Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Biofisicadas Membranas
Biofisicadas Membranas
A membrana plasmática das células, segundo Singer & Nicholson(1972), consiste de uma bicamada
fluídica de lipídios na qual se inserem proteínas em cada um dos seus lados (proteínas periféricas)
ou a atravessam inteiramente (proteínas integrais)
Numa membrana com essas características, a única via possível para o transporte de íons são as
proteínas. A matriz lipídica, devido a sua baixa constante dielétrica em relação aos meios intra e
extracelulares, não permite o transporte de íons através da sua estrutura. As proteínas podem
transportar íons formando com eles um complexo que é capaz de se mover através da fase lipídica,
e são os casos dos carregadores e das bombas ( ATPases transportadoras) ou formando uma
estrutura , com o interior hidrofílico e o exterior hidrofóbico, que transpassa a membrana de um
lado a outro e que denomina-se canal iônico. Como exemplo de carregadores podemos citar o
mecanismo de troca do íon sódio pelo íon cálcio no músculo e como exemplo de bombas pode ser
citada a ATPase sódio potássio que mantém o gradiente eletroquímico existente nas células às
custas de energia metabólica. Como exemplo de canais iônicos podemos citar os canais de sódio,
potássio, cálcio e cloreto envolvidos com a gênese da atividade elétrica nos tecidos excitáveis. Os
canais iônicos são usualmente compostos de poucas moléculas de proteínas e algumas vezes por
apenas uma única molécula. O canal contém um poro aquoso que ao ser aberto, por mudanças
conformacionais na estrutura da proteína, permite o fluxo de cerca de 100 milhões de íons por
segundo através da sua estrutura. Este movimento de íons gera uma corrente elétrica que é
suficiente para ser medida por técnicas adequadas de registros. Portanto, medindo-se esta corrente
pode-se observar a atividade elétrica de um único canal na membrana celular , denominada de
“single-channel” e desta forma obter-se informações acerca das mudanças conformacionais da
proteína ou do complexo molecular que forma o canal iônico. Este mecanismo de abrir e fechar do
canal é denominado de “gating” e são controlados por estímulos adequados, tais como: voltagem,
neurotransmissores, moléculas de mensageiros citoplasmáticos ou por estímulos sensoriais de
vários
Os canais mostram uma outra importante propriedade que é a sua seletividade iônica. Isto significa
que os canais podem selecionar os íons que os atravessam, permitindo que somente um tipo
particular de íon ( sódio, potássio, cálcio ,etc.) ou uma certa classe de íons (cátions monovalentes,
cátions em geral, ânions ) o atravesse.
A técnica de registrar-se canais unitários (single-channel) foi introduzida em 1976 por Sakmann &
Neher e consiste em excitar-se da membrana um pequeno fragmento com todos os seus sistemas de
transportes e mantê-los selado à ponta de uma pipeta. Esta técnica permite estudar as correntes
iônica que atravessa um único canal iônico.
Os canais e carregadores são vias passivas de transporte de íons ou seja , não requerem gasto de
energia metabólica oriunda do ATP (trifosfato de adenosina) ou qualquer outro metabólito. A
energia envolvida no transporte de íons advém do gradiente eletroquímico do próprio íon
transportado (transporte passivo), como no caso dos canais iônicos, ou do gradiente eletroquímico
de um outro íon nos casos dos processos de transporte iônicos acoplado ( transporte ativo
secundário). Estes acoplamentos ocorrem de maneira a transportar os íons moventes e movidos no
mesmo sentido, um processo denominado de co-transporte, ou em sentido contrários, um
mecanismo denominado de contra-transporte. Um exemplo de contra-transporte é o efluxo de
Ca++ às custas do gradiente do íon sódio nas células musculares e um exemplo de co-transporte é
o transporte de lactose as custas do gradiente de prótons nas membranas bacterianas.
2.Fundamentos de físico-química.
O estudo dos canais iônicos, carregadores e bombas ilustram um dos muitos exemplos na Biologia
onde o entendimento das leis da Física e da Química podem trazer importantes informações sobre o
fenômeno biológico. Assim, muito do que se conhece acerca dos mecanismos de transporte de íons
através de membranas foram deduzidos das leis da eletroquímica. Portanto, conhecimentos básicos
em eletroquímica são fundamentais no entendimento dos mecanismos de transporte de íons através
das membranas biológicas.
A matéria em seu estado natural é neutra e somente quando ela interage surge carga nos corpos
materiais. A carga elétrica é decorrente do desequilíbrio no número de prótons e neutros existente
na matéria. A quantidade de carga é medida em Coulomb (C) , sendo a carga de um elétron igual a -
1,6x10-19 C (carga elementar). Como em Biofísica é comum se trabalhar com grandes quantidades
de cargas elementares, expressa-se algumas vezes a carga contida por mol de substância e
denomina-se este parâmetro que é igual a 105 C / mol de constante de Faraday (F). A carga de um
mol de prótons ou um mol de qualquer outro íon monovalente é igual a um Faraday. A carga de um
mol de íon cálcio ou outro cátion divalente é igual a dois Faraday. Por outro lado, a carga de um
mol de cloreto ou outro anion monovalente vale -1 Faraday.
Fenômenos elétricos ocorrem quando cargas de sinais opostos são separadas. A carga elétrica tem a
propriedade de gerar um campo elétrico, definido como a razão entre a força que atua numa carga
de prova colocada num ponto do espaço e o valor desta carga. Assim, quando se deseja mover uma
carga positiva do pólo negativo para o pólo positivo de uma bateria, necessitamos realizar trabalho
contra a força do campo elétrico gerado por esses pólos carregados. A diferença de potencial (ddp)
entre os pólos desta bateria é definido como a razão entre o trabalho realizado contra as forças do
campo elétrico para deslocar uma carga, com velocidade constante, e o valor da carga deslocada. Se
o trabalho realizado para deslocar com velocidade constante uma carga de 1C entre os pólos da
bateria for igual a 1 Joule é porque a diferença de potencial ou voltagem entre os seus pólos é
igual a 1 Volt. Quando uma d.d.p. é estabelecida num condutor , como por exemplo um metal ou
uma solução eletrolítica, observa-se um fluxo de carga elétrica e define-se a razão entre esta
quantidade de carga transportada por unidade de tempo de corrente elétrica. A unidade de medida
de corrente elétrica no sistema internacional é o Ampère( 1A ) e é definido como o fluxo de 1C de
carga que atravessa uma secção de um condutor por segundo. Por convenção, o sentido da corrente
é o sentido do movimento das cargas positivas. Então, se eletrodos positivos e negativos são
colocados numa solução iônica (solução de Ringer ), Na+ , K+ e Ca++ movimentar-se-ão no
sentido do pólo negativo e íons Cl- no sentido do pólo positivo e uma corrente elétrica é dita fluir
através da solução do pólo positivo para o pólo negativo. Michael Faraday denominou o eletrodo
positivo de ânodo e o negativo de cátodo. Na sua terminologia, ânions fluem para o ânodo e os
cátions para o cátodo e a corrente elétrica do ânodo para o cátodo. A intensidade da corrente elétrica
é determinada pela a d.d.p. entre os eletrodos e a condutância da solução eletrolítica. A condutância
elétrica é a medida da facilidade da corrente fluir entre dois pontos à diferentes potenciais elétricos .
A condutância entre dois eletrodos numa solução salina pode ser aumentada por adição de mais sal
a solução ou a aproximação entre os dois eletrodos. Por outro lado, a condutância pode ser reduzida
se for colocado um não- condutor entre os eletrodos, se forem afastados os dois eletrodos, ou
fazendo-se a solução mais viscosa. Formalmente, a condutância (G) é definida pela razão entre a
corrente que atravessa um condutor (I) e a d.d.p. (V), ou seja
Ohm, observou que nos metais a resistência permanecia constante, independente da d.d.p.
aplicada e da corrente que os atravessa. Desta forma, os materiais que obedecem esta lei são
conhecidos como ohmicos ou lineares. A resistência para um cilindro de comprimento l e área de
secção transversal A é dado pela seguinte expressão R = l /A, onde é a resistividade do
material. No caso de um canal iônico, pode-se utilizar a expressão acima para estimar a sua
resistência, onde a resistividade depende da solução que o permeia. Assim, a resistência de um
canal depende não só das caracteristicas físicas do canal, porém também, da solução que o permeia.
C = K o A / d,
Como descrito anteriormente, a energia disponível nas membranas celulares para realizar
transporte passivo advém do gradiente do potencial eletroquímico do íon transportado. Contudo,
uma questão ainda precisa ser respondida : O que é gradiente de potencial eletroquímico?
O fluxo do soluto depende, como mostrado por Nernst- Planck, da força termodinâmica , da
mobilidade(mi) e concentração do soluto na solução ( mi ), como segue :
fluxo = - mi Ci (RT/Ci) ∆ Ci / ∆ X , ou
Ji = -D ∆Ci /∆X.
O conceito de fluxo foi introduzido neste texto de maneira intuitiva, contudo uma definição formal
também pode ser dada a esta grandeza, como segue:
J = Q / A. t, ou seja o fluxo é a quantidade de substância (Q) por unidade de tempo (t) que
atravessa uma determina área (A) . Esta grandeza é medida em moles / m2.s.
Uma outra situação é aquela na qual um componente i (iônico) tem a mesma concentração
em todos os pontos da solução, porém existe um campo elétrico (gradiente de potencial elétrico)
que induz o componente i a migrar. Neste caso, o fluxo do componente i é denominado de migração
iônica e pode ser descrito como segue:
Ji = -miCi(Zi F∆ V/∆X ),
onde ZiF∆V/∆X é o gradiente de energia potencial elétrica. É interessante observar que também
neste caso o fluxo é dado pela equação de Nernst- Planck, onde Ji = - miCi grad U, sendo U neste
caso é a energia potencial elétrica.
Num caso mais geral no qual a substância é um íon e houver tanto um gradiente de
concentração quanto um gradiente elétrico, o fluxo da substância será induzido por um gradiente
eletroquímico. Nesta situação o fluxo será expresso pela seguinte equação :
A difusão através de membranas segue as mesmas leis da difusão num sistema contínuo, porém
o fenômeno só ocorre se a membrana for permeável ao soluto que está se difundindo. Portanto,
neste caso , a existência do gradiente de energia é uma condição necessária porém não suficiente
para que o fenômeno da difusão ocorra. A questão central nesta secção é o conceito de
permeabilidade. O que é permeabilidade?
P = ß. D /∆X,
O coeficiente de partição ß é a razão entre as concentrações de uma substância entre dois meios
não miscíveis na condição de equilíbrio ou seja
ß = C(1) / C(2),
O fluxo difusional através de uma membrana pode ser expresso de maneira semelhante
aquele descrito para um meio contínuo , ou seja
onde C(2) e C(1) são as concentrações da substância nas fases 1 e 2. Assim , o fluxo difusional
pode ser expresso em função da permeabilidade da seguinte maneira:
Ji = -P ∆C.
Ji = -RTmißCiZi F ∆V/∆X RT
Ji = - (Di ß /∆X) Zi Ci F ∆ V/ RT
Nas células existem tanto gradiente elétrico como químico, ou seja gradiente eletroquímico e
neste caso o fluxo através da membrana é descrito pela seguinte equação:
Questões:
2. O que distingue o transporte realizado por um carregador daquele que se efetua através de canal
iônico?
3. Descreva o tipo de resposta de um canal iônico quando estimulado. Quais os possíveis tipos de
estímulos?
b) corrente elétrica;
c) condutância e resistência.
Defina as unidades de medidas das grandezas acima.
6. Enuncie a lei de Ohm. O que significa dizer que membrana apresenta um comportamento linear?
7. Discuta a seguinte afirmação: “ A condutância de um canal iônico depende não só das suas
características geométricas, porém também da solução que o permeia”.
8. Conceitue capacitância. Qual a unidade em que se mede esta grandeza? Qual relação existente
entre uma célula e um capacitor?
9. Os resultados experimentais têm evidenciado que a capacitância das membranas celulares é cêrca
de 1µF/cm2 . Determine a espessura da membrana,sabendo que a constante dielétrica dos lipídeos é
igual a 2 .
a) coeficiente de difusão;
b) coeficiente de partição;
c) coeficiente de permeabilidade;
d) fluxo;
a) Difusão
b) Migração iônica
5.Potenciais bioelétricos.
A equação acima mostra que o potencial de equílibrio varia linearmente com a temperatura
absoluta e logaritmicamente com a razão das concentrações nos dois compartimentos.
Se uma membrana for permeável a vários íons e estiver banhada por soluções salinas de
concentrações diferentes em cada um dos seus lados, a difusão dos íons devido aos seus gradientes
de concentrações pode gerar uma d.d.p. através da membrana. A figura 4 , ilustra a situação
descrita acima , onde os sais contidos em cada compartimento separado pela membrana, são os
cloretos de sódio e potássio. Numa condição estacionária, onde os gradientes eletroquímicos entre
os dois compartimentos se mantem constantes ( por bombas ) , pode-se calcular a diferença de
potencial através da membrana pela seguinte equação:
A expressão acima é denominada equação de Goldman, Hodgkin e Katz. Esta equação se reduz
a equação de Nernst no caso da membrana ser permeável a um único íon. Isto pode ser verificado
fazendo-se nula todas as permeabilidades menos a da espécie permeável na equação acima.(Tente
fazer isto!).
As células apresentam uma diferença de potencial negativa e constante entre o seu interior e o
seu exterior. Esta diferença de potencial, denominada de potencial de repouso celular, pode ser
medida utilizando-se a técnica do microeletródio. Esta técnica consiste em colocar-se um capilar
de vidro de ponta muito fina e com solução eletrolítica no seu interior dentro da célula e medir-se a
d.d.p. em relação ao meio extra- celular. Diferentes valores foram obtidos nos diferentes tipos
celulares, por ex., em células musculares esta ddp é cêrca de -90 mV, nos axônios dos neurônios
este valor é cêrca de -60 mV.
A manutenção deste potencial de repouso nas células não decorre de um estado de equilíbrio,
porém de uma condição estacionária. Qual a diferença entre os estados de equilíbrio e estacionário?
No estado de equilíbrio não há fluxo resultante de uma certa espécie iônica através da membrana
porque não há gradiente de potencial eletroquímico para aquela espécie iônica, enquanto no estado
estacionário não há fluxos resultantes de íons, apesar de existir gradientes de potenciais
eletroquímicos para aquelas espécies iônicas. No caso do estado estacionário os fluxos passivos
estão sendo compensados pelos fluxos ativos ( bombas) das mesmas espécies iônicas através da
membrana plasmática celular . Assim, a maioria das células mantém potencial de repouso porque
os fluxos passivos dos íons sódio e potássio são compensados pelos fluxos ativos daqueles mesmos
íons.
Uma característica encontrada no sistema nervoso das diferentes espécies animais é a sua
capacidade de conduzir informação com rapidez e eficiência. No homem, por exemplo, o sistema
nervoso funciona como uma rede de comunicação entre o sistema nervoso central e as várias partes
do organismo. Estas informações são codificadas, através da modulação em frequência de um sinal
elétrico que é o impulso nervoso propagado. Este sinal propagado no nervo se caracteriza do ponto
de vista elétrico por uma abrupta alteração do potencial de repouso celular. Esta alteração rápida do
potencial transmembrana é denominado de potencial de ação e as correntes iônicas transmembrana
que dão origem a esta variação do potencial são as correntes de ação.
Várias são as formas de potenciais de ação encontradas nos diferentes tecidos excitáveis e
alguns tipos de registro destes eventos, registrados com microeletródios intracelulares, são
mostrados na figura 5 , para o axônio do Loligo e músculos.
Os eventos que iniciam um potencial de ação nas células excitáveis são denominados de estímulos.
Estes estímulos podem ser de origem elétrica, hormonal, térmica, mecânica, eletromagnética,
química e outros. Contudo, seja qual for a origem do estímulo todos eles sofrem um processo de
transdução nos receptores para um sinal elétrico. Este sinal elétrico é o agente responsável pelo
disparo da atividade elétrica nos tecidos excitáveis. Assim, estímulos que são capazes de disparar
potenciais de ação propagados são aqueles cuja intensidade e duração estão acima de um certo valor
denominado de limiar de excitabilidade celular. Os estímulos com essas características são
denominados de estímulos supralimiar e aqueles com intensidade e duração insuficientes para
produzir um potencial de ação são denominados de sublimiares.
O potencial de ação, ao contrário, é do tipo “ tudo ou nada”, isto quer dizer que o estímulo
ou é suficiente para atingir o limiar de excitabilidade e disparar um potencial de ação que se
propaga ao longo da fibra excitável sem variação da forma de onda e com velocidade constante
(tudo) ou então o estímulo é sublimiar e neste caso, não dispara um potencial de ação (nada).
Os receptores, por sua vez, funcionam como transdutores de amplitude para frequência.
Quanto a condutância ao íon sódio, pode-se imaginar que a partícula m, ao sentir voltagem ,
desloca-se no interior da membrana e abre uma via condutiva ao íon sódio. A partícula de
inativação h também sensível a voltagem , ao contrário, age inativando os canais de sódio e inibindo
a passagem deste íon através da via hidrofílica.
O potencial de ação se propaga como uma onda que se desloca com velocidade constante
à partir do local do estímulo para as regiões adjacentes da membrana. Isto ocorre porque no local do
estímulo, gera-se uma despolarização e, em virtude da diferença de potencial entre este ponto e os
pontos adjacentes da membrana, ocorrem fluxos de íons que vão despolarizar aquelas regiões. Além
dessas correntes longitudinais, tem-se as correntes através da membrana, fechando o circuito que
denominamos de “ circuitos locais de corrente”.
b) Potencial de ação
2. Os dois tipos básicos de sinais elétricos mediados pelos axônios dos neurônios, são o potencial
local e o potencial de ação. Discuta as diferenças entre estes dois tipos de sinais.
3. O potencial de ação é um sinal elétrico que se propaga nos tecidos excitáveis , sem alteração na
sua forma de onda. Como justificar que um sinal que tem sempre a mesma forma , possa transmitir
ao SNC informações a respeito da intensidade do estímulo que o gerou.