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Instituto de

Tecnologia Social
— ITS Brasil
Introdução .....................................................................................................................................4

FASE 1 – MOBILIZAR
Unir forças e a vontade de mudar ............................................................................................... 6
Formar a estrutura de participação ..............................................................................................8

FASE 2 – DIAGNOSTICAR E PLANEJAR


Conhecer para transformar ........................................................................................................10
Como é a pesquisa popular? ......................................................................................................12
Nasce o Plano de Ações ............................................................................................................14

O CICLO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL PARTICIPATIVO ................................................. 16

FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR


Poder público e comunidade trabalham juntos .........................................................................18
Elaborar os projetos ....................................................................................................................20
Tirar os projetos do papel ...........................................................................................................22
Gente trabalhando, dinheiro circulando no local .......................................................................24
Acompanhar, avaliar e prestar contas .......................................................................................27
Celebrar e divulgar as conquistas .............................................................................................. 28

Outras histórias ...........................................................................................................................30


Desenvolvimento
Local Participativo:
Nosso lugar é
a gente que faz

Instituto de Tecnologia Social – Outubro de 2007


4 | Introdução

V
ai ter festa na casa do Vicente e seu ali estava desempregada. José foi pensando
irmão José resolveu fazer uma visita. em tudo isso e resmungou:
Faz cinco anos que não vê o irmão, a — Que futuro aquelas crianças vão ter?
cunhada Mariana e os sobrinhos. Ele está E assim ele se distraiu. De repente, já
muito feliz e, ao mesmo tempo, preocupado. tinha chegado no ponto final. Quando olhou
José tomou o ônibus e foi pensando como em volta, viu um bairro diferente: ruas
a família do Vicente vivia mal. Seu irmão asfaltadas, árvores plantadas, mais
morava num bairro ruim, onde faltava quase comércio. Tinha um centro comunitário e
tudo. Não tinha árvores nem mesmo um uma quadra onde as crianças jogavam bola.
lugar para se divertir ou fazer esportes. Ficou admirado:
Também não tinha trabalho, muita gente por — Vixe! Acho que peguei o ônibus errado.
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 5

Era o ônibus certo. Mas o ponto final entender o que é desenvolvimento.


tinha mudado para outro lugar: uma praça, — Existe desenvolvimento quando
que o Vicente arrumava para a festa, junto todas as pessoas da comunidade têm
com os vizinhos. José se animou: saúde, moradia, alimentação, trabalho,
— Vicente, você melhorou de vida, hein? educação, cultura e respeito. E o que
O que aconteceu? O bairro está diferente... precisarem para viver com dignidade.
— Salve meu irmão! Fomos nós da O Desenvolvimento Local Participativo é
comunidade que conseguimos! aquele que é pensado e posto em prática
— Conseguimos, não! Porque a coisa não aqui mesmo no bairro, e com a participação
acabou — consertou a Mariana. direta da comunidade. Todos os setores e
— É verdade. O que nós fizemos e grupos se envolvem e trabalham juntos para
continuamos fazendo se chama buscar soluções para suas necessidades,
Desenvolvimento Local Participativo. fazer parcerias e ter mais capacidade de
— Mas o que é isso? — quis saber José. orientar o desenvolvimento. Assim os
Vicente explicou que primeiro tem que resultados são compartilhados por todos.

O Desenvolvimento Local Participativo corresponde ao conjunto das ações que


acontecem a partir do território, com o envolvimento direto da população, tendo
como resultado a criação de riqueza e a dinamização da economia, a geração de
trabalho e renda e a melhoria do bem-estar e da qualidade de vida.
6 | FASE 1 – MOBILIZAR

Unir forças e a vontade de mudar


— Explica direito, Vicente — pediu o José. apareceu, mas com alguns moradores já
— Aqui no bairro, os moradores foi possível começar uma conversa sobre o
reclamavam muito da má qualidade de vida. que tinha que melhorar.
Vontade de mudar essa realidade é que Falamos dos problemas do bairro e das
não faltava. Algumas pessoas resolveram coisas que gostamos nele. Fizemos uma
tomar uma atitude. Marcaram uma lista dos principais pontos fracos e do que
reunião e foram de casa em casa tinha de positivo para ser aproveitado.
chamando todo mundo. Muita gente não Pensamos isso para várias áreas: trabalho e
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz |7

renda, alimentação, saúde, educação, Discutindo com eles, vimos que a nossa
formação profissional, meio ambiente... lista das dificuldades e do potencial do
Levamos em conta a história da bairro foi boa para ter por onde começar.
comunidade e da nossa região e também o Mas ainda era pouco. Porque o bairro não é
que era preciso para organizar as pessoas e só das pessoas que participaram da reunião,
despertar nelas a vontade de participar. é de todos os moradores. A ONG tinha
— Mas como fazer isso tudo? Como experiência em Desenvolvimento Local
transformar o sonho de uma vida melhor Participativo e nos fez uma proposta. Era de
em realidade? aproveitar essa mobilização e fortalecer a
A gente ainda não tinha as respostas. E comunidade, fazendo um processo como
percebeu que seria necessário aprender este no nosso bairro.
um pouco mais com quem já tinha vivido A gente decidiu organizar um grupo para
situações parecidas com a nossa. Então levar adiante essa idéia, um Conselho. Não
fomos atrás de saber quais as pessoas, foi muito difícil escolher quem ia participar. A
grupos e instituições do bairro e da região dona Geraldina, que há 40 anos luta por
que poderiam contribuir de alguma forma. melhorias no bairro, em quem todo mundo
Procuramos ajuda de uma organização não confia, foi escolhida para ser a presidenta.
governamental (ONG), que já tinha feito As outras pessoas do Conselho também
um projeto interessante com as crianças estavam muito comprometidas com as
do bairro. mudanças que a gente queria realizar.
8 | FASE 1 – MOBILIZAR

Formar a
estrutura de
participação

O
Conselho de Desenvolvimento são todos convidados a participar. Só
Local Participativo vai ser o assim o Conselho consegue planejar e
motor principal das mudanças na orientar coletivamente o futuro da
comunidade, então tem que ser bem comunidade.
amplo e representativo. Os movimentos — Isso é muito importante, José —
sociais, os empresários do bairro, as explicou Vicente. Não importa quem
ONGs, os sindicatos, os partidos políticos, teve a idéia primeiro. O processo tem
igrejas, escolas, voluntários, jovens, que ser de todo mundo! A comunidade
aposentados e também o poder público deve sentir que é dona do processo e
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Como está nosso Conselho de Desenvolvimento Local P


Local articipativo?
Participativo?
Não existe uma fórmula de como Q Todas as instituições, grupos e
montar e fazer funcionar um Conselho pessoas atuantes do bairro estão
de Desenvolvimento Local Participativo. representadas?
O ideal é que ele seja formado por Q Acreditamos que podemos melhorar
pessoas engajadas no movimento de as condições de vida?
transformação, eleitas de modo Q Temos confiança uns nos outros para
democrático. trabalharmos juntos?
Transformar o Conselho oficialmente Q O bem da comunidade prevalece
em pessoa jurídica pode ser bom para sobre as vantagens de cada um?
conquistar independência, poder Q Já definimos o objetivo do Conselho?
receber recursos e representar a Q Sabemos como resolveremos os
comunidade em contratos. Mas para conflitos e as divergências?
isso é importante que os membros Q A comunidade conhece e está
sejam capacitados em gestão e apostando no projeto de
tenham conhecimento em desenvolvimento?
Desenvolvimento Local Participativo. Q Os poderes públicos estão presentes?

que as melhorias serão para todos. queria se entender, não queria brigar, então
Com tanta gente e tantas organizações conseguiu negociar e resolver os conflitos.
juntas no Conselho, só dá pra avançar com Também é importante ter a colaboração
muito diálogo e muita confiança uns nos de especialistas e consultores, ou de
outros de que todos querem o bem comum. instituições que ajudem a comunidade a se
No meio do caminho sempre aparecem capacitar e ter acesso a recursos para
as diferenças de opinião. Mas a gente conduzir o seu desenvolvimento.
10 | FASE 2 – DIAGNOSTICAR E PLANEJAR

Conhecer para
transformar
Aquela lista com os problemas e as
potencialidades do bairro, a gente chamou
de pré-diagnóstico.
— Nossa, Vicente, isso parece coisa de
médico! — se espantou José.
— É parecido. Quando alguém vai no
médico, ele precisa saber o que está errado
para encontrar a cura. Primeiro ele
pergunta o que o paciente está sentindo,
examina e observa. Com isso, ele levanta
algumas possibilidades. Mas para ter dizer o que o paciente tem, que é o
certeza, ele pede alguns exames, que vão diagnóstico, e receitar um tratamento.
dar informações mais precisas. Aí ele pode A gente já sabia o que a comunidade
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O que pesquisar? Antes de realizar a pesquisa com as pessoas do bairro,


vale a pena saber se existem pesquisas anteriores sobre
o bairro ou região e consultar fontes de informação
nacionais, como o IBGE, estaduais e municipais.

Na pesquisa feita nas casas Na pesquisa feita nas fábricas


e estabelecimentos comerciais
Q Qual é a “nossa cara”? Qual a idade e
sexo das pessoas, de onde vieram, Q Quais são as principais atividades
como estão de estudo formal, têm econômicas?
uma ocupação, quanto ganham, como Q Como funcionam os pequenos e médios

moram? negócios: quando foram criados, quantos


Q Gostam do bairro? Por quê? funcionários têm, oferecem treinamento,
Q O que as pessoas querem para suas têm controle de qualidade dos produtos,
vidas e o futuro do bairro? conseguem lucro para investir?
Q Quais são as principais necessidades? Q Onde estão localizados os clientes e

Q Que recursos o bairro tem? fornecedores?


Q Quais são as habilidades da Q Quais são as necessidades: crédito,

população? Que tipo de atividades serviço de consultoria, formação em


sabe fazer? gestão, informática, profissionais
Q Tem interesse em fazer cursos? Quais? qualificados?
Q Como funciona a economia local? O Q Qual(is) o(s) potencial(is) econômico(s)

que as pessoas compram, onde do bairro?


compram e quanto gastam? Q Qual(is) o(s) ramo(s) de negócio que

Q Gostaria de montar um negócio? está(ão) faltando no bairro?

sentia sobre o bairro, e já tinha pensado ter informações mais precisas e


em algumas maneiras de mudar a realidade abrangentes. Então resolvemos fazer uma
local. Agora precisava fazer os “exames”, pesquisa de Desenvolvimento Local.
12 | FASE 2 – DIAGNOSTICAR E PLANEJAR

Como é a pesquisa popular?

A
pesquisa é mais que um simples o bairro, como vivem as famílias, quais as
levantamento de opiniões. Ela é necessidades mais urgentes, o que querem
feita por um método científico, que melhorar e como acreditam que isso pode
permite quantificar e qualificar as ser feito. É um jeito de ter um “retrato”
informações, ou seja, dar a medida para as mais claro da realidade do bairro.
coisas. Depois de conhecer algumas opções de
A comunidade pode usar a pesquisa para métodos de pesquisa, o Conselho escolheu
conhecer o que os moradores pensam sobre a pesquisa popular, pois tinha várias
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 13

As características da Quais as vantagens deste método?


pesquisa popular Q Por ser feita por gente da própria comunidade,
Q Pessoas da comunidade recebem a receptividade é mais alta, ou seja, mais
formação para se tornarem pessoas aceitam responder os questionários.
pesquisadores populares. Q Os dados também são mais confiáveis,
Q Elas participam na criação dos produzindo-se um retrato fiel da percepção
questionários, aplicação da das pessoas sobre o bairro.
pesquisa e sistematização dos Q As informações são produzidas e
dados. processadas no local, aumentando a
Q Os pesquisadores se tornam capacitação e autonomia das pessoas.
agentes de Desenvolvimento Q Trata-se de um processo pedagógico e
Local, pois assumem uma mobilizador para todos na comunidade, pois
responsabilidade perante o para responder o questionário têm que
futuro da comunidade e são bem pensar nas suas realidades e em como
preparados para difundir e mudá-las. Isso aumenta sua capacidade de
explicar o projeto. orientar o Desenvolvimento Local.

vantagens (ver quadro). Alguns moradores porque eles já eram conhecidos dos
fizeram cursos para se tornarem moradores, então as entrevistas foram
pesquisadores populares. Aprenderam a muito bem recebidas. Além disso, eles
entrevistar as pessoas, anotar direitinho as mesmos iam colaborar para pôr o projeto
respostas e se comunicar de forma clara. em movimento.
Sabiam explicar na ponta da língua o que é Os resultados da pesquisa serviram de
o Desenvolvimento Local Participativo e base para a comunidade conversar com as
tiravam as dúvidas que os entrevistados entidades e autoridades locais e, juntos,
tinham. chegarem a propostas de ações e projetos
Isso de ser gente do bairro foi bom, para o futuro do bairro.
14 | FASE 2 – DIAGNOSTICAR E PLANEJAR

Nasce o Plano de Ações

A
o final da pesquisa, os moradores já para discutir os problemas e soluções e
estavam mais por dentro do que decidir coletivamente o que fazer. A partir
estava acontecendo. O Conselho dos dados da pesquisa, as pessoas fizeram
convocou uma assembléia pra apresentar os propostas, e a comunidade pôde selecionar
resultados e foi bastante gente. Chamou as que achava mais urgentes. Às vezes tinha
também representantes da prefeitura e das discordância sobre qual era a prioridade,
associações de bairro, professores das mas depois de muita conversa concordamos
escolas, pessoas da igreja, os agentes de que era importante chegar a um consenso,
saúde, os comerciantes... em nome do objetivo comum. E era
A assembléia é uma reunião de todos importante ter uma visão de futuro, um
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 15

Como organizar o
Plano de Ações?
O Plano de Ações pode ser
estruturado de muitas maneiras,
principalmente em processos
participativos, em que ele tende a ter
a cara do processo. Mas dificilmente para organizar uma horta comunitária, com
poderá deixar de conter as seguintes
quem tivesse interesse. Este projeto não era
informações:
Q Diagnóstico elaborado a partir da considerado prioritário, mas como não
pesquisa. dependia de muitos recursos de fora, foi logo
Q Ações a serem implementadas e posto em prática.
projetos prioritários. Foi bom mesmo, porque os resultados
Q Projetos de médio e longo prazo.
vieram logo, as pessoas puderam contar
Q Distribuição de tarefas entre as
com alimentos saudáveis e praticamente de
pessoas e organizações
graça. E ajudou a dar ânimo para tocar os
participantes.
Q Cronograma geral com metas de outros projetos.
conclusão.

cenário que imaginamos para


o nosso bairro e também o
caminho para chegar até lá.
Com isso, já deu pra
elaborar um Plano de Ações.
Seu Jovelino, que tinha
morado na roça, se ofereceu
16
FAS
MOBIL

O ciclo do CELEBRAR E DIVULGAR


Desenvolvimento AS CONQUISTAS - Pág. 28

Local Participativo ACOMPANHAR, AVALIAR


E PRESTAR CONTAS - Pág. 27

GENTE TRABALHANDO, DINHEIRO


— Vicente, espera aí! Estou vendo que CIRCULANDO NO LOCAL - Pág. 24
nada aconteceu só com boa vontade...
— Isso mesmo, José. A gente aprendeu
que, se depender disso, a chance de dar TIRAR OS PROJETOS
errado é grande. Fomos conhecer como DO PAPEL - Pág. 22
outras comunidades fizeram a sua história
de Desenvolvimento Local Participativo, e
vimos que precisa ter um método. Assim a ELABORAR OS
PROJETOS - Pág. 20
gente erra menos e pode criar soluções que
resolvam de fato os problemas.
— Ah, sei! Não fica mais aquela
impressão de que o resultado nunca vem.
PODER PÚBLICO E COMUNIDADE
TRABALHAM JUNTOS - Pág. 18
— A gente viu que as etapas do
Desenvolvimento Local Participativo têm
começo, meio e, quando chega no final, já é
FASE 3 – IM
um novo começo! Funciona como um ciclo.
ACOMPANHA
— Explica melhor, irmão.
17
SE 1
LIZAR

UNIR FORÇAS E A VONTADE


DE MUDAR - Pág. 6

FORMAR A ESTRUTURA
DE PARTICIPAÇÃO - Pág. 8

FASE 2
DIAGNOSTICAR E PLANEJAR — Tudo começa com a mobilização. A
gente se organiza, consulta as pessoas. Aí
pesquisa, recolhe informações, organiza
CONHECER PARA os dados. Depois volta a se reunir,
TRANSFORMAR - Pág. 10 sempre de forma participativa e
democrática. Planeja as ações, vai atrás
de recursos e parcerias para ter
COMO É A PESQUISA capacitação e pôr a mão na massa.
POPULAR? - Pág. 12
Quando os projetos estão em operação,
tem que acompanhar tudo de perto e
fazer avaliações para medir os
NASCE O PLANO resultados. Com isso, a gente começa a
DE AÇÕES - Pág. 14
ver mais longe. Tem nova mobilização,
outras pesquisas, novos projetos e assim
por diante. Começa outra vez. Como eu
MPLEMENTAR,
disse, é um ciclo, em que a gente vai
AR E AVALIAR
aprendendo e melhorando.
18 | FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR

Poder público e
comunidade trabalham juntos

N
a nossa assembléia, a comunidade básicos, como esgoto, água encanada,
mostrou que sabia o que queria, e na escolas e saúde, importantes para o
ordem que queria. Com isso, a gente desenvolvimento. Essas são suas funções
pôde separar o que era obrigação do poder “tradicionais”. Mas a gente esperava mais,
público e o que seria feito por nós mesmos. que apostasse e tomasse a iniciativa de
O poder público deve fornecer os serviços promover as ações do Desenvolvimento Local
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 19

Participativo, junto com a comunidade. jeito de se relacionar.


Conseguimos levar para nossa reunião O Plano de Ações também pode ser
representantes da prefeitura, da empresa bastante útil para a administração pública.
de saneamento, de eletricidade e telefone. O prefeito confirmou:
Então eles se comprometeram na hora. As — Se todo bairro fosse assim, seria mais
necessidades de saneamento e infra- fácil administrar a cidade.
estrutura foram atendidas mais rápido que Isso ajudou a criar confiança no futuro
nos bairros vizinhos. E a gente abriu um do bairro e uma relação mais direta e
diálogo com o poder público, mudando o transparente com a administração pública.

Atribuições do poder público


Q Infra-estrutura: luz, água encanada, Q Cultura e lazer: praças, parques, áreas
esgoto, pavimentação, telefone. de lazer, cinemas, teatros, festivais de
Q Serviços de saúde: postos de saúde, música.
UBSs, hospital, casa de parto. Q Assistência social.
Q Serviços de educação: creche, escola, Q Apoio à economia local e geração de
biblioteca, universidade, cursos livres. trabalho e renda.
Q Esporte: quadras e equipamentos Q Promoção das ações do
esportivos, clubes da prefeitura. Desenvolvimento Local Participativo.
20 | FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR

O que um projeto
deve conter?

Um projeto deve responder


claramente as seguintes questões:

Q Quais são as necessidades?


Q O que vai ser feito para atendê-las?
Q Por quê?

Q Como será feito?

Elaborar Q Quem vai fazer? Que tipo de

conhecimento é necessário? Que

os projetos tipo de profissional? Que


organização?
Q São necessárias atividades de

T
inha chegado a hora de executar a formação e capacitação?
Q Que materiais são necessários?
nossa parte do plano. Começamos Q Quais os recursos financeiros
detalhando cada projeto que tinha necessários?
sido escolhido como prioridade. A gente Q Quais as etapas a serem seguidas?

tinha a experiência da pesquisa popular, Q Quando cada etapa será

então já existia um entrosamento entre os executada? Qual o tempo


participantes. Aí a gente discutiu bastante necessário a cada etapa?
Q Quanto de recursos será gasto em
para saber bem direitinho o que queria
cada etapa?
fazer, qual o objetivo, quais materiais ia
usar, quanto de dinheiro ia ser preciso para Quanto mais claro e detalhado o
cada projeto e quem ficaria responsável planejamento estiver, mais fácil será
pela realização de cada parte do que a de prestar contas depois.
gente estava programando. Também tinha
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 21

que pensar o porquê de


cada detalhe, e em quanto
tempo ia terminar cada
atividade.
Tinha, além disso tudo,
um grupo responsável por
acompanhar o trabalho das
equipes, para poder enxergar com
um olhar crítico e avaliar o que
estavam fazendo. Assim, ia
contribuir para melhorar as nossas
ações. Reunimos ainda um
pessoal para cuidar da
comunicação e divulgar o que a
gente vinha construindo no bairro.
22 | FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR

Tirar os projetos do papel


— Mas, Vicente, vocês sabiam fazer tudo conseguir recursos são muito variados.
isso? Eu não saberia nem por onde começar! Existem os órgãos de governo, empresas,
— Mais ou menos, José. Algumas coisas a doadores individuais, fundações, entidades
gente sabia, outras não. Então a gente foi religiosas... Cada um tem uma forma de
atrás de parceiros. fazer parcerias, tem interesses, exigências
Nossos projetos foram feitos com muito e regras próprias.
cuidado, faltava ir para a prática. Sabíamos Nessa etapa, fomos consultar as pessoas
os recursos que íamos precisar. O próximo e organizações que colaboravam com a
passo era saber de onde eles viriam. E isso gente, mostrar nossas idéias, ouvir
não é nada fácil, os caminhos para sugestões, pesquisar as fontes de recursos e
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 23

Possíveis fontes de recurso


Q Bancos de desenvolvimento (Bndes,
BID, Banco Mundial).
Q Editais ou apresentação de

propostas a ministérios, governos


estaduais e prefeituras.
Q Órgãos e agências de fomento,
Ficamos bem atentos aos editais de
nacionais e internacionais (Finep,
Unicef, Unesco, Pnud etc). seleção de projetos, nas áreas que
Q Doações da comunidade. escolhemos como prioridades. Os editais são
Q Eventos para arrecadar fundos. documentos que os órgãos de governo
Q Departamentos de responsabilidade publicam com regras para que as pessoas
social em empresas. possam concorrer a recursos públicos.
Q Fundações.
Um de nossos projetos foi selecionado e
Normalmente, os projetos têm que isso deu um grande impulso! Mas também
ser modificados para se adequar ao trouxe uma enorme responsabilidade! Tinha
modo próprio de cada financiador que fazer tudo direitinho do jeito que a
trabalhar. Mas tome cuidado para gente escreveu no projeto, e depois prestar
não mudar as coisas que são
conta de cada centavo que foi gasto.
essenciais, que dão identidade ao
Fomos percebendo que quanto mais a
projeto e são a sua razão de ser.
comunidade e o Conselho iam ganhando
experiência, entendendo como as coisas
discutir as vantagens e desvantagens de funcionam e assumindo responsabilidades,
cada uma delas. começamos a recorrer menos à ONG que
O importante era escolher o caminho nos apoiou no início. Ela ainda dá assessoria
mais adequado para os nossos objetivos e o para algumas coisas, mas hoje somos bem
planejamento feito pela comunidade. mais independentes.
24 | FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR

Gente trabalhando,
dinheiro circulando no local

O
nosso maior desafio era “saúde” da economia que garante que as
movimentar a economia do bairro, conquistas vão durar e se ampliar. Sem
e criar alternativas de trabalho precisar ficar o tempo todo buscando
para diminuir a pobreza. Aprendemos que a recursos de fora.
economia é central para o Desenvolvimento No nosso bairro, melhorar a infra-estrutura
Local. Quando ela é pensada de forma fez com que os comerciantes ficassem mais
integrada com o meio ambiente, os interessados em abrir novos negócios. Nosso
recursos que existem no território, a cultura objetivo era melhorar a geração de trabalho
da comunidade e sua qualidade de vida, é a e renda e criar novos empreendimentos,
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 25

Como melhorar a economia local?

A economia local está vinculada à equipamentos ou investir em seus


economia nacional e internacional. negócios, dando aquele empurrãozinho
Mesmo assim, muitas ações podem que muitas vezes é o que faz a diferença.
ajudar a dinamizar a economia local de A economia solidária ocupa um lugar
modo sustentável, com inclusão social e de destaque no Desenvolvimento Local
geração de trabalho e renda. Participativo. Ela se baseia em laços de
Uma delas é a incubação de confiança e cooperação entre as
empreendimentos. Na incubação, as pessoas e instituições, e tem como foco
cooperativas e outros tipos de negócios a valorização do ser humano. No Brasil e
recebem apoio financeiro e técnico, ou no mundo, diversas experiências têm
ainda na forma de equipamentos e estimulado a criação e o fortalecimento
materiais, até que possam andar com de empreendimentos de economia
suas próprias pernas. solidária, junto com atividades de
Outra iniciativa é o microcrédito. São capacitação, assessoria técnica e
empréstimos de pequeno porte para acompanhamento, a articulação com os
produtores populares que, em geral, não gestores públicos e a construção de
têm acesso aos serviços financeiros espaços coletivos como movimentos,
tradicionais. Eles permitem comprar redes e fóruns.

dando condição para se sustentarem com as economia seria incentivar a nossa produção,
próprias pernas. E, quando houvesse um aproveitando o que o bairro tem de
grande investimento, também incluir as vantagens. Estudamos bem que tipo de
pessoas e famílias pobres nas oportunidades produtos as pessoas da comunidade compram
de trabalho que fossem criadas. e a nossa capacidade de produzir. As
Uma das formas de desenvolver a experiências de Desenvolvimento Local mais
26 | FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR

antigas nos ensinaram que a economia sai crédito, mesmo que pequeno. Para que isso
fortalecida quando as pessoas compram dos fosse possível, fomos entender como
produtores locais. O dinheiro fica no funcionam as iniciativas de microcrédito,
território e volta a ser investido ali mesmo. que emprestam dinheiro a quem precisa
Isso gera oportunidades de desenvolvimento. para começar um negócio. O principal é que
Nosso plano fez a ligação de vários projetos não tem burocracia e os juros são mais
voltados para a produção, a comercialização baixos. Alguns empreendimentos já estão
e o consumo. Acreditamos muito na nossa funcionando assim, como uma oficina de
capacidade de promover o desenvolvimento. motos, um açougue, uma padaria... E
Mas para isso, capacitar a comunidade era muitos outros vão começar.
uma questão chave. Procuramos técnicos da — A gente criou uma loja e uma feira
área de economia e administração, que nos para os artesãos, costureiras, pequenos
ajudaram a criar os projetos. Um dos agricultores e outros produtores venderem
resultados foi a parceria com instituições que — lembrou a Mariana.
deram cursos profissionalizantes, de gestão — E isso ajudou também a trazer mais
de negócios e cooperativas e de economia gente da comunidade para perto do nosso
solidária, tudo previsto no plano. Apareceram projeto. A loja acabou virando também um
várias iniciativas. lugar de encontro, onde se podia explicar
O bom para bairro era que todos os como o Desenvolvimento Local Participativo
empreendedores tivessem acesso a um está trazendo benefícios para todos.
Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 27

Acompanhar, avaliar e prestar contas

O
Conselho precisa acompanhar de projeto deve acontecer sempre. Documentar
perto cada etapa, para saber se cada passo, com fotos, vídeos, páginas na
tudo está acontecendo como tinha internet, depoimentos, publicações, ajuda a
previsto, ou então para ajustar os planos manter a população informada. Sempre que
quando alguma coisa nova acontece. A for preciso, as pessoas poderão avaliar os
realidade é muito dinâmica, não dá pra resultados e rediscutir as etapas do processo.
achar que é só planejar que vai dar tudo — Nossa, Vicente, falando assim
certo. Precisa ficar de olho pra mudar e parece fácil!
melhorar sempre que for necessário. — Não é fácil, José, dá muito trabalho!
O acompanhamento e as avaliações Mas é possível se as pessoas quiserem e
periódicas sobre o desenvolvimento de cada trabalharem juntas. E vale a pena!
28 | FASE 3 – IMPLEMENTAR, ACOMPANHAR E AVALIAR

Celebrar e divulgar as conquistas


Desenvolvimento Local Participativo — Nosso lugar é a gente que faz | 29

Como divulgar o projeto?


É muito importante divulgar as coisas
que estão sendo feitas e os
resultados obtidos. Se todos ficam
sabendo, apóiam as ações e o
projeto ganha força e legitimidade.
Para a divulgação, podem ser feitas
muitas coisas:
Q Festas, shows e eventos culturais.
participe você também!”, que é para todo
Q Folheto, jornal, revista, mural.
mundo lembrar que as conquistas vieram
Q Faixas e cartazes.
com o nosso próprio trabalho, e ainda tem
Q Blogue e site na internet.

Q Palestras, reuniões, aulas e cursos.


muito por fazer.
Q Programas de rádio.
Também saiu um jornalzinho, que agora
Q Matérias em jornais, revistas, TVs. vai circular no bairro com as notícias do
projeto. Tem gente até falando em montar
uma rádio comunitária.
— E agora vamos festejar juntos os — O Vicente está querendo é virar
resultados que nós conquistamos! locutor... — provocou Mariana.
Na hora da celebração, o bairro inteiro — É, não seria ruim — brincou Vicente.
participa, e a gente sai com energia Já conquistamos muitas coisas, mas
renovada para fazer mais e mais coisas ainda queremos muito mais! A cada passo
juntos e continuar a transformação. Muita percebemos que essa história de
gente que ainda não conhecia o trabalho que Desenvolvimento Local Participativo é um
está sendo feito agora vai ficar sabendo. processo que começa, vai contagiando as
Colocamos uma faixa dizendo: “Nós pessoas, mudando a realidade e, quando
estamos transformando o nosso bairro, você vê, não tem fim!
Outras histórias
A história do Vicente, da Mariana e de Cidade Ipava, na zona Sul da cidade de
sua comunidade foi inspirada em São Paulo (SP), e em São Sebastião,
experiências de Desenvolvimento Local cidade satélite de Brasília (DF). Em 2007,
Participativo que se deram pela iniciativa foram sistematizadas em cadernos e
de lideranças comunitárias, grupos e revistas produzidos pelo ITS.
organizações da sociedade civil e Também tomamos como referência para
contaram com a participação e assessoria esta cartilha o trabalho de outras
do Instituto de Tecnologia Social (ITS), organizações que promovem o
além do apoio da Secretaria de Ciência e Desenvolvimento Local Participativo em
Tecnologia para a Inclusão Social, do diferentes locais do Brasil. Algumas dessas
Ministério da Ciência e Tecnologia. Essas entidades podem ser conhecidas nas
práticas estão acontecendo no bairro de seguintes páginas eletrônicas:

Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira (Apaeb–Valente) .... www.apaeb.com.br


Instituto Banco Palmas .................................................................................................................... www.bancopalmas.org.br
DLP em Cidade Ipava e São Sebastião ............................................................................................. www.itsbrasil.org.br
Associação Maranhense para a Conservação da Natureza (Amavida) ............................................ www.amavida.org.br
Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Maranhão (Assema) .................................. www.assema.org.br

Sobre os temas Desenvolvimento Local e economia solidária, sugerimos as seguintes páginas na internet:
Cooperar em Português ....................................................................................................... www.cooperaremportugues.org
Feira ExpoBrasil Desenvolvimento Local ............................................................................. www.expobrasil.org.br
Fórum Brasileiro de Economia Solidária .............................................................................. www.fbes.org.br
INSTITUTO DE
TECNOLOGIA SOCIAL
Endereço: Rua Rego
Freitas, 454, cj. 73
República – CEP: 01220-010
São Paulo - SP
Tel/fax: (11) 3151-6499
e-mail: its@itsbrasil.org.br
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Autores
Irma Passoni e Jesus Carlos
Delgado Garcia (coordenação
geral), Beatriz Rangel e
Maurício Ayer (coordenação
editorial), Mouzar Benedito,
Philip Ueno, Gerson
Tecnologia Social Guimarães e Marcelo Elias
de Oliveira.
Esta cartilha foi elaborada a partir dos princípios Ilustrações
Ohi
da Tecnologia Social. Para saber mais sobre o
tema, conheça as outras publicações do Instituto Edição de arte
Tadeu Araujo
de Tecnologia Social. Elas estão disponíveis em
Impressão
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