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196 Weve w Sade O Movimento Movernista b& Mario DE ANDRADE ‘Aureévo Bost Q... 4 Casa do Estudante do Brasil pensou em comemorar 0 20° aniversitio da Semana de Arte de 22,0 nome lembrado para proferir uma palestra aque desse 0 mais fel testemunho daquele memento decisivo da nossa historia cultural fi o de Mario de Andrade. O grande exeitor foi convidado a falar, e 0 fez ‘exeraplarmentelendo o texto O Movimento Modernsta, em sessto publica realizada no Audit6rio da Biblioteca do Itamarai, 20s 30 de abril de 1942, Em tempos de metalinguagem parece oportuno refleti, rests ocasite do 50° sniversério da Semana.) sobre as ideias da conlerencia de Maio: em primeito lugar, porque elas constivuern tum balango consideravel do que foi © movimento e, nesse sentido, conservam todo o seu ineresse historico do depoimento; ‘em segundo lugar, porque pretendem dat-he uma interpetacaoe, nesse sentido, ‘fuminam tanto a Semana quanto 4 perspectiva cultural em que se situava Mario de Andrade; em terceiro lugar, porque elas propdem sberturas a problemas reevantes de critica; e, esse sentido, transcendem 0 objeto que as metivou e, a rigor, o proprio pensamento critico de Maio tal como se formulava explicitamente em 1942, Respeitando essas ordens de significados, ¢ possivel ler texto O Movimento ‘Modemista como se nele se articulassem irs tipos de discurso: 1- um discurso narrative, que vai do aurobiogratico a0 grupul volta deste para aquele: © que da a palestra um discreto mas inequivoco tom de confidencia ‘oscilante entre 0 puro intimismo e a memoria polerica de toda uma geracio. 2- um discurso historico-genético, que entende situar 0 movimento em uma dimensio temporal precisa (o primeito pos-guerra) e proceder a sua interpretacio ro interior da vida brasileira O seu eixo é também polémico: a condigao paulsta, a Semana e dos partiipantes mais ligados a Mario; 5-um diseurs critic e,nos momentos de masala tensto conceal, um discurso éstético, Nele se desenvolvem ou se apontam ceros temas que tabalhavam de longa dataa consciénciaatsticade Mario de Andrade: problemas de linguagetn deliberdade -da pesquisa formal, de vinculacio do escrito com as series sociale politica. temo present foi elon einem 1972, pr cea ds comeinarares do 50” aiversitio sd Scrpana de Art Moderna de S83 Pula, Entra de Coiguitetras. 12, argo de 1973 Portal, FundatoC. Gulbesbian pp.23-31 Bea Done Mees de a de de 297 (© documento presta-s, como se v2, a mais um ponto de vista. A nossa leltura, pela natureza mesma desta comunicacio e pelo tempo que Ihe fi destinado, ser, por fore, seletiva. Mas, na medida em que atender a realidade dos tes discursos imbricatos, propse-se mio delvar na sombra nada de fundamental I © Mério maduro de 1942 tinha muito que contar;e, a pretexto daquela primeira ‘comemoracio oficial da Semana (pois em 32 eram bem outtos os culdados do sgoverno federal e das autoridades paulisss), deixou-se tomar, confessadamente, pelo prazer das reminiscencias e do desabafo grupal. A Semana fora un, acontecimento: devia ser descrita,interpretada, submetida a jutzos de valor mas, para tomar forma, ela precisou de atravessar a Conscléneia, a vontade, 0 corpo de certosindividuos; e Mario foi um destes, talvez o principal deles. Como ignorar a: ressondnciss psicologicas tio fundas que deram ao fato uma densidade passional tinea, talvezirepetivel? A palavra do escritor prevende reeuperar também aquela ibracao que se perde no registro historico quando nao se presslona 9 pedal da evocacio. E néo hé um qué de petulantemente pessoal, até nas rupturas gramaticais, neste passo provocative? Faxem vite anos que reaisou-e, no Tetto Municipal de Sto Paul, a Semana de Arte Moderna. E todo um passado agradivel, que nko cow naa fein ras que me ssombra Ue ouco também. Come tive comer pra participa dagula bla cera ue om mines experi artistes mato que weno esandaliando + nceciliade dome pt, poem ‘expats em lives atges. como que ess experience nose erlizan namin rable Nae «stow de comp presente isto abtanda ochogue deste, Mas coma ie corage peadizet, ‘esos dante dma vain to bulhenta que ean exctav mo pale gue Pala Pave megane a primes fla dae polonss...Como pus laser ue conferdncia sobe ate plas, ne ‘senda do Tato, cerca de andar que me ecouvan elena a valet A conflssio, certa altura, se torna mais cerrada, envolvendo as reagbes ds familias antes de 22 pouco dispostaa ceder as bizarrices do parente vanguardeiro; © texto mistura com impeto e verve as 4guas da vide doméstica com as da vids spiritual e atistica do jovern Mati: Assos sjuavam dfiuldades mori vas, de wines, ano de soiimente rit. Ja gunhara pe iver folgado, ms ria de saber clos que me tomar, 0 ase {ugin emis cure esuepars em cambolachos finances tenes im fama cies ton SiMiee ies nie stolovam com aeminia “oucuraoreso aula etter sem peda. E com cero prazer ate ese doce pratt de enum sbeinh ou Rath primo, an *prdido" que nos vlrzavnuosumente. Gotha dicusde brats em au o} menos, discutivel. Admitir a existencia duma “nobreza” como classe & pate, distinta da alta burguesia, parece tum desvio de abordagem peculiar 2 quem privilegia um certo grupo, por motivos de familaridade, ligados antes a eatilos de vida que a situagdes socloecondmicas ‘specifics. Mas ndo se trata aqul de dlseutir in abstracto a exatidao sociologica dos termos usados por Mario de Andrade, pois estria em jogo toda uma letura da historia brasileira em termo de “estratos feudais" erm uma sociedade que, a rigor, desde a Colonia, se articulou em sistema de mercado, capitalists logo incompativel, ‘com entidades pré-mercantis do tipo “aristocracs",“nobreza". De reso, 0 debate lucidativo em torno do tema € recente, ¢ Mario nao o teria alcangado nem pressentido. © que importa € relevar, na tela do seu discurso interpretativo, uma sensibilidade atenta aos nexos que efetivamente exstem entre grupos restritos da sociedade ¢ certas posturas culturais que se opoem, ou parecem oporse em tt dado momento, 3 ideologia difusa, ao “bom senso” da malaria, Nao importa que, isolando extremadamente um grupo e chamando-o ‘aristocritico”, Mério tenha sido infeliz socislogo: « sua abservacao dos fatas & cetteirae espera duma sociologia mais feliz a andlise exata do fenomeno, mm Se,ao indicar a genese social do Modernismo, Mario nto pode desembaracar-se dos lismes que o atavam a certa rede de significacosideologicos, ao reconhecer 0 aleance clador € 0s limites crticos do movimento ee soube dizer coisas definitivas. Amesse a rica, ea tarefa agradavelmente dif éescolher temas que rendam Juma discuss80 de carater conceitual. Como dado prévio, nfo se pode esquecer que, na altura da conferéncia, Mario jétinha conseguido dar boa forma a algumas ‘deta critcas fundamentais sobre expresso e construct na obra de atte e sobre ‘osu grau de dependéncia em face das series sola e pollica, De 38, por exemplo, 0 ensaio"O artista eoartesio",exame atvrado dasrelagdes entre técica, sociedade « individuo na criagao artistica De 39 estado, breve mas intenso, sobre a pintus de Candido Portinari, no qual se acha ura pont de intersecgio entre a esfera plastica ea esfera mimética do quadro. E do mesno 42, ano da conferencia que thos ocupa a bela aula sobre a “atualidade de Chon”, espécie de medalhio onde ‘uma leiturainuitiva como D. Gilda de Mello e Souza ve desenar-se, em miscara, © rosto do proprio Mério, artista puro e homem ¢o seu tempo. se Boa Oprimeizo topico, e 6 ele, privilegia o nivel estético, Nele se resumnem todas as lutas pela liberdade da linguagem e da construcio literstia que foram 2 gloria mais legtima do movimento, Ao desenvolvé-lo, Mério volta a teorizar sobre a realidade duma lingua brasileira espectalmente duma sintaxe brasileira que recebera foros de eserita lteréria, com o Romantismo consciente de Alencar, sofvera wt rocesso repressivo no interregno realisa-parnasiano, mas pudera, a partir dos ‘modernas, impor-se de novo como fator de pesquisa poética e musical. E, tema recorrente em todo o seu itinerdrio critico, etorna também a opinizo segundo a ual, 30 lado do Modernist, s6 0 Romantismo teria agido era nossosintelectuais guards o sabor das grandes reconstrusdes idealstas da Histstia propastas por um Dilthey ou por um Spengler Merefio a0 esp’, ao esto revolaconsromsntc, que extn acon, na Baio da Ga do Urea, a irs de Gonzaga como nas Cat Chinas de quem osenhoes quer. Este epitopepsoa cesta evlacona de queens independent poles, f teve como padrdo bem briguento 4 primeira cntativa de lingua bala, © expt ‘evoluconutie madera to necessre come romantic, pepaon oes revollonla fe em diame e aber ee como pao bathe a segunda tenttva de naonaliarso blinguagem. A simlarade emit lore

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