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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO
TRÓPICO ÚMIDO

LUCAS FELIPE SARDINHA DE SOUSA

FICHAMENTO – AULA 4: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO SITUACIONAL DE


CIDADES: DIMENSÃO TÉCNICO-POLÍTICA, TRIÂNGULO DE GOVERNO E
GOVERNANÇA URBANA

Fichamento solicitado como avaliação parcial da


disciplina Planejamento Regional e Urbano,
tendo como ministrante, Prof. Dr. Saint-Clair
Cordeiro da Trindade Júnior.

Belém-PA
2023
IDENTIFICAÇÃO DA OBRA

MATUS, C. El actor en situación. In: MATUS, C. Teoría del juego social. Buenos Aires,
Ediciones de la UNLa, 2007. p. 165-192. Disponível em:
http://panel.inkuba.com/sites/2/archivos/Teor%C3%ADa%20del%20Juego%20Social%20-
%20Carlos%20Matus.pdf. Acesso em: 01 mar 2021

IDEIA CENTRAL DA OBRA


O autor busca destrinchar a ação em meio ao jogo social protagonizado por distintos
atores, elencando o conceito de situação para explicar as visões distintas que conflitam e
cooperam entre si.

INFORMAÇÕES GERAIS SOBRE O AUTOR E A OBRA


Nasceu no Chile em 1931. Formou-se, em 1955 na Escola de Economia da
Universidade do Chile, fez pós-graduação em Harvard nos EUA. Desempenhou altas funções
como ministro da Fazenda, presidente do Banco Central e Ministro da Economia do Governo
do Presidente Salvador Allende.
No campo da política e gestão pública é reconhecido como o mais importante
pensador latino-americano e um dos mais importantes do mundo, em Ciências e Técnicas de
Governo, inovando a forma de governar e fazer política. (INSTITUTO CARLOS MATUS,
2015, online)

OBJETIVOS DA OBRA
 Destacar a situação como parte elementar das dinâmicas que compreendem o jogo
social;
 Destrinchar o conceito de situação, considerando as distinções entre o eu e o outro;
 Apontar a compreensão das múltiplas situações como parte fundamental do processo
de planejamento estratégico;

PALAVRAS-CHAVE: planejamento, planejamento estratégico situacional, jogo social,


situação, explicação da ação social.

SÍNTESE ESQUEMÁTICA DA OBRA: EL ACTOR EM SITUACIÓN


1. EXPLICACIÓN Y REALIDAD:
1.1. Individualidade e singularidade dos sujeitos;
1.2. O jogo social:
a) Jogo de conflito e cooperação entre uns com os outros;
b) Envolve relações:
 Diretas e pessoais;
 Indiretas e impessoais, por vezes remotas;
 Mediadas pelo anonimato, distância e desconhecimento mútuo;
c) Diferentes pontos de vista.

2. EL CONCEPTO DE SITUACIÓN:
2.1. O cientista/pesquisador:
a) Observação impessoal (terceira pessoa) e objetiva em relação ao objeto;
 Diagnóstico;
2.2. Dirigente político (exemplo):
a) Um ator social, protagonista do jogo social (primeira pessoa);
b) Seu julgamento e suas ações são “contaminados” pelas variáveis que o
circundam;
c) Seu propósito final é sua ação, a explicação serve somente de fundamento;
 Não diagnostica, explica situações;
2.3. A teoria da ação exige uma teoria das situações:
a) “Uma teoria da explicação contaminada, motivada e comprometida” (p. 168);
2.4. Conceito em Gramsci:
a) Análise de correlações de forças e dos conceitos de estratégia, tática e plano
estratégico;
2.5. Há motivos por detrás das causas das ações, para além dos efeitos;
a) Verstehen de Max Weber: “compreender por dentro”;
2.6. Explicação situacional:
a) Tem valor político: vale mais quem diz que o que é dito;
b) O diagnóstico e a situação são apenas ingredientes da explicação situacional;
c) Não contribui com a ciência, não cria conhecimento aplicável a outros casos;
d) Composta por:
 Diagnóstico (conhecimento científico);
 Intuição;
 Motivação e valores;
e) Tem a ação como produto.
2.7. Contribuições para o conceito de situação:
a) Heidegger (1927), Sartre (1943), Gadamer (1988), e Ortega e Gasset (1936);
2.8. Heidegger permite propor que compreender a realidade encontrando-se nela é a
forma de conhecer do homem de ação;
a) Juízo intuitivo/juízo humano;
b) Diagnóstico: remoto ou que está distante do seu alcance;
c) A razão científica se desenvolve em outro jogo, e em outro tempo, paralelo ao
jogo social;
2.9. A relação direta entre diagnóstico e ação nunca existiu no mundo da prática;
a) Por meio destes, está a explicação situacional;
 Reflexão vital;
2.10. Ortega e Gasset: insuficiência da razão científica na compreensão do mundo
real:
a) Razão vital (situacional) e razão abstrata (científica);
b) Circunstância: o contexto da ação;
2.11. A apresentação do contexto é crucial para o entendimento global da
situação;
a) O que é dito (o texto) pode ser ambíguo, demanda cuidado com o que é subdito
– o contexto ou com aquilo que se cala;
b) O que se dá por subdito, pode gerar equívocos;
c) Nem sempre o que se cala é sabido;
2.12. A situação obriga a distinguir pelo menos dois sujeitos: eu e o outro;
2.13. A situação é um diálogo entre um ator e outros atores, cujos contextos e
explicações coexistem e até mesmo conflitam;
a) A compreensão de cada realidade depende da compreensão da realidade do
outro, para fundamentar a ação;
2.14. O jogo social tem história;
a) A teoria para o passado, presente e futuro não podem estar dissociados, um faz
parte do outro;
b) História viva no presente:
 Se é alheio à nossa cultura e não atua em nós, não é história;
 Razão narrativa ou razão histórica: explica os fatos antecedentes que tornam o
agora da forma que é;
c) Não há ação distante de nós, somente se atua no presente;
 O presente tem marca do passado e algum direcionamento em relação ao
futuro;
2.15. Dinâmica do jogo social: uma trajetória de situações;
a) Cada uma abre ou fecha caminho às que se seguem;
b) Os jogadores podem criar novas situações com vista a alguma situação-objetivo;
c) A história pode ser compreendida como uma série de situações, situadas na
cabeça de um protagonista da história;
d) É possível, portanto, planejar situações, para lutar pelo futuro;
2.16. Gadamer: impossibilidade de explicar a realidade de maneira objetiva e
completa, se estamos situados dentro dela;
a) Pode-se verificar mais de uma verdade;
 Verdade relativa;
 Varia em função da situação do ator;
 Não anula a existência de leis objetivas independentes da nossa
vontade, interesses ou posição perante a realidade;
2.17. Distinção entre situação e fundo cênico ou entorno;
a) Diferenciar o objeto de atenção e aquilo que não é relevante;
 Supõe favorecer determinados critérios;
2.18. A situação é uma distinção feita por um ator em relação à sua ação no jogo
social;
2.19. A situação é um espaço de produção social:
a) Jogamos junto a nossos oponentes;
b) Toda produção social depende de nós e deles, em interação com o entorno;
2.20. Quando uma distinção é feita com um propósito concreto, se transforma em
indicação;
a) Separação do que é de interesse para atuar sobre o que é de interesse;
2.21. Conhecer a realidade inclui a compreensão das ideias, crenças e valores, para
além das coisas;
a) Conhecer não só o que eu creio que é, mas o que os outros creem que é;

3. LA ASIMETRÍA DE LA EXPLICACIÓN SITUACIONAL


3.1. Focos de de atenção e avaliação assimétricos;
a) Eu tenho uma lista de problemas; o oponente tem outra;
 Explicações situacionais diferentes;
b) A simetria só ocorre no caso da investigação;
 Perguntas similares -> Respostas similares;
c) A estratégia sinaliza a importância de compreender a assimetria da explicação
do outro;
d) Não se pode assumir que o outro objetiva responder às mesmas perguntas que eu,
tampouco que as respostas são simétricas:
 Bom pra mim, ruim pro outro, ou vice-versa;
 Os parâmetros adotados para a elaboração da estratégia de ação são distintos;
 Exemplo da situação de inflação;
 Exemplo da Guerra das Malvinas;
3.2. A análise situacional implica estudar o outro, colocar-se em sua circunstância e lhe
atribuir uma explicação;
a) Sujeito a erro, o que pode ser custoso;
3.3. A explicação situacional não é estimulada apenas pela realidade presente, tampouco é
apenas racional;
a) Quase racional;
b) Carregada de paixões, tradições, intuição e preconceitos;

4. CUÁNTOS TIPOS DE EXPLICACIONES SON POSIBLES


4.1. Diferenciação das explicações;
a) Identidade;
 Observador, ator 1 e ator 2;
b) Autoria da explicação;
c) A preocupação ou interesse do ator que explica a realidade;
d) A posição desde a qual explica o sujeito;
e) A qualidade da torre de observação de quem explica;
 Capital cognitivo do sujeito;
f) A referência ou ponto de vista que o sujeito que explica assume, por consciência;
4.2. Outra tipologia de leitura da realidade: seis modos distintos da explicação da
realidade:
a) Caso 1: Diagnóstico;
b) Caso 2: Diagnóstico interpretativo;
 Tenta representar a circunstância do outro de maneira objetiva;
c) Caso 3: Explicação situacional fanática;
 Ignora o outro;
d) Caso 4: Explicação situacional:
 Ator dentro da realidade;
 Se situa na circunstância do outro, porém sua própria posição é colocada como
mais potente;
e) Caso 5: Explicação situacional excêntrica:
 O sujeito está dentro da realidade, mas explica somente de acordo com a
circunstância do outro;
f) Caso 6: Explicação situacional invertida:
 Me preocupa a posição do outro a meu respeito;
g) Refere a dois momentos (ou perguntas) distintas e importantes na explicação
situacional;

5. LOS DOS SUBMOMENTOS DE LA EXPLICACIÓN SITUACIONAL


5.1. Momento 1: Entrada na perspectiva do outro;
a) Representatividade da explicação;
 Entrar na autorreferência do outro, penetrar e compreender seus pontos de vista
sem julgar a qualidade ou potência da explicação do outro;
 Permite a diferenciação das explicações
5.2. Momento 2: Retorno à sua posição própria;
a) Referente à potência ou qualidade da explicação;
 Depende de diversas variáveis apresentadas na torre de observação;
5.3. Ambos são complementares na explicação situacional;
5.4. A confusão sobre a função de cada momento pode conduzir a equívocos que
deterioram a qualidade do cálculo interativo;

6. DISTORSIONES COGNITIVAS DE LA EXPLICACIÓN SITUACIONAL


6.1. Toda explicação situacional é incompleta;
a) Não é capaz de apreciar a realidade a partir de todos os pontos de vista de todos
os jogadores relevantes;
 Cegueira situacional;
b) Há perspectivas de realidade que não vemos porque:
 Estão fora do nosso foco de atenção;
 Estão fora do nosso campo de compreensão;
 Estão fora de nossa referência;
 Estão fora de nossa possibilidade de percepção;
 Estão fora de nosso foco de tempo;
 Estão fora de nossa capacidade de aceitação;
 Estão fora de nossa capacidade de distinção devido à sobrecarga de
informação;
 Estão fora de nossos hábitos arraigados de ver e conhecer;
6.2. Desvio de atenção em torno de sinais fortes;
a) Negligencia situações importantes que não emitem tantos sinais;
6.3. Inclinação ao raciocínio baseado em réplicas mecânicas;
a) Não permite a leitura rigorosa da realidade;
b) Separa o texto da situação do contexto;
 Transplante de uma realidade a outra;
 Ineficaz à análise situacional.

CONCLUSÃO E/OU PROPOSIÇÕES DO AUTOR

1. A causalidade é insuficiente nas ciências sociais, e o conceito de situação surge para


preencher as lacunas por ela deixadas;
1.1. Nem a história, nem o futuro, podem ser entendidos apenas como uma cadeia de
eventos inserida em uma malha de relações causais” (p. 168);
1.2. Contrapõe a ideia de linearidade entre as causas e efeitos por trás das ações, numa
linha que questiona o pensamento positivista;
2. Fricção comunicativa entre diagnóstico e situação:
2.1. O que propõe uma ciência não tem reflexo imediato na prática do jogo social;
3. Crítica aos planos elaborados por economistas;
3.1. Falta de clareza sobre contextos – subdito ou calado, talvez por erroneamente assumir
como de conhecimento geral ou por não ter conhecimento sobre;
3.2. Gera problemas de compreensão ao dirigente político;
3.3. Exemplifica com o caso do plano de ajuste macroeconômico da Venezuela;
4. O papel de cada ator deve ser considerado;
4.1. Deve-se penetrar nas explicações e circunstâncias do outro – o interlocutor;
a) Fechar-se diante de sua própria visão a respeito do mundo é parte do diagnóstico,
não da situação;
5. Nossa explicação situacional é subjetiva e incompleta, já que só podemos observar
diante de nossa própria perspectiva;
6. A teoria das situações não busca uma explicação única como verdadeira, mas diferenciar
as explicações de acordo com seus emissores;
7. A situação e o fundo para uma mesma realidade dependem dos critérios adotados, pelo
mesmo sujeito ou por atores distintos;
8. O paradigma tradicional das ciências aplicadas chama diagnóstico a explicação da
realidade com apego a rigores e normas de objetividade, e assim se faz no planejamento
normativo tradicional;
8.1. Paradigma do Jogo das Ciências inapropriadamente adotado para o Jogo político no
governo;
a) O jogo político contém o ator planejador dentro dele, confrontado por diversos
outros atores que podem explicar e planejar seguindo seus próprios interesses;
 Vários diagnósticos sobre uma mesma realidade;
 A objetividade do jogo científico é impossível no contexto político;
9. O planejamento estratégico exige tentar pensar como o outro para superar o monólogo do
diagnóstico, conhecendo as possíveis ações e motivos do oponente, que dependem de sua
explicação;
10. Conhecer as explicações e motivações do oponente são cruciais para o sucesso do Plano
Estratégico Situacional, evitando imprevistos.

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