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ISC558 - Seminarios Tedricos de Ciéncias Sociais em Satide - 2009.1 Mishler, Elliot G. Narrativa e Identidade: a Mao Dupla do Tempo. In: In: L.P.M, Lopes e LC, Bastos (org) Identidades. Recortes multi e interdisciplinares. Campinas: Mercado de Letras (CNPq), 2002, p.97- 119. QD gta sa aaeveny carro NARRATIVA E IDENTIDADE; AMAO DUPLA DO TEMPO! Billo: G. Mishler Introcigao A meléfora da mao dupla do tempo ilustra © problema que desejo explorar neste artigo, ou seja, as implieagées, para a pesquisa e a teorta sobre © descnveluimento da identidade, de duas abordagens contrastantes relativas 8s fungoes da ordem temporal nas narrativas, Vou me referir 2 essas aborda. fens comoo modelo deseritivo de tempo do rekigio/cronologico versus o modelo Ueseritlve de tempo narrativo/experiencial. Em minha discussio sobre esse Problema, buscarel substdios, principalmente, em meus estudes de entrevistas Com artesdos ¢ sobreviventes de abuso sexual @ respeito de suas historias de Yida. Argumentarei que ha mais inleresses em jogo para a teoria ea pesquisa Sobre narrativa na escolhi entre eases dois modelos de tempo do que propria mente-na especificacio da estrulura narrativa,Além disso, mostrayed que essas ‘Uferencas tem conseqnéncias para a teoria e a pesqtiisa sobre 0 desenvoni Mento humano, dando origem a questionamentos, por exemplo, sobre estra. 1. Capinso vadueido do original em inglés por Claus Busha, o tégias de pesquisa que se basetain uma visto de causalldade ealcadano tempo do relogio © na predigdo como urn critério de adlequacao para tais estudos. J © modelo narrativo de tempo enfatiza a impertancia do contexte na produgao de narrativas, ao mostrar como a ordenagao temporal & uma fungao tanto das preferéncias culturais por historias bem formadas quanto da natureza situnda ue caracteriza a atividade de contar histérias. por exemplo, quando geradas fem entrevistas ou expressas no curso de conversas em ocorréncia natural Assim, tratar dé questoes de tempo e drdem temporal nos leva a discussoes Serais © complexas sobre as relagdes entre contexto, estrutura ¢ fungio em ‘estudos da narrativa de identidade, (© morteto de tempo natratvalexpriencil eo modelo de tempo do retigofronatigco AJA bem conhecida heterogencidlade dos estudos da narrativa é contra- balangada, até certo ponto, por um consenso geral, embora nao universal, ‘entre os investigadores, de que a ordem temporal é o eriterio fundamental que Gistingue as narrativas dos outros generos do discurso (Mishler 1995). Exam!- nando Isso mais a fundo, contudo, veremos que tal concordincla se rompe & ‘medida que fica claro que, embora stja um critério necessério, a ordem - temporal nao € suficiente, especialmente se quisermos fazer uma distincao ‘maior entre seqiléncias de eventos que sto meramente lias e sequencias que ‘sto hist6rias, Isto ¢, uma narrativa deve ser mais do que uma coisa depots da utr, Alguma forma de conexao significativa entre 0s episédios se faz neces ‘sarla para que os ouvintes/Ieitores e os analistas reconhegam um trecho de fala ou texto como um todo com eontomes definidos. ou gestalt, eom inicio, melo ¢ fim, que, tomados em conjunto, tem um proposito. Ao especificar essa Aistingao, tém sido aplicados diferentes modelos de tempo e ordem temporal, ‘Meu foco sera especiticamente nas implicagBes do use de wm modelo descritivo de tempo do reldgio/eronologico ou experiencial/narrativo para a teoria © a eswtisa sobre narrativas pessoais e desenvolvimento da Identidade 2 2. As implcagbes dosse contrasts para os investgadores, por exemple, Klaus Regel, em sua clea & posguisa sobre o eservolvimanio humane (Riegel 1997), @ Chari Mating, em seu esludo sobre = fomutagdo de enmados para hs taapsuts no taba de letape.tas ocupacionais com bacienies paraplégeae Metinoy 1996) os da nasa fram explovades por outros * ‘Duas citagoes, ambas de reconhecidos teéricos da narrativa, mostram claramente o contraste entre essas perspeetivas. A primeira é do artigo classic escrito em.1967 por William Labov ¢ Joshua Waletzky sobre narrativas de experiéneias pessoais; a segunda, do artigo de 1980 de Paul Ricocur sobre 0 tempo narrativo, A naraiva ser consisads como ura toca val para reephiara expt, em especial una orca para constr uid naratias que crespendem & seqinda ‘temporal acute exec (19) ua nara (.) pode petal bar acatoa ‘uno referer send, no ent, ic do erect eg ela rom ‘um props p.&)(.) Danas aves a aati como equa pate que rtea a Pesta do nara om lao natalia ao ena a ingot elated atgmas witedes nats em compara com our. 5}. Eriendotemporai¢ace como endo aqua ssuradaexisnclaquechegabinguagen ra ranatvidade, © nanatidade com sendo a esta do inguager que te a 'emporaidade como seu referee fina. 169.) Porered, ered odoin «42 govern uma suoessio de everos em qual: tra.) Ura ita él de ‘evenios na medida em qua o erredo tensioana cs evenics em uma hist (p. 171. Labov e Waletzlgy imediatamente seguem sua definicto de narrativa na citagio acima, de *correspondéncta temporal linguagem-realidade”, com uma ‘qualifiagao, aftrmando que "é anormal uma narrativa cuja tiniea fanga0 seja ‘es0n: ela pode ser considerada uma narrativa vasia ou despropositada’. Bles fentao “distinguem duas fungdes da narrativa: (1) referencia (2) avaliativa™ (. 181, A altima. que expressa a atitude do narrador pela enfase relative que € dada a diferentes unidades narrativas. é de igual Importancia. Contudo, 0 gue ¢ especialmente significative a respelto desea qualificagio € que ela de Modo nenhum altera a definigdo cronoléglea de ordem temporal, que perma neve, na abortlagem desses autores, como caracterfstica fundamental de uma narrative, Sua forma de andlise se bascia er um modelo de tempo do relegi hho qual a seqiténeta de episcaios no mundo real preeisa ser acompanhada pela sequiencia de oracdes como de fao elas aparece na dleserigao narrativa gue Tepresenta aquicle mundo. Oragoes que nao satisfazem esse requisito de colocagsio seqiencial correta séo definid ° 840 definidas como oragdes ndo-narrattvas: qué Podera0, ou no, ser redefnidas como avaliativas, ou Ser:suprimidas dat Ser uma narrativa “desproposttada’ sem a avaliagac, 129 no Iniio de seu artigo sobre "Tempo narrates, Ricoecn observa aoe bea abe & narrativa na Historia, Crilca Litera g Reon tender, qutte eum componente avaiative a uma ordem temporadenas privilegiada, fm ver disso, Rleoeur (1880, p.178)declara que (4) quer nana antina ds ders om ropugiss evades, uma Sivoliene otro certs Apirtagee share dein epscn, OF Greiotan a hla como senda lace roe A sepnda 6 a dnenia : Storylines: craftartists! narratives of tently, Cambridge, Harvard University Press, 1999, OCHS, E. € CAPES. 1. Living naratioe:creatig bes everyday storpteling Cambridge, Harvard University Press, 2001 OCHS, Es: SMITH, Re TAYLOR, C. “Dinner narratives as detective stories Cultural Dynamics, 2, 1989, pp. 238-257 RICOEUR, P. “Narrative time. Creal Inquiry, 7 {1), 1980, pp. 169-190. 8 RIPGEL"K.“The dialectics of time". In: DATAN, N. e REESE, H.W. (orgs) LifeSpan developmental psychology: dialectical perspectives on experi ‘mental research, Nova York, Academic, 1997, pp. 9-45. RINIMON-KENAN, S. Narrattve fiction: contemporary poetics, Londres, Met Inuen, 1983. ROBINS, LN. © RUTTER, M. (orgs). Straight and devious pathways from ‘hutahood to adulthood. Nova York, Cambridge University Press. 1980, ROSCH, E. “Principles of categorization’. I ROSCH, E. € LLOYD, B.B. orgs). Cognition ancl categorization. Hillsdale, EMbaum, 1978, pp. 27-48. ROSCH, E, © MERVIS, C.B. "Family resemblances: studies in the internal structure of categories". Cognitive Psychology, 7, 1978, pp. 573-605. SCHACTER, D.L. (org). 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