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NICOLAS BOURRIAUD ESTETICA RELACIONAL Teuso DENISE BOTTMANN we martins Martine Fontes tes pre dae Do. 198 ‘P2108 Marin Bates Lanai Si pr pres Publier Eure Mend Mate oe Couette rs wets Protect grea Lan Simms Proto gti Rete a nk ‘Capea er A Pupaneie Mars Za Teva Cogs ea mer tea ianintsmens one Fe aa ne trate Tecate bag eas wists tn one ‘SUMARIO Introdusio. ‘A forma relacional - As pritcas artiticas contempor caitural —_ ‘Acobra de arte como intersiio socal ‘Asti elacional eo materialism aleatéo ‘Aforma eo olhar do outro E85 seu projeto A arte dos anos 1990... - Participate rastoidade — Tipe - ConexBes e pontos de encontso Convivioe encontros casuals See Colaboragbes contratos — Relagies profisslonas: iemtlas nn : Como acupar uma galeria? 7 Os espacos-tempos da troca ‘As obras e a5 toca 7 6 6 9 3 29 © tema da obxa Espagos tempos na arte dos nos 1990 Co-prosonga edisponibilidade: a heranga te6vica de Felix Gonzalex-Torres ‘A homostemualidade coma paradigma de coabitagio Formas contemporinens do monument (critéria de coenstneia (as obeas @05individos) ‘Aura das obras deste deslocou-s para seu pico Abeleza como solugio? Relagbesstela ‘A arte de hj seus modelos ecnalgias ‘Aart eos equpumentos ‘Aleide deslocalizacio. ‘A teenologia como model ideologico (do tayo 20 pro- rama) — Ader ea expsigao ——— AcxposigSo-censrio (Os Ggurantes ‘Acrte depois do dso - Rewindlplaytast forward Ramo a democratizagSo dos pontos de ita? Para uma politica das formas Coabtaies 7 [Notas sobre algumes exensbes possveis do uma estética relacional Sistemas visuals ‘imagem ésum momento (© que mostra of arstas as RBS a 1 2 2 00 100 103 105 105 107 m m m m m mm, Os limites da subjelividade individual ‘A engonara da intersubjetividade ‘Uma arte sem efoto? (© futuro poiien das formas Reabiltar a experimentacio Estetica relaconalesitagées construidas 0 poradigna etic Fix Guattar a arte) A subjtvidad condusidaeprodcida ‘Desnatucalizara subjetividade Estatto e fanconamento da subjetvidade Astunidades de subjetivagio 0 paradigaesttico A cic do paadigma cientifcista ( refi, ositoma ea obra ‘A obra de arte como objeto parcial Para uma piss artistco-ecos6fica ‘Acordem comportamental da art tual Glossério — us ua 4 16 us us 120 12 1m 1s 29 133 18 135 138 ered 4 ur INTRODUGAO, A que se devem os mal-entendidos que cercam a af~ te dos anos 1999, sendo a uma fatha do discurso teérico? Criticos e filésofos, em sua imensa maioria, nfo gostam de abordar as priticas contemporineas: assim, elas se man- tém essencialmenteilegiveis, pols ndo é possivel perceber sua originalidade e sua importancia analisando-as a pat- tirde problemas resolvidas ou deixados em suspenso pelas| _getastes anteriores. E preciso aceitar 0 doloroso fato de que certas questdes nfo sio mais pertinentes ~e, por extensio, dlemarcar quais delas so assim consideradas atualmente pelos artistas: quais slo 0s verdadeiros interesses da arte contemporanea, suas relagbes com a sociedade, a histéria, ‘a cultura? A primeita tarefa do critica consiste em recons- tituir 0 complexo jogo dos problemas levantados numa de- terminada época e em examinar as diversas respostas que Thes so dadas. Muitas vezes, a critica contenta-se em in- ‘ventariar as preocupagées do passado apenas para poder 10 NICOLASBOURIALD lamentar a auséncia de respostas. Ora, a primeira pergunta em relago as novas abordagens refere-se, evidentemente, A forma material das obras. Como entender essas produ- Bes aparentemente inapreensiveis, quer sejam processus ‘ou comportamentais ~ em todo caso, “estilhacadas” se- gundo os padrées tradicionais— sem se abrigar na histéria da arte das anos 1960? Citemos alguns exemplos dessas atividades: Ritkrit ‘Tiravanija organiza um jantat na casa de um colecionador fe deixa-Ihe © material necessério para o preparo de uma sopa tailandesa, Philippe Parreno convida pessoas para praticar seus hobbies favoritos no Primeiro de Maio, nu- ‘ma linha de montagem industrial. Vanessa Beecroft ves- te cerca de vinte mulheres, que o visitante 36 enxerga pelo ‘vio da entrada, com roupas iguais e perucas ruivas, Mauri io Cattelan alimenta ratos com queijo Bel Paese e os ven- de como miltiplos, ou expée cofres recém-arrombados, Numa praga de Copenhague, Jes Brinch e Henrik Plenge Jacobsen instalam um éribus eapotado que, por emula ‘slo, provaca wim tumulto na cidade. Christine Fill empre- ‘ga-se como caixa de supermercado e mantém uma sala de gindstica semanal numa galeria, Carsten Hiller recria a férmula quimica das moléculas secretadas pelo eérebro ‘bumano em estado amoroso, monta um veleiro de plés~ tico inflavel ou eria tentilhdes para thes ensinar um novo canto, Noritoshi Hirakawa publica um pequeno classifica do num jornal,& procura de uma jovem que aceite parti FsTEca ELAGONAL u par de sua exposisio. Pierre Huyghe chama pessoas para ‘a montagem de tum elenco, coloca uma televisdo & dispo sigdo do public, expie a foto de opersrios trabalhando a alguns metros do canteizo de obras... Muitos outros no- _mes ¢ trabalhos se somam a lista: em todos esses casos, a partida mais animadamente disputada no tabuleiro da arte se desenvolve em fungio de nodes interativas, conviviais| e relacionais. Hoje, a comunicagio encerra 08 contatos humanos dentro de espagos de controle que decompiem o vinculy social em elementos distintos. A atividade atistica, por sua ver, tenta efetuar ligagées modestas, abrir algumas passa- ‘gens obstruidas, pBr em contato niveis de realidade apar- tados. As famosas “auto-estradas de comunicacio", com seus pedigios e espacos de lazer, ameacam se impor como (0s inicos trajetos possivels de um lugara outro no mundo yhumano, Se por um lado a auto-estrada realmente permi- ‘te uma viogem mais répida e eficente, por outro ela tem o feito de transformar seus usuarios em consumidores de quilémetros e seus derivados. Perante as midias elettni- cas, 08 parques reereativos, os espagos de convivio, a pro- liferacio dos moldes adequados de socialidade, vemo-nos pobres e sem recusos, como 0 rato de laboratério conde nado a um percutso invaridvel em sua gaiola, com peda- 08 de queijo espalhados aqui e ali. Assim, o sujeito ideal da sociedade dos figurantes estaria reduzido a condigao de consumidor de tempo e de espaco, pois o que nao pode ser 2 NICOLAS BOURREALD comercializado estdfadado a desaparecer. Em breve, a8 re lagBes humanas nao conseguirdo se manter fora desses es- ;pacos mercantis: somos intimados a conversar em volta de ‘uma bebida e seus respectivos impostos, forma simbéli- a do convivio contempordneo. Vocés querem bern-estar € aconchego a dois? Entdo provem nosso café... Assim, 0 es- pavo das relagSes habituais & 0 que se encontra mais dura- mente atingido pela reficagio geral. Se quiser escapar a0 dominio do previsivel, a relagdo humana ~ simbolizada ou substituida por mercadorias, sinalizada por logomarcas — precisa assumis formas extremas ou clandestinas, uma vez que o vinculo social se tomou um produto padronizedo. Num mundo regulado pela divisio do trabalho e pela superespecializagao, pela mecanizagio humana e pela lei do lucto, aos governos importa tanto que as relagdes hu- ‘manas sejam canalizadas para vias de saida projetadas pa- 1a essa finalidade quanto que elas se processem segundo alguns prinefpios simples, controléveis e repetivels. A “se- paragio” suprema, a que afeta os canais relacionais, cons- titut a tltima etapa da transformagéo rumo & “sociedade ddo espetéculo” descrita por Guy Debord. Sociedade em ‘que as relagdes humanas nao sio mais “diretamente vivi- das’, mas se afastam em sua representagio “espetaculat” 1 aqui que se situa a problematica mais candente da atte atual seré ainda possivel gerar relagées no mundo, num campo prtico ~ a histéria da arte ~tradicionalmente des- tinado a “representagdo" delas? Ao contrétio do que pen- sava Debord, para quem o mundo da arte no passava de [SIETICA RELACIONAL 13 tum depésito de exemplos do que seria preciso “realizar” coneretamente na vida cotidiana, hoje a pritica artistica aparece como um campo fértil de experimentagdes sociais, como um espaso parcialmente poupado a uniformizagio dos comportamentos. As obras que serio aqui tratadas es~ bbogam varias utopias de proximidade. (Os textos a segue foram publicados em revistas, prin- ‘ipalmente Doctaments sur YArt, ou em catélogos de expo- sigies, e passaram por alteragies ¢ reclaboragGes. Outros slo inéditos. Além disso, ao final desta coleténea de ep saios hé um glossirio que o letor pode consultar quando parecer alguma nogio problemstica. Para failitar a com preensio da obra, sugerimos que ele consulte desde jé a definigfo da palavra “Arte”, pradgme thts (Gata et Yt ft paid pl sth Caan eat poend mang da ena ‘Scomemportnen de yen 0995. AFORMA RELACIONAL Aatividade artistica constituingo uma esséncia imu vel, mas um jogo cujas formas, modalidades e fungSes evo- Iuem conforme as épocas 05 contextos socials. A tarefa do critico consiste em estudlé-la no presente. Um certo aspec: to do programa da modernidade js esté totalmente encet~ tado (mas no o espirito que o animava ~insistamos nesse Ponto em nossos tempos pequeno-burgueses). Esse esgo~ tamento esvaziou 0 contetido dos crtétios de julgamento estética que nos foram legados, mas continuamos a apl -los is préticas artisticas atuais. O novo no é mais um critério, a nao ser entre os detratores ultrapassados da ar- te modlerna que retém do detestado presente apenas aqui- Jo que sua cultura tradicionalista thes ensinow a abominar na arte do passado. Para criar ferramentas mais eficazes © pontos de vista mais adequados, ¢ importante apreender as transformagies atualmente em curso no campo social, captar o que jd mudou e o que continua a mudar. Como 16 NICOLAS BOURRAUD entender os comportamentos artisticos manifestados nas exposigdes dos anos 1990, e seus respectivos modos de pensar, a ndo ser partindo da mesma situagio dos artistas? As priticas artisticas contempordneas ce seu projeto cultural A modernidade politica, nascida com a filosofia das __ Lazes, baseava-se na vontade de emancipagio dos indivi ‘duos e dos pavos: 0 progresso das téenicas e das liberda- es, 0 recyo da ignorincia e a melhoria nas condigBes de ‘trabalho deveriam liberar a humanidade e permitit a ins- tauragio de uma sociedade melhor Exister, porém, virias das relagdes huimanas e submetr os indivi. Eyer de evar 8 desejada emancipact,o progress das ts eda "Rer permite aa: de uma canal ge do processa de prods, a exploragio do hemisérisul, 1 substitugio cega do trabalho humano pelas méquines, além do recurso tenicas de sjego cada ver mais softs ticadas, Assim o projeto emancipador moderno fo subst tudo por isimeras formas de melancoli, ‘As vanguard do século wx, do dadaismo a interna- cionalstuacionist,inscreviam-senalinhagem dessepro- STETCA RELAGONAL wv jeto modemno (ransformar a cultura, as mentalidades, as condig6es de vida individual esocia), mas no esquegamos aque ele era anterior vanguardase delasse distinguia sob muitos aspectos. Pois a modernidade néo se reduz a uma tcleologiaraconalista nem a um messianismo politico. Hi de se denegrira vontade de melhorar as condigdes de vida «de trabalho 8 porque malograram suas tentativas con- cretas de realizacio,replotas de ideologias ttalitrias ou de visdeshistércasingénuas? O que se chamava vangus da vertamente foi desenvolvido a partido “banho" ideolé- ico oferecdo pelo racionallsmo moderno, mas, post issa seus pressupostes llossfcos, culturas e socais slo total- mente diversos.£ dato que a arte de hoje prossogue nessa uta, propondo modelos ps _c05€ patiipativos,seguindo 0 rumo indiado pelos filé- sofos das Luzes, por Proudhon, Mar, pelos dadaistas ou or Mondrian. Sea opinio pablica tem dificuldade em re- conhecer a legitimidade ou 0 interesse dessas experiéncias, 6 porque clas nfo se apresentam mais como preriincios de uma inexorével evolugio histérica: pelo contréro, elas se rmostram fragmentérias,isoladas, sem uma visio global do mundo que possa thes confer o peso de uma ideologta [Nao foi a modernidade que morreu,e sim sua versio ‘dealt etleoligica (© combate da modernidade ocorre nos mesmos ter mos do passado, exceto pelo fato de que a wanguarda dei- x0u de it frente como batedora,e a tropa imobilizou-se, temerosa, num bivaque de ceteras, A arte devia preparar 18 NICOLAS HOURRUALD ow anunciar um mundo futuro: hoje cla apresenta modelos de universos possiveis. (Os artistas que inserevem sua prética na esteira da _modernidade histérica no pretendem repetir suas formas nem seus postulados, tampouco atribuir & arte as mesmas fungbes que elaatribuia, Sua tarofa ésemelhanted que Jean- Frangois Lyotard conferia & arquitetura pés-moderna, qual “se vé condenada a gerar uma série de pequenas mo- dificagdes num espaco herdado da modernidade e a aban doar uma reconstrucéo global do espago habitado pela umanidade” Alids, Lyotard parece indiretamente la~ ‘mentar esse estado de coisas: ele define a situaco de ma~ neira negativa, usando 0 termo “condenada’. E se, pelo conttétio, essa “condenagio" constituisse a oportunidade histérica a partir da qual, nos tiltimos dez anos, vem sur~ ‘gindo a maioria dos mundos artistcos que conhecemos? [Essa “oportunidade” cabe em poucas palavras: aprender @ tir de uma ldéia preconcebida da evohigbo histérica. ute eos, bas no persue mea ‘or da pelo artista, Althusser dizia que sempre se toma o trem ‘do mundo em movimento; Deleuze, que “a grama pressio- nna na meio”, ¢ nfo por cima nem por baixo:o artista habi- Rare tment eens Pt STETCA FELACIONA » ta as circunstincias dadas pelo presente pata transformar ‘o contexto de sua vida (aua zelacio com o mundo sensivel ou conceitual) num universo duradouro, Ele toma 6 mun= do em andamento:é um locatrio da cultura, para retomar a cexpressio de Michel de Certeaw. Hoje, a modernidade pro- longa-se em préticas de bricolagem e reciclagem do dado cultural, na invengio do cotidiano e na ordenagio do tern- po vivid, objetos to dignos de atengio ¢ estudo quan- to as utopias messifnicas ou as “novidades” formais que ‘a caracterizavam no pasado. Nada mais absurdo do que afirmar que @ arte contempordnea ndo apresenta nen projeto cultural ou politico, ¢ que seus aspectos subversi ‘vos néo se enraizam em nenhum solo tebrico. No entanto, seu projeto, referente as condigSes de trabalho e de produ- ‘io dos objetos culturais, bem como as formas variéveis da vida em sociedade, parecers insipido aos espirtos forma- dos nos moldes do darwinismo cultural ou aos amantes do “centralismo democritico” intelectual chegado, como diz Maurizio Cattelan, o tempo da “dolce utopia’. Abra de arte como interstieio social ‘A possibilidade de uma arte relacional (uma arte que “Tile at, Mie def Ps Ie Cai 20 NICOLAS BOURSUAUD versio radical dos objetivos estéticos, culturais e politicos postulados pela arte maderna, fm termos saciol6gicos ge~ rai, essa evolugo deriva sobretudo do nascimento de uma cultura urbana mundial e da aplicagio desse modelo cita- dino a praticamente todos os fenémenos culturais. A ur banizagio generalizada que se desenvolveu apés o final da Segunda Guerra Mundial permitiu um aumento extraor- dlindrio dos intercmbios sociais ¢ uma maior mobilidade dos individuos (gragas ao desenvolvimento rodoferrovig- rio e das telecomunicagies e& progressiva abertura doslo- cais isolados, simultaneamente a uma maior abertura das ‘mentalidades), Devido as estreitas dimensées dos espagos hhabitaveis nesse universo urbano, assiste-se, paralelamen- ‘tc, a uma redugdo na escala dos méveis e dos objetos, que se orientam para uma maior failidade de manejo: se, por muito tempo, @ obra de arte péde ostentar um ar de Io senhorial nesse contexto itadino (otamanho da obra, bem como o tamanho do apartamento, servia para distinguir do jdo-ninguém seu proprietrio), a mudanca da fungio e do ‘modo de apresentasio das obras mostra uma urbarricacio crescente da experiéncia artstica, O que esté desaparecen- do sob nossos olhos é apenas essa’ concepgéo falsamen- te aristoctética da disposicio das obras de arte, ligada 20, sentimento de adquirir um terttério: Em outros termos, Jno se pode considerar a obra contemporinea como um fespago a ser percorrido (a "volta pela casa” do proprieté- rio € semelhante & do colecionado:). Agora ela se apresenta como uma duraggo a ser experimentads, como uma aber- FSTETCA RELAGIONAL a tura para a discussdo ilimitada. A cidade permitiu © ge- neralizou a experiéncia da proximidade: ela 6 o simbolo tangivel e 0 quadto historico do estado de sociedade, es- se “estado de encontzo fortuito imposto aos homens”, na expreseio de Althusser, em oposigio aquela selva den- sa e “som histéria” do estado de natureza na concepcio de Jean-Jacques Rousseau, selva que impedia qualquer en- cantro fortuito mais duradouro. Esse regime de encontro casual intensivo, elevado & poténcia de uma regra abso- luta de civlizacio, acabou criando priticas artisticas cor- respondentes, isto é, uma forma de arte cujo substrato & dado pela intersubjetividade e tem como tema central 0 es- tar juntos, 0 "encontro" entre observador e quadro, a ela- boragio coletiva do sentido. Deixemos de lado o problema da historicidade desse fenémeno: a arte sempre foi relacio- nal em diferentes graus, ou seja, fator de socialidade e fun- dadora de dislogo. Uma das potencialidades da imagem & seu poder de reliance [sentimento de ligaciél, retomando 1 terma de Michel Maffesol: bandeiras,siglas, icones, si- nais criam empatia e compartilhamento, geram vinculo% ‘A arte (as prticas derivadas da pintura e da escultura que se manifestam sob a forma de exposigl0) mostra-se parti- cularmente propicia & expresso dessa civilizagdo da pro- ximidade, pois ela esteita oespago das relagtes, ao contrério joss Sell AME pins ats Pai, Sock EC, TC Met Mateo, La compton du monde, Pat, Geass, 958d ape qe smn nan ee Ft Ae el NICOLAS ROURBUAUD dda telovisio ou da literatura, que remetem a seus respee- tivos expacos de consumo privado; ao contrério também ‘do teatro e do cinema, que resinem pequenas coletividades ante de imagens univocas: com efeito, nessas salas nao ‘se comenta diretamente o que se vé (a discusslo fica para depois do espetcul), Inversamente, durante uma exposs so, mesmo que de formas inertes, estabelece-se & possi- bilidade de uma discussio imediata nos dois sentidos do termo: percebo, comento, desloco-me num mesmo espa- sgo-tempo. A arte é 0 lugar de produgio de uma socialida- tye especifica: resta ver qual € 0 estatuto desse expaco no ‘conjunto dos “estados de encontro fortuito” propostos Pe- fa Cidade, Como uma arte concentrada na produgio de tais ‘modos de conwvivio é capaz de relangare completar oproje- to emaneipador moderne? Como ela permite o desenvolvi- mento de novos enfoques culturais e politicos? “Antes de passar para exerplos concretos,éimportante reconsiderar 6 lugar das obras no sistema global da econo: ‘mia, simb6lica ou material, que rege a sociedacte contern= ‘pordnea: para nds, além de seu caréter comercial ou de seu alot seméntico, a obra de arte representa um inersticio ‘social. O termo interstcio foi usado por Kart Marx para de signar comunidades de troca que escapavam a0 quadro da ‘economia capitalista, pois nfo obedeciam lei dolucro: es ‘cambo, venelas com prejutzo, produgées autérguicas etc, O {nterstiio € um espaco de relagGes humanas que, mesmo fetido de maneira mais ou menos aberta ¢ harmonio- ssa no sistema global, sugere outras possibilidades de troca [STETICA RELACIONAL, 3 além das vigentes nesse sistema. f exatamente esta a na- tureza da exposicio de arte contemporgnes no campo do comércio das representagOes: ela cria espagos livres, gera - vevreceber’ que marca o advento do “visual Na concep {he de Dane, “toda forma é um rosto que me olha" porque tla me chama para dialoga. forma € uma dinmica que se inscreve no tempo elu no espago. Ela s pode nascer de “um encontrofortuito entre dois planos de realidad: pos 8 homogensiade nao prods imagens, sim o visual ito & “a informagio em cicuitofechado" an oman Fin a el Te oD

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