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OS PROFESSORES EM TEMPOS DE MUDANCA Copyright © 1998 da Editora McGraw-Hill de Portugal. L.da ging Times ni © Andy Hargreaves 1994, Publicado pela primeira vez em 1994 pela Cassell PLC. Londres. Reino Unido e pelo The Ontorio Institute Studies in Education, Toronto, Canada. Todos os direitos para a lingua portuguesa reservados pela Editora McGraw-Hill de Portugal, L.da Estraaa de Aitrayide, Edificios Mirante, Bloco A-1 0 ALFRAGIDE -PORTUGAL 1-1) 472 85 00 - Fax: (351-1) 471 89 81 megraw.hill@ mail.telepac.pt Nenhuma parte desta publicagdo poderd ser reproduzida, guardada pelo sistema «retrieval» ou transmitida p4 quer modo ou por qualquer outro meio. seja electrnico. mecinico. de fotocdpia, de geavago ou outros. sem za¢40. por escrito da Editora. aut Depdsito legal: 129 367/98 ISBN: 972-773-009-4 (Edicao original: ISBN: 0 7744 0410 8. © Andy Hargreaves 1994, edigQo em in: LEIP IOOR2MOZTO Novembro de 199% Coord 4.4 Ednorial: Susana Calhsu ‘Coonfenasao de Produyau: Sofia Costa Marques Comjrosisao € Papinacao: Paginas Blectricas Anapiessau: SIG. Sociedade ESTRATEGIAS E DESEJOS O PROCESSO DE MUDANGA NTRODUGAO Este € um livro sobre a mudanga dos professores. Aborda a maneira como estes € 0 ensino tém mudado nos anos mais recentes e avalia as mudangas que enfrentarso no futuro, O livro examina a forma como os politicos ¢ os administradores pretendem mudar 0s professores, bem como as reformas que propdem e as medidas que tomam para realizar essa madunga. Por iltimo, aborda a maneira como os docentes mudam de facto e as razbes dessa mudanga, daquilo que realmente os impele ou inspira a mudar (ou a no mudar). Procurarei demonstrar que 0 processo atrav a ser mudados se caracteriza por uma ironia sistemdtica. As boas intengOes so pe exasperadamente negadas. Mesmo as estratégias de mudanga mais bem intencionades, aquelas que procuram respetar 08 juieos discricionérios dos docentes, promover 0 seu trescimento. profissional e apoiar 0s seus esforgos para construir uma comunidade profissional, sao muitas vezes contraproducentes, uma vez que so comprimidas em modelos mecanicistas ou asfixiados, através de supervisdes sufocantes. O tempo extra que € concedido aos professores para se dedicarem a outras tarefas, que no as de sala de aula, pode ser-Ihes tomado de volta através de controlos ¢ de regulamentos mais apertados respeitantes & maneira como esse tempo deve ser utilizado. O desenvolvimento profissional pode sér transformado num controlo burocritico, as oportunidades para se Gispor de um mentor, em sistemas de mentores, € as culturas de colaboracdo numa colegialidade: artificial. Deste modo, muita estratégias administrativas de mudanga no s6 se limita 8 fragilizar os _ 2 proprios desejos dos professores relativamente 20 ensino, mas também ameagam © paipio { desejo de ensinar. Elas retiram a paixao 20 ensino. : ‘A razio da existéncia destas ironias relativas 3 mudanga deve ser precenda no contexto social mais geral, no qual as escolas operam © ‘do qual fazem parte. és do qual. o ensino e os professores est30 stente € SPB BeBe enannann..,..... PARTE [=A MCDANGA 4 Defenderei neste livro que 0 problema fundamental reside no confront entre das forgas poderosas. De_um lado, esti um mundo cada vez_ mais pds-industrial & pds- -moderno, caracterizado pela mudanga acelerada, a compressio intensa do tempo e do espago, a diversidade cultural, a complexidade tecnoldgica, a inseguranga nacional € a ~ incerteza cientifica, Do outro lado, est um sistema escolar moderno € monolitico que |, continua a perseguir propésitos profundamente anacrdnicos por intermédio de \ estruturas opacas e inflexiveis. Por vezes, os sistemas escolures tentam resistir activa- mente as pressdes e mudancas sociais da pés-modemidade. Mais frequemtemente, procuram responder-Ihes com seriedade e sinceridade, mas fazem-no através de um aparelho administrative desajeitade € pesado. Em termos educativos, esta luta central upresenta-se de diversas formas. Em primeiro lugar, a medida que as pressdes da pés-modemidade se vio f sentir, 0 papel do professor expande-se e assume Novos problemas @ requisitos embora o papel antigo nao seja totalmente posto de lado, no sentido de dar mais espago a estas mudangas. Em segundo lugar, as inovagées multiplicam-se, 3 medida que a mudanga acelera, criando sentimentos de sobrecarga entre os professores € Os directores das escolas que Nio responsiveis pela sua implementagio. Sd0 impostas cada vez mais mudangas € os prazos-limite para a sua implementagdo so trunc: dos. as antigas missdes € designios jugar. Em ndo Em terceiro lugar, com 0 colapso das certezas morai comegam a desagregar-se, mas existem poucos substitutos Sbvios para o seu | ‘os métodos € as estratégias ulilizados pelos professores, assim como a mW quarto lugar, -ados — mesmo entre OS base de conhecimento que os justifica, so constantemente critic: a medida que as certezas cientificas perdem a sua credibilidade. ento do ensino ndo tem qualquer fundamento cientifico, ficagdes pura a pritica se podem proprios educadores - Se a base de conhecim perguntam os educadores «em que € que as nossas justi basear?» Aguilo que os professores fazem parece nio ter, perigosumente, qualquer fundamento. Nao se trata apenas de os sistemas escolares modemos constituirem o problema € as orpunizacdes pés-modemas a solucZo para ele. Como veremos, as proprius sociedades pos-modemas esto impregnadas de possibilidades contraditérias, muitas das quais aguardam ainda resolugio. Mas € nas lutas entre a modemidade e a pés-modernidade (bem como no interior de cada uma delas) que reside 0 desafio da mudanga para os professores e pura os seus lideres E através destes conflitos que a reestruturagdo educativa, enquanto oportunidade para uma mudanga_positiva ou mecanismo de contracgdo e de contengo, seri reulizada. E aqui que a batalhia pelo profissionalismo no ensino, enquanto exercicio de juizos informados e discricioniirios, em situagdes que os professores conhecem melhor do que ninguém, seri ganha ou perdi O livro constitui uma discusso sobre 0 ensino e a mudanga, € baseia-se num rigncias, de dados e de argumentos para atingir esse propdsito. iudo realizado por as percepgdes que vasto conjunto de expe Grande parte dele, em particular os capitulos 5-9, baseia-se num es\ mim em parceria com Rouleen Wignall, em finais dos anos 80, sobre ) ) ) 6 PARTE 1A MUDANGA professores ajudem a reconstruir culturas e identidades nacionais. A integragdo econémica global, manifesta na crescente unio econémica da Europa e no ‘Acordo de Livre Comércio da América do Norte, esté a disseminar temores de desintegragao nacional em pafses como a Gra-Bretanha € 0 Canada — temores de que se percam as suas identidades e a sua singularidade cultural € politica. Assim, em muitas partes do mundo, em resposta a globalizago econémica e & migracdo multicultural, espera-se que as escolas carreguem grande parte do peso da reconstrugao nacional. Num esforgo para ressuscitar 0S valores e os sentidos tradicionais da certeza moral, os curricula escolares, por exemplo, esto a ser investidos de novos contetidos que sublinham a unidade e a identidade histérica, geografica e cultural - contetidos que os professores devem dominar e cobrir. ~ Por uitimo, mes nado menos importante, espera-se que as escolas € OS seus professores satisfagam estas exigéncias acrescidas em contextos de severa restri¢ao econémica. Os estados, submetidos a pressdes no sentido da redugdo de despesas ¢ do peso destas na assisténcia social a uma populagdo cada vez mais envelhecida, esto a desembaracar-se de grande parte do seu esforgo financeiro na escolarizagdo e esperam que as escolas € os seus professores, através da competigéo no mercado e de uma gestio local frugal, caminhern melhor pelos seus proprios pés. Para muitas das escolas actuais € para muitos dos seus professores, a submissao ideolégica e a auto-suficiéncia financeira tomnaram-se, pois, as realidades gémeas da mudanga, Em muitos locais do planeta, os efeitos destas realidades sio claramente visiveis numa multiplicidade de reformas ¢ de inovacdes com as quais os professores tém agora de se confrontar. Sao estas reformas € inovagdes que constituem a substancia da mudanga, as mudangas reais &s quais os professores tém de se dedicar. Dois exemplos ~ a Inglaterra € 0 Pais de Gales, e os Estados Unidos — ilustram a amplitude e o cardcter destas reformas. Na Inglaterra € no Pais de Gales, a mudanga agressiva ¢ sem remorsos imposta a partir do topo, tomou-se numa caracteristica premente ¢ imediata das vidas profissionais dos professores. A introduga0 de um curriculo nacional, disciplina a disciplina, estadio a estddio; 0 estabelecimento de metas detalhadas em termos de resultados, indiciadas a idades; a inauguragdo de um sistema nacional de testes estandardizados; a criagao de um novo sistema de exames ptiblicos; e, mais recentemente, a ameaga de retomo aos métodos de ensino tradicionais nas escolas primérias — estas so algumas das numerosas mudangas impostas simultaneamente € com as quais os professores esto a ter de lidar *. Estas mudangas importantes € prementes sdo aquilo a que David Hargreaves € David Hopkins chamam mudancas de ramo: mudangas de pritica, significativas mas especificas, que os professores podem adoptar, adaplar, oh As quais podem resistir rodear_ ‘a medida que elas vao surgindo *. Por detras destas mudangas esto transformagées ainda {mais profundas nas proprias rafzes do trabalho dos profespores, us quais incidem sobre 0 proprio ensino e afectam o modo como este € definido e|socialmente organizado. Estas ) Yu ot en de DA WO CAPITULO 1 — ESTRATEGIAS E DIESLIOS diva da avaliagio do desempenbo para a viragem em ditecgio a s seus Ideres (por » compuls Jos professores: ofessores & 0 ade mercado representada mudangas de raiz incluem a introdug Os Metodos € Os Modelos UtiliZAdOS Pe “regula autonomia das escolas como forma de tomar os pe Jes de pura sobrevivéncia) mais dependentes da forg: ¢ medidas draconianas no menos reflexiva € formagio necessit pela escolha parental das escc sentido de tomar a formagi questionante, desviando uma grande parte do t pritica nas escolas, A custa da teoria pretensamente im universidades. Paralelamente a estas mudangas de iz, existe ainda o proprio impacto cumulativo de inovagdes miiltiplas, complexas & incgocidveis, relativas ao tempo, a energia, A motivagio, as oportunidades para reflectir ¢ & propria capacidade de os professores lidarem com tais transformagdes. Talvez 0 caso britZinico, com a sua mudanga multipla € imposta, sej extremo. E extremo no seu ritmo frenético, no imenso alcance da sua inf Zncia ¢ no vasto impulso do seu poder legislative. Mais do que tudo isto, no entanto, € extremo no desrespeito e no desprezo que os reformadores mostram para com os préprios professores. Na pressa politica de engendrar reformas, as vozes dos docentes tém sido _largamente negligenciadas, as suas opinides anuladas ¢ as suas preocupagdes postas de Jado, A mudanga foi desenvolvida e imposta num contexto no quall se concedeu aos professores pouco reconhecimento pelo facto de eles priprios terem mudado e de possuirem o seu préprio saber, o quall Ihes permite distinguir entre aquilo que pode ser razoavelmente mudado e aquilo que nao pode. : A Inglaterra e 0 Pais de Giles podem ser um caso exagerado de mudanga educativa répida e fundamental, mas no estiio s6s a este respeito. Nos Estados Unidos, embora a politica educativa tenha pouca forga Iegislativa a nivel federal e se exprima, essencialmente, através de documentos e de debates piiblicos, as diividas persistentes que estes documentos tém alimentado sobre a capacidade de sistemas. escolares anacronicos desenvolverem as aptiddes e competéncias sofisticadas necessarias a satisfago dos desafios econdmicos do século XI provocaram numerosas tentativas 10 do ensino e da aprendizagem nas escolas. io nos € mais reagentes a ¢ » de professores mais utilitiria empo dos formandos para EVANIE C Pore os jaa um Caso de reestruturagio completa da organiz: A mudanga que é expressa em muitos dos esforgos de reestruturag Estados Unidos tem mostrado muito mais respeito para com as capacidades dos professores € tem mobilizado mais os seus esforgos do que a mudanga representada pelas reformas «do topo para a basen, caracteristicas do Reino Unido, Mesmo assim, 0s padroes de mudanga através da submissio, que caracterizaram as anteriores ondas de reforma nos Estados Unidos, ndo foram de modo algum eliminadosy ¢ a suit persisténcia debilita muitas vezes outros esforgos de mudanga e pode até ser impingida como sendo, ela propria, a reestruturagiio. Por exemplo, muitos programas americanos sobre liderunga de professores seleccionam, recompensam e avaliam os seus docentes, nao segundo critérios muiltiplos de exceléncia e de crescimento profissional, mas sim de adesio destes individuos a modelos de ensiny 0 uprovados, 0S -—~— 8 PARTE i —A MUDANGA quais muitas vezes premiam o ensino das competéncias basicas *. Do mesmo modo, as avaliagdes da implementagio de abordagens manipulativas e de resolugio de problemas no ensino da Matematica na California mostram que os professores normalmente nio conseguem implementar tais inovagées, devido a persisténcia de programas paralelos que colocam a énfase na instrugao directa em aptiddes basicas — Programas que também estado vinculados 4 realizagdo de testes aos alunos e a avaliagdo dos professores ’. Nao obstante os esforcos de reestruturag’o, a substdncia da mudanga para os professores americanos €, pois, no s6 complexa, mas também muitas vezes contraditéria. As velhas e as novas ondas de reforma criam confusas correntes de mudanga que se cruzam e que podem ser dificeis de negociar, correndo mesmo 0 risco de arrastar consigo os préprios professores. As mudangas predominantes na Gra-Bretanha e nos Estados Unidos também se encontram, sob formas diferentes, no Canad4, na Australia, na Nova Zelandia, em outros paises da OCDE e em muitas outras nagdes. A mudanga educativa acelerada é um fenémeno global! Porque é que os professores esto a enfrentar tanta mudanga? De onde vem a mudanca? O que é que ela significa? Nao € possfvel encontrar respostas satisfatérias para as questées relativas substncia e ao contexto da mudanga educativa em clichés enigmaticos, que afirmam que a mudanga est por todo o lado, & nossa volta, ou que a tinica coisa certa acerca do futuro € a inevitabilidade da mudanga. Aforismos como estes tm lugar, preferen- cialmente, nos livros de psicologia popular sobre a mudanga pessoal, potencial humano ¢ o desenvolvimento das empresas. Também no serd possivel encontrarmos respostas satisfatrias para estas questdes se nos detivermos na especificidade de cada mudanga em particular, em cada pafs. Em principio, a autonomia da escola (school-based management), por exemplo, pode ser uma coisa boa ou ma. Quando considerdveis poderes de decisao efectiva forem de facto transferidos para os estabelecimentos de ensino, a autonomia pode conduzir a diversidade, & inovacio e ao fortalecimento do poder dos professores. Mas, quando ela € implementada num sistema no qual os financiamentos pablicos sdo escassos e 0 controlo burocratico sobre o curriculo € a avaliagio € mantido ou reforgado, isto pode conduzir & competitividade interesseira em tomo de objectivos estreitamente definidos, relacionados com as aptiddes basicas ou com o sucesso académico. Neste caso, a autonomia da escola Pode levar, nZio & devolugio do poder de decisio, mas sim ao deslocamento da culpa *. As vantagens € os inconvenientes da autonomi: Professores, nfo podem, pois, ser avaliados ade apenas em relagdo avaliagdes do curriculo e da avaliagao, : Os modelos contempordneos de reforma educativa sao sistémicos e estao inter- relacionados, Como aconselha Sarason, os diferentes componentes da reforma educativa devem ser abordados como um todo, nas suas inter-relagdes, enquanto ja da escola para os quada-mente no abstracto, mas paralelas do financiamento das escolas e do controlo cariruto 1— ESTRATEGIAS E DESEIOS 9 como em outros dominios da vida, as coisas anda e Thes confere uma coeréncia ma andlise significativa s do que um balango sistema complexo ". Na educagio, par a par E a imter-relagdo entre as mudangas qu particular, que Ihes d4 um determinado impulso € nao outro. U P ealista da mudanca educativa requer, por isso, ave facamos mai das vantagens e desvantagens de reformas particulares, tais como a gestio baseada na cecola. Ela requer que relacionemos a parte com 0 todo & reforma especifica com 0 propésito € o contexto do seu desenvolvimento ~ ¢ othemos para as inter-relagdes entre ae diferentes partes no contexto daquele todo. Existem grandes quadros de mudanga ueauiva, €€ importante que os tenhamos em consideragso- © CONTEXTO DA MUDANGA Nos Capitulos 2-4 analisarei a substdncia da mudanca educativa, na medida em que ela ) afectaos professores, €0 contexto do qual ela é originéria. Defenderei que, na essénci ‘que esté em jogo na construcio dos modelos actuais de mudanga educativa é uma luta>) poderosa € dindmica entre duas forgas sociais imensas: 2 modemidade € a pés- / odernidade. / n modemidade € uma condi¢do social que € simultaneamente guiada ¢ sustentada pelas crencas iluministas no progresso racional cientifico, no triunfo da tecnologia sobre a Natureza e na capacidade de controlar € melhorar a condicio hrmane através da aplicagdo deste manancial de conhecimento ¢ de saber cientifico tecnolégico especializado a0 campo das reformas sociais" Economicamente, a modemidade inicia-se com a separagao entre a famflia € 0 trabalho, através da Concentragao racional da produgao no sistema fabril, ¢ culmina nos sistemas de © produgio em massa, no capitalismo monopolista ou no socialismo de Estado, enquanto Formas de aumentar a produtividade e a rentabilidade, Politicamente, a modemnidade concentra tipicamente 0 controlo no centro, no que se refere & tomada de decisdes, & seguranca social e & educacio e, enfim, & intervengdo ¢ regulacso econémicas. Do __pauto de vista organizacional, isto reflecte-se em burocracias enormes, complexas € vruitas vezes indbeis, arrumadas em hierarquias e segmentadas em divisdes de competéncia técnica, Nas burocracias da modemiidade, as fungGes sio diferenciadas Tacionalmente € as carreiras ordenadas em progresses légicas de posto ¢ de amiguidade. As dimensées pessoais da modemidade tém sido objecto de amplos Soe Nesta modemidade, existe um sistema ¢ uma ordem ¢ também, muitas v ° : : aoe gum sentido de au colectiva e de pertenga. Mas 0 prego da perda do espirito e da magia; aquilo que Max Weber descreveu literalmente como 0 desencantamento, em comparagio com a existéncia Comet eam ie vide ogaizaciona a sua impessoalidade racional também p 10, & alienagdo € & auséncia de sentido na vida dos individuos. io PARTE LA MUDANGA scolas secundérias constituem os simbolos © 0s sintomas primordiais da 0, 08 seus padides de especializagiio, a sua comple- As modemidade. A sua grande dimens: xidade buroenitica, 0 s muitos dos seus alunos ¢ de um niimero consid apenas algumas das maneiras através das quais os prinefpios da modemnidade se o secundiria, Em muitos sentidos, a educagio secundria 1 fracasso persistente em cativa emogies € as motivagdes de 1 dos seus professores ~ estas exprimem na pritica da educa publica tomou-se numa componente fundamental do mal-estar da modernidade. ‘A maior parte dos escritores localiza as origens da condigdo pés-modema algures nos anos 60", A pés-modemidade € uma condigio social na qual a vida econémica, politica, organizacional € mesmo pessoal passa a ser organizada em torno de principios muito diferentes daqueles que caracterizavam a modemidade. Filoséfica ¢ ideologicamente, os avangos nas telecomunicagdes, a par da disseminagiio mais répida € mais lata da informagio, estio a fazer com que as velhas certezas ideolégicas percam reputacio, & medida que as pessoas se apercebem de que é possivel viver de outras maneiras. A propria certeza cientifica esté a perder a sua credibilidade, quando descobertas supostamente «duras» sobre coisas como o café descafeinado, 0 aquecimento global, a detecgio do cancro da mama ou até o ensino eficaz sio anuladas e contraditas por novas descobertas, a um ritmo cada vez mais ripido. Economicamente, as sociedades p6s- -modemas testemunham o declinio do sistema fabril. As economias pés-modemas sao construidas em tomo da produgo de bens mais pequenos, em vez de bens maiores, de servigos mais do que de manufacturas, de sofware mais do que de hardware, de informagio e de imagens mais do que de produtos ¢ de coisas. A mudanga da natureza daquilo que € produzido, bem como a capacidade tecnolégica para monitorizar quase instantaneamente as exigéncias do mercado reduzem a necessidade de constituir stocks € de fazer inventdrio. Como consequéncia, as unidades de empresa diminuem drasticamente 2 sva dimenso. Agora, 0 principio econdmico dominante 0 da acumulacao flexivel, pois io € da reacco ripida as exigéncias a rentabilidade toma-se dependente da antecipac is € mutdveis do mercado. Do ponto de vista politico € organizac ional, a necessidade de flexibilidade e de capacidade de resposta reflecte-se na tomada descentralizada de decisdes, a par de estruturas de tomada de decisio mais horizontais, de uma redugio da especializagio e da diluicao dos papéis e das fronteiras. Se a metifora organizacional da modernidade € a da «caixa de ovos» compartimentada, entio a da pés-modemidade € ado mosaico fluido. Neste caso, os papéis € as fungdes mudam constantemente em redes dindimicas de resposta coluborante a problemas e oportunidades imprevisiveis. Pessoulmente, este mundo pés-moderno reestruturado pode criar um fortalecimento pessoal acrescido, mas a sua falta de permanéncia € de estabilidade também pode loc: originar crises nas relag6cs inter-pessoais, pelo facto de estas ndo possufrem pontos de apoio fora de si pidprias, ligados & tradigdo ou A obrigagdo, que garantam a seguranca ¢ a continuidade, © mundo pés-modemo € rdpido, comprimido, complexo € incerto. Esta ja a " Pity PRUE HEXEN aus sistemas excohires mode mos to tempo e do espago esté 2 criar Hina sobrecarga de jnavagacs: e uma intensificagio do fesafia a vadigho judaico-erista, na qual se os de idemtidade € de objectivos a cientifica mina as alegagdes sara 0 ensino € faz com que nteriores, Por hhlemas ea eotocine desahie: tralathan, A compressao jappneewnnbir Hnnereees pi te gue praiteconisen qe a Hina annotanyaa aeebensei, Hihallia sacente, A Ineentega Wealdpied & Heyy Tuecado quite sistas earolanes, € Foe Ure CE Ho que tea Ae Navas Hiiesdes que poder HN Le Aineente Flativwe feniorene ta ee sunt base de conhecimento separit p , eons Weaving dey protege abe Hagnndtiesty arbitdria e artificial do que as aul ee Lilie, # procant de madelos de tomada de deeisdo mals colaborantes ria problemas fs normias de inalansenta nas quite se fen) buseado o taibalho dos professores, cri indo Hennes pans pitas Heleves dle escots, que recelanm pelo seu poder face jgnalmente pi ovate protec hal dat colabony, a0, Grande pasts do fur do ensing dependerd da forma como estes diferentes Uesation di pas-modeiidude 9¢ concretizuem @ s¢ resolverem nus escolas € nos pistenas escolines moadenos, S50 DE MUDANGA Como reagan os professores a estas mudangits? Como € que eles mudain ~ agora, ou cin qualquer outro momento? O que faz os professores tmudarem face & mudanga e 0 que & que os faz cera on dentes € resistin? Questies como estas referem-se Aquilo que é commmmente designado pelo proceso de mudanga: as priiticas e procedimentos, as eqn. e slides, o8 mecunisinos socioldgicos € psicolgicos que enformam o destino de qualquer mmudanga, independentemente do sew conteddo, e que fazem com que prospere ou tropece, Se quirernos compreender o impacto especifico da mudanga educativa sobre os professores no mundo pos-modemo, necessitamos de compreender igualnente, em termos mais gerais, 0 Ingar que aqueles ocupsun no processo de mnudanga, Embora as preocupagies Com tall proceso atravessem este livro como um todo, postaria de conceder-thes un énfiase particular ngste eapftulo inicial, Pim comparayio com o compo relitivamente escasso de pesquisas existentes solne o comento € a substincia da mudanga educativa, dispomos hoje de um rico tnanancial de bibliografia, de pesquisa € de entendimento pritico sobre 0 processo de mudanga em ni, No campo do desenvolvimento das escolas (school improvement), a partis destas pexyuinas, forum sendo recolhidis @ aplicadas, pouco a pouco, muitas indyinas, Estas ineluen dizeres comoy! o processa de mudanga nao € um acontecimento", # pritics muda antes das crengas's & melhor «pensar grander, mas acomear pequenda"; a planificagao evolutiva resulta melhor do que a linear’ a politica nao pode decretar aquilo que € importane”; as estratégias de implementagao que inegiunn procedimentoe da base para a topo com procedimentos do topo para a hase s40 maix cticazes do que qualquer um deles, tomado isoladamente's € que o 12 VARIED A MUDARCA conflito € uma parte necesséria da mudanga”, E claro que um exame cuidado destes principios, revela que alguns sfio menos evidentes ¢ mais contestav a primeira vista. Por exemplo, foi ne dria a forga legislativa dos tibunais europeus para decretar a aboligio dos castigos corporais nas escolas britinicas. E dificil sustentar _que e tal i posi¢ao no era importante! De modo semelhante, Wideman descobriu que a pr a muda antes das crengas apenas em condigdes particulares de mudanga imposta®., Nos outros casos, a pritica e as crengas tendem a mudar simultanea e interactivamente. Contudo, embora exista, certamente, uma tendéncia para exagerar a afirmagio destes principios e para os «vender» por um preco superior ao seu valor real, enquanto regras manipuldveis de mudanga, a maior parte deles assenta num entendimento fundamental e relativamente sadio, segundo o qual os professores constituem, mais do que ninguém, a chave da mudanga educativa. aos As mudangas podem ser proclamadas através de polfticas oficiais ou escritas autoritariamente, em papéis. A mudanca pode parecer impressionante quando representada nos quadros dos administradores, ou pode ser enumerada sob a forma de estddios em perfis evolutivos de crescimento escolar, Mas as mudangas deste tipo nao s4o, como costumava dizer a minha av6, origindria do Norte de Inglaterra, mais do que «fogo de vista». Elas so superficiais: no atingem o ceme da questo de como é que as criancas aprendem e de como € que os professores ensinam. Originam modificagdes nas praticas que s40 pouco mais do que triviais. Nem as mudangas nos edificios (como as das escolas de drea aberta), nos manuais, nos materiais, na tecnologia (como os computadores), ou mesmo nas formas de agrupamento dos alunos (como os grupos que integram niveis de aptidao diversos) resultam, a nao ser que se preste uma atencdo profunda ao processo de desenvolvimento profissional dos professores que acompanham estas inovagées. O envolvimento dos docentes no processo de mudanga educativa é vital para o seu sucesso, especialmente se a mudanga € complexa e se se espera que afecte muitos locais, durante longos periodos de tempo. Se desejamos que este envolvimento seja significativo e produtivo, entdo ele deve representar mais do que a simples aquisigao de novos conhecimentos sobre contedidos curriculares ou de novas técnicas de ensino. Os professores no sio apenas aprendizes téenicos: so também aprendizes sociais”. O reconhecimento de que os docentes so aprendizes sociais desloca a nossa atengdo, nao apenas para a sua capacidasle de mudar, mas também para os seus desejos de mudanga (e, com efeito, de estabilidade). Neste livro analisa-se os seus desejos de desenvolvimento das praticas ou de conservaciio daquelas que j4 valorizam (e veremos que estas coisas nio s4o de modo algum exclusivas). Se conseguirmos compreender os desejos de mudanga e de conservagdo dos professores, bem como as condigdes que fortalecem ou enfraquecem tais desejos, obteremos discemimentos valiosos a partir das raizes da profissio, daqueles que trabalham nas linhas da frente das nossas salas de aula, relativos & maneira como a mudanga se pode realizar mais eficazmente, assim como aquilo que devertamos mudar € 0 que deveriamos preservar. Aproximar-nos dos do que aparentam CAPITULO 1 — ESTRATEGIAS E DESEJOS 13 professores desta maneira no significa endossarmos e celebrarmos tudo aquilo que pensam, dizem e fazem. Todavia, significa, efecti suas percepgdes € perspectiv Normalmente as estratégias politicas e administrativas que procuram desencadear a mudanga educativa ignoram, compreendem mal ou anulam os proprios desejos de mudanga dos professores. E comum estas estratégias confiarem em principios de coergdo, de constrangimento e de artificio, que tintam fazer com que os professores mudem. Presumem que os niveis de exigéncia educacional so baixos e que os jovens esto a ter insucesso ou a abandonar a escola porque a pritica de muitos docentes € deficiente ou esté mal dirigida. Argumenta-se que isto acontece porque os professores carecem de competéncias, de conhecimento € de principios, ou de uma combinacio destes tés elementos. Os politicos e os administradores acreditam que o remédio para estes defeitos e deficiéncias deve ser drastico € apelam a estratégias decisivas de intervengio e de controlo que fagam com que os professores sejam mais competentes € mais sabedores € que prestem mais contas daquilo que fazem™. Subjacente a muitas destas estratégias para mudar os professores esta a assungao segundo a qual eles esto, de certo modo, aquém das expectativas e que € necessdria uma intervengo exterior para os fazer corresponder a essas mesmas expectativas. Baseadas nestes pressupostos, muitas estratégias de mudanga_.se.tomaram aspectos familiares dos projectos de reforma educativa, Elas incluem a introdugao de orientacdes curriculares obrigatrias €, pretensamente, «A prova dos professores», a imposi¢ao de testes estandardizados para controlar aquilo que estes ensinam, uma saturagzo em novos métodos de ensino de ‘eficdcia supostamente comprovada, o suborno das carreiras através de programas de lideranga de professores que estio Tigados ao salério e a outros incentivos, ¢ a competitividade de mercado entre escolts, que procura assegurar a mudanga por via do instinto de sobrevivéncia dos professores, na sua luta pela protecgao das suas escolas e pela preservacao dos seus empregos, Estas esiratégias politicas de mudunga dos professores esto pouco sineronizadas com os seus desejos de mudanga. Tais desejos tm a sua origem em disposigdes, motivagdes ¢ empenhamentos de uma natureza muito diferente daquela que € imaginada € presumida, muitas vezes, por politicos oportunistas, administradores impacientes ¢ pais ansiosos. Para a maior parte dos professores a questo central da mudanga & a de saber se ela € de facto prdtica, A primeira vista, ajuizar as mudangas em fungio da sua exequibilidade parece resumir-se a confrontar teorias abstractas com o duro teste da cruel realidade, Contudo, a questio niio € assim tio simples. Na ética pritica dos professores, existe um fone sentido daquilo que resulta ou nao; das mudangas que serio bem sucedidas € daquelas que © ndo serdo — no no ubstracto, nem mesmo enguanto regra geral, mas para este professor neste contexto", Neste sentido pritico € simples mas. a0 mesmo tempo, profundamente influente existente entre os professores mente, levarmos muito a sério as 14 PARTE 1A MUDANCA hi uma destilagdo de combinagdes-complexas € potentes de constrangimentos ligados aos objectivos, as pessoas, as politicas e ao local de trabalho. E através destes ingredientes — do sentido pratico que sustentam — que os préprios desejos de mudanga dos professores so construidos ou constrangidos, Perguntar se um novo método é pritico representa mais do que perguntar simplesmente se ele funciona. E também perguntar se ele s¢ ajusta ao contexto, se serve a pessoa, se est em consonincia com 08 seus propésitos € se serve ou prejudica os seus interesses™. E aqui que se localizam os desejos de mudanga dos professores, € € necessario que as estratégias de mudanga tenham em conta tais desejos. Nestes ltimos anos, tém existido tentativas sérias e amplas de estabelecer uma congruéncia mais préxima entre as estralégias e os desejos de mudanga, Tém-se registado esforgos no sentido de envolver mais os professores no processo de mudanca, de criar uma maior posse da mudanga por parte do corpo docente, de conceder 20s docentes maiores oportunidades para o exercicio da lideranga e da aprendizagem Profissional e de estabelecer culturas de colaboragao e de aperfeigoamento continuo. Grande parte deste livro consiste na andlise do destino desta nova vaga de estratégias que procuram assegurar a mudanca através do desenvolvimento profissional. Embora estes movimentos devam, em muitos sentidos, ser aplaudidos, mostrarei que também encerram algumas ironias importantes e perturbadoras. A mais importante de entre elas € que quanto mais os reformadores tentam colocar sistematicamente as estratégias de mudanga em sintonia com os préprios desejos de mudanga dos professores. mais podem reprimir 0 proprio desejo basico de ensinar. Os desejos sdo imbuidos de «imprevisibilidade criativan** e de «fluxos de energian, A base da criatividade, da mudanga, do empenhamento e do compromisso reside no desejo mas, do ponto de vista da organizacZo, af que reside também o perigo. No desejo encontramos a criatividade € a espontaneidade que ligam os professores emocional e sensualmente (no sentido literal de sentir) aos seus alunos, aos seus colegas € ao seu trabalho. O desejo estd no centro do bom ensino. Segundo 0 Shorter Oxford j 40 que € dirigida para a conquista ou posse retirar prazer Ou satisfac3o; dnsia, rogo, uma vontade», No Ensino, entie os professores excepcionaig € particularmente eriativos, os desejos incidem sobre a realizagio, 0 sucesso intenso, os sentimentos de ultrapassagem de obsticulos, de proximidade com outros seres humanos e até de amor por eles”. Por exemplo, existem cada vez mais dados que mostram que muitos professores € alunos j4 possuem uma experigncia rica de cooperagio e de colaboragio informal e Espontinea nas suas vidas escolares. Embora as inovagées introduzidas a0 nivel dos métodos de ensino € do desenvolvimento Profigsional dos professores se concentrem normalmente na cooperacao e na colaboragio enguanto Pontos centrais de methoramento, fazem-no muitas vezes de forma anificial e controlada - procuzindo simulagdes segurus de cooperagio e de colaboracao das quais J4 foram extraidos os perigos da espontaneidade, da sensualidade ¢ da Cridtividade. As estratégias de aprendizagem cooperativa entre alunos EXIN EOIN E NEN joe vim iy) atte ese ccoe eos sistemay de mtenbares cur te Hoty CATE PAB !N Jontibaday cn atenineby A taniler os exemplificam a anvvty canny a elesept yoale Sentimentas @ ay CHI DES ssl SET vane ccvnatealay tet anne HE ee No Capitulo A verenney que a Mwy aque cena a fata the oiniihe, fies iu voce tun tune Ho et abe ate eles angi awe este sn ds 1 aon Ventbebe edn iatvaeaes ae een de sndanya vculina sautes Hos naielatnya segutasy se estd a torn cal Hides elinices de edue conhecimento ¢ dla teeniea pause oe LOM fe das emocdes haunts, Nov weste da Hiya, venennay cone este nee antes daeensiiay oe fithalhe, 0 terrae vay qquatnlyy ay estratogiy ate mt eres, se realiza em ands dominios import O TRABALHO 1a fisqurentemientes Ge dignificsam) a sia speelaizado ou una cataira, Pore, fa se pretende grande parte Os professores © as stirs associayden denersye actividade como sendo uma profissde, Ht aici oensin também & fundamentalmnente, tn tipo de table, Cone iste 1 sugerir que ele seja injustificadamente luboriona, no sentido enn que 0 do trabalho manual pouco qualificado, Desojo aimplesmente reatyar, nat finha dit analise pioneira de Connell sobre 0 taballid dos protessten, que a ensina tanihean € um emprego: um conjunto de tetas ¢ de telagden hummus que estan esteuturadas de formas purticulares”. De modo semethints, # escola = aquelé lugar onde trabalhia a maior parte dos professores que recebern ann salitig = & tnuaie dav qe ana arsna vazia com paredes e janelas; mais do que un ambiente: de aprendizaegent para 08 seus alunos. A escola também 6 un local de tuibalho pant ox neu profexsores = tal como 0 hospital 0 & para o citurgiio, © escritdrio pau o ercritunitio © a Libriea para o empregado fabril, Este local de tubalho encontia se estiuturado por via de recursos & de relagies que podem tomar o servigo nuts Lieil ou dificil, main frutuoso ou fit, mais compensador ou desanimador, A imagem popular do tubalho do professor retiataco come uma actividade desempenhada com criangas no interior de si fiver perguntas, emitir conselhos, manter a ondem, apresentat materiais, avatar o trabalho d criangas ou cortigir os seus cttos, Estas aetividhides ¢ a preparagio que @ necessiria para as organizar constituen, pant a nialor parte Mas pesabay, a prepa definigag do ensino, Pese embora todo o investimento feito no desenvolvinente profissional do pessoal docente € na formayao continua, o Wabalho wa sale de aula continua a ser central, até para os prdprios professores, na definigaio daquily que €o ensino, Todavia, existem muitos outros aspectos do trabalho dos professores que tein assumido uma importincia crescente ox aHON MDS tecentes, De eerta forma, nas reumbes de pits na escola, nas reunides de profeysores ou nie correeg dia dos trabalhos dos alunos que & realizada cm casa, esta" OLLI partes do Guballa sempre existizan Mas, devido & sua invisibilidade, nao Kan inteprado a face publica de ensino, Quando ws de aula oriemtages, ds to PAILS — A MUDANGA Cortas pessoas julgam os profe proprias conheceram a0 longo dos anos, baseando-se nos muitos docentes que elas jazem-no através de olhos de crianga: olhos Que_virun professor a ensinar, mas nio a planificur, a corrigir ou a reunir-se com outros colegas. I por esta raza que, para o ptiblico, o trabalho dos professores parece muitas vezes ser menos diffcil e menos exigente do que de facto é, Nos tiltimos anos, estas partes do trabalho do professor que se estendem para além da sala de aula torr m-se mais complexas, mais numerosas e mais signifies Para muitos docentes, 0 trabalho com os seus colegas significa agora muito mais do que fazer reunides estruturadas ou manter conversas casuais. Ele pode também envolver a planificagzio em colaboragao, 0 desempenho da fungio de streinadors de um colega (peer coac ‘h) ou de mentor de um novo professor, a participagio em programas de desenvolvimento profissional ou a integracao de comissdes constituidas para_rever e discutir casos individuais de criangas com necessidades especiais. Hoje em dia, as reunides com os pais j4 nao se limitam as snoites de pais» superficiais, englobando consultas mais regulares, chamadas telefonicas € 0 envio de cartes com extensos relat6rios. As crescentes ameagas de Intigio € as exigéncias de prestagtio de contas por parte dos professores também criaram uma proliferagio de notas de permisso € de explicagio, a par de outros tipos de formul:rios e de outra papelada, Muitas destas tarefas so onerosas. Algumas sao triviais e desnecessdrias. Mas nem todas constituem uma distracedo monétona em relacdo As tarefas essenciais do ensino na sala de aula. Com efeito, existem provas crescentes de que a concess3o de uma atencdo adequada e positiva a assuntos exteriores & sala de aula pode melhorar significativamente a qualidade daquilo que acontece no seu interior. O envolvimento na tomada de decisdes, 0 trabalho construtivo com colegas, 0 empenhamento compartilhado num aperfeigoamento continuo — estes elementos tém sido apontados como tendo um impacto visfvel no sucesso dos alunos“. Contudo, nem todas estas exigéncias e empenhamentos adicionais sio educacio- nalmente positivos. O trabalho efectuado fora da sala de aula tem implicagdes muito diferentes para os professores e para a sua eficiicia, consoante aquilo em que consiste ¢ a forma como esté organizado. Aqui reside, mais uma vez, 0 problema central. Individualmente, conhecemos muitas das mudangas recentes que se deram no trabalho dos professores. Colectivamente, estamos muito menos certos acerca daquilo que elas significam! Duas das principais explicagdes para este significado so a profissionalizagdo € a intensificagdo. A explicaio da profissionalizagao coloca a énfase em mudangas € extensdes do papel do professor que indiciam um maior profissionalismo. De acordo com esta posi¢ao, o ensino € visto como estndo a tomar-se cada vez mais complexo e mais rico em termos de competéncias, estando os professores cada vez mais envolvidos em papéis de lideranga, em parcerias com colegas, em tomadas de decisio ¢ na 10 de consultadoria a outros, nas suas préprias dreas de competéncia". O TEMPO CAPITULO | — ESTRATE GIAS E DESEIOS 7 Uma segunda posigio aponta para a deterioragao ¢ a desprofissionalizagio do trabalho dos docentes. Os relatos retratam este trabalho como sendo mais rotineiro & menos qualificado, tendo os professores menor poder discrionario para exercer os juizos profissionais que sentem ser os mais adequados para os seus préprios alunos, nas suas proprias salas de aula, Os professores so descritos quase como s& fossem tratados Some alcoslicos em recuperagiio: necessitando de adoptar métodos de instrugao minuciosamente programadas ou de se submeterem a testes € a curric ula impostos, com vista a serem eficazes. Globalmente, 0 seu trabalho é descrito como estando a tomar-se cada vez mais intenso, & medida que as pressdes se acumulam € as inovagoes ce multiplicam em condigdes de trabalho que ndo conseguem acompanhar estas mudangas € vao, por isso, ficando para trés. Segundo esta perspectiva, @ ret6rica do profissionalismo seduz simplesmente os professores a associarem-se & sua propria exploraco. Gs debates teéricos entre a profissionalizagao, por um lado, e a intensificagao © a desqualificagio, por outro, nio constituem simples questoes de curiosidade vcadémica, Com efeito, levantam questdes absclutamente fundamentais sobre atureza do trabalho dos professores e da maneira como este esté a mudar. Estard cle a melhorar ou a piorar, a qualificar-se mais ou menos, a profissionalizar-se mais ou menos? E 0 que pensam os professores da natureza do seu.trabalho ¢ das respectivas _ tmudangas? Como € que a taneira como 0 trabalho dos professores est actualmente vetruturado se relaciona com 05 seus propésitos, o tipo de pessoas que Si0 ¢ 0s lugares hos quais operam? Como & gue a mudanga afecta os professores. de modo a que eles préprios estejam aptos ou inaptos a realizé-la? Nos Capitulos 5-7, abordam-se estas questdes vitais relativas aos professores € a0 seu trabalho, Um dos elementos constitutivos mais importantes deste trabalho € o elemento temporal. Este é 0 assunto dos Capitulos 5 ¢ 6. A escassez de tempo uma das queixas perenes apresentadas pelos professores. Nos estudos sabre a mudanga educativa, 0 cenenvalvimento das escolas, @ implementas3o do curriculo € 0 desenvolvimento profissional do pessoal docente, a escassez de tempo surge repetidamente como um dos principais problemas de implementagao. Esta escassez toma dificil planificr de modo pais atento,emipenar-se no esforgo de inovasa, reunit com os colegas OW SEMLAESe € Teftectir sobre os proprios propésitos e progressos individuais. A quantidade de tempo {que os professores passam longe das tarefas de sala de aula, a trablhar com colegas ou apenas a reflect individualmente, € um ponto vital para as questbes da mudanca. da melhoria ¢ do desenvolvimento profissional. Poréin, 0 tempo & muito mais do que uma quantidade que pave ser dada ou retivada, inflic ionads ov reduzida (embora também seja certamente isso), Ele € tanto uma 18 PARTE I-A MUDANGA percepgiio como uma propricdade. Pessoas diferentes percepcionam o tempo de maneiras diferentes. Veremos que os professores e os administradores tém frequentemente diferentes percepgdes do tempo no ensino e da sua relago com a mudanga educativa. Esta é, em parte, uma questiio de género, pois a relagdo entre administradores e professores € muito frequentemente uma relagio entre homens e mulheres, respectivamente, Mas trata-se também de uma questio relativa & maneira como os administradores € 08 professores expcrimentam 0 contexto do ensino € o lugar nele veupade pet mudan Defenderei que os professores € os administradores percepcionam © tempo ¢ a mudanga no ensino de maneiras muitos diferentes. Estas diferengas esto enraizadas na maneira como cada um destes grupos estd localizado em relagio A estrutura do. trabalho dos professores. Na verdade, podem conduzir a incompreenezes € lutas profundas sobre o ensino, a mudanga e 0 proprio tempo, no sentido em que os administradores comprimem os prazos finais para a mudanga, a0 passo que os professores as procuram anulart Mostrarei que a compreensdo da complexidade e da natureza inter-relacional deste problema requer a sintese de abordagens teéricas diferentes mas compativeis, as quais nos permitem perceber que 0 tempo NO ensino é, a0 mesmo tempo, um recurso que pode ser gerido tecnicamente, uma percep¢ao subjectivamente varidvel e um objecto de luta politica. Em seguida, no Capitulo 6 examino algumas alegagdes frequentemente feitas por aqueles que estudam o trabalho dos professores, segundo as quais a experiéncia € a organizagao do tempo mudou, ela prépria, com esse tempo. Este argumento é conhecido como a tese da intensificagao, segundo a qual 0 tempo no ensino estd a ficar cada vez mais comprimido, com consequéncias preocupantes. Uma vez que esta tese é defendida por tanta gente, mas demonstrada de maneira tio débil. explorarei a forma como ela resiste em face das experiéncias e percepgdes dos proprios docentes. Portanto, a tese da intensificagao sera interrogada pelas vozes dos préprios professores, por aquilo que eles préprios tm a dizer acerca do tempo e do trabalho, Veremos que estas vozes concedem algum apoio a tese, mas que também apresentam algumas surpresas. No Capitulo 6, as vozes dos professores articulam muitas afirmagdes das que langam sérias diividas sobre partes desta tese. No Capitulo 7, debrugo-me sobre as dinimicas emocionais do ensino; sobre aquilo que os professores sentem acerca do seu trabalho. Incidindo a atengio sobre 0 caso especifico da culpa no cnsino, examino como estas dindmicas emergem a partir das maneiras como 0 trabalho de ensinar esta estruturado. Em quantidades, moderadas, a culpa pode ser a vor intema da consciéncia. Mas, quando € excessiva, defenderei que pode dar origem a0 despaste, a0 cinismo € ao abandono da profissio. Existe muita coisa, relativa & forma como © trabalho dos professores est actualmente estruturado, que produz ais excessos de culpa e todos os seus efeitos Saterais. Em particular, mostaei que os professores podem ser particularmente propensos 4 culpa quando sentem que poxtem estar a ferir aqueles por quem se preocupam, devido a exigéncias excessivas € conilituais, expectativas intermindveis & critérios incertos de realizag3o profissional no local de trabalho. ines CAPITULO 1 — ESTRATEGIAS & DESEIOS 19 ACULTURA No Capitulo 7 mostra-se que a incerteza no ensino. pode contribuir para a culpa que é scentida por muitos professores. No ensino, 0 trabalho nunct esté acabado. pode sempre ference mais, as coisas podem sempre ser melhoradas. Nests condig6es. por definigio, os professores nunca fazem o suficiente, Outras pesquisas também indicam que a incerteza pode conduzir A redugio dos riscos ae “se est4_ disposto aevomer, A seguranga nos métodos de ensino e, em resultado disso, & diminuigiv das eapectativas e do sucesso dos alunos®, Pese embora 0 facto de a incerteza ter sido desde sempre uma qualidade universal do ensino, o colapso da cere74 cientifica e da ce sspace de conhecimento supostamente segura (por exemplo, dos métodos de ensino de sucesso comprovado) promete intensificar ainda mais a sua influéncia. Se existe 2 vontade de reduzir algumas das incertezas intteis do ensino, ento é preciso encontrar meios que ndo sejam simplesmente técnicos € cientificos. Uma

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