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A CIENCIA DA INFORMACAO Yves-Francois Le Coadic A ciéncia da informagao Tradugiio de Maria Yeda FS. de Filgueiras Gomes (© Prstes Universitas de Pance, 1998 “itis ongina: La sence de formetion Tradusio de prime edgdo origina, publica em 1994 por Presses Universitaires de France. er sus ste Que sie", n° 2873 cn atalizagGo a6 mo de 1996, feta pelo or par ste ei esta Addguiides os discs do wade para Brasil Todos os dinetos reservados. De seordo coma fe, neahuma pare dese ta ene ser fetocopida, grovada, seprodvaida ou aarenala mam sea de wecapera de tnvonsaedo ou tansida sob eager Forma os por qaqusr men slice ou rnacinico sem o prévio cinsentimente do dstentor Go crtos autos edo editor ‘Swgestio etna Mars ds Grog Tagine Rovisio da tute: Anonio Agenor Biguet de Lemos ‘Maris aia Vil de Lernos Das interacionals de Caakgag80 na Publicagio (CH) fadoLive, sr, Bra) ‘da informacso fnateoe pace catdicgo alstemseieo Lemos Infirmago © Comunicoyo La. STS~ Quadra 701 ~Bloco K Sala $3 Edie Embassy Tver ‘Breslie, DF 7340-000 ‘edtomes (061) 322 98 06/322 2420 (rama 1881) Prax (061) 325 1725 ATENDEMOS AFEDIDOS DEVENDA ELD CORRO Sumario Introdugao Capftulo 1. © objeto: a informagao 1 Que 6 informagio? TL, Informagao ¢ conhecimento IIL Informagiio e comunicaséo Capitulo 2. As primeiras disciplinas L.A biblioteconomia TL A museoconomia TH. A documentagao IV. 0 jornalismo Capftulo 3, Uina ciéneia, uma indistria para a informagdo 1. Uma ciéncia, uma inddstria LL, Uma ciéncia social IIL. Uma cigneia interdisciplinar 1V. Sua institucionalizacio Capitulo 4. A ciéncia da informagaio 1. A construgio da informagzio HL A comunicagao da informagao IHL O uso da informagao IV. A medida das atividades de construgdo, comuni cago e uso da informacao: a infomettia Capitulo 5. Epistemologia c historia da ciéneia da infor- magio 1. Bpistemologia. Conceitos, métodos, leis, modelos teorias da ciéncia da informagio TL A hist6ria da ciéneia da informaga0 Capitulo 6. As técnicas de informagao 1. Uma historia das técnicas de informagao IL As técnicas tradicionais de informagao IIL As técnicas eletrOnicas de informagio Capitulo 7. As profissdes da informagio 1. As atividades informacionais IL Os profissionais da informagao Conclusao Anexo |, As principais revistas cientificas e técnicas em citncia da informagao Anexo 2. Os principais bancos de informagSes em cign- cia da informagio Anexo 3. Principais servigos em cigncia da informagdo a INTERNET Bibfiografia 90 106 106 107 109 14 nT 119) Introducao AINFORMAGAO, seja ela escrita, oral ou audiovisual, vende-se bem. ‘Vende-se cada vez mais e em grande quantidade. Muitos lamentam esse fendmeno; outros agem como se a informagao, qualquer informaclo, no passasse hoje em dia de uma mercadoria’ O répido desenvolvimento do consumo de produtos informacionais 6 um fendmeno recente. Eles surgem na esfera da producdo ¢ da ‘roca mercantil, dando origem ao que se denominam indistrias da informagio e mercado da informagdo, com seu cortejo de bens, servigos e produtos informacionais, todos com maior ov mentor grau de informatizacao. E portanto inegavel que a informagao se industrializa ao se informatizar cada vez mais, Nao que fagamos desse fato, da informagao, a chave da intel ibilidade dos processos naturais e do progresso das civilizagbes, como Duhem fez com a energia no século passado, E preciso, porsim, reconhecer que constitui o objeto de uma ciéneia, de uma tecnologia e uma indistria “de ponta’. Caracteristicas que stio determinadas, como mostrava Lyotard em 1979, pela mudanga da situago ocupada pelo saber, conseqiiéncia da entrada das socie- dades na chamada era pés-industrial e das culturas na chamads era pés-modema? Constatava, entiio, que “hé quarenta anos, as chamadas ciéncias e técnicas ‘de ponta’ versam sobre a lingua- gem, a fonologia c as teorias lingifsticas, os problemas da comu- nicagdo ¢ a cibernética, as Algebras modernas ¢ a informatica, os computadores e suas linguagens, os problemas de traduco dessas "'O mesmo que ors, ames de as, sfirmeram a respite da cultura (A, Hue, J. fon, A, Laebore, B, Mieg, R Peron, Capitals et industey cultures, Presses Universe de Grenoble, 1978), 1-P. Lye, Lat conto posinanderes rapport sur le savor, Paris, Etions de Minuit, 1979. (Ed, base 0 pd-modersn, Rio de Janeiro, José Olyapio, 1993] Nacampo da cara, psseuse de na visto quae apostle das misetes acum para wna concep ‘anges que implica aindustriaizaio ea rofisionlizagaodess sete ce avidades. False, assim, de indasras colts ede engenheiro cul linguagens e a busca de compatibilidade entre linguagens de mé- quina, os problemas de armazenamento em meméria e os bancos de dads, a telematica e 0 deseavolvimento de terminais ‘inteli- gentes’ [..}” E prosseguia, destacando que a “incidéncia de tais ttansformagées tecnoldgicas sobre o saber parece ser enorme”, Do mesmo modo, o desenvolvimento da produgdo de infor- magoes (informagdes gerais, cientificas e técricas) ¢ de sistemas de informagdo tornou necessdria uma ciéncia que tivesse por objeto de estudo a informaedo, ou seja, uma ciéneia da informagdo, bem ‘como uma tecnologia e técnicas resultantes das descobertas feites por essa cigncia Isso também faz com que nas questionemos sobre as relagdes centre cineia da informagao, tecnologia da informacao e a socie- dade, Sociedade sobre a qual annbas parecem influir, a tal ponto que acabou por assumir seu nome transformando-se em ‘socie- dade da informagio', abandonando os qualificativos bastante materiais de ‘industrial’, herdado do século passado, mais tarde de “ixis-industrial’, © inaugurando aera da informagao e a era do setor quaternério,! De origem anglo-saxdnica, a cigncia da informagao nasceu da biblioteconomia, tomando, portanto, como objeto de estudo a in- formagdo fornecida pelas bibliotecas, fossem elas publicas, uni- versitérias, especializadas ou centros de documentagao. A leitura piiblica ¢ @ histéria do livro constitufram entao a matéria dos primeizos estudos que foram realizados. Mais tarde, a informag0 referente as ciéncias, as técnica, as ind\istrias e ao Estado? tomou a dianteira sobre esses assuntos, dinamizada pelo advento da tecnologia da informagdo ¢ as necessidades crescentes de infor- , Mashlup, The pads nel espacio of kreledge Inte Unie States Prien, om Eno os cinco elementos do desempenlo da economia destscados pelo Cowissarat Général du Plan. ifs (Cormagio, inovayio e redes) dependem da informagio, “A perforuance[desempeino] ua ve que nigra oma ta dose de informnsgs0, ansfennarse ‘ese Fog em infoonance” (Rona Tratase, com efec, do estado da densa e a des das eosas de inferno etre os savigos de Estado, as empesas¢ cs casos. magio dos setores cientificos, tSenicos e industriais, bem como do grande pablico. A ciéncia da informagao construiu-se, portanto, © se fundamenta atualmente, sobre essa base informacional Capitulo 1 O objeto: a informacdo DURANTE MUITO tempo, o desenvolvimento da ciéncia da infor- magao bascou-se em conceitos ambfguos, polivalentes, de trans- paréncia enganosa. Queremos nos referir As palavras informacio, conhecimento e comunicagao. O surgimento desses conceitos ou palavras-chave nao foi gratuito nem inocente. Visava a assegurar, mediante uma linguagem pseudocientifica que se pretendia co- mum, uma certa convergéncia de métodos e idéias e, finalmente, um pseudoconsenso. Esperava-se chegar assim a uma técnica adornada com o prestfgio de uma ciéncia.! Sozinho ou associado aos outros dois no objetivo, segundo se pensava, de diminuir um pouco sua ambigiiidade, conceito de informacto, utitizado nas diferentes disciplinas, apresentou duran- te muito tempo um caréter fluido, embora conservasse um valor heuristico consideravel ‘Quem ainda nao ouviu falar da célebre teoria da “informacao’, teoria matemtica que se refere & medida e transmissdo de sinais elétricos? As vezes também chamada teoria da comunicagao, Quem ainda no ouviu falar da descrig0 da hereditariedade em termos de ‘informacao’, de mensagens, de cédigos? E da teoria do codigo genético? Base fundamental da biologia, essa teoria abran- ge nao apenas as questoes relativas & estrutura quimica do material genético e da ‘informagao’ que contém, mas também os me- canismos moleculares de expressiio dessa ‘informacio’, ‘A ‘informagao? 6 entio uma medida da organizacdo de um sistema:? medida da organizagio de uma mensagem em um caso (Shannon, Weaver), medida de organizacio de um ser vivo no outro caso (von Bertalanffy). Pode também ser a medida da ordem [A Licneowic, Information et commurication, Pais, Malone, 1993 Callogue de Roysumont, Le concept d'information des a scence contemporaine, Paes, ations de Minuit, 1965, das moléculas em um recipiente que contenha wn Kquido ou um eds (Boltzmann). A nogéo tomara-se camalednica.’ Retenhamos dese amplo especiro de conceitos apenas aquele que est relacionado com a cognigdo e a comunicagio humanas, descartando, em particular, os conceitos de ‘informagao’ da teoria estatistica do sinal e da teoria do e6digo genético (ver a segHo 1 mais adiante). E. Que ¢ a informagio? A informago é um conhecimento® inscrito (gravado) sob a for- ima escrita (impressa ou numérica), oral ou audiovisual. A informago comporta um elemento de sentido, F um signifi- cado transmnitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espacial-temporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc." Bssa inserigdo feita gragas a um sistema de signos (a linguagem), signo este que é um elemento da linguagem que associa um significante a um significado: signo alfabético, palavra, sinal de pontuagao. Seja pelo simples prazer de conhecer (Freud), de estar infor- mado sobre os acontecimentos politicos, os progressos da ciénci e da tecnologia, ou pelo prazer menos simples de estar a par dos Lltimos temas e resultados das pesquisas (fatos, teorias, hipdteses, etc.), de acompanhar a vanguarda do conhecimento ciemtifico, 0 objetivo da informagao permanece sendo a apreensao de sentidos ‘ou seres em sua significagao, ou seja, continua sendo 0 conhe- cimento; e © meio & a transmissao do suporte, da estrutura. O TE Morin, La mathe, Pais, Eitions dy Sex, 1977. Ud, pormguess: Métde, Liss, uropa América, 1987, * Um conhecimento (um saber é 0 resultado do to de conbece, so elo qual oesptts spreende um objeto. Corhecer er cpaz de fon ea de alguns coisa, € ter preseate fo esprit. so pode eda simples Secs (eneoimentocammbm) & compreensto exata e complat dos ebjers (conbocimeato cienfico). O saber designa um conjunta atculadoeerganizado de cophecimests a par de qual uma eiénea — umn sistema de ‘elas formats vexperimeatais— poders crsinarse 2 Rayer, La cpbernéique et orgie de information, Pass, Pasmasin, 1954, 3 exemplo mais banal é a informagio, a noticia veiculada por um jomnal, pelo rédio ou pela televisao.* Em informatica, charma-se dado a representacao convencional, codificada, de uma informagao sob uma forma que permite seu processamento eletrénico. A representagdo codificada da palavra ‘informacdo” é a segiléncta des seguintes sinais etéiricos 1001001 1001110 1000110 J0O11L1 1010010 1001101 Hooo00F TOFO1NG TOOIGO! 1001111 1001110 cada letra sendo representada por sete sinais numéricas bindrios (com duas alternativas: 0 ¢ 1). Desia forma, a letra ‘i’ escreve-se: 01001 (05 addigos de sinaticagde ndo esto representados). Dai a expresso ‘base de dados' erapregada em informética para descrever os sistemas de gerenciamento desses conjuntos (arguivos) de dados € suas relagoes. Para falar das fontes de injormagdo informatizada e dos pro- dutos de informagio oriundos dessas fontes ¢ oferecidos a dife- renies plibiices, utiliza-se a expressdo “banco’ de dados:* biblio- grificos, numéricos, icénicos (imagens). Alids, seria conveniente falar sebretudo de bancas de informagdes. 1. explosio da informagio, Fundamentando-se 0 progresso técnico ¢ social no poder criative da linguagem e do raciocinio légico que daf resulta, pode-se compreender @ importincia da coniunicagdo verbal da informagdo. Com o advento da escrita, a comunicagio passou de oral aescrita. Isto teve como conseqiién- ia, por um baixo custo energético, multiplicar a informacio (¢6- pia de manuscritos, imprensa, fotocépia) ¢ memorizé-la, permi- {indo assim exteriorizar, primeiro nas biblioteces, uma das fungdes do cérebro humano, que & a meméria, Essas operagdes de mul- 7 tormagie tomas dssinformagao iando o conecimenio inset € aero, as Fea Gnforaago flea), el ausente(n-iformagi) Veron? 1629 da serie “Que site, sre bancos de dads. 6 tiplicago e memorizaso explicam uma boa parte do que se costumou chamar de explosio da informagao (mais exatamente a explosio da quantidade de informagées): um ctescimento que obedece a uma lei de tipo exponencial. O exemple do crescitnento da literatura cientifical & a esse respeito muito significative (ver figura 1). Pode-se observar que as revistas de resumos (chamadas revistas secundérias),? concebidas originalmente para facilitar 0 acesso as revistas primédrias, passaram pela mesma evolugtio. Sua informatizacio, que esté na origem dos bancos de “dados’, apenas desloca o problema, pois também passaram pelo mesmo tipo de crescimento, implicando o aparecimento de hospedeiros cada vez mais importantes, verdadeiros supermercados da informagao, O adivento da eletronica (que se traduziu pela transigzo dos su- portes materiais para suportes imateriais), seguido da informatica ce do desenvolvimento da comunicacdo de informagoes a distan- cia (telecomunicagdes) 86 fizeram reforgar essas tendéncias. De- multiplexacao, amplificaco e armazenamento de enorines volu- mes de informagdes ocorrem sem cessar e, 88 vezes, nos fazem Guvidar da cordiatidade da nova sociedade da informagio! " Bnenso-e por ieraturacisaca © tcnica ot aig (ipo principal de informs cleattca)publicados nas revistas ciemsfcas, as patents (pincial po de infoemasto ‘enc pblcadas as Feiss de patents cum cajun te pubsicaytes menos acess. ‘om oF relation, ab tose, 08 anal de congressr, et, ve case # Mettura isinguen-s ues cetgarias de revista cietfca ¢ enica a evsas pridias, quo ceoniém avigos, que constiuem 2 psimeira apasigao publica sob forma de prado de ‘fermi, ds elias de pesgusas: as ovstassecundarase tren, grandemente dependents dit primesras, visto que algunas resumen seus argos (evista de eSuh0s), ‘vinden (revttas de indices) ov 86 Ypeecuzm os sumries dos fasceuls revista de Samarios comme Current Contents), a6 oss pubicam sinteses do que aparece nos ‘perddicos primanios exis de revises da erate) ‘Avlociade do crescimente dos penicns cif eoniosprimasios (em mero de ios) era superior a 2% ao ano te dcaéa de 19RD. Era, no ena, ieferie 8 dos acas "Toca axa de aide” das revstas continua a ser, portant, mais elevada do que a taxa 4e obits". A dversidade dos per6aicos continua aumenta, assim come seus preg, ‘enquanto sua ragem e creaacandiinuers, 7 sero (esclaogarftica “e pesiddicos primiios Ae perilicns seeundaios TS grandes hospedeieos 100 1700 1800... 1800 2000 2100 Figura 1. Crescimento dasliteraturas primiria e secundéria © dos grandes hospedeios de bancos de informagSes 2. A implosao do tempo, Nao ha mais distincia que seja obsté- culo a velocidade, nenhuma fronteira detém a informagio. A velo- cidade dos computadores se mede em bilionésimo de segundo, Os satélites de telecomunicagdes atingem, em poucos segundos, de modo inteiramente automatico, todas as regides do mundo. Reve- Javse esta nogio de implosiio do tempo, que parece revolucionar {anto os sistemas de informagio modemos quanto a noedo prece- dente de explosio da informagao. Os sistemas eletrSnicos encur- tam o tempo de execucdo das tarefas de busca e processamento da informagio, Segue-se uma contragao répida do tempo necesséio para coletar, tratar e utilizar ainformagao na tomada de decis6es.” ‘Cot. Meadow, The information wordt: an overview. tn: Careers in information 5 spivack (ed), White Pain, Knowledge Indsty Publications, 1983, 8 No seior dos meios de comunicagdo de massa, hd duzentos anos, 0 jornail era coisa rara. O advento do telégrafo, do fac simile e do telefone, acelerando a velocidade de distribuigdo das noticias, permitiu a generalizagdo desse tipo de imprensa. Mais tarde, 0 rédio ¢ a televisdo permitiram captar 0 acontecimento no proprio instante de sua ocorréncia, e, as vezes, até mesmo ante- cipar-se a ele.’ 3. O fluxo da informagio. A conjungfio desses dois fendme nos conduz ao aparecimento de fluxos de informago muito ele- vados, isto é, & circulagao de considerdveis quantidades de infor magio por unidade de tempo: f= ig logos além das fronteiras nacionais. Esses “fluxos de dados transfron- teiras’ sio exemplos da intemacionalizacao do mercado da infor- macao, Seu controle suscita delicados problemas econdmicos, juridicos e politicos. Permitem igualmente compreender o inte- resse crescente pelo ‘conhecimento conforme a demanda’ (just in time knowledge) € sua pratica, 0 monitoramento de informacoes. IL. Informagao e conhecimento Nosso estaclo (ou nossos estados) de conhecimento sobre decer- minado assunto, em determinado momento, € representado por una estrutura de conceitos ligados por suas relagdes: nossa ‘ima- gem’ do mundo.’ Quando constatamos uma deficiéncia ou uma anomalia desse(s) estado(s) de conhecimento, encontramo-nos em um estado andmalo de conhecimento.’ Tentamos obter uma infor- “D.Wolion, La volition der médias, Pars, Le Mondt-Dossiers et Documents, 1994 KE. Houling, The image: Reowledge i Ife and salen, Ana Arbor, Unversity of Michigan Press, 1956 NJ. Belkin, Anoalous sates of know asa bss for information retieal, Canadian Sasa of information Science, 5, 1980 10 ou informagdes que corrigiro essa anomalia. Disso resul- tard um novo estado de conhecimento. E 0 que Brookes! quis es- quematizar e representar sob a forma do que chamou a equagao fundamental da ciéncia da informacao: K (8) # 0K = K (S +08) \ al que exprime a passagem de um estado de conhecimento K (S) para tum novo estado de conhecimento K (S + 3S) pela contribuigéo de ‘uin conhecimento OK extraido de wma informagao Al, 3S indicando o eteito dessa modificagho. UIE. Informagao e comunicagio As ciéncias, tanto da matéria, da vida, quanto do homem ou da sociedade (¢ da informagio), sendo atividades socioeconémicas, so, portanto, produtoras ¢ utilizadoras de conhecimentos cienti- ficos € tecnicos.” O sistema de pesquisas assemelha-se muito a um sistema econémico. Pode-se assim representi-lo a partir do esque- ima econdinico cléssico: produgdo~distribuigiio~consumo. Analo~ sgia de fendmenos mas nao de conceites, pelo que falaremos mais de construc do que de produgao de conhecimentos, distinguindo entre bens culturais e bens materiais. Construgao, portanto, dos. conhecimentos cientificos e teenolégicos que Se tomardo, uma vez registrados, em forma escrita ou oral, impressa ou digital, informagies cientificas e tecnol6gicas. Pela mesma razio, para cescrever as duas outras fases do que chamamos ciclo da infor- ‘magio (figura 2), utiizaremos a palavra comunicagao no lugar de istribuigio e uso no lugar de consumo, Os trés processos — WC seks, The fexndations of infration Science, Jounal of fajormation Science, 2, Iw90, Ns nomenclauras enim es cham de peaqicn iatifon teenies 10 comunicagéo e uso —~ se sucedem ¢ se alimentam reciprocamente, rmotslosectal CO) S © Figura 2, 0 cielo da informacio Este modelo permite libertarmo-nos daqucle, habitual mas sim- plista, dos meios de comunicacao de massa, que limita a comu- nicagio a uma relagio bilateral: informador-informado (figura 3) sorrnader farms Cm) Figura 3, Meios de comunicagio de massa ou, pior ainda, do modeto da teoria da informagdo, que toma essa relagdo linear e cré melhoré-la ao inserir nela a mensagem. En- coniramos tal modelo na célebre cadeia documentéria. Canal, codigo, ruido e retroalimentagao vieram aprimoré-la, mas no & transformaram em um modelo de comunicagdo social (figura 4): u modelo baseado na fiskea cemistor mensagem resyptr Figura 4. Teoria da informasio Incorreu-se aqui na confesio conceitual que consiste em con sidevar andlogos o conceite de ‘informagdo’ da teoria matemd- tica da transmissao de sinais elétricos e o conceito de informagiio do processo da comunicagio hwnana. Seguindo os passos de Shannon ¢ Weaver, de Moles a Atlan, passando pela escola fran- cesa de comunicagdo, toda a comunidade dos ‘homens da cont hiicagdo" foi vitima ou ctimplice de um erro ensejado por essa anatogia. Credo de todo 0 vetor chamado comunicagao, essa teoria é do minante. E é lamentével ter chamado informacdo 0 conceito desenvolvido por Hartley. De fato, a medida da entropia infor- macional (outra impostura notéria nesse campo é 0 emprego desse conceito da fisica) é aplicdvel aos simbolos, aos préprios signos e ndo tem nada a ver com o significado. As comunicagdes humanas regulam-se, portanto, pelo modo de transmissdo dos sinais elétricos, , por isso, no podem deixar de ser autoritérias, dirigidas, unidirecionais, O modelo resultante, largamente difun dido, coloca em cena um ‘eissor’ que “comunica’ wna mensa- gem ao ‘receptor Essa mesma impostura que faz com que se agrupem no mesmo campo a comunicagdo mediante sinais quimicos, a comunicagdo com os micrdbios, a comunicagao nas sociedades animais, a comunicacio pelas moléculss, a comunicagde entre os homens, a comunicagdo entre as crianzas, a comunicagdo com os humanos, «@ comunicagao com as miquinas; que faz com que se fale de didlogo homem-méquina, mensagens moleculares, comunicagSes hnormonais! Se a analogia continua sendo um conceito interdisciplinar Jfecundo, que facilita a transigido das idéias de um campo para ‘outro, pode também bloquear durante muito tempo os avangos rumo @ compreensio de um fendmeno. E ndo estamos longe de pensar que, da mesma forma que a analogia da irrigagao em {fisiologia pode por muito tempo bloquear os progressos sobre a ‘compreensdo da circulagdo do sangue, descoberta por Harvey, @ canalogia da transmissao de um sinal elétrico consegui bloquear os proxressos concernentes & comunicagéo das informagdes contribuir para reunir fenémenos irredutiveis sob wma mesma bandeira enganosa, como ainda vemos hoje em dia. A comu nicagdo humana, contudo, néo tem muita necessidade desses parentescos. ‘A comunicago é, portanto, o processo intermedirio que pet- rite a troca de informagées entre as pessoas (ver adiante, capftulo 4, 1.2), Podemos concluit, com Escarpit,! que a comunicagio é um ‘alo, um processo, um mecanismo, € que a informacio é um pro- duto, uma substincia, uma matéria, "a, Essar, Pdore inate de Uafarmarion ede la communication, Pas, Hache, 1994, 1B Capitulo 2 As primeiras disciplinas © Que caracteriza as quatro disciplinas que foram atuantes, até 0 presente, no campo da informagio —~ a biblioteconomia,' a museoconomia,” a documentagio € 0 jomalismo € que todas atri- buirarn unm interesse particularmente grande aos suportes da infor- mvago € nao & prdpria informagao. O livro na biblioteca e 0 objeto no museu foram durante muito tempo recothidos, armazenados ¢ preservados por um conservadar, com o fim tnico da preservacio patrimonial. Documenteiistas ¢ jomalistas alardearam as mais ele- ‘vadas intengéies com a informagao (ao mesmo tempo em que con- feviam também uma atengao importante ao documento e as midis © meio € também a mensagem, no € Mac Luhan?). Mas nem sempre tiveram a competéncia necess4ria para dominé-ta, 1. A biblioteconomia Unido de cuas palavras, biblioteca e economia (esta no sentido dis organizagto, administrasae, gestio), a biblioteconomia nao é nem uma ciéncia, nem uma tecnologia rigorosa, aras wma prética dde onganizagao: a arte de organizar bibliotecas.? ha responde aos problemas suscitados: ~ arqivaca, Gina auiar da hist, preccupase com 2 conserva cos Jewutenos qo result da atvdade de um iio Ov de uma pss fica oo jut, Os avs no paso de ticmeaton conserved, aqhat a Nigra Bo ‘onside daurients por ess mune. 20 tr eng ota maséoanani, gu radi come museocnamia, com sito je tei deal ade eo ne el, roe nselop). (©) A bibliotoia er por objeto o este do Hive. Discipina asta da bibliteconomig Inbiciogia passa por dieulades pars akangra situa de eizcia al 4 © pelos acervos (fermagao, desenvolvimento, classificagio, cata- logacdo, conservacao); © pela propria biblioteca como servigo onganizado (regulamento, pessoal, contabilidade, local, mobilitio); © e pelos leitores, os usustios (deveres reciprocos do pessoal e do piiblico, acesso aos livros, empréstimo). Mas as solugdies para esses problemas sio freqiientemonte cempiricas, portanto, dfcilmente generalizaveis Encontram-se hoje essas trés séries de problemas em outros lugares e suportes. A biblioteca tradicional, que conservava ape- nus livros, sucedeu a biblioteca que retine acervos muito mais diversificados, tanto por seus suportes como por sua origem? ima- gons, sons, textos. ‘Transformou-se em midiateca. Ademais, a0 acolher nao somente as obtas de um patriménio legado pele pas- sadlo, mas as informagdes veiculadas por redes comerciais atuais ¢ ‘em tempo real, ela passou a ser um sistema de informagdes. Isso coloca também em evidéncia os objetivos econdmicos & culturais atuais que adquirem uma importancia crescente, como: © 0 usos privados das tenicas de produgo, processamento difusdo da meméria escrita ou audiovisual; ® © problema do custo de acesso a essas fontes e, portanto, 0 problema da gratuidade das bibliotecas; a necessidade de invemtar novos usos e, por conseguinte, de qualificar os usuarios dessas técnicas sob pena de ver o mer- cado se saturar muito rapidamente.. Mas ainda se fala muito de conservacio, encademagdo, livre ‘acesso* ¢ Ieitores ilustres no projeto da nova Bibliotheque Natio- nale da Franga. 1 Stieglet: Mémoires du fer, Pxpasticn-biotneque Publique Information, 1997 Nas universes dos pts angle saees, 5 biblioteca so todas de live ess, 0 uae seo acoaece ia From 15 IL. A museoconomia Paralelo curioso, a ‘ciéncia’ dos museus também empurrada em diregao a uma economia do museu, no mesmo sentido de gestao, organizagao ¢ administragio, mais exatamente rumo a uma mu- seoconomia. Em primeiro lugar, constitui também uma prética de “organizagio, a arte de organizar museus, mais do que uma ciéncia ¢ uma tecnologia rigorosas. Responde aos problemas suscitades: @ pelos acervos @ as reservas técnicas (Formagtio, desenvol vimento, classificagdo, conservagao, utilizaglo pelos pesquisa dores niio-musedlogos ¢ exposigdes para o publico); © pelo proprio museu como servigo organizado (regulamento, pessoal, contabilidade, locais, mobitidrio); @ e pelos visitantes, os usuarios (deveres recfprocos do pessoal ¢ do ptiblico, acesso as colegses). Mas essas respostas, voltadas sobretudo para os acervos © 0 museu, também continuam sendo freqtientemente empiricas e, portanto, dificiimente genzralizéveis. Esta abordagem museocondmica ainda vigora, Como prova disso temos: : 1) 0 programa da nova Ecole Nationale du Patrimoine (‘Ecole Nationale des Musées”) que se articula em torno de dois con- juntos de matérias: © um ensino de tipo geral, que estuda as instituicées culturais governamentais, direite patrimonial, economia do patrimonio, ‘gestdo financeira, social ¢ das ferramentas técnicas (automa- cdo de escritérios, informatica documentdria, reprodugdo da imagem, etc.), precedido de estdgio em instituipao cultural; © umensino de tipo técnica, voltado para o parriménio e sua di- vulgagito, problemas relacionados @ construgdo ¢ gesiio de edificios de museus, métodos e técnicas de coleta, conservaciio e restauro de obras de arte, mobilidrio, arquivos, etc., seguido de estégio em instituigao pasrimonial. 16 2) 0 contetido do curso de museologia, segundo Riviére:! 0 museu como servico organizado, instituicdo, é estudado nos ca- pitulos I: Museu e sociedade (abordagem historica), e IV: A ins fituigdo museal (‘estatuto e organizagdo, arquitetura e progra- macao). O estudo das colecaes & objeto do capitulo I: Museu ¢ patrimdnio (pesquisa e conservagao). E o breve capitulo Ml: Mu- Seu, instrumento de educagao e cultura (exposicdes, 0 piblico dos museus) é consagrado ao estudo das exposicdes e dos visitantes. Referimo-nos ao piiblico, aos visitantes, aos usuérios. Mas, evi- dentemente, a primazia era da institigao, do museu, das colegOes, das reservas técnicas inacesstveis ao piiblico, além de eminentes usuidtios-pesquisadores? ndo-musedlogos e alguns amadores. Fala- se hoje, cada vez mais, dos puiblicos do museu, pois estudantes & turistas passaram 2 utilizé-los em massa. E a museologia resiste MIL. A documentagio No final do século XIX, os problemas bibliogréficos come- gavam a tomar-se complexos para os pesquisadores que no encontravam nas bibliotecas mcios de acesso aperfeicoados a documentos cada vez mais variados (um documento sendo tudo o (que representa ou exprime com a ajuda de sinais gréficos (palavras, imagens, diagramas, mapas, figuras, simbolos) um objeto, unra idéia). A criagao do Instituto Internacional de Bibliografia por Otlet, ©, posteriormente, da Federacdo Internacional de Docu- ‘mentagdo, ocorreu em resposta a essa demanda. Havia necessidade de uma nova tecnologia, de um novo conjunto de técnicas para organizar, analisar os documentos, descrev8-los, resumi-los, t6c- nicas que difezem das técnicas bibliotecondmicas tradicionais. Essa tecnologia era a cocumentacao. Ao contrétio da biblioteconomia © da arquivistica, a documemtagio recorre a téenicas ndo-con- ‘Georges-Hear Rivitee, La maséologie, Pas, Dunod, 1989, 2 De forma andloga, a nova Sibliottgue Nationale da anja aurbui um interesse vivid aos seus reds eons, "7 vencionais de organizagao e andlise, nto mais apenas de livros, ‘mas de qualquer tipo de documento. Técnica de classificagdo, « Classificagéo Decimal Universal (Cov) é assim o exemplo de wma classificagéo natural (que se reporta ao contetido do documento}, que nunca teve por objetivo ser wna classificagdo para bibliotecas, Era muito elaborada e, por isso, em geral, inadequeda part uma biblioteca que se con- ieniasse com uma classificagao abstrata (baseada em caracte- ristieas ndo-lingisticas, como o ntimero de registro, 0 tamanko do fivro ou 0 nome do editor). Entre as técnicas que acompanharam o crescimento da docu- meniagao, em particular nos Estados Unidos, a da microfilmagem de documentos — inspirada nas técnicas cinematograficas — permitia a seus defensores, ros anos 30, prever que 0 microfilme € a microficha suplantariam o livro, que, como ele, poderiam ser emprestados, que os cata mados dos textos referenciados, etc. Surgiram posterion dispositives de busca mecinica da literatura, utilizando micro- filmes, como 0 ‘seletor répiéo” e o sistema ‘Minicard” da Kodak. Porém, 0 desenvolvimento tecnolégico mais importante, que anun- ciava 0 nascimento da ciéncia da informagio, foi, carta perfurado 18M, utilizado para analisar 0 contetido dos documentos ¢ extrair a informagao que continham, IV. 0 jornalismo Aqui apenas evocaremos esse campo disciplinar que também participa das indistsias ca informagao. Mas, a histéria quis que, tanto no que diz. respeito & profissao quanto & pesquisa, ele se desenvolvesse separadamense, nos diferentes quadros das indiis- trias da comunicagdo,’ 0 que nao impede a existéncia de fortes convergéncias com os outros setores, se “Que suf" de 9° 1000 (Lnvrmanon) © 2634 (La selence de 18 Capitulo 3 ima ciéneia, uma indiistria para a informacao TODA CIENCIA é uma atividade social determinada por condigécs historicas e socioecondmicas. Assim aconteceu com a ciéncia da natureza — a fisica —, e com o desenvolvimento da sociedade industrial, A fisica nasceu com o advento do sistema mercanti Alguns de seus ramos formaram, ao longo do tempo, ciéncias ndependentes como a quimica e a biologia. Essa sociedade indus rial tinha necessidade de um sistema de produgio que the per- rmitisse uma utilizagdo sempre crescente da natureza. E o desen- volvimento dessa producdo industrial n gue estudasse as propriedades fisicas dos objetos naturais ¢ as formas de agdo das forgas da natureza” (Engels), 1. Uma ciéncia, uma indiistria Da mesma forma, a sociedade da informagio necesita de uma cigncia que estude as propriedades da informagao ¢ os processos de sa construgdo, comunicagio e so. De fato, Sob a triplice influénci © desenvolvimento da produgio e da Ges cientificas € té&nicas (desenvolvimento das atividades Cienitficas, desenvolvimento de uma cultura cientifica e técnica de massa, demanda de informacao cientfica © surgimento do novo setor industrial das incl 40 (produtores ¢ hospedeiros de bases de dados, satélites & redes de telecomunicacao, telemstica, grandes museus € gran- des bibliotecas (as “catedrais’ do século xx), turismo cultural); © c do surgimento das tecnologias eletrénicas (analégicas ov digitais) e fotGnicas da informacao' (microcomputadores, telas de monitor sensfveis ao toque, discos laser, fibras 6pticas, dis- positivos de multimidia, videodiscos, programas de geren- ciamento de acervos, etc.), as bibliotecas, cemtros de docu- entagZo, museus e instituigées culturais, em geral, nfo podem mais set apenas dep6sitos de livros, documentos, objetos ¢ inlefatos, Tomaram-se depésitos de conhecimentes sabre um ‘assunto, um objeto, de respostas a questoes, isto é, entrepostos de informagdes. Melhor ainda, si verdadeiros meios de comunicagdo de informagbes, que atingem um némero cada vez maior de pessoas. Ou seja, sob 0 efeito dessas trés categorias de ‘mudangas — culturais, econdmicas e tecnolégieas — tormaram- se multimidias de massa, como seus colegas da imprensa eserita e audiovisual. A indiistria da informacdo (em papel e eletrénica) é, atwal- ‘mente, dominada pelos Estados Unidos. Encontraremas, no qua- dro a seguir, 0 faturamento dos dois setores da indiistria da infor magdo nos Estados Unidos, Europa e Japao. Essas cifras sao bastante significativas e mostra que a indus tria da informagao eletronica ocupa wm lugar cada vex mais im portante na economia dos paises industrializados, compardvel, na Franca, ao da indiistria cinematogrdfica, por exemplo (3,8 bi- Ihies de francos de faruramenio, em 1990). A atividade do setor da informagfo eletronica apresenta, ademais, uma taxa de cresci- mento excepcional, da ordem de 20 a 40% por ano. Apesar do desenvolvimento notdvel da telematica, a Franca detém apenas 10% do mercado europe, 91 se, 3,5% do mercado mundial. Considerando o seu peso econdmico, a indhistria francesa estd um pouco atrasada nesse setor? Tor tecnologia istics entesdemss as tcnicas que uizam fos 6 elérons€ por eenologins frais, as qu tliat os 02 fons parilas dele") Os foxcs de ism cnstkvern sas elércos de dois tipo: analgense digas (ver capita 5), > s,Charmband, Congits IPT, Pass, 193, 20 Faturamento da indistria da informagio (em bithdes de francos) errr! BM PAPEL* ELETRONICA oe a Ma 5 8) fee oe 5 EVA 300 Europa 150 21 (22 cabem Frangay** Japao 50 7 ‘Total 5007S comespondema $8 cedigoes especializadas) + Esse furaentoabrange as avis Higa 8 grande imprensa jomais © revista, bem coma a estas publitnasdeses jms in 1999, 0 faturament da indstaeltonia francesa sing 4,2 bids de fans ‘oe, Lingormaton dlecirnique professionnel en France: données sur esac et es marches. La Docuentation Francaise, 1994, Tais mudangas provocaram simultaneamente uma mudanga epistemolégica. [sso nos faz constatar que, hoje, 0 objeto da cién- cia da informagao nfo € mais o mesmo da biblioteconomia e de suas veneraveis disciplinas co-irmas, Nao é mais a biblioteca e 0 livro, 0 centro de documentagdo e © documento, o museu € 0 objeto, mas a informagio. TI, Uma ciéncia social ‘A cigneia da informagio, com a preacupasao de esclarecer um. problema social conereto, 0 da informagdo, e voltada para 0 ser social que procura informago, coloca-se no campo das ciéncias sociais (das ciéncias do homem e da sociedade), que so 0 meio principal de acesso a uma compreenstio do social e do cultural. A pesquisa em cigncia da informagao, pesquisa orientada, res- pondendo a uma necessidade social, desenvolveu-se em fungdo dessa necessidade ¢ foi, de certa forma, dirigida, e até mesmo financiada por ela, Tgualmente, sob a demande premente da tecno- logia da informagio, de méquinas de comunicar, a preocupagio dominante dos pesquisadores foi a utilidade, a eficdcia, o prético € a prética, e muito pouco 0 teérico, ateoria, A teria, portanto, 21 apresepta.se atrasada em comparagio com o empitico € existe, sobretudo, uma falta de ligagio entre os dois (ver capttulo 4) De pritica de organizagi a ciéncia da informagio torna-se, enti, uma ciGneia social Figorosa, sob o efeito tanto de umra de- manda social erescente guano de novos objetivos sociais ¢ im- portantes avangos econdmicos. Os estudos cientificos, realizados inicialmente por pesquisadores de fora da drea e da profissiio, como 1 de psivologia, sociologia, economia, informatica ¢ telecomu icagées, contribuiram em muito para essa cientifizagio. AL, Uma ciéneia interdisciptinar Os problemas de que trata cruzam as frontciras histéricas das disciplinas tradicionais, 0 recurso a varias disciplinas parece ser evidente. Essa colaboragiio chama-se interdisciplinaridade. A interdisciplinaridade traduz-se por uma colaboragdo entre diversas disciplinas, que leva a interacdes, isto é, uma certa reci- procidade, de forma que haja, em suma, enriquecimento miitwo. A forma mais simples de ligagéo € 0 isomorfismo, a analogia. ‘A cincia da informagio 6 uma dessas novas interdisciplinas, wm esses novos campos de conhecimentos onde colaboram entre si, principalmente, a psicologia, a lingtifstica, a sociologia, a infor- matica, a matemitica, a Kégica, a estatistica, a eletrOnica, a econo- mia, © direito, a flosofia, a politica e as telecomunicagdes, E possfvel esbogar rapidamente um panorama dessas disciplinas e dos temas atuais de pesquisa em cigncia da informagio, esquematizando af o fnicio de uma deserigio de sua estrutura, No principio cram o livro (a semente) e, € claro, a bibliote- conomiia ¢ a histéria do Tivro! Os primeitos fatos de natureza e entifica estardo, portanto, ligados as bibliotecas, ¢ as primeiras leis @ andlises serio bibliométricas. Depois, surgitao teotias das clas- «Bsn, per ag peso ete oF ato camps, es, so et domes “No principio gram o deeyiento ws document no seor dos muses: 11 No principio eram 0 objeto © a museoconemiasc ao setor Ges miding (J NO rine ee 0 jal eo roam: 2 sificagSes e da indexagdo, Dentre outros temas centrais, convém citar os estudos sobre sisternas em linha de recuperagao de do mentos e dados, ¢ estudos desctitivos das técnicas respectivas: bancos de informagées bibliograficas, textuais, fatuais; pesquisas sobre sistemas de gerenciamento de bibliotecas e centros de docu- mentagio (aquisicdo, circulagdo, catélogos informatizados em linha (ein inglés, OPac, de Online Public Access Catalog), etc). Uma série de temas periféricos se destacam, ainda que muito Jigados & sua disciplina de origem, mas, apesar disso, firmemente apoiados no campo da cincia de informagéo: *® psicolégicos (comportamentos de comunicagao, processos heu- Tistieos, representagio dos conhecimentos, ete.) © Jinguisticos (semistica, reformulacdo, paratexto, morfossintaxe, etc); ® sociolépicos (sociologia das ciéneias, comunidades ciemtficas, produtividade cientifica, mérito, ete.) © informaticos (bases de dados, recuperagio, si listas, programas para hipertexto, ete.);, © mateméticos, légicos, cstatisticos (algoritmos, distribuigoes nac- gaussianas, ldgicas booleana & difusa [fieczy logic], provessos mnarkovianos, ete.); ® econdmicos, juridicas e politices (comercializagéo da informa- io, diteito das criagdes imateriais, inddstrias da informagao, sociedade da informacio, etc); @ cletrénicos € telecomunicagoes (redes, correio eletrénico, vi- devtexto, ete.); © filoséticos, epistemoldgicos, histéricos, ete A representagio cartogréfica da figura 5, obtida em parte gragas a uma andlise de palavras associadas (ver capitulo 4), feita no bbanco de informagGes Pascal do iNiST,’ apresenta uma imagem da cestrutura interdisciplinar da ciéneia da informagao, jemas especia "0 festa National de Information Scierifiue et Tehnigue (S97), Sebo subordinado an Ceire Natal do a Recherche Scenifigae et Teshoigue (Cn), produc em faneow be ‘nformages Pascal eiacia Woncas e Francs (elénles hans ¢ socks) B : acologla economia anteopelogia ‘aireto polities : lotrniea Baht Conoco emma psicolagta ngisten esto me ‘6 cstatsten smatemtics storia ne epistemologie ‘ilosofia ~ Figura 5.O mpa da cincia da informagio ‘Acompanhando © surgimenio desses novos conhecimentos, implantou-se, progressivamente, win conjunto de estraturas que visam a dar status cientifico e social & ciéncia da informagao, 1) As revistas cientficas so uma dessas estruturas, Em anexo, hd um ‘mapa’, necessariamente incompleto e parcial, de revistas de cia da informagdo. Pcucas so em francés, Agrupamo-as em reunindo as literaturas nucleates (ver capitulo 4, nco continentes, 24 1), em papel, eletrOnica e periférica, uma ilha franc6fona, uma ilha lus6fona ¢ uma ithota cultural (anexo 1), Convém observar que 0 caréter interdisciplinar da ciéncia da informagao implica uma dispersdo da produgao de artigos. Por isso, encontramos nas revistas dos campos periféricos um mimero importante de trabalhos relevantes. 2} Os bancos de informagies sdo outros vesculos dos conhe- cimentos produzidos na ciéncia da informagao (anexo 2), 3) A seguir, as sociedades cientificas e protissionais que exis- tem em Ambito nacional (como a ADBS e 0 GFI! na Franga, a ASIS € 1A nos Estados Unidos, a ASLIB e 0 US na Gra-Bretanha) ¢ intemacional (FD, 1A)’ organizam regularmente congressos, coldquios e conferéncias nos diversos campos da ciéncia e da inddstria da informacao. 4) Ha, por fim, os cursos ¢ as unidades de ensino de ciéncia da informagao que surgem nos estabelecimentos de ensino superior, escolas de engenharia e universidades. Associam-se as vezes com ‘8 cursos de biblioteconomia ou thes dao continuidade. Equipes de pesquisa se acham vinculadas a essas unidades, ‘ADSS = Association des Documentlses ot Bibiothénires Spécialiss (aualmente, Assocation des Professonnes de Tafrmaticn et de la Documentation) Gt = Greuperest Frangais de indsine do afer: Ast = American Secey for Information Science 14 = Infomation Indusry Assocation, ASLIB = Assocation of Special Libres ard Information Bureaux (aueliese, Assocation for Information Managers) ts = institute ‘oF Information Stiestss. Sb = FederacicInersacionl de Informagdo e Docume 1HLA- FederapoIneracinal de AssociapSeseIstigiee Biblioteca, 25 Capitulo 4 A ciéncia da informacao DE PRATICA de organizagio, a ciéncia da informagao tomou-se, portanto, uma citncia social rigorosa que se apdia em uma tecnologia também rigorosa. Tem por objeto 0 estudo das propriedades gerais da informagae (natureza, génese, efeitos), ou seja, mais precisamente: sommunicagao e uso da @ a anélise dos processos de constr informagio: # © a concepee dos produtos e sistemas que permitem sua onstrugdo, comunicagio, armazenamento € uso. Pode-se, a titulo de exemplo, aplicar a definigdo acima as informagées cientfficas e téenicas de divulgagao, e enunciar a definigao do que chamamos a museologia das ciéncias e das téenicas. A museologia das ciéncias ¢ das técnicas ter assim por objetivo estudar a génese, a notureza ¢ 0 efeitos das informagies cientificas e técnicas destinadas a piiblicos de ndo-especialistas {injormagées gue abrangem as instituicbes museais de cultura cientifica e técnica), ou Seja: © unalisar os processos de producdo, comunicacio e uso dessas informagées; © ¢ concaber cs sistemas (as colecdes compostas de objetos, as exposigdes feitas com tais abjetos, bem como seu exame ¢ manipulagdo} que permitem sua comunicacio, uso @ arma: ‘enamento, Estudaremos sucessivamerte os trés processos de construgio, compnicagao e uso da informagio. Assinalemos, desde j4, que os profissionais da informagio tiveram, durante muito tempo, pouca 26 participagio em cada um desses processos. Suas intervengdes & suas técnicas giraram, principalmente, em torno dos problemas de armazenamento dos documentos e objetos e do desenvolvimento dos sistemas correspondentes. 1. A construgio da informagio As atividades cientfficas e técnicas soo manancial de onde surgem os conhecimentos cientficos ¢ tSenicos que se transfor- mardo, depois de registrados, em informagoes cientificas e tée- nicas. Mas, de modo inverso, essas atividades s6 existem, s6 se ‘concretizam, mediante essas informagdes. A informagao € 0 san- gue da ciéncia. Sem informagdo, a ciéncia ndo pode se desen- volver € viver, Sem informacdo a pesquisa seria indtil e nao existitia o conhecimento.' Fluido precioso, continuamente produ- Zido e renovado, a informacdo s6 interessa se circula, e, sobretudo, se circula livremente. A atividade de pesquisa constitui, com efeito, a aplicacio do raciocinio ao corpo de conhecimentos acumulados a0 longo do tempo e armazenados nas bibliotecas ¢ centros de documentacio. Ademais, o processamento desses conhecimentos, que se toma possfvel apds entrarem em circulac&o, esté na origem das descobertas cientificas ¢ das inovagdes técnicas, 1. O erescimento da informagao. As atividades de pesquisa ‘nunca tiyeram nem o vigor nem a extensiio que tém hoje em dia. No infcio puramente especulativa, a ciéncia nao tinha por vocagao servit a algum desenvolvimento técnico. Ao se tomar expe- imental, sua vocagao passa a ser produzir conhecimentos a fim de satisfazer a necessidades priticas e econdmicas? Do mesmo modo, ela interessou e interessa, no mais alto nfvel, aos governos e as ‘empresas, que se apropriaram, durante este tiltimo meio século, da profissdo de f€ dos pesquisadores: “O que & bom para a ciéncia é "1 Michel, Congris IFLA, Pts, 1989, MC. Banoly. JP. Despin,G, Grandplene, La science. Episémelonie générale, Paris Mapnacd, 1978 a necessariamente bom para.a sociedadle.” Sistema de construgdo dos conhecimentos, integrou-se ao desenvolvimento econdmico & social a ponto de conferir as sociedades modernas suas caracte~ risticas principais. Na sociedade atual, hd integracdo da ciéneia ‘com o sistema de produgio. A industrializagao passa pela ciéncia © acigncia passa pela industializacio, A) Os modelos quantitativos de crescimento. Constatava- nesses diltimos anos, que 0 crescimento da ciéneia era “muito mais tivo e muito mais vasto em seus problemas do que qualquer outra cespécie de crescimento hoje ocorrendo no mundo” (Price).’ Desde 6 recursos financeiros de que a pesquisa vem se beneficiando hé meio século até 0s periédicos especializados, que passaram de cerca de 10 000 para mais de 300 000, tudo acontece como se a densidade da ciéncia em nossa cultura quadruplicasse, a cada geracio, como se a literatura cientifica dobrasse a cada quinze anos (ver figura 1, capitulo 1)? B) As caractertsticas quaiitativas do crescimento. Como se no- ta, essa primeira caracteristca, essencialmente quantitativa, niio nos oferece uma imagem correta do progresso das ciéncias e das técnicas. Com efeito, este crescimento difere segundo as discipli- nas, as regides do mundo e 2 época. Assim, nao é pelo fato de dois paises ou duas disciplinas produzirem o mesmo niimero de artigos ‘que gozardo do mesmo estado de satide cientifica. Essas descon- finuidades no crescimento das ciencias ¢ das técnicas esto ligadas, 6 claro, as estratégias dos dirigentes cientificos (pesquisadores & administradores), Dé-se, conforme o momento, mais atengao a urna ‘ou outta disciplina; ora & teoria, ora & experimentacio, 7D J de Sala Price, Scene since Babylon, New Haven, Yale Univesity res, 1962. [Ed brain A cnc desde Bablona Belo Horizont, Kat; Soo Paul, Ea, Universidade ae Sao Paulo, 1976) > fim 1987, comtavanese $ 600 nevis artigos por ia (ou sja, mais de tes aigos pox rina e 2000 nat patenes por i. 28 ©) As caracteristicas atuais do crescimento. Ao lado desse crescimento muito particular do conhecimento e da informacio, outras caracteristicas permitem compreender 0 porqué do elevado lugar que a ciéncia e a tecnologia ocupam atualmente na hierar- quia dos fatores sociais.' Tais caracteristicas sito: ‘© ampliagdo dos setores onde se exerce esse conhecimento: € natural que se tivesse procurado ultrapassar os dom{nios aces- ssiveis a nossos drgios dos sentidos, mas ninguém poderia ter imaginado que a ultrapassagem chegaria a tal ponto. As escalas de valor dos parametros em geral utilizados, como a velocidade dos sinais elétricos,* a densidade de integragdo dos circuitos microeletrGnicos, etc. multiplicaram-se por poténcias de 10: © um movimento de sintese e um profundo desejo de unidade: o mapa da ciéncia, a geografia das disciplinas cientificas, passou por profundas mudangas. As disciplinas antigas ampliaram ¢ aprofundaram consideravelmente sua drea de atuagao. Ocorre- ram fusdes entre disciplinas dando origem a novas interdis- ciplinas. A cigneia da informagao, as ciéncias do conhecimento em geral, sio, a esse respeito, excelentes exemplos de interdis- ciplinas (ver capitulo 3). © 0 aparecimento de novos produtos, processos de produgio, atividades e empresas: assim, as inckistrias eletrOnicas deram forma e se valeram dos progressos cientificos e técnicos me- diante ages de diferentes tipos + introduziram novos produtos no mercado: microprocessador, meméria, fibra dptica, videotexto, etc.; + desenvolveram novos processos de produga0: miniaturi- zag%o, automagao, etc.; + criaram novas atividades e novas empresas, -RTaton et al, Histoire générale des sciences, Pats, Ur, 1981 2 Wévias empresas ¢ nbortirios de pesgusas langaram programs de pesquisessobse transmis a veloeidae mute at, da order 6 um trait por seguno (nlbbes de bits pr segundos 10 bissep (wer cap 6) 29 2. Os atores da construgio: a ‘comunidad cientifica’. A comunidade cientifica 6 0 grupo social formado por individuos que {em como profissio a pesquisa cientifica e tecnolégica. A nogdo de comunidade cientifica € muito ambigua e se reveste de wma espécie de mito surgido no século xix. Trata-se do mito da ‘repiiblica das idéias’, da Cidade do Saber, onde cientistas exclusivamente te6ricos, desvinculados de sia condigdo social e material ¢ ligados entre si pela preocupagio ccm a verdade, se encontram para trocar idéias abstratas. No que canceme a esse mito, existem as comu- nidades cientificas reais, segmentadas em fungio de disciplinas, linguas, nagées e mesmo de ideologias politicas; comunidades de trabalhadores cientificos motivados por um forte espfrito de competigio, onde o pesquisador que ganha é aquele que primeiro publica a informagao. Como funcionam essas comunidades cientificas? Do mesmo modo que as sociedades primitivas, mediante o sistema de doagio. © pesquisador transfere gratuitamente para sua comunidade ientifica as informagées que detém. Nao espera, em troca disso, ‘qualquer contrapartida ecormica. Mas essa doaglio s6 pode exis- fir na medida em que a comunidade cientifica fomece, por sua vez, uma contrapartida, que € a confirmagio do individuo como cien- tista, Primeiramente, hé um reconhecimento interpessoal pela comunidade em questio, depois, uma confirmagao maior que é institucional e que se faz merecida por causa de um volume inten- so ¢ constante de publicagses originais. ‘A. produtividade dos. pesquisadores ¢ no entanto, muito desigual: assim, o néimero.n de autores que publicaram x artigos em determinado campo, durante determinado periodo, ¢ igual a I’, onde 0 expoente 1 mese as proporgées relativas dos ‘grandes’ “pequencs” produtores. Um indice clevado revela uma distoryo da produgao: 20% dos pesquisaclores produzem, por exemplo, 80% da literatura, E a lei de Lotka’ (figura 6). TA, Loti, The frequency of dtributon of scenic productivity, Jounal ofthe Weshingion Academy of Seinces, 1, 1926 30 mero de pesquisadores 50° 40, equencs prodstoes ao m 1-05 20: 10 grandes procutores ot 10 20 30 ‘mime de ages Figura 6. Produtividade cienitfica dos pesquisadores de qusmica (Garante um periodo de tr anos) 3. As instituigées. Os membros dessas comunidades trabalham em certo miimeto de instituigdes de natureza social e econdmica, como academias, sociedades cientificas, associagbes de pesqui- sadores, laboratétios e universidades. Cinco etapas balizaram essa institucionalizagio: © 0 cientista isolado: os primeiros esforgos tendentes ao desen- volvitnento das ciéncias foram empreendidos por homens desprovidos de apoio institucional; 31 © 0 amadorismo cientifico: a0 estédio dos esforgos isolados sucederam tentativas de traballho coletivo reunindo pares & disefpulos; ea cigneia académica: foram as academias que primeiro per- initiram a especialistas das ciéneias naturals dedicar-se inte~ aralmente a seus trabalhos (as universidades possibilitardo isso ‘aos especialistas das ciGncias sociais), © a cigncia oreanizada: & a que proporcionard os alicerces de wm programa de desenvolvimento da pesquisa e de formagao para a pesquisa, E, atualmente, o modelo mais conhecide: © a megaciéncia: caracteriza-se pelas dimendes dos laboratsrios, ‘a extenso dos orgamentos de pesquisa, a complexidade dos ‘equipamentos, ¢ a importancia da, comunidade profissional na ional ou mesmo internacional que af trabalha. 4, Uma construgie acelerada. As formas atusis de trabalho & corganizago caracterizam-se. por certas diferengas radicais no txercicio da profissdio. Assim € que, hd cinglenta anos, surgiram: ‘© uma profissionalizagtio generalizada da pesquisa: homens € ‘mulheres (estas ainda pouco numerosas) que se dedicam & pes- quisa esperam da comuridade cientifiea ndo apenas um status, nas também uma Femureracdo, de forma direta para pesquisa- ddores profissionais, de forma indireta para docentes. Isso cons- titi um fator agudo de perturbagio, na medida em que @ pu- blicacao de um artigo deixard de ter por objetivo a confirmagao de competéncia, mas serd um imperativo fundamental para & obtengo ou conservagao de um emprego. Daf a famosa méxima anglo-sax6nica ‘Publish or perish?” (publicar ou perecer?). Daf também, por um lado, a explosio da informacao; @ um aumento dos meics utilizados, que tem por efeito acre: ‘centar 2 regulamentagao de natureza intelectual da comunidade cientifica uma regulamentagio de natureza econdmica; @ um aumento do némero dos pesquisadores acompanhado de ‘umna estratificago intema da pesquisa. conjunto desses fenémenos traduz-se pela substituigao do modelo antigo da comunidade por estruturas sociais caracterizadas por formas de trabalho e organizagao que se assemelham as formas adotadas pelas empresas modernas: divisio mais complexa do trabalho cientffico, centralizagzo da autoridade, administragao da pesquisa, monitoramento das informagées, ete. II, A comunicagio da informagio AAs comunidades cientficas sfo, sobretudo, redes de organi zagbes ¢ relagdes sociais formais ¢ informais que desempenham varias fungdes. Uma das fungdes dominantes é a de comunicacio.! papel da comunicagao consiste em assegurar o intercénmbio de informagdes sobre os ttabalhos em a cientistas em contato entre si \damento, colocando os Ouro propasito desta fungi, bem menos praticado, & assegu- rar a difusao e a promocao da ciéncia junto a@ piblicos de ndo-es- pecialistas (inserir ‘a ciéncia na cultura’) e junto aos governos. As motivagdes dos pesquisadores sao, portanto, de dois tipos: @ as que se originam de preocupagdes de natureza cientifica. Se a cigncia progride, & gragas aos trabalhos realizados por nu- 'merosas pessoas, em indmeros lugares, sobre problemas cone- x0s. Os pesquisadores tém, portanto, necessidade de se man- terem em contato com seus colegas para se informarem e informé-los acerca de trabalhos em andamento ou conclufdos; @ eas de ordem pessoal c is de ordem pessoal, que se relacionam com a carreira dos interessados. L. As préticas da comunicacio. A prética da comunicagio constitui uma parte importante do tempo de trabalho do pesqui: * Outra fungio importante & a de segulamentaggo: dei i tae € mente: desir 0 que 6 importants. Ela esr in papel ose de cota fea ead peconco dO sas [gu exp rate dh atv lenin tora, deft, df de vegulamentr, a inves daamividadeecondmics, que ®ulada palo mercado 2M, Lévy Leblon, fete la acence em culture, N Anais, 1986, 33 sador. Nas cigncias ffsicas, avalia-se em 40% a parte do tempo de trabalho dedicado a atividades de comunicago: leitura, escrita, contatos (ver figura 7). 2. Os processos de comunicagHo. Dois processos de comuni- cagiio sto utilizados: um processo escrito, formal, € um proceso oral, informal 4) Comunicagao escrita, comunicagao oral. A comvnicagio escrita compreende principalmente as publicagdes primarias, onde se apresentam pela primeira vez. perante 0 pablico, sob a forma de produto da informagao, os resultados das pesquisas, ¢ as publi, cages secundiiias e tercidrias, muito dependentes das primérias, uma vez que as resumem e indexam. A formalizagéo da comunicagdo cientifica data de mais de trezentos anos. Ocorreu em resposta ds necessidades de comu- nicagdo dos resultados da pesquisa entre os pesquisadores cujo nuimero crescia. A ciéncia mudava de situagdo: de atividade pri- vada tornava-se, como mosiramos antes, uma atividade social. O pesquisador romou-se, entdo, como a maior parte dos trabalha- dores, wm individuo inserido em um ambiente social que dele exige competitividade e produtividade a fim de obter resultados. Para que os novos dados que obtém e os novos conceitos que formula se fornem contribuigdes cientificas reconhecidas, devem ser comunicados em uma forma que permita sua compreensdo comprovagao por outros pesquisadores e, posieriormente, sua tilizagdo na abertura de outros caminhos de pesquisa. Igual- ‘mente, a ‘comunicabilidade’ é a caractertstica principal da pro- dugdo cientffica, pois permitird o reconhecimento do pesquisador pelos pares e the garantiré sucesso na sociedade cientifica ‘A comunicacao oral € constituida de formas piblicas (con- feréncias, coléquios, semindrios, etc.) © privadas (conversas, correspondéncia, etc.) de distribuigao das informagdes. 44 rocessamento dos dados 40horas ® manutengio planejamento pesquisadores universitirias pesquisadores industriais pesquisadores administradores Figura 7. As prticas de comunicayao A informagao comunicada por esses meios ndo tem a estabili- dade da que é comunicada pelos meios formais. O intercmbio de informagdes entre dois pesquisadores durante uma conversa con- siste em wna sondagem de uma idéia qualquer, com o risco de modificd-la imediatamente. Esta informagdo estd sujeita ser co- municada varias vezes, (Enquanto no terreno formal, o pesquisa- dor estd obrigado, por um cédigo tdcito de deontologia, a publi- car a informacao apenas wma vez, em um tinico artigo.) A infor- magdo surge na intimidade do laboratorio, e, em seguida, é discutida em diferentes reunides cientificas, desde as menores (locais e regionais) até as maiores (nacionais e internacionais) B) Diferencas entre os elementos formais ¢ os elementos infor ‘ais. Os clementos dos processos de comunicagio diferem sobre tudo quanto audiéncia, armazenamento, atuatidade e autenti- cidade da informagio, orientagao, redundancia e interatividade, Essas diferengas so apresentadas na figura 8. ©) Cronologia dos processos de comunicaciio. Os dois pro~ ‘cessos, escrito e oral, servem a fins distintos no que conceme ao trabalho do pesquisador e 20 fancionamento do conjunto do siste- ma de informagiio. Ambos sio indispenséveis, mas so utilizados em momentos diferentes. A cronologia de suas ocorréncias est representada na figura 9, Tomamos como origem no tempo a data de publicagio do artigo, data da primeira apresentagdo perante 0 piiblico, sob a forma de produto da informacao, dos resultados dos {rabathos de pesquisa. EL MENTO FORMAL, ELEMENTO INFORMAL pice (auigncn prencal important) privada (aude estes) infoetragto armazenuda de fort infra nfo armazonade, ao recupe Permanent, recuperivel vel ‘infermago comprowsda ‘informe ata comprovada iro do fax esclhida peo produtor redundancia ts vere nto impertante iseominaso uniforms redandincin moderota nxéncin de intra dea interagBo diets Figura 8. Diferengas entre os elementos formais ¢ 0s elementos informais da cnmunicagio da informagio D) Inovagdes sociais ¢ tecnoldgicas. Devido a algumas das ra- 22s mencionadas acima, os elementos formais, embora propiciem lum armazenamento e uma recuperagio da informagio de modo cada vez mais rpido, nao sio plenamente utilizados. Constata-se que os pesquisadores deram maior atengdo ao desenvolvimento dos elementos informais, inireduzindo neles um certo niimero de inovagdes. Apesar disso, foram também introduzidas modificagées no proceso formal 36 = eye ae = conferees nteracenss oarnico relation separatas vite deste corres Figura 9, Cronologia dos processas de comunicago (seguado Garvey)” 4) Exemplos de inovagdes no terreno informal: © Os colégios invistveis, para os pesquisadores que se encon- tram na frente de pesquisa, nas posigdes de vanguarda. Grupos diferentes de pesquisadores, pertencentes a diferentes instituigdes e residindo muitas vezes em paises diferentes, formam uma espé- cie de ‘academia invistvel', mantendo-se mutuamente informados sobre suas pesquisas. Nas ciéncias sociais e humanas os pesquisa- dores trabalha muitas vezes sozinhos, estando pouco inclinados a participar de um colégio invisivel e preferindo ‘compulsar a smo’ a literatura. Se algumas novas formas coletivas de comuni- cago (como as conferéncias que se processam em inimeros computadores, ligados em redes (principalmemte pela INTERNET) se desenvolvem rapidamente nas ciéneias fisicas e biolégicas, pode-se pensar que, por serem menos iteis, ndo se desenvolvertio com igual velocidade nas ciéncias sociais humanas. “WD. Garvey. N. Lin, CE. Nelson, Communication inthe physical and soca sciences, ‘Soience, 1970, 170 37 © As pessoas-chave (gate-keepers) em quem se apdiam os outros pesquisadores do grupo.’ Diferem destes ditimos na medida em que mostram um grande interesse pelas fontes externas de informagao (os dois efreulos com os nfimeros 19 ¢ 59, na figura 10, representam pessoas-chave). Léem muito mais ¢ mantém relagoes com outros pesquisadores e organizagiies” ; 1b) Exempios de inovagées no terreno formal. Embora 0s vei- culos trauiciouais de comunicago, sociosconomicamente falan- Figura 10, Sociometca da rede de comunicagao eienttfica ‘de um laboratério (segundo Allen) do, continuem firmes, outros veiculos, semitradicionais € novos, surgiram a fim de sanar de “Ta Allen, Communication etworksin R & D lberatores, RAD Management, 1, 1970. ste concsio eacontre atialneste aplieages importantes no campo do monieramento ica teenie, inferaivo cde empresas concortentes (competitive meligence, ontario descbero hi ita anes, Exc se tb, no cmp ‘nunca de massa. o foruatr deopiide ec Muxo em dua etapa (wo sep flow) ‘tera 38 © Veiculos semitradicionais, do tipo das letters (como Physical Review Letters), publicag6es que se editam com mais rapidez. do ‘que as revistas ttadicionais, de onde se originaram (neste exemplo, a Physical Review), mas que contém informagées resumidas, bem como as microfichas as revistas de sinopses. © Os novos vefculos, especialmente os que se apreSentam como alternativas eletrénicas e fotdnicas da palavra escrita ou da palavra falada, como os bancos de informagao, 0 videotexto, a editoragio eletrOnica, ete HILO uso da informagio Usar informagdo é trabalhar com a matéria informagio para obter um efeito que satisfaga a uma necessidade de informagzo.' Utilizar um produto de informagio é empregar tal objeto para obter, igualmente, um efeito que satisfaga a uma necessidade de informagdo, que esse objeto subsista (fala-se entdo de utilizago}, modifique-se (uso) ou desapareca (consumo). © objetivo final de um produto de informacao, de um sistema de informacao, deve ser pensado em termos dos usos dados a in- formagao e dos efeitos resultantes desses uses nas atividades dos usuarios. A fungdo mais importante do sistema 6, portanto, a for- ma como a informagao modifica a realizagdo dessas atividades. Isso demonstra que necessidades e usos sao interdependentes, se influenciam reciprocamente de uma maneira complexa que de- terminard © comportamento do usuério e suas priticas (figura 11) 1. A necessidade de informag3o. O conhecimento da neces- sidade de informagio permite compreender por que as pessoas se envolvern num proceso de busca de informacdo. Exigéncia oriunda da vida social, exigéncia de saber, de comunicagao, a necessidade de informagao se diferencia das necessidades fisicas gue se originam de exigencias resultantes da natureza, como dor- rir, comer, et. ‘Ver trabalho de noss aera sobre ese snsuno a ser publica pela ADDS, Paris 39 aa informa recess ds iafonnagi0 Figura 1), Usos © necessidades de informa © que leva uma pessoa a procurar informagto? A existéncia de um problema a resoiver, de um objetivo a atingir e a constatagiio de um estado andmalo de conhecimento, insuficiente ow inade- quado (capitulos 1-2). A necessidade de informagdo pareceria periencer entdo & categoria das necessidades humanas bésicas. O fato, porém, de no ser partithada igualmente por todos os seres humanos nos leva a questionar sobre sua verdadeira condigao: © existe uma necessidade de informagao bem-definida, como as necessidades ffsicas, e que pode ser considerada em si mesma uma necessidade funidamental? © ou anecessidade de informagao é uma necessidade derivada que serviria & realizagao de outros tipos de necessidades? |A) Uma necessidade derivada. © enfoque tradicional em cién- cia da informago consiste em considerar que o usuério chega a0 sistema de informagao com uma necessidade de informagiio mais ‘ou menos bem-especificada. A fungdo do sistema é fornecer-the a informagio. A hipdtese subjacente que os seres humanos tém necessidade de informago da mesma forma que necessitam de alimento ou abrigo. A necessidade de informagao tem entao 0 status de uma necessidade fisica fundamental. Mas, numerosas so as pessoas que jamais utilizam um sistema de informagao. Os niio-usutios so, de Longe, mais importantes do que 05 usuétios.' © que nao quer dizer que nao necessitem de ‘Os owslados de am ingutsite do rinistério da Cultura sobre as pris cutis dos franceses mention ue, eo 1989, B4% ro ata inserts auma bible 40 — {nformago, mas isso tende a provar que a necessidade de informa- go, quando existe, é uma necessidade derivada, exigida para a realizacio de uma necessidade mais fundamental. 8) Tipologia das necessidades de informagito. Convém consi derar duas grandes classes de necessidades de informaco, ambas, derivadas de necessidades fundamentais: a necessidade de infor- ‘mago em fungéo do conhecimento e a necessidade de informagao em fungdo da acao, a) A necessidade de informacao em fungio do comhecimento & uma necessidade derivada do desejo de saber (Aristételes). Mas, qual & esse desejo, essa paixdo, esta pulsdo de conhecer (Freud)? Pulsao esta que responde essencialmente & questio da origem que 6, ela mesma, umn aspecto da questio do sentido. Donde 0 surgi- mento da diivida ¢ 0 esforgo para dominar o sentido, a fim de se libertar da angistia do nao-sentido original (Castoriadis). Mas essa capacidade nio é repartida de modo igual. Além disso, os museus eas bibliotecas, que logo sero os entrepostos dos conhecimentos, conhecimentos sobre os objetos ¢ conhecimentos nos livros, tenderdo, lamentavelmente, a tomar-se, com o tempo, depésitos de objetos € livros, toscamente conservados, limitando seu uso e, portanto, 0 acesso aos conhecimentos: Acredito que em certas épocas, talvez jd nos tempos de Augusto ¢ Cons- ‘antno, a fungdo de uma biblioteca fosse também a letura|..J Mas, acho que posteriormente foram criadas bibliotecas cuja funede rBo era proporcionar leitura, mas eseonder, nde divulgaro ivro (Eco).! Restard entiio a comunicacao informal desses conhecimentos, comunicagao interpessoal, extremamente determinada pelas esttu- turas sociais, que também so desiguais. b) A necessidade de informagzo em fungdo da acdo é uma necessidade derivada de nevessidades materiais exigidas para a realizagao de atividades humanas, profissionais e pessoais: traba- Ihar, ir de um lugar para outro, comer, dormir, reproduzirse. A 6 1, Boo, De bibiothec. Caen, Bchopge, 4L informagio permanece sendo.o meio de desencadear uma ago com objetivo; é a condigio necessétia a eficdcia dessa ago. Institnigdes, servigos de informagio ¢ centros de documentagdo s40 os elementos formais colocades & disposigio dos usuarios dessas informagaes. Mas, mesmo af, o informal continua sendo um fator extremamente determinante da obtencdo da informagio. C)A andlise das necessidades de informagio, Tradicionalmen- 1c, no se faz esta analise ¢,aligs, no hé raziio para faz8-la, pois s& considera que 0 usuério traz uma necessidade de informagao bem espeeifica, Os intermedisrios — bibliotecérios ¢ documentalistas 6 comegai geralmente a estudar a situagao depois que nnsudrio comegou de fato a procurar a informagio; ou seja, quando decidit que tinha ‘necessidade” de informacao. Isso significa que ‘outras alternativas foram estudadas e descartadas (pelo menos inconscientemente). Para 0 intermedidrio essa escolha condiciona a situagao em que atuaré 1a) Os estudos de necessidades. Nessas condigbes, se houver estudos de us0s, tertio por dnico objetivo melhorar o desempenho do sistema, De duas formas © um estucdo de uso do sistema que ndo suscite a questao de saber se 0 sisterna fomece 0 servigo de que 0s usuarios potenciais necessitam, pois s6 ha ineresse por aqueles que o utilizam; ‘© © um estudo parcial das "necessidades’ dos usurios, pois se lhes pergunta de que necessitam para complementar 0 que € oferecido. A hipétese & que 0 usuario sabe o que quer e € capac de identificar os mecanismos de obtenedo da informagio! Ora, conhecemos as hesitagdes dos usudrios (ver abaixo) ao dizerem ‘0 que querem, o que desejam e 0 que necessitam. De fato, uma andlise das necessidades de informagiio deve responder as seguintes perguntas: Quem necessita de informagao? Que tipo de informagdo? Para qual grupo de pessoas? Por que precisam dela? Quem decide quanto # essa necessidade? Quem seleciona? Que uso é dado ao que € fornecido? Que conseqiiéncias 42 resultam dese uso para o individuo, o grupo, a instituigio © a sociedade em seu conjunto? Essas questdes sito fregiientemente suscitadas por quem traba- Iha no campo da informagao geral (a média, os meios de comu- nicagiio de massa). A midia, como instituigao social, no é estu- dada isoladamente. E sitwada num contexto social mais amplo estudada em relagéo com outras instituigdes e processos, com a sociedade om seu conjuto. Observain se, portant, diferencas entre o especialista dos meios de comunicagéo de massa e 0 espe~ cialisia da informagdo documentdria. O primeiro ndo aceita como verdade — ao contrdrio do segundo — que a informagao diminua a incerteza, como dé a entender a teoria “da informagdo'. Quem nao sabe, com efeito, que a obtencao de informagao aumenta a incerteza, que a ignorancia tem funcdes positivas e que a posse da informagao pode ser wm substituto da apao? Se a informacao é obtida na expectativa de que gere uma agéo, sabe-se muito bem que continua sendo um pré-requisito necessério, mas nao suficiente, Essas questoes ¢ esses problemas no sdo lembrados muitas vezes pelos especialistas da informagéo documentaria, bibliotecdrios ¢ documentalistas. Hé poucas referéncias ao contexto, d sociedade em geral, no caso das bibliotecas puiblicas, 4 sociedade cientifica no caso das bibliotecas universitdria’s. Hd pouca ou nenhuma referéncia & complexidade dos processos de producdo, comunicagdo e uso da informagdo. No entanto, esté implicito wn processo de comunicagao, derivado, mais ou menos conscientemente, dos modelos lineares, unidirecionais, orientados para um objetivo, dos processos de comunica¢ao preocupados essencialmente com o emissor, do informador para a informado (ver capttulo Itt}, Interessa-se mais pelo ponto de vista do fornecedor da mensagem do que do receptor. Sem receptor, néio 1d, connudo, informagdo. Ele é 0 centro dos fluxos informacionas, Esse modelo linear é inadequado para descrever iais processos. Muitas das comunicagdes de informacdo carecem de objetivo, sao multidirectonais e os efeitos nem sempre eficazes. A informagdio B pode ser fornecida ¢ estar totalmente dispontvel. Mas isso nada nos diz sobre seu uso e as conseqlténcias desse uso. 1b) O livro, 0 documento e 6 objeto sao a resposta, mas qual é «a pergunta? Paroce, entdo, que © que conta verdadeiramente no setor das bibliotecas e, em menor grau, nos setores da documen- tagio, & 0 fornecimento do decumento; a énfase & no objeto, no liso, no documento e sua provisio, sua obtenco. Sem se preocu- par se as necessidades antecipadas slo as verdadeiras, se so Je fato satisfeitas, isto é, se a informagiio contida nesses documentos é utilizada. O documento € a resposta, mas qual é a questo? Em enhum momento se faz referéncia ao uso da informagio ¢ para aque servitt Esse aspecto é exterior ao sistema de informagao, Nao se sabe 0 que a pessoa faz da informagio, este € um problema dela Encontramos af presentes os prinefpios da filosofia ‘liberal’ da piblioteconomia, como o acesto irrestrito ao saber, a nBo-censura. No entanto, no setor das bibliotecas especializadas ¢ dos museus. com o surgimento de sua misso educativa, e no dos servigos de informagao industrial cientifica, onde sua justificativa se faz, com base no argumento pragmético da promogdo da difusio de inovagdes, comegou a surgir a exigéncia de se levar em consi- doragdo 0 impacto da informago na vida do usuério, fora do sistema de informagao que wiliza b) As etapas de uma andllise de necessidades de informarao. é preciso, portanto, conhecer as circunstincias que Jevam um uswtio a iniciar um processo de busca de informagoes, se quisermos compreender os fenémenos que ocorreraio quando do uso dos diferentes sistemas, servigos € produtos mobilizados por esse usidrio, 1sso 6 importante por varias razbes: ‘© a pergunia que o usuério vai formular ao sistema (ou ao inter- medidcio humano) dependeré disso (ver adiante 2.4); 71D. oloran, infomation and commninicaion:ifosmation i tbe answer, bat what 6 the question? Journal of Infomation Seterce, 7, 1983. 44 © grande parte da interagdo que ocorrerd entre 0 usudrio 0 sis tema (ou o intermediario) consistiré em tentar interpretar essa pergunta em funcdo dessas circunstancias (ver adiante 2.C); # aavaliagdo do éxito ou malogro dessa interagao ser feita com base nessas circunsténcias ‘Uma andlise das necessidades de inform: cinco etapas (ver figura 12): o abrangerd, entéo, 1s Kenta os sures os wos da informagio Eiscrves pps antete enc onces dade en populago 4. Avaliar as necessidades: ami 5 Descrever, comunicar implementar as solugies Figura 12. As cinco etapas de uma anise das necessidades de informagio Na prética, a andlise das necessidades é uma atividade interativa que alterna coleta de dados (coleta direta e/ou indireta por meio de levantamentos baseados em entrevistas, questiondrios, observagio), andlise desses dados e decisao. 2. A interacao informacional, As questdes que 0 usuario for- mulard e a interagiio informacional que ocorrerd sob a forma de didlogos em que se alternaro perguntas e respostas constituem a base da dinémica caracteristica dos fendmenos de uso da informa- gdo e caracteristica também dos diferentes usuarios. Seu estudo est portanto no cerne dos estudos de uso. A)A questo, um indicador das necessidades de informagdo. A ‘questo constitui uma solicitagio que se faz a alguém, que pode ser tuma pessoa ou um computador, a fim de ser informado sobre algo, A questio é um indicador das necessidades de informagao, sendo, assim, uma varidvel fundamental no setor da informagéo. 0 estudo sobre as negociagdes entre usuario ¢ bibliotecdrio mostrou que as questées verbais diretas fechadas silo a maioria. 45 em 366 entrevistas gravadas em quatro bibliotecas puiblicas dos Estados Unidos, 90% das questdes formuladas eram fechadas e 8% aberias. Ora, as questdes abertas estimulam o usuério a res- ponder mais iongamente do que as questoes fechadas, Infelizmente, nto enfoque ¢ nas praticas tradicionais a questo nao ¢ analisada em si mesma; o que se examina é se ela remete a um tipo de fonte onde se espera encontrar a resposta (proce- dimento orientado para © emissor). Procura-se ver © que & posstvel conseguir com o acervo, Essa maneira de tratar as questes mostra que se dé énfase a bibliografia © aos recursos dispontveis no acervo, pouca atengio merecendo a andlise da propria questo. A hipstese implicita é de que existe para cada questo uma resposta correta, apropriada e tinica A esse respeito, observa-se que 0 arranjo do acervo de livros, que se pode aprender por meio do esquema de arrumagao ou classificacdo, estd orientado para o bibliotecdrio-documentalista ¢ por isso pouco se adapta ao usuario. © estudo da questo tem grande importancia na ciéncia da informagao. Seja para aqueles que se defrontam diariamente em seus servigos com as questées dos usudtios, seja para aqueles que, incumbidos de desenvolver as interfaces dos servigos informa- lizados, se interessam pela representagao dos conhecimentos ¢ elaboram programas para compreensio da linguagem dita ‘natu- ral’, a questdo fornece uma descricio do modo como os ‘sistemas? de conhecimento dos uswénos séo organizados em um determi- nado instante e se reorganizam continuamente. 3) O didlogo. O componente central de todo sistema de infor- ‘magio é a interagiio entre o usnério ¢ o sistema, diretamente ou por intenmédio de um terceiro, de um intermediirio. Normalmente assume a forma de uma conversa, um dislogo entre os dois parti- cipantes: pessoa-pessoa ou pessoa-maquina, Qual 0 tipo de didlogo que se trava em um processo de in- feragdo informacional? E um ato de comunicagio orientado para 46 tum objetivo, o do usuério (este Ultimo levantando a hipétese de ‘que o sistema o ajudard a atingir esse objetivo), e cooperativo, isto 6 que impde certas regras de cooperagao (Grice), ©) As interagdes informacionais. & interago social, a nego- ciagio suscetvel de levar a um intercdmbio de informagoes, é fangdo de certo niimero de fatores, como as pessoas que partici pam, as méquinas, as téenicas informdticas e o contexto em que se «a interagao, 4) A interacda pessoa-pessoa (PP). A negociagio das quest&es em um processo de interagao informacional constitui um dos atos mais complexos de comunicagao: uma pessoa U (usuério) tenta descrever para outra, b (documentalista-bibliotecézio), n&o algo ‘que conhega, mas algo que desconhece e que a outra pessoa D necessariamente nao conhece,' A negociagtio que se estabelece nao é um processo simples, mas, antes, uma série de imteragdes entre 0 usuario ¢ o sistema de {nformagao, mediadas ou nao por uma pessoa ou uma maquina Cabe ao especialista da informagdo trabalhar com 0 usuétio, para desenvolver a estratégia de busca, levando em conta essas diferentes etapas, Revela-se o papel importante do intermedirio, pois a primeira questo nem sempre expressa as reais intengées do usudrio, Ble ajudari o usuario a compreender sua necessidade de informagdo, fazendo sua demanda passar por alguns filtros. b) A interagdo pessoa-computador (PC), Pata que um sistema informatizado seja utilizado, ndo basta que o equipamento e os programas sejam eficazes: deve ser aceito pelo usuario, A compreensio da relagio entre usudrio e sistema informati- zado envolve intimeras disciplinas. Toca em temas bem variados: © relago entre tarefa realizada e natureza do modo de interaco; © concepedo das linguagens informaticas, "Desde £990, pons ler, em umn manual de servigos bibles, que o biblioteca eva se copae de aivicha 8s necessidades no express ds pessens Mas, sem 1967 6 qe foi elizadoo primeiza estado aralico dessescompertamentcs, 4

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