Você está na página 1de 7
caPiruLo mt OBJETO DA LINGUISTICA § 1. A Lfvoua: sua perinigio. Qual € © objeto, ao mesmo tempo integral e concreto, da Lingitistica? A questio é particularmente dificil: veremos mais tarde por qué. Limitemonos, aqui, a esclarecer a di- ficuldade, Outras cigncias trabalham com objetos dados préviamen- te € que se podem considerar, em seguida, de varios pontos de vista; em nosso campo, nada de semelhante ocorre. Alguém Pronuncia a palavra nu: um observador superficial serd tenta- do a ver nela um objeto ling concreto; um exame mais, atento, porém, nos levard a encontrar no caso, uma apés outra, trés ou quatro coisas perfeitamente diferentes, conforme a ma- neira pela qual consideramos a palavra: como som, como ex- Pressio duma idéia, como correspondente ao latim niidum etc. Bem longe de dizer que 0 objeto precede o ponto de vista, ditia- mos que 0 ponto de vista que cria o objeto; alids, nada nos diz de antemao que uma dessas maneiras de considerar o fatd em questo seja anterior ou superior as outras. Além disso, seja qual for a que se adote, o fenémeno lin- giiistico apresenta perpetuamente duas faces que se correspon- dem e das quais uma nao vale senZo pela outra. Por exemplo: 19 As silabas que se articulam sio impresses actsticas percebidas pelo ouvido, mas os sons no existiriam sem os ér- ‘gos vocais; assim, um n existe sdmente pela correspondéncia désses dois aspectos. . Ndo se pode reduzir entio a lingua ao Bs som, nem separar 0 som, 0 som a Tae, ROEM define ox toy er abtragio da imps 2 do das condigdes Cet nENAEeM © problema mais do cfrculo vicioso, rmanentes; mo se sairg no lado por que se aborda a ques egal o objeto da Linge tica, Sempre encontramos o dilem: 2 ahaa siifstica, mas que, por culpa de um método incorreto, poderiam reivindicar a linguagem como um de seus objets, HS, segundo nos parece, uma solugio para tédas esas \dades: & necestrio colocarse primeiramente no terreno gua € toméla como norma de tdas as outrar manifesta wm principio de ugar entre o a ‘num con- um todo pot jne demos o pri sniroduzimos uma order nia a nenhuma outra cl classificagao Pe ago que & Tingua Con subordinar-se ao ins ‘que nosso. aps im como nossas pernas para andar. Plow ponte, Asim, para ma epee que tes de comod iietrameno Resco fe oS eS a ey ooo aeisticas Sem divida, esta tese € dem: ” a signo_ convention tecal se revela, pos, secundéria no problema da lingus ulagio pode designar nfo $6 a ‘como a subvivisio da cadeia de significativas; & meste sentido que se “Apegandose a esta Segune uma Tingui, rma de signes distintos correspondentes a Broca deicobriu que a faculdade de squerda dade de proferir &tes ou aquéles sons ou de tragar étes ou qutles signos que a de evocar por um instrumento, sja qual 1 dutna linguagem regular. Tudo iso nos leva a eret 1 désses_ diverson Gryios, existe uma faculdade mais ‘2 que comanda os sgnos © que seria a faculdade lin- por exceléncia, E somos aisim conduzides A mesma dle ardeular palavras no se irumento eriado ¢ fornecido pela ‘oletividade; io ‘dizer que € 2 lingua que fara unidade da lnguagen 8 2. Lucan 94 LinoUA wos PATOS DA LincuAcEN. © ponto de partida do circuito se situa no cérebro de uma ilo 4, onde os fatos de conscitncia, a que cha- iad Bs representacdes dos sg- Audigio - a 20, squica 10¢% arte pssquie® na parte, PAGES oe) C=Conceito \ D=Imagem acistica Tr taculdade 3 205 a facele now, wate ACjempenha © P ade gto se Hm al papel no, eneantOn compreenngo € senso © om Sabordar aoe sex union pela Tnguaeer™s ie unis Pei eproduairae i ual das partes 2 Sovavel que 12 Poe jercebemos bem oeisie, mas devido 3 20 ‘idamor allciot fate social ‘ re ‘pio enira tarapouco roralmente em JOE: wads clo rea baceuc Jamas ¢ feta » =i wre individual e dela o it juo & semy 4) muma parte exterior (i Sela massa € se 20 ouvido) pela mass a chamaremos fala (parole) do oreo; |" P mie funcionaimento das faculdades, receptiva © coorderse : iva, a ihatduos falantes, € que se formam as marcas Qe uma parte psquica © outra nfo-psiquia, vite as mesmas em todos. De que ma peer rere ma doe T fsse produto social para que a lingua ‘Yewembarasada do restante? Se pudés- dade das ‘imagens ver os os individuos, atingiriamos o Tiame oe. ilégicos, dos quais os 6r- 0s slo a sede, © os fatos fisicos ‘ eae © 08 fatos fisicos exteriores a0. ine aparega perfeitament semos abarcar armazenadas €) numa pat vai do ce iva e outra passiva; ¢ ative tudo 0 que ‘que consti- asia gua. “Tratase de tim tesouro depositado pela pratica fo da 0 me a pane so oe fl scr inion eer eee A mesma “comic do da utr, « pasive tudo que vat do ouvda deve nidade, ramnatical que existe virtualmente em ¢8- a cio; da cérebro ot ic a irtualmente is exatamente, nos cérebros dum conjunto de "a lingua no esté completa em nenhum, ¢ 56 nna massa ela existe de modo completo, individuos, poi 2 com o separa angus fal, eparase 80 meso tempo; sy o que € socal do que € individ aque € cae Sito de exprimir seu p sfisco que The permit pode nem nfo em virtude duma ‘os membros da comunidade. tinta que um contanto que compreenda 0s si 2° A lingua, di cestudar separadament 2 Enquanto a linguagem & heterogénea, a lingua assim € de natureza homogénea: constituise num sistema de signos onde, de estecial, 6 existe a unio do sentido e da imagem acistica, ¢ onde as duas partes do signo S39 igualmen- lingua, no menos que a fala, & um objeto de na- tureza conerela, © que oferece grande vantagem para o seu indo. exsencialmente grafar em todos os seus pormenores ‘duma palavra, por pequena que $3. Loan oa uinova nos raTos aUMANOS. ‘A Semiorot. fa descobrit uma outra mais itada no conjunto dos fatos (0s fatos humanos, enquanto 2B ‘Acabames de ver que a lin a Tinguaconsttui uma wutra coisa, sob outros pontos de go superficial do. grande pt va nomenclatura (ver p. 79)» ‘de sua verdadeira natureza- Jogo, o qual estuda Bro método mais facil ‘ecapa sempre, em certa social, estando isto 0 ‘menos aparece & primeir rages de sigufcado © i Spore, © principio fundamental formalado ™ 25 FERDINAND DE SAUSSURE CURSO DE LINGUISTICA GERAL Organizado por (Crartes Batty e ALBERT SECHEHAYE com a colaboracéo de Atpert RIEDLINGER Prefécio a edigéo brasileira: Isaac Nicotau Satu (da Universidade de S. Paulo) > EDITORA CULTRIX ‘Sio Paulo

Você também pode gostar