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Seção III AMBULATÓRIO

Capítulo: Fisioterapia nas Doenças do Sistema Osteomuscular -


Reumatologia

Areolino Pena Matos


Professor Assistente III da Universidade de Taubaté – UNITAU e Universidade Camilo
Castelo Branco – UNICASTELO.
Mestre em Reabilitação pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP-EPM.
Contato: Rua. Pasquá Scalzoto Pastorelli, 30 CEP 12030-560 Taubaté – SP
(12) 3625-4287 areolino.matos@gmail.com

Império Lombardi Júnior


Professor Adjunto II da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP - Campus
Baixada Santista.
Doutor em Ciências da Saúde pela UNIFESP-EPM.
Contato: Av. Ana Costa, 95 CEP 11060-001 Santos - SP
(13) 3878-3700 imperiolombardi@ig.com.br

1
INTRODUÇÃO

A dermatomiosite e a polimiosite juvenil são miopatias inflamatórias de caráter


crônico e de etiologia desconhecida, apresentam aparecimento simétrico e gradual de
fraqueza muscular inicialmente proximal, mas podendo se expandir para a
musculatura distal1. Estas doenças podem afetar órgãos causando morbidez severa e
inaptidão2. Outra característica severa da doença inclui o desenvolvimento de
calcinoses, podendo causar limitações severas em função da mobilidade muscular e
também por dores severas3,4 .
Essa é uma doença rara que predomina no sexo feminino, na proporção de
2:1, e que apresenta uma incidência de 3,2/1.000.000 crianças e adolescentes/ano
nos EUA5. Apesar da raridade, esta é a quarta doença mais freqüente em serviços
terciários de reumatologia pediátrica, e não há estudos epidemiológicos brasileiros6.
As miopatias inflamatórias idiopáticas (MII) compreendem um grupo raro de
doenças que se caracterizam por inflamação muscular e conseqüente fraqueza
muscular em um contexto patológico sugestivo de auto-imunidade.
Em geral as manifestações surgem de modo lento e progressivo. A criança se
queixa de dores pelo corpo, apresenta febre baixa, desânimo, dificuldade para elevar
os braços, subir escadas, levantar-se do chão e até mesmo da cama. Pode ocorrer
também dificuldade para engolir e quedas freqüentes. Em muitos casos a fraqueza
muscular é a única manifestação, o que dificulta e retarda o diagnóstico.
O quadro cutâneo é variável, com destaque para a vermelhidão em face, que
muitas vezes é diagnosticada como dermatite alérgica. Um sinal sugestivo da
dermatomiosite é o chamado heliotropo que se caracteriza por inchaço e mancha
arroxeada ou vermelha em volta das pálpebras. Manchas vermelhas também são
freqüentes nos cotovelos, nos joelhos e nas superfícies extensoras das pequenas
articulações das mãos, e conhecidas como sinal de Gottron. É importante salientar
que estas lesões de pele podem aparecer ou se acentuar após exposição ao sol.
Nódulos calcificados no tecido subcutâneo também podem surgir com a evolução da
doença7.

2
DIAGNÓSTICO
Avaliação Clínica

Para que seja realizado um diagnóstico precoce é necessário o


encaminhamento ao reumatologista pediátrico, pois ele é o profissional mais
competente para investigar e diagnosticar a doença.
Para o diagnóstico e classificação das miopatias inflamatórias foram propostos
os critérios de Bohan e Peter, em 1975 e modificados por Targoff e Miller, em 19978.
(Tabela 1).
Em um estudo realizado com crianças brasileiras que apresentavam o
diagnóstico de dermatomiosite juvenil, polimiosite juvenil e sobreposição de doenças
do tecido conjuntivo, observou-se a presença de fraqueza muscular em 95,8%;
erupção heliotropo 83,5%; pápulas de Gottron em 83,1% e 92% tinham pelo menos
um resultado anormal de enzima muscular. A biópsia muscular foi realizada em 74,6%
dos estudados e apresentou resultados anormais em 91,5%, enquanto a
eletroneuromiografia, realizada em 39,2%, apresentou resultado alterado em 93,2 e
24,3% apresentavam calcinose em tecido subcutâneo9. (Figura 1 e 2).

Figura 1 - Radiografia de paciente com dermatopolimiosite juvenil, exibindo calcinose


subcutânea em membros inferiores.

3
Figura 2 - Aspecto clínico da região posterior dos joelhos de paciente com
dermatopolimiosite juvenil, observa-se calcinose subcutânea periarticular.

A avaliação das crianças com miopatias inflamatórias deve ser feita antes do início
do tratamento para que se possa observar a evolução do quadro clínico.
Os instrumentos recomendados para avaliar e acompanhar a atividade da doença
10
são :
1. Avaliação global pelo médico da atividade – escala analógica visual – 10 cm11.
2. Avaliação da força muscular proximal – CMAS – Childhood Myositis Assessment
Scale12,13. Não validado para língua portuguesa.
3. Avaliação da capacidade funcional – Índice da Capacidade Funcional do CHAQ
– Childhood Health Assessment Questionnaire 14,15.
4. Avaliação do bem-estar global pelos pais/paciente – escala analógica visual –
10 cm11.
5. Avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde – Índice Físico do CHQ-
PF50® – Childhood Health Questionnaire 15.
6. Avaliação global da atividade – DAS – Disease Activity Score16.

4
Além das avaliação clínica pelos instrumentos acima citados, a avaliação física
realizada pelo teste ergométrico é uma recomendação que pode ser utilizada em
pacientes com dermato/polimiosite juvenil para avaliação e seguimento dessa
população17.
As crianças com dermatomiosite juvenil apresentam uma redução de 35 a 40%
no pico de VO2 (VO2 pico) quando comparados a crianças saudáveis18. Quando a
doença encontra-se em remissão os parâmetros para o exercício estão melhores do
que quando em atividade, por isso a realização do teste ergoespirométrico é um
excelente instrumento, não invasivo, para avaliação e seguimento das crianças com
dermatomiosite19.

TRATAMENTO

O objetivo do tratamento da dermatomiosite/polimiosite juvenil é manter a


criança ativa e independente, capaz de realizar as atividades diárias e o cuidado
próprio, porém a orientação sobre a prática de esportes deve ser feita pelo médico em
conjunto com o fisioterapeuta e educador físico, visto que essas crianças não devem
iniciar qualquer atividade física sem antes receber orientação específica.
O tratamento medicamentoso baseia-se no uso de corticosteróides e mais uma
dos seguintes fármacos: metotrexato, cloroquina, ciclosporina, imunoglobulina IV,
azatioprina ou ciclofosfamida9.

Prescrição de Exercícios para Dermatopolimiosite

Alguns anos atrás treinamento com exercício era absolutamente proibido para
pacientes com polimiosite, pois osprofissionais acreditavam que a atividade física
pudesse aumentar o processo inflamatório nos músculos afetados. No entanto,
pesquisas recentes tem sugerido a segurança dos exercícios aeróbios e até resistidos
para esta população21,22.
Para a prescrição de exercício em pacientes com dematomiosite/polimiosite juvenil
devemos, primeiramente, saber o estado geral de saúde da criança, mesmo que a
doença esteja em atividade. A orientação de repouso quando a doença está em
atividade é, atualmente, questionada, porque caso ela tenha capacidade de realizar
exercícios ativos leves, isto deve ser incentivado sempre respeitando o limite da
criança após ser feito uma avaliação rigorosa dos parâmetros de força e capacidade
física20.

5
Quando a doença estiver em atividade, o que pode ser avaliado pelo médico
através da avaliação global da atividade da doença11, e caso a criança não consiga
realizar movimentos contra a ação da gravidade, deve-se manter as articulações
íntegras com exercícios passivos ou auto-assistidos e iniciar exercícios isométricos
respeitando a limitação da criança20.
Havia uma grande preocupação de se iniciar exercícios ativos quando a
criança com dermatomiosite apresentasse doença em atividade, porém observou-se
que mesmo em atividade os exercícios ativos podem ser realizados sem que haja
alteração nos parâmetros de inflamação muscular20.
Atualmente, estudos mostram que o exercício físico, mesmo com leve
resistência22, podem ser utilizados com segurança no tratamento da criança com
polimiosite. Alem de apontar aumento do pico de torque isométrico, da função e
resistência muscular, existem pesquisas mostrando que o exercício não aumenta os
níveis de creatino fosfoquinase (CPK) sérico, outros ainda sugerem que o mesmo teria
uma espécie de efeito protetor, evitando que a CPK aumente naqueles indivíduos que
se exercitam com modalidades aeróbias24,25.
Miopatias inflamatórias normalmente apresentam em seu quadro fadiga e
fraqueza muscular, diminuição da resistência e progressiva inflamação tecidual.23 O
exercício físico aparece como uma alternativa não apenas para neutralizar estes
efeitos deletérios da doença, mas para melhorar outros aspectos da qualidade de vida.
A importância dos exercícios para pacientes com polimiosite foi negligenciada
por muitos anos na prática clínica. Porém, hoje existe um número significativo de
evidências que sustentam a eficácia desta intervenção, promovendo-a a ferramenta
fundamental no tratamento de doenças musculares inflamatórias. Neste contexto,
observamos que o manejo terapêutico da polimiostite depende intimamente de uma
equipe multidisciplinar qualificada26.
As orientações sobre proteção articular e conservação de energia devem ser
feitas respeitando-se as fases da doença. Apesar da escassez de ensaios clínicos
sobre esse assunto, vimos na prática que tais orientações podem melhorar a
execução das atividades da vida diária.

6
CONCLUSÃO

A literatura atual nos permite inferir que prescrever exercícios é seguro e eficaz
para pacientes com polimiosite e dermatopolimiosite. Não está claro que tipo de
exercício é o melhor. Possivelmente uma combinação concêntrico e excêntrico seria
o ideal. Estão demonstrados os efeitos positivos do exercício físico a logo prazo,
inclusive atividades de alta intensidade tem se mostrado segura e benéfica.
Cumpre salientar, que o controle da doença é feito pelo médico com uso de
medicação adequada e que a uma avaliação rigorosa deve ser feita pelo fisioterapeuta
antes da prescrição de qualquer tipo de exercício. Após essa avaliação, os exercícios
ativos com carga podem ser executados sempre utilizando parâmetros adequados
para sua execução, ou seja, deve-se determinar a carga, freqüência, duração e
intensidade.

7
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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9
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10
ARTRITE IDIOPÁTICA JUVENIL

INTRODUÇÃO

A Artrite Idiopática Juvenil (AIJ), também pode ser denominada Artrite


Reumatóide Juvenil (ARJ), é uma doença inflamatória crônica que acomete as
articulações e outros órgãos, como a pele, os olhos e o coração. A principal
manifestação clínica é a artrite, caracterizada por dor, aumento de volume e de
temperatura de uma ou mais articulações. Cabe ressaltar que em algumas crianças a
dor é mínima ou até mesmo inexistente. Caracteristicamente ela inicia sempre antes
dos 16 anos de idade1.
Em geral é mais comum no sexo feminino e a incidência é de 5-18 por 100.000
com prevalência de 1 para 1.000 crianças2.

QUADRO CLÍNICO

O quadro clínico pode ter início com sintomas e sinais constitucionais


(anorexia, fadiga, perda de peso e diminuição no crescimento) e artrite (dor, calor,
rubor, edema e perda funcional) em uma ou mais articulações – joelhos, tornozelos,
punhos, cotovelos e quadril são as articulações mais acometidas; observam-se rigidez
matinal e entesites. (figura 3). O rash (erupção cutânea macular fina e rósea) é comum
em quadros sistêmicos, é raramente pruriginoso e localiza-se, preferencialmente, no
tronco e nas porções proximais dos membros3.

11
Figura 3 - Paciente portador de Artrite Idiopática Juvenil na sua forma sistêmica,
imerso em tanque de Hubard durante tratamento, nota-se acometimento poliarticular
da criança.

A artrite idiopática juvenil pode ser caracterizada pelas manifestações clínicas


nos 6 primeiros meses da doença, e divididas em sistêmicas (10-20%), poliarticular
(20-30%) e pauciarticular (45%). A artrite é a maior manifestação articular na AIJ e
está presente em todos os tipos. (Figura 4). O diagnóstico definitivo é realizado
quando a artrite estiver presente por um período de, no mínimo, 6 semanas em uma
mesma articulação4.

12
Figura 4 - Mão de paciente com AIJ, nota-se artrite das interfalângicas proximais com
deformidades em posição de flexão dos dedos.

O tratamento da AIJ tem o objetivo de controlar o quadro doloroso e


inflamatório, prevenir deformidades e manter a criança nas atividades da vida diária.
O uso da medicação será feito a critério médico, observando o quadro clínico
da criança e sua evolução5.

AVALIAÇÃO FÍSICA

A avaliação das crianças com artrite idiopática juvenil pode e deve ser feita
utilizando-se os seguintes instrumentos:
- O questionário Escola Paulista de Medicina Range of Motion – Pediátrico
(EPM Rom - Pediátrico). Esse instrumento avalia a amplitude de movimento (ADM) de
dez articulações bilateralmente e possui uma escala que varia de 0 (sem limitação) a 3
(limitação intensa) – quanto maior sua pontuação, maior a limitação encontrada. Esse
questionário foi traduzido e validado em 19996.
- O Childhood Health Assessment Questionnaire (CHAQ) que avalia a
capacidade física de crianças e adolescentes, e foi traduzido e validado em 1994. É
composto por 30 itens com os seguintes domínios: AVDs, levantar-se, alimentação,
higiene pessoal, utilização dos membros superiores, preensão e atividades diárias,
com respostas que variam de 0 (zero), sem qualquer dificuldade, a 3 (três), incapaz de
realizar; maiores pontuações são indicativas de pior capacidade funcional7.

13
- O Pediatric Quality of Life 4.0 (PedsQl) é um questionário genérico que avalia
qualidade de vida de crianças e adolescentes de 2 a 18 anos. Consiste em 23 itens
distribuídos em funções física, emocional, social e escolar. Utiliza-se, em cada uma de
suas perguntas, uma escala de cinco pontos do tipo Likert scale, sua pontuação varia
de 0 (“nenhuma dificuldade”) a 4 (“muita dificuldade”), maiores pontuações são
indicativas de pior função8.
- O Child Health Questionnaire (CHQ) também é um questionário genérico de
qualidade de vida e foi traduzido e validado para uso em nosso meio em 2001 para
AIJ. O CHQ possui versões para crianças e pais. São avaliados os seguintes
domínios: saúde global, atividades físicas, atividades diárias, dor, comportamento,
bem-estar, auto-estima, um melhor estado de saúde9.
- Avaliação da dor utilizando a escala visual e analógica para dor10.
- Avaliação da força muscular.
- Avaliação da marcha.
Estabelecer os objetivos do tratamento fisioterapêutico pode facilitar a escolha
da melhor conduta, sempre levando em consideração a melhor evidência científica
disponível nas bases de dados da saúde.
A educação do paciente e de seus familiares está associada a melhora na
compreensão da doença e aumento na aderência ao tratamento. As doenças crônicas
têm como característica o comprometimento do paciente no processo de tratamento e
seguimento, pois o abandono do tratamento pode, e geralmente acontece, representar
piora importante do quadro clínico11,12.
Um programa educacional para pacientes com artrite idiopática juvenil e seus pais
deve conter as seguintes orientações:
1. Aspectos psicossociais;
2. Aspectos do tratamento: uso da medicação de maneira adequada;
3. Aspectos físicos: programa de exercício terapêutico e exercício físico;
4. Terapêutica no controle da dor;
5. Avaliação do ambiente escolar, tanto no aspecto de compreensão dos
colegas e professores quanto no aspecto arquitetônico;
6. Transição da fase de criança/adolescente para fase adulta (transitional
care)13.
O programa educacional tem que fornecer informações aos pacientes e a seus
pais sobre “como enfrentar” a doença, objetivando aumentar a aderência ao
tratamento e melhorar a qualidade de vida.
Um programa de cuidado transicional foi identificado como sendo um importante
apoio para adolescentes e pais, e é primordial o envolvimento de equipe

14
multiprofissional constituída por reumatologistas, enfermeiros, fisioterapeutas,
terapeutas ocupacionais e psicólogos. O programa deve conter: informação sobre a
doença; equipe de profissionais especializados; autonomia no cuidado da saúde;
independência na vida diária; orientação sobre puberdade; educação e orientação
vocacional; saúde bucal; exercício; drogas e álcool; orientação sexual; e diferença
entre reumatologia pediátrica e reumatologia do adulto14,15.

PRESCRIÇÃO DE EXERCÍCIOS

Os exercícios são importantes na reabilitação da artrite reumatóide do adulto e


existem muitos trabalhos na literatura que embasam tal afirmação16,17, porém quando
nos referimos a artrite idiopática juvenil encontramos carência de ensaios clínicos com
boa qualidade metodológica.
Uma revisão sistemática de exercícios para o tratamento de crianças com artrite
idiopática juvenil os autores concluíram que os exercícios não apresentaram melhora
clínica, nem estatisticamente significante na capacidade funcional, qualidade de vida,
capacidade física e dor, porém vale ressaltar que os exercícios não exacerbaram os
sintomas da artrite e que os resultados em curto prazo parecem promissores, mas em
longo prazo o efeito dos exercícios continua obscuro18.
Em relação a massagem há, somente, um artigo não-randomizado que utilizou a
massagem em pacientes com artrite idiopática juvenil e os pacientes que receberam
massagem apresentaram diminuição da ansiedade, depressão, nível de cortisol
salivar, dor e melhora na realização das atividades quando comparados com o grupo
de relaxamento19. Devemos ser criteriosos ao avaliar tal artigo.
A hidroterapia apresenta poucos trabalhos que avaliaram seu efeito em crianças
com AIJ e o resultado de ambos é parecido e mostram que não houve melhora na
qualidade de vida, capacidade funcional, capacidade física e comprometimento
articular. Os autores também relataram que as crianças não apresentaram piora dos
sintomas20,21.
Adaptações, órteses, proteção articular e conservação de energia são utilizadas
na prática clínica e podemos observar que quando bem indicados e bem executados
têm efeito na melhora das atividades da vida diária22.

15
GUIA PRÁTICO PARA UM PROGRAMA de REABILITAÇÃO PARA PACIENTES
COM AIJ– BASEADO NA MELHOR EVIDÊNCIA CIENTÍFICA E NA PRÁTICA
CLÍNICA DIÁRIA23
Uma avaliação Fisioterapêutica deve conter:
1. Anamnese
2. Exame Físico:
a) Inspeção
b) Palpação
3. Goniometria
4. Avaliação da força muscular
a) Dinamometria de mãos e dedos
PINCH (mão)
Jamar
b) Aparelho isocinético
5. Perimetria da articulação acometida
6. Avaliação do edema (caso haja)
a) Volúmetro
7. Questionários
a) CHAQ – Capacidade funcional
b) Pediatric EPM-ROM amplitude de movimento
c) PeDsQL ou CHQ – Qualidade de vida
d) Escala visual analógica dor
8. Marcha
a) Auxiliares
b) Biomecânica
9. Prescrição de exercícios
a) Alongamentos livres e assistidos
b) Exercícios assistidos e ativos
c) Exercícios com carga e resistência, devido à baixa evidência científica
10. Educação ao paciente e familiares
11. Conservação de energia
a) Planejar
b) Priorizar as tarefas
c) Delegar
12. Proteção articular
a) Órteses: posicionamento noturno, funcional de punho, botoeira, pescoço de cisne, desvio
ulnar e canaletas
b) Palmilhas
c) Dispositivos de marcha: andador, bengalas e muletas (axilar e canadense)
d) Adaptações: para a realização de vida prática e diária

16
CONCLUSÃO

A reabilitação de pacientes com artrite idiopática juvenil deve ser feita de maneira
criteriosa respeitando o limite de dor e, eventuais, deformidades. A avaliação é de
suma importância na elaboração dos objetivos e conduta e a adesão ao tratamento do
pacientes fará com que o resultado seja favorável a evolução da doença. O
prognóstico depende de vários itens e a reabilitação faz parte desse processo.

17
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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