Você está na página 1de 38

PSICOSE E PERVERSÃO

Mediador: João Pedro Roriz


Mediador
• Psicanalista clínico
• Graduado em Comunicação
Social.
• Licenciado em História e
Filosofia.
• Pós Graduado em Docência
e Psicopedagogia.
• Mestrando em Psicologia.

Contato: (21) 998885570.


jproriz@gmail.com
ESTRUTURAS CLÍNICAS
• “Estrutura” é um significante utilizado por Freud em diversos
livros que permite a Lacan elaborar teorias sobre “os sinais
indicativos estruturais das patologias humanas” (Chaves,
2018)
• A psiquiatria francesa, a partir de Lacan e sua influência,
entenderá que há certos registros linguísticos que se
manifestam de forma corrente, em uma natureza rígida e
nuclear no sujeito, que causa características permanentes,
estruturais.
• Essas características estruturadas são chamadas de
“Estruturas clínicas”em Psicanálise e apontam três formas de
constituição básica inerentes ao comportamento humano:
Neurótico, Psicótico e Perverso.
ESTRUTURAS CLÍNICAS
• O homem é um animal social (ARISTÓTELES) capaz de
constituir uma forma de expressão que determina sua
realidade. Nesse sentido, realidade é “uma qualidade
pertencente a fenômenos que reconhecemos” (BERGER e
LUCKMANN, 1976). Logo, não poderia ser um elemento
construído mentalmente?
• Calligaris (1989) diz que toda estrutura clínica apresenta uma
necessidade de defesa frente ao real, porquanto o homem se
estrutura em algo que não é somente corpo, mas algo
especial e capaz de interagir com o ambiente próprio e
pessoal.
• Para LACAN, a estrutura será denominada a partir do modo
como o sujeito lidou com a CASTRAÇÃO
ESTRUTURAS CLÍNICAS
• Primeira grande análise.
• A análise da estrutura oportuniza o pacto analítico.
• Orienta didaticamente o terapeuta e permite avaliação sobre
o sujeito e sobre como ele se relaciona com o meio.
• É possível analisar a estrutura clínica do sujeito a partir da
forma como ele “fala sobre o que faz”, e sobre como ele “faz
sobre o que fala”.
• Determinante para a compreensão sobre o ego do sujeito e os
grandes objetivos e mecanismos de defesa que possui.

Fonte: Zimmerman (2007)


ESTRUTURAS CLÍNICAS
• “Estrutura” significa estabilidade, algo fixo, seguro,
duradouro.
• “Psíquica” nos faz pensar em: alma, psiquismo, o não
biológico.
• O inconsciente é estruturado como linguagem e tem dois
pilares: Freud, o descobridor-criador-fundador, e Lacan, seu
seguidor-defensor-progressor. (Chaves, 2018).

Em “Primeiras publicações psicanalíticas”, Freud (1896 p.


154) fala em “estruturas” pela primeira vez, quando diz
que a neurose possui estrutura rígida e profunda que
precisa ser penetrada pela investigação do analista.
O INCONSCIENTE ESTRUTURADO COMO
LINGUAGEM
FREUD – Baseava a Psicanálise Leva em consideração o
no campo biológico. DISCURSO.

LACAN – Baseava a Psicanálise A fala está associada à função


no campo linguístico. síntese do SUJEITO.

Promove o retorno a FREUD A revelação do inconsciente se


com adaptações da teoria dá através da forma como o
psicanalítica e oportuna sujeito estrutura sua cadeia de
reconfiguração da teoria para significantes, isto é, como
os novos tempos. associa suas ideias e
“verdades”.
O INCONSCIENTE ESTRUTURADO COMO
LINGUAGEM

O EU como fruto do desejo do Tudo que somos é um outro


OUTRO. alienado dentro de nós.

A primeira cadeia de O outro fala através do sujeito


significantes do sujeito é na primeira infância.
INTROJETADA.
A separação (Castração para
O sujeito é portanto uma Freud) é chamado de EM
extensão do desejo de outra NOME DO PAI por Lacan.
pessoa. Causa o atravessamento da
linguagem.
O INCONSCIENTE ESTRUTURADO COMO
LINGUAGEM
Na SEPARAÇÃO do bebê da Trata-se de uma forma de defesa
mãe, algo se perde e o sujeito em relação ao mundo. Estatuto
não sabe dizer o que é. simbólico e significação. Algo
“outro” e não o corpo real.
O bebê tenta articular uma ideia (Caligaris, 1989)
(uma hipotese inicial) sobre o
que é esta falta. Permite, dentro da clínica
psicanalítica uma análise que
A forma como o sujeito reage a se chama “Diagnóstico
essa falta gera um discurso Estrutural na Psicanálise”.
interno.

Forma-se uma estrutura, que gera


uma forma de comportamento
cristalizado.
DIGANÓSTICO ESTRUTURAL NA PSICANÁLISE

PERCURSO NO TRATAMENTO ESTRUTURA


O que é fixo, seguro.
- Fala desembaraçada.
- Associação de ideias.
- Furos no imaginário. PSÍQUICO
- Erupção de sentimentos.
Ligado à mente.
- Desvestir as fantasias.
- Tirar a máscara do “eu”.
- Defrontar-se (com o vazio) PSICANÁLISE
- Decobrir-se SUJEITO em sua Inconsciente estruturado
própria estrutura.
como linguagem.
FORMAÇÃO DA ESTRUTURA
Atravessamento da linguagem Na clínica, o analista ocupa o
gera, para Lacan, a lugar do Objeto A.
inauguração do inconsciente.
O analista pode, a partir da
Após a CASTRAÇÃO, há livre associação ter uma
busca incessante pelo objeto ideia sobre a cadeia de
perdido (OBJETO “A”). significantes do sujeito e a
formação de sintomas. Fora
A suposição sobre o objeto A se isso, é capaz de entender a
torna AMARRADOR estrutura em que se ancorou
CONCEITUAL (S1) da para formar suas
cadeia de significantes (S2) simbologias.

Estruturas: Psicose, neurose ou


perversão.
FORMAÇÃO DA ESTRUTURA
NEUROSE PERVERSO
Dívida simbólica com o Negação da castração.
pai. Erra e se sente Reusa à lei construída.
culpado. Busca Nega O NOME DO PAI e
ressignificar a castração. goza na usurpação desse
lugar paterno e de sua lei.
PSICOSE
Como não há OU SEJA, a estrutura clínica
entendimento de erro, está diretamente ligada a
não há culpa. Não há forma como o sujeito
dívida. Há estado errante reage à castração (ou O
e defesa face à angústia. NOME DO PAI) na infância
após experiência edípica.
FREUD
Utiliza o mito de Édipo para explicar o desejo primitivo pela mãe e a
castração simbólica promovida pelo pai. A partir dessa teoria, cria a ideia de
que há pulsões inconscientes geradas pelo recalque.
A partir de Freud, LACAN constrói a teoria dos registros REAL,
SIMBÓLICO E IMAGINÁRIO.
OS REGISTROS EM LACAN
SIMBÓLICO REAL
Toda fala sobre si ou sobre Existe fora da cadeia de
o mundo. significantes do sujeito.
É impossível de ser dito
IMAGINÁRIO pelo sujeito, pois não
foi inventado por ele
Toda construção de em nenhum momento.
fantasias produzida Não deixa de existir,
através do discurso mas não pode ser
simbólico. conclamado sem
desconstrução.
FORMAS DE REAÇÃO
VERSÃO DO PAI X TIPOS DE PSICÓTICO
(PSICOSE) (ONDE ESTÁ A FANTASIA)

Ausência do nome do pai. Esquizofrênico – Alucinação.


Não inscrição do falo Paranóico – Perseguição.
simbólico. Esquizotípico – Sou divino.
Angústia de fragmentação do
eu.
Recorrente sublimação.
Construção de metáfora
delirante.
FORMAS DE REAÇÃO
VERSÃO DO PAI Y TIPOS DE PERVERSÃO
(PERVERSÃO) (ONDE OPERA O PODER)

Recusa a negação. Antissocial – sou a lei.


Permanente desafio à lei. Narcisista – faço eco.
Gozo no renegar. Histriônico – bebo do poder.
Desejo de reafirmar-se no
poder.
Quer saciar o desejo de
plena satisfação.
FORMAS DE REAÇÃO
VERSÃO DO PAI Z TIPOS DE NEUROSE
(NEUROSE) (ONDE ATUA A LIBIDO)

Recalque e deslocamento. Histérico – no corpo.


Transformação do afeto em Obsessivo – fazer e refazer.
sintomas. Fóbico – na representação.
Sofrimento através do Hipocondríaco –
pensamento. Persistência e dúvidas.
Produção de diferentes Neurastênico – Na
mecanismos de defesa agressividade.
NEURÓTICO

Gozo – no outro.
Protege – o ego.
Principal mecanismo de defesa – recalque.
Castração: aceitação e ressignificação por toda a vida.

Neurótico e uma palavra que vem de neurônio, pois


sofre pelo pensamento. O ego no controle das
ansiedades. Todo neurótico tem uma parte psicótica e
uma parte perversa em sua personalidade.
PSICÓTICO

Gozo – no próprio corpo.


Protege-se – da realidade.
Principal mecanismo de defesa – Forclusão.
Castração: não há. Permissividade. Errante.

O psicótico possui uma barreira de recalque falha, onde


há mistura (fusão) de material inconsciente com o
material consciente. Todo psicótico possui uma parte
neurótica e uma parte perversa.
PERVERSO

Gozo – no falo
Protege-se – dos outros.
Principal mecanismo de defesa – Denegação.
Castração: revolta. Não aceitação.

O perverso (pére version) busca uma outra versão sobre


o pai. Santifica a mãe e deseja criar nova Lei. “Cria
monumentos à falta” (Izcovich, 2019). Onde houver
falta, lá estará com seu falo. Todo perverso tem sua
parte neurótica e sua parte psicótica.
LUGAR QUE O ANALISTA OCUPA
• NEURÓTICO: Grande Outro.
• PSICÓTICO: O ego.
• PERVERSO: A saciedade.

Fonte: Izcovich, 2019


ESTRUTURAS CLÌNICAS
• Todos possuem traços de outras estruturas clínicas
segundo BION.
• Cada estrutura clínica tem suas características evidentes
(traços da personalidade), divididas em grupos e
subgrupos baseados em caracteres.
Neuróticos: hipocondríaco, obsessivo-compulsivo, histérico
(convergente, fálico-narcisista e angustiado) e fóbico.
Psicótico: Esquizoide, paranóide, esquizotípico.
Perverso: Antissocial (psicopata), sociopata, narcisista e
histriônico.

Fonte: Zimmerman, 2007


TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE
TRANSTORNOS DE
PERSONALIDADE
Quando há ENGESSAMENTO dos caracteres que formam as
ESTRUTURAS CLÍNICAS, pode haver um condicionamento do
comportamento que chamamos de TRANSTORNO.

TRANSTORNO: gera transtorno para si e/ou para os outros. Os


transtornos de característica neurótica (Dependente, esquivo e
TOC) tendem a fazer mal apenas ao próprio sujeito. Os de
característica psicótica (esquizo, paranóide, esquizotípica) e os de
característica perversa (antissocial, histriônico e narcisita) tem
capacidade de transtornar a vida do Outro.
Há também os casos-limite, como o ADICTO (entre as fronteiras do
perverso e do neurótico) e o Borderline (entre as fronteiras das três
clínicas).
Fonte: Zimmerman, 2007
CASOS-LIMITES
CONCEITO DE “CASO-LIMITE”
• É um conceito em “ebulição” na academia.
• Há classificações sob diferentes óticas
nosológicas (as mais comumente citadas em
artigos é a CID 10, da OMS 1992 e DSM IV, da
American Psychiatric Association, 2000).
• Para Herman Melville (1891) “quem pode traçar
em um arco-íris uma linha que marca o fim do
violeta e o começo do tom de laranja?”.
• Para Dumans (2011 p. 36), “a distinção entre o
normativo e o patológico geralmente é difícil ou
mesmo impossível de ser estabelecido”.
CONCEITO DE “CASO-LIMITE”
• É preciso, pois, considerar aspectos INDIVIDUAIS,
RELACIONAIS, SOCIAIS, CULTURAIS e dificuldades
biológicas de caráter PSICOPATOLÓGICO
(tamanho da amigdala).
• Doenças psiquiátricas não são laboratoriais, com
foco e fim definidos e critérios claros.
• Precisa de condições físicas e ambientais
consideradas ideais.

Fonte: Dumans, 2011


CONCEITO DE “CASO-LIMITE”
• Os chamados “caso-limite” desafia a clínica
psicanalítica pois a mesma é derivada em uma análise
do simbólico, conquanto, o limítrofe denuncia
simbolismos que não são representações reais de sua
própria angústia.
• A clínica psicanalítica para limítrofes não pode temer o
corpo e aspectos elementares da natureza primitiva.
• A psicanálise centrada na neurose está em crise. É
preciso recolocar a abordagem do corpo no centro das
explorações psicanalíticas.
Fonte: Cicco, 2020
CONCEITO DE “CASO-LIMITE”
• Desde Ferenzzi, a Psicanálise vem buscar manejos
mais complexos que a interpretação do
recalcado. O borderline hoje é o Histérico dos
tempos freudianos.
• É preciso elasticidade da técnica (e por isso
mesmo, conhecimento da mesma).
• É preciso lidar com complicações da função
analítica e confusão das relações tradicionais
observadas no par analítico.

Fonte: Cicco, 2020


CARACTERÍSTICAS DOS
LIMÍTROFES
• Turbulência
• Impacto emocional
• Inoperância das interpretações
• Compulsão (ação representante)
• Exacerbação da sensorialidade em detrimento do
domínio representacional
• Frequente descargas motoras e no corpo
• Reflexões apenas “a posteriori”.
Fonte: Cicco, 2020
CARACTERÍSTICAS DOS
LIMÍTROFES
• Há dimensões do ato e do corpo, mas há
dificuldade de representar e associar ideias. Estão
dissociadas das ações.
• O ATO e o SOMA são considerados categorias de
fronteira, porque quanto mais sua realidade se
apresenta, mais próximo estamos das
intensidades e mais distante estamos dos
registros das representações (o famoso “por que
eu ajo assim”).

Fonte: Cicco, 2020


CONCEITO EM EBULIÇÃO E “EM
ABERTO”
• Há ampla discussão sobre as diferenças entre os termos
“caso-limite”, “borderline”, “fronteiriço”, “estado-limite” e
“situação-limite”. Depende do local onde o fenômeno foi
examinado e diversas formas de se conceber a questão.
EUA e UK: Personalidade ou paciente-limite. O americano
DANIEL STERN (1938) foi o primeiro psicanalista a nomear o
“paciente fronteiriço”.
FRANÇA: Estados ou situações-limites.
Com o austríaco OTTO KERNBERG: o termo “bordeline” ganha
uma estrutura singular de personalidade teoricamente
inconfundível.
Fonte: Cicco, 2020
TEORIA DE OTTO KENBERG
CONCEITO DE OTTO KENBERG
• Usado mais comumente pela academia e pelas
associações psicanalíticas.
• Kernberg também elaborou a tese sobre o transtorno
de personalidade narcisista, também às vezes chamado
de limítrofe pela psiquiatria americana.
• Kernberg entende que o paciente borderline possui as
mesmas características egóicas do narcisista, baseado
em um desenvolvimento patológico do ego e relação
com uma “mãe aparente” (não profunda).
Fonte: Cicco, 2020
CONCEITO DE OTTO KENBERG
• Kernberg entende que o borderline assim como o
narcisista estrutural (antissocial) fazem clivagem do ego,
criam identificações projetivas, concebem o ambiente
como um lugar de perturbação.
• Kohut combateu algumas ideias de Kenberg. Para Kohut,
há absoluta distinção entre os dois transtornos, visto que
o narcisista ainda poderia ser tratado pois mantem o ego
arcaico infantil inchado, enquanto a psicoterapia servirá
apenas como abalizador para o borderline, por conta das
dissociações patológicas desenvolvidas pelo ambiente.

Fonte: Cicco, 2020


BIBLIOGRAFIA
• CHAVES, Messias Eustáquio. Estruturas clínicas em psicanálise: um
recorte. Belo Horizonte: Reverso. Ano 40. N 76. p 55-62. Dez, 2018.
• CICCO, Marine F. Muito corpo, poucas palavras clínica dos casos limítes.
São Paulo: Sá Editora, 2020.
• DUMAS, Jean F. Psicopatologia da infância e da adolescência. Porto
Alegre: Artmed, 2011.
• IZCOVICH, Luis. A perversão e a Psicanálise. São Paulo: Atler, 2019.
• FINKS, Bruce. Introdução à clínica psicanalítica lacaniana. Rio de Janeiro:
Zahar, 2018.
• FREUD, S. (1974). Obras completas. Edição Standard Brasileira. Rio de
Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1925).
• ZIMERMAN, David E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e
clínica:uma abordagem didática / David E. Zimerman. – Dados
eletrônicos. – Porto Alegre :Artmed, 2007.
• LACAN, Jacques. Escritos. São Paulo: Perspectiva, 1978.
• _____________. O Seminário: As psicoses. Rio de Janeio: Zahar, 1985.
• Dúvidas.
• Terapia pessoal.
• Estudos clínicos.
• Grupo Vida.

Whats app:
(21)998885570
E-mail:
jproriz@gmail.com

Você também pode gostar