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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

H519

Hetem Junior, Annibal, 1961-

Física para licenciatura: ondulatória / Annibal Hetem Junior, Calvin Gregorio Hetem.

- 1. ed. - Rio de Janeiro : LTC, 2016. (Fundamentos de matemática)

il. ; 28 cm.
Apêndice

Inclui bibliografia e índice

ISBN 978-85-216-3125-5

1. Física - Estudo e ensino. I. Hetem, Calvin Gregorio. II. Título. III. Série.

15-22546 CDD: 530

CDU: 53

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Dedicatória

Aos grandes matemáticos e físicos do passado que, através da pureza de seu


pensamento, nos deram as tecnologias do presente e o caminho para o
futuro.

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FUNDAMENTOS DE MATEMÁTICA

APRESENTAÇÃO

CONSIDERAÇÕES GERAIS
Com o término da Segunda Guerra Mundial, a Europa e os demais países
envolvidos tiveram de reconstruir suas cidades e reestruturar seus parques
industriais, o que determinou uma globalização das tecnologias
desenvolvidas no período bélico.
O fluxo de cientistas e técnicos entre os países tornou-se muito grande,
e a notação científica, globalizada, tornou-se uma necessidade. O Sistema
Métrico Decimal, por exemplo, passou a ser utilizado por todos os países.
Nesse período, o grupo francês chamado de Bourbaky praticamente
reescreveu a Matemática, conhecida, até então, numa linguagem axiomática
e simbólica.
Assim, os textos de Matemática, Física, Química e outros que
dispunham de linguagem própria passaram a se utilizar da representação
simbólica da Matemática, que se tornou a rainha das ciências exatas e
impregnou as demais ciências.
A demanda tecnológica, na segunda metade do século passado, fez
com que os textos dos livros de Matemática fossem adaptados, pois até o
final da década de 1950, estes se dividiam em três grandes áreas: a Análise,
a Álgebra e a Geometria.
Da Análise surgiu o Cálculo Diferencial e Integral, com larga aplicação
nas Engenharias; a Álgebra e a Geometria se fragmentaram gerando a
Álgebra Linear, a Geometria Analítica com tratamento vetorial; os tipos de
Geometrias, projetiva, descritiva e outras, levaram os textos matemáticos a
se adaptarem a essas aplicações da Matemática.
A informática, que era incipiente, teve um desenvolvimento
excepcional e determinou uma grande demanda de textos matemáticos
aplicados a essa área.
O estudo da Matemática, num sentido mais puro, ficou restrito aos
cursos de bacharelado e à pós-graduação.
Os textos matemáticos, ao serem aplicados às engenharias, à
informática e às demais ciências, perderam as estruturas originais e
começaram a surgir representações simbólicas distintas em cada ciência a
tal ponto que algumas áreas da Matemática, quando representadas por
símbolos distintos, parecem representar conhecimentos diferentes e não
aplicações de um mesmo conhecimento.
Por exemplo, a Álgebra Booleana, a Lógica Clássica, os Circuitos
Digitais, são representações distintas dos anéis binários. Na realidade são
casos particulares e aplicações do estudo da estrutura dos Anéis, que é uma
parte da Álgebra.

OS TEXTOS MATEMÁTICOS NAS ESCOLAS DO SÉCULO


PASSADO E AS NECESSIDADES DO SÉCULO XXI
A linguagem axiomática e simbólica, desenvolvida em meados do século
passado, gerou a Matemática, dita Moderna, que foi introduzida nos ensinos
médio e fundamental, e isto obrigou os cursos de licenciatura a se
adaptarem a ela sem que os docentes, de todos os níveis, estivessem
preparados para isso, e mesmo assim os textos didáticos foram alterados
numa tentativa frustrada de adequação, gerando todos os problemas com o
aprendizado de Matemática, já bem conhecidos nesses níveis de ensino.
O grande nó é que o país não tinha e ainda não tem professores
capacitados e em número para atender à demanda profissional, o que
originou os cursos de pequena licenciatura a partir da Lei 5692 de 1971.
Os testes e avaliações, feitos por organismos nacionais ou
internacionais, estão medindo objetivamente a sua falta.
Em virtude desse quadro, os textos de Matemática para as licenciaturas
e para os ensinos fundamental e médio não sofrem alterações significativas
há muito tempo.
Por outro lado, neste novo século, as instituições de ensino superior
estão se adaptando à nova legislação e às novas necessidades das
sociedades tecnológicas e também ao grande número de egressos dos cursos
médios gerados pela universalização do ensino fundamental.
O baixo nível de conhecimentos que esses alunos apresentam, pelos
motivos já vistos, tem levado às IES uma “massa” de estudantes sem
preparo, mas que devem, ao se formarem, ser capazes de ingressar numa
sociedade altamente tecnológica carente de elementos de alto nível.
Há um imenso hiato entre as duas pontas do ensino superior, que só
será resolvido com um grande programa de capacitação docente.
Estas novas relações entre os elementos da sociedade e as novas
demandas da estrutura social têm indicado urgência de reformulações
profundas nos cursos de licenciatura e, consequentemente, nos textos
apropriados a esses cursos e posteriormente nos textos dos demais níveis.
Os novos textos devem ser elaborados segundo uma visão ampla e ser
capazes de sanar as falhas anteriores numa ponta e, na outra, dar um
conhecimento sólido que permita ao egresso dos cursos de licenciatura um
grande leque de oportunidades numa sociedade altamente tecnológica e em
constante transformação. Num segundo momento é necessário proceder a
alterações nos textos dos ensinos fundamental e médio. O conjunto de
livros de Fundamentos de Matemática procura sanar essa falha.

Prof. Dr. Waldemar De Maio – Coordenador


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PREFÁCIO

Qual é o ponto em comum que existe entre a música, a luz e as cores, o


movimento de um pêndulo, um amortecedor de automóvel, a televisão, o
rádio e o radar? Resposta: a física ondulatória. É impressionante saber que
um reduzido número de equações serve para explicar a natureza de uma
imensa quantidade de fenômenos naturais e artificiais que fazem parte da
nossa vida cotidiana.
Por exemplo, os princípios físicos envolvidos no fenômeno do eco, que
ocorre devido à reflexão do som em paredes ou cavidades, são os mesmos
presentes na reflexão de uma imagem em um espelho e nas tecnologias do
sonar e do radar. A transmissão de informações via rádio ocorre sob o
mesmo formalismo da propagação das ondas na superfície de um lago e dos
terremotos. O desabamento de uma ponte que ocorre devido à ressonância
com o vento pode ser previsto com as mesmas fórmulas usadas para
explicar porque determinados sons fazem quebrar taças de cristal.
Todos os fenômenos oscilatórios compartilham das mesmas
propriedades, tais como frequência, amplitude, amortecimento, período. E
também têm o mesmo comportamento, como periodicidade, reflexão,
ressonância e, em alguns casos, certa tendência ao caos.
Por outro lado, o formalismo da física de ondas é extremamente
elegante. A análise de sistemas oscilatórios parte dos fundamentos da física
newtoniana (força e aceleração: a segunda lei de Newton) e como resultado
obtêm-se equações diferenciais de segunda ordem. A solução dessas
equações, passando pelo plano complexo, utiliza a identidade de Euler para
formalizar o comportamento das ondas, através de funções trigonométricas
cujo argumento inclui o tempo. Este singular agrupamento de construções
da mente humana — leis de Newton, EDOs de segunda ordem,
exponenciais complexas, trigonometria — faz da física ondulatória uma das
mais belas aplicações da matemática. Seu uso permeia todo o espectro dos
usos da física, tecnologia e engenharia, indo desde a fabricação de
brinquedos até a construção de supercomputadores e naves espaciais.
Assim, apresentamos nesta obra os primeiros passos em direção à
compreensão do movimento oscilatório e suas aplicações no mundo em que
vivemos. A busca do conhecimento faz parte do processo de domínio do
homem sobre a natureza e, nesta caminhada, a física ondulatória é uma
elegante passagem obrigatória.

Os Autores

OBJETIVOS GERAIS
Durante o processo de criação deste livro, houve a preocupação em expor
os conhecimentos de forma sistemática e didática. Assim, os tópicos
teóricos são apresentados de forma ordenada, de maneira que as deduções e
ideias sejam adicionadas umas às outras, com crescente complexidade.

CONTEÚDO DOS CAPÍTULOS


Capítulo 1: Definições, unidades e propriedades
Serão apresentadas as definições formais das principais grandezas
envolvidas no estudo dos sistemas oscilatórios, como período e frequência,
amplitude, offset etc., bem como das grandezas derivadas destas como a
velocidade angular e a energia. Ao final do capítulo são propostos
exercícios de fixação, cujas respostas encontram-se no apêndice A.

Capítulo 2: Sistemas oscilantes simples


Apresenta-se aqui os principais sistemas oscilatórios estudados na física.
Esses sistemas são usados posteriormente como base para as deduções e
estudo de propriedades de sistemas mais complexos. São apresentados os
sistemas massa/mola, pêndulo simples, pêndulo de torção, massa presa a fio
tensionado, tubo em “U”, hidrômetro, amortecedor a gás e circuito LC. O
capítulo é concluído com uma discussão sobre equivalências entre sistemas
oscilantes.

Capítulo 3: Movimento harmônico amortecido e forçado


Esse capítulo é dedicado ao movimento harmônico amortecido e ao
movimento harmônico sob a ação de uma força oscilante. Primeiramente é
apresentada a solução no tempo da equação do movimento e como se
calcula a energia mecânica total. Em seguida, são apresentados os conceitos
de qualidade e comportamento do sistema oscilante e uma discussão sobre
sistemas superamortecidos e amortecimento crítico. Finalmente, é
apresentado o formalismo da aplicação de forças oscilantes aos sistemas,
com ênfase nos aspectos de ressonância (com e sem perdas) e dissipação.

Capítulo 4: Sistemas harmônicos múltiplos


São expostos nesse capítulo os sistemas harmônicos múltiplos e é discutida
a metodologia para a solução de sistemas oscilantes acoplados. Os tópicos
apresentados são: modos normais simples e superpostos, solução geral de
dois pêndulos acoplados e aplicação de forças oscilantes. Em seguida, faz-
se uma discussão sobre o acoplamento de múltiplos osciladores, seus modos
normais e uma introdução às oscilações longitudinais. O capítulo é
finalizado com uma breve apresentação do pêndulo duplo e seu
comportamento caótico.

Capítulo 5: Ondas confinadas em meios contínuos


Utilizando os conhecimentos apresentados previamente para tratar de ondas
em meios contínuos, mas finitos, discutem-se as oscilações forçadas em
cordas, em barras vibrantes e em tubos sonoros e faz-se uma breve
introdução à análise harmônica. Finalmente, são apresentadas as bases das
deduções das oscilações em duas dimensões, particularizando os resultados
para oscilações em membranas retangulares e circulares.

Capítulo 6: Ondas em meios contínuos e Capítulo 7:


Propriedades de ondas em meios contínuos
São dedicados ao estudo das ondas em meios contínuos não limitados.
Propriedades como propagação, velocidade, comprimento de onda e
transporte de energia são apresentados com profundidade. Esses
conhecimentos nos permitem avançar no estudo de características como
reflexão e transmissão, refração, difração, modulação e o efeito Doppler.

Capítulo 8: Ferramentas de análise espectral: a transformada


de Fourier
Introduz as ferramentas de análise espectral como a análise de Fourier.
Grande parte deste capítulo é dedicada à transformada de Fourier, na sua
versão contínua e discreta.

Todos os capítulos contêm um tópico especial no qual é apresentada


uma aplicação tecnológica do tema em estudo. Os tópicos especiais foram
selecionados tanto do ponto de vista de aplicação tecnológica como do
aspecto didático, procurando aliar os detalhes interessantes da aplicação e o
formalismo utilizado. Os tópicos apresentados são: “O sintetizador
Minimoog”, “O pêndulo de Foucault”, “Ressonância magnética nuclear”,
“O pêndulo duplo”, “Modos de oscilação das estrelas”, “O som no cinema”,
“A velocidade de rotação de uma galáxia” e “FFT — a transformada rápida
de Fourier”.
No final do livro estão disponíveis três apêndices, com as respostas dos
exercícios propostos ao final de cada capítulo (Apêndice A), tópicos
teóricos citados ao longo da obra (Apêndice B), e tabelas com informações
selecionadas (Apêndice C).

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Material Suplementar
Este livro conta com o seguinte material suplementar:

■ Ilustrações da obra em formato de apresentação (restrito a docentes).

O acesso ao material suplementar é gratuito, bastando que o leitor se


cadastre em: http://gen-io.grupogen.com.br
 
 
 
 
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SUMÁRIO

1 DEFINIÇÕES, PROPRIEDADES E UNIDADES


1.1 INTRODUÇÃO
1.2 UMA ONDA
1.3 ELEMENTOS DE UMA FUNÇÃO PERIÓDICA
1.3.1 Período
1.3.2 Frequência
1.3.3 Amplitude
1.3.4 Fase
1.3.5 Offset
1.3.6 Velocidade angular
1.4 RELAÇÕES IMPORTANTES
1.4.1 Amplitude e imagem
1.4.2 Período e velocidade angular
1.4.3 Amplitude e velocidade angular
1.4.4 Fase e velocidade angular
1.5 ENERGIA
1.6 SOBREPOSIÇÃO DE DUAS ONDAS
1.6.1 Duas ondas monodimensionais
1.6.2 Duas ondas perpendiculares
1.7 TÓPICO ESPECIAL: O SINTETIZADOR MINIMOOG
1.8 EXERCÍCIOS

2 MOVIMENTO HARMÔNICO NÃO AMORTECIDO


2.1 INTRODUÇÃO
2.2 SISTEMAS HARMÔNICOS EM FÍSICA
2.2.1 Sistema massa/mola
2.2.2 Pêndulo simples
2.2.3 Pêndulo de torção
2.2.4 Massa presa a fio tensionado
2.2.5 Tubo em “U”
2.2.6 Hidrômetro
2.2.7 Amortecedor a gás
2.2.8 Circuito LC
2.3 O PÊNDULO DE GRANDE AMPLITUDE
2.4 TÓPICO ESPECIAL: O PÊNDULO DE FOUCAULT
2.5 EXERCÍCIOS

3 MOVIMENTO HARMÔNICO AMORTECIDO E FORÇADO


3.1 INTRODUÇÃO
3.2 MOVIMENTO HARMÔNICO AMORTECIDO
3.2.1 Solução no tempo
3.2.2 Energia mecânica total 46
3.2.3 Qualidade e comportamento
3.2.4 Sistemas superamortecidos
3.2.5 Amortecimento crítico
3.3 MOVIMENTO HARMÔNICO FORÇADO
3.3.1 Ressonância num sistema sem perdas
3.3.2 Ressonância num sistema amortecido
3.3.3 Influência do termo dissipativo
3.4 TRANSIENTE
3.5 APLICAÇÃO: O CIRCUITO RLC SÉRIE
3.6 TÓPICO ESPECIAL: RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
NUCLEAR
3.7 EXERCÍCIOS
4 SISTEMAS ACOPLADOS
4.1 INTRODUÇÃO
4.2 DOIS PÊNDULOS ACOPLADOS POR UMA MOLA
4.2.1 Modos normais
4.2.2 Superposição de modos normais
4.2.3 Solução geral
4.2.4 Osciladores duplos forçados
4.3 ACOPLAMENTOS DE N OSCILADORES
4.3.1 Modos normais
4.3.2 Oscilações longitudinais
4.4 TÓPICO ESPECIAL: O PÊNDULO DUPLO
4.5 EXERCÍCIOS

5 ONDAS CONFINADAS EM MEIOS CONTÍNUOS


5.1 INTRODUÇÃO
5.2 ACOPLAMENTOS DE INFINITOS OSCILADORES
5.3 SISTEMAS VIBRANTES CONTÍNUOS
5.3.1 Oscilações forçadas em cordas
5.3.2 Barras vibrantes
5.3.3 Tubo sonoro
5.4 ANÁLISE HARMÔNICA
5.5 OSCILAÇÕES EM DUAS DIMENSÕES
5.5.1 Membranas retangulares
5.5.2 Membranas circulares
5.6 TÓPICO ESPECIAL: MODOS DE OSCILAÇÃO DAS
ESTRELAS
5.7 EXERCÍCIOS

6 PROPAGAÇÃO DE ONDAS, PROPRIEDADES E MODULAÇÃO


6.1 INTRODUÇÃO
6.2 PROPAGAÇÃO DE ONDAS
6.3 ONDAS SONORAS
6.4 PROPRIEDADES FÍSICAS
6.4.1 Velocidade, frequência e comprimento de onda
6.4.2 Transporte de energia
6.4.3 Número de onda e velocidade de fase
6.4.4 Velocidade de grupo
6.5 TÓPICO ESPECIAL: O SOM NO CINEMA
6.6 EXERCÍCIOS

7 PROPRIEDADES DE ONDAS EM MEIOS CONTÍNUOS


7.1 INTRODUÇÃO
7.1.1 Pulsos de onda
7.2 REFLEXÃO E TRANSMISSÃO
7.3 O TANQUE DE ONDAS
7.4 REFRAÇÃO
7.5 DIFRAÇÃO
7.5.1 Interferência de duas frestas
7.5.2 Interferência de N frestas
7.5.3 Interferência de uma fresta
7.6 MODULAÇÃO
7.6.1 Modulação em amplitude
7.6.2 Modulação em frequência
7.7 DEPENDÊNCIAS DO REFERENCIAL: O EFEITO
DOPPLER
7.8 TÓPICO ESPECIAL: A VELOCIDADE DE ROTAÇÃO DE
UMA GALÁXIA
7.9 EXERCÍCIOS

8 FERRAMENTAS DE ANÁLISE ESPECTRAL: A TRANSFORMADA DE


FOURIER
8.1 INTRODUÇÃO
8.2 ANÁLISE DE FOURIER
8.3 A TRANSFORMADA DE FOURIER
8.4 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS
8.5 CONVOLUÇÃO
8.6 A TRANSFORMADA DISCRETA DE FOURIER
8.7 TÓPICO ESPECIAL: FFT
8.8 EXERCÍCIOS

APÊNDICE A
A.1 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO
A.2 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO
A.3 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO
A.4 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO
A.5 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO
A.6 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO
A.7 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO
A.8 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO

APÊNDICE B
B.1 ENERGIA CINÉTICA
B.2 ENERGIA POTENCIAL
B.3 INTEGRAL ELÍPTICA COMPLETA DE PRIMEIRO TIPO
B.4 MOMENTO DE INÉRCIA
B.5 O MÉTODO DE RUNGE-KUTTA
B.6 ROTINA PARA O CÁLCULO DA TRANSFORMADA
DISCRETA DE FOURIER

APÊNDICE C

BIBLIOGRAFIA
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Capítulo 1

DEFINIÇÕES, PROPRIEDADES E UNIDADES

1.1 INTRODUÇÃO
1.2 UMA ONDA
1.3 ELEMENTOS DE UMA FUNÇÃO PERIÓDICA
1.4 RELAÇÕES IMPORTANTES
1.5 ENERGIA
1.6 SOBREPOSIÇÃO DE DUAS ONDAS
1.7 TÓPICO ESPECIAL: O SINTETIZADOR MINIMOOG
1.8 EXERCÍCIOS

1.1 INTRODUÇÃO
Em nossa vida cotidiana, estamos costumados a separar os fenômenos do
mundo físico em duas categorias: os periódicos e os não periódicos.
Quando nos referimos a uma data, por exemplo, “iremos no próximo dia
23”, isso significa que existiu um dia 23 no mês passado e existirá um dia
23 no próximo mês. Nesta afirmação está implícito o conceito de
periodicidade ou de repetição. O ciclo dos dias e noites, as semanas, os
ciclos da Lua e das estações do ano, todos esses fenômenos são repetitivos,
ou seja, periódicos.
Entretanto, também convivemos com manifestações com
características periódicas que não consideramos como tal. O som — e aqui
se incluem a fala, música, ruídos etc. — se propaga no ar na forma de ondas
sonoras tridimensionais. Ao sintonizarmos uma emissora na televisão ou no
rádio, também estamos utilizando ondas, neste caso, eletromagnéticas. A
luz também tem características de ondas eletromagnéticas, e todas as suas
propriedades (propagação, cores, velocidade, refletividade etc.) vêm desta
sua origem. O fornecimento de energia elétrica em nossas cidades também
ocorre com base em fenômenos ondulatórios. A grande maioria dos motores
e outros dispositivos móveis são máquinas de movimentos periódicos.
Devemos ainda nos lembrar de que os processos biológicos, como
batimentos cardíacos, respiração, sono etc., também são estudados como
ciclos.
De modo a estudar e melhor compreender todos estes fenômenos, os
cientistas e pesquisadores desenvolveram ao longo dos séculos vários
conceitos e metodologias. Evidentemente, como estes estudos estão,
essencialmente, no campo da física, as grandezas e valores associados
necessitam de ser traduzidos para termos matemáticos aos quais possamos
aplicar leis e teoremas. Deste processo surge uma padronização de
terminologias, símbolos e unidades dos movimentos ondulatórios.
Este capítulo inicial é dedicado à apresentação aprofundada dos
conceitos fundamentais ligados aos fenômenos oscilatórios, ou harmônicos,
suas unidades e interpretações. Veremos, mais adiante, que estes conceitos
são de extrema importância para os estudos em física ondulatória.
Figura 1.1 Um barco sobre as ondas do mar. As ondas em uma superfície líquida são
bidimensionais.

1.2 UMA ONDA


O modelo matemático prioritariamente utilizado em física ondulatória são
as funções trigonométricas, como o seno e o cosseno. Dada a sua
característica periódica por natureza, as funções seno e o cosseno são os
pontos de partida naturais para a representação de fenômenos cíclicos.
Como nesta obra inicialmente estudaremos os fenômenos em função do
tempo, este será o argumento ad hoc das nossas funções. Assim, a Figura
1.2 apresenta o protótipo fundamental das nossas “ondas”, a função y =
sen(t). Observa-se que esta função é periódica, ímpar e limitada em [-1, 1].
Figura 1.2 Uma senoide, a principal modelização matemática dos fenômenos ondulatórios.

Figura 1.3 Exemplos de funções periódicas: onda quadrada, soma de senos, triangular e
dente de serra.
Existe, é claro, um infinito número de funções periódicas. Conforme
apresentado na Figura 1.3, para que uma função seja periódica, basta que

que é a definição de uma função periódica. Nesta expressão, T é o período,


o intervalo de tempo no qual a função faz um ciclo completo, e n é um
número inteiro.

1.3 ELEMENTOS DE UMA FUNÇÃO PERIÓDICA

1.3.1 Período
O que acabamos de ler nos fornece a definição da primeira grandeza
fundamental dos movimentos periódicos: o período. O período de uma onda
corresponde ao intervalo de tempo no qual este se repete (Figura 1.4). Se a
forma da onda for complexa, deve-se analisá-la e identificar o ciclo a partir
de suas propriedades, como mostrado no cardiograma da Figura 1.5. Na
natureza (e também nas aplicações tecnológicas) as formas de onda são
complexas, e sua análise pode exigir ferramentas matemáticas mais
sofisticadas (Figura 1.6).
Sendo o período um intervalo de tempo, sua unidade no sistema
internacional é o segundo (s). Fenômenos de intervalo extremamente curto
usam submúltiplos do segundo, como o milissegundo (ms) e o
microssegundo (µs). Fenômenos de longo período, como as estações do
ano, órbitas de planetas ou de estrelas, usam como unidades dias, meses,
anos, séculos etc.

1.3.2 Frequência
Por definição, frequência é o inverso do período, ou seja, f = 1/T. Portanto,
a unidade da frequência no Sistema Internacional é 1/s. Dada a sua
importância, esta unidade tem um nome especial: Hertz, de símbolo Hz, em
homenagem ao físico alemão Heinrich Rudolf Hertz (1857-1894), que, a
partir da teoria eletromagnética de Maxwell, descobriu e explicou vários
fenômenos sobre o comportamento da luz. Quando afirmamos que uma
onda tem uma frequência de 1 Hz isso significa que seu período é de 1 s;
uma onda de 2 Hz tem um período de 0,5.

Figura 1.4 Função periódica de período T = 6,28.


Figura 1.5 Representação de um eletrocardiograma humano. O período entre dois ciclos
cardíacos para uma pessoa saudável pode variar entre T = 0,6 s e T = 1,2 s.

Figura 1.6 Três fenômenos ondulatórios complexos. A: uma pessoa falando; B: um


terremoto medido por um sismógrafo; C: a curva de luz da estrela binária V466 Cygni
(dados de Mas-Hesse, J. M., et al., 2003, Astronomy & Astrophysics Letters, 411, L261-
L268).
Figura 1.7 Três ondas de período T1, T2 = 0,5 T1 e T3 = 0,2 T1. Suas frequências são: f1, f2
= 2 f1 e f3 = 5 f1.

Outra maneira de interpretar a frequência é com f o número de


períodos que a onda completa ao longo de um intervalo de tempo. Assim,
uma maneira de se determinar a frequência de um fenômeno cíclico é
calculando a razão entre o número de ciclos presentes ao longo de um
determinado intervalo de tempo:

em que n é o número de períodos ocorridos durante o intervalo de tempo Δt.

■ ■ ■ EXEMPLO 1.1
Observou-se que um condor andino ao voar bate suas asas 10 vezes em 3
segundos. Qual é a frequência deste movimento?
Solução: Aplicamos a Equação 1.2 com os dados informados:

O que resulta em uma frequência de 3,33 Hz.


Usualmente, vários múltiplos do Hz são usados, veja na Tabela 1.1


alguns exemplos de medidas de frequência.

Tabela 1.1

Grandeza Frequência

Coração humano 1 Hz

Batimento das asas de um pernilongo 600 Hz

Energia elétrica no Brasil 60 Hz

O Lá central do piano 470 Hz

Ondas de rádio 3 kHz a 300 GHz

Micro-ondas 0,3 GHz a 300 GHz

Infravermelho 300 GHz a 400 THz


Luz visível 400 THz a 790 THz.

Radiação ultravioleta 790 THz a 300 PHz

Raios X 300 PHz a 60 EHz

Raios gama 10 PHz a 10 EHz

Ultrassom medicinal 20 kHz

Sonar de um morcego 20 a 215 kHz

Motor de um automóvel de fórmula 1 334 Hz

O ciclo dia/noite 11,5 µHz

Observação: veja o significado dos prefixos multiplicadores nas unidades na Tabela C.1 do Apêndice
C.

1.3.3 Amplitude
Chamaremos de amplitude de uma função periódica o valor mais elevado
alcançado pela onda no seu pico. Assim, por exemplo, na função y = 2
sen(t), a amplitude é 2 (Figura 1.8). Esta definição nos dá a amplitude como
o valor máximo da função. Contudo, outras interpretações também podem
ser interessantes, como a amplitude pico a pico, que corresponde à
diferença entre o valor máximo e mínimo alcançado por uma função
periódica.
1.3.4 Fase
A fase de uma função periódica é definida como uma constante que é
somada ao argumento temporal. Assim, este parâmetro corresponde a um
deslocamento angular nas funções trigonométricas, que se traduz por um
intervalo de tempo entre o referencial e o início de um novo ciclo. Assim, a
representação de uma função periódica com fase não nula é algo do tipo y =
sen(t + ϕ), em que ϕ representa a fase. Veja a Figura 1.9 para um exemplo
deste conceito.

Figura 1.8 Função periódica cuja amplitude é igual a A = 2 e cuja amplitude pico a pico é B
= 4.

1.3.5 Offset
Imagine agora uma função senoidal que tem como ponto de máximo 2,5 e
ponto de mínimo 1,5 (Figura 1.10). Esta função está deslocada no eixo das
ordenadas por uma parcela igual a 1,5. A representação de uma função
periódica com offset não nulo é y(t) = sen(t) + b, em que b representa o
offset.

1.3.6 Velocidade angular


Esta grandeza corresponde a uma medida escalar da velocidade de rotação.
Outra denominação encontrada na literatura é frequência angular. Seu valor
equivale à taxa de variação do argumento da função trigonométrica em
termos de radianos por segundo (veja Equação 1.4).

Figura 1.9 Função periódica com fase ϕ = –0,4.


Figura 1.10 Função periódica com offset b = 1,5.

em que α(t) representa o ângulo utilizado como argumento na função


oscilante. Uma vez que um ângulo de 2π radianos, corresponde a um
período T, temos que

e a unidade de ω no SI é rad/s.
Assim, a expressão completa de uma onda, com todas as grandezas
apresentadas, é

A Tabela 1.2 apresenta um resumo das grandezas discutidas neste capítulo,


com seus símbolos e unidades no SI.
1.4 RELAÇÕES IMPORTANTES
Levando-se em conta uma função periódica como a expressa na Equação
1.6, podem-se deduzir várias relações entre os parâmetros desta função e as
outras grandezas apresentadas.

1.4.1 Amplitude e imagem


A amplitude A representa a imagem da função, definida como

em que Y e τ são os eixos das ordenadas e abcissas respectivamente. Como


o domínio das funções periódicas em física é o tempo, τ é o eixo do tempo.
Assim, a imagem de y(t) é dada por

Tabela 1.2

Grandeza Símbolo Unidade no SI

Amplitude A (depende da grandeza


oscilante)

Offset b (a mesma unidade de A)

Frequência f Hz
Tempo t s

Período T s

Fase ϕ rad

Velocidade angular ω rad/s

1.4.2 Período e velocidade angular


A partir da definição de período e do conceito de periodicidade da função
sabemos que

em que N é um número inteiro. Entretanto, como

podemos dizer que a cada acréscimo de N haverá uma variação de 2π no


argumento do seno. Ou seja

Uma rápida análise desta expressão mostra que a mesma pode ser
simplificada por ω T = 2π, ou
1.4.3 Amplitude e velocidade angular
Tomando a condição inicial t = 0, temos o valor da função no instante
inicial

Sendo a velocidade dada por dy/dt, teremos

e a velocidade no instante inicial

Deslocando o eixo dos tempos de modo que possamos abstrair o offset,


ou seja, fazendo b = 0, chega-se à relação

1.4.4 Fase e velocidade angular


Continuando o raciocínio que nos levou à última expressão, pode-se ainda
chegar a

1.5 ENERGIA
Este tópico é muito importante do ponto de vista da Física. O conceito de
energia é fundamental para variadas análises e sua aplicação é praticamente
universal quando se trata de mecânica clássica.
Um dos princípios fundamentais da mecânica é a conservação da
energia. Dado um sistema isolado, a sua energia total não se perde nem se
cria, apenas se transforma. Nos estudos que seguiremos nesta obra,
consideramos duas formas distintas de energia: a energia cinética e a
energia potencial.
A energia cinética está ligada ao movimento, e sua definição está
ligada à velocidade de um corpo. Assim, se tomarmos um corpo de massa m
se movendo a uma velocidade v, sua energia cinética é dada por

O símbolo K vem da palavra grega kinesis, que significa movimento. A


energia potencial está ligada à capacidade de um sistema produzir trabalho.
Quando esta forma de energia se manifesta, isso ocorre por meio de uma
força, e formalmente temos a definição

em que U é a energia potencial que se manifesta através da força F, quando


esta atua entre as posições x0 e x1. Esta é uma definição muito generalizada,
pois cada sistema tem uma força bem particular. Cada sistema terá uma
formulação diferente para sua energia potencial, que dependerá de suas
particularidades construtivas e dos detalhes de cada componente. Em
nossos estudos, mais adiante, faremos muitas referências ao sistema
massa/mola, pois este é o exemplo clássico de sistemas oscilantes. Como
veremos no Capítulo 2, em um sistema massa/mola, a força exercida é
proporcional à compressão (ou expansão) sofrida pela mola, ou seja,
em que x é a variação do comprimento da mola, considerando-se sua
situação de repouso, e k é uma constante de proporcionalidade que depende
da mola. O sinal indica que a força será exercida no sentido contrário da
deformação sofrida pela mola. Assim, a energia potencial de um sistema
massa/mola vale

Invocando o princípio da conservação da energia, definiremos como


energia mecânica (ou energia total) a soma da energia potencial e cinética

Para o caso em discussão, isso equivale a

Lembrando que v = dx/dt, podemos escrever

Agora, tiraremos vantagem do fato de sabermos que, sendo um sistema


oscilante, a posição varia com o tempo conforme

Escolhemos um instante no tempo tx tal que x corresponda à posição


máxima, ou seja,
Neste mesmo instante, a velocidade vale

Assim, a energia mecânica no instante tx é dada por

Se este resultado é válido para tx, então também é válido para qualquer
outro instante, pois esta soma (a energia mecânica) se conserva ao longo do
movimento. Podemos afirmar que a energia mecânica de um sistema
oscilante é proporcional ao quadrado da amplitude. Formalmente:

1.6 SOBREPOSIÇÃO DE DUAS ONDAS


O estudo de ondas sobrepostas pode ser feito quase que totalmente no
âmbito formal. Partindo-se das expressões das funções harmônicas, podem
ser aplicadas várias operações diretamente, como soma, subtração, produto
etc. Neste tópico, analisaremos as sobreposições de ondas em dois casos: a
sobreposição de ondas monodimensionais e quando ocorre a sobreposição
de movimentos em duas dimensões.

1.6.1 Duas ondas monodimensionais


O caso mais simples da sobreposição de duas ondas é quando estas são
exatamente iguais: mesma frequência, fase e amplitude. Neste caso,
teremos uma reprodução das ondas originais, mas com o dobro da
amplitude
Um gráfico com um exemplo deste caso é apresentado na Figura 1.11.
Se as frequências continuarem iguais, mas as fases forem diferentes,
teremos

O que, usando-se as transformações trigonométricas adequadas, pode


ser reescrito como

Portanto, a amplitude e a fase da soma de duas ondas de mesma


frequência e amplitude são dadas por
Figura 1.11 Soma de duas senoides. Ao alto y1 = sen(5t). Centro y2 = sen(5t). Embaixo y1
+ y2.

Isso significa que se somarmos duas ondas iguais cujas fases sejam tais
que sua média aritmética seja (2n + 1)π, com n inteiro, a onda resultante
será nula. Se a média aritmética das fases for 2nπ, o resultado será uma
onda com o dobro da amplitude original.
Por outro lado, se as frequências das duas não forem iguais, perde-se
um pouco o sentido de falarmos de fases. Nossa análise fica dependente
principalmente das frequências. Assim, vejamos

ou

Podemos identificar três casos de aplicação desta expressão:


a) ω1 ≈ ω2: quando as frequências são próximas, teremos uma situação
exemplificada na Figura 1.12. Vemos que a soma se comporta como uma
“onda envelopada por outra onda”. Esta situação é chamada frequentemente
de “batimento” ou modulação. A amplitude do envelope é dada por
Que é o termo de menor velocidade de oscilação na Equação 1.36.
b) ω1 > ω2: quando a razão entre as frequências é maior do que a
unidade, mas não muito elevada, teremos uma situação como a da Figura
1.13, em que a onda resultante tem sua velocidade angular também é dada
pela Equação 1.37, mas não se nota o fenômeno do batimento.
c) ω1 >> ω2: quando uma das frequências é muito maior do que a outra,
teremos uma situação como a da Figura 1.14. Temos a impressão de “uma
onda sobre outra onda”.

Figura 1.12 Soma de duas senoides. Ao alto y1 = sen(10t). Centro y2 = sen(9t). Embaixo y1
+ y2.
Figura 1.13 Soma de duas senoides. Ao alto y1 = sen(5t). Centro y2 = sen(3t). Embaixo y1
+ y2.

Figura 1.14 Soma de duas senoides. Ao alto y1 = sen(5t). Centro y2 = sen(t). Embaixo y1 +
y2.
Figura 1.15 Um osciloscópio com uma figura de Lissajous. Os sinais eletrônicos são
disponibilizados através dos dois cabos conectados no painel do instrumento.

Figura 1.16 Figuras de Lissajous geradas por um osciloscópio.


1.6.2 Duas ondas perpendiculares
Considere-se o lugar geométrico dos pontos descritos pelas funções
paramétricas

As curvas desta família, todas no espaço bidimensional, foram


exaustivamente estudadas pelo matemático francês Jules Antoine Lissajous
(e também pelo norte-americano Nathaniel Bowditch). Estas curvas
apresentam interessantes características. A observação da curva descrita nos
permite determinar a fase entre x e y, bem como a razão entre suas
frequências. Por exemplo, imaginemos um ponto pintado sobre a lateral de
um pneu de um automóvel em movimento. As projeções nos planos vertical
e horizontal se comportarão como as funções expressas na Equação 1.38.
Diferentes razões entre as velocidades angulares ω1 e ω2 farão com que
as curvas se cruzem um certo número de vezes. E as diferentes fases
também influenciam as curvas geradas. A Tabela 1.3 apresenta várias
configurações das curvas de Lissajous para diferentes combinações da razão
entre as frequências e as fases.
As figuras de Lissajous serviram por muito tempo como uma
ferramenta fundamental no estudo e medida de fenômenos elétricos e
eletrônicos, pois sua obtenção era facilitada pelo instrumento conhecido
como osciloscópio. O osciloscópio (esse instrumento não tem esse nome à
toa...) apresenta nos eixos de sua pequena tela fosforescente sinais
independentes, que se comportam como as funções da Equação 1.38. As
imagens geradas são exatamente as Figuras 1.15 e 1.16, e permitem que os
sinais sejam analisados e classificados.
1.7 TÓPICO ESPECIAL: O SINTETIZADOR
MINIMOOG
Os sofisticados instrumentos musicais eletrônicos de hoje são quase todos
descendentes dos produtos da empresa Moog Music, fundada pelo
engenheiro Robert Moog em 1953. Moog foi o primeiro fabricante
comercial de sintetizadores analógicos baseados em osciladores controlados
por tensão. Toda a engenharia dos equipamentos Moog estava baseada em
transistores, muito menores, mais baratos e de maior vida útil do que as
suas predecessoras, as válvulas a vácuo. Os instrumentos Moog fizeram
muito sucesso entre os músicos norte-americanos e europeus até o final do
século XX. Dentre os mais famosos instrumentistas podemos destacar: The
Beatles, Rick Wakeman, ABBA, Jean Michel Jarre, Giorgio Moroder,
Emerson, Lake & Palmer e muitos outros.

Tabela 1.3
Por volta de 1970, os sintetizadores eletrônicos modulares eram
delicados, complexos e de alto custo. Por isso não eram utilizados em
shows ao vivo, pois demandavam cuidados especiais de transporte e
instalação. A empresa de Moog propôs um instrumento para atender a
demanda de sintetizadores para serem usados em shows e turnês dos grupos
musicais da época. Foi assim que nasceu o Minimoog, um instrumento que
inclui os componentes mais importantes de um sintetizador sendo, contudo,
compacto e portátil, dispensando o uso de cabos e módulos extra. Seu
desenho simples e operação intuitiva o colocaram como um dos
sintetizadores mais desejados pelos músicos eletrônicos até os dias de hoje.
O principal componente gerador de sons do Minimoog é o banco de
osciladores. Para gerar um som, o músico deve primeiro escolher uma
forma de onda a ser gerada nos osciladores controlados por tensão (em
inglês voltage controled oscilator — VCO). O VCO permite que seja
escolhida uma forma de onda dentre os formatos triangular, dente de serra
(normal ou invertida), pulsos de diferentes larguras ou onda quadrada. A
Figura 1.18 mostra o painel de controle do Minimoog e a Figura 1.19 as
formas de onda geradas pelo seu VCO.
A frequência das ondas geradas pelo VCO é determinada pela tecla
pressionada no teclado musical. O banco de osciladores do Minimoog
contém três VCOs, cujas ondas podem ser combinadas de variadas
maneiras. Fazendo a combinação das várias formas de ondas e outros
efeitos proporcionados pelos outros módulos do Minimoog, os músicos
podem criar uma infinidade de instrumentos eletrônicos virtuais e compor
músicas que nos maravilham até hoje.
Figura 1.17 Minimoog modelo D, lançado na década de 1970. Note os controles dos
osciladores, à esquerda do painel de controle.

Figura 1.18 Painel de controle do Minimoog.


Figura 1.19 Formas de onda geradas pelo VCO do Minimoog: triangular, dente de serra,
dente de serra invertida, triangular sobreposta a dente de serra, pulsos e quadrada. A
unidade da amplitude é tensão elétrica (V).

1.8 EXERCÍCIOS
1) Faça um esboço do gráfico da função y = 0,5 sen (2t + 0,2) + 0,5 no
intervalo 0 ≤ t ≤ 2π.
2) Considere uma função ondulatória dada por y = 12 sen (40t + 5) – 6.
Obtenha os valores da frequência, período, velocidade angular, fase,
amplitude e offset associados a esta função.
3) Obtenha a expressão da velocidade em função do tempo da função do
exercício anterior.
4) Sabe-se que uma função ondulatória de velocidade angular 8 rad/s
apresentava no instante t = 0 uma posição inicial y0 = 2,5 e v0 = 1,0.
Considerando o offset nulo, apresente a expressão desta função.
5) Considere uma função ondulatória dada por y = 7 sen (12t + ϕ). Calcule o
valor da fase para que y(t = π) = 3,5.
6) Uma função ondulatória de velocidade angular 5,5 rad/s amplitude A =
10 e fase ϕ = 0,1 e offset b = 8. Apresente a expressão desta função.
7) Sabe-se que uma função ondulatória tem um período de 2 s, amplitude A
= 6, fase ϕ = 1,2 e offset nulo. Apresente a expressão desta função.
8) Duas funções ondulatórias y1 e y2 têm velocidades angulares ω1 e ω2
respectivamente, sendo que ω2 = 2ω1. O que se pode esperar da velocidade
angular da soma y1 + y2?
9) Escreva uma expressão para a energia potencial de um sistema cuja
oscilação é dada por x(t) = 9 sen (2,2t – 1,5) e sabendo-se que k = 3.
10) Duas ondas têm a mesma velocidade angular, mas estão defasadas em
45º. Determine a fase da soma das duas ondas e sua amplitude.
11) Qual será a expressão da amplitude do envelope devido ao batimento de
x(t) = sen (7t) e x(t) = sen (6t) ?
12) Faça um esboço da figura de Lissajous gerada por x(t) = cos (10t) e x(t)
= sen (5t).
13) Faça um esboço da figura de Lissajous gerada por x(t) = cos (4t) e y(t) =
sen (8t + π/3).
14) Qual deve ser a relação entre dois sinais que, ao serem vistos em um
osciloscópio como uma figura de Lissajous, geram uma elipse cujo eixo
maior é paralelo ao eixo x.
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Capítulo 2

MOVIMENTO HARMÔNICO NÃO


AMORTECIDO

2.1 INTRODUÇÃO
2.2 SISTEMAS HARMÔNICOS EM FÍSICA
2.3 O PÊNDULO DE GRANDE AMPLITUDE
2.4 TÓPICO ESPECIAL: O PÊNDULO DE FOUCAULT
2.5 EXERCÍCIOS

2.1 INTRODUÇÃO
Do ponto de vista da Mecânica, chamamos de movimento harmônico
simples a um sistema com comportamento periódico, no qual se nota a
presença de uma força restauradora que seja diretamente proporcional ao
deslocamento observado. Os movimentos observados nestes sistemas
recebem o nome de “movimento harmônico simples”, ou MHS, e sua
importância é tal que servem de base para a modelagem matemática de uma
imensa variedade de outros fenômenos.
Muitas são as interpretações e modelagens de sistemas físicos que têm
o MHS como base. Citaremos neste capítulo o clássico sistema massa/mola,
o pêndulo simples, a mola de torção, a massa presa a fio tensionado, o tubo
em “U”, o hidrômetro, o amortecedor a gás e o circuito LC.
2.2 SISTEMAS HARMÔNICOS EM FÍSICA
Como foi visto no Capítulo 1, os movimentos oscilatórios podem ser
descritos por uma função do tipo

que é interpretada como o comportamento de f(t), oscilando de forma


senoidal com velocidade angular ω e fase ϕ, amplitude A e offset b.
Neste capítulo, veremos as deduções que ligam a interpretação dos
fenômenos físicos a este formalismo, e como o comportamento sinusoidal
se aplica a estes casos.

2.2.1 Sistema massa/mola


Um sistema massa/mola é caracterizado pela atuação de uma força elástica.
Ao se deslocar o corpo (a massa) para fora da posição de equilíbrio, a força
elástica tende a trazê-lo de volta para a posição original. As forças elásticas
também são chamadas de “forças restauradoras”, e são sempre
referenciadas nos estudos de problemas dinâmicos. Essas forças são ainda
usadas como modelos de primeira ordem de casos mais complexos. O mais
famoso e usado dos modelos de força elástica é o sistema massa/mola, cuja
representação esquemática pode ser apreciada na Figura 2.1, na qual um
corpo preso a uma mola é representado pela sua massa, m, e a mola é
representada pela sua constante de elasticidade, k.
Figura 2.1 Sistema massa/mola sobre um plano horizontal.

O corpo se move sobre um plano horizontal cuja superfície é idealizada


com coeficiente de atrito nulo. Também podemos desprezar a ação da força
peso, que é equilibrada pela força normal exercida pela superfície
perfeitamente horizontal. A mola está fixada ao corpo e sua outra
extremidade está fixada a um anteparo vertical. Nestas condições, a mola
não faz força alguma, e o corpo permanece parado na posição x0. Ao
deslocarmos o corpo para a direita, a mola se esticará nesta direção. Como
resultado, surgirá uma força que tende a puxar o corpo de volta para a
posição inicial. Deslocando-se o corpo na direção oposta, aplicaremos uma
compressão à mola, cuja força restauradora tenderá a empurrar o corpo de
volta para x0. Este é o comportamento de uma força elástica e, neste caso,
seu formalismo é dado pela lei de Hooke

em que k é a constante da mola e x é o deslocamento da posição de


equilíbrio x0. Para evitar maiores complicações, consideraremos que a
posição x corresponde ao centro de massa do corpo preso à mola. A
constante k é conhecida como a constante de elasticidade. Seu valor
representa a força exercida pela mola por unidade de comprimento do
deslocamento e, portanto, sua unidade no SI é N/m (newtons por metro).
Robert Hooke formulou esta famosa lei em 1676, usando a frase “ut tensio,
sic vis”, que em latim significa “como a extensão, temos a força”.
Assim, tomemos então um sistema massa/mola ideal, sem perdas
dissipativas ou atritos, ao qual aplicamos a segunda lei de Newton para o
caso de massa constante

Como o movimento é essencialmente sobre uma linha reta na direção


horizontal, podemos abstrair a notação vetorial, (mantendo, contudo,
atenção aos sinais). Fazendo a associação à Lei de Hooke, temos

ou ainda

Esta é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem que


estabelece a posição em função do tempo para uma determinada
combinação mola/massa. Observe que a grandeza do lado esquerdo da
equação é a aceleração sentida pelo corpo preso à mola. Introduzindo a
conveniente substituição

chega-se a
A velocidade angular definida na Equação 2.6 estabelece a chamada
“velocidade angular natural” do sistema. A equação diferencial obtida
admite soluções baseadas em combinações lineares de funções
trigonométricas. Entretanto, como desejamos abordar o problema com
profundidade, seguiremos a solução via exponenciais complexas. Adotando
como solução

em que , A é a amplitude do movimento, e ϕ é a fase inicial. Podemos


derivar esta expressão no tempo uma vez para obter a velocidade

e derivar no tempo uma segunda vez para obter a aceleração

O índice “z” está presente para denotar que esta é a forma complexa da
grandeza. Com isso, prova-se que a solução proposta na Equação 2.8
satisfaz a equação diferencial do movimento.
Neste ponto podemos invocar a relação de Euler

e veremos que a solução proposta pode ser reescrita como

Logo, a solução z pode ser interpretada como composta de duas partes:


a parte real corresponde à solução observada fisicamente, dada por
e uma parte imaginária, dada por

Na Figura 2.2 pode-se apreciar uma representação gráfica destes


resultados no plano complexo. Nota-se que a posição do centro do corpo
preso à mola projetada sobre o eixo real é dada por

A velocidade real é obtida a partir da Equação 2.9, à qual aplicamos a


relação de Euler
Figura 2.2 Plano complexo com as componentes da solução da equação .

A parte real de vz corresponde à velocidade observada do corpo preso à


mola, ou seja

Usando-se a Equação 2.10, pode-se chegar a uma conclusão


semelhante para a aceleração

A Figura 2.3 apresenta uma representação gráfica da posição,


velocidade e aceleração de um movimento harmônico simples, como o
descrito até este ponto, em função do tempo.
Retomando-se a Equação 2.7, e usando este último resultado,
observamos que ambas as soluções — a complexa e a real — satisfazem a
equação diferencial.
Uma evidente constatação neste ponto é que o movimento do corpo
seguirá uma senoide no tempo, ou seja, trata-se de um comportamento
cíclico. O corpo oscilará em torno da posição de equilíbrio, retornando à
posição e velocidade originais a cada novo ciclo. O período pode ser
calculado por
Figura 2.3 Movimento harmônico simples e as três grandezas ligadas ao movimento:
posição x(t), velocidade v(t) e aceleração a(t).

Figura 2.4 O movimento senoidal do corpo como uma projeção real da solução complexa.

E a frequência de oscilação vale


A Figura 2.4 apresenta a projeção sobre o eixo real da posição z(t).
Note-se que o movimento harmônico simples imita uma das projeções do
movimento circular uniforme. Na verdade, se tomarmos apenas uma das
projeções de um corpo em movimento circular uniforme, o que
observaremos é indistinguível de um movimento harmônico simples.
A energia mecânica total do sistema massa/mola dependerá apenas da
constante da mola e da amplitude do movimento, sendo dada por

■ ■ ■ EXEMPLO 2.1
Um corpo de massa igual a 200 g está preso a uma mola sobre um plano
horizontal. Sabendo-se que a constante da mola é 25 N/m, obtenha a
frequência e o período de oscilação deste sistema (obs.: desprezar todas as
perdas e dissipações).
Solução: Aplicando-se a fórmula da Equação 2.21, temos

Agora podemos calcular o período de oscilação:

O sistema oscilará com um período de 0,56 s.



2.2.2 Pêndulo simples
Os pêndulos são conhecidos desde a Antiguidade, mas seu estudioso mais
famoso foi Galileu Galilei, que experimentalmente notou que o período de
oscilação destes sistemas é uma constante (para oscilações de pequena
amplitude). Um pêndulo é construído prendendo-se um corpo de massa m a
uma haste ou um fio flexível, mas indeformável, de modo que possa oscilar
livremente. Quando o corpo é deslocado lateralmente a partir da sua
posição de repouso, este é sujeito a uma componente da força gravitacional
que tende a levá-lo de volta à posição central. Dessa forma, o corpo é
acelerado e acaba por retornar à posição de equilíbrio. Porém, do mesmo
modo que no sistema massa/mola, ao chegar à posição central, a sua
velocidade não é nula, e o corpo vai adiante até o máximo na direção
oposta, de onde volta, completando o ciclo.
São parâmetros importantes: l, o comprimento da haste que sustenta o
corpo, e θ (t), o ângulo que a haste faz com a vertical. l é constante, pois é o
raio de um arco de círculo e θ varia com o tempo, mantendo-se dentro de
uma faixa de valores θmin e θmax.
Para o estudo do pêndulo seguiremos a mesma metodologia aplicada
ao sistema massa/mola. Analisando as forças atuantes sobre o corpo no
momento de máximo deslocamento positivo, temos como resultante (Figura
2.7)
Figura 2.5 Exemplo de pêndulo simples: uma medalha presa a uma corrente.

Figura 2.6 Um pêndulo em movimento: 1) posição de equilíbrio; 2) máximo deslocamento


positivo; 3) máximo deslocamento negativo.
Figura 2.7 Diagrama de forças atuantes sobre o corpo em um pêndulo no momento de
máximo deslocamento positivo.

em que P é a força peso que, sob uma aceleração gravitacional g, vale P =


mg. Considerando o sinal negativo da aceleração da gravidade (pois a
mesma “aponta” para baixo), e o comprimento da haste, teremos o torque
sobre o sistema haste/corpo dado por

Como o torque é o equivalente da força para sistemas em rotação, este


por sua vez é equivalente ao momento de inércia multiplicado pela
aceleração angular, ou seja

que é a versão da segunda lei de Newton para sistemas em rotação (o


Apêndice B apresenta o formalismo para o cálculo do momento de inércia).
Esta expressão pode ser reescrita como
Tomando as Equações 2.26 e 2.28, podemos escrever

que pode ser rearranjada para chegar à seguinte equação diferencial


ordinária de segunda ordem:

Agora, consideramos que θ está no intervalo [θmin, θmax] e que θmax seja
tão pequeno que possamos considerar a aproximação sen θmax ≈ θmax, que é
válida para pequenos ângulos de até 1º. Então

Esta é uma equação diferencial que estabelece a relação entre a posição


angular em função do tempo para uma determinada combinação de
aceleração da gravidade e o comprimento da haste. Notamos que, nesta
equação, não está presente a massa do corpo. Esta é uma interessante
constatação, uma vez que a mesma contraria o que esperaríamos a partir da
nossa experiência do dia a dia: a massa do corpo não importa!
Como no caso do sistema massa/mola, a grandeza do lado esquerdo da
equação é a aceleração angular observada pelo corpo preso à haste.
Introduzindo
chega-se a

Dada a semelhança com a Equação 2.7, podemos nos aproveitar dos


resultados do sistema massa/mola. Assim teremos para o pêndulo, a posição
angular

em que Aθ é a amplitude angular do movimento: Aθ = θmax, (lembre-se de


que, para um pêndulo, a amplitude é um ângulo!) o período

que é conhecida como a “lei de Christiaan Huygens”.

■ ■ ■ EXEMPLO 2.2
Considere um pêndulo simples na superfície da Terra (g = 9,8 m/s2).
Observou-se que seu período de oscilação é de 2,5 s. Calcule a velocidade
angular e o comprimento da haste deste pêndulo.
Solução: Invertendo a Equação 2.35 temos

Partindo ainda da Equação 2.35, podemos isolar o comprimento da haste:


2.2.3 Pêndulo de torção


Imaginemos um sistema no qual um disco é preso pelo seu centro de massa
a um fio (metálico ou de outro material), como o mostrado na Figura 2.8.
Consideramos que o fio não varia seu comprimento, sendo, portanto,
inextensível. Ao girarmos o disco de um ângulo ∆θ sobre o plano
horizontal, estaremos impondo uma torção ao fio, que resistirá em função
das propriedades do seu material constituinte. Ao liberarmos o disco, o fio
tenderá a recuperar sua forma original, desfazendo a torção. Entretanto, ao
chegar ao ponto original (o ponto de equilíbrio) a velocidade angular do
disco o levará mais adiante, torcendo o fio na direção contrária. Esta
situação é muito semelhante ao sistema massa/mola, com a diferença que o
deslocamento é angular em vez de linear. A construção do sistema descrito
é conhecida como um pêndulo de torção.
O que ocorre durante a torção do fio é uma deformação mecânica. Para
ângulos de torção relativamente pequenos, a magnitude do torque
restaurador é diretamente proporcional ao ângulo de torção, ou seja,

o que nos lembra muito a Equação 2.2 (não é à toa que este sistema também
é conhecido por “mola de torção”). A constante k é módulo de elasticidade
de torção, cuja unidade é N m/rad (caro leitor, não inventaremos outro
símbolo para a constante da mola de torção: em Física, as constantes de
molas são sempre denotadas por k, ficando o contexto do problema em
estudo com a missão de dirimir de qual mola estamos falando...). Esta
equação nada mais é do que uma equivalente da lei de Hooke para a torção.
A segunda lei de Newton para o movimento de rotação do sistema é
Figura 2.8 Um pêndulo de torção com um disco.

em que I é o momento de inércia do disco (veja no Apêndice B como


calcular o momento de inércia de corpos de outras formas). Então, a
equação do movimento pode ser obtida igualando estas duas últimas

Isolando a diferencial, temos

E agora podemos definir a velocidade angular deste sistema como

E finalmente chegamos a
cuja solução real é

em que Aθ é a amplitude angular do movimento, e ϕ é a fase. O período é


dado por

e a frequência

Ao ser perturbado, deslocando-se o pêndulo de torção da sua posição


angular de equilíbrio, este executará oscilações angulares em torno da
posição angular original, com uma frequência fixa, que depende apenas da
constante k do fio e do momento de inércia do disco. É interessante notar
que esta frequência de oscilação é independente da amplitude do
movimento Aθ. Por este motivo, os pêndulos de torção são muitas vezes
utilizados como base de tempo para medições. Um bom exemplo é o uso de
pêndulos de torção nos projetos de relógios mecânicos de pulso, onde temos
um pequeno disco ligado a uma mola em espiral.
Um pêndulo de torção pode ser construído com outras formas
geométricas além da descrita, por isso as expressões acima foram mantidas
com a notação genérica baseada em I. O momento de inércia de corpos de
outros formatos podem ser calculados com o auxílio da Tabela B.2.

■ ■ ■ EXEMPLO 2.3
Foi construído um pêndulo de torção simples com um paralelepípedo de 1
kg, de altura 5 cm, profundidade 5 cm e largura 30 cm. Esta peça foi
suspensa pelo seu centro de massa por um fio de aço cujo coeficiente de
torção vale 5 N m/rad. Calcule o período de oscilação deste sistema (Figura
2.9).

Figura 2.9 Pêndulo de torção do Exemplo 2.3.

Solução: O primeiro passo é calcular o momento de inércia da barra


suspensa. Da Tabela B.2 temos que

E agora, pode-se aplicar a expressão do período


2.2.4 Massa presa a fio tensionado
Imaginemos um sistema conforme mostrado na Figura 2.10, no qual um
corpo de massa m está no meio de um fio sob tensão. Ao deslocarmos o
corpo da sua posição de equilíbrio, a força exercida pelos fios em conjunto
tende a levar o corpo de volta, e assim temos um oscilador harmônico.
Por se tratar de um único fio com um corpo preso no seu comprimento
mediano, podemos supor que cada lado do fio está sujeito a uma tensão T.
O comprimento de cada lado na posição de equilíbrio igual a l, e a equação
do movimento fica

Figura 2.10 Massa presa a fio tensionado.

Para chegar a esta expressão, foi considerado que, ao deslocar o corpo,


o ângulo entre cada lado do fio e a linha de equilíbrio é muito pequeno.
Podemos definir a velocidade angular como
A partir daqui, dada a semelhança com os outros casos estudados, as
outras propriedades são fáceis de serem determinadas.

2.2.5 Tubo em “U”


Imaginemos um tubo em forma de “U” como o da Figura 2.11. Este tubo
recebe certa quantidade de um fluido incompressível (um líquido) e
invíscido (não viscoso) e, devido ao princípio dos vasos comunicantes, o
nível de líquido observado em cada uma das pernas do “U” será igual.
Chamaremos este nível de y0, sendo esta a posição de equilíbrio do sistema.
Ao deslocarmos o nível de uma das pernas em um valor y, o mesmo
deslocamento será observado na outra, mas com o sinal contrário. O volume
de líquido deslocado para cima exercerá uma força peso de valor

em que 2yA corresponde ao volume acima do nível do outro lado, com A


sendo a área de seção transversal do tubo e y a altura do líquido deslocado,
ρ é a densidade do líquido, e g é a aceleração da gravidade. O sinal negativo
indica que a força peso está sendo exercida no sentido para baixo. Esta
força está aplicada sobre todo o resto do líquido presente no tubo, e tende a
empurrá-lo de volta para a posição de equilíbrio. A massa de líquido que
deverá ser movida com a ação do peso do líquido deslocado vale

Usando a segunda lei de Newton, podemos dizer que


Figura 2.11 Um tubo em “U” com um líquido em seu interior.

Assim, chegamos a

que é uma equação diferencial que define um movimento oscilatório de


velocidade angular dada por

e com período
2.2.6 Hidrômetro
O hidrômetro é um instrumento usado para medir a densidade de líquidos, e
por esse motivo é também conhecido como densímetro. Este aparelho é
geralmente feito de vidro, sendo constituído por uma haste cilíndrica e uma
região mais ampla (chamada de lâmpada), que contém pesos de chumbo ou
outro metal. Esta construção permite que o hidrômetro flutue livremente na
posição vertical com a haste para cima, quando colocado na superfície do
líquido cuja densidade deseja-se medir. O hidrômetro afundará na superfície
do líquido alcançando uma posição vertical na graduação da haste, que
depende da densidade do líquido em estudo. Veja na Figura 2.12 um
hidrômetro em uso.
Se o hidrômetro for empurrado alguns milímetros para dentro do
líquido, observaremos a ação de uma força que o trará de volta à superfície,
chamada de empuxo. O empuxo é proporcional à massa de líquido que foi
deslocada, e é dado por

em que ρ é a densidade do líquido, yA é o volume de líquido deslocado,


com A sendo a área de seção transversal da haste vertical e y a profundidade
que o hidrômetro desceu, e g é a aceleração da gravidade. Esta força tende a
restaurar a posição do hidrômetro, e deverá mover todo o aparelho.
Considerando que a massa do hidrômetro é m, temos que
Figura 2.12 Um hidrômetro (ou densímetro) sendo usado para medir a densidade de um
líquido. Observe a escala graduada na haste e o lastro (peso) no fundo da lâmpada que o
mantém na posição vertical.

o que descreve um movimento oscilatório dado por

A velocidade angular da oscilação do hidrômetro na superfície do


líquido vale
2.2.7 Amortecedor a gás
Um amortecedor a gás é um dispositivo composto por um cilindro oco
fechado em uma das suas bases e um pistão que fecha hermeticamente a
abertura livre (Figura 2.13). O peso do pistão exerce uma força sobre o gás,
que é compensada pela pressão no interior do cilindro

Se o cilindro estiver na vertical, esta força será o próprio peso do


pistão. Se o sistema estiver montado em outro ângulo, F pode ser calculada
como uma projeção do peso, ou ainda ser uma força externa.
Em 1666, o cientista Robert Boyle executou experimentos sobre o
comportamento dos gases e formulou uma importante lei que carrega seu
nome, estudando aquilo que chamamos de “gás ideal” ou “gás perfeito”.
Segundo Boyle, para um gás perfeito que não muda de temperatura é válido

ou seja, o produto do volume de uma quantidade de gás por sua pressão é


uma constante. Isso significa que se diminuirmos (comprimir) o volume
ocupado pelo gás, a pressão deste aumentará proporcionalmente. Se
aumentarmos (descomprimir) o volume ocupado pelo gás, a pressão
diminuirá. Como consequência, a derivada deste produto é dada por
Figura 2.13 Visão esquemática de um amortecedor a gás.

Imaginemos que, para tirar o pistão da posição de equilíbrio,


exercemos uma força de tal maneira que a altura do espaço que contém o
gás no interior do cilindro sofra uma redução de y. Teremos então
(baseando-nos na Figura 2.13)

em que l é a distância entre a base do cilindro e o pistão na posição de


equilíbrio. Assim, chegamos a uma expressão para a variação da pressão no
interior do cilindro

O incremento na força exercida pelo gás deve ser proporcional a esta


variação de pressão, ou seja,
e finalmente

Como esta força tenderá a mover o pistão, podemos aplicar a segunda


lei de Newton

em que m é a massa do pistão. Finalmente, chegamos à equação diferencial

e à velocidade angular

A grandeza p é a pressão observada quando o sistema está na posição


de equilíbrio, pois sabemos que a pressão interna varia com o movimento
do pistão. Uma interessante observação de Boyle é que, neste sistema, o gás
se comporta como uma mola, cuja constante de elasticidade vale

Apesar de este ser um bom modelo, pois se aproxima bastante da


realidade observada, devemos levar em conta que a aproximação isotérmica
é um caso muito especial. Na verdade, a compressão ou expansão de um
gás sempre acarretará em uma alteração de sua temperatura e pressão. Uma
visão mais completa pode ser dada se utilizarmos a expressão

o que resultará numa “constante de elasticidade do ar” maior do que aquela


obtida pela Equação 2.71.

2.2.8 Circuito LC
Como último exemplo de sistema físico oscilante, apresentaremos o circuito
LC, que ocupa junto com o sistema massa/mola o papel de sistema oscilante
fundamental. Também chamado um circuito ressonante, consiste de um
condensador (ou capacitor) e um indutor (ou solenoide), conectados
eletricamente conforme o circuito da Figura 2.14. O indutor é representado
pela letra L (o valor da indutância, dado em henry — símbolo H) e o
condensador pela letra C (o valor da capacitância, dado em faraday —
símbolo F), daí a origem do nome do circuito.
A importância dos circuitos LC vem do seu amplo uso tanto para gerar
sinais a uma frequência específica, ou atuando como filtros que separam
sinais com uma frequência em particular a partir de um sinal mais
complexo. Os circuitos LC estão presentes no projeto de muitos
dispositivos eletrônicos, especialmente equipamentos de rádio, são
utilizados em circuitos como osciladores, filtros, sintonizadores e
misturadores de frequência. Veremos aqui o circuito LC como um modelo
idealizado, em que consideramos a aproximação de que não haja perda por
dissipação de energia.
Relembrando a lei de Kirchhoff para a tensão no circuito da Figura
2.14, temos
em que VC e VL representam as tensões no condensador e no indutor
respectivamente. A lei de Kirchhoff para a corrente no circuito nos dá

em que iC e iL representam as correntes no condensador e no indutor


respectivamente. A equação da indutância nos diz que

e a equação do condensador

A combinação das Equações 2.73 a 2.76 resulta em

Figura 2.14 Circuito LC com a indicação das tensões e correntes.


Figura 2.15 Equivalência de um circuito LC e um sistema massa/mola.

que é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem semelhante às


que temos encontrado neste capítulo, com a variável sendo a corrente i, no
lugar de uma posição ou um ângulo (atenção! Não confunda com o símbolo
do valor imaginário . No contexto de circuitos elétricos, i é a
corrente...). Neste caso, a velocidade angular é dada por

A similaridade entre essas duas últimas expressões com as outras


apresentadas neste capítulo permite que sejam utilizadas em simulações
eletrônicas de sistemas físicos. Por exemplo, dado um sistema massa/mola,
se adotarmos as similaridades

Poderemos construir um circuito LC cujo comportamento oscilatório


será semelhante ao sistema físico (Figura 2.15). Este método, conhecido
como modelagem eletrônica de sistemas físicos, é muito utilizado para se
avaliar propriedades de situações mais complexas.
■ ■ ■ EXEMPLO 2.4
Deseja-se fazer uma simulação eletrônica de um sistema massa/mola. O
sistema composto de corpo de massa igual a 2000 kg está preso a uma mola
de constante 25 N/m. Obtenha uma relação entre capacitância e indutância
de um circuito LC que simule o sistema descrito.
Solução: A velocidade angular do sistema físico vale

A partir da fórmula da velocidade angular do circuito LC, temos

Portanto

A Tabela 2.1 apresenta uma visão resumida dos sistemas físicos


apresentados neste capítulo.

Tabela 2.1
Frequência: f = ω/2π; período: T = 2π/ω.

2.3 O PÊNDULO DE GRANDE AMPLITUDE


No estudo apresentado na Seção 2.2.2 deste capítulo foi feita uma
aproximação na qual a amplitude angular do movimento do pêndulo estava
restrita a ângulos pequenos. Entretanto, ainda resta a dúvida: E se não
fizéssemos a aproximação sen θmax ≈ θmax ? Como se comporta o pêndulo
para oscilações de maior amplitude? Neste caso, a descrição correta do
sistema oscilante exige que se resolva a equação diferencial não linear
original

Como o atento leitor deve estar ciente, esta é uma equação de difícil
resolução. Pode-se, contudo, optar por outro caminho, que segue uma
dedução a partir da Lei da Conservação da Energia. A variação da energia
potencial de um corpo de massa m, que está sujeito a uma aceleração
gravitacional g, e se desloca por uma altura h vale

Se este corpo ao mesmo tempo for alvo de uma alteração de sua


velocidade, a alteração da sua energia cinética será

(confira as deduções das fórmulas da energia cinética e potencial no


Apêndice B deste livro).
Aplicando-se o princípio da Conservação da Energia, sabemos que sob
um campo conservativo é sempre válido

Portanto
e

Para um pêndulo, a mudança de posição corresponde a um


comprimento de arco de círculo de raio l, e a velocidade pode ser dada
como um fator de dθ / dt

ou

Ao iniciar o movimento com um ângulo θmax, a altura do corpo com


relação à posição de equilíbrio vale h, e a diferença de altura até o pivot da
haste será chamada de y0. Assim, no ponto de máximo deslocamento
positivo, temos

e em qualquer outra posição, temos

Com isso podemos afirmar que

O que, voltando para a Equação 2.90, resulta em


E esta é a expressão da velocidade angular. A integração desta
expressão no tempo, ao longo de um período não é trivial, mas seu
resultado é conhecido e nos permite escrever uma expressão para o período

em que K é a integral elíptica completa de primeiro tipo, dada por

(veja no Apêndice B mais detalhes sobre esta função e como calculá-la).

■ ■ ■ EXEMPLO 2.5
Considere um pêndulo simples com uma haste de 60 cm na superfície da
Terra (g = 9,8 m/s2). Calcule o período de oscilação quando o ângulo inicial
for a) 2º e b) 30º.
Solução: Fazendo o cálculo para o primeiro caso, θmax = 2º, temos

em que o ângulo foi convertido para radianos, e os cálculos da integral


elíptica completa de primeiro tipo foram feitos através de interpolações na
Tabela B.1 do Apêndice B. Fazendo o mesmo cálculo para o segundo caso,
θmax = 30º, temos
Analisando: o período variou de 1,55 s para 1,58 s, o que corresponde a
uma variação percentual de 1,9 %.

2.4 TÓPICO ESPECIAL: O PÊNDULO DE FOUCAULT


O turista que visita Paris, ao passar pela entrada leste do Jardim de
Luxemburgo, não pode deixar de notar a imponente construção no final da
rua Soufflot. Originalmente planejado no século XVIII para ser uma igreja
que abrigaria o santuário de Santa Genoveva, a construção foi transformada
no Panthéon: um local que presta homenagens às grandes figuras que
marcaram a história da França.
Em 1851, o físico Léon Foucault estava à procura de um edifício alto o
suficiente para demonstrar a sua nova experiência que poderia provar que o
planeta Terra está em rotação. Depois de muitas negociações, finalmente
consegue instalar seu pêndulo no domo do Panthéon.
Consideremos o plano determinado pelo triângulo cujos vértices são o
ponto de fixação do pêndulo, a posição de repouso do pêndulo, o ponto para
o qual pêndulo é deslocado para iniciar seu movimento. Este plano vertical
servirá de referencial para o movimento do pêndulo, e isso é evidente —
principalmente depois da leitura deste capítulo. Os observadores colocados
em volta do experimento verão o pêndulo ir e vir, executando um
movimento harmônico já bem conhecido de todos nós.
Entretanto, o turista que ficar alguns minutos observando a massa de
28 kg mover-se testemunhará um fato deveras interessante: a referência do
sistema, o plano do pêndulo, tão bem estabelecido pelas condições iniciais,
move-se! Este plano se movimenta a cerca de 11º por hora. Este
deslocamento é tão preciso que podemos colocar uma escala de tempo em
torno do pêndulo e medir as horas com ele (Figura 2.16).
O que acontece de verdade é que o plano não se move. Quem se move
é o chão onde o turista está. Vemos o pêndulo alcançar o ângulo de máximo
deslocamento, parar, e voltar. Na verdade, o que realmente acontece é que a
trajetória de volta não é a mesma da vinda, pois a Terra moveu-se
lentamente, mas o suficiente para que os pontos de máximo não sejam os
mesmos a cada ciclo (Figura 2.17).
Este movimento pode ser explicado pela presença de uma força de
Coriolis. Esta força virtual foi estudada pelo cientista francês Gaspard-
Gustave Coriolis em 1853, e em sua homenagem foi cunhada a expressão
“força de Coriolis”.
Este efeito é dependente da latitude em que a experiência é feita.
Intuitivamente, sabemos que o pêndulo de Foucault apresenta seu efeito
máximo sobre um dos polos da Terra, e será nulo se a experiência for feita
no equador. A Equação T 2.99 dá o período de rotação do plano do
movimento em função da latitude

em que λ representa a latitude do local onde está instalado o pêndulo, e ω é


a velocidade angular da Terra em seu movimento de rotação. Note que a
rotação do plano de referência é independente do movimento do pêndulo.
Figura 2.16 O pêndulo de Foucault no Panthéon, em Paris.

Figura 2.17 Movimento de um pêndulo de Foucault. Os números indicam sucessivos


pontos de máximo.
A experiência de Foucault é extremamente simples: construir um
pêndulo. Mas esta extremamente simples experiência nos leva a uma
impressionante conclusão: é uma medida direta da rotação da Terra. Por
isso é considerada um dos mais belos experimentos de toda a Física.

2.5 EXERCÍCIOS
Para a resolução destes exercícios, considere a aceleração da gravidade na
superfície terrestre como g = 9,8 m/s2.
1) Um sistema massa/mola composto de uma mola, cuja constante é 44
N/m, e um corpo de massa igual a 1,5 kg, está montado horizontalmente
sobre uma superfície plana sem atritos ou perdas. Obtenha a frequência e o
período de oscilação deste sistema.
2) Deseja-se saber qual é a constante de elasticidade de uma mola. Para
tanto foi utilizado um corpo de 2 kg para construir um sistema massa/mola
sobre uma superfície plana sem atritos ou perdas. Sabendo-se que o período
observado foi de 1,71 s, obtenha a constante de elasticidade da mola.
3) Um corpo de 1,7 kg deve ser pesado por uma balança de mola. Ao ser
preso à extremidade da mola, observa-se um deslocamento de 3 cm para
baixo do ponto de equilíbrio, e então o corpo passa a oscilar. Qual é o
período desta oscilação?
Figura 2.18 Figura do Exercício 2.3.

4) Um funcionário muito ocupado decide medir as constantes físicas do


escritório em que trabalha. Usando clipes de papel e muita imaginação, ele
pendura um grampeador de 200 g aos elásticos e, usando o relógio do canto
do seu computador, verifica que o equipamento sobe e desce com um
período de 0,5 s. Qual é a constante de elasticidade deste elástico?
5) Um pêndulo simples tem seu período de oscilação igual a 4,2 s. Calcule a
velocidade angular e o comprimento da haste deste pêndulo.
6) Um guindaste de demolição lança uma grande massa metálica contra os
edifícios, fazendo-os cair. Sabendo-se que um cabo de aço de 28 m
suspende a massa, calcule a velocidade angular e o período deste poderoso
instrumento de destruição.
7) O pêndulo de Foucault, apresentado no tópico especial deste capítulo, é
uma das poucas experiências físicas capaz de demonstrar diretamente o
movimento de rotação da Terra. O pêndulo de Foucault mais famoso foi
instalado pelo próprio professor Léon Foucault no domo do Panthéon em
Paris. Sabendo-se que este experimento apresenta um período de 16,5 s,
calcule a altura que Monsieur Foucault teve que subir para montá-lo.
8) Um astronauta carregou sua medalha de honra ao mérito para usá-la
como um pêndulo na Lua. Sua intenção era verificar a constante
gravitacional do nosso satélite natural. Para facilitar as contas, ele decidiu
escolher uma corrente com um comprimento de 1 m. Faça uma estimativa
do período observado nesta experiência (gLua = 1,622 m/s2).
9) Um pêndulo de torção simples foi construído com um disco de 450 g e
um diâmetro de 18 cm suspenso pelo seu centro por um fio de aço cujo
coeficiente de torção vale 8 N m/rad. Calcule o período de oscilação deste
sistema.
10) Determine o período de oscilação e a velocidade angular de um pêndulo
de torção composto de uma esfera de 20 cm de raio e massa 1 kg presa por
seu centro a um fio metálico cujo coeficiente de torção vale 12 N m/rad.
11) Um objeto de geometria complexa faz parte do projeto de um satélite
artificial, e para tanto se deve saber seu momento de inércia. Para medir
esta grandeza, foi construído um pêndulo de torção simples no qual esta
peça foi suspensa pelo seu centro de massa por um fio de aço cujo
coeficiente de torção vale 5 N m/rad. Determine o momento de inércia do
objeto complexo, sabendo-se que o período de oscilação do sistema foi de
0,95 s.
12) O mesmo funcionário muito ocupado do Exercício 2.4 decide medir o
coeficiente de torção dos seus elásticos. Ele amarra um elástico no centro de
massa de um lápis de 15 cm de comprimento e pesando 5 g, e anota um
período de 2 s. Qual é o coeficiente de torção deste elástico?
13) Um corpo de 45 g está suspenso no meio de um fio de 56 cm de
comprimento. O fio está sujeito a uma tensão de 0,8 N. Calcule o período
de oscilação deste sistema.
14) Determine o período de oscilação e a velocidade angular de uma esfera
de 25 g presa por seu centro ao meio um fio metálico de 30 cm e sujeito a
uma tensão de 3,6 N.
15) Um tubo em “U” de vidro recebe certa quantidade de líquido
incompressível e invíscido. Sabendo-se que a distância total entre as duas
superfícies do líquido é de 88 cm, calcule sua frequência de oscilação em
Hz.
16) Uma mangueira de jardim está quase cheia de água. Ao se aproximar as
duas extremidades, nota-se que a superfície da água no seu interior
apresenta uma oscilação de 0,2 Hz. Faça uma estimativa do comprimento
da mangueira.
17) Uma sonda espacial foi equipada com um gravímetro baseado em um
tubo em “U” lacrado. Durante a construção na superfície da Terra, este
equipamento foi calibrado em uma frequência de 2,8 Hz. Sete anos depois,
quando a sonda alcançou a superfície externa de Júpiter, o gravímetro
apresentou uma frequência de 4,4634 Hz. Qual é a aceleração gravitacional
em Júpiter?
18) Um hidrômetro tem uma massa de 50 g e sua haste tem uma área de 9
mm2. Qual será sua velocidade angular de oscilação se for mergulhado em
um reservatório de água pura (ρ = 1 g/cm3)? (Cuidado com as unidades!)
19) Para medir a densidade de um líquido desconhecido, foi utilizado um
hidrômetro de massa 65 g com uma haste de área 1 cm2. Sabendo-se que o
período de oscilação observada foi de 2 Hz, determine a densidade desta
estranha substância.
20) Um cientista perdido em uma ilha deserta mata o tempo medindo a
densidade da água em várias lagoas. Para tanto, ele construiu um
densímetro prendendo uma pedra de 300 g a um pedaço de madeira
cilíndrico bem uniforme e retilíneo pesando 100 g. Qual deve ser o
diâmetro desta haste improvisada para que o náufrago obtenha oscilações
de período igual a 4 s numa lagoa de água quase pura?
21) Dois hidrômetros idênticos foram usados para medir a densidade de
gasolina pura (ρ = 719,7 kg/m3) e outro líquido. Notou-se que o período de
oscilação do segundo hidrômetro era o dobro daquele observado na
gasolina. Calcule a densidade do líquido misterioso.
22) Obtenha a velocidade angular e a frequência de um amortecedor
automobilístico que contém 0,5 l de ar, cujo cilindro tem área de seção
transversal igual a 0,01 m2 e massa de 400 g, e em seu interior a pressão é
de 50 Pa.
23) Um amortecedor a gás apresenta uma oscilação de 3 Hz. O que
acontecerá com sua frequência se o pistão for trocado por outro que seja
duas vezes mais massivo?
24) Foi construído um circuito LC para sintonizar uma rádio FM que
transmite a 92,5 MHz. Sabendo-se que o condensador utilizado é de 2500
mF, qual é o valor da indutância associada?
25) Um empregado de um instituto de pesquisa inadvertidamente derrubou
solvente sobre um condensador, apagando a simbologia que indicava o
valor de sua capacitância. Com a intenção de corrigir seu erro, o
funcionário atrapalhado resolveu medir a capacitância, para poder escrever
o seu valor sobre o, agora misterioso, componente. Para tanto, ele construiu
um circuito LC com uma indutância de 20 mH, e obteve uma frequência de
1,2 MHz. Qual é o valor perdido da capacitância?
26) Deseja-se usar um circuito LC para fazer uma simulação eletrônica de
um sistema massa/mola. O sistema composto de corpo de massa igual a 600
kg está preso a uma mola de constante 15 N/m. Obtenha a capacitância e a
indutância do circuito LC a ser construído.
27) Um caçador de fantasmas usa um circuito LC ligado a um alto-falante
para gerar tons de baixa frequência que, segundo ele, espantam as almas
perdidas. Quais seriam as suas sugestões de combinação de indutância e
capacitância para gerar frequências de 20, 30 e 50 Hz?

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Capítulo 3

MOVIMENTO HARMÔNICO AMORTECIDO


E FORÇADO

3.1 INTRODUÇÃO
3.2 MOVIMENTO HARMÔNICO AMORTECIDO
3.3 MOVIMENTO HARMÔNICO FORÇADO
3.4 TRANSIENTE
3.5 APLICAÇÃO: O CIRCUITO RLC SÉRIE
3.6 TÓPICO ESPECIAL: RESSONÂNCIA MAGNÉTICA NUCLEAR
3.7 EXERCÍCIOS

3.1 INTRODUÇÃO
No Capítulo 2 foi feito um exaustivo estudo de sistemas físicos oscilantes.
Os casos apresentados (sistema massa/mola, pêndulo simples, pêndulo de
torção, massa presa a fio tensionado, tubo em “U”, hidrômetro, amortecedor
a gás e o circuito LC) são, evidentemente, uma pálida amostra dos sistemas
harmônicos que encontramos na natureza. Existem infinitos sistemas
oscilantes, cada um com suas particularidades e características. Certamente,
é impossível estudar (ou apenas elencar) todos em um único livro.
Contudo, a pequena amostra de sistemas oscilantes apresentada é
suficientemente significativa para que possamos estudar o movimento
oscilatório de forma mais aprofundada. Usando como exemplo ou
recorrência os sistemas já vistos, poderemos ir adiante com nossos estudos
e análises. Qualquer outra situação que apresente um comportamento
oscilatório apresentará uma correspondência como um sistema massa/mola,
ou um pêndulo, ou um circuito LC. Assim, estamos cientes de que não
vimos todos os sistemas que existem, mas podemos abstrair seu
comportamento físico como um dos casos estudados.
Neste capítulo introduziremos duas variações aos sistemas harmônicos:
o amortecimento e as forças externas. O estudo passará inicialmente pelos
sistemas amortecidos, e em seguida veremos como é seu comportamento
quando se aplica uma força externa que varia com o tempo.

3.2 MOVIMENTO HARMÔNICO AMORTECIDO


Imaginemos uma balança de mola, constituída de um corpo preso à
extremidade de uma mola, que tem sua outra extremidade fixada mais
acima, em um suporte. Sabemos que este sistema tende a oscilar se o corpo
for deslocado para cima ou para baixo de sua posição de equilíbrio. E este
sistema foi bem estudado no Capítulo 2.
Contudo, nossa experiência nos diz que o corpo não ficará oscilando
eternamente. Sabemos que, “no mundo real”, as oscilações tenderão a
diminuir de amplitude e, depois de certo tempo, pararão. Este efeito não foi
ainda explorado nesta obra, e esta é a missão que temos adiante.
Uma interpretação deste efeito que tende a diminuir as amplitudes com
o tempo pode ser obtida se avaliarmos o movimento oscilatório do ponto de
vista da sua energia. A energia total foi considerada como a soma da
energia cinética do corpo em movimento e da energia potencial armazenada
na mola, e é uma constante do sistema. A energia potencial e a cinética
mudam constantemente de valor, mas sua soma é inalterável... se
desconsiderarmos que o sistema não tem perdas dissipativas ou atritos. Esta
é a questão fundamental neste momento. Um sistema real apresenta perdas
que transformam pequenas frações da energia total em calor, o qual se perde
no ar e nas vizinhanças. Este processo é irreversível e afeta a amplitude das
oscilações, que tendem a diminuir com o tempo.

3.2.1 Solução no tempo


De modo a melhor modelar os efeitos da dissipação, consideremos um
sistema massa/mola com um elemento a mais, conforme apresentado na
Figura 3.1.
O dispositivo que está preso na parte de baixo do corpo equivale a um
amortecedor: trata-se de um disco suspenso por um eixo e imerso em um
fluido. O movimento do sistema levará o disco para cima e para baixo
dentro do recipiente, e o fluido se oporá ao movimento. A fração de energia
perdida quando o disco se mover é função da velocidade do movimento, do
raio do disco, da viscosidade, da temperatura etc. Todos estes detalhes serão
abstraídos em nosso estudo, bastando considerar que a ação do fluido
somente se dá quando o disco se move. Assim, nessa abstração, este efeito
dissipativo é uma função da velocidade, pois se o disco estiver parado em
qualquer posição, não haverá perdas. Pode-se considerar que uma boa
aproximação para a força dissipativa como um polinômio em v. Assim,
temos

Como o atento leitor pode adivinhar, os parâmetros b1, b2, ... bn,... são
de difícil obtenção e, por este motivo, seremos levados a fazer mais uma
simplificação. Assumindo que a velocidade será muito pequena comparada
com as outras grandezas envolvidas, podemos considerar apenas o primeiro
termo de 3.1, ficando com
Dessa maneira, o sistema massa/mola amortecido é caracterizado por
três grandezas: a massa m, a mola de constante k e uma força equivalente ao
atrito que depende da velocidade, cuja constante de dissipação é b. A
unidade de b no SI é kg/s. Esta nova grandeza é chamada de fator de
amortecimento e está presente em todos os sistemas do mundo real. Mesmo
que não a vejamos explicitamente, sabemos que todo sistema tem um fator
de amortecimento. Mesmo em uma balança de mola, que tem apenas uma
mola e um corpo pendurado, existe um atrito interno no material que
constitui a mola, tanto que esta esquenta ao movimentar-se. Nos outros
sistemas já estudados também teremos um fator de amortecimento: no tubo
em “U” e no densímetro, b está ligado à viscosidade do fluido; no pêndulo,
ao atrito com o ar e no ponto pivot da haste; no circuito LC, às resistências
dos fios e componentes. Assim, chamaremos esta grandeza de fator de
amortecimento intrínseco, pois apesar de não se apresentar como um
componente construtivo individual facilmente identificável do sistema faz
parte dos componentes presentes.
Figura 3.1 Sistema massa/mola com um amortecedor.

Uma vez que consideramos R(v) como uma força, esta deve ser
acrescida ao lado das forças na segunda lei de Newton (compare com a
Equação 2.4).

Nesta expressão estamos considerando que a soma das forças é


composta de duas parcelas: a força exercida pela mola (que depende de um
deslocamento) e a força exercida pelo amortecedor (que depende de uma
velocidade). Substituindo a expressão da velocidade por v = dx/dt e
rearranjando, temos

Dividindo pela massa (que obviamente não é zero...),

Agora introduzimos uma nova grandeza para caracterizar o


amortecimento, dada por

A unidade de γ é Hz, pois a unidade de b/m é (kg/s)/kg = 1/s. E assim


chegamos à seguinte equação diferencial ordinária de segunda ordem:
em que é a velocidade angular que o sistema teria se não fosse
amortecido. A solução desta equação pode ser obtida considerando que x é
a parte real de um número complexo z. Resolvendo esta expressão, temos

Assumiremos uma solução do tipo

em que as novas constantes foram introduzidas para que possamos mais


adiante satisfazer as condições iniciais de posição, fase e velocidade. A
velocidade complexa fica

E aceleração complexa fica

Inserindo estas duas últimas expressões em 3.8, teremos

o que pode ser simplificado por

Como queremos que esta equação seja satisfeita para qualquer valor de
t, concluímos que
Como a segunda parcela desta condição é um valor imaginário, temos
que considerar c como um número complexo, ou seja,

Isso nos permite buscar a solução satisfazendo duas condições: uma


para a parte real, r, e outra para a parte imaginária, is. Lembrando que c2
vale

podemos reescrever a Equação 3.14 como

e separar as duas condições:

Analisando a parte imaginária, sob a óbvia hipótese de que a r é


diferente de zero, obtemos

que, ao ser substituída na parte real de 3.18 nos leva a


Portanto, a constante c da Equação 3.15 vale

Esta constante deve ser reintroduzida na Equação 3.9, ou seja:

Figura 3.2 Gráfico de , com A = 1, γ = 0,2, α = 0 e ω = 1,322.

Fazendo uso da expressão de Euler, podemos escrever a parte real


desta expressão como

É conveniente definir uma nova velocidade angular dependente apenas


das constantes do sistema, dada por
que receberá o nome de velocidade angular do sistema amortecido ou
velocidade angular amortecida. Com isso, a posição em função do tempo
fica

Essa expressão pode ser interpretada como o produto de uma


exponencial de expoente negativo (pois γ é sempre positivo) e um cosseno.
Um gráfico de x(t) é apresentado na Figura 3.2. Observe que as curvas
determinam a amplitude que x(t) pode alcançar.
Essas curvas são denominadas “envelopes” de x(t) e determinam o
decaimento das oscilações.

■ ■ ■ EXEMPLO 3.1
Considere um sistema massa/mola amortecido construído segundo as
seguintes características: m = 2,5 kg, k = 12 N/m, b = 0,5 kg/s, A = 0,04 m,
ϕ = 0,1 rad.
a) Calcule os valores de ω0, γ e ω. Em seguida faça um esboço do
gráfico deste movimento no intervalo 0 ≤ t ≤ 14 s incluindo o
envelope.
b) O mesmo sistema teve o amortecimento alterado para b = 4 kg/s.
Refaça os mesmos passos para esta nova condição.
Solução: Usando as expressões de ω0, γ e ω, obtemos
Figura 3.3 Gráfico de x(t), A(t) e E(t) para o sistema massa/mola amortecido do Exemplo
3.1.

Figura 3.4 Gráfico de x(t), A(t) e E(t) para o sistema massa/mola amortecido do Exemplo
3.1 depois da alteração da constante de amortecimento.

A expressão final do movimento com os valores numéricos fica


e seu gráfico é apresentado na Figura 3.3.
Depois que o sistema teve o amortecimento alterado para b = 4 kg/s, os
mesmos passos resultam em

(ω0 não mudou)


A nova expressão do movimento fica

e seu gráfico é apresentado na Figura 3.4.


3.2.2 Energia mecânica total


A partir das expressões que foram deduzidas acima, podemos afirmar que a
amplitude varia com o tempo segundo

em que A0 é a amplitude no instante t = 0. Uma vez que a energia mecânica


total é dependente da amplitude (veja a Equação 1.29), então esta também
varia com o tempo:
Figura 3.5 Gráfico de x(t), A(t) e E(t) para o sistema massa/mola amortecido descrito na
Figura 3.2.

Ou, simplificando com o uso da energia mecânica total no instante t =


0,

Isso significa que a perda de energia ocorre de forma exponencial no


tempo. A ação de um amortecedor com base em uma força resistiva
linearmente proporcional à velocidade é o de transformar em calor a energia
mecânica do sistema a uma taxa dada por e–γt.

3.2.3 Qualidade e comportamento


Observando a Equação 3.7, nota-se que os parâmetros ω0 e γ são as únicas
grandezas provenientes do sistema físico. Logo, podemos concluir que
essas duas grandezas determinam o comportamento do sistema como um
todo e que certas conclusões interessantes podem ser tiradas a partir de sua
análise.
De modo a tornar conveniente e prática a condução das análises de
sistemas oscilantes, será introduzida a grandeza adimensional denominada
“qualidade”, cujo símbolo é Q. A qualidade de um sistema harmônico
amortecido é formalmente definida como

Para valores elevados de Q, como Q >> 1, o sistema está fracamente


amortecido — basta lembrar a situação γ → 0. Uma análise precisa deste
aspecto pode ser obtida quando tomamos a Equação 3.7 e assumimos uma
solução puramente real do tipo

Substituindo a primeira e segunda derivada desta solução em 3.7,


obtemos

ou

Esta condição é satisfeita se

O discriminante desta última expressão é dado por

Cujas raízes são dadas por


Em termos dos parâmetros físicos originais, o discriminante é dado por

e, em termos de qualidade,

Essas expressões nos permitem classificar os sistemas amortecidos


segundo seu comportamento perante este discriminante. Essa classificação é
apresentada na Tabela 3.1.
Uma vez que γ = b/m e , outra expressão que define Q é

Assim, podemos redefinir a velocidade angular amortecida como

Vamos analisar agora a situação na qual Q se aproxima da unidade. A


amplitude, a partir da Equação 3.26, pode ser expressa como

Uma vez que Q ≈ 1, podemos também considerar a aproximação ω ≈


ω0 e que o número de oscilações completas depois de um intervalo de
tempo t vale
Então, podemos obter uma expressão da amplitude como função do
número de ciclos:

Tabela 3.1

Parâmetros Parâmetros do Qualidade Comportamento


físicos sistema

ω0 > γ/2 Q > 1 /2 subcrítico

ω0 = γ/2 Q = 1 /2 crítico

ω0 < γ/2 Q < 1 /2 supercrítico

Uma importante conclusão que pode ser obtida a partir da última


expressão é que a amplitude será reduzida de um fator e depois de Q/π
ciclos do movimento oscilante. Isso significa que o sistema, com Q ≈ 1, é
amortecido de forma quase crítica.
Finalmente, a qualidade nos permite ainda reescrever a equação
diferencial original como

que pode ser mais conveniente para solucionar certos problemas.


3.2.4 Sistemas superamortecidos
O atento leitor deve ter notado que nos falta ainda discutir o caso em que Q
<< 1/2. O que acontece se ω0 << γ/2? Uma rápida análise da Equação 3.31
nos leva a um ω imaginário. O que significa isso?
Devemos voltar à interpretação original da solução da equação
diferencial 3.8. Partindo da Equação 3.20, sabemos que

No caso em que , é válida a expressão

Extraindo a raiz quadrada, teremos

Introduzindo

teremos como solução para a parte real de c (expressão 3.15) r = ±iβ.


Assim, a solução geral final para o movimento será então uma combinação
linear de duas exponenciais, dada por
Os valores A1 e A2 são constantes de integração que dependem das
condições iniciais de x e dx/dt no instante t = 0.

3.2.5 Amortecimento crítico


Chama-se amortecimento crítico à situação em que acontece exatamente

o que nos leva a β = 0. Essa situação é de especial interesse para projetistas


e engenheiros, pois a amplitude das oscilações do sistema convergirá para
zero tão rapidamente quanto possível, sem oscilações. Assim, quando se
deseja que um componente do sistema volte à sua posição de equilíbrio o
mais rápido possível depois de uma perturbação, este deve ser projetado
para que esteja na situação de amortecimento crítico. Um bom exemplo são
os amortecedores de automóveis, que combinam molas e pistões em fluidos
para compor um sistema que leve a uma reação/resposta no menor tempo
possível.
Em um sistema supercrítico, a solução da equação de movimento é
dada por

em que os valores A e B são constantes de integração que dependem das


condições iniciais.

■ ■ ■ EXEMPLO 3.2
Um sistema massa/mola amortecido é construído com uma mola de
constante 8 N/m e um corpo de massa 2 kg. Deve-se prever o
comportamento deste sistema quando acoplado a amortecedores de 1 kg/s, 4
kg/s e 12 kg/s. Especifique um amortecedor para o qual o sistema se
comporte de modo crítico.

Solução: Usando as expressões e γ = b/m, podemos construir a


Tabela 3.2.

Tabela 3.2

Parâmetros físicos ω0 γ ω0 – Comportamento


γ/2

k=8 m=2 b=1 2 rad/s 0,5 Hz 1,75 subcrítico


N/m kg kg/s

k=8 m=2 b=4 2 rad/s 2 Hz 1 subcrítico


N/m kg kg/s

k=8 m=2 b = 12 2 rad/s 6 Hz –1 supercrítico


N/m kg kg/s

Para que o sistema se comporte de modo crítico, é necessário que

O que nos leva a


Logo, para que o sistema atinja o estado crítico, o valor do coeficiente
dissipativo deve ser

3.3 MOVIMENTO HARMÔNICO FORÇADO


Até este momento analisamos os sistemas isolados, que oscilam por si
próprios após terem sido deslocados de sua posição de equilíbrio. Para
caminharmos em direção à completude de nossos estudos devemos, então,
passar a considerar as forças externas, principalmente aquelas que também
são oscilantes. Imaginemos uma construção baseada no sistema massa/mola
amortecido à qual adicionamos uma força externa que varia com o tempo
(veja a Figura 3.6).
Da forma que o sistema está apresentado na Figura 3.6, a força
aplicada sobre o corpo tem uma dependência com o tempo do tipo

Figura 3.6 Esquema de um sistema harmônico forçado e amortecido. Da esquerda para a


direita vemos o dispositivo de amortecimento em paralelo com a mola, e o corpo que oscila
ligado através de um mecanismo a uma roda girante.
em que ωF é a velocidade angular com a qual a força oscila. Intuitivamente,
sabemos que a frequência da força externa prevalecerá sobre o sistema, e
que este tenderá a reagir a favor ou contra esta força, dependendo de suas
constantes construtivas. Portanto, não há mais sentido em nos
referenciarmos à velocidade angular do sistema, ω, dada pela Equação 3.24,
pois o sistema oscilará (de fato!) com a frequência imposta pela força, ωF.
Entretanto, manteremos a notação ωF para que não haja dúvidas sobre qual
velocidade angular estamos falando e sua origem.
Ainda restam muitas questões a serem respondidas com respeito à
amplitude, fase e outras grandezas. O caminho mais eficaz para se obter o
comportamento dessas grandezas em um sistema oscilante sujeito a uma
força é solucionando a equação que o define. Entretanto, antes de
analisarmos o sistema completo, daremos o primeiro passo com a solução
para o caso forçado não amortecido, por ser uma situação mais simples.

3.3.1 Ressonância num sistema sem perdas


No sistema forçado não amortecido podemos considerar duas forças: a
força da mola, – kx, e a força externa, F0 cos ωF t. Essas duas devem ser
somadas e inseridas na segunda lei de Newton:

Podemos agora considerar que x é a componente real de uma posição


complexa, x = Re(z), considerando o mesmo para a força. Assim,

Assim, a equação diferencial completa fica


Assumindo como solução

A primeira e segunda derivadas serão, respectivamente,

E podemos substituí-la na Equação 3.64:

Lembrando que

E finalmente aplicamos a expressão de Euler:

Assim, temos duas condições a serem satisfeitas:


Logo, para chegar a conclusões sobre a amplitude, podemos considerar
a parte real. Vemos que, para uma fase tal que cos ϕ = 1, como a amplitude
deve ser sempre um valor positivo, a relação entre a amplitude e a força é
dada por

A Figura 3.7 mostra o gráfico da amplitude versus velocidade angular


para um oscilador forçado não amortecido dado por 3.71. Nota-se que,
quando ωF = 0, a amplitude limita-se a F0/k, e para valores muito altos de
ωF, a amplitude tende a zero. Contudo, na região em que ωF se aproxima de
ω0, seja pela esquerda ou pela direita, a amplitude tende ao infinito. Isso
significa que a força está oscilando na frequência natural do sistema. Este é
o fenômeno denominado ressonância.
Observamos a ocorrência da ressonância sempre que um sistema
oscilante está acoplado a outro sistema oscilante (no caso em estudo trata-se
do sistema massa/mola e da força pulsante). Na situação em que as
frequências dos dois sistemas têm valores próximos (ou, no pior caso,
iguais!) observa-se uma transferência de energia, que acaba por ser
armazenada nas formas cinética e/ou potencial no sistema. Esse acúmulo
pode ser visto como uma integral no tempo da taxa de transferência
energética a cada ciclo. Se não houver perdas dissipativas (ou outra forma
de drenagem de energia), o sistema acabará por atingir amplitudes cada vez
mais elevadas, ultrapassando os limites da resistência mecânica.
Figura 3.7 Gráfico da amplitude versus velocidade angular para um oscilador forçado não
amortecido. Quando ωF → ω0 temos o fenômeno de ressonância.

Um bom exemplo de como a ressonância pode levar a resultados


catastróficos é o caso da ponte do rio Tacoma, em Pierce County,
Washington. Em 7 de novembro 1940, o vento de 68 km/h, que soprava
sobre a ponte, alcançou a frequência de ressonância da estrutura, fazendo-a
oscilar com amplitudes cada vez mais elevadas. Depois de certo tempo, a
ponte entrou em colapso, partindo-se e caindo nas águas do rio Tacoma. A
única vítima fatal foi um cão, abandonado às pressas por seu dono que
fugiu correndo a pé, deixando-o no carro que caiu junto com os grandes
pedaços de concreto.
Outro exemplo interessante é o processo no qual um cantor de ópera
quebra uma taça de cristal usando apenas sua voz. Antes de executar a
proeza, o cantor bate os dedos levemente na taça, para que esta apresente,
através de um som audível, sua frequência de oscilação natural. Em
seguida, o cantor emite com potência bem elevada a mesma nota ouvida. A
taça entra em ressonância com as ondas sonoras, que a fazem oscilar com
amplitude e energia crescentes. Eventualmente, se o fôlego do cantor
suportar, a estrutura cristalina da taça não suportará mais o movimento
repetitivo com amplitudes crescentes, e acabará por quebrar. Certamente, a
plateia aplaudirá com entusiasmo, o que não deixa de ser outra espécie de
ressonância...
A ressonância é um conceito extremamente útil, sendo fundamental em
vários projetos de engenharia e nas artes. A ressonância é obtida em
instrumentos musicais, sintonizadores de rádio, acoplamentos mecânicos
em máquinas complexas, relógios etc.

3.3.2 Ressonância num sistema amortecido


A principal maneira de evitar que a ressonância leve o sistema ao colapso (e
também para modelarmos mais fielmente os sistemas reais) é introduzindo
um dispositivo de amortecimento no sistema. A Figura 3.6 já previu este
componente que, como veremos, nos levará a interessantes conclusões
sobre o caso forçado e amortecido.
No sistema forçado amortecido são consideradas três forças:
1) a força da mola (dependente da posição),
2) a força devida à dissipação (dependente da velocidade) e
3) a força externa.
Como no caso anterior, para compor a equação diferencial original,
essas três componentes devem ser somadas e inseridas na segunda lei de
Newton:

Didivindo pela massa e passando os termos em x para o lado esquerdo,

Lembrando que γ = b / m e , chegamos à forma mais prática


para ser solucionada:
Passando para uma visão no plano complexo, temos

Novamente, assumimos uma solução baseada em uma exponencial


complexa, mas com uma pequena diferença: a fase da solução formal é
negativa. Assim, a solução adotada e suas derivadas são:

A nova fase, -δ, é negativa na solução proposta. Isso não implica


grandes consequências nesse momento da dedução, mas será útil mais
adiante quando interpretaremos os resultados. Substituindo a solução e suas
derivadas temporais em 3.75 têm-se

ou

As duas condições a serem satisfeitas são:


Certamente, neste ponto do raciocínio, surge a pergunta “como fica a
representação desta solução no plano complexo”? Esse questionamento é
perfeitamente razoável, pois, ao contrário do caso anterior, temos uma
componente imaginária não nula. A Equação 3.79 pode ser interpretada
como a soma de dois números complexos, e iγωFA que somados
resultam na força (F0/m)eiδ. Como a primeira parcela é um número real puro
e a segunda um número imaginário puro, ambas devem ser ortogonais. A
Figura 3.8 apresenta essa soma de forma esquemática vetorial. Uma
interessante (mas óbvia) conclusão é que a força externa atua como um
número complexo de módulo F0 /m e ângulo δ.
Continuando, podemos obter expressões para a amplitude e a fase em
função da velocidade angular:
Figura 3.8 Representação esquemática da soma complexa da Equação 3.78.

■ ■ ■ EXEMPLO 3.3
Considere um sistema massa/mola forçado e amortecido construído
segundo as seguintes características: m = 4,0 kg, k = 15 N/m, b = 1,2 kg/s,
F0 = 12 N e ωF = 7,0 rad/s.
a) Calcule os valores de ω0 e γ.
b) Obtenha as expressões para a amplitude e a fase.
c) Em seguida faça um esboço dos gráficos de A(ωF) e δ(ωF) deste
sistema.
Solução:
a) Usando as expressões de ω0 e γ, obtemos

b) As expressões para a amplitude e a fase são:

c) A Figura 3.9 apresenta um esboço dos gráficos de A(ωF) e δ(ωF).


Figura 3.9 Gráfico de A(ωF) para um sistema forçado amortecido.

3.3.3 Influência do termo dissipativo


A Equação 3.80 nos permite calcular a amplitude de um movimento
harmônico amortecido e forçado em função de γ, o termo dissipativo. Por
outro lado, havíamos definido o fator de qualidade como Q = ω0/γ (Equação
3.36). Assim, podemos substituir γ na expressão da amplitude (3.80),
chegando a

O mesmo pode ser feito na Equação 3.81, resultando na expressão da


fase:

Como muitas das análises feitas em sistemas harmônicos consideram a


relação ωF/ω0, também é conveniente reescrever essas expressões como
e

em que foi usado .


De posse destas expressões podemos estudar como a variação de Q
afeta tanto amplitude como fase. Para tanto, consideremos as Figuras 3.10 e
3.11.
Observa-se que a amplitude tem um máximo sempre na região próxima
de ω0 para valores de ωF/ω0 inferiores a 2–1/2. Sistemas que ωF/ω0 < 2–1/2 são
classificados como “altamente amortecidos” e não apresentam o pico de
ressonância próximo de ω0. Também se observa que o pico da amplitude
não ocorre exatamente em ω0, mas que o máximo real fica um pouco
deslocado. Pode-se deduzir as expressões para os valores da amplitude e da
velocidade angular no pico da ressonância:

e
Também observamos que a principal variação de δ acontece num
intervalo em torno de ω0, indo de ω0(1 – 1/Q) até ω0(1 + 1/Q). No caso
extremo no qual ωF/ω0 = 1, a transição de δ não é observável, podendo
assumir tanto 0 como π. Neste caso, a fase é o menor dos nossos problemas,
pois a amplitude já terá alcançado valores extremamente elevados (veja a
Figura 3.10) e é bem provável que a integridade física do sistema não seja
mais garantida.

Figura 3.10 Sistema forçado amortecido: gráfico de A(ωF) para vários valores de Q.

Figura 3.11 Sistema forçado amortecido: gráfico de δ(ωF) para vários valores de Q.

3.4 TRANSIENTE
Chamamos de transiente ao intervalo de tempo que leva para um sistema
mudar de um regime para outro. O transiente em sistemas oscilatórios
ocorre sempre que a influência externa, por exemplo, como a força, muda
de comportamento em função do tempo. Se a variação for lenta comparada
com outros parâmetros do sistema, o transiente não acarretará em maiores
consequências. Por outro lado, se a mudança for abrupta, poderemos
observar uma resposta intensa por parte do sistema.
O estudo de transientes é muito amplo e varia na sua análise conforme
o campo de estudo. No caso de sistemas elétricos de potência, motores,
transformadores e geradores eletromagnéticos, o estudo dos transientes de
corrente e tensão assume graus de extrema importância. Podemos imaginar
que uma descarga elétrica atmosférica (que pode atingir tensões de 107
volts!) pode ser interpretada como uma mudança súbita da tensão média de
uma linha de transmissão. O estudo deste tipo de transiente pode ajudar a
prevenir black-outs e proteger os equipamentos elétricos.
Neste capítulo estudamos os osciladores forçados e amortecidos
usando o sistema massa/mola como protótipo. Logo, manteremos nesta
breve discussão sobre transientes esta mesma classe de construção física
como base para as nossas deduções.
Considere o sistema massa/mola amortecido e forçado representado na
Figura 3.12 que, como sabemos, é regido por

A força está denotada apenas como F(t), não sendo mais um expressão
simples como F0 cos ωFt. Assim, pode-se supor para a força qualquer tipo
de dependência temporal, o que é bem mais realista. Em todo caso, como
sabemos que o sistema livre definido por m, b e k tem um comportamento
oscilante senoidal, estamos interessados naquelas forças que tenham, pelo
menos superficialmente, um comportamento oscilante deste mesmo tipo.
Como primeiro caso, consideremos uma força do tipo

Ou seja, a força passa a existir a partir de um dado instante, sendo


considerada nula nos instantes anteriores. Vamos também supor que o
sistema esteja imóvel antes deste momento no tempo. Esta situação reflete
bem o caso de “ligarmos” um aparelho que tenha um comportamento
oscilante: antes, ele está desligado e parado, depois, está ligado e ativo.
Rearranjando a Equação 3.92 e introduzindo γ e ω0, temos uma forma mais
adequada para os nossos propósitos:

Figura 3.12 Esquema de um sistema harmônico forçado e amortecido. A força (genérica)


não mais é uma simples função trigonométrica.

Também é muito importante considerar as condições iniciais. Como


em t < 0 o sistema está parado, temos
A solução geral da Equação 3.94 pode ser obtida considerando-se uma
combinação linear de todas as soluções já obtidas neste capítulo, ou seja,

em que

é a solução do sistema amortecido (cuja velocidade angular é denotada por


ω1 para evitar erros de interpretação), e ωF é a velocidade angular da força
externa. A e δ são dados pelas Equações 3.88 e 3.89 respectivamente, e B
depende das condições iniciais. Chamamos a primeira parcela do lado
esquerdo da Equação 3.96 de “solução transiente” e a segunda de “solução
em regime”. A solução transiente perde a influência com o passar do tempo,
dando lugar à solução em regime, que domina o movimento depois de
passados os instantes iniciais.
A Figura 3.13 apresenta a solução no caso de ressonância perfeita entre
a força e o sistema. Observe que o movimento parte do repouso e atinge a
amplitude logo nos primeiros ciclos, mantendo-se assim enquanto a força
não alterar seu comportamento. Na Figura 3.14, por outro lado, a
ressonância não é perfeita e o amortecimento é nulo. Como resultado, o
comportamento do sistema oscila. Essa oscilação é observado pela
amplitude máxima que pode ser alcançada em cada instante. Dá-se a esta
função o nome de “envelope”, pois o que se observa é uma senoide contida
por outra. Nesse caso particular (sistema com amortecimento nulo e fora da
ressonância), pode-se provar que a amplitude máxima, ou amplitude do
envelope, segue
Figura 3.13 Sistema massa/mola amortecido sujeito à força da Equação 3.93. Os
parâmetros do sistema são: ω0 = 5 rad/s, γ = 1 Hz, F0 = 5 N, m = 1 kg e ωF = 5 rad/s.

Figura 3.14 Sistema massa/mola não amortecido sujeito à força da Equação 3.93. Os
parâmetros do sistema são: ω0 = 5 rad/s, γ = 0,F0 = 2 N, m = 1 kg e ωF = 5,4 rad/s.

Portanto, a amplitude do envelope varia com uma velocidade angular


equivalente à metade da diferença entre as velocidades angulares da força e
do sistema. Se, nessa mesma situação, introduzirmos uma pequena dose de
amortecimento, teremos como resultado o comportamento apresentado na
Figura 3.15.
Finalmente, resta a pergunta: E se a força mudar de fase? Imaginemos
uma força que se comporta como

em que tϕ é o instante no qual a ação da força muda de fase de 0 para ϕ.


Nesses casos, observaremos uma mudança de comportamento do sistema
em tϕ, com a tendência de se alinhar com a força nos instantes seguintes,
conforme apresentado na Figura 3.16.
Os gráficos das Figuras 3.13 a 3.16 foram obtidos resolvendo-se
numericamente as equações diferenciais de cada sistema. A resolução
utilizou o método de Runge-Kutta de quarta ordem, muito aplicado em
cálculos numéricos, principalmente em engenharia e sistemas científicos.
Uma explanação mais aprofundada deste método e uma rotina escrita em
linguagem C estão disponíveis no Apêndice B, no final deste livro.
Figura 3.15 Sistema massa/mola amortecido sujeito à força da Equação 3.93. Os
parâmetros do sistema são: ω0 = 5 rad/s, γ = 0,1 Hz, F0 = 2 N, m = 1 kg e ωF = 5,4 rad/s.

Figura 3.16 Sistema massa/mola amortecido sujeito à força com mudança de fase
segundo a Equação 3.99. Os parâmetros do sistema são: ω0 = 5 rad/s, γ = 1 Hz, F0 = 5 N,
m = 1 kg, ωF = 5 rad/s, tϕ = 15 s e ϕ = π/2.

3.5 APLICAÇÃO: O CIRCUITO RLC SÉRIE


Como foi discutido no capítulo anterior, os sistemas oscilantes têm várias
formas e construções, mas podem ser analisados de forma similar. Como
exemplo de sistema forçado e amortecido, apresentaremos o circuito RLC
série, que é construído interligando-se um condensador (C), um indutor (L)
e um resistor (R — a unidade de resistência elétrica é Ω, “Ohm”), conforme
o circuito apresentado na Figura 3.17. Deve-se incluir ainda a fonte de
tensão que fará a equivalência com a força externa. Os três componentes
principais (R, L e C) estão em série, ou seja, os três são atravessados pela
mesma intensidade de corrente elétrica. Outras configurações são possíveis,
como interligar os componentes em paralelo, ou dois deles em paralelo e o
terceiro em série com estes. Cada situação exigirá a adequada aplicação das
leis de Kirchhoff para estabelecer as relações entre tensões e correntes de
cada componente. O caso que estudaremos aqui é aquele em que todos os
componentes estão conectados em série, ou seja, a corrente é a mesma em
todos eles (o circuito RLC paralelo será estudado em uma aplicação, no
Exercício 3.22).
Cada componente do circuito tem uma lei física que estabelece seu
comportamento. Para o indutor temos

A grandeza q corresponde à quantidade de carga elétrica que atravessa


o solenoide, e podemos usar esta igualdade pois a definição de corrente
elétrica é exatamente esta: i = dq/dt. A carga elétrica tem como unidade C,
“coulumb”. Do outro lado, temos o condensador, cuja lei é

O comportamento do resistor é dado pela famosa lei de Ohm:

Figura 3.17 Circuito RLC série com uma fonte de tensão V0 e um interruptor s.

ou seja, a tensão sobre o resistor é linearmente proporcional à corrente que


o atravessa, sendo a constante de proporcionalidade dada pela característica
do resistor. Em termos de carga elétrica, temos
Invocando as leis de Kirchhoff, sabemos que, para um circuito em
série, a soma das tensões de cada componente deve ser igual à tensão
imposta ao circuito (quando o interruptor está fechado, é claro). Logo

que é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem semelhante às


que temos estudado neste capítulo. Observamos que o resistor assume o
papel do termo dissipativo, e que a constante da mola mantém similaridade
com o inverso da capacitância, ou

A Tabela 3.3 apresenta todas as similaridades entre as grandezas do o


sistema massa/mola amortecido e o circuito RLC série.

Tabela 3.3

Sistema massa/mola Circuito RLC série

Deslocamento x Carga elétrica q


horizontal

Força externa Fx(t) Tensão V(t)

Massa m Indutância L
Fator de amortecimento b Resistência R

Constante da mola k Inverso da capacitância

Frequência de Frequência de
ressonância ressonância

Constante de Constante de
amortecimento amortecimento

Qualidade Qualidade

Energia potencial Energia eletrostática

Energia cinética Energia magnética

Potência absorvida na Potência absorvida na


ressonância ressonância

Concluindo, pode ser construído um circuito RLC cujo comportamento


oscilatório seja semelhante a um sistema físico amortecido. Faremos uso
desta similaridade para estudar como o sistema se comporta no exemplo
dado a seguir.

■ ■ ■ EXEMPLO 3.4
Um circuito RLC série cujos componentes valem R = 400 Ω, L = 600 H, C
= 1 mF, inicialmente desligado, passa a receber uma tensão contínua de 5 V
a partir do instante t = 1 s. Apresente graficamente o comportamento do
sistema.
Solução: Para aplicarmos o método de Runge-Kutta, reescrevemos a
Equação 3.106 como

em que a variável auxiliar σ foi introduzida apenas para que pudéssemos


tratar a Equação 3.104 como um sistema de equações diferenciais de
primeira ordem (no caso duas equações). Como resultado, obtemos o
gráfico apresentado na Figura 3.18.

Figura 3.18 Gráfico da tensão sobre o capacitor em função do tempo para o Exemplo 3.4.


3.6 TÓPICO ESPECIAL: RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
NUCLEAR
A medicina de nossos dias conta com uma poderosa tecnologia que não
estava disponível há apenas algumas décadas. Hoje, podemos observar o
interior dos corpos dos pacientes, sem a necessidade de cortar a pele ou a
introdução de sondas.
Historicamente, a primeira imagem do interior do corpo humano obtida
por ressonância magnética foi gravada em 3 de julho de 1977, por seu
inventor, Raymond Damadian, um médico armênio-americano, cientista e
professor na Faculdade de Medicina da Universidade Estadual de Nova
York. Damadian, que já estava pesquisando essa tecnologia há alguns anos,
construiu um protótipo em seus laboratórios com a ajuda de seus alunos e
outros pesquisadores colaboradores. A máquina original era constituída por
um ímã supercondutor e bobinas eletromagnéticas enroladas à mão. O
“paciente” daquele dia foi um estudante de pós-graduação que, devido a
suas pequenas dimensões, conseguia entrar no equipamento. Essa
experiência pioneira de Damadian demandou cerca de cinco horas para que
a primeira imagem fosse gerada.
Uma interessante constatação sobre a tomografia via ressonância
magnética é que as imagens que vemos não são dos tecidos do corpo, mas
da água contida neles. Como sabemos, uma molécula de água contém dois
átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. Em uma interpretação mais
simplificada, podemos considerar que os núcleos dos átomos de hidrogênio
não passam de prótons isolados no interior de cada átomo. Ao serem
embebidos em um campo magnético intenso, os prótons, que também têm
um campo magnético próprio, alinham-se com as linhas de campo que lhes
foram impostas. Esse alinhamento acontece sem que o átomo seja afetado,
pois o campo magnético imposto oscila com a mesma frequência dos
prótons, entrando em ressonância com estes — mas não com as outras
partículas ao redor. É justamente por atuar diretamente com os núcleos
atômicos que esta técnica também é chamada de tomografia de ressonância
magnética nuclear.

Figura 3.19 Um paciente em um aparelho de tomografia de ressonância magnética


nuclear. À direita, uma imagem obtida utilizando-se esta técnica.

Figura 3.20 Ciclo de ressonância magnética nuclear: a) Uma molécula de água é


composta por um átomo de oxigênio e dois de hidrogênio. b) Os núcleos dos átomos de
hidrogênio contêm apenas um próton, e este tem seu campo magnético alinhado segundo
seu estado num dado momento. c) Com a aplicação de um campo magnético externo B(t)
em ressonância com a frequência dos prótons, estes recebem energia e acabam por se
alinhar com B(t). d) Com o corte do campo externo, os prótons voltam à sua posição
original, devolvendo a energia extra na forma de um fóton com frequência na faixa de rádio.

Então, o campo externo é desligado, e os prótons retornam a sua


posição original, desalinhada. Ocorre que, durante a fase de ressonância,
certa quantidade de energia foi absorvida pelos prótons. Essa energia é
“devolvida” quando se interrompe o campo magnético na forma de fótons
(ondas eletromagnéticas) de frequência bem conhecida, que são detectados
e compilados de forma a gerar uma imagem com o mapa das densidades da
água no corpo do paciente.
Como cada tecido tem uma densidade diferente, os contrastes nas
imagens nos permitem visualizar os órgãos e identificar doenças, anomalias
e tumores. Hoje, podemos observar com resposta instantânea os fluidos em
movimento, os órgãos vivos e ativos, para o benefício de milhares de
pacientes que já utilizaram esse tipo de exame.
Os diagnósticos via ressonância magnética já salvaram milhares de
vidas, auxiliando na escolha do tratamento adequado a cada caso. Essa
tecnologia também é usada em pesquisa médica e neural, pois permite que
as reações dos órgãos do interior do corpo humano sejam observadas em
várias condições.

3.7 EXERCÍCIOS
1) Um sistema massa/mola amortecido foi construído segundo as seguintes
características: m = 5,5 kg, k = 2 N/m, b = 2,5 kg/s, A = 2 cm, ϕ = 0,3 rad.
Calcule os valores de ω0, γ e ω.
2) Considere um sistema massa/mola amortecido construído segundo as
seguintes características: m = 0,5 kg, k = 4,1 N/m, b = 1,2 kg/s, A = 15 mm,
ϕ = 0. Calcule os valores de ω0, γ e ω. Em seguida faça um esboço do
gráfico deste movimento no intervalo 0 ≤ t ≤ 10 s incluindo o envelope.
3) Um sistema massa/mola apresenta velocidade angular de 4,5 rad/s e um
fator de amortecimento de 0,2 Hz. Sabendo-se que a massa vale 10 kg,
calcule k e b.
4) Deseja-se construir um sistema de amortecimento de um veículo cujas
rodas suportarão 1600 kg cada uma. Deseja-se que o fator de qualidade seja
no mínimo 5963 e que a frequência de oscilação seja de no máximo 1,75
Hz. Obtenha os valores de k e b para este projeto.
5) Deseja-se medir qual é a dissipação intrínseca de uma mola e para tanto
foi montado um sistema massa/mola experimental. Sabe-se que a mola tem
uma constante igual a 18 N/m, e oscila com uma velocidade angular de
2,958 rad/s quando acoplada a uma massa de 2 kg. Calcule a velocidade
angular natural deste sistema sem o amortecimento e em seguida quanto é o
valor deste amortecimento em kg/s.
6) Uma mola de constante 22 N/m e um corpo de massa 0,5 kg são usados
para construir um sistema massa/mola. Esse sistema deve ser analisado
quando acoplado a amortecedores de 2 kg/s, 4 kg/s e 8 kg/s. Especifique um
amortecedor para o qual o sistema se comporte de modo crítico.
7) Apresente a equação do movimento do exercício anterior no modo crítico
para as condições iniciais: A = 10 cm e ϕ = 0. Faça um gráfico de x(t).
8) Um artista em um circo usa um elástico de constante k = 100 N/m. Sua
massa é de 80 kg e estima-se que o fator de amortecimento do equipamento
é b = 8 kg/s. Com qual frequência (em Hz) a audiência verá o artista
balançar-se? Qual é a qualidade deste oscilador?
9) Em um escritório de patentes, um funcionário muito ocupado está
montando uma tabela com as constantes físicas do material de escritório.
Usando clipes de papel e muita imaginação, ele pendura um grampeador de
200 g aos elásticos e, usando o relógio do canto do seu computador, verifica
que o equipamento sobe e desce com um período de 0,5 s. Ele também
observa que, após 10 ciclos, a amplitude do movimento torna-se 1% da
amplitude original. Qual é a constante de amortecimento intrínseca do
elástico?
10) Um cientista perdido em uma ilha deserta construiu um balanço
pendurando uma tábua a um coqueiro inclinado. De experiências anteriores,
ele sabe que o coqueiro e a corda comportam-se como uma mola de
constante k = 7500 N/m. Ao balançar-se para cima e para baixo, anotou
uma frequência de 1,5 Hz e concluiu que o seu brinquedo apresentou um Q
= 1050. Qual é o fator de amortecimento deste sistema? Quanto está
pesando o náufrago?
11) Considere um sistema massa/mola forçado e amortecido cujos
componentes têm as seguintes características: m = 3,0 kg, k = 12 N/m, b =
1,2 kg/s. Esse sistema está sujeito a uma força com F0 = 8,2 N e ωF = 2/π
rad/s. Obtenha: a) os valores de ω0 e γ; b) as expressões para a amplitude e a
fase; c) faça os gráficos de A(ωF) e δ(ωF).

Figura 3.21 Figura do Exercício 3.11.


12) Um sistema massa/mola cujas características são: m = 750 g, k = 6 N/m
e b = 1,2 kg/s, está submetido a uma força oscilante de 2 N e ωF = 2,5 rad/s.
Sabendo-se que a estrutura física do sistema admite uma variação máxima
de 2 cm, verifique se a amplitude imposta pela força o manterá dentro desse
limite de segurança.
13) Um objeto de massa 200 g está preso a uma mola de k = 80 N/m e b = 4
kg/s. Escreva a equação diferencial do movimento livre amortecido e
determine o período de oscilação desse sistema.
14) O sistema do exercício anterior é submetido a uma força periódica do
tipo F(t) = F0 sen(ωt), em que F0 = 2 N e ω = 30 rad/s. Qual é a amplitude
das oscilações sob a ação dessa força?
15) Um sismógrafo é um instrumento concebido para identificar e medir os
terremotos. Na sua forma mais simples, um sismógrafo é constituído de
uma mola, de constante k e amortecimento intrínseco b, presa a um corpo
de massa m, conforme o esquema da Figura 3.22. Em um laboratório
sismográfico, está instalado um sismógrafo no qual m = 130 g, k = 0,21
N/m e b = 0,325 kg/s. Esse aparelho é sensível a forças de até 6,5 × 10-3 N.
Quando um terremoto dessa magnitude e frequência 0,033 Hz ocorrer, qual
será a amplitude com a qual o sismógrafo oscilará?

Figura 3.22 Figura do Exercício 3.15. Visão esquemática de um sismógrafo.


16) Em laboratórios de vibrações é comum se instalar mesas pesadas
pendurando-as no teto por molas com o intuito de isolá-las das vibrações do
edifício. A frequência de oscilação vertical é tipicamente ω0 = 2π rad/s.
Suponha que, em caso de um terremoto, o teto vibre verticalmente segundo
F(t) = F0 cos(ωF t), com ωF ≠ ω0. Obtenha a equação da amplitude de
oscilação da mesa de massa m em função de ωF. Com que amplitude uma
mesa de massa 300 kg suportada por molas de b = 100 kg/s oscilará,
considerando vibrações de F0 = 12 N e com uma frequência de 0,016 Hz?
17) Obtenha a expressão da amplitude do envelope em função do tempo
para o sistema da Figura 3.14.
18) Dado um sistema harmônico amortecido e forçado cuja equação
diferencial é

que está sujeito a uma força dada por

e sob as condições iniciais

Calcule a sua solução geral no tempo, x(t).


19) Considere um circuito RLC série cujos componentes são: R = 1600 Ω,
L = 250 H e C = 5,5 µF. Calcule os valores de ω0, γ, ω e Q.
20) Um circuito RLC série conforme apresentado na Figura 3.23 está
sujeito a uma tensão senoidal dada por com V(t) = 6 cos 2,5t. Obtenha: a) os
valores de ω0 e γ; b) a amplitude e a fase da velocidade angular de
ressonância.

Figura 3.23 Figura do Exercício 3.20.

21) Deseja-se construir um circuito RLC série que entre em ressonância em


f = 10 Hz e tenha um fator de qualidade Q = 10. Já se dispõe de um
solenoide de 120 H. Determine qual deve ser o valor do condensador e da
resistência desse circuito.
22) A Figura 3.24 apresenta um circuito RLC paralelo alimentado por uma
fonte de corrente alternada, i(t). Construa uma terceira coluna para a Tabela
3.3 com as similaridades para as grandezas desse circuito. Lembre-se de
que, neste caso, as leis de Kirchhoff estabelecem que a tensão é a mesma
para os três componentes, e a corrente total fornecida pela fonte de tensão
equivale à soma das correntes individuais.
Figura 3.24 Figura do Exercício 3.22. O circuito RLC paralelo.

23) Considere o amortecedor a gás conforme discutido na Seção 2.2.7 do


Capítulo 2. Assumindo que existe um coeficiente de atrito entre o pistão e
as paredes do cilindro que possa ser aproximado por

Construa uma tabela semelhante à Tabela 3.3 que estabelece a similaridade


entre o sistema massa/mola amortecido e forçado e o amortecedor a gás
amortecido e forçado.

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Capítulo 4

SISTEMAS ACOPLADOS

4.1 INTRODUÇÃO
4.2 DOIS PÊNDULOS ACOPLADOS POR UMA MOLA
4.3 ACOPLAMENTOS DE N OSCILADORES
4.4 TÓPICO ESPECIAL: O PÊNDULO DUPLO
4.5 EXERCÍCIOS

4.1 INTRODUÇÃO
Os casos estudados até agora, como o sistema massa/mola, o pêndulo e o
circuito RLC, são importantes e representativos e servem de base para toda
a física ondulatória. Uma característica dos estudos feitos até este ponto é
que os sistemas estudados têm um único componente oscilante, e por isso
oscilam de uma única maneira. O sistema massa/mola oscila na direção
longitudinal da mola, o movimento do pêndulo depende apenas do
comprimento da haste e da gravidade, e o circuito RLC oscila segundo a
carga e descarga do condensador e do solenoide.
Entretanto, existem sistemas físicos reais que estão sujeitos a mais de
um modo de oscilação. Por exemplo, uma antena de rádio construída como
uma treliça metálica (Figura 4.1) comporta-se como um conjunto de vários
osciladores. Cada haste na treliça pode ser modelada como um sistema
massa/mola. Ao vibrar (por ação do vento, por exemplo) uma haste impõe
às suas vizinhas uma oscilação forçada. Estas, por sua vez, também
vibrarão cada uma na sua frequência, propagando o movimento. Qual será a
frequência normal de oscilação da torre como um todo?

Figura 4.1 Uma torre construída em treliça metálica. Cada componente atua como um
oscilador independente.

Neste capítulo, faremos primeiramente uma análise de um sistema


múltiplo bem simples (dois pêndulos idênticos acoplados por uma mola
sem amortecimentos). A partir das conclusões alcançadas para este sistema,
daremos mais um passo analisando os sistemas de N corpos. Todas essas
análises serão ferramentas importantes para o posterior estudo de ondas em
meios contínuos.

4.2 DOIS PÊNDULOS ACOPLADOS POR UMA MOLA


Para melhor entendermos o conceito de modos de vibração, imaginemos
dois pêndulos idênticos (com um corpo de massa m preso a uma
extremidade de uma haste de comprimento l), que estão presos um ao outro
por uma mola (de constante k), conforme a Figura 4.2.
Vamos considerar que os pêndulos se movimentam apenas em um
ângulo muito pequeno, mantendo assim as hipóteses e resultados que vimos
no Capítulo 2. Neste primeiro momento, também serão desprezados os
efeitos de amortecimento, como atrito e outras perdas.
À primeira vista, pode-se pensar que esse sistema é de simples
resolução, pois sabemos calcular a frequência de oscilação tanto do pêndulo
como do sistema massa/mola. Contudo, antes de irmos mais adiante,
convidamos o caro leitor a seguir o raciocínio desenvolvido a seguir.

4.2.1 Modos normais


Imagine que os pêndulos acoplados da Figura 4.2 tenham sido montados
num laboratório de física, e que os alunos sejam convidados a acionar os
pêndulos, ou seja, “fazê-los balançar”. O primeiro aluno desloca os dois
pêndulos pela mesma distância para a esquerda, conforme a Figura 4.3.
Nesta condição, a mola não sofreu deformação e, portanto, não afeta o
movimento normal dos pêndulos. Os dois pêndulos oscilarão em paralelo,
com seu período natural dado por (g é a aceleração da
gravidade).
Na sua vez, o segundo aluno cria uma condição inicial deslocando os
dois pêndulos em direções opostas, conforme a Figura 4.4. Evidentemente,
dessa vez a mola foi deformada e exercerá uma força dada por F = kx.
Como já sabemos, essa força levará a uma oscilação de período
(pois a mola está movimentando dois corpos de massa m).
Portanto os pêndulos sofrerão uma oscilação forçada. Por outro lado, o
movimento dos pêndulos balançando em antissincronia também forçará a
mola. É de se esperar que a frequência neste caso seja mais alta do que no
caso anterior, pois, afinal de contas, foi introduzida mais energia no sistema
na condição inicial. Essa energia foi acumulada na mola na forma de
energia potencial — o que não aconteceu no primeiro caso.

Figura 4.2 Dois pêndulos idênticos acoplados por uma mola na posição de repouso.

Figura 4.3 Primeira condição inicial: os dois pêndulos são deslocados para a esquerda
pela mesma distância Δx.

A primeira (e importante!) conclusão é que a condição inicial tem


profunda influência sobre o comportamento do sistema, a ponto de alterar
seu modo de oscilação. À primeira vista, podemos dizer que esse sistema
tem dois modos de oscilação, um de baixa energia (com a mola balançando
junto com os pêndulos, sem deformações) e outro de alta energia (com
participação ativa da mola).
Chega a vez do terceiro aluno. Querendo impressionar o professor, ele
tenta criar uma condição diferente dos outros. Para tanto, ele desloca os
pêndulos por distâncias diferentes, conforme a Figura 4.5. Essa condição
transfere energia para a mola, pois a deforma. Mas, também transfere
energia para um dos pêndulos, mas não de forma igual. Além disso, não há
simetria entre os ângulos iniciais dos pêndulos. Como resultado, vemos um
dos pêndulos balançar com maior amplitude, mas lentamente o outro
pêndulo começa acelerar. Para surpresa de todos, o primeiro pêndulo fica
cada vez mais lento até quase parar, enquanto o outro pêndulo chega à sua
máxima amplitude. Em seguida, o mesmo fenômeno recomeça no sentido
contrário.
Ao questionar a turma, o professor pergunta o que está ocorrendo. As
respostas dividem os alunos em dois grupos: um deles defende que este seja
um terceiro modo de oscilação, enquanto o outro grupo acredita que se trata
de uma combinação dos modos anteriores. Essa discussão somente pode ser
solucionada de uma maneira: traduzir o aparato físico e suas condições
iniciais para uma equação diferencial e resolvê-la.
Antes de ir adiante com a solução geral para este caso, faremos uma
análise de cada condição independentemente. Já sabemos que para a
primeira condição inicial (Figura 4.3), o movimento segue

Os movimentos dos pêndulos são dados por

em que os índices 1 e 2 representam os corpos nas extremidades dos


pêndulos e A0 é a amplitude dos deslocamentos (é claro que existe uma
certa distância entre x1 e x2, mas vamos abstrair essa constante para não
sobrecarregar nossas expressões). Ao longo dessas deduções, manteremos a
notação ω0 para a velocidade angular intrínseca dos pêndulos.
Para a segunda condição inicial (Figura 4.4), podemos considerar a
simetria da experiência e tirar proveito disso, pois o que for feito para um
pêndulo vale para o outro, bastando considerar os sinais. Considerando que
a força devida ao movimento pendular do primeiro corpo vale

Figura 4.4 Segunda condição inicial: os dois pêndulos são deslocados em direções
opostas.
Figura 4.5 Condição inicial genérica: cada pêndulo é deslocado por distâncias diferentes.

e que a força devida à mola no primeiro corpo vale

Podemos escrever a segunda lei de Newton para este caso:

Como a velocidade angular intrínseca da mola é dada por

Ao longo desta seção, usaremos a notação ωk para a velocidade angular


intrínseca de um sistema massa/mola, para diferenciá-la de ω0 a velocidade
angular intrínseca dos pêndulos. Podemos então substituir esta definição em
(4.5), e chegar a

Tabela 4.1
Ou, simplesmente,

Neste ponto, introduzimos a velocidade angular do acoplamento, dada


por

Dessa maneira, a equação diferencial fica


Cuja solução é

Devido à simetria, o movimento do segundo corpo é facilmente obtido:

em que B0 é a amplitude dos deslocamentos, dependente das condições


iniciais.
Observamos que para a primeira condição inicial, os pêndulos estão
com a mesma fase e oscilam com velocidade angular ω0. Para a segunda
condição inicial, os pêndulos encontram-se defasados em 180º e oscilam
com . Essas conclusões estão resumidas na Tabela 4.1.

4.2.2 Superposição de modos normais


Tomemos agora a terceira condição inicial, que poderia ainda ser
generalizada por uma condição inicial genérica como a apresentada na
Figura 4.6.
Como o deslocamento do primeiro corpo foi x1 e do segundo foi x2, a
deformação da mola é equivalente a (x1 – x2). Logo a força devida à mola
sobre o primeiro corpo vale

O segundo corpo receberá a mesma força devida à mola, mas no


sentido contrário:
Figura 4.6 Figura do Exemplo 4.1.

As forças devidas aos pêndulos não se alteram. Podemos, portanto,


escrever as equações das forças para os dois corpos, obtendo o sistema

E, finalmente, reescrevemos com as velocidades angulares:

Esse sistema de equações diferenciais exprime o que já havíamos


previsto intuitivamente: ao movermos um corpo, este afeta o outro. A
presença de x2 na equação de x1, e vice-versa, implica que os dois
movimentos não são necessariamente iguais, mas estão estreitamente
relacionados.
Para resolver este sistema, começamos por somar as duas equações:

que resulta em

Da mesma forma, em (4.16) subtrai-se a segunda equação da primeira


e chega-se a

Neste ponto introduzimos variáveis para representar a soma e a


diferença dos deslocamentos:

Essas novas variáveis recebem a denominação de coordenadas


normalizadas e têm a propriedade de serem independentes uma da outra. E
fazendo uso da velocidade angular do acoplamento (Equação 4.9),
reduzimos o sistema a duas equações independentes:
Agora cada uma destas equações é completamente independente da
outra e ambas são semelhantes à equação do oscilador harmônico simples.
As soluções mais triviais (não considerando as fases iniciais) em
coordenadas normalizadas são

em que C0 e D0 são as amplitudes dependentes das condições iniciais.


Percebemos que as coordenadas normalizadas q1 e q2 representam cada
um dos dois modos de oscilação apresentados no início desta dedução. Ao
retornarmos às coordenadas originais do espaço x1 e x2 obtemos

■ ■ ■ EXEMPLO 4.1
Considere um sistema conforme apresentado na Figura 4.6, no qual as
condições iniciais são:

Ou seja, inicialmente apenas o primeiro corpo é deslocado. Obtenha as


equações de movimento dos dois corpos. Faça o gráfico dos deslocamentos
no tempo considerando A0 = 2 cm, m = 2,5 kg, k = 12 N/m, l = 0,4 m e g =
9,81 m/s2.
Solução: Substituindo as condições iniciais (t = 0) na Equação 4.23, temos
De onde se obtém facilmente

Com isso, as equações do movimento podem ser escritas, resultando em

O que, com a correta aplicação de identidades trigonométricas, fica

A velocidade angular dos pêndulos vale


Figura 4.7 Gráfico com os deslocamentos em função do tempo do Exemplo 4.1.

A velocidade angular intrínseca do sistema massa/mola vale

Portanto, a velocidade angular do acoplamento assume o valor

Assim, temos, finalmente,


Os gráficos dos deslocamentos no tempo estão apresentados na Figura 4.7.
Comentários:
1. Os dois corpos se movem segundo uma composição dos modos
normais dos pêndulos e do sistema massa/mola.
2. O sistema de equações em (4.28) estabelece que os dois
movimentos sejam semelhantes, mas com uma defasagem de π/2.
3. A amplitude dos dois movimentos varia com uma velocidade
angular equivalente à metade da diferença entre as velocidades
angulares de cada modo.
4. As amplitudes máxima e mínima são iguais para os dois
movimentos.

■ ■ ■ EXEMPLO 4.2
Considere um sistema de dois pêndulos acoplados por uma mola, como os
outros já estudados. As condições iniciais são:

Ou seja, o primeiro corpo é deslocado de A0 e o segundo é deslocado


da metade desta distância no sentido oposto. Obtenha as equações de
movimento dos dois corpos e o gráfico dos deslocamentos no tempo,
considerando os mesmos valores do exemplo anterior.
Solução: Substituindo as condições iniciais em (4.23) temos
De onde obtemos

Com estes valores podemos escrever as equações do movimento


baseando-nos na Equação 4.23:

Não vale a pena buscar nas tabelas de identidades trigonométricas


maneiras de simplificar essa expressão, pois o esforço será muito grande e o
resultado desejado pode ser obtido diretamente da própria expressão. Do
Exemplo 4.1, sabemos que = 4,95 rad/s e = 5,84 rad/s portanto,

Os gráficos dos deslocamentos no tempo estão apresentados na Figura


4.8.
Figura 4.8 Gráfico com os deslocamentos em função do tempo do Exemplo 4.2.

Comentários:
1. Novamente, o movimento dos corpos é uma composição dos
modos normais dos pêndulos e do sistema massa/mola.
2. Apesar de não ser evidente, o sistema de equações em (4.38)
estabelece que os dois movimentos tenham defasagem de π/2.
3. Observando os gráficos da Figura 4.8, vemos que a amplitude dos
dois movimentos varia com uma velocidade angular equivalente à
metade da diferença entre as velocidades angulares de cada modo.
4. Novamente, as amplitudes máxima e mínima são iguais para os
dois movimentos.

4.2.3 Solução geral


Uma vez que estabelecemos um bom conjunto de conhecimentos sobre o
sistema de dois pêndulos acoplados por uma mola, agora vamos buscar uma
solução analítica generalizada deste problema.
Partimos do sistema de equações já conhecido

Não faremos uso de simetrias ou das conclusões alcançadas nos


Exemplos 4.1 e 4.2, que nos conduziram nas primeiras partes deste capítulo.
Porém, como o sistema apresentado é composto de duas equações
diferenciais ordinárias de segunda ordem, é razoável supor que as soluções
sejam funções harmônicas. Assim, partimos da suposição inicial para a
solução
Em que ω é uma velocidade angular qualquer. Deve-se agora verificar
se existem valores de ω, A1 e A2 que satisfaçam (4.39). Para tanto,
substituímos as soluções propostas no sistema original:

Derivando e expandindo, obtém-se

Dividindo por cos(ωt + ϕ):

Introduzindo

Podemos reescrever (4.43) como


A solução trivial deste sistema é A1 = 0 e A2 = 0. Isso significa que as
duas equações são na verdade combinações lineares das mesmas
expressões. Não será possível estabelecer um conjunto de soluções para A1
e A2, mas é possível calcular a razão A1/A2. Indo neste sentido, de (4.45)
pode-se concluir que

Portanto,

Para isolar ω, deve-se retornar o valor de P:

Que nos leva a

As soluções ω1 e ω2 são, portanto, dadas por

que, em termos de A1 e A2, correspondem respectivamente a


E, assim, finalmente conclui-se que o sistema de equações diferenciais
acopladas (4.39) tem dois conjuntos de soluções: o modo de baixa
frequência

e o modo de alta frequência

em que B1 e B2 são amplitudes dependentes das condições iniciais, assim


como ϕ1 e ϕ2 são fases dependentes das condições iniciais. A velocidade
angular do modo de alta frequência é (Equação 4.9).
Uma vez que as equações do sistema 4.39 são lineares, a soma das
soluções estabelece a solução geral:

Comparando esta solução com as obtidas anteriormente (Equações


4.23 e 4.27), vemos que aquelas são casos particulares desta. Este resultado
também valida os comentários finais dos Exemplos 4.1 e 4.2.

■ ■ ■ EXEMPLO 4.3
Considere um sistema de dois pêndulos acoplados por uma mola construído
com hastes de 30 cm, massas de 500 g, constante das molas 6 N/m.
Sabendo-se que ao ser acionado, as condições iniciais foram x1 = 1 cm, x2 =
–3 cm, v1 = –6 cm/s e v2 = 4 cm/s, determine as equações do movimento de
cada corpo (considere g = 9,81 m/s2).
Solução: Para se obter as equações do movimento, deve-se calcular o valor
das amplitudes, velocidades angulares e fases da solução geral (4.54). As
velocidades angulares valem:

Substituindo na solução geral, chega-se a

A derivada no tempo nos dá as velocidades:

Impondo as condições iniciais no instante t = 0, temos


Este é um sistema de quatro equações e quatro incógnitas, que pode ser
resolvido pelas técnicas tradicionais. Os resultados são:

Figura 4.9 Gráfico com os deslocamentos em função do tempo do Exemplo 4.3.

4.2.4 Osciladores duplos forçados


Passaremos agora a analisar o comportamento dos pêndulos acoplados por
mola quando estes estão sujeitos a uma força oscilante externa. Considere a
Figura 4.10.
O primeiro pêndulo foi ligado mecanicamente a um dispositivo que
exerce uma força dependente do tempo. Em princípio, consideraremos esta
força como harmônica e, portanto, terá uma frequência própria.
Intuitivamente, depois dos estudos apresentados no Capítulo 3, sabemos
que esta será a frequência com a qual o sistema oscilará. Entretanto,
também sabemos que se a frequência imposta pela força aproximar-se das
frequências normais do sistema, observaremos o aparecimento do fenômeno
da ressonância.
Como foi visto, os pêndulos acoplados por mola têm duas frequências
normais, ω0 e , que correspondem aos modos de baixa frequência e de alta
frequência. É de se esperar, portanto, que haja dois picos de ressonância na
função A(ω).
Para investigar esta hipótese, começa-se por definir o sistema de
equações diferenciais baseadas na segunda lei de Newton. Reescrevemos
(4.15) incluindo uma força sobre o primeiro corpo do tipo F(t) = F0 cos ωt:

Dividindo pela massa e introduzindo a velocidade angular intrínseca da


mola, temos

Para separar as variáveis, começamos por somar as duas equações:

que resulta em
Figura 4.10 Dois pêndulos idênticos acoplados por uma mola e sujeitos a uma força
externa F(t).

Em seguida, subtrai-se a segunda equação da primeira:

Novamente, faz-se uso das coordenadas normalizadas (Equação 4.20) e


da velocidade angular do acoplamento. O sistema assume a forma de duas
equações independentes:

Este novo sistema equivale a dois osciladores harmônicos


independentes, cuja solução já conhecemos:
em que

Nota-se claramente que quando a frequência da força externa se


aproxima das frequências normais ω0 e , as amplitudes tendem ao infinito,
caracterizando a ressonância. Pode-se agora retornar às expressões dos
deslocamentos individuais:

em que

Para forças com velocidade angular igual a

observa-se que a amplitude do movimento do primeiro corpo é anulada.


Isso pode ser interpretado como o corpo 1 estando parado, e toda a energia
fornecida através da força oscilante sendo transmitida para a mola e para o
corpo 2. Apesar de ser uma possibilidade matemática, na prática essa
situação não acontece por se tratar de uma condição extremamente instável.
A situação em que ω = ωR em casos reais não acontece devido à presença
de amortecimentos, como atrito, dissipações e viscosidades. Entretanto,
trata-se de um caso interessante a ser comentado.

Figura 4.11 Dois pêndulos acoplados por mola sujeitos a uma força: amplitude do primeiro
corpo em função da velocidade angular da força.

Figura 4.12 Dois pêndulos acoplados por mola sujeitos a uma força: amplitude do segundo
corpo em função da velocidade angular da força.
As Figuras 4.11 e 4.12 apresentam as amplitudes alcançadas pelo
movimento de cada corpo, A1 e A2, em função da velocidade angular da
força, ω. Os cálculos numéricos desenvolvidos para traçar esses gráficos
utilizaram os seguintes valores: F0/m = 1 N/kg, ω0 = 1 rad/s, ωk = 2 rad/s e
= 3 rad/s. Nestas condições ωR vale 2,236 rad/s.

■ ■ ■ EXEMPLO 4.4
Em um pêndulo duplo acoplado por mola, tem-se os seguintes parâmetros
físicos: m = 2 kg, k = 0,4 N/m, l = 0,6 m e g = 9,81 m/s2. Sabendo-se que
um dos corpos desse sistema estará sujeito a força dada por

calcule as amplitudes alcançadas pelos corpos em seus movimentos.


Solução: Primeiramente, calculamos as velocidades angulares:

As amplitudes dos movimentos são dadas por


O sinal de A1 apenas significa que o primeiro corpo estará defasado
com relação à força.

4.3 ACOPLAMENTOS DE N OSCILADORES


As conclusões que alcançamos para os dois pêndulos acoplados por uma
mola servirão de base para estudarmos o comportamento de um sistema
composto de vários corpos.
Para tanto, consideremos um sistema construído a partir de N esferas
idênticas de massa m presas a um fio flexível. As distâncias entre as esferas
são iguais a l, e as extremidades do fio, uma a uma distância l da primeira
esfera e a outra também a uma distância l da última esfera, são fixadas de
modo a não se moverem (por exemplo, estão presas a duas paredes
paralelas). Negligenciamos a massa do próprio fio, de forma que a massa
total do sistema é Nm. Como o fio está esticado, existe uma tensão T ao
longo do mesmo, e podemos definir uma situação de equilíbrio (Figura
4.13). Da forma que este sistema foi construído, as esferas podem mover-se
na direção perpendicular à linha estabelecida entre os pontos de fixação do
fio, como mostrado na Figura 4.14. Nesta nova posição, a fio tensionado
exerce uma força restauradora sobre as esferas, impelindo-as de volta à
posição de repouso.
Identificando cada esfera com um número inteiro, teremos 1, 2,... N –
1, N. Escolhe-se uma esfera em uma posição genérica i, que não esteja em
uma das extremidades do arranjo, ou seja, 1 < i < N. Sabe-se que a esfera
precedente é a i – 1, e a seguinte i + 1 (veja a Figura 4.15). A força
restauradora exercida sobre a esfera i, vale
em que Fi − 1 é a força exercida na direção da esfera i – 1, e Fi + 1 é a força
exercida na direção da esfera i + 1. Cada uma dessas forças pode ser
expressa em termos da tensão T e do ângulo α, definido entre o trecho do
fio e a linha de repouso. Assim,

Esta expressão leva em conta apenas a componente perpendicular da


força (direção y). Justifica-se esta aproximação pelo seguinte motivo:
O comprimento do trecho de fio entre as esferas i − 1 e i é dado por

Considerando a expansão de Taylor

Figura 4.13 Um fio fixo nas suas extremidades com N = 7 esferas idênticas uniformemente
distribuídas na situação de equilíbrio.
Figura 4.14 As esferas foram deslocadas para cima na direção perpendicular à linha da
posição de repouso.

Figura 4.15 Detalhamento da região em torno da esfera i.

podemos considerar até o segundo termo da série, e temos

Logo, o aumento da tensão localmente devido à alteração de


comprimento é proporcional a . Na configuração apresentada, a
resultante na direção longitudinal (direção x) é dada por

que é da ordem da diferença entre os quadrados de valores muito pequenos.


Assim, esta componente da força pode ser desprezada diante de valores
proporcionais a αi−1.
Retomando a Equação 4.79, substituem-se os senos pelas suas
definições geométricas:
Simplificando, temos

Agora, pode-se escrever a segunda lei de Newton, considerando-se a


aceleração na direção perpendicular para a esfera i:

Que pode ser reescrita como

ou

Estabelecendo a velocidade angular como , chega-se a

em que toma-se o cuidado de especificar que esta não é uma esfera próxima
às extremidades (compare com as Equações 2.49 e 2.50 do Capítulo 2). A
expressão em (4.89) é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem,
similar às outras que já tratamos anteriormente. Comparando com a
Equação 4.39, o sistema de equações diferenciais para os dois pêndulos
acoplados, reconhecemos que para o caso presente ωk = ω0 e por isso temos
uma parcela em .
Para os casos especiais da primeira e da última esfera, as expressões
são:

Todas as esferas combinadas resultam num sistema de equações


diferenciais que representam N osciladores harmônicos acoplados:

4.3.1 Modos normais


Neste ponto, deve-se obter os modos normais. Para tanto, escolhe-se como
tentativa de solução para a esfera i
em que foram consideradas velocidade angulares diferentes para cada
esfera, mantendo sua independência. Esta hipótese (velocidades angulares
diferentes) será refutada mais adiante, mas a manteremos, por enquanto, por
uma questão de pureza de raciocínio.
Temos, então, a velocidade e a aceleração da esfera i, dadas por

Substituindo esta solução na equação genérica (4.89), temos

Dividindo por cos(ωit)

Esta expressão estabelece um sistema de equações lineares de ordem


N. Isolando as amplitudes do lado esquerdo da equação, chega-se a

As Equações 4.95 e 4.96 podem ser validadas para todos os valores de


i se definirmos que A0 = 0 e AN+1 = 0, o que é perfeitamente válido, pois as
extremidades do fio estão fixas. Assim, deste ponto em diante, considera-se
1 ≤ i ≤ N.
A definição destes limites para A0 e AN+1 nos permite estabelecer
possíveis soluções para as amplitudes. Inspirados nas propriedades da
função sen(θ), em especial nos casos sen(0) = 0 e sen(π) = 0, escolhemos

em que η é um número inteiro positivo, pois a função seno anula-se para


múltiplos inteiros de π. Verifica-se que esta função satisfaz as condições em
A0 e AN+1 para qualquer valor de η. Somando-se as amplitudes assim
definidas das esferas vizinhas à posição i, temos

que, com a adequada transformação trigonométrica, fica

Reconhecendo a Equação 4.97, podemos reescrever esta última


expressão como

Isolando as amplitudes do lado esquerdo da equação, chega-se a

Ao compararmos este último resultado com a Equação 4.96,


concluímos que
Podemos agora isolar ωi:

E, finalmente, tirando-se a raiz,

Neste ponto surge uma dúvida a respeito do “i” nesta equação. A


dedução que foi feita até aqui considera que cada esfera poderia oscilar com
frequência independente — o que é correto matematicamente. Entretanto,
sabemos que as esferas estão “amarradas” umas às outras. Logo, o
movimento de uma esfera deve afetar suas vizinhas e vice-versa. Como,
então, interpretar a Equação 4.104?
Analisando com perspicácia, notamos que as variáveis do lado direito
da Equação 4.104, ω0, η e N, são as mesmas para todas as esferas. Isso
significa que a dependência de posição é irrelevante, e todas as posições
seguem a mesma expressão para a amplitude, ou seja, ωi = ω. Assim,
chegamos a uma expressão para a velocidade angular única para todas as
esferas:

em que reconhecemos na variável η a identificação do modo normal de


oscilação.
Figura 4.16 Modos de oscilação de um sistema de sete esferas sobrepostos às senoides
definidas pela Equação 4.97.

Conclui-se que as amplitudes de oscilação das esferas seguem uma


função seno, conforme a Equação 4.97. Note-se que somas de modos
normais assim definidos ainda satisfazem as condições A0 = 0 e AN+1 = 0.
Agora procederemos a análise do número de modos. Sabe-se que para
o modo η = 1, tem-se

Para o modo η = N, tem-se


Pode-se incrementar η até N + 1, e chega-se a ω = 2ω0 sen [π/2] = 0.
Esta velocidade angular corresponde a uma oscilação nula, e tem o mesmo
efeito que η = 0. O modo seguinte, η = N + 2, implica uma velocidade
angular de

Da mesma forma pode-se provar que ωη=N+3 = ωη=N–1. A Figura 4.16


apresenta os modos de oscilação η = 1 a 9 para um sistema de sete esferas.
Observa-se que o modo η = 8 corresponde ao sistema estacionário, e que o
modo η = 9 corresponde ao modo η = 7.
Assim, pode-se reescrever (4.92) substituindo a amplitude (4.97) e a
velocidade angular (4.105):

em que B é uma constante dependente das condições iniciais.

■ ■ ■ EXEMPLO 4.5
Foi construído um sistema oscilante com quatro esferas de 100 g presas a
um fio tensionado. A distância entre as esferas é de 20 cm e o fio está
sujeito a uma tensão de 2,5 N. Obtenha a expressão do movimento para
todas as quatro esferas em todos os modos normais e faça um esboço destes
movimentos.
Solução: Inicia-se pelo cálculo de ω0:

Os modos de oscilação serão η = [1, 2, 3, 4]. Fazendo uso da Equação


4.109 e assumindo B = 1 para todos os modos, pode-se construir a Tabela
4.2. A Figura 4.17 apresenta representações dos movimentos nos quatro
modos.

Figura 4.17 Figura do Exemplo 4.5.

Tabela 4.2
Esfera Eq. movimento Modo

1 y1,1(t) = 0,588 cos(6,91 t)

2 y2,1(t) = 0,951 cos(6,91 t)


η=1
3 y3,1(t) = 0,951 cos(6,91 t)

4 y4,1(t) = 0,588 cos(6,91 t)

1 y1,2(t) = 0,951 cos(13,143 t)

2 y2,2(t) = 0,588 cos(13,143 t)


η=2
3 y3,2(t) = –0,588 cos(13,143 t)

4 y4,2(t) = –0,951 cos(13,143 t)

1 y1,3(t) = 0,951 cos(18,09 t)

2 y2,3(t) = –0,588 cos(18,09 t)


η=3
3 y3,3(t) = –0,588 cos(18,09 t)

4 y4,3(t) = 0,951 cos(18,09 t)


1 y1,4(t) = 0,588 cos(21,266 t) η=4

2 y2,4(t) = –0,951 cos(21,266 t)

3 y3,4(t) = 0,951 cos(21,266 t)

4 y4,4(t) = –0,588 cos(21,266 t)

4.3.2 Oscilações longitudinais


Enquanto as esferas presas a um fio tensionado oscilam perpendicularmente
à linha de repouso, as oscilações longitudinais consideram oscilações na
mesma direção que a linha de repouso. Este fato caracteriza as oscilações
longitudinais como unidimensionais. No mundo real, este tipo de oscilação
acontece em estruturas cristalinas, onde os átomos alinhados comportam-se
exatamente dessa forma. Outros exemplos ainda podem ser citados como as
ondas sonoras, bem conhecidas de todos.
O modelo que adotaremos para estudar oscilações longitudinais será o
de N esferas acopladas através de molas. De forma a simplificar a análise,
consideraremos todas as esferas idênticas, com massa m, as molas também
idênticas, de constante k e de comprimento no repouso l. Uma
representação deste arranjo é apresentada na Figura 4.18.

Figura 4.18 Esferas idênticas acopladas por molas — nesta representação o sistema
encontra-se em repouso.
A primeira e última mola tem sua outra extremidade fixa. Cada um dos
conjuntos massa/mola deste sistema tem uma velocidade angular intrínseca
dada por

Imaginemos que o sistema sofra uma perturbação longitudinal, dada


pelo deslocamento de uma das esferas para a esquerda ou para a direita.
Depois de certo tempo, quando o intervalo de transiente tiver passado, todas
as esferas estarão em movimento, o que significa que todas as molas estão
sendo comprimidas ou esticadas. Denotando o deslocamento de cada esfera
de sua posição de equilíbrio como εi (pois xi é a posição da esfera i tendo
como referência a origem), com i sendo um número inteiro que identifica
cada esfera, i = 1, 2,... N – 1, N, pode-se escrever a segunda lei de Newton
para a esfera i:

ou

Comparando com a Equação 4.89, descobre-se que... o problema já


está resolvido! As oscilações longitudinais deste arranjo de massas
acopladas por molas são modeladas pelo mesmo sistema de equações
diferenciais das massas presas a um fio tensionado. A partir dessa
conclusão, podemos escrever a equação do movimento, agora longitudinal,
de cada esfera:
As conclusões a respeito dos modos de oscilação, seu número e
propriedades, também são válidas.

4.4 TÓPICO ESPECIAL: O PÊNDULO DUPLO


Não é raro encontrarmos na natureza sistemas construídos de forma
simples, mas que têm comportamento complexo. Os galhos de uma árvore
balançando ao vento podem ser considerados um grande sistema de
pêndulos acoplados, e o vento a força externa. Podemos ir mais adiante e
modelar o ciclo de sono e vigília dos seres vivos como um sistema
oscilante, e que a sequência de dias/noites é a força externa. Quando
viajamos para outro país, em um fuso horário diferente, o que temos é uma
mudança de fase da força externa.
Tanto um exemplo como outro tem uma característica em comum:
ambos são complexos. Isso se deve ao número elevado de variáveis para a
modelagem em cada caso, e também ao elevado número de interações a
serem consideradas.
Podemos imaginar várias combinações dos osciladores que estudamos
no Capítulo 2 para formar um sistema oscilante duplo. Dentre as infinitas
variações possíveis, o pêndulo duplo é um dos casos mais estudados tanto
por físicos como por matemáticos. E isso não é à toa: o pêndulo duplo é
uma das construções mais simples cujo comportamento leva ao caos.
Do ponto de vista construtivo, um pêndulo duplo consiste em um
pêndulo de haste rígida acoplado a outro pêndulo de haste rígida. Assume-
se que as barras têm massa desprezível, os pivôs das duas barras não têm
atrito, e que os corpos giram livremente no plano vertical, sob a ação da
gravidade. A haste do pêndulo superior tem comprimento l1 e sustenta uma
massa m1. A haste do pêndulo inferior tem comprimento l2 e sustenta uma
massa m2. Uma visão esquemática do pêndulo assim descrito é apresentada
na Figura 4.19. Consideraremos que tanto o atrito como outras formas de
dissipação sejam desprezíveis.
Estabelecendo a origem do sistema de referências cartesiano no pivô
superior e denotando a posição no plano vertical do corpo 1 como
e a posição do corpo 2 como . Nessas expressões, î
e ĵ representam os versores nas direções horizontal e vertical,
respectivamente. Assim, temos na forma vetorial completa,

para o corpo 1, e

para o corpo 2. As forças exercidas sobre o corpo 1 são: a força devida à


tensão no pivô superior, F1, a força devida à tensão no pivô inferior, F2, e a
força devido ao peso.
As forças exercidas sobre o corpo 2 são: a força devida à tensão no
pivô inferior, F2, e a força devido ao peso. Assim, teremos

A soma destas forças é incluída na expressão da segunda lei de Newton


para o primeiro corpo (veja a Figura 4.20):

E para o segundo corpo:


Figura 4.19 Um pêndulo duplo.

Figura 4.20 Diagrama de forças do pêndulo duplo apresentado na Figura 4.19.

A dedução do sistema de equações diferenciais é longa e cheia de


obstáculos, ficando fora do escopo deste livro. Entretanto, pode-se resumi-
la nos seguintes passos:
1. Expressam-se as forças F1 e F2 em termos da tensão nas hastes.
2. Separam-se as componentes na direção horizontal e vertical, e
abandona-se a notação vetorial.
3. Aplicam-se identidades trigonométricas para chegar a expressões
separadas da primeira e da segunda derivada das posições angulares.
4. Faz-se operações (soma e subtração) entre as expressões para
eliminar termos com produtos de derivadas.
5. Isola-se os termos das tensões T1 e T2.
Ao final, chega-se a

Não vale a pena tentar ir mais adiante, pois qualquer esforço de


simplificação nos levará a uma formulação mais complexa. Este sistema é
não linear (as velocidades estão ao quadrado) e mistura funções
trigonométricas que têm como argumento as variáveis que se deseja
encontrar.
Muitos cientistas e matemáticos já tentaram obter uma solução
analítica para este sistema, mas todos os esforços foram em vão. Essas
expressões caracterizam os sistemas caóticos. Em um sistema com esse
comportamento, a solução no tempo torna-se imprevisível, ou
aparentemente aleatória. Uma das características mais interessantes dos
sistemas caóticos é a elevada sensibilidade às condições iniciais.
A única forma de se visualizar o resultado destas equações é através de
métodos numéricos (como o método de Runge-Kutta que já foi usado no
Capítulo 3). Para ilustrar este tópico, foi escolhido um pêndulo duplo com l1
= 1 m, l2 = 1 m, m1 = 1 kg, m2 = 1 kg, e com condições iniciais θ1 = −20º, ω1
= 30 rad/s, θ2 = 100º e ω2 = 10 rad/s. A Figura 4.21 apresenta a evolução
das velocidades angulares dos dois corpos durante os primeiros 10 s de
movimento. Observa-se que não há uma repetição aparente dos valores, e
que os mesmos não seguem funções trigonométricas. A observação direta
dos corpos em movimento (Figura 4.22) mostra exatamente isso: o
comportamento apresenta características caóticas, sendo praticamente
impossível de se prever a posição que os corpos ocuparão em um
determinado instante. A Figura 4.23 apresenta a evolução das posições dos
dois corpos durante os primeiros 10 s.
Caso o leitor queira se aprofundar nas técnicas de interpretação de
fenômenos caóticos, aconselhamos uma pesquisa das “seções de Poincaré”.
Essa versátil ferramenta nos permite analisar o comportamento de sistemas
modelados por equações diferenciais não lineares.

Figura 4.21 Solução numérica das velocidades angulares do pêndulo duplo para l1 = 1 m,
l2 = 1 m, m1 = 1 kg, m2 = 1 kg, e com condições iniciais θ1 = –20º, ω1 = 30 rad/s, θ2 = 100º
e ω2 = 10 rad/s.
Figura 4.22 Quatro instantes do movimento do pêndulo duplo descrito na Figura 4.21.

Figura 4.23 Solução numérica das posições do pêndulo duplo descrito na Figura 4.21.

4.5 EXERCÍCIOS
Em todos os exercícios, considere a aceleração da gravidade como g = 9,81
m/s2.
1) Considere dois pêndulos acoplados por uma mola. As condições iniciais
são:

Apresente as equações do movimento para cada componente sabendo-se


que A0 = 20 cm, m = 18 kg, k = 15 N/m e l = 0,6 m.
2) Um sistema com dois pêndulos acoplados por uma mola foi construído
com as seguintes características: A0 = 15 cm, m = 12 kg, k = 7,5 N/m e l =
85 cm. Apresente as equações do movimento para cada componente,
sabendo-se que as condições iniciais são dadas por

3) Um sistema de dois pêndulos acoplados por uma mola foi construído


com as seguintes características: m = 5 kg, k = 30 N/m e l = 1,5 m. Faça um
esboço do gráfico dos deslocamentos no tempo considerando A0 = 20 cm, e
as condições iniciais dadas por

4) Uma mola de constante k = 45 N/m é utilizada para acoplar dois


pêndulos idênticos cujas características são m = 12 kg e l = 1,2 m. Faça um
esboço do gráfico dos deslocamentos de cada pêndulo em função do tempo
considerando que as condições iniciais sejam dadas por
e A0 = 10 cm.
5) Considere um sistema de dois pêndulos acoplados por uma mola, cujas
condições iniciais são:

Ou seja, nenhum corpo é deslocado, mas o primeiro corpo tem uma


velocidade igual à unidade no instante inicial. Obtenha as equações de
movimento dos dois corpos e o gráfico dos deslocamentos no tempo
considerando os mesmos valores do exercício anterior.
6) Considere um sistema de dois pêndulos acoplados por uma mola
construído com hastes de 25 cm, uma mola de constante 5 N/m e massas de
400 g. Sabe-se que, ao ser acionado, as condições iniciais foram x1 = –9,7
mm, x2 = 2,2 mm, v1 = –50 mm/s e v2 = 35 mm/s, determine as equações do
movimento de cada corpo.
7) Um sistema de dois pêndulos acoplados por uma mola foi construído
com massas de 1,2 kg, hastes de 2 m e uma mola de constante 60 N/m. Ao
ser acionado, as condições iniciais foram x1 = 12 cm, x2 = 0, v1 = 0 e v2 = 0.
Determine as equações do movimento de cada corpo.
8) Um astronauta deseja verificar a constante gravitacional da Lua, que
supõe-se valer gLua = 1,622 m/s2. Para tanto, aproveitou um momento de
descanso e construiu na superfície do nosso satélite natural um sistema de
dois pêndulos acoplados por uma mola com massas de 1,2 kg, hastes de 1 m
e uma mola de constante 25 N/m. Para acionar o dispositivo, o astronauta
movimenta um dos corpos em 10 cm, deixando o outro parado. Quais
devem ser os valores observados da velocidade angular intrínseca e da
velocidade angular do acoplamento?
9) Os seguintes parâmetros físicos foram usados para se construir um
pêndulo duplo acoplado por mola: m = 4 kg, k = 1,5 N/m e l = 0,95 m. Um
dos corpos deste sistema está sujeito a uma força dada por

Calcule as amplitudes alcançadas pelos corpos em seus movimentos.


10) Deseja-se estimar as amplitudes dos movimentos de um pêndulo duplo
acoplado por mola, cujas características construtivas são: k = 4,5 N/m, m =
8 kg e l = 1,0 m. Um dos corpos deste sistema está sujeito a uma força dada
por

Calcule as amplitudes alcançadas pelos corpos em seus movimentos.


11) Calcule as amplitudes dos movimentos de um pêndulo duplo acoplado
por mola construído segundo as seguintes características: k = 5,4 N/m, m =
11 kg e l = 0,5 m. Um dos corpos deste sistema está sujeito a uma força
dada por

12) Foi construído um sistema oscilante com seis esferas de 100 g presas a
um fio tensionado. O fio está sujeito a uma tensão de 3 N e a distância entre
as esferas é de 15 cm. Obtenha a expressão do movimento para todas as
esferas em todos os modos normais.
13) Cinco corpos de massa 250 g foram presos a um fio tensionado, que por
sua vez foi sujeito a uma tensão de 10 N. Sabe-se que a distância entre os
corpos é de 8 cm. Obtenha a expressão do movimento para todos os corpos
em todos os modos normais.
14) Em um escritório, um funcionário muito ocupado decide medir as
constantes físicas do material de escritório. Usando clipes de papel e muita
imaginação, ele pendura três celulares de 120 g cada em um barbante. Os
celulares ficam a 20 cm um do outro, e ele prende as extremidades do
barbante de forma a gerar uma tensão de 2 N. Quantos modos normais o
funcionário ocupado observará? Qual é a velocidade angular e a frequência
destes modos?
15) Indo adiante em suas pesquisas científicas, o mesmo funcionário muito
ocupado decide construir um sistema de oscilações longitudinais colocando
cinco celulares de 100 g presos a elásticos de constante k = 4,5 N/m. Com
este aparato, quais serão as velocidades angulares e a frequência normal dos
modos normais de oscilação?
16) Em um laboratório de engenharia mecânica, um sistema de oscilações
longitudinais foi contruído com quatro corpos de 2 kg e molas de 80 N/m.
Determine as velocidades angulares e a frequência normal dos modos
normais de oscilação.
17) Duas massas iguais foram conectadas a duas molas também idênticas,
sendo que a extremidade livre da primeira mola está presa a uma parede,
conforme mostrado na Figura 4.24. Levando em conta apenas movimentos
horizontais, obtenha a expressão das velocidades angulares nos dois modos
de oscilação.
Figura 4.24 Figura do Exercício 4.17.

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Capítulo 5

ONDAS CONFINADAS EM MEIOS


CONTÍNUOS

5.1 INTRODUÇÃO
5.2 ACOPLAMENTOS DE INFINITOS OSCILADORES
5.3 SISTEMAS VIBRANTES CONTÍNUOS
5.4 ANÁLISE HARMÔNICA
5.5 OSCILAÇÕES EM DUAS DIMENSÕES
5.6 TÓPICO ESPECIAL: MODOS DE OSCILAÇÃO DAS ESTRELAS
5.7 EXERCÍCIOS

5.1 INTRODUÇÃO
As oscilações transversais e longitudinais derivadas dos sistemas oscilantes
de N corpos são apenas um passo (um passo importante!) no estudo das
ondas e vibrações. Ao observarmos as ondas e vibrações que a natureza nos
fornece, notamos que em muitos dos casos as ondas acontecem em meios
contínuos.
Em uma piscina, por exemplo, as ondas na superfície da água são
suaves e sem descontinuidades (Figura 5.1), não havendo sinais de
discretização ou quebras em pequenas partes. O mesmo se pode dizer das
vibrações nas cordas de um violão ou das ondas sonoras produzidas nos
tubos de um órgão de uma catedral gótica. Do ponto de vista da física
clássica, as ondas são manifestações oscilantes e contínuas da natureza.
A primeira parte deste capítulo será dedicada à passagem de um
sistema de N corpos em um sistema oscilante para um meio contínuo de
propagação de ondas. Em seguida, discutiremos ondas em duas e três
dimensões.

Figura 5.1 Ondas na superfície de uma piscina.

5.2 ACOPLAMENTOS DE INFINITOS OSCILADORES


Imaginemos um sistema de N esferas presas a uma corda sob uma tensão T.
Nosso objetivo é aumentar N até que este valor se aproxime de infinito.
Contudo devemos levar em conta duas condições:
1. A massa total do sistema não deve ser alterada.
2. O comprimento total da corda não deve ser alterado.
Logo, à medida que aumentamos o número de esferas, devemos
reduzi-las individualmente e também tomar o cuidado de manter o
espaçamento uniforme entre elas. A Figura 5.2 ilustra este raciocínio.
Assim, a massa total é dada por
e o comprimento total é dado por

em que m é a massa individual de cada esfera e l é a distância entre eles.


Havíamos estabelecido que a velocidade angular do modo η como (Equação
4.105):

em que

e η = (1, 2, 3, 4, ...)
À medida que N aumenta, o argumento do seno em (5.3) diminui.
Logo, para um valor de N muito elevado, considerando a expansão da
função seno em sua série de Taylor, teremos

E, portanto,

Substituindo o valor de ω0
Figura 5.2 À medida que aumentamos o número de esferas, estas devem ser reduzidas,
de forma que a massa total do sistema se mantenha constante. Ao longo do processo, o
espaçamento entre as esferas é mantido uniforme, e sua soma também é constante.

E agora, multiplica-se por l/l

Definindo a densidade de massa linear distribuída na corda como µ =


m / l e lembrando que L = (N + 1) l, chega-se a

Que nos dá a velocidade angular para o modo de oscilação η em função


da densidade linear da corda, da tensão à qual o fio está sujeito e do
comprimento da corda. É interessante notar que

em que
Ou seja, os modos de oscilação têm frequências que são múltiplos
inteiros da frequência do primeiro modo. Chamaremos esta de frequência
fundamental e as frequências dos modos superiores de harmônicas.
Nesta definição, as massas individuais e distâncias entre as esferas não
são mais importantes, sendo que todo formalismo passa a ser definido por
grandezas do sistema como um todo: densidade linear, tensão e
comprimento da corda. Costuma-se dizer que estas são grandezas
macroscópicas, e seu uso é uma abstração dos mecanismos individuais (as
esferas e molas) que foram usados para modelar o sistema originalmente.

■ ■ ■ EXEMPLO 5.1
Uma corda de 80 cm está tensionada a 4 N, e sua densidade linear é de 10
g/m. Calcule a velocidade angular e a frequência de oscilação fundamentais
das três primeiras harmônicas.
Solução: A velocidade angular fundamental é dada por

A frequência fundamental é dada por

As três primeiras harmônicas são facilmente calculadas


O que resulta em 157,08 rad/s, 235,62 rad/s e 314,16 rad/s respectivamente.
As frequências correspondentes são obtidas pela Equação 5.13: 25 Hz, 37,5
Hz e 50 Hz.
Trataremos agora das amplitudes de oscilação. A Equação 4.109 nos dá
a posição em função do tempo para a esfera i no modo η:

A posição da esfera i ao longo da corda é dada por

Esta pequena conversão nos permitirá escrever yi,η(t) como yη(x,T). Para
tanto, basta aplicar

Substituindo em (5.15), chega-se a

A variável B depende das condições iniciais e está ligada à quantidade de


energia que foi fornecida à corda originalmente. Evidentemente, à medida
que o número de esferas aumenta, x deixa de ser a posição da esfera i, e
torna-se uma posição ao longo do comprimento da corda. No limite em que
N → ∞, x passa a ser uma grandeza contínua ao longo do comprimento
total. Expressando em termos da velocidade angular fundamental, temos
Uma análise desta expressão nos mostra que:
1. A amplitude de oscilação para um modo segue a forma de uma
senoide.
2. No ponto inicial, x = 0, e final da corda, x = L, a amplitude é nula.
3. As frequências de oscilação dos modos η > 1 correspondem a
produtos de ω1 por um número inteiro.
A Figura 5.3 apresenta a amplitude para os três primeiros modos de
oscilação da corda do Exemplo 5.1. Observe que os pontos nos quais a
corda tem deslocamento nulo dependem apenas do modo e de x. Por este
motivo, denominam-se as ondas assim obtidas como ondas estacionárias,
por permanecerem “paradas” com relação às posições longitudinais, apesar
de oscilando na direção transversal. Os pontos de deslocamento nulo
recebem o nome de nós, enquanto os pontos de deslocamento máximo
recebem o nome de antinós.

Figura 5.3 Amplitudes de oscilação dos três primeiros modos para a corda do Exemplo 5.1,
no qual foi considerado Bη = 1.

5.3 SISTEMAS VIBRANTES CONTÍNUOS


Na Seção 5.2, chegamos às expressões para as velocidades angulares e
amplitudes que obtivemos para o sistema de massas discretas e para uma
corda contínua. É importante salientar que as expressões para o sistema
contínuo têm como argumentos apenas grandezas macroscópicas. Contudo,
essas expressões foram deduzidas a partir das propriedades discretas dos
componentes dos sistemas descontínuos.
Cabe a pergunta: Seria possível deduzir as expressões do sistema
contínuo diretamente a partir de suas grandezas macroscópicas?
Essa pergunta pode parecer simples e sem propósito, pois, afinal, nós
já temos uma solução para o caso da corda tensionada. Entretanto, esse
questionamento leva a outros importantes questionamentos filosóficos.
Nem sempre é possível ter acesso aos detalhes microscópicos de um meio
que se comporta como sendo contínuo. Certamente é possível fazer essas
deduções tendo como base apenas as características da corda, e abstraindo
completamente seus detalhes estruturais ou construtivos.
Assim, imaginemos uma corda de comprimento L e densidade linear µ,
sob uma tensão T, da qual isolamos um pequeno trecho de comprimento dx.
Durante uma oscilação, esse trecho está, em um determinado instante,
deslocado de uma distância y da sua posição de equilíbrio. O ângulo que
este trecho de corda faz com a horizontal varia de θ até θ + dθ. (Figura 5.4)
Denotando como a força (a tensão) à qual o trecho está sujeito, esta
pode ser decomposta na direção x e y, resultando em
Durante uma vibração, o deslocamento transversal, y, é muito pequeno
comparado com L. Essa condição estabelece, portanto, que θ é
suficientemente pequeno para que possamos usar as aproximações sen θ ≈ θ
e cos θ ≈ 1. Assim,

Ou seja, podemos desprezar a componente longitudinal da força,


mantendo apenas a componente transversal. A força assim definida pode ser
expressa de acordo com a segunda lei de Newton como

em que mdx é a massa do trecho de corda, que vale

Figura 5.4 Um pequeno trecho de uma corda sujeito a tensão.

Da Figura 5.4, temos que


Derivando os dois lados, o da esquerda com relação a x e o da direita
com relação a θ, temos

Fazendo uso da identidade trigonométrica sec2 θ = 1 + tan2 θ chega-se


a

Sendo θ suficientemente pequeno, temos sec θ = 1 / cos θ ≈ 1, então,

Substituindo este último resultado e a Equação 5.23 na Equação 5.22


obtém-se

ou

Neste ponto, definimos a velocidade de propagação da onda como

O significado físico desta velocidade será visto mais adiante neste


livro. De posse desta definição, chegamos finalmente a
A Equação 5.31 é a equação de onda. Ela apresenta características que
devemos salientar em nossas discussões:
1. A equação de onda iguala a segunda derivada espacial com a
segunda derivada temporal.
2. A constante de proporcionalidade é o inverso do quadrado da
velocidade de propagação.
Devemos agora propor uma solução para esta equação. Sabemos que se
trata de uma equação de uma onda estacionária, portanto podemos assumir
que em t = 0, todos os pontos do intervalo 0 < x < L estarão com
deslocamento y = 0. Logo, não há necessidade de estabelecer uma fase para
este movimento. Uma boa tentativa de solução é

em que a função f(x) expressa o comportamento da amplitude para cada


ponto da corda. As derivadas desta solução no espaço resultam em

No tempo, a função f(x) é dependente apenas de x. Então temos


Substituindo as segundas derivadas no tempo e no espaço na equação
de onda (5.31), temos

ou

cuja solução é

(a fase não está presente porque já sabemos que a mesma é nula). Essa
solução é válida para x = 0. Como as duas extremidades da corda equivalem
a nós, devemos impor que a condição na outra extremidade da corda
também seja nula, ou seja, f(L) = 0. Assim, para x = L, temos

o que nos leva a

em que η é um número inteiro. Obviamente, η nos remete ao nosso já


conhecido modo de oscilação. Como resultado, temos a velocidade angular
dada por
Substituindo a definição da velocidade de propagação, chega-se a

Essa expressão foi obtida tendo como ponto de partida apenas as


grandezas macroscópicas. Note que é a mesma expressão de (5.9), que
havia sido obtida com elementos mecânicos discretos, quando N tende a um
número muito grande.
É conveniente neste momento definirmos o comprimento de onda.
Consideraremos como comprimento de onda a distância ao longo da corda
na qual a onda se repete. Teremos, então, a distância entre os pontos
consecutivos em que a amplitude é nula, o que é bem fácil de identificar em
ondas estacionárias. Assim, o comprimento de onda de uma corda de
comprimento L é dado por

No SI, a unidade de λη é metros. Com essa nova definição, podemos


escrever as formas completas da amplitude da onda estacionária em uma
corda:

em que Aη corresponde a uma constante dependente das condições iniciais.


Finalmente, podemos escrever a forma completa da equação do movimento:
■ ■ ■ EXEMPLO 5.2
O lá central de um piano tem como frequência fundamental 440 Hz.
Sabendo-se que a corda correspondente a esta nota tem comprimento de 1,2
m e massa total de 12,5 g, determine a tensão que deve ser aplicada para sua
afinação.
Solução: A velocidade angular é dada por ω1 = 2πf1 e a densidade linear da
corda é dada por µ = m / L. Isolando a tensão da Equação 5.41 para o modo
fundamental, temos

Substituindo os termos da densidade linear e da velocidade angular, temos

Inserindo os valores do enunciado, obtemos

5.3.1 Oscilações forçadas em cordas


Da mesma forma que no caso dos osciladores discretos, os osciladores
contínuos também podem ser excitados por uma força externa.
Observaremos os mesmos comportamentos, como o fenômeno da
ressonância, por exemplo.
Imaginemos uma corda sujeita a tensão, semelhante às estudadas até
aqui. Agora impomos as condições

Isso significa que a extremidade x = L está fixa, enquanto a


extremidade x = 0 está sujeita a uma força periódica de velocidade angular
ω. A equação do movimento é

Nesse caso, é interessante considerarmos uma solução com fase, pois,


eventualmente, esta pode vir a ser necessária (se a fase for desnecessária, os
cálculos nos dirão!). Assim, elegemos como solução provável a expressão

em que

Assim,

Impondo a condição de contorno em x = L


Concluímos que

em que β é um número inteiro. β não é o nosso conhecido modo de


oscilação, mas mantém uma relação próxima com ele.
Impondo a condição de contorno em x = 0, chega-se a

ou

Figura 5.5 Variação da razão A/B em função de ω para β variando entre 1 e 4.


Vemos que a amplitude do movimento dependerá da frequência da
força externa e do valor de β. Mas... Quem escolhe o parâmetro β é a
própria corda! Imaginemos uma força cuja frequência varia no tempo, indo
de valores muito baixos até valores bem elevados. Nessa variação,
eventualmente se aproximará do ponto em que ω = π v/L. Este valor implica
em um zero no denominador de (5.56) quando β = 1, ou seja, teremos
ressonância. Se continuarmos aumentando ω, nos aproximaremos do zero
para β = 2, onde observaremos nova ressonância. Poderemos seguir adiante,
encontrando vários valores de ω que resultam em ressonância. Em cada um
dos casos, o β varia numa sequência de números inteiros, mas seu valor não
é uma imposição externa, sendo resultado da frequência adotada
naturalmente pela corda ao vibrar. A Figura 5.5 apresenta a razão A/B
extraída da Equação 5.56 para a corda de piano do Exemplo 5.2.
Pode-se, portanto, concluir que haverá ressonância sempre que a
frequência da força externa for próxima da frequência fundamental ou de
uma das harmônicas.

5.3.2 Barras vibrantes


Imaginemos a seguinte experiência: uma barra metálica (de perfil circular,
por exemplo) é presa na sua base, ficando na posição vertical. Um rápido
golpe é aplicado na extremidade livre da barra (Figura 5.6). A súbita
compressão longitudinal corresponde a uma condição inicial imposta à
barra, que se desenvolverá em uma oscilação no sentido do comprimento.
Uma vantagem desta montagem vertical em comparação à horizontal é que
poderemos desprezar efeitos da gravidade ao longo da barra.
As forças envolvidas neste caso estão ligadas a uma grandeza que
define a capacidade de um material absorver energia quando sofre uma
deformação, chamado de módulo de elasticidade. O módulo de elasticidade
determina a tendência de um corpo aceitar compressões ou enlongamentos
sem que esta deformação seja permanente. Chamamos estas deformações
de elásticas, enquanto as deformações permanentes são chamadas de
plásticas. Por definição, o módulo de elasticidade de um objeto é obtido
através da curva tensão/deformação, sendo a tangente da região elástica. A
Figura 5.7 apresenta uma visão esquemática de uma barra que foi
comprimida. Uma determinada região da barra de altura dy fica, portanto,
mais curta, passando a medir dy-dψ, em que dψ é a deformação da região
considerada. Na curva da Figura 5.8, ε = dψ/dy é a deformação total da
barra. A outra grandeza, σ, é a tensão, que está ligada à força empregada
para criar a deformação, sendo definida como σ = F/Α, ou seja, a razão entre
a força e a área da barra no sentido transversal à força. A unidade de σ no SI
é a mesma da pressão: Pascal.

Figura 5.6 Montagem de uma barra vibrante.


Figura 5.7 Deformação de um elemento da barra devido a uma força aplicada na direção
longitudinal.

Figura 5.8 Gráfico tensão/deformação com as regiões de deformação elástica e plástica.

O cientista inglês do século XIX, Thomas Young, fez vários


experimentos e concluiu que, na região do gráfico correspondente à
deformação elástica, a razão σ/ε é uma constante. Assim, temos a definição
do módulo de elasticidade ou módulo de Young
O sinal apenas denota que a força considerada é a reação da barra
contra a tensão externa. Esta grandeza é típica do material, sendo devida à
estrutura cristalina/molecular que o compõe. Isolando a força e
considerando o comprimento total da barra, y0, temos

em que Δy é a deformação total observada na barra. Reconhecemos que

é a constante de elasticidade de uma mola, já muitas vezes presente neste


livro.
A partir destas definições, concluímos que materiais mais rígidos
apresentam módulos de elasticidade mais elevados, e que os materiais mais
maleáveis apresentam módulos de elasticidade mais baixos. Entretanto,
independentemente do valor do módulo de elasticidade, deve-se sempre
levar em conta que uma vez ultrapassada a deformação que delimita a
região elástica, o corpo sofrerá deformações permanentes. A Tabela C.6 (no
Apêndice C) apresenta valores do módulo de elasticidade para vários
materiais.
Consideraremos agora que a barra pode sofrer deformações ao longo
do seu comprimento. Em uma determinada altura ao longo da barra,
teremos a tensão dada por

Se considerarmos que a tensão também pode variar no tempo, devemos


mudar a notação para
Para dois pontos próximos, porém distintos da barra, teremos

Os módulos das forças nas posições y e y + Δy são dados por

Subtraindo uma força da outra, chega-se a

Como esta é a soma de todas as forças atuando no trecho Δy, esta


expressão pode ser aplicada à segunda lei de Newton:

Considerando que o volume do trecho considerado vale AΔy, e que o


material tem densidade volumétrica ρ, a massa do trecho é dada por

E a Equação 5.65 pode ser reescrita como


Rearranjando, chegamos a

Este resultado é particularmente interessante, pois concluímos que a lei


do movimento para este caso depende exclusivamente do material, mas não
da geometria da barra. Comparando com a Equação 5.29, vemos ainda que
podemos definir uma velocidade de propagação da onda na barra, dada por

E, portanto,

que pode ser solucionada da mesma forma que resolvemos a equação de


onda anteriormente. Deve-se levar em conta que uma das extremidades da
barra está presa e, portanto, equivale a um nó. Logo sua velocidade será
sempre nula. Assumindo uma solução do tipo

Sabemos que é válido


em que B é uma constante de integração. A extremidade superior da barra
está livre no ar, e corresponde a um antinó. O formalismo físico para
expressar esta situação é impor que a tensão nesta extremidade é nula, ou

Figura 5.9 Amplitudes para os primeiros quatro modos de uma barra vibrante. A
extremidade de baixo está fixa, e a de cima está livre.

Com esta condição de contorno e as Equações 5.71 e 5.72, chega-se a

E, portanto,
O número inteiro positivo η é o modo de oscilação da barra. A
constante 1/2 está presente para indicar que uma extremidade está fixa em
um nó, e a outra está livre em um antinó.
Os gráficos da Figura 5.9 mostram as amplitudes para os primeiros
quatro modos de uma barra vibrante.
A velocidade angular de cada modo é dada por

Logo, a velocidade angular do modo fundamental vale

e das harmônicas,

Observamos que o modo η = 2 não corresponde à segunda harmônica,


mas à terceira, pois ω2 = (2 × 2 – 1) ω1 = ω3. Isso ocorre porque, como pode
ser observado na Figura 5.9, na frequência fundamental, temos 1/4 de onda
na barra, com um nó e um antinó. A segunda harmônica, com o dobro da
frequência, exige dois nós, um em cada extremidade, o que não é possível.
Assim, temos a existência das harmônicas ímpares, mas todas as
harmônicas pares estão excluídas deste tipo de vibração.

■ ■ ■ EXEMPLO 5.3
Duas barras metálicas, uma de alumínio e outra de latão, ambas com 1 m de
comprimento, estão montadas verticalmente, presas por uma de suas
extremidades. Calcule a frequência fundamental de oscilação longitudinal
de cada uma. Dados ρAl = 2,7 × 103 kg/m3, ρlatão = 8,5 × 103 kg/m3.
Solução: A frequência fundamental está ligada ao primeiro modo de
oscilação, ou seja,

Usando os dados da Tabela C.6, para o alumínio temos

e para o latão escolhe-se um valor médio para o módulo de Young:

5.3.3 Tubo sonoro


Imaginemos um tubo oco (e cilíndrico, apenas para figuração), cheio de ar.
Podemos imaginar que uma onda sonora seja uma variação local da
densidade do ar dentro do tubo. Essa oscilação terá um perfil de densidade
semelhante ao apresentado na Figura 5.10.
Do ponto de vista físico, esta situação é semelhante à que acabamos de
estudar, as barras vibrantes. Ocorre que nos tubos sonoros não haverá um
módulo de elasticidade, pois as propriedades como deformação e tensão não
são aplicáveis para o ar. Devemos, pois, buscar outros caminhos para
escrever nossa equação diferencial neste caso.
Entretanto, o ar não é uma substância homogênea nem linear em vários
aspectos. Muitas das considerações que teriam que ser feitas são de caráter
termodinâmico e de mecânica dos fluidos. As várias aproximações
necessárias para esta dedução nos desviariam do escopo deste livro, que é o
estudo das ondas e vibrações. Assim, convido o atento leitor a acompanhar
os passos a seguir.
Dada a natureza do ar no interior de um tubo, gostaríamos de obter
uma equação que se assemelhasse à Equação 5.70 das barras vibrantes:

em que ξ representa a “deformação do ar” na direção x e vsom é a velocidade


de propagação do som no ar, que é de aproximadamente 340 m/s, à
temperatura ambiente e no nível do mar. Podemos, sabendo o valor de v e o
comprimento do tubo, realizar cálculos para prever as frequências
fundamentais e harmônicas produzidas por uma coluna de ar. Ou então,
estimar o comprimento da coluna de ar necessária para produzir uma dada
frequência. Assim, para a frequência fundamental, sabemos que 1/4 de onda
ocupará o comprimento total do tubo, ou seja,

Porém, também sabemos que


Figura 5.10 Variação da densidade do ar ao longo de um tubo oco em função de uma
oscilação longitudinal.

E, portanto,

As outras expressões e conclusões que obtivemos para as barras


vibrantes são válidas neste caso. Caso haja a curiosidade em saber o que
obteríamos com a aplicação das leis e deduções baseadas em
termodinâmica, apresentamos aqui a expressão da velocidade angular de
cada modo para um tubo sonoro

em que p é a pressão do ar, ρ é a densidade volumétrica, e γ é a razão entre


os calores específicos a pressão constante e a volume constante para o ar.
Para os casos adiabáticos, temos 1 < γ < 5/3, e para a maioria das situações
assume-se γar = 1,4.

■ ■ ■ EXEMPLO 5.4
Uma coluna de ar fechada em uma das extremidades tem um comprimento
de 87 cm. Determine a frequência fundamental de oscilação.
Solução: Inicialmente calculamos o comprimento de onda da frequência
fundamental

A frequência desta onda no ar vale


■ ■ ■ EXEMPLO 5.5
O lá central de um piano tem como frequência fundamental 440 Hz. Qual é
o comprimento da coluna de ar que tem como frequência fundamental esta
nota musical?
Solução: Isolando-se o comprimento na Equação 5.84, obtemos
diretamente

5.4 ANÁLISE HARMÔNICA


Neste ponto da nossa caminhada é conveniente tocar em um assunto que se
mostrará extremamente útil: a análise harmônica aplicada a ondas em meios
contínuos.
Formalmente, a análise harmônica é um ramo da matemática cuja
principal aplicação trata da representação de funções através da soma ou
superposição de funções periódicas fundamentais. Também faz parte desta
área o estudo e generalização das noções de séries e transformadas de
Fourier. Evidentemente, a palavra “harmônica” nos remete imediatamente
aos modos de oscilação que já temos estudado em vários sistemas.
Lembremo-nos de que, quando foi solucionado o problema dos dois
pêndulos acoplados por uma mola, a solução final foi uma combinação
linear das duas soluções encontradas. A soma final das soluções
independentes podem (e devem) ser feitas porque os sistemas oscilantes
admitem a sobreposição de suas soluções para compor uma solução geral.
Assim, uma corda vibrante pode oscilar segundo sua frequência
fundamental somada a uma ou mais de suas harmônicas. O mesmo é válido
para todos os outros sistemas estudados.
Como todas as harmônicas de uma mesma corda têm suas frequências
como múltiplos da frequência fundamental, nota-se sempre um “som
afinado” quando uma corda vibra. A presença de mais ou menos
harmônicas superiores estabelece o timbre do instrumento musical, ou seja,
seu som característico.
Partiremos da solução do modo η para uma corda vibrante, conforme
foi expressado na Equação 5.18:

De acordo com a discussão acima, a solução geral será a soma das


soluções de todos os modos, ou

A ideia de infinitos modos é aceitável do ponto de vista matemático,


mas fisicamente improvável. Como veremos mais adiante, existe um limite
para o máximo η possível. Manteremos o “∞” por enquanto, mas o
consideraremos apenas como uma condição formal. Por outro lado, não há
dúvidas que os limites no espaço sejam dados por 0 < x < L.
Se considerarmos a amplitude máxima alcançada por cada ponto da
corda, poderemos manter apenas o fator dependente da posição x,
desconsiderando o fator dependente do tempo. Ou seja
Nesta expressão, Bη representa a amplitude do modo η. Observe que o
modo η é uma parcela da soma total. O leitor atento pode questionar a falta
de uma fase, ou até mesmo se a função poderia ser um cosseno. O fato é
que uma corda vibrante, por ter suas extremidades coincidentes com os nós
das ondas, é corretamente modelada por uma soma de senos com fase nula.
A missão fundamental daqueles que se propõem a utilizar a análise
harmônica consiste em determinar os coeficientes Bη de uma determinada
forma de onda.
Partiremos da suposição que se deseja conhecer a amplitude do modo
η*. Começamos por multiplicar os dois lados da Equação 5.92 por sen(xη*π
/ L):

Para que nosso cálculo seja válido em todos os pontos da corda,


devemos integrar em x

Usando as identidades trigonométricas

podemos obter
Com esta nova identidade, podemos escrever

ou

A integral (indefinida) em x desta expressão resulta em

Ao inserirmos os limites x = 0 e x = L, obtemos como resultado dos


integrandos sen((η − η)*xπ / L) e sen((η + η>)*xπ / L) uma integral de valor
zero. A única situação de resultado não nulo é aquela em que η = η*, pois,
nesse caso,

Voltando à Equação 5.94, temos que

Isolando a amplitude e abandonando a notação η*, chegamos a


Esta é a expressão para obter a amplitude de cada um dos modos
associados a uma função y(x), periódica no intervalo 0 < x < L.

■ ■ ■ EXEMPLO 5.6
Obtenha as amplitudes para os dez primeiros modos associados a uma onda
quadrada de amplitude 1 comprimento de onda L.
Solução: A onda quadrada descrita pode ser expressa formalmente como

Aplicando a transformação g(x) = (f(x) + 1)/2, de tal forma que

Substituindo y(x) na Equação 5.102, temos apenas a primeira parte da


integral

Cujo resultado é

Este resultado também pode ser expresso em uma forma mais elegante
A Tabela 5.1 apresenta os valores dos 10 primeiros Bη para uma onda
quadrada.
Observa-se que os coeficientes são nulos para η pares e seguem uma
série baseada em η ímpares. Com isso, podemos construir a expressão da
onda quadrada considerando suas primeiras harmônicas

ou, de forma mais sintética

A Figura 5.11 apresenta a soma gradual de cada uma das harmônicas ao


longo do comprimento da corda, e a Figura 5.12 apresenta Bη em função de
η. Note que esta não é uma função contínua, pois não existe um “meio
modo”.
Uma importante observação é que

Ou seja, à medida que avançamos para modos mais elevados, as


contribuições das amplitudes correspondentes tendem a ser nulas. Assim,
verificamos que a amplitude total tende a um limite. Este fato, associado a
eventuais efeitos devidos ao amortecimento, nos garante que a amplitude
não tende a um valor infinito.

Tabela 5.1
Figura 5.11 Soma do modo fundamental e das harmônicas 3, 5, 7 e 9 de uma onda
quadrada.

Figura 5.12 Amplitude da harmônica Bη em função dos 30 primeiros modos para uma onda
quadrada.

5.5 OSCILAÇÕES EM DUAS DIMENSÕES


O conhecimento dos modos de oscilação de uma corda ou de uma barra nos
permite fazer quaisquer analogias unidimensionais e resolver problemas de
oscilações longitudinais ou transversais. As ferramentas da análise
harmônica nos dão o embasamento para o estudo das sobreposições de
modos de oscilação, ou do seu o oposto: a decomposição de ondas
genéricas em componentes senoidais.
Assim, estamos prontos para o estudo das ondas estacionárias em
meios contínuos com mais de uma dimensão. Exemplos deste tipo de
oscilador são encontrados virtualmente em todos os lugares, mas
especialmente nos instrumentos musicais. Os tambores e outros
instrumentos de percussão são construídos com uma membrana esticada
sobre uma curva fechada — um círculo, na maioria dos casos. A membrana
é um meio bidimensional que vibra de acordo com suas características
físicas. Os alto-falantes, tão onipresentes em nossas vidas, também são
superfícies bidimensionais vibratórias.
Logo, faz-se necessário estudar os casos nos quais o meio vibrante tem
duas dimensões. Veremos dois casos geometricamente simples: as
membranas retangulares e as circulares.

5.5.1 Membranas retangulares


Imaginemos uma membrana elástica retangular, de dimensões Lx e Ly. A
massa da membrana é dada por m = aρs, em que a área vale a = Lx Ly e ρs é a
densidade superficial uniforme por toda a área da membrana, dada em
kg/m2. Vamos agora supor que esta membrana está oscilando verticalmente,
com deslocamentos na direção z. Um pequeno retângulo de dimensões Δx ×
Δy estará esticado nas duas dimensões por uma tensão T atuando na sua
superfície (Figura 5.13). As forças que atuam nas duas dimensões são: TΔy
na direção x e TΔx na direção y.
Como a membrana está vibrando, podemos ainda imaginar que o
pequeno retângulo descrito acima estará sujeito a uma inclinação com
relação ao plano xy. Mas, justamente devido à esta oscilação, o ângulo
observado ao longo de uma borda não é necessariamente igual ao observado
na borda oposta, de tal forma que se observa uma diferença entre os ângulos
na direção x, que denotaremos por Δθx, e na direção y, que denotaremos por
Δθy.
De posse destas definições, podemos dizer que a força transversal
devida à curvatura da membrana na direção x é definida por

Figura 5.13 Um pequeno trecho de uma membrana elástica sujeita à tensão.

e na direção y

A soma destas duas forças atua sobre a massa do pequeno retângulo.


Logo, aplicando-se a segunda lei de Newton, temos

Simplificando, chega-se a
que pode ser interpretada como uma versão bidimensional da Equação 5.29.
Podemos impor como solução a família de funções dadas por

que admite independência das soluções em cada direção. Aplicando um


método semelhante aos que já vimos tantas vezes, chega-se a

Considerando uma membrana quadrada, Lx = Ly = L, a velocidade


angular nas duas direções vale

de onde podemos definir uma velocidade angular , dada por

e assim todos os possíveis valores de velocidade angular das combinações


de modos de oscilação podem ser expressos como múltiplos de
Variando-se os valores dos modos nas duas direções obtém-se a
velocidade angular que observamos a cada combinação de modos. A Figura
5.14 apresenta o resultado esperado para modos de oscilação com
combinações entre 1 e 3 para uma membrana quadrada.
Observamos que, em uma membrana quadrada, para combinações
simétricas de modos de oscilação, a frequência é a mesma. Por exemplo, as
combinações ω1,2 = ω2,1 ou ω1,3 = ω3,1. Chamamos a este fenômeno de
degenerescência dos modos, pois as duas combinações de modos resultam
em frequências iguais. A degenerescência também estará presente em
membranas retangulares cujos lados mantenham entre si uma relação de
números inteiros.

Figura 5.14 Modos de oscilação com combinações entre 1 e 3 para uma membrana
quadrada de lado unitário.
■ ■ ■ EXEMPLO 5.7
Considere uma membrana retangular de 10 cm por 15 cm e com densidade
10 g/cm2, sujeita a uma tensão superficial uniforme de 2 N/m. Calcule a
velocidade angular dos nove primeiros modos normais.
Solução: Os nove primeiros modos normais correspondem às oscilações
ω1,1 a ω3,3. Assim, podemos aplicar diretamente a Equação 5.117

A Tabela 5.2 apresenta os resultados de ωηxηy.

Tabela 5.2

    ηx

    1 2 3

1 5,34 9,37 13,65

ηx 2 7,40 10,68 14,59

3 9,93 12,57 16,02

5.5.2 Membranas circulares


Quando pensamos em membranas circulares oscilando, os instrumentos
musicais que nos vêm à mente imediatamente são os tambores, pandeiros, e
outros instrumentos de percussão. Mas nossos tímpanos auditivos também
são membranas circulares. Membranas circulares são um caso muito
interessante de estudo, com aplicações em diversos campos da ciência,
tecnologia e medicina.
De forma semelhante ao caso anterior, tomemos uma membrana
elástica circular, de raio R. A massa total da membrana é dada por m = aρs,
e sua área vale a = π R2. Novamente supomos que esta membrana está
oscilando verticalmente, com deslocamentos na direção z, e que, como a
membrana está fixada nas bordas, z(R) = 0. As deduções das forças
restauradoras são semelhantes ao caso da membrana retangular, com a
diferença que os limites da superfície são dados por um círculo.
Reescrevendo a Equação 5.114 em coordenadas circulares, teremos

A solução desta equação diferencial não é trivial. Começaremos


considerando o caso mais simples, onde existe simetria radial. Neste caso
particular, z(r,θ) é simplesmente z(r), e é válido

Para facilitar a notação, introduziremos a velocidade característica v2 =


T / ρs e reescrevemos
Uma boa hipótese para a solução, considerando que as variáveis
possam ser separadas, é

Substituindo em (5.124), teremos

Dividindo os dois lados por v2f(r)g(t), chegamos a

O lado esquerdo desta última expressão é dependente apenas do tempo


e o lado direito é dependente apenas da posição radial. Logo, os dois lados
devem ser iguais a uma constante, que simbolizaremos por ψ. Assim, temos
que

Esta é uma equação de segunda ordem cuja solução depende do sinal


de ψ: se ψ for negativo, a solução é periódica, se ψ for positivo, a solução
será uma exponencial, e se ψ for nulo, a solução será linear ou constante.
Como desejamos resolver o problema de uma membrana em vibração,
adotaremos o caso ψ < 0, o que nos leva a uma solução no tempo, do tipo
em que ψ = −ω2. Voltamos agora nossa atenção para a solução espacial, f(r).
Da mesma forma que fizemos em (5.128), igualamos o lado esquerdo de
(5.127) a ψ:

Como ψ = −ω2, podemos escrever

Esta equação diferencial é uma equação de Bessel. As equações de


Bessel são muito úteis como ferramentas para o estudo de vários problemas
em física, como: vibrações de membranas circulares, ondas
eletromagnéticas em guias cilíndricas, condução de calor em objetos
cilíndricos, a forma radial da equação de Schrödinger para uma partícula
livre, padrões de radiação acústica, entre outros.
A solução geral de (5.131) é dada por uma combinação linear de
funções de Bessel de ordem zero

em que a notação f0 denota que estamos trabalhando sobre a solução de


simetria radial. A função de Bessel da primeira espécie é dada por

em que a função Gamma é dada por Γ(n)=(n – 1)!. Para o caso especial de
uma função de Bessel da primeira espécie de ordem zero, temos α = 0, e
Um gráfico da função de Bessel da primeira espécie de ordem zero é
apresentado na Figura 5.15. A função de Bessel da segunda espécie é dada
por

Vemos que uma função de Bessel da segunda espécie de ordem zero,


Y0(x), é indefinida no limite x→0. Assim, podemos assumir que b = 0 na
Equação 5.132. Por outro lado, dado que as constantes da solução temporal
(Equação 5.129) são multiplicativas, ainda podemos assumir que a = 1 na
Equação 5.132. Isso reduz a solução radial a

A condição de contorno nas bordas nos impõe

 
Figura 5.15 Gráfico da função de Bessel da primeira espécie de ordem zero, J0(x).

Figura 5.16 Os quatro primeiros modos de oscilação com simetria radial para uma
membrana circular.

Portanto, devemos fazer coincidir esta posição com as raízes de J0(x).


As infinitas raízes das funções de Bessel são calculadas apenas
numericamente, e são de difícil obtenção. A Tabela C.5 do Apêndice C
apresenta as primeiras raízes das funções de Bessel mais usuais. Caso o
atento leitor tenha interesse em se aprofundar neste tópico, aconselhamos as
referências bibliográficas do final deste livro.
Denotando as primeiras raízes positivas de J0(x) como ξ01, ξ02, ξ03, ...
para satisfazer (5.137) teremos

em que η é o modo de oscilação radial. Finalmente, as soluções para o caso


de simetria radial podem ser escritas como

em que a velocidade angular de oscilação de cada modo é dada por

A Figura 5.16 apresenta os quatro primeiros modos de oscilação com


simetria radial.
Agora passaremos ao estudo dos casos em que não há simetria radial,
ou seja, observa-se uma dependência das oscilações com θ. Relembramos a
Equação 5.122:

em que usamos a velocidade característica v2 = T / ρs, e consideramos que a


solução seja do tipo
Fazemos a substituição da solução em (5.141) e separamos as
variáveis. Como resultado, chega-se a

Novamente, vemos que o lado esquerdo desta expressão é dependente


apenas do tempo e o lado direito é dependente da posição (r, θ). Portanto,
podemos deduzir que os dois lados da equação devem ser iguais a uma
constante, que mais uma vez simbolizaremos por Ψ

A primeira expressão em (5.144) é exatamente a mesma de (5.128), o


que nos leva à mesma solução no tempo:

em que Ψ = −ω2. Falta deduzir a solução espacial, ou seja, o produto


f(r)h(θ). A segunda expressão de (5.144) pode se escrita como

Podemos multiplicar os dois lados por r2 e em seguida separar as


variáveis usando o mesmo raciocínio que foi utilizado acima. Denotando
por Ω a constante de separação, obtemos
Agora devemos impor que, sendo θ um ângulo, h(θ) é uma função
periódica com período igual a 2π. Portanto, é válido assumirmos uma
combinação linear de funções trigonométricas do tipo

em que −Ω = µ2 e C e D são constantes de integração.

Voltando nossa atenção para a solução radial, notamos que a primeira


expressão de (5.147) é novamente uma equação de Bessel. Contudo, temos
que levar em conta que não estamos mais tratando de uma situação de
ordem zero, mas que agora consideramos a presença de uma variação
angular de periodicidade 2π. A solução será dada por uma combinação
linear de funções de Bessel de ordem µ

em que a notação fµ, µ > 0 denota que estamos trabalhando com soluções
sem simetria radial. Usando os mesmos argumentos já discutidos, podemos
desprezar o termo de segunda espécie, chegando a

em que
e ξµη é a raiz η da função de Bessel Jµ. A solução completa, que contempla
tanto o tempo como a posição, fica, portanto, dada por

Figura 5.17 Modos de oscilação com combinações dos modos radiais e angulares para
uma membrana circular.

Utiliza-se a nomenclatura de “diâmetro nodal” ao parâmetro µ, pois


quando µ ≠ 0 os nós das ondas estacionárias estabelecem diâmetros, e de
“círculo nodal” ao parâmetro η, pois ondas estacionárias estabelecem
círculos. A Figura 5.17 apresenta algumas configurações de oscilações em
membranas circulares.
Lembremos que a vibração real de uma membrana circular pode ser
uma combinação linear dos modos admitidos para uma dada geometria.
Entretanto, a frequência de oscilação de uma membrana circular está
diretamente conectada às raízes positivas das funções de Bessel pela
Equação 5.151. Observando atentamente a Tabela C.5 do Apêndice C, nota-
se que não há uma relação harmônica, ou seja, de razões de números
inteiros, entre as raízes das funções de Bessel. Isso significa que as
vibrações de membranas circulares não resultam em uma combinação
“afinada”.
Portanto, os modos de vibração somados resultarão em uma
sobreposição de ondas que não terão relação inteira entre si. É por isso que
o som dos instrumentos de percussão não corresponde a um timbre
definido, sendo mais caracterizado como um ruído.

■ ■ ■ EXEMPLO 5.8
Em uma bateria de um conjunto de metalrock, o bumbo tem um diâmetro de
66 cm e o tom-tom tem um diâmetro de 23 cm. Calcule as frequências de
seus modos fundamentais e faça uma comparação entre os sons produzidos
por estes instrumentos.
Solução: O modo fundamental corresponde ao caso de simetria radial.
Assim, temos que buscar a primeira raiz positiva da função de Bessel da
primeira espécie de ordem zero, J0(x). Da Tabela C.5 obtemos ξ01 =
2,404825. Assim, o bumbo terá como velocidade angular de oscilação no
seu modo fundamental

O que corresponde a uma frequência de 0,58 Hz.


O tom-tom terá como velocidade angular de oscilação no seu modo
fundamental

O que corresponde a uma frequência de 1,66 Hz. Portanto o tom-tom terá


uma combinação de frequências mais elevadas. O som do bumbo parecerá
mais grave, e o som do tom-tom mais agudo.

Figura 5.18 Principais componentes de uma bateria: 1) bumbo, 2) primeiro tom-tom, 3)


segundo tom-tom, 4) caixa, 5) splash, 6) chimbau, 7) prato de condução, 8) surdo.

5.6 TÓPICO ESPECIAL: MODOS DE OSCILAÇÃO DAS


ESTRELAS
As estrelas sempre fascinaram a mente humana. Aqueles pequenos pontos
brilhantes no céu noturno desafiaram a imaginação de um imenso número
de filósofos e cientistas desde os primórdios da humanidade. Por que elas
brilham? Por que aparecem somente à noite? Por que parecem fazer
estranhos desenhos no céu?
Hoje, já temos uma boa ideia de como as estrelas brilham e podemos
até mesmo fazer boas hipóteses de como é sua estrutura interior. Não
podemos ver o interior de uma estrela, mas há uma série de métodos
indiretos que podem ser utilizados para deduzir a estrutura e composição
dos interiores estelares. Com toda certeza, um dos métodos mais
interessantes utiliza as vibrações observadas na superfície das estrelas para
sondar o seu interior. Esta técnica tem sido usada ao longo dos anos
recentes para analisar o interior do Sol da mesma forma que um
sismologista usa as ondas provenientes de um terremoto para sondar o
interior da terra.
Modelando uma estrela como uma esfera feita de material
compressível e sujeita a uma força restauradora, podemos extrapolar as
Equações 5.29 e 5.114, chegando a

em que v é uma velocidade característica, com dependência de grandezas


como módulo de elasticidade (ou similar) e densidade. O símbolo ψ pode
representar uma função da pressão local, ou da densidade. É interessante
lembrarmos que uma estrela é um corpo isolado, e que as ondas podem se
propagar em três dimensões.
A Equação 5.155 está representada na sua forma cartesiana, mas para o
caso em questão deve ser considerada sua versão em coordenadas esféricas.
Esta passagem levará o grau de dificuldade da resolução a níveis bem
elevados. Fique tranquilo, caro leitor, não iremos trilhar este caminho, pois
isso ultrapassa (e muito!) os objetivos deste livro.
Ao observarmos as estrelas, e em particular o Sol, reconhecemos um
considerável número (da ordem de milhões) de diferentes modos de
oscilações. Estes modos são identificados pelas suas frequências e pelos
padrões que impõem na superfície do Sol. O que realmente é observado
pelos telescópios é a superposição de harmônicos naturais que se
manifestam na superfície do astro. Algumas oscilações são resultado de
energia térmica vinda do interior do Sol convertida em energia cinética.
Processos semelhantes acontecem em motores térmicos nos quais o calor é
absorvido no ciclo de calor e perdido no ciclo seguinte.

Figura 5.19 Quatro possíveis combinações de modos de oscilação de uma estrela.

A teoria atual estabelece três tipos de ondas diferentes em superfícies


estelares.
1. Os modos acústicos ou de pressão, cujos modos são denominados
“modos p”. Estes modos são provocados por flutuações da pressão
interna, sendo que sua dinâmica é principalmente determinada pela
velocidade local do som.
2. Os modos de gravidade, ou “modos g”. Estes modos são
influenciados pela dinâmica da estrela.
3. Os modos de gravidade superficial, chamados de “modos f”. O
principal resultado destes modos são ondas semelhantes às ondas da
superfície dos oceanos e mares.
A medida e determinação dos modos predominantes ajudam a compor
um modelo do interior da estrela. Por exemplo, em estrelas semelhantes ao
Sol, os modos mais energéticos são os modos p. As anãs brancas, por outro
lado, apresentam modos g mais fortes, indicando que a gravidade é a
principal força modeladora de seus processos internos. A Figura 5.19
apresenta representações das ondas de compressão no interior de uma
estrela para quatro diferentes modos de oscilação.
Se considerarmos a estrela como sendo composta de camadas de
densidades diferentes, poderemos calcular os modos de oscilação e suas
frequências em função da espessura e densidade de cada camada. É isso que
os astrofísicos fazem ao observar com seus telescópios as oscilações de uma
estrela. O que eles estão fazendo realmente é descobrir como a estrela é por
dentro.

5.7 EXERCÍCIOS
1) Deseja-se que um corda de 80 cm vibre a 66 Hz. Determine a sua
densidade linear sabendo-se que a tensão a ser aplicada sobre a mesma é de
12 N.
2) Uma corda de 1,20 m está esticada sob uma tensão de 8 N. Sabendo-se
que sua densidade linear é de 50 g/m, calcule a velocidade angular e
frequência de oscilação fundamentais das quatro primeiras harmônicas.
3) A densidade volumétrica de uma corda é dada por

em que m é a massa total da corda, L é o seu comprimento e d é o seu


diâmetro. Apresente a expressão para a tensão necessária para obter uma
frequência de oscilação f em função de ρ. Considerando uma guitarra
elétrica, sua corda número 2 é afinada para oscilar como a nota lá (880 Hz).
Sabendo que esta corda tem 0,08 mm de diâmetro e 80 cm de comprimento,
e que a densidade do aço é ρ = 7,7 g/cm3, calcule a tensão necessária para
sua afinação.
4) A lira é uma pequena harpa de origens ancestrais (a mais antiga lira,
encontrada em escavações arqueológicas na antiga cidade de Ur, tem 4500
anos de idade) que tem cinco cordas, cujas frequências sonoras
correspondem às notas musicais ré, mi, fá, sol e lá. Sabendo-se que as
cordas da lira têm 25 cm de comprimento e densidade linear 4,1 g/m, e
fazendo uso da Tabela 5.3, determine as tensões em cada uma das cordas da
lira.

Tabela 5.3

Frequências das notas musicais. As notas das oitavas anteriores e seguintes


são obtidas multiplicando-se por dois ou dividindo-se por dois as
frequências.

Nota musical Frequência em (Hz)

Dó 261,6

Dó # 277,2

Ré 293,7

Ré # 311,1

Mi 329,6
Fá 349,2

Fá # 370,0

Sol 392,0

Sol # 415,3

Lá 440,0

Lá # 466,2

Si 493,9

5) Um violão tem seis cordas, as quais são pressionadas pelo instrumentista


contra um dos 20 trastes (Figura 5.20) para gerar notas musicais. A primeira
corda gera a nota mi quando está livre (sem nenhuma pressão) e tem 85 cm
de comprimento. Calcule a posição relativa dos trastes ao longo da corda
para gerar as notas musicais. Atenção, em oitavas superiores, as notas
musicais têm suas frequências dobradas (use a Tabela 5.3).
Figura 5.20 Um violão tradicional no qual são indicados os trastes.

6) Imagine que a Ponte Octávio Frias de Oliveira, em São Paulo (Figura


5.21), seja um instrumento musical de 144 cordas de 2 cm de diâmetro e
cujo comprimento varia de 200 a 400 m. Todos os cabos são feitos do
mesmo material (aço: ρ = 7,7 g/cm3) e estão sujeitos à mesma tensão de 15
kN. Estime a frequência máxima e mínima de oscilação desta imensa harpa.

Figura 5.21 A ponte Octávio Frias de Oliveira na cidade de São Paulo é formada por duas
pistas em curvas que cruzam o rio Pinheiros. Foi inaugurada em 10 de maio de 2008, e
hoje é uma das vistas mais belas da cidade.
7) Uma barra de prata pura de 60 cm de comprimento está montada
verticalmente, presa por uma de suas extremidades. Calcule a sua
frequência fundamental de oscilação longitudinal (consulte as Tabelas C.6 e
C.7 do Apêndice C).
8) Uma barra metálica de 50 m apresenta frequência fundamental de
oscilação longitudinal de 2520 Hz. Identifique o metal que constitui a barra
(consulte as Tabelas C.6 e C.7 do Apêndice C).
9) Qual deve ser o comprimento de três barras compostas de cobre,
tungstênio e ouro para que soem com a frequência do lá central, 440 Hz?
(consulte as Tabelas C.6 e C.7 do Apêndice C).
10) Uma barra de cobre está montada verticalmente ao lado de outra barra
feita de um metal desconhecido, cujo comprimento é 36 % maior do que
sua vizinha. Ao oscilar em sua frequência fundamental de oscilação
longitudinal, a barra de cobre induz, via ressonância, a mesma frequência à
outra barra. Identifique o metal do qual a barra é feita (consulte as Tabelas
C.6 e C.7 do Apêndice C).
11) Um tubo cilíndrico, fechado em uma das extremidades, tem um
comprimento de 1,2 m. Determine a frequência fundamental das ondas de
densidade do ar em seu interior (considere vsom = 340 m/s).
12) Qual deve ser o comprimento do tubo do exercício anterior para que a
frequência das ondas de densidade do ar seja 68 Hz?
13) Em um escritório de patentes, um funcionário muito ocupado verifica a
validade das leis físicas. Em uma de suas experiências, ele faz soar a
frequência da nota fá (349,2 Hz) em seu computador e, usando tubos de
papelão de vários comprimentos, verifica qual deles responde com a
ressonância mais intensa. Qual é o comprimento do tubo que ressoa como
um fá? Qual é o comprimento de onda usado nesta experiência?
14) Um espeleólogo visita uma caverna de 1520 m de comprimento que
tem um diâmetro aproximadamente constante. Considerando uma onda se
propagando no interior desta caverna, a quais distâncias da entrada da
caverna o aventureiro não ouvirá as ondas relativas às harmônicas η = 2, η =
3 e η = 4?
15) A flauta de Pan (o deus grego da natureza) é um antigo instrumento
musical construído com cinco ou quatro tubos fechados em uma de suas
extremidades. Calcule os comprimentos dos tubos de uma flauta deste tipo
que toque as notas dó, mi, sol e si (use a Tabela 5.3).
16) Determine o comprimento de um tubo de ar fechado em uma de suas
extremidades que oscile com a mesma frequência das ondas longitudinais
de uma barra de ferro de 2 m de comprimento. Considere γar = 1,4, ρar = 1,2
kg/m3 e que a pressão é de 1 atmosfera, ou seja 1,01325 × 105 Pa.
17) Obtenha as amplitudes para os dez primeiros modos associados a uma
onda triangular como representada na Figura 5.22.

Figura 5.22 Figura do Exercício 5.17.

18) Obtenha as amplitudes para os dez primeiros modos associados a uma


onda dente de serra como representada na Figura 5.23.
Figura 5.23 Figura do Exercício 5.18.

19) Obtenha as amplitudes para os dez primeiros modos associados a uma


onda pulsante como representada na Figura 5.24.

Figura 5.24 Figura do Exercício 5.19.

20) Considere uma membrana retangular de 8 cm por 12 cm e com 10


g/cm2, sujeita a uma tensão superficial uniforme de 2,5 N/m. Calcule a
velocidade angular dos nove primeiros modos normais.
21) Calcule a velocidade angular dos cinco primeiros modos normais de
oscilação de uma membrana quadrada de 9 cm de aresta cuja densidade
superficial é 45 g/cm2, sabendo-se que a mesma está sujeita a uma tensão
superficial uniforme de 6 N/m.
22) Uma janela de vidro (densidade 2,6 × 103 kg/m3) tem dimensões 45 cm
por 80 cm e uma espessura de 5 mm. Assumindo que a tensão aplicada
equivale a 13 N/m, calcule a velocidade angular dos nove primeiros modos
normais.
23) Na bateria de uma escola de samba, o surdo tem um diâmetro de 82 cm.
Calcule a frequência de seu modo fundamental.
24) O tímpano humano é uma membrana delicada do ouvido médio, que
liga-se aos ossículos martelo, bigorna e estribo, que transmitem as
vibrações sonoras ao ouvido interno (cóclea). Um tímpano de uma pessoa
adulta tem um diâmetro de 0,5 cm. Calcule a frequência de seu modo
fundamental.

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Capítulo 6

PROPAGAÇÃO DE ONDAS,
PROPRIEDADES E MODULAÇÃO

6.1 INTRODUÇÃO
6.2 PROPAGAÇÃO DE ONDAS
6.3 ONDAS SONORAS
6.4 PROPRIEDADES FÍSICAS
6.5 TÓPICO ESPECIAL: O SOM NO CINEMA
6.6 EXERCÍCIOS

6.1 INTRODUÇÃO
Neste ponto do nosso estudo, podemos dizer que conhecemos as ondas e
sabemos como são geradas em vários meios oscilantes. Podemos, então,
estudar as suas outras características. Todas as propriedades e efeitos
interessantes que as ondas nos oferecem têm origem nos estudos que vimos
até aqui.
Neste capítulo estudaremos os “efeitos colaterais” que as ondas
apresentam em seu comportamento. Partiremos da análise de como as ondas
se propagam em meios infinitos e estudaremos as ondas sonoras. Em
seguida apresentaremos as propriedades típicas das ondas, como reflexão,
refração, interferência, polarização, difração e modulação — todas
utilizadas em importantes aplicações tecnológicas de nossos dias.

6.2 PROPAGAÇÃO DE ONDAS


Nossa análise das ondas estacionárias em uma corda sob tensão resultaram
em uma expressão para a amplitude alcançada pela onda em uma
determinada posição em função do tempo (Equação 5.18):

em que (Equação 5.9)

Os parâmetros são o comprimento da corda, L, a tensão que atua sobre


a corda, T, e a densidade linear, µ. η é um inteiro positivo que designa o
modo de oscilação da corda.
Consideremos agora dois ângulos, α e β. Sabemos que

Somando estas duas expressões, temos

Portanto,
Substituindo α por xηπ/L, e β por ωηt, chega-se a

Assim, a Equação 6.1 pode ser reescrita apenas em termos de senos,


ficando

Neste ponto, podemos fazer uso da velocidade característica, dada por

que, combinada com a Equação 6.2, nos permite escrever

Como o comprimento de uma onda vale

Chegamos finalmente a

Observe que:
1) Esta formulação não faz mais referência ao comprimento da
corda.
2) A tensão e a densidade linear estão implícitas na velocidade
característica.
3) A única dependência do modo está na amplitude das ondas Bη.
Mas Bη depende apenas das condições iniciais. Assim, o modo
também pode ser considerado abstraído do formalismo. O que nos
permite, nas próximas deduções, simbolizá-la apenas como B.
Assim, o que se nota em (6.11) é que uma onda pode ser descrita
independente do meio e do modo. Se interpretarmos ainda que as parcelas
(–vt) e (+vt) correspondem a deslocamentos no tempo, concluiremos que
uma onda estacionária pode ser concebida como a composição de duas
ondas que se movem em direções opostas sobre a corda. Indo mais além,
podemos imaginar que a corda seja extremamente longa, e que, em um
determinado momento, uma das ondas está tão distante da outra que não
chega a causar influência sobre esta. Nesta situação, temos apenas

que não é uma onda estacionária, mas cada ponto move-se com velocidade
v. Aqui escolhemos a propagação positiva, mas a outra parcela também tem
as mesmas propriedades. A única diferença é que a parcela em (–vt) se
move na direção contrária.
Podemos verificar nosso resultado derivando (6.12) duas vezes com
relação a x

e duas vezes com relação a t


Concluímos que

Chegamos à equação de onda (que não tem este nome sem um bom
motivo...).
Com o resultado da Equação 6.12, podemos aplicar as propriedades já
conhecidas das ondas a meios sem limitações. Agora, as ondas deixam de
ficar contidas por bordas ou pontos onde se necessita impor amplitude zero.
As ondas assim descritas podem se propagar indefinidamente, limitadas
apenas por detalhes de energia e dissipação.

6.3 ONDAS SONORAS


Tendo em mente a equação de onda (6.15), sabemos que velocidade de
propagação, v, está ligada, nos vários casos que estudamos no Capítulo 5, à
densidade do meio e à tensão à qual está sujeita. Entretanto, além desses
detalhes, o meio pode influenciar o tipo de onda. Lembremo-nos das
estrelas, que podem vibrar com ondas de pressão ou de gravidade. Cada
tipo de onda tem uma origem física diferente, como veremos a seguir.
Os fenômenos ondulatórios nos quais as ondas são caracterizadas por
variações cíclicas de aglomeração de partículas são chamadas de ondas de
densidade. As ondas do som, ou que percorrem uma barra vibrante ou um
tubo sonoro, são desse tipo.
Imaginemos o ar como sendo um meio infinito composto de partículas
cujas interações entre si seguem uma força dependente da distância das
partículas vizinhas mais próximas. Quando uma partícula estiver com suas
vizinhas a uma distância pequena, esta as repele. Quando a distância for
maior do que certo valor, esta força tende a zero. Imaginemos agora que um
grupo dessas partículas é artificialmente comprimido. Assim que a ação
externa for relaxada, as partículas tenderão a se afastar umas das outras,
mas para tanto, irão empurrar-se umas às outras. Eventualmente, as
partículas em movimento acabarão por aproximar-se de outras que estavam
originalmente paradas, passando seu momento linear para estas, e parando
por consequência. As recém-empurradas se afastarão, empurrando outras
mais adiante. O que se nota, do ponto de vista macroscópico, é uma onda de
partículas agrupadas/espaçadas. Se o meio for suficientemente denso, as
partículas praticamente não saem do lugar, mas o pico de densidade é que
está em movimento. Essa é uma onda de densidade. Para um observador
que pudesse ver as partículas, o cenário seria semelhante ao apresentado na
Figura 6.1.
No caso das ondas longitudinais (Seção 4.4), observamos uma onda de
densidade unidimensional ao longo do arranjo de molas e esferas.
Dependendo do meio, as ondas de densidade podem ser tridimensionais,
bidimensionais ou unidimensionais.
As moléculas do ar têm um comportamento tal que se aproximam e se
afastam de modo a permitir a propagação de ondas, conforme discutido
acima. Logo, o som é um fenômeno de ondas de densidade, e suas ondas
são chamadas de ondas sonoras. O som tem todas as características das
ondas, como superposição.
Entretanto, o som também se propaga em meios líquidos ou sólidos. E
graças a este último, somos obrigados a concluir que, apesar das ondas
sonoras se propagarem, não levam as partículas do meio com elas. Cada
meio tem uma velocidade de propagação característica para as ondas
sonoras.
A dedução a seguir tem como objetivo provar que ondas sonoras como
as descritas podem se propagar em meios gasosos.
Consideremos uma pequena porção de um meio gasoso que está
inicialmente em um estado de equilíbrio. Nessa situação, este elemento de
gás ocupa um volume V0 e tem uma espessura ∆x, está sob uma pressão P0,
e tem uma densidade volumétrica ρ0. Ao se deixar passar por uma onda
sonora, as condições no interior do pequeno elemento de gás sofrerão
alterações (veja a Figura 6.2).
Denotaremos a variação de volume por δ, que receberá o nome de
dilatação. A variação de densidade receberá o nome de condensação,
denotada por s. Usando os símbolos da Figura 6.2, temos então

Consideraremos que tanto δ como s mantêm-se dentro dos limites


físicos nos quais as hipóteses de uma onda de densidade sejam válidas.
Tipicamente para um som audível de 1 kHz, temos δ ≈ 10−3, s ≈ 10-3 e Pˆ ≈
2 ×10−5 Pa. A massa no interior do pequeno volume de gás não se altera
durante a passagem da onda, de tal forma que

Ou seja,
Figura 6.1 Um observador estático vê uma onda de densidade em propagação. A cada
instante, as regiões com diferentes densidades avançam na direção do movimento da
onda.

Figura 6.2 Um pequeno elemento de gás tem suas propriedades internas alteradas com a
passagem de uma onda de densidade.

Considerando-se que tanto δ como s são muito menores do que a


unidade, podemos admitir a aproximação

Definiremos agora uma propriedade ligada à capacidade de


compressibilidade do gás, ou seja, o seu módulo de elasticidade:
O sinal indica que quando o elemento de gás é comprimido, sua
pressão aumenta, mas o volume diminui. Por outro lado, se o volume
aumentar, a pressão deve diminuir. Imporemos agora outra hipótese, ligada
à temperatura, sobre a qual ainda não falamos nada. Sabemos que as ondas
sonoras passam pelo mesmo ponto várias e várias vezes e, apesar disso, não
se nota variação da temperatura do ar. Podemos concluir que a passagem da
onda de densidade ocorre sem que haja trocas energéticas entre os
elementos de gás. Em outras palavras, consideraremos que, do ponto de
vista termodinâmico, os processos de dilatação e condensação ocorrem de
forma adiabática, ou seja, sem trocas de calor. Assim, para expressar a
relação entre pressão e volume numa transformação adiabática, podemos
aplicar a expressão da termodinâmica

em que γ representa a razão entre os calores específicos a pressão constante


e a volume constante. γ é uma característica do gás, sendo também
dependente da temperatura e pressão. Podemos calcular a diferencial de
6.22:

E agora podemos obter uma relação que nos conecta ao módulo de


elasticidade do gás

O que nos leva a


e

Ao se deixar passar pela onda de densidade, o pequeno elemento de


gás sofre uma pequena mudança de posição. Isso se deve ao fato de que o
elemento vizinho na direção de onde veio a onda está comprimido (ou
dilatado), logo sua posição também sofre um pequeno deslocamento, se
bem que, ao longo de um intervalo de tempo mais longo, a posição média
se preserva. Denotaremos a coordenada de deslocamentos como ξ(x,t), e as
relações geométricas entre ξ e x são apresentadas na Figura 6.3.
A variação de espessura do elemento de gás é dada por

Figura 6.3 Um pequeno elemento de gás de espessura Δx se move de uma pequena


distância υ e muda de espessura por (δυ/δx) Δx. A diferença de pressão na direção x vale
(∂Px/∂x) Δx.
A razão entre a deformação espacial e o deslocamento, ∂ξ/∂x, recebe o
nome de tensão de deformação e está ligada a δ e s por

O meio gasoso foi deformado devido à presença de diferenças de


pressão na direção da deformação, em que υ denota a deformação. A força
que age sobre o elemento de gás é dada pela diferença da ação da pressão
na sua face posterior e anterior. Formalmente, temos

O que nos leva a

Uma vez que a partícula gasosa, cuja massa é ρ0V0, moveu-se por uma
distância ∂ξ durante um intervalo de tempo ∂t, podemos usar como
aproximação para a sua aceleração a segunda derivada: ∂2ξ/∂t2. Neste ponto,
temos todos os termos para escrever a segunda lei de Newton para este
pequeno elemento de gás

Entretanto, sabemos que

Logo, a derivada espacial de na direção de propagação da onda vale


E podemos reescrever (6.31) como

Tabela 6.1

Material Velocidade do som em m/s

Alumínio 5100

Chumbo 1320

Granito 5000

Níquel 4970

Prata 2680

Vidro pirex 5500

Dividindo a Equação 6.10 pela densidade ρ0, teremos uma velocidade


característica, que atribuímos à propagação da onda de densidade em um
meio gasoso
E assim, chegamos à equação da onda de densidade em um meio
gasoso, ou simplesmente onda sonora

O valor máximo de Pˆ recebe o nome de pressão sonora (ou pressão


do som) e corresponde à variação de pressão local devido à passagem da
onda de pressão. Caracterizando o som como o que o ouvido humano
consegue captar, os valores típicos de pressão sonora variam de 20 µPa (20
× 10−6 Pa) até cerca de 20 Pa. Este último valor é conhecido também como
“limiar da dor” para o ouvido humano. Essas medidas foram realizadas com
um som de frequência igual a 1 kHz, sob pressão de 1 atm.
As ondas sonoras também se propagam em meios líquidos ou sólidos.
Cada meio apresenta uma velocidade do som diferente, que é uma
característica do material e outras condições do meio. A Tabela 6.1
apresenta a velocidade do som para alguns sólidos.

■ ■ ■ EXEMPLO 6.1
Calcule a velocidade do som no nível do mar e no pico do monte Everest.
Dados: nível do mar: ρar(0 m) = 1,25 kg/m3, 1 atm = 1,013 × 105 Pa,
ρar(8,848 m) = 0,475 kg/m3, ρEverest = 33,7 kPa. Considere que o γ do ar é 1,4.
Solução: A velocidade do som pode ser obtida aplicando-se diretamente a
Equação 6.26
Para o nível do mar, teremos

E para o pico do monte Everest

Portanto

6.4 PROPRIEDADES FÍSICAS


As ondas, como caracterizadas até este ponto, são fenômenos físicos que
compartilham uma série de características, como periodicidade, frequência
etc. Contudo, devemos rever as propriedades que anteriormente foram
atribuídas a sistemas físicos discretos (como pêndulos e sistema
massa/mola) e aplicá-las às ondas.

6.4.1 Velocidade, frequência e comprimento de onda


A primeira dúvida que deve ser esclarecida está ligada ao comprimento de
onda. Sob esta nova visão, num meio contínuo e infinito, as ondas não estão
mais restritas pelas condições impostas pelos limites do sistema físico.
Mas... os limites do sistema físico é que estabeleciam o comprimento de
onda até agora. Logo, devemos redefinir o comprimento de onda para ondas
em meios infinitos.
Definiremos o comprimento de onda λ como sendo a distância na qual
a forma da onda se repete, e que tem a duração de um período T (Figura
6.4).
A frequência f é definida como o número de ocorrências de um evento
repetido por unidade de tempo. Tomando um ponto fixo no espaço (no meio
no qual a onda se propaga), observa-se o intervalo de tempo entre duas
situações idênticas. Este intervalo de tempo é o período da onda, e o seu
inverso é a frequência. Assim, são válidas as relações

em que T é o período, f é a frequência e ω é frequência angular. A


velocidade é dada por

Neste ponto, devemos fazer um comentário que pode levar a


interessantes conclusões. Em um meio perfeito, como um gás ideal ou uma
superfície infinita de um líquido ideal, a velocidade de propagação das
ondas é uma constante que depende apenas do meio. Um excelente exemplo
vem das ondas eletromagnéticas, em particular a luz. A velocidade da luz
no vácuo é uma constante universal, valendo c = 3 × 108 m/s (o valor mais
exato é 299.792.458 m/s). A partir da Equação 6.42, para o caso da luz,
podemos obter a relação
Figura 6.4 O comprimento de uma onda em um meio infinito.

Tabela 6.2

Cor Comprimento de Frequência Característica


onda

Infravermelho λ > 1000 nm* f < 300 THz** invisível

Vermelho 700 nm 428 THz visível

Laranja 620 nm 484 THz

Amarelo 580 nm 517 THz

Verde 530 nm 566 THz

Azul 470 nm 638 THz


Violeta 420 nm 714 THz

Ultravioleta próximo 300 nm 1000 THz


invisível
Ultravioleta distante λ < 200 nm f >1500 THz

*
nm: nanômetro, 10−9 m

**
THz: tera-hertz, 1012 Hz

Portanto, existe uma relação inversa entre frequência e período. No


caso particular da luz visível, as variações de comprimento de onda
correspondem àquilo que chamamos de cores. Todos os fótons de luz
visível se comportam como ondas que se propagam à mesma velocidade, c.
Mas a diferença de frequências transmite a informação sobre as cores.
Assim, as cores são interpretações que damos aos comprimentos de onda,
sendo que as cores básicas (as cores do arco-íris, o espectro da luz solar)
correspondem cada uma a um comprimento de onda e a uma frequência,
conforme apresentado na Tabela 6.2. As ondas com comprimento de onda
superior a 700 nm (infravermelho) ou inferior a 420 nm (ultravioleta) são
invisíveis para os olhos humanos.
Se a cor que observamos corresponde a uma onda de uma única
frequência, esta é classificada como monocromática. Na grande maioria dos
casos, a cor corresponde a mais de uma frequência, e neste caso recebe o
nome de policromática. Esta classificação, monocromática ou
policromática, apesar de sua óbvia origem na nossa percepção da luz, é
aplicada a ondas de outra natureza, como vibrações mecânicas por exemplo.

■ ■ ■ EXEMPLO 6.2
Calcule o comprimento de onda e tente identificar a cor correspondente às
frequências de ondas eletromagnéticas: 450 THz, 500 THz, 600 THz e 670
THz.
Solução: Aplicando a Equação 6.43 a ondas eletromagnéticas com as
frequências dadas, teremos:

Usando a Tabela 6.2 como referência, podemos dizer que esses


comprimentos de onda correspondem respectivamente a um “laranja
avermelhado”, um “laranja claro”, ao turquesa, e ao “roxo escuro”. Desse
simples exercício, concluímos que identificar uma cor pelo seu
comprimento de onda (ou pela sua frequência) é muito mais preciso que
pela nossa sensibilidade e os nomes que lhes foram atribuídos pelo
homem...

6.4.2 Transporte de energia


Imaginemos uma corda infinita na qual se propaga uma onda transversal, e
tomemos um pequeno trecho da corda, suficientemente pequeno para que
possamos considerá-lo linear. A Figura 6.5 mostra este segmento, de
comprimento dx, que, devido à presença da onda, deslocou-se
transversalmente em dy. Por este trecho ser um segmento de reta, a tensão T
pode também ser considerada constante entre x e x + dx. O comprimento do
trecho está relacionado com os dois deslocamentos por uma relação
geométrica: ds2 = dx2 + dy2.
Sendo a densidade linear da corda dada por µ, a massa do trecho
considerado é μdx. A velocidade de deslocamento transversal vale

Com ∂y variando ao longo de dx. Podemos calcular a energia cinética


em cada ponto devido a este movimento, que é dada por

É mais conveniente neste ponto definirmos a energia cinética por


unidade de comprimento, que terá unidades de densidade de energia

Passamos agora a analisar a energia potencial. Partindo da definição de


energia potencial, esta é dada pelo produto da tensão que age no sistema
pela diferença de posição (ou comprimento, no nosso caso), ou seja,

que, usando a relação geométrica, pode ser reescrita como


Figura 6.5 Um trecho infinitesimal de onda transversal em uma corda infinita.

Considerando que ∂y/∂x é muito pequeno, podemos usar a


aproximação baseada em séries de Taylor,

que nos leva a

E a energia potencial por unidade de comprimento fica

Assim, a energia mecânica total por unidade de comprimento é igual à


soma das energias potencial e cinética por unidade de comprimento

Por outro lado, sabemos que a amplitude local da onda é uma função
da posição e do tempo
em que o símbolo ± considera os dois sinais possíveis para o deslocamento
em um meio contínuo e infinito. Considerando que a posição somada ao
deslocamento possa ser representada por um único argumento, temos

em que z = x ± vt, e a velocidade é dada por

Podemos calcular as derivadas parciais de y

e as energias potencial e cinética podem ser escritas como

Usando o expresso na Equação 6.59, concluímos que

Esta é uma conclusão muito interessante, pois estabelece um equilíbrio


da “densidade de energia” ao longo do sentido de propagação da onda.
Deve ser levado em conta que esta conclusão reflete um comportamento
médio da onda, podendo em alguns casos particulares não ser verificada.
Tomemos agora uma onda senoidal do tipo

A velocidade num dado ponto x ao longo do sentido de propagação


vale

Em que u0 = 2π fA é a velocidade máxima no sentido transversal. O


símbolo v denota a velocidade (da onda) no sentido longitudinal, f é a
frequência e A é a amplitude da onda, no sentido transversal. No instante t =
0, temos (considerando um dos sentidos de propagação)

Podemos relacionar v e f usando a relação

O que nos leva à bem mais elegante expressão

em que u0 representa a amplitude máxima da velocidade transversal. De


posse desta expressão para a velocidade, podemos calcular a densidade de
energia cinética ao longo do fio
Para obter a energia cinética associada a um comprimento de onda,
devemos integrar esta expressão de x = 0 até x = λ

O que resulta em

Faremos a mesma dedução para energia potencial. Partindo da


derivada espacial da Equação 6.63

No instante t = 0, temos (considerando um dos sentidos de propagação)

Usando a relação entre v e f, chegamos a

Com isso, aplicando a Equação 6.55, teremos


A qual, integrada entre x = 0 e x = λ, nos dará a energia potencial
associada a um comprimento de onda

O que resulta em

Como

Podemos reescrever 6.76 como

Lembrando que

Chegamos finalmente a

Esta é a confirmação do que já havia sido apresentado: para um


comprimento de onda as quantidades de energia cinética e potencial são
iguais. A energia mecânica total em um comprimento de onda vale
Este resultado é válido para ondas senoidais. Mas como todas as ondas
podem ser decompostas em somas de senoides, então este resultado também
se aplica a todas as outras ondas.
Imaginemos agora uma corda semi-infinita, inicialmente parada. A
partir do instante t = 0, uma força senoidal age transversalmente em sua
extremidade (por isso é que precisamos de uma corda semi-infinita: para
que exista uma extremidade que possa ser manipulada). A cada período T
de ação da força, será adicionada uma onda completa, de comprimento λ, à
corda. Essas ondas propagar-se-ão ao longo da corda, e mais ondas serão
adicionadas a cada novo intervalo de tempo igual a T. Porém, sabemos que
a energia mecânica está associada ao comprimento de onda. Portanto, a
cada nova onda presente na corda, a quantidade de energia total tende a
aumentar (Figura 6.6).

Figura 6.6 A ação de uma força externa senoidal injeta ondas na corda semi-infinita. A
cada período completo (1T, 2T, 3T, ...) corresponde um acréscimo de E à energia total da
corda.

Podemos agora deduzir uma equação da energia transportada pela


onda. Para tanto, partimos de uma expressão para a componente transversal
da força atuante no ponto x = 0, com período T e amplitude 1:
No ponto x = 0, θ corresponde ao coeficiente angular da forma definida
pela onda, ou seja,

Como

Podemos concluir que

Com esta expressão para a força transversal, podemos calcular o


trabalho por ela realizado. Sabemos que a integral

é o trabalho realizado pela força Fy ao longo de um comprimento de onda.


Assim,

Faz-se necessária uma troca de variáveis. Lembrando da definição da


velocidade, escolhemos o tempo como variável de integração
O que resulta em

Agora, usando a definição da velocidade máxima na direção


transversal, podemos escrever

E chegamos a

Fazendo uso das identidades trigonométricas adequadas, temos

A segunda parcela do termo entre colchetes é nula. Portanto,

em que o índice λ indica que este é o trabalho para um comprimento de


onda. Esta expressão pode ser reescrita usando-se as definições de período e
de velocidade transversal

e
Observamos que as Equações 6.94 e 6.95 indicam que o trabalho
realizado ao longo de um comprimento de onda corresponde ao dobro do
valor da energia cinética e da energia potencial em um comprimento de
onda. A potência, ou seja, a taxa de energia entregue às ondas por unidade
de tempo por comprimento de onda, vale

■ ■ ■ EXEMPLO 6.3
Dada a onda

que se propaga num fio de densidade 2 g/m, calcule a energia cinética,


energia potencial e energia mecânica total transportada por comprimento de
onda.
Solução: Por inspeção da Equação 6.97, identificamos os seus parâmetros:

Em seguida obtemos o comprimento de onda e a velocidade máxima


transversal
Aplicando as expressões para a energia cinética, energia potencial e
energia mecânica total, temos

6.4.3 Número de onda e velocidade de fase


Por definição, o número de onda, k, corresponde à frequência espacial de
uma onda. Esta grandeza reflete o número de ciclos ou radianos por unidade
de distância observados em uma onda. Na bibliografia especializada, e
dependendo da aplicação, o número de onda também é chamado de
“frequência espacial” ou “constante de propagação”.
Formalmente, a definição de número de onda é dada por

que tem unidades do inverso do comprimento: 1/m, m–1, cm–1 etc.


Outra importante grandeza é a velocidade de fase, vp (p de phase, fase
em inglês). A velocidade da fase de uma onda é definida como sendo a
razão por unidade de tempo com que a fase da onda se propaga no meio. A
velocidade de fase está ligada ao comprimento de onda e ao período por
que tem unidades de velocidade: m/s.
Com estas duas últimas definições, temos uma expressão que relaciona
o número de onda com sua velocidade de fase

Esta última expressão receberá uma definição mais aprimorada mais


adiante.

■ ■ ■ EXEMPLO 6.4
Dada a onda

Determine seu número de onda e sua velocidade de fase.


Solução: Por inspeção da Equação 6.107, identificamos os seus parâmetros

O comprimento de onda é dado por

O período vale
O que nos permite calcular o número de onda

e a velocidade de fase

6.4.4 Velocidade de grupo


Seja uma onda em um meio contínuo, tal como uma onda se propagando ao
longo de uma corda infinita. Ao escolhermos um ponto qualquer deste meio
(ou da corda), observamos que o mesmo sobe e desce segundo sua
velocidade transversal. Este movimento nos desenha a amplitude da onda
neste ponto que, contudo, não se move longitudinalmente. Na verdade, o
ponto escolhido e qualquer outro ponto deste meio não se movem em
média. A onda passa, mas o ponto material fica. O movimento de um ponto
é harmônico e limitado às oscilações transversais em torno de sua posição
de equilíbrio.
Indo mais adiante, podemos afirmar que os pequenos osciladores
harmônicos individuais do microcosmo do meio, cuja integral corresponde
à onda observada no macrocosmo, não se movem. São as relações entre as
fases dos infinitos osciladores individuais que formam a onda, sem que haja
um movimento progressivo do meio (Figura 6.7).
De forma a deixar bem clara esta distinção, definimos três velocidades
para os movimentos ondulatórios em meios contínuos:
1. A velocidade da partícula, que descreve o movimento de um
ponto individual no sentido transversal — a amplitude. Este
movimento é harmônico e se mantém em torno da posição de
equilíbrio do ponto escolhido.

Figura 6.7 Um ponto fixo num meio no qual se propaga uma onda. Observamos em
instantes distintos, t1, t2 e t3, que o ponto move-se transversalmente segundo um oscilador
harmônico, mas não sai de sua posição. A onda, por outro lado, move-se ao longo do meio.
Figura 6.8 Ondas na superfície de um lago propagando-se em grupo.

2. A velocidade de fase, que corresponde à onda que vemos se


propagando no meio. Esta onda é a composição especial das fases
de cada oscilador harmônico, e “caminha” pelo meio, levando
energia mecânica de um ponto a outro. A definição de velocidade de
fase é dada pela Equação 6.105.
3. A velocidade de grupo, que está ligada ao movimento de um
conjunto de ondas de diferentes frequências superpostas.
Por exemplo, imaginemos a superfície parada de um lago calmo. Ao
jogarmos uma pedra no lago, as ondas formarão círculos concêntricos que,
ao propagarem-se, vão aumentando de diâmetro. Vemos o grupo de ondas
se movendo até alcançar as bordas do lago (Figura 6.8).
A velocidade de grupo é de especial interesse em aplicações naturais
ou artificiais, posto que seja muito raro que uma onda tenha apenas uma
frequência (monocromática). Eventualmente, podemos observar o
fenômeno de dispersão, quando ondas de frequências distintas compondo
um grupo acabam por se separar. Mas, atenção! O efeito da dispersão não
significa que as ondas tenham velocidades diferentes, pois como já vimos a
velocidade depende do meio. Um bom exemplo deste fenômeno é dado
pelas ondas sonoras quando percorrem uma longa distância. Um trovão
ouvido de longe tem um som longo, pois corresponde a um grupo de ondas
de diferentes frequências que se dispersou.
Todos os estudos que fizemos até este ponto foram para ondas
monocromáticas. Para uma onda monocromática, a velocidade da onda e a
velocidade de grupo são iguais.
De forma a simplificar nossa análise, comecemos com um grupo de
ondas composto por apenas duas ondas monocromáticas de mesma
amplitude e de frequências bem próximas. Assim, temos
em que k1 e k2 representam os números de onda (1/λ1 e 1/ λ2), e f1 e f2 são as
frequências. As velocidades características destas ondas são dadas por

Como estas duas ondas formam um grupo, o meio recebe a influência


das duas simultaneamente, de tal forma que podemos somar sua amplitude,
ou

Usando a fórmula do seno da diferença de dois ângulos, podemos


separar as somas e as diferenças dos argumentos, obtendo

Podemos simplificar nossa notação adotando


E ficamos com

Este resultado é semelhante àquele já obtido no Capítulo 1, e uma


representação do seu efeito é apresentada na Figura 6.9.
Analisando a Equação 6.121, notamos que a frequência e o número de
onda descrevem o primeiro fator, o que pode ser interpretado como a
velocidade de fase, já apresentada anteriormente

Aplicando o mesmo procedimento para o segundo fator, temos uma


velocidade

Considerando o limite em que ∆k→dk e ∆f→df, teremos a velocidade


de grupo

que é a velocidade com que vemos o envelope da superposição se propagar.


Figura 6.9 A sobreposição de duas ondas. As duas ondas na parte superior da figura têm
frequências f e 0,9f, respectivamente. A soma das duas ondas é apresentada na parte de
baixo.

■ ■ ■ EXEMPLO 6.5
Dado um meio no qual a velocidade de fase relaciona-se com o
comprimento de onda por

em que C é uma constante dependente do meio. Encontre a relação entre a


velocidade de fase e a velocidade de grupo.
Solução: A partir da definição do número de onda, temos

Como

então
Fazendo a derivada da frequência com relação ao número de onda,

Ou seja,

Esta relação é observada em ondas de densidade em águas profundas dos


oceanos, em que a Equação 6.125 é uma boa aproximação para o
comportamento deste meio.

6.5 TÓPICO ESPECIAL: O SOM NO CINEMA


Os filmes de cinema são a evolução da milenar arte de contar histórias.
Desde sua aparição em 1892, quando os irmãos franceses Auguste e Louis
Lumière patentearam a primeira tecnologia para produzir e projetar filmes
em salas fechadas, o cinema tem sido um dos entretenimentos mais
procurados.
Entretanto, as primeiras versões dos filmes eram silenciosas, pois o
sistema original não previa a gravação ou reprodução dos sons. Era a época
do “filme mudo”, quando os diálogos dos personagens eram apresentados
ao público por meio de textos inseridos entre as cenas (Figura 6.10).
Várias tentativas foram feitas para sonorizar os filmes, mas todas
infrutíferas. Uma das experiências consistiu em gravar os sons em um disco
que era tocado em um fonógrafo, que havia sido inventado em 1877 por
Thomas Edison. O grande problema era a sincronização, pois era
extremamente difícil fazer o som coincidir com as imagens. Os projetistas
dos cinemas inventaram técnicas especiais para tentar fazer coincidir os
movimentos dos personagens com as falas. Se as imagens estivessem
adiantadas com relação ao som, tentavam frear o prato do fonógrafo com o
dedo. Se, por outro lado, o som estivesse adiantado, tentavam reduzir a
velocidade do filme...
Muitos inventores, alguns financiados por grandes estúdios de cinema,
propuseram soluções para o problema. Finalmente, na década de 1920, foi
apresentada a tecnologia batizada de “som no filme” (sound on film em
inglês). A técnica consiste em criar uma faixa especial na borda da película
do filme, que contém a gravação do som, chamada de trilha sonora. Assim,
cada quadro do filme está ligado ao som que lhe pertence, unindo
definitivamente as imagens e a fala, música e efeitos sonoros. O
sincronismo é automático, uma vez que som e imagem estão fisicamente
ligados um ao outro. A Figura 6.11 apresenta um pequeno trecho de um
filme em película de 35 mm (padrão de salas de cinema) com a sua trilha
sonora.

Figura 6.10 Típico quadro de diálogo de um filme mudo do início do século XX.
Figura 6.11 Pequeno trecho de um filme em película de 35 mm. Da direta para a esquerda,
vemos a perfuração, usada para a tração do filme, e em seguida a trilha sonora. Neste
caso, trata-se de uma trilha em estéreo, com duas bandas.

O som é gravado na trilha como uma faixa branca sobre um fundo


preto. A largura da faixa corresponde à amplitude das ondas sonoras, que
são lidas por um dispositivo fotoelétrico no interior do projetor que
transforma a intensidade luminosa em sinais elétricos. Posteriormente, esses
valores são enviados a um amplificador e depois aos alto-falantes do
cinema. A velocidade com que o filme é tracionado pelo projetor é
suficiente para que o som ouvido seja de boa qualidade, satisfazendo toda a
audiência.
Essa tecnologia persistiu por quase 50 anos, com poucas alterações.
Nos anos 1990, com o surgimento dos chips miniaturizados e o
desenvolvimento da tecnologia digital, foram propostas novas metodologias
para a gravação e reprodução dos sons em filmes. Mas todas as técnicas
modernas fazem ainda referência aos detalhes da antiga “trilha sonora”.
É interessante pensar que o som era gravado nos filmes na forma de
luz. Mas ambos, luz e som, são fenômenos ondulatórios, colocados juntos
para que possamos ver os nossos filmes preferidos.

6.6 EXERCÍCIOS
1) Verifique se

é uma solução da equação de onda.


2) Verifique se

é uma solução da equação de onda.


3) Verifique se

correspondem à mesma onda.


4) Determine a amplitude, comprimento de onda, número de onda,
frequência, período, velocidade da onda, e máxima velocidade transversal
de uma partícula da onda dada por
em que x e y são dados em centímetros, v em cm/s e t em segundos.
5) Encontre as fórmulas genéricas para a amplitude, comprimento de onda,
número de onda, frequência, período, velocidade da onda, e máxima
velocidade transversal de uma partícula da onda dada por

em que A, B e C são constantes.


6) Escreva a equação da onda longitudinal que se propaga na direção x com
amplitude de 2 mm, frequência 6 Hz, e velocidade de 2800 m/s.
7) Escreva a equação da onda longitudinal que se propaga na direção –x
com amplitude de 4 mm, frequência 3 Hz, e velocidade de 4500 m/s.
8) Deseja-se determinar a distância entre dois pontos de uma corda. Sabe-se
que esta corda serve de meio de propagação de uma onda que viaja a 90 m/s
e tem uma frequência de 27 Hz. A diferença de fase entre os dois pontos em
um mesmo instante é de π/6.
9) Considerando a onda do exercício anterior, qual será a diferença de fase
observada no mesmo ponto em um intervalo de 0,01 s? E em um intervalo
de 0,03 s?
10) Uma onda transversal é criada numa corda usando-se um dispositivo
que gera oscilações transversais de amplitude 2 cm e uma frequência de 12
Hz. A corda tem densidade de 0,15 kg/m e está esticada sob uma força de
45 N. Qual é o comprimento de onda e a velocidade da onda gerada?
11) Uma fonte de oscilação forçada transversal de intensidade 0,3 N e
frequência de 5 Hz gera ondas de amplitude 0,1 m em uma das
extremidades de uma corda de densidade linear 10 g/m. Calcule a taxa de
energia fornecida pela fonte à corda e a velocidade de propagação da onda.
12) Considerando ainda a corda do exercício anterior, mediu-se um
deslocamento transversal de 1,5 cm no instante t = 0 para o ponto x = 0. De
posse dessas informações, escreva as duas possíveis equações para a onda.
13) Uma onda se propaga numa corda de tal forma que os pontos situados
em x = 0 e x = 1 m apresentam amplitudes 0,4sen(5π t) e 0,4sen(5π t + π/8).
Determine: a) a amplitude da onda, b) a frequência, c) a velocidade de
propagação da onda.
14) Um funcionário muito ocupado está interessado em medir as constantes
físicas do material do escritório de patentes onde trabalha. Para tanto, ele
corta um trecho de barbante de 10 g/m, e o estica por um longo
comprimento, prendendo uma das pontas à base de um ventilador, cuja
vibração excitará ondas no barbante. Na outra ponta, pendurada em uma
cadeira, ele prende um grampeador de 250 g, de forma a criar a tensão.
Observando um ponto exatamente no meio do barbante, ele observa uma
oscilação de 5 mm e uma frequência de 600 Hz. Qual é a velocidade de
propagação da onda? Qual é o seu comprimento de onda?
15) Calcule a velocidade do som na cidade de São Paulo e em Paris. Dados
em São Paulo: ρSP(730 m) = 1,14142 kg/m3, ρSP = 9,28573 × 104 Pa,
ρParis(200 m) = 1,20165 kg/m3, ρParis = 9,89453 × 104 Pa. Considere que o γ
do ar é 1,4.
16) Dada a onda

que se propaga num fio de densidade 32 g/m, calcule a energia cinética,


energia potencial e energia mecânica total transportada por comprimento de
onda.
17) Em um fio de densidade 22 g/m, se propaga uma onda de amplitude 3
m, frequência 3,2 Hz e velocidade 16 m/s. Escreva sua equação y(x,t) e
calcule a energia cinética, energia potencial e energia mecânica total
transportada por comprimento de onda.
18) Duas ondas sobrepostas se propagando no mesmo meio são descritas
por

Calcule a velocidade de grupo e apresente a equação da perturbação


combinada das duas ondas.
19) Considere um grupo de ondas composto por duas ondas. Seus
comprimentos de onda são λ e λ + ∆λ, e sabe-se que ∆λ/λ >> 1. Faça uma
estimativa da quantidade de comprimentos de onda contidos no intervalo
entre dois zeros sucessivos do envelope do grupo de ondas.
20) Faça um rascunho do grupo de ondas dado por

21) Um funcionário muito ocupado, num escritório onde há excesso de


serviço, observa pela janela o trânsito congestionado na avenida, 20 andares
abaixo. Ele decide fazer um modelo do movimento do fluxo de tráfego
baseado em ondas de densidade. Assim, ele considera cada automóvel
como sendo uma partícula presa à seguinte e à anterior por uma mola.
Escreva um formalismo para este modelo e faça uma discussão das
grandezas envolvidas, com o objetivo de determinar o comportamento da
onda de tráfego.

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Capítulo 7

PROPRIEDADES DE ONDAS EM MEIOS


CONTÍNUOS

7.1 INTRODUÇÃO
7.2 REFLEXÃO E TRANSMISSÃO
7.3 O TANQUE DE ONDAS
7.4 REFRAÇÃO
7.5 DIFRAÇÃO
7.6 MODULAÇÃO
7.7 DEPENDÊNCIAS DO REFERENCIAL: O EFEITO DOPPLER
7.8 TÓPICO ESPECIAL: A VELOCIDADE DE ROTAÇÃO DE UMA GALÁXIA
7.9 EXERCÍCIOS

7.1 INTRODUÇÃO
Quando imaginamos uma onda na natureza, pensamos nas ondas na
superfície da água, nos sons que ouvimos, e até mesmo em um terremoto.
Perceba, caro leitor, que essas são ondas contínuas, em conformidade com
as discussões do último capítulo. Esses fenômenos são muito diferentes das
associações de osciladores discretos que dominaram nossas análises no
início desta obra. As ondas contínuas são muito mais do que simples
fenômenos oscilantes, e podem ser encontradas em todas as escalas da
natureza. Suas aplicações servem para descrever desde as partículas
subatômicas até a estrutura do universo.
Neste capítulo apresentaremos as principais propriedades das ondas do
ponto de vista de seu comportamento como entidades físicas. Esse conjunto
de propriedades é o que faz a nossa “imagem mental” de uma onda: sua
capacidade de refletir na borda do meio, os aspectos ligados à refração e à
polarização, difração etc. Essas propriedades são devidas a variações das
características do meio, como bordas, obstáculos e mudanças de densidade.
Cada efeito tem suas consequências que, como veremos, são muito
interessantes e têm reflexos em nossa própria vida.

7.1.1 Pulsos de onda


Um pulso é uma oscilação não periódica que, ao propagar-se pelo meio,
causa apenas uma frente de onda. Este “fenômeno solitário” será muito útil
neste capítulo, pois, ao contrário das ondas que podem ter infinitas
repetições de si próprias, um pulso é finito espacialmente (Figura 7.1).
Para que possamos utilizar o conceito de pulso, este deve ter as
mesmas propriedades de uma onda com respeito aos aspectos de
propagação. Assim, um pulso tem uma velocidade de propagação, uma
amplitude e encontra-se em uma dada posição em certo instante. Como
estamos fazendo esta abstração com a intenção de facilitar nossas análises,
também consideraremos que um pulso é uma função contínua e derivável
no espaço e no tempo, mantendo sua forma inalterada ao propagar-se. O
pulso também deve obedecer ao princípio da sobreposição e outras
propriedades matemáticas das ondas. Evidentemente, todas estas
imposições serão satisfeitas se a função pulso for uma solução da equação
de onda.
Figura 7.1 Um pulso se propagando em um meio contínuo.

Uma representação formal de um pulso pode ser dada pela função

em que v é a velocidade de propagação do pulso. A forma básica do pulso é


obtida no instante t0 = 0:

O pulso se desloca como um todo, sem deformar-se. Logo, no instante


t1 teremos

Não há necessidade de definirmos uma expressão para esta função,


bastando saber que a mesma tem as propriedades que definimos acima.
Contudo, para satisfazer a nossa curiosidade a respeito, uma possível forma
de f(x – vt) é
ou ainda

Essas e muitas outras formas podem ser usadas para a função pulso.
Observe que nos dois casos apresentados, as propriedades desejadas são
respeitadas. Nos casos em a velocidade v é positiva, o pulso move-se para a
direita no eixo das abscissas, caracterizando um movimento longitudinal.
As partículas do meio executam um movimento transversal com a
passagem do pulso, alcançando a amplitude máxima (b para a Equação 7.4
e A para a Equação 7.5) e depois voltando a zero.
A velocidade transversal das partículas é dada por

que, para o caso da Equação 7.4, vale

A Figura 7.2 apresenta os gráficos das Equações 7.4 e 7.7. Observe que
a velocidade aumenta positivamente, elevando o ponto, e depois passa a um
valor negativo, trazendo o ponto de volta à sua posição original.
Evidentemente, devido ao termo (x – vt), o perfil de velocidade desloca-se
no espaço junto com o pulso.
Figura 7.2 Amplitude (linha contínua) e velocidade transversal de um ponto em um pulso.
Nestes cálculos foi usado b = 1, v = 1 e t = 1.

Tomando a Equação 7.4 e fazendo a derivada ∂y/∂x, obtemos

Comparando com a Equação 7.7, verificamos que

Logo, a velocidade transversal em qualquer ponto é proporcional à


inclinação local do pulso. Por outro lado, a velocidade de propagação do
pulso, v, é definida para um valor de y como v = ∂x/∂t. Substituindo na
equação anterior:

Que, a menos do sinal, é a conhecida regra da cadeia do cálculo.


Consideremos agora a sobreposição de dois pulsos, tais que um com
velocidade positiva e o outro com velocidade negativa:

Para a primeira forma, temos como primeira e segunda derivada com


respeito a x:

Em que f’ e f” são a primeira e segunda derivadas de f com respeito a


(x – vt). Agora, fazendo as diferenciais no tempo, obtemos

e
Comparando as segundas derivadas no tempo e no espaço, podemos
finalmente escrever

Que também é válida para a segunda forma prevista em 7.11. Essa é


uma equação de onda e, portanto, com esse resultado satisfazemos todas as
imposições citadas mais acima.

7.2 REFLEXÃO E TRANSMISSÃO


As reflexões ocorrem quando o grupo de ondas propaga-se até encontrar a
borda do meio. Por exemplo: uma corda fixa em suas duas extremidades.
Ao chegar ao ponto fixo, a onda é refletida e volta na direção contrária. A
transmissão é um fenômeno que ocorre quando o grupo de ondas atravessa
uma região de descontinuidade de alguma propriedade do meio.
Esses fenômenos podem ser mais bem compreendidos se imaginarmos
que a corda é estendida para além do ponto da borda com uma porção
virtual de si mesma. A superfície perpendicular à corda que contém o ponto
de fixação age como se fosse um espelho, no qual vemos a corda se
estender para além dessa superfície.
Imaginemos agora que um pulso incidente (ou um grupo muito
pequeno de ondas, tal que contenha apenas uma crista de onda) aproxima-se
da borda. Do outro lado do espelho, vemos outro pulso, virtual, também se
propagando em direção à borda, portanto, com velocidade igual, mas de
sinal invertido. Depois de chegar ao ponto de fixação, o pulso real,
incidente, continuará para além do espelho, tornando-se um pulso virtual.
Simultaneamente, o pulso virtual, deslocando-se no sentido oposto, “sai” do
espelho e assume o papel do pulso real, e passa propagar-se pela corda.
Essa interpretação faz uso do princípio de superposição das ondas, no
qual os dois pulsos, o real e o virtual, são somados espacialmente a cada
instante de tempo. Existem duas possíveis formas de reflexão que
dependem da natureza da borda. As duas interpretações estão representadas
nas Figuras 7.3 e 7.4.
Se a borda for fixa, ou seja, o ponto terminal do meio não pode se
deslocar transversalmente, o pulso incidente será refletido e sua amplitude
local terá o sinal invertido com relação ao estado da onda de chegada
(Figura 7.3). Esse comportamento pode ser explicado pela terceira lei de
Newton (ação e reação), em que a chegada da onda gera uma reação do
ponto de fixação no sentido inverso, mas de mesma intensidade.
Por outro lado, se tomarmos o ponto da borda como completamente
livre para poder ser movido transversalmente, a ação do pulso incidente irá
deslocá-lo na direção transversal e, novamente invocando a terceira lei de
Newton, a reação gerará um pulso refletido desta vez com amplitude com o
mesmo sinal em relação à onda de chegada (Figura 7.4).
Podemos ainda imaginar uma experiência semelhante tomando uma
junção entre duas cordas, sujeitas à mesma tensão, mas com densidades
diferentes, μ1 e μ2 (Figura 7.5). No ponto de descontinuidade entre as duas
cordas, x = 0, observamos que uma onda incidente divide-se em duas: uma
fração que se propaga pela outra corda (transmissão) e uma fração que se
volta pela corda original (reflexão). Essa experiência pode nos levar a
interessantes conclusões a respeito de descontinuidades do meio de
propagação.
Figura 7.3 Um pulso de onda é refletido na borda fixa do meio. Os quadros apresentam
dez instantes do fenômeno. O pulso incidente (real) é considerado como contínuo,
podendo invadir e avançar na região virtual, além da borda, representada pelo pequeno
círculo preto. O pulso virtual, ao adentrar a região aquém da borda, torna-se real.
Figura 7.4 Um pulso de onda é refletido na borda não fixa. Como na Figura 7.1, os quadros
apresentam dez instantes do fenômeno.
Figura 7.5 Um meio com uma descontinuidade de densidade representada pela junção de
duas cordas de densidades diferentes.

Tomemos um pulso de onda incidente, f1, que inicialmente está se


propagando na primeira parte da corda em direção à junção.
Consideraremos também a fração refletida, g, e a fração transmitida através
da junção, f2. Formalmente, temos

Observe que as velocidades em cada trecho dependem do meio, ou


seja, das densidades em cada trecho. A velocidade de g tem o sinal oposto,
por se tratar de uma reflexão. O ponto de junção pertence aos dois pulsos
em qualquer instante. Assim, temos as condições
Ou, em outros termos

Integrando esta última, obtemos

Combinando as Equações 7.18 e 7.20, podemos escrever relações entre


f1, g e f2:

Aqui, fazemos uma pausa pois existem sutis e profundas conclusões a


comentar. A primeira expressão define que o pulso refletido, g, evolui em
função do pulso incidente, f1. Podemos escrever esta relação com o
argumento original:

Note-se que se trata do mesmo pulso com uma escala (v2 – v1)/(v2 + v1).
Assim, devido à inversão de sinais nos argumentos, concluímos que a
fração refletida tem a amplitude negativa. Isso significa que a
descontinuidade, a junção, se comporta como uma borda fixa para a
reflexão.
Para aplicar o mesmo procedimento para a fração transmitida, temos
que fazer uma mudança de variáveis nos argumentos. Na junção, temos a
relação

Figura 7.6 Propagação de um pulso incidente através de uma descontinuidade de


densidade: observa-se uma reflexão e uma transmissão.

E assim, a partir da segunda linha da Equação 7.21, temos


Isso nos diz que a amplitude do pulso transmitido tem o mesmo sinal
da amplitude do pulso incidente, sendo apenas reduzido em uma escala
2v2/(v2 + v1). A Figura 7.6 apresenta de forma esquemática um resumo
destas duas últimas conclusões.

■ ■ EXEMPLO 7.1
Uma onda é transmitida por um fio tensionado por uma força de 50 N. O fio
apresenta uma abrupta variação de densidade em um dado ponto, indo de 60
g/m para 12 g/m. Sabendo-se que a amplitude da onda incidente é de 1,8
cm, determine a amplitude das ondas refletida e transmitida.
Solução: Lembrando que a velocidade de uma onda em uma corda esticada
é dada por

Temos as velocidades nos dois meios (usamos kg como unidade de massa):

A amplitude da onda refletida é dada por

A amplitude da onda transmitida é dada por


Apesar de a amplitude transmitida ser maior do que a amplitude incidente,
isso apenas significa que o meio 2 é menos denso. Não houve uma
“amplificação” em termos de energia.

7.3 O TANQUE DE ONDAS


Nos estudos que se seguirão, deveremos considerar ondas bidimensionais.
Logo, devemos poder fazer experimentos com ondas em duas dimensões, o
que, à primeira impressão, não é tão evidente.
Por isso, apresentamos o “tanque de ondas”. Trata-se de um dispositivo
simples, porém engenhoso, que nos permite visualizar as ondas
bidimensionais que se formam na superfície de um líquido – a água. O
princípio básico de funcionamento desse aparelho é projetar a sombra das
ondas por uma fonte de luz. Como a luz passa perpendicularmente à
superfície da água, a sombra formará uma imagem que é uma projeção das
ondas formadas. Podemos, então, criar várias condições diferentes e
observar o comportamento ondulatório.
Existem tanques de onda mais ou menos sofisticados disponíveis no
mercado. Entretanto, para os estudos simples do comportamento das ondas
que desejamos empreender, podemos construir sem maiores custos um
tanque de ondas rudimentar. Para tanto, basta apoiar no espaço entre duas
cadeiras uma bandeja ou travessa de vidro, a qual será abastecida com água.
Não há necessidade de chegar à borda: entre um e dois centímetros de
líquido é suficiente. Por baixo da bandeja, entre as cadeiras, coloca-se uma
fonte de luz, como um abajur ou uma lanterna potente. A imagem projetada
no teto apresentará uma projeção com a representação das ondas que se
formarem na superfície do líquido. A Figura 7.7 mostra uma construção de
um tanque de ondas seguindo essas instruções, e a Figura 7.8 apresenta uma
imagem com ondas circulares sendo observadas.
Para gerar pulsos circulares, toca-se na superfície da água com a
extremidade de algum instrumento pontiagudo. Para gerar pulsos paralelos,
pode-se usar uma régua, tomando-se o cuidado de tocar todo o seu
comprimento de uma única vez. Nos dois casos, para se gerar ondas
cíclicas, deve-se inserir e retirar o instrumento na superfície na frequência
desejada. É também aconselhável o uso de um sistema mecanizado que
proceda a geração de ondas com a precisão desejada.
A Figura 7.9 apresenta o comportamento de ondas planas ao se
encontrarem duas superfícies reflexivas que apresentam um ângulo com
relação à direção de propagação. Observa-se que as ondas refletidas se
sobrepõem às incidentes criando o padrão observado.
Em um tanque de ondas, para criar uma descontinuidade no meio,
muda-se a profundidade com a colocação de uma chapa de material
transparente, como acrílico ou vidro. A região com profundidade alterada se
comportará como um meio no qual as ondas se propagam com velocidade
diferenciada.
Se as ondas planas tiverem um ângulo de propagação diferente de zero
com relação à superfície do novo meio, observaremos uma variação deste
ângulo devida à variação da velocidade. A Figura 7.10 apresenta o
comportamento de ondas planas ao se encontrarem com uma
descontinuidade em ângulo com relação à direção de propagação. Observa-
se a formação de ondas refletidas e de ondas que atravessam a
descontinuidade, mas com velocidade e ângulo distintos.
Figura 7.7 Um tanque de ondas rudimentar: uma bandeja transparente com 1 cm de água
está apoiada em duas cadeiras, sendo iluminada por baixo. A imagem das ondas é
projetada no teto.
Figura 7.8 Ondas circulares na superfície da água, como projetadas no tanque de ondas
da Figura 7.7.

Figura 7.9 À esquerda: ondas planas refletindo-se sobre duas superfícies. À direita: visão
esquemática das ondas incidentes e refletidas.
Figura 7.10 À esquerda: ondas planas ao se encontrarem com uma descontinuidade do
meio. À direita: visão esquemática das ondas incidentes, transmitidas e refletidas.

7.4 REFRAÇÃO
Como vimos anteriormente, quando as ondas passam de um meio para
outro, sofrem uma mudança de sua velocidade de propagação. Este
fenômeno, para ondas com mais de uma dimensão, recebe o nome de
refração. A Figura 7.11 apresenta o efeito da refração em um copo com
água.
A refração é modelada como um fenômeno que ocorre na superfície de
separação entre os dois meios. Seu formalismo está descrito na lei de Snell,
e relaciona os ângulos formados pelas linhas de propagação das ondas
incidente e transmitida (ou refratada):

Ou seja, a razão entre os senos dos ângulos de incidência, θ1, e ângulo


de refração, θ2, é igual à razão das velocidades de fase, v1 e v2 em cada um
dos meios de propagação, e também é igual à razão entre os comprimentos
de onda, λ1 e λ 2 em cada um dos meios (Figura 7.12).
A principal hipótese para o uso da lei de Snell é que a frequência da
onda não é alterada. Podemos definir o índice de refração:

como a razão entre a velocidade da onda no vácuo, c, e a velocidade no


meio em questão. Por definição, o índice de refração do ar (ou vácuo) é
igual a zero. Assim, a Equação 7.29 fica
Figura 7.11 Refração da luz em um copo com água. Os meios são: o ar, a água e o vidro
que constitui o copo.

Figura 7.12 Esquema para a aplicação da lei de Snell. O feixe de luz passa do meio 1 para
o meio 2, e observamos uma mudança do ângulo de incidência devido à variação da
velocidade de propagação.

A Tabela 7.1 apresenta o índice de refração para várias substâncias


transparentes.

Tabela 7.1

Material Índice de Material Índice de


refração refração

Acetona 1,360 Obsidiana 1,500

Água (20 °C) 1,33283 Óleo vegetal 1,470


Álcool etílico 1,360 Plásticos 1,460 a 1,55

Álcool metílico 1,329 Plexiglass 1,488

Ar 1,000293 Sal 1,516

Bebidas gasosas 1,340 a 1,356 Solução de açúcar 30 % 1,380

Cerveja 1,345 Solução de açúcar 80 % 1,490

Cloro líquido 1,385 Uísque 1,356

Córnea (olho humano) 1,380 Vodca 1,363

Cristalino (olho 1,410 Vidro (29 % de chumbo) 1,569


humano)

Gelo 1,309 Vidro (55 % de chumbo) 1,669

Glicerina 1,473 Vidro (arsênico 2,04


trissulfeto)

Humor aquoso (olho 1,330 Vidro (comum) 1,520


humano)
Humor vítreo (olho 1,340 Vidro (pirex) 1,474
humano)

Mel 1,494 Vidro (sílica fundida) 1,459

Náilon 1,530    

■ ■ EXEMPLO 7.2
Um raio de luz incide sobre a superfície da água a 45º, vindo do ar.
Determine o ângulo do raio refratado.
Solução: A partir da Equação 7.31, temos:

Considerando o meio 1 como a água e o meio 2 como o ar, a partir da


consulta à Tabela 7.1, temos n1 = 1,33283 e n2 = 1,000293. Portanto:

O que nos dá um ângulo de 32,05º.


Usando-se superfícies curvas podem-se ser construídos dispositivos
que modificam o perfil das ondas. No caso de ondas de luz, um bom
exemplo são as lentes. A Figura 7.13 apresenta o comportamento de ondas
circulares ao atravessarem um meio mais denso em forma de lente
convergente.
Combinando adequadamente as Equações 7.29 e 7.31 chegamos a
Figura 7.13 Ondas circulares monocromáticas (uma única frequência) ao atravessarem um
meio mais denso em forma de lente convexa. Do outro lado da lente, o ponto onde as
ondas convergem determina o foco da lente.
Figura 7.14 Ao atravessar o prisma, a luz branca (policromática) é transformada em luzes
coloridas em um processo chamado de decomposição da luz. O resultado é chamado de
espectro.

Ou seja, o ângulo de refração é dependente do comprimento de onda. Isso


explica o comportamento da luz policromática, como a luz branca, ao
atravessar um prisma de vidro (Figura 7.14). Cada comprimento de onda é
refratado com um ângulo diferente, e o resultado observado do outro lado é
um espectro cuja distribuição de cores corresponde à presença de ondas de
várias frequências na luz incidente. Esse fenômeno, chamado de
decomposição da luz, também ocorre nas gotas de água presentes nas
nuvens, criando o que chamamos de arco-íris.

7.5 DIFRAÇÃO
A palavra “difração” foi usada pela primeira vez em 1665, em observações
feitas pelo cientista italiano Francesco Maria Grimaldi ao fazer
experimentos sobre vários fenômenos que ocorrem quando uma onda
encontra um obstáculo. Em física clássica, o fenômeno de difração é
descrito como a aparente “dobra” de ondas em torno de pequenos
obstáculos e também por ondas passando por pequenas aberturas.
A técnica utilizada para o estudo da difração é a interferência, na qual
consideramos o efeito da sobreposição de ondas, uma “interferindo” na
outra. Observa-se o fenômeno da difração com todas as ondas, não
importando sua natureza (ondas sonoras, ondas na superfície da água, ondas
eletromagnéticas, ondas de rádio etc.).
Estudaremos os casos de ondas se propagando através de uma fresta,
duas frestas e N frestas, e as consequências decorrentes.

7.5.1 Interferência de duas frestas


Imaginemos uma onda plana que se propaga perpendicularmente a uma
parede (um anteparo) também plana. Ao se encontrar com a parede, a onda
se reflete, voltando na direção oposta, como já discutimos anteriormente.
Façamos agora uma fresta (ou fenda) bem estreita no anteparo, de modo
que uma pequena porção da onda possa se propagar para o outro lado. O
resultado observado é que as ondas propagadas são arcos de círculos, com
centro na fresta, conforme apresentado na Figura 7.15. Podemos afirmar
que uma fresta é uma fonte de ondas circulares.
Nossa experiência pode dar um passo adiante com a introdução de uma
outra fresta semelhante próxima à primeira. Como cada uma das frestas
atua com uma fonte de ondas circulares, teremos duas ondas circulares do
outro lado do anteparo, mas com centros diferentes. A combinação ponto a
ponto das ondas circulares formará um desenho chamado “padrão de
interferência”, que é formado pelos vales e picos das ondas (Figura 7.16).
Somos levados ainda a fazer uma observação muito importante: as ondas
circulares do outro lado do anteparo têm origem na mesma onda plana e,
portanto, compartilham as mesmas propriedades. Isso será relevante nas
conclusões a seguir.
Na Figura 7.17, estão esquematizados os elementos para a dedução do
padrão de interferência. As duas frestas, F1 e F2, são consideradas idênticas
e a uma distância d uma da outra. A onda incidente é monocromática de
velocidade v, plana e incide sobre as fendas simultaneamente, de tal modo
que podemos considerar F1 e F2 como duas fontes de ondas circulares de
mesma amplitude e mesma fase. O ponto P está em uma posição arbitrária
no semiplano além das fendas, e a amplitude da onda neste ponto é igual à
soma das ondas vindas de F1 e de F2.
As distâncias de P até as fendas valem r1 e r2, de tal forma que r1 >> d
e r2 >> d. Essa condição nos garante que a diferença de amplitude entre as
ondas em P é desprezível, mas o mesmo não se pode dizer com relação à
fase. A diferença em unidades de tempo das fases das duas ondas vale
Como P encontra-se a um ângulo θ na direção das fendas, pode-se
reescrever esta equação como

Figura 7.15 Uma onda plana ao encontrar um anteparo com uma fresta. As ondas
propagadas para o outro lado são circulares.
Figura 7.16 Uma onda plana ao encontrar um anteparo com duas frestas. As ondas
propagadas para o outro lado formam padrões de interferência.

Logo, a diferença de fase entre as ondas é proporcional a sen θ. Isso


explica a imagem da Figura 7.16, na qual existem linhas partindo das
fendas nas quais a interferência é mínima e outras linhas nas quais a
interferência é máxima. As linhas correspondentes à interferência mínima
são chamadas de “linhas nodais”, e podem ser deduzidas partindo-se da
amplitude somada das duas ondas no ponto P:

pois ambas são derivadas da mesma onda plana incidente do outro lado da
fresta. Considerando a aproximação r1 ≈ r2 >> d, podemos afirmar que as
amplitudes são bem próximas: A0 = A1 ≈ A2. Assim,

ou

Lembrando que
Figura 7.17 Elementos para a dedução do padrão de interferência para duas frestas.

Podemos obter a expressão para a interferência em função do


comprimento de onda:

Uma linha nodal é obtida quando o argumento do segundo cosseno for


um múltiplo inteiro ímpar de π/2, ou seja, quando

em que n é um número inteiro (pode inclusive ser zero). Simplificando,


temos
As linhas que correspondem aos máximos são dadas por

A Figura 7.18 apresenta as hipérboles que representam as linhas


nodais. Essas curvas ligam os pontos de máximo (e também de mínimo) da
interferência de duas frestas em um determinado instante.
A dependência da distância e do comprimento de onda pode ser obtida
se lembrarmos de que, para um ponto P bem distante das fendas (veja a
Figura 7.17), é válido

Figura 7.18 Hipérboles das linhas nodais da interferência de duas fendas em um dado
instante. As linhas cheias correspondem aos máximos e as linhas tracejadas
correspondem aos mínimos.
Figura 7.19 Padrão de Moiré representando uma aproximação da inteferência de duas
fendas para duas configurações de frestas.

ou, considerando agora que cada linha (nodal ou de máximo), identificada


por um valor de n, terá um ângulo particular:
em que θ varia entre 0o e 90o. Assim, podemos também calcular a amplitude
ao longo de uma direção qualquer no semiplano onde ocorre a interferência:

Nas situações em que d >> λ, ou em que r1 ≈ r2 >> d, podemos


considerar a aproximação

e a visão geral da interferência de duas ondas se parece com os “padrões de


Moiré”: dois conjuntos de círculos cujos centros se encontram a uma
distância d. A Figura 7.19 mostra o resultado deste tipo de interferência.

■ ■ EXEMPLO 7.3
Uma onda plana de comprimento de onda 0,5 cm atinge um anteparo que
tem duas frestas estreitas com 1,2 cm de distância. Determine a quantidade
e os ângulos das linhas de máximo da interferência que será produzida.
Solução: Partindo da Equação 7.46, podemos calcular para cada n um valor
de sen θ. Dessa forma, construímos a tabela das direções das linhas de
máximo:

Tabela 7.2

n sen θ θ

–3 –1,25 —
–2 –0,833333 –56,4o

–1 –0,416667 –24,6o

0 0 0o

1 0,416667 24,6o

2 0,833333 56,4o

3 1,25 —

Para n < –2 e n > 2 não há linhas de máximo, pois, nestes casos, nλ/d
não pertence à imagem da função seno. Assim, temos cinco linhas de
máximo: a −56,4o, –24,6o, 0o, 24,6o e 56,4o.

7.5.2 Interferência de N frestas


Imaginemos um experimento no qual uma onda plana atinge um anteparo
no qual foram feitas N frestas bem estreitas. Por questões de simplificação,
consideraremos as frestas idênticas e igualmente espaçadas de uma
distância d uma da outra, como esquematizado na Figura 7.20.
A onda incidente original é considerada plana, monocromática, com
velocidade v, comprimento de onda λ e paralela ao anteparo, de tal forma
que cada fresta seja uma fonte de ondas circulares semelhantes e de mesma
fase na origem. Essas condições garantem que a diferença de amplitude
entre as ondas em um dado ponto P, distante das frestas de uma distância r
>> d, é desprezível. A diferença de distância entre cada uma das frestas e o
ponto P vale

Figura 7.20 Elementos para a dedução do padrão de interferência para N frestas.

em que θ é o ângulo que as linhas que ligam P às frestas faz com a


perpendicular do anteparo. Portanto, a diferença em unidades de tempo
entre as fases das ondas em P vale

Assim, a diferença de fase será


A amplitude observada em P é igual à soma das amplitudes das várias
ondas em um dado instante:

ou

em que ϕ corresponde à diferença de fase da onda da primeira fresta devido


à distância entre as frestas e P, e que é dada por

A superposição de ondas descrita por 7.53 pode ser interpretada como


uma soma de vetores de amplitude A0 e ângulo ϕ + nδ. Essa situação pode
ser simplificada para o caso em que temos N vetores de mesma amplitude e
que estão a um ângulo δ com relação ao vetor seguinte –
independentemente do valor de ϕ. Assim, a fórmula geral para a amplitude
é

No caso especial em que δ = 0, aplicando limites à Equação 7.55,


concluímos que
sendo este o caso de máxima amplitude em P, sendo válido para qualquer
valor de θ. Dada a sua importância, essa situação recebe o nome de
“máximo principal”.
Para δ = 2π/N, 4π/N, 6π/N etc., obtém-se sempre A = 0, o que implica
locais de valor mínimo.
Para valores intermediários de δ obtém-se uma distribuição de valores
da amplitude, contendo vários máximos e pontos de amplitude nula.

■ ■ EXEMPLO 7.4
Uma onda plana de comprimento de onda 0,5 cm e amplitude 3 mm atinge
um anteparo que tem 10 frestas distanciadas de 0,8 cm. Determine a
amplitude máxima que será observada em um ponto a 50 cm diretamente
em frente às frestas e a 3º e 30º da linha perpendicular ao anteparo.

Figura 7.21 Figura do Exemplo 7.4.


Solução: Para o ponto P1, diretamente em frente às frestas, temos θ = 0,
logo podemos utilizar a Equação 7.56:

Para o ponto P2, temos θ = 3º. Devemos, então, calcular δ através da


Equação 7.51:

o que equivale a cerca de 30,15º. Agora podemos aplicar a Equação 7.55:

Para o ponto P3, temos θ = 30º e usa o mesmo procedimento:

Ou seja, em P3, a amplitude é praticamente nula.


7.5.3 Interferência de uma fresta


A interferência gerada quando uma onda plana atinge uma fresta em um
anteparo foi apenas apresentada na Subseção 7.5.1. Naquele momento, não
foi discutida uma importante questão: a relação da abertura da fresta e o
comprimento de onda, sendo apenas comentado que a fresta era “bem
estreita”. Agora faremos as deduções considerando a largura da fresta.
Consideremos a Figura 7.22, em que uma fresta de largura b é atingida
por uma onda incidente plana, monocromática, com velocidade v,
comprimento de onda λ e paralela ao anteparo. Queremos estudar a
amplitude em um dado ponto P, distante da fresta uma distância r >> d, a
um ângulo θ da perpendicular do anteparo.
A distância entre as duas bordas da fresta e o ponto P vale

E a diferença de fase,
Figura 7.22 Elementos para a dedução do padrão de interferência para 1 fresta.

Podemos imaginar que a fresta é composta por certa quantidade de


pequenas frestas de largura Δs, sendo que a distância de cada uma até a
borda da fresta principal é dada por s. Assim temos uma fresta aproximada
por um conjunto de N frestas menores, tais que

Essa aproximação nos remete ao problema de N frestas e, portanto,


podemos nos aproveitar do formalismo lá desenvolvido. Por exemplo, já
sabemos que a amplitude máxima é obtida para δ = 0. Contudo, para
representar a fresta real (e contínua!) devemos considerar os limites Δs → 0
e N → ∞. Ou seja, devemos transformar a Equação 7.52 em uma integral,
cujo resultado é

em que o parâmetro α, introduzido durante a formulação da integral, é dado


por

Identificamos na Equação 7.65 a função de Bessel de ordem zero,


J0(α), cuja forma integral é
Figura 7.23 Função de Bessel de ordem zero. Ao alto, J0(α) e embaixo, |J0(α)|.
Figura 7.24 Interferência gerada por uma fresta: a amplitude das ondas a uma dada
distância em intensidade de cor e a |J0(α)| equivalente.

A função de Bessel de ordem zero tem um máximo em α = 0, o que


corresponde ao máximo principal da interferência. Por outro lado, em
termos de amplitude observada, devemos levar em conta o módulo de J0(α).
Uma representação da função de Bessel de ordem zero e de seu módulo são
apresentadas na Figura 7.23. A Figura 7.24 mostra uma imagem
representando um tanque de ondas com uma fenda e uma aproximação da
amplitude observada.
É interessante observar que os primeiros zeros ocorrem nas direções θ
tais que a diferença de distância até P é equivalente a um comprimento de
onda completo.

■ ■ EXEMPLO 7.5
Uma fenda com abertura de 5 mm recebe uma onda plana de comprimento
de onda 1 mm. Determine as direções nas quais devem ser observados os
dois primeiros zeros do padrão de interferência.
Solução: Sabemos que os zeros ocorrem quando α = π e α = 2π. Assim,
podemos escrever para o primeiro zero:

ou

O que resulta em θ1 = ±11,54º. Aplicando o mesmo processo para o


segundo zero, temos:

O que resulta em θ2 = ±23,58º.


7.6 MODULAÇÃO
Chama-se de modulação a uma operação entre duas ondas na qual se
transforma uma das características de uma onda segundo alguma
característica da outra onda. As técnicas de modulação são amplamente
utilizadas em telecomunicação, principalmente em rádio, televisão e
comunicações digitais. A área da engenharia que trata com estas técnicas é
conhecida como “processamento de sinais”.
Esse assunto ultrapassa os limites desta obra, por seu tratar
tecnológico, por isso apresentaremos superficialmente a modulação em
amplitude e a modulação em frequência. Existem outras técnicas de
modulação usadas em telecomunicações e sintetizadores eletrônicos
baseadas em fase e ângulo.

7.6.1 Modulação em amplitude


Sejam duas ondas dadas por

O produto de y1 e y2 em cada instante t é uma modulação em


amplitude, também conhecida por AM (do inglês amplitude modulation). A
função resultante é dada por

Se ω1 > ω2, teremos uma onda com a frequência de y1 e cuja amplitude


varia no tempo de acordo com y2. Neste caso, y1 recebe o nome de
“portadora”, e y2 recebe o nome de “sinal”. A Figura 7.25 apresenta as duas
componentes, portadora e sinal, e o resultado da modulação.
O sinal pode ser generalizado por uma função genérica com uma
dependência do tempo. Neste caso teríamos
O uso da modulação AM em sinais de rádio data dos primeiros
transmissores, criados no final do século XIX. Considerando que o sinal
deve ter frequências audíveis na faixa de 20 Hz até 20 kHz, e que a
portadora usa as frequências de transmissão da ordem de MHz, fica fácil
entender como o rádio AM funciona. A voz (ou música, ou outro tipo de
sinal audível) é usada para modular a onda portadora de frequência fixa. O
receptor sintoniza a portadora, e a amplitude recebida nesta frequência
corresponde ao sinal. A única condição física importante é que ω1 > ω2, ou
seja, a frequência da portadora deve ser maior do que a frequência do sinal.

Figura 7.25 Modulação em amplitude: acima a onda portadora, no meio o sinal e embaixo
o resultado da modulação.

7.6.2 Modulação em frequência


A modulação de frequência, ou FM (do inglês frequency modulation),
permite a codificação do sinal numa onda portadora através da variação da
frequência desta. Assim, a modulação se dá através do desvio da frequência
da portadora com relação a um valor padrão. A variação em frequência é
diretamente proporcional ao valor do sinal, devendo ser convertido para a
amplitude do sinal no receptor.
Generalizando-se o sinal como uma função genérica (baseada em uma
velocidade angular ω2) com uma dependência do tempo (baseada em uma
velocidade angular ω1), e a portadora como na Equação 7.72, temos

A Figura 7.26 apresenta as duas componentes, portadora e sinal e o


resultado da modulação.

Figura 7.26 Modulação em frequência: acima a onda portadora, no meio o sinal e embaixo
o resultado da modulação.

A condição para o uso da FM é ω1 >> ω2, ou seja, as frequências


portadoras devem ser maiores do que as frequências da AM. Comparando-
se com a modulação AM, a principal vantagem do uso da FM em
comunicações é a maior fidelidade ao sinal, devido a sua imunidade a
ruídos. Os sinais de televisão e de comunicação com satélites artificiais são
modulados em FM.

7.7 DEPENDÊNCIAS DO REFERENCIAL: O EFEITO


DOPPLER
Até este ponto, consideramos apenas as situações nas quais tanto as fontes
de onda como o observador não estão se movendo com relação um ao
outro. Mas, tendo os fenômenos ondulatórios características dinâmicas, é de
se esperar que variações de posição e movimentos entre fonte e observador
mudem a forma como as ondas são percebidas. A Figura 7.27 apresenta
uma imagem de uma fonte pontual que se move no meio enquanto emite
suas ondas. Observe que para um observador colocado em uma posição, o
ponto P, da qual a fonte se distancia, as ondas são recebidas com certa
frequência, que é menor do que a frequência percebida por um observador
em uma posição da qual a fonte se aproxima. Nos dois casos, a velocidade
de propagação da onda é a mesma, apenas a frequência mudou.
Seja uma fonte de ondas circulares de comprimento de onda λ e
frequência f. Consideremos que u denote a velocidade da fonte no meio e
que a velocidade das ondas seja denotada por v. Depois de um intervalo de
tempo t depois de gerada uma onda, esta apresentará raio vt. Neste mesmo
instante, a fonte terá se deslocado por uma distância igual a ut. Trataremos
primeiramente o caso em que v > u. Considere a Figura 7.28.
Figura 7.27 Resultado de uma fonte de ondas ao mover-se da esquerda para a direita.

Figura 7.28 Elementos para a dedução do efeito Doppler.


Dependendo da posição do observador, temos duas situações extremas:
a fonte aproxima-se diretamente do observador em P1, que observa um
comprimento de onda menor do que o original emitido pela fonte, ou a
fonte afasta-se do observador em P2, que observa o maior comprimento de
onda. Para estes dois casos, temos

Para os outros casos, nos quais o ponto P3 se encontra fora da direção


do movimento da fonte, devemos considerar a projeção da velocidade u na
direção do observador. Assim, temos

que, nas situações θ = 0º e θ = 180º, assume as formas de 7.77 e 7.78. A


Equação 7.79 é a forma geral do efeito Doppler para o comprimento de
onda. Sabendo-se que a frequência é dada por f = v/λ, podemos escrever

que é a forma geral do efeito Doppler para a frequência.

■ ■ EXEMPLO 7.6
Uma fonte de ondas sonoras de 150 Hz se move a 60 km/h. Determine a
frequência ouvida em um ponto diretamente em frente à fonte e em outro
ponto diretamente atrás da fonte. Faça um esboço da variação da frequência
em função da posição angular do observador com relação à fonte.
Considere a velocidade do som igual a 340 m/s.
Solução: A velocidade da fonte, 60 km/h, equivale a 16,7 m/s. Na posição
diretamente em frente à fonte temos θ = 0º:

O que resulta em

Na posição atrás da fonte temos θ = 180º:

O que resulta em

A variação da frequência em função da posição angular do observador com


relação à fonte pode ser obtida traçando-se o gráfico de
para θ variando de 0º a 180º. O resultado é apresentado na Figura 7.29.

Figura 7.29 Gráfico da variação da frequência com o ângulo do observador do Exemplo


7.6.

O caso em que u > v, ou seja, a fonte é mais rápida do que as ondas por ela
geradas, é ilustrado na Figura 7.30. Esse efeito é muito fácil de obter em um
tanque de ondas, pois neste dispositivo suas ondas têm velocidades baixas
(da ordem de alguns milímetros por segundo). Como a fonte está se
movendo mais rápido do que as ondas que são geradas, observamos uma
frente de onda avançando. Um observador parado verá a fonte de ondas
passar e somente depois disso é que as ondas o alcançarão. Exemplo: um
remador nas olimpíadas avança rapidamente sobre as águas calmas,
gerando atrás de si uma esteira em forma de “V”, de uma forma muito
semelhante à imagem apresentada na Figura 7.30.
Figura 7.30 Padrão gerado por uma fonte cuja velocidade intrínseca é superior à
velocidade das ondas.

A esteira corresponde à soma das frentes de onda geradas previamente,


e se propaga com a mesma velocidade das ondas. A esteira tem, portanto,
amplitude muito maior do que uma onda independente, e é considerada uma
onda de choque. Quando as ondas em questão são relativas ao som (que
nada mais é do que ondas de densidade), denominamos a fonte de
“supersônica”, pois ela se move mais rápido do que o som. Por exemplo,
um veículo supersônico (um avião a jato) ao passar por um observador é
imediatamente seguido por um estampido ensurdecedor: trata-se do
estrondo supersônico (supersonic boom em inglês). O estrondo supersônico
pode causar danos a estruturas, quebrar janelas e causar danos aos ouvidos.
O ângulo que a onda de choque supersônica faz com a direção de
movimento da fonte é dado por

em que v é a velocidade do som (das ondas) e u é a velocidade do avião (a


fonte em movimento). A razão

recebe o nome de “número de Mach”, e nos informa quantas vezes mais


rápido do que o som o avião está se movendo. Se um objeto se move com o
dobro da velocidade do som, dizemos que está a Mach 2. A Tabela 7.3
apresenta a velocidade em Mach alcançada por alguns veículos e objetos
supersônicos. Quando a velocidade do veículo ultrapassa Mach 5, este é
considerado um voo hipersônico.

Tabela 7.3

Categoria Nome Velocidade

aeronave Concorde Mach 2

F-104 Mach 1,93

F-15 Eagle Mach 2,7


F-4 Phantom II Mach 2,2

MiG-21 Mach 2

Ônibus Espacial Mach 1,5

SR-71 Mach 3

Tupolev Tu-144 Mach 2

projétil de um rifle Mach 3

objeto chicote Mach 1

meteoritos Mach 12 a 25

■ ■ EXEMPLO 7.7
Um avião supersônico está voando perto do solo a 2160 km/h. Determine o
ângulo que a onda de choque supersônica faz com a direção de movimento
da aeronave. Qual é a velocidade em Mach? Considere a velocidade do som
como 340 m/s.
Solução: Primeiro calculamos a velocidade do avião em m/s:
Agora, podemos aplicar diretamente a equação

O que resulta em α = 34,52º. A velocidade do avião em Mach vale

7.8 TÓPICO ESPECIAL: A VELOCIDADE DE


ROTAÇÃO DE UMA GALÁXIA
O nosso universo contém uma quantidade imensurável de galáxias. Cada
galáxia é composta por estrelas, nuvens de gás e poeira, podendo ter
centenas de milhares de anos-luz de diâmetro. A nossa galáxia tem cerca de
400 bilhões de estrelas e sua massa é estimada em 1012 massas solares.
Uma galáxia é uma associação de corpos celestes que se movem,
devido à gravidade, em torno de um centro comum. Logo, em termos
gerais, uma galáxia está girando. Na verdade, são as inúmeras estrelas e
massas de gás que estão se movendo, mas, principalmente em uma galáxia
espiral, este movimento é suficientemente ordenado para que a galáxia
inteira apresente uma rotação. O período de rotação de uma galáxia como a
Via Láctea (a nossa galáxia) é da ordem de 50 milhões de anos, e já foram
catalogados os períodos de rotação de centenas de galáxias.
Figura 7.31 Representação artística de uma galáxia. Esta imagem foi inspirada em uma
galáxia de tamanho similar à Via Láctea, a nossa galáxia. Estima-se que a Via Láctea
tenha um diâmetro de 120.000 anos-luz e que contenha cerca de 200 bilhões de estrelas.

Como isso é possível? Medir a rotação de um objeto que se encontra a


milhões de anos-luz e cujas voltas demoram milhões de anos ou mais...
Parece, à primeira vista, uma impossibilidade!
A explicação está na luz que vem das estrelas. As estrelas contêm cerca
de 70% de sua massa composta por hidrogênio. A luz emitida pelos átomos
de hidrogênio presentes nas estrelas tem um espectro bem característico,
sendo possível identificar a sua presença por linhas espectrais de
comprimentos de onda 656,2 nm (vermelho), 486,1 nm (azul-verde), 434,0
nm (azul-violeta), e 410,1 nm (violeta), entre outras. Essas linhas são
geradas pelos saltos do elétron do hidrogênio quando muda de estado
quântico, e são chamadas de linhas atômicas.
Os astrofísicos coletam a luz das estrelas nos telescópios e a
direcionam para um espectroscópio que, de modo semelhante ao prisma
refrator, decompõe a luz em seu espectro. A presença de gás na atmosfera
estelar será evidenciada por linhas no espectro obtido, cujo comprimento de
onda pode ser medido com precisão. Na primeira imagem da Figura 7.32
está representado um espectro do hidrogênio com a posição relativa destas
linhas.
Se a estrela estiver se afastando da Terra, o comprimento de onda da
sua luz será alongado e as linhas atômicas aparecem deslocadas para o lado
mais vermelho do espectro. Se a estrela estiver se aproximando, o
comprimento de onda será reduzido e as linhas atômicas aparecem
deslocadas para o lado mais azul do espectro. Essa é a origem do jargão
“red-shift” e “blue-shift” que significa deslocamento para o vermelho e
deslocamento para o azul, respectivamente. Com o uso das fórmulas do
efeito Doppler, pode-se medir precisamente a velocidade da fonte da luz a
partir dos comprimentos de onda deslocados no espectro.
Figura 7.32 As quatro linhas características do espectro do hidrogênio obtidos quando a
fonte está parada, afastando-se (red-shift) e aproximando-se (blue-shift).

De posse destes conhecimentos, podemos fazer o seguinte: medimos o


deslocamento das linhas de uma pequena fração da galáxia (por exemplo, a
galáxia da Figura 7.31) próxima de uma borda. Em seguida, fazemos a
mesma medida em uma posição diametralmente oposta à primeira medida.
Assim, estaremos medindo as velocidades das estrelas que, naquela galáxia,
estão vindo em nossa direção e das estrelas que estão se afastando de nós,
no outro lado. Essas velocidades podem ser usadas para calcular a
velocidade de rotação da galáxia como um todo.
Eis como se medem as velocidades e outras grandezas de objetos
astronômicos: não é preciso ir até lá, pois a luz já chegou aqui e nos trouxe
toda a informação que desejamos saber.

7.9 EXERCÍCIOS
1) Obtenha a expressão da velocidade transversal para o pulso definido pela
Equação 7.5.
2) Um fio tensionado por uma força de 14 N apresenta uma abrupta
variação de densidade em um dado ponto, variando de 54 g/m para 32 g/m.
Uma onda é transmitida neste fio e sua amplitude da incidente é de 4 mm.
Determine a amplitude das ondas refletida e transmitida pela variação do
meio.
3) Dois fios, um de densidade 100 g/m e outro de densidade 30 g/m, foram
presos um ao outro e sobre esta combinação observou-se a propagação de
uma onda. Sabendo-se que a amplitude das ondas refletida e transmitida é
de 0,35 mm e 1,55 mm, respectivamente, obtenha a amplitude da onda
incidente.
4) Dois fios de densidades diferentes foram presos um ao outro e sobre esta
combinação observou-se a propagação de uma onda. Qual deve ser a
relação entre as densidades dos fios para que a relação entre as velocidades
das ondas refletida e transmitida seja 1/5.
5) Um raio de luz incide sobre uma superfície de vidro comum a 40º, vindo
do ar. Determine o ângulo do raio refratado (use a Tabela 7.1).
6) Deseja-se identificar um líquido transparente. Para tanto, monta-se uma
experiência na qual a luz de um laser pointer incide sobre a superfície do
líquido a 30º com sua normal. Observa-se que o ângulo do laser no interior
do líquido faz um ângulo do raio de 21,58º. Quais são as possíveis
naturezas do líquido desconhecido? (Use a Tabela 7.1).
7) Um raio de luz é usado para medir o percentual de açúcar em uma
solução aquosa, medindo-se seu índice de refração. Para tanto, faz-se incidir
sobre a superfície da solução um raio de luz a 60º, vindo do ar. O ângulo do
raio refratado é de 38,22º. Aproximando a variação do índice de refração
das soluções de açúcar para uma função linear, determine o percentual de
açúcar presente neste caso (use a Tabela 7.1).
8) Seja um raio de luz que incide sobre a superfície que separa dois meios,
vindo originalmente do meio mais denso. Define-se o “ângulo crítico” de
um meio como o ângulo de incidência que resulta em um ângulo de
refração igual a 90º. Calcule o ângulo crítico para a água, o gelo e vidro a
29 % de chumbo.
9) Em um aquário, uma lâmina de vidro comum separa a água do ar.
Calcule o ângulo com que um raio de luz é visto fora do aquário quando seu
ângulo incidente sobre o vidro é de 10º, 20º e 30º.
10) Um prisma feito de vidro com 55 % de chumbo tem a forma de um
triângulo equilátero (semelhante ao apresentado na Figura 7.14). Um raio
de luz monocromática atravessa o prisma e seu ângulo incidente é de 60º.
Qual é o ângulo de saída do raio emergente?
11) Uma onda plana de comprimento de onda 2,2 cm atinge um anteparo
que tem duas frestas estreitas distanciadas de 0,8 cm. Determine a
quantidade e os ângulos das linhas de máximo da interferência que será
produzida.
12) Ao atingir um anteparo com duas frestas estreitas a 5,5 cm uma da
outra, uma onda plana gera um padrão de interferência cujas linhas de
máximo têm ângulos de 0º, 21,32º, 46,66º e seus correspondentes valores
negativos. Qual é o comprimento de onda da onda incidente?
13) Um anteparo com duas frestas estreitas é atingido por uma onda plana
cujo comprimento de onda é 3 cm. O padrão de interferência gerado tem
linhas de máximo com ângulos de –36º, 0º e 36º. Qual é a separação das
frestas?
14) Em um experimento, foram feitas com extrema precisão duas frestas em
um anteparo. A distância entre as frestas é de 0,005 mm. O par de frestas
foi iluminado por feixe de luz monocromática, e o resultado foi uma
imagem cujos máximos correspondentes a ângulos positivos estão
apresentados na Tabela 7.4. Qual é a cor da luz utilizada (use a Tabela 6.2).

Tabela 7.4

n θ (graus)

0 0,00

1 6,66

2 13,41

3 20,37
4 27,65

5 35,45

6 44,11

7 54,29

8 68,13

15) Uma onda plana de comprimento de onda 1,3 cm e amplitude 0,5 cm


atinge um anteparo que tem 24 frestas distanciadas de 0,4 cm. Determine a
amplitude máxima que será observada em um ponto a 30 cm diretamente a
5º, 20º e 40º da linha perpendicular ao anteparo.
16) Uma fresta com abertura de 1 cm recebe uma onda plana de
comprimento de onda 3 mm. Determine as direções nas quais devem ser
observados os dois primeiros zeros do padrão de interferência.
17) Uma onda plana de comprimento de onda 2,8 cm atravessa uma fresta
em um anteparo, produzindo um padrão de interferência cujos zeros estão
nas direções 27,82º e 68,96º. Qual é a abertura da fresta?
18) Uma onda plana atravessa uma fresta em um anteparo cuja abertura é de
5 cm. O padrão de interferência gerado apresenta linhas nodais (zeros) com
ângulos de 17,46º, 36,87º e 64,16º. Qual é o comprimento de onda
incidente?
19) Um pequeno orifício circular com 0,008 mm de diâmetro é usado como
uma fresta para medir o comprimento de onda de um feixe de luz
monocromática. A imagem projetada do padrão de interferência apresenta
círculos de sombra com 9 cm, 18 cm e 27 cm de raio. Determine o
comprimento de onda da luz incidente.
20) Um veículo portando um gerador de ondas sonoras de 277 Hz se move
a 80 km/h. Determine a frequência ouvida em um ponto diretamente em
frente à fonte e em outro ponto diretamente atrás da fonte.
21) Na reta final das corridas de fórmula 1, os carros da Ferrari chegam a
310 km/h. Sabendo-se que, na rotação máxima, estes motores operam em
21.420 rpm (rotações por minuto), calcule a frequência ouvida pelos
espectadores quando as Ferraris se aproximam e quando se afastam.
22) Em um agitado escritório de patentes, um funcionário muito ocupado
está interessado em medir as grandezas físicas do mundo que o rodeia.
Utilizando o microfone de seu computador, ele registra o som bitonal de
uma ambulância que se aproxima ao longo da avenida, registrando 940 Hz e
1680 Hz. Ao passar pelo prédio onde fica o escritório, a ambulância
acelerou, mudando de velocidade, e a gravação passou a indicar 840 Hz e
1500 Hz. Considerando um pequeno erro nas medidas, faça uma estimativa
das velocidades de aproximação e de afastamento da ambulância e de suas
frequências originais.
23) O capitão Jean-Luc Picard, da nave estelar Enterprise D, passa próximo
da Terra, a caminho de Júpiter. Durante a aproximação, Picard sintoniza seu
rádio FM na rádio Kiss FM (94,1 MHz) para ouvir suas músicas favoritas.
Depois de passar pelo nosso planeta, o capitão nota que seu rádio está
transmitindo as notícias da CBN (90,5 MHz). Qual é a velocidade da
Enterprise D? Qual é a frequência na qual está ocorrendo a recepção do
rádio?
24) A aeronave Rafale, fabricada pela indústria francesa Dassault, pode
voar a Mach 1,2. Qual é o ângulo que a onda de choque supersônica faz
com a direção de movimento da aeronave na sua velocidade máxima perto
do solo? Considere a velocidade do som como 340 m/s.
25) O famoso avião Lockheed SR-71 Blackbird é uma das aeronaves mais
rápidas do mundo, sendo que sua altitude de trabalho é de 24.000 m.
Sabendo-se que a esta distância do solo a velocidade do som vale 297,781
m/s, calcule o ângulo que a onda de choque supersônica faz com a direção
de movimento e a velocidade do avião em km/h.

Figura 7.33 Imagem do avião de reconhecimento estratégico SR-71 Blackbird em voo de


teste. Esta aeronave detinha o recorde mundial como a mais rápida aeronave tripulada.
(Crédito da foto: NASA).

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Capítulo 8

FERRAMENTAS DE ANÁLISE ESPECTRAL: A


TRANSFORMADA DE FOURIER

8.1 INTRODUÇÃO
8.2 ANÁLISE DE FOURIER
8.3 A TRANSFORMADA DE FOURIER
8.4 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS
8.5 CONVOLUÇÃO
8.6 A TRANSFORMADA DISCRETA DE FOURIER
8.7 TÓPICO ESPECIAL: FFT
8.8 EXERCÍCIOS

8.1 INTRODUÇÃO
A transformada de Fourier, e sua irmã a série de Fourier, tem-se mostrado como
uma das ferramentas matemáticas mais bem sucedidas da história do gênio
humano. Seu uso tem aplicações em todas as áreas do conhecimento em que os
fenômenos ondulatórios estão presentes, como acústica, óptica, engenharia
elétrica e civil, análises de vibração, processamento de sinais, processamento de
imagem, mecânica quântica, e muitas mais.
O conceito por trás dessa ferramenta tem suas origens no século XVIII. O
matemático francês Jean-Baptiste Joseph Fourier1 publicou em 1822 um
trabalho intitulado Teoria Analítica do Calor, no qual apresentava um
interessante teorema, que é conhecido até hoje pelo seu nome. Fourier propôs
que, dada uma função periódica que seja razoavelmente contínua, esta pode ser
expressa como a série de somas de senos e cossenos (cujo conjunto constitui a
série de Fourier), cada um dos quais com uma amplitude e fase, que são
conhecidos como os coeficientes de Fourier. O uso e aplicação deste teorema é
o que chamamos de Análise de Fourier e síntese de Fourier. Uma breve
aplicação desta técnica foi apresenta no Capítulo 5 (especificamente no
Exemplo 5.6), no qual uma onda retangular foi decomposta em uma soma de
senos (ou cossenos), adequadamente balanceados por suas amplitudes.

Figura 8.1 Primeira página do capítulo “Teoria do Movimento do Calor no Interior de Corpos
Sólidos” de Joseph Fourier, de sua obra Teoria Analítica do Calor. Nesse trabalho foi
apresentado o conceito do que veio a ser conhecido como transformadas de Fourier.
8.2 ANÁLISE DE FOURIER
Conforme as deduções do Capítulo 5, qualquer função periódica f(θ), que
obedeça

pode ser descrita em termos de uma soma infinita de senos e cossenos, ou seja

em que

é a média da função no intervalo (-π, π), e

são os coeficientes multiplicativos das parcelas da Equação 8.2. No caso de


funções de período arbitrário T, podemos aplicar a transformação

O que resulta em uma expressão mais generalizada,


e

Finalmente, podemos substituir θ′ por t e 2π/T por ω:

Para que possamos ter uma visão generalizada da série de Fourier, devemos
introduzir um formalismo complexo. Partindo da relação de Euler:

podemos invertê-la, obtendo expressões para o seno e o cosseno:

E obtemos uma nova expressão para a série de Fourier:

Escolhendo um valor k, tal que k = –∞,...0,...,∞, temos


Agora definimos uma nova série de coeficientes:

e chegamos à forma complexa da série de Fourier:

Ou, mais simplesmente,

em que

Dadas as conhecidas propriedades das funções trigonométricas, uma


função par terá sua série de Fourier baseada apenas em cossenos e uma função
ímpar terá sua série de Fourier baseada apenas em senos. Assim, podemos
sempre deslocar em uma constante o argumento da função de forma a
simplificar os cálculos em uma única forma trigonométrica.

■ ■ EXEMPLO 8.1
Obter a série de Fourier da função dente de serra de período 2π, conforme
apresentada na Figura 8.2.

Figura 8.2 Figura do enunciado do Exemplo 8.1.

Solução: Dentro dos limites do período da função, esta pode ser representada
por

A frequência angular vale

A partir da Equação 8.17, podemos escrever a fórmula geral dos coeficientes da


série de Fourier:
Ou seja,

Para os valores de k negativos podemos usar a propriedade

Portanto, a função pode ser representada pela soma descrita pela Equação 8.16:

Aplicando-se a relação de Euler a esta soma, chega-se a


Vemos que a parte imaginária (os cossenos) se anula e a parte real (os senos) se
mantém. Esse resultado já era previsto, uma vez que a função é ímpar. Assim,
chegamos finalmente a

O resultado pode ser apreciado na Figura 8.3 que apresenta a soma das
primeiras 22 componentes da função.

Figura 8.3 Resultado da soma das 22 primeiras componentes da onda dente de serra
apresentada na Figura 8.1.

8.3 A TRANSFORMADA DE FOURIER


Até este ponto, vimos que a aplicação das séries de Fourier nos dá uma série de
valores, ligados às componentes trigonométricas de uma função. Fica evidente
que estas componentes correspondem diretamente aos modos de vibração
estudados nos capítulos anteriores, e que a ordem do modo corresponde ao
índice do coeficiente de Fourier (o valor de k). Lembremos que tanto os modos
de oscilação como os índices dos coeficientes de Fourier são indexados por
números inteiros.
A transformada de Fourier nos permite realizar uma conversão semelhante,
mas de resultado contínuo. Em vez de uma sequência de coeficientes discretos
ligados a modos de oscilação, o resultado é uma função, cujo argumento é a
frequência. A principal vantagem desta abordagem é a possibilidade de se
analisar funções independentemente de seu período. Para distinguir os dois
“ambientes”, identificaremos daqui em diante a função original como estando
no “domínio do tempo” e sua transformada de Fourier no “domínio da
frequência”.
A Figura 8.4 apresenta uma forma de se interpretar o significado de
domínio da frequência e domínio do tempo. A função em estudo é definida pela
soma de duas ondas senoidais no tempo, de frequências diferentes. Sua
transformada de Fourier apresentará dois picos, um relativo a cada frequência
que compõe a onda original. Como a primeira função é dependente do tempo,
ela é formalizada no domínio do tempo. Por outro lado, a sua transformada de
Fourier é formalizada tendo como argumento a frequência, ou seja, no domínio
da frequência. Eventualmente, como ω = 2πf, o domínio da frequência pode ter
como argumento a velocidade angular.
Figura 8.4 Acima: uma função composta por duas ondas de frequências diferentes, no domínio
do tempo. Abaixo: a sua transformada de Fourier, no domínio da frequência.

A transformada de Fourier pode ser formalizada de diferentes maneiras.


Neste livro adotaremos

em que F(ω) é a transformada de Fourier de f(t) e, portanto, f(t) é a


transformada inversa de Fourier de F(ω). F(ω) também é conhecida como o
espectro de f(t). A operação assim definida pode ser considerada como uma
função que leva do domínio do tempo para o domínio da frequência, cujo
formalismo pode ser abreviado por

e sua inversa como

A função f(t) deve ser definida em todo o intervalo [– ∞, +∞], mas podendo
ser composta por trechos de subfunções.
Podemos passar às propriedades da transformada de Fourier. Dadas duas
funções no domínio do tempo, f(t) e g(t), suas transformadas de Fourier,
respectivamente F(ω) e G(ω), e dois números a e b, temos:
a) Linearidade:

b) Similaridade: se g(t) = f(at) então é válido

c) Deslocamento: se g(t) = f(t+b) então é válido

d) Derivada:

■ ■ EXEMPLO 8.2
Obter a transformada de Fourier da função pulso retangular de amplitude A e
duração T, conforme apresentada na Figura 8.5.
Solução: Esta função pode ser descrita por

Aplicando a definição da transformada de Fourier (Equação 8.26) temos

cuja solução é

Esta expressão pode ser reescrita em termos da frequência (cuidado com a


notação: f é frequência neste exemplo):

Fazendo uso da função sinc normalizada, definida por

Chegamos finalmente a

A Figura 8.6 apresenta o gráfico de F(f ).


Figura 8.5 Função no domínio do tempo do Exemplo 8.2.

Figura 8.6 Transformada de Fourier da função pulso retangular de amplitude A e duração T. O


máximo tem valor AT e os zeros estão localizados em múltiplos inteiros de 1/T.

■ ■ EXEMPLO 8.3
Obter a transformada de Fourier da função gaussiana
Solução: Aplicando a definição da transformada de Fourier a esta equação,
temos

De forma a facilitar a dedução, usaremos a frequência f no lugar da velocidade


angular. Para tanto, basta aplicar a transformação ω = 2π f:

Calculamos a derivada com relação a f dos dois lados da equação:

Fazemos a transformação de variáveis

e, relembrando o método de integração por partes,

Podemos então escrever

Ou, mais simplesmente


Reconhecemos esta expressão como uma equação diferencial de primeira ordem
em F, cuja solução é do tipo

Substituindo f = 0 na Equação 8.42, obtemos

Portanto

E concluímos que a transformada de Fourier da Gaussiana é a própria


gaussiana:

A generalização desta dedução é dada pela fórmula da gaussiana deslocada em


escala. Dada a função

em que k e a são constantes, sua transformada de Fourier é dada por

Essas ferramentas também podem ser usadas para se obter a transformada de


Fourier de funções de mais de uma variável. Dado o teorema da superposição
da teoria ondulatória, sabemos que o comportamento ondulatório em uma
dimensão é independente do comportamento ondulatório nas outras dimensões,
sendo possível sua análise em separado e posterior sobreposição. A dedução da
transformada de Fourier em duas dimensões resulta em

e sua inversa,

Generalizando para n variáveis, temos

Todas as propriedades descritas mais acima para a transformada de Fourier


unidimensional são aplicáveis à situação de mais dimensões. A Tabela 8.1
apresenta uma lista de funções de várias naturezas e suas respectivas
transformadas de Fourier.

Tabela 8.1

8.4 EQUAÇÕES DIFERENCIAIS


Uma notável e importante aplicação das transformadas de Fourier é a sua
utilização na resolução de equações diferenciais. Tomando uma função
diferenciável f(t) e sua transformada de Fourier F(ω), ambas tendo como
domínio o conjunto dos números reais, temos que

que é conhecida como a propriedade da diferenciação das transformadas de


Fourier.
Usando esta propriedade podem-se reescrever equações diferenciais como
equações algébricas. Sendo esta aplicação possível, o adequado uso das
Equações 8.40 e 8.41 nos permite transformar um sistema de equações
diferenciais em um sistema de equações algébricas. Essa mesma linha de
raciocínio é também válida para as transformadas de Laplace, muito utilizadas
em sistema de controle automatizado.

■ ■ EXEMPLO 8.4
Considere a equação diferencial ordinária (ou EDO)
e obtenha uma solução para f(x) com o uso de transformadas de Fourier.
Solução: Aplicando a propriedade da linearidade, a transformada de Fourier
desta equação pode ser escrita como

Ou, utilizando a notação de letras maiúsculas para designar as transformadas,

A partir da propriedade da derivada, sabemos que (veja Tabela 8.1)

Portanto, podemos reescrever a Equação 8.45 como

Isolando F(ω),

E chegamos a

O resultado que desejamos é a inversa da transformada de Fourier de F(ω):


ou

Aplicando a propriedade de convolução, podemos reescrever esta última


expressão como

Consultando a Tabela 8.1, vemos que a transformada inversa do primeiro


fator da convolução é

E a transformada inversa do segundo fator da convolução é a própria g(x).


Portanto,

Assim, finalmente chegamos a

que é a solução buscada.


8.5 CONVOLUÇÃO
A operação convolução toma como parâmetros duas funções f e g, resultando
em uma nova função que, além de ter certas propriedades das funções originais,
nos dá a área de sobreposição entre f e g. Essa operação é similar a uma
correlação cruzada, e suas aplicações práticas podem ser encontradas em
subáreas como processamento de sinal e imagem, probabilidade, estatística,
visão computacional, engenharia elétrica, equações diferenciais, e muitas
outras.
Formalmente, dadas duas funções no domínio do tempo, f(t) e g(t), a sua
convolução é definida como

em que a notação f *g significa a “convolução entre f e g” e f*g é uma função


no domínio do tempo. Para a convolução, é válido

Dadas as funções no domínio do tempo, f(t) e g(t), e suas correspondentes


transformadas de Fourier, F(ω) e G(ω), ou seja,

Denotamos como h a convolução entre f e g:

e sua transformada de Fourier é dada por

Substituindo a Equação 8.75, temos


Que pode ser reescrita como

Introduzindo

Podemos separar as exponenciais em t′ e τ, passando o termo em τ para a


função f:

Isso nos permite separar os integrandos:

Reconhecemos no lado direito desta expressão as transformadas de Fourier


de f e g. Logo

Ou seja,
Que é conhecido como o “teorema da convolução”. Esta é uma ferramenta
muito poderosa, pois nos permite obter a convolução de duas funções através da
antitransformada do produto das suas transformadas de Fourier.

■ ■ EXEMPLO 8.5
Dadas duas funções gaussianas no domínio do tempo

obtenha a expressão da convolução f*g. Em seguida, faça os gráficos de f(t),


g(t) e f(t)*g(t) para sf = 1,5, tf = –1 e tf = 3.
Solução: Podemos aplicar diretamente a definição da convolução:

que nos dá

Fazendo os produtos do integrando, podemos escrever


Os termos independentes de τ que podem ser extraídos da integral valem:

Sabemos que a integral de uma distribuição de densidade gaussiana vale

Portanto

Que corresponde a uma gaussiana no domínio do tempo com e


deslocamento da origem tf + tg. Os gráficos de f(t), g(t) e f(t)*g(t) são
apresentados na Figura 8.7.
Figura 8.7 Exemplo 8.5: funções originais (acima) e sua convolução (embaixo).

8.6 A TRANSFORMADA DISCRETA DE FOURIER


Imaginemos uma função f(t) que representa o comportamento de uma grandeza
da natureza em função do tempo. Sabemos que, formalmente, podemos
representar qualquer função temporal como uma soma de senos e cossenos.
Para tanto, basta aplicarmos a Equação 8.26 (a transformada de Fourier) que
nos dá o espectro no domínio da frequência.
É importante lembrarmos que a Equação 8.26 exige que a função f(t) esteja
definida em todo o espaço. Entretanto, quando fazemos uma amostragem
digital, isso não é verdade, pois a função amostrada é definida apenas nos
pontos correspondentes ao espaço amostral, como mostra a Figura 8.8. Dá-se a
esta forma de função o nome de discretização, que neste caso é no tempo: é uma
discretização temporal. Quando se aplica o processo de discretização a uma
função no espaço, temos uma discretização espacial, exemplificada na Figura
8.9.
As técnicas de discretização espacial e temporal são muito aplicadas em
tecnologias atuais, principalmente aquelas baseadas em computadores e
sistemas digitais. Por exemplo, as músicas gravadas em um CD são
discretizadas (ou “amostradas”) no tempo, de tal forma que as informações que
as representam são listas de valores correspondentes à amplitude das ondas
sonoras ao longo do tempo. Esses valores são lidos e convertidos de forma
adequada para que o som gerado seja fiel ao originalmente gravado. O mesmo
acontece com fotografias digitais e filmes. Muitas outras formas de informação
são armazenadas na forma discretizada.

Figura 8.8 Discretização temporal: função original (acima) e sua forma discretizada no tempo
(embaixo).
Figura 8.9 Discretização espacial em duas dimensões: imagem discretizada no espaço
(esquerda) e a imagem original (direita).

Neste ponto, após esta breve introdução, apresentamos a Transformada


Discreta de Fourier, ou TDF (DFT em inglês). Esta transformada recebe como
parâmetros de entrada uma lista finita de valores igualmente espaçados e
ordenados no tempo (ou no espaço) que representam a imagem da função f(t),
ou seja

Usando a função delta de Dirac, cuja definição é

e que tem a interessante propriedade


Podemos formalizar f(t) como

em que fk é um número complexo que representa o valor de f(t) no instante (ou


posição) tk. O índice k representa a discretização no espaço dos parâmetros.
Aplicando a definição da transformada de Fourier (Equação 8.26), temos

Uma vez que o domínio do tempo foi discretizado, o mesmo pode ser feito
com respeito ao domínio da frequência. Para tanto, consideramos um índice de
discretização no domínio da frequência, n. Assim, definimos

Aplicando essa nova definição da velocidade angular e a propriedade


expressa em 8.95, obtém-se um conjunto ordenado dos coeficientes
multiplicativos de uma soma finita de funções senoidais complexas, ordenados
por suas frequências. Formalmente,

e sua inversa
Nessas expressões, f representa o conjunto de N valores da função original
no domínio do tempo (ou do espaço), fk representa o valor correspondente ao
instante (ou posição) k, F representa o conjunto de N valores da transformada
resultante no domínio da frequência e Fn representa o valor associado à
amplitude da harmônica n. Não é coincidência que o número de pontos no
domínio do tempo seja igual ao número de pontos no domínio da frequência;
isso apenas reflete em um domínio a precisão dos dados originais no outro
domínio.
Os valores de f devem ser números complexos. Como, na prática,
geralmente são obtidos números reais (pois correspondem a medidas de
amplitude), é comum considerar a parte imaginária como existente, mas nula.
Os coeficientes multiplicativos obtidos como resultado de saída também são
complexos. Considera-se que as frequências das funções resultantes sejam
múltiplos inteiros da frequência fundamental, cujo período coincide com o
comprimento do intervalo de amostragem de f, e este será também o período
fundamental de F. Todas as propriedades da transformada de Fourier contínua
são válidas para a TDF, incluindo-se a convolução.
Aplicando-se a identidade de Euler (veja Equação 8.10), podemos
transformar a Equação 8.93 em

o que nos permite calcular com mais facilidade a TDF.

■ ■ EXEMPLO 8.6
Considere a onda quadrada discretizada em 8 pontos descrita na Tabela 8.2 e
apresentada na Figura 8.10 e obtenha sua TDF usando diretamente a sua
definição.

Tabela 8.2
k x

0 1

1 1

2 1

3 1

4 0

5 0

6 0

7 0
Figura 8.10 Onda Quadrada discretizada com 8 pontos do Exemplo 8.6.

Solução: O primeiro passo é considerar que a função da Tabela 8.2 é complexa


e que seus componentes imaginários são nulos. Evidentemente, N = 8.
Considerando o expoente da Equação 8.99, podemos construir uma tabela com
linhas indexadas por k e colunas indexadas por n, em que cada célula vale

que é o argumento dos senos e cossenos da Equação 8.101. O resultado é


apresentado na Tabela 8.3.

Tabela 8.3

      n

      0 1 2 3 4 5 6 7

                     

k 0   0 0 0 0 0 0 0 0

1   0 –π/4 – – – –5π/4 – –7π/4


π/2 3π/4 π 3π/2

2   0 –π/2 –π – – –5π/2 –3π –7π/2


3π/2 2π

3   0 – – – – – – –
3π/4 3π/2 9π/4 3π 15π/4 9π/2 21π/4
4   0 –π –2π –3π – –5π –6π –7π

5   0 – – – – – – –
5π/4 5π/2 15π/4 5π 25π/4 15π/2 35π/4

6   0 – –3π – – – –9π –
3π/2 9π/2 6π 15π/2 21π/2

7   0 – – – – – – –
7π/4 7π/2 21π/4 7π 35π/4 21π/2 49π/4

Podemos a seguir calcular fkcos(x(k,n)) e fksen(x(k,n)), resultando nos valores


apresentados nas Tabelas 8.4 e 8.5.

Tabela 8.4
cossenos

      n

      0 1 2 3 4 5 6 7

                     

k 0   1 1 1 1 1 1 1 1

1   1 0 – 0
1

2   1 0 –1 0 1 0 – 0
1

3   1 0 – 0
1

4   0 0 0 0 0 0 0 0

5   0 0 0 0 0 0 0 0

6   0 0 0 0 0 0 0 0

7   0 0 0 0 0 0 0 0

Tabela 8.5
senos

      n

      0 1 2 3 4 5 6 7

                     

k 0   0 0 0 0 0 0 0 0

 
1 0 –1 0 1

2   0 –1 0 1 0 –1 0 1

3   0 1 0 –
1

4   0 0 0 0 0 0 0 0

5   0 0 0 0 0 0 0 0

6   0 0 0 0 0 0 0 0

7   0 0 0 0 0 0 0 0

Somando-se os valores das colunas das Tabelas 8.4 e 8.5, obtemos os


valores Fn, cujos resultados são apresentados na Tabela 8.6, e esta é a resposta
deste exemplo.

Tabela 8.6

n Fn

0 4

2 0
3

4 0

6 0

O Apêndice B.6 apresenta uma rotina escrita em linguagem C que implementa o


método usado neste exemplo.

8.7 TÓPICO ESPECIAL: FFT


Ao analisarmos o método apresentado na seção anterior, concluímos que, à
medida que o número N de pontos amostrados cresce, o número de operações
necessárias para terminar o cálculo aumenta com N2. Assim, algoritmos (como
o apresentado no Apêndice B.6) podem ficar calculando por intervalos de
tempo extremamente longos, principalmente quando os dados de entrada
correspondem a informações reais. Por exemplo, uma música de 3 minutos de
duração apresenta N ≈ 15 × 106. Logo, o método apresentado exigiria matrizes
da ordem 2 × 1015 elementos...
Felizmente há uma interessante solução para este problema: a FFT. A sigla
FFT vem do inglês Fast Fourier Transform, ou Transformada Rápida de
Fourier. Apesar da óbvia sigla em português, TRF, a bibliografia, mesmo a
nacional, se refere a este algoritmo como FFT. Trata-se de uma técnica que nos
permite obter o cálculo da TDF de forma bem rápida em um computador. Com
o uso da FFT, o número de operações necessárias para se obter a TDF mantém
uma dependência com o número de valores originais da ordem de N log2N.
Apresentaremos aqui o algoritmo proposto por J.W. Cooley e John Tukey,
ambos matemáticos norte-americanos, que é o mais conhecido pelos usuários de
FFT. Tomemos um conjunto ordenado de pontos que representa uma função
discretizada, semelhante àquele apresentado pela Equação 8.93. Para o caso N =
8, podemos expandir a Equação 8.99 e obter

Podemos separar os termos de índices pares dos termos de índices ímpares:

Os termos de índices ímpares podem ser fatorados por um fator .


Logo

O mesmo processo pode ser aplicado às duas parcelas, resultando em


Neste ponto, não é mais possível reagrupar os termos com a mesma
técnica. Agora, fazemos a simplificação dos expoentes:

Lembrando que

e observando que o período multiplicador dos expoentes entre parênteses é n =


2, concluímos que as somas entre parênteses são iguais para n = [0, 2, 4, 6], e
para n = [1, 3, 5, 7]. Portanto, em um nível mais profundo nos parênteses serão
necessários 4 × 2 = 8 operações no total. Fazendo o mesmo processo no
segundo termo, como n = [1, 3, 5, 7] corresponde à metade do período, os
multiplicadores dos expoentes são os mesmos que para n = [0, 2, 4, 6], mas com
o sinal negativo, ou seja

O período multiplicador dos expoentes nos colchetes é n = 4, o que


significa que estes termos têm os mesmos valores para n = [0, 4], n = [1, 5], n =
[2, 6], e n = [3, 7]. Logo, no nível médio, entre parênteses, temos 2 × 4 = 8
somas. Por outro lado, a segunda metade desses termos pode ter uma inversão
de sinal com relação à primeira metade, pois a distância entre n e n + 2 é π.
Assim, para n = [0, 4] mantém-se o sinal e para n = [2, 6] o sinal é invertido. Os
termos em n = [1, 5] recebem −i e em n = [3, 7] o valor é i.
Subindo para o nível mais exterior, temos apenas uma soma de todos os
componentes, sendo que o período multiplicador dos expoentes vale 8,
resultando em 1 × 8 = 8 somas. Além disso, a segunda metade das parcelas tem
o sinal invertido com relação à primeira.
Depois desta descrição, podemos prever que seja possível criar um
algoritmo recursivo que divide sucessivamente os parâmetros de entrada em
grupos cada vez menores, fazendo as trocas de posição (como em 8.104 e
8.106), fatorando o multiplicador dos expoentes e simultaneamente cuidando
das trocas de sinal. Quando se alcança um subconjunto de apenas um termo,
aplica-se diretamente a transformação da unidade, que corresponde a replicar o
valor encontrado. Esta foi a proposta da FFT2 de Cooley & Tukey. Esse
algoritmo, bem como suas variações, é largamente utilizado em milhões de
aplicações, pois sua execução nos computadores modernos é praticamente
instantânea e, inclusive, permite que seja implementado em hardware, no
interior dos chips digitais.
Uma aparente limitação desse algoritmo é que N deve ser uma potência
inteira de 2. Contudo, não se pode impor esta limitação aos dados obtidos no
mundo real, pois os dados discretizados referentes a uma música, um filme ou
uma fotografia não têm necessariamente essas exatas quantidades de
componentes. Assim, nesses casos, pode-se:
a) Completar o conjunto ordenado de parâmetros de entrada com zeros
até que se alcance a quantidade de valores adequados;
b) Dividir o conjunto de dados em dois grupos: o primeiro com a maior
potência inteira de 2 menor do que N, e o segundo com os dados
restantes. Essa opção pode ser aplicada recursivamente até que se
esgotem todos os dados;
c) Considerar que o conjunto de dados se repete periodicamente, de
forma que possa ser considerado um conjunto maior, com um número de
dados equivalente a uma potência inteira de 2.
Existem ainda outras técnicas mais sofisticadas para resolver esse
problema e, caso o caro leitor se interesse, aconselhamos o estudo das
referências listadas no final desta obra.
Assim, o algoritmo da FFT se divide em duas partes: 1) trocar de posição
os dados de entrada e 2) multiplicar os grupos de 2, 4, 8,... elementos pelos
respectivos fatores. Observando a Equação 8.107, observamos que a sequência
dos parâmetros foi transformada de [0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7] para [0, 4, 2, 6, 1, 5, 3,
7]. Escrevemos estas sequências na Tabela 8.7, nas notações decimal e binária.
Devido à característica dicotômica desta operação, temos a agradável surpresa
de que as posições da sequência invertida correspondem aos índices em binário
invertidos (veja a Figura 8.11). Assim, a primeira parte do algoritmo se limita a
trocar as posições dos dados de entrada segundo esta regra. A Figura 8.12
apresenta a reordenação de um conjunto ordenado de quatro valores. Observe
que existe uma simetria nessa operação, cuja origem está na sucessiva divisão e
reagrupamento baseado em divisões por 2.
Na segunda parte, para os estudos de sinal e cálculo dos fatores
multiplicativos, podemos representar as operações por diagramas como
apresentado na Figura 8.13. Observe que, novamente, existe uma simetria
devido à estrutura binária dos níveis.
O uso da FFT nos permite aplicar as propriedades e operações das
transformadas de Fourier a dados e informações. Por exemplo, a convolução é
uma operação muito útil quando se deseja efeitos de “suavização” de sinais
digitais. A convolução também é a base da transmissão em frequência
modulada.

Tabela 8.7

Sequência decimal 0 1 2 3 4 5 6 7
original
binário 000 001 010 011 100 101 110 111

Sequência binário 000 100 010 110 001 101 011 111
final
decimal 0 4 2 6 1 5 3 7
Figura 8.11 Reordenção de um conjunto ordenado de oito valores durante a primeira parte de
um algoritmo de FFT.

Figura 8.12 Reordenção de um conjunto ordenado de quatro valores durante a primeira parte
de um algoritmo de FFT.
Figura 8.13 Sequência de multiplicações e mudanças de sinal para os estudos de sinal e
cálculo dos fatores multiplicativos em uma sequência de oito valores.

Talvez a principal aplicação da FFT esteja na área de compactação de


dados. Imaginemos uma peça musical com cerca de 3 minutos de duração, com
sua correspondente amostragem digital. Sua DFT completa conterá todas as
amplitudes de todas as harmônicas que compõem a música. Em termos de
informação, a DFT tem praticamente a mesma quantidade de valores que a
música original. Mas o ouvido humano limita o valor máximo das frequências
que podemos ouvir. Logo, não é necessário armazenar, ou transmitir, as
amplitudes das frequências que ultrapassam os limites auditivos do ouvido
humano. Portanto, os dados a serem armazenados ocuparão muito menos
espaço do que a informação original. Ao se fazer a transformada inversa, a
música ouvida não será a mesma da original, mas... É impossível perceber a
diferença apenas com nossos ouvidos.
Por exemplo, uma comparação rápida pode ser feita com os espaços
ocupados por músicas no computador. O formato de arquivo com extensão
“wav” armazena arquivos de áudio no domínio do tempo, sem compactação. O
formato com extensão “mp3” armazena arquivos de áudio no domínio da
frequência, considerando os limites auditivos. Em média um arquivo “mp3” é
de 20 a 50 vezes menor do que um arquivo “wav”.
O mesmo pode ser aplicado a imagens. As fotografias são armazenadas
tradicionalmente no formato “jpeg”. Este formato utiliza uma versão das
transformadas de Fourier (a DCT — discrete cossine transform) para armazenar
apenas as amplitudes das frequências (no espaço) da imagem original. A perda
de precisão pode ser vista quando ampliamos exageradamente uma imagem. Os
filmes e animações também são compactados com transformadas de Fourier,
sendo o principal formato de arquivo aqueles com extensão “mpeg”. As
tecnologias de telefonia identificadas como “3G” e “4G” também compactam
nossas conversas para economizar os meios e bandas de comunicação, e
utilizam versões especiais da FFT.
É impressionante pensar como tantos aspectos tecnológicos da nossa vida
moderna utilizam a transformada de Fourier, proposta por um cientista do
século XVIII como uma técnica de solução de equações diferenciais...

8.8 EXERCÍCIOS
1) Encontre a série de Fourier da função

2) Encontre a série de Fourier da função


Figura 8.14 Figura do Exercício 8.2.

3) Um retificador de meia onda é um circuito eletrônico que impede a passagem


de corrente quando esta é negativa. O resultado obtido para a corrente pode ser
formalizado como

Encontre a série de Fourier desta função.


Figura 8.15 Um circuito retificador de meia onda composto por um transformador e um diodo. A
corrente senoidal na entrada é transformada na saída em uma corrente apenas com valores
positivos.

4) Usando a técnica apresentada no Exemplo 8.6, obtenha a transformada


discreta de Fourier da função representada na Tabela 8.8.

Tabela 8.8

k x

0 0,5

1 0,5

2 0,5

3 0,5

4 −0,5

5 −0,5

6 −0,5

7 −0,5

Tabela 8.9
k x

0 0,1

1 0,2

2 0,3

3 0,4

4 0,4

5 0,3

6 0,2

7 0,1

5) Usando a técnica apresentada no Exemplo 8.6, obtenha a transformada


discreta de Fourier da função representada na Tabela 8.9.
6) Usando a técnica apresentada no Exemplo 8.6, obtenha a transformada
discreta de Fourier da função representada na Tabela 8.10.
7) Usando a técnica apresentada no Exemplo 8.6, obtenha a transformada
discreta de Fourier da função representada na Tabela 8.11.

Tabela 8.10

k x
0 0

1 0,012346

2 0,049383

3 0,111111

4 0,197531

5 0,308642

6 0,444444

7 0,604938

8 0,790123

9 1

Tabela 8.11

k x

0 1,0

1 0,8
2 0,6

3 0,4

4 0,2

5 0,0

6 0,0

7 0,0

8 0,0

9 0,0
____________
1
Jean Baptiste Joseph Fourier foi um importante matemático francês, mas
também exerceu atividades como historiador, físico e administrador. Seu
primeiro emprego foi como professor de matemática quando tinha 16 anos, na
escola militar de Auxerre. Com 27 anos, foi admitido no corpo docente da École
Normale Supérieure e mais tarde na famosa Polytechnique de Paris. Napoleão o
nomeou como governador do Baixo Egito em 1798. Fourier foi membro da
Academia de Ciências da França, assumindo o papel de Secretário em 1816.
2
James W. Cooley & John W. Tukey (1965): “An algorithm for the machine
calculation of complex Fourier series”, Math. Comput. 19, 297–301.

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APÊNDICE A

A.1 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 1


A.2 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 2
A.3 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 3
A.4 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 4
A.5 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 5
A.6 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 6
A.7 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 7
A.8 RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS DO CAPÍTULO 8

A.1 Respostas dos exercícios do Capítulo 1


1.1

Figura A.1.1 Resposta do Exercício 1.1.

1.2
f = 20/ π Hz = 6,37 Hz
T = π/20 s = 0,157 s
ω = 40 rad/s
φ = 5 rad
A = 12
=6
1.3

1.4

1.5

1.6

1.7

1.8
1.9

1.10

1.11

1.12

Figura A.1.12 Resposta do Exercício 1.12.

1.13
Figura A.1.13 Resposta do Exercício 1.13.

1.14
Os sinais devem ter a mesma frequência e uma diferença de fase de π/2.

A.2 Respostas dos exercícios do Capítulo 2


2.1

2.2

2.3
2.4

2.5

2.6

2.7

2.8

2.9
2.10

2.11

2.12

2.13
2.14

2.15

2.16

2.17

2.18

2.19
2.20

2.21

2.22

2.23

2.24

2.25
2.26

2.27

Tabela A.2.27

Frequência (Hz) L×C (s)

20 0,0987

30 0,0439

50 0,0158

A.3 Respostas dos exercícios do Capítulo 3


3.1
ω0 = 0,603 rad/s
γ = 0,4545 Hz
ω = 0,559 rad/s
3.2
ω0 = 2,864 rad/s
γ = 1,2 Hz
ω = 2,8 rad/s
Figura A.3.2 Resposta do Exercício 3.2.

3.3
k = 202,5 N/m
b = 2,0 kg/s
3.4

3.5

3.6
ω0 = 6,633 rad/s
Tabela A.3.6

b (kg/s) γ (Hz) condição

2 4 subcrítico

4 8 subcrítico

8 16 supercrítico

Amortecedor para que o sistema se comporte de maneira crítica: b = 6,633


kg/s
3.7

Figura A.3.7 Resposta do Exercício 3.7.

3.8
f = 0,178 Hz
Q = 11,18
3.9
γ = 1,84 Hz
b = 0,37 kg/s
3.10
m = 84,4 kg
b = 0,758 kg/s
3.11
a) ω0 = 2,0 rad/s
       γ = 0,4 Hz
b) A = 0,758475 m
     δ = 0,0707 Hz
3.12
A = 0,61 m, portanto, o sistema não suportará a ação da força.
3.13

3.14

3.15
A = 3 cm.
3.16
a)

b) 1 mm.
3.17

3.18

3.19
ω0 = 26,97 rad/s
γ = 6,4 Hz
ω = 26,78 rad/s
Q = 4,21
3.20
a) ω0 = 2,89 rad/s
γ = 3,333 Hz
b)

3.21
R = 754 Ω
C = 2,11×10–6 F
3.22
Equação diferencial do circuito RLC paralelo alimentado por uma corrente
i(t) em função da corrente no indutor, iL:

Tabela A.3.22

3.23
Equação diferencial do amortecedor a gás sujeito a uma força oscilante
vertical:

Tabela A.3.23

A.4 Respostas dos exercícios do Capítulo 4


4.1
4.2

4.3
Equações do movimento:

Figura A.4.3 Resposta do Exercício 4.3.

4.4
Equações do movimento:
Figura A.4.4 Resposta do Exercício 4.4.

4.5
Equações do movimento:
Figura A.4.5 Resposta do Exercício 4.5.

4.6

4.7

4.8

4.9
4.10

4.11

4.12

Tabela A.4.12

Esfera Eq. movimento Modo

1 y1,1(t) = 0,434 cos(6,294 t) η=1

2 y2,1 (t) = 0,782cos(6, 294t)

3 y3,1 (t) = 0,975cos(6, 294t)

4 y4,1 (t) = 0,975cos(6, 294t)

5 y5,1 (t) = 0,782cos(6, 294t)


6 y6,1 (t) = 0,434cos(6, 294t)

1 y1,2 (t) = 0,782cos(12, 272t)

2 y2,2 (t) = 0,975cos(12, 272t)

3 y3,2 (t) = 0,434cos(12, 272t)


η=2
4 y4,2 (t) = −0,434cos(12, 272t)

5 y5,2 (t) = −0,975cos(12, 272t)

6 y6,2 (t) = −0,782cos(12, 272t)

1 y1,3 (t) = 0,975cos(17,635t)

2 y2,3 (t) = 0,434cos(17,635t)

3 y3,3 (t) = –0,782cos(17,635t)


η=3
4 y4,3 (t) = –0,782cos(17,635t)

5 y5,3 (t) = 0,434cos(17,635t)

6 y6,3 (t) = 0,975cos(17,635t)


1 y1,4 (t) = 0,975cos(22,114t) η=4

2 y2,4 (t) = –0,434cos(22,114t)

3 y3,4 (t) = –0,782cos(22,114t)

4 y4,4 (t) = 0,782cos(22,114t)

5 y5,4 (t) = 0,434cos(22,114t)

6 y6,4 (t) = –0,975cos(22,114t)

1 y1,5 (t) = 0,782cos(25, 483t)

2 y2,5 (t) = –0,975cos(25, 483t)

3 y3,5 (t) = 0,434cos(25, 483t)


η=5
4 y4,5 (t) = 0,434cos(25, 483t)

5 y5,5 (t) = –0,975cos(25, 483t)

6 y6,5 (t) = 0,782cos(25, 483t)

1 y1,6 (t) = 0,434cos(27,575t) η=6


2 y2,6 (t) = –0,782cos(27,575t)

3 y3,6 (t) = 0,975cos(27,575t)

4 y4,6 (t) = –0,975cos(27,575t)

5 y5,6 (t) = 0,782cos(27,575t)

6 y6,6 (t) = –0,434cos(27,575t)

4.13

Tabela A.4.13

Esfera Eq. movimento Modo

1 y1,1 (t)= 0,500 cos( 11,575 t)

2 y2,1 (t)= 0,866 cos( 11,575 t)

3 y3,1 (t)= 1,000 cos( 11,575 t) η=1

4 y4,1 (t)= 0,866 cos( 11,575 t)

5 y5,1 (t)= 0,500 cos( 11,575 t)


y1,2 (t)= 0,866 cos( 22,361 t) η=2
1

2 y2,2 (t)= 0,866 cos( 22,361 t)

3 y3,2 (t)= 0,0

4 y4,2 (t)= –0,866 cos( 22,361 t)

5 y5,2 (t)= –0,866 cos( 22,361 t)

1 y1,3 (t)= 1,000 cos( 31,623 t)

2 y2,3 (t)= 0,0

3 y3,3 (t)= –1,000 cos( 31,623 t) η=3

4 y4,3 (t)= 0,0

5 y5,3 (t)= 1,000 cos( 31,623 t)

1 y1,4 (t)= 0,866 cos( 38,730 t) η=4

2 y2,4 (t)= –0,866 cos( 38,730 t)

3 y3,4 (t)= 0,0


4 y4,4 (t)= 0,866 cos( 38,730 t)

5 y5,4 (t)= –0,866 cos( 38,730 t)

1 y1,5 (t)= 0,500 cos( 43,198 t)

2 y2,5 (t)= –0,866 cos( 43,198 t)

3 y3,5 (t)= 1,000 cos( 43,198 t) η=5

4 y4,5 (t)= –0,866 cos( 43,198 t)

5 y5,5 (t)= 0,500 cos( 43,198 t)

4.14

Tabela A.4.14

Esfera Eq. movimento Modo

1 y1,1 (t)= 0,707 cos( 6,987 t)

2 y2,1 (t)= 1,000 cos( 6,987 t) η=1

3 y3,1 (t)= 0,707 cos( 6,987 t)


1 y1,2 (t)= 1,000 cos( 12,910 t) η=2

2 y2,2 (t)= 0,0

3 y3,2 (t)= –1,000 cos( 12,910 t)

1 y1,3 (t)= 0,707 cos( 16,868 t)

2 y2,3 (t)= –1,000 cos( 16,868 t) η=3

3 y3,3 (t)= 0,707 cos( 16,868 t)

4.15
Respostas: as velocidades angulares são 3,47, 6,71, 9,49, 11,62 e 12,96
rad/s e as frequências são 0,553, 1,067, 1,509, 1,849 e 2,062 Hz.
4.16
Respostas: as velocidades angulares são 3,909, 7,435, 10,233 e 12,030 rad/s
e as frequências são 0,622, 1,183, 1,629 e 1,915 Hz.
4.17

A.5 Respostas dos exercícios do Capítulo 5


5.1
Resposta: 0,001076 kg/m = 1,076 g/m
5.2
Tabela A.5.2

Modo Velocidade angular Frequência

η=1 ω1 = 33,11 rad/s f1 = 5,27 Hz

η=2 ω2 = 66,23 rad/s f2 = 10,54 Hz

η=3 ω3 = 99,34 rad/s f3 = 15,81 Hz

η=4 ω4 = 132,46 rad/s f4 = 21,08 Hz

5.3

5.4

Tabela A.5.4

Nota musical Frequência Tensão na corda


da lira

Ré 293,7 Hz 88,4 N

Mi 329,6 Hz 111,3 N
Fá 349,2 Hz 125,0 N

Sol 392,0 Hz 157,5 N

Lá 440,0 Hz 198,4 N

5.5
A razão entre frequências fundamentais de cordas idênticas, sob a mesma
tensão, mas de comprimentos diferentes, é dada por:

Resposta:

Tabela A.5.5

Nota Frequência Posição do


musical traste

Mi 329,6 Hz 0,00 cm

Fá 349,2 Hz 4,77 cm

Fá # 370 Hz 9,28 cm

Sol 392 Hz 13,53 cm


Sol # 415,3 Hz 17,54 cm

Lá 440 Hz 21,33 cm

Lá # 466,2 Hz 24,91 cm

Si 493,9 Hz 28,28 cm

Dó (*) 523,2 Hz 31,45 cm

Dó # (*) 554,4 Hz 34,47 cm

Ré (*) 587,4 Hz 37,31 cm

Ré # (*) 622,2 Hz 39,97 cm

Mi (*) 659,2 Hz 42,50 cm


(*)
Notas pertencentes à oitava seguinte.
5.6
Resposta: a maior frequência é 0,197 Hz e a menor frequência é 0,0984 Hz.
5.7
Resposta: 1172 Hz.
5.8
Resposta: Ferro.
5.9
Respostas: cobre: 2,06 m, tungstênio: 2,60 m e ouro: 1,15 m.
5.10
Resposta: Titânio.
5.11
Resposta: 70,83 Hz.
5.12
Resposta: 1,2 m.
5.13
Respostas: L = 0,243 m, λ = 0,974 m.
5.14
Resposta: 507 m, 304 m e 217 m.
5.15

Tabela A.5.15

Nota Frequência Comprimento


musical do tubo

Dó 261,6 Hz 32,5 cm

Mi 329,6 Hz 25,8 cm

Sol 392 Hz 21,7 cm

Si 493,9 Hz 17,2 cm
5.16
Considerando o modo fundamental, temos

Igualando as frequências:

5.17
A expressão da série de Fourier para a onda triangular é

sendo que, para o caso apresentado, L = π.

Tabela A.5.17
5.18
A expressão da série de Fourier para a onda dente de serra é

sendo que, para o caso apresentado, L = π.

Tabela A.5.18
5.19
A expressão da série de Fourier para a onda pulsante é

sendo que, para o caso apresentado, T = 2π e τ = 0,8.


Observe que

Tabela A.5.19

η Bη

1 0,247911416

2 0,228341536

3 0,197784837

4 0,15908708

5 0,115775344

6 0,071668869

7 0,030465726

8 –0,004645267

9 –0,031301918
10 –0,048179543

5.20

Tabela A.5.20

    ηx

    1 2 3

1 7,46 13,09 19,08

ηx 2 10,35 14,92 20,38

3 13,88 17,56 22,39

5.21

Tabela A.5.21

    ηx

    1 2 3 4 5

ηx 1 5,70 9,01 12,75 16,62 20,55

2 9,01 11,40 14,53 18,03 21,71


3 12,75 14,53 17,10 20,15 23,50

4 16,62 18,03 20,15 22,80 25,81

5 20,55 21,71 23,50 25,81 28,50

5.22

Tabela A.5.22

    ηx

    1 2 3

1 8,01 14,50 21,31

ηx 2 10,51 16,02 22,37

3 13,69 18,27 24,03

5.23
Resposta: 2,93 rad/s = 0,467 Hz
5.24
Resposta: 480 rad/s = 76,5 Hz
A.6 Respostas dos exercícios do Capítulo 6
6.1
Calculam-se as derivadas com relação a x:

Em seguida, calculam-se as derivadas com relação a t:

Observa-se que

Portanto, a expressão original corresponde a uma onda.


6.2
Dada a expressão
Calculam-se as derivadas com relação a x:

Em seguida, calculam-se as derivadas com relação a t:

Observa-se que, tomando-se cada parcela independentemente,

Portanto, considerando-se a sobreposição de soluções, a expressão original


corresponde a uma onda.
6.3
Resposta: sim, correspondem à mesma onda.
6.4
Amplitude: 0,6 cm
Frequência:

Período:

Velocidade da onda: v = 60 cm/s


Comprimento de onda:

Número de onda:

Máxima velocidade transversal: vy,max = 36 cm/s


6.5
Amplitude: A
Frequência:

Período:
Velocidade da onda: v = C
Comprimento de onda:

Número de onda:

Máxima velocidade transversal: vy,max = AC


6.6

6.7

6.8

6.9
Para 0,01 s a diferença de fase é de 0,9 rad.
Para 0,03 s a diferença de fase é de 2,7 rad.
6.10

6.11
Taxa de energia fornecida: 30π/20 W.
Velocidade de propagação: 30/π m/s.
6.12

6.13
a) Amplitude: 0,4
b) Frequência: 16 Hz
c) Velocidade de propagação: 5π m/s
6.14

6.15
Velocidade do som em São Paulo: 337,5 m/s.
Velocidade do som em Paris: 339,5 m/s.
6.16
K = 1066 J
U = 1066 J
E = 2132 J
6.17

K = 100 J
U = 100 J
E = 200 J
6.18

6.19
Resposta: ~λ/ ∆λ.
6.20
Figura A.6.20 Resposta do Exercício 6.20.

6.21
Para desenvolver um modelo do movimento do fluxo de tráfego baseado em
ondas de densidade partiremos do formalismo utilizado para estudar
oscilações longitudinais. Assim, consideramos certo número de carros (as
partículas) acoplados através de molas. De forma a simplificar a análise,
consideraremos todos os carros idênticos. Uma representação deste arranjo
é apresentada na Figura A.6.21.

Figura A.6.21 Modelo do movimento do fluxo de tráfego. Os veículos estão enfileirados e a


distância para o carro da frente, quando não nula, propicia o movimento adiante.

Entretanto, as molas, neste caso, não têm o mesmo comportamento das


molas normais da física. Quando o carro A avança, e a distância entre este e
o carro anterior aumenta, o carro B sente-se “atraído” por A, e tende a
diminuir esta distância. Contudo, ao avançar, o carro B aumenta sua
distância com relação a C, mas não se sente compelido a recuar. A força
devida às molas tem um único sentido: para frente. Por outro lado, assim
que a distância para o carro da frente diminui, o motorista pisa no freio,
diminuindo a velocidade até parar. Isso caracteriza um efeito dissipativo.
Assim, a força de atração para o carro adiante pode ser caracteriza por
em Fi é a força que impulsiona o carro i para frente, k é a constante da
“mola”, xi é a diferença de posição entre o carro i e o carro i + 1, que por ser
negativa impõe o sinal em nossa fórmula. Com este formalismo, o primeiro
carro da fila fica “preso” pelo semáforo, e quando liberado tem uma
distância x0 a sua disposição. Observe que o movimento se dá apenas no
sentido positivo de . O efeito dissipativo se dá por

em que Ai é uma “força viscosa” que freia o carro i, α é o “coeficiente


viscoso”, e vi é a velocidade do carro i. O coeficiente viscoso α depende dos
reflexos do condutor e do estado mecânico do carro. Discutiremos seu
significado mais adiante.
Considerando que estas sejam todas as forças envolvidas, podemos
escrever para um carro de massa m:

Ou, de uma forma mais conveniente, a equação diferencial do movimento


dos carros:

Reconhecemos a forma da equação do movimento harmônico amortecido.


A velocidade angular intrínseca é dada por

A constante de amortecimento é dada por


E a velocidade angular do sistema amortecido é dada por

O funcionário muito ocupado verá ondas de densidade propagando-se com


velocidade angular ω. Como não há movimentos para trás, estas ondas
propagam-se apenas para a frente, sem a presença de reflexão.
Como foi dito, o coeficiente viscoso α depende dos reflexos do
condutor e do estado mecânico do carro. Se os motoristas estiverem
irritados, tenderão a acelerar demais e frear bruscamente. O funcionário
muito ocupado verá várias ondas de baixa amplitude, mas de frequência alta
se propagando na avenida, o que caracteriza um sistema subcrítico. Por
outro lado, se todos os condutores estiverem atentos e os carros em perfeitas
condições, as acelerações e freadas serão executadas com perfeição: o
resultado é uma única onda uniforme, que se propaga para frente — o
sistema em estado crítico. Finalmente, se os motoristas estiverem
sonolentos, teremos uma onda que se propaga mais lentamente do que o
ideal: um sistema supercrítico.

A.7 Respostas dos exercícios do Capítulo 7


7.1

7.2
Onda refletida: 0,52 mm.
Onda transmitida: 4,52 mm.
7.3
Onda incidente: 1,2 mm.
7.4
ρ1/ρ2 = 2,78.
7.5
Ângulo do raio refratado: 25,02º.
7.6
Possíveis líquidos: acetona, álcool etílico ou vodca.
7.7
Percentual de açúcar presente: 39,09 %.
7.8
Água: 48,63º.
Gelo: 49,83º.
Vidro a 29 % de chumbo: 39,61º.
7.9
Para 10º: 13,38º.
Para 20º: 27,12º.
Para 30º: 41,79º.
7.10
Ângulo de saída do raio emergente: 60o.
7.11
Resposta: 7 linhas, a –70,54º, –38,95º, –18,32º, 0º, 18,32º, 38,95º e 70,54º.
7.12
Comprimento de onda da onda incidente: 2 cm.
7.13
Separação das frestas: 5,1 cm.
7.14
Cor da luz utilizada: amarelo.
7.15
Respostas: 53,5 mm, 15,4 mm e 6,1 mm.
7.16
17,46º e 36,87º.
7.17
Abertura da fresta: 6 cm.
7.18
Comprimento de onda incidente: 1,5 cm.
7.19
Comprimento de onda da luz incidente: 700 nm.
7.20
Respostas: 296,37 Hz e 260,01 Hz.
7.21
Respostas: 478 Hz e 285 Hz.
7.22
Velocidade de aproximação: 55 km/h.
Velocidades de afastamento: 80 km/h.
Frequências originais: 900 Hz e 1600 Hz.
7.23
Velocidade da Enterprise D: 5,85×106 m/s.
Frequência de recepção: 92,26 MHz.
7.24
Ângulo da onda de choque supersônica: 56,44º.
7.25
Ângulo da onda de choque supersônica: 19,47º.
Velocidade do avião: 3216 km/h.

A.8 Respostas dos exercícios do Capítulo 8


8.1

8.2

8.3

8.4

Tabela A.8.4

n Fn

0 0
1 1 – i 2,41421

2 0

3 1 – i 0,414213

4 0

5 1 + i 0,414214

6 0

7 1 + i 2,41421

8.5

Tabela A.8.5

n Fn

0 2

1 –0,582843 – i 0,241421

2 0
3 –0,0171573 – i 0,0414214

4 0

5 –0,0171573 + i 0,0414212

6 0

7 –0,582843 + i 0,241421

8.6

Tabela A.8.6

N Fn

0 1

1 0,809017 + i 0,587785

2 0,309017 + i 0,951057

3 –0,309018 + i 0,951056

4 –0,809017 + i 0,587785
5 –1

6 –0,809016 – i 0,587786

7 –0,309018 – i 0,951056

8 0,309018 – i 0,951056

9 0,809016 – i 0,587787

8.7

Tabela A.8.7

n Fn

0 3

1 1,54721 – i 1,53884

2 0,5 – i 0,688191

3 0,652786 – i 0,363271

4 0,5 – i 0,16246
5 0,6

6 0,5 + i 0,16246

7 0,652786 + i 0,363271

8 0,5 + i 0,688191

9 1,54721 + i 1,53884

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APÊNDICE B

B.1 ENERGIA CINÉTICA


B.2 ENERGIA POTENCIAL
B.3 INTEGRAL ELÍPTICA COMPLETA DE PRIMEIRO TIPO
B.4 MOMENTO DE INÉRCIA
B.5 O MÉTODO DE RUNGE-KUTTA
B.6 ROTINA PARA O CÁLCULO DA TRANSFORMADA DISCRETA DE FOURIER

Este apêndice apresenta algumas noções da Mecânica Clássica, em


particular ligadas à Dinâmica, que são utilizadas ao longo deste livro sem,
contudo, fazer parte dos assuntos estudados. Os tópicos aqui presentes têm
o intuito de dar completude à obra. Também estão presentes detalhes
matemáticos e de cálculo numérico que, de alguma forma, foram citados ou
usados ao longo do livro.

B.1 ENERGIA CINÉTICA


Partindo-se da definição formal do trabalho realizado por uma força F sobre
um corpo como

em que W representa o trabalho realizado (do inglês work: trabalho), e d é a


distância que o corpo percorreu sob a ação de F. Energia é uma grandeza
escalar e não vetorial e sua unidade é o joule (símbolo no SI: J). A Tabela
B.1 fornece as conversões do joule para outras unidades de energia. Um
joule equivale a um Newton × metro (ou a um kg·m2/s2).
Conforme estabelecido na Equação B.1, o trabalho é resultado de um
produto escalar. Podemos expressar um diferencial de trabalho exercido por
uma força constante como

na qual se assumiu que a velocidade se mantém constante ao longo do


intervalo de tempo δt. Portanto, a ação da força ao longo de um percurso e
ao longo de um intervalo de tempo não infinitesimal é dada por

Assim, o trabalho executado por uma força é dada pela integral de


linha da força ao longo da trajetória percorrida pelo corpo. Porém, também
podemos seguir por outra abordagem, mais simples e direta. Partindo da
segunda lei de Newton, assumindo que a força e a massa sejam constantes,
temos

Multiplicando por dt e integrando, temos

que expressa que o impulso corresponde a uma mudança no momento


linear. Multiplicando a Equação B.4 por dx e integrando, temos o trabalho:
Mas, sabemos que

o que nos leva a

Dessa forma, introduzimos uma nova grandeza, correspondente ao


trabalho de F sobre uma massa m ao longo de uma trajetória, mas sob um
aspecto dinâmico. Chamaremos essa nova grandeza de “energia cinética”.
Formalmente:

em que o símbolo K vem da palavra inglesa kinetic, e significa cinético, o


adjetivo ligado ao movimento. Assim, a energia cinética é uma das muitas
formas da energia e está ligada à velocidade que um corpo apresenta num
dado momento. Se a velocidade varia a energia cinética também varia. Ao
aplicarmos uma força a um corpo que está em repouso, e este passa a
movimentar-se, o trabalho que foi realizado corresponde a uma
transferência de energia para o corpo, que assume a forma de energia
cinética. Se o corpo já estiver em movimento, o trabalho corresponderá a
uma mudança de energia cinética, observável através da mudança de
velocidade, conforme expresso em B.8.

B.2 ENERGIA POTENCIAL


Ao estudar a mudança de altura de um corpo que muda da posição y0 para a
posição y1. Lembrando-se da equação de Torricelli para a variação da
velocidade de um corpo em função da mudança de posição sob aceleração
constante:

Como o movimento se dá na vertical e para baixo, podemos substituir a


aceleração por a = –g. Assim,

Como desejamos uma visão do ponto de vista de energia, buscamos


uma proximidade com a expressão da energia cinética. Para tanto,
multiplicamos pela massa e dividimos por 2:

O termo à direita foi invertido pela mudança de sinal. À direita temos a


variação da energia cinética. À esquerda temos uma nova grandeza,
chamada de energia potencial, definida como

em que h representa a altura do corpo (geralmente medida com relação à


superfície da Terra). No SI, a unidade da energia potencial também é J.
Agora, observe que o produto mg (uma massa multiplicada por uma
aceleração) corresponde à força peso. Portanto, quando observamos um
corpo que cai, o “cair” é o trabalho da força peso em ação. O corpo é
transferido de certa altura para outra, sendo acelerado durante a queda.
B.3 INTEGRAL ELÍPTICA COMPLETA DE PRIMEIRO
TIPO
Historicamente, as integrais elípticas foram inicialmente estudadas com o
intuito de resolver o problema a medida do comprimento do arco de uma
elipse. Os pioneiros nestes estudos foram Giulio Fagnano e Leonhard Euler.
Atualmente, define-se “integral elíptica” como sendo uma função f, que
possa ser expressa como

em que R é uma função racional de dois argumentos, e P é um polinômio de


grau 3 ou 4, sem raízes repetidas, e c é uma constante.
Definimos como o caso especial da integral elíptica completa de
primeiro tipo, uma função na forma

Uma representação gráfica desta função está apresentada na Figura


B.1. Esta expressão pode ser aproximada por polinômios de Legendre,
podendo ser reescrita como

em que a notação x!! se refere ao duplo fatorial, dado por


Com base nessas expressões é possível escrever algoritmo para
calcularmos K(k) para vários valores. A Tabela B.1 foi gerada com um
programa escrito na linguagem C++, cuja fonte está disponível na Figura
B.2.

Figura B.1 Gráfico de K(k) × k.

Tabela B.1 Tabela da integral elíptica completa do primeiro tipo

k K(k)

0,000 1,5708

0,050 1,57178
0,100 1,57475

0,150 1,57975

0,200 1,58687

0,250 1,59624

0,300 1,60805

0,350 1,62253

0,400 1,64

0,450 1,66089

0,500 1,68575

0,550 1,71535

0,600 1,75075

0,650 1,79345

0,700 1,84569
0,750 1,91099

0,800 1,9953

0,850 2,10994

0,900 2,28055

0,950 2,59001

0,951 2,59929

0,952 2,60877

0,953 2,61847

0,954 2,62838

0,955 2,63853

0,956 2,64892

0,957 2,65957

0,958 2,67047
0,959 2,68166

0,960 2,69314

0,961 2,70493

0,962 2,71704

0,963 2,72949

0,964 2,7423

0,965 2,75549

0,966 2,76909

0,967 2,7831

0,968 2,79758

0,969 2,81253

0,970 2,828

0,971 2,84401
0,972 2,86061

0,973 2,87784

0,974 2,89575

0,975 2,9144

0,976 2,93383

0,977 2,95412

0,978 2,97535

0,979 2,9976

0,980 3,02098

0,981 3,0456

0,982 3,07159

0,983 3,09911

0,984 3,12836
0,985 3,15954

0,986 3,19294

0,987 3,22888

0,988 3,26777

0,989 3,31012

0,990 3,3566

0,991 3,40808

0,992 3,46575

0,993 3,53126

0,994 3,60704

0,995 3,69687

0,996 3,80707

0,997 3,94947
0,998 4,15067

0,999 4,49559

1,000 ∞
Figura B.2 Fonte em C++ do programa que calcula a integral elíptica completa do primeiro
tipo.
B.4 MOMENTO DE INÉRCIA
Dado um corpo em rotação, este pode ser subdividido em um infinito
número de subcorpos de tamanho infinitesimal. Cada um desses corpos
contribuirá para o momento de inércia do corpo inicial, de tal maneira que

em que I é o momento de inércia do corpo, dm é a massa diferencial de cada


subcorpo e r é a distância dos subcorpos ao eixo de rotação. Se em vez de
um corpo contínuo tivermos um sistema de vários corpos, o momento de
inércia será dado por

O momento de inércia tem unidades SI kg·m², e exprime a inércia de


um objeto diante de uma alteração no seu estado de rotação.
O momento de inércia é uma característica de cada corpo, estando
ligado principalmente às geometrias e distribuição de densidade. Deve-se
ter especial atenção com a direção de rotação que se está considerando, pois
as distâncias representadas nas expressões acima referenciam-se aos eixos
de rotação. A Tabela B.2 apresenta os momentos de inércia de vários
corpos. Para calcular o momento de inércia de uma composição de corpos,
pode-se calcular independentemente cada um dos momentos de inércia e
em seguida aplicar a expressão B.19.

Tabela B.2
B.5 O MÉTODO DE RUNGE-KUTTA
Quando se trabalha com leis físicas como as apresentadas neste livro, é
comum encontrar expressões que resultam em equações diferenciais. As
equações diferenciais nasceram junto com o cálculo, no século XVII,
quando as formulações de Newton e Leibnitz conduziram ao formalismo da
diferenciação e da integração. Pode-se afirmar, sem perda de generalidade,
que os problemas que envolvem equações diferenciais ordinárias (ou EDO
´s) sempre podem ser reduzidos ao estudo de sistemas de equações
diferenciais de primeira ordem. Por exemplo, a equação de segunda ordem
obtida no Capítulo 3,

pode ser rearranjada de tal modo que assuma a forma de um sistema de


duas equações de primeira ordem:

Esta expressão sugere que um problema baseado em EDO´s de ordem


N pode ser resolvido se for reduzido a um conjunto de N equações
diferenciais de primeira ordem acopladas. Assim, teríamos

em que as funções fi são conhecidas e com i variando entre 1 e N.


Um problema que envolva equações diferenciais não é resolvido tendo-
se apenas as equações. Faz-se necessário também um conjunto de condições
iniciais (em inglês boundary conditions). As condições iniciais são valores
algébricos, ou seja, valores da função yi em pontos conhecidos.
O método de Runge-Kutta é um procedimento numérico, ou ainda do
tipo de “valor inicial”, no qual, a partir de um conjunto de valores dados, e
através do sistema de EDO’s como em D.3, busca-se o valor que a função
apresenta em um outro ponto do espaço.
Apresentamos a seguir o método de Runge-Kutta de quarta ordem, que
apresenta uma boa precisão (da ordem de h5). Para muitos problemas reais,
esse método pode ser aplicado com algumas vantagens sobre outros
métodos, pois seu custo/benefício computacional é bem baixo.
Segundo o método, a variação da função f(x,t) no intervalo de tempo h
= tn+1 – tn é dada pelas expressões:

Este é o chamado método de Runge-Kutta de quarta ordem. Para sua


execução, f(x,t) é calculada quatro vezes a cada passo. Mas este aparente
excesso de cálculos é compensado por um resultado de boa precisão.
Existem métodos de Runge-Kutta de ordem mais elevada e a grande
dificuldade para se escrever as expressões de Runge-Kutta de ordens
superiores reside no cálculo dos parâmetros (no caso de quarta ordem são
1/6, 1/3, 1/3 e 1/6).
A Figura B.3 apresenta um programa escrito em linguagem C++ que
encontra a solução numérica de um circuito RLC série sujeito a uma súbita
variação de tensão no instante t = 0. A equação considerada foi

que foi reescrita como o sistema

Os dados resultantes deste programa foram usados para gerar o gráfico


apresentado na Figura B.4.
Figura B.3 Fonte em C++ do programa que calcula a integração da corrente para um
circuito RLC série usando o método de Runge-Kutta de 4a ordem (função RK4).

Figura B.4 Gráfico da corrente em função do tempo para um circuito que segue a
expressão B.24. A tensão vai de 0 a 5V no instante t = 0. Os valores dos componentes são:
R = 1000 Ω, L = 1000 H, C = 2 mF. Foram considerados passos no tempo de ∆t = 0,1 s.

B.6 ROTINA PARA O CÁLCULO DA TRANSFORMADA


DISCRETA DE FOURIER
O método de cálculo da transformada discreta de Fourier (TDF)
apresentados na Seção 8.6.1 do Capítulo 8 podem ser facilmente
implementados em um algoritmo computacional. A Figura B.5 apresenta
uma rotina que aplica o método e devolve como resultado a TDF.
Os símbolos utilizados nesta rotina seguem aqueles apresentados no
Capítulo 8.
Figura B.5 Fonte em C++ da rotina que calcula a TDF de um conjunto ordenado de
valores. Os parâmetros de entrada são N (o número de pontos) e fk[] (a lista de valores
ordenados). O resultado é obtido em dois arrays: Fr[] e Fi[], respectivamente a parte real e
imaginária do resultado no domínio da frequência.

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APÊNDICE C

Tabela C.1 Prefixos do SI e seus fatores multiplicativos

Símbolo Prefixo Potência de Fator multiplicativo


10

Y yotta 1024 1 000 000 000 000 000 000 000


000

Z zetta 1021 1 000 000 000 000 000 000 000

E exa 1018 1 000 000 000 000 000 000

P peta 1015 1 000 000 000 000 000

T tera 1012 1 000 000 000 000

G giga 109 1 000 000 000

M mega 106 1 000 000

k quilo 103 1 000


h hecto 102 100

da deca 101 10

nenhum nenhum 100 1

d deci 10−1 0,1

c centi 10−2 0,01

m mili 10−3 0,001

µ micro 10−6 0,000 001

n nano 10−9 0,000 000 001

p pico 10−12 0,000 000 000 001

f fento 10−15 0,000 000 000 000 001

a atto 10−18 0,000 000 000 000 000 001

z zepto 10−21 0,000 000 000 000 000 000 001

y yocto 10−24 0,000 000 000 000 000 000 000


001

Tabela C.2 Grandezas fundamentais e seus símbolos no Sistema


Internacional

Grandeza Símbolo Unidade no SI [símbolo]

Comprimento l, x, r etc. metro [m]

Tempo t segundo [s]

Massa m quilograma [kg]

Temperatura T kelvin [K]

Quantidade de matéria n mol [mol]

Carga elétrica q coulomb [C]

Intensidade luminosa Iv candela [cd]

Tabela C.3 Principais unidades derivadas no SI

Grandeza Unidade Símbolo Unidade dimensional

Volume litro l 10–3 m3


Frequência hertz Hz 1/s

Força newton N kg·m/s²

Pressão pascal Pa kg/(m·s²)

Energia joule J kg·m²/s²

Potência watt W kg·m²/s³

Corrente elétrica ampère A C /·s

Tensão elétrica volt V kg·m²/(s³·A)

Resistência elétrica ohm Ω kg·m²/(s³·A²)

Capacitância farad F A²·s²·s²/(kg·m²)

Condutância siemens S A²·s³/(kg·m²)

Indutância henry H kg·m²/(s²·A²)

Fluxo magnético weber Wb kg·m²/(s²·A)

Densidade de fluxo tesla T kg/(s²·A)


magnético
Temperatura em Celsius grau Celsius °C —

Tabela C.4 Principais unidades derivadas no sistema CGS

Grandeza Unidade Definição SI


dimensional

Comprimento centímetro cm 10–2 m

Massa grama g 10–3 kg

Tempo segundo s s

Força dina dyn = 1 g·cm/s² 10–5 N

Energia erg erg = 1 g·cm²/s² 10–7 J

Potência erg por segundo 1 erg/s = 1 10–7 W


g·cm²/s³

Pressão bar 1 bar 105 Pa

Viscosidade poise 1 P = 1 g/(cm·s) 10–1 Pa.s

Tabela C.5 Primeiras raízes das funções de Bessel J0(x), J1(x), Y0(x) e Y1(x)
  J0 J1 Y0 Y1

1 2,404825 0,000000 0,893576 2,197141

2 5,520078 3,831705 3,957678 5,429681

3 8,653727 7,015586 7,086051 8,596005

4 11,791534 10,173468 10,222345 11,749154

5 14,930917 13,323691 13,361097 14,897442

6 18,071063 16,470630 16,500922 18,043402

7 21,211636 19,615858 19,641309 21,188068

8 24,352471 22,760084 22,782028 24,331942

9 27,493479 25,903672 25,922957 27,475294

10 30,634606 29,046828 29,064030 30,618286

11 33,775820 32,189679 32,205204 33,761017

12 36,917098 35,332307 35,346452 36,903555


13 40,058425 38,474766 38,487756 40,045944

14 43,199791 41,617094 41,629104 43,188218

15 46,341188 44,759318 44,770486 46,330399

16 49,482609 47,901460 47,911896 49,472505

17 52,624051 51,043535 51,053328 52,614550

18 55,765510 54,185553 54,194779 55,756544

19 58,906983 57,327525 57,336245 58,898496

20 62,048469 60,469457 60,477725 62,040411

21 65,189964 63,611356 63,619215 65,182295

22 68,331469 66,753226 66,760716 68,324152

23 71,472981 69,895071 69,902224 71,465986

24 74,614500 73,036895 73,043740 74,607799

Valores obtidos de Harrison, J., “Fast and Accurate Bessel Function

Computation”. Proceedings of ARITH-19, IEEE Computer Society Press, 2009, pp. 104-113.
Tabela C.6 Módulo de Young para vários materiais

Material Y (× 109 Pa)

Borracha natural 0,01 a 0,1

Cânhamo 35

Carvalho 11

Esmalte dentário humano 83


Biológicos
Linho 58

Madrepérola 70

Ossos humanos 14

Pinho 9

Metais Aço 200

Alumínio 69

Berílio 287
Bronze 96 a 120

Cobre 117

Ferro 190 a 210

Latão 100 a 125

Ligas de titânio 105 a 120

Magnésio metálico 45

Molibdênio 329

Ósmio 550

Ouro 79

Prata 83

Titânio 110,3

Tungstênio 400 a 410

Minerais Carbeto de silício 450


Carboneto de tungstênio 450 a 650

Diamante 1220

Safira 435

Silício monocristalino 130 a 185

Artificiais Aramida 70,5 a 112,4

Concreto de alta resistência 30

Grafeno 1000

MDF 4

Nanotubo de carbono acima de


1000

Nylon 2a4

Poliestireno 3 a 3,5

Polietileno de alta densidade 0,8

Polietileno de baixa densidade 0,11 a 0,45


Polipropileno 1,5 a 2

Politereftalato de etileno (PET) 2 a 2,7

Teflon 0,5

Vidro 50 a 90

Tabela C.7 Densidades de alguns metais

Metal Símbolo químico Densidade (g/cm3)

Alumínio Al 2,70

Bário Ba 3,59

Berílio Be 1,85

Bismuto Bi 8,90

Cádmio Cd 8,65

Cálcio Ca 1,53

Césio Cs 1,87
Chumbo Pb 11,34

Cobalto Co 8,80

Cobre Cu 8,93

Crômio Cr 7,19

Estanho Sn 7,29

Ferro Fe 7,87

Gálio Ga 5,91

Lítio Li 0,53

Magnésio Mg 1,74

Manganês Mn 7,47

Mercúrio Hg 13,55

Níquel Ni 8,91

Ouro Au 19,28
Paládio Pa 12,00

Platina Pt 21,45

Prata Ag 10,49

Titânio Ti 4,55

Tungstênio W 19,30

Urânio U 18,95

Zinco Zn 7,14

Observação: 1 g/cm3 = 1000 kg/m3

Valores obtidos de “Chemistry, Molecules, Matter and Change”, Atkins e Jones, 3a ed.

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