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Copyright 2023 Mariana Carolina
 
Todos os direitos reservados.
 
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer
forma, meio eletrônico ou mecânico sem a permissão da autora.  A violação
dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei n° 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do código penal.
 
Revisão: Alina B. | GB DESIGN EDITORIAL
Capa: Thaís Alves @thaisalvesdesign
Diagramação: Alina B. | GB DESIGN EDITORIAL
 

Dedicatória
Playlist
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Agradecimentos
Sobre a autora
Olá, amores!

Primeiramente, eu quero agradecer a você que se interessou a ler este

livro, é uma história que eu nem sempre tive certeza que viria ao mundo,

mas, depois que a escrevi, percebi o quanto o Rodrigo e a Marla são


necessários. Espero que possa se apaixonar por eles tanto quanto possa ter

se apaixonado pela Kiara e o Luís em De Volta Para Você (assim como eu,
rs. Mesmo sendo suspeita para falar).

Se está começando essa duologia com Louco Por Você, saiba que é

possível compreender todos os acontecimentos da obra mesmo sem ter lido


o primeiro livro, já que a história é focada nos personagens secundários

dele, por isso você poderá ler tranquilamente. Alguns acontecimentos


narrados aqui são spoilers do primeiro livro, como esperado, e por isso sua

experiência de leitura pode ser afetada, então, se você é um leitor que se

incomoda com isso, torço para que se interesse em ler o primeiro livro

depois deste.

Louco Por Você é uma comédia romântica recomendada para maiores

de 18 anos, por conter cenas explícitas de sexo, uso de bebidas alcoólicas e

palavras de baixo calão. O livro é leve e contém poucos gatilhos, mas deixo

aqui todos em destaque, para que as pessoas sensíveis aos temas possam ter
a ciência do conteúdo, são eles: machismo, relação familiar tóxica, abuso

psicológico, depressão (menção) e violência (menção). Caso não se sinta

confortável com esse tipo de conteúdo, sugiro que não leia.

Aos que embarcarem nessa jornada, uma ótima leitura!


 

Esse livro é para você que já tinha desistido do amor, e


se conformava com a solidão. A vida nos surpreende nos
lugares mais improváveis, e um dia você se vê sorrindo de

novo, com o coração cheio de amor e uma gratidão infinita,


porque a sua pessoa chegou. A minha chegou assim, e a de

vocês, românticos incuráveis como eu, vai chegar também.


 

Dica da Autora: ouça a música correspondente a cada capítulo antes de iniciar

a leitura do mesmo. Isso fará a sua experiência de leitura melhorar


consideravelmente, trazendo imersão para cada fase dessa história.

Use sua câmera do celular no QRcode abaixo, para encontrar a playlist do livro no Spotify ou

clique aqui:
 

“As batidas do seu coração fazem o mundo continuar girando”


Brittainy Cherry – O Silêncio das Águas.
 
 
 
“Então, antes que você vá
Havia algo que eu poderia ter dito
Para fazer tudo parar de doer?
Me mata saber como sua mente pode fazer você se sentir tão
insuficiente”
Lewis Capaldi | Before You Go

Hoje não é um bom dia. Sempre que há uma sessão de quimioterapia

da dona Fátima, a Kiara se esconde dentro de si mesma para dar força à


mãe e desmorona quando ninguém mais está vendo. Mas eu sempre vejo. É

impossível ela se esconder de mim, porque a conheço muito bem, e o mais

triste de tudo é saber que não é apenas por conta da mãe que as lágrimas

dela estão se derramando como gotas em uma chuva de inverno. É,

também, por saudades do Luís.

Eu sei disso porque a Kiara me permite enxugar as lágrimas dela e

abafar sua dor com o meu carinho quando a tristeza dela é pela mãe, por

mais difícil que seja, pois ela odeia demonstrar fraqueza e tristeza. Na
frente da dona Fátima ela sorri, mostra fotos de coisas fofas no celular, que

arrancam sorrisos, e leva jogos de tabuleiro para jogarmos no hospital.

Quando a mãe dela dorme de exaustão, ela desmorona nos meus braços

com um medo terrível de perder a única pessoa que sempre esteve com ela.

Sei quando as lágrimas são por Luís porque ela se esconde de mim,

tampa a boca com a mão para abafar os soluços do choro e fica


transtornada enquanto se definha em saudade.

Assim como faz agora, enquanto a observo sentada e encolhida no

chão do quarto, com as costas apoiadas na cama, os olhos vermelhos e os

barulhos contidos pelo aperto da mão, o que dilacera o meu coração a


cada segundo, a cada ruído e a cada suspiro trêmulo do corpo dela.
Ela sente saudade daquele filho da puta que só soube dar no pé quando

ela mais precisou dele. Saudades de um cara que conheceu tão rápido

quanto foi embora, saudades de um desgraçado insensível que nem ao

menos disse para onde ia, sem dar o mínimo de satisfação para a mulher

que dizia amar. Odeio o Luís porque ele tirou o brilho mais lindo dos olhos

da minha lindinha, aquilo que a deixava de coração leve, de alma


tranquila. Kiara agora carrega um peso nos olhos, o peso de uma mulher

rejeitada, o peso de uma mulher que perdeu um amor imenso e que não

sabe como se livrar dele.

Estou aqui para ajudar a dissipar qualquer sentimento que tenha por
ele, sei que ela me ama, mas é diferente. E, infelizmente, sempre me pego

comparando a maneira com que ela olhava para ele com a que olha para

mim. Sempre penso se ela se entrega para mim como se entregava para

ele... Às vezes, estar na minha mente é um inferno. Eu deveria ir embora e

desistir desse relacionamento, já que só estou assistindo a minha namorada

sofrer por outro homem, ainda que ela não faça de propósito e sempre tente

esconder.

Eu vejo e minto para mim mesmo ao dizer que isso passará, que ela vai

superá-lo e que sou eu que estarei por aqui quando isso acontecer, que não

posso desistir. Mas a verdade é que aceito as migalhas que ela me dá, o que

não é pouco, ela é uma namorada incrível, somos melhores amigos e ela
me apoia em tudo. No entanto, a Kiara não é completamente apaixonada

por mim, e sei que nunca vai ser.

Me afasto da porta do quarto para que ela não me veja e eu possa

simular que cheguei agora, para que tenha tempo de se recompor, ela só

desmorona quando não estou em casa.

— Amor, eu cheguei! — Coloco as compras na mesa e começo a

guardar algumas coisas na geladeira dela.

— Oi, amor. Estou no banheiro, peraí!

Sou um covarde por fingir que não sei do desespero escondido, mas se

ela não quer que eu saiba, então só me resta respeitar o desejo. Isso mostra

que ela se importa com meus sentimentos, que não quer que eu vá embora.

Por enquanto, isso é o suficiente para mim.

Ela aparece com a pele úmida, mostrando que lavou o rosto e com um

lindo sorriso para mim, mas ainda posso ver os olhos vermelhos.

— Oi, lindinho — ela me abraça e retribuo, abraçando-a forte.

Kiara suspira, enroscando seu nariz no meu pescoço.

— Oi, lindinha da minha vida! — Levanto o corpo dela com um abraço

e Kiara dobra os joelhos, levantando as pernas para cima


Quando a coloco no chão, ela me dá um beijo lento e depois sorri

pertinho do meu rosto

Sou um homem preso. Não consigo me afastar dela quando sinto que

ela precisa de mim, sei que sou uma espécie de refúgio, de consolo para um

coração quebrado, mas a amo e vou ser tudo o que ela precisar.

E foi assim... até ela não precisar mais de mim, ainda que não soubesse.

Até que o coração, dividido e despedaçado, não ter mais espaço para mim.

Até eu não precisar fingir que era amado da mesma forma que a amava.

Libertei o meu coração da Kiara e saí da vida dela (ainda que não

completamente).

E ela deixou que eu fosse embora.

E eu nunca mais fui o mesmo.


 
“Querida, ninguém disse que duraria para sempre
Isso não significa que não tentamos chegar lá
Eu nunca disse que morreríamos juntos
Isso não significa que foi tudo uma mentira, lembre-se
Ninguém disse que duraria para sempre”
Forever | Lewis Capaldi

Saio do banho e ouço o barulho insistente da campainha. Ainda com a

toalha amarrada na cintura, me dirijo ao portão, fora de casa, e ouço a voz


de quem me perturba dizendo “correio!”. É eu sei que muita gente ama

ouvir essa doce palavra, mas não sou um deles. Principalmente porque

estou com essa sensação, no fundo da garganta, me dizendo do que se trata

a entrega.

Engulo em seco e abro o portão:

— Bom dia!

— Bom dia, tenho uma carta para o senhor Rodrigo Vilar. — O carteiro
do Sedex franze os olhos, protegendo-os da luz forte do sol

— Sou eu mesmo! — Ele me entrega o envelope na minha mão, se

despede e vai embora.

Entro em casa com o coração martelando no peito quando vejo o

remetente:

Kiara Liana Pontes.

Abro o envelope grande e pardo, vendo que há um outro menor, desta


vez na cor salmão, com textura aveludada e um cheiro incrível de baunilha.

Retiro de lá um papel grosso, todo decorado e cheio de requinte que me

lembra a um pergaminho:

Luís e Kiara

Convidam você para a cerimônia de seu casamento [...].


É de se imaginar que o convite não me surpreenda, tampouco me deixe

angustiado como me sinto neste momento. Faz muitos anos que o meu

namoro com a Kiara acabou e, na verdade, fico realmente feliz por eles

terem se reencontrado e se acertado. De verdade. Mas isso não muda o fato

de que ela foi o meu primeiro amor que e poderia ser o nosso casamento

agora. Mas não é e, inesperadamente, isso dói.

Kiara foi a única mulher que amei, pode ser porque me fechei para o

amor, ou simplesmente porque o amor não acontece tantas vezes assim na

vida das pessoas. Ainda tenho 26 anos e tem muita coisa para acontecer...,

mas francamente? Por mim, o amor pode ir se foder! É algo superestimado


e que nem sempre vale a pena o sofrimento que vem junto. Inclusive, esse é

um ato de generosidade da minha parte. Imagine quantas mulheres

perderiam momentos incríveis se um cara como eu saísse do mercado de

solteiros?

Ah! Não revire os olhos pra mim... Afinal de contas, se eu não me amar

quem é que vai, não é mesmo?!

Recusei o pedido do Luís de ser o padrinho dele, achei que não me faria

muito bem e seria um tanto estranho. Somos grandes amigos, talvez os


melhores. Mas ainda sinto um estranhamento quanto a isso, ele, é claro, não

se mostrou chateado, mas estava. Percebi em seus olhos.


Sem mencionar que eu teria que aturar todas aquelas chatices de

casamento e a principal delas: Marla Martinez.

A amiga insuportável e gostosa da Kiara, é impressionante como o

nível de chatice, com ela, é proporcional ao da beleza. O que é confuso para

caralho, nunca sei se quero dar um beijo nela ou sair correndo.


Provavelmente, eu usaria um crucifixo contra ela se fosse eficaz para

mantê-la longe. Ela vai organizar o casamento junto com a Kiar, esse é mais

um motivo pelo qual não aceitei ser o padrinho.

Mesmo assim, não posso faltar ao casamento dos meus amigos de

infância. Então espero que essa angústia passe logo, porque não vou ser um

dos caras eternamente apaixonados pela ex.

Nunca aceite organizar um casamento que não é o seu, esse é um

ótimo conselho. E um que ninguém me deu!

Se você fosse amiga de Kiara também não conseguiria dizer não. Ela

tem aquele sorriso bonito, aqueles olhos meigos que você simplesmente

não consegue negar nada. Que inferno!


Agora me encontro atolada de tarefas e num estresse fodido que só

muito chocolate ou sexo me darão um pouco de relaxamento. Por isso,

decidi conversar com a minha amiga para que organizarmos uma maneira

mais fácil de planejar tudo isso.

— Ai, Marla o que vamos fazer? Sei que você está sobrecarregada

porque trabalha muito e agora com toda a organização da festa... tenho

medo da gente surtar e o casamento sair apenas no civil. Isso se eu não

matar o noivo de estresse também...

Deixo escapar uma risada.

O Luís está mais sobrecarregado agora porque pegou as

responsabilidades da Kiara na empresa enquanto ela está cobrindo as férias


do chefe, Oscar. Que, inclusive, com muita generosidade, deu de presente

de casamento o aluguel do lugar onde ocorrerá a festa e mais um monte de

coisas da lista de presentes.

— Fica tranquila, Kiar, nós vamos dar um jeito. Precisamos distribuir


melhor o que cada uma vai fazer para não sobrecarregarmos ninguém.

— Estamos aqui há mais de uma hora e até agora não conseguimos

fazer isso, amiga...

— É porque você precisa provar os vestidos de noiva, precisamos

visitar as confeitarias pra escolher o bolo do casamento. Você não gostou de


nenhum dos bufês dos lugares que fomos e nunca consegue um tempo para

escolher quem vai realizar a cerimônia.

— Você sabe que aqueles bufês estão o olho da cara, e os outros a gente
ficou o fim de semana todo com dor de barriga depois de provar a comida.

Os bolos que consegui provar eram doces demais, não consigo decidir

quem vai realizar o casamento já que não podemos usar a igreja já que

nenhum de nós segue alguma religião.

— Faltam 4 meses pro casamento. Essas coisas já deviam estar

definidas...

— Eu sei! — Kiara segura os cabelos em frustração, apoiando os dois

braços na mesa da cafeteria.

Estamos no horário de almoço, sobrecarregadas e cansadas

— O Luís já ajeitou toda a lua de mel de vocês?

— Ele me disse que sim. Já comprou as passagens, reservou o hotel, até

comprou tudo que vamos precisar na viagem. Se oferece o tempo todo para

ajudar, mas tem coisas que precisam ser eu... tipo o bolo, o vestido, sei lá...

— Precisamos de mais alguém para ajeitar tudo. Os garçons, os

músicos ou Dj, o aluguel das coisas para usarmos na festa, saber se vai ter

local para barracas dos convidados caso queira dar mais um dia de festa...
— É verdade, amiga. Pedi ao Luís para chamar o Rodrigo, mas ele não

quis nem mesmo ser o nosso padrinho, como posso pedi-lo para ajudar a

organizar tudo?

— Óbvio que ele diria não pro Luís

— Por que diz isso?

— Porque eles já foram rivais no colégio... talvez tenha achado o

pedido ultrajante

— Mas isso faz mil anos, fora que eles são super amigos!

— Kiar, você que devia ter pedido!

— Você acha que a resposta seria diferente?

— Mas é claro! — Dou um sorriso pela inocência dela. — Ai, amiga, o

cara todo ano ia te ver quando fazia seus exames, sem que você chamasse,
acha que ele negaria isso?

— Não estou gostando de como tá falando isso... como se ele ainda


gostasse de mim

— Sobre isso eu não sei, mas ele te ama. E deve ser fácil dizer não pro
cara que vai casar com sua ex, mas não para uma das suas melhores amigas.

Kiara apoia a mão no rosto, pensativa.


— Por mim, nós podemos dar um jeito sem ele. É só você jogar mais
trabalho da Dreambank pro Luís, aí você consegue dar um jeito em tudo.

Kiara dá risada.

— Você não o suporta, não é? Deve ter adorado quando soube que ele

não quis ajudar.

Empino o nariz e dou de ombros.

— Por mim, ele nem ia no casamento! Aquele babaca do ego inflado...

não sei como você consegue ser amiga dele.

Kiara dá uma gargalhada

— Ai, morro de rir com a implicância de vocês... Na verdade, acho que


são bem parecidos.

— O quê?! — Coloco a mão no peito e fico boquiaberta — Declaro


esse almoço encerrado! Não posso ser comparada àquele idiota. Você tome

cuidado para não acabar fazendo esse casamento sozinha! — Me levanto e


dou as costas para ela com indignação fingida.

Ouço a risada da minha amiga, depois olho para trás e mando um beijo
com a mão para ela.

Honestamente, não quero mesmo que aquele imbecil metido a gostoso

ajude na organização, só que não posso negar que precisamos de ajuda,


estamos estressadas, o casamento não está indo para frente e a única coisa
que conseguimos fazer foi alugar o local do evento e mandar todos os

convites.

Quero que tudo fique perfeito porque, depois de tudo o que ela passou,

a Kiara merece um casamento lindo. E se eu tiver que suportar aquela


criatura dos infernos... então suportarei. Não vai ser por tanto tempo assim,

não é?
 
“Eu não posso evitar como estou me sentindo
Com medo das minhas próprias motivações
Eu não quero desperdiçar seu tempo”
Say | Ruel

Faltam 4 meses para o casamento


 

Começo o dia logo cedo ao corrigir as falhas no sistema que acabam

aparecendo quando o site da empresa é muito acessado. Pego o meu café na


cômoda ao lado da cama, e tento não fazer barulho, porque Daiane está

dormindo ao meu lado. Pois é... as vantagens do Home Office.

Ser engenheiro de software me permite muitas regalias.

Primeiro: consigo trabalhar para várias empresas ao mesmo tempo, já

que pude fazer um CNPJ e prestar serviço a elas ao invés de ficar preso à

uma que limitaria todo o meu tempo e a minha renda. E segundo: posso

trabalhar da minha casa, de pijama e com as mulheres peladas dormindo do


meu lado.

O que mais eu poderia querer?

Em alguns momentos é estressante, principalmente quando todos os


sistemas bugam ao mesmo tempo e eu preciso me dividir em 10 para

conseguir resolver tudo. Nem sempre sou o único a prestar serviço, muitas
vezes fico como orientador de algum engenheiro interno, que não tem muita

experiência, ou fico como consultor de equipes. O caso é que estou muito

satisfeito com essa área da minha vida. Adoro tomar uma cerveja no almoço

sem ninguém pra encher o saco, ou transar pela manhã porque não tenho

hora para chegar no trabalho.

Olho para o lado e observo o corpo de Daiane repousando, uma das

pernas grossas escapou do lençol pela forma que está dobrada para frente e

sua bunda deixa o cobertor com um belo volume, um dos seios também
escapou pelo tecido, deixando o mamilo levemente amarronzado e delicioso

à mostra... sei disso porque já provei. Na mesma hora, sinto o meu pau

endurecer na boxer e respiro fundo para tentar voltar a atenção para a tela

do notebook. Preciso terminar isso antes de acordá-la.

Recebo uma mensagem no WhatsApp e pego o celular pra ler:

Sabrina: Bom dia, gostoso. Tudo certo pra gente se ver hoje?

Nossa... esqueci que marquei com a Sabrina hoje, logo quando ia tirar a

noite para descansar e ver a nova temporada de Brooklyn 99.

Respondo:

Eu: Bom dia, gostosa. É claro, já estou contando as horas...

Não posso dispensar essa gatinha. Além do mais, fui eu que marquei,

não posso dar bolo na Sabrina.

Ouço a campainha tocar...

Tomara que não seja outra mulher que esqueceu algo aqui em casa... eu

disse pra Sofia que levaria o casaco dela no trabalho depois.

Levanto e visto uma calça de pijama e uma camiseta que encontro pelo

caminho. Saio de casa e abro o portão, ficando surpreso quando vejo quem

está parada do outro lado.

— Kiara?
— Oi, Rô, espero não ter acordado você... — Ela olha para baixo e

repara na calça de pijama cinza

— Ah, não! Eu só estava trabalhando de pijama mesmo. — Dou uma

risada sem jeito, coçando atrás da cabeça.

Ela está linda, como sempre. Parece um raio de sol iluminando tudo.

Abro mais o portão e gesticulo para que ela entre.

— Está tudo bem?

Kiara não costuma me fazer visitas, então começo a me preocupar que

algo esteja errado.

— Está, sim! Na verdade, eu queria falar com você e achei que seria
melhor pessoalmente. — Entramos em casa e me sento no sofá da sala,

batendo a mão ao meu lado para que ela se sente também. — É sobre o

casamento, sei que o Luís te chamou para ser padrinho e você recusou,

posso saber o porquê?

Ah, cara... não acredito que ela veio me perguntar isso. Não sei como

responder sem parecer que estou a fim dela ou coisa do tipo. O que não é

verdade, eu apenas quero me resguardar de algumas péssimas recordações.

— Olha, lindinha, eu só estou muito ocupado, não acho que vou

conseguir dar a atenção que vocês vão precisar. Mas está tudo bem, juro.
— Sei que você trabalha muito, mas estou começando a pirar enquanto

planejo o casamento com a Marla...

Dou uma gargalhada

— Também... imagina ter que aguentar aquela general planejando tudo,

ela deve estar querendo ditar até qual vestido você vai usar... — Kiara me

dá um tapa no braço e faz uma cara irritada, o que só me faz rir mais

— Não é nada disso! Ela é ótima, tá. O problema é que eu e o Luís não

conseguimos tempo para tudo que precisamos fazer, e com as férias do

Oscar estamos enfrentando mais demanda que o normal no Dreambank.

Apesar da Marla estar ajudando muito, ela também trabalha bastante e

acabou que não estamos conseguindo resolver tudo o que precisamos.

Ela desabafa e consigo reparar que está mesmo abatida, com olheiras

aparecendo e um sorriso cansado.

Droga!... Não repara nisso, Rodrigo, me repreendo.

— Mas, Kiara, você sabe que eu e a Marla não nos damos bem. Um

fica querendo arrancar a cabeça do outro... não acho que será uma péssima

ideia nós trabalharmos juntos?

— É porque vocês não se conhecem direito. Ficam com bobagens na

cabeça e agora estão de implicância. Sei que vão trabalhar bem juntos e não

confio em mais ninguém para isso. A Isadora é muito ocupada com a


família, a Estela agora vive viajando e a Marla se dispôs com a maior boa

vontade. Já você que está fugindo como um demônio do meu casamento...

— Ela dá uma risadinha com a expressão, mas me olha sério. — Me conta,

Rodrigo... por que não aceitou ser o padrinho? Sei que falar do trabalho é

uma desculpa porque você sempre arruma tempo para tudo. — Ela levanta a

sobrancelha daquele jeito e franze a testa de forma bem inquisitória.

— Você é a minha ex-namorada, Kiar. E sei que foi há muito tempo,

mas é um pouco estranho para mim, sabe? Por muito tempo, eu tive ódio do

Luís. Claro que depois entendi tudo o que aconteceu e não o culpo mais. Só

que... sei lá, parece que me sinto sem importância na sua vida. Você jamais

chamaria outros ex-namorados para o seu casamento.  — Ela arregala um

pouco os olhos e depois eles ficam tristes enquanto balança a cabeça em

negativa.

— Você é muito mais do que um ex-namorado para mim, Rodrigo.

Você foi o meu primeiro amigo de verdade, o homem que mais confiei na

vida... eu não sei se teria sobrevivido se não fosse por você, que estava lá

quando mais precisei. O fato de eu não ser apaixonada por você nunca me

fez te amar menos, e sei que sabe que somos muito melhores como amigos

do que como namorados. E sei que te fiz sofrer... é por isso que busquei

aceitar da melhor maneira possível quando você precisou ir e aguentei

minhas merdas sozinha, porque não era justo. Eu entendo se isso for
estranho para você, mas não pense que é porque não valorizo o

relacionamento que já tivemos, mas porque para mim você é muito mais

que isso, é parte da minha família.

Fico com os olhos marejados diante das palavras. Ela também é como

parte da família para mim e desejo a maior felicidade do mundo para os

dois. É um inferno como nunca consigo dizer não para essa garota. Ela abre

os braços para mim e sorri, derretendo o gelo no meu coração, a abraço e

sei que preciso fazer isso por eles.

Quando nos afastamos, dou um sorriso e reviro os olhos para ela

— Não acredito que conseguiu me convencer a trabalhar com aquela

maluca...

— Ei! Ela é maravilhosa+ E sei que, no final disso tudo, vocês vão ser

bons amigos — fala, empinando o nariz como a convencida a sabe tudo que
era.

Dou um sorriso antes de dizer:

— Impossível, lindinha. Isso nunca vai acontecer.


 
“Nossa, como eu caí no buraco de novo?
Eu deveria saber melhor do que isso”
Afraid Of The Dark | Ezi

Não existe nada no mundo que me estresse mais do que a minha


família. É incrível como as pessoas mais importantes da nossa vida tem a

capacidade de fazer nosso cérebro fritar. De repente, o meu irmão decidiu

que o meu pai deveria vender o carro dele para pagar uma viagem louca só
porque está na hora de aproveitar a vida.
— Meu Deus, não é possível que o senhor realmente está pensando em

fazer uma coisa dessa!

— E por que não, minha filha? Já tenho 68 anos e preciso aproveitar

enquanto ainda posso, carro é útil para quem trabalha todo dia, eu sou
aposentado.

— Pai, o senhor vai numa viagem sozinho pra ficar 2 meses fora? E os

seus remédios? E os médicos que o senhor precisa ir a cada quinzena? Não


dá pra ficar fora e sozinho por 2 meses...

— Ah, o que é isso, Marla! Você é muito exagerada, minha filha, faço

um estoque de remédio e ligo para os médicos. Até parece que vou morrer

na viagem...

— Tenho certeza que foi o Luciano que falou pro senhor vender o seu
carro e embarcar na merda de um cruzeiro!

— Olha a boca! Já falei que mulher não pode falar palavrão, eu te

ensinei isso.

— O senhor é muito machista, pai. Eu falo palavrão o tempo todo, não

tem nada de errado nisso.

— Que vergonha, Marla...


— Tenho certeza que se contar isso ao médico, ele vai falar pro senhor

não ir, uma pessoa que tem ponte de safena ficar viajando sozinho por aí...,

onde já se viu? Quer me matar de preocupação?

— Olha..., parece até que você que é a minha mãe, onde já se viu a

filha querendo falar o que vou fazer? Larga de ser mandona, eu vou vender

o carro, sim, depois aprendo a mexer no celular e pegar um ube.

— Uber, pai! — Seguro a ponte do nariz e giro a cadeira do escritório

para a vista do prédio, tentando conter meu estresse. — Pai, não faz nada

agora, tá? Não vende o carro, eu vou passar aí depois e a gente vê como faz

para o senhor ir na viagem sem me matar do coração.

— Fica tranquila, minha filha, por isso te falei pra não ficar trabalhando

em cargo de homem, agora vive estressada...

Sim, o meu pai é um grande machista. E além de me deixar louca da

cabeça com sua teimosia, eu ainda tenho que ter muita paciência para não

rebater essas coisas que ele diz.

Já que não adianta, pois para ele existem coisas de homem e de mulher.

Depois de passar anos tentando desconstruir a mente dele sem resultado,

tento ignorar os comentários, o que não é nada fácil. Finalizo a ligação com

a esperança de não chegar na casa com ele sem carro e com as passagens do

cruzeiro em mãos.
Olho para o meu planner com as tarefas do dia que já realizei e as

próximas da lista, vai ser um dia cheio até as 17h00 da tarde, então penso

em marcar um almoço com a Kiara para tratarmos de escolher o bufê..., mas


ouço uma batida na porta, em seguida Júlio a abre um pouco pedindo

licença

— Marla, houve um problema com a entrega da Masters.

— Que tipo de problema?

— O caminhão estava com os documentos atrasados e foi parado pela

polícia rodoviária. Agora ele está preso com todas as mercadorias.

— Como assim com os documentos atrasados? Eu mesma aprovei a

tabela dos impostos de cada caminhão da frota que o contador mandou e

enviei para o setor financeiro.

— Bem, foi isso o que o motorista me contou, ele está desesperado e

sem saber o que fazer

Jesus, era só mais essa que me faltava agora...

— Pega a lista de documentação que o Detran pediu para o motorista

para que possamos fazer o pagamento, vou mandar pro setor financeiro e
depois procuro saber o que foi que aconteceu com o dinheiro destinado para

isso.
— Tudo bem, Marla. Mais alguma coisa?

— Quero que peça ao setor financeiro para me entregar o comprovante

de todos os pagamentos de impostos dos caminhões, não posso correr o

risco de isso acontecer novamente. E depois verifica se o caminhão será

liberado hoje, por favor. Preciso ligar para a Masters e informar do atraso já

com uma nova data de entrega.

— Certo. — Júlio sai, fechando a porta e me deixando em profunda

irritação

Mas que porcaria aconteceu?

Conferi a tabela com todos os dados e valores, dei o “OK” pro setor de

contábeis, e eles mandaram para o financeiro, tendo o aval dos dois

setores... e agora isso? Tem alguma coisa muito errada.

Trabalho na transportadora Conectlog como diretora da empresa,

comecei como administradora de apoio no setor e consegui chegar no cargo

mais alto. Me esforcei para isso, gosto de administrar e sou ótima nesse

trabalho. Tive que coordenar tudo em casa por anos desde pequena, me

formei em administração e, para mim, faz todo sentido trabalhar com isso.

No entanto, estaria perfeitamente satisfeita, não fosse os desafios de ser

uma mulher jovem nesse mercado e cargo.

Recebo uma ligação da Kiara.


— Oi, amiga.

— Oi, Marla. Tenho uma ótima notícia amiga! — a voz dela está

animada e não sei porque, mas, desta vez, tenho um pressentimento ruim,
hoje aparentemente não é o meu dia.

— Não sei pra quê essa animação toda, não está me parecendo boa

coisa...

— Larga de pessimismo, Marla. É uma ótima notícia, o Rodrigo

aceitou planejar o casamento com a gente como padrinho! Agora você já

tem seu par no casamento porque é minha madrinha e ainda vamos ter

ajuda!

— Essa notícia é péssima. E quem disse que eu estava desesperada para

conseguir um par? É muito melhor ele achar uma parceira para ele e eu ir

com outra pessoa... Já basta ter de aturá-lo no planejamento.

— Você que me disse quando me contou que nenhum cara ia querer ir

pro casamento com você se não fosse um encontro e ele acabasse na sua

cama. E como ainda está no seu “período sabático”, não pode convidar

ninguém. Além do mais, na cerimônia você tem que entrar com o padrinho,

obviamente.

— Argh! Por que você tem que colocar ele justamente comigo?
— Porque vocês são os meus melhores amigos, a Isadora vai com o

marido dela, a Estela com o namorado e quem está planejando o

casamento comigo são vocês...

— Ótimo! Espero que saiba que o Rodrigo vai ter que ser tranquilo

com o meu jeito mandona de ser, porque, caso contrário, não vai dar certo...

Ele vai querer dar pitaco em coisas desnecessárias e não vamos sair do

lugar...

— Vai dar tudo certo, amiga. Meu Deus, você mesma me falou para
pedir pra ele...

— Eu falei que se quisesse que ele aceitasse, você deveria pedir, não

que eu queria que ele realmente participasse.

— Sei que está aliviada por eu ter conseguido. E pela sua irritação,

alguma merda aconteceu no trabalho...

— Sim, mas vou dar um jeito, amiga. Está tudo bem.

— Tudo bem, então. Marquei um almoço pra gente amanhã, para


começarmos tudo.

— Deus me ajude!

— Vocês são iguaizinhos mesmo... — Ouço uma risadinha no fundo.

— Não me compare com o idiota! — Kiara dá uma gargalhada.


— Te mando tudo no WhatsApp, até amanhã, amiga.

— Até lá, amiga.

Onde eu estava com a cabeça quando dei dicas a Kiara para que o
Rodrigo aceitasse planejar o casamento...? Agora só um milagre para fazer

esse casamento sair.


 
“Eu odeio o jeito que você diz meu nome
Eu odeio seus lábios perfeitos nos meus
[...] Quando você me olha, preciso virar o rosto
Se eu olhar demais, nunca irei desviar meus olhos”
I Hate the Way | Sofia Carson

Kiara marcou o almoço num restaurante tranquilo no setor Bueno, ali o

movimento é maior à 13h00 da tarde e por isso resolvemos nos encontras às

14h00 para evitar barulhos e ter um almoço mais tranquilo.


Quando chego, eles já estão a mesa, então cumprimento a Kiara com

um abraço e me sento ao lado dela, ficando de frente para o maior babaca

do ano: Rodrigo. Ele está com uma camiseta verde militar de tecido grosso,

que não é justa, mas, mesmo assim, eu consigo ver a sua boa forma: ele é

alto, tem cabelos castanhos que com uma boa luz ficam acobreados. O rosto
é marcado por um maxilar duro e quadrado, que está envolto por uma barba

feita, os olhos verdes combinam com a camiseta e, infelizmente, eu não

posso negar que o cara é um gato. Lindo e gostoso, mas como todos os

homens dessa cidade: é um idiota de primeira linha.

Minha antipatia por ele não foi instantânea como a maioria das pessoas

acreditam, mesmo conhecendo pessoas como ele na minha vida, onde a

experiência sempre me mostra que um rostinho bonito e bem sucedido, em


Goiânia, vem de uma família rica e sem escrúpulos ou consciência social.

Mesmo assim, tento sempre dar o benefício da dúvida. Porém, quando


ele chegou no aniversário de casamento da Isadora, eu estava trabalhando

escondida embaixo de uma árvore, resolvendo pendências da empresa e

pude escutá-lo falando com uma mulher no telefone.

Alguns meses atrás (dia do Aniversário de Casamento de Isadora):

“— Oi, docinho, hoje eu não posso. Estou com muito trabalho

acumulado e preciso ajeitar tudo, vamos deixar pra próxima, sim?!”


Não consegui ouvir o restante da conversa porque ele começou a falar

bem baixinho, mas, pela expressão no rosto dele, estavam falando coisas

bem picantes. Não era de ouvir conversas alheias, mas estava entediada e

que entretenimento melhor do que observar um desconhecido gostoso

falando com uma ficante?

Depois de desligar o telefone, o desconhecido digitou algumas coisas

no aparelho e, após alguns segundos, recebeu outra ligação:

— Oi, amor, mas é claro que passo aí pra te pegar, só estou numa

reunião de amigos, mas assim que der o horário, passo aí pra te buscar

está bem?

Mas gente... será que essa era a namorada dele e ele a está traindo

com a “docinho” de mais cedo? Que babaca! Calma, Marla... talvez fosse

só jeito de falar, infelizmente aquele tipo de cara atraía muita atenção

feminina e ficava com muita gente.

Quando terminei de aprovar o relatório do meu secretário no celular,

ouvi o bonitão desconhecido mandando um áudio:

— Ué, cara, eu acabei de dispensar a Fabi, por que não convida ela

pra sair? Deve tá doida pra dar uns pegas em alguém também. Hoje é o dia

da Sofia.

Eu ouvi direito?
O cara estava falando para o amigo sair com a ficante dele como se a

garota fosse uma mercadoria para usar. “Hoje não vou querer, quer

emprestado, cara?”, odiava aquele tipo de gente. Homens ridículos que


achavam que podiam nos oferecer como se fosse objeto. Nem conhecia o

idiota, mas já tinha um ranço sem fim.

Andei a passos duros de volta para a festa e nem me dei conta de um

azulejo fora do padrão na fileira sobre a grama, então tropecei e caí no

chão quando o bico do meu scarpin preto bateu nele.

Comecei a esfregar os joelhos para tirar o pó que sujou o meu vestido

antes de tentar levantar, então ouvi:

— Você está bem, docinho? Se machucou? — era o desconhecido-

babaca, ele me estendeu a mão para me ajudar a levantar, mas a ignorei

com sucesso.

Me levantei sozinha, de salto alto, e dando batidas no vestido para

limpar a sujeira.

— Não preciso de ajuda, muito obrigada!

— Tudo bem, só queria ser gentil!

— Pra quê? Nem te conheço e, sinceramente, não sou uma criança

para me chamar de docinho.


— Bom, é um costume meu. Mas, honestamente, olhando pro seu

rosto... te achei muito parecida com ela.

Reviro os olhos para ele... que original, como se eu nunca tivesse

ouvido aquilo antes...

— Meu Deus, você tem até a personalidade da garotinha do desenho...

— falou, querendo sorrir, o que me fez ter vontade de arrancar a cabeça

dele.

— Ah, me poupe! Quantos anos você tem?

— Idade o suficiente para você... O que acha de me dar seu telefone?

Posso te surpreender se aceitar ser a minha garota super poderosa por uma

noite.

Puta que pariu! E eu achando que não podia piorar...

— Quem é você? Tenho certeza que não é amigo da Isadora...

— Ah, não, vim porque a minha amiga Kiara me chamou.

— Tinha que ser! Só a Kiara para ter amizades tão duvidosas...

—  O que quer dizer com isso? Tem alguma coisa contra ela? — A

postura dele ficou rígida e seu semblante mais sério.

— E como poderia se ela é uma das minhas melhores amigas?

— Então você está no meio das amizades duvidosas...


— Como é?

— É isso mesmo... como pode uma mulher tão linda com uma

personalidade tão desagradável?

— Desagradável? Não era você, 3 minutos atrás, que estava querendo

o meu telefone?

— E agora não preciso mais, muito obrigada.

— Agora que você já levou um fora, não é mesmo? — Cruzei os braços

— Então além de intragável, você também é convencida?

— Você que é um idiota pretensioso que está mordido porque levou um

fora! Aqui vai uma novidade pra você, amigo da Kiara de quem nunca ouvi

falar, nem todo mundo quer sua língua na garganta! Você é só um babaca

metido que não pode ser contrariado, ou então dá uma surtadinha como
agora.

— Você nem me conhece, mulher! Como a Kiara pode ser amiga de

uma pessoa tão maluca?

— Você me insulta inúmeras vezes pelo seu charme de araque não ter

funcionado comigo e eu que sou maluca? Você é mesmo um idiota!”

Foi então que a Isadora chegou. Aparentemente, nós estávamos

chamando um pouco a atenção de algumas pessoas com nosso pequeno


desentendimento. O caso é que o Rodrigo é um tremendo mulherengo que

trata as mulheres como objeto descartável e por isso ele não me desce. Não

suporto esse tipo de homem e só de vê-lo aqui, sentado, já me sobe um

arrepio desagradável de repulsa.

— Oi! — digo, olhando para o infeliz de olhos verdes que me encara de

forma divertida.

— Olá, docinho. — Ele sorri, malicioso, porque sabe que odeio quando

me chama assim.

Aperto as mãos em punhos fechados embaixo da mesa e respiro


discretamente, olhando para Kiara com uma cara de “eu disse que não era

uma boa ideia”.

— Vamos parar de hostilidades por aqui, chamei vocês porque são os

meus melhores amigos e estão com mais tempo para me ajudar. — Kiara
olha pra gente como uma tia repreendendo os sobrinhos

— Eu não disse nada, só a chamei por um apelido carinhoso! — Ele


levanta as mãos como uma pessoa inocente.

Reviro os olhos.

— Ok, não vou discutir com esta criança — falo, encarando os olhos

dele. — Vamos ao que realmente importa... — Rodrigo sorri com meu uso
de palavras, mas, pelo menos, fica calado.
— Fiz uma lista de tudo o que falta ser resolvido... — Kiara coloca a
lista na mesa e começa a ler para nós: — bufê, garçons, banda ou DJ, lista

de presentes para os convidados, decoração, lembrancinhas do evento,


vestido de noiva, o bolo de casamento, o juiz de paz que vai fazer a

cerimônia e talvez algum evento desses... tipo chá de lingerie e chá de


panela.

— Se falta tudo isso, o que vocês duas conseguiram fazer? — Rodrigo


parece subitamente nervoso.

— Conseguimos achar o local perfeito. Enviamos todos os convites


para os convidados e o Luís conseguiu todo o serviço de baristas e a bebida

que será servida no casamento. — Kiara conta nos dedos cada tarefa feita
ao amigo, e eu só encaro Rodrigo de cara fechada, tá achando pouco meu

filho?

— Meu Deus... ainda falta muita coisa.

— Se não faltasse, não precisaríamos de ajuda, não é, querido? Ou você


acha que é fácil conseguir um local que seja lindo e tenha a capacidade de

receber o tanto certo de pessoas na data que precisamos? Só pra isso já


levamos um mês inteiro. Enquanto o Luís correu atrás do fornecedor de

bebidas e o pessoal das bebidas.

— Bem, o Luís está fazendo o quê enquanto planejam tudo?


— O meu chefe está de férias no banco, então precisei pegar várias
funções dele na agência, o Luís está me ajudando com isso, dei várias

responsabilidades do Oscar e minhas para ele cuidar enquanto tomo a frente


no casamento. Achei que seria mais fácil, mas, ainda assim, não é o

suficiente.

Rodrigo assente com a cabeça e respira fundo.

Nem começamos e ele já está com preguiça...

— Certo. E, dessa lista, o que consideram mais urgente?

— Bufê! — respondemos juntas

— Então vamos correr atrás disso... — ele fala como se fosse óbvio e
faz uma cara de receio quando vê o desânimo nos nossos olhos.

— O que foi?

— Estamos atrás disso há um mês, Rô, mas toda vez que conseguimos
achar algum que faz um bom serviço, sem gastar um rim, eles não têm
disponibilidade para a data.

— Todo mundo resolveu se casar em setembro?

— Casamentos, formaturas, festas de aniversário, bodas... enfim, tá


cheio de eventos em setembro. E os outros que estão disponíveis oferecem
um péssimo serviço e todo mundo passou mal depois da degustação dos

pratos. Precisamos procurar mais... — Kiara responde, cansada.

— E será que vocês não estão procurando nos lugares errados?

— Claro que a culpa vai ser nossa... — falo, revirando os olhos.

— Não estou culpando ninguém, só querendo entender o que foi que


não gostaram nos lugares disponíveis. — Ele cruza os braços.

— Eu gostei muito de um, mas era tão caro que achei que tinha ido à
falência só de olhar o orçamento — responde Kiara.

— Então: ou é caro, ou é péssimo?

Rodrigo nem precisou da nossa resposta para entender que foi tudo o

que encontramos. A maior dificuldade de um evento é a disponibilidade dos


serviços na data marcada, 5 meses de antecedência pode parecer muito,

mas, na realidade, é pouco tempo para um evento tão grande. Não que eles
tenham tantos convidados assim, mas é um desafio fazer tudo perfeito nesse

tempo.

— Tá tudo bem, gatinhas, darei um jeito nisso. Vou perguntar por aí

quem conhece esses serviços para me dar indicação e mando para vocês —
ele finaliza, colocando as mãos atrás da cabeça como se tudo fosse fácil pra

ele.
Cristo...!

É surreal como esse cara consegue me irritar, ele tem uma segurança
que me tira do sério e, mesmo assim, eu me pego olhando para os braços

com uma tatuagem deliciosa escapando das mangas da camiseta... Desvio o


olhar, mas não antes de ele perceber e lançar um sorrisinho sacana.  Ainda

vou matá-lo antes do casamento acontecer.

— Pode olhar, docinho, fique à vontade

— Você não se enxerga, né?

— Me enxergo muito bem, sei que sou gostoso e não vou privar uma
mulher tão bonita de apreciar a vista. — Respiro fundo pra não mandar ele

ir para aquele lugar na frente da Kiara.

No entanto, escuto uma risada vindo de onde ela está.

— Ai, gente, vocês são impagáveis! — Põe a mão na boca pra conter a
risada

— Você fica rindo do seu amigo me atormentando? Que ótima amiga


eu tenho, viu... — Dou meu melhor olhar de irritação para ela.

— Ai, Marla, não dá pra levar o Rodrigo a sério quando ele fala essas
coisas, e a sua reação... é impossível não rir amiga, desculpa!
— Você quer me fazer infartar antes do casamento me colocando pra
trabalhar com esse imbecil!

— Acho que tá precisando relaxar, docinho. Mas não esquenta, esse


imbecil aqui vai conseguir o bufê antes de você...

— Agora virou competição?

— Ei! Chega, amigos, já tá bom de implicância por hoje, né? Acabei de


fazer um grupo no WhatsApp pra gente combinar tudo, ok? Vamos
conversando por lá enquanto planejamos o casamento.

Depois disso, nós falamos mais um pouco sobre o que falta e pedimos o

almoço, comemos com mais tranquilidade quando o tormento do Rodrigo


está de boca fechada. Se estamos assim agora não quer nem ver quando
Kiara não estiver por perto. É isso o que me preocupa, porque, de alguma

forma, Rodrigo desperta uma irritação insana em mim e ele ainda não viu
nada se já me acha insuportável agora.
 
“Você me trata
Como se eu não estivesse no seu nível
Fazendo o bonito parecer feio
Você não é a governante de nenhum país
Quem te fez a rainha?”
Queen | Shawn Mendes

Em alguns momentos, eu me sinto o cara mais burro do mundo por

participar da organização do casamento da minha ex-namorada. Mas, em


outros, sinto que faz todo o sentido do mundo ajudar os meus melhores

amigos a terem o melhor casamento possível.

Acho que dentro de nós existe uma disputa entre as nossas

personalidades: a que é do passado e a que é do presente, todas lutando para


definir quem você será no futuro. Então, no momento, o meu “eu” do

passado está perdendo a briga, mesmo me importunando o suficiente para

que eu sabote algumas coisas a respeito da minha participação como

padrinho do evento. Ou talvez essa seja a desculpa que uso para provocar a
minha parceira de organização: Marla Martinez

Já disse como gosto do som do nome dela? Nunca conheci ninguém

com o mesmo nome que o dela e o sobrenome me lembrava aquelas

personagens de novela mexicana que minha mãe adorava ver na TV. M-A-

R-T-I-N-E-Z fica gostoso na minha língua, assim como eu sei que ela

também poderia ficar. Assim que penso nisso, eu tenho vontade de me socar
e dou um chute mental na minha própria bunda.

Como posso desejar aquela mulher intragável?

Essa é a palavra que uso para definir uma mulher que não consegue

trocar duas frases comigo sem me criticar ou me xingar de alguma coisa,

ela não tem um pingo de paciência para lidar comigo. É muito fácil tirar a
mulher do sério, por isso ando me divertindo bastante ao ajudar a organizar

o casamento.

Apesar disso, é inegável a eficiência da Marla, ela faz tudo em tempo

recorde. Se é para se livrar de mim, ou para ajudar a Kiara, não sei dizer,

mas podem ser as duas coisas. Já fizemos uma lista de confeitarias para

achar o bolo certo, achamos opções muito viáveis de bufês e encontramos

diversas lojas legais para Kiara procurar o seu vestido de noiva. Tudo isso

em duas semanas de organização pelo WhatsApp e algumas reuniões

estressantes.

Falando em reuniões... lembro que preciso me levantar e acordar as

minhas convidadas, porque logo, logo a Kiara e a Docinho vão chegar.

Dou um beijo em Samira e outro em Bruna, tivemos muita ação ontem

à noite, por isso imagino que estejam cansadas, porém, seria um tanto

constrangedor tê-las tomando café enquanto as meninas chegam.

Combinamos de fazer isso antes do trabalho porque hoje seria mais fácil

que no almoço. Samira logo fica de bruços, enfiando a cara no travesseiro,

sem vontade de acordar, e Bruna me puxa pelo pescoço para deitar com ela,

me agarrando com as pernas e tentando dormir com o rosto no meu


pescoço. Só de ficar desse jeito com ela, pelada e agarrada no meu corpo, o
meu pau começa a acordar, sinto o sorriso dela no meu pescoço quando

percebe e ela começa a se esfregar em mim.

— Hmm, já acordou disposto, baby. — Lambe o meu pescoço.

—  Gostosa, não faz isso comigo... preciso que vocês se levantem,

gatinhas. Tenho uma reunião daqui a pouco.

— Ai, Rô. É sério? — Bruna diz com uma voz preguiçosa. E Samira

diz algo abafado pelo travesseiro que não consigo entender.

Depois de alguns minutos de procrastinação, as minhas amigas

levantam e se vestem com cara de sono, me xingando e dizendo que devo

um café da manhã pra elas, dou risada e saio do quarto para fazer um café,

mesmo que rápido, pelo menos para que possam despertar melhor. Ouço a

campainha tocar. Merda! Será que é muito estranho elas verem duas

mulheres saindo daqui?

Abro o portão e me deparo com Marla sozinha, sem Kiara por perto.

Ela fala “bom-dia” e entra quando me afasto da entrada para que possa

passar.

— A Kiara disse que vai chegar um pouco atrasada, mas pediu pra

gente começar a marcar a degustação com os... — ela para de falar quando

Samira e Bruna aparecem no quintal.


Marla fecha a boca sem terminar a frase e fica surpresa quando repara

nas duas mulheres, não faço ideia do que está pensando, mas não parece

nada bom. 

— Bom dia! — Samira fala para Marla

— Bom dia! — Marla sorri sem graça.

— Bom, não queremos atrapalhar a reunião de vocês. — Elas se

despedem de mim com um beijo no rosto e vão embora, fechando o portão.

— Você aceita um café? Já tomou café da manhã hoje? — falo,

ignorando a forma como ela parece aérea, então caminho para a cozinha

enquanto mando mensagem para Kiar, dizendo que o portão está aberto e

que ela pode entrar direto quando chegar.

— Não, muito obrigada, Don Juan — responde quando entramos na

casa e paramos na sala.

— Don Juan? — Dou uma gargalhada. — Aparentemente, você precisa

melhorar suas referências

— Ou você precisa melhorar sua educação. Não podia marcar a reunião

para quando a gente não precisasse ver esse tipo de coisa?

— Que tipo de coisa? Duas mulheres solteiras se divertindo com um

homem gostoso? — Levanto as sobrancelhas só para irritá-la


Marla revira os olhos.

— Você é só um idiota que precisa se exibir com as mulheres como se

fôssemos um acessório barato.

— Por que é tão revoltada?

— Não sou revoltada, apenas vejo as coisas que as pessoas não

percebem. Você não faz isso para se divertir, faz isso pra se sentir melhor,

como todos os homens fazem.

— Já percebi que odeia os homens, docinho, mas não venha me dizer

porque faço as coisas, você não sabe nada sobre mim.

— Hmm, então o quê? Fez isso pra ver se desperta algum ciúme na

Kiara? Isso seria bem fodido já que estamos planejando o casamento dela.

— Você é ridícula! Não fiz nada de propósito, não fico conciliando


minha vida sexual de acordo com a sua agenda de planejamento! Vê se não

fala besteira, imagina se o Luís pensar uma coisa dessas?

Marla respira fundo e diz:

— Tudo bem, vou ignorar que você é um pervertido e vamos começar

essa reunião.

— Mas de jeito nenhum, agora você vai me pedir desculpas!


— Nunca nessa existência e nesse corpo, meu querido — Marla fala,

apontando o dedo para si.

Chego mais perto e paro na frente dela, olhando em seus olhos e digo:

— Se não me pedir desculpas, eu saio da organização!

—  Pois vai com Deus, meu filho! — Ela cruza os braços e faz uma

expressão de desdém que me deixa maluco

Deus!

Kiara bate na porta e entra quando ouve nossas vozes, ela aparece ao
nosso lado quando digo:

— Você não sabe o que acabou de fazer, Marla!

— Ui! Era pra eu ficar com medo playboyzinho? — Ela me olha de

cima a baixo

— Ei! O que tá acontecendo aqui? — Kiara diz, surpresa.

Começamos a explicar um por cima do outro, falando alto como duas


crianças que não aceitam que Kiara tome o lado contrário.

— Chega! — Kiara fala e espera nosso silêncio. — Mas o que tá

acontecendo com vocês? Estava tudo indo tão bem, a gente tá fazendo
progresso, mesmo com a implicância que vocês insistem em alimentar.
— A Marla me deve desculpas e não posso mais trabalhar com ela sem
isso.

— Você que me deve desculpas por ficar esfregando sua indecência na


minha frente!

— Que indecência? As meninas estavam vestidas, não é como se você


tivesse pegado a gente pelado ou coisa do tipo... por que se importa tanto

com essas coisas? Tá com ciúmes é, docinho?

— Chega! Nossa, gente, que chatice essa implicância toda, pelo amor
de Deus... eu já estou super estressada com a quantidade de coisas pra fazer,
não consigo lidar com vocês agindo como duas crianças!

Depois disso engolirmos o orgulho, seguimos a reunião. Os dois

sentados a mesa com a cara amarrada e Kiara tentando ignorar tudo porque
não consegue levar esse tipo de coisa a sério.

— Olha... vocês me surpreenderam, tudo está se encaminhando bem.


Marcamos a degustação com o bufê, achamos alguns locais pra degustar o

bolo e encomendar os doces, acho que vocês trabalham muito bem juntos.

— Não sei como pode dizer isso depois da cena de hoje cedo — digo,

ignorando o olhar mortal de Marla.

— Falo porque não é necessário que duas pessoas se gostem para que

possam trabalhar juntas, e é por isso que agora vou deixar tudo nas mãos de
vocês.

— Como é? Kiara, como assim? É o seu casamento! Não pode deixar

tudo na nossa mão. E não posso trabalhar sozinha com ele! — Marla fala
como se eu não estivesse presente.

— Não é que não vou participar das escolhas do meu próprio


casamento, amiga. Mas faltam poucas coisas e agora vai começar a semana

de empreendedorismo. Desta vez o Dreambank está patrocinando tudo. O


Oscar sempre delegou isso para mim, não posso deixar na mão de outra

pessoa, estou, inclusive, treinando pessoas pra delegar mais funções ali
dentro do banco agora que o Oscar saiu de licença para cuidar da saúde.

Então com o fim das férias dele e a licença, ficou sem definição o tempo
que preciso continuar assim.

— Posso fazer tudo sozinho, Kiara, não se preocupe se a insuportável

quiser pular fora — falo, apoiando a mão no ombro dela, que sorri para
mim e balança a cabeça para os lados pela ofensa a amiga.

— Você chegou agora e já quer sentar na janela, imbecil? Se coloca no


seu lugar, se alguém vai terminar de organizar esse casamento, sou eu. —

Ela aponta para si mesma.

— Ótimo! Os dois querem continuar me ajudando, então muito

obrigada por isso, meus padrinhos maravilhosos! — Kiara sorri, pegando


nos nossos ombros e nos balançando um pouco. Eu estou na ponta da mesa

ao lado direito e Marla ao seu lado esquerdo dela.

Já disse que ninguém consegue dizer não para o sorriso dela? Pois bem,

agora eu estou preso com Marla Martinez até o fim desse casamento. Que
os céus me ajudem para que eu não enlouquecesse nesse tempo.
 
“É tudo um jogo instável
A vida é um jogo inconstante que jogamos”
Fickle Game | Amber Run

Uma família é composta por um grupo de pessoas que se amam


incondicionalmente, tendo ligação genética ou não, que sempre se apoiam

independentemente do que aconteça. Na teoria é assim, mas na prática as

coisas são bem diferentes.


Já fui o tipo de mulher que espera a aprovação das pessoas para fazer

alguma coisa, a que tentava agradar as pessoas que ama, pois acreditava que

fosse o meu papel. Já fui a “menina do papai” antes de perceber que não

sabia mais o que fazia, nem quem era... se fazia as coisas porque gostava ou

porque os outros me diziam que era o que eu devia gostar. A minha mãe era
assim, uma mulher doce, de coração gigante. Sempre colocando as

necessidades dos outros à frente das dela, sempre sendo tolhida e moldada

de acordo com as expectativas dos outros até que, um dia, ela ficou doente e

foi embora desse mundo.

Eu sabia que a vida que ela levava era uma consequência das escolhas

dela e que eu não podia culpar o meu pai e até os meus irmãos por ela ter

tido uma vida tão simplória, mas eu os culpava. Me sentia horrível por
pensar que a única realização dela foi ter tido os filhos que amava e o meu

pai como marido. Não que isso fosse pouco ou ela fosse infeliz, mas ela

tinha sonhos... queria estudar, se formar e trabalhar. Ela não fez nada disso

porque o meu pai achava que deveria ser o único ganhando dinheiro em

casa, que ela mudaria se estudasse e que esse seria o fim da nossa família.

E, hoje em dia, eu sei que muitas pessoas me acham insuportável pela

minha militância feminista, mas a realidade é que se as mulheres do

passado não tivessem lutado com unhas e dentes para conquistarem os

direitos civis que não tínhamos, ainda estaríamos da mesma forma. Sem
direito ao voto, sem direito ao trabalho formal, sem direito a posses e sem

direito ao divórcio... só de pensar em tudo que já tivemos e que ainda

precisamos aguentar, sinto muito ódio. É por isso que, para mim, é difícil

fazer parte da família Martinez.

Chego na casa do meu pai e vejo que o carro dele não está estacionado

na garagem. Não acredito que Luciano conseguiu mesmo enfiar na cabeça

do meu pai que ele devia vender o carro para embarcar no cruzeiro. A casa

onde morei na infância toda fica no bairro Vila Nova, o famoso bairro do

time de futebol local. É até comum encontrar todo mundo com a camiseta

vermelha do time em dias de jogo, outra coisa legal é saber que ninguém
mexerá comigo porque a torcida organizada nos conhece, pois é... o tipo de

coisa que só quem mora em bairro de periferia entende.

Abro o portão com a minha chave e depois abro a porta da frente da

casa, que nunca fica trancada durante o dia. A minha família mora numa
casinha média amarela, cheia de plantas na frente e uma árvore enorme no

quintal, é uma mangueira e, no fim do ano, quando começa a dar frutos, fica

cheio de vizinhos batendo pedindo para pegar algumas mangas.

— Oi, minha filha. Até que enfim veio visitar o seu pai — ele fala
como se eu não viesse vê-lo toda semana.
— Oi, seu Antônio. Posso perguntar cadê o seu carro? — O abraço e

me sento ao lado dele no sofá vermelho.

— Eu disse que o venderia, Marla. O Luciano já passou pra frente e

comprou o ingresso do cruzeiro, a viagem acontecerá daqui a dois meses.

Respiro fundo para conter a minha irritação. É claro que ele não podia

esperar até que eu viesse...

Fiquei tão ocupada com o trabalho e o casamento que me esqueci da

viagem, até mesmo passei uma semana sem visitá-lo.

— Por quanto o Luciano vendeu o carro? Não é possível que precisasse

de tanto dinheiro para uma viagem, se pegou menos de 20 mil por aquele

carro fez um péssimo negócio.

— O cruzeiro é do Roberto Carlos, minha filha, quanto você acha que

é? Além do mais, o seu irmão mais novo vai comigo, então acabou ficando

caro. O bom é que agora você não precisa mais se preocupar, não estou indo

sozinho.

— Até parece que com o Túlio indo me deixa mais tranquila, ele mal te

lembra de tomar os remédios. O meu irmão é o único que mora com o

senhor e sinto que sei mais do seu dia do que ele.

— Você é muito exigente com as pessoas, Marla, tem que ficar mais

tranquila. Além do mais, é só um carro, não estava mesmo precisando dele,


quase não saio de casa.

— E agora como vai ao mercado? Como vai ver o jogo no estádio?

Tudo por um cruzeiro idiota que o senhor nunca teve vontade de ir, é claro,

até os meus irmãos fazerem sua cabeça.

— Ninguém fez a minha cabeça. Eu queria fazer algo diferente, gosto

de Roberto Carlos, então por que não?

— Acho perigoso, pai, e se o senhor realmente queria ir, eu podia ter

pagado.

— Mas não ia pagar para o seu irmão, não é mesmo?

— Claro que não, ele nunca me deu nem uma balinha! Sem mencionar

que é um sanguessuga de 23 anos que não trabalha e fica nas suas costas.

— Só porque você ganha mais que ele não significa que seja melhor

que o seu irmão. Sabe que não tolero que fale assim da sua própria família!

—  Não tem nada a ver com o salário, pai. Ele fica em casa o dia todo

sem fazer nada, me diz se pelo menos ele fez o almoço pro senhor? Ou fez

as compras da semana? O senhor vive dando dinheiro pra ele...

— Ele só está numa fase ruim, não significa que ele seja um filho ruim.

Como sempre, não importa o que eu disser, o meu pai sempre

defenderá os seus meninos, repare que eu disse meninos e não filhos,


porque se fosse eu, teria que fazer tudo e mais um pouco nessa casa. Sei por

experiência própria.

— Tá certo, pai. Só me diz que colocou o resto do dinheiro na


poupança, posso tentar comprar outro carro usado, inteirando o dinheiro

que falta...

— Eu precisei emprestar para o Luciano, filha, mas tá tudo bem, eu me

viro numa boa, o seu irmão me explicou como pedir uber...

Simplesmente paro de tentar ter uma conversa com ele e abro a comida

que trouxe, na mesinha de centro, para almoçarmos juntos. Eu já sabia que

o Túlio estaria dormindo às 13h30 da tarde e que, provavelmente, o meu pai

estaria sem almoço, ele nem sempre tem ânimo para cozinhar.

Sempre que o levava ao médico, escutava o meu pai precisava de uma

alimentação mais saudável, mas uma ponte de safena e um infarto nunca

fizeram com que ele mudasse.

Mas ninguém liga para as coisas realmente importantes nesta casa,

sempre foi assim.

— Ah, que maravilha... frango assado! — o meu pai diz, com água na

boca quando lhe entrego o prato cheio de comida.

— Continua sendo o seu favorito, não é, pai? — Me sento ao lado dele

quando termino de fazer o meu prato.


— Você conhece o seu velho, nunca vai ser como o franguinho da sua

mãe..., mas está uma delícia filha. — Ele sorri para mim.

Meu pai nunca se casou de novo, ele passou os dias trabalhando e

cuidando dos filhos. Se houve alguma mulher depois, eu nunca soube e,

francamente, sou grata por isso. Não sei saberia lidar com isso na época e,

apesar de todos os defeitos dele, eu amo o meu pai. Sei que ele tem feito o

melhor que pode, então eu tento fazer o melhor que posso também.

No meu grupo de amigas, nós temos o costume de nos reunir ao menos

uma vez por mês para colocar a conversa em dia e desestressar. Parece
pouco, mas chega uma idade na vida que o nosso tempo diminui

consideravelmente. É por isso que pessoas mais velhas costumam ter


pouquíssimas amizades.

Somos quatro mulheres completamente diferentes, sempre tive mais


conexão com a Kiara, que tem uma visão de mundo mais parecida com a

minha. Mas Estela é meu xuxuzinho, a namoradeira good vibes que eu amo
implicar. Já Isadora é a mãezona do grupo, e também a única de nós que é
casada e com filhos.

Chego no Café Cariño, onde tínhamos marcado, o local é cheio de


plantinhas, mesas de madeira, cadeiras coloridas e luzes amarelas. É uma

mistura de rústico clean/hippie, cheio de plantas e pássaros. Também é


dividido em dois ambientes: com o lado de fora coberto numa grande

varanda, piso chapado e acinzentado e paredes de tijolos onde as mesas tem


uma sombrinha no meio, trazendo um ar despojado ao local. E, por dentro,

é cheio de quadros coloridos, uma estante com livros à venda e coisas


antigas vintage como máquinas fotográficas e uma vitrola, que ficam numa

mesinha de canto perto do balcão.

É um café bem tradicional na cidade e um lugar muito aconchegante,

gostamos daqui porque existem diversas opções de comida e bebidas como


almoços e jantares, além dos tradicionais lanches e cafés, então é perfeito

para nós.

Cumprimento uma por uma com um abraço e me sento ao lado de

Estela e na frente da Kiara, que está ao lado da Isadora.

— Não acredito que cheguei depois da Kiara! — Dou risada.

— Olha que absurdo... eu não me atraso todas as vezes


— Ah, Kiar... aceita que dói menos, amiga. Você é a atrasadinha do
grupo — Estela comenta, soltando uma risadinha antes de dar um gole no

seu Cozumel.

Kiara faz bico, balançando a cabeça, mas sorri em seguida.

— Realmente, é um milagre você se atrasar, Marla. Tava brigando com


o Rodrigo no grupo de novo? — Ela sorri e toma um gole do frapuccino.

Reviro os olhos, ouvindo uma risada da Isadora.

— Vocês mal se conheciam e já estavam brigando na minha festa...


deve ser hilário acompanhar esses dois trabalhando juntos.

— Hilário é a minha bunda, sinceramente... isso é culpa da Kiara com


essas amizades questionáveis. — Encaro as meninas para mostrar que elas

entram nessa definição também. — O cara é um galinha arrogante que tem


um rei na barriga, um completo babaca. — Todo mundo da mesa cai na

risada.

— Você diz isso porque não o conhece direito amiga, ele é um amigo

maravilhoso e não é arrogante, só um pouco metidinho, mas você se


acostuma...

— Eu não vejo a hora de você se casar logo pra eu me ver livre desse
idiota.
— Que é isso, docinho, pra quê tanto ódio nesse coração?! — diz

Estela.

— Ah! Não acredito que contou pra elas o apelido idiota que o

tormento me deu! — digo, apontando para Kiara.

Ela só fica rindo da minha cara.

— Meu Deus, eu precisava desse apelido e não sabia! — diz Isadora

— Nem se atreva! Eu já tenho que aguentar o tormento me chamando


disso o tempo todo.

— Mas ficou tão fofinho, amiga. Você tem o cabelo curtinho e os olhos
verdes... é toda mal humorada igual, tem que admitir... o apelido faz

sentido.

— Acha que nunca me chamaram assim quando eu era criança, amiga?

Não tem nada de original nisso!

— Não importa, apelou, pegou e agora você é a Docinho do trio.

— Nós somos um grupo de 4 pessoas, Estela...

Todo mundo começa a rir e Estela muda de assunto. Colocamos a


conversa em dia, conto do trabalho e também do que aconteceu hoje com

meu pai e meu irmão. Kiara fala do trabalho e sobre como Luís achou o
apartamento perfeito para que possam se mudar. Eles quiseram um lugar
novo ao invés de escolherem um dos apartamentos que já ocupavam,

mesmo o da Kiara sendo próprio, eles decidiram alugar quando eles se


mudassem. Eu nem sempre gostei de Luís, mas depois de entender o que

aconteceu para que ele a deixasse no passado, acabei torcendo muito por
eles, são um daqueles casais que a gente sorri ao vê-los juntos, lindo de ver.

Isadora conta que sua filha entrou para a escolinha e já está fazendo
amizades, e que conseguiu um trabalho home office, que agora terá mais

tempo, já que a filha vai estar na escola.

Estela conta que começou a dar aulas particulares e não trabalha mais

em nenhuma academia, agora é M.E.I e tem mais flexibilidade nos horários.


Ela continua namorando e viajando sempre que pode. É engraçado ver a

Estela sem a pegação toda de antes.

— O que vocês acham de a gente estender a noite das garotas?


Podíamos ir aquela boate nova que abriu...

— Eu queria muito, Docinho. — Estela pisca para mim, fazendo


gracinha. — Mas preciso ir ao aniversário da irmã do Bruno, a minha

cunhadinha me matará se eu não for.

— Ô, amiga, pra isso eu teria que ter programado tudo antes, também

não sei se consigo ficar muito tempo em balada, eu provavelmente dormirei


à 00h00 se sentar em algum lugar — Isadora diz, dando risada e a
acompanhamos.

— Eu adoraria ir com você amiga, rebolar um pouco e desestressar...,


mas combinei com o Luís da gente jantar em casa, ver um filminho... só se

eu chamasse ele pra balada.

— Ah, não! Aí vou ficar de vela, não dá! — Sorrio pra ela. — Eu

queria mais um rolê nosso mesmo, só com as amigas, mas eu entendo,


gente, não tem problema.

— Vamos combinar algo assim depois — Kiara responde.

As meninas concordam e todas pedimos um drink para me animar,


brindamos e conversamos mais um pouco.

Quando eu paro para observar as meninas, percebo que a vida de todo


mundo está indo para frente e a minha se encontrava na mesma já faz algum
tempo. Eu ando tão cansada e um pouco insatisfeita com a minha vida. Na

carreira está tudo bem e me sinto feliz pelas minhas amizades, mas ninguém
tem tempo como antes, as pessoas não podem simplesmente ir a um bar ou

uma balada sem combinar, como fazíamos antes, quando era só mandar
uma mensagem no grupo falando “bora naquele bar” e todo mundo

aparecia.
Sempre fui uma mulher mais solitária, independente e sempre me senti
muito bem com isso. Mas, nos últimos tempos, venho ficando um pouco

desanimada, como se a vida tivesse perdido um pouco do brilho.

De toda forma preciso me acostumar, as pessoas fazem loucuras que

ferram com a vida delas quando ficam entediadas ou tem uma crise de
identidade. Preciso me concentrar em outras coisas... talvez começar a fazer

algum tipo de dança na academia, fazer novas amizades... namoros e


relações casuais estão fora de cogitação. Meu período sabático só termina

no fim deste ano, ele é como uma promessa feita a mim mesma depois de
me sujeitar a muitos caras sem noção. É melhor ficar sem sexo do que

precisar aturar um bando de homem idiota.

Então nada de sexo para você, Marla, pelo menos por mais 7 meses.
 
“Eu gostaria que quando eu saísse, você tivesse me perseguido
Eu não queria mudar, mas você me fez”
Slow Motion | Charlotte Lawrence

Quando se é filho único, você se acostuma com todas as atenções


voltadas para você. Sabe que as expectativas são altas porque é o único ali

para concretizar certas coisas e, às vezes, sente falta de ter mais alguém que

te entende, alguém para criticar seus pais com você, ou apenas para guardar

segredos que não confia em contar para ninguém. Quando não se tem
irmãos de sangue, procuramos os irmãos de alma, as amizades que algumas

vezes são mais fortes que os laços sanguíneos.

Luís e Kiara eram assim para mim. Pelo menos foram por um bom

tempo, até eu me apaixonar pela Kiara e Luís o ter virado um inimigo na


minha mente adolescente. As coisas mudaram, no entanto.

Mesmo que a minha amizade com ambos tenha voltado ao normal, por

um tempo, tive muita raiva de Luís, porque ele tomou o coração da Kiara e
não ficou para cuidar dele. Eu colei os cacos, cuidei para que as rachaduras

não se desfizessem e assim pudessem se regenerar, mas não fui o suficiente.

Sabia que estava fazendo um favor a ela quando fui embora. Ela queria se

cuidar sozinha, como um pássaro ferido que se contenta em nunca mais

voar. Criou a própria gaiola e se isolou de todos.

Enquanto isso eu fiquei distante, nunca sabendo o que aconteceu com o

Luís, tendo notícias vagas de Kiara, com visitas e mensagens raras. Perdi os

meus irmãos de alma, perdi a única mulher que me lembro de amar até que

ambos voltarem para minha vida, como um presente do universo por tê-los

mantido no meu coração.

Luís, agora, é muito presente na minha vida e eu estou feliz de ter meu

irmão de volta, mesmo há pouco menos de um ano.


— Você não sabe o quanto eu tô feliz de estar participando do nosso

casamento desse jeito, a Kiara está muito mais tranquila agora que temos

mais ajuda. E ainda ganhei o padrinho que queria — Luís diz, sorrindo e

dando batidas no meu ombro.

— Não consegui ficar de fora por muito tempo, tava escrito que eu

seria seu padrinho, Luluz. — Luís gargalhou, sempre que usava esse

apelido ele ria.

— Às vezes acho que só aceitou porque queria implicar com a Marla

— Luís fala, dando um sorrisinho. — Mas não importa o motivo para mim,

só quero ter você ali com a gente no altar

— Quê isso, cara. A Marla não é tão importante assim, mas não posso

mentir, tô adorando tirar uma com a cara dela, é muito fácil irritar a morena.

— Essa mulher ainda vai te dar um soco, se eu fosse você diminuía as

brincadeiras.

— Ah, mas o que é isso, Luís. Logo você que não teve medo de
enfrentar a Kiar no puro surto do ódio?

— Mas eu não implicava, só fui insistente, é diferente!

— Não sei porque essa mulher me odeia. Outro dia ela quase me bateu

dentro da minha casa quando viu duas mulheres saindo do meu quarto....
Luís riu alto.

— Ai, cara, a Marla odeia homem galinha. Pelo que já vi ela falando,

deve achar você um puto depravado.

— E ela é o quê? Uma freira? Diabo de mulher cricri.

— Ela acha que você não respeita as mulheres, talvez... se você a

fizesse te conhecer melhor. Mas, ainda assim, vocês estão fazendo um

ótimo trabalho, mesmo se odiando...

— Ela que pense o que quiser..., só é perigoso ela me matar antes desse

casamento sair...

Ambos rimos da minha piada.

Estamos num barzinho perto da minha casa num fim de tarde,

aproveitando um happy hour. Adoro que em Goiânia tem um Pit Dog e um

bar em cada canto.

— Pra falar a verdade, a ansiedade por esse casamento que tá quase me

matando. A minha mãe fica querendo opinar na cerimônia, ela e minha

sogra ficam discutindo na videochamada em família. Tem as pessoas que

esqueci de convidar e agora estão com raiva... o trabalho que não para de
aumentar no Dreambank. O voo da lua de mel que cancelou e ainda não

conseguiram nos realocar em outro...


— Caramba, cara. Realmente, é muito estressante, muita coisa pra fazer

e os pepinos aparecendo..., mas não se preocupe, o seu padrinho, aqui, vai

te ajudar no que você precisar. — Dou um tapa de parceiro no ombro dele.

— Ai, cara você não sabe o alívio que sinto em ouvir isso... Sabe, por

um bom tempo, eu tive medo que você nunca mais quisesse ser meu amigo.

—  E como eu faria isso? Vocês são minhas pessoas favoritas depois

dos meus pais, é claro. — Luís dá uma risada quando falo isso pontuando

com um dedo no ar. — Não teria como sentir raiva de você e ser amigo da

Kiara, vocês são como uma pessoa só. Então se ela te perdoou, quem sou eu

para não fazer o mesmo?

Luís me dá um abraço e retribuo, porque ele é o irmão que nunca tive.


Existem pessoas que não fazem nada para que você as ame, é um

sentimento inexplicável, é como se naturalmente pudesse sentir o coração

daquela pessoa, como é leve, bonito e grande.

Luís é esse tipo de pessoa, você fica mais feliz só por ele estar presente.
Eu entendo porque Kiara o chamava — e ainda chama — de luz, sei que

nós dois brilhamos por ela, mas ele deu algo que não pude dar, e sou grato

por eles se completarem de maneira tão bonita.

É difícil ser constante na vida de alguém, as coisas mudam muito


rápido, mais pessoas entram e mais pessoas saem das nossas vidas. Muitas
vezes, a intimidade e afinidade que se têm com elas vai mudando, se

perdendo... é difícil cultivar amizades genuínas. Luís e Kiara são os meus

únicos amigos de infância, todos os outros fiz na idade adulta. E, a cada dia,

alguma pessoa some e fica distante.

Com os meus melhores amigos se casando e com a idade avançando é

inevitável não pensar sobre a solidão. Ultimamente, tenho saído com muitas

mulheres para sentir que estou aproveitando a vida, para não estar sozinho e

tentar estabelecer uma ligação, uma conexão com as pessoas. Nem sempre é

preciso estar apaixonado para conseguir se conectar com alguém, muitas

dessas mulheres são minhas amigas, confidentes..., mas não é o bastante.

Acho que eu só quero ter alguém para me acolher, que se alegre pela

minha personalidade, uma para qual eu seja o suficiente... especial para essa

pessoa a ponto de ela querer passar mais tempo comigo do que com os

outros. Alguém com quem me sinta diferente e necessário.

Se existe algo que aprendi é que nem sempre temos o que queremos,

por isso preciso me acostumar a pegar o que posso quando tenho a

oportunidade. Aceito o amor, a afeição, o desejo ou a amizade que me

oferecem, porque nem sempre você fica com a pessoa que escolheu, mas

pode ficar com todas as outras.


Por enquanto, é a vida que levo e vem sendo bastante satisfatória.

Mesmo que algumas mulheres me desprezem, como a Marla, outras são

gratas por existir um mulherengo tão atencioso.

A Marla é um mistério para mim, não parece ser certinha como a Kiara,

tampouco puritana, porque já a vi mais à vontade falando coisas que

deixariam qualquer um de queixo caído. Mesmo assim, ela segue firme com

puro ódio no olhar quando se dirige a mim. Talvez ela tenha irmãos que a

implicavam com ela como faço e por isso ela desce ao meu nível de
infantilidade. De toda forma, é a minha diversão diária e vou amar vê-la

chegar ao ápice da irritação.

— Conheço esse olhar... tá pensando em fazer alguma merda, não é?

— Ninguém mais me respeita mesmo! Poxa, Luluz, até você?!

— Larga de drama e desembucha, cara

— Não tô tramando nada, é sério. Só pensando em como a Docinho

ficaria se estivesse totalmente fora de controle

— Você não vai querer ver, vai por mim.

— Você morre de medo da Kiar, por isso fala assim — digo, rindo.

— Quem não tem medo da Kiar brava não tem inteligência. E você não
viu a Marla surtando, mas eu já, você tá ficando louco se quer ver uma
coisa dessas.

— O que ela poderia fazer? Me dar um soco? Eu sou mais alto que ela,

vai ser difícil me acertar. — Dou uma gargalhada.

— Quer saber de uma coisa? Vá em frente, de todo jeito eu vou rir da

sua cara quando ela te fizer alguma coisa.

— Isso é que é amigo!

— Tô do lado da Marla nisso, você é chato demais no grupo, coitada da

menina —. Luís toma um gole da cerveja, dando risada.

— A Kiar deve guardar suas bolas na carteira dentro da bolsa.

— Dona e proprietária das minhas bolas, pode colocar onde quiser que
não ligo, ela cuida bem do noivo.

Damos uma gargalhada, dá para acreditar nesse cara?

— Mano, você não existe mesmo, pelo amor de Deus.

— Ai, cara... Você vai entender quando tiver a sua.

— Acho difícil ser rendido nesse nível.

— É a maior alegria da minha vida — Luís diz, emocionado, ao sorrir.

— Eu fico realmente muito feliz por vocês. — Retribuo um sorriso


sincero.
Brindamos ao casamento e aos casados, aos enrolados, solteiros e
safados e as pessoas que não querem nenhuma dessas coisas.

Eu senti falta disso. Quando Luís voltou, não foi apenas para Kiara,
mas para mim também. Eu tinha perdido e ganhado os dois, e era o único

que poderia entender pelo menos um pouco da dor de ambos. Foi um


presente que eu não esperava, mas sou extremamente grato. A vida, as

vezes, é assim: não te dá o que você quer, mas o que você precisa.

Tento imaginar qual surpresa a vida ainda reserva para mim.


 
“E daí se eu for
E daí se eu for mais do que você consegue enxergar?
Quando você me trata daquele jeito
Está me motivando mais”
Like That | Bea Miller

Já faz um tempo que estou planejando o casamento dos meus amigos, até
agora tudo está indo bem. A Marla é inteligente e eficiente, é fácil executar as
tarefas com ela... se não fosse por seu gênio difícil, nós provavelmente nos

daríamos bem.
Também preciso admitir que não sou nenhum santo. É divertido demais
irritá-la, não consigo me conter... Quando vejo, já estou dizendo algo que a faz

espumar de ódio, a verdade é que estou amando planejar o casamento com ela
e a Kiara. O que significa que se Marla pudesse, ela arrancaria a minha cabeça
fora e a deixaria espetada numa lança para todo mundo ver e nunca mais tirar
uma com a cara dela. Mas o que ela não percebe é isso: que graça tem ao não
curtir com a cara de uma nervosinha linda como ela? 

Nós discutimos sempre. Em qualquer lugar, até mesmo no grupo do


WhatsApp, o que a Kiara fez para não termos de nos encontrar sempre para
resolver alguma coisa:

FESTA DE ARROMBA DA KIAR (ORGANIZAÇÃO)

Docinho: você conseguiu agendar com a floricultura pra decoração?

Eu: mas é claro, que pergunta... tem alguma coisa que eu não consiga

fazer?

Docinho: não irritar as pessoas.

Eu: dispenso essa habilidade, me parece bastante inútil.

Docinho: inútil é o seu charme de araque.

Eu: o que você precisa entender, minha adorável Docinho, é que nem
sempre sua opinião é próxima da verdade.

Docinho: (revirando os olhos).


Eu: sabe, docinho, dá pra revirar os olhos de um jeito muito mais

divertido...

Docinho: Cristo, você não conhece a palavra limite, não é?

Eu: limite pra brasileiro é em município, docinho.

Docinho: pegou essa resposta do twitter de um moleque de 12 anos?

Eu: hmm, então a minha Docinho tem twitter?

Docinho: não dá pra conversar com você...

Eu: ah, vai!! Me deixa ver o seu tt, deve ter só reclamação da vida...
ksksksks

Docinho: ah, vai se foder.

Luís: kkkkkkkkkkk

Eu: quê isso, docinho? não quer vir me ajudar com isso?

Docinho saiu do grupo

Eu: kskskskskskskskkssk

Kiar: aff, gente, todo dia isso...

Luís: minha dose diária de humor.

Eu: a sua amiga é muito esquentadinha, Kiar.

Kiar: você que é insuportável quando tá implicando alguém

Kiar adicionou Docinho ao grupo


Eu: poxa, insuportável não, Kiar, só engraçadinho.

Docinho: engraçado a minha bunda, você só é chato pra caralho mesmo.

Eu: você vem colocar sua bunda na conversa e depois quer me julgar?
Então me ajuda, mulher, você facilita demais a minha vida.

Docinho: Kiara, isso é tudo culpa sua, de me colocar pra trabalhar com
esse animal.

Kiar: Tô me sentindo a mãe de vocês nesse grupo... só parem, senão vou

prender vocês dois num quarto até fazerem as pazes.

Luís: kkkkkkkkkk ela faria isso mesmo.

Eu: Nossa, isso era pra me desencorajar? Acho que você tá usando a

técnica errada Kiar...

Docinho: Eu disse que ele era um animal, Kiara!!

Sorte, ou pena, que ela não pode me ver rolar de rir no meu quarto

enquanto mando essas mensagens, minha barriga chega a doer de tanta risada
que ela me arranca.

É divertido demais e eu não consigo parar. Estou viciado em encher o saco

da Marla, ela tem o hábito, nesses momentos, de revirar os olhos quando


começa a perder a paciência, depois ela respira fundo e então, só então, quando

não aguenta mais, me manda ir a merda e me olha com profundo ódio naqueles

olhos verdes lindos demais.


No momento, penso no quanto eu queria olhá-los de perto... sentir aqueles
lábios que ela apertava em uma linha fina e que, mesmo assim, continuam

volumosos... Cara, que saco! Não posso ficar assim por ela, principalmente

porque sempre a achei exagerada demais na sua raiva pelo sexo oposto, não sei

se ela simplesmente nos odeia pelo mundo escroto, patriarcal... ou se algum


idiota machucou o coração dela.

O caso é que não devo me interessar, ela provavelmente teria asco de mim

se soubesse as coisas que me imagino fazer com ela totalmente sem querer.

Recebo uma mensagem.

Luís: Parece que você realmente tá empenhado em irritar a pobre da

Marla

Rodrigo: Pior que é totalmente natural, quando vejo já comecei a irritar a


Docinho. Nem é de propósito, juro.

Luís: A Kiar tá ficando preocupada com vocês, com medo de se matarem

no casamento (rindo com respeito).

Rodrigo: Diz pra ela ficar sossegada, vai dar tudo certo, é só bobagem

nossa.

Luís: Eu só consigo rir de vocês, não dá pra levar a sério.

Rodrigo: Nem eu consigo, parece que volto a ter 15 anos de idade ksksksk.
Faz um mês que o Rodrigo entrou para o planejamento do casamento. Eu

sei o dia porque faz exatamente um mês que perdi o pouco de paz que ainda

tinha na minha vida. Não entendo como um cara consegue ser tão irritante e

eficiente ao mesmo tempo. Infelizmente, eu preciso admitir: trabalhamos bem


juntos.

Muitas coisas nós resolvemos pelo grupo no celular, para que não

precisemos nos ver, o que eu acho maravilhoso, mesmo assim só de trocar


mensagens com o sujeito já fico irritada.

FESTA DE ARROMBA DA KIAR (ORGANIZAÇÃO)

Kiara: Chega, amados, vamos ao que interessa:  finalmente conseguimos

achar um bufê com datas disponíveis! (:

Eu: Finalmente, mesmo! Estava começando a achar que faríamos um

churrasco e cada um ia levar um prato igual fazemos no Natal.

Tormento: Isso seria ótimo, você podia fazer um churras na sua casa,
Marla. Uma festinha antes do casamento.

Eu: Só falta você dizer que essa é sua ideia pra despedida de solteiro...
Tormento: Que despedida? A Kiara quer fazer despedida pros noivos

juntos, que graça tem fazer uma festa de despedida se o casal tá junto na

mesma festa?

Eu: Deve ser porque ela conhece bem o padrinho do casamento dela e

sabe que ele seria capaz de levar o Luís pra uma casa de stripper, ou qualquer

merda assim.

Tormento: Ah, o que é isso?! Eu, no máximo, chamaria uma stripper pra

fazer um showzinho. Também não sou idiota, a Kiara me mataria e o Luís teria
que ir vendado pra aceitar participar

Luís: Fico tão feliz que nosso amigo nos conheça tão bem, amor.

Kiara: É uma benção e uma maldição.

Eu: ksksksksk eu amo que o Luís seja tão cachorrinho da Kiara, ele ia
morrer de medo dela cancelar o casamento.

Tormento: kskskskskskskssk

Luís: Tô perdendo o respeito dos padrinhos, vou fazer igual a Marla e sair
do grupo.

Kiara: Olha só! Que gracinha vocês dois se aliando pra zoar o meu
noivo... rum Deus tá vendo isso, viu?!

Tormento: Vai, lindinha, diz que não ia ficar putassa se eu levasse o Luís
pro real privê?
Kiara: Eu mato você e ele!

Tormento: kkskskskskks novidade...

Luís: Eu jamais iria, meu amor

Kiara: (emoji de coração)

Eu: Tormento, já percebeu que você só chama a gente pelos nomes das
Meninas Super Poderosas?

Tormento: Não tem nada a ver com o desenho eu chamar vocês disso

Kiara: ksksksksks é mesmo, eu nunca tinha pensado nisso.

Tormento: Gente, é sério eu não chamo por causa do desenho, não, só

aconteceu ksksksks

Kiara: Foco, galera! Amanhã às 18h30 nos encontramos no local pra

provar a comida do Nadine’s e finalmente fecharmos o bufê.

Eu: Ok

Tormento: Nadine parece nome de stripper

Eu: Lá vai ele de novo...

E é assim que passamos o mês inteiro. O Rodrigo parece um meninão


mimado, às vezes até o acho engraçado, mas não posso deixá-lo saber, porque
ele ficará ainda mais insuportável, então visto minha máscara de indiferença e

fico séria. É até ridículo que uma mulher séria como eu ache engraçado essas
palhaçadas sem noção que ele faz ou diz, mas já tive que me segurar algumas
vezes quando o alvo das piadas e implicância não sou eu.

Deus me ajude a não deixá-lo descobrir.


 
“Estou muito perturbado, é tarde demais [...]
E eu estou dentro se você estiver pronta
Estou flutuando, mas sou pesado
E eu vou te mostrar se você me deixar, garota”
Slow Down | Chase Atlantic

Quando comecei a planejar o casamento, uma das maiores dificuldades

era a escolha do bufê. Kiara, Luiz e Marla não achavam um lugar

disponível para a data, ou era de qualidade duvidosa, ou era muito caro... E


se tem uma coisa que um goiano se preocupa é com a qualidade da comida.

Seria uma tragédia fazer um casamento com comida fraca e ruim, todo

mundo sairia falando mal, pode ter certeza disso. Ainda que eu saiba que,

de qualquer jeito, vão falar mal de alguma coisa. Afinal, todo evento é

assim.

Fiquei muito feliz quando consegui achar uma opção através de um

amigo, quando perguntei para algumas pessoas se conheciam um bom bufê

para indicar. Fiquei mais feliz ainda quando pude esfregar o lugar na cara
da Marla, porque eu consegui algo, em um mês, que ela não estava

conseguindo há quase 3. Mas é claro que o melhor é ajudar Kiara e Luís, é

claro.

O relógio está marcando 18h20 e eu já me encontro no Nadine’s

aguardando meus amigos chegarem para começarmos. Marla chegou pouco

depois e, quando me avistou, torceu um pouco o nariz ao vir ao meu


encontro.

— Espero que eles não se atrasem.

— Boa noite para você também, docinho.

— Boa noite, tormento.

— Tormento?
— É como eu chamo você na minha cabeça. — Dou uma risada, essa

mulher não existe

— Então quer dizer que venho atormentando a mente da sagaz Marla

Martinez...

— Você vem atormentando a minha vida como um filme de terror.

— Não sei, não. Costumo atormentar o juízo das mulheres e não ser o

bicho papão.

— Você tem é o próprio juízo danificado.

— Por que me detesta tanto, Docinho?

— Por que não caio nesse papo mole de meninão conquistador que ama

todas as mulheres, me poupe, Rodrigo.

Bem nessa hora, os nossos amigos chegam e paralisamos a discussão.

Kiara e Luís chegam de mãos dadas, conversando animadamente e sorrindo


um para o outro, é difícil passarem despercebidos, afinal, eles são um casal

notável. São jovens, bonitos e apaixonados. É lindo de ver. Só em alguns

momentos me parece uma visão estranha.

Quando estávamos na adolescência, eu achava que, eventualmente, a


Kiara se apaixonaria por mim, que seríamos daqueles amigos que, depois de

um tempo, percebem que são apaixonados um pelo outro. Mas sempre foi
diferente com o Luís, a Kiara era um pouco reservada quando era

adolescente, ela ficava mais na dela, mesmo na nossa amizade, em alguns

momentos quando ela ficava nervosa ou animada, extravasava um pouco e


eu via sua animação mais aflorada. Mas ela se soltava mais com ele, acho

que tinham um entendimento mais profundo um do outro. Então, quando

eles começaram a namorar, não só fiquei puto com Luís por ter furado o

meu olho, como também me ressenti pela Kiara nunca ter me dado uma

chance, nunca ter me visto como opção.

Mais tarde, quando ela já estava quebrada e acabou abrindo um espaço

maior em seu coração para mim porque era solitário demais sofrer a

ausência de um amor enquanto enfrentava o medo latente de perder a única

família que tinha.

Nem tudo foi tristeza e dificuldade, tivemos momentos lindos juntos

que nunca vou esquecer. No fundo, eu sabia que ela não ficaria muito

tempo, então aproveitei o máximo tudo o que podia viver com ela, mas não

imaginava que a perderia para o mesmo cara de antes. Afinal, ele demorou

anos para voltar, mas me senti em um banco de reservas, um estepe, nunca

bom o suficiente para ocupar o lugar de titular no coração dela. Ela esperou

por ele mesmo sem ter noção disso, acho que ela não pôde evitar.
Fico pensando se tem alguém para mim no mundo como o Luís tem a

Kiara e ela o tem. Que droga! Casamentos causam esse tipo de

questionamento na gente, eu não deveria pensar nessas coisas porque tomei

a decisão de nunca mais me deixar envolver desse jeito de novo. Não é

como se fosse difícil, não é qualquer pessoa que tem a capacidade de tocar

nosso coração de uma maneira profunda. Nunca mais aconteceu comigo,

pelo menos.

— E aí, cara! — Luís me dá um abraço de brother enquanto Kiara

cumprimenta a amiga. Depois ela me dá um abraço e Luís cumprimenta

Marla com um beijo no rosto.

— Estão prontos para, finalmente, fechar com um bufê? — Marla

pergunta aos noivos.

— Eu espero não ter uma dor de barriga como tive da última vez —

Luís fala, rindo.

— Meu Deus, acho que vai demorar pra eu conseguir comer camarão
de novo — Kiara responde.

— Ainda bem que eu não fui nesse lugar — digo, rindo.

— Eu me sinto culpada por ter feito vocês irem lá, acabou que não

pude ir e nem passei mal junto com vocês por solidariedade


— Ai, Marla, o que é isso, a última coisa que a gente ia querer é que

mais alguém comesse aquilo — Luís responde.

Uma recepcionista nos cumprimenta e nos direciona para a mesa onde


vamos degustar o cardápio escolhido. Desta vez, a Kiara e a Marla

escolheram pratos mais simples, sem frutos do mar ou carmes gordurosas

demais.

Luís senta do meu lado, na frente de Kiara, sobrando assim o lugar na


minha frente para Marla, vejo que ela tenta disfarçar a torcidinha no nariz

antes de se sentar ao lado da amiga. Pelo jeito, ela não quer me olhar

enquanto degusta a comida. Mas vou adorar assistir aquela boca saboreando

tudo. Dou um sorriso de lado, olhando para ela, para mostrar que aprecio

seu descontentamento ao se sentar à minha frente. Ela respira fundo e revira

os olhos. Ah..., se eu pudesse dar umas palmadas naquela bunda gostosa

toda vez que ela revira os olhos lindos para mim, seria um homem muito

mais grato pela vida.

Certa vez, Sophie me fez ler “50 Tons de Cinzas” para ajudar a realizar

uma fantasia que ela tinha na cabeça..., agora essas coisas vivem flutuando

na minha mente.

— Olá, boa noite, pessoal! O meu nome é Tadeu e hoje vou servir

vocês e ajudar no que for preciso para atender ao evento que precisam.
Fiquem à vontade e qualquer coisa é só avisar — o rapaz ruivo nos

cumprimenta

— Muito obrigada, Tadeu. Você pode trazer a lista do que vai ser

servido para que possamos fazer um controle dos escolhidos? — Kiara

pede.

— Claro, os deixarei com vocês antes de servirem o primeiro prato.

Depois disso, iniciamos uma conversa sobre o trabalho e coisas do dia a


dia até o Tadeu voltar com a primeira entrada, que é uma salada de legumes

cozida com pedaços de queijo e azeite com torradinhas minúsculas. Esse


processo de degustar é engraçado porque são servidas porções bem

pequenas para que não fiquemos cheios antes de escolher o que se precisa,
mas a verdade é que acabamos comendo muita coisa aleatória antes de

escolher tudo.

Depois disso nos é servida outra salada, mas com vegetais: alface,

tomate, palmito e algumas frutas como abacaxi, morango e manga


juntamente com alguns pedacinhos de queijo coalho e um molho agridoce

feito com mel.

Ainda há mais outras duas opções, mas todo mundo vota pela segunda.

Então começam as entradas sem salada: patês com torradas, brusquetas,


canapés e alguns espetinhos de frios, esse eu preferi não opinar porque
gostei de tudo.

À medida que vamos aprovando, Tadeu manda as outras opções de


pratos principais: opções vegetarianas, petiscos e, no final, a sobremesa.

Tudo é selecionado com rapidez e eficiência. Marla sempre emite uma


opinião pela praticidade e nunca pelo que gostou de comer, sinto vontade de

discordar só pra causar discórdia, mas preciso colocar o casamento em


primeiro lugar.

— Você tá muito calado hoje, Rô. Gostou de tudo?

— Gostei, sim, Kiar. Sabia que, desta vez, o lugar era certeiro. Sou ou

não sou o melhor padrinho do mundo?

— Lá vai ele..., tava demorando! — Marla bufa.

— Você devia ficar feliz porque resolvi o maior problema desse

planejamento, senhora general. — Bato continência com a mão na cabeça


só para irritá-la, não sei porque gosto tanto de fazer isso, mas eu amo ver o

olhar cheio de raiva que ela me lança.

— Você se acha, não é? E General é sua bunda! Se quer bater

continência, se ajoelha porque sou uma rainha.

— Opa! Posso ajoelhar se quiser ficar nua na minha frente, docinho...


Luís começa a rir e tenta disfarçar com a mão ao cobrir a boca e Kiara
começa a tossir. Marla fica vermelha igual a um tomate. Caramba, como é

divertido deixar essa mulher durona sem graça. Ela logo se recupera,
limpando a boca no guardanapo de tecido que descansava em seu colo.

Então se levanta tão rápido que não tenho como prever o que fará, então ela
pega a taça de água que estava na frente do prato e despeja todo o conteúdo

na minha cabeça, me deixando ensopado. Levanto de súbito com o choque


da água fria e fico embasbacado, olhando para aquela terrorista.

— Puta que pariu. Não acredito que fez isso Marla!

Ela apenas cruza os braços e me encara com as sobrancelhas erguidas.

Ouço a gargalhada de Luís e, quando o encaro, vejo que ele está segurando
a barriga de tanto rir. O filho da puta... Kiara olha para nós de olhos

arregalados e fica estática na mesa.

— É o que você merece por falar qualquer merda que vem na sua
cabeça. Não vou tolerar essas cantadas ridículas que você insiste em dizer

porque adora me deixar puta da vida!

— Você já pensou que devia ter mais senso de humor? Eu faço um

serviço social tentando deixar você menos rabugenta!

— Não sou rabugenta. Você que é um pervertido!


— Você é a mulher mais rabugenta que existe. Parece até um velho

ranzinza de 90 anos!

— Foda-se. É por isso que você está ensopado, seu idiota!

Nos encaramos com ódio mortal nos olhos até que Luís e Kiara vem
para apaziguar as coisas. Me sinto grato pelo restaurante estar vazio e a

única plateia ser de alguns dos funcionários.

— Meu Deus, o que eu vou fazer com vocês? Será que preciso casar
sem nenhum padrinho? Por que não é possível que toda vez que se
comportem como duas crianças de 7 anos toda vez que nos encontramos!

— Kiara dá a bronca como se fosse nossa mãe

— Isso pra mim tem outro nome... — Luís começa a dizer, mas Kiara o
encara e ele fica mudo na hora, segurando o comentário na língua.

Kiara realmente guarda as bolas dele dentro da bolsa, dá pra ver. Mas
eu não o culpo, ela guarda a todos nós na bolsa quando ficava grilada assim.

— Eu sei que vocês não se gostam e, na verdade, isso me deixa muito


chateada. Mas será que não podem fazer um esforço para serem

civilizados?

Marla tenta se defender, mas Kiara a cala com um olhar, um que faz a

morena de cabelos curtos voltar a cruzar os braços e olhar para o outro lado.
E eu que ia começar a reclamar de ficar ensopado, recebo outro olhar da
mesma com os olhos âmbar pegando fogo. Eu sei o que eles querem dizer

“você teve o que mereceu”.

— Eu vou esperar no carro enquanto o Luís acerta tudo do bufê. Espero

que, da próxima vez que nos encontrarmos, vocês parem com essa porcaria
que está indo longe demais.

Kiara sai do restaurante e Luís dá tapinhas no meu ombro e no de Marla


como se entendesse que uma bronca de sua noiva fosse meio

desconcertante. Depois ele se encaminha para fechar tudo com Tadeu.


Marla pede desculpas ao outro garçom, que veio limpar a bagunça que ela

fez quando derramou a água em minha cabeça. Isso mesmo, ela tem a
capacidade de pedir desculpas ao garçom, mas nem se incomoda em fazer o

mesmo comigo. Vou ao banheiro para me limpar um pouco. Não acho que
mereci o banho de água desavisado, já que é meio que a nossa coisa ficar se

implicando, acho que talvez ela tenha chegado ao limite.

Quando saio do banheiro já está escuro lá fora e vejo que recebi


mensagens no celular do casal de noivos se despedindo da gente e
mandando termos juízo. Não vejo Marla em lugar algum e fico feliz por

isso, pelo menos não corro o risco de ficar mais ensopado.

Porém, tenho o infortúnio de encontrá-la esperando do lado de fora do


meu carro. O dela carro está estacionado ao lado do meu, mas achei que já
tivesse ido embora.

— O que você quer agora? Jogar um tsunami no meu carro?

— Não seja engraçadinho, vim falar que precisamos nos comportar na


frente de Kiara, ela está sob muito estresse e não quero dar mais trabalho

para minha amiga.

— O que isso significa? Que devemos brigar quando ela não estiver
olhando?

— Quer dizer que está mais do que claro que não nos suportamos.
Então se for pra ter hostilidades, que seja quando ela não estiver presente.

— Começo a rir da solução dela.

— Posso saber do que está rindo?

— Logo você... toda metida a sincera, que não pode se conter em


mostrar seus desafetos, vai começar a se segurar porque está com vergonha?

— Eu não tô com vergonha. Acho muito bem feito ver você voltar pra
casa todo molhado!

Chego mais perto dela, encarando seus olhos. Ela fica parada no
mesmo lugar e engole em seco, tentando disfarçar sua pele, que se arrepia

com a minha proximidade. Sinto o perfume suave com um toque cítrico. É


delicioso e me faz ter vontade de passar meu nariz pela extensão do pescoço
dela. Como o cabelo é bem curto, o pescoço nu parece mais sexy em
conjunto com o decote à mostra na regatinha de seda preta fininha. Percebo

que, enquanto a encaro, os bicos de seus seios ficam mais aparentes e sinto
o meu pau endurecer na hora. Será que estou imaginando coisas ou a Marla

está tão excitada quanto eu?

Volto a encarar os olhos dela.

— Pelo jeito, não sou o único a voltar para casa todo encharcado... —
Ela arregala os olhos e dá um passo para trás. — Por que está com medo,

Marla? Você pode dizer que não me suporta, mas seu corpo está mostrando
outra coisa.

— Não tenho medo de nada!

— Ah, não? Então por que se afasta se a sua pele se arrepia quando
estou perto? O bico do seu seio fica duro esperando minha língua... não é
porque não me suporta que também não me deseja.

— Você deve ter batido a cabeça no banheiro se acha que vou cair
nesse seu papinho, se meu corpo reage a você é porque tenho hormônios!
Sim, você é um cara atraente, está satisfeito? Meus peitos idiotas podem
ficar enrijecidos porque você é gostoso, mas e daí?

Eu não sei se rio ou se fico chocado com como ela confessa as coisas
depois de semanas de aporrinhação da minha parte, como se fosse algo
apenas científico sua atração por mim.

— Você é uma mulher realmente diferenciada, Marla...

Ela chega pertinho de mim, encarando o fundo dos meus olhos, quase
posso sentir os lábios grossos, mesmo com ela sendo mais baixa que eu.
Consigo sentir os peitos encostando na minha camiseta úmida, os mamilos
enrijecidos me dando uma sensação gostosa na pele... O cheiro dela me

atrai. Quero sentir cada pedaço dessa mulher com a minha boca e ainda
nem a beijei. Consigo sentir o meu coração batendo mais forte e sei que o
dela espelha o meu porque sinto as batidas retumbando em mim. Então
Marla me lança um olhar convencido, mostrando que não se deixará afetar
pelas sensações que o meu corpo despertava ao dela. 

— E você é só mais um cara idiota que conheço — diz bem baixinho.

Não sei se o fato de ela querer mostrar que sou mais um cara
descartável, ou mais do mesmo, me desperta uma certa raiva, mas isso me

leva a fazer algo que quero há um bom tempo.

Antes que ela se afaste por completo, seguro sua nuca, enfiando meus
dedos grossos no cabelo curto, colando a boca na dela. Por um segundo, o
corpo dela se retrai, mas logo em seguida Marla abre os lábios, deixando

que eu a experimente com minha língua, sinto o gosto delicioso de vinho


adocicado e Marla Martinez.
Seguro-a pela cintura, aproximando ainda mais os nossos corpos, sinto
Marla respondendo ao beijo, ela arranha minha nuca com as unhas

enquanto descansa os braços no meu pescoço, chupando a minha língua


como se fosse a coisa mais gostosa que já provou. É então que sinto o meu
pau duro como pedra contra o quadril dela, que faz questão de pressionar
ainda mais em mim. É alucinante, enlouquecedor e eu quero muito mais.

De repente, Marla se desencosta de mim como se tivesse levado um


choque, dá um passo para trás e arregala os olhos encostando os dedos nos
lábios inchados, que parecem ainda mais gostosos do que antes de eu beijá-
la. Ela parece assustada como se só agora tivesse se dado conta do que

tínhamos feito. Ela me olha como se me reconhecesse de outra maneira e


respira fundo lentamente, mordendo o lábio no final.

Puta merda, essa mulher é muito sexy.

— A gente não podia ter feito isso — declara, arrependida.

— Isso o quê? Beijar de um jeito que faça a nossa cabeça explodir?

— Eu tô falando sério, Rodrigo! Primeiro que eu não te suporto. E


segundo que preciso cumprir o período sabático.

— Período sabático?

— Prometi que ia tirar uma folga sabática dos homens por 3 anos e
ainda faltam alguns meses para acabar. Não posso beijar ninguém
Paro por alguns segundos, assimilando a informação. Período sabático?

Que porra é essa? Três anos sem ficar com ninguém? Isso é loucura, só
pode ser piada não é possível, caio na gargalhada sem conseguir me conter
depois de ouvir algo tão maluco.

Marla caminha até mim, me dando um tapão no braço e os cruzando


logo depois. olho para o seu rosto e ela parecia indignada com a minha

risada. Mal sinto o tapa, mas me faço rir mais ainda por ela ter feito isso,
gosto de vê-la reagindo as coisas que eu fazia.

—  Marla, fala sério! Não é possível que isso realmente seja verdade

— É claro que é sério. Pra que ia inventar uma coisa dessas? Acha que
porque você é um pegador incontrolável, as outras pessoas não conseguem
ficar numa boa sem isso? 

— Não, mas são 3 anos! É tempo pra caralho, não posso acreditar que

faz três anos que você não beija ninguém.

— Quase 3 anos sagrados e você veio e estragou tudo!

— Só falta você dizer agora que é celibatária...

— Vai se foder, Rodrigo! E quer saber de uma coisa? — Ela aponta o


dedo na minha cara. — Eu tô caindo fora, ou é você ou eu nesse casamento.
Não quero mais olhar pra sua cara!
Ela entra no próprio carro com tanta pressa que nem consigo dizer

nada. Dá a partida e vai embora, me deixando completamente perdido. Que


merda foi essa que acabou de acontecer?
 
“Eu não quero sentir isso, sempre fugindo
Eu realmente não preciso disso, vá em frente, leve embora
Pegue tudo, pegue tudo”
Scream Drive Faster | Laurel feat. Teddy Geiger

Faz uma hora que acordei e não tive coragem alguma de levantar. Dou

mais uma olhada no relógio do celular: 9h45. Hoje é sábado, o melhor dia

da semana, mas parece que nada tira essa sensação estranha do meu
estômago. Talvez seja ansiedade, ou eu não tenha dormido o suficiente, ou

apenas não quero admitir que o beijo do Rodrigo mexeu comigo. Foi

intenso, excitante, pareceu que só queria me jogar nele e, de repente, me vi

entregue a um beijo com um homem imbecil e ridículo. Só mais um cara


que vai me tratar como se eu fosse de plástico, sei bem como são os homens

como o Rodrigo.

No início, eles são charmosos, atenciosos, mas depois que você deita na

cama deles, eles somem; é como se você fosse um desafio que venceram e
não precisam mais se dar ao trabalho. E não, não sou uma mulher que teve

um coração partido, pois para isso precisaria ter me apaixonado primeiro, o

que nunca me aconteceu.

Sempre achei a maioria dos caras que conheci patéticos porque sempre

enxerguei o que realmente eram: homens simplórios sem propósito, sem

senso crítico ou bom gosto; pessoas que só queriam status, aparência e que,

em sua grande maioria, eram extremamente machistas.

As pessoas se perdem em ilusões, ficam fascinadas pela beleza, pelo

dinheiro ou por um sexo alucinante, mas para mim essas coisas são apenas

isso: superficialidades. É difícil achar alguém que nos enxergue, que nos

entenda, alguém que se possa confiar e conectar.

Eu observo como os homens tratam a mãe, a irmã, as mulheres à volta

deles e como geralmente elas têm um papel de servidão. Eles sempre

esperam que elas façam coisas pra eles, porém não se importam em

incentivá-las a alcançar seus próprios objetivos, ou estar presente em

momentos importantes. Os homens, geralmente, não percebem quando


essas mesmas mulheres estão tristes e indispostas a fazer alguma coisa,

mas, por ouro lado, percebem quando o irmão tem um problema, quando

um amigo não está bem.

Quando assistem algo, eles se identificam muito mais com os

personagens masculinos, as mulheres fazem o papel de irritantes, sempre

querendo atenção, sempre querendo algo que, na maioria das vezes, é o

mínimo. Aprendi a perceber tudo isso pela forma como era — e sou —

tratada em casa e fora dela; pela forma que os homens se comportam

comigo, que sou sempre vista como uma pessoa de segunda classe pra eles,

minhas prioridades sempre são vistas como trivialidade, meu corpo e minha
aparência sempre sendo mais importantes que a minha mente, que o meu

coração e a minha personalidade.

Então, como poderia me apaixonar por alguém que me vê mais como

um pedaço de carne do que como um ser humano? É isso o que eu conheço


dos homens, não fui abandonada como a Kiara, que, depois, teve a chance

de reencontrar o amor perdido. Não uso os corpos masculinos como forma

de troca como a Estela faz e também não conheci um homem incrível no

meio de tantos escrotos como a Isadora. Eu tenho 25 anos e percebi, aos 23,

que prefiro ficar sozinha do que me sujeitar a tantas humilhações apenas

para ter sexo.


Então fiz o meu voto sabático: por 3 anos eu me dedicaria a mim

mesma. Sem distrações, sem esperar uma mensagem no outro dia depois de

uma noite gostosa de sexo. Sem pensar que esse parecia diferente, sem me
preocupar porque todo mundo tem alguém e só eu não encontro... como se

fosse uma obrigação social ter um companheiro. Depois do primeiro ano,

ficou fácil. Eu percebi que não estava perdendo nada, claro que ainda sinto

falta de sexo, de ser beijada, de me sentir desejada. Mas, no final das

contas, o desgaste era muito menor, eu... estava satisfeita. Até o Rodrigo vir

e estragar tudo!

Que saco!

O beijo dele incendiou todos os poros do meu corpo, a língua dele tinha

um gosto espetacular e a pegada... Inferno de homem gostoso! Eu poderia

beijá-lo por horas... Não Marla! Isso não pode estar acontecendo!... Me

viro, frustrada, na cama ao enfiar a cabeça embaixo do travesseiro. Você

não pode querer ficar com o ex da sua amiga e, ainda por cima, o maior

“galinha” da cidade.

Eu só posso estar enlouquecendo, estou há uma hora deitada ruminando

esses pensamentos ridículos... e ainda não contei nada para a Kiara sobre ter

decidido, com o Rodrigo, que eu terminarei de planejar o casamento com

ela, sem ele.


O imbecil não saiu do grupo, então provavelmente não disse nada

também. Mas não quero vê-lo. Ele não pode me falar coisas obscenas e

ainda ter a pachorra de me beijar como se eu tivesse dado abertura... Será

que eu dei abertura? Ele estava tão sexy com o cabelo todo molhado e a

camisa ensopada... Jesus! Eu perdi todo o bom senso. Estou ferrada, é isso.

Resolvo me levantar e tomar uma chuveirada gelada pra me dar um

choque de realidade, estou precisando. Então cozinho ovos e faço café,

pego um mamão que está picado na geladeira e começo a comer na bancada

da cozinha. Moro em uma casa no Jardim Goiás, pertinho do shopping e de

tudo o que preciso, o que foi uma das coisas boas que focar em mim me

proporcionou: independência e liberdade.

A decoração é minimalista, as paredes brancas, com poucos quadros de

pinturas geométricas espalhadas, um sofá preto de couro e uma Smart TV

bem grande na sala. Alguns móveis preto e branco pra fechar a decoração

junto com a cozinha americana com cooktop e armários embutidos.

Escuto a campainha tocar e fico surpresa, já que não estou esperando

ninguém. Ainda estou de camisola, então vou ao quarto para pegar um robe

preto de cetim para vesti-lo por cima antes de atender a porta. A campainha

começa a ficar irritante quando a pessoa a aperta sem parar. Já saio de casa
e abro o portão de mau humor. Rodrigo está parado do outro lado e dá um

sorriso amarelo quando vê a minha cara, ele logo tira o dedo da campainha.

— Como sabe onde eu moro?

— Eu perguntei a Kiara, disse que precisava combinar os detalhes da

floricultura pessoalmente.

— Nós ainda não escolhemos a floricultura — digo, cruzando os

braços.

— Foi uma desculpa, docinho. Preciso falar com você, não acho que

terminamos nossa conversa no outro dia.

— Terminamos, sim. Inclusive seria muito bom se você pudesse

informar o nosso acordo à Kiara.

— Será que eu posso entrar? — Rodrigo tenta manter a paciência ao


me pedir com cautela.

Acabo deixando-o entrar, porque alguns vizinhos passam, me

cumprimentando e eu não quero que fiquem pensando que um homem está

saindo da minha casa de manhã como se fosse um namorado ou coisa do


tipo. Não que eu me importe com o que pensam, mas não seria verdade.

Abro a porta da frente, que dá na minha sala, e logo entro na cozinha

que fica ao lado. Corro para desligar o fogo que deixei ligado para cozinhar
os ovos e indico os banquinhos livres com o braço para que o Rodrigo se

sente de frente para a bancada da cozinha. Fico ali, no lado de dentro,

aguardando o que ele quer dizer, separada pela bancada para não cair em

armadilhas.

— Queria pedir desculpas pelo que aconteceu, não quero que isso nos

atrapalhe a sermos padrinhos dos nossos melhores amigos.

— Tá pedindo desculpa por me beijar?

— Tô pedindo desculpas por ter te enfurecido ao ponto de você precisar

me dar um banho de taça.

— Então você reconhece que mereceu?

— Você gosta de dificultar as coisas não é, Docinho?

— Quero saber o motivo de você sentir muito e, claramente, de não

está me dando as respostas que preciso ouvir!

— O que você precisa ouvir? Que me arrependo de ter experimentado o


gosto do seu beijo? Por que sinto muito, mas isso eu não vou dizer. Seria
uma mentira e como você não gosta de pessoas desonestas, fica meio difícil

te agradar.

— Você é impossível, Rodrigo. Como vou trabalhar com você agora?


— O que uma coisa tem a ver com a outra? Foi só um beijo, Marla... ou
para você significou alguma coisa? — Ele me olha com expectativa.

— Significou que você é um atrevido e um babaca. E não quero mais


ter que conviver com você. Não te dei o direito de me beijar, entendeu?

— Você gostou do beijo! — Ele aponta o dedo para mim, depois


levanta do banco e se apoia na bancada. — É por isso que está toda

bravinha, não é? Inventou aquele negócio do período sabático só para não


admitir que gostou de me beijar.

— Você realmente tem uma autoestima de dar inveja, Rodrigo... Jesus


tem poder! Sai da sua bolha e para de achar que tudo é por sua causa. Os 3

anos sabáticos são de verdade e eu não tenho interesse de abrir mão dele só
pra ter um envolvimento com você.

— Tudo bem, pode ser verdade essa maluquice, mas não muda o fato
de que gostou do beijo.

— Do que isso importa? Não vai mais acontecer, pode tirar o seu

cavalinho da chuva.

— Pode ficar tranquila, docinho, sou um homem paciente. Quando

você quiser outro beijo é só pedir. Prometo que não vou mais te beijar assim
sem aviso
Por que isso me deixa desanimada? Não é possível que eu queira
continuar isso sem a minha vontade consciente, é por isso que eu não quero

mais trabalhar com ele. Agora tudo será mais difícil. Sem mencionar a
audácia desse homem de vir até a minha casa e não se desculpar pelo real

problema para depois continuar com os comportamentos de sempre.

— Deixa eu ver se entendi: você vem até a minha casa, me pede

desculpas por me irritar, mas não se desculpa pelo beijo indevido e ainda
fica de zoação com a minha escolha do período sabático com piadinhas

sobre beijos futuros?

Rodrigo vem na minha direção e para na minha frente com o rosto

sério, me encarando

— Olha, Marla, eu não consigo entender esse tipo de voto e sei que
você não me deve nenhuma explicação, então peço desculpas por rir da

informação quando me contou. Eu sou esse cara que gosta de provocar


você, não porque não te respeite, mas porque é divertido. Por mais estranho

que seja, você fica adorável toda bravinha e sei que não gosta disso, mas
não consigo evitar. — Ele põe a mão no meu rosto e acaricia a minha

bochecha com o dedo. — Gostei demais do nosso beijo para não sonhar
com mais deles no futuro, mas prometo não te beijar mais até que você
queira.
Mas o que é isso? Ele está sendo fofo? Não posso acreditar que estou

vendo uma versão fofa desse homem que sempre foi um playboyzinho
mimado cheio de marra a garanhão. Gosta de me provocar... que filho da

mãe! Eu não estou entendendo muito bem o que tá acontecendo, mas não
consigo manter a irritação; de algum jeito, as desculpas idiotas são o

suficiente para mim. A mão dele ainda está na minha bochecha em um


carinho gostoso. Mesmo a mão sendo grande e forte, os dedos são um
pouco ásperos, mas a mão é macia.

— Com você me olhando assim, fica difícil cumprir a minha promessa,

docinho...

Me afasto dele como se tivesse levado um choque. Estou de robe com

uma camisolinha curta por baixo e o homem está perto demais para que eu
não sinta o sangue fluir mais rápido nas veias. Meu desejo agora está
aflorado..., tudo por causa do maldito beijo!

— É melhor você ir embora. Aceito as suas desculpas, então vamos

fingir que nada aconteceu e é melhor a Kiara não ficar sabendo de nada
disso.

— Tudo bem, eu já estou indo, mas por que ela não pode saber?

— Porque não quero saber o que ela dirá sobre a gente. — Me dirijo

para fora da casa, o escoltando a saída e explicando ao mesmo tempo: —


Somos amigos dela, provavelmente ela ficará torcendo pra algo mais rolar e

não vai rolar mais nada. — Rodrigo dá uma risadinha. — Está rindo do
quê?

Pergunto quando já estamos de frente para o portão da minha casa.

— Da maneira como você fala do futuro, decidindo tudo como se o

controlasse.

— Todo mundo controla suas ações, isso é uma forma de prever o


futuro.

— É impossível prever o futuro, Marla, mas gosto de ver você tentar.


— Ele se despede de mim ao colocar uma mecha do meu cabelo atrás da

minha orelha e pisca com um dos olhos antes de abrir o portão destrancado
para sair.

Por que parece que ele quer dizer alguma coisa com isso?
 
“Estou procurando por algo [...]
Algo diferente, algo estranho, eu quero algo novo
Estou cansado de esperar pacientemente pelo desastre”
You | Lucy Daydream

Existem momentos que transformam a nossa vida. O primeiro beijo, a

primeira vez que se apaixona por alguém, a perda de uma pessoa

importante, o primeiro luto. Coisas boas e ruins transformam as nossas

vidas, não existe uma maneira de prever quando vai acontecer, não temos
como nos proteger das mudanças. Por isso é sempre uma surpresa e era

bom que seja assim, dá mais sentido à vida, que é feita de possibilidades.

Tem algum tempo que venho sentindo uma certa estagnação, uma

inércia que me desanima. A mesmice que tira o sabor de viver, as coisas


ficam monótonas, a rotina fica sem graça e tudo parece um pouco opaco,

sem brilho. Para completar o sentimento de paralisia na minha vida, recebi

o convite do casamento da única mulher que já balançou meu coração e as

coisas foram evoluindo de maneira estranha. Pude aceitar o fato de que ela
nunca foi minha, pude ver que eu jamais faria Kiara feliz, não porque não

fôssemos adequados um para o outro, mas porque é justamente da

contradição que precisamos para evoluir.

Não acho que as pessoas precisam ser iguais para um relacionamento

funcionar. É maravilhoso ter coisas em comum para fazer juntos, ter

objetivos e opiniões importantes alinhadas, é necessário que existam


princípios parecidos. Mas a contradição deixa tudo mais intenso, mais

instigante. A dinâmica é diferente, vocês conhecem coisas que antes,

sozinho, você nunca pensaria em experimentar, vê outras maneiras de se

divertir, se arrisca a ouvir outros tipos de música, frequenta outros lugares...

é isso que move nossa existência. A mudança, a capacidade de adaptação e

a evolução.
E jamais seria assim comigo e com Kiar porque somos parecidos,

juntos sempre fazíamos as mesmas coisas, é claro que nunca fiquei

entediado enquanto estávamos juntos, mas quanto tempo isso poderia

durar? O não significa que não sinto mais dor por não ter sido

correspondido nos meus sentimentos, mas é a primeira vez que consigo

sentir um pouco daquela euforia que sentia quando estava apaixonado por
ela, e tudo isso por causa de um beijo roubado.

Não pense que me apaixonei pela Marla, nada disso. Mas gostei muito

dessa experiência, aquele beijo mudou alguma coisa. Não foi como beijar as

mulheres que costumo beijar. Foi mais elétrico, mais excitante, me senti
energizado como se uma descarga de adrenalina se apossasse do meu corpo.

A Marla mexe comigo de um jeito diferente e eu não consigo parar de

pensar nela, na boca gostosa, atrevida e petulante de língua afiada que ela

tem.

Agora ela me vem com “período sabático” e eu não sei o que vou fazer,

mas quero que esse período acabe rapidinho. Imagino que se o beijo é assim

o sexo vai ser espetacular... caralho.

Rodrigo, não vá por esse caminho...

Também não quero que ela fique desconfiada de mim como se eu fosse

um babaca que que quer apenas entrar nas calças dela. Diferente do que ela
pensa, eu não uso as mulheres como se fossem um pedaço de presunto. A

maioria das mulheres que me envolvo são como amigas, converso com elas

regularmente, conheço seus gostos e desejos, sempre estou em contato para


caso precisem de mim para alguma coisa. Não estou falando de sexo!

Caramba... quando foi que perdi o respeito de vocês? A Sophie, às vezes,

me pede para trocar o chuveiro de seu apartamento, para ajudar com

problemas no encanamento ou montar uma estante de madeira, óbvio que

não vou me negar a fazer uma coisa dessas e não sei porquê, mas,

geralmente, elas me agradecem com um belo boquete. Aparentemente, sou

um tesão montando alguma coisa suado e sem camisa...

Já fui a casa da Sabrina apenas para assistirmos um filme porque ela

estava entediada, e não ia rolar nada pois a mesma estava resfriada. Até já

levei a Daiane ao médico quando ela estava com o carro na oficina. Não

digo isso como se fosse um cavalheiro sempre bem intencionado. Mas

também não sei o motivo da Marla me achar tão sujo assim. Faço piadas

indecentes por adorar irritá-la e... sinceramente? É muito fácil fazer isso, a

mulher não consegue tolerar esse tipo de liberdades e eu apenas me acabo

de rir já que não dou a mínima.

Quero beijá-la de novo e, pela nossa última conversa, não acho que vai

demorar muito. Ela pareceu tão mexida quanto eu, tentando me evitar a

todo custo, querendo que parássemos de planejar o casamento. Sei que


também ficou com raiva do meu atrevimento, mas não me arrependo nem

um pouco. Infelizmente, fiz aquela promessa idiota e preciso esperar que

ela me beije... preciso dar um jeito de fazer isso acontecer.

Algumas coisas do casamento já estão acertadas:

Os convites (obviamente);

O local da cerimônia;

Serviço de baristas e bebidas;

Bufê e serviço de garçons;

Resta, agora, escolher o DJ que vai tocar. A Kiara disse que prefere

discotecagem à música ao vivo e o Luís concordou. Então precisamos

correr atrás da música e pedir a lista de músicas que não podem faltar na

cerimônia. Falta também: decoração; escolher a floricultura e os arranjos de

flores; o bolo, os doces que o bufê não se encarrega; o vestido, o terno do

noivo, a roupa dos padrinhos e, claro, a despedida de solteiro.

Só sei dessa lista porque a Marla deixa essas informações na descrição

do grupo para todo mundo acompanhar. Obviamente nunca ia conseguir

lembrar de tudo isso, mas adoro a cara de desaprovação que ela faz quando

peço para riscar algo da lista, é como se ficasse agradecida pelas coisas

estarem indo para a frente, mas odiasse o fato de ser eu o responsável por

alguma tarefa cumprida.


Por isso verifico uma nova mensagem no grupo:

FESTA de arromba da Kiar (organização)

Kiar: cri cri cri

Docinho: ?????

Kiar: ninguém disse mais nada depois do que rolou no restaurante. Tá


tudo bem com vocês?

Eu: relaxa, lindinha, tá tudo tranquilo.

Kiar: hmm

Docinho: é verdade, amiga, tá tudo bem. Inclusive, vou mandar as

fotos dos arranjos de flores para você escolher o que vamos usar pra

enfeitar o casamento.

Kiar: AAAAAAAA manda tudoo

Pelo visto, a Marla continuou o planejamento sem me falar nada. Mas

tudo bem, não entendo muito de flores e tem duas coisas que quero muito
fazer: a despedida de solteiro e a escolha dos Djs. Para isso, suspeito que

terei que visitar algumas festas ou eventos dos Dj para escolher, o que vai

ser bem divertido de fazer. E a outra ainda preciso pensar bastante, porque

nunca fiz uma despedida de solteiro para um casal.


Luís já tinha falado que não se interessava em fazer despedida de

solteiro, a menos que fosse algo divertido para se fazer com a Kiara. Sim...

o cara simplesmente não vê a hora de casar e mudar seu estado civil. Já a

Kiara não demonstrou entusiasmo também. Geralmente, a madrinha faz a

despedida da noiva e o padrinho a do noivo, mas como os noivos são tão

grudados que não se interessam por encher a cara longe um do outro, vou

precisar fazer para o casal. Por isso ainda estou pensando no que fazer e vou

precisar da ajuda da Marla.

Como a despedida é uma surpresa, eu não posso planejá-la com os

noivos, por isso envio uma mensagem para Marla no privado.

Eu: precisamos organizar a despedida de solteiros conjunta

Docinho: É claro que você se preocupa mais com a despedida de

solteiro do que com o chá de panelas...

Eu: Eles já têm panelas. Cada um morava sozinho e agora já dividem

o mesmo apê. Suponho que tenham mais panelas e utensílios domésticos do


que precisam. O que faltar a gente coloca na lista de presentes...

Docinho: Sinto que vou me arrepender disso, mas o que você está
pensando em fazer?

Eu: Que tal uma Pool Party?


Docinho: Festa na piscina? Parece coisa de universitário. Ah, não,
pensa em algo mais adulto...

Eu: Qual é o problema docinho? Tá com medo de derreter seu açúcar


na água?

Docinho: Jesus... suas cantadas estão cada dia piores, não acredito
que você consiga ser pegador com esse papinho...

Eu: tenho certeza que acreditou bem no outro dia...

Docinho: esse assunto é proibido!!

Eu: tudo bem, minha doçura, você que manda!

Docinho: Tormento dos infernos! Não sou nada sua, para de me


chamar de doce!

É por isso que amo as nossas conversas... eu morro de rir quando ela
fica nervosinha, só quero ver o que ela dirá se ficar sabendo de como salvei

o contato dela no meu telefone.

Eu: Relaxa, docinho... Se não gostou da ideia, então me sugere alguma

coisa.

Docinho: A gente podia dar uma House Party com luz neon e shots de
gelatina...
Eu: Agora quem está com vibe de festa universitária? Na verdade, eu
acho que ia em House Party quando era adolescente...

Docinho: Não importa. Acho que os noivos iam gostar, afinal a festa é
pra eles...

Eu: E por que eles não iam gostar de festa na piscina?

Docinho: Porque a Kiara odeia nadar e teríamos que alugar um local


com piscina aquecida já que a festa será de noite, e a House Party podemos

fazer na sua ou na minha casa, melhor que seja na sua...

Eu: A Kiara odeia nadar? Desde quando? Bem... não me oponho, mas

vão ter strippers!

Docinho: tudo bem, desde que tenha um homem stripper e uma mulher.

Eu: Agora você me surpreendeu! Acho justo, já que vai ser uma festa
pro casal, a gente coloca duas cadeiras uma ao lado da outra e os dois

strippers ao mesmo tempo dando bebida para os noivos!

Docinho: Você não tem jeito mesmo...

Eu: O que é que tem? Eles não são ciumentos assim, vão levar numa

boa

Docinho: Não é por isso, é que você gosta de putaria. Eu já devia

imaginar com aquela suruba que fez na sua casa outro dia.
Eu: Só pra você saber, suruba é entre 4 pessoas ou mais, aquilo era um

ménage. Mas não se preocupe, docinho, eu ficaria mais do que satisfeito


com você em minha cama.

Quando falo isso, vejo que a foto do perfil dela some e imagino que fui
bloqueado. Dou risada, porque a Marla não consegue lidar com a minha

cara de pau. Será um longo caminho até o final desse casamento.


 
“Eu sinto que minha mente está lentamente enfraquecendo
Se eu continuar, não vou conseguir
E é tudo por sua causa”
I Was Never There | The Weeknd feat. Gesaffelstein

Quando aceitei participar da organização do casamento, eu pensei nas

várias coisas que teria para fazer até a cerimônia, mas, com certeza, não

imaginei que teria que acompanhar o Rodriga até uma balada.


Parece uma grande piada do universo: eu parar numa droga de festa

para escolher um DJ com o Rodrigo. Faz um tempo que eu quero sair um

pouco e espairecer a cabeça, mas me diz como fazer isso se a minha

companhia é o idiota do cara que me beijou sem permissão? Como posso

relaxar sentindo os olhos dele em mim o tempo inteiro?

— O próximo DJ é o que conversei por mensagem, Marla. Ele me

passou o orçamento dele e me convidou para conferir o trabalho dele aqui

— Rodrigo fala alto e próximo do meu rosto, para que eu consiga ouvi-lo
acima do som do lugar.

— Não acredito que vim parar numa balada com você — digo, próxima

do ouvido dele, já que sou mais baixa.

— Ah, o que é isso? Sou uma excelente companhia em baladas... e esse

lugar é novo, vale a pena conhecer!

Estamos na boate Star Lounge, ela foi inaugurada há uns 3 meses e

gerou muito burburinho quando abriu. Em Goiânia todo mundo ama

novidades, as vezes um público inteiro de um local migra para outro assim

que tem coisa nova na cidade, o que faz a competição por eventos ser bem

acirrada. A Star Lounge é toda azul e amarela, usando as cores de um céu

estrelado. O espaço é escuro por dentro, com luzes azuis que vão das

paredes ao teto, fazendo uma espécie de arco, mas no formato quadrado do


local. As luzes amarelas aparecem em intervalos, de acordo com a batida da

música. A cabine do DJ fica ao fundo, mas é bem destacada por estar no

alto do palco para toda a pista ver.

O espaço também é dividido em 3 partes: a pista gigantesca bem

ventilada e iluminada com os bares nas laterais, o fumódromo no terraço,

que tem outro DJ tocando coisas completamente diferentes e outro bar. E

uma espécie de restaurante-bar antes de entrar para a pista onde dá para

ouvir a música ao longe, lá são servidos hambúrgueres e petiscos, além de

ter mesa para quem quiser se alimentar para recarregar as energias.

O lugar é incrível.

— Para quem não queria vir, você tá bem arrumadinha nesse vestidinho

vermelho... — Rodrigo fala perto da minha orelha, depois me olha de cima

a baixo com olhos pecaminosos, me dando um frio na barriga irritante.

— Não é porque não queria vir com você que apareceria aqui de

qualquer jeito.

— Como está no seu período sabático, imagino que não quer aproveitar

pra beijar nenhuma boquinha essa noite...

— Se estiver se oferecendo, muito obrigada eu passo. E, sim, continuo

me abstendo de beijar bocas...


—  Você não existe, docinho. — Ele balança a cabeça, sorrindo. —

Vem, vamos pegar uma bebida!

Rodrigo me oferece a mão e o meu coração acelera no mesmo instante.

Fico chocada com a reação do meu corpo ao gesto simples. Ele está tão

bonito e tranquilo, tão confortável na própria pele, os olhos brilham para


mim e o sorriso cafajeste de lado me deixa abalada, o sorriso dele é sua

marca pessoal, não estampa o rosto bonito por uma tentativa de sedução, ele

é apenas realmente charmoso. O pior tipo de homem para ser charmoso.

Acho que penso por tempo demais, pois ele continua:

— Tem muita gente aqui. Vamos nos perder desse jeito. Relaxa, você

não vai engravidar só por pegar na minha mão. — Ele dá um risinho e pisca

para mim.

O pior é que acabo rindo da piadinha ridícula de celibatário. Seguro na

mão dele, que nos guia até o bar do outro lado da pista. Enquanto andamos

pelo lugar abarrotado de gente, encostando em pessoas sem querer, sinto

Rodrigo acariciando minha mão com o dedão e automaticamente me vem

uma pontada no estômago.

O que está acontecendo comigo?

Rodrigo precisa voltar a ser insuportável logo, porque essa faceta fofa

amolecia meu coração e eu não sei lidar com uma Marla de coração mole.
Peço, aos berros, ao barman uma Gin Tônica e depois de 5 minutos

consigo minha bebida, vejo que Rodrigo pegou um uísque com energético.

Mmm... a típica bebida de hétero top.

— Está analisando a minha bebida?

— Dá para ler uma pessoa pela escolha das bebidas, sabia?

— Duvido muito. — Ele sorri. — E o que a minha escolha te diz?

— Homem que não bebe cerveja geralmente se preocupa com o físico,

uísque é bebida de homem padrão.

Rodrigo sorri e me olha como se devesse ter se ofendido, mas não está

nem um pouco.

— Você não acha que tá muito velha para ser levada por estereótipos,

docinho?

— Estou errada?

— Bem, eu evito cerveja, sim... Não que eu não goste, mas perder

aquela barriga é difícil e as mulheres adoram esse tanquinho trincado...

você também me agradeceria se usufruísse dele sabe... — Reviro meus

olhos para ele

— Estava demorando, não é?


— A minha nova missão de vida é fazer você me provar de novo. —

Ele me dá um daqueles sorrisos safados que faz a minha respiração ficar

acelerada.

Inferno de homem!

Estou ficando cada vez mais afetada por ele e isso não é nada bom,

ainda mais porque acredito que ele está percebendo tudo.

— Então perca suas esperanças, aquilo não vai mais acontecer!

Rodrigo parece não me escutar, pois se aproxima de mim como se não

tivesse entendido uma palavra e fala bem pertinho do meu rosto:

— Queria entender melhor esse voto que você fez.

— Como assim?

— Tem alguma coisa que seja permitida?

— Não posso transar e nem beijar ninguém. — Quando ele fica assim

tão perto, eu me sinto como o João Grilo no Auto da Compadecida,

reclamando da promessa.

Mas o que raios está acontecendo comigo?

— Então posso tocar em você assim? — Ele põe a mão livre na minha
cintura e se aproxima como se fôssemos dançar, depois fala no meu ouvido:
— Podemos dançar assim? — Sinto o meu corpo respondendo a ele quando

coloco minha mão livre no seu pescoço.

Ele acaricia meu braço com a costa da mão que segura o copo de

uísque, sinto a barba roçar na minha bochecha quando dançamos

juntinhos... Depois Rodrigo deposita um beijo casto no meu pescoço, o que

me deixa pegando fogo.

O filho da puta está tentando me seduzir?! Me afasto dele, devagar,

percebendo o que o salafrário quer fazer... se ele acha que não consigo jogar
esse jogo está muito enganado.

— Está tentando me seduzir, tormento?

— Está funcionando? Você tem um cheiro maravilhoso sabia, docinho?

— Claro que sei..., mas não sou pro seu bico.

Rodrigo dá uma gargalhada.

— Está com medo de querer me beijar de novo, Marla?

Chego bem perto dele e faço um desafio:

— Talvez você esteja com medo de se entregar e fique por aí me


cantando como se eu fosse mais uma pro seu álbum de figurinhas, quer

apostar quem arrega primeiro?


— Quero saber o que eu poderia perder com uma aposta dessas, até
agora não vi nenhuma desvantagem...

— Se eu te seduzir... você vai parar de ser tão implicante comigo e vai


desistir desses flertes e tentativas de sedução.

— E se eu ganhar? Se você me beijar... o que eu ganho?

— O que você quer?

— Um encontro com você, de verdade. Sem jogos.

— Olha só... e eu achando que você me pediria uma noite casual.

— Quando formos transar, quero que você esteja louca pra dar pra

mim, docinho. Jamais apostaria uma coisa dessas.

As palavras dele me deixam úmida no mesmo segundo. É

impressionante como ele consegue me desarmar sendo um filho da puta


gostoso.

— Isso nunca vai acontecer, Rodrigo!

— Então temos um acordo? Quem beijar o outro primeiro perde. — Ele


estende a mão para um aperto, propondo selar a aposta.

Agarro a mão dele, fechando o maldito acordo. Rodrigo me dá um


sorriso “arranca calcinha” que me tira do sério. Eu devia estar louca quando
propus uma coisa dessas... Tamanha é minha vontade de que ele pare com a
azaração, que acabei oferecendo essa aposta ridícula.

— Olha lá, docinho. — Rodrigo aponta para o palco. — O nosso DJ vai


entrar.

Caminhamos para longe do bar e ficamos no meio da pista perto de


uma mesinha redonda. E assim começam as batidas de “I Was Never

There” com um remix mais carregado do DJ Lawdy. Como eu adoro o The


Weeknd, para mim o Dj começou muito bem.

Sinto Rodrigo atrás de mim quando coloca o copo vazio de uísque na

mesinha ao nosso lado. Ele passa os dedos pelo meu cabelo colocando uma
mecha atrás da minha orelha, se inclinando e falando no pé do meu ouvido:

— Podemos dançar? Acho que isso também vale como um teste dos
padrinhos escolhendo o melhor DJ.

Viro meu rosto para olhá-lo e pergunto:

— Já quer começar a aposta?

— E por que não?

Ambos sorrimos com o desafio. Eu me encosto nele e começo a mexer


os quadris seguindo as batidas da música, ele aumenta o sorriso ao sentir a
minha bunda pressionando em cima do seu pau. Passa o braço ao redor de
toda a minha barriga, deixando a mão na curva da minha cintura, me

segurando firme em seu corpo.  Ele passa seu nariz em meu pescoço,
Rodrigo segue minha dança e rebola comigo enquanto a música toca. Quem

nos olhar desta forma pode até achar que somos alguma coisa um do outro,
e eu dou graças a Deus que a Kiara e o Luís não puderam comparecer.

Logo o sinto endurecer na minha bunda, claro que esse era meu
objetivo, mas eu não esperava me sentir tão afetada pelo contato... É

gostoso sentir o pau duro contra mim. Eu me sinto sexy, sedutora... algo que
não sentia há muito tempo.

— Você tá fazendo um ótimo trabalho ao me deixar louco com essa


bunda gostosa no meu pau, essa é a melhor aposta que já fiz na vida.

— É mesmo? — Me viro para ele e deixo o meu copo de bebida vazio


na mesinha da pista. Coloco meus braços ao redor do pescoço de Rodrigo e

encaro seus olhos lançando meu melhor olhar 43. É melhor acabar logo
com isso.

— Você fica tentadora me olhando assim... pressionando esses peitos


lindos em mim — Ele passa o dedo no meu queixo e depois acaricia meu

lábio chegando perto... isso!

— Mas está muito enganada se acha que vou acabar com toda a

diversão tão rápido, docinho — Ele pisca para mim e morde de leve o meu
pescoço, me deixando arrepiada.

Que ódio! Onde eu estou com a cabeça?

Ele é o maior “galinha” que eu conheço, claro que não vai ceder tão
rápido.

— Você é um idiota, sabia?

— Sabia, sim. Mas sou o idiota que vai te venerar como uma deusa

quando estiver na minha cama. — Dou risada.

— É sério que isso funciona com alguém, tormento?

— Me diz você... — Rodrigo prende o meu cabelo em sua mão, que


entra por baixo dos fios pela minha nuca. Se aproxima, colando meu corpo

ao dele e apertando minha bunda com sua mão livre... Jesus!

Eu devia ter criado algumas regras, aparentemente por não poder me


beijar, ele está explorando muitas possibilidades. Então por ver meus olhos,
que devem estar tão quentes quanto os dele, Rodrigo cheira o meu pescoço

e sinto a barba roçando ali enquanto ele lambe atrás da minha orelha.

Puta que pariu!

Eu estou ficando louca com a pegada do tormento, isso não pode

acontecer... a minha calcinha está ficando encharcada para valer.

— Tá funcionando, docinho?
— Você é um filho da puta, sabia?

— Um filho da puta de um gostoso, isso sim... Você quer me beijar,

docinho?

Inferno de homem!

Descolo meu corpo do dele e tento me recompor...

— Pelo jeito, a nossa aposta vai durar por algum tempo, minha querida
Docinho.

Que aposta desgraçada! Que aposta sem jeito!

O pior é que eu não posso nem culpar a bebida porque só tomei apenas

um drink! O que eu vou fazer?

— Calma, não precisa me olhar com esse ódio todo! Vem, vamos pegar

mais um drink, eu pago.

Ele estende a mão para mim e eu a pego, mesmo sabendo que é uma

péssima ideia continuar bebendo. Mas estou me divertindo e, pela primeira


vez, não me preocupo muito com o que acontecerá depois.
 
“Algo sobre você
É como um vício
Me acerte com o seu melhor tiro, querida”
Certain Things | James Arthur

Faltam 3 meses para o casamento


 

Acordo mais cedo do que de costume e, por mais que eu tente, não

consigo voltar a dormir. Não paro de lembrar da boca petulante, do cheiro


gostoso e da sensação da pele macia contra a minha enquanto dançávamos.

Faz mais ou menos 5 dias que a Marla não sai da minha cabeça. Fico

pensando se isso é apenas tesão, ou se estou mais ansioso pelo desafio ou

porque simplesmente gosto dela. Não é nada demais, gosto de várias

mulheres, elas são minhas amigas, amantes e algumas até companheiras.


Mas, geralmente, gosto das mulheres com as quais já me envolvi, não me

lembro de ficar enfeitiçado por uma mulher que ainda não tenha passado

pela minha cama. Não desde a Kiara, pelo menos.

Sinto Sophie se mexendo no colchão, ela boceja antes de olhar para

mim e dar um sorriso. Depois se aproxima de mim, colocando uma perna

entre as minhas e apoia o cotovelo no colchão ao descansar o rosto em sua

mão.

— Bom dia, lindo!

— Bom dia, Soph!

— Tô te achando um pouquinho estranho, sabia?

— Como assim gatinha? — Passo a mão pelo ombro dela, fazendo uma
pequena massagem.

— Você tá meio desligado, distante... aconteceu alguma coisa?

— Não, neném. Eu tô ótimo.


— Hmm, você tá gostando de alguém?

— Desde quando a senhorita se preocupa com esse tipo de coisa?

— Desde que percebi que você tá meio no piloto automático. E se você

me chamar de outro nome na cama, eu juro que te dou um chute nas bolas

Dou uma gargalhada

— O que é isso, gatinha! É claro que não.

— Se fosse outro dia, você teria me acordado com vários beijos e uma

ereção perfeita na minha bunda.

— Não seja por isso, ela pode aparecer agora mesmo.

— Agora não quero, você tá pensando em uma bunda que não é a

minha...

Sophie é um pouquinho ciumenta. Eu não tenho compromisso com

nenhuma das mulheres que costumo sair, mas a gente tem um acordo

implícito de que quando estivermos juntos, seremos 100% focados um no

outro. E, aparentemente, eu não estou nada focado. Consigo contornar a

situação dando uma bela chupada de “bom-dia” na Sophie e me delicio com

o sexo matinal gostoso que fazemos quando ela deixa a preocupação de


lado.
Isso está começando a me preocupar. Não posso ficar desse jeito por

causa de um único beijo, que tipo de homem fica assim por causa de um

beijinho? É vergonhoso.

Hoje preciso me encontrar com a Marla e a Kiara numa confeitaria para

ajudar a escolher o bolo. Fizemos uma aposta e preciso ganhar para que eu
pare de pensar tanto sobre isso.

Estamos na quarta confeitaria da lista que Kiara selecionou para

conhecer os produtos. Visitamos uma por dia essa semana, sempre antes do

trabalho ou no horário de almoço. Não é tão demorado quanto o bufê, já

que nós só degustamos os bolos e, caso o bolo seja aprovado, partimos para

alguns dos doces oferecidos. Até agora a segunda opção da lista está

ganhando das demais.

Quando chego no local, vejo Marla sentada na mesa enquanto olhar

para o celular.

— Boa tarde, docinho! — Puxo uma cadeira na frente dela para me

sentar.
— Boa tarde, tormento!

— Cadê a Kiara?

— Ela não vem, acabei de receber uma mensagem. Ela disse que

precisou fazer uma reunião às pressas no Dreambank porque tiveram um

probleminha.

— Mas ela quer que a gente prove os bolos sem ela?

— Vamos experimentar e eu levarei um pedaço dos que mais gostarmos

para ela escolher, já combinei tudo.

— Sempre eficiente...

— Sempre! — Ela dá um sorriso confiante.

Marla está com uma camisa social branca, de um tecido fino que parece

seda. Não consigo reparar muito na saia preta porque ela já estava sentada

quando cheguei, mas não me passa despercebido que é justa e, com certeza,

deixa a bunda dela perfeita bem marcada. Ela também está usando um

scarpin de salto alto vermelho que combina perfeitamente com o batom que

frequentemente está cobrindo os lábios volumosos.

Ela me vê reparando em sua camisa e abre um botão que revela boa

parte dos seus belos peitos. Olho para o seu rosto quando faz isso e ela me
dá um sorriso safado com os lábios fechados, destacando a boca pintada de

vermelho sangue, que logo desperta meu pau.

— Tá tentando me seduzir, docinho?

— Claro que não, só fiquei com calor... Você que não para de encarar

os meus seios.

— Fica ainda mais difícil agora que facilitou tanto essa bela vista.

Uma atendente vem até a nossa mesa. Quando pedimos a degustação

agendada por Kiara, ela informa que tudo já tinha sido programado por ela,

então apenas mostra quais do cardápio virão e disse que seremos servidos

com os 5 escolhidos.

O primeiro é recheado com nozes, ganache de chocolate e a cobertura

de brigadeiro. Particularmente, gosto muito desse. Observo a Marla colocar

a pequena colher na boca e os lábios ficam instantaneamente maiores

enquanto mastiga, nunca prestei muita atenção nisso, mas é sexy assisti-la

comer, principalmente quando  um pedaço da cobertura cai em seu dedo e

ela o chupa de um jeito que me faz pensar naquela em volta do meu pau.

Essa mulher está me fazendo perder o juízo...  não posso me esquecer que

esse jogo é justamente sobre quem sucumbe primeiro. Fica ligado, Rodrigo,

hoje ela está usando muito bem as armas que tem. Ela lambe os lábios e me

olha, dando um sorrisinho.


— O que foi? Não gostou do bolo?

— Gostei até demais, talvez seja o melhor bolo que tive o prazer de

comer.

— Gostou do bolo ou da vista? — Ela sabe o que causa em mim e isso

me deixa ainda mais excitado. 

A Marla está me provocando de propósito.

— Não sabia que você tinha tanto domínio na arte da sedução, querida.

— Eu não tenho, mas você parece se impressionar com coisas bestas


desse tipo... — Ela pega o último pedaço do bolo e dá um gemidinho de
prazer maravilhoso quando o coloca na boca, mastigando e sorrindo pra

mim de forma descarada.

— Você é má, mas eu gosto de garotas malvadas

— Ah, é? Que tipo de coisas elas costumam fazer com você?

— Não quer saber o que eu costumo fazer com elas?

Marla engole em seco, mostrando que também não é imune a mim. Eu

estou gostando mais disso do que deveria, meu sexto sentido tenta me
avisar, mas estou ignorando-o com sucesso.

— Não vou nem responder, só quero me livrar de você.

— Não é o que tá parecendo...


— Faz parte da aposta!

— Pode continuar dizendo isso para si mesma enquanto imagina coisas

comigo quando não estou por perto...

Marla dá risada e não consigo parar de pensar que, se fosse antes, ela já

teria jogado um prato na minha cabeça. Literalmente.

— Sabe qual é o seu verdadeiro charme, Rodrigo?

— Meu rosto bonito e meu corpo sarado? Ou meu sorriso que deixa as

pessoas vermelhas?

— Você deixa as coisas mais leves, faz a gente não levar tudo tão a

sério.

As palavras me surpreendem, eu nem sei o que responder. Achei que

ela fosse debochar de alguma coisa, mas ela é apenas sincera. Eu sei que é
um elogio, mas as palavras me fazem pensar na Kiara. Na maneira como

não passei de um consolo para a alma dela, em como ela só queria


exatamente isso, ficar mais leve, não levar os problemas tão a sério.

Mas eu não sou um alívio cômico, um remédio para a tristeza ou uma


distração. Sou uma pessoa que merece ser amado como qualquer outra. O

fato de passar por muitas relações sem compromisso faz com que as
pessoas não me levem a sério... como se eu só servisse para relações

superficiais. Raramente penso nisso porque não quero namorar com


ninguém, mas o elogio de Marla me faz pensar na maneira como ela me
enxerga.

Mas... desde quando me importo com o que ela pensa sobre mim?

— Tá tudo bem? Você ficou todo calado.

— Está, sim, acho que não esperava um elogio vindo de você. Só isso.

— Ah, eu também não sou um monstro! Só tenho dificuldade de gostar


de pessoas que desfilam com mulheres como se fôssemos um acessório.

— E você nunca pensou que talvez elas me vejam exatamente assim?

— Pode até ser, mas, no momento que você quiser algo sério, ninguém
vai te julgar, agora imagina o que aconteceria se fosse uma mulher?

— Bem, essas pessoas são idiotas e se o cara não quiser namorar com
ela por isso, ele é um baita de um babaca; é melhor que ela não fique com

alguém assim.

Marla me dá um sorriso

— Sim, ele seria.

Logo começam a trazer os outros bolos, todos são muito saborosos, esta

é, definitivamente, a melhor confeitaria que visitamos; todos os bolos são


bem recheados, com o doce na medida certa e não estão secos, além de

serem muito bonitos. Mandamos foto no grupo de cada um e o que estamos


achando, mesmo que a Marla vá levar um pedaço para os noivos

escolherem depois.

— Missão cumprida, padrinho. O bolo campeão vai sair dessa seleção

aqui.

— Trabalhamos bem juntos, madrinha. — Dou um sorriso.

— Trabalho bem com qualquer um, mesmo quando a pessoa é

desagradável.

— Agora, sim! Não posso me acostumar com elogios da sua parte, tava

começando a me assustar.

Ela dá uma gargalhada.

— Você não tem jeito, né?!

—  Acho que me dá tesão ser pisado... sabe a coisa do “apanhar de

mulher bonita”?

Ela revira os olhos e voltamos as implicâncias de sempre. Eu posso ter

ficado um tanto incomodado com o elogio, mas também me sinto um pouco


assim com ela: não levo muito a sério os ataques de raiva, acho que até

gosto de despertar emoções fortes na Marla, mesmo que não sejam boas.
Talvez isso seja problemático, mas ainda não conheci uma pessoa que não

seja pelo menos um pouquinho, então acho que estamos bem.


 
“E está tudo bem
Para derrubar o que tem sido uma parede
Tem sido uma espera
Agora é assim que a vida atinge
E isso é o que parece
Estar vivo”
It's Ok | Frida Sundemo

Estão acontecendo coisas estranhas no trabalho. Primeiro foi o desvio

de pagamento dos impostos da frota de caminhões — o qual encaminhei


tudo para os donos da empresa, mostrando que tinha sido realizada toda a

papelada e que o setor financeiro foi o responsável pela falta de pagamento.

Mesmo assim, levei um esporro enorme dos meus chefes, dizendo que eu

deveria ter me certificado da finalização do processo. E eles estavam certos.

Essa foi apenas a primeira de muitas coisinhas que andavam

acontecendo, depois veio o atraso nas entregas sem motivo, reclamações

anônimas ao RH, sobre mim, que não faziam o menor sentido, dentre

atrasos em demandas e insubordinações. Fiquei no auge do estresse quando


recebi vários e-mails, endereçados pessoalmente a mim, dizendo que

alguém do atendimento encaminhou o caso deles para que eu resolvesse.

O que não tem o menor cabimento, eu sou a diretora da Conectlog, não

tiro dúvidas do setor de atendimento, para isso existem os supervisores de

atendimento... É como se estivessem jogando todo o serviço da empresa

para mim.

Tudo estava cheirando a boicote, só não consigo entender quem está

por trás disso, mas vou descobrir e se estão achando que vou aceitar essas

palhaçadas calada, eles estão muito enganados. Chamo o meu secretário e

peço que convoque uma reunião às pressas com todos os chefes dos setores.

Não é a primeira vez que tentam me fazer dar um escândalo na empresa

por me colocarem nessas situações absurdas, é uma competição idiota e


querem me fazer perder a compostura centrada e firme que sempre tive aqui

dentro. Às vezes, é sufocante perceber que não posso mostrar o meu lado

humano e amigo para as pessoas, pois, se eu fizer isso, nunca teria chegado

onde estou.

Nem sempre as pessoas querem que você cresça e alcance sucesso,

muitas vezes eles querem que você receba migalhas porque é isso que

pensam que merece. Mas eu não me preocupo com o que querem me dar, se

quero uma coisa eu luto até conseguir. E como dizia Zagalo “eles vão ter

que me engolir”.

Mais tarde, na sala de reuniões, aguardo de pé até que todos se sentem e


estejam acomodados. Antes que eu comece a falar, Jaíltom já se pronuncia:

— Estou curioso para saber o motivo dessa reunião tão essencial que

me fez atrasar várias ligações importantes...

Jaíltom é o chefe do setor de vendas, o carro chefe da empresa, porque

é com eles que os clientes contratam nossos serviços de entrega. Trabalhei

lado a lado com ele por bons dois anos e sei muito bem que ele me odeia,
poiso meu trabalho é impecável e ele nunca pôde me demitir. É claro que,

para piorar, eu fui promovida ao cargo que ele almejava. Não acho que os

salários se diferem tanto assim, acredito que ele queria apenas ser o
mandachuva de tudo, já que está na empresa 3 anos a mais que eu, e muita

gente torceu o nariz para mim quando, na concepção deles, peguei o cargo

dele.

Isso não passa nem perto da verdade, eu sou mais qualificada que ele.

Falo inglês fluentemente, sou formada em administração, tenho MBA em

gerenciamento de projetos e sou pós graduada em gestão empresarial. É por

isso que o casal dono da Conectlog me colocou onde estou, foi por puro

suor e competência, não parei de estudar um minuto desde que entrei aqui e

vou deixar que tirem isso de mim.

— Provavelmente elas não são tão importantes assim se, às 11h30, você

ainda não as fez!

Ele apenas respira e se cala, dando um sorriso irônico para mim.

— Chamei vocês aqui porque estão acontecendo várias coisas

inexplicáveis que estão atrapalhando o andamento das rotinas da empresa.

Preciso que encontrem os responsáveis por essas coisas, ou a

responsabilidade vai ser de vocês!


— Está falando de que coisas, Marla? — Lúcia levanta a mão antes de

perguntar.

— Atraso de pagamentos, atraso de entregas, clientes me ligando

porque o valor cobrado está errado do acordado... e agora até mesmo

clientes que vem do SAC (7) me perguntando coisas que qualquer

representante de atendimento poderia ter respondido.

Digo tudo olhando para os funcionários de cada setor que são

responsáveis por essas questões: financeiro, pedidos, vendas e setor de

atendimento.

— Me desculpe, mas esse não é o seu trabalho? Coordenar todo o

funcionamento da empresa?

Vejo algumas pessoas concordado com a cabeça após a afirmação de

Jaíltom

— O meu trabalho é administrar todos os setores da empresa como um

todo. Preciso expandir o mercado, passar direcionamentos para vocês

atingirem outros estados do país em venda, trazer cursos de

aperfeiçoamento para os funcionários, otimizar maneiras de atingir

melhores resultados, resolver problemas maiores e cobrar resultados de

vocês. Acho que você não sabe muito bem o seu trabalho se precisa me
perguntar o meu, Jaíltom. Se um cliente me liga porque o faturamento dele
está errado, ou ele está pagando por entregas que não foram feitas, significa

que você não está fazendo o seu trabalho direito.

Ele fica vermelho de raiva, mas fica calado.

— Essas demandas que vem aparecendo na minha mesa nos últimos

meses não são normais. Será que preciso fazer uma reunião individual com

cada um para repassar as funções de vocês aqui dentro?

Todo mundo continua calado.

— Não vou admitir que joguem a responsabilidade do trabalho de

vocês em mim para que, depois, reclamem para o RH sem mostrar a cara,

dando a entender para os Maldonado que o erro está na minha

administração. Vocês são os coordenadores de cada setor dessa empresa e

sabem que podem falar comigo se estiverem com alguma dificuldade. Nós

somos uma equipe, os problemas devem ser direcionados a mim por vocês,

não por terceiros, não vou mais aceitar incompetência ou insubordinação.

— Está dizendo que vai me demitir se não concordar com você?

— Vou te demitir se não fizer o seu trabalho direito, o qual é muito bem

pago para fazer, diga-se de passagem.

— Você não pode falar assim comigo! Chegou ontem e já acha que

pode mandar em tudo? Eu sou amigo pessoal dos Maldonado!


— Sei muito bem quem você é, Jailtom, mas, aparentemente, você

desconhece a minha autoridade aqui dentro. Sou sua chefe e posso te

mandar embora por justa causa caso descubra que está fazendo um motim

aqui dentro por insubordinação. Você não parece respeitar o meu cargo, mas

não preciso da sua aprovação para nada E outra coisa, se você é amigo dos

Maldonado isso não me diz respeito e nem muda nada do que falei.

— Está me acusando? Não sou o responsável pela alta demanda de

problemas da empresa...

— Eu não estava pensando em abrir uma investigação, porque espero

que essa reunião resolva todos os problemas que vem ocorrendo, mas pode
ter certeza que cada um será responsabilizado pela parte que lhe cabe se as

coisas não funcionarem daqui para frente.

— Não se preocupe, Marla. Nós vamos nos ater as nossas


responsabilidades e tudo vai funcionar como sempre funcionou — Lúcia

responde.

As demais pessoas murmuram algo em concordância e dou a reunião

por encerrada. Não antes de chamar o Jaíltom e uma pessoa do RH para


entregar uma advertência pelo ocorrido com os faturamentos de alguns

clientes. Eu não ia fazer aquilo porque todo mundo pode errar essas coisas,
mesmo que tenha estranhado o número de pessoas com o mesmo problema,
mas a atitude dele na reunião não pode passar em branco.

Ele me olha com ódio, mas não tem coragem de dizer nada.

Mando uma mensagem para as meninas, estou precisando me

desestressar.

GRUPO: AS PODEROSAS

Desde que o Rodrigo me colocou o apelido, nosso grupo ficou com

esse nome...

Eu: o que vocês acham de a gente fazer o nosso encontro mensal hoje?

Estela: Eu super animo

Kiar: Por mim tudo bem também, onde querem ir?

Isadora: Ai, gente hoje para mim tá impossível, tenho muita coisa
acumulada do trabalho e aqui em casa, o ruim do home office é que, às

vezes, parece que seu trabalho não tem fim.

Estela: É verdade, quando dou aula por vídeo chamada, fico mais
cansada do que quando saio e vou acompanhar os treinos nas academias.

Kiar: vida de adulto é uma merda mesmo

Eu: vida de adulto pobre amiga

Isadora: kkkksksksks sim


Estela: Lá vem a amargurada

Eu: hoje eu tô mais que isso, tô revoltada com essa galera folgada

dessa empresa.

Kiar: o que aconteceu, amiga?

Eu: um cara imbecil fez um complô pra me derrubar, fazendo todo

mundo negligenciar o trabalho e as merdas da empresa caírem no meu


colo, como se a responsável fosse eu!

Estela: que fdp!

Isadora: Como assim? Gente, mas por quê?

Kiar: deve ser um machista escroto que odeia chefe mulher

Eu: é bem isso mesmo

Isadora: e o que você fez?

Eu: rodei a baiana, fiz uma reunião dando esporro e falando pra
trabalharem

Estela: HABLA MESMO, MAMI

Kiar: ihuuuuul

Isadora: kkskskskssk eu amo

Eu: kskkkskkk só vocês pra melhorarem meu humor


Kiar: acho é pouco, tem que fazer isso mesmo. Tenho sorte de o

pessoal aqui ser legal

Marla: É porque seu chefe é massa, amiga, e também tem gente de

todo jeito no banco. Pessoal aqui é mais preconceituoso e antigo

Kiar: infelizmente, todo lugar tem amiga, mas é verdade, tá nos

valores da Dreambank a diversidade, já em frota de transportadora deve


ser diferente

Estela: Então vamos sair só nós 3?

Isadora: vão me deixar de fora???

Não sei o que seria de mim sem as minhas amigas.

Aproveito que hoje não tenho nada urgente do casamento para resolver
e vou visitar o meu pai. Logo que chego, percebi o carro do Luciano

estacionado na frente do portão e noto que não é o meu dia de sorte.

Entro na casa e vejo os meus dois irmãos sentados no sofá assistindo

TV enquanto o meu pai faz o almoço sozinho na cozinha. Papai não é tão
velho, mas tem ponte de safena e não se exercita como deveria, além de
comer várias coisas que não pode, por isso não é muito saudável. Não gosto

de vê-lo cozinhando sozinho para os dois marmanjos comerem, isso me


trazia más recordações.

— Marla? Olha só, tirou um tempinho para a família! — Túlio diz


depois que adentro pela porta.

— Deve ser porque pensou que não estivéssemos em casa — Luciano


diz com um sorrisinho no rosto.

— Se eu soubesse que estava aqui, não teria vindo mesmo...

principalmente depois da última que você fez!

— Comprar uma passagem de um cruzeiro para o meu pai descansar?

— Vender o carro do nosso pai pra comprar uma passagem de um


cruzeiro e ainda embolsar o restante do dinheiro.

— Foi um empréstimo! E o meu pai precisa fazer algo diferente além


de assistir jogos em estádio e ver TV.

— E por que não comprou pra ele então? Ou me chamou pra cada um
dar metade e comprar? Eu sei porque faz essas coisas, Luciano, você gosta

que dependam de você, assim as pessoas lhe devem favores e então você
pode cobrar em todas as formas possíveis de exploração.

— Eu... o quê?! Sou seu irmão mais velho e exijo respeito!


— Chega! — Meu pai sai da cozinha nervoso+ — Parem, vocês dois!
Será que podemos ter um almoço em família em paz? E, minha filha, já te

falei pra parar de se importar com o cruzeiro!

Eu tenho que engolir tudo os meus irmãos aproveitadores fazem sem

reclamar. Sempre foi assim, mesmo quando se aproveitam do coitado do


meu pai. É extremamente irritante ver que nada do que fazem o desagrada.

Ajudo o meu pai na cozinha enquanto eles continuam na sala sem


levantar um dedo.

— Não entendo porque o senhor sempre passa a mão na cabeça dos


meninos.

— Eles não fizeram nada, Marla. Não sei o motivo de não deixar isso
do cruzeiro pra lá.

— É que odeio que ele tenha feito você vender o carro pra pegar seu
dinheiro. Ele não liga pro cruzeiro, pai. Você não enxerga que isso foi um

jeito dele se aproveitar de você?

— Como pode pensar tão mal do seu irmão?

— Porque eu o conheço, lembro muito bem das coisas que já fez pra

mim, do meu dinheiro que já pegou sem permissão.


— Você é muito rancorosa, filha, isso não faz bem pra você, carregar
essa raiva toda, ainda mais dos seus irmãos.

Por que eu deixaria de sentir raiva se eles ainda são os mesmos, sem ter
evoluído absolutamente nada? Esse é um privilégio dos homens: não

precisar crescer, pois eles nunca sofrem as consequências de nada que


fazem. E era isso é o que mais me enche de fúria.

Eu tento ser presente na vida do meu pai porque ele é a minha única
família. Acredito que, quando meu pai não estiver mais no mundo, o

contato com os meus irmãos será ainda menor. A minha mãe morreu
dizendo que eu devia olhar pela minha família quando não estivesse mais

aqui, mas tem algo que ela me disse que nunca contei a ninguém.

“Eliza estava deitada na cama, o quarto limpo e perfumado porque eu


havia limpado tudo antes de ir pra escola. Meu pai foi trabalhar cedo e
meus irmãos deviam estar na casa de alguns amigos. Eles não viam que ela

estava doente; desde que ela estivesse arrumando a casa e cozinhando, eles
não percebiam que ela conversava pouco, que estava pálida e apática e que
mal comia. Ela se sentia fraca e por isso passava a maior parte do tempo
deitada, eu tentava ajudá-la a disfarçar, porque sentia que ela não queria
que as pessoas soubessem, então ajudava cada vez mais em casa. Ela me

pedia ajuda para lavar roupas e trocar as peças de cama dos quartos.
Muitas vezes se sentava entre as atividades e então me falava que precisava
se deitar um pouco antes do meu pai chegar, então ela se arrumava um

pouco, o recebia quando chegava e o perguntava como tinha sido o seu dia.
Meu pai nunca perguntava de volta, assumia que tinha sido um dia normal,
como se não precisasse perguntar sobre o dia de uma pessoa que passou
ele todo em casa.

Quando chegava o fim de semana, eles não saíam, ele dizia estar
cansado demais e ela passava mais dias dentro de casa... acho que se eu
não tivesse a escola, ficaria louca. Não podia ficar na casa das minhas
amigas, meu pai dizia que lugar de mulher era dentro de casa e que não
confiava em ninguém para me deixar passar o dia fora. A minha mãe não

tinha muita força para desafiá-lo e me deixar sair. Quando eu era mais
nova, nós assistíamos a filmes de mulheres que podiam fazer o que
quisessem, elas tinham empregos legais, faziam faculdade e tinham seu
próprio carro. Eu amava aqueles momentos... os olhos da minha mãe

brilhavam e ela sempre sorria, dizia pra mim que eu seria como elas...
livres, donas de si e felizes. Um dia eu perguntei:

— Mãe, por que a senhora não tenta trabalhar fora, ou estudar? Você
sempre parece ficar com vontade quando vê esses filmes na televisão.
— Eu não posso, minha filha. O seu pai disse que seria muito difícil
cuidar da família e estudar ao mesmo tempo, disse que não preciso

trabalhar porque ele compra tudo o que precisamos, então... deixo pra lá,
eu não gosto de contrariar o seu pai.

— Mas, mãe..., a senhora não parece muito feliz e eu não acho que
precise fazer tudo que as pessoas querem!

— Sabe, filha, pode não parecer, mas seu pai é um bom marido. Meu
pai não foi um bom marido pra sua avó, seu pai nunca me fez passar as
coisas que sua avó passou, então eu não posso ser ingrata.

— O que a minha avó passou? Você nunca nos deixou conhecer os


nossos avós!

— Eu morava numa cidadezinha minúscula em outro estado, onde todo


mundo conhecia todo mundo. No interior as coisas são mais difíceis, tem

menos empregos, a gente precisa aproveitar as oportunidades que


aparecem. Conheci seu pai numa festa de família, ele era amigo de um
primo nosso e fez tudo direitinho. Naquela época era mal visto ficar
beijando as pessoas que nem nos filmes de hoje, pelo menos eu nunca tive
coragem, meu pai era muito rígido, eu tinha medo dele... E a sua avó sofria

muito, Marla. Então ela me disse pra aceitar me casar quando ele pedisse,
que o Antônio parecia ser um homem bom e que eu devia aproveitar a
chance de sair de casa. Por isso, quando ele propôs casamento, eu aceitei e

o meu pai deixou que ele se casasse comigo. Depois de mais ou menos 5
anos, a sua avó fugiu. Nunca mais tive notícias dela e imagino que ela não
o fez por medo de seu avô a encontrar. Eu sou grata pelo seu pai ser melhor
do que o meu foi, então é bom que eu fique satisfeita, ele gosta que eu
esteja em casa, segura, nunca foi grosseiro comigo, só gosta das coisas do

jeito dele.

Minha mãe não precisou contar o que minha avó sofria na mão do meu
avô, porque eu fazia uma boa ideia, mesmo aos 10 anos de idade, já tinha
reparado em muitas coisas ao meu redor para ser tão inocente. As irmãs do

meu pai viviam sendo agredidas nas festas de família, um tapa que não
parecia grande coisa e todo mundo fingia não ver, um apertão ali, um
hematoma no braço... Eles achavam que não víamos as coisas, mas eu via.
Infelizmente, mesmo com pouca idade, eu já sabia como as pessoas no

mundo poderiam ser horríveis, mesmo que não tivessem sido comigo. Eu
ficava triste pela minha mãe parecer conformada com uma vida que
claramente não a deixava feliz, mas ela gostava de se sentir segura, tinha
medo de viver, de ser agredida, preferia agradar e sentir que era uma boa

esposa.

Aquilo era horrível porque parecia que, de alguma forma, as mulheres


mereciam sofrer algo quando desagradavam os homens, como se tivessem
que se submeter as vontades dos outros ou sofreriam consequências. Era

como se pudessem nos bater para nos disciplinar... como se soubessem


melhor, soubessem mais e precisássemos nos curvar a sua soberania.

Eu não queria aquilo. Parecia que a pior coisa que poderia acontecer
no mundo era ter nascido mulher, eu pensava que queria ter nascido

homem e então ia poder fazer o que quisesse sem me curvar as vontades


dos outros e sentia que não poderia viver se precisasse aceitar tudo o que
quisessem de mim.

Quando eu tinha 13 anos, no entanto, minha mãe não parecia mais

tranquila e conformada, parecia triste de uma forma irreparável, ela fingia


estar bem e de um jeito compulsório eu a ajudava em sua farsa, fosse por
medo de lidar com o que aquilo significava, ou por tentar ajudar minha
mãe a não sofrer mais. Ela foi definhando na minha frente, emagrecia mais

e mais, as vezes achava que ela não estava comendo, levava frutas e
comida fresca e ela sorria pra mim, tentava se alimentar um pouco pra me
agradar, mas não era suficiente.

Minha mãe, Eliza, morreu pegando na minha mão, eu a vi partir e ela

parecia feliz em morrer. Essa era a lembrança mais triste que tinha na vida,
mais triste até do que ver seu caixão sendo engolfado pela terra.

Então ela disse:


— Eu amo a minha família e preciso que ajude a cuidar deles, filha,

mas você é diferente de mim, Marla, e isso me deixa tão contente. Os seus
irmãos são homens, não preciso me preocupar com eles, mas você... quero
que me prometa que sua vida vai ser apenas sua e de mais ninguém, minha
filha, promete que vai ser feliz?

Tinha que prometer a minha mãe que seria feliz quando ela estava
morrendo. Como se eu quisesse viver em um mundo em que ela não
estivesse, como se não fosse ficar sozinha no mundo... Como se, agora, as
coisas não fossem piorar. Mas eu prometi, tinha que deixar que ela

descansasse em paz.”

É o que eu tento fazer todos os dias, ser dona de mim, não me curvar
aos outros, fazer o que eu quero fazer. Mas é impossível não guardar rancor
dessa família, ver que nunca entenderam o que fizeram a minha mãe e

continuarem com suas vidas quase da mesma maneira. Eu aprendi que se


você esperar dos outros a consciência e o bom senso, vai viver frustrado,
pois é você quem dita como as pessoas vão lhe tratar, é nosso trabalho
impor limites aos outros.

— Não sou rancorosa, pai, apenas não deixo que se aproveitem da


minha boa vontade, mas o senhor faz qualquer coisa por eles, mesmo que
isso te deixe no prejuízo.
— Dizem que isso é ser um bom pai...

Eu não quero brigar e, por isso, me calo. Talvez vocês tenham


percebido quão difícil é me fazer calar a boca quando sinto que estou certa
sobre alguma coisa, mas meu pai é um caso perdido. Eu tento apenas

aguentar as loucuras da família e deixar pra lá.

Terminamos o almoço e o servimos na mesa. Começamos a comer em


família e é claro que meu irmão precisa começar a falar e estragar tudo:

— Acalmou a sua filha, pai?

— Eu não preciso que me acalmem, tenho direito de mostrar meu


desagrado pelas coisas que fazem na família!

— A única coisa que te desagrada é o fato do pai não suportar seus

discursos progressistas e preferir a nossa companhia à sua!

— Não tem nada a ver com isso. Eu só não suporto que não enxerguem
você como realmente é.

— E como eu sou? Tudo isso por que peguei um dinheiro emprestado

com o nosso pai?

— Escuta, Luciano... Quem você acha que está pagando aquele


empréstimo consignado que pegou no nome do nosso pai?
— O empréstimo é descontado na aposentadoria. Como você está
pagando hein espertalhona?

— Você comprometeu quase metade da aposentadoria dele. Acha que


os remédios e a comida custam quanto? Estou inteirando o dinheiro todo

mês!

— Por que não me contou isso, pai?

O meu pai fica branco e calado quando é questionado. Ele não pediu o

dinheiro diretamente, mas sempre que eu vinha visitá-lo ele comentava


como tudo estava caro, como não pôde comprar os remédios naquela
semana... Até que finalmente me contou o porquê da aposentadoria não
estar rendendo e eu me dispus a passar pra ele o dinheiro da parcela até o

empréstimo ser quitado e fiz um discurso pra ele nunca mais pedir
empréstimo pro filho caloteiro. Mas, claro, agora ele vende o próprio carro
pra enfiar o dinheiro na bunda desse babaca mimado imbecil.

É de deixar qualquer um maluco de ódio.

— Deve ser porque ele é incapaz de responsabilizar vocês por qualquer


coisa que fazem... Você nunca pagou um centavo e agora pega mais
dinheiro emprestado... É de foder mesmo!

— Não fale desse jeito, Marla. Mulher não deve falar assim! — o meu

pai chama a minha atenção


— É por isso que ela não arruma namorado... — essa é a primeira coisa
que Túlio diz desde que se sentou à mesa.

— Claro que a forma como eu falo é a coisa mais importante de tudo o

que estamos falando!

— Sabe... o Túlio tem razão... por que você nunca trouxe um homem
aqui em casa pra conhecer sua família? — Luciano diz, tirando o foco da
conversa dele.

— Não estou interessada em ter compromisso com ninguém

— Ihh, então você fica com um monte de caras como se fosse uma
vagabunda?

— Cala sua boca, Túlio! Vê se me respeita! O que um encostado como


você sente que pode falar alguma merda pra mim? E o que tem de errado
numa mulher poder ficar com várias pessoas? Vocês parecem que ainda
vivem no século passado...

— Não acho certo uma mulher sair com vários homens... é feio e
vulgar, minha filha, não foi isso que eu e sua mãe ensinamos...

É assim, tudo que eu faço é errado, tudo que eles fazem é certo. Eu
estou mais cansada do que com raiva, parece surreal esse tipo de conversa

nos dias de hoje, mas acontece sempre. Nessa cidade existem várias pessoas
que se dizem “conservadoras”, elas gostam de dizer o que é certo e errado
desde que você não questione as atitudes delas. É ridículo de ver, mas
conviver com esse tipo de gente dentro de casa e na sua família é
absolutamente insuportável. Então apenas respiro fundo, balançando a

minha cabeça em negação ao momento e me levanto sem terminar o almoço


e sem dizer uma palavra.

Pego as minhas coisas e saio da casa.

Instantaneamente sinto um alívio, a energia daquela casa drena as

minhas forças, não era à toa que a minha mãe partiu feliz desse mundo. Eu
jamais conseguirei passar a minha vida servindo a eles como se fosse um
ser humano de segunda classe, como se eles tivessem mais importância que
nós. É isso o que querem, mas não é verdade. Passei anos fazendo terapia e

mudando os paradigmas da minha mente, lutando contra o que já tentaram


me fazer engolir... isso nunca mais vai acontecer. E acho que a minha
família nunca vai aceitar essa versão de mim, a que diz o que pensa e não
faz nada pra eles sem questionar. Mas eu quero mesmo é que eles vão se

danar, não preciso deles.


 
“Cometa seus melhores erros
Porque não temos tempo para lamentar
Então, querida, seja a alma da festa
Estou te dizendo para se arriscar
Pode ser assustador
Corações vão ser partidos”
Shawn Mendes | Life Of The Party

“Observei Kiara concentrada, escrevendo sua redação para a aula de

português. Estávamos na mesa da biblioteca, num cantinho atrás de uma


estante enorme de livros. Ela me pegou a olhando e desviei o meu olhar,

sem graça, para o livro à minha frente, Kiara tirou minha mão de cima do

livro e tentou ler um pedacinho da página.

— “Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender.


Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras.

Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Que lindo, Rô!

Que livro é esse?

— Também gostei, lindinha, é uma coletânea da Clarisse Lispector.

Peguei esse livro emprestado da minha mãe, pra fazer aquela atividade da

aula eletiva de literatura.

— Ah, sim! Esse eu já fiz. Hm, então o meu amigo gosta de poesia...
todo romântico — Kiara fez uma expressão engraçada.

Sorri sem graça e cocei o cabelo da nuca.

Kiara sorriu de volta e senti o meu estômago convulsionar, que merda

era aquela?

— Só você pra pensar que posso ser romântico.

— Talvez seja porque te conheço bem. Sei que impede as pessoas de

verem seu lado mais sensível...

— O que você acha que ela quer dizer, Kiar? — mudei de assunto.
— Acho que ela tá falando da vida, da falta de sentido das coisas, de

como as vezes pode ser mais bonito abrir mão de entende-la, e viver.

Dei um sorriso para Kiara e não consegui dizer mais nada.”

Acordo e fico alguns segundos tentando me situar na realidade.


Algumas vezes eu sonho com lembranças, mas faz muito tempo que isso

não acontece.

Eu fui um garoto mimado. Cresci com todas as regalias que um menino

com pais legais e situação financeira estável poderia ter. Nunca me faltou
nada e tive uma infância incrível. Depois que os meus pais se separaram e

fui morar com a minha mãe, as coisas ficaram mais difíceis. Com a

repartição de bens e mudança de casa, precisei estudar num colégio público.

Fiquei triste e um pouco revoltado com o a separação deles, queria ver

meus pais todos os dias como sempre foi, e só de pensar em conhecer

algum possível companheiro novo de cada um, me dava vontade de sair

batendo em qualquer pessoa só pra descontar a raiva.

Os colégios públicos eram muito diferentes dos particulares, o ensino

na maioria das vezes caía de nível. Se você tinha 3 professores de

matemática e português para cada matéria, na escola pública teria apenas

um, e era muito difícil que você visse o conteúdo completo do livro

selecionado para aquele ano.  O que não significava que não tivessem bons
professores e alunos exemplares, mas a instituição tinha mais dificuldades e

os alunos também. Então, para mim, foi um grande choque de realidade.

Algumas das aulas daquele ano eu já tinha visto no anterior na escola

antiga, alguns livros tinham coisas ultrapassadas de ensino. Haviam alunos

de todos os jeitos possíveis: alguns iam para a escola por pura obrigação e
passavam todo o seu tempo fora das aulas, tinha gente que fazia o segundo

ano pela 3ª vez. Meninos que iam estudar na escola pública para fazer o

Enem por cotas e gente que só ia para comer a merenda, o que era a parte

mais triste ali, tinham muitas pessoas que precisavam de ajuda.

Conheci a Kiara numa aula de matemática, ela era monitora da turma e,

por isso, vivia ensinando as pessoas a fazerem os exercícios. Eu achava o

máximo porque não costumava ver meninas que gostavam de matemática e,

apesar de saber toda a matéria, pedi ajuda mesmo assim, para me aproximar

dela. Então, depois de pouco tempo, nos tornamos amigos e ficamos

inseparáveis. Claro eu caí na friendzone por puro medo de garoto

inexperiente e o Luís arrebatou o coração dela antes que eu pudesse fazer

alguma coisa.

Apenas não era para ser.

Não sei o motivo de sonhar com isso hoje, já que é uma lembrança tão

antiga... doce e amarga ao mesmo tempo, porque me lembra que a única


pessoa que amei e me via como eu realmente sou não pertence mais a mim.

Sempre começo o dia fazendo alguns exercícios quando não tem

ninguém na minha cama. Depois tomo um banho e preparo meu café da

manhã. Exige muita disciplina e organização trabalhar como autônomo em

casa; se não controlar bem o meu tempo, perco o prazo das coisas e me

enrolo com os afazeres de casa, perdendo o tempo que preciso para mim

mesmo e deixando o trabalho ser o centro da minha vida.

Foi algo que aprendi com o tempo: a me organizar e fazer meu horário

de trabalho seguindo como se estivesse num escritório fora de casa. Parece

simples, mas é mais trabalhoso do que se imagina.

Checo a minha caixa de e-mails, faço atualizações nos programas de


software e continuo meu projeto do aplicativo para a empresa de limpeza.

Recebo uma mensagem dos meus pais no grupo da família, me

chamando para um almoço essa semana. Eu sou próximo dos meus pais,

apesar das dificuldades na adolescência. Depois de 3 anos separados, eles


voltaram e se casaram novamente, na época fiquei revoltado pela

incoerência deles, mas depois fiquei feliz por ter minha família de volta

como antes.

Eles viviam querendo saber da minha vida privada e quando eu levaria


uma namorada para conhecê-los... mal sabiam que eu tinha “várias”, ou, na
verdade, acho que sabiam, mas torciam para que isso mudasse logo, logo.

Recebo uma mensagem:

Luís: E aí, cara, como tão as coisas?

Eu: Tudo na paz, e aí?

Luís: Tô ficando meio doido... tem coisas demais pra fazer, os gastos
do casamento, demanda alta no banco, estresse... enfim a vida adulta

Eu: ksksksks que merda, cara, mas logo o Oscar volta de licença e as

coisas ficam mais fáceis. O casamento tá chegando...

Luís:  Tô tão ansioso que tá me dando insônia... não vejo a hora!

Eu: eu fico feliz demais por vocês. Feliz de estar ajudando vocês a

fazer uma cerimônia incrível

Luís: Também tô muito feliz por isso. E pode acreditar que quando

chegar a sua vez, pode contar comigo!

Eu: kskkksksks até parece, quero saber disso não parceiro

Luís: Do jeito que você anda olhando pra nossa madrinha, eu tenho

minhas dúvidas...

Eu: Isso é porque ela é muito linda, mas casar aí já é demais kksksks

Luís: kkkkkkkkk sei não, hein, topa uma cerveja hoje mais tarde?
Eu: Hoje tô com muito serviço, Lulu, vamos deixar pro fim de

semana...

Na verdade, eu poderia facilmente tomar uma gelada com meu amigo

hoje, mas não me parece bom vê-lo no mesmo dia que sonhei com sua

noiva. A memória ainda está fresca na minha cabeça, por isso é melhor

deixar para outro dia.

Não me orgulho de manter certos pensamentos na mente, nem em sentir

certas angústias e lamentações pelo passado. O passado, as vezes, machuca


quando não estamos no lugar que queríamos estar, nos faz pensar que não

crescemos tanto assim, que não nos distanciamos daquilo que já fomos e
queremos muito deixar de ser.

Por isso, fico pensando naquele garoto, que teve o coração partido aos

18 anos e perdeu certa inocência, certa fé nas coisas que acreditava que
eram para ser. Não existe nada que é pra ser “seu” no mundo, tudo é uma

questão de conquista, você precisa querer e lutar e mesmo assim... talvez


“aquilo” nunca vai ser seu e é doloroso aceitar isso.
 
“Você e eu somos de mundos diferentes
Isso realmente não deveria dar certo, mas funciona
Quando se trata de nós”
When It Comes To Us | Frances

O casamento está se aproximando e até aqui fizemos um ótimo

trabalho. Faltam poucos detalhes como o DJ, a playlist que não pode faltar,

a lista de presentes para todos que confirmaram presença no casamento, o


vestido da noiva e a roupa dos padrinhos... Tudo bem, faltam algumas

muitas coisas. Mas a lista de tarefas cumpridas é maior:

Bufê e Garçons;

Bolo de casamento e doces;

Local da cerimônia e festa;

Entrega dos convites e confirmação;

Flores e arranjos;

Decoração intimista e elegante;

Bebidas e baristas;

Juiz de paz que vai realizar a cerimônia;

Alianças;

Nada mal, não é? A Kiara e eu até podemos respirar melhor depois de

tantos meses de estresse. E é sobre isso que estamos falando na

videochamada antes de cada uma sair pro seu almoço.

— Graças a Deus, agora falta pouco!

— Finalmente, meu amor, tô contando os minutos! — Luís fala ao lado

de Kiara, no vídeo. Com o braço em volta do ombro dela, dando um beijo

em seu rosto enquanto Kiara dá o maior sorriso, parecendo até que vai sair

para fora da tela.


Eu não sabia se os acho adoráveis ou se tenho nojo do meu casal

amadrinhado, do tanto que são melosos.

— Não é nem meio dia e vocês já estão com esse mel todo, pelo amor

de Deus!

— As pessoas não tem culpa que você prefere não ter contato humano,

docinho.

Reviro os olhos para Rodrigo, na tela, sei que ele deve estar pensando a

mesma coisa e discordou só para me chatear.

— Você contou do período sabático para ele?

— Período sabático?

— Não vou falar sobre isso.

Rodrigo dá uma gargalhada com a pergunta dos noivos e a minha

recusa em responder.

— Mmm, tem coisa aí pra eu saber...

— Não tem nada pra senhorita saber! Vai cuidar de procurar um vestido

porque não acredito que até agora não gostou de nada.

— Mas nada é o que imaginei! Tudo é muito decotado, ou muito

chamativo, ou tem tecido demais... Não achei que seria tão difícil achar um

vestido.
— Tudo fica lindo em você, amor. Logo vai achar um que goste.

Kiara abre um sorriso apaixonado para Luís.

— O terno do noivo vocês encontraram? — Rodrigo questiona.

— Não, cara. Eu preferi esperar até a Kiar comprar o vestido para o

caso de ter alguma coisa que precise ser combinar com ele.

— Você vai ver o vestido antes do casamento?

O casal começa a rir da cara dele.

— Você é supersticioso, Rô?

— Não... — Ele faz uma cara envergonhada. — Só que é tradição, é

legal manter a tradição.

Dou uma gargalhada.

— Ai, tormento, não acredito que logo você é supersticioso!

— O que você quer dizer com “logo eu”?

— Um cara que não se importa com nenhum tipo de decoro...

— Não é porque sou pegador que sou depravado. Sou um pegador de

respeito!

Todo mundo dá risada da piadinha dele, até eu. Não sei como ele faz

isso.
— De toda forma, depois de tudo que a gente já passou, não seria eu a

desrespeitar a sagrada tradição do vestido. Então vocês dois precisam ver

meu vestido depois que eu escolher, pra poder ajudar meu noivo a escolher

o terno dele.

— Beleza, lindinha, deixa com a gente!

— Precisamos correr pra almoçar antes que o restaurante fique lotado...

— Ai, é verdade, Luz. Estamos indo gente! — Kiara manda beijos na

câmera e Luís dá um tchauzinho quando a tela deles é fechada, deixando

apenas o Rodrigo na chamada.

— Então a minha querida Docinho não quis contar da nossa aposta para

a Kiar...

— Ela não precisa saber disso, parece idiota quando conta para os

outros.

— Mas é meio idiota.... — Rodrigo dá risada.

— Então por que aceitou?

— Porque é divertido fazer essas coisas com você. Além do mais, tô

louco pra te beijar de novo...

Estava tomando água quando ele começou a falar e quando termina

começo a tossir sem parar. Cristo, esse homem não sabe a hora de calar a
boca. Me pegou desprevenida, era pra eu estar seduzindo-o.

— Ei, docinho! Você tá bem?

— Não graças a você! — falo, limpando a boca com a voz rouca.

—  Achei que ficaria satisfeita, já que se eu te beijar perco a aposta.

Dou um sorriso e reviro meus olhos para aquele petulante gostoso.

— Tô sentindo você um pouquinho pra baixo, tá tudo bem?

— Não, tá tudo desmoronando e, ao mesmo tempo, do mesmo jeito

como sempre foi.

— Eu sinto muito, docinho, olha... sei que sua frase não era pra fazer

sentido, mas até que faz sabia?

— Jura? — Dou um sorriso fraco.

— Tudo tá desmoronando por aqui também, mesmo que tudo continue

igual.

Eu quero perguntar o que está acontecendo com ele, mas suspeito que

não é nada que eu possa entender. Rodrigo e eu somos como água e vinho,

muito diferentes; a vida dele é completamente oposta à minha. Ele tem uma

família estruturada, é filho único e sempre teve tudo o que precisou, teve
independência rápido porque foi mais fácil alcançar aquilo.
Já eu tive que fazer das tripas coração, dar o meu máximo, ter muito

sangue no olho pra chegar onde eu cheguei e, ainda assim, não posso

relaxar. Pois, se fizer, existem pessoas loucas para me derrubar, até mesmo

dentro da minha própria família, então não acho que eu poderia entendê-lo e

ele tampouco.

— Não quer me dizer que parte do seu mundo desabou?

— A minha família, que eu sustentava como um castelo de areia,

sempre foi muito frágil.

— Não sei se consigo decifrar todos os enigmas das suas frases.

Sorrio para ele.

— Eu tenho um relacionamento difícil com minha família, tormento.


Sinto que não fazem muita questão de mim, mesmo que eu tenha feito tudo

o que podia por eles e, ao mesmo tempo, tenho raiva de ter feito tudo que
fiz... é meio complicado.

— Bom, acho que eles não te fazem muito bem se é tão difícil assim de
lidar... Provavelmente você vai se sentir melhor se afastando deles um

pouco.

Talvez ele tenha razão... já pensei sobre isso algumas vezes.

— Obrigada, tormento. Você até que é um bom amigo


— O quê? Mas será que ouvi um elogio?! Não posso acreditar numa
coisa dessas... vai me deixar mal acostumado

— Por que você precisa ser tão chato? — pergunto, sorrindo.

— É parte do meu charme, docinho. Tipo, o Luís é fofo e romântico e

eu sou gostoso e implicante entende? É o meu “pacote” — Ele faz aspas


com os dedos na tela.

— Você é ridículo, sabia?

— E você é mandona e esquentada.

— Como é que é?

— É sim, docinho... Não adianta reclamar. Mandona, esquentada, linda


e gostosa...

— Você sabe que não estou levando isso como elogio, não é?

— Faz parte do seu charme, minha Docinho... Ser toda rabugenta

Confesso que o meu coração acelera quando ele me chama de “minha

Docinho”, Rodrigo está tão bonito, tão interessado em saber como eu estou
que quando vejo já estou contado sobre minha família. É um mistério como

um cara como ele consegue arrancar essas coisas de mim, isso me assusta
um pouco, mas eu esqueço de tudo quando a gente começava a se

implicar...
— Tá dizendo que esse é o meu “pacote”?

Ele me provoca enquanto eu acabo com ele em insultos na câmera... E

que meu secretário não tenha escutado essas coisas. Quando dou por mim,
estamos rindo e desligo a chamada com um sorriso no rosto. O Rodrigo é

como brisa fresca refrigerando nossa alma cansada, ele tem uma leveza
contagiante e faz com que o meu coração respire.

Essa é, com certeza, a coisa que eu mais gosto nele.


 
“Eu vejo você longe, quero você perto
Fica na minha sombra, eu posso ser teu rastro
Não quero tu na linha, Vivo, morto ou Claro
Eu quero tu na minha boca
E a minha boca quer você”
Lisboa | ANAVITÓRIA e Lenine

Faltam 2 meses para o casamento


 
O dia especial dos meus amigos está chegando e, como sempre, os

noivos estão ocupados demais pra conseguir escolher o DJ do casamento.

Por isso, dentre todas as visitas que fizemos, as vezes eu e Marla, as vezes

só Luís e Kiara e até os quatro juntos... selecionamos 2 Djs. Por sorte, os

dois tocarão no Star Lounge essa noite. Então aqui estamos, eu e Marla para
finalmente fecharmos com o DJ a ser escolhido e que torcemos pra ter a

data que precisamos disponível.

Aparentemente, a boate faz com que eu tenha um tesão mais profundo


sobre a Marla do que nos dias normais, o que já não é pouca coisa. A cada

dia o meu desejo por ela aumenta e, surpreendentemente, nossa amizade

vem crescendo nos últimos tempos. Ela é independente, inteligente e sagaz;

sua personalidade me cativava apesar de ser tão rabugenta comigo. E a


nossa química me faz ansiar até por nossas discussões... E eu sinto que será

ainda mais gostoso quando finalmente a beijar novamente, principalmente

se ela já estiver rendida por mim.

Marla está com uma saia de couro minúscula que deixa sua bunda

gostosa e empinada ainda mais irresistível, há também uma blusa de manga

longa transparente de tule que fica justa ao corpo e um sutiã de renda que

parece uma mini blusa por dentro. Ela está usando botas de salto e o cabelo

curto está partido de lado, o lado que tem o menor volume ficou atrás de

sua orelha, que exibe um belo brinco de prata. Ela está tão gata que eu
preciso fazer um esforço gigante para não ficar a encarando sem parar, sem

contar que as pessoas ao redor não param de olhá-la.

Já eu estou vestido com uma calça preta de alfaiataria, um tênis branco

simples e uma camisa de estampa escura e discreta de manga curta com

alguns botões abertos e um relógio de prata no pulso. É uma roupa de noite

normal, mas reparei na Marla olhando, por um tempo considerável, para o

meu peitoral exposto. Obviamente, ela ainda não desistiu da aposta e hoje

eu farei de tudo para ganhar.

— Você é péssimo pra disfarçar suas encaradas, sabia? Não para de

olhar as minhas pernas desde que chegamos...

— Quem disse que estou tentando disfarçar, docinho? Você tá gata

demais com essa roupinha sexy e sei que ainda está tentando ganhar a

aposta.

— Só assim pra eu me livrar de você...

— Só faltam dois meses pro casamento. Tem certeza que isso ainda faz
sentido?

— Mas é claro! Você é o tipo de pessoa que vai querer jogar charme pra

cima de mim até nas festas futuras que terão na casa dos noivos, que já vão

estar casados.

— Isso tudo é medo que você tem de não resistir, não é?


—Vai sonhando, tormento! — Ela balança a cabeça em negação e sorri

Eu estendo a mão para ela, para irmos ao bar buscar bebidas. Marla

sempre sorri disfarçadamente quando ofereço a minha mão a ela, acho que

ela nem percebe que faz isso, mas é uma gracinha.

O Dj que estamos analisando entra no palco e começa a tocar o setlist.

E já estou gostando das músicas que ele escolheu. Quando pego o meu

uísque e Marla o seu Gin Tônica, subimos as escadas do lugar para ver o

palco de camarote. Afinal, o lugar está lotado, então ficamos juntinhos para
não esbarrar em outras pessoas, fico atrás dela e coloco o braço livre na

grade do camarote. É sexta feira, então a noite não tem hora para acabar.

Marla coloca a mão livre ao lado da minha como quem não quer nada e

começa a dançar, sinto a bunda encostar no meu pau e ele endurece no

mesmo momento. A danada está me provocando... Quer ganhar a aposta.

Eu sinceramente acho que ela só quer esfregar na minha cara que ganhou,

não acho que, a essa altura, deseje meu afastamento, a rispidez dela

diminuiu demais para alguém que diz não me suportar.

Começo a dançar com Marla no mesmo ritmo, passando meus dedos

pela mão dela e subindo pelo seu braço, sentindo a textura do tecido fino

com o calor do corpo; passo meus dedos pelo ombro dela enquanto nos

balançamos no ritmo da batida da música, tiro um pouco do cabelo da nuca


e dou um beijo ali, sentindo o arrepio que percorre a pele e o suspiro dela,

sentindo o cheiro do perfume delicioso que sempre me deixa alucinado.

Chego mais perto dela, envolvendo o meu braço em sua cintura

enquanto ela rebola em mim e sente o meu pau duro roçando na bunda

gostosa. Sinto que ela para um pouquinho quando percebe e falo em seu

ouvido:

— Pode continuar, docinho... Se quer me deixar louco e ganhar a

aposta, tá fazendo tudo direitinho. Tô louco pra te levantar com minhas

mãos na sua bunda e te beijar até fazer você esquecer esse maldito período

sabático.

Marla se vira, ficando de frente pra mim, e dá um sorriso convencido. E


eu só fico fascinado com a expressão confiante e sexy que ela me dá.

— Ah, é? Então por que não beija? — Ela passa os braços pelo meu

pescoço e chega pertinho, fitando meus lábios e depois os olhos.

Raio de mulher gostosa!

— Tá achando que vou cair na tentação, né? — Dou o sorriso de lado e

chego perto do ouvido dela, enfiando a minha mão no seu cabelo pela nuca.

— Vai ter que fazer melhor que isso se quiser arrancar esse beijo de mim,

mesmo que eu fique louco de tesão com você rebolando no meu pau e me

olhando desse jeito safado.


Marla engole em seco quando termino a frase, então puxo sua cabeça

um pouco para trás com meus dedos emaranhados em seu cabelo e passo

minha língua pelo pescoço delicioso. Chupo ainda mais quando ela deita o

pescoço para o lado, abrindo espaço para mim, passo minha mão pelo corpo

dela, descendo até a bunda e a aperto, trazendo-a  para mim enquanto sinto

seus peitos grudados no meu corpo.

Marla aperta meus braços e suspira de um jeito entregue que me deixa

maluco. Posiciono o rosto dela de frente para o meu, ainda com meus dedos

presos nos fios, e chego pertinho da sua boca. Os olhos estão com as

pupilas dilatadas e ela engole em seco, abrindo os lábios bem pouquinho,

ansiando pelo beijo tanto quanto eu, chego tão perto que encosto o lábio

inferior no dela; ainda de olhos abertos, dando a entender que vou, de fato,

beijá-la, então dou um sorriso safado e me afasto de Marla, tirando minhas

mãos dela.

— Você é um cretino filho da puta, sabia?!

— Poxa, não vale falar da minha mãe. Ela não tem culpa de nada,

docinho.

Ela cruza os braços, me encarando puta da vida.

— Vem cá, minha linda, perde essa aposta pra mim. Você sabe que

quer...
Marla mostra o dedo do meio para mim e vai sozinha a caminho do bar,

vou atrás dela. Ela age como se não estivesse fazendo a mesma coisa

comigo, a hipócrita.

Marla fica tão emburrada enquanto segura uma garrafa de cerveja

artesanal com tanta força que eu me preocupo do vidro se partir nas mãos

dela. Estamos sentados no sofá do andar de cima que fica mais afastado da

multidão, daqui dá pra ver o palco perfeitamente. O primeiro DJ que

queríamos ouvir tinha acabado de tocar, então só falta o outro da lista entrar
pra decidirmos o escolhido. Estou filmando várias partes e mandando no

grupo para todo mundo votar.

— Vai ficar emburrada a noite inteira?

— Se eu quiser, vou ficar emburrada a vida inteira... O que você tem a

ver?

— Nada, acho ótimo, isso mostra o quanto você queria me beijar!

Ela revira os olhos e toma um gole da cerveja.

— Eu poderia beijar qualquer um, você só estava lá.

— Ué, e o seu período sabático?

— Foi você que o arruinou. Eu não tinha mais essa vontade fazia muito
tempo!
— Então é o seu tormento que você quer beijar... — Dou um sorriso pra
ela e pego a cerveja de sua mão, tomando um gole generoso.

Ela fica boquiaberta pela minha impertinência e depois observa o bico


da garrafa quando a devolvo pra ela.

— Você é um idiota.

Chego mais perto dela, a encarando e colocando uma mecha de seu


cabelo curto atrás de sua orelha. Marla parece cansada, observando-a agora,

num local mais iluminado, percebo um pouquinho dos seus olhos fundos.
Talvez tenha sido uma semana difícil e tudo o que ela queira é relaxar, então
nada do que aconteceu mais cedo tem a ver com seu desejo por mim, mas

da sua vontade de extravasar. O que me entristece um pouco.

— Você está bem, Mar? Lembro do que me disse na videochamada...

Marla fica um pouco paralisada e de olhos arregalados, eu fico confuso.

— Ninguém nunca mais tinha me chamado assim.

— Mar? Mas é o diminutivo do seu nome.

— Eu sei, mas ninguém diminui o meu nome. Acho que não


conseguem me chamar assim, só a minha mãe me chamava de Mar.

— Chamava?

— Ela faleceu quando eu tinha 13 anos.


— Nossa..., eu sinto muito!

— Tudo bem, já faz muito tempo...

— Mas não significa que parou de doer.

— Não. — Ela me dá um sorriso triste.

— Então agora devo te chamar de Mar ou docinho?

— Sabe, eu me acostumei com o “docinho” ...

— É mesmo? Olha... quem diria. — Sorrio, zombeteiro.

Marla revira os olhos e me dá um tapinha no braço

— Acho um pouco triste ninguém mais te chamar assim.

— Você pode me chamar assim de vez em quando... — ela fala,


olhando para o palco.

— Quem é você e o que você fez com a Marla Martinez?

— Você tem um certo talento pra dizer a coisa errada não é, tormento?

— ela fala, sorrindo e se virando pra mim.

Existem alguns instantes em que as pessoas ao redor somem, em que,

mesmo quando se tem muito barulho e coisas acontecendo a sua volta, você
não consegue ver porque está muito preso ao momento. Eu estou

mergulhado nos olhos verdes da Marla que, mesmo sedutores, carregam


vulnerabilidade, coisa que ela esconde bem demais. Você precisa prestar
atenção para perceber que existe dor ali além de toda a arrogância e ar

inabalável que ela demonstra. Enquanto observo o belo rosto dela, Marla se
aproxima de mim como se algo a chamasse. Quando o rosto bonito está

perto demais do meu, o seguro em minha mão instintivamente e ela avança


sobre mim, encostando sua boca na minha.

Reajo de imediato, aprofundando o beijo ao enfiar a minha língua na


boca dela, sentindo aquele gosto que anseio por sentir novamente desde o

beijo no restaurante. Ela corresponde o beijo ao entrelaçar as nossas línguas


em um ritmo delicioso, puxando o meu lábio inferior com os dentes, me

deixando alucinado. Passo a minha outra mão pelo seu corpo perfeito,
sentindo-a amolecer nos meus braços. Quando ouço um pequeno gemido,
aperto a coxa dela exposta, louco de desejo.

Subitamente, Marla se distancia e arregala os olhos se dando conta do


que fez. Dou um sorriso e levanto as mãos, mostrando que não foi culpa

minha. Ela fecha os olhos e se deixa cair no sofá, soltando as costas no


encosto.

— Foi só uma aposta, docinho. Prometo que vai ser um encontro

incrível — digo, sorrindo.

Ela tampa o rosto com as mãos e dá um gemido frustrado.

Agora, sim, vão ficar interessantes.


 
“Ele não era o cara certo
Não tinha ideia do que iríamos nos tornar
Não há arrependimentos
Eu só pensei que fosse ser divertido”
Heaven | Julia Michaels

Ultimamente, sinto que estou vivendo no filme “O Show de Truman”

porque as coisas estão cada dia mais absurdas e todo mundo age como se

nada demais estivesse acontecendo.


Primeiro no trabalho, com uma espécie de motim ridículo, onde tive

que lembrar as pessoas de executar o próprio trabalho, como se não

soubessem o que deviam fazer. Depois a minha família, que vive

completamente imersa numa bolha bizarra de machismo e negligência. E

então eu perdi a maldita aposta pro imbecil do Rodrigo.

Como eu pude ficar assim tão fora de mim?

Ele nem estava tentando me seduzir, não estava nem me tocando, ele
apenas... me olhou. Ficou me encarando com aqueles lindos olhos verdes de

um jeito tão profundo que me fez sentir vista, me fez sentir importante. Ele

me olhou como se pudesse ver o que eu carregava dentro do peito, foi um

olhar que me fez sentir em sintonia com ele. Ninguém nunca olhou para

mim daquele jeito. Foi atrativo demais, era como se me chamasse... e

quando vi, eu estava dando o maior beijão nele. Quase subi no colo dele pra

ficar mais à vontade... aaaargh!

Eu estou com ódio de mim mesma por ter feito isso. Por desejar aquele

idiota que ao mesmo tempo que parece um insensível, se importou em saber

como eu estava e me chamou de Mar... que saco! Parece que, ao invés de

sucumbir ao desejo, eu sucumbi a ternura. Ele é fofo, o Rodrigo é muito


atencioso e isso me deixa sem chão. Eu não fico sem rumo com caras lindos

e charmosos, eu fico perdida com caras que se importam e, apesar de


sempre ter pensado muito mal dele pela quantidade de pessoas que caíam

na sua cama, nunca imaginei que pudesse realmente se importar com elas.

O cretino marcou o encontro que ganhou com a aposta (diga-se de

passagem: criada por mim. Eu perdi uma aposta que eu mesma criei pra

me livrar dele!) num boliche. Eu nem sei jogar boliche, nunca estive num

lugar desses e nunca pensei que ele sairia de casa pra derrubar bastões em

uma pista gigante. Mas ok, aposta é aposta. Por isso estou arrumada neste

sábado às 19h30, esperando o tormento me buscar para irmos ao Golden

Bowl, um boliche que fica no setor Marista, um dos mais nobres da cidade.

Obviamente, eu não contei para ninguém a respeito disso, pois, apesar

da atração evidente e do beijo maravilhoso, não posso me envolver com o

Rodrigo. Não vejo como isso poderá dar certo.

Quando ele chega, me manda uma mensagem. Respiro fundo e saio de

casa, indo ao seu encontro.

Passamos o caminho todo implicando um com o outro. Como sempre, é

a coisa mais fácil do mundo irritar a Marla e eu adoro ver a cara de brava
que ela fica. Hoje ela está vestida  com uma calça de tecido fino, preto, que

deixa sua bunda perfeita bem marcada e as coxas torneadas, porém a calça

fica mais larga embaixo, até o final da perna, tão larga que cobre quase todo
o sapato. Desta vez, ela está calçada com uma bota fechada, além de estar

trajada com uma blusa na altura do cós da calça, de manga cumprida e bem

justa cor de palha, está simples e linda. Não sei como ela aguenta roupa de

manga longa no calorão de Goiânia, mas pelo menos essa tem um decote

quadrado que deixa seus peitos gostosos em evidência.

Logo chegamos ao Golden Bowl, um dos poucos boliches da cidade.

Eu gosto de jogar boliche para desestressar, é uma coisa legal de se fazer

em grupo, mas sozinho também. Quando quero fazer algo com os amigos,

marco uma pelada de futebol ou um barzinho, mas quando quero ficar

sozinho e estou com muita coisa na cabeça, venho jogar boliche. Não sei

porque quis trazer Marla aqui, eu não costumo trazer as mulheres pra cá.

Mas como já havia ido com ela a cafés, restaurantes e baladas, acho que

preferi fazer algo diferente.

Então vamos até a pista de boliche, não tem tanta gente hoje, mesmo

sendo sábado. Algumas pessoas vão direto pro bar do local e não jogam de

fato. Um funcionário vem nos atender e compro duas horas do tempo de

uso da pista, registramos nossos nomes e escolhemos a cor de cada um para


a contagem de pontos. O meu é azul e na tela fica escrito Rod, o da Marla é

vermelho e ficava escrito Mar.

— Nunca joguei isso na vida, é melhor eu observar você primeiro!

— É fácil, docinho, acho que você vai gostar. — Pego a bola e mostro a

ela como enfiar os dedos de forma correta nos buracos, então vou para a

frente da pista. — Você deve inclinar o braço para trás pra bola ganhar

velocidade, força e chegar até o fim. Depois é só posicionar a bola pra cair

da melhor maneira a derrubar os pinos, sem ir para os tubos das laterais. 

Então eu jogo e, claro, faço um strike!

— Bem fácil, não?

— Acho que sim, vamos ver... — Marla pega a bola e segue as

orientações que passei, mas se atrapalha na hora de jogar, a bola acaba

caindo no tubo da lateral, não derrubando nenhum pino.

Dou uma risada da falta de jeito dela.

— Ai, cala a boca, tormento!

— Vem cá, docinho. Vou te ensinar! — Me aproximo dela e mostro

como deve posicionar o braço ao segurar o peso da bola. — Tem que tomar

cuidado para não doer sua mão, então inclina assim... — Seguro o braço

dela de forma que o leve para trás da maneira correta. Marla me olha
enquanto toco nela, sinto sua pele arrepiada nos meus dedos e encaro os

olhos penetrantes que fazem o meu coração pulsar mais rápido.

Ela vira o rosto para frente, as seguindo minhas orientações. Então,


desta vez, consegue derrubar metade dos pinos.

— Olha, só! Nada mal, docinho. — Marla sorri, confiante.

— Tá bem, essa rodada não tá valendo. Vamos levar essa só pra eu

aprender a jogar...

— Valendo o quê? Eu não estava competindo...

— Mas poderíamos... o que acha de uma aposta?

— Mais uma? Eu já não provei pra você que sua sorte para apostas não

é muito boa?

— Olha, que convencido...! Aquilo foi simplesmente pela minha

carência da abstinência. — Marla cruza os braços, levantando as

sobrancelhas.

— E dessa vez vai apostar o quê?

— Quem ganhar a partida vai ajudar os noivos na decoração do

casamento!

Ah, não... isso é sacanagem, de tudo o que já finalizamos da lista de

planejamento, a coisa mais importante, ainda pendente, é a decoração do


local. Apesar de já terem alugado a casa de eventos com um belo jardim pra

fazerem a cerimônia ao ar livre, faltam as cores do casamento, das toalhas

de mesa, dos arranjos (porque as flores estão escolhidas), as lembrancinhas

e as fotos do ensaio dos noivos que, inclusive, eu ainda não tinha visto...

São coisas que me tiram a paciência só de pensar em organizar. E eu

imagino que pra isso Kiara e Marla não precisariam de ajuda, mas,

aparentemente, estou enganado.

— Achei que não precisaria me envolver muito nessa parte...

— Fico estressada com decoração de eventos, fica parecendo que o

casamento é meu de tão perfeccionista. Além do mais, seria bom um


tempinho extra depois de tanto trabalho.

— Você acabou de aprender e já acha que pode me derrotar?

— Não vou perder nada se não conseguir.

— Pois se eu aceitar sua aposta e vencer, não é isso que quero de

premiação!

— E o que seria então?

— Uma noite de sexo casual. — Dou um sorriso safado.

— De jeito nenhum. Não vou apostar uma noite de sexo com você!
— Por que não, docinho? Claramente, algumas coisas mudaram nos
últimos dias... talvez a gente esteja até ficando amigos, ou então bons

colegas, o que tem de errado numa noite de sexo sem compromisso?

— Tem que... não quero transar com você!

— Não é isso que o seu corpo me diz quando toco em você...

— Não importa! Ainda não desisti do meu período sabático e não


acredito que você teve coragem de me propor um acordo desses...

— Foi você que começou com as apostas, eu estava quietinho no meu


canto.

— Você é mesmo um idiota, tormento

— Do que tem tanto medo?

— Não tenho medo.

— Ao que parece tem, sim. Medo de me beijar, medo de se aproximar

demais, medo de fazer sexo comigo...

— Eu não tenho medo, só não quero. É diferente.

— Tudo bem, então. Contraproposta: se até o final dessa noite você não

sentir vontade de ficar comigo, planejo a decoração com os noivos sozinho.


Mas se você ficar atraída por mim... então ou planeja tudo sozinha com

eles, ou passa a noite comigo!


— Primeiro que não vou sentir vontade de fazer nada com você. E
segundo que, obviamente, vou preferir planejar tudo sozinha do que ir parar

na sua cama.

— Isso é o que vamos ver, minha linda.

Marla revira os olhos e eu sorrio, confiante na minha aposta. O melhor


é que ela quer tanto provar pra mim e para si mesma que não se deixará ser

seduzida que acaba concordando com minha proposta absurda. Eu estou


louco pra ter uma noite com ela faz um tempo, desde o beijo no

estacionamento, para ser exato.

Não vou perder a oportunidade.

Voltamos ao jogo e, depois de uma rodada, Marla aprende a jogar bem.

Como a aposta não tem nada a ver com o boliche em si, estou mais
dedicado a fazê-la ficar com vontade de me beijar.

— Um strike! Tenho certeza que não esperava por isso quando me


trouxe.

— O quê? Que você é competente até pra aprender as coisas mais


banais? Isso eu já esperava, docinho.

Marla fica vermelha com o meu elogio e devo dizer que isso me
surpreende, ela não se envergonha facilmente.
— Mas é uma pena você ter aprendido tão rápido.

— E por quê?

— Porque assim não tenho mais desculpa pra ficar atrás de você, te

ensinando tudo... — Dou um olhar sugestivo para a bunda gostosa e ela me


dá um tapinha no braço, deixando escapar um sorriso contido nos lábios.

— Nossa hora está acabando aqui, vamos comer no bar.

Ela assente e me segue depois de fazer mais um strike, acho que acabou
gostando bastante disso aqui.

Nos sentamos no bar da Golden e pedimos dois chopps e uma porção


de frango empanado que eu amo. Estamos em uma pequena mesa que fica

encostada na parede e dá para a janela do local, onde podemos observar o


movimento dos carros na rua.

É tranquilo e confortável estar aqui com ela. Depois de todo esse


tempo, sua companhia passou a ser agradável para mim. Posso sentir o

perfume suave e delicioso, observar a bela pele que eu sei muito bem que é
macia e gostosa e ver o decote maravilhoso que se abre um pouquinho mais

depois que ela se senta.

— Você devia saber disfarçar melhor, sabia?


— Mas não estou tentando disfarçar, docinho. É a vista perfeita você na

minha frente desse jeito. — Dou um sorriso de lado. — Sem aquelas roupas
de escritório que usa sempre, que eu inclusive gosto muito, mas é legal te

ver confortável assim.

— Você é muito safado. Mesmo quando tenta me elogiar, fica tudo

deturpado pelo jeito que me olha.

— Você ainda não viu nada... — Marla engole em seco quando falo

isso.

O chopp chega e brindamos

— Até que você não é uma companhia ruim em encontros.

Dou uma risada.

— Seria melhor ainda na sua cama...

— Rodrigo!

— Só tô falando a verdade, gatinha. Tenho certeza que deixaria você


muito satisfeita com a minha companhia.

— É mesmo? E o que você costuma fazer com as mulheres quando elas


aceitam esse tipo de proposta?

— Tudo que elas quiserem e me deixarem fazer.


Marla fica com os olhos mais escuros e sua respiração acelera, ela toma
um gole do chopp enquanto dou um sorriso pela reação.

— Você é do tipo que gosta de uma pegada dominadora, ou é você que


gosta de dominar, docinho?

— Não vou te responder isso!

— É só uma curiosidade...

— Então me diga você primeiro

— Pra que dizer se posso te mostrar?

Marla revira os olhos e cruza as pernas. Nada me passa despercebido

nessa mulher, ela aperta a caneca de chopp com mais força do que o
necessário e sei que deve estar imaginando as coisas que faria com ela. O

restante da noite é cheio de conversas provocantes e reações maravilhosas


da Marla, que parece muito interessada em pagar pra ver como é uma noite

comigo.

Quando entramos no carro, sigo para a casa dela um pouco derrotado,

visto que minhas investidas não conseguiram fazer a Marla abrir mão do
seu controle. A aposta ficou esquecida nesse interim. Quando paramos no

sinal, sinto os olhos dela em mim. A encaro e vejo a energia no carro


mudar. Ela respira fundo, olhando para mim, observando meu braço parado

no volante; os olhos estão escuros e as pupilas dilatadas, logo sinto o meu


corpo reagindo ao olhar dela. Apesar de termos tomado uma boa rodada de
chopp, não acho que seja efeito do álcool a maneira com que Marla me

olha.

O sinal abre e sigo no caminho para a casa dela.

— Não pode me olhar assim se me quer longe de você, docinho.

— Não sei do que está falando, tormento — a provocadora fala como


se a forma que me olhou não tivesse me deixado duro na mesma hora.

— Ah, não? — Dou um sorriso incrédulo.

Paro em frente à casa dela, desligando o carro e a encarando enquanto

tiro o cinto de segurança.

— Vou descrever como você me olha: sua boca está entreaberta, seus

olhos estão tão escuros que mal consigo ver o verde deles e sua respiração
me parece muito acelerada para alguém que está tranquila. — Marla tenta
disfarçar todas as coisas que eu aponto, desviando o olhar e fechando os

lábios, controlando a respiração.

— Tenho certeza que seus peitos estão pedindo pela minha boca
também. — Isso a faz olhar para mim.

Chego perto de Marla e ela não se afasta, coloco a mão no seu rosto,

passando o polegar em seus lábios e puxando o lábio inferior para baixo,


fazendo ela suspirar. Vou descendo o dedo indicador e polegar abertos pelo
pescoço dela, sentindo sua pele quente, encarando seus olhos sedutores o

tempo todo. Então passo os dedos pelo decote, vendo sua respiração ficar
mais rápida e entrecortada quando alcanço o peito dela e sinto o bico
intumescido na ponta do meu polegar, logo começo a rodar o dedo ali,
sentindo seu coração rápido e sua respiração falhar quando escuto um
pequeno gemido sair dos lábios grossos. É aqui que perco o controle e a

beijo.

Sinto a língua dela na minha boca, tem o melhor gosto do mundo. Não
consigo pensar em nada que não seja o corpo delicioso de Marla nos meus
braços, em como sua pele é gostosa, como o seu cheiro me enlouquece,

como o beijo é perfeito.

Ela puxa meus lábios com os dentes e geme, enfiando a mão no meu
cabelo. Eu enfio a mão por dentro da blusa dela e pinço seu bico nos meus
dedos, que ficam em forma de tesoura, os puxando e estimulando enquanto

Marla  aperta o meu braço, depois desce os dedos, raspando as unhas por
ali, me deixando maluco de tesão.

Sinto que o meu pau vai escapar para fora da calça no mesmo instante

que a mão dela descansa no meu pau e preciso coloca-la sentada em mim.
Afasto o banco para trás e a coloco em cima de mim, por sorte a rua
está deserta e não consigo me preocupar muito com quem pode, ou não,

passar por aqui. Marla abre as pernas, se encaixando perfeitamente quando


senta em mim, ela começa a rebolar no meu pau e nosso beijo fica mais
agressivo. Puxo o cabelo dela e aperto sua bunda, a afundando mais no meu
colo, sentindo sua boceta marcando meu pau que está duro como aço. Beijo

o pescoço longilíneo, mordiscando e lambendo ao subir até a orelha dela,


colocando seu cabelo para o lado antes de dizer:

— Você é muito gostosa, parece que foi feita sob medida pra me deixar
louco.

— Então por que não entra comigo e me mostra como deixo você
louco?

Me afasto de Marla e encaro os olhos dela para ter certeza do que ouvi.
Ela não diz mais nada, só acena positivamente com a cabeça e respira

fundo, mordendo o lábio de um jeito que me seduz demais.

Então ela sai do meu colo e abre a porta do carro, olhando para mim e
sorrindo antes de fechar a porta, eu a sigo, fazendo o mesmo.

Eu ainda não sabia o que está acontecendo, mas farei valer cada
segundo.
Eu não consigo pensar direito quando estou nos braços do Rodrigo e
isso é o que eu quero, porquê se pensar demais... Não o desprezo como

antes, mas não acho que ele é um bom par para mim. Porém, isso não
importa, eu quero o novo, uma aventura, quero me sentir viva nos braços de
um homem de novo, coisa que não acontece comigo há quase 3 anos, visto
que, quando estava com a vida sexual ativa, não tive sorte com os parceiros

que conheci. Rodrigo está sempre rodeado de mulheres e a minha única


expectativa é conseguir um belo orgasmo.

Entramos na minha casa nos agarrando, não conseguimos tirar as mãos


um do outro. Venho guiando-o até o meu quarto, onde acendo um abajur de

pouca luminosidade na cômoda e assim o local fica a meia luz.

— Você fica tão sexy com essa cara de safada, Marla.

Acho que é a primeira vez que o ouço falar o meu nome desse jeito,

sem ironias, sem apelidos e de um jeito que me deixa totalmente arrepiada.


É surpreendente como a voz dele, rouca, me deixa molhada.
Rodrigo se aproxima, me pegando no colo e me beijando

profundamente enquanto eu encaixo minhas pernas ao redor do quadril


dele, sentindo seu pau duro e, aparentemente enorme, friccionando o meu
clitóris por cima da roupa.

Ele me deixa louca enquanto me aperta contra seu corpo duro grande e

firme. O braço envolta do meu corpo me segura, a outra mão na minha nuca
enquanto a língua na minha boca me tortura e me explora como quer. Eu
estou satisfeita recebendo tudo o que ele pode me dar sem conseguir conter
pequenos gemidos.

Rodrigo aperta a minha bunda, me fazendo roçar ainda mais no seu pau
e eu fico louca para vê-lo inteiro e nu na minha frente. Ele para de frente
para a minha cama e quando penso que me colocará em cima dela, sou
içada para o chão, onde ele me encara com os olhos escuros e a pupila

dilatada, além de um lindo sorriso sacana no rosto.

— Tira a roupa para mim, docinho — ele ordena, firme, mas sedutor de
um jeito que faz o meu estômago se contorcer e minha calcinha pesar.

Nunca pensei que ficaria excitada com ele me mandando fazer alguma

coisa.

Mordo o lábio enquanto o encaro, excitada demais para disfarçar


qualquer reação. Então tiro a blusa, ficando com meu sutiã de tule preto e,
em seguida, tiro a calça, deixando que me veja de lingerie. Os olhos dele

passeiam por todo o meu corpo, me devorando; mesmo sem encostar em


mim, eu sinto todo o corpo ardendo de desejo pela maneira que os olhos
dele me cobiçam.

Então removo o sutiã e Rodrigo geme baixinho em sua garganta quando

vê os meus seios com os bicos inchados. Ele se aproxima de mim, ficando a


poucos centímetros de distância, mas continua sem me tocar, esperando que
eu cumpra a ordem. Então me deito na cama, abrindo as pernas, o
observando engolir em seco.

— Se quiser me provar vai ter que tirar a minha calcinha, tormento.

Rodrigo sorri lentamente, seus lábios se arqueiam, me dando o sorriso


mais cretino e safado que já vi em seu rosto, ele parece maravilhado.

— Estava esperando o momento que me desafiaria, docinho, mas essa,


com certeza, é a melhor coisa que já me pediu para fazer.

Rodrigo tira o tênis branco primeiro, depois abre os botões da camisa e


a tira, mostrando o peitoral definido que eu nunca havia tido a oportunidade

de observar antes. Ele tem uma tatuagem na costela com algumas frases que
não consigo distinguir, mas que são muito sexys. Posso ver que ele tem
entradas perfeitas ao final da barriga e fico louca para poder tocá-lo.
Rodrigo coloca os joelhos na cama, ainda vestido com sua calça, onde
posso ver o volume incrível na sua pélvis, ele sorri, sacana, para mim
enquanto remove minha calcinha lentamente, enfiando os dedos por dentro
na parte do quadril, esticando-a e puxando para baixo até tirá-la

completamente pelas minhas pernas, passando as mãos pelo caminho.

Então sinto o meu clitóris inchado sem ele nem mesmo me tocar.
Rodrigo observa a minha boceta nua e respira fundo, franzindo o cenho
totalmente safado e excitado, ele passa o dedo indicador no meu clitóris, me

fazendo suspirar.

— Que bocetinha gostosa, docinho, toda melada para mim. — Rodrigo


esfrega o dedo enquanto se abaixa para beijar as minhas coxas e passar a
língua pelo meu quadril.

Eu já estou arqueando as costas antes mesmo da língua dele tocar em


mim.

Então a sinto língua lá, no meu centro, e o encaro, ele observa a minha
reação enquanto a língua rodeia o meu clitóris, me fazendo gemer sem

conseguir me conter. Ele começa sem fazer pressão, apenas rodeando a


língua, me saboreando como se eu fosse a coisa mais gostosa que ele já
chupou, depois Rodrigo me beija ali como se estivesse beijando minha boca
com a língua.
E então volta a me torturar, rodeando meu ponto inchado e sensível,
aumentando a pressão enquanto eu arqueio as costas, mantendo meu quadril
parado. Rodrigo sobe a mão para acariciar o meu seio e isso me deixa mais
insana, fazendo com que minha boceta fique profundamente molhada. O

meu orgasmo se aproxima e eu estou impressionada com o grau de


lubrificação que ele consegue me deixar. Começo a gemer mais alto quando
ele movimenta a cabeça, aumentando a pressão e a rapidez que me chupa.

Quando Rodrigo coloca um dedo dentro de mim, não consigo mais me

segurar e gozo de um jeito tão intenso que faz o meu corpo inteiro formigar.
Seguro a cabeça dele ali até sentir os espasmos pararem de me castigar e ele
continua me chupando como se saboreasse meu orgasmo.

Quando olho para ele, o safado sorri com a boca molhada e lambe os

lábios para mim, fazendo o meu coração acelerar.

— Você é gostosa pra caralho, Marla. A sua boceta deliciosa me deixa


maluco quando você goza na minha boca.

Eu não consigo dizer nada, nunca havia ficado tão excitada na vida, só
consigo morder o lábio, louca pra senti-lo dentro de mim.

Rodrigo se aproxima de mim, limpando o restante do meu gozo em sua


boca com as costas da mão. E me beija profundamente, fazendo com que eu

sinta o meu próprio gosto em sua língua, então afundo os meus dedos no
cabelo dele e o puxo para mim, sentindo que ele ainda está vestido com a
calça. Então o encaro, sorrindo.

— Tá se fazendo de difícil ou quer que eu tire a sua roupa também?

— Estava tentando me conter pra não entrar rápido demais em você.

— Quero sentir você, Rodrigo... — falo, olhando intensamente nos


olhos dele.

Rodrigo se levanta sem quebrar o contato visual e retira sua calça,


ficando apenas com uma cueca boxer preta da Calvin Klein. Daqui, eu
consigo ver o pênis duro enchendo deliciosamente a boxer, ele remove a
cueca e engulo em seco quando o pau pula pra fora: duro, grosso e grande

para mim.

Sinto o meu peito acelerar freneticamente de ansiedade para senti-lo


dentro de mim. Não sei o que está acontecendo comigo, nunca imaginei que
ficaria tão excitada apenas de observá-lo.

Rodrigo coloca os joelhos entre as minhas pernas e se abaixa, me


beijando. Sinto a língua dele invadir a minha boca e me entrego ali,
passando minhas mãos em seu corpo, apertando seus braços, suas costas,
seu peito e sua barriga deliciosa, sinto seu pau encostando na minha entrada

e perco o fôlego me afastando de sua boca.

— Calma, docinho, quero te provar toda sem pressa...


Rodrigo beija o meu pescoço, lambendo um ponto sensível que me faz
arquear as costas enquanto ele aperta o meu seio em uma mão e puxa meu
cabelo com a outra, me rendendo enquanto deixo que puxe minha cabeça

para o lado, deixando o pescoço exposto. Sinto arrepios no corpo inteiro


como se labaredas de fogo me aquecessem dos pés à cabeça. Rodrigo
morde o lóbulo da minha orelha, me arrancando um gemido que o faz
gemer também.

— Que mulher deliciosa você é, Marla.

Em seguida, Rodrigo desce a língua até chegar nos meus seios,


puxando o bico intumescido com os dentes, bem devagarzinho, de forma
que a dor seja prazerosa. Ele me tortura ao chupar e morder um seio

enquanto a outra mão aperta o outro e puxa o meu mamilo, estou perdendo
a sanidade de tesão e só quero que ele entre logo em mim.

Rodrigo levanta o tronco e pega em seu pau, passando a cabeça pelo

meu clitóris, me enlouquecendo, arrancando gemidos que eu estou surpresa


de saírem pela minha boca enquanto eu arqueio os quadris pra aumentar a
pressão.

— Tão apressada e gulosa a minha docinho.

— Você gosta mesmo de me atormentar, não é?

— É perfeito ver você toda rendida assim, abrindo mão do controle...


Pego o pau dele e começo a masturba-lo, subindo para cima e para
baixo. Deixando Rodrigo ofegante e juntando os lábios fechados com o

rosto repleto de tesão. Logo ele puxa minhas mãos e as coloca acima da
minha cabeça, segurando meus braços, então diz ao olhar nos meus olhos:

— Fica paradinha para mim, docinho, quero te comer assim...  — as


palavras me fazem morder o lábio de excitação.

Ele se levanta, me deixando confusa até que ergo a cabeça e vejo que
Rodrigo pega a carteira do bolso da calça, tirando um preservativo de lá.

Ele sobe na cama e fica entre as minhas pernas, abre o pacote


rapidamente, desenrolando a camisinha por cima de seu pau. Então se

posiciona na minha entrada, sentindo minha excitação na cabeça de seu pau,


começa entrando vagarosamente, centímetro a centímetro, me preenchendo
e alargando o meu centro, me deixando extasiada, me deixando acostumar
com seu tamanho até me penetrar por completo, atingindo meu ponto G e

nos fazendo gemer.

Rodrigo coloca as mãos sobre as minhas, prendendo-as com seu peso e


sorri lascivamente enquanto ainda está dentro de mim, o olhar desinibido e
cheio de luxúria me faz apertá-lo dentro de mim, fazendo com que ele me

segure mais forte e comece a estocar profundamente em um ritmo perfeito.


A cada arremetida eu gemo e ele segura seus sons, ofegando e me
olhando como se eu fosse uma rainha. Nunca o tinha achado tão lindo

quanto agora... enquanto entra em mim, me fazendo sentir parte dele.

— Você é perfeita, Marla, tão gostosa e molhada... Linda demais.

— Aaaahh! — eu não consigo responder enquanto sinto o pau dele,


inchado, me invadindo, me preenchendo me deixando a beira do abismo.

Parece que eu estou em um mundo paralelo onde há apenas um


resquício de consciência existe e eu sou apenas um corpo suado, me
deixando sentir todas as sensações possíveis.

Rodrigo para de segurar minhas mãos e começa a beijar e chupar o meu


pescoço enquanto continua metendo deliciosa e perfeitamente sem parar.
Passo as minhas mãos pelo corpo dele, segurando seu braço com uma mão,
usando a outra para arranhar as costas dele, erguendo a cabeça para trás de

tanto prazer.

— Ai, Rodrigo não para... meu Deus...

Eu não consigo acreditar que gozarei antes dele, isso nunca me


aconteceu antes. Esse homem é gostoso demais. Eu não consigo me conter

e sinto as ondas do orgasmo me preenchendo com a sensação absurda da


saciedade. Gemo alto e sem pudor algum enquanto seguro Rodrigo dentro
de mim com minhas pernas cruzadas em volta do quadril dele. Ele beija o

meu ombro, meu pescoço e meu colo enquanto eu tento recuperar o fôlego.

Rodrigo me olha, sorrindo, sem sair de dentro de mim. Mesmo depois


de eu o soltar com as pernas.

— Que delícia sentir a sua boceta gulosa me apertando enquanto você

goza no meu pau...

Não sei como ele consegue me deixar excitada falando essas coisas,
mas eu amo quando ele fala coisas safadas pra mim.

— Você é muito safado, tormento.

— Você é muito safada também, docinho. — Ele se aproxima, me


beijando ao enfiar a língua gostosa na minha boca e depois se afasta, dando
aquele sorriso de cafajeste que só ele tem e que deixa todas as mulheres

malucas.

— E eu adoro deixar você toda safada e gemendo. Ainda não acabei


com você, minha Docinho.

Engulo em seco por antecipação, ele sai de dentro de mim ainda duro.

Não acho que chegou a gozar, o que, para mim, é impressionante. Estou
acostumada com os caras gozando antes de mim e depois a ter um segundo
round. Com certeza essa já é a melhor transa que tive na vida, é claro que
ele não precisa saber disso.
Rodrigo se levanta da cama e me observa, acariciando o pau com o

sorriso mais gostoso do mundo nos lábios. Estou muito abalada pelo
magnetismo que ele tem sobre mim... tão gostoso e lindo que sinto o meu
coração batendo mais forte e minha boceta pulsando pra senti-lo
novamente. Os verdes brilham de luxuria para mim, ele é alto e forte e eu

estou ansiosa pra saber o que fará em seguida.

— Fica de quatro, gostosa. Quero ver essa bunda empinada pra mim.

Cristo...!

Por que é tão gostoso ouvir essas coisas? Eu já não estou me

reconhecendo mais, tenho certeza que estou embriagada de tesão. Me

levanto, o encarando e conferindo cada parte deliciosa dele pelado, é uma


visão e tanto esse homem lindo acariciando o próprio pau para mim. Então

fico de quatro na cama, diante dele, olhando para trás e o observando.

— Meu Deus, você tem noção do quanto fica perfeita quando está

assim?

— Parece que você vai me dizer...

— Ai, docinho... você me enlouquece.

Rodrigo se inclina e beija as minhas costas, passando a mão por meus

ombros, descendo e lambendo cada centímetro de pele até chegar na minha


bunda, onde beija e dá um tapa, que me dá um sobressalto, mais, por
surpresa do que por qualquer coisa, quando suspiro, ele beija no mesmo

lugar do tapa, sugando com os lábios e passando a língua, depois dá outro

tapa e eu gemo sem querer.

— Deliciosa essa bunda perfeita Marla, poderia passar a vida olhando


pra você assim.

Rodrigo então acaricia o meu clitóris, se inclinando sobre mim,

beijando e mordiscando o meu pescoço enquanto me contorço, excitada.

Ele enfia um dedo dentro de mim quando começo a ir pra trás para que
entre mais em mim, então coloca outro dedo.

— Tão apressada a minha Docinho....

Eu só consigo me concentrar na mão rodeando o meu centro me


deixando louca. Antes que eu me aproxime do orgasmo, Rodrigo afasta o

torço do meu corpo e se ergue, entrando dentro de mim com força e me


fazendo gemer alto.

— Gostosa.Pra.Caralho

— Nossa, que delícia... — me vejo dizendo, totalmente descontrolada.

Rodrigo entra em mim sem descanso, ele ofega e fala coisas sem nexo

enquanto se perde em mim e eu me perco nele. Olho para trás e encaro  os


olhos que estão escuros e entregues. É então que me rendo, gozando mais

uma vez, me segurando nos lençóis.


Viro-me para frente, empinando mais a bunda e abaixando o corpo na
cama já sem conseguir me manter na posição. Quando sinto Rodrigo

apertando a minha bunda e parando bem fundo em mim, sei que ele gozou,

então gozo novamente, não sei como ele consegue fazer isso comigo, mas é
delicioso, incrível, intenso e perfeito.

Eu transei com Rodrigo Linhares e gostei. Gostar é muito pouco perto

do que eu senti, eu transei com Rodrigo Linhares e adorei cada maldito

segundo.

Eu estou fodida. Literalmente.


 
“Talvez nós devêssemos manter isto simples
Nós não temos nada a decidir
Oh não, nós não precisamos complicar ainda mais [...]
Eu nunca fui um fã de corações partidos
Então me diga, o que você quer?”
Shawn Mendes | No Promises

Eu transei com a Marla Martinez.


Não consigo realmente assimilar que isso realmente aconteceu. Parece

que foi um sonho muito louco onde o inimaginável aconteceu. Mas é real e

foi incrível. Faz um tempo que a minha forma de vê-la e de lidar com ela

mudou. Ela se abriu mais, contou coisas sobre sua vida, então fez com que

eu tivesse vontade de me abrir mais um pouco também. Me sinto mais


próximo dela, parece até que existe uma pequena amizade, um

entendimento entre nós.

Que eu queria fazer um sexo alucinante com ela não é segredo para
ninguém, mas daí realmente aconteceu e... eu nunca achei que seria

realidade. Foi intenso, espetacular, inebriante... e eu quero mais.

Não é inteligente continuar com isso, não é sensato nem mesmo ter

começado com isso, mas quem consegue ser racional numa hora dessas?

Sem contar que é diferente com a Marla. Eu sinto uma tensão empolgante

quando estou com ela, como se algo único estivesse acontecendo, algo que
faz a minha corrente elétrica pulsar, experimentando uma sensação nova

que não me lembro de ter sentido antes. E preciso saber o que ela está

pensando sobre isso, como se sente.

Passei a noite na casa dela, nós dormimos juntos pela exaustão e eu


estou acordado há mais ou menos 20 minutos. Me mantenho totalmente

parado e respirando devagar para que ela não acorde. Se ela me ver agora,
tenho certeza de que ficará espantada. Quero muito poder tirar uma foto

dela só para implicá-la depois, mas, infelizmente, não é possível.

Marla mantém a cabeça descansando no meu peito. Acho que não

estávamos assim quando nos deitamos, mas durante a noite ela veio parar

em cima de mim e eu a apertei contra o meu peito e acabamos dormindo

desse jeito.

Agora ela está linda com o cabelo por cima do olho e pelada, tão

gostosa que é impossível perder a ereção matinal. Sinto o peito dela

encostando em mim, a pele quente enquanto ela ocasionalmente me aperta

um pouco, me fazendo suspirar.

Dormir com a Marla é perfeito...

Não posso dizer que não faço isso com frequência. Sempre tenho uma
mulher dormindo na minha cama, mas com ela tem um sabor diferente,

talvez porque vê-la assim, tão diferente de quando está na defensiva e com

5 pedras na mão, é inacreditável demais.

Ela é extremamente sexy, os lábios carnudos e a perna entre as minhas

me faz ter vontade de acordá-la, mas eu tenho receio da reação dela quando

despertar. Não quero que se arrependa da nossa noite.

Fecho meus olhos quando percebo que ela vai abrir os dela ao ver as
pálpebras. Sinto- a mexendo a cabeça, saindo do meu peito e a cama se
afunda com o peso dela, mostrando que deve ter levantado parte do corpo.

Ela retira a perna do meio das minhas e se afasta, parando um pouco, ouço-

a respirar fundo, então sinto a mão no meu peito, o polegar o acariciando,


ela retira a mão dali e a sinto na minha mandíbula, passeando os dedos por

ela, acariciado o meu queixo. Então sorrio e abro os olhos.

Marla retira a mão na hora e cobre os seios com o lençol.

— Bom dia, docinho. — Dou um sorriso safado para ela.

— Bom dia...

— Sabe que tive o privilégio de ver todo o seu corpo ontem a noite, não

é? Não precisa cobri-lo de mim, eu jamais esquecerei cada detalhe dele...

Marla revira os olhos.

— Não sei se é uma boa ideia manter essa intimidade toda com você.

— Está arrependida? — pergunto, engolindo em seco.

— Não, mas... acho que não podemos continuar fazendo isso.

— Fazendo um sexo alucinante? — Dou um sorriso.

— Não é uma boa ideia, Rodrigo.

— E por que não? Achei que havia te deixado bastante satisfeita.

Marla fica vermelha e desvia o olhar do meu.


— Porque somos padrinhos de um casamento em curso e não devemos

perder a concentração nisso... Além do mais, não consigo manter relações

com uma pessoa que transa com mais um bando de mulheres depois de

mim.

— Quer exclusividade? Olha, pra uma pessoa que me odeia você é bem

possessiva.

— Dá pra tirar esse sorrisinho irritante do seu rosto?

— Desculpe, docinho, acordei de muito bom humor hoje, não consigo

evitar. — Marla me olha, franzindo o olhar com irritação.

— Acho que é melhor você ir pra sua casa...

— Por que a pressa? Ainda nem fiz o serviço de hoje.

— Que serviço?

Me curvo sobre o corpo dela, fazendo com que Marla se deite na cama

e encaro seus lindos olhos, sentindo o meu coração pulsar mais rápido.

Então retiro o lençol branco que ela usou para tampar o corpo dos meus

olhos e respiro fundo, Marla é tão bonita que me faz perder o fôlego,

principalmente quando me olha assim, entregue ao momento, esquecendo o

bom senso quando eu toco em seu corpo.


Acaricio o queixo dela e depois passo o dedo pelos lábios grossos,

abaixando o meu rosto quase a beijando, tocando nossos lábios por um

segundo antes de afastar a minha boca da dela e desviar para o pescoço,

beijando-a ali naquele ponto sensível no final da mandíbula, lambendo e

chupando até ouvir o gemidinho tímido que faz com que eu saiba que Marla

está tentando se segurar.

Desço a minha língua pela pele dela até chegar entre os seios, dando

um chupão enquanto aperto os peitos deliciosos, que encaixam

perfeitamente nas minhas mãos. Coloco um mamilo na minha boca e o

chupo forte antes de rodear a língua ali para que ela tivesse uma chance de

tomar fôlego antes de chupá-lo novamente. Marla enfia a mão no meu

cabelo e o puxa, me deixando louco pra entrar nela.

Começo a descer a boca pelo corpo curvilíneo, passando a língua pelo

umbigo dela, fazendo sua pele arrepiar; dou pequenos beijos ali até chegar

na razão da minha loucura. A boceta dela está molhada e pronta para mim.

É uma delícia observar as pernas abertas para mim, a forma como ficam

entregue com minhas carícias me deixa maluco de tesão. Coloco um dedo

dentro dela, fazendo Marla gemer, logo ela levanta o pescoço do

travesseiro, me olhando como uma feiticeira sexy que me dominou.

— Me chupa, tormento!
— Sim, senhora.

Passo a língua pelo clitóris inchado e ela deita a cabeça novamente,

empurrando-a para trás ao arquear as costas. Seguro o quadril dela, a

mantendo no lugar e continuo chupando seu ponto inchado, circulando a

língua ali, sentindo o gosto maravilhoso que só me deixa mais excitado a

cada segundo que ela molha mais minha boca com sua excitação.

Ver Marla fora de si com minha língua em sua boceta não tem preço, é

a 8ª maravilha do mundo. Começo a aumentar o ritmo e coloco meu dedo


dentro dela ao mesmo tempo quando sinto que está perto. Marla coloca a

mão na minha cabeça e a outra aperta o travesseiro ao seu lado, gosto de


olhá-la chegando ao orgasmo, é a visão mais perfeita do mundo. E quando

sinto seus espasmos e seu gozo em minha língua sinto que cheguei no
paraíso.

Me levanto e pairo acima do corpo dela quando ela retira o braço do

rosto, me olhando, extasiada de prazer, seu corpo está com um pouco de


suor e ela está corada. Quando lambo meus lábios e engulo, Marla suspira e

morde o lábio, me arrancando um sorriso satisfeito que faz seus olhos


brilharem. Logo ela coloca os braços em volta do meu pescoço e me beija

quando me abaixo, um beijo gostoso e muito, muito safado.


Aperto a coxa dela com força a fazendo gemer no beijo, subo a mão por
todo o seu corpo e aperto seu seio do jeito que aprendi que ela gosta.

— Você é tão perfeita, Marla. Adoro fazer você gozar na minha língua.

Sinto Marla arranhar as minhas costas.

— Tão agressiva a minha Docinho...

— Não sei se deve me chamar de “minha”, tormento.

— Quando estiver na cama comigo, você sempre vai ser minha.

Ela engole em seco e vejo seu olhar escurecer ainda mais. Beijo a boca
dela, a invadindo com a minha língua enquanto ela se derrete. Então enfio a

mão pelo cabelo dela, aprofundando ainda mais o beijo, a fazendo gemer.
Me afasto dela, procurando pela minha carteira até achar outra camisinha.

Abro o pacote, desenrolando o plástico no meu pau depois de subir na cama


novamente e ficar no meio das pernas de Marla. Coloco os braços dela

acima da cabeça e os seguro com uma mão enquanto me encaixo em sua


entrada molhada, penetrando-a devagar e abaixando o corpo para sentir

mais da sua pele na minha.

Marla entrelaça as pernas no meu quadril, me enlouquecendo e me

fazendo aumentar o ritmo com estocadas mais fundas e rápidas. Vejo os


seios dela saltando com o movimento dos nossos corpos, então Marla fecha

os olhos, levando a cabeça para trás enquanto gememos juntos, depois beijo
a boca dela sem parar o ritmo e começo a sentir sua boceta me apertar, me
mostrando que está perto. Então a encaro e coloco a mão em seu pescoço

com firmeza, sem apertar, mas de forma que eu a segure no lugar, ela morde
o lábio e geme no fundo da garganta, me fazendo gozar intensamente. Sinto

meu corpo inteiro formigando e não paro de entrar nela até sentir seus
espasmos deliciosos, mostrando que ela gozou.

Me deixo cair um pouco em cima dela quando Marla envolve os braços


no meu pescoço, me juntando ao seu corpo extasiado e cansado pelo prazer.

É indescritível a sensação de estar nos braços dela, não entendo direito o


que isso significa, mas me sinto... em paz.

Marla fica com vergonha de tomar banho comigo, então vou para o
banho sozinho. Acho que ela só perde a vergonha quando está cheia de

tesão. Percebo isso pela insistência dela ao fazer café enquanto eu tentava
levá-la para o banheiro comigo.

Já que não estava com a escova de dentes, usei apenas o enxaguante


bucal para não ficar com mal hálito. Quando saio do banheiro, ela me diz
para tomar café enquanto é sua vez de usar o chuveiro.

Aproveito para me sentar e me servir de café, depois vejo que tem pão
de forma na geladeira, então coloco alguns pães com manteiga na

sanduicheira pra fazer torradas e faço ovos mexidos na frigideira. Aproveito


também para colocar um pouco de ovo em cada torrada pronta e os sirvo na

mesa da cozinha com um prato. Quando Marla vê a comida servida na


mesa, para por alguns segundos, em confusão. Quase acho que ela vai

brigar comigo por eu ter mexido na cozinha mas ela só levanta o olhar para
mim e sorri. É um sorriso diferente dos que já havia visto em seu rosto, não

ei interpretá-lo, mas fico intrigado.

— Você faz café da manhã para todas as mulheres que passam a noite

com você?

— Com certeza, pelo menos as que ficam mais tempo e não vão

embora logo quando levantam da cama.

— Hmm, isso não me parece um sinal de que elas gostaram da noite...

— Provavelmente elas são casadas — digo antes de morder uma


torrada.

— Que absurdo... não acredito que você fica por aí transando com
mulheres casadas!
— Ei! Elas que são casadas... eu sou solteiro. E elas não me contam

essas coisas, só percebo isso quando as vejo colocando uma aliança no dedo
depois de abrir a bolsa e me darem um tchau apressado, agradecendo pela

ótima noite

— Não acredito que transei com você!

— Ah, não faz isso, docinho... Primeiro que sempre uso camisinha, e
depois que tivemos uma noite e manhã — Enfatizo levantando as

sobrancelhas —... maravilhosas demais pra você vir com seu


conservadorismo pra cima de mim agora.

— Não acho certo esse tipo de coisa, não significa que sou

conservadora.

— Mas fica me julgando porque me relaciono com muitas mulheres...

— Não consigo entender porque você gosta disso.

— Porque é difícil se relacionar, não quero namorar com uma pessoa

que pode me largar a qualquer momento. Hoje em dia as pessoas não


querem nada sério, pelo menos não comigo.

Marla me observa por alguns segundos e acho que falei demais. Não é
como se eu quisesse namorar, não tem ninguém em especial que tenha

chamado minha atenção para isso, estou bastante confortável com minha
vida do jeito que está.
— Não acho que isso seja verdade, os homens que não querem nada
sério com ninguém.

— Está enganada, docinho. Todo mundo tá com medo de se apegar


hoje em dia. Então fico tranquilo curtindo minha solteirice, você deveria

fazer o mesmo. — Dou um olhar sugestivo na direção dela.

Marla sorri de lado depois de tomar um gole do café o que me deixa em

alerta.

— Bem, talvez você possa sossegar por um tempo se fizermos um

acordo.

— Um acordo?

— O que acha de a gente manter o sexo casual até o casamento dos

nossos amigos?

— Tá me propondo uma relação casual? Isso tá mesmo acontecendo?

— Se começar a fazer gracinhas retiro a proposta!

— Desculpa se fiquei um pouco surpreso com a sugestão. — Não

consigo esconder o sorriso com essa proposta surreal de Marla. ­— Por que
quer fazer isso?

— Porque... foi... — Ela respira fundo, desviando o olhar. — Bem,

você me surpreendeu, tormento, me mostrou que podemos nos divertir


juntos quando você não está falando asneiras.

— Me prefere quando tô entrando em você caladinho, docinho?

Marla engasga com o café e tampa a boca com a mão contendo a tosse.

— Cala a boca, Rodrigo!

Dou uma gargalhada. Meu Deus, eu não conseguia acreditar que isso

estava acontecendo. Marla me propondo uma relação casual... não pode ser
verdade.

— Deixa pra lá! — Marla revira os olhos e morde uma torrada com
raiva.

— Calma, minha linda, não podia deixar essa passar, não é? Como você
quer que seja? Tem regras nessa sua proposta?

— Bem, tem, sim! Vamos manter isso em segredo vai acabar depois do
casamento então tem prazo de validade para ninguém se apegar e ter
expectativas erradas. E por ter um tempo limitado, acredito que possamos

ser exclusivos... o que acha?

Acho que fico mais surpreso pela proposta do que pelas regras. Não
acho que esteja pedindo demais por querer exclusividade, já que a Marla
ficou anos sem vida sexual ativa e é natural que não queira ter vários

parceiros, também como se incomoda com minha vida de mulherengo,


acabaria se sentindo mal por não ser a única com quem saio. Como é por
pouco tempo, acho o pedido razoável. O que me incomoda é o segredo, não

concordo muito com isso, acho que não tem a menor necessidade..., mas
tudo bem.

— Agora consigo ver claramente a minha Docinho fechando acordos


excelentes... E tem como recusar?

— Então está feito! — Ela sorri para mim.

— Fechado! — Sorrio de volta.

Eu não sei o que me aguarda, mas estou ansioso para descobrir.


 
“Meu coração está no ritmo
Eu estou confusa, estou tonta
Eu vi algo em você que eu nunca vi antes, isso me deixou tremendo
Eu devo estar alucinando
Eu ouvi que isso acontece, eu só estou dizendo”
I Think I’m In Love | Kat Dahlia

Alguma coisa deu muito errado no meu cérebro e eu estou

completamente louca. Essa é a única explicação para o fato de que fiz uma
proposta de sexo casual ao Rodrigo. O cara mais mulherengo que já

conheci, a pessoa que me tira do sério como ninguém, o cara com quem eu

não suporto nem mesmo conversar... O que foi que deu em mim? É isso o

que as pessoas chamam de “chá bem dado”? Ou eu não sei o que

corresponde ao masculino disso. Não acredito que caí na armadilha de me


deixar levar por um sexo muito bem feito.

O Rodrigo me tratou melhor do que eu esperava no encontro, foi

atencioso, fofo e sedutor. Eu acabei me deixando levar quando ele me


encarou nos olhos com aquele olhar de menino perdido. É impressionante

como somos coração mole, meu Deus, eu sou totalmente contra as mulheres

se deixarem derreter por esse tipo de coisa boba que os homens fazem. Mas,

quando caí na real, ele já tinha me feito gozar 3 vezes e dormi de exaustão
em seus braços....

Rodrigo foi o melhor sexo que já tive e isso é inegável. Parece que uma
parte adormecida em mim acordou, uma parte que ignorei porque já foi uma

fonte muito grande de frustração na minha vida. Eu já sentia uma química

inexplicável e nada bem vinda com ele desde muito tempo, porém nunca

acreditei de verdade que renderia bons frutos, mas, aparentemente, eu

estava errada. Cada dia que transo com ele, eu fico mais insaciável, quero

experimentar todos os tipos de coisas e... meu Deus...


Puta que pariu, eu preciso de ajuda!

Quem é que eu conheço que pode conversar sobre esse tipo de coisa? É

claro, apenas a minha amiga pegadora favorita.

Estela: Não acredito que você deu pro Rodrigo!!!!!!

Eu: Eu também não acredito!!

Estela: ksksksksksks

Eu: Para de rir! Eu preciso de ajuda!

Estela: Ajuda pra quê mulher? Finalmente tá tirando o atraso... estava

dando teia de aranha já na pobre kskskskks

Eu: Vai se ferrar, Estela! Eu não acredito que só tenho você pra

conversar

Estela: Amiga, que bobagem é essa de segredo? Por que a Kiar não

pode saber?

Eu: Ai, porque ela vai shippar o casal, tentar juntar a gente... sei lá, eu

não vou contar nada

Estela: hm, ela provavelmente vai adorar mesmo.

Eu: eu gostei muito de transar com ele, queria que se repetisse, então

quando vi já tinha feito a proposta!


Estela: E ele aceitou rapidinho, né? O boy gostou ksksksks até abriu

mão de ficar com outras pessoas, inclusive por que pediu exclusividade?

Eu: Porque ia ficar com nojo de transar com ele sabendo que tinha

entrado em outras meninas no mesmo dia, sei lá, eu acho estranho...

Estela: Eu acho normal e não acho que seria no mesmo dia.

Provavelmente só na mesma semana, a senhora, na realidade, não tá

querendo esse pau só pra você?

Eu: Que ultrage! Eu não! Não suporto ele metade do tempo...

Estela: Uhum, só quando ele tira a roupa, né...

Eu: Eu te odeio, sabia?

Estela: Você me ama! Me conta mais, como foi?

Eu: Eu nunca tinha gozado 6 vezes no mesmo dia! Achei sensacional!

Estela: Tadinha, minha amiga só tinha pegado tranqueira. Olha, ele tá

fazendo tudo direitinho... tô gostando. E o pau, amiga? É grande?

Eu: Não vou ficar falando do pau dele!

Estela: Você é muito ruim nisso sabia? Pelo amor de Deus, ele é seu

PA não é seu namorado, e eu já falei do meu namorado pra vocês...

Eu: Isso não conta, amiga. Você é você, acha que a Isadora vai contar

do pau do marido dela?


Estela: Ela não, mas eu sei do pau do Luís...

Eu: O quê?? A Kiara te contou dessas coisas?

Estela: Eu perguntei e ela contou ksksksksksks

Eu: E aí??

Estela: Ah! Não, senhora. Me fala do seu primeiro!

Eu: GGG

Estela: Grande?

Eu: Grande, grosso e gostoso

Estela: aaaaaaaaaaaa eu amo você, amiga!

Não dá pra levar a Estela a sério, Cristo!

E não acredito que estou falando sobre isso. Mas até que é um alívio

saber que ela não me julga sobre nada que eu faço, pois tenho um pouco de

receio de falar que me entreguei ao mulherengo que mais desprezava. Só

que o Rodrigo vem sendo muito legal comigo. Na verdade, eu e ele já

estávamos mais próximos nos últimos tempos, então não foi tão estranho

quanto pensei que seria começar a transar com ele. Faz uma semana que

estamos nessa de “amizade colorida” e, por incrível que pareça, está me

fazendo muito bem.


Sinto alguns momentos de constrangimento quando nos encontramos,

mas assim que ele me beija... tudo flui naturalmente. Principalmente porque

coisas que eu só estou percebendo com mais clareza agora: o jeito que ele

fica safado quando faço determinada coisa, coisas que o irritam quando eu

estou o criticando, a forma como ele suspira quando puxo o cabelo dele

durante o beijo. A forma que o coração dele relaxa quando dormimos

juntos... Pois é, dormimos juntos todos os dias que nos encontramos essa

semana, o que, para mim, parece muito, mas é tão bom... e está tudo bem.

Não preciso me preocupar porque tudo isso tem hora para acabar e é uma

maneira legal de encerrar meu período sabático e voltar a ter experiências

novas. Sexo é saudável, faz parte da vida, não devo privar isso da minha

realidade porque tive experiências ruins e insatisfatórias.

Vejo que Rodrigo me mandou uma mensagem:

Tormento: Oi, docinho, ajuda o seu tormento num momento de

necessidade...

Eu: Ajudar como?

Tormento: Qual é a cor da sua calcinha?

Eu: Não sei porque ainda levo a sério alguma coisa que você diz.

Tormento: Ah, para com isso, gosto de exercitar minha criatividade.

Eu: Então exercite imaginando sem saber.


Tormento: Já imaginei. Na verdade, gosto de te imaginar sem elas...

Eu: Isso você logo cansa de ver

Tormento: Jamais!

Não sei como ele consegue me deixar vermelha mesmo sem estar

presente, mas eu adoro quando ele fala esse tipo de coisa.

Tormento: Tô ansioso pra lamber você inteirinha hoje...

Eu: Hoje precisamos fazer o aluguel dos aparelhos de jantar,

guardanapos e demais coisas que vamos utilizar no casamento, além das


coisas da despedida de solteiro.

Tormento: Não se preocupe com nada, docinho. Já me encarreguei de


tudo referente a despedida, afinal, vai ser aqui em casa, né? Só precisamos
cuidar do casamento.

Eu: Tão eficiente... Talvez até mereça um prêmio...

Tormento: Que maravilha, tô ansioso pra receber o meu prêmio! Que


tal usando um vestidinho sem calcinha?

Eu: Que fetiche todo é esse pra eu sair sem calcinha?

Tormento: Saber que posso pegar nela na hora que quiser, que posso
te levar pra um lugar e sentir ela mais fácil... isso mexe com a cabeça da
gente, linda.
Mexe com outras partes do meu corpo também saber que ele me quer
em qualquer lugar... Estou até me sentindo um pouco fora de controle, mas

estou adorando cada segundo.


 
“E eu vou te usar como um medidor improvisado
De quanto ceder e de quanto receber
Eu vou te usar como um sinal de alerta
Se você fizer sentido demais, você vai perder a cabeça
E eu encontrei amor onde ele não deveria estar”
I Found | Amber Run

“— Você tá certo, Rodrigo, isso não é justo com você, eu me sinto

péssima de não ser a namorada que você merece e eu já me sinto mal com
tanta coisa, mas te fazer mal é a pior delas. Eu me odeio tanto por tudo que

sinto aqui dentro... não tá sobrando espaço pra amar você como tem que

ser, eu mal consigo me amar agora. Me perdoa, por favor.

Kiara me abraçou tão forte que chegou a doer um pouco. Tudo doía: a
cabeça, os olhos, a garganta e, principalmente, o meu coração, que estava

sendo destruído naquele momento. O momento onde decidi que não podia

continuar aceitando as migalhas do amor de Kiara, precisava me colocar

em primeiro lugar.

Eu sabia que a Kiara estava com o emocional abalado quando comecei

a namorar com ela. Sua mãe estava com câncer, ela foi abandonada pelo

Luís, mal tinha contato com seus parentes e seu pai simplesmente não

existe, era como se fosse um mero doador de esperma. Ela tinha a mim,

mas não era o bastante, eu não conseguia suprir a saudade, a necessidade

física que ela tinha de saber do paradeiro do Luís, de falar com ele, de
simplesmente vê-lo. Eu não era ele... mesmo tentando o meu melhor para

que ela o esquecesse, não foi possível. Eu estava cansado de não ser o

suficiente, me sentia um fracasso.

Sabia que ela se sentia terrível por não se doar como eu fazia, éramos
melhores amigos e eu entendia tudo o que ela sentia, não era como se fosse
mentira, eu nem podia ficar com raiva dela, o que deixava tudo pior,

porque eu só conseguia sentir a tristeza daquilo.

É doloroso demais ser incapaz de tirar o sofrimento das pessoas que se

ama, a dor deles é a sua; e se antes eu a anestesiava, agora que sua mãe

estava com remissão, sobrou tempo pra Kiar ver como estava por fora da

minha vida, como não conseguia me apoiar e estar ali por mim como

deveria, ela se sentia culpada por tanta tristeza. Estava feliz pela mãe, mas

destruída pelo medo, pela tortura da experiência massacrante que viveu

com a mãe no hospital, nos cuidados domésticos, e sabia que ela ainda

tinha muito medo de que tudo voltasse a acontecer.

Mas assim que a mãe dela ficou fora de perigo, pude ver que aquilo

não mudaria. Mesmo quando as coisas voltassem ao normal, ela não

passaria a me amar loucamente como eu. As coisas tendiam a piorar e eu

não queria passar a sentir ressentimento por uma pessoa que amava tanto.

— Eu sei, lindinha, venho pensando nisso há um bom tempo. Acho que

é a melhor escolha pra nós dois, não quero que nosso relacionamento se

torne cheio de cobranças, ressentimentos e peso... Não tenho nada o que

perdoar.

Ela saiu dos meus braços com o rosto inchado pelo choro, as lágrimas

ainda desciam devagar por seu rosto.


— Como pode dizer isso? Eu sou a pior pessoa do mundo... não

correspondi o amor apaixonado do meu melhor amigo, a pessoa que nunca

me abandonou.

— Você é a melhor amiga do mundo. Só não foi uma boa namorada,

você não pode controlar o próprio coração, Kiar.

Eu chorava também, me sentia envergonhado por ouvir minha voz

rouca embargada, mas era difícil segurar, mesmo que estivesse consolando

Kiara enquanto o meu coração estava desolado.

Kiara me abraçou novamente e ficou pedindo perdão várias e várias

vezes; ela odiava aquilo, e eu odiava que me pedisse perdão. Era horrível

que uma pessoa se desculpasse por não ser apaixonada por você, não era

culpa de ninguém, só era extremamente frustrante. E, no meu caso, triste

pra caralho.”

Acordo com um peso no peito e preciso me levantar. Sento na cama,

respirando fundo e com a mão no coração, sentindo-o acelerado. Logo

percebo que estou suando e que estava num pesadelo. É horrível ter

pesadelo com memórias, eu só quero esquecer aquelas coisas, mas a minha

mente perturbada sempre traz tudo de volta.

Nada daquela lembrança importa mais. Já se passaram muitos anos e eu

não gosto de lembrar dessas coisas. Estou bem, sou um cara realizado e
feliz. Um pesadelo não vai desestabilizar o meu dia.

Acho que a lembrança de Kiara no meu subconsciente é forte porque

não me apaixonei de novo. Mas, pra ser honesto, isso é ótimo, porque não

dá pra sentir falta de ser rejeitado por aquela que você mais amou e não tem

a mínima possibilidade de acontecer quando não se está apaixonado por

ninguém.

Depois de ir ao banheiro, vou a cozinha passar um café, coloco ovos

para cozinhar e pego meu telefone enquanto espero. Olho os meus e-mails

do trabalho, ligo a TV e ponho no Spotify, numa playlist feita pra mim.

Gosto de começar o dia bem, relaxado, isso acontece com música e café da

manhã, ou com uma boa sessão de sexo. Mas como acordei sozinho hoje,

isso não será possível.

Desde que firmei o acordo com Marla, só ela poderá passar pela minha

cama, então minha rotina de sexo diminuiu, o que, considerando o meu

histórico, talvez seja até um pouquinho estranho..., mas vale a pena. Eu

gosto da química que temos, o sexo dura horas e é espetacular. Claro que

fiquei muito surpreso pela Marla ser tão gostosa na cama, imaginava que

pudesse ser um pouco frígida pela maneira que se comporta, mas estava

enganado. Ela é quente como o inferno e eu vou feliz pra lá se isso

significar que continuarei transando com ela.


Isso não significa que queria isso por tempo indeterminado, as minhas

mulheres estão sem entender o meu sumiço, já que eu disse que estou

ocupado. Elas devem imaginar que não é verdade, mesmo assim não

preciso dar explicações, esse é o lado bom das relações casuais. Mas eu

preciso explicar para as que eram minhas amigas, caso contrário elas nunca

mais olharão na minha cara.

Por isso estou numa conversa com a Sophie.

Soph: É sério isso? Tem dois anos que a gente fica e eu nunca vi você

tirando um tempo pra transar com uma pessoa só.

Eu: É isso ou eu nunca ver a cor da calcinha dela. E eu quero muito

ver ela sem calcinha...

Soph: Você não presta! Mas se isso vai te fazer focar em mim quando

EU estiver na sua cama, eu aceito. Você estava muito distraído...

Eu: Isso é até blasfêmia, Soph. Você não tem vergonha? Nunca saiu

daqui sem gozar pelo menos umas 3 vezes

Soph: Isso é o mínimo!

Bom, talvez seja por isso que as mulheres não queiram namorar

comigo... eu conversando sacanagem com as minhas “amigas de foda” deve

ser estranho para quem está de fora. Eu realmente não gostaria nada se
fosse com a minha garota, mas não tenho ciúmes de ninguém há muito

tempo.

Logo recebo uma mensagem da Marla:

Docinho: Amanhã na minha casa?

Eu: Bom dia pra você também, desse jeito vou me sentir um pedaço de

carne

Docinho: Você nunca pareceu se importar muito com isso

Eu: Também tenho sentimentos!

Docinho: Sentimentos bem safados...

Eu: Sou um cafajeste romântico... saiba apreciar

Docinho: kkkkksksks ai, tormento... te aprecio bastante, quer que eu te

mostre?

Eu: Com certeza, aceito demonstrações

Docinho: Vem amanhã na minha casa às 19:30 que te demonstro com


muito prazer

Eu: Manipuladora maquiavélica! Ai, docinho, você quer me matar,


né...
Docinho: Claro que não, ainda não usei seu corpinho o suficiente

Eu: Me matar de tesão reprimido, porque a gente não pode se ver

hoje?

Docinho: Vou com a Kiar terminar de alugar as coisas de decoração

pro casamento. Ela chamou uma designer de ambientes pra ajudar a


harmonizar tudo, então não vai dar, tormento.

Eu: Você pode pelo menos me mandar uma foto pra eu brincar mais

tarde...

Docinho: Hmm... é, acho que você está merecendo...

Eu: É sério?

Docinho: arquivo anexado* segue o nude

Meu coração até acelera quando vejo que ela anexou uma imagem de
visualização única. Quando clico na imagem, fico paralisado por 3

segundos sem acreditar... é uma foto de vários esmaltes beje escrito “Nude”.
Eu não posso acreditar que essa mulher séria está fazendo esse tipo de

brincadeira palhaça, começo a gargalhar sem parar.

Eu: Não acredito que você fez essa piada ridícula kkkkkkkkkkkkkkkkk

Docinho: Até parece que vou mandar fotos íntimas!

Eu: Ai, docinho, mas valeu ver você fazendo piada ruim kkkkkkk
Docinho: kkkkkkkkkk peguei de você esse senso de humor ridículo

Eu: Então sou uma boa influência

Às vezes sinto como se fôssemos bons amigos, é legal ter tanta

intimidade com alguém que pensei ser a pessoa mais detestável do mundo.
Talvez até o final do casamento isso possa acontecer: uma boa amizade.
 
“Espere, se eu estou pegando fogo
Como posso estar tão apaixonado?
Quando sonho que estou morrendo
Eu nunca me senti tão amado”
Trampoline | Shaed feat. Zayn

Apoio minhas mãos no encosto do sofá e aperto o topo macio e

retangular do móvel enquanto sento no pau do Rodrigo, cavalgando em seu


colo. Ele segura minha cintura com as mãos firmes, me dando suporte nos

movimentos e intensificando nosso contato.

Ergo a cabeça para trás com tanto tesão e prazer que sinto minha pele

suar e arrepiar cada vez que o sinto dentro de mim tão fundo, solto um
gemido sem conseguir me conter, é perfeito demais... safado e erótico e eu

amo cada segundo, amo o que ele me faz sentir... adorada e desejada.

Rodrigo começa a chupar meu mamilo e a apertar o outro seio ao


mesmo tempo. Ele castiga um mamilo dando mordidas e chupadas,

pinçando o outro com seus dedos, me deixando louca e me fazendo

intensificar meus movimentos. Depois, ele desgruda a boca do meu seio e

me beija, segurando minha nuca enquanto nos movimentamos juntos, com

força e intensidade.

Sinto o gosto dele na minha boca, sua pele quente incendiando a minha,

seu pau duro me enlouquecendo enquanto me penetra fundo... E não

consigo aguentar mais e gozo ali, interrompendo nosso beijo pra gemer e

arranhar seus braços com a profundidade do prazer que sinto. Eu amo

quando nós gozamos juntos.

Minha vida mudou um pouco... para quem não transava há quase 3

anos, eu estou realmente tirando o atraso de todos os orgasmos com

Rodrigo. Não dá pra gente se ver todo dia, já que o meu trabalho é
desgastante e, além dele, há o planejamento do casamento. Mas estou

conseguindo aproveitar muito bem o tempo que temos. Já que não vai durar

tanto assim, é bom desfrutar enquanto posso.

Eu descanso a cabeça na curva do pescoço de Rodrigo e ele mantém as

mãos nas minhas costas e quadril, me segurando ali. O cheiro dele é

maravilhoso e eu gosto da leve preguiça que temos depois de um sexo

intenso.

— Você ainda vai me deixar louco sentando desse jeito

Dou uma risada.

— Ah, é? Então a minha sentada te deixa louco?

— Acho que isso ficou bem óbvio, docinho... Você gosta de ouvir

elogios, né, vaidosa?

— Só quando você admite que é louco por mim...

— Eu não disse isso, convencida! — Ele ri e dá pra sentir a barriga

tremer.

Levanto do sofá, saindo de cima de Rodrigo e caminho até o meu

quarto para pegar um robe de seda e me cobrir para tomarmos café. Rodrigo
dormiu na minha casa mais uma vez depois de uma bela noite regrada a

sexo.
— Nem precisa dizer, tormento. Eu sei que te fiz gozar várias vezes

agora.

— Duvido que tenha como você saber disso...

— Pois eu sei! Você tem manias quando chega lá...

— Que manias?

Ele se senta na mesa depois que apareço na cozinha e já está usando sua
cueca boxer preta, os músculos do peito e do abdômen ficam ainda mais

protuberantes depois do sexo. Ele fica tão sexy com as veias dos braços

saltadas desse jeito, o homem é gostoso demais e sabe disso.

Começo a colocar os ingredientes na bancada para fazer o café.

— Você me aperta com força, ou morde o lóbulo da minha orelha, ou

geme ao deixar a cabeça pra trás...

Rodrigo dá uma gargalhada.

— Olha, só... Então ela presta muita atenção em mim...

— Eu não, você é só o meu brinquedinho sexual.

— Aham, tá bem, docinho. Vai dizendo isso pra si mesma.

Quando termino o café, o coloco na garrafa térmica e ponho na mesa.

— Pedi croissants recheados e pão de queijo pra gente comer.


— Ah, não precisava, Rodrigo. Dava pra gente fazer qualquer coisinha

aqui.

— Precisava, sim. Gosto de tomar bons cafés da manhã e sua

companhia não é das piores, sabe?!

— Rá. Você é tão engraçado...

Hoje é sábado, então temos o dia livre, não sei bem o que isso significa

para pessoas que tem uma relação casual, já que sair para um encontro não

parecia o usual.

Ouço o celular tocar e vou até a sala pegar o aparelho. Mais cedo,

oRodrigo tinha ficado dormindo enquanto eu tinha levantado e estava

assistindo ao jornal na televisão, quando ele chegou de surpresa, me

beijando, desligando a tv e me colocando em seu colo... foi uma ótima

forma de começar o dia.

Atendo o telefone com desgosto quando vejo que é o Túlio que está

ligando.

— Alô?

— Você chega que horas hoje?

— Como assim? Eu não pretendo visitar o pai hoje!


— Como não? Vamos comemorar o aniversário dele mais cedo porque

ele estará no Cruzeiro no dia. Nem você nem o Luciano vão estar lá, o

velho quer ver todo mundo aqui.

— É mesmo? E por que só hoje é que veio me avisar?

— Achei que tinha ficado implícito, o meu pai não disse nada no dia

que veio aqui?

— Não, e não imaginei que ele realmente se importasse com minha

presença aí, pra falar bem a verdade.

— Ah, para de drama, Marla. Você sempre faz isso, ninguém liga pra

essas picuinhas que inventa na sua cabeça.

— Picuinhas, né? Me diz logo o que você quer, porque se fosse só a

minha ilustre presença, você só mandaria uma mensagem ou nem isso.

— E depois nós é que não nos importamos com você...

— Você nem me deu bom-dia ou perguntou como eu estou, Túlio, até

parece... desembucha!

— Você precisa trazer o bolo, as velas e os salgadinhos. Se puder fazer

o almoço também vai ser ótimo. Ele não vai querer cozinhar no próprio

aniversário, sabe?

— Ele falou pra você me pedir tudo isso?


— As outras coisas eu tinha que comprar, mas sabe como é... Tô

desempregado, Marla, tive que usar o dinheiro dele pra pagar umas contas e

não sobrou pra comprar as coisas pro velho. E o almoço ele não pediu, mas

ficou resmungando que você poderia fazer.... como um presente, sabe?

É inacreditável!

Depois da última visita ficou claro que não estamos bem.


Normalmente, eu cuido dessas coisas, afinal, é o aniversário do meu pai,

mas como ele inventou essa palhaçada de Cruzeiro e daquele dia em que me
senti horrível na presença deles, não estou com a mínima vontade de

comparecer. Mas eu já devia ter esperado, porque só lembram de mim


quando precisam de mim. E hoje é um desses dias.

Túlio já gastou tantas vezes o dinheiro que não é dele que eu nem me

espanto mais. É típico dele e o meu pai nunca se importa o suficiente pra
fazer alguma coisa... porque, normalmente, alguém trouxa e sem amor

próprio cobre o desfalque, eu. Só alguém que não tem amor próprio o
suficiente ainda se importa com uma família tão bizarra quanto a minha.

Apenas dou um suspiro e respondo que levarei as coisas para lá até as


14h00, e que espero que a casa esteja limpa. O meu irmão ainda resmungou

porque falei essa parte, mas percebeu que eu estava prestes a mandá-lo para
algum lugar e apenas se despediu e desligou.
Vejo Rodrigo entrando pela porta com o pedido do Ifood em mãos, eu
nem tinha o visto sair para receber o pedido.

— Tá tudo bem, docinho?

— Não, eu odeio minha família.

— O que foi? Aconteceu alguma coisa?

— Só o de sempre, tormento... exploração, abuso e ingratidão

Rodrigo franze o cenho sem entender o que quero dizer. Mas parece um

pouco preocupado. Ele se aproxima de mim e coloca um braço em volta do


meu ombro, me fazendo deitar a cabeça em seu peito. Logo fecho os olhos

e respiro fundo, o abraçando. É tão natural fazer isso que fico um pouco
assustada, mas me sinto tão bem nos braços dele que não me permito pensar

muito sobre, só quero me sentir melhor.

— Vamos comer, eu pedi croissant de chocolate.

— Você é o melhor relacionamento casual que uma mulher poderia ter


sabia?

— Claro que eu sei! Por que acha que tenho tantos?

Reviro os olhos e sorrio pra ele, retirando a caixa de sua mão e a


levando pra mesa.
— Depois do café tenho pra casa do meu pai. Vão comemorar o
aniversário dele antes da data.

— Você não parece muito animada com isso.

— Só me chamaram porque precisam de mim. Tinha certeza de que,


depois da última vez que estive lá, não fariam questão de me ver tão cedo.

— Bem, é uma pena que vocês não se deem bem, deve ser horrível não
se sentir bem com a própria família.

— É, sim. Eu sei que deve parecer estranho pra você, mas, de certa
forma, acho que me acostumei.

Dou uma mordida no croissant e sinto o gosto de manteiga na massa


folhada e macia, então o recheio de Nutella preenche a minha língua. O

gemido de satisfação é irreprimível.

— Meu Deus, isso é muito bom! O melhor croissant que já comi —

falo de boca cheia.

— Eu sei, se esse pedaço do paraíso não te animar... só um oral meu pra

resolver.

Começo a gargalhar com o atrevimento do Rodrigo.

— Que ódio! Eu não achava engraçado essas palhaçadas antes de ficar

com você.
— Eu sou contagiante, docinho. O que acha de me levar no aniversário

do seu velho?

— Por que você  quer ir?

— Bem, não tenho nada melhor pra fazer... Além do mais, não quero
que fique com essa cara de mau humor o dia inteiro

— Eu não estou com cara nenhuma...

— Você quer um espelho?

Reviro os olhos, mordendo outro pedaço do pão antes que o jogue na

cabeça dele.

Passo numa grande padaria da região e compro o bolo de aniversário,

as velas e o cento de salgadinhos. Acho que não me dará fome o suficiente


para o almoço se comer tudo isso, mas os meus irmãos comerão tudo

rapidinho, então aproveito para passar no supermercado e compro alguns


bons quilos de carne para assar, isso pelo menos eles farão, já que é “coisa
de homem”.
Cristo, como eu odeio essas coisas. Pego refrigerante e ingredientes pra

fazer vinagrete também. Rodrigo aproveita e compra asas de frango pra


levar e linguiça toscana, além de duas caixinhas de cerveja. Meu pai vai ter

um treco quando me ver bebendo cerveja. Geralmente, eu evito tomar


álcool perto dele, primeiro porque a companhia da minha família não é

agradável o suficiente para tal e, depois, porque ele me dá broncas


irritantes. Mas hoje eu não estou nem aí.

— Como vai me apresentar para o seu pai? Quer que eu diga que somos
apenas amigos? Ou quer falar a verdade?

— Meu pai não acreditaria que somos apenas amigos e depois da


última vez que estive lá... Não sei bem como dizer a verdade, talvez o meu

pai te enxote de casa se eu disser que estamos dormindo juntos sem


compromisso.

— É sério?

Dou um suspiro e apenas assinto.

— Eu não esperava por isso, mas também não acho que seja uma boa

ideia falar isso pro pai de ninguém: “tô comendo a sua filha enquanto
planejamos um casamento”.  Isso não parece bom pra pai nenhum.

E assim ele me faz sorrir quando eu só estou com vergonha da minha


família.
O Rodrigo sempre me faz rir.

— Vou pensar em algo, docinho.

— A propósito, não sei se devemos usar os apelidos na frente deles.

— Ah, tá cheio de regras demais, calma, docinho. É só um almoço, vai


dar tudo certo.

A cara da minha família cai no chão quando eles veem que trouxe
alguém pra casa. É um acontecimento inédito e tenho certeza de que eles
suspeitaram que Rodrigo fosse gay ou que estava fingindo ser algo meu.

Embora ele não tenha deixado margem para dúvidas quando pegou na
minha mão e me ajudou a carregar todas as coisas do carro, depois de

cumprimentá-los. Meus irmãos foram ajudar a preparar tudo depois, por


ficarem com vergonha na frente da visita. Ainda não tínhamos dito a

ninguém o que éramos, meu pai havia ido à farmácia e agora que não tem,
ele está demorando um pouquinho.

Eu estou na cozinha cortando os tomates, o pimentão e a cebola


preparando o vinagrete. Túlio está temperando a carne enquanto e Rodrigo
e Luciano foram acender a churrasqueira no quintal.

— Se eu soubesse que era só encher o seu saco pra trazer um namorado

em casa, teria falado mais cedo. — Ele dá risada de si mesmo.

— Não tem nada a ver com o que você disse, Túlio. Eu nem planejava

vir aqui hoje.

— Ah, estava demorando...

— Não se preocupe, não pretendo chamar sua atenção hoje, mas fique

sabendo que não vou cobrir mais despesas suas, se gastar o dinheiro do pai,
então vão ficar sem ele.

— Você faz o mínimo e ainda reclama, Marla, tenha dó.

— Garoto... se eu tiver que te dar esporro hoje, vou esperar nosso pai

chegar pra ele saber o que fez. E não é uma boa ideia me aporrinhar
enquanto tenho uma faca na mão.

Isso cala a boca dele. Nem tudo o que os meus irmãos fazem meu pai

fica sabendo, mas ele tem uma ótima noção de como eles são, apenas
prefere tapar o sol com a peneira.

Túlio sai da cozinha levando a carne para colocar nos espetos e Rodrigo
entra no cômodo. Ele lava as mãos ao meu lado na pia, então as enxuga no

pano de prato e para atrás de mim. Coloca uma mecha do meu cabelo atrás
da orelha e sua outra mão no meu quadril, então ele chega perto do meu
pescoço, fazendo minha pele arrepiar quando passa o nariz na minha nuca,

inalando meu cheiro enquanto sua mão sobe até a minha cintura, levantando
minha blusa de forma que eu sinta seus dedos em minha pele, ele aproxima
o nariz da minha orelha e diz:

— Eu adoro o seu cheiro, Marla. Sabia que você fica gostosa demais

cozinhando? Sua bunda começa a balançar quando corta os tomates e me dá


vontade de te dar uma palmada.

— Quer me dar uma palmada na casa do meu pai? Acho que isso não
ficaria nada bem — minha voz parece afetada e me recrimino mentalmente
por ficar abalada com o comentário.

Eu amo as palmadas do Rodrigo, são tão gostosos os tapas que ele me


dá quando eu ficava de quatro na cama.

— Estava esperando seu irmão sair daqui para tentar..., mas é melhor

não correr o risco de que alguém veja. — Sinto o sorriso dele na minha
mandíbula quando Rodrigo encosta o corpo no meu e sinto sua ereção na
minha bunda, que me faz suspirar, ele beija meu pescoço e me aperta contra
si antes de se afastar, me viro pra ele e dou um sorriso.

— Você é muito safado, tormento! Como se atreve a me deixar com


tesão na casa do meu pai?
— Acho justo não passar por isso sozinho, docinho.

Ele começa a rir e acabo rindo com ele.

Meu pai chega em casa logo em seguida e nos vê na cozinha. Acho que
meus irmãos já haviam dito que eu trouxe visitas. Ele parece surpreso, mas
me abraça, me cumprimentando e estende a mão para o Rodrigo.

— Esse é o Rodrigo, pai. Ele é...

— O namorado da sua filha, muito prazer!

Sinto um arrepio e meu coração acelera com a palavra. Namorado.


Encaro Rodrigo, chocada. Não acredito que ele se apresentou como meu

namorado, mas agora não tem como desmentir, é melhor deixar assim. De
qualquer forma, não quero ninguém da minha família me julgando porque
estou saindo com ele para satisfazer meus desejos sexuais. Embora não
exista nada de errado nisso, eu ouviria muita merda e o Rodrigo também.

— O prazer é meu, Rodrigo! Fique à vontade, é a primeira vez que


conheço um namorado da minha filha, e ela já tem 26 anos!

— Provavelmente ela não quis apresentar qualquer pessoa, não é? Fico


feliz de ter sido aprovado por ela pra conhecer a sua família — ele diz ao

meu pai, mas olha pra mim e sorri.

É um idiota mesmo. Se fazendo de besta.


Meu pai sorri em resposta e o chama para sentar no quintal. Rodrigo me

espera para ir com eles e segura o vidro de Marinex com o vinagrete para
mim, eu pedi o arroz e a mandioca cozida pelo Ifood, pois não estou afim
cozinhar hoje.

Quando chegamos ao quintal, o Rodrigo coloca a comida na mesa que


eu arrumei mais cedo, tem várias cadeiras de varanda com fio colorido e um

banco de madeira sem encosto ao redor dela. Meu pai senta na cadeira mais
perto da churrasqueira e dos meninos, e eu fico sentada no banco ao lado do
Rodrigo.

— Então, irmãzinha... Como vocês se conheceram? — Luciano

pergunta com uma falsa inocência, ele nunca me chama assim.

— No aniversário de casamento de uma amiga.

— A gente só se conheceu melhor depois que viramos padrinhos de

casamento dos nossos amigos e de terem precisado da nossa ajuda para


planejar a cerimônia — Rodrigo complementa

— É mesmo? Casamento de quem?

— Da Kiara, pai. O senhor a conheceu aquele dia que passou lá em

casa.

— Ah, sim! Que notícia boa... Ela vai parar de trabalhar no banco?
— Não, por que ela faria isso?

— Ora, porque vai se casar, Marla... logo vem os filhos, o trabalho da


casa aumenta... ela não vai conseguir tempo pra fazer tudo isso.

Eu esboço um sorriso de nervosismo e fico entre fazer um belo discurso


contra a afirmação ridícula ou encher a boca de pão de alho pra me poupar

do sofrimento.

— Eu não sei se a Kiara quer ter filhos, seu Antônio. E, mesmo se


quiser, ela tem o Luís para ajudar em tudo o que precisar. Eles podem pagar

por uma babá, tem creches... Enfim, ninguém precisa parar de trabalhar.
Eles adoram trabalhar naquele banco.

— Olha só... A Marla tá namorando um cara “moderninho” que nem


ela. — Túlio dá risada e Luciano o acompanha.

Meu pai parece espantado por Rodrigo dizer aquilo, eu fico sem
palavras.

— Como não quer ter filhos? Todo casal precisa de filhos, a família fica
incompleta sem eles e, bem, eu não acho certo uma mulher casada

trabalhando fora de casa, tendo que lidar com um monte de gente todos os
dias... deixando os filhos aos cuidados de pessoas desconhecidas.

— Eu não acho certo a pessoa ter filhos por obrigação e parando de


fazer tudo o que sempre gostou de fazer por causa deles. Eu, certamente,
não ficaria feliz se achasse que sou esse peso todo para os meus pais.

Meu pai dá um sorriso surpreso e balança a cabeça

— Quantos anos você tem, Rodrigo?

— Quase 27, para ser mais exato, seu Antônio.

— Olha, rapaz, você ainda vai mudar de ideia. Só é muito novo e tá um


pouco convencido das ideias por essas pessoas modernas de hoje. Na
prática as coisas são diferentes.

Rodrigo parece chocado com a ideia de que essa seja mesmo a minha
família. Ele dá um sorriso sem graça ao meu pai e me olha de um jeito que
eu nunca vi antes. Parece pesaroso por me ver calada, nem sei o que ele
deve estar pensando agora.

Prazer, Rodrigo, essa é a minha origem, foi daqui que eu vim.

— Acho que as cervejas já gelaram, eu já volto.

Rodrigo se levanta e vai à cozinha, com certeza é preciso beber pra


aguentar esse almoço.

— Por que não foi pegar a cerveja pro seu namorado, filha? Meu Deus,
parece que não te ensinei nada.

— Esse aí deve tá se fazendo de besta pai, no fundo ele não pensa essas
coisas que falou.
— Para de falar, Luciano. Depois que ele for embora você fala o que
quiser, não vou estar aqui pra escutar.

Rodrigo volta trazendo 3 cervejas, uma pra mim, outra para o meu pai e
uma pra ele.

Todo mundo para por 3 segundos quando ele entrega a long neck aberta
na minha mão.

Eles nunca viram um cara trazer cerveja para a namorada. Eu estou

com tanta vergonha alheia das conversas que achou que nunca mais me
recuperarei. Estou sentindo mais vergonha do que raiva hoje.

Eles perguntam várias coisas a Rodrigo: onde ele trabalha, como é


trabalhar com criação e manutenção de softwares, pra que time ele torce...

Enfim, até me empanturro de carne sem precisar dizer uma única palavra.
Estou na fase de que é bom passar “despercebida” quando estou. Eu só
quero cantar os parabéns pro meu pai e ir embora.

— Deve ser muito estressante quando precisa consertar esses bugs de

sistema — Luciano diz.

— Eu já estou acostumado, só quando a demanda aumenta que fica


complicado.

— O Rodrigo trabalha em casa, ele pode trabalhar tomando uma

cerveja... tenho certeza que tira de letra.


— Você vive estressada, Marla. Talvez devesse trabalhar em casa
também — Luciano responde, rindo.

— Sou diretora da empresa, não tem como trabalhar de casa.

— Talvez o pai esteja certo e você possa ficar cuidando de casa se casar
com Rodrigo um dia — Túlio completa.

— A Marla controla uma empresa inteira com mais de 200


funcionários, ainda consegue tempo para planejar o casamento da melhor

amiga e resolve todas as coisas de última hora da família — Rodrigo diz a


última parte ao encarar o Túlio. — Então acho que tem todo o direito de
ficar estressada. Além do mais, quando precisa tirar o estresse... ela tem a
mim.

As palavras fazem Túlio engasgar com o gole de cerveja que havia


acabado de beber, o que provavelmente teria acontecido o mesmo comigo
se eu estivesse com alguma coisa na boca. Não posso acreditar que ele
calou a boca de todos ao me elogiar desse jeito, e ainda insinuado “coisas”

sobre a nossa vida sexual.

Isso me faz sentir algo que eu não quero refletir sobre o que é. Ele me
defendeu, me mostrou a forma que me enxerga e ela é bem diferente da
forma como a minha família vê. Eu só quero abraçá-lo... enchê-lo de beijos

por ser tão incrível.


O que é isso? Que coisa estranha... sentir uma urgência tão grande de
demonstrar afeto, ainda mais pelo tormento... desde quando acho ele
incrível?

— Olha só, então temos um pau mandado de marca maior na família


agora. Isso, sim, é inédito! — Luciano dá gargalhadas. — Só assim mesmo
pra minha irmã arrumar um namorado... O cara precisa ficar pianinho e
vender a masculinidade dele por causa dela.

Rodrigo dá um sorriso irônico pra ele e responde:

— E cadê a sua namorada, machão? Pelo que vejo, a única pessoa em


um relacionamento por aqui é a sua irmã.

Luciano fecha a cara e arregala os olhos, quando parece que ele está
prestes a xingar o Rodrigo, o meu pai o interrompe.

— Ora, mas não vamos brigar. hein. É o meu aniversário adiantado e


ninguém precisa concordar, não é? Cada um vive à sua maneira.

Desde que não more na casa dele, completo em pensamento.

— Acho que está na hora de cantar os parabéns pai.

Meu pai assente e sorri, aliviado pela mudança de assunto.

Meu humor até melhora. Estou me segurando para não gargalhar na


mesa e cortar a tensão, quero que o meu pai veja o meu irmão sendo mal
educado e inconveniente na frente da visita. Mesmo que não concorde com
Rodrigo, meu pai jamais deixaria uma visita constrangida como meu irmão
pretendeu fazer, ele só não imagina que o meu tormento sempre tem uma

resposta na ponta da língua.

Coloco as velas de 68 anos no bolo e cantamos os parabéns. Tiro foto


do meu pai segurando o bolo, selfies de todos nós. E até uma foto com o
Rodrigo, o abraçando, a primeira foto que tiramos juntos. Depois, quando

estamos comendo o bolo na mesa, ele passa glacê no meu nariz e quando
vou reclamar, ele me beija, tirando uma selfie do próprio celular. Ainda não
vi a foto, mas fico feliz pelo beijo roubado.

Depois eu e Rodrigo lavamos os pratos na cozinha e ele me ajuda a

limpar tudo, fazendo a minha família ficar envergonhada e ajudar também.


Eu não moro mais aqui, mas sempre que estou lá eles fazem de tudo para
que eu limpe tudo sozinha.

Antes de ir, entrego um presente ao meu pai, ele abre a caixinha


quadrada preta com um laço azul e tira de lá uma camisa de botões de
manga curta com uma estampa de barquinhos, bem verão para que ele use
no Cruzeiro.

Meu pai sorri e me abraça.

— Obrigado, filha. Finalmente ficou tranquila sobre o Cruzeiro.


— Nunca é sobre o Cruzeiro pai..., mas não importa mais. Espero que
se divirta.

Rodrigo se despede num aperto de mãos e agradecendo pela


hospitalidade. Ele está sendo mais do que educado, pois, na verdade, não
foi tão bem recebido ali por meus irmãos idiotas.

Quando vamos embora, Rodrigo parece querer me dizer milhares de

coisas no carro, porém diz apenas uma frase:

— Você é a mulher mais incrível que existe, sabia?

— Ora, para de fazer elogios à toa, tormento...

— Não sei como conseguiu chegar onde chegou, sendo essa mulher
independente, confiante, que não leva desaforo pra casa... crescendo numa
família assim.

— Acho que é exatamente por isso. É sobre confiar nas suas próprias

opiniões e não no que nos dizem para acreditar.

— Você é foda, docinho. — Ele sorri para mim.

— Você foi incrível lá, nunca pensei que veria o meu pai sem graça e os
meus irmãos mudos com tudo o que saía da sua boca.

— Disponha, minha Docinho.


Eu sorrio, dirigindo sem olhar para ele. Quando paro no sinal, ele
coloca sua mão em cima da minha e entrelaça os dedos aos meus, fechando

nossas mãos. Eu olho para Rodrigo, mas ele continua olhando para frente,
com um sorriso de lado. Volto a dirigir com apenas uma mão ao volante
agora.
 
“Você diz que quer tudo de mim hoje
Mas amanhã não será do mesmo jeito
Meus sentimentos nunca mudam
O que você quer de mim?”
Mutual | Shawn Mendes

Algum tempo depois....


(falta 1 mês e meio para o casamento)
 
Acho que vivi os meses mais loucos da minha vida desde o começo do

planejamento desse casamento. Eu nem acredito que tem mais de um mês

que só durmo com a Marla e que não sinto a mínima falta de como era

antes, se eu disser que isso não me assusta, estarei mentindo.

Achava a mulher intragável e, de repente, me vejo ansioso para vê-la,

sempre passamos momentos incríveis juntos e é como se eu não precisasse

ser nada além do que sou quando estou com ela. Não faço nada que não

queira fazer para impressioná-la, ou suprir alguma necessidade que tenha.


Simplesmente relaxo em sua companhia e aproveito.

Nos últimos tempos tem ficado cada vez mais difícil apenas viver o

momento, parece que estamos constantemente preocupados em otimizar o

tempo ao fazer várias coisas no mesmo instante, tentando ganhar uma

corrida existente apenas na nossa própria cabeça. É extremamente

exaustivo, até em momentos de lazer que, ao invés de descansar, penso em


produtividade, no entanto,  quando estou com Marla tudo isso se cala, não

consigo pensar em outra coisa que não seja ela, no seu corpo gostoso, na

sua pele deliciosa na minha, no seu cheiro enlouquecedor, nos sorrisos que

me tiram o juízo.... eu apenas vivo e me sinto vivo.

É uma sensação arrebatadora.


Depois que conheci a família dela, eu consegui compreender um pouco

mais da personalidade arredia que ela tem, o motivo pelo qual sempre tinha

3 pedras na mão para qualquer coisa que eu dissesse e, de certa forma,

passei a entender o porquê ela demora tanto a confiar nas pessoas,

principalmente em homens como eu.

A Marla precisou se proteger das coisas, se blindar das opiniões de

homens medíocres que deveriam apoiá-la e amá-la, mas que apareciam

apenas abusar de sua boa vontade e senso de dever familiar.

Agora eu quero que ela mande a própria família a merda, que aqueles

irmãos nem se atrevam a falar com ela e que o pai leve um choque de

realidade. Estou muito irritado, mas não posso dizer nada, não quero

ofender as origens dela.

O casamento está cada vez mais próximo e o nosso prazo de validade

também.

Não sei bem o que isso significa pra nós, sei que quero manter contato,

já me sinto muito próximo de Marla, mas não faço ideia se ela quer manter

as coisas assim, sem a regra da exclusividade. Porque se mantermos isso...

acho que não poderei continuar chamando esse envolvimento de

“relacionamento casual”. É tempo demais pra ser só isso.


Estamos na minha casa, ela está dormindo no meu ombro com o queixo

inclinado. Até mesmo consigo sentir sua respiração em meu rosto quando a

olho de perto. Está tão serena e tranquila, dormindo profundamente. Penso


em fazer o café da manhã e acordá-la ao servi-lo na cama. Quando beijo sua

testa e depois os seus lábios, ela sorri e abre os olhos.

Os olhos tão cristalinos e verdes que me tiram o juízo...

O olhar da Marla é penetrante, mesmo ao acordar agora. O cabelo curto

está para todos os lados, uma bela bagunça, mas ela é tão linda que me
desconcerta. Sorrio de volta para ela.

— Bom dia, tormento.

— Bom dia, minha Docinho.

Marla se aconchega no meu corpo, ainda olhando meu rosto e sente

minha ereção na sua perna, então o sorriso aumenta e ela fica ainda mais

colada em mim, posso sentir sua pulsação aumentar quando sinto seu seio

no meu peito.

— Já acordou prontinho pra mim, é?

— Sempre acordo pronto com esse seu corpo gostoso colado no meu.

Ela faz uma cara tão safada que não resisto e a coloco montada em

cima de mim enquanto me encosto na cabeceira da cama, sentado. Marla


coloca os braços no meu pescoço e me beija ao enfiar as mãos no meu

cabelo. É um beijo safado, cheio de tesão, ela enfia a língua na minha boca

enquanto enrosco a minha na dela e a giro, experimentando seu gosto por

inteiro, ela solta um gemidinho delicioso que me deixa ainda mais duro,

fico louco pra sentir a boceta dela engolindo o meu pau.

Começo a esfregar a extensão do meu pau na entrada dela, que já está

molhada de tesão enquanto nosso beijo se aprofunda. Seguro sua bunda

com força, apertando e usando essa posição para aumentar a fricção dos

nossos corpos.

— Entra em mim, Rodrigo. Preciso sentir você agora... — Marla diz,

ofegante.

— Tudo o que você quiser, docinho.

Inverto nossa posição na cama, deitando o corpo quente no colchão e

ficando em cima dela, segurando suas mãos acima da cabeça e a beijando.

Lambo seus lábios e desço a boca por seu pescoço, chupando no ponto
sensível entre a orelha e o pescoço. Marla arqueia os quadris pra mim, me

mostrando o que quer; logo seguro seu seio esquerdo enquanto mantenho os

braços dela atados com a mão direita e preciso chupá-lo antes de dar o que

ela precisa. Eu amo cada pedacinho do corpo dela, cada dia fico mais

apaixonado pelas reações que ela tem a cada vez que eu a toco. Escutá-la
gemer gostoso quando eu chupo seu mamilo parece um som celestial, eu

sempre estou no paraíso quando faço amor com ela.

Espera, o quê...? Não... eu estou ficando desorientado.

Esse é o efeito dela em mim.

Mordo seu mamilo devagarinho, sentindo-a tentando puxar os braços,

levantando o quadril. Então entro nela sem aviso, sem pressa, mas

completamente, indo até o fundo.

— Isso! Ai, meu Deus, você me deixa maluca, Rodrigo.

— Você me deixa louco por você inteira, Marla.

Começo a estocar fundo e devagar, fazendo Marla gemer. Solto seus

braços e seguro a bunda dela para aumentar o ritmo, colocando a outra mão

no seu pescoço ao fazê-la revirar os olhos. Então meto com força, gemendo
junto com ela.

Deus, como é perfeito me enterrar nela, eu não consigo pensar em mais

nada que não seja ela. Seu cheiro, seus gemidos, a forma como ela morde o

lábio inferior e pega em seu seio, puxando o mamilo. Ela é a mulher mais
linda que existe. E o melhor sexo da minha vida.

Não conseguimos mais nos conter e gozamos juntos. Ela com as pernas

cruzadas nas minhas costas, me mantendo dentro dela e me puxando pelo


pescoço para deixar meu corpo descansar acima do dele. É o que faço,

repousando a minha cabeça na curva de seu pescoço.

— Esse é o melhor jeito de acordar que existe.

— Bom saber que a minha Docinho ama sexo matinal.

Escuto a risada dela no meu ouvido, o que me faz sorrir e me lembro de

algo que comprei pra usar com ela.

— Tenho uma surpresa pra você!

— Uma surpresa? O que você tá aprontando, tormento?

— Já volto.

Me levanto da cama e vou a cozinha pegar algo que deixei na geladeira.


Tiro de lá um spray de chantily, fiquei louco de vontade de lambuzar o

corpo dela inteiro depois do bolo que comi na casa do pai da Marla, mas só
agora que, finalmente, me lembrei de usá-lo.

Entro no quarto e estico o braço, exibindo o frasco na mão.

— Chantily? É sério isso? — Marla cai na risada quando percebe as

minhas intenções.

— Seríssimo, quero chupar todo o chantily que puder em cima desse


corpinho delicioso....

Marla fica vermelha e morde o lábio, me mostrando que adorou a ideia.


Coloco um pouco de chantily em seu pescoço, ela estremece um pouco
pela temperatura dele, se arrepiando com o contato. Então pego o excesso

com o dedo e levo até o seu mamilo, cobrindo-o com o creme branco...

—  Você fica tão sexy assim, Marla...

Coloco a boca no pescoço dela, o chupando e mordiscando; lambendo


todo o chantily e engolindo enquanto Marla ofega e aperta meus braços.

Desço por sua pele com a minha boca até chegar em seu peito delicioso e
apetitoso, dou uma lambida e engulo o creme ainda olhando para o rosto

dela, sentindo e assistindo a antecipação em seus olhos e como ela está


excitada com isso.

Sinto o gosto dela misturado com o doce, é uma combinação perfeita


que me deixa extasiado para encontrar mais maneiras de provar a Marla.

Começo a rodear a língua ali depois que o doce é sugado por mim. Marla,
impaciente, me deita na cama e sobe em cima de mim, tomando o chantily

da minha mão.

— Ah, vejam só! Ela quer me provar com cobertura...

— Hmm... — Marla passa os olhos pelo meu corpo, me secando. — Já


sei os lugares perfeitos onde quero experimentar.

Ela aperta o spray em cima da minha barriga, espalhando o creme pelos

meus músculos, me fazendo contraí-los em antecipação.


— Você é gostoso demais, tormento. Principalmente quando fica assim
à minha mercê...

Dou um sorriso safado pra ela saber que pode fazer o que quiser
comigo.

Então desce a boca até minha barriga e lambe cada parte dela, passando
a ponta da língua pelas linhas que separam os gomos do tanquinho,

mordendo onde o músculo saltado aparece. Espalmo a mão contra a bunda


dela, a apertando enquanto Marla me provoca com a boca gostosa e

atrevida.

A safada sorri para mim enquanto retira a última parte do chantily e


começa a masturbar o meu pau, me fazendo ofegar ao encarar as feições

espertas.

— Seu pau vai ficar tão delicioso com chantily...

Sim... por favor, faça isso!

Assim que ela pega o frasco para cumprir a promessa, escuto a

campainha da minha casa tocar.

Puta que pariu!

Só pode ser brincadeira uma coisa dessas...


— Não vou atender, docinho... Visita na hora mais errada do mundo.

Que se foda quem quer que estiver lá fora!

Marla dá uma gargalhada.

— Rodrigo, mas e se forem os seus pais? Sei lá, alguém importante...

— Depois eu vou na casa deles, minha Docinho.

Seguro a cintura dela, trazendo-a mim, mas Marla se levanta, ainda

rindo para mim, e diz pra eu ir atender.

Que droga!

Mas quem é o infeliz que tá me atrapalhando num momento desses?!

Levanto a contragosto, vestindo uma bermuda e uma camiseta ao

escutar a campainha irritante que toca repetidas vezes. Então vejo o meu
celular na sala, tocando, e o atendo sem ver o identificador de chamadas.

— Oi?

— Rodrigo? Oi, cara, estamos aqui na sua porta!

Reconheço a voz de Luís

O que ele tá fazendo aqui às 11h30 da manhã de um domingo?

— Bom dia, Rô! Viemos chamar nosso padrinho pra almoçar, porque

até chegarmos lá já vai ter passado do meio dia. Abre logo, nós estamos
torrando nesse sol dos infernos — Kiara fala e, em seguida, vejo que a

chamada está no viva-voz.

— Oi, gente! Beleza, tô indo aí.

Puta que pariu! O que vamos fazer?

Vou até o quarto e Marla se assusta quando vê meus olhos arregalados.

— Quem é?

— Nossos amados noivos estão lá fora me chamando pra almoçar... O


que vamos falar pra eles?

— Ai, meu Deus! Calma, eles não precisam saber que estou aqui... Eu
fico no quarto até vocês irem embora, depois saio daqui.

— Você prefere mesmo se esconder deles do que só falar que a gente tá

ficando?

— Ai, você não entende, Rodrigo. A Kiara vai querer saber o que

estamos sentindo, vai ficar o tempo todo dando aqueles risinhos de “mm,
vocês são um casal”, “namorem”... enfim, não precisamos disso, tá tudo
tão bom como está.

— Acho que está exagerando, Marla...

Ouço a campainha tocar novamente.


— Tudo bem, vou tentar falar pra eles irem na frente e que os encontro
no restaurante para que não precise ficar escondida por tanto tempo.

— Aqueles ingratos... nem me chamaram pro almoço. — Marla faz um


biquinho lindo que faço questão de beijar antes de abrir a porta, isso a faz

dar um sorriso.

Vou lá fora e quando abro o portão, Kiara está tapando o sol forte com a

bolsa e Luís me dá um abraço antes de deixar Kiara entrar primeiro.

— Nossa senhora, Rô. Que demora é essa? Pelo amor de Deus, estava

fritando nesse calor. Ai preciso de água...

— Oi pra você também, nervosinha.

Dou um abraço nela antes de abrir a porta de casa.

Eles sentam no sofá e vou buscar a água.

— Desculpa se acordamos você, cara...

— Tentei ligar no seu celular, mas só deu caixa postal, então viemos
logo, queria almoçar com meus padrinhos. — Kiara dá um sorriso.

Entrego um copo de água para cada um e o casal me agradece

— Você chamou a Marla? — Sento no braço do sofá, pensando em uma


maneira de fazê-los irem embora logo.
— É outra que não atende o celular de jeito nenhum. Acho que vamos
precisar passar na casa dela também...

— O que acham de me esperar no restaurante? Ainda vou precisar me


arrumar e não precisam ficar me esperando...

— Eu posso continuar tentando ligar pra Marla e ver se ela me atende


até você se arrumar. Homens demoram o quê...? 30 minutos pra ficarem

prontos?

— Isso eu vou levar só pra tomar banho.

Luís faz uma expressão de dúvida e acho que entende que quero que

eles vão embora.

— Acho que o Rodrigo tem alguma companhia aqui, amor. A gente tá

atrapalhando.

E muito.

— Ah! Me desculpa, Rô...

Kiara ri sem graça, com o celular grudado na orelha e então o som de


um aparelho tocando se faz presente, o rosto dela fica confuso com o
barulho e seu cenho se franze quando ela olha na mesa de centro da sala e
vê o meu celular ali, ela olha para mim de boca aberta e acho que entrego

tudo quando arregalo meus olhos.


— A Marla tá no seu quarto! — Kiara aponta para mim, rindo e ainda
meio boquiaberta

— Agora a gente já sabe porque ela não atendeu, amor. — Luís cai na
risada e eu tapo meu rosto, sendo pego no flagra.

A Marla vai ficar puta comigo, devia ter inventado uma desculpa...,
mas é difícil demais mentir pra eles. Ela aparece com um vestido justo

vermelho, que só intensifica o tom corado da sua pele na hora que entra na
sala toda sem graça.

— Oi, docinho! — Kiara diz, debochando da amiga, o que faz Marla


mostrar o dedo pra ela e revirar os olhos sorrindo.

— E então? Vocês estão...

— Estamos ficando, não pira, Kiar.

Marla responde antes que eu possa dizer alguma coisa. Talvez eu

tivesse respondido diferente... dizendo que estamos nos conhecendo. Ficar


parece pouco para o que temos feito, mas decido não a contradizer.

— Ai, meu Deus! Não acredito que a minha amiga saiu do período
sabático com o Rodrigo! Por favor, me deixa contar para as meninas! — ela

pede, juntando as palmas das mãos e fazendo aquele bico que poucas
pessoas conseguiam dizer não.
— Não! Tá vendo... foi por isso que não te contei.

— Ai, amiga larga de ser malvada, até parece que não é a coisa mais

louca que aconteceu desde quando o Luís começou a trabalhar no


Dreambank, ou a Estela começou a namorar...

— Acho que nada supera a Estela começar a namorar.

Elas riem da piada interna que, para mim, não faz o menor sentido.

— O que quer dizer com isso, lindinha? Que é muito surreal a Marla
ficar comigo?

— É surreal vocês quererem ficar um com o outro! Devo ter perdido a

parte que pararam de se odiar e se implicar que nem dois maníacos.

— Sempre soube que rolava um clima com esses dois — Luís opina.

— Quem disse que a gente parou de se implicar? — Marla ainda parece


na defensiva.

— A docinho adora isso, Kiar. Foi o que conquistou ela.

O casal ri da minha afirmação e Marla sorri, revirando os olhos.

— O que me conquistou foi esse corpinho de boca fechada.

— Olha a calúnia de quem adora a minha língua...

— Eita que eu acho que tá na hora da gente ir embora, amor. Não sei se
vão começar a brigar ou se pegar na nossa frente...
— Larga de ser engraçadinho, Luís — Marla diz pra ele.

Passamos mais um tempo fazendo piada e tirando uma com a cara do


outro até que combinamos de encontrar o casal no restaurante, pra nos
divertirmos e colocar algumas pautas do planejamento em finalização.

É a primeira vez que saíamos juntos com outras pessoas, não sei se

devo ficar animado ou preocupado.


 
“Antes que eu vá
Você não vai me deitar, colocar suas mãos no meu corpo todo?
Me abrace apertado
Antes de passar mais uma noite sozinha
Porque eu não sei como, mas eu já sinto sua falta”
Before I Go | Mimi Webb

O almoço com nossos noivos foi ótimo. Apesar das piadinhas irritantes

dos dois, eles não falaram nada demais, pareciam felizes por nós, eu não
contei que tínhamos um acordo e um prazo de validade.

Não sei porque me apego tanto a esse detalhe, afinal qual será o

problema de continuarmos depois que o prazo chegar ao fim?


Já Rodrigo me surpreendeu. Eu jamais esperava que ele fosse tão

atencioso e protetor, seria mentira se dissesse que não somos amigos. Gosto

de estar na presença dele, gosto das conversas que temos e adoro sentir o

seu carinho e desejo. Ele faz eu me sentir a mulher mais irresistível do

mundo, ao invés de se sentir oprimido pela minha personalidade e


independência. O Rodrigo sente admiração e atração. Eu nunca imaginei

que ele fosse assim, a Kiara estava certa quando dizia que ele era uma

pessoa maravilhosa.

Eles se conhecem bem, eram melhores amigos de infância e ex-

namorados... apesar de eu não conseguir assimilar essa parte muito bem,

parece que não encaixa na minha mente, só consigo vê-los como os bons

amigos que são hoje. E fico feliz por isso, porque nunca senti nada parecido
com ciúmes, o que seria realmente absurdo já que eu não tenho ciúmes de

ninguém e estou planejando o casamento da minha amiga com o amor da

vida dela.

Eu não gosto de ficar vulnerável, odeio não ter o controle das coisas e o

fato delas não estarem caminhando conforme o planejado me deixa perdida.

Não era para o Rodrigo ter conhecido a minha família, não era pra eu

desabafar dos meus dias com ele, tampouco dormir todos os fins de semana

na casa dele e sair com ele o tempo todo.... Isso já está indo longe demais.

Que tipo de relacionamento casual é esse?


Agora Rodrigo está tomando banho enquanto eu faço um chá, são

20h30 da noite de uma terça feira; às vezes, ele vem me visitar e como eu

não resisto... pulo em cima dele até ganhar uns 5 orgasmos perfeitos. Eu

estou ferrada, completamente mal acostumada com esse homem... Como

vou ficar com outra pessoa agora? Não tinha conhecimento do fato de que

os mulherengos conseguem satisfazer tanto assim nossos desejos, mas


deveria ter imaginado. Por que será que ele não namora com ninguém há

anos?

Sento no sofá com a caneca na mão e sinto o cheiro de chá de maçã

com canela, deixei o bule de porcelana na mesa com água quente e uma
caneca com o sachê de chá, para que ele tome o chá fresquinho assim que

vier pra sala.

Rodrigo sai do banheiro com uma toalha em seu quadril, o cheiro dele

enche o cômodo e ele me dá um sorriso antes de preparar sua caneca. Ele dá


um gole antes de se sentar ao meu lado no sofá, colocando a caneca dele na

mesa.

— O que está pensando? Está com um olhar meio distante.

— Ah, nada demais... Pensando em como minhas amigas são

implicantes.
— Todas elas já sabem sobre nós, não é? — Ele sorri e bate a mão em

sua perna para que eu deixe meus pés ali, Rodrigo faz uma massagem

maravilhosa nos pés... eu não disse que estava ferrada?

— A Estela já sabia e, quando soube que a Kiara também sabia, disse

que não era certo deixar apenas Isadora de fora, e eu concordei. Então
passaram a segunda-feira inteira falando sobre isso... perguntando tudo que

queriam saber.

— Tipo o quê?

— Eu gostei do sexo? Qual o tamanho do seu pau? Eu tô apaixonada?

Quando falo a última palavra, sinto Rodrigo parar de respirar.

— E o que respondeu? — Rodrigo encara meus olhos.

— Disse que o sexo é maravilhoso, tá bom.

— Você sabe que não foi isso o que perguntei

— Por que quer saber? Você não parece ser do tipo que se apaixona

assim...

— Por que acha isso?

— Bem, que eu saiba só namorou com a Kiara 10 anos atrás... Para a

quantidade de pessoas que se relaciona, é muito tempo sem um

compromisso.
— Não é questão de querer ou não um relacionamento. Dói muito saber

que você gosta mais da pessoa do que ela de você, saber que o que ela

significa para você é muito distante do que você é pra ela... É como amar

sozinho. E mesmo fazendo todo o possível para receber aquilo de volta...

sabendo que nunca vai ser o bastante. Eu entendia os motivos dela, sabia

que estava com muitos problemas, mas isso não fez com que fosse mais

fácil. Foi um período complicado e depois eu só... não gostei de mais

ninguém. Além do mais, você não é a única que pensa assim, que só quero

relações sem compromisso, elas nunca esperam mais do que isso de mim.

Dá para sentir a angustia nas palavras, a forma como se desiludiu de

relacionamentos quando fez o seu melhor e aquilo não teve o resultado

esperado. Como tentava sempre fazer o melhor até em relações casuais... eu

não sei o que dizer. Não enxergo o Rodrigo como um homem vulnerável,
sempre imaginei que ele era muito mais experiente que eu nessas coisas.

— Está dizendo que sente alguma coisa por mim?

— Eu não acho que isso seja apenas uma relação casual, Marla...

Retiro meus pés do colo dele e me sento ereta, tomando um gole do chá

para me acalmar. Eu não esperava por isso.

— Então o que é isso, Rodrigo? Estabelecemos um prazo de validade...


apenas nos tornamos amigos no processo, e eu admito que isso me
surpreendeu. Mas dizer que isso é um namoro, também acho que é dizer

demais.

— Não foi isso o que eu disse...

— Então o que está dizendo?

— Talvez não precise acabar quando o casamento acontecer, podemos

continuar assim, você não está feliz com o que temos?

— É claro que estou, mas não sei se isso vai funcionar por muito

tempo. Acho que você tá acostumado a aproveitar a vida como sempre

viveu, e eu... não sei. Talvez seja legal conhecer pessoas novas.

— Então não quer mais continuar com a exclusividade?

— Não foi isso que eu disse!

Rodrigo levanta as mãos para o alto em rendição a essa conversa que

mais parece uma DR muito estranha.

— Olha, acho que ainda está cedo para falarmos disso... temos um mês

para conversar sobre o assunto, vamos conversar de novo depois? — falo,

tentando voltar à normalidade.

Rodrigo assente e não diz mais nada enquanto toma o chá. Mas percebo

que não gostou do que ouviu. Por que eu disse aquilo de conhecer gente

nova? Eu não quero conhecer gente nova, tenho pavor de gente nova! Acho
que ambos não esperávamos ficar tão próximos... eu não sei bem o que

estou sentindo. Mas tenho tempo para descobrir, de toda forma não quero

vê-lo com ninguém enquanto estivermos saindo, isso é imutável.


 
“Mas quando estou perto de você, sinto chamas
Eu toco o fogo, eu me queimo
Eu sinto essa pressa debaixo dos meus pés, é como se eu estivesse
caindo
Isso é amor?”
Flames | Tedy

Hoje é o dia!
A despedida de solteiro que tanto planejei com a Marla e, devo dizer...,

com as outras madrinhas de Kiara. Luís tem alguns amigos no trabalho, mas

que não são tão próximos como o trio de amigas da Kiara, e elas foram de

grande ajuda. Não contamos como seria a despedida e nem quando, não

podíamos deixar que o casal planejasse a própria despedida, então guardei


segredo até essa manhã e, depois do almoço, joguei a notícia no grupo.

FESTA DE ARROMBA DE LUAR

(pois é, mudaram o nome do grupo)

Eu: SE PREPAREM QUE É HOJE

Kiar: ???

Kiar: Mds será que esqueci de alguma coisa?

Luís: ksksksk tadinha da minha noiva

Eu: É a despedida de solteiro de vocês! Relaxem e bebam água, porque

a noite vai ser só álcool!!

Kiar: HOJEE?

Eu: Hojeeee! Não vai faltar na sua própria despedida, hein. Vou

buscar vocês às 19:00!

Luís: Estaremos prontos!


Marla: Não acredito que já contou tudo. É muito boca de sacola

mesmo...

Eu: Estou mais animado que você pra festa, tinha o direito de contar,

docinho.

Sério, essa é a melhor festa que já fiz, é claro que não fiz tudo sozinho,

mas é a que estou mais empolgado. Temos bebidas (muitas!), temos

decoração engraçada e temática, uma playlist foda e strippers! É claro que

terá strippers, não posso manter minha reputação intacta se fizesse uma

despedida de solteiros sem isso. E como é uma despedida para o casal...

temos um homem e uma mulher pra tirar a roupa hoje na festa. É o que eu

queria? Não, não tenho a menor vontade de ver um bombadão dançando de

cueca na festa, principalmente dançando para a Marla..., mas não vou

prestar atenção nisso.

Quando Sarina, a moça que escolhi para vir a festa, aparecer com

aquela roupinha dançando... não vou ver mais nada. É um dia para celebrar.

Tudo para o casamento está acertado: Local, decoração, flores, juiz de

paz, alianças, festa, DJ, o bendito bufê, garçons, bebidas... a única coisa que

falta é o vestido de noiva. Nunca vi tanta dificuldade pra achar um

vestido..., mas acho que é a coisa mais simples de concluir, então estou feliz

por ter ajudado os meus amigos a realizarem um casamento incrível. Claro


que sempre haverá as coisinhas de última hora, mas, pelo menos no papel,

tudo está feito.

É inevitável não pensar no fim do acordo com Marla, na nossa aposta

ridícula que foi apenas uma desculpa para justificar a nossa vontade de ficar

um com o outro. Eu sei disso, mas não sei se ela chegou a admitir isso para
si mesma, e já tinha mostrado demais meus sentimentos, não quero me

expor mais e quebrar a cara.

Eu fiz a proposta de continuarmos nos vendo e ela não pareceu gostar


da ideia, morrendo de medo de estender nosso tempo juntos... se ela quer se

livrar de mim ou está confusa, eu não sei, mas não estou com vontade de

me frustrar. É melhor dar tempo ao tempo antes de sugerir mais alguma

coisa sobre nós.

O casamento está cada vez mais próximo e, com isso, outras coisas

também. Ainda não consegui pensar muito a respeito do que fazer com
Rodrigo. Acho que ele está conseguindo se distrair bem com a despedida de

solteiro e o trabalho, não levando nossa última conversa para o lado

pessoal. Ele tem prática com esse tipo de relação, eu que não consigo
aceitar muito bem esse tipo de coisa. Não é como se ele tivesse dito que

gosta de mim e quer algo mais sério, ele apenas sugeriu que não parássemos

de nos ver e que continuássemos juntos depois do prazo do acordo acabar.

Já abri bastante espaço na minha vida pra ele, nos tornamos amigos e

estamos mais próximos do que sequer pensei que poderíamos estar. Não

posso abrir mais espaço se não sei bem o que quero, ou o que ele quer.

Decido deixar isso de lado, por ora, e me concentrar na festa que fizemos

para Kiara e Luís.

Tudo está em ordem, nós mesmos fizemos uma playlist pra deixar

rodando na festa com as caixas de som Bluetooth e estamos usamos a

grande área de lazer que a casa do Rodrigo tem, onde fica a churrasqueira

de parede moldada e um freezer por perto.

Fizemos shots com gelatina, compramos os pequenos copinhos

coloridos descartáveis pra servir outros shots e separamos os copos maiores

para o barril de chopp e os destilados que misturaremos com o energético.

Tem bebida para todos os gostos e para você entrar na festa tem que virar

um shot de pagamento, ideia do tormento, é claro... (tinha que ser).


Deixamos os shots já servidos na entrada para o horário marcado da festa,

tem tequila, pinga e bananinha (porque eu mesma não consigo virar outra

coisa sem passar mal).


São 19h30 uma sexta-feira e o meu squad de amigas veio mais cedo

para nos ajudar a arrumar tudo. Sem a ajuda da Estela e a Isadora não

teríamos conseguido fazer tanta coisa. Sinceramente, estamos de parabéns,

a festa ficou muito legal. Apesar de não concordar com os strippers,

Rodrigo e Estela bateram o pé que tinha que ter, então foi isso. Dois

strippers, Cristo... mesmo assim acho que ninguém vai ficar realmente

pelado né, pelo amor de Deus.

Rodrigo saiu para buscar os noivos e os convidados já estão chegando.

Já eu estou na parte de dentro, organizando as coisas. Pedimos salgadinhos,

tábua de frios e pizza pro pessoal não encher a barriga só de álcool. E à

medida que for acabando as pizzas, vamos pedindo mais, não fizemos

churrasco porque alguém teria que ficar assando e todo mundo quer se

divertir, então preferimos comprar tudo pronto.

A Estela está na entrada, recebendo as pessoas e obrigando todo mundo

a tomar um shot antes de adentrar à casa.  Já a Isadora está lá só para tirar

fotos e rir da cara de todo mundo com o “pagamento”, ela tem uma câmera

fotográfica polaroide da Instax, então todas as fotos da festa com a

polaroide estão indo para o varal de fotos do mural dourado, que depois

farão parte de outro mural no casamento.


— Amiga, já põe o pessoal pra escolher os copos da festa e pegar as

plaquinhas!

Isadora entra e grita, animada, acompanhando os convidados que

chegaram, tirando fotos com o celular desta vez. Ela será a nossa fotógrafa

da noite; já que o marido dela só vai chegar mais tarde, então ela está

aproveitando pra tirar muitas fotos agora.

Os copos e as plaquinhas, essas foram ideia da Estela, compramos 3

cores de copos plásticos daquele mais grossinho pra durar por mais tempo.
As 3 cores estão na bancada ao lado de 3 canetas, para que as pessoas

escreverem os seus nomes e usá-los a noite toda.

Cada cor representa seu status amoroso vigente: vermelho significa


comprometido, verde significa solteiro e amarelo significa enrolado. Assim

todo mundo que é solteiro poderá aproveitar pra dar uns amassos em
alguém que se interessar sem passar constrangimentos, é também uma

maneira engraçada de zoar as pessoas.

Eu, sinceramente, ainda não sei qual copo vou pegar... Comprometido

não é verdade, então acho que será o amarelo. As plaquinhas já são um


costume nas festas, tirar foto com alguma frase que represente o seu humor:

“hoje só vim pra beber”, “se eu não lembro eu não fiz”, “hoje eu tô
bandida” ... há uma variedade enorme delas.
Cumprimento os convidados, mostrando os copos coloridos e
explicando como escolher. Muita gente que não conheço, lá do Dreambank,

veio, eles parecem ser bem tranquilos. Kiara disse que ela e Luís são quase
uma lenda na empresa, já que depois de várias hostilidades públicas, eles

começaram o namoro e deixaram metade da agência chocada. Muita gente


lá não sabia do passado dos dois e dava boas risadas com a implicância da

Kiara.

Compramos tanta bugiganga pra essa festa que acho que vai sobrar até

para quando um dia eu fizer a minha própria despedida. Tem balões, apitos
de pinto, colares com pingente de peitos, canudos de pinto, tiara com

antenas de pinto... tem pinto e peito para todos os lados.

Além das comidas salgadas, tem alguns docinhos com carimbos de

pinto, calcinha e espartilho. Dois bolos que encomendamos como parte das
zoeiras. Um em formato de pênis, com recheio de leite ninho com coco, e

outro em formato de peitos com recheio de red velvet, e eu não vejo a hora
de poder comê-los.

Deixamos tudo arrumado em cima de uma mesa de vidro, que está em


frente da parede decorada nas cores rosé gold e dourado, que foram as cores

escolhidas para o restante do evento. Uma cortina metalizada foi colocada


na frente da parede branca do local, onde os balões de letras douradas na
frente da cortinha formavam a frase: o mesmo pau/ppk para sempre. E isso,
por incrível que seja, foi ideia minha, precisava entrar no espírito da coisa.

O restante dos balões são redondos e estão distribuídos por todos os lados.

Todos os padrinhos e madrinhas escolhidos pelos noivos tirarão uma

foto com uma plaquinha de “presidiário americano”, daquelas preto e


brancas quando as pessoas vão presas por lá... ideia da Isadora e eu

simplesmente amei. Não vejo a hora de ver a cara dos noivos com tudo o
que tínhamos feito...

Quando a música “Pilantra” do Jão e Anitta começa a tocar, eles


chegaram: Kiara com um vestido curto e branco de paetê e decote V que

foge do espalhafatoso mesmo com os brilhos, cheio de elegância. E Luís


com uma calça de alfaiataria preta e camisa cinza clara de mangas

cumpridas que tem um corte perfeito, eles estão de mãos dadas e são
ovacionados pelos convidados. Logo atrás está ele... o meu tormento, o meu

karma particular, aquele que tira todo o meu bom senso e juízo. Tão lindo
que chega a me tirar o ar com uma camisa azul marinho de manga curta

deixando-o ainda mais gostoso do que de costume.

— Meu Deus, isso ficou incrível! — Kiara fica encantada, olhando


tudo antes de me abraçar.
— Não acredito que encomendaram um bolo de pau e um bolo de

peitos — Luís comenta, rindo.

— Isso foi ideia de todo mundo que cuidou da festa, os seus quatro

padrinhos!

— É... mas foi você que soube o lugar certinho de encomendar né,

docinho?

— Só porque quando pesquisei os bolos pro casamento, encontrei esse


lugar que faz bolos personalizados, engraçadinho... — Reviro meus olhos
para ele.

— Claro que foi a minha Docinho, ela é muito certinha para se

interessar por bolo de pinto...

— Ai, gente, é impagável ver vocês interagindo assim, viu! — Kiara ri

da gente e sinto o meu rosto aquecer.

Ainda é estranho que as pessoas saibam que a gente está ficando.

“Ficando”, eu odeio como isso soa, como se não fosse nada demais o que
temos. Mas o que nós temos?

Estela chega, abraçando e cumprimentando os noivos, entregando as


faixas para todas as madrinhas e a noiva. As faixas são no “estilo miss” e a

da noiva diz: a noiva do Squad, já as nossas tem “Squad da noiva” escrito.


Quisemos comprar assim que vimos pra vender nessas lojinhas de
utilidades onde vendem fantasia. Aproveitei para entregar a Kiara uma tiara

com um véu curto de noiva, todo enfeitado com pequenos brilhozinhos. Ela
fica maravilhada, me agradecendo. Luís chega perto da noiva, arrancando

um beijo daqueles, dizendo como ela está linda.

Assim que o Rodrigo avista as meninas colocando suas faixas, corre

para buscar as bandanas de Squad do noivo. Que podem ser amarradas na


testa, no braço, onde quiser.

Rodrigo me pede para amarrar a dele no braço, abaixo da manga da


camisa de botões. E Luís coloca a de noivo na testa, todo sorridente e feliz

por exibir seu título: Noivo do Squad. Rodrigo sai entregando as outras
faixas para alguns amigos de Luís da Dreambank e guarda no bolso as do

Roberto e Bruno.

Isso já faz todo mundo dar risada, quem não usa as faixas está usando
os colares de pinto ou as tiaras de antena de pinto. Todo mundo está meio

fantasiado, bebendo e dançando de pé, tem poucas pessoas sentadas nas


mesas, o que é ótimo porque tínhamos preparado jogos pra galera participar.

— Vamos tirando as fotos de presidiário antes que todo mundo fique


acabado nessa festa — Isadora diz, segurando o celular e indicando o local

para as fotos.

— Fotos de presidiário? — Luís pergunta, intrigado.


— Vocês capricharam mesmo, gente, tô amando muito.

— Você merece, amiga — Isadora diz, dando um abraço em Kiara.

— Fala que você não tem os melhores amigos? — digo, sorrindo e indo
com eles pra tirar minha foto.

— É isso mesmo, você ficou devendo um festão pra gente, Kiar —

Rodrigo diz, sério.

— Pode deixar, Rô. Não vejo a hora de fazer sua despedida de

solteiro...

Rodrigo estava mastigando um shot de gelatina então engasga depois

da frase. Dou tapinhas nas costas dele para ajudar. Ele me olha,
agradecendo com um sorriso, os olhos um pouco marejados pela tosse.

— Ah, mas eu também... nem acredito que a nossa Marla se rendeu aos
encantos do Rodrigo.

— Calma, Estela, não acredito que estão falando em casamento com a


gente

— Eu que não acredito que vocês estão só “ficando”.

— Marla ficou anos sem ninguém e age como se isso não fosse nada
demais. E eu fui a última a saber! — Isadora parece indignada.
Eu e Rodrigo ficamos em silêncio para todas as insinuações. Nos
dirigimos a parede branca com balões, onde pego as placas da foto,

entregando uma para cada um. Pego um canetão e começo a escrever na


minha placa: abuso de poder.

— Agora cada um coloca o seu crime na placa para ser fotografado.

Todo mundo começa a rir do que coloquei na minha placa.

— Olha, eu concordo muito! Tá pra nascer pessoa mais mandona que

você, amiga... — Estela fala, colocando um braço ao redor dos meus


ombros.

— Vixe, o que vou colocar na minha? — Isadora fala, pensando em voz


alta.

— Pensa aí, amiga, vou tirar sua foto para você poder tirar as nossas!

Todo mundo vai pensando e colocando alguma coisa. Eu não consigo


parar de rir das coisas que escolheram: Isadora colocou “furto de doces”,

Estela colocou “arquiteta das putarias” ela já está namorando fazia um


tempão e mesmo assim quer sustentar o título. Kiara colocou “formação de
quadrilha”. Luís colocou “ousadia extrema” e acho que só pode ter a ver
com a maneira que voltou pra Kiar e, finalmente, Rodrigo: “ladrão de

corações”.

— Sério, tormento?
— Tem como ser acusado por um crime diferente?

— Você não tem jeito...

Ele me rouba um selinho antes de ir posar pra sua foto. Me deixando


toda boba só por um simples beijinho. Kiara me dá um sorriso de raposa
como se isso significasse alguma coisa. Rodrigo posa para a foto com cara
de culpado pra fazer graça, todas as fotos ficam engraçadíssimas e tiramos

duas, uma com a polaroide e outra com o celular.

Depois de todo mundo comer alguma coisa e pegarmos nossos copos


com o drink escolhido (o meu é Gin com energético e o copo é amarelo, a
mesma cor que Rodrigo pegou para tomar o seu chopp). Ficamos jogando

conversa fora, esperando os outros convidados chegarem. A mãe da Kiara


chega com uma sacola de presente para o chá de lingerie.

— Oi, mãe. — Kiara a abraça, — A senhora não precisava me dar


nada!

— Claro que precisava, tenho que ajudar minha filha a fazer o estoque
pra a lua de mel — ela finaliza com uma piscadinha.

Todo mundo dá risada e Kiara fica vermelha. A Dona Fátima é muito


querida por nós, sempre sabe se divertir com a gente, mesmo se não

participe de tudo que planejamos.


Pego o microfone para chamar as mulheres para o chá de lingerie, que
será feito na frente à mesa de doces. Já o Rodrigo chama os rapazes para

um “chá de churrasco”, eu nunca ouvi falar e acho que ele inventou, mas
basicamente é um jeito de ganhar ferramentas, aparelhos de churrascaria e
outras coisas como kit de barbear, por exemplo.

Acho que ele simplesmente não queria deixar o amigo sem presentes e

nem participar desse momento de presentear com roupas íntimas. Mas seria
hilário ver o Luís ganhando cuecas dos amigos do trabalho e de Rodrigo.

Kiara ganha muitas calcinhas, conjuntos de lingerie, camisolas e até


pijamas. Eu dei um espartilho branco com cinta liga e meias 7/8 para ela

usar na lua de mel. Sou a madrinha e queria dar algo marcante, ela parece
ter amado, pois dá gritinhos quando abre a caixa da Vasiliere. Devo
mencionar que o Rodrigo ama tanto as lingeries desse lugar que, às vezes, a
gente transa comigo vestida nelas. É difícil não pensar nesses momentos

vendo tanta roupa íntima... Será que vamos ter tempo de ficar juntos hoje?

Depois dos presentes, Estela serve um champagne para terminar aquela


parte da festa com toda a alegria possível. E agora começaremos com os
jogos.

Tínhamos pensado em fazer algo do tipo “eu nunca”, mas todo mundo
achou meio sem graça. Então o Rodrigo sugeriu uma espécie de jogo da
roleta: a festa se dividiria em grupos de 6 pessoas, cada grupo fica com uma

roleta (aquelas de plástico para brincar de cassino). Os jogadores definirão a


vez de jogar com um dado e tomarão a bebida correspondente ao número
que a roleta sortear.

Eu mesma fiz a tabela com as bebidas e seus números correspondentes


naqueles mini quadros de escola para escrever com giz e deixei bem

exposto em cima da bancada da área de lazer da casa. no momento que o


Rodrigo e a Estela começam a explicar tudo aos convidados. Têm bebidas
não alcoólicas como suco, água, energético e, claro, as alcoólicas: os shots
variados, gin, vodca, bananinha, cachaça, tequila, cerveja, uísque e até o

champagne que sobrou do Chá.

Quem não beber o drink sorteado terá que cantar uma música no
karaokê improvisado que montamos no quintal. Colocamos uma SmartTv
ali e o microfone alugado fica na frente, a pessoa terá que cantar uma

música escolhida pelos noivos. Essa parte quem escolheu foi a Isadora, com
certeza a minha amiga prefere cantar uma música qualquer do que precisar
virar um shot de uísque ou cachaça.

— E então... dúvidas? — Rodrigo diz com um sorrisão enorme de


quem não vê a hora de começar.
Nessa hora o namorado da Estela e o marido da Isadora chegam junto

com mais alguns parentes da Kiara e acredito que não falta mais ninguém.
Como o nosso grupo tem 9 pessoas (Eu, Kiara, Luís, Rodrigo, Estela,
Bruno, Isadora, Roberto e Dona Fátima), usamos dois dados para
determinar a vez de cada um para rodar a roleta. Cada grupo fica em uma

mesa e quando tiver mais de uma pessoa para pagar a prenda no karaokê é
só fazer uma fila, ou escrever a vez na lista em cima da bancada.

— Que comecem os jogos! — Rodrigo e Estela gritam em uníssono.

Aumento o som nas caixas e começa a tocar algo do Alok. Jogo o dado

pra definir a minha vez que fica sendo a 3ª da mesa. Depois de todo mundo
saber sua vez, começamos a tomar os shots, eu prefiro beber do que cantar,
com toda a certeza. Então tudo que aparece eu estou bebendo,
principalmente por já ter forrado bem o estômago na hora do chá de

lingerie.

Todo mundo evita ao máximo ser o primeiro a enfrentar o karaokê.


Todos estão mandando pra dentro os shots, poucas pessoas dão sorte de
pegar suco ou água ali, imagino que metade da festa já está ficando bêbada.

A Dona Fátima já bebeu 3 doses, então falamos pra ela que podia tomar
o que quisesse, mesmo se tirasse bebida alcoólica, elas nos manda parar de
encher o saco e toma uma tequila com toda a classe. Ai, eu adoro essa
mulher. E não posso fraquejar depois disso, então tomo mais um uísque.

Argh, eu não gosto dessa bebida, quero muito que esse jogo acabasse logo
antes de todo mundo sair por aí vomitando nos cantos.

— Se os noivos não quiserem beber, quem escolhe a música? — Luís


pergunta.

— Eu. Ou a Marla, seus padrinhos principais, é claro.

— É melhor beber, amor. Você não vai querer ver o Rodrigo


escolhendo música pra gente.

— Ah, o que é isso? Vou escolher uma musiquinha tranquila!

— Vamos lá, vou pagar pra ver.

Rodrigo fica animado e começa a bater nos ombros de Luís. As pessoas

ficam na expectativa. Ele pega o microfone e pausa a música das caixas de


som.

— Aí, galera, o noivo não quis virar a dose dele, então vou escolher a
música que ele vai cantar.

Rodrigo pega o controle da TV e começa a digitar o nome da música...


não acredito nisso!

— Wan Baster?!!

— Essa música é perfeita pra despedida de solteiro, docinho.


Só consigo balançar a cabeça e começo a rir quando Luís pega o
microfone, ele passa a mão no rosto, se preparando quando a música
começa a tocar:

— Chama elas pra foderrrr....

Todo mundo da festa cai na gargalhada, sério... só o Rodrigo para fazer


uma pessoa cantar uma música dessas, sendo que está de casamento
marcado.

Chama elas pra foder aqui em Goiânia

Chama, chama, chama, chama

Não vêm com amor, vêm com putaria

Bom dia, bom dia

Não vêm com amor, vêm com putaria

Bom dia, bom dia

Amor é só estresse, putaria é alegria

Bom dia, bom dia

A Tropa de Goiânia é uma música bem conhecida por aqui nos últimos
tempos, todo baladeiro convicto sabe a letra e quem não sabe ama dançar.
Óbvio que filmo tudo para postar nos melhores-amigos do meu Instagram e

salvo pra mandar no grupo com eles depois. Eu rio tanto que minha barriga
dói. Kiara dá risada e fica com vergonha ao assistir o noivo. Ela e o Luís
estão vermelhos, é fofo como ela fica com vergonha por ele.

Depois disso, muita gente canta mesmo sem precisar e a brincadeira vai
perdendo força. O que eu, Isadora e Kiara agradecemos ao olharmos uma

para a outra. Cristo, preciso beber apenas água na próxima hora.

— Vocês são muito fracas. Eu e a Dona Fátima bebemos mais que


vocês!

— A Estela é a minha companheira de copo. — As duas brindam antes


de virar um shot de bananinha.

Deus me livre, eu vou ficar só no chopp a partir de agora.

Estela e Dona Fátima vão até o karaokê cantar um sertanejo da Marília

Mendonça, e vejo alguns casais dançando. Eu não sou muito fã do gênero,


mas a Marília era foda, eu gostava. Então fico com o braço por cima do
ombro de Kiara e cantamos o refrão junto com elas.

Esses momentos tão passageiros valem ouro, é difícil perceber o valor

deles enquanto os vivemos, mas eu sempre tento fazer isso depois que
minha mãe partiu. Porque é esse tipo de coisa que a gente vai lembrar
quando pensar nos bons momentos, quando sentirmos saudades de um
tempo precioso que passou.
Eu olho para as minhas amigas... Isadora dançando com o marido,
Kiara cantando e sorrindo para a mãe, Estela dançando com a Dona Fátima
na frente da TV enquanto o namorado dela, Bruno, filma tudo. O Rodrigo e

o Luís virando uma dose juntos e depois trocando um abraço, eu estou feliz
de estar ali.

Chega a parte da festa que a maioria das pessoas mais esperava: os


Strippers!

Acho que é a primeira vez que muita gente verá um casal deles numa
festa desse tipo na cidade. O pessoal está ansioso para apreciar as
dancinhas.

Eu, na verdade, não estou... talvez se fosse o Rodrigo dançando pra

mim..., mas que droga! Não acredito que tô pensando nisso, até agora não
tivemos um mísero tempo para dar uns amassos. Mas é difícil arrumar tudo
que precisa na festa, mesmo tendo a ajuda dos noivos e das meninas.

— Agora a parte tradicional da festa com uma surpresa pra vocês!

Podem sentar aí, noivinhos...


Falo no microfone, apontando as cadeiras no centro da área de lazer,
que Rodrigo colocou depois que a cantoria no karaokê acabou.

— Alguns não queriam, outros disseram que não podia faltar. Então

venham, Sarina e Rhuan!

Nessa hora, a Estela entra com os dançarinos e faz o sinal para Rodrigo
soltar a música e “Partition” da Beyoncé começa a sair das caixas no último
volume. Todo mundo começa a gritar quando os dançarinos vão para perto

das cadeiras dos noivos. Sarina dança para Luís e Rhuan dança para Kiara.
Os dois estão vermelhos e se encaram, sorrindo, sem acreditar que
preparamos isso pra eles.

Rhuan pega a mão de Kiara, chamando sua atenção e coloca na sua


barriga ainda coberta pela regata branca e justa enquanto rebola pra ela. As
mulheres da festa estão dando gritinhos e os caras ficam de olho em Sarina,
que toca no queixo de Luís e o vira para ela, fazendo ele parar de encarar o

homem dançando para sua noiva. Ele sorri sem graça e bate palmas para a
moça, que desce mostrando o decote para ele dançando sensualmente.

Rodrigo vai até Luís e o entrega notas de dinheiro falso (que


imprimimos para este fim) para que entre na brincadeira. O padrinho vai

entregando as notas para todos os convidados e eu faço o mesmo, ajudando


e colocando algumas notas na mão de Kiara, que cobre a boca com a outra
mão quando o homem tira a camisa e faz uma dança colocando essa mão na
barriga dele.

— O que tá achando, docinho?

Rodrigo se aproxima de mim quando paro pra observar as danças,


encostada na bancada. O cheiro do perfume amadeirado invade minhas
narinas e me dá vontade de chegar mais perto.

— Eu não sei se rio deles ou se jogo dinheiro pra eles. — Dou um


sorriso.

— Eu disse que era legal, ninguém vai ficar pelado de verdade, é só pra

diversão...

— Luís olha mais para o cara dançando pra Kiara do que pra dançarina
com ele.

— E a Kiar tá quase desmaiando de vergonha. — Rodrigo dá uma

gargalhada.

— É... acho que é melhor eles encerrarem e vamos passar a vez para os
dançarinos embebedarem outras pessoas

É comum os strippers darem um pouco de bebida direto da garrafa na

boca das pessoas que sentam na cadeira e assistem de perto a performance,


mas eu particularmente nunca gostei de ter minha cabeça chacoalhando por
um GoGoBoy depois de uma dose.

— A Estela tá cuidando disso, ela vai deixar mais umas 10 pessoas


participarem, incluindo ela, que fez questão de dizer ao Bruno que não
podiam perder a oportunidade. Estela é das minhas...

— Então você vai participar?

— Nós vamos.

— Como assim? Ninguém me perguntou nada!

Quando dou por mim, Estela está com o microfone, falando que os

padrinhos são os próximos, chamando meu nome e mandando eu ir pra lá.


Rodrigo me dá uma piscadela e pega na minha mão, me puxando um
pouquinho. Ah, não! Olho para o casal de noivos que se abraça, rindo, e
batem palmas quando nos veem indo para o lugar que estavam.

Ouço “Rude Boy” da Rihanna tocando em uma versão de funk e me


sento na cadeira ouvindo a gritaria do pessoal em expectativa.

Rhuan aparece sem camisa na minha frente e segura no encosto da


cadeira se aproximando ao máximo de mim, depois me dá uma piscada

quando rebola como uma mola exibindo seu peitoral trincado e brilhando.
Cristo, que homem gostoso... Me sinto no filme do Magic Mike, pego as
notas falsas que tenho no bolso e jogo para ele, que sorri e se vira,
rebolando a bunda para mim no ritmo da música, dou uma gargalhada e

coloco uma nota no cós da calça dele.

Olho para Rodrigo, que me observa e vejo algo que não reconheço em
seu olhar, ele se vira para Sarina e põe uma nota no seu decote... é
impressão minha ou ele piscou pra ela? Ela rebola em seu colo sem encostar

nele e ele põe uma mão no quadril da moça. Será que já se conhecem? Será
que já transaram? Nesse momento não consigo mais prestar atenção na
dança de Rhuan, só penso no imbecil do Rodrigo flertando com uma mulher
na minha frente!

Ele olha para mim e sustenta meu olhar por bons segundos. Até a
música acabar e eu ouvir palmas, olho para Rhuan e sorrio, batendo palmas.
Me levanto e digo para Estela que vou entrar na casa por um momento, pra
ela ficar de olho em tudo.

Não sei o que aconteceu que me deixa fervendo de raiva... e daí que ele
flertou com ela? Ele é assim, joga charme pra todo mundo, não preciso me
importar com isso. Que se dane, a gente não tem nada mesmo. Entro na
sala, saindo da cozinha e ouço passos, quando olho para trás vejo Rodrigo.

— Ei... por que está correndo?

— Fiquei cansada, quero ficar sozinha.

— Está com ciúmes, docinho?


— Até parece. Bem que você queria, não é?

Rodrigo vem até mim e toca no meu rosto, acariciando minha bochecha
com o polegar antes de abaixar a boca até o meu ouvido e sussurrar:

— Com certeza eu gosto de ver a minha Docinho com ciúmes, deixa eu


te mostrar o quanto no quarto.

A frase arrepia meu corpo da nuca até os pés. Esse homem ainda vai

me deixar maluca. Ele se afasta e dá um sorriso de lado tão sexy que sinto

meus mamilos enrijecerem no mesmo instante. Engulo em seco, mordendo


o lábio e me virando em direção ao quarto dele.

Sinto o olhar do Rodrigo em mim por todo o caminho e, assim que

passo pela porta, ele a fecha com um estrondo e acende o abajur antes de

me imprensar na parede, me devorando com um beijo cheio de paixão.

Sinto a língua dele invadir minha boca, sua mão puxa meus cabelos de
um jeito delicioso em minha nuca e ele está tão próximo que posso sentir

seu pau duro e enorme me pressionando. Fico extasiada com tantas

sensações ao mesmo tempo, o cheiro dele, sua boca na minha, seu corpo
contra o meu, é sempre intoxicante estar nos braços dele.

— Achou que eu não vi você pegando na bunda daquele dançarino? —

ele fala assim que desencosta a boca da minha, ainda a centímetros do meu

rosto.
— Achou que eu não vi você piscando pra dançarina?

— Eu estava fazendo cena para ver se ia ficar com ciúmes...

— E você ficou? De mim?

— Nem consegui prestar atenção na mulher rebolando na minha


frente... tudo o que eu queria era arrastar você daquela cadeira e te amarrar

na minha cama pra gemer meu nome enquanto faço você gozar...

Tudo que Rodrigo fala me deixava mais molhada, eu não vejo a hora de

ele entrar em mim.

— E por que não faz isso agora? Tô tão irritada por você ter flertado

com a moça que eu mesma poderia te amarrar e te dar umas palmadas.

— Quer me dar umas palmadas, minha linda? Eu ia gostar de apanhar


de você...

Rodrigo morde de leve o meu pescoço, apertando meus seios com uma

mão e subindo meu vestido com a outra. Ele afasta minha calcinha quando

chega até ela e coloca um dedo dentro de mim, me fazendo gemer.

— Você é tão gostosa, amor, tão molhada e deliciosa para mim...

Ele nunca me chamou de amor. Acho que meu coração está mais

desvairado agora que a palavra saiu da boca dele. Não consigo refletir
muito sobre isso quando ele coloca outro dedo em mim e me massageia por
dentro, empurrando e rodando os dedos dentro de mim. Aperto minhas
mãos em sua camisa, sentindo seu peito duro e musculoso, seu coração bate

acelerado quando solto um gemido.

Ele abaixa a frente do meu vestido preto, que cai até a minha cintura e

revela meus seios sem sutiã. Rodrigo passa sua língua em meu seio direito,
rodeando meu mamilo, me provocando, até fechar a boca sobre ele e

chupar, fazendo minha cabeça ir para trás enquanto enfio minhas mãos em

seu cabelo o puxando para mais perto.

É incrível como Rodrigo consegue me fazer esquecer do mundo inteiro


quando estou com ele, como eu me sinto segura e inteira, como eu me

entrego sem resistência quando sinto as mãos dele em mim.

Rodrigo segura minhas pernas e me levanta, me segurando enquanto

me apoio em seu corpo ao entrelaçar as pernas em seu quadril. Ele me olha


intensamente de forma admirada e sorri antes de me colocar na cama. Em

seu olhar sinto como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo, como se

fosse um pedaço da sua felicidade. Sinto um suspiro escapar ao encará-lo de


volta, não sei porque, mas me sinto diferente, mais conectada com ele, mais

próxima.

Rodrigo me faz sentir coisas que nunca senti antes, coisas que não

achei que seria capaz de sentir. Ele é um bálsamo para as minhas cicatrizes,
é como um refúgio das partes que odeio em minha vida. Meu tormento se

transformou na minha paz, naquilo que me tira da dor e me traz alegria, eu

nunca compreendi que alguém poderia significar tanto para outra pessoa até
conhecê-lo. Não sei que sentimento é esse, mas me aterrorizo, eu não gosto

de confiar no meu coração, prefiro confiar na minha mente.

Rodrigo me beija enquanto termina de tirar o meu vestido e, ao mesmo

tempo, eu começo a abrir os botões da camisa dele, acariciando seu peito e


sua barriga enquanto a retiro de seu corpo com a sua ajuda.

Ele beija o meu pescoço, me castigando com sua língua, chupando e

mordendo, eu arranho suas costas ao descer minhas mãos até sua bunda,

que ainda está de cueca e a puxo para baixo, libertando seu pau que pula
para fora quando ele se afasta para retirar a boxer totalmente.

Me ajoelho em cima da cama e retiro minha calcinha, ficando sentada

sobre os joelhos, Rodrigo senta na cama, espelhando minha postura e olha

meu corpo inteiro, mordendo a boca de um jeito safado. Ele passa seus
dedos pelas minhas coxas e vai subindo sua mão junto ao seu olhar por cada

pedaço de pele: minha barriga, meus seios, onde ele aperta a palma de sua

mão em ambos, me deixando ofegante. Depois Rodrigo puxa um mamilo e


acaricia o outro, me torturando e olhando em meus olhos. Eu preciso dele,

quero senti-lo profundamente. Mordo meu lábio, contendo um gemido.


Rodrigo me beija, colando seu corpo no meu ao me deitar na cama, é um

beijo de devoção, um beijo com sentimento. Tem gosto de intensidade,


desejo e entrega.

Ele se afasta de mim e sustenta o corpo acima do meu com as mãos

apoiadas ao lado da minha cabeça, então diz:

— Abre as pernas pra mim, amor.

Gemo audivelmente de tesão enquanto afasto minhas pernas e ele se

ajoelha na cama, se debruçando sobre minha boceta e lambendo cada

centímetro dela. Jogo a cabeça para trás, eu não sei se meu tesão é maior
por ele conseguir me chupar exatamente do jeito que eu gosto, ou se é por

saber que ele ama sentir meu gosto com a língua.

Existe algo enlouquecedor em um homem que gosta de chupar uma

boceta, a gente sabe quando é de verdade e quando é por obrigação, para


agradar. Dá para perceber, mas Rodrigo ama fazer isso e eu amo que ele o

faça.

Assim que sinto um orgasmo se aproximando, seguro a cabeça  dele lá

até chegar no clímax. Eu não sei se alguém na festa pode me ouvir, mas
estou pouco me importando ao gemer o nome de Rodrigo enquanto gozo

intensamente.
Rodrigo limpa os lábios com a língua antes de passar as costas da mão,

limpando o restante, me dando um olhar tão safado que eu já quero apertar

uma coxa contra a outra para buscar mais alívio. Ele se levanta e vai até a
mesa de cabeceira, abrindo uma gaveta, retira de lá uma gravata...

— O que vai fazer com isso?

— Vou cumprir a minha promessa, linda.

Ai, meu Deus! Ele vai me amarrar...

Rodrigo sobe na cama e segura meus pulsos, esticando meus braços

para cima, acima da minha cabeça, mantendo-os ali. Depois ele envolve
meus pulsos com a gravata e amarra para que eu não consiga tocá-lo.

— Você fica tão irresistível amarrada assim, docinho.

— Preciso de você, meu tormento.

Rodrigo dá um sorriso cheio de desejo, devoção e algo mais. Se abaixa


e me beija fortemente, eu poderia morar naquele beijo, ele se afasta

ofegante e diz:

— Eu sou seu, Marla.

Então se coloca entre as minhas pernas e entra em mim profundamente.

Nunca me senti tão completa na vida. Gememos juntos e é tão perfeito, eu


amo senti-lo dentro de mim, me preenchendo, me levando a loucura. Ele é

meu.

— Eu sou sua, Rodrigo.

Rodrigo sorri para mim. Nunca o achei tão bonito quanto agora, ele

entra em mim com mais força e rapidez.

— Toda minha.

Segura o meu pescoço, possessivo e firme, sem apertar e estoca forte.

Levanto a cabeça para trás e sinto que vou me despedaçar de tesão, ele
geme no meu ouvido e faço o mesmo. Quero tocá-lo, quero beijá-lo e não

quero que pare nem por um segundo tudo ao mesmo tempo.

Não posso mais aguentar e gozo, gemendo enlouquecida, apertando o

corpo dele com minhas pernas o mantendo ali, enquanto sinto ele paralisar,
seu corpo gozando em seguida. Rodrigo deixa o corpo cair sobre o meu.

Não consigo parar de sorrir, eu me sinto plena e como se estivesse

exatamente no lugar que deveria estar.

Sinto Rodrigo passando o nariz pelo meu pescoço e fico em paz.


 
“Estou pegando leve
Alimentando minha chama
Embaralhando as cartas do seu jogo
E bem na hora
No lugar certo
De repente jogarei meu Às”
Eyes on Fire | Blue Fondation

Falta 1 mês para o casamento


 
Que dia mais louco.

Ontem foi um dia repleto de acontecimentos extraordinários. Fizemos a

despedida de solteiro perfeita para os nossos melhores amigos, pude rever

pessoas que amo como dona Fátima e, ainda por cima, senti que eu e Marla
estamos num nível totalmente novo no relacionamento.

Desta vez é diferente, mais intenso. Ela disse que é minha... eu disse o

mesmo a ela, e acho que isso muda as coisas. Estou com receio de acordá-la
e conversar sobre isso, sinto que ela sempre fica arredia quando toco nesses

assuntos, sendo que é pra eu ser o traumatizado da relação, mas é ela que

morre de medo de se entregar para mim. Já percebi isso, ela nunca quer

falar sobre certas coisas e eu evito fazer perguntas para não me frustrar.

Será que somos dois covardes?

Antes que eu possa acordá-la, uma pessoa bate na porta já gritando seu

ânimo em pleno sábado às 9 da manhã:

— Bom dia, dorminhocos. Vamos acordar queridos, espero que estejam

vestidos porque estou entrando!

Estela entra no quarto e Marla, que está de bruços, põe a cabeça

embaixo do travesseiro. Eu me cubro com o edredom e fico grato por estar

usando uma boxer e Marla ter colocado uma camiseta minha antes de

adormecer.
— Vamos, gente. Eu não tenho o dia todo e fiquei aqui pra ajudar vocês

a limparem a bagunça da festa.

— Você parece disposta demais para alguém que deveria estar de

ressaca.

— Sou profissional, querido. Bebo muita água nos intervalos dos drinks

e vou ao banheiro sem parar pra ajudar o pobre do rim a trabalhar. No

máximo me dá uma preguiça de ressaca.

— O pior tipo de pessoa que existe é que acorda feliz pela manhã e não
tem ressaca — ouço Marla dizer com a voz abafada pelo travesseiro.

— Vamos logo, docinho. E nem venha me falar de mau humor, porque

a senhora não tem nenhum motivo pra acordar assim depois de gozar a

noite inteira.

Eu sorrio para Estela, mas não consigo deixar de ficar um pouco

envergonhado ao pensar que escutaram alguma coisa.

—  Como sabe que minha noite foi tão boa assim?

— Porque posso ver como seu boy é gostoso e já que usei o banheiro

de dentro da casa, deu para ouvir algumas coisinhas...

Isso faz Marla tirar o travesseiro da cabeça e se sentar na cama.

— É sério? Estava dando para escutar?


— Relaxa, amiga. Todo mundo tava usando o banheiro da área de lazer.

Só as pessoas mais próximas que vieram no banheiro por aqui e acho que

vocês já tinham apagado há muito tempo quando todo mundo foi dormir.

— Era pra gente ter voltado pra festa... — Percebo que deixamos a

festa que  nas mãos dos convidados.

— Não esquenta, gente. Foi tranquilo, todo mundo tava muito bêbado,

o pessoal começou a ir embora quando os strippers acabaram o show. Daí

começamos a nos revezar no karaokê e a galera foi se mandando. Eu e dona


Fátima cantando não daria nenhum dinheiro. — Estela dá risada. — Agora

tratem de se levantar porque a bagunça não vai se arrumar sozinha!

Então ela sai do quarto nos dando tempo para nos vestir.

— Bom dia, docinho — falo, me virando para ela.

— Bom dia, tormento.

Marla me dá um sorriso. Dou um beijo naquela boca gostosa.

Ela se levanta, indo para o banheiro da suíte e a observo, olhando sua

bunda maravilhosa naquela calcinha minúscula.

— Para de olhar a minha bunda e vem logo escovar os dentes pra gente

arrumar sua casa


Sempre mal humorada e rabugenta a minha Docinho, por isso decido

conversar sobre “nós” mais tarde.

Os noivos e o restante dos padrinhos dormiram na minha casa ontem.

Menos a Isadora e o Roberto porque precisavam ficar com seus filhos. Mas

Estela, Bruno e os noivos estão aqui, prontos para me ajudar a tirar o lixo,

lavar louças e limpar a casa.

Todo mundo está de ressaca, inclusive eu, que estou com o estômago

horrível e não quero ver cachaça na minha frente no momento. Apenas a

Estela ficou fora dessa, e ela ri da gente por isso.

— Sai pra lá com essa animação. Pelo amor de Deus, como você

aguenta, Bruno? — Kiara pergunta com o rosto sonolento e os olhos com

olheiras.

— Mesmo com uma dor de cabeça do caralho eu fico mais animado

pela animação dela.

— Eles precisam da gente, Estela. Imagina como seria se não tivessem


um pouco de bom humor nessa rabugice toda? — Luís emenda.
Kiara revira os olhos, mas sorri para o noivo, que pisca e manda um

beijinho com a boca.

— Vocês são engraçadas, se fossem irmãs não se pareceriam tanto —


falo, rindo.

— É porque temos bom senso não é, Kiar? — Marla coloca uma mão

na cintura, encarando a amiga.

— Ai, amiga tô com muita preguiça, parece que fui atropelada e meu

estômago tá revirando, que bom-dia o quê, depois do meio dia quem sabe...

Todo mundo ri delas fazendo graça. Eu sei que o mau humor já passou

e que elas só estão sendo do contra mesmo.

Terminamos de tirar o lixo, juntando todas as coisas de plástico

descartadas para a coleta seletiva levar. E as coisas orgânicas em outro lixo.

Também passo um pano com água e detergente no chão da área de lazer

enquanto os outros arrumam as coisas de volta no lugar e lavam a louça.

Dentro de uma hora, tudo está limpo, cheiroso e todo mundo fica com

fome.

Estela abre a geladeira da cozinha e tira uma cerveja de lá, deixando

todos com cara de nojo.

— Que foi gente? Me deu sede...


— Sede de cerveja amiga? — Kiara sorri.

— Hoje é sábado, já são quase 11 da manhã, já posso beber uma

cervejinha.

— Nem parece que é personal trainer. — Marla balança a cabeça.

— Estou na minha semana do lixo, posso beber e comer o que eu

quiser.

— Parem de julgar minha mulher. Agora, se alguém puder pedir um


café da manhã vai ser ótimo...

— Vou buscar pastéis na feira da rua de cima e comprar garapa pra


gente, o que acham?

Luís é uma pessoa sensacional, não tem como não gostar do cara. Tudo
que eu preciso agora é de garapa e de pastel de carne com queijo.

— Vamos, amor. Preciso de um pastel de frango pra acordar — Kiara

responde.

Kiara e Luís dão as mãos depois de cada um na casa dizer o sabor

desejado e vão buscar a nossa comida.

— Aconteceu alguma coisa que precisamos saber depois que fomos

dormir?
Estela sorri quando falo dormir, mas não diz nada sobre. Parece que fiz
uma nova amiga nessa festa, ela é ótima.

— Deixa eu pensar... acho que só a dona Fátima rebolando quando


coloquei um funk e o dançarino beijando uma prima distante da Kiara. —

Ela sorri se lembrando. — De resto, só pessoas bebendo até vomitar e as


vergonhas normais de quando a gente tá bêbado demais pra ver o que tá

fazendo.

— Cristo! Quem foi que beijou o dançarino?

— Dona Fátima rebolando no funk? Me diz que você filmou, pelo amor
de Deus!

— Ai, mas é claro. Quer dizer, o Bruno filmou tudo!

Bruno é mais na dele, mas é um fofoqueiro nato igual a Estela e eles


não perdem nada que acontece ao redor. Têm muitas fotos nossas bebendo,

virando shots, dançando. Fotos da Dona Fátima cantando com Estela, dos
noivos cortando o bolo de peitos, da Kiara ganhando lingeries, das meninas

todas juntas, o squad como gostam de chamar. Não tive oportunidade de ver
as fotos que Isadora tirou, mas o Bruno captou todas as partes da festa
depois que chegou, usando a câmera de Estela, que foi quando ela entregou

a ele e disse que tudo ficaria por conta dele pois ela só curtiria.
Têm fotos da gente sentado na cadeira com os strippers, até o meu olhar
cruzando com o da Marla ele registrou numa das fotos. Dá pra ver como

estávamos com ciúmes. Assistimos aos vídeos e morro de rir de tudo. Foi
incrível e, por mais que tenha feito tudo para meus amigos, me diverti como

se a festa fosse para mim, dá pra ver que todo mundo ficou satisfeito.

Depois que os noivos chegam, comemos nosso pastel e sinto a ressaca

indo embora com um excelente copo de garapa com gelo. Estela mostra as
fotos pra eles e ficamos conversando sobre a festa por mais uma hora, até

todo mundo me agradecer e ir embora, se despedindo com um abraço.


Ficamos apenas Marla e eu.

Estamos na cozinha. Estou terminando de lavar alguns pratos e Marla já


colocou o vestido da noite anterior, agora ela está encostada na bancada ao

meu lado.

— Queria falar com você... — digo, sentindo um pouco de nervosismo.

— Sobre o quê?

— Ontem dissemos algumas coisas... e sinto que algo mudou.

— Como assim... mudou?

Enxugo minhas mãos no pano de prato pendurado na parede e me viro


para ela, que parece nervosa.
— Realmente não sabe do que estou falando?

— Você está levando a sério algo que falamos no calor do momento?

Sinto uma pontada no coração, não esperava ouvir isso.

— No calor do momento? Está dizendo que não sentiu nada diferente

ontem à noite?

— E o que você sentiu?

— Por que sempre quer que eu fale o que sinto se toda vez que abro um
pouco do meu coração você se retrai inteira?

— Talvez eu ainda precise de mais tempo para confiar no que temos.

— Pra confiar em mim você quer dizer, não é?

— Eu tenho meus motivos para ser assim, Rodrigo. Você não pode
mudar os meus medos.

— Não quero 1bra-los, quero que os enfrente.

— Então fala o que sente por mim!

Parece o pedido mais simples do mundo, mas não é.

Falar dos meus sentimentos é muito difícil para mim e se ela não se
mostrasse tão arredia sempre que tento reconhecer nosso envolvimento, eu

poderia ser mais aberto, mas ela quer que eu prove algo, só que eu tenho
medo de falar tudo o que sinto e ela jogar de volta na minha cara.
Posso dizer que ela é a minha alegria, a pessoa que eu quero ver todos

os dias. Que sinto saudades da voz dela, que sinto falta da sua pele, que
amo me perder naqueles cabelos curtos quando sinto o cheiro deles sempre

que ela está nos meus braços. Que o que temos não é algo comum de ser
encontrado, que ela é uma mulher extraordinária, que não consigo prestar

atenção em mais nada que não seja ela quando estamos juntos. Eu estou
apaixonado por Marla Martinez e isso era inegável.

Mas eu não consigo me declarar para ela.

Como uma vez ela disse: eu sou apenas mais um idiota que ela conhece

e tenho medo de que ela não tenha mudado de opinião quanto a isso. E se
eu for apenas mais um cara gostoso que passou pela cama dela como já fui

para tantas outras mulheres que passaram pela minha vida... Eu sinto que
estou andando em ciclos constantes de sempre repetir as mesmas ações: não

me declarei para Kiara quando tive a chance e o Luís chegou e mudou


tudo. Depois, quando finalmente ficamos juntos, já era tarde, ela já tinha o

coração ocupado, por mais que quisesse me deixar entrar ali, ele não me
cabia, eu precisei me encolher até que não consegui mais.

Tenho dificuldade de expressar os meus sentimentos porque odeio a


possibilidade de não ser o bastante para as pessoas, odeio que sempre falta
algo em mim para fazê-las ficar. Então prefiro não dizer nada, a ficar vazio
de tanto dizer e o resultado ser o mesmo.

É por isso que, ao invés de dizer a Marla o quanto estou apaixonado por
ela, apenas digo:

— Se ainda não está pronta para confiar em mim, também não estou
pronto para falar dos meus sentimentos.

Eu sei que é uma hipocrisia do caralho falar isso, pois sei que a Marla é
uma mulher desconfiada, principalmente com os homens, mas não consigo

dizer.

— Tudo bem.

Marla engole em seco e o brilho no seu olhar vai diminuindo, o que me

deixa de coração apertado.

Depois disso ela se despede de mim e vai embora.

É exatamente nesses momentos que eu me odeio ainda mais.


 
“Você não entende
Eu nunca sou desse jeito
Eu posso prender minha respiração
Dizer que ficarei bem
Mas é meio difícil de pensar
Quando eu não consigo sentir nada
Você disse que nunca mentiria,
Então por que está mentindo para mim? [...]”
Lie To Me | Tate McRae feat. Ali Gatie
Hoje é um dia especial.

O dia que ajudaremos a Kiara a escolher o vestido de noiva. Eu nunca

fui muito ligada a casamentos, nem Kiara era..., mas acho que, quando se

sabe que está com a pessoa que quer para o resto da vida, esse tipo de coisa
passa a ter outro significado. Por isso eu entendo a alegria dela na loja de

vestidos.

Foi difícil para ela achar uma loja que gostasse, primeiro visitou
algumas sozinha e não se impressionou com o que viu; disse que eram

muito cafonas ou simples demais para o preço pedido, e depois preferiu

procurar por catálogos. Assim, quando visse um que chamasse sua atenção

poderia ir a uma loja mais certeira. Foi assim que ela encontrou a La Robe

Blanche (“o vestido branco” em francês, não é um nome muito criativo,

mas tudo em francês fica chique).

A loja tem as paredes na cor salmão e off 1braç, tudo bem clean,

minimalista e romântico. As cortinas em tecido voil têm bordados de linha e

adornam a sala de espera dos provadores. Eu, Isadora e Estela estamos

sentadas no sofá de estilo colonial branco enquanto tomamos um chá

delicioso de frutas vermelhas. Aparentemente, nem todas as lojas dão


espumante para seus clientes, pelo menos não antes de vender alguma coisa.
— Vamos, Kiara. Tá demorando demais aí, não é pra experimentar e

não mostrar pra gente, hein! — Isadora reclama.

— Deve ter botado 3 vestidos, já que não gostou e nem saiu pra gente

ver — Estela fala depois de tomar um gole do chá.

Kiara sai do provador, que fica dentro de um corredor a direita de onde

estamos, e ela está lindíssima com um vestido de corpete branco que tem

uma saia de tule com muitas camadas e uma alça larga no mesmo tecido,

que é apenas decorativo. O modelo é bem romântico e feminino.

— Ai, que perfeição! Você tá muito linda amiga! — Isadora afirma,

emocionada.

— Tá parecendo uma princesa, amiga. — Estela sorri.

Kiara olha para mim, esperando o meu comentário.

— Você tá maravilhosa, Kiar. O vestido é lindo, mas acho que não é o

seu estilo, que é mais moderno, achei que você ia querer algo com menos

camadas...

— Ai, eu também acho, amiga. Não é bem o que eu estou procurando,

mas ele é lindo e ando tão sem paciência que vou deixar comigo para o caso

de não gostar de mais nada. Estou cansada de procurar, hoje não saio daqui

sem um vestido.
— Você vai achar, Kiar. Pedi pra vendedora pegar mais alguns vestidos

nessa pegada moderna e chique.

— Ai, o que eu ia fazer sem você?

Kiara me abraça, agradecendo, e sorrio para ela, mandando-a provar os

outros que logo chegarão.

— Ih, tô ficando com ciúmes, só porque não tive tempo de ajudar nos

preparativos do casório não significa que não esteja ajudando com toda a

energia maravilhosa que estou mandando para o seu casamento... — Estela

fala, fazendo graça.

— Larga de bobagem, gente. Sabem que entendo o envolvimento de

todo mundo. Mas a Marla merece um prêmio. Eu ia casar sem DJ e com um

bufê horroroso se não fosse por ela e pelo Rodrigo.

— Você ia casar sem mural de fotos na cerimônia se não fosse eu... —

Isadora diz, com um bico.

— Mural de fotos ou bolo de casamento? — Faço uma balança usando

cada mão como uma opção para encher a paciência delas

— Rá. Tão engraçadinha essa minha amiga.

Nós sempre nos divertimos muito quando nos reunimos e hoje não vai

ser diferente. Estela pede permissão a vendedora para colocar uma música e
então coloca “My Girl” do The Temptations para falar da nossa garota, que

agora será uma mulher casada.

— Vamos lá, amore. Cadê o outro vestido?

— Você parece mais ansiosa que eu pra escolher o vestido, Estela...

Kiara entra com um vestido longo de seda branco e alça fina com o

decote estilo degadê. Ele é reto e acentua perfeitamente o contorno do

corpo da Kiara. Simples, sexy e elegante. Sinceramente, é a minha cara.

— Você tá muito gostosa nesse, amiga. O Luís vai babar.

— Ai, Estela, eu te amo!

— Tá lindo, Kiar, mas achei muito simples.

— Eu também, Isa — Kiara concorda com ela.

— Eu amei esse, Kiar, eu totalmente usaria esse..., mas é porque sou

minimalista.

— É verdade, né? Agora que falou ele é a sua cara, amiga. Já separa ele

pro futuro — Kiara dá uma piscadinha, ela é a maior shipper minha e do

Rodrigo, é oficial.

— Esqueci a minha Instax na casa do Rodrigo, queria tanto tirar foto de

todos os vestidos que a Kiar tá experimentando pra colocar no mural. Pede

pra ele trazer, Marla, por favor. — Isadora dá um sorrisão, me pedindo.


— Vou falar com ele, amiga.

— Você não tava tirando as fotos com o celular, Isa?

— Estava, sim, mas se precisar imprimir em formato polaroide vai dar

muito trabalho...

— Ufa! Ela já apareceu com 3 vestidos... achei que tivesse perdido os

momentos.

Elas parecem mais empolgadas que a própria noiva as vezes. Começa a

tocar “That’s My Girl” do Fifth Harmony pra embalar a próxima leva de

provador da Kiara. Ela aparece com um “tomara que caia” maravilhoso

com um corpete drapeado e uma saia ampla com camadas, mas com uma

fenda sexy, esse já acho mais a cara dela.

Então coloca outro de mangas compridas e decote quadrado, justo e

reto, bem elegante. Depois provou um “nula manga” de seda, com saia de

musseline e fenda. São muitos vestidos maravilhosos e a Kiara fica linda

em todos, mas ainda não sentimos aquele clique de “esse é o vestido”.

Estou tentando focar na Kiara para ter um dia agradável com as minhas

amigas e não ficar chateada pensando no Rodrigo. Nossa última conversa

foi decepcionante, eu queria que ele se arriscasse, dissesse o que sente por

mim para que eu pudesse realmente acreditar que ele gosta de mim. Eu

sinto seu afeto pelo seu olhar, nos seus gestos..., mas temos a mania de
romantizar coisas que não são reais, de acreditar em projeções da nossa

mente. Eu não vou suportar estar errada sobre isso, me entregar, dar o meu

coração e receber migalhas, receber indiferença, ou quem sabe... que ele

volte a ficar com outras pessoas como uma vez chegou a sugerir. Ele não

disse para continuarmos assim, disse que podíamos continuar assim como

ele faz com as outras, só que eu não quero dividi-lo, nunca pensei que fosse

tão possessiva, mas é o quero para mim e se não for assim não o quero.

Ele quer que eu confie nele sem me dar uma demonstração de boa fé.
Por um momento, sinto que essa é uma discussão boba por puro ego e que

estamos apenas perdendo tempo e sendo idiotas, até fico verdadeiramente


envergonhada, porque tenho quase certeza de que é recíproco, talvez seja a

voz maldosa dos abusos da minha família no fundo da minha mente me


dizendo que ninguém vai querer uma mulher como eu, independente e dona

de si, que homens gostam de mulheres submissas e adoráveis, não as mal-


humoradas e que não aceitam desaforo.

Mesmo quando você sabe que algo é preconceituoso e machista, isso


não faz com que deixe de ser idealizado pelas pessoas. Eu sei que a minha

família parece vir de outro século, mas também sei que muitos homens
apenas fingem modernidade em suas falas e aparências, mas pensam

exatamente como eles. No dia a dia, nas coisas que apoiam, nas vistas
grossas que fazem. Quem me garante que o Rodrigo gosta de mim para um
relacionamento e não apenas para foder?

“A forma como ele olha para você, o jeito como ele se preocupa com
seu bem estar, a forma como se impôs sobre as coisas absurdas que sua

família diz” a minha voz me responde dentro própria mente.

O jeito que me beija, que fala comigo e faz amor. Eu sinto que a última

vez que estivemos juntos foi amor, foi muito mais intenso e profundo que
sexo, parece até uma ofensa chamar aquela noite de apenas sexo. Eu me

sinto bem demais nos braços dele para me enganar dizendo que é apenas
algo casual. Agora que não estamos nos falando, desde aquele dia, sinto

saudades dele. Precisamos conversar, por isso resolvo mandar uma


mensagem para que possamos nos encontrar mais tarde e finalmente

mostrar os meus sentimentos. Peço também pra ele trazer a câmera de


Isadora no horário de almoço.

“Tormento: Tudo bem, docinho. Passo na sua casa mais tarde pra
gente conversar. Vou levar assim que conseguir finalizar um código pra

resolução de um bug.”

Dou uma olhada nas fotos do celular da Isadora e fico emocionada pelo

momento. A Kiara vai casar com o amor da vida dela, o homem que ela
esperou por 9 anos mesmo sem perceber. Ela nunca ia conseguir amar
ninguém como amava o Luís e é muito visível a felicidade dela em cada
momento que planejamos o seu grande dia. É perceptível a  felicidade em

cada foto com um vestido diferente, o mesmo sorriso, o mesmo olhar de


uma mulher amada e segura com as escolhas da vida. É lindo de ver e

talvez eu queira o mesmo para mim. Não exatamente me casar, mas ser
amada dessa forma, ter um coração transbordando de amor que todo mundo

consiga ver a quilômetros de distância.

Depois de mais 30 minutos, a Kiara sai do corredor mais uma vez, mas

sinto que finalmente está com o vestido certo: a parte de cima é um


corselete com alças finas de renda, com transparência nas costas e nas

laterais, sendo forrado nos seios e na parte da barriga, deixando as laterais


com o tecido fino e a renda bordada a mão em destaque. O decote é

redondo e deixa os seios em evidência, levantando-os com a sustentação do


bojo embutido. A saia adornada com rendas florais que trazem delicadeza e

elegância para o tecido fluído e fino. A saia tem camadas e é longa, porém
não existe aquele volume protuberante que geralmente há nos vestidos

tradicionais, formando um arco no quadril. Esse desenha o corpo, puxando


o contorno para baixo, mesmo coma saia ampla e rodada. Esse vestido é o

mais lindo que eu já tinha vi e é perfeito para Kiara. Ela olha para nós com
os olhos marejados por sentir que esse é o escolhido.
— Ai, meu Deus, é lindo demais, amiga! É esse! — Estela diz,

levantando do banco e todas nós fazemos o mesmo.

— Amiga, eu nunca vi vestido mais bonito que esse, Cristo... é

perfeito! — falo, animada por finalmente a procura ter acabado.

Isadora perde a fala e começa a chorar ao olhar para a amiga com

profunda admiração. Elas são como irmãs e têm uma ligação muito
especial, Isadora sempre fica muito emotiva a respeito de Kiara.

— Ai, amiga assim vou chorar mais, tô tentando me segurar. Pare. —


Kiara abraça Isadora e assim todas nós nos abraçamos em grupo. Eu amo

fazer parte desse squad, elas são as melhores amigas que eu poderia ter.

— Pronto, chega! Fotografa a sua amiga porque vamos usar essa foto
depois — falo para Isadora porque odeio derramar lágrimas.

— O Rodrigo vai trazer a Instax? Vou ter que imprimir depois de todo
jeito com efeito de polaroide pra conseguir usar as outras fotos, mas essa a

gente poderia guardar de recordação.

Nesse momento, o Rodrigo entra na sala e, antes que eu possa

cumprimenta-lo, ele fica estático ao observar a Kiara de noiva. As meninas


ainda não o viram, por isso posso observar o modo como ele olha para ela.

Ele está completamente paralisado, desce os olhos pelo corpo dela,


reparando em seu vestido branco. Um olhar perdido como se lembrasse de
coisas passadas estampa o rosto bonito. É um olhar de admiração, de afeto,

de deslumbramento... de amor. Parece que o mundo inteiro dele parou


enquanto observa a mulher dos seus sonhos vestida de noiva. Nessa hora

sinto o meu coração diminuir, sinto-o esmorecendo, perdendo a cor e se


partindo em milhares de pedacinhos.

O Rodrigo não me ama. Ele não está apaixonado, não sente nada por
mim. Como poderia se ainda ama a ex-namorada?

Kiara se dá conta da presença de Rodrigo e sorri para ele quando o vê.


Ele sorri de volta, comprimindo os lábios num aperto, se emocionando ao

encará-la nos olhos.

— Nossa, lindinha... Você está maravilhosa!

— Ai, Rô, obrigada! — ela comprime os lábios, segurando o choro.

— A minha melhor amiga de infância vai se casar!

Kiara apenas assente com a cabeça, concordando, e as lágrimas

começam a descer pelo rosto dela, então abre os braços para o amigo
esperando pelo abraço que chega. Eles se abraçam forte como se soubessem

que muita coisa aconteceu para chegar nesse momento e é bonito o amor
que sentem um pelo outro.

Eu sei que, para a Kiara, o que eles têm é apenas amizade, até mesmo o
Luís não se incomoda com a amizade deles e, na verdade, ele é o melhor
amigo do próprio Rodrigo. Mas eu conheço aquele olhar, já o vi no próprio
Luís... os olhos não mentem e pude ver que ele a ama tão profundamente,

que está disposto a aceitar que seu amor se case com outro a ponto de
1braç-la a celebrar seu casamento, para vê-la feliz, algo que ele não foi
capaz de fazer.

É sobre isso não era? Ele só quer que ela seja feliz, mesmo que não seja

com ele.

Eu estou aqui parada como se estivesse assistindo a um filme na minha

frente, como se me tornasse expectadora da minha própria vida e pudesse


assistir a pessoa que me fez conhecer o sentimento mais forte que já senti

amar outra pessoa. Eu não sei se o amo, nunca me apaixonei antes, não
tenho prática no assunto, mas seja o que for, dói pra cacete. E se amor for
mais forte que isso que sinto agora, fico feliz por não ter deixado o

sentimento ir mais longe.

Eu tenho facilidade para disfarçar minhas emoções, aprendi isso com


minha mãe, algo que se mostrou necessário com o passar dos anos. Assim,

quando eles param de se abraçar, sorrindo emocionados, ele finalmente me


vê e eu não demonstro absolutamente nada. Apenas o encaro e sorrio sem

abrir a boca, um sorriso que diz “oi pra você também”.


Ele diz “olá” para todo mundo e entrega a câmera para Isadora. Não
acho que alguém tenha visto meu coração se despedaçar e ser destruído

minutos antes e... ainda bem, pois não suportaria falar sobre isso com
ninguém.

Rodrigo me dá um beijo na testa que me faz engolir em seco e pergunta


se quero que ele compre comida para todas nós, mas digo que já estamos de

saída porque a Kiara já escolheu o vestido. Então sem perceber nada, ele se
despede de mim, dizendo que me verá à noite e fico aliviada quando ele vai

embora.

Então é assim que acontece quando você gosta de uma pessoa que te

machucou. Estar perto dela dói mais que a própria ausência.

Eu não posso acreditar em como fui cega esse tempo todo, em como
ignorei o fato dele sempre fazer tudo o que ela pede, sempre parecer solícito
e nunca ter levado em consideração ele já ter namorado com ela. Sempre
pensei que era uma coisa juvenil, um amor inocente da adolescência, não

pensei que ele realmente pudesse sentir algo pela mulher que está ajudando
a se casar. Mas o Rodrigo nunca mais se envolveu de verdade com
ninguém, nunca comentou se namorou com outras mulheres depois de

Kiara, eu devia ter prestado atenção a esses detalhes, ter percebido que ele
não superou a ex.

É um tremendo clichê. Rodrigo não foi nada original e se é assim, então


por que insiste em falar sobre nós? O que ele quer de mim? Por que nunca

me disse que era apaixonado por alguém do passado? Eu me sinto usada


como se... fosse um estepe, uma mulher que serviu apenas para satisfazê-lo
na cama.

“Talvez seja bom mesmo você estudar, Marla. Não sabe fazer nada, sua
comida é horrível, você não faz nada direito, se atrapalha com tudo: pra

lavar roupas, pra arrumar a casa, sempre que chegamos em casa ela tá
uma zona. Você só tem duas saídas: ou aprende a trabalhar pros outros ou
aprende a satisfazer um homem na cama, porque senão, vai ficar pra
sempre vivendo às custas do meu pai, vai passar fome quando sair de casa”

As palavras do Luciano trucidam a minha cabeça com as lembranças. É


assim que eles me enxergam: como se a minha função depois, da morte de
mamãe, fosse arrumar a casa e cozinhar para eles, como se eu tivesse que

ser útil ali para continuar na família.


Eles tratavam aquelas coisas como se fosse a minha obrigação. Mesmo
que eu fosse uma criança, mesmo que eu estivesse estudando e precisasse

ter tempo pra isso. Eram essas coisas que meu pai nunca viu ou fingia não
ver. Ele gostava que eu continuasse fazendo as coisas que minha mãe
sempre fez, era cômodo para ele. Em alguns momentos, eu me sentia
escravizada pela minha própria família, precisava trabalhar para ter um teto,

roupas e comida.

Eu odeio me lembrar disso, faço de tudo para esquecer todas as coisas


horríveis que já me disseram, mas as lembranças só me mostram que é isso
o que eu significo para ele, eu apenas satisfaço os desejos do Rodrigo e, por

isso, ele me quer na vida dele. Não porque ele gosta da pessoa que sou, mas
porque gosta da minha boceta.

Pensar nisso embrulha o meu estômago e me faz derramar as lágrimas


que segurei durante todo o dia. Depois da escolha do vestido de Kiara,

escolhemos os nossos vestidos das madrinhas, que só precisavam ser na cor


dourada. Parece brega, mas os vestidos dourados da loja são lindos e cada
uma alugou um modelo diferente. Almoçamos juntas, tentei sorrir e
esconder tudo o que estava sentindo. Na empolgação do dia, ninguém

percebeu o que estava acontecendo e voltei para casa como se tudo


estivesse bem.
Com um buraco no peito, uma agonia estranha que tira a minha paz e

sei que a sensação vai piorar depois que o Rodrigo chegar para a nossa
conversa.

Ele manda uma mensagem assim que chega e abro o portão para ele,
seguindo para dentro de casa para que me acompanhe. Quando entramos na
sala, ele dispara:

— O que tá acontecendo, Marla? Primeiro você me manda mensagem


dizendo pra conversarmos e quando te vejo na loja você fica distante e fria
como nunca vi antes. E agora parece ainda pior!

— Tá acontecendo que eu finalmente entendi você, finalmente posso


ter certeza sobre o que você sente.

— Eu ainda não disse nada, como sabe o que eu sinto?

— Porque vi nos seus olhos, Rodrigo! No jeito que olhou para ela, na

forma como sorriu quando a viu de vestido branco... como se imaginasse


como seria se estivesse escolhendo o vestido para você.

— O quê!? Meu Deus, mas do que você tá falando? Não posso


acreditar em uma coisa dessas...

— Não se faz de bobo, Rodrigo... Eu vi como olhou pra Kiara!


— A Kiara é a minha melhor amiga, Marla! Eu a conheço desde que a

gente tinha 15 anos, é claro que ficaria emocionado vendo-a se casar com o
meu outro melhor amigo, que conheci aos 17. Pensei sobre a vida, como ela
aconteceu, como as coisas foram evoluindo para o que são agora, um filme
se passou na minha mente. Não sei o que pensa que viu, mas eu jamais

poderia ser padrinho dela se ainda a quisesse para mim!

— Você a ama, Rodrigo... nunca olhou daquele jeito para mim —


mantenho minha opinião e o que senti ao presenciar a cena, eu não posso
deixar que ele manipule a minha cabeça como se eu não soubesse o que vi.

— Eu a amo, sim, mas não da maneira que está pensando, eu não tenho
mais sentimentos carnais pela Kiara. Eu apenas quero todas as melhores
coisas possíveis para ela e achei que você entenderia, principalmente
porque você nunca pareceu insegura com a nossa amizade antes, Marla.

Nunca a vi com ciúmes e insegura dessa maneira. — Ele parece


completamente chocado.

— Não é questão se insegurança e ciúme, Rodrigo. Não estou dizendo


que você a quer para você, nem que existe alguma possibilidade de isso

acontecer. Eu só percebi que nunca realmente a esqueceu, que sou apenas


uma tapa buraco no seu coração. E eu não tenho vocação pra ser estepe de
ninguém... eu não estou aqui pra ser usada e nem quero fazer isso com

você.

— Marla, pelo amor de Deus, o que você está dizendo? Eu sou louco
por você, Marla! Será que não percebeu? Não vê como sempre quero estar
com você? Como me faz feliz? Como te acho maravilhosa?

Não! Eu não posso ouvir isso! Nada faz sentido, parece tudo mentira.
Eu estou confusa demais para ouvi-lo dizer que gosta de mim agora. A
expressão no rosto dele, naquela loja, não sai da minha cabeça.

Coloco as mãos no meu rosto e respiro fundo, tentando colocar a


cabeça no lugar e um ponto final nesta história que já foi longe demais.

— Vamos encerrar o acordo.

— O quê?

Olho para ele, tirando as mãos do rosto e respirando fundo.

— O nosso acordo acaba aqui, Rodrigo. Você está livre para voltar a
sair com todas as mulheres que quiser, assim como fazia antes, e eu posso

tentar conhecer alguém que tem o coração livre do passado.

— Se você acha que o que tivemos foi apenas um acordo sexual está
mais fora de si do que pensei. Eu conheci a sua família, compartilhamos
coisas que não dissemos a mais ninguém. E eu conheço seus olhares, seus
sorrisos e seu corpo como a palma da minha mão, Marla, e isso é muito
maior do que uma porra de acordo!

Rodrigo começa a andar de um lado para o outro, inconformado como


um cachorro enjaulado, então para e diz:

— Você adora limitar as coisas, não é? Tudo tem que passar no seu
sistema de controle... por que não tenta parar de analisar uma droga de olhar
e pensa em como se sente?

— Não venha me dizer o que eu sinto, eu sei muito bem o que se passa
dentro de mim, você que parece um cara perdido nos sentimentos do
passado.

— Não estou perdido! Eu tenho traumas como qualquer pessoa... e

você é uma medrosa!

— Não tenho medo de nada!

— É mesmo, Marla? Então por que está se afastando de mim?

— Já disse o motivo.

— Isso não faz o menor sentido!

— Faz todo o sentido do mundo. Por isso não consegue lhe negar nada,
por isso se afastou dela por vários anos... e por isso não me contou os seus

sentimentos.
— Meu Deus, mas será que tudo com você sempre vai ser um cabo de
guerra? Você morre de medo de demonstrar seus sentimentos... não precisa
de tudo isso, Marla, acabei de falar o que sinto e você nem se importou.

Fico calada e engulo em seco pois não consigo rebater as palavras, eu

só quero que ele vá embora para que eu possa me despedaçar sozinha, em


paz. Nada do que ele disser agora me convencerá de que ele é apaixonado
por mim, eu apenas não consigo enxergar.

— Você me decepcionou, Marla. Eu estava pronto para abrir o meu

coração e você veio e me deixou sem chão, diminuindo o que tivemos e


distorcendo a realidade das coisas. Eu queria que pudesse ver a forma como
olho para você, mas talvez você não esteja pronta para se enxergar pelos
meus olhos ainda.

Rodrigo para na minha frente com os olhos marejados e, quando pisca,


as lágrimas descem por sua face, ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás
da minha orelha e beija minha boca, se despedindo.

Se despedindo de tudo que vivemos, de todos os nossos beijos, da


montanha russa de emoções que ele sempre me fez sentir, de tudo que
nunca seremos um para o outro. Ele limpa as lágrimas e me dá as costas,
indo embora e fechando a porta.
Assim que a escuto se fechar, caio no chão e derramo todas as lágrimas
que segurei, deito no chão e me permito sentir tudo o que guardei dentro de
mim. Frustração, decepção, tristeza e saudade. Ele acabou de me dar o

último beijo e eu não consigo parar de pensar em como poderei viver sem
eles, sem o seu abraço, sua voz, sua presença na minha vida.

E é assim que eu tardiamente percebo que o amo. Só o amor explica o


vazio dilacerante que se abre no meu peito assim que ele sai da minha casa.

O desespero sufocante que a imaginação da minha vida sem ele traz. Eu


amo o Rodrigo Linhares e acabei de 1braç-lo.
 
“Eu estou no escuro
Não consigo ver
Não consigo ver isso
Sentindo meu caminho de volta para você
Não consigo sentir”
Lovers | Anna Of The North

Faz apenas três dias que eu e Rodrigo não nos falamos, mas parecem 3

semanas. É muito estranho como alguém que você conhece, mesmo em


pouco tempo, pode fazer tanta diferença na sua vida. Jamais pensei que uma

pessoa que eu desprezava poderia fazer tanta falta. Eu costumava pensar

que estava bem e feliz, até perceber o quanto tudo está adormecido em

mim, em como levo os meus dias fazendo coisas para os outros sem

realmente viver experiencias pessoais significativas. Ao ajudar a Kiara eu


pude vivenciar coisas novas com Rodrigo, coisas que não faria no meu

estado normal porque não teria me arriscado. Eu já tinha uma opinião

formada sobre Rodrigo muito antes de 1braça1-lo de verdade, baseado nos

meus preconceitos e fatos que uso para minha própria proteção.

Mas ele me mostrou como a opinião dos outros é irrelevante, como

nem sempre as coisas são como parecem, como é possível estar presente na

vida de cada pessoa que cruza o seu caminho. Rodrigo fez questão de estar
presente na vida das pessoas, de ajuda-las, de ter um bom momento com

cada uma. Ele valoriza os momentos... ele sabe viver. E isso me

transformou, não é porque eu tenho uma família bizarra e a sociedade é

machista e doente que não podemos conhecer pessoas valiosas no nosso

caminho se as deixarmos entrar.

Eu só queria ter aproveitado mais o tempo que tive com ele. Não tive

coragem de desabafar com nenhuma das minhas amigas. Achei que poderia

criar um problema desnecessário se contar a minha amiga que o padrinho

dela é apaixonado por ela, então optei por ficar calada.


Eu quero que ele me ame de volta, queria ter conquistado seu coração,

ou pelo menos, não ter visto a maneira que olhou para ela naquele dia,

porque agora isso fica martelando na minha cabeça incessantemente,

fazendo com que eu não consiga falar com ele. Por sorte, quase todas as

coisas do casamento estão encaminhadas então não precisaremos interagir

até a cerimônia.

Eu não sei se estou realmente certa, não conheço o amor. Meus pais não

se amavam, eles tinham um relacionamento de conveniência. Não posso

dizer que tenho uma boa relação com meus irmãos para saber o que é uma

relação fraterna. O meu pai... eu amo o meu pai, apenas não gosto de quem
ele é, ou já foi... amar e gostar são coisas diferentes. Minha mãe me amou e

ela é a pessoa que mais amo no mundo até hoje, mesmo que não exista

mais. Ela me deu, e me dá até hoje, forças para saber que tenho a

capacidade de alcançar mais do que esperam de mim, ela cuidou de mim e

depois dela não tive mais ninguém para fazer isso. Ela me mostrou que uma

mulher sem independência e autonomia não tem nada na vida. A lição mais

dolorosa que me deu foi a de que eu não devo ser como ela para, assim, ter

uma vida diferente. E talvez por isso tenha me protegido de forma

exagerada em outros aspectos, mas não tenho arrependimentos, porque sei


que se tem uma coisa que sou capaz de fazer nesse mundo é superar as

minhas dores e sobreviver sozinha.


O único problema é saber a diferença entre viver e sobreviver. E agora

o que eu tenho feito não parece mais o bastante.

Como nenhum sofrimento vem sozinho, a minha família se fez presente

para piorar mais o meu dia. Meu pai voltou do cruzeiro, onde gastou muito

mais do que tinha, como eu já imaginava que aconteceria, porque Túlio era
seu parceiro de viagem, então precisou me pedir dinheiro para pagar o

cartão. Até aí tudo bem, o problema é que ele precisa do carro para ir às

consultas, para ir ao mercado... e agora está sentindo falta, já que meus

irmãos nunca ajudam em nada. Então ele me pediu para fazer as compras.

Eu nunca cobro essas coisas e todo mundo sabe disso, por isso que fiquei

com tanta raiva do maldito cruzeiro... Era nítido que sobraria para mim,

agora começou.

Aproveito o horário de almoço para ir mercado comprar todas as coisas

da lista que o meu pai fez. Então passo na sua casa dele para deixar as

compras. Mais uma vez, os meus irmãos estão sentados na sala vendo jornal

enquanto o meu pai está na cozinha fazendo o almoço. Sozinho.

— Finalmente! O pai estava esperando você trazer as coisas pra

terminar o almoço — Túlio diz quando entro em casa.

— Alguns de nós precisam trabalhar, Túlio.


Ele revira os olhos para mim e me surpreende ao pegar algumas

sacolas, me ajudando a 1bra-las a cozinha.

— Aproveita que está aí e ajuda o pai a terminar o almoço — Luciano

diz.

Apenas o olho com uma expressão mortal que o faz calar a boca no

mesmo segundo. Ele sabe quando eu não estou com muita paciência para

suportá-los. Hoje não é um bom dia.

— Você não trouxe nenhuma cerveja? Porra, Marla!

— Se quer beber, você que compre sua própria cerveja, Túlio. Não vou

sustentar vício de ninguém com o meu dinheiro.

Meu pai me encara com os olhos arregalados de surpresa quando entro

na cozinha, deixando as compras na mesa.

— Não tá comprando nada pra mim. O meu pai vai pagar tudo o que

você trouxe!

— Desde quando alguém me paga de volta alguma coisa que trago pra

essa casa? Quem pagou o cartão do meu pai nos últimos 4 meses fui eu! E

sabe o motivo disso, Túlio? Porque você é um sanguessuga que gasta todos

os centavos do meu pai e ele não tem coragem de te botar pra fora!

As palavras o calam.
Eles não estão acostumados a me ver rebatendo o que dizem ou

jogando na cara deles as coisas que faço. Túlio sai da cozinha sem dizer

nada e o meu pai começa a tirar as coisas da sacola sem nem me

cumprimentar.

— Precisava falar com ele desse jeito, Marla?

— Você viu como ele falou comigo?

— Esse é o jeito dele minha filha, você já devia saber...

— Não me importo. O senhor sempre os defende. Por que não tenta se

colocar no meu lugar de vez em quando?

— Porque não enxergo essa maldade toda que você vê em tudo, filha.

Você sempre foi assim.

Eu já sei que ele pensa assim, mas fico surpresa pela dor que invade o
meu coração depois de escutar as palavras. É cansativo demais vir aqui, me

prestar a ouvir coisas que eu não preciso apenas porque eles são sangue do

meu sangue.

— Isso não é verdade, pai. Eu não enxergo maldade em tudo, é você


que não se importa com a maneira como me tratam.

— Ah, minha filha, não vamos começar com todo esse drama, depois

que você foi morar sozinha parece que fica incomodada com tudo que vê
aqui em casa.

— Fico incomodada porque quando morava aqui, eu que ficava no seu

lugar cozinhando, não recebia um “obrigado”, como se fosse a minha

obrigação. Fico incomodada porque tudo que faziam para mim parecia um

esforço gigante, mas nunca lhe custou nada fazer as coisas para eles, depois

que a mamãe morreu me senti mais sozinha que tudo nesse mundo.

Meu pai para o que estava fazendo e se vira pra mim com os olhos

chocados. É a primeira vez que eu coloco para fora esses sentimentos que
permeiam minha mente e meu coração. Sei que, na cabeça deles, nada disso

faz sentido. Para eles eu sou mulher da casa, nasci para fazer essas coisas e
que, na ausência da minha mãe, devo cumprir o papel porque é o que ela ia

querer para sua família, que a gente se cuidasse. Mas por que eu sou a única
que não me sinto cuidada?

O problema das pessoas fortes é a solidão, pessoas fortes estão sempre

fazendo coisas pelos outros, mas quem é que cuida delas?

— Não acredito que pensa que é a única que sentiu a solidão depois da

sua mãe partir desse mundo. Como acha que eu fiquei com 3 filhos para
criar sozinho? Sempre fui grato pela ajuda que deu, cuidando de todos nós

aqui em casa, filha, mas se fez isso com amargura e por obrigação... você é
egoísta e ingrata, Marla.
— Por que nunca esperou o mesmo que eu fazia dos meus irmãos?
Você nunca pensou que uma garota de 13 anos não deveria ter que cuidar de

uma casa com mais 3 pessoas sozinha? Lavar, cozinhar, lavar roupas, tirar o
lixo, me preocupar em listar todas as coisas que faltam em casa sempre para

comprar, como se a casa fosse minha...

— Sozinha? E quem pagava por tudo isso? Quem ia no mercado?

Quem pagava suas roupas e suas coisas? O mínimo que poderia fazer é um
almoço e lavar louças! Seus irmãos são homens! Eles têm que se preocupar

em ganhar dinheiro, sustentar a família!

— E quem paga seus remédios, pai? Quem é que mora aqui em casa até

hoje? Será que não vê que saí de casa para me livrar do trabalho de cuidar
de vocês? Eu fiz tudo isso, continuo ajudando o senhor e, mesmo assim, seu

amor, respeito e gratidão é com eles!

— O que você quer de mim, Marla? Que eu ponha seu irmão para fora?

Que pare de falar com o Luciano porque ele pega meu dinheiro
emprestado? Que faça uma placa de agradecimento em seu nome e pendure

nas paredes?

— Eu queria que o senhor me reconhecesse, me valorizasse! Que se

orgulhasse de mim..., mas quer saber de uma coisa, pai? Eu não preciso de
nenhum de vocês. Eu não preciso tolerar ninguém porque sei do meu valor,
provei para mim mesma que mereço muito mais do que a vida que levava
aqui! E sofro porque minha mãe morreu sem conseguir fazer o mesmo, mas

não vou cometer o erro de ficar esperando migalhas de ninguém! O senhor


é o meu pai e eu te amo por ter feito o que pôde, ainda que seja só isso que

tenha reservado para mim em seu coração... um amor repleto de condições


enquanto o que sente pelos meus irmãos é incondicional.

Pego minha bolsa, que deixei na cadeira em frente a mesa da cozinha, e


passo pela sala para ir embora. Antes de sair, deixo minhas chaves da casa

na mesinha ao lado da porta, vendo os olhos de espanto dos meus irmãos


antes de fechá-la.

Por incrível que pareça, eu me sinto leve, como se um peso enorme


saísse dos meus ombros. Não vou me preocupar com pessoas que não se

importam comigo, que só lembram de mim quando precisam, mesmo que


essas pessoas sejam minha família. 

Já cuidei deles por tempo demais, mãe, está a hora de cada um cuidar

de si mesmo.
 
“Eu poderia sentar e mentir para você, mas qual é o objetivo?
Qual é a utilidade? Você pode ver que eu sou cego por você
Você quebra as regras e eu sou o tolo, que quer
Você loucamente, não importa o que você faça, eu ainda te amo
Loucamente com cada movimento seu
Eu te quero tanto”
So Bad | Brandon Colbein

— Eu expliquei mil vezes que esse servidor não consegue carregar

tanta coisa! É óbvio que o site vai travar, não dá pra armazenar tanta
informação nele... — respondo no telefone.

Os idiotas de uma empresa a qual eu dou consultoria contrataram um

servidor ridículo pra rodar um e-commerce de roupas e acessórios com um

milhão de fotos... e acham que vai dar tudo certo no fim, pelo amor de
Deus! Se essa empresa fosse inteligente, teria me contratado pra fazer o site

e usariam apenas essa equipe de merda para manutenção. Mas não... eles

que se virem com essa merda. Estou completamente sem paciência pra esse

tipo de cagada.

Eu ando assim desde o dia que parei de falar com a Marla. Faz uma

semana e ela não se dignou a mandar uma única mensagem. A mulher

cismou que ainda tenho sentimentos pela Kiara e simplesmente acabou

comigo como se eu não fosse nada pra ela.

Cheguei a confessar um pouco dos meus sentimentos, a me abrir e ela

me afastou com 3 muros de cimento. Ela é impossível. E a quem eu quero

enganar? Nunca daria certo, foi melhor assim... antes acabar agora do que

depositar mais expectativas em algo fadado ao fracasso.

Desligo o telefone e olho para o meu WhatsApp pra ver se tem alguma

mensagem. Nada. Que mulher orgulhosa... ou ela só não quer nada comigo

mesmo, nem sente a minha falta. Agora eu pareço um moleque chorão de

merda. Puta que pariu... nem eu estou me aguentando.


Meu celular começa a tocar, é uma chamada do Luís.

— E aí, cara!

— Oi, cara. Como estão as coisas?

— Tudo bem.

— Sabe, irmão, eu venho percebendo que, na realidade, você não tá

nada bem. Queria ter passado na sua casa, mas como o casamento está

chegando, precisei fazer outras coisas e não tive tempo.

— Não se preocupe comigo, Luluz, tá tudo numa boa — minto.

— A Kiara me disse que vocês não conversam mais no grupo e que,


quando pergunta alguma coisa, só a Marla responde. Ela também estranhou

              que os dois pareceram bem distantes dela nessa última semana, o

que tá acontecendo?

Como eu vou contar isso pra ele?

“Cara, a Marla acha que eu quero roubar sua mulher de você”.

A única vez em que eu realmente quis roubá-la dele nós ainda éramos

adolescentes. Já faz tanto tempo... é verdade que tive alguns sonhos e

lembranças estranhas a respeito de Kiara, mas só porque ela é uma pessoa

muito especial para mim. Só que dizer que estou apaixonado é demais!

Dou um suspiro cansado e resolvo ser sincero.


— Olha, Luís, aconteceu uma coisa muito estranha e fico com medo de

você me levar a mal, mas como somos melhores amigos, eu vou te contar.

Saiba que, para mim, a Marla enlouqueceu e isso não tem o menor sentido.

— Tudo bem, cara. Pode falar.

— A Marla me pediu, na semana passada, que levasse uma câmera que

a Isadora esqueceu na minha casa para onde elas estavam experimentando

os vestidos de casamento. Então eu vi a Kiara com o vestido escolhido e

posso dizer a você que vai chorar no seu casamento... fique sabendo.

— Ah, isso eu já esperava. — Luís dá risada.

— Enfim, me emocionei um pouco com o momento, sabe que mesmo

com o passado que nossa amizade carrega, fico extremamente feliz por

vocês, não é?! Torço muito pela felicidade de ambos, amo vocês e quero ser

amigo de vocês para sempre.

— Claro que eu sei, cara. Além do mais, todo mundo que tem a

lembrança da Kiar de uniforme do colégio e calça jeans ficaria emocionado

vendo-a pronta para se casar... eu mal posso esperar para vê-la assim, sabe

que também te amamos muito. Mas ainda não entendi o que aconteceu.

— A Marla disse que pela forma como me comportei parecia que eu

ainda era apaixonado pela Kiara e então terminou tudo, cara. Eu tentei
conversar, disse que era louco por ela... que gostava de estar com ela e que

isso tudo era uma grande loucura, mas ela não me escutou.

— Nossa, cara, eu não esperava por isso. Nunca achei que ela pudesse

pensar esse tipo de coisa. Você chegou a dizer que a amava?

— Ela não me deu tempo de dizer... e será que eu deveria? Talvez seja

cedo pra me declarar dessa forma.

— Você sempre foi assim, Rodrigo... Que medo todo é esse de levar um

fora? Além disso, é visível que a Marla gosta de verdade de você, eu nunca

a tinha visto tão relaxada e sorridente como vejo quando está contigo. Todo

mundo vê isso, cara. Ela estava feliz do seu lado. Não que ela não fosse

antes, mas sempre foi muito séria, muito rígida. A Marla sempre teve
dificuldade de se soltar e com você está sempre leve, parece livre e alegre.

Parando para pensar, essa rigidez toda sempre foi o motivo de eu ter um

certo receio a respeito dela quando foi preciso convivermos antes de

1braça1-la melhor. Saber de onde veio tanta disciplina e seriedade me fez


ter empatia e uma certa tristeza. Foi difícil para Marla crescer naquela casa

com mais 3 homens, eles não demonstravam carinho e afeto por ela; desde

muito cedo a Marla aprendeu que não deveria esperar nada de ninguém,

como poderia querer alguma coisa de estranhos se nem sua família lhe dava

amor? Ela tem todo o direito de ser desconfiada e ter receio dos homens,
das expectativas absurdas que sempre tiveram em relação a ela. Percebi

pela maneira bizarra que o pai e os irmãos dela se comportaram quando eu

estive lá, que eles achavam que ela deveria servi-los e como ainda esperam

que ela seja demitida, ou coisa do tipo, para precisar voltar para aquela casa

novamente.

Ela nunca voltará para aquele inferno. Jamais permitirei, mesmo que

ela não queira falar comigo e jamais me deixe decidir qualquer coisa a seu

respeito, eu estarei aqui para o que ela quiser.

— Rodrigo?

— Desculpa, cara. Tava pensando no que disse.

— Vai atrás dela, irmão, com certeza ela está como você.

— Tenho medo dela se comportar da mesma maneira que da última

vez.

— Ela só precisa acreditar que você tá apaixonado, não é tão difícil.

— É sério que tá dizendo isso?

— Bem, eu abandonei a mulher da minha vida. Claro que ela não ia

apenas acreditar em mim. Eu correria atrás da Kiara pelo resto da minha

vida se precisasse, graças a Deus ela me perdoou mais rápido. — Luís dá


uma risada. — Inclusive, todos os dias provo mais do meu amor por ela, é

uma promessa compensar por todos os anos que perdemos juntos.

— Isso é muito bonito, Luís.

— O que você e Marla têm também. Acho que ela traz um pouco de

disciplina e seriedade pra sua vida, você parece mais motivado a se dedicar

pelas coisas. Já ela ganha mais alegria, mais paz, deixa de levar a vida tão a
sério. Acho realmente que fazem um excelente par.

— Obrigado, Luluz. Posso te perguntar uma coisa?

— Claro

— Nunca pensou como Marla? Nunca se incomodou pela nossa

amizade?

— Na época da escola era um pouco difícil, você sempre se comportou

como se eu tivesse roubado algo de você. Mas acho que mesmo se eu não
tivesse aparecido, não teria rolado nada entre vocês, a Kiara é o tipo de

pessoa que demonstra quando quer alguém, foi ela que deu a iniciativa para
que nossa história começasse, eu também tinha minhas inseguranças.

Demorei dois anos para aparecer quando vocês eram melhores amigos...
então imagino que ela teria te beijado se te enxergasse dessa maneira.

Mesmo assim, vocês namoraram depois que fui embora. No início não foi
algo que gostei de saber, foi muito difícil, doeu imaginar vocês dois juntos.
Mas depois de um tempo ressentido sobre isso, me peguei com muita
vergonha de mim mesmo.

Sinto Luís coçar a garganta e então ouço sua voz embargada:

— Eu sou eternamente grato por você ter estado lá quando ela mais

precisou, você foi a pessoa mais importante para que ela não definhasse.
Jamais poderia ter qualquer sentimento ruim em relação a você Rodrigo. A

Kiara não podia passar por tudo aquilo sozinha e eu nunca vou me perdoar
por tê-la deixado só. Fico feliz em saber que quando apaguei a luz da sua

vida, você foi a energia que a fez continuar lutando e sorrindo.

Acabo derramando algumas lágrimas no telefone com o meu amigo.

Não sabia que ele pensa essas coisas de mim. Fico muito grato por ele me
dizer todas essas palavras, eu sei que não deve ser fácil.

— Obrigado, Luís. Vocês sempre serão os meus melhores amigos.

Depois que desliguei o telefone, percebi que tudo o que Luís disse é
verdade. Tive dois anos para me declarar a Kiara e desperdicei, talvez ela

nunca teria estragado a amizade para tentar algo comigo, mas eu nunca
saberia porque nunca disse como me sentia antes que fosse tarde. Eu não
me importo mais com isso, estou feliz por como as coisas acabaram. Eu

gosto de saber que Luís uniu todos nós novamente quando voltou para
nossas vidas.
O fato é que eu sou um tremendo covarde por não dizer meus
sentimentos quando devo. E se há algo para aprender com o meu passado é

que não temos oportunidade o suficiente de dizer como nos sentimos para
as pessoas, e eu não posso correr esse risco de novo.

Sou louco por você, Marla, só preciso te mostrar.


 
“Não consigo desligar meus pensamentos
Desejando que essas memórias desaparecessem
Mas elas nunca desaparecem [...]
Onde está você?
Você ainda está no meu coração”
Snap | Rosa Linn

— Tá tudo bem, Marla? — O meu secretário me olha, preocupado,

quando entra na minha sala para me trazer uma pasta de um cliente.


— Tá tudo ótimo, Júlio, não se preocupe — o dispenso.

— Quer que eu traga um chá?

— Quero sim, por favor! — Ele assente e sai da sala.

Depois de 10 minutos aparece com um chá matte, que talvez me ajude a

espantar o cansaço.

Até meu secretário percebeu meu rosto cansado e com sono. Está difícil

dormir nesses últimos dias, eu acordo de madrugada e fico pensando nas

coisas. Quero ignorar a falta que o Rodrigo me faz, mas eu não consigo.

Fico pensando nos nossos momentos juntos, em como ele parecia realmente

gostar de mim, na maneira que me sentia em sua presença e o quanto sou


idiota por pensar sobre isso. Meu corpo anseia por ele... só de lembrar dos

beijos dele ou do seu perfume eu fico profundamente carente. Não tem


como fingir que não sinto saudades, mas ainda estou tentando seguir como

se nada tivesse acontecido.

Vejo que tem uma mensagem de Kiara no WhatsApp:

Kiar: Amiga, você e o Rodrigo brigaram? Luís disse que eu deveria

falar com você

Eu: Aquele idiota já contou tudo pro seu noivo, então.

Kiar: O que aconteceu?


Eu: vou falar tudo no grupo, assim já conto para todas de uma só vez

Estava evitando contar para as meninas sobre isso, não quero me sentir

ridícula ao contar algo que parece absurdo.

AS PODEROSAS

Eu: Oi, migas, como a Kiar me perguntou, eu preferi falar por aqui

para que todas fiquem sabendo. Eu e o Rodrigo acabamos, não que

tivéssemos compromisso..., mas vocês entenderam.

Estela: O quê? Mas o prazo não era até o casamento?

Isadora: Achei que vocês se gostassem... pela maneira que se olhavam,

pensei que ia rolar namoro

Kiar: Também tinha certeza disso, por que vocês acabaram?

Eu: Acho que o Rodrigo gosta de outra pessoa e antes que eu comece a

gostar mais do que devia dele, preferi acabar de uma vez. De toda forma,
nunca foi planejado pra durar, não é?

Kiar: Como assim, amiga? Claro que ele gosta de você, de onde tirou

isso de outra pessoa?

Estela: Ele tava ficando com outra enquanto dizia para você que eram

exclusivos? Vou matar esse idiota se for isso!

Isadora: Não entendi nada, amiga, explica isso direito


Eu: Ai, gente, vai parecer loucura minha, mas eu vi o jeito que ele

olhou para você, Kiara... ele parecia tão apaixonado quando te viu naquele

vestido branco. Tive certeza que ele ainda queria você, que apenas desistiu
de lutar... então aquilo não saiu da minha cabeça e eu terminei tudo. Não

quero ser o “prêmio de consolação” de ninguém.

Kiar: Amiga, isso não tem o menor sentido, eu não vi nada do que está

dizendo, ele só ficou emocionado porque é como se fosse da família. Na

verdade, ele é muito mais da minha família que todos os meus parentes

juntos.

Marla: Eu sei que é nisso que acredita, mas não foi a impressão que eu

tive

Estela: Beleza. Vou considerar isso por um segundo... se ele se sente

assim sobre a Kiara, o que acha que sente por você?

Isadora: Eu acho que ele gosta de você, sim, Marla. Não vi ele

olhando a Kiara na festa de despedida, mas não tirava os olhos de você.

Parecia que não via a hora da festa acabar para ficar só com você.

Eu: Ele só sente tesão por mim, gosta do nosso sexo, talvez a gente

realmente tenha ficado amigos, gostamos da companhia um do outro. Mas

ele não me ama, gente.

Kiar: Você o ama?


Estela: Para mim o que vocês têm é muito mais do que amizade. Sinto

a química do casal de longe... e, honestamente, nunca reparei na forma que

ele olha pra Kiara porque não vi nada demais. São amigos de infância e

ex-namorados, são muito próximos, mas nunca vi nenhuma tensão dele por

ela, já por você... achei que se atiraria em cima do pobre stripper quando

você pegou na bunda do rapaz kkkkkkk

Isadora: kkkkkkkk é impressionante como a Estela faz a gente rir até

em situações como essas...

Eu: Tô muito confusa, gente, estou apaixonada por aquele imbecil,

mulherengo idiota! Não acredito em como sou trouxa de me apegar numa

relação casual. Ele nunca disse que me amava, então como vou achar que

gosta de mim?

Kiar: Ai, meu Deus, a minha amiga tá apaixonada!!!

Isadora: Estou sem palavras... A Marla se apaixonou.

Kiar: Vamos te ligar agora!

Meu celular começa a tocar com uma videochamada em grupo, então

atendo.

— Nossa, amiga, você tá com uma cara péssima.

— Estela! — Isadora ralha com ela.


— Tá triste porque não tá conversando com ele, né? — Kiara tem uma

expressão triste no rosto.

Espero que ela não se sinta culpada pelo que aconteceu, pois não a
culpo por nada.

— Então... finalmente a minha amiga se apaixonou! — Estela exclama,

animada, na tela.

— Nossa, obrigada, estão me ajudando tanto agora...

— Larguem de frescura e namorem logo! Pelo amor de Deus, os dois

são doidinhos um pelo outro e ficam com essa palhaçada, vou bater em

vocês dois! — Estela cruza os braços com sua roupa fit de academia e

franze os lábios, chateada.

— Amiga, a Estela tá certa. Não sei o que sentiu quando o viu na loja

aquele dia e não estou dizendo que não importa o seu sentimento com isso,

mas acho que pra você isso tudo é muito novo e pode ter ficado insegura

com a demonstração de sentimentos dele, daí se acovardou. Lembra que me

disse isso uma vez? Não tenha medo de sentir o que tem aí dentro. Como

ele vai se abrir contigo se demonstra tanta desconfiança? O Rodrigo

também tem medo de demonstrar sentimentos, sempre teve.

— Ele nunca disse nada sobre o que sente por você, Marla?
— Ele disse que era louco por mim, Isa. Que gostava de estar

comigo..., mas não deixei que continuasse a dizer essas coisas e terminei

tudo. Não achei que fosse verdade

— E agora, o que você acha?

— Continuo sem acreditar.  Não sei, talvez devêssemos conversar...

mesmo assim, ainda não me sinto pronta pra falar.

— Não se apresse, amiga. Tenta refletir sobre tudo. Não adianta a gente
dizer que acredita que ele gosta de você se isso não muda nada sobre o que

sente — Kiara finaliza.

Ficamos conversando por mais um tempo, as meninas me zoando

porque me apaixonei pela primeira vez... elas parecem adolescentes, cheias


de animação e querendo fofocar. De todo jeito, elas percebem que não estou

muito receptiva e me deixam pensar sozinha, desligando. Fico num looping


incessante entre “ele gosta de você, pare de drama e fala com ele” e “ele é

só um pegador idiota que ficou eternamente apaixonado pela ex e pega as


outras pra esquecer”. De todo jeito, ninguém parece compartilhar da minha

opinião sobre os sentimentos do Rodrigo pela Kiara, então me sinto


paranoica e sem noção ao dizer para uma mulher que está prestes a se casar

que seu padrinho gosta dela.


Se Luís escutou da boca do Rodrigo o que eu disse a ele, não deve ter
se importado com isso, caso contrário a Kiara teria dito alguma coisa. Será

que, para mim, é tão difícil entender como funcionam as amizades entre
pessoas que já se relacionaram? Não tive nenhum exemplo em casa de

conduta masculina, apenas exemplos do que não fazer e do que não queria
em minha vida. Posso dizer que o Rodrigo é o completo oposto daquilo que

vi em minha casa, até mesmo o traço mais odiável sobre ele, que é seu
exagero em ficar com diversas mulheres o tempo inteiro, até nisso ele é
diferente... Ele se importa com o bem estar de todas, em agradar, em ser o

que precisavam que ele seja.

Talvez Rodrigo seja inseguro e se alimente da aprovação feminina. Não


sobre como vive a sua vida, ou no que deve fazer com ela, mas na forma
como se relaciona, ele quer que elas gostem dele, que o queiram

novamente, que se lembrem dele. Ele disse tantas coisas que sugeriam isso,
a única vez que não o vi se importar com o que pensam era quando

interagia comigo, quando não podíamos passar 5 minutos sem discutir na


presença um do outro.

Solto um suspiro e me sinto ridícula de sentir falta até das nossas


discussões idiotas. Ele é maravilhoso, não consigo tirá-lo da cabeça e

imaginar... o que será que está fazendo?


 
“E eu construí uma casa
Para você, para mim
Até desaparecer
De mim, de você”
To Build a Home | The Cinematic Orchestra

Acho que fico paralisada por vários segundos até me dar conta de que

estão esperando que eu diga alguma coisa. Algo incrível aconteceu, algo

que eu nem mesma esperava que acontecesse, depois que assumi esse cargo
na empresa, minha única expectativa era fazer um bom trabalho, ganhar um

ótimo salário e não ser demitida. Eis que me deram um prêmio... um prêmio

que dá uma bonificação maravilhosa em dinheiro!

— Nossa! Até perdi as palavras... não sei como agradecer por isso,
muito obrigada mesmo!

Gil e Valéria me parabenizam mais uma vez pelos resultados

alcançados no trimestre, e me olham com alegria e respeito. O que significa


que correspondi as expectativas que tinham ao me colocar no cargo de

diretora da Connectlog.

— Quero te dar os parabéns na frente de toda a empresa e, por isso,

vamos convocar uma reunião no auditório para poder mostrar todos os


avanços na Connect desde que você assumiu o cargo.

— Acho que não é necessário, Gil. Fico feliz com a visita e a

parabenização de vocês.

— Acho que você não se lembrava que existia essa premiação para

cada funcionário de destaque, não é o diretor que avalia isso. Ainda


gostamos de mostrar que estamos de olho em quem merece ser valorizado

aqui dentro. Deveríamos entregar 3 destes ao ano, quando conseguem se

fazer notar com o seu trabalho, seja batendo metas maiores que as

estipuladas, trazendo algo inovador para a empresa ou realmente fazendo


um trabalho tão significativo que seja impossível não ver — Valéria

explica.

— Você se importa em dar o seu melhor, sempre se preocupou e, por

isso, colocamos você nessa cadeira. Sabemos dos últimos acontecimentos

com o Jaíltom e já falamos com ele sobre isso. Você não terá mais

problemas.

— Fico muito feliz em saber disso.

Eu gosto dos meus chefes, eles não se importam tanto com network,
status e aparências, o que é raro de encontrar em qualquer área de trabalho.

Não precisava ser amiga deles para saber que podem confiar no meu

trabalho. É isso o que deixa alguns puxa sacos indignados, é uma das

poucas empresas que realmente se importam com competência e não com

coisas pessoais. Jaíltom os conhece há anos e até frequenta a casa deles,

mesmo assim deram o cargo para mim. Eles seguem o lema “amigos,

amigos, negócios a parte”. Se dependesse da simpatia das pessoas para

ganhar alguma coisa na vida, eu estaria perdida, não tenho a menor

paciência pra ficar “alisando” ninguém. E fico feliz por não ter precisado

fazer nada disso por aqui.

Peço para que não façam nada no auditório, então apenas vamos para

fora da minha sala e eles me parabenizaram em público ali mesmo,


informando sobre dados da empresa e como ela está um sucesso. Vejo

expressões felizes por mim e, claro, vejo muitas pessoas de cara virada com

sorrisos nervosos. Mas não me importo, não faço questão de que gostem de
mim, só queria ser respeitada.

Quando consigo voltar à minha sala, a única coisa que penso é no que
isso significava para uma pessoa como eu. Uma mulher que passou a

infância inteira sendo moldada para sossegar e aceitar pouco, esperar pouco

da vida, uma mulher que foi tolhida para que não sonhasse nem almejasse

nada para si mesma. Meu ódio pela minha realidade e as coisas que passei a

perceber do mundo foram meus combustíveis para que me esforçasse mais,

para que não aceitasse aquilo que nunca concordei. Mas não deveria ter sido

assim, não queria que precisasse ter passado por aquilo. Eu sou uma mulher

inteligente, esforçada, uma mulher que faz o melhor que pode e eu mereço

coisas boas.

Se você passa muito tempo ouvindo que não é ninguém, que não tem

capacidade de alcançar as coisas e que não deve alimentar os seus sonhos,

você acaba acreditando naquilo. Minha mãe acreditou, ela achava que

precisava do meu pai, que precisava das pessoas para sobreviver e, de

forma nada sutil, o mundo tenta nos dizer a mesma coisa. Mas isso não é

verdade. É claro que uma família e pessoas que nos amam são

fundamentais, mas, na realidade, nós precisamos de nós mesmas. E se você


não tiver a sua fé, seu amor e confiança então não tem nada, porque

ninguém vai dar isso a você. Foi isso que eu aprendi e todas as vezes que

ouço algum absurdo que me diz o contrário, digo a mim mesma “é nisso

que eles querem que você acredite, eles que se fodam”.

Depois do último dia que estive na casa da minha família, recebi

diversas mensagens dos meus irmãos. Diziam coisas ridículas como que eu

era ingrata por me afastar assim da família, que não podia dar as costas

quando meu pai mais precisava, agora que não tinha carro e estava

endividado por causa da viagem. Túlio tentou até me ligar, mas não atendo

mais ninguém daquela casa. Ele pediu que eu mandasse dinheiro, mas eu

não vou mandar nada a ele. Para dizer a verdade, mandei dinheiro para a

conta do meu pai, como vi a fatura do mês passado, pude ver o valor da

próxima que entraria, então mandei o dinheiro, junto do valor que sempre
gastava com seus remédios. Meu pai tem sua aposentadoria, provavelmente

agora anda com seu cartão do banco bem guardado com ele e não está

dando nada a Túlio, ou dizendo que não tem dinheiro porque pagou a

fatura. É cômico ver ele negando alguma coisa ao sanguessuga.

Ele finalmente vai entender quem são os filhos dele. E não pretendo ser

a mesma de antes nunca mais.

Recebo uma chamada do meu secretário:


— Marla, o seu pai está aqui fora, posso 1braç-lo entrar?

Meu pai aqui?

— Pode, sim, Júlio.

Meu pai nunca veio até a empresa, eu nem lembrava que tinha dado o

endereço para emergências. Mas ali está ele, depois que foi escoltado por

Júlio até a sala.

— Oi, filha. Vim conversar com você.

— Se queria pedir alguma coisa, era só pedir por telefone.

Ele foi o único que não mandou mensagens e nem tentou me ligar. M

O meu pai se senta na cadeira à minha frente, mesmo que eu não tenha

oferecido.

— Não quero pedir nada. Na verdade..., quero, sim, pedir desculpas a

você.

Não sei o que dizer, então fico calada.

— Acho que tentei não enxergar você para que pudesse admirar seus

irmãos. Eu criei vocês, então se eles são preguiçosos, preconceituosos e

aproveitadores... a culpa é minha.

— Então por que não fiquei como eles?


— Você, graças a Deus, passou muito tempo com sua mãe, pôde

perceber por conta própria o que era melhor, e fico feliz por ser tão

independente de nós.

— Desde quando, pai? Você sempre se comportou como se apoiasse

cada pensamento deles, cada maldita atitude!

— Sou um homem velho, filha. Quando se chega nessa idade só


existem duas coisas a fazer: ou fica feliz por tudo o que realizou, pelas

conquistas da vida... ou se lamenta por tudo que foi capaz de fazer com ela.
E, infelizmente, venho me lamentando bastante. Até antes de você dar um

basta lá em casa. Penso demais na sua mãe, em como falhei em cuidar dela,
em como ela era uma mulher saudável, jovem e morreu tão cedo... nunca

fez sentido ela falecer daquele jeito.

Sem conseguir segurar, minhas lágrimas escorrem pelo meu rosto


contra a minha vontade, mesmo que eu as limpe imediatamente, elas

continuam caindo mais e mais. Eu sinto um ódio e uma tristeza profunda


quando me lembro da maneira que a minha mãe partiu, mesmo depois de

tantos anos, eu sei que nunca doerá menos.

— Ela desperdiçou a vida com a gente, nunca deveria ter se casado com

o senhor.
Meu pai também chora, mas, diferente do que eu espero, ele assente,
concordando comigo.

— Sua mãe se casou comigo para fugir do seu avô. Ela tinha muito
medo das agressões dele com a mãe dela. E, pouco tempo depois, sua avó

conseguiu fugir e nunca mais soubemos dela. No início, me dediquei mais a


1braça1-la, agradá-la..., mas depois foquei no trabalho, nunca tinha vontade

de sair. Então sua mãe foi aceitando, ela não gostava de reclamar, não me
abri o suficiente para ela confiar em mim e ver que jamais encostaria um

dedo nela.

— Como ela confiaria no senhor se tudo o que fazia era cobrar coisas?

Sobre a limpeza, sobre a comida, sobre como tudo estava caro e não era
fácil pagar tudo. Mas nunca a deixou trabalhar, estudar... ela não precisava

da sua permissão, mas mesmo assim não fazia nada sem ela — falo com
raiva.

Pela primeira vez, mostrando o que realmente penso sobre o assunto.

— Eu sei, filha. Fui um marido egoísta e autoritário, achava que estava

certo e nunca questionei minhas ações... depois que ela morreu, pude
perceber como era difícil cuidar de tantas coisas. E aí deixei que carregasse

o meu fardo quando deveria estar se divertindo, conhecendo coisas novas,


fazendo amizades e estudando como seus irmãos. Será que pode me
perdoar? Sinto muita a sua falta, minha filha, talvez não saiba demonstrar
meus sentimentos, mas eu amo você e tenho muito orgulho que seja minha

filha, mesmo que não tenha ajudado você a ser a mulher que é hoje.

É a segunda vez que meu pai diz que me ama. A única que vez que isso

saiu da boca dele foi depois do enterro de minha mãe, quando ele disse que
tudo ficaria bem, que ele me amava e ainda estava lá para cuidar de mim,

que eu não estava sozinha.

Depois disso, nunca mais ouvi aquilo da boca de ninguém, a não ser

das minhas amigas. E acho que só elas me faziam dizer aquilo tão
facilmente. Por isso não posso evitar sorrir um pouquinho quando o meu

velho, um homem cheio de defeitos, um homem que não soube criar os


filhos, que tem valores completamente diferente dos meus, que me

decepcionou de inúmeras formas, ainda consegue me fazer amá-lo.

Me levanto e o abraço, mesmo que não mereça; mesmo que seja mais
fácil viver sem a presença dele, eu amo meu pai e estou feliz por ele ter

demonstrado o quanto se importa comigo. Ainda que isso seja muito pouco
depois de tudo que fez, ele não tem costume de fazer essas coisas, então eu

sei o valor que a atitude e as palavras têm.

— Eu também te amo, pai.


Me afasto dele e me ajoelho à frente dele para que possa lhe dizer

algumas coisas encarando-o.

— Isso não significa que as coisas vão ser como antes, não quero voltar

a casa do senhor tão cedo. Não gosto de ver os meus irmãos, não tenho
nenhuma pretensão de voltar a falar com eles além do necessário. Eles não

têm nada de bom para me dizer, e o senhor sabe bem disso, não vou aceitar
mais nada deles. E se quiser me ver, vai ter que ir na minha casa. Também

não vou arcar com nenhuma despesa dos seus filhos, o que eles fizerem, vai
ficar por sua conta. Espero que possa cortar os comportamentos abusivos

deles com você também, finalmente impor limites..., mas isso é com o
senhor, não quero ter nada a ver com isso.

— Tudo bem, minha filha, não achei que fosse ser diferente. Nunca os
vi sem fala como ficaram naquele dia... — Meu pai quase dá uma risadinha.
Quase. — Bem, então já vou embora, preciso ir até o Luciano, vou cobrar o

que ele me deve porque preciso comprar outro carro

— É sério? Nunca te vi cobrando deles... Olha, pai, queria te desejar


boa sorte, mas não acho que vai ver a cor desse dinheiro com o Luciano.

— Sei como cobrar dele, filha, ele vai me pagar cada centavo.

E com isso se levanta, me dando um abraço ao despedir e ir em direção

a porta. Antes de abri-la, ele se vira para mim e diz:


— Gostei daquele rapaz que levou no meu aniversário. Ele te defendeu

sem ter medo de nada, não ficou acanhado mesmo se tratando da sua
família. Ele te olhava com um brilho nos olhos, filha, como se fosse

preciosa para ele...

O seu Antônio dá um sorriso bonito antes de abrir a porta e sair da sala.

Me deixando com o coração latejando de saudades do Rodrigo, não acredito


que, de todas as pessoas, é o meu pai que me fez sorrir ao falar da maneira

como o meu tormento olha para mim.


 
“Isto é algo real
Isto é algo certo
Nunca estive apaixonado
Nunca senti nada até agora,
Como eu deito aqui na sua cama
Eu preciso de você no meu peito
Para me aquecer a todo tempo”
Common | Zayn Malik

“Precisamos conversar, docinho”


“Sinto saudades de você”

“Vai me ignorar até quando, minha linda?”

Várias mensagens assim chegaram nos últimos dias. Depois de mais de

uma semana, Rodrigo começou a mandar mensagens dizendo que

precisamos conversar. Estou sentindo tantas coisas que mal consigo defini-

las. É uma mistura de saudade, nervosismo e irritação... por que ele

demorou tanto a falar comigo? Tudo bem que fui eu que acabei com o
nosso “acordo”, mas 10 dias sem uma palavra? Nem no grupo do

casamento ele diz alguma coisa.

Não consigo 1braça1e-lo, ainda não me sinto pronta para encarar a

situação. Eu tenho duas alternativas: começar um relacionamento com o


Rodrigo, ou acabar de vez e cortar completamente as relações com ele. As

meninas disseram que ele parece apaixonado, mas Rodrigo nunca disse

nada sobre começar um relacionamento de verdade, ele chegou a querer

conversar sobre nós, mas nunca foi direto sobre o assunto. Então,

verdadeiramente, não sei o que ele quer. E é obvio que, para saber, preciso

falar com ele. Só... tenho medo de que enquanto espero que algo vá

começar, na realidade vá terminar.

Estou em minha casa depois de um dia estressante no trabalho. É fim

do mês e tudo fica uma loucura com fechamento de caixa, faturamento e


pagamento de salários, todos os setores precisam que eu dê o “OK” antes de

fecharem as folhas, então sempre preciso me virar em 3 para conseguir. Por

outro lado, é muito bom me manter ocupada e não ficar com a cabeça no

meu tormento particular.

Depois de tomar um longo banho e preparar um chá matte com limão

bem quentinho, deito no sofá sem vontade de fazer nada. Pego o celular e

coloco na conversa com o Rodrigo, onde estão as mensagens não

respondidas, fico observando e solto um suspiro. Então ouço a campainha

tocar e chega uma nova mensagem dele, dizendo que está do lado de fora.

Cristo! Não acredito nisso... respondo que o portão está aberto e apenas
abro a porta da sala para que ele entre de uma vez.

Parada no meio da sala, vejo Rodrigo entrando e fechando a porta. Por

um momento, ele apenas me observa, sobe os olhos pelas minhas pernas

nuas, vê meu pequeno short preto de malha e minha grande camiseta cinza.
Estou uma bagunça, ele não devia ter vindo assim sem dizer nada, já que

está lindo como sempre, com uma camisa de manga curta preta e uma calça

jeans simples.

— Podia ter avisado que viria.

— Pra você me deixar plantado do lado de fora?

— Eu não faria isso.


— Você nem respondeu minhas mensagens, Marla.

— Não sabia o que dizer...

—  Bom, eu preciso te dizer muitas coisas, então. Apenas me escuta,

tudo bem?

Aceno com a cabeça, permitindo que fale.

— Você me disse que eu não sou apaixonado por você, me acusou de


gostar de outra pessoa enquanto a única que não sai da minha cabeça é

você. Eu disse que era louco por você e mesmo assim não acreditou em

mim, mesmo quando pedi que não tomasse aquela decisão. Você fugiu, se

escondeu de mim e tratou nosso relacionamento como algo passageiro...

— E você nunca disse que me amava! Eu pedi que dissesse o que sentia

por mim, mas você simplesmente arregou, essa que é a verdade. Não venha

me dizer que fugi e me escondi se você fez exatamente a mesma coisa.

— Não queria dizer algo que apenas entraria por um ouvido e sairia

pelo outro, queria que tirasse aquele absurdo que pensou da sua cabeça. E

devo dizer que fiquei um pouco ofendido por isso, por pensar que eu

poderia ser tão imbecil a ponto de planejar um casamento onde a mulher

que amo vai se casar com outro...

— Você sempre diz que eles são seus melhores amigos e se, para

preservar a amizade, você fizesse isso?


— Docinho, eu não sou o Luís, ele é o nobre do trio, ele faria qualquer

sacrifício pelas pessoas que ama, o amor dele é diferente do meu.

— E como é o seu amor, então?

— Meu amor não é possessivo, mas talvez seja mais egoísta. Se quero

você para mim, jamais a assistirei indo para os braços de outro. Prefiro

1braç-la de vez do que perder um pouco todos os dias. E eu quero você,

Marla. Quero tudo com você... será que não percebe?

Fico estática, ainda sem conseguir dizer nada.

Rodrigo se aproxima ao encarar os meus olhos com intensidade.

— Eu amo você, Marla! Amo acordar com você e 1braça-la depois de

um dia exaustivo, sentindo que voltei para onde devia estar. Amo o seu

sorriso, a sua pele na minha e o nosso beijo... eu amo tanto o nosso beijo.

Gosto de quando tenta entender o meu trabalho, quando briga comigo

porque almocei muito tarde e como me olha quando estou prestes a entrar

em você... Eu gosto até quando implica comigo e faz piadinhas ridículas

para tentar me envergonhar. O que mais você precisa que eu diga? Sou

completamente apaixonado por você, docinho.

Meu corpo treme com a declaração, eu não acredito que ele está

dizendo essas coisas para mim... eu não confio que sinta essas coisas por

mim. Não sei explicar, só não parece possível que seja verdade. No fundo,
eu vejo todos os homens como os da minha família, e não parece real que

ele seja diferente, por mais que eu saiba que ele acredita no que está

dizendo.

Começo a negar com a minha cabeça e Rodrigo se aproxima mais,

colocando uma mão no meu rosto e encarando meus olhos tão perto que me

sinto hipnotizada ao encarar os dele.

— Me diz o que está pensando, meu amor...

— Como é possível que seja verdade tudo isso? Que a gente tenha se

apaixonado assim? Você não acha que isso é loucura?

— Loucura seria se não me apaixonasse por você, Mar. Como poderia

ser indiferente agora que conheço tão bem o seu coração?

Então um filme inteiro da gente se passa pela minha cabeça, de tudo o

que vivemos nesses últimos 4 meses. Em como ele me surpreendeu todos os

dias quando trabalhávamos juntos, como se dedicou em fazer o melhor,

como esteva sempre disposto para tudo, como nunca me deixou na mão,

mesmo quando não éramos próximos... ele se comprometeu, então estava

sempre lá.

De um jeito estranho, fiquei mais íntima dele... e, de repente, suas

brincadeiras não me incomodavam mais, seu humor sempre contagiava o

meu, sua leveza era sempre um bálsamo para meu espírito e coração
cansados. Quando caí nos braços dele tudo se intensificou. De repente, ele

parecia meu, então eu queria ser dele, mesmo sem admitir para mim

mesma. E a felicidade que nunca havia sentido antes me inundou.

Rodrigo é o meu primeiro amor e é muito difícil entender como ele

conseguiu entrar num coração tão fechado quanto o meu.

Rodrigo é o meu rumo, o caminho fresco e verde da felicidade depois


de andar por muito tempo perdida num deserto. Ele me ajuda a respirar, faz

eu me sentir viva; em tão pouco tempo, Rodrigo se tornou o motivo


principal dos meus sorrisos, os melhores momentos que eu tenho é quando

estou ao lado dele. Isso me assusta de um jeito desesperador, por que como
eu viverei agora se, em algum momento, ele for embora? Não gosto de

amar as pessoas porque isso faz com que seja muito difícil ficar sem elas
depois, mas não posso ser covarde, a vida é para quem tem coragem. E isso

eu tenho de sobra.

— Eu amo você, Rodrigo — digo com lágrimas nos olhos, finalmente


dizendo aquilo que é tão difícil para mim.  Rodrigo me dá um sorriso tão

grande que parece que o sol nasceu na minha sala. — Amo tanto que dói,
tanto que tenho medo do sentimento. Você faz o meu mundo girar, Rodrigo.

Ele sorri, me dando vários beijos emocionado, depois me abraça ao


tirar os meus pés do chão, me levantando e sorrindo, sincero. Chorando de
alegria. Nunca o tinha visto assim, mas é a coisa mais linda que já coloquei
os olhos. Ele me olha como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo e

como se quisesse cuidar para sempre, e eu quero que cuide.

Quando me põe no chão, ele pergunta:

— Então estamos namorando, não é?

— Precisa mesmo confirmar, tormento?

— Tem anos que não faço isso, achei inteligente deixar tudo bem claro,

docinho.

— Bem, eu nunca fiz isso, então faz direitinho e me pede igual a um

mocinho de filme! — cruzo meus braços, implicando com ele.

— Quer namorar comigo? — Começo a gargalhar da cena.

— Eu amo você, tormento.

Beijo o meu namorado, mostrando que isso é um sim. Ele me agarra,

colocando a mão na minha nuca com autoridade, encostando seu corpo


delicioso no meu de um jeito que fez minha pele arrepiar. Então me levanta

em seu colo e me apoio em seu pescoço com os braços, tão feliz que acho
que acordarei do sonho a qualquer momento.

Rodrigo segue em direção ao meu quarto.


Eu começo a hiperventilar e sinto minha boceta pulsar com a
expectativa de fazer amor com ele. Estou com tanta saudade que parece que

não ficamos juntos há meses.

— Estou com tanta saudade, meu amor. Preciso tanto de você.

Rodrigo diz quando me coloca em cima da cama, depois de acender o


abajur que deixa o ambiente mais romântico. O cheiro amadeirado suave do

perfume dele é tudo o que consigo sentir quando ele tira a camisa. Logo
levanta da cama para tirar o resto de suas roupas e volta, se ajoelhando entre

as minhas pernas. Fico ofegante e sinto a calcinha pesar de expectativa.

— Tem ideia do quanto você é maravilhosa? De como me fascina?

Engulo em seco quando ele puxa minha camiseta, me fazendo levantar

os braços, deixando meus seios expostos quando a remove do meu corpo.


Então, sem conseguir se conter, chupa meu mamilo com força e precisão,

me arrancando um gemido. Coloco minha mão na cabeça dele, enquanto ele


aperta meu outro seio com sua mão e intercala chupadas e lambidas

rodeando o mamilo, me deixando molhada de tesão.

— Sou louca por você, Rodrigo.

Rodrigo sobe seus lábios do meu peito para o meu pescoço, beija e
mordisca meu ponto sensível me fazendo arquear o quadril, então sussurra

no meu ouvido:
— Eu sou seu, meu amor.

Sorrio de olhos fechados, sentindo o amor inundar o meu peito e uma


descarga elétrica que me faz sentir em outra dimensão. Rodrigo beija meus

lábios, saboreando minha língua, um beijo intenso que arrepia todos os


poros da minha pele, que deixa meu corpo inteiro sensível e à mercê. Ele

me deixa em êxtase, ansiosa de expectativas e nem encostou na minha


calcinha ainda.

Sinto a ereção perfeita na minha virilha e me contorço de tesão,


segurando-o em minhas mãos, movimentando seu comprimento para cima e

para baixo  enquanto ele interrompe o beijo para descansar a testa contra a
minha. Rodrigo puxa o ar com a boca, mordendo o lábio cheio de tesão.

— Todo meu — digo, respondendo ao que havia dito antes, e completo:


— E eu sou toda sua, meu amor.

Ele me dá um sorriso que é romântico e safado ao mesmo tempo.

— Toda minha.

Rodrigo se senta na cama e me vira de costas, puxando minha cintura e

me deixando ajoelhada, de 4 para ele. Eu amo essa posição,


automaticamente fico ainda mais excitada. Ele começa a retirar meu short,
me ajuda a levantar os joelhos para remover a peça e então acaricia minha

pequena calcinha de renda vermelha.


— Tão gostosa e perfeita a minha Docinho... empina essa bunda pra

mim, vai!

Ofego e me empino ainda mais para ele. Sinto sua palma dando um

tapa delicioso na minha bunda e solto um gemido.

— Mmm... — ouço Rodrigo murmurar de tesão.

Ele retira minha calcinha tão lentamente que parece tortura, fazendo de

propósito para me enlouquecer ainda mais.

Quando a peça sai do meu corpo, Rodrigo começa a beijar as minhas

costas, descendo a boca pelo meu corpo com as mãos apertando minha
bunda, então me surpreende quando abre minha bunda com seus dedos e

sinto sua língua ali, acariciando meu ponto proibido. Nunca pensei que
sentiria tanto tesão em ter essa parte sendo chupada, mas é muito gostoso e

eu não consigo controlar meus gemidos enlouquecidos pelo ato audacioso.

— Seu cuzinho é delicioso, amor. Vai dar ele pra mim algum dia?

Ai, meu Deus! Por que essa pergunta me deixa tão excitada?

Viro meu rosto para trás, encarando os olhos dilatados e intensamente

escuros de tesão, dou um sorriso que o faz franzir o cenho.

— Talvez... se você me deixar com muita vontade.


— Você ainda vai me fazer perder totalmente a racionalidade, docinho.
Não faz isso com seu pobre namorado safado.

— Me come logo, amor. Tá me deixando louca e impaciente.

— Sim, senhora.

Ele me dá um tapa mais forte, que chega a arder, mas que, pelo meu

nível de excitação, me deixa ainda mais acesa. Depois passa a cabeça do


pau rígido pela minha boceta, ensopando seu membro com minha excitação
e então entra em mim completamente, até o fundo, me arrancando um

gemido exaltado.

Ele entra e sai num ritmo perfeito, eu estou com tanto tesão que acho
inacreditável que esteja perto de gozar tão rápido, mas é o que estava
acontecendo e ele não parece muito diferente.

— Gostosa! Perfeita pra caralho!

Ele arremete com força, do jeito que eu quero, nossos sons se


sobrepondo e, antes que cheguemos ao clímax, ele sai de dentro de mim,

mexendo com minha sanidade mental.

— Quero que cavalgue pra mim, meu amor.

Rodrigo se deita na cama e, sem demora, eu sento nele. Me apoio em


seu peito musculoso e perfeito subindo e descendo do jeito que gosta,
matando a saudades que tenho dele; encaro os seus olhos enquanto ele
segura minhas mãos, me deixando com mais apoio, então sento com mais

força e rapidez. Seus olhos queimam os meus, espelhando meus


sentimentos intensos, demonstrando a forma como somos profundamente

apaixonados um pelo outro, de um jeito que parece ridículo não termos


admitido antes. Nosso olhar é cheio de entrega, prazer, amor e adoração. É

assim que gozamos juntos.

Delicioso, perfeito, demasiadamente forte, vivo e cheio de amor.

Deito sobre o peito dele e descanso minha cabeça na curva do seu


pescoço, é impossível estar mais feliz do que neste momento, descansando

meu corpo contra o dele e sabendo que aqui é aonde pertencíamos, onde
achamos o nosso lugar no mundo.

— Te amo, minha Docinho.

— Te amo, meu rumo.

Ele dá uma gargalhada preguiçosa e levanta um pouco o rosto para me


encarar nos olhos:

— Meu rumo? Agora vai mudar meu apelido é, minha linda?

— “Meu rumo” é só para momentos especiais, amor. Nos outros vai

continuar sendo tormento mesmo.


Dou uma gargalhada e ele ri comigo, me abraçando mais forte quando
deito novamente em seu peito. Sinto que suspiramos juntos e em paz, como

se a jornada tivesse chegado ao fim. Não acredito em destino, mas se o


fizesse diria que sempre foi para acabar assim, exatamente como estamos.

Um nos braços do outro.

Meu idiota, ex-pegador, meu tormento, meu amor e o meu rumo .


 
“Você faz meu coração bater mais rápido que a adrenalina
Com um beijo você faz sumir toda a dor do inferno
Você vai me fazer ser melhor que já fui
Porque você é meu remédio
Sim, você é meu remédio”
Medicine | James Arthur

Faltam 7 dias para o casamento


 
O casamento está próximo e tudo está uma loucura. Todo mundo que

está envolvido nos preparativos adiantou o trabalho nas últimas semanas

para conseguir colocar o maior foco no casamento. Os noivos já tiraram as

suas férias do Dreambank antes da lua de mel para organizar tudo e até

contrataram uma organizadora de eventos para coordenar as coisas já


planejadas e executar o grande dia.

É um sábado ensolarado na grande Goiânia e nos encontramos sentados

na varanda do apartamento dos noivos. Alguns familiares chegaram para o


casamento e estão hospedados no apartamento antigo da Kiara. O Luís

organizou um almoço com todos os amigos, sogra, algumas tias distantes da

Kiara e a família dele que veio do Rio de Janeiro.

Eu e Marla estamos um ao lado do outro. Estela está ao lado de Marla e

veio sozinha, pois o Bruno precisou trabalhar. Isadora e Roberto estão

próximos de Estela. Já a dona Fátima está ao meu lado e conversamos,


animados, enquanto tomamos cerveja.

— Estou tão feliz por vocês! Sabia que faziam um casalzão quando os

vi na despedida de solteiro juntos.

— Os idiotas com o copo amarelo ainda por cima! — Estela dá risada.

— Tecnicamente, nós estávamos num relacionamento enrolado, então

fazia sentido o copo — Marla se defende.


— Você tá certa, Estela, demoramos muito pra oficializar mesmo —

concordo.

— Queria ser uma mosca pra ter visto como foi a reconciliação de

vocês

— Ai, amiga para de besteira. — Marla fica vermelha.

— Mmm, pelo jeito teve um sexo daqueles hein... — Estela dá uma

piscada.

— Estela! — Isadora chama a atenção.

— O quê? Sua filha está brincando com as primas da Kiar...

— Mas está deixando o casal sem graça.

— O Rodrigo não liga pra essas coisas e a Marla já está acostumada.

Damos risada porque é verdade.

— Você já engoliu a chata da mãe do Luís, dona Fátima? — Marla fala

num tom mais baixo para que apenas os mais próximos ouçam.

Ela dá risada da pergunta.

— Ela já se redimiu bastante, querida. Até me chamou para passar

férias em sua casa no Rio. Ela é boa gente, só estava equivocada.

— Põe equivocada nisso... fiquei sem saber como Kiara aguentaria uma

sogra dessas.
— Ela se desculpou bastante nos últimos meses. A Kiara é discreta

sobre o assunto, mas me disse que já se dá muito bem com a sogra. Que a

Juliana manda presentes, liga pra ela pra conversar coisas do dia a dia e que
agora até assistem as mesmas séries de TV para que possam comentar sobre

os episódios.

— Mmm, fiquei até com ciúmes agora. Não tenho tido muito tempo de

assistir séries, mas quero entrar pro clubinho — Isadora diz, sorrindo.

— Fiquei até impressionada, não imaginava que estavam tão bem


assim.

— É porque você ficou com a cabeça dentro da bunda nos últimos

meses, pensando no Rodrigão quando Kiara falava alguma coisa que não

fosse do casamento.

Marla revira os olhos para Estela, jogando uma azeitona que estava

sobre a mesa nela, a qual ela pega no ar com a boca e mastiga, sorrindo pra

amiga ao dar uma piscada.

— Vocês parecem duas crianças — falo e dou um beijo na testa de

Marla.

— Marla adora demonstrar amor com implicância, é a melhor

expressão dela, me sinto muito amada.

Todos riem das duas fazendo graça na mesa.


Observando o local, reparo no casal de noivos dentro do apartamento,

conversando com a mãe do Luís, Juliana. Kiara abraça Luís de lado

enquanto ele cobre os ombros dela com seu braço, eles sorriem e dividem

uma garrafa de cerveja. A mãe dele parece alegre, cheia de vivacidade, já

que ainda é jovem e bonita. De tempos em tempos, o filho caçula — irmão

do Luís — vai até o grupo e fala algo que arranca gargalhadas de todos, é

bonito vê-los juntos, estou feliz por finalmente estarem num momento de

amor e harmonia.

— Às vezes esqueço que Luís tem um irmãozinho — Marla diz para

mim, olhando para o mesmo lugar que eu observava antes.

— Eu também. Fico feliz por ele nunca ter precisado passar pelo que

Luís passou.

Marla assente, ainda os observando, então ela sorri ao olhar para a

amiga.

— Se parar pra pensar, foi a Kiara que nos juntou sabia?

— Por que foi o casamento dela que nos uniu?

— Também, mas ela poderia ter pedido a outras pessoas sabe?

— Ela me disse que éramos os únicos disponíveis pra ajudar.


— Mas poderia ter pedido ajuda a você e a mãe dela por exemplo, ou

ter contratado uma organizadora desde o início também. Acho que ela

queria que as pessoas que ama fizessem parte de tudo sabe? Meio que como

uma forma de trazer o amor em cada detalhe de tudo.

— Ela disse, uma vez, que você representaria as escolhas dela quando

não estivesse presente, porque a conhecia bem e eu faria isso pelo Luís...

acho que pode ser um pouco de tudo, docinho.

— Gosto que ainda me chame de docinho.

— Gosto de ser o seu tormento.

Ela me encara e me beija. Um beijo lento e doce que faz minha nuca

arrepiar.

Ouço o som de uma câmera fotográfica e interrompemos o beijo. Logo

vejo Isadora sacudindo uma polaroide.

— Não podia perder a oportunidade de registrar esse momento icônico!

Marla namorando, toda caidinha pelo galinhão que odiava.

— Vocês nunca vão me deixar em paz, não é?

— Não! — Estela e Isadora dizem em uníssono.

— Vamos brindar a esse casal completamente improvável — Estela diz,

levantando a garrafa de cerveja.


— Ei! Também quero participar! — Kiara fala, vindo a nossa mesa

acompanhada do Luís.

— Finalmente, né, querida! Não ia dar atenção aos seus amigos, não?

— Marla ironiza.

— Claro que eu ia! Meus padrinhos reunidos na mesma mesa, só

faltava os noivos!

— Então brindemos aos casais: Luar e Romar! — Estela fala e todo


mundo olha para ela sem entender nada.

— É o nome de vocês juntos gente! Ai, nunca shipparam nada?

— Não sabia que você era adepta a shipps amiga

— Claro que sou, Kiar. Sou muito romântica, tá, e como meu mozão
não tá aqui, vou brindar a vocês.

Todos levantam sua bebida e um brinde sai com mais fotos de Isadora e

alguns celulares.

Depois disso a mãe de Luís se junta à mesa e bebemos mais,

conversando. Ela parece legal, imagino que tenha superado os problemas de


antes. O almoço é servido: feijoada com tudo o que tem direito, farofa,

couve, torresmo e um vinagrete caprichado. Está tudo maravilhoso e todo


mundo é bem servido. Depois de um tempo os convidados começam a ir
embora e vão ficando só as pessoas mais próximas.

Num momento em que estávamos apenas eu, Marla, Kiara e Luís, eles
dizem que precisam falar algo importante para mim. Kiara olha para Luís

antes de começar e ele assente, sorrindo e segurando a mão dela.

Fico nervoso com o que vai dizer.

Kiara me encara e diz:

— Quer me levar ao altar, Rô? — ela parece um pouco insegura em me


fazer a pergunta, fala baixo e aguarda ao respirar fundo.

Fico emocionado com o pedido. Kiara não tem pai, ele se mandou
quando soube da gravidez da mãe dela e ela nunca o conheceu. Até poderia

entrar sozinha ou com sua mãe, mas me pediu porque me considera da


família. Para mim, eles são como família também, por isso estou prestes a

aceitar, mas viro meu rosto para Marla antes, consultando-a com os olhos.

Marla sorri de um jeito que mostra sua emoção, ela entende o pedido da

amiga e assente para mim com os olhos marejados.

— Vai ser uma honra levar minha amiga do coração ao altar para casar

com o meu irmão do coração.


É assim que nós 4 ficamos parecendo crianças chorando, emocionadas,
num abraço em grupo. Somos amigos, parceiros e uma família. Eu os amo e

não vejo a hora deles serem os meus padrinhos no futuro.


 
“Avanço rápido alguns anos, sim
Cresci no lugar que vivemos
Fazemos amor, depois brigamos
Rimos porque a ideia era que nosso caso durasse apenas uma noite,
amor
Seja minha, seja minha, sim
A qualquer momento, a qualquer hora”
Fallin’ All In You | Shawn Mendes
O grande dia finalmente chegou e eu estou uma pilha de nervos...

Desconfio que Kiara vai infartar já que eu, como madrinha, estou próxima

de ter um treco. Temos um longo dia pela frente, pois, por mais que

tenhamos planejado tudo, a hora da execução é diferente, tanta coisa pode

dar errado que eu passo mal só de pensar. Tudo o que eu quero é que a
minha amiga tenha o melhor dia da vida dela.

Nos reunimos num salão de beleza especializado em noivas, onde

existem pacotes de todos os jeitos para que você escolha como gostará de
passar o seu dia. Kiara escolheu o pacote Dream, nele está incluso:

massagem, esfoliação, banho de lua, skin care, manicure, cabelo,

maquiagem, fotos profissionais de todas... e ainda ganhamos um café da

manhã especial, com direito a champanhe e robes cor de rosa


acompanhando a noiva com o seu robe branco enquanto ficávamos no local.

Um dia de princesa, literalmente. Tudo isso pago pelas mães dos noivos que

queriam presentear Kiara antes do casamento.

Kiara não sai do celular ao confirmar com o bufê, com a floricultura e

todas as coisas que vão chegar ao local da cerimônia. Mesmo com a

organizadora de eventos, Kiara quer se certificar que tudo está sendo feito

como gostaria.
— Você não sai desse celular, Kiar... será que confia mesmo nessa

organizadora de eventos?

— O nome dela é Cris e claro que confio, amiga, é que tenho medo de

perder alguma coisa importante...

Dona Fátima tira o celular da mão da filha e o guarda em sua bolsa

enquanto Kiara tem uma manicure cuidando da mão que está livre. Ela fica

de olhos arregalados pra mãe.

— Nem adianta fazer essa cara, quero que aproveite tudo ao máximo!
Vamos curtir o seu dia de noiva da forma correta, minha filha, e eu prometo

que de hora em hora dou uma checada no celular.

Agora eu também posso relaxar... estava pensando seriamente em tomar

as rédeas da coisa para deixar Kiara ter o seu momento.

Depois que terminamos de fazer a unha e lavar o cabelo, cada uma

vestida em seu robe de seda, estamos na mesa tomando um café da manhã

maravilhoso, tem muita coisa para conseguirmos comer tudo: sanduiches


naturais, croissants doces e salgados, pães de queijo, sequilhos, bem

casados (obrigatório), bolos e biscoitos de queijo.... sucos, cafés, chás e,

claro, o prometido champanhe. Por isso, estamos tomando mimosas

enquanto eu como o meu bendito croissant.


O squad completo está aqui: Estela, Isadora, além da mãe da Kiara,

dona Fátima, e também a mãe do Luís, a dona Juliana. Que estou

conhecendo melhor hoje, até agora ela parece feliz e está sendo muito
simpática.

— Nossa, me deu até vontade de casar de novo pra ter esse dia de
princesa e tomar champanhe no café da manhã! — Isadora fala antes de dar

uma mordida em seu sanduíche.

— Tô vivendo isso sem precisar casar, então muito obrigada, Kiara e


mães dos noivos! — Estela levanta sua taça para um brinde que todas

respondemos levantando as nossas em seguida.

— Você não quer se casar? — Juliana pergunta (é estranho chamá-la de

dona, porque ela parece muito jovem).

— Não... acho que ficaria entediada muito rápido acordando todo santo

dia do lado do Bruno sabe? Vivemos bem assim, eu gosto de amá-lo mais a

distância. — Isso desperta risadas de todas nós.

— Será que a Marla mudou de ideia sobre se casar? — Isadora joga no

ar.

— Comecei a namorar agora e já estão falando em casamento? Me

deem um descanso — falo, rindo.


— Óbvio que, quando o dia chegar, vou ser a madrinha, não é? —

Kiara indaga.

— Todas nós! Nem vem me tirar hein... — Estela faz graça, mas fala

sério.

É muito engraçado pensar sobre essas coisas quando até alguns meses

atrás nem mesmo namorar parecia possível. Ter uma conexão profunda, a

ponto de realmente não ver mais a sua vida sem determinada pessoa, é raro.

Talvez sempre tenha sido... casamentos eram obrigatórios em

sociedade, um acordo político de famílias ou uma necessidade de

sobrevivência para as mulheres quando não tinham independência e

autonomia perante a lei, assim como foi com meus avós e meus pais, que se
casaram pela comodidade, conveniência e compulsão da sociedade.

Estou feliz por viver em um momento diferente. Os desafios continuam

existindo, mas eu estou feliz por poder lutar. E, em algum momento,

Rodrigo e eu teremos o nosso grande dia, não há ninguém mais perfeito


para mim do que ele... até fico ansiosa para vê-lo.

Depois do café maravilhoso, tiramos muitas fotos. Os fotógrafos

registram vários momentos do dia e muitas das fotos farão parte do mural

que Isadora preparou para a cerimônia. Ela e Kiara cuidaram das


lembrancinhas, essa parte fiquei de fora porque, nas últimas semanas, a
demanda no trabalho estava enorme, então algumas coisas que terão no

casamento serão uma surpresa para mim.

Passamos o dia todo juntos. Nos deliciando com lanches que


poderemos comer ao longo do dia já que sairemos direto para o casamento.

Tomamos banho depois de descolorir com o banho de lua antes de fazer a

maquiagem e cabelo. Além das fotos com o robe, cada uma escreve uma

cartinha para Kiara, desejando coisas boas, para que ela possa guardar e ler

no futuro. Quanto mais a cerimônia se aproxima, mais ansiosa a Kiara fica.

O Luís chegou a telefonar, mas dona Fátima não deixou Kiara atender e

disse ao genro que teria a vida inteira para falar com ela, então que nos

deixasse ter um momentinho longe. Todo mundo caiu na risada com isso,

menos a Kiara, que queria muito ter falado um pouquinho com o noivo.

No final, temos dia maravilhoso, cheio de risadas, regado a comidinhas,

champanhe, muitos cuidados com a beleza e o principal: muito amor e

amizade.

Algumas horas antes


Chegou o dia!
E eu estou tão animado quanto o próprio noivo... afinal, os meus

melhores amigos vão se casar. A história de amor que pude acompanhar por

boa parte da vida finalmente chegou ao seu “final feliz” e eu não posso

estar mais feliz por eles.

Levarei a Kiara ao altar e entregarei a minha melhor amiga ao Luís, o

cara que de meu melhor amigo passou a ser inimigo, depois amigo

novamente e então uma pessoa que eu passei a detestar. Enfim, depois de

tudo que passamos, ele se tornou meu irmão, parte da minha família do
coração. Nossa história sempre esteve entrelaçada e assim vai continuar

porque a família que escolhemos permanecerá até o fim.

Luís convidou um grupo de amigos pra ter o seu dia do “noivo”, disse

que se passasse o dia sozinho acabaria ligando toda hora para sua noiva,
pois não se aguentava de ansiedade. Eu compreendo, provavelmente ficarei

da mesma forma quando me casasse com Marla. É claro que não vou contar
isso pra ela ainda, mas já sei que ela é a mulher que eu quero para o resto da

vida. Não existe a possibilidade de ter alguém mais perfeita para minha vida
e, se tiver, que eu nunca a conheça... porque amo até as nossas brigas e

implicância, é o nosso charme especial.

Estou aqui com Roberto e Bruno, havia os conhecido na despedida de


solteiro e gostei bastante deles. Também estou com alguns primos de Luís,
pessoas do Dreambank e, claro, o irmãozinho do Luís, o pequeno Kaíque.

— Será que você pode sentar, mano? Tô ficando tonto de te olhar pra lá

e pra cá.

— Seu mano tá nervoso, Kai, só isso. É normal.

— Nervoso por quê? Ela já não aceitou? Ou tá com medo dela não

aparecer?

Dou risada do menino falando com Luís, ele parece ser dos meus.

— Claro que vai aparecer, por que você diz isso?

— Sei lá, outro dia vi um filme com a mãe onde a mulher saiu correndo

do casamento. Se não for medo disso, não tem pra que ficar assim.

Luís sorri e bagunça o cabelo do garoto antes de se sentar na poltrona

ao lado dele e de mim, que estou no sofá.

— Seu irmão tem razão, Luís. Nesse momento, as meninas estão se

esbaldando em champanhe e maquiagem. Sei que não vê a hora de colocar


as alianças, mas tenta aproveitar o dia.

— Você não colocou as alianças ontem, mano?

— Ontem foi o casamento civil, Kai, para assinar os papéis diante da


lei, hoje é a cerimônia oficial... — Luís explica ao irmão.
Luís e Kiara chamaram pouquíssimas pessoas para o casamento civil,
que foi lindo à sua maneira, mesmo com toda a formalidade. Eles se

emocionaram e tiraram fotos, e alguns de nós assinamos como testemunhas.

Hoje é o dia em que tudo o que trabalhamos nos últimos 4 meses será

posto em prática. Algumas coisas ficaram por conta dos noivos, já que no
início e no fim eu não pude participar tanto. Mas a maioria das coisas foram

planejadas por nós 4. E eu não poderia estar mais feliz, sabendo que é este
casamento que trouxa a Marla para minha vida.

Marla envia várias fotos dela com as madrinhas e a noiva, as quais


mostro ao Luís para aplacar um pouco da ansiedade dele. Alguns dos

convidados começam a ir para casa pra poderem se arrumar antes da


cerimônia. E assim que sobraram apenas Luís, Kaíque, Bruno e Roberto,

nós aproveitamos para irmos ao barbeiro que havia marcado na semana


passada. Até Kaíque que ainda não tem barba cortou o cabelo e assim pôde

ajudar o noivo a se distrair um pouco.


O casamento será realizado num local de eventos que parece um sítio

por possuir um quintal gigantesco, onde puderam montar a estrutura dos


sonhos do casal.

Quando chegamos, vemos que muitas pessoas que se adiantaram para


não perder nada da festa. O local está pronto e fico surpreso com a beleza

da decoração. Por mais que tenha ajudado, essa parte ficou mais por conta
de Marla e Kiara. E mesmo sabendo o estilo que queriam, nada me

preparou para a estrutura montada diante dos meus olhos.

O quintal é todo gramado e está repleto de mesas de madeira para os

convidados, que foram adornadas com garrafas de vidro escuro (estilo


garrafas de espumante) em cima, sendo usadas como candelabro de velas. O

estilo é rústico, romântico e moderno. O casamento será realizado no final


da tarde para que seja celebrado quando houver o pôr do sol, então todas as
luzes serão ligadas. Além das mesas com velas, há lâmpadas penduradas

por todo o local, fazendo um conjunto de varais de luzes criando um teto


iluminado no quintal aberto.

Também têm vários pisca-piscas nas árvores do quintal e em algumas

paredes. E para finalizar a decoração, algumas pequenas flores do campo,


ramos verdes cheios florezinhas brancas estão espalhadas. Na entrada há

uma mesa com um fotógrafo, que tira fotos na hora com uma polaroide e
um mural já montado, atrás dele, com um conjunto de varais de cortiça

repleto de fotos, imagino que seja o que Isadora havia mencionado.

O local da cerimônia fica ao fundo, com várias cadeiras brancas

enfileiradas em frente a um arco de madeira. Que está repleto de luzes e


flores brancas em volta dele, aparecendo a madeira apenas na parte debaixo

onde têm pequenas lâmpadas. É aqui que estamos, porque foi o primeiro
lugar que Luís quis ver de perto.

— Nossa... tudo ficou ainda mais bonito do que imaginei!

— Tá lindo demais, cara. Nem acredito que finalmente estamos vendo


os resultados dos últimos 5 meses...

— Foi uma grande jornada, né, irmão? — Luís pergunta, os olhos


brilham, reparando em cada detalhe do lugar que parece mágico.

— A melhor jornada que tive. Afinal, foi ela que me trouxe a Marla.

Luís olha para mim e sorri, alegre.

— Não poderia estar mais feliz por vocês! Fiquei muito grato por tudo
e sem vocês... teríamos enlouquecido há muito tempo antes de conseguir

finalizar tudo — Luís coça atrás da cabeça, sorrindo.

— A Kiara teria cortado a amizade com a gente se não tivéssemos

ajudado. — Dou risada.


— Fiquei muito feliz quando aceitou levá-la ao altar.

Luís segura meu ombro depois de soltar a frase e me dá um sorriso

cheio de gratidão.

— Fiquei muito feliz por confiarem tanto em mim para isso. Sinto que

finalmente superamos tudo o que tinha para superar.

Luís assente e seguro seu ombro quando o olhar dele fica marejado.
Cada um balança o ombro do outro até darmos uma boa gargalhada de tudo.
Do que passamos para chegar aqui, de tudo o que fomos e de quem somos

agora. Não há outro sentimento que não o de gratidão, uma profunda


gratidão e alegria por tudo, por vivenciar esse momento.

Depois disso, levo o noivo até o mural de fotos para que possamos
observar tudo. Fico apontando para as mais engraçadas e cascamos de rir

relembrando os momentos com fotos antigas, a Kiara deve ter resgatado as


fotos pra serem impressas no formato de polaroide. Fotos da Kiara com as

madrinhas, do casal em jantares românticos, de nós 4 quando saímos juntos


num encontro duplo certa vez. Fotos da Kiara provando vestidos de noiva,

que o Luís tentou não olhar pra “não dar azar”.

Vejo momentos incríveis da despedida de solteiro e tenho vontade de

pegar para mim a foto que dou um beijo no rosto da Marla, não tinha visto
aquela foto antes.
Depois vejo uma foto muito antiga, da época da escola, onde o trio de
adolescentes sorria pra câmera. Lembro que quem tirou aquela foi uma

professora na hora do recreio, Kiara tinha uma daquelas câmeras digitais


antigas da Samsung que cabia na bolsa.

Estávamos os 3 no colégio, sentados na passarela no meio do pátio, eu


usava um Adidas star e o casal usava All Star, todos de uniforme e calça

jeans. Sinto tanta saudade que preciso tirar a foto do prendedor do varal
para olhar mais de perto.

— Eu lembro desse dia! — Luís fala quando seguro a foto.

— Era a época que a gente ia na padaria beber Coca-Cola depois da


aula.

— Caramba... faz tanto tempo. Mas sabia que vocês eram pra sempre,
foi o único lugar que me senti em casa depois que perdi o meu pai.

Quando olho para o Luís, ele está com um sorriso nostálgico. Hoje é o

aniversário da morte do pai dele, foi uma data escolhida por Kiara para
ressignificar o dia mais triste da vida de sua família. Quando a mãe dele
permitiu, Luís aceitou e pareceu feliz pela escolha.

— De alguma forma, ele tá aqui cara... e, de onde estiver, tá feliz por

vocês.
Luís sorri e assente enquanto passamos mais um tempo admirando a
foto.

É o momento de buscar a noiva.

Vou até a casa do local, que servirá apenas para os trabalhadores e


organizadores do evento. Todos os padrinhos estão esperando lá, em fila,
para que entrarem na ordem.

Vejo Marla na fila, ajudando a Cris a organizar tudo.

— Oi, minha linda.

Quando ela me vê, abre um sorriso lindo e me beija rapidamente,


deixando o braço no meu pescoço.

— Oi, meu amor.

Sorrio e reparo a sua roupa, ela usa um vestido dourado mais claro,
quase cor de espumante, que é de seda, longo e marca todas as suas curvas,

de alça fina e um decote redondo que tem um volume com tecido caído.
Está maravilhosamente sexy, tão linda que eu quero arrastá-la para qualquer
lugar privado deste lugar neste exato momento.
— Não me olha assim, safado — Marla me dá um tapinha no braço,
sorrindo. — Agora você precisa levar a noiva e não pode ficar com essa

cara...

— Difícil não te olhar assim com esse vestido...

— Gostou, tormento? — Ela dá um sorriso sexy.

— Gostar é pouco..., mas vou amar quando puder tirá-lo de você. —


Marla fica vermelha e sorri, depois me abraça e fala no meu ouvido: —
Mais tarde, amor.

Dou um sorriso de orelha a orelha, pensando em achar um lugar por

aqui assim que puder.

Luís entra no local com sua mãe e cumprimenta a todo mundo antes de
chegar perto de nós.

— Acho que se não casar na próxima meia hora, vou infartar...

— Calma, Luís. Não precisa ficar tão nervoso. Não sei porque você e a
Kiara estão assim se agora é só aproveitar. Tá tudo correndo como
planejamos, vai dar tudo certo — Marla o tranquiliza.

— É a ansiedade atacando, difícil não ficar nervoso — Luís respira

fundo e sua mãe sorri pra ele, falando que vai dar tudo certo.
— Relaxa, cara. Já tá quase na hora. Vou buscar a Kiara e assim que

você sair da casa, ela entra.

Kiara está esperando no carro com a mãe dela, para que não veja o
noivo antes da hora.

Vou até o Chrysler 300 C preto, estacionado na rua da frente. O carro

foi oferecido pelo serviço do salão especializado em noivas, fiquei


impressionado quando descobri que tinha isso incluso no pacote. Bato na
porta e a mãe de Kiara abre o carro, saindo dele.

— Oi, meu filho, está tão bonito! — Dona Fátima e eu sempre fomos

tão próximos que ela passou a me chamar de filho depois que passei a
acompanhá-la ao médico, na época que ficou doente.

— Obrigado, dona Fátima. A senhora que está maravilhosa! — Ela


sorri e abana a mão na frente do rosto como quem diz “deixa disso”.

— Vou deixar você com a Kiara e entrar na casa pra falar com meu
genro, se ele estiver nervoso como ela, vão se atrapalhar inteiros no altar!
— Ela segura meu ombro e sorri antes de ir.

Entro no carro e fecho a porta, encontrando uma Kiara abrindo a janela

como se fosse morrer de falta de ar ali dentro.

— Meu Deus, mas por que estão nervosos assim? Não tô entendendo
vocês...
— É porque não é você se casando na frente de todo mundo que

conhece! Eu estou tão feliz e, ao mesmo tempo, com tanto medo...

— Isso é normal, lindinha. Tenho certeza de que quando olhar pro Luís,
te esperando no altar, tudo isso vai passar, você vai ver! — Sorrio,
tranquilizando-a.

— Eu sinto como se vivenciasse um déjà vu, sabe, Rô? Como se


houvesse imaginado esse dia tantas vezes que já tivesse passado por ele.
Mas depois de tudo o que vivi para chegar aqui... é só o começo, sabe? A
gente passa tanto tempo achando que o final feliz é o casamento, mas, na

verdade, é o início. O começo de uma vida inteira ao lado dele.

— E vai ser a vida mais linda do mundo! Vocês são o casal mais
apaixonado que eu conheço. É aterrorizante quando a gente percebe que tá
realizando algo grande, casar com o amor da nossa vida é algo gigante. Eu

sei porque acabei de começar a namorar com a minha e, às vezes, me bate


um sentimento parecido.

Kiara abre um sorriso enorme que poderia iluminar a cidade inteira.

— Ai, estou tão feliz por vocês! — fala, empolgada. — Sabia que
vocês eram perfeitos um para o outro!

— Como assim? Tá falando que botou a gente pra trabalhar junto de


caso pensado?
— Não exatamente, eu precisava da ajuda de vocês, mas sempre que

parava pra pensar, via como vocês eram parecidos em muitas coisas e passei
a tentar deixar fluir... vai que, né?

— Mas que amiga ardilosa que eu tenho. Então em alguma das vezes
você e Luís não foram de propósito?

— Principalmente no dia das festas pra escolher os Djs. — Ela dá uma


gargalhada quando confessa.

— Inacreditável... vocês dois! — Balanço a cabeça, incrédulo, mas sem

conseguir tirar o sorriso da cara.

— Ah, vai... deu certo! Claro que se o ódio de vocês tivesse aumentado
eu teria parado com isso, mas estavam tão amigos que fomos deixando...

— Obrigado, Kiar. Foi a melhor coisa que já fizeram por mim.

Dou um abraço na minha melhor amiga de infância e me sinto


orgulhoso deles. De quem são, do casal que se tornaram e de como sou
grato por fazer parte da vida deles.

Recebo uma mensagem da Marla:

Está na hora!

Olho para Kiara.

— Tá na hora de casar vocês! — Sorrio de orelha a orelha.


— Ai, meu Deus!

Kiara respira fundo e depois dá o sorriso mais lindo que já vi no rosto


dela.

A noiva está pronta.

A música começa a tocar e isso anuncia o início da cerimônia, que será


realizada por um celebrante especializado em casamentos focado na história
do casal. Como os noivos não têm religião específica, achamos que faria
mais sentido assim. Pelos votos da Kiara... será o casamento mais lindo que

eu verei.

Os primeiros padrinhos a entrar serão a Estela e o Bruno, seguidos da


Isadora e o Roberto. Como Rodrigo vai levar Kiara ao altar, eu entrarei
sozinha, antes do noivo. Me sinto uma dama de honra, mas estou feliz por

isso, acho que faz todo o sentido do mundo ele levá-la, já que superei o
incidente da loja de vestidos. Para mim, é muito bonita a história de
amizade do trio.
Quando Estela e seu namorado pisam na passarela de luzes e flores, que
leva ao altar, começa a tocar “Yellow” do Coldplay na versão acústica, uma
versão ainda mais romântica para a ocasião. Estela está usando um vestido
longo dourado-claro com um lindo decote V profundo de um tecido

drapeado. Desta forma, a frente única do vestido fica amarrada ao pescoço e


a saia ampla com camadas arremata o estilo “sexy sem ser vulgar”. Já o
Bruno está lindo num smoking preto com a gravata dourada. Todos os
smokings dos padrinhos são parecidos, só muda a gravata. Quando

chegaram ao final, cada um vai para o lado apadrinhado.

Quando Isadora entra com o marido, a música muda para “Turning


Page” do Sleeping At Last, algumas pessoas já começam a se emocionar,
provavelmente pela música ser de um famoso filme de vampiros...

A minha amiga está usando um vestido tomara que caia de corpete


simples e elegante com saia reta e longa. Ela escolheu um tom de dourado
um pouco mais escuro por conta do corpete, mas a saia é da mesma cor dos
nossos vestidos. A gravata do Roberto também é dourada, combinando com

o vestido da esposa.

Então chega a minha hora de entrar. Fico nervosa com tanta gente
olhando para mim, mas tomo fôlego quando a música começa a tocar antes
que eu saia da casa. “Those Eyes” de New West é a minha deixa para
começar minha entrada. Caminho como ensaiamos uma vez antes do
casamento. Devagar, elegante, sorrindo e olhando esporadicamente para os
convidados para que não pareça um desfile. Eu amo essa música e isso me

ajuda a relaxar.

Logo depois começa a tocar “A Thousand Years” da Cristina Perri,


alguns momentos antes do noivo mais feliz que já vi na vida entrar na
passarela, todos os convidados o aguardam de pé. Luís de braço dado com

sua mãe, que parece muito orgulhosa do filho, entram sorrindo,


emocionados. Ele está um smoking cinza claro, elegante e minimalista com
um corte perfeito. Que eu sabia, foi comprado depois do vestido de noiva,
porque ele queria que a Kiara escolhesse o que mais combinaria com o seu
vestido, então separou 5 opções para a noiva. E vejo que a Kiara escolheu

muito bem.

Luís fica no seu lugar no altar, à frente do celebrante, que sorri, todos
estão ansiosos pela entrada da noiva. Kiara escolheu entrar com a marcha
nupcial tradicional, por isso, logo ela começa a tocar, anunciando a noiva:

Kiara entra de braço dado com Rodrigo, os dois sorriem e olham para a
frente. Sinto o olhar de Rodrigo em mim e aumento meu sorriso. Ele está
tão lindo que parece até um crime usar o smoking preto, justo que marcava
seu corpo musculoso com um corte perfeito, a gravata borboleta no mesmo

tom do meu vestido, que ele comprou pra fazer graça, mas acabou usando
quando queimou a outra de seda com o ferro... está perfeito, não vejo a hora
de tirar toda aquela roupa mais tarde.

Estamos no casamento que planejamos 5 meses atrás... quando pensei

que ficaria louca com tanta coisa pra fazer e achei que a Kiara tinha surtado
quando chamou Rodrigo para nos ajudar.

O casamento da minha amiga foi o início da nossa história e eu sempre


serei grata por isso. Agora, vendo o amor transbordar dos olhos de Kiara

quando olha para Luís, eu sei quão precioso é o que estávamos vivendo, o
quanto o amor preenche todas as lacunas obscuras da nossa alma. Ele não
tira as dores da vida, tampouco nos deixava “felizes para sempre”, mas, no
final, é o que faz a vida valer a pena. Amar e ser amado é uma necessidade

fundamental e é a maior prova de amor do universo ao ser humano. Quando


o egoísmo, a ganância e a ignorância são vencidos pelo amor que temos uns
pelos outros.

Ver a emoção nos olhos do Luís quando ele vê a noiva caminhando


para ele, a forma como sorriem e choram ao mesmo tempo... não é apenas a
sensibilidade aflorada que possuem, mas a certeza de que cada segundo que
viveram valeu a pena para chegarem até este momento. É lindo... profundo,
dá para sentir o amor deles no ar, as vezes tão íntimo que não sei se

devemos continuar os observando.


Kiara está linda com seu maravilhoso vestido todo trabalhado em renda
e com detalhes transparentes em tule. Os cabelos presos e um véu médio

atado ao penteado, junto com a maquiagem natural, mas que destaca o


iluminador em seu rosto, com um batom rosa-seco que traz um ar romântico
e elegante.

Os sapatos brancos, um scarpin meia pata, alto e vernizado dão um

charme a mais. Estava maravilhosa de tão linda e sua felicidade é o que


mais se destacava.

Rodrigo estende o braço da noiva a Luís, para que ela se junte a ele.
Ambos os noivos estão com lágrimas nos olhos, tentando se conter pois a

cerimônia só está começando.

— Estamos aqui reunidos para celebrar a união de Luís e Kiara em


matrimônio, um casal que sofreu muitas adversidades para estarem aqui
hoje, mas que provaram que o amor, quando verdadeiro, supera todas as

barreiras — o celebrante começa a falar.

Depois de falar um pouco sobre a simbologia da união e da aliança,


chega o momento dos votos do casal. Aqui os noivos quiseram fazer
diferente do tradicional: prometo amar e respeitar para sempre..., trocando-

as por suas próprias palavras.


— Sei que muita gente fala sobre a primeira vez que viram alguém que
sabiam que seria importante na vida delas, parece clichê. — Luís sorri para

os convidados e depois olha para a noiva. — Mas eu realmente senti algo


diferente quando te vi pela primeira vez. Você estava irritada porque não
encontrava seu amigo, que estava comigo, me mostrando o colégio.
Começou a falar sem parar e nem viu que eu estava ali, mas você era a

única que eu conseguia ver, senti um calafrio no corpo, uma sensação de


que algo importante acontecia e eu não sabia o que era. — Ele segura o
microfone com força na mão direita e segura a mão de Kiara com a outra.
— Mas sabia que os seus olhos eram os mais bonitos que eu já tinha visto e,

mesmo sem entender, sabia que queria olhar para eles para o resto da minha
vida. Sempre achei que éramos perfeitamente errados um para o outro por
conta do que se passava na época em que a conheci, achava que Deus me
odiava por me mostrar uma pessoa tão perfeita se eu não poderia ficar com

ela... Nossa história começou ali, naquele colégio, mas se arrastou por todos
os 9 anos que ficamos separados. Jamais vou conseguir reparar esse tempo
que perdemos, mas aqui, diante de você e de todas as pessoas que nos
amam, digo que todos os meus anos daqui pra frente são seus, você é a
pessoa que mais amo no mundo e é assim há muito tempo — a voz do Luís

começa a embargar.
— Você é a minha vida inteira, Kiara. Seu coração faz o meu continuar

batendo, é o oxigênio da minha vida e o que faz ela valer a pena. Eu, Luís
Prado, aceito você, Kiara Liana Pontes, como minha legítima esposa e
prometo ser seu e te amar por toda a eternidade.

Lágrimas descem pelos rostos Luís e Kiara, assim como das mães deles

e de alguns convidados como a Isadora. Eu me mantenho firme. Kiara pega


o microfone de Luís e ele enxuga as lágrimas da noiva enquanto ela respira
fundo antes de começar a dizer os seus votos.

— Quando conheci você, soube que era um garoto misterioso, vivia se

mudando e não queria falar do passado. Com o tempo, nossa amizade foi se
transformando pela maneira que nos olhávamos, pela forma como seus
olhos transmitiam uma dor que eu me familiarizava, mesmo que não
soubesse o que aquilo significava. — Kiara olha apenas para Luís. Com as
duas mãos no microfone, concentrada no que tem a dizer: — Então você me

contou do seu pai e eu fiquei pensando qual era a sensação de perder um pai
que eu amasse, porque é diferente quando você nunca teve algo de quando
você tem e o perde. Quando vi seu sofrimento naquela tarde quente que
nublou os seus olhos, entendi que nunca mais queria vê-los daquele jeito,

queria arrancar aquela dor dali com minhas mãos, e ganhar aquele seu
sorriso que iluminava todos os meus dias. — Ela sorri, emocionada. —
Senti que seu coração era como o meu, estávamos conectados e depois foi
como se eu te conhecesse há anos, porque era tão natural e tão certo que eu

só queria tê-lo para sempre. — Kiara fecha os olhos e respira fundo antes de
continuar.

— Quando você foi embora eu perdi um pedaço de mim, não sabia


mais como ser aquela menina atrevida e vivaz que era, eu só... não entendia

como pôde acabar daquele jeito. Você voltou quando eu já havia desistido
de esperar por você, ainda que, no fundo, eu quisesse te ver novamente.

Mas você não desistiu da gente, lutou pelo nosso amor quando eu não
acreditava mais nele... fiquei com medo de perder tudo de novo. Até que eu

entendi que você nunca mais iria embora, que eu finalmente tinha chegado
no lugar que sempre quis estar... junto com você. Te amei desde o primeiro

sorriso confidente que trocamos, desde a primeira vez que andamos de

mãos dadas quando éramos adolescentes... Você é a luz da minha vida, meu
amor, sempre ilumina meu caminho de volta para casa, é meu abrigo e o

meu lar, a melhor coisa da minha vida. Tudo com você é melhor e eu nunca

fui tão feliz em toda a minha vida. Eu, Kiara Liana Pontes, aceito você,
Luís Prado, como meu legítimo esposo. Prometo ser sua e te amar até o fim

do universo, por toda a eternidade.

Nessa hora eles trocam as alianças e até eu derramo algumas lágrimas...

fazer o quê?! Não consigo conter a emoção vendo  esses dois finalmente
tendo o casamento que tanto merecem. Estou tão feliz por eles que não
consigo parar de sorrir e todas nós, madrinhas, demos as mãos umas às

outras de alegria por Kiara, por vivenciar esse momento tão bonito.

— Eu os declaro marido e mulher. Pode Beijar a Noiva! — O

celebrante limpa uma lágrima do olho esquerdo e sorri após soltar a frase.

Luís põe a mão no rosto de Kiara, os dois estão sorrindo, emocionados,


com os olhos marejados... então ele a beija profundamente e os gritos dos

convidados ficam ainda mais altos quando Luís agarra a cintura da noiva e

abaixa seu corpo com o dela num beijo clássico de casamento.

Nessa hora o pôr do sol já está acabando e a noite começando. Tudo


perfeitamente foi planejado para acendermos as luzes da festa e iluminar

tudo com as lâmpadas no varal que fizemos de teto, nas árvores do local e

em partes da decoração. E, claro, na hora que os noivos forem passar ao


voltarem do altar.

Luís pega o microfone do celebrante para passar as instruções aos

convidados:

— Muito obrigado por virem celebrar o melhor dia das nossas vidas

com a gente. — Luís olha para a esposa e sorri. — Agora vamos pedir que
peguem a vela que os garçons estão estregando a vocês e nos esperem lá na

frente, depois das fileiras de cadeiras pra fazermos uma coisa.


Esperamos os garçons entregarem as velas a todos, para pegarmos por
último. Eram daquelas velas Sparkles de estrelinha com faísca, mas essas

têm cabos maiores para não queimar ninguém. Então Kiara pega o

microfone e fica na frente do corredor de pessoas que se forma ali, com as


velas sem acender. Nós padrinhos e as mães dos noivos ficamos por perto e

aumentamos a pequena multidão de pessoas. Eu e Rodrigo sorrimos um

para o outro já sabendo o que vem a seguir, todos os fotógrafos aguardam


por perto e eu seguro meu celular para não perder nada.

— Quero pedir a vocês que pensem em coisas boas, que iluminem a

mente de vocês com pensamentos positivos e que desejem algo bom para

nós, os noivos. — Kiara sorri e olha para o marido. — E, claro, que


desejem algo de maravilhoso para a vida de vocês também... então acendam

a vela depois de mentalizar essa coisa boa. Vamos lá?

A música “The Night We Met” do Lord Huron começou a tocar,

trazendo a energia do momento. Todo mundo sorri, animado. Os garçons


passam pelos convidados e ajudavam todos a acenderem suas velas.

Quando todas se acendem, o casal vai andando no meio do corredor


iluminado, recebendo todos os desejos bons e pensamentos positivos para

eles.
É tão lindo que chego a me emocionar novamente. As luzes acesas, o

casal sorrindo de mãos dadas um para o outro, passando devagarzinho por

nós... todo mundo gritando “uhul” enquanto eles passam, uma alegria
contagiante, a música só intensificava tudo e eu só consigo sorrir vendo

tanta beleza e sentindo a grandiosidade do momento.

Desejo que Kiara possa ser feliz, não importa as adversidades que

passem que o amor deles possa continuar sempre crescendo e que


continuem parceiros para a vida. É isso o que eu quero para o Rodrigo e eu

também.

Ele olha para mim com os olhos marejados e sorrindo. Rodrigo, que já

havia chorado em vários momentos da cerimônia, não consegue parar de se


emocionar vendo os melhores amigos se casando. Não sei o que ele

desejou, mas sei que são coisas maravilhosas. Ele me beija quando sorrio de
volta para ele, com a minha vela acesa. Estou tão feliz e impactada pelo

momento que tudo parece um sonho.

No final do corredor, os noivos se beijaram, posaram para fotos e

seguram sua própria vela ao fecharem os olhos para acendê-la logo após.

Apenas uma, a qual assopram juntos e se beijam mais uma vez,


emocionados.
A festa começa depois da cerimônia. O Dj coloca a setlist com as

músicas pop remixadas e logo o jantar é servido. A maioria das pessoas está

comendo e bebendo em suas mesas. Outras conversam animadamente perto


do bar com seus drinks e algumas ainda dançam. Tudo está ocorrendo com

perfeição e o casamento é um sucesso.

Na mesa dos padrinhos e dos noivos ninguém cala a boca.

Nos pratos de cada um há uma lembrancinha do casamento (antes de o

enchermos de comida): uma pequena vela aromática de baunilha com os


nomes dos noivos no rótulo de papel, a vela vem dentro de uma caixinha

quadrada de plástico e tem um cordão de cortiça do lado de fora,

adornando-o com um laço. Dentro da mesma caixa, há uma mini garrafinha


de vidro com uma tampa de rolha e, dentro dela, uma mini tirinha com 3

fotos polaroides do casal. No vidro da garrafinha, na parte de trás tem a

frase escrita em tinta dourada: Luís e Kiara 2023. E na etiqueta de papel


pardo reciclável, preso ao laço, está escrito: “obrigada!”. A Kiara e a

Isadora que montaram os kits, eu apenas dei a ideia da vela aromática. A


foto deve ter sido ideia da Isadora que tem esse hobbie com fotografia.
Guardarei o meu vidrinho com muito carinho.

— Tá tudo tão lindo, amiga! Tô apaixonada em tudo que fizeram aqui...


— Isadora olha, admirada, pra decoração do lugar.

— Mas é claro, Isa... fomos nós que ajudamos os noivos com tudo, só

poderia ficar assim. — Rodrigo sorri, fazendo graça e pisca o olho para

mim antes de enfiar um pedaço de carne na boca com o garfo.

A mão dele está descansando na minha perna enquanto ele mastiga o


pedaço de filé.

Isadora dá risada e revira os olhos

— Lá vem ele com isso... — Estela cruza os braços.

— Obrigada, amiga. Eu não teria conseguido sem vocês. — Kiara olha

pra gente. — Mas não precisa se gabar viu, engraçadinho...

Luís apenas sorri, encarando sua mulher, que já tirou o véu, mas se
recusa a vestir algo mais prático. “Vou usar isso até o fim dessa festa, pelo

valor que paguei, deveria usá-lo por um mês inteiro!”, palavras dela.

A mesa de doces aguarda o momento pelo qual a noiva partirá o bolo.

Kiara e eu escolhemos cada detalhe dela: o bolo branco clássico em 3


camadas que ficam menores de baixo para cima, exatamente como uma

torre e que tem os adoráveis noivinhos de biscuit em cima.


Todos os docinhos da festa são formato de flores e corações... Tudo

lindo demais. A decoração de luzes também está na mesa, que é de madeira


rústica e tem belas rosas brancas compondo o restante do arranjo. Há

também algumas flores do campo decorando a parede e o mural atrás da

mesa para fotos.

— Isso é pedir demais não acha, Kiar? Parece que não conhece o seu
amigo...

— Que tá querendo dizer com isso, minha Docinho?

— Que você não consegue passar 10 minutos sem se fazer um elogio.


— Levanto a sobrancelha, implicando com ele.

— Eu amo que, mesmo depois de tudo, vocês continuam se alfinetando.

— Estela da risada.

— Ele é o meu tormentinho, se não fosse assim o apelido perderia o

sentido...

Todo mundo na mesa cai na gargalhada com o apelido no diminutivo.

Rodrigo me olha, franzindo os lábios como quem diz “não tem graça”.

— Vou mudar o seu contato no meu telefone agora pra “tormentinho”,


cara.

— Sai fora, Luluz. Não vem com essa não.


— Eu já mudei. — Estela dá um sorrisão com o celular na mão.

— Poxa, amor... Tá vendo como você é má comigo...

— Eu te compenso depois, meu tormentinho. — Faço um biquinho pra

ele.

Enquanto ouvimos as risadas, Rodrigo se aproxima de mim e fala no


meu ouvido:

— Pois a senhorita merece ser punida, tá sendo uma garota muito

malvada...

— Ah, é? E será que vou gostar dessa punição? — Sinto minha se pele

arrepiar com a voz grossa falando ao meu ouvido com tanta safadeza.

— É uma surpresa, minha linda.

Ele mordisca a minha orelha antes de se afastar, me deixando com o

coração acelerado. Tenho vontade de arrastá-lo para algum lugar privado e


matar a vontade de um beijo bem dado que só ele consegue me dar.

As mães de Luís e de Kiara conversam animadamente ao fim da mesa,


que é retangular, elas ficaram amigas e Kiara parece feliz ao observá-las.

Nem mesmo ouviram nossa conversa de tão entretidas que estão no próprio
assunto.

Cris se aproxima de Kiara e avisa que está na hora de jogar o buquê.


— Vamos lá, meninas! Menos a senhorita que já está muito bem

casada! — Kiara diz, olhando para Isadora.

— Mesmo assim, vou lá para ver quem vai pegar, Kiar.

— Vamos então, amiga!

Kiara Joga o braço por cima do ombro dela. Estela e eu vamos atrás do

mesmo jeito. A noiva segura o microfone, já no meio do salão, e os

convidados começam a prestar atenção:

— Primeiro, eu quero agradecer a presença de todos vocês aqui hoje.


Muito obrigada por virem celebrar o nosso casamento, pelos presentes e por

tudo. — Ela sorri. — Chegou a hora de um momento muito aguardado

nessa noite.... Quem está pronta pra pegar o buquê?

As pessoas dão um grito de comemoração e as mulheres, e até alguns


homens, começam a se encaminhar para perto da noiva para ter a chance de

pegar o buquê de rosas brancas que a Kiara está segurando. Ela fica de

costas no degrau da pista de dança e começa a contagem.

Fico na lateral da pequena multidão que se forma com Estela do meu


lado, estou ali apenas para participar, não almejo pegar nada de fato. Kiara

levanta e abaixa o braço 3 vezes junto com a contagem e então solta o

buquê no 3. Vejo o buquê voando para perto de mim e, instintivamente,


levanto os braços e pulo pra conseguir pegar antes que a pessoa ao meu
lado. Ouço os gritos de todo mundo e Kiara se vira, sorrindo e ficando de
boca aberta quando vê as flores na minha mão.

— Aaah, você pegou! — a noiva exclama.

— Acabou de começar a namorar e já vai direto pro casamento. —


Estela sorri.

— Vai demorar bastante pra chegar nessa parte, amiga.

As pessoas batem palmas quando levanto o buquê e comemoro. Depois


a Kiara vem me dar um abraço. O fotógrafo aparece para tirar uma foto de

todo mundo e depois tira uma da noiva junto comigo segurando o buquê.

Depois tira uma foto do squad reunido e se abraçando. As minhas

amigas são minhas irmãs, e eu espero que sejamos sempre assim. Pertencer
a este grupo de mulheres me deixa muito feliz e grata. Isadora começa a

dizer o quanto está feliz pela Kiara e o quanto a ama, assim todas nós
dizemos como nos sentimos. Afinal, somos irmãs de alma e nos amamos

muito.

Algumas horas se passam e o bolo logo é cortado e posso comer os

docinhos que ansiava de vontade. Tomo vários drinks com Rodrigo e,


quando todo mundo vai pra pista de dança, eu e ele dançamos na rodinha

com os nossos amigos, tiramos diversas fotos e arranco vários beijos do

meu namorado.
Tem um momento que Luís chama Rodrigo para uma foto do trio:

Kiara fica no meio, ela colocou os braços nos ombros dos dois e sorri para a

câmera. Luís olha para Kiara e sorri enquanto Rodrigo fita a câmera com
seu sorriso zombeteiro. Depois do clique, Kiara olha para o lado e me

chama para participar da foto; então fico ao lado de Rodrigo, na ponta, e


tiramos mais uma. Depois os meninos se abaixam na nossa frente e tiramos

foto de biquinho, abraçadas, enquanto eles fazem “paz e amor” com os

dedos, um ao lado do outro. Completamos a sessão ao pularmos nas costas


deles para que nos carreguem de cavalinho, cada uma abraçando o pescoço

do próprio parceiro.

— Agora somos um quarteto — Kiara diz, abraçando o pescoço do

marido, que tem dificuldade de segurar tanto tecido que vem do vestido.

— Viva o quarteto! — Rodrigo levanta a mão para que todos possam


fazer um grito de guerra.

Cada um coloca a mão e gritamos juntos:

— Viva o quarteto!

Quando anunciam a dança dos noivos, Kiara e Luís dançam “Certain


Things” do James Arthur num ritmo lento e romântico, olhando um no olho

do outro, tão entretidos em si mesmos que nem veem quando os outros

casais se juntam a eles na pista, como eu e Rodrigo.


Coloco meus braços ao redor do pescoço dele, que descansa as mãos na
minha cintura, me puxando para perto. Imediatamente sinto a pele e o

perfume dele me hipnotizando. Rodrigo está tão lindo que mal posso

segurar um suspiro ao encará-lo de tão perto. Ele sorri para mim antes de
me beijar. Um beijo calmo, terno e profundo. Depois me olha como se eu

fosse a coisa mais especial que já viu e acaricia o meu rosto com as costas

da mão.

— Você está tão linda nesse vestido, amor.

— É? Trabalho sempre pela satisfação do cliente.

— É mesmo, docinho? E será que posso fazer um upgrade nesse pacote

de serviços?

— Isso vai depender do quanto pode pagar...

— Que tal uma semana de filmes de terror psicológico em troca de ir

naquele jogo comigo?

— Que golpe baixo, amor. Devia assistir os filmes comigo sem


reclamar!

— Eu vejo, mas gostar é outra coisa... Além do mais, o que custa ir no

estádio com seu namorado?

— Eu não gosto de futebol, amor, é muito chato.


— Você pode ficar olhando para mim ao invés do jogo...

— Posso olhar pra você pelado na minha cama, por que ia querer olhar
vestido, num lugar lotado de homem xingando um juiz?

— É... você tem um ponto.

— Por que quer tanto que eu vá, amor?

— O seu pai me pediu, minha linda. Como ele gosta de futebol, achei
que seria algo legal para nós fazermos.

Simplesmente não consigo parar de sorrir para Rodrigo... Ele é o cara

mais especial do mundo. Querendo me aproximar do meu pai, pensando em

agradar a nós dois. É a coisa mais linda... e eu começo a dar vários selinhos
nele, com as mãos no seu rosto, porque não posso me conter. Rodrigo sorri

quando nossas bocas estão a centímetros de distância uma da outra

— Isso foi pelo quê, amor?

— Por você ser o melhor namorado do mundo.

Rodrigo me abraça e esconde sua cabeça em meu pescoço, cheirando

meus cabelos.

— O melhor namorado para a melhor namorada — diz contra o meu

pescoço.
Depois se afasta e enfia a mão no blazer do smoking, retirando de lá

uma caixinha branca de couro.

— Tenho uma coisa pra você, amor

— Se for um anel de noivado juro que te m...

— Calma, amor. — Rodrigo dá risada. — Mesmo pegando aquele

buquê, sei que não é o momento. Ainda.

Ele me estende a caixinha para que eu mesma abra. Quando faço isso,
vejo um colar de ouro branco. É uma gargantilha fininha com um pequeno

pingente de coração grosso, escrito “Docinho” vazado no metal. É a coisa

mais fofa e ridícula do mundo porque ele quis estampar o apelido idiota,
que agora eu adoro.

— Não acredito que fez isso!

— Gostou, Docinho?

— Eu amei, meu amor.

Abraço Rodrigo e o beijo, agradecendo. Começamos a dançar, olhando


um para o outro intensamente. Somos o tipo de casal que não precisa

professar nossos sentimentos o tempo todo. Eu o amo com tudo o que eu

faço: com meus beijos, com nossas conversas diárias, com meus olhares,
meus toques e meus abraços, com a dedicação que tenho ao nosso
relacionamento e sinto o mesmo dele. Esse colar, para nós, significa uma
nova fase, uma maneira diferente de ver as coisas.

Quando o conheci pensei o pior dele e achei que nunca conseguiríamos

ser civilizados um com o outro, mas ele tinha tanta coisa para mostrar, tanta

coisa que fingi não ver por muito tempo, porque era orgulhosa, porque é
difícil admitir que não sabemos de tudo, que nem sempre aquilo que

achamos que é o melhor, realmente é.

O Rodrigo me mostrou que a desconfiança é maior em mim do que nos

outros, pois eu não me permitia experimentar e errar. Enfrentamos nossos


medos juntos e ele agora é o meu mundo. Ele dá vida aos meus dias, me faz

sentir a mulher mais maravilhosa da face da terra, e eu quero fazer o mesmo


por ele. Mesmo que seja impossível acabar com nossas implicâncias...

— Eu amo você, Mar.

— Amo você, meu rumo.

Continuamos dançando como se fôssemos as únicas pessoas do lugar.


Nos abraçando, nos beijando, nos implicando e rindo de tudo. E quero que

sejamos assim por todo o tempo que existirmos.

FIM.
 
Chegamos a melhor parte dos livros para os autores: os

agradecimentos. Que grande jornada foi escrever a duologia “Você”.

Quando escrevi De Volta Para Você não esperava que se tornaria uma
duologia, era para ser um livro único, mesmo tendo o passado do Rodrigo

com a Kiara muito claro na minha mente desde sempre, não conseguia
imaginar exatamente como seria a história dele com a Marla.

Tentei escrever outras histórias desde 2021 quando DVPV foi lançado,
mas nada fluía, nada conseguia me deixar tão focada a ponto de finalizar

um novo livro. Até eu entender que precisava voltar para este universo e

contar a história daqueles que precisavam existir.


Essa duologia é muito especial porque tem muito de mim, tem muito

das experiencias que vivi e do quanto pude me ver nos personagens. O

colégio onde o trio se conheceu, “Lyceu” de Goiânia é o mesmo colégio

onde estudei no ensino médio. As descrições do lugar e acontecimentos tem

muito da minha memória no local. Marla é o nome da minha professora de


português e literatura que tive lá, a melhor professora de português que já

tive. Obviamente, sempre foi a minha matéria favorita e não pude deixar de

me lembrar dela quando usei a escola de inspiração para fazer meus

personagens se conhecerem.

Então obrigada, professora, por ter me ensinado a fazer a melhor

redação possível, ter me incentivado ao elogiar a minha escrita e ter

mostrado os melhores poemas brasileiros nas aulas. Nem sempre


demonstramos nossa admiração às pessoas que nos inspiram seja por

vergonha ou falta de intimidade, mas saibam que, em algum lugar, tem

alguém que se inspira em você, assim como minha professora me inspirou.

Quero agradecer a minha família e aos meus amigos, que precisaram ter

muita paciência enquanto eu passava dias com crises existenciais e de

autoestima enquanto escrevia esse livro, sempre pensando em desistir, mas

continuando porque me apoiavam muito.


Agradeço a Vivian, que sempre se empolga com meus personagens,

sempre apoia meus livros e é a minha parceira literária. Obrigada, amiga.

Sobretudo, preciso agradecer ao meu namorado, que é a minha maior

inspiração a respeito de mocinhos literários maravilhosos... sempre pedi um

a Deus e ele chegou. O meu lar, meu milagre. Meu melhor amigo e

companheiro, meu fã número 1, que faz questão de ler tudo o que eu


escrevo e se anima mais que eu por minhas histórias.

Você é incrível. Obrigada por tudo, meu amor, amo você.

E, finalmente, agradeço a você, minha amada leitora, que chegou até

aqui. Agradeço pelo tempo investido nessa história e torço para que tenha

sido maravilhoso e apaixonante como desejei que fosse para quem o lesse.

Tudo que é feito aqui sempre é pensando em vocês, nas experiências de

leitura que vão ter, no tempo investido nos meus livros e na maneira

positiva que minhas histórias podem impactá-los.

Muito Obrigada!

Se você gostou do livro, ajude essa autora deixando sua avaliação da

obra na Amazon, contando um pouco da sua experiência de leitura. Isso me

ajuda imensamente e facilita para que outros leitores que se identifiquem

com a sua experiência, se decidirem por ler.


Mariana Carolina é goiana e formada em Moda, mas seu sonho sempre

foi trabalhar criando histórias. Passa seus dias trabalhando e escrevendo,

fala de seus livros e sobre o mundo literário no @maricarolinabooks. É


apaixonada por livros de romance e fantasia, além de ser viciada em séries

de TV de todos os tipos.
 
 
 
 
 
 
 
 

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