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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO
TRÓPICO ÚMIDO

LUCAS FELIPE SARDINHA DE SOUSA

FICHAMENTO 03:
TEXTO 06 – TENDÊNCIAS RECENTES DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL E A
GESTÃO DO TERRITÓRIO

Fichamento solicitado como parte do requisito


avaliativo à disciplina Planejamento Regional e
Urbano, tendo como ministrante o Prof. Dr. Fábio
Fonseca de Castro.

Belém-PA
2023
1. REFERÊNCIA DO TEXTO

CHAGAS, C. A., Tendências recentes de desenvolvimento regional e a gestão do território.


In: SILVA, C. Sociedade, espaço e políticas territoriais na Amazônia paraense. Belém;
UFPA, 2013, pp. 15-33.

2. SÍNTESE DO TEXTO

O artigo em questão é articulado em torno da construção do conceito de território e as


distintas interpretações nele contidas ao longo do tempo, considerando especialmente o
estágio atual de desenvolvimento do capitalismo. O autor busca, com isso, contribuir à
compreensão deste conceito quando incorporado ao planejamento regional.
O texto é desenvolvido ao logo de dois capítulos. No primeiro, o autor discorre sobre a
produção e a reprodução do espaço na perspectiva territorial. Para tal, elenca o conceito
básico de território com base na concepção conformada pela geografia política, como espaço
de exercício de poder, centralizado no Estado, segundo o proposto por RAFFESTIN (1993,
apud CHAGAS, 2013, p. 15). Para compreender o conceito de território faz-se necessário,
para o autor, compreender o conceito de espaço e a articulação entre ambos os conceitos. O
espaço, portanto, é a materialização do processo histórico, conjugando o conteúdo material e
social. O espaço é tornado território mediante a apropriação e dominação social, sendo
delimitado por relações de poder, onde a esfera política desponta como importante. Nesse
sentido, o autor estabelece a diferenciação entre Poder, com inicial maiúscula, e poder, com
inicial minúscula: enquanto o primeiro refere ao conjunto de instituições e aparelhos que
conformam o Estado, o último assume a forma de um construto presente nas relações vividas,
inclusive no próprio Poder.
O conceito de território é explorado a partir de distintas abordagens, e para demonstrar
isso, o autor seleciona outros autores para dialogarem – ou contraporem – o conceito de
território proposto por Raffestin (1993), como ocorre com Marcelo de Souza (1995, apud
CHAGAS, 2013, p. 18), que aponta que o território não pode ser caracterizado
exclusivamente como o espaço socialmente construído, tampouco com um conjunto de forças
por ele mediado, mas consiste de apropriação e domínio de um espaço socialmente partilhado.
O autor prossegue estabelecendo paralelos entre as visões conceituais próprias da Geografia e
abordagens próprias de outros campos do conhecimento, como Economia e Filosofia, a
respeito do território, demonstrando a amplitude do tema. Tem destaque, aí, o proposto por
Haesbaert e Limonad (2007, p. 45 apud CHAGAS, 2013), onde fazem um quadro síntese das
principais abordagens conceituais de territórios, articulando dimensões distintas, em especial
as seguintes: jurídico-política, cultural(ista), Econômica (ou economicista) minoritária.
O segundo capítulo é concentrado em torno da abordagem do território no escopo do
desenvolvimento regional. O autor sinaliza a problemática da globalização efervescente a
partir do começo do século XX, que existe concomitante a uma fragmentação. Discorre,
também, a respeito da produção das territorialidades ao longo do tempo e a ocorrências de
sobreposições de territórios, as noções de redes e escalas e como elas se articulam entre si e
perante as externalidades. Na dinâmica do planejamento regional, o autor privilegia uma ótica
voltada não apenas ao território como produção das relações sociais, mas também como
reprodução do capital, sendo por diversas vezes assimilado enquanto mercadoria e estando
sujeito às estratégias de acumulação capitalista. São exploradas, nesse sentido, concepções e
abordagens distintas que articulam os conceitos de território e região, com vista a algumas que
buscam inclusive romper com a premissa economicista presente na anteriormente citada –
caso de Mankusen (2005, apud CHAGAS, 2013, p. 25) -, valorizando sujeitos em contextos
regionais.
Por fim, o autor estabelece um panorama histórico referente ao ordenamento territorial
e planejamento regional no Brasil. Inicia com o nacional-desenvolvimentismo que teve lugar
no Brasil em meados do começo dos anos 1960, sob influência da escola francesa do
aménagement du territoire em conjunto com as teorias cepalinas, voltado especialmente à
promoção de bem-estar social concomitante ao crescimento econômico. A partir de 1964,
com a ditadura militar, tem lugar uma abordagem geopolítica de grande suporte territorial,
especialmente com as políticas de integração nacional. Já nas décadas mais recentes,
sucedendo a redemocratização, tem lugar temas voltados à descentralização, à participação
social e à sustentabilidade do desenvolvimento, como uma nova forma de preocupação com a
ordenação territorial, de modo que essa passa a assumir papel de destaque na elaboração de
políticas que possibilitem a promoção do desenvolvimento regional, onde o Estado deve ser
um agente regulador – e não o principal ator, como estimulavam algumas teorias clássicas no
contexto da Geografia.
Para efeitos de conclusão, o autor destaca que, apesar das numerosas e distintas
contribuições para pensar o planejamento regional/territorial, não há qualquer delas que
explique fenômenos territoriais contemporâneos de maneira satisfatória. Além disso, ele cita
dificuldade de trânsito entre o nível teórico e abstrato para o nível das práticas operacionais.

3. CITAÇÕES INTERESSANTES
1. “Entende- se o território – na concepção clássica da geografia política – como espaço de
exercício de um poder que, no mundo moderno, apresenta-se como um poder basicamente
centralizado no Estado.” (p. 15);

2. “[...] a dimensão territorial é, então, continente do social, uma vez que seus limites são
estabelecidos pela sociedade que o ocupa” (CASTRO, 1992, p. 29). Nesta concepção,
então, o
3. território é uma unidade geográfica, mas também uma unidade social e uma unidade
política.” (p. 16);

4. “O poder é a parte intrínseca de toda relação. Multidimensionalidade e imanência do poder


em oposição à unidimensionalidade e à transcendência. O poder ser manifesta por ocasião
da relação, é um processo de troca ou de comunicação, quando, na relação que se
estabelece, os dois polos fazem face um ao outro ou se confrontam, as forças de que
dispõem os dois parceiros.” (p. 17);

5. “O território é uma materialidade terrestre que abriga o patrimônio natural de um país, suas
estruturas de produção e os espaços de reprodução da sociedade (lato sensu). É nele que se
alocam as fontes e os estoques de recursos naturais disponíveis para uma dada sociedade e
também os recursos ambientais existentes e é nele que se acumulam as formas espaciais
6. criadas pela sociedade ao longo do tempo (o espaço produzido). Tais formas se agregam ao
solo onde foram construídas, tornando-se estruturas territoriais, condições de produção e
reprodução em cada conjuntura considerada.” (p. 18);

7. “A avaliação sincrônica das formas de valorização do espaço praticadas na história de um


país é dada pela análise de sua formação territorial, isto é, a sua história analisada na ótica
da dimensão espacial. Esta revela padrões de ocupação e de uso dos recursos, que
modelam o território de que dispõe a sociedade na atualidade.” (p. 18);

8. “Um segundo ponto importante que se refere ao entendimento do território como produto
de conflitos e contradições sociais – ponto central de nossa análise – é o fato de que em
alguns países, essa discussão é centrada no conceito de espaço geográfico, como a que
ocorre no Brasil, no conceito de território, como se efetiva na Itália, ou mesmo nos
conceitos de espaço e região, como é o caso da França. Esta questão é importante, pois ela
também está associada à forma que o planejamento estatal utiliza o conceito de território,
principalmente devido à influência que o mesmo exerce na estrutura conceitual que orienta
o planejamento recente no Brasil” (p. 19)

9. “Se muitos autores afirmam que o mundo contemporâneo vive uma era de globalização,
outros, por sua vez, enfatizam como característica principal do nosso tempo a
fragmentação. Globalização e fragmentação constituem de fato os dois polos de uma
mesma questão que vem sendo aprofundada, seja através da linha de argumentação que
tende a privilegiar os aspectos econômicos – e que enfatiza os processos de globalização
inerentes ao capitalismo, seja através do realce de processos fragmentadores de ordem
cultural, que podem ser tanto um produto quanto uma resistência à globalização.” (p. 22);

10. ““Talvez a falha mais grave, em última instância, da literatura up-to-date sobre
desenvolvimento local e regional seja que ela negligencia totalmente a questão
fundamental da hegemonia e do poder político” (BRANDÃO, 2007, p. 50). Para tanto,
precisamos entender os processos assimétricos em que um agente privilegiado detém o
poder de ditar, (re)desenhar, delimitar e negar domínio de ação e raio de manobra de
outrem.” (p. 26);

11. “Ordenamento territorial é um instrumento de articulação transetorial e


interinstitucional que objetiva um planejamento integrado e espacializado da ação do poder
público.” (p. 30).

4. REFERÊNCIAS INTERESSANTES

BRANDÃO, C. Território & desenvolvimento: as múltiplas escalas entre o local e o global.


Campinas: Unicamp, 2007.

COSTA, W. M. Subsídios para uma Política Nacional de Ordenamento Territorial. In:


MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Para pensar uma política nacional de
ordenamento territorial. Brasília: SDR/MI, 2005. p. 55 – 60.

HAESBAERT, R. O mito da desterritorialização: do fim dos territórios à multiterritorialidade.


Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004.

HAESBAERT, R.; LIMONAD, E. Território em tempos de globalização.Revista Etc.,


Espaço, Técnica e Crítica, n. 2, v. 1, ago. 2007.

LEFEBVRE, H. La production de l’espace. Paris: Anthropos, 1974.

MANKUSEN, A. Mudança econômica regional segundo o enfoque centrado no ator. In:


DINIZ, C. C.; LEMOS, M. B. Economia e território. Belo Horizonte: UFMG, 2005. p. 57-
102.

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