Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CapituloReumatologia ROCA
CapituloReumatologia ROCA
1
INTRODUÇÃO
2
DIAGNÓSTICO
Avaliação Clínica
3
Figura 2 - Aspecto clínico da região posterior dos joelhos de paciente com
dermatopolimiosite juvenil, observa-se calcinose subcutânea periarticular.
A avaliação das crianças com miopatias inflamatórias deve ser feita antes do início
do tratamento para que se possa observar a evolução do quadro clínico.
Os instrumentos recomendados para avaliar e acompanhar a atividade da doença
10
são :
1. Avaliação global pelo médico da atividade – escala analógica visual – 10 cm11.
2. Avaliação da força muscular proximal – CMAS – Childhood Myositis Assessment
Scale12,13. Não validado para língua portuguesa.
3. Avaliação da capacidade funcional – Índice da Capacidade Funcional do CHAQ
– Childhood Health Assessment Questionnaire 14,15.
4. Avaliação do bem-estar global pelos pais/paciente – escala analógica visual –
10 cm11.
5. Avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde – Índice Físico do CHQ-
PF50® – Childhood Health Questionnaire 15.
6. Avaliação global da atividade – DAS – Disease Activity Score16.
4
Além das avaliação clínica pelos instrumentos acima citados, a avaliação física
realizada pelo teste ergométrico é uma recomendação que pode ser utilizada em
pacientes com dermato/polimiosite juvenil para avaliação e seguimento dessa
população17.
As crianças com dermatomiosite juvenil apresentam uma redução de 35 a 40%
no pico de VO2 (VO2 pico) quando comparados a crianças saudáveis18. Quando a
doença encontra-se em remissão os parâmetros para o exercício estão melhores do
que quando em atividade, por isso a realização do teste ergoespirométrico é um
excelente instrumento, não invasivo, para avaliação e seguimento das crianças com
dermatomiosite19.
TRATAMENTO
Alguns anos atrás treinamento com exercício era absolutamente proibido para
pacientes com polimiosite, pois osprofissionais acreditavam que a atividade física
pudesse aumentar o processo inflamatório nos músculos afetados. No entanto,
pesquisas recentes tem sugerido a segurança dos exercícios aeróbios e até resistidos
para esta população21,22.
Para a prescrição de exercício em pacientes com dematomiosite/polimiosite juvenil
devemos, primeiramente, saber o estado geral de saúde da criança, mesmo que a
doença esteja em atividade. A orientação de repouso quando a doença está em
atividade é, atualmente, questionada, porque caso ela tenha capacidade de realizar
exercícios ativos leves, isto deve ser incentivado sempre respeitando o limite da
criança após ser feito uma avaliação rigorosa dos parâmetros de força e capacidade
física20.
5
Quando a doença estiver em atividade, o que pode ser avaliado pelo médico
através da avaliação global da atividade da doença11, e caso a criança não consiga
realizar movimentos contra a ação da gravidade, deve-se manter as articulações
íntegras com exercícios passivos ou auto-assistidos e iniciar exercícios isométricos
respeitando a limitação da criança20.
Havia uma grande preocupação de se iniciar exercícios ativos quando a
criança com dermatomiosite apresentasse doença em atividade, porém observou-se
que mesmo em atividade os exercícios ativos podem ser realizados sem que haja
alteração nos parâmetros de inflamação muscular20.
Atualmente, estudos mostram que o exercício físico, mesmo com leve
resistência22, podem ser utilizados com segurança no tratamento da criança com
polimiosite. Alem de apontar aumento do pico de torque isométrico, da função e
resistência muscular, existem pesquisas mostrando que o exercício não aumenta os
níveis de creatino fosfoquinase (CPK) sérico, outros ainda sugerem que o mesmo teria
uma espécie de efeito protetor, evitando que a CPK aumente naqueles indivíduos que
se exercitam com modalidades aeróbias24,25.
Miopatias inflamatórias normalmente apresentam em seu quadro fadiga e
fraqueza muscular, diminuição da resistência e progressiva inflamação tecidual.23 O
exercício físico aparece como uma alternativa não apenas para neutralizar estes
efeitos deletérios da doença, mas para melhorar outros aspectos da qualidade de vida.
A importância dos exercícios para pacientes com polimiosite foi negligenciada
por muitos anos na prática clínica. Porém, hoje existe um número significativo de
evidências que sustentam a eficácia desta intervenção, promovendo-a a ferramenta
fundamental no tratamento de doenças musculares inflamatórias. Neste contexto,
observamos que o manejo terapêutico da polimiostite depende intimamente de uma
equipe multidisciplinar qualificada26.
As orientações sobre proteção articular e conservação de energia devem ser
feitas respeitando-se as fases da doença. Apesar da escassez de ensaios clínicos
sobre esse assunto, vimos na prática que tais orientações podem melhorar a
execução das atividades da vida diária.
6
CONCLUSÃO
A literatura atual nos permite inferir que prescrever exercícios é seguro e eficaz
para pacientes com polimiosite e dermatopolimiosite. Não está claro que tipo de
exercício é o melhor. Possivelmente uma combinação concêntrico e excêntrico seria
o ideal. Estão demonstrados os efeitos positivos do exercício físico a logo prazo,
inclusive atividades de alta intensidade tem se mostrado segura e benéfica.
Cumpre salientar, que o controle da doença é feito pelo médico com uso de
medicação adequada e que a uma avaliação rigorosa deve ser feita pelo fisioterapeuta
antes da prescrição de qualquer tipo de exercício. Após essa avaliação, os exercícios
ativos com carga podem ser executados sempre utilizando parâmetros adequados
para sua execução, ou seja, deve-se determinar a carga, freqüência, duração e
intensidade.
7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
6. SOGABE, T., SILVA, C.A., KISS, M.H.B. Clinical and laboratory characteristics
of 50 children with dermato/polymyositis. Rev Bras Reumatol. Vol. 36 p. 351-
9,1996.
8. TARGOFF, I.N, MILLER, F.W., MEDSGER, T.A Jr., et al. Classification criteria
for the idiopathic inflammatory myopathies. Current Opinion in Rheumatology
vol. 9(6) p. 527-535,1997.
8
dermatomyositis: onset features and classification of 189 cases. Clin Exp
Rheumatol vol. 27(6) p. 1031-8, 2009.
11. RIDER, L.G, FELDMAN, B.M, PEREZ, M.D et al: Development and validated
disease activity and damage indices for the juvenile idiopathic inflammatory
myopathies. I- Physician, parent and patients global assessments. Arthritis
Rheum vol. 40, p. 1976-83, 1997.
12. LOVELL, D.J, LINDSLEY, C.B, RENNENBOHM, R.M, et al: Development and
validated disease activity and damage indices for the juvenile idiopathic
inflammatory myopathies - II. The Childhood Myositis Assessment Scale
(CMAS): A quantitative tool for the evaluation of muscle function. Arthritis
Rheum vol. 42 p. 2213-9, 1999.
13. HUBER, A.M., FELDMAN, B.M, RENNENBOM, R.M., et al: Validation and
clinical significance of the Childhood Myositis Assessment Scale (CMAS) for
assessment in the Juvenile Idiopathic Myopathies. Arthritis Rheum vol. 50 p.
1595- 603, 2004.
14. HUBER, A.M., HICKS, J.E., LACHENBRUCH, P.A, et al: Validation of the
Childhood Health Assessment Questionnaire in the Juvenile Idiopathic
Inflammatory Myopathies. J Rheumatol vol. 28 p. 1106-11, 2001.
15. MACHADO, C.S.M, RUPERTO, N, SILVA, C.H.M, et al: For the Paediatric
Rheumatology International Trials Organization (PRINTO) The Brazilian version
of the “Childhood Health Assessment Questionnaire – CHAQ” and the “Child
Health Questionnaire – CHQ” Clin Exp Rheum (Suppl 23) vol. 19 S25-30, 2001.
16. BODE, R.K, KLEIN-GITELMAN, M.S, MILLER, M.L, et al. Disease activity score
for children with juvenile dermatomyositis, reliability and validity evidence.
Arthritis Rheum vol. 49 p. 7-15, 2003.
9
18. TAKKEN, T, SPERMON, N, HELDERS, P.J, et al. Aerobic exercise capacity in
patients with juvenile dermatomyositis. J Rheumatol vol. 30 p. 1075–80, 2003.
26. PAINELLI, V. de S., GUALANO, B., ARTIOLI, G.G, et al. The possible role of
physical exercise on the treatment of idiopatic inflammatory myopathies.
Autoimmunity Reviews vol. 8 p. 355-359, 2009.
10
ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL
INTRODUÇÃO
QUADRO CLÍNICO
11
Figura 3 - Paciente portador de Artrite Idiopática Juvenil na sua forma sistêmica,
imerso em tanque de Hubard durante tratamento, nota-se acometimento poliarticular
da criança.
12
Figura 4 - Mão de paciente com AIJ, nota-se artrite das interfalângicas proximais com
deformidades em posição de flexão dos dedos.
AVALIAÇÃO FÍSICA
A avaliação das crianças com artrite idiopática juvenil pode e deve ser feita
utilizando-se os seguintes instrumentos:
- O questionário Escola Paulista de Medicina Range of Motion – Pediátrico
(EPM Rom - Pediátrico). Esse instrumento avalia a amplitude de movimento (ADM) de
dez articulações bilateralmente e possui uma escala que varia de 0 (sem limitação) a 3
(limitação intensa) – quanto maior sua pontuação, maior a limitação encontrada. Esse
questionário foi traduzido e validado em 19996.
- O Childhood Health Assessment Questionnaire (CHAQ) que avalia a
capacidade física de crianças e adolescentes, e foi traduzido e validado em 1994. É
composto por 30 itens com os seguintes domínios: AVDs, levantar-se, alimentação,
higiene pessoal, utilização dos membros superiores, preensão e atividades diárias,
com respostas que variam de 0 (zero), sem qualquer dificuldade, a 3 (três), incapaz de
realizar; maiores pontuações são indicativas de pior capacidade funcional7.
13
- O Pediatric Quality of Life 4.0 (PedsQl) é um questionário genérico que avalia
qualidade de vida de crianças e adolescentes de 2 a 18 anos. Consiste em 23 itens
distribuídos em funções física, emocional, social e escolar. Utiliza-se, em cada uma de
suas perguntas, uma escala de cinco pontos do tipo Likert scale, sua pontuação varia
de 0 (“nenhuma dificuldade”) a 4 (“muita dificuldade”), maiores pontuações são
indicativas de pior função8.
- O Child Health Questionnaire (CHQ) também é um questionário genérico de
qualidade de vida e foi traduzido e validado para uso em nosso meio em 2001 para
AIJ. O CHQ possui versões para crianças e pais. São avaliados os seguintes
domínios: saúde global, atividades físicas, atividades diárias, dor, comportamento,
bem-estar, auto-estima, um melhor estado de saúde9.
- Avaliação da dor utilizando a escala visual e analógica para dor10.
- Avaliação da força muscular.
- Avaliação da marcha.
Estabelecer os objetivos do tratamento fisioterapêutico pode facilitar a escolha
da melhor conduta, sempre levando em consideração a melhor evidência científica
disponível nas bases de dados da saúde.
A educação do paciente e de seus familiares está associada a melhora na
compreensão da doença e aumento na aderência ao tratamento. As doenças crônicas
têm como característica o comprometimento do paciente no processo de tratamento e
seguimento, pois o abandono do tratamento pode, e geralmente acontece, representar
piora importante do quadro clínico11,12.
Um programa educacional para pacientes com artrite idiopática juvenil e seus pais
deve conter as seguintes orientações:
1. Aspectos psicossociais;
2. Aspectos do tratamento: uso da medicação de maneira adequada;
3. Aspectos físicos: programa de exercício terapêutico e exercício físico;
4. Terapêutica no controle da dor;
5. Avaliação do ambiente escolar, tanto no aspecto de compreensão dos
colegas e professores quanto no aspecto arquitetônico;
6. Transição da fase de criança/adolescente para fase adulta (transitional
care)13.
O programa educacional tem que fornecer informações aos pacientes e a seus
pais sobre “como enfrentar” a doença, objetivando aumentar a aderência ao
tratamento e melhorar a qualidade de vida.
Um programa de cuidado transicional foi identificado como sendo um importante
apoio para adolescentes e pais, e é primordial o envolvimento de equipe
14
multiprofissional constituída por reumatologistas, enfermeiros, fisioterapeutas,
terapeutas ocupacionais e psicólogos. O programa deve conter: informação sobre a
doença; equipe de profissionais especializados; autonomia no cuidado da saúde;
independência na vida diária; orientação sobre puberdade; educação e orientação
vocacional; saúde bucal; exercício; drogas e álcool; orientação sexual; e diferença
entre reumatologia pediátrica e reumatologia do adulto14,15.
PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS
15
GUIA PRÁTICO PARA UM PROGRAMA de REABILITAÇÃO PARA PACIENTES
COM AIJ– BASEADO NA MELHOR EVIDÊNCIA CIENTÍFICA E NA PRÁTICA
CLÍNICA DIÁRIA23
Uma avaliação Fisioterapêutica deve conter:
1. Anamnese
2. Exame Físico:
a) Inspeção
b) Palpação
3. Goniometria
4. Avaliação da força muscular
a) Dinamometria de mãos e dedos
PINCH (mão)
Jamar
b) Aparelho isocinético
5. Perimetria da articulação acometida
6. Avaliação do edema (caso haja)
a) Volúmetro
7. Questionários
a) CHAQ – Capacidade funcional
b) Pediatric EPM-ROM amplitude de movimento
c) PeDsQL ou CHQ – Qualidade de vida
d) Escala visual analógica dor
8. Marcha
a) Auxiliares
b) Biomecânica
9. Prescrição de exercícios
a) Alongamentos livres e assistidos
b) Exercícios assistidos e ativos
c) Exercícios com carga e resistência, devido à baixa evidência científica
10. Educação ao paciente e familiares
11. Conservação de energia
a) Planejar
b) Priorizar as tarefas
c) Delegar
12. Proteção articular
a) Órteses: posicionamento noturno, funcional de punho, botoeira, pescoço de cisne, desvio
ulnar e canaletas
b) Palmilhas
c) Dispositivos de marcha: andador, bengalas e muletas (axilar e canadense)
d) Adaptações: para a realização de vida prática e diária
16
CONCLUSÃO
A reabilitação de pacientes com artrite idiopática juvenil deve ser feita de maneira
criteriosa respeitando o limite de dor e, eventuais, deformidades. A avaliação é de
suma importância na elaboração dos objetivos e conduta e a adesão ao tratamento do
pacientes fará com que o resultado seja favorável a evolução da doença. O
prognóstico depende de vários itens e a reabilitação faz parte desse processo.
17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
18
12. CARSON, A.R, VOORTHEES, H.K: Adult pediatric patients. Am J Nursing vol.
101, p. 46-55, 2001.
13. AKIKUSA, J.D, ALLEN, R.C: Reducing the impact of rheumatic diseases in
childhood. Best Practice & Res Clin Rheumatol vol. 16, p. 333-45, 2002.
14. McDONAGH, J.E, SHAW, K.L, SOUTHWOOD, T.R: Growing up and moving on
in rheumatology: development and preliminary evaluation of a transitional care
programme for multicentre cohort of adolescents with juvenile idiopathic
arthritis. J Child Health Care vol. 10, p. 22-42, 2006.
15. McDONAGH, J.E. YOUNG, Juvenile Idiopathic Arthritis Second: Transitional
Care in Rheumatology. Arthritis Rheum. vol. 15, 59(8):1162-70, 2008.
16. HURKMANS, E, van der GIESEN, F.J, VLIET VLIELAND, TP, et al. Dynamic
exercise programs (aerobic capacity and/or muscle strength training) in patients
with rheumatoid arthritis. Cochrane Database Syst Rev. vol. 7;(4):CD006853.
Review, 2009.
17. de JONG, Z, MUNNEKE, M, KROON, HM, et al. Long-term follow-up of a high-
intensity exercise program in patients with rheumatoid arthritis. Clin Rheumatol.
Vol. 28(6), p. 663-71, 2009.
18. TAKKEN, T, van BRUSSEL, M, ENAGELBERT, R.H, et al. Exercise therapy in
juvenile idiopathic arthritis. Cochrane Database Syst Rev. vol. 16(2):CD005954,
2008.
19. FIELD, T, HERNANDEZ-REIF, M, SELIGMAN, S, KRASNEGOR, J,
SUNSHINE, W: Juvenile rheumatoid arthritis: Benefits from massage therapy. J
Pediatr Psychol vol. 22, p. 607-17, 1997.
20. BACON, M.C, NICHOLSON, C, BINDER, H, et al. Juvenile rheumatoid arthritis.
Aquactic exercise and lower-extremity function. Arthritis Care Res vol. 4, p.
102-5, 1991.
21. TAKKEN, T, Van Der NET, J, KUIS, W, et al. Aquatic fitness training for
children with juvenile idiopathic arthritis. Rheumatology (Oxford). Vol. 42(11), p.
1408-14, 2003.
22. HACKETT, J, JONHSON, B, PARKIN, A, SOUTHWOOD, T: Physiotherapy and
occupational therapy for juvenile chronic arthritis: custom and practice in five
centres in the UK, USA and Canada. Br J Rheumatol vol. 35, p. 695-9, 1996.
19