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Desenvolvimento Participativo Cartilha ITS
Desenvolvimento Participativo Cartilha ITS
Tecnologia Social
— ITS Brasil
Introdução .....................................................................................................................................4
FASE 1 – MOBILIZAR
Unir forças e a vontade de mudar ............................................................................................... 6
Formar a estrutura de participação ..............................................................................................8
V
ai ter festa na casa do Vicente e seu ali estava desempregada. José foi pensando
irmão José resolveu fazer uma visita. em tudo isso e resmungou:
Faz cinco anos que não vê o irmão, a — Que futuro aquelas crianças vão ter?
cunhada Mariana e os sobrinhos. Ele está E assim ele se distraiu. De repente, já
muito feliz e, ao mesmo tempo, preocupado. tinha chegado no ponto final. Quando olhou
José tomou o ônibus e foi pensando como em volta, viu um bairro diferente: ruas
a família do Vicente vivia mal. Seu irmão asfaltadas, árvores plantadas, mais
morava num bairro ruim, onde faltava quase comércio. Tinha um centro comunitário e
tudo. Não tinha árvores nem mesmo um uma quadra onde as crianças jogavam bola.
lugar para se divertir ou fazer esportes. Ficou admirado:
Também não tinha trabalho, muita gente por — Vixe! Acho que peguei o ônibus errado.
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renda, alimentação, saúde, educação, Discutindo com eles, vimos que a nossa
formação profissional, meio ambiente... lista das dificuldades e do potencial do
Levamos em conta a história da bairro foi boa para ter por onde começar.
comunidade e da nossa região e também o Mas ainda era pouco. Porque o bairro não é
que era preciso para organizar as pessoas e só das pessoas que participaram da reunião,
despertar nelas a vontade de participar. é de todos os moradores. A ONG tinha
— Mas como fazer isso tudo? Como experiência em Desenvolvimento Local
transformar o sonho de uma vida melhor Participativo e nos fez uma proposta. Era de
em realidade? aproveitar essa mobilização e fortalecer a
A gente ainda não tinha as respostas. E comunidade, fazendo um processo como
percebeu que seria necessário aprender este no nosso bairro.
um pouco mais com quem já tinha vivido A gente decidiu organizar um grupo para
situações parecidas com a nossa. Então levar adiante essa idéia, um Conselho. Não
fomos atrás de saber quais as pessoas, foi muito difícil escolher quem ia participar. A
grupos e instituições do bairro e da região dona Geraldina, que há 40 anos luta por
que poderiam contribuir de alguma forma. melhorias no bairro, em quem todo mundo
Procuramos ajuda de uma organização não confia, foi escolhida para ser a presidenta.
governamental (ONG), que já tinha feito As outras pessoas do Conselho também
um projeto interessante com as crianças estavam muito comprometidas com as
do bairro. mudanças que a gente queria realizar.
8 | FASE 1 – MOBILIZAR
Formar a
estrutura de
participação
O
Conselho de Desenvolvimento são todos convidados a participar. Só
Local Participativo vai ser o assim o Conselho consegue planejar e
motor principal das mudanças na orientar coletivamente o futuro da
comunidade, então tem que ser bem comunidade.
amplo e representativo. Os movimentos — Isso é muito importante, José —
sociais, os empresários do bairro, as explicou Vicente. Não importa quem
ONGs, os sindicatos, os partidos políticos, teve a idéia primeiro. O processo tem
igrejas, escolas, voluntários, jovens, que ser de todo mundo! A comunidade
aposentados e também o poder público deve sentir que é dona do processo e
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que as melhorias serão para todos. queria se entender, não queria brigar, então
Com tanta gente e tantas organizações conseguiu negociar e resolver os conflitos.
juntas no Conselho, só dá pra avançar com Também é importante ter a colaboração
muito diálogo e muita confiança uns nos de especialistas e consultores, ou de
outros de que todos querem o bem comum. instituições que ajudem a comunidade a se
No meio do caminho sempre aparecem capacitar e ter acesso a recursos para
as diferenças de opinião. Mas a gente conduzir o seu desenvolvimento.
10 | FASE 2 – DIAGNOSTICAR E PLANEJAR
Conhecer para
transformar
Aquela lista com os problemas e as
potencialidades do bairro, a gente chamou
de pré-diagnóstico.
— Nossa, Vicente, isso parece coisa de
médico! — se espantou José.
— É parecido. Quando alguém vai no
médico, ele precisa saber o que está errado
para encontrar a cura. Primeiro ele
pergunta o que o paciente está sentindo,
examina e observa. Com isso, ele levanta
algumas possibilidades. Mas para ter dizer o que o paciente tem, que é o
certeza, ele pede alguns exames, que vão diagnóstico, e receitar um tratamento.
dar informações mais precisas. Aí ele pode A gente já sabia o que a comunidade
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A
pesquisa é mais que um simples o bairro, como vivem as famílias, quais as
levantamento de opiniões. Ela é necessidades mais urgentes, o que querem
feita por um método científico, que melhorar e como acreditam que isso pode
permite quantificar e qualificar as ser feito. É um jeito de ter um “retrato”
informações, ou seja, dar a medida para as mais claro da realidade do bairro.
coisas. Depois de conhecer algumas opções de
A comunidade pode usar a pesquisa para métodos de pesquisa, o Conselho escolheu
conhecer o que os moradores pensam sobre a pesquisa popular, pois tinha várias
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 13
vantagens (ver quadro). Alguns moradores porque eles já eram conhecidos dos
fizeram cursos para se tornarem moradores, então as entrevistas foram
pesquisadores populares. Aprenderam a muito bem recebidas. Além disso, eles
entrevistar as pessoas, anotar direitinho as mesmos iam colaborar para pôr o projeto
respostas e se comunicar de forma clara. em movimento.
Sabiam explicar na ponta da língua o que é Os resultados da pesquisa serviram de
o Desenvolvimento Local Participativo e base para a comunidade conversar com as
tiravam as dúvidas que os entrevistados entidades e autoridades locais e, juntos,
tinham. chegarem a propostas de ações e projetos
Isso de ser gente do bairro foi bom, para o futuro do bairro.
14 | FASE 2 – DIAGNOSTICAR E PLANEJAR
A
o final da pesquisa, os moradores já para discutir os problemas e soluções e
estavam mais por dentro do que decidir coletivamente o que fazer. A partir
estava acontecendo. O Conselho dos dados da pesquisa, as pessoas fizeram
convocou uma assembléia pra apresentar os propostas, e a comunidade pôde selecionar
resultados e foi bastante gente. Chamou as que achava mais urgentes. Às vezes tinha
também representantes da prefeitura e das discordância sobre qual era a prioridade,
associações de bairro, professores das mas depois de muita conversa concordamos
escolas, pessoas da igreja, os agentes de que era importante chegar a um consenso,
saúde, os comerciantes... em nome do objetivo comum. E era
A assembléia é uma reunião de todos importante ter uma visão de futuro, um
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Como organizar o
Plano de Ações?
O Plano de Ações pode ser
estruturado de muitas maneiras,
principalmente em processos
participativos, em que ele tende a ter
a cara do processo. Mas dificilmente para organizar uma horta comunitária, com
poderá deixar de conter as seguintes
quem tivesse interesse. Este projeto não era
informações:
Q Diagnóstico elaborado a partir da considerado prioritário, mas como não
pesquisa. dependia de muitos recursos de fora, foi logo
Q Ações a serem implementadas e posto em prática.
projetos prioritários. Foi bom mesmo, porque os resultados
Q Projetos de médio e longo prazo.
vieram logo, as pessoas puderam contar
Q Distribuição de tarefas entre as
com alimentos saudáveis e praticamente de
pessoas e organizações
graça. E ajudou a dar ânimo para tocar os
participantes.
Q Cronograma geral com metas de outros projetos.
conclusão.
FORMAR A ESTRUTURA
DE PARTICIPAÇÃO - Pág. 8
FASE 2
DIAGNOSTICAR E PLANEJAR — Tudo começa com a mobilização. A
gente se organiza, consulta as pessoas. Aí
pesquisa, recolhe informações, organiza
CONHECER PARA os dados. Depois volta a se reunir,
TRANSFORMAR - Pág. 10 sempre de forma participativa e
democrática. Planeja as ações, vai atrás
de recursos e parcerias para ter
COMO É A PESQUISA capacitação e pôr a mão na massa.
POPULAR? - Pág. 12
Quando os projetos estão em operação,
tem que acompanhar tudo de perto e
fazer avaliações para medir os
NASCE O PLANO resultados. Com isso, a gente começa a
DE AÇÕES - Pág. 14
ver mais longe. Tem nova mobilização,
outras pesquisas, novos projetos e assim
por diante. Começa outra vez. Como eu
MPLEMENTAR,
disse, é um ciclo, em que a gente vai
AR E AVALIAR
aprendendo e melhorando.
18 | FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR
Poder público e
comunidade trabalham juntos
N
a nossa assembléia, a comunidade básicos, como esgoto, água encanada,
mostrou que sabia o que queria, e na escolas e saúde, importantes para o
ordem que queria. Com isso, a gente desenvolvimento. Essas são suas funções
pôde separar o que era obrigação do poder “tradicionais”. Mas a gente esperava mais,
público e o que seria feito por nós mesmos. que apostasse e tomasse a iniciativa de
O poder público deve fornecer os serviços promover as ações do Desenvolvimento Local
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 19
O que um projeto
deve conter?
T
inha chegado a hora de executar a formação e capacitação?
Q Que materiais são necessários?
nossa parte do plano. Começamos Q Quais os recursos financeiros
detalhando cada projeto que tinha necessários?
sido escolhido como prioridade. A gente Q Quais as etapas a serem seguidas?
Gente trabalhando,
dinheiro circulando no local
O
nosso maior desafio era “saúde” da economia que garante que as
movimentar a economia do bairro, conquistas vão durar e se ampliar. Sem
e criar alternativas de trabalho precisar ficar o tempo todo buscando
para diminuir a pobreza. Aprendemos que a recursos de fora.
economia é central para o Desenvolvimento No nosso bairro, melhorar a infra-estrutura
Local. Quando ela é pensada de forma fez com que os comerciantes ficassem mais
integrada com o meio ambiente, os interessados em abrir novos negócios. Nosso
recursos que existem no território, a cultura objetivo era melhorar a geração de trabalho
da comunidade e sua qualidade de vida, é a e renda e criar novos empreendimentos,
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 25
dando condição para se sustentarem com as economia seria incentivar a nossa produção,
próprias pernas. E, quando houvesse um aproveitando o que o bairro tem de
grande investimento, também incluir as vantagens. Estudamos bem que tipo de
pessoas e famílias pobres nas oportunidades produtos as pessoas da comunidade compram
de trabalho que fossem criadas. e a nossa capacidade de produzir. As
Uma das formas de desenvolver a experiências de Desenvolvimento Local mais
26 | FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR
antigas nos ensinaram que a economia sai crédito, mesmo que pequeno. Para que isso
fortalecida quando as pessoas compram dos fosse possível, fomos entender como
produtores locais. O dinheiro fica no funcionam as iniciativas de microcrédito,
território e volta a ser investido ali mesmo. que emprestam dinheiro a quem precisa
Isso gera oportunidades de desenvolvimento. para começar um negócio. O principal é que
Nosso plano fez a ligação de vários projetos não tem burocracia e os juros são mais
voltados para a produção, a comercialização baixos. Alguns empreendimentos já estão
e o consumo. Acreditamos muito na nossa funcionando assim, como uma oficina de
capacidade de promover o desenvolvimento. motos, um açougue, uma padaria... E
Mas para isso, capacitar a comunidade era muitos outros vão começar.
uma questão chave. Procuramos técnicos da — A gente criou uma loja e uma feira
área de economia e administração, que nos para os artesãos, costureiras, pequenos
ajudaram a criar os projetos. Um dos agricultores e outros produtores venderem
resultados foi a parceria com instituições que — lembrou a Mariana.
deram cursos profissionalizantes, de gestão — E isso ajudou também a trazer mais
de negócios e cooperativas e de economia gente da comunidade para perto do nosso
solidária, tudo previsto no plano. Apareceram projeto. A loja acabou virando também um
várias iniciativas. lugar de encontro, onde se podia explicar
O bom para bairro era que todos os como o Desenvolvimento Local Participativo
empreendedores tivessem acesso a um está trazendo benefícios para todos.
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O
Conselho precisa acompanhar de projeto deve acontecer sempre. Documentar
perto cada etapa, para saber se cada passo, com fotos, vídeos, páginas na
tudo está acontecendo como tinha internet, depoimentos, publicações, ajuda a
previsto, ou então para ajustar os planos manter a população informada. Sempre que
quando alguma coisa nova acontece. A for preciso, as pessoas poderão avaliar os
realidade é muito dinâmica, não dá pra resultados e rediscutir as etapas do processo.
achar que é só planejar que vai dar tudo — Nossa, Vicente, falando assim
certo. Precisa ficar de olho pra mudar e parece fácil!
melhorar sempre que for necessário. — Não é fácil, José, dá muito trabalho!
O acompanhamento e as avaliações Mas é possível se as pessoas quiserem e
periódicas sobre o desenvolvimento de cada trabalharem juntas. E vale a pena!
28 | FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR
Sobre os temas Desenvolvimento Local e economia solidária, sugerimos as seguintes páginas na internet:
Cooperar em Português ....................................................................................................... www.cooperaremportugues.org
Feira ExpoBrasil Desenvolvimento Local ............................................................................. www.expobrasil.org.br
Fórum Brasileiro de Economia Solidária .............................................................................. www.fbes.org.br
INSTITUTO DE
TECNOLOGIA SOCIAL
Endereço: Rua Rego
Freitas, 454, cj. 73
República – CEP: 01220-010
São Paulo - SP
Tel/fax: (11) 3151-6499
e-mail: its@itsbrasil.org.br
www .itsbrasil.org
www.itsbrasil.org .br
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Autores
Irma Passoni e Jesus Carlos
Delgado Garcia (coordenação
geral), Beatriz Rangel e
Maurício Ayer (coordenação
editorial), Mouzar Benedito,
Philip Ueno, Gerson
Tecnologia Social Guimarães e Marcelo Elias
de Oliveira.
Esta cartilha foi elaborada a partir dos princípios Ilustrações
Ohi
da Tecnologia Social. Para saber mais sobre o
tema, conheça as outras publicações do Instituto Edição de arte
Tadeu Araujo
de Tecnologia Social. Elas estão disponíveis em
Impressão
www.itsbrasil.org.br. Gráfica New Way
Rua Rego Freitas, 454, cj. 73 – República – CEP: 01220-010 – São Paulo - SP – Tel/fax: (11) 3151-6499
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