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ORISTINS WWACHIACK ialA TEP RAN Leda Mariza Fischer Bernardino E possivel uma clinica psicanalitica com bebés?* Ha muito tempo os bebés deixaram de corresponder as primei- ras descrigées propostas por Gesell em 1925. Desde o final da dé- cada de 1970 passou-se a tomar 0 bebé como objeto de uma série de pesquisas cientificas. As pesquisas mais recentes mostrem um bebé dotado de um aparato que o toma capaz de, desde os primei- 10s dias de vida, ser um parveiro ativo na interag4o com seus pais 0 entorno. Esta nova concepefo de bebé permite que uma elinica ne qual 0s aspectos psiquicos adquirem particular relevo e uma intervengiio através de meios simbélicos sejam consideradas pelo meio cientifi- co.em geral como possiveis. Para os clinicos da psicandlise que to- maram esta via, em contrapartida, hé muito tempo que a possibilidade e a riqueza do trabalho com os bebés € seus pais 80 uma evidéncia. No que se refere & escola inglesa de psicanalise, na esteira de Melanie Klein (1981) e Winnicott (1996), muitas t8m sido as contribuigées, pois estes psicanalistas propuseram uma clinica jé vviével na primeira infincia, principalmente a partit dos trabalfos klei- nianos sobre o Eaipo precoce (Klein, 1975) As pesquisas eos textos de Bster Bick (1964) foram fundamentais para abrir 0 campo da ob- servagio de bebés a muitas descoberias. No que se refere & es- > Agradeso a Capes pelo apoio a pesquisa, em Paris, sobre @ Clinica com Bebés, “ Leos Mana Facien Bemianone cola francesa de psicandlise, Frangoise Dolto (1999) foi a autora que mais se destacow nesta drea, de modo original, ao preocupar-se com ‘0 bebé enquanto ser de linguagem. Os trabalbos dos psicanalistas, lacanianos (Laznik, 1991; Boukobza, 1995; Eliacheff, 1995; Coriat, 1997; Szejet, 1997; Mathelin, 1999; Jerusalinsky, 2002) sio mais recentes, embora nao menos importantes, pois se situam no cam- po simbélico e preocupam-se com a incidéncia da palavra e da es- ‘rutura da linguagem na formacao do psiquismo, permitindo aliar esta vistio & descrigdo dos afetos e das relagdes objetais, bem como de outros aspectos imagindrios dos bebés, tio explorados pela verten- ‘e psicanalitica Kleiniana. Deste ponto de vista, a interrogagao que suscitou este texto poderia ser considerada retérica, no que conceme ao campo psica- nalitico, pois jé existe, na prética, uma clinica psicanalitica com be- bés e seus pais. Contudo, parece-nos relevante buscar sustentagio tedrica para estas constatagbes elinicas de tio longa data, na medi- dda em que se considera © campo clinico em geral e 0 campo cien- tifico em particular, sempre em busca de um rigor na pesquisa empirica. Para tentar responder esta pergunta nesta dimensio, te- Femos que percorrer um caminho que nos leve a considerar qual a cconcepeio sobre o bebé que atuaimente vigora, 0 que a abordagem psicanalftica tem a dizer sobre ele e seus pais, para articular estes dados & proposta de atendimento psicanalitico, cujo eixo esté na palavra, na demanda e na transferéncia ‘As competéncias do bebé Sabe-se hoje que aos seis meses de gestago um feto possui ‘0s sistemas olfativo, gustativo, auditivo e sensorial operacionais. O final da gravidex representa o apogeu do creseimento dos neurénios, que ao nascimento sofrerto uma multiplicagao de sinapses, sua es- pecializacao e conseqente perda dos neurdnios nao utilizados (Klaus, 2001) Do ponto de vista visual, um recém-nascido olha os rostos que se debrugam sobre ele, & capaz de distinguir o rosto da mae e de rosshe. un cuNcA ANAnCA nd reconhecé-lo quatro horas apés 0 nasciments apresenta reagdes a0s carinhos ¢ & presenga ¢ Do ponto de vista auditivo, desde os se © bebé ouve a vox da mie ¢ do pai, bem cor extra-uterinos. Quando nascem, podem extra ras e organizé-las de modo comparivel ao 4 ‘Assim, ao ndscimento a crianga jd conhece a possa vir a adguiri-la se ouvir falar, O recénj pela voz e identifica certos elementos det Bardies, 1996). Por isso, reage & fala com ate] E caper de identificar sua lingua materna ¢ | materna & de outras mulheres, com apenas al (DeCasper ¢ Spence, 1991). ‘Como afirma Busnel (1997), 0 bebs é pay sado pelas diferengas de voz, tonalidade, tudo ¢ ou signo, O bebé €, portanio, sensivel a voz, culado na Tinguagem: suas reagbes séo diferen fala de modo triste, 2angado, alegre Quanto a0 olfato, o recém-nascido é reat riedade de estimulagdes olfativas. Com um di ce um ador, principalmente o cheiro da mie ( A sensibilidade ttil dos bebés, por sua ve as primeiras semanas do periodo fetal. A pro 0 nascimento € dé aos bebés as condigées d antes da maturago de seus receptores centrais 2001), A sensorialidade, a motticidade ¢ as sei recém-nascido, cuja potencialidade e riquez acima, necessitam de uma integragio, aind pr6prio bebé realizar. Como afirma Negri integrar 20 seu desenvolvimento ao mesmn sensério-motores e emocionais, na medida e+ sentir seus medas ¢ suas caréneias, experimet sem consciéncia” (p. 105). Cabe a me, segun estas experiéacias atraves do filtro de seu pr cognitivista, as pesquisas sobre a habituacao ‘como cita Fourment-Aptekman (2006), “a ma- 2° (p. 110), forcando uma revisdo da teoria pi gora que os bebés “seriam capazes muito ranizar o mundo que percebem por eategoriza- que se aperivigoam com a idade” (Fourment- 112). Em outras palavras, os bebés “pensam 1am das chaves de significagao para dar sent ntos, que tero que Ihe ser fornecidas por seu los estes dados de observagao, recolhidos nas io insuficientes para dar conta do que esta em cu principal desafio é se inserir em um campo ecede € que 0 determinaré para além do corpo ramas jé insuficientes da espécie humana, cuja tempos define-se cada vez mais como simbs- vale citar Frangois Ansermet (1999) que, 20 se scoberto pelas pesquisas, “de organizagio com ssente, competente, capaz de aprender, apresen- jonamento compleios e diversifieados” (p. 48), de, contudo, confundir 0 organismo e 0 vivente, € a atividade psiquica” (ibid.), Todos estes es- “no parecem manifestar o mfnimo interesse ia 0 autor destes atos” (p, 49). Introduzir a no- a uma logica que vai além da ago e reagdo, para E rosahe. ma cuca PScvLinca cow e088? 7 le, “o sujeito implica uma dialética entre demanda e resposta, ¢ no somente entre ago € reagao” (ibid.). Este autor sinaliza que as leis determinantes do sujeito sto totalmente diferentes das leis determi- nantes do organismo, embora estejamn interligados no que se chama de desenvolvimento infantil. Além da maturagdo do sistema nervo- so central e dos esquemas basicos de funcionamento de que um or- sganismo dispde, para haver um psiguismo um sistema simbélico, uma estrutura exterior, deve se instaurar. Todos estes dados obser- vaveis, decorrentes de pesquisas extrememente interessantes, nem por isso explicamn o que teria que ser deduzido a partir de determi- nados acontecimentos, relagées, palavras: como surge o psiquismo do bebé, quando ele comega @ existir como sujeito, quais elemen- tos silo necessétios pare tal. Para isso teremos que avangar um pou- ‘co mais, apoiando-nos nas descobertas clinicas dos psicanalistas, a partir das investigagées que realizam ao escutar psicanaliticamente seus pacientes, no decorrer deste mais de um século de existéncia, saber suposto do bebé e as falhas no exercicio da parentalidade A passagem que todo bebé deve realizar — de organismo a su- jeito de uma existéncia simbdlica — pressupde uma série de opera- ‘gOes que devem se realizar no interior de uma relagfo, sustentada pelos outros parentais transmissores da estrutura simbética, cujo principal elemento & uma reniincia ao goz0 préprio ao organismo vivo, Entrar na palavra requer uma perda de gozo, mas € a condi- ‘fo pata o acesso & demande e ao desejo. ‘Uma observagdo mais atenta aos relatos presentes na cultura sobre 0s cuidados dos bebés permite-nos constatar o que vigora ha ‘muito tempo: o saber inconsciente presente na relagdo da familia com 0 bebé, que passa de geracio a geragdo, e que € transmitido quando tudo se passa bem entre o bebe e seus principais cuidado- res, E um saber ligado ao investimento libidinal da mae em seu fi- tho, saber este que humaniza, porque insere na cultura (Bemardino, 2006a), Saber cuja origem remonta ao que Freud (1914) situou como 18 Leon Minion Fis BesARONO ‘lugar do filho para seus genitores: 0 renascimento de seu narci- sismo, projetado sobre o bebé. ‘Assim sendo, a releitura que Jacques Lacan (1953) propés do conceito de inconsciente como 0 que se constitui na relago do su- jeito com um Outro, ou seja, alguém do entomo que o introduziré ‘no campo simbélico da linguagem, das leis e da cultura, representa hoje um fundamento de importantes conseqtiéncias para esta clini- cca com bebés, Se 0 desejo do filhote humano € desejo do Outro, sua relagdo com o outro — seu semelhante -, com o corpo préprio e com. ‘0s objetos serd estruturada tendo como base esta referéncia ao de- sejo do Outro, elemento simbélico. Francoise Dolto (1992), paralelamente aos trabalhos de Lacan, jnaugurou uma via independente, com uma concepeae prépria so- bre o bebé — principalmente ancorada em sua nog de imagem in- consciente do corpo. Sobre esta importante noglo construida por Dolio, Boukobza precisa que ela decorre da relago original com 0 Outro, relagdo que “é, a0 mesmo tempo, corporal ¢ linguageira”” (p. 82). Assim, Dotto foi uma pioneita no trabalho com bebés, prin- cipalmente levando em conta esta dimensGo simbélica. Para Dotto, esta dimensdo é fundamental, como afirma Boukobza (2006): “a in guagem, através das palavras dirigidas & erianga, opera a disjungdo dos desejos do sujeito e das necessidades do organismo” (p. 85). Dolto (1999) afirma que, “para uma criana, tudo € linguagem sig- nificativa, tudo o que se passa & sua volta e que ela observa. Ela re- fete sobre estas coisas” (p. 10). Para essa psicanalista, “todo ser humano acontece constantemente no ébito da fungio simbélica” (p. 12). ‘A clinica psicanalitica com bebés tem lugar quando este saber inconsciente vacila, falba. Esta capacidade, esperada nas relagées entre pais e filhos como parte do proceso de humanizago, que se transmite ha geragbes na cultura, pode se romper em determinadas situagées. Entio, aqueles que exercem as fungdes paterna ¢ mater na pata 0 bebé nfo conseguem — geralmente sem o perceber — cum- prit a contento sua fungio de representantes do Outro simbélico para o bebe ‘A pesquisa clinica psicanalitica revelou que isto pode ocorrer ‘por diferentes fatores, conforme jd desenvolvernos em outro trabalho E rossi wa clea pacaniren se (Bernardino, 20066), que podem envolver acidentes simbdlicos. Por exemplo, pode sey ga falicizar este filho por problemas decotret perta nela inconscientemente, seja por sua desencadeia vivencias arcaicas dificeis de suy uma problemitica propria ao bebé ou as cine cimento. Um parto prematuro, situagdes que para 0 bebé, ou determinagdes genéticas ca sindrome, um defeito, uma malformagio pox ‘nos responsivo aos investimentos parentais, que estes pais no consigam inserir este filh filiagdo, estando sujeitos inconscientemente a bolica familiar que 05 ultrapassa, despertan: petico que os deslocam do lugar de interloc bebé. Pode ser ainda que 0 bebé em quest receptivo ao que a mie lhe transmite ineonsc prias angiistias, segundo 0 modelo da comun nardino, 2004). Por fim, pode ocorre corresponcer 40 que 0s pais esperavam de ur que eles 0 elidem de seus investimentos libidic cientemente. Em resumo, percebe-se que se trata do das as suas extensdes, que pode deixar deter vyoco, todo um destino, se no houver uma ie ‘Teperman (2005), “a tempo”, Como aponta | tem uma psicopatologia precoce, mas nur maioria das vezes, quando este sofrimen cedo, sua capacidade de evoluir é grande ‘temente eficaz” (p. 53). O trabalho psicanalitico com o bebé e 0 que caractetiza a abordagem psicane sua intrinseca vinculago com a pesquisa d Como Freud (1923) defini, a psicandlise & ‘gaca0. Trata-se de um dado de abservacao « son Manon Fscxen Besussano seus genitores: 0 renascimento de seu narci 0 bebé. feleitura que Jacques Lacan (1953) propés do nie como o que Se constitui na relag8o do su- ou seja, alguém do entomo que o introduziré da linguagem, das leis e da cultura, representa de importantes conseqiiéncias para esta clini- ssejo do filhote humano é desejo do Outro, sua “seu semelhante -, com 0 corpo proprio e com uurada tendo como base esta referéncia ao de- nto simbélico, (1992), paralelamente aos trabalhos de Lacan, adependente, com uma concepeéo propria so- mente ancorada em sua nogéo de imagem in- Sobre esta importante no¢o construida por isa que ela decorre da relacao original com 0 é, ao mesmo tempo, corporal ¢ linguageira” | foi uma pioneira no trabalho com bebés, prin- conta esta dimensio simbélica, Para Dolto, amental, como afirma Boukobza (2006): “a lin- palavras dirigidas & crianga, opera a disjungao to e das necessidades do organismo” (p. 85). que, “para uma crianga, tudo é linguagem sig- c se passa a sua volta e que ela observa, Ela re~ sas” (p. 10). Para essa psicanalista, “todo ser mnstantemente no Ambite da fungdo simbélica” nalitica com bebés tem lugar quando este saber falha. Esta capacidade, esperada nas relagSes omo parte do processo de humanizagdo, que se 2s na cultura, pode se romper em determinadas ucles que exercem as fungées paterna e mater- miseguem ~ geralimente sem o perceber ~ cum- angio de representantes do Outro simbélico para nica psicanalitica revelou que isto pode ocorrer s, conforme jé desenvelvemos em outro trabalho E rosshe. am cuts nscanatinca oon wees? 0 (Bernardino, 2006b), que podem envolver acidentes do acaso ou acidentes simbélicos. Por exemplo, pode ser que a mae nao consi- 4a felicizar este filho por problemas decorrentes do que 0 bebé des- perta nela inconscientemente, seja por sua presenga mesma, que desencadeia vivencias arcaicas dificeis de suportar para ela, soja por uma problematic prépria a0 bebé ou as circunstancias de seu nas- cimento, Um parto prematuro, situagdes que implicam risco de vida para o bebé, ou determinacées genétices como a presenga de uma sindrome, um defeito, uma malformacao podem tomar o bebé me- nos responsivo aos investimentos parentais, por exemplo. Pode ser que estes pais ndo consigam inserir este filho em sua linhagem de filiagdo, estando sujitos inconscientemente a uma determinagao sim- bolica familiar que os ultrapassa, despertando neles reagdes de re- petigto que os deslocam do lugar de interlocutores privilegiados do bebé. Pode ser ainda que o bebé em questi seja particularmente receptive ao que @ mae lhe transmite inconscientemente de suas pré= prias angiistias, segundo o modelo da comunicagdo telepética (Ber- nardino, 2004). Por fim, pode ocorrer de este beb& nao costesponder ao que os pais esperavam de um filho de um modo tal que cles 0 clidem de seus investimentos libidineis, defensiva e incons- cientemente Em resumo, pereebe-se que se trata do mal-entendido em to- das as suas extenstes, que pode deixar determinar, na base do equi- ‘yoo, todo um destino, se niio houver uma interveng&o, no dizer de ‘Teperman (2005), “a tempo”. Como aponta Delion (2000), “o bebé tem uma psicopatologia precoce, mas num quadro interativo na maioria das vezes, ¢ quando este softimento é considerado bem cedo, sua capacidade de evoluir é grande e a terapéutica freqtien- temente eficaz” (p. 53). O trabalho psicanalitico com o bebé e seus pais que caracteriza a abordagem psicanalitica é primeiramente sue intrinseca vinculagdo com a pesquisa do psiquismo humano. Como Freud (1923) definiu, a psicandlise é um método de investi- gacio. Trata-se de um dado de observacao clinica, nestes mais de 20 Leon Manca Fis Berwarono ‘cem anos da pratica psicanalitica, setenta dos quais j dedicados a uma abordagem dos bebés, que muito precocemente os bebés jé tem formas de comunicagao de suas dificuldades no encontro com o mundo simbdlico e relacional. Muito cedo ¢ possivel detectar sinais destas dificuldades a partir das formas de apelo de que os bebés dis- poem, preferencialmente através de seu corpo. Assim, do ponto de vista psicanalitico, é possivel escutar os bebés, ali onde eles se ma- nifestam, para lhes supor linguagem, ou seja, se 0 bebé é simb6li- ‘20, aquilo que ele daa ver tem que ser considerade também sob este Angulo. Sto sintomas do recém-nascido e da primeira inféncia em eral: vomitos, regurgitagdes, diarnéias e constipagbes, célicas idio- paticas, problemas de pele, de crescimento, de t6nus muscular ~ sintomas que atingem seu corpo e distinguem toda uma psicosso- :itica da primeira inflincia, So também sintomas dos bebés: a re- ‘cusa a0 scio, as anorexias, as bulimias, 0 sono em excesso ou @ insOnia priméria, a apatia ou 0 choro excessivo ~ sintomas ja de ccomportamento, em reagfo & organizagdo das diversas fungdes cor- porais a partir de elementos simbélicos. Todos estes sintomas sto formas que 0 bebé tem de se comunicar com 0 entorno e reagir 40 que se espera (ou nido se espera) dele. HG sintoma, portanto, no sentido psicanalitico do termo: algo que se manifesta no sujeito ¢ transmite seu mal-estar, mas de uma rmaneira desviada, codificada, necessitando interpretacao. Decodi- ficar uma linguagem que perturbou bom zndamento do desenvol- vyimento da erianga antes da fala & como Dolto (1999) propde © papel do psicanalista na escuta dos bebés. Sua fungdo seria a da es- ccuia e interpretagio dos sintomas, a partir da escuta da historia do bebé ¢ de sua familia. A diregao do tratamento No que se refere ao tratamento psicanalitico padrao, hé um primeiro paradoxo a resolver no trabatho com bebés, jé presente na Clinica psicanalitica com eriangas: a questo da demanda. Se esta pergunta foi respondida a partir das possibilidades do uso do brin- car como significante e de levar a sério o que as criangas dizem, na possies na cuter Fecaainea coms clinica com bebss tata-se de algo mais radical fala, Nao fala? Bem, hi que relatvizar esta afer E importante considerar a diferenga entre {) bem apontada por Lacan (1953) em seu esctita Ho do campo da palavra e da linguagem em p ainda ndo fala, mas jd esté imerso em um unit antes mesmo de naseer. Portanto, é esperacio cy nado como capaz de se expressar, ainda quan! iitero. Nao € falante, mas jé esté inserido Jinguagem, submetido desde seu inicio as suas ‘Nao menos importante & 0 papel das dese crito por Freud no “Projeto para uma psicologi em 4 interpretagao dos sonhos (1990), como 420 seu meio. Acontece que o meio humano é ¢ bélivo: suas reagdes véo se dar nesse contexte os, comunicaglo. Seus movimentos ser20 inten linguageito. Entio, devemos considerar dois ambitos, éesenvolvimentos de Lacan no Seminrio I (19! bito do apelo: o grito, 0 choro, descargas mot cam” 0 rompimento da homeostase do funcior temos 0 ambito da demanda, que vem dos oul tura que fazem estes que cercam o bebé, sto sei ¢ articulam palavras, para situar no campo sii com 0 bebé. Poderiamos dizer que na clinica com beb liminar: estamos simultaneamente no ambito ¢ refere a0 bebé, e no ambito da demande, no qi que se preocuparn com o bebé e formulam ua que the ocorre. ‘Temos um passo a considerar: 0 bebé nece Jocado no lugar de Outro para identiicar os se transfonmé-los em demand. Hé casos em que ¢ (a mie, em geral) tem poucas condigdes de ocus desenvolvemos acima. E necessério que alguét fazer este caminbo até a demanda, alguém que algo ali fala, mas nfo é ouvido. Podem ser oute Le Masa Foner Bernanono psicanalitica, setenta dos quais jé dedicados @ sebés, que muito precocemente os bebés jé t8m tio de suas dificuldades no encontro com 0 slacional. Muito cedo ¢ possivel detectar sinais partir das formas de apelo de que 0s bebes dis- ente através de seu corpo. Assim, do ponto de possivel escutar os bebés, ali onde eles se ma- upor linguagem, ou seja, se 0 bebé & simbdli- a ver tem que ser considerado também sob este s do recém-nascido e da primeira inféncia em tages, diarréias e constipagées, célicas idio- fe pele, de crescimento, de t8nus muscular — m seu corpo ¢ distinguem toda uma psicosso- afincia. So também sintomas dos bebés: a re- yrexias, as bulimias, o sono em excesso ou a apatia ov o choro excessivo ~ sintomas ja de reagGo a organizagdo das diversas fungSes cor- ementos simbolicos. Todos estes sintomas Eo em de se comunicar com 0 entomo reagit a0 (0 se espera) dele, Jrtanto, no sentido psicanalitico do termo: algo ‘sujeito e transmite seu mal-estar, mas de uma odificada, necessitando inierpretagdo. Decodi- 1 que perturbou 0 bom andamento do desenvol- antes da fala é como Dotto (1999) propée © a na escuta dos bebés. Sua fungdo seria a da es- dos sintomas, a partir da escuta da histéria do a. mento ere ao tratamento psicanalitico padrao, hé um 1 resolver no trabalho com bebés, jé presente na 1 com criangas: @ questéo da demanda. Se esta dida a partir das possibilidades do uso do brin- tc ¢ de levar a sério 0 que as eriangas dizem, na E rossier un cuca Paci cow ees? at cifnica com bebés trata-se de algo mais radical: o paciente ainda ntio fila, No fala? Bem, hé que relativizar esta afirmagao... E importante considerar a diferenca entre linguagem ¢ fala, tio ‘bem apontada por Lacan (1953) em seu escrito fundamental “Fun- 20 do campo da palavra e da linguagem em psicanilise”. O bebé ainda ndo fala, mas jé esta imerso em um universo de linguager antes mesmo de nascer. Portanto, & esperado como falante, imagi- nado como capaz de se expressat, ainda quando se encontra intra- iitero. Nao € falante, mas j4 est4 inserido em um campo de Tinguagem, submetido desde seu inicio as suas incidéncias. Niio menos importante é 0 papel das descargas motoras des- ctito por Freud no “Projeto para uma psicologia eientifica” (1895) e-em A interpretagao dos sonhos (1900), como as reagtes do bebs 20 seu meio. Acontece que o meio humano essencialmente sim- bolico: suas reagdes vio se dar nesse contexto de palavras, senti- dos, comunicagdo, Seus movimentos serdo interpretados nesse meio linguageiro. Entio, devemos considerar dois ambitos, também a partir dos desenvolvimentos de Lacan no Semindrio (1953-54): temas o Ame bito do apelo: o grito, 0 choro, descargas motoras que “comuni- cam” 0 rompimento da homeostase do funcionamento do bebé: ¢ temos 0 ambito da demanda, que vern dos outros, a partir da lei- tura que fazem estes que cercam 0 bebé, sto sensiveis 20 seu apelo e articulam palavres, para situar no campo simbélico 0 que ocorre ‘com 0 bebé. Poderiamos dizer que na clinica com bebés ha um dado pre- liminar; estamos simultaneamente no ambito do apelo, no que se refere ao bebe, € no Ambito da demanda, no que se refere Aqueles ‘que se preocupam com o bebé ¢ fortulam uma queixa referente a0 que lhe ocorre, ‘Temos um passo a considerar: 0 bebé necessita de alguém co- locado no lugar de Outro para identificar os seus sinais de apelo e ‘ransformé-los em demancia, Ha casos em que o cuidador principal (a mae, om geral) tem poucas condigdes de ocupar este lugar, como desenvolvemos acima. E necessério que alguém do entorno possa fazer este caminho até a demanda, alguém que seja sensivel a que algo ali fala, mas no é ouvido. Podem ser outros familiares, 0 pe- 22 Leo Manca Fiscres Bernnono diatra, os funcionérios da creche na qual o bebé permanece por al- ‘gui fempo, até mesmo profissionais de outras dreas que si leva fdos a interagir com o bebé (um juiz, por exemplo, em casos de dogo). "A escuta, nesta clinica, tem a funeio de acolher esta série de demandas de atendimento, para reenviar o apelo 20 lugar de um pe- ido a0 Outro, enderegado 20 Outro do bebé, que esté impossibili- tado de reconhecé-lo, O papel da eseuta psicanalitica é oferecer 0 setting eo acolhimento necessérios para que este carinho seja per~ corrido: o caminho de reconhecimento do apelo do bebé, de seu ‘sofrimento, por seu Outro primordial, a partir desta demanda que surge geralmente dos outros, estranhos ao processo, Fm suma, hi dima cadeia de significantes composta pelas demandas produzidas fem tomo dos apelos sem sucesso do bebé ao seu Outro, a ser re- conhecida antes da demanda de tratamento propriamente dita. Lax ‘can (1957-58) ajuda-nos a entender isso quando enfatiza 0 “desejo de reconhecimento” como 0 anseio fundamental do sujeito. ‘Outro paradoxo a considerar refere-se & iransferéncia. Nao hi transferéncin possivel desde o bebé. A transferéncia tem a ver com ‘08 pais. O bebe é inserido neste circuito transferencial, no qual o analista € tomado em diferentes lugares. Muitas vezes, o analista & situado em um lugar semelhante a0 do bebé: quando ele fala, res- ponde, escuta-se 0 bebé, Neste caso, o analista representa o bebé ali, embora no o seja. Os pais, por sua vez, quando falam do bebe, de um filko imagindrio que se trata, mas algo Thes falta, ¢ & isso que t8m de perguntar ao bebé, que 0 bebé seria suposto saber. Nas situagdes comuns, os pais perguntam ao seu bebé: “que queres?”. ‘Qualquer gesto vale como resposia, é que o bebe se epresenta para tentar corresponder a este lugar que os pais the dio: de deier um saber que Ihes falta. Esta resposta é interpretada a partir do saber jnconsciente dos pais, desencadeado pela presenca deste filho em ‘sua historia, Nestes casos, 0s pais podem supor um saber no bebé: “ele sabe o que quer”. Esti montado 0 circuito da “comunicagao”, no qual, como se sabe desde Lacan (1953), “o sujeito recebe sua propria mensagem do Outro, de forma invertida”, o “tu és” pode se formar o “eu sou” de uma afirmagao subjetiva ineipiente, mas sufi- ciente para aplacar a angistia do desamparo simbélico originsri. E rossve oss cue rca co Mesmo que se saiba, também por Lacan (195 cago sera sempre truncada, 0 mal entendido polissemia da linguagem humana que, em con tia da subjetividade. Quando o bebé, ou» dificuldades para desencadeat este processa ¢ da demanda ¢ do desejo, ha sintoma. Eo mom: cena o “especialista” €a ele que 0s pais vao | Iho quer, 0 que esté querendo dizer, ou 0 qu perguntar a um filho! Assim, para que 0 circ. ponha em funcionamento, é necessario ine! sério que 0 analista, ao ser interpelado, no 1 abjeto de que se fala, mas poss tomo com linguagem e que fala em nome proprio, tem uma resposta & pergunta que os pas he divige queixam a0 analista, Seria © momento em que seu destino, como antecipa Lacan em seu Ser: roubada (1956). 0 analista seria o receptos, eo (Bemardino, 2000, desta carta desviada a enca tinataio assamos entlo para a questao da interve bebés e seus pais O trabalho se faz no espago © que nfo impede que o bebé teaja do modo b lavras do analista, Pode-se falar entio de uma do analista, ao qual cabe ditigi crianga, con a ela, o que ele escuta no Armbito da sessto e respeite & crianga ‘Além diss0,hé o eftto do trabalho de ai 4e absorgio da angsta dos pais, que inconsci do deserpentado pelo bebé com um alto cust carregar desta angistia e permit seu desa narrativa e em uma busea de signficagées e analist nda a flngdo do elemento terceito, di tada pelo analista para a familia que o procura pata além do universo familiar capturado pela p sa softimento permite uma separagao entre a Lox Morea Fc Benoa 1s da creche na qual o bebé permanece por al- mo profissionais de outras dress que sao leva- (6 bebé (um juiz, por exemplo, em casos de clinica, tem a fungo de acother esta série de nento, para reenviar 0 apelo ao lugar de um pe- regado ao Outro do bebé, que esta impossibili- >. O papel da escuta psicanalitica é oferecer 0 nto necessérios para que este caminho seja per- de reconhecimento do apelo do bebé, de seu Outro primordial, a partir desta demanda que 1s outtos, estrankos ao processo. Em suma, hi ficantes composta pelas demandas produzidas s sem sucesso do bebé ao seu Outro, a ser re- demanda de tratamento propriamente dita, La- -nos a entender isso quando enfatiza 0 “desejo “como o anseio fundamental do sujeito o a considerar refere-se & ransferéneia. Ndo ha el desde o bebé. A transferéncia tem @ ver com aserido neste circuito transferencial, no qual 0 m diferentes lugares. Muitas vezes, 0 analista & ir semelhante ao do bebé: quando ele fala, res- bebé. Neste caso, o analista representa o bedé sa. Os pais, por sua Vez, quando falam do bebé, inaio que se trata, mas algo Ihes falta, ¢ é isso ar ao bebe, que o bebé seria suposto saber. Nas os pais perguntam ao seu bebé: “que queres?”” - como resposta, jf que o bebé se apresenta para fa este lugar que os pais the dio: de deter um 2, Esta resposta é interpretada a partir do saber ais, desencadeado pela presenga deste filho em ; casos, 0 pais podem supor um saber no bebé: er”. Esta montado o circuito da “comunicagéo”, sabe desde Lacan (1953), “o sujeito recebe sua do Outro, de forma invertida”, 0 “tu é5” pode se fe uma afitmasdo subjetiva incipiente, mas sufi- -a angiistia do desamparo simbélico originario. E rossi. una cubuca panna con sts? 23 Mesmo que se saiba, também por Lacan (1953), que esta comuni- cago seré sempre truncada, 0 mal entendido sendo sua ténica, na polissemia da linguagem humana que, em contrapartida, & a garan- tia da subjetividade. Quando o bebé, ou os pais, apresentam dificuldades para desencadear este processo de entrada no campo da demanda e do desejo, ha sintoma. E 0 momento em que entra em cena 0 “especialista”: € a ele que os pais véo perguntar o que o fi- Iho ques, 0 que esté querendo dizer, ou 0 que & que um pai deve perguntar a um filho! Assim, para que o circuito transferencial se ponha em funcionamento, € necessério incluir 0 bebé. E neces- sirio que 0 analista, 20 ser interpelado, no tome o bebé como 0 objeto de que se fala, mas possa tomd-lo como sujeito suposto na Tinguagem e que fala em nome proprio, tem sua pergunta, € teria ‘uma resposta & pergunta que os pais the dirigem, através do que se queixam ao analista, Seria o momento em que a carta/letra chega a0 set destino, como antecipa Lacan em seu Seminario sobre a carta roubada (1956). O analista seria o receptor, conforme propusemos (Bemardino, 2000), desta carta desviada a encaminhar para seu des- tinatério Passamos entio para a questo da infervengdo ns clinica com bebés e seus pais. O trabalho se faz no esparo da relacto pais-titho, ‘0 que nfo impede que 0 bebé reaja do modo bem autonomo as Javras do analista, Pode-se falar entdo de uma fangio de mediagdo do analista, ao qual cabe dirigir & crianga, com palavras acessiveis ala, 0 que ele escuta no Ambito da sesso e que Ihe parece dizer respeito & crianga. ‘Além disso, hé 0 efeito do trabalho de acolhimento e mesmo e absoredo da angiistia dos pais, que inconseientemente vinha sen- o desempenhado pelo bebé com um alto custo psiquico. Ao se en- carregar desta angistia e permitir seu desdobramento em uma natrativa ¢ em uma busca de significagdes e conexdes com a his- , © analista libera 0 bebé desta Hi ainda a fungaio do elemento terceito, da alteridade represen- tada pelo analista para a familia que o procura: a linguagem dirigida para além do universo familiar capturado pela problemétice que cau- sa sofrimento permite uma separacdo entre a mile, ou os pais, © 0 ss 4 Leo Manca Fncre Berton filho, entre 0 bebé e sua dor psiquica, Trata-se entéo de uma fun- ‘gio que poderiamos chamar de apazigitadora, no sentido que toda introdugo de fungi paterna tem de localizar 0 sujeito no lugar que The cabe. O papel e a posigdo de terceiro do analista, em relagdo a0 casal, como sublinhe Anzieu-Premmereur (2002), “garante 0 espa- 0 paca as representagSes € os pensamnentos da erianga” (p. 192). ‘A interpretagio nesta clinica refere-se a todas estas fungdes da palavra: mediagio, acolhimento, absorgao e separago; bem como as fungGes imagindrias que nfo podem faltar na especificidade desta clinica e que remetem muito mais ao ato do que & palavra: 0 olhar, fa surpresa, 0 encantamento como reagbes possiveis de localizar 0 bbebé em um lugar fico, potencialmente & espera de ser investido narcisicamente por seus outros parent Outro elemento a considerar é 0 efeito das intervengbes sobre © beds, que se dé a ver preferencialmente no seu corpo, nas suas fungSes e no seu comportamento, muitas vezes de modo espetacu- lar, Estes efeitos sto nosso sinalizador de que © bebé tem acesso a estas intervengoes, mesmo que paradoxalmente ainda nfo tena do- ‘minio da fala nem de um sistema mais complexo de significagdes. 0 que sabemos € que situar 0 bebé em uma rede de significagdes na qual seu lugar esté claramente indicado, a partir do qual ele é con- ‘voeado a comparecer, permitem que ele escape a angistia aniqui- ladora da falta de sentido, do desamparo ¢ do nfo lugar simbélico. Quando a angistia ~ motor do sintoma ~ encontra vias de escoa- mento, ou 6 direcionada para seu devido lugar, desaparece a fun¢ao do sintoma na economia psiquica e 0 desenvolvimento pode reto- mar seu curso, Resta ainda abordar a questto do fim da andilise na clinica com Debés e seus pais, ou de seus desdobramentos. Muitas vezes, o que verificamos é a retomada da angiistia por parte do casal, ou indivi- dualmente pela mde ou pelo pai, o que pode evoluir para uma andli- ‘se pessoal da qual o bebé no far mais parte, Realizou-se 0 que ‘Anzieu-Premmereur (2002) denominou de “remanejamento da fun- {20 parental por um remanejamento das representagdes que os pais tinbam de seu filho” (p. 186). Nos casos de uma problematica lo- calizada nas proprias questies do bebé, pode se ter produzide ume reorganizacto da sua fantasmética, com efeitos apaziguadores pare E possveL usa ccs rca ce este iltimo, ou esta andlise pode evoluir pan a propriamente dita, principalmente nos ca jf instalados ou de problemas do desenvol crianga necessitaré de um acompanhamento ria dos casos, contudo, é uma anélise que ter ver a sintomatologia do bebe tendo desapare mais motivos para sua continuidade. Entre! pare o analista, € pouco significative, no Premmereut, pois o “elemento essencial” a a “melhora da qualidade das interagdes ente No bebé, além de sua modificagao em term busca sio sinais de que cle esta presente e int ‘0 rodeia, que tem preservadas sua capacida ceptividade as palavras. Convéin lembrar, contudo, que o térming po de bebé ficara em aberto e no impediré lista na seqiéncia da histéria da crianga, ju percorreu esta trilha antes ese conhece a imp ‘Sobre prevengio e interdisciplina Winnicott (1996) foi o pioneiro no que prevengdo em salide mental. Para ele, as bas estabelecidas pelo que chama de ambiente f ele através do que atribui notedamente a fig pagdo matemna primiria; a capacidade de ide seu bebé; e 0 conceito de mae suficientemen temfncia presenga e auséncia Pata ele, a questo se cofoca em terme do este “ambiente” (que aqui podemos amp Outro proposta por Lacan, uma vez que se | lica) passa a no dar conta de sua fungi de se endo a capacidade dos pais de intermedic ‘com seu corpo, seu psiquismo e seu lugar ¢ ‘5 pais néo chegam a se colocar ou ndo se < sa 20s Masza Facies BURCH sua dor psiquica. Trata-se entio de uma fun- shamar de apaziguadora, no sentido que toda paterna tem de localizar 0 sujeito no lugar que posigdo de terceiro do analista, em relagdo a0 ‘Anzicu-Premmereur (2002), “garante 0 espa- ges € os pensamentos da crianga” (p. 192) nesta clinica refere-se a todas estas fungies da olhimento, absorgio ¢ separagao; bem como as que niio podem faltar na especificidade desta n muito mais ao ato do que a palavra: o olhar, smento como reagdes possiveis de localizar 0 lico, potencialmente & espera de ser investido cus outros parentais ‘a considerar € 0 efeito das intervengbes sobre ver preferencialmente no seu corpo, nas suas nportamento, muitas vezes de modo espetacu- nosso sinalizador de que 0 bebé tem acesso a iesmo que paradoxalmente ainda néo tenha do- ¢ um sistema mais complexo de significagBes. e situar 0 beb§ em uma rede de significagées .claramente indicado, a partir do qual ele é con- 1, permitem que ele escape & angistia aniqui- ntido, do desamparo e do nao lugar simbélico. - motor do sintoma — encontra vias de escoa- ada para seu devido lugar, desaparece a fungdo smia psiquica e 0 desenvolvimento pode reto- redar a questo do fim da anditise na clinica com 1 de seus desdobramentos. Muitas vezes, 0 que mada da angtistia por parte do casal, ou indivi- ou pelo pai, 0 que pode evoluir para uma anli- ) bebé aio fara mais parte, Realizou-se 0 que (2002) denominou de “remanejamento da fun remanejamento das tepresentagdes que 0s pais ”(p. 186), Nos casos de uma problemética lo- s questbes do bebé, pode se ter produzido uma a fantasmatica, com efeitos apaziguadores para E posave wun cuca PStanATCA cm Eats? 25 este Gltimo, ou esta andlise pode evoluir para uma andlise de crian- ‘ga propriamente dita, principalmente nos casos de riscos psiquicos 4 instalados ou de problemas do desenvolvimento, nos quais a crianga necessitaré de um acompanhamento sistemético. Na maio- ria dos casos, contudo, é uma andlise que tem curta durago e, uma vex a sintomatologia do bebe tendo desaparecido, os pais nfo veer mais motivos para sua continuidade, Entretanto, este dado em si, para o analista, ¢ pouco significativo, no entender de Anzieu- Premmereut, pois o “elemento essencial” a tomar como referéncia 6 a“melhora da qualidade das interagbes entre mae e bebé”(p. 186). ‘No bebé, além de stua modificagdo em termos sintomais, o que se busca sto sinais de que ele esté presente ¢ interessado no mundo que © rodeia, que tem preservadas sua capacidade de brincar e sua re- ceptividade s patavras. Convém lembrar, contudo, que o término deste trabalho no tem- po de bebé ficara em aberto e nfo impediré nova procura do ana- lista na seqiiéncia da historia da crianga, justamente porque j4 se percorreu esta trilha antes ¢ se conhece a importineia deste recurso! Sobre prevencao e interdisciplina Winnicott (1996) foi o pioneiro no que se refere & questo da prevengio em safide mental. Para ele, as bases da saiide mental s40 estabelecidas pelo que chama de ambiente facititador, descrito por cle através do que atribui notadamente a figura matemna: a preocu- pagdo materna primétia; a capacidade de identificagao da mae com seu bebé; € conceito de mae suficientemente boa, que insere a al- ternfincia presenca e auséncia, Para ele, a questo se coloca em termos de prevengo quan- do este “ambiente” (que aqui podemos ampliar para © conceito de ‘Outro proposto por Lacan, uma vez que se trata da fungao simbé- lica) passa a nao dar conta de sua funeio de “facilitador”. Rompe- se entio a capacidade dos pais de intermediarem a relacto do bebé ‘com scu corpo, seu psiquismo e seu lugar de falante, Nesse caso, ‘8 pais néo chegam a se colocar ou no se colocam mais no lugar 26 Leon Mae Fev Bernanon0 de suposto saber sobre seu filho, passando a rio mais supor no fic tho um sujeito. ‘O papel da prevengio que cabe ao psicanalista & 0 de restabe- lecer o lago transferencial pais/bebé, para que o ambiente possa ser, ‘ou voltar a ser, facilitador. ‘Diversas situagdes envolvendo bebés dizem respeito a um tra- patho em equipe. Tanto nos casos de prematuridade, doengas ou ‘eidentes que implicam a hospitalizago do bebé € seu contato com tidiano com uma equipe médica, quanto nos casos de problemas de desenvolvimento como sindromes, deficiéncias, que implicam 0 ‘ontato do bebé com uma equipe técnica. Nestes casos, coloce-se a situagto de risco psiquico decorrente da possivel fagmentagdo do ‘bebe diante destes diferentes olhares, técnicas, intervenes ¢ pres- crigBes que 0 dividem por especialidade, sem geralmente conside- tarem o risco do desamparo psiquico em jogo nestas situagdes. ‘Como antecipar um sujeito e fomecer-Ihe matrizes simbélicas de sustentagio, em meio a esta profusto de lugares, olhares © ages? Encontra-se ai a necessidade de um eixo em torno do qual as dife- rentes pessoas da equipe possamn conceber um bebé no seu senti ‘do mais intrinseco: em sua singularidade de falasser. Sustentar este tixo é 0 papel do psicanalista nas equipes que atendem bebés. “Ali onde impera a necessidade urgente da reanimagio fisica, ingere-se ume preocupagtio de mesmo calibre: a reanimagao psiquica, ‘como bein apontout Mathelin (1999). "Ao sustentar 0 eixo da subjetividade suposta do bebé, através «da concepgo de sujeito proposta pela psicandlise, da transferéncia, da consideragio do desejo e do brincar nos contatos cotidianos com ‘os pais, os integrantes das equipes téenicas ¢ das insttuigBes, 0 psi- Canalista atva em diferentes frentes. Permite que a falicizagao do bbebé nio fique comprometida, que 0 isco de o bebé se reduzit a um puro objeto real de intervengdes sea afastado e que haja 0 encom fro de olhares, palavras e investimentos que veiculam desejo, elemen- tos necessérios para a identificagio subjetiva e a constituigzo da imagem propria, Possibilita que os pais possam acionar seu saber inconsciente sobre seu bebé e sé autorizem a antecipar um sujeito ali, reconstituindo 08 lagos familiares rompidos pela situagao ines- petada que os envolveu e a0 seu fil. E possveL wun cen Prem auircn con Conclusao A clinica com bebgs & ume re come o taba com bebésconheceu uns bong Entvetano, reconhecer neste bebé algo além den para uma maior rentablidade cognitive ~ mets rio neoliberal que hoje prevalece ~ndo é uma ev ___Em um movimento maite anterior, ue da clinica psicanalitin da tetemunho, atiavés da cientificos e relatos de casos clinicos, de um 4 escut, no desdobramento da demanda, nadir nas inlervengBes pla via do ato ed para. F & essencial dispor de chaves de leitura para os estes no fiquem reduzidos a una pura desric&, uma pesquisa tautologia indi. A disposigéo de consciente, pulsio, transferenca, repetigo (par de Lacan, 1964) permite interpretar as manifes uum manejo clinico tal que os efeitos logo se da __ Se, com todas estas constatagdes, parg psicanalitic ainda no est claro que o atendin ser, sim, pscandlise; mesmo que o pacente ainda convencional das palavras, fica claro que | possibilidades de escuta com efeitos surpreender um longo caminho a percorret no sentido de prétia e resolver seus impasses, Mas ficam aqu passes, Referéncias Ansan, F. Clinique de origin: : fo Vorigine: Venta ents pevehanale, Lausanne, Payot, 1999 Avau-Peamnt, C. Consuatons rap Bvowowsen,M. (Org), Des mares eles rower interventions autour de la naissance. Issy- Ls i Issy-les-Moul on Manca Fico Berne seu filho, passando a no mais supor no fi- engo que cabe ao psicanalista é 0 de restabe~ scial pais/bebé, para que 0 ambiente possa ser, ador, jes envolvendo bebés dizem respeito a um tra- nto nos casos de prematuridade, doencas ou am a hospitalizagio do bebé e seu contato co- ipe médica, quanto nos casos de problemas de mo sindromes, deficiéncias, que implicam 0 | uma equipe técnica. Nestes casos, coloca-se {quico decorrente da possivel fragmentagio do ferentes olhares, técnicas, intervencdes e pres- n por especialidade, sem geralmente conside- amparo psiquico em jogo nestas situagdes. “um sujeito e fomecer-the matrizes simbélicas cio a esta profusti de lugares, olhares ¢ ages? essidade de uum eixo em torno do qual as dife~ juipe possam conceber um bebé no seu senti- m sua singularidade de falasser. Sustentar este canalista nas equipes que atendem bebés. 1a necessidade urgente da reanimacao fisica, pago de mesmo calibre: reanimagao psfquica, Mathetin (1999). eixo da subjetividade suposta do bebé, através cito proposta pela psicandlise, da transferéncia, lesejo e do brincar nos contatos cotidianos com 2s das equipes técnicas e das instituigdes, 0 psi ‘erentes frentes. Permite que a falicizago do wrometida, que 0 risco de o bebé se reduzit a um intervengoes seja afastado © que haja 0 encon- as e investimentos que veiculam desejo, elemen- 1 a identificagao subjetiva ¢ a constituicdo da ssibilita que os pais possam acionar seu saber seu bebé e se autorizem a antecipar um sujeito $ lagos familiares rompidos pela situagao ines- veu e a0 seu fill. possi. una cuca ssn co DS? ar Concluséo A clinica com bebés é uma realidade contempordnea, assim ‘como 0 trabalho com bebés conheceu um boom nos iltimos anos. Entretanto, reconhecer neste bebé algo além de neurénios a estimular para uma maior rentabilidade cognitiva ~ meta afinada com 0 ided- rio neoliberal que hoje prevalece ~ no é uma evidéncia. Em um movimento muito anterior, que date dos anos 1930, a clinica psicanalitica dé testemunho, através da profuséo de artigos cientificos e relatos de casos clinicos, de um trabalho baseado na escuta, no desdobramento da demanda, na dirego do tratamento, nas intervengdes pela via do ato ¢ da palavra. Fica ressaltado como é essencial dispor de chaves de leitura para os fenémenos, para que estes nd fiquem reduzidos a uma pura descrigto deles mesmos, em tuma pesquisa tautolégica imitil. A disposigdo de conceitos como in- consciente, pulsto, transferéncia, repeticao (para seguir o destaque de Lacan, 1964) permite interpretar as manifestagdes dos bebés e uum manejo clinico tal que os efeitos logo se dio a conhecer. Se, com todas estas constatagdes, para o proprio campo psicanalitico ainda no esté claro que o atendimento de bebés pode se, sim, psicandlise; mesmo que o paciente ainda nao fale no sentido convencional das palavras, fica claro que hé significantes possibilidades de escuta com efeitos surpreendentes; ainda assim hé uum longo caminho a percorrer no sentido de fundamentar esta pritica e resolver seus impasses. Mas ficam aqui esbocados alguns passos Referéncias Ansenwer, F. Clinique de lorigine: Venfant entre la médecine et la psychanalyse. Lausanne: Payot, 1999, Anzieu-Prensseecu, C. Consultations thérapeutiques parents-bébé. In: Byovowski, M. (Org.). Des mares et leurs noweaunés: recherches et interventions autour de la naissance. Issy-les-Moulinesux: E.S.F. Editeur, 2002, Lean Moss isc Bewiine 30 0 sori da Gioconde: clinics psicanaitice com bebls Marneuns, C. O sorriso sr Gc i Ci OPED Neots RSS pouveaiend: recherches et iervention (Or), es mare ox Moutoen: ES Este 2002 Cote dea sane cues from their ponte, RL. et al. Breast-fed infants respond 1 olfactory sehavior and eve and wnnllar lactating females, Inet beh rent, 1. 15, p. 85:93, 1992. on tique en maternité, Fe ve pourri Waco pseamai rae a 9h oe Pa: tim cite combo ee go, 2005. rat ae 7 tif et intellectual. Deux aspects de mont percept ‘win, B. Le développement per ta plasticité cérébrale. Paris: Agence Wnnaorr, DAW. Os bebe e suas mes. St 'MLK., Laboratoires Dausse: 1982, io Paulo: Martins Fontes, 1996. Inés Catao Bebés 6rfaos, abandonad um outro olhar sobre a que "or no mundo” & saber re que 0 mar e Falar em orfandade ¢ abandono no sen Gesamparo, rentincia, desisténcia, desarrimo, vida de que estas condigdes sio indesejiveis tum bebé ou em uma crianga pequena. Porqui xado a propria sorte no sobrevive. Mas ser! centre a perda de um pai e/ou mae (orfandade) ‘uma crianga deixada pelo pai e/ou mie ainda riamente, uma crianga abandonada? Quais 0: de uma falta real na primeira infincia? Em que medida as priticas sociais, com para menores, podem favorecer 0 desenvolvin: as conseqtiéncias para uma crianga pequena de Ihida por outra pessoa que a cuide que nao s uma instituieao por exemplo? Quais as consei #0? Afinal, de que culdados necessita um bi vimento? 1. Remetemnos o leitor para outro artigo de nossa a: sdesamparo e 0 sbandono: dss formas de pensar 2

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