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4 Fábio Konder Comparato - Dossiê Jardim Ângela
4 Fábio Konder Comparato - Dossiê Jardim Ângela
2º Encontro: 06/09/06
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CURSO DE FORMAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS
Realização: Conectas Direitos Humanos e Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos
Apoio: PNUD-Brasil, SEDH e UNESCO
Período: 23 de agosto a 22 de novembro de 2006
Ainda não se sabe precisar o motivo da baixa da violência, mas tudo indica que esse
arranjo comunitário tenha surtido efeito. As iniciativas são simples: fecharam os bares
mais cedo, integraram o policiamento comunitário, a guarda civil metropolitana e a militar,
desenvolveram programas de complementação escolar, de conscientização das drogas e
das doenças sexualmente transmissíveis, programas profissionalizantes incluindo sistemas
de renda mínima custeados pela prefeitura, entre outros.
Já foi chamado para participar da disseminação o Instituto Sou da Paz, que atua, ao lado
de uma série de nos e igreja, da experiência do Jardim Ângela. Uma das chaves desses
processo é, além do uso da inteligência policial, o policiamento comunitário.
Segundo pesquisa feita pela fundação SEADE (Fundação Sistema de Análise de Dados)
com base no Instituto Médico Legal, a taxa de assassinato da cidade de São Paulo não
para de cair. De 1999 à final de 2004, esse número foi de 40%.
Afirmando que hoje o Jardim Ângela, bairro da zona Sul da cidade, completa 47 dias sem
homicídios, os paulistanos podem não entender o que esta acontecendo para que o índice
de mortalidade esteja caindo dessa forma. Ao entorno da cidade essa taxa foi de 38%,
sendo que, a grande queda foi no ano de 2004.
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Devemos canalizar o que esta acontecendo com o policiamento na cidade. As
comunidades estão mais atentas, os programas de rendas mínimas estão funcionando e o
número de Ongs que trabalham com jovens vem crescendo, ajudando na diminuição
dessa taxa.
Depois dessa pesquisa a cidade de São Paulo entra na rota de um estudo Mundial sobre a
queda da violência. Não podemos considerar uma vitória, mas temos que entender que
com tantos projetos sociais espalhados na cidade e tantas outras coisas que traçam um
perfil social de que a queda do crime caiu, e ninguém percebeu. Isso passa a ser um
fenômeno que tem que ser entendido. A sociedade esta se mobilizando e dando um basta
a violência.
Assassinato zero
Até o final da redação desta coluna, na sexta-feira à noite, o Jardim Ângela, um distrito na
zona sul de São Paulo, tinha completado 45 dias sem um só assassinato.
Um aglomerado de bairros com 300 mil habitantes, a maioria dos quais vivendo abaixo ou
pouco acima da linha de pobreza, o distrito foi considerado pela Organização das Nações
Unidas, em 1996, o local mais violento do planeta.
Desbancou até mesmo Cali, na Colômbia.
Desde aquele anúncio feito pela ONU, a situação ficou ainda pior no Jardim Ângela. Em
2001, o número de assassinatos bateu recorde: 277, segundo o registro de óbitos da
prefeitura. A partir de então, o índice vem caindo ano a ano e, em 2004, chegou a 151
assassinatos, uma redução de 54%. O assassinato zero dos últimos 45 dias sugere a
continuidade da tendência de baixa.
Primeira conclusão: ninguém tem o direito de dar opinião sobre os meios de prevenir a
violência no Brasil sem estudar o fenômeno Jardim Ângela.
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aprendizado sobre segurança pública. É tão expressivo que ajuda a entender por que, em
toda a cidade de São Paulo, segundo dados do IBGE e do Ministério da Saúde, a taxa de
homicídios caiu quase 20% de 1999 a 2003.
Embora todos esses números tenham começado a surgir por causa de um padre, não
existe nenhum milagre no Jardim Ângela. Trata-se de um padre entre cujos prazeres está
o de misturar café com uísque, açúcar e chantilly -a célebre receita de café dos irlandeses.
Quando, em 1996, foram publicados os dados da ONU, o padre irlandês Jaime Crowe, cuja
paróquia fica no Jardim Ângela, lançou um movimento contra a violência. "Em alguns
meses, chegamos a ter mais de 50 mortes." Sua contabilidade não estava nos papéis. O
cemitério era seu cenário habitual, onde rezava pelos mortos. "Num só fim de semana,
tive de rezar por seis vítimas de homicídio."
Daquele movimento surgiu o Fórum de Defesa da Vida, projeto que reúne as principais
entidades locais, a começar dos líderes das mais diversas religiões, dos evangélicos aos
umbandistas. O ato inaugural foi uma passeata, no Dia de Finados, até o cemitério.
A paróquia dos Mártires, comandada pelo padre Jaime, centralizou a operação contra a
violência. Logo viria a primeira conquista: a instalação de cinco bases de policiamento
comunitário. Os policiais foram treinados, na paróquia, para entender os moradores do
Jardim Ângela e se relacionarem com eles. "A população só conhecia policiais em
movimento, a bordo dos velozes e eventuais furgões." Foram designados para lá policiais
com talento para desenvolver ações preventivas. Com a quebra da lei do silêncio, as
investigações levaram a prisões de matadores.
Buscou-se um acordo que envolvesse a polícia e o Ministério Público para que os bares
fechassem mais cedo -vários deles aceitaram a idéia.
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As escolas estaduais e municipais levaram os temas ligados à violência para dentro de sala
de aula, tentando sensibilizar os alunos, muitos dos quais passaram a ir às passeatas de
Finados.
Algumas praças foram reformadas, outras foram criadas; espaços abandonados ou pouco
usados transformaram-se em áreas de lazer, esporte e cultura.
Nos últimos quatro anos, o Jardim Ângela tem sido atendido por programas de renda
mínima da Prefeitura de São Paulo, compondo com recursos estaduais e federais. Tais
recursos ajudaram a amenizar o desemprego, a encaminhar adultos ao mercado de
trabalho depois de programas de capacitação e a desenvolver habilidades em jovens.
Foram também liberados recursos para que pessoas pudessem montar seu próprio
negócio.
Em 1999, nunca tanta gente tinha morrido assassinada em toda a história de São Paulo.
Foi quando Denis, recém-formado na Faculdade de Direito do largo São Francisco, deixou
a cidade para estudar direitos humanos na Universidade Columbia, em Nova York. "As
duas cidades viviam climas radicalmente diferentes. Em Nova York, a euforia. Em São
Paulo, o desespero." Nova York batia sucessivos recordes de queda nos índices de
criminalidade.
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criação de uma entidade que foi batizada de Sou da Paz, cujo objetivo era combater a
violência. "Cheguei de Nova York com a sensação de que esse esforço poderia dar certo."
Em 1997, ele, presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, já participara do lançamento
de uma campanha pelo desarmamento.
"Naquele ano, ficamos impressionados com uma pesquisa do Datafolha que informava que
a violência tinha ultrapassado o desemprego na escala de preocupações do paulistano."
Resultado: de 2001 até o ano passado, a taxa de homicídios caiu, ali, 54%. Nova York
entrou no noticiário mundial quando, em 1995, essa mesma taxa atingiu os 37%. A
mobilização do Jardim Ângela é um dos fatores, entre tantos, que ajudam a explicar por
que o número de assassinatos não pára de cair em São Paulo, a ponto de ter merecido, na
semana passada, o reconhecimento da Unesco. "O que há de comum em Nova York e no
Jardim Ângela é o fato de que o envolvimento da comunidade com o setor público,
prevenindo a violência e abrindo espaços para crianças e jovens, funciona."
Estou começando a ver essa mesma perplexidade na cidade de São Paulo, onde a taxa de
assassinatos está caindo, sem parar e todos os anos, desde 1999. Há, porém, uma
monumental diferença. Nova York foi beneficiada pelo vigoroso crescimento da economia
americana, gerando aumento dos salários e pleno emprego. Já o período de 1999 a 2003
significou para nós, brasileiros, mais desemprego e queda de salário. Ou seja, lá
aumentou a riqueza, aqui a pobreza.
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A verdade: ninguém sabe. É sinal de nosso desconhecimento sobre mudanças estruturais
no Brasil. É o mesmo desconhecimento que nos fez tomar um susto diante da divulgação
pelo IBGE, neste ano, de que entre os pobres existem muito mais obesos do que
desnutridos. Lembremos que o Fome Zero foi a maior bandeira de Lula. Todo um governo
estava baseado em informações errôneas e, nós, a mídia, vamos reconhecer, também não
As políticas de renda mínima completam, em 2005, dez anos de idade. Pode-se dizer que
é pouco, mas o fato é que nunca tantos pobres receberam tanto dinheiro diretamente do
poder público.
Desde a gestão Marta Suplicy, são centenas de milhares de famílias que vivem nas regiões
mais pobres da cidade de São Paulo que recebem uma complementação de renda. Nesses
locais, o crime caiu mais. Existe alguma relação?
Difícil medir o que representa o fato de a cidade de São Paulo ser o epicentro do terceiro
setor. São centenas de milhares de pessoas e empresas que, em menor ou maior grau,
desenvolvem algum tipo de ação comunitária nos bairros mais desolados.
Até que ponto a disseminação das igrejas evangélicas não produz, nas periferias, capital
social e transmite uma sensação de pertencimento aos mais pobres? Esse capital interfere
na violência e em qual medida? Pesquisas indicam que, nos bairros pobres, filhos de
evangélicos, convidados a ler a Bíblia desde pequenos, exibem melhor desempenho
escolar na fase de alfabetização. Isso gera pessoas mais integradas?
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secretário Nacional de Segurança, afirma que, em várias cidades, prefeitos conseguem
bons resultados no combate à violência. "Eles trabalham com foco."
Ele cita o caso de São José dos Campos, onde, nos primeiros três meses do ano, o índice
de jovens assassinados diminuiu 57% em relação ao mesmo período de 2004, que, por
sua vez, já tinha melhorado em relação a 2003. Ali se desenvolvem há muitos anos ações
nos bairros mais conflagrados e investimentos nas crianças e adolescentes, ou seja, nos
candidatos à marginalidade.
Outro exemplo, segundo José Vicente, é Diadema, na região do ABC, que, até pouco
tempo atrás, estava em primeiro lugar na lista das cidades paulistas mais violentas. De
1999 até o ano passado, a taxa de homicídios caiu 65%. Foram urbanizadas favelas,
montaram-se programas para jovens e fortaleceu-se o policiamento comunitário. Além
disso, com base num banco de dados sobre a incidência dos crimes, foi decretado o
fechamento dos bares depois das 22h.
Podemos desconhecer por que os assassinatos caíram em São Paulo. Mas o fato é que
caíram e é um fatos mais extraordinários da realidade social brasileira.
PS - Nada quero dizer, claro, que estejamos bem no campo da segurança. Estamos
péssimos. Quero dizer que, de tanto apanhar, estamos aos poucos aprendendo a enxergar
na escuridão.
Apenas foi feita a lição de casa. Uma articulação da prefeitura com o governo estadual,
uma universidade, empresas e associações comunitárias combinou policiamento ostensivo
com programas para reduzir o risco de delinqüência juvenil.
Tudo começou porque a população de Diadema, com seus 380 mil habitantes, estava no
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limite do desespero; muitos empresários, cansados de tantos crimes, prometiam mudar
seus negócios para outras cidades.
O prefeito eleito em 2000 -o engenheiro José de Filipi, do PT, reeleito no ano passado-
reagiu ao desespero comprometendo-se a dar ênfase, em sua gestão, à questão da
segurança. Tratou, então, de ir costurando acordos, sem os quais uma prefeitura não
conseguiria nada no enfrentamento da violência.
Os bares foram obrigados a fechar depois das 23 horas, numa espécie de lei seca. Não há
novidade nisso: em muitos lugares do mundo em que se fecharam bares de noite (na
Colômbia, por exemplo), a violência diminuiu.
A prefeitura fez um mapa detalhado do horário e do local dos crimes para concentrar
esforços nas áreas mais vulneráveis. Montaram-se operações conjuntas com policiais
militares, civis e municipais com ênfase nas ruas mais violentas. A presença de guardas
municipais, que ganhou reforços, andando a pé, de moto ou de bicicleta, tornou-se
permanente nesses bairros. A população passou a ter acesso a linhas telefônicas para
comunicar movimentos suspeitos.
O mapa do crime indicou que a maioria dos furtos e dos assaltos eram cometidos por
marginais que dirigiam motos. Resultado: lançaram operações para pegar as motos
irregulares. Diminuiu-se a impunidade; bateram-se recordes de prisão de criminosos.
Com base no mapeamento dos jovens que cometiam crimes, a prefeitura localizou as
ações de inclusão em lugares mais tumultuados. Obrigaram-se jovens a voltar para a
escola. Eles ganharam bolsas de R$ 150 mensais, além de atividades culturais e esportivas
depois das aulas e, enfim, estágios em empresas. Cada um sai, por mês, por R$ 300.
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infecciosos.
Mais uma vez, nada de novo: mais educação para jovens significa menos crimes.
Foco significa eficiência.
Eles têm menos crimes e mais empregos. Em 2004, Diadema bateu o recorde de geração
empregos industriais em São Paulo. Há quem aposte (e com fundamento) que a redução
da violência ajudou na expansão do emprego. É cedo para comemorar? É.
A experiência ainda está em andamento. Existem nós gerenciais, muitos jovens ainda não
recebem a assistência necessária por falta de recursos. Os índices de criminalidade
baixaram, mas ainda estão altos para padrões civilizados. Os resultados desse laboratório,
entretanto, são promissores.
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refletindo tendência, embora em menor intensidade, em toda a região metropolitana de
São Paulo.
Desarmar é apenas um dos ingredientes, entre tantos, para reduzir a violência: quem não
informar essa obviedade, com toda a clareza, estará enganando o eleitor e levando-o a
uma frustração capaz de abalar a convicção em referendos.
No debate sobre as causas da queda dos homicídios em São Paulo - ninguém mais
questiona que a tendência é real, embora se discorde da sua intensidade-, há uma série
de apostas: 1) maior eficiência da polícia e, em especial, do policiamento comunitário; 2)
articulação comunitária com a implementação de programas de inclusão de crianças e
adolescentes; 3) mudanças demográficas, com menor quantidade de jovens na
população; 4) bolsas de complementação de renda; 5) escolas abertas nos finais de
semana; 6) fechamento dos bares antes das 22h. Há também quem diga que, entre as
causas, está o movimento de desarmamento -aliás, nascido em São Paulo graças a alunos
da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
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Mesmo com toda essa engenhosidade que transformou, desta vez positivamente, o Jardim
Ângela numa referência mundial, a situação está bem longe da paz. Afinal, o desemprego
atinge mais de 70% de seus jovens.
São múltiplas as causas de violência e, logo, são múltiplas as medidas necessárias para
enfrentá-las. A prevenção se inicia quando a criança acaba de nascer e lhe é assegurada
proteção e se estende na estrutura familiar e na escola de qualidade. Está correta a
afirmação do pessoal do "sim" de que um cidadão armado não está protegido diante de
um marginal treinado e acostumado a atirar, muitas vezes sob efeito de droga. Alguém
que perde o controle é capaz de fazer um estrago ainda maior se estiver com um revólver.
Como toda a eleição acaba simplorizando o que é complexo para atrair o voto, está se
disseminando, mesmo que involuntariamente, uma ilusão. Imaginar que o desarmamento
é essencial na redução da barbárie é algo parecido a supor que, com o fim da peixeira, os
cangaceiros estariam imobilizados ou que, sem arco-e-flecha, os índios, no passado,
sempre viveriam em paz.
O melhor de tudo - e isso é extraordinário - é o fato de o referendo ter mobilizado o
Brasil, em níveis jamais vistos, para o debate sobre as causas da violência. E trouxe a
chance de mostrar experiências engenhosas como as do Jardim Ângela, Heliópolis,
Paraisópolis e Diadema. São casos que mostram que dá para enfrentar a barbárie.
Perfil social
Em 1996, o Distrito do Jardim Ângela foi considerado pela ONU (Organização das Nações
Unidas) como o lugar mais violento do planeta, registrando taxa anual de 116,23
assassinatos para cada 100 mil habitantes.
Com 62,1 km2 de extensão, tem aproximadamente 250 mil habitantes. Concentra 270
favelas, segundo os dados mais recentes da Sub-Prefeitura de M`Boi Mirim, que engloba o
Jardim Ângela. De acordo com o Mapa da Exclusão e Inclusão Social de São Paulo,
elaborado em 2000, 73,7% da população do Distrito Jardim Ângela estão no agrupamento
classificado como de alta e altíssima vulnerabilidade social.
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Entre 1991 e 2005, o índice de homicídios na região caiu 75% e, em junho de 2005, o
distrito bateu um recorde, quando completou 50 dias sem registros de mortes violentas.
Segundo levantamento publicado pela Fundação Seade em julho de 2005, referente ao
período entre 2000 e 2004, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes caiu mais de 45%
neste intervalo, de 118,31 para 64,5. É justamente a época em que as organizações
sociais e a comunidade se mobilizaram de forma mais estruturada e vigorosa, em que
houve aumento nos investimentos públicos e também um trabalho para conscientizar e
melhorar a qualidade do policiamento local (vide abaixo o detalhamento dos fatores que
contribuíram para a melhora no cenário social da região).
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-- Bolsa-Família
-- Pró-Jovem
-- PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil)
-- Renda Cidadã
-- Agente Jovem
-- Bolsa-Escola
-- Vale-Gás
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A Prefeitura oferece também alguns serviços na região, que, atualmente, atendem a
10.230 usuários. Entre eles, um abrigo para crianças e adolescentes, serviço de proteção
jurídico-social e apoio psicológico a crianças, adolescentes, jovens e famílias em
situação
Quem entender o que está por trás dos números do Jardim Ângela, um conglomerado de
favelas na zona sul de São Paulo, com 250 mil habitantes, estará aprendendo a reduzir a
violência no país. Sua taxa de homicídios caiu em 75%, entre 1991 e 2005. Durante 50
dias, no ano passado, ninguém morreu assassinado.
Esse movimento teve impacto nas demais estatísticas criminais de delegacias próximas,
responsáveis por outros bairros além do Jardim Ângela. No 100º Distrito Policial, de
janeiro a julho deste ano, em comparação com o mesmo período de 2002, o índice de
roubos, em geral, despencou em 52%; o de roubos de veículos caiu em 70%.
O Jardim Ângela foge do discurso fácil e das soluções simplistas: mostra que a
combinação de repressão com prevenção, a partir da articulação local, funciona. É o que
se vê em Bogotá, onde a taxa de homicídios desabou, em poucos anos, em 75%, redução
semelhante à de Nova York.
Depois que o Jardim Ângela foi considerado a região mais violenta do planeta, iniciou-se
ali, em 1996, uma mobilização liderada pelo padre irlandês Jayme Crowne. Surgiu o Fórum
de Defesa da Vida, que hoje aglutina 200 entidades. Dessa pressão, foram criadas ali
cinco bases de policiamento comunitário. Como os policiais tinham de conviver com a
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população, ganharam confiança e receberam informações sobre quem eram e onde
estavam os criminosos.
Conseguiu-se, nesse processo, combinar Polícia Militar, Polícia Civil e Guarda Municipal.
Paralelamente à rede de proteção policial montou-se uma rede de proteção social, sempre
envolvendo a teia de parcerias. Para trabalhar com ex-internos da Febem, agora em
liberdade assistida, associaram-se prefeitura, Abrinq e Telefônica. Na sexta passada, aliás,
cerca de mil funcionários da Telefônica foram ao Jardim Ângela para um mutirão de
reformas de espaços coletivos.
Nem de longe o Jardim Ângela virou um paraíso, muito pelo contrário. Está distante,
muito distante, de ser o campeão mundial da violência, mas ainda continua bem acima da
média brasileira da criminalidade. Jayme Crowne está preocupado, especialmente, com o
número de jovens sem perspectivas educacionais ou profissionais. "Esse é o ovo da
serpente", diz São no Brasil 7 milhões de jovens, entre 14 e 25 anos, que nem estudam
nem trabalham. Isso mostra que temos duas bombas que se juntam -a dos jovens e a das
metrópoles.
Mas o que eles estão construindo, em essência, é um software de gestão para áreas
conflagradas, por englobar do policiamento à gravidez precoce, passando pelo tratamento
de viciados e pela educação em tempo integral. Em vez de ficarem trocando acusações
em torno do PCC, os candidatos fariam melhor se estudassem o caso do Jardim Ângela,
cujo sucesso está no fato de não ter um autor, um partido, um governo. O PT e o PSDB
têm crédito nessa experiência, com a qual se vê que a saída social brasileira reside em
larga medida na habilidade de as comunidades se organizarem, mobilizarem seus
indivíduos e aumentarem a eficiência dos recursos públicos.
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