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Admin,+51352 106310 1 CE
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A globalização da economia,
fenômeno que derruba fron-
teiras e define uma nova or-
dem para a gestão dos negócios em Retorno médio (% aa)
todos os segmentos, impõe ao agrone- Volatilidade (% aa)
Retorno médio e volatilidade (janeiro de 2000 a abril de 2005)
Açúcar
7,5
37,5
Algodão Café Arábica
10,0
34,0
10,0
32,0
Soja
15,5
28,0
Dólar IBOVESPA
10,5
19,0
8,5
33,5
gócio brasileiro uma revisão comple- Fonte: Elaboração do autor
ta de suas práticas e seus conceitos.
Por apresentar características particulares, as empresas do setor agrí- câmbio, em comparação ao índice IBOVESPA (referência para o
cola exigem formas específicas de administração, que permitem a ade- mercado de renda variável), observa-se as elevadas volatilidades
quada análise dos fatores relevantes e a correta identificação de políti- dificultando sua previsibilidade. Tanto os empresários de grandes
cas internas à empresa para a obtenção dos objetivos empresariais. corporações ligadas ao setor como os produtores se defrontam com
A atividade de gerenciamento de riscos propicia que os resulta- o problema de tentar prever estas oscilações.
dos financeiros da empresa sejam mais informativos da habilidade Cabe aos gestores das empresas a responsabilidade pela
gerencial, pois possibilita minimizar um 'ruído externo', que é a implementação de políticas de gestão de preços que permitam a
volatilidade de fatores de mercado. adequada análise dos fatores relevantes e a correta identificação dos
Os riscos inerentes à incerteza dos preços das commodities não riscos incorridos para a obtenção dos objetivos empresariais.
influenciam somente o planejamento do fluxo de um empreendi-
mento agrícola. A viabilidade econômica de um negócio também HEDGE
pode ser afetada pelas flutuações dos preços, uma vez que prejuízos
podem causar impacto na liquidez e na solvência da empresa, pondo A agroindústria e os produtores buscam, cada vez mais,
em risco a própria sobrevivência, em longo prazo. instrumentos de proteção para evitar os riscos inerentes às
Utilizando preços históricos das principais commodities e do volatilidades das cotações das commodities, das taxas de juros
e do câmbio. Implicitamente, para o dono ou acionista da em-
Riscos de uma empresa agrícola presa agrícola, ao final da safra, o interesse é que, somados
todos os fluxos operacionais, este seja positivo e próximo ao
• Negócio: associado ao setor de atuação da empresa, assumido esperado. Entretanto, os valores futuros não são conhecidos,
voluntariamente, e está relacionado às vantagens competitivas, obrigando os gestores a procurarem instrumentos que possam
por exemplo, produção; garantir valores mínimos de remuneração do capital.
• Estratégico: relacionado à mudança no fundamento do ambi- A idéia de redução de risco é constante, quando se fala em
ente econômico em que a empresa opera; hedge. O conceito de hedge está associado à contratação de
• Financeiro: talvez, o mais importante a ser considerado na novas operações que neutralizem, tanto quanto possível, o im-
gestão da atividade agrícola. pacto de choques não previsíveis que possam vir a ocorrer. A
necessidade de hedge, por conseguinte, pode ser associada a
esse risco de valor e à necessidade de tornar previsível
Volatilidade dos preços nas commodities agrícolas a renda da empresa. Assim, o hedge funcionaria atenu-
ando ou eliminando o impacto de cenários negativos ou
positivos.
O hedge requer três fatores principais:
1. Identificação e quantificação dos fatores de riscos;
2. Decisão de quanto e o que hedgear;
3. Avaliação dos instrumentos alternativos de hedging e
de suas características.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
São inúmeros os fatores a serem ponderados no processo
de decisão sobre a utilização de hedge. A forma como esses
elementos se combinam não permite estabelecer regra sim-
ples e genérica que defina o comportamento do empresário
com relação ao hedge.
A decisão de realizar hedge depende de como a empresa
observa o ambiente do agronegócio, da expectativa do cená-
rio econômico futuro, dos riscos incorridos e da aversão aos
mesmos. Assim, a decisão não pode ser tomada por uma
única pessoa de forma arbitrária. O correto é a implementação
de uma política de hedge, sendo esta coordenada por um
comitê estratégico.
O comitê estratégico deve ser responsável não somente
pela estruturação das operações, mas também pela determi-
nação dos prazos e níveis percentuais da cobertura das expo-
sições a variações dos preços, taxas de juros e câmbio; pela
avaliação periódica dos relatórios que contemplam as opera-
ções de hedge; bem como as expectativas de produção (simu-
lações de produtividades), além da construção de cenários
(favoráveis e desfavoráveis) a serem aplicados às operações
de hedge, possibilitando a avaliação do grau de efetividade
da estratégia (análise de estresse).
Cabe ainda ao comitê estratégico a responsabilidade pela
criação de procedimentos internos de controle de custos e
monitoramento periódico das volatilidades de mercado
(commodity, juros e câmbio), além da construção de proces-
sos decisórios e operacionais.
Para o estabelecimento de políticas de gerenciamento de
riscos, por meio de instrumentos de hedge, é preciso definir
uma função sólida de gerenciamento de risco dentro da em-
presa. Sempre que possível, deve-se propiciar uma estrutura
autônoma para relatar, monitorar e controlar todos os aspec-
tos dos riscos de mercado incorridos, possibilitando a corre-
ta avaliação e estimativa das exposições, além do desempe-
nho do hedge e seus resultados.
Um ponto importante que sempre deve ser considerado
na estratégia de hedge é que o mesmo pode provocar queda
ou aumento momentâneo nos lucros de uma empresa relati-
vamente à posição em que se encontraria sem ele. Dependen-
do do movimento de mercado, o contrato de hedge pode
gerar uma perda explícita - compensatória dos lucros ob-
tidos na posição protegida - tornando difícil a justificati-
va ex post da medida. O hedge reduz o risco da empresa,
mas pode aumentar os riscos pessoais do gestor financei-
ro, se outros colaboradores, diretoria e acionistas não en-
tenderem seu objetivo claramente. Por isso, os responsáveis
pela política de hedge devem, periodicamente, revisar as ope-
rações e sua eficácia.
AGRONEGÓCIO
JUNHO DE 2004 • REVISTA DE AGRONEGÓCIOS DA FGV 48