voyeurismo e fazíamos trocas de casais... Éramos dois

aventureiros. Cheguei a pensar que nos casaríamos, construiríamos


uma vida juntos, mas o nosso relacionamento não deu certo.
Quando pensei que nada poderia acabar com o nosso namoro

perfeito, Lana morreu em confronto com o nosso maior inimigo,


Lucke Ivanov. A mulher que eu tanto amei morreu nos meus braços,
há quatro anos, e eu me senti desnorteado, perdido por sua

teimosia, por sua traição. Ela traiu a minha família, mas primeiro a
mim, porque não foi sincera, não me disse o que estava
acontecendo e nem pediu ajuda para lidar com as chantagens

daquele filho da puta psicopata.


Desabafo as minhas dores com ela como nunca fiz com

ninguém. Falo sobre os meus pesadelos, da carta deixada por Lana


que li até dias atrás, que de alguma forma acalentava a minha
culpa, uma que eu nunca deveria sentir. Me liberto de tudo o que me

prendia a Svetlana sob o olhar compreensivo da mulher que eu


amo. O passado não pode voltar, e mesmo que pudesse, não faria
diferença, o meu presente está bem na minha frente.

Trazer Muriel à Stricty serviu para que eu confirmasse o que

imaginava. Os meus gostos existiam com Lana ao meu lado, ambos


gostávamos da putaria e nos sentíamos livres a ponto de fazer a
troca de parceiros, mas com a ruiva é o oposto, quase não consegui

sair de casa ao vê-la surgir tão sexy. Juro que quis desistir, porém,
mesmo que tenha parecido idiota da minha parte trazê-la aqui, foi
necessário. Eu pude ver que só estou conhecendo o amor agora, o

verdadeiro e puro.

— Eu jamais deixaria alguém desse lugar te tocar, sereia.

Sabe por quê? — Entrelaço minha mão na dela, enquanto a outra


levo aos seus lábios. — Porque eu te amo. E quando se trata de
você, me sinto possessivo, me torno um egoísta do caralho. E você

é só minha, sereia. — Ataco a sua boca com um beijo profundo e


ela retribui na mesma intensidade, mesmo ofegante e espantada
com a minha declaração.

Mesmo que o nosso beijo esteja delicioso, solto um gemido


rouco e me afasto dela, olhando em seus olhos e notando que estão

mais claros do que o normal. Ela me quer e eu também a quero.

Eu a pressiono contra a parede e movo os meus lábios para a


sua clavícula, beijo a região lentamente e vou subindo até chegar ao

seu pescoço. Eu chupo, lambo ao mesmo tempo em que levo a mão


para dentro da sua calcinha e introduzo dois dedos em sua boceta,
fazendo movimentos vai-e-vem quando Muriel se abre para mim.

— Eu também te amo, Carter — diz entre gemidos, entregue,

com a cabeça jogada para trás e os olhos fechados.

Seguro no pescoço dela e a faço me encarar. Ao sentir o


quanto está molhada para mim, eu aumento a velocidade dos meus

dedos e procuro a boca da ruiva para beijar. Pego-a no colo sem


tirar meus dedos de dentro dela, que começa a tremer, mas não
paro de masturbá-la.

— Goze, meu amor — peço, roçando a minha boca na dela

entreaberta. Muriel crava as unhas afiadas no meu pescoço e goza


em seguida.
Estou com o pau duro e cheio de tesão só de vê-la gozar na
minha mão. Faz um tempo que não transo, e mesmo que esteja

louco para fazê-la minha mulher, uma casa de swing não é o lugar
ideal para tirar a virgindade dela. Muriel merece ter a sua primeira
vez em um lugar decente.

— Vamos sair daqui, vou te levar a um lugar especial. — Saio


de dentro dela e levo meus dedos à boca, chupando seu néctar sob

o seu olhar quente. Dou um beijo nela antes de a puxar para longe
dali.

Muriel Scott conheceu o mundo que hoje estou abandonando


e que achei que fosse meu. Estou deixando na Stricty o que restava
da falecida, não faz sentido viver em um mundo onde não me

encaixo mais.

Cada relacionamento é diferente do outro, e eu não estou


disposto a dividir a minha sereia com ninguém, e nem vou obrigá-la
a vivenciar o que não gosta. Nunca mais quero ver os seus olhos

assustados como estavam mais cedo. Teremos a nossa própria


história, vamos começar do zero essa noite, quando eu a pedir em
casamento.

Seremos somente ela e eu.


A caminho do galpão que fica próximo ao porto, dispensei o
serviço dos homens do Spencer. Desde a nossa saída da Stricty,
Muriel está calada, pensativa, não sei se deveria me preocupar com

o silêncio dela. Ela gosta de conversar, odeia ficar calada, a ruiva é


o meu oposto.

— Você está bem? — pergunto, tocando na sua mão.

Ela olha para mim e dá um sorriso fraco.

— Uhum, estou sim. — Balança a cabeça de leve e pisca para


mim.

— Vem, sente-se aqui. — Bato nas minhas coxas ao colocar o


carro no piloto automático e levantar o teto para que possamos ter

mais espaço.

— Carter, você é louco. — Ela se engasga, mas sorri,

adorando a ideia.

— Vem, sereia — digo, maliciosamente, empurrando o banco

do condutor um pouco para trás.


Muriel me encara incerta e olha ao nosso redor, desconfiada,

como se alguém pudesse no ver no meio do nada.

— Você realmente é louco.— Ela cede e se senta no meu colo


com o carro em movimento.

Provocante, Muriel se esfrega no meu pau por cima do tecido

da minha calça, então respondo a sua provocação apalpando a sua


bunda com força e desfazendo o seu penteado, deixando o seu
cabelo voar com o vento.

— Eu sou louco sim, mas por você. Agora me ajude a tirar a

sua calcinha. — Enfio as mãos por baixo do seu vestido e seguro


nos dois lados da peça de renda.

— Não, senhor. Você está sempre me fazendo gozar e não

me pede nada em troca. Acho que você merece ser recompensado.


— Ela lambe os lábios sensualmente e abre a minha calça, tirando o

meu pau para fora da cueca. — Eu quero que você goze na minha
mão, Carter. — Meu pênis engrossa quando Muriel o segura com
força e começa a fazer movimentos para cima e para baixo.

— Caralho... Que delícia — rosno, jogando a cabeça para trás


e sorrindo.
Muriel beija o meu pescoço, morde e chupa, ao mesmo tempo
em que me masturba. Ela pega a minha mão e a coloca por baixo
do seu vestido, então sinto o quão molhada está a sua boceta por

cima do tecido da calcinha.

— Me fode com os dedos, Carter — pede, no meu ouvido,


lambendo a pele sensível em seguida.

Estou quase gozando na sua mão macia.

Afasto a calcinha para o lado antes de enfiar os dedos na sua

boceta lisinha e quente. Começo a masturbando lentamente e a


castigo ao estimular o seu clitóris. Ela geme alto, revirando os olhos
e tentando controlar a respiração ofegante.

Uso a outra mão para descer o zíper do seu vestido e deslizar


as alças por seus ombros. Não demora muito para ter um dos seios
da ruiva em minha mão. Junto os dois mamilos pequenos e os

aperto, aumentando o seu prazer, enquanto fodo a sua vagina.

— Ahh... Estou quase, Carter — ela geme, se esfregando em


meus dedos.

Muriel recupera o fôlego e volta a me masturbar

freneticamente. Alcanço o clímax e gozo chamando o seu nome,


logo em seguida é ela, que goza implorando por mais.
— Quando estamos juntos nos tornamos dois insanos. —
Sorrio de lado, coloco o pau para dentro da cueca e subo o zíper da

calça.

— Isso é bom, não é? Eu amo cometer loucuras ao seu lado,

principalmente quando estamos confiando as nossas vidas em um


piloto automático.

Solto um palavrão ao ser lembrado que o carro está em


movimento, então o desligo, ouvindo a risada gostosa de Muriel
preencher os meus ouvidos.

— Está vendo como eu fico ao seu lado? Esqueço de tudo ao

nosso redor, sereia. — Finjo um resmungo ao tirar os fios


avermelhados que estão grudados em sua testa.

— Somos dois. Quando estou em seus braços eu esqueço de

tudo, Carter, até mesmo dos problemas — diz, me beijando e


acariciando o meu rosto.

— Sereia, não sei como você imaginava esse dia, mas acho
que agora é o momento perfeito para te fazer um pedido. —

Entrelaço nossas mãos e puxo as suas até a minha boca,


depositando um beijo em cada uma antes de tomar coragem para
seguir em frente. — Eu gostaria muito que esse pedido fosse feito
em uma ocasião diferente. Muriel Scott, você aceita se casar

comigo?

Os olhos esverdeados ficam arregalados.

— Carter... — Ela estremece, não acreditando no que acaba


de ouvir.

Respiro fundo e sorrio, puxando-a para um abraço e


encostando a minha boca em seu ouvido.

— Casa comigo, sereia? — peço, ouvindo um soluço vindo


dela.

Muriel se afasta de mim, a sua reação é o oposto do que eu


pensava.

— Sim, é claro que sim. Eu te amo, e ouvir você me pedir em


casamento é tudo para mim, meu amor. — Ela ri entre as lágrimas

que descem por suas bochechas.

— Ainda não tenho um anel para você. — Passo os braços

por sua cintura fina.

— Isso é apenas detalhe, o que importa é isso aqui. Os

nossos sentimentos. — Aponta para o meu coração e depois para o


dela.
— Você tem razão — concordo com ela, admirando a sua

beleza, o seu sorriso bobo que acho tão lindo. Meu ego fica ainda
maior ao saber que o causador dele fui eu.

— Você acaba de me pedir em casamento, Carter, então eu


também posso te fazer um pedido especial, certo? — pergunta, com

os olhos brilhando.

Assinto, em silêncio.

— Essa noite eu quero que me faça sua, eu quero transar com


você — diz, levando as mãos à minha barba e a acariciando. — Se

quer que eu seja a sua mulher, primeiro você precisa ser o meu
homem... Me faça sua esta noite.

— Será como você quiser, futura senhora Knight. Você quer


voltar para a casa ou podemos ir ao galpão? — Roço meus lábios
nos dela.

— Eu quero ir até lá, já estamos no caminho, não é? Não


importa onde a nossa noite vá terminar, o meu único desejo é que

você esteja ao meu lado — fala, decidida.

Ela sai do meu colo e se senta no lugar de antes.

Piso fundo no acelerador, nos levando para longe dali.


Em poucos minutos chegamos ao nosso destino. Não há

homens fazendo a segurança, mas as câmeras estão ali como


sempre, e os sensores também. Por um lado, fico satisfeito por não
ter ninguém para nos interromper.

— Seja bem-vinda à minha segunda casa — digo, ao terminar

de digitar a senha de acesso do meu galpão.

Todas as minhas máquinas estão ali, como eu havia deixado.


Não mudaram nada. Pelo visto, meus irmãos devem mandar fazer a
limpeza do local, não está empoeirado e a ventilação está ótima.

Nesse lugar ficam todos os carros que possuo, é ideal para a minha
coleção.

— Estamos no paraíso? — ela pergunta, animada, assim que


saímos do carro.

— É o meu paraíso pessoal, ruiva. — Sorrio ao passar os


dedos no capô vermelho da Ferrari 250 , é uma mais rara. Eu a
ganhei em uma corrida há dez anos. O ex-dono dela tentou fazer
um acordo comigo, mas foi em vão, eu estava de olho nela antes
mesmo de ganhar a corrida.

— Essa é uma McLaren 720S Spider? — Muriel se põe ao


meu lado e observa a fileira de carros.

— Uhum, é sim. — Me coloco atrás dela e a abraço.

— Já que vamos nos casar, tudo isso será meu, não é? —

indaga, de uma forma engraçada.

Eu gargalho, escondendo o rosto na curva do seu pescoço.

— Estou quase achando que o seu amor não é por mim, mas
por meus carros — brinco, bem-humorado, e ela ri.

— Eu amo você e os seus carros, que mal faz? Estou fazendo


um bom negócio, sr. Knight. — Dá de ombros, ousada.

— Sua pequena interesseira. — Beijo o seu pescoço e ela se


arrepia.

— Uhum, não discordo. — Muriel se vira para mim, coloca os


braços em volta do meu pescoço e sorri. O seu sorriso é angelical e
ao mesmo tempo pervertido.

— Você é a minha perdição, sua diaba. Como consegue me

desestabilizar tanto? — Levo a mão ao seu rosto e vou subindo


meus dedos até a sua boca. Muriel sorri de maneira desafiadora
contra a minha pele. Entreabrindo os lábios e colocando a língua
para fora, chupa um dedo e depois o outro.

Assisto ao seu gesto e fico louco, o meu pau endurece,

apertado na calça. A sua insinuação com os meus dedos enfiado na


sua boca dá espaço para que eu imagine várias sacanagens.

Muriel me olha nos olhos antes de parar de me atiçar e ver a


minha mudança de expressão. O meu olhar suave foi substituído
por um maquiavélico e lascivo.

— Sereia, sereia... você está pisando em um terreno perigoso.


— Eu a puxo para mim e roço o meu pau na barriga para que veja o
efeito da sua provocação.

— Eu quero que você me coma, faça amor comigo — pede,

com a voz baixa, sedutora. Ela passeia as mãos por meu peitoral
por cima da camisa e lambe os lábios, me atraindo. — Não me
importo de fazermos amor no chão, no capô de um desses carros
ou em qualquer lugar desse galpão. O meu primeiro homem tem
que ser você, basta que seja você e já será especial para mim.
Carter James Knight, eu me guardo para você desde o dia que

comecei a te amar. É você que escolhi para me fazer mulher.


As suas palavras me atingem em cheio. Muriel infla o meu ego
ao dizer que fui escolhido para tirar dela algo que só deve ser dado

a um homem se for realmente especial na vida de uma mulher. Eu


me sinto a porra de um sortudo em saber que ela confia em mim a
ponto de me entregar a sua virgindade.

— Escolha um desses carros, faremos que essa noite se torne

memorável. — Eu a viro de costas para mim e ouço o seu suspiro


ofegante.

— Confio no seu bom gosto, escolha você. — Ela olha para


mim de relance, ansiosa.

Seguro-a pela mão e a puxo na direção da primeira fileira a


nossa direita, até que paramos ao lado da Ferrari 308 1978, um
clássico. Ele está parado na frente de todos.

— O que acha deste? — pergunto, já com as mãos no zíper


pequeno do seu vestido, descendo-o lentamente. Meus olhos

passeiam pelas sardas sexys das suas costas. Hipnotizado, seguro


todo o seu cabelo longo com uma mão e passo para o lado do seu
pescoço, depois me inclino e beijo a sua pele cheirosa.

— É perfeito — responde-me, em um tom baixo.


Com a ajuda de Muriel, tiro o seu vestido e depois a calcinha,
jogando as peças dentro do carro. Ela fica apenas com as sandálias
de salto fino e transparente. A visão que tenho dela é perfeita – seu
cabelo solto está bagunçado, selvagem, e os mamilos enrijecidos e

a boceta bem depilada.

Eu a seguro pelos cabelos e beijo a sua boca, lambendo seus


lábios, mordendo e chupando. Ainda nos beijando, eu a deito no
capô e tiro o seu salto, então ela abre as pernas e eu me encaixo

nela, roçando meu pau em sua vagina molhada. Muriel gosta da


fricção que faço em seu sexo, então se movimenta como se
estivéssemos realmente transando, ela se esfrega em mim por um
tempo até que goza no meu jeans.

Sorrio, pervertido, quando a vendo me encarar com ganância,

anseio. Levo uma mão ao seu pescoço, aperto de leve e vou


descendo entre o vale dos seios até chegar à sua boceta. Abro os
seus lábios vaginais, passo os dedos por sua lubrificação e deslizo
até o clitóris, deixando-a mais úmida e mais excitada, com o
grelinho latejando de tesão.

Subo o seu corpo mais para cima e me abaixo, abocanhando


a sua boceta, lambendo da sua vagina até o seu cu. Depois subo e
puxo o seu grelo entre os dentes, chupando com vontade, enfiando
os dedos nela e intensificando a masturbação. Tiro os dedos de sua
boceta e coloco nos seu ânus. Muriel arqueia a costas e se
contorce, gemendo com minha língua e dedos dentro dela. Arfante,
lambuzada, suada e trêmula, Muriel fricciona a boceta no meu rosto
e eu lhe dou mais, em pouco tempo ela explode em um orgasmo

intenso.

Percebendo que ela já está pronta para mim, afasto-me dela


para que se recomponha e começo a me livrar das minhas roupas.
Antes de jogar as minhas roupas dentro do carro, eu pego a

camisinha no bolso da calça e dou a Muriel, que morde os lábios e


encara o meu pau reto, grosso, com as veias saltadas, que está
implorando para entrar na boceta dela.

— Abra e coloque em mim — peço, aproximando-me dela. Ela


se senta no capô ao mesmo tempo em que leva a embalagem do
preservativo aos dentes e a rasga.

O meu pau duro bate no queixo dela, então Muriel sorri


maliciosa, segura o meu pênis com uma mão, passando a língua na
cabeça rosada e lubrificada. Ela ameaça colocar na boca, mas não
o faz, só o cobre com a camisinha e depois pisca para mim,
acendendo ainda mais o fogo que há entre nós.

— Você quer por cima ou por baixo, sereia? — Seguro na sua


coluna para servir de apoio para ela, depois pego uma das suas
pernas e beijo lentamente.

— Por cima. — É tudo o que eu preciso para trocá-la de

posição.

Sento-me no capô e o carro fica mais baixo, então Muriel


passa as pernas de cada lado do meu tronco e fica de joelhos na
minha frente, aproveito para alisar a sua bunda e apertar a carne
firme. Beijo e passo a língua nos seus mamilos durinhos, então a

ruiva segura no meu pau com uma mão enquanto a outra apoia no
meu ombro. Muriel encaixa o seu sexo no meu e vai descendo
vagarosamente. O nosso primeiro contato me faz soltar um gemido
rouco, enquanto Muriel me encara com os olhos lacrimejados e
choraminga. Quando penso que ela vai desistir por estar sendo

alargada por ser tão pequena, a ruiva desce com tudo e solta um
gritinho de dor, me pegando de surpresa.

Eu a abraço e beijo o seu rosto molhado, dizendo que logo a


dor vai passar. Assentindo, Muriel respira fundo, procura a minha
boca e me beija apaixonadamente, então retribuo com carinho para
que possa ficar mais relaxada.

Ela se recompõe e, em um movimento lento de vai-e-vem,

bastante torturante para mim, a minha sereia começa a se


movimentar. Noto que os seus olhos estão mais escuros e suas
pálpebras semicerradas quando nossos olhares se encontram.

Tomo a inciativa ao ajudá-la a cavalgar em mim ao levar uma


mão às suas costas enquanto a outra fica em sua bunda. Em

poucos segundos pegamos o ritmo e eu solto um gemido alto ao ver


Muriel jogar a cabeça para trás, dizendo o meu nome.

Afundo o rosto entre os seus seios e passo a língua na pele


escorregadia. Quando noto que a ruiva está totalmente entregue,
meto mais fundo na sua cavidade e ela crava as unhas nos meus

ombros e me arranha.

Mordo os lábios, assistindo ao meu pau entrando e saindo da


boceta dela – uma cena quente, pornográfica e gostosa. Arfante e
com o corpo trêmulo, chegando ao meu limite, colo minha testa
suada na dela segundos antes de ouvir Muriel sussurrar que me

ama e me beijar.
— Sereia... — Sinto a sua vagina se contrair no meu pau

quando estoco mais uma vez. Gozo, enchendo a camisinha com


minha porra, mesmo que a minha vontade fosse gozar dentro da
minha futura esposa.

— Céus, Carter. — Ela afunda o rosto na curva do meu

pescoço e treme, então aproveito para acariciar as suas costas.

— Está dolorida? — pergunto, preocupado, beijando o seu


ombro cheio de sardas.

— Uhum, está latejando e ardendo. Mas logo passa, tudo

nessa vida passa, não é? — diz, com doçura.

— Você está se saindo melhor do que eu imaginava — elogio-


a, sorrindo contra a sua pele.

Ficamos calados por alguns minutos, apenas ouvindo a

respiração um do outro e as batidas dos nossos corações no


mesmo ritmo.

— Carter? — me chama depois de um tempo.

— Sim?

Ela se afasta um pouco e me encara, com os olhos brilhando.


— Já que estamos aqui, o que acha de me deixar pilotar uma
dessas suas máquinas? Que tal uma corrida? — sugere, sorrindo de
orelha a orelha.

— Se eu ganhar vou receber o que em troca? — pergunto,


com segundas intenções, fazendo-a gargalhar.

— Está jogando sujo. Você é um profissional, impossível que


eu vença. — Faz careta e me dá um tapa no ombro.

— Não se subestime. Você pode conseguir o mundo e não


sabe, sereia. — Toco em seu rosto e ela sorri lindamente.

— Entre ter o mundo e você, eu sempre vou te escolher,


Carter James Knight — declara, decidida.

Em vez de falar alguma coisa, eu a beijo, dando todas as


respostas que procura de mim.
Muriel e eu voltamos para casa quase na madrugada,

deixamos a nossa corrida para outro dia, ela estava um pouco


indisposta. Mesmo que não quisesse admitir, não era um racha que

ela precisava, e sim de um bom banho, uma bela noite de sono.

Com ela nos meus braços, subo a escada mesmo sob o seu

protesto. Muriel ama ser mimada, ainda mais quando esse mimo
vem de mim. Há pouco passamos pelos homens de confiança do

Spencer, e eles me comunicaram que Spencer tinha ido embora

uma hora depois que saí. O meu irmão acha que fugir de mim e dos

outros Knight será a solução dos seus problemas. Mesmo que

Spencer me ache invasivo, vou ter uma conversa com o nosso


irmão mais velho e com o restante da família. Na situação

deplorável que ele se encontra, devemos nos juntar e o apoiar, se

for necessário, faremos de tudo para o tirar desse calabouço que

entrou.
São muitos contratempos me rodeando, não importa se eu
mude de país, eles vão atrás ou se associam com os outros e

formam uma bola de neve. Tenho certeza de que os problemas na

minha família não nascem, eles reencarnam.

Na volta para cá, percebi que Muriel não estava com o colar

que Rose deu a ela. Pensei em perguntar por ele, mas como eu já

tenho planos e o objeto está incluso neles, fingi que nem notei.
Preciso ser perspicaz, se eu perguntar pelo colar, ela vai ficar

desconfiada e me encher de perguntas para as quais ainda não

tenho respostas. De antemão, preciso descobrir as reais intenções

de Rose, saber de quem ela é informante.

— Estou amando as suas gentilizas, sabia? — diz, assim que


entramos no quarto e eu a coloco no chão.

— Em alguns momentos sou um cavalheiro — retruco, bem-

humorado.

Ela me dá as costas e analisa o quarto que separei para


dormimos. Este é maior e mais aconchegante do que o outro. Muriel

abre um sorriso largo ao encarar a cama king a sua frente, então me

olha por cima do ombro. E basta isso para que eu vá até ela e a

abrace por trás.


— Nada mais poderia ser tão perfeito quanto hoje. Obrigada

por me proporcionar sempre os meus melhores momentos, Carter.


Se pararmos para analisar, você tem sido o primeiro em muitas

coisas na minha vida — diz, alisando o meu braço.

— E se depender de mim, vou ser o único a dar tudo o que


você merece, Muriel — digo, gentilmente.

— Hum, não quero que isso entre nós nunca acabe, mas está

tão perfeito que me assusta demais — murmura, meio distante.

De repente, os meus pensamentos vão para o meu irmão mais


velho e a sua sugestão de um casamento entre mim e Muriel. Ela

não sabe que o meu pedido foi uma ideia vinda do Killz. E se quero
ser feliz ao lado dela, tenho que começar a nossa relação sem

mentiras, porém, se eu contar a verdade, ela vai querer desistir e


dizer que estou me sacrificando por ela estar em perigo.

— A nossa felicidade depende unicamente de nós. O que


temos só vai acabar se um de nós não quiser mais. — Beijo o alto

da sua cabeça e cheiro o seu cabelo.

— Uhum, eu sei. Agora me ajude a tirar a minha roupa, depois

eu te ajudo com as suas — pede, decidida.


Ela se afasta um pouco e eu levo a mão ao zíper do seu

vestido, então aproveito e beijo as suas costas no processo. Em


poucos segundos, a peça cai aos seus pés e a visão que tenho é

maravilhosa. Me ajoelho e tiro a sua calcinha e depois os saltos.


Levanto-me, seguro os seus quadris com força ao vê-la me provocar

ao empinar a bunda e roçar contra meu pau. Excitado, solto um


gemido baixo.

— Provoque, mas depois aguente. — Eu a puxo para perto de

mim pelo cabelo e o prendo em meu punho. Muriel solta um gritinho,


surpresa. — Se não estivesse dolorida eu faria você me pagar por

essa provocação. Estou tentando me controlar, mas você fica me


atiçando ao encostar a porra da sua bunda no meu pau — digo,
dando um tapa na sua bunda, marcando a sua pele branca com

meus dedos.

— Ai... Carter, você é um ogro! E não tente falar por mim. —


Geme, deliciosa.

— Você não está em condições de me ter dentro de você hoje,

sereia. Sei que foi gostoso fazer sexo, quando a pessoa conhece e
gosta acaba se tornando um vício, mas por ora você terá que se
contentar. — Quando saí de dentro dela vi que sangrou um pouco e
a sua boceta estava inchada e muito vermelha.

Por mais que eu queira estender a nossa noite, tenho

consciência de que ela precisa descansar e eu devo respeitar o seu


espaço. Mesmo que eu esteja louco para mandar para o inferno a

minha promessa de tomarmos banho juntos e fodê-la mais uma vez,


eu conheço o meu limite. Querendo ou não, Muriel é uma menina
mulher, e mesmo que não fosse nenhuma virgem inocente, é

inexperiente. E se eu não cuidar dela, ninguém vai, ela só tem a


mim.

— Ao menos vamos tomar banho juntos? — indaga,


desanimada.

— Vamos sim, mas vá na frente, já te encontro. — Sinto um


peso na consciência ao olhar para ela. Algo me diz para contar o

verdadeiro motivo do nosso casamento ter que acontecer às


pressas. Mas não sei se sou capaz de tirar o brilho dos olhos dela e

a expectativa que criou ao redor disso tudo.

— Nada disso. Você está fugindo de mim, eu sei. — Vira-se

para mim e arqueia a sobrancelha, levando as mãos à barra da


minha camisa e levantando-a.
— Vou te provar que não estou. — Eu a ajudo a se livrar da
peça. Ela vai para a minha calça, em poucos segundos estou sem
roupas.

— Agora você é todo meu — diz, passando a língua nos lábios


e me analisando descaradamente nu. A malícia atravessa os seus

olhos ao fixar no meu pau. Ela agarra a minha mão, mas antes que

faça qualquer coisa, eu a coloco por cima do meu ombro e vou na


direção do banheiro.

Entro com Muriel no boxe e a coloco no chão. Ela abre o

registro e água quente cai sobre nossos corpos enquanto o vapor

embaça os vidros. Trocamos olhares e o clima fica mais quente


quando ela traz a sua mão ao meu rosto e passa o polegar nos

meus lábios, colocando um dedo dentro da minha boca. Eu o chupo,

atiçando-a.

— Lembra que eu prometi que cuidaria de você quando

voltássemos? É isso que vou fazer, ruivinha.

Ela assente, hipnotizada.

Faço o nosso espaço se tornar pequeno quando grudo nossos


corpos, meu pau semiereto tocando em sua barriga. Muriel tenta

tocar no meu sexo, porém, eu a impeço ao empurrá-la contra os


ladrilhos da parede. Muriel solta um gemido de satisfação com a

minha pegada bruta em seus quadris.

— Vou dar um banho especial na minha futura esposa. —

Encosto a boca na orelha dela e beijo lentamente por um tempo, até

que a viro de costas para mim.

— Carter...

— Shh... Prometo que será o melhor banho da sua vida — eu

a interrompo, começando a lavar o seu cabelo.

Depois de alguns minutos, estou ensaboando o seu corpo,

antes de a enxaguar lentamente. Acaricio seu pescoço e vou


descendo por seus ombros, fazendo uma leve massagem. Desço as

mãos por suas costas vagarosamente e chego à sua cintura,

deslizando-as para a sua barriga. Vou fazendo um caminho lento até


a sua boceta, e ela responde à minha investida com um gemido

baixinho. Se antes era sensível ao meu toque, agora que a fiz minha

mulher, se tornou mais ainda.

Excitada, Muriel se esfrega em mim, sentindo o meu pau duro


cutucar a sua bunda. Abraço-a por trás e beijo os seus ombros,

subindo por seu pescoço até chegar à sua orelha. Aproveito a sua

sensibilidade e toco no seu seio, acariciando com uma mão


enquanto a outra ainda continua em sua vagina, estimulando o seu

clitóris em um vai-e-vem.

— Vou te dar prazer com a minha boca, sereia. — Desligo o


chuveiro e afasto-me dela, que se vira para mim, fascinada.

Beijo sua boca e depois desço por seu corpo, depositando

beijos quentes e demorados, então ajoelho-me diante dela,

salivando, louco para chupar e provar o seu mel. Arfando, Muriel

segura em meu cabelo com uma mão quando coloco a sua perna no
meu ombro e alcanço a sua boceta.

Enfio o dedo dentro dela, alcançando o seu ponto e ela grita

alto. Para levá-la mais à loucura, eu a chupo ao mesmo tempo que


meu dedo a estimula. Muriel rebola na minha língua e eu passo a

chupá-la com mais vigor, sugando o seu clitóris, fazendo com que

se contorça de tesão. Faço movimentos circulares e ela delira, me


pedindo por mais. Eu a obedeço, adorando ouvir o meu nome sair

alto dos seus lábios. Ora os meus movimentos são fortes, ora

suaves, na medida certa, enlouquecendo-a.

Muriel treme de prazer, soluça e geme baixinho, enquanto


mordisco o seu grelo e chupo com vontade, até que ela vai
relaxando e goza na minha boca. Sugo a sua vagina babada de

excitação, não deixando nenhum vestígio do seu orgasmo.

Levanto-me e ela me puxa pelo pescoço para um beijo, então

nos beijamos com brutalidade e sensualidade. Mordo os seus lábios

e ela morde os meus, é tudo na mesma intensidade. A nossa


entrega não tem limite. Em pouco tempo estamos com as testas

encostadas uma na outra e com a respiração ofegante.

— Carter, eu preciso de você dentro de mim — pede,

carinhosamente, beijando o meu peito.

No mesmo instante, semicerro os olhos e fecho minhas mãos

ao redor da sua cintura.

— Caralho... Assim não tem como me controlar, meu amor. —

Dou uma risada desesperada.

— Eu estou bem, pode acreditar. Só quero que me faça sua

novamente, estou molhada e cheia de tesão — diz, com doçura e

me encarando com os olhos pidões.

— Foda-se o meu autocontrole, sereia. — Eu a coloco com


rapidez no meu colo e encosto suas costas na parede, ligando o

chuveiro para que a água morna caia sobre nós.


Com nossos corpos colados, seguro meu pau e o introduzo

em sua entrada, não a penetrando de imediato, coloco só a cabeça

e ela geme desesperada, jogando a cabeça para trás e respirando

profundamente. Pincelo a sua boceta por um tempo, lubrificando-a


mesmo sabendo que não é necessário. Muriel é naturalmente

molhada.

Ela prende a respiração e eu também quando entro nela com


o meu pênis rijo e pulsante. Lembro-me da camisinha, mas é tarde

demais, não sou capaz de parar. Sou um egoísta do caralho, e

recuar depois de senti-la por completo sem nada nos separando é a

porra do meu Éden.

Estoco mais uma vez, e dessa vez vou fundo, entrando e

saindo dela. Nossas carnes batem, fazendo um barulho alto com o

impacto. Ela crava as unhas nos meus ombros e procura por minha

boca, então dou tudo o que deseja de mim.

Nosso beijo é sedento, molhado e abafado. Eu entro nela

sentindo-a melada e pulsando, então afundo o meu rosto no seu

pescoço e chupo a sua pele branquinha, deixando a minha marca.

A onda de calor ao nosso redor nos faz gemer. Suas pernas


tremem, a sua boceta quente e apertada se contrai, me fazendo
penetrar com impetuosidade. Muriel goza e aos poucos vou

deixando meu jato quente e grosso dentro dela.

Transamos sem proteção, e, porra, foi bom demais. Mas sei

que foi imprudente da minha parte, mais ainda porque não me

arrependo disso.

— Agora vamos tomar um banho de verdade e depois dormir.


Quando amanhecer, eu vou te levar para treinar comigo no galpão

— digo, colocando-a no chão.

Encosto a testa entre o vale dos seus seios e deposito um

beijo ali.

— Hum, ótimo... Realmente estamos precisando — concorda

comigo.

Assim que amanhecer vou providenciar a pílula do dia

seguinte para ela. Em meio a essa desordem, não preciso de uma


gravidez não planejada.
Acordo na madrugada com o corpo trêmulo e os olhos
marejados por conta do pesadelo que tive. Sonhei com a nana, ela
pedia para que eu tentasse encontrar a minha mãe e que eu

contasse ao Carter o nome da mulher que me deu a vida, porque


somente ele poderia me ajudar.

— Nana... — Quase sem voz e com a garganta seca, passo a


mão ao meu lado na cama e o sinto vazio.

Fico tensa ao me virar e não encontrar Carter ao meu lado.

Depois que terminamos o banho, nos deitamos na cama e ele me


abraçou, então caí no sono rapidamente.

Inspiro e expiro, tentando controlar o meu pânico. O pesadelo

que tive foi tão real, que não sei explicar a minha dor. Se ao menos

nana estivesse bem quando me fez o pedido, tudo bem. Mas não foi
bem assim, ela estava nos meus braços, ensanguentada e com a
boca machucada, chorando. Era como se estivéssemos nos

despedindo. Ela me pedia para encontrar a minha mãe, e quando fui


perguntar o porquê, Rose deu o seu último suspiro e morreu em

meus braços.

Me vem a ideia de ligar para nana agora, mas ela deve estar
dormindo e não quero assustá-la. Ela é uma senhora de idade, e por

mais que diga que tem uma saúde de ferro, tenho medo de entrar

em contato em plena madrugada e ela passar mal, pensando que


algo ruim aconteceu. Assim que amanhecer, vou ligar para ela para

matar a saudade.

Coloco meus pés para fora da cama, olho ao meu redor e não

encontro nenhum sinal dele. Preocupada, levanto-me e vou até o


banheiro. Nada. Pego um robe feminino preto de tecido fino e visto

para cobrir a minha nudez.

Olho para a porta de vidro da varanda fechada e penso em ir

até lá, mas a minha intuição me diz que não o encontrarei ali. Saio

do quarto descalça, sentindo o piso frio, então abraço o meu corpo e


desço a escada.

Sigo em direção ao escritório em passos lentos e cuidadosos.

Em frente à porta fechada, ergo o punho para bater na madeira,


mas a voz de Carter me faz parar. É feio bisbilhotar, no entanto, o
seu tom atiça a minha curiosidade, ainda mais quando ouço o meu

nome ser mencionado.

— Irmão, como você acha que está a minha cabeça? Eu nem

consegui dormir direito pensando em como a Muriel vai agir quando

souber que a ideia do casamento veio de você.

O impacto das suas palavras me atinge como se eu tivesse

acabado de levar um tiro.

A sensação é horrível. Dói. Machuca. Sangra por dentro e por

fora. Neste exato momento minhas mãos estão trêmulas, assim

como os meus lábios, e meus olhos ardem.

Sem reação, prendo o meu cabelo e engulo o choro. Não vou

chorar por algo que ouvi por cima, não sou uma menininha, sou uma

mulher, devo me comportar como tal.

Quando Carter me pediu em casamento e declarou o seu

amor por mim achei lindo, foi coisa de outro mundo, pelo menos
para mim. Desde que descobri que o amo, idealizei que em algum

momento de nossas vidas ele perceberia que a única mulher que

poderia ocupar o espaço no seu coração seria eu.


A nossa primeira vez foi maravilhosa, me guardei para ele

porque sabia que ele cederia e me faria sua. Jamais imaginei que
perderia a virgindade em cima do capô de um carro, mas para mim

foi incrível, marcou a minha vida. Carter me surpreendeu a noite


toda, me fez sua mulher, amou cada pedacinho do meu corpo com
intensidade e não me pediu nada em troca. Carter James Knight foi

o homem que sempre sonhei que seria por trás daquela máscara
imponente e gélida. Depositei a minha confiança nele e ele soube

me amar, cuidar de mim nos momentos em que mais precisei. E não


vou cobrar dele algo que está fazendo só para me proteger. O

errado não sou ele e nem ele, ambos somos vítimas do nosso
próprio destino.

Eu deveria me sentir culpada por Carter ter que se casar

comigo para me salvar das garras dos Lynch, mas mesmo que
pareça egoísta da minha parte, não me sinto nem um pouco afetada

pelo verdadeiro motivo do pedido dele. Pelo contrário, me sinto


importante. É como se essa nossa união fosse o certo a se fazer,
por mais que não pareça.

— É claro que eu a amo, Killz, eu já te disse isso. Se eu não a

amasse não nos casaríamos, eu simplesmente a entregaria para


aqueles escrotos e lhe daria as costas. Irmão, eu vou conversar com
ela, mas só depois do casamento, não quero que Muriel desista por

achar que está me aprisionando. — A voz dele é controlada e fria.

Se Carter soubesse que não penso nada disso que ele está

dizendo... Mesmo com a consciência doendo, continuo escutando a


sua conversa.

— Você tem razão, eu sei, mas confie em mim. Às vezes, há


males que vem para o bem. Sim, Killz, obrigado. Por favor, não

esqueça de pesquisar sobre a peça... não, ela não viu que eu


peguei, estava no outro quarto, acho que ainda não se deu conta de

nada... o.k., já mandei por um dos homens do Spencer, logo deve


estar nas suas mãos. Cuidado para não quebrar, esse colar é
importante para a Muriel... pode deixar, vou levá-la comigo, afinal, é

a minha noiva. Até mais, Killz.

Ao ouvir meu colar ser mencionado, minhas pernas tremem e

eu gelo por dentro. Passo a mão no meu pescoço e engulo em


seco. Nana me pediu para não tirar o colar, cuidar da única coisa
que sobrou como lembrança da minha mãe, e eu fiz o oposto. Será

que Carter está desconfiado de mim, ou há algo que eu ainda não


sei? Se ele quisesse encontrar a minha mãe não deveria ser um

segredo, nunca, afinal, sabe o quanto é importante para mim.


Em Dublin, não tive a oportunidade de falar a ele o nome da
minha mãe, uma ligação do irmão dele nos interrompeu e depois o
assunto não surgiu mais. Agora é uma ótima oportunidade. Para

que possamos dar certo, temos que colocar os pingos nos is.

— Carter, sou eu. Posso entrar? — Encontro coragem e bato à

porta.

Mesmo que eu esteja coberta pelo robe, de repente sinto um

frio, principalmente na barriga. É ansiedade. Estou ansiosa.

— Uhum, pode sim, Muriel. — Ele pigarreia do outro lado, não

me esperava aqui.

Entro na sala e o encontro sentado na poltrona, sem camisa e

com o celular na mão. Carter me olha dos pés à cabeça, esperando


que eu me manifeste. Sem jeito, passo as mãos por meu cabelo

solto e respiro fundo.

— Ouvi a sua conversa com o seu irmão...

— O quanto você ouviu? — Ele respira fundo.

— O bastante. — Dou um sorriso fraco. — Por que não me

disse sobre o casamento e o meu colar?


Sua expressão é de completo espanto. Vou até ele, que fica
calado, provavelmente está tentando assimilar o que eu disse.
Carter deixa o celular cair da sua mão, que bate na madeira da

mesa, fazendo um barulho. Ele passa a mão no cabelo, em seguida,


a língua entre os lábios.

— Eu ia te contar, mas não imaginei que você fosse descobrir

antes. — Afasta a poltrona para trás e segura a minha mão.

— Eu sei que se preocupa comigo, Carter, mas quando vai

parar de me tratar como uma adolescente? Eu cresci, você não vê?

Não foi só o meu corpo que mudou, a minha mentalidade também.

— Me encosto na beirada da mesa e toco o seu ombro, enquanto o


observo acariciar a minha outra mão. — Por mais que eu tenha essa

aparência de frágil, pareça ser carente, e talvez eu seja um pouco,

não significa que eu não posso lidar com a realidade, com a


verdade. — Solto um suspiro.

Ele assente, notando que suas ações de alguma maneira me

magoaram.

— Jamais imaginei que pensasse isso. Eu não te acho fraca,


frágil, só tenho medo de que você se machuque — confessa, me

puxando para o colo.


— Carter, eu te amo. Independentemente de qualquer coisa,

você, que diz me amar, tem que ser sincero comigo, porque se você
não for, quem será? Não vou ser hipócrita em dizer que fiquei

chateada ao descobrir que o seu irmão sugeriu o casamento,

porque não fiquei. — Toco o seu rosto e olho bem em seus olhos. —
Tudo o que sempre sonhei foi com esse dia, você me pedindo em

casamento, e mesmo que Killz tenha nos dado um empurrãozinho,

não te julgo. Você me pediu em casamento, certo? Isso é importante

para mim, porque você não é obrigado a se unir comigo só para me


libertar da minha família. Você não tem nenhuma obrigação comigo.

Amor, você já fez até demais por mim. Me deu um lar, uma família,

amor, tudo o que nunca tive.

— Sereia...

Coloco o dedo indicador nos seus lábios, pedindo silêncio.

— Me deixe falar, por favor — peço, baixinho, mas o suficiente

para que ele possa me ouvir. Carter assente e eu continuo. — Se


achou que me magoaria me contando que se casar comigo não

estava inicialmente em seus planos quando viemos para Londres,

você se enganou. Por mais que eu tenha descoberto a verdade


ouvindo a sua conversa, não significa que estou triste ou algo do
tipo, jamais. Estou muito orgulhosa de você, que poderia ter

recusado desde o início a ideia do seu irmão. — Sorrio para ele, que

respira aliviado.

— Você está realmente bem com isso? — pergunta, por fim.

— Carter, acha que eu me negaria a casar com você? —

Arqueio a sobrancelha e ele gargalha. — Eu te amo, e mesmo que o

nosso casamento tenha que acontecer tão rapidamente, estou feliz.

Vou me casar com o homem da minha vida, o meu único amor,


então, por que eu surtaria?

— Muriel Scott, você é surpreendente. — A sua admiração é

evidente.

— Como você pode ver, sr. Knight, eu sou uma mulher e não
uma menininha. Aprenda a se abrir mais comigo, além de ser a sua

mulher, sou sua amiga, a melhor que você poderia ter. — Dou um

selinho nele.

— Obrigado por me entender. Acordou inspirada? — pergunta,

me agarrando e beijando o meu pescoço. O local preferido dele para

atacar.

— Na verdade, acordei porque tive um pesadelo com a nana.


Foi horrível. — Aperto os olhos ao me lembrar de cada detalhe.
Odeio ter uma boa memória.

— Quer me contar? — indaga, atencioso.

— Primeiro me fale como o Killz teve a ideia de nos casarmos,

e depois me conte o que quer com o meu colar — peço, abraçando

o seu pescoço e encostando o rosto no seu ombro.

— Claro.

Carter me conta sobre a conversa que teve com o irmão assim


que chegamos, me diz detalhadamente o que foi conversado, e eu

acabo o entendendo melhor e compreendo o motivo por não querer

me contar quando me fez o pedido de casamento. Não foi nada


monstruoso, entendi o seu lado, achei bonito o fato de ele querer me

preservar.

— Eu te contaria depois do casamento, mas acho que seria a


maior merda feita, mesmo que diga que não ficaria magoada... Sei

que ficaria, eu te conheço — diz, confiante, o que não é mentira.

— Você tem razão, eu ficaria, mas depois ia ver se você

merecia ou não ser perdoado. — Faço charme.— Carter, não pense


que falo essas coisas por te amar e aceitar tudo o que você diz ou

faz, não é isso. Eu só gosto de ver o lado das pessoas para não ser

injusta, e sei que tudo o que está fazendo é para o meu bem. Saiba
que se em algum momento eu tiver que me impor, eu vou, o.k.?

Somos um casal, temos que dividir as coisas um com o outro.

Estarei sempre aqui quando você quiser se abrir comigo. — Beijo o

seu rosto.

— Sim, ruivinha, pode deixar — diz, bem-humorado. — Está

pronta para ouvir o que tenho para falar sobre o seu colar? Talvez

você não goste muito do que vai ouvir, mas me pediu para ser
sincero mesmo que te machuque. — Seu tom fica sério.

Foi o que o pedi, não é? A verdade dói, sempre dói. Eu disse

que estava disposta a ouvi-lo, então seja o que for, preciso saber.

— Sim, pode me falar. — Me ajeito no colo dele e o encaro,


ambos mantemos os olhos um no outro.

— Lembra que você ia me contar o nome da sua mãe? Muriel,

você me disse que Rose deu aquele colar, certo? — Assinto,

ansiosa. — Depois de pensar muito e conversar com o Killz,


chegamos à conclusão que a sua ex-babá sabe mais do que diz, e

talvez ela esteja passando informações sobre a sua vida para

alguém. Eu acho que essa pessoa é a sua mãe, ou alguém que já

foi próxima a ela. Antes de vir para Londres, pedi ao Dominic que
ficasse de olho em Rose, e ele a ouviu conversando pelo celular. A
pessoa pode ser a sua mãe, que nunca esteve morta. Há chances

da sua mãe estar viva e se escondendo do Sinead por medo de


algo. A letra no seu colar pode ser o caminho que estamos

precisando. Enviei o colar para o Killz, meu irmão vai pedir para um

profissional analisá-lo— confessa, me deixando abismada com o

seu raciocínio.

O que me assusta não é saber que Carter colocou o braço

direito dele para vigiar a mulher que me criou desde que nasci. É me

dizer que talvez a minha mãe esteja viva e que Rose mantenha
contato com ela. Mas se a minha mãe estivesse viva, por que ela

teria medo de Sinead? Ele é um monstro, óbvio, mas me deixar nas

mãos daquele homem teria sido demais. É impossível também que


nana tenha me dado o colar... E a carta. De repente, a minha

cabeça fervilha, o pesadelo com nana clareia a minha mente. É

perder tempo contar como foi o pesadelo, o foco no momento é

descobrir o que está por trás de possíveis mentiras contadas por


Rose.

Agora tudo faz mais sentindo. Nana me disse que me

contariam sobre a minha origem e ainda pediu que eu tivesse

paciência com a tal pessoa misteriosa.


— Carter, se eu te der o nome da minha mãe você consegue
descobrir mais informações? A nana me deu uma carta, ela me

disse para abrir quando me sentisse confortável. E contou também o

nome da minha mãe — digo, em um só fôlego, assombrada, com


medo da sua resposta.

— Até mesmo os pequenos detalhes são importantes. Qual o

nome da sua mãe? — Pousa a mão no meu quadril.

— Lidewij, esse é o nome da minha mãe, segundo a nana —


confidencio, como se um peso tivesse saído dos meus ombros. —

Ela não quis me contar o sobrenome, disse que em breve eu

saberia. Foi uma conversa estranha. Mas pelo que entendi, uma
pessoa vai me encontrar para falar sobre a minha origem. Nana

disse que essa pessoa é especial, o que me leva a acreditar que a


minha mãe nunca morreu. Ela disse também que você seria a ponte

para todas as coisas boas que irão acontecer na minha vida. Isso te
lembra algo?

Carter está pálido.

— Lidewij. Você tem certeza?

Assinto, preocupada com a sua reação.


— Você conhece alguém com esse nome, Carter? — indago,
com o coração apertado.

— Sim, eu conheço, Muriel. Mas antes preciso ter certeza —


fala, meio desnorteado, quase distante.

— Quem é? — Fico esperançosa, mas temerosa.

— Vou ligar para a minha cunhada, o braço direito da mãe

dela em Chicago se chama Lidewij. Talvez seja ela, ou não... me


deixe entrar em contato com ela, tudo bem? — pede.

Eu concordo, mesmo que neste instante o meu coração esteja


apertado.

Repentinamente, sinto uma dor no peito e a minha garganta


parece que vai se fechar. A minha respiração falha como se faltasse
ar e meus lábios tremem, uma sensação ruim toma conta de mim

em poucos segundos. Me seguro em Carter ao sentir minha visão


ficar turva.

— Carter... Acho que estou... tendo uma crise de ansiedade.

Ele se levanta comigo em seus braços ao mesmo tempo em

que seu celular toca.


— Porra... O que você tem, sereia? Se eu soubesse que te
afetaria tanto... — rosna, preocupado.

Eu me seguro nele e tento respirar.

— Atenda, veja quem é. Pode ser importante.

Ele volta a se sentar comigo em seus braços.

— Dominic? — Carter atende a ligação.

Assim que o nome de Dom é mencionado, as lágrimas


descem por minhas bochechas.

— Dom... caralho, Dominic. Estou voltando, não saia daí... eu

não sei como vou dizer isso a ela, meu amigo, mas procure alguma
porra de ajuda. Não ouse morrer, seu fodido!

Meu corpo começa a formigar.

— Carter, o que aconteceu? — Tento me ajeitar no colo dele,

mas o pressentimento ruim está acabando comigo.

O que aconteceu com Dom? Por que Carter está com a voz
raivosa e os punhos fechados. Ele me encara e eu vejo a ira
atravessando o azul glacial dos seus olhos, mas a sua feição

suaviza e Carter toca o meu rosto.


—Eu tenho que voltar para a Irlanda, mas você vai ficar aqui
— fala.

Eu nego, reprimindo o meu choro.

— Me diga o que aconteceu! O Dominic está machucado?

Ele desvia o olhar do meu, mas seguro no seu rosto e o obrigo


a me encarar de volta.

— Eu quero te poupar da dor, Muriel. — Por um instante, noto

a voz dele vacilar.

— Carter, por favor, não me diga que aconteceu algo com a


nana. — Meus lábios tremem e eu não aguento reprimir as lágrimas.

— O Tyron ateou fogo na minha casa e matou alguns dos

meus homens, eles lutaram até a morte. O Dominic foi baleado, mas
está vivo...

— E a nana, Carter? Não minta para mim. — A dor volta a


tomar conta de mim, já nem sei se sou capaz de raciocinar direito.

— O alvo do ataque era ela, Muriel. O Tyron a matou. Eu sinto


muito — confessa.

O gosto amargo da minha boca não é tão forte quanto o


choque de receber essa notícia. Saio do colo de Carter
cambaleando, ele tenta me segurar, mas eu o empurro e acabo

caindo no chão. Levo as mãos ao meu cabelo e choro alto, não


querendo acreditar, esperando que seja um pesadelo. Mas ao olhar
para Carter, que me encara com pena e se agacha na minha frente,

eu perco o chão.

Eu realmente perdi o meu alicerce? A minha nana morreu.


Não pode ser.

— Me diz... que é mentira... por favor, me diz — peço, aos

prantos, com a cabeça latejando.

— Eu sinto muito, mas não é. Ela morreu e o Dom está


gravemente ferido. — Ele me puxa para um abraço e beija a minha
cabeça.

Eu deveria ter ligado para ela. Se eu soubesse que isso ia


acontecer, não teria vindo para cá, teria ficado ao lado dela. Por que
não liguei para dizer que a amava muito? Eu fui egoísta. Eu a deixei

lá e vim atrás do Carter, deixei sozinha a mulher que me criou.

— Nãooooooo — grito, desesperada.

Me debato nos braços de Carter. Mesmo que eu o esteja


machucando, ele continua sendo o meu apoio, porque sabe o

tamanho da minha dor. Aos poucos vou me acalmando, mas não


por um bom motivo, a minha visão fica embaçada e começo a ver
tudo ao meu redor escurecer.
— Ela está acordando.

Ouço uma voz feminina ao longe, mas não reconheço. Abro os


olhos devagar, minha visão está um pouco embaçada, o meu corpo
mole e a minha cabeça pesada. O que uma notícia ruim não é

capaz de nos causar. A minha cabeça não dói tanto quanto o meu
coração, que está em pedaços, destruído.

Estou ainda sem acreditar que a pessoa que me deu tudo e

nunca me pediu nada em troca se foi. Uma parte de mim partiu sem

que eu pudesse me despedir.

Observo ao meu redor e não encontro Carter, somente duas


mulheres da família Knight. Estou vestida com uma camisola,

alguém me trocou. Só me recordo de ter apagado nos braços de

Carter, no escritório.
Solto um gemido e pisco algumas vezes, me sentindo meio

atordoada. Tento me levantar, mas me impedem, então volto a me


deitar na cama.

— Ei, vai com calma. A Alessa te deu um sedativo.

Só depois que escuto Hailey me tranquilizo um pouco. Ao

olhar para a morena bonita me encarando preocupada, percebo a


pena em seus olhos. Após uma breve troca de olhares com a loira,

ela se levanta e sai do quarto, nos deixando sozinhas.

Sentada na beirada da cama, Hailey toca a minha mão,


automaticamente a vontade de chorar aparece. Não precisamos

trocar palavras para que Hailey entenda a minha dor. Eu me jogo

nos braços dela e viro o rosto para a parede, deixando as lágrimas


silenciosas caírem.

Choro tanto que os meus soluços baixos se tornam altos. A

amiga de Carter me consola, não julga o meu momento de dor,


respeita as minhas lágrimas.

— Chore, se liberte... pode gritar. Faça o que for te fazer bem,

apenas se liberte — diz, me abraçando, acariciando as minhas

costas.
Posso chorar. Gritar. Fazer de tudo, mas essa minha dor será
eterna, ela irá me acompanhar todos os dias da minha vida. Perdi a

pessoa que pensei que ficaria ao meu lado por muitos anos. Pensei

que nana estaria comigo no dia do meu casamento, e quando eu

tivesse filhos ela cuidaria deles, como cuidou de mim.

Nunca fiz planos que não incluísse nana. Antes de me casar,

pediria a Carter para buscá-la. A minha segunda mãe caminharia


comigo até o altar, me entregaria ao homem que amo, depois

comemoraríamos a minha felicidade. Esse era meu sonho, um que

não poderá mais se tornar realidade.

Sempre soube que Tyron é um doente. Quando quer alguma

coisa, ele cava até o inferno para conseguir, e talvez tenha se


sentido ameaçado ao me procurar na casa do Carter e não ter me

encontrado. Então quis se vingar, me tirou quem eu mais amava –

Rose. Ele foi cruel, atacou o lado mais fraco. Aquele miserável sabia

da nossa ligação, deve ter tirado a vida dela com um sorriso

perverso no rosto.

Ele foi impiedoso, severo, mas como eu poderia pensar o


contrário? Tyron Lynch não ama nem a ele mesmo. Aquela

aberração encontrou uma brecha e se aproveitou do momento de


vulnerabilidade dos homens de Carter. Se Carter estivesse lá, talvez

Sinead não permitisse que o filho invadisse a casa do sócio para


matar seus soldados e ferir o Dominic. O meu pai pode ser tirano,

porém, conhece o terreno que pisa, não se arriscaria tanto atacando


um herdeiro de uma família tão poderosa.

Fungando, afasto-me de Hailey e limpo as minhas lágrimas.

— O... Carter... cadê ele? Como eu vim parar aqui? — Respiro

fundo.

— Uma coisa de cada vez, Muriel. Vamos por partes, o.k.? —


pede e eu assinto. — Você desmaiou quando o Carter recebeu a

ligação do Dominic. Então ele te trouxe para cá e colocou essa


camisola, depois nos ligou e pediu que viéssemos. Eu e Alessa

ficaremos com você até que ele retorne da Irlanda. Antes de ele
partir você acordou, mas estava tão mal e teve uma crise de choro

tão forte, que a minha cunhada teve que sedar você — explica
detalhadamente.

— Carter foi sozinho para Dublin, Hailey? — Sinto a minha


garganta fechar.

— Não. Ele foi com o meu marido e o de Alessa. Killz não


permitiria que Carter fosse sozinho. Eles levaram reforços, não se
preocupe, os meninos sabem se cuidar — a sua confirmação

acalma o meu coração.

— Que bom que os irmãos foram junto. Eu gostaria de ter ido

— murmuro, ao me deitar novamente. — Preciso me despedir da


nana, preciso vê-la uma última vez. — Esfrego a minha testa, que

lateja.

— Carter vai se encarregar de preparar um enterro para ela.

Depois que ele resolver as pendências com o seu... os Lynch, vai


enviar alguém para te levar até a Irlanda para que possa se

despedir dela — revela, me dando um sorriso fraco.

— Hailey, o que o Carter pretende fazer com o Tyron? —


pergunto, com sangue nos olhos, sedenta por uma retaliação.

Se eu estivesse lá, mataria aquele filho da puta do caralho

sem dó e piedade. Olharia em seus olhos e dispararia todas as


balas da arma em seu miolo podre.

Espero que Carter ao menos dê uma lição em Tyron para que

ele nunca mais pense em mim ou tente me tratar novamente como


um negócio para ele. Se ele quiser a aliança do Brends Ivanov que

dê a nossa querida irmã, a princesinha intocável que merece o céu.


Que Carter não suje as mãos matando o Tyron por ter tirado a
vida da nana, mas que ele o torture lentamente e o faça gritar como
uma maricas. A morte do meu querido irmão mais velho deve ser

pior, ele deve morrer da pior forma. A sua morte tem que ser lenta,
dolorosa e agonizante.

— Nem imagino, Muriel, só sei que o meu cunhado está


furioso. Por mais que ele tenha uma personalidade diferente e não
demonstre muito o que está sentindo, pude ver a fúria em seu olhar.

A ira acompanha o Carter desde o momento que ele saiu daqui e te


viu tão vulnerável. — Ela toca na minha perna e me encara. — O

que posso afirmar é que a morte daquela senhora e o ataque na


casa do Carter não ficará por isso mesmo.

— Os outros Knight foram por que querem retaliação? —


pergunto e ela assente.

— Não sei se o que vou dizer vai te magoar, não é a minha


intenção, mas além da Rose ter sido assassinada cruelmente, os

homens do Carter também foram. Estavam apenas fazendo o


trabalho deles e o Tyron chegou invadindo, com muitos homens já
atirando. Os soldados revidaram, mas quase todos morreram.

Dominic levou alguns tiros, mas está vivo — conta.


— O que mais você sabe? Como o Tyron chegou até a nana?
— indago, trêmula.

— Ainda não sabemos. — A pena em sua voz é evidente.

— Certo... Certo. — Lambo os lábios e dou um sorriso fraco.

Fecho os olhos e na minha mente vem a imagem de nana, de


todas as vezes que ela me defendeu dos Lynch, das surras que

Tyron gostava de me dar, das maldades da minha irmã e do


desprezo do meu pai. Eu posso nunca ter tido a minha mãe de

sangue comigo, mas tive uma que cuidou de mim com bravura.

A carta... As últimas coisas que recebi de nana foram a carta e

o colar. Rose me pediu para ler a carta quando me sentisse


preparada, e eu não estou, mas sinto que este é o momento certo

para acabar de uma vez com todas com as minhas dúvidas. Agora

que nana está morta, não tenho como saber mais sobre a minha

mãe, não pela boca dela, então a carta é o caminho certo a seguir.

Depois de algum tempo, decido quebrar o silêncio.

— Hailey, você pode pegar uma carta que está na minha mala,

por favor? Ela está no canto do armário, guardei envelope no lado

esquerdo de um bolso grande — peço, me ajeitando na cama,


encostando as minhas costas na cabeceira.
— Claro. — Ela se levanta e vai até o armário, não demora

muito para encontrar o que quero.

Hailey devolve a mala para o seu lugar e vem na minha

direção com a carta. Cada passo que a cunhada de Carter dá faz

meu coração bater acelerado.

— Obrigada — agradeço gentilmente quando ela me entrega.

— Já que você está mais calma, quer um pouco de

privacidade? — pergunta, educadamente.

— Sim, vou ficar muito grata se puder me deixar sozinha. A

nana me deixou esta carta e... preciso lê-la — falo, olhando


fixamente para o envelope nas minhas mãos.

— Sem problemas. Qualquer coisa que precisar é só pedir,

vou estar com a Alessa lá embaixo — diz e se aproxima de mim,


depositando um beijo na minha cabeça. — Fique bem. Eu sei que

em um momento de dor é impossível que você fique, mas acredito

que Rose cumpriu a missão dela aqui na Terra. Você encontrou um

lar de verdade, uma família que estará sempre ao seu lado. —


Hailey sai do quarto sem esperar por resposta.

Com as mãos trêmulas, abro o envelope selado. Receosa com

o que posso encontrar, paro por um instante, até que me encorajo e


sigo em frente.

A verdade é que não importa quantas pessoas perdemos, a

dor sempre vai existir, nunca estaremos preparados para dizer


adeus. Dar adeus a quem amamos é a parte mais difícil. Dói.

Sangra. Mesmo que eu tente me lembrar só dos nossos momentos

bons, nana deixará um vazio no meu coração.

Na primeira linha do texto reconheço a letra da nana.

Estranhando, sigo com a leitura, mesmo achando que deveria ser


uma caligrafia desconhecida por mim.

“Se você chegou até aqui, é porque criei coragem para te

entregar esta carta, minha pequena. Tentei encontrar várias


maneiras de conversar com você ao invés de escrever, mas não tive

a oportunidade de ser verdadeira com você, como sempre desejei.

Sei que desde criança você desejou saber mais sobre a

mulher que te deu a vida e que supostamente morreu no dia do seu


nascimento e te deixou sozinha com o seu pai. E se a verdade

sobre a sua origem fosse diferente do que você imagina?"

Paro de ler e deixo as lágrimas descerem por minhas


bochechas. Se foi nana que escreveu para mim... Então ela seria a
minha mãe? E aquela história que me contou não passou de uma

farsa? Cheia de dúvidas, volto à leitura.

“Eu começaria com ‘Era uma vez, uma princesa que pensava

ser a plebeia, e os seus irmãos, da realeza’, mas a vida não é um

conto de fadas, muito menos no mundo com tanta violência e coisas


ilícitas. Minha querida, te escrevi tentando ser mais objetiva em te

contar sobre a sua origem. Você não é uma Lynch, nunca poderia

ser, não por causa daquela história de que a sua mãe era uma

vagabunda que dormiu com um homem casado e você foi fruto de


uma gravidez não planejada. Isso é tudo mentira. Desde o dia do

seu nascimento que a sua vida é uma mentira.

Você não é filha do Sinead, muito menos irmã dos filhos dele,

esse é o motivo de tantos maus-tratos. Por isso você não tinha um


espaço na casa deles, na casa que nunca deveria ter sido deles.

Muriel, você não é uma Scott, muito menos uma Lynch, o seu

sobrenome é Gallagher. Esse é seu sobrenome paterno, e o


materno ainda não posso dizer, em breve saberá o motivo de eu

estar te ocultando algo tão importante.”

Abismada, deixo o papel cair no meu colo. Sem querer

acreditar, volto a ler o trecho. Gallagher. Esse é o meu sobrenome.


As insinuações maliciosas do Tyron agora fazem sentido,

principalmente o fato de ele ter tentado me estuprar uma vez. E o

fato de o Sinead nunca ter ligado para mim é uma confirmação do

que nana afirma nesta carta. A minha vida toda fui violada, me
tratavam como um lixo, e eu sofrendo por uma família que nunca foi

minha.

“O seu pai se chamava Rowan Gallagher, ele te amou desde o


dia em que soube que a sua mãe estava grávida. Infelizmente, os

seus pais foram vieram a falecer. O seu pai foi assassinado faltando

dois meses para o seu nascimento, e a sua mãe, quando chegou o

dia para te trazer ao mundo, foi coagida para te entregar ao Sinead.


Desde então, aquele homem te criou como se fosse a filha bastarda

dele. Como ele nunca te apresentou à sociedade, é como se você

nunca tivesse existido para eles.

Muriel, não sou a pessoa certa para te contar como tudo


aconteceu desde a morte do seu pai, mas saiba que escrevo esta

carta como uma forma de tentar me redimir com você por ter

mentido por tantos anos. Eu não poderia abusar da sorte, Sinead


sempre estava me vigiando para que eu não passasse dos limites e

desse com a língua nos dentes. Se eu fizesse isso, ele me mataria e

você ficaria sem alguém para te proteger.


Saiba que para que você não crescesse sozinha, eu tive que

fazer uma promessa à sua mãe e jurar uma falsa lealdade ao


Sinead. Eu tive que mentir, esconder a verdade de você para que os

planos da sua mãe em te resgatar algum dia desse certo.

O que posso te dizer é o básico. Mas a sua mãe se chama

Lidewij, e como já deve saber, ela não morreu. A sua mãe teve que
te deixar um dia após o seu nascimento, foi o que Sinead impôs

para que vocês vivessem. O homem que você pensou ser o seu pai

expulsou a sua mãe da Irlanda quando você nasceu. Ele conseguiu


seguir no poder após a morte do seu verdadeiro pai, que era o

chefe, enquanto ele só um subordinado que se fez de amigo.

Quando Rowan viu, já tinha perdido o poder, e o homem que ele


pensou ser seu amigo tirou tudo dele, principalmente o seu lar.

Sabe a casa onde os Lynch moram? Não é deles, ali viveu por

muitos anos a sua família – os seus pais e a sua avó, a mãe da sua

mãe. Que sou eu. Me chamo Rose Gallagher, sou a mãe do seu pai,
a sua avó, que te ama muito e que se sacrificou para ver a sua

felicidade quando você crescesse.

A sua mãe tinha somente duas escolhas: ir embora com você

e ser morta por levar uma herdeira Gallagher, ou te deixar aos meus
cuidados como uma simples serva na casa dos Lynch. Lidewij e eu
entramos em um acordo e decidimos o que seria melhor para você,

mesmo que não pareça ter sido o melhor caminho a ser seguido.

Mas toda a mentira que construímos ao seu redor não foi por acaso.
A sua mãe um dia voltará para você e poderá te explicar tudo. Ela

pode não ter participado da sua vida pessoalmente, mas eu me

encarreguei de mostrar a ela o seu crescimento, dei o amor que o


meu querido filho não pode te dar, porque perdeu a vida mesmo

antes de te ver nascer, minha pequena. Esse era o seu apelido

desde que estava na barriga da sua mãe. Rowan te deu quando

soube que seria pai de uma menininha. Assim como o seu nome,
Muriel. Muriel Gallagher.

Sei que você deve estar confusa, mas é o que posso te contar.
A sua mãe vai explicar detalhadamente todos os fatos. E se eu não

estiver viva para contar com ela, saiba que morri feliz por ter
cumprido a minha missão. Se eu morri, foi porque estava tentando
te proteger, então tente superar a minha partida e seja feliz. Eu vivi

todos esses anos para você e não quero que você viva os seus
próximos anos em luto. Viva para você, por você, pela sua
felicidade.
Nós poderíamos ter escolhido o poder, uma retaliação, mas do
que adiantaria termos o poder se não teríamos você ao nosso lado,
minha pequena Muriel Gallagher? Você foi a nossa maior

inspiração, querida, tudo o que fizemos foi pensando em você, e


não nos arrependemos.

Não sofra por nunca ter sido uma Lynch, eles não te merecem
e não chegam aos seus pés. Os filhos de Sinead nunca poderiam

ser o que você é – uma verdadeira herdeira. O sangue que corre


nas suas veias é de uma herdeira da máfia, ao contrário deles, que
são uns usurpadores.

Minha neta, não importa o que aconteça, continue usando o


colar que foi da sua mãe, ele é importante para que ela te encontre.
Lidewij está mais perto de você do que imagina. Confie nos Knight,

eles são a sua resposta. Somente eles. Não confie em mais


ninguém. Eles são tudo o que você precisa.

E não coloque a carroça na frente dos bois, se você leu esta


carta e eu já estou morta, não deixe a raiva te dominar e nem o

desespero. Seja inteligente e saiba quando é o momento certo de


agir.
Te amo, minha preciosa.

Com amor, Rose Gallagher, sua avó.”

Não tenho estrutura para lidar com esta carta. Se pensei que
me sentiria bem ao ler, eu me enganei, estou pior. Rose era a minha

avó, ela deu a sua vida por mim. Aquela foi a nossa última conversa
e ela sabia disso. A carta era uma despedida e ela não quis me
dizer, me polpou da dor ao me deixar vir com Carter para Londres.

Há uma parte em mim que está aliviada com algumas


revelações que foram feitas, como o fato de eu não ser uma Lynch,

então Sinead não tem direito algum sobre mim. Ele não pode ter de
volta o que nunca foi dele.

E se esse ataque na casa do Carter foi arquitetado por Sinead


e não pelo filho dele? E se Tyron é o testa de ferro e Sinead o
verdadeiro demônio? Dizem que o diabo se esconde embaixo de

sete capas , e o Lynch mais velho é ele, o que manda e desmanda.


Foi o que deduzi com essas novas informações, mas talvez eu
esteja com a cabeça quente demais para raciocinar direito.
Estou ainda mais abalado com a morte de Rose depois do que
descobri através do meu irmão mais velho. Sinto que tenho uma
parcela de culpa por ter deixado a mulher na Irlanda achando que

ela não era confiável. E a minha suspeita ocasionou em uma


tragédia. Apesar de saber que não sou culpado, a minha
consciência está pesada, mas não teria como imaginar que Tyron

atacaria tão cedo, mesmo já esperando alguma resposta dele para a


minha ida a Londres com Muriel. No fundo, eu sabia que aquele
merda tentaria me atingir, no entanto, não achei que chegaria a

ponto de matar a ex-babá da ruiva.

A conversa que tive com Killz na madrugada me tranquilizou

em relação ao Brends Ivanov, não que ele me preocupe, algumas


balas em sua cabeça e tudo estaria resolvido. Por fim, o Knight mais

velho me deu a resposta que eu procurava. Ezra havia prometido

falar comigo sobre o que conversou com a Viktoria, porém, segundo


Killz, ele não quis me atormentar com um assunto irrelevante, já que

o neto da russa não é páreo para mim e está sob as rédeas dela.
Viktoria confidenciou ao Ezra que Brends está na Irlanda para

chamar atenção dela, já que não o apoia em seus negócios com os

Lynch. E quanto a querer se casar com Muriel ela ficou surpresa,


mas garantiu que jamais aceitará tal coisa do neto, ainda mais

sabendo que a garota já é minha. Ela só pediu que ninguém tocasse

no Brends, ela dará um jeito nele. Mas tudo vai depender de como
será o meu encontro com ele.

O meu irmão me passou informações valiosas sobre os Lynch,

Sinead não está em condições de exigir nada. Killz descobriu os


podres deles e não me escondeu nada.

— Se está me ligando a essa hora deve ser algo muito

importante — falo, assim que o atendo.

Sento-me na cadeira e espero o meu irmão se manifestar.

— Quando ouvir o que tenho para dizer vai me dar razão.

Carter, sei que não me pediu para investigar nada, mas como o

chefe da família, eu me senti na obrigação de abrir os seus olhos.

Sinead para mim é um bosta, não me interessa em nada, mas como

você está disposto a tudo para ter a mulher que você ama ao seu
lado, precisei usar a minha influência para descobrir algumas coisas
que são muito importantes. Depois de tantas tragédias na família,

hoje não pago mais para ver — diz Killz, e eu concordo com ele.

— É a melhor coisa que faz. O que você descobriu? —

Tamborilo com os dedos na mesa.

— Te enviei as informações no e-mail privado. Ligue o

computador, a senha para o acesso ao arquivo é AES128JK. Te ligo

novamente daqui a alguns minutos. Se divirta, ou não — diz.

Em pouco tempo tenho acesso ao e-mail do meu irmão. Ele

me enviou um arquivo nomeado “Sinead Lynch”. Eu o baixo e abro,

então começo a ler as primeiras linhas.

Puta que pariu. Eu esperava por tudo, menos isso. O homem

que Muriel tanto quis que a amasse como filha não é o pai dela, e

sim um usurpador.

Quem diria que a família aberração fosse usurpadora? É uma

revelação e tanto. Nunca desconfiei de algo assim, e jamais me


interessei em saber como Sinead chegou ao poder, fazíamos

apenas negócios e eu não me importava com a origem dele.

Sinead Lynch é um fodido traidor que usurpou o lugar do

verdadeiro chefe da Irlanda depois de o matar em uma emboscada.


E com ajuda de seus apoiadores, ele conseguiu assumir o poder,

matando Rowan Gallagher e expulsando a sua esposa, Maeve


Gallagher, da Irlanda. A minha dúvida sobre o que liga Muriel a este

casal acaba na próxima linha que leio.

“Rowan Gallagher morreu poucos meses antes do nascimento


da primogênita, Muriel Gallagher. Com a morte dele, Sinead Lynch

conseguiu apoderar-se do poder, convencendo os associados e os


homens de confiança de Rowan a ficarem do seu lado. Sinead

coagiu Rose Gallagher e a nora a não assumirem o que era delas


por direito, deixando as duas mulheres desamparadas.”

Não é só esse trecho que chama a minha atenção, o seguinte


também.

“Após Maeve ser expulsa da sua casa, Sinead fez um acordo


com ela e Rose Gallagher, a avó paterna da criança, deixando a

verdadeira herdeira viva e sob o teto dele, para que pudesse ter
certeza de que ela nunca se viraria contra ele. Mesmo que as
chances fossem pequenas de ela destruí-lo, o homem temia que a

menina algum dia pudesse ter conhecimento da sua origem e


reunisse forças para tomar o poder dele, afinal, ela é uma legítima

Gallagher. A sucessora do pai.”


Aquele arquivo que Killz me enviou foi objetivo e necessário.

Através daquele e-mail, eu descobri tarde demais que Rose, a nana


da minha sereia, era a sua avó e não uma simples babá que

dedicou a vida toda a ela. As minhas desconfianças anteriores não


foram em vão, eu sabia que tinha algo de errado, contudo, em

nenhum momento presumi que aquela senhora pudesse ser sangue


do sangue da mulher que amo.

Sempre achei desumano Sinead entregar a filha dele

adolescente para mim como se ela não fosse nada.

Minutos depois, Killz me retornou como prometido e me


perguntou se o que li era suficiente para ter o meu inimigo nas
mãos. O meu irmão foi sábio, me deu de bandeja o maior segredo

dos Lynch, que em breve será a destruição deles.

Por saber que Muriel me procuraria quando não me

encontrasse na cama, pedi ao Killz que deixássemos essa


descoberta sobre a origem dela entre nós. Eu saberia o momento
certo para agir. Se ela tivesse me procurado minutos antes, me

encontraria falando sobre os Gallagher. Agradeci mentalmente por


Muriel ter ouvido sobre o nosso casamento e o colar. A peça não é

mais necessária, já tenho todas as respostas. Descobri o que


ninguém nunca suspeitaria; na verdade, o braço direito de Celeste
Russell, Lidewij Van Daley, se chama Maeve Gallagher.

Mesmo sabendo o quanto Rose é importante para Muriel e o

fato de ela ser avó da ruiva, o que muda tudo, eu não poderia trazê-
la comigo, não antes de resolver assuntos pendentes. Ela está

vulnerável demais para presenciar cenas fortes, não teria estômago.

Todos esses anos poupei Tyron, eu o tolerei por respeito a

Sinead e a nossa aliança nos negócios, só que dessa vez nada me


fará mudar de ideia, estou focado em um único objetivo – dar a

Tyron Lynch o que ele tanto quer. Darei uma resposta à altura. Nem
mesmo se o seu pai implorar por clemência vou recuar. Eles não
merecem o meu respeito, nunca mereceram.

Quando Sinead souber que o maior erro dele e do filho foi


mexer no que está quieto, o velho vai se arrepender. Eles não

perdem por esperar. Eu os tenho nas mãos. O que resta saber é se


o lobo ou a ovelha será sacrificado.

Não vai ser necessário derramar sangue do nosso lado,


Sinead é esperto, vai me dar o que quero sem que a minha família

precise sujar as mãos.


O nosso voo durou um pouco mais de uma hora da Inglaterra
até a Irlanda, e quando pousamos encontramos o caos. Axl e Ezra
estão comigo, Killz ordenou que eles viessem. Spencer está

auxiliando os soldados que logo chegarão.

Encontrei a minha casa destruída, o que restou dela tinha

virado pó. As únicas coisas materiais que não mexeram foram nos

galpões dos carros e nem das armas, somente a casa foi o alvo de
Tyron. O infeliz fez a tarefa dele direitinho. Maldito abutre.

— Ele está com raiva de você, Carter. O moleque fez um

estrago por aqui — fala Ezra, se colocando ao meu lado.

— Agora ele vai descobrir o que é estrago de verdade quando


nos encontrarmos. — Dou uma risada amarga e cerro os punhos.

Aqui se tornou um verdadeiro campo de guerra, alguns dos

meus soldados estão mortos, outros baleados, e os que saíram

ilesos estão tentando lidar com tudo.

— Sou ótimo em fazer menininhas loucas por atenção como

ele chorarem, tenho ótimos métodos, se quiser... — Ezra se oferece.

— Agradeço, irmão, mas eu também posso ser a

personificação do diabo quando quero — digo, observando Axl


examinando alguns soldados que estão estirados no chão.
Um dos meus homens está ensanguentado, mas não está

machucado, estava ajudando os outros junto a Axl. Ele me olha e eu


faço um sinal para que venha até a mim. Dominic não me atende,

não tenho como saber se ele está vivo e onde encontrar o corpo de

Rose.

— Senhores — o homem nos cumprimenta.

— O que aconteceu com o Dominic? Falei com ele tem

algumas horas, mas não o encontro — omito, encarando o meu

soldado.

— Chefe, o Dom foi levado pelo sr. Lynch. O corpo da de Rose

também está com ele. Depois do ataque, eles voltaram e levaram os

dois. Dominic está baleado, não sei se vai sobreviver — fala o

homem, com o olhar baixo. — Até tentamos impedi-los, mas eram


muitos. Me perdoe.

— Não se preocupe. Sinead ou Tyron que esteve aqui? —

pergunto, curioso.

Rose ter sido levada pelos Lynch eu até entendo, mas


Dominic? Como Dom pode ser útil para eles, já que quase o

mataram?
— Quando fomos atacados o pai não estava, senhor. Mas

quem levou Rose e o Dom foi o Sinead — diz o homem.

Olho para Ezra ao meu lado, que provavelmente tem as


mesmas desconfianças que eu.

— O.k., obrigado pela informação. Vá ajudar os outros.

Ele assente e se afasta, obedecendo a minha ordem.

Tyron atirou em Dominic e ateou fogo na minha casa. O fato

de o pai dele levar Rose e Dom significa que esperam que eu sinta
que tenho uma dívida com ele. Mas não dessa vez, quem tem todas

as cartas na manga sou eu.

— Ezra, vamos até a casa dos Lynch. Daqui a pouco Spencer

chega e ajuda o Axl com os outros.

Meu irmão assente e me lança um sorriso perverso.

— Nem precisa pedir, irmão, quero conhecer a boneca

pessoalmente — diz, tirando a Glock das costas, em seguida,

puxando o pente para fora e me mostrando que a arma está


carregada.

O jogo virou e eu sou o dono da porra toda.


Com sangue nos olhos, eu atravesso os portões da mansão
usurpada pelos Lynch, com Ezra ao meu lado.
Surpreendentemente, nenhum dos soldados de Sinead impediu a

nossa entrada. Eles que tentassem.

Parece que o velho está jogando bem, pelo menos é o que ele
imagina. Me deu passagem livre, nem mesmo nos revistaram, e
após o ataque seria normal se me impedissem de ter acesso à casa

para protegerem a família.

— Sinead! Sinead! — Com a voz alterada, chamo o homem ao


entrar na casa e encontrar a sala vazia e silenciosa.

Empunho a minha arma e o meu irmão faz o mesmo. Ezra e

eu nos encaramos ao ouvir passos pesados se aproximando.

Sinead surge ao lado de quatro homens, todos armados. O


velho maldito está com o semblante preocupado, nem consegue
disfarçar o terror ao reconhecer Ezra. Ele sabe do que o meu irmão

é capaz, conhece a história dele. Mas não é só Ezra que ele teme, a
mim também.

— Antes de qualquer coisa vamos conversar, Carter. — Ele faz

sinal para que seus homens se afastem e abaixem as armas.

— Não temos mais nada para conversar, Sinead. O seu filho


mais uma vez invadiu a minha casa, só que foi pior. — Não

contenho a fúria na minha voz. — Tyron matou muitos dos meus

homens, matou Rose e deixou Dominic baleado. Depois do que o


seu filho fez, acha que temos que conversar? — Dou uma risada

sombria.

— Nem tudo deve ser levado para o lado pessoal, Carter,


escute a minha versão e depois pode decidir o que vai fazer —

retruca Sinead.

Quando dou um passo em sua direção, os seus soldados se


sentem ameaçados e apontam a arma para mim, mas mesmo sob a

mira deles me aproximo do seu chefe.

— Mande os seus vira-latas baixarem as armas, porra! Vocês

não estão em condições de me enfrentar — rosno, dominado pelo

ódio.
— Saiam! Só voltem se eu chamar! — ordena Sinead.

Os soldados dele saem porta afora. O pai de Tyron faz um

gesto para que eu me sente, mas eu recuso, já Ezra se acomoda no

sofá como se fosse um velho amigo da família. Ao ver que ele

coloca a arma na coxa, Sinead engole em seco, não estou para

brincadeira e nem o meu irmão, que mesmo que demonstre

tranquilidade está atormentado por demônios. E quando ele decide


libertá-los, ninguém é capaz de pará-lo.

— O que você acha que pode ganhar trazendo Dominic e o

corpo de Rose com você? — indago, impaciente com a sua

enrolação.

Ele está tentando ganhar tempo.

— Carter, me deixe explicar o que aconteceu — fala o mais

velho, calmamente.

— Já te ouvi muito, Sinead Lynch, agora quem deve me ouvir

é você — digo, com o dedo em riste. — O que fez com Dominic?


Você foi buscá-lo para o seu filho terminar o serviço malfeito? —

Sorrio com escárnio.

— Carter, você sempre foi o mais inteligente de todos, ao

menos me deixe explicar o que de fato aconteceu, e o porquê do


meu filho ter chegado ao extremo. — Sinead fica pálido.

— Você está implorando tanto para dar a sua explicação que


eu decidi te deixar falar. Vamos lá, me dê a desculpa da vez. —

Abro os braços e gargalho, desdenhoso.

— Para que fique mais tranquilo, saiba que o Dominic está

bem. Ele foi examinado pelo médico da família e está em um dos


quartos, descansando — se apressa em dizer. Por dentro me sinto

aliviado em ter notícias de Dominic, mas não demonstro satisfação.


— Eu estava fora quando soube o que Tyron fez. Ele agiu sem o
meu consentimento, eu jamais teria permitido. Você me conhece,

sabe que te respeito, respeito a sua família. — Olha para Ezra, que
o encara sem expressão.

O seu discurso de pobre coitado soa tão verdadeiro, que se eu


não soubesse do passado dele cairia em sua mentira. Sinead acha

que me conhece, mas se enganou, nunca me conheceu, vai me


conhecer agora.

— Acha que o seu respeito agora me serve de alguma coisa?


Eu perdi homens fiéis, uma senhora inocente que amava muito a

sua filha, e o meu braço direito quase morreu por causa do seu filho
inconsequente! Por que acha que pode me convencer com essa

conversinha? — Semicerro os olhos, fervendo de raiva.

— Quero pedir perdão em nome de Tyron. Sei que não vai

mudar a tragédia feita, mas como prova da minha revolta com as


ações do meu filho, salvei a vida de Dominic e dei ordens aos meus

homens para prepararem o corpo de Rose para um enterro digno —


fala Sinead, alternando o seu olhar entre mim e Ezra. O velho está
desconfiado.

— Você não fez mais do que a sua obrigação ter prestado

socorro ao Dominic, já que quem fez merda foi o Tyron. Agora


chega, Sinead, abra o jogo de uma vez, me diga logo aonde você
quer chegar com tanta enrolação. — Bufo, irritado.

— Sinto muito por tudo o que Tyron fez, nem sei como corrigir
as coisas. Ele foi longe demais invadindo a sua casa...

— Chega, Sinead! Eu já entendi tudo, chega de ladainha. Eu


não aceito o seu pedido de desculpas, não vim à sua casa para que

tivéssemos uma conversa. — Aproximo-me dele, que fica ereto, e


dou dois tapas em seu ombro.

— E o que posso fazer para reparar esse mal-entendido? —


pergunta Sinead.
Ezra limpa a garganta, meu irmão está prestes a se
manifestar, mas eu faço um sinal para que ele se cale.

— Uma vida pela outra, Sinead. Eu vim matar o seu filho e

todos os homens que foram com ele atacar a minha propriedade.

Os olhos do velho se arregalam e ele se engasga com a


própria saliva.

— Você pode matar todos os envolvidos no ataque, Carter, só

poupe a vida do meu filho. — Ele se levanta, desesperado.

Dou uma risada amarga.

— Por que os outros podem pagar pelo erro do Tyron, sendo


que ele foi o mandante? Eu quero tudo, Sinead, quero a cabeça do

seu filho. Sinead, o mal deve ser cortado pela raiz, e o meu objetivo,
quando voltei para a Irlanda, não foi para que tomássemos um chá.

Me entregue Tyron e os nossos problemas acabam aqui. — A frieza


nas minhas palavras o atinge com força, o velho fica muito mais
pálido.

— Eu deixo você puni-lo, mas matar, não. É pegar ou largar.

— Ergue as mãos em modo de rendição.


Olho para o meu irmão, que sorri de lado. O sorriso de Ezra é
tão sombrio quanto o seu olhar.

— Eu quero a vida do seu filho em troca da paz, Sinead. —

Ranjo os dentes.

— Torture-o, faça qualquer coisa, mas não o mate, Carter.


Esse pode ser o nosso acordo, e não se esqueça de que você está

no meu território — diz Sinead, com a voz vacilante.

Fecho os punhos e solto uma risada alta, diabólica.

— Pois bem, o seu filho vai se arrepender amargamente de ter

mexido com o que estava quieto. Não vou matá-lo, não agora, mas

vou fazer com que queira morrer depois que eu terminar com ele.
Não ouse se meter, você me deu carta branca para castigá-lo. Se

voltar atrás da sua palavra será muito pior, vou entender como uma

traição — ameaço.

O mais velho arregala os olhos ao notar a minha frieza.

— Faça o que tiver que fazer com Tyron, ele merece pagar

pelo que causou. — O miserável está tenso, mas não demonstra,

sabe que eu não brinco em serviço, que quando estou com raiva

ninguém consegue me parar.


— Nos diga em que buraco a sua menininha assustada se

escondeu, Sinead Lynch. Não viemos aqui para passar a tarde com
você, muito menos perder o nosso tempo com um caralho de

conversa que não vai dar em nada — intromete-se Ezra, impaciente.

— Ele está nos fundos da casa, na casa dos empregados.


Tyron está com o Brends e...

— Sei o caminho. Não nos siga, e se algum dos seus homens

tentar nos parar, posso mudar de ideia e mato um por um, nem que

para isso eu tenha que ir para o inferno com eles — aviso-o,


impiedoso. — Você deveria ter colocado um freio no Tyron antes

que ele fosse longe demais. Infelizmente, o seu filhinho se meteu

com o homem errado. Vamos, Ezra — chamo o meu irmão, que se

põe de pé.

Calado, o meu irmão se junta a mim e analisa os cantos da

casa com a Glock empunhada.

— Eu vou com vocês — diz o meu inimigo.

— Nem ouse, ou sobrará para você. Coloque uma coisa na


sua cabeça, Sinead, eu avisei ao seu filho muitas vezes para ficar

longe de mim, mas ele insistiu, então trate de grudar o seu rabo

nesse sofá enquanto eu dou as ordens por aqui. Caso contrário,


você vai se encrencar com a minha família, e eu não quero que os

outros Knight precisem vir até você por um desentendimento bobo

— desdenho.

— Se algo acontecer comigo e com Carter, saiba que Killz fará

isso aqui virar peneira. O nosso irmão está a par de tudo, e você

não vai desejar ser alvo do Knight mais velho — diz Ezra,

encarando Sinead com nojo.

— Eu dei a minha palavra, não dei? — fala o velho,


amargurado.

— Ezra, você fica de olho nele, e se certifique de que o Dom

está mesmo vivo. Eu vou sozinho. — Por fim, decido.

Sinead sozinho pode tentar armar para a gente, acho que


separados somos mais úteis.

— O.k. — meu irmão concorda, com apenas uma troca de

olhar conseguimos entender o outro.

— Se eu demorar, aproveite e tome um chá com o nosso


amigo, ele está muito tenso — zombo, checando o pente da minha

Glock.
— Leve o tempo que precisar, Carter. O Lynch aqui não tem

pressa, nem eu — provoca meu irmão. — Já estava esquecendo,


mande lembranças para o Brends por mim. Acabe com aquele filho

da puta, dê a ele o que tanto estava procurando ao se aliar com o

Tyron para te foder. Coloque aquele puto no lugar dele.

Saio da casa e sigo em passos largos até os fundos. Os

homens de Sinead me olham torto, mas não se atrevem a me

enfrentar. Os que me olham diretamente nos olhos não estavam

com Tyron, enquanto os que recuam me dão a certeza de que eram


cúmplices do filho de Sinead.

Primeiro, vou cuidar do principezinho fajuto, mas quando voltar

derrubarei cada um que achou que ir à minha casa atear fogo e

matar meus homens me faria baixar a guarda para o chefe deles.

Nenhum deles me barra, parece que as ordens por aqui se

espalharam. Sinead é tão bundão que não me deixou matar o filho,

mas me permitiu punir Tyron. Quando ele vir o estado que vou
deixar o seu filho, vai se arrepender, vai ter desejado me deixar

matá-lo.

Do lado de fora, ouço o som de risadas altas. Com um chute,

arrombo a porta e não encontro ninguém, então vou seguindo o som


e acabo em frente à porta de um dos quartos. Eu a abro

bruscamente e me deparo com uma cena podre, só quem tem

estômago forte aguentaria presenciar o que está diante dos meus

olhos.

Na cama está Brends, Tyron e uma garota que conheço muito

bem, mas que vi poucas vezes. É a filha do Sinead. A garota está

nua, o irmão dela está entre suas pernas, chupando sua boceta. A
festa deles está tão boa que nem me notam. O neto de Viktoria está

vestido apenas com uma calça jeans e fumando maconha, o filho da

puta está com a cabeça jogada para trás e soltando a fumaça no ar.

Vou até a caixa de som e desligo, só assim para que olhem na


minha direção. Os três estão chapados, os seus olhos estão

vermelhos.

A garota se afasta do irmão rapidamente, apavorada, se cobre

com o lençol, já o porco do seu irmão gargalha alto e se levanta da


cama, sentando-se na beirada. Despreocupado, ele pega um

charuto e corta a ponta com o cortador, em seguida acende e o

coloca na boca.

— Porra! — exclama Brends, pálido, jogando o baseado no


chão e pisando para apagar. Ele se levanta e fica encolhido contra a
parede.

O filho de Sinead me encara e depois olha para a minha arma.


Ele fuma a porcaria dele e sorri para mim, me provocando. Daqui eu

poderia transformar os miolos dele em peneira com as minhas

balas, mas eu sou mais inteligente e muito melhor do que ele.

Encontro uma poltrona e me sento, avaliando as três pessoas à


minha frente friamente. Fico calado por um bom tempo, até que o

covarde do Brends tenta deixar o quarto. Aponto a Glock para ele e

faço um sinal para que fique onde está.

— Dê o fora daqui, menina — ordeno. A ruiva, que está aos


prantos e em choque por ter sido flagrada, assente e começa a

pegar sua roupa. — Eu disse para sair, e não se vestir. Saia dessa

porra como está! — brado.

Não demora muito para que ela passe por mim.

— Carter James Knight, a que devo a honra da sua presença?

— por fim pergunta Tyron, com tranquilidade, apagando o charuto.

O bandido de merda está se garantindo no pai.

— Vim para conversarmos. — Com um sorriso demoníaco, eu


me levanto e vou até ele, mas antes guardo a Glock nas costas.
— Corajoso você, não? — Gargalha. Enquanto o fodido
desdenha de mim, eu faço uma inspeção no quarto e percebo que o

estúpido não está armado.

— Corajoso é você, Tyron. — Passo a mão na barba e o


encaro com diversão.

— Já quero deixar claro que eu não tive envolvimento algum

— Brends se manifesta, com a voz trêmula.

De relance, eu olho para o cuzão.

— Eu sempre soube que você é um frouxo de merda, Brends.


Desgraçado! — Tyron se levanta com tudo e vai até o neto de

Viktoria.

O primeiro golpe que o filho de Sinead dá acerta o rosto do


parceiro dele, que revida. Fico assistindo à briga, eles rolando no

chão.

— Esse namoro de vocês vai demorar muito? — Pego a Glock


de novo e dou dois tiros para cima, então eles param com a briga.

Os imbecis estão ensanguentados e o punhos machucados.

— Quando eu sair daqui vou acabar com você — ameaça


Tyron, com o dedo em riste.
Brends gargalha e mostra o dedo do meio para ele. Sorrindo,
noto que consegui causar discórdia.

— Você? Seu inútil, eu te disse que não deveria se meter com


esses merdas, mas você achou que eles eram fracos e que ficariam
quietos. — O neto de Viktoria me encara, com os olhos arregalados.

— Saia daqui também, Brends. Chega de brigar com o seu


namorado. O meu irmão está te esperando, o Ezra, você o

conhece? — Lambo os lábios e dou uma risada ao ver o moleque


ficar pálido e tremer. — Dê o fora antes que eu enfie uma bala na
sua cabeça, seu merdinha — ameaço.

Ele corre em direção à porta, sem olhar para trás. Dou três

tiros no rato de esgoto russo — um em cada perna e um no ombro.


Brends solta um grito de dor e cai no chão.

— Filho da puta! — choraminga o russo.

Tyron se levanta e corre até a gaveta de uma cômoda, tirando

de lá uma faca e vindo para cima de mim. Então faço o mesmo que
fiz com o sócio dele, atiro nos mesmos locais. O filho de Sinead cai
no chão, rindo, como se estivesse possuído.

— Como ousa vir à minha casa me desafiar? Acha que os


meus homens deixarão você sair vivo daqui? Daqui a pouco vão
entrar e te matar! — grita, soltando um gemido.

— Deveria ter me matado quando teve a oportunidade — digo,


me agachando ao seu lado e tirando a faca da sua mão. — Agora,
com a permissão do seu papai, vou te matar. Você vai pagar por ter

ateado fogo na minha casa, ter matado meus soldados e a Rose. —


Aproveito que ele está se contorcendo de dor para segurar com
força o seu pulso e abrir bem a sua mão direita.

Tyron tenta se soltar, mas está fraco. Ele arregala os olhos ao


perceber o que estou prestes a fazer. Ele se debate, porém, sou

mais rápido ao enfiar a faca na palma da sua mão, o sangue


vermelho espirrando para cima, sujando o meu rosto e o dele. Meu
inimigo grita e eu gargalho ao ver que está sofrendo, ainda nem

começamos e ele já está chorando.

Olho na direção da porta e noto que o neto de Viktoria já não

está mais ali. Me levanto e coloco o pé na barriga de Tyron, pisando


com força em seu estômago. Ele se contorce, grita, coloca a mão no

rosto e joga a cabeça para trás.

— Acho que a massagem não está tão relaxante, não é? —


Chuto o seu estômago várias vezes, deixando-o vermelho.
O suor do meu rosto desce por meu pescoço. Fervendo de
raiva, continuo chutando Tyron até ver o estrago que as minhas

botas fizeram nele. Ao ver os cortes superficiais, eu paro de chutá-


lo. Chutar é muito pouco para o que ele merece de verdade.

— Covarde. Se eu estivesse armado te mandaria para o


inferno! — ele gagueja e cospe sangue.

Gargalho, guardando a minha arma.

— Você é um fraco, Tyron. Se garante nos seus cães e no


papai. Sem eles você não é nada, nada vezes nada. — Cuspo na
cara dele e volto a me agachar ao seu lado, segurando no punho da

faca e girando-a na carne ensanguentada da mão dele, que cerra os


dentes e deixa as lágrimas finalmente serem libertadas.

Eu sabia que sua pose de fodão não duraria muito tempo.

Arranco a faca da palma da sua mão e seguro em seu

pescoço, apertando-o, fazendo-o tossir e se engasgar. Tyron


continua tentando ser valente, tenta me golpear, porém, falha
miseravelmente.

— Eu te avisei, Tyron, você preferiu me ignorar. Deveria ter me


ouvido. — Me inclino e falo perto do seu ouvido.
Levo a mão ao rosto dele e seguro firme. Passo a ponta da

lâmina em seu rosto, e ele chacoalha assustado. Rindo, faço um


grande “K” em cada bochecha, vendo o líquido vermelho escorrer e
sujar o piso. Tyron tenta encontrar forças para me empurrar, mas

não consegue. O inútil começa a chorar como um maricas. Deixo


que ele pense que está conseguindo se livrar de mim ao tentar se
levantar, mas ele cai de joelhos na pequena poça de sangue.

Sem paciência para o seu showzinho, jogo a faca longe, vou

até ele e dou um murro no seu rosto, derrubando-o de costas no


chão. Eu me abaixo e esfrego o seu rosto no sangue, segurando-o
pelo cabelo, batendo-o contra o piso diversas vezes.

Grogue com tantas pancadas, viro Tyron para mim e o maldito


chora de dor. Rio ao vê-lo tão vulnerável. O filho de Sinead vira o

rosto para o lado e cospe sangue.

— Você... você me paga, Carter... — jura, com a voz

arrastada, fechando os punhos. — Matei e mataria de novo todos. É


uma pena que não consegui matar o seu amiguinho. Se você
tivesse ido sem a sua putinha ruiva, ela sobraria também, mas antes

meteria o meu pau na boceta e cu virgem dela. Eu a comeria até


arrombar o seu útero. Se me deixar vivo, não vai faltar oportunidade
para estuprar aquela vadia. Não sabe o quanto desejo aquela
menina. O meu velho nunca me deixou tocar nela, mas vou mais do
que nunca desobedecer ao Sinead. — Dá risada, mostrando que

perdeu os dois dentes de baixo.

Com os punhos fechados, soco seu estômago e depois o seu


rosto. Faço um belo estrago ao rasgar suas pálpebras com meus
punhos ao ouvir Muriel ser mencionada. Tyron se debate, grita, mas

eu continuo o esmurrando, desfigurando o seu rosto com os punhos.

O desgraçado fica com o corpo mole, os olhos inchados, ele


está quase inconsciente. Me levanto e pego o cortador de charuto,

então me abaixo novamente e seguro a sua mão que não está


machucada. Tyron arregala os olhos e puxa a mão para longe, mas
eu balanço a cabeça e dou um sorriso frio para ele.

— Depois de tanta porrada ainda tem coragem de abrir a boca

para falar asneiras, pequeno Lynch? — pergunto, zombeteiro. —


Sabe, eu não gosto que a história se repita... Eu sou um homem
paciente, Tyron, sou quieto, posso até dizer que sou o mais tranquilo

dos Knight, mas não mexa comigo, não mexa com as pessoas que
eu amo, porque viro um monstro. — Puxo a sua mão novamente e
seguro o seu polegar, posicionando o cortador e cortando o primeiro
dedo. O líquido vermelho jorra, para o meu prazer.

Tyron grita e me xinga, como se as suas ameaças fossem me


afetar. A sua fraqueza está tão transparente que ele chora e treme

como um menininho assombrado.

Depois de cortar o primeiro dedo, sigo para o segundo e mais

sangue é jorrado. Corto o terceiro, o quarto e o quinto, com Tyron


aos berros, os urros preenchendo o quarto. Pego seus dedos
decepados e os levo todos de uma vez para dentro da boca do filho

da puta.

Agonizando, Tyron vomita e chora. Ele está pálido, está

sentindo tanta dor que mija e se caga. Quando o fedor sobe, é a


minha vez de sentir náuseas.

— Vou... te matar, me deixe viver... e vai se arrepender... —


jura, com a voz distante.

Nunca tive planos para deixá-lo vivo. Os Lynch nunca foram


donos desse território. Sinead não pode ficar contra mim, ele é

apenas um tirano que está no poder porque tirou a família de Muriel


dela.
— Talvez eu te deixe viver em outra vida, Tyron Lynch. Isso é
por Rose, meus soldados, Dominic e, principalmente, por Muriel, a

verdadeira herdeira disso tudo aqui. Por anos você a perseguiu,


mas hoje vou dar um basta nesse seu joguinho. — Saco as duas

Glocks das minhas costas e aponto para a cabeça dele, disparando


logo em seguida. Descarrego minhas armas em seu corpo, fazendo
do pedaço de merda uma peneira.

Tyron Lynch está irreconhecível.

Olho para o meu corpo. Me sujei com o sangue podre dele e


não me arrependo de nada. Não me arrependo de ter colocado um
ponto final ao menos em um dos Lynch.

Com as duas armas em meus punhos, eu me viro ao ouvir


passos se aproximando da porta. Sinead e Ezra aparecem

acompanhados dos soldados do meu sócio. O velho olha para o


chão e recua, assustado ao ver o filho morto. Os soldados apontam

as armas para mim, eu arqueio a sobrancelha, esperando que


atirem.

— Você matou o meu filho, eu disse para não fazer isso —

grita Sinead, vindo até a mim.


Aponto a arma para a cabeça dele e o velho desiste de me

atacar.

— O seu filho cruzou a linha, subestimou o meu poder. Eu te


disse, Sinead, que seria uma vida pela outra — digo, olhando para o
corpo de Tyron.

— Você matou um herdeiro dentro da casa dele para se vingar


da morte de simples soldados e uma velha sem valor? Vocês saíram
do território de vocês para morrer aqui? — pergunta, seus olhos

refletindo fúria.

O meu irmão também está sob a mira de armas, mas assim


como eu, ele não se importa. Sabemos que Sinead está em nossas
mãos.

— Não acho que Rose Gallagher seja alguém sem valor,


Sinead, ou você acha? — Passo a língua entre os lábios e solto um

riso baixo ao ver o velho empalidecer. — Coloque os seus


cachorrinhos na coleira e vamos conversar. — Passo por Sinead
tranquilamente, sob a mira das armas.

— Baixem as armas — pede Sinead, controlado, mas raivoso.

— Senhor, estão só os dois, podemos acabar com isso — diz


um deles.
— Sinead, você não vai querer, a essa altura do campeonato,
a fúria de todos os Knight em sua direção, então use a inteligência
que te resta e mande os seus cães recuarem — urro, com as armas

ainda nos meus punhos.

Troco olhares com Ezra e ele faz um sinal para mim como se
dissesse que podemos derrubar todos.

— Tudo bem, você está certo. Uma vida pela outra. Você só

fez o que deveria ser feito para selar a paz — ele aceita, mas sei
que essa redenção não é verdadeira.

Os homens dele baixam as armas.

— Pode ir, eu e Ezra iremos atrás. Não vou correr o risco de

ser surpreendido. — Me aproximo dele e dou dois tapinhas em seu


braço.

Se eu deixasse Tyron vivo depois de arrancar os dedos dele,


depois de o torturar tanto, ele iria trás da minha família e de Muriel

para se vingar. Já vi esse filme uma vez e não pagaria para ver de
novo.

Que Spencer chegue logo com o reforço. Acabo de declarar

guerra a Sinead Lynch.


— E como você acha que eu posso confiar na sua palavra,
Carter? Fomos parceiros por anos, você conhecia o meu filho e o
matou dentro da minha casa! Jogou o respeito que tinha por mim no
lixo ao tirar a vida de Tyron! — retruca Sinead, depois de ter fingido
ter baixado a guarda. — Acha que não presenciei o que você fez?
Brends Ivanov, que também é de uma família muito importante, foi
ferido. Por sorte, ele foi socorrido. — Ele tenta avançar em mim,
mas levanto as mãos em modo de rendição e balanço a cabeça.
— Uma hora ou outra o seu filho morreria. Eu só adiantei a
passagem dele aqui na Terra, meu caro amigo. Mas se você quiser
fazer companhia a ele mais cedo me avise, posso te fazer esse
favor. Quem sabe assim não ameniza a sua dor — devolvo,
deixando-o abalado. — Tyron só atrapalharia os seus negócios
futuros. Não sei se você é burro ou se faz de burro, mas aquele
pedaço de merda queria tomar o seu lugar. — Baixo o tom de voz.
— Você... Não muda o fato de você ter me desafiado dentro
do meu território! — rosna, revoltado.
— Essa porra nunca foi sua, Sinead Lynch. Você sabe do que
estou falando, então trate de ser um bom amigo e escute o meu
conselho. — Faço uma pausa e olho para ele, em seguida para os
seus soldados. — Pare de agir como se estivesse desesperado pela
morte do seu filho. Aquele inútil só te dava dor de cabeça, engula
esse caralho de falsidade e me mostre as suas verdadeiras
intenções!
— Como ousa. Salvei a vida do seu amigo. Mesmo que o
estado dele não fosse muito grave, se eu não o tivesse socorrido ele
teria morrido. — Sinead olha para Ezra, que está ao meu lado nos
observando em silêncio com aquele olhar de assassino.
— E o que achou que ganharia salvando o Dominic? Acha que
eu iria me curvar aos seus pés e te agradecer pelo que fez? Depois
do que Tyron fez com Rose e os meus soldados, era o mínimo que
poderia ter feito! — Aperto a mandíbula, cheio de ódio. — O único
que está em dívida comigo é você. Agora chega de conversa fiada e
faça o que te pedi. Vá na frente com os seus ratos antes que eu
mude de ideia e jogue no ventilador os seus podres.
— O.k. Espero que não se arrependa mais tarde por me fazer
passar por essa humilhação — diz e se vira, fazendo um sinal para
que os seus homens o sigam.
Por enquanto, o meu objetivo é lidar com um Sinead enjaulado
na própria fúria. O velho está tentando conter a sua cólera por estar
se submetendo às minhas ordens na frente dos seus soldados.
Sei que qualquer sinal que ele fizer para os seus homens eles
abrem fogo contra nós e nos mata aqui mesmo, contudo, Sinead
sabe que tem muito a perder. O que ele mais teme em perder é o
seu poder, e está intrigado desde a minha menção a um Gallagher.
Ele teme esse segredo sujo.
Assim como ele, não sou idiota. A cada passo que ele dá com
seus cães, eu e Ezra trocamos olhares. O meu irmão está tão
pronto quanto eu para derrubar nem que seja a metade deles até
que Spencer chegue. Provavelmente o Knight mais novo já está na
Irlanda, a caminho daqui. Pelas minhas contas, Spencer está muito
perto, a nossa festa está prestes a começar.
— Você viu o Dominic, Ezra? — pergunto, com a arma ainda
em mãos.
Os soldados de Sinead estão putos por estarem recebendo
nossas ordens, mas acho que não tanto quanto o chefe deles, que
caminha na direção da casa em passos lentos. Mas ele não sabe
que não entraremos mais lá, não sou burro a ponto de ficar sem
saída ao entrar na casa novamente.
— Sim. Ele está vivo, tem gente cuidando dele. O seu amigo
não estava acordado quando o velho me levou para vê-lo, mas
estranhei o fato de ele estar desacordado, parecia muito dopado —
fala meu irmão, observando cada movimento dos nossos inimigos.
— Em que local ele levou os tiros?
— Um no abdômen de raspão, um no ombro e um na coxa.
Tyron não atirou para matar, se fosse, teria atirado na cabeça — diz
Ezra, baixando o tom de voz quando percebe que um dos homens
do Sinead está atento à nossa conversa.
Paro de andar quando o meu celular vibra no bolso. Coloco
uma expressão fria no rosto e limpo a garganta. Os soldados do
Lynch ficam em alerta, formando uma roda ao redor do líder deles
assim que pego o aparelho e vejo que é a resposta que eu estava
esperando – uma mensagem do Spencer.
Meu irmão e eu estamos em desvantagem por enquanto, mas
não vamos demonstrar isso aos nossos adversários. Nunca. Mesmo
que estejamos no território deles, temos que continuar mostrando
tranquilidade até que chegue o momento certo de aniquilá-los de
uma vez só.
Despreocupado por ter uma carta na manga, avalio um por um
– todos têm fogo nos olhos, dariam qualquer coisa para enfiar uma
bala na minha cabeça e na do Ezra. Leio a mensagem do nosso
irmão.
“Já estamos quase aí, está tudo sob controle. E Kal é nosso
aliado.”
Noto uma movimentação suspeita ao longe. Os soldados que
ficam na entrada do portão enorme e nos muros olham em nossa
direção, mas não deixam a fortaleza. Alguns miram na direção
oposta, onde o meu irmão está vindo.
Fico impressionado com o poder que Spencer tem para ter
levado o Kael para o nosso lado, o soldado de confiança do Sinead.
Antes de vir para cá, pedi ao meu irmão que entrasse em contato
com ele e fizesse uma oferta. Foi arriscado esse plano, porém,
certeiro. Eu sempre soube que o homem poderia me servir algum
dia. Durante muitos anos, procurei aliados dentro da casa dos Lynch
e sabia que algum dia Kael seria útil para mim. Ele e Tyron nunca se
deram bem, estudei a relação dos dois, mesmo de longe, e não era
uma das boas, já que o filho do Lynch sempre queria ser o melhor e
passava por cima de tudo e todos. Foi assim que consegui
conquistar a confiança de Kael o suficiente para ele permitir acesso
livre aos meus irmãos e aos nossos soldados.
Quando Maeve Gallagher tomar o poder de volta vai precisar
de soldados, então, já estou fazendo um favor a ela ao conseguir
aliados irlandeses. Kael tem homens da sua confiança, os atiradores
que não se movem mesmo vendo o que está acontecendo aqui.
— Acham que podem exigir submissão quando estão na
minha casa? Na porra do meu território, Carter? Vocês mataram o
meu filho, um herdeiro! Por que achou que eu, Sinead Lynch, me
submeteria a vocês? Tudo o que construí aqui foi com o meu
esforço, e não serão os Knight que irão tirar isso de mim depois de
tantos anos! — Ele sai da bolha criada pelos seus soldados, mas
antes pega uma arma com um deles. Ezra aponta a Glock na
direção dele e ameaça atirar, então faço o mesmo. — Antes que
atirem, lembrem-se de que o Dominic está sob o meu poder. Ele só
não morreu por minha causa, eu não permiti!
— Claro que não permitiria, o Tyron era apenas uma peça no
seu jogo. — Não economizo a aspereza na voz. A raiva fervilha
dentro de mim, mas não deixo que o impulso me domine. Controlo o
furor que corre em minhas veias e encaro o meu inimigo com uma
frieza que o abala. — Eu não poderia dizer que o Tyron é o testa de
ferro, porque ele era burro demais, entregava tudo quando estava
com poder nas mãos. Ele estava mais para cabeça de vento. Mas
você é uma cobra pronta para dar o bote, Sinead, jamais me
enganou com essa paciência e fidelidade. Aquele ataque não
poderia ter vindo do Tyron, ele era um demônio, de certa forma, mas
não tinha cérebro suficiente para ser o cabeça de um ataque tão
podre quanto aquele. O seu filho teria matado o Dominic sem
pestanejar. — Arqueio a sobrancelha, percebendo que Sinead dá
um sorriso perverso e tira a máscara de bom moço.
— Até que você é inteligente, Carter, não pensei que
descobriria tão rápido quem sempre mandou em tudo. É claro que
aquele idiota do meu filho não seria tão esperto assim. Acha mesmo
que Tyron não tinha medo de você? Claro que sim, mas o que ele
não faria sabendo que eu o manteria a salvo de você. — Ele
confessa tudo, assim como eu imaginei. Enquanto ele não declarar
guerra, ganhamos tempo para conseguir reforços e acabar de uma
vez com essa pose de todo poderoso. Sinead aponta a arma em
minha direção. — Acha que dei aquela ratinha a você em vão? Eu
sempre soube que Maeve não desistiria tão fácil da filha. E o imbecil
do Tyron falhou na missão dele, que era para ter matado apenas a
velha para atrair quem eu quero. Aquele merda estragou os meus
planos. Eu pretendia ter a minha querida filha de volta, e assim,
Maeve sairia dos poderes da Celeste Lewis e viria até mim por
medo de perder a filhinha. Assim eu acabaria de uma vez com o
restante dos malditos Gallagher.
Sinead confirma as minhas suspeitas. Ele sabe onde a mãe
de Muriel estava o tempo todo, mas não agia porque queria atrai-la
para o seu território. Tudo se encaixa. O neto frouxo de Viktoria era
só mais uma peça. Provavelmente um dos informantes dele. A chefe
da Rússia não tinha conhecimento do suposto casamento do neto,
então quer dizer que essa nunca foi a intenção do Brends. Sinead
precisava de algumas pessoas para atrair Maeve. E se Muriel se
casasse com o russo, ele teria Maeve nas mãos, mataria dois
coelhos com uma cajadada só.
O que não esperava era que eu descobrisse que ele é um
demônio tentando se disfarçar de anjo ao acatar as minhas ordens.
Sinead nos queria dentro do seu território o tempo todo, na cabeça
dele, estamos desprotegidos.
— Ezra, espero que você não esteja enferrujado — falo,
ouvindo o primeiro tiro soar e um dos homens a nossa frente cair
sem vida no chão.
— Dominic vai morrer por sua culpa, Carter, a mesma pessoa
que está cuidando dele pode matá-lo — ameaça o velho.
Sem que eu tenha tempo de responder, um carro invade a
propriedade, acabando com tudo. Logo em seguida aparecem
outros, homens altamente armados saem atirando para cima,
derrubando nossos inimigos dos muros.
É tudo muito rápido. O barulho dos tiros se mistura com
passos pesados vindos dos fundos e da frente, nossos soldados.
Ezra e eu começamos a atirar, ele derruba dois de uma vez ao
sacar a outra arma e mirar na cabeça. O meu alvo é Sinead, que é
um covarde, se esconde atrás dos seus homens, que atiram em
nossa direção. Sozinho, jamais daria conta da gente, sem os seus
soldados ele não tem poder, não é páreo para nós. É um inútil.
Os nossos soldados se espalham e começa a carnificina. Em
poucos minutos, o chão limpo dos Lynch se torna uma piscina de
sangue. Meu irmão e eu estamos com nossas camisas e rostos
respingados de sangue dos nossos inimigos. Além de matar com as
armas, meu irmão ataca os inimigos em uma luta corporal. Em
combate, Ezra vira um monstro. Ele toma a submetralhadora de dois
que estão no chão com os miolos estourados e joga uma para mim.
Começo a atirar nos homens, derrubando um por um.
Procuro Sinead e não o encontro, então solto um palavrão,
mas não deixo Ezra sozinho para procurar o velho. Os soldados dos
Lynch que estavam protegendo a entrada são substituídos por
nossos atiradores, que derrubam alguns dos nossos inimigos. De
longe, alcanço Spencer e passo os comandos com gestos. Ele faz
um sinal para o Kael, que assente e junta alguns dos seus de
confiança, que começam a matar os próprios colegas.
Em segundos, Spencer para de comandar e se mistura,
matando quem tenta atacá-lo. Assim como Ezra, ele usa a força
física e acaba com os que tentam o enfrentar. Nunca o vi tão
deslumbrado com tanto sangue, o caçula sorri perversamente.
Mesmo ao longe, percebo que a adrenalina tomou conta do seu
corpo e só vai parar quando ouvir o último suspiro de quem ousar o
desafiar. Spencer aprendeu direitinho com Ezra, ambos são iguais
em ação, matam se vangloriando, com sangue nos olhos.
A minha distração me fode, então recebo uma facada no
ombro. Solto um urro e me viro, o idiota que me atacou não está
com arma de fogo, parece ter habilidade com facas. Há outra em
sua mão, mas ele me olha assustado enquanto sorrio friamente.
Com a faca ainda no meu ombro, eu a puxo e jogo no chão, vendo
meu sangue no objeto. Com o ódio me dominando, eu viro a
submetralhadora e avanço para cima dele.
— Filho da puta! — rosno, ao me virar e dar um tiro na cabeça
dele. — Idiota.
Volto a atirar e chutar os corpos do chão com a minha bota.
Ezra continua matando, assim como nossos homens. Com o ombro
latejando e ardendo, derrubo dois homens que atiram em minha
direção. Notando que estamos no controle e que os soldados que
sobraram de Sinead estão sob os cuidados dos meus irmãos, corro
na direção da casa, porque sei que o velho deixou o melhor para o
final. Ele não tem muita escolha se não se render, mas ainda tem
Dominic, talvez ache que pode fazê-lo de refém para fugir.
Entro na casa em passos largos e me deparo com dois
soldados. Antes que eles tenham tempo de reagir, eu os mato. Com
os homens caídos no chão na poça de sangue que se forma, sigo
para o corredor indicado por Sinead onde Dom supostamente
estaria. O silêncio do ambiente é estranho. Dou alguns passos
assim que ouço vozes quase em sussurro.
— Estava achando que iria me trair, sua vadiazinha? Como
ousa pegar o nosso inimigo e tentar fugir, Kira? Aqueles merdas
mataram o seu irmão e estão nos atacando agora. Acha que os
Knight vão te deixar viva? Uma porra de um Lynch vivo? Eles vão te
transformar em uma puta e te jogar em qualquer puteiro, sua
vagabunda! — Sinead diz.
— Pare, pare com isso! O senhor é podre, não diga que
aquele monstro era o meu irmão. Ele abusou de mim todos esses
anos, e temendo por minha vida eu tinha que abrir os dentes para
Tyron e sorrir... Por medo de ele me matar... Fora as surras que ele
me dava, me ameaçava, me obrigava a fazer coisas que eu não
queria! O senhor via e não falava nada... Como pôde deixar isso
acontecer? Sou sua filha, sua! — Ouço o grito da garota. —
Entregar esse homem aos Knight seria a minha salvação, assim me
livraria do senhor, que é pior do que o abutre do seu filho. Que ele
queime no inferno. Espero que façam o mesmo com você, Sinead.
Eu te odeio e invejo a minha irmã por ter sido dada a um Knight, ao
menos eles são melhores do que você. — Kira chora alto.
Eu me aproximo mais em passos silenciosos e vejo a porta
aberta. A garota está segurando Dominic pelos ombros, ele parece
alheio a tudo.
Poderia dizer que é encenação de pai e filha, mas a garota
arregala os olhos e fica pálida ao me ver. Peço silêncio e ela engole
em seco. Sinead está armado e aponta a arma para a cabeça da
própria filha. Ele está tão dominado pela raiva que nem nota o
quanto estou perto.
— Você não me deu outra alternativa, Kira, vai ter que morrer
igual a sua mãe, aquela fraca. Morreu porque foi burra, quis ficar do
lado dos Gallagher. Tive que dar um fim nela — fala o velho,
sombrio.
Noto que ela fica confusa e assustada, seus olhos estão
vermelhos e inchados, parece que a garota não sabe da história.
Lembro-me que Muriel me disse que a irmã era alguns anos mais
velha do que ela, mas não tanto.
— Vou ter que te matar, se ao menos tivesse sido fiel a mim...
traidores devem morrer. Você perdeu, Kira, morreu para mim.
Quando percebo que ele está prestes a atirar, eu invado o
quarto e miro a minha arma na cabeça dele.
— Não, papai, quem perdeu foi você. Para mim, o senhor
nunca existiu. — Ela chora, em um ato de desespero e libertação.
Pelo visto, a garota é mais uma de suas vítimas.
— Jogue a porra da arma no chão, Sinead, ou quer que eu
estoure os seus miolos? Prefere uma morte rápida ou lenta? Com
base em nossa amizade de anos, posso te deixar escolher, velho
amigo — digo, desdenhoso.
Sinead se vira, pálido. Encosto o cano da minha arma na testa
dele, então ele joga a que está em suas mãos no chão, levantando-
as em seguida.
— Você consegue tirar o Dominic daqui sem ser vista? —
pergunto a Kira, que assente, assombrada.
— Ele... ele é pesado, mas consigo, sim. Conheço uma
saída... — Soluça, amedrontada.
— Encontre Axl, o meu irmão. Ele está na minha antiga casa,
leve o Dom para ele. Diga que eu mandei — peço, atento a Sinead.
— Tudo... bem... — gagueja, se esforçando para arrastar
Dominic.
Sei que Dom é pesado para ela, mas não tem outra saída.
Esse é o momento para ela provar que pode ser útil e não morrer,
como a sua família.
— A minha querida filha traidora já foi, por que não me mata
logo? — pergunta, sorrindo, mas está com medo, os seus olhos o
entregam.
— E quem disse que serei eu a te matar? — Passo a língua
entre os lábios e sorrio. — Te darei como brinde para a minha sogra,
Maeve Gallagher, você deve conhecer. — Pisco para ele, que recua,
sem acreditar.
— Você...
— A partir de hoje, você será o nosso prisioneiro, Sinead.
Tenho certeza de que Maeve e Muriel irão adorar vê-lo se curvando
a elas como um nada, porque é isso que você é. Um nada. —
Cuspo as palavras, enfurecendo-o.
— Prefiro que me mate. Jamais me curvarei a uma mulher,
principalmente Gallagher — diz, risonho.
— Você não merece uma morte rápida. Agora me diga onde
está o corpo de Rose. Sei que você não preparou nenhum enterro
para ela, a sua bondade não chega a tanto. — Avalio-o e tenho a
confirmação das minhas suspeitas.
— Para que uma morta vai te servir? — Gargalha.
Fecho a expressão, então ele nota que não estou brincando.
— Abra o caralho da sua boca e me diga o que fez com o
corpo! — grito, empurrando o cano da arma na testa dele com força.
— Mandei jogarem no antigo quarto dela — diz, trêmulo.
Dou um murro nele, então cai no chão se contorcendo. Chuto-
o com força, até que Sinead perde os sentidos. Sem paciência,
seguro-o pela gola da camisa e o arrasto para fora.
Vou encontrar o corpo de Rose e darei a ela um enterro
decente. Sei que Muriel ficaria feliz se a encontrasse com vida, mas
só posso dar à minha sereia um último momento com a sua amada
avó. Vai ser doloroso para Muriel, no entanto, será necessário para
que a sua dor traga à tona a mulher forte e destemida que tem
dentro dela.
— Você precisa comer alguma coisa, Muriel. Você não comeu
nada hoje — diz Hailey, se aproximando com uma bandeja nas
mãos.
Calada, eu a encaro e balanço a cabeça dispensando a
comida. A mulher solta um suspiro pesado antes de sair do quarto,
me deixando sozinha. Deve ter se cansado, ela está vindo me ver
de hora em hora. Certamente cansou de insistir para que eu me
alimente. Não é birra, não tenho idade para isso, a minha perda me
impede de sentir fome. Por mais que me estômago ronque
loucamente, sei que nada vai descer pela minha garganta, estou tão
abalada que um maldito nó se formou nela, é bem capaz de eu
colocar tudo para fora.
Desde a partida do Carter estou jogada na cama, esperando
por notícias dele. O medo que sinto está me corroendo, não
suportaria perder outra pessoa que amo para aqueles monstros. A
angústia que me domina está sendo o meu algoz. Posso ser
herdeira de uma máfia, contudo, não fui preparada para ser
inabalável, não em um momento como esse, sabendo que a mulher
que me criou era a minha avó, que o homem que amo está em um
território inimigo correndo perigo.
Se algo de ruim acontecer a Carter, eu jamais me perdoarei.
Ele é tudo o que restou, além de ser o meu salvador, é a minha vida.
Se Carter parar de respirar, eu paro também; a conexão que temos
é muito forte. Assim como ele daria tudo por mim, eu faria o mesmo.
A nossa falta de comunicação desde a sua viagem me aflige, dói
estar aqui e ele tão longe de mim.
Em poucas horas, bombas caíram em meu colo. Descobri a
minha verdadeira identidade, mas ainda continuo sem saber quem é
a minha verdadeira mãe. Só o primeiro nome dela não me serve de
nada. Me intriga o trecho da carta de Rose sobre a Lidewij estar
mais perto do que eu imagino, e o fato de ela ter mencionado que os
Knight podem ser a minha resposta.
Sentindo-me fraca fisicamente, levanto-me da cama e sigo até
o banheiro, então me aproximo da pia e encaro o meu reflexo pelo
espelho.
Estou acabada por dentro e por fora. Meus olhos estão
vermelhos, meu cabelo desgrenhado e o rosto e olhos inchados de
tanto chorar. Rose me pediu para ser forte, ela estava me
preparando para sua partida desde Dublin. Naquele dia senti que
era uma despedida, mesmo que ela não me confirmasse. Farei o
possível para a deixar orgulhosa, serei forte como pediu que eu
fosse na sua ausência. Ficar deitada chorando não a trará de volta,
infelizmente, mas posso ser muito melhor do que isso. Nana se
orgulhará de mim. Algum dia terei o nosso lar de volta, ainda vou
voltar para a Irlanda para ocupar o lugar que era para ser meu
desde sempre. E se a minha mãe não estiver comigo, sozinha não
vou ficar, tenho o Carter.
Seja forte.
Você é forte.
Seja forte pela nana. Dê orgulho a ela. Faça o sacrifício e o
amor dela valerem a pena. Sou Muriel Gallagher, neta de Rose
Gallagher. Minha avó morreu por mim, mas o seu legado continua –
o nosso –, e eu vou fazer de tudo para ter de volta o que perdemos.
Respiro profundamente e me encaro mais uma vez antes de
começar a tirar a minha roupa. Despida, vou até a jacuzzi e coloco
para encher. Gostaria de entrar nela pela primeira vez com o meu
amor, mas a tensão que há em mim grita para que eu busque um
alívio de imediato.
Tomarei um banho e depois vou ficar com as meninas, sei que
em breve terei notícias de Carter ou dos seus irmãos. Carter é muito
perspicaz, tenho certeza de que está bem e voltará para mim, assim
como os outros Knight voltarão para as suas esposas. Admiro as
garotas, elas são fortes e parecem já ter se acostumado com essa
vida agitada. De certa forma, o que estou falando é uma bobagem,
afinal, elas nasceram e cresceram nesse mundo. Apesar de eu ter
nascido também, fomos criadas de maneira muito diferente. Ao me
lembrar de tudo o que passei até aqui, parece até que sou a
Cinderela moderna. É até engraçado esse pensamento, esse belo
conto de fadas está mais para terror.
Após um tempo, entro na jacuzzi, fecho os olhos e solto um
suspiro. Tento relaxar e libertar o peso dos meus ombros. Jogo no
canto as lembranças ruins e deixo que só fiquem na minha memória
recordações boas que tive com a nana, das engraçadas e até das
que me deixava envergonhada. Lembro-me de uma conversa um
tanto esclarecedora sobre sexualidade... De repente, me dou conta
de que transei com Carter sem preservativo, mas quando me lembro
que não estou no meu período fértil fico mais tranquila. Não que eu
não queira ter um filho dele, só que um bebê no meio desse caos
não é nada bom, pelo menos para mim. Sem contar que ainda nem
tivemos uma conversa sobre filhos.

Paro nos degraus da escada ao ver duas desconhecidas entre


as cunhadas de Carter sentadas na sala. Elas ainda não notaram a
minha presença, estão entretidas em uma conversa, ou melhor,
cochichos, como se não quisessem que ninguém ouvisse o que
estão falando.
Desconfiada, analiso as desconhecidas e noto a semelhança
entre Aubrey e a mulher mais velha. Elas devem ser mãe e filha,
provavelmente a esposa de Killz as trouxe para cá.
E ao observar a outra mulher, noto que é linda, seu cabelo
ruivo é natural e tem um corte undercut, com a franja longa jogada
para o lado esquerdo. A sua postura é de uma pessoa muito
poderosa e suas roupas são elegantes. Ela é confiante, dá para
saber só de olhar.
Meu coração acelera e uma sensação estranha invade o meu
peito. Puxo o ar quando nossos olhares se encontram. A
desconhecida arregala os olhos e fica pálida, tentando disfarçar a
surpresa e emoção. É estranho perceber esse sentimento nos olhos
de uma pessoa que nunca vi em minha vida, porém, é isso que ela
passa. Instintivamente, levo a mão ao meu pescoço e sinto a falta
do meu colar. O meu movimento atrai a atenção da mulher que
parece ser a mãe de Aubrey, que me encara como se estivesse
diante de um fantasma.
Incomodada com a situação, pigarreio para que todas notem a
minha presença. Elas se viram em minha direção e se calam
rapidamente.
— Boa noite — digo, descendo os últimos degraus, me
sentindo um pouco fraca por não ter comido nada há horas.
Eu me aproximo delas e noto que a ruiva se remexe e segura
na mão da mulher que acredito ser mãe de Aubrey, como se
precisasse de apoio.
As cunhadas de Carter estão agindo de maneira estranha.
Será que elas têm notícias dos Knight, ou tem algo mais
acontecendo aqui?
— Vocês estão caladas... O que aconteceu? — Quanto mais
próxima fico, mais o silêncio impera.
— Nada. Boa noite, Muriel — se manifesta Aubrey, com a voz
firme.
Arqueio a sobrancelha e me sento ao lado de Hailey, que está
com o corpo ereto.
— Boa noite.
Um silêncio desconfortável domina o ambiente antes de todas
me cumprimentarem. De repente, Alessa pigarreia e se levanta,
toda sorridente, mas tensa.
— Muriel, essa é a minha tia Celeste e... — A esposa de Axl
aponta para a morena mais velha, que sorri timidamente para mim.
Noto que ela não larga a mão da outra mulher. Alessa trava quando
se vira para apresentar a outra mulher, mas quando abre a boca
para falar, seu celular toca. — É o meu marido, pode ser urgente.
Com licença. — Ela me lança um olhar de alívio e desculpas antes
de sair da sala.
— É um prazer, sra. Celeste. — Sorrio e estendo a mão para
cumprimentar a mãe de Aubrey, que a aceita, aparentemente
emocionada. — Sou Muriel, a namorada do Carter — digo.
Ela sorri abertamente com a minha confissão.
— O prazer é meu, querida — diz, ainda segurando a minha
mão. — Quero te apresentar uma pessoa muito especial, minha
melhor amiga e braço direito em Chicago. — Celeste se vira para a
amiga, que estranhamente perde a pose de durona e quase se
encolhe no seu lugar.
— Presumo que seja a senhora — falo para a ruiva, que ofega
e soluça, como se estivesse segurando o choro. O que há com ela?
Que confuso esse comportamento. Tem algo muito errado aqui. —
Qual o seu nome mesmo? Acho que não entendi. Ou não foi falado?
— pergunto, curiosa.
— Sou Lidewij.
É a primeira vez que ouço a voz da mulher e uma conexão
desconhecida me domina quando ela estende a mão em minha
direção. Solto a mão da Celeste e pego na dela.
Minha cabeça vira uma bagunça ao me recordar da conversa
com Carter.
“É braço direito dela em Chicago, também se chama Lidewij.”
Então essa é a Lidewij que Carter me falou. Junto as informações e
fico espantada. Se Carter é o meu caminho para a verdade, como
nana disse, será possível que essa mulher à minha frente seja...
Não, não é possível.
— Desculpe... mas... a senhora tem filhos? — pergunto, quase
inaudível e cismada por ela estar segurando a minha mão com tanta
força.
A minha pergunta a abala, pois ela parece entrar em choque
ao chorar. Celeste a consola e puxa para os seus braços. Confusa,
encaro Hailey e Aubrey, que estão caladas só observando os
acontecimentos.
O som de passos se aproximando chama a minha atenção
quando Alessa entra na sala. Ela parece ter chorado e não esconde
isso.
— Muriel, tenho notícias para você, assim se anima um pouco
e se alimenta — fala, com a voz embargada. — Carter voltou faz
algumas horas. Só não disseram nada ainda porque estão cuidando
do Dominic, que está ferido. Ele e Axl vieram na frente, com alguns
soldados, enquanto o Ezra e Spencer ficaram para resolver os
trâmites do enterro da sua a... da Rose. Encontraram o corpo dela...
O Carter, deixou que os irmãos cuidassem do enterro para vir te ver.
Eu mandei uma mensagem pela manhã ao Axl falando que você
não estava nada bem, então ele disse ao irmão e... Bom, você sabe
como Carter é — diz, desconcertada, com o celular nas mãos.
Meu coração bate descompassado quando nana é
mencionada. Reprimo o choro assim que Alessa fala sobre o
enterro. Tyron foi perverso, soube como me causar uma enorme dor.
— Seja mais clara, por favor. O que mais aconteceu por lá?
Todos estão bem? O que Carter fez... — Minha voz soa trêmula.
Não consigo completar a frase quando Hailey se aproxima e me
abraça.
— Não falamos antes porque você não estava em condições,
mas a nossa família tomou o poder de Sinead Lynch. Carter matou o
Tyron e depois houve uma intensa troca de tiros, os Knight se
saíram melhor, então os soldados que eram leais aos Lynch
aceitaram a derrota e entenderam que não poderiam fazer mais
nada. — A excitação na voz de Alessa é surpreendente. — Vou
deixar que Carter te explique tudo, ele está vindo para cá.
Tyron morto. Carter o matou. A voz no meu subconsciente
repete uma e outra vez, e ao invés de chorar, levanto-me sorridente
e comemoro.
Tyron Lynch está queimando nas profundezas do inferno. Foi
tarde demais. Eu queria ter matado aquele desgraçado com as
minhas próprias mãos, mas Carter acabou fazendo isso por mim.
Um presente e tanto.
De repente, a fraqueza me toma por completo e eu caio para
trás, sendo amparada por Lidewij. Ela me abraça forte e chora em
um desespero assustador. Os seus soluços são tão altos, que é
como se ela procurasse se libertar de algo que há anos está
aprisionado.
— Acabou, filha... acabou... — diz Lidewij, me deixando
abalada com a sua declaração. — Me perdoe por todos esses
anos... Eu não poderia colocar a sua avó em perigo, muito menos
você, e, por fim, nós acabamos perdendo-a... e...
Filha?
Eu sou filha dela?
Atormentada, saio dos braços dela e me viro, procurando as
meninas, mas não encontro ninguém. É isso... elas já sabiam. É
claro que sim, o comportamento delas era muito estranho.
Como ela tem coragem de jogar essa bomba em mim, dessa
maneira?
— O que está... dizendo? — indago, em um sussurro, com o
corpo quase ficando mole.
Lidewij tenta me tocar, mas eu recuo. Ela fala algumas coisas
que não entendo. A minha suposta mãe insiste em me dar
explicações enquanto dou passos para trás e acabo caindo no sofá.
— Me desculpe por ter sido tão direta, não era para nos
reencontrarmos assim, minha pequena. Mas estou tão... desde o
momento em que coloquei meus olhos em você eu quis te abraçar,
te beijar, dizer o quanto te amo, o quanto esperei por esse dia —
fala, se aproximando, mas eu me encolho mais, querendo distância
dela.
Minha bile sobe e eu acabo vomitando.
Lidewij, mesmo vendo que estou rejeitando-a, me acomoda no
sofá. Um pouco desnorteada, pisco uma e outra vez, querendo ter
certeza de que não estou sonhando. Mas não, continuo vendo a
mulher que parece tão frágil quanto eu. Ela toca o meu rosto com a
mão trêmula e chora... e ela é a minha mãe... minha mãe. Não
conseguindo mais conter a emoção, espelho seus movimentos.
Encarando-a, percebo que a vida toda estive esperando por
ela, mesmo sem saber.
— Me perdoe, filha. Nós só queríamos o seu bem. — Soluça,
acariciando o meu rosto.
Estou fraca e sem reação. Não estou passando bem, acho
que vou desmaiar. De repente, ouço passos pesados se
aproximando e vejo uma silhueta masculina, mas tudo começa a
escurecer .
Resolvemos o meu problema na Irlanda, foi mais rápido do
que eu imaginava, pelo menos a parte dos Lynch. Fomos lá com o
intuito de derrubá-los e conseguimos. Tomamos o território deles.
Com Tyron morto e Sinead preso a nós sem os seus soldados,
uma vez que se curvaram às nossas ordens, a linhagem
desgraçada está acabada. Não completamente, já que tenho que
ver o que farei com Kira Lynch, a garota salvou a vida de Dominic.
Pelo pouco que consegui ouvir da conversa dela com o pai, percebi
que ela comeu o pão que o diabo amassou. O que aqueles lixos
fizeram com a garota é inimaginável. Eles têm o mesmo sangue e
nem isso os impediu de tratá-la daquela maneira imperdoável.
A mãe de Muriel pode ocupar o lugar dela que é de direito, já
que fizemos a limpeza dos traidores, os que se recusaram a jurar
lealdade tivemos que matar. Quando Maeve/Lidewij quiser, poderá
voltar para casa e comandar, mas não antes de acertar as contas
com Sinead, eu o deixei vivo para que a minha sogra dê a ele o
destino que merece. Sei que será um prazer para ela acabar com o
velho, e, para mim, será uma honra dar esse presente para ela.
Ezra e Spencer ficaram na Irlanda para resolver os trâmites do
enterro e cuidar dos soldados que juraram lealdade a nós. O infeliz
do Brends também ficou por lá, e meu irmão irá devolver o idiota
com vida para a Viktoria, uma trégua entre eles impede o Ezra de
enviar o bostinha para o mesmo lugar que Lucke. Soubemos que
Kira o ajudou a chegar à casa antes que começássemos a guerra, o
filho da puta é sortudo. Ezra é a pessoa ideal para colocar aqueles
homens no lugar deles caso algum mude de ideia, mas sei que os
que restaram não irão ousar nos trair, não há mais um chefe para
eles arriscarem suas vidas ou confiarem. Não são idiotas de dar a
vida deles por alguém que não tem mais poder.
Axl e eu voltamos para casa assim que encontrei o corpo de
Rose. Eu tinha esperança de encontrá-la com vida, mesmo que
fosse uma falsa expectativa que criei dentro de mim por Muriel, por
não a tirar da cabeça desde que a deixei aos prantos por causa da
avó e voei para Dublin.
Trouxemos também Kira e Dom. Segundo Axl, ela estava
assustada e com medo dele quando o encontrou, talvez tenha
pensado que a descartaríamos depois de ter ajudado o Dominic.
Mas não é bem assim, não somos tão sujos quanto a família dela.
Quando o meu amigo acordar, decidirá o que será dela. Deixarei
nas mãos do meu amigo o futuro da irlandesa, se for da sua vontade
que ela viva, vai viver, caso contrário... Independentemente da sua
escolha, haverá consequências de certa forma, porque ele se
tornará responsável por ela. Ele está com Axl e o dr. Maison, o
médico que está há anos cuidando da nossa família e em quem
confiamos quase que cegamente.
Sinead está trancafiado em um dos meus galpões, o miserável
está tendo o que merece – preso com correntes nos pulsos, pés e
até pescoço –, como o animal que ele é. Fiz questão de lhe dar uma
boa surra antes de partir, tirei o sangue daquele rato velho rindo, a
cada soco desferido me sentia revigorado.
O Lynch ficará trancado lá sem receber nada, disse aos meus
irmãos para o alimentar somente com o necessário para que não
morra antes do tempo. Quero que aquele imundo fique fraco como
um ratinho recém-nascido. Além de dar a ele o tratamento que
sempre mereceu, pedi ao Spencer e Ezra que lhe dessem uma
atenção especial, a tortura será uma boa distração até o meu
retorno. Sinead pedirá para morrer quando Ezra James Knight
colocar as mãos nele, meu irmão não brinca em serviço.
Quando Alessa avisou ao Axl sobre o estado de Muriel, eu já
tinha encontrado o corpo de Rose, que estava toda ensanguentada,
jogada no chão em um local com um odor horrível. Fiquei
imaginando que poderia ter evitado a sua morte se tivesse levado a
mulher conosco naquela madrugada. Mas a culpa jamais poderia
ser minha, foi uma escolha dela ter se calado, se tivesse revelado
seus segredos para mim, eu a teria mantido em segurança. Mas
Rose tomou a decisão que custou a sua vida.
Rose Gallagher tinha uma missão, e depois que a cumpriu,
acabou partindo, deixando comigo o seu maior tesouro, porque
sabia que Muriel estará em boas mãos, que darei a minha vida por
ela se for preciso. Aquela senhora tinha razão quando disse que eu
era a resposta que a neta procurava, afinal, Maeve Gallagher ou
Lidewij Van Daley sempre esteve por perto.
O nosso destino estava entrelaçado, de um jeito ou de outro,
Muriel e eu nos encontraríamos. Em qualquer caminho que eu
seguisse, a minha ruiva estaria nele. Por mais irônico que pareça,
estamos destinados ao outro.
Assim que entro na casa e me deparo com a mulher mais
velha tentando segurar Muriel, em passos largos e preocupado,
corro na direção delas e pego o pequeno corpo da minha sereia.
Mesmo que a sua mãe possa ajudá-la, meu lado protetor dá as
caras e eu enlouqueço, afastando Maeve da filha.
— Porra, sereia — resmungo, ajeitando-a em meu colo.
A mãe dela nos observa com curiosidade, sinto o seu olhar
queimar sobre nós. Passeio os olhos pelo chão e percebo que ela
vomitou um pouco antes de apagar, então me viro para ela e
percebo o quão pálida ela está.
Alessa tem razão, ela parece estar fraca por não ter se
alimentado hoje, tenho certeza de que o seu desmaio foi causado
por sua teimosia em não querer comer. Mesmo com raiva por vê-la
tão vulnerável, eu a entendo, sei o que está passando e o tamanho
da sua dor. Rose era tudo para ela.
— Se quiser, posso cuidar dela. Antes de você chegar
estávamos conversando — se manifesta a mulher, com a voz calma.
Então Muriel já sabe quem é a sua mãe.
— Eu já estou aqui, posso cuidar da minha mulher, senhora —
digo, analisando o rosto pálido de Muriel. — Não era para você ter
aparecido dessa maneira, ela não está em condições de receber
tantas informações de uma vez só. — Acabo sendo grosseiro.
— Ela é a minha filha e eu passei anos longe dela, você não
pode me dizer como devo agir com ela — acusa no mesmo tom.
Respiro fundo e me levanto com Muriel nos meus braços.
— Eu sei que é, mas Muriel está sofrendo muito com a morte
de Rose. Ela está frágil. A senhora deveria ter deixado esse
encontro para amanhã — digo, entredentes, dando as costas para
ela e seguindo com Muriel para o andar de cima. Semicerro os olhos
ao notar que ela nos segue.
— O seu irmão me disse para vir. E eu tenho o direito de ter
contato com a minha filha, Carter! Eu só quero o bem dela, não vim
aqui para magoá-la, pelo contrário — esclarece, passando por mim
nas escadas e impedindo a minha passagem.
Os seus olhos refletem um brilho de raiva, assim como os
meus.
— Maeve, não quero discutir com você agora, é inútil, não vai
mudar os acontecimentos. — Franzo os lábios, impaciente. — Quer
ajudar? Encontre uma das meninas e peça para trazerem algo para
a Muriel comer. — Suspiro, encarando a mulher, que suaviza a
expressão e se rende, por fim.
— Você tem razão, não vamos a lugar algum discutindo — diz,
com firmeza. — Pode subir com ela, eu vou preparar algo para ela
comer. Não vou demorar.
— Obrigado — agradeço-a e volto a seguir para o quarto.
— Eu amo a minha filha, Carter, farei de tudo para que ela me
perdoe — fala, com a voz quase embargada.
Não me viro para ela, apenas aceno com a cabeça.
— Eu sei — murmuro, sem olhar para trás.
Maeve não precisa do perdão da filha, elas foram obrigadas a
se separarem, são vítimas do mesmo homem. Se for colocar na
balança todos os motivos para o perdão, vai pesar, e não só de um
lado. Elas só precisam de uma boa conversa para se entenderem,
ou pelo menos tentarem. Conheço Muriel, ela está em choque com
a descoberta, mas quando voltar a si tenho certeza de que vai
assimilar as coisas melhor.
Entro no quarto e coloco Muriel ainda desacordada na cama.
Tiro minha jaqueta e camisa e as jogo na poltrona, então sigo até o
banheiro, lavando as mãos e o rosto rapidamente, logo em seguida
abro um dos armários e pego um pano e o umedeço para limpar o
rosto dela, mas ao ouvir um gemido de Muriel, fico em alerta.
Ela está acordando.
Volto para o quarto e a vejo piscar algumas vezes antes dos
seus lindos olhos esverdeados se fixarem em mim. Muriel olha ao
redor e mais uma vez me encara, como se quisesse ter certeza de
que não está sonhando.
— É você mesmo? — pergunta, quase sussurrando, com a
voz rouca e cansada, quando me aproximo. Ela toca o meu rosto
molhado.
— Sim, sou eu — digo, limpando a sua boca e depois
colocando o pano no móvel ao lado.
— Você está bem? — pergunta, antes de começar a percorrer
o meu corpo com os olhos. Ao ver o meu curativo no ombro feito
pelo dr. Maison, ela arregala os olhos e tenta se sentar, mas eu a
impeço. — O que aconteceu? — Toca no ferimento e eu solto um
gemido de dor.
— Só um arranhão, não se preocupe — falo e a preocupação
invade o seu rosto.
— Como aconteceu iss...
— Quem deve fazer perguntas aqui sou eu, sereia — eu a
interrompo, pedindo silêncio com o dedo indicador. — Alessa me
disse que você não comeu nada hoje, e quando cheguei você tinha
acabado de desmaiar. Você sabe que tem que se alimentar, não
pode ficar com o estômago vazio — eu a repreendo.
— Fiquei aflita sem notícias suas e... não tive vontade de
comer, Carter — se defende.
— Agora que estou aqui quero te ver comendo. Daqui a pouco
alguém irá trazer algo para você comer, e a senhorita só sairá daqui
depois que estiver recuperada — aviso, fazendo-a sorrir. Estive fora
só por algumas horas, mas parece meses ou anos. Senti tanta falta
do seu sorriso.
— Sim, sr. Knight. — Seu sorriso aumenta, mas logo se
transforma em uma careta quando o seu estômago ronca alto.
— Vou tomar um banho, não demoro — digo, beijando a sua
testa.
— Eu vomitei, não foi? — indaga e olha para o seu vestido,
que não está sujo.
— Sim, mas só um pouquinho — esclareço e ela faz uma
careta.
— Preciso escovar meus dentes — fala, decidida, e começa a
se levantar.
Apoiada em mim, seguimos para o banheiro. Muriel se
encosta na pia e me observa tirar a roupa, seus olhos não deixam o
meu corpo por um minuto sequer.
Meus olhos se viram para a jacuzzi, então deduzo que ela
tomou um banho de banheira. Volto a minha atenção para a ruiva e
mordo os lábios ao ver o seu vestido deslizar por seu corpo, indo
parar aos seus pés. Começo a encarar seu colo com sardas sexy e
seus mamilos. Muriel se livra da calcinha e se aproxima de mim,
colocando a mão no meu ombro que não está machucado e
sorrindo.
— Posso entrar com você? — pergunta, apontando para o
boxe transparente e espaçoso.
Puta. Que. Pariu.
Mesmo sem querer, Muriel tem o poder de foder com o meu
psicológico. E não só com ele, já que o meu pau está cutucando a
sua barriga. Limpo a garganta, sério.
— Você não está muito bem, acho melhor voltar para o quarto.
— Sorrio para ela, que balança a cabeça de um lado para o outro.
— E quem disse que vamos fazer alguma coisa? — Ela passa
por mim, e como um cachorrinho, eu me viro e sigo os movimentos
da sua bunda deliciosa, que parece dançar para mim.
— Caralho, sereia. — Sigo-a, apertando os olhos e
controlando os meus instintos.
Não me ajoelho diante de ninguém, mas para Muriel
facilmente o faria se ela me pedisse. Foda-se. Essa mulher é a
única pessoa capaz de me fazer ajoelhar e colocar a língua para
fora, como a porra de um homem dominado.

Por fim, quem traz a comida para Muriel é Hailey. Assim que
saímos do banho e refazemos o meu curativo, batem à porta. A
esposa do meu irmão está sem graça quando me entrega a
bandeja, e eu sei o porquê. Certamente, está envergonhada por não
ter contado a Muriel sobre a sua mãe quando soube. Com a
chegada de Celeste e Maeve, Hailey ficou sem saber como agir, já
que a ruiva depositou toda a confiança nela desde a sua vinda a
Londres.
Penso em perguntar a ela pela mãe de Muriel, afinal, ela disse
que traria comida para a filha, mas me calo quando sinto que estou
sendo observado. Quando Hailey se afasta, percebo que um certo
alguém não faz questão de se manifestar, continua secando o
cabelo na toalha como se nada estivesse acontecendo.
Infelizmente, fui um ótimo professor para ela nos últimos anos,
quando Muriel está chateada é ótima em ignorar as pessoas.
Nós nos beijamos, nos abraçamos e ela diz que me ama, e
acaba se calando por completo por um tempo, está pensativa
demais.
— Isto está uma delícia, Carter — ela quebra o silêncio
quando termina de mastigar a batata frita com o peixe.
— Que bom que gostou. Eu gosto de te ver assim, bem
alimentada. — Limpo o canto da sua boca que está sujo e ela sorri,
voltando a mastigar.
Quando ela termina de comer, tiro a bandeja do seu colo e a
coloco no móvel ao lado da cama, então ofereço a ela um copo de
água e um remédio para a sua dor de cabeça.
— Será que ela já foi? — pergunta, sem conseguir mencionar
o nome da mãe, depois de tomar o medicamento.
— Não sei. Você quer vê-la? Já se sente bem para isso? —
indago, avaliando-a com cuidado.
— Hoje não. Foram muitas emoções para um dia só, preciso
respirar, dar um jeito no caos que está dentro de mim. Tenho certeza
de que amanhã poderemos nos sentar e conversarmos melhor —
diz, com doçura. Muriel não demonstra rancor, apesar da voz estar
levemente insegura.
— O.k. Estou de acordo com o que você decidir. — Toco em
seu rosto.
Ela assente e se levanta, me pedindo licença para ir ao
banheiro. Muriel está nitidamente confusa com a situação, também,
são tantas coisas para serem ditas que nem mesmo eu sei por onde
começar.
Meu celular vibra no móvel ao lado, então eu o pego e vejo
que é uma mensagem de Alessa avisando que todas estão indo
embora e que Celeste e Maeve irão na manhã seguinte para
Irlanda, mas que antes a mãe de Muriel quer falar com ela. Apenas
digito um o.k. e coloco o telefone no modo silencioso.
Fico aliviado ao saber que a mulher pensou melhor, a filha
merece ter algumas horas para compreender o que está
acontecendo ao seu redor, sem ser pressionada.
Após alguns minutos, Muriel retorna com o semblante mais
meigo, mas está nervosa, mexe no laço do robe várias vezes e sorri
para mim, disfarçando o quanto está desconfortável. Quando ela se
senta na cama, eu faço o mesmo.
— Carter? — Seus olhos esverdeados me sondam com
curiosidade quando ela se recosta na cabeceira.
— Sim? — Fito-a, sabendo o que está por vir.
— Como soube que essa senhora é a minha mãe? — Ela
pigarreia, aparentemente incomodada com a pergunta.
— Killz me confirmou o que eu já desconfiava — digo, com
sinceridade.
— Pretendia me contar? — Sua voz vacila.
— Claro. Eu só não queria que você recebesse essa notícia
de uma forma tão brusca — confesso, tocando no seu cabelo.
— Eu li a carta que a Rose me entregou e descobri que não
tinha sido escrita pela minha mãe, e sim por minha... avó. A nana
me contou quase tudo naquela carta, acredita? — Engole o choro e
recupera a firmeza na voz.
Muriel me conta o conteúdo da carta com muita dificuldade, é
praticamente o mesmo que Killz me informou naquele arquivo. A
diferença é a maneira como Rose contou a versão dela.
Ela para de falar, com os lábios trêmulos.
— Nana foi o meu anjo, Carter. Agora me conte como o seu
irmão descobriu que essa Lidewij é minha mãe — pede, quase
gaguejando.
— Meu irmão me enviou um e-mail antes da minha ida a
Irlanda informando a sua origem, a história da sua família e o nome
verdadeiro da sua mãe. — Ela fica surpresa, pelo visto não sabia. —
A Lidewij se chama Maeve, sereia, esse é o nome verdadeiro dela.
Ela começou a usar um nome falso para despistar o Sinead —
explico e ela assente.
Então conto sobre o arquivo que Killz me enviou, nada é
novidade para ela, uma vez que a carta dizia o mesmo.
— São tantas informações para uma pessoa só. — Ri, bem-
humorada, tentando camuflar a dor com uma risada. — Acho que te
devo um agradecimento, não é?
Nego com um meneio de cabeça.
— Não precisa me agradecer. Tudo que faço é por você, por
nós, pela nossa família. — Descanso a palma da mão na sua coxa.
— Tenho tantas perguntas para te fazer... São tantas que me
sinto sufocada. — Solta uma lufada de ar.
— Eu estou aqui, não estou? Respire fundo e pergunte o que
quiser, sereia. Só não guarde para você o que está te incomodando,
isso faz mal. — Afasto o seu cabelo para o lado e deixo o seu
pescoço à mostra, então deposito ali um beijo demorado, deixando-
a arrepiada.
— Obrigada. Você é perfeito, sabia? — fala, com a voz suave.
— Posso ser tudo, menos perfeito, meu amor. — Mordo de
leve o lóbulo da sua orelha e ela solta um gemido baixo.
— Mas eu não disse em que sentido você é perfeito, sr.
Carter. — Muriel vira o rosto, capturando os meus lábios para me
dar um selinho. — Você é perfeito para mim, entende? Ao menos
para mim é — declara, encostando o rosto no meu peito.
Ficamos em silêncio por um tempo, apenas aproveitando a
presença do outro.
— Como você o matou? O que sentiu quando matou Tyron?
Me conte como aconteceu, por favor. — Muriel ergue o rosto e me
encara, seus olhos brilhando sombriamente.
— Sempre soube que existe uma diabinha perversa dentro de
você — retruco, segurando-a pelo pescoço e beijando a sua boca,
sentindo o gosto refrescante de menta. — Quer mesmo saber como
o matei, sereia? — pergunto, com a minha boca ainda colada na
dela. Muriel balança a cabeça dizendo que sim e mordisca meu
lábio. É sexy pra caralho.
— Não me esconda nada — pede, passando as unhas por
meu abdômen.
Muriel pergunta sobre tudo, menos da Rose, é um assunto
que a machuca, ainda está tentando absorver a realidade que está
diante dela.
Começo a contar o que aconteceu quando coloquei os pés na
Irlanda. Muriel fica pálida quando relato como encontrei a sua irmã,
no quarto com Brends e Tyron. Ela quase chora ao saber que Kira
foi violentada pelo próprio irmão e que o pai sempre soube, mas
nunca fez nada.
Cada palavra que sai da minha boca deixa Muriel chocada,
com os olhos arregalados e sempre demonstrando compaixão por
Kira. Digo que a trouxemos, já que salvou o Dominic, e essa a
informação a deixa mais aliviada. Noto que o seu maior interesse é
na minha descrição de como matei Tyron. Deixo a parte da ameaça
dele, que me incentivou a matá-lo, de lado. Ela não precisa de mais
coisas atordoando-a.
— Acho que você deveria descansar um pouco — sugiro,
puxando-a para os meus braços e beijando a sua cabeça.
— Estou sem sono, dormi a tarde toda. Já chorei o que tinha
para chorar, e nem tenho mais lágrimas, se quer saber — diz, se
afastando um pouco. — Podemos aproveitar um pouco, quero
celebrar a morte daquele imbecil e a queda do Sinead com estilo. —
Antes de vir para o meu colo, ela tira o robe e o joga no chão.
Hipnotizado com o seu corpo delicioso, lambo os lábios e
lanço um sorriso safado em sua direção.
Muriel monta no meu pau e rebola, me provocando, se
esfregando, me deixando com uma ereção enorme. Sem conter o
gemido abafado de excitação, percorro as mãos por suas coxas até
chegar a sua bunda. Aperto com vontade e dou uma palmada forte
no local. Fingindo não ter sido afetada, ela me encara
desafiadoramente e sorri de lado.
Foda-se, sou louco por essa diaba.
— Muriel... — sussurro seu nome quando ela leva uma mão
ao meu pênis e massageia por cima do tecido da minha calça de
moletom.
— Antes de transarmos, quero tentar algo novo. — Continua
apertando meu sexo com a sua mão macia.
— É só me pedir que eu dou — digo, com a mente suja.
Porra, já estou salivando por ela e imaginando várias
sacanagens que podemos fazer.
— Eu quero chupar o seu pau. Quero fazer um boquete em
você, apesar de nunca ter feito, já li em livros... então vou precisar
que me ajude, caso eu faça algo errado. — Muriel se inclina ao
mesmo tempo em que enfia a mão dentro da minha calça,
colocando a boca perto do meu ouvido. — Vai me deixar te provar,
Carter James Knight? — Ela coloca meu pênis para fora e começa a
bater uma punheta, até que aumenta o ritmo, me fazendo gemer.
— Se continuar assim vai me fazer gozar na sua mão. E eu
sei que você quer provar o leite direto da fonte — digo, gemendo,
apertando as suas coxas com meus dedos.
Ela faz uma cara de safada e passa a língua entre os lábios,
encarando o meu pau melado. Estou explodindo de tesão, e com a
visão que tenho da sua boceta depilada e seus mamilos firmes,
médios, com aréolas rosadas e os biquinhos durinhos que cabem
perfeitamente em minhas mãos, faz com que eu me renda às suas
investidas.
— Shiu... Só estou retribuindo todas as vezes que me fez
gozar com os seus dedos, boca e pau...
Minha respiração fica acelerada ao vê-la levar os dedos
molhados e pegajosos à boca e chupar um por um. Enlouquecido
com o seu gesto, eu jogo a cabeça para trás e sorrio, mordendo a
boca. Muriel não para, volta a me masturbar vigorosamente, ora
rápido, ora lentamente, me fazendo por fim esporrar um jato de
gozo.
— Ajoelha, sereia. — Agarro o seu cabelo em um punhado e
puxo seu rosto para perto do meu. Ela geme, deliciada com a
pegada firme. — Me mostre o que você sabe fazer com essa boca.
Vamos ver se essa boquinha é tão feiticeira quanto a sua boceta.
Com um sorriso sacana, levo uma mão à sua vagina e
introduzo dois dedos, deslizo-os com facilidade, já que ela está
molhada. A sua excitação está descendo por suas pernas e eu mal
a toquei.
Eu a fodo com os dedos, devagar e firmemente. Muriel deixa
escapar um gemido e move os quadris. Ela tenta segurar o meu
pau, mas não deixo, continuo arrancando gemidos dela, que agora
estão altos. Ao ver que ela está quase gozando, tiro meus dedos de
dentro dela e sou repreendido com um olhar matador.
— Carter... — O seu rosto está vermelho e é sexy pra caralho
a visão que tenho dela.
— Ajoelha, Muriel — peço, com a voz rouca e com uma
ereção fodida.
Suas pupilas dilatadas denunciam o quanto está excitada.
Quando levo meus dedos à boca, a respiração dela fica pesada.
— Você me paga...
Antes que saia do meu colo, levo as mãos à sua bunda e vou
fazendo um caminho até o lugar que ainda não comi.
— Ah, ruivinha, quem vai pagar é você. E de todas as formas.
— Encosto minha boca no seu ouvido. — Hoje, você vai me dar
isso, sereia? — Ela sobressalta quando sente meu dedo abrindo o
seu cu. Vou empurrando o dedo devagar para não machucar, e sem
demora fodo o buraquinho apertado e virgem.
— Uhum, te dou tudo... tudo — geme, me beija e me morde.
— Vamos por partes — falo, parando de beijá-la e tirando meu
dedo do seu ânus. — Agora preciso foder a sua boca com o meu
pau, anseio por isso há muito tempo. — Encaro-a, passando o
polegar em seus lábios entreabertos.
Meu plano era consolá-la de outra maneira, mas ela libertou o
meu outro lado, o menos nobre e que adora ouvi-la gemer enquanto
estou dentro dela.

A primeira coisa que fazemos é nos livrar da minha calça
quando Muriel sai do meu colo. Ajoelhada entre as minhas pernas,
ela umedece os lábios e os morde, a visão que tenho dela nessa
posição é uma mistura de céu e inferno. O seu rosto angelical e o
olhar diabólico me seduzem, me enlaça como uma presa fácil. Fixo
os olhos em seu rosto bonito com algumas sardas sexy e vou
descendo para a boca naturalmente rosada, fazendo um caminho
lento e prazeroso até chegar aos seus seios durinhos, apreciando
cada pedaço do seu corpo tentador.
Percebendo a minha admiração, ela sorri como se estivesse
me fazendo um convite para queimar com ela nas brasas do inferno.
— São lindas, eu adoro... — Desliza os dedos finos pelas
veias grossas do meu pau.
Sem demora, Muriel fecha a mão ao redor do meu membro e
aproxima o rosto dele, sem tirar os olhos dos meus. Ela beija
minhas veias e depois vai até a glande lambuzada, lambendo antes
de começar a chupar, fazendo movimentos circulares com a língua.
Por instantes me provoca, só chupando a glande. Ela olha para mim
e me atiça ao continuar mexendo a língua ao redor do meu pau. A
diaba não pensa duas vezes antes de o deslizar lentamente para
dentro da boca.
Caralho. Eu me sinto no paraíso quando ela fecha os lábios
aveludados no meu sexo.
Semicerro os olhos assim que a vejo engolir até onde
aguenta. Primeiro, ela se engasga e fica com as bochechas
coradas, mas logo se adapta ao meu tamanho e me chupa com
aptidão, sem que eu precise conduzi-la.
Jogo a cabeça para trás e agarro o seu cabelo. Muriel abre
mais os lábios e começa um ritmo de vai-e-vem, quanto mais rápido
ela vai mais eu gemo.
A pressão que faz me leva à loucura. Com a minha respiração
irregular, observo o líquido viscoso escorrer pelo canto da sua boca.
— Vou gozar.
Muriel se afasta lentamente, com os olhos semicerrados,
fazendo com que os pensamentos sujos apareçam quando põe a
língua para fora e segura o meu pau no meio dos seus seios.
Sabendo muito bem o que ela quer, puxo-a pelos cabelos e
deixo o jato do gozo espirrar em sua boca, colo e seios, levantando-
a rapidamente para se sentar nas minhas coxas.
Encarando-a, levo uma mão à sua boca e tento limpar a
sujeira que fiz, mas ela nega com a cabeça. Estremeço quando põe
meu dedo em sua boca e o chupa, repetindo o gesto sob o meu
olhar que poderia queimá-la se fosse fogo.
Muriel é o meu inferno pessoal e eu gosto da ideia de ser
queimado por ela. Além de ter roubado o meu coração que por
muitos anos esteve estraçalhado, me enlouquece de uma maneira
indescritível quando está nos meus braços e se entrega para mim.
— Deita na cama, vamos fazer algo novo. — Seguro de
maneira firme seus quadris.
Seus olhos brilham de malícia quando faz como pedi,
deitando-se de costas atenta aos meus movimentos.
Levo a mão à sua coxa e vou subindo até a virilha, abrindo
caminho até a sua boceta e enfiando dois dedos nela.
Instintivamente ela se abre para mim e solta um gemido gostoso,
jogando a cabeça para trás quando belisco seu clitóris .
— Eu quero te comer de quatro. Se vire e segure na cabeceira
— peço, com a voz rouca.
Muriel respira com dificuldade quando tiro meus dedos da sua
vagina e se posiciona, arrebitando bem a bundinha. Subo na cama e
fico ajoelhado atrás dela, então dou uma palmada em cada lado da
sua bunda, deixando avermelhada a pele branquinha, do mesmo
tom da sua boceta.
Salivando para colocar a minha boca ali, abro bem as suas
pernas e meto um dedo, depois o outro, penetrando-a levemente,
sentindo a umidade em minhas mãos. Com o indicador, esfrego o
clitóris e começo a mover a ponta dos dedos para cima e para
baixo.
— A-Ahhh... Carter... que d-delícia... — Muriel geme baixinho,
apertando um dos seios com a mão e rebolando para mim.
Beijo cada lado da sua bunda e dou uma mordida antes de
fazer uma trilha de beijos até o seu ponto sensível. Abro os lábios
da sua bocetinha e meto a língua, chupando o seu clitóris durinho
enquanto a fodo com afinco com meus dedos. O cheiro doce da sua
excitação libera o animal faminto dentro de mim.
Seus gemidos aumentam e o prazer que proporciono a ela é
tão intenso, que Muriel rebola como se estivesse sentando no meu
pau, louca para gozar. Suas pernas tremem um pouco quando tiro
meus dedos de dentro dela e levo a sua lubrificação até o seu ânus,
sem tirar a minha língua do seu clitóris.
Depois de preparar o seu cu para me receber, deslizo um
dedo nele, fodendo-o devagar para que esteja pronto para mim.
Faço movimentos circulares mais rápidos em seu ânus. Muriel fica
com o corpo trêmulo e geme alto enquanto continuo com a minha
boca nela. Rapidamente ela goza.
Sedento, lambo cada gota do seu mel enquanto ela puxa ar
para os pulmões. Sem dar tempo para se recuperar, tiro meu dedo
do seu ânus e substituo por minha língua, acariciando seu
buraquinho virgem enquanto seguro seus quadris.
Conforme Muriel vai ficando excitada novamente com as
minhas investidas, eu me afasto poucos centímetros para começar a
me masturbar.
— O que você quer primeiro? A boceta ou o cu, sereia? —
pergunto, parando a punheta e pincelando o pênis em sua vagina e
subindo até o seu ânus, enlouquecendo-a ao repetir o movimento.
— Os dois... — diz, se oferecendo para mim. Ela me encara
por cima dos ombros e eu consigo ver as suas pupilas dilatadas.
— Quero o seu cuzinho, e quando eu estiver dentro de você,
quero que se masturbe. — Levo meu pau ao seu ânus e a invado
lentamente, com cuidado para não a machucar.
— Aiii... — choraminga, desconfortável.
— Relaxa, vai ser gostoso. Logo a dor passa e você se
acostuma. Me dê uma mão e se apoie na cabeceira com a outra. —
Ela assente, soltando a respiração. Levo sua mão à sua vagina. —
Agora se masturbe, vou te ajudar também.
Puxo-a para mim quando já estou dentro, encostando suas
costas no meu peitoral. Faço um vai-e-vem lento, meu sexo entra e
sai dela, fazendo Muriel estremecer. Ela me oferece o seu pescoço
e eu a beijo carinhosamente, sentindo o seu peito ofegante subir e
descer.
Começo a bombear no seu cu e ela não reclama mais,
somente arrebita mais a bunda em minha direção. Fodo-a com
velocidade e ela acompanha o ritmo, rebolando, gemendo e
resfolegando. Quando seu cu aperta o meu pênis, minha respiração
acelera e eu apoio a testa em suas costas suadas, ouvindo a cama
ranger com os movimentos bruscos.
Nós gememos, quase alcançando o clímax.
— Puta que pariu, sereia... Você é muito gostosa... e minha,
só minha — falo, possessivo, estocando nela com precisão e
gozando enquanto solto um gemido rouco.
— Eu sou sua... somente sua, amor... estou... chegando lá —
geme alto quando afasto sua mão do seu clitóris e os levo à minha
boca, chupando-o um por um.
Assim que saio de dentro dela, Muriel se vira para mim e
agarra o meu rosto, beijando com luxúria. Nossas respirações se
misturam, sugo a sua língua manhosa e seus lábios macios.
Ansiando mais, exploro outros lugares com a minha boca. Desço
para o seu pescoço, mordendo, beijando e chupando, enquanto
minhas mãos passeiam por seus mamilos, costas e bunda. Muriel
agarra o meu cabelo com uma mão, enquanto a outra desce para o
meu abdômen e o arranha.
Deito-a de barriga para cima e tenho a visão mais perfeita dela
quando seu cabelo ruivo se espalha no travesseiro. Aprecio a visão
por segundos antes de me encaixar entre as suas pernas
arreganhadas. Com a ponta dos dedos, abro a sua vagina e coloco
o dedo médio e o tiro, enfiando-o na minha boca e o chupando.
Volto a penetrá-la novamente sob o seu olhar cálido.
— Quero que sente na minha cara e esfregue a boceta na
minha boca — digo, deixando-a de olhos arregalados.
Meu pau volta a dar sinal de vida com a imagem que se forma
em minha mente. Tiro meu dedo de dentro dela para trocarmos de
posição. Em pouco tempo, estou deitado enquanto ela fica acima de
mim, molhando o meu abdômen com a sua excitação. Seguro-a
pelos quadris e coloco a sua boceta sobre o meu rosto. Muriel se
apoia na cabeceira quando roço o nariz em sua entrada ensopada,
sentindo seu cheiro delicioso.
Abocanho o clitóris e começo a trabalhar a língua com
movimentos circulares, estimulando Muriel, que se contorce e geme.
Ela esfrega a boceta encharcada no meu rosto com vontade,
aumentando o meu tesão, me fazendo ora sugar, ora lamber,
enquanto rebola com agilidade em busca do prazer.
— Ahhh... Carter... q-quero mais... — pede, ao sentir minha
língua entrar e sair.
Levo as mãos à sua bunda e aperto com força. Sua vagina
quente lateja cada vez mais com a minhas investidas enquanto
Muriel se remexe incansavelmente, choramingando. Nem ela
consegue aplacar o fogo que está consumindo-a. Disposto a dar a
ela muito mais, introduzo um dedo em sua boceta e vou fundo,
implacável, estimulando o seu interior, até que sinto que ela chega
ao clímax, soltando um gemido alto.
Muriel goza tão gostoso que soluça alto e prende o meu rosto
com as pernas, quase me sufocando. Aos poucos, ela vai
relaxando, trêmula, enquanto sugo todo o seu líquido, limpando
cada pedacinho da sua vagina com a minha língua.
Ela sai de cima de mim com a respiração pesada, se joga ao
meu lado na cama e me encara. Ela está descabelada, vermelha,
mas sorridente. Pego o lençol e limpo o meu rosto lambuzado pelo
seu gozo.
— Estou morta. — Puxa o ar para os pulmões e ri.
— Só estamos nos aquecendo — digo, fazendo-a jogar a
cabeça para trás e gargalhar. Puxo-a pela cintura para mim, tocando
sua bunda e massageando carinhosamente. Fixo meus olhos nos
dela que estão febris, assim como os meus. — Está dolorida? —
indago, deslizando os dedos em seu ânus.
Meu pênis cutuca a sua barriga, e quando ela percebe me dá
um sorriso. A maneira como ela me olha acende todo o meu corpo.
— Uhum, dói um pouco, mas nada insuportável — diz,
mordendo os lábios e tocando a tatuagem tribal em meu peito,
contornando-a com o dedo.
— Acho que estou viciado em você — confesso, descansando
a palma da mão no seu cóccix. — É mais do que isso — digo,
sorrindo para ela, que arqueia a sobrancelha.
— Essa é a maneira de dizer que me ama, sr. Carter? — Sorri
de lado, convencida.
Fico calado, pensativo. Fito-a por alguns segundos e vejo o
brilho dela sumir por não ter a minha resposta.
— O nosso casamento já responde a sua pergunta, não?
Sereia, eu não faria de você a minha esposa se não te amasse. Eu
te amo, e quando descobri isso tudo se tornou mais fácil para mim
— declaro, afetando-a fortemente.
Ela queria ouvir um simples “eu te amo”, mas eu a surpreendo
com a minha sinceridade. Os Lynch não existem mais, não têm mais
poder, então, se eu não quisesse me casar com ela, não
precisaríamos. No entanto, quero muito que Muriel seja oficialmente
a minha mulher, que seja reconhecida por minha família como uma
Knight.
— Depois não me pergunte por que escolhi você para amar,
por que te esperei por tantos anos. Ter você em minha vida foi como
uma luz no fim do túnel. Quando achei que nada mais poderia
piorar, você surgiu e me mostrou que nem sempre devemos julgar
uma pessoa pela aparência ou pelo que falam dela — responde,
emocionada, mas firme.
Só consigo me lembrar de quando nos conhecemos.
— Acabou, Muriel, ninguém mais poderá te machucar. E se
alguém tentar tocar em um fio de cabelo seu, eu mato — falo. Seus
olhos ficam marejados, imagino que esteja se lembrando do
sofrimento que passou com a família que achou ser dela. — O que
acha de nos casarmos daqui a quinze dias?
— Quinze dias? — repete, o brilho dela volta tão intenso
quanto antes.
— Sim. O que me diz? — Toco em seu rosto.
— Será maravilhoso, eu aceito — diz, sorrindo de orelha a
orelha.
Aproximo meu rosto do dela e a beijo apaixonadamente.
Quando vejo, já estou em cima dela me encaixando perfeitamente
entre suas pernas, seu corpo parece ter sido moldado para mim,
pequeno e quente.
Muriel se abre para mim e eu encaixo o meu pau em sua
boceta, investindo com estocadas firmes. A sua vagina gulosa me
recebe tão bem. Então penetro devagar, entro e saio lentamente por
um bom tempo, ouvindo os seus gemidos se misturarem aos meus.
— Ahh... mais forte, amor... — pede, entrelaçando as pernas
ao meu redor.
— Assim? — Vou com mais força, até que sinto o seu canal se
contrair, apertando meu sexo. Sugo um mamilo e depois o outro,
enquanto meto nela com força.
— Uhum... — geme alto.
Notando que Muriel está prestes a gozar, saio dela e a viro
rapidamente de bruços, com a bunda empinada para mim. Seguro
em seus quadris e me enterro novamente, começando a estocar
com ímpeto. Ela grita, apertando meu pau a cada estocada.
Suado e trêmulo, beijo suas costas e a penetro com
velocidade, chocando meu quadril e coxas contra o seu corpo.
Sorrio ao vê-la agarrar o lençol com as mãos e gemer, com a
cabeça virada para o lado e a boca entreaberta. Focado em sua
expressão de prazer, gememos quando nossos corpos anunciam
estarem próximos a um orgasmo violento.
Minhas entranhas apertam e aos poucos vou deixando meu
jato quente e grosso dentro dela.
Cansados, nos jogamos na cama um ao lado do outro, e não
demora para que Muriel se aproxime e me abrace, então beijo sua
testa suada e sorrio.
Carter e eu ficamos nos amando até a madrugada, e pela
manhã, quando acordarmos, vimos as olheiras que ganhamos.
Apesar de estar cansada e com sono, estou satisfeita por tê-lo tido
por muitas horas ao meu lado, cuidando de mim e me fazendo sua
mulher.
Ontem recebi tantas notícias uma por cima da outra, que se
não fosse por ele, teria enlouquecido. Sem o seu carinho e apoio,
certamente, não suportaria muita coisa. Em seus braços, pude
esquecer o caos que se propagou ao meu redor.
Bocejando, arrumo a pequena mala com algumas peças de
roupa, mesmo que Carter tenha me dito que não é necessário, já
que iremos voltar hoje mesmo da Irlanda. Carter saiu faz pouco
tempo para falar com o piloto. Hoje, ficarei diante do meu algoz,
pretendo ser tão dura com ele quanto foi comigo por muitos anos.
Sinead Lynch vai receber em dobro o que causou a mim e à minha
família biológica.
Morando com Carter, aprendi muitos golpes e pretendo
colocar tudo em prática hoje. E não existe um saco de pancadas
melhor do que o meu falso pai, um filho da puta que teve a coragem,
a podridão, de deixar que a própria filha fosse abusada pelo Tyron.
Quando soube o que a minha irmã passou nas mãos deles,
desmoronei por dentro e por fora, naquele momento meu coração
ficou esmagado. A coitada foi tão vítima quanto eu, ou até mais,
então, ficarei ao seu lado sempre que precisar, e se for necessário,
intercederei por ela com Dominic, já que ele será o responsável por
seu destino.
Pedi ao Carter que trouxesse a minha irmã aqui, preciso vê-la,
quero abraçá-la e dizer que pode contar comigo, que agora
podemos ter uma relação saudável sem que aqueles dois nojentos
nos impeça de criar um vínculo.
Arrependo-me amargamente de ter invejado a vida de Kira,
sempre imaginei que ela fosse a princesinha da casa. Nem sei
direito o que faria se estivesse em seu lugar, sendo violada por
aquela escória durante tanto tempo.
Assim que termino de arrumar a mala ouço batidas à porta.
Meu coração acelera e um sorriso surge em meus lábios. Passo a
mão em meu cabelo e corro para abrir a porta, me deparando com a
minha irmã, que tem o rosto pálido e muito abatido.
— Oi... — diz, com a voz embargada.
Olho bem para ela e percebo que seus olhos não brilham,
então me dou conta que isso nunca aconteceu, acho que passei
tanto tempo focada na minha dor, que não vi o que estava ao meu
redor. Sinto-me péssima por isso. Mas como eu saberia o que
acontecia, uma vez que Kira conseguia disfarçar a sua dor, sem
contar que fomos criadas uma longe da outra.
Sem palavras, faço o que nunca tive coragem — abraço-a
com força. Surpresa com a minha reação, Kira se agarra a mim e
começa a chorar. Não tem como não sentir o aperto no peito e um
nó na garganta. Eu a consolo como posso e beijo o seu rosto,
emocionada com a nossa aproximação.
— Chore o quanto quiser, se liberte. Chorar é mais do que
necessário para isso — digo, acariciando as suas costas enquanto
ela soluça. — Uma vez, a nana me disse que o choro pode parecer
ruim, mas em alguns momentos ele é bom porque nos liberta. É
através dele que desabafamos as nossas maiores dores quando
não conseguimos expressar com palavras. — Minha voz vacila, mas
me mantenho firme.
— Me perdoe... E-eu... era obrigada a te ignorar, te tratar mal,
ser tão idiota, Muriel — confessa, aos prantos. — Sei que é tarde
demais para falar essas coisas, mas quando soube que queria me
ver, eu fiquei feliz e ao mesmo tempo incerta... Nunca fui uma irmã
para você, Tyron e o Sinead eram horríveis comigo, eu tinha que
seguir tudo o que mandavam. Você sabe como somos tratadas
nesse mundo, nada que façamos será motivo de orgulho para eles...
E eles me obrigavam a me passar por uma princesinha, quando na
verdade o meu próprio irmão abusava de mim.
— Respire e se acalme primeiro. Vamos entrar e conversar
melhor — peço, carinhosa, levando-a para dentro do quarto.
Kira se senta na poltrona enquanto fico na cama. Ao ver o
quanto ela está trêmula, pego um copo com água e entrego a ela.
Me atrevo a tocar em seu rosto avermelhado e limpar as suas
lágrimas. Quando ela dá um sorriso fraco, vejo através dos seus
olhos o quanto está sofrendo.
— Primeiro se acalme, e depois iremos conversar direito, o.k.?
— falo.
— Obrigada... — sussurra, fechando os dedos com força ao
redor do copo de vidro.
Sem querer que se machuque, pego-o da mão dela e devolvo
para o móvel, então me ajoelho à sua frente.
— Você já sabia que eu não sou sua irmã? — pergunto
quando Kira parece mais calma.
Ao me ouvir, ela arregala os olhos.
— Você não é minha irmã? Aquele homem sempre disse que
você era fruto de uma traição dele. Ele sempre deixou claro que te
tratava daquele jeito e te rejeitava por você não ser filha da minha
mãe... Mas nunca passou pela minha cabeça que você não era
minha meia-irmã. — Ela está visivelmente confusa, eu saberia se
estivesse mentindo.
— Quer me contar o que aconteceu com você durante esses
anos, ou quer que eu conte a história que descobri recentemente?
— indago, me levantando e voltando a me sentar na cama.
— Sinceramente... isso é uma loucura, nem sei como
descrever o que estou sentindo neste momento — diz, atordoada,
me encarando assustada.
— Você ainda está nervosa. Vou te contar como descobri a
minha origem... Acredite em mim, vai agradecer por estar sentada
quando terminar de ouvir o que tenho para contar sobre Sinead
Lynch.
Kira balança a cabeça concordando. Faço um sinal para que
ela venha até mim, e assim que ela o faz, seguro as suas mãos
frias.
— Descobri recentemente que o Sinead não é meu pai.
Durante todos esses anos, me questionei o motivo de tantos maus-
tratos, mas nunca passou pela minha cabeça o verdadeiro motivo
e... — Começo a contar a ela sobre nana, falo da carta que me
deixou e tudo o que sei, sempre contendo as minhas lágrimas.
Kira está tão surpresa quanto eu fiquei quando soube da
minha origem. Minha irmã de criação me consola com um abraço
forte quando termino de narrar como me sinto em relação a morte
de Rose.
Confesso a ela que agora dói muito mais, pois sei que ela era
a minha verdadeira avó e que sacrificou boa parte da sua vida por
mim.
— E-eu... e-estou sem palavras, de verdade. Sinead e Tyron
sempre foram ardilosos, para eles o poder vem sempre em primeiro
lugar. Aquela coisa de família na frente dos outros não passava de
uma farsa! — Seus lábios tremem e ela gagueja. — Eles nunca
confiaram em mim a ponto de falar sobre você... Ontem, ele me
falou algo sobre eu ser igual a minha mãe, chamou-a de burra e
ainda mencionou os Gallagher... A sua família de sangue, e no meio
desse ataque de ódio dele, confessou que matou a minha mãe. —
Sinto o ódio em sua voz quando ela aperta os meus dedos.
— Sinto muito... muito mesmo, minha irmã — digo, com
sinceridade e o peito apertado por saber que nossas dores são
parecidas.
— Eu também sinto por tudo o que você passou. — Ela dá um
sorriso fraco.
— Saiba que estarei aqui para o que você precisar. — Limpo
as lágrimas que escorrem por suas bochechas. — Me diga, como
teve a ideia de salvar o Dominic? Como soube que o salvando
conseguiria algo dos Knight? — indago, sem intenção de deixá-la
desconfortável.
— Obrigada por tudo, Muriel. Mesmo que eu tenha passado
por tantas coisas ruins, nem sei se mereço o que você me oferece
— declara, ignorando a pergunta sobre Dominic.
— Shhh... Não fale assim, eu te proíbo de falar uma bobagem
dessas. Nós duas sofremos e não pudemos apoiar uma à outra,
você por medo, e eu por pensar que você realmente me odiava.
Mas agora acabou, Kira, estamos livres. — Com a expressão séria,
eu a encaro por um tempo.
— Tem razão. — Assente, mas não sinto segurança no que
diz.
— O que te atormenta tanto? — pergunto, e ela desvia o olhar
para a parede.
— Aquele homem, o Dominic... Ele foi a minha chance para
sair daquele inferno. Quando descobri que o Sinead tinha planos de
usá-lo para atingir o Carter, tive a ideia de salvá-lo. Sei que foi
egoísta da minha parte usar um homem ferido, sem forças para se
defender... no final das contas, fiz o mesmo e me sinto péssima —
confessa, envergonhada.
— É diferente, Kira, você não o usou, estava apenas querendo
a sua liberdade. Mas como conseguiu ter acesso ao quarto que
colocaram o Dom? — pergunto, curiosa.
— Passei alguns anos planejando fugir daquele inferno,
porque não aguentava mais. Eu sabia que em algum momento teria
a minha oportunidade, Muriel. Eu vi que o médico desgraçado dava
doses altas de um medicamento para o Dominic não acordar, então
comecei a desconfiar das intenções deles. Foi naquele instante que
tomei uma decisão difícil, eu nunca tinha matado ninguém, mas eu
sabia que teria que pagar um preço alto pela minha liberdade. Não
pensei duas vezes antes de matar o dr. Fergus... E sabe de uma
coisa? Não senti nada, nadinha, mas por que eu deveria ter empatia
por uma pessoa que sempre soube o que acontecia comigo naquela
casa e nunca fez nada? Ele via os meus hematomas, sabia que
Tyron me estuprava, e nunca levantou um dedo para me ajudar —
diz, com um sorriso sombrio. — Quando entrei na sala ele estava de
costas, então peguei uma faca que estava ao lado e cortei a
garganta dele... o miserável caiu no chão, praticamente morto.
Depois arrastei seu corpo até o banheiro e limpei o rastro de
sangue, deixando o local impecável. Foi então que comecei a
planejar a minha fuga com o Dominic, infelizmente, o Sinead chegou
e tentou me convencer a deixar que ele conduzisse as coisas, mas
eu não sou burra, sabia que alguém viria atrás do homem. Quando
o Carter, um misto de medo e emoção me dominou, mas mesmo
que eu estivesse com medo dos Knight me matarem depois, não me
importei. Se era para morrer, que fosse pelas mãos de qualquer
pessoa, menos pelos Lynch — ela diz, sem um pingo de
arrependimento.
— Ninguém vai te matar, eu te garanto — falo, tocando em
seu ombro.
— Querendo ou não, sou uma Lynch, Muriel. O sangue podre
daqueles nojentos corre nas minhas veias. Acha que não vão querer
cortar o mal pela raiz? — indaga, nervosa.
— Não, não vão, porque não deixarei — garanto, fazendo-a
dar um sorriso triste.
— O seu... O Carter disse que a minha vida está nas mãos do
Dominic, acha que aquele homem vai interceder por mim? Ele já
está a salvo, irmã, não precisa mais de mim. E homens são todos
iguais — diz, sem esconder o seu medo, o seu trauma.
— Não, Kira, nem todos são. Eu pensava assim até conhecer
o Carter. Mas sabe o que aconteceu? O homem que eu tanta temia
me aceitou em sua vida, me fez ficar apaixonada por ele e me deu
em poucos anos o que Sinead jamais poderia me dar —
confidencio, orgulhosa. — Carter pode ser cruel com os seus
inimigos, mas comigo, que sou sua mulher, é diferente. Ele me trata
como uma rainha, me protege, me ama, me apoia... e o melhor de
tudo, faz de tudo para me ver bem. E esse, Kira, é o mesmo homem
que eu julguei, que achei que acabaria com a minha vida. Conheço
Dom muito bem, é meu amigo, ele vai te deixar viver.
— Será que esse homem vai me deixar livre? — inquire,
esperançosa.
— Dom é um ser humano incrível, ele pode ter aquele porte
intimidador, mas é muito sensato. Você vai se surpreender. — Sorrio
para ela, que retribui.
— Acho que você tem razão. Sabe quem me trouxe? — Nego
com a cabeça, Kira fica vermelha. — O Dominic. Ele está lá fora me
esperando, acho que não quer me perder de vista, talvez ainda
esteja desconfiado... Não sei. Quando ele acordou ontem me
encarava de um jeito estranho, parecia me estudar. Era para um dos
soldados dos Knight me trazer aqui, mas ele não permitiu. —
Enquanto Kira fala, me sinto horrível por criar imagens dos dois
juntos. Seria maravilhoso para ela ter alguém como Dom na sua
vida depois de tantas coisas ruins que passou.
Sabendo que não é momento para pensar em um possível
relacionamento entre eles, eu me calo e deixo que ela fale. Mas
quando me diz que mesmo sem se aguentar muito tempo de pé,
Dominic não a deixou vir sozinha, eu sorrio.
— Você ri? Talvez ele só esteja se certificando de que não vou
fugir. Mesmo que eu o tenha ajudado, ainda sou uma inimiga aos
olhos dele. — Ela faz careta.
Ou não.
Eu sei porque Carter e Dominic são amigos, eles têm muito
em comum, principalmente o instinto protetor.
— Ele vai te surpreender, você vai ver — garanto, segura do
que falo.
Kira suspira, pensativa.
— Tomara que seja de uma forma boa — murmura, distante.
— O que te aflige?
— Acha que Sinead realmente vai morrer? E se ele conseguir
fugir e quiser vir atrás de mim? — O medo que vem dela é evidente.
— Acabou, Kira, aquele homem não tem mais poder sobre os
soldados. Ele se tornou um prisioneiro e eu vou me encarregar de
puni-lo pessoalmente. — Seguro o seu queixo para que olhe bem
em meus olhos. — Podemos não ter o mesmo sangue, mas você é
a minha irmã. E acredite em mim, por dentro estou um verdadeiro
caos, e quando estiver frente a frente com Sinead, ele vai se
arrepender de ter feito tudo isso a você, a minha família e a mim.
Kira fica cabisbaixa e começa a chorar, são as lembranças, sei
bem o que é isso. Mesmo que nenhuma dor possa ser comparada
com a outra, sinto um pouco da sua aflição.
— Eu tinha só dez anos quando o Tyron começou a me aliciar.
Com seus quinze anos, ele deveria cuidar de mim, mas fez o
contrário. Eu era uma criança, só pensava em brincar de bonecas,
mas aquele imundo não enxergou isso quando começou a passear
as mãos nojentas por meu corpo e sussurrar coisas porcas em meu
ouvido. — Ela soluça, partindo o meu coração com o seu desabafo.
— Até os meus doze anos não entendia nada, não tinha malícia, e
Tyron se aproveitou da situação para abusar de mim. E quando o
nosso pai descobriu não fez nada! Assim que completei treze anos
as coisas começaram a piorar, meu corpo estava ganhando forma, e
conforme o tempo passava, mais o maldito se interessava por mim.
“Eu jamais saía sozinha, ele estava sempre de olho em mim.
Aquele demônio tirou a minha virgindade quando eu era apenas
uma criança. Sinead precisou fazer uma viagem e me deixou nas
mãos do meu algoz, que não pensou duas vezes antes de arrombar
a porta do meu quarto no meio da madrugada e me estuprar na
frente dos seus soldados, que assistiam tudo, calados. Mesmo
ouvindo o meu choro, a minha súplica, eles não fizeram nada.
Quando comecei a entender o que eu me tornaria para ele, eu
desisti de viver, só pensava em sobreviver. — Kira me conta tudo
em detalhes e mostra algumas cicatrizes em seu corpo.
Minha garganta parece ter sido esmagada por um peso.
— Se acalme, respire. Só respire. — Seguro o seu rosto com
minhas mãos para confortá-la.
— Os anos foram passando e a minha situação só piorou.
Então acabei desistindo de tudo. Tyron era sádico, e quando
percebeu começou a me ameaçar ainda mais... E eu não queria ser
morta pelas mãos do meu estuprador. Comecei a lutar por minha
vida, mesmo que não valesse mais nada. Tive esperança de me ver
livre dele algum dia, e quem sabe tentar um recomeço mesmo
estando em cacos. Muriel, eu sofri tanto que acho que nem cacos
estou, eu virei pó. O que você vê aqui é apenas uma estrutura, por
dentro estou oca, não tenho nada. — Ela se joga em meus braços e
começa a soluçar.
— Kira, eu sei que é um pedido impossível, mas se acalme. —
Choro com ela, é como se todos os sentimentos dela tivessem
passado para mim.
— Não me sinto bem — murmura, começando a piscar
lentamente.
Se Sinead não tivesse planos para mim, certamente eu estaria
na mesma situação que ela, já que Tyron era obcecado por mim.
— Kira, Kira! — Ela fica mole em meus braços e desmaia.
Consigo colocá-la na cama desajeitadamente antes que caia.
Largo-a desmaiada e corro na direção da varanda, me apoiando na
sacada e olhando para baixo. Ao ver Dom conversando com os
soldados, dou um grito.
— Dom, me ajude, por favor. A Kira desmaiou!
Meu amigo se vira rapidamente ao ouvir a minha voz. Ele nem
mesmo se despede dos soldados antes de correr para dentro da
casa.
Eu me aproximo de Kira, colocando sua cabeça no meu colo e
acariciando o seu rosto.
— Ei, acorde... Não se entregue assim, você já lutou tanto
para desistir dessa maneira. — Soluço, batendo de leve em seu
rosto.
Ela abre os olhos, mas não reage, me observa calada e
chorosa. A sua respiração está irregular e suas mãos tremem, assim
como o seu corpo.
Ouço os passos largos segundos antes de Dominic entrar no
quarto. Ele se aproxima e pega uma mão dela, verificando a sua
pulsação.
— O que aconteceu para ela ter ficado assim? — indaga,
ainda segurando o pulso dela.
— Estávamos conversando. Kira ficou nervosa, acho que está
tendo uma crise de ansiedade — falo, me levantando e enchendo
um copo com água para ela.
— Vou levá-la ao dr. Maison — fala, pegando a minha irmã
nos braços e soltando um grunhindo. Mesmo sem condições de
carregar alguém, ele o faz.
— Dominic, podemos chamá-lo aqui. Você está machucado
e... eu vou com vocês, então — digo, preocupada com ambos.
Mas ele nega, me dando as costas e saindo para o corredor
rapidamente, então eu o sigo.
— Muriel, eu vou cuidar dela, não se preocupe. Sou eu, o
Dominic, não um estranho, lembra? Carter logo estará de volta para
irem a Irlanda. Já está tudo pronto para o enterro de Rose, então
deixe que eu cuido da Kira. Vou retribuir o favor que ela me fez —
diz, caminhando em passos largos.
— Me dê notícias depois — peço, com a mão na cabeça.
— Prometo que ligo assim que puder — garante, sumindo do
meu campo de visão.
Volto para o quarto como se o chão fosse tirado dos meus
pés. Parece que estou pisando em espinhos, e não em terra firme. A
cada passo que dou na direção da varada sinto que o peso que
carrego nos ombros vão aumentando.
Eu deveria ter ido com eles.
Quando penso que o causador da minha desgraça e de Kira
ainda está respirando, meu coração é tomado por uma camada
obscura.
Sou uma boa menina, mas quando é necessário posso ser tão
cruel e suja quanto Sinead Lynch.
Maldito tirano!
Enfim estou em casa. Depois de dar instruções ao meu piloto,
finalmente estou de volta para me aprontar para a viagem.
Assim que deixei Muriel em casa, fui informado por Killz que
Maeve e Celeste tinham partido para a Irlanda. A mãe da minha
cunhada é uma mulher muito poderosa, está na frente dos negócios
da família dela em Chicago desde a morte do sacana do Conan,
junto à sua melhor amiga e braço direito.
Dominic me ligou e disse o que aconteceu com Kira, a garota
não passou bem enquanto conversava com Muriel. Certamente foi
difícil para ela lidar com tanta pressão, sorte que ela tem uma
pessoa como o meu amigo para ajudá-la em uma situação como
essa. Ele está agindo um tanto quanto estranho com essa garota,
mas não acredito que tenha se apaixonado por ela, deve ser mais
uma forma de retribuir o que ela fez por ele. Deixei claro que o
futuro de Kira Lynch está nas mãos dele, então pedi que pensasse
calmamente e depois me desse uma resposta.
Bato à porta do quarto que está fechada e chamo por Muriel,
mas ela não responde. Ao entrar, eu não a encontro, então sigo
para o banheiro, deixando a valise prateada em cima da cama.
Encontro a minha garota em frente ao espelho, passando batom em
seus lábios. Assim que me vê, seus olhos sorriem para mim, assim
como os meus para ela. Eu a abraço por trás, beijo o seu pescoço e
inspiro o seu perfume doce.
— Você está linda — digo, avaliando o seu vestido preto
através do espelho. Não demora muito para que ela largue o batom
na pia e se vire para mim.
— Obrigada — agradece, com um pequeno sorriso. — Falei
com Kira, obrigada por ter permitido que ela viesse me ver, agora
posso viajar em paz porque sei que a minha irmã está em boas
mãos. Dom prometeu cuidar dela. Você já sabe o que aconteceu
aqui, não é? — fala, com mais animação.
Confirmo com um leve meneio de cabeça.
— Sim, ele já me ligou. Ela está em boas mãos, você sabe
disso.
— Ele prometeu que vai me ligar mais tarde — diz, com pesar.
Muriel é muito altruísta, admiro isso nela. Mesmo que não esteja
passando por uma fase boa, ainda assim se preocupa com o
próximo.
— Ele me ligou e disse que Kira está bem. O dr. Maison é um
ótimo médico e está cuidando dela. — Tento tranquilizá-la.
— O.k., fico mais aliviada — diz, menos tensa. — Sabe,
conversando com Kira, percebi que ela precisa de acompanhamento
psicológico, Carter, e eu farei de tudo para ajudá-la. Ela é mais uma
vítima dos Lynch. Ela carrega o sangue e o sobrenome deles, mas
não quer dizer que seja um deles. Senti as dores dela, o seu medo,
a sua revolta, tudo. Eu vou apoiar a minha irmã, ela merece ser feliz,
ter a liberdade depois de tantos anos presa naquela gaiola infernal,
e eu preciso que você a deixe ir. E se ela não quiser, que fique e
construa uma vida. Não sei... só preciso que Kira se sinta segura e
confiante.
A maneira como ela se expressa, cheia de atitude e
autoridade, me enche de orgulho.
— Tem certeza disso? — pergunto, mesmo sabendo que ela
tem.
— Tenho sim. Vou ser a família que Kira nunca teve, Carter.
Espero que possa me apoiar, você vai ser o meu marido e o seu
apoio será muito importante. — Quando ela toca a minha mão, eu
me lembro que ainda não dei um anel para selar o nosso
compromisso.
Em breve, a minha ruiva se tornará uma Knight.
Muriel Gallagher Knight.
— Pode contar comigo. — Beijo o seu ombro e me afasto
dela.
— Obrigada. Eu te amo — diz, com a voz animada.
— Eu também te amo, sereia — digo e começo a me despir
para entrar no boxe para um banho.
— Vou deixar você tomar seu banho em paz — fala e sai do
banheiro rapidamente.
Entro no boxe e ligo o registro, deixando a água cair na minha
cabeça quando fecho os olhos.
Alguns minutos depois de ficarmos pronto, seguimos para a
pista do aeroporto particular depois de dar algumas instruções aos
soldados que ficarão fazendo a segurança da casa.
Richard nos encontra no meio do caminho e pega a mala de
Muriel, que caminha ao meu lado, com a mão entrelaçada na minha.
Não precisei trazer nada além de uma valise prateada com três
Glocks novas e alguns acessórios. Darei essas belezuras para a
minha futura esposa, ela saberá usar quando estiver frente a frente
com Sinead.
— Estou nervosa — confessa.
Viro-me para ela e tenho a visão mais perfeita quando a
encontro com o rosto virado em minha direção, seu cabelo voando
enquanto sorri. Pego a mão dela e levo até a minha boca, beijando-
a em seguida.
— Não fique, logo chegaremos lá — asseguro.
Assim que entramos no jato, nos acomodamos e afivelamos
os cintos. Coloco a valise no banco ao lado de Muriel antes de
passar meus braços por seus ombros, puxando-a para mim. Muriel
tira os óculos escuros e enfia a mão dentro da minha jaqueta, me
abraçando com força.
— Tenho algo para você, considere como presente de
casamento — falo e ela dá um pequeno sorriso. Me inclino e pego a
valise, colocando-a no colo e a abrindo cuidadosamente. —
Gostou? São suas.
Seus olhos brilham ao fixarem nas armas. Muriel leva a mão a
elas e passa a ponta dos dedos lentamente.
— Uau, eu amei. Obrigada. — Tira uma Glock do estojo e a
avalia, fascinada. Ela vira a arma de um lado para o outro,
manuseando com cautela. Muriel é muito bem treinada, só nunca
esteve em ação.
— Considere um presente especial, porque é com uma delas
que você vai matar o Sinead. — Toco em seu queixo e Muriel sorri
friamente, adorando ouvir as minhas palavras, mas, de repente, seu
olhar fica distante.
Hoje não falamos sobre a Maeve, porém, antes de chegarmos
a Irlanda, tenho que informá-la que irá se deparar com a mãe. E
sinto que agora é o momento certo para isso, ela não vai gostar de
ser pega de surpresa ao se deparar com a mãe daqui a algumas
horas. Assim que limpo a garganta para contar a ela, Muriel
sai dos seus devaneios e se vira para mim.
— Minha mãe vai estar lá, não é? — pergunta, já antevendo o
que eu ia dizer, ao devolver a arma para a valise.
— Sim, isso mesmo — confirmo, avaliando a sua reação.
Ela meneia a cabeça e fecha os olhos por um instante.
— Imaginei que fosse, afinal, Rose era uma pessoa
importante para ela, eram mais do que sogra e nora, eram
cúmplices — diz, pensativa
— Você odeia a sua mãe? — Fecho a valise e a coloco ao
lado. — Como se sente em relação a ela? — As perguntas me
fazem lembrar da revolta de Ezra e a mudança do seu
comportamento quando soube que era nosso irmão apenas por
parte de pai, que toda a sua vida foi uma farsa.
— Pelo contrário, eu a admiro, mesmo que não demonstre —
confessa, dolorosamente. — Maeve é uma grande mulher, isso é
nítido. Ela e a minha avó fizeram o que foi possível para que eu
pudesse viver, esperaram anos para uma retaliação... Elas
passaram anos se doando para mim, por mim, mesmo sem que eu
soubesse disso. Não posso ser ingrata, seria injusto da minha parte,
Carter, mas ainda não me sinto pronta para ter uma conversa com
ela. Não enquanto não me despedir da nana. Eu preciso pensar
muito antes de me sentar com a minha mãe para conhecer a sua
história. — A resposta madura que me dá me faz dar um sorriso
admirado.
— Leve o tempo que precisar. Por mais que ela esteja ansiosa
para que se aproximem, sei que vai respeitar o seu espaço, o seu
tempo. — Pego a sua mão e a entrelaço na minha.
— Tenho certeza disso. Ela me esperou por vinte anos. —
Boceja, encostando a cabeça no meu braço.
— Exatamente.
Muriel vai fechando os olhos aos poucos, pelo visto, alguém
vai chegar a Irlanda dormindo. Depois da noite que tivemos, é lógico
que ficaria cansada e com sono. Aconchego-a nos meus braços e
beijo a sua testa.
— Acorda, chegamos — Carter diz ao longe.
Ainda sonolenta, abro os olhos devagar e olho ao meu redor,
meio perdida, então me viro para ele e o encontro sorrindo
gentilmente.
— Chegamos? — pergunto o óbvio, já que estamos em terra
firme e o piloto está fora do jato.
— Sim. Pousamos no aeroporto que era de propriedade dos
Lynch.
Jamais tive acesso a esta parte da propriedade. Enquanto
morava com os Lynch, eu tinha limites de onde poderia ou não ir, e
o aeroporto era uma das áreas proibidas para mim, talvez
pensassem que eu poderia fugir ou algo do tipo. Eles me privavam
de muitas coisas aqui, como se eu fosse a verdadeira usurpadora.
Assim que Carter e eu saímos do jato, ele diz a Richard para
pegar a minha bagagem e a valise. Quando coloco meus pés no
chão, sinto minhas pernas tremerem, jamais pensei que voltaria a
esse lugar depois de tantos anos longe, para enterrar alguém que
amo.
Notando o meu desconforto quando encaro a casa ao longe,
Carter se aproxima e leva a mão às minhas costas, beijando o meu
ombro em seguida.
— Está pronta? — indaga, gentilmente.
— Nunca estive tão pronta em toda a minha vida. — Engulo a
saliva que desce rasgando pela minha garganta.
— Richard, venha com a gente — pede Carter, segurando
minha mão assim que começamos a caminhar até o veículo que nos
levará à mansão que um dia pensei ser dos Lynch.
Mesmo de longe consigo ver os soldados espalhados pela
propriedade, todos fortemente armados e ligados nos nossos
movimentos, nem um deles ousa a se aproximar ao nos reconhecer.
Por mais que esteja doendo, me destruindo por dentro, vou
ser forte. Eu sou forte. Mesmo que este sofrimento seja penetrante e
se instale no meu peito como lâminas afiadas, reconheço que a
minha dor está me fazendo enxergar o tamanho da minha força,
afinal, não fui treinada para este dia. Já cheguei a imaginar como
seria a minha morte, mas em hipótese alguma da pessoa que eu
mais admirava.
Já dentro do carro, penso no Sinead, nas suas barbaridades e
como estou sedenta por nosso encontro. E fico grata por Carter não
me privar de sentir o sabor da vingança, ele mais do que ninguém
sabe o quanto preciso ter o sangue sujo daquele rato maldito em
minhas mãos. Por Kira, por meu pai que nem conheci, por nana, por
todas as pessoas que eu amo e, principalmente, por mim.
Essa tortura que domina cada célula do meu corpo só vai
aliviar quando eu conseguir o que preciso – a morte de Sinead por
minhas mãos. Pela primeira vez na minha vida vou matar alguém, e
saber que serei eu a causadora da morte dele me alegra.
Para tudo tem uma primeira vez, e eu serei a algoz de alguém.
Assim que o carro para e nós descemos, o irmão mais novo
dos Knight se aproxima. Spencer é todo tatuado, alto e intimidador,
chego a pensar que talvez ele seja mais perigoso que Carter.
— Estávamos esperando por vocês — diz Spencer antes de
me olhar com pesar. — Meus pêsames, cunhada.
— Obrigada — agradeço-o, dando um pequeno sorriso por
seu “cunhada” ter soado com tanto carinho.
— Richard, eu assumo daqui — informa Carter, se afastando
de mim e pegando a valise e a minha bagagem.
— Tenho novidades para você, mas não sei se vai gostar. Eu
te enviei uma mensagem, mas pela sua cara não recebeu — diz o
loiro, passando a mão na nuca.
— Que merda aconteceu? — pergunta Carter, enquanto
andamos na direção da casa.
— Demos um fim ao corpo do Tyron. Primeiro ateamos fogo e
depois colocamos os restos dentro de um saco, então pedimos a
dois soldados para desovarem em um lugar bem longe daqui.
Aquele filho da puta não merecia entrar em um caixão. — Spencer
pausa a fala e me encara sem saber se continua, mas com um
gesto que o irmão faz, ele volta a falar. — A Lidewij foi ver o Sinead,
e mesmo vendo o estado que Ezra e eu o deixamos, a mulher nos
pediu que o deixássemos a sós com ela, mas claro que não o
fizemos. Na primeira oportunidade que teve, ela avançou no velho
quando ele a provocou mesmo naquele estado de merda dele. A
mulher não deixou barato, se não fosse por mim e Ezra, ela o teria
matado ali mesmo.
Particularmente, me encho de orgulho com as informações do
meu cunhado.
— Ela está bem? — Fico surpresa ao me ver perguntando
sobre a minha mãe quando o instinto familiar me domina.
— Pode acreditar que está muito melhor do que antes. —
Spencer pisca para mim.
— Fizeram o certo. Se a deixassem sozinha, ela o mataria.
Obrigado — Carter agradece ao irmão.
— Família é para isso, você sabe. Outra coisa, o corpo de
Rose tem que ser enterrado logo, como eu disse, só estávamos
esperando vocês. Só falta a Muriel se despedir para fazermos isso.
Deixamos o caixão na sala para um acesso melhor — diz meu
cunhado, tocando na minha ferida mesmo sem saber.
— Tudo bem — sussurro, dolorida.
Por fim paramos em frente à casa. Como a porta está aberta,
meus olhos rapidamente se fixam no que há dentro dela – soldados
posicionados em cada lado, em um canto afastado, cabisbaixos e
esperando por ordens.
— Segure isso aqui, Spencer, ela precisa de mim — diz Carter
antes de entregar as coisas para o irmão.
Com o choro entalado na garganta, sigo na direção do caixão
onde está a minha nana. Sufocada, encaro o seu corpo antes de
olhar as pessoas ao redor – minha mãe e Celeste –, que tentam me
confortar com seus olhares.
Levo a mão à cabeça e solto um soluço alto, então sou
amparada por Carter, que me segura pela cintura e beija a minha
cabeça.
— Nana... minha nana. Se eu soubesse que nunca mais iria te
ver teria ligado, teria dito o quanto você é importante para mim.
Mesmo sem saber que era a minha avó, diria o quanto te amava.
Você cuidou de mim a vida toda, me amou sem pedir nada em troca.
— Desmorono, deslizando os dedos em sua pele fria, horrorizada e
ainda tentando aceitar a sua partida. — É horrível... t-te... ver assim,
minha avó. Se eu pudesse a traria de volta... Você está tão fria, sem
vida. — Choro, passeando os olhos por seu rosto.
Ao perder o controle das minhas pernas, Carter percebe e me
abraça, sussurrando no meu ouvido que devo me acalmar. Mas é
impossível atender ao seu pedido diante de tanta dor. Eu teria
matado Tyron primeiro se soubesse a desgraça que ele me traria.
Mataria aquele monte de merda sem pensar duas vezes. Aquele
imundo não só feriu profundamente o meu coração, ele abriu um
buraco e jogou ácido, destruiu toda piedade que havia dentro de
mim.
— Muriel, olhe para mim — pede Carter, me colocando de
frente para ele e tocando o meu rosto com as duas mãos, me
obrigando a encará-lo.
— Desde ontem... e-estou evitando falar nela... e vê-la assim
dói... machuca — digo, gaguejando e chorando. Abraço-o
fortemente, sem me importar com as pessoas ao nosso redor.
— Filha — minha mãe fala e toca o meu ombro, mas eu a
ignoro —, você não está sozinha, estou aqui para você — diz, com a
voz quase embargada.
Sem conseguir manter a postura de durona e esmagada pela
dor avassaladora, eu me rendo às investidas da mulher que me deu
a vida e também se sacrificou por mim. Saio dos braços de Carter e
me jogo nos dela, que me recebe calorosamente. Ela me abraça e
choramos juntas. Passamos um bom tempo lamentando por não ter
a minha avó, uma verdadeira guerreira, que lutou até o fim pelos
nossos ideais e pelo meu bem até o último dia de sua vida. Não
importa quantos anos passem, Rose Gallagher será eterna em
minha memória e coração.
Honrarei o seu nome e o esforço que fez para que eu pudesse
estar com a minha mãe um dia e recuperássemos de volta o nosso
lar, que nunca deveria ter sido dos Lynch. Malditos tiranos.
Maeve e eu nos afastamos quando ouço Carter pigarreando
ao nosso lado depois de certo tempo. Ela limpa meu rosto e dá um
sorriso fraco para mim.
— Muriel, está na hora, não podemos mais adiar isso —
Carter informa, com a expressão abalada por me ver tão vulnerável.
— Tudo bem, vamos. — Me recomponho e dou uma última
olhada para o caixão antes de um dos soldados se aproximar e
baixar a tampa.
Carter faz um sinal para os quatro homens que vão carregar o
caixão, então eles se posicionam e sem demora estão caminhando
para na direção em que vão enterrá-la.
— Vem comigo. — Meu futuro marido entrelaça a mão na
minha para seguirmos os soldados, com minha mãe e Celeste logo
atrás.
Pego os óculos escuros e os coloco no rosto, mas antes olho
para o céu nublado e percebo que logo a chuva começará a cair.
Mesmo que eu queira esconder minhas lágrimas por trás das
lentes escuras, elas acabam deslizando por minhas bochechas.
Em um ato inesperado, Carter me pega no colo ao notar que
minhas pernas não estão mais me obedecendo. Encosto o rosto no
seu ombro e seguro o choro na garganta enquanto ele caminha
calado. A sua ação me faz o amar ainda mais. Nem nos casamos e
ele está cumprindo a metade dos votos que devem ser trocados na
cerimônia de casamento.
Depois de pouco tempo ele para, então sei que chegamos ao
lugar onde nana descansará. Tiro os óculos e encaro Carter, que
está com os olhos em mim. Levo a minha atenção para as duas
mulheres mais velhas e não passa despercebido o soluço de
Maeve.
— Me coloque no chão, por favor — peço quando vejo os
soldados posicionando o caixão na cova.
Carter atende ao meu pedido, mas não deixa de lado o seu
instinto protetor ao me abraçar por trás. Celeste ampara a minha
mãe, que se ajoelha na terra e chora quando os soldados começam
a enterrar a minha avó.
Por longos minutos ficamos observando até a cor marrom da
madeira desaparecer. De repente, o som alto de um trovão é ouvido,
então olho para cima e recebo pingos grossos de água sobre o rosto
quando a chuva começa a cair violentamente.
A chuva só estava esperando que a minha nana fosse
enterrada. Enterros jamais serão bonitos, mas a forma como é o
dela dói no meu coração, porque ela merece mais, porém, as
circunstâncias do momento não nos permitem proporcionar isso a
ela. Mas sou profundamente grata aos irmãos Knight por terem sido
tão solidários a ponto de esperar que eu me despedisse dela.
Sem ter mais lágrimas para chorar e toda encharcada, me
afasto de Carter e vou até as duas mulheres. A minha mãe, mesmo
em meio a uma tempestade, continua jogada no chão, com as mãos
cobertas pela terra, chorando e pedindo perdão para a minha avó.
— Eu deveria ter vindo antes, minha sogra... Poderia ter
evitado a sua partida, mas você foi teimosa. — Lamenta a minha
mãe, sendo amparada por Celeste que tenta tirá-la do chão.
Fortalecida, eu me agacho ao seu lado e tiro as mechas
encharcadas do meu rosto antes de tocar no seu ombro.
— Se levante, você não é a culpada, ninguém é — digo, com
a voz firme.
Ela soluça e me encara sob os cílios grossos e molhados.
— Filha — me chama em um sussurro.
— Levante-se — insisto, e estendo a mão para ela. Uso a
força que nem sabia que tinha para puxá-la para cima.
Pela segunda vez no dia, eu e Maeve Gallagher nos
abraçamos. Não precisamos trocar palavras, o nosso abraço e o
silêncio são suficientes para passar para a outra o que estamos
sentindo.

— Vá descansar um pouco, você teve um dia cheio. — Me
coloco atrás de Muriel, que encara o lado de fora através da parede
de vidro da casa.
Depois de enterrar Rose Gallagher, ela ficou muito mais
calada. Notei que ver a mãe naquele estado, jogada no chão,
desesperada pela morte da sogra, a abalou profundamente. Muriel
está pensativa desde o enterro. Não vou dizer que me surpreende a
sua demonstração de afeto com Maeve, afinal, são mãe e filha.
Mesmo que não sejam próximas ainda, o sangue sempre fala mais
alto.
— Estou bem aqui, obrigada por se preocupar — diz, com os
olhos vidrados na chuva forte.
— Quer conversar? — pergunto e levo as mãos à sua cintura.
Não conseguimos voltar para a casa, está caindo uma
tempestade e nos arriscarmos levantando voo é desnecessário.
— Não se preocupe tanto, amor, só estou tentando assimilar
tudo. É como você disse, foi um dia cheio. E ver a minha mãe
naquela posição me deixou triste, me fez enxergar o quanto ela e
nana eram parceiras, cúmplices — diz, com pesar.
Após ter tido o apoio de Muriel para se levantar, Maeve foi
levada para dentro da casa com a ajuda de Celeste. Muriel não quis
acompanhá-las e eu a apoiei, ambas ainda precisam assimilar tudo
o que está acontecendo. Acredito que amanhã estarão prontas para
dar um passo importante em suas vidas.
— Todos notaram a admiração da sua mãe por Rose, ficou
claro o amor dela pela sogra — digo, concordando com ela.
— Fiquei de coração partido com a cena que presenciei. E
saber que o causador disso tudo ainda está vivo me mata por
dentro. Eu odeio tanto o Sinead, que a ânsia em fazê-lo pagar por
tudo me transforma em um monstro louco para ser libertado. Você
não tem noção de como estou sendo alimentada pela raiva e desejo
de vingança — declara, fechando os punhos.
— Eu sei que sentimento é esse, já passei por isso, Muriel. Eu
a entendo perfeitamente e garanto que Sinead vai pagar por tudo o
que fez para a sua família, principalmente a Kira. — Puxo seu corpo
para perto do meu e a abraço por trás.
— Eu vou garantir que isso aconteça, Carter. — Ela se vira
para mim e fixa os olhos esmeralda nos meus.
— Pode ter certeza de que te apoiarei. — Aproximo meu rosto
do dela e a beijo rapidamente.
— Preciso te pedir uma coisa, Carter. Não tente me impedir
em nada, nada mesmo. Quando Sinead e eu estivermos frente a
frente, não importa se ele me ofender ou ameaçar, apenas me deixe
cuidar dele — diz, com a expressão séria.
Se aquele homem estivesse sem um arranhão e forte o
suficiente para revidar, eu não a deixaria lidar com ele. Mas os meus
irmãos e eu já tratamos de deixá-lo fraco o bastante para não
suportar nada. Muriel pode sim lidar com ele, mas eu não arriscaria
a vida dela com Sinead em boas condições, ele é traiçoeiro. Saber
que ele não pode ir muito longe me faz prometer que ela pode
cuidar dele, fazer o que achar necessário.
— Prometo que não vou interferir.
Ela sorri ao ouvir minhas palavras.
— Vou confiar em você, sr. Carter. — Me dá um selinho, mas
eu o transformo em um beijo mais profundo.
Pouco tempo depois alguém pigarreia atrás de nós, então me
afasto de Muriel e me viro para encontrar Spencer. O meu irmão
está a poucos passos, com dois copos de uísque.
— Aceitam? — pergunta Spencer, educadamente.
— Eu não gosto, mas obrigada — diz Muriel, com doçura.
— Acho que vou aceitar. — Vou até ele e pego o copo,
levando-o aos lábios e provando o álcool, sentindo o relaxamento
aparecer aos poucos. Estava precisando disso.
— Preciso falar com você, em particular — fala Spencer,
depois de beber de uma vez o seu uísque.
— Não gosto desse tom, é algum problema? — indago,
lembrando-me do seu vício com as drogas.
— Coisa minha que preciso dividir com você. Já falei com
Ezra — diz o meu irmão, meio pensativo.
— Vou deixar vocês a sós — diz Muriel. — Vou tomar um
banho e procurar alguma cama para me deitar um pouco — declara
antes de se afastar.
Quando Muriel some do nosso campo de visão, Spencer e eu
nos sentamos nas poltronas da sala.
— Você contou ao Ezra que voltou a usar drogas? —
pergunto.
— Claro que não, isso é assunto meu, Carter. Quero falar
sobre trabalho — diz, despreocupadamente, pegando meu copo e o
colocando ao lado do dele no móvel.
Ele está tão distante que me preocupo. Cada um sabe dos
seus demônios, e o fato de ele voltar ao vício me aflige.
— Não, Spencer, esse problema com as drogas é algo sério, é
um assunto nosso, da nossa família. Eu sei que você é adulto, dono
das suas ações, só que quando se trata de uma coisa tão séria
quanto essa, sinto te informar, irmão, mas iremos nos envolver. —
Meu irmão fica mais sério do que já estava enquanto analisa as
minhas palavras. — Se ao menos você usasse uma vez ou outra
moderadamente, apenas por curtição, tudo bem. Mas quando o vi
naquele dia, você estava acabado. Spencer, você usou demais.
Imagina se tem uma overdose? Como a porra da família vai ficar?
Os Knight só são completos com os cinco, se um de nós faltar, a
família nunca mais será a mesma. Então tente ser mais forte que
esse maldito vício. Você é forte, eu sei que consegue.
Era para essa conversa ter acontecido bem antes, mas
naquele dia ele praticamente fugiu para não lidar comigo.
— Eu sei, Carter. Você tem razão em tudo, mas não sou
viciado, apenas exagero algumas vezes — defende-se, passando
os dedos nervosamente pelos fios do cabelo.
— Conte aos nossos irmãos o que está acontecendo com
você, ou eu contarei, mesmo contra a sua vontade. — Infelizmente,
tenho que tomar essa decisão, não por mim, mas por ele.
— Não fode, Carter, não sou mais aquele moleque
inconsequente. Deixe os nossos irmãos fora disso. Se eu confiei em
você para falar dos meus assuntos é porque me sinto mais à
vontade com você. — A sua voz sai irritada.
— E com o Ezra não? — indago, revoltado com a sua ira
descabida.
— Não teremos essa conversa agora. Esqueça. — Ele se
levanta e eu faço o mesmo.
— Antes, anos atrás, até entendia um pouco essa sua
dependência. A morte dos nossos pais o deixou muito abalado, e
usar de vez em quando era como uma válvula de escape para tentar
sufocar a dor, mas, caralho, Spencer, já faz muitos anos. Você não é
mais nenhum adolescente, então comece a tomar as rédeas da sua
vida se não quer que eu me envolva. — Coloco o dedo em riste e
percebo que meu irmão engole em seco. — Eu não vou ser o seu
cúmplice, não nessa merda. Foque nos carros, nas corridas, em
qualquer outra coisa. Irmão, só quero o seu bem, não quero ficar
com remorso por ter te deixado morrer por causa...
Me calo ao ouvir a porta da frente ser aberta e Ezra entrar,
todo molhado. Ele nos avalia com desconfiança, e ao ver Spencer
com aquele olhar fica ainda mais. Ezra passa a mão no cabelo
encharcado e se sacode, soltando um xingamento.
— Vai ficar com remorso do quê, Carter? — pergunta Ezra,
deixando claro que ouviu parte da minha fala.
Spencer solta um suspiro aliviado.
— Estava falando sobre a proposta dos irmãos Benk para
trabalhar em um negócio com um dos sócios deles — mente
descaradamente o Knight mais novo.
Ezra o conhece tão bem quanto eu, e mesmo que não
acredite, não o pressiona.
— Entendi. O que você decidiu? — Ele passa pela gente e vai
direto para o móvel onde estão as bebidas.
Estamos agindo como se a casa fosse nossa desde que
tomamos o poder do Sinead. Spencer me suplica com os olhos para
eu me calar.
— Vou aceitar. Marlon e Darlan me disseram que vai ser um
serviço bom. Vamos trabalhar para um velho italiano chamado
Nicolo Romano, para ele e para a esposa. Iremos transportar
algumas coisas, será daqui a alguns meses ainda, estão
negociando — fala o mais novo, todo animado.
— Já trabalhei com eles, são ótimos. Vai se dar bem — digo,
tentando esquecer a tensão que havia se instalado entre nós dois.
Os irmãos Benk estão sempre fazendo serviços por fora dos
negócios da família deles. Nicolo deve ser um bom pagador, Marlon
e Darlan só trabalham para quem eles querem, ninguém os obriga a
nada, e caso alguém tente, os irmãos matam sem piedade.
Ezra retorna com uma garrafa na mão e toma alguns goles
diretamente dela antes de se sentar no sofá e soltar um suspiro de
cansaço.
— Estava precisando de um pouco de álcool na veia para
aguentar aquele cuzão chorão. Não sei como você aguentou aquele
homem por tanto tempo — resmunga Ezra, voltando a dar mais um
gole da bebida.
— Com quem você o deixou, Ezra? — pergunto, curioso.
— Está com a mãe da Muriel. Ela me pediu para deixá-los
sozinhos. Achei melhor sair, porque se ficasse mais tempo eu
acabaria com aquele velho. Mesmo todo fodido, ele continua
tagarelando e fazendo ameaças impossíveis — diz. Pensei que
Maeve estivesse na casa, ela deve ter saído pelos fundos. — Mas
pode ficar tranquilo, ela não está com cara de que vai matá-lo tão
rapidamente, a mulher quer vê-lo sofrer primeiro.
Ao meu lado, o celular de Spencer começa a tocar, então ele o
tira do bolso e se levanta assim que olha para a tela.
— Preciso atender essa ligação, vejo vocês depois. — Ele
caminha até a porta e sai para fora da casa, mesmo que esteja
chovendo.
— Ela não vai, tenho certeza. Maeve sabe que a filha tem que
acertar as contas com Sinead — digo, encarando-o, que assente em
concordância. — E o que você fez com o Brends Ivanov? Você
disse que ia entregá-lo vivo para a avó. As balas que enfiei nele
foram suficientes para entender que não pode lidar com a gente? —
De repente, lembro-me do asno inútil.
— Já o coloquei embaixo das asas da vovó dele, ontem
mesmo. Enviei alguns soldados até a Rússia, só não te falei antes
porque estava com muitas coisas para resolver. — Ezra passa a
mão na barba. — Os tiros foram certeiros para deixá-lo
desesperado, mas não para matar, infelizmente. A melhor parte foi
tirar as balas e ver aquele frouxo choramingando com medo de
morrer. Ele te xingava e fazia ameaças, mas quando peguei pesado
o imbecil mudou de ideia rapidinho e pediu para ir embora. — Meu
irmão gargalha.
— Se ele está respirando é graças a você. Se dependesse de
mim... — Me recordo da ideia de ele querer se casar com Muriel,
tenho certeza de que Sinead tem o dedo podre no meio disso.
— Graças a Viktoria, que salvou o rabo dele mais uma vez. Eu
não gosto do Brends, ele não vale nada, é como os pais — retruca
Ezra.
— E como está a sua relação com a Viktoria? Ainda é
estranho para mim, já que você a odiava tanto. Já a chama de
mamãe? — Fixo meus olhos nele, que faz careta.
— Vá se foder, Carter — resmunga, me fazendo gargalhar. —
Depois que eu e Alessa entregamos as nossas caixas a ela, aquelas
que nos davam poder na Rússia, cortamos por completo o vínculo
com a Viktoria. O tempo foi passando e ela manteve a palavra dela
de ficar longe da gente, até que certo dia a Ivanov nos procurou e
pediu que déssemos uma chance a ela, porque gostaria de
conhecer os netos. Alessa e eu pensamos bem em sua proposta e
acabamos aceitando. Desde então, estamos nessa trégua, só que
mantemos o nosso limite.
— Gostei desse passo que deram. A vida é curta demais para
a pessoa viver sempre na defensiva — falo, com os pensamentos
indo até Muriel e na reviravolta que aconteceu em sua vida em tão
pouco tempo.
— Tem razão. Mas sabe o que percebi e me deixa muito
orgulhoso? — Nego balançando a cabeça. — Você tinha tudo para
tentar resolver o seu problema com os Lynch sozinho, deixar o seu
orgulho passar por cima de você, como eu fiz... hoje me arrependo
das ações que tomei, porque se tivesse pedido apoio a vocês antes,
o meu filho estaria vivo e Hailey não teria sofrido tanto. Quando
você nos procurou pedindo ajuda fiquei orgulhoso por não ter agido
como eu, deixando a história se repetir — diz Ezra, dando um
sorriso triste.
— É bom saber que se orgulha de mim, irmão. Mas não pense
assim, não fique cutucando uma ferida do passado. Eu aprendi que
quanto mais velha é a dor, mais dolorosa ela pode ser, então foque
no presente e nos dois filhos lindos que você tem com a sua esposa
— aconselho e o vejo dar um sorriso verdadeiro e alegre.
— Está certo. Toda vez que penso no meu passado, um
maldito buraco se abre no meu peito. Às vezes acho que vou morrer
de remorso por não ter dado o meu melhor. — Ele se levanta e leva
a garrafa de álcool que está pela metade à boca.
— Esqueça isso. Você deu sim, se superou com os anos. Foi
uma experiência ruim que te serviu como aprendizado.
— Muriel é uma garota de sorte, encontrou o Knight certo. Ela
não poderia ter escolhido outro que não fosse você. — Ele pisca
para mim.
— Não mesmo. — Fecho a expressão e Ezra sorri, divertido,
logo sorrio também.
— É bom te ver amando de novo, Carter. Você merece ser
feliz, mas com alguém que seja tão transparente quanto você. E
essa menina nos surpreendeu muito, ela te ama demais — fala, com
sinceridade.
— E eu a ela, Ezra. — Passo a mão por meu cabelo e me
levanto. Preciso ver a minha ruivinha.
— Nem precisa dizer, as suas ações te entregam.
— Entregam, sim. — Lembranças do momento em que matei
Tyron aparecem.
— Vou voltar para minha missão de babá do velho babão.
Alguém precisa ficar de olho naquela mulher, ela está com sangue
nos olhos. — Ele dá tapinhas em meu ombro antes de me dar as
costas.
Meu irmão se vai e eu sigo em direção aos quartos. Eu
desejaria uma boa noite a ele, mas esta noite não será uma das
melhores para nenhum de nós. Muriel certamente não vai pregar os
olhos, conheço-a muito bem, só vai sossegar quando amanhecer e
fechar de uma vez o ciclo com Sinead.

Vi o dia amanhecer. Passei a noite em claro, sentada em uma

poltrona observando a chuva cair até que a escuridão da noite fosse


substituída pela claridade do dia e a tempestade fosse embora. Não

consegui dormir, muito menos Carter, que me fez companhia. Ele

insistia que eu deveria me deitar, mas eu não quis, não consegui.


Sabe quando um problema te incomoda e você não consegue

dormir? Assim fui eu.

— Vou te acompanhar até lá — diz ele.

Estou pronta para visitar Sinead, ele foi o motivo de eu não ter

pregado os olhos. Depois que isso tudo acabar, quero me sentar e

tomar um belo champanhe para brindar à sua morte.

— Não precisa, é só me dizer onde ele está. — Eu o encaro

enquanto abro a valise em cima da cama e tiro as duas armas,

colocando-as nas minhas costas.


Carter é muito protetor, o seu instinto sempre vai falar mais
alto. Tenho certeza de que ele vai querer tomar à frente da situação,

mesmo que tenha prometido não se intrometer.

— Vou te levar até lá e depois eu volto — fala, decidido, indo


em direção à porta.

— O.k., já que insiste. — Dou-me por vencida.

— Vamos. — Abre a porta e sai, não demoro muito para seguir

os seus passos.

Atravessamos o corredor que dá para a sala e a encontramos

vazia. Carter e eu saímos da casa e encontramos alguns soldados,


que nos cumprimentam no meio do caminho.

De imediato, sou conduzida para o lado esquerdo da casa

onde ficam três galpões enormes que eram usados pelos Lynch
para os seus negócios. Não sei muito sobre eles porque nunca tive

acesso, mas são neles que devem guardar armas, cargas roubadas

e até mesmo drogas, afinal, faziam todo tipo de negócio.

No meio do trajeto, olho para o céu e solto um suspiro. Parece

que não vai chover, ao menos é o que espero. Na Irlanda o clima é

bastante imprevisível no quesito variações diárias, independe da

estação que estamos, pode estar fazendo sol agora e do nada


começa uma chuva intensa. Por conhecer o meu país, coloquei uma

blusa de manga longa para me proteger do frio e por baixo estou


com uma mais fresquinha.

— É naquele galpão — se manifesta Carter, tocando nas

minhas costas e apontando para o galpão do meio.

— Posso assumir daqui — digo, encarando o galpão com as

enormes portas.

— Muriel, mesmo que ele esteja muito ferido, não confio


naquele homem. Eu vou com você. — Carter me encara com

seriedade e entrelaça sua mão na minha.

— Carter...

— Muriel, precisamos conversar. Agora.

Somos interrompidos pela voz da minha mãe atrás de nós.

Rapidamente eu me viro para encará-la. Ela está muito melhor


do que ontem, a sua expressão voltou a ser de uma mulher forte,
confesso que gosto de vê-la assim. Maeve caminha em nossa

direção com uma mochila em sua mão.

— O que a senhora quer? Eu estava indo...


— Eu sei para onde estão indo, mas antes temos que

conversar. Já adiamos demais a nossa conversa, filha — me


interrompe assim que está perto o suficiente.

Hesitante, eu me viro para Carter e sei que ele irá me apoiar

em qualquer decisão que eu tomar. Se eu quero entender o lado


dela por ter demorado tanto para aparecer, tenho que ouvi-la,

ninguém mais pode me dizer o que aconteceu se não ela, a minha


mãe.

— Tudo bem — por fim, concordo.

Ela assente e sorri.

— Vou deixar vocês sozinhas, qualquer coisa me chame,


Muriel — diz Carter, se afastando de nós.

Enquanto minha mãe caminha em minha direção, não consigo

desviar a minha atenção da mochila que ela carrega, tanto que ela
percebe o meu interesse e sorri.

— Vamos a um lugar, preciso te mostrar algo — instrui, se


colocando ao meu lado.

— O.k. — Meneio com a cabeça e começamos a caminhar

para o lado oposto dos galpões. A propriedade é enorme, muito


maior do que a de Carter que atearam fogo.
— Você se parece comigo quando eu era mais jovem, e não só
fisicamente. — Começa quando passamos por alguns soldados,
todos armados e cabisbaixos.

— Não posso opinar quanto a isso, já que você é uma

estranha para mim. Não te conheci a minha vida inteira — digo,


soando grossa mesmo sem querer.

— Sim, você está certa. Sinto muito por não termos tido a
oportunidade de nos conhecermos antes — responde e aperta a

alça da mochila contra os dedos.

Desvio meu olhar para as enormes árvores espalhadas ao


nosso redor. O caminho que pegamos nos leva para longe da casa,

pisando em um gramado bem-aparado. Penso em perguntar a ela


para onde pretende me levar se não conhece nada por aqui, mas
Maeve caminha como se conhecesse cada canto como a palma da

sua mão. Então me lembro que ela morou aqui antes de eu vir para
o mundo, claro que deve conhecer o lugar de olhos fechados.

Fazemos uma longa caminhada em silêncio, só ouvindo o som

do vento batendo nas árvores e passarinhos cantando. Cansada,


paro de andar, me curvo e coloco as mãos nos joelhos. Meu cabelo
cai na frente do meu rosto, então solto um suspiro depois jogo as
mechas teimosas para trás.

— Por que nunca tentou falar comigo? — Quebro o silêncio,

ofegante.

Olho para trás e percebo que estamos bem longe, a mansão


daqui parece pequena. Eu deveria estar preocupada, mas não
estou, mesmo sem admitir em voz alta, confio nela mais do que

tudo. Estar com ela é o mesmo que ter a presença de nana.

— Ele ia te matar se eu aparecesse. Para aquele desgraçado,

eu tinha morrido — revela, sem olhar para trás. Ela está a alguns

passos na minha frente. — Quando fui obrigada a dar você para ele,
depois do acordo que fizemos para que você pudesse sobreviver,

Sinead enviou dois soldados para me matar. Mas fui treinada desde

a adolescência, e nunca parei de treinar, nem depois de casada.


Porque mesmo que a nossa vida fosse maravilhosa, já nos

preparávamos para algo assim, só que o meu marido não imaginava

que a traição viria do melhor amigo, a quem deu auxílio e colocou

dentro de casa. Rowan podia ser um homem impiedoso com os


inimigos e sócios, mas não era uma boa pessoa. Em alguns
momentos, inocente demais. E por ter fechado os olhos com essa

amizade que tinha com Sinead, ele acabou perdendo a vida.

A sua resposta me causa um impacto tão forte que quase


perco a força das pernas. Ouvi-la narrar, nem que seja o básico, me

abala demais. A forma como fala da sua história e do meu pai enche

os meus olhos de lágrimas.

Minha mãe volta a caminhar e faz um sinal para que eu a siga.

Sem dar uma palavra sequer, eu a sigo enquanto ela nos conduz a
uma cerca. Fico paralisada com a imensidão do rio, nunca o tinha

visto antes, acho que ainda há muitas coisas para serem exploradas

por aqui.

— Venha — me chama ao atravessar a cerca.

— Não sabia que tinha isso aqui. Faz parte da propriedade dos

Lynch? — indago, ainda surpresa.

— Faz sim, mas não é deles, tudo o que tem aqui, cada grão
de terra, é nosso, Muriel. Tudo. A casa, as árvores, o rio — fala, me

ajudando a passar pela cerca.

— Sim, tem razão — murmuro, fascinada com o rio. A água é

tão clara que consigo enxergar as pedras no fundo.


A natureza é muito linda, e olhando ao nosso redor, fico ainda

mais fascinada. Jamais pensei que acharia esse lugar lindo, um

lugar onde não tive bons momentos.

— Foi aqui que eu e o seu pai tivemos a nossa primeira vez —

confessa ao se sentar no chão. Ela coloca a mochila do outro lado e


encara a água que passa pelas pedras. — E foi aqui também que

você foi concebida, tudo é muito claro para mim ainda.

Ela ri pela primeira vez, gosto do som da sua risada.

Sem me sentir pressionada, tiro as armas das minhas costas e

sento-me ao seu lado, então ela faz uma coisa que me deixa tensa

– entrelaça nossos dedos e os descansa em seu joelho. Sem


reação, deixo que fale.

— Eu sei que está curiosa para saber sobre a nossa história,


não se preocupe, vou te contar como as coisas aconteceram — fala,

virando o rosto para me encarar. — Quando conheci o seu pai,

ainda era criança, éramos, na verdade. O Rowan era filho do chefe


dos meus pais. Meu pai era o soldado de confiança do sr. Gallagher,

enquanto a minha mãe a babá do Rowan. — Um sentimento de

nostalgia me bate, como se eu tivesse vivido aquilo. Conforme ela


fala, fico emocionada, fecho os olhos e sorrio.
— Mesmo que a minha família não fosse rica, os Gallagher

nos tratavam como parentes, não importava a nossa posição.


Sempre comíamos à mesa com eles, todos os dias, e foi assim que

eu e Rowan crescemos juntos, e em uma certa idade nos

apaixonamos. O meu pai era o único soldado que comia com o


chefe e a família dele. Acho que essa consideração que o sr. Riley

tinha por nossa família causava inveja em outros soldados. Eu

cresci em um lar cheio de amor, a sr. Rose me dava de tudo, era

como se eu fosse filha deles. Tive direito a estudar em uma escola


boa e cara, parecia que eu era uma das herdeiras, mas não digo

que tive um bom lar pelas coisas materiais, e sim pela forma como

era tratada. Por ser o soldado de confiança do sr. Riley, o meu pai
devia a ele lealdade, mas eram amigos acima de tudo.

“E o meu pai foi leal a ele até o dia da sua morte. Finn Murray

morreu em combate para salvar a vida do Rowan. Nessa época, eu

tinha somente quatorze anos e o Rowan dezesseis. Nossos pais

morreram quase no mesmo dia; o meu, assim que foi baleado,


enquanto o dele, dias depois. O seu pai e eu ficamos sem pai de

repente, e foi a partir desse dia que ficamos mais próximos um do

outro, ele foi o meu ombro amigo e eu o dele.


“Ainda adolescente, o seu pai teve que assumir a família por

ser o filho único, e foi difícil para ele, mesmo treinado e sabendo que

um dia estaria comandando os negócios da família, aquela coisa de

poder para ele carregar sozinho mexeu muito com ele. Era muita
carga muito pesada para alguém tão jovem. Cobravam muito dele, e

poucos lhe davam confiança e respeito. Houve momentos em que o

seu pai teve que mostrar o seu lado cruel para que pudessem
respeitá-lo, era isso ou ele e a mãe dele perderiam o que o sr. Riley

havia construído com tanto esforço.

“Rowan matou pela primeira vez aos dezesseis anos. Naquele

dia, ele tirou seis vidas, matou os soldados que se negaram o

respeitá-lo. Ele precisava fazer aquilo, e mesmo que tenha sido duro
para ele por ainda estar em luto, foi necessário. Só então

começaram a vê-lo como o chefe da família. Depois de um ano,

Rowan continuava sendo o chefe, tinha assumido todos os


negócios, mas jamais deixou de me tratar bem e ser carinhoso.

Sempre fomos muito amigos, muito próximos.”

Assim como as lágrimas caem do rosto dela, caem do meu. A

sua narrativa me faz criar um cenário na minha cabeça, imagino

cada cena.
— Só depois que completei quinze anos começamos a

namorar. O nosso namoro não surpreendeu as nossas mães, elas


sabiam que um dia isso acabaria acontecendo, então, quando

souberam, ficaram felizes demais. Mas alguns sócios dos Gallagher,

não, afinal, eu era só a filha de um ex-soldado, e estava sendo

assumida pelo chefe. Eles queriam que uma de suas filhas


estivessem em meu lugar. Muriel, o seu pai me prometeu que eu

seria a única mulher da sua vida desde o nosso primeiro beijo, e eu

fui. Namoramos somente por um ano, quando ele completou dezoito


me pediu em casamento, e eu aceitei, claro. Eu o amava mais do

que tudo, fomos o primeiro tudo um do outro, éramos loucamente

apaixonados.

“Muitas pessoas foram contra o nosso romance, mas nunca

nos importamos com isso, então nos casamos, fizemos muitos


planos, tivemos anos de aventuras. O seu pai, mesmo focado nos

negócios da família, me levava para viajar, e foi em uma dessas

viagens que conheci Celeste Lewis. Ela estava hospedada no


mesmo hotel que nós, com o Conan Russell. Eu e ela tivemos uma

conversa rápida, trocamos telefones, mas nunca imaginei que um

dia nos tornaríamos tão amigas, que ela seria a minha salvadora.
Ter simpatizado com ela e guardado o seu número foi a minha
salvação.

“Rowan e eu vivíamos muitas coisas boas, mas não

pensávamos em ter filhos tão cedo, tínhamos decidido curtir

primeiro os anos de casados. Muitas pessoas intrometidas falavam


que deveríamos ter filhos logo, queriam que enchêssemos a casa

de crianças. Assim, se algo acontecesse ao Rowan, ele não teria

somente um filho, como aconteceu com ele. E foi o que fizemos,

somente aos vinte e cinco anos que eu tive você. Ficamos felizes
demais quando soubemos que teríamos uma menina. O seu pai fez

uma festa. Naquele dia, eu tinha certeza de que tinha me casado

com o homem certo. Normalmente, os homens preferem meninos,


mas Rowan não, ele te amou desde o primeiro dia que soube que

você era uma garotinha.”

— E como o Sinead entra nessa história? — pergunto,

soluçando.

Apesar de tanto sofrimento, eles tiveram uma linda história que


não teve um final feliz, infelizmente. Mas enquanto estavam juntos
foram felizes.


— Vou chegar lá agora — diz com amargura, e eu a entendo.
— Conhecemos o infeliz do Sinead três anos antes, através de um

dos soldados. Ele foi à nossa casa oferecer sociedade ao Rowan.


Aquele desgraçado queria que o seu pai fizesse negócios com ele

para transportar drogas, mas o meu falecido sogro não trabalhava


com isso, então o seu pai dispensou o Sinead. O Lynch era mais
velho e mais experiente, já tinha trinta anos, e os muitos anos de

experiência dele atraiu o Rowan, que estava precisando de um


braço direito, já que não tinha um. Então Sinead disse que as
drogas não eram os únicos negócios dele e que poderiam trabalhar

como ele queria. Para conseguir amolecer o coração do seu pai, o


miserável disse que tinha dois filhos, Tyron, e uma criança de dois
anos, a Kira. Rowan prometeu que pensaria bem e pediu que ele

fosse embora. Nesse dia, o seu pai descobriu qual era o soldado
que estava passando informações para Sinead e o matou, assim se
sentiu mais seguro. Só que não foi o suficiente, afinal, mal sabíamos
que aquele homem cruel queria tomar o lugar do seu pai nos

negócios.

“Ele já sabia sobre os Gallagher desde a época que os seus


avós tinham morrido, mas só soubemos disso anos depois.

Infelizmente, dois dias depois de ter matado aquele soldado, por


não ter tido a resposta do seu pai, Sinead apareceu com a família e
pediu abrigo. Ele estava muito machucado e a esposa também. O

Rowan ficou com pena, mas eu e a sua avó não, desde o primeiro
dia não simpatizamos com ele. Acabou que os Lynch ficaram na
nossa casa. Os dias foram passando e Rowan por fim cedeu. Ele e

Sinead viraram amigos inseparáveis em pouco tempo, aquele infeliz


conseguiu o que queria – a confiança do meu marido e se meter nos
nossos negócios. Quando ele começou a se envolver nos negócios,

as minhas desconfianças aumentaram. Assim que Rowan saía a


negócios, Sinead agia como o chefe, coagia principalmente nós, ao
invés de nos respeitar, ele mostrava as garras.”

— E a minha avó, a sua mãe? O que aconteceu com ela? —


indago, em um sussurro, chocada com as revelações.
— Ela morreu quando eu estava com seis meses de gravidez.

A minha mãe começou a adoecer e aos poucos foi piorando, até


que em uma manhã fui ao seu quarto dizer que você tinha mexido
pela primeira vez e a encontrei morta. O seu pai estava viajando,

então Sinead providenciou um médico da confiança dele, mas


desconhecido para nós.

“Mas eu sei que ela não morreu de causa natural. Naquela


época eu achava que sim, mesmo estranhando, mas só depois de

vinte e poucos anos descobri que Sinead estava fazendo a minha


mãe de cobaia. Quando o visitei assim que cheguei, ele confessou

friamente que a minha mãe foi um teste para que conseguisse matar
o seu pai sem que o descobrissem. Eu pude perceber que era
verdade, porque mesmo que a sua avó fosse ao médico, nunca

descobríamos o motivo de ela ficar tão acamada.

“Sinead estava testando um veneno que matava aos poucos.

Minha mãe o consumia na água, já com o seu pai, o porco colocava


em todas as bebidas alcoólicas da casa, porque sabia que ninguém
mais tomava, somente o Rowan. Era por isso que o desgraçado

mentia dizendo não ingerir álcool, porque tinha envenenado tudo.


Ao mesmo tempo que ele envenenava a minha mãe, envenenava o
seu pai, então deduzi que começou a aumentar as doses do veneno
somente quando a sua avó morreu, afinal, o plano dele estava
dando certo.”

Por Deus. Levo a mão à boca, perturbada com as informações.

— Sinead foi astuto, matou o amigo que confiava nele por


poder. Achava que o seu pai não fazia bons negócios e queria tudo
o que era dele, mas só soubemos disso quando Rowan já tinha

morrido e Sinead comprado a maioria dos soldados. Os que não


ficaram do lado dele foram mortos — revela, se recuperando do
choro. — Meses depois você nasceu, e por saber que você era uma

herdeira, Sinead tinha traçado planos para a gente também. Ele


sabia que os seus sócios não iam aceitar a sua morte por ser um
bebê, foi então que me fez a proposta, para mim e para a Rose. No

início não íamos aceitar, tentamos tomar a frente dos negócios, mas
não quiseram nos ouvir, contaram para o Sinead e ele me ameaçou,

disse que se tentássemos traí-lo, ele mataria a minha sogra e daria


um tiro na minha barriga. Fiquei com medo, estávamos sozinhas no
mundo. O seu pai tinha morrido, e eu e sua avó não tínhamos

ninguém por nós. Fomos coagidas, e para não te perder aceitei as


exigências dele, tudo por você... Tudo, minha filha.
“A sua avó e eu vendemos a nossa alma ao diabo pela sua
liberdade, mesmo que fosse uma falsa autonomia. Tive que partir e

deixar um pedaço de mim para trás, mas mesmo sabendo que viver
com aquele homem não seria saudável para você, fui embora da
minha casa com a esperança de algum dia e eu a Rose

conseguimos de volta o nosso lar. Rose ficar com você foi uma
exigência que fiz ao Sinead e ele aceitou. Rose e eu fizemos uma
promessa, um juramento, nem que custasse as nossas vidas,

iríamos te proteger para que pudesse viver, e na hora certa


tomaríamos de volta o que nunca deveria ter sido tirado da gente.”

Ela narra exatamente o que nana tinha dito na carta, sobre eu

ter sido entregue para Sinead quando tinha nascido e ele ter me
criado como a bastarda dele. O meu medo de me abrir com ela e

aceitá-la na minha vida vai embora. Ao ouvir o seu lado da história,


sinto que não cabe mais incerteza dentro de mim. Sim, eu sofri, mas
não mais do que ela, do que a minha família. A vida delas se

resumiu em me manter viva, nem mesmo pensavam nelas.

— Sinto muito. Só agora posso entender o tamanho da sua dor

e as escolhas que teve que fazer. E tudo foi por mim. — Levo a mão
ao seu rosto e limpo as lágrimas.
— Não sinta, fiz e faria tudo de novo para que você pudesse
viver. — Sorri para mim, mas eu não tenho forças para retribuir.

O poder cega as pessoas. O poder é capaz de matar, acho


que a vida toda foi assim.

— Você me disse que ele mandou dois soldados acabarem

com você, como conseguiu fugir? — inquiro, muito curiosa.

— O seu avô, Finn Murray, manuseava muito bem facas, então


aprendi com ele desde pequena a manusear também. Naquela noite

que fui mandada embora, os dois soldados que estavam no carro


começaram a ficar estranhos, e eu desconfiei. Assim que entraram
em uma trilha que eu sabia que desovavam os corpos,

disfarçadamente tirei as duas facas que tinha comigo e rasguei a


garganta dos dois de uma vez assim que pararam o carro. Eu usei
toda a minha raiva neles. Eu me senti revigorada ao ver o sangue

espirrar e os pescoços rasgados — fala, com orgulho. — Antes de


sair do carro, peguei o celular de um deles e desbloqueei com a
impressão digital, por sorte eu tinha o número de Celeste em uma

agenda que Sinead não tinha tirado de mim por achar sem
importância, então liguei para ela e pedi ajuda. Foi assim que nos
tornamos amigas. Ela me levou para Chicago e me manteve
escondida. Celeste Lewis me deu um lar sem me conhecer, me

apoiou quando eu estava acabada, por um fio.

Um dia quero ter uma amizade como a delas. Posso ver a


admiração de ambas.

— Mesmo que eu não a conheça direito, já gosto dela — falo,


conseguindo sorrir depois de um tempo.

— Ela é a irmã que eu nunca tive, Muriel. Aquela mulher me

fez renascer. Eu abri o meu coração para ela, e não fui mandada
embora mesmo sabendo da minha vida. Ela me colocou para
trabalhar como segurança particular dela, me deixou viver entre a

sua família, e o que eu pude dar a ela foi lealdade. Durante todos
esses anos fomos leais uma à outra — confessa, se levantando e
estendendo a mão para mim. — Venha comigo, vou te mostrar algo.

Aceito a sua mão e ela me ajuda a levantar.

— Se a Rose não tivesse morrido, você viria atrás de mim

mesmo assim? — pergunto, avaliando a sua reação. Ela não diz


nada, apenas me guia na direção do rio, parando em frente a uma
pedra enorme. — Viria? — insisto.

— Quando eu e o seu pai viemos aqui ainda éramos


adolescentes, colocamos a inicial dos nossos nomes nesta pedra.
— Ela ignora a minha pergunta e solta a minha mão para passar a
ponta dos dedos na pedra, esfregando com força até que as iniciais
“R.M.” aparecem. — E respondendo a sua pergunta. Sim, eu viria.

Você é minha filha, minha maior herança, eu jamais quebraria a


minha promessa quando te peguei pela primeira vez em meus
braços assim que nasceu, Muriel. Todos esses anos mantive contato

com Rose, ela me falava como você estava crescendo, me contou


como foram os seus primeiros passos, quando você falou pela
primeira vez... Tudo. Nunca deixei de saber como você estava, filha.

Durante quase vinte anos juntei muito dinheiro com o meu trabalho,
e quando Celeste ficou no poder de Chicago e virei o seu braço

direito, consegui dobrar o valor que eu tinha. Eu e ela somos sócias,


tenho dinheiro suficiente para recomeçar e não precisar do sujo dos
Lynch, que construíram em cima do sangue do seu pai. — A sua voz

sai amarga.

— Você sabia que Sinead me deu para o Carter para quitar


uma dívida? — Ela assente, cabisbaixa. — Eu vivi um inferno
achando que o meu próprio pai tinha me dado para um

desconhecido. — Me calo quando ela me puxa para um abraço.

— Foi horrível, eu sei. Sinto a sua dor, minha querida. — Ela

passa a mão nas minhas costas. — Mas quando soube que era
para um dos Knight, os meus planos em te resgatar ficaram mais
fáceis. Durante os quatro anos, eu e Rose nos falávamos com mais

frequência, já que na casa do Carter ela poderia falar comigo sem


os soldados dos Lynch a vigiando vinte e quatro horas. A minha
sogra me mantinha informada, mas as coisas começaram a

desandar quando você foi para Londres e, infelizmente, aconteceu


isso com ela. — Minha mãe me aperta com força.

— Seja sincera, por favor. Vou te perguntar algo e quero que


me diga a verdade — peço, com a voz falhando.

— Claro, é só perguntar — diz, carinhosa.

— Foi Sinead o responsável pela morte de Rose, não é? Ele


mandou o filho matá-la, certo? — pergunto, me afastando dela.

— Sim. Ele confessou que foi um prazer matar a sua avó, e

que era para já ter feito isso muito antes... Aquele homem é podre.
Eu deveria ter voltado para matá-lo quando me mandou embora,

assim não teria feito tanta crueldade — diz, vazia, com um tom frio.

— Ele conseguiu tudo o que queria, mas agora basta.


Precisamos parar esse homem, mãe. — Assusto-me ao chamá-la
de mãe, os seus olhos brilham com o meu reconhecimento.
Sem reação, me inclino e pego as armas, colocando nas

minhas costas e me afastando de Maeve. Quando estou prestes a


atravessar a cerca, ela me chama.

— Muriel, leve isso com você — pede, com a voz embargada.

Viro-me e a vejo pegar a mochila misteriosa e estender para


mim.

— O que é isso? — pergunto, respirando fundo.

— São fotos. Aqui tem fotos do meu casamento, de quando


seu pai e eu éramos adolescentes, da minha gravidez — diz, com a

mochila estendida na minha direção. — Acho que vai gostar de vê-


las.

Pego a mochila da sua mão trêmula.

— Preciso voltar... me desculpe — murmuro, atordoada,


desviando meus olhos dos dela.

— Quando estiver pronta para me aceitar estarei aqui. Não vou


a lugar algum, filha. Sei que são muitas informações para você

assimilar — fala, tocando no meu ombro e massageando de leve.

— Obrigada por tudo. — Eu a encaro, com os olhos


lacrimejados.
— Não agradeça, eu fiz por amor. — Sorri para mim e eu

assinto.

— Por isso estou agradecendo. — Dou as costas para ela.


Penso em olhar para trás, mas não o faço, fecho os olhos e respiro

fundo.

Após atravessar a cerca, começo a caminhar em passos

largos, e sem ao menos perceber estou correndo e segurando a


mochila com força, como se a minha vida dependesse disso. Corro
a ponto de ofegar enquanto as lágrimas caem e cenas da nossa

conversa passam como um flash na minha cabeça.

Injustiçados. Não, isso é pouco para o que os Gallagher


passaram.

Maldito seja o dia em que Sinead Lynch entrou na vida da


minha família. Esse homem foi a desgraça deles.
Com a garganta seca, a respiração violenta e as pernas
trêmulas, aproximo-me do galpão em passos largos. Ao lado das
enormes portas encontro dois soldados. Quando me veem chegar
perto demais, eles não permitem que eu entre.

— Me deixem entrar — peço, com a voz ofegante e toda suada

da corrida que fiz até aqui.

— Nos deram ordens para não deixar a senhora entrar. Sinto


muito — diz o soldado do lado esquerdo.

— E quem deu as ordens? Saiam da minha frente, agora! —

grito, nervosa, colocando a mochila nos ombros.

A raiva já me consumiu, não consigo me controlar.

— O sr. Knight, senhora. — Eles mantêm a postura séria.

— Qual deles? Temos aqui três. Ezra, Spencer e Carter. Qual

deles? — Passo a mão por meu cabelo enquanto ando de um lado


para outro.

Preciso acabar com Sinead. Eu preciso. Esse homem é um

doente, imundo.

— Fui eu, sereia.

Nem preciso me virar para saber quem é o dono da voz.

— Por que fez isso? — pergunto, sem me virar para ele e com

a voz rouca de tanto chorar.

Ouço seus passos se aproximando e aperto os olhos.

— Porque te conheço muito bem, e sabia que depois da sua


conversa com Maeve, você viria aqui. Lidar com Sinead da forma

como você está não é aconselhável. Ele vai querer se alimentar da

sua fraqueza. — Ele me abraça por trás, mas antes tira as armas

das minhas costas.

— Não estou fraca, Carter, estou com raiva e você sabe muito

bem o que é isso. — Saio do seu abraço e viro-me para ele, que faz

um gesto com a mão para os soldados se afastarem. — Você tem


que parar com isso, se continuar sempre assim, me vendo como

uma menininha frágil, eu nunca vou poder andar com as minhas

próprias pernas — acuso-o, cansada por ele estar quebrando a sua

promessa na primeira oportunidade.


— Muriel, só estou cuidando de você, me entenda. Porra —
rosna, furioso.

— Assim? Dizendo que sou fraca? Pode não parecer, mas sou

forte, muito, então pare de me ver como um bibelô de cristal que


pode quebrar se cair no chão. Me dê as minhas armas, eu as quero

de volta. Se ia fazer isso comigo, não deveria ter me dado nada.

Existem outros métodos de matar alguém, Carter. Não me teste. —

Estendo as minhas mãos, com o semblante fechado.

— O.k. — Ele me entrega as armas.

— Não tente me parar, mantenha a sua palavra — aviso,

colocando as armas nas minhas costas.

— Eu não vou, não mais. — Ele cerra os dentes.

— Obrigada — agradeço-o, mesmo sabendo que o deixei


furioso. — Guarde para mim, por favor. — Tiro a mochila e entrego a

ele.

Dou as costas para Carter, que solta um palavrão, mas não me

segue. Empurro as portas do galpão com força, soltando um gemido

por serem pesadas. Quando estou dentro, deparo-me com Sinead

sentado em uma cadeira, envolvido por correntes grossas e uma

poça de sangue aos seus pés. Ele está todo ensanguentado,


machucado. Os seus braços estão com cortes profundos, a roupa

rasgada, dá para ver que o mutilaram todo.

Realmente, os Knight fizeram um belo trabalho. O miserável


está desacordado, ou fingindo. Ele está cabisbaixo e com os olhos

fechados.

— Isso é pouco para você. O que fizeram com você é o básico,

seu maldito. — Cuspo no chão, avaliando-o enquanto dou passos


em sua direção. A bile sobe ao sentir o fedor de sangue, mijo e

merda misturados.

Minhas botas ficam sujas do seu sangue quando acabo com a


nossa distância, mas não me importo. Seguro seu cabelo com uma

mão e puxo sua cabeça para trás, sujando os meus dedos com o
líquido vermelho enquanto a outra aperta seu pescoço com força
suficiente para que ele abra os olhos e me encare.

— Sentiu saudades do papai, filha? — Ele sorri, mostrando

que alguns dos seus dentes se foram. Os seus lábios estão partidos
e os supercílios com cortes.

— Você não é e nunca será o meu pai, Sinead Lynch. — Cravo

as unhas afiadas na ferida em seu pescoço e ele grita de dor


conforme aperto a sua carne aberta.
— Vadiazinha. Se eu não estivesse preso nessas correntes te

mostraria como é que se respeita o homem que te deu um lar. —


Geme, se debatendo.

— Mesmo que estivesse solto não seria capaz de lidar comigo.

Você está como a porra de um inútil, seu merda. — Afasto-me dele,


mas antes cuspo em seu rosto nojento.

— Veio brincar de assassina, pirralha? — Arrasta a voz com


um tom de desdém.

Olho para a mesa ao lado com vários objetos de tortura e o

ignoro ao seguir silenciosamente para ela. Passo meus dedos pelas


inúmeras coisas dispostas – lâminas de bisturi, agulhas, machados

pequenos, entre outras coisas. Paro em dois que me interessam


muito – um maçarico portátil e uma tesoura enorme para línguas.

— O que você prefere primeiro? A tesoura ou o maçarico? —

pergunto, virando o rosto para o encarar. Sorridente, pego o


maçarico e vou até ele.

— Vá... Se foder... você não é capaz de nada... viveu todos

esses anos na sombra do Knight. Foi um azar ter dado você para o
Carter, se eu soubesse que ele tinha vínculo com a Maeve, teria te
matado em vez de te entregar ao seu salvador. — Ele ri.
Cheia de ódio, desfiro um soco na mandíbula. Ele grita, e eu,
mesmo sentindo dor no punho, suporto calada. Sinead começa a
dar risada só para me provocar.

— Se acha que vai me abalar, está enganado. Não vou desistir

do meu propósito — digo, ligando o maçarico portátil.

Ele encara o objeto e engole em seco. O fodido está tão

ensanguentado, que nem dá para saber se está pálido.

— E qual... o seu propósito, garotinha? — fala, mas é notória a


força que faz para manter a voz firme.

— Te matar. Você tem que pagar por tudo o que fez para a
minha família, principalmente para a sua filha, a Kira. Sangue do
seu sangue. — Encosto o maçarico no seu braço e a sua pele frita

como uma carne sendo jogada no óleo fervente. O aço da corrente


vai ficando vermelho com a potência do fogo, ao mesmo tempo em

que afunda na carne dele.

É uma cena desumana, mas não sinto nada, não há


sentimento de piedade dentro de mim.

Com os olhos esbugalhados e não suportando a dor que estou


causando, Sinead se debate, joga a cabeça para trás e chora.

Jamais pensei como seria prazeroso vê-lo assim, tão vulnerável.


Subo e desço o objeto portátil em seu braço por um tempo, até que
dou as costas para ele e volto para a mesa. Em vez de pegar a
tesoura, que seria muito mais útil para não ouvir mais a sua voz

irritante, separo cinco agulhas para começar uma nova brincadeira.

— Acho que você vai gostar desses brinquedinhos. — Estalo a


língua assim que me aproximo dele e o obrigo a me encarar ao

segurar o seu rosto.

— Você... Você... É louca! — geme, aterrorizado.

— Eu não fiz nada ainda. — Dou um tapinha em seu rosto, em

seguida, me agacho ao lado do braço queimado e enfio a primeira

agulha. — Esta é por minha família, por mim, Kira, nana e por toda
maldade que você fez durante todos esses anos.

O Lynch grita, quase me deixando surda, depois enfio a outra,

e assim faço uma fileira com as cinco agulhas no local onde passei

o maçarico.

Com sangue nos olhos e sedenta por mais vindo dele, levanto-

me e tiro as armas das minhas costas. Sinead treme quando


aproximo uma do seu pescoço, perto da veia arterial, e a outra enfio

na sua boca.
— O que me impede de estourar os seus miolos agora

mesmo? — Forço a arma em sua boca.

Ele se engasga e arregala os olhos, assustado.

Eu o torturo psicologicamente por um tempo, ameaçando

atirar, mas não o faço, não será tão fácil assim para ele.

— Sabe, agradeço por você nunca ter prestado, pois assim


não fico com pena de dar o que você merece. — Tiro a arma da sua

boca e ele cospe um sangue grosso, que embrulha o meu

estômago.

— Vá... Para o inferno — gagueja, trêmulo.

— Quem vai para algum lugar aqui é você, seu lixo. Até o

inferno é pouco para você — digo.

Ouço o barulho da porta do galpão sendo aberta, então me

viro e vejo a minha mãe entrando.

— Filha — me chama enquanto caminha em minha direção.


Assim que me alcança, Maeve me avalia calmamente antes de olhar

para Sinead, que está olhando fixamente para nós.

— Este é o meu momento... As duas coitadas... juntas para

uma conversa em família. — A voz dele sai entre gemidos. O


homem não aguenta mais nada e fica fazendo jogo duro. Com

apenas um tiro ele morre. Cada centímetro da sua carne está podre

e fedido.

— Cala a boca, seu desgraçado. — Vou até ele e soco o seu

rosto várias vezes com as armas. — Você não tem direito algum de
abrir o caralho da sua boca, Sinead. Você ferrou as nossas vidas

como se fôssemos um nada! — O seu sangue espirra em meus

dedos. Mesmo que ele esteja gritando, eu não paro, e fico grata por
minha mãe não tentar me impedir.

Bato no rosto dele até me sentir cansada e ele chegar a quase


perder a consciência.

— Muriel, respire fundo e se acalme. — Sinto-a tocar no meu

ombro.

— Esse homem desgraçou todos nós. Por anos teve a audácia

de roubar o que era nosso por direito. Matou o meu pai, as minhas

avós, me roubou uma vida com vocês, e ainda deixou a minha irmã
ser violentada pelo próprio irmão. A senhora acha que esse

miserável merece um momento de calma? — Com as mãos

tremendo, largo as armas na mesa ao lado e me aproximo do


homem que está cabisbaixo e gemendo baixinho. Envolvo a mão
em seu pescoço e o estrangulo. Seus olhos reviram e ele se

engasga com a força que coloco.

— Você tem razão, estou de acordo — diz ela, ao tirar as


minhas mãos do pescoço dele. O seu toque é tão confortável.

— Junte-se a mim e vamos acabar com ele. Nós merecemos


fazer isso juntas. Esse porco nos separou, ele deve morrer por

nossas mãos — falo, friamente, me virando para ela.

— Sim, sim, é o que mais quero. — Ela sorri, e seus olhos têm

um brilho que conheço muito bem. Eu carreguei por anos o brilho da

dor e desejo de vingança. — Por que acha que não o matei? Sinead
não merecia morrer tão rápido, muito menos sem a sua presença.

— Ela beija a minha testa.

— Que... Lindo... Estou comovido com essa cena — desdenha

Sinead, tossindo.

— Você tem alguma sugestão de como podemos calá-lo para

sempre, Muriel? — pergunta a minha mãe, se colocando ao meu


lado.

Nos encaramos e damos sorrisos cúmplices, completamente

frias e implacáveis.
— Arrancar a língua dele e guardar como lembrança. — Vou

até a mesa e pego a tesoura. Sinead começa a se debater como se

fosse possível fugir do destino dele. — A tesoura é minha, e isto

aqui é seu. Arranque os dedos dele para que aprenda a não tocar
no que não é dele. — Alcanço o cortador de charutos e entrego para

a minha mãe.

É tão prazeroso vê-lo morrendo aos poucos com o sofrimento

físico e psicológico que causo, sinto-me fortalecida.

— Eu deveria ter matado as duas com as minhas próprias

mãos. Esse foi o meu erro. — Ele chora de dor.

— Não, Sinead. O seu erro foi subestimar as mulheres da

família Gallagher — diz minha mãe, segurando a mão dele e a


abrindo contra a sua vontade. Ela posiciona o aro no dedo mindinho

e ele tenta puxar, mas é inútil. Ela arranca o primeiro dedo e seu

sangue jorra.

— Ahhh... Ahhh — grita ele, quando Maeve começa a arrancar


os outros dedos.

— Cadê a sua coragem agora? Me diga, onde está? — Me

coloco à sua frente e toco em seu ombro, cravando as unhas no seu

ferimento aberto.
Ergo a tesoura e miro na coxa dele. Desistindo de arrancar a

sua língua, desfiro golpes fortes ali, perfurando a pele. O líquido


vermelho espirra em meu rosto e escorre para o chão, os urros do

miserável preenchem os meus ouvidos, me deixando mais

incentivada.

— Você não era o todo poderoso, Sinead Lynch? — Carrego

frieza na voz, puxando a tesoura da sua coxa e afundando dessa


vez em seu ombro. Ele nem tem mais voz para gritar, provavelmente

arrebentou as cordas vocais.

Mesmo sobrecarregada, sentindo o gosto amargo na minha

boca e com o meu coração batendo rapidamente, levo a mão aos

meus cabelos e os puxo para trás.

Recuo quando me dou conta do estrago que fiz em Sinead.


Não estou arrependida, mas assustada com a minha capacidade de

acabar com a vida alguém quando estou dominada pelo ódio. A ira

domina cada partícula do meu corpo.

— Você não precisa fazer isso, sei que nunca matou ninguém

— se manifesta a minha mãe, tocando o meu braço e sujando-o


com sangue.
— Para tudo tem uma primeira vez, não é? Eu preciso disso.
— Umedeço os meus lábios e engulo a saliva que desce rasgando

na minha garganta.

— É o que você quer? — Olha bem em meus olhos.

— Sim. Eu preciso que me faça um favor e seja rápida.

Encontre gasolina e um isqueiro. — Me mantenho firme.

Ela assente e sai da minha frente.

— Aqui tem, já me certifiquei — diz e segue à procura. — Não

é à toa que somos mãe e filha, compartilhamos o mesmo

pensamento.

Vou até Sinead e fico à sua frente, observando o líquido


vermelho lavar o seu corpo. Ele está muito fraco, nem os olhos

consegue abrir mais, já se entregou para a morte.

— Quando eu vivia naquele quarto imundo, me perguntava o


que tinha feito ao meu pai para ele me odiar tanto. Mesmo sabendo

que era a filha “bastarda” de uma “puta”, como diziam, ficava triste
porque queria que me amasse. Mas você nunca poderia me amar, e

eu não sabia o motivo, mas agora sei. — Aperto a tesoura no meu


punho. — Uma pessoa como você jamais poderia ser o meu pai.
Você é imundo, pior do que um lixo... e se fosse, eu morreria por
sentir tanto desprezo de você. Hoje, você vai morrer como matou a
nana, a minha avó. Eu poderia descarregar aqueles dois pentes das
minhas Glocks na sua cabeça, mas aí seria uma morte muito fácil

para você, Sinead, e eu não quero isso. — Fixo meus olhos nele,
que tenta falar algo, mas está sem voz e força para mover a boca.
Ele já está agonizando, não vai durar muito.

— Aqui está, filha.

Olho na direção dela, que estende o galão de gasolina e o


isqueiro. Meneio com a cabeça e volto a minha atenção para

Sinead, que está tão fodido que se o deixássemos aqui morreria


daqui a algumas horas de tantos hematomas que tem. Mas não
darei esse privilégio a ele.

Sinead Lynch tem que queimar, merece sentir as chamas

ardentes penetrando em sua pele e comendo a sua carne até que


sobrem só os ossos.

— Me dê, por favor. — Jogo a tesoura no chão e pego o galão

e o abro, então espalho a gasolina por seu corpo.

Sinead ainda consegue abrir os olhos com muito esforço. Ele


me encara e tenta falar, mas não consegue, a única coisa que sai da
sua boca é sangue. Ele está se engasgando com o próprio veneno.
Estendo a mão esquerda e a minha mãe entende o meu
recado ao me dar o isqueiro. Antes de acender o isqueiro, chuto a
cadeira de Sinead com toda força que tenho e ele cai, batendo o

rosto no chão.

— Esse é o lugar que você merece, o chão, aos nossos pés.


— Quebro a nossa distância e piso em sua cabeça com a minha

bota. — Isto é para que sinta o que nana sentiu. É hora de dizer
adeus ao mundo dos vivos, Lynch. — Eu me afasto e largo o
isqueiro aceso na trilha de gasolina que fiz no chão. Quando o fogo

começa a se espalhar até chegar nele, toma conta de todo o seu


corpo.

Encarando a cena, sinto alguém me abraçar pela cintura e me


puxar contra o seu corpo. Reconheço o perfume masculino de
Carter e quase me desmancho em seu abraço. Não tinha como ele

chegar tão rápido, e isso só prova que ele esteve o tempo todo nos
observando.

Sinead é consumido pelas chamas. O odor do sangue e a


carne queimando preenche as minhas narinas. Ele se debate, mas

não grita, não consegue. Em poucos minutos está morto.


Assim como eu, a minha mãe está olhando para o homem que
nem mais vida tem. Exausta, solto um suspiro e, em meio a lágrimas

de libertação, ouço Carter sussurrar coisas no meu ouvido.

— Eu nunca duvidei da sua capacidade, Muriel — diz Carter,


me segurando em seus braços. — Pelo contrário, sempre soube

que era capaz de conseguir tudo o que sempre quis — finaliza, com
um tom orgulhoso.

— Eu sei que sim — murmuro, controlando o choro.

— Acabou — declara, entrelaçando a sua mão na minha.

Quando me viro, vejo minha mãe instruindo alguns soldados


para controlar o fogo para que o galpão não se incendeie.

— Sim, agora acabou. — Observo o corpo morto de Sinead


Lynch no chão.

Não há mais nada a temer. Agora a minha irmã vai poder viver
em paz, vai poder reconstruir a vida sem ter medo de ser

perseguida.

— Vamos sair daqui. Você vem, mãe? — peço ao Carter, mas


foco em minha mãe que está parada, parecendo pensativa.
— Podem ir, vou depois — ela fala, sem olhar para mim. Está

olhando fixamente para o nosso inimigo sem vida, o que sobrou


dele.

Me solto do Carter e vou na direção da mesa, pegando minhas


armas. Assim que saímos do galpão, alguns soldados nos olham de

relance, mas parece que eu sou o foco principal – meu rosto, mãos
e roupas estão sujas de sangue. Eles abrem espaço para que eu
passe com o chefe deles, então Carter faz um gesto para que se

espalhem e não demora para que voltem para os seus lugares.

Hoje matei uma pessoa, mas não me sinto uma assassina. Só

tirei dele o que tirou de mim primeiro. Vinguei a minha família e a


mim. Antes tarde do que nunca.
Sentado na poltrona, velo o sono de Muriel. Depois do episódio
com Sinead, eu a trouxe para dentro da casa e a levei direto para o
banheiro. Muriel esfregou o sangue dele da sua pele com tanta força
que ficou vermelha, tive que pará-la no ato, por pouco não se

machucou. Após sair do banho, ela se sentou na cama e ficou


calada, pensativa, olhando para o nada. Fiquei preocupado com o
seu comportamento de início, mas nem tanto, é normal reagir assim,

afinal, havia matado pela primeira vez.

Os meus irmãos, quando souberam da morte de Sinead, me

chamaram para uma conversa, e quando viram que eu não

precisava mais do apoio deles por aqui, partiram. Ambos têm


negócios para resolver.

Mas antes de Spencer e Ezra partirem com os nossos

soldados, meus irmãos foram ao centro da cidade e trouxeram


comida. Alimentei Muriel e comi um pouco também, e pouco tempo
depois ela se rendeu ao cansaço e adormeceu. Ela está dormindo

há horas, em um sono pesado.

Pretendo retornar hoje mesmo para a casa. Daqui a algumas

horas Richard deixará o jatinho preparado. A minha missão na

Irlanda está concluída. Na próxima semana, enviarei soldados para


reconhecer as armas e carros, algumas coisas que ficaram nos

meus galpões, e depois vou me desfazer da propriedade, ou não,

ainda estou avaliando a possibilidade. Dominic passou anos aqui


fazendo negócios, e como ele é o meu braço direito, podemos fazer

sociedade com a mãe da minha futura esposa, e o meu amigo pode

reconstruir a casa como desejar e vir morar aqui, se quiser, claro.

Com o celular na mão, visualizo a minha agenda e deslizo o


dedo no contato de Killz, levando o aparelho à orelha. Levanto-me e

dou as costas para Muriel, que ainda dorme serenamente.

Meu irmão não atende, então ligo para Dominic.

— Boa noite, Dom. Tenho boas notícias, mas acredito que já


esteja sabendo — falo, alinhando o meu cabelo com os dedos.

— Boa noite, Carter, sim, eu já sei. E estou muito orgulhoso da


ruivinha. Eu sempre soube que a sua garota é muito forte, devo lhe
dar os parabéns — diz, realmente orgulhoso. Não consigo esconder
o sorriso.

— Eu estava lá no momento, mas não deixei que me notasse.

Quando eu a vi em ação, fiquei com um puta orgulho. Você


precisava ver a Muriel em ação. Ela colocou em prática tudo o que

aprendeu nos treinos, mas o melhor de tudo é que não recuou,

matou aquele verme sem hesitar. — Continuo sorrindo como a porra

de um bobão.

— Meu amigo, se você se ouvisse, perceberia o quanto está

louco por essa mulher. A maneira como fala, a admiração e o amor

estão se destacando em cada palavra — fala ele com propriedade,


claro, me conhece bem.

— Eu a amo, Dom, há muito tempo sei disso. — Passo a mão

por minha nunca.

— Todos sabem, amigo, e eu fico feliz por vocês terem

encontrado o amor um no outro. Ambos merecem a felicidade. Mas

chega de tanta melação... Está precisando de algo?

— Sim e não. Mas como você está? E a sua recuperação? —

indago e o ouço rir do outro lado.


— Me diga o que precisa. Eu estou bem, você sabe que sou

duro na queda. Estou tomando alguns medicamentos que estão


ajudando bastante. As balas que ganhei não foram suficientes para

me matar, ainda vai ter que me aturar por muitos anos, meu amigo.

Dou risada ao ouvi-lo.

— Sei bem disso, Dominic — digo e ele gargalha. — Preciso

que me faça um favor ainda hoje, se conseguir. Liguei para o Killz,


mas não consegui falar com ele. — Viro-me para verificar se Muriel

ainda está adormecida.

— O que é? — pergunta, curioso.

— Onde você está agora? — pergunto ao ouvir uma voz


feminina ao fundo que reconheço em questão de segundos. Kira.

— Trouxe a Kira para jantar em um restaurante. Não sei

cozinhar e ela estava com fome, não quero que a Muriel me mate
por deixar a irmã sem comer. Eu prometi que cuidaria dela em sua

ausência — diz, sem jeito.

— Nem precisava pedir, não é? Eu te conheço, Dominic

Walker, só não machuque a garota, ela é importante para a minha


mulher. Esteja avisado.
— Não fode, Carter, não é nada disso. Não tenho planos como

esses que você está pensando. Só estou cumprindo a minha


promessa — retruca, meio impaciente.

— O.K., depois não diga que eu não te avisei — digo, olhando

para Muriel que se remexe na cama.

— Já sou bem velhinho para ouvir sermões, não? Diga logo o

que você quer, essa conversa está me fazendo perder a fome.

— Não leve para o lado pessoal, mas Kira é a protegida da


irmã e você não vai querer ver uma Muriel furiosa — alerto-o. —

Mas não te liguei para isso, preciso que você vá até o Killz e pegue
o colar da Muriel.

— Não se preocupe, minhas mãos serão mantidas longe da

garota. O.k., só avise ao seu irmão que você me pediu para buscar
o colar, os Knight costumam ser muito desconfiados — diz, mais

relaxado.

— Preciso de outro favor também. — Vou na direção de Muriel.

— Estou ouvindo.

— Encontre uma joalheria que faça um serviço rápido, não

importa o valor. Preciso de um anel de casamento e duas alianças,


vou te passar as medidas por mensagem. — Sento-me na beirada
do colchão e pego a mão de Muriel.

— Quer que eu encomende o vestido de noiva e o terno


também? Nem fui convidado para o casamento, mas você está me

pedindo uma lista enorme de desejos — provoca, brincalhão.

— Não enche, Dom. — Bufo. — Pode me fazer esses favores?

— Deslizo a ponta dos dedos na pele de Muriel.

— Você sabe que sim, amigo é para todas as horas. Quando


se casam?

— Obrigado, preciso dessas coisas para amanhã de manhã.


Nos casamos daqui a alguns dias, falta pouco.

— Uau, rápido. Meus parabéns por não deixar a mulher da sua

vida escapar — fala, demonstrando satisfação.

— Obrigado. Fico aguardando o seu retorno. Vou enviar as


medidas por mensagem agora mesmo. Até breve — me despeço

dele e foco na mulher adormecida.

Quando o meu celular notifica uma nova mensagem, eu vejo


que é do Killz.
“Boa noite. Está precisando de algo? Como estão as coisas
por aí?"

Começo a digitar para ele com uma mão, enquanto a outra

passeio pela coxa da ruiva. Pouco tempo depois envio a mensagem.

“Boa noite, irmão, queria te pedir um favor, mas já falei com


Dominic. Pedi a ele para pegar o colar da Muriel, entregue, por
favor. Por aqui está tudo bem, você já deve saber que o Sinead está

morto."

Muriel se remexe na cama e murmura algumas coisas baixinho

que não entendo, depois volta a ficar em silêncio.

Meu celular toca alguns minutos depois. Killz.

— Soube por Ezra e Spencer que a sua futura esposa matou o

velho. Meus parabéns, ela fez um ótimo trabalho. Devemos

comemorar quando vocês estiverem de volta. — É a primeira coisa


que ele fala.

— Foi sim, estou orgulhoso pra caralho. Muriel foi muito forte.

Está nos convidando para uma reunião em família, Killz? — Sorrio,

orgulhoso da minha ruiva.

— Não só para comemorar. As garotas querem ver a sua

mulher, elas estão envergonhadas por não terem sido sinceras com
a Muriel em relação a mãe dela e outras coisas — fala.

Aposto que está sorrindo do outro lado, o tom de voz o

entrega.

— Pode ser. Que horas e que dia? E você leu a mensagem

que enviei sobre o Dominic? — Levanto-me da cama e passo a mão


no meu pescoço, massageando-o.

— Venha jantar com a gente. Já avisei aos nossos irmãos que

vai ser na minha casa, também convidei o Dominic e a irmã postiça

da sua mulher, afinal, não podemos deixá-los de fora. E sim, o seu


amigo já me enviou uma mensagem avisando que está vindo para

cá. Já tirei o colar do cofre, só estou o aguardando chegar. — Ao

fundo, ouço a voz das crianças e a da minha cunhada reclamando

alguma coisa, que faz o pai rir.

— Quando ela acordar, falarei sobre o seu convite. O.k.,


obrigado — digo, apoiando o celular no ombro e pegando a Glock

no móvel ao lado da cama e uma flanela para limpar o objeto.

— Agora que está tudo resolvido, tem certeza de que ainda

quer se casar? Digo, talvez queira esperar mais, já que as coisas

saíram diferentes de como você imaginava. — Direto como sempre.


— Nunca tive tanta certeza de algo em toda a minha vida, Killz.

Eu quero sim, vamos nos casar daqui a alguns dias. Se dependesse

de mim, eu e ela nos casaríamos amanhã mesmo, mas sei que vai
querer arrumar um bom vestido e está muito em cima para

prepararmos a cerimônia — falo, já limpando a outra Glock e

colocando dentro da valise. Vou adiantar o que preciso para a nossa

partida daqui a algumas horas.

— Você está se saindo melhor do que eu imaginava, Carter. E


faz bem, está mais do que na hora de você construir a sua família.

Então, temos que preparar os nossos ternos, certo? — Sua voz sai

animada.

— Sim, em breve o seu irmão será um homem casado — digo,

bem-humorado.

— E espero que pai também, precisamos de mais herdeiros,

temos que aumentar a família — acrescenta e eu dou risada, mas


fico sério ao me lembrar da minha irresponsabilidade na hora do

sexo com Muriel.

Apesar de estarmos limpos, ainda não falamos sobre ter filhos,

mas, provavelmente, já devemos ter feito um. Transamos várias


vezes sem camisinha, e quando eu ia providenciar a pílula do dia
seguinte para ela, aconteceu aquela desgraça e eu esqueci

completamente disso. Porra, que a minha sereia queira filhos agora,


ou ela vai me matar.

— Acho que não vai demorar muito. — Solto um suspiro e

passo a mão por meu cabelo.

— Ela já está grávida? — pergunta, me fazendo engolir em

seco.

— Eu não sei, mas pode ser que fique... Ainda não tem como

saber — falo. Ao imaginar como seriam nossos filhos, não consigo

conter o sorriso.

Ah merda, estou fodido se vier uma miniatura da mãe. Vou ter


cabelos brancos antes da hora, sem contar o estresse que vou

passar quando ela crescer e o gênio da mãe desabrochar nela. Mas

se vier um ruivinho e puxar à mãe, vai ser mais complicado ainda.


Cacete, confesso que estou animado com a ideia de ser pai.

— Boa sorte. A parte mais difícil é no parto, e quando eles


começam a chorar na madrugada... E...

— Não me assuste antes da hora, Killz, não fode — eu o

interrompo, ouvindo sua gargalhada do outro lado.


— Se foi fácil fazer, vai ter que ser fácil cuidar, Carter —

provoca-me o filho da puta.

— A minha conversa com você encerra aqui. Não esqueça de

dar o colar ao Dom. Tenha uma boa noite, irmão. Vamos embora

hoje, mas só te vejo amanhã, e nada de abrir a boca para falar


sobre essa possibilidade, não tem nada confirmado — falo, com a

porra de um sorriso no rosto.

— Pode deixar, futuro papai. Até amanhã — responde, ainda

cheio de gracinha. É raro vê-lo tão carismático assim.

— Até mais, Killz — despeço-me dele, que desliga a ligação

primeiro do que eu.

Volto a me aproximar da cama, mas antes vasculho a gaveta

do móvel para encontrar algo que dê para medir o dedo de Muriel


sem que ela perceba. Depois de medir o dela, faço o mesmo com o

meu. Anoto tudo e envio para Dominic, que não me retorna, mas sei

que vai cumprir com o prometido.

Notando que Muriel não vai acordar agora, guardo o celular e


saio do quarto para ir ao encontro da minha sogra. Não demoro para

a encontrar sentada no sofá, ao lado de Celeste Lewis. As duas

estão cochichando e se calam quando me veem.


— Boa noite, senhoras. — Sento-me na poltrona perto delas.

— Boa noite, Carter — respondem juntas.

Eu as avalio e percebo o quanto Aubrey se parece com a mãe,

e Muriel, com a dela. Dá para ter uma noção de como ficarão

quando chegarem à idade delas, já que se parecem bastante.

— Estamos voltando para Londres hoje, vocês irão com a


gente? — pergunto, curioso com o que pretendem fazer. Apesar de

Maeve ter o lar dela de volta, não sei quais os seus planos para o

futuro.

— Vamos ficar, Carter, pretendo organizar as coisas por aqui

do meu jeito. Preciso conhecer os antigos soldados do Sinead, que


agora são meus. Mesmo que tenham declarado lealdade, sempre

tem um que muda de ideia, e comigo no comando traidores não

terão vez. Estou disposta a mudar muita coisa por aqui,

principalmente a estrutura ridícula que aquele maldito deixou a


minha casa. — Ela olha ao redor, com a expressão meio raivosa.

— O território é seu. Eu só fiz a minha parte, agora fica a seu

critério, quem dá as ordens aqui é você, Maeve — eu a chamo por

seu nome verdadeiro.


— Não tive a oportunidade de te agradecer o que fez pela
minha família, Carter. Os dias têm sido tão corridos, que não

consegui te dizer o quanto estou grata pelo que fez — diz a mãe de

Muriel, com sinceridade. — Não só por ter nos devolvido o nosso lar,
mas por ter cuidado da minha filha durante esses anos. Você não

tinha obrigação alguma com ela, no entanto, deu conforto, ensinou a

ser uma mulher forte, a protegeu... Fez muitas coisas boas na vida
dela. Fez mais do que eu pude fazer. — Seus olhos lacrimejam.

— Não tem nada para agradecer, senhora. Tudo o que fiz foi
por amar a sua filha, e se for necessário, farei novamente.

As duas mais velhas me observam e sorriem, a mãe da minha


cunhada é de poucas palavras.

— Sim, eu sei que ama, todos nós sabemos disso. A maneira


como defendeu os direitos dela foi muito bonito, raramente os

homens entram em uma guerra por uma mulher, e quando entram é


por amarem de verdade. E o que você sente por minha filha é mais

do que amor. Admiro essa relação de vocês, mesmo que eu só


tenha chegado agora — discursa, emocionada.

— É o seguinte, Maeve, não me agradeça, apenas dê o seu


melhor e reconstrua a sua casa. Sei que esperou por isso há anos,
e agora que tem tudo de volta tenho certeza de que vai dar o seu
melhor. Você é capaz, além do mais, é uma mulher forte e te admiro
por ter sido tão implacável tantos anos — falo, gentilmente, e ela

sorri.

— Vou fazer valer a pena, pode ter certeza. E mais uma vez,
obrigada, você foi essencial. Você e os seus irmãos — diz Maeve,
sem esconder a sua gratidão.

— Somos uma família, e família ajuda uns aos outros. E foi o


que fizemos.

— Isso é verdade, minha amiga, o rapaz tem razão — se

manifesta Celeste Lewis.

Ao ouvir passos se aproximando, ergo o olhar e vejo Muriel


vindo em nossa direção, com o cabelo meio bagunçado e descalça.
Sua expressão já está suave, assim como o sorriso que lança para

mim. Por um momento, penso em falar a Maeve sobre o nosso


casamento, mas ela já deve saber, já que estamos em família e as

notícias correm.

— Boa noite. Estão fazendo uma reuniãozinha e não me


convidaram? — Ela boceja, entregando que acaba de acordar.

Celeste e Maeve se viram para a encarar e sorriem.


— Você estava dormindo, não quis te acordar — defendo-nos
enquanto ela caminha até mim e se senta no meu colo, passando o
braço por cima dos meus ombros.

— Entendi. Vocês duas estão bem? — diz, encara a mãe e


depois a sra. Lewis.

Em resposta, elas assentem como se dissessem “sim”.

— O que acha de arrumar as suas coisas para voltarmos a


Londres, podemos partir daqui a pouco, mas se quiser ficar...

— Não, eu vou com você. O que tinha para ser resolvido aqui
já resolvi. Minhas coisas já estão arrumadas também — ela me

interrompe, decidida, ajeitando os fios do cabelo com a ponta dos


dedos.

— O.k.

— Vocês poderiam me deixar a sós com a minha mãe, por


favor? Preciso falar com ela — pede Muriel, saindo do meu colo.

— Como quiser, querida — diz Celeste, levantando-se.

— Não precisam sair, nós vamos até o quarto — diz a ruiva.

A sua mãe prontamente se levanta. Em pouco tempo, elas


somem pelo corredor, então Celeste volta a se sentar. Ficamos em
silêncio por longos minutos, enquanto a mãe de Aubrey me encara,
me deixando desconfortável.

— Você acha que vai demorar para ela se abrir com a mãe? —

pergunta, esfregando as palmas da mão no tecido da calça jeans,


como se estivesse nervosa.

Surpreso com a sua pergunta, limpo a garganta.

— Pelo que conheço Muriel, ela não vai guardar rancor, sabe
que a mãe se sacrificou por ela e a ama demais. — A minha

resposta a deixa aliviada.

— Fico feliz em saber disso. A minha amiga passou anos


sofrendo com a ausência da filha, e saber que ela estava nas mãos
do inimigo só piorava a situação — revela Celeste. — Maeve pode

ter essa aparência de durona, ser um bom soldado quando está em


ação, mas tem um coração enorme, e quando se trata da filha ela
vira uma gelatina. — Ela sorri.

— Notei isso. Se a senhora me der licença, vou falar com o

piloto para ver se está tudo certo para o voo. — Levanto-me e na


mesma hora o meu celular soa, notificando uma nova mensagem.

— Não se preocupe, querido, pode ir — diz, educadamente.


— Com licença, sra. Lewis. — Tiro o celular do bolso enquanto

caminho para o lado de fora.

É uma mensagem do Dominic com duas fotos anexadas.


Passo por alguns soldados e os cumprimento com um aceno de
cabeça, e já afastado da casa leio a mensagem dele.

“Selecionei esse par de alianças e esse anel. Como você disse


para gastar o que fosse preciso, consegui rapidinho o tamanho de

vocês. O dinheiro faz milagre. Fico aguardando o seu retorno.”

Analiso as fotos cuidadosamente e sorrio. Ele selecionou um


solitário de ouro branco com noventa pontos de diamante – pelo

menos consta na descrição da foto -, e as alianças são de ouro.


Observo cada detalhe das peças antes de digitar para o meu amigo.

“Aprovado. Até que você tem um bom gosto. Feche a compra


e me envie a conta para que eu possa pagar.”

Minutos depois tenho a resposta dele.

“Já fechei e considere como um presente de casamento, meu


amigo. E não fui eu que escolhi, a Kira o fez, agradeça à sua

cunhada.”

Não resisto e solto uma gargalhada. Dominic Walker acha que


não o conheço. Meu amigo está fodido, completamente fodido por
Kira Lynch, mas não serei eu a dizer isso a ele. Aos poucos, ele vai
se dar conta da quedinha que tem por sua salvadora.

“Agradeço a você pelo presente, mas dessa vez vou ter que
rejeitar, Dom. É importante para mim pagar as alianças para a

minha futura esposa, sei que você vai entender. E a agradeça por
mim.”

Parece que estava esperando a minha resposta, porque chega


uma mensagem dele rapidinho.

“Já que insiste, está tudo bem. Pode deixar, daqui a pouco
envio os dados para o pagamento. ”

Guardo o celular no bolso e saio à procura do Richard para

saber se está tudo certo para o voo.


Chegamos ontem à noite a Inglaterra, a viagem foi muito

tranquila. Dessa vez não dormi como costumo fazer. Carter parecia
muito ocupado trocando mensagens com alguém, acredito que

tenha sido com um dos seus irmãos. Quando entramos na casa,


fomos diretamente para o quarto e tomamos banho. Depois de um
tempo, Carter avisou que sairia e só voltou horas mais tarde,

entusiasmado e muito sorridente, me deixando desconfiada de que


ele deve estar aprontando alguma coisa.

Eu realmente não estava no clima para perguntar o que o tinha


deixado tão animado, meus pensamentos ainda estavam na Irlanda,

quando me despedi da minha mãe.

— Eu não poderia voltar sem me despedir da senhora, mãe —

digo, tocando em seus ombros.

Ela assente, com os lábios trêmulos.


— Toda vez que me chama de mãe fico emocionada. É

inevitável não sentir vontade de chorar quando ouço sair da sua


boca algo que tanto sonhei, minha filha. — Mesmo sem saber qual
será a minha reação, ela me abraça, com o coração desarmado.

— A senhora não pode chorar toda vez que eu te chamar de

mãe. — Sorrio, ficando muito mais emocionada do que ela ao me


lembrar da nana. Imagino como seria lindo nós três juntas,

comemorando a morte do nosso inimigo.

— Isso é verdade — concorda, soltando uma risada.

— Se sente comigo na cama, temos que conversar — peço,

gentilmente, pegando uma das suas mãos e a levando para se


sentar comigo.

Com os olhos marejados, ela me encara.

— Não vou choramingar pelo meu passado, a senhora e todos


sabem como ele foi, mas hoje decidi que nem tudo é motivo de

choro. O que não nos mata nos fortalece, certo? — Sorrio,


respirando fundo. — Mãe, eu sei que aqui é o lugar onde nasci, não
só eu, mas o meu pai, a minha família, só que se eu te disser que

tenho planos de viver na Irlanda mentirei, porque aqui não é o meu


lar há um bom tempo. Nenhum lugar será, porque o meu único lar
tem nome e sobrenome. Carter James Knight. E onde ele estiver,
quero estar. — Minhas palavras firmes a deixam admirada.

— Você realmente cresceu, minha pequena, se tornou uma


grande mulher. Qualquer decisão que tomar vou te apoiar, saiba

disso, querida. — Toca o meu rosto e eu me seguro para não chorar,


esse apelido me traz ótimas recordações.

— Sim, mãe, eu cresci e Carter fez parte de cada evolução. —


Meneio com a cabeça. — Não sei se está sabendo que vamos nos
casar, e eu quero estar com o meu marido sempre, não importam as

circunstâncias, seremos parceiros para todas as horas. Aquele


homem cuidou de mim quando pensei que tudo estava acabado, me

deu o mundo sem nem mesmo perceber e sem precisar de muito,


porque o meu mundo sempre foi ele. Não pense que vou te
abandonar, nunca, o que quero dizer é que vou voltar para Londres.

Lá será a minha casa oficialmente, mas eu jamais vou me esquecer


de você. Eu venho te visitar, ajudar nos negócios quando precisar,
serei o seu braço direito se quiser. — Toco a sua mão.

Minha mãe chora e concorda.

— Você já tem a vida ao lado do homem que ama, não posso

te prender aqui, certo? Nunca faria isso, e se está pedindo a minha


permissão ou algo do tipo, desconsidere esse pensamento. Você é
livre, filha, trilhe o seu caminho conforme desejar, porque você

nasceu para voar, brilhar, para ser uma rainha, e eu tenho certeza
de que o seu futuro marido pensa o mesmo. — Seus olhos sorriem
para mim, mesmo que ela esteja chorando.

— Obrigada por ser tão compreensiva. É a primeira vez que

estamos tão bem, sem rancor, sem medo, e eu me sinto feliz por
termos este momento de mãe e filha. — Fito-a, comovida com a
nossa conversa.

— Eu seria injusta se te impedisse de construir a sua própria


família. Vá com o seu homem, viva o que eu não pude viver com o

seu pai, aproveite cada segundo ao lado do Carter. Goze cada


segundo juntos sem moderação e sem pensar que me deixou aqui,
porque você não deixou, pelo contrário, graças a você estou

podendo retornar ao meu lar muito antes do que planejava. E saiba


que eu não aceitaria que ficasse, você é jovem, precisa viver a sua

vida. A nossa história nunca terá fim, o nosso vínculo é eterno. Você
tem noção disso? Não importam os milhares de quilômetros de
distância que estaremos, você sempre vai estar no meu coração. —

A sua doçura me afeta.


Tudo o que sonhei está acontecendo, mesmo que seja com

meus vinte e um anos. Eu tenho a minha mãe comigo e os seus


conselhos são os melhores, são únicos.

Sorridente, pego a mochila no móvel ao lado da cama, atraindo


a sua curiosidade.

— Não tive coragem de ver as fotos, mas agora que estou


mais leve, sinto a necessidade de fazer isso com você.

— Como você quiser — ela soluça —, o importante é que veja

as fotos que consegui manter comigo durante todos esses anos.

Abro a mochila e de lá tiro um álbum. Com as mãos trêmulas,


engulo em seco.

— Me deixe te ajudar. — Ela nota o meu nervosismo ao pegar


o álbum das minhas mãos.

Minha mãe me mostra a primeira foto e eu fico mais abalada.


Meu pai era um homem lindo, ruivo, parecia até um viking. Meus

olhos são bem parecidos com os dele, e o sorriso também, constato


ao ver as fotos seguintes. Não consigo segurar as lágrimas ao ver
minha avó Rose, minha mãe e meu pai em uma foto, todos

sorridentes, felizes. E talvez o motivo fosse eu, já que Maeve estava


com a barriguinha de grávida.
— Teríamos sido uma linda família — murmuro, limpando o

meu rosto molhado.

— Ainda somos, sempre seremos. Eles se foram, mas


continuam vivos no nosso coração. — Sou puxada para um abraço

forte e caloroso.

Descobri recentemente que amo ser abraçada pela minha

mãe, ela me traz um sentimento de paz.

Eu a mantive distante no início não por odiá-la, seria cruel se


desse as costas para ela depois de ouvir o seu lado da história. Eu
só estava magoada pelos anos que ela passou longe, mas assim

que soube das dificuldades que passou para conseguir me ter de


volta em sua vida para que pudéssemos algum dia nos tornarmos
uma família novamente, eu entendi tudo. Não vou dizer que não

fiquei insegura em abrir o meu coração para ela, porém, após


passarmos um tempinho juntas, eu vi tudo com outros olhos.

Ser tão jovem não significa que devo ser imatura, de forma
alguma, as situações que vivi no decorrer dos anos me tornaram

uma pessoa mais experiente e forte o suficiente para encarar


qualquer coisa que vier.
Lidar com momentos difíceis me fez encontrar uma mulher
destemida dentro de mim que eu já sabia que existia, só faltava um
empurrãozinho para que ela surgisse.

Por fim, depois de colocar a minha cabeça no lugar, pude falar

com ela sem fraquejar. A nossa despedida não significa que


ficaremos para sempre longe uma da outra, o nosso relacionamento
está apenas começando. Antes de partir, fiz a sra. Celeste e a
minha mãe me prometerem que estarão no meu casamento.

— Pelo visto, tem algo te incomodando. Está pensativa desde


ontem.

A voz de Carter me tira dos meus pensamentos. Viro o rosto e

o encaro. Ele saiu da cama cedo, quando acordei não o encontrei.


Deve ter ido treinar, já que está suado, parece cansado e está
usando roupas do treino.

— Não é nada de mais, só estou pensando em como os meus


dias foram um verdadeiro caos. Mas agora está tudo resolvido,
estou em paz. — Solto um suspiro.

— Bom dia. — Ele se aproxima e me beija nos lábios.

— Bom dia — respondo quando se afasta.


— Saí para treinar, não quis te acordar — fala, o que eu já
desconfiava.

— Pois deveria ter me acordado, gosto de treinar com você, e


faz tempo que não treinamos juntos. — Ajeito-me no sofá e

descanso os meus cotovelos na almofada.

— A nossa agenda está cheia esses dias, mas me lembrarei

disso em algum momento — diz, bem-humorado. Sorrio com a sua


jovialidade. — O Killz me ligou ontem, quando ainda estávamos na
Irlanda, e nos convidou para um jantar na casa dele. Não só a
gente, a Kira e Dom estarão lá. Você quer ir?

— Até a minha irmã? Convidaram a Kira, sério? — Arqueio a


sobrancelha, surpresa.

— Sim, a Kira foi convidada. A minha família sabe que ela é


importante para você. E o que é importante para a minha mulher, é

para mim — diz, fazendo o meu coração acelerar como um bobo.

— Qual o motivo do jantar?

Carter percebe o meu desconforto passageiro.

— Ainda está chateada com as garotas, não é? Elas não

fizeram por mal. São muito protetoras e não queriam te deixar mais
perdida. Você não estava em condições de receber mais uma
notícia tão intensa, coração. — Carter passa língua nos lábios e me
encara, esperando a minha resposta.

Sorrio ao me lembrar que faz um tempinho que não me chama


por apelidos carinhosos. Ser chamada de “coração” agora me deixa
derretida.

— Se for assim, vai ficar com raiva de mim também. Eu não


permiti que contassem a você sobre a Maeve — confessa.

Se eu disser que estou surpresa com o que ele acaba de dizer


estarei mentindo. De certa forma, a sua revelação me deixa sem

saber o que pensar. Se as meninas seguiram as suas ordens em


não me falar sobre a minha mãe, estou sendo hipócrita com elas,
afinal, aceito tudo de Carter. É claro que com ele é diferente, temos
uma relação de anos, talvez eu tenha ficado na defensiva por não
as conhecer muito bem.

— Não vou mentir em dizer que não fiquei chateada com as


garotas... achei que elas não foram sinceras comigo — desabafo.—

Não tenho nada contra a Alessa, Aubrey ou Hailey, só esse episódio


que me deixou um pouco dividida. Mas saber que você teve algo a
ver com o silêncio delas me faz ver tudo com outros olhos. Eu não
gosto de ser injusta com ninguém, você sabe disso, deveria ter me
dito isso antes.

— Você fica linda quando está brava, sereia, mas não achei

que fosse tão importante dizer que pedi para as meninas não
falarem nada. Você não estava muito bem, então tomei essa
decisão por você. — Ele se aproxima e se ajoelha na minha frente,
pegando as minhas mãos em seguida. — As minhas cunhadas são
maravilhosas, vocês só precisam se conhecer melhor. Se aceitar ir

ao jantar, vai perceber que digo a verdade. — Ele beija o dorso de


uma mão e depois da outra.

— Claro que era importante, Carter, cada detalhe é importante,


sabia? Nunca me esconda nada, por mais que ache que não estou
pronta. Eu não quebro tão fácil.

Ele assente, entendendo o meu lado.

— O.k., errei, reconheço. Mas então, você quer ir ao jantar?


Killz quer comemorar a morte do Sinead, o jantar será dado para
você. — Ele se inclina e beija o meu ombro. — Vamos? — pergunta,
depositando beijos em minha pele.

— Claro, não vou fazer essa desfeita para o meu cunhado.


Carter aproveita que estou de vestido para levar a mão para
dentro da minha roupa, subindo até chegar ao meu local sensível.

— Mais tarde tenho um presente para você. Agora vem


comigo, me acompanhe no banho. — Ele encosta a boca no meu
ouvido e sussurra, me deixando arrepiada.

Eu sabia que ele estava escondendo algo desde ontem,


quando saiu. Quando estou prestes a responder à sua investida, o

meu celular toca ao lado do sofá. Quem será? Somente Carter e


Dominic conhecem esse número. Eu me afasto e pego o aparelho
para ver quem me liga. Na tela mostra um número desconhecido,
mas mesmo assim atendo.

— Oi, Muriel, sou eu, a Hailey. Não desliga, primeiro me


escute.

Em choque, limpo a garganta, sem jeito. Carter ouve a voz da

cunhada e para com a mão boba, começando a prestar atenção na


conversa.

— Bom dia, Hailey. Não vou desligar, não se preocupe. —


Passo a mão em meu cabelo e o jogo para trás. Desconfio que
tenha sido o nosso intermediário que passou o meu número para
ela.
Carter se levanta e gesticula que vai tomar um banho.

— Só me ouça, por favor. — Ela parece envergonhada. —


Preciso pedir desculpas pelo meu comportamento naquele dia. Não
só o meu, das meninas também. Não agimos direito com você, mas
não foi a nossa intenção te magoar ao omitir sobre a sua mãe. O
Carter nos pediu para não dizer nada, mas mesmo que ele tenha
pedido, reconhecemos que erramos, estamos muito envergonhadas.

Você se abriu comigo, confiou em mim e eu não soube retribuir


quando mais precisou. Me perdoe, Muriel, jamais quis que
ficássemos nessa situação.

— Está tudo certo, Hailey, eu entendo vocês, só não gostei de


terem me ocultado algo tão importante, mas já passou, o.k.? — Sou
sincera, só assim chegaremos a algum lugar.

— Você tem razão em ter se chateado, mas infelizmente já


aconteceu, como você disse, e eu sinto muito pelo que fizemos, não

foi a nossa intenção magoá-la. Gostamos muito de você, de


verdade. — A sua sinceridade me toca. — Se quiser desfazer essa
impressão que criou da gente, venha jantar na casa do nosso
cunhado, será bom para você, para mim e para as meninas.
Queremos que você seja a nossa amiga, como somos umas das
outras, e eu tenho certeza de que seremos grandes amigas —
acrescenta, e eu imagino o seu sorriso do outro lado da linha.

Convencida, dou um sorriso. Não posso ignorar as cunhadas

do Carter, uma vez que atenderam ao pedido dele. Eu me


identifiquei com a Hailey desde a primeira vez que nos vimos, e ela
demonstrou que é uma ótima pessoa ao me ligar para tentar
esclarecer tudo. Só a sua boa vontade conta.

Levanto-me e sigo na direção do andar de cima.

— Eu vou sim, Hailey. Carter e eu iremos ao jantar do Killz —


informo, subindo a escada.

— Não sabe o quanto me deixa feliz. — A sua voz sai


animada. Ouço ao fundo mais vozes femininas. — Alessa e Aubrey
estão aqui também, estamos na casa da Brey preparando o jantar

para você. Ah, querem falar com você. — Hailey fica sem jeito.

Dou risada da sua timidez. Entro no quarto e vou direto para a


cama, me deitando de costas.

— Você ainda está aí? — pergunta, preocupada.

— Estou sim, pode passar a ligação. — Sorrio ao saber que


terei mais mulheres ao meu redor. Tenho certeza de que seremos
amigas.
— Oi, Muriel, soubemos o que fez na Irlanda, estamos
orgulhosas de você. Todos estão, na verdade. Mas estamos mais
felizes porque nos sentimos representadas, fortalecidas, tanto que
estamos reunidas na casa da minha prima para preparar um jantar

delicioso para você. Vou passar para a Aubrey, porque se deixar fico
falando até ficar rouca! — Alessa está muito animada, é nítido.

— Obrigada, Alessa, vocês são muito gentis — falo, orgulhosa


de mim.

— Agora é a Brey, Muriel — fala a esposa de Killz,


timidamente. — Espero que tudo tenha sido esclarecido entre nós.
Sinceramente, desejo deixar no passado aquele triste episódio,
vamos focar no futuro. Depois de tantas lágrimas, merecemos
momentos de felicidade, principalmente você. E estamos

preparando um jantar para você, então está convocada, e não


convidada. — Ela dá uma risada animada. — Se você não estiver
aqui não vai ter graça. É como a Lessa disse, estamos orgulhosas
de ter alguém tão forte nos representando, como você fez.

Perco as palavras ao ver Carter sair do banheiro com a toalha


em volta do seu quadril. Os pingos de água deslizam por seu
abdômen e braços. Mordo os lábios ao vê-lo sorrir para mim e

piscar, me deixando hipnotizada.

— É... é... Pode ter certeza, Aubrey, vou sim ao jantar. Já disse
a Hailey que estaremos aí. — Solto um suspiro quando ele sacode o
cabelo com a mão.

Perco até o raciocínio ao observar o meu futuro marido dar


passos em minha direção. O seu olhar malicioso é o que mais me
desestabiliza.

— Combinado. Mais tarde conversamos melhor, Muriel — fala


Aubrey com doçura.

— Até mais. E fiquei feliz por terem ligado. — Me despeço dela

antes de desligar. — Quando quer é um belo alcoviteiro... Sabia que


elas iam me ligar, não é?

Ele se senta na cama e coloca as minhas pernas em seu colo.

— Sim. Elas pediram o seu número e eu não pude negar. —


Levanta as mãos em modo de rendição.

Fico calada, porque não há nada para responder. Gostei da


iniciativa delas de se aproximarem.
Coloco o meu pé em seu abdômen molhado e deslizo para
cima e para baixo, me deliciando com a sua pele lisa e tatuada.
Carter aproveita e segura firme a minha perna, e a beija, vai

distribuindo os beijos até chegar na minha coxa.

— Vem cá, tenho que te dizer algo importante — diz, com a


voz rouca.

Não demora muito para que eu me sente em seu colo.


Descaradamente, ele levanta o meu vestido, embolando-o em
minha cintura.

— O que tem para me dizer, sr. Carter?

O safado desliza as mãos na minha bunda e aperta cada lado,


enquanto mordo os lábios ao senti-lo ficar duro debaixo de mim.

— Lembra que transamos algumas vezes sem camisinha? —


Assinto, sem ficar afetada, eu tinha pensado nisso. Só não tivemos

tempo para falar sobre o assunto. — Acho que é tarde demais para
tomar algum remédio, então temos que esperar alguns dias para o
resultado. Talvez você já esteja esperando um filho meu, sereia.

O brilho em seus olhos é suficiente para me deixar empolgada.


Sim, não planejamos ter bebês agora, mas não é errado ficarmos
felizes com a possiblidade.
— Também pensei nisso, Carter. Mas você quer ser pai agora?
— Apoio minha testa na dele.

— E por que não iria querer? Você é a minha mulher, só falta


oficializar o nosso casamento, é apenas um detalhe. E se tiver uma
criança aqui dentro, vamos amá-lo do mesmo jeito, com ou sem
planos. — Ele leva uma mão à minha barriga como se realmente

tivesse algo ali.

O meu coração está batendo muito rápido. É tão anormal a

maneira como Carter me faz ficar derretida por ele com pequenos
gestos e palavras.

— Vamos sim — falo, abobalhada, enquanto ele acaricia a


minha barriga.

— Se você estiver mesmo grávida, espero que venham


ruivinhos — diz, me fazendo rir.

— No plural? — Arqueio a sobrancelha, risonha.

— Não vou reclamar se tivermos gêmeos — diz, me fazendo


gargalhar.

— Para quem não tinha planejado ter filhos está bem animado
— provoco-o, buscando a sua boca e o beijando.
Antes de aprofundar o nosso beijo, Carter tira o meu vestido e

se livra da toalha comigo ainda em seu colo. Ele beija o meu


pescoço, o seu local preferido, ao mesmo tempo em que passeia as
mãos por meu corpo, enquanto fico com os olhos fechado, gemendo
e querendo que Carter faça amor comigo.

Nem preciso abrir a boca para fazer esse pedido. Ele coloca a
minha calcinha para o lado e introduz dois dedos em minha boceta e
me masturba por pouco tempo. Quando percebe que estou molhada

o suficiente, ele me pede para me apoiar em seus ombros e segura


a base do seu pau lubrificado.

— Sente e engula tudo. É todo seu, sereia.

Seu tom autoritário me excita, meus mamilos


instantaneamente ficam eretos e o meu ventre se contorce com a
voz máscula. Encaixo o seu pênis na minha boceta e desço
lentamente, abrindo a boca para soltar um gemido de satisfação.
Carter engole cada gemido que solto.

Completamente dentro de mim, subo e desço nele, rebolo e

recebo tapas e apertos na bunda, ficando muito mais melada com


as suas investidas ousadas. Mas com ele é sempre assim, muito
quente e inesquecível.
— Você está nervosa? — pergunta Carter, me fazendo encarar

nossas mãos entrelaçadas.

— Não, amor, só ansiosa. É a primeira vez que estarei em um

jantar com todos — murmuro, encarando a campainha que o meu

futuro marido toca pela segunda vez.

A noite não demorou para chegar, pelo menos não para nós, já

que passamos o dia trancados no quarto.

Quando deu o horário para nos arrumarmos para sair, Carter

recebeu uma ligação e saiu do quarto dizendo que não queria me

atrapalhar. Seria a desculpa perfeita se eu não o conhecesse tão


bem. Esse mistério dele está me deixando muito curiosa, desde

ontem está aprontando.

— Sim, é verdade — concorda, prestes a tocar a campainha


de novo.
Aubrey surge na porta toda sorridente, a esposa do Knight
mais velho é lindíssima. Ele tem muita sorte por tê-la. Parece que as

coisas por aqui estão animadas, dá para perceber pelos

burburinhos.

— Boa noite e sejam bem-vindos! — exclama a cunhada de

Carter.

— Boa noite, Aubrey. — Sorrio gentilmente.

— Boa noite, cunhada. Pensei que iam nos deixar aqui fora,
Brey. Os soldados não avisaram da nossa chegada? — resmunga

ele, fingindo chateação, mas não demora para sorrir de lado.

— Oh, perdão, cunhado. Aqui dentro está um caos, quando as

crianças se juntam a casa fica uma loucura. Entre e veja com os

seus próprios olhos. — Ela dá espaço para entrarmos.

— Ele só está sendo dramático, Aubrey. Acabamos de chegar

— digo assim que entramos na casa. Meus olhos rapidamente

param na minha irmã e Dominic, que estão sentados no sofá.

Ela me lança um breve sorriso e um aceno de mão, mas ao ver

Carter ao meu lado, desvia o olhar e baixa a cabeça. Consigo notar

um lampejo de insegurança, e sei o motivo disso. Ela parece estar


bem, o seu semblante está mais leve, aquela expressão abatida não

existe mais.

— Você está maravilhosa — elogia ao me abraçar, me


pegando de surpresa.

— Você também está ótima! — Devolvo o elogio, sem tirar Kira


dos meus pensamentos.

— O resto do pessoal está lá na sala de jantar. Já volto,

qualquer coisa é só me chamar. Fiquem à vontade — fala, nos


dando as costas.

Fico feliz em não ter exagerado na escolha da minha roupa.

Aubrey está casual, acho que estou assim também. Peguei um dos
vestidos que comprei há um tempo, ele é leve, alças finas, cor bege,

floral e com um decote V simples. Como não estava a fim de usar


sandálias de salto, optei por uma rasteirinha elegante e
aconchegante que não vai fazer os meus pés doerem. Já Carter,

está usando um jeans claro, jaqueta e botas de couro, está tão


confortável quanto eu.

Carter e eu seguimos até a minha irmã e Dominic. Dom se

levanta e cumprimenta o amigo com um aperto de mãos. Notando o


receio da minha irmã, Carter apenas a cumprimenta com um aceno

de cabeça e ela retribui.

— Que bom te ver, irmã — digo, abraçando-a e beijando seu


rosto em seguida.

— Senti a sua falta. Me sinto deslocada com eles... ainda é


estranho viver com essas pessoas. São gentis comigo, mas ainda

me sinto meio estranha — confessa ela, perto do meu ouvido para


que somente eu ouça.

— Eu te entendo perfeitamente, mas fique tranquila, estou de

volta. Acho que será mais fácil você se adaptar tendo alguém que já
conhece ao seu lado — eu a consolo, ouvindo o seu suspiro de

alívio.

Saio do seu abraço para cumprimentar Dominic, que está


sorridente. O seu semblante está tão suave que nem parece ter

levado alguns tiros.

— Boa noite, meu amigo. Pelo visto, a sua recuperação está


sendo ótima — digo, sorrindo para ele, que me abraça rapidamente.

— Boa noite. Está sim, Muriel — diz Dominic, passando a mão


por sua cabeça.
— Isso é muito bom! — afirmo, feliz por vê-lo tão bem esta
noite.

Carter limpa a garganta e toca no ombro do amigo.

— Dom, vamos deixar as mulheres um pouco a sós — pede


Carter.

Antes de saírem da sala, Dominic olha disfarçadamente para

Kira. Ela nem nota o olhar dele, mas eu sim, só que finjo não ter
visto a atenção especial que o nosso amigo dá para a minha irmã.

Kira e eu nos sentamos, então pego as suas mãos e sinto que

estão frias. Preocupada, toco o seu rosto e percebo que está do


mesmo jeito. Ela está nervosa, é nítido isso.

— Você está gelada, Kira — digo, tocando os seus braços. —

Depois do seu desmaio não nos vimos mais, nem nos falamos, eu
tive que ir para a Irlanda...

Ela não me olha por muito tempo, algo está errado.

— Sim. Eu sei. — Assente, lambendo os lábios. — Acho que


estou um pouco nervosa, mas logo passa, já me acostumei a ficar
assim — fala, com pesar, antes de me encarar.
— Não pense assim. Quando algo incomoda não devemos nos
acostumar, e sim nos livrar disso. — Olho bem em seus olhos. — Eu
não estou te julgando ou te obrigando a esquecer o que aconteceu,

de forma alguma. Eu sei o que você passou, mas de agora em


diante quero ver você se recuperando, se superando, cuidando da

sua saúde mental. Se tornando a mulher forte que você é.

Ela sorri, emocionada por ter o meu apoio.

— Nunca pensei que algum dia estaríamos assim, acredita? Te

ouvir me chamar de irmã me traz uma segurança, um conforto

inexplicável, Muriel. Eu te admiro por ser tão forte e ter conseguido


se superar. — Kira começa a chorar e meu coração se aperta com a

sua sensibilidade. — Parece que estou sonhando, irmã, nem

acredito que saí daquele inferno. Quando eu soube que você tinha
matado o Sinead, eu não senti nada. Parecia que tudo por dentro de

mim estava oco, não tinha nada. Nem mesmo chorei, eu sabia que

Sinead, mesmo sendo o meu pai, não me protegeu como deveria,

não estendeu a mão para mim. Mas depois chorei por me ver livre,
me senti libertada, e isso é maravilhoso. Saí daquela maldita gaiola

onde vivi durante tantos anos. — Soluça e limpa o seu rosto.


— Sim, sim... Você tem razão em tudo. Agora você é livre,

Kira, Sinead nem ninguém poderá te impedir de buscar o seu


melhor. — Aproximo meu rosto do dela e colo nossas testas,

fechando os olhos e respirando fundo. — Não se sinta pressionada

em relação a nada. Você não deve nada ao Dominic, nem aos


Knight, você é dona do seu próprio destino, então, se quiser ficar

será bem-vinda. Mas se quiser partir poderá também. De hoje em

diante você escolhe o que fazer — digo, entrelaçando nossas mãos.

— Obrigada, Muriel, você é incrível. Nem sei como te

agradecer. — Ela funga assim que me afasto. — Eu não quero ficar


longe de você, agora que estamos nos aproximando mais, que

vamos conviver como irmãs, preciso ter uma amiga por perto. E

você é ela.

— Não me agradeça, não é necessário, pode acreditar. Pode

ter certeza de que seremos mais do que irmãs, eu serei a sua


melhor amiga — afirmo, sorridente.

— Me sinto tão acolhida. É a primeira vez que recebo carinho

de alguém, amor, pureza. — Seu semblante entristece.

— E não será a última. Ainda vai encontrar um grande amor,

ele te amará tanto que você vai se sentir pisando nas nuvens. —
Pisco para ela, que fica cabisbaixa.

— Acha que um dia um homem vai me amar? Eu não sou mais

virgem... Tyron me tirou tudo, até a minha saúde mental. — Ela se

controla para não chorar, mas a sua voz está embargada.

— E por que não? — Toco em seu queixo e ergo o seu rosto

para que me olhe. — Você é linda, jovem e um ser humano

maravilhoso. Não se menospreze, você foi uma vítima, Kira. O


homem que não enxergar as suas qualidades é um babaca. O que

importa é o que está aqui. — Aponto para o seu coração e ela

meneia com a cabeça.

— É verdade. — Sorri abertamente conforme seu semblante


suaviza.

— Não era para estarmos falando sobre coisas ruins hoje,


devemos comemorar. Preciso te contar algo e te fazer um convite

também — falo, risonha.

— O que é? Não me mate de curiosidade. — Arqueia a

sobrancelha, curiosa.

— Vou me casar daqui a alguns dias e quero que você esteja

presente. Você é a minha família e eu a quero comigo — Kira fica


atenta a mim com um olhar de admiração.— Sei que vai precisar de
dinheiro, mas não se preocupe com isso, eu vou te ajudar em tudo o

que precisar até que consiga se estabelecer em sua nova vida. Você
sabe dirigir? Atirar?

— Meus parabéns! Será uma honra ir ao seu casamento, pode

acreditar. Obrigada, irmã, por tudo! Eu não sei dirigir, muito menos

atirar, também não aprendi defesa pessoal. Mas posso aprender

tudo e mais um pouco, sei que posso. Eu aprendo rápido, tenho


certeza — assegura, feliz. O brilho dela vai voltando aos poucos.

— Com certeza aprende. — O primeiro passo é arrumar um

lugar para Kira morar, mas resolvo isso rapidinho, assim como o

restante.

— Posso te dar mais um abraço? — pergunta timidamente e

eu assinto. Ela me abraça forte e eu fecho os olhos. — Obrigada,


obrigada. Você está fazendo parte do meu recomeço, e sem você

não sei o que seria de mim. Serei eternamente grata por não ter

soltado a minha mão.

Ficamos abraçadas por um longo tempo até passos se

aproximarem acompanhados de vozes femininas.

— Desculpem interromper, garotas, mas vocês estão


demorando demais, então viemos ver se não precisam de algo. E
queremos falar com você também, Muriel — diz Aubrey.

Kira e eu nos afastamos, então me viro e vejo as esposas dos


Knight, que sorriem enquanto acenam. Analiso Aubrey e noto que

ela está com uma revista na mão.

— Já estávamos indo encontrar vocês — informo enquanto

elas se sentam no sofá à minha frente.

— Então vamos aproveitar que os nossos homens estão lá

dentro para falar sobre o seu casamento, que será daqui a alguns
dias. Eu trouxe algo e será o nosso presente para a noiva, se você

aceitar, claro — diz Hailey antes de piscar para mim.

— Estou curiosa para saber o que é, adoro presentes. —

Arrumo meu cabelo e encaro a loira bonita de postura elegante.

Hailey é muito linda e a mais velha de todas nós.

— Acredito que você não terá muito tempo para cuidar da


recepção, nem do vestido, entre outras coisas. Então nós nos

oferecemos para ajudar com tudo, cada uma cuida de uma coisa,

assim você fica tranquila e só se preocupa em dizer sim ao noivo —


fala Alessa, me deixando boquiaberta.

— É sério? — indago, em choque.


— Sim. Eu já até me adiantei e trouxe uma revista com alguns

modelos de vestido, é da mesma loja que compramos o do


casamento da Hailey. Dê uma olhadinha, mas não precisa ser hoje,

leve para casa e selecione alguns. A dona da loja é muito prestativa,

ela pode separar algumas opções para você experimentar antes de

decidir qual será o escolhido — responde Aubrey, se levantando e


me entregando a revista. — Leve e olhe com calma. Os modelos

são lindos, sei que algum irá te agradar. — Ela volta para o seu

lugar.

— Nem sei o que dizer... eu... — Sinceramente, eu não


esperava que elas me fizessem essa proposta, estou admirada.

— Apenas aceite, faremos com maior prazer. Será uma honra


ajudar uma amiga, a mulher que o nosso cunhado ama e que daria

a vida por ela — fala Hailey, gentilmente.

Olho para Kira ao meu lado e ela balança a cabeça e sorri.

Sim, eu vou aceitar, será um bom início para a nossa amizade se

firmar e para conhecê-las melhor.

— É claro que vou aceitar. Fico muito grata por vocês me


ajudarem. — Sorrio, encarando a revista.
— Kira, também queremos a sua ajuda, nem você vai se livrar
da gente — diz Hailey, surpreendendo a ruiva, que arregala os

olhos.

— Eu? — Kira sorri quando as meninas assentem.

— Cunhadas lindas, desculpem interromper o momento de

vocês, mas trouxe uma encomenda para a Alessa. — Spencer se

aproxima, então rapidamente voltamos a nossa atenção para ele,


que está com Christopher no colo.

— Mamãe. — O menino estende os braços na direção de

Alessa, que se levanta e vai rapidamente pegá-lo.

— Aconteceu alguma coisa na brinquedoteca com as

crianças? — indaga a esposa de Axl, com o filho nos braços, que

encosta o rosto na curva do pescoço dela.

— Só o Chris querendo puxar o cabelo da Amy. Por sorte,


cheguei a tempo de impedir esse miniterrorista. — O loiro tatuado

faz careta e Hailey fica em alerta, mas não diz nada.

— Não chame o meu filho assim, Spencer — repreende

Alessa.

— E as babás, o que estão fazendo? — pergunta Aubrey,


preocupada.
— Estão fazendo o serviço delas, mas já viu alguém segurar
um Knight? — Bufa Spencer, impaciente.

— Realmente, ainda mais quando puxa ao gênio do pai —


resmunga Hailey, passando a mão por seu cabelo antes de se

levantar. — Vou conferir as crianças.

— Vou com você. O jantar vai ser servido daqui a pouco, me

deem licença — diz Aubrey, seguindo Hailey.

— Filho, o que a mamãe disse sobre bater nos primos? Você


sabe que não pode. — Alessa chama a atenção do filho, que a
encara.

Mesmo que ela esteja séria, ele sorri.

— Amy é chata — diz o garotinho, com um biquinho, me

deixando chocada.

— Chris! — exclama Alessa.

Coloco a mão na boca para não rir.

— Quero o papai — diz a criança, quando a mãe o coloca no

chão.

— Vou ter dor de cabeça com você quando ficar mais velho. —

Alessa passa a mão na testa e suspira, então olha para mim, Kira e
o cunhado, que morde os lábios para reprimir o riso. — Me deem
licença — pede ela, seguindo o filho.

Quando Alessa some do nosso campo de visão, ficamos

somente nós três. Spencer nos olha em silêncio e eu me remexo no


sofá. Esses irmãos têm um sério problema em deixar as mulheres
sem jeito, a presença deles é impactante demais.

— Boa noite, cunhada. Não tive tempo de te parabenizar,


precisei voltar o mais rápido possível para resolver alguns negócios.

Mas agora nada me impede de enaltecer a sua coragem. Você é


foda pra caralho, Muriel — elogia o mais novo dos Knight.

Sinto meu rosto arder.

— Gentiliza sua, Spencer — agradeço-o, com um sorriso.

— Meus parabéns pelo casamento, tenho certeza de que o


meu irmão encontrou a pessoa certa — continua ele com os elogios.

— Obrigada.

— Não me agradeça. — Pisca de maneira galante. — Garotas,


o que acham de me acompanharem até a sala de jantar? Estamos

precisando de presença feminina naquele lugar, que os meus


irmãos não me escutem dizendo isso, mas se quiser posso conduzi-
las até lá — se oferece, estendendo os braços.
— Se você quer viver mais alguns anos, acho melhor
desconsiderar essa ideia, irmão. — A voz de Carter nos surpreende

ao soar atrás do Spencer, ele entrou tão sorrateiramente que nem


percebemos. — Eu posso muito bem levar a minha mulher até a
sala de jantar. — O meu futuro marido está encostado no batente da

porta, com um sorriso arrogante e gélido. O mais sexy de todos.

— Opa, sem problemas, Carter, tem a belíssima... — Spencer


se vira para o irmão e o encontra com o semblante fechado.

— Terreno proibido, irmão, dê o fora! — interrompe Carter, que


faz um gesto com a mão para o mais novo.

Spencer caminha até o irmão e diz algo em seu ouvido, então

Carter manda o irmão se foder antes do mais novo se afastar


gargalhando.

— Muriel, Kira, vamos para a sala de jantar — chama ele.

Nós nos levantamos e vamos na direção dele. Carter segura


minha mão e nos guia na direção da sala. Em pouco tempo nos

deparamos com os irmãos Knight e Dominic à mesa. Alessa está ao


lado do marido com o pequeno Chris. A mesa está bem arrumada,
com pratos de porcelana, talheres de prata e taças.
— Vocês precisavam ver o Carter se roendo de ciúmes da

mulher — diz Spencer distraidamente.

— Boa noite — digo, atraindo a atenção de todos, que nos


fitam sorridentes.

— Boa noite — os irmãos respondem, mas o único a fazer


gracinha é o Spencer.

— Spencer, não torre a minha paciência — diz Carter, puto,


ainda segurando a minha mão.

— O posto de dramático não é seu, irmão, é do Ezra — diz o

loiro, arrancando risadas. Ezra não sorri, somente ameaça o mais


novo com um olhar mortal. — Venha, sente-se, cunhadinha. Você

está linda. — Ele pisca para provocar Carter.

— Você adora brincar com a morte, Spencer — alfineta Carter,


enciumado.

— Para a sua sorte não gosto de ruivas, meu ponto fraco são
as loiras — retruca o caçula, ficando sério.

— O seu ponto fraco é todo tipo de boceta, Spencer. Agora


enfie a porra da língua no rabo e se comporte — se intromete Axl,

impacientemente.
Ezra limpa a garganta e o mais velho dos Knight apenas
observa as boas maneiras dos irmãos.

— Assim vocês irão colocar as nossas convidadas para correr,


irmãos. Se controlem — diz Killz, em um tom quase baixo, mas

autoritário. — Muriel, Kira, sejam bem-vindas. A casa é de vocês —


o chefe da família diz.

— Obrigada, sr. Knight — enfim Kira se manifesta.

— Sem formalidades, Kira, a família da mulher do meu irmão é


a nossa, então pode me tratar por Killz — ele fala, tranquilizando a
minha irmã, que certamente está se sentindo melhor e muito mais

acolhida ao ser tão bem tratada pelo chefe da máfia inglesa.

— Sentem-se, por favor — pede ele, apontando para as


cadeiras vagas à mesa.

Carter puxa uma cadeira para mim e eu me sento. Fico

surpresa quando Dom se levanta e se aproxima para puxar uma


cadeira para Kira, que fica vermelha. Eu a entendo totalmente, não
esperava essa atitude dele na frente de todos. Quando ele volta

para o seu lugar, fica sem graça e disfarça fechando o semblante


por ser alvo de muitos olhares.

— Onde essas mulheres se meteram? — resmunga Ezra.


— Tio Carter, tia Muriel! — A resposta do Ezra chega através
da filha do Killz.

Nós olhamos na direção da porta e vimos Hailey e Aubrey

surgirem com as crianças.

— Oi, princesa. — Carter pisca para a sobrinha.

— Oi, Kath, Austen, Amy e Dylan. — Aceno para as crianças

gentilmente, não demora para ele cumprimentar os sobrinhos


também, que ficam agitados com a presença do tio. Para eles, ter o
Carter presente ainda é uma novidade.

Killz encara a esposa, que arruma lugares na mesa para os

filhos. Aliás, lugar é o que não falta, a mesa é enorme, assim como
a sala. Todos se sentam, menos Aubrey.

— Vou pedir para servirem o jantar. Um minuto — diz Aubrey,


nos dando as costas e saindo.

A minha intuição diz que esta noite promete ser inesquecível.


O jantar foi ótimo, muito melhor do que imaginei. O prato
principal foi bife Wellington e outras comidas deliciosas que ainda

não conhecia direito, mas adorei e, com certeza, vou comer outras
vezes. No começo pensei que comeríamos todos em silêncio,

contudo, me enganei. Os Knight são intensos em todos os sentidos,


sabem separar momentos de negócios dos momentos em família. E
foi isso que vi esta noite. Todos se divertiram, conversaram, riram,

não deixavam passar nada. Com eles encontrei o que sonhei a vida
toda. Os Knight são o meu novo lar e eu me orgulho de fazer parte
da família deles. São ótimos e provaram que podem ser ainda

melhores.

As meninas me mimaram com a minha sobremesa favorita –


maçã irlandesa. Elas gostaram de saber que a minha nana
costumava fazer para mim.

— Cunhadas, o jantar foi sensacional, vocês estão de


parabéns — diz Spencer, sorridente.

— Agradecemos o elogio, mas dê o crédito a Aubrey. Ela foi a

nossa cozinheira, apenas cortamos algumas coisas aqui e ali —


revela Alessa.
— Não seja modesta, prima, você e Hailey foram essenciais —

diz a esposa de Killz, sentada ao lado dele, que sorri.

— É claro que fomos, e estamos felizes pelo reconhecimento,


Spencer — se intromete Hailey, brincalhona.

O clima está incrível, a leveza da noite é agradável demais,


aquece o meu coração com tanto acolhimento e simplicidade.

— Spencer tem razão, vocês arrasaram. Eu não poderia deixar

de agradecer a vocês pela torta deliciosa — digo, quase sentindo


vontade de repetir o pedaço.

— Assim vamos ficar envergonhadas com tantos elogios. E


não agradeça, Muriel, fizemos com muito amor — fala Aubrey.

— Acho que esse é o momento certo para fazermos um

brinde. Vou pegar o champanhe — se manifesta Killz, se levantando


e saindo da mesa.

Ao meu lado, Carter descansa a mão na minha coxa. Quase


me engasgo com a minha própria saliva com o atrevimento dele ao
deslizar os seus dedos por baixo do tecido do meu vestido. Nervosa,

pego uma taça de água e dou um gole, como se nada estivesse


acontecendo. O pervertido dá uma risada despretensiosa e baixa.
Quando chega perto da minha virilha e faz um caminho até o meu
sexo, eu pressiono uma perna contra a outra.

Com a respiração ofegante, encaro as pessoas à mesa e


percebo que não estão prestando atenção em nós. Carter continua

com a provocação, e com uma falsa tranquilidade, eu o abraço e


encosto a boca em seu ouvido.

— Amor, não faça algo que não vai poder ir até o fim. — Meu
tom sai ameaçador e ao mesmo tempo inocente.

— E o que estou fazendo? — retruca, deslizando a mão por


meu corpo despreocupadamente.

— Vou cobrar essa provocação com juros e correção. — Me


faço de desentendida ao ver Killz retornar com duas garrafas de
champanhe.

Me remexo na cadeira e observo Kira, que está conversando

com Alessa. As duas sorriem como se fossem amigas de longa


data. Fico feliz por ver a minha irmã tão à vontade, mais cedo
estava meio receosa em se abrir e agora está tão jovial.

— Me dê essa garrafa que eu abro — pede Spencer, atraindo


a nossa atenção. Ele se levanta e pega uma das garrafas com o

irmão mais velho, que já abre uma.


Killz e Spencer colocam o champanhe nas taças e distribuem
para todos.

— Um brinde a Muriel, porque ela merece — diz Killz.

Todos se levantam e erguem as taças. Emocionada, mordo os


lábios.

— Um brinde! — falam todos, sorridentes.

Beberico o champanhe e coloco a taça na mesa.

As meninas se aproximam e me abraçam, me parabenizando

mais uma vez. É indescritível o sentimento de poder que sinto


dentro de mim. As meninas me distraem tão facilmente, que só me
dou conta que Carter não estava na sala quando o vejo voltando

com um olhar enigmático.

— Hum-hum. — Carter pigarreia para chamar a atenção de

todos.

— Quero um discurso antes, irmãozinho — fala Spencer, bem-


humorado.

Carter fecha a expressão e o ignora com sucesso.

Meu futuro marido vem em minha direção e para na minha


frente, então pega uma das minhas mãos e me encara.
— Toda vez que eu me lembrava que te pedi em casamento e

não te dei um anel me sentia um filho da puta, sereia — diz meu


gostoso tatuado, fazendo todos rirem. — Mas eu não poderia
oficializar o nosso compromisso sem um anel. — Ele solta a minha

mão e tira duas caixinhas de veludo do bolso.

— Carter. — Fico emocionada quando ele abre uma caixinha e


depois a outra, revelando um par de alianças e um solitário lindo.

— O pedido e a data de casamento já temos, mas eu sentia


que faltava algo — continua, deixando a caixinha das alianças na
mesa e ficando somente com a do solitário. — Este, quero colocar

em seu dedo imediatamente. — Lambe os lábios de maneira sexy e


dá um sorriso de lado.

Radiante, estendo a minha mão e ele coloca o anel em meu


dedo, não demora para que todos aplaudam.

— Não existe mais nada que você possa conquistar em mim,

Carter — digo, bem-humorada, mas com a voz embargada,


admirando o meu dedo com o solitário lindíssimo.

— Eu sei que não, baby, já tenho tudo de você. Mas o que

custa agradar a minha mulher? — diz, presunçoso.


— Era isso que você e o Dominic estavam de segredinho? —

Arqueio a sobrancelha, divertida. Dom começa a tossir e é socorrido


por Kira, que bate em suas costas. — Acharam que eu não ia

perceber? Eu os conheço muito be...

Ele me puxa pela cintura e me beija, me calando da melhor


forma possível. Envolvo meus braços em seu pescoço e esqueço da
presença de todos ali. Com a respiração ofegante, movemos os

nossos lábios e sugamos a língua do outro, saciando cada gota de


amor que paira sobre nós.
Alguns dias se passaram desde o jantar na casa do Killz e a

minha vida tem sido muito agitada graças as meninas, que me


visitam quase todos os dias. Elas se empenharam bastante em me

ajudar, em poucos dias conseguiram organizar tudo o que precisava

para o meu casamento, que acontecerá daqui a dois dias. Confiei o


dia mais importante da minha vida a elas, e não falharam.

A recepção será simples, mas bonita, escolhi cores neutras

para tudo. Ela acontecerá aqui, assim como a cerimônia, que pedi a

Carter para que realizássemos ao ar livre. E a nossa casa é o local

ideal para isso. Com a ajuda de alguns soldados, Hailey e Alessa

estão trabalhando na decoração neste momento do lado de fora da

casa, elas mandam e eles obedecem, confio no bom gosto delas de


olhos fechados. A foto que me mostraram de como ficará me deixou

bem animada.
As únicas que ainda não vi hoje é Brey e Kira. Aubrey virá
daqui a pouco trazer os três modelos de vestido que me interessou.

Fiquei encantada quando vi na revista que ela me deu, sei que um

deles vai ser o meu escolhido.

Kira está ficando no apartamento que consegui para ela, uma

das propriedades do meu futuro marido. A minha irmã ainda está se

adaptando à sua nova vida. Ela começou a treinar defesa pessoal, e

assim que eu voltar da lua de mel, irei encontrar alguém para

ensinar a ela a dirigir.

Carter me explicou como funcionam as uniões na família dele.

Achei muito interessante, apesar de ter ficado surpresa ao saber


como é feita a cerimônia, achei inovador o casal ter que selar o

compromisso através do sangue.

Mais uma vez acordei e fui direto para o banheiro, esse enjoo
matinal está acabando comigo.

Ainda não comentei com as minhas amigas – sim, agora eu as

considero minhas amigas – que estou tendo enjoo todas as manhãs


e já suspeito o que deve ser. Eu não quero alarmá-las antes da

hora, o foco é o casamento, por enquanto é um segredinho só meu.

Nem mesmo Carter se deu conta do que pode ser, mas acho até
normal, muitos homens não percebem essas coisas. Acho que nem

percebeu que me senti mal depois do nosso treino no galpão, a


minha pressão caiu e eu estava enjoada. Carter achou que pegou

pesado demais comigo e decidiu que só voltaríamos a treinar


quando eu estivesse um pouco melhor, mais “descansada”, como
ele mesmo disse.

Depois que voltamos para a casa, encontramos Dominic


esperando Carter do lado de fora, então eles trocaram algumas
palavras antes de se afastarem. Pelo que entendi, ele vai assumir

os negócios do Spencer, que vai ficar na Itália por um tempo a


trabalho, com os Benk. Carter vai se adaptar rapidamente, pois faz

isso desde sempre, só ficou alguns anos longe de casa e dos


negócios dos Knight. Ele tem competência suficiente para assumir

um cargo que era dele antes de ser do Spencer.

— Muriel, cheguei mais cedo.

Da cozinha, ouço a voz de Aubrey vinda da sala. Estou

procurando algo para comer que não me dê náuseas, ainda não


consegui me alimentar direito.

— Estou na cozinha! — grito, encarando a geladeira aberta

com uma variedade enorme de alimentos, mas nada me agrada a


ponto de me fazer querer comer.

Droga! Em outra ocasião, eu tomaria um café reforçado, mas o


meu estômago começa a embrulhar só de pensar em comida. Acho
que um chazinho sem açúcar e com um pouco de leite vai cair bem.

Carter fez chá mais cedo, talvez ainda tenha um pouco por
aqui. Fecho a geladeira e saio à procura do bule, e fico feliz da vida

por encontrar o restinho de chá, só preciso esquentar e colocar o


leite.

— Eu trouxe os vestidos. Quis vir mais cedo porque prometi

para as crianças que eu as levarei à casa do Ezra para verem os


primos. Quem ouve as crianças, pensa que não se veem há séculos

— fala Aubrey, assim que entra na cozinha.

— Está tudo bem, não se preocupe. Não tenho primos, mas


imagino como deve ser a relação deles, é normal sentirem saudade

— digo, meio distante. Estou tentando ligar o fogo, mas só o Carter


sabe mexer nisso direito.

Ao notar a minha dificuldade, Brey dá uma risadinha.

— Sim, é verdade. Deixe que eu faço isso — diz, gentilmente,


então me afasto do fogão e me encosto na ilha, apoiando os
cotovelos no mármore.
— Estou tentando esquentar esse chá. — Fico sem graça por
não ter conseguido ligar o fogão, não que eu não saiba fazer algo
tão fácil, é que esse é diferente.

— Ah, pode deixar. Prontinho. — Em questão de segundos o

fogo está aceso. — Quer com leite? Açúcar ou sem? — pergunta, já


mexendo nos armários e pegando uma xícara.

— Com leite e sem açúcar. — Ao respirar fundo e sentir o


cheiro do chá, o enjoo aparece e eu faço uma careta. — Estou um

pouco enjoada. — Ruborizo sob o seu olhar curioso quando ela


desliga o fogo e coloca a xícara na ilha.

— Se quiser conversar, estou aqui — se oferece e abre uma

gaveta, tirando de lá uma colher e seguindo até a geladeira para


pegar o leite.

— É... então... eu acho... que estou grávida. — Não posso

esconder algo assim, agora somos amigas. — Sabe como é, né?


Nem sempre nos lembramos do preservativo. Na primeira vez não
me importei porque não estava no meu período fértil. Mas o meu

ciclo ainda não veio e pensei que fosse por conta do estresse do
casamento, só que tenho ficado muito enjoada nos últimos dias. Só

de sentir o cheiro de comida já embrulha meu estômago, tipo agora.


A cunhada de Carter abre um belo sorriso e vem me abraçar.
Sem saber como agir, faço o mesmo que ela e começo a rir.

— Eu e as meninas já tínhamos notado isso, afinal, somos

mães, entendemos bem disso. Acho que só Carter não percebeu —


fala, ainda me abraçando e me trazendo alívio por ter dividido com
alguém essa suspeita.

Sou uma boba por achar que só eu suspeitava disso. Semana

passada, elas trouxeram doces e bolos para que eu pudesse provar

para escolhermos para o casamento e eu acabei tendo um mal-

estar, mas disse para elas que era por estar consumindo uma
grande quantidade de açúcar.

— Será que realmente estou grávida? — indago, em um baixo

tom.

— Você só vai ter certeza se fizer um teste. Podemos ir à

farmácia ou marcar uma consulta com a minha médica. A dra.

Lucien é maravilhosa — sugere e se afasta para colocar o chá para


mim.

— O casamento é daqui a dois dias e estamos todos ansiosos.

Acho que vou fazer isso depois. — Passo a mão por meu cabelo e

umedeço os lábios.
— Faça quando achar que deve. Mas se quiser tirar logo a

dúvida me avise, eu compro um teste para você. Pode ter certeza


de que ficará somente entre nós. Somos amigas, certo? — me

assegura, e eu assinto.

— Obrigada pelo apoio, mas não é isso. Só estou nervosa. Vai

ser uma mistura de sentimentos e eu gosto de resolver as coisas


por etapas — esclareço quando ela me entrega o chá.

— É normal ter medo, Muriel. Você é jovem, tem apenas vinte


e um anos, é natural que fique receosa. Mas quero que saiba que

estamos aqui para te apoiar. — Ela toca no meu ombro e me olha

bem nos olhos. — Você quer ser mãe agora? Essa é a primeira

pergunta que precisa se fazer antes de qualquer coisa. Aqui não é


sobre o Carter, o amor que sente por ele. É sobre você. E quando

falo sobre você, não é sobre a idade, é a questão do querer. Pense

direitinho o que te impede de sanar as suas dúvidas e depois me


responda. — A sinceridade dela me toca.

— Pode deixar, vou pensar com carinho. — Beberico o chá.

Termino a bebida quase saltitando, não coloquei para fora e


nem enjoei como imaginei que aconteceria. Aubrey pega a xícara da
minha mão e vai até a pia, lavando e enxugando a louça antes de

devolver cada utensílio para o seu devido lugar.

As palavras dela estão martelando na minha cabeça. Ela tem

razão, o que me impede de descobrir se estou grávida? Carter quer

ser pai mesmo que não tenhamos planejado, e eu também quero


ser mãe, já tivemos essa conversa e nos entendemos. Eu só preciso

descobrir o que realmente está me impedindo de tomar essa atitude.

— Vamos ver os vestidos? Eu os deixei no sofá, temos que ir

rapidinho, não quero correr o risco de o Carter aparecer — fala ela,

sorridente.

— Obrigada pelo chá — agradeço-a.

— Que isso, ele já estava pronto. Agora vamos, o meu

cunhado pode ser curioso quando quer. — Pisca e passa por mim.

— O.k. — Dou risada e a sigo para fora da cozinha.

Na sala, encontramos Alessa e Hailey jogadas no sofá. Eu

nem as ouvi chegando, talvez porque não tenham feito alarde.


Assim que notam a nossa presença, elas se endireitam.

— Estamos quase mortas, mas felizes com o resultado — se

manifesta Alessa.
— Sim, concordo — fala Hailey, animada.

— Se quiser posso ajudar também — me ofereço, curiosa com

a empolgação delas.

— Você é a noiva, linda, nem pense na possibilidade. A sua

única preocupação deve ser o vestido, o.k.? — fala Alessa, com a


sobrancelha arqueada.

— Exatamente — concorda Aubrey.

— É um complô? — brinco, fazendo-as gargalharem.

— Sim, é — diz Hailey, respondendo pelas duas.

— O.k., o.k., me rendo! — Levanto as mãos em modo de

rendição e sorrio, observando Aubrey pegar as caixas e se


aproximar.

— Vamos para o quarto, aqui não dá para você provar os

vestidos. As paredes são de vidro, Carter não iria gostar de saber

que você ficou nua na frente dos soldados. É bem capaz de


cabeças inocentes rolarem. — Ela se levanta, sorrindo.

— Vocês não vêm? Não estão cansadas demais para isso? —

pergunto, encarando Hailey e Alessa.


— Amiga, não podemos parar lá fora agora. Faltam dois dias

para o seu casamento, acha que vamos descansar? Não é sempre

que um Knight se casa. É um evento e tanto, então, vamos voltar ao

trabalho. Vá com a Brey, depois Hailey e eu veremos o seu vestido,


mas sabemos que ficará muito linda — diz Alessa, nos fazendo rir.

— Fiquem à vontade para comer, beber, o que desejarem. A

casa é de vocês — digo, convencida, piscando para elas.

— Obrigada — as duas me agradecem.

— Eu que agradeço. — Sou sincera. Elas estão sendo

incríveis comigo. — Me deixe te ajudar, Aubrey — peço, pegando

uma caixa com ela.

Hailey e Alessa saem da casa, enquanto eu e Aubrey

seguimos para o quarto. Cada passo que dou deixa meu coração
mais acelerado, estou vivendo um verdadeiro sonho. Carter e eu

nos casamos daqui a dois dias e eu posso estar esperando o nosso

primeiro filho. É muito mais do que ousei sonhar. Em poucos dias


serei Muriel Gallagher Knight, e nada nesse mundo pode me fazer

mais feliz. Então tenho a resposta para a pergunta de Aubrey – eu

quero sim ser mãe. Será a maior realização carregar no meu ventre

um bebê do meu marido.


Provei todos os vestidos que Aubrey trouxe, mas somente um

encheu os meus olhos. Assim que eu o vesti e me olhei no espelho,

senti como se tivesse sido feito exclusivamente para mim. Agora

estou em frente ao espelho, sorrindo como uma boba e quase


chorando de tanta emoção.

— Ele é perfeito — murmuro, segurando as lágrimas.

Aubrey está atrás de mim, me encarando através do espelho,


e assim como eu, está sorrindo.

— Parece que foi feito para você. Agora vamos testar algo —

diz, levando as mãos ao meu cabelo e bagunçando um pouco para

dar volume antes de o pentear com os dedos. — Carter vai infartar

com tanta beleza, Muriel. Esses seus olhos, esse cabelo... Céus!
Você é a noiva mais linda que já vi — elogia, inflando o meu ego.

— Obrigada, Brey. — Avalio o vestido que abraça o meu

corpo, destacando bem a minha cintura fina. — Estou apaixonada

por ele. É lindo demais. — O decote é um V profundo, rendado na


frente até os pés. Ele tem um corte sereia, mangas longas em tule
bordado e decote ombro a ombro. Uma verdadeira perfeição.

— Já sei o que vai ficar perfeito em você. Um minuto — diz,

saindo em disparada do quarto, sem esperar a minha resposta.

Vidrada na minha imagem, giro em frente ao espelho, sem

conseguir segurar as lágrimas. Limpo o meu rosto e volto a sorrir.

Apesar do meu choro ser de felicidade, vou guardar isso para o dia
do meu casamento, quando eu oficialmente me tornar uma senhora

Knight.

Fico esperando Aubrey por longos minutos andando de um

lado para o outro. Abro a porta e a procuro pelo corredor, mas nada.

Assim que ouço o barulho do carro de Carter se aproximando, eu


arregalo os olhos. Sempre me falaram que dá azar o noivo ver a
noiva com o vestido de casamento antes da hora.

Carter não pode me ver assim. As meninas não o deixarão


subir, tenho certeza. Mas então ouço passos pesados se
aproximando. Respiro profundamente e solto o ar devagar para

aliviar o nervosismo. Assim que a maçaneta da porta gira, alguém


grita.
— Afaste-se dessa porta, Carter James Knight! — diz Aubrey
do outro lado.

— Posso saber o que está acontecendo, Aubrey? — pergunta,


com o timbre de voz grave.

— Você não pode ver a Muriel vestida de noiva. Não se atreva


a entrar no quarto. — A voz de Brey está alterada, parece até

nervosa.

— Pensei que fosse algo mais grave. Tudo isso por um


vestido? — Ele dá uma risada gostosa, que particularmente me
excita.

— Para vocês homens é uma bobagem, mas para nós, não.

Então se afaste. Rápido. Saia daqui agora mesmo. — O tom de


Aubrey é ameaçador.

— Se você matar o noivo não terá casamento, Brey. Pode ficar


tranquila, estou saindo — diz ele, bem-humorado.

— Isso. Pelo menos você é inteligente. Vai, dê o fora daqui. Só


suba quando eu disser que pode — fala Aubrey, um pouco mais

calma.

— Você é quem manda — diz Carter, se divertindo com a


situação. — Muriel, eu trouxe uma coisa para você, mas a general
está impedindo a minha passagem. Eu trouxe torta de maçã, vou
deixar na cozinha.

Mordo os lábios, abobalhada com o mimo dele.

— Obrigada. Mas se tiver juízo irá obedecê-la — sugiro,


sorrindo de orelha a orelha.

— Carter, Carter, leve já a sua bunda para longe daqui! —

exclama Aubrey, em modo de repreensão.

Relaxo os ombros por não ouvir mais a voz dele, só de


imaginar Carter entrando me deixou tensa.

Aubrey entra no quarto com uma tiara de flores brancas nas


mãos.

— Desculpe a demora, estava providenciando isto aqui. —


Ergue o objeto.

— Sem problemas. — Me posiciono novamente em frente ao

espelho.

— Cadê o seu pente? — pergunta, então aponto para o móvel


ao lado da cama.

— Na segunda gaveta. — Passo as mãos pelo tecido do


vestido, sentindo a textura gostosa e de qualidade.
— Arrume os ombros e a postura.

Faço como pede, então ela começa a pentear o meu cabelo,


dando um volume generoso antes de colocar a tiara.

— É só para ver se o penteado combina com o vestido e com


essa tiara improvisada. Acho que uma maquiagem bem leve e

cachos definidos ficarão perfeitos e bem naturais.

— Confio no seu bom gosto. Se assim já estou achando


perfeito, imagina como vou ficar quando me arrumar de verdade? —

Sorrio para ela.

— Não é o meu bom gosto. A noiva que é linda, isso sim! —


elogia.

— Gentiliza sua. Acho que já posso tirar o vestido, não é? —


Ela assente. — Me ajude com o zíper, por favor.

Aubrey o abre, então tiro o vestido cuidadosamente. Ela o


dobra com o mesmo cuidado e o devolve para a caixa. Rapidamente

eu me visto, enquanto Aubrey luta para enfiar os outros dois


vestidos nas caixas.

— Deixe que eu te ajudo. — Nada mais justo, afinal, ela os


trouxe para eu provar.
— Estou precisando mesmo. — Acabamos rindo.

Dobro um vestido enquanto ela faz o mesmo com o outro.

— Tem falado com a sua mãe? — Arrisco perguntar. A última


vez que falei com a minha foi há três dias.

— Sim, falei ontem. Algum problema com a sua mãe? —

pergunta, preocupada, terminando de arrumar o vestido na caixa.

— Não, não, só estou ansiosa para rever a Maeve. Ela


prometeu que virá ao meu casamento, então estou meio nervosa,
sabe? Ainda estou me adaptando ao fato de ter uma mãe —

confesso, sabendo que Brey é uma boa ouvinte. Fora que nossas
mães são sócias e melhores amigas.

— Ah sim, não se preocupe, Muriel, a Lidewij... Quero dizer, a

Maeve é uma ótima mulher, um ser humano incrível. Ela sempre


cumpre o que promete, conheço-a desde muito nova e ela nunca
me decepcionou. Tenho certeza de que não vai decepcionar a filha.

— Ela pisca para mim.

Isso é verdade. Desde que voltei para Londres, mantemos

contato. Ela me liga para saber como estou e sempre ficamos


conversando por um bom tempo. Na última ligação, ela disse que
começou as reformas, que está acabando com as lembranças ruins,
tudo o que estava relacionado aos Lynch do nosso território está
desaparecendo. Fiquei feliz em saber que nem mesmo os anos
foram capazes de apagar a esperança que ela teve de um dia

retornar à casa que nunca deixou de ser dos Gallagher.

— Tem razão, só uma ansiedade mesmo. É normal. — Depois


de lutar com o bendito vestido por uns minutos, enfim consigo
devolvê-lo para a caixa.

— Isso mesmo — diz Aubrey, soltando um suspiro cansado.

— Obrigada por tudo o que vocês estão fazendo por mim. Eu


nunca vou esquecer — falo, tocando a sua mão.

— Somos uma família, e o mais importante, amigas. E amigos

são para todas as horas. — Brey junta as duas caixas. — Guarde o


seu vestido no armário, mas longe dos olhos do Carter.

Sigo o seu conselho de imediato, colocando a caixa em um

local onde ele nunca mexe. O armário é enorme.

— Vamos descer? Quero ver se a Alessa e Hailey precisam de

algo. Elas estão focadas naquela decoração o dia todo

— Vamos sim. As duas são duras na queda, um par perfeito de


amizade. São persistentes e só param quando se sentem
satisfeitas. — Aubrey faz careta, mas seus olhos mostram diversão
enquanto empilha as caixas.

— Percebi. — Sigo na direção da porta e abro para que ela

passe.

Desço a escada com Aubrey logo atrás de mim. Assim que

chegamos à sala, nos deparamos com Carter, Hailey e Alessa


sentados conversando. A loira dá risada de algo que a amiga diz,
enquanto Carter faz uma careta. Deve ser algo sobre ele.

— Estamos sabendo que Carter quase foi assassinado por

causa do vestido, é verdade? — pergunta Alessa, divertida.

— Eu não disse isso, Alessa — defende-se Carter, bem-


humorado.

— Ah, disse sim, meu amigo — Hailey provoca.

— É assim que você defende os seus amigos, Hailey? —


resmunga ele, brincalhão.

— Sempre fico do lado das garotas, amigo, me desculpe. — A


loira sorri e pisca para a gente.

— Vou me lembrar da sua traição — retruca ele, sorrindo.


— Não sejam dramáticos. Eu realmente o expulsei de lá. Não
pode ver a noiva com o vestido antes da hora — se manifesta

Aubrey, rabugenta, colocando as caixas no móvel.

— Isso é superstição, Aubrey. Bobagem — diz Carter, dando


de ombros.

— Não é, não — diz Aubrey, cruzando os braços enquanto se


acomoda no sofá entre as garotas, ao mesmo tempo em que me

sento ao lado de Carter.

— O.k., se você diz — fala Carter, encerrando o assunto.

— Já acabamos o que restava por aqui, mas as flores vamos


deixar para colocar no dia do casamento para não ficarem feias —
se manifesta Hailey, satisfeita.

— Certo, amiga. O grande dia está finalmente chegando,

mesmo que tenham sido poucos dias de espera, parece que foi uma
eternidade — fala Alessa.

Carter faz uma careta engraçada enquanto assimila o diálogo


delas.

— Estou de acordo, prima — diz Aubrey, concordando com


Alessa.
— A conversa de vocês está muito interessante, mas sinto que

estou sobrando aqui. Vou subir. — Ele se levanta.

— Não, senhor, pode ficar. Nós já estamos indo embora —


interfere Brey, levantando-se. — Acho que podemos ir, não é? —
Ela olha para as outras.

— Sim, claro — diz Alessa, enquanto se levanta com Hailey.

— Vocês não precisam ir ainda, fiquem à vontade — diz

Carter, todo preocupado.

— Realmente temos que ir, não se esqueça que temos filhos


para cuidar. As babás não dão conta do gênio dos “Knightzinhos”. E
o Christopher não é uma criança muito fácil, provavelmente está

deixando o pai de cabelo branco — diz Alessa, fazendo Carter


gargalhar.

— Lessa tem razão, Carter. Não se preocupe com a gente,


sabemos que você adora a nossa presença, mas temos muitos

afazeres. Então aproveite a companhia da sua futura esposa,


porque já estamos de saída. — Hailey pisca para a gente.

— Vocês que sabem, mas são sempre bem-vindas — diz ele,


gentilmente, e elas assentem.

— Sabemos disso, Carter — fala Aubrey, educadamente.


— Vou pedir a escolta para vocês, então aproveito e coloco
essas caixas no carro. — Carter sai da casa, nos deixando
sozinhas.

— Meninas, mais uma vez, obrigada. Vocês são maravilhosas.

— Vou até Alessa e a abraço, depois faço mesmo com Hailey e


Brey.

— Se você quiser fazer o teste me avise, estou aqui para te


ajudar no que precisar — a esposa de Killz fala baixinho no meu
ouvido.

— Pode deixar. Obrigada... por tudo — agradeço-a, saindo do

seu abraço.

Carter retorna minutos depois avisando que está tudo pronto


para elas irem. Eu me ofereço para acompanhá-las, mas elas

negam. Eu as acompanho até o carro e sorrio enquanto minhas


amigas vão embora.


Dois dias passaram num piscar de olhos, apesar de ter

parecido uma eternidade para mim. Finalmente o meu grande dia e


do Carter chegou. É real, vamos nos casar. Eu vou me casar com o

homem que sempre quis ter para mim. O que eu pensei que fosse

impossível, hoje se tornará realidade.

Carter está no andar de baixo com os irmãos, enquanto estou


aqui em cima, com as mulheres mais incríveis.

— Muriel, saia desse banheiro. Você está me deixando

nervosa — Aubrey grita do outro lado da porta.

— Já vou, e pare de gritar! — reclamo, olhando para os cinco


testes de gravidez na pia.

— Vocês vão deixá-la ainda mais nervosa, meninas — minha

mãe intervém por mim, me deixando mais calma.


Hoje eu deveria me preocupar em somente dizer “sim" ao
Carter diante da família dele e dos membros do Conselho da Máfia,

porém, imprevistos acontecem. O meu quarto está cheio de

mulheres tão ansiosas quanto eu para saberem o resultado dos

testes. Pela manhã, eu me sentei com todas as meninas e contei

que suspeitava que eu estava grávida depois de quase ter vomitado

em cima da Alessa ao sentir o perfume dela. De imediato, elas


providenciaram os testes e agora estou aqui, encarando cinco

bastões e matando as minhas amigas e a minha mãe de

curiosidade.

Maeve chegou da Irlanda e se hospedou com Celeste no

apartamento que a mãe de Aubrey tem aqui em Londres ontem à

noite. A sra. Lewis não virá ao casamento, ficará com as crianças,

porque não podem participar. Maeve e eu passamos um bom tempo

juntas. Ela me surpreendeu ao me mostrar um documento que me

emocionou muito – recebi o sobrenome Gallagher. Agora sou


oficialmente Muriel Gallagher, e não Scott. Embora eu ame o meu

sobrenome anterior – eu o carreguei por vinte e um anos –, nada é

mais gratificante do que ter o meu verdadeiro sobrenome. Fiquei tão

tocada que chorei quando Maeve me disse que só não veio antes
porque estava lindando com isso, pois queria me dar esse presente

antes que eu me casasse.

Mordendo os lábios, observo os bastões. Um número


exagerado, mas melhor sobrar do que faltar. E todos marcam duas

linhas. É isso, estou grávida. Carter vai ser pai. Serei eu a dar o
primeiro filho ao homem da minha vida.

Sorridente e com as mãos trêmulas, recolho os testes e abro a


porta, encarando as mulheres à minha frente. Nem preciso abrir a

boca, apenas balanço a cabeça para elas, que vem em minha


direção, eufóricas.

Estendo os bastões e mostro a elas.

— Vocês serão tias. Todos deram positivo! — exclamo,

vibrante. Então me viro e coloco os testes na pia, lavando as mãos e


saindo do banheiro em seguida.

— A família vai aumentar — constata Aubrey, risonha.

— Parabéns, irmã. Uau!!! E vou ser titia! — Kira se coloca na


minha frente e me abraça.

— Muito obrigada, Kira. Vai ser uma ótima tia. — Gargalho,

ainda a abraçando.
Nunca imaginei que pudesse alcançar em um só dia tanta

felicidade, mas consegui. Kira dá espaço para que as outras se


aproximem de mim, logo em seguida vem a loira.

— Meus parabéns, ruiva. O meu amigo vai ficar muito feliz com

a notícia. — Hailey me abraça e beija a minha cabeça.

— Obrigada. Tenho certeza — concordo, com a voz

embargada.

Vou ser mãe!

— Parabéns, Muriel — diz Alessa, me abraçando assim que


Hailey se afasta.

— Obrigada, Lessa! — Sorrio, deixando as lágrimas caírem.


Ainda bem que começo a me arrumar daqui a alguns minutos,
senão estaria toda borrada.

Após todas me parabenizarem, Maeve se aproxima e me


encara por longos minutos, até que me puxa para um abraço e

começa chorar. A sua emoção me afeta, fico ainda mais chorosa.

— Ah, minha filha, meus parabéns. Que o seu filho venha para
somar muito mais no amor de vocês. Mesmo antes dele nascer já é

amado. — Ela se afasta um pouco e toca na minha barriga por cima


do robe.
— A senhora gosta de me fazer chorar, sabia? Obrigada, mãe,
eu sei que sim. O meu filho é o meu maior presente, e está
chegando numa boa hora. — Dou risada entre as lágrimas.

— Está vindo na hora certa — concorda.

— Com certeza. — Meneio com a cabeça e instintivamente


acaricio a minha barriga com a mão que carrego o solitário,

imaginando como ficará linda daqui a alguns meses.

Alguém bate à porta antes de se pronunciar.

— Muriel, preciso falar com você — Carter diz do outro lado.

Será que ele nos ouviu? Acho que não, mas se ouviu não tem

problema. Sou alvo de olhares assustados, contudo, estou bem


tranquila. Não que eu não esteja um pouco ansiosa, mas o homem

que tenho me passa tanta segurança que não sou capaz de me


sentir insegura com a notícia de que seremos pais. Se eu chorar
será de felicidade, só isso.

— Me deixem à sós com ele, por favor — peço a elas, que


concordam. — Pode entrar, Carter — falo em um tom para que ele

ouça.

Assim que ele entra no quarto todas saem, nos deixando


sozinhos. Eu me sento na cama e faço um gesto com a mão para
que Carter se aproxime.

— Tem algo para me contar? — Encara-me com curiosidade e


passa a língua nos lábios de um modo sexy. Percebendo o meu

silêncio, arqueia a sobrancelha.

— Quer ouvir o que tenho para te contar com emoção ou sem?


— Um sorriso brinca nos meus lábios quando ele fica pensativo.

— Depende. — Toca na minha perna e me avalia.

— Este momento deve ser de pura emoção, sem dúvida. —

Pego a sua mão e a coloco em cima da minha barriga plana.


Fascinado com o que acabo de fazer, ele pisca várias vezes, com a

mão espalmada ali. Mordo os lábios e, tomada pelos hormônios,

deixo as lágrimas caírem. — Você vai ser papai, amor. Fiz vários
testes de farmácia e todos deram positivo — revelo, com a voz

embargada, deixando-o encantado, seus olhos azuis cintilam com a

felicidade.

Carter sequer abre a boca, faz melhor, se ajoelha na minha

frente e desfaz o laço do robe, deixando o meu corpo nu à mostra.


Ainda em silêncio, ele leva as mãos aos meus quadris e vai subindo,

moldando com os seus dedos a minha pele como se fosse uma obra

de arte. Carter se aproxima o suficiente para encostar a boca na


minha barriga e beijar. Posso dizer que está admirado, o seu toque

me deixa arrepiada e com o corpo à mercê do seu gesto carinhoso.

— Caralho, eu vou ser pai. — Ergue o seu rosto para mim.

Noto que os seus olhos estão vermelhos, mas ele não chora,

pelo contrário, exibe a porra de um sorriso arrogante.

— O meu filho está crescendo dentro da mulher que eu amo.


Eu sou um maldito sortudo, não? — Gargalha jogando a cabeça

para trás, todo orgulhoso.

Toco no seu cabelo e assinto.

— Uhum, eu também sou muito sortuda, muito. — Fungo,

limpando o meu rosto com uma mão. Estou muito emocionada.

— Hoje estou sendo presenteado em dobro. — Carter beija

novamente a minha barriga, me deixando toda derretida com a

cena.

— Estamos — digo.

Ele assente e se levanta antes de estender a mão para mim.


Imediatamente, ele me puxa e passa o braço ao meu redor, depois

desliza o robe por meus ombros e beija a minha pele. Carter vai

descendo até o colo e depois encosta sua testa na minha, beijando


a minha boca com paixão, mordiscando o meu lábio até eu gemer.

Ele começa a me deitar na cama, mas nego ao parar o nosso beijo,

dando uma risadinha safada.

— Deixe a animação para a nossa lua de mel. A casa está

cheia, e daqui a pouco temos que nos arrumar para o casamento —


falo, lambendo os lábios ao sentir a sua ereção na minha barriga.

— Eu nunca pensei com o pau, mas você me tira do sério,


sereia. Eu mandaria todos embora para ficar sozinho com a minha

mulher, mas temos que nos casar, não é? Então me conformo com

a lua de mel. — Beija o meu pescoço, me fazendo gargalhar.

— Acho bom — murmuro, deslizando as unhas na tatuagem


tribal do seu braço. — O que você quer falar comigo? Acabei não te

dando espaço para falar. — Avalio o seu rosto esculpido.

— Há alguns dias fiz uma reserva no hotel em Brighton, na

cidade vizinha que fica à beira mar. Vou te levar para conhecer

algumas coisas, mas só ficaremos por um dia, por causa dos


negócios — revela, acariciando as minhas costas.

— Sem problemas, será maravilhoso. — Sorrio, animada.

— Será sim. Agora vou contar a novidade aos meus irmãos,


pois sei que as mulheres já devem saber, certo? — Ele beija o meu
rosto, e eu fico boquiaberta.

— Como sabe? Estava ouvindo a nossa conversa? — Finjo

ficar ofendida.

— Muriel, nada entra ou sai daqui sem que eu saiba. — Ele

segura o meu rosto e se inclina, encostando a boca perto do meu


ouvido. — Não ouço conversas alheias, mas sou um bom

observador, só estava esperando a sua confirmação de que

seríamos pais para falar para todos. Mas as suas amigas são meio
distraídas, e meus homens me deram informações dos passos delas

essa manhã — sussurra e se afasta quando vê meus olhos

semicerrados.

Batem à porta, para a salvação do cretino.

— Carter, Muriel, sei que deve estar bom aí, mas daqui a

poucas horas é o casamento e a noiva precisa estar pronta, e


demora um pouco, ao contrário do noivo, que só precisa de cinco

minutos para vestir um terno — Alessa diz, do outro lado da porta.

— Ele já está saindo. — Eu o encaro, que me agarra e me

beija.

— Não fique com essa cara de brava. — Beija o meu queixo.


— Não estou, de verdade. Agora saia antes que te tirem daqui

a pontapés. — Empurro-o pelos ombros.

— Já saio. — Ele me beija na boca. — Estou ansioso para te

ver vestida de noiva, sereia — diz, roçando os lábios nos meus.

— Não vai demorar muito. Agora vá! — exclamo, rindo com a

resistência dele em sair do quarto.

Pouco tempo depois, Carter deixa o quarto e as minhas

companheiras entram, todas sorridentes e mais animadas do que


antes, cheias de disponibilidade para me ajudar a me arrumar.

Em poucas horas me transformaram em uma verdadeira

rainha, porque é assim que me sinto diante do meu reflexo no


espelho. Estou belíssima. Aubrey havia me dito que eu me

impressionaria, e não é que ela tem razão? Com as mãos na boca,

me encaro toda produzida. O apelido “sereia” do Carter nunca fez


tanto sentido quanto agora.
Puta. Que. Pariu. O meu ego está nas alturas. Brey fez uma

maquiagem perfeita em mim com uma sombra esfumada marrom


abaixo da linha d’agua dos olhos e iluminou as pálpebras em tom

bege, marcando bem o meu olhar. Ficou lindo demais, combinou

com o meu ruivo e destacou os fios avermelhados com naturalidade.

Os meus olhos ficaram mais claros e intensos. Para não tirar por
completo a minha identidade, não escondeu as minhas sardas,

apenas passou um blush leve e um batom nude.

O meu cabelo está com cachos mais definidos, e Aubrey

subsistiu a tiara de flores daquele dia por um ornamento de


diamantes. Quando ela colocou na minha cabeça fiquei

deslumbrada. A minha amiga comprou para me presentear e eu

aceitei de bom grado, está perfeito. Cada detalhe é importante, e o

vestido está tão adorável que se pudesse nunca mais o tiraria.

― Você está tão linda, filha. Me fez lembrar do dia em que me

casei com o seu pai. ― Maeve surge atrás de mim.

Assinto, emocionada e me controlando para não chorar e


borrar a maquiagem. Estar assim, faltando pouco para me casar, me

lembra a minha nana. Eu queria tanto que estivesse aqui, me vendo

dizer sim ao homem que amo. Queria poder abraçá-la fortemente no


final e deixar claro o meu amor por ela, mas nem sempre é como
queremos. Ela se foi, mas a minha mãe está aqui comigo.

— Obrigada. A senhora também está maravilhosa. — Minha

voz sai embargada.

As esposas dos Knight já desceram, ficamos somente eu, Kira

e a minha mãe. As garotas se foram faz poucos minutos, disseram

que irão nos aguardar no altar. Eu soube por Alessa que vim para
mudar alguns costumes da família, já que nem todas as mulheres

da família poderiam estar presentes na cerimônia do casamento, e

hoje elas estarão, sem exceção. Antes, os casamentos sempre

eram feitos nos galpões. Gosto da ideia de ser eu a trazer


mudanças, principalmente boas.

— Você está perfeita, irmã — elogia Kira, colocando a mão no


meu ombro e sorrindo para mim.

― Obrigada. E você não fica atrás. ― Toco na mão dela e dou


um sorriso.

― Hoje a sua vida de casada vai começar, Muriel, e eu tenho


certeza de que o seu marido te fará muito feliz. Carter é um homem

admirável, ele te ama muito e por você mata e morre, pode


acreditar, filha. Você não poderia ter escolhido outra pessoa para
entregar o seu coração, aquele rapaz é muito nobre ― a mais velha
fala com a voz firme, mas também embargada.

— Eu sei, mãe, eu sei. — O meu coração bate


descompassado, enquanto minhas mãos e pernas tremem.

— Já chegou a hora, não é? Vamos? — chama-me minha


mãe, limpando o rosto. Ela chorou e agora tenta não borrar a

maquiagem.

Respiro fundo antes de olhar uma última vez para o espelho.


Estou nervosa, muito.

“Muriel, os Knight têm um ritual. Os noivos devem cortar as


duas palmas das mãos e uni-las para que o sangue se misture,

assim o casamento é selado. Outra coisa, o sangue que


partilharmos nos une, em vez de alianças. O sangue, para a família,
tem mais valor do que uma troca de alianças, mas eu te darei uma,

a minha mulher vai carregar uma aliança.”

Lembro-me das palavras do Carter e fico nervosa. Penso em


morder os lábios, mas me contenho. O meu apoio vem logo em

seguida quando Maeve fica de frente para mim e pega as minhas


mãos. Só em saber que terão membros da máfia que não conheço
fico meio aflita.
― Olhe para mim. É normal que fique nervosa, mas será
rápido, quando perceber já estarão casados. E não precisa ficar
receosa, eu vou te levar até o altar. — Ela me dá a segurança que

eu precisava.

— Tem razão. — Respiro fundo e sorrio.

― Preparada, então? ― pergunta Kira, que surge com o


buquê.

— Sim, eu estou — falo, decidida, pegando o buquê e indo em


direção à porta.

A cada passo que dou, puxo ar para os pulmões. Desço a

escada e percebo que a casa está realmente vazia, todos estão me


esperando.

Vamos lá, Muriel Gallagher! Me incentivo mentalmente ao


chegar à porta de vidro. Maeve segue na minha frente, com cuidado

para não pisar no tecido do vestido que se arrasta pelo chão, e abre
a porta para mim. Começo a caminhar e toda insegurança vai
embora ao ver tantos soldados reunidos, todos de terno,

cabisbaixos e armados, como uma verdadeira fortaleza.

— Me dê o seu braço. — Minha mãe se coloca ao meu lado e

entrelaça seu braço no meu.


— Obrigada — agradeço-a.

Com nossos braços entrelaçados, caminhamos para o local da


cerimônia.

Nunca tinha visto tantos soldados juntos, a quantidade é


assustadora, eles sequer nos cumprimentam ou nos olham, apenas

mantêm a postura de respeito.

Bastam mais alguns passos para que eu fique frente a frente


com o noivo, que está com uma expressão indecifrável até me ver e

mudar totalmente. O vislumbre do seu sorriso é tudo para mim.


Seus olhos brilhantes percorrem o meu rosto e depois o meu corpo.

Ele está com um terno slim cinza de duas peças da Armani, e


o tecido tem um efeito amassado. Carter ainda consegue ficar mais

bonito, raramente o vejo usando terno, e quando o faz fica


irresistível.

Com Maeve, caminho pelo tapete branco na direção do altar,


que tem um arco de flores brancas e uma mesa. De relance, olho

para as meninas que estão sentadas nas cadeiras espalhadas em


uma fileira com os Knight ao lado. Ao ver Dom com eles, sorrio e o
meu amigo acena com um gesto de cabeça. Do outro lado, estão

alguns homens desconhecidos, devem ser membros do Conselho.


O membro mais velho da máfia vai realizar a cerimônia e eu nem

preciso perguntar para saber quem é, uma vez que um senhor com
uma aparência intimidadora está no altar, sem demonstrar nenhuma
emoção.

Todos ficam em pé quando estou a poucos passos do altar.

Meu coração está batendo tão acelerado que é capaz de ouvirem as


batidas dele.

Sorrio sem conseguir tirar os olhos de Carter quando ele


estende a mão para mim assim que paramos na sua frente.

— Estou te entregando o meu maior tesouro, Carter, cuide

bem da minha filha — diz minha mãe.

— Vou cuidar, Maeve — diz ele, e um turbilhão de emoções


me atravessa.

Minha mãe nos deixa e vai se sentar ao lado de Kira, que está
na segunda fileira, à minha esquerda.

― Você está linda demais ― elogia e beija minha testa.

Damos mais alguns passos para a frente, e quando o membro


mais velho está para começar a cerimônia, Killz se aproxima e fica

ao lado dele. Olho para a mesa e vejo duas canetas, uma navalha e
alguns documentos. O objeto afiado me faz estremecer.
— A maioria que está aqui hoje sabe como é o nosso costume
quando um casal da família vai se unir em um casamento. Muriel
Gallagher é um novo membro, e como o irmão mais velho e chefe,

tenho o dever de esclarecer algumas coisas. Os casamentos dos


membros da família Knight têm um ritual que vem desde a nossa
primeira geração. E Oliver Pierre, sendo o membro mais velho,

sempre realizará a cerimônia enquanto viver. — Killz toma a palavra.


— Carter e Muriel, deem as mãos e fiquem um de frente para o
outro.

Assim que fazemos como é pedido, Killz pega a navalha e

entrega para o senhor, que se aproxima de nós enquanto o chefe da


máfia volta para o lado da esposa, deixando que Oliver assuma a

palavra.

― A cerimônia é como uma tradição, um ritual. Dizem que não

há nada mais importante que o sangue que corre em nossas veias


― diz Oliver em um tom alto. É um pequeno discurso padrão, soube
pelas meninas, assim como os nossos votos também serão. ― A

união de duas pessoas representa o renascer, como uma fênix que


surge das cinzas. Meus queridos, Carter James Knight e Muriel
Gallagher, vocês estão aqui para renascerem juntos. A partir do

momento em que seus sangues se encontrarem, se tornarão um e


estarão ligados para sempre. Um deverá ser o escudo e a base do
outro, onde o mais forte obriga-se a se colocar à frente do mais

fraco, porque é disso que estamos falando: família, união, fortaleza


e fidelidade. ― As palavras do senhor me impactam, é impossível
não chorar.

Por tantos anos, Carter foi a minha base e o meu escudo, foi

mais do que isso, foi o meu tudo mesmo sem eu ter nada para
oferecer a ele.

O sr. Oliver pede para abrimos as mãos, Carter, já com


experiência por causa dos irmãos, abre as mãos e as ergue, então
faço o mesmo, receosa ao imaginar como será feito o corte. O mais

velho pega uma mão do meu noivo e faz um corte, logo após faz na
outra, então vem até mim. Mordo o lábio inferior e aperto os olhos
quando a lâmina corta a pele das minhas palmas, mas me

mantenho firme e não demonstro fraqueza.

Oliver levanta a navalha suja de sangue, mostrando aos


companheiros, que assentem silenciosamente.

― Entrelacem as mãos agora ― ele pede, então obedecemos.

Neste momento, damos início as nossas falas.


― Eu, Carter James Knight, quarto herdeiro da máfia Knight,
prometo a Muriel Gallagher ser seu protetor, homem, escudo,

fortaleza e lealdade, desde agora até o meu último suspiro ― fala,


enquanto olho para as nossas mãos que partilham nosso sangue.

Encorajada, começo a falar o voto que ensaiei por horas:

― Eu, Muriel Gallagher, prometo a Carter James Knight ser


sua companheira, mulher, escudo, fortaleza e lealdade, desde agora

até o meu último suspiro ― declaro, com a voz embargada,


lembrando-me que daqui a alguns meses teremos o nosso bebê nos
braços.

― Com o poder a mim concedido para concretizar esta união,

declaro Carter e Muriel, marido e mulher. De agora em diante, Muriel


levará consigo o sobrenome do esposo e uma posição dentro da
máfia ― Oliver Pierre fala e nos entrega a caneta. Sou a primeira a

assinar o documento, depois é o Carter.

Killz retorna ao altar com Aubrey, então ele e a esposa


assinam também.

Meu esposo sorri abertamente e leva a mão ao bolso da calça,

tirando de lá a caixinha com as alianças. Boquiaberta com a sua


atitude na frente de todos, sorrio. Em poucos segundos, o meu
marido pede para que eu estenda a mão, deslizando uma no meu

dedo antes de eu fazer o mesmo com ele, emocionada.

O nosso silêncio é quebrado por aplausos.

— Seja oficialmente bem-vinda à família, Muriel Gallagher

Knight. — Meu marido pega em minhas mãos e leva para perto da


sua boca, depositando um beijo em cada uma.

Como não podemos limpar o sangue das nossas mãos, nos

aproximamos e Carter leva a mão ao meu rosto, e eu ao dele, então


damos o nosso primeiro beijo de casados. O meu marido me abraça
pela cintura e intensifica o nosso beijo, até os aplausos aumentarem

e me deixarem tímida na frente de alguns desconhecidos.

Nos afastamos e a nossa família vem nos cumprimentar. Os


membros do Conselho se despedem dos Knight e se vão, restando
somente nós para comemorarmos com comes e bebes.

— Amor, como você quer que se chame o nosso filho? —

pergunto quando meus cunhados e as suas esposas se afastam.

De frente para Carter, entrelaço meus braços em seu pescoço

para começarmos uma dança sem sequer ter uma música.

— Já está pensando no nome dela? — Arqueia a sobrancelha


e me dá um sorriso bonito.
— Por que ela e não ele? — respondo com outra pergunta.

— Se vier uma menina, podemos chamar de Rose Gallagher


Knight. — Carter me rodopia e me traz de volta para ele.

Toco em seu peito e sinto meus olhos marejarem.

— E se for um menino, podemos colocar Rowan Gallagher


Knight? — pergunto, mesmo já sabendo a sua resposta.

— Sim, podemos.

Eu não poderia ter escolhido outra pessoa para amar.

— Eu te amo, Carter. — Toco em seu rosto manchado com o


nosso sangue.

— Eu também te amo, sereia.

— Por que sereia? — por fim pergunto, vendo-o ficar divertido.

— Porque você me atraiu de uma forma assustadora e me


encantou como nenhuma mulher foi capaz. — A sua voz rouca e o

seu semblante sério mexem comigo.

Tenho certeza de que os meus olhos estão brilhando neste


momento. Por mais que essa prévia seja deliciosa e marcante, sinto
que o melhor da nossa vida ainda está por vir.
Quem sai no começo da própria festa de casamento? Pois é,
eu. Ficamos por pouquíssimo tempo, o suficiente para não deixar os
nossos familiares chateados. Muriel e eu não vamos nos afastar
muito da nossa casa, uma vez que tenho que ficar no lugar de

Spencer nos negócios. Há alguns dias, Killz disse que eu poderia


ficar um dia fora, já que o Spencer não partiu para Itália ainda, então
prontamente providenciei uma estadia de um dia em Brighton, que é

conhecida por ter aquele charme de cidade pequena litorânea, no


sul da Inglaterra. Tenho certeza de que Muriel vai adorar conhecer

alguns pontos turístico.

Sei que Muriel merece ter uma lua de mel inesquecível, mas o
Knight caçula está cometendo alguns deslizes nos negócios e eu

preciso encobrir isso antes que o Killz descubra. De uma forma


distorcida, acabei me tornando o Ezra ao ter que fazer isso. Mas

será por pouco tempo, Spencer vai ter que se dar conta de que as
drogas estão fodendo com ele e procurar um tratamento, vai

precisar largar aquelas porras que estão o consumindo cada dia


mais.

Há três dias recebi uma ligação de William, um dos pilotos que

trabalha na área das cargas, e ele me disse que Spencer havia


enviado peças de carros em maior quantidade do que foi pago, por

sorte o cliente é antigo e fez a devolução do excedente.

Pelo que fui informado, o meu irmão quase nos deu um

prejuízo de sete milhões de libras. Quando Killz souber, vai fazer um


estrago e tanto, ele não admite falhas. Spencer não foi desatento,

simplesmente estava drogado quando foi conferir a carga. De

acordo com William, ele tentou alertar o meu irmão, mas não foi
ouvido e ainda recebeu uma advertência por tentar corrigi-lo.

Estou preocupado que nossos pilotos tenham que pagar por

um erro que não foi deles. Spencer tem suas responsabilidades com

a família, tem o nosso sangue, enquanto o resto não. Killz é

impiedoso, e se não aparecer o verdadeiro culpado ele vai matar até

descobrir quem é o responsável pelos erros, e se eu esperar o circo

pegar fogo, cabeças inocentes irão rolar. E ninguém merece pagar


por um erro que não cometeu.
Assim que voltar de Brighton irei conversar com os meus
irmãos, eles precisam saber o que anda acontecendo com Spencer.

Agora estamos a caminho de Brighton, em alguns minutos

chegaremos. Dessa vez, um dos meus soldados está no volante,


enquanto relaxo no banco traseiro, com Muriel cochilando

encostada em mim.

Ligo para o Spencer e ele só me atende no terceiro toque, mas

não diz nada, somente ouço sua respiração do outro lado da linha.

— Eu sei que está me escutando, irmão. Temos um problema

que você causou e precisamos resolver, se me ignorar você terá

que se entender com Killz. Ele vai adorar saber a merda que você

fez. — Semicerro os olhos quando o ouço pigarrear.

— Nem a caminho da sua lua de mel você me deixa em paz,

Carter? Por que não vai curtir a sua mulher e me deixa resolver os

meus assuntos sozinho? — A sua amargura é evidente.

— Um caralho, Spencer. Basta te dar abertura para você foder

os nossos negócios! Deixe de lado a imaturidade, isso não faz mais

parte de você. Acorde para a vida, Spencer. Reaja, porra! — A

minha voz acorda Muriel, que me encara assustada.

— O que foi? — pergunta ela, com os olhos avermelhados.


— Nada. Desculpe por ter te acordado, estou falando com o

Spencer. — Mostro o celular a ela, que assente e depois volta a


encostar a cabeça no meu ombro e fechar os olhos.

— E o que eu fiz dessa vez para te deixar tão revoltado? —

Bufa irritado do outro lado.

— Você não é mais uma criança, sabe muito bem o que fez.

Refresque a sua memória e saberá por que estou agindo assim. A


maconha está comendo o seu cérebro? — Passo a mão por meu

pescoço.

— Vá se foder, Carter. Eu errei, reconheço, mas não é para


tanto. Nos quatro anos que você esteve longe e eu fiquei à frente

dos negócios, nunca dei uma bola fora, e agora que cometi um
pequeno deslize você quer arrancar a minha cabeça? O homem já
não devolveu as peças intactas? Não enche o saco. Vai curtir a sua

esposa, deixe os problemas para depois, irmão, não estou a fim de


ouvir sermão — diz, alterado.

— São pequenos deslizes que matam pessoas inocentes,

Spencer, e eu não vou carregar essa culpa, não tiramos a vida dos
outros sem motivos! Não vou permitir que inocentes morram pela

imprudência do meu irmão. Spencer, reconheça que não tem mais


capacidade para lidar com os negócios, quase perdemos uma

fortuna. Você tem noção o que poderia ter acontecido se o cara não
tivesse devolvido as peças? Agora honre as calças que veste e vá

até o Killz, diga a ele o que está acontecendo antes que eu o faça. E
não é um pedido, é uma ameaça — digo, entredentes.

A linha fica muda por alguns segundos, mas continuo ouvindo

sua respiração.

— Tem que ser assim mesmo, Carter? Pensei que você

quisesse me ajudar e não me atrapalhar — responde, depois de um


tempo.

— E por querer te ajudar que tem que ser assim, irmão. A vida

é feita de escolhas e você está me obrigando a fazer as minhas. O


caminho que você está seguindo não é bom, em qualquer momento
vai nos prejudicar, vai te prejudicar. — Umedeço os lábios. —

Quando você era mais novo e usava essas porcarias, eu tentava


relevar, mas isso não vai mais acontecer. A partir de agora, você

está fora da minha equipe de pilotos. Quando voltar da Itália vai ter
que arrumar algo para fazer, você não chega mais perto das cargas

enquanto não mudar. — A minha firmeza o afeta.


— Você não tem esse direito, Carter. Até pouco tempo eu era a
porra do chefe, acha que pode me jogar para escanteio? O que vou
fazer? Estou acostumado a lidar com as cargas, com os carros, com

a minha equipe! — rosna antes de eu ouvir algo ser quebrado do


outro lado da linha.

— Enquanto você não mudar, essa será a minha decisão. E se

prepare, assim que voltar vou falar para os nossos irmão que você
voltou a usar, quer você queira ou não. Eles precisam saber disso.

— Desligo a ligação sem que ele tenha tempo de se defender.

Vou aos contatos do aparelho e bloqueio as ligações de

Spencer, ele precisa de um gelo. Ignorar o meu irmão pode fazer


com que tome uma atitude, ele verá que não estou disposto a tolerar
os seus descuidos.

— Não acha que foi duro demais com ele? — A voz de Muriel

me desperta. Pensei que ela tivesse voltado a dormir.

— Fui, mas ele merece, precisa colocar a cabeça no lugar —


afirmo, olhando pela janela do carro. Pelo menos o trânsito está

tranquilo, logo chegaremos ao Hotel Mercure Grand.

Guardo o meu celular no bolso e abraço a minha esposa pelos


ombros, beijando sua cabeça em seguida.
— O Spencer não é mais criança, óbvio, mas você não pode
simplesmente o excluir dos negócios que ele esteve à frente desde
o dia que você foi embora, Carter. Você não sabe como foi a

trajetória dele até se adaptar a ser o chefe no seu lugar. Vocês se


conhecem uma vida inteira, e eu estou chegando agora, mas anos

se passaram, pessoas mudam, hábitos mudam, mas não seja tão


severo com ele. Não digo que deve apoiar os erros dele, jamais,
mas tente ver o lado dele. E ao invés de afastá-lo, traga-o para

perto, dê a mão ao Spencer, seja o que ele precisa no momento.

Acredito que ele não quer alguém que o julgue, e sim um irmão.
Você vai assumir a sua posição novamente, e tudo bem, mas não

pode excluí-lo totalmente dos negócios que ele vem lidando há

anos. — A lição de moral dela me impressiona.

— Spencer precisa tomar um choque de realidade, Muriel. Eu

sei que ele fez um bom trabalho enquanto estive fora, mas não
posso permitir que ele cometa o mesmo erro várias vezes. Ele vai

trabalhar em parceria com os Benk, vai ter tempo para pensar no

que quer da vida. Quando ele voltar, eu decido o que fazer. — Solto
um suspiro.

— Você conhece bem o seu irmão, faça o que estiver no seu


coração — recomenda, ficando calada em seguida.
Pior que dessa vez não estou seguindo o meu coração, se

fosse, estaria fazendo o oposto, não o colocaria contra a parede. A


situação do Spencer é séria, o meu irmão precisa desse susto para

rever os seus conceitos. Ele não está bem e sabe disso, mas o seu

orgulho está atrapalhando o processo de aceitação.

Se Spencer quiser ir para o buraco, não vou permitir que leve


ninguém com ele, principalmente a equipe, que é muito eficiente e

sempre lidou bem com o nosso trabalho. Assim como Killz não

aceita falhas, eu também não.

Pelas próximas horas vou focar na minha esposa, merecemos

ter o nosso momento. Mas assim que voltarmos, Spencer terá que

lidar com as consequências dos seus atos.

O motorista nos deixa no luxuoso hotel à beira mar depois de

ser dispensado com os seguranças. Quando Muriel pousa os olhos

na bela vista, fica fascinada e me faz prometer que iremos caminhar


na praia nem que seja por alguns minutos. É claro que faremos isso,
não viemos para Brighton só para admirar o local pela janela do

quarto.

Na recepção, pego o cartão-chave depois de fazer o check-in.

— Tenham uma boa estadia, senhores — deseja a funcionária

gentilmente, antes de nos afastarmos do balcão e seguirmos para o

elevador.

— Que local quer conhecer primeiro? — Quebro o silêncio

assim que entramos no elevador vazio e ela aperta o botão do


nosso andar.

— Você é o meu guia, amor, me surpreenda. — Pisca para

mim e se aproxima, ficando na ponta dos pés para me beijar.

— Hum... temos várias opções, mas fiz algumas reservas para

nós. A nossa primeira parada será no aquário Sea Life Brighton e

depois iremos ao British Airways i360. E os próximos destinos


podemos decidir na hora — digo, roçando os meus lábios nos dela.

British Airways é o mirante móvel mais alto do mundo. Ele


fornece vistas panorâmicas incomparáveis de Brighton e das

cidades circunvizinhas. De lá de cima, podemos admirar os pontos

turísticos da cidade, obras de arte nas coberturas dos prédios, os


parques eólicos no mar e o litoral deslumbrante das falésias das
Sete Irmãs até a Ilha de Wight. Mesmo que eu nunca tenha vindo

para cá, sei o suficiente, fiz o meu dever de casa direitinho.

Assim que as portas do elevador se abrem, saímos em frente à


porta da nossa suíte. Entrego o cartão-chave para Muriel e, sem

demora, estamos dentro do quarto, observando os detalhes da

suíte. A mesma estrutura luxuosa do hotel está presente nos móveis

de cores neutras. A cama de casal é enorme, e há um espelho no


teto bem acima dela, assim como na parede à nossa frente. Ficar

hospedado aqui será bem intenso.

— Estou ansiosa para conhecer cada cantinho da cidade —

fala, sentando-se na cama. Ela sorri e se deita de barriga para cima,

com os pés para fora do colchão.

— Podemos ir agora mesmo, se não estiver cansada da


viagem — sugiro, caminhando na direção da varanda. Abro as

cortinas, nos permitindo ter uma vista melhor da praia através das

paredes de vidro. Fiz a escolha perfeita. Mesmo estando quase no

último andar, nos sentimos próximos do mar.

— Estou ótima para sair, só vou colocar um biquíni. — Ela sai


da cama e vai até a mala que o carregador de malas trouxe para o

quarto assim que fizemos o check-in.


Ao ver o biquíni vermelho em suas mãos, penso em como vai

ficar gostosa usando aquele pedaço de pano, então o ciúme toma

conta de mim, mas me controlo ao vê-la pegar outras peças.

Enquanto Muriel segue para o banheiro, troco minha roupa por

uma bermuda confortável e uma camisa de botão estampada,


substituindo os sapatos por um par de chinelos.

Depois de pronto, vou à varanda e sinto os raios solares


baterem em minha pele enquanto observo a movimentação da rua,

a praia lotada, pessoas caminhando para lá e para cá.

Ao voltar para o quarto para pegar minha carteira e o meu

celular, me deparo com Muriel saindo do banheiro vestida com uma

saída de praia longa em renda branca com pequenos botões na


frente. O seu cabelo está preso em um rabo de cavalo firme no alto

da cabeça.

— Estou pronta. Vamos? — Sorri para mim enquanto fico

dando uma boa olhada em seu corpo.

— Vamos — concordo, sorridente, encarando a aliança de


ouro que brilha em seu dedo.

Porra, é real. Sou um homem casado e a minha esposa é a


mulher mais linda que tive em toda a minha vida.
— Só falta uma coisa, espera — pede, indo até a mala e

pegando uma necessaire e um par de óculos de sol.

Só então saímos do quarto de mãos dadas.

Chegamos ao Sea Life Brighton em poucos minutos, e ao

entrar, somos recebidos por aquários com diferentes espécies da

vida marinha de todo o mundo. Muriel fica encantada de primeira,

seus olhos brilham quando caminhamos pelo túnel de vidro onde os


tubarões ficam passando, o tanque é um dos principais atrativos do

aquário.

Os tanques e iluminação são ótimos, a arquitetura vitoriana

antiga é linda e impressionante, os funcionários são prestativos e

simpáticos desde o primeiro momento. A equipe é divertida, muito


bem-informada e fica disponível para qualquer pergunta que você

possa ter. As exposições são variadas, muitos quadros informativos

interativos e estáticos.
A minha esposa está tão fascinada, que várias vezes esquece
a minha existência, hora ou outra sorri para mim e me puxa para ver

os aquários.

Eu nunca viria aqui sozinho, acho que jamais me interessaria,

mas a oportunidade que estou tendo em vir é única e levarei como


experiência.

— Amor, esse lugar é lindo demais! — exclama, de olhos


arregalados. Ela está segurando a minha mão, não larga por nada,

mesmo que esteja tão distraída e deslumbrada.

— É sim, Muriel — concordo, enquanto caminhamos na

direção do Ocean Tunnel, um túnel de vidro. Pelo vidro é possível

ver tartarugas, raias e vários peixinhos nadando ao redor das


pessoas, tanto pelas laterais quanto pelo teto.

— Os seus sobrinhos ficariam impressionados com todas

essas espécies. Seus irmãos deveriam trazer as crianças aqui —


comenta, e dessa vez olha para mim e depois para as famílias
espalhadas pelo local.

O lugar está movimentado, muitas crianças apontando para os

animais e sorrindo, enquanto outras correm e são contidas pelos


pais. O Sea Life Brighton é um local mais familiar.
— Quem sabe um dia — respondo.

Acho bem difícil os meus irmãos trazerem os filhos aqui, é


mais fácil as mulheres fazerem isso. Killz passa a maior parte do
tempo trabalhando, focado nos negócios, e Axl e Ezra seguem pelo

mesmo caminho.

Muriel passa bastante tempo admirando os animais aquáticos,

enquanto fazemos um belo tour pelo local caminhando um ao lado


do outro. Toda vez que pergunta sobre algum animal para uma
funcionária e tem suas dúvidas sanadas, ela sorri animadamente.

Cada sorriso dela me afeta e acabo sorrindo também. Às

vezes, me pego observando seu rosto em silêncio, outras


encarando a sua barriga, imaginando como os próximos meses das
nossas vidas serão. Tenho certeza de que será a grávida mais linda

do mundo carregando o nosso bebê. Sei que Muriel será uma mãe
maravilhosa, o nosso filho terá sorte em ter uma mãe como ela,
porque eu tenho por ter uma esposa tão incrível.

Aproveitamos o tempo no aquário, desfrutamos de tudo e mais


um pouco. Apreciamos um café com a vista espetacular do interior
com peixes e tetos iluminados. O pequeno café no local que serve

bebidas e lanches chama a nossa atenção, então seguimos para lá.


Com certeza, irei trazer os nossos filhos ao Sea Life e ainda direi
que foi ali que levei a mãe deles nas primeiras horas da nossa lua
de mel.

O lugar fica na avenida Marine Parade, em frente ao píer, ao


lado do centro de Old Steine, então em vez de irmos ao British
Airways, seguimos para a praia.

— Essa está sendo a melhor fase da minha vida, Carter! —


confessa, assim que pisamos nas pedrinha da praia.

Muriel solta a minha mão, abre os braços e gira, o vento bate


em seu cabelo ruivo enquanto ela fecha os olhos e sorri.

Aqui há uma variedade de restaurantes e lojinhas de souvenir

no calçadão, muitas gaivotas e pessoas curtindo o local. Na praia,


vejo o pessoal sentado e conversando, somente apreciando a
paisagem de águas claras.

— Da nossa, sereia! — Agarro-a pela cintura e beijo o seu

rosto, fazendo-a gargalhar.


Com ela em meus braços, sigo na direção do mar. Assim que
chego à água, molho os meus pés e sinto o quanto está fria, então

coloco Muriel no chão. Ela solta um gemido de surpresa, mas não


deixa de sorrir abertamente.

— Céus, que gelada! — diz, divertida.

— Está fora de cogitação tomar um banho aí. — Faço uma


careta e ela concorda, risonha.

— Se eu soubesse andar de bicicleta — aponta para o lado

onde estão as bicicletas — poderíamos alugar. Mas eu nem sei


como andar em uma, e você não tem cara de que sabe também —
fala, ficando de frente para mim e na ponta dos pés. Ela envolve os

braços em meu pescoço e me encara.

— Acertou em cheio, mas como adivinhou? — Arqueio a


sobrancelha, bem-humorado.

Exibido a fileira de dentes perfeitos, ela olha para um lado e


para o outro para ver se tem pessoas próximas, em seguida,

encosta a boca perto do meu ouvido e dá uma risadinha.

— A sua cara não nega que, entre uma bicicleta e uma Glock,

você é rei em manusear uma arma — declara, o que não deixa de


ser verdade.
— Hum, acertou. — Gargalho.

— Já que somos péssimos na bicicleta, o que acha de

comprarmos alguns presentes para as crianças? O que mais estou


vendo são lojas cheias de coisas interessantes — sugere, animada,
se afastando de mim.

— Você não queria curtir a praia? — pergunto, puxando-a para


mim novamente e a beijando em seguida. Mordisco os seus lábios,

sugo a sua língua e levo uma mão ao seu cabelo, enquanto deslizo
a outra para as suas costas. Assim que ouço Muriel gemer, eu me
afasto para que as coisas entre nós não esquentem mais. Não que

eu me importe com o fato de estarmos em público, mas há crianças


ao nosso redor.

— Está fora de cogitação entrar nessa água, ela vai congelar a

minha alma! — fala, me abraçando e encostando o rosto no meu


peito. — Ainda temos outros lugares para conhecer, mas podemos
deixar para amanhã. Agora vamos às compras, quero levar

lembranças para todos — profere, decidida.

— O.k., iremos às compras, sra. Muriel Knight — provoco-a,


erguendo-a mais uma vez do chão com facilidade e a colocando
sobre o meu ombro.
— Me coloque no chão, Carter. Você é louco, todos estão
olhando! — exclama, rindo.

— Que olhem, estamos aproveitando a nossa lua de mel,


baby. Deixem que vejam o quanto estamos felizes. — Caminho com

ela na direção da calçada.

As pessoas realmente nos encaram, alguns sorriem, outros

ficam perplexos com a cena, somos a atração do momento. Mesmo


que eu não goste muito da ideia, estar aproveitando cada minuto
com a minha esposa é um momento único. E nada vai acabar com a

minha vontade de aproveitar o nosso dia. A nossa vinda a Brighton


será memorável, quero levar daqui ótimas recordações.


Em menos de vinte e quatro horas o meu marido me
proporcionou as melhores emoções que alguém poderia ter. Carter
me surpreendeu quando disse que teríamos uma lua de mel em
Brighton. Apesar de nem mesmo saber da existência do local,

pesquisei e vi que é uma belíssima cidade.

Estou completamente encantada com tudo o que estou vendo


neste lugar. Nas poucas horas aqui, conheci o famoso aquário Sea

Life, depois a praia, entramos em lojas para comprar presentes para


todos e algumas lembrancinhas para mim, caminhamos pelas ruas,

conhecemos vários lugares.

Após as compras, ele ligou para um dos soldados pedindo


para nos buscar, e não demorou muito para que chegassem.

Confesso que me empolguei bastante, nunca tive tanta liberdade,

então quis aproveitar cada segundo.


Deixamos para conhecer a torre British Airways no dia

seguinte, será a nossa última parada, mas com certeza vou amar.
Estou ansiosa para avistar a cidade do alto.

Desde que entramos no elevador, percebi que Carter está

distante. Minutos atrás ele estava sorrindo, com o semblante


suavizado e atencioso, mas agora, enquanto coloca as sacolas

dentro da suíte, o meu marido está fechado, dando ordens aos seus

soldados com brusquidão. Eu não digo nada, somente o observo até


que ele fecha a porta assim que os homens saem.

Acredito que a mudança repentina de humor tem algo a ver

com Spencer. Sei que isso está o afetando, mesmo que tente ser

durão, não consegue esconder o quanto está preocupado com o


vício do irmão. Depois de ouvir a conversa deles enquanto

vínhamos para cá, fiquei bem preocupada, não vou negar. Os Knight

agora são a minha família, e saber que alguém como o Spencer

está se afundando em algo tão ruim corta o meu coração. Ele é o

Knight mais divertido, não que os outros não sejam bons, mas o
loiro tem um brilho único e será trágico se as drogas tirarem isso

dele.
Calado, Carter se senta na cama e tira do bolso o celular,
então começa a mexer no aparelho, sequer olha na minha direção.

Respiro profundamente e me aproximo em passos lentos. Sem

querer atrapalhar os seus pensamentos, sento-me ao seu lado e

toco em seu cabelo, beijando o seu braço em seguida.

A tensão nele é nítida, senti a energia pesada assim que me

aproximei. O seu pomo de adão sobe e desce quando engole em

seco e começa a digitar raivosamente no celular, soltando alguns

resmungos e semicerrando os olhos.

Percebo que está nervoso demais, mesmo que não diga com

palavras, os seus gestos o entregam. Carter morde os lábios, solta


palavrões, passa a mão no cabelo e fecha os olhos com força.

— Estou aqui, amor. Sou a sua mulher, pode se abrir comigo,

você sabe disso. Além de ser sua esposa, sou a sua melhor amiga.
— Coloco a mão em seu ombro tenso.

— Eu sei, sereia, eu sei. — Solta uma respiração pesada.

— O que está tirando a sua paz? — pergunto e o vejo relaxar

quando começo a massagear seu ombro.

— Essa merda toda com o Spencer mexeu comigo, não

consegui esperar até amanhã para reunir todos, então apenas


enviei uma mensagem para o Killz contando o que está

acontecendo. Agora me sinto um verdadeiro traidor, como se tivesse


arruinado Spencer para todos. Sei lá — revela, me encarando. A

tristeza é evidente em seus olhos.

— Posso dar a minha opinião? — Ele assente, então toco no


seu rosto e dou um sorriso. — Sei que parece errado para você,

afinal de contas, Spencer é adulto, e é isso que está te


incomodando. O fato de ele ser dono do próprio nariz e você ter que
interferir na vida dele. Mas por mais que pareça errado, não é,

Carter, o seu irmão está com sérios problemas. Você tem a


obrigação de estender a mão para ele em momentos como este,

mesmo que para ele...

O celular dele começa a tocar, me impedindo de completar a

frase. No visor, aparece o nome de Killz, então Carter o atende


prontamente.

— Oi, irmão. — Ele se levanta, meio atordoado, enquanto fico

no mesmo lugar, somente o observando. — Sim, Killz, estou


sabendo desde o dia que voltei para Londres. Eu iria te contar em
algum momento, claro que não iria esconder. Nem mesmo que eu

quisesse poderia, nada fica escondido por muito tempo, ainda mais
em se tratando de você. — Ele passa a mão por seu cabelo e anda

de um lado ao outro.

— Não torne essa situação mais difícil. Você sabe que


Spencer não é nenhuma criança, eu não poderia chegar e... Porra,

me entenda, é complicado... Ambos são meus irmãos... — Carter se


cala com algo que o irmão diz.

Alguns minutos se passam enquanto eles conversam, trocando


farpas. Provavelmente, Killz está indignado por terem ocultado tanta

coisa dele, porque Carter pede que ele não seja impulsivo e
converse com Spencer. Aos poucos, conforme vão se falando,
parece que acabam se entendendo, pois a expressão carregada do

meu marido ameniza.

Fico aliviada por isso.

— O.k., Killz, vou confiar em você. Sei que sempre cumpre o

que promete. — Seu tom é mais calmo, aquela postura de antes foi
deixada para trás. — Certo... cabeça fria, não se esqueça disso!
O.k., sim, sim, vou aproveitar. Até mais. — Ele olha em minha

direção enquanto se despede de Killz e encerra a ligação.

Carter coloca o celular no móvel mais próximo e se aproxima.


Ele realmente estava precisando conversar com o irmão, é um novo
homem agora, o brilho de antes está de volta.

— Me desculpe por isso, mas eu só não poderia ficar mais


calado. Spencer precisa urgentemente de uma intervenção. — De
frente para mim, ele toca o meu rosto.

— Sem problemas, Carter. Eu entendo e acho linda a sua


preocupação, demonstrar empatia é nobre. Não precisa se

desculpar, teremos muitos anos pela frente para aproveitar a


companhia um do outro — declaro, compreensivamente.

— E se eu te disser que ficaremos mais um dia aqui? Gosta da

ideia? — Pisca para mim e sorri de lado, malicioso.

— Mais um dia? — Arregalo os olhos.

— Isso mesmo. — Ele meneia a cabeça.

— Vou adorar! — Levanto-me e o meu marido dá alguns


passos para trás, passando o braço por minha cintura e me puxando
para ele em seguida.

— Então vamos aproveitar, não é? — Ele começa a abrir os


botões da minha saída de praia e desliza a peça para fora do meu
corpo, fazendo o mesmo com o biquíni em seguida.
Antes de me pegar no colo, ele beija a minha barriga como se
eu já tivesse um barrigão de grávida. Fico emocionada com a sua
demonstração de amor por mim e por nosso bebê.

Ele me deita de barriga para cima no meio da cama e se põe


entre as minhas pernas. Sob o meu olhar, ele tira a camisa, me
dando a melhor visão que eu poderia ter dele – suas tatuagens sexy

e o seu abdômen trincado. Meu marido me dá aquele sorriso

malicioso e pega a minha mão, levando-a ao seu pau duro por cima
do short. Umedeço os lábios e respiro ofegante.

— Desde que chegamos aqui, eu quis te comer em frente a


esse espelho, ver suas expressões deliciosas enquanto entro em

você.

Automaticamente, levo os olhos ao espelho do teto e mordo os

lábios, ficando molhada só de imaginar.

— Eu sou toda sua, marido...

Ele passeia a mão em um dos meus seios, que cabem

perfeitamente nela, e fica um tempo me torturando. Carter beija um


seio e depois o outro, mordisca, passa a ponta da sua língua nos

biquinhos, que logo ficam arrepiados com o contato.


Meu corpo reage rapidamente à sua investida, o toque dele me

torna sensível em qualquer ocasião. Carter leva mão entre as


minhas pernas e enfia dois dedos na minha vagina, para dentro e

para fora.

Estou cada vez mais excitada, os tremores no meu corpo são

causados pelas investidas do meu marido, que chupa meus


mamilos e me masturba ao mesmo tempo. Um gemido escapa dos

meus lábios sem que eu consiga me conter, então jogo a cabeça

para trás e puxo o meu cabelo.

— Aiiii... Amor... Isso é gostoso demais. — Arquejo.

Carter solta uma risadinha perversa ao notar o poder que tem

sobre mim. A minha boceta está pegando fogo com os movimentos

dos seus dedos, que escorregam dentro de mim e eu enlouqueço.


Meus batimentos cardíacos aceleram, e eu me contorço, gemendo.

Mesmo sabendo que estou prestes a gozar, Carter continua me

fazendo suplicar por mais e mais.

Com meu corpo já pronto para um orgasmo gostoso, Carter

encontra o meu ponto G e acaba comigo de uma maneira deliciosa.


Ele aumenta a velocidade e é extremamente excitante quando olho

para o espelho do teto e tenho uma visão selvagem. Meu cabelo


está bagunçado, as maçãs do meu rosto coradas e tenho aquele

olhar cálido, quase em chamas.

Olho mais uma vez para o teto e vejo as costas largas e

bonitas do meu marido. Fico fascinada com a visão. Penso que

dessa vez ele vai me deixar gozar, só que isso não acontece. Para a
minha frustração, ele tira os dedos de dentro de mim enquanto o

encaro com os lábios entreabertos e arfante. Sou atingida por sua

ousadia que tanto amo quando ele enfia os dedos na boca e os


chupa diante dos meus olhos, que o devora como se ele fosse a

presa, e não eu.

— Você não vai gozar nos meus dedos, sereia. Quero que faça

isso na minha boca, e depois vou limpar cada gota da minha boceta

com a minha a língua. — A sua voz quente e a sua promessa são


capazes de mexer com o meu corpo, fico arrepiada e ainda mais

molhada.

— Sua boceta? Achei que você tivesse um pau — falo, muito

afetada com as suas palavras.

— E eu tenho, mas agora a sua boceta é minha, e o meu pau

é seu. — Sem me dar chance de responder, ele desliza seu corpo


para baixo e me deixa mais uma vez arreganhada. Não consigo
raciocinar quando ele passa o dedo em meu clitóris lambuzado e

beija a minha virilha.

O toque da sua boca lá embaixo desperta a minha petulância,


então empurro os meus quadris contra a sua boca e ele enfia a

língua e brinca com o meu grelinho freneticamente. Em pouco

tempo estou me contraindo novamente, com o ventre quente e as

pernas trêmulas.

Meu esposo diminui os movimentos circulares, e eu levo


choques pelo corpo inteiro, mordendo os lábios e curvando as

minhas costas. O gozo vem rápido e de forma avassaladora.

Enquanto tento me recuperar, Carter sai da cama e se livra do

short e da boxer, ficando completamente pelado. Fico tentada com a

visão que tenho do seu pau grande, grosso, cheio de veias


protuberantes e ereto, babando.

Apaixonada pelo meu homem, eu o admiro lentamente. Ele

nota a minha conferida e pisca para mim com charme. Ainda

tentando controlar a respiração, sorrio para ele, que não demora

para retornar para a cama.

Ele se deita e toca no meu queixo, me fazendo encará-lo.


Passeio meus olhos por seu rosto bonito antes de nos olharmos por
um tempo, sorridentes como dois bobos que estão se amando

incondicionalmente. Temos uma conexão absurda, nem precisamos

falar nada, nos entregamos com facilidade em pequenas ações.

Cheio de atitude, Carter me beija e eu recebo seus lábios nos

meus em um beijo intenso. Ele enfia a língua na minha boca e me


puxa pela cintura para me colocar em cima dele, ainda com os

lábios nos meus. Carter leva as mãos à minha bunda e a segura

com firmeza, fazendo com que eu me movimente em cima do seu


pau, gemendo enquanto meu sexo se esfrega no dele.

Afasto-me da sua boca ao apoiar as mãos em seu abdômen,


lambendo os lábios e encarando o gostoso tatuado que tanto amo.

Quando passo as minhas unhas por sua pele e ele se arrepia, o seu

pau fica mais duro e pronto para mim.

Sob o seu olhar, inclino o meu rosto e beijo o seu peitoral,

arranhando de leve e mordendo.

— Por que o meu marido tinha que ser tão gostoso assim? —
Finjo um resmungo, fazendo-o dar um sorriso sacana que adoro e

só aparece quando estamos nos amando.

— Eu devo dizer o mesmo para a minha mulher — responde e

me cala com um beijo profundo. Ele me prende em seus braços


fortes e firmes, pressionando meus seios contra o seu peito.

Nosso beijo é molhado, prazeroso, enquanto nossos corpos

quentes se esfregam e nossas mãos percorrem o corpo do outro.


Dou a ele abertura para que possamos ir além de carícias ao

levantar um pouco o meu corpo. Carter segura na base do seu pau

e coloca na minha vagina antes de puxar meu quadril

carinhosamente para baixo. Ofegante, sinto o calor tomar conta


quando sou penetrada aos poucos.

— Caralho, se o paraíso é estar dentro da sua boceta, eu


nunca quero conhecer o inferno, amor — geme, se afundando ainda

mais em mim. O seu pau estica as paredes da minha intimidade

enquanto ele segura os meus quadris com firmeza.

— Ohh... — Em resposta, só consigo gemer quando sinto que


nos tornamos um só.

Começo a rebolar lentamente e depois cavalgo mais rápido.


Carter geme o meu nome, jogando a cabeça para trás e levando

uma mão para a minha bunda e a apertando. Sensível, deito-me no

seu peito e busco a sua boca, mas sem perder o ritmo dos
movimentos. Afundo o meu rosto em seu pescoço e passamos a

fazer um vai-e-vem incansável.


Quando estamos fazendo amor, ele consegue me levar ao céu
e ao inferno na mesma proporção.

Perto de ficar saciada, meus olhos enchem de lágrimas e

eu soluço com a onda de prazer quando o seu gozo quente me

preenche. Juntos, alcançamos um orgasmo violento, meu corpo se


desmancha em questão de segundos.

Deito a cabeça no seu peito, com a respiração irregular.


Coloco o ouvido em cima do coração do Carter e ouço os

batimentos desenfreados. Ele está calado, mas o seu gesto

carinhoso ao acariciar as minhas costas suadas é suficiente para

que eu não sinta a ausência da sua voz.

Olho para a sua mão que carrega a nossa aliança de


casamento antes de olhar para a minha e sorrir. É apenas um anel,
mas, para mim, é o símbolo do nosso amor.

Ergo meu rosto e apoio o queixo em seu peito. A carícia


que faz nas minhas costas com a ponta dos dedos está tão gostosa,
que por um instante esqueço de tudo.

— Se seguir por esse caminho, eu vou dormir — murmuro e o

vejo sorrir.
— Esse é o propósito. É bom você descansar por algumas
horas. Mais tarde vou te levar a um restaurante — diz, ainda me
dando o seu sorriso lindo.

— Por isso eu te amo. Você é maravilhoso — declaro,

passando o dedo em sua aliança.

— Eu também te amo, sereia. — Ele leva a mão que

estava nas minhas costas até a minha nuca e afunda os dedos em


meu cabelo.

Se já houve vidas passadas, em todas elas eu amei Carter


James Knight, o meu primeiro e único amor. E se houver uma vida

após essa, escolho amá-lo novamente, porque eu nasci para amá-lo


e ser amada por ele.
— Eu amo quando estamos todos juntos. A sensação é tão
gostosa que se dependesse de mim nos reuniríamos todos os dias
— fala Brey, nos encarando e sorrindo.

Hailey e Ezra convidaram todos para um almoço em sua casa,


em Chelsea. Enquanto estamos reunidos do lado de fora da casa,

as crianças estão brincando lá dentro.

— Impossível, Brey, esses homens vivem para o trabalho. E só


se reúnem quando insistimos muito. Se não existíssemos na vida

deles, mal se veriam. Fiquem gratos por terem esposas


maravilhosas — diz Alessa, fazendo todos rirem.

— Concordo com tudo, meninas! — intrometo-me, olhando


para o meu marido sentado ao meu lado e acariciando a minha

barriga de vinte e uma semanas de gestação.


Carter encontrou o seu outro lugar preferido no meu corpo – a

minha barriga –, e está sempre a acariciando. Ele ficou fascinado


quando sentiu o bebê se mexendo pela primeira vez, então sua

mania de estar sempre acariciando a minha barriga só aumentou.

Nem consigo descrever o quanto ficamos emocionados quando


fizemos a primeira ultrassom e ouvimos o coraçãozinho, com

certeza é uma das minhas melhores lembranças.

Nos últimos meses conheci melhor a família da qual agora faço


parte, e eles continuam sendo simpáticos e receptivos como no

primeiro dia. Nada nunca me fará mudar o que penso sobre os

Knight, todos eles têm o meu respeito e carinho, assim como tenho
o deles.

A mãe de Aubrey convidou Kira para viver com ela em Chicago

três meses depois do meu casamento, e nesse meio-tempo dei todo

o apoio que a minha irmã precisava. Aos poucos, ela se encontrou e

se tornou uma mulher forte, aquela insegurança dela já não existe

mais, e o mérito é todo dela. Agora ela está trabalhando com


Celeste Lewis, e mesmo distantes, nos comunicamos sempre e sei

que está bem, o brilho em seus olhos diz isso.


O único que demonstrou ter ficado abalado com a partida dela
foi o Dominic, mesmo que não tenha admitido para ninguém.

Somente desejou a Kira que tivesse sucesso na vida e toda a

felicidade do mundo. Mas sei que naquele coração durão existe

mais do que um instinto de proteção. Não importa quanto tempo

passe, uma hora ou outra eles irão se encontrar novamente, e eu

torço para que fiquem juntos, eles merecem.

Assim como Kira tomou um rumo na vida, Dom fez o mesmo

ao partir para a Irlanda uma semana depois da minha irmã ir

embora. Maeve propôs que ele fosse seu braço-direito, e Dom


aceitou, então ele voltou para a Irlanda. Carter não poderia impedir

o amigo de tentar novas experiências, e ao invés de o questionar

sobre a sua decisão, ele o apoiou.

E a minha mãe e eu estamos construindo uma linda relação,

nem parece que só nos reencontramos há meses. Nos falamos

quase todos os dias, mesmo de longe ela acompanha a minha

gravidez. Quando consegue, ela vem me visitar e sempre traz


presentes para mim e o neto. Durante a sua visita, temos o nosso

momento de mãe e filha e aproveitamos bastante a companhia uma

da outra.
Quase nem percebo como os dias estão passando

rapidamente, mas então é só olhar para a minha barriga


protuberante para me dar conta disso. Logo mais um membro da

família Knight estará chegando. Todos estão ansiosos para a


chegada do meu filho, que ainda não sabemos se é uma garotinha
ou um garotinho, só temos certeza de que está muito saudável.

Carter aposta que teremos uma Rose, enquanto eu acredito


que chegará um Rowan. Torço para que hoje, durante a
ultrassonografia, meu filho esteja disposto a esclarecer a nossa

dúvida, uma vez que em todas as outras vezes não conseguimos


confirmar.

— Vocês não têm esposas, dormem com inimigas — se


manifesta Spencer, bem-humorado, deixando todos surpresos. Ele

estava calado desde que chegou, e isso é uma novidade, já que ele
está sempre fazendo gracinhas.

Desde que Carter contou ao Killz sobre o envolvimento de

Spencer com as drogas, a relação entre eles esfriou. Spencer ficou


um bom tempo sem falar com Carter, estava chateado, no entanto,
aos poucos entendeu que o irmão só queria o bem dele e foi
voltando a ser o mesmo de antes. Apesar de ter voltado a se reunir

com a família, está meio indiferente.

Sabemos que Killz conversou longamente com Spencer, e até


acredito que tenha conseguido colocar um pouco de juízo naquela

cabeça, pelo menos é o que está demonstrando.

— Quem está quase dormindo com a inimiga é você, irmão.

Acha que não sabemos que a esposa do tal italiano é a sua Angel?
— alfineta Axl, divertido.

Mas fica claro que Spencer não gostou muito da brincadeira, já

que sua postura muda e raiva reflete em seus olhos.

— Axl... — repreende Killz, semicerrando os olhos.

Puto, Spencer olha para o mais velho dos irmãos e fecha ainda
mais a expressão, com um olhar de ameaça.

A garota, Angel, é uma antiga conhecida de Spencer, parece


que tiveram algo passageiro no passado, e quando ele foi até a

Itália conhecer o casal que forneceria serviço com os irmãos Benk,


descobriu que a mulher não era uma estranha. Angel agora é

casada com um homem que tem o dobro da idade dela. Ele ficou
tão abalado com a descoberta, que rejeitou a oferta de sociedade, e
essa atitude dele parece não ter agradado muito a mulher, uma vez
que agora ela fica ligando constantemente.

— Depois de velho está ficando fofoqueiro, Killz? — pergunta


Spencer, indignado. E talvez tenha razão, já que ele era o único que

sabia sobre essa tal Angel.

Em uma conversa com Aubrey, Killz acabou revelando essa

informação, e ela foi passada para frente e agora todos estão


cientes que o fantasma do passado de Spencer está de volta.

— E em que momento você se tornou um bebê chorão? —

provoca Killz, bufando.

Brey fica ruborizada, porque todos sabem que ela foi a ponte
para que o segredinho que Spencer fosse revelado.

— Hum-hum, Spen, eu tenho uma parcela de culpa, não achei


que fosse algo tão importante assim — fala a esposa de Killz,
envergonhada.

— Não se preocupe, Aubrey, só não estou muito no clima para


brincadeiras com a minha vida. Ela já está bem fodida para ser

exposta na mesa como se fosse um nada. — Respirando


profundamente, Spencer se levanta da mesa.
— Ei, cara, desculpa. Não achei que fosse grande coisa —
defende-se Axl, realmente preocupado, enquanto se levanta.

— Não precisa vir atrás, Axl, vou só fumar um cigarro. Não

preciso de companhia para isso — esclarece Spencer, impedindo


que o irmão o siga.

Killz e Axl trocam olhares rápidos antes que o marido de


Alessa se sente novamente ao lado da esposa.

Um clima bem ruim recai sobre a mesa, deixando todos


calados e pensativos enquanto Spencer some do nosso campo de

visão. Realmente, mesmo sem ter a intenção, Axl conseguiu mudar

o humor do irmão.

— Que tal esquecermos o Spencer? Ele já é bem grandinho,


não precisamos ficar de olho nele como se fosse uma criança frágil.

Não convidamos vocês para ficarem com essa cara de velório —

sugere Hailey, tentando animar as coisas. — Vou lá ver como está a

Amy, e quando voltar quero todos bem mais animados, o.k.?

Dou um sorriso para ela, que retribui antes de seguir para


dentro da casa.

— Hailey tem razão. Me deem licença, tenho que fazer uma


ligação — diz Ezra, antes de se levantar e seguir o mesmo caminho
de Spencer.

— Axl e eu vamos ver como as crianças estão. Christopher já

deve ter acordado. — Alessa e Axl saem.

— Acho que a minha presença incomoda o Spencer. Vejo a

indiferença no olhar dele. O tempo passou, mas ele continua


rancoroso, a raiva dele é nítida. Só vocês que ainda continuam se

iludindo de que estamos bem. — Carter quebra o silêncio e passa a

mão no cabelo antes de encarar o irmão mais velho e Aubrey, que


desvia o olhar para o jardim bonito de Hailey.

— Está errado, Carter. O Spencer tem os problemas dele, é

normal que fique distante — defende Killz, me deixando surpresa

com a sua atitude.

— Assim como você conhece o nosso irmão, eu também o

faço. Ele está puto por eu ter me metido nos assuntos dele —
retruca meu marido, frustrado.

— Não deveria ficar tão incomodado com a atitude dele. Você

não errou em momento algum, Carter. O Spencer estava na porra

da lama, e se você não tivesse me dito, sabe-se lá o que poderia ter

acontecido com ele. Eu só não permito que vocês fiquem nessa


ladainha toda, somos irmãos, temos que nos manter unidos
independentemente de qualquer coisa. E como chefe, não admito

que continuem se bicando mesmo que indiretamente. — A

impaciência de Killz é evidente.

Aubrey e eu trocamos olhares antes de nos levantarmos. A

conversa deles não vai terminar agora, é óbvio que irão estender
esse assunto, tem sido assim ultimamente.

— Amor, vou ao banheiro — minto, mesmo sabendo que ele


não engole a minha desculpa.

— E eu vou com você, amiga — fala Brey, com um sorriso

gentil.

— Não precisam sair, a conversa já acabou — fala Carter,

decidido, enquanto Killz fecha os punhos.

— Não, ela ainda não acabou — diz o mais velho, tão decidido

quanto Carter, que dá um sorriso frio e assente.

— Vocês não vão brigar por algo que já passou, certo? —

Aubrey toca no ombro do marido, que não tira os olhos de Carter,


que o enfrenta na mesma proporção.

— Já passamos dessa fase, só estamos tendo uma conversa

necessária — fala Killz, com a voz calma.


— Pensei que teríamos uma tarde tranquila, Carter. Por favor,

esqueça um pouco do Spencer, deixe que ele viva a vida dele —


ouso me meter, não gostando nada dessa tensão entre eles.

— Muriel, agradeço por sua preocupação. E você tem razão, é

isso que quero colocar na cabeça do seu marido. — Killz me encara.

Engulo em seco ao ver que ali não está o meu cunhado, e sim

o chefe da máfia.

— O.k., eu tentei. — Eu me afasto deles enquanto levo a mão

à minha barriga institivamente, acariciando ao sentir meu filho ficar

agitado.

Quando Carter e eu viemos para cá, não imaginei que


voltaríamos a tocar no assunto do Spencer, achei que esse episódio

já tivesse sido encerrado.

— Eles não vão sair na porrada, não se preocupe. Isso nunca

aconteceu — me tranquiliza Aubrey ao se colocar ao meu lado e

tocar no meu ombro quando estamos um pouco distantes dos


homens.

Viro-me na direção de Killz e Carter e vejo que continuam

conversando.
— Sei que não, mas não quero que o Carter fique chateado.

Na verdade, que ninguém fique. Hoje vamos saber o sexo do nosso

filho e quero estar tranquila para isso. Esse clima pesado me

incomoda — confesso, suspirando. — Eu preciso ter uma conversa


franca com o Spencer. — Umedeço meus lábios e viro o rosto na

direção de onde Spencer e Ezra foram há alguns minutos.

— Te entendo, amiga. Apenas vá, siga o seu coração — me

encoraja Brey.

— Sim, vou fazer isso. — Meneio com a cabeça.

— Eu vou ver o que Austen e Kath estão fazendo, te vejo

depois — se despede e se afasta.

Noto que Killz e Carter estão distraídos e parecem mais

calmos. Respiro aliviada e faço o mesmo caminho que Spencer e


Ezra. Cuidadosamente, passo pelo belo jardim e logo à frente

encontro os irmãos sentados em um banco de madeira sob uma

sombra. Ezra fala algo baixinho enquanto Spencer ouve calado.


Quando percebem a minha presença, o marido de Hailey se cala.

— Desculpe interromper vocês. — Fico sem graça ao encarar

Spencer, que sorri para mim com seu semblante mais leve. —

Posso falar com você? — pergunto, encorajada.


Assim que ele assente, Ezra se levanta.

— Sabe que mesmo tendo seguido o meu caminho e ter

construído a minha família, eu continuo sendo o seu irmão, o seu


amigo. Sempre estarei aqui para te escutar. Você sabe onde me

encontrar — fala Ezra, tocando no ombro de Spencer.

— Eu sei, Ezra, eu sempre soube. Obrigado — agradece o

loiro.

— Não agradeça. Vou te deixar com Muriel.

Quando Ezra passa por mim, eu me aproximo de Spencer, que

faz um gesto com a mão para que eu me sente no lugar onde

esteve seu irmão.

Antes de me acomodar, ajeito o meu vestido. Acho que


Spencer já desconfia o que vou dizer, mas continua com a

expressão tranquila e se mostra disposto a ouvir. Enquanto crio

coragem para começar a falar, analiso Spencer e vejo que está com

olheiras, mas não deixa de ser bonito. Aliás, abençoado seja o útero
da mãe deles, seus pais fizeram um ótimo trabalho. Os filhos são

lindos, sem exceção.

Envergonhada por notar que ele está com a sobrancelha

arqueada e aquele sorrisinho único que tem, limpo a garganta e


arrumo a minha postura.

— Eu sei que sou lindo, Muriel, mas você não veio aqui para
falar da minha beleza, certo? — Ele fica sério.

— Com certeza, não. — Nervosa, jogo o meu cabelo para trás.

— Alguém te enviou para conversar comigo? — sonda,


curioso.

— Eu tenho opinião própria também, sabia? Ninguém me

enviou, eu vim porque quis — retruco, fazendo-o gargalhar.

— O.k., Muriel, sou todo ouvidos. Me diga no que posso ser

útil. — Ele se remexe no banco e eu faço o mesmo.

— Ainda está chateado com o Carter, não é? — indago,

cuidadosamente, não querendo ser muito intrometida.

— Não, eu não estou. De verdade. — Franze a testa e passa a

mão na mandíbula, pensativo.

— Sei que entrei para a família faz pouco tempo, mas eu


preciso ter essa conversa com você, Spencer. E se em algum

momento eu estiver indo longe demais, me fale, por favor. — Fico


séria enquanto ele assente. — Eu entendo o seu descontentamento
por Carter ter falado com Killz, mas acredite, ele não tinha a
intenção de te prejudicar, pelo contrário, ele passou uma boa parte
da nossa lua de mel pensando em você, no seu bem-estar. Mesmo
sabendo que você é adulto e sabe se cuidar sozinho. Spen, estou

aqui não para pedir que volte a ser próximo do seu irmão como
antes, essa é uma decisão sua, mas quero deixar claro que o que
Carter fez foi por você ser sangue do sangue dele. A relação de

vocês é maior do que qualquer coisa, e antes de ele jogar a merda


no ventilador, analisou com calma e, no final, concluiu que deveria
revelar tudo para o Killz. Acha mesmo que se ele quisesse te

prejudicar teria demorado tanto para contar ao Killz? Claro que não.
Primeiro, ele ficou se torturando, imaginando como seria se o irmão
de vocês soubesse de tudo. O Carter fez o que pôde, mas há

momentos na vida que percebemos que nem tudo podemos


carregar sozinhos, temos que dividir o peso com alguém. Me perdoe
pela forma como estou me expressando, não estou dizendo que

você é um peso. Só estou tentando abrir os seus olhos. Se o meu


marido fez do que fez, foi achando que era para o seu bem, e não

para te afastar dos negócios. Jamais. Carter não é nenhum monstro,


e eu sou prova disso.

“Ele é o meu anjo, e o seu também. Mesmo que tenha sido de


uma maneira indireta e, talvez, intrometida para você, ele foi o seu
anjo. Hoje vamos descobrir o sexo do bebê, como todos sabem, e
eu não acho legal esse clima pesado entre vocês. Sempre foram
unidos, e agora é nítido o seu desconforto. Para falar a verdade,

Carter acha que você não o perdoou, mas mesmo que pareça ser
duro, ele não tem que te pedir perdão, ele não errou. Você sabe

disso. — Termino de falar tentando recuperar o fôlego.

— Já terminou?

Arregalo os olhos ao ouvir a pergunta dele. Há uma emoção

diferente em sua voz, mas não consigo decifrar direito.

— Sim. — Me mantenho firme, mesmo incerta da sua


resposta.

— Confesso que estou surpreso por você ter me procurado. Eu


não tenho rancor do meu irmão, pelo contrário, serei eternamente

grato a ele. Mas saiba que o seu discurso foi ótimo. Eu refleti melhor
e revi as minhas ações com a minha família. Não se preocupe, eu
não odeio Carter, longe disso, eu nunca poderia odiar os meus

irmãos. Nós crescemos juntos, aprendemos a nos virar sozinhos, e


desde sempre fomos somente nós cinco. Eu jamais daria as costas
para um deles por algo que reconheço ser um erro meu. — Ele

coloca a mão no meu ombro e olha bem em meus olhos. — Sei que
há alguns minutos soei grosseiro, mas não é por causa do Carter.
Estou com outros problemas, que obviamente já foram

mencionados. Eu só preciso ter o meu tempo, preciso de espaço, e


acabo fodendo as coisas. Se passei uma imagem distorcida, eu
peço perdão, não queria estragar o seu dia, ruiva. Eu vou corrigir

isso, prometo.

Congelo quando ele pega as minhas mãos e as leva até os


seus lábios, depositando um beijo em cada uma delas.

— Achei que tivesse ido ao banheiro.

Assusto-me ao ouvir a voz de Carter. Estávamos tão


distraídos, que nem notamos quando ele chegou.

— Mudei de ideia. — Levanto-me e encaro o meu marido, que

está com os braços cruzados nos observando a poucos metros de


distância. — Conversem, vocês precisam. Obrigada por me ouvir,
Spencer. — Afasto-me dele, e quando vou passar por meu marido,

ele segura o meu braço e vai descendo até chegar à minha mão.

— Não precisava se preocupar, sereia — diz, baixinho, me


soltando.

— Somos uma família, eu sou a sua mulher, é normal me


preocupar. — Fico de frente para ele e toco em seu rosto.
— Obrigado. Hailey está te procurando, ela está dentro da

casa. Vá na frente, vou falar com o Spencer — fala Carter,


suspirando.

— Levem o tempo que precisar. — Deposito um beijo em seu


peitoral antes de os deixar a sós.

Às vezes, alguém precisa agir, e eu fiz a minha parte. Agora


estou satisfeita e com o meu sorriso de volta.

— Estão prontos para saberem se terão uma menina ou um

menino, papais? — pergunta dra. Lucien, toda sorridente,


deslizando o transdutor por cima do gel que acaba de passar na
minha barriga.

— Sempre estivemos prontos, doutora — responde meu

marido, segurando a minha mão. Os olhos dele não deixam o


pequeno monitor assim que ouvimos o som alto soar pela sala.

— Estamos sim. — Sorrio, com a voz quase embargada


enquanto ouço o som do coração do meu bebê. Eu amo a sensação
de carregar esse serzinho dentro de mim e saber que ele é um
pedaço meu e do pai dele¬¬.

A suavidade na expressão de Carter me traz paz. Ter


conversado com o Spencer foi essencial para que eles colocassem

todos os pingos nos is. Depois que ficaram a sós, demoraram um


pouco para voltar à casa, mas quando surgiram sorridentes e com
Spencer fazendo gracinhas, surpreenderam o resto da família,

exceto eu, que já sabia que uma hora ou outra se acertariam.

É como diz aquele famoso ditado “se a vida te der limões, faça

uma limonada”. Foi o que fiz e deu certo. Não digo que sou a única
responsável por se reconciliarem, Ezra teve o seu crédito, e assim
conseguimos ter mais algumas horas na casa da minha amiga em

harmonia.

Depois de algumas horas, Spencer foi embora. Ele recebeu


uma ligação e ficou nítido que não foi nada agradável. A sua

expressão, por mais que tentasse disfarçar, o entregou. Logo em


seguida, Carter e eu saímos, uma vez que eu precisava fazer o
exame, e agora estou aqui, querendo que essa ansiedade acabe

logo.

— O.k., vamos ver.


Derretida como uma manteiga, eu viro o rosto e encaro o
monitor onde aparece a imagem. Carter não larga a minha mão em

momento algum enquanto a médica desliza o aparelho de um lado


para o outro na minha barriga. De repente, ela para e eu a encaro.
O sorriso dela de orelha a orelha faz meu coração bater acelerado.

— Já tenho a resposta de vocês. Quem disse que seria uma

Rose ou um Rowan? — Ela olha para mim e depois para o meu


marido.

— Sinto que teremos um Rowan — respondo, sorrindo.

— Acho que será uma Rose — fala o meu marido, com um


sorriso genuíno.

— Hum... Não precisamos mais manter o mistério, não é?


Parabéns, papais, vocês terão um Rowan. Olhem aquele pontinho

entre as pernas.

Entre risos e lágrimas teimosas que descem por minhas


bochechas, deixo um soluço escapar ao ver a dra. Lucien tirar um

objeto pequeno do bolso do jaleco e apontar uma luzinha para o


monitor, confirmando o sexo do meu Rowan.

Rowan Gallagher Knight. O meu filho vai ter o nome do meu


pai.
— Obrigada, doutora. Eu disse, amor! — Gargalho, ao olhar
para Carter. Os seus olhos azuis brilham de uma forma tão intensa

quanto o sorriso orgulhoso que aparece em seus lábios.

Ele se inclina e desliza uma mecha de cabelo atrás da minha


orelha.

— Teremos muitos anos para providenciar a nossa pequena


Rose, mas amo a ideia de termos um garotão. — Pisca para mim e

beija os meus lábios.

— Uhum, vamos ter sim — digo, quando ele limpa o meu rosto
molhado.

— Eu amo vocês, são a minha vida — declara e beija a minha


testa.

— Eu também. Muito. — Suspiro, completamente rendida por

meu marido.

Por um instante, esquecemos da presença da profissional.

Carter se afasta, e sem demora sou liberada. Logo substituo a bata


hospitalar pela minha roupa, e quando volto para sala, encontro
Carter me esperando para irmos para a nossa casa. A médica nos

parabeniza mais uma vez e eu agradeço, emocionada.


Antes de deixar a sala, pego o meu celular e envio algumas

mensagens rápidas, avisando à minha mãe e às meninas que será


Rowan a vir ao mundo daqui a alguns meses. Com o meu marido ao
meu lado, seguimos de mãos dadas para fora da clínica.

Carter e eu nos encontramos na pior fase da nossa vida. Há

alguns anos, ele estava tão quebrado quanto eu, ou pior, mas juntos
conseguimos vencer algo que achávamos ser impossível – a

escuridão –, só que hoje somos a prova de que até os mais


quebrados são capazes de juntar seus estilhaços e amar.
Três meses atrás meu filho nasceu, Rowan é um garotão
saudável e tem pulmões fortes. Nos seus primeiros meses de vida,
ele não deixou que sua mãe e eu dormíssemos muito bem por
algumas noites. Foi difícil me adaptar à nossa nova vida sendo pais.
Por mais que tivéssemos ansiado pelo nascimento dele, não foi
fácil. Muriel e eu decidimos que cuidaríamos dele sem a ajuda de
uma babá, queremos aproveitar intensamente cada momento da
vida dele, e essa nossa decisão de certa forma sugou a nossa
energia. Mas aos poucos fomos nos acostumando com a nova
rotina de ter um bebê em casa.
— Ei, garotão, ontem você deu muito trabalho, sabia? O papai
e a mamãe não ficaram sozinhos nem um pouquinho — brinco com
a criança que está deitada no berço, com um sorriso em sua
boquinha e seus olhos azul-claros fixos em mim.
Enquanto Muriel está no banho, eu fico cuidando dele. Mais
tarde Maeve estará aqui com Kira para ver a filha e o neto. Ontem,
os meus irmãos e cunhadas vieram nos visitar.
Hoje sai bem cedinho para organizar a minha equipe de
pilotos para um serviço que prestaremos a um cartel do México, os
Perez, e voltei antes que Muriel e o Rowan acordassem. Tem sido
assim a minha rotina desde que meu filho nasceu, dessa forma
consigo passar mais tempo com a minha família, o equilíbrio entre
as duas coisas me permite aproveitar um pouco de cada.
— Você acha graça? Eu não acho, Rowan Knight. Você tem
que dar uma abertura para os seus pais, então, se for um bom
garoto essa tarde e dormir, quando você completar quinze anos te
dou a minha coleção de carros — digo, com um sorriso quando o
vejo colocar a mãozinha na boca e babar. — Não pode ser egoísta,
tem que dividir a mamãe com o papai. — Pisco para ele, que
continua babando nos dedos. Quando começa a chupar a mão, ele
quer mamar.
— Está querendo comprar o nosso filho, Carter? Que coisa
feia.
Assim que ouço a risada da Muriel, eu levanto o rosto e a
encontro encostada no batente da porta do banheiro, usando uma
maldita toalha que me impede de ver o que tanto quero.
— Estamos negociando, sereia. A sua acusação é muito
grave. — Descaradamente, passeio meus olhos por suas pernas e
vou subindo até encontrar o seu rosto novamente.
Ela está com um olhar divertido e mordendo os lábios
sensualmente. A sua provocação atinge diretamente o meu pau.
Porra, a minha mulher é gostosa pra caralho. Estou torcendo
para que Rowan durma essa tarde, ele nem imagina a necessidade
que tenho de ficar a sós com a mãe dele.
— Uhum, sei. — Arqueia a sobrancelha e caminha até o
berço.
— Eu sou inocente até que se prove o contrário. Alguém aqui
está muito faminto, praticamente devorando a mão — falo, risonho,
tirando nosso filho do berço. Vou até o móvel ao lado e pego um
paninho na gaveta e limpo os dedos dele.
Faltando dois meses para Rowan nascer, adaptamos o nosso
quarto para nós três, ele só vai ter o quarto próprio quando
completar um ano.
— Me dê ele, amor, realmente está no horário de mamar —
pede, com doçura, ao se pôr na minha frente.
Entrego nosso menino para ela, que em seguida se senta na
poltrona, cruza as pernas e depois desce a toalha até o seu quadril,
deixando os seus seios à mostra. Antes de ela colocar o peito na
boca de Rowan, sorri e passa a mão cuidadosamente na cabecinha
dele, fazendo um carinho em seu cabelo ruivo. Rowan tem os meus
olhos e o cabelo da cor do dela.
Neste momento, devo estar com os olhos brilhando. A benção
recaiu sobre mim depois que decidi deixar essa mulher entrar na
minha vida. Ela me deu riquezas que jamais imaginei que um dia
poderia alcançar.
Eu me tornei outro homem ao lado de Muriel Gallagher.
Mesmo que não tenha sido por boas intenções, agradeço aos
malditos Lynch por terem colocado em minhas mãos a minha
felicidade.
Calado, sento-me na beirada da cama e fico de frente para
eles, admirando-os enquanto a minha esposa amamenta o nosso
filho com o maior amor. Ele suga o peito dela como se não comesse
há dias, mas normalmente é assim que Rowan faz. O nosso garotão
é meio esfomeado mesmo que se alimente nos horários certos.
— Acho que ele vai dormir — diz depois de um tempo
enquanto o ajeita nos braços, ainda o amamentando. Rowan está
com a mãozinha espalmada no seio da mãe e com os olhos
fechados.
— Minha conversa com ele surtiu efeito — falo, levantando-me
e indo até eles. Ajoelho-me na frente da poltrona e observo o meu
filho adormecido, com a respiração calma.
— Você é um sem-vergonha. — Estala a língua, divertida.
— Que calúnia. — Dou um sorrisinho para ela antes de beijar
a cabeça de Rowan.
— Vou colocá-lo no berço. Tenho certeza de que ele vai dormir
por algumas horinhas.
Ao me afastar dela, ela se levanta e deixa a toalha cair.
Hipnotizado, acompanho os movimentos das curvas deliciosas que
ganhou após a gravidez. Quando ela está para colocá-lo no berço,
Rowan resmunga, mas ele se cala depois que ela o balança e o
deita em seu colchãozinho.
— Ah, meu amor, descanse mesmo. A sua cólica da noite
passada não deixou ninguém descansar — minha ruiva conversa
com o nosso bebê com uma voz carregada de doçura.
Vou até ela e a abraço por trás.
— Me acompanha no banho — peço, com segundas
intenções, enquanto passeio a mão por sua barriga e beijo o ombro.
— Mas eu acabei de sair de lá — murmura, dengosa.
— E quem disse que vamos só para tomar banho? — Viro-a
para mim para que possa ver os seus olhos.
Muriel morde os lábios e depois sorri, tentada.
— Depois do banho, coloquei a hidro para encher para nós. —
Espalma as mãos no meu peito e contorna as minhas tatuagem com
a ponta dos dedos.
A minha resposta é rápida e objetiva ao agarrá-la pelos
cabelos e dar um beijo faminto, enfiando a língua em sua boca. Ela
solta um gemido, e na mesma proporção de intensidade,
corresponde à minha investida.
Aos beijos, caminhamos para o banheiro tomando cuidado
para não fazermos nenhum barulho. Em meio a carícias, assim que
entramos no cômodo, eu me livro da minha calça moletom e desligo
a hidromassagem, que já está cheia o suficiente.
Minha mulher está prestes a entrar, mas eu a impeço ao
segurar o seu pulso e a virar para mim.
— Se sente na borda, apoie as costas na parede, depois abra
bem as pernas e coloque os pés nas laterais. Eu preciso chupar a
boceta gostosa da minha mulher — peço, febril, com o meu pau
latejando de tesão quando passeio demoradamente meus olhos por
seus seios e sua vagina depiladinha.
Muriel assente, com a respiração irregular, e atende ao
meu pedido. Me coloco de joelhos na hidro e umedeço os lábios ao
encarar o sexo dela, salivando para colocar a boca ali.
Levo as mãos às suas coxas e as acaricio, deixando os
seus pelos arrepiados. Só então começo um processo lento e
gostoso de beijar o espaço entre os seus seios e fazer uma trilha de
beijos lentamente até chegar ao seu umbigo. Ofegante, Muriel
segura em um dos meus ombros e crava as unhas na minha pele,
quando chego ao ponto que mais anseio – suas pernas.
Dou leves mordidas na parte interna da sua coxa, bem
perto da sua bocetinha quente e cheirosa; depois beijo as laterais e,
com os polegares, abro seus lábios vaginais. Passo a língua por
cima dos lábios e depois entre eles, da entrada ao clitóris, depois
até as suas dobras lentamente, repetindo o gesto várias vezes,
fazendo pressão com movimentos circulares. Trêmula, Muriel geme
alto, mas estamos apenas começando. Ela aperta o meu ombro
com força e geme o meu nome.
Ardendo e com o pau duro só de ouvir os seus gemidos,
enfio três dedos dentro dela e olho para cima, encontrando-a
apertando os mamilos com uma mão e com a boca entreaberta. É
uma visão do caralho. Nossos olhares se encontram e eu fico
ligeiramente mais excitado ao ver seus olhos esverdeados e o seu
rosto corado. Exultante, penetro mais os meus dedos e esfrego as
paredes internas, provocando um tremor nela e fazendo com que
feche os olhos.
Sedento por sua boceta, abocanho de uma vez e alterno
entre pequenas lambidas e penetração. Passo devagar a língua,
vagueando entre os lábios molhados e saborosos, sugando o
grelinho. A minha mulher se contorce e geme, mas não paro. Tenho
certeza de que ela foi ouvida do lado de fora, por nossos soldados.
Para castigá-la por ser tão escandalosa, afundo mais os meus
dedos como se eu estivesse metendo o meu pau nela, que em
resposta segura em meu cabelo e puxa os fios com força.
Mesmo sensível ao meu toque, ela dá leves reboladas
enquanto eu a fodo sem dó, alterando com a minha boca e dedos,
ouvindo os seus soluços. Em pouco tempo, a ruiva se desmancha e
goza selvagemente, seus fluidos descem e eu chupo cada gota do
seu mel.
— Você acaba comigo, Knight. — Ela desce as pernas e, em
um ato protetor, eu a seguro pela cintura para que não se
desequilibre. Depois do forte orgasmo, ela fica levinha e relaxada.
— Vem aqui, preciso que monte no seu homem e cavalgue
como uma verdadeira amazona. — Sento-me de frente para ela,
afundando a metade do corpo na água.
Ela morde os lábios sedutoramente e avalia meu pau ereto e,
em questão de segundos, minha mulher está encaixando as pernas
em meu quadril e passando o braço ao redor do meu pescoço.
Seguro a sua cintura e posiciono meu pênis em sua vagina,
enquanto a outra mão vai para a sua nuca, segurando o seu cabelo
em um punhado. Muriel solta um gemidinho e aproxima o rosto do
meu, roçando nossos lábios conforme vou fazendo com que ela
desça no meu membro lentamente. Quando o calor de sua boceta
envolve meu pau, ela geme e pede por mais.
— Eu preciso de tudo — pede, gulosa, descendo de uma vez
em mim.
Sinto o meu corpo ser abraçado pelo abismo.
— Caralho, sereia. — Tomo fôlego quando ela rebola no meu
pau com tanta propriedade.
O movimento dela me endurece ainda mais, então largo a sua
cintura e deslizo a mão até a sua bunda, espremendo a sua carne
com meus dedos enquanto ela sobe e desce no meu pau, rebolando
forte e lentamente. Muriel passa a ponta da língua em minha boca
sedutoramente, e ao notar a sua provocação, eu a beijo esfomeado.
Ah, cacete, minha mulher rebola gostoso demais.
Abandono a sua boca e foco nos seios. Ao abocanhar um, o
leite materno me lambuza, mas nem por isso deixo de mamar nela,
pelo contrário, isso me excita ainda mais.
Quanto mais me afundo em sua boceta, mais a minha mulher
aumenta a velocidade dos seus movimentos, com seu corpo
ameaçando um orgasmo. Seguro em sua bunda com as duas mãos
e meto com mais precisão, então alteramos movimentos rápidos
com lentos.
— Que delícia de mulher que eu tenho. Porra.
Sua boceta ensopada espreme o meu pau e a minha pele se
arrepia de imediato, como se pequenas ondas de eletricidade
percorressem por meu corpo.
— Ahh... Carter — geme e afunda as mãos no meu cabelo.
Muriel cavalga com maestria, cada vez mais rápido. A precisão dos
seus movimentos fode com o meu juízo e, em poucos segundos, o
jato de esperma inunda a sua boceta.
Ficamos em silêncio e eu a abraço pela cintura, enquanto ela
encosta o rosto na curva do meu pescoço. Aos poucos,
conseguimos controlar a nossa respiração acelerada. Minutos
depois, saímos da hidro e entramos no boxe para tomarmos um
banho.
— Ele seria a sua cópia se viesse com os seus olhos, filha —
fala Maeve, com o neto no colo. Ela fica toda derretida quando vem
visitar o Rowan.
— Foi isso que eu disse para ela, Maeve — diz Kira,
sorridente, tocando a mãozinha do sobrinho, que a encara com
curiosidade.
Maeve e Kira chegaram há alguns minutos. Como a mãe de
Muriel estava em Chicago a negócios, Kira aproveitou para vir com
ela para matar as saudades da irmã e do sobrinho.
— Não falem isso na frente do meu marido, ele fica com ciúme
pelo fato do nosso filho se parecer mais comigo — diz Muriel,
sorridente.
— Me falaram que o Rowan se parece comigo, sereia. —
Arqueio a sobrancelha e dou um sorriso para ela, que faz careta.
— Quem está te iludindo assim? — pergunta Muriel, com o
olhar divertido.
— Está dizendo que os meus irmãos estão mentindo? —
retruco, sentindo-me extrovertido.
— Não leve a sério o que eles falam, amor. Eles sempre vão
ficar do seu lado. Se acostume com a ideia de que dessa vez o
bebê veio com a cara da mãe, e não do pai. — Dá de ombros e
pisca para mim.
— Só vocês dois mesmo para nos fazerem rir. — Maeve
gargalha e começa a brincar com Rowan, que fica encantado com
as brincadeiras da avó e dá algumas risadinhas gostosas.
Sentado ao lado da minha esposa, observo em silêncio a
pequena interação das três mulheres com o meu filho, que apenas
sorri inocentemente, dá risadinhas e arranca sorrisos bobos das
mulheres.
Maeve fica com Rowan por alguns minutos antes de Kira o
pegar e dar beijinhos em sua cabeça, paparicando o sobrinho. Os
olhos dela brilham enquanto encara a criança em seus braços. Um
tempo depois, Rowan começa a se sentir incomodado e já sabemos
para o colo de quem ele quer ir. Assim que Muriel o pega nos
braços, ele para de resmungar.
— Ele é manhoso, gosta mais do meu colo. Como estou tendo
a oportunidade de ser uma mãe presente, quero manter isso até
quando for possível. Quero aproveitar cada momento da
maternidade — diz Muriel, tirando o seio da blusa e dando de
mamar ao Rowan.
— Você tem razão, filha, estou de acordo. Faça o que eu não
pude fazer por você quando era um bebê — concorda Maeve,
olhando admirada para a filha e o neto.
— Esqueça o passado, mãe, o importante para mim é o nosso
presente. O que estamos vivendo agora é muito melhor — responde
a minha ruiva, tirando sua atenção do pequeno Rowan e encarando
a mãe, que fica emocionada.
— Sim, isso é verdade — concorda Maeve, se levantando do
sofá quando vê a filha ajeitando o seio dentro da blusa.
— Pronto, nosso garotão já está bem alimentado. Agora vá
para o colo da vovó, ela vai te colocar para arrotar. — Muriel entrega
o Rowan para a mãe, que o coloca na posição para arrotar.
— Vocês não vão sair? Podem ir tranquilos, cuidaremos bem
do nosso príncipe — se manifesta Kira, gentilmente.
Realmente vamos sair. Antes de elas chegarem, pedi a dois
soldados que fossem ao galpão da minha coleção de carros e me
trouxessem duas máquinas, para que eu e minha mulher possamos
dar uma volta. Eles nos trouxeram o Porsche 911 GT1 e o McLaren
620 R. O que vamos fazer não será demorado, apenas irei cumprir
com a minha palavra. Quando tivemos a nossa primeira vez, eu
disse que teríamos uma corrida, mas não pudemos naquela noite,
contudo, hoje é dia que fechar mais um ciclo.
— Isso mesmo, Kira! — Maeve sequer tira os olhos do Rowan
em seus braços.
— Eu sei que cuidam, então já estamos indo, não vamos
demorar. — Muriel se despede da mãe e depois da irmã.
Com a mão nas costas de Muriel, eu a conduzo para fora da
casa. Assim que seus olhos batem nos carros que estão a alguns
metros de distância, eles brilham. A paixão dela é a mesma que a
minha. Um dos meus soldados se aproxima e me entrega as chaves
antes de se afastar.
— Qual você quer? — Abro a mão e estendo as chaves para
ela.
— O McLaren é meu. — Seu tom é possessivo ao pegar a
chave e colocar no bolso da jaqueta de couro preta.
— Vamos — eu a chamo enquanto me afasto da casa e sigo
na direção dos carros.
Quando entro no carro, olho para a minha mulher e lhe dou
um sorriso de lado. Muriel pisca e entra em seu carro, e assim que
ela o faz, ligo o Porsche.
Pelo retrovisor, observo a fumaça subir atrás de mim quando
faço os pneus cantarem. Sorridente, piso no acelerador ouvindo o
ronco do motor e me afasto rapidamente da minha propriedade em
alta velocidade. Em questão de poucos segundos a adrenalina
domina cada parte do meu corpo.
Mesmo em uma distância considerável, Muriel consegue me
alcançar. Com seu carro emparelhado ao meu, ela me manda um
beijo no ar e um “eu te amo”, me ultrapassando facilmente com a
minha distração.
Gargalho e piso ainda mais fundo no acelerador.
Jessica Santos nasceu em 22 fevereiro de 2001, na Bahia. Em
2014, surgiu o gosto pela leitura, e em 2015 para 2016 ela decidiu
que escreveria o seu primeiro romance e não quis mais largar a
escrita. Já tem lançado alguns livros na Amazon, entre contos e
novelas, e atualmente está trabalhando na série Herdeiros da Máfia,
um de seus maiores sucessos que vem conquistando os leitores nas
plataformas on-line.
Minha página no Facebook:
https://www.facebook.com/JessicaSantosAutor/
Link do meu grupo privado para falar sobre meus projetos
futuros: https://www.facebook.com/groups/278565765949848/?
ref=bookmarks
Meu e-mail - autorajessicasantos@gmail.com
Instagram: https://www.instagram.com/autorajessicadsantos/
Meu Wattpad:
https://www.wattpad.com/user/AutoraJessicaSantos
KILLZ (HERDEIROS DA MÁFIA LIVRO 1)
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Tudo que um verdadeiro herdeiro da máfia precisa ter, Killz
James Knight tem.
O mais velho de cinco irmãos, Killz é o chefe da máfia londrina, mas
seu maior interesse pelo cargo mais importante nos negócios ilícitos
da sua família não é o poder, e sim um avassalador desejo de
vingança.

Um lobo em pele de cordeiro. É assim que as pessoas que o


conhecem o definem.

Superficialmente calmo e apreciador da prática da boa vizinhança.


Intimamente. um verdadeiro monstro autoritário, possessivo e
sedento por violência.
Para o azar do rival acusado de matar seus pais e alvo do novo líder
dos Knight, pois Killz tem um plano arquitetado para destruir o
temido mafioso e pretende usar sua filha, a doce e inocente Aubrey,
para conseguir o que quer. Custe o que custar.

De um lado, um homem em busca de vingança. Do outro, uma


mulher alheia às maldades que cercam sua vida. Entre eles, um
sentimento desconhecido para ambos que pode mudar
completamente o rumo dessa história.
Em um perigoso jogo de sedução, mentiras e sexo, a máfia inglesa
nunca foi tão excitante.

(+18) Contém cenas de sexo explícito.


Este livro contém palavreados de baixo calão e cenas de
violência.

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Segundo livro da série Herdeiros da Máfia.
Obs: para entender a história, deve-se ler a série em
ordem.
Axl James Knight está agora em um grande impasse se deve
cumprir o acordo firmado por Killz e Conan ou não.
Casar-se com Alessa, a segunda herdeira de Conan Russell, é
o único meio encontrado para selar um acordo entre as duas
maiores organizações mafiosas de todos os tempos. É seu dever.
Será que ele cumprirá mesmo amando outra mulher? Axl está
disposto a tornar a vida da sua prometida um inferno. Porém, ele vai
perceber que quebrar a princesa da máfia será mais difícil do que
imagina, e que o amor e o ódio podem se entrelaçar nesse jogo
sádico.
(+18) Contém cenas de sexo explícito.
Este livro contém palavreados de baixo calão e cenas de
violência.
EZRA (HERDEIROS DA MÁFIA LIVRO 3)
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AVISO IMPORTANTE:
A história é um romance dark contemporâneo. Ele contém
cenas de violência sexual, linguagem imprópria, agressão física
e verbal. O livro é recomendando para maiores de 18 anos.
Se você é sensível com esse tipo de leitura não leia. A
autora não apoia e nem tolera esse tipo de comportamento.
“O monstro coordena toda ação, mas é meu corpo que
executa e promove o pavor.”
Ezra James Knight era a sombra do homem que um dia foi.
Descobertas o fizeram se render à completa escuridão. O coração
que um dia bateu foi substituído por um duro, frio e difícil de quebrar.
Ezra optou por ser inabalável, egoísta e cruel.
Sua vida estava em pedaços, mas jamais deixaria que as
pessoas o vissem tão machucado. Suas barreiras se ergueram e
ninguém seria capaz de derrubá-las. Muito menos aquela que tanto
mentiu e que agora dizia o amar: a gêmea da mãe do seu filho.

Hailey Slobodin sempre esteve longe do submundo, mas sua


vida mudou após descobrir que tinha um sobrinho e uma irmã
gêmea. Porém, não houve tempo para conhecê-la, a máfia acabou
com esse desejo quando tirou a vida de Scarlet, deixando-a com um
buraco enorme em seu coração e uma criança para criar. A mulher
foi atrás de vingança e proteção, mas ela não estava pronta para a
atração avassaladora e os perigos que uma aproximação com Ezra
poderia causar.
Duas pessoas corrompidas, mas de personalidades
diferentes. A única coisa que eles têm em comum é um dilema:
proteger quem ama, mesmo que para isso precise passar por cima
dos próprios princípios.

FÍSICO DE AXL E KILLZ:


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Em breve o último livro da série: SPENCER – HERDEIROS DA


MÁFIA – LIVRO 5
ACASO PERFEITO: (LIVRO ÚNICO)
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Safira nunca imaginou que tomar umas doses com um cliente
bonitão teria alguma consequência. Mas teve. Uma gravidez.
A jovem se viu encrencada quando as duas linhas no teste de
gravidez apareceram. Ela jamais imaginou que anos depois o
reencontraria. Muito menos que ele era o pai da sua melhor amiga.
Ele continuava o mesmo homem que a seduziu naquela noite.
Agora, ela estava em apuros, guardando o segredo a sete chaves
com o mesmo tremor inquietante que Victor Guterres tem o dom de
causar nela.
Victor faria Safira se render, e no processo tentaria não acabar
na cama com ela.
Mais uma vez.
Dois desconhecidos entrelaçados em um acaso perfeito que o
destino fez questão de uni-los. Mas será que o amor será capaz de
superar as mentiras, intrigas e perseguições?

O VIÚVO RENDIDO (LIVRO ÚNICO)


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Marcus Ferrari perdeu quem mais amava e ganhou uma
pessoa que amaria para sempre no mesmo dia. Perder a esposa no
parto da sonhada filha fez com que ele se fechasse para o amor.
Ele seguiu com sua vida, mas ninguém foi capaz de
ultrapassar a barreira impenetrável do homem de gelo. Até a nova
babá da sua filha surgir.
Gabriela Borges estudou muito, mas sem chances reais de
trabalho, ela acaba aceitando ser babá da filha de Marcus. Só que
nada a preparou para o homem inquietante.
Duas pessoas distintas que vão se render a uma atração
explosiva e ao amor que ambos sentem pela pequena Ely.
Resta saber se isso será o bastante.

UM PRESENTE DE NATAL PARA O JOGADOR: UMA


MENTIRA DE NATAL - LIVRO 02
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LIVRO ÚNICO. Todos os livros da trilogia podem ser lidos
de maneira independente.
Charlotte Laurence é apaixonada pelo melhor amigo desde a
infância. Mesmo sabendo que ele jamais a enxergaria com outros
olhos, ela cultivou a esperança de um dia ocupar um espaço maior
na vida dele e no coração. Entretanto, tudo muda com uma notícia
que faz seu mundo ruir.
Matthew Grant sempre sonhou em se tornar um jogador de
basquete de sucesso. A oportunidade perfeita de concretizar seus
objetivos surge ao receber uma proposta tentadora do seu time
favorito. Apesar de ficar dividido entre o amor que sente por sua
melhor amiga e a sua carreira, ele decide seguir a sorte, deixando
para trás pessoas que ama, principalmente Charlotte.
Anos se passam e ela não tem mais dezessete anos. Ele não
tem mais vinte e dois. Charlotte e Matthew não são mais os
mesmos. Depois de muito tempo, Matt retorna a Fortwood, trazendo
consigo uma pequena mentira que pode determinar o futuro de duas
pessoas e mudá-las para sempre.
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