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betão 01

faup . construção2 . projeto bim . projeto


projeto
cadernos

construção

CPC
Título
CPC — CADERNOS PROJETO E CONSTRUÇÃO

Autor
Carlos Nuno Lacerda Lopes

Publicação Digital
CIAMH Centro de Inovação em Arquitectura e Modos de Habitar
Via Panorâmica S/N
4150-755 PORTO
(+351) 226 057 100

geral@ciamh.up.pt
www.ciamh.up.pt
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Nota introdutória
Esta publicação resulta da necessidade de dotar os alunos de material di-
dático com vista a integrar uma visão holística do Projeto em Arquitectura
onde as dinâmicas da Construção, da Teoria e das metodologias de Projeto
se articulam para um resultado que se pretende único e coerente.

É certo que não existe Arquitectura sem construção e, também é certo não
que não existe construção sem projeto, sem o domínio do pensamento,
da técnica, da teoria e das condicionantes que sempre se colocam quando
pretendemos começar uma obra. Pensar Arquitectura é pensar em projeto
e construção, em espaço, no vazio para as pessoas habitarem, em matéria,
luz, energia, em sustentabilidade ou seja em vida.

Por isso importa reter as palavras de Sophia quando nos diz:

“De todas as artes, a arquitetura é simultaneamente a mais abstrata e a mais


ligada à vida. Aqueles que não amam nem o espaço, nem a sombra, nem a luz,
nem o cimento, nem a pedra, nem a cal, nem o próximo não poderão criar boa
arquitetura” Sophia de Melo Breyner

O objetivo destes cadernos que se oferecem livremente à comunidade es-


tudantil é prova dessa vontade de partilhar e descobrir coletivamente os
processos conceptuais, materiais e de pensamento que nos levem a amar o
espaço, a sombra, a luz, o cimento, a pedra, a cal e o próximo, sem os quais
não é possível ou desejável pensar ou fazer Arquitectura.

Faup | Nuno Lacerda Lopes


CONTEÚDOS
CASAS BRANCAS 7
Adalberto Dias

RUA SÁ ALBERGARIA 17
Serôdio e Furtado

CASA DAS HISTÓRIAS 31


Eduardo Souto Moura

4 –––
––– 5
6 –––
A CONSTRUÇÃO COMO
edifício de habitação e comércio
CASAS BRANCAS

TEMA: BETÃO BRANCO


Adalberto Dias
Fotografia Fernando Guerra /
Arquivo do autor
Ano de projeto 2001 - 2003
Ano de construção 2005 - 2007 APARENTE
A propósito da obra de Adalberto Dias, Sandro Rafone escreveu que este
autor não tem uma teoria pré-estabelecida a defender, não lhe interessa per-
seguir um estilo, não se propõe inventar ou renovar alguma coisa, mas a sua
forma de abordar um projecto é invariável: “um processo muito consciente e
sólido, baseado no levantamento dos problemas, que enfrenta com os meios da
arquitectura com precisão geométrica e com a construção.”

Precisão geométrica e construção, poderão ser os sinais mais representati-


vos e caracterizadores da arquitectura que Adalberto Dias vem produzindo,
desde o início da sua actividade profissional por volta de 1977 até aos dias
de hoje.


Pensar hoje a habitação colectiva deve
ser igual ao modo como a pensamos
ontem, porque a habitação colectiva
tem algo de conservador. Mas temos
de sentir aquilo que está em mudança
e nesse sentido propor e darmos a
nossa participação nesta transformação.
Devemos transformar alguma coisa, mas
também devemos transportar alguma
coisa.” Adalberto Dias
Assim, podemos constatar nas obras então rebocadas do Tribunal de S. J. da
Madeira, nos edifícios de habitação em Ofir (1983), nas residências construí-
das em tijolo maciço para os estudantes em Aveiro (1988), no Departamento
de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro (1991), até ao Funicular
dos Guindais (1999), ou no Edifício Habitacional “Casas Brancas”, já em 2001,
construídos em paredes de betão branco aparente.

Quanto à precisão geométrica, esta encontra-se evidenciada na sóbria


expressividade da sua materialização, resultado de uma escola, onde o dese-
nho como processo de pesquisa e de fixação, nas suas diversas expressões,
se sobrepõe como referencial ou como um puro antídoto à dispersão criativa
que a modernidade potencia.

––– 7
Adalberto Dias é herdeiro de um modo de fazer e de pensar o projecto e
a arquitectura, inscrevendo-se nessa linha de rigor, de compromisso com o
lugar, com as pessoas e com os meios e processos que viabilizam e justificam
um arquitectura sem cedências, e sobretudo, sem se deixar cair em tentações
múltiplas e diversas.

É seguramente através da construção, do domínio da técnica e sobretudo do


prazer do seu desenho que Adalberto Dias transforma o projecto em obra
e esta em arquitectura. Por isso, não se fixa num material, num processo ou
sistema construtivo, aceita um, recusa outros, conforme o que lhe é pedido, o
lugar, quem constrói, quanto custa e o que pode arriscar.

Os elementos construtivos, o material, não é um ponto de chegada, algo que


se escolhe a posteriori, mas um dado do projecto, um elemento de trabalho
inicial, algo que suporta, justifica e condiciona a solução. Muito do seu mérito
reside nessa correspondência que se pode encontrar entre matéria, forma e
função na sua arquitectura.

De facto talvez não pretenda inventar nada, nem novas tipologias, nem
novas formas, nem explorar outras contradições; apenas e só encontrar o ma-

terial certo para o seu novo projecto, a rigorosa coincidência ou sobreposição


entre o que se desenha, deseja e se constrói. Num puro exercício de rigor, de
tempo e de imenso prazer que projectar, construir e usufruir oferecem.

As Casas Brancas são um exemplo a considerar: o betão aparente branco,


as lâminas estruturais, o modelo e a boa tradição racionalista parecem dizer
que, sem complexidade e sem contradição e apenas com os fundamentos da
construção, se faz arquitectura.

8 –––
REGRAS E DESENHO
— Adalberto Dias

O edifício localiza-se em terrenos de colmatação ao longo da VCI, Via de


Cintura Interna, entre a Av. da Boavista e o Campo Alegre.

O Plano de Pormenor existente propunha para este lote um edifício de um só


corpo, compacto - prisma de cinco lados, pousado no centro de um grande
plinto de área comercial.

Sem alterar os índices e a volumetria impostos, propôs-se um edifício em


dois corpos, servido por um só sistema de acessos, que articula e relaciona as
regras de desenho (e os edifícios) do plano existente.

Encosta-se este novo edifício aos limites poentes e no ponto de tensão do


lote, onde tudo parece (e deve) nascer - a entrada, os acessos, a área co-
mercial, etc., formando um pátio logradouro interior para a VCI e mais dela
afastado, para onde se orientam a zona de serviços das habitações e respec-
tivas galerias que as servem.

––– 9
B’

A’

A
Planta Piso Tipo Alçado Nor

B’

A’

A 0 2 5 10
Planta Piso Comercial Alçado Sul

10 –––
Alçado Norte

0 2 5 10
Alçado Sul

––– 11
Alçado Poente

0 2 5 10
Alçado Nascente

12 –––
Corte AA’

0 2 5 10
Corte BB’

––– 13
1.1

77.40
77.36

i=2.0%
40.0

77.10
77.08
77.06

77.00

77.08 76.95

76.81

69.33
1.2
2.0 10.0 2.0 10.0 2.0 2.0 10.0 2.0 10.0 2.0 4.5 4.0
2.0
100.0
98.0

20.0 4.0 11.0 1.5 4.5 121.5


1.3
42.5 119.5

2º PISO HABITACIONAL A 7º PISO HABITACIONAL

i=1.5%
2.0
5.8
25.0

69.3
120.0

ALÇADO GUARDA

18.0
9.0 108.0 3.0
1º PISO HABITACIONAL 56.07 1.4

56.00 56.00
55.97 i=1.5%
55.95
55.93
55.89

55.79

55.64

10.0 10.0 105.0 120.0

55.14

54.68

160.0
1.5
155.0

30.0

51.90
ESPESSURA DISPONÍVEL PARA
3.5

REVESTIMENTO FINAL

51.80
VARIÁVEL [51.70,51.80]
i=1.0%

51.35

51.20

51.18

1.6

CORTE CONSTRUTIVO CC 1

BETÃO TIJOLO MADEIRA MARMORE MOSAICO HIDRAULICO AÇO INOX CAMADA FORMA REGULARIZAÇÃO ARGAMASSA ASSENTAMENTO POLIESTIRENO EXTUR
00.0
00.00 COTAS TOSCO COTAS TOSCO
00.0
00.00 COTAS PRONTO COTAS PRONTO TELA/IMPERMEABILIZAÇÃO GEOTEXTIL ELASTÓMERO + MANGA PLÁSTICA CUBO 11x11 RELVA GODO TOUT-VENANT TAPETE PRÉ CULTIVADO

Ficha técnica: Arquitectura Adalberto Dias | Colaboradores Helder Coelho, Ana Cláudia Monteiro | Estruturas GEG | Instalações Eléctricas Rodrigues Gomes, SA | Águas e Saneamento AZ 76 Consultores | Equip. Electromecânico Rodrigues Gomes, SA | Construtor Construtora S. José

14 –––
2.1

2.2

16.0
2.3
2.0
116.0

153.0
150.0

15.0
15.0

PORMENOR JUNTA DILATAÇÃO

2.4

CORTE CONSTRUTIVO CC 2

2.2.1

VARIANTE CC 2 .1.1 ( VENTILAÇÕES)

0 10 30 50
cm

ADALBERTO DIAS, Arquitecto LDA


EDIFÍCIO DE HABITAÇÃO COLECTIVA - LOTE 8 GEG, Gab. Estruturas. e Geotecnia, LDA
RODRIGUES GOMES e ASSOCIADOS
A-2.1/R1
RDIDO POLIESTIRENO EXPANDIDO + REBOCO DOURO ATLÂNTICO - SOCIEDADE IMOBILIÁRIA, S.A. AZ76 Consultores e Engenharia, LDA

PROJECTO DE EXECUÇÃO / ARQUITECTURA ESC.1:10 ABRIL 2003


POLIESTIRENO EXPANDIDO + GRANIPLAST
CORTES CONSTRUTIVOS CC1 E CC2 ADALBERTO DIAS , ARQtº

Ano de projecto: 2001 a 2003 | Ano de construção: 2005 a 2007

––– 15
16 –––
UMA CASA DE BETÃO
edifícios habitação coletiva
RUA SÁ ALBERGARIA

FEITA DE MADEIRA
Serôdio e Furtado
Desenho 3D Filipa Pires de Carvalho
Guimarães e António Correia
Fotografia Luís Ferreira Alves
Inscrever esta obra de Serôdio & Furtado numa série dedicada à utilização de
Ano de projeto e construção
madeira na construção, poderá, à partida, suscitar alguma estranheza. Não
1991-2002
há erro e muito menos se procura qualquer ideia de confronto. Associa-se
a obra destes arquitetos ao betão e à procura da construção de um volume
singular – puro – de permanente oposição ao contexto onde se desenha, se
concebe e justifica de um modo geral os seus projetos.

A ideia de confronto, de oposição e de negação são, a nosso ver, algumas das


áreas onde Serôdio e Furtado têm trabalhado de um modo relevante. Mais
do que a simples leitura de uma obra desenvolvida sobre os aspetos ontoló-
gicos que o modernismo propôs, tal como a ideia de recorte, da subtração, do
claro e escuro e da substituição do excesso pelo que é necessário - pensamos
que a obra de S&F sempre foi explorando outras direções, essencialmente
um resultado da materialidade com que se constrói a arquitetura. Por isso, a
sua obra raramente especula, é sempre objetiva, diríamos ser explicitamen-
te objetiva. Assim é no CTNAS de Coimbra (betão), na casa Xavier (betão) e
no pavilhão de 72m2 que projetou em 1991-92, em painéis (madeira), onde
toda a composição e a solução resulta das dimensões dos elementos de con-
traplacado utilizados.

Independentemente do programa, a arquitetura resulta deste contexto con-


ceptual e desenvolve-se com um sentido crescente de abstração; mesmo
quando se trata de edifícios de habitação coletiva ou individual, o programa,
numa primeira vista parece secundário – É o objeto arquitetónico, a sua iden-
tidade, a clareza ou “pureza” formal e o material utilizado que parecem estar
na base do processo de criação e entendimento da arquitetura destes arqui-
tetos. Neste sentido, o objeto arquitetónico é algo que se apresenta como
uma lógica própria, um “em si”, onde o arquiteto estabelece todo o conjunto
de desafios, regras e objetivos que estão para além dos fenómenos que o
quotidiano prende e amesquinha.

A redução, a composição e a compreensão dos problemas a resolver, são


numa primeira fase, elementos de um método que Serôdio e Furtado sis-
tematizam nas suas obras; depois a matéria, a regra e a ligação à ideia de
projeto que, contrariamente, é sempre algo interior e por isso pouco objeti-
vo, ou seja, uma constante procura de objetivação. Por isso, os seus projetos,
as suas obras, não são nem resultam minimais, apesar da redução, nem se
centram nos excessos da composição, apesar da constante procura de abs-
tração e, nesta aparente contradição, também não resultam da objetivação
da encomenda, tornada esta, como sistema indutor do desenho.

Assim tem sido no projeto de uma escola, num equipamento publico ou


numa segunda habitação, o projeto, a ideia liberta-se do real e desenvolve-se
no plano da regra, da estrutura do desenho/composição e da lógica constru-
tiva do material.

É neste enquadramento que a construção ­– as propriedades dos materiais,


a sua composição e processos de execução – adquire significativa importân-
cia nesta ideia de arquitetura que S&F desenvolvem, fazendo lembrar, de um

––– 17
modo cru e sem rodeios, que a arquitetura se define através de componen-
tes físicos que os materiais ajudam a definir, a compreender e por vezes a
usufruir.

Os dois blocos que aqui estudamos ligam a construção ao desenho, a ideia


ao material (um apenas, a madeira) com que se desenha, se cria espaço, que
dá cor, que nos envolve, que une e separa, que é capaz de exprimir e criar
uma particular identidade que só a melhor arquitetura propõe quando,
liberta das regras e da razão, toca na emoção de quem vive. Afinal toda a
arquitetura tem um fim.

BETÃO E MADEIRA
— Filipa Guimarães

O projeto organizou o espaço disponível pela conjugação de dois volumes


implantados com orientações diferentes, perpendiculares entre si, mas com
o mesmo tipo de preocupações, quer na imagem de cada um dos edifícios
que, pela sua semelhança, reforçam uma ideia de identidade comum e de
conjunto, quer nas soluções de organização interior e tipologias adotadas
­­– “(…) procura-se que o perímetro e interior sejam entendidos como uma só
peça, sem detalhe. As partes relacionam-se entre si e com o todo pelo uso de
um sistema de proporções regulares (…).”1

A obra é muito marcada pela expressão clara de uma modulação regular,


presente nas fachadas – ritmos horizontais e ritmos verticais combinam-se
constituindo uma grelha modular que é um dos elementos base da compo-
sição dos dois volumes.

Na composição e na expressão da arquitetura intervém, também, a orga-


nização interior de cada edifício e da sua construção para que os materiais

1)) SERÔDIO FURTADO Arquitects, “3 : 2 : 1” deSingle antwerp, 2006, pág. 27

18 –––
visíveis sejam reduzidos a apenas dois: o betão como elemento chave da
marcação estrutural. A combinação de elementos verticais (paredes portan-
tes), elementos horizontais (lajes) define um dos sistemas da composição e
imagem, complementado pelos elementos de madeira pintada nas grelhas
das janelas, portas de entrada e portas das garagens, desenhadas de maneira
a mostrar, sem forte expressão ou contraste, as diferenças de função, de de-
senho e de funcionamento.

Esta organização da arquitetura para limitar a variedade de materiais na ima-


gem do edifício reduz a quantidade de fatores que foi necessário compor e
conjugar nos volumes e nas fachadas, traduzindo-se numa composição glo-
bal contida e controlada nas formas e na sua expressão.

As soluções adotadas permitem, no entanto, que o edifício ganhe uma dinâ-


mica formal em função do movimento resultante da utilização das portadas
exteriores que, quando abertas, permitem que apareçam mais dois materiais:
o alumínio dos caixilhos, tratado com a mesma cor que as grelhas exteriores,
o vidro e o metal presente nas guardas das varandas. O risco de tais variações
poderem introduzir uma modificação que prejudicasse a imagem global dos

volumes foi objeto de estudo e preocupação, aparecendo expresso nos es-


quissos e desenhos a solução de contenção e integração.

De facto, a importância dos elementos estruturais em betão na composição


da fachada é muito forte, reforçada pela adoção da combinação de apenas
duas cores: a cor do betão e o negro com que foram tratados todos os ele-
mentos dos caixilhos metálicos, portadas e portas de madeira.

Assim, o conjunto desta obra revela uma grande atenção à combinação do


programa e dos espaços interiores com uma ideia de composição volumétri-
ca e sistemas construtivos para que o resultado final resultasse numa obra de
forte expressividade assente num reduzido número de formas e de materiais.

––– 19
20 –––
––– 21
22 –––
––– 23
14
15
03

04

06

0,080
05

2,600
2,520

2,700
07

08
0,050

0,150
CX 9
0,080
0,050
0,100

0,350
0,150
0,150
0,100

Zona de
enrocamento
2,600

CORTE VERTICAL A
2,520

2,700
0,050

0,150

CX 9

01 Isolamento térmico 09 Guarda em metal


0,050
0,100

0,350
0,150

02 Betão leve 10 Camada de regularização


03 Betão armado 11 Isolamento acústico
0,150
0,100

Zona de
04 Reboco 12 Camada de enchimento enrocamento

05 Caixilharia em alumínio 13 Betão armado


06 Portada em madeira pintada 14 Tijolo
CORTE VERTICAL A
07 Vidro 15 Caixa de ar
08 Soalho

24 –––
CX 9

A
ALÇADO COM PORTADAS

CX 9

A
ALÇADO COM PORTADAS

A
ALÇADO SEM PORTADAS

PLANTA A
A 7,150
ALÇADO SEM PORTADAS
2,650 0,940 0,940
0,940 0,940
1,080

––– 25
14 ALÇA

15
03

04

2,500

2,700
ALÇA

05
06

CORTE VERTICAL A ALÇA

07

2,500

2,700
08

09

PLAN

CORTE VERTICAL A ALÇA


0,0

PLAN

0,0

26 –––
PLANTA A
7,150
2,650 0,940 0,940
0,940 0,940
1,080

CX 6

A
ALÇADO COM PORTADAS

CX 6

A
ALÇADO COM PORTADAS

A
ALÇADO SEM PORTADAS

PLANTA A 1,385
1,220 1,385
ALÇADO 1,220
0,060 SEM PORTADAS
1,360 1,360 0,060
1,275 1,275 1,275 1,275 1,275 1,275
7,650

PLANTA
1,385
1,220 1,385
1,220
0,060 1,360 1,360 0,060
1,275 1,275 1,275 1,275 1,275 1,275
7,650

––– 27
14
15 1
03 2
1 5
3
2
04
3 CX 9

4 5
4 7 6
A
ALÇADO COM PORTADAS

A 7

06

0,080
CX 9

05

2,600
2,520

2,700
A
ALÇADO COM PORTADAS 07

08
A
8

0,050

0,150
CX 9

0,080
13

0,050
0,100
5

0,350
0,150
0,150
0,100
A 4 Zona de
ALÇADO SEM PORTADAS enrocamento

CORTE VERTICAL A

2,600
2,520

2,700
7 6

0,050

0,150
CX 9

01 Isolamento térmico 09 Guarda em metal

0,050
0,100

0,350
0,150
02 Betão leve 10 Camada de regularização
A
9 03 Betão armado 11 Isolamento acústico 9
PLANTA
7,150

0,150
0,100
A Zona de
ALÇADO SEM PORTADAS 04 Reboco 12 Camada de enchimento enrocamento
2,650 0,940 0,940
0,940 0,940
1,080 05 Caixilharia em alumínio 13 Betão armado
06 Portada em madeira pintada 14 Tijolo
CORTE VERTICAL A
07 Vidro 15 Caixa de ar
08 Soalho

8
10
11
8 12
10
11 12
13

13

PLANTA A
7,150
2,650 0,940 0,940
0,940 0,940
1,080

CX 6

A
ALÇADO COM PORTADAS 14 ALÇADO C

15
A 03

04

CX 6

8
2,500

2,700

A
ALÇADO COM PORTADAS ALÇADO C
13

05
06

A
ALÇADO SEM PORTADAS CORTE VERTICAL A ALÇADO S

07
2,500

2,700

08

09

PLANTA A PLANTA
1,385
1,220 1,385
ALÇADO 1,220
0,060 SEM PORTADAS
1,360 1,360 0,060 CORTE VERTICAL A ALÇADO
0,060 S
1,275 1,275 1,275 1,275 1,275 1,275
7,650

PLANTA PLANTA
1,385
1,220 1,385
1,220
0,060 1,360 1,360 0,060 0,060
1,275 1,275 1,275 1,275 1,275 1,275
7,650

Trabalho desenvolvido por Filipa Guimarães e António Correia na U.C. Construção 2 [Nuno Lacerda Lopes, Regente] 2014/15 Ano de projecto e construção: 1991 -2002

28 –––
1 5
2

4 7 6

7 6

8
10
11 12

13
30 –––
UMA LENTA
edifício cultural
CASA DAS HISTÓRIAS

MATURIDADE
Eduardo Souto Moura
Desenho 3D Beatriz Nunes, Elves
Andrade, Henrique Siza, Humberto
Madruga e Mariana Campos
Tal como Herberto Helder nos apresenta, há uma lenta maturidade que im-
Fotografia Luís Ferreira Alves
porta considerar na obra de um criador, tal como foi este poeta, tal como
Ano de projeto 2005
Ano de conclusão 2009 foram muitos escritores, escultores e artistas plásticos, que progrediram na
sua descoberta sobre os mistérios do mundo. Dizia-nos Fernando Pessoa
– que também desenvolveu diferentes estratégias de maturidade – que o úni-
co mistério do Mundo é não haver mistério nenhum. E talvez por isso a sua
fragmentação na procura de mundos e universos diferentes em busca desse
mistério que ele próprio construiu. E, importa dizê-lo, que bem que o fez!

Na arquitetura a exigência por uma expressão de continuidade, fixação de


uma linguagem, de um modo de fazer e de entender o mundo é uma peri-
gosa falácia que muito tem diminuído o natural processo de interpretação e
a subsequente capacidade de ação por parte do arquiteto, na produção de
arquitetura que, deste modo, se autorreprime na condição de encontrar uma
concretização capaz de espelhar ou revelar o nosso tempo.


Hoje, nada sei de quem me amou ou
ama. Nada me reparte no tempo. Abro-
me à unidade da vida – e amo o passado
e o futuro com um só fervor: completo.
A geografia não existe. Quem está em
Joanesburgo e me ama ou possui um
breve poema rabiscado nas costas de
um envelope, ou quem me odeia em
Roterdão e apenas tem algumas palavras
sem destinatário, nada poderá supor da
minha lenta maturidade. Esses papeis
pouco valem e esses sentimentos (de
amor e ódio). Vale quem Sou.“ Herberto Helder
A fixação de uma ideia de arquitetura num qualquer processo de produção,
material, tecnologia ou linguagem é frequentemente um exercício concep-
tual que muitos arquitetos realizam como fator decisivo para a construção da
sua marca, da sua identidade e do seu específico e genuíno, ou diferenciador,
modo de fazer e de entender o mundo da arquitetura.

Deste modo se compreendem os diferentes ruídos – formais, espaciais – e


as propostas de espaços híbridos e interseccionistas, de edifícios complexos,

––– 31
com programas banais, ou de edifícios banais com programas complexos,
até exemplos onde a técnica construtiva e o uso e abuso de um determinado
material é a legitimação de qualquer solução de edifico para um determina-
do contexto, território ou condição social.

A procura da diferenciação e da distinção, do quem é quem na arquitetura,


quem é o arquiteto do betão, da madeira, ou do aço, da tecnologia de ponta,
dos muros de granito, das palas mediterrânicas, das casas pátio, do ar, da luz,
da pedra, do cheios e vazios, dos calores e dos frios, dos silêncios e das marés,
tem levado a uma certa manutenção no modo de fazer e criar arquitetura em
Portugal. Este facto, mais do que permitir a experimentação de novas estraté-
gias de criação e de adaptação aos diferentes contextos e circunstancias, tem
conduzido ao crescente processo de variações sobre temas que, de modo
algum, parecem estar a contribuir para a necessária visão crítica que importa
para a arquitetura portuguesa, num claro sinal de maturidade.

Se a polissemia é distrativa, quase sempre confusa, podendo ser até pouco


enriquecedora em matéria disciplinar da arquitetura, será então a homoní-
mia (quando duas ou mais palavras com origens e significados distintos têm

a mesma grafia e fonologia) a via para a criação de um novo texto em arqui-


tetura? Cremos que não.

Acreditamos que a homonímia em arquitetura poderá ser ainda mais empo-


brecedora ou limitadora porque cristaliza e fixa o pensamento crítico sobre
a própria produção arquitetónica, porque torna o processo de produção e
de conceção limitado por um qualquer desígnio condicionador apriorístico.

A obra de Eduardo Souto Moura, que este número apresenta, é a nosso ver
paradigmática e indicia um claro sinal de mudança e de aceitação da própria
mudança como fio condutor para uma nova estratégia de pensamento e de
criação em arquitetura de autor, que Eduardo Souto Moura realiza como sinal
de grande maturidade. Onde a polissemia se realiza e onde a homonímia se
esclarece, compreende-se o valor desta obra no contexto atual da produção
de arquitetura portuguesa, sobretudo porque permite ao autor extrapolar e
evoluir a linguagem que ele próprio criou.

32 –––
É, por isso, frequente associar a “Casa das Histórias” à influência de um outro
autor português com que Eduardo Souto Moura trabalha: Álvaro Siza Vieira
– mestre da arquitetura portuguesa e que muito contribuiu para o esclare-
cimento e desenvolvimento dos complexos processos de construção e de
definição de uma linguagem arquitetónica de exceção, onde toda a obra
nova é uma surpreendente revisão da produção passada e uma consequente
e nova perspetiva para a produção futura. Por isso a obra de Siza é referência
constante nas escolas de arquitetura e nos autores de referência do mundo.


E é na morte de um poeta que se
principia a ver que o Mundo é eterno”
Herberto Hélder, vida e obra de um poeta.

A proximidade física não é menor que a proximidade intelectual e criativa


dos dois Arquitectos que dão nome à Escola do Porto, que bem representam
e promovem. Mas Eduardo Souto Moura nunca foi capaz, nem sequer quis al-
gum dia, fazer à Siza. Fazer à Souto de Moura é já trabalho exaustivo e poder
submeter a sua produção - num processo de maturação consciente – à crítica
e à sua autocrítica é ainda mais um trabalho arrojado e arriscado.

Claramente que nesta obra, Eduardo Souto Moura, não poderá dizer o
que já afirmou que “desde o primeiro projeto, há muitos anos atrás, que
continuo a desenhar a mesma casa”. Decididamente aqui a casa é outra, a en-
comenda é outra, os materiais são outros e o tempo (esse grande escultor)
é decididamente outro, indicando-nos a necessária maturidade e também
a responsável liberdade que assume, abrindo assim o entusiamo para com-
preendermos uma outra e talvez mais esclarecida ideia de arquitetura que
esta obra promete.

––– 33
0 2 5 10
Implantação

Alçado Sul

Alçado Norte 0 1 2 5

34 –––
2 3 4

1 1

0 1 2 5
Planta piso 0 2 3 4

Corte 1

Corte 3 0 1 2 5

––– 35
2 3 4

1 1

0 1 2 5
Planta piso -1 2 3 4

Corte 2

Corte 4 0 1 2 5

36 –––
Corte construtivo C1 0 0,1 0,2 0,4

––– 37
01 Clarabóia da pirâmide formado por mármore azulino de Cascais 30mm bloco de assentamento 100mm, laje
vidro duplo 3+6/6/6 sobre perfil em em betão armado 200mm
aço, tipo T virada 80x80cm 13 Tapete de drenagem geocompósito,
membrana impermeabilizante, 20 Painel duplo em gesso 25mm,
02 Canaleta de coleta de águas pluviais camada de argamassa, parede de painel isolante em lã de rocha 70mm
formada por chapa moldada em fundação em betão armado 200mm, sobre caixilho de perfis em aço C
zinco membrana impermeabilizante 70x35mm, parede em alvenaria
110mm, argamassa fina 20mm
03 Cinta de cimento armado, rufo em 14 Membrana em tecido, camada
zinco de pedras britadas, tubo 21 Tablado em MDF
para drenagem,membrana
04 Divisória em cimento armado cor impermeabilizante, camada de 22 Barra em aço com seção
vermelha, 180mm com a textura à argamassa, jato de enchimento encaixilhada 40x0mm de apoio da
vista da forma em madeira em betão, fundação em betão janela da cabine
armado 300mm, membrana
05 Forro acústico formado por painel de 23 Fita vitrificada em vidro duplo
impermeabilizante, terra
fibras minerais 4mm, painel isolante 6/10/8mm
45mm, camada de cola, painel em 15 Divisória em betão armado 200mm,
gesso 20mm, caixilho de apoio em 24 Cantoneira em aço 30x30mm de
cantoneira em aço 160x160mm de
perfis de aço tipo C, suspensos na fechamento
suporte da porta
laje e na parede
25 Difusor e motor para sistema de
16 Cobertura formada por chapa
06 contraparede formado por duplo condicionamento de ar
trapezoidal, membrana
painel em gesso 25mm, painel impermeabilizante, painel isolamento
26 Estrutura em vigas IPE 500 de apoio
isolante em lã de rocha 70mm em poliestireno expandido
da cobertura
sobre caixilho em perfis C em aço 80mm, camada de esmalte
70x35mm impermeabilizante, bloco de 27 Tela motorizada para projecções
nivelamento, bloco de assentamento
07 Siatema de iluminação de encaixe
para a formação da inclinação, laje 28 Contraparede formada por duplo
em betão armado 250mm painel em gesso 25mm, painel
08 Difusor para sistema de
isolante em lã de rocha 110mm
condicionamento de ar
17 Divisória em betão armado 110mm, sobre caixilho em perfil de aço tipo C
acabamento em argamassa 20mm 110x35mm, painel duplo em gesso
09 Expositor para livros em MDF lacado
e hidrorrepelente 25mm
18 Piso em tábuas de madeira
africana Doussié 30mm, membrana 29 Rufo em zinco, membrana
10 Sistema de estantes em MDF lacado
antirruídos, caibros de madeira de impermeabilizante, camada de
e hidrorrepelente
apoio alternados com isolante em esmalte impermeabilizante, cinta em
11 Piso em mármore azulino de Cascais lã de rocha, bloco de assentamento betão armado
30mm, camada de argamassa, bloco 20mm, laje em betão armado 50mm,
de nivelamanto 20mm, laje em betão laje em betão armado 200mm 30 Divisórias em betão armado cor
armado 50mm, bloco em betão vermelha, 250mm com a textura
19 Pavimento do auditório formado à vista da forma em madeira,
leve 100mm, laje em betão armado
por tábuas de madeira africana argamassa
200mm, câmara de ar, terra
Doussié 30mm, moldura de apoio
12 Rodapé formado por placa em em montantes e caibris em madeira
40x40mm, bloco de nivelamento,

38 –––
Trabalho desenvolvido por Beatriz Nunes, Elves Andrade, Henrique Siza, Humberto Madruga e Mariana Campos
A

––– 39
A C E

to 100mm, laje
mm

o 25mm,
de rocha 70mm
s em aço C
alvenaria
na 20mm

ção
de apoio da

o duplo

x30mm de

istema de
ar

E 500 de apoio

projecções

a por duplo
m, painel
a 110mm
il de aço tipo C
plo em gesso

rana
mada de
zante, cinta em

mado cor
m a textura
adeira,

B D F
Ano de projecto: 2005 | Ano de construção: 2009

40 –––
B

––– 41
C

42 –––
D

––– 43
E

44 –––
F
Ano de projecto: 2005 | Ano de construção: 2009

––– 45

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