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CURSO DE FORMAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

Realização: Conectas Direitos Humanos e Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos


Apoio: PNUD-Brasil, SEDH e UNESCO
Período: 23 de agosto a 22 de novembro de 2006

2º Encontro: 06/09/06

4. Fábio Konder Comparato: Dossiê Jardim Ângela

Jardim Ângela: modelo de micro-revolução comunitária


13/07/2006
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cbn/m_sp_130706.shtml

A prefeitura de São Paulo pretende expandir as experiências implantadas no Jardim


Ângela para o resto da cidade. A região que já foi considerada pela ONU (Organização das
Nações Unidas) como a mais violenta do mundo adotou medidas de integração
comunitária e hoje atinge marcas consideráveis na redução de homicídio.

Para reforçar o bom desenvolvimento do bairro, a Subprefeitura de M’Boi Mirim discute a


possibilidade de implantar em torno do Jardim Ângela e Jardim São Luiz (área habitada
por cerca de 500 mil pessoas) um projeto voltado para a inclusão social dos jovens.

O projeto estabelece a criação de quadras e telecentros 24 horas, para que a população


possa praticar esportes, desfrutar de lazer, atividades educativas e culturais, ao invés de
praticar delitos durante a madrugada. Programas de prevenção contra o uso de drogas e
gravidez precoce também serão criados, além de tratamento para dependentes químicos.

O Jardim Ângela possui inúmeras iniciativas de projetos comunitários envolvendo ONGs,


igrejas, Associações de Bairro, Centro Culturais, escolas, entre outras instituições que
unem a comunidade com o poder público e privado a fim de encontrar soluções que
contemplem as necessidades da região. Isso faz com que o bairro seja um modelo de
micro-revolução comunitária.

Baixa da violência no Jardim Ângela chama a atenção da ONU


10/10/2005
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cbn/capital_101005.shtml

Em meio às discussões sobre o desarmamento, uma notícia chama a atenção da


comunidade internacional. Considerado em 2000 pela ONU como a região mais violenta do
mundo, o Jardim Ângela é um laboratório de experiências positivas. À época a taxa de
assassinatos no local era de 60 por mês. Após uma grande articulação comunitária
envolvendo lideranças religiosas, donas de casa e educadores, essa taxa caiu tão
bruscamente que nos últimos 66 dias não se registrou nenhum assassinato entre os quase
250 mil moradores.

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Ainda não se sabe precisar o motivo da baixa da violência, mas tudo indica que esse
arranjo comunitário tenha surtido efeito. As iniciativas são simples: fecharam os bares
mais cedo, integraram o policiamento comunitário, a guarda civil metropolitana e a militar,
desenvolveram programas de complementação escolar, de conscientização das drogas e
das doenças sexualmente transmissíveis, programas profissionalizantes incluindo sistemas
de renda mínima custeados pela prefeitura, entre outros.

Jardim Ângela vira modelo para São Paulo


23/06/2005
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cbn/m_sp_230605.shtml

O prefeito José Serra determinou às suas secretarias de Educação, Saúde e Assistência


Social que ajudem a disseminar, por toda a cidade de São Paulo, a experiência do Jardim
Ângela. Esse distrito foi considerado pela ONU a região mais violenta do mundo , onde
desde 1991, graças à articulação do poder público com a comunidade, o índice de
homicídios despencou 75%. "Esse exemplo tem de ser aperfeiçoado e disseminado",
afirmou o prefeito.

O projeto de Serra é, a partir do exemplo do Jardim Ângela, intensificar ações da


prefeitura nos bolsões de miséria, não só ampliando mas melhorando a articulação dos
programas sociais com foco na criança e no adolescente, para trabalhar, além de reforço
escolar a questão das drogas e da gravidez precoce.

Já foi chamado para participar da disseminação o Instituto Sou da Paz, que atua, ao lado
de uma série de nos e igreja, da experiência do Jardim Ângela. Uma das chaves desses
processo é, além do uso da inteligência policial, o policiamento comunitário.

Combate à violência leva São Paulo a rota de estudo Mundial


07/06/2005
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/cbn/m_sp_070605.htm

Segundo pesquisa feita pela fundação SEADE (Fundação Sistema de Análise de Dados)
com base no Instituto Médico Legal, a taxa de assassinato da cidade de São Paulo não
para de cair. De 1999 à final de 2004, esse número foi de 40%.
Afirmando que hoje o Jardim Ângela, bairro da zona Sul da cidade, completa 47 dias sem
homicídios, os paulistanos podem não entender o que esta acontecendo para que o índice
de mortalidade esteja caindo dessa forma. Ao entorno da cidade essa taxa foi de 38%,
sendo que, a grande queda foi no ano de 2004.

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Devemos canalizar o que esta acontecendo com o policiamento na cidade. As
comunidades estão mais atentas, os programas de rendas mínimas estão funcionando e o

número de Ongs que trabalham com jovens vem crescendo, ajudando na diminuição
dessa taxa.
Depois dessa pesquisa a cidade de São Paulo entra na rota de um estudo Mundial sobre a
queda da violência. Não podemos considerar uma vitória, mas temos que entender que
com tantos projetos sociais espalhados na cidade e tantas outras coisas que traçam um
perfil social de que a queda do crime caiu, e ninguém percebeu. Isso passa a ser um
fenômeno que tem que ser entendido. A sociedade esta se mobilizando e dando um basta
a violência.

Experiências na cidade de São Paulo que contribuem para a redução de


homicídios
08/06/2005
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/gd080605.htm

Assassinato zero

Até o final da redação desta coluna, na sexta-feira à noite, o Jardim Ângela, um distrito na
zona sul de São Paulo, tinha completado 45 dias sem um só assassinato.
Um aglomerado de bairros com 300 mil habitantes, a maioria dos quais vivendo abaixo ou
pouco acima da linha de pobreza, o distrito foi considerado pela Organização das Nações
Unidas, em 1996, o local mais violento do planeta.
Desbancou até mesmo Cali, na Colômbia.

Desde aquele anúncio feito pela ONU, a situação ficou ainda pior no Jardim Ângela. Em
2001, o número de assassinatos bateu recorde: 277, segundo o registro de óbitos da
prefeitura. A partir de então, o índice vem caindo ano a ano e, em 2004, chegou a 151
assassinatos, uma redução de 54%. O assassinato zero dos últimos 45 dias sugere a
continuidade da tendência de baixa.

Primeira conclusão: ninguém tem o direito de dar opinião sobre os meios de prevenir a
violência no Brasil sem estudar o fenômeno Jardim Ângela.

Mesmo com o assassinato zero e os avanços conquistados a cada ano, a tradução de


2004, no distrito, ainda não é nada boa: são 61 mortes por 100 mil habitantes. Embora já
esteja bem longe do sinistro título mundial, o Jardim Ângela ainda é um local violento.
Basta comparar seus números com os de um bairro da classe média alta paulistana como
Moema, onde o índice de assassinatos é de 2 por 100 mil, e com os do Brasil, cujo índice
fica em 27 por 100 mil.

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Mesmo assim, a redução de 54% na taxa de homicídios, somada aos sinais de


permanência da tendência de queda nos primeiros meses deste ano, é um
notável

aprendizado sobre segurança pública. É tão expressivo que ajuda a entender por que, em
toda a cidade de São Paulo, segundo dados do IBGE e do Ministério da Saúde, a taxa de
homicídios caiu quase 20% de 1999 a 2003.

Embora todos esses números tenham começado a surgir por causa de um padre, não
existe nenhum milagre no Jardim Ângela. Trata-se de um padre entre cujos prazeres está
o de misturar café com uísque, açúcar e chantilly -a célebre receita de café dos irlandeses.

Quando, em 1996, foram publicados os dados da ONU, o padre irlandês Jaime Crowe, cuja
paróquia fica no Jardim Ângela, lançou um movimento contra a violência. "Em alguns
meses, chegamos a ter mais de 50 mortes." Sua contabilidade não estava nos papéis. O
cemitério era seu cenário habitual, onde rezava pelos mortos. "Num só fim de semana,
tive de rezar por seis vítimas de homicídio."

Daquele movimento surgiu o Fórum de Defesa da Vida, projeto que reúne as principais
entidades locais, a começar dos líderes das mais diversas religiões, dos evangélicos aos
umbandistas. O ato inaugural foi uma passeata, no Dia de Finados, até o cemitério.

A paróquia dos Mártires, comandada pelo padre Jaime, centralizou a operação contra a
violência. Logo viria a primeira conquista: a instalação de cinco bases de policiamento
comunitário. Os policiais foram treinados, na paróquia, para entender os moradores do
Jardim Ângela e se relacionarem com eles. "A população só conhecia policiais em
movimento, a bordo dos velozes e eventuais furgões." Foram designados para lá policiais
com talento para desenvolver ações preventivas. Com a quebra da lei do silêncio, as
investigações levaram a prisões de matadores.

Viu-se, ali, o óbvio dos óbvios: o policiamento comunitário é o principal mecanismo de


prevenção da violência. Embora a repressão reduza a sensação de impunidade, a policia,
sozinha, não vai muito longe.

Desenvolveram-se programas para cuidar de crianças e jovens, oferecendo-lhes reforço


escolar e cursos profissionalizantes. A Universidade Federal de São Paulo criou um centro
para a prevenção e o tratamento do abuso de álcool e de drogas. "Sabíamos que o álcool
é um dos principais combustíveis das brigas."

Buscou-se um acordo que envolvesse a polícia e o Ministério Público para que os bares
fechassem mais cedo -vários deles aceitaram a idéia.

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As escolas estaduais e municipais levaram os temas ligados à violência para dentro de sala
de aula, tentando sensibilizar os alunos, muitos dos quais passaram a ir às passeatas de
Finados.

Algumas praças foram reformadas, outras foram criadas; espaços abandonados ou pouco
usados transformaram-se em áreas de lazer, esporte e cultura.

Nos últimos quatro anos, o Jardim Ângela tem sido atendido por programas de renda
mínima da Prefeitura de São Paulo, compondo com recursos estaduais e federais. Tais
recursos ajudaram a amenizar o desemprego, a encaminhar adultos ao mercado de
trabalho depois de programas de capacitação e a desenvolver habilidades em jovens.
Foram também liberados recursos para que pessoas pudessem montar seu próprio
negócio.

Graças à sofisticação do aprendizado e do conhecimento acumulado sobre prevenção da


violência, o que se montou ali foi não uma escola, mas uma universidade anticrime, para a
qual o país precisa prestar vestibular.

PS - Como mostrou a pesquisa do Ipea na semana passada, temos pouco a comemorar.


São mais de 53 milhões de pobres e muitos dos programas sociais não decolam, num
crônico desperdício de recursos públicos. A baixa efetividade nesse campo é um dos
fatores a explicar a queda, apontada hoje no Datafolha, do prestígio de Lula. O Jardim
Ângela, assim como várias outras experiências brasileiras, ensina que, dentro e fora do
governo, está surgindo uma notável vanguarda de lideranças sociais. É gente que, como o
padre Jaime, gerencia bem os escassos recursos disponíveis. São essas pessoas e
experiências que vão moldar as políticas públicas brasileiras. E aí vamos ver que, mesmo
com pouco dinheiro, se fazem milagres.

De Nova York ao Jardim Ângela


O advogado Denis Mizne encontrou um pedaço de Nova York no Jardim Ângela, bairro da
zona sul de São Paulo que se notabilizou por ser um dos locais mais violentos do Brasil. Os
dois cenários, tão distantes e diferentes, tornaram-se, na sua visão, experiências
parecidas.

Em 1999, nunca tanta gente tinha morrido assassinada em toda a história de São Paulo.
Foi quando Denis, recém-formado na Faculdade de Direito do largo São Francisco, deixou
a cidade para estudar direitos humanos na Universidade Columbia, em Nova York. "As
duas cidades viviam climas radicalmente diferentes. Em Nova York, a euforia. Em São
Paulo, o desespero." Nova York batia sucessivos recordes de queda nos índices de
criminalidade.

De volta ao Brasil, Denis participou, com um grupo de colegas da São Francisco, da

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criação de uma entidade que foi batizada de Sou da Paz, cujo objetivo era combater a
violência. "Cheguei de Nova York com a sensação de que esse esforço poderia dar certo."
Em 1997, ele, presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, já participara do lançamento
de uma campanha pelo desarmamento.

"Naquele ano, ficamos impressionados com uma pesquisa do Datafolha que informava que
a violência tinha ultrapassado o desemprego na escala de preocupações do paulistano."

O Sou da Paz, instituto do qual se tornou diretor-executivo, foi convidado a participar de


uma articulação no Jardim Ângela, bairro considerado um dos ícones da selvageria em São
Paulo. Uniram-se, então, os mais diferentes parceiros na comunidade: poder público,
escolas, centros de saúde, religiosos. Montaram-se programas educacionais para crianças
e jovens: a Universidade Federal de São Paulo, por exemplo, ofereceu serviços de
prevenção ao consumo de álcool e drogas. Montou-se também um projeto experimental
de policiamento comunitário.

Resultado: de 2001 até o ano passado, a taxa de homicídios caiu, ali, 54%. Nova York
entrou no noticiário mundial quando, em 1995, essa mesma taxa atingiu os 37%. A
mobilização do Jardim Ângela é um dos fatores, entre tantos, que ajudam a explicar por
que o número de assassinatos não pára de cair em São Paulo, a ponto de ter merecido, na
semana passada, o reconhecimento da Unesco. "O que há de comum em Nova York e no
Jardim Ângela é o fato de que o envolvimento da comunidade com o setor público,
prevenindo a violência e abrindo espaços para crianças e jovens, funciona."

Aprendendo a enxergar na escuridão


Quando eu morava em Nova York, entre 1995 e 1998, testemunhei a perplexidade dos
jornalistas e estudiosos diante da queda continuada do número de assassinatos na cidade.

Estou começando a ver essa mesma perplexidade na cidade de São Paulo, onde a taxa de
assassinatos está caindo, sem parar e todos os anos, desde 1999. Há, porém, uma
monumental diferença. Nova York foi beneficiada pelo vigoroso crescimento da economia
americana, gerando aumento dos salários e pleno emprego. Já o período de 1999 a 2003
significou para nós, brasileiros, mais desemprego e queda de salário. Ou seja, lá
aumentou a riqueza, aqui a pobreza.

Com base em dados do Ministério da Saúde e IBGE, a Unesco divulgou, na semana


passada, o "Mapa da Violência", no qual mostrou que, de 1999 a 2003, a queda do
número de assassinatos foi de 19% na cidade. A tendência prossegue até este ano.
Nesse mesmo período, foram registrados, embora em menor intensidade, menos
assassinatos na região metropolitana de São Paulo, formada por 39 cidades. É o que
explica, em larga medida, por que o Estado de São Paulo reduziu o índice em 12%, de
15.810 para 13.903 vítimas, enquanto nos demais Estados brasileiros a taxa subiu.
Traduzindo em vidas: menos cinco famílias enlutadas por dia. O que está acontecendo?

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A verdade: ninguém sabe. É sinal de nosso desconhecimento sobre mudanças estruturais
no Brasil. É o mesmo desconhecimento que nos fez tomar um susto diante da divulgação
pelo IBGE, neste ano, de que entre os pobres existem muito mais obesos do que
desnutridos. Lembremos que o Fome Zero foi a maior bandeira de Lula. Todo um governo
estava baseado em informações errôneas e, nós, a mídia, vamos reconhecer, também não

nos saímos melhor.

O Mapa da Violência da Unesco traz uma algumas explicações razoáveis: melhoria da


polícia e aumento da população carcerária; envolvimento da comunidade em projetos
contra a violência; disseminação de projetos sociais. Não temos idéia sobre o peso de
cada um desses fatores. Há muito mais incógnitas.

Desconhecemos o impacto da queda do número de filhos entre as mulheres brasileiras


nos centros urbanos. Está provado que menos adolescentes, menos violência.

As políticas de renda mínima completam, em 2005, dez anos de idade. Pode-se dizer que
é pouco, mas o fato é que nunca tantos pobres receberam tanto dinheiro diretamente do
poder público.

Desde a gestão Marta Suplicy, são centenas de milhares de famílias que vivem nas regiões
mais pobres da cidade de São Paulo que recebem uma complementação de renda. Nesses
locais, o crime caiu mais. Existe alguma relação?

Aumentou a matrícula escolar e caiu a evasão. Multiplicam-se as parcerias para a melhoria


da educação. Dezenas de milhares de escolas públicas funcionam nos finais de semana
como centros comunitários. No Estado de São Paulo, por exemplo, quase 100% (vou
repetir, 100%) dos alunos entre 15 a 18 anos estão no ensino médio. É uma tendência
que se verifica em todo o país.

Difícil medir o que representa o fato de a cidade de São Paulo ser o epicentro do terceiro
setor. São centenas de milhares de pessoas e empresas que, em menor ou maior grau,
desenvolvem algum tipo de ação comunitária nos bairros mais desolados.

Até que ponto a disseminação das igrejas evangélicas não produz, nas periferias, capital
social e transmite uma sensação de pertencimento aos mais pobres? Esse capital interfere
na violência e em qual medida? Pesquisas indicam que, nos bairros pobres, filhos de
evangélicos, convidados a ler a Bíblia desde pequenos, exibem melhor desempenho
escolar na fase de alfabetização. Isso gera pessoas mais integradas?

Na quinta-feira, os evangélicos mostraram seu poder, ao colocar dois milhões de fiéis na


avenida Paulista, enquanto o padre Marcelo não atraiu mais de 10 mil católicos.
Um dos mais importantes estudiosos sobre violência no Brasil, José Vicente da Silva, ex-

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secretário Nacional de Segurança, afirma que, em várias cidades, prefeitos conseguem
bons resultados no combate à violência. "Eles trabalham com foco."

Ele cita o caso de São José dos Campos, onde, nos primeiros três meses do ano, o índice
de jovens assassinados diminuiu 57% em relação ao mesmo período de 2004, que, por

sua vez, já tinha melhorado em relação a 2003. Ali se desenvolvem há muitos anos ações
nos bairros mais conflagrados e investimentos nas crianças e adolescentes, ou seja, nos
candidatos à marginalidade.

Outro exemplo, segundo José Vicente, é Diadema, na região do ABC, que, até pouco
tempo atrás, estava em primeiro lugar na lista das cidades paulistas mais violentas. De
1999 até o ano passado, a taxa de homicídios caiu 65%. Foram urbanizadas favelas,
montaram-se programas para jovens e fortaleceu-se o policiamento comunitário. Além
disso, com base num banco de dados sobre a incidência dos crimes, foi decretado o
fechamento dos bares depois das 22h.

Podemos desconhecer por que os assassinatos caíram em São Paulo. Mas o fato é que
caíram e é um fatos mais extraordinários da realidade social brasileira.

PS - Nada quero dizer, claro, que estejamos bem no campo da segurança. Estamos
péssimos. Quero dizer que, de tanto apanhar, estamos aos poucos aprendendo a enxergar
na escuridão.

Cidade se transforma em laboratório da violência


Quem está em busca de soluções para a epidemia de violência que se dissemina pelo país
tem obrigação de estudar a experiência desenvolvida em Diadema, na região
metropolitana de São Paulo. Ali funciona um laboratório de segurança pública. Vamos aos
fatos.

Em 1999, Diadema estava em primeiro lugar no ranking de homicídios do Estado de São


Paulo, com uma média de 31 assassinatos por dia. Em 2004, essa média caiu para 11 por
dia, ou seja, houve uma redução de 65%. Com essa expressiva queda, a cidade baixou
para o 18º lugar na lista de homicídios. Caíram também os índices de furto e assalto.
Milagre? Não.

Apenas foi feita a lição de casa. Uma articulação da prefeitura com o governo estadual,
uma universidade, empresas e associações comunitárias combinou policiamento ostensivo
com programas para reduzir o risco de delinqüência juvenil.

Tudo começou porque a população de Diadema, com seus 380 mil habitantes, estava no

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limite do desespero; muitos empresários, cansados de tantos crimes, prometiam mudar
seus negócios para outras cidades.

O prefeito eleito em 2000 -o engenheiro José de Filipi, do PT, reeleito no ano passado-
reagiu ao desespero comprometendo-se a dar ênfase, em sua gestão, à questão da

segurança. Tratou, então, de ir costurando acordos, sem os quais uma prefeitura não
conseguiria nada no enfrentamento da violência.

A primeira medida polêmica veio por sugestão de pesquisadores da Universidade Federal


de São Paulo. Eles analisaram os arquivos policiais e mostraram que 60% dos assassinatos
ocorriam dentro de bares ou nas suas proximidades e que a imensa maioria das vítimas ou
os assassinos tinham ingerido álcool.

Os bares foram obrigados a fechar depois das 23 horas, numa espécie de lei seca. Não há
novidade nisso: em muitos lugares do mundo em que se fecharam bares de noite (na
Colômbia, por exemplo), a violência diminuiu.

A prefeitura fez um mapa detalhado do horário e do local dos crimes para concentrar
esforços nas áreas mais vulneráveis. Montaram-se operações conjuntas com policiais
militares, civis e municipais com ênfase nas ruas mais violentas. A presença de guardas
municipais, que ganhou reforços, andando a pé, de moto ou de bicicleta, tornou-se
permanente nesses bairros. A população passou a ter acesso a linhas telefônicas para
comunicar movimentos suspeitos.

O mapa do crime indicou que a maioria dos furtos e dos assaltos eram cometidos por
marginais que dirigiam motos. Resultado: lançaram operações para pegar as motos
irregulares. Diminuiu-se a impunidade; bateram-se recordes de prisão de criminosos.

Mais uma vez, nada de novo: a impunidade é um óbvio estímulo ao crime, e o


policiamento comunitário é o melhor jeito de prevenir a delinqüência.

Com base no mapeamento dos jovens que cometiam crimes, a prefeitura localizou as
ações de inclusão em lugares mais tumultuados. Obrigaram-se jovens a voltar para a
escola. Eles ganharam bolsas de R$ 150 mensais, além de atividades culturais e esportivas
depois das aulas e, enfim, estágios em empresas. Cada um sai, por mês, por R$ 300.

Nesse projeto, entraram associações comunitárias e empresários; reforçou-se também o


uso dos equipamentos culturais e esportivos da cidade. Alguns desses espaços públicos
são geridos pela própria comunidade.

Não se realizou, assim, uma ofensiva generalizada, mas se buscaram os pontos

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infecciosos.

Mais uma vez, nada de novo: mais educação para jovens significa menos crimes.
Foco significa eficiência.

O que há de novo é a gestão. O plano articula prevenção e repressão em focos precisos.

Não se atira a esmo; mira-se o alvo. A ofensiva é administrada (e monitorada


diariamente) por uma teia de parcerias que envolvem os diversos pesquisadores da
universidade, passando pelo governo estadual, até a dona-de-casa que se dispõe
gratuitamente a zelar por um centro comunitário.

Eles têm menos crimes e mais empregos. Em 2004, Diadema bateu o recorde de geração
empregos industriais em São Paulo. Há quem aposte (e com fundamento) que a redução
da violência ajudou na expansão do emprego. É cedo para comemorar? É.

A experiência ainda está em andamento. Existem nós gerenciais, muitos jovens ainda não
recebem a assistência necessária por falta de recursos. Os índices de criminalidade
baixaram, mas ainda estão altos para padrões civilizados. Os resultados desse laboratório,
entretanto, são promissores.

PS - Esta coluna nasceu de uma provocação do presidente da Febem paulista, Alexandre


de Moraes, que se mostrou intrigado com o fato de estar caindo rapidamente o número de
adolescentes presos em Diadema. É muito mais barato, como se vê, prevenir a violência
do que remediá-la. Educar cada jovem nas áreas de risco social em Diadema custa cerca
de R$ 300 mensais. Manter um jovem na Febem sai por R$ 1.700. Além do preço, mais
uma diferença óbvia: não só o interno custa muito caro. Ele cometeu um assalto ou matou
alguém.

Voto "sim". Mas sem ilusões


10/10/2005
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/gd101005.htm

Na sexta -feira à noite, completaram-se 66 dias sem um assassinato no Jardim Ângela,


distrito da zona sul de São Paulo com 250 mil habitantes e apontado pela ONU, em 2000,
como a região mais violenta do mundo - naquele ano, ocorreram ali, em média, 60
homicídios mensais.

É um dos casos mais extraordinários já produzidos no Brasil de ensaio contra a violência,

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refletindo tendência, embora em menor intensidade, em toda a região metropolitana de
São Paulo.

De acordo com dados tabulados na semana passada a partir do registro de óbitos, de


janeiro a agosto deste ano, comparados com o mesmo período de 2004, caiu em 22% o
número de assassinatos cometidos no município de São Paulo. Se a média for mantida até
dezembro, em cinco anos a redução terá se aproximado dos 50%. Nova York virou
atração mundial quando esse índice caiu em 30%. Esses números me fazem votar pela

proibição do comércio de armas, mas sem nenhuma ilusão - aliás, há o risco de o


referendo transmitir a falsa idéia de que, com a vitória do "sim", a taxa de violência
despenque.

Desarmar é apenas um dos ingredientes, entre tantos, para reduzir a violência: quem não
informar essa obviedade, com toda a clareza, estará enganando o eleitor e levando-o a
uma frustração capaz de abalar a convicção em referendos.

No debate sobre as causas da queda dos homicídios em São Paulo - ninguém mais
questiona que a tendência é real, embora se discorde da sua intensidade-, há uma série
de apostas: 1) maior eficiência da polícia e, em especial, do policiamento comunitário; 2)
articulação comunitária com a implementação de programas de inclusão de crianças e
adolescentes; 3) mudanças demográficas, com menor quantidade de jovens na
população; 4) bolsas de complementação de renda; 5) escolas abertas nos finais de
semana; 6) fechamento dos bares antes das 22h. Há também quem diga que, entre as
causas, está o movimento de desarmamento -aliás, nascido em São Paulo graças a alunos
da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Possivelmente, todos esses fatores influenciaram, em alguma medida, o índice de


homicídios em São Paulo que, apesar das boas novidades, continua alto para padrões de
civilidade. Neste contexto de tantas ofensivas combinadas não há dúvida de que o
desarmamento é a cereja do bolo.

Olhando em detalhes o mapa dos assassinatos, vemos que os resultados mais


exuberantes foram obtidos nas localidades em que melhor aglutinaram todas aquelas
iniciativas e se entrosaram políticas públicas, como Jardim Ângela. Combinaram-se ali
policiamento comunitário (integrando inclusive as polícias Militar e Civil e a Guarda
Municipal); redução do horário de funcionamento dos bares e tratamento do vício de
drogas, a começar do álcool; oferta de cursos profissionalizantes e de complementação
educacional em sistema de pós-escola; abertura de áreas de lazer, cultura e esportes.

No mais, a comunidade do Jardim Ângela, em boa parte graças à liderança do padre


irlandês Jayme Crowne, estabeleceu como prioridade comum reduzir a barbárie. O tema
uniu líderes católicos, evangélicos e umbandistas; uniu donas-de-casa e educadores.

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Mesmo com toda essa engenhosidade que transformou, desta vez positivamente, o Jardim
Ângela numa referência mundial, a situação está bem longe da paz. Afinal, o desemprego
atinge mais de 70% de seus jovens.

São múltiplas as causas de violência e, logo, são múltiplas as medidas necessárias para
enfrentá-las. A prevenção se inicia quando a criança acaba de nascer e lhe é assegurada
proteção e se estende na estrutura familiar e na escola de qualidade. Está correta a
afirmação do pessoal do "sim" de que um cidadão armado não está protegido diante de

um marginal treinado e acostumado a atirar, muitas vezes sob efeito de droga. Alguém
que perde o controle é capaz de fazer um estrago ainda maior se estiver com um revólver.
Como toda a eleição acaba simplorizando o que é complexo para atrair o voto, está se
disseminando, mesmo que involuntariamente, uma ilusão. Imaginar que o desarmamento
é essencial na redução da barbárie é algo parecido a supor que, com o fim da peixeira, os
cangaceiros estariam imobilizados ou que, sem arco-e-flecha, os índios, no passado,
sempre viveriam em paz.
O melhor de tudo - e isso é extraordinário - é o fato de o referendo ter mobilizado o
Brasil, em níveis jamais vistos, para o debate sobre as causas da violência. E trouxe a
chance de mostrar experiências engenhosas como as do Jardim Ângela, Heliópolis,
Paraisópolis e Diadema. São casos que mostram que dá para enfrentar a barbárie.

Com toda a convicção, voto "sim", mas sem nenhuma ilusão.

Índices sociais e educacionais do Jardim Ângela


18/08/2006
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/noticias/gd180806b.htm

Perfil social

Em 1996, o Distrito do Jardim Ângela foi considerado pela ONU (Organização das Nações
Unidas) como o lugar mais violento do planeta, registrando taxa anual de 116,23
assassinatos para cada 100 mil habitantes.
Com 62,1 km2 de extensão, tem aproximadamente 250 mil habitantes. Concentra 270
favelas, segundo os dados mais recentes da Sub-Prefeitura de M`Boi Mirim, que engloba o
Jardim Ângela. De acordo com o Mapa da Exclusão e Inclusão Social de São Paulo,
elaborado em 2000, 73,7% da população do Distrito Jardim Ângela estão no agrupamento
classificado como de alta e altíssima vulnerabilidade social.

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CURSO DE FORMAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
Realização: Conectas Direitos Humanos e Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos
Apoio: PNUD-Brasil, SEDH e UNESCO
Período: 23 de agosto a 22 de novembro de 2006
Entre 1991 e 2005, o índice de homicídios na região caiu 75% e, em junho de 2005, o
distrito bateu um recorde, quando completou 50 dias sem registros de mortes violentas.
Segundo levantamento publicado pela Fundação Seade em julho de 2005, referente ao
período entre 2000 e 2004, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu mais de 45%
neste intervalo, de 118,31 para 64,5. É justamente a época em que as organizações
sociais e a comunidade se mobilizaram de forma mais estruturada e vigorosa, em que
houve aumento nos investimentos públicos e também um trabalho para conscientizar e
melhorar a qualidade do policiamento local (vide abaixo o detalhamento dos fatores que
contribuíram para a melhora no cenário social da região).

A redução supera em muito o verificado no Estado no mesmo período. De acordo com o


Mapa da Violência de São Paulo, organizado pela Unesco, publicado em maio de 2005, a
queda dos índices de SP foi de apenas 15%.
De acordo com dados do 100º DP de São Paulo (uma das delegacias que atende o Distrito
Jardim Ângela), enquanto em 2003 eram registrados neste DP de seis a oito homicídios
por final de semana ou feriado, neste ano (2006) são registrados, em média, de quatro a
seis por mês. O comparativo do número de ocorrências no período de janeiro a julho de
2002 a janeiro a julho de 2006 indica redução de 52% no número de roubos, de 70% no
número de roubo de veículos e de 16% no que diz respeito a furto de veículos, também
segundo informações fornecidas pelo 100º DP.
A melhoria nestes índices deve-se a uma união de esforços entre os seguintes fatores:
· Aproximação e maior investimento dos serviços públicos (especialmente a prefeitura, via
secretaria municipal de assistência social);
· Criação do Fórum em Defesa da Vida, em 1996, que hoje congrega 200 entidades que
atuam no Jardim Ângela, cujos representantes se encontram uma vez por mês;
· Criação de bases comunitárias: foi uma demanda dos participantes do Fórum em Defesa
da Vida desde a sua criação. A primeira base comunitária foi criada dois anos depois, em
1998. Hoje, de acordo com dados da Sub-Prefeitura de M`Boi Mirim, existem cinco bases
comunitárias da Polícia Militar no Jardim Ângela, com cerca de 110 policiais, além do
contingente de um batalhão (cerca de 500 policiais) que atua em M`Boi Mirim. A proposta
era que cada policial permanecesse por um período de pelo menos três anos na região,
para dar tempo de criar identidade com a comunidade, tomar conhecimento da realidade
local. De acordo com um estudo do Ipea, “a criação de uma polícia comunitária pode ser
fundamental para a diminuição da criminalidade em áreas de vulnerabilidade social ”. Mas,
segundo comentários de representantes da ONG Sociedade Santos Mártires, neste ano
houve uma grande troca dos policiais destas bases comunitárias e, como resultado,
verificam um aumento na violência dos policiais com os adolescentes;
· Ações de ONGs locais - Sociedade Santos Mártires, Serviço Social Bom Jesus, Centro de
Direitos Humanos e Educação Popular e Instituto Sou da Paz são algumas das mais
atuantes;

Participação ativa da comunidade:

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Investimento da iniciativa privada (Fundação Telefônica e Instituto Camargo Corrêa são


alguns dos exemplos. A Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, da sociedade civil,
também apóia projetos na região);

Dados sobre gravidez na adolescência:

Em 31 de agosto de 2005, foi inaugurada a Casa do Adolescente no Jardim Ângela. O


projeto possibilita o acompanhamento médico e psicológico a jovens com idades entre 10
e 20 anos. Um dos objetivos do trabalho é a redução da gravidez indesejada na
adolescência. Em 2002, o Jardim Ângela possuía um índice de 19% neste quesito.
Em 2004, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, o índice de gravidez na
adolescência no município de SP era de 15,89%, enquanto na região de M`Boi Mirim era
superior, chegando a 18,34%.
Em 2005, o índice de mães menores de 20 anos no município era de 14,7%, e na região
de M`Boi, 17,1%. Os dois índices caíram em relação ao ano anterior.

Dados sobre atendimento a jovens em medida sócio-educativa, em meio aberto (liberdade


assistida e prestação de serviços à comunidade):
Na região, há projetos desta linha desenvolvidos por pelo menos duas ONGs locais: a
Sociedade Santos Mártires e o Serviço Social Bom Jesus. No caso da Sociedade Santos
Mártires, o projeto, chamado RAC – Redescobrindo o Adolescente na Comunidade, recebe
apoio financeiro da Prefeitura, via Secretaria de Assistência Social, da Febem e da
Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança.
Há um indicador, segundo os coordenadores do RAC, que aponta também para a
mudança – positiva – no que diz respeito à criminalidade na região. Se entre 2003 e 2004
o projeto se propunha a atender cerca de 120 adolescentes por mês, hoje, este número
foi readequado. “Temos capacidade para atender 80 adolescentes por mês, mas este
número nunca é atingido. Giramos em torno de 78. Não há mais essa demanda tão
grande, o que é sinal de que os garotos estão infringindo menos”, afirma Joel Costa,
educador da Sociedade Santos Mártires.

Programas do governo que atendem à região:

-- Bolsa-Família
-- Pró-Jovem
-- PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil)
-- Renda Cidadã
-- Agente Jovem
-- Bolsa-Escola
-- Vale-Gás

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A Prefeitura oferece também alguns serviços na região, que, atualmente, atendem a
10.230 usuários. Entre eles, um abrigo para crianças e adolescentes, serviço de proteção
jurídico-social e apoio psicológico a crianças, adolescentes, jovens e famílias em
situação

de risco, núcleo de defesa e convivência da mulher, núcleos de apoio à habilitação e


reabilitação social para pessoas com deficiências, entre outros.
Educação:
A Secretaria Estadual de Educação informa que, até o momento, nenhuma escola do
Distrito Jardim Ângela está sendo atendida com o programa de educação integral.
 
 

Proibido não conhecer o Jd. Ângela


21/08/2006
http://www1.folha.uol.com.br/folha/dimenstein/colunas/gd210806.htm

Quem entender o que está por trás dos números do Jardim Ângela, um conglomerado de
favelas na zona sul de São Paulo, com 250 mil habitantes, estará aprendendo a reduzir a
violência no país. Sua taxa de homicídios caiu em 75%, entre 1991 e 2005. Durante 50
dias, no ano passado, ninguém morreu assassinado.

Esse movimento teve impacto nas demais estatísticas criminais de delegacias próximas,
responsáveis por outros bairros além do Jardim Ângela. No 100º Distrito Policial, de
janeiro a julho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2002, o índice de
roubos, em geral, despencou em 52%; o de roubos de veículos caiu em 70%.

O debate sobre a violência na sucessão é, até o momento, de uma pobreza estrondosa,


pelo simples motivo de que não se apresentam planos de construção dessas complexas
redes nem se prevê um projeto específico para as metrópoles. Os tucanos tentam associar
o PT ao PCC, o que é uma óbvia baixaria. O PT fala que os ataques do PCC são resultado
do caos da segurança em São Paulo, quando, na verdade, são uma reação ao jogo duro
contra a organização exercido pelo governo.

O Jardim Ângela foge do discurso fácil e das soluções simplistas: mostra que a
combinação de repressão com prevenção, a partir da articulação local, funciona. É o que
se vê em Bogotá, onde a taxa de homicídios desabou, em poucos anos, em 75%, redução
semelhante à de Nova York.

Depois que o Jardim Ângela foi considerado a região mais violenta do planeta, iniciou-se
ali, em 1996, uma mobilização liderada pelo padre irlandês Jayme Crowne. Surgiu o Fórum
de Defesa da Vida, que hoje aglutina 200 entidades. Dessa pressão, foram criadas ali
cinco bases de policiamento comunitário. Como os policiais tinham de conviver com a

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população, ganharam confiança e receberam informações sobre quem eram e onde
estavam os criminosos.

Conseguiu-se, nesse processo, combinar Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Municipal.
Paralelamente à rede de proteção policial montou-se uma rede de proteção social, sempre
envolvendo a teia de parcerias. Para trabalhar com ex-internos da Febem, agora em
liberdade assistida, associaram-se prefeitura, Abrinq e Telefônica. Na sexta passada, aliás,
cerca de mil funcionários da Telefônica foram ao Jardim Ângela para um mutirão de
reformas de espaços coletivos.

Graças a esse tipo de mobilização, recuperaram-se praças, clubes e escolas. Ofereceram-


se programas de esporte, atividades de complementação escolar, tratamento contra o
abuso de drogas e álcool. Com um acordo envolvendo o Ministério Público, acertou-se a
redução do horário de fechamento dos bares. A prefeitura ofereceu abrigos para crianças
e proteção às famílias em situação de risco, além de um núcleo para combater a violência
doméstica. No ano passado, foi lançada a Casa do Adolescente, para tentar evitar a
gravidez precoce.

Acrescentem-se aí as dezenas de milhares de bolsas de renda compostas por recursos


municipais, estaduais e federais -por serem integradas, o valor das bolsas aumentou.

Nem de longe o Jardim Ângela virou um paraíso, muito pelo contrário. Está distante,
muito distante, de ser o campeão mundial da violência, mas ainda continua bem acima da
média brasileira da criminalidade. Jayme Crowne está preocupado, especialmente, com o
número de jovens sem perspectivas educacionais ou profissionais. "Esse é o ovo da
serpente", diz São no Brasil 7 milhões de jovens, entre 14 e 25 anos, que nem estudam
nem trabalham. Isso mostra que temos duas bombas que se juntam -a dos jovens e a das
metrópoles.

Mas o que eles estão construindo, em essência, é um software de gestão para áreas
conflagradas, por englobar do policiamento à gravidez precoce, passando pelo tratamento
de viciados e pela educação em tempo integral. Em vez de ficarem trocando acusações
em torno do PCC, os candidatos fariam melhor se estudassem o caso do Jardim Ângela,
cujo sucesso está no fato de não ter um autor, um partido, um governo. O PT e o PSDB
têm crédito nessa experiência, com a qual se vê que a saída social brasileira reside em
larga medida na habilidade de as comunidades se organizarem, mobilizarem seus
indivíduos e aumentarem a eficiência dos recursos públicos.

Contra o crime organizado, o que funciona é a sociedade organizada.

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