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03/12/2015 (40331) 

Inteiro Teor do Acórdão | STJ ­ RECURSO ESPECIAL : REsp 1205408 RJ 2010/0145953­6 | Jurisprudência JusBrasil

JusBrasil ­ Jurisprudência
03  de  dezembro  de  2015 

STJ ­ RECURSO ESPECIAL : REsp 1205408 RJ
2010/0145953­6 • Inteiro Teor
Publicado  por  Superior  Tribunal  de  Justiça ­  3  anos  atrás

 Download  do  Inteiro  Teor  (1)

RECURSO  ESPECIAL  Nº  1.205.408  ­  RJ  (2010/0145953­6)


RELATORA : MINISTRA  NANCY  ANDRIGHI
RECORRENTE : S  A  C
ADVOGADO : FELIPPE  ZERAIK  E  OUTRO  (S)
RECORRIDO : R  M  J  P
ADVOGADO : ESTER  KLAJMAN  GOLDBERF  E  OUTRO  (S)
EMENTA
CIVIL  E  PROCESSUAL  CIVIL.  ALIMENTOS.  EXONERAÇAO.  INEXISTÊNCIA  DE  ALTERAÇAO  NO
BINÔMIO  NECESSIDADE/POSSIBILIDADE.
1­  Os  alimentos  devidos  entre  ex­cônjuges  serão  fixados  com  termo  certo,  a  depender  das  circunstâncias
fáticas  próprias  da  hipótese  sob  discussão,  assegurando­se,  ao  alimentado,  tempo  hábil  para  sua
inserção,  recolocação  ou  progressão  no  mercado  de  trabalho,  que  lhe  possibilite  manter  pelas  próprias
forças,  status  social  similiar  ao  período  do  relacionamento
2  ­  Serão,  no  entanto,  perenes,  nas  excepcionais  circunstâncias  de  incapacidade  laboral  permanente  ou,
ainda,  quando  se  constatar,  a  impossibilidade  prática  de  inserção  no  mercado  de  trabalho.
3  ­  Em  qualquer  uma  das  hipóteses,  sujeitam­se  os  alimentos  à  cláusula  rebus  sic  stantibus  ,  podendo  os
valores  serem  alterados  quando  houver  variação  no  binômio  necessidade/possibilidade.
4  ­  Se  os  alimentos  devidos  a  ex­cônjuge  não  forem  fixados  por  termo  certo,  o  pedido  de  desoneração
total,  ou  parcial,  poderá  dispensar  a  existência  de  variação  no  binômio  necessidade/possibilidade,  quando
demonstrado  o  pagamento  de  pensão  por  lapso  temporal  suficiente  para  que  o  alimentado  revertesse  a
condição  desfavorável  que  detinha,  no  momento  da  fixação  desses  alimentos.
5  ­  Recurso  especial  provido.
ACÓRDAO
Vistos,  relatados  e  discutidos  estes  autos,  acordam  os  Ministros  da  Terceira  Turma  do  Superior  Tribunal
de  Justiça,  na  conformidade  dos  votos  e  das  notas  taquigráficas  constantes  dos  autos,  por  unanimidade,
dar  provimento  ao  recurso  especial,  nos  termos  do  voto  do  (a)  Sr  (a)  Ministro  (a)  Relator  (a).  Os  Srs.
Ministros  Massami  Uyeda,  Sidnei  Beneti,  Paulo  de  Tarso  Sanseverino  e  Ricardo  Villas  Bôas  Cueva
votaram  com  a  Sra.  Ministra  Relatora.
Brasília  (DF),  21  de  junho  de  2011  (Data  do  Julgamento)
MINISTRA  NANCY  ANDRIGHI
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21109139/recurso­especial­resp­1205408­rj­2010­0145953­6­stj/inteiro­teor­21109140 1/6
03/12/2015 (40331) Inteiro Teor do Acórdão | STJ ­ RECURSO ESPECIAL : REsp 1205408 RJ 2010/0145953­6 | Jurisprudência JusBrasil

Relatora
RECURSO  ESPECIAL  Nº  1.205.408  ­  RJ  (2010/0145953­6)
RECORRENTE : S  A  C
ADVOGADO : FELIPPE  ZERAIK  E  OUTRO  (S)
RECORRIDO : R  M  J  P
ADVOGADO : ESTER  KLAJMAN  GOLDBERF  E  OUTRO  (S)
RELATORA:  MINISTRA  NANCY  ANDRIGHI
RELATÓRIO
Cuida­se  de  recurso  especial  interposto  por  S.A.C.  ,  com  fundamento  no  art.  105,  III,  ​
a​
  e  ​
c​
,   da  CF,
contra  acórdão  proferido  pelo  TJ/RJ.
Ação  :  de  exoneração  de  pensão  alimentícia  devida  a  ex­cônjuge,  ajuizada  pelo  recorrente  em  desfavor
de  R.M.J.P  .
O  pedido  teve  como  lastro  a  aduzida  alteração  na  fortuna  do  recorrente,  pois  se  casou  novamente,
nascendo  dessa  nova  relação  criança  que  demanda  necessidades  especiais  Síndrome  de  Down  ,  fato  que
drenaria  sua  capacidade  financeira  e  impediria  o  pagamento  da  pensão  a  ex­cônjuge.
Afirmou,  ainda,  que  a  ex­esposa,  arquiteta,  detém  capacidade  laboral,  o  que,  igualmente,  levaria  à
procedência  o  pedido  de  desoneração.
Sentença  :  o  i.  Juiz  julgou  improcedente  o  pedido.
Acórdão  :  o  TJ/RJ,  por  maioria,  deu  parcial  provimento  à  apelação  interposta  pelo  recorrente,  mantendo  a
obrigação  relativa  ao  pagamento  de  pensão  alimentícia  à  sua  ex­cônjuge,  mas  reduzindo  seu  valor  para
02  salários  mínimos,  nos  termos  da  seguinte  ementa:
Ação  de  exoneração  de  pensão  alimentícia  proposta  pelo  varão  em  face  da  ex­mulher.  Sentença  que  julga
improcedente  o  pedido  inicial.  Apelação  do  Autor.  Pensão  alimentícia  arbitrada  em  04  salários  mínimos,
em  favor  da  Apelada,  em  acordo  celebrado  quando  da  separação  do  casal,  posteriormente  convertida  em
divórcio.  Provas  documental  e  oral  que  demonstraram  que  o  Apelante  contraiu  nova  união  da  qual  adveio
uma  filha  que  apresenta  necessidade  de  cuidados  especiais.  Apelada  que  declarou  exercer  a  profissão  de
arquiteta,  como  autônoma,  auferindo  renda  variável.  Apelada  que,  à  época  da  separação,  já  tinha
profissão  definida,  não  se  justificando  a  exoneração  da  pensão  alimentícia.  Provimento  parcial  da
apelação.
Decisão  não  unânime.  (fl.  317,  e­STJ).
Embargos  de  declaração:  interpostos  pelo  recorrente,  foram  rejeitados  (fl.  331,  e­STJ).
Embargos  infringentes:  o  TJ/RJ,  por  unanimidade,  negou  provimento  aos  embargos  infringentes,
interpostos  pela  recorrida,  pelo  qual  buscava  a  prevalência  do  voto  vencido  no  julgamento  da  apelação,
que  mantinha  os  alimentos  no  equivalente  a  4  (quatro)  salários  mínimos  (fl.  331,  e­STJ).
Recurso  especial  :  alega  violação  dos  arts.  535 do  CPC;  1.694,  1.695  e  1.699  do  Código  Civil   de  2002,
bem  como  divergência  jurisprudencial.
Sustenta  que  deve  ser  exonerado  da  obrigação  de  prestar  alimentos  à  sua  ex­cônjuge,  tanto  pela
alteração  negativa  na  própria  capacidade  financeira,  quanto  pela  falta  de  necessidade  da  alimentanda
arquiteta  que,  por  sua  atividade  laboral,  não  precisa  do  pagamento  de  pensão  para  a  sua  sobrevivência.
Juízo  prévio  de  admissibilidade:  sem  a  apresentação  de  contrarrazões,  o  TJ/RJ  não  admitiu  o  recurso
especial  (fls.  538/544,  e­STJ).
Decisão  :  em  decisão  unipessoal,  dei  provimento  ao  agravo  de  instrumento  interposto  pelo  recorrente  e
determinei  a  subida  do  recurso  especial.
Parecer  do  MPF  :  de  lavra  do  Subprocurador­Geral  da  República  João  Pedro  de  Sabóia  Bandeira  de  Mello
filho,  pelo  não  provimento  do  recurso  especial.  (fls.  588/591,  e­STJ).
É  o  relatório.
RECURSO  ESPECIAL  Nº  1.205.408  ­  RJ  (2010/0145953­6)
RELATORA : MINISTRA  NANCY  ANDRIGHI
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RELATORA : MINISTRA  NANCY  ANDRIGHI
RECORRENTE : S  A  C
ADVOGADO : FELIPPE  ZERAIK  E  OUTRO  (S)
RECORRIDO : R  M  J  P
ADVOGADO : ESTER  KLAJMAN  GOLDBERF  E  OUTRO  (S)
RELATORA:  MINISTRA  NANCY  ANDRIGHI
VOTO
Sintetiza­se  a  lide  a  determinar  se  o  recorrente  pode  ser  exonerado  da  pensão  paga  a  sua  ex­conjuge,
desde  a  época  do  divórcio,  tendo  em  vista  que  a  recorrida  possui  emprego  que  lhe  permite  sua  própria
manutenção,  e  ele  o  recorrente  ­  constituiu  nova  família,  na  qual  teve  filha,  acometida  de  Síndrome  de
Down.

1.  Da  violação  ao  art.  535 do  CPC

A  ausência  de  interposição  de  embargos  de  declaração  contra  o  acórdão  proferido  pelo  Tribunal  de
origem,  no  julgamento  dos  embargos  infringentes,  impede  a  apreciação  da  irresignação,  no  particular,  por
ausência  do  necessário  prequestionamento  da  matéria.
2.  Do  prequestionamento  e  do  dissídio  jurisprudencial.
Conquanto  não  se  verifique  manifestação  expressa,  no  acórdão  recorrido,  dos  artigos  1.695  e  1.699  do
CC­02,  apontados  como  violados  no  recurso  especial,  supera­se  a  questão,  tanto  por  haver  expresso
prequestionamento  do  art.  1.694  do  CC­02,  como  também  por  tratarem  os  julgados  apontados  como
paradigma,  similaridade  com  a  hipótese  dos  autos,  e  entendimento  diverso  daquele  preconizado  pelo
Tribunal  de  origem.
3.  Dos  alimentos  devidos  a  ex­cônjuge
A  questão  central  trazida  a  desate  já  foi,  ao  menos  em  seu  aspecto  macro,  objeto  de  deliberação  por
esta  Turma,  que  consolidou  o  posicionamento  de  que,  detendo  o  ex­cônjuge  alimentado  plenas  condições
de  inserção  no  mercado  de  trabalho,  como  também  já  exercendo  atividade  laboral,  quanto  mais  se  esse
labor  é  potencialmente  apto  a  mantê­lo  com  o  mesmo  status  social  que  anteriormente  gozava  ou,  ainda,
alavancá­lo  a  patamares  superiores,  deve  ser  o  alimentante  exonerado  da  obrigação  (REsp  933.355/SP,
de  minha  relatoria,  DJe  11/04/2008).
O  raciocínio  subjacente,  que  dá  contornos  mais  precisos  à  assertiva,  volta­se  tanto  para  o  caráter
excepcional  de  prestação  de  alimentos  entre  ex­cônjuges,  quanto  para  a  justa  necessidade  de  se  obstar
enriquecimento  sem  causa,  de  quem  detenha  capacidade  laborativa,  ou  mesmo  já  exerça  atividade
remunerada,  suficiente  à  sua  mantença.
Fragmentando  o  entendimento,  vale  declinar,  quanto  à  excepcionalidade  dos  alimentos  entre  ex­cônjuges,
excerto  do  voto  citado,  que  bem  traduz  a  postura  desta  Turma  para  a  matéria:
No  entanto,  por  força  dos  usualmente  reconhecidos  efeitos  patrimoniais  do  matrimônio  e  também  com
vistas  a  não  tolerar  a  perpetuação  de  injustas  situações  que  reclamem  solução  no  sentido  de  perenizar  a
assistência,  optou­se  por  traçar  limites  para  que  a  obrigação  de  prestar  alimentos  não  seja  utilizada  ad
aeternum  em  hipóteses  que  não  demandem  efetiva  necessidade  de  quem  os  pleiteia  (sem  destaque  no
original).
Nota­se  que  o  conceito  de  necessidade,  no  voto  citado,  foi  redimensionado,  ganhando  contornos  mais
alargados,  pois  a  locução  efetiva  necessidade  conjuga  a  própria  necessidade,  tomada  em  todos  os  seus
aspectos  possíveis,  com  a  incapacidade  de  supri­la  por  moto­próprio.
A  condicionante  agregada  preserva  a  boa­fé  também  nos  relacionamentos  familiares  findos,  impede  o
enriquecimento  sem  causa  do  alimentado  e  conspira  contra  aqueles  que,  mesmo  sendo  aptos  ao  trabalho
ou  exercendo  atividade  remunerada,  insistem  em  manter  vínculo  de  subordinação  financeira  em  relação
ao  ex­cônjuge  tão  somente  por  esse  ostentar  condição  econômica  superior  à  sua  própria.
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Rompidos  os  laços  afetivos  e  a  busca  comum  pela  concretização  de  sonhos  e  resolvida  a  questão
relativa  à  guarda  e  manutenção  da  prole  quando  houver  ,  deve  ficar  entre  o  antigo  casal  o  respeito  mútuo
e  a  consciência  de  que  remanesce,  como  efeito  residual  do  relacionamento  havido,  a  possibilidade  de
serem  pleiteados  alimentos,  em  caso  de  necessidade,  esta,  frise­se,  lida  sob  a  ótica  da  efetiva
necessidade  .
Com  foco  nesse  aspecto  e  em  atenção  à  heterogeneidade  da  sociedade  brasileira,  decidiu­se,  ainda,  por
se  perenizar  os  alimentos  devidos  ao  ex­cônjuge  que  não  tenha  possibilidade  práticas  de  inclusão  no
mercado  de  trabalho,  em  posto  que  lhe  possibilite,  ao  menos  em  tese,  alcançar  o  padrão  social  que  antes
detinha.
De  igual  forma,  foram  excepcionalizadas  as  situações  nas  quais  o  ex­cônjuge,  por  doença  própria,  ou  em
decorrência  de  necessidades  de  cuidados  especiais  que  apresente  algum  dependente  comum,  sob  sua
guarda,  se  veja  impossibilitado  de  trabalhar  ou  tenha  que  o  fazer  sob  condições  especiais.
Por  fim,  também  se  preconizou  um  período  necessário  para  aqueles  que,  embora  tenham  capacidade
laborativa,  necessitem  de  tempo  para  se  inserir  condignamente  em  uma  determinada  profissão.
No  entanto,  resguardadas  essas  peculiaridades  e  outras  mais  que  venham  exigir  tratamento  diferenciado,
na  ausência  de  premente  necessidade,  deve,  cada  qual,  administrar  sua  vida  e  carreira  profissional
de  forma  independente  ,  pois  já  não  há  mais  liames  que  os  obriguem  à  mútua  assistência.
4.  Da  possibilidade  de  exoneração  de  pensão  alimentícia,  sem  a  existência  de  alteração  na  fortuna
das  partes
O  ponto  de  singularidade  deste  recurso  especial  é  a  inexistência  de  alteração  fática  na  fortuna  do
alimentante  e  do  alimentado  ao  menos  assim  concluído  pelo  acórdão  recorrido  e  a  existência  de  prévia
fixação  de  alimentos,  no  momento  da  separação  ou  do  divórcio,  fatos  que  impossibilitariam,  segundo  o
entendimento  do  Tribunal  de  origem,  a  desoneração  ou  mesmo  redução  da  pensão  paga  pelo  recorrente  à
recorrida.
Assim,  para  a  solução  da  controvérsia,  impõe­se,  em  consonância  com  o  posicionamento  adotado  por
esta  Corte  para  a  fixação  dos  alimentos  entre  ex­cônjuges,  considerar  também  a  possibilidade  de
desoneração  de  alimentos  dissociada  de  uma  mudança  na  fortuna  dos  envolvidos.
A  adequação  se  faz  necessária  porque,  sob  a  ótica  do  citado  recurso  especial,  os  alimentos  devidos
entre  ex­cônjuges  passaram  a  ser  tratados  como  excepcionalidade  que,  no  mais  das  vezes,  será  fixado
em  caráter  temporário,  com  prazo  razoável  para  que  o  ex­cônjuge  que  deles  necessite  possa  se  inserir  no
mercado  de  trabalho  ou,  quando  já  laborando,  possa  galgar  condição  socioeconômica  que  o  desvincule  da
dependência  financeira  do  alimentante.
Nessa  linha  de  ideias,  não  tendo  os  alimentos  anteriormente  fixados,  lastro  na  incapacidade  física
duradoura  para  o  labor  ou,  ainda,  na  impossibilidade  prática  de  inserção  no  mercado  de  trabalho,
enquadra­se  na  condição  de  alimentos  temporários  ,  fixados  para  que  seja  garantido  ao  ex­cônjuge
condições  e  tempo  razoáveis  para  o  superar  o  desemprego  ou  o  subemprego.
Essa  é  a  plena  absorção  do  conceito  de  excepcionalidade  dos  alimentos  devidos  entre  ex­
cônjuges,  que  repudia  a  anacrônica  tese  de  que  o  alimentado  possa  quedar­se  inerte  quando  tenha
capacidade  laboral  e  deixar  ao  alimentante  a  perene  obrigação  de  sustentá­lo.
Decorrido  esse  tempo  razoável  ,  fenece  para  o  alimentado  o  direito  de  continuar  recebendo  alimentos,
pois  lhe  foi  assegurada  as  condições  materiais  e  o  tempo  necessário  para  o  seu  desenvolvimento
pessoal,  não  se  podendo  albergar,  sob  o  manto  da  Justiça,  a  inércia  laboral  de  uns,  em  detrimento  da
sobrecarga  de  outros.
Vulnera  o  superior  princípio  da  boa­fé,  que  deve  balizar  todas  as  relações  civis,  e  faz  esboroar  a  lógica
que  dá  sustentação  a  esse  efeito  residual  de  casamento  findo,  a  impossibilidade  de  se  desonerar  o
alimentante  da  obrigação  autoimposta,  ou  impingida,  porque  não  houve  alteração  na  fortuna  dos

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envolvidos.
Bastaria  ao  alimentado  deixar  escoar  o  tempo,  sem  buscar,  de  alguma  forma,  melhoria  em  sua  condição
pessoal,  para  protrair  a  obrigação  do  alimentante  ad  aeternum  .
No  entanto,  com  a  inflexão  ocorrida  na  jurisprudência  para  o  tema,  nova  assertiva  deve  ser  considerada:
A  tão  só  ausência  de  alteração  nas  finanças  dos  envolvidos  não  afasta  a  possibilidade  de
desoneração  plena  ou  parcial  de  alimentos  prestados  a  ex­cônjuge.
A  essa  circunstância  fática  devem  ser  agregadas  e  ponderadas  outras  mais,  como  a  capacidade  potencial
do  alimentado  para  o  trabalho  e  o  tempo  decorrido  entre  o  início  da  prestação  alimentícia  e  a  data  do
pedido  de  desoneração.
Exsurgirá,  da  apreciação  desses  elementos,  a  real  necessidade  do  ex­cônjuge  alimentado  de  permanecer
recebendo  a  prestação  alimentícia  ou,  ao  revés,  se  concluirá  pela  desoneração  do  alimentante,  em  virtude
do  transcurso  de  tempo  suficiente  para  que  o  alimentado  adquirisse  independência  financeira.
Assim,  merece  reforma  o  entendimento  do  Tribunal  de  origem,  quanto  à  possibilidade  de  exoneração  da
obrigação  alimentar  devida  a  ex­cônjuge,  quando  não  se  constatou  a  ocorrência  de  variação  positiva  ou
negativa  na  fortuna  do  alimentante  e  da  alimentada.
5  Da  aplicação  do  direito  à  espécie.  Da  exoneração  dos  alimentos
Nos  termos  do  art.  257  do  RISTJ,  fixada  a  possibilidade  de  se  exonerar  o  alimentante,  convêm  apreciar
as  circunstâncias,  imediatamente,  aplicando­se,  no  que  couber,  o  direito  à  espécie.
Sob  essa  delimitação,  transcreve­se  excertos  do  Tribunal  de  origem  que  delimitam  o  universo  fático
passível  de  ser  valorado  em  recurso  especial:
Registro  inicialmente  que  a  obrigação  de  prestar  alimentos  foi  fixado  aos  13.10.1998,  portanto,  há  mais
de  10  anos  fls.  14/15.
Neste  período,  confessou  a  embargante  ,  voltou  a  trabalhar.  Leio  de  seu  próprio  depoimento  pessoal  fls.
218:
"que  atualmente  trabalha  como  autônoma,  prestando  serviços  de  arquitetura;  que  neste  momento,  por
exemplo,  pode  citar  que  está  realizando  projeto  junto  ao  clube  caiçaras;  que  o  valor  total  do  projeto  foi
orçado  e  aprovado  em  R$,  sem  nota  fiscal;  que  está  no  momento  tentando  obter  um  projeto  de  cozinha
com  pessoa  física;  que  sua  renda  é  variável,  sendo  que  em  alguns  meses  recebe  cerca  de  um  salário
mínimo  e  outros  uma  quantia  de  03  salários  mínimo,  não  podendo  ela  precisar,  (...)"  ​
  (fl.  435,  e­STJ  ­
sem  destaques  no  original).
Repisa­se,  então,  que  a  pensão  alimentícia  vem  sendo  prestada  há  mais  de  10  (dez)  anos,  que  a
alimentada  ostenta  a  condição  de  profissional  liberal  de  nível  superior  arquiteta  ,  atividade  que  passou  a
exercer  após  a  separação.  Por  outro  lado,  o  alimentante  tem  filha,  no  novo  casamento,  que  demanda
especiais  cuidados,  por  ser  portadora  de  Síndrome  de  Down.
Nota­se,  então,  que  a  conjuntura  fática  fixada  pelo  Tribunal  de  origem  se  amolda,  à  perfeição,  ao  objetivo
dos  alimentos  prestados  a  ex­cônjuge:  possibilitar  lapso  temporal  e  condições  econômicas  que  viabilizem
a  inserção  do  alimentado  no  mercado  de  trabalho.
Se  isso  não  bastasse,  incontornável  também  o  fato  de  que  o  advento  de  nova  filha  mormente  se  esta
demanda  cuidados  especiais  decorrentes  da  Síndrome  de  Down  representa  impacto  significativo  na
fortuna  do  alimentante,  porquanto,  no  mais  das  vezes,  situações  similares  demandam  aporte  financeiro,
que  apenas  é  limitado,  por  ser  igualmente  limitada  a  capacidade  financeira  daqueles  que  sustentam  o
portador  de  necessidades  especiais  e,  quanto  ao  ponto,  afirmo:  a  verdade  evidente  não  precisa  de  prova  ­
Veritas  evidens  non  probanda  .
Assim,  sendo  incontornável  a  conclusão  de  que  foi  outorgado  à  recorrida  tempo  hábil  para  que
melhorasse  sua  condição  socioeconômica  o  que  de  fato  ocorreu  impõe­se,  em  consonância  com  o
entendimento  anteriormente  fixado,  a  exoneração  da  obrigação  alimentar  que  hoje  pesa  sobre  o  recorrente.

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03/12/2015 (40331) Inteiro Teor do Acórdão | STJ ­ RECURSO ESPECIAL : REsp 1205408 RJ 2010/0145953­6 | Jurisprudência JusBrasil

Forte  nessas  razões,  CONHEÇO  do  recurso  especial,  para  DAR­LHE  provimento  a  fim  de  determinar  a
exoneração  da  obrigação  alimentar  que  tem  o  recorrente  em  relação  à  recorrida.
Custas  e  honorários  esses  como  fixados  em  sentença  serão  suportados  integralmente  pela  recorrida.
CERTIDAO  DE  JULGAMENTO
TERCEIRA  TURMA
Número  Registro:  2010/0145953­6 REsp  1.205.408  /  RJ
PROCESSO  ELETRÔNICO
Números  Origem:  20060011493082  200800136765  200900500073  2009005073  200913514579
200913710583  201000109939  980011286221

PAUTA:  21/06/2011 JULGADO:  21/06/2011


SEGREDO  DE  JUSTIÇA
Relatora
Exma.  Sra.  Ministra  NANCY  ANDRIGHI
Presidente  da  Sessão
Exmo.  Sr.  Ministro  MASSAMI  UYEDA
Subprocurador­Geral  da  República
Exmo.  Sr.  Dr.  MAURÍCIO  VIEIRA  BRACKS
Secretária
Bela.  MARIA  AUXILIADORA  RAMALHO  DA  ROCHA
AUTUAÇAO
RECORRENTE : S  A  C
ADVOGADO : FELIPPE  ZERAIK  E  OUTRO  (S)
RECORRIDO : R  M  J  P
ADVOGADO : ESTER  KLAJMAN  GOLDBERF  E  OUTRO  (S)
ASSUNTO:  DIREITO  CIVIL  ­  Família  ­  Alimentos  ­  Exoneração
CERTIDAO
Certifico  que  a  egrégia  TERCEIRA  TURMA,  ao  apreciar  o  processo  em  epígrafe  na  sessão  realizada
nesta  data,  proferiu  a  seguinte  decisão:
A  Turma,  por  unanimidade,  deu  provimento  ao  recurso  especial,  nos  termos  do  voto  do  (a)  Sr  (a)  Ministro
(a)  Relator  (a).  Os  Srs.  Ministros  Massami  Uyeda,  Sidnei  Beneti,  Paulo  de  Tarso  Sanseverino  e  Ricardo
Villas  Bôas  Cueva  votaram  com  a  Sra.  Ministra  Relatora.

Documento:  1072786 Inteiro  Teor  do  Acórdão ­  DJe:  29/06/2011

Disponível  em: http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21109139/recurso­especial­resp­1205408­rj­2010­
0145953­6­stj/inteiro­teor­21109140

http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21109139/recurso­especial­resp­1205408­rj­2010­0145953­6­stj/inteiro­teor­21109140 6/6

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