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LANDMARQUES

Antonio Onías Neto M I


Grande Inspetor do Rito Moderno

Significado da palavra LANDMARQUE: Origina-se do inglês. LAND: terra, país, terreno ou


território, MARK: marco, sinal, mancha. Em inglês define-se LANDMARK como lugar conhecido, ou
marco de território. Em português diríamos marca de terreno, estaca, baliza, lindeiro, marco lindeiro, linda,
limite territorial.
Vamos encontrar nesse sentido, pela primeira vez, na Bíblia em:
Jó, 24, 2 - “Há os que removem os limites,......”
Deuteronômio, 19,14 - “Não removerás os marcos do teu próximo, os quais teus antecessores
fixaram na tua herança.........”
Deuteronômio, 27,17 - “Maldito aquele que remove os marcos do seu próximo.”
Provérbios, 22, 28 - “Não removas o antigo marco, que teus pais puseram.”
Provérbios, 23, 10 - “Não removas o antigo marco, nem entres nos campos dos órfãos; ......”
Na Maçonaria, vemos, com o sentido de antigas obrigações, usos, costumes, tradições, ser
empregado pela primeira vez em 1721, na compilação dos Regulamentos Gerais da Grande Loja de
Londres, em seu artigo 39, quando era Grão Mestre nosso irmão George Payne: “Cada Grande Loja anual
tem inerente poder e autoridade para modificar este Regulamento ou redigir um novo em benefício desta
fraternidade, contanto que sejam mantidos invariáveis os antigos Landmarques....”
No entanto, já em 1723, a Assembléia Geral da Grande Loja da Inglaterra substitui a palavra
“Landmark”, por “RULE” ou seja “REGRA”.
Vejamos como a maioria dos autores maçônica se expressa sobre os Landmarques:
Albert G. Mackey - “Há diversidade de opiniões entre os tratadistas a respeito da
natureza dos antigos landmarques da Maçonaria: porém o melhor método será limitá-los aos
antigos e universais costumes da Ordem que acabaram por concretizar-se em regras de ação,
ou que se articularam em leis por alguma autoridade competente, e o seria em tempo tão remoto
que não deixou sinal na história.” (Jurisprudence of Freemasonry, e apresenta sua relação com 25
landmarques)
Albert Pike - “Os princípios fundamentais da antiga Maçonaria Operativa eram poucos e
simples e não se chamavam Landmarques.” (Atas da Veterana Associação Maçônica, transcritas por
T. S. Parvin, onde critica Mackey e no final relaciona 5)
Bernard E. Jones - “Seria impossível, portanto, alguém dogmatizar em matéria em que a
Grande Loja (a da Inglaterra) não fez qualquer pronunciamento, e em que os Maçons com
experiência não podem concordar. Infelizmente existe a tendência de se usar a palavra
“landmark” como um substantivo conveniente para descrever algo que não tem significado
definido.” (Freemasons Guide and Compendium).
George Oliver, Rev. - “A respeito dos landmarques da Maçonaria, alguns se limitam aos
sinais, toques e palavras. Outros incluem as cerimônias de iniciação e exaltação; os ornamentos,
paramentos e jóias da Loja ou seus símbolos característicos. Outros opinam que a Ordem não
tem outros landmarques além de seus segredos peculiares.” (Dictionary of Symbolic Masonry e
apresenta sua relação com 31).
H. G. Grant - “Não pode considerar-se landmarque da Maçonaria o que não está
estabelecido pelos escritos de nossos pais ou reconhecidas autoridades como regra ou crença
dos Franco-maçons em 1723, ou antes, ou que não esteja aceita como marca.” (Ancient
Landmarks with suporting evidence, e apresenta sua relação com 54)
Landmarques, uma tese(aOn) fls. 2
John W. Simons - “Consideramos como marcas os princípios de ação que identificam
com a forma e essência da Maçonaria, e, que a grande maioria aceita, são invariáveis e todos
os maçons estão obrigados a manter intactos, sob pena de irrevogáveis sanções.” (Principles of
Masonic Jurisprudence, mas apresenta sua relação de 15)
Josiah Drummond - “Tudo quanto podemos saber é que são leis e costumes existentes
desde tempo imemorial. Se há algum uso universal de origem desconhecida, é um landmarque.”
(Maine Masonic Text Book)
Jules Boucher - “Na Maçonaria francesa, a “Liberdade de Pensamento” é um “landmark”
fundamental e, paradoxalmente, este “landmark” não tem limites!” (“La Symbolique Maçonnique”,
pg. 217)
Luke A. Lockwood - “Os landmarks da Maçonaria são aqueles antigos princípios e
práticas que assinalam e distinguem a Maçonaria como tal, e são fonte de jurisprudência
Maçônica.” ( Masonic Law and Practice, apresentando 19 Landmarques)
Oswald Wirth - “Os landmarks são de invenção moderna e seus partidários jamais
conseguiram se por de acordo para fixá-los. Isso não impede que os anglo-saxões proclamem
sagrados esses limites essencialmente flutuantes, que ajustam de acordo com seus
particularismos. Cada Grande Loja fixa-os de acordo com seu modo de compreender a
Maçonaria; a maçonaria é compreendida de modos muitos diferentes, razão das definições
contraditórias, destrutivas da unidade dentro de uma instituição que visa à concórdia universal.”
(Qui est Régulier)
Robert Morris - “Os dogmas invariáveis que a assinalam dão a conhecer e mantêm os
limites da Francomaçonaria.” (Dictionary of Freemasonry e relaciona 17)
W. B. Hextal - “Os antigos landmarques da Francomaçonaria, como todo outro
landmarque material ou simbólico, só se podem manter estáveis quando se apóiam em seguros
fundamentos. Ao se aprofundar o filósofo sobre a pedra em que descansem descobre que o
nosso seguro fundamento é o trino dogma da fraternidade de Deus, a fraternidade dos homens
e a vida futura. Todas as leis, usos, costumes e métodos que não se apóiem neste dogma básico,
serão convenções ou acomodações, porém de modo algum participarão da natureza dos antigos
landmarques.” (Ars Quattuor Coronati, volume XXV)
Entre os brasileiros nós podemos citar:
Henrique Valadares ( Cayru ) - “Os landmarques delimitam o que é Maçonaria e o que
não é Maçonaria: o que estiver nos landmarques, ou dentro deles, é Maçonaria regular; o que
estiver fora dos landmarques não é Maçonaria ou é Maçonaria espúria. São os “limites”. O Livro
das Constituições de Anderson refere-se aos “antigos Landmarques”, que devem ser
“respeitados cuidadosamente”.
“Para que uma regra ou norma seja considerada landmarque tem que reunir em si vários
requisitos:
a) antigüidade, isto é, deve existir desde um tempo imemorial. Por isso, se hoje as
Autoridades maçônicas pudessem reunir-se e decretar uma lei universal, esta não seria
absolutamente um landmarque.
b) espontaneidade e generalidade, isto é, o landmarque não tem autor conhecido, não
se origina de nenhuma autoridade pessoal, só é landmarque todo uso universal, de origem
desconhecida.
c) invariabilidade e irrevogabilidade, isto é, todo landmarque é inalterável.”
(O Aprendiz-Maçom)
Landmarques, uma tese (aOn) fls. 3
Nicola Aslan - “Evidentemente, o problema dos Landmarques continuará sem solução
possível, e de nada irá adiantar a melhor definição ou a melhor compilação apresentada, porque
sempre será um trabalho estabelecido sobre a areia. Como já tivemos oportunidade de dizer
para nós, os Landmarques, e particularmente os de Mackey, que obtiveram o maior sucesso,
representam, ou para melhor dizer, pretenderam representar dentro da Maçonaria o mesmo
papel que as Falsas Decretais desempenharam, outrora, dentro da Igreja Católica.” (Landmarques
e outros problemas Maçônicos)
Vanildo de Senna - “Os Landmarques, na verdade, constituem atualmente, problema de
difícil solução. Tratadistas, jurisconsultos e todos quanto deles se ocuparam jamais puderam
chegar a um acordo no sentido de defini-los, enumerá-los, classificá-los e interpretá-
los.”(Landmarques - Tese, Antítese e Síntese)
Se formos verificar a relação dos Landmarques existentes observaremos a diversidade dos
mesmos, quase todos levantados por Virgílio A. Lasca e alguns por nós constatados:
São somente 3 para Alexandre S. Bacon e Chetwood Crawley;
5 para Albert Pike e Morivalde Calvet Fagundes;
6 para Jean Pierre Berthelon e para a Grande Loja de Nova York, tomando por base os capítulos
em que se dividem as Constituições de Anderson.
7 para Roscoe Pound e o cubano Carlos f. Betancourt, adotados pela Grande Loja de Virgínia;
8 para a Grande Loja de Massachusetts, repetindo a relação de Mackey, apenas diminuindo-lhe a
numeração;
9 para J. G. Findel;
10 para a Grande Loja de Nova Jersey;
12 para A. S. MacBride;
14 para Joaquim Gervásio de Figueiredo;
15 para John W. Simons adotados pela Grande Loja de Tennessee;
17 para Robert Morris;
19 para Luke A. Lockwood adotados pela Grande Loja de Connecticut;
20 para a Grande Loja Ocidental da Colômbia;
25 para Albert G. Mackey e Chalmers I. Paton;
26 para a Grande Loja de Minnesota;
29 para Henri A. Lecerff;
31 para o Rev. George Oliver;
54 para H. G. Grant adotados pela Grande Loja de Kentucky.
Por seu lado, a Grande Loja Unida da Inglaterra, embora não chame de Landmarque, fixa 8
condições sem as quais não reconhece um outro Corpo Maçônico.
Como vemos cada Grande Loja adota uma compilação, e cada estudioso do assunto acrescenta
mais uma.
Não cansaremos os leitores com a transcrição de todas elas, nos restringiremos a citar textualmente
a de Findel, que é aceita pela maioria das Lojas do Rito Moderno, e comentaremos item por item a de
Mackey, endeusada pela maioria dos Maçons brasileiros, inclusive faltando com a verdade ou a
transcrevendo ora com a supressão, ora alterando-lhe o conteúdo, com a intenção de não ferir
susceptibilidade de alguns ou de conseguir mais adeptos.
Landmarques, uma tese (aOn) fls. 4

Compilação de Findel

1.- A obrigação de cada Maçom professar a religião universal em que todos os homens de
bem concordam. (Praticamente transcrevendo as Constituições de Anderson)
2.- Não existem na Ordem diferenças de nascimento, raça, cor, nacionalidade, credo
religioso ou político.
3.- Cada Iniciado torna-se membro da Fraternidade Universal, com pleno direito de visitar
outras Lojas.
4.- Para ser Iniciado é necessário ser homem livre e de bons costumes, ter liberdade
espiritual, cultura geral e ser maior de idade.
5.- A igualdade dos Maçons em Loja.
6.- A obrigatoriedade de solucionar todas as divergências entre os Maçons dentro da
Fraternidade. (Como eu gostaria que isso se tornasse realidade)
7.- Os mandamentos da concórdia, amor fraternal e tolerância; proibição de levar para a
Ordem discussões sobre assuntos de religião e política.
8.- O sigilo sobre os assuntos ritualísticos e os conhecimentos havidos na Iniciação.
9.- O direito de cada Maçom colaborar na legislação maçônica, o direito de voto e o de ser
representado no Alto Corpo.

Classificação de Mackey

1.- Os meios de reconhecimento.


Ora, os modos de reconhecimento na maçonaria nem sempre foram os mesmos. A princípio todos
os sinais eram dados assim que os Aprendizes eram iniciados. As palavras de passe e sagrada são
diferentes nos diferentes Ritos. A palavra que substituir a palavra perdida é diferente nos diversos ritos,
e os sinais e toque também o são. Portanto a existência dos meios de reconhecimento são um
landmarque, mas não cada um deles em si.

2.- A divisão da Maçonaria em 3 graus.


Sabemos que antes de 1717, quando da fundação da primeira Grande Loja, só havia dois graus na
Maçonaria. O grau de Mestre só foi criado em 1725 e institucionalizado em 1738, e considerado regra
pela Grande Loja em 1813. Se um landmarque deve ser imemorial, este não poderia ser um.

3.- A Lenda do 3º Grau.


Somente após a criação do grau de Mestre é que foi criada esta Lenda. Portanto não é imemorial.
E, outra, o Herói da Lenda é diferente nos Ritos Hiramitas e Adonhiramitas. A estrutura da Lenda
também.

4.- O governo da Fraternidade deve ser exercido por um Oficial denominado Grão Mestre, eleito por
todo o povo Maçônico.
A criação do cargo de Grão Mestre de uma Potência, conforme entendemos hoje, só foi acontecer
após a fundação da Grande Loja da Inglaterra. Anteriormente, o nome Grão Mestre era também utilizado
para Veneráveis de Lojas, e não de toda a Fraternidade.

5.- A prerrogativa do Grão Mestre de presidir toda reunião maçônica, onde e quando se realize.
A objeção é mesma que a anterior, só depois da criação de um Alto Corpo, reunindo maçons de
todas as Lojas é que houve o que seria o cargo atual de Grão Mestre.
Landmarques, uma tese (aOn) fls. 5

6.- A prerrogativa do Grão Mestre de conceder licença de conferir graus em tempo anormais, com
dispensa dos prazos.
Repetimos a mesma alegação dos anteriores itens.

7.- A prerrogativa que tem o Grão Mestre de autorizar fundação e manutenção de Lojas Maçônicas.
Anteriormente, as Lojas eram fundadas por decisão dos Maçons, sem influência estranha. Era o
lema “Maçom livre em Loja livre”. A prática das cartas constitutivas é recente.

8.- A prerrogativa do Grão Mestre de “fazer maçons à vista”, ou seja, reunindo determinado número
de Irmãos poder iniciar sem que sejam necessárias sindicâncias, provas ou o que mais seja da
iniciação.
Isso já foi feito no Brasil, infelizmente, com drásticas conseqüências.
Como se vê, os chamados landmarques, do 4º ao 8º, são regras que cabem mais num estatuto,
numa constituição, podendo ser alterados por decisão do povo Maçônico, como já o foram.

9.- A necessidade dos Maçons de se congregarem em Loja.


Finalmente, encontramos uma afirmativa que efetivamente é um “landmark”, na concepção de
seus definidores. Desde que concebeu a Maçonaria os seus membros se reúnem em organismos
denominados Lojas.

10.- O governo da Fraternidade, quando reunida em Loja, deve ser exercido por um Venerável e dois
Vigilantes.
Este é efetivamente um landmarque, pois desde tempos imemoriais, mesmo quando não havia os
graus, as Lojas eram presididas por um Presidente e dois Vice-Presidentes, escolhidos entre seus
membros.

11.- A necessidade de uma Loja, quando reunida, estar resguardada ou coberta.


O sigilo maçônico assim o exige, eis outra regra definitiva.

12.- O direito de todo Maçom se fazer representar nas reuniões gerais da Fraternidade, e de instruir
seus representantes.
Anteriormente os Maçons (aprendizes ou companheiros) compareciam pessoalmente às reuniões
do povo Maçônico, mas não podiam ser representados. O direito de representação foi criado posteriormente,
e é diferente conforme a legislação da Obediência, quer seja Grande Loja ou Grande Oriente. Em uma os
representantes são o Venerável e os Vigilantes, e no outro é o deputado.

13.- O direito de recurso de cada Maçom perante a Grande Loja ou Assembléia Geral.
Nos primórdios da Maçonaria Especulativa não existia esse direito de recorrer da decisão de uma
Loja a que pertencesse o Maçom, pois a Loja era livre e não filiada a nenhum Alto Corpo. E, atualmente,
por exemplo, no Grande Oriente existe um Órgão Judiciário específico para decidir recurso de Maçom.

14.- O direito de todo Maçom visitar e tomar assento em qualquer Loja.


Tentem visitar uma Loja inglesa. Antes do atual Tratado da Grande Loja com o Grande Oriente
houve Irmãos barrados em Loja da Grande Loja. E, por outro lado, qualquer membro de uma Loja pode
vetar a entrada de um visitante. A regra citada deveria ser válida, mas infelizmente não o é.
Landmarques, uma tese (aOn) fls. 6

15.- Nenhum visitante, desconhecido dos Irmãos de uma Loja, pode ser admitido à visita, sem que,
antes de tudo, seja examinado, conforme os antigos costumes.
Seria no caso o inverso do landmarque anterior, no entanto, como a maioria não conhece os toques,
os sinais e as palavras de outros Ritos, é de fato não cumprido. Já ouvi Vigilante dizer que “batem
irregularmente à porta do templo”, quando ouve as baterias de outro Rito que não o seu.

16.- Nenhuma Loja pode intrometer-se em assuntos que digam a outra, nem conferir graus a Irmãos
de outros quadros.
Em tese, é verdadeiro, no entanto, um visitante pode votar contra o ingresso de um profano em
uma Loja, o que é uma certa forma de se imiscuir em assuntos de outra, e isto jamais foi proibido nem
poderia sê-lo. Quanto a conferir graus, pode, desde que por delegação da Loja de origem do Irmão.

17.- Todo Maçom está sujeito às leis e aos regulamentos da Jurisdição Maçônica em que reside,
mesmo não sendo membro de qualquer Loja.
Outra afirmação que, em tese, é de aceitar, posto que não se filiar já seria uma infração maçônica,
no entanto, a residência temporária está sendo considerada? Poderia a Obediência regional obrigar o
Maçom designado a prestar serviços por tempo determinado em outro país, ou região, a filiar-se à sua
Jurisdição sob a ameaça de infringir um landmarque?

18.- Todo candidato à iniciação deve ser homem livre de nascimento, não mutilado ou isento de
defeitos físicos e maior de idade.
Que maioridade? Civil, eleitoral ou criminal? Os lowtons, em nossa legislação, têm direitos
especiais quanto à idade.
O escravo liberto ou o filho de escravo não poderia ser iniciado? No Brasil o foram.
Quando se impunha a iniciação apenas dos homens as mulheres eram submissas, em todo sentido.
O são agora? Atualmente, há algumas que são mais livres que alguns homens. E mais capazes.
A higidez exigida é efetivamente total, no entanto, conhecemos diversos Irmãos mutilados; já
soubemos de casos históricos de cegos iniciados, a própria Constituição exige, atualmente, que a higidez
lhe dê condições de praticar todos os atos ritualísticos. Seria essa exigência atual? E o avanço no campo
das próteses? Permanece este landmarque por séculos, como se exige.

19.- Que todo Maçom deve crer na existência de Deus como Grande Arquiteto do Universo.
Não seria a exigência um dogma, que fere os princípios Maçônicos? A Maçonaria tem princípios,
não dogmas. Anderson falava em religião universal, não definia no que deve crer. A Grande Loja Unida da
Inglaterra chega a exigir uma religião monoteísta, como ficariam os panteístas e os politeístas, de diversas
facções. Eles são religiosos. Houve época em que algumas Lojas exigiam a crença no dogma da Trindade.
Quando se pretendeu fixar esta afirmativa como landmarque, sequer se conheciam todos os tipos de crenças
existentes no planeta. Só é permitido ser Maçom se for de origem judaico-muçulmano-cristão? Onde a
liberdade de crença? Onde a exclusão do preconceito religioso?
Melhor seria falarmos na crença, na aceitação de um Princípio Criador, que abrangeria melhor
todas as possíveis formas de credos, conforme consta da Constituição do Grande Oriente do Brasil.
Landmarques, uma tese (aOn) fls. 7

20.- Subsidiária à crença em Deus, a crença em uma vida futura, na imortalidade da alma e na
ressurreição.
Vemos que alguns landmarques, como o de Pound, que prefere falar em “imutação da
personalidade”, no lugar de imortalidade.
A maior parte dos autores brasileiros (por má fé?) esconde que Mackey cita a crença na
ressurreição, que fere grande parte dos maçons brasileiros, que crêem na reencarnação e não na ressurreição.
Toda afirmativa dogmática colocada como landmarque é um perigo para a liberdade de pensamento,
fundamento da Ordem.

21.- A existência do “Livro da Lei”, como ornamento indispensável em uma Loja.


Em primeiro lugar, há de se observar que não existia antigamente a exigência de qualquer livro,
religioso ou não, como ornamento das Lojas, basta consultar nos diversos rituais antigos a inexistência do
livro no compromisso dos iniciados. Os autores brasileiros exageram, ainda mais, dizendo que o
landmarque fala em “livro da lei que deve conter a verdade revelada pelo grande Arquiteto do Universo”,
e algumas Grandes Lojas, ainda, citam especificamente a Bíblia. Ora, onde a liberdade religiosa? Onde a
liberdade de pensamento?
Fala Mackey em religião do país, é incrível depois das Constituições de Anderson falar-se que
deve ter a religião do país. Ninguém pode ter outra religião senão a religião da maioria??!!
Falar em Velho Testamento para os judeus? O livro sagrado do Judaísmo não é todo o Velho
Testamento, mas apenas o Pentateuco ou Torá. No Brasil nós temos religiões (não só no Brasil), que não
têm livro sagrado, pois toda tradição religiosa é oral (Candomblé, Umbanda, Pajelança, etc.). Quem não
entende de outra religião senão a sua, quando entende; quem nunca estudou outras religiões, como pode
falar desta ou daquela religião?
Nós mantemos presente um Livro Sagrado em virtude do Tratado que existe com a Grande Loja
Unida da Inglaterra.

22.- Que todos os homens são iguais perante Deus e que na Loja se encontram no mesmo nível.
Em primeiro lugar, muda-se a redação de Mackey, que diz simplesmente a igualdade de todos os
Maçons.
Mas não há dúvida que a igualdade dos Maçons em Loja é um landmarque, desde que obedecida
a hierarquia e os graus, portanto a igualdade não é tão absoluta. A grande verdade é que o Maçom não goza
dos privilégios e prerrogativas que possam gozar no mundo profano.

23.- Que a Maçonaria é uma sociedade secreta de posse de segredos que não podem ser divulgados.
Por que será que nossos Irmãos alteram a redação dos landmarques de Mackey, será que é porque
não podem sustentá-los na forma que são, mas pretendem endeusá-los?
Ora, a Maçonaria não é uma sociedade secreta, só o sendo nos países onde a liberdade de
associação não é permitida. Nem em Cuba comunista.
Ela tem seus estatutos registrados e sede conhecida. Ela é, isto sim, uma sociedade sigilosa, que
tem seus segredos, como muitas outras sociedades civis e religiosas. O que existe na Maçonaria é o sigilo
que seus membros devem guardar dos conhecimentos havidos pela iniciação
Se segredo existe é aquilo que é tratado dentro de Loja, o, que infelizmente não acontece.

24.- A Maçonaria consiste em uma ciência especulativa fundada numa arte operativa.
Definir a Maçonaria como ciência é absolutamente anticientífico, em nenhum conceito de ciência
cabe admitir a Maçonaria como uma delas. A Maçonaria incentiva o estudo da ciência, incentiva a prática
das artes, mas não é nenhuma nem outra. A afirmativa não é um landmarque, e ainda mais, é uma inverdade.
Landmarques, uma tese (aOn) fls. 8

25.- Os landmarques da Maçonaria são inalteráveis. ”Nolumus legem mutari”


É muita veleidade, no mínimo, afirmar que os landmarques que Mackey relaciona são inalteráveis.
Não há dúvida que devem existir princípios fundamentais (e existem), mas relacioná-los, afirmá-los como
verdadeiros, porque por si escolhidos, é pretender se tornar um Papa da Ordem.
Alguns Irmãos chegam à infantilidade de faltar com a verdade na defesa desses landmarques, como
nosso querido Irmão Rizzardo da Camino, quando afirma: “Coube a Inglaterra reunir esses landmarques e
apresentá-los à maçonaria moderna...” e cita os landmarques de Mackey. Ora, a Inglaterra, tanto no tempo,
da Grande Loja da Inglaterra e Grande Loja de York, como depois da união, formando em 1813 a Grande
Loja Unida da Inglaterra, nunca fixou ou compilou uma relação como verdadeira, como legítima. Ela
considera que os Antigos Deveres contidos nas Constituições de Anderson, em sua primeira edição, alterada
posteriormente por ela, são a lei fundamental onde constam os princípios vitais da Maçonaria Moderna.
O que Inglaterra fez foi listar “oito pontos”, que exige de outras Obediências para reconhecê-las
como Corpo Maçônico regular.
Nos Estados Unidos, onde existem os maiores defensores dos landmarques, é onde existe a maior
variedade de relações e compilações, cada Grande Loja lista os seus e os considera como os verdadeiros e
inalteráveis.
Os landmarques relacionados por Mackey tiveram como um de seus maiores críticos Albert Pike,
que foi Soberano Grande Comendador da Jurisdição Sul do Rito Escocês Antigo e Aceito nos Estados
Unidos, do qual Mackey foi Grande Secretário Geral.
No Brasil, chegou a constar da Constituição dos Grandes Orientes. Felizmente, quando estávamos
no Grande Oriente de São Paulo, dissidente, atual Grande Oriente Paulista, em 1982, conseguimos excluí-
lo. E, no Grande Oriente do Brasil foi escoimado de sua Constituição em sua última reforma, em 1991,
onde consta atualmente a exigência dos landmarques, mas sem citar qualquer deles, ficando a cargo da Loja
ou do Rito escolher qual deles adotar.
Efetivamente, o problema dos landmarques é insolúvel, porque a maioria pretende tornar a
Maçonaria, a seu modo, num grupo dogmático em que só a sua vontade seja válida, pretende infirmar
princípios fundamentais na Maçonaria que são a Busca Constante da Verdade, a Liberdade Absoluta de
Pensamento.
Antonio Onías Neto M I

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