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(40331) Inteiro Teor Do Acórdão - STJ - RECURSO ESPECIAL - REsp 1205408 RJ 2010 - 0145953-6 - Jurisprudência JusBrasil
(40331) Inteiro Teor Do Acórdão - STJ - RECURSO ESPECIAL - REsp 1205408 RJ 2010 - 0145953-6 - Jurisprudência JusBrasil
Inteiro Teor do Acórdão | STJ RECURSO ESPECIAL : REsp 1205408 RJ 2010/01459536 | Jurisprudência JusBrasil
JusBrasil Jurisprudência
03 de dezembro de 2015
STJ RECURSO ESPECIAL : REsp 1205408 RJ
2010/01459536 • Inteiro Teor
Publicado por Superior Tribunal de Justiça 3 anos atrás
Relatora
RECURSO ESPECIAL Nº 1.205.408 RJ (2010/01459536)
RECORRENTE : S A C
ADVOGADO : FELIPPE ZERAIK E OUTRO (S)
RECORRIDO : R M J P
ADVOGADO : ESTER KLAJMAN GOLDBERF E OUTRO (S)
RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RELATÓRIO
Cuidase de recurso especial interposto por S.A.C. , com fundamento no art. 105, III,
a
e
c
, da CF,
contra acórdão proferido pelo TJ/RJ.
Ação : de exoneração de pensão alimentícia devida a excônjuge, ajuizada pelo recorrente em desfavor
de R.M.J.P .
O pedido teve como lastro a aduzida alteração na fortuna do recorrente, pois se casou novamente,
nascendo dessa nova relação criança que demanda necessidades especiais Síndrome de Down , fato que
drenaria sua capacidade financeira e impediria o pagamento da pensão a excônjuge.
Afirmou, ainda, que a exesposa, arquiteta, detém capacidade laboral, o que, igualmente, levaria à
procedência o pedido de desoneração.
Sentença : o i. Juiz julgou improcedente o pedido.
Acórdão : o TJ/RJ, por maioria, deu parcial provimento à apelação interposta pelo recorrente, mantendo a
obrigação relativa ao pagamento de pensão alimentícia à sua excônjuge, mas reduzindo seu valor para
02 salários mínimos, nos termos da seguinte ementa:
Ação de exoneração de pensão alimentícia proposta pelo varão em face da exmulher. Sentença que julga
improcedente o pedido inicial. Apelação do Autor. Pensão alimentícia arbitrada em 04 salários mínimos,
em favor da Apelada, em acordo celebrado quando da separação do casal, posteriormente convertida em
divórcio. Provas documental e oral que demonstraram que o Apelante contraiu nova união da qual adveio
uma filha que apresenta necessidade de cuidados especiais. Apelada que declarou exercer a profissão de
arquiteta, como autônoma, auferindo renda variável. Apelada que, à época da separação, já tinha
profissão definida, não se justificando a exoneração da pensão alimentícia. Provimento parcial da
apelação.
Decisão não unânime. (fl. 317, eSTJ).
Embargos de declaração: interpostos pelo recorrente, foram rejeitados (fl. 331, eSTJ).
Embargos infringentes: o TJ/RJ, por unanimidade, negou provimento aos embargos infringentes,
interpostos pela recorrida, pelo qual buscava a prevalência do voto vencido no julgamento da apelação,
que mantinha os alimentos no equivalente a 4 (quatro) salários mínimos (fl. 331, eSTJ).
Recurso especial : alega violação dos arts. 535 do CPC; 1.694, 1.695 e 1.699 do Código Civil de 2002,
bem como divergência jurisprudencial.
Sustenta que deve ser exonerado da obrigação de prestar alimentos à sua excônjuge, tanto pela
alteração negativa na própria capacidade financeira, quanto pela falta de necessidade da alimentanda
arquiteta que, por sua atividade laboral, não precisa do pagamento de pensão para a sua sobrevivência.
Juízo prévio de admissibilidade: sem a apresentação de contrarrazões, o TJ/RJ não admitiu o recurso
especial (fls. 538/544, eSTJ).
Decisão : em decisão unipessoal, dei provimento ao agravo de instrumento interposto pelo recorrente e
determinei a subida do recurso especial.
Parecer do MPF : de lavra do SubprocuradorGeral da República João Pedro de Sabóia Bandeira de Mello
filho, pelo não provimento do recurso especial. (fls. 588/591, eSTJ).
É o relatório.
RECURSO ESPECIAL Nº 1.205.408 RJ (2010/01459536)
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21109139/recursoespecialresp1205408rj201001459536stj/inteiroteor21109140 2/6
03/12/2015 (40331) Inteiro Teor do Acórdão | STJ RECURSO ESPECIAL : REsp 1205408 RJ 2010/01459536 | Jurisprudência JusBrasil
RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE : S A C
ADVOGADO : FELIPPE ZERAIK E OUTRO (S)
RECORRIDO : R M J P
ADVOGADO : ESTER KLAJMAN GOLDBERF E OUTRO (S)
RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI
VOTO
Sintetizase a lide a determinar se o recorrente pode ser exonerado da pensão paga a sua exconjuge,
desde a época do divórcio, tendo em vista que a recorrida possui emprego que lhe permite sua própria
manutenção, e ele o recorrente constituiu nova família, na qual teve filha, acometida de Síndrome de
Down.
A ausência de interposição de embargos de declaração contra o acórdão proferido pelo Tribunal de
origem, no julgamento dos embargos infringentes, impede a apreciação da irresignação, no particular, por
ausência do necessário prequestionamento da matéria.
2. Do prequestionamento e do dissídio jurisprudencial.
Conquanto não se verifique manifestação expressa, no acórdão recorrido, dos artigos 1.695 e 1.699 do
CC02, apontados como violados no recurso especial, superase a questão, tanto por haver expresso
prequestionamento do art. 1.694 do CC02, como também por tratarem os julgados apontados como
paradigma, similaridade com a hipótese dos autos, e entendimento diverso daquele preconizado pelo
Tribunal de origem.
3. Dos alimentos devidos a excônjuge
A questão central trazida a desate já foi, ao menos em seu aspecto macro, objeto de deliberação por
esta Turma, que consolidou o posicionamento de que, detendo o excônjuge alimentado plenas condições
de inserção no mercado de trabalho, como também já exercendo atividade laboral, quanto mais se esse
labor é potencialmente apto a mantêlo com o mesmo status social que anteriormente gozava ou, ainda,
alavancálo a patamares superiores, deve ser o alimentante exonerado da obrigação (REsp 933.355/SP,
de minha relatoria, DJe 11/04/2008).
O raciocínio subjacente, que dá contornos mais precisos à assertiva, voltase tanto para o caráter
excepcional de prestação de alimentos entre excônjuges, quanto para a justa necessidade de se obstar
enriquecimento sem causa, de quem detenha capacidade laborativa, ou mesmo já exerça atividade
remunerada, suficiente à sua mantença.
Fragmentando o entendimento, vale declinar, quanto à excepcionalidade dos alimentos entre excônjuges,
excerto do voto citado, que bem traduz a postura desta Turma para a matéria:
No entanto, por força dos usualmente reconhecidos efeitos patrimoniais do matrimônio e também com
vistas a não tolerar a perpetuação de injustas situações que reclamem solução no sentido de perenizar a
assistência, optouse por traçar limites para que a obrigação de prestar alimentos não seja utilizada ad
aeternum em hipóteses que não demandem efetiva necessidade de quem os pleiteia (sem destaque no
original).
Notase que o conceito de necessidade, no voto citado, foi redimensionado, ganhando contornos mais
alargados, pois a locução efetiva necessidade conjuga a própria necessidade, tomada em todos os seus
aspectos possíveis, com a incapacidade de suprila por motopróprio.
A condicionante agregada preserva a boafé também nos relacionamentos familiares findos, impede o
enriquecimento sem causa do alimentado e conspira contra aqueles que, mesmo sendo aptos ao trabalho
ou exercendo atividade remunerada, insistem em manter vínculo de subordinação financeira em relação
ao excônjuge tão somente por esse ostentar condição econômica superior à sua própria.
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21109139/recursoespecialresp1205408rj201001459536stj/inteiroteor21109140 3/6
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Rompidos os laços afetivos e a busca comum pela concretização de sonhos e resolvida a questão
relativa à guarda e manutenção da prole quando houver , deve ficar entre o antigo casal o respeito mútuo
e a consciência de que remanesce, como efeito residual do relacionamento havido, a possibilidade de
serem pleiteados alimentos, em caso de necessidade, esta, frisese, lida sob a ótica da efetiva
necessidade .
Com foco nesse aspecto e em atenção à heterogeneidade da sociedade brasileira, decidiuse, ainda, por
se perenizar os alimentos devidos ao excônjuge que não tenha possibilidade práticas de inclusão no
mercado de trabalho, em posto que lhe possibilite, ao menos em tese, alcançar o padrão social que antes
detinha.
De igual forma, foram excepcionalizadas as situações nas quais o excônjuge, por doença própria, ou em
decorrência de necessidades de cuidados especiais que apresente algum dependente comum, sob sua
guarda, se veja impossibilitado de trabalhar ou tenha que o fazer sob condições especiais.
Por fim, também se preconizou um período necessário para aqueles que, embora tenham capacidade
laborativa, necessitem de tempo para se inserir condignamente em uma determinada profissão.
No entanto, resguardadas essas peculiaridades e outras mais que venham exigir tratamento diferenciado,
na ausência de premente necessidade, deve, cada qual, administrar sua vida e carreira profissional
de forma independente , pois já não há mais liames que os obriguem à mútua assistência.
4. Da possibilidade de exoneração de pensão alimentícia, sem a existência de alteração na fortuna
das partes
O ponto de singularidade deste recurso especial é a inexistência de alteração fática na fortuna do
alimentante e do alimentado ao menos assim concluído pelo acórdão recorrido e a existência de prévia
fixação de alimentos, no momento da separação ou do divórcio, fatos que impossibilitariam, segundo o
entendimento do Tribunal de origem, a desoneração ou mesmo redução da pensão paga pelo recorrente à
recorrida.
Assim, para a solução da controvérsia, impõese, em consonância com o posicionamento adotado por
esta Corte para a fixação dos alimentos entre excônjuges, considerar também a possibilidade de
desoneração de alimentos dissociada de uma mudança na fortuna dos envolvidos.
A adequação se faz necessária porque, sob a ótica do citado recurso especial, os alimentos devidos
entre excônjuges passaram a ser tratados como excepcionalidade que, no mais das vezes, será fixado
em caráter temporário, com prazo razoável para que o excônjuge que deles necessite possa se inserir no
mercado de trabalho ou, quando já laborando, possa galgar condição socioeconômica que o desvincule da
dependência financeira do alimentante.
Nessa linha de ideias, não tendo os alimentos anteriormente fixados, lastro na incapacidade física
duradoura para o labor ou, ainda, na impossibilidade prática de inserção no mercado de trabalho,
enquadrase na condição de alimentos temporários , fixados para que seja garantido ao excônjuge
condições e tempo razoáveis para o superar o desemprego ou o subemprego.
Essa é a plena absorção do conceito de excepcionalidade dos alimentos devidos entre ex
cônjuges, que repudia a anacrônica tese de que o alimentado possa quedarse inerte quando tenha
capacidade laboral e deixar ao alimentante a perene obrigação de sustentálo.
Decorrido esse tempo razoável , fenece para o alimentado o direito de continuar recebendo alimentos,
pois lhe foi assegurada as condições materiais e o tempo necessário para o seu desenvolvimento
pessoal, não se podendo albergar, sob o manto da Justiça, a inércia laboral de uns, em detrimento da
sobrecarga de outros.
Vulnera o superior princípio da boafé, que deve balizar todas as relações civis, e faz esboroar a lógica
que dá sustentação a esse efeito residual de casamento findo, a impossibilidade de se desonerar o
alimentante da obrigação autoimposta, ou impingida, porque não houve alteração na fortuna dos
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envolvidos.
Bastaria ao alimentado deixar escoar o tempo, sem buscar, de alguma forma, melhoria em sua condição
pessoal, para protrair a obrigação do alimentante ad aeternum .
No entanto, com a inflexão ocorrida na jurisprudência para o tema, nova assertiva deve ser considerada:
A tão só ausência de alteração nas finanças dos envolvidos não afasta a possibilidade de
desoneração plena ou parcial de alimentos prestados a excônjuge.
A essa circunstância fática devem ser agregadas e ponderadas outras mais, como a capacidade potencial
do alimentado para o trabalho e o tempo decorrido entre o início da prestação alimentícia e a data do
pedido de desoneração.
Exsurgirá, da apreciação desses elementos, a real necessidade do excônjuge alimentado de permanecer
recebendo a prestação alimentícia ou, ao revés, se concluirá pela desoneração do alimentante, em virtude
do transcurso de tempo suficiente para que o alimentado adquirisse independência financeira.
Assim, merece reforma o entendimento do Tribunal de origem, quanto à possibilidade de exoneração da
obrigação alimentar devida a excônjuge, quando não se constatou a ocorrência de variação positiva ou
negativa na fortuna do alimentante e da alimentada.
5 Da aplicação do direito à espécie. Da exoneração dos alimentos
Nos termos do art. 257 do RISTJ, fixada a possibilidade de se exonerar o alimentante, convêm apreciar
as circunstâncias, imediatamente, aplicandose, no que couber, o direito à espécie.
Sob essa delimitação, transcrevese excertos do Tribunal de origem que delimitam o universo fático
passível de ser valorado em recurso especial:
Registro inicialmente que a obrigação de prestar alimentos foi fixado aos 13.10.1998, portanto, há mais
de 10 anos fls. 14/15.
Neste período, confessou a embargante , voltou a trabalhar. Leio de seu próprio depoimento pessoal fls.
218:
"que atualmente trabalha como autônoma, prestando serviços de arquitetura; que neste momento, por
exemplo, pode citar que está realizando projeto junto ao clube caiçaras; que o valor total do projeto foi
orçado e aprovado em R$, sem nota fiscal; que está no momento tentando obter um projeto de cozinha
com pessoa física; que sua renda é variável, sendo que em alguns meses recebe cerca de um salário
mínimo e outros uma quantia de 03 salários mínimo, não podendo ela precisar, (...)"
(fl. 435, eSTJ
sem destaques no original).
Repisase, então, que a pensão alimentícia vem sendo prestada há mais de 10 (dez) anos, que a
alimentada ostenta a condição de profissional liberal de nível superior arquiteta , atividade que passou a
exercer após a separação. Por outro lado, o alimentante tem filha, no novo casamento, que demanda
especiais cuidados, por ser portadora de Síndrome de Down.
Notase, então, que a conjuntura fática fixada pelo Tribunal de origem se amolda, à perfeição, ao objetivo
dos alimentos prestados a excônjuge: possibilitar lapso temporal e condições econômicas que viabilizem
a inserção do alimentado no mercado de trabalho.
Se isso não bastasse, incontornável também o fato de que o advento de nova filha mormente se esta
demanda cuidados especiais decorrentes da Síndrome de Down representa impacto significativo na
fortuna do alimentante, porquanto, no mais das vezes, situações similares demandam aporte financeiro,
que apenas é limitado, por ser igualmente limitada a capacidade financeira daqueles que sustentam o
portador de necessidades especiais e, quanto ao ponto, afirmo: a verdade evidente não precisa de prova
Veritas evidens non probanda .
Assim, sendo incontornável a conclusão de que foi outorgado à recorrida tempo hábil para que
melhorasse sua condição socioeconômica o que de fato ocorreu impõese, em consonância com o
entendimento anteriormente fixado, a exoneração da obrigação alimentar que hoje pesa sobre o recorrente.
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03/12/2015 (40331) Inteiro Teor do Acórdão | STJ RECURSO ESPECIAL : REsp 1205408 RJ 2010/01459536 | Jurisprudência JusBrasil
Forte nessas razões, CONHEÇO do recurso especial, para DARLHE provimento a fim de determinar a
exoneração da obrigação alimentar que tem o recorrente em relação à recorrida.
Custas e honorários esses como fixados em sentença serão suportados integralmente pela recorrida.
CERTIDAO DE JULGAMENTO
TERCEIRA TURMA
Número Registro: 2010/01459536 REsp 1.205.408 / RJ
PROCESSO ELETRÔNICO
Números Origem: 20060011493082 200800136765 200900500073 2009005073 200913514579
200913710583 201000109939 980011286221
Disponível em: http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21109139/recursoespecialresp1205408rj2010
01459536stj/inteiroteor21109140
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